escolas de gêneros 2

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Panorama dos Estudos Sobre Gêneros Textuais Vicentina Ramires Universidade Federal Rural de Pernambuco Resumo: Neste ensaio apresentamos uma visão panorâmica sobre os estudos de gêneros textuais, ressaltando-se os paradigmas de diferentes correntes e como o conceito de gênero textual foi sendo formulado nessa trajetória, de modo que seja possível apresentar um quadro um pouco mais nítido dessa nova orientação nos estudos da linguagem. Esses estudos, que constituem as chamadas escolas – a norte-americana, a de Genebra, a de Bakhtin, entre outras –, têm orientado as análises de gêneros na perspectiva de que esses sejam considerados em seus aspectos sociocomunicativos e funcionais, e não em seus aspectos formais (estruturais ou lingüísticos). Palavras-chave: gêneros textuais; comunidade discursiva; interacionismo sociodiscursivo Abstract: In this essay, we present some of the most important theories in text genre studies and the development of different approaches in order to have a clearer view of this recent concern in linguistics studies. These influential studies (often grouped in schools -- North American, Genebra, Bakhtin, among others) focus on socio-communicative and functional aspects, rather than the formal ones (structural and linguistic) in genre analysis. Key-words: text genre; discourse communities; socio-interacionism. Résumé: Cet essai présente une vision panoramique autour des études des genres textuels, mettant en relief les paradigmes des différents courants et comme le concept de genre textuel vient d’être reformulé dans cette trajectoire, d’une façon d’être possible présenter un tableau un peu plus clair de cette nouvelle orientation dans les études du language. Ces études, qui constituent les écoles, connues comme – la nort-americainne, celle de Genebre, celle de Bakthinne, entre autres – ont orientées les analyses des genres dans la perspective de que ceux-ci soient considerés dans ces aspects sociocommunicatifs et fonctionnels, et pas dans ces aspects formels (de la structure ou linguistique). Mots-clés: genre du discours; communauté du discours ; interaction du discours social. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 1 Nos últimos trinta anos, pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento têm-se dedicado mais sistematicamente ao estudo de gêneros e isso pode ser confirmado pela crescente expansão do número de publicações que tratam especificamente desse tema. Ainda que tais estudos se apresentem sob 1 Algumas das obras consultadas não têm tradução em Português. Optamos por traduzir as citações diretas, salientando que essas são de nossa responsabilidade.

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  • Panorama dos Estudos Sobre Gneros Textuais

    Vicentina Ramires Universidade Federal Rural de Pernambuco

    Resumo: Neste ensaio apresentamos uma viso panormica sobre os estudos de gneros textuais, ressaltando-se os paradigmas de diferentes correntes e como o conceito de gnero textual foi sendo formulado nessa trajetria, de modo que seja possvel apresentar um quadro um pouco mais ntido dessa nova orientao nos estudos da linguagem. Esses estudos, que constituem as chamadas escolas a norte-americana, a de Genebra, a de Bakhtin, entre outras , tm orientado as anlises de gneros na perspectiva de que esses sejam considerados em seus aspectos sociocomunicativos e funcionais, e no em seus aspectos formais (estruturais ou lingsticos). Palavras-chave: gneros textuais; comunidade discursiva; interacionismo sociodiscursivo Abstract: In this essay, we present some of the most important theories in text genre studies and the development of different approaches in order to have a clearer view of this recent concern in linguistics studies. These influential studies (often grouped in schools -- North American, Genebra, Bakhtin, among others) focus on socio-communicative and functional aspects, rather than the formal ones (structural and linguistic) in genre analysis. Key-words: text genre; discourse communities; socio-interacionism. Rsum: Cet essai prsente une vision panoramique autour des tudes des genres textuels, mettant en relief les paradigmes des diffrents courants et comme le concept de genre textuel vient dtre reformul dans cette trajectoire, dune faon dtre possible prsenter un tableau un peu plus clair de cette nouvelle orientation dans les tudes du language. Ces tudes, qui constituent les coles, connues comme la nort-americainne, celle de Genebre, celle de Bakthinne, entre autres ont orientes les analyses des genres dans la perspective de que ceux-ci soient considers dans ces aspects sociocommunicatifs et fonctionnels, et pas dans ces aspects formels (de la structure ou linguistique). Mots-cls: genre du discours; communaut du discours ; interaction du discours social.

    CONSIDERAES INICIAIS1

    Nos ltimos trinta anos, pesquisadores de diferentes reas de

    conhecimento tm-se dedicado mais sistematicamente ao estudo de gneros e

    isso pode ser confirmado pela crescente expanso do nmero de publicaes que

    tratam especificamente desse tema. Ainda que tais estudos se apresentem sob 1 Algumas das obras consultadas no tm traduo em Portugus. Optamos por traduzir as citaes diretas, salientando que essas so de nossa responsabilidade.

  • abordagens diferentes, a ponto de constiturem o que se pode chamar de

    escolas a norte-americana, a australiana (ou de Sydney), a de Genebra, a de

    Bakhtin, entre outras , pode ser constatado como um dos pontos comuns entre

    eles o fato de reconhecerem explicitamente a primazia do social na compreenso

    dos gneros e no papel do contexto (Freedman & Medway 1994:10).

    Essa noo bsica que orienta as pesquisas sobre gneros rompe

    definitivamente com as abordagens tradicionais sobre lngua/linguagem

    aliceradas nos paradigmas da Gramtica Tradicional e com as abordagens

    estruturalistas, as quais no do mais conta de responder dvidas, inquietaes,

    problemticas e desafios que se colocaram para os estudos centrados na palavra,

    na frase ou na estrutura interna do texto, ou seja, seus traos formais ou

    propriedades lingsticas.

    Em artigo que trata da questo dos gneros, da definio e distino dos

    tipos textuais, Marcuschi (2002:20) salienta a natureza malevel, dinmica e

    plstica dos gneros: Eles surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas

    culturas em que se desenvolvem, o que exige que sejam analisados em seus

    aspectos scio-comunicativos e funcionais, e no por seus aspectos formais

    (estruturais ou lingsticos).

    Essa noo, ao mesmo tempo em que representa um avano nos estudos

    da lngua, desperta tambm um problema para os estudiosos, uma vez que suas

    bases de anlise so heterogneas, mltiplas e fluidas, ao contrrio dos critrios

    para anlises formais, que so estanques, homogneos e restritos. Classificar

    gneros, ento, constitui-se um desafio para aqueles que se recusam a enquadrar

    eventos comunicativos essencialmente dinmicos em esquemas ou modelos pr-

    definidos. No se quer negar com isso que uma certa organizao desejvel,

    mas a problemtica de como descrever gneros se firma, portanto, conforme

    questionamento de Machado (1998:2):

    Se a noo de gnero contribui, certamente, para explicar o uso efetivo da linguagem, isso no quer dizer que ela se encontre suficientemente clara e que haja critrios precisos, claros, para a

  • descrio dos seus componentes [] [Da a pergunta:] Como descrever gneros?

