ROUND CLÍNICO

Estudo de casos

Celso Luiz Mastrascusa

Doutor em EducaçãoUFRGS-PPGEDu -Psicanálise e Educação

Mestre em EducaçãoUFRGS-PPGEDu – FACED

Esp. em Educação Psicomotora

Esp. em Psicomotricidade e Formador de Adultos

Supervisor da GL da DMAE-PMPA

por 21 anos atuou no curso de EF do IPA

10 anos em atuação na Clínica em psicomotricidade

Coordenador do Pós-graduação em Psicomotricidade da FAMAQUI/SERGLOBAL

Consultor da SERGLOBAL

Porto Alegre2019

MESA REDONDA

Ao encontro da criança perdida –conflitos cotidianos e saúde mental.

Interfaces da Psicomotricidade com a saúde mental e os conflitos relacionais.

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essa obra se chama: “Love” do escultorucraniano Alexander Milov e, foi um dosdestaques do festival de Burning Man.

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....plagiando o Dr. Outeiral ...

Uma mãe me telefonou outro dia e perguntou: o senhortrabalha com Autistas? pois o meu filho é Autista...' Eurespondi: eu trabalho com crianças!'

O artista explica: “Isso demonstra um conflito entre um homem e uma

mulher e a expressão interna e externa da natureza humana.

Seu interior é moldado por crianças transparentes, que detêm as

mãos pelas grades.

Quando escurece, as crianças começam a brilhar.....

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Esse brilho simboliza pureza e sinceridade que une as

pessoas e dá a oportunidade de consertar as coisas quando

chegar em tempos sombrios“.

MICHELLE OLIVERATTO - Mineira, estudante de música e observadoraincansável do mundo.

Para mim, escrever é preciso, navegar nem tanto. Sigo tentando acalmartoda folha em branco que se aflige com esse silêncio pautado.

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Dois corpos sentados, em posições opostas, visivelmente deprimidos.

Em segundo plano, duas crianças, que ao contrário dos adultos, estão uma de

frente para outra, com os braços estendidos como quem almeja aproximação,

contato.

A estrutura da obra assemelha-se com as grades de uma gaiola que cumpre com

sua função de aprisionar, limitar e negar contato com aquilo que liberta.

Como muitas vezes a vida imita a arte, essa estrutura de metal que foi exposta

no festival de contracultura que acontece no deserto de Black Rock nos EUA,

pode ser facilmente associada ao deserto de nossas emoções, quando abatidos

pelos nossos conflitos, ficamos na mesma situação retratada por Milov.

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Aprisionamos a criança que habita dentro de nós e, deixamos o adulto

prostrado dominar a situação, muitas vezes movido pelo orgulho, medo,

insegurança e uma série de outros sentimentos negativos.

É fato que o tempo serve para aperfeiçoar o aprendiz, mas muitas vezes, a

mão dura da vida ao mesmo tempo em que aprimora e nos torna aptos para

exercer esse ofício de existir, ela nos tira certas habilidades que vemos

facilmente nas crianças, como por exemplo: a forma de lidar com os conflitos.

Quando há desentendimento entre duas crianças, elas brigam, choram,

podem até se agredir, mas esse conflito não se estende por muito tempo, logo

podemos vê-las brincando novamente, como se nada tivesse acontecido.

Criança não perde tempo com rancor, raiva ou orgulho, elas têm ansiedade

para viver e desfrutar as levezas da vida. Suas emoções são intensas e

genuínas. Seus conflitos são rapidamente resolvidos.

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Certamente tanto o artista Milov, quanto a estudante de música

Michelle Oliveratto se forem questionados sobre o que é psicomotricidade

não saberão do que se trata ou terão uma vaga ideia do que seja.

Porém a profundidade com que percebem e expressam através de suas

artes o propósito desta ciência é sublime e certamente vem ao encontro do

propósito de nosso congresso ou seja o debate nesta mesa redonda sobre

Interfaces da Psicomotricidade com a saúde mental e os conflitos

relacionais... senão vejamos.

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A psicomotricidade em nosso ponto de vista lida com a

globalidade do ser humano em seus aspectos afetivos/emocionais –

cognitivos – psicomotores e do que chamo de espiritualidade... o

desenvolvimento desta globalidade deve partir daquilo que se sabe,

do que há de positivo, em consequência respeitando as diferenças

de cada um para fazer emergir a essência do humano.

• Tudo isto durante toda nossa vida – irá formarum tanto lá e um tanto cá – nossa personalidade– neurótica... e sigo com a piada do Lapierre – aúnica maneira de não ser neurórico é serpsicótico. (palestra proferida em 1997 na FACED-PUC-RS.)

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Os conflitos são inevitáveis – desde o nascimento

a vida Adulta e até o final de nossas vidas estaremos em

constante conflito – na infância vivenciamos os interditos

sociais – fazendo com que a criança pouco a pouco vá

sendo integrada e muitas vezes forçada – e é mesmo

isto que Bergés escreve em O CORPO – na Neurologia

e na Psicanálise – quando se refere a fala até a escrita –

trata-se de um constrangimento.

Bergés “ “Assim que viemos ao mundo, quer isso nos

agrade ou desagrade. É preciso respirar.[...] Dito de

outra maneira, há um constrangimento vital...(p.163)

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Antes de falar, a criança lê os lábios da mãe... Escuta o

som e segue com o olhar.

A postura da mãe que guia, antecipa e precipita a postura da

criança – surgem as imitações precocíssimas, manifestações

desta fieira tônica e motora do rosto e do eixo do corpo da mãe.

