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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA Lígia Betânia de Oliveira ESMALTAÇÃO EM PANELAS DE FERRO FUNDIDO ENGENHARIA APLICADA COMO UMA FORMA DE AGREGAR VALOR AO PRODUTO São João Del Rei, 2017

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA

Lígia Betânia de Oliveira

ESMALTAÇÃO EM PANELAS DE FERRO FUNDIDO –

ENGENHARIA APLICADA COMO UMA FORMA DE AGREGAR

VALOR AO PRODUTO

São João Del Rei, 2017

Lígia Betânia de Oliveira

ESMALTAÇÃO EM PANELAS DE FERRO FUNDIDO –

ENGENHARIA APLICADA COMO UMA FORMA DE

AGREGAR VALOR AO PRODUTO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Universidade Federal de São João Del Rei, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica. Área de Concentração: Materiais Orientador: Prof. Dr. Kurt Strecker

São João Del Rei, 2017

Agradecimentos

Formal...

Ao Prof. Dr. Kurt Strecker, pela confiança, orientação na elaboração deste trabalho e

paciência com minhas indagações.

Aos professores do programa de Mestrado em Engenharia Mecânica (PPMEC), à

Universidade Federal de São João Del Rei, pelo apoio necessário e principalmente,

pela concessão da bolsa de estudos.

À Ana Cristina da Silveira, técnica de laboratório de cerâmica (LEC), pelo apoio nos

testes iniciais, elaboração, aplicação e queima do esmalte.

Ao escritor Italiano Silvano Pagliuca, por responder aos meus e-mails, tentando

entender e resolver minhas dúvidas.

À Sarah Gastão Evangelista, analista de laboratório na empresa Fundição Araguaia,

pela concessão das amostras iniciais.

Ao Pedro Augusto Magalhães Sousa, proprietário da Fundição Santana pela

disponibilização do espaço e dos equipamentos para a elaboração do ferro fundido.

À Naiara Cristina Vilela Teles, auxiliar de engenharia da qualidade na Fundição

Fundimg, pelo apoio nos ensaios de dimensional realizados nos protótipos.

À Professora Psicopedagoga, Marly Olívia Ribeiro e Silva, pela ajuda nas correções.

Na revisão ortográfica e gramatical.

Pessoal...

Ao meu marido José Édson, pela compreensão, paciência e pelos cuidados

dispensados à nossa filha Sophia, durante a minha "temporária" ausência. Agradeço

também as suas palavras de incentivo e a disponibilização de equipamentos

necessários à pesquisa.

À Antonieta Lara pelo carinho e pelos cuidados dispensados à minha filhinha, a quem

precisei privar de muitos momentos de brincadeira.

A minha mãe Vânia Maria pelas orações, apoio e por acreditar que tudo vai dar certo.

A todas as pessoas, enfim, que contribuíram, direta ou indiretamente, para a

realização desse trabalho.

À proteção divina que não me faltou, na estrada, nos laboratórios, na república, na

sala de aula, enfim em todos os momentos.

“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém

ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê.”

(Arthur Schopenhauer)

Resumo

A esmaltação em ferro fundido é uma técnica antiga, porém pouco difundida no Brasil.

A falta de conhecimento e tecnologia necessária ao processo são fatores que

influenciam na implementação dessa técnica, importante principalmente nos objetos

de cocção. O objetivo desse trabalho foi explorar diferentes composições de esmalte,

bem como rotas de aplicação em substratos produzidos em Cláudio, que é polo de

fabricação de produtos de cocção em ferro fundido. Para isso foram elaboradas quatro

composições de esmaltes, sendo três delas sugeridas pelos autores Pagliuca e Faust,

e uma quarta composição elaborada pelo autor da pesquisa com base em estudos

realizados. Para isso foram fundidas trinta e duas miniaturas de panelas em ferro

fundido cinzento, com composição química ideal ao processo de esmaltação.

Parâmetros como preparação da superfície do substrato jateado por areia, granalha

ou sem jatear, tempo de patamar 5, 8 e 10 minutos, rampa 5, 10 e 15°/min e

temperatura de 680, 750 e 800°C de queima do esmalte foram testados. O processo

de elaboração do ferro fundido foi detalhado em todas as etapas. Duas composições

de esmaltes testados apresentaram bons resultados, sendo uma sugerida pelos

autores citados acima e a composição inédita elaborada pelo autor da pesquisa.

Dentre os parâmetros testados os melhores resultados foram obtidos com a

temperatura de queima a 800°C e limpeza da superfície com jato de areia, entretanto

deve direcionar a limpeza para o jato de granalha devido a disponibilidade de

equipamento e questões ambientais. Outros parâmetros testados, tais como patamar,

rampa e número de camadas variaram em função das composições dos esmaltes. Os

resultados mostraram que é possível fabricar um substrato de qualidade para

esmaltação na cidade de Cláudio, enquanto que a elaboração do esmalte partindo de

matérias primas cruas de origem brasileiras, bem como o processo de aplicação,

ainda carecem de estudos mais aprofundados. O presente trabalho apresenta um

direcionamento para futuras pesquisas.

Palavras chave: panelas esmaltadas, ferro fundido, esmalte cerâmico.

Abstract

Cast iron enamelling is an old technique, but not very widespread in Brazil. The lack

of knowledge and technology necessary to the process are factors that influence the

implementation of this technique, important mainly in the cooking objects. The

objective of this work was to explore different enamel compositions as well as

application routes on substrates produced in Claudius, which is the manufacturing

center for cast iron cooking products. For this, four enamel compositions were

elaborated, three of them being suggested by the authors Pagliuca and Faust, and a

fourth composition elaborated by the author of the research based on a study carried

out. For this purpose, thirty-two miniatures of gray cast iron cookers were cast, with an

ideal chemical composition in the enamelling process. Parameters as preparation of

substrate surface sandblasted, shot blast or sandblasted, 5, 8 and 10 minute landing

time, 5, 10 and 15 ° / min ramp and 680, 750 and 800 ° C burnt enamel temperatures

were tested. The process of cast iron elaboration was detailed in all stages. Two

compositions of enamels tested showed good results, one suggested by the authors

cited above and the unprecedented composition elaborated by the author of the

research. Among the parameters tested, the best results were obtained with the

burning temperature at 800 ° C and surface cleaning with sandblasting, however, it

should direct the cleaning to the shot blast due to the availability of equipment and

environmental issues. Other parameters tested, such as threshold, ramp and number

of layers varied according to the compositions of the enamels. The results showed that

it is possible to manufacture a quality substrate for enamelling in the city of Cláudio,

while the elaboration of the enamel starting from crude raw materials of Brazilian origin,

as well as the application process, still need further studies. This paper presents a

guide for future research.

Key words: enameled pots, cast iron, ceramic enamel.

Lista de figuras

Figura 1.1 – Exemplos de produtos de fabricação local - Cláudio/MG. (Imagens

coletadas nos websites dos fabricantes, http://fundicaosantana.com.br/linha-

domestica) ............................................................................................................... 19

Figura 1.2 – Exemplos de utensílios de cocção com revestimento cerâmico

importados e comercializados no Brasil. (Imagens coletadas nos websites dos

fabricantes, https://www.lecreuset.com.br/ferro-fundido). ......................................... 20

Figura 1.3 – Diferença de preço entre panelas semelhantes, com e sem

revestimento vítreo. (Elaborado pelo autor, com base em pesquisa feita). ............... 20

Figura 4.1 – Fluxograma do processo de fundição, .................................................. 26

Figura 4.2 – a) Placa modelo dupla face fabricada em alumínio, utilizada em

máquina de moldar DISA Match Plate 130 Horizontal. b) Macho fabricado em Cold

Box Gevitc Dubox, (Cortesia da FUNDIÇÃO ARAGUAIA). ...................................... 28

Figura 4.3 – Transporte de calor em ferro fundido contendo grafita nodular (GJS),

vermicular (GJV) e lamelar (GJL), (SERBINO, 2005). .............................................. 32

Figura 4.4 – Diagrama Fe-C ilustrando o efeito de adições de silício. ...................... 33

Figura 4.5 – Metalografia de ferro fundido cinzento, aumento de 100x, ataque nital

4%. (Cortesia SENAI de Cláudio)............................................................................. 34

Figura 4.6 – a) Grafita lamelar em ferro fundido cinzento, submetido a ataque

químico profundo, para dissolver todo o metal. Ataque nital 10%. b) Reconstrução

tridimensional da grafita lamelar. Cortes produzidos por FIB e imagem obtida por

MEV. (COLPAERT, 2008). ....................................................................................... 36

Figura 4.7 – Efeito da nucleação em ferro fundido cinzento. .................................... 39

Figura 4.8 – Morfologias da grafita presente nos ferros fundidos. ............................ 40

Figura 4.9 – Ferro fundido cinzento com microestrutura Ferrito-perlita, (COLPAERT,

2008)........................................................................................................................ 42

Figura 4.10 – Conjunto de fornos feitos em ferro fundido esmaltado, produção da

Invicta S.A., (COMPAGNONI, 2012) ........................................................................ 47

Figura 4.11 - Diagrama de fase Fe, (WENDEL, 2005). ........................................... 54

Figura 4.12 - Desenho esquemático ilustrando as diferenças no ataque corrosivo ao

ferro por cobalto, (BODAGHI, 2011, p. 218). ............................................................ 57

Figura 4.13 - Configuração do teste de tração, (Y. SHEN et al. 2012). .................... 59

Figura 4.14 - Superfície de fratura (Y. SHEN et al. 2012). ........................................ 60

Figura 5.1 – Composições dos esmaltes elaborados As fotos são ilustrativas da

característica de cada um dos elementos, não estando na proporção de cada

esmalte.......................................................................................................................65

Figura 6.1 – Primeiras amostras esmaltadas. .......................................................... 67

Figura 6.2 – Caixa Expansiva com a Placa Dupla Face, (Cortesia da FUNDIÇÃO

SANTANA). .............................................................................................................. 69

Figura 6.3 – Forno elétrico com dois cadinhos, (Cortesia da FUNDIÇÃO SANTANA).

................................................................................................................................. 72

Figura 6.4 – Processo de mistura e moagem. .......................................................... 76

Figura 6.5 – Retirada da amostra para preparo metalográfico. ................................ 79

Figura 6.6 – Ensaio tridimensional das amostras. .................................................... 80

Figura 7.1 – Estrutura do ferro, (Adaptado de PAUKSH,1992). ................................ 82

Figura 7.2 – Imagens metalográficas obtidas de amostra do primeiro lote –

ampliação 100x. ....................................................................................................... 88

Figura 7.3 – Imagens metalográficas obtidas de amostra do segundo lote -

ampliação 100x. ....................................................................................................... 88

Figura 7.4 – Protótipos esmaltados. ......................................................................... 95

Figura 7.5 - Microscopia eletrônica de varredura da composição 4. ......................... 98

Figura 7.6 - Microscopia eletrônica de varredura da composição 1. ......................... 98

Figura 7.7 - EDS da composição 4. .......................................................................... 99

Figura 7.8 - EDS da composição 1. .......................................................................... 99

Lista de tabelas

Tabela 4.1 – Valores recomendados para se trabalhar com areia à verde, (Adaptado

do SENAI de Cláudio). ............................................................................................. 30

Tabela 4.2 – Condutividade térmica de alguns ferros fundidos, (COLPAERT, 2008).

................................................................................................................................. 33

Tabela 4.3 – Propriedades mecânicas, matriz e composição químicas de algumas

classes do ferro fundido cinzento. (Adaptado FUNDIÇÃO TENACE) ....................... 44

Tabela 4.4 - Composição química do ferro fundido para fins de esmaltação,

(Adaptado de PAGLIUCA E FAUST, 2011). ............................................................. 60

Tabela 4.5 - Composição química do ferro fundido para fins de esmaltação,

(Adaptado de SHCHEPOCHKINA, 1995). ................................................................ 61

Tabela 5.1 – Composição dos esmaltes elaborados. ............................................... 65

Tabela 6.1 – Composição química das primeiras amostras. .................................... 67

Tabela 6.2 – Folha de carga. ................................................................................... 70

Tabela 6.3 – Resultado da análise da composição química via espectrometria óptica,

feita com metal ainda no forno. ................................................................................ 73

Tabela 6.4 – Análise comparativa entre o planejado e o esperado. ......................... 73

Tabela 7.1 – Valores encontrados na panela esmaltada Chinesa, (Adaptado

GOMES, 2015). ....................................................................................................... 81

Tabela 7.2 – Análise final da panela de vazamento 1 e 2. ....................................... 84

Tabela 7.3 – Valores encontrados no dimensional dos protótipos. ........................... 90

Tabela 7.4 - Parâmetros de teste. ............................................................................ 96

Lista de quadros

Quadro 4.1 - Microconstituintes da estrutura de ferro fundido, segundo a figura 4.5.

................................................................................................................................. 35

Quadro 4.2 – Potencial grafitizante de diversos elementos em ferro fundido.

(COLPAERT 2008) .................................................................................................. 37

Quadro 4.3 - Influência dos principais elementos na liga de ferro fundido cinzento,

(Adaptado de FONSECA, 2002). ............................................................................. 43

Quadro 4.4 – Matérias primas e óxidos mais utilizados na fabricação de esmaltes,

(Adaptado de SÁNCHES, 1997). ............................................................................. 49

Quadro 4.5 – Matérias primas mais utilizadas na fabricação de esmaltes – função

(Adaptado de SÁNCHES, 1997). ............................................................................. 50

Lista de abreviaturas e siglas

°C - Graus Celsius

AFS - American Foundry Society

ASTM - American Society for Testing and Materials

B203 – Óxido de boro

C - Carbono

CaO – Óxido de cálcio

CE - Carbono equivalente

CF – Cálculo final

cm² - Centímetro quadrado

cm3 - Centímetro cúbico

Cr - Cromo

Cu -Cobre

DIN – Instituto Alemão para Normatização

FC – Classe de ferro fundido cinzento segundo a norma ABNT

Fe - Ferro

Fe₃C - Cementita ou carbonetos.

Fe3P – Fosfeto de ferro

FeC – Ferro Carbono

FeP – Ferro fósforo

FeSi – Ferro Silício

g - Grama

GG – Classe de ferro fundido cinzento segundo a norma DIN

GGG - Classe de ferro fundido nodular segundo a norma DIN

GR – Classe de ferro fundido cinzento segundo a norma ASTM

HB - Dureza Brínel

J / cm2 - Joule por centímetro quadrado

K – Constante

K2O – Hidróxido de potássio

Kg - Quilograma

Kgf – Quilograma força

KPa - Quilopascal

Li2O - Hidróxido de lítio

MgO - Óxido de manganês

min - minuto

mm - milímetro

mm2 milímetro quadrado

Mn - Manganês

MPa - Megapascal

Na2O - Hidróxido de sódio

PTFE – Politetrafluoretileno

Rpm – Rotações por minuto

S - Enxofre

S.A. – Sociedade anônima

Si - Silício

SrO - Óxido de estrôncio

TiO2 - Óxido de titâneo

γ - Fase austenita

μm – Micrômetro

~ - aproximadamente

Sumário

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17

2. OBJETIVOS ..................................................................................................... 21

2.1 Objetivo geral .......................................................................................... 21

2.2 Objetivos específicos ............................................................................... 21

3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 22

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 24

4.1 Industria de fundição ............................................................................... 24

4.2 Processo de fundição .............................................................................. 25

4.2.1 Moldes e machos .................................................................................. 26

4.2.2 Areias sintéticas .................................................................................... 28

4.2.3 Fusão ................................................................................................... 30

4.3 Ferro fundido ........................................................................................... 31

4.3.1 Inoculação ............................................................................................ 35

4.3.2 Nucleação e solidificação ..................................................................... 38

4.3.3 Microestrutura ....................................................................................... 40

4.4 Panelas de ferro fundido .......................................................................... 45

4.5 Panelas com revestimento ....................................................................... 45

4.6 Esmaltes vítreos ...................................................................................... 47

4.6.1 Processo de queima ............................................................................. 53

4.6.2 Distribuição do tamanho das partículas ................................................ 54

4.7 Processo de esmaltação .......................................................................... 54

4.8 Aderência ................................................................................................ 56

4.9 Ferro fundido para fins de esmaltação ..................................................... 60

5. METODOLOGIA ................................................................................................ 63

5.1 Parâmetros a ser seguidos ...................................................................... 63

6. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL ................................................................. 66

6.1 Seleção das amostras ............................................................................. 66

6.2 Elaboração dos moldes ........................................................................... 68

6.3 Elaboração do ferro fundido ..................................................................... 69

6.4 Desmoldagem ......................................................................................... 75

6.5 Elaboração e aplicação do esmalte cerâmico .......................................... 76

6.6 Aplicação do esmalte e limpeza da superfície ......................................... 77

6.7 Secagem ................................................................................................. 77

6.8 Processo de queima ................................................................................ 78

6.9 Ensaio metalográfico ............................................................................... 79

6.10 Dimensional das amostras ..................................................................... 80

7. RESULTADOS .................................................................................................. 81

7.1 Primeiras amostras esmaltadas ............................................................... 81

7.2 Elaboração dos moldes ........................................................................... 83

7.3 Liga de ferro fundido ................................................................................ 84

7.4 Ensaio microscopia óptica ....................................................................... 87

7.5 Dimensional das amostras ....................................................................... 89

7.6 Elaboração e aplicação do esmalte cerâmico ......................................... 92

7.7 Microscopia eletrônica e EDS .................................................................. 98

8. CONCLUSÃO .............................................................................................. 100

9. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................................... 101

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 102

17

1. INTRODUÇÃO

Com base nos dados obtidos em 2014 pela ABIFA - Associação Brasileira de

Fundição, o Brasil é o 7º produtor de fundidos, superando países como: Coreia, Itália

e França. As condições naturais do Brasil, mostram um grande potencial para se

tornar um dos maiores produtores mundiais. Esse segmento industrial, emprega cerca

de 58.000 trabalhadores, faturou 5,5 bilhões de dólares em 2015, em cerca de 1.200

empresas. A maioria dessas empresas é de pequeno e médio porte, com predomínio

do capital nacional, gerando um número significativo de empregos diretos e indiretos

na sua cadeia produtiva.

