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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ELISA COSTALONGA E GANDOUR
ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO:
Um estudo sobre a priorização de critérios
RIO DE JANEIRO
2011
2
“Diga-me, esquecerei Mostre-me, talvez lembrarei
Faça-me participar e compreenderei.”
Provérbio chinês
3
Elisa Costalonga e Gandour
ESCOLHA TECNOLÓGICA NO SETOR DE SANEAMENTO:
Um estudo sobre a priorização de critérios
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Administração, do Instituto
COPPEAD de Administração, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Administração.
Orientador: Prof. Cesar Gonçalves Neto, Ph.D.
RIO DE JANEIRO
2011
4
G196 Gandour, Elisa Costalonga e. Escolha Tecnológica no Setor de Saneamento: Um estudo sobre a
priorização de critérios / Elisa Costalonga e Gandour – 2011 158 f.: il. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Instituto Coppead de Administração, Rio de Janeiro, 2011.
Orientador: César Gonçalves Neto 1. Análise de decisão. 2. Tecnologia-Saneamento. 3. Administração
– Teses. I. Gonçalves Neto, César (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Pós-Graduação em Administração. III. Escolha Tecnológica no Setor de Saneamento: Um estudo sobre a priorização de critérios.
CDD 658.4035
5
Agradecimentos
Gostaria de agradecer...
Aos meus pais, Stela e Fábio, por me mostrarem o valor da educação e
acompanharem minhas conquistas acadêmicas ao longo dos anos.
À Clarissa, por ser uma aluna e irmã exemplar.
Ao Renato, pelas contribuições, sábias e sinceras.
Ao Miguel, pelo carinho, compreensão e apoio.
Ao Vinicius, pelas ideias construtivas e paciência sem fim.
Aos colegas da Turma 2009, sem os quais essa experiência não seria tão rica.
Aos professores do COPPEAD, pela dedicação ao ensino e pelo exemplo.
Ao Prof. César, pela orientação.
Ao Prof. Otávio, pelos conselhos.
À equipe COPPEAD, pela atenção, prestatividade e, acima de tudo, pela
oportunidade.
Ao CNPq, pelo investimento em educação e pesquisa.
Aos profissionais e acadêmicos que participaram desta pesquisa e que, espero,
sejam os maiores beneficiados pelos resultados.
Muito Obrigada!
6
Resumo
GANDOUR, Elisa Costalonga e. Escolha Tecnológica no Setor de Saneamento:
Um estudo sobre a priorização de critérios. Dissertação (Mestrado em
Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
Até a metade do século passado, os poucos estudos sobre escolha tecnológica
eram voltados para o setor industrial, focando em aspectos econômicos. Mais
recentemente, no entanto, a sustentabilidade dos processos tornou-se central para
profissionais e acadêmicos. O objetivo deste estudo é traçar perfis de decisão,
baseado na inclusão de critérios de decisão e em características pessoais dos
entrevistados. Escolheu-se o setor de saneamento por lidar com a qualidade da
água fornecida enquanto procura minimizar os impactos ambientais do processo de
tratamento. Os dados foram obtidos através de survey e analisados descritivamente,
assim como por aglomeração estatística. Os resultados mostram que alguns critérios
utilizados no setor industrial também o são na área de saneamento. Percebe-se que
o setor público prioriza critérios relacionados ao impacto ambiental, ainda que
demande mais informações para suas decisões, enquanto no setor privado
prevalecem critérios referentes à eficácia do processo. No entanto, há
desalinhamento intra-setor sobre objetivos de uma estação de tratamento: o setor
público defende o objetivo de alcançar a eficácia no tratamento da água, enquanto o
setor privado aponta para um processo que deve, acima de tudo, prezar pelo
ambiente. Identificam-se critérios referentes aos aspectos sociais do processo, que
devem ser priorizados. No geral, os resultados mostram que decisores e não-
decisores estão alinhados em suas preferências e que existe necessidade de prover
informações de qualidade para a escolha tecnológica.
7
Abstract
GANDOUR, Elisa Costalonga e. Escolha Tecnológica no Setor de Saneamento:
Um estudo sobre a priorização de critérios. Dissertação (Mestrado em
Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.
Until the middle of the last century, the few studies made on technological choice
were intended for the industrial sector, focusing on economic aspects. More recently,
however, the sustainability of processes has gained importance for professionals and
academics. The objective of this study is to identify decision profiles, based on the
inclusion of decision criteria and personal characteristics of respondents. The
sanitation sector was chosen because it deals with the quality of water supplied while
seeking to minimize the environmental impacts of the treatment process. Data were
obtained through survey and analyzed descriptively, as well as with statistical
clustering. The results show that some criteria used in the industrial sector are also
used in the sanitation area. It was noticed that the public sector prioritizes
environmental impact criteria, even though it requires more information for making
decisions, while in the private sector, criteria regarding the effectiveness of the
process prevail. However, there is an intra-industry misalignment concerning a
treatment plant’s objectives: the public sector supports the goal of achieving
efficiency in water treatment, while the private sector indicates a process that should,
above all, care for the environment. Criteria concerning social aspects of the process
are identified and should be prioritized. Overall, the results show that non-decision
makers and decision makers are aligned in their preferences and that there is need
to provide quality information for technological choice.
8
Lista de tabelas
Tabela 1 Definições de termos técnicos .................................................................... 11
Tabela 2 Características observadas para o tratamento da água residual ............... 40
Tabela 3 Etapas para o tratamento da água ............................................................. 42
Tabela 4 Casos de reaproveitamento da água de esgoto ......................................... 45
Tabela 5 Resumo das tecnologias para tratamento de esgotos................................ 54
Tabela 6 Resumo de características das tecnologias citadas ................................... 55
Tabela 7 Resumo das vantagens e desvantagens das tecnologias citadas ............. 55
Tabela 8 Metodologias de avaliação da sustentabilidade ......................................... 60
Tabela 9 Indicadores de sustentabilidade ................................................................. 62
Tabela 10 Etapas do método multiobjetivo e multicritério ......................................... 65
Tabela 11 Critérios para avaliação tecnológica ......................................................... 66
Tabela 12 Respostas coletadas ................................................................................ 82
Tabela 13 Caracterização pessoal ............................................................................ 83
Tabela 14 Caracterização por região ........................................................................ 83
Tabela 15 Agrupamento por inclusão de critérios: percentual da amostra ................ 83
Tabela 16 Agrupamento por inclusão de critérios: quantidade de pessoas .............. 84
Tabela 17 Categorização dos objetivos de uma ETE ................................................ 84
Tabela 18 Categorização dos novos critérios propostos ........................................... 85
Tabela 19 Contatos realizados .................................................................................. 85
Tabela 20 Respostas inválidas .................................................................................. 86
Tabela 21 Critérios por categoria .............................................................................. 89
Tabela 22 Alocação por inclusão de critérios: setor .................................................. 89
Tabela 23 Alocação por inclusão de critérios: ramo .................................................. 89
Tabela 24 Alocação por inclusão de critérios: hierarquia .......................................... 90
Tabela 25 Categorização dos objetivos de uma ETE ................................................ 93
Tabela 26 Categorização dos objetivos por setor ..................................................... 94
Tabela 27 Categorização dos objetivos por ramo de atuação .................................. 95
Tabela 28 Critérios com maior percentual de inclusão .............................................. 97
Tabela 29 Critérios com maior percentual de não-inclusão ...................................... 97
Tabela 30 Critérios com maior percentual de indecisão ............................................ 98
Tabela 31 Grupo com alta taxa de indecisão ............................................................ 99
Tabela 32 Critérios do setor industrial: julgamentos ................................................ 100
9
Tabela 33 Critérios do setor industrial: julgamentos por decisores ......................... 100
Tabela 34 Aglomeração não-hierárquica da amostra (percentual do total) ............. 102
Tabela 35 Valor absoluto de componentes em cada aglomerado........................... 102
Tabela 36 Aglomeração: percentuais por coluna .................................................... 103
Tabela 37 Aglomeração: percentuais por linha ....................................................... 103
Tabela 38 Coordenadas dos centros de massa ...................................................... 104
Tabela 39 Prioridades em cada aglomerado: critérios adicionados a mais ............. 106
Tabela 40 Classificação dos centros de massa calculados .................................... 107
Tabela 41 Aglomeração por ramo ........................................................................... 108
Tabela 42 Aglomeração por hierarquia ................................................................... 108
Tabela 43 Aglomeração por setor ........................................................................... 108
Tabela 44 Distribuição de propostas por novos critérios ......................................... 112
Tabela 45 Percentual de inclusão para todos os critérios ....................................... 134
Tabela 46 Relação de palavras e expressões-chave para categorização dos
objetivos .................................................................................................................. 136
10
Lista de figuras
Figura 1 Isoquanta .................................................................................................... 24
Figura 2 Distribuição mundial dos recursos hídricos ................................................. 35
Figura 3 Tripé para a sustentabilidade ...................................................................... 59
Figura 4 Exemplo do gráfico em R3 .......................................................................... 74
Figura 5 Distribuição de contatos por região ............................................................. 86
Figura 6 Distribuição de mercado .............................................................................. 88
Figura 7 Distribuição de mercado ajustado para proporção de respostas ................ 88
Figura 8 Distribuição de setor.................................................................................... 88
Figura 9 Distribuição de hierarquia ............................................................................ 88
Figura 10 Distribuição dos pontos em R3 ................................................................. 91
Figura 11 Dendrograma: Método de Ward ................................................................ 91
Figura 12 Aglomeração com 3 centroides ................................................................. 92
Figura 13 Localização dos centros de massa no espaço ........................................ 106
Figura 14 Disposição tridimensional: ângulo Eficácia vs. Impacto Ambiental ......... 107
11
Termos técnicos
Os termos definidos na Tabela 1 serão úteis para a melhor compreensão do
texto. As definições foram obtidas principalmente do Dicionário Eletrônico Houaiss.
Tabela 1 Definições de termos técnicos (INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS, 2002)
Termo técnico Definição
Aeróbio Que ou o que é capaz de utilizar o oxigênio em seu metabolismo (diz-se
de organismo)
Anaeróbio 1. Diz-se de ou organismo capaz de anaerobiose; 2. Diz-se de ou
metabolismo que ocorre em ausência de oxigênio; 3. Diz-se de ou
composição atmosférica incapaz de sustentar vida em aerobiose
Anaerobiose Tipo de vida que ocorre na ausência de ar ou de oxigênio; anoxibiose
Biodigestor Relativo a ou equipamento instalado para a produção de biogás
Biogás Gás combustível (metano) gerado pela fermentação anaeróbica de
matéria orgânica de origem vegetal ou animal (p.ex., biomassa, esterco,
lixo orgânico)
Biomassa 1. Massa de matéria viva; 2. Massa de matéria orgânica de um
organismo; 3. Massa de matéria orgânica presente em um nível trófico
ou em outra delimitação dos ecossistemas
Decantador Que ou o que sedimenta (mesmo que sedimentador)
Detenção
hidráulica
Tempo de permanência da massa líquida dentro do tanque ou lagoa de
tratamento1
Efluente Referente à corrente de fluido que sai de um motor, equipamento etc.
Gás sulfídrico Diz-se de ou ácido (H2S) usado como intermediário químico, em
metalurgia, como reagente analítico etc. É um gás incolor, mais pesado
que o ar e altamente tóxico; possui cheiro de ovo podre em baixas
concentrações e inibe o olfato em concentrações elevadas
Nitrificação Transformação de nitrogênio amoniacal em nitratos
Patogênico Que provoca ou pode provocar, direta ou indiretamente, uma doença
Reator Tanque; unidade de processamento de substâncias onde se produzem
reações de transformação molecular (p.ex., reator de polimerização etc.)
Séptico 1. Que causa putrefação; putrefativo; 2. Que causa infecção; 3. Que
contém germes patogênicos
1 Definição livre, considerando o contexto da pesquisa.
12
Lista de abreviações
ANA – Agência Nacional das Águas
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
DBO – Demanda bioquímica de oxigênio
DQO – Demanda química de oxigênio
ETE – Estação de Tratamento de Esgotos
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
SS – Sólidos em suspensão
UNDPCSD – The United Nations Department of Policy Coordination and Sustainable
Development
UNEP – United Nations Environment Programme
VMP – Valores máximos permitidos
13
Sumário
1 Introdução .......................................................................................................... 16
1.1 Relevância .................................................................................................. 18
1.2 Delimitações ............................................................................................... 19
2 Revisão de literatura .......................................................................................... 21
2.1 Tecnologia .................................................................................................. 21
2.1.1 Escolha de tecnologia .......................................................................... 23
2.1.2 “Tecnologia apropriada” ....................................................................... 27
2.1.2.1 Tecnologia social .............................................................................. 28
2.1.3 Modelo multiobjetivo e multicritério ...................................................... 28
2.1.3.1 Histórico ........................................................................................... 29
2.1.3.2 Etapas do método multiobjetivo e multicritério ................................. 30
2.1.3.3 Elementos da formulação do problema multiobjetivo e multicritério . 31
2.1.4 Análise tecnológica para tratamento de esgotos ................................. 32
2.2 A água ......................................................................................................... 34
2.2.1 Sobre a água ....................................................................................... 34
2.2.2 Considerações sobre a água para uso humano .................................. 36
2.2.3 O conceito de reuso e reciclagem ........................................................ 38
2.2.4 Tratamento da água ............................................................................. 39
2.2.4.1 Etapas do processo de tratamento da água ..................................... 41
2.2.4.2 Padrões para definição da qualidade da água tratada ..................... 43
2.2.4.3 Tratamento de esgotos .................................................................... 44
2.2.4.4 Tecnologias disponíveis para o tratamento de esgotos ................... 46
2.2.5 Resumo das tecnologias ...................................................................... 54
2.3 Sustentabilidade ......................................................................................... 56
2.3.1 Algumas definições .............................................................................. 56
2.3.1.1 Sustentabilidade ............................................................................... 56
2.3.1.2 Sustentabilidade ambiental .............................................................. 58
2.3.1.3 Desenvolvimento sustentável ........................................................... 58
2.3.2 Sustentabilidade do tratamento de água ............................................. 59
2.3.2.1 Metodologias para determinação da sustentabilidade ..................... 60
2.3.2.2 Indicadores de sustentabilidade ....................................................... 61
2.4 Resumo da revisão de literatura ................................................................. 64
14
2.4.1 Elementos-chave ................................................................................. 64
2.4.2 Critérios de decisão ............................................................................. 65
3 Metodologia ........................................................................................................ 68
3.1 Coleta de dados .......................................................................................... 68
3.1.1 A metodologia survey .......................................................................... 68
3.1.1.1 Amostragem ..................................................................................... 69
3.1.2 A pesquisa atual .................................................................................. 71
3.1.3 Conteúdo do questionário usado na e-survey ..................................... 72
3.2 Análise de dados......................................................................................... 72
3.2.1 Percentual de inclusão ......................................................................... 73
3.2.2 Análise de aglomerados ...................................................................... 73
3.2.2.1 Método hierárquico de aglomeração ................................................ 75
3.2.2.2 Método de Ward ............................................................................... 75
3.2.2.3 Método não hierárquico de aglomeração ......................................... 76
3.2.2.4 K-means: algoritmo de aglomeração ................................................ 77
3.2.3 Outras análises: objetivos e critérios ................................................... 78
3.2.3.1 Análise dos objetivos ........................................................................ 79
3.2.3.2 Outros critérios propostos ................................................................ 80
3.2.3.3 Critérios mais frequentes ................................................................. 80
4 Resultados ......................................................................................................... 82
4.1 Análise descritiva ........................................................................................ 82
4.2 Apresentação da amostra ........................................................................... 85
4.3 Apresentação dos dados coletados ............................................................ 88
4.4 Outros dados coletados .............................................................................. 93
4.4.1 Objetivos da ETE ................................................................................. 93
4.4.2 Outros critérios ..................................................................................... 95
4.4.3 Critérios mais frequentes ..................................................................... 96
4.4.4 Critérios do Setor Industrial ................................................................. 99
5 Análise e sugestões ......................................................................................... 101
5.1 Análise dos dados ..................................................................................... 101
5.2 Outras análises propostas ........................................................................ 109
5.2.1 Análise dos objetivos categorizados .................................................. 109
5.2.2 Novos critérios: Análise ..................................................................... 111
15
5.2.3 Análise de critérios mais frequentes .................................................. 113
5.2.4 Análise de critérios do setor industrial ............................................... 114
6 Considerações finais ........................................................................................ 116
6.1 Sugestões para estudo futuro ................................................................... 120
6.1.1 Aglomeração ...................................................................................... 120
6.1.2 Outras análises .................................................................................. 123
Referências ............................................................................................................. 125
Apêndice A – Estrutura da Survey .......................................................................... 132
Apêndice B – Percentuais de inclusão .................................................................... 134
Apêndice C – Classificação de objetivos ................................................................. 136
16
1 Introdução
Nos últimos anos, tem-se testemunhado a crescente conscientização sobre
questões ambientais e de recursos naturais, tanto por parte de pessoas físicas
quanto de instituições e empresas, que dependem do meio ambiente para produzir e
sobreviver. Com isso, cresceu também a preocupação coletiva com o risco de
escassez desses recursos em um futuro próximo. De fato, segundo De Koning, et al.
(2008), além do crescimento da conscientização ambiental, a população vem
apresentando uma tendência a defender a sustentabilidade. Esse conceito abrange
várias perspectivas, uma das quais é o impacto ambiental, e pode ser entendido do
ponto de vista da perpetuidade dos recursos naturais, consumidos pela população
global e renovados com o passar do tempo.
A água, um dos recursos naturais mais abundantes, é também parte essencial
do ciclo de vida do ser humano, considerando-se tanto o consumo como nutriente,
para manutenção do metabolismo e funções vitais, quanto o consumo como parte
essencial de outras funções diárias, como higiene e lazer. Sendo assim, e tendo em
vista a distribuição naturalmente desigual desse recurso entre os povos, torna-se
importante praticar o uso consciente, a fim de evitar o desperdício. Além disso, deve-
se praticar a reciclagem e o reuso, que adiam seu esgotamento. No final da década
de 90, um estudo publicado pela UNEP (1997) mostrou que, infelizmente, os
governos e a iniciativa privada de diversos países da América Latina não
reconheciam a necessidade de estações de tratamento de água, nem a importância
da qualidade da água para melhorar a qualidade de vida das gerações futuras. Esse
cenário, porém, mudou e, recentemente, é crescente a importância dada à
preservação de recursos hídricos (DE KONING, BIXIO, et al., 2008).
Devido ao intenso uso da água em funções de limpeza, como um meio para
transportar impurezas, o efluente do sistema de esgoto é rico em água. Apesar de
essa água ser suja e imprópria para consumo, ou até mesmo para manuseio, esse
material oferece enorme potencial como fonte de água para tratamento e, portanto,
reciclagem e reuso. Dependendo do método de descarte e do reuso que se pretende
dar ao efluente, aplicam-se diferentes níveis de exigência com a qualidade da água
tratada, isto é, sua pureza. Por exemplo, água de esgoto nunca se tornará potável,
por mais que seja tratada, mas pode ser usada para lavagem de calçadas ou
resfriamento de máquinas.
17
Como visto, água tratada pode ser considerada um produto, com diferentes
especificações e propósitos. É de se esperar, portanto, que existam diversas
maneiras de “produzi-lo”, dependendo dos requerimentos considerados. De fato, o
universo de tratamento de água e esgotos oferece opções, variando os custos
envolvidos, o tempo de operação e a qualidade do produto final, para citar apenas
alguns exemplos. Essa variedade se deve às diversas tecnologias de tratamento
disponíveis, com requisitos diferentes. Com isso, torna-se imprescindível orientar
corretamente a escolha de tecnologia para implementar uma estação de tratamento
de esgotos. Tal decisão impactará diretamente a saúde da empresa que se propõe a
lidar com água e esgotos tratados, a fim de atender à demanda dentro das restrições
impostas pela escolha tecnológica.
Nesse contexto, encontrou-se motivação para investigar a dinâmica entre o
setor de saneamento e o meio ambiente, interdependentes entre si. O interesse era
entender como os processos do setor de saneamento são impactados pela
crescente conscientização ambiental. Devido à importância da escolha de tecnologia
para a construção de uma estação, escolheu-se focar nesta parte do processo para
orientar o estudo. Portanto, esta dissertação se propõe a estudar o processo de
escolha de tecnologia no setor de saneamento, com o intuito de compreender
melhor alguns fatores que influenciam essa decisão.
A escolha de tecnologia se baseia em objetivos a alcançar e critérios a
atender, ambos variando de acordo com a situação e os agentes envolvidos. Neste
trabalho propôs-se uma observação crítica dos critérios utilizados no setor de
saneamento, categorizando-os e comparando-se a prioridade a eles atribuída.
Dentre essas categorias havia: eficácia do tratamento de esgoto, referente à
qualidade da água produzida pelo tratamento; impacto ambiental da construção da
estação; e outros critérios a ser considerados, como custos e aceitação pública, por
exemplo. Desejava-se entender se haveria preferência observável por alguma
dessas categorias e, caso houvesse, se isso poderia ser explicado em termos das
características pessoais de quem as priorizava, isto é, seu ramo de trabalho
(academia ou mercado), nível hierárquico e setor de atuação (público ou privado).
Anteriormente à coleta de dados, imaginava-se que não seria possível escolher uma
tecnologia que fosse eficaz e, ao mesmo tempo, tivesse baixo impacto ambiental.
Isto é, a hipótese trabalhada é que seria necessário priorizar um desses aspectos
processuais ao definir qual tipo de tratamento aplicar ao esgoto. Vale lembrar que a
18
intenção não era indicar formas corretas ou incorretas de abordar a escolha
tecnológica, mas sim entender a motivação por trás da mesma.
A coleta de dados foi realizada através de uma e-survey, cujo questionário
continha critérios de escolha tecnológica, encontrados na literatura. A amostra foi
composta por profissionais e acadêmicos do setor de saneamento, de diferentes
níveis hierárquicos e de ambos os setores, público e privado. Os resultados foram
então analisados sob a ótica de aglomerados, que objetiva agrupar os indivíduos da
amostra com base em suas respostas. A aglomeração levaria à identificação de
perfis de decisão, relacionando características pessoais do entrevistado e suas
preferências para escolha tecnológica.
1.1 Relevância
O objetivo desta pesquisa é identificar perfis de decisão, resultantes da
aglomeração estatística, acrescentando, assim, para os estudos sobre escolha
tecnológica. Porém, deseja-se contribuir também para o conjunto de estudos da
interação entre o Homem e o meio ambiente. Ao usar critérios para medição de
impacto ambiental, deseja-se colocar em evidência a importância de tais variáveis
na busca por processos ambientalmente menos daninhos, retardando sua
degradação. Entende-se que esse tipo de pesquisa seja do interesse de:
instituições comerciais, públicas ou privadas, que desejam demonstrar
responsabilidade social;
cidadãos, cujo bem-estar e qualidade de vida dependem da boa
conservação do ambiente, especialmente em se tratando de áreas
densamente habitadas, como grandes cidades e megalópoles;
entidades do governo, cujo objetivo deveria ser prezar pela qualidade
de vida dos cidadãos, contemplando ainda a perpetuidade dos
recursos disponíveis para gerações futuras (e governos futuros),
através da regulamentação e punição de poluidores.
Na busca por soluções para o meio ambiente, entende-se que a existência de
empresas de tratamento de esgoto é por si só uma importante contribuição, uma vez
que o lançamento de esgotos in natura pode levar à contaminação irreversível de
corpos hídricos. No entanto, em vez de observar o efeito macro, do ponto de vista
institucional, deseja-se abordar nesta pesquisa a perspectiva micro, no nível
19
gerencial, considerando as opiniões individuais dos atores que lidam diretamente
com estações de tratamento de esgoto (ETEs). Busca-se explorar a opção por um
ou outro tipo de tratamento: como é feita, sob quais restrições e com quais objetivos.
Tais resultados podem revelar diferenças na forma de pensar de pessoas e
empresas que atuam no mesmo setor, mas que estão geograficamente distantes,
além de identificar possíveis lacunas entre o que é idealizado e aquilo que é, de fato,
praticado. Nesse sentido, a contribuição será na forma de consolidação, análise
crítica e divulgação da informação coletada.
1.2 Delimitações
A pesquisa foi realizada ao longo de um período de 20 meses, iniciando-se
em janeiro de 2010. A revisão de literatura foi composta por artigos científicos, livros
publicados, trabalhos acadêmicos e publicações em websites, relacionados a
tecnologia, saneamento e sustentabilidade. Buscou-se utilizar material produzido a
partir do ano 2000, porém, algumas publicações de décadas anteriores também
foram aproveitadas. A coleta de dados foi realizada através do portal
surveymonkey.com, de junho a outubro de 2010, e visava abranger o território
nacional brasileiro. Os entrevistados foram contatados principalmente por telefone e
e-mail para identificação daqueles que tinham interesse em participar da pesquisa.
Constatado o interesse, enviava-se um documento digital, para ser preenchido e
devolvido por e-mail, ou um link, para que respondessem à pesquisa pelo portal
mencionado. No geral, o acesso aos respondentes não foi trivial, sendo necessários,
em média, dois a três contatos para que enviassem retorno.
É importante observar alguns pontos que este estudo não abordou,
principalmente, por não ser parte do escopo objetivado originalmente.
1. Não se pretendeu identificar a melhor tecnologia para ETEs, mas sim
estudar elementos do processo que levaria a essa decisão;
2. Não se desejou elaborar uma lista definitiva de critérios de decisão, mas
sim se trabalhou com um grupo de critérios encontrados na literatura
relacionada, que pode ser enriquecido com inúmeros outros critérios;
3. Ao traçar perfis de decisão, não se desejou determinar quais critérios
devem ser usados por cada grupo de entrevistados (por característica),
mas sim identificar as tendências percebidas em cada grupo;
20
4. Do grupo de critérios utilizado, não se pretendeu investigar os critérios
excluídos da decisão ou aqueles que geraram indecisão, mas sim aqueles
que eram considerados (incluídos) na decisão.
Sendo assim, a pesquisa se destina a oferecer uma análise introdutória da
criação de perfis de decisão, testando a receptividade de critérios encontrados na
literatura e outras pesquisas relacionadas, mas deixando amplo campo para futuras
investigações.
21
2 Revisão de literatura
2.1 Tecnologia
O termo “tecnologia” se refere à teoria geral e/ou estudo sistemático sobre
técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou
domínios da atividade humana, como, por exemplo, a indústria ou a ciência
(INSTITUTO ANTÔNIO HOUAISS, 2002). Outra definição abrangente de tecnologia
aponta que é a aplicação prática da ciência ao comércio ou à indústria (MILLER,
2009). Nesse contexto, portanto, usamos o termo para identificar as ferramentas,
resultantes de estudos científicos, que auxiliam em um processo.
Observando alguns fatos históricos do último milênio, vê-se que a tecnologia
teve papel fundamental para a economia mundial. Um dos grandes marcos dessa
história foi a Revolução Industrial, durante a qual se apresentou o motor a vapor. Na
época, 1776, a potência oferecida por essa nova tecnologia significou a conquista de
longas distâncias, a mobilidade real, especialmente quando conjugada com a
introdução das ferrovias em 1829. Cerca de cem anos mais tarde, a Revolução da
Informação viria mostrar que essas distâncias poderiam ser eliminadas de vez. Com
isso, diversos processos tradicionais foram facilitados e tornaram-se rotineiros em
áreas que abrangiam desde a afinação de pianos ao controle de folha de
pagamento, estoques, cronogramas e processos industriais (DRUCKER, 2000).
Na década de 90, a globalização trouxe um novo conceito de concorrência e
produção, eliminando as fronteiras no mercado. Esse fenômeno econômico do
mundo moderno provavelmente não teria ocorrido sem o desenvolvimento da
tecnologia da informação, que Nakano (1994) considera como a fusão das
tecnologias de computação e telecomunicações. De fato, esse autor afirma:
“A revolução tecnológica/organizacional e a globalização são as duas principais forças motoras que estruturam as transformações e definem as tendências marcantes do novo cenário de desenvolvimento econômico das nações na próxima década. Essas duas forças exercerão pressão, no nível microeconômico, sobre as estruturas produtivas e organizacionais, sem respeitar as fronteiras nacionais.” (NAKANO, 1994)
Naquele cenário, era imprescindível que as empresas fossem competitivas
globalmente, ainda que atuassem apenas em mercados locais (DRUCKER, 2000).
Marconi (1994) resume os efeitos da nova dinâmica da globalização:
22
“A globalização da economia mundial é uma tendência irreversível, associada à revolução da informação e da tecnologia e, por mais paradoxal que possa parecer, à configuração de grandes blocos econômicos. As nações buscam expandir suas atividades comerciais com o restante do mundo e internacionalizar sua produção, ao mesmo tempo em que o protecionismo derivado da formação desses blocos cria preferências comerciais, garante o fluxo intrarregional de mercadorias, serviços e capital, e contribui para estimular a produtividade através do maior acesso às chamadas vantagens comparativas dos países associados.” (MARCONI, 1994)
Tornava-se cada vez mais evidente que as mudanças tecnológicas e
organizacionais criavam novos padrões de comércio mundial, deslocando os
determinantes da localização da produção e a direção das exportações da vantagem
comparativa tradicional e dos fatores sistêmicos para características organizacionais
e estratégicas das empresas multinacionais (NAKANO, 1994).
Ainda segundo Nakano (1994), com a disseminação das informações, o
aumento da pesquisa e o rápido desenvolvimento em diversas áreas científicas,
deu-se a “revolução microeletrônica”, que, ao juntar novas tecnologias de
computadores e telecomunicações com a mecânica de precisão, acarretou
mudanças consideráveis na estrutura produtiva. Sucessivas gerações de
mecanismos microeletrônicos, crescentemente potentes, permitiram a oferta de
equipamentos de processamento de informações e de comunicações a custos
significativamente menores. Isso possibilitou a rápida difusão da utilização de
computadores, em uma crescente variedade de atividades de manipulação de
informações com novas redes integradas nos diferentes estágios da produção, no
desenho e desenvolvimento e em produtos e processos.
