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Viagem BelØm Viagem BelØm Viagem BelØm Viagem BelØm Viagem BelØm Braslia - DF Ano XXXI Jun-Ago 2003 N” 207 Preparando os Preparando os Preparando os Preparando os Preparando os aeronautas do aeronautas do aeronautas do aeronautas do aeronautas do futuro futuro futuro futuro futuro Escoteiros do Ar Escoteiros do Ar Escoteiros do Ar Escoteiros do Ar Escoteiros do Ar ISSN 1518-8396 Viagem BelØm Viagem BelØm Viagem BelØm Viagem BelØm Viagem BelØm Missªo de Caa Missªo de Caa Missªo de Caa Missªo de Caa Missªo de Caa Missªo de Caa Missªo de Caa Missªo de Caa Missªo de Caa Missªo de Caa Um mundo de Um mundo de Um mundo de Um mundo de Um mundo de tradiıes tradiıes tradiıes tradiıes tradiıes Um mundo de Um mundo de Um mundo de Um mundo de Um mundo de tradiıes tradiıes tradiıes tradiıes tradiıes A Amaznia sob os A Amaznia sob os A Amaznia sob os A Amaznia sob os A Amaznia sob os olhos vigilantes da olhos vigilantes da olhos vigilantes da olhos vigilantes da olhos vigilantes da FAB AB AB AB AB Escoteiros do Ar Escoteiros do Ar Escoteiros do Ar Escoteiros do Ar Escoteiros do Ar A Amaznia sob os A Amaznia sob os A Amaznia sob os A Amaznia sob os A Amaznia sob os olhos vigilantes da olhos vigilantes da olhos vigilantes da olhos vigilantes da olhos vigilantes da FAB AB AB AB AB InglŒs perfeito InglŒs perfeito Globalizando o Globalizando o Globalizando o Globalizando o Globalizando o profissionalismo profissionalismo profissionalismo profissionalismo profissionalismo Globalizando o Globalizando o Globalizando o Globalizando o Globalizando o profissionalismo profissionalismo profissionalismo profissionalismo profissionalismo Preparando os Preparando os Preparando os Preparando os Preparando os aeronautas do aeronautas do aeronautas do aeronautas do aeronautas do futuro futuro futuro futuro futuro

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Viagem à BelémViagem à BelémViagem à BelémViagem à BelémViagem à Belém

Brasília - DF Ano XXXI Jun-Ago 2003 Nº 207

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Viagem à BelémViagem à BelémViagem à BelémViagem à BelémViagem à Belém

Missão de CaçaMissão de CaçaMissão de CaçaMissão de CaçaMissão de CaçaMissão de CaçaMissão de CaçaMissão de CaçaMissão de CaçaMissão de Caça

Um mundo deUm mundo deUm mundo deUm mundo deUm mundo detradiçõestradiçõestradiçõestradiçõestradiçõesUm mundo deUm mundo deUm mundo deUm mundo deUm mundo detradiçõestradiçõestradiçõestradiçõestradições

A Amazônia sob osA Amazônia sob osA Amazônia sob osA Amazônia sob osA Amazônia sob osolhos vigilantes daolhos vigilantes daolhos vigilantes daolhos vigilantes daolhos vigilantes daFFFFFABABABABAB

Escoteiros do ArEscoteiros do ArEscoteiros do ArEscoteiros do ArEscoteiros do Ar

A Amazônia sob osA Amazônia sob osA Amazônia sob osA Amazônia sob osA Amazônia sob osolhos vigilantes daolhos vigilantes daolhos vigilantes daolhos vigilantes daolhos vigilantes daFFFFFABABABABAB

Inglês perfeitoInglês perfeito

Globalizando oGlobalizando oGlobalizando oGlobalizando oGlobalizando oprofissionalismoprofissionalismoprofissionalismoprofissionalismoprofissionalismoGlobalizando oGlobalizando oGlobalizando oGlobalizando oGlobalizando oprofissionalismoprofissionalismoprofissionalismoprofissionalismoprofissionalismo

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1207 / JUL-SET 2003

Brasília-DF Ano XXXI Jul-Set 2003 Nº 207

Publicação do Centro de Comunicação Social

da Aeronáutica (CECOMSAER). Cartas com

críticas e sugestões ou matérias para publica-

ção devem ser enviadas para:

Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

Esplanada dos Ministérios - Bloco M

7º andar - 70045-900 - Brasília - DF

Tel: (61) 313-2154 Fax: (61) 224-2210

End. eletrônico: [email protected]

Redação, diagramação,administração:Divisão de Produção e Divulgação do

CECOMSAER. Circulação dirigida (no país e

no exterior). DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.

Distribuição: Divisão de Relações Públicas.

Tiragem: 30.000 exemplares

Conselho Editorial: Brig.-do-Ar Anto-

nio Guilherme Telles Ribeiro, Cel.-Av. Jader da

Silva Garcia, Cel.-Av. Paulo Roberto Miranda

Machado, Ten.-Cel.-Inf. Ricardo Holanda

Viana, Ten.-Cel.-Av. Antonio Carlos Alves

Coutinho, Ten.-Cel.-Av. Valdomiro Alves

Fagundes, e Cap.-QFO. Valdenice Pimenta de

Araújo.

Colaboradores: CECOMSAER: Maj.

Frederico, Cap. Valdenice, Ten. Everton, Ten.

Karina, Sgt. Cavadas, Sgt. Denise Escovino,

Sgt. Luiz Carlos e Sgt. Joubert. DEPED: Ten.

Tavares. COMAR I: Ten. Luiz Cláudio. BANT:

Sgt. Marta.

Diagramação: Sgt. Denise Escovino.

Ilustrações: Cb Ednaldo.

Gráfica: Impresso e distribuído pela

Empresa Beni Ltda

Jornalista responsável: Karina Ogo,

registro profissional 26.890 MTB.

Os conceitos emitidos nas colunas assinadas

são de exclusiva responsabilidade de seus auto-

res. Estão autorizadas transcrições integrais ou

parciais das matérias publicadas, desde que men-

cionados o autor e a fonte e remetido um exem-

plar para o CECOMSAER. Os originais enviados

para publicação não serão devolvidos, mesmo

que deixem de ser editados.

EditorialEditorialISSN 1518-8396

Prezado Leitor,

O objetivo da nossa revista é o de deixar nossos leitores bem infor-mados sobre assuntos interessantes que, de alguma forma, digam res-peito a nossa Força Aérea. Portanto, prezado leitor, colabore conoscoenviando suas sugestões, como foi o caso do Sr. Walter Moreira MartinsSantos, de São Paulo, que apresentou algumas idéias que já serãoanalisadas pelo nosso Conselho Editorial.

Para alcançarmos nosso objetivo, contamos sempre com fiéis cola-boradores. A todos eles apresentamos nossos agradecimentos, pois,além de suas atividades normais, esforçam-se para nos presentear comsuas matérias tão bem elaboradas.

Nesta edição, entrevistamos os pesquisadores Francisco CristóvãoLourenço de Melo e Pedro Paulo de Campos, do Centro TécnicoAeroespacial, sobre o projeto de blindagem de aeronaves militaresque teve sua origem no trabalho feito pelo Maj.-Av. Diniz Pereira Gon-çalves em sua graduação no Instituto Tecnológico da Aeronáutica.

Você poderá sentir um pouco da emoção do arriscado trabalho dosintegrantes dos Esquadrões de Aviação da Base Aérea de Porto Velhoao ler a matéria A Caça na Amazônia. Imperdível.

Missões perigosas fazem parte da vida dos nossos pilotos. Mas,podemos reduzir os riscos e aumentar as chances de sucesso dasmissões utilizando tecnologia de ponta, desenvolvida por brasileiros.Verifiquemr na matéria sobre o desenvolvimento do Sistema de Co-municações por Enlaces Digitais da Aeronáutica (SISCENDA).

Mas a Força Aérea Brasileira não se preocupa somente com suasaeronaves. Buscando qualificação para os seus profissionais, algumasde nossas Organizações desenvolvem um trabalho de elevação do ní-vel de domínio da língua inglesa. É um belo trabalho que você podeconferir na matéria �Pra Inglês ver�.

Não deixe de ler, também, nossa matéria sobre o câncer de próstata,interessante e de grande importância para o grande contingente do sexomasculino do nosso efetivo, abordado num ótimo trabalho de pesquisado Ten. Everton.

Veja, ainda, nossa matéria de capa, que destaca os trabalhos dosGrupos de Escoteiros do Ar mantidos graças a profissionais voluntári-os de diversas áreas.

Enfim, todas as matérias são muito interessantes: o trabalho inteli-gente de criação dos Batalhões de Infantaria Especiais da Aeronáutica;a harmonia entre o trabalho a preservação ecológica dos integrantesdo Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV) no sul do Pará; dicasde cerimonial para o jantar formal; um pouco da história da aeronáu-tica no Brasil; belas imagens de Belém do Pará na nossa matéria deTurismo; humor; e muito mais.

Tudo isso para garantir, a você, bons momentos de cultura e lazer.

Aproveite!

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EntrevistaFrancisco C. L. de Melo e Pedro Paulo de Campos ..... 3

Cartas ......................................................................... 6Acontece......................................................................................... 7

Ultraleves .................................................................. 7

Fora de casa ......................................................... 8

Conheça sua AeronáuticaEcologicamente correto ................................................ 10

A união faz a Força .....................................13

O jantar está servido ..................................... 15

Memória AeronáuticaAvião à vista!! .............................................................. 18

SaúdeFalando Sério .......................................................... 2 02 02 02 02 0

TurismoTerra Pai d� égua ...........................................................24

Pra inglês ver ...............................................................29Sempre alerta! ..............................................................32

Cartas do FrontA Caça na Amazônia ...................................................36

Criatividade em campanha .........................................39Em tempo real ..............................................................40De novo no ar ..............................................................43Tempo esgotado ...........................................................44

Minha OpiniãoPedagogia militar ..........................................................46

Talento em DestaqueÀs margens plácidas ................................................... 47

Casos e Causos�Apertem os cintos, o plug sumiu!!� ..........................48

Caserna em Quadrinhos ..................................48

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CapaEscoteiros do Ar: umalição de vida para os fãsda aviação

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Francisco Cristovão Lourenço de Melo

Pesquisadores do CTA

Francisco Cristovão Lourenço de Melo

A partir de 2004, um exemplo da capacidade tecnológica bra- sileira estará nos ares, sobre-

voando principalmente a região da Ama-zônia para garantir a segurança e a so-berania nacional.No ano que vem, deverão ser entre-gues à Força Aérea Brasileira as pri-meiras aeronaves AL-X equipadascom blindagem desenvolvida efabricada no país.Essa blindagem resiste a disparos demetralhadoras de calibre .50, que po-dem derrubar um avião.O projeto originou-se do Trabalho deGraduação de um aluno do quintoano do Instituto Tecnológico de Aero-náutica (ITA), o atual Maj.-Av. DinizPereira Gonçalves. Oito anos depois,o Centro Técnico Aeroespacial (CTA),em São José dos Campos (SP), prepa-ra-se para repassar a tecnologia con-cebida a empresas que produzirão ablindagem.O projeto iniciou-se em 1998, quan-do a gerência do AL-X pediu à Divi-são de Materiais (AMR) do Institutode Aeronáutica e Espaço (IAE), doCTA, um estudo para criar um mate-rial para blindar o avião.Ao todo, foram produzidos no CTA,durante a fase de desenvolvimento,1.450 placas. Entre os integrantes daequipe que participaram desse traba-lho, está o Pesquisador Francisco Cris-tovão Lourenço de Melo, que conce-deu uma entrevista sobre o assunto,ao lado do também Pesquisador PedroPaulo de Campos, Chefe da AMR.

No que consiste o projeto?Francisco- A blindagem que de-senvolvemos foi feita especificamen-te para ser utilizada no AL-X, aviãoprojetado para fazer a patrulha na re-gião da Amazônia, dentro do Siste-ma de Vigilância da Amazônia(SIVAM). Existe, ainda, nessa região,a questão do narcotráfico. E onarcotraficante tem armamento pesa-do. Então, o objetivo da blindagem é

sempre salvar a vida do piloto. Há unsquatro ou cinco anos, o Comando daAeronáutica fez uma tomada de pre-ços internacional de blindagem deaeronaves. O Comando tinha comorequisito uma blindagem capaz de re-sistir a tiro de calibre .50, mas nin-guém ofereceu, ou ofereceu, a custosaltíssimos. Já havia um estudo inici-ado no Instituto Tecnológico de Ae-ronáutica a respeito da blindagem. Eraum Trabalho de Graduação, do atual-mente Maj.-Av. Diniz Pereira Gonçal-ves, em que se usava uma blindagemà base de óxido de alumínio (Al2O3).Esses estudos foram o princípio dodesenvolvimento da blindagem atual.

O que motivou o desenvolvimentodesse projeto?Francisco - O fato de o AL-X fazera patrulha da Amazônia e a necessi-dade de o país desenvolver e domi-nar essa tecnologia. Em uma possívelsituação de embargo, por exemplo, oBrasil teria capacidade de fazer a blin-dagem.

Quantas pessoas trabalharamnesse projeto?Francisco- Diretamente, foram 13pessoas, dos quais três com nível su-perior. Já indiretamente, a Divisão deMateriais inteira, pois foi um traba-lho conjunto, em que cada laborató-rio fez a sua contribuição.Pedro Paulo - Na Divisão são 78pessoas, sendo 15 doutores.Francisco- Para esse projeto, foifeita até uma escala de servidores quetrabalhavam aos sábados e domingos.E tinha de se fazer de uma forma quenão atrapalhasse os outros projetos emandamento na Divisão.

Quanto tempo durou o projeto?Francisco- Para o AL-X, especifi-camente, o projeto começou entre1998 e 1999, com o nome de ProjetoMARIMBA (Materiais Resistentes aoImpacto Balístico). O início, sem dú-

vida, foi com o Maj. Diniz. Ele come-çou um estudo sobre a blindagem deaeronaves e, no IAE, eu era oorientador dele. O fim do projeto, noCTA, é essa fase pela qual passamosagora, de transferência de tecnologiapara que as empresas se encarreguemda produção.

Quantas fases foram necessárias?Francisco- Podemos dividir nasseguintes etapas: prospectiva, até otérmino do Trabalho de Graduação doITA, em 1996, quando as necessida-des foram levantadas; inicial, quan-do virou mestrado; desenvolvimento,com o estudo de vulnerabilidade, asadequações de processo, a montagemdos protótipos e os testes balísticos -nesta fase, o 1º Ten.-Eng. MarcoFabius de Carvalho Torres foi incor-porado ao projeto; e a fase final, queé a transferência de tecnologia.

Qual foi a quantia investidanesse projeto?Francisco- Houve um aporte dopróprio Comando da Aeronáutica, de

e Pedro Paulo de Campos

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R$ 300 mil, que foi usado para des-pesas com material de consumo, ser-viços de terceiros e pagamento de en-saios, entre outras coisas. Ficou atébarato, porque, em dólar, não dariaUS$ 100 mil na época. Foi um custo-benefício barato para a Nação.

O que a blindagem suporta?Francisco- Um tiro de calibre .50, queé capaz de derrubar um avião e/ou mataro piloto. Para exemplificar, os carros blin-dados de hoje não estão preparados parasuportar esse tipo de munição.

Quanto pesa a blindagem?Francisco- Ela pesa de 36 a 38 qui-los por metro quadrado. Uma aerona-ve teria um pouco mais de doismetros quadrados blindados. A es-pessura da blindagem não é a mesmaem todas as partes que cobrem a ae-ronave. Há placas mais finas e outrasmais espessas, até para otimizar a li-mitação de peso.

A blindagem pode causar algumainterferência no desempenho daaeronave?Francisco- Não, nem na parte aerodi-nâmica nem em termos de peso dentroda finalidade para a qual foi projetada.

Que partes do avião a blindagemreveste?Francisco- Reveste as laterais e oassoalho. É tudo com base no estudode vulnerabilidade, em que se calcu-la as partes mais suscetíveis adisparos. O assoalho é uma das par-tes críticas, onde o revestimento é feitona parte interna do avião. Já os reves-timentos laterais são externos, remo-víveis e intercambiáveis, podendo serusados em outros AL-X. Com adapta-ções, a blindagem também pode serusada em helicópteros ou outros avi-ões, mas há necessidade de um estu-do de vulnerabilidade específico paracada um. A espessura das placas va-ria de acordo com esse estudo.

A partir de quando a blindagemserá utilizada?Francisco- Algumas unidades doAL-X devem ser entregues ainda nes-te ano, mas a blindagem deverá es-

tar comercialmente disponível até ofinal de 2004.