    No parece ser tarefa das mais fceis para o analista a identificao e a

    tentativa de organizao de gneros, uma vez que, segundo Bronckart (sd:4),

    devero ser consideradas diferentes sries de critrios potenciais: os

    propriamente psicolgicos (que tratam do tipo de ao engajada e do tipo de

    processos cognitivos mobilizados); os critrios pragmticos (que so as decises

    que todo locutor deve fazer para realizar um ato de produo verbal) e os critrios

    lingsticos (que so as decises a tomar para realizar concretamente um texto no

    quadro das regras de uma dada lngua natural).

    A nfase num ou noutro critrio de anlise, ou mesmo na combinao

    deles, d origem a abordagens diversas, cujas bases nem sempre divergem

    radicalmente, mas definem os modelos tericos de um ou outro estudo, bem como

    as terminologias e categorias diferenciadas que os caracterizam.

    Nesse caso, a perspectiva dos estudos de gneros textuais no objetiva

    classificar textos, uma vez que a nfase desses estudos est na anlise da

    funcionalidade sociocomunicativa e no nos traos formais ou propriedades

    lingsticas, conforme poderemos constatar nas diversas abordagens tericas

    sobre as quais trataremos em seguida.

    Assim, uma primeira considerao a se fazer sobre gneros a de terem

    estes um carter sociocomunicativo, serem situados concretamente em contextos

    sociais de uso, regulados por normas definidas pelas diversas comunidades de

    diferentes culturas, cujas atividades so representadas na linguagem. Outra

    considerao importante, decorrente dessa primeira, que, sem se descuidar

    totalmente de seus aspectos formais ou estruturais, o seu estudo enfatiza suas

    propriedades sociocognitivas, ou seja, suas propriedades funcionais. assim que,

    na anlise de gneros, enfocam-se, principalmente, os componentes sociais,

    histricos, culturais e cognitivos, que lhes do concretude e lhes determinam.

  • Feitas essas consideraes mais gerais, cabe agora tratar de algumas das

    contribuies mais relevantes aos estudos sobre gneros, as quais tm mudado

    no apenas as perspectivas de ensino de lngua, mas colocado em questo a

    prpria concepo de texto que vem sendo defendida nos ltimos 30 anos. Sero

    discutidas trs abordagens desses estudos: a) a viso de gneros de Bakhtin, que

    serviu de base para quase todos os estudos sobre gneros; b) a escola norte-

    americana, com as contribuies de Carolyn Miller, John Swales, Charles

    Bazerman e c) a escola de Genebra, com Bernard Schneuwly, Joaquim Dolz e

    Jean-Paul Bronkcart.

    A teoria de gneros de Bakhtin

    No se pode falar em gneros textuais, ou anlise de gneros, sem

    mencionar a importante contribuio da obra de Bakhtin, sobretudo as teses

    apresentadas em Esttica da Criao Verbal (2000), especialmente na parte

    intitulada Os gneros do discurso, em que discutida a problemtica dos

    gneros textuais em suas formas de interao nas diversas esferas das atividades

    sociais. Antes de entrarmos nessa discusso propriamente dita, cabem algumas

    observaes sobre determinados conceitos bakhtinianos que fundamentam o

    entendimento dessa questo, entre eles o de dialogismo e o de interao verbal,

    de que trataremos em seguida.

    Dialogismo e interao verbal

    Nos estudos sobre gneros uma das referncias mais relevantes a de

    Mikhail Bakhtin, cujos estudos sobre linguagem estabeleceram um marco na

    lingstica moderna e orientaram a maioria das teorias de enunciao hoje

    conhecidas. A formulao de seus conceitos tem como eixo central a idia de que

    a linguagem se situa no interior das relaes sociais mantidas pelos indivduos, o

  • que se contrape explicitamente a duas tendncias marcantes do pensamento

    filosfico-lingstico do comeo do sculo passado: o subjetivismo idealista e o

    objetivismo abstrato. Tratadas em detalhes na obra Marxismo e Filosofia da

    Linguagem (Bakhtin/Volochinov 1999)2, essas duas tendncias servem como

    referncia de contraposio nos demais escritos de Bakhtin, que situam a

    linguagem como prtica social. Na primeira orientao, o psiquismo individual

    constitui o fundamento da lngua, ou seja, o fenmeno lingstico um ato de

    criao individual, cujas leis advm da psicologia tambm individual. Na segunda

    orientao, o centro organizador da enunciao o sistema lingstico que o

    indivduo recebe da sociedade, j constitudo, estvel e imutvel (1999:79).

    A anlise crtica dessas duas orientaes do pensamento filosfico-

    lingstico, no dizer de Bakhtin, foi mais contundente na segunda, o objetivismo

    abstrato. Para, enfim, sustentar a tese de que a enunciao de natureza social

    idia que permeia toda sua obra , Bakhtin (1999:103) afirma que o

    objetivismo abstrato rejeita a enunciao, o ato de fala, como sendo individual, ao

    contrrio do subjetivismo idealista, que s leva em considerao a fala, e conclui:

    Na realidade, o ato de fala, ou, mais exatamente, seu produto, a enunciao, no pode de forma alguma ser considerado como individual no sentido estrito do termo; no pode ser explicado a partir das condies psicofisiolgicas do sujeito falante. A enunciao de natureza social. (grifo do autor)

    Sendo a enunciao uma prtica social, indissocivel das relaes que

    mantm os interlocutores, Bakhtin (1999:121) reitera que: O centro organizador

    de toda enunciao, de toda expresso, no interior, mas exterior: est situado

    no meio social que envolve o indivduo (grifo do autor). Essa tese inter-relaciona-se com outra tese fundamental da teoria bakhtiniana: a de interao verbal.

    2 BAKHTIN, M./ VOLOCHINOV. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 9. ed. So Paulo: Hucitec, 1999. A data das referncias bibliogrficas, dessas e de todas as obras consultadas neste trabalho, correspondem s edies com que trabalhamos.

  • A nfase na interao verbal, prpria da concepo bakhtiniana pode ser

    confirmada sobretudo nas formulaes sobre o papel que assume o interlocutor na

    enunciao, determinando a organizao e a funo do discurso, ou seja, a

    palavra variar segundo as posies sociais que ocupam os indivduos nos grupos

    sociais; os laos que mantm entre si (1999:112); se o destinatrio mais ou

    menos prximo; se concreto ou representado; se percebido com maior ou

    menor clareza. Se a palavra representa o produto da interao entre os falantes

    socialmente organizados, atuando num contexto especfico de produo de

    linguagem, porque toda palavra comporta duas faces. Ela determinada tanto

    pelo fato de que procede de algum, como pelo fato de que se dirige para algum

    (1999:113). Esse outro princpio da teoria bakhtiniana, o dialogismo interacional,

    tem sido objeto de inmeros estudos, que seguem, segundo Cunha (2002),

    basicamente duas tendncias: a) na primeira, o dialogismo tratado de modo

    bastante restrito, com nfase na anlise das formas, cuja preocupao baseia-se

    em critrios tipogrficos ou lingsticos; b) na segunda, analisa-se a dinmica da

    interao entre o discurso de outrem e o contexto no qual ele aparece, para

    compreender as posies dos sujeitos, que podem ser aliados ideologicamente,

    adversrios, portadores de verdade, de erro, etc. (p. 169).