Um dos principais impactos do novo cenário tecnológico foi a mudança na
perspectiva gerencial, pois a utilização de computadores e de novos equipamentos
de comunicação nas indústrias e em serviços tornou possível a introdução de
inovações organizacionais e de gestão, baseadas em cooperação, autodisciplina,
auto-aperfeiçoamento contínuo e coordenação horizontal, que substituíam as
antigas estruturas hierárquico-funcionais. Nesse processo, os fatores críticos da
vantagem competitiva das empresas foram se deslocando dos custos de produção
para os custos de transação e coordenação (NAKANO, 1994).
Considerando a nova realidade mundial que tomava corpo na década de 90,
vemos que o desenvolvimento tecnológico contribuiu positivamente para o
desenvolvimento da própria produção. De fato, as empresas tiveram que aprender a
competir em um novo ambiente, o que fatalmente levou algumas à extinção. A
23
renovação dos bens tecnológicos trouxe conflitos, como a necessidade de
treinamento da mão de obra e de redesenho da linha de produção, por exemplo.
Mais tarde, com o crescimento da conscientização ambiental, a poluição causada
por uma ou outra tecnologia e a quantidade de recursos consumidos durante sua
operação também se tornaram fatores preocupantes. Paralelo a essas mudanças,
existia a necessidade de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), cuja
importância para o desenvolvimento da economia e do setor foi ressaltada por
Rosenberg (1990).
Em 2000, Drucker ressaltou o crescimento explosivo do comércio eletrônico e
da internet, vislumbrando o surgimento daquele que acreditava ser o mais
importante canal de distribuição de bens, serviços e até mesmo empregos na área
administrativa e gerencial. Em retrospecto, observa-se que essa previsão foi
realizada e, talvez, não se aplique apenas àquele momento, pois:
“É provável que outras tecnologias surjam de repente, levando à criação de novas indústrias. [...] E é quase certo que poucas – e só algumas das indústrias baseadas nelas – virão dos computadores e da informática. Como a biotecnologia e a criação de peixes, cada uma surgirá a partir de tecnologia própria e inesperada.” (DRUCKER, 2000)
Considerando a evolução constante da tecnologia, cada vez mais ao alcance
de todos os tipos de consumidores, é de se esperar que ocorram mudanças notáveis
nos mercados. Com isso, é razoável assumir que a escolha tecnológica é cada vez
mais decisiva para o desenvolvimento de um empreendimento.
2.1.1 Escolha de tecnologia
Ao fazer uma escolha, uma empresa tem de lidar com restrições que podem
ser impostas por seus clientes, sua concorrência ou pela natureza. Essa última
determina as maneiras viáveis de produzir outputs a partir de inputs, isto é, existem
apenas algumas opções tecnológicas passíveis de escolha (VARIAN, 2003). De fato,
a escolha de tecnologia tem sido alvo de intensas pesquisas, focando tanto a
transferência internacional entre países desenvolvidos e em desenvolvimento quanto
aquela entre empresas de um mesmo país e seus processos (WEISS, 2002).
De acordo com Stobaugh e Wells, Jr. (1984), a importação de tecnologia atua
como fonte de conhecimento para vários países, gerando receitas a nível
organizacional e federal. Portanto, se existe alguém atuando na venda, deve haver
uma contrapartida que atue na compra de dita tecnologia. As empresas que
24
adquirem tecnologia fazem-no para usá-la em seus processos, que, até certo
momento, acreditava-se ocorressem em um ambiente economicamente competitivo.
Porém, os autores compilados na obra citada mostram que, diferentemente dessa
teoria simplista, as organizações variam na maneira que competem, lidando com
aspectos de mercado distintos, como leis trabalhistas e custo de capital. Sendo
assim, a escolha por tecnologia seria impactada pelo mercado em si, o
posicionamento da empresa e o ambiente externo.
Yeoman (1968) lembra que a teoria econômica tradicional sugere que
empresas buscam otimizar seus objetivos financeiros, ou seja, aumentar o lucro.
Considerando um mercado perfeitamente homogêneo, onde não há diferença de
preços, por tratar-se de produtos iguais, essa teoria leva à busca do menor custo de
produção. Isto é, a minimização dos custos de capital e trabalho.
Nesse cenário praticamente perfeito, é válido assumir que países com os
mesmos custos de capital e salários são levados a escolher as mesmas tecnologias.
Porém, como mostra Yeoman (1968), devem-se fazer alguns questionamentos a
respeito desse modelo. Por exemplo, existiria uma gama de tecnologias
suficientemente ampla para permitir ao gerente a utilização de várias combinações
de capital e mão de obra? Na Figura 1, a curva isoquanta representa a mesma
produção (output), com requerimentos diferentes de capital e mão de obra (inputs).
Porém, ainda que exista uma combinação de recursos (A1,B1), não é certo que
exista a combinação (A2,B2), pois pode se referir a uma quantidade inacessível de
mão de obra ou capital. O gerente seria obrigado então a escolher outra
combinação, como (A3,B3), por exemplo.
Figura 1 Isoquanta (YEOMAN, 1984)
25
Durante a avaliação das combinações dos recursos, seria necessário
considerar também a taxa marginal de substituição técnica (TMST), isto é, a
quantidade em que se pode reduzir o insumo capital quando se utiliza uma unidade
extra de insumo trabalho, mantendo a produção da isoquanta. A característica
decrescente da TMST representa a produtividade limitada dos recursos. Isto é, à
medida que se adiciona quantidade cada vez maior de trabalho, produz-se menos
por unidade acrescentada. O resultado seria o mesmo para quantidades maiores de
capital. Ou seja, dentro das opções reais e alcançáveis pelo decisor, a produção
requer uma combinação equilibrada de insumos (PYNDICK e RUBINFELD, 2002),
(VARIAN, 2003).
Outra questão proposta refere-se à comparação de fatores de produção em
países diferentes. Por exemplo, salários discrepantes podem refletir diferentes
qualidades de mão de obra em cada país, o que afetaria a escolha de tecnologia
usada em cada um. A realidade em cada país poderia levar a diferentes conclusões
dessa escolha. Tomando os países menos desenvolvidos como exemplo, poder-se-
ia esperar que investissem em tecnologias intensivas em trabalho, devido aos baixos
salários pagos no país inteiro. Consequentemente, haveria uma contribuição para a
diminuição da taxa de desemprego (STOBAUGH e WELLS JR., 1984).
A partir dos anos 60, começa a ficar evidente que empresas de um mesmo
país usavam tecnologias diferentes para obter resultados praticamente idênticos e,
contrário ao que havia sido previsto, setores em crescimento não registravam
aumento significativo nas vagas oferecidas. Foi então que começaram as
investigações acerca da existência de outros fatores de peso no processo de
escolha de tecnologia. Dentre vários, na obra de Stobaugh e Wells, Jr. (1984),
destacam-se:
a elasticidade dos preços dos produtos da empresa, isto é, quanto uma
empresa consegue forçar o mercado a acolher um preço que ela mesma
estabelece;
a relação entre os custos de produção e os custos totais da empresa, o
que pode fazer com que a minimização dos custos de produção não seja
prioridade quando comparados a outros custos, como marketing, por
exemplo;
26
os objetivos dos gerentes, que incluem mais que simplesmente
minimizar os custos de produção. Isto é, o gerente pode preferir
tecnologias intensivas em trabalho ou em capital para cumprir objetivos
de engenharia ou trabalhistas, respectivamente;
a preferência pela automatização do processo, ou seja, fábricas
intensivas em capital, que permitem a negociação de dívidas geradas
durante o investimento inicial, além de serem mais flexíveis, uma vez
que não operam sob leis trabalhistas e não demonstram oscilações
humanas na produtividade;
o risco de erro humano, que está diretamente relacionado à qualidade
da produção para tecnologias intensivas em trabalho;
o risco de falta de sobressalentes e/ou assistência técnica quando se
usa uma tecnologia intensiva em capital;
o risco de dificuldades na adaptação da mão de obra e/ou das matérias
primas locais a uma tecnologia intensiva em capital;
o risco de escolher uma tecnologia diferente daquela usada pela
empresa líder na indústria e, com isso, não poder garantir paridade em
termos de qualidade e assistência técnica confiável;
a influência governamental, como, por exemplo, a existência de
incentivos fiscais, que pode levar a empresa a escolhas
economicamente sub-ótimas;
a indisponibilidade e o alto custo da informação sobre as tecnologias
disponíveis, dificultando, assim, a aproximação entre gerente e
tecnologia e impedindo que essa entre para a lista de opções da
empresa.
Uma última consideração a respeito dos fatores que influenciam a escolha de
tecnologia está citada na obra de Keddie (1975), onde o autor trabalha com a
hipótese de que a diferenciação do produto levaria a empresa a escolher uma
tecnologia que oferecesse melhor qualidade. Ainda que o autor tenha constatado
que a qualidade do produto final não necessariamente levasse a resultados
financeiros melhores, é interessante saber que esse resultado pode, de alguma
forma, ser impactante na decisão tecnológica.
27
2.1.2 “Tecnologia apropriada”
Durante algumas décadas, pensou-se que a tecnologia era a solução para
amenizar a pobreza ao redor do mundo. Diversos estudos foram realizados focando
particularmente em países em desenvolvimento, onde a decisão tendia para o que
se chamava de “tecnologia apropriada”. O termo foi definido de maneiras diferentes,
todas com seu conjunto particular de critérios. Inclusive, durante os primeiros anos
de uso, tal termo era semelhante à expressão “tecnologia intermediária”, que se
referia a um meio-termo entre técnicas tradicionais de vilarejos e tecnologia
avançada, intensiva em capital, característica do Mundo Ocidental. Porém, de
maneira geral, tratava-se de técnicas usadas para abordar pobreza, igualdade social
e desemprego, além de serem aplicáveis em operações de pequena escala, serem
intensivas em mão de obra, consumirem energia de maneira eficiente e serem
controladas e gerenciadas pela comunidade local (MURPHY, MCBEAN e
FARAHBAKHSH, 2009).
Estudos como os de Morley e Smith (1977) e Lecraw (1979) analisaram o
cenário competitivo de algumas empresas de países em desenvolvimento e
constataram, como mencionado acima, que havia outros fatores além de custos de
capital e mão de obra influenciando a escolha de tecnologia. Um deles poderia ser a
falta de opções disponíveis durante tal escolha. Além disso, risco, custo da
informação, experiência e educação da gerência, pressão competitiva e lucros
projetados eram variáveis que levavam a duas medidas: buscar uma maior oferta de
tecnologia e mudar os custos de capital e mão de obra para que refletissem a
realidade da escassez naquela economia (LECRAW, 1979).
No mesmo estudo, Lecraw (1979) propôs que o cenário competitivo nos
países em desenvolvimento oferecia margem a comportamentos não ótimos na
escolha de tecnologia, de maneira que as medidas propostas não teriam o impacto
previsto ou esperado. Com isso, seria melhor que gerentes, engenheiros e
investidores tivessem mais informação sobre tecnologia apropriada e que o cenário
competitivo fosse melhorado através da redução de tarifas ou incentivos à
exportação, por exemplo.
Já fazem mais de 50 anos que o termo “tecnologia apropriada” foi cunhado,
mas ainda existe controvérsia sobre seu significado e se, de fato, representou algum
tipo de impacto significativo para países em desenvolvimento. Hoje em dia,
28
representa uma filosofia mais do que uma regra ou definição rígida (MURPHY,
MCBEAN e FARAHBAKHSH, 2009).
2.1.2.1 Tecnologia social
Durante a globalização, o conceito de “tecnologia apropriada” perdeu força,
porém, devido à consequente exclusão social e degradação ambiental, foi trazido
novamente à cena de pesquisa com o nome de “tecnologia social” (RODRIGUES e
BARBIERI, 2008). Um aspecto importante que talvez não tenha sido considerado
para a tecnologia apropriada é que inovação não deve ser desenvolvida em um
lugar e aplicada em outro, mas sim no mesmo local onde a tecnologia será
implementada e pelos próprios atores que irão utilizá-la(DAGNINO, BRANDÃO e
NOVAES, 2004).
Posto isso, pode-se dizer que a tecnologia social não é distinta da tecnologia
convencional produzida pela empresa, intensiva em conhecimentos gerados em
unidades de P&D, mas difere em resultados a serem alcançados em termos de
geração de postos de trabalho, redução do consumo de recursos naturais e
promoção de autossuficiência regional e local. Difere ainda pela maneira como é
produzida, pois ressalta a participação efetiva dos que serão os seus pretensos
beneficiados, tendo como elemento central a emancipação dos atores envolvidos.
Desse modo, a tecnologia social é um instrumento do desenvolvimento sustentável
de modo autêntico, pois além da erradicação da pobreza e cuidado com o meio
ambiente, promove a cidadania deliberativa, aquela na qual a “pessoa toma
consciência da sua função como sujeito social, e não adjunto, e como tal passa a ter
uma presença ativa e solidária nos destinos da sua comunidade” (TENÓRIO, 1998).
2.1.3 Modelo multiobjetivo e multicritério
Ao longo dos anos, o estudo de escolha tecnológica mostrou que algumas
tecnologias podem ser inadequadas em certas condições, mas não
necessariamente devido a aspectos técnicos. Na verdade, existem outras
dimensões do contexto no qual uma tecnologia é inserida, como, por exemplo, as
dimensões ambiental, econômica, social e cultural (CORDEIRO NETTO, SOUZA e
LOPES JR, 2001). Os autores definem que as teorias multicritério de auxílio à
decisão propõem abordagens que permitem tratar de problemas decisórios que
apresentam mais de um objetivo e são caracterizados por tipos e níveis de incerteza
que aumentam a complexidade da escolha como um todo.
29
A análise multicritério pode também ser empregada em casos nos quais não
se tem apenas um tomador de decisão, mas um grupo deles, cada um com objetivos
e critérios próprios, frequentemente conflitantes. O agente que decide pode ser
composto por grupos maiores da sociedade, organizações, agências de meio
ambiente, bancos de fomento, etc.
2.1.3.1 Histórico
Segundo Souza et al. (2009), o método multiobjetivo e multicritério é um
estágio avançado, porém não final, da evolução dos métodos de escolha
tecnológica. Os autores ressaltam que fatores econômicos, sociais, culturais,
cognitivos e educacionais podem e devem ser considerados na escolha da “melhor”
tecnologia. Consequentemente, não se trata apenas de selecionar a alternativa mais
barata ou a mais simples, mas aquela que atenda concomitantemente a alguns
padrões de preferência e que satisfaça aos múltiplos atores do processo de decisão.
Em um exemplo simples, é possível ilustrar os principais elementos da
metodologia. Considerando a compra de comida para a semana, deve-se atender ao
apetite variado de toda a família (multiobjetivo), pelo menor preço e maior prazo de
validade (multicritério). Nesse cenário, a metodologia multiobjetivo e multicritério é
capaz de fornecer os instrumentos para sistematizar a informação e captar as
preferências de todos os atores, além de fornecer uma solução que, teoricamente, é
a mais próxima do ponto de satisfação comum a todos os atores. Historicamente, um
processo de decisão dessa natureza vinha sendo pautado em métodos econômicos
e financeiros. Foi assim que o mundo evoluiu para métodos econômicos mais
racionais, chamados “custo-benefício” e “custo-efetividade”, em que não se escolhia
mais a alternativa de menor custo, mas a alternativa que oferecesse o máximo de
benefícios com o mínimo de custos (SOUZA, CORDEIRO e SILVA, 2009).
Entretanto, nas últimas décadas, alguns movimentos sociais introduziram
novas variáveis ao problema, como é o caso dos conceitos de tecnologia apropriada
e, mais recentemente, de desenvolvimento sustentável. O conceito de tecnologia
apropriada introduziu a concepção de “ajuste tecnológico”, que significa que um
determinado elemento deve atender justamente às necessidades, nem mais, nem
menos. O segundo conceito – desenvolvimento sustentável – insere de maneira
incisiva no processo decisório a variável ambiental, a preservação e a conservação
da natureza (SOUZA, CORDEIRO e SILVA, 2009).
30
É nesse contexto que o método multiobjetivo e multicritério aparece como um
avanço na maneira de decidir, introduzindo vários gestores no processo e tornando
a decisão mais “social” e democrática. A partir da definição dos atores, eles podem
ser consultados para escolherem os objetivos da decisão em questão. Esses
objetivos devem ser convertidos em atributos ou critérios, que podem ser de ordem
educacional, jurídica, social, econômica, ambiental ou técnica. Os atores podem
optar pelas alternativas que devem ser consideradas no processo de decisão e a
maneira de criar essas alternativas (SOUZA, CORDEIRO e SILVA, 2009). Além
disso, com a análise multiobjetivo, pode-se inserir o fator humano na decisão,
administrando-se conflitos de interesses e de preferências (CORDEIRO NETTO,
SOUZA e LOPES JR, 2001).
2.1.3.2 Etapas do método multiobjetivo e multicritério
As técnicas de análise de decisão com múltiplos objetivos e múltiplos critérios
baseiam-se no conceito de que é impossível encontrar uma única solução ótima
para um problema do mundo real, já que esse é suficientemente complexo,
admitindo mais de um objetivo a ser atingido. O conceito comum é o do “Ótimo de
Pareto”, de acordo com o qual existe um ponto no sistema que atinge a “satisfação”
máxima dos atores envolvidos naquela decisão (SOUZA, CORDEIRO e SILVA,
2009).
Souza et al. (2009) definem cinco passos sequenciais para a resolução
completa de um problema, envolvendo múltiplos objetivos e múltiplos critérios:
1. Início: o processo começa quando o agente decisor identifica a necessidade
de alteração no sistema (conjunto de partes e suas interrelações para
alcançar um conjunto de metas), diagnosticando a situação e estabelecendo
objetivos gerais e necessidades globais.
2. Formulação do problema: consiste na tradução dos objetivos globais em
um conjunto de objetivos múltiplos mais específicos e na discriminação dos
elementos essenciais do sistema.
3. Modelagem do problema: constrói-se um modelo por meio de um conjunto
de variáveis-chave e suas relações lógicas ou físicas, de modo a facilitar a
análise efetiva dos aspectos pertinentes ao sistema e gerar cursos de ação
alternativos. Podem-se empregar diversos tipos de modelo, tais como
modelos mentais, gráficos, físicos e matemáticos.
31
4. Análise e avaliação: busca-se traduzir os objetivos particulares em atributos
que são medidos em escala apropriada para uma dada alternativa e servem
como unidades de comparação. Os valores dos atributos medidos para cada
alternativa podem ser obtidos tanto por meio de um modelo como por meio
de julgamentos subjetivos. Essa etapa é concluída com a avaliação de cada
alternativa em relação às outras em termos de uma regra de decisão pré-
estabelecida ou de um conjunto de regras usado para classificar as
alternativas disponíveis. A alternativa que tiver a melhor classificação, de
acordo com a regra de decisão, é escolhida para implementação.
5. Implementação: compreende a tomada de decisão, por parte do agente
decisor, na qual a alternativa escolhida é implementada, encerrando-se o
processo, ou é considerada insatisfatória. Nesse último caso, pode-se
retornar ao passo de formulação do problema, reavaliando todas as
definições feitas e repetindo-se todo o processo até que se alcance uma
decisão satisfatória.
No processo de análise de um problema com múltiplos objetivos e critérios,
destacam-se dois grupos distintos que influenciam o resultado final (SOUZA,
CORDEIRO e SILVA, 2009):
o grupo de decisores, devido à sua avaliação numérica dos critérios e
pesos;
o grupo de analistas (engenheiros ou indivíduos que dominam as
técnicas de análise de auxílio à decisão), que fazem várias escolhas
subjetivas durante a configuração do sistema de análise.
A próxima seção introduz a definição de critérios, uma vez que este elemento
será o foco principal desta pesquisa.
2.1.3.3 Elementos da formulação do problema multiobjetivo e multicritério
Retomando a segunda das cinco etapas propostas por Souza et al. (2009)
para resolução de um problema (seção 2.1.3.2), a aplicação do método multiobjetivo
e multicritério requer a identificação de alguns elementos-chave no sistema, mais
especificamente, os atores e seus objetivos, que levam à definição de critérios de
32
decisão na quarta etapa. A respeito da determinação desses elementos, Souza et al.
(2009) observam:
1. Atores são pessoas ou grupos de pessoas envolvidos de maneira direta
ou indireta na escolha das alternativas de solução do problema ou no
processo de decisão da solução para esse problema. Os atores
geralmente têm interesses ou objetivos distintos na escolha de
alternativas para a solução do problema.
2. Os objetivos constituem as condições nas quais, idealmente, os atores
desejam que o sistema esteja. Podem ser factíveis ou não, e auxiliam na
comparação entre o estado atual do sistema com o estado que se
deseja atingir. Existem várias maneiras de se fixarem os objetivos para
um dado problema, sendo indicada, quando possível, a consulta direta
aos atores. Em caso de dificuldade, a definição dos objetivos pode ser
feita, por exemplo, através de consulta a trabalhos prévios, nos quais
tenham sido considerados os mesmos atores.
3. Os objetivos delineados para o caso estudado deverão ser traduzidos
em metas claras e quantificáveis, por meio da especificação de escalas
muito bem definidas (SOUZA, 1997). Tais escalas são, então,
denominadas critérios de decisão, que podem ser tangíveis ou
intangíveis. Critérios tangíveis são assim denominados por serem
avaliados com base em variáveis quantificáveis, enquanto os intangíveis
se identificam por não possuírem essa característica, ou seja, sua
mensuração se faz através de julgamento de valor.
A seção a seguir introduz a área de saneamento e inicia a argumentação
acerca da escolha de tecnologia para tais processos, considerando sempre os
critérios de decisão.
2.1.4 Análise tecnológica para tratamento de esgotos
No âmbito do tratamento de esgotos, o método multiobjetivo e multicritério é
bastante reconhecido, inclusive devido à crescente presença dessa ferramenta
como apoio de decisão em problemas ambientais. Outros exemplos de emprego da
ferramenta citados por Brostel et al. (2001) incluem: processos decisórios em
planejamento e gestão de recursos hídricos; metodologias de seleção de
33
alternativas para tratamento de esgotos; gestão e disposição de resíduos sólidos;
planejamento e uso do solo; gestão de recursos naturais; e auditorias ambientais.
Cordeiro Netto et al. (2001) reforçam a aplicabilidade do método multiobjetivo
e multicritério no caso específico de avaliação do desempenho de unidades de
tratamento de efluentes, ressaltando algumas características do processo. São elas:
os vários objetivos a serem atingidos (sanitários, ambientais, econômicos e
financeiros); os vários agentes decisores (o prestador de serviços de saneamento, o
órgão ambiental, etc.); e o caráter holístico e multidimensional da escolha
tecnológica.
Em um estudo sobre indicadores para processos de tratamento de efluentes,
Brostel et al. (2001) sugerem que seus achados, ainda que referentes àquele caso
específico, podem ser extrapolados para outros processos de tratamento, já que se
referem às condições gerais das estações de tratamento de esgotos (ETE’s). Sendo
assim, a presente dissertação aproveitará alguns dos indicadores utilizados por
Brostel et al. (2001).
Por ter impacto direto na qualidade de vida e na saúde pública, o tratamento
de esgotos está fortemente ligado à atuação do governo na região atendida. Ao
mesmo tempo, a oferta de água de alta qualidade utilizando fontes de baixa
qualidade apresenta alto custo. Consequentemente, existe o desafio de combinar
operações eficazes, cujo custo total por unidade de volume de água tratada seja
menor que o valor percebido da água oferecida ao público (WEBER, 2006). Caso
contrário, não haverá incentivos do ponto de vista da população atendida para
consumir água tratada, o que impedirá o desenvolvimento das ETE’s e o pagamento
do investimento inicial.
No campo de tecnologias para o tratamento de esgotos sanitários, existem
diversas alternativas disponíveis, explicitadas na seção 2.2.4.4. Os fatores vistos na
seção 2.1.1, para escolha de tecnologia no setor industrial, podem então ser
adaptados para o setor de saneamento, traduzindo-se em (UNICAMP, 2005):
área disponível para implantação da ETE;
topografia dos possíveis locais de implantação e das bacias de
drenagem e esgotamento sanitário;
volumes diários a serem tratados e variações horárias e sazonais da
vazão de esgotos;
34
características do corpo receptor (rios e mares) de esgotos tratados;
disponibilidade e grau de instrução da equipe operacional responsável
pelo sistema;
disponibilidade e custos operacionais dos insumos (ex. energia elétrica);
clima e variações de temperatura da região;
disponibilidade de locais e/ou sistemas de reaproveitamento e/ou
disposição adequados dos resíduos gerados pela ETE.
Além desses critérios técnicos e legais, é de interesse da atual pesquisa
compreender a forma com que a tecnologia se insere e se relaciona com o meio
ambiente, isto é, o impacto ambiental do processo, considerando especialmente o
consumo de recursos para seu funcionamento. Tal impacto inclui, principalmente, a
poluição gerada e o consumo de energia, mas considera também outros fatores, que
serão explicitados no devido momento.
2.2 A água
Esta seção apresenta um pouco da situação da água no mundo atual. Isso
inclui uma revisão sobre as fontes de água, seus usos e descarte, além das
tecnologias utilizadas para o tratamento e reciclagem da água.
2.2.1 Sobre a água
A água, um mineral abundante no planeta Terra, é rara no sistema solar e no
universo conhecido. É também condição essencial para a existência da vida, assim
como um importante insumo de diversos processos produtivos (MIRANDA, 2004).
Existe água em praticamente toda parte do planeta, sendo de particular importância
o seu papel para a existência dos seres vivos. Alguns chegam a considerá-la o
recurso mais precioso disponível para a humanidade (GOMES, 2009), o que eleva o
grau de relevância de estudos que objetivam sua preservação.
Quase toda a água do planeta está concentrada nos oceanos. Menos de 3%
estão em terra e a maior parte desta fração está sob a forma de gelo e neve ou
abaixo da superfície (água subterrânea). Estima-se que haja 34,6 milhões de km3 de
água doce no mundo, mas somente 30,2% podem ser utilizados para a vida vegetal
e animal nas terras emersas (água doce subterrânea, rios, lagos, pântanos, umidade
do solo e vapor na atmosfera). O restante encontra-se nas calotas polares, geleiras
35
e solos gelados. Dos 10,5 milhões de km3 de água doce, apenas 0,9% é água doce
superficial (rios e lagos) diretamente disponível para o consumo humano, estando o
restante no subterrâneo. Esse volume é suficiente para atender de seis a sete vezes
o mínimo anual exigido por pessoa, considerando-se uma população global de 6,4
bilhões de habitantes (GOMES, 2009).
Apesar da aparente abundância de água doce em escala global, sua
distribuição é irregular, conforme mostra a Figura 2. Os fluxos estão concentrados
nas regiões intertropicais, que possuem 50% do escoamento das águas, enquanto
as zonas temperadas contêm 48% e as zonas áridas e semi-áridas contêm apenas
2%. Além disso, as demandas também são diferentes entre populações, sendo
maiores nos países desenvolvidos.
Figura 2 Distribuição mundial dos recursos hídricos (GOMES, 2009)
Ainda segundo Gomes (2009), o Brasil detém aproximadamente 12% da
reserva hídrica do planeta, além de possuir os maiores recursos mundiais, tanto
superficiais (bacias hidrográficas do Amazonas e Paraná), quanto subterrâneos
(bacias sedimentares do Paraná, Piauí e Maranhão). Todo esse potencial tem o
reforço de chuvas abundantes em mais de 90% do território que, aliadas a
formações geológicas, favoreceram a gênese de imensas reservas subterrâneas,
assim como possibilitaram a instalação de extensas redes de drenagem, gerando
cursos d’água de grandes expressões.
No entanto, esse potencial hídrico é distribuído de forma irregular pelo país. A
Amazônia, por exemplo, que apresenta a segunda menor densidade demográfica
(IBGE, 2003), possui 78% da água superficial, enquanto o sudeste, que detém a
América do norte; 17%
América central; 2%
América do sul; 27%
Europa; 15%
África; 9%
Ásia; 26%
Oceania; 4%
Distribuição dos recursos hídricos
36
maior concentração populacional do país, possui somente 6% do total da água
disponível.
2.2.2 Considerações sobre a água para uso humano
A água está presente em praticamente todos os aspectos da vida animal e
vegetal, sendo usada tanto na nutrição quanto para outros fins, como higiene e
recreação. De acordo com a Carta Europeia da Água, proclamada pelo Conselho da
Europa em maio de 1968, “não há vida sem água. A água é um bem precioso,
indispensável a todas as atividades humanas”.
O corpo humano contém de 70% a 75% de água, adquirida principalmente
através da alimentação e expelida através de transpiração, respiração ou
excrementos (MIRANDA, 2004). Para suprir a necessidade de hidratação, estima-se
que o consumo ideal médio seja de três litros diários por pessoa. No entanto,
quando se leva em consideração outros usos da água, este valor pode chegar a 50
litros por pessoa (ANDERSON, 2007). Mesmo assim, segundo relatório da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o desenvolvimento dos recursos
hídricos no mundo, atualmente, 1,3 bilhão de pessoas não possuem acesso à água
potável e cerca de 40% da população mundial não dispõem de condições sanitárias
básicas (GOMES, 2009). Além disso, a cifra mencionada não considera os gastos
decorrentes do mau uso da água ou mesmo da falta de informação de seus
usuários. Finalmente, acredita-se que a água poluída seja responsável por mais
mortes do que a violência, incluindo guerras (REUTERS/BRASIL ONLINE, 2010).
O crescimento da população mundial tem seguido um ritmo acelerado nos
últimos anos, com taxas que levam à previsão de nove bilhões de pessoas até 2050,
comparados aos seis bilhões de habitantes em 2009 (WMO, 2009). Como
consequência, cresceu também a demanda por água (RICHARDS e SCHÄFER,
2010). Porém, a capacidade da natureza de repor suas fontes está bem abaixo da
nova demanda (WEBER, 2006). Além, disso, vivemos o fenômeno do aquecimento
global, que altera o nível dos oceanos, causando extremos meteorológicos como
enchentes e secas, o que altera diretamente a disponibilidade da água para
consumo (WMO, 2009).
Para melhor ilustrar esse cenário, existe uma estimativa da ONU de que, em
2025, os prováveis oito bilhões de habitantes devem partilhar da mesma quantidade
de água doce disponível hoje. Desse modo, as reservas em 2025 serão, em média,
37
de 4.800 m3 por habitante/ano, contra 7.300 m3 disponíveis em 2000 e 16.800 m3
em 1950. No Brasil, esse valor era de 34.000 m3 por habitante/ano em 2000, não
diferindo muito em relação a 2009, o que caracteriza o país como privilegiado em
disponibilidade hídrica em comparação à média mundial (GOMES, 2009).