Em Minas Gerais, a indústria de fundição concentra-se nas regiões Central e

Centro-Oeste e assim como acontece nas demais regiões, o setor automotivo é

responsável por 56% da produção total, seguido por peças de saneamento básico,

equipamentos agrícolas, mineração, ferroviários e utensílios domésticos, de acordo

com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - FIEMG. As cidades de

Divinópolis, Itaúna e Cláudio, compõem o polo de fundições do Centro-Oeste mineiro,

mas Cláudio assume uma posição de destaque.

Segundo a ASIMEC - Associação das Indústrias Metalúrgicas de Cláudio, esta

cidade é considerada uma das maiores produtoras do Brasil, ou seja, o maior polo

industrial no setor de fundição artesanal da América Latina. Em 2011, o município

contava com aproximadamente 92 empresas associadas que atuavam no ramo de

fundições, entre metalúrgicas, prestadoras de serviços e as próprias fundições. Em

relação aos principais mercados de fundição de Cláudio/MG, o setor de utensílios

domésticos representava 15%, a maior proporção. Seguido de 14% para saneamento

básico, 10% para construção civil e os demais, subdivididos em outras áreas.

Além do setor automotivo, as empresas da cidade se destacam pela produção

de móveis em alumínio, adornos, objetos decorativos e utensílios de cocção em ferro

fundido, produzidos geralmente de maneira arcaica, com características semi-

artesanais. Nesse caso, utiliza-se o processo de moldagem manual em areia verde

e fusão da matéria prima em fornos do tipo cubilô, em que a carga metálica e o coque

são aquecidos no mesmo recipiente, com exceção de algumas empresas que já

utilizam a moldagem mecanizada e o forno elétrico.

Quanto aos produtos fabricados pelas diversas empresas nesta região, as

18

diferenças são bastante sutis, devido à prática do plágio de novos lançamentos. No

caso das panelas de ferro fundido, é comum as empresas produzirem o mesmo corpo

da panela da concorrência, com substituição de alças e cabos por modelos similares,

em alterações pontuais. Em alguns casos, utiliza-se o mesmo desenho realizando

somente a alteração da identificação do fabricante (GOMES, 2015).

O mesmo autor afirma em seu trabalho, que já existe por parte dos empresários,

uma consciência e desejo no sentido de encaminharem seus empreendimentos em

direção ao desenvolvimento de produtos com maior valor agregado e focos de

mercado mais definidos. Sobretudo, nas empresas de maior porte que visualizam

nessa mudança de estratégia, uma oportunidade para enfrentarem o cenário de crise

econômica do país.

Para Neumann, Clóvis (2013), o valor agregado de um produto deve atender a

um conjunto de necessidades, considerando benefício versus preço em comparação

com outro produto disponível na concorrência, sendo esse um atributo somado,

agregado ao produto, um diferencial que justifica sua escolha entre os demais bens

ofertados no mercado.

Uma forma de agregar valor aos produtos fabricados pelas indústrias de

fundição no município de Cláudio/MG, é a esmaltação em metal. Para o Centro

Italiano Smalti Porcellanati (2016), o esmalte é usado em escala industrial como

proteção de materiais ferrosos como o aço e o ferro, que são sujeitos a deterioração,

ferrugem e corrosão. Entretanto, o esmalte pode ser aplicado também aos metais

que não estão sujeitos ao processo de corrosão tais como alumínio, cobre e aço

inoxidável. Sendo neste caso, a melhoria de fatores estéticos e funcionais.

Compreende-se quimicamente como esmalte cerâmico, um vidro, devido a seu

estado amorfo. O componente fundamental do esmalte é a sílica, modificada por

outras substâncias que lhe dão caráter, de acordo com a natureza da superfície que

deve cobrir. Seu estado normal é transparente, incolor, podendo se tornar opaco e

colorido por meios de óxidos opacificadores e corantes. Segundo Gai, (2009),

esmalte é um composto vítreo solidificado, inteiramente inorgânico, formado

principalmente de óxidos.

O esmalte vítreo tem um uso acentuado em utensílios domésticos, como

panelas e eletrodomésticos. Dificilmente, a junção de dois materiais diferentes produz

19

resultado tão brilhante e versátil, tanto do ponto de vista estético como de

desempenho.

Apesar da esmaltação ser um processo já aplicado em modelos industriais

desde o ano de 1750 em países como Alemanha e Bélgica, a incidência no Brasil

ainda é relativamente prematura e carece de aprimoramentos. É de conhecimento

que no país, somente uma empresa faz a fundição e a aplicação de esmalte vítreo

em panelas de ferro fundido.

A diferença de preço entre uma panela com revestimento em tinta líquida, em

relação a um produto com acabamento esmaltado, é quase oito vezes maior,

conforme indica a figura 1.3.

Os esmaltes vítreos, intensificam o apelo visual dos seus produtos com cores

atrativas e duradouras; protegem o material subjacente contra a corrosão, além de

oferecer resistência e excelentes propriedades antibacterianas ao mesmo. Sabe-se

que o acabamento esmaltado, agrega valor ao produto, facilita a sua inserção em

novos mercados e protege os alimentos cozidos da contaminação do ferro e outros

elementos indesejáveis, provenientes do cozimento em utensílios fabricados em ferro

fundido.

As figuras 1.1 e 1.2, indicam a diferença visual no acabamento de panelas com

e sem revestimento vítreo, já a figura 1.3 indica a diferença de preço entre as

mesmas.

Figura 1.1 – Exemplos de produtos de fabricação local - Cláudio/MG. (Imagens

coletadas nos websites dos fabricantes, http://fundicaosantana.com.br/linha-

domestica)

20

Figura 1.2 – Exemplos de utensílios de cocção com revestimento cerâmico

importados e comercializados no Brasil. (Imagens coletadas nos websites dos

fabricantes, https://www.lecreuset.com.br/ferro-fundido).

Figura 1.3 – Diferença de preço entre panelas semelhantes, com e sem

revestimento vítreo. (Elaborado pelo autor, com base em pesquisa feita).

Panela de ferro fundido francesa, com

revestimento cerâmico, tamanho 24

cm, preço médio: 1.200 reais.

Panela de ferro fundido, fabricada em

Cláudio, tamanho 24 cm, preço

médio: 152 reais.

21

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Esta pesquisa exploratória, tem como objetivo principal, investigar o processo de

esmaltação em ferro fundido cinzento, aplicado em produtos destinados ao preparo

de alimentos e adornos em geral, como uma forma de agregar valor aos mesmos.

2.2 Objetivos específicos

Investigar a possibilidade de desenvolvimento de um revestimento esmaltado

adequado à realidade local, nas empresas de fundição artesanal da cidade de

Cláudio-MG, com utilização de matéria-prima nacional. O processo de aplicação é

compatível com o patamar tecnológico disponível na região, mas para esse

procedimento, torna-se necessário:

Elaborar e caracterizar o ferro fundido;

Desenvolver uma composição de esmalte cerâmico compatível com substrato

metálico;

Controlar parâmetros como: composição, espessura de camada, tempo,

temperatura e outros.

Realizar ensaio visual no substrato esmaltado.

22

3. JUSTIFICATIVA

As panelas produzidas na Cidade de Cláudio/MG, apresentam valores dos

elementos representativos da composição química desfavoráveis à esmaltação, de

acordo com pesquisa realizada em Gomes, (2015). Para o autor, elas possuem teores

elevados de carbono e silício, e, embora esta composição esteja dentro da faixa

recomendável, deveria apresentar-se em menor quantidade, uma vez que se trata de

elemento grafitizante, resultando assim em uma microestrutura com maior quantidade

de grafita e com a presença de veios largos.

O mesmo autor, apresenta como perspectiva, a possibilidade de desenvolver um

esmalte cerâmico que seja adequado à realidade tecnológica de manufatura nas

fundições da região. Sugere também que sejam feitas modificações no processo

produtivo, a fim de se conseguir resultados mais satisfatórios.

Em continuidade ao trabalho já iniciado por Gomes (2015), busca-se nessa

pesquisa investigar o processo fabril e desenvolver um esmalte cerâmico adequado,

mas para isso, torna-se necessário fazer algumas adequações no ferro fundido a fim

de se conseguir melhores resultados, tais como: controle da composição química e

da microestrutura do ferro fundido. A composição química do metal será analisada

através do espectrômetro durante o processo de fusão da liga e a microestrutura será

analisada através de microscópio ótico.

A inserção do processo de esmaltação às tecnologias empregadas na

manufatura de produtos com aspectos rústicos, como os fundidos em ligas de ferro,

apoiam-se em ganho de mercado e no aumento dos lucros. Isto ocorre em função da

venda de produtos com maior valor agregado e o resultado é uma melhor visibilidade

da empresa e consequentemente, do município.

Corrobora-se então, que as respostas obtidas, bem como os parâmetros a serem

seguidos, darão um salto rumo às possibilidades de inserção do processo de

esmaltação como parte do projeto fabril, uma vez que o estudo concentra-se no maior

polo de fundição artesanal da América Latina. Torna-se importante considerar

também, que pouco se estuda sobre o processo de esmaltação no Brasil.

O município de Cláudio/MG, possui cerca de noventa fundições em todo seu

território, algumas delas em processo inicial de funcionamento, portanto, não

23

registradas. Sabe-se que a maioria possui utensílios domésticos ou adornos em seu

mix de produtos. Esta pesquisa portanto, deve contribuir, no sentido de proporcionar

respostas técnicas necessárias para iniciar o processo de esmaltação no município.

24

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 Industria de fundição

A indústria de fundição é um segmento da economia com potencial significativo.

Caracteriza-se pela produção de bens finais, tais como panelas, fornos, móveis e na

produção de bens intermediários como as peças automotivas e peças de reposição.

Os fundidos de ferro em todo o Brasil apresentam a maior parcela de produção da

indústria e atendem à sua principal demanda, que é o setor automotivo, responsável

por quase 50% do mercado de fundidos, de acordo com as informações obtidas no

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (1996).

Para Mitterpach (2016), a indústria de fundição é um dos setores industriais que

apresenta desenvolvimento intensivo, já que as fundições são a base para os setores

industriais, contribuindo na produção de automóveis, construção civil, etc..... As

fundições diferem-se em relação ao seu processo produtivo, principalmente no que

tange ao mercado a ser atendido que pode ser cativo, grande escala ou sob

encomenda.

Cativo, é quando a fundição só produz para a própria empresa, geralmente uma

grande empresa. Ou quando são fornecedoras cativas de um ou alguns clientes em

potencial. Grande escala, quando a produção é voltada para poucos itens e grandes

lotes e por fim, o que caracteriza a produção sob encomenda é a produção de vários

itens em quantidade única ou em pequenas quantidades.

Misztal (2015), diz que a eficiência dos processos de fundição está associada a

sistemas automatizados. O mesmo autor conclui em seu trabalho, que a

automatização dos processos de fundição é uma inovação que melhora a qualidade

dos moldes, reduz os custos de produção e melhora a produtividade e as condições

de trabalho. O posicionamento da indústria de fundição em relação ao mercado a ser

atendido, é fator crucial na definição de tecnologias e inovações a serem implantadas.

Pode-se afirmar então que as tecnologias aplicadas ao setor de fundição estão

diretamente relacionadas ao mercado em que a mesma está inserida, uma vez que o

grau de mecanização ou automação de um processo produtivo, permite a variação da

quantidade e da qualidade a ser produzida. Quanto maior o índice de mecanização

25

ou automatização de um processo, maior será a produção e menor é a interferência

do trabalho humano sobre o produto final. Para isso, é necessário investimento e

análise detalhada do mercado a ser atendido.

4.2 Processo de fundição

Fundição, é o processo de fabricação de peças metálicas que representa o

caminho mais curto entre a matéria prima metálica e as peças acabadas em seu

estado bruto de fundição, ou seja, sem processo posterior de usinagem. O processo

consiste, essencialmente, em encher com metal líquido a cavidade de um molde,

cujas dimensões e formas correspondem às das peças a serem obtidas. Ao final da

solidificação e resfriamento, obtêm-se as peças com formas e dimensões definitivas

ou próximas. ( * )

Pode-se dizer, que no processo de fundição tem-se quanto ao metal, apenas as

etapas de fusão e solidificação entre a matéria prima sólida e o produto semiacabado.

Enquanto que nos demais processos clássicos de fabricação de peças metálicas, tais

como laminação, forjamento, estampagem e trefilação, apresenta, além da fusão e

solidificação, uma deformação plástica por esforço mecânico.

Compreende-se então, que o processo de fundição permite a obtenção de

peças com formas complexas, variedade de características dimensionais, mecânicas

e físico-mecânicas. Na figura 4.1 é possível observar o fluxo de um processo de

fundição, com diferentes tipos de moldagem.

26

Figura 4.1 – Fluxograma do processo de fundição,

(Adaptado de imagem de cortesia da FUNDIÇÃO SANTANA).

4.2.1 Moldes e machos

Segundo Giuliano (2008), o processo de fundição envolve uma série de

transformações físico-químicas, que ocorrem tanto nas mudanças de fase, a que são

submetidos os materiais utilizados no preenchimento do molde, quanto nas

substituições de matéria. Nesse último, é considerada a alternância de materiais, nas

passagens de forma ou geometria: do modelo para o molde e do molde para o

produto, com o cuidado de transferir ao material solidificado no interior do molde e a

27

exatidão da forma inerente ao modelo.

Tais transformações, atribuem aos processos de fundição um grau de

dificuldade, que varia em proporção direta à complexidade da geometria do modelo a

ser reproduzido no processo de moldação, entre outros fatores. Entende-se por

modelo, um dispositivo feito de madeira, resina ou metal, disposto ou não em uma

placa de madeira ou metal, com formas e dimensões próximas a da peça a ser

produzida. O modelo tem por função obter uma cavidade no molde, onde será

acomodado o metal líquido. Quando as peças possuem vazios ou reentrâncias no seu

interior, esses são formados pelos machos. ( * )

Macho, é uma parte do molde fabricada separadamente e colocada na cavidade

após a extração do modelo. Os machos são presos (seguros) no interior do molde

pelas marcações que são saliências presentes nos modelos. Eles são fabricados em

areia com ligantes químicos, são envolvidos pelo metal líquido, portanto, exigem uma

resistência maior do que os moldes fabricados em areias sintéticas. ( * )

As areias sintéticas recebem esse nome por possuírem em sua composição

ligantes à verde como: água, bentonita e pó cardif, ou seja, são menos agressivos ao

meio ambiente e a saúde humana. Os ligantes à verde ou químico são responsáveis

por agrupar os grãos de areia conferindo assim, resistência necessária para suportar

a pressão do metal líquido. ( * )

Os moldes em areia podem, ou não, ser fabricados em caixas metálicas. Essas

caixas aumentam a resistência do molde em relação à pressão metalostática que o

metal líquido exerce nas paredes e sua utilização, é comum na produção de peças

pesadas, geralmente acima de 70 kg ou em situações onde as mesmas fazem parte

do processo de moldação. Neste caso, em processos mecanizados ou

automatizados. ( * )

Nas figuras 4.2 a) e b), é possível observar uma placa modelo e também um

macho, ambos utilizados na fabricação de peça de alta complexidade.

28

a)

b)

Figura 4.2 – a) Placa modelo dupla face fabricada em alumínio, utilizada em

máquina de moldar DISA Match Plate 130 Horizontal. b) Macho fabricado em Cold

Box Gevitc Dubox, (Cortesia da FUNDIÇÃO ARAGUAIA).

4.2.2 Areias sintéticas

Biolo (2005), entende que a trabalhabilidade da areia é fator importante na

obtenção da qualidade das peças fundidas. Para isso, a areia que constitui o molde

deve apresentar maleabilidade, compactabilidade, refratariedade e resistência a

esforços mecânicos como compressão e tração, expansão volumétrica e

permeabilidade, além de ser de fácil desmoldagem.

As areias de fundição são constituídas em sua grande maioria, por areias

regeneradas, ou seja, areias do próprio sistema. Entretanto, o acréscimo de areia

nova se faz necessário para contrabalancear o teor de finos e impurezas inerentes

29

ao processo. Mitterpach (2016), conclui em seu trabalho, que "a utilização de areias

regeneradas, minimiza o uso de insumos, materiais e energia nos processos e

influencia, positivamente, o consumo de recursos naturais e a qualidade do

ecossistema".

