Este guia oferece ferramentas valiosas para quem quer se aventurar a escrever um livro infantil, revelando ao leitor os caminhos para a produção de um bom texto para crianças.

Com abordagem objetiva, a autora apresenta aqui questões fundamentais para a produção de um livro infantil, como:

• SEmprE ESCrEvEr Com autEntiCidadE E paixão

• SabEr ESColhEr o gênEro E a narrativa a SEr utilizada

E dEfinir oS objEtivoS do tExto, SEmprE Com linguagEm

SimplES E prátiCa

• a Criação dE pErSonagEnS

• a importânCia da iluStração para o livro infantil

E manEiraS dE tornar a parCEria EntrE ESCritor E

iluStrador provEitoSa

a coleção Guias do Escritor oferece manuais práticos destinados a ajudar aqueles que desejam dominar a arte da escrita. Com diversos exemplos e orientações fundamentais, cada volume aborda um tema crucial da criação literária. trata-se, portanto, de uma coleção imprescindível para jovens escritores, redatores, editores, professores e estudantes em geral.

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Silvia Adela Kohan

ESCrEvEr para CriançaS

O mundO dO leitOr O que é adequadO para cada idade a funçãO da ilustraçãO ilustraçãO e textO em pé de igualdade as chaves dO prOcessO cOmO “fabricar” um persOnagem? O nOme dO persOnagem persOnagens mágicOs O relatO passO a passO em razãO das palavras as Operações discursivas ferramentas valiOsas as Operações narrativas O discursO cOnveniente e incOnveniente um planO adequadO as séries

tudo o que é preciso saber para produzir textos de literatura infantil

ESCrEvEr

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Certa vez, o escritor argenti-no Julio Cortázar foi convidado por uma editora a escrever um livro infantil, e ele respondeu: “Gostaria muito de aceitar a proposta, mas essa tarefa está além das minhas forças. É impossível enganar as crianças”. E o escritor Nobel de Li-teratura em 1978, Isaac B. Singer, disse: “Escrever para crianças é muito mais difícil do que escrever para adultos”.

Escrever para crianças real-mente não é tarefa fácil. É algo tão sério quanto escrever para adultos e requer o mesmo compromisso e o mesmo envolvimento emocio-nal. É necessário ainda entender a fabulação da criança, saber que estará falando diretamente com ela e que o que é verdadeiro na visão do adulto não o é necessariamente na visão da criança.

Neste livro, Silvia Adela Kohan revela todas as chaves para a pro-dução de um texto literário infan-til de qualidade, apresentando as características da literatura para crianças e orientando o leitor a uti-lizar as ferramentas corretas para uma narrativa de sucesso, em um manual prático, de linguagem obje-tiva e agradável, que torna perfeita-mente possível o desejo de escrever para crianças.

SilviA AdelA KohAn é filóloga e auto-ra de numerosos livros sobre técnicas literárias, entre os quais Grafein, teoría y práctica de un taller de escritura (1980), Cómo se escribe una novela (1998) e Taller de escritura (2004). Criou em 1975 a Grafein Oficina de Escrita e fundou a revista Escrita e Edição, da qual é dire-tora. Silvia também é autora dos livros Como narrar uma história, Como escre-ver diálogos e Os segredos da criativi-dade, que fazem parte desta coleção.

outroS títuloS dA coleção

como escrever diálogosA arte de desenvolver o diálogo no romance e no contoSilvia Adela Kohan Tradução: Gabriel Perissé

como escrever textos técnicos e profissionaisTodas as orientações para elaborar relatórios, cartas e documentos eficazesFelipe Dintel Tradução: Gabriel Perissé como narrar uma históriaDa imaginação à escrita: todos os passos para transformar uma ideia num romance ou num contoSilvia Adela KohanTradução: Gabriel Perissé

os segredos da criatividadeTécnicas para desenvolver a imaginação, evitar bloqueios e expressar ideiasSilvia Adela KohanTradução: Gabriel Perissé

guiaS do ESCritor

Capa 2911.indd 1 30/01/13 10:22

Silvia Adela Kohan

ESCREVER PARA CRIANÇASTudo o que é preciso saber para produzir textos de literatura infantil

Silvia Adela Kohan

Guias do Escritor

ESCREVER PARA CRIANÇASTudo o que é preciso saber para produzir textos de literatura infantil

Tradução: Gabriel Perissé

Copyright © 2003 Alba Editorial, S.L. Copyright desta edição © 2013 Editora Gutenberg

Revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde janeiro de 2009.