O autor aponta que o cenário de escassez não se deve apenas à
irregularidade na distribuição da água e ao aumento das demandas, mas também ao
fato de que, nos últimos 50 anos, a degradação da qualidade da água aumentou em
níveis alarmantes. Atualmente, grandes centros urbanos, industriais e áreas de
desenvolvimento agrícola com grande uso de adubos químicos e agrotóxicos já
enfrentam a falta de qualidade da água, o que pode gerar graves problemas de
saúde pública.
No cenário brasileiro, a realidade observada é que a água limpa está cada
vez mais rara na região litorânea e a água potável cada vez mais cara, devido ao
uso sem consciência. O desperdício fica entre 50% e 70% nas cidades, onde
também se questiona a qualidade da água. Assim, parte da água no país já perdeu a
característica de recurso natural renovável, principalmente nas áreas densamente
povoadas, em razão de processos de urbanização, industrialização e produção
agrícola, que são incentivados, mas pouco estruturados em termos de preservação
ambiental, sobretudo em relação aos recursos hídricos.
Gomes (2009) mostra que, nas cidades, de um modo geral, os problemas de
abastecimento estão diretamente relacionados ao crescimento da demanda, ao
desperdício e à urbanização descontrolada, que atinge as áreas de mananciais. A
baixa eficiência das empresas de abastecimento associa-se ao quadro de poluição:
as perdas na rede de distribuição por roubos e vazamentos atingem entre 40% e
60%, além de 64% das empresas não coletarem o esgoto gerado. O saneamento
básico não é implantado de forma adequada, já que 90% dos esgotos domésticos e
70% dos efluentes industriais são jogados sem tratamento nos rios, açudes e águas
litorâneas, gerando um nível de degradação sem precedentes.
Na zona rural nota-se com frequência que os recursos hídricos são também
explorados de forma irregular, muitas vezes com retirada excessiva de água dos
mananciais, um problema agravado ainda pela escassez de mata ciliar e de
cobertura vegetal nas nascentes, fundamental na proteção dos cursos d’água. Não
raramente, os agrotóxicos e dejetos utilizados nessas atividades também alteram a
qualidade da água.
38
Como indicado na Carta Europeia da Água, “os recursos de águas doces não
são inesgotáveis. É indispensável preservá-los, administrá-los e, se possível,
aumentá-los.” Fica claro, portanto, que a água, apesar de abundante e disponível
por direito à humanidade (UN, 2002), não deve ser tratada de forma banal. Pelo
contrário, é importante que esse recurso seja valorizado de maneira a garantir sua
sustentabilidade, ou seja, que esteja também disponível para as gerações futuras. É
necessário haver conscientização da população mundial, sem exceções, para que
sejamos capazes de preservar um recurso vital.
Como mencionado anteriormente, a água existe de maneira natural no
planeta, obedecendo a um ciclo de evaporação, condensação e precipitação.
Porém, esse ciclo não aumenta a quantidade de água consumível, tornando então
imprescindíveis a pesquisa e o desenvolvimento de reuso e reciclagem hídricos.
2.2.3 O conceito de reuso e reciclagem
Apesar da degradação, a água disponível no território brasileiro é suficiente
para as necessidades do país. Torna-se necessário, então, maior conscientização
da população sobre o uso da água e maior cuidado com a questão do saneamento e
abastecimento por parte do governo. Estima-se que 90% das atividades modernas
poderiam ser realizadas com água de reuso, diminuindo a demanda por água
tratada e o custo para o usuário, já que essa água chega a ser 50% mais barata que
aquela fornecida pelas companhias de saneamento (GOMES, 2009).
O reaproveitamento ou reuso da água é o processo pelo qual a água, que
pode ser tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outro fim. Tal reutilização
pode ser direta ou indireta, conforme vemos a seguir (UNIVERSIDADE DA ÁGUA,
2003).
Reuso indireto não planejado: ocorre quando a água é descarregada
no meio ambiente e novamente utilizada a jusante do ponto de
descarga, de maneira não intencional e não controlada. Durante o trajeto
até o ponto de captação do novo usuário, a água está sujeita às ações
naturais do ciclo hidrológico (diluição, autodepuração).
Reuso indireto planejado: ocorre quando os efluentes, depois de
tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos de águas
superficiais ou subterrâneas, e utilizados a jusante, de maneira
controlada. O reuso indireto planejado pressupõe que exista também um
39
controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho,
garantindo assim que o efluente tratado esteja sujeito apenas à mistura
com outros efluentes que também atendam aos requisitos de qualidade
do reuso objetivado.
Reuso direto planejado: ocorre quando os efluentes, depois de
tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até
o local do reuso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso
com maior ocorrência, destinando-se a uso em indústria ou irrigação.
Reciclagem: é o reuso interno da água, antes de sua descarga em um
sistema geral de tratamento ou outro local de disposição, servindo como
fonte suplementar de abastecimento do uso original. Este é um caso
particular do reuso direto planejado.
Apesar de a água de reuso ser inadequada para consumo humano, pode ser
utilizada nas indústrias, para resfriamento de máquinas, na lavagem de áreas
públicas e nas descargas sanitárias de condomínios. Além disso, novas construções
residenciais ou comerciais podem incorporar sistemas de aproveitamento da água
da chuva para usos gerais que não o consumo humano.
2.2.4 Tratamento da água
Tendo entendido o valor da água na rotina dos seres vivos e a escassez que
podemos experimentar em um futuro não muito distante, é necessário buscar formas
de reciclar o recurso existente. Como grande parte do consumo hídrico requer água
limpa, ou seja, livre de organismos e substâncias que não são naturais a ela, a
reciclagem da água representa a limpeza do próprio recurso, a fim de retirar tais
impurezas.
A água que alimenta o processo de tratamento é conhecida como água
residual e se caracteriza por ser a combinação dos resíduos líquidos, ou contidos
em água, que são descartados por residências, instituições e estabelecimentos
comerciais e industriais. Além disso, a água residual contém tambémágua de lençóis
subterrâneos, água de superfície e precipitação. Águas residuais geralmente contêm
grande carga de resíduos consumidores de oxigênio, agentes patogênicos ou
causadores de doenças, material orgânico, nutrientes que estimulam o crescimento
40
de plantas, químicos inorgânicos, minerais e sedimentos (SONUNE e GHATE,
2004).
A água residual pode ser controlada em três momentos do ciclo de uso:
quando é gerada; em estações de tratamento municipais, antes de ser descartada; e
onde será reutilizada ou descartada diretamente em outros cursos d’água (SONUNE
e GHATE, 2004). Existem, portanto, diferentes tipos de tratamento para cada tipo de
água residual, dependendo de suas características químicas, físicas e biológicas. A
Tabela 2 resume quais tipos de características podem ser observadas na análise da
água residual.
Tabela 2 Características observadas para o tratamento da água residual (CRUZ, 1997)
Característica Observação
Caracterização Física
Temperatura A temperatura é um indicador da facilidade de sedimentação, além de
influenciar na velocidade das reações químicas, na solubilidade dos
gases e na taxa de crescimento dos microrganismos.
Cor A cor é um indicador da origem da água: natural inorgânica (ex.:
metais), orgânica (animal ou vegetal) e industrial (ex.: pasta de papel e
refinarias).
Turvação Constata a presença de partículas coloidais não sedimentáveis e de
sólidos suspensos, interferindo na passagem da luz através da água.
Sabores e odores Propriedade que está diretamente associada à existência de impurezas
orgânicas.
Sólidos totais Matéria que permanece como resíduo após evaporação de 103 a
105ºC. É o critério mais simples de medição da carga poluente de uma
água residual, incluindo os sólidos dissolvidos e os sólidos suspensos.
Caracterização Química
pH Ácido, neutro ou alcalino.
Alcalinidade Determina o número de equivalentes de ácido forte para neutralizar a
amostra até o ponto de equivalência.
Condutividade É uma medida da capacidade de uma solução aquosa para transportar
uma corrente elétrica.
Dureza Afeta a quantidade de sabão necessária para produzir espuma e dá
origem a incrustações em tubulações de água quente, panelas e outros
equipamentos nos quais a temperatura da água é elevada.
Oxigênio
dissolvido
Permite a determinação da quantidade de carga de poluentes
orgânicos existentes na amostra. Geralmente, utiliza-se o método de
Winkler.
Demanda
bioquímica de
oxigênio (DBO)
Determina o oxigênio consumido na oxidação da matéria orgânica em
condições aeróbicas. O método mais utilizado é também o de Winkler.
Demanda química
de oxigênio (DQO)
Permite a determinação das substâncias orgânicas e inorgânicas
suscetíveis à oxidação por ação de agentes oxidantes fortes.
(Cont.)
41
Tabela 2 (Cont.)
Caracterização Biológica
Coliformes A determinação dos coliformes totais e fecais é um indicador da
quantidade de matéria orgânica.
Streptococcus
faecalis
Bactéria existente no trato digestivo de mamíferos que pode causar
infecções em humanos.
Colesterídeos Moléculas de gordura, também chamadas de ésteres de colesterol.
2.2.4.1 Etapas do processo de tratamento da água
O processo de tratamento da água envolve sua descontaminação, evitando a
transmissão de doenças e tornando-a potável, ou seja, própria para o consumo
humano. A água pode ser potável já em sua fonte natural, desde que não haja
nenhum tipo de contaminação na nascente ou no percurso até a fonte.
De acordo com Cruz (1997), existem quatro tipos de tratamento de águas,
mas a necessidade de utilizá-los depende da origem do efluente. São eles:
o tratamento preliminar, constituído unicamente por processos físico-
químicos, compreende a remoção de sólidos grandes, que flutuam,
através da utilização de grelhas e filtros grossos, além da separação da
água residual por canais de areia;
o tratamento primário é também constituído unicamente por processos
físico-químicos, que visam separar as fases sólida e líquida presentes
no efluente através de processos de floculação e sedimentação. Os
lodos resultantes desse tratamento estão sujeitos a um processo de
digestão anaeróbico num digestor anaeróbico ou tanque séptico;
o tratamento secundário é constituído por processos biológicos
seguidos de processos físico-químicos. No processo biológico, o
efluente pode ser tratado de forma aeróbica ou anaeróbica. Já o
processo físico-químico é constituído por um ou mais sedimentadores
secundários, onde acontece a sedimentação de sólidos ou flocos
biológicos. As lamas resultantes desse tratamento são secas em leitos
de secagem, sacos filtrantes ou filtros de prensa;
o tratamento terciário, ou avançado, é também constituído unicamente
por processos físico-químicos. Nessa fase, procede-se à remoção de
microrganismos patogênicos e a água resultante é sujeita a
42
desinfecção através da adsorção (com a utilização de carvão ativado),
e, se necessário, tratamento com cloro e ozônio.
A Tabela 3 consolida os processos descritos acima em um macroprocesso de
tratamento, tal como seria necessário para tornar a água potável (uso que requer
água o mais limpa possível).
Tabela 3 Etapas para o tratamento da água (UFPR, 2007)
Processo Descrição
Pri
mári
o
Aeração Troca de gases entre a água e o ar. O objetivo principal é a
remoção de gases dissolvidos, compostos orgânicos voláteis
e bactérias que oxidam facilmente.
Coagulação Através da adição de um agente coagulante, transforma as
impurezas que se encontram como suspensões finas em
coloides e em partículas que sejam removíveis por
sedimentação ou filtração.
Floculação Aglomeração dos coloides e partículas em suspensão, após
a coagulação por agitação lenta.
Se
cu
nd
ári
o
Sedimentação ou
Decantação
Processo pelo qual se verifica a deposição de materiais em
suspensão, pela ação da gravidade.
Filtração A filtração da água consiste em fazê-la passar através de
substâncias porosas, capazes de reter ou remover algumas
de suas impurezas. O material geralmente empregado é a
areia.
Terc
iári
o Desinfecção ou
Esterilização
Consiste na eliminação dos germes patogênicos da água,
particularmente as bactérias, tornando-a própria para
consumo humano. A clarificação é o meio mais eficaz e de
maior aplicação nas estações de tratamento de água.
Os processos descritos acima são considerados tratamentos convencionais.
Porém, a etapa terciária subdivide-se de acordo com a tecnologia empregada.
Nessa etapa avançada de tratamento, a água será purificada com o uso de
membranas ou mudança de fase. Na primeira categoria, encontram-se as técnicas
de troca de íons, eletrodiálise, nanofiltração e osmose reversa. Já a segunda
engloba técnicas de destilação, congelamento e vaporização para separar a água
43
das impurezas nela dissolvidas (RAMALHO, 2004). Essa etapa é essencial para
evitar a proliferação de doenças.
2.2.4.2 Padrões para definição da qualidade da água tratada
Até o final do século XIX, a qualidade da água para consumo humano era, em
geral, aferida por sua aparência física. A partir do século XX, depois da ocorrência
de diversos surtos de doenças de veiculação hídrica e com o avanço do
conhecimento científico, tornou-se necessário o desenvolvimento de recursos
técnicos, e mais tarde legais, que, de modo objetivo, traduzissem as características
que a água deveria apresentar para ser considerada potável. Assim, a qualidade da
água para consumo humano passou a ser estabelecida com base em valores
máximos permitidos (VMP) para diversos contaminantes, ou indicadores da
qualidade da água, reunidos em normas e critérios de qualidade da água, ou
padrões de potabilidade (CEBALLOS, DANIEL e BASTOS, 2009).
Um dos principais estágios na instauração de padrões é a conversão da
filosofia, da orientação e dos valores numéricos dos parâmetros gerais,
estabelecidos por agências internacionais, tais como a Organização Mundial da
Saúde (OMS) e o Banco Mundial, em padrões de qualidade, definidos por país. Os
parâmetros internacionais são genéricos por natureza e têm por objetivo preservar a
saúde pública e o meio ambiente em escala global. Já os padrões nacionais são
definidos por cada país, têm status legal e baseiam-se nas condições do país.
Dependendo da estrutura política, pode haver padrões regionais, que são iguais a
ou mais rigorosos e detalhados do que os padrões nacionais. A conversão dos
parâmetros e orientações gerais é crucial, pois exerce papel significativo no
desenvolvimento da saúde e do meio ambiente em um país. Se feita de maneira
inadequada, pode levar ao descrédito, à frustração, a gastos desnecessários de
dinheiro e a sistemas insustentáveis, dentre outros problemas (VON SPERLING e
CHERNICHARO, 2002).
No Brasil, em 1977, por meio do Decreto Federal nº 79.367, ficou
estabelecida como competência do Ministério da Saúde regulamentar matérias
referentes à qualidade da água para consumo humano no país. Nesse mesmo ano,
foi editada a primeira legislação sobre potabilidade da água válida em todo o
território nacional – a Portaria nº 56/BSB (CEBALLOS, DANIEL e BASTOS, 2009).
Hoje em dia, os órgãos responsáveis por dita conversão são a Agência Nacional de
44
Vigilância Sanitária (ANVISA), vinculada ao Ministério da Saúde, o Conselho
Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e a Agência Nacional das Águas (ANA),
vinculados ao Ministério do Meio Ambiente. Os padrões e condições de qualidade
das águas, assim como os padrões para lançamento de efluentes em corpos
receptores estão estabelecidos na Resolução CONAMA nº 357 (CONAMA, 2005).
Conforme observado por Von Sperling e Chernicharo (2002), os padrões não
são necessariamente os mesmos em regiões geográficas diferentes. Caso o uso
pretendido para a água afete os padrões da sua qualidade , ocorre também que a
tecnologia disponível para tratamento de águas residuais também afetará tais
padrões. Caso isso não seja considerado, os padrões de qualidade não serão
efetivamente praticados, ou seja, não cumprirão seu papel no desenvolvimento
ambiental do país, ficando restritos a leis e papeis oficiais, sem afetar a realidade.
Para a pesquisa atual, as características escolhidas para classificar a
qualidade do efluente seguirão o estudo de Von Sperling e Chernicharo (2002). São
elas as concentrações de DBO, DQO, sólidos em suspensão (SS), amônia,
nitrogênio total, fósforo total, coliformes fecais e ovas de vermes. Duas importantes
motivações para a escolha destes padrões são a preservação da qualidade da água
no corpo receptor e a manutenção sanitária de espaços públicos.
2.2.4.3 Tratamento de esgotos
Os esgotos domésticos representam uma parcela significativa dos esgotos
sanitários, provenientes de residências, edificações públicas e comerciais, que
concentram aparelhos sanitários, lavanderias e cozinhas. Apesar de variarem em
função dos costumes e condições socioeconômicos das populações, os esgotos
domésticos costumam ter características bem definidas, resultado do uso feito pelo
homem em função dos seus hábitos higiênicos e de suas necessidades fisiológicas.
Como visto na seção 2.2.4.1, sobre as etapas do tratamento de água, o
efluente tratado é composto basicamente por água, sólidos e microrganismos. O
esgoto tem composição semelhante, sendo 99,9% água e 0,1% sólidos, dos quais
70% são sólidos orgânicos (proteínas, carboidratos, gorduras) e 30% são sólidos
inorgânicos (areia, sais e metais). Com essa proporção de componentes, a água em
si atua principalmente como um meio de transporte para as substâncias orgânicas e
inorgânicas e os microrganismos (JENKINS, 1999).
45
Nesse cenário, é razoável pensar que o tratamento de esgotos seria uma
maneira eficaz de reaproveitar grande parte da água usada na rotina humana. Ainda
que a água proveniente do tratamento de esgotos não seja adequada para beber,
pode ser utilizada para outros fins, como resfriamento de equipamentos, limpeza de
ruas, rega de jardins, geração de energia e outros processos industriais (SABESP,
2009).
A fim de tornar tangível o benefício do reaproveitamento da água no esgoto, a
Tabela 4 agrupa alguns exemplos de sucesso.
Tabela 4 Casos de reaproveitamento da água de esgoto
Caso Benefício Local
Tratamento de esgoto e reuso da
água para diversos fins urbanos
(ARCHIBOLD, 2007)
- Barreira contra a intrusão de
água do mar no lençol freático
- Abastecimento de aquíferos que
fornecem para 2,3 milhões de
pessoas
Califórnia, EUA
3M do Brasil Ltda. (NIETO, 2009) Redução na captação de água da
empresa em aproximadamente
97.600 m3/ano
Sumaré, SP
Votorantim Celulose e Papel
(NIETO, 2009)
Redução nas vazões específicas
de captação (34%) e de efluentes
(45%)
Jacareí, SP
Kodak Brasileira Com. e Ind. Ltda.
(NIETO, 2009)
Redução de 65% no consumo de
água e ganho de76 horas/mês na
produtividade. A redução
representa 13% da captação
anual.
São José dos
Campos, SP
Companhia Brasileira de Bebidas
(NIETO, 2009)
Economia de 650.000 m3 na água
usada na produção anual
Jaguariúna, SP
Estudo de viabilidade econômica
para indústria hoteleira (DIAS,
2002)
Economia de R$2.000 mensais
com água e esgoto; ETE se paga
em menos de dois anos
Não se aplica
Irrigação com efluente de
tratamento secundário
(RODRIGUES, 2010)
Economia de 30% de fertilizante
nitrogenado mineral em um ano e
80% no ano seguinte
Lins, SP
Redução e economia de água no
setor industrial de curtume com o
reuso do seu efluente tratado
(VIEIRA, COSTA e RAMOS,
2005)
Economia de 28%, 26% e 5% nos
anos de 2002, 2003 e 2004,
respectivamente
Campina Grande,
PB
Reuso em processo industrial da
água tratada em ETE própria
(FATOR AMBIENTAL, 2008)
Redução de 45% (18.000 m3/ano)
no volume da água captada e
economia de mais de R$ 1 milhão
ao longo de cinco anos
Região
metropolitana, SP
46
Fica claro, portanto, que a água presente no esgoto pode e deve ser
reutilizada por diversos setores, oferecendo benefícios econômicos, mas, ainda mais
importante, poupando um recurso natural importantíssimo para a vida. A seguir,
serão apresentadas algumas tecnologias disponíveis para o tratamento de esgotos.
2.2.4.4 Tecnologias disponíveis para o tratamento de esgotos
As tecnologias apropriadas para o tratamento de esgoto são apresentadas de
acordo com suas características técnicas, com foco na qualidade da água produzida
e no consumo de recursos, conforme pesquisa pela UNICAMP (2005).
2.2.4.4.1 Lagoas
As lagoas de estabilização, isto é, de transformação da matéria orgânica em
gás carbônico e metano, são consideradas uma das técnicas mais simples de
tratamento de esgotos. Dependendo da área disponível, topografia do terreno e grau
de eficiência desejado, os seguintes tipos de sistemas de lagoas podem ser
empregados.
Lagoas facultativas
Essas lagoas, que têm de 1,5 a 3 metros de profundidade, apresentam uma
mistura de condições aeróbias e anaeróbias. As condições aeróbias são mantidas
nas camadas superiores, próximas à superfície das águas, enquanto as condições
anaeróbias predominam em camadas próximas ao fundo da lagoa. Durante a noite,
apenas os processos anaeróbicos continuam ocorrendo, dando origem à zona
facultativa. Nela, a estabilização de matéria orgânica ocorre por meio de bactérias
facultativas, que podem sobreviver tanto na ausência quanto na presença de
oxigênio. Essas lagoas têm volumes elevados, de forma a permitir a manutenção de
grandes períodos de detenção hidráulica, em geral de 15 a 20 dias.
O efluente entra por uma extremidade da lagoa e sai pela outra, um processo
que pode demorar vários dias. Após a entrada do efluente na lagoa, a matéria
orgânica em suspensão (DBO particulada) começa a sedimentar, formando o lodo
de fundo, que sofre tratamento anaeróbico. Já a matéria orgânica dissolvida (DBO
solúvel) e a matéria em suspensão de pequenas dimensões (DBO finamente
particulada) permanecem dispersas na massa líquida e sofrem tratamento aeróbico.
O oxigênio é fornecido por trocas gasosas da superfície líquida com a atmosfera e
pela fotossíntese realizada pelas algas presentes, fundamentais para o processo.
47
Para isso, é necessária suficiente iluminação solar e, portanto, essas lagoas devem
ser implantadas em lugares de baixa nebulosidade e grande radiação solar.
Embora parte do oxigênio necessário para manter as camadas aeróbias
superiores seja fornecida pela re-aeração atmosférica através da superfície, a maior
parte é suprida pela atividade fotossintética das algas, que crescem naturalmente
nas águas, onde estão disponíveis grandes quantidades de nutrientes e energia da
luz solar incidente. Com isso, as bactérias existentes nas lagoas utilizam o oxigênio
produzido pelas algas para oxidar a matéria orgânica. Um dos produtos finais do
metabolismo bacteriano é o gás carbônico, que é imediatamente utilizado pelas
algas na sua fotossíntese, estabelecendo-se, assim, um ciclo. Assim, a eficiência
desse tipo de sistema de tratamento depende da disponibilidade de grandes áreas
para que a exposição à luz solar seja adequada, podendo atingir de 70% a 90 % de
remoção de DBO (VON SPERLING, 1996).
Lagoas anaeróbias seguidas de lagoas facultativas (Sistema australiano)
As lagoas anaeróbias são, normalmente, profundas, variando entre quatro e
cinco metros, a fim de impedir que o oxigênio da camada superficial passe para as
camadas inferiores. Para garantir as condições de anaerobiose, lança-se uma
grande quantidade de efluente por unidade de volume da lagoa, o que leva o
consumo de oxigênio a ser superior àquele reposto pelas camadas superficiais.
Como a superfície da lagoa é pequena comparada com sua profundidade, o
oxigênio produzido pelas algas e aquele proveniente da re-aeração atmosférica são
considerados desprezíveis, garantindo um ambiente anaeróbico.
No processo anaeróbico, a decomposição da matéria orgânica gera
subprodutos de alto poder energético (biogás) e, dessa forma, a disponibilidade de
energia para a reprodução e o metabolismo das bactérias é menor que no processo
aeróbico.
A eficiência da remoção de DBO por uma lagoa anaeróbica é da ordem de
50% a 60%. Como a DBO efluente é elevada, existe a necessidade de outra unidade
de tratamento, sendo, nesse caso, uma lagoa facultativa. Porém, essa segunda
lagoa necessitará de uma área menor, devido ao pré-tratamento do esgoto na lagoa
anaeróbica.
O sistema composto por lagoa anaeróbica e lagoa facultativa representa uma
economia de cerca de um terço da área ocupada por uma lagoa facultativa,
48
trabalhando como unidade para tratar a mesma quantidade de esgoto. Devido à
presença da lagoa anaeróbica, maus odores, provenientes da liberação de gás
sulfídrico, podem ocorrer como consequência de problemas operacionais. Portanto,
esse sistema deve ser localizado em áreas afastadas, longe de bairros residenciais
(VON SPERLING, 1996).
Lagoas aeradas facultativas
A principal diferença entre esse tipo de sistema e uma lagoa facultativa
convencional é que o oxigênio é fornecido por aeradores mecânicos, e não pela
fotossíntese realizada por algas. O equipamento é provido de turbinas rotativas de
eixo vertical, que agitam a água através de rotação em grande velocidade,
facilitando a penetração e dissolução de oxigênio. Tendo em vista a maior
introdução de oxigênio na massa líquida do que é possível numa lagoa facultativa
convencional, há uma redução significativa no volume necessário para esse tipo de
sistema, sendo suficiente um tempo de detenção hidráulica variando entre cinco e
dez dias. A área total necessária é, portanto, menor.
O grau de energia introduzido na lagoa através dos aeradores é suficiente
para a obtenção de oxigênio, porém, não é suficiente para a manutenção dos sólidos
em suspensão e bactérias dispersos na massa líquida. Portanto, ocorre
sedimentação da matéria orgânica, formando o lodo de fundo, que será estabilizado
anaerobiamente como em uma lagoa facultativa convencional.
A lagoa aerada pode ser utilizada quando se deseja um sistema
predominantemente aeróbico e a disponibilidade de área é insuficiente para a
instalação de uma lagoa facultativa convencional. Devido à introdução de
equipamentos eletromecânicos, a complexidade e manutenção operacional do
sistema são aumentadas, além da necessidade de consumo de energia elétrica. A
lagoa aerada pode também ser uma solução para lagoas facultativas que operam de
forma saturada e não possuem área suficiente para expansão (VON SPERLING,
1996).
Lagoas aeradas de mistura completa , seguidas por lagoas de decantação
É semelhante à lagoa aerada, porém, nesse caso, o grau de energia
introduzido é suficiente para manter os sólidos em suspensão e a biomassa
dispersos na massa líquida, além de garantir a oxigenação da lagoa. Devido à
grande quantidade de sólidos suspensos, o efluente desse sistema não é adequado
49
para o lançamento diretamente no corpo receptor (rios e mares). Para que ocorra a
sedimentação e estabilização desses sólidos, é necessária a inclusão de unidades
de tratamento complementar, isto é, lagoas de decantação.
O tempo de detenção nas lagoas aeradas é da ordem de dois a quatro dias e
nas lagoas de decantação, dois dias. O acúmulo de lodo nas lagoas de decantação
é baixo e sua remoção é feita, geralmente, com intervalos de um a cinco anos. Esse
sistema ocupa uma área menor que os outros sistemas compostos por lagoas, mas
os requisitos energéticos são maiores que os exigidos por outros sistemas (VON
SPERLING, 1996).
Lagoa de maturação
Outro tipo de lagoa empregada no tratamento dos esgotos é a lagoa de
maturação, que tem como objetivo a remoção de agentes patogênicos,
diferenciando-se das demais citadas, que são destinadas à remoção de matéria
orgânica. Sua função principal é, portanto, a desinfecção da água, sendo uma
alternativa mais barata a outros métodos como, por exemplo, a cloração (VON
SPERLING, 1996).
2.2.4.4.2 Lodos ativados
O sistema de lodos ativados não exige grandes requisitos de área, como é o
caso das lagoas. No entanto, há um alto grau de mecanização e elevado consumo
de energia elétrica para o sistema composto por tanques de aeração, ou reatores,
tanques de decantação e recirculação de lodo.
O processo se inicia com a passagem do efluente pelo reator, onde ocorre a
remoção da matéria orgânica, e, em seguida, pelo decantador, de onde sai
clarificado após a sedimentação dos sólidos (biomassa), que formam o lodo de
fundo. Esse lodo é formado por bactérias ainda ávidas por matéria orgânica, que são
enviadas novamente para o reator através da recirculação do lodo. Com isso, há um
aumento na concentração de bactérias em suspensão no tanque de aeração,
podendo chegar a mais de dez vezes a de uma lagoa aerada de mistura completa
sem recirculação. Devem-se retirar as bactérias da lagoa a uma taxa equivalente ao
seu crescimento (lodo biológico excedente), pois, ao permitir que as bactérias se
reproduzam continuamente, alguns problemas podem ocorrer. Por exemplo, pode
haver biomassa no efluente final, devido à dificuldade de sedimentar em um
50
decantador secundário sobrecarregado, ou pode ser difícil a transferência de
oxigênio para todas as células no reator.
A alta eficiência desse sistema deve-se em grande parte à recirculação de
lodo, que permite que o tempo de detenção hidráulica seja pequeno e,
consequentemente, que o reator possua pequenas dimensões. A recirculação de
sólidos também faz com que permaneçam no sistema por mais tempo que a massa
líquida. Esse tempo de permanência da biomassa no sistema é chamado de “idade
do lodo”.
Além da matéria orgânica carbonácea, o sistema de lodos ativados pode
remover também nitrogênio e fósforo. Porém, a remoção de coliformes é geralmente
baixa, devido ao pequeno tempo de detenção hidráulica. Portanto, esse processo é
normalmente insuficiente para lançamento no corpo receptor.
O sistema de lodos ativados possui algumas variantes, explicitadas a seguir
(UNICAMP, 2005).
Convencional (Fluxo contínuo)
O sistema de lodos ativados convencional é constituído por reator e
decantadores primário e secundário. No decantador primário, a matéria orgânica em
suspensão sedimentável é retirada antes de entrar no tanque de aeração, gerando
assim uma economia no consumo de energia. O tempo de detenção hidráulica é
baixo, da ordem de seis a oito horas, e a idade do lodo em torno de quatro a dez
dias. Como o lodo retirado ainda é jovem e possui grande quantidade de matéria
orgânica em suas células, há necessidade de uma etapa de estabilização do lodo
(VON SPERLING, 1997).