    Bakhtin, mesmo reconhecendo a fora da interao verbal que se

    estabelece entre enunciador e destinatrio do texto, para quem o discurso

    orientado e, intrinsecamente, determina a estrutura do discurso, ameniza o papel

    deste ltimo ao afirmar que: O autor nunca pode entregar-se totalmente e

    entregar toda a sua produo verbal unicamente vontade absoluta e definitiva de

    destinatrios atuais ou prximos.(Bakhtin 2000: 356).

    Esse outro, segundo o prprio Bakhtin (2000:356), no tem nada de

    mstico ou de metafsico [] e, numa anlise mais profunda, pode ser

    descoberto. Tal anlise se d a partir da compreenso dos papis que ele

    assume (Garcez 1998): a) parceiro no dilogo, determinando sua configurao;

    b) o enunciador compreende sua enunciao a partir da possibilidade de

    compreenso do outro; c) fornece a matria-prima do discurso.

  • assim que o conceito bakhtiniano de dialogismo como condio de

    sentido do discurso pode ser desdobrado em dois aspectos, conforme discutem

    Fiorin e Barros (1999): a) a interao verbal entre o enunciador e o enunciatrio do

    texto; b) a intertextualidade no interior do discurso. A partir da noo do primeiro

    que consiste nas relaes entre os participantes da enunciao, considerando

    a situao social em que essa produo se insere e do jogo de vozes no

    discurso que constitui o segundo, situa-se toda a problemtica do estudo sobre

    gneros do discurso, tratada por Bakhtin em sua obra Esttica da Criao Verbal

    (2000), na parte intitulada Os gneros do discurso, sobre a qual trataremos em

    seguida.

    Os gneros em Bakhtin

    Um dos primeiros postulados importantes de Bakhtin sobre a questo dos

    gneros o reconhecimento de que os enunciados so o produto das atividades

    humanas que refletem as condies e finalidades dessas esferas, por seu

    contedo, estilo e construo composicional. Assim, cada uma dessas esferas

    elabora tipos relativamente estveis de enunciados, chamados por Bakhtin de

    gneros do discurso (Bakhtin 2000:279).

    Ao mesmo tempo em que ressalta a estabilidade nos gneros produzidos

    por determinadas esferas, Bakhtin observa que a imensa variedade de gneros

    (orais e escritos) cria uma dificuldade para definir o carter genrico do enunciado,

    embora no se possa dizer que no haja um terreno para seu estudo. No entanto,

    a definio desse terreno no parece ser a preocupao central de Bakhtin, uma

    vez que ele ressalta ser o mais importante considerar a diferena essencial

    existente entre o que ele denomina de gnero de discurso primrio e gnero de

    discurso secundrio.

    Os gneros primrios, considerados simples, se constituem em

    circunstncias de uma comunicao verbal espontnea, e so a base para a

  • constituio dos gneros secundrios3. Estes ltimos (romance, teatro, discurso

    cientfico, discurso ideolgico, etc), considerados complexos, aparecem em

    circunstncias de comunicao mais complexa e evoluda, principalmente escrita:

    artstica, cientfica, sociopoltica (2000:281).

    A relao que Bakhtin (2000:285) ressalta entre estilo e gnero pode ser

    percebida nas mudanas histricas que foram sofrendo os estilos de uso da lngua

    e as repercusses na lngua escrita, conforme se pode depreender desta

    passagem:

    As mudanas histricas dos estilos da lngua so indissociveis das mudanas que se efetuam nos gneros do discurso. A lngua escrita corresponde ao conjunto dinmico e complexo constitudo pelos estilos da lngua, cujo peso respectivo e a correlao, dentro do sistema da lngua escrita, se encontram num estado de contnua mudana.

    assim que a lngua escrita marcada tanto pelos gneros secundrios

    como pelos gneros primrios ao longo das mudanas das prticas sociais. Ao

    contrrio do que se poderia concluir da diviso que faz o autor entre gneros

    primrios e secundrios, a lngua escrita no a modalidade prpria destes

    ltimos, pois ela se amplia, ao incorporar, conforme salienta Bakhtin (2000:285-

    286),

    [] diversas camadas da lngua popular [acarretando] em todos os gneros (literrios, cientficos, ideolgicos, familiares, etc.) a aplicao de um novo procedimento na organizao e na concluso do todo verbal e uma modificao do lugar que ser reservado ao ouvinte ou ao parceiro, etc, o que leva a uma maior ou menor reestruturao e renovao dos gneros do discurso.

    3 Swales (1992), em trabalho sobre gneros no qual analisa algumas posies de Bakhtin, avalia essa distino entre gneros primrios e gneros secundrios e no concorda com o fato de Bakhtin considerar essa diferena to acentuada e fundamental, e ao mesmo tempo postula terem os secundrios sua gnese nos primrios. Cf. SWALES, John M. Re-thinking genre: another look at discourse community effects. Apresentado no Re-thinking Genre Colloquium, Universidade de Carleton, Ottawa, abr. 1992. [Traduo de Benedito Gomes Bezerra Repensando gneros: uma nova abordagem ao conceito de comunidade discursiva].

  • Esse lugar reservado ao ouvinte que, no caso da lngua escrita,

    transforma-se em leitor, interlocutor, ou mesmo o outro ressaltado, na

    teoria bakhtiniana, pela natureza dialgica do texto escrito, que decorre do fato de

    que toda palavra busca uma compreenso responsiva ativa (2000:306), ou,

    segundo as palavras do prprio Bakhtin (2000:320): O ndice substancial

    (constitutivo) do enunciado o fato de dirigir-se a algum, de estar voltado para o

    destinatrio (grifo do autor).

    Ao fazer essa afirmao, Bakhtin retira das relaes meramente lingsticas

    o peso absoluto sobre as anlises que devero ser feitas sobre gneros textuais e

    fortalece o elo entre os sujeitos scio-historicamente situados e o enunciado. Isso

    pode ser explicado pelas palavras de Garcez (1998:63):

    Assim, o texto escrito, enquanto ao com sentido, constitui uma forma de relao dialgica que transcende as meras relaes lingsticas, uma unidade significativa da comunicao discursiva que tem articulaes com outras esferas de valores. Exige a compreenso como resposta, e esta compreenso configura o carter dialgico da ao, pois parte integrante de todo o processo da escrita e, como tal, o determina.

    A concepo de destinatrio na teoria bakhtiniana to expressiva,

    conforme j vem sendo ressaltada neste texto, a ponto de determinar a escolha do

    gnero do enunciado, o que pode ser confirmado nessa passagem: Cada um dos

    gneros do discurso, em cada uma das reas da comunicao verbal, tem sua

    concepo padro do destinatrio que o determina como gnero (Bakhtin

    2000:321).