Como funciona o processo deproteção da blindagem?Francisco- O projétil acerta a pri-meira placa. Neste momento, o projé-til se fragmenta, juntamente com seumaterial de composição. Em seguida,o projétil perde o efeito perfurante ecabe à segunda camada absorver aenergia cinética residual, evitando aperfuração da aeronave e, conseqüen-temente, salvando a vida do piloto.

Como o material foi feito?Francisco- Grande parte da produ-ção foi feita na Unidade Piloto deProcessamento de Pós. O pó dos com-ponentes passa por uma moagem. De-pois, é feita uma suspensão(barbotina), que é colocada em umequipamento denominado atomiza-dor, para produção do pó. O pó écompactado na forma de uma placa.Essa placa passa por uma pré-queimae por uma queima final, quando a tem-peratura chega a 2.000ºC em um for-no localizado no Grupo de ProcessoMetalúrgico (GPM), da Divisão deMateriais do IAE/CTA. Finalmente, éfeita a montagem do conjunto.

Qual é a espessura das placas?Francisco- Entre 6 mm e 12 mm.

É possível uma aeronave blinda-da que tenha sido atingida porum disparo continuar voando?Francisco- A blindagem sofre oimpacto do tiro e pode até se defor-mar, mas o importante é ela não dei-xar o projétil passar. Uma aeronaveatingida pode continuar voando, de-pendendo do impacto e dos danoscausados, mas o fundamental é quehaja tempo suficiente para o pilotose ejetar, caso seja necessário.

Existe algo semelhante no mun-do?Francisco- Sim, mas a um customuito alto quando se deseja impor-tar. A grande vantagem de se produ-zir no país é o domínio da tecnologia,mantendo a soberania, ainda que cus-te o mesmo preço do importado.

O material usado em outrospaíses é o mesmo do CTA?Francisco- O material é basicamen-te o mesmo, e a qualidade de nossoproduto é de nível igual ou até supe-rior ao que existe fora do país.

A blindagem pode ser usada emalguma área na vida civil?Francisco- Até pode, por exem-plo, em carros-fortes ou guaritas, masseria muito cara para essas aplica-ções.Pedro Paulo - Em toda pesquisasurgem subprodutos do trabalho ini-cial, que podem se tornar uma op-ção.

Já existe alguma empresa interes-sada em fabricar a blindagem?Francisco- Várias indústrias do se-tor aeroespacial e de blindagem secandidataram e algumas delas estão sen-do habilitadas por uma Comissão Téc-nica do CTA para fabricar o produto.

Quais foram as emoções experi-mentadas pela equipe ao longodo desenvolvimento do projeto?Francisco� A equipe sempre tra-balhou em harmonia, de forma quecada sucesso era momento de muitaalegria, e cada insucesso um motivode reflexão para aprendermos e re-começarmos com mais vontade ain-da, pois sabíamos da importânciadeste trabalho para a FAB.

Pedro Paulo de Campos

Ten. QCOA. Karina - Jornalista

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�Pelos céus de BrigadeiroEncarnado em azul-patriotaInsurge por terra de BrasilUm Soldado cuja farda transubstanciou-se em peleE da pele sentiu o cheiro de verdadeSentiu calor de disciplinaO suor do dever cumpridoE o gosto do ideal de voar sem fron-teiras, sem limitesPelas asas soberanas de conquistar oscéus desta singularíssima Nação.

E olhando para trásNo desespero do último momentoNão rasgou a farda, nem jamais ras-gariaPois a respeitara como substânciaindúctilEnsinamentos consistentes de umavida azulEnsinamentos para o resto de umaexistênciaValores morais de integridade, respon-sabilidade, sinceridadeE amor... ao chão, ao ar, ao seu povo,à fardaRepresentante do respeito à mãe pátria.

Um para sempre soldadoSe despede e reverencia à Força AéreaBrasileiraComo algo que nunca maisDeixará sua mente e coração...Aluno desta preexcelsa e egrégia escolaDe ensinamentos nobres e virtuososA reserva moral de um PaísO sangue da primeira defesaA frente de batalha por um único fim:o amor a esta Terra,Que nos alimenta e que nos viu nascerE nos verá crescer tranvestidos domesmo azul

O adeus à farda

Da cor dos seus céusVelados por nossas incansáveisasasE por nossa fervorosa paixão.

Brasil, teus militares te exaltamE a ti se doam em vinte e qua-tro horasDas batidas dos seus coraçõesSomos Soldados em pereneprontidãoIncansáveis e inderrotáveisPreparados a proteger a raizmaterO berço de nossas famíliasE de nossas vicissitudes.

Aceite, �terra adorada�, em teus braçosA farda suja de sangue ou de glóriaE nina o teu filho SoldadoNa morte ou na vida,Mas sempre pela Pátria invencidaSempre pela dignidade da fardaQue é a nossa bandeiraÉ o sangue vital que corre nas veiasDe um Soldado que mesmo despido dafardaJamais subtrairá do peito e da almaO Sabre-Alado que o ensinouA ser um homem honradoA ter sabedoria e coragemE a entender que vitória de um PovoÉ o amor que nutrimos por nossa NaçãoE que sem vestir esta farda

Jamais poderemos voar por terraNavegando pelos céus de BrigadeiroDefendendo aquilo que é nossoE dos nossos ancestraisE que jamais poderão nos tirar:A Pátria dos nossos filhos e netosO motivo de nossa união e de nossaidentidadeO nosso lar, frutífero e lindoDo inverno à primaveraO nosso verde, o nosso branco, o nos-so azul e o nosso amareloA nossa Pátria amada e para todo osempre idolatrada � Brasil!�

O soldado João Alexandre ViegasCosta Neto incorporou-se à FAB em1º de março de 1999 e trabalhou noCentro de Comunicação Social da Ae-ronáutica por 4 anos.

Um �poeta�, nosso ex-Soldado Alexandre, sedespede. A Força Aérea Brasileira marcou asua vida e a de muitos de seus companheiros

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Amanhecia em Anápolis. Seriaum domingo normal, não fos-se o estrondo quase ensurde-

cedor de um supersônico cortando olímpido azul do céu.

Era um Mirage, avisando a todosque seria dia de Portões Abertos naBase Aérea de Anápolis (BAAN)!

Este evento chegou para a cida-de como um presente pelo seu 96ºaniversário, abrilhantada pelo en-cerramento da XII Reunião da Avia-ção de Reconhecimento (RAREC),que pela primeira vez foi realizadaem paragens goianas, com a partici-pação de diversos Esquadrões: 1º/6º GAV, 1º/10º GAV, 3º/10º GAV, 1º/4º GAV, 1º/14º GAV, 1º GAVCA, 2º/5º GAV, AFA e 6º ETA.

Durante a solenidade militar foi fei-to um vôo de formatura com diversasaeronaves, e foi premiada a UnidadeAérea campeã das competições espor-tivas e de Percepção Visual dosObjetivos (PVO) da Reunião da Avia-ção de Reconhecimento (RAREC), 2º

Esquadrão do 6º Grupo de Aviação.Após a solenidade militar, o dia de

Portões Abertos teve como atraçõesvôos de Mirage, R-99 e aeromodelos,sorteios de vôos panorâmicos a bordodas aeronaves U-42 Regente e U-47Sêneca, exposição de 43 aeronaves,estandes de divulgação de empresas deAnápolis, simulação de resgate de fe-rido pelo 2º Esquadrão do 10º Grupode Aviação, apresentação da Esquadri-lha da Fumaça, apresentação de aca-demias de dança, com danças countrye da Banda de Música da BAAN.

O evento quebrou o recorde de públi-co presente � mais de 30.000 pessoas e,como foi solicitado que todos os visitan-tes trouxessem um quilo de alimento nãoperecível, foi possível arrecadar um totalde 8.700kg de alimentos. Desta forma, estePortões Abertos tornou-se inesquecívelpara os que estiveram presentes ao even-to e, principalmente, para todas as pes-soas apoiadas pelas 30 instituições filan-trópicas de Anápolis que receberam asdoações. Dia 27 de julho de 2003.

Portões abertos da BAAN

CLA - promoveu, em parceriacom o Serviço Brasileiro de Apoioàs Micro e Pequenas Empresas doMaranhão (SEBRAE/MA), os cur-sos de qualificação de mão-de-obrana área de construção civil. Devidoaos excelentes resultados e à impor-tância social alcançados, o CLAestendeu esses cursos, antes diri-gidos ao efetivo do Centro, tambémàs comunidades de Alcântara eagrovilas vizinhas. Entre os dias 23de junho e 1º de agosto.

HASP - recebeu o Selo de Quali-dade Hospitalar do Programa deControle de Qualidade Hospitalar(CQH) pela segunda vez, desde suaadesão ao programa, no ano de2000. Para receber a certificação, oHospital cumpriu várias exigênci-as do programa, relativas aos méto-dos de gestão hospitalar e, a cadadois anos, o hospital recebe a visi-ta de inspetores e auditores. Nomês de julho.

BAPV - realizou o evento �MeuPrimeiro Dia de Soldado� para 60crianças de 7 a 14 anos, de ambosos sexos, dependentes dos milita-res da BAPV. 20 monitores da OM,orientaram diversas atividadeseducativas e recreativas tais comovisita ao 2º Esquadrão do 3º Grupode Aviação (2º/3º Gav), projeção defilmes sobre a Força Aérea Brasilei-ra e futebol. No dia 24 de julho.

6º ETA - cumpriu uma Missãode Misericórdia para atender o 2ºSgt. Ref. Jaime Santos de Almeida,que necessitava ser transportadourgentemente de Salvador para oHospital de Força Aérea do Galeão(HFAG), no Rio de Janeiro. O trans-porte foi feito numa aeronave C-95CBandeirante equipada com UTIAérea. No dia 2 de agosto.

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Fora de casaFora de casa

Uma vida monótona, assistindoà tevê o dia inteiro e saindopouco de casa. Esse definitiva-

mente não é o cotidiano de 30 senho-ras, entre 50 e 83 anos de idade, mãese esposas de militares que servem emUnidades de Belém. A reviravolta navida delas aconteceu depois de um pro-jeto do Serviço de Assistência Social(SAS), do Primeiro Comando AéreoRegional (I COMAR). A iniciativa deuorigem ao Grupo Nova Vida.

Nos encontros semanais, elas par-ticipam de palestras sobre a �saúdena terceira idade�, fazem cursos comocrochê e artesanato e até conservam aboa forma em aulas de Educação Fí-sica. A programação do grupo incluipasseios por pontos turísticos e his-tóricos do Pará e de outros Estados.Nenhuma delas duvida: a Aeronáuti-ca formou uma outra �família� alémdos muros do quartel.

Uma das mais animadas é a aposen-tada Hermínia Villaça, de 83 anos, quededicou boa parte da vida aos filhos,sendo um deles o Suboficial Carlos Ro-cha. �Esse grupo organizado peloCOMAR está fazendo com que eu penseum pouco mais em mim. Passei a ocu-par mais meu tempo e minha cabeça�,garante. O filho militar vibra com a novavida da mãe: �Ela está muito mais alto-astral. Antes, vivia quieta em casa. Ago-ra, ela não pára nunca�.

Exemplos como o de Dona Hermíniaestimulam outras participantes. MariaBarros, de 62 anos, não perde um en-contro e está conhecendo lugares ondenunca foi na vida. �Para mim, está sen-do uma lição. Ganhei muitas irmãs, es-tou redescobrindo minha cidade e o gos-to por sair de casa�. O filho, SoldadoMarcelo Barros, também está contente:�O grupo tem sido muito saudável paraminha mãe�, acredita.

A felicidade de mães e filhos é o re-sultado de um planejamento cuidadosodo SAS da Unidade. �Oferecemos todoo apoio necessário para o grupo�, acen-tua o Chefe de Gabinete do I COMAR,Cel.-Int. Nuno da Silva Pereira. De acor-do com a Chefe do SAS e idealizadorado projeto, Ten. Maria Vanusa NogueiraLima, �o trabalho se respalda no apoionão só do bem-estar do militar, mas tam-bém de sua família�, explica ela, que éAssistente Social. �São mulheres que vi-veram muito tempo em função dos seusfilhos. Agora, estão pensando um pou-co mais nelas�, entende. Outra Oficial, aTenente Rosângela Cordeiro, que é Psi-cóloga, elogia a atividade desenvolvidapelo COMAR. �O sentimento de ser útilé um dos grandes ganhos para essa faixade idade, que está sempre precisandode muita atenção.�

Sempre é tempo para retomar uma vida animada e produtiva.Foi isso que essas senhoras de Belém descobriram

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Ten. Luiz Cláudio - Jornalista

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Ecologicamente correto

Se não fossem o azul caracte-rístico dos carros e ônibus e asfardas camufladas das pessoas ao

seu lado, você poderia jurar que esteveem um Simba Safári.

Ao mesmo tempo, o verde pujan-te e constante a sua volta também po-dia fazer crer que você esteve em umdos vários Jardins Botânicos existen-tes no Brasil.

Mas em que lugar do país haveriaum Simba Safári ou um Jardim Botâni-co tão grande? Não, com certeza, não énem um nem outro. Então, que local éesse, que reúne um ambiente totalmentesilvestre com uma consciência de pre-servação tão intensa?

É a área de exercícios do Campo deProvas Brigadeiro Velloso (CPBV), naSerra do Cachimbo, sul do Pará, a Uni-dade mais peculiar do Comando da Ae-

ronáutica. A começar pelo seu tama-nho: são 21.588,42 km². Somente paraefeito de comparação, o Estado deSergipe tem 21.954 km², e Israel, 21.946km². Em termos de área jurisdicional,ganha de longe de outras Unidades daForça Aérea Brasileira. São 653quilômetros de perímetro externo,onde, à medida que se dirige para ointerior do Campo de Provas, o cerra-do vai dando lugar à mata de transiçãoe, depois, à floresta amazônica.

No Campo, são realizados ensai-os, testes e certificações de armamen-tos nacionais, além de treinamentooperacional de equipagens de com-bate e execução de exercícios e expe-rimentos táticos. O CPBV, subordina-do ao Departamento de Pesquisas eDesenvolvimento (DEPED), comple-tou 20 anos em abril passado. Mas

nem sempre a denominação do localfoi essa. Tudo começou como Desta-camento de Proteção ao Vôo de Ca-chimbo, devido à necessidade deviabilizar uma rota aérea mais curtada região Sudeste para Manaus e daípara a América do Norte. Até então,os vôos entre os dois pontos obriga-vam as aeronaves a viajar pelo litoral,com uma parada em Belém.

O pouso do primeiro avião na re-gião aconteceu em 1950, em uma cla-reira. Em 1954, inaugurado o Destaca-mento, assumiu o Comando o Maj.-Av. Haroldo Coimbra Velloso. Em1997, o local passou a se chamar Cam-po de Provas Brigadeiro Velloso.

O dia mal amanhece e já se podeperceber uma movimentação. Não sãoapenas os militares, que se preparampara mais um dia de trabalho a partir

Ecologicamente corretoNo meio da Serra do Cachimbo, a Área de Exercícios do Campo de Provas Bri-gadeiro Velloso combina uma árdua missão com a preservação da natureza

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No meio da Serra do Cachimbo, a Área de Exercícios do Campo de Provas Bri-gadeiro Velloso combina uma árdua missão com a preservação da natureza

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do toque de alvorada, mas uma infini-dade de �companheiros� � os animais�, com os quais topam freqüentementee convivem de forma bastante saudá-vel. Nem a quantidade enorme deinsetos (piuns, mosquitos) que vêm nospicar chega a perturbar: basta estar equi-pado devidamente com repelentes.

No CPBV, os militares se revezam,permanecendo um período de 21 diasna área de exercícios e outro igual pe-ríodo na sede da Unidade. Enquantouma equipe está em Brasília, dentroda área do Sexto Comando Aéreo Re-gional (VI COMAR), outra está emCachimbo. E vice-versa.

A cidade mais próxima do Campode Provas, Guarantã do Norte, com cer-ca de 30 mil habitantes, fica ao sul, apouco mais de 80 km, no Estado de MatoGrosso, mas a viagem é árdua: a rodoviaque vai até a localidade, a BR-163(Cuiabá-Santarém), é de terra, e o trechoé percorrido em três ou quatro horas,variando de acordo com as condiçõesda estrada, pela qual passam principal-mente caminhões madeireiros e ônibus.

Por isso, a área de exercícios doCPBV fica praticamente �isolada�. Exis-tem apenas duas formas de acessar aUnidade: por via aérea (o aeroporto ficaa 6 km da sede administrativa) e pelaBR-163 (a 10 km do Campo).

A cada período destacado por lá, porexemplo, o Sargento Ari Barbosa Júnior,vai de quatro a cinco vezes para Guarantãpara fazer compras para a Unidade. Quem

precisa de alguma coisa deve aproveitaresse momento para fazer os pedidos.

Mas engana-se quem pensa que arotina lá é monótona, que as pessoasse sentem sozinhas e que não há o quefazer nas horas vagas.