Aeração prolongada (Fluxo contínuo)
A diferença entre o sistema de aeração prolongada e o convencional é que a
biomassa permanece mais tempo no reator (18 a 30 dias), porém, continua
recebendo a mesma carga de DBO. Com isso, o reator possui maiores dimensões e,
consequentemente, existirá menor concentração de matéria orgânica por unidade de
volume, assim como menor disponibilidade de alimento, levando as bactérias a
metabolizar a matéria orgânica existente. Assim, o lodo já sai estabilizado do tanque
de aeração, não havendo necessidade de um biodigestor. Esse sistema também
não possui decantador primário, para evitar a necessidade de uma unidade de
estabilização do lodo dele resultante.
51
Como a estabilização do lodo ocorre de forma aeróbica no reator, há um
maior consumo de energia elétrica. Porém, trata-se de um sistema de maior
eficiência de remoção de DBO dentre os que funcionam com lodos ativados (VON
SPERLING, 1997).
Fluxo intermitente ou Batelada
Nesse sistema, há apenas uma unidade (tanque) e todas as etapas de
tratamento, que passam a ser sequências no tempo e não mais unidades distintas
de tratamento, ocorrem dentro do mesmo reator. A biomassa permanece no tanque
e não há necessidade de sistema de recirculação de lodo.
Um sistema de lodos ativados de fluxo intermitente possui ciclos bem
definidos de operação: enchimento, reação, sedimentação, esvaziamento e repouso.
Em sistemas que recebem esgotos de forma contínua, como as estações de esgotos
domésticos, por exemplo, é necessário mais de um tanque de aeração trabalhando
em paralelo. Por exemplo, um tanque no ciclo de decantação não pode receber
esgotos, ou seja, deve haver outro tanque que esteja no ciclo de enchimento. Esse
sistema é intercambiável, podendo funcionar também como um sistema de lodo
ativado convencional e de aeração prolongada (VON SPERLING, 1997).
2.2.4.4.3 Filtros biológicos
O filtro biológico é constituído por um leito que pode ser de pedras, madeira
ou material sintético. O efluente é lançado sobre o filtro por meio de braços rotativos
e passa através daquele, formando uma película de bactérias em sua superfície. O
esgoto passa rapidamente pelo leito em direção ao dreno de fundo, porém, a
película de bactérias absorve uma quantidade de matéria orgânica e faz sua
digestão mais lentamente. Esse processo é considerado aeróbico, uma vez que o ar
pode circular entre os vazios do material que constitui o leito, fornecendo oxigênio às
bactérias. Quando a película de bactérias fica muito espessa, os vazios diminuem de
dimensão e aumenta a velocidade com que o efluente passa, levando ao surgimento
de forças cisalhantes, que fazem com que a película se desgarre do material.
Os filtros podem ser de dois tipos, como visto a seguir (UNICAMP, 2005).
52
Filtros biológicos de baixa carga
Como a carga de DBO aplicada no sistema é baixa, o lodo sai parcialmente
estabilizado, devido ao consumo da matéria orgânica das próprias bactérias em
seus processos metabólicos, por causa da escassez de alimento.
A eficiência nesse caso é comparável à do sistema de lodos ativados
convencional. No entanto, ocupa uma área maior e possui menor capacidade de
adaptação às variações do efluente, ainda que consuma menos energia e seja mais
simples operacionalmente (VON SPERLING, 1995).
Filtros biológicos de alta carga
Comparado aos sistemas de baixa carga, esse sistema é menos eficiente e o
lodo não sai estabilizado. Já a área ocupada é menor e a carga de DBO aplicada é
maior. Há recirculação do efluente, de forma a manter os braços distribuidores
funcionando durante a noite, quando a vazão é menor, evitando assim que o leito
seque. Com isso, há também um novo contato das bactérias com a matéria
orgânica, melhorando a eficiência original do processo. Além disso, os filtros
biológicos podem ser usados em série, aumentando o contato da carga com as
bactérias digestivas. O sistema permite que diversas combinações de filtros e
recirculação sejam testadas, a fim de obter melhores resultados (VON SPERLING,
1995).
2.2.4.4.4 Biodiscos
O processo biológico com discos de película fixa é uma das tecnologias mais
eficientes e robustas para tratamento de águas residuais. Por utilizar-se de película
fixa, recupera-se mais rapidamente de choques provocados por efluentes tóxicos,
quando comparado a outros processos biológicos. Como tal, é indicado como
tratamento secundário ou primário em sistemas municipais ou industriais. Vale
lembrar, no entanto, que esse sistema destina-se ao tratamento de pequenas
vazões, pois o diâmetro máximo dos discos é reduzido, sendo necessário um grande
número de discos para vazões maiores (VON SPERLING, 1995).
Esse processo aeróbico consiste em um tanque, onde discos de plástico
rugoso giram em torno de um eixo horizontal com baixa velocidade, estando 40% da
sua área submersa no efluente. Os organismos existentes na matéria líquida
agregam-se à superfície do disco e multiplicam-se, até formarem uma película
uniforme de biomassa. Essa película fixa representa uma população grande e ativa
53
de microrganismos que neutralizam os poluentes orgânicos. Durante a rotação,
parte da película fica exposta ao ar, permitindo o contato com oxigênio, que auxilia
na digestão da matéria orgânica do efluente. Ranhuras radiais e concêntricas
existentes nos biodiscos maximizam a área disponível para formação da película,
assim como o acesso do efluente e do ar.
À medida que a película de biomassa torna-se mais espessa, o excesso
destaca-se em forma de flocos, que seguem no efluente sendo posteriormente
removidos num decantador convencional. A espessura do filme de biomassa
costuma variar entre 0,75 e 3 mm, dependendo da concentração de nutrientes,
temperatura e outras variáveis do processo (OH2, 2006).
2.2.4.4.5 Fossa séptica (Filtro anaeróbico)
As fossas sépticas consistem de cavidades na terra (poços ou fossas), onde o
esgoto é lançado in natura para que, com o menor fluxo da água, a parte sólida se
deposite, liberando a parte líquida. Devido à possível presença de organismos
patogênicos, a parte sólida deve ser retirada, através de um caminhão limpa-fossas,
e transportada para um aterro sanitário nas zonas urbanas ou enterrada nas zonas
rurais.
Esse sistema, que possui menores dimensões devido à sua condição
anaeróbica, é menos eficiente que os sistemas aeróbicos, havendo, porém, uma
baixa produção de lodo, que já sai estabilizado. Por ser um processo anaeróbico, há
a possibilidade de gerar maus odores, o que pode ser evitado por planejamento e
manutenção adequados.
O tratamento de esgoto consiste em passar o efluente através da fossa, onde
a matéria orgânica sedimentável formará um lodo de fundo, que sofrerá digestão
anaeróbica. O filtro anaeróbico é constituído por um leito, normalmente de pedras,
onde se forma uma película de bactérias. O efluente entra na parte inferior do filtro e
atravessa o leito em um fluxo ascendente. Por isso, o leito é afogado, ou seja, os
vazios são preenchidos com o efluente, o que, aliado à alta concentração de matéria
orgânica por unidade de volume, faz com que as bactérias envolvidas nesse
processo sejam anaeróbicas.
Apesar de já estar estabilizado, esse lodo apresenta grande quantidade de
agentes patogênicos, o que leva a fossa séptica a ser uma etapa complementar no
tratamento do esgoto (VON SPERLING, 1995).
54
2.2.4.4.6 Reator anaeróbico de fluxo ascendente (RAFA)
Trata-se de um reator fechado, onde o tratamento biológico ocorre por
processo anaeróbico e a decomposição da matéria orgânica é feita por
microrganismos presentes num manto de lodo, que atua como um filtro.
No reator, a biomassa cresce dispersa no meio líquido, formando pequenos
grânulos, enquanto a concentração de bactérias é elevada, criando uma manta de
lodo. O efluente entra pela parte inferior do reator e segue um fluxo ascendente. No
topo do reator, há uma estrutura cônica ou piramidal, que possibilita a separação
dos gases resultantes do processo anaeróbico (gás carbônico e metano) do efluente
e da biomassa, que sedimenta no cone, sendo devolvida ao reator.
Por ser um processo anaeróbico, pode ocorrer formação de maus odores, que
podem ser evitados com um projeto adequado. Além disso, o mecanismo do RAFA é
compacto e de fácil operação. A área requerida para esse sistema é reduzida devido
à alta concentração das bactérias, e a produção de lodo, que já sai estabilizado, é
baixa. A eficiência atinge de 65% a 75% e, por isso, o efluente necessita de um
tratamento complementar, que pode ser feito através da lagoa facultativa (VON
SPERLING, 1995) e (SABESP, 2009).
2.2.5 Resumo das tecnologias
A fim de melhorar a compreensão da informação apresentada até então, as
tecnologias disponíveis para o tratamento de água foram agrupadas de acordo com
três categorias: lagoas, mecânicas e terrestres. Além disso, a Tabela 5 indica em
qual etapa do tratamento da água elas podem ser usadas.
Tabela 5 Resumo das tecnologias para tratamento de esgotos
Lagoas Mecânicas Terrestres
Preliminar (Etapa realizada antes da entrada na estação de tratamento)
Primária Lagoa aerada
Lagoa facultativa
Lodos ativados
Biodiscos
Filtros biológicos
Secundária Lagoa aerada
Lagoa facultativa
Lagoa anaeróbia
Lodos ativados
Biodiscos
RAFA
Filtros biológicos
Fossa séptica
Terciária Lagoa de maturação
(Etapa desnecessária para o tratamento de esgotos)
Já a Tabela 6 resume algumas características das tecnologias citadas para
tratamento de esgotos.
55
Tabela 6 Resumo de características das tecnologias citadas (UNEP, 1997)
Processo Fonte de
oxigênio
Volume
do reator
Tempo de
retenção
Eficiência de remoção
Lodo ativado Ar
pressurizado
10 m3 4-6 hs Matéria orgânica: 90%-95%
Sólidos em suspensão: 90%-
95%
Biodisco Ar 1 m3 1-3 hs Matéria orgânica: 90%-95%
RAFA Anaeróbico 2 m3 24 hs Matéria orgânica: 50%-60%
Sólidos em suspensão: 57%
Filtração
anaeróbia
Anaeróbico 2 m3 36 hs Matéria orgânica: 40%-50%
Sólidos em suspensão: 52%
Tanque séptico Anaeróbico 2 m3 36 hs Matéria orgânica: 25%
Finalmente, a Tabela 7 resume as vantagens e desvantagens apresentadas
por cada tecnologia, conforme o relatório da UNEP (1997).
Tabela 7 Resumo das vantagens e desvantagens das tecnologias citadas (UNEP, 1997)
Tecnologia Vantagens Desvantagens
Lagoas
Lagoa de
estabilização
Baixo custo de capital
Baixo custo de operação e manutenção
Requer pouca mão de obra
Requer muita área terrestre
Pode produzir odores indesejáveis
Lagoa aerada Requer pouca área terrestre
Produz poucos odores indesejáveis
Requer aparelhos mecânicos para aerar
as bacias
Produz efluente com alta concentração
de sólidos em suspensão
Sistemas terrestres
Tanque
séptico
Pode ser usado em residências (fora de
um sistema comunitário)
Fácil de operar e prover manutenção
Pode ser construído em áreas rurais
Baixa eficiência de tratamento
Deve ser bombeada periodicamente
Requer um aterro para descarte
periódico do lodo
Sistemas mecânicos
Filtração Requerimento mínimo de área terrestre;
pode ser usado em residências
Baixo custo
Fácil de operar
Requer aparelhos mecânicos
Reatores
biológicos
verticais
Método muito eficiente
Requer pouca área terrestre
Aplicável em pequenas comunidades,
para tratamento em escala local, ou em
grandes cidades, para tratamento em
escala regional
Alto custo
Tecnologia complexa
Requer mão de obra qualificada para
operação e manutenção
Requer disponibilidade de peças
Alto consumo de energia
Lodo ativado Método muito eficiente
Requer pouca área terrestre
Aplicável em pequenas comunidades,
para tratamento em escala local, ou em
grandes cidades, para tratamento em
escala regional
Alto custo
Requer área para descarte do lodo
Requer mão de obra qualificada para
operação e manutenção
56
2.3 Sustentabilidade
O tratamento de esgotos pode ser visto como um processo de transformação,
onde entram águas residuais e saem águas tratadas. Porém, na seção 2.2, observa-
se que o processo de tratamento também gera lodo e outros produtos secundários,
como sólidos filtrados. Além disso, as entradas para esse processo incluem energia
elétrica, alguns produtos químicos e as partes móveis das máquinas, caso sejam
usadas. Considerando uma visão ainda mais abrangente, pode-se dizer que um dos
inputs do processo é também espaço físico, enquanto um dos outputs é o forte odor
que sai da planta de tratamento. Sendo assim, a continuidade desse processo
depende não somente de quanto esgoto entra e quanta água tratada sai do sistema,
mas também de suas consequências ambientais. Este estudo foca o impacto
ambiental do processo, uma das dimensões que definem sua sustentabilidade.
Na seção 2.2, comentou-se a escassez hídrica prevista em um futuro próximo.
De fato, a condição de recurso raro está atingindo não somente a água, mas
praticamente tudo que o ser humano consome do meio ambiente. Os níveis de
poluição da terra, da água e do ar são altos a ponto de, em alguns países, os
habitantes de certas regiões sofrerem com deformidades e problemas de saúde
causados por contaminação de poluentes (ABREU, 2008).
Considerando, portanto, que a água é um produto do processo de tratamento,
que é um bem escasso e deve ser economizada e reutilizada, e que o próprio
tratamento de água pode ter impactos ambientais, faz-se necessário estabelecer um
ciclo que possa ser mantido, de preferência, indefinidamente. É nesse cenário que
podemos entender a proposta da sustentabilidade.
2.3.1 Algumas definições
Esta seção se propõe a introduzir conceitos básicos, porém importantes, para
o entendimento da causa sustentável.
2.3.1.1 Sustentabilidade
Segundo Capra (2005), o conceito foi introduzido por Lester Brown, fundador
do Wordwatch Institute, no início da década de 80, ao definir a comunidade
sustentável como aquela que é capaz de satisfazer às próprias necessidades sem
reduzir as oportunidades das gerações futuras. Generalizando essa ideia, pode-se
57
dizer que é a propriedade de um processo que, além de continuar a existir no tempo,
revela-se capaz de (INSTITUTO ARAYARA DE EDUCAÇÃO, 2006):
manter um padrão positivo de qualidade;
apresentar, no menor espaço de tempo possível, autonomia de
manutenção, ou seja, contar com suas próprias forças;
pertencer simbioticamente a uma rede de coadjuvantes também
sustentáveis;
promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de
qualquer tipo de concentração e/ou centralidade, tendo em vista a
harmonia das relações entre sociedade e natureza.
A definição apresentada acima é abrangente, pois sustentabilidade não se
refere apenas à preservação do meio ambiente, mas sim a tudo que é necessário
para prolongar a existência de uma geração. Podemos abordar, portanto, as
seguintes dimensões (MMA, 2000):
Sustentabilidade social – ancorada no princípio da equidade na
distribuição de renda e bens, no princípio da igualdade de direitos à
dignidade humana e no princípio da solidariedade dos laços sociais;
Sustentabilidade ecológica – ancorada no princípio da solidariedade
com o planeta e suas riquezas e com a biosfera que o envolve;
Sustentabilidade econômica – avaliada a partir da sustentabilidade
social propiciada pela organização da vida material;
Sustentabilidade espacial – norteada pelo alcance de uma
equanimidade nas relações interregionais e na distribuição populacional
entre o rural/urbano e o urbano;
Sustentabilidade político-institucional – representa um pré-requisito
para a continuidade de qualquer curso de ação no longo prazo;
Sustentabilidade cultural – modulada pelo respeito à afirmação do
local, do regional e do nacional, no contexto da padronização imposta
pela globalização.
No contexto de processos e tecnologia, outra dimensão de sustentabilidade a
ser considerada é a qualidade do produto ou do processo como um todo, uma vez
58
que parte da excelência do processo é definida pelo seu resultado. Em outras
palavras, trata-se de sustentabilidade funcional, como proposto por Muga e Mihelcic
(2008).
2.3.1.2 Sustentabilidade ambiental
Na definição de sustentabilidade apresentada acima, deseja-se reforçar a
importância da dimensão ecológica, ou ambiental, que se refere ao relacionamento
entre seres humanos e os recursos naturais do planeta. Esse caso é tão particular,
pois envolve a perpetuação da raça humana na Terra, que é, até onde se sabe, o
único ambiente não classificado como inóspito.
2.3.1.3 Desenvolvimento sustentável
O conceito de desenvolvimento sustentável baseia-se no fato de que
economia, meio ambiente e bem-estar estão relacionados e não podem ser
avaliados separadamente. A definição mais aceita e citada de desenvolvimento
sustentável data de 1987, quando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento estabeleceu que se tratava de “desenvolvimento que procura
satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Isso significa que
todos os seres humanos têm os mesmos direitos, seja vivendo no presente ou no
futuro (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002). Em outras palavras, o desenvolvimento
sustentável enfatiza a evolução da sociedade de maneira responsável do ponto de
vista econômico, de acordo com processos ambientais e naturais (GLAVIč e
LUKMAN, 2007).
Como apontado por Balkema, et al. (2002), essa definição oferece um
conceito abrangente, em vez de estabelecer uma regra fixa. Surge, então, a
necessidade de entender como a sustentabilidade se apoia no tripé composto por
economia, meio ambiente e sociedade, como sugerido pela Figura 3.
59
Figura 3 Tripé para a sustentabilidade
Conforme proposta de Balkema, et al. (2002), sustentabilidade econômica
refere-se a algo que se paga, ou seja, custos menores que benefícios, realizado
através da alocação e distribuição ótima dos recursos escassos, visando a melhorar
o bem-estar e a satisfação das necessidades humanas. Com relação ao aspecto
ambiental, busca-se a capacidade do ambiente de sustentar os modos de vida
humana. Para tal, é necessário usar os recursos de maneira eficiente, a fim de
perpetuar o ciclo de oferta de recursos e absorção de emissões. Finalmente, a
dimensão sociocultural visa atender às necessidades humanas socioculturais e
espirituais de maneira igualitária, tendo em conta o papel da moral, dos
relacionamentos e das instituições na vida do ser humano.
2.3.2 Sustentabilidade do tratamento de água
Como visto na discussão do tripé da Figura 3, a sustentabilidade de um
processo pode ser abordada por diferentes ângulos. Entretanto, devido à inegável
correlação entre sustentabilidade e passagem do tempo, mais especificamente,
longevidade, um processo só pode ser caracterizado como sustentável se analisado
em retrospectiva (COSTANZA e PATTEN, 1995). Portanto, é necessário estabelecer
critérios que permitam analisar um processo durante seu funcionamento, a fim de
gerar previsões a respeito da sustentabilidade do mesmo. Isto é, todas as
observações serão apenas hipóteses sobre a perpetuidade do sistema, ainda que
bem fundamentadas.
Vale apontar que um sistema ou processo sustentável é aquele que alcança a
expectativa de vida estabelecida no início de seu funcionamento. A imortalidade do
Econômico
Ambiental Socio- cultural Suportável
Viável Equitativo
Sustentável
60
sistema impede que ele evolua, uma adaptação natural às mudanças trazidas pelo
tempo. A análise de sustentabilidade deve, portanto, diferenciar entre mudanças que
ocorrem naturalmente e mudanças que diminuem o tempo de vida de um processo.
São essas últimas que, ao encurtar a longevidade do sistema, reduzem também sua
sustentabilidade (COSTANZA e PATTEN, 1995).
Balkema, et al. (2002) apontam que, durante o processo de escolha de
tecnologia, é desejável que exista mais de uma opção de tecnologia sustentável e
que sejam flexíveis às mudanças trazidas pelo tempo. Além disso, parte da
sustentabilidade da tecnologia escolhida é definida pelo impacto que ela tem no
ambiente do qual retira seus recursos. Isto é, o processo não será sustentável se
ameaçar a quantidade e qualidade, incluindo diversidade, dos recursos disponíveis.
Em outras palavras, a tecnologia escolhida não deve agredir o meio ambiente a
ponto de seus efeitos colaterais causarem mais dano do que seu produto gera
benefícios.
2.3.2.1 Metodologias para determinação da sustentabilidade
Algumas metodologias usadas para a determinação da sustentabilidade de
um processo são mostradas na Tabela 8, juntamente com as vantagens e
desvantagens percebidas (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002), (MUGA e MIHELCIC,
2008).
Tabela 8 Metodologias de avaliação da sustentabilidade (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002)
Metodologia Vantagens Desvantagens
Análise
econômica
Mede custos e benefícios em
termos de custo no ciclo de vida e
custo total
A maioria dos custos e benefícios
ambientais é difícil de quantificar
(Cont.)
61
Tabela 8 (Cont.)
Metodologia Vantagens Desvantagens
Avaliação do
ciclo de vida
Ampla aplicação e metodologia
bem definida
Avalia impactos ambientais
referentes, entre outras, às
categorias de:
danos aos recursos
potencial para contribuir para o
aquecimento global
danos à camada de ozônio
acidificação
ecotoxicidade
eutrofização
degradação do terreno
Requer volume alto de dados
Classificação dos dados nas
categorias leva à perda de foco no
que é relevante ao tratamento da
água
Requer outros indicadores para
medir a sustentabilidade, já que se
limita a um conjunto de aspectos
técnicos e ambientais
Análise do
sistema geral
Usa um conjunto multidimensional
de aspectos para avaliar o sistema
como um todo
Pode ser usado para analisar uma
grande quantidade de sistemas
Difícil comparar sistemas que
foram avaliados com objetivos,
escopos e premissas diferentes
Pela Tabela 8, vê-se que as metodologias envolvem diferentes tipos de
indicadores, que estão relacionados a variados aspectos do processo em estudo.
Sendo assim, para a análise de um processo de saneamento, devem-se usar
indicadores apropriados. A seção 2.3.2.2 abaixo apresenta algumas características
sobre indicadores de sustentabilidade.
2.3.2.2 Indicadores de sustentabilidade
Como sugerido pela definição de sustentabilidade de 1987, os indicadores
pertencem às categorias econômica, ambiental e sociocultural, que determinam a
eficiência de um processo (MUGA e MIHELCIC, 2008). Além dessas, sugere-se
ainda a inclusão da categoria funcional, que aponta a eficácia do processo (ver
Tabela 9). De fato, não é útil escolher uma solução que funcione eficientemente se,
da perspectiva do usuário final, o resultado não é satisfatório (BALKEMA, PREISIG,
et al., 2002).
62
Uma boa orientação para a escolha dos indicadores de um estudo é dada
pelo UNDPCSD, em Muga e Mihelcic (2008). Os indicadores, de forma geral, devem:
i. ter embasamento científico sólido e reconhecimento amplo da
comunidade científica;
ii. ser transparentes, isto é, sua seleção, cálculo e significado devem ser
compreensíveis mesmo para leigos;
iii. ser relevantes, isto é, devem cobrir aspectos essenciais do
desenvolvimento sustentável;
iv. ser quantificáveis, isto é, ser baseados em dados já existentes e/ou
dados que são de fácil acesso e atualizáveis;
v. ter sua quantidade limitada de acordo com o propósito ao qual servem.
Balkema et al. (2002) sugere os indicadores identificados na Tabela 9.
Tabela 9 Indicadores de sustentabilidade (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002)
Descrição Quantificação Exemplos de indicadores
Fu
ncio
na
l Definem requerimentos
técnicos mínimos do
sistema ou processo
Medição Durabilidade, robustez, adaptabilidade,
necessidade de manutenção,
segurança, sensibilidade a falhas
Ec
on
ôm
ica Aspectos monetários da
solução. Geralmente
decisivos em uma
escolha prática
Medição;
cálculos
Custos de investimento, operação e
manutenção, acessibilidade financeira,
custos com mão de obra
Am
bie
nta
l
Impacto do processo no
meio ambiente
Medição Utilização ótima dos recursos (ex. água
e energia), área necessária, fertilidade
do terreno, biodiversidade da região,
emissões (ex. efluentes, lodo e gases),
DBO/DQO, concentração de agentes
patogênicos
So
cio
cu
ltu
ral
Impacto na sociedade,
especialmente se existe
um usuário final
Difícil de quantificar
Medição; cálculo
de custo;
questionários e
pesquisas de
opinião
Requerimentos institucionais (do país ou
região), aceitação, expertise local,
estímulo ao comportamento sustentável
(conscientização, participação e
responsabilidade)
63
É importante mencionar que, na avaliação de sustentabilidade de uma
tecnologia, as dimensões citadas acima não podem ser avaliadas separadamente,
mas sim como um conjunto de fatores que deve ser otimizado. Sendo assim, essa
escolha torna-se um problema multidimensional de otimização, que pode incluir os
seguintes objetivos (BALKEMA, PREISIG, et al., 2002):
minimizar custos;
minimizar consumo de energia;
minimizar área necessária;
minimizar perda de nutrientes;
minimizar produção de resíduos;
maximizar produtos: água limpa, biogás, biomassa, composto orgânico,
fertilizantes;
maximizar a pontuação de indicadores qualitativos, por exemplo,
aceitação social e requerimentos institucionais.
Alguns dos objetivos competem entre si, como redução do custo e área,
enquanto se maximiza o desempenho, de maneira que alguns objetivos só podem
ser atingidos à custa de outros. Dessa forma, pode-se atribuir um peso para cada
indicador, buscando minimizar a soma normalizada dos resultados (BALKEMA,
PREISIG, et al., 2002).
Deve-se fazer uma ressalva com relação à escolha dos indicadores. Devido à
diversidade geográfica e demográfica das áreas urbanas, rurais e peri-urbanas, nem
todos os indicadores de sustentabilidade serão apropriados para qualquer localidade
que se deseja avaliar. Sendo assim, é importante que o indicador escolhido refira-se
a objetivos específicos, seja capaz de indicar sucesso ou falha na busca desse
objetivo e seja sensível e robusto.
Durante esta pesquisa, percebeu-se que o estudo de um processo de
saneamento poderia envolver inúmeros indicadores de sustentabilidade, alguns,
inclusive, de difícil medição, como os socioculturais. Porém, considerando os
conceitos vistos na seção 2.2 e devido à natureza dos processos de tratamento de
esgoto, entende-se que as dimensões funcional e ambiental têm papel
particularmente relevante para este estudo. A primeira, por englobar os resultados
práticos do tratamento, isto é, se a água está, de fato, limpa; a segunda, por refletir a
64
inevitável interação entre a estação de tratamento e o meio ambiente, isto é, o
impacto de uma estação de grande porte, consumindo energia, com fluxo constante
de material orgânico e despejo em corpos hídricos. Além disso, viu-se na seção
2.2.4.4, sobre tecnologias disponíveis para o tratamento de esgotos, que aquelas
duas dimensões não são independentes. Ou seja, pode-se buscar um equilíbrio
entre variáveis de eficácia e impacto ambiental de acordo com o objetivo do
tratamento e a realidade do local que abrigará a estação. Sendo assim, os capítulos
a seguir darão ênfase aos indicadores funcionais e ambientais. Demais indicadores,
como custos, por exemplo, serão agrupados na categoria “outros”.
2.4 Resumo da revisão de literatura
Esta seção destina-se a resumir os conceitos apresentados durante a revisão
de literatura. Além disso, são identificados os elementos-chave da análise
multiobjetivo e multicritério, assim como os critérios encontrados na literatura, que
serão usados no questionário da pesquisa de campo.
2.4.1 Elementos-chave
Na seção 2.1.3.2, viu-se a necessidade de especificar alguns elementos-
chave de um sistema para a elaboração do problema na análise multicritério e
multiobjetivo. Seguindo essa orientação e a fim de contextualizá-la para a pesquisa
atual, a Tabela 10 abaixo identifica os elementos pertinentes à realidade da
pesquisa sobre escolha tecnológica para estações de tratamento de esgotos.
65
Tabela 10 Etapas do método multiobjetivo e multicritério
Etapa Contextualização na pesquisa
Definição de
atores
Empresas de tratamento de esgotos
Governo
Especialistas (técnicos)
Órgãos ambientais
Consumidor final (no caso de reuso)
Identificação dos
objetivos de cada
ator
A pesquisa agrupará os entrevistados de acordo com as
características de ramo abaixo, o que pode afetar o agrupamento dos
objetivos. Acredita-se que os seguintes elementos serão
identificados:
Setor Público: interesses da sociedade, como nível de emprego, e
crescimento econômico
Setor Privado: interesses dos investidores, como lucro, e adequação
às leis
Decisores: alinhamento com as diretrizes da empresa
Não-decisores: alinhamento com as diretrizes da empresa e com
decisores
Profissionais: alinhamento com as diretrizes da empresa
Acadêmicos: pesquisa para desenvolvimento tecnológico
Agrupamento dos
objetivos
Eficácia do processo
Impacto ambiental do processo
Outros objetivos (ex. otimização de custos)
Critérios de
decisão
Descritos na Tabela 11
Para esta pesquisa, optou-se por focar nas opiniões de especialistas,
representados por acadêmicos e profissionais do setor de saneamento. Porém,
entende-se que existem inúmeras oportunidades para estudos futuros com os
demais atores do processo.
2.4.2 Critérios de decisão
De acordo com a literatura consultada, podem-se considerar os critérios da
Tabela 11 para a avaliação de processos de tratamento de esgotos. Nessa listagem,
foram incluídas as categorias de cada critério, de maneira a identificar aqueles
referentes à eficácia e ao impacto ambiental do processo de tratamento.