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático: 1. Arte de escrever para crianças : Literatura 808

Kohan, Silvia Adela Escrever para crianças : tudo o que é preciso saber para produzir textos de literatura infantil / Silvia Adela Kohan ; tradução Gabriel Perissé . -- Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2013 . – (Coleção guias do escritor, 5)

Título original: Escribir para niños. Bibliografia

ISBN: 978-85-8235-037-9

1. Arte de escrever 2. Literatura infantil - Arte de escrever 3. Textos - Produção I. Título. II. Série.

13-00217 CDD-808

título original

Escribir para niños

projeto gráfico

Diogo DroschiPatrícia De Michelis

editoração eletrônica

Conrado Esteves

tradução

Gabriel Perissé

preparação

Cristina Antunes

revisão

Lílian de Oliveira

editora responsável

Rejane Dias

Sumário

1. PENSO EM VOCÊ E ESCREVO ..........................................................7 A entrada do paraíso ..............................................................8 O mundo do leitor ..................................................................8 Grandes expectativas .......................................................... 10 Narrativas tradicionais: prós e contras ............................. 11 Defina os objetivos .............................................................. 13

2. O BAÚ DA LITERATURA INFANTIL .........................................17 Um texto, uma faísca ........................................................... 18 Os gêneros ............................................................................ 19 As séries ................................................................................ 20 O que é adequado para cada idade ................................... 22 Tipos de narrativa................................................................ 25 Adivinhas, charadas e enigmas .......................................... 31

3. O PAPEL DA ILUSTRAÇÃO ...........................................................33 A função da ilustração ........................................................ 34 Mais ilustração do que texto .............................................. 35 Ilustração e texto em pé de igualdade ............................... 35

4. A HISTÓRIA TEM SEUS SEGREDOS ..........................................37 Documentação e experiências ........................................... 38 Um plano adequado ............................................................ 38 As chaves do processo ......................................................... 39 Sugerir um conflito ............................................................. 41 O narrador direciona .......................................................... 41

5. CRIAR O PERSONAGEM .................................................................43 Como “fabricar” um personagem? .................................... 44 Os personagens em ação .................................................... 45 O nome do personagem ..................................................... 46 Os mais conhecidos ............................................................. 47 Personagens mágicos .......................................................... 47 Personagens reais ................................................................. 49 Os animais ............................................................................ 51 Quebrar o estereótipo ......................................................... 52

6. ETAPAS DA CONSTRUÇÃO ............................................................55 Fases do relato mítico ......................................................... 56 O relato passo a passo ......................................................... 57 Os cenários das histórias .................................................... 58

7. MECANISMOS PARA INVENTAR .............................. 61 Recontar histórias conhecidas ........................................... 62 Responder às perguntas ...................................................... 64

8. TECER A TRAMA .................................................. 65 As urdiduras do tecido ....................................................... 66 Uma atmosfera coerente ..................................................... 68

9. A CARPINTARIA DA LINGUAGEM ........................... 71 Em razão das palavras ......................................................... 72 As operações discursivas .................................................... 73 Estímulos sensoriais ............................................................ 73 Ferramentas valiosas ........................................................... 75 Trabalhe passo a passo ........................................................ 76 As operações narrativas ...................................................... 76 O discurso conveniente e inconveniente .......................... 80

10. A DIFUSÃO DA LITERATURA INFANTIL ................. 83 Divulgue sua história .......................................................... 84

NOTAS ................................................................... 87

7

7

Penso em você e escrevo

1.

escr

ever

par

a cr

ianç

as

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Um livro ou uma história infantil deve agradar a adultos e crianças. Escrever para crianças é algo tão sério como escrever para adultos. Requer o mesmo compromisso e o mesmo envol-vimento emocional. Leva-nos a enfrentar os mesmos obstácu-los e dificuldades. Como acontece em qualquer gênero literário, a grande diferença está entre um texto rico ou pobre, entre uma literatura boa ou ruim. A literatura infantil não é um meio, mas um fim em si mesma.

Devemos escrever para as crianças com autenticidade e paixão.

A ENTRADA DO PARAÍSO

O macaco foi à feira Não teve o que comprar Comprou uma cadeira Pra comadre se sentar A cadeira esborrachou Coitada da comadre Foi parar no corredor

As crianças e os adultos leem estes versos de forma diferente. A infância é um período especial na vida do indivíduo. Com-preender a fabulação da criança é imprescindível, se você quiser escrever literatura infantojuvenil. De modo especial, você precisa saber que o que é verdadeiro na visão do adulto não o é necessa-riamente na visão da criança. A criança transforma a realidade em fantasia, e a fantasia em realidade, ao passo que, no mun-do adulto, definimos como mentira uma alteração voluntária e consciente da verdade.

