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Escola Estadual de Educação Profissional - EEEP Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Curso Técnico em Paisagismo História do Paisagismo

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Curso Técnico em Paisagismo

História do Paisagismo

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Governador

Vice Governador

Secretária da Educação

Secretário Adjunto

Secretário Executivo

Assessora Institucional do Gabinete da Seduc

Coordenadora da Educação Profissional – SEDUC

Cid Ferreira Gomes

Domingos Gomes de Aguiar Filho

Maria Izolda Cela de Arruda Coelho

Maurício Holanda Maia

Antônio Idilvan de Lima Alencar

Cristiane Carvalho Holanda

Andréa Araújo Rocha

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SUMÁRIO

1.0 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................03

2.0 1ª PARTE: HISTÓRIA DO PAISAGISMO MUNDIAL ..................................................................052.1 ANTIGUIDADE......................................................................................................................... 05 2.1.1 Mesopotâmia..............................................................................................................................052.1.2 Egito...........................................................................................................................................062.1.3 Pérsia ….....................................................................................................................................072.1.4 Grécia …....................................................................................................................................072.1.5 Roma ….....................................................................................................................................082.1.6 Jardim Islâmico ….....................................................................................................................102.1.7 China e Japão …........................................................................................................................122.2 IDADE MÉDIA ..........................................................................................................................122.2.1 Monacais …...............................................................................................................................132.2.2 Mouriscos ….............................................................................................................................132.3 RENASCIMENTO.....................................................................................................................132.3.1 Itália …......................................................................................................................................142.3.2 França …...................................................................................................................................152.3.3 Inglaterra …...............................................................................................................................162.3.4 Holanda ….................................................................................................................................172.4 JARDIM BARROCO ............................................................................................................... 172.5 JARDINS DO SÉCULO XIX .................................................................................................. 18

3.0 2ª PARTE: HISTÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL ...............................................................203.1 O ECLÉTICO.............................................................................................................................213.1.1 Antecedentes: O Passeio público e os hortos urbanos. A linha clássica e a romântica..............213.1.2 Glaziou. O paisagista do Império e seus projetos......................................................................233.1.3 O Palacete, Chácaras e jardins...................................................................................................243.1.4 Reynaldo Dierberger ….............................................................................................................253.1.5 A Praça Eclética …....................................................................................................................263.1.6 O Parque Eclético …................................................................................................................ 273.1.7 Projetos Urbanos. Rio de Janeiro e São Paulo...........................................................................283.1.8 Projetos Urbanos. Belém, Manaus e Belo Horizonte …...........................................................293.2 MODERNO ................................................................................................................................303.2.1 Nascionalismo e Ruptura. Antecedentes....................................................................................313.2.2 Influencia americana e tropicalização.......................................................................................323.2.3 Casa, prédios, pátios, piscinas e jardins …................................................................................333.2.4 O parque moderno.....................................................................................................................343.2.5 Roberto Burle Marx …..............................................................................................................353.2.6 Roberto Burle Marx Projetos …................................................................................................363.2.7 Roberto Coelho Cardozo e Waldemar Cordeiro …...................................................................373.2.8 Os seguidores …........................................................................................................................383.2.9 Novos parques I …....................................................................................................................393.2.10 Novos Parques II ….................................................................................................................403.2.11 A praça Moderna ….................................................................................................................413.2.12 A praça Moderna - Projetos …................................................................................................423.2.13 Calçadões em áreas centrais …...............................................................................................433.2.14 Calçadões a beira mar ….........................................................................................................44

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3.2.15 A experiência de Curitiba …....................................................................................................453.2.16 Os parques de São Paulo ….....................................................................................................463.3 CONTEMPORÂNEO................................................................................................................473.3.1 A Nova Ruptura: Introdução ….................................................................................................473.3.2 Influencia e Referencias ….......................................................................................................493.3.3 Ecologismo/ambientalismo …...................................................................................................503.3.4 Cenarização …...........................................................................................................................513.3.5 Formalismo gráfico e irreverencia …........................................................................................523.3.6 Reforma e reconfigurações …...................................................................................................533.3.7 Figurações ….............................................................................................................................543.3.8 Obras e autores ….....................................................................................................................563.3.9 Rio Cidade: Requalificação urbana …......................................................................................573.3.10 Rio Cidade: Vocações e símbolos ….......................................................................................583.3.11 Realidades …...........................................................................................................................593.3.12 Os primeiros anos do século XXI ….......................................................................................60

Anexo 01 – Cronologia do Paisagismo Brasileiro ...................................................................................61Anexo 02 – Roberto Burle Marx ..............................................................................................................68

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1.0 INTRODUÇÃO:

A origem da profissão de paisagista remonta as culturas antigas, da Pérsia e Egito à Grécia e Roma no tratamento de seus jardins. Durante a Idade Média o interesse pelo espaço exterior diminuiu, porém, com o Renascimento, foi revivido com esplendidos resultados na Itália e deu origem às vilas ornamentadas, jardins, e grandes praças exteriores.

Neste pequeno resumo didático, optamos por fazer uma divisão. Na primeira parte serão abordados assuntos relativos a ideia geral do que constitui a história do paisagismo mundial e na segunda parte entraremos numa etapa mais elaborada e aprofundada relacionada a História do Paisagismo no Brasil, que é nosso foco de estudo, apresentando a estrutura evolutiva do paisagismo brasileiro que, originado no século XVIII com a obra marco do Passeio do Público do Rio de Janeiro (1783), é consolidado durante o século XIX com o processo de urbanização nacional, em especial no Segundo Império. Esse período é marcado pelo surgimento de figuras urbanas como o boulevard, o parque, a praça ajardinada, o jardim privado, a promenade, os terraços, mirantes e a arborização de rua.

O século XX é claramente dividido por três tipos de ação: dos paisagistas ecléticos os quais serviram as elites da Velha República, dos paisagistas modernos nacionalistas, que têm na obra de Roberto Burle Marx a expressão máxima dos anos 40 a 70 e, finalmente, a ação dos paisagistas contemporâneos, que vão acrescentando novas formas ao léxico urbano, rompendo com os padrões paisagísticos modernistas vigentes, com nítidas influências dos novos paradigmas americanos, europeus e asiáticos.