O efetivo total da Unidade é de 89militares, mais sete que estão destaca-dos ou prestam serviço, e três servi-dores civis. Como apenas metade ficana Área de Exercícios por período de

floresce lá e foi descoberta pelo entãoCap.-Eng. Antônio Prenholato, entre1986 e 1987; pode ficar maravilhado coma beleza do olho d�água, uma nascentede águas límpidas e com areia branca nofundo, onde pequenos lambaris nadamtranqüilamente; ou pode apenas ficaradmirando as várias espécies de avesque circulam por lá (como arara, quero-quero, xexéu, siriema, e coruja e arara)e outros diversos representantes domundo animal, como antas, capivaras,raposas, tamanduás e tatus. Até pega-das de onça são comuns.

Todos convivem harmoniosamentecom o homem. É expressamente proi-bido caçar no local, e a pesca só é per-mitida com anzol e arpão. Não se podearrancar nenhuma espécie vegetal outransportar animais para fora da área.�A preservação do ambiente é garanti-da pelo cumprimento das leisambientais e na medida em que, pormeio da Operação Patrimonial, não éadmitida a presença de invasores noslimites da área sob nossa responsabili-dade�, disse o Diretor do Campo, Ten.-Cel.-Av. Luiz Claudio Moreira Novaes.Os exercícios e manobras são realiza-dos em locais definidos: os estandes.Portanto, não há ameaça à natureza.

Para se chegar aos estandes por viaterrestre, somente com jipes com tração4 x 4. Você se sente em um verdadeirorali, pois, dependendo de como for o solo(arenoso, rochoso), o carro se inclina paraas laterais, passa por sobressaltos e pulabastante.

Todos os caminhos do Brasil nocoração da selva

▲ Invasores: uma das preocupações do destacamento

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Todos convivemharmoniosamente com ohomem. Éexpressamente proibidocaçar no local.

três semanas, o trabalho acaba sendobastante puxado e, conseqüentemen-te, todos acumulam várias funções.

Apesar disso, formas de lazer nãofaltam. Quem tem um estilo mais �sel-va� ou aventureiro, delicia-se em Cachim-bo. Pode banhar-se nas águas dos riosBraço Norte ou Formiga (a 12 km dasede), que possuem água cristalina e sãoos mais próximos; pode se divertir nacachoeira do CTA (no rio Braço Norte,ao lado da usina hidrelétrica) e verariranhas; pode percorrer as redonde-zas para procurar a Encycliacaximboensis, uma orquídea rara, que

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Aliás, a paisagem oferece boas sur-presas. Não é porque é uma região decerrado que não se pode encontrar umavegetação semelhante à do litoral. Emmuitos trechos, tanto em direção aosestandes com aos rios, é possível verareia muito branca com �matinhos� ras-teiros que lembram praia.

Cada estande possui uma finalida-de, como por exemplo: tiro com ar-mas portáteis, tiro aéreo, lançamentode foguetes, lançamento de bombas,tiro terrestre, tiro lateral e áreas parareconhecimento armado, ataque a al-vos táticos e treinamento deinterceptação. Há alvos reais, comoestradas, pontes, pistas de pouso, esimulacros, como sítios de mísseis ede radares. O CPBV é uma área detestes que apóia o Centro Técnico Ae-roespacial (CTA) nos ensaios dos seusexperimentos e está pronta para aten-der a qualquer esquadrão ou Unida-de da Aeronáutica.

Para garantir a segurança da áreade exercícios do Campo de Provas Bri-gadeiro Velloso, periodicamente sãorealizadas as chamadas OperaçõesPatrimoniais, por meios terrestre ouaéreo, para detectar eventuais inva-sões ou atividade irregulares. As in-vasões ocorrem pelos atrativos exis-tentes na área: madeiras nobres (prin-cipalmente o mogno) e, em menor pro-porção hoje, o ouro.

Quando algum ponto irregular(barracas, construções, equipamentosou presença de posseiros) é encon-

trado � por sobrevôo de helicópteroUH-1H, do Sétimo Esquadrão do Oi-tavo Grupo de Aviação (7º/8º GAV),de Manaus, ou de T-27 Tucano -, fis-cais do Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos NaturaisRenováveis (IBAMA) ou até membrosda Polícia Federal são acionados.�Quando é detectada uma presençanão autorizada, uma patrulha é envi-ada, via terrestre ou aérea, para pro-mover a retirada dos invasores�, afir-mou o Maj.-Inf. Sergio Paulo Alvesde Almeida, Vice-Diretor do CPBV.

Existem duas reservas indígenas naárea � Munducuru e Cayabi -, mas nãoficam próximas da sede administrativa.

Quando em Cachimbo, poucos sãoos que deixam o Campo para ir aGuarantã. A maioria utiliza as folgaspara se divertir nas proximidades dasede mesmo, jogando futebol (de qua-dra ou de campo), entrando na pisci-na, brincando de pingue-pongue oupebolim, fazendo caminhada oumusculação e pescando. No rio BraçoNorte, a 2 km, podem ser encontra-

dos pacus, traíras e matrinxãs. Tam-bém é comum promover churrascos,enquanto outros preferem usar o si-lêncio e a tranqüilidade do local paraestudar.

Um dos militares que estão servindohá mais tempo no Campo é o 3S GeraldoFerreira Filho. Ele trabalha lá desde ou-tubro de 1988. �Adoro aqui. Vou sairdaqui só para a reserva�, afirmou.

Todas as necessidades básicas doCPBV, como abastecimento de água,energia elétrica, saneamento, comu-nicações e coleta de lixo, são atendi-das com recursos da própria área.Quando se fala em energia elétrica, é

importante salientar um fato históri-co: a primeira usina hidrelétrica daregião amazônica foi construída emCachimbo, em 1954, com produçãode 37,5 kVA. Depois, no início de2002, foi finalizada a obra de amplia-ção da nova usina que atualmentesustenta a Unidade. São quatro tur-binas, sendo duas de 150 kVA e duasde 250 kVA. As primeiras turbinasforam instaladas em 1986.

A água é retirada de poços artesianose, depois, filtrada. É de boa qualidade e,para confirmar isso, são realizadas análi-ses de três em três meses.

Diante de tudo isso, vê-se que oCampo de Provas Brigadeiro Vellosoé um verdadeiro exemplo de que épossível uma Unidade tão particularcumprir sua missão sem interferir noambiente que o envolve e, ao mesmotempo, protegê-lo daqueles que que-rem explorá-lo visando apenas o lu-cro e relegando ao segundo plano ariqueza natural do país.

Água pra quete quero: aprimeira usinahidrelétrica daregiãoAmazônica foiconstruída emCachimbo, em1954

Ten.-QCOA. Karina - Jornalista

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De um lado, um Batalhão de Infantaria com deficiências nasáreas de material e pessoal. De

outro, um segundo Batalhão com as mes-mas dificuldades. Separados por algunsmetros de distância, esses BINFA têmem comum, ainda, o fato de cumprir pra-ticamente as mesmas missões.

Após uma análise desse quadro,chegou-se a uma solução econômica ecriativa para resolver a questão, basea-da no lema �unir para fortalecer�. Foiassim que, em 2001/2002, surgiram osdois primeiros Batalhões de Infantariada Aeronáutica Especiais (BINFAE),em Manaus e em Canoas.

Os princípios básicos que nortearama criação dessas novas Organizações Mi-litares da Aeronáutica foram os da raci-onalização e da economicidade dos mei-os. Para que se concretize a união dasUnidades, é necessário que estejam pró-ximas uma da outra e em condições se-melhantes.

Foi o que aconteceu em Manaus. Lá,havia os BINFA do Sétimo ComandoAéreo Regional (VII COMAR) e da BaseAérea de Manaus (BAMN). �Os dois es-tavam com problemas de equipamentose pessoal e tinham praticamente a mes-ma missão: a segurança da área. Então,resolveu-se unir os limitados recursos

para fortalecer�, disse o Ten.-Cel.-Inf.Ricardo José Rodrigues Santos, Chefeda Seção de Operações do Centro deOperações Terrestres (COTAR/COMGAR).

Ao realizar a junção, foram unificadasseções que estavam duplicadas, como asde Material Bélico, Pessoal e Instrução, efoi feito um remanejamento de pessoal ematerial. Agora, cada BINFAE possuiapenas uma dessas seções. �Antes, paracada um desses setores, precisávamos ter,por exemplo, um Tenente, quatro Sar-gentos e dois Cabos, tanto no BINFA doCOMAR como no da Base Aérea. Com aunião, ganhamos em pessoal, o que per-mitiu o deslocamento de militares para oexercício de outras funções�, afirmou oTen.-Cel. Ricardo.

Segundo ele, houve economia tam-bém em outras áreas, como no sistemade transporte. �Somando o número deviaturas de cada BINFA, diminuiu-sea deficiência que apresentavam.�

A nova área de segurança cobertacorresponde à soma das áreas que eramde responsabilidade de cada BINFA/CINFAI, por isso, os postos de serviçosão os mesmos. A atribuição do BINFAEé �realizar, em pronta-resposta, ações deoperações especiais de superfície, de se-gurança e defesa das unidades aéreas

desdobradas e de pontos sensíveis deinteresse do Comando da Aeronáutica�.

O BINFAE de Manaus foi o primei-ro Batalhão a tornar-se uma Organiza-ção Militar. De acordo com o Coman-dante da Unidade. Maj.-Inf. CassianoCordeiro Batista, com a união, está sen-do possível executar um melhor tra-balho, com emprego mais racional depessoal, o que está permitindo colo-car um número maior de militares ematividades operacionais do Batalhão.

O segundo BINFAE foi implantadoem Canoas, há pouco mais de um ano,a partir da união dos Batalhões do Quin-to Comando Aéreo Regional (VCOMAR) e da Base Aérea de Canoas(BACO). �Aqui na área, nós realocamosdezenas de militares do antigo Batalhãodo COMAR. Houve grande racionali-zação no emprego dos recursos huma-nos, proporcionando a redistribuiçãode efetivos�, disse o Cap.-Inf. SérgioMurilo Mibach, Oficial de Comunica-ção Social do BINFAE Canoas.

Dois estudos deverão ser aprecia-dos em breve pelo Comando da Aero-náutica. Um visa a criação do BINFAEdos Afonsos (RJ) e o outro, do BINFAEdo VI COMAR, em Brasília.

Racionalizando recursos, a Infantaria da Aeronáutica melhora seu desempenho,ganhando notoriedade

A união faz a Força

Ten.-QCOA. Karina - Jornalista

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Os historiadores, em geral, têmuma grande má vontade paracom o período medieval, por

ter sido uma época de superstição, es-tagnação e crueldade. Para o historia-dor Jacques Lê Goff, a Idade Média é,na verdade, um período extremamentecriativo da humanidade, �momento emque se criou a cidade, a universidade,o moinho, a máquina, a hora e o reló-gio, o livro, o garfo, o vestuário, a pes-soa, a consciência�.

Foi justamente nessa época que seestabeleceram e aprimoraram as con-venções e regras de comportamento so-cial, de etiqueta e de cerimonial aindahoje em uso no mundo ocidental. Esseprocesso civilizatório, centrado em ati-tudes e rituais, aparentemente insig-nificantes, teve importância no apri-moramento das relações sociais, naconvivência e na idéia de coletividade.

Em seu livro �O Ritual do Jantar�,a canadense Margaret Visser mostra oschamados �bons costumes à mesa� des-de que o homem habitava as cavernasaté os dias atuais. Ela descreve, atémesmo, os hábitos de uma tribo de ca-nibais do Pacífico, cuja �etiqueta e boasmaneiras� exigiam o uso de um garfode madeira para devorar o inimigo.

Na Europa, o garfo passou a serusado no século XI. Antes disso, to-dos comiam com as mãos, retirando acomida das travessas e levando-a àboca. No início, o uso desse utensílionão foi bem aceito entre as famíliasmais tradicionais. Mas acabou se im-pondo por tornar mais higiênica a re-feição, principalmente durante os pe-ríodos de epidemia, quando a pestematava, indiscriminadamente, pobrese ricos, bem-educados e grosseirões.

Para Margaret Visser, comer é umato essencialmente bárbaro e a funçãobásica da etiqueta e dos bons costu-mes é reprimir essa violência. Que seja.

Mas a vida contemporânea tem deixa-do cada vez menos espaço para o exer-cício das boas maneiras. A cultura dofast food, da lanchonete, do guardana-po de papel e dos pratos e talheresdescartáveis, se por um lado acrescen-ta praticidade e rapidez às refeições,por outro retira boa parte do charme,da elegância e da possibilidade de ob-ter mais prazer na hora de comer.

Por isso, quando recebemos umconvite para um evento social maisformal, como um jantar, por exemplo,quase sempre bate uma certa insegu-rança. E agora, o que fazer? Como uti-lizar todos aqueles talheres e copos?Que lugar ocupar à mesa? São, apa-rentemente, questões sem muita impor-tância, mas que na hora fazem toda adiferença entre sentir-se bem ou dese-

jar estar bem longe dali.Para Silvânia Barreto, Relações Pú-

blicas na Coordenadoria de Comunica-ção Social do Centro Técnico Aeroespa-cial (CTA), quase sempre o convite paraparticipar de um jantar formal tem re-lação direta com nosso trabalho. Porisso, devemos nos preparar e seguir asregras de etiqueta, pois estamos repre-sentando nossa organização.

Ela dá algumas dicas:CONVITE: ao receber um convite

para um jantar formal devemos, ime-diatamente, ligar para o número indi-cado para agradecer e confirmar ou nãoa nossa presença. Isso é fundamentalpara quem organiza o evento, saberquantas pessoas irão comparecer.

TRAJES: normalmente, o traje vemdefinido no convite e pode especificar

O jantar está servidoAo ser convidado para um jantar formal, grande parte das preocupações com aboa etiqueta podem ser facilmente dissipadas com algumas dicas básicas

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esporte, passeio ou rigor. A escolha dotraje por parte do anfitrião tem relaçãodireta com o horário do evento. Quan-to mais tarde, maior a formalidade. Umjantar às 22h é mais formal do que às19h e exige um traje mais elaborado.

ACOMPANHANTE: nos eventos for-mais, os lugares são marcados segundoa precedência hierárquica e o cerimoni-al, e os convites, geralmente, incluemacompanhante. Comparecerdesacompanhado pode gerar um certoconstrangimento, tendo em vista que umlugar ficará vago. Em caso de imprevis-to, avise o anfitrião com antecedênciapara providenciar a ocupação do lugar.

QUANDO CHEGAR E SAIR: pon-tualidade é fundamental. Chegar atra-sado pode ser encarado como descasopara com o evento. Portanto, progra-me-se para chegar no horário. Quantoà hora de ir embora, esse tipo de en-contro não tem uma duração muito lon-ga. Sair antes do término fica muitofeio. Se você não pode ficar até o fim,não vá, principalmente se o eventoocorrer em ambiente fechado.

O QUE FALAR: as pessoas costu-mam se preocupar com o tipo de as-sunto que irão conversar numa ocasiãocomo essa. Mas, considerando que vocêfoi convidado por sua atividade profis-sional ou pelo que representa, certamen-te domina bem o assunto e saberá con-

duzir a conversa de maneira interessan-te. É claro que a velha regra de �reli-gião, política e futebol, nem pensar�deve ser rigorosamente observada.

QUE TALHERES USAR: basta se-guir a seqüência em que eles foramcolocados na mesa, de fora para den-tro. Os que estão mais para fora serãopara a entrada. Acima do prato ficamos talheres de sobremesa.

COMO USAR OS TALHERES: se-gure a faca com os dedos polegar e indi-cador, colocando o médio no cabo, comose pegasse uma caneta, evitando encos-tar o dedo na lâmina. A etiqueta euro-péia indica o manuseio de garfo e facajuntos, mas os americanos difundiramo hábito de deixar a faca descansandosobre a borda do prato, acima e à direita,sempre com o fio voltado para dentro,enquanto o garfo passa para a mão direi-ta. Ao término da refeição, os talheressão colocados paralelos, dentro do pra-to, na horizontal de quem fez a refeição,com o corte da faca para fora da mesa.

EM CASO DE DÚVIDA: caso vocêesteja num jantar formal e não saibacomo proceder em relação à utilizaçãodos talheres e à forma de comer deter-minado prato, a dica é observar a anfi-triã. Faça isso com o máximo de natu-ralidade possível. Converse com seu

vizinho e espere a anfitriã começar acomer para observá-la.

Depois de todas essas informações,acredito que a regra mais importanteé: seja você mesmo. Se o convidaram,certamente é porque, de alguma ma-neira, você conquistou o interesse e aconfiança de quem o escolheu. Porisso, não tente aparentar o que vocênão é. Lembre-se de que as regras deetiqueta e de cerimonial existem parafacilitar e tornar a convivência entreas pessoas mais agradável. Por isso,aproveite a ocasião para relaxar e apro-veitar a oportunidade de conviver comas pessoas que lá estão.