Quanto maior o índice de mecanização do processo de mistura e o transporte

de areia dentro de uma fundição, menor é o risco de contaminação por finos ou outras

impurezas. Entende-se por finos, substâncias com granulometria inferior à mínima da

areia, capazes de penetrar entre os grãos de areia, impossibilitando a saída de gases

provocados pela combustão do metal líquido, quando em contato com as paredes do

molde. A combustão ocorre principalmente através dos constituintes bentonita e pó

cardif, uma vez que o ponto de fusão da sílica é superior a temperatura em que se

encontra o metal líquido dentro do molde. ( * )

Para manter a qualidade da areia de moldação e evitar contaminações, é

necessário fazer ensaios de granulometria, perda ao fogo, compactabilidade e outros,

diariamente. Torna-se necessário também, manter um padrão das quantidades de

aditivos e areia nova acrescentados a cada mistura, evitar o contato da areia com o

solo, controlar o tempo de mistura e a temperatura da areia que retorna do sistema.

Estas são práticas que favorecem a obtenção de uma areia de qualidade. ( * )

O aglomerante é o produto que permite ligar entre si os grãos de areia, de

maneira a constituir uma mistura própria para o uso em fundição. Nas areias à verde,

a bentonita e o pó cardif são os aglomerantes. ( * ) A tabela 4.1, mostra as principais

faixas de trabalho para a utilização de areia à verde.

30

Tabela 4.1 – Valores recomendados para se trabalhar com areia à verde, (Adaptado

do SENAI de Cláudio).

As areias regeneradas, ou seja, areias provindas do processo de desmoldagem

que retornam ao sistema, já possuem aditivos em sua composição, porém, em

percentuais menores. Isso ocorre devido à queima desses aditivos quando em

contato com o metal líquido. Quanto maior a massa metálica e menor a parede do

molde, maior é a queima. É importante que ocorra essa queima de aditivos, pois a

bentonita inerente na areia perde parte do seu poder de aglomeração, tornando os

finos portanto, prejudiciais à qualidade da mistura. ( * )

4.2.3 Fusão

O ferro fundido, comercialmente utilizado, é conhecido como ferro de segunda

fusão. Isto é, sua obtenção se faz através da fusão de uma carga metálica já

trabalhada. Sendo o ferro gusa a principal matéria prima na obtenção do ferro fundido,

é o produto obtido a partir do minério de ferro (óxido de ferro) extraído na natureza e

beneficiado em alto fornos (reduzido). ( * )

Características Moldação Mecanizada Moldação Manual

Umidade 2,8 a 3,5 % 3,0 a 4,5 %

Perda ao fogo 3,0 a 4,0 % 3,5 a 4,5 %

Argila total 7,0 a 10 % 9,0 a 12 %

Finos inertes 2,0 a 3,8 % 2,4 a 4,2 %

Permeabilidade 80 a 120 AFS > 80 AFS

Compactabilidade 42 a 49 % 42 a 49 %

R.C.V > 13 a 16,5 N/cm² > 11 N/cm²

Módulo 60 a 70 AFS 60 a 70 AFS

Teor de finos 2,5 a 4,0 % < 6 %

FAIXA ORIENTATIVA

PARA SE TRABALHAR COM FERRO FUNDIDO

31

A fusão do ferro fundido pode ocorrer em dois tipos de fornos: o forno elétrico e

o forno cubilô. O forno cubilô trabalha com ferro gusa, retorno: canais, massalotes e

refugo; sucatas de aço e calcário para separar as impurezas e o ferro-silício, ferro-

manganês e coque como combustíveis. Funciona sob o princípio da contracorrente

(como o alto-forno), ou seja, a carga metálica e o coque descem e os gases sobem.

( * )

Os ferros fundidos cinzentos, com classes segundo norma DIN 1691 (GG10 e

GG15) e ferro fundido nodular (GGG40), podem ser fabricados em fornos cubilô,

portanto, o controle exato da composição química fica comprometido. Peças com

exigências microestruturais devem, portanto, ser fabricadas com metal elaborado em

fornos elétricos ou fornos cubilô em conjunto com forno elétrico. ( * )

A composição química final do ferro fundido é determinada pela escolha da

matéria prima, assim como as adições de elementos químicos no forno e tratamento

do metal como inoculação. A composição química assim como as taxas de

resfriamento exerce influência decisiva na microestrutura formada e

consequentemente nas propriedades mecânicas finais da peça. ( * )

4.3 Ferro fundido

O ferro fundido é uma liga de ferro-carbono-silício com conteúdo de carbono

entre 2,5 e 4,0%. A liga também pode conter manganês, enxofre, fósforo e adições de

elementos de liga usadas para modificar a estrutura e propriedades do ferro fundido.

É um material de baixo custo, com resistência estrutural semelhante ao aço e pode

ser usado para a fabricação de grandes estruturas, como bases de máquinas, blocos

de motores e grandes suportes, metal utilizado em máquinas desde o início da

revolução industrial. "Ideal para fundição devido à sua facilidade de fluxo quando

fundido" (BUDINSKI, 2009).

Segundo o mesmo autor, os ferros fundidos são conhecidos por suas boas

propriedades tribológicas. Eles são resistentes ao desgaste nas condições de

lubrificação dos limites e pode ser tratado termicamente para ser resistente a

condições abrasivas agressivas. Os ferros fundidos podem ser usados em

temperaturas elevadas. Vale salientar que o ferro cinzento pode ser usado a 400°C.

32

As ligas de ferro fundido cinzentos, possuem resistência mecânica e ductilidade

maiores para cargas de compressão, "são também eficientes no amortecimento de

energia vibracional, possuem alta resistência ao desgaste e quando no estado líquido

apresenta boa fluidez" (CALLISTER, 2012).

A grafita possui boa condutividade térmica, propriedade desejável para a

fabricação de objetos de cocção, veja na figura 4.3.

Figura 4.3 – Transporte de calor em ferro fundido contendo grafita nodular (GJS),

vermicular (GJV) e lamelar (GJL), (SERBINO, 2005).

A condutividade térmica do ferro fundido cinzento, aumenta com o aumento do

teor de carbono, desde que o carbono exista como grafita. O ferro nodular exibe 20 a

30 por cento da condutividade térmica inferior ao ferro cinzento. "Este, por vez, é

semelhante ao aço nos níveis de condutividade térmica" (BUDINSKI, 2009). A tabela

4.2, mostra a resistência mecânica e condutividade térmica a 100°C, de algumas

classes de ferro fundido:

33

Tabela 4.2 – Condutividade térmica de alguns ferros fundidos, (COLPAERT, 2008).

No diagrama binário Fe-C, o silício e outros elementos podem mudar

consideravelmente o máximo de solubilidade de carbono em austenita (γ). Em casos

excepcionais, "as ligas com menos de 2% de C (carbono) pode solidificar com

estrutura eutética e, por consequência, ainda pertencer à família dos ferros fundidos."

(RUNDMAN, 2008).

Colpaert (2008), mostra no diagrama da figura 4.5, a influência do teor de Si

(silício) no diagrama estável Fe-C.

Figura 4.4 – Diagrama Fe-C ilustrando o efeito de adições de silício.

Seta 1 – silício diminui a solubilidade de carbono na austenita; Seta 2 –

aumenta a temperatura do eutético; Seta 3 – favorece a precipitação de grafita,

(COLPAERT 2008).

34

Os ferros fundidos cinzentos apresentam em sua microestrutura, flocos de grafita

embutidos numa matriz perlítica, ferrítica ou perlito-ferrítica. Para Callister (2012), a

formação da grafita é regulada pela composição química e taxa de resfriamento. A

presença de silício em concentrações maiores que 1% promove a formação da grafita,

assim como menores taxas de resfriamento durante o processo de solidificação. O

carbono se apresenta em sua maior parte na forma de grafita, podendo também

formar o composto Fe₃C (cementita ou carbonetos). Este composto, quando

associado à ferrita, forma a matriz perlita.

A figura 4.5 e o quadro 4.1 apresentam respectivamente, a microestrutura de um ferro

fundido e os constituintes da micrografia,

Figura 4.5 – Metalografia de ferro fundido cinzento, aumento de 100x, ataque nital

4%. (Cortesia SENAI de Cláudio)

35

Quadro 4.1 - Microconstituintes da estrutura de ferro fundido, segundo a figura 4.5.

4.3.1 Inoculação

A inoculação dos ferros fundidos, caracteriza-se pela introdução de pequenas

quantidades de material composto de partículas, que visam controlar a formação da

grafita e evitar a formação de carbonetos. A grafita pode apresentar-se em diferentes

morfologias, sendo as formas lamelar e esferoidal as mais usuais. ( * )

A forma lamelar, caracteriza os ferros fundidos cinzentos e a esferoidal, os ferros

fundidos nodulares. Apesar dos dois materiais apresentarem propriedades micro

estruturais diferentes, a tendência de formação de grafita durante a solidificação, são

semelhantes. As figuras 4.6 a) e b) apresentam a forma tridimensional de uma grafita

lamelar encontrada em microestrutura de ferro fundido. ( * )

Constituintes da microestrutura com referência à norma ASTM A247

(método comparativo):

Morfologia da grafita: Lamelar

Tipo: VII

Tamanho: 3 a 5

Distribuição: C predominante, B em menor proporção e A em raros pontos.

Matriz: aproximadamente 34% de perlita e 66% de ferrita.

Nota-se a presença de raríssimas micro inclusões, destacando-se as típicas de

sulfeto. As grafitas encontram-se heterogêneas na seção examinada.

36

Figura 4.6 – a) Grafita lamelar em ferro fundido cinzento, submetido a ataque

químico profundo, para dissolver todo o metal. Ataque nital 10%. b) Reconstrução

tridimensional da grafita lamelar. Cortes produzidos por FIB e imagem obtida por

MEV. (COLPAERT, 2008).

A inoculação aumenta o número de células eutéticas e consequentemente,

aumenta a área total de contorno das células, bem como um menor crescimento de

cada célula. Com isso, "tende a haver menor concentração de impurezas nos

37

contornos de células, melhor homogeneidade de composição e melhores

propriedades mecânicas, ou seja, menor sensibilidade a espessura" (FILHO,1975).

Segundo o autor, a inoculação tende a apresentar uma menor disposição ao

aparecimento de trincas em seções finas, como também menor teor de gases. O teor

de oxigênio, reduz de 40 a 60%, o teor de nitrogênio, 30 a 60% e o de hidrogênio, 25

a 28%. Esses gases, quando presentes, podem favorecer o coquilhamento inverso,

ou seja, a formação de ferro fundido branco. O quadro 4.2 mostra a influência que

alguns elementos químicos têm na formação da grafita.

Quadro 4.2 – Potencial grafitizante de diversos elementos em ferro fundido.

(COLPAERT 2008)

A inoculação atua basicamente, no sentido de aumentar a nucleação do eutético

estável, multiplicando o número de células eutéticas, principalmente pela sua atuação

como nucleante da grafita, que é considerada a fase mais difícil da formação do

eutético austenita-grafita, (FILHO,1975).

38

4.3.2 Nucleação e solidificação

Segundo Ferreira (2010), o processo de solidificação é caracterizado por uma

transformação de fase, onde o material passa do estado líquido para o estado sólido.

Este fenômeno pode ser dividido em duas etapas sucessivas, de nucleação e

crescimento. A nucleação é a etapa onde os primeiros sólidos são formados e pode

ocorrer de forma homogênea ou heterogênea. A etapa de crescimento é caracterizada

pela forma com que os núcleos crescem, à medida que prossegue a extração de calor.

Segundo Ferreira (2017), o potencial de nucleação heterogênea pode ocorrer a

partir de superfícies ou núcleos já existentes da composição química. Na taxa de

resfriamento, o ferro fundido pode solidificar-se termodinamicamente estável ou

metaestável, sendo a composição química o fator mais dominante que determina o

potencial de grafitização, em vez de carbonetos de ferro.

Ferreira (2010), afirma que a nucleação homogênea ocorre, quando não existe

nenhum agente estranho ao sistema, tais como: filmes de óxidos, partículas de

impurezas e paredes de molde que possam contribuir energeticamente, para a

nucleação da fase sólida em meio à fase líquida. A nucleação homogênea raramente

ocorre num banho metálico, porque os agentes estranhos quase sempre estão

presentes. Enquanto que a nucleação heterogênea ocorre em banhos metálicos que

apresentam agentes estranhos, tais como: aditivos, inoculantes, partículas de

impureza e filmes superficiais de óxidos, que auxiliam a nucleação da fase sólida em

meio à fase líquida.

Serbino (2005), cita em seu trabalho que o potencial de nucleação do líquido, é

função da composição, taxa de resfriamento e tratamento do banho. O ferro fundido

pode solidificar-se de acordo com o sistema termodinâmico metaestável Fe-Fe3C ou

sistema estável Fe-Grafita. O autor afirma também que quanto maior o número de

células eutéticas, maior a tendência à resistência e tenacidade, pois células menores

e em maior número, estão associadas a veios de grafita menores.

À medida que aumenta o número de células eutéticas, a tendência é aumentar

também a quantidade de grafita tipo A, quando o aumento do número de células é

obtido pelo tratamento de inoculação. Os efeitos da elevação do grau de nucleação

no processo de solidificação do eutético estável, é mostrado a seguir, na figura 4.7.

39

Figura 4.7 – Efeito da nucleação em ferro fundido cinzento.

Filho (1975), afirma que uma redução na quantidade de super-resfriamento, ou

seja, na elevação da temperatura de solidificação do ferro fundido cinzento, implica

numa diminuição da tendência ao aparecimento de carbonetos eutéticos e de grafita

de super-esfriamento. Este fator favorece a formação de grafita tipo A, principalmente

em face da diminuição da velocidade de crescimento das células eutéticas e,

consequentemente, menor ramificação da grafita.

O mesmo autor afirma que, na formação das células eutéticas, o esqueleto de

grafita, dentro de cada célula é menor e em consequência, os veios menores e o seu

efeito de entalhe ficam diminuído. E quando a quantidade de grafita presente na

microestrutura é maior, ocorre geralmente uma diminuição da resistência dos ferros

fundidos cinzentos, devido ao efeito de entalhe ainda mais pronunciado, pois veios de

grafita tornam-se mais longos.

Além disso, deve-se atentar para o fato de que o próprio aumento da

quantidade de grafita presente na microestrutura, tem o efeito de diminuir a resistência

mecânica, visto que esta fase possui menor resistência mecânica que a matriz

metálica, (SERBINO, 2005). Na figura 4.8 a seguir, é possível observar a morfologia

dos tipos de grafita formada no ferro fundido cinzento.

Menor tendência ao

coquilhamento

Menor super

resfriamento

Menor velocidade de

crescimento das

células eutéticas

Aumento do grau

de nucleação

Maior número

de núcleos em

crescimento

Maior número de

células eutéticas

40

a) b) c)

d) e) f)

Figura 4.8 – Morfologias da grafita presente nos ferros fundidos.

a) Tipo A, aumento de 100x. b) Tipo A - 430x. c) Tipo C - 100x. d) Tipo C - 430x. e)

Tipo D - 2100x. f) Tipo D fina e tipo E grossa -100x, (DAVIS 1996, P.24)

4.3.3 Microestrutura

Thomser (2016), menciona em seu trabalho, que a microestrutura do ferro

fundido é influenciada, decisivamente, pela composição química e pelas condições do

processo metalúrgico. Uma vez que o processo de fusão tem um impacto essencial

na criação da microestrutura e que as variações microestruturais levam às alterações

das propriedades mecânicas.

O mesmo autor defende que as propriedades físicas do material não dependem

unicamente da geometria da peça, da morfologia da grafita ou simplesmente da

41

microestrutura. Elas dependem da incisão de defeitos microestruturais, tais como

inclusão de escória e micro porosidades e que estes, devem ser considerados na

simulação do comportamento do material quando em uso. Ou seja, o ferro fundido não

é considerado como um material totalmente homogêneo em todas as partes da peça.

Segundo Fonseca (2002), a matriz metálica é o arranjo que as fases de

solidificação assumem juntamente com a grafita, na formação da estrutura do material

e é formada segundo as condições de resfriamento, composição química e o tipo de

grafita formada. As fases que geralmente compõem a matriz metálica de um ferro

fundido são:

Ferrita: Cristais de solução sólida de carbono no ferro α. É um constituinte de

características mecânicas superiores a da austenita, porém apresenta ainda

baixa dureza, grande alongamento e pequena resistência à tração.

Cementita: Cristais de composto intermetálico, quimicamente definido, Fe3C,

que se apresenta sob a forma de agulhas (cristais poliédricos). É um

constituinte de dureza muito elevada e muito frágil, tem baixa resistência à

tração e alongamento nulo.

Perlita: Cristais que se apresentam, sob a forma de lamelas alternadas de

ferrita e cementita. É um constituinte de dureza inferior à da cementita, com

boa resistência à tração e pequeno alongamento.

Grafita: Carbono livre sob a forma de lamelas com tipos e tamanhos diferentes.