66
Tabela 11 Critérios para avaliação tecnológica
Fonte Critério Categoria
(STOBAUGH e WELLS JR., 1984)
Relação entre custos de operação e custos totais Outros
Preferência por automatização Outros
Erro humano durante a produção Eficácia
Falta de assistência técnica para uma tecnologia Outros
Adaptabilidade da tecnologia à mão de obra Outros
Escolha de tecnologia diferente daquela da empresa líder na indústria
Outros
Influência governamental (ex. incentivos fiscais) Outros
(UNICAMP, 2005)
Área disponível para construção Impacto ambiental
Topografia da região e bacias de drenagem Eficácia
Volume diário tratado e variação sazonal da vazão Eficácia
Características do corpo receptor Impacto ambiental
Grau de instrução necessário para a mão de obra Impacto ambiental
Custo dos insumos (ex. energia elétrica, terra) Outros
Clima e variações de temperatura Eficácia
Possibilidade de reaproveitamento dos resíduos gerados
Impacto ambiental
(MUGA e MIHELCIC, 2008)
Investimento inicial Outros
Custo de operação e manutenção Outros
Tamanho da comunidade atendida Impacto ambiental
Estética (odor) Impacto ambiental
Tamanho da equipe necessária para operar Impacto ambiental
Consumo de energia Impacto ambiental
(VON SPERLING e CHERNICHARO,
2002) (OLIVEIRA e VON SPERLING, 2008)
Eficiência na remoção de DBO Eficácia
Eficiência na remoção de DQO Eficácia
Eficiência na remoção de sólidos em suspensão Eficácia
Eficiência na remoção de amônia Eficácia
Eficiência na remoção de nitrogênio total Eficácia
Eficiência na remoção de fósforo total Eficácia
Eficiência na remoção de coliformes fecais Eficácia
Eficiência na remoção de metais pesados Eficácia
Eficiência na remoção de químicos dissolvidos Eficácia
(NEDER, CARNEIRO, et al., 2001)
Resistência a variações de carga Outros
(CARNEIRO, BARBOSA e SOUZA,
2001)
Produção de resíduos sólidos (ex. lodo) Impacto ambiental
Confiabilidade no sistema (riscos de falha) Outros
Grau de simplicidade de operação e manutenção Outros
Grau de simplicidade de implantação e ampliação Outros
Aceitação/rejeição pública Impacto ambiental
(SOUZA, CORDEIRO NETTO e LOPES JR,
2001)
Confiabilidade no fornecimento de energia Outros
Utilização de recursos materiais locais Outros
(BROSTEL, NEDER e SOUZA, 2001)
Custo de operação/m3 tratado Outros
Custo de operação/kg de DQO removida Outros
(Cont.)
67
Tabela 11 (Cont.)
Fonte Critério Categoria
(BROSTEL, NEDER e SOUZA, 2001)
(cont.)
Custo de implantação/habitante (projeto) Outros
Custo de operação/habitante (atual) Outros
Custo de manutenção/habitante (atual) Outros
Consumo de energia/kg DQO removida Impacto ambiental
Número de motores elétricos/1000 habitantes (projeto) Outros
Número de intervenções de manutenção/ 1000 habitantes (projeto)
Outros
Área da ETE/1000 habitantes (projeto) Impacto ambiental
Geração de CO2 Impacto ambiental
Efeitos para a biodiversidade do local de implantação da ETE
Impacto ambiental
(SOUZA, CORDEIRO e SILVA, 2009)
Geração de renda pelo aproveitamento dos resíduos sólidos
Outros
Impactos sociais (melhorias na qualidade de vida, criação de empregos, etc.)
Outros
O capítulo a seguir detalha a metodologia adotada para coleta de dados,
assim como para análise das informações adquiridas.
68
3 Metodologia
A fim de entender melhor o processo de tomada de decisão por profissionais
e acadêmicos do setor de saneamento, mais especificamente aqueles voltados para
tecnologia de ETEs, buscou-se uma forma de coletar essas opiniões de maneira que
possibilitasse a comparação e análise estatística das mesmas. O foco das análises
seria a prioridade atribuída aos critérios que influenciam a decisão e se isso é
impactado também por características de ramo, como nível hierárquico em termos
de poder de decisão, setor onde trabalha e participação no mercado ou na
academia. Sendo assim, utilizou-se uma survey, conduzida eletronicamente, com
posterior análise de dados pelo método de aglomerados.
3.1 Coleta de dados
Nesta seção, apresentam-se a metodologia survey e algumas de suas
características, pertinentes à pesquisa em questão.
3.1.1 A metodologia survey
A pesquisa survey pode ser descrita como a obtenção de dados ou
informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de
pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um
instrumento de pesquisa, normalmente um questionário (TANUR, 1982). Além disso,
é comumente do interesse do pesquisador produzir descrições quantitativas de uma
população (FREITAS, OLIVEIRA, et al., 2000).
Como indicado por Freitas et al. (2000), a survey é apropriada como método
de pesquisa quando:
se deseja responder questões do tipo “o quê?”, “por quê?”, “como?” e
“quanto?”, ou seja, quando o foco de interesse é sobre “o que está
acontecendo” ou “como e por que isso está acontecendo”;
o ambiente natural é a melhor situação para estudar o fenômeno de
interesse;
o objeto de interesse ocorre no presente ou no passado recente.
Pinsonneault e Kraemer (1993) classificam uma survey quanto ao seu
propósito em três tipos:
69
explanatória, que tem como objetivo testar uma teoria e as relações
causais, estabelecendo a existência de relações causais, mas também
questionando por que a relação existe;
exploratória, cujo objetivo é familiarizar-se com o tópico ou identificar
os conceitos iniciais sobre um tópico; dar ênfase na determinação de
quais conceitos devem ser medidos e como devem ser medidos; e
buscar descobrir novas possibilidades e dimensões da população de
interesse;
descritiva, que busca identificar quais situações, eventos, atitudes ou
opiniões estão manifestos em uma população; descreve a distribuição
de algum fenômeno na população ou entre os subgrupos da população
ou, ainda, faz uma comparação entre essas distribuições. Neste tipo de
survey, a hipótese não é causal, mas tem o propósito de verificar se a
percepção dos fatos está ou não de acordo com a realidade.
De acordo com Sampieri et al. (1991), a coleta de dados pode ser:
longitudinal, quando realizada ao longo do tempo em períodos ou pontos
especificados, buscando estudar a evolução ou as mudanças de determinadas
variáveis ou, ainda, as relações entre elas; ou transversal, quando a coleta dos
dados ocorre em um só momento, pretendendo descrever e analisar o estado de
uma ou várias variáveis em um dado momento.
3.1.1.1 Amostragem
Ao selecionar-se uma amostra, busca-se representar a população sendo
pesquisada, porém, nenhuma amostra é perfeita e geralmente apresenta algum grau
de viés. O processo de amostragem é composto pela definição da população-alvo,
pelo contexto de amostragem, pela unidade de amostragem, pelo método de
amostragem, pelo tamanho da amostra e pela seleção da amostra ou execução do
processo de amostragem (FREITAS, OLIVEIRA, et al., 2000).
Uma amostra probabilística oferece a todos os elementos da população a
mesma chance de serem escolhidos, resultando em uma amostra representativa da
população. Isso implica em utilizar a seleção randômica ou aleatória dos
respondentes, eliminando a subjetividade da amostra. Já a amostra não
probabilística é obtida a partir de algum tipo de critério, fazendo com que os
70
elementos da população não tenham a mesma chance de ser selecionados. Elas
podem ser subdivididas em seis tipos:
por conveniência – os participantes são escolhidos por estarem
disponíveis;
mais similares ou mais diferentes – os participantes são escolhidos por
julgar-se que representam uma situação similar ou, o inverso, uma
situação muito diferente;
por quotas – os participantes são escolhidos proporcionalmente a
determinado critério e a amostra é composta por subgrupos;
bola de neve – os participantes iniciais indicam novos participantes;
casos críticos – os participantes são escolhidos em virtude de
representarem casos essenciais ou chave para o foco da pesquisa;
casos típicos – os participantes são escolhidos por representarem a
situação típica, não incluindo extremos.
Quanto ao tamanho da amostra, Freitas et al. (2000) afirma que é o número
de respondentes necessário para que os resultados obtidos sejam precisos e
confiáveis e que seu aumento diminui o erro. Na mesma publicação, Moscarola
menciona a lei dos grandes números, sugerindo que uma amostra menor que 30
observações pode levar tanto a resultados errôneos e defasados quanto àqueles
que se aproximam da realidade.
Um dos instrumentos que podem ser utilizados para a realização da survey é
o questionário, tendo como estratégia de aplicação a entrevista pessoal e o envio
pelo correio, por exemplo. Na escolha da estratégia de aplicação deve-se atentar
para o custo, o tempo e, também, para a forma que venha a garantir uma taxa de
resposta aceitável para o estudo (FREITAS, OLIVEIRA, et al., 2000).
Atualmente, a internet é uma forma prática de realizar a survey, seja por
correio eletrônico ou questionários eletrônicos, disponibilizados inclusive em sites
especializados para coleta e análise de dados. Porém, apesar de já ser usada para
pesquisas desse gênero e de oferecer inúmeras oportunidades para pesquisadores,
a abordagem em si, isto é, a coleta de dados pela internet, foi pouco estudada. Com
isso, permanecem em aberto questões referentes à validade e adequação do
método, às melhores condições para uso da internet, às possíveis melhorias na
71
técnica, e à reação dos respondentes ao uso da internet para uma survey. Um dos
principais problemas com o uso dessa ferramenta é o viés gerado na amostra e nas
respostas uma vez que a coleta de dados fica restrita aos entrevistados que têm
acesso a computadores, sabem usar a ferramenta de respostas e sentem-se
confortáveis com pesquisas pela internet (ZHANG, 2000).
3.1.2 A pesquisa atual
Considerando as classificações citadas anteriormente, a atual pesquisa tem
um propósito de caráter descritivo, com coleta de dados corte-transversal, pois foi
realizada de uma só vez, ao longo de três meses.
Devido à abrangência e ao tamanho da população de profissionais e
acadêmicos do setor de saneamento e à falta de seu mapeamento completo, seria
difícil realizar a amostragem probabilística. Portanto, optou-se pela amostra não
probabilística, o que acarreta resultados não generalizáveis, fato que deve ser
mantido em mente durante todo o processo de análise. Dos tipos de amostras não
probabilísticas mencionados, considera-se que a da atual pesquisa seja uma
amostra por conveniência com algum efeito bola de neve, pois se pediu a cada
entrevistado que divulgasse o questionário para colegas e conhecidos do setor.
Devido à quantidade de entrevistados potenciais, buscou-se entrar em
contato com alguns indivíduos que seriam as “sementes” dos grupos de acadêmicos
e profissionais. A partir desses indivíduos, criar-se-ia um efeito cascata para os
demais entrevistados. Os primeiros contatos realizados foram com autores de
artigos usados durante a pesquisa, alguns dos quais permaneciam na academia e
outros que atuavam como profissionais de saneamento. Acredita-se que o fato
desses contatos serem autores ativos recentemente pôde conferir maior
credibilidade às opiniões sobre escolha de tecnologia, isto é, era provável que esses
entrevistados estivessem em contato com tecnologias e desafios atuais no setor,
podendo opinar de maneira realista. Foram contatados também representantes de
empresas privadas e públicas, cujos contatos estavam disponíveis na internet, pela
página eletrônica da empresa. O público-alvo foram engenheiros ambientais,
químicos e de saneamento, sanitaristas e professores da área de processos hídricos
e engenharia civil.
72
3.1.3 Conteúdo do questionário usado na e-survey
O questionário utilizado na entrevista continha quatro blocos, conforme
abaixo:
Dados pessoais, para mapeamento demográfico das respostas recebidas.
Questão 1: A seu ver, qual é o principal objetivo de uma estação de
tratamento de esgotos (ETE)?
Questão 2: Quais dos critérios apresentados são importantes no processo de
escolha de tecnologia para tratamento de esgoto? (marcar no quadro)
Questão 3: Existem outros critérios que deveriam influenciar o processo de
escolha de tecnologia para ETEs?
A primeira e terceira questões aceitavam respostas de texto livre, enquanto a
segunda pedia que o entrevistado optasse por incluir, não incluir ou permanecer
indeciso sobre cada critério. Os critérios encontrados na literatura e selecionados
para compor o quadro apresentado aos entrevistados foram aqueles da Tabela 11,
na seção 2.4.2.
Além de possibilitar o mapeamento demográfico, os dados pessoais
possibilitaram a eliminação de duplicatas, uma vez que os entrevistados poderiam
acessar o questionário mais de uma vez. Além disso, caso houvesse erros ou
problemas técnicos, seria possível contatar o respondente, oferecendo outra
oportunidade para participar da pesquisa.
3.2 Análise de dados
A etapa de análise dos dados pretendia traçar um perfil de escolha
tecnológica. Inicialmente, poder-se-ia observar o percentual de inclusão de critérios
de cada categoria, organizados em tabelas descritivas. Porém, como visto na seção
3.1.3 e detalhado no Apêndice A, o questionário utilizado propunha-se à coleta de
uma quantidade razoável de informações pessoais e variáveis pertinentes à decisão
tecnológica. Sendo assim, a fim de utilizar tais dados de maneira científica, optou-se
por agrupar os entrevistados de acordo com suas respostas referentes à escolha de
tecnologia e, em paralelo, identificar as características pessoais comuns a um grupo
com escolhas semelhantes. Para esse refinamento da análise, propôs-se então a
aplicação do método de aglomeração não hierárquica, isto é, alocação das
73
observações da amostra em um número pré-determinado de grupos. À continuação,
explicam-se as premissas e métodos utilizados para trabalhar os dados.
3.2.1 Percentual de inclusão
A primeira premissa que se aplica ao estudo é que um entrevistado dá mais
importância a uma ou outra categoria caso inclua em sua decisão mais critérios
daquela categoria. Como o número de critérios não é igual entre as três categorias
(Tabela 11), optou-se por comparar o percentual de inclusão em vez de o número
absoluto. Dessa forma, padroniza-se a base de comparação.
Calcula-se o percentual de critérios incluídos em cada categoria por
entrevistado. Ou seja:
Esse tipo de tratamento das observações é relativamente simples,
considerando apenas os critérios que, de fato, afetam a decisão e excluindo as não
inclusões e indecisões da avaliação. Assume-se que, para o entrevistado, são os
critérios incluídos que devem estar claros e ser conhecidos e pesquisados pelo
profissional ou acadêmico, enquanto outros critérios não teriam impacto na escolha
de tecnologia.
3.2.2 Análise de aglomerados
Como foi mencionado, o agrupamento dos entrevistados em categorias
baseado no percentual de inclusão de critérios poderia requerer aprofundamento.
Para isso, usou-se a aglomeração estatística.
Segundo Sharma (1996), a análise de aglomerados é uma técnica usada para
combinar observações em grupos de maneira que:
1. Cada aglomerado é homogêneo ou compacto com respeito a certas
características. Ou seja, as observações em cada aglomerado são
parecidas entre si.
2. Cada aglomerado deve ser diferente dos outros aglomerados com
respeito às mesmas características. Ou seja, as observações de um
aglomerado devem ser diferentes das observações de outros
aglomerados.
74
Nas palavras de Jain e Dubes (1988), a questão de aglomeração pode ser
descrita como, dadas n observações em um espaço d-dimensional, a determinação
de partições das observações em K grupos, de maneira que as observações de um
grupo são mais semelhantes entre si do que às observações de outro aglomerado.
A definição de semelhança ou homogeneidade varia de análise para análise e
depende dos objetivos do estudo (SHARMA, 1996). Como sugerido pelo mesmo
autor, assim como por Jain e Dubes (1988), as observações de uma análise de
aglomerados podem ser distribuídas por um espaço d-dimensional, onde d é o
número de variáveis ou características usadas para descrever os elementos.
Pode-se estabelecer, portanto, que as categorias de critérios são equivalentes
a três eixos, formando um espaço tridimensional, enquanto a inclusão de seus
critérios resulta em coordenadas nesse espaço, isto é, quanto mais critérios
incluídos em uma categoria, mais alto o valor da coordenada. A Figura 4 exibe um
exemplo da distribuição espacial de uma coleta hipotética de dados. (Todas as
imagens em 3D foram obtidas com o software Graphis2.)
Figura 4 Exemplo do gráfico em R3
Sendo assim, para a pesquisa em questão, sugere-se estabelecer
semelhança com base nas opiniões referentes aos critérios de decisão, assim como
nas características pessoais de ramo, setor e hierarquia. Ou seja, entrevistados que
tenham considerado o mesmo número de critérios de uma categoria são
semelhantes entre si. Vale lembrar que, nesse momento, não se considera quais
critérios foram incluídos, mas sim o total de critérios para a categoria.
2 http://www.kylebank.com/
75
Nesse cenário, a semelhança entre observações é medida pela distância
euclidiana quadrada entre os pontos, que, no caso de um espaço bidimensional, é
dada por:
Tendo estabelecido o parâmetro de comparação, aplicou-se um método
hierárquico de aglomeração dos dados, seguido de um método não hierárquico,
conforme sugerido na literatura relacionada.
3.2.2.1 Método hierárquico de aglomeração
A distância euclidiana, conforme apresentada anteriormente, permite
identificar similaridade entre os pontos da amostra e agrupá-los, baseado nas
menores distâncias. Torna-se necessário então determinar a distância entre grupos,
a fim de juntá-los novamente, formando aglomerados. Porém, alguns grupos terão
mais de um componente, de maneira que surge a necessidade de determinar regras
ou métodos para calcular a distância entre tais aglomerados. (SHARMA, 1996)
Através da aplicação do método hierárquico, obtém-se um dendrograma
resultante, que mostra o agrupamento de componentes passo a passo, indicando a
distância entre aglomerados no momento da junção. Este resultado atua então como
semente para o método não hierárquico, sugerindo a quantidade de aglomerados
existentes na amostra.
Para esta pesquisa, escolheu-se o método hierárquico de Ward, que trabalha
com a maximização da homogeneidade intra-aglomerado.
3.2.2.2 Método de Ward
Na busca pelo agrupamento de componentes com maior similaridade, o
método de Ward usa a soma de quadrados intra-aglomerado (within-cluster sum of
squares) como medida de homogeneidade(SHARMA, 1996). Ou seja, o método
busca minimizar o total da soma de quadrados intra-aglomerado. O valor final obtido
é chamado de error sum of squares (ESS) e reflete a perda de informação ao
agrupar indivíduos em um aglomerado. Portanto, o ideal da função objetivo do
método em questão é um ESS igual a ou mais próximo possível de zero (WARD,
1963).
O ESS de um aglomerado é calculado conforme a expressão abaixo:
76
onde xi é o valor do i-ésimo indivíduo da amostra e n é o tamanho da amostra.
Além disso, o valor do ESS para k grupos é dado pela soma dos ESS de cada
um dos k aglomerados(WARD, 1963). Com isso, é possível identificar a solução com
a quantidade de aglomerados que fornece o menor ESS total para a amostra em
questão.
3.2.2.3 Método não hierárquico de aglomeração
Como pode ser visto em Sharma (1996) e Jain e Dubes (1988), a
aglomeração não hierárquica consiste em dividir a amostra em k partes, onde cada
parte representa um aglomerado. Sendo assim, o número de aglomerados deve ser
pré-determinado. Em seguida, procede-se à alocação de indivíduos aos respectivos
aglomerados, conforme a rotina abaixo:
1. Selecionar k centroides ou sementes iniciais, onde k é o número de
aglomerados desejado;
2. Designar cada observação ao aglomerado mais próximo (distância
euclidiana quadrada);
3. Redesignar ou realocar cada observação para um dos k aglomerados
de acordo com uma regra de parada pré-determinada;
4. Parar caso não haja realocação das observações ou se a
redesignação satisfaz os critérios da regra de parada. Caso contrário,
voltar para o passo 2;
5. Ajustar o número de aglomerados fundindo ou separando
aglomerados existentes ou removendo outliers.
A maioria dos algoritmos não hierárquicos difere com relação ao método
usado para obter os centroides ou sementes iniciais de cada aglomerado e/ou à
regra para redesignação das observações. Dentre os métodos possíveis está, por
exemplo, selecionar a primeira observação não nula como centroide do primeiro
aglomerado e, para o segundo aglomerado, selecionar a observação que está
distante da primeira seleção por uma distância maior que um valor pré-determinado.
77
Alternativamente, pode-se também usar sementes fornecidas pelo pesquisador.
(SHARMA, 1996)
A próxima etapa do método é a alocação das observações a seus respectivos
centroides, isto é, àquele que está mais próximo. Novamente, existem várias regras
para alocação das observações, diferindo principalmente no momento em que o
cálculo do centroide é atualizado, isto é, após o término da alocação de todas as
observações ou após a alocação de cada observação. Essa atualização de
centroides é feita até que um critério de convergência seja alcançado. (SHARMA,
1996)
Para este estudo, selecionou-se o algoritmo K-means, ou K-médias, que
atualiza os centroides após toda a alocação ter sido completada. Mais detalhes
desse método são mostrados a seguir.
3.2.2.4 K-means: algoritmo de aglomeração
O algoritmo de aglomeração K-means foi introduzido por MacQueen em 1967,
destacando-se pela facilidade de programação e economia computacional, de
maneira que era possível processar grandes amostras em um computador
(guardadas as devidas proporções da tecnologia computacional disponível na
época).
O procedimento K-means consiste em começar com k grupos, cada qual
contendo apenas um ponto aleatório da amostra, e, em seguida, adicionar cada
novo ponto ao grupo cujo centro (média) estiver mais próximo. Quando um ponto é
adicionado a um grupo, sua média (centroide) é recalculada para ajustar-se a todos
os componentes do grupo. Dessa maneira, tem-se sempre uma quantidade k de
médias (centroides) e, com isso, o termo K-médias (MACQUEEN, 1967). Na próxima
iteração, os centroides serão recalculados, tanto do aglomerado que recebe novos
componentes quanto daquele ao qual pertenciam anteriormente, caracterizando uma
novidade no método de MacQueen. Mas também, o algoritmo não permite que o
número inicial de aglomerados mude, como proposto no passo 5 de Jain e Dubes
(1988). Isso se deve ao fato de que, caso um aglomerado haja apenas dois
componentes e um deles seja realocado, o restante se torna o único componente e,
com isso, coincide com o centro de massa. A partir daí, sua distância ao centro é
zero e ele não será mais realocado a outro aglomerado. (KAUFMAN e
ROUSSEEUW, 2005)
78
A aplicação mais óbvia da rotina K-means é o agrupamento por semelhança,
ou aglomeração. Porém, o objetivo do método não é encontrar um agrupamento
definitivo e único, mas sim auxiliar o pesquisador a compreender qualitativa e
quantitativamente uma amostra grande de dados d-dimensionais através de bom
agrupamento por semelhança. O método deve então ser usado conjuntamente com
teoria e intuição. (MACQUEEN, 1967)
Como visto anteriormente, o método segue uma rotina de passos iterativos
que buscam otimizar a distância entre o centro de massa do aglomerado e seus
componentes. Para tal, necessita-se de uma semente para os primeiros centros de
massa da amostra, que é fornecida pelo resultado da aglomeração hierárquica. Isto
é, uma vez que a aglomeração hierárquica agrupa os indivíduos em k aglomerados,
o método Kmeans calcula a média das coordenadas e define o centro de massa
original. O método então recalcula as distâncias entre indivíduos e centros de
massa, a fim de realocar aqueles cuja distância ao centro de massa pode diminuir.
Uma vez completadas as realocações, o método calcula novamente os centros de
massa e repete o procedimento.Ou seja, a atualização dos centroides se dá a cada
iteração e o resultado final é obtido quando todos os indivíduos permanecem no
mesmo aglomerado. Para evitar loops infinitos, usa-se um número máximo de
iterações igual a dez mil.
Como mencionado por Sharma (1996), este algoritmo é sensível à escolha
das sementes, que sempre dependem das observações que compõem a amostra.
Por isso, sua aplicação pode resultar em otimização local, uma vez que várias
partições (sementes) iniciais podem ser usadas. Segundo o autor, os resultados são
melhores quando se usa um método hierárquico para definição dos centroides
iniciais.
Com relação ao número de iterações, este é um fator crucial para o resultado
final e pode ser definido como um número fixo, mas poderia ser também uma função
do percentual de alteração das distâncias entre uma iteração e outra, por exemplo.
Finalmente, é necessário ter um número máximo de iterações, a fim de evitar loops
de soluções.
3.2.3 Outras análises: objetivos e critérios
A última parte da metodologia é dedicada ao estudo das respostas de texto
livre, isto é, os objetivos de uma estação de tratamento e os critérios que deveriam
79
ser incluídos no quadro de referência. Além disso, propõe-se olhar brevemente para
os critérios mais incluídos, menos incluídos e maiores causadores de indecisão, a
fim de buscar algum tipo de relação entre eles. Propõem-se, portanto, três análises,
esclarecidas a seguir.
Para a análise dos textos de campo livre, adotou-se a abordagem de análise
de conteúdo, como descrita por Amado (2000). Pelas colocações do autor, o estudo
em questão se caracteriza como estrutural, pois busca responder à questão: com
que frequência ocorrem determinados objetos? Isto é, analisam-se as ocorrências
de palavras ou expressões-chave, mais especificamente de substantivos e adjetivos,
que se julga serem os principais representantes dos temas representados pelas
categorias de critérios, i.e., eficácia do tratamento, impacto ambiental da estação e
outros aspectos (custo, empregabilidade, critérios do setor industrial, etc.) Cada
palavra seria registrada como uma ocorrência dentro do texto do entrevistado,
contando-lhe um ponto para a categoria da palavra.
As seções abaixo mostram mais detalhe de cada análise complementar ao
estudo de critérios.
3.2.3.1 Análise dos objetivos
O principal papel da pergunta no questionário referente aos objetivos de uma
ETE era identificar elementos que os alinhassem aos critérios de decisão priorizados
pelo entrevistado. Isto é, confirmar que os critérios de decisão sustentam e orientam
o suposto objetivo de quem os usa. Entende-se que o objetivo da ETE seja amplo e
complexo, porém, acredita-se também que a escolha da tecnologia é uma parte
significativa dessa complexidade e merece ser pesquisada.
Investigou-se então se seria possível, através dos elementos encontrados nas
respostas referentes aos objetivos, categorizá-los também e, assim, apresentar
coerência direta com os critérios priorizados pelo entrevistado. Compararam-se os
resultados gerais com aqueles de decisores apenas, buscando padrões específicos
ou hegemonia. Para estudo futuro, levanta-se a possibilidade de procurar
alinhamento entre o objetivo percebido pelo entrevistado e aquele apresentado pela
instituição onde trabalha.
Para categorizar os objetivos, cada resposta em forma de texto livre foi
analisada em busca de palavras ou expressões-chave, que foram então
categorizadas dentre as três opções possíveis – eficácia, impacto ambiental ou
80
“outros”. No Apêndice C, encontra-se a relação de palavras-chave usadas durante a
análise. Fez-se um somatório das palavras ou expressões de cada categoria e
atribuiu-se ao objetivo a categoria com maior contagem de palavras. Vale lembrar
que esse tipo de pontuação permite empates, já que pode haver expressões
referentes a todas as categorias em uma mesma resposta.
3.2.3.2 Outros critérios propostos
O espaço para sugestão de novos critérios de decisão pretende identificar
lacunas no quadro referencial, ou mesmo itens específicos à realidade de alguns
entrevistados, o que poderia ser extrapolado em nova pesquisa para traçar um perfil
de decisão. Semelhante ao campo de objetivos, cada resposta que continha
sugestões teve seu texto analisado, a fim de identificar novos critérios. Além disso,
pretendia-se categorizá-los, identificando:
a necessidade de incluir mais critérios de uma dada categoria, a fim de
aumentar sua prioridade;
uma falta de informação disponível aos tomadores de decisão acerca
de uma categoria específica, dificultando sua priorização durante a
decisão.
a possibilidade de existirem novas categorias de critérios, que não
foram enfatizadas durante a pesquisa, mas que tem igual ou maior
importância durante a escolha de tecnologia.
Deve-se ressaltar a importância do último item, que representaria possíveis
novas dimensões na tomada de decisão. Isto é, a descoberta, através da
investigação da realidade de vários profissionais e acadêmicos, que a escolha de
tecnologia para um sistema do porte de uma estação de tratamento pode ser mais
complexa do que se imagina a princípio.
3.2.3.3 Critérios mais frequentes
Essa análise envolve percentuais absolutos dos julgamentos dos critérios. Por
exemplo, o cálculo percentual de quantas vezes um dado critério foi incluído se dá
pela soma absoluta de suas inclusões dividida pelo total de vezes possíveis de ser
incluído, ou seja, o total de entrevistados que poderiam julgar aquele critério. Sendo
assim:
81
O mesmo cálculo se repete para o caso de não-inclusões e indecisões,
possibilitando identificar os critérios que receberiam menos prioridade, assim como
aqueles que poderiam gerar polêmica ou requerer mais estudo, respectivamente.
A fim de aprofundar a análise dos três tipos de percentuais encontrados,
realizou-se o cálculo novamente considerando apenas as respostas de decisores,
com o intuito de encontrar alinhamento das decisões dos entrevistados,
independente de suas posições hierárquicas, ou identificar uma particularidade de
gerentes e outros tomadores de decisão.
Havendo compreendido as ferramentas e métodos empregados na análise e
disposição dos resultados, pode-se passar à apresentação dos mesmos.
82
4 Resultados
Neste capítulo, apresentam-se os resultados obtidos através da coleta de
dados. O questionário utilizado (Apêndice A) pediu ao entrevistado que julgasse
alguns critérios para tomada de decisão tecnológica. As opções de julgamento foram
“incluir”, “não incluir” e “indeciso”, significando que um dado critério foi considerado,
desconsiderado ou causou dúvida durante a decisão. A opção “indeciso” foi
disponibilizada para evitar que os entrevistados tomassem decisões sobre as quais
não estivessem seguros ou não se sentissem confortáveis. Por exemplo, se um
entrevistado fosse especializado em ETE’s com lagoas, poderia não estar
acostumado a usar o critério “Consumo de energia” e sentir-se-ia inseguro sobre a
decisão binária de incluir ou ignorar esse critério durante a decisão. Sendo assim, a
opção pela indecisão permitiu acomodar esses casos, evitando abandonos do
questionário ou respostas incompletas.
A próxima seção apresenta a análise descritiva e resumida dos dados.
4.1 Análise descritiva
A Tabela 12 resume as respostas coletadas pela survey. Como pode ser
visto, nem todos os contatos foram bem sucedidos (apenas 41%) e nem todos os
retornos foram aproveitados (apenas 34% deles).
Tabela 12 Respostas coletadas
Contagem Taxa de resposta
Contatos válidos realizados 193 -
Respostas totais 79 41% de 193
Respostas válidas 66 84% de 79
Incompletas 13 16% de 79
No questionário, que pode ser visto no Apêndice A, os critérios se distribuíram
em três categorias – Eficácia, Impacto ambiental e “Outros critérios” –, conforme
abaixo, sendo a terceira categoria composta principalmente por critérios de custo e
critérios do setor industrial.