Silvânia Barreto: dicas de etiqueta

Saber como comportar-se é válido em qualquer ocasião, seja em eventoscivis ou militares

Ten.SVA. Tavares - Jornalista

Leia maissobre o assunto

No sítio www.gastronomiabrasil.com.br,você encontra dicas sobre receitas, serviço,etiqueta etc.Outro sítio interessante é owww.wmulher.com.br, também comdicas sobre vestuário, maquiagem, orga-nização de eventos, reuniões e encontrosinformais.

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Avião à vista!!!Avião à vista!!!Após o vôo do mais-pesado-que-o-ar, o mundo assistiu ao desenvolvimento eaprimoramento da aviação. Jovens com espíritos aventureiros ajudaram aespalhar esse novo desafio. No Brasil, não foi diferente

Em 23 de outubro de 1906,Alberto Santos-Dumont reali-zou o desejo do homem de voar.

Perante a Comissão Fiscalizadora doAeroclube de França, ele voou com o14-Bis, no Campo Bagatelle, em Paris,e despertou nos homens um sentimen-to de liberdade e coragem para novosdesafios. A França e a Itália lideraramessa empreitada que mudaria o mun-do. Na França, aperfeiçoava-se aincipiente indústria aeronáutica, fabri-cando principalmente os aeroplanosVoisin e Blériot (projetado em cimado Demoiselle de Santos-Dumont).

No Brasil, o mesmo sentimento foidespertado, mas a sua realização serestringiria apenas a um grupo seleto:os ricos comerciantes e fazendeiros decafé. Foram muitos os que iniciaramessa empreitada sem sucesso. Mas ainsistência, a perseverança e a vonta-de de transpor limites transformaramhomens em celebridades.

Em 1908, Armando Álvares Pen-teado, filho de um fazendeiro de caféde São Paulo, importou da França oprimeiro Voisin (forma semelhanteao do 14-Bis). Seu motorista particu-lar ficou incumbido de montar o apare-lho. No entanto, ao ligar o motor para

as primeiras experiências, o que ocorreudentro da oficina foi uma �avalanche� deferramentas e materiais, danificando to-talmente o Voisin � o �aprendiz de me-cânico� havia montado a hélice na posi-ção invertida.

Voar era a nova moda esportiva daépoca. Os esportes mais populares daépoca eram o automobilismo, o hipis-mo e o ciclismo. No Rio de Janeiro,havia o Derby Club (hoje, estádio doMaracanã), o campo de São Cristóvãoe o Jockey Club; em São Paulo, o hipó-dromo da Moóca, o Velódromo Paulistae o Parque Antártica.

Todos esses locais passaram a ser tam-bém utilizados como campos para de-monstrações e tentativas de curtos vôos.Essas demonstrações constituíam verda-deiros espetáculos de arrojo e coragem.

No dia 7 de janeiro de 1910, na cida-de de Osasco, ocorreu um fato histórico:o primeiro avião a elevar-se do chão emsolo brasileiro. Demetrie Sensaud deLavauld, um industrial francês, e Lou-

renço de Pellegati, um torneiro mecâni-co brasileiro, projetaram e construíramum monoplano. Eles voaram a uma al-tura de 4m e a uma distância de 103m,em 6,18s, num monoplano denomina-do São Paulo.

No Brasil, a colônia italiana convi-dava seus compatriotas para demons-trarem suas habilidades. GermanoRuggerone escolheu o grande hipódro-mo da Moóca para as demonstraçõesdo seu aeroplano tipo Farman, e GiulioPiccollo ficou no estádio menor, o ve-lódromo, com seu pequeno Blériot,com motor de 50 cavalos. Na pista decem metros, destinada a passeio de bi-cicletas, Piccollo veio a se acidentar,na véspera do Natal de 1910, e foi aprimeira vítima mortal estrangeira deacidente em avião no país.

Foi Ruggerone quem levou aos aresa primeira mulher no Brasil � RenataCrespi, em 8 de janeiro de 1911. Elefez tanto sucesso na capital paulistano seu Farman que muitos o mencio-nam como o primeiro piloto a voar noBrasil, relegando a injusto esqueci-mento o feito de Lavauld.

Depois de grande sucesso em SãoPaulo, Ruggerone partiu para o Riode Janeiro. O então Presidente da Re-

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pública, Marechal Hermes da Fon-seca, grande entusiasta da aviação,que nela depositava crédito paraemprego militar, foi prestigiar suasapresentações.

A imprensa carioca registrava astentativas de vôos de vários �pilotos�que sonhavam alcançar Niterói, atra-vessando a Baía de Guanabara em ummonoplano tipo Grade. A cada dia, ointeresse pelo avião e o desafio aomedo para voar despertavam nos pi-lotos uma sensação nova de aventu-ra. Muitas vezes, homens desprovi-dos de qualquer conhecimento aumen-tavam o número de acidentes. Em 3de junho de 1911, um jovem paulista,Alaor Teles de Queiroz, tornou-se aprimeira vítima fatal brasileira, mor-rendo em conseqüência da queda doBlériot, o mesmo que vitimou Piccollo.

No mesmo ano, surgiu no Rio deJaneiro um novo jornal, �A Noite�,sob a direção de Irineu Marinho. Des-de cedo, esse jornal foi um grandeincentivador da aviação no país. Umade suas iniciativas foi trazer da Fran-ça um bom piloto, com curso da Es-cola Blériot e brevetado peloAeroclube de França: EdmondPlauchut. Ele chegou a ganhar umprêmio municipal denominado�Bartolomeu de Gusmão�.

Ainda em 1911, sob o patrocíniode �A Noite�, foi oferecido um prê-mio vultoso ao piloto que comple-tasse o reide da Praça Mauá � Ilhado Governador, num percurso de 48km sobre a Baía de Guanabara.Edmond Plauchut concorreu sozi-nho, pois seu possível oponente,Magalhães Costa, não chegou a tem-po com seu monoplano Grade. Oprêmio foi de dez contos de réis (umautomóvel importado não custava umconto de réis na época).

Em 14 de outubro de 1911, foi cri-ado o Aeroclube Brasileiro, tendo comoidealizador o redator Victorino de Oli-veira, de �A Noite�. Santos-Dumont foiescolhido como seu Presidente-Hono-rário, e o Almirante José Carlos de Car-valho, eleito Presidente efetivo.

Dentre os fatos mais importantespara a criação do Aeroclube podemoslembrar: o desenvolvimento da aero-náutica de nossos vizinhos, dos quaisArgentina e Chile. O sucesso do em-prego da aviação na guerra da Itáliacontra a Turquia (1911-1912). A cres-cente segurança dos pilotos em traves-sias arrojadas (Canal da Mancha porum Blériot). O crescimento da indús-tria aeronáutica e a proliferação dos cur-sos de pilotos.

A atividade aviatória tornou-se in-tensa no Brasil. A Queen AviationCompany Limited chegou ao Rio, vin-da de Nova York. Essa companhiamantinha sob contrato grandes pilotosfranceses da época. Logo esses pilotospassaram a fazer vôos no Brasil.

A Semana da Aviação foi organiza-da pelo Major Paiva Meira, do Exérci-to, com a Queen Aviation CompanyLimited, sendo a primeira paradaaviatória. Iniciou-se em 17 de janeirode 1912, sendo executados reides aSanta Cruz, Niterói, Petrópolis eTeresópolis, alem de vôos �de fantasi-as e altitudes� (demonstração). Houveum interesse generalizado pela aviaçãoe percebeu-se sua importância em todoo território nacional, devido à exten-são do país.

A atividade aérea despertou gran-de interesse na área militar. O Tenen-te de Infantaria do Exército RicardoJoão Kirk, entusiasta da aviação e umdos primeiros sócios do recém-funda-do Aeroclube Brasileiro, foi logo in-dicado para compor, com Plauchut eo General Henrique Martins, a comis-são que deveria escolher um terrenoadequado para uma campo deinstrução aérea. Essa era uma das prin-cipais metas do Aeroclube Brasileiro:uma escola de aviação.

Com esses pioneiros, a aviação bra-sileira começou a se esboçar. A cora-gem e o espírito aventureiro desseshomens e mulheres possibilitaram acriação da mentalidade de que voartambém era preciso.

O Almirante José Carlos de Carvalhoformou, com Alberto Santos-Dumont,a primeira presidência do AeroclubeBrasileiro

Ruggerone, primeiro estrangeiro avoar no Brasil (25 de dezembro de1910), inspirava confiança até nasdamas, como a jovem Renata Crespi

Sgt. SAD Joubert

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Aos 50 anos, o homem, emgeral, já passou por grandesexperiências: curtiu a juven-

tude, construiu sua carreira eestruturou sua vida pessoal. Nessaidade, ele começa a vislumbrar a apo-sentadoria e a se planejar para ela.Entretanto, um sério problema desaúde pode aparecer e simplesmenteabreviar seus planos no futuro: o cân-cer de próstata.

A doença atinge um em cada seishomens, de acordo com a SociedadeBrasileira de Urologia. A próstata é res-ponsável pela produção de grandeparte do líquido seminal. Esse órgãose localiza abaixo da bexiga e adiantedo reto e envolve a parte inicial dauretra, canal que leva a urina e o sê-men (líquido seminal mais osespermatozóides) ao meio externo. Porisso, o aumento da glândula compri-me a uretra, podendo causar sintomascomo dificuldade e dor para urinar.

Mas alterações no volume dapróstata podem ser conseqüência tan-to de patologias benignas (prostatites,hiperplasia benigna) como malignas(câncer). E o crescimento se dá deforma lenta, retardando o apareci-mento desses sintomas. Para diferen-ciar a maligna das demais, �a preven-ção é a única saída�, diz o Chefe doServiço de Urologia do Hospital Cen-tral de Aeronáutica (HCA), Maj.-Med. Carlos de Franco. �Cerca de80% dos homens vão ter aumento dapróstata. Desses, 10% desenvolvemo câncer. Há estudos científicos, comoevidências clínicas e experimentais,que comprovam a influência do esti-lo de vida e determinados hábitos ali-mentares com a incidência do câncerde próstata. Fatores genéticos tam-bém podem estar envolvidos�,complementa.

Ele explica que o preventivo deve

ser feito, anualmente, a partir dos 50anos. Mas quando a pessoa possuihistórico familiar da doença, essa ida-de cai para 40. Na FAB, os militaresacima dessa idade realizam o preven-tivo nas inspeções de saúde anuais.Nos hospitais dos Comandos AéreosRegionais (COMAR), são feitos os exa-mes de PSA e toque retal. Já no HCA,que centraliza o serviço de urologia daFAB, a ultra-sonografia prostáticatransretal se soma aos demais. �A ultra-sonografia é um complemento. Comoa gente tem facilidade, temos os trêscomo rotina�, conta o Major.

O PSA (antígeno prostático especí-fico) é uma substância (glicoproteína)produzida pela célula prostática quepode ser dosada no sangue. Quantomaior a próstata, maior o seu valor. Acélula cancerígena produz mais PSAdo que uma célula prostática normal.Logo, o aumento da quantidade dePSA no sangue pode indicar a exis-tência do câncer. Valores muito eleva-dos, porém, podem sugerir inflamaçãoprostática (prostatite). Isso comprovaque apenas o exame de PSA não é con-dição específica de câncer de próstata.

O toque retal completa o exame de

Falando sérioMudando velhas opiniões, o homem descobre que pode garantir uma saúdemelhor para si

O toque retal per-mite que o médicoverifique alteraçõesde tamanho e consis-tência da próstata.

O aumento daglândula comprime auretra, podendo cau-sar sintomas comodificuldade e dor paraurinar. O crescimentose dá de forma lenta,retardando o apare-cimento desses sin-tomas.

Próstata aumentada.Próstata normal.

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PSA. O toque permite que o médico,introduzindo um dedo através do ânusdo homem, apalpe a parte interna doreto e a próstata para verificar altera-ções de tamanho e consistência.

Já a ultra-sonografia transretal temo mesmo princípio da ultra-sonografiafeita em grávidas. É um exame maispreciso e faz um mapeamento de todaa próstata para verificar seu tamanhoe a existência de nódulo, por meio dotoque de sua superfície com um apa-relho cilíndrico. No caso da presençade tumores, também avalia se há com-prometimento de tecidos ou, em ór-gãos vizinhos.

A confirmação do tumor malignoacontece com uma biópsia, que con-siste na retirada de um pequeno peda-ço da glândula, feita com agulhasdirigidas por ultra-som.

Mas o exame preventivo enfrenta opreconceito por parte do sexo masculi-no. Como para realizá-lo é necessário aintrodução do dedo do médico, no casodo toque retal, ou de um objeto cilíndri-co, no caso da ultra-sonografia transretal,no ânus, boa parte dos homens consi-deram o exame uma ofensa à masculini-dade. Assim, procuram um médico ape-nas quando têm os sintomas.

O que poucos sabem é que entre75% e 80% dos tumores não se ex-pressam clinicamente. Além disso, nocaso de câncer, quando os sintomasaparecem, a doença pode estar em es-tágio avançado, chamado metástase �fase em que se implanta em outras re-giões ou órgãos, como os ossos. Nessequadro, as chances de cura são míni-mas, podendo causar a morte. �O di-

agnóstico em estágio inicial aumentaas chances de cura. O preventivo nãoevita o câncer, mas pode detectá-lo pre-cocemente�, explica o Major De Fran-co, ele mesmo um exemplo disso.

Aos 44 anos, realizou exames queregistraram o aumento do PSA. Mesmoassim, levou quatro anos para diagnos-ticar o câncer e identificar a localizaçãodo tumor. Sofreu a cirurgia para extraçãoda próstata, chamada prostatectomia ra-dical, aos 48 anos, e hoje leva uma vidanormal, com a certeza da cura.

A prostatectomia radical só é pos-sível nos casos em que o tumor estárestrito à glândula e pode garantir acura total. Dos indivíduos que se sub-metem à extração, de 30% a 40% apre-sentam problemas de ereção. E menosde 10% dos pacientes ficam com in-continência urinária. �Conforme vaievoluindo a técnica, esse número ten-de a baixar�, diz o Major.

Quando o câncer é local, mas nãohá condições clínicas para a cirurgia,pode ser feita a radioterapia externa oua braquiterapia � introdução de agulhasde iodo radioativo no interior da prós-tata para destruir a célula cancerígena.Nos dois tratamentos, há o acompanha-mento semestral, durante os cinco pri-meiros anos. E, depois, anual para ve-rificar o nível zero de PSA.

Já quando há metástase, não há con-dições para a cirurgia. Nesse caso deveser feita a hormonioterapia ouquimioterapia. Como o câncer de prós-tata depende da influência dohormônio masculino, bloqueando ohormônio, em princípio, bloqueia-sea evolução do tumor. �Mas a indica-ção do tratamento varia de idade paraidade�, diz o médico.

Como muitos homens já têm cons-ciência da importância do exame pre-ventivo, o número de cirurgias de reti-rada total da glândula tem aumentado.�Há oito anos atrás, a gente quase nãofazia a prostatectomia radical. Só noano passado, realizamos mais de cem�,contabiliza o Major.

Homens como o 1º Sgt. MauroRicardo da Silva Bianchi, 39, do 1º Gru-po de Transporte de Tropa (1º GTT).Após uma partida de futebol, ele sen-tiu uma dor na região do ânus. Procu-

�O diagnóstico em está-gio inicial aumenta aschances de cura. O pre-ventivo não evita o cân-cer, mas pode detectá-loprecocemente.�

Ten.-QCOA. Everton- Jornalista

rou um médico, que detectou o aumen-to do tamanho da próstata e o encami-nhou para a ultra-sonografia no HCA.�Não esperava que surgisse algo assim.Não tenho histórico na família. Mas te-nho que cuidar de minha saúde�, dis-se, enquanto aguardava o exame.

Outros levam a prevenção a sérioe seguem a rotina anualmente. �Essa

é a quarta vez que faço o preventivo.Houve um aumento da próstata, masnatural�, diz o SO R/R Djalma deCarvalho Cantanhede, 53. �O diag-nóstico precoce permite o tratamen-to�, complementa. Já o SO R/RJailton Rangel Sepúlveda, 66, faz oexame desde os 40 e sabe o que podeacontecer sem o preventivo: �Recen-temente, perdi um amigo de 78 anoscom câncer de próstata que nuncahavia feito o exame�.

Isso mostra que, enquanto mui-tos homens descobrem a importân-cia do exame, alguns ainda morrempor causa do velho preconceito. Paraaqueles, a certeza de uma vida sau-dável e tranqüila na terceira idadecompensa o desconforto anual dopreventivo.