É um constituinte macio e frágil.

Na figura 4.9, observam-se as colônias eutéticas que envolvem as grafitas, a matriz

de ferrita (parte clara) e perlita (parte escura).

42

Figura 4.9 – Ferro fundido cinzento com microestrutura Ferrito-perlita, (COLPAERT,

2008).

As características mecânicas do ferro fundido são consequentes da estrutura

que o material apresenta, sendo os fatores que mais influenciam:

Composição química;

Velocidade de resfriamento;

Elaboração da liga.

Veja abaixo a influência dos principais elementos de liga do ferro fundido no

quadro 4.3.

43

Quadro 4.3 - Influência dos principais elementos na liga de ferro fundido cinzento,

(Adaptado de FONSECA, 2002).

Elemento Influência na liga de ferro fundido Cinzento

Carbono

Quanto maior o teor de carbono, maior a tendência à formação de grafitas,

portanto maior a tendência desta liga em solidificar, segundo o diagrama

estável. Por outro lado, quanto maior o teor de carbono, maior a tendência

a formação de grafitas grosseira, ou seja, lamelas de grandes dimensões,

que contribuem para diminuição das propriedades mecânicas.

Silício

Este elemento, assim como o carbono, é considerado um elemento

grafitizante e favorece a solidificação segundo o diagrama estável.

Favorece a formação da ferrita, sendo encontrado dissolvido nessa fase.

Em teores crescentes, tende a alterar as características mecânicas da

ferrita, aumentando a resistência à tração e a dureza, diminuindo o

alongamento.

Manganês

É um elemento anti-grafitizante, isto é, tende a favorecer a formação de

carbonetos (cementita Fe3C) evitando a formação de grafitas. Portanto,

este elemento favorece a solidificação segundo o diagrama metaestável e

é considerado um elemento perlitizante. O manganês também atual como

neutralizado do enxofre, favorecendo a formação de sulfeto de manganês

(menos prejudicial) a formação sulfeto de enxofre. O equilíbrio entre o

manganês e o enxofre é feito através da seguinte expressão:

- %Mn = 1,72 x % S + K

K = 0,3 para neutralizar o S com segurança – 0,75 para neutralizar o S e

obter Perlita – 0,8 a 1,2 para neutralizar o S em peças de espessuras

acima de 150 mm.

Fósforo

É um elemento de fraca tendência a favorecer a formação de grafita.

Tende a fragilizar o ferro fundido quando em teores elevados, apesar de

aumentar a fluidez do metal líquido. Na microestrutura, o fósforo é

normalmente encontrado dentro da fase ferrita ou sob a forma de

segregação entre os cristais de perlita. Compostos fosforosos podem ser

do tipo:

- Ferrita + Fe3P (eutético binário)

- Ferrita + Fe3C + Fe3P (eutético terciário – STEADITA)

Enxofre

Este elemento é encontrado na microestrutura do ferro fundido, geralmente

sob a forma de sulfeto de ferro - formados à temperaturas mais baixas

quase no final da solidificação, encontrado nos contornos do grão ou de

sulfeto de manganês - formado a temperaturas mais elevadas, no início da

solidificação, localizados no interior do grão. Sulfetos de ferro fragilizam o

material e devem, portanto, ser evitados, para isso deve haver um rígido

controle do seu teor.

44

Na tabela 4.3 é possível analisar a matriz metálica, propriedades mecânicas e

composição química de algumas classes de ferro fundido cinzento, segundo as

principais normas.

Tabela 4.3 – Propriedades mecânicas, matriz e composição químicas de algumas

classes do ferro fundido cinzento, (Adaptado FUNDIÇÃO TENACE).

As propriedades mecânicas são dependentes da estrutura final obtida, isto é,

dependem da matriz metálica, da quantidade e forma da grafita. Menor resistência

mecânica está associada a quantidade de grafita, veios longos e maior proporção de

ferrita. Contudo, a maior resistência mecânica está associada à grafita mais refinada

e matriz perlítica, que confere ao material, melhor acabamento superficial e maior

dureza.

Brasileira ABNT EB-126 FC 100 FC 150 FC 200 FC 250

Alemã DIN 1691 GG 10 GG 15 GG 20 GG 25

Internacional ASTM A-48 GR 20 GR 25 GR 30 GR 35

Ferrítica Perlita

Resistência tração (N / mm2) 100 150 200 250

Limite Escoamento (N / mm2) 7,5 - 10 8,0 - 10,5 9,0 - 11,5 10,5 - 12,0

Resist. Compressão (N / mm2) 50 - 60 55 - 70 60 - 83 70 - 100

Resist.Cisalhamento (N/ mm2) ~ 10 ~ 15 ~ 20 ~ 25

Resistência Flexão (N / mm2) 20 - 31 23 - 37 29 - 43 35 - 49

Resistência Impacto (J / cm2) 0,2 até 0,6 0,2 até 0,6 0,2 até 0,6 0,2 até 0,6

Dureza Brinell HB 100 - 150 140 - 190 170 - 210 180 - 240

Carbono % C 3,40 - 3,70 3,20 - 3,50 3,10 - 3,40 3,00 - 3,30

Silício % Si 2,30 - 2,80 2,00 - 2,40 1,90 - 2,30 1,80 - 2,20

Manganês % Mn 0,50 - 0,80 0,60 - 0,90 0,60 - 0,90 0,60 - 0,90

Fósforo % P (máximo) 0,25 0,20 0,15 0,12

Enxofre % S (máximo) 0,15 0,15 0,15 0,15

Co

mp

osiç

ão

Qu

ímic

a

Classe

Ferríto-Perlítico

Normas

Pro

pri

ed

ad

es

Mecân

icas

Matriz predominante

45

4.4 Panelas de ferro fundido

São vários os materiais utilizados na fabricação de utensílios de cocção, tais

como ferro, alumínio, aço inox e outros, porém, muitos desconhecem o efeito desses

materiais quando em contato com os alimentos. A migração desses metais, depende

de vários fatores, tais como tempo de preparo, acidez do alimento, quantidade de

água e claro, podem ter efeitos positivos ou negativos quando em contato com o

organismo humano.

O saber popular há muito indica que a utilização de panelas de ferro na cocção

de alimentos é um meio preventivo e mesmo auxiliar no tratamento da anemia

ferropriva, apontando diretamente para um possível efeito migratório do ferro do

utensílio para o alimento preparado. Por outro lado, pode-se imaginar que o contrário

também é verdadeiro. Ou seja, quando elementos indesejáveis contidos em

determinados utensílios, como o alumínio e o níquel entre outros, podem migrar para

os alimentos durante o processo de cocção (QUINTAES, 2006).

A mesma autora cita em um trabalho, que há evidências científicas de que

alimentos preparados em recipientes de ferro sofrem alterações nas características

sensoriais. A referida interferência pode variar conforme as características físico-

químicas do alimento e em decorrência do tempo de contato. Em pesquisa feita com

iogurte natural, preparado em iogurteira de ferro, quando comparado com o iogurte

preparado em iogurteira de vidro, nota-se uma rejeição de 70,5%, podendo ser

explicado pelo sabor residual do produto, relatado pelos provadores.

Isso indica que objetos de cocção fabricados em ferro fundido alteram o sabor

dos alimentos, devido à migração do ferro e outros elementos para a comida, o que

não é satisfatório para todos os usuários pois tal migração pode conter também

elementos prejudiciais à saúde.

4.5 Panelas com revestimento

Politetrafluoroetileno (Teflon)

Um dos revestimentos mais populares aplicados em utensílios de cocção, é o

46

politetrafluoroetileno (PTFE), mundialmente conhecido como Teflon. É muitas vezes

usado para revestir panelas antiaderentes e como é hidrofóbico e possui resistência

ao calor bastante elevado, tem ponto de fusão a 327ºC, tornando-o ideal para

aplicações de cozimento. No entanto, Waritz (1979) afirma que "quando aquecido às

temperaturas acima de 350 ºC, o PTFE começa a se degradar, liberando partículas

finas e uma variedade de compostos gasosos que podem causar danos aos pulmões

quando inalados".

Segundo o estudo Nutrição Ambiental (2010), quando panelas revestidas de

Teflon são aquecidas à alta temperatura, liberam toxinas que causam o que veio a ser

chamado de "gripe de Teflon" - sintomas de dor de cabeça, calafrios, dor nas costas

e febre. Em dezesseis estudos analisados nos últimos 50 anos, o PTFE mostrou

produzir 15 gases tóxicos, incluindo clorofluorcarbono, um gás de efeito estufa, além

de partículas transportadas pelo ar quando aquecido acima de 460°C.

Um teste conduzido pelo EWG (Know your environment) mostra que várias

panelas aquecidas sobre uma chama de fogão alta atingiu temperaturas superiores a

664 °C. Nesse caso, temperaturas acima de 350°C, já estão sujeitas a liberação de

toxinas prejudiciais ao organismo.

Esmalte vítreo

O esmalte é um composto de minerais que, quando submetido a altas

temperaturas, funde sobre a superfície. Durante o resfriamento, essa mesma

substância endurece, formando uma película vítrea que adere à superfície, podendo

propiciar um acabamento liso, sem porosidade e com variadas possibilidades de

cores. Este tipo de acabamento liso e brilhante não é uma regra geral para os

esmaltes. Muitos podem ser rugosos, foscos, com texturas, variando de acordo com

as formulações.

Uma pesquisa realizada em junho de 2011 pela Universidade de Ecologia

Humana no Japão, concluiu que os resultados de estudos realizados até agora

sugerem que o risco de toxicidade aguda ou crônica associado ao uso de panelas

esmaltadas em circunstâncias normais, é extremamente baixo e desprezível. Para

Baldi (2015), o esmalte cerâmico é um material particularmente adequado ao contato

47

com os alimentos. A aplicação do revestimento cerâmico sobre a superfície metálica

oferece ao objeto boa propriedade antiaderente, boa resistência a arranhões e à

abrasão, ou seja, ao desgaste por atrito, ou quando expostos às temperaturas

elevadas.

Aleutdinov (2015) completa que os revestimentos de esmalte para produtos

metálicos são a proteção mais eficaz contra a corrosão e adicionalmente,

proporcionam à superfície de metal uma série de propriedades úteis, tais como

dureza, suavidade, resistência alcalina, aparência, estética e assim por diante.

Compagnoni (2012) cita em seu trabalho que para aumentar o uso do esmalte é

necessário espalhar o conhecimento dos produtos esmaltados. Isto é fundamental

para expandir o mercado além de seus setores tradicionais. Objetos esmaltados têm

um alto potencial, afirma o autor. E completa que a concepção de um produto pode

ser favorecida pelas propriedades que as superfícies esmaltadas exclusivamente,

podem oferecer. Veja na figura 4.10, exemplo de fornos em ferro fundido com

revestimento vítreo fabricado pela indústria Invicta S.A.

Figura 4.10 – Conjunto de fornos feitos em ferro fundido esmaltado, produção da

Invicta S.A., (COMPAGNONI, 2012)

4.6 Esmaltes vítreos

O esmalte protege notavelmente da corrosão, oferece alta resistência a danos

mecânicos, agentes ambientais e atmosféricos, altas temperaturas e sem a liberação

48

de substâncias tóxicas. Apenas revestimentos esmaltados e envernizados podem

oferecer uma paleta de cores quase infinitas. Contudo, ao contrário do verniz, o

esmalte tem a vantagem única de combinar a cor com propriedades técnicas, como a

resistência durante a vida útil total dos produtos, apesar da exposição contínua a

radiações UV. Além disso, a forma e a aparência da superfície de um produto

produzem um impacto quando olhado na rua, em publicidade ou em vitrines.

Compagnoni (2012) afirma que antes de tocá-lo tem-se a ideia positiva ou

negativa sobre o mesmo. Portanto, a percepção de superfície, cor, brilho e textura são

de primordial importância.

Os esmaltes vítreos aplicados em substratos metálicos diferem-se dos esmaltes

aplicados em superfícies cerâmicas, em relação à composição química e

temperaturas de queima. Alguns elementos, tais como óxido de Cobalto e Níquel, são

adicionados em quantidades maiores (1%) para auxiliar no processo de adesão e

também por apresentar baixo índice de expansão térmica linear. É necessário que o

esmalte aplicado seja de baixa temperatura (800°C), devido ao ponto de fusão do ferro

fundido (~1280°C). Para isso, são adicionados fundentes na composição do esmalte,

como o feldspato e o bórax, que abaixam o alto ponto de fusão da sílica formadora de

vidro.

Matérias primas e óxidos

A escolha da matéria prima para formulação do esmalte, é uma etapa muito

importante, pois combinadas e queimadas, resultarão em um esmalte sem defeito.

Deve-se levar em consideração a taxa de fusão e dissolução. Todos os constituintes

do esmalte devem se fundir ou dissolver no líquido formado pela fusão das matérias

primas.

Segundo Eppler (1998), para se formular um esmalte livre de defeitos, primeiro

faz-se a formulação em óxidos e depois, seleciona-se a matéria prima adequada. O

quadro 4.4 apresenta as matérias primas e suas fontes em óxidos e no quadro 4.5, é

possível observar as matérias primas mais usuais e a função que desempenham na

elaboração dos esmaltes cerâmicos.

49

Quadro 4.4 – Matérias primas e óxidos mais utilizados na fabricação de esmaltes,

(Adaptado de SÁNCHES, 1997).

Quartzo SiO2

Caulin 2SiO2.Al2O3.2H2O

Feldspato alcalino 6SiO2.Al2O3.M2O

M = Na,K

Ácido bórico cristalizado B2O3.3H2O Bórax Na2B4O7.nH2O - n = 5/10

Colemanita 2CaO2.3Al2O3.5H2O Ulexita Na2B4O7.Ca2B6O11.16H2O

Espodumênio Li2O.Al2O3.4SiO2

Feldspato sódico

Carbonato de sódio Na2CO3

Nitrato de sódio NaNO3

Feldspato potássio

Nitrato potássio KNO3

Talco 3MgO.4SiO2.H2O Magnesita MgCO3

Dolomita CaMg.(CO3)2

Carbonato de cálcio CaCO3 Nitrato de cálcio Ca(NO3)2

Colemanita

Dolomita

Carbonato de bário BaCO3

Óxido de Zinco

Minio Pb3O4

Caulin Alumina hidratada Al2O3.3H2O

Feldspato alcalino Alumina calcinada Al2O3

Zircão ZrSiO4

Principais

óxidos ou

componentes

Matérias primas usuais Outras matérias primas

B2O3

ZnO

PbO

Al2O3

ZrO

SiO2

Li2O

Na2O

K2O

MgO

CaO

BaO

50

Quadro 4.5 – Matérias primas mais utilizadas na fabricação de esmaltes – função

(Adaptado de SÁNCHES, 1997).

Segundo Eppler (1998), para discutir o comportamento das várias matérias-

primas durante a fase de maturação, é útil agrupá-las de acordo com suas

propriedades:

Função Matéria prima

Feldspatos sódicos

Feldspatos potássicos

Feldspatos sódico-potássicos

Nefelina

Quartzo

Alumina

Zircão

Anatásio

Alumina

Carbonato de cálcio (calcita)

Wolastonita

Dolomita

Óxido de zinco

Caulin

Argila branca ("ball clay")

Bentonita

Aumento da expansão térmica Quartzo

Carbonato de lítio

Espodumênio

Petalita

Fundência - brilho Carbonato de bário

Opacificantes (aditivo) Óxido de cério

Regulador de fundência

Opacificantes

Matificantes

Supensor

Modifcador de fundência

51

Refratárias, são materiais com alto ponto de fusão e com grande

resistência a degradação térmica e química, nesse caso é preciso atenção

para determinar a temperatura de fusão. A matéria-prima refratária plástica

mais comum são as argilas. Existem três importantes classes de argila:

caulim, ball clay e montmorilonita. Como materiais refratários não plásticos

existem a alumina (Al2O3), a sílica (SiO2), o caulin calcinado, zircão (silicato

de zircônio) e a titânia (TiO2) que são muito difíceis de fundir e difíceis de

dissolver. O quartzo e a alumina são materiais introduzidos normalmente

para alterar o coeficiente de dilatação e para obter efeitos mate,

respectivamente, e que por sua vez, dado seu caráter refratário, diminuem

a fundência do esmalte.

Fundentes, segundo o mesmo autor, constituintes com essa característica

são usados para formar um tipo de “cola” que faz com que todas as

matérias-primas se fundam formando uma única massa. Eles precisam

formar um vidro fundido suficientemente eficaz para dissolver os

ingredientes refratários no curto período em que o esmalte está fundido.

Como exemplo são os feldspatos, sendo que os mais utilizados são os

sódio e de potássio. A maioria dos esmaltes parcialmente moídos contém

uma quantidade substancial deste material. O fundente com temperatura

de fusão mais baixa é o bisilicato de chumbo. Ele é usado como um

fundente até mesmo em pigmentos vítreos a temperaturas tão baixas como

600 °C, porém ele é altamente tóxico e não deve ser utilizado em artefatos

de cocção.