Outros critérios 24 47%
Eficácia 13 25%
Impacto Ambiental 14 27%
Total 51 100%
83
A amostra alcançada se caracteriza conforme as tabelas abaixo, que contêm
características demográficas.
Tabela 13 Caracterização pessoal Tabela 14 Caracterização por região
Características Quantidade Percentual Região Entrevistados
Profissionais 55 83% Sudeste 68%
Acadêmicos 11 17% Sul 13%
Setor Público 29 44% Centro-Oeste 8%
Setor Privado 37 56% Nordeste 7%
Decisores 38 58% Norte 4%
Não-decisores 28 42% Nacional 1%
Os resultados dos julgamentos dos critérios estão resumidos na Tabela 15,
onde se vê a distribuição de preferências por grupo de características. Nessa tabela,
considera-se apenas o percentual de inclusões de critérios em cada categoria. No
caso de empate, criou-se uma categoria “mesclada”3, como Eficácia/Impacto
Ambiental, por exemplo. Vale lembrar que os percentuais equivalem ao tamanho
total da amostra, porém, a distribuição entre grupos de características não foi
homogênea. Por exemplo, a amostra contém mais profissionais que acadêmicos.
Por isso, para efeitos de comparação, deve-se fazer referência também à Tabela 16,
que mostra a quantidade de pessoas alocadas a cada categoria.
Tabela 15 Agrupamento por inclusão de critérios: percentual da amostra
Ramo Setor Hierarquia Efic. IA Outros Efic./
IA
IA/
Outros Todos Total
Acad
ê-
mic
os
Público
Não-
decisor 0% 3% 5% 0% 0% 0% 8%
Decisor 3% 5% 0% 0% 2% 0% 9%
Pro
fis
sio
nais
Privado
Não-
decisor 6% 3% 2% 0% 0% 3% 14%
Decisor 11% 12% 3% 2% 0% 3% 30%
Público
Não-
decisor 9% 11% 0% 0% 0% 2% 21%
Decisor 6% 11% 2% 0% 0% 0% 18%
Total 35% 44% 11% 2% 2% 8% 100%
Efic. = Eficácia
IA = Impacto Ambiental
3 A categoria mesclada Eficácia/Outros não é mostrada na tabela por não conter integrantes.
84
Tabela 16 Agrupamento por inclusão de critérios: quantidade de pessoas
Ramo Setor Hierarquia Efic. IA Outros Efic./
IA
IA/
Outros Todos Total
Acad
ê-
mic
os
Público
Não-
decisor 2 3
5
Decisor 2 3
1
6
Pro
fis
sio
nais
Privado
Não-
decisor 4 2 1 2 9
Decisor 7 8 2 1 2 20
Público
Não-
decisor 6 7
1 14
Decisor 4 7 1
12
Total 23 29 7 1 1 5 66
Efic. = Eficácia
IA = Impacto Ambiental
A Tabela 17 exibe a categorização dos objetivos de uma ETE, segundo
opiniões coletadas. Assim como na Tabela 15, os percentuais representam o
número de respondentes dentro do total da amostra.
Tabela 17 Categorização dos objetivos de uma ETE
Ramo Setor Hierarquia Efic. IA Out. Efic./
IA
Efic./
Out.
IA/
Out. Nenhum Todos Total
Aca
dê
-
mic
os
Público
Não-
decisor 2% 5% 2% 0% 0% 0% 0% 0% 8%
Decisor 3% 0% 0% 2% 0% 5% 0% 0% 9%
Pro
fis
sio
na
is
Privado
Não-
decisor 5% 3% 3% 3% 0% 5% 2% 2% 21%
Decisor 6% 6% 0% 2% 2% 3% 0% 0% 18%
Público
Não-
decisor 3% 6% 0% 0% 2% 3% 0% 0% 14%
Decisor 8% 9% 3% 5% 0% 5% 0% 2% 30%
Total 26% 29% 8% 11% 3% 20% 2% 3% 100%
Efic. = Eficácia
IA = Impacto Ambiental
Out. = Outros
Referente à questão que abordou outros critérios a serem incluídos na
pesquisa, houve um total de 72 propostas (Tabela 18), sendo 44 distintas. Ou seja,
alguns entrevistados propuseram a inclusão dos mesmos novos critérios.
85
Tabela 18 Categorização dos novos critérios propostos
Ramo Setor Hierarquia Efic. Efic./
IA IA Outros Todos Total
Acad
ê-
mic
os
Público
Não-decisor
1
1
Decisor 2
10 14
26
Pro
fis
sio
nais
Privado Não-decisor
4 4 2 10
Decisor 3
2 8 1 14
Público Não-decisor 3
2
5
Decisor 3 1 2 8 2 16
Total 11 1 19 36 5 72
Efic. = Eficácia
IA = Impacto Ambiental
A seguir, passa-se à apresentação dos resultados com mais detalhe, o qual
suscitou o levantamento de hipóteses e questionamentos que são analisados no
próximo capítulo.
4.2 Apresentação da amostra
Ao todo, realizaram-se 219 contatos, incluindo 31 acadêmicos e 188
profissionais. Desse total, 26 retornos foram negativos, informando que não
participariam da pesquisa ou que o contato estava incorreto. Com isso, a base foi de
193 possíveis retornos válidos (88% da amostra inicial). A Tabela 19 resume esse
mapeamento.
Tabela 19 Contatos realizados
Contatos Retornos
negativos
Possíveis
retornos válidos
Acadêmicos 31 3 20
Profissionais 188 23 173
Total 219 26 193
A intenção era ter abrangência nacional na coleta de dados. Dos 193
possíveis contatos válidos, a maioria se encontra na região Sudeste, especialmente
nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A Figura 5 mostra a distribuição geral
dos contatos por região, incluindo dois contatos com empresas de abrangência
nacional.
86
Figura 5 Distribuição de contatos por região
Dos 193 contatos mencionados, houve um total de 79 retornos (41%), sendo
que 66 foram respostas válidas (34%), isto é, continham todas as perguntas
respondidas e os dados pessoais utilizáveis na análise. Dentre as respostas
inválidas houve 12 respostas incompletas (15%), isto é, questionários abandonados,
e seis respostas que incluíram todos os critérios (8%). No segundo caso, houve
também uma resposta sem os dados pessoais, impossibilitando seu uso para
análise, enquanto as cinco outras respostas foram consideradas. É importante
lembrar que, apesar desse tipo de resposta aparentar erro, sugerindo que o
entrevistado não respondeu com atenção, isso não é detectável pela e-survey.
Inclusive, duas dessas respostas contêm o texto da última questão, sobre outros
critérios, o que sugere que, de fato, esses entrevistados responderam como
desejavam. A Tabela 20 resume as respostas inválidas por grupo de entrevistado.
Tabela 20 Respostas inválidas
Ramo Setor Hierarquia Inclui tudo Incompleta Total
Acad
ê-
mic
os
Público Não-decisor 0% 6% 6%
Decisor 0% 11% 11%
Não identificado Não identificado 0% 11% 11%
Pro
fis
sio
nais
Privado Não-decisor 11% 6% 17%
Decisor 11% 6% 17%
Público Não-decisor 6% 6% 11%
Decisor 0% 11% 11%
Não identificado Decisor 0% 6% 6%
Não identificado 6% 6% 11%
Total 33% 67% 100%
Sudeste 68%
Sul 13%
Centro-Oeste 8%
Nordeste 7%
Norte 3% Nacional 1%
Distribuição de contatos
87
Com relação às perguntas sobre objetivos e outros critérios propostos, o
retorno foi praticamente todo aproveitado. Apenas um entrevistado não preencheu o
campo de “objetivos da estação”, mas suas respostas de julgamento de critérios
foram aproveitadas. Já no caso da proposta de novos critérios, houve 33 respostas
submetidas e nenhuma foi descartada. Para essa pergunta em particular, era
possível deixar o campo em branco, sugerindo que não há novos critérios a serem
considerados. A análise desse material é discutida no capítulo 5.
Como mencionado na Metodologia, o tamanho da amostra é importante para
a representatividade dos dados coletados, por isso, buscou-se maximizar a
quantidade total de contatos realizados. Percebeu-se, ao longo da coleta, que a taxa
de respostas válidas seria menor que 100% por diversos motivos, dos quais os
principais foram:
contatos em cidades pequenas, especialmente nas regiões Norte e
Nordeste, sem acesso à internet;
contatos que não trabalhavam diretamente com esgotos e, portanto,
não se sentiam à vontade para opinar;
contatos que simplesmente não deram retorno para a solicitação de
entrevista, independentemente da forma de abordagem (e-mail ou
telefone);
respostas inválidas registradas pela e-survey, isto é, respostas em
branco, duplicadas ou incompletas.
A fim de aumentar a abrangência da pesquisa, buscou-se a participação de
entrevistados de todo o país, especialmente das empresas estatais, que detêm a
maior fração do mercado de ETEs. Porém, devido à dificuldade de obter retorno de
alguns contatos e da característica “bola de neve” da amostra, a maioria das
respostas obtidas originou-se na região Sudeste. Para melhorar a taxa de resposta
de entrevistados mais distantes geograficamente, tentou-se usar inclusive o canal
oficial para comunicação com algumas empresas, como a ouvidoria ou o serviço de
atendimento ao cliente (SAC). Porém, grande parte dessas solicitações não foi
respondida.
Mesmo com a notável heterogenia dos contatos relativa às suas regiões
geográficas, obteve-se leve hegemonia na distribuição dos retornos de decisores e
88
não-decisores, assim como de representantes do setor público e privado. Já a
divisão entre profissionais e acadêmicos foi bem diferente, com a maioria das
respostas recebida de profissionais ou representantes de empresas. Porém,
considerando a quantidade de contatos realizados com acadêmicos e profissionais,
a taxa de resposta dos acadêmicos (55%) foi consideravelmente mais alta que a de
profissionais (32%).
Os gráficos abaixo ilustram a divisão das características do grupo com
respostas válidas (Figura 6 a Figura 9). A Figura 7 deve ser comparada à Figura 6, a
fim de perceber a diferença de representação entre acadêmicos e profissionais, uma
vez que suas taxas de resposta foram tão diferentes.
Figura 6 Distribuição de mercado
Figura 7 Distribuição de mercado ajustado para proporção de
respostas
Figura 8 Distribuição de setor
Figura 9 Distribuição de hierarquia
Tendo, portanto, uma imagem das principais características dos
entrevistados, passa-se à apresentação do conteúdo coletado.
4.3 Apresentação dos dados coletados
Esta seção apresenta os dados coletados referentes aos critérios julgados
pelos entrevistados, isto é, os 51 critérios incluídos no questionário. Investigou-se a
83%
17%
Profissionais Acadêmicos
9 118
11 55
0%
50%
100%
Acadêmicos Profissionais
Ausências Respostas
44%
56%
Setor Público Setor Privado
58%
42%
Decisores Não-decisores
89
distribuição dos indivíduos considerando-se o percentual de inclusão dos critérios
em cada categoria.
A fim de se ter uma visão geral das respostas ao questionário, faz-se
referência à Tabela 21, que apresenta um percentual médio dos julgamentos dos
critérios em cada categoria, isto é, inclusão, não inclusão ou indecisão.
Tabela 21 Critérios por categoria
Categoria Inclusão Não inclusão Indecisão
Impacto ambiental 82% 13% 5%
Eficácia 81% 17% 7%
Outro 77% 16% 5%
Já na Tabela 22, vê-se a alocação dos entrevistados de cada setor por
categoria proposta, de acordo com o percentual de inclusão dos critérios em cada
uma. Algumas categorias “mescladas” foram criadas, como mencionado
anteriormente, para acomodar casos de empate no julgamento das categorias. Isto
é, um entrevistado que tenha incluído o mesmo percentual de critérios de Eficácia e
Impacto Ambiental será alocado à categoria Eficácia/Impacto Ambiental, em vez de
Eficácia ou Impacto Ambiental.
Tabela 22 Alocação por inclusão de critérios: setor
Aglomerado Privado Público
Impacto Ambiental 34% 51%
Eficácia 38% 32%
Outros 10% 11%
Todos 14% 3%
IA/Outros 0% 3%
Eficácia/IA 3% 0%
Total 100% 100%
Semelhantemente, a Tabela 23 mostra a mesma alocação, porém, por ramo
de atuação do entrevistado e, em seguida, a Tabela 24 contém a divisão por
hierarquia dos respondentes.
Tabela 23 Alocação por inclusão de critérios: ramo
Aglomerado Acadêmicos Profissionais
Impacto Ambiental 45% 44%
Eficácia 18% 38%
Todos 0% 9%
Outros 27% 7%
Eficácia/IA 0% 2%
IA/Outros 9% 0%
Total 100% 100%
90
Tabela 24 Alocação por inclusão de critérios: hierarquia
Aglomerado Não-decisores Decisores
Impacto Ambiental 39% 47%
Eficácia 36% 34%
Outros 14% 8%
Todos 11% 5%
Eficácia/IA 0% 3%
IA/Outros 0% 3%
Total 100% 100%
Vê-se que, da perspectiva das características pessoais, não existe diferença
entre as prioridades dos entrevistados, com exceção da divisão por setor. Nesse
caso, fica claro que o setor público tende a priorizar o impacto ambiental, enquanto o
setor privado demonstra apenas leve tendência para eficácia. Nas outras
perspectivas, apesar da amostra conter cerca de 40% de acadêmicos e profissionais
que priorizam impacto ambiental, a segunda opção de cada um deles é diferente:
acadêmicos valorizam outros critérios (principalmente custo) e profissionais optam
pela eficácia.
Como mencionado na Metodologia, os componentes de uma amostra para
análise de aglomerados costumam ser enquadráveis em um espaço d-dimensional.
Esse aspecto se aplica à presente pesquisa, que lida com três categorias e,
portanto, três eixos no espaço. Acredita-se que essa visão contribua para a
identificação de aglomerados e, portanto, deve ser considerada na análise dos
resultados. Na Figura 10, vê-se a distribuição de toda a amostra coletada (66
respostas), onde os pontos maiores são do setor privado, enquanto os menores são
do setor público; os vermelhos são decisores e os azuis são não-decisores. A
diferenciação por tamanho e cor facilita a identificação visual de aglomerados, caso
haja, porém, podem existir pontos sobrepostos, uma vez que algumas respostas
foram muito parecidas ou mesmo iguais.
91
Figura 10 Distribuição dos pontos em R3
Percebe-se maior densidade de pontos ao longo da reta que liga a origem ao
ponto (1,1,1). Porém, parece haver mais não-decisores (esferas azuis) perto do
ponto (1,1,1) do que mais afastado dele.
O resultado da aglomeração hierárquica pode ser conferido no dendrograma
da Figura 11.
Figura 11 Dendrograma: Método de Ward
92
A linha pontilhada indica o passo no método iterativo onde existem três
aglomerados com pouca dessemelhança. Isto é, acima da linha de corte, a
dessemelhança é alta e, com isso, existe maior perda de informação no
agrupamento. Por isso, entende-se que uma solução ideal exista para três
aglomerados.
Esse resultado foi então usado para rodar a aglomeração não hierárquica,
com o número de aglomerados indicados, isto é, três. Além disso, a organização dos
grupos proposta pelo método hierárquico serviu como semente para o método não
hierárquico, que se incumbiu de reagrupar os indivíduos, caso necessário. Na
aglomeração tridimensional da Figura 12, veem-se os três aglomerados formados
pelo algoritmo K-means (centros de massa em vermelho) e seus respectivos
componentes.
Figura 12 Aglomeração com 3 centroides
Os resultados aqui apresentados são analisados no próximo capítulo, a fim de
alcançar-se, caso exista, uma conclusão construtiva e significativa a respeito dos
aglomerados formados.
CM2
CM0
CM1
93
4.4 Outros dados coletados
Além de investigar o julgamento de critérios, a pesquisa permitiu observar
outras relações entre os dados. A seguir, tais informações são apresentadas e, no
próximo capítulo, analisadas.
4.4.1 Objetivos da ETE
Como visto na seção 3.2.3.1, a questão referente aos objetivos de uma ETE
se propunha a coletar as visões particulares do entrevistado e, através da
observação de palavras e expressões-chave, categorizar cada objetivo em termos
da tendência pela eficácia, impacto ambiental ou outra categoria. Ou seja, o
resultado dessa observação também permite alinhar o objetivo da ETE proposto
pelo entrevistado com os critérios de decisão que ele prioriza.
A categorização dos objetivos revelou que 29% dos entrevistados vê na ETE
uma forma de preservar o meio ambiente. Porém, apesar de ser o maior percentual,
esse valor está muito próximo da quantidade de entrevistados que enxerga a ETE
como um processo para limpeza da água (26%). A relação completa da
categorização pode ser conferida na Tabela 25. A coluna dedicada aos decisores
pretende enfatizar a distribuição de opiniões apenas nesse grupo, a fim de compará-
lo com a amostra como um todo, como previsto na Metodologia (seção 3.2.3.1).
Tabela 25 Categorização dos objetivos de uma ETE
Categoria do objetivo Amostra Decisores
Impacto ambiental 29% 26%
Eficácia 26% 29%
Impacto ambiental/Outros 20% 21%
Eficácia/Impacto ambiental 11% 13%
Outros 8% 5%
Eficácia/Outros 3% 3%
Todos 3% 3%
Nenhum (erro?) 2% 0%
Observa-se a existência de categorias “mescladas”, isto é, compostas por
duas categorias, como “Eficácia/Impacto ambiental”, por exemplo. Isso se deve ao
fato de o processo de pontuação por palavras-chave permitir empate, caso exista
uma palavra de cada categoria no texto do objetivo. Vale ressaltar que as
categorias, inclusive as novas, são mutuamente excludentes, isto é, caso um
objetivo pontue com empate, ele é alocado a apenas uma categoria mesclada e não
94
conta para a população das categorias “puras”, originalmente propostas no trabalho.
Dessa forma, não existem entrevistados duplicados entre as categorias.
Existem dois casos que diferem dos demais, sendo classificados como
“Todos” e “Nenhum”. O primeiro caso decorre da possibilidade de empate durante a
categorização. Já o segundo pode ter sido um erro do entrevistado ao responder o
questionário, pois o campo de objetivo foi preenchido com apenas um caractere
alfanumérico. Por exemplo, o entrevistado passou para a próxima página do
questionário por engano, o que não descarta a possibilidade de desatenção com o
campo.
Com relação aos decisores, vê-se que existe uma possível inversão de
tendências, uma vez que, nesse caso, 29% têm objetivos de eficácia com a ETE,
seguidos de perto por aqueles que dão foco ao impacto ambiental (26%).
Os resultados podem ser observados com outra distribuição, pela perspectiva
dos setores, sob a qual se percebe leve alternância das preferências (Tabela 26).
Tabela 26 Categorização dos objetivos por setor
Categoria do objetivo Privado Público
Impacto ambiental 34% 24%
Eficácia 24% 27%
Impacto ambiental/Outros 17% 22%
Eficácia/Impacto ambiental 10% 11%
Outros 7% 8%
Eficácia/Outros 3% 3%
Todos 3% 3%
Nenhum (erro?) 0% 3%
No setor público, a maioria (27%) se concentra na categoria de Eficácia,
apesar da pequena diferença para a categoria de Impacto Ambiental, com 24% do
foco dos entrevistados. Já no setor privado, a preferência pelo impacto ambiental
parece mais consolidada (34%), se comparada à segunda mais escolhida, eficácia
(24%).
A mesma organização foi feita para opiniões de acadêmicos e profissionais,
levando aos resultados da Tabela 27.
95
Tabela 27 Categorização dos objetivos por ramo de atuação
Categoria do objetivo Acadêmicos Profissionais
Impacto ambiental 27% 29%
Eficácia 27% 25%
Impacto ambiental/Outros 27% 18%
Eficácia/Impacto ambiental 9% 11%
Outros 9% 7%
Eficácia/Outros 0% 4%
Todos 0% 4%
Nenhum (erro?) 0% 2%
Nota-se uma distribuição quase perfeita entre as três primeiras categorias,
com três respostas em cada, equivalendo a 27% da amostra de acadêmicos. Já
para profissionais, a diferença é mais acentuada na tendência ao Impacto Ambiental,
seguido pela Eficácia.
Esse resultado é usado mais à frente, juntamente com os resultados de
priorização de critérios, a fim de buscar alinhamento entre os critérios de decisão e o
objetivo dessa decisão.
4.4.2 Outros critérios
No total, 37 entrevistados sugeriram a inclusão de um ou mais critérios de
escolha tecnológica, totalizando 72 critérios propostos. As respostas de texto livre
foram analisadas uma a uma, a fim de categorizar os critérios. Percebeu-se então
que havia quatro propostas já incluídas na lista do questionário, ou seja, os
entrevistados propuseram critérios que já estavam entre os 51 critérios originais.
Além disso, alguns entrevistados propuseram os mesmos critérios entre si, gerando
propostas repetidas. Após eliminação desses itens, obteve-se 44 novos e distintos
critérios.
Quanto à categorização dos novos critérios, apesar de haver menção de
inclusão nas categorias já propostas, percebeu-se que muitos critérios podem ser
classificados como “Outros”, mas não tratam de custos especificamente. A
observação mais cautelosa apontou o surgimento de uma nova categoria,
relacionada ao aspecto social da construção de uma ETE. Ao total, foram propostos
dez critérios de impacto social.
Alguns critérios propostos pareceram amplos ou abrangentes demais para se
enquadrarem em apenas uma categoria, especialmente considerando-se a
especificidade das categorias de eficácia e impacto ambiental. Por isso, e levando
96
em conta também que a categoria “Outros” inclui critérios que se classificam de
diversas maneiras, e não apenas como custos, as propostas inclassificáveis foram
alocadas à categoria “outros” para fins de análise. Esses casos incluem:
“Adequabilidade do processo à realidade local”, que pode incluir
aspectos de área ocupada (impacto ambiental) e volume diário tratado
(eficácia);
“Características arquitetônicas da ETE”, que podem estar relacionadas
à infraestrutura que abriga a ETE (impacto ambiental), assim como à
complexidade do projeto, impactando o custo;
“Eficiência observada da estação”, que, diferente de eficácia, pode
representar um grupo de variáveis, incluindo critérios de impacto
ambiental, custo e da própria eficácia. Isto é, a eficiência é o “sucesso”
do processo como um todo.
Além desses, mencionou-se a necessidade de hierarquia de critérios ou
pesos para cada critério. Isso, de fato, é necessário para a tomada de decisão real e
foi ignorado no caso dessa pesquisa a fim de não aumentar a complexidade do
questionário, já bastante extenso. Ainda assim, atribuir pesos aos critérios não
representa um novo critério em si, tanto quanto uma nova metodologia para coleta
de dados.
4.4.3 Critérios mais frequentes
A observação dos critérios mais frequentes consistiu em selecionar os cinco
critérios com julgamentos mais homogêneos entre todos os entrevistados. Ou seja,
critérios que foram incluídos em quase todas as respostas, ou mesmo que não
foram incluídos por todos ou quase todos na pesquisa. Essa abordagem é oportuna
para procurar certezas e consensos na escolha de tecnologia. Ou seja, identificar os
critérios que, independentemente da área de atuação, da localização geográfica ou
do nível hierárquico do entrevistado, terão a mesma importância durante a decisão.
Nas tabelas a seguir, esse resultado é exibido em termos dos percentuais
calculados para toda a amostra e, em coluna destacada, para efeitos de
comparação e análise, para decisores apenas. Esse realce foi inserido com o intuito
de balizar o estudo sobre tomada de decisão, isto é, esses dados permitem
comparar a decisão em uma amostra, que contém diversos perfis de entrevistados,
97
com o subgrupo de decisores, que são oficialmente delegados com a
responsabilidade de escolher e tomar decisões.
No caso das inclusões, não houve predominância de categoria, sendo três
critérios de impacto ambiental, dois de eficácia e um da categoria “Outros”, como
visto na Tabela 28.
Tabela 28 Critérios com maior percentual de inclusão
Critério Categoria % Incluir Decisores
incluem
Concentração de DBO Eficácia 100% 100%
Concentração de sólidos em suspensão Eficácia 98% 100%
Características do corpo receptor Impacto ambiental 97% 95%
Estética (ex. odor) Impacto ambiental 97% 95%
Área disponível para construção Impacto ambiental 97% 100%
Custo de operação e manutenção Outros 97% 97%
Já na avaliação dos cinco maiores percentuais de não-inclusões, vemos que
aparecem quatro critérios da categoria “Outros” e apenas um da categoria Eficácia,
como visto na Tabela 29.
Tabela 29 Critérios com maior percentual de não-inclusão
Critério Categoria % Não
incluir
Decisores
não incluem
Escolha de tecnologia diferente da
empresa líder na indústria
Outros 59% 63%
Erro humano durante a produção Eficácia 42% 45%
Número de motores elétricos/1000
habitantes (projeto)
Outros 41% 45%
Geração de renda pelo aproveitamento
dos resíduos sólidos
Outros 38% 42%
Número de intervenções de
manutenção/1000 habitantes (projeto)
Outros 35% 39%
Por fim, observando as indecisões, vê-se que é um conjunto composto por
critérios de todas as categorias, como mostra a Tabela 30.
98
Tabela 30 Critérios com maior percentual de indecisão
Critério Categoria % Indeciso Decisores
indecisos
Geração de CO2 Impacto
ambiental
19% 21%
Erro humano durante a produção Eficácia 18% 18%
Impactos sociais (melhorias na qualidade
de vida, criação de empregos, etc.)
Outros 15% 18%
Escolha de tecnologia diferente da empresa
líder na indústria
Outros 13% 11%
Concentração de químicos dissolvidos Eficácia 12% 11%
Influência governamental (ex. incentivos
fiscais)
Outros 12% 13%
Efeitos para a biodiversidade do local de
implantação da ETE
Impacto
ambiental
12% 11%
Nota-se que alguns critérios que compõem o grupo de menos inclusões
(Tabela 29) também aparecem nos critérios que mais geraram indecisão, como “Erro
humano durante a produção” e “Escolha de tecnologia diferente da empresa líder na
indústria”, ambos advindos da lista de critérios do setor industrial.
Durante o cálculo dos percentuais acima, observaram-se os critérios em si,
porém, com o objetivo de compreender melhor o motivo das indecisões, procurou-se
outra forma de investigar o julgamento indeciso e optou-se por observar as
respostas no nível do entrevistado, buscando a indecisão individualmente em vez de
como um grupo. Elaborou-se, portanto, a taxa de indecisão, visando encontrar
alguma semelhança entre os entrevistados que apresentavam altas taxas de
indecisão. A grandeza é definida por:
Observou-se que 14 entrevistados, ou 21% da amostra, apresentaram taxa de
indecisão superior a 10%, isto é, ficaram indecisos a respeito de cinco ou mais
critérios. Dentre esses, a taxa média foi de 18%, enquanto a taxa média de
indecisão para a amostra inteira foi de 6%.
Dentre os 14 mais indecisos, esse resultado parece independer de hierarquia,
setor ou ramo de trabalho, como é visto na Tabela 31. Especialmente no caso de
profissionais e acadêmicos, apesar de os números absolutos serem distintos, esses
indivíduos representam praticamente a mesma fração em seus grupos. Aliás, no
99
geral, tem-se cerca de 20% de indecisos em qualquer subgrupo da amostra
(considerando taxa de indecisão acima de 10%).
Tabela 31 Grupo com alta taxa de indecisão
Característica Quantidade
absoluta
Percentual
da amostra
Profissional 12 22%
Acadêmico 2 18%
Decisor 7 18%
Não-decisor 7 25%
Setor público 8 22%
Setor privado 6 21%
Os valores percentuais apresentados permitiram o levantamento de algumas
hipóteses e inferências sobre o comportamento da amostra, que são explicitadas e
desenvolvidas no capítulo analítico.
4.4.4 Critérios do Setor Industrial
Os critérios para escolha de tecnologia, vistos na seção 2.1.1, foram
introduzidos por Stobaugh e Wells, Jr. (1984) no contexto do setor industrial, como
explicado. Com a inserção de ditos critérios na tabela da survey, um dos objetivos
da pesquisa foi investigar sua aceitação pelo setor de saneamento. Durante a coleta
de dados, não se ressaltou o fato que alguns critérios eram particulares do setor
industrial, justamente para entender sua adaptabilidade em outro setor. Esperava-se
encontrar padrões nos julgamentos (inclusão, não-inclusão e indecisão) que
indicassem uma tendência da amostra entrevistada para com aqueles critérios.
Na Tabela 32, veem-se os critérios propostos para o setor industrial e seus
respectivos julgamentos pelos entrevistados. Os itens estão listados em ordem
alfabética.
100
Tabela 32 Critérios do setor industrial: julgamentos
Categoria Critério Incluem Não
incluem Indecisos Outro Adaptabilidade da tecnologia à mão de
obra
74% 20% 6%
Eficácia Erro humano durante a produção 39% 42% 18%
Outro Escolha de tecnologia diferente da
empresa líder na indústria
27% 59% 14%
Outro Falta de assistência técnica para uma
tecnologia
85% 14% 2%
Outro Influência governamental (ex. incentivos
fiscais)
64% 24% 12%
Outro Preferência por automatização 65% 26% 9%
Outro Relação entre custos de operação e
custos totais
89% 6% 5%
Assim como para objetivos e outros critérios propostos, observou-se com
mais minúcia o comportamento dos decisores, a fim de compará-lo com o da
amostra como um todo. Pelos percentuais da Tabela 33, os julgamentos da amostra
coincidem com aqueles de decisores.
Tabela 33 Critérios do setor industrial: julgamentos por decisores
Categoria Critério Incluem
Não
incluem Indecisos
Outro Adaptabilidade da tecnologia à mão de
obra
66% 26% 8%
Eficácia Erro humano durante a produção 37% 45% 18%
Outro Escolha de tecnologia diferente da
empresa líder na indústria
26% 63% 11%
Outro Falta de assistência técnica para uma
tecnologia
87% 13% 0%
Outro Influência governamental (ex. incentivos
fiscais)
53% 34% 13%
Outro Preferência por automatização 71% 18% 11%
Outro Relação entre custos de operação e
custos totais
87% 11% 3%
A comparação entre as tabelas, assim como algumas reflexões propostas,
são encontradas no próximo capítulo, juntamente com outras análises e sugestões
de investigação.