Certa vez, uma editora propôs a Julio Cortázar que escrevesse um livro infantil, e ele respondeu: “Gostaria muito de aceitar a proposta, mas essa tarefa está além das minhas forças. É impos-sível enganar as crianças”. E Isaac B. Singer disse: “Escrever para crianças é muito mais difícil do que escrever para adultos”.

O MUNDO DO LEITOR

Diante de um texto em prosa ou de poesia, a criança revela-se um interlocutor especial, que se entrega totalmente à leitura no mo-mento em que acredita na história, nos personagens e no enredo.

pens

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voc

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escr

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9

Se a linguagem for atraente, ela a compreende, emociona-se, diverte-se.

Por essa razão, você precisa criar uma literatura voltada espe-cificamente para as crianças.

E, para isso, deve refletir sobre a importância da imaginação na vida de uma criança. Ao longo de seu desenvolvimento, a ima-ginação infantil atravessa várias etapas:

• Na primeira etapa, a imaginação passiva torna-se ativa e criadora.

• Na segunda, conhecida como a etapa do animismo, a ima-ginação atribui consciência e vontade aos elementos inor-gânicos e aos fenômenos naturais. Dá vida aos objetos mais insignificantes. Sua capacidade de fantasiar não tem limites.

• Na terceira etapa, a criança imagina personagens fantásti-cos cujas façanhas a encantam e cativam.

O psicólogo francês Roger Cousinet escreveu:

O mundo em que vivemos não é o mundo que a criança co-nhece. Os objetos não são os mesmos dos adultos. São o que são, mas também podem se tornar outras coisas. Uma bone-ca é também uma menina pequena; a cadeira é uma cadeira, e é também um carro, ou o vagão de um trem, ou um barco a vapor; a bengala é uma bengala e é um cavalo também; o próprio corpo é um corpo humano e em certos momentos será o corpo de um animal. A abóbora é uma carruagem, um monstro pode ser o leão ou o camundongo, e o rato é um cocheiro. Ulisses é um jovem ou um velho. Minerva é uma deusa e é uma mortal. Proteu, com suas metamorfo-ses, é adorado pelas crianças. Um gato fala como gente, e as botas mágicas servem para todos os pés. Transformações acontecem o tempo todo. Nada é apenas aquilo que parece ser, e as coisas existem para sempre, e os seres mudam de aparência sem aviso prévio. Nada é estável ou imutável neste mundo irreal feito de luz e sombra.

Se escrevemos uma narrativa, esse universo criado por nós deve corresponder às vivências, sentimentos e conflitos dos leitores.

Se escrevemos poesia, temos de incluir jogos de palavras e brincadeiras fonéticas, pois a criança é leitora e “ouvidora”.

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ever

par

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ianç

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10

A “regra de ouro” da escritora sueca Astrid Lindgren é esta:

Um livro infantil pode conter episódios divertidos tanto para crianças como para adultos. Também podemos escrever coisas que sejam incompreensíveis para os adultos, dirigi-das exclusivamente para as crianças, mas está totalmente proibido dar uma piscadela para os adultos, por cima da cabeça das crianças.

Escreva o livro que as crianças queiram ler, e não o livro imposto pelos pais ou pela escola.

GRANDES EXPECTATIVAS

Você deseja escrever um livro infantil. Seu primeiro impulso é libertar essa ideia que circula em sua cabeça faz tempo, ou desen-volver um texto a partir dessa imagem que acaba de surgir e co-meça a lhe fazer cócegas. Suas habilidades e sua imaginação darão conta do recado.

No entanto, neste processo, jamais se esqueça do seu interlo-cutor, que é muito especial. Ele entrará, perplexo e inquieto, no mundo que você lhe oferecer. Em tudo ele acredita, tudo chama a sua atenção, tudo é importante para esse leitor. Você deve ter em mente os diversos benefícios que a literatura pode proporcionar às crianças, ao pensar na elaboração de seu conto, poema ou ro-mance, esse mundo que você pretende construir para alimentar as expectativas do leitor, dando um sentido a essas expectativas.

Eis alguns benefícios:

• Ativa o pensamento. Os bons textos estimulam a imagina-ção, atuando como apoio do pensamento, permitem re-criar experiências vividas, projetar o futuro e potencializar a criatividade.

• Ensina a agir. Os personagens ajudam as crianças a perce-ber a história como um exemplo, e não como uma bronca.

• É uma ferramenta lúdica. O texto deve ser atraente como um brinquedo. Ou seja, deve dar à criança a liberdade de fantasiar a partir dos jogos de linguagem e das ilustrações.

• É uma ferramenta didática. Numa história infantil, sur-gem elementos e situações que orientam a criança na vida

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