Opacificantes, a opacidade está relacionada com a translucidez do

esmalte, sendo característico ao esmalte opaco sua capacidade de impedir

ou dificultar que a luz ultrapasse o corpo do esmalte. Os raios de luz serão

refletidos ou sofrerão refração (desvio da luz quando ultrapassa uma

superfície). Eles poderão modificar o ponto de fusão dos esmaltes, seja

baixando a fusão, como o zinco, ou aumentando, como no caso do caulim,

ball clay, ou titânio. Eles também poderão influenciar as cores dos esmaltes

52

como, por exemplo: o cromo em combinação com estanho (opacificante),

em atmosfera oxidante, tende a formação de cores rosadas ou a reação

entre cobalto e titânio (opacificante) na qual poderão aparecer verdes

claros, invés das cores azuladas características do óxido de cobalto,

(EPPLER,1998).

Matificantes, para Sanches (1997), o efeito mate produzido na superfície

de alguns vidrados cerâmicos tem sua origem na rugosidade desta

superfície, não observada a olho nu, mas suficiente para promover

múltiplas reflexões da luz incidente e, com isso, perda de brilho. Sendo

tanto mais mate quanto maior sua rugosidade e vice-versa. Um exemplo

de matéria prima é a alumina (Al2O3) por não ser solúvel na fase vítrea.

Este é um material muito refratário que se dissolve apenas durante a

queima do esmalte, estando, portanto diretamente relacionado o grau de

matificação do vidrado final com o tamanho de partícula da alumina

utilizada como matéria prima, de tal forma que quanto menor seja este,

mais brilhante será o vidrado, e vice-versa.

Para Sanches (1997), existem outras matérias primas que são utilizadas com

diferentes finalidades, sendo a mais importante destas o quartzo (SiO2), material muito

refratário, pouco solúvel na fase vítrea, e que normalmente é utilizado como regulador

ou modificador do coeficiente de dilatação do vidrado.

Segundo Eppler (1998), a sílica (SiO2) é a base dos esmaltes e é necessária em

concentração suficiente para manter a estrutura do vidro, mas tem como limitação a

taxa de fusão. A concentração de óxido de boro (B2O3) é limitada pelo aparecimento

de bolhas e por considerações relacionadas à durabilidade. A adição de óxido de boro

é frequentemente necessária para assegurar uma fusão adequada de esmaltes com

baixa temperatura de fusão. Óxidos de elementos alcalinoterrosos (CaO, MgO, SrO)

não devem ser usados em esmaltes a serem queimados a temperaturas menores que

1093°C. A concentração de álcalis (Na2O, K2O, Li2O) é limitada pelas exigências

relativas à expansão térmica.

53

4.6.1 Processo de queima

A queima pode ocorrer em curtos prazos como dois a dez minutos e nesse caso,

são denominadas queimas rápidas. Pode também ocorrer em período de tempo maior

como uma a seis horas e são chamadas de queimas lentas. Estes processos

dependem da cinética das reações de fusão e dissolução, portanto, são fortemente

dependentes da temperatura. A fusão do esmalte libera grandes quantidades de

gases, que devem ser eliminados durante a queima. O espaço vazio entre as

partículas do esmalte seco, antes da queima, corresponde a mais de 40% do volume

total e é mais uma fonte de gás, muito embora os gases escapem rapidamente durante

os estágios iniciais da queima, uma vez que o esmalte esteja selado, a única maneira

de eliminar o gás é difundindo-o até a superfície do esmalte, onde uma bolha de gás

pode estourar e a superfície, alisada. Entretanto, este processo de difusão é

usualmente muito lento para os processos de fabricação correntes. Desta forma, há

uma necessidade de maximizar a temperatura na qual o selamento ocorre (EPPLER,

1998).

Durante o processo de queima, a partir da temperatura de aproximadamente

560°C, ocorre a formação da camada de óxido em ferro fundido. Dependendo da

quantidade de oxigênio, pode-se formar três óxidos diferentes: wustita (Fe1-xO),

magnetita (Fe3O4) ou hematita (Fe2O3). Para melhorar a aderência do esmalte no

ferro, é muito importante que uma camada dos óxidos seja formada. A hematita reduz

a adesão e a magnetita aumenta a aderência. O wustita é principalmente uma fase de

transição e depois, ao resfriar, decompõe-se à magnetita. A espessura da camada de

óxido de ferro é importante. No caso da camada muito espessa, adquire-se

principalmente uma mistura de magnetita; hematita e alguns wustita. À medida que a

taxa de expansão térmica destes óxidos é diferente, a camada apresenta rachaduras

durante o procedimento de resfriamento, o que diminui a aderência no ferro fundido

(WENDEL, 2005). A figura 4.11, mostra a formação dos óxidos em temperaturas

diferentes.

54

Figura 4.11 - Diagrama de fase Fe, (WENDEL, 2005).

4.6.2 Distribuição do tamanho das partículas

O tamanho das partículas das matérias primas influência consideravelmente o

comportamento do esmalte na confecção. A dissolução e ou fusão das partículas

começa na superfície externa e caminha em direção ao centro. Assim, uma partícula

grande demorara mais para reagir do que uma menor. Este raciocínio, entretanto, tem

uma limitação em função da aglomeração das partículas. Com a diminuição do

tamanho das partículas, a tendência a aglomeração aumenta. Aglomerados não

fundem eficientemente. Portanto, o tamanho ideal, na maioria dos casos, é de

partículas passantes em #325 e que não sejam submicrométricas (menores que 1 μm)

(EPPLER, 1998).

4.7 Processo de esmaltação

As atuais práticas de esmaltação em metais são totalmente diferentes dos

métodos precursores. Houve um direcionamento de pesquisas e desenvolvimentos

nas décadas de 40, principalmente porque a indústria foi direcionada para produção

em escala de peças de aço, voltadas à indústria de eletrodomésticos. No entanto,

55

recentemente, mais uma vez a indústria voltou suas ações para a esmaltação através

do processo úmido, aplicado em produtos de ferro fundido, como forma de agregar

valor (ELLIOT, 1983).

A aplicação do esmalte cerâmico por via úmida, pode ser feito pelos processos

de imersão, spray, pincel ou cobertura contínua. A esmaltação consiste na aplicação

de uma camada de vidrado (esmalte) sobre a superfície metálica. O vidrado é

composto por uma série de matérias primas inorgânicas. Contêm sílica, como

componente fundamental formador do vidro; alguns elementos que atuam como

fundentes que são os metais alcalinos, alcalinos terrosos, zinco, chumbo e boro;

outros como opacificantes, no caso do zircônio, estanho e titânio e outros ainda como

corantes, no caso do ferro, cromo, cobalto, manganês, etc.

Gomes (2015), cita em seu trabalho, que a esmaltação pode ser realizada com

a aplicação de uma única camada e uma única queima (1C/1Q); com a aplicação de

duas camadas com duas queimas (2C/2Q) ou com a aplicação de duas camadas e

uma queima (2C/1Q). No primeiro caso, uma única camada de esmalte deve conter

as funções de fundente e cobertura e devem cobrir a superfície do metal; possuir boa

aderência; proteger o metal de ataques químicos e físicos e ter a aparência visual

desejada.

O processo de esmaltação em ferro fundido é complexo e requer o controle

minucioso de todas as etapas, considerando a composição química e tratamento de

superfície do substrato, tempo de queima, composição do esmalte de base e

cobertura. Uma forma eficaz de se tratar a superfície antes mesmo de receber a

camada de esmalte é através do jateamento de areia. Entretanto, é aconselhável

adaptar o processo ao uso do jato de granalha por questões ambientais, custo e

disponibilidade de equipamentos.

Wendel (2005), afirma que para iniciar o processo de esmaltação a superfície do

substrato deve estar limpa, livre de contaminações por menores que sejam. A melhor

forma de se fazer isso é através do jateamento de granalha, porém segundo o autor

cuidados durante o processo de jateamento devem ser tomados, como:

O fluxo de explosão das granalhas deve ser exatamente à direita, se perder o

objetivo em 10% a perda de eficiência é de 25%;

A escolha do tamanho das granalhas de aço também é importante, uma vez

56

que, granalhas muito grandes tem-se um impacto menor do que granalhas de

pequenas dimensões, devido a energia cinética para fazer o trabalho;

As partículas de granalha devem ser substituídas por uma nova sempre que

suas dimensões diminuírem em 25% de seu tamanho nominal;

A forma angular das partículas interfere na profundidade da limpeza;

O fluxo do abrasivo deve ser controlado, se não houver alimentação estável e

muito menos carga, a limpeza será fraca;

A extração de impurezas deve ser retirada do jato através de sistemas de

exaustão de finos, e nunca deve ultrapassar em 2%.

4.8 Aderência

Segundo Bodaghi (2011), a aderência do esmalte à superfície se dá por dois

métodos que são através de reações químicas onde há a presença de uma película

de óxido como uma zona de transição entre o metal e o vidro, com o óxido firmemente

fixado entre as camadas. Outro método é mecânico, onde a aderência se dá através

de pontos de ancoragem existentes na superfície. Um exemplo de adesão mecânica

é a eletrolítica ou galvânica. Nesse caso, ocorre com uma precipitação dos íons de

cobalto ou níquel presentes no esmalte que quando entra em contato com o ferro,

facilita a corrosão. Vale salientar que nesse processo de corrosão galvânica, o ferro

age como anodo. As células não cessam durante a queima por existir em abundância

e agem sobre o catodo havendo a despolarização. Esse efeito cria pontos de

ancoragem na superfície, aumentando a adesão entre o substrato e a camada de

esmalte. Veja na figura 4.12 como ocorre a despolarização.

57

Figura 4.12 - Desenho esquemático ilustrando as diferenças no ataque corrosivo ao

ferro por cobalto, (BODAGHI, 2011, p. 218).

Bodaghi (2011), também verifica através de testes, que a adesão é aumentada

consideravelmente em esmaltes contento cobalto em sua composição e de acordo

com Wendel (2005), essa adesão do esmalte à superfície do ferro fundido, está

condicionada a formação de uma camada de óxido na superfície do metal. Camada

que pode ser formada pela presença de óxidos no esmalte, tais como óxido de cobalto

ou óxido de níquel, metais que provocam a corrosão eletrolítica. O jateamento da

superfície também favorece a corrosão e a reação com um dos óxidos ocorre

conforme explica a equação 4.1.

CoO + Fe = FeO + Co

Equação 4.1 – Reação dos óxidos na camada intermediária

Sendo:

CoO = Óxido de cobalto;

Fe = Ferro;

FeO = Óxido de ferro;

Co = Cobalto;

58

O autor cita também em seu trabalho, a influência da composição do ferro

fundido em relação a aderência do esmalte. Os componentes do ferro fundido têm

uma influência significativa na aderência. Fósforo e silício aumentam a aderência do

esmalte vítreo e tal fator pode ser explicado pela influência que exercem no cálculo

do carbono equivalente. Ou pela boa relação química de silício e fósforo com a

natureza química do vidro. Veja a equação 4.2

Ceq. = Ctotal + (Si + P) / 3

Equação 4.2 – Cálculo do carbono equivalente

Sendo:

Ceq. = Carbono equivalente;

Ctotal = Carbono total;

Si = Silício;

P = Fósforo;

Sabe-se que o enxofre e o manganês diminuem a adesão do esmalte vítreo. O

enxofre apoia, por um lado, a oxidação do ferro e por outro lado, forma sulfetos com

uma tensão superficial muito baixa, que diminui a molhabilidade do vidro, enquanto o

manganês é usado apenas para combinar o enxofre residual no ferro fundido. Em

geral, é suficiente ter aproximadamente três vezes a porcentagem de enxofre como

teor de manganês no ferro fundido. Qualquer excesso de manganês, forma

carbonetos estabilizadores, ou seja, carbono combinado, o que influencia,

negativamente, a aderência (WENDEL, 2005).

A quantidade de silício e fósforo, também determina a formação de estrutura

ferrítica do ferro. A estrutura morfológica da grafita também é importante. Grafita do

tipo A e B é sempre favorável. Grafita tipo D e E têm um caráter menos cristalino e a

grafita amorfa é muito reativa e queima facilmente. A taxa de resfriamento do ferro

influencia muito a estrutura final. Isto é, importante, por exemplo, para as peças de

pequenas espessuras. Se o ferro estiver esfriando muito rápido, será formada mais

perlita e alguma cementita que diminui a taxa de expansão térmica e por isso, causa

59

tensão, o que diminui a aderência do esmalte vítreo (WENDEL, 2005).

Y. Shen et al. (2012), propõem um método para determinar a força de tração

entre o esmalte e a superfície do ferro fundido. Trata-se da colagem de trinta

parafusos, cuja superfície da cabeça é de 1,1 cm² cada, em uma placa de ferro fundido

esmaltado de 100 cm2. Para colagem, o autor propõe adesivo do tipo Araldite AV

2011, com a cura do adesivo a 150°C, durante 45 min. Veja na figura 4.13 a máquina

construída.

Figura 4.13 - Configuração do teste de tração, (Y. SHEN et al. 2012).

O mesmo autor propõe que para aprovação da placa esmaltada, não deve

exceder a 3% em fração média da superfície de metal nu, que é no total 1 cm2. Usando

esse critério, o esmalte do lado esquerdo da figura 4.14 é considerado uma falha

quanto a aderência do esmalte. E do lado direito, aprovado.

60

Figura 4.14 - Superfície de fratura (Y. SHEN et al. 2012).

4.9 Ferro fundido para fins de esmaltação

A composição química da liga de ferro fundido, bem como sua microestrutura,

são fatores importantes no processo de esmaltação e devem ser controlados e

analisados durante o processo de fabricação das panelas de ferro. Pagliuca e Faust

definem uma composição química padrão para as ligas de ferro e alertam que teores

de carbono acima desses valores, podem ocasionar defeitos como a formação de

bolhas na superfície revestida. Os valores são indicados na tabela 4.4.

Tabela 4.4 - Composição química do ferro fundido para fins de esmaltação,

(Adaptado de PAGLIUCA E FAUST, 2011).

Shchepochkina (1995), defende que o controle sobre o conteúdo desses

componentes em ferro fundido, é muito importante para melhorar a qualidade de

produtos na indústria de esmalte. O autor propõe a seguinte composição química pra

as ligas de ferro fundido:

Elemento (%) C Si Mn P S

Limite 3,25 - 3,60 2,25 - 3,00 0,45 - 0,65 0,60 - 0,95 0,05 - 0,10

Ideal 3,25 - 3,35 2,50 - 2,60 0,45 - 0,60 0,60 - 0,70 < 0,09

61

Tabela 4.5 - Composição química do ferro fundido para fins de esmaltação,

(Adaptado de SHCHEPOCHKINA, 1995).

O controle da composição química durante o processo de elaboração do ferro

fundido, deve ser feito e mantido dentro da faixa especificada, uma vez que os

elementos presentes na liga metálica favorecem a formação de maior ou menor

número e tamanho das grafitas, influenciando também na formação da matriz

metálica.

São dois os fatores preponderantes na determinação da estrutura do ferro

fundido: composição química e velocidade de resfriamento, segundo Chiaverini

(2002). O autor também afirma, que a maior influência relacionada à composição

química, é dada pela presença do silício e do carbono, uma vez que o carbono

determina a quantidade de grafita que se pode formar e o silício é essencialmente o

elemento grafitizante, favorecendo a decomposição do carboneto de ferro. Sua

presença, independentemente do teor de carbono, pode fazer um ferro fundido tender

para o cinzento ou para o branco.

Outros elementos além do carbono e do silício, também presentes em ferros

fundidos exercem influência na estrutura do material. De acordo com Fernandes

Junior (1998), os mais comuns são o manganês, o enxofre e o fósforo. O manganês

tem efeito oposto ao do silício, ou seja, estabiliza a cementita, contrabalança, de certo

modo, a ação grafitizante do silício. A rigor, o manganês nos ferros fundidos é

adicionado como dessulfurante. Entretanto, como na prática há sempre um excesso

de manganês, este atua como estabilizador da perlita, o que explica seu efeito oposto

ao do silício e a sua utilidade para produzir estrutura com matriz predominantemente

perlítica. Para Chiaverini (2002), esse processo acontece sobretudo em peças

fundidas volumosas.

O enxofre forma inclusões não-metálicas prejudiciais, tanto sob a forma de

sulfeto de ferro, como de sulfeto de manganês, desde que este último tenha forma e

distribuição inadequadas. Acima de 0,15%, ele pode ocasionar defeitos, mesmo

Elemento (%) C Si Mn P S

Faixa 2,20 - 3,70 1,00 - 2,90 0,20 - 1,00 0,02 - 0,30 0,02 - 0,30

62

neutralizado pelo manganês (gases, rechupes, redução de fluidez, formas anormais

da grafita e carbonetos (FERNANDES JUNIOR, 1998).

O fósforo forma com o ferro e o carbono, um composto de natureza eutética –

carboneto de ferro e fosfeto de ferro – de aparência branca e perfurada, chamado

steadita (CHIEVERINI, 2002). O autor afirma também que a steadita ocorre quando a

quantidade de fósforo presente é superior a 0,15%.