Maj.-Med. De Franco

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Reportagemde Turismo/BelémDo 2º Tenente

Terra pai d�éTerra pai d�é

Prepare-se para as chuvas quandofor a Belém. Não só aquela quefaz a capital paraense inegavel-

mente mais úmida. Mas também aque-la que a torna mais quente. O mora-dor e o visitante cedo descobrem que�chove� programação para quem nãoquer ficar em casa ou no quarto dohotel. Seja no início, no meio, ou nofinal de semana, Belém não pára. Essacidade brasileiríssima respira umacuriosa e efetiva mistura de influênci-as indígenas, africanas e européias.Magia desvendada nos ritmos, nossabores, no artesanato e na arquitetura.

Variadas também são suas paisagens.Quem aterrissa no �portal da Amazô-nia� desfruta de praias, igarapés, bos-ques e praças sossegadas � em suamaioria com túneis de frondosas man-gueiras - a pouca distância de aveni-das movimentadas e noites badaladas.Ah, não é preciso se preocupar comaquela chuva. Diante da quentura tro-pical do Norte, quando ela vem, pro-voca um bem-vindo refresco para ocorpo e um belo arco-íris para o céu.

Essa chuva que alivia faz parte docotidiano de Belém, cidade com médi-as climáticas entre 25ºC e 28ºC. Em

junho e julho (época do verão no Nor-te do país), é tempo de refrescar as tem-peraturas superiores a 30ºC. Belém ficaa somente 160km da Linha do Equa-dor. Isso explica o fenômeno de ter asestações �invertidas� em relação às de-mais regiões. Do começo do ano até mar-ço, as chuvas são mais regulares. Osmoradores chamam esse período de�inverno�. Nessa época, segundo da-dos da Seção de Meteorologia do SRPV-BE (Serviço Regional de Proteção aoVôo de Belém), chega a chover mais de60 horas por mês. Longe de supor queesse fato faça com que o tempo esfrie.

Em qualquer época do ano, Belém (PA) mistura harmoniosamente o quente e o úmiexóticos, o agito da capital e o jeito interiorano. Se não bastasse, o visitante enconmágica e rica mistura cultural �tupinambá-afro-européia�

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éguagua

Aliás, quando vier a Belém, emqualquer dia do ano, deixe em casa co-bertores ou agasalhos. Além do clima,os moradores ratificam a fama de querecebem de forma calorosa os seus vi-sitantes. Essa lição já foi aprendida pe-los militares que vêm servir no Pará.�Estou desde o final de fevereiro nacidade e já me sinto em casa. As pes-soas fazem de tudo para os recém-che-gados sentirem-se à vontade�, elogia oComandante do I COMAR (PrimeiroComando Aéreo Regional), Maj.-Brig.-do-Ar Carlos Alberto Pires Rolla.

Tanto os que se transferem para

Belém como os que passam poucosdias descobrem uma cidade para to-dos os gostos. Estrutura de capital, comar interiorano e um quê de exótico. Oque não dizer da Praia de Mosqueiro(a 60km do Centro e pertencente à ca-pital), de água doce nas margens daBaía do Guajará? Tem nada menos que17km para banho e até ondas para de-leite dos surfistas.

Mais perto está a de Icoaraci. Só a18km e cercada por barraquinhas e res-taurantes que servem todo tipo de pei-xe. De lá, é possível tomar um barco e,em meia hora, conhecer ilhas comfauna e flora praticamente nativas. Jáquem prefere praia de água salgada teráque andar um pouco mais até Salinas(210km de distância e dentro da cida-de de Salinópolis). Outras vedetes dosveranistas são as Ilhas de Algodoal e abadalada Marajó.

Exótica e rica também pode ser con-siderada a gastronomia da capitalparaense. É inadmissível para osbelenenses que alguém venha conhe-cer a cidade e não experimente o Patoao Tucupi (suco extraído da mandio-ca, de cor amarela e com gosto um pou-co ácido). Com o tucupi, pode se fa-zer o tacacá, outra comida de origemindígena bastante apreciada. Além dosuco, o caldo contém goma de mandi-oca cozida, camarão, folhas de jambue pimenta de cheiro. O tacacá só é ser-vido em uma cuia e deve ser tomadodiretamente, sem colher. Tem uma bar-raca de tacacá a cada esquina emBelém. Outro prato muito degustadofeito com a mandioca, só que com assuas folhas, é a maniçoba.

Os pratos genuínos dessa regiãoamazônica contêm energia de sobra.Por isso, será uma boa oportunida-de tomar um suco de açaí ou decupuaçu ou de bacuri ou de muruciou de uxi. Sem falar no guaraná doAmazonas, que, em Belém, é umavitamina ultra-poderosa que leva ovode codorna, catuaba, marapuama,gengibre, canela, castanha-do-Pará,gelo e frutas regionais.

Tanta energia talvez explique umpovo tão festeiro. As casas de showcostumam convidar várias bandaspara as noitadas. Não custa muito atéaprender o ritmo do momento em

Belém, o tecnobrega. Esses shows sãofreqüentados por todas as classes so-ciais. Antes de as bandas ligarem suasguitarras, há espaço para os ritmos maisenraizados, como o carimbó � dançacriada pelos índios tupinambás comadaptações feitas pelos escravos afri-canos. O carimbó, inclusive, é o queembala as festas juninas, que são maisanimadas nas praias ao som de mes-tres da música local como Pinduca eNilson Chaves.

ContrasteEm todos os espaços, o moderno e

o antigo se alternam, se fundem. En-tretanto, não há maior espelho desse�encontro� do que o Complexo do Ver-o-Peso, o mais conhecido cartão-pos-tal da cidade e sítio urbano tombadopelo Patrimônio Histórico Nacional.

É, na verdade, um conjunto forma-do por uma feira e dois mercados po-pulares (do peixe e da carne). O nomesurgiu quando os portugueses resol-veram cobrar impostos de tudo o queentrava e saía da Amazônia. Para isso,criaram, em 1688, a casa do Ver-o-Peso.Um lugar até folclórico. São comerci-alizados de ervas medicinais, recomen-dadas pelas mandingueiras, a artesa-natos. No local, pode-se conhecer a ce-râmica marajoara, feita com barro e ma-deira entalhada, outra belíssima influ-ência dos índios. O Ver-o-Peso é amaior feira livre do Brasil. Tem 26.500metros quadrados e 2.000 barracas.

É um lugar que tem fãs de peso.�Eu visito o Mercado do Ver-o-Pesotodas as vezes que venho a Belém. Éum espaço muito original - como aprópria cidade -, em que se evidenciatoda a magia dessa adorável misturade influências culturais de negros, ín-dios e europeus�, disse o Ministro daCultura, Gilberto Gil, em entrevista àAEROVISÃO, no final de abril. O Mi-nistro esteve em Belém no dia 30anunciando projetos de preservaçãoe recuperação de monumentos e pa-trimônios culturais da cidade.

Vizinho de porta ao Ver-o-Peso estáa Estação das Docas � ponto badaladocom restaurantes, sorveterias, lancho-netes, espaços artísticos e música aovivo para os freqüentadores à beira daBaía do Guajará. O palco se movimen-ta por todo o espaço, por meio das

Belem

tur

ido, lugares clássicos entra em cada esquina a

Mercado Ver-o-Peso: a magia damistura de influências culturais,um dos locais mais famosos dacidade

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Aero-Dicas

engrenagens que funcionavam no pas-sado e que foram recuperadas. A Esta-ção foi construída a partir de três anti-gos galpões das docas da cidade. Aestrutura permanece praticamente in-tacta. Das margens das docas, é possí-vel realizar deliciosos passeios parailhas que pertencem a Belém.

Moderno e antigo se encontramtambém na maior manifestação de fédo Brasil, o Círio de Nazaré, que acon-tece em outubro e é considerado oNatal do paraense. São dois milhõesde pessoas percorrendo quatro quilô-metros nas ruas de Belém, durantecerca de cinco horas, da Catedral àBasílica de Nazaré. Durante a procis-são, a multidão mostra sua fé seguran-do a corda à qual está ligada a imagemque está sendo conduzida. Além daromaria propriamente dita, o eventocompreende 15 dias de festividades,com procissões, peregrinações e umaintensa programação religiosa e cultu-ral, que a cada ano aumenta em núme-ro e em novidades.

Um pouco de história O passado de Belém pode ser visi-

tado no presente. A cidade nasceucomo Santa Maria de Belém do GrãoPará em 1616, fundada por FranciscoCaldeira Castelo Branco. Era uma ter-ra onde viviam os índios tupinambáse foi colonizada pelos portugueses apartir de então. A memória lusa estápresente na arquitetura, com fachadasde azulejos claros, sótãos e saguõespara amenizar o clima quente e úmi-do. Foram os portugueses que cons-truíram o Forte do Castelo para expul-sar os holandeses. Os canhões aindaestão lá.

Poderá o visitante ter uma aula dehistória em outros lugares, como oMuseu de Arte de Belém, a Casa das11 Janelas, o Parque da Residência eainda conhecer um pouco mais defauna e flora no Museu ParaenseEmílio Goeldi e no Bosque RodriguesAlves, com a rica e impressionantereserva amazônica. No meio da capi-tal, o visitante se sente em plena flo-resta. Por falar em riqueza, vale conhe-cer as igrejas centenárias e as ruas es-treitas que desvendam uma cidadecom muita história para contar o quenão ficou para trás.

Mas não adiantará percorrer todos

os seus caminhos em Belém e não en-tender a sabedoria histórica e presenteque vem do linguajar do povo. Ouvi-rá, por certo, expressões como �égua!�.Atenção: não é o animal. É como um�caramba�, �pôxa�... Entenderá tam-bém em pouco tempo o �pai-d�égua� �referência elogiosa que significa ótimo,muito bom.

Há outras gírias e interjeições queé bom saber. Mas descobri-las, aospoucos, é outro sabor bem especial.Um gosto de cupuaçu com carimbó,de sossego do dia misturado ao calorcom chuva refrescante da tarde. Saborde capital moderna com seu jeitinhobem interiorano, de brisas e ondas do

Guajará ao Atlântico, das memórias dopassado sempre tão cuidadas e lem-bradas no presente. Tudo emoldura-do por uma genuína e quase imprová-vel cultura �tupinambá-afro-européia�.Para definir essa cidade tão singular,é necessário percorrer sem pressa seuscantos e descobrir, mesmo que aospoucos, os seus encantos, e só assimdescortinar essa terra �pai-d´égua�.

Túnel das Mangueiras, naPraça da República

Catedral da Sé: o ponto departida do Círio de Nazaré

Os canhões do Fortedo Castelo

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Ten. Luiz Cláudio - Jornalista

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O mercado Ver-o-Peso, o mais famosode Belém

O Teatro da Paz,no centro dacidade

BosqueRodrigues Alves

Obra feita emcerâmicaMarajoara

Barcos ancorados nas docas

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Cassino de Oficiais da Base Aéreade Belém:Tel. (91) 213-610319 apartamentos na ala de trânsito(simples, duplos e triplos)14 apartamentos na ala de residente(simples e duplos)Preços:Oficial General � R$ 27,00Oficial Superior � R$ 23,00Capitão/Tenente � R$ 19,00

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tos da AeronáuticaTel. (91) 213-626721 apartamentos simples, duplos e triplosDiária � R$ 11,00

MarinhaHotel de Trânsito de Oficiais da Ma-rinhaTel. (91) 216-4049Preços:Oficial General - R$ 24,00Oficial Superior � R$ 22,62Capitão e Tenente � R$ 17,18

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Hotéis de Trânsito

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Na praia do litoral pernam-bucano, o vendedor deabacaxis empurra seu carri-

nho sob o sol quente. Ao reconhecerum turista estrangeiro, se aproxima sor-ridente e pergunta: �Do you want apineapple?�. Pois é. Não tem comofugir. A globalização faz parte de nos-sa realidade. Impossível, hoje em dia,imaginar alguém que consigaimplementar sua carreira, ou seus es-tudos, sem o conhecimento da línguainglesa. Em alguns setores de traba-lho, saber falar e entender esse idiomapode ser vital. Dentro da FAB, profis-sionais se dedicam ao aprimoramentodo inglês e multiplicam o conhecimen-to ao ensiná-lo aos companheiros defarda.

Controle padronizadoEm 1944, em Chicago, representan-

tes de 52 nações assinaram uma con-venção delineando os princípios daaviação global em tempos de paz e fun-dando a OACI (Organização de Avia-ção Civil Internacional) em Montreal.

Sete anos mais tarde, a OACI estabe-leceu que o inglês deveria ser a línguapadrão para a aviação no mundo. A partirde então, tornou-se obrigatório o conhe-cimento e uso do idioma por parte doscontroladores de tráfego aéreo, no diá-logo com os pilotos, o que evitou umasérie de contratempos (ver box).

Inglês na CapitalO Ten.-Esp.-CTA Nelson Marcelino

Dias chefia o LABID (Laboratório deIdiomas) do CINDACTA I (PrimeiroCentro Integrado de Defesa Aérea e Con-trole de Tráfego Aéreo) e ajudou nareativação do curso há alguns anos. Eleformou-se em inglês pela Casa ThomasJefferson. Mais tarde, tornou-se profes-sor pelo Instituto Britânico Indepen-dente e obteve o certificado de profici-ência em língua inglesa conferido pela

Universidade de Cambridge, nos Es-tados Unidos.

Ele explica que o LABID, original-mente criado para atender às necessi-dades de aprimoramento de controla-dores de tráfego aéreo, atende hoje amilitares de toda a área de Brasília.�Com o tempo e a divulgação feita pe-los próprios alunos, o curso recebe par-ticipantes com os mais diversosobjetivos: provas nas embaixadas, cur-sos no exterior ou mesmo elevação denível e conhecimentos�, diz Nelson.

O Maj.-Av. José Frederico Júnior,participou de um curso intensivopara habilitação no PsychologicalOperation Course, nos Estados Uni-dos. �O curso foi rápido, mas oinstrutor nos familiarizou com ex-pressões usuais do idioma. Em pou-co tempo os resultados dos testes si-mulados foram cada vez maissatisfatórios�, diz o Maj. Frederico.

O curso completo do LABID duratrês anos: o primeiro, de ensino bá-sico, o segundo, de nível intermedi-ário, e o terceiro, avançado.

Outro professor de inglês da FABé 1º Sgt. BCT Gilberto Carvalho Vaz.Ele se dedica a seus alunos �com oprazer de quem ensina crianças a lerpela primeira vez�, compara. Gilbertose interessou pelo aprendizado do idi-oma aos 12 anos em sua cidade natal,Parnaíba do Sul (PI), e se aprimorouquando entrou para a Aeronáutica. Eleensina o idioma desde 1997, quandoparticipou do curso de elevação denível em língua inglesa na Base Aéreade Lackland, no Texas, Estados Uni-dos. �Procuramos fazer os alunos tes-tarem sua capacidade de comunicaçãopara aprender a lidar com situações quepossam vir a enfrentar. E temos tidoexcelentes desempenhos�, orgulha-se.Em um dos muitos casos, Gilberto nar-

O mundo está mudando e, para acompanhar essa evolução, temos quenos preparar profissionalmente. Aprender um novo idioma tornou-seuma necessidade

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ra a história de uma aeronave america-na, cujo piloto reportou problemas como TCAS (equipamento que emite aler-ta de perigo iminente) e usou referên-cias técnicas relacionadas ao equipa-mento e não à fraseologia comum. �Oque poderia ter gerado um incidentemais grave foi imediatamente contro-lado pelo operador, graças ao seu co-nhecimento de inglês�, explica.

O SO BCT Arnaldo Roarelli Júnior,coordenador do LABID, formou-se eminglês pelo Fisk e aprimorou seus co-nhecimentos no Curso Avançado deControlador de Operações Aéreas Mi-litares no Dundridge College, emDevon, Inglaterra. Além de instrutor, eletrabalha na área de defesa aérea e já par-ticipou de muitas operações militares.�Para o sucesso de operações como aCRUZEX e a MISTRAL, o conhecimen-to da língua inglesa é relevante. Pilotose controladores interagem com mais fa-cilidade�, conta o professor, que tam-bém é fluente em japonês.

Roarelli participou da equipe que sereuniu no ILA (Instituto de Logísticada Aeronáutica) para a montagem doprimeiro módulo do CBIT (Curso Bási-co de Inglês Técnico), voltado especifi-camente para o pessoal de Esquadrõesde Vôo. �Para os profissionais de vôo,no final das contas, saber se comuni-car em inglês pode salvar vidas, já quepermite ao piloto e aos técnicos enten-derem melhor o equipamento que ma-nuseiam�, conclui.