101
5 Análise e sugestões
Neste capítulo, realiza-se a análise dos dados, buscando seu significado
representativo para a pesquisa, de acordo com a ordem dos resultados
apresentados no capítulo 4. Isto é, primeiro, observa-se de maneira crítica o
resultado da aglomeração, apontando possíveis tendências e padrões. Em seguida,
analisa-se o resultado da categorização dos objetivos, a fim de alinhá-lo com o
resultado encontrado pelo julgamento de critérios. Logo após, passa-se à análise
dos outros critérios propostos, que também foram categorizados. Finalmente,
encontra-se a análise dos julgamentos dos critérios do setor industrial e possíveis
motivos para tal resultado.
5.1 Análise dos dados
Esta seção oferece uma análise das aglomerações resultantes da alocação
de integrantes a centroides calculados. O principal objetivo é entender melhor a
alocação apresentada na análise descritiva, baseada somente no percentual de
inclusão dos critérios de cada categoria. Além disso, a análise de aglomerados se
propõe a permitir a caracterização dos grupos de entrevistados que demonstram
tendência a escolher cada categoria de critérios em uma decisão. Em seguida, o
foco passa a ser os centroides em si e o significado de suas coordenadas.
Na imagem de dispersão tridimensional da Figura 10 (pg. 91), no capítulo
anterior, parece haver mais pontos azuis – representando não-decisores – próximos
ao vértice (1,1,1). Uma possível interpretação para essa organização seria o
idealismo desses entrevistados, por exemplo, por sua inexperiência , ao buscarem
priorizar as três categorias de critérios. Porém, a distribuição ao longo da diagonal
indica que todos os entrevistados podem ter seguido o caminho de priorização de
todas as categorias, uma vez que não se ofereceu nenhum tipo de restrição para a
tomada de decisão. Esse aspecto da pesquisa é comentado na seção de melhorias
propostas e estudos futuros.
Para uma análise dos componentes de cada aglomerado, recorre-se às
tabelas a seguir. Nelas, veem-se: o percentual de entrevistados, por característica
pessoal, alocado a cada aglomerado, denominados CM0, CM1 e CM2 (Tabela 34); e
o valor absoluto de componentes de cada aglomerado (Tabela 35).
102
Tabela 34 Aglomeração não-hierárquica da amostra (percentual do total)
Ramo Setor Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total
Aca
dê
mic
os
Privado Não-decisor 0% 0% 0% 0%
Decisor 0% 0% 0% 0%
Público Não-decisor 2% 3% 3% 8%
Decisor 2% 5% 3% 9%
Pro
fissio
na
is
Privado Não-decisor 2% 5% 8% 14%
Decisor 11% 9% 11% 30%
Público Não-decisor 5% 6% 11% 21%
Decisor 5% 11% 3% 18%
Total 24% 38% 38% 100%
Tabela 35 Valor absoluto de componentes em cada aglomerado
Ramo Setor Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total
Aca
dê
mic
os
Privado Não-decisor 0 0 0 0
Decisor 0 0 0 0
Público Não-decisor 1 2 2 5
Decisor 1 3 2 6
Pro
fissio
na
is
Privado Não-decisor 1 3 5 9
Decisor 7 6 7 20
Público Não-decisor 3 4 7 14
Decisor 3 7 2 12
Total 16 25 25 66
Como não foi possível obter uma amostra heterogênea, os percentuais acima
podem ser ilusórios. Isto é, cada percentual equivale ao número total de
entrevistados com aquelas características sobre o total da amostra. Porém, o grupo
de acadêmicos, por exemplo, é consideravelmente menor que aquele de
profissionais e, com isso, seu percentual no total da amostra será sempre muito
inferior. A fim de auxiliar nas análises, apresentam-se, portanto, as tabelas a seguir,
com os mesmos dados da tabela anterior, porém, com percentuais relativos à coluna
(Tabela 36) ou linha (Tabela 37) as quais pertencem.
103
Tabela 36 Aglomeração: percentuais por coluna
Ramo Setor Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total
Acadêmicos Público Não-decisor 6% 8% 8% 8%
Decisor 6% 12% 8% 9%
Profissionais
Privado Não-decisor 6% 12% 20% 14%
Decisor 44% 24% 28% 30%
Público Não-decisor 19% 16% 28% 21%
Decisor 19% 28% 8% 18%
Total 100% 100% 100% 100%
Tabela 37 Aglomeração: percentuais por linha
Ramo Setor Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total
Acadêmicos Público Não-decisor 20% 40% 40% 100%
Decisor 17% 50% 33% 100%
Profissionais
Privado Não-decisor 11% 33% 56% 100%
Decisor 35% 30% 35% 100%
Público Não-decisor 21% 29% 50% 100%
Decisor 25% 58% 17% 100%
Total 24% 38% 38% 100%
O resultado da aglomeração mostra uma distribuição equilibrada entre
aglomerados em termos da quantidade de componentes em cada grupo. Porém,
nota-se também que os decisores do setor público se concentram em CM1,
enquanto os não-decisores (em ambos setores) se alocam principalmente em CM2.
Considerando que CM2 está mais próximo do ponto (1,1,1), ou seja, o cenário ideal,
livre de restrições, uma possível interpretação para este resultado é que os
decisores já têm experiência tanto para escolher critérios de decisão quanto para
tomar decisões com menos informações. Enquanto isso, os não-decisores, por seu
momento de carreira e aprendizado, ainda buscam muitas informações, talvez até
mais do que seja necessário ou esteja disponível.
Pela Tabela 34 (pg. 102), percebe-se também que os componentes de CM1
são principalmente do setor público. Lembrando que esse aglomerado representa
um cenário onde menos informação é utilizada para a tomada de decisão, pode-se
inferir que a alocação reflete a realidade desse setor. Ou seja, uma disponibilidade
menor de informações, que faz com que seus representantes se adaptem à tomada
de decisão utilizando menos critérios.
A fim de aprofundar a análise dos números e identificar características e
situações reais do mercado estudado, é necessário investigar as coordenadas de
104
cada centro de massa. Como cada eixo equivale a uma categoria, as coordenadas
(1,0,0), por exemplo, referem-se à priorização pura da eficácia (eixo x). Então, para
os aglomerados identificados na pesquisa, é necessário determinar o nível de
importância atribuído por seus integrantes às categorias, representado pelos centros
de massa (Tabela 38).
Tabela 38 Coordenadas dos centros de massa
Eficácia Impacto Ambiental Outros
CM0 0,687 0,612 0,565
CM1 0,735 0,843 0,753
CM2 0,954 0,926 0,907
Observando-se CM0, percebe-se que se trata de um grupo com priorização
relativamente equilibrada para todas as categorias, porém, demonstrando tendência
a dar mais importância para critérios de eficácia. A diferença de 0,075 entre as
coordenadas de eficácia e impacto ambiental representa a inclusão de pelo menos
três critérios a mais de eficácia. Observando-se os componentes desse aglomerado
(Tabela 36, pg. 103), conclui-se que a maioria dos integrantes são decisores e,
alinhado ao que foi visto anteriormente, provavelmente representam agentes
acostumados a tomar decisões em um cenário com poucas informações. Afinal,
pelas coordenadas de CM0, este centroide representa um grupo que inclui ainda
menos critérios que aquele encontrado em CM1. Ou seja, esse aglomerado poderia
representar um grupo que busca equilibrar a decisão, mas permite que ela seja
norteada pela qualidade da água sendo tratada.
Já no caso de CM1, percebe-se tendência forte para a inclusão de mais
critérios de impacto ambiental. A diferença de 0,108 entre as coordenadas
representa a inclusão de pelo menos cinco critérios a mais dessa categoria, se
comparada à eficácia. Os componentes desse aglomerado são principalmente
decisores, como visto anteriormente, porém, existe presença marcante do setor
público também. Esse resultado sugere, portanto, um perfil de decisão, no qual
decisores do setor público favorecem aspectos de impacto ambiental durante a
escolha tecnológica. Esse resultado apoia o agrupamento mostrado na Tabela 22
(pg. 89), que considera apenas o percentual de inclusão dos critérios de cada
categoria e indica preferência do setor público por critérios de impacto ambiental.
Apesar disso, vale lembrar que o centro de massa representa uma média das
opiniões de seus componentes, que também inclui representantes do setor privado.
105
No caso de CM2, as coordenadas representam pontuações altas em todos os
eixos, ou seja, altos percentuais de inclusão dos critérios das três categorias. Em
outras palavras, para os componentes desse aglomerado, as decisões tecnológicas
são tomadas levando-se em conta critérios de todas as categorias e, de preferência,
a maior quantidade possível deles. Porém, semelhante a CM0, esse centro de
massa apresenta leve priorização dos critérios de eficácia. A diferença de 0,028
representa a inclusão de pelo menos um critério a mais na categoria de eficácia,
quando comparada à categoria de impacto ambiental. Essa tendência é, no entanto,
menos forte que no caso de CM0.
Para analisar os componentes desse aglomerado (CM2), faz-se referência às
tabelas Tabela 36 e Tabela 37 (pg. 103). Nelas, vê-se que o grupo é composto
principalmente por não-decisores de ambos os setores e alguns decisores do setor
privado. No caso dos não-decisores, supõe-se que sua alocação em um aglomerado
tão próximo do cenário ideal, onde não há restrições para a disponibilidade dos
recursos de informação, reflita sua inexperiência e insegurança para tomar decisões
com consequente necessidade de muita informação. Isso é razoável e aceitável,
uma vez que estão em posições que provavelmente não requerem que exerçam
esse papel. Por outro lado, a alocação de decisores do setor privado nesse
aglomerado sugere que há maior disponibilidade de informações nesse setor, que
então provê mais para seus decisores. É válido reparar, porém, que existe o mesmo
percentual de decisores do setor privado em CM0 e CM2, ou seja, enquanto existem
agentes acostumados a decidir com poucas informações e cientes disso, existe
também o oposto – agentes cuja realidade é mais generosa em termos de recursos
e que, igualmente, se acostumaram a atuar e decidir nesse cenário.
É interessante observar que, apesar da maior quantidade de critérios da
categoria “Outros”, esta categoria teve pontuação menor que as outras categorias
tanto em CM0 quanto em CM2, sugerindo que, no caso de saneamento, a qualidade
da água e o impacto no meio ambiente são, de fato, mais importantes que o custo
ou outros aspectos do processo. A exceção foi CM1, cuja diferença de 0,018 nas
coordenadas de eficácia e da categoria "outros" indica inclusão de mais critérios da
segunda categoria. Porém, essa diferença não equivale a um critério inteiro, o que
indica tendência fraca. Ainda assim, é interessante lembrar que este aglomerado era
composto principalmente por decisores e representantes do setor público, o que
aponta a importância de custos (principal componente da categoria "outros") para
106
esses agentes. Esse aglomerado concentra, portanto, agentes cuja prioridade é o
impacto ambiental, mas com controle dos gastos para implementar a estação.
Um resumo das prioridades em cada centro de massa é visto na Tabela 39,
que indica quantos critérios a mais de uma categoria são incluídos se comparada às
outras duas. Por exemplo, tomando CM0, há pelo menos três critérios a mais de
eficácia se comparado a impacto ambiental; pelo menos seis critérios a mais de
eficácia se comparado a outros critérios; e pelo menos dois critérios a mais de
impacto ambiental se comparado a outros critérios.
Tabela 39 Prioridades em cada aglomerado: critérios adicionados a mais
Eficácia vs.
Impacto Ambiental
Eficácia vs.
Outros
Impacto ambiental vs.
Outros
CM0 3,9 Efic. 6,2 Efic. 2,4 IA
CM1 5,5 IA 0,9 Outros 4,6 IA
CM2 1,4 Efic. 2,4 Efic. 1,0 IA
Viu-se então que, apesar de não existir priorização evidente de nenhuma das
categorias em nenhum dos aglomerados, existem tendências à inclusão de mais
critérios de uma ou outra categoria, dependendo do aglomerado. A visualização
desse resultado é facilitada pela disposição tridimensional dos centros de massa,
como mostra a Figura 13.
Figura 13 Localização dos centros de massa no espaço
Essa figura é complementada pelo ângulo da Figura 14, que realça a
diferença entre as pontuações de eficácia e impacto ambiental nos três
107
aglomerados. Com isso, é possível visualizar as diferenças entre coordenadas
apresentadas anteriormente.
Figura 14 Disposição tridimensional: ângulo Eficácia vs. Impacto Ambiental
Além das análises numéricas intra-centroide, sugere-se classificar os
aglomerados com referência à diferença entre suas coordenadas, ou seja, uma
análise entre centroides. Isto é, em vez de comparar os eixos de eficácia e impacto
ambiental de um centro de massa, compara-se o eixo de eficácia de dois centros de
massa. Nesse cenário, tem-se prioridade decrescente para todas as categorias
quando se passa de um aglomerado para o outro. Sendo assim, não é necessário
dizer que um aglomerado tende à eficácia ou ao impacto ambiental especificamente,
mas pode-se dizer que atribui importância alta, média ou baixa para cada categoria.
Tem-se, então, a classificação da Tabela 40.
Tabela 40 Classificação dos centros de massa calculados
Impacto ambiental Alta
>0,75
Média
>0,5
Baixa
<0,50 Eficácia Outros
Alta Alta CM2
Média
Baixa
Média Alta CM1
Média CM0
Baixa
Baixa Alta
Média
Baixa
108
Os resultados analisados até o momento aparentam sustentar a hipótese que,
apesar de alguns entrevistados darem prioridade a critérios de todas as categorias,
quando possível, outros preferem utilizar menos informações em suas decisões. Isso
pôde ser visto particularmente nas distribuições do espaço tridimensional (Figura 10
e Figura 12, pg. 91 e 92), que mostram a dispersão dos pontos ao longo da diagonal
entre a origem e o ponto (1,1,1), representativo da decisão que inclui todos os
critérios apresentados.
Para a análise das coordenadas dos centroides, sugere-se também uma
comparação com o resultado esperado da aglomeração. Por exemplo, observando-
se a Tabela 40 novamente, um dos resultados esperados era uma maioria de não-
decisores no aglomerado CM2 (Alto-Alto-Alto), pois provavelmente são entrevistados
com menos experiência e, portanto, maior necessidade de informação durante a
escolha tecnológica. Paralelamente, esperavam-se mais representantes do setor
privado nesse mesmo aglomerado, uma vez que esse setor poderia ser mais rico em
recursos e informações que o setor público e, com isso, forneceria mais dados para
a decisão tecnológica. Pelas tabelas abaixo, ambas as hipóteses foram confirmadas.
Nelas, veem-se as aglomerações de cada centro de massa, separada por
característica dos entrevistados, a fim de possibilitar uma análise pontual das
alocações da perspectiva de cada característica.
Tabela 41 Aglomeração por ramo
Ramo CM0 CM1 CM2 Total
Acadêmicos 18% 45% 36% 100%
Profissionais 25% 36% 38% 100%
Tabela 42 Aglomeração por hierarquia
Hierarquia CM0 CM1 CM2 Total
Não-decisor 18% 32% 50% 100%
Decisor 29% 42% 29% 100%
Tabela 43 Aglomeração por setor
Setor CM0 CM1 CM2 Total
Privado 28% 31% 41% 100%
Público 22% 43% 35% 100%
Pelas tabelas, percebe-se que existe polarização entre cada par de
características em termos de alocação nos aglomerados. Isto é, em nenhum dos
casos é possível encontrar a maioria de ambos os itens no mesmo aglomerado. Por
109
exemplo, analisando a distribuição das hierarquias (Tabela 42), identifica-se que os
não-decisores se concentram em CM2, enquanto os profissionais preferem CM1. A
mesma análise pode ser aplicada aos outros pares de características (Tabela 41 e
Tabela 43) para identificar divisão entre preferências.
Apesar da consistência dos resultados, devido ao tamanho da amostra,
acredita-se que seria interessante coletar mais dados, a fim de permitir a criação de
mais hipóteses e sua confirmação ou rejeição com números mais representativos do
mercado estudado.
Nas próximas seções, observam-se os resultados obtidos ao analisar os
demais dados coletados pela survey.
5.2 Outras análises propostas
Havendo comentado os resultados referentes à escolha de critérios para
tomada de decisão, esta seção se dedica a analisar os demais dados coletados pelo
questionário. As propostas incluem análise dos textos de objetivos da ETE,
propostos pelos entrevistados; análise de outros critérios propostos para a decisão;
observação dos critérios mais frequentes nas três avaliações (inclusões, não-
inclusões e indecisões); e comparação da avaliação dos critérios em saneamento
com aqueles geralmente encontrados no setor industrial.
5.2.1 Análise dos objetivos categorizados
Como mencionado anteriormente, a principal função da questão sobre
objetivos da ETE é fornecer informações que são comparadas com a análise de
critérios, de maneira que se complementem. Porém, além disso, acredita-se que
essa união funcione como semente para estudos futuros ou aprofundamentos da
pesquisa.
Pelas tabelas de categorização de objetivos (Tabela 25 a Tabela 27, pg. 93 a
95), nota-se a importância dada à eficácia, o que era esperado, devido à própria
natureza do processo, isto é, tratar afluentes ao remover impurezas. Porém,
percebe-se também a presença recorrente do impacto ambiental, tanto como
categoria “pura” quanto em categorias mescladas. Isso sugere que, de fato, a
existência de uma ETE esteja relacionada ao impacto no meio ambiente, ainda que
seu objetivo primário seja outro – limpar esgoto, reutilizar água, etc.
110
Propõe-se observar a Tabela 22 (pg. 89), da alocação em categorias baseado
no percentual de inclusão de critérios, em comparação com a Tabela 17 (pg. 84), da
categorização dos objetivos fornecidos por setor. Recapitulando, a primeira tabela
mostra que o setor público demonstra forte preferência por critérios de impacto
ambiental, incluindo 51% desses critérios em suas decisões. Já o setor privado
prefere incluir mais critérios de eficácia (38%). Porém, a segunda tabela
referenciada indica que o setor privado acredita que o objetivo de uma ETE esteja
voltado principalmente para o impacto ambiental da estação. Enquanto isso, o setor
público demonstra tendência, ainda que leve, para atender objetivos de eficácia na
estação. Ou seja, da perspectiva de setores, existe desalinhamento entre os
objetivos do processo e os critérios para escolha tecnológica desse mesmo
processo. Esse resultado levanta questões a respeito:
da autenticidade das respostas sobre objetivos;
da verdadeira consciência do entrevistado a respeito de quais critérios
utilizar;
do impacto que um ideal corporativo pode ter, ou seja, acredita-se que
o processo atenda um objetivo, quando, na realidade, tudo é orientado
para que atenda outro.
As observações a respeito dos objetivos propostos pelos entrevistados, assim
como os resultados da inclusão de critérios em cada categoria, mostraram que o
conceito do impacto ambiental está presente nas decisões dos respondentes.
Mesmo não tendo sido mencionado, esse aspecto é significativo na área de
saneamento. Porém, pode-se também levantar uma hipótese polêmica: dada a
natureza acadêmica desta pesquisa, estariam os entrevistados, especialmente os
decisores (Tabela 24, pg. 90), inclinados a passar uma imagem “correta” de suas
instituições ao não darem aparente valor para critérios de custo, principal
componente da categoria “outros”? Enquanto isso, não-decisores, por terem menos
exposição, refletem a realidade da operação e de qualquer processo, que de fato
sempre depende de custos, assim como outros critérios. Na realidade, a alocação
de não-decisores pode ser reflexo do movimento recente pela conscientização
ambiental. Isto é, existe preocupação ambiental no subconsciente coletivo ainda
111
que, em paralelo, as pessoas tenham consciência da importância tanto do custo
quanto da eficácia desse processo.
Viu-se que as categorias mescladas são consideradas categorias
independentes, de maneira que cada resposta fornecida só está presente em uma
atribuição de categoria: “pura” ou “mesclada”. Porém, com o sistema de
categorização proposto, que permite empate, uma das respostas ao questionário
usado abrangeu as três categorias. A princípio, esse resultado não parece prático ou
útil, porém, a aglomeração de respostas sobre priorização de critérios também
contém alguns indivíduos muito próximos do ponto (1,1,1) na distribuição
tridimensional, sugerindo que esses entrevistados priorizavam todas as categorias
de critérios durante uma decisão. Novamente, esse resultado deve-se, em grande
parte, à falta de restrições ou cenários no questionário. Sendo assim, para
aprofundamento da pesquisa, sugere-se uma comparação mais minuciosa entre
categorias de objetivos e aglomeração de critérios, verificando se os candidatos com
empate nas palavras-chave do objetivo da ETE também foram alocados ao
aglomerado próximo ao ponto (1,1,1).
De maneira geral, o estudo dos objetivos da estação deve ser mais refinado e
aprofundado. O método de categorização, através de palavras-chave, é bastante
relativo, uma vez que se baseou somente no julgamento da autora desta pesquisa.
Em abordagens futuras, pode-se construir um quadro de palavras-chave e suas
categorias com base na opinião de outros pesquisadores ou profissionais do
mercado de saneamento. A participação desses é importante especialmente quando
a análise das respostas envolve o uso de jargão. Sendo esse o caso, uma palavra
usada para responder a questão tem um significado específico, bem compreendido
por quem é dessa área do conhecimento, mas desconhecido por quem é de fora. Ou
seja, é válido consultar os autores das respostas de texto livre ao realizar análises
que se baseiam em suas palavras, ou ainda formular questões que não deem
margem a interpretação pessoal.
5.2.2 Novos critérios: Análise
A análise dos novos critérios propostos permitiu a observação de decisores e
subordinados, resultando em uma interessante distribuição, apresentada na Tabela
44. Vale lembrar que essa distribuição se refere a um total de 37 entrevistados que
opinaram sobre novos critérios.
112
Tabela 44 Distribuição de propostas por novos critérios
Privado Público Total
Decisores 8% 41% 49%
Não-decisores 27% 24% 51%
Total 35% 65% 100%
Parece existir necessidade de mais informação tanto para decisores (49%)
quanto para não-decisores (51%). No entanto, a distribuição é bem diferente quando
se trata de setores. O setor público representa 65% dos entrevistados que desejam
incluir mais critérios em suas decisões, especialmente seus decisores (41%). Ou
seja, a maior parte da carência por informações se concentra justamente com
aqueles que precisam decidir. Esse cenário é preocupante no sentido de apontar
melhorias urgentes nas condições de trabalho e recursos disponíveis para os
gestores do setor público.
Uma das conclusões obtidas na análise dos novos critérios foi o surgimento
de uma nova categoria, o impacto social. Vale notar que, dos dez critérios que
poderiam compor essa categoria, seis foram propostos por entrevistados do setor
público, o que parece coerente, uma vez que esse setor deveria ser voltado para
atender as necessidades da sociedade em termos de serviços e qualidade de vida.
Porém, além disso, identificou-se que todas as propostas de critérios de impacto
social foram feitas por decisores. Esse resultado é importante, pois mostra a
preocupação inegável dos tomadores de decisão com o bem-estar não só de quem
é atendido pela ETE, mas também da sociedade no qual a estação é instalada.
Acredita-se que não-decisores virão a compartilhar dessa opinião em momentos
futuros de suas carreiras, quando tiverem mais experiência e familiaridade com o
cenário da tomada de decisão.
No setor privado, existem 35% dos entrevistados em busca de mais
informações na hora de decidir. Dentre esses, não-decisores (27%) sentem maior
necessidade de informação, o que poderia ser um reflexo natural do momento de
carreira dessas pessoas. Por exemplo, suas posições hierárquicas mais baixas
impedem o acesso a algumas informações que podem ser confidenciais ou ainda
desnecessárias ao exercício das funções de não-decisores. Nesse caso, a própria
maturidade e evolução no cargo poderão mostrar que informação em excesso não
contribui para a decisão. Além disso, ao tornarem-se decisores, já serão capazes de
113
fazer uma escolha com a informação disponível, como sugere a pequena fração de
decisores nesta pesquisa que propuseram novos critérios (8%).
5.2.3 Análise de critérios mais frequentes
Como visto, chamaram-se de critérios mais frequentes aqueles que obtiveram
julgamento o mais homogêneo possível na amostra entrevistada. Consensos para
incluir o critério na decisão podem não ser novidade, porém, o consenso pela não-
inclusão pode identificar critérios que, de fato, não agregam valor na hora de optar
por tecnologias e podem até atrapalhar. Esses são critérios que os estudos futuros
podem eliminar ou mesmo definir como opcionais para a decisão.
No caso das inclusões (Tabela 28, pg. 97), percebe-se que o grupo como um
todo está alinhado com a opinião dos reconhecidos tomadores de decisão. Existe,
inclusive, verdadeiro consenso a respeito da concentração de DBO, fator importante
na definição da quantidade de impurezas na água. Entre decisores, houve consenso
também a respeito da concentração dos sólidos em suspensão e da área disponível
para construção. Esses dois critérios pertencem, respectivamente, às categorias de
eficácia e impacto ambiental, o que sugere que, independente do objetivo da ETE ou
da instituição, a decisão deve ser norteada por ambas as categorias ainda que
considere apenas alguns de seus critérios.
Para as não-inclusões (Tabela 29, pg. 97), a diferença entre os percentuais
em si é maior do que no caso das inclusões, indicando menor nível de acordo entre
os julgamentos desses critérios. Isto é, enquanto a diferença entre os critérios mais
incluídos é de apenas 3% na taxa de inclusão, esse caso apresenta diferença de
24% na taxa de não-inclusão, um sinal da variedade de opiniões sobre esses
critérios.
No entanto, parece haver, novamente, alinhamento entre os entrevistados
como um todo e o grupo de decisores. Os decisores, porém, aparentam mais
certeza na exclusão desses critérios, uma vez que seus percentuais são maiores
que os do grupo. Isso pode ser um reflexo da experiência dos decisores
entrevistados, que já sabem quais informações são realmente desnecessárias e
podem ser descartadas no momento de uma decisão.
Com relação às indecisões (Tabela 30, pg. 98), uma possível característica
comum aos critérios desse conjunto é a dificuldade de medi-los, tanto precisamente
quanto de forma aproximada, o que pode ter sido o motivo responsável pela dúvida
114
nos entrevistados. Para o desenvolvimento da pesquisa, pode-se dar mais atenção a
esse grupo de critérios, coletando respostas de maneira presencial, em entrevistas.
Dessa forma, seria possível entender o que cada entrevistado compreende pelo
nome do critério e o que ele representa em sua realidade.
Na análise da taxa de indecisão, para o grupo de 14 entrevistados com taxa
superior a 10%, investigaram-se as respostas individualmente, procurando-se
semelhança entre os critérios geradores de indecisão. Observou-se, no entanto, que
não é possível identificar unanimidade quanto a esses critérios.
5.2.4 Análise de critérios do setor industrial
Os julgamentos referentes aos sete critérios levantados pelo estudo do setor
industrial foram diversos. A análise a seguir sugere uma explicação para esses
resultados.
Houve boa aceitação de três critérios, com mais de 70% de inclusão cada
(Tabela 32, pg. 100). São eles:
“Relação entre custos de operação e custos totais”, por apresentar uma
abordagem significativa da questão dos custos do projeto,
considerando tanto os custos totais quanto um dos principais custos de
processos em geral, o de operação;
“Falta de assistência técnica para uma tecnologia”, está relacionada à
confiabilidade de um processo, especialmente em se tratando de
processos contínuos, com demanda e desgaste diários da tecnologia
empregada;
“Adaptabilidade da tecnologia à mão de obra”, pode ser referente à
quantidade de pessoas necessárias para operar a ETE, assim como o
custo de treinar a mão de obra, caso necessário.
Dois critérios, porém, apresentaram altas taxas de não-inclusão e indecisão
no conjunto de critérios do setor industrial, figurando inclusive na lista de não-
inclusões e indecisões frequentes. São eles:
“Erro humano durante a produção”, pode referir-se à dificuldade de
medir ou mesmo identificar esse tipo de erro durante a operação da
ETE;
115
“Escolha de tecnologia diferente da empresa líder na indústria”, válido
especialmente no caso das respostas do setor público, que costuma
ser o líder no setor de saneamento. Porém, é possível que existam
empresas no setor privado querendo introduzir novas tecnologias no
mercado, motivo pelo qual o líder não seria seguido e esse critério
tornar-se-ia desnecessário.
É interessante perceber que, apesar de a falta de assistência técnica ser uma
preocupação na decisão, o fato de a tecnologia não ser igual à do líder do mercado
não influi nesse critério, como sugerido por Stobaugh e Wells, Jr. (1984). Isso pode
se dever ao fato de o mercado de serviços para tratamento de esgotos ser dominado
pelas estatais ou concessões, ou seja, não existe a concorrência entre empresas tal
como vista no setor de produção de bens de consumo, por exemplo.
Com exceção do critério de “Preferência por automatização”, os decisores são
mais conservadores do que o grupo como um todo, apresentando graus de não-
inclusão maiores do que os da amostra (Tabela 33, pg. 100). Já com relação às
indecisões, é interessante ver que não houve dúvida entre os decisores referente à
falta de assistência técnica para uma tecnologia, o que sugere que esse critério se
aplica ao setor de saneamento e sua contribuição para a decisão pode ser medida e
avaliada.
Considerando-se a maior experiência dos decisores nos processos de uma
ETE e os resultados dessa análise, pode-se sugerir que pelo menos três critérios do
setor industrial têm espaço no setor de saneamento, requerendo talvez maior
detalhamento sobre seu significado e medição, ou alguma adaptação para a
realidade do setor. Ou seja, a inclusão desses critérios é uma maneira de enriquecer
a escolha tecnológica em saneamento com o conhecimento desenvolvido e testado
em outras áreas.
116
6 Considerações finais
Ao longo desta pesquisa, foram investigados alguns aspectos da tomada de
decisão no setor de saneamento, mais especificamente, o papel dos critérios de
decisão. Como visto na revisão de literatura, decisões são compostas por aspectos
diferentes – funcional, econômico, ambiental e sociocultural, cada qual definido por
um conjunto de critérios. Sendo assim, definiu-se a categorização dos critérios de
decisão e levantou-se a hipótese de que seria impraticável fazer uma escolha que
priorizasse e otimizasse as três categorias. Ou seja, o objetivo da pesquisa era
compreender melhor o processo de escolha tecnológica ao traçar perfis de decisão
que considerassem a valorização dos critérios de decisão, assim como as
características pessoais do agente decisor. Para tal, buscou-se a opinião de alguns
atores da tomada de decisão no setor de saneamento, área escolhida para motivar a
pesquisa. Esses entrevistados se dividiam principalmente em acadêmicos e
profissionais, decisores e não-decisores e atuantes do setor público e privado. Com
esses dados de características pessoais, buscaram-se semelhanças e diferenças de
opiniões, que levariam à criação de aglomerados de entrevistados, definindo um
perfil de decisão.