No Brasil, até a década de 80, o paisagista em geral era pouco valorizado, tendo atuação apenas em grandes espaços e obras públicas. Em prédios e residências predominava o profissional jardineiro, sem muito conhecimento estético e técnico, pois as crianças brincavam nas ruas e não havia necessidade de grandes áreas de lazer dentro dos prédios. Mas mudanças sociais ocorreram e acabaram beneficiando o paisagismo. Quem está na faixa dos 40 anos sente bem estas mudanças. Na década de 70, os muros eram baixos e as crianças brincavam na rua, não havia tantos carros e tanta violência, além disso, a maioria das mães era dona de casa.

A partir daí, muita coisa mudou, os muros ganharam altura e as mães foram à luta no mercado de trabalho, e as crianças passaram a ficar confinadas dentro das casas e prédios, iniciando-se então um movimento de valorização das áreas de lazer de prédios e residências, que continua crescente até hoje. É desta época também o surgimento dos grandes condomínios residenciais.

Com a necessidade de projetar áreas de lazer cada vez maiores e mais bonitas, houve uma procura muito grande por profissionais mais qualificados que o jardineiro, valorizando a profissão de paisagista. Atualmente as atividades de jardineiro e paisagista já não se confundem mais, cada um é responsável por determinadas etapas do paisagismo, que são: projeto, implantação e manutenção. O paisagista é responsável principalmente pela elaboração do projeto e pelo planejamento e gerenciamento da implantação e manutenção. Já o jardineiro é responsável direto pela implantação e manutenção, coordenando o trabalho de outros auxiliares no preparo de solo, plantio, poda, controle de pragas e doenças, corte de grama, etc.

Ao final deste guia, foi colocado um anexo trazendo a cronologia dos acontecimentos da história do paisagismo Brasileiro, seu contexto e seus projetos.

O paisagista de maior destaque ainda hoje no Brasil foi com certeza Roberto Burle Marx, que nasceu em SP em 1909, mudou-se para o RJ ainda menino e aos 19 anos foi

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estudar na Alemanha, onde iniciou contato com a escola alemã Bauhaus. De volta ao Brasil, estudou Artes Plásticas e iniciou seus trabalhos de paisagismo com os arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, tornando-se mundialmente conhecido. Sendo assim, fechamos este guia com o Anexo 02, trazendo um texto sobre este paisagista que até hoje é uma grande referência.

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2.0 - 1ª PARTE: HISTÓRIA DO PAISAGISMO MUNDIAL

2.1 ANTIGUIDADE

Pode-se observar que, na cultura cristã (e em diversas outras culturas com pequenas variações) antes mesmo das primeiras civilizações, existiu o "Jardim do Paraíso", onde Deus colocou Adão e Eva. Em Gênesis I e II, é descrito como um parque "que Deus plantou e onde se cultivavam árvores de todas as espécies, agradáveis para se contemplar e alimentar". Assim, as árvores foram veneradas pela fertilidade, vitalidade e o alimento que representavam.

Através dos fatos que a história da civilização registra pode-se constatar que o oriente próximo foi uma das regiões de grande importância, pois foi o berço das civilizações. Estas civilizações antigas contribuíram - e muito - para a evolução das ciências e das artes. E não distante disto, o paisagismo evolui como expressão artística.

2.1.1 Mesopotâmia:

Situada entre os rios Tigre e Eufrates, a história das civilizações relata que os assírios foram os mestres das técnicas de irrigação e drenagem, criando vários pomares e hortas formados pelos canais que se cruzavam. Mas este trabalho foi abandonado em razão da invasão árabe. Sendo assim, a forma e a distribuição do jardim se identificavam inicialmente com a prática da agricultura, onde a horta rodeada por um muro podia ser um protótipo de jardim.

Os textos mais antigos sobre jardins datam do terceiro milênio a.C., escritos pelos babilônicos, descrevendo os "jardins sagrados", onde os bosques sagrados eram plantados sobre os zigurats. É na própria Babilônia que se encontra a obra mais marcante da jardinagem nesta época, sendo considerada pela humanidade como uma de suas maravilhas: os Jardins Suspensos da Babilônia que se caracterizavam pela supremacia dos elementos arquitetônicos

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sobre os naturais.

Algumas espécies utilizadas eram a tamareira (com a finalidade de fornecer um microclima favorável a outras espécies), o jasmim, as rosas, as malva-rosas, as tulipas e também álamos e pinos que não suportariam viver num clima tão árido e quente,mas só foi possível devido ao complexo sistema de irrigação desenvolvido. O sentimento religioso estava presente e intrinsicamente ligado à arte dos jardins, onde se acreditava que os jardins dependiam da vontade dos deuses.

2.1.2 Egito

As características dos jardins egípcios seguiram os mesmos princípios utilizados na arquitetura deste povo. Eles só surgiram quando as condições de prosperidade no antigo império permitiram às artes (arquitetura e escultura) um notável desenvolvimento.

Projeto de Jardim Egípcio.

De um modo geral, o jardim egípcio desenvolvido de acordo com a topografia do Rio

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Nilo era constituído de grandes planos horizontais, sem acidentes naturais ou artificiais. As características dos monumentos egípcios - com a rigidez retilínea e a geometria - fizeram com que os jardins tivessem uma simetrização rigorosa. Tudo de acordo com os 4 pontos cardeais. As plantas utilizadas eram: palmeiras, sicômoros, figueiras, videiras e plantas aquáticas.

O jardim regular era símbolo da fertilidade, sintetizava as forças da natureza e era a imagem de um sistema racional e arquitetural baseado no monoteísmo. Osíris para os egípcios era o deus da vegetação.

2.1.3 Pérsia

Os persas não criaram no mundo das artes monumentos originais. A sua arquitetura foi, nas suas grandes manifestações, obra de gregos. Os jardins dos antigos persas estavam, como as demais produções artísticas, condicionados à influências estranhas e revelavam, nos caracteres essenciais da composição, elementos retirados dos jardins gregos e egípcios, uma espécie de estilo "misto". Nos jardins eles introduziam árvores e arbustos de flores perfumadas.

Os jardins persas procuravam recriar uma imagem do universo, constituindo-se de bosques povoados por animais em liberdade, canteiros, canais e elementos monumentais, formando os "jardins-paraísos" que se encontravam próximos aos palácios do rei.

A introdução de espécies floríferas no jardim criou um novo conceito na arte de construí-los, passando a vegetação a ser estimada pelo valor decorativo das flores, sempre perfumadas, do que pelo aspecto de utilidade que possuíam anteriormente. A associação dos reinos animal e vegetal completava a ideia do paraíso.