O 2º Sargento André Luiz Ribeirodos Santos, aluno do curso intermediá-rio do LABID, conta que estudou inglêsdurante seis anos antes de ingressar naFAB. �Quando soube do curso noCINDACTA fiquei um pouco apreensi-vo, pois não imaginava como seria ametodologia. Mas os professores vestema camisa e posso afirmar que, em doisanos de curso no LABID, aprendi maisque em seis anos lá fora�, afirma.

Nos céus de RecifeO curso de inglês do CINDACTA

III tem metodologia diferente, mas oobjetivo é o mesmo: preparar contro-ladores e habilitá-los à tarefa de contro-lar os céus. No laboratório, uma mesacentral controla os equipamentos indi-viduais, de onde o instrutor pode ou-vir, gravar e corrigir a pronúncia e a gra-mática dos alunos. O SO BCT MoacirCantanhede de Jesus Filho formou-seprofessor de inglês pelo CCAA e peloYork School em Recife. �Aqui os alunosfazem seu próprio horário. O importan-te é atingir as metas pré-estabelecidas�,explica o SO Cantanhede.

A Divisão Operacional de ATM (AirTraffic Management - Gerenciamento deTráfego Aéreo) estabelece as metas a se-rem alcançadas em cada estágio do cur-so. O aluno agenda o horário com o pro-fessor, que se apresenta na sala de aulano horário marcado. Algumas vezes,alunos no mesmo nível de aprendiza-do podem partilhar o horário e a sala

de aula. O tempo de curso varia de acor-do com o aproveitamento dos alunos.Cada um faz seu ritmo. �O trabalho doscontroladores exige muito deles ao secomunicarem com aeronaves estrangei-ras�, diz o 1° Sgt. Gilberto Pedro da Sil-va, também professor, formado em tra-dução pela Universidade Federal dePernambuco (UFPE).

Uma situação normalmente contro-lável pode transformar-se num sério pro-blema: �Já fui acionado em sala de aulaquando o controlador não compreendiao que o piloto dizia�, lembra o 1º Sgt.José Carlos Bastos Souza, também pro-fessor, formado em letras pela UFPE. Opiloto da empresa Iberia, da Espanha,que sobrevoava Recife em direção a SãoPaulo, relatava que uma das passagei-ras, grávida de nove meses, sangravamuito e estava para dar à luz.

Após comunicar-se com os operado-res, a aeronave aterrissou e encontrouuma equipe de médicos a postos. Masnão só em emergências se resume o diá-logo entre pilotos e controladores. �Du-rante a Copa do Mundo, somos aciona-dos pelos pilotos para informar o resul-tado dos jogos. O mesmo acontecendodurante as Olimpíadas, quando os pilo-tos querem saber sobre as performancesdos atletas de seus países�, diz Bastos.

Sgt. Gilberto: aulasdinâmicas incentivama participação eajudam o aluno adesinibir-se

SO Roarelli: o conhecimento doidioma inglês como fator de sucessoem operações militares

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O curso recebe alunos de toda aregião de Recife, mas prioriza as va-gas para os controladores de tráfego.O mais importante é a ênfase nos ter-mos técnicos característicos dessetipo de trabalho. Segundo o SOCantanhede, �o controlador pode terum excelente conhecimento da lín-gua inglesa e não saber como tradu-zir um termo técnico, como perna-de-vento (down wind), por exemplo�.

Curso intensivoNo Rio de Janeiro, o Centro de

Instrução Especializada da Aeronáu-tica (CIEAR) realiza um trabalho maisabrangente. Os cursos têm uma carac-terística que os diferencia dos cursosministrados nos CINDACTA I e III.Trata-se de um curso intensivo, comduração de 45 dias, no máximo. Osinstrutores dispõem de equipamentosindividuais, podendo receber até 20alunos em uma turma. O grande pro-blema com que se deparam na forma-ção das turmas é a heterogeneidade donível de conhecimento prévio dos alu-nos. �Alguns nunca estudaram inglês,enquanto outros têm uma ótima base�,explica o SO Ronaldo Gonçalves daSilva, instrutor desde 1994, formadoem inglês pelo Brasas. A equipe contatambém com o SO BCT AntonioCarlos Lima Peeters, instrutor de Trá-

Ambigüidade, erros de pronún-cia, falhas gramaticais e sotaque car-regado. Estes são fatores que podemaumentar a ocorrência de incidentese acidentes aeronáuticos.

Em 1977, em Teneriffe, IlhasCanárias, ocorreu o pior acidente aé-reo da história. As tripulações daKLM e da PanAm e o controlador es-panhol estavam falando inglês. Umerro na comunicação, apontado como�sotaque carregado�, fez colidir asduas aeronaves. O acidente matou583 pessoas.

Em 1980, de novo em Teneriffe, ocontrolador autorizou a órbita padrão(fazer círculos padronizados num es-paço determinado) para um vôo daDan de Manchester, Inglaterra. Ainstrução dada foi �turn to the left�(virar à esquerda), mas deveria tersido �TURNS to the left�, que signi-fica fazer círculos para a esquerda aoinvés de uma única curva. O erro jo-gou a aeronave numa montanha,matando 146 pessoas.

fego Aéreo Internacional. Ambos foramconvidados pelo Comandante doCIEAR a formarem a equipe deinstrutores.

O curso do CIEAR não é específicopara controladores, apesar de usar omesmo material didático. Além dos cur-sos presenciais, básico e avançado(CBLI), existem ainda duas novas mo-dalidades: o CLBI-D (Curso Básico deLíngua Inglesa à Distância), distribuí-do em cinco módulos, nos quais a Uni-dade recebe o material didático e, nofinal do curso, o material para a avalia-ção; e o CBLI-2I, o mesmo curso básicoministrado no CIEAR, sendo que osinstrutores vão às Unidades, caracteri-zando o curso itinerante. �Em época decontenção, esse tipo de instrução tor-na-se mais viável, já que apenas osinstrutores se deslocam para o local doscursos, evitando gastos com o desloca-mento de 20 alunos�, explica o Maj.-Av. Marcos Graciano Torres Roque, Che-fe da Subdivisão de Ensino. Segundoo Major Roque, a freqüência dos cur-sos itinerantes tende a aumentar.

O ensino de inglês na FAB reúneprofissionais bem formados e treinados.Mais recentemente o CINDACTA II, emCuritiba, também iniciou seu curso dereciclagem em língua inglesa. Com oscursos, o conhecimento se multiplica enovas experiências acontecem, melho-rando o ensino do idioma. �O que eutrago de melhor para o laboratório foi oque eu tive de melhor de meus profes-sores. A certeza do aprendizado faz va-

ler o esforço.� As palavras do Sgt. Gil-berto resumem o empenho e a dedica-ção desses militares. Em esforço con-junto, os instrutores levam os profissi-onais da Aeronáutica a um passo adi-ante num mundo globalizado.

A equipe de instrutores doCINDACTA III: o aluno estuda no seupróprio ritmo

No CIEAR: cursointensivo exige preparodobrado para driblar aheterogeneidade dasturmas

Erros fatais

Sgt. SAD. Denise Escovino

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Crianças e jovens montam acam-pamento em um local ermo. Emseguida, preparam-se para inici-

ar uma instrução de rapel: mãos unidas,fazem uma pequena prece. A determina-ção com que realizam cada atividade lem-bra um acampamento militar. Na verda-de, eles integram um grupo de Escotei-ros do Ar, modalidade de escotismo fun-dada no Brasil em 1944 (ver quadro).

Quando Robert Stephenson SmithBaden-Powell fundou o movimento es-coteiro, há quase cem anos (ver box), nãoimaginava que, em pleno século 21, mi-lhares de meninos e meninas ainda esta-riam praticando as mesmas rotinas cria-das por ele.

Dessas crianças, 75 pertencem ao 5ºGrupo Escoteiros do Ar BrigadeiroEduardo Gomes, de Recife. A sede do

Grupo, fundado em junho de 1982 poriniciativa do então Brig.-do-Ar LuizGonzaga Lopes, está localizada dentroda Vila Residencial do Segundo Coman-do Aéreo Regional (II COMAR). Seuscomponentes se dividem em grupos: 7a 11 anos, os Lobinhos; 11 a 15, os Es-coteiros; 15 a 18, os Seniores, e 18 a 23anos, os Pioneiros.

Os Chefes � pedagogos, advogados,soldados, farmacêuticos � têm a tarefa deformar os novos cidadãos, e tudo isso,num trabalho não-remunerado. �A práti-ca do escotismo incentiva esses jovens aexecutar atividades voltadas ao contatocom a natureza, ao ar livre, bem comodesenvolve suas virtudes cívicas e auxi-lia na formação de sua personalidade�,explica o presidente do 5º Grupo, ChefeErnani José Barbosa da Silva, 45 anos,

advogado e professor da UniversidadeFederal de Pernambuco (UFPE).

Quem vê as crianças concentradasem aprender um novo tipo de nó ouum dos Lobinhos contando sua �boa-ação� semanal entende a afirmação doChefe Ernani. Os exercícios ajudama desenvolver a honestidade e a soci-abilidade e desenvolvem a consciên-cia dos jovens em relação à preserva-ção e o respeito à natureza.

Além disso, as tarefas envolvem ascrianças com os problemas da comu-nidade local. Em 1997, o Grupo rece-beu o Certificado de Reconhecimentodo UNICEF (Fundo das Nações Uni-das para a Infância, órgão ligado àONU) pelo trabalho de distribuição eauxílio na produção de soro caseirorealizado na favela Borborema, no

Sempre alerta!Sempre alerta!O que você acha que aconteceria se Santos-Dumont e Baden-Powel se encon-trassem no início do século? Bem, com certeza, teriam sido co-fundadores deum dos grupos de Escoteiros do Ar.

Lobinha Vivian VallimPenteado: �Adorei voar noBuffalo. Obrigada à FABpor essa oportunidade, quenunca esquecerei�

Marcelo P

enteado

O que você acha que aconteceria se Santos-Dumont e Baden-Powel se encon-trassem no início do século? Bem, com certeza, teriam sido co-fundadores deum dos grupos de Escoteiros do Ar

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município de Cabo de Santo Agosti-nho, a 20 km de Recife.

Outras histórias de igual determina-ção e sucesso se sucedem nas narrati-vas: crianças com problemas escolaresque se recuperaram após o ingresso noGrupo; integrantes que se tornaram alu-nos da Escola Preparatória de Cadetesdo Ar (EPCAR), outros que se forma-ram Oficias do Exército. �Um de nos-sos grandes orgulhos é ver os meninose meninas bem-encaminhados na vida�,diz Maria José Feitosa, uma das funda-doras do Grupo, que já está no movi-mento escoteiro há 43 anos.

�Prometo fazer o melhor possívelpara cumprir meus deveres para comDeus e a Pátria�. As palavras pronunci-adas com orgulho por Gleiby DornellasDutra, Lobinho de 10 anos, resumem ocompromisso do jovem escotista. Gleibyconta a emoção que sentiu no dia de suapromessa: �Eu pude, finalmente, parti-cipar das atividades de hasteamento daBandeira Nacional�. Somente após rea-lizarem a promessa, os Lobinhos podemusar o uniforme e participar dasatividades cívicas com os outros jovensdo grupo. Eles aprendem então os fun-damentos do escotismo e sua história eestudam os ensinamentos básicos de seumanual.

Os Escoteiros do Ar diferenciam-sedos demais grupos pelo desenvolvimen-to de atividades ligadas à Aeronáuticade uma maneira geral, como por exem-plo: aeromodelismo, navegação, meteo-rologia, identificação de aeronaves quedespertam ainda mais o interesse dosjovens pela aviação. A modalidade já re-úne mais de 7000 jovens em todo o País.

Interesse que levou Ivo MarcelinoMicelli, 76 anos, funcionário aposenta-do da Varig, a se dedicar ao escotismohá 63 anos. O Chefe Ivo é o mais antigoChefe escoteiro do país. Sua energia ededicação contagiam e levam mais de 80crianças ao Grupo Escoteiro 14-Bis,sediado na Base da Fundação RubenBerta, na Ilha do Governador (RJ).

A Varig apóia e sedia o Grupo, numaárea de mais de 17 mil metros quadra-dos, em meio à natureza. �O trabalhono Grupo, aliado à doutrina escoteira,já afastaram jovens das drogas e isso nosgratifica e estimula�, comenta o mais an-tigo Chefe. Alguns de seus �meninos�tornaram-se Oficiais-Aviadores e seus

Fotos de M

arcelo Penteado

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olhos brilham de orgulho quando selembra deles: �É bom saber que mante-mos jovens fora das ruas e os educa-mos para serem adultos honestos e comum futuro promissor�.

O 14-Bis, que conta com a colabora-ção de 20 Chefes, se reúne nas tardesde sábado e, no início das atividades,os lobinhos correm a contar as �boas-

ações� que fizeram durante a semana.Depois, acontecem os jogos �quebra-gelo�, quando todas as equipes interageme aprendem a lidar com situações de res-ponsabilidade. Para Marcelo Duarte, ad-ministrador da área da Fundação, elessão excelentes vigilantes e cuidam doespaço a eles destinado com esmero ecuidado. Para integrar-se ao Grupo, a cri-ança deve comprovar matrícula escolare bom comportamento, ser parente, de-pendente ou ser apresentado ao Grupopor um funcionário ou ex-funcionárioda Varig.

Os 70 grupos de Escoteiros do Arespalhados pelo Brasil reúnem-se emeventos bienais e em encontros nacio-nais e internacionais com as demais mo-dalidades escoteiras. Nos meses de ju-lho, acontece o Jamburee (encontro in-ternacional das modalidades escoteiras),uma grande confraternização escoteiracom acampamento, palestras e troca deestórias e conhecimentos. O último acon-teceu em Fortaleza (CE).

O trabalho desses homens e jovensreúne determinação, dedicação e o de-sejo de ajudar e crescer. No acampamen-to, as atividades se iniciam. No rapel,as cordas amarradas à cintura alçam maisalto os sonhos desses jovens. Uma ju-ventude sadia e dinâmica que faz acon-tecer o seu próprio futuro.

Baden-Powel era Oficial do Exér-cito inglês e publicou um livro paraajudar os exploradores da Força,contendo informações sobre acam-pamentos e sobrevivência. Certo dia,percebeu que um grupo de meni-nos utilizava o livro em suas brin-cadeiras e resolveu promover umacampamento com jovens de 16 a21 anos na ilha de Brownsea, na In-glaterra. Assim, em 1908, nascia oescotismo.

Mais tarde, em 1910, um Tenenteda Marinha brasileira trouxe para oPaís as diretrizes escotistas, fundan-do o escotismo por aqui.

O Escotismo do Ar, especificamen-te, foi criado na cidade de Curitiba,no Paraná, precisamente no 5º Regi-mento de Aviação, hoje Segundo Cen-tro Integrado de Defesa Aérea e Con-trole de Tráfego Aéreo (CINDACTAII). Na ocasião, o Ten.-Cel-Av.Godofredo Vidal, ao lado de outrosOficiais, decidiram fundar a modali-dade do ar e oficializaram na Uniãodos Escoteiros do Brasil a criação doprimeiro grupo da categoria: o Gru-po Escoteiro do Ar Tenente RicardoKirk. Em 19 de abril de 1944, surgiua Federação dos Escoteiros do Ar, con-gregando todos os grupos que desen-volviam a modalidade.

Em 26 de julho de 1951, o Brig.-do-Ar Nero Moura, então Ministroda Aeronáutica, reconhecendo a im-portância do Escotismo do Ar naformação de possíveis futuros avia-dores, determinou, na Portaria n.º262, que todas as Unidades da For-ça Aérea Brasileira apoiassem osgrupos escoteiros da modalidade. OComando da Aeronáutica propôsuma reedição do documento, no sen-tido de dar continuidade e incenti-vo à atividade escoteira no Brasil.

Um novo caminho

O Lobinho Gleiby: participar dasatividades cívicas é motivo de orgulho

Chefe Ivo, o mais antigo Chefeescoteiro do Brasil: amor ao escotismo

Sgt SAD Denise Escovino

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Coordenação Nacional daModalidade do ArAv. Brasil, 1647 - Guanabara13073-001 � Campinas/SP

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Sobre a imensa floresta, na fronteira norte do Brasil. Esse é o ambiente operacional de

A Caça na

�Aqui começa o duelo�. O duelocontra os vôos ilícitos, a selva e seuclima traiçoeiro, a distância das ba-ses de apoio e a dificuldade de co-municação, além da imensidão dafronteira norte do Brasil.

Está surgindo uma nova era naaviação militar do nosso país, parti-cularmente na aviação de caça.

O duelo, citado na frase estampa-da na entrada do Segundo Esquadrãodo Terceiro Grupo de Aviação (2°/3°GAV), Esquadrão Grifo, sediado naBase Aérea de Porto Velho, faz alusãoa todos os desafios enfrentados pelospilotos de caça que voam sobre a

imensa floresta brasileira.Eles são jovens e aceitaram, volun-

tariamente, a missão de realizar a suacapacitação operacional, guardando omaior tesouro ambiental do planeta: aAmazônia.