Segundo Shchepochkina, (1995), todo carbono ou sua maior parte na estrutura

dos ferros fundidos, apresenta-se na forma livre denominda grafita e quando

combinado estruturalmente, formam-se os carbonetos. A adequação do ferro fundido

para esmaltação é largamente determinada pelo tamanho das partículas de grafite. O

tamanho destas partículas depende dos componentes da liga metálica e sua

proporção. Para um teor de silício de 2,7 a 2,8%, a formação de grafita é máxima. A

formação de partículas grosseiras de grafite é indesejável à esmaltação.

A adequação de ferro fundido para esmaltação é afetada positivamente pela

presença de manganês para a quantidade de 0,4 a 0,6%. O fósforo afeta essa

capacidade apenas ligeiramente, pelo menos, na quantidade inferior a 0,15%. Vale

salientar que o efeito negativo do enxofre na esmaltação de ferro fundido se manifesta

quando o seu conteúdo excede 0,2% (SHCHEPOCHKINA, 1995).

O controle sobre o conteúdo desses componentes em ferro fundido é muito

importante para melhorar a qualidade de produtos na indústria de esmaltação. Outro

parâmetro que influencia na qualidade dos produtos no que se refere à esmaltação, é

a reação química da superfície do metal com o esmalte. Esmaltes contendo B203,

TiO2, CaO, e alguns outros componentes, têm uma interação favorável com a

superfície do metal.

Na elaboração do ferro fundido necessário ao desenvolvimento dessa pesquisa,

a faixa de composição química a ser seguida é a sugerida por Pagliuca e Faust dentro

da faixa limite. O autor sugere que a matriz metálica ideal ao processo de esmaltação,

seja predominantemente perlítica, com pequenos veios de grafitas.

63

5. METODOLOGIA

Segundo Cervo, Bervian e Silva (2007), a pesquisa é uma atividade para a

investigação de problemas teóricos ou práticos, por meio do emprego de processos

científicos. Existe, portanto, uma necessidade constante em aprimorar processos e

produtos, de forma que as empresas mantenham-se constantes no mercado. As

etapas dos procedimentos experimentais estão detalhadas nos itens seguintes.

5.1 Parâmetros a ser seguidos

Como não existe uma norma para esmaltação em ferro fundido, a composição

química a ser seguida para elaboração da liga metálica é a proposta por Pagliuca e

Faust. Esta composição pode ser conferida na tabela 4.6.

Com o objetivo de verificar o comportamento do esmalte quando em contato com

o ferro fundido, foram elaborados para teste, quatro composições diferentes de

esmalte, partindo de matérias primas cruas. As três primeiras composições são

sugeridas por Pagliuca e Faust (2011), a quarta, porém foi elaborada através de

estudos bibliográficos. As composições podem ser vistas na figura 5.1:

64

a) Composição do esmalte 1 (terroso)

b) Composição do esmalte 2 (branco)

65

c) Composição do esmalte 3 (preto)

d) Composição do esmalte 4 (azul)

Figura 5.1 – Composições dos esmaltes elaborados. As fotos são ilustrativas da

característica de cada um dos elementos, não estando na proporção de cada

esmalte.

Tabela 5.1 – Composição dos esmaltes elaborados.

Composição 1 23,8 33,3 21,9 11,4 0,4 4,2 3,9 0,7 0,4

Composição 2 25,0 25,5 21,0 3,5 3,0 14,0 7,0 5,0 3,0 8,0

Composição 3 26,8 28,0 22,0 4,0 7,0 4,0 4,2 3,5 1,5 3,0

Composição 4 20,0 42,0 29,0 8,0 1,0

Óxido de

ferro

Óxido de

antimônio

Dióxido de

manganês

Oxido de

manganês

Carbonato

de sódioFluorita Criolita Bentonita

Óxido de

cobalto

Óxido de

zincoFeldspato Bórax Quartzo

Nitrato de

sódio

66

6. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

6.1 Seleção das amostras

As primeiras amostras selecionadas para teste, foram extraídas de peças

fabricadas em ferro fundido cinzento. Porém, os elementos químicos constituintes da

liga metálica, não estavam dentro da faixa especificada pela revisão bibliográfica

como material ótimo para esmaltação. Nesse caso, a opção foi utilizar amostras

retiradas das peças mecânicas. Uma vez que a sua composição metálica (ver tabela

6.1) é a que mais se aproxima da condição ideal.

Essa preferência ocorreu devido à impossibilidade de encontrar material já

produzido no Município de Cláudio/MG, que esteja de acordo com a composição

exigida. Assim, a única forma de conseguir um material em ferro fundido cinzento

adequado à esmaltação, é fabricá-lo conforme os percentuais de cada elemento. O

que não seria interessante nesse estágio da pesquisa.

O objetivo inicial do projeto, era conhecer o comportamento do esmalte em

contato com a superfície do ferro. Para isso, as amostras selecionadas foram retiradas

de peças mecânicas fabricadas em ferro fundido cinzento nas classes 200 e 250, de

acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, onde as mesmas

foram quebradas formando vários pedaços em formatos distintos. A escolha foi

preferencialmente pelos pedaços de dimensão variando entre 10 a 15 cm, com

geometria irregular e com algumas faces planas.

Uma vez que o ferro fundido é de fratura frágil, por isso quebradiço, optou-se por

realizar a quebra ao invés do corte refrigerado, evitando assim, possíveis mudanças

na microestrutura do material. Tal procedimento foi adotado durante a pesquisa,

sempre que foi necessário.

Foram esmaltadas aproximadamente 50 amostras nessa fase inicial da

pesquisa. Durante os testes, foram experimentados vários parâmetros de queima, até

que fosse ajustada uma faixa de trabalho.

67

Tabela 6.1 – Composição química das primeiras amostras.

Na figura 6.1 é possível ver a evolução das primeiras amostras esmaltadas.

Figura 6.1 – Primeiras amostras esmaltadas.

Após ajustamento dos principais parâmetros, os demais testes foram realizados

em miniaturas de panelas fabricadas conforme especificações da revisão bibliográfica.

Nessa etapa, foram fabricadas 32 peças para teste. Uma vez que, a espessura da

peça, assim como o material utilizado, exercem influência no processo de esmaltação,

buscou aproximar de uma situação real de aplicação. Vale lembrar que as etapas de

todos os procedimentos usados na fabricação, estão detalhadas nos itens seguintes.

Composição Química ideal % C % Si % Mn % P % S

3,25 - 3,35 2,5 - 2,6 0,45 - 0,6 0,6 - 0,7 < 0,09

Rastreabilidade

12G09 / GG25 - AR 3,62 1,95 0,85 0,07 0,07

EMEB / 15B - AR 3,61 2,44 0,5 0,16 0,07

Amostra 01 / GG25 - FDM 3,34 2 0,45 0,05 0,12

Amostra 02 / GG25 - FDM 3,34 2,13 0,42 0,05 0,13

Coletor 685 - AR 3,62 2,14 0,69 0,11 0,061

Pressure Placa Válvula 4 3/4 3,57 2,61 0,39 0,14 0,06

Pressure Placa Válvula 2"20 3,63 2,61 0,48 0,14 0,05

13G09A 3,62 2,04 0,84 0,15 0,06

Legenda Acima do especificado Abaixo do especificado Dentro do especificado

Amostras sem esmalte

Testes iniciais –

defeitos aparentes

Amostras esmaltadas

68

6.2 Elaboração dos moldes

A confecção dos moldes, análises químicas via espectrometria óptica e a fusão

do metal, foram realizados na Fundição Santana, uma empresa de médio porte

especializada na fabricação de panelas de ferro fundido, localizada na cidade de

Cláudio/MG. E os ensaios de microscopia óptica, na Instituição de Ensino do Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, localizada na mesma cidade.

Os moldes foram confeccionados na máquina de moldar, pneumática, da marca

Gazola - modelo 3213. A areia utilizada foi sintética, granulometria 70 AFS,

aproximadamente. Utilizou-se o processo à verde, composto por bentonita, água e pó

cardif, como aglomerantes. Vale salientar que a compactação dos moldes foi realizada

por meio de processo pneumático de prensagem. Esse processo confere aos moldes

de areia uma compactação homogênea, com dureza superficial em torno de 80 HB.

Sabe-se que a compactação é importante no processo de obtenção da peça

fundida, uma vez que moldes mais rígidos proporcionam menor variação dimensional

na peça, menor contração linear e volumétrica. Considera-se também a importância

das moldações mecanizadas neste processo, pois além de aumentar

significativamente a produção, possibilitam um maior controle da areia e dos

aglomerantes, fatores que contribuem para a qualidade final do produto.

A placa dupla face rebaixada, confeccionada em alumínio e contendo quatro

figuras, foi o ferramental utilizado na moldação, assim como uma caixa também em

alumínio, do tipo expansiva com medidas internas 18 x 16 x 4 polegadas, ver figura

6.2. Vale lembrar que a máquina de moldar está adaptada para a produção de treze

moldes por hora, podendo sofrer variações conforme a complexidade da peça. Para

esse experimento foram confeccionados 8 (oito) moldes, totalizando 32 (trinta e duas)

peças.

69

Figura 6.2 – Caixa Expansiva com a Placa Dupla Face, (Cortesia da FUNDIÇÃO

SANTANA).

6.3 Elaboração do ferro fundido

Para se elaborar uma liga de ferro fundido, conforme composição química pré-

estabelecida, é necessário que se faça um cálculo de carga, a fim de se prever a

composição química do metal líquido. A carga metálica é composta de diversos tipos

de materiais, sendo assim a composição química do metal no estado líquido é o

resultado de todos os elementos químicos que compõem os materiais da carga

metálica, conforme tabela 6.2.

70

Tabela 6.2 – Folha de carga.

71

Com o resultado da análise feita por espectrometria de emissão óptica, é

possível verificar a composição química do metal que se encontra no forno, realizar

correções e ajustar os percentuais de elementos químicos ausentes. Porém, esses

ajustes devem ser evitados, uma vez que grandes correções acarretam em atrasos

na produção e a exposição do metal líquido à temperatura alta por um tempo

excessivo pode provocar a queima de elementos químicos. Nesse caso, faz-se

necessário o laudo técnico das composições da carga metálica, a elaboração do

cálculo de carga, a utilização do forno elétrico à indução e as análises via

espectrometria de emissão óptica.

A utilização de 1100 kg de sucata (automotiva e disco de freio) na composição

da carga torna-se necessária para controlar o percentual de carbono, uma vez que o

ferro gusa cinzento não é comercializado com percentuais tão baixos de carbono e

silício, conforme indica a tabela 4.6. Outros elementos também foram adicionados ao

metal, tais como: FeSi75% granulado para o tratamento de inoculação e FeP25%

granulado para aumentar o teor de fósforo até a faixa de 0,60 a 0,70%. E como não

existe uma norma para esmaltação em ferro fundido, a composição química a ser

seguida para elaboração da liga metálica é a proposta por Pagliuca e Faust (2011),

como material de qualidade para o processo de esmaltação. Esta composição pode

ser conferida na tabela 4.6.

Para o experimento, foram utilizados dois fornos de armazenagem tipo cadinho

da marca Inductotherm, com capacidade de 1500 kg cada e um painel elétrico. O

tempo de fusão foi de 50 minutos, para uma carga metálica completa, porém, foram

necessários apenas 80 kg para os experimentos. O restante do metal foi corrigido e

aproveitado na fundição, no processo de fabricação de peças corriqueiras.

Parâmetros como temperatura e tempo de fusão devem ser controlados nesse

processo, a fim de evitar a queima de elementos químicos presentes na liga metálica.

A temperatura do metal líquido foi controlada através do painel elétrico do próprio forno

e pode ser monitorada constantemente, com a utilização do pirômetro, aparelho que

mede a irradiação térmica e informa a temperatura, que durante o experimento, foi de

1560 C°, no momento do tratamento de inoculação. A elevação da temperatura foi

necessária para facilitar a dissolução da liga metálica FeP25%. A distância e o tempo

de transporte do metal até o molde, também são fatores a serem considerados e

72

nesse caso, houve uma perda de 160 °C até o momento do vazamento, temperatura

considerada significativa, mas que pode ser explicada devido ao fato do FeP25% ter

sido colocado no fundo da panela.

Figura 6.3 – Forno elétrico com dois cadinhos,

(Cortesia da FUNDIÇÃO SANTANA).

O tratamento de inoculação foi feito em 40 kg de metal, diretamente no jato de

metal provindo da bica do forno. A liga utilizada é FeSi75% e o cálculo da quantidade,

feito segundo a equação 6.1.

CF = % aumento x peso

Rendimento

Equação 6.1 – Cálculo para o acréscimo de elementos

A temperatura de vazamento foi de 1400 °C na primeira panela e 1402 °C na

segunda. Em cada panela havia 40 kg de metal líquido e foram vazados quatro moldes

de aproximadamente 4 kg de metal cada. O peso de cada peça é de 800 gramas e o

restante do metal, são os canais de vazamento, portanto, em cada molde são 3,2 kg

de peças e 800 gramas de canais. Em cada panela foram vazados aproximadamente

16 kg e o restante do metal, lingotado. Ou seja, solidificado em um produto, no formato

de bloco ou placa.

Para análise da composição química, foi utilizado o espectrômetro por emissão

73

óptica da marca GNR modelo Solares CCD Plus, equipamento utilizado para efetuar

a análise química de ligas, garantindo sua composição especificadas pelas normas

da ABNT. As amostras foram retiradas do forno após 40 minutos de fusão, possuem

formato circular e foram vazadas em moldes metálicos, facilitando assim a

solidificação. O resultado da análise do metal ainda no forno, pode ser conferido logo

abaixo:

Tabela 6.3 – Resultado da análise da composição química via espectrometria óptica,

feita com metal ainda no forno.

O procedimento de vazamento foi realizado em duas panelas diferentes para

melhor veracidade dos dados. Em cada panela, o tratamento de inoculação e a

correção do teor de fósforo foram realizados. Não há, portanto, a necessidade de

correção de outros elementos e isso pode ser verificado através dos resultados da

análise via espectrometria óptica, realizada momentos antes da transferência do metal

para a panela de vazamento. Os resultados podem ser comprovados na tabela 6.4:

Tabela 6.4 – Análise comparativa entre o planejado e o esperado.

C Si Mn P S

3,423 2,226 0,492 0,084 0,1

Mg Cr Mo Ni Nb

0,001 0,207 0,015 0,021 0,007

Al Cu Co B Ti

0,001 0,097 0,003 0,003 0,014

V W Sn Zn Fe

0,006 0,047 0,039 0,012 93,198

Re

su

lta

do

da

an

ális

e

Elemento (%) C Si Mn P S

Resultado da análise preliminar 3,423 2,226 0,492 0,084 0,1

Previsto em Cálculo 3,36 2,25 0,46 0,1 0,08

Composição Ideal Final 3,25 - 3,35 2,50 - 2,60 0,45 - 0,60 0,60 - 0,70 < 0,09

74

Observa-se que o silício e o fósforo estão abaixo do desejado. Porém, o teor

silício foi aumentado após o tratamento de inoculação com FeSi75% seguindo o

cálculo de inoculação, conforme equação 3.

O fósforo foi adicionado no fundo da panela de vazamento. Seguem abaixo as

respectivas quantidades utilizadas:

CF = 0,25 x 40 = 0,153 65

1ª panela – Foram utilizadas 150 gramas de liga inoculante;

Sendo:

0,25 = Percentual de Silício que deseja aumentar;

40 = Quantidade de material em kg;

65 = Rendimento da liga metálica.

CF = 0,35 x 40 = 0,215 65

2ª panela – Foram utilizadas 200 gramas de liga inoculante;

Sendo:

0,35 = Percentual de Silício que deseja aumentar;

40 = Quantidade de material em kg;

65 = Rendimento da liga metálica.

75

No momento do vazamento dos moldes foram retiradas duas amostras, para

repetir análise da composição química. O procedimento foi feito para as duas panelas,

o resultado da análise final pode ser visto na discussão dos resultados.

6.4 Desmoldagem

A desmoldagem foi realizada após uma hora do vazamento do metal líquido.

Esse tempo é importante, pois confere boa estabilidade ao metal e pode variar de

acordo com a espessura da peça e quanto maior a massa metálica, maior é o tempo

de espera para desmoldagem.

CF = 0,62 x 40 = 0,992 25

1ª panela – Foram utilizadas 1000 gramas de liga FeP25%;

Sendo:

0,62 = Percentual de Fósforo que deseja aumentar;

40 = Quantidade de material em kg;

25 = Rendimento da liga metálica.

CF = 0,55 x 40 = 0,880 25

1ª panela – Foram utilizadas 900 gramas de liga FeP25%;

Sendo:

0,55 = Percentual de Fósforo que deseja aumentar;

40 = Quantidade de material em kg;

25 = Rendimento da liga metálica.

76

6.5 Elaboração e aplicação do esmalte cerâmico

Com o objetivo de verificar o comportamento do esmalte quando em contato com

o ferro fundido, foram elaborados para teste, quatro composições diferentes de

esmalte, partindo de matérias primas cruas. Para esse fim, foi utilizado o laboratório

de escola de cerâmica (LEC), da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ)

Campus Tancredo Neves (CTAN) e as matérias primas utilizadas, em grande maioria,

foram doadas pelo laboratório, outras, no entanto, foram adquiridas com recurso

próprio ou cedidas pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica

(PPMEC). Foram utilizados para esse fim, os equipamentos e instrumentos de

laboratório do LEC, já o processo de queima, foi realizado no laboratório de cerâmica

na UFSJ campus Santo Antônio (CSA).