O jardim era dividido em quatro zonas por dois canais principais em formato de cruz e na intersecção deste se elevava uma construção que podia ser o pavilhão ou uma fonte, representando as 4 moradas do universo. O jardim persa cercado de altos muros feitos de tijolos, estritamente formal, era um lugar de retiro privado, destinado ao prazer, ao amor, à saúde e ao luxo.

Tapete persa utilizando como referência um jardim persa dividido por rios.

As plantas utilizadas eram: plátanos, ciprestes, palmeiras, pinus, rosas, tulipas, narcisos, jacintos, jasmins, açucenas, etc.

2.1.4 Grécia

As raízes fundamentais da cultura ocidental se encontram, não há dúvida alguma, na

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civilização desenvolvida na Grécia Antiga. O cuidado com as plantas provavelmente foi fruto do amor à vida em pleno ar livre, obrigando a uma constante aproximação com a natureza. Os jardins gregos, apesar de fortemente influenciados pelos jardins egípcios, apresentaram diferenças notáveis em razão da topografia acidentada da região e o tipo de clima.

Templo de Zeus em Atenas

Os jardins possuíam características próximas das naturais, fugindo da simetria dos egípcios. Desenvolviam-se em recintos fechados, onde eram cultivadas plantas úteis, principalmente maçãs, pêras, figos, romãs, azeitonas, uva e até horta.

A introdução de colunas e pórticos fazia uma transição harmoniosa entre o exterior e interior e o jardim era um prolongamento das partes da casa, às quais ele se ligava. A sua principal característica era a simplicidade. Os jardins também ficaram marcados por possuir esculturas humanas e de animais mais próximas da realidade.

2.1.5 Roma

O império romano se estendia da Espanha (oeste) até a Mesopotâmia (leste) e do Egito (sul) até a Inglaterra (norte). Compreendia variedade de paisagens, climas e raças. Os romanos não podiam ser incluídos no grupo dos povos que tiveram a arte como forma de expressão. Eles se encaminharam para a história, o Estado e o Direito.

A casa romana repetiu basicamente o modelo grego, sendo construída no nível da rua, com as habitações voltadas para dentro, comunicando-se por uma coluna, e abertas a uma praça anterior. Os jardins foram objetos de atenção, mas apesar disso, são falhos quanto à originalidade. Como características de tais jardins pode-se ressaltar a grandiosidade e a magnificência da composição, as perspectivas vastas, que empregaram como prioridade, a decoração pomposa, a valorização para fins exclusivamente recreativos.

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Vila Romana Chedworth (Inglaterra) combinando elementos: jardim, pátio e corredores (ao centro), gruta com estatuárias (no topo), horta e pomar (no topo esquerdo)

Os jardins eram principalmente santuários sociais, onde se desfrutava de proteção frente às moléstias do sol, vento, poeira e ruído das ruas. A sombra projetada pelas galerias com arcos reduzia necessidade de arvoredo. As plantas, quando existiam, eram colocadas em maciços elevados e os pátios se ornamentavam com tanques de pedra para água, mesas de mármore e estátuas.

Os romanos quando saquearam Grécia carregaram consigo também seus monumentos e estátuas, e como não sabiam o que fazer com a grande quantidade de estátuas distribuíram-nas pelos seus jardins. De tal forma, que a ornamentação se generalizou nos jardins romanos da época. Em consequência, tais jardins são metódicos e ordenados, integrando-se às moradias. como exemplo temos as cidades de Pompéia e Herculano. As plantas utilizadas eram: coníferas, plátanos, frutíferas como amendoeira, pessegueiro, macieira, videira e outras. Ciprestes, buxos e louros-anão recebiam "topiárias", que se caracterizavam por moldar arbustos em formas de figuras de variados formatos e nomes.

O topiárius moldando arbustos em figuras de variados formatos. O arbusto passou a ser um elemento escultórico e essencial num Jardim Romano por despertar o olhar .

A maioria dos jardins romanos também possuíam uma pequena horta. Talvez por isso, a irrigação era planejada. A interpenetração casa-jardim podia ser visualizadas nas vilas romanas localizadas nas proximidades de Roma. Dentre elas, destacou-se a "Vila Laurentina", situada a 30 Km de Roma, construída por Plínio, o Jovem, onde plantou-se predominantemente figueiras e amoreiras, havia também uma horta e terraço com flores perfumadas, próximo das

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águas para assim se conseguir temperaturas mais agradáveis.

Outra de semelhante importância foi a "Vila Adriana", construída em Tívoli para o Imperador Adriano, que perdurou até antes da guerra de 1939. Estas vilas darão um impulso definitivo para o grande estilo italiano.

Alameda de Ciprestes - Vila Adriana

2.1.6 Jardim Islâmico

No Jardim Islâmico, profundamente influenciado pelo Jardim Persa, as plantas assumem importância por despertarem os sentidos - visão e olfacto - e por possuírem uma carga simbólica associada à ideia da recriação do Paraíso na Terra.

O Islamismo marcou presença nas culturas dos Sécs. VII-XIV da Ásia à Índia, do Norte de África e da Península Ibérica. De uma simplicidade de desenho, à semelhança do Jardim Persa (fig. 11), o seu jardim possuía plantas de potencialidades ornamentais e olfactivas, tais como: rosas, buganvílias, romãzeiras, jasmins, loureiros, murtas, lavandas, mentas, basílicos, citrinos, madressilva, cravos [21], etc. Vasos com flores enfeitavam as casas (fig. 12) e ladeavam as peças de água – aliando a visão e o som para o desfrute dos sentidos.

As árvores eram principalmente as de clima mediterrâneo e os arbustos, como os loendros, floriam propositadamente na altura do ano em que a corte Moura chegava ao palácio Generalife, em Granada.

O jardim era pequeno na dimensão, sem ostentação, usando o elemento água, cor e perfume, com o objectivo de sedução e encantamento e era destino à vida familiar. Este povo introduz na Península Ibérica a laranjeira azeda, o limoeiro, a alfarrobeira e a amendoeira.