A apresentação e análise dos dados deram-se através de tabelas descritivas
e de um gráfico representando o espaço tridimensional, que auxiliava na
visualização do agrupamento das respostas do questionário. Nesse gráfico, cada
eixo representa uma categoria de critérios, enquanto as coordenadas de cada ponto
indicam o nível de importância dada a cada categoria. Ou seja, quanto maior o valor
da coordenada em um eixo, mais prioridade é dada aos critérios daquela categoria
por aquele entrevistado.
Os resultados mostraram que, em uma situação hipotética de escolha
tecnológica, tal como apresentada pelo questionário usado, existe tendência a
considerar o maior número possível de critérios. Isso foi visto pela organização
tridimensional das respostas dos entrevistados, que acompanha a reta ligando a
origem do gráfico ao ponto (1,1,1), representativo da priorização simultânea de todas
as categorias de critérios. Acredita-se, porém, que isso resulte da falta de
contextualização do questionário, que apresentou uma situação ideal e irreal de
escolha tecnológica. Como foi visto na seção 2.2.5, contendo um resumo das
tecnologias disponíveis para tratamento de água e esgotos, e especialmente na
117
Tabela 7 (pg. 55), existem vantagens e desvantagens para qualquer tecnologia e,
com isso, torna-se praticamente impossível otimizar todos os aspectos de uma
decisão. Isto é, apesar da vontade expressa por alguns entrevistados de considerar
muitos critérios de decisão de todas as categorias, seria irreal achar que essa
decisão de fato alcançaria uma solução ideal para atender a todos eles. Além disso,
a disponibilidade e a qualidade das informações nem sempre é garantida, de
maneira que um entrevistado que considere muitos critérios pode se deparar, em
algum momento, com informações fragmentadas ou mesmo inexistentes, o que
prejudica sua decisão. Para o nível gerencial do mercado pesquisado, esse
resultado mostra o quanto é importante incluir restrições não opcionais que têm
impacto nos critérios de decisão. Por exemplo, recursos humanos disponíveis e
localização geográfica da estação podem alterar consideravelmente o conjunto de
critérios usados na escolha, uma vez que essas restrições impactam o julgamento
dos critérios “adaptabilidade da tecnologia à mão de obra” e “área disponível para a
estação”, respectivamente. Mas, além disso, é também primordial que se tente
melhorar a qualidade das informações disponíveis, permitindo que as escolhas
tecnológicas sejam feitas com base em medições confiáveis e, talvez, requerendo a
consideração de cada vez menos critérios.
Apesar disso, identificaram-se algumas tendências, como, por exemplo, o
alinhamento de opiniões entre decisores e não-decisores, sugerindo que os últimos
já têm alguma experiência para saber quais critérios descartar em uma decisão.
Esse achado contribui positivamente para conclusões acerca da formação de futuros
decisores, uma vez que se percebe que estão trilhando os caminhos de seus
predecessores. Ao mesmo tempo, é interessante descobrir se, ainda que estejam
bem treinados e orientados, esses futuros decisores são capazes de questionar o
status quo e propor inovações e melhorias para o processo de decisão. Esse estudo
pode ser realizado através de uma dinâmica ou simulação de decisão com não-
decisores, oferecendo-lhes os mesmos recursos disponíveis para decisores e
observando a linha de raciocínio seguida pelos indivíduos sendo testados. Ao
mesmo tempo, o acompanhamento de alguns indivíduos ao longo do tempo,
enquanto evoluem em suas carreiras e como tomadores de decisão, fornece dados
do processo de amadurecimento sem perder o registro histórico das opiniões de
quem fosse estudado. Com isso, pode-se comparar as opiniões da mesma pessoa
em diversas fases e em diversas condições de trabalho e mercado. Além disso,
118
haveria registro de dados de interação com outros agentes da decisão, que
sabidamente influenciam o resultado final.
Encontraram-se resultados que sugerem diferença entre práticas do setor
público e do setor privado. Mais especificamente, o primeiro grupo tende a priorizar
critérios de impacto ambiental, enquanto o segundo valoriza critérios de eficácia.
Isso não significa que ambos os setores levariam em consideração todo tipo de
critério, mas sim que sua prática requer foco nas categorias mencionadas.
Considerados os produtos e a natureza de cada setor, esse resultado faz sentido, já
que o setor público é voltado para a prestação de serviços públicos, enquanto o
setor privado opera buscando lucros próprios. Nesse cenário, portanto, o impacto
ambiental se destaca como interesse público e coletivo, mas a eficácia para limpar
água e esgotos representa mais qualidade em um produto, que pode então ser
vendido por um preço mais alto e gerar mais lucros.
No caso dos critérios da categoria “outros”, por serem principalmente
referentes a custos, as respostas podem ter sofrido um viés “politicamente correto”.
Isto é, para não fornecer uma resposta extremamente tendenciosa para custos,
alguns entrevistados podem ter preferido não incluir todos os critérios dessa
categoria.
Viu-se também que, apesar do estudo ter sido conduzido no setor de
saneamento, existe interseção considerável com o setor industrial em termos de
critérios de decisão aplicáveis a ambos. Alguns desses critérios geram indecisão
para quem atua no setor de saneamento, mas isso mostra que podem ser foco de
um estudo específico, que os detalhe e adapte para outros setores.
Um dos achados mais valiosos da pesquisa é a necessidade de considerar
aspectos sociais durante uma decisão. Assim como o impacto ambiental, essa
categoria de critérios é relativamente nova e ainda requer estudo e análise. Como
mostraram os entrevistados, porém, o conceito já permeia as escolhas de muitos
profissionais e acadêmicos, especialmente dos tomadores de decisão em prática
atualmente. Para consideração futura, pode-se incluir a quarta categoria, “impacto
social”, na qual seriam medidas questões como empregos gerados e aceitação
pública, por exemplo.
Na seção 4.4.2, os entrevistados demonstraram preocupação com os pesos
atribuídos a cada critério, além de outras variáveis, como prazos durante uma
decisão, disponibilidade das informações e outras particularidades da localização da
119
ETE. Como mencionado naquela seção, esses não são critérios em si, mas
restrições de um problema de otimização. Entende-se que esse tipo de melhoria na
pesquisa seja importantíssimo para a compreensão real do processo de escolha
tecnológica.
Finalmente, uma das observações mais marcantes da pesquisa é a
correlação curiosa entre os objetivos de uma estação, segundo os entrevistados, e
os critérios de decisão usados para escolher a tecnologia dessa estação. Na análise
por tipo de setor, viu-se que, enquanto o setor público prioriza critérios de impacto
ambiental, seus objetivos estão voltados para a eficácia do processo. Já no caso do
setor privado, os resultados são o oposto, com critérios de eficácia sustentando um
objetivo de impacto ambiental.
Ainda que esse último achado desperte questionamentos e polêmica, é
justamente por essas características que deve ser objeto de estudos futuros. A fim
de relacionar as respostas no nível de detalhe do entrevistado e, possivelmente,
encontrar um aspecto que distinga aquelas sem sincronia, é necessário realizar uma
observação mais específica e minuciosa.
Esse resultado pode ainda apoiar outras questões, algumas já mencionadas
neste estudo. São elas:
Existe alinhamento entre instituição e executor?
o Pode-se investigar os objetivos das organizações e instituições
onde atuam os entrevistados.
Existe paralelo entre percepção da prática e orientação técnica?
o Procura-se estudar a opinião pessoal de cada entrevistado e
confrontá-la com os métodos de trabalho praticados na empresa.
Existe alinhamento entre a aparência e a realidade?
o Busca-se entender como a empresa deseja ser percebida pelo
consumidor e o que de fato alcança com seus esforços. Nesse
caso, seria necessário o envolvimento de consumidores com um
questionário específico.
O método de categorização dos objetivos e critérios é o melhor
possível?
o Pretende-se elaborar e testar novas formas de categorizar os
objetivos, inclusive perguntando diretamente ao entrevistado a
120
categoria de seu objetivo. Os métodos de pontuação, por serem
flexíveis e, por vezes, subjetivos, influenciam diretamente nos
resultados finais.
O estudo mostrou, acima de tudo, que a tomada de decisão,
independentemente do setor, é complexa e influenciada por diversos elementos,
alguns dos quais não se pode controlar. Sendo assim, decisores e não-decisores, de
ambos os ramos de atuação, buscam exercer o melhor julgamento, de maneira a
otimizar o resultado para todos os agentes envolvidos. Empresas e instituições de
pesquisa e ensino agem conforme valores bem estabelecidos e atemporais, mas
também levam em conta as investigações e descobertas mais recentes, que, sem
dúvida, terão seus impactos reais em um futuro próximo.
6.1 Sugestões para estudo futuro
Como visto anteriormente, esta pesquisa utilizou a metodologia survey para
coleta de dados. Considerando as variáveis envolvidas nesse processo, é possível
afirmar que as respostas recebidas são passíveis de interpretação e viés humano,
tanto do pesquisador quanto do próprio entrevistado. Por exemplo, a quantidade de
critérios apresentados, assim como sua distribuição no questionário, pode ter
influenciado a disposição do entrevistado para enviar respostas. Além disso, as
diversas metodologias de análise de texto e aglomeração mostraram que existem
vários ângulos pelos quais analisar o conteúdo coletado. Essas e outras
considerações, reveladas a seguir, mostram o potencial para estudo futuro relevante
na compreensão de critérios de escolha de tecnologia para ETEs.
6.1.1 Aglomeração
A análise das alocações baseadas em percentual de critérios incluídos de
cada categoria possibilita uma primeira tentativa de estudar os grupos de
entrevistados com base em suas prioridades. Porém, como sugerido anteriormente,
uma conclusão mais elaborada depende da investigação das coordenadas dos
centros de massa calculados, conforme realizado na seção 5.1. Apesar de algumas
conclusões terem sido propostas, receia-se que, infelizmente, restrições como o
tamanho da amostra e a duração da pesquisa limitem o aprofundamento deste
121
estudo, impedindo o maior refinamento das coordenadas e a afirmação do que elas
significam exatamente em termos de importância dada a cada categoria.
Em cenário mais propício, verificar-se-ia que, assim como as coordenadas
dos indivíduos da amostra, a localização dos centros de massa também representa
uma pontuação referente aos critérios de decisão. Ou seja, é possível transformar as
coordenadas, que variam de zero a um em pontuações para cada categoria,
variando de zero ao número de critérios na categoria, isto é, o caminho inverso do
procedimento feito para analisar as respostas da survey. No entanto, seria
impossível reproduzir a combinação exata de pontos para cada critério.
O sistema de pontuação, que considera apenas os critérios incluídos, ignora a
representatividade dos critérios que geraram indecisão, por exemplo. Ou seja, aloca-
se um indivíduo em um aglomerado, com base nas suas escolhas de inclusão de
critérios em cada categoria, mas desconsidera-se o que ele não sabe das mesmas
categorias. Isto é, caso houvesse investigação dos critérios que geraram dúvida,
esse indivíduo poderia inclusive ter sua alocação alterada.
Ainda tratando de não inclusões e indecisões, verifica-se que um centro de
massa com classificação Baixa-Alta-Alta, por exemplo, reflete poucos critérios
incluídos da categoria “Eficácia”. Porém, devido ao método de percentual de
inclusão utilizado, não se sabe se esse resultado é devido a muitas não-inclusões ou
a várias indecisões. No primeiro caso, os integrantes do aglomerado de fato não
priorizam a categoria “Eficácia”, porém, no segundo, é provável que o julgamento
dos critérios mude, dependendo do que gera a indecisão nos entrevistados. Caso
isso ocorra, sua alocação seria alterada, assim como a caracterização dos
aglomerados que passariam a conter esses integrantes. Com essa discussão,
deseja-se mostrar que, apesar de não ter sido desenvolvido nesta pesquisa, a
escolha não aparenta ser binária – incluir ou não incluir – e que muito ainda pode ser
coletado através de entrevistas pessoais ou interação dos entrevistados, em uma
mesa redonda ou através do método Delphi, por exemplo.
Vale ressaltar que se escolheu incluir as opções de não inclusão e indecisão
a fim de evitar que os entrevistados respondessem ao questionário simplesmente
marcando todos os critérios, como aconteceu em alguns casos. Ou seja, com as
alternativas oferecidas tentou-se fazer com que a resposta fosse pensada de fato,
ainda que na ausência de restrições e cenários.
122
Existem algumas opções para melhorar o sistema de “pontuação” e a
qualidade das respostas, elencadas abaixo:
1. pré-determinar um cenário para contextualizar a resposta, ou seja,
definir um ambiente mais próximo da realidade, com restrições
orçamentárias, de tempo ou localização, por exemplo, que são fatores
limitantes e significativos para a escolha de critérios;
2. pedir que julguem o critério da mesma maneira, porém, atribuindo
pesos aos critérios, conforme praticado no mercado, a fim de obter
maior aderência com a realidade do entrevistado e representar mais
fielmente a importância de cada inclusão ou não inclusão na categoria;
3. pedir que o entrevistado distribua uma quantidade fechada de pontos
entre critérios, ou seja, o próprio entrevistado poderia julgar o critério
(alocando-lhe pontos) e atribuir peso (com mais ou menos pontos);
4. usar um ranking de importância de critérios em conjunto com um peso
específico por julgamento. Por exemplo, critérios como odor ou
remoção de DBO são muito importantes e estão em posição alta no
ranking, enquanto emissão de CO2 ainda é difícil de medir e pode ser
discutido. Paralelamente, uma indecisão é mais séria do que uma não
inclusão, que se assume ser um julgamento confiante. Portanto, uma
dúvida sobre o critério de odor pesa mais do que sua não inclusão,
além de também pesar mais que uma dúvida sobre a emissão de CO2
na ETE.
Referente ao desalinhamento entre objetivos e critérios priorizados,
considera-se que seria interessante:
padronizar e validar o sistema de categorização das palavras-chave
dos objetivos;
realizar uma entrevista presencial com alguns respondentes, a fim de
alinhar a compreensão do pesquisador e a intenção do entrevistado
para respostas de texto livre;
realizar uma pesquisa sobre os objetivos da instituição, no intuito de
descobrir se o questionário foi respondido de maneira a refletir parte da
opinião própria do entrevistado e parte da cultura organizacional, que
123
pode estar refletida em sua maneira de pensar e se expressar, ainda
que inconscientemente;
utilizar um cenário contextualizado no questionário, menos abrangente
ou ideal do que o da atual pesquisa, a fim de orientar os entrevistados
minimamente, diminuindo os efeitos negativos da interpretação
pessoal. Ou seja, em se tratando de um campo de pesquisa tão vasto
como tomada de decisão, é mais seguro fixar o máximo de variáveis
possível, a fim de estudar apenas o efeito da variável desejada. Caso
contrário, os resultados serão contaminados por variáveis que estão
fora do controle ou compreensão da pesquisa.
Além dos casos de aglomeração, identificou-se espaço para melhorias nas
outras análises propostas, visto a seguir.
6.1.2 Outras análises
Como não era sabido de antemão as palavras que seriam usadas para
descrever os objetivos da ETE, não se fez uma lista para servir de referência
durante a análise das respostas de texto livre. Entende-se que este aspecto possa
ter prejudicado ou causado viés à avaliação dos textos, uma vez que a
categorização das palavras se deu somente pelo julgamento da autora desta
pesquisa. Isto é, a exclusividade das unidades de registro não foi garantida durante
o andamento da pesquisa, uma vez que não ficou pré-determinado quais palavras
seriam categorizadas como eficácia, quais como impacto ambiental e quais seriam
da categoria “Outros”. Além disso, a atribuição de um ponto por palavra ou
expressão-chave permitiu empates, o que causou a categorização dos objetivos em
categorias “mescladas”.
Ainda em relação à observação das respostas sobre objetivos da ETE,
deseja-se sugerir duas comparações em um estudo futuro:
1. Análise do alinhamento entre a categoria do objetivo proposto por
cada entrevistado e o resultado da aglomeração referente à
priorização de critérios. Isto é, definir se o objetivo da decisão é
sustentado por critérios da mesma categoria. Como já foi observado
acima, existem melhorias a realizar na própria metodologia de
124
pesquisa, porém, a análise apenas de objetivos e critérios é uma
ramificação para a nova pesquisa.
2. Comparação entre os objetivos propostos por cada entrevistado e
aquele utilizado pela instituição onde atua para definir o funcionamento
da ETE. Nesse caso, além de se tratar de melhoria nesta pesquisa,
esse estudo visa compreender melhor a comunicação entre gestores e
funcionários, assim como motivar a discussão sobre como a instituição
quer ser representada por seu corpo de trabalho.
Ambas as comparações abordam desalinhamentos entre o ideal e a prática
no setor de saneamento. Entende-se que esse tema é relevante para gerentes, uma
vez que se torna complicada a gestão de equipes fora de sintonia, tanto
internamente quanto com a instituição onde atuam.
Com relação à observação dos critérios mais frequentes, acredita-se que o
estudo da indecisão pode ser feito com mais profundidade, a fim de encontrar os
motivos pelos quais aqueles critérios geram dúvidas e até fomentar a discussão
entre os entrevistados. No cenário desta pesquisa, isso seria pouco prático, uma vez
que vários entrevistados não estavam na mesma região ou mesmo disponíveis para
uma sessão de entrevista ou mesa-redonda. Porém, uma ideia para conduzir esse
desenvolvimento é a utilização do método Delphi, que pode começar com pequenos
grupos regionais e evoluir para painéis interestaduais, dependendo da aceitação e
resultados.
Na realidade, entende-se que o método Delphi seria ideal para toda a coleta
de dados desta pesquisa e considerou-se fazê-lo através de e-mail ou e-survey.
Porém, novamente, por restrições de duração do estudo, optou-se por coletar as
respostas uma única vez. Acredita-se, no entanto, que essa seria uma maneira de
coletar informações ricas para nova avaliação, além de divulgar a pesquisa para os
participantes do painel de forma mais marcante.
Por fim, vale lembrar que a questão do impacto ambiental é ainda recente nos
estudos de escolha tecnológica, de maneira que alguns desses critérios e seus
impactos podem ser pouco conhecidos por alguns entrevistados. Nesse caso, seria
ainda mais válido optar por uma discussão presencial, onde cada entrevistado pode
compartilhar seu conhecimento e argumentos sobre os critérios.
125
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132
Apêndice A – Estrutura da Survey
Os blocos de informações solicitadas no questionário foram:
Por favor, forneça alguns dados que nos ajudarão a mapear o universo de
entrevistados.
Cargo
Instituição/Empresa
Cidade
Estado
Endereço de correio eletrônico
A seu ver, qual é o principal objetivo de uma estação de tratamento de
esgotos?
Para cada critério a seguir, indique se deveria ser necessariamente incluído
na análise de escolha de tecnologia para uma estação de tratamento de
esgotos.
Incluir Não incluir Indeciso
Critérios referentes à operação
Adaptabilidade da tecnologia à mão-de-obra
Área da ETE/1000 habitantes (projeto)
Confiabilidade no sistema (riscos de falha)
Consumo de energia
Consumo de energia/kg DQO removida
Erro humano durante a produção
Escolha de tecnologia diferente da empresa líder na indústria
Estética (ex. odor)
Falta de assistência técnica para uma tecnologia
Geração de CO2
Geração de renda pelo aproveitamento dos resíduos sólidos
Grau de instrução necessário para a mão-de-obra
Grau de simplicidade de implantação e ampliação
Grau de simplicidade de operação e manutenção
Número de intervenções de manutenção/1000 habitantes (projeto)
Número de motores elétricos/1000 habitantes (projeto)
Possibilidade de reaproveitamento dos resíduos gerados
Preferência por automatização
Produção de resíduos sólidos (ex. lodo)
Resistência da ETE a variações de carga
Tamanho da equipe necessária para operar
Critérios referentes ao efluente
Concentração de amônia
Concentração de coliformes fecais
Concentração de DBO
Concentração de DQO
Concentração de fósforo total
Concentração de metais pesados
133
Incluir Não incluir Indeciso
Concentração de nitrogênio total
Concentração de químicos dissolvidos
Concentração de sólidos em suspensão
Critérios referentes à localização da estação de tratamento
Aceitação/rejeição pública
Área disponível para construção
Características do corpo receptor
Clima e variações de temperatura
Confiabilidade no fornecimento de energia
Efeitos para a biodiversidade do local de implantação da ETE
Tamanho da comunidade atendida
Topografia da região e bacias de drenagem
Impactos sociais (melhorias na qualidade de vida, criação de empregos, etc.)
Utilização de recursos materiais locais
Volume diário tratado e variação sazonal da vazão
Critérios referentes aos custos do processo
Custo de implantação/habitante (projeto)
Custo de manutenção/habitante (atual)
Custo de operação e manutenção
Custo de operação/habitante (atual)
Custo de operação/kg de DQO removida
Custo de operação/m3 tratado
Custo dos insumos (ex. energia elétrica, terra)
Influência governamental (ex. incentivos fiscais)
Investimento inicial
Relação entre custos de operação e custos totais
Existem outros critérios que deveriam influenciar o processo de escolha de
tecnologia para estações de tratamento de esgotos? Quais?
134
Apêndice B – Percentuais de inclusão
A Tabela 45 mostra o percentual de inclusão para todos os critérios da
pesquisa. Estes poderiam ser vistos como percentuais de “aceitação” do critério.
Tabela 45 Percentual de inclusão para todos os critérios Categoria Critério %Aceitação
Eficácia Concentração de DBO 100%
Eficácia Concentração de sólidos em suspensão 98%
Impacto ambiental Área disponível para construção 97%
Impacto ambiental Características do corpo receptor 97%
Outro Custo de operação e manutenção 97%
Impacto ambiental Estética (ex. odor) 97%
Eficácia Concentração de DQO 94%
Eficácia Concentração de fósforo total 94%
Outro Custo de implantação/habitante (projeto) 94%
Outro Custo dos insumos (ex. energia elétrica, terra) 92%
Outro Investimento inicial 91%
Impacto ambiental Tamanho da comunidade atendida 91%
Eficácia Concentração de coliformes fecais 89%
Outro Confiabilidade no sistema (riscos de falha) 89%
Outro Grau de simplicidade de operação e manutenção 89%
Outro Relação entre custos de operação e custos totais 89%
Outro Resistência da ETE a variações de carga 89%
Impacto ambiental Aceitação/rejeição pública 88%
Outro Confiabilidade no fornecimento de energia 88%
Outro Custo de manutenção/habitante (atual) 88%
Outro Custo de operação/m3 tratado 88%
Impacto ambiental Possibilidade de reaproveitamento dos resíduos gerados 88%
Eficácia Concentração de nitrogênio total 86%
Impacto ambiental Consumo de energia 86%
Impacto ambiental Produção de resíduos sólidos (ex. lodo) 86%
Eficácia Topografia da região e bacias de drenagem 86%
Eficácia Volume diário tratado e variação sazonal da vazão 86%
Outro Falta de assistência técnica para uma tecnologia 85%
Outro Grau de simplicidade de implantação e ampliação 85%
Outro Custo de operação/habitante (atual) 83%
Impacto ambiental Consumo de energia/kg DQO removida 82%
Eficácia Concentração de amônia 80%
Impacto ambiental Tamanho da equipe necessária para operar 77%
Outro Adaptabilidade da tecnologia à mão-de-obra 74%
Outro Impactos sociais (melhorias na qualidade de vida, criação de empregos, etc.) 74%
Eficácia Clima e variações de temperatura 73%
Impacto ambiental Efeitos para a biodiversidade do local de implantação da ETE 70%
135
Categoria Critério %Aceitação
Impacto ambiental Área da ETE/1000 habitantes (projeto) 67%
Eficácia Concentração de metais pesados 67%
Outro Custo de operação/kg de DQO removida 65%
Outro Preferência por automatização 65%
Outro Influência governamental (ex. incentivos fiscais) 64%
Outro Utilização de recursos materiais locais 64%
Impacto ambiental Grau de instrução necessário para a mão-de-obra 61%
Impacto ambiental Geração de CO2 59%
Eficácia Concentração de químicos dissolvidos 55%
Outro Número de intervenções de manutenção/1000 habitantes (projeto) 55%
Outro Geração de renda pelo aproveitamento dos resíduos sólidos 52%
Outro Número de motores elétricos/1000 habitantes (projeto) 50%
Eficácia Erro humano durante a produção 39%
Outro Escolha de tecnologia diferente da empresa líder na indústria 27%
136
Apêndice C – Classificação de objetivos
A Tabela 46 abaixo contém as palavras e expressões identificadas nos textos
de objetivos para categorização dos mesmos. O exemplo mostra como essas
expressões foram identificadas e classificadas.
Objetivo: “reduzir os contaminantes a níveis aceitáveis e dispor os
efluentes (fases sólida e líquida) no meio ambiente para reuso, sem
ocasionar impacto negativo”.
Expressões marcadas: contaminantes (eficácia); meio ambiente e
impacto negativo (impacto ambiental); e reuso (outros).
Na tabela, cada linha representa a resposta de um entrevistado. Na quarta
coluna (Objetivo-máx), o resultado da categoria do objetivo, baseado no saldo de
pontos das expressões (uma expressão equivalia a um ponto para a categoria).
Alguns casos resultaram em empates.
Tabela 46 Relação de palavras e expressões-chave para categorização dos objetivos Eficácia Impacto ambiental Outros Objetivo-máx
contaminantes meio ambiente
impacto negativo
reuso Impacto ambiental
depurar
própria para lançamento
(apropriada)
Eficácia
correto tratamento agressivo
meio ambiente
reaproveitamento Impacto ambiental
qualidade águas receptoras
vida aquática
animais
usos pré-estabelecidos
usos mais nobres
abastecimento público
irrigação
Outros
cargas orgânicas Eficácia
cursos d'água
bacia hidrográfica
saúde da população Impacto ambiental
preservação ambiental saúde pública Impacto ambiental/Outros
cargas orgânicas
fósforo
nitrogênio
Eficácia
qualidade melhor corpo receptor Eficácia/Impacto ambiental
não-contaminação meio ambiente Eficácia/Impacto ambiental
grau de tratamento ambiente Eficácia/Impacto ambiental
condições sanitárias Eficácia
decomposição de
contaminantes
matéria orgânica
concentrações
otimiza os processos
ecossistema
corpo d'água
proteção
Eficácia
137
Eficácia Impacto ambiental Outros Objetivo-máx
adequação de carga
condições apropriadas
lodo e gases impactos
corpos receptores
fertilizante (reuso)
fonte de energia
reaproveitados
Outros
corpo receptor
características originais
Impacto ambiental
parâmetros físico-químicos
e biológicos
meio ambiente
efeitos poluidores
saúde pública Impacto ambiental
natureza
preservar
meio ambiente
Impacto ambiental
qualidade
legislação vigente
Eficácia
corpos hídricos
poluição
autodepuração Impacto ambiental
qualidade corpos hídricos
melhoria ambiental
saneamento básico
qualidade de vida
Impacto ambiental/Outros
eficiente
padrões de potabilidade
menor custo Eficácia
legislação ambiental menor custo Impacto ambiental/Outros
legislação Eficácia
meio ambiente qualidade de vida Impacto ambiental/Outros
carga orgânica
legislação
menor impacto
corpos hídricos
corpo receptor
outorga Impacto ambiental
meio ambiente
agressão ambiental
Impacto ambiental
tratar Eficácia
eficientemente
matéria orgânica
elementos eutrofizantes
legislação
ecossistema saneamento básico
bem estar
condições de vida
Eficácia
contaminem meio ambiente
preservando
qualidade de vida
doenças
Impacto ambiental/Outros
degradação e poluição
meio ambiente
Impacto ambiental
ambiental sanitária Impacto ambiental/Outros
carga orgânica
padrões de lançamento
ecossistema patogênica Eficácia
não poluir saúde da população Impacto ambiental/Outros
matéria orgânica meio ambiente Eficácia/Impacto ambiental
meio ambiente saúde das pessoas Impacto ambiental/Outros
138
Eficácia Impacto ambiental Outros Objetivo-máx
corpo de água
degradação
Impacto ambiental
impurezas classe do rio
degradação ambiental
condições econômicas Impacto ambiental
corpos receptores qualidade de vida Impacto ambiental/Outros
carga orgânica
parâmetros fixados
Eficácia
características físico-
químicas e bactereológicas
exigências legais
corpo receptor Eficácia
drenar redes coletoras Outros
padrões legais normas internas Eficácia
corpo receptor Impacto ambiental
meio ambiente saúde
bem estar
doença
Outros
remoção de sólidos em
suspensão
carga orgânica
organismos patogênicos
Eficácia
matéria orgânica água reutilizável Eficácia/Outros
depurar corpos receptores reutilizadas Todos
prejudicar o meio Impacto ambiental
poluição
corpos receptores
manaciais
Impacto ambiental
Poluentes Impacto ambiental
padrão de lançamento corpo receptor Eficácia/Impacto ambiental
padrões de qualidade qualidade ambiental saúde da população Todos
Objetivo deixado em branco
Nenhum (erro ao
preencher)
potencial poluidor
órgão ambiental
meio ambiente
Impacto ambiental
meio ambiente desenvolvimento
sustentável
Impacto ambiental/Outros
corpos receptores
descarte adequado
aproveitamento do material
orgânico
fertilização (reuso)
Impacto ambiental/Outros
saúde pública Outros
carga orgânica meio ambiente Eficácia/Impacto ambiental
impacto ambiental saúde pública Impacto ambiental/Outros
impacto ambiental Impacto ambiental
matéria orgânica
organismos patogênicos
usos preponderantes Eficácia
139
Eficácia Impacto ambiental Outros Objetivo-máx
"saúde ambiental" saúde coletiva Impacto ambiental/Outros
recursos naturais
poluição
saúde Impacto ambiental
qualidade corpo receptor Eficácia/Impacto ambiental
matéria orgânica autodepuração Eficácia/Outros
Tratar Eficácia