As percentagens das substâncias na composição de três vidrados elaborados,

são sugeridas pelos autores Pagliuca e Faust no livro Porcelain (vitreous) enamels,

conforme já mostrado nas figuras 5.1 letras a), b) e c), e uma quarta composição

mostrada também na figura 5.1 letra d), elaborada conforme revisão bibliográfica.

As matérias primas foram pesadas com o auxílio de uma balança digital marca

Travel, modelo OH EDU- ASF 11 de precisão centesimal e capacidade máxima de

pesagem de 2 kg. Após a pesagem de toda a composição, foi acrescido 45 a 50% de

água e moída a úmido, em moinho de bolas excêntrico de laboratório, marca

Servitech, durante 30 minutos.

Figura 6.4 – Processo de mistura e moagem.

77

Foram utilizados trinta e dois protótipos fabricados para aplicação dos esmaltes,

sendo dez peças para aplicação do esmalte 04, dez peças para aplicação do esmalte

01, cinco peças para aplicação do esmalte 02 e cinco peças para aplicação do esmalte

03. O direcionamento dos testes para a composição 01 e 04, se dá em função dos

resultados obtidos previamente.

6.6 Aplicação do esmalte e limpeza da superfície

Os esmaltes obtidos, foram aplicados em peças com formatos de miniaturas de

panelas de ferro fundido cinzento, fabricadas conforme material visto no item 4.1. A

aplicação do revestimento vítreo, foi realizada em cabine de pintura da marca

Brasibras, modelo CPS 1000, com a utilização de pistola à pressão de 9,7 bar. Antes

de receber o revestimento cerâmico as peças foram limpas por meio de jateamento

de granalha de aço durante 10 minutos.

E para garantir que possíveis contaminações durante o transporte e manuseio

das peças não afetem o processo de esmaltação, foi realizada também a limpeza

ultrassônica. Nesse processo, as peças foram submersas em solução de álcool

isopropílico 99,5% PA ACS em baixa frequência por 15 minutos e em seguida,

revestidas com plástico filme até o momento de receber a camada de esmalte.

Sabe-se que o ferro fundido é facilmente oxidável e caso apresente sinais de

ferrugem na superfície, esse deve ser totalmente eliminado no processo de

jateamento. Caso contrário, podem ocorrer defeitos devido às reações do esmalte

com a oxidação do ferro, durante a etapa de queima.

6.7 Secagem

Depois de aplicado o revestimento, a peça esmaltada foi seca (drenada) antes

de receber uma nova camada de esmalte. A solução drenada é chamada de “biscoito”,

termo emprestado do processamento cerâmico. Quando o biscoito é completamente

seco, ele se torna forte o suficiente para ser tocado em processos manuais, ou seja,

para o manuseio. O tempo de drenagem durante o processo de secagem, depende

tanto da formulação do esmalte, quanto do método de aplicação que foi realizada por

78

spray. Nesse processo parte da água é evaporada antes da formação da camada pela

atomização, em que a água é sujeita a maior superfície específica. A temperatura

típica desta operação foi de aproximadamente 100ºC.

A velocidade do ciclo está relacionada à drenagem específica, à formulação do

esmalte e portanto, defeitos podem surgir durante a etapa. O procedimento de

esmaltação, requer a secagem imediata após a aplicação e a quantidade de água

removida, depende diretamente da formulação usada e indiretamente, do processo

de aplicação. Obviamente, soluções com grandes quantidades de água, envolvem

custos extras, relativos à evaporação, uma vez que parte da água evapora durante a

aplicação por spray e pode ser removida na exaustão de ar devidamente instalada,

conforme afirma DEITZEL, (1981).

Após a aplicação do esmalte por spray, as peças foram devidamente secas em

estufas de laboratório Servitech a 100 ± 5 °C durante um intervalo que varia entre 1 a

4 horas, sendo a primeira camada aplicada e a peça inserida na estufa por 1 hora. Em

seguida, foi aplicada a segunda camada permanecendo na estufa por mais 3 horas,

aproximadamente. Quando o revestimento está completamente seco, é possível tocar

no esmalte sem que o mesmo solte da superfície, mas algumas precauções devem

ser tomadas afim de não contaminar a superfície.

6.8 Processo de queima

A queima representa a última etapa do processo de esmaltação. A temperatura

e o tempo de queima são específicos para cada formulação de esmalte, portanto,

foram necessárias algumas adaptações segundo o tipo de forno, a taxa de

aquecimento, a espessura e o formato da peça. Para a realização deste processo

experimental, a queima foi realizada em forno elétrico (FE50RPN, Flyever) à

temperaturas que variam entre 680 a 800°C. Sabe-se que outros parâmetros como o

material e a espessura do substrato, também exercem influência na temperatura de

queima e como pode ser visto no dimensional das peças apresentadas na realização

da experiência, a espessura é de 4 mm ± 0,5 e o material é ferro fundido cinzento.

Vale lembrar, que quando a temperatura está abaixo do ponto de transição

vítrea do esmalte, o revestimento apresenta uma coloração opaca sem brilho e acima

79

do ponto, a cor se manifesta muito próximo ao preto. Entretanto, esse comportamento

varia de acordo com a formulação do esmalte e o tipo de substrato. Durante o

experimento, o patamar e a rampa de temperatura também foram testados, sendo o

patamar em 5, 8 e 10 minutos e a rampa 5, 10 e 15°C/min. Após a queima, as amostras

foram submetidas à análise visual para avaliação de defeitos superficiais.

6.9 Ensaio metalográfico

Para o ensaio microscopia óptica, foram retiradas amostras da própria peça.

Esse procedimento é mais representativo do que outros métodos em que as amostras

são retiradas dos canais de vazamento ou vazadas em moldes específicos. Porém, o

procedimento adotado torna o ensaio destrutivo, o que muitas vezes é inviável. Como

as peças são de espessuras finas e matéria frágil, as mesmas foram quebradas e as

amostras retiradas através de cortes feitos com serrinha manual, dessa forma não há

o aquecimento da secção.

Figura 6.5 – Retirada da amostra para preparo metalográfico.

Depois de retiradas, as amostras foram lixadas a úmido em politriz da marca

Pantec modelo Politan 2, com rotação de 600 rpm. Utilizando lixa d’água, com a

redução do grão na seguinte sequência: 180; 240; 360; 540; 800 e 1000, sendo que

a cada troca de lixa as amostras foram rotacionadas 90º. Em seguida, foi realizado o

polimento em politriz da mesma marca, porém utilizando pano de polimento e alumina

em suspensão 1μm e, por fim, com a utilização de pasta de diamante 1μm e 0,25μm.

Feito o polimento, as amostras foram limpas e secas com a utilização de algodão,

álcool etílico e secador.

80

As amostras foram analisadas no microscópio da marca UNION, modelo MCB-

1, com ampliação: 50 x – 1000 x para observação visual. No primeiro momento, foi

analisada e classificada a formação da grafita, pelo método comparativo segundo a

norma ASTM A-247. Depois de registradas as fotos imagens, as amostras foram

retiradas do microscópio e submersas em uma solução de 100 ml, contendo 4 ml de

ácido nital e 96 ml de álcool etílico, durante 20 segundos. O ataque com ácido nital

4% revela via microscópio a estrutura da matriz metálica que envolve os veios de

grafita, o que não é possível de ser observado com tamanha precisão, antes do ataque

químico. Os ensaios foram realizados com aumento de 100 x, segundo norma ASTM

A-247 (Método comparativo em “Plates AFS”).

6.10 Dimensional das amostras

Foi realizado o dimensional de uma amostragem contendo cinco peças,

selecionadas de forma aleatória. Esse ensaio foi realizado no laboratório de

metrologia da usinagem pertencente a Fundimig, empresa de Fundição e Usinagem,

localizada na cidade de Cláudio/MG, cujo objetivo do ensaio foi verificar a semelhança

entre as peças do lote. A máquina utilizada foi um tridimensional da marca Mitutoyo,

modelo BH 710. O resultado das medições pode ser visto na discussão dos

resultados.

Figura 6.6 – Ensaio tridimensional das amostras.

81

7. RESULTADOS

7.1 Primeiras amostras esmaltadas

Como pode ser observado na tabela 6.1, o material das primeiras amostras

esmaltadas não contém todos os elementos químicos dentro da faixa especificada

pela revisão bibliográfica, como material de qualidade para esmaltação. Entretanto, o

experimento mostra que é possível realizar a esmaltação em ferro fundido, mesmo

que os elementos não estejam dentro da faixa especificada. Gomes (2015), também

apresenta em seu trabalho, a caracterização através da microscopia óptica de panelas

de ferro fundido esmaltadas, fabricadas na China e os resultados estão apresentados

abaixo:

Tabela 7.1 – Valores encontrados na panela esmaltada Chinesa, (Adaptado

GOMES, 2015).

Ao analisar a tabela 7.1, é possível concluir que nenhum dos elementos se

encontra dentro da faixa considerada como limite ideal, entretanto são esmaltadas e

comercializadas. Para Shchepochkina (1995), o controle sobre o conteúdo dos

componentes químicos do ferro fundido é muito importante para melhorar a qualidade

de produtos na indústria de esmalte. Controle igualmente valorizado pelo autor,

durante o procedimento experimental realizado.

O referido experimento, vem de encontro também com as ideias de Pauksh

(1992). O autor cita em seu trabalho, que é possível esmaltar ferro fundido cinzento

com qualquer estrutura, mas que para cada estrutura, deve-se selecionar uma

composição de esmalte e isso muitas vezes requer uma mudança na tecnologia de

esmaltagem. E acrescenta também, que um papel importante é desempenhado pela

uniformidade dos elementos estruturais, mas as suas dimensões são menos

importantes. Tais dimensões, segundo o autor, têm influência na formação de fases

82

em relação à temperatura de queima do esmalte. Como mostra a figura a seguir:

Figura 7.1 – Estrutura do ferro, (Adaptado de PAUKSH,1992).

Coluna I – linhas a); b) e c)

Estrutura grosseira do ferro fundido moldado em areia,

predominantemente perlítico.

Coluna II – linhas a); b) e c)

Estrutura refinada do ferro fundido moldado em molde metálico,

predominantemente perlítico.

Linha b) – coluna I e II

Estrutura do ferro fundido após aquecimento a 750°C, decomposição

da perlita.

Linha c) – coluna I e II

Estrutura do ferro fundido após aquecimento a 850°C, novamente a

formação da perlita.

83

Pagliuca e Faust (2011) também afirmam que "para obter um objeto de ferro

fundido esmaltado de qualidade, deve-se fabricar o substrato dentro dos limites

tolerados de composição". E completam que qualquer composição química fora do

especificado, irá resultar em um produto esmaltado que pode apresentar defeitos com

o passar do tempo. E a China, país com maior volume de comércio internacional,

também fabrica panelas de ferro fundido esmaltada com percentuais altos de carbono

(4,5%), baixo em silício (1,77%), alto em enxofre (0,12%) e baixo em fósforo (0,4%).

Corrobora-se enfim, que esse processo é possível, desde que sejam feitas

alterações no esmalte, porém não é garantia de um produto esmaltado de qualidade

e principalmente durabilidade.

7.2 Elaboração dos moldes

Sabe-se que o material escolhido para a fabricação do molde, exerce influência

nas taxas de resfriamento do ferro fundido e consequentemente, modifica as

dimensões das fases microestruturais. Sabe-se também que a estrutura e

consequentemente, as propriedades de uma peça fundida, dependem das condições

térmicas durante a solidificação ou mais precisamente, das taxas de resfriamento, que

por sua vez dependem das resistências térmicas metal/molde e molde/ambiente

(SANTOS, 1997).

Os moldes fabricados no experimento, foram elaborados em areia à verde devido

a disponibilidade de ferramental e máquina de moldar, mas para fins de esmaltação,

condições melhores de microestrutura seriam obtidas em moldes metálicos, embora

não represente fator determinante na qualidade da esmaltação. Uma vez que a peça

fundida é de pequena espessura (4 mm), a troca de calor entre o metal e as paredes

do molde ocorrem de forma rápida, favorecendo assim a formação de grafitas finas

em matriz predominantemente perlítica.

A velocidade de solidificação, é um fator importante que determina a quantiade

de grafita formada, que nesse caso é favorecida, se as velocidades apresentam-se

moderadas e baixas. Esse fator influencia também no tipo de matriz formada nos

ferros fundidos cinzentos. Velocidades de refriamento moderadas favorecem a

formação da matriz perlítica, enquanto que velocidades de resfriamento baixas,

84

favorecem o aparecimento da matriz ferrítica (SMITH, 2013).

7.3 Liga de ferro fundido

Por meio de análise via espectrometria ótica, realizada no metal retirado

momentos antes do vazamento, é possível verificar o teor dos elementos contidos na

liga. Nesse momento, todas as adições já haviam sido feitas, tais como acréscimo de

fósforo e ganho de silício no processo de inoculação. Os resultados obtidos estão

descritos na tabela 7.2 de forma comparativa.

Tabela 7.2 – Análise final da panela de vazamento 1 e 2.

Cálculo do carbono equivalente segundo composição da tabela 7.2, final (1).

C. E. = % C + 1/3 (% Si + % P)

C.E. = 3,264 + 1/3 (2,505 + 0,643)

C.E. = 4,313

Através do cálculo, percebe-se que é uma liga eutética, segundo o diagrama de

equilíbrio FeC.

Considerando a análise das tabelas que apresentam o resultado, é possível

observar que o procedimento de fusão adotado foi adequado e todos os elementos se

encontram dentro da faixa limite na primeira panela e considerados ideais, na

segunda. A composição do ferro fundido, no entanto, deve atender aos requisitos da

fundição, bem como o processo de esmaltação. Deve ter fluidez suficiente para

preencher completamente a cavidade do molde, sem que haja a formação aparente

de defeitos como, porosidades, micro inclusões e outros. Pode-se fazer uso de uma

Elemento (%) C Si Mn P S

Resultado de análise final (1) 3,297 2,401 0,472 0,862 0,099

Resultado de análise final (2) 3,264 2,505 0,485 0,643 0,088

Composição Ideal 3,25 - 3,35 2,50 - 2,60 0,45 - 0,60 0,60 - 0,70 < 0,09

Composição Limite 3,25 – 3,60 2,25 – 3,00 0,45 – 0,65 0,60 – 0,95 0,05 – 0,10

85

pequena quantidade de sucata disponível, entretanto deve ser uma composição

economicamente viável.

Carbono.

O carbono combinado está presente como cementita (Fe₃C) ou dissolvido na

perlita ou austenita do ferro. Um aumento do carbono combinado resulta em um

aumento na dureza do ferro, ou seja, o carbono é que dá as propriedades e

características do ferro fundido. Porém, a quantidade em grande medida, é controlada

pelas matérias primas e a prática de fundição. O ferro fundido branco é baixo em

carbono não combinado, que muitos esmaltadores consideram um constituinte

indesejável para o ferro fundido que recebe a camada de esmalte.

Houve um tempo, em que somente o ferro fundido branco podia ser esmaltado,

mas hoje é comum esmaltar produtos fabricados em ferro fundido cinzento,

principalmente em países como a China, Itália, França e outros. Com o aumento do

teor de carbono no ferro fundido, a dureza, contração linear e fragilidade aumentam.

Mais de um por cento do carbono combinado tende a enfraquecer a peça fundida e

se exceder três por cento como carbono grafítico, torna-se macio. As quantidades

relativas de carbono combinado e não combinado, também dependem das taxas de

resfriamentos e podem ser modificados com tratamentos térmicos.

Silício.

O silício em ferro fundido tende a transformar o carbono combinado (Fe₃C) em

carbono grafítico, suavizando o ferro. Se o ferro é rico em carbono combinado e o

silício não reduz esse último constituinte abaixo de um por cento, ele tem um efeito de

fortalecimento na medida em que reduz a fragilidade. Também tende a contrariar o

efeito de endurecimento do enxofre. Se presente em excesso de três e meio por cento,

ele muda completamente o caráter do ferro, o ferro se torna prateado, quebradiço e

fraco. O silício melhora a fluidez do ferro e se não estiver presente em quantidade

suficiente, a fundição é difícil devido à tendência de formar inclusões de escória e

micro porosidades.

O silício é um produto economicamente inviável, mas é essencial para a

produção de uma boa fundição, uma vez que favorece o refino de grão. Seu efeito é

86

contrariado pelo manganês e pelo enxofre. Teores de aproximadamente 3% de

carbono e 2,5% de silício favorecem a formação de matriz perlítica e inibi a formação

de grafitas grosseiras, predominando grafitas no tamanho de 0,06 a 0,20 mm.

Manganês.

O manganês tende a contrariar o efeito do enxofre no ferro fundido, agindo como

um amaciador em quantidades até 0,50 por cento. Mais de 2,0 por cento, tende a

endurecê-lo. O manganês também atua para aumentar a solubilidade do carbono,

possibilitando porcentagens muito maiores. Em quantidades menores, endurece o

ferro, mas onde peças macias são desejadas, não deve exceder 0,50 por cento. Tem

uma tendência para reduzir as propriedades magnéticas do mesmo. Como o ferro

gusa é geralmente baixo em manganês, ligas de ferro manganês devem ser

adicionadas ao forno, mas esse fator aumenta o custo da produção.