Ao lado do �Grifo�, o Primeiro Es-quadrão do Terceiro Grupo de Aviação(1°/3° GAV), Esquadrão Escorpião,sediado na Base Aérea de Boa Vista,compõe o grupo conhecido como �OsTerceiros�, expressão carinhosamenteutilizada na FAB para denominar asduas Unidades Aéreas responsáveis pelaformação de líderes de esquadrilha decaça no extremo norte do Brasil.

Após a conversão dos Esquadrõesde Ataque para Unidades de Caça emnovembro de 2001, além do númerode aeronaves Tucano, houve tambémum acréscimo de pessoal para atenderàs necessidades da instrução aérea.

Alunos do curso de liderança, pi-lotos da extinta aviação de ataque, bemcomo outros, oriundos da primeira li-nha da caça, formam o quadro de tri-pulantes desses esquadrões.

Eles realizam vôos na região de fron-teira e aproveitam a instrução para in-dicar também a presença da aviaçãomilitar brasileira nos céus da região.

A área de atuação dos dois esqua-drões é marcada por intensa movimen-tação de vôos ilícitos, o que propicia àmissão um cenário real de hostilidade.

Os pilotos contam várias históriassobre aeronaves ilícitas que são avista-das eventualmente durante as missõesou detectadas pelos órgãos de contro-le. Quando acionados, eles intercep-tam esses tráfegos, identificando-os eordenando o seu pouso.

Essas aeronaves normalmente sãoconduzidas por pessoas experientes eque conhecem o relevo da região, o que

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e formação dos novos Líderes de Esquadrilha de Caça da Força Aérea Brasileira

Amazônia

facilita a fuga pela fronteira.No momento dessa reportagem,

embaixo de um hangarete em Porto Ve-lho, uma esquadrilha, composta porduas aeronaves AT-27 Tucano, aguarda-va o acionamento de alerta para decola-gem imediata. �Aqui a operação é real�afirmou o Capitão Carlos Alberto, pilo-to de Mirage, recém-chegado deAnápolis para auxiliar na instrução dosGrifos.

Existe uma tripulação permanente-mente em alerta, 24 horas, todos osdias do ano.

Este é o ambiente encontrado pe-los pilotos vindos de Natal como alaoperacional para realizarem o curso deliderança.

Ao chegarem, eles deparam-se comum cenário favorável a todo o conjun-to de missões atribuídas à aviação decaça. A motivação dos integrantes dosesquadrões é notória.

Além das atividades de instrução,as duas Unidades Aéreas operam emconjunto com a Marinha e o Exérci-to. Entre outras possibilidades, elesatuam como Força Aérea amiga emmissões de cobertura ou como ForçaAérea inimiga em ataques simulados

à Força Naval e à Terrestre.O treinamento em simulador de vôo

é feito em Pirassununga (SP), na Acade-mia da Força Aérea. O de emprego doarmamento é realizado em Santa Cruz,Cachimbo ou Natal, de acordo com adisponibilidade dos estandes de tiro.

A capacitação para a utilização da ae-ronave e do armamento é exaustivamen-te treinada, inclusive durante as partici-pações em exercícios como COMBINEX,OPERAER e RIBEIREX, entre outros.

Apesar da distância dos Parques deManutenção, os dois esquadrões ope-ram com uma disponibilidade diáriagirando em torno de 80%, além de pro-fissionais de manutenção altamentecapacitados para o apoio ao vôo.

Eles são militares não só da caça,mas oriundos de outras aviações, es-tabelecendo um grande intercâmbio etroca de experiências. �Os aviões nãoparam no hangar. Nós também nãoparamos; existe sempre uma esquadri-lha saindo ou chegando e nós temosque apoiar todos os pilotos�, conta oSargento Ronald, vindo da aviação detransporte e especialista em célula no1°/3° GAV em Boa Vista.

Profissionais como ele cuidam decada detalhe da operação das aerona-ves. Do armamento e equipamento de

vôo ao abaste-cimento e apoio

nos hangaretes, a cadadecolagem e pouso.

Os grandes aliados dos Grifos eEscorpiões na missão na fronteira são

os aviões R-99 do 2°/6° Grupo de Avia-ção, sediado em Anápolis. Eles operamem conjunto, como controladores aéreosdos AT-27 nas missões de interceptação.É uma atividade que requer sintonia eintegração entre as tripulações, exigindodos pilotos e controladores o máximo decapacidade profissional.

Na Amazônia, os campos de pousosão distantes e as bases de apoio, es-cassas. A construção do Núcleo da BaseAérea de Uaupés (NUBAUA), localiza-do na cidade de São Gabriel da Cacho-eira (AM), servirá como fator de maiormobilidade para as missões desses es-quadrões na linha de fronteira do Bra-sil com a Colômbia e a Venezuela.

Ao ser inaugurada, a nova BaseAérea possibilitará uma presença ain-da maior de vôos militares nos céusda região.

A chegada das novas aeronaves AL-X, denominadas na FAB de A-29 nasua versão operacional e AT-29 na ver-são de treinamento avançado, estáprevista para o final do próximo ano.

O avião, desenvolvido pelaEMBRAER, equipará esses esquadrõesde caça da Amazônia e trará para a For-ça Aérea um conceito completamentenovo em termos de tecnologia e dou-trina de emprego.

A aeronave possui processamentocompletamente digital, dotada de sis-temas embarcados de última geração,possibilidade de realização de missõesutilizando visão noturna e softwares que

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farão do piloto um operador de sistemas.O fato gera uma grande expectati-

va nessa nova geração de aviadoresmilitares.

Durante os dias 24 de março e 4 deabril, uma equipe de pilotos, engenhei-ros e técnicos da EMBRAER e do Cen-tro Técnico Aeroespacial (CTA) estive-ram em Porto Velho a fim de realizaremas últimas avaliações da aeronave emambiente amazônico.

O contato com o avião serviu paramotivar ainda mais os integrantes do1°/3° GAV, e aproximá-los da realida-de que será vivida em pouco tempono esquadrão.

A conversão da missão das Unida-des Aéreas e a aquisição das novas aero-naves para a Amazônia exigiram do Co-mando da Aeronáutica um investimentomaior na infra-estrutura das Bases Aére-as de Boa Vista e Porto Velho, para quepudessem apoiar com eficácia a opera-ção dos aviões e atender ao crescenteaumento de efetivo nessas Organizações.

Além de várias outras obras, es-tão prontos os hangaretes, pistas detáxi e pátio de estacionamento dePorto Velho. Em Boa Vista foraminaugurados os hangaretes das aero-naves A-29, o pátio de estacionamen-to e o hangar dos R-99.

O trabalho incessante é realizadosob o forte calor amazônico, com a fi-nalidade de entregar, o mais breve pos-sível, as novas instalações que vão abri-gar as mais novas máquinas estratégi-cas da Força Aérea Brasileira.

A aviação de caça na Amazônia temcomo principal instrumento e desafio paraessa nova geração a implantação de umanova doutrina de emprego, baseada nautilização de aeronaves modernas que,alimentadas por dados de outras aerona-ves, radares embarcados ou de solo edados via satélite, possuem a capacida-de de executarem missões fora do alcan-ce de qualquer outro turboélice já dispo-nível ou em desenvolvimento.

Este é o novo teatro de operações quese desenha para a Amazônia. O cenáriode dimensões continentais possui tripu-lações treinadas, motivadas e em perfeitoestado de prontidão operacional para ocombate. Para o �duelo�.

Maj.-Av. Frederico

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O cuidado coma manutenção dosassentosejetáveis

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Verificação doarmamento:

atençãoredobrada

�Os aviõesnão param noshangar, nóstambém nãoparamos�

Os Guardiõese os Grifos:

unidos naproteção da

Amazônia

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Sgt. Marta - Jornalista

Apresença deles dátranqüilidade. Seja no campode instrução ou em manobras

aéreas, o doente ou ferido sabe queterá um atendimento rápido. Isso ex-plica a existência da Unidade Celularde Saúde (UCS) da Base Aérea deNatal (BANT), que acompanha de per-to todas as atividades de campo reali-zadas na Unidade.

�Dar um atendimento rápido e efi-ciente no próprio local da instrução,evitando que o militar seja trazido parao Esquadrão de Saúde [ES]. Esse é oobjetivo da UCS�, diz o Maj.-Dent. Ale-xandre Herculano Mayer, um dos co-ordenadores. �Antes, o militar era re-movido até o Esquadrão de Saúde, oque demandava muito tempo pararetornar à instrução�, completa.

A UCS da BANT é a única em ati-vidade na FAB e faz as vezes de umHospital de Campanha, só existente naDiretoria de Saúde da Aeronáutica(DIRSA) (veja box). �A equipe e os equi-pamentos da UCS são selecionadosconforme a necessidade da missão�,conta o Comandante do ES, Ten.-Cel.-Med. Nelson Luiz Foggiatto Silveira. Noexercício de campo dos Recrutas, rea-lizado duas vezes por ano, a equipegeralmente é formada por um médico,um dentista, dois Sargentos enfermei-ros, dois Cabos auxiliares e um moto-rista para a ambulância.

Durante esse treinamento, são mon-tadas duas barracas, com dois leitos,duas macas e equipamentos adaptados,como cadeira odontológica e mini-la-boratório, com capacidade para efetuarexames de urgência e até pequenas ci-rurgias. Somente os casos graves ou quenecessitem de tratamentos mais com-plexos são removidos para o ES. Po-rém, �antes de ser transportado, o pa-ciente é preparado adequadamente. Nocaso de um acidente grave, o primeiroatendimento pode salvar uma vida�,lembra o Ten.-Cel.-Med. Nelson.

Tonturas devido ao esforço físico,

torção de pé, fratura de dedo e espi-nhos são as ocorrências mais comuns.O Soldado Daniel Hudson Pinheiro deOliveira, do Batalhão de Infantaria(BINFA), sentiu-se mal e logo foi so-corrido pela equipe. Depois de medi-cado, repousou e voltou para ainstrução. �Gostei da rapidez no aten-dimento, pois antes o hospital ficavamuito distante�, diz. Opinião seme-lhante teve o Soldado Luciano AugustoFerreira da Silva Júnior, do Grupo deInstrução Tática e Especializada(GITE), que sentiu dores no estômago,foi medicado e, em menos de umahora, voltou para o �combate�. Ironi-camente, uma das vítimas foi o fotó-grafo que estava cobrindo a instrução.Um material caiu sobre a cabeça do 2ºSargento Marcelo Nunes, provocandoum corte em seu rosto. Após algunspontos, ele já estava em ação, garan-tindo as fotos desta reportagem.

Além do apoio aos Recrutas, essehospital itinerante atuou na OperaçãoCalango do Segundo Esquadrão doQuinto Grupo de Aviação (2º/5º GAV),exercício em que o Esquadrão Joker des-dobrou seu efetivo para o estande de

tiro de Maxaranguape (RN). Já na Reu-nião da Aviação de Transporte (RAT),no Torneio da Aviação de Caça (TAC)e no Portões Abertos, ocorridos no anopassado na BANT, a UCS se instalounum shelter, onde operou por doismeses. A equipe também tem levadoseu apoio a comunidades carentes, pormeio da Operação ACISO (Ação Cívi-co-Social).

Quem vê hoje a Unidade Celular deSaúde em funcionamento nem imaginacomo tudo começou. Em 2000, para darapoio aos Soldados em instrução, o pes-soal do ES teve que improvisar. Materi-ais e equipamentos sucateados, prestesa serem descarregados, foram recupera-dos, conta o Maj.-Dent. Herculano. Vo-luntários do ES lixaram e pintaram osequipamentos, cortaram alguns para re-duzir o peso e até estrado de cama viroubancada para o laboratório. Uma liçãodo pessoal da Saúde, que não mediuesforços para apoiar a missão da FAB,além de servir para o aprimoramento daequipe, capacitando-a para agir em situ-ações de conflito.

Criatividade em campanhaMateriais e equipamentos esquecidos viram um hospital de campanha que ga-rante a segurança e a saúde dos militares da BANT

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Durante uma manobra de guer-ra, o piloto tem uma visão ge-ral de toda a situação em torno

de sua aeronave ao receber no seu pa-inel de controle uma enorme quanti-dade de informações sobre os demaisparticipantes do cenário: identificação,localização, classificação (se é uma ae-ronave de transporte regular ou mili-tar, se é amigo ou inimigo, etc.), velo-cidade, altitude, quantidade de com-bustível e a localização dos seusobjetivos ou alvos. Informações segu-ras, transmitidas em segundos, que

possibilitam ações sincronizadas notempo e no espaço, aumentando o po-der de combate de cada aeronave en-volvida para neutralizar ou evitar o ata-que inimigo.

Esses são alguns dos benefícios queo Sistema de Comunicações por Enla-ces Digitais da Aeronáutica(SISCENDA) trará para a Força AéreaBrasileira e, num futuro próximo, aoExército e à Marinha do Brasil.

A versão do SISCENDA a seradotada de forma comum pelas ForçasArmadas ainda não está definida. É

possível que cada Força venha a utili-zar versões ou mesmo suportes (equi-pamentos) de comunicações diferen-tes em razão de fatores diversos, taiscomo: propagação (alcance) das comu-nicações e portabilidade dos equipa-mentos e seus acessórios. �Mas oSISCENDA permitirá, mesmo assim,que os participantes troquem dados demaneira tal que os usuários sejam ca-pazes de interpretar as informações damesma forma. Isto é chamado deinteroperabilidade, a chave para o su-cesso de um sistema de TDL (Tactical

Em tempo realUm eficiente sistema de informações moderniza a FAB e possibilita um maiorpoder de combate

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Data Link), como o SISCENDA�, es-clarece o Ten.-Cel.-Av. AlexandreFernandes da Silva Lessa, Oficial doEstado-Maior da Aeronáutica(EMAER) relator do Grupo de Traba-lho que assessora a Comissão de Im-plantação do Sistema de Controle doEspaço Aéreo (CISCEA) nos assuntosrelativos ao Projeto.

Investimento nacionalPoucos países têm acesso à

tecnologia, recursos financeiros e hu-manos necessários ao desenvolvimen-to de um sistema tão complexo. NaAmérica do Sul, somente um país pos-sui um sistema semelhante e, mesmoassim, não o utiliza plenamente porfalta da infra-estrutura necessária.

O Brasil começou a entrar nesse gru-po seleto quando o Comando da Aero-náutica resolveu, em 1998, adotar umalinha de equipamentos para as comu-nicações por enlace de dados (conheci-da por data link) entre as aeronaves AL-X e as aeronaves R-99. Sendo assim,além dos equipamentos, o Brasil nego-ciou com o fornecedor um programa detransferência de tecnologia. Mas o pro-grama não incluía os aplicativos e, por-tanto, toda a parte de funcionamentodo equipamento teria que ser desenvol-vida pelos brasileiros.

E isso está sendo feito. O Coman-do da Aeronáutica, por meio de umaPortaria, oficializou a criação doSISCENDA e criou um Grupo de Tra-balho, subordinado ao Estado-Maiorda Aeronáutica, com o objetivo de as-sessorar a CISCEA, órgão responsávelpela elaboração da configuração técni-ca e pelo gerenciamento do desenvol-vimento da implantação do Sistema.As dificuldades orçamentárias que osdiversos setores públicos, incluindonossas Forças Armadas, têm enfrenta-do nos últimos tempos e a conseqüentefalta de acesso às inovaçõestecnológicas, aliadas ao número redu-zido de pessoas especializadas na área,são os principais obstáculos enfrenta-dos por essa equipe.

Apesar de parte do Sistema já seencontrar em operação, o Projeto, deforma global, ainda está na fase de con-cepção. A sua implantação completaserá feita em algumas outras fases e, aexemplo de outros tantos projetos degrande porte, levará cerca de uma dé-

O SISCENDA utilizará dois tipos bá-sicos de enlaces: o ponto-a-ponto,para as comunicações entre dois par-ticipantes (basicamente ar-solo); e oenlace em rede TDMA (Time DivisionMultiple Access), para as comunica-ções entre vários participantes, prin-cipalmente em vôo. Ambos, empre-gando uma técnica de salto defreqüência, controlada por umalgoritmo de criptografia, que garan-te que as comunicações ocorram,praticamente, imunes a interferênci-as e a interceptações.

Os enlaces TDMA funcionam pelaalocação de uma fatia de tempo, cha-mada de slot, para que cada partici-pante transmita seus dados.

É como se fosse um carrossel vir-tual. Em intervalos de pequenos es-paços de tempo esses slots retorname possibilitam, a cada participante,disponibilizar um volume muitogrande de informações. E, enquantonão estão transmitindo, os participan-tes �escutam� as transmissões dos de-mais, constituindo, assim, a rede dedados.