    Isso considerado, a elaborao do discurso, portanto, leva em conta no s

    a resposta concreta do destinatrio durante esse processo, como tambm a

    antecipao dessa resposta, que pode ser presumida antes mesmo de ser

    enunciada. A imagem do destinatrio e as expectativas que se criam em torno

    dele, no processo discursivo, segundo Bakhtin (2000:321), determinaro a

    escolha do gnero do enunciado, a escolha dos procedimentos composicionais e,

    por fim, a escolha dos recursos lingsticos, ou seja, o estilo do meu enunciado.

  • As consideraes que fazemos sobre o outro (quem , o que sabe, suas

    opinies, convices, preconceitos, etc) determinaro a escolha do gnero do

    enunciado, dos procedimentos composicionais, dos recursos, do estilo do

    enunciado. Para sintetizar essa questo do destinatrio, e sua relao indissolvel

    com o enunciado, ligando-a a um princpio geral da teoria bakhtiniana,

    transcrevemos este trecho de Bakhtin (2000:325):

    Ter um destinatrio, dirigir-se a algum, uma particularidade constitutiva do enunciado, sem a qual no h, e no poderia haver, enunciado. As diversas formas tpicas de dirigir-se a algum e as diversas concepes tpicas do destinatrio so as particularidades constitutivas que determinam a diversidade dos gneros do discurso.

    Ainda que possam ser consideradas mais complexas para fundamentar

    atividades de anlises de gneros exatamente por no se constiturem em

    modelos , as idias de Bakhtin podem servir de base metodolgica para as

    anlises que pressupem a concepo de gnero como sendo atividade de

    linguagem de sujeitos scio-historicamente situados em relao dialgica de

    interao verbal. Nesse aspecto, se no foi Bakhtin o pioneiro, foi ele, sem dvida,

    um marco com essa abordagem nos estudos sobre gneros.

    A Escola Norte-americana

    Nos estudos mais tradicionais sobre gneros, a nfase recaa sobre os

    aspectos textuais, numa abordagem muito mais descritiva que analtica, prxima

    dos modelos de estudos sobre os textos literrios. Abordagens mais recentes

    procuram ir alm dessa tendncia para buscarem compreender os gneros

    textuais a partir de uma viso articulada entre os processos sociais e os diversos

    usos da lngua.

  • No se abandonou de todo, nessas anlises, a contribuio terica dos

    estudos que procuravam descrever as semelhanas de forma e contedo

    caracterizadoras dos gneros e que, de certa forma, estabeleciam modelos

    padronizados a partir dessas caractersticas. Pode-se dizer, no entanto, que o

    avano desses estudos mais recentes tenta vincular essas semelhanas

    lingsticas e substantivas a regularidades das esferas de atividades humanas

    (Freedman & Medway 1994:1). Assim, nessa perspectiva dos estudos sobre

    gneros, a relao entre o reconhecimento dessas regularidades e uma mais

    ampla compreenso social e cultural da lngua em uso indissocivel.

    Vrias pesquisas tm sido desenvolvidas nessa perspectiva e todas

    procuram observar de que forma os fatores sociais, culturais, institucionais entram

    em cena na produo de diferentes gneros, e, ao mesmo tempo, de que forma a

    criao textual interfere nas relaes sociais das atividades humanas. Nesse

    grupo de estudiosos incluem-se aqueles que formam a Escola Norte-Americana

    de Estudos sobre gneros textuais, dentre os quais dedicaremos ateno, neste

    trabalho, principalmente s contribuies de Miller (1984; 1994), Bazerman (1994;

    2000) e Swales (1990; 1992).

    Gnero como ao social e artefato cultural a perspectiva de Miller

    Os trabalhos de Carolyn Miller de 1984 e 19944, numa perspectiva de

    articulao entre os processos sociais e os usos da linguagem, propem mostrar

    como a compreenso de gneros pode ajudar no modo como enfrentamos,

    interpretamos, reagimos e criamos certos textos, e como modelos hierrquicos de

    4 Na coletnea organizada por Freedman & Medway (1994), Genre and the new rhetoric, h dois artigos de Carolyn Miller. O primeiro, Genre as Social Action (p. 23-42), considerado um clssico nos estudos sobre gneros, foi publicado pela primeira vez em 1984, no Quarterly Journal of Speech, n. 70 (p. 151-167), e, 10 anos depois, apresentado na ntegra, nessa coletnea, junto com o artigo Rhetorical Community: The Cultural Basis of Genre (p. 67-78). Para situar convenientemente esses dois artigos em seus diferentes anos de produo, utlizaremos nas referncias do primeiro o ano da primeira publicao (1984), embora o texto a que tivemos acesso se encontre na referida coletnea de 1994.

  • comunicao podem ajudar a esclarecer a natureza e a estrutura de determinada

    ao retrica. A partir dessa premissa, o conceito de gnero passa a ser

    entendido como ao social, no sentido de que se gnero representa ao,

    deve envolver situao e motivao, porque aes humanas, simblicas ou de

    outro tipo, so interpretadas somente num contexto de situao e pela atribuio

    de motivaes (Miller 1984: 24).

    Criticando as teorias clssicas de gneros, Miller (1994) aponta trs

    problemas que no podem deixar de ser considerados na definio de gneros

    retricos. O primeiro deles central para o entendimento de gnero como ao

    social diz respeito relao entre retrica e contexto. Em segundo lugar

    coloca-se a questo da compreenso do modo como se fundem traos

    situacionais e formais nos gneros. Por ltimo, ressalta-se o problema de se situar

    o gnero numa escala hierrquica de generalizaes sobre os usos da lngua.

    Um aspecto fundamental ressaltado nas formulaes de Miller sobre gnero

    a noo de recorrncia, que vai fundamentar toda a compreenso de gnero

    como ao social. Assim, os gneros so definidos como aes retricas

    tipificadas, baseadas em situaes recorrentes. Essas situaes recorrentes so

    explicadas pela autora como sendo construtos sociais, que so o resultado, no

    da percepo, mas da definio. Uma vez que a ao humana baseada e

    guiada por significao, no por causas materiais, no centro da ao est um

    processo de interpretao (Miller 1984: 29).

    Essa autora tambm faz referncia ao conceito de motivao ou inteno,

    que predomina nos gneros, a ponto de motivao tornar-se um propsito social

    convencionalizado, ou exigncia, dentro da situao recorrente. Ao construir

    discursos, lidamos com propsitos de diferentes nveis, no apenas um.

    Aprendemos a adotar motivaes sociais como modo de satisfazer intenes

    particulares atravs de ao retrica (Miller 1984:35-36).