Fósforo.

O fósforo tem pouco efeito sobre o ferro se adicionado em quantidades abaixo

de 0,70 por cento, mas, em quantidades maiores, enfraquece-o. O fósforo diminui a

contração linear e como o silício, ele contribui consideravelmente para aumentar a

fluidez do ferro fundido. No processo de esmaltação, é desejável que o ferro fundido

tenha a menor contração linear possível e dessa forma, evita defeitos relacionados à

incompatibilidade de contração do ferro e da camada de esmalte durante o

resfriamento. Na fabricação de peças de pequena espessura e com geometria

irregular, o fósforo é uma ótima ajuda, já que a fluidez que o mesmo proporciona ao

material torna possível preencher perfeitamente a cavidade do molde.

Enxofre.

O enxofre aumenta a dureza, fragilidade e contração linear ao reagir com o ferro.

Enfraquece consideravelmente o material e nunca deve exceder 0,10 por cento, a

menos que seus efeitos sejam contrariados por outros elementos como o manganês.

Sua contração é tão grande que deve ser dada uma consideração especial nos

padrões de elaboração. Se o teor de silício for inferior a 1,0 por cento, o enxofre não

deve exceder 0,06 por cento devido à fragilidade que ele apresenta.

87

Elementos diversos.

Existem vários outros elementos em alguns ferros fundidos e muitos dos quais,

têm pouco efeito sobre as propriedades. O níquel, suaviza e fortalece o ferro fundido

produzindo um grão fino. O alumínio, amacia e enfraquece o ferro cinzento mas sua

presença no ferro branco, tende a reforçá-lo em 0,2 a 1,0 por cento. Ligas de vanádio

age como desoxidante quando se junta ao ferro, fortalecendo-o, assim como o titânio.

E o cromo, age sobre o mesmo, endurecendo-o.

Embora seja verdade que a composição química do ferro fundido possa variar

de forma satisfatória em uma ampla gama, deve-se lembrar que o ferro fundido

destinado ao processo de esmaltação, deve possuir todos os elementos químicos

dentro do intervalo de composição visto na tabela 4.6. Uma vez que o coeficiente de

expansão do ferro é controlado pela composição do mesmo e, qualquer variação no

coeficiente de expansão resultará, inevitavelmente, em fissuras e lascadas do

esmalte.

É possível, no entanto, variar a composição do esmalte para adaptar às

diferentes composições e microestruturas obtidas no ferro fundido cinzento. É

necessário, porém, um grau de uniformidade na sua composição afim de se produzir

mercadorias de boa qualidade e sem perda, devido a defeitos ocorridos durante o

processo de fabricação.

7.4 Ensaio microscopia óptica

Segue abaixo a microestrutura do ferro fundido cinzento obtido na primeira e na

segunda panela.

88

Figura 7.2 – Imagens metalográficas obtidas de amostra do primeiro lote –

ampliação 100x.

Figura 7.3 – Imagens metalográficas obtidas de amostra do segundo lote -

ampliação 100x.

Todo carbono existente na estrutura do ferro fundido ou a sua maior parte,

apresenta-se na forma de grafita. Estruturalmente, os carbonetos estão ausentes ou

apresentam-se em pequenas proporções. A adequação do ferro fundido para

esmaltação é largamente determinada pelo tamanho das partículas de grafita, que por

sua vez, depende dos componentes da liga e sua proporção.

No diagrama de equilíbrio de uma liga de Fe, C, Si, ao ultrapassar a última linha

de transformação, corresponde à temperatura do eutetóide, a austenita remanescente

100 μm 100 μm

100 μm 100 μm

89

passa a perlita e a estrutura da liga é constituída de perlita com lamelas de grafita,

podendo a perlita ainda, com resfriamento mais lento, decompor-se parcialmente em

ferrita e grafita. Sabe-se que a perlita é um micro-constituinte composto por lamelas

de ferrita intercaladas com lamelas de cementita e confere ao ferro fundido boa

resistência mecânica. Taxas de resfriamentos rápidos associadas a elementos

pelitizantes favorecem a formação de uma matriz composta em maior quantidade de

perlita com veios de grafitas refinados e a reatividade do esmalte em ferro fundido

com a presença de partículas grosseiras de grafita é pior do que a de partículas finas.

Através das análises micrográficas é possível afirmar que as fotomicrografias

das figuras 6 e 7 apresentam matriz predominantemente perlítica acima de 70%, com

ferríta em torno de 27% e alguma presença de esteadita, constituinte estrutural de

natureza eutética duro e frágil, consiste em fosfeto de ferro (Fe3P). Grafita lamelar do

tipo VII, tamanhos 4 e 6, com distribuição B, segundo a norma ASTM A-247. Segundo

a revisão bibliográfica se trata de um material de qualidade para o processo de

esmaltação.

7.5 Dimensional das amostras

A secção das peças é outro fator significativo que influenciam as propriedades

mecânicas dos ferros fundidos cinzentos. Isso devido ao efeito da velocidade de

resfriamento, ou seja, se é lenta, proporciona maior quantidade de carbono livre ou

grafita. Se é rápida, pode levar à formação de ferro fundido branco ou mesclado, com

apreciáveis variações nas propriedades mecânicas, principalmente dureza e

resistência ao desgaste. Peças de secções mais finas, mesmo se fundidas em moldes

de areia, podem apresentar menos grafita, cuja quantidade diminui ainda mais se os

moldes forem metálicos.

Para o referido procedimento experimental, foram fabricados protótipos de

panelas em tamanhos reduzidos, de pequena espessura. Apresenta-se abaixo, o

dimensional de uma amostra contendo cinco peças, cujos valores encontrados estão

descritos nas tabelas que se seguem:

90

Tabela 7.3 – Valores encontrados no dimensional dos protótipos.

a) Protótipo 1

b) Protótipo 2

91

c) Protótipo 3

d) Protótipo 4

e) Protótipo 5

92

Somente a peça 2 apresenta o valor da medida do diâmetro fora da tolerância

pré estabelecida de ± 0,5 mm. O dimensional das demais peças está dentro da

tolerância, caracterizando assim uma semelhança entre todas as peças da amostra

analisada.

7.6 Elaboração e aplicação do esmalte cerâmico

As quatro composições apresentam comportamento normal quanto à mistura

das matérias primas cruas e água, com aspecto heterogêneo. A decantação também

foi notada quando a mistura permanece em repouso por mais de 20 minutos, sendo

necessário agitar a composição do esmalte, minutos antes da sua utilização.

Durante os testes detectou-se partículas oriundas do jato de granalha

depositadas na superfície rugosa do ferro fundido, prejudicando assim a aderência do

esmalte. Testes com jato de areia em cabine enclausurada e jateamento com óxido

de alumínio, também foram realizados e apresentaram resultados superiores ao

jateamento com granalha de aço, sendo o jato de areia o mais eficaz.

Entretanto, é aconselhável adaptar o processo ao uso do jato de granalha por

questões ambientais, custo e disponibilidade de equipamentos. Soprar as peças com

ar comprimido após o jateamento, é um processo extremamente importante, uma vez

que elimina pequenas partículas depositadas na superfície. E as etapas posteriores

também devem ser observadas como o transporte e o manuseio, principalmente em

ambientes com grande concentração de névoas ou poeiras. Portanto, a limpeza e a

remoção de pequenas partículas da superfície a ser esmaltada é fator crucial no

processo de esmaltação.

No processo de secagem, foram observados alguns defeitos que impediram a

sequência de operações, sendo necessário em alguns momentos, a retirada da

camada de esmalte e reaplicá-la. A composição de esmalte 02 apresentou grande

retração durante a secagem e a temperatura da estufa foi reduzida em 20°C

mantendo-se a 80°C por um tempo mais estendido.

Para aplicação da primeira camada de esmalte, a opção foi aquecer a peça por

20 minutos a 100°C, esse procedimento facilita a evaporação da água durante a

93

aplicação do esmalte por spray, porém não foi observada grande influência no

resultado final, tornando esse procedimento optativo.

Durante a queima, ocorreu a interação química entre a camada de esmalte vítreo

e a superfície do substrato de ferro fundido cinzento. Consequentemente, é nessa

fase que ocorre uma grande concentração de defeitos. Estes podem ter como origem,

diversos fatores, tais como: temperatura de queima abaixo ou acima do ponto de

transição vítrea; tempo excessivo do patamar; aplicação da camada de esmalte

resultando em espessuras diferentes; composição do esmalte; decantação de algum

constituinte do esmalte; rugosidade da superfície do substrato; atmosfera do forno,

entre outros.

Entretanto, ainda não é possível explicar exatamente quando um ou outro

ocorrem e porque ocorrem os defeitos, para isso seria necessário um estudo

concentrado na área de defeitos aparentes. O que se percebe até o momento, é a

manifestação mais acentuada de defeitos em algumas composições de esmalte em

relação às outras e também a influência de alguns parâmetros. Veja nas imagens

abaixo o comportamento das quatro composições testadas:

a) Aplicação do esmalte 01

94

b) Aplicação do esmalte 02

c) Aplicação do esmalte 03

95

d) Aplicação do esmalte 04

Figura 7.4 – Protótipos esmaltados.

Através de análise visual, é possível observar que o esmalte de composição 4,

elaborado com base em estudos realizados pelo autor, apresenta o melhor resultado

aparente, juntamente com a composição do esmalte 01 sugerida por Pagliuca e Faust

(2011). Já as composições 02 e 03, também sugeridas pelo mesmo autor na obra

citada, não apresentam compatibilidade com o substrato produzido. Na tabela abaixo,

é possível observar com mais detalhes os parâmetros testados e o comportamento

das quatro composições.

96

Tabela 7.4 - Parâmetros de teste.

Analisando a tabela 7.4, é possível afirmar que:

1. O jato de granalha, como explicado anteriormente, representa a melhor

opção. Porém, cuidados especiais em relação às possíveis poeiras

depositadas dentro do jato devem ser tomados. Essa poeira tende a

misturar-se com as granalhas de aço e deposita-se na superfície do

substrato. Nesse caso, é necessário soprar todas as peças com ar

comprido em média pressão e não deixar as mesmas expostas em

ambiente passível de névoas ou poeiras.

2. O aquecimento prévio é opcional, entretanto, nota-se uma maior

facilidade na aplicação do esmalte.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

31

32

Resultado satisfatório Não apresentou variações

Requer atenção Resultado não satisfatório

Es

ma

lte

01

Es

ma

lte

02

Es

ma

lte

03

Es

ma

lte

04

Temperatura de

queimaPatamar Rampa Aplicações

680°C 4C/3Q

Limpeza da

superfície

Jato de

areia

Jato de

granalha

Aquecimento

Prévio das

amostras

Sem

aquec.10°/min 15°/min 2C/1Q 3C/2Q750°C 800°C 5 min 8 min 10 min 5°/minA

mo

str

as

Legenda

100°C/2

0 min

Aplicação

Spray Imerção

97

3. A questão de custo do processo deve ser considerada ao se optar pelo

aquecimento das peças.

4. A aplicação por spray agiliza o processo e é possível fazê-la de forma

automatizada. Representa a melhor opção.

5. As quatro composições caracterizam-se como esmaltes de baixa, isso se

explica devido ao teor de fundentes presente nas composições, como

bórax e feldspato. Os fundentes diminuem a temperatura de fusão dos

materiais refratários como a sílica. Entende-se como refratário o material

que pode permanecer em contato com o fogo ou que suporta calor

elevado sem se deformar. É necessária a aplicação somente de esmalte

de baixa, devido ao ponto de fusão do ferro fundido cinzento, que é em

torno de 1200 a 1250°C.

6. No que se refere ao tempo, pode-se afirmar que os tempos de patamar

testados não exerceram influência no resultado final, entretanto, o menor

tempo deve ser tomado como base, por questões de viabilidade

econômica. O tempo de rampa variou em relação às composições

testadas, o esmalte 2 demonstrou uma maior tendência a trincas e lascas

com aquecimentos mais rápidos.

7. A quantidade de camada aplicada é influenciada pela composição do

esmalte e o tipo de aplicação. Este parâmetro está diretamente ligado à

questão custo e tempo, sendo diretamente proporcional ao número de

queimas. O resultado final deve ser sempre uma camada lustrosa e

brilhante de forma a cobrir toda a superfície do substrato. Com esmaltes

mais elaborados, talvez seja possível chegar a um resultado satisfatório

com apenas uma camada e uma queima, mas para isso é necessário

matéria prima de qualidade e um processo de mistura adequado ao

processo de elaboração do esmalte.

98

7.7 Microscopia eletrônica e EDS

A microscopia eletrônica de varredura foi realizada nos esmaltes de composição

01 e 04, por apresentar melhor resultado. As imagens podem ser vistas logo abaixo:

Figura 7.5 - Microscopia eletrônica de

varredura da composição 4.

Figura 7.6 - Microscopia eletrônica de

varredura da composição 1.

99

Figura 7.7 - EDS da composição 4.

Figura 7.8 - EDS da composição 1.

Através do microscópio eletrônico de varredura foi possível medir a espessura

das camadas de esmalte aplicadas após a queima. Sendo que, a espessura da

primeira camada de esmalte mediu entre 50 a 70 mícron e a última camada aplicada

apresentou valores entre 120 a 150 mícron, todos medições realizadas após a

queima.

100

8. CONCLUSÃO

A qualidade assim como o tipo de esmalte aplicado, são os principais fatores na

obtenção de uma camada de qualidade, ou seja, lisa, brilhante e livre de defeitos. O

substrato, portanto, exerce influência na durabilidade da camada, proporcionando

uma maior ou menor interação entre os dois materiais. As figuras 7.5 e 7.6

demonstram que houve uma perfeita interação entre o esmalte aplicado e o substrato,

já as imagens das figuras 7.7 e 7.8 mostram a interação dos óxidos de ferro formado

na interface.

A pesquisa realizada mostra que um resultado satisfatório depende muito da

qualidade do esmalte aplicado e é justamente essa questão que apresenta defasagem

de estudos realizados no Brasil. E para se traçar um perfil mais apropriado do

processo, são necessárias pesquisas pautadas, principalmente na qualidade das

matérias primas e no processo de mistura e aplicação.

A elaboração do substrato adequado e o processo de esmaltação, requer

cuidados na sua elaboração. Tanto a composição química, quanto a matéria prima

utilizada e a temperatura, são parâmetros que devem ser controlados para se chegar

a um resultado satisfatório, assim como o uso do forno elétrico ou a indução, que

também são indispensáveis. Já o processo de moldação deve ser preferencialmente

mecanizado para melhor controle dimensional da peça e acabamento superficial, uma

vez que superfícies muito rugosas dificultam a esmaltação.

Corrobora-se, enfim, que o substrato de ferro fundido, com as características

necessárias ao processo de esmaltação, é possível de ser elaborado no Município de

Cláudio-MG, entretanto, a elaboração do esmalte com matérias primas cruas

provenientes do Brasil, ainda carecem de estudos específicos, bem como o processo

de aplicação e queima.

O presente estudo é uma contribuição para que novas pesquisas sejam feitas no

setor de esmaltação, de forma a contribuir para o desenvolvimento dessa técnica no

Brasil. Agregar valor aos produtos fabricados em ferro fundido, diminuir a importação

de artefatos de cocção dos mesmos, tornar o produto acessível a todos com

ampliação de mercado das indústrias de fundição do município e região, são ações

necessárias que podem ser ampliadas com a implementação de novas pesquisas.

101

9. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

É de conhecimento que a França, a Itália, a China e outros países que atendem

a um mercado cada vez mais competitivo, amplo, diversificado e inovador,

comercializam objetos de cocção fabricados em ferro fundido, com acabamento

esmaltado. Entretanto, esses objetos chegam ao Brasil com valores elevados e pouca

disponibilidade no comércio.

Com base nos resultados desta pesquisa e no aporte literário da mesma,

recomenda-se a fabricação de tais produtos no Brasil de forma ampla e com

qualidade, conceito que deve ser exercido durante todo processo produtivo e

entendido como o direcionamento das ações para o pleno atendimento do Cliente.

Torna-se necessário, entretanto, obter o domínio das técnicas de esmaltação em ferro

fundido.

Pesquisas nessa área, corroboram, significativamente, para que a qualidade se

consolide e por isso, alguns temas são sugeridos:

Investigar e caracterizar o revestimento vítreo aplicado em objetos de cocção

de ferro fundido, fabricados em outros países.

Estudar as matérias primas utilizadas na fabricação de esmaltes vítreos

importados e comparar com as matérias primas disponíveis no Brasil.

Conhecer sua origem, grau de pureza, composição elementar e outros.

Investigar as técnicas mais atuais disponíveis no mercado em relação ao

processo de mistura e aplicação do esmalte vítreo e verificar a influência dos

parâmetros mais relevantes.

102

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

( * ) Conhecimento obtido através de observações e entrevistas realizadas nas

fundições Santana e Araguaia localizadas na cidade de Cláudio.

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