escolaridade obrigatória

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Disciplina Organização, Estrutura e Políticas Públicas em Educação Docente Profa. Dra. Marina Caprio Semestre 3º Semestre Curricular Data 12/10/2007 Texto 2 A ESCOLARIDADE OBRIGATÓRIA NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS Todas as Constituições do Brasil fizeram alguma referência, por mínima que fosse, ao problema da educação. Nem todas, porém, como veremos, estabeleceram o preceito da obrigatoriedade. Vejamos como o princípio da obrigatoriedade da freqüência à escola nasceu e se desenvolveu através das várias Constituições que o Brasil adotou até hoje. Constituição de 1824. Nossa primeira Constituição, outorgada por D. Pedro I, em 25 de março de 1824, não chegou a mencionar a escolaridade obrigatória. Limitou-se a estabelecer que "a instrução primária é gratuita a todos os cidadãos" (art. 179, XXXII). Isto é, estabeleceu o princípio da gratuidade, mas se esqueceu da obrigatoriedade. É verdade que a primeira lei do ensino primário, promulgada em 15 de outubro de 1827, determinou que deviam ser criadas escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugarejos e escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas. Entretanto, apesar de ter mais de 170 anos, esses dispositivos até hoje não foram integralmente cumpridos. Constituição de 1891. A primeira Constituição do período republicano, de 24 de fevereiro de 1891, não faz referência nem à obrigatoriedade nem à gratuidade do ensino

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Page 1: Escolaridade Obrigatória

Disciplina

Organização, Estrutura e Políticas Públicas em Educação

Docente

Profa. Dra. Marina Caprio

Semestre

3º Semestre CurricularData

12/10/2007

Texto 2

A ESCOLARIDADE OBRIGATÓRIA NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

Todas as Constituições do Brasil fizeram alguma referência, por mínima que fosse, ao

problema da educação. Nem todas, porém, como veremos, estabeleceram o preceito da

obrigatoriedade. Vejamos como o princípio da obrigatoriedade da freqüência à escola nasceu e se

desenvolveu através das várias Constituições que o Brasil adotou até hoje.

Constituição de 1824.

Nossa primeira Constituição, outorgada por D. Pedro I, em 25 de março de 1824, não chegou

a mencionar a escolaridade obrigatória. Limitou-se a estabelecer que "a instrução primária é gratuita

a todos os cidadãos" (art. 179, XXXII). Isto é, estabeleceu o princípio da gratuidade, mas se

esqueceu da obrigatoriedade. É verdade que a primeira lei do ensino primário, promulgada em 15 de

outubro de 1827, determinou que deviam ser criadas escolas de primeiras letras em todas as

cidades, vilas e lugarejos e escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas. Entretanto,

apesar de ter mais de 170 anos, esses dispositivos até hoje não foram integralmente cumpridos.

Constituição de 1891.

A primeira Constituição do período republicano, de 24 de fevereiro de 1891, não faz referência

nem à obrigatoriedade nem à gratuidade do ensino primário, embora a gratuidade tivesse figurado no

artigo 62, item 5 da Constituição Provisória da União: "O ensino será leigo e livre em todos os graus e

gratuito no primário". Os constituintes preferiram dar liberdade aos Estados para que resolvessem as

questões da obrigatoriedade e da gratuidade.

Constituição de 1934.

A Constituição de 16 de julho de 1934 inclui tanto a obrigatoriedade quanto a gratuidade do

ensino primário. No item "a" do parágrafo único do artigo 150 instituiu o "ensino primário integral e

gratuito e a freqüência obrigatória, extensivo aos adultos". Não há referência explícita à faixa etária

em que o ensino primário seria obrigatório, embora se diga que ele deveria ser extensivo aos adultos.

Isto significaria que o ensino primário era obrigatório para todos, crianças e adultos? A lei não é clara

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nesse sentido.

Constituição de 1937.

Em seu artigo 130, a Constituição de 10 de novembro de 1937 determina: "O ensino primário é

obrigatório e gratuito". Também aqui não há menção à faixa etária. Pode-se pressupor que a

obrigatoriedade seria de cinco anos, que era a duração do ensino primário da época.

Constituição de 1946. O artigo 168 da Constituição de 18 de setembro de 1946 determina: "I -

O ensino primário é obrigatório e será dado na língua nacional. II - O ensino primário oficial é gratuito

para todos; o ensino oficial. Ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência

de recursos".

Belos preceitos legais, mas que estiveram longe de serem postos em prática. Se a

obrigatoriedade não foi cumprida até hoje, menos ainda foi cumprida a gratuidade após o primário,

pois são poucos os que ultrapassam o primeiro grau do ensino.

Constituição de 1967.

A Constituição de 24 de janeiro de 1967 é a primeira a fazer referência explícita à faixa etária:

"O ensino dos 7 aos 14 anos é obrigatório para todos e gratuito nos estabelecimentos primários

oficiais" (art. 168, § 3º, Il). Entretanto, o estabelecimento da faixa etária de 7 a 14 anos não

representou uma ampliação da escolaridade obrigatória para oito anos.

Vejamos por quê: o mesmo dispositivo estabelece que o ensino seria gratuito nos

estabelecimentos primários oficiais. Como, de acordo com a lei nº. 4024/61, o ensino primário

poderia ter um mínimo de quatro e um máximo de seis anos, conclui-se que a obrigatoriedade de

freqüência à escola estava reduzida a quatro anos.

Constituição de 1969.

A Emenda Constitucional nº. 1, de 17 de outubro de 1969, modificou a redação, trocando de

lugar o adjetivo "primário". Com efeito, determina: "O ensino primário é obrigatório para todos, dos 7

aos 14 anos, e gratuito nos estabelecimentos oficiais" (art. 176, § 3º, II). Na verdade, a situação

parece ter permanecido inalterável, pois a obrigatoriedade continuou em relação ao ensino primário,

ou seja, um mínimo de quatro anos. A faixa etária simplesmente parece indicar que, depois dos 14

anos, o ensino primário deixa de ser obrigatório.

A verdadeira extensão dos anos de obrigatoriedade escolar só viria com a lei nº 5692/71, que

instituiu o ensino de 1º grau, com oito anos de duração, e, para efeito de obrigatoriedade, entendeu

"por ensino primário a educação correspondente ao ensino de 1º grau" (art. 1º, § 10.). Portanto, a

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partir da reforma de 1971, a obrigatoriedade de freqüência à escola passou a ser de oito anos.

Constituição de 1988.

Manteve a obrigatoriedade do ensino de 1º grau, agora denominado fundamental,

entendendo-a como um dever do Estado e estendendo-a aos que "a ele não tiveram acesso na idade

própria" e, progressivamente, ao "ensino médio" (art. 208, I e II).

Só a obrigatoriedade legal de freqüência à escola não basta. É necessário que a professora

fale uma linguagem que possa ser entendida pela criança, para que esta permaneça na escola e tire

proveito dela.

In: PILETTI, N. . Estrutura e Funcionamento do Ensino Fundamental. 23. ed. São Paulo: Ática, 1999.