Lembremos que uma das bases da psicomotricidade proposta por

Lapierre é a IMITAÇÃO – e vemos que não é por acaso... É

exatamente nossa base de comunicação – mãe-bebê.

Bergés segue dizendo... “a criança é constrangida a antecipar. É o

que falta que atrai seu olhar.”

Esta criança em seu desenvolvimento, segue em busca da

autonomia....

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Este diálogo mãe-bebê ou Adulto-criança se

expressa desde a primeira infância, através das

comunicações não verbais(contatos, gestos, olhar,

vocalização).

Lapierre chama de “diálogo dos inconscientes”

Este diálogo corporal é dominado pelas projeções do

inconsciente que são praticamente incontroláveis.

Há várias décadas os psicanalistas nos repetem que

todos os conflitos neuróticos e as estruturações psicóticas

tem origem na primeira infância, do nascimento aos dois

anos e não fazem senão se repetir simbolicamente,

analogicamente nas situações presentes.

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Apresento para vocês um parte do artigo inédito de

Lapierre publicado na Revista Iberoamericana de

Psicomotricidade e técnicas corporais, número 31/ Vol.08

de Agosto de 2008, proporcionado por Miguel Sassano

para publicação em Homenagem póstuma a nosso

querido mestre e que tem tudo a ver com o tema desta

mesa redonda...

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Título do artigo

A PROPÓSITO DA MERDA

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Lapierre narra uma experiência em um curso de formação

onde foi vivenciado a nível simbólico o tema da merda.

Para tanto a sessão foi vivenciada com pedaços de caixas

de papelão, pedaços de papel, folhas amassadas, sujas,

enrugadas, cordas emboladas, emaranhadas, com vários

nós, de tanto em tanto, tecidos pequenos e sujos, tudo

isto cobrindo o solo da sala em uma bela desordem, que é

um espetáculo habitual de final das sessões...

Mas ao final da sessão deixaram como estava. Ninguém

limpou ou arrumou o ambiente.

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Esta transgressão da ordem e da limpeza não estava

ausente de culpabilização...

O formador era quem havia permitido, favorecido,

provocado tal influencia da merda, cujos objetos

espalhados pelo solo da sala eram os símbolos visíveis,

pálidos, reflexo das vivencias nauseabundas que ele havia

provocado.

E por que não havia pedido, exigido, o restabelecimento,

pelo menos no final da sessão da ordem asseguradora?

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O Formador afirma que: “esta merda a aceito, a assumo,

carrego a responsabilidade, porém não é minha, é de

vocês. Minha função é colocá-la ao ar livre... Alguém tem

que fazer, pois você sozinho não consegue...

Eu a assumo sem nojo, sem vergonha e sem

culpabilização, como uma produção natural que é

necessária, como os excrementos da tua fisiologia.

Lapierre nos oferece uma oportunidade de através deste

artigo pensarmos sobre nossas entranhas, nossas

questões existenciais, nossa saúde mental...

É disto que a psicomotricidade através do jogo livre e

espontâneo pode lidar...

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Como o cocô do bebê que oferece a sua mãe, parte dele

mesmo, produção de seu corpo, produção do seu ser.

Alguns perguntam a Lapierre ... E tu que faz com toda

esta merda que te damos?

Ele responde: não te preocupeis, não a como. Não gosto

de merda, mas eu gosto de desembarasarme dela. E

además a merda não é tão ruim: é biodegradável e

quando está ao ar livre, desaparece na natureza. Guardo

somente amostras para meu trabalho de laboratório.

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Um dos objetivos da FORMAÇÃO PESSOAL é quem sabe

este: cada um deve ser capaz de analisar sua merda por

sí mesmo para poder analisar a dos outros, sem ter que

dizer que FEDE para não culpabilizá-los e para que

possam continuar evacuando sem complexos.

O mal não é a merda que sai, senão a que fica dentro sem

que se dê conta.

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Nossa Saúde Mental está ligada as nossas relações cotidianas e em

consequência a conflitos relacionais – incontroláveis, inconscientes ...

Desenvolver a pesquisa, o estudo e a PRÁXIS em psicomotricidade

cada vez mais nos capacita a atuarmos numa visão mais ampla de SAÚDE

não como apenas a ausência de doença, mas quem sabe como afirmam

Marco Segre e Flávio Carvalho Ferraz do Departamento de medicina Legal,

Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo/SP - Brasil

“Quem sabe poderíamos pensar no conceito de SAÚDE

como sendo um estado de razoável harmonia entre o

sujeito e a sua própria realidade?”

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Ao se fazer reflexões sobre Interfaces da Psicomotricidade com a

saúde mental e os conflitos relacionais, é necessário e fundamental

abordarmos a psicomotricidade com a amplitude de seu conceito, numa visão

de SER GLOBAL...

Do trabalho com bebês ao Idoso – de 0 a 90 anos – a psicomotricidade

trabalha com crianças – crianças risonhas, crianças escondidas, crianças

atordoadas, crianças hiperativas, crianças sapecas, crianças caladas,

crianças emotivas, crianças deprimidas, crianças vivas ...

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É disto que falamos e vivenciamos em nosso dia a dia de

psicomotricistas – recorremos ao movimento, ao gesto, ao toque, ao olhar, ao

silêncio, a escuta, o abraço, o encontro, o jogo e o prazer-desprazer –

vivendo a emoção da vida - da verdade – que é METADE...

AO ENCONTRO DA CRIANÇA PERDIDA ...

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