    A autora tambm reconhece que a abordagem sobre gneros que defende

    no permite uma classificao, uma vez que os gneros mudam, desenvolvem-se

  • e deixam de existir. O que importa para a compreenso de gneros pode ser

    resumido nos princpios seguintes que Miller (1984:37) postula:

    1. Gnero refere-se a uma categoria convencional do discurso baseado numa tipificao de larga escala da ao retrica; como ao, adquire significao da situao e do contexto social da qual a situao emerge. 2. Como ao significativa, gnero interpretvel por meio de regras; regras de gnero ocorrem num nvel relativamente alto da hierarquia de regras para interaes simblicas. 3. Gnero distingue-se de forma: forma o termo mais geral usado em todos os nveis da hierarquia. Gnero uma forma num nvel particular que a fuso de formas de nvel mais baixo e caractersticas substanciais. 4. Gnero serve como substncia de formas em nveis mais altos; como modelos recorrentes de uso da linguagem, gnero ajuda a constituir a substncia de nossa vida cultural. 5. Um gnero o meio retrico de mediar intenes particulares e exigncias sociais; ele motiva ao conectar o pblico e o privado, o singular com o recorrente.

    Assim, a perspectiva sobre gneros proposta pela autora tem implicaes

    no s para a crtica e a teoria, mas tambm para a educao retrica. Nesse

    ponto fica claro o interesse de Miller com a relao entre gneros e ensino, ao

    enfatizar que aprendemos a compreender melhor as situaes nas quais nos

    encontramos e o potencial para o fracasso e o sucesso agindo juntos, e, para o

    aluno, gnero serve como a chave para compreender como participar das aes

    em comunidade (Miller 1984: 39).

    Em artigo posterior, publicado nessa mesma coletnea5, Miller retoma as

    posies que defendia anteriormente, enfatizando agora o conceito de gnero

    como artefato cultural. Essa noo de tal forma importante que, para a autora,

    parece ser possvel caracterizar uma cultura pelo seu grupo de gneros: O grupo

    de gneros representa um sistema de aes e interaes que tem lugares e

    funes sociais especficos bem como repetidos ou recorrentes valores e funes

    (Miller 1994:70). 5 MILLER, Carolyn. Rhetorical Community: The Cultural Basis of Genre. In: FREEDMAN, Aviva & MEDWAY, Peter. Genre and the new rethoric. UK/USA: Taylor & Francis Publishers, 1994.

  • Os postulados de Miller sobre gneros textuais enfatizam a importncia da

    retrica, que requer aes prprias de uma comunidade de concordncia e

    discordncia, compreenses compartilhadas, de incluso do outro provendo

    um conjunto de recursos que configuram os gneros, os quais, nessa dimenso

    pragmtica j aqui comentada, representam a fora das aes sociais.

    Gneros e propsitos sociais os estudos de Bazerman

    Outra contribuio importante para os estudos sobre gneros textuais na

    abordagem norte-americana so os trabalhos desenvolvidos por Charles

    Bazerman, apoiados principalmente nas teorias dos atos de fala de Searle e

    Austin. Num dos clebres trabalhos desse autor, publicado em coletnea

    organizada por Freedman & Medway (1994), j mencionada, Bazerman (1994:79)

    apresenta uma viso de sistemas de gneros (com referncias aos atos de fala de

    Searle e Austin), por meio de anlise de textos de patentes, cuja proposta :

    apresentar uma viso de como as pessoas criam instncias individuais de

    significao e valores no interior de campos discursivos estruturados e assim

    agem dentro de sistemas sociais altamente articulados.

    A tese principal que Bazerman defende reside no fato de que os indivduos

    avanam em seus interesses, moldam suas significaes no interior de complexos

    sistemas sociais, atribuem valores e avaliam conseqncias de interaes verbais

    ao utilizarem diferentes gneros. Na esteira da teoria de gneros desenvolvida por

    Miller (1984; 1994), j anteriormente discutida, e por Swales (1990; 1992),

    Bazerman preocupa-se com o desenvolvimento de tipos simples de textos atravs

    de usos repetidos em situaes percebidas como semelhantes.

    Sem pretender fazer uma classificao de gneros textuais, o autor, nesse

    estudo sobre patentes, apresenta a noo de sistema de gneros como forma de

    se reconhecerem instncias de atos sociais. Para os analistas de atos de fala, a

    tarefa de estudos sobre gneros pode ser simplificada e estabilizada quando so

    levados em considerao os comportamentos em contextos institucionais ou

  • altamente regularizados (Bazerman 1994:88), o que permite situar esses estudos

    no interior das relaes sociais das aes humanas.

    Sobre a noo de sistema de gneros desenvolvida por Bazerman, so os

    seguintes os pontos considerados relevantes:

    Os gneros encontram-se inter-relacionados uns aos outros em contextos especficos.

    A noo de sistemas de gneros amplia a do conceito de grupo de gneros.

    O grupo de gneros representa, contudo, apenas o trabalho de um lado da mltipla interao da pessoa.

    O sistema de gneros seria o conjunto completo de gneros que do instncia participao de todas as partes.

    Reforando a tese de que os gneros fornecem a compreenso de como

    muitas funes, relacionamentos e prticas institucionais se desenvolvem,

    Bazerman (2000), em pesquisa sobre diferentes cartas, sustenta que estas

    exercem forte influncia na formao de gneros exatamente porque se

    constituem em aes de linguagem entre duas partes em relacionamentos e

    circunstncias especficos, o que, em outras palavras, significa dizer que

    explcita a socializao que decorre desse grupo de gneros.

    Criticando estudos tradicionais sobre esses gneros textuais, Bazerman

    (2000:27) faz as seguintes observaes:

    Na medida em que a socializao de textos freqentemente uma questo de compreenso social implcita, internalizada em nosso reconhecimento de que gneros moldam atividades comunicativas, ler e escrever tm sido equivocadamente tomados como processos de simples forma e significado, separados de circunstncias sociais, relaes e aes.

    Tais colocaes mudam, junto com os postulados desenvolvidos por outros

    representantes da Escola Norte-americana, a perspectiva de estudos sobre

  • gneros textuais, colocando-os no mbito da questo que envolve a compreenso

    das interaes verbais articulada compreenso das relaes entre indivduos

    scio-historicamente situados.

    Gneros e propsitos comunicativos a abordagem swalesiana

    Um dos mais produtivos pesquisadores sobre gneros textuais nessa nova

    perspectiva de articulao entre linguagem e prticas sociais nos estudos norte-

    americanos John Swales. Dentre os trabalhos do autor destaca-se Genre

    Analysis6, um estudo sobre os modos de uso da linguagem em contextos

    especficos, particularmente na comunidade acadmica, com nfase para os

    artigos de pesquisa. Nessa abordagem, Swales (1990) desenvolve e faz uso de

    trs conceitos: comunidade discursiva, gnero e tarefas de aprendizagem de

    lngua, os quais so fundamentais para a compreenso e constituio de gneros.

    Comunidades discursivas so redes scio-retricas que se formam em direo a determinados objetivos comuns. Uma das caractersticas que

    estabelece os membros dessas comunidades discursivas a familiaridade com

    gneros especficos utilizados.

    Gneros so propriedades das comunidades discursivas, ou seja, pertencem s comunidades discursivas, no a indivduos. So classes de

    eventos comunicativos, que possuem tipicamente caractersticas de

    estabilidade.

    Tarefas so procedimentos/atividades de processamento de textos. A linha que une esses trs elementos o propsito comunicativo, outro

    conceito importantssimo desenvolvido por Swales, que o critrio para

    estabelecer a identidade do gnero e este opera como determinante primrio da

    tarefa (1990:10).

    6 SWALES, John M. Genre Analysis: English in academic and research settings. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

  • Swales dedica grande parte de seu Genre Analysis para desenvolver

    cuidadosamente os conceitos de comunidade discursiva, gnero e tarefa.

    Uma questo prvia para o esclarecimento do conceito de comunidade

    discursiva o fato de que no h consenso sobre sua noo. Numa formulao

    mais precisa, com base em seis caractersticas definidoras, Swales (1992), aps

    reformulaes tentando reparar a falta de referncia inegvel contribuio de

    Bakhtin, em seus trabalhos anteriores sobre gneros, reconhecendo, inclusive,

    como aquele, o carter relacional dos gneros e de sua conseqente anlise ,

    ento, conceitua comunidade discursiva como sendo:

    1) Uma comunidade discursiva possui um conjunto perceptvel de objetivos. Esses objetivos podem ser formulados pblica e explicitamente e tambm ser no todo ou em parte estabelecidos pelos membros; podem ser consensuais; ou podem ser distintos mas relacionados (velha e nova guardas; pesquisadores e clnicos, como na conflituosa Associao Americana de Psicologia). 2) Uma comunidade discursiva possui mecanismos de intercomunicao entre seus membros. (No houve mudana neste ponto. Sem mecanismos, no h comunidade). 3) Uma comunidade discursiva usa mecanismos de participao para uma srie de propsitos: para prover o incremento da informao e do feedback; para canalizar a inovao; para manter os sistemas de crenas e de valores da comunidade; e para aumentar seu espao profissional. [] 4) Uma comunidade discursiva utiliza uma seleo crescente de gneros no alcance de seu conjunto de objetivos e na prtica de seus mecanismos participativos. Eles freqentemente formam conjuntos ou sries (Bazerman). 5) Uma comunidade discursiva j adquiriu e ainda continua buscando uma terminologia especfica. 6) Uma comunidade discursiva possui uma estrutura hierrquica explcita ou implcita que orienta os processos de admisso e de progresso dentro dela.

    Alguns pontos remanescentes dessa discusso sobre comunidade

    discursiva podem ser resumidos na compreenso de que indivduos podem

    pertencer a diferentes comunidades discursivas e podem variar em nmero de

  • comunidades discursivas a que pertencem e no nmero de gneros que

    comandam. Portanto, a definio de prticas discursivas e comunidades

    discursivas se d a partir de critrios pragmticos e operacionais, que determinam

    a produo variada de gneros.

    Para elaborar o conceito de gnero textual, Swales (1990:34-44) considera

    o termo a partir de seu uso em estudos folclricos, passando pelos literrios e

    lingsticos at chegar aos estudos de gneros em retrica. Para Swales

    (1990:42), a contribuio da lingstica no estudo de gneros repousa na nfase

    dada a: (a) gneros como tipos de eventos comunicativos direcionados a

    objetivos; (b) gneros como tendo estruturas esquemticas; e mais importante (c)

    gneros como dissociados de registros e estilos. Em retrica, estudiosos tm uma

    abordagem mais indutiva e tendem a considerar mais o contexto, dando um lugar

    mais central aos gneros. assim que muitos estudiosos da retrica, com uma

    orientao indutiva e/ou histrica, acentuam a recorrncia de formas similares na

    criao de gneros.

    Finalmente Swales chega definio de gnero, que vai orientar seus

    estudos e influenciar diversos outros estudiosos que seguem sua linha,

    principalmente Bathia (1993). Parece-nos relevante para a compreenso do

    conceito considerar o que lembra Swales (1990:58):

    Um gnero compreende uma classe de eventos comunicativos cujos membros partilham um dado conjunto de propsitos comunicativos. Esses propsitos so reconhecidos pelos experts membros da comunidade de discurso e com isso constituem a base lgica para o gnero. Essa base modela a estrutura esquemtica do discurso, influencia e condiciona a escolha do contedo e do estilo. O propsito comunicativo tanto um critrio privilegiado e um critrio que opera para atingir o escopo de um gnero tal como aqui grosseiramente concebido e enfocado em aes retricas comparveis. Em aditamento ao propsito, os exemplares de um gnero exibem vrios padres de similaridade em termos de estrutura, estilo, contedo e audincia pretendida. Se todas as expectativas de probabilidade mais altas forem realizadas, o exemplar ser visto como prototpico pelos membros da comunidade de discurso. Os nomes dos gneros herdados e produzidos pelas comunidades de discurso e importados

  • por outras constituem valiosas comunicaes etnogrficas, mas que tipicamente necessitam de validao posterior.

    Ainda que no se refira teoria bakhtiniana7 nos postulados sobre gnero

    em seu Genre Analysis, Swales (1990:62) reconhece a relao dialgica que se

    estabelece entre o autor do texto escrito e seu leitor, por exemplo, ao se

    esforarem, ambos, no processamento da produo de sentidos de um texto, a

    partir do engajamento semntico que os une, num contrato de reao e contra-

    reao, que se d com base nas consideraes feitas pelo primeiro, entre outras

    coisas, sobre os conhecimentos prvios do leitor e seu potencial, e, pelo segundo,

    pelas interrogaes feitas sobre as posies do autor.

    Das trs noes desenvolvidas por Swales, a de tarefa apresenta-se como

    a mais vaga. Comparando trs abordagens de ensino de lngua a)centrada na

    lngua; b)centrada no aluno e c) centrada na aprendizagem , o autor ainda

    evasivo ao postular que uma abordagem centrada em gneros provavelmente se

    concentrar na ateno que o aluno voltar sobre as aes retricas e sobre os

    meios lingsticos e organizaes para essa realizao (Swales 1990:82).

    Comentando a natureza fluida e contingente nas formaes das

    comunidades discursivas, e de como importante identificar esses aspectos na

    anlise dos gneros, Swales (1992) observa que o fato de se repensar a

    comunidade discursiva pode nos ajudar a repensar o gnero. Essa observao

    extremamente valiosa para os propsitos do nosso trabalho, particularmente

    porque a nossa anlise sobre os gneros textuais produzidos por alunos

    universitrios estar intimamente vinculada anlise da comunidade acadmica

    onde esses textos so produzidos.

    Ressaltando a necessria articulao com a noo de comunidade

    discursiva e de tarefa, Swales (1990:92) salienta que o fato de se considerar

    gneros como instrumentos de ao retrica que tm poder generativo no pode

    estar dissociado de uma reflexo crtica no sentido de se assegurar que nossos 7 Swales vai se redimir desse fato em outro escrito seu (1992), ao declarar explicitamente o fato de ter ignorado to relevante contribuio.

  • alunos, na continuao de suas vidas, no esto alheios s conseqncias sociais

    de suas prprias aes e daquelas que j estavam disponveis anteriormente.

    A Escola de Genebra interacionismo sociodiscursivo: uma concepo do desenvolvimento humano

    Das correntes tericas desenvolvidas sobre os gneros textuais, uma das

    que mais fortemente se volta para a questo do ensino de lngua materna a

    perspectiva adotada pelos estudiosos que compem a chamada Escola de

    Genebra, cujos representantes mais expressivos so Bernard Schneuwly,

    Joaquim Dolz e Jean-Paul Bronckart.

    Com influncia ntida de Bakhtin e Vygotsky, Schneuwly (1994), em um dos

    seus mais comentados estudos sobre gneros e tipos textuais, Gneros e tipos

    textuais: consideraes psicolgicas e ontogenticas8, faz uma reflexo sobre

    relaes entre tipos e gneros, ontognese da linguagem e caractersticas dos

    gneros secundrios e defende que um gnero pode ser considerado como

    instrumento psicolgico no sentido vygotskiano do termo.

    De Bakhtin pode-se dizer que Schneuwly adotou a noo da tripla

    dimenso constitutiva de um gnero, ou seja, o contedo temtico, a estrutura

    composicional e o estilo. Ento, tal como Bakhtin (2000), Schneuwly (1994:5)

    entende que:

    Mesmo sendo mutveis, flexveis, os gneros tm uma certa estabilidade: eles definem o que dizvel (e, inversamente, o que deve ser dito define a escolha de um gnero); eles tm uma composio: tipo de estruturao e acabamento e tipo de relao com os outros participantes da troca verbal; [] um plano comunicacional; [] so caracterizados por um estilo que deve ser considerado no como um efeito da individualidade do locutor, mas como elemento de um gnero [].

    8 SCHNEUWLY, Bernard. Gneros e tipos de textos: consideraes psicolgicas e ontogenticas. In: Y. Reuter (ed) (1994) Les Interactions Lecture-criture (actes du Colloque Thodile-Crel): 155-173. Bern: Peter Lang. (trad. de Roxane Helena Rodrigues Rojo).

  • Essa noo fica mais clara em outro escrito de Schneuwly, em parceria

    com Dolz (1997)9, quando esses autores ressaltam que,

    para definir um gnero enquanto meio de atividade de linguagem, trs dimenses parecem essenciais: 1) os contedos e os conhecimentos que podem ser ditos atravs dele; 2) os elementos das estruturas comunicativas e semiticas compartilhadas pelos textos reconhecidos como pertencentes ao gnero; 3) as configuraes especficas das unidades de linguagem, traos notadamente da posio enunciativa do enunciador e dos conjuntos particulares de seqncias textuais e de tipos discursivos que formam a estrutura.

    De Vygotsky, a influncia mais marcante nos trabalhos desenvolvidos por esse

    grupo expressa pela preocupao com o desenvolvimento da linguagem, em

    que Schneuwly (1994) demonstra interesse pela transformao profunda que se

    realiza com a entrada da criana na escola, ocasionada pelo contato com os

    conceitos de gnero primrio e secundrio.

    Ao tratar das diferenas entre esses dois gneros, e ao revelar a interseo

    entre as influncias de Bakhtin e Vygotsky, Schneuwly (1994) entende que os

    gneros secundrios no so espontneos. Seu desenvolvimento e sua

    apropriao implicam um outro tipo de interveno nos processos de

    desenvolvimento, diferente daquele necessrio para o desenvolvimento dos

    gneros primrios. Por outro lado, nos gneros primrios h dominncia de

    relaes espontneas, cotidianas, imediatas, tipo particular de aprendizagem.

    Desse modo, a construo de um gnero secundrio implica dispor de

    instrumentos j complexos, para cuja criao os gneros primrios so os

    instrumentos.

    O carter nitidamente psicolgico do pensamento de Schneuwly pode ser

    identificado no ponto em que esse autor afirma que o funcionamento eficaz dos

    gneros secundrios exige 9 SCHNEWLY, Bernard e DOLZ, Joaquim. Les genres scolaires. Des pratiques langagires aux objets denseignement. Repres, n. 15, 1997.

  • a existncia e a construo de um aparelho psquico de produo de linguagem, que no funciona mais na imediatez [tal como nos gneros primrios], mas que pode se basear na gesto de diferentes nveis relativamente autnomos. () Isso significa a existncia de nveis de deciso, de operaes discursivas transversais em relao aos gneros. (Schneuwly 1994: 9).

    Reforando mais ainda essa noo sobre gnero como instrumento,

    Schneuwly e Dolz (1997), no artigo Les genres scolaires. Des pratiques

    langagires aux objets denseignement, sustentam que o gnero utilizado como

    meio de articulao entre as prticas sociais e os objetos escolares, mais

    particularmente no domnio do ensino da produo de textos orais e escritos.

    Segundo esses autores, as prticas de linguagem implicam as dimenses ao

    mesmo tempo sociais, cognitivas e lingsticas do funcionamento da lngua no

    interior de uma situao de comunicao particular. Para analis-las, as

    interpretaes que fazem os agentes da situao so centrais, as quais dependem

    da identidade social dos atores e das representaes que eles fazem dos

    possveis usos da linguagem e das funes que eles privilegiam em vista de suas

    trajetrias. A atividade de linguagem aparece, portanto, como interface entre o

    sujeito e o meio e responde a um motivo geral de representao-comunicao.

    Essas atividades de linguagem podem ser decompostas em aes de linguagem

    no diretamente articuladas aos motivos, mas orientadas pelos propsitos

    intermedirios advindos da vontade consciente, e que resultam numa

    representao de seu efeito no quadro da cooperao e da interao sociais.

    Nesses estudos sociointeracionistas, uma ao de linguagem consiste em

    produzir, compreender, interpretar e/ou memorizar um conjunto organizado de

    enunciados orais ou escritos. Considerando as diferenas da forma oral e escrita,

    entre produo, compreenso ou memorizao, podem-se distinguir diversas

    modalidades instrumentais de realizao de aes de linguagem. Toda ao de

    linguagem implica, por sua vez, diversas capacidades da parte do sujeito: adaptar-

    se s caractersticas do contexto e do referente (capacidades de ao), mobilizar

  • modelos discursivos (capacidades discursivas) e dominar as operaes

    psicolingsticas e as unidades lingsticas (capacidades lingstico-discursivas)

    (Schneuwl & Dolz 1997).

    preciso compreender que tais prticas de linguagem a que se referem

    Schneuwly e Dolz (1997) se internalizam nos aprendizes atravs dos gneros, e

    nesse sentido que esses podem ser considerados como instrumentos que fundam

    a possibilidade de comunicao. assim que, pelo uso e pela aprendizagem, o

    gnero pode ser considerado como um mega-instrumento que fornece um

    suporte atividade nas situaes de comunicao.

    Reconhecendo a necessidade de elaborao de modelos didticos de

    gneros, Schneuwly e Dolz (1997) propem uma reviso dos gneros escolares a

    partir da aplicao de trs princpios no trabalho didtico, a saber: 1) princpio de

    legitimidade (referente aos saberes reconhecidos ou de especialistas); 2) princpio

    de pertinncia (referente s capacidades dos alunos, s finalidades e objetivos da

    escola, aos processos de ensino/aprendizagem); 3) princpio de solidariedade (em

    coerncia com os saberes em funo dos propsitos visados). A aplicao de

    qualquer um desses princpios no independente dos outros, e a profunda

    imbricao entre eles constitui uma das dimenses da constituio do objeto

    escolar. A partir do estudo de diferentes gneros textuais, os autores apresentam

    modelos didticos sistematizados para planejar o ensino, elaborar seqncias,

    pensar a progresso e conceber possibilidades de diferenciao.

    Esses modelos didticos que atualmente so utilizados no sistema

    educacional suo tm servido de referncia para muitos pesquisadores

    diretamente ligados questo do ensino e da aprendizagem. No Brasil, as idias

    sobre gneros e tipos de discurso e linguagem oral esto inseridas nos

    Parmetros Curriculares Nacionais10.

    10 Os Parmetros Curriculares Nacionais (PCN) constituem um conjunto de documentos elaborados por educadores e tcnicos do Ministrio da Educao, que visam propiciar aos sistemas de ensino, particularmente aos professores, subsdios elaborao e/ou reelaborao do currculo, visando construo do projeto pedaggico, em funo da cidadania do aluno (MEC Secretaria de Educao Fundamental).

  • A noo de instrumento que subjaz a tais modelos no deve, entretanto, ser

    confundida com a noo instrumental da lngua, tal como era posta nas

    abordagens tradicionais do ensino. Instrumento ou ferramenta, como

    denominado por algumas interpretaes de Schneuwly , o gnero textual, alm

    de ampliar as capacidades individuais do aprendiz, tambm amplia seu

    conhecimento sobre as prticas lingsticas e sociais das quais o gnero objeto.

    Em outras palavras, a perspectiva dos estudos de gneros de Schneuwly, voltada

    para o ensino e o desenvolvimento, revela que o ensino de diferentes gneros

    textuais que esto disponveis em nossa realidade no somente contribui para

    melhorar a competncia lingstico-discursiva dos alunos, mas tambm cria e

    aponta formas de participao social pelas prticas de linguagem que se

    internalizam nesses alunos. Esse posicionamento nos leva na direo dos

    postulados da Escola Norte-americana, j aqui mencionados, principalmente dos

    estudos de Miller (1994), nos quais o gnero considerado como ao social.

    Nessa mesma direo, num movimento que vai das prticas de linguagem

    dimenso mais social, cognitiva e lingstica do funcionamento da linguagem s

    aes de linguagem unidades psicolgicas sincrnicas que renem as

    representaes de um agente sobre contextos de ao em seus aspectos fsicos,

    sociais e subjetivos , Bronckart (1999)11 avalia a constituio dos gneros

    textuais praticamente com os mesmos parmetros de Schneuwly e Dolz (1997), e

    enfatiza a influncia de Vygotsky na formulao da teoria do interacionismo scio-

    discursivo.

    Sem negar a existncia de um sistema formal e estvel que funda a lngua,

    Bronckart (1999) frisa que este sistema no tem a autonomia que lhe atribuem as

    correntes gerativistas ou os modelos mentalistas e biologizantes, que dominaram

    durante muito tempo as investigaes sobre ensino e produo de linguagem.

    Nessa perspectiva, e assumindo uma posio filosfica que serve de base para

    toda sua investigao dos gneros, Bronckart ressalta que toda a produo

    lingstica uma ao situada e social. Desse modo, as atividades de linguagem 11 BRONCKART, Jean Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo scio-discursivo. So Paulo: EDUC, 1999.

  • se realizam concretamente na forma de textos, os quais so unidades interativas

    socialmente situadas num espao e num tempo, distribudas num nmero ilimitado

    de gneros.

    Abandonando a noo de tipo de texto para adotar a noo de gnero de

    texto como forma comunicativa, e tipo de texto como forma lingstica, Bronckart

    (1999) prope uma tipologia baseada em critrios de distino de mundos

    discursivos e arqutipos psicolgicos, que do lugar, por sua vez, aos tipos de

    discurso, que constituem, no interior dos textos, as seqncias caractersticas do

    ponto de vista de sua estrutura ou planificao. So esses tipos de discurso que

    compem todos os gneros existentes.

    Sntese avaliativa das contribuies aos estudos de gneros

    Neste ensaio procuramos fazer uma leitura referente s contribuies

    desses estudos. Qualquer negao da relevncia destes em sua totalidade deixa

    de considerar que, sem exceo, os aqui mencionados superam ou tentam

    superar as anlises lingsticas tradicionais, que deixavam de ver o texto em sua

    integralidade ou o viam isolado de suas situaes de produo. Sem dvida, h

    vrios aspectos dessas abordagens que deixaram de ser aprofundados ou de ser

    considerados por alguns desses estudiosos, como, por exemplo: a excluso dos

    aspectos psicolgicos na teoria de Swales, recuperados por Bhatia; a

    predominncia da anlise mais formal dos gneros feita pelos estudiosos da

    Escola de Sydney; a ausncia de elementos mais concretos de anlise na

    abordagem de Miller; e os fatores envolvidos com esses estudos na perspectiva

    da nova retrica.

    Para a anlise de gneros desenvolvida neste estudo, elegemos como

    fundamentais os estudos feitos na perspectiva sociointeracionista inspirada em

    Bakhtin. Ainda que consideremos as demais teorias, conforme j acentuamos,

    entendemos que a abordagem interacionista responde mais propriamente aos

  • questionamentos feitos no incio desta investigao, alm de poderem fornecer as

    bases para a formulao de nossas categorias de anlise nos prximos captulos.

    Assim, sintetizamos no quadro seguinte os pressupostos tericos

    formulados por esses estudos, que contriburam particularmente para a nossa

    anlise de gneros.

    Sntese das contribuies dos estudos de gneros Os estudos de Bakhtin

    O princpio de interao verbal, que permite identificar, na anlise de gneros, os graus de distanciamento e aproximao entre interlocutores na situao comunicativa e a definio de seus papis sociais na organizao dos discursos.

    O princpio dialgico, em que se verifica o jogo das vozes no discurso, o qual se elabora em vista do outro, que o condiciona e o unifica.

    A noo da tripla dimenso constitutiva de gneros primrios e secundrios, que situa a anlise de gneros no interior de condies especficas de produo e de finalidades das diferentes esferas das atividades humanas.

    A Escola Norte-americana

    O conceito de gnero como ao social, interpretada num contexto de situao e inteno comunicativa.

    O conceito de gnero como ao retrica, que permite entender a organizao do discurso pelas funes que cada movimento retrico desempenha.

    A noo de comunidade discursiva de Swales, permitindo compreender que as organizaes scio-retricas se formam para atingir objetivos comuns, utilizando gneros especficos, como o caso da comunidade acadmica.

    A Escola de Genebra

    A dimenso sociointeracionista na anlise de gneros textuais e a noo de gnero como mega-instrumento (Schneuwly) como suporte s atividades de linguagem.

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