COMO FUNCIONA

cada. Poderá, inclusive, sofrer evolu-ções no suporte de transmissão de da-dos ou, ainda, nas atividades deimplementação necessárias para aintegração de novos participantes. Naverdade, assim como o telefone e ocomputador, as comunicações táticaspor data-link vieram para ficar. E, paraque sua efetividade seja mantida aolongo do tempo, o SISCENDA preci-sará estar em constante modernização.

Mas, o desenvolvimento desse Sis-

Cap.-QFO Valdenice - R. P.

tema que possibilita um enorme fluxode informações em curto espaço detempo e com a máxima segurança é,com certeza, um dos projetos mais au-daciosos, no momento, para a moder-nização da Força Aérea Brasileira, poispode significar o sucesso ou o fracas-so de diversas missões e a vida ou amorte dos seus combatentes.

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No dia 23 de outubro, em 1906,no Campo de Bagatelle, Paris,o brasileiro Alberto Santos-

Dumont decolou com uma máquinamais-pesada-que-o-ar e realizou a iné-dita façanha de levantar vôo, mantê-laem condições sustentáveis até o re-gresso seguro à terra firme.

Superada a lei da gravidade, cou-be à história universal enaltecer e ve-nerar o feito histórico e a genialidadedesse patrício.

Cem anos após, projetar e relembrartal façanha é mais que um simples gestode ufania ou de brasilidade � é umdever moral, o de relembrar às gera-ções mais jovens aquilo que o mundointeiro não cansou em render honrase destacar à época.

Pensando nisso, o Comandante daAeronáutica tomou a iniciativa de de-signar um Grupo de Trabalho que irácuidar da campanha do centenário dovôo do 14-Bis.

O Centro de Comunicação Social daAeronáutica e o Museu Aeroespacialplanejaram uma campanha com 30projetos. Dentre esses projetos, estãoprevistos filmes cinematográficos, no-vela de época, documentáriojornalístico para a televisão, materialliterário para inserção no conteúdocurricular das escolas, produtos indus-triais temáticos, cédula monetária, brin-quedos educativos, álbum defigurinhas, concursos diversos, coleçãofilatélica, enredos de escolas de sam-ba, exposição cultural, festa popular,Semana da Asa 2006 em edição espe-cial e, principalmente, a reconstruçãodo famoso aparelho, o 14-Bis.

Esse novo modelo permitirá a re-produção do inesquecível vôo em di-versos pontos do território nacional.Encerrando a campanha, o célebre vôoserá refeito com nova decolagem e pou-so no lendário Campo de Bagatelle, namanhã do dia 23 de outubro de 2006,em cerimônia internacional a ser rea-

2006: após um século, o mais-pesado-que-o-ar voará novamente em Paris

lizada na Europa, com a participaçãodos governos brasileiro e francês.

Parece apoteótico? E como imagi-nar diferente, diante do legado do Paida Aviação?

Reproduzir o grande feito e enaltecê-lo nas mais diversas formas da expres-são artística, cultural, econômica e so-

De novo no ar

cial jamais poderão ser consideradosuma tarefa árdua, nos dias atuais.

Difícil, mesmo, foi inventar oinexistente, desafiar as leis da física,imitar os pássaros, brincar de Deus,há um século.

Ten.-Cel.-Av. Coutinho

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Três Soldados, embriagados, seenvolveram em uma briga, du-rante uma confraternização.

Dois deles haviam agredido um tercei-ro Soldado, e o inquérito foi encami-nhado à Justiça Militar.

�Esse fato aconteceu próximo daconclusão do serviço militar deles, eeles ficaram cerca de um ano a maisapós o tempo de permanência esgota-do�, afirmou o Maj.-Inf. Paulo Ribei-ro, que trabalhou de 1994 a início de2003 na administração de pessoal mi-litar do Segundo Centro Integrado deDefesa Aérea e Controle de TráfegoAéreo (CINDACTA II), em Curitiba-PR. �No começo, havia uma orienta-ção no sentido de não licenciar o Sol-dado que estivesse respondendo a In-quérito Policial Militar (IPM). A conti-nuidade deles na ativa era um mauexemplo, pois estavam sendo benefi-ciados após cometerem um ato ilícito,enquanto outros Soldados de condu-ta exemplar tiveram de ir emboraquando completaram o tempo�, dis-se. Ao final do julgamento, os três fo-ram imediatamente licenciados.

deira �sobrevida�no serviço ativo�,

disse a Ten. RenataRicarte Domiciano Ferreira,

Adjunto Jurídico daConsultoria Jurídica-Adjunta do

Comando da Aeronáutica (COJAER).Para corrigir distorções e esclarecer

o assunto, em 5 de dezembro de 2002,o Ministro da Defesa aprovou novoParecer (nº 151/CONJUR � 2002), paraser adotado pelas três Forças como ori-entação normativa.

O novo parecer diz: �Em face doexposto, o nosso parecer, (...), é nosentido de que o Parecer nº S-17, de1986, da Consultoria-Geral da Repú-blica, não se aplica ao militar sem es-tabilidade, engajado ou reengajado, li-mitando-se o seu alcance a quem seencontre prestando serviço militar ini-cial�. A partir disso, a Praça pode serlicenciada do serviço, caso esteja res-pondendo a Inquérito Policial Militarou à ação penal militar, por decisão daprópria administração, descartandonecessidade de autorização judicial.

Com essa nova orientação, o Coman-do da Aeronáutica espera que situaçõesque comprometam a hierarquia e a dis-ciplina militares não prevaleçam, man-tendo seus pilares constitucionalmen-te definidos.

Licenciamento de Praças sem estabilidade e �sub judice�: problema constante-mente enfrentado por OM do Comando da Aeronáutica agora está com os �diascontados�

�Alguns anosdepois�, acrescen-tou o Maj. Paulo Ri-beiro, �uma nova de-terminação orientavaa Organização a con-sultar um juiz daAuditoria Militarnos casos de Solda-dos engajados e,normalmente, oparecer era favorávelao licenciamento�.

Esse tipo de situaçãoocorreu por muitos anos por-que as Forças Armadas basea-ram-se em um parecer de 1986, daConsultoria-Geral da República. Essedocumento, na verdade, era uma res-posta a uma consulta realizada ao ór-gão sobre licenciamento de Praça emserviço militar obrigatório, na condi-ção de �sub judice�, e dizia: �No méri-to, passa a vigorar, no âmbito da Ad-ministração Federal, a orientação pelaqual o incorporado, quando respon-der a Inquérito Policial Militar ou a pro-cesso no foro militar, deverá permane-cer na sua Unidade, não lhe sendoaplicável, enquanto durar essa transi-ção, a interrupção do tempo de servi-ço nem o licenciamento (...)�.

Com o tempo, o termo �incorpora-do� adquiriu significado muito amploe, na prática, passou a se referir a to-das as Praças. Essa interpretação aca-bou ocasionando problemas.

�Sabendo que, em determinados ca-sos, há uma demora para a decisão daJustiça e que enquanto o mérito da ques-tão não estivesse definitivamente julga-do não poderiam ser licenciados, algunsSoldados, Cabos e Sargentos provoca-vam situações que compeliam a Admi-nistração à instauração do Inquérito Po-licial Militar, conseguindo uma verda-

Tempo esgotado

Ten. QCOA. Karina - Jornalista

Ten. Ricarte

Sgt Paulo

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Ten. Eduardo Silverio de Oli-veiraChefe da Seção de Apoio aCursos e Simuladores (ECAC)do Instituto de Proteção aoVôo (IPV)Mestrado em lingüística naUNICAMPEngenheiro Civil

Pedagogia militarHá algum tempo, venho obser-

vando como as nossas cren-ças interferem diretamente no

processo de ensino-aprendizagemnas instituições de ensino do Coman-do da Aeronáutica, seja ele em qual-quer nível.

A crença no ensino tradicional,não no sentido lato da palavra, masnaquele baseado na tradição, no en-sino de pai para filho, no ensino doofício, está impregnado em nossoscursos e escolas. Infelizmente, há umapredominância exagerada de práxisobsoletas e um verdadeiro culto ao�eu aprendi assim�.

A prática doxal, aquela que vem daexperiência de vida, deve ser substi-

tuguês escolar�. Mas o que essas ino-centes frases têm a ver com o nossoensino?

Elas demonstram a nossa crença deque a ênfase do nosso ensino estácentrada no conteúdo que deve sermemorizado e não nas habilidades quepermitirão um efetivo uso desse con-teúdo (Valente, 2002), além de escon-der o fato de que o aluno bem-sucedi-do não significa, necessariamente, quecompreende o que fez. Em 1974 e em1978, Piaget observou que há uma di-ferença entre o fazer com sucesso e ocompreender o que foi feito (La Prisede Conscience e Reusir et Comprendre,A Tomada de Consciência e Fazer eCompreender, respectivamente).

O nosso ensino não pode ser maisbaseado em um fazer descompromissa-do, de realizar tarefas e chegar a umresultado igual à resposta que se en-contra no final do livro texto, mas dofazer que leva ao compreender. Não hádúvidas de que o profissional que pre-cisamos deve ser melhor qualificado,com habilidades e responsabilidadepara poder tomar decisões, resolverdificuldades e realizar tarefas que po-dem não ter sido pensadas anterior-mente (Valente, 2002).

Mas, se durante a sua formação,o aluno é passivo e considerado ape-nas como um receptáculo que preci-sa ser enchido de informações, comopodemos exigir futuramente que elebusque o conhecimento, que resolvaproblemas, que faça uso da informa-ção �aprendida� ou que encontre so-luções otimizadas?

Não seria o uso da informática umboa solução para o problema? Antes deresponder a essa pergunta, devemos nosvaler do dito popular: �todo cuidado épouco�. Entretanto não temos comonegar que precisamos buscar soluçõesheurísticas para o nosso ensino.

O uso do computador, da internete da nossa intranet virou uma febreem nossas instituições de ensino, masas nossas crenças no que é ensino têm

Não há dúvidas de que oprofissional queprecisamos deve sermelhor qualificado, comhabilidades eresponsabilidade parapoder tomar decisões

tuída pela prática epistêmica, aque-la que vem da análise, da observa-ção, do saber, do rever, do exami-nar, do pesquisar, sob pena de au-mentarmos ainda mais o que prefi-ro chamar de �desperdício escolar�:desinteresse, treinamentos poucoprofícuos, retreinamento, obsoles-cência, etc.

Alguém não se lembra dos jar-gões: �Se não entendeu, decora!�, �Oimportante é camburar�, etc? Nemsei se a palavra �camburar� existena cultura escrita do português doBrasil, mas não há como negar queela faz parte da cultura oral do �por-

feito com que as novas tecnologias este-jam a serviço do ensino tradicional, ouseja, do fazer. A nossa prática pedagógi-ca está agora travestida de modernidade,mas no fundo nada foi alterado, a nãoser pelo fato de termos gasto mais di-nheiro com a compra de computadores,videocassetes, projetores, etc.

A tecnologia dos multimeios pa-rece que veio para ficar! Afinal decontas, todo país subdesenvolvidoacha que a simples compra de má-quinas modernas resolve todos osseus problemas. A mudança tem quenecessariamente passar pela crençapedagógica.

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Graças a problemas respiratóri-os na infância, o mundo co-nheceu alguns grandes nadado-

res. Um deles é Joel Ferreira BorgesAlves, que aprendeu a nadar com 1 anode idade, por recomendação médica,depois de uma crise de bronquite, massó aos 14 anos de idade começou defi-nitivamente a prática da natação. Tudocomeçou com a influência do pai, pro-fessor de natação, numa competição naescola onde fazia o primeiro grau, e avitória inesperada sobre um colega, queacabou convidando-o para compor aequipe municipal de natação do Rio deJaneiro. Depois de se alistar na Aero-náutica e começar o serviço militar em2002, Joel se tornou o Soldado Borges,e hoje serve na Divisão de DesportosMilitares da Comissão de Desportos daAeronáutica (CDA), no Rio de Janeiro.

Em cinco anos de carreira, Borgesobteve vitórias importantes na natação,tanto em competições civis, quanto mi-litares. �As vitórias já tinham viradorotina�, afirma ele, referindo-se aos doisanos em que competiu pela equipe mu-nicipal, quando ganhou quase todas as

competições de que participou, até queentrou para a Federação Aquática doRio de Janeiro, em 2001. Entre as con-quistas mais importantes de Borges emcompetições militares estão o recordeno Campeonato Brasileiro das ForçasArmadas em provas de 200m costas,sua especialidade, e a melhor coloca-ção da delegação brasileira no Campeo-nato Mundial das Forças Armadas, re-alizado em setembro de 2002, na Ale-manha, disputando provas de 50m e100m costas. Em competições civis, fi-cou entre os oito melhores nadadoresbrasileiros de 2000 a 2003, disputandoo Troféu Brasil de Natação, além dobicampeonato brasileiro na categoriajúnior, em 2001 e 2002, e o oitavo lugarnos 100m costas no Troféu José Finkelde 2002.

Borges explica que, para a maioriados atletas, uma das grandes dificul-dades da natação está na falta de umaestrutura para treinamento. Faltam pis-cinas adequadas e os poucos centrosde treinamento, mesmo nas principaiscidades do País, estão distantes da re-sidência desses atletas. O custo de uma

boa preparação, incluindo as viagenspara participar de competições e ali-mentação adequada, se constitui emmais uma barreira ao surgimento denovos talentos na natação. �O apoiodo CDA foi essencial para que eu par-ticipasse das últimas competições�, ex-plica Borges. Essa estrutura dada pe-las Forças Armadas para os atletas trou-xe resultados para as competições es-portivas militares.

Para o atleta, o nível das competi-ções militares tem se aproximado cadavez mais das competições civis: �Atéalguns anos atrás, o nível das compe-tições militares era bem inferior, mastem melhorado muito com o ingressode bons nadadores nas Forças Arma-das�, afirma o atleta. Mesmo com umaagenda cheia, dividida entre o traba-lho no CDA e o treinamento, Borgesagora se prepara para a disputa do Tro-féu José Finkel 2003, a ser realizadoem setembro, em São Paulo e o Cam-peonato Mundial Militar, previstopara outubro, na Itália.

Às margens plácidasCom o aprimoramento das competições militares, o desporto militar traz umagrande promessa para a natação brasileira

Às margens plácidas

Sgt. SDE Luiz Carlos

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Sgt. BCO Flavio Cavadas

Mande você também o seu �Causo�para [email protected]

Nos idos de 1987, eu servia noPrimeiro Esquadrão do NonoGrupo de Aviação, sediado em

Manaus. Eu e meu companheiro deEsquadrão, o então 3S Barcellos, éra-mos mecânicos do C-115 Buffalo.Uma das aeronaves encontrava-se compane em um dos aparelhos de comu-nicação (rádio VHF) havia várias se-manas. Como a pane só acontecia emvôo, era difícil de ser detectada. O Cap.Jurandir, chefe da Manutenção, já ir-ritado com a demora de se encontraruma solução, deu-nos o prazo de umdia útil para resolver o problema.

Dirigimo-nos ao pátio para nossa�missão de urgência�. Após vasculharcada centímetro do Buffalo, detectamosa causa da maldita pane: um dos pe-quenos plugues da antena do rádio es-tava solto. �Beleza!�, exclamei, � agoraé só refazer a instalação do cabo daantena no conector e pronto!�.

Para nosso azar, num piscar deolhos, o plugue escorregou da mão deBarcellos e caiu em um dos milharesde buracos que só o Buffalo tem. �Jáera!�, disse Barcellos, olhando deses-perado para o piso do avião.

No dia seguinte, antes do início doexpediente, fomos correndo à Seção deEletrônica, em busca de um conector dereposição. O prazo do Capitão havia ter-

minado. Encontramos um pote cheio deplugues, que imediatamente derrama-mos sobre a mesa na tentativa de encon-trar um que fosse igual ao que per-demos.

Infelizmente, o Capitão

Jurandir teve a mesma idéia de ir à Seçãode Eletrônica logo cedo e nos pegou coma mão na massa, olhando uma por umaas peças sobre a mesa. Ao entrar, foi logoperguntando: �E aí?! Resolveram?�.

Explicamos então que o problema erao terminal da antena e que já estava tudosob controle. Não satisfeito, o Capitãofaz a pergunta fatal: �Cadê a peça?�. Eue o Barcellos nos entreolhamos um se-gundo e respondemos, quase ao mesmo

tempo, �Tá ali�, apontandoa pilha de plugues amontoa-

dos na mesa à nossa frente.O Capitão, famoso por sua impaci-

ência e total falta de senso de humor,retrucou saindo da sala com cara depoucos amigos: �Pois contem osplugues. Será a quantidade de dias decadeia que vocês vão pegar�.

Apertem os cintos, o plugue sumiu!!O negócio é não abusar da sorte... nem da ironia