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O Jardim Islâmico era dividido por canais de água e possuía plantas de potencialidades ornamentais e olfactivas

No jardim Islâmico vasos de flores enfeitavam as casas – Palácio em Sevilha

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2.1.7 China e Japão

Pode datar de 2.000 a.C. o início das atividades de jardinagem na China. A jardinagem chinesa tem sua origem numa paisagem de rara beleza e flora riquíssima. Os parques das casas dos antigos imperadores não eram mais do que uma porção da paisagem cercada, onde a tarefa do jardineiro limitava-se a ordenar o já existente.Acreditava-se que no norte da China havia um lugar para os imortais. Como o Imperador Wu não conseguiu encontrá-lo na realidade, decidiu então criá-lo na fantasia. Dessa maneira surgiu o jardim "lago-ilha".

No final do século VI, com o surgimento de um novo imperador, um novo jardim "lago-ilha" foi criado: o Parque Ocidental, com perímetro de 113 km e contendo 4 imensos lagos cobertos de lótus e rodeados de chorões. Trabalharam na sua construção 1 milhão de pessoas. Monumentais palácios de cor vermelha se ergueram no meio das rochas.

Este cenário foi encontrado pelos japoneses em 607 d.C. e, em poucos anos, o Japão tinha o seu primeiro jardim "lago-ilha". Em 1894, para comemorar os 1100 anos da capital Kioto, construiu-se um desses jardins, ficando conhecido como Santuário Heian. Trata-se de uns dos jardins mais alegres e de melhor traçado do mundo, com hortos de cerejeira, maciços imensos de azaléias e lírios, rochas cobertas por flores e pinus, traduzindo o amor dos japoneses pela natureza.

A arte na jardinagem japonesa consiste em concentrar a atenção sobre o essencial, seja das formas precisas ou a sutileza das matizes; todas as plantas são extremamente valorizadas. São usadas comumente plantas perenes, criando um quadro estável seja qual for a estação do ano.

2.2 IDADE MÉDIA

Considera-se como Idade Média o período entre os séculos XV e o XVI, período entre a Antiguidade Clássica e o Renascimento. Um retorno à economia rural e a simplicidade de hábitos concretizou-se neste período. O luxo e o requinte foram abandonados e criou-se uma nova hierarquia de valores.

As construções feitas neste período eram rudes e pesadas. As igrejas pareciam fortalezas. O verde foi praticamente banido na vida urbana. As igrejas e mosteiros constituíram-se em centros de toda a atividade social, qualquer espaço útil recebia seu uso funcional, como a obtenção de alimentos ou ervas. Em zonas amplas dos mosteiros plantavam-se árvores frutíferas, hortaliças e se cultivavam flores para a ornamentação dos altares.

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O Jardim Medieval era um jardim de lazer, enclausurado com altas paredes protectoras e rodeado de plantas aromáticas e árvores de fruto

O estilo de jardim desenvolvido nesta época constitui da mistura desordenada e fragmentária dos estilos anteriores. O que era bem característico era a estrutura crucial da composição. A interseção ortogonal das alamedas e caminhos, nos jardins construídos nos pátios internos das grandes construções medievais, lembravam a cada momento o símbolo da religião dominante. O estilo gótico retratava bem os jardins medievais. Os dois estilos básicos de jardim foram os monacais e mouriscos.

2.2.1 Monacais

Representava uma reação ao luxo da tradição romana. Era dividido em 4 partes: o pomar, a horta, o jardim de plantas medicinais e o jardim de flores.Existiam áreas gramadas cercadas e arbustos, viveiros de peixes e pássaros, além de local para banho

2.2.2 Mouriscos

No século V os árabes invadiram a Pérsia, onde tentaram implantar o islamismo. No século VI, na Espanha, os árabes criaram os chamados "jardins da sensibilidade" que se caracterizavam pela água, cor e perfume, com os objetivos de sedução e encantamento.

O emprego de canais, fontes e pequenos regatos formavam um aspecto hidráulico para a irrigação e para amenizar o calor, além do aspecto de ornamentação destes jardins. A cerâmica e o azulejo eram bastante utilizados.

As espécies vegetais mais cultivadas foram os jasmins, os cravos, os jacintos, as alfazemas, as rosas, as primaveras e as anêmonas. Os jardins espanhóis representam bem a influência árabe. As principais características destes jardins: eram de pequenas dimensões, sem ostentação e com destino à vida familiar.

2.3 RENASCIMENTO

O início do Renascimento data de meados do século XV e tal época ficou assim

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conhecida devido ao ressurgimento da cultura de um modo em geral. Houve uma renovação do pensamento no que diz respeito às artes, às ciências, à literatura e a filosofia. Consequentemente, houve o renascimento também dos jardins e os países que mais expressaram esta renovação foram Itália, França, Inglaterra e Holanda.

Com o Renascimento, dá-se a redescoberta da Natureza (no Humanismo acrescenta-se a ideia de que o Jardim é a celebrização do Homem sobre a natureza), levando à criação dos primeiros jardins botânicos de plantas exóticas e a uma nova moda de jardins que se difunde por toda a Europa,

O Jardim Renascentista era construído para projectar o poder do Homem face à natureza, e caracterizava-se pela sua artificialidade e organização que não se encontrava nos jardins das épocas anteriores, apontando assim para a extrema racionalidade que se fazia sentir nesta época. As plantas embelezavam os jardins e eram usadas para demonstrar a superioridade do Homem e seus conhecimentos, exemplos disso eram o recurso à topiária e aos parterres.

Primava por uma simetria rígida de arruamentos, talhe excessivamente geométrico das árvores alinhadas, complicados jogos de água, canteiros geométricos de flores e dispunha-se em terraços ligados por ampla escadaria formando anfiteatros [28]. Usavam-se materiais e elementos imutáveis (plantas de folha persistente, esculturas de santos ou divindades mitológicas, escadarias e pérgolas em pedra) e semi-imutáveis (água parada ou em movimento provenientes de fontes, cascatas ou repuxos)

Fonte de Pégasos, Fonte da Natureza, Cem Fontes na Vila d´Este, em Tivoli

2.3.1 Itália

Os jardins italianos desta época se inspiraram nos jardins da Roma Antiga que possuíam muitas estátuas e fontes monumentais. Na Itália, os sítios se encontravam nas colinas e nas encostas, em razão das vistas panorâmicas e também do clima. Sendo assim, foi proposto que para o aproveitamento das irregularidades do terreno, se fizesse uso de escadarias e terraços acompanhados de corredeiras de água. Tais jardins deveriam unir-se à casa por meio de galerias externas e outras prolongações arquitetônicas.Os jardins eram tidos como centros de retiro intelectual onde sábios e artistas podiam trabalhar e discutir no campo, longe do calor e das moléstias do verão da cidade. A vegetação era considerada secundária e se caracterizava por receber cortes adquirindo formas determinadas, conhecidas anteriormente nos jardins romanos por topiárias. Em seguida esta mesma vegetação era distribuída pelos terraços e, no plano mais elevado do jardim, dominando a composição, se encontrava o palácio.Os vegetais mais utilizados foram: o louro, o cipreste, o azinheiro e o pinheiro entre outros

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vegetais característicos dos jardins-italianos do Renascimento. O buxo era muito utilizado para as formas recortadas. Nestes jardins a paisagem era desenhada com régua e compasso, caracterizando a simetria de linhas geométricas. Havia também muito contraste entre as formas naturais e as criadas pelo homem.

2.3.2 França

Os países da Europa seguiram a França no século XVII, período no qual teve sua maior riqueza e poder, no que dizia respeito a estética. A princípio, o estilo francês se baseou nos jardins medievais, que utilizavam canteiros com flores e ervas medicinais, sendo que havia também a horta que lhes concedia o abastecimento. Mas, com o passar do tempo, novas idéias foram sendo introduzidas por arquitetos italianos que trabalhavam na corte francesa. Com isso, pode-se dizer que os jardins franceses tiveram características semelhantes aos jardins italianos.

Como características deste estilo, podemos citar a rígida distribuição axial, a simetria, a perspectiva, o uso de topiárias e a sensação de grandiosidade. As formas geométricas podiam ser percebidas tanto nos caminhos e passeios quanto na vegetação, admitindo-se poucos desníveis.

Os principais jardins foram construídos pelo famoso arquiteto/paisagista de Luiz XIV, André Le Notrê. Sua obra mais marcante foi o jardim do Palácio de Versalhes, que possui já todo o expoente do Jardim Barroco.

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2.3.3 Inglaterra

No reinado de Luiz XV, o estilo francês entrou em decadência devido à busca exagerada da forma e simetria. De um estilo formal, os jardins passaram a ter uma maior aproximação com a natureza. Inspiravam-se basicamente nas idéias orientais do velho império chinês que possuía os jardins dos acidentes naturais. Tais jardins ficaram conhecidos como "jardins paisagísticos" e tinham como características básicas a irregularidade e a falta de simetria nos caminhos, que foram planejados com maior liberdade. Além disso, não eram encontradas esculturas vegetais, arcos e monumentos.

Esses jardins procuravam imitar a natureza em seu traçado livre e sinuoso e a água presente se encontrava disposta em lagos ou riachos. Tais inovações iam de encontro às idéias do romantismo da época. A Inglaterra também teve seus mestres paisagistas como William Kent e William Chambers, este último foi quem introduziu a idéia chinesa nos jardins de seu país.

Um dos objetivos deste estilo descrito era que as pessoas percebessem como jardim, toda a natureza que estava ao seu redor. As primeiras características do jardim inglês são as seguintes:· Linhas graciosas;· Amplas extensões verdes (gramados);· Ruas amplas; cômodas, em pequeno número;· Terreno acidentado e possibilitando a visão de belas perspectivas;· Pequenos bosques, compostos de plantas da mesma ou de espécies diferentes, com ou sem divergência nas colorações;· Grupos de árvores não muito numerosas;· Plantas isoladas;· Plantação de árvores mortas;· Construção de ruínas;Este estilo foi utilizado na Inglaterra e em alguns locais da Europa, por quase dois séculos e depois entrou em decadência, dando lugar ao estilo misto. Os ingleses acabaram dando origem aos parques e jardins públicos que tiveram por finalidade refrescar as áreas urbanas.

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2.3.4 Holanda

Os holandeses, no início, também não fugiram das influências francesas e italianas. Porém, devido à sua topografia plana, o hábito de cultivo das plantas bulbosas (especialmente a tulipa) e o seu gosto pelas cores, criaram jardins mais compactos e graciosos. São divididos em múltiplos recintos e apresentam túneis sombreados por trepadeiras. As partes centrais são formadas por intrincados grupos florais; fontes douradas baixas que jorram suas águas em pequenos tanques rodeados de cercas vivas de bordadura baixa. Os ciprestes recebiam podas, formando círculos sobrepostos. Portões de ferro fundido fechavam os jardins.

2.4 JARDIM BARROCO

À semelhança do Jardim Renascentista, mas de uma forma mais exacerbada, o Jardim Barroco era construído para evidenciar o poder do Homem e era dotado de uma artificialidade extrema, funcionando o jardim como um palco. Através da ciência da óptica, dispunham-se as plantas de modo a dirigirem o olhar do espectador e criarem ilusões para as distâncias parecerem maiores ou menores. Destaca-se neste período André Le Nôtre (1613-1700) que organizava a paisagem para um forte cenário que expressasse a dignidade e elegância do Homem e deleitasse os seus sentidos.

A topiária atinge, principalmente em França e com Versalhes, o auge com os elaborados e complexos desenhos de sebes e de árvores e arbustos, com a função de criar eixos e formas geométricas. As perspectivas alongam-se, rodeadas de fortes massas de arvoredo sob declive ou terreno plano, sem prejudicar os diferentes pontos de vista. Por toda a extensão do jardim arrelvados, espalham-se quincôncios e bosquetes que enchem os vazios deixados entre alamedas.

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Plano e perspectiva do Jardim de Versalhes projetado por Le Nôtre e encomendado por Luís XIV. São evidentes as grandes formas e amplas perspectivas constituindo um cenário espectacular criado para o deleite dos sentidos e evidenciar

o poder real.

2.5 JARDINS DO SÉCULO XIX

Em Inglaterra, surge no jardim o conceito de bordadura vivaz (mixed-border) – no qual o elemento flor se assume importante, utilizando-se mistura entre espécies de épocas de floração diferentes e de fácil manutenção (herbácea, de bolbo ou rizomas). O ritmo de plantação associa-se ao contraste flores–folhas-cor-forma (prímulas, lírios, rododendros, peónias, etc.) em maciços e bordaduras, dentro de um traçado bem definido. Neste contexto, destacaram-se os trabalhos de William Robinson e Gertrude Jekyll.

É no Séc. XIX que surgem os grandes parques urbanos abertos ao público, fruto da necessidade de lazer, educação e de hábitos higienistas que se faziam sentir nos grandes centros industriais urbanos e desempenhando um importante papel terapêutico por promoverem o bem-estar do indivíduo. O Central Park, em Nova Iorque, projetado por Olmsted e Vaux, terá sido o precursor de muitos destes parques até à presente época.

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Bordadura vivaz em Wakehurst (Inglaterra), plantado à maneira de Gertrude Jekyll, usando principalmente rosas e púrpuras estimulando a visão num jardim

Vista aérea para o Central Park (Nova Iorque, EUA), projectado por Olmsted e Vaux, em 1858, e que surgiu da necessidade de o indivíduo citadino usufruir de espaços verdes para a promoção do seu bem-estar.

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3.0 - 2ª PARTE: HISTÓRIA DO PAISAGISMO NO BRASIL

A introdução do paisagismo no Brasil foi tardia se comparada ao que ocorreu no mundo oriental. Com poucas exceções, os primeiros grandes espaços verdes só apareceram no século XVIII. O Passeio Público do Rio de Janeiro, por exemplo, um antigo charco, foi aterrado e ajardinado em 1783. Porém, havia tantas regras para a sua utilização que o local acabou sendo abandonado.

O Passeio Público é, oficialmente, o mais antigo parque urbano do Brasil destinado a servir à população. Criado por ordem do vice-rei Luís de Vasconcelos de Sousa, foi projetado por mestre Valentim da Fonseca e Silva segundo um traçado extremamente geométrico, inspirado nas tradições de desenho do jardim clássico francês.

A história documentada do paisagismo no Brasil iniciou-se com a chegada de Dom João VI, em 1807, que destinou ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro a vocação de cultivar espécies para a produção de carvão, matéria-prima para a fabricação de pólvora. Até meados do século XIX, influenciados pelas mulheres, membros da corte solicitavam aos cônsules e embaixadores, sementes e mudas de espécies floríferas para ornamentar os jardins dos palacetes que se localizavam no bairro São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Com isso chegaram ao Brasil algumas espécies como: agapantos, roseiras, copos-de-leite, dálias, jasmins, lírios e craveiros, entre outras.

A palmeira-imperial (Roystonea oleracea), originária da Venezuela e da Colômbia, chegou ao Brasil trazida pelos portugueses libertados da Ilha de Maurício. Sementes dessa espécie foram presenteadas ao príncipe D. João VI, que as plantou no Horto Real. Já a palmeira-real (Roystonea regia), nativa de Cuba e Porto Rico, de porte mais baixo e estipe mais grosso, foi introduzida quase um século depois.

Em 1859, Dom Pedro I contratou o engenheiro hidráulico francês August Marie Glaziou, integrante de uma missão francesa, que foi o principal paisagista do Império e que ocupou o cargo de Diretor Geral de Matas e Jardins. Entre as suas obras destacam-se o Campo de Santana e a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Esse paisagista utilizou, pela primeira vez, árvores floríferas no paisagismo.

Somente no final do século XVIII é que, no Brasil, com a tentativa de reaproximarem-se do meio ambiente, os jardins foram adaptados em particularidades, buscando estimular a sensibilidade à paisagem. Essa preocupação levará à integração dos elementos da flora no próprio traçado da cidade como reação e, ao mesmo tempo, solução ao problema do adensamento urbano.

O paisagismo no Brasil definiu-se no século XIX, a partir do surgimento de uma rede consolidada de cidades, grandes e médias, e com influência européia, mais precisamente francesa e inglesa e, sob forte influência nacionalista, assumiu uma identidade própria.

O grande marco do paisagismo no país foi o surto de nacionalismo decorrente do pós-guerra. Seguindo essa linha, chegariam aos jardins as idéias do famoso e conceituado paisagista Roberto Burle-Marx, defendendo o uso da flora tropical. Hoje os paisagistas brasileiros se espelham nos seus grandes e magníficos jardins tropicais.

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3.1O ECLÉTICO:

A denominação Ecletismo faz uma associação direta com a arquitetura do período em que essa linha projetual de arquitetura paisagística predomina. Como esse estilo arquitetônico, a linha projetual é também, no Brasil, baseada em manuais europeus, totalmente aberta a modismos estilísticos, incorporando elementos anódinos, como chinoiseries e pavilhões árabes. A vegetação utilizada, mesmo que tropical, deve ser sempre organizada de modo a refletir um ideário qualquer, cópia de um modelo ou construção de um espaço bem organizado, ordenado segundo regras explícitas, que dirigiam sempre a criação de um cenário o mais parecido possível com o da metrópole.

Cenário recriado, pois o modelo europeu, ao passar para a cidade tropical, sofre adaptações expressivas, refletidas tanto na configuração dos lugares, como no comportamento social. Na Paris do século XIX, por exemplo, não existiam os escravos, nem as plantas nativas se expandindo de um modo luxuriante ao sabor do cálido clima tropical.

Nesse período projetual, realidade social, clima, técnicas construtivas, águas, disponibilidade de recursos, materiais e talentos pessoais levaram os produtos da arquitetura paisagística nacional a serem bastante distintos dos seus congêneres europeus, tanto no aspecto formal como no social.

O Ecletismo divide-se em duas correntes bastante diferenciadas:

1. Clássica: tem como referências os jardins franceses dos séculos XVI e XVII o espaço é tratado a partir de um parcelamento geométrico do solo, favorecendo-se a criação de pisos e caminhos estruturados por eixos, que convergem para um ponto principal e que o conectam aos diversos acessos. A vegetação é disposta de uma maneira expositiva e entremeada por objetos pitorescos, como fontes e esculturas.

2. Romântica: o espaço é concebido de modo a recriar a imagem do parque e do jardim anglo-francês da segunda metade do século, fortemente inspirado nos cânones ingleses.A cenarização constitui-se um forte apelo do projeto. Grandes gramados e arvoredos em maciços são introduzidos e dialogam com lagos românticos, edifícios pseudo-gregos, estátuas e outros elementos. Os caminhos são sempre orgânicos e os eixos geométricos não são permitidos.

3.1.1 Antecedentes: O Passeio público e os hortos urbanos. A linha clássica e a romântica.

O Passeio Público, primeiro espaço público tratado do país, foi construído na capital carioca durante os anos de 1779 a 1783. As características clássicas presentes em seu desenho predominam durante toda a primeira parte do século XIX, tanto na concepção do jardim privado, como na dos espaços públicos. Alguns espaços, entre eles os Jardins Botânicos do Rio de Janeiro e de São Paulo (atualmente Jardim da Luz) e os Passeios Públicos em

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diversas cidades, são ajardinados e parcelados em canteiros geometrizados que utilizam-se de simetrias e traçados ortogonais, onde se valoriza sempre pontos focais como marco, seja ele fonte, escultura ou coreto.

A denominação "Ecletismo" faz uma associação direta com a arquitetura do período na qual essa linha projetual de arquitetura paisagística predomina. Como esse estilo arquitetônico, a linha projetual é também, no Brasil, baseada em manuais europeus, totalmente aberta a modismos estilísticos. O ecletismo divide-se em duas correntes bastante diferenciadas: Clássica e Romântica.

A segunda metade do século XIX marca na arquitetura paisagística brasileira uma mudança bastante significativa, com a introdução do viés romântico inspirado na tradição inglesa, então recentemente adotada em Paris nos grandes trabalhos de reforma urbana executados pelo Barão Georges Eugène Haussmann. Os "bois" de Boulogne e de Vicennes,os parques de Buttes Chaumont, Montsorris, Monceaue outros mais são as grandes referências urbanas em termos de arquitetura paisagística da época. São projetados dentro de uma visão idealizada do campo, com contrastes entre águas serpenteantes, bosques cerrados e gramados extensos, visão totalmente derivada de padrões antigos e tradicionais ingleses de concepção de parques.

Essa concepção, desenvolvida havia cerca de duzentos anos nos parques privativos da nobreza inglesa, é levada ao público quando da abertura de um conjunto de parques urbanos em Londres e serve de padrão a muitos outros como o Regent's Park de Clarence Nash (1812). O Parque Francês, que influencia o paisagismo romântico brasileiro, possui um sistema viário bastante ordenado, no qual todos os caminhos, mesmo que orgânicos, levam a pontos de convecção e distribuição. Esses, por sua vez, estão conectados a um grande caminho principal, que percorre todo o parque e para o qual convergem todos os caminhos secundários.

O Campo de Santana,o primeiro parque público de fato da capital imperial, foi concebido por Auguste Françóis Marie Glaziou, o arquiteto paisagista do século XIX no Brasil, como símbolo da modernidade e europeização do Rio de Janeiro do século XIX, sendo responsável pela introdução do que se denomina postura anglogalicista de projeto paisagístico no Brasil, caracterizando e direcionando a concepção dos espaços livres para lazer do ecletismo brasileiro. Essas características românticas podem ser percebidas no traçado do Passeio Público inplantado em 1862, também de Glaziou, em substituição ao antigo desenho de Mestre Valentim, geométrico e rigidamente estruturado em parterres.

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3.1.2 Glaziou. O paisagista do Império e seus projetos:

Nasce em 1833 na Bretanha. Após concluir o curso de Engenharia Civil, estuda botânica no Museu de História Natural de Paris, onde toma conhecimento das transformações urbanas promovidas pelo Barão Haussmann, e do trabalho de Jean-Charles-Adolphe Alphand, autor dos parques Bois de Bologne e o Buttes Chaumontentre outros, absorvendo assim as influências formais do jardim francês. Em 1858, a convite de D. Pedro II, Auguste François Marie Glaziou vem para o Brasil e ocupa o cargo de Diretor Geral de Matas e Jardins. Em 1869 é nomeado Diretor de Parques e Jardins da Casa Imperial. Permanecendo no país até 1897, quando foi aposentado, volta para a França, vindo a falecer em 1906, aos 73 anos de idade. A influência da obra de Glaziou e sua equipe foi enorme, fazendo com que inúmeros logradouros pelo país afora fossem construídos seguindo os seus padrões paisagísticos de concepção de parques e praças, como no caso dos jardins da Glória(1903), do Campo de São Bento em Niterói (1909) e, anos mais tarde, nos Parques Dom Pedro e Anhangabaú em São Paulo (segunda década do século XX).

O Campo de Santana, a obra mais importante de Glaziou (1875), é certamente o melhor exemplo dessa forma de concepção dentro do paisagismo brasileiro, pois nela encontram-se implementados todos os seus cânones. O parque, concebido dentro dos padrões pelos quais foram projetados os parques franceses, está estruturado por caminhos suavemente curvilíneos que levam a um espaço central, e cortado por águas serpenteantes

emolduradas por extensos gramados e grandes maciços arbóreos. Contém os mais diferentes elementos decorativos, que dão um caráter pitoresco ao local, como uma falsa cachoeira de pedra, uma gruta, pontes de argamassa imitando troncos, esculturas mitológicas e bancos delicadamente trabalhados, detalhes que podem ser observados em outras obras do autor: Passeio Público e Quinta da Boa Vistano Rio de Janeiro, Parque São Clemente de Nova Friburgo e ainda o Parque Mariano Procópio de Juiz de Fora.

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3.1.3 O Palacete, Chácaras e jardins;

O cerne da mudança urbana paisagística brasileira do século XIX está, com certeza, contido entre os muros da propriedade privada. É nela que uma modernização bastante drástica se dá, tanto no tocante à arquitetura em si, como na implantação do edifício, que passa a ser disposto de outro modo dentro da propriedade. Por sua vez o jardim, antes pequeno e restrito a modestos pátios e canteiros, sem um tratamento específico, assume o papel de elemento valorizador da edificação, que deve ser destacada de modo a exibir a riqueza e a importância de seu proprietário.As mudanças configuram-se tanto na residência suburbana das chácaras como na casa da cidade, que pouco a pouco se destaca das divisas do lote e passa a ser cercada por jardins, em princípio laterais e depois frontais.

O modelo adotado é o da "villa" ou palacete, isolado no meio de jardins, que criam em volta da construção uma cenarização de acordo com o estilo arquitetônico da residência, que deve ter todas as suas faces emolduradas e destacadas pela vegetação. A sua fachada principal deve, de preferência, ser totalmente exposta ao público, valorizada por um gramado romântico ou por "parterres" cuidadosamente decoradas com arbustos e flores. Esse é o caso dos inúmeros palacetes construídos nas barrancas de Capibaribe em Recife, cujos jardins luxuriantes e generosos descem até as águas do rio; daqueles construídos em São Cristóvão, junto ao Paço Imperial no Rio de Janeiro, ou ainda, na mesma cidade, nos bairros de Andaraí, Cosme Velho e Laranjeiras. Nesses bairros não só as

casas das chácaras estão isoladas, mas nos novos arruamentos; muitos palacetes são construídos totalmente isolados no lote, como é o caso do palácio Princesa Isabel nas Laranjeiras, residência da princesa desde 1865, cercado por um belo parque de autoria de Paul Villon, pelos palacetes da Rua São Clemente e muitos outros.

Na medida em que a orla carioca foi se urbanizando, já no final do século XIX, os bairros do Flamengo, Botafogo e a distante Copacabana, foram intensamente ocupados por palacetes, que fizeram, no caso da Avenida Atlântica, um magnífico mostruário do que de mais moderno se podia conceber na época. Na capital paulista, a abertura do Bairro de Higienópolis, totalmente idealizado para receber palacetes, e da Avenida Paulista (1891) marcam a consolidação definitiva do palacete como figura urbana, pois, confirmando as normas do loteamento, a própria Prefeitura Municipal passa a exigir, por lei, recuos de 6 metros obrigatórios para as principais vias dos dois bairros, para os recuos frontais das Avenidas Angélica e Higienópolis e da Rua Maranhão, e de 12 metros para os recuos frontais

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da Avenida Paulista.

O bairro de Higienópolis, conhecido inicialmente como Boulevard Burchard, foi todo concebido, como a Avenida Paulista, de modo a configurar a imagem de um bairro residencial francês, cortado por ruas e calçadas largas e arborizadas.

3.1.4 Reynaldo Dierberger;

Na medida em que a criação de parques e jardins públicos e privados se torna um hábito corrente, se produzem condições para o surgimento de um mercado consumidor para firmas especializadas em serviços paisagísticos. Na cidade de São Paulo, a partir do final do século XIX, observa-se um aumento da demanda de tal solicitação e são inúmeras as empresas que se organizaram para a prestação de serviços ligados à arquitetura paisagística, principalmente na implementação de projeto de parques e jardins privados. Esse aumento da demanda na cidade, principalmente junto às camadas de alto poder aquisitivo, permitiu que um certo número de profissionais se destacasse em tal área, concorrendo em importância com os arquitetos paisagistas, que tradicionalmente trabalhavam para o Estado, como Glaziou e outros.

Em São Paulo, os nomes de Germano Zimber, de João e Reynaldo Dieberger destacam-se pelo porte das obras nas quais estiveram envolvidos.

Os Dieberger, pai e filho, são com certeza os nomes que mais se destacam na cidade e no estado de São Paulo, com um número expressivo de projetos, tendo como clientes as principais famílias da época, que solicitavam os serviços da firma de sua propriedade Dieberguer & Cia. João Dieberger, jardineiro alemão de origem, recebe o apoio da mais importante mecenas paulistana do último quartel do século XIX, Dona Veridiana Prado, que lhe arrenda uma chácara de sua propriedade à Rua da Consolação, onde mais tarde seria

construída a Praça Roosevelt, e passa a dedicar-se à cultura e à venda de plantas ornamentais (1893), atividade que expande em 1895, com a compra e formação de uma chácara própria atrás do Parque Trianon na Avenida Paulista.

Da pesquisa e produção de espécies, passa a elaborar projetos para os mais diversos clientes da alta sociedade paulistana. O trabalho da firma de João Dieberger, que no século XX passa a contar com viveiros e uma casa distribuidora, consolida-se em 1919, quando Reynaldo Dieberger (filho de João), paisagista, com especialização em Dresden, na Alemanha, passa a colaborar na empresa.

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Os projetos dos Dieberger caracterizam-se por explorar todas os nuances da arquitetura paisagística da época, ora elaborando projetos romântico - paisagísticos, como os da residência de Antônio Prado Júnior, na Avenida Higienópolis, ou o parque da Residência de Dona Georgina de Rego Freitas, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, dotados de amplos gramados, que emolduravam a fachada principal dos palacetes ou os jardins da família Nagib Salem na Avenida Higienópolis em estilo "romântico".

Outros projetos foram concebidos dentro de linhas clássicas rígidas, como a Praça Pública de Rio Claro, a praça da Liberdade de Belo Horizonte e os jardins das Termas de Poços de Caldas, em Minas Gerais, mas, com certeza, foram as variações estilísticas desenvolvidas nos projetos criados pela firma Dieberger & Cia., por meio da sua seção de ajardinamentos, que mais caracterizavam os projetos dos dois paisagistas.

O trabalho de Reynaldo Dieberger foi bastante intenso, como o de seu pai, e são de sua autoria muitos dos mais importantes projetos desenvolvidos pela empresa da família, no Parque da Água Branca em São Paulo, nos jardins das estações d'água Mineral de Araxá, São Pedro e Poços de Caldas, trabalhos de excelente qualidade e porte e para os quais a sua formação de arquiteto paisagista possibilitou a finalização de excelentes resultados.

3.1.5 A Praça Eclética;

Inspirada nos jardins franceses dos séculos XVII e XVIII, que por sua vez buscaram referências nos jardins renascentistas, a linha clássica estrutura-se sobre uma rigidez geométrica no traçado e plantio, buscando sempre a ortogonalidade e a centralização. Os caminhos dispostos em cruz conduzindo a um estar central marcado por um ponto focal, geralmente um elemento verticalizado (monumento, fonte, chafariz, coreto, obelisco, etc), vegetação arbustiva plantada como bordadura dos canteiros e caminhos, poda topiaria e vegetação arbórea plantada ao longo dos caminhos, tudo isso envolto por um passeio perimetral, caracterizam a chamada tríade eclética básica que permeia a grande maioria dos projetos clássicos como o Largo do Campo Grande em Salvador, a Praça da República de Niterói e a Praça da República em Recife, a Praça da Independência em Santos, a Praça da Alfândega em Porto Alegre e as Praças da Sé e Dom Pedro em Belém.

Muitas são as variações a partir da mesma estrutura, com traçados ligeiramente orgânicos ou combinações de vários arranjos e composições geométricas, que obedecem, porém, à lógica da tríade básica. Os projetos da Praça Santos Andrade em Curitiba e Praça Paris no Rio de Janeiro são bons exemplos de projetos que, sobre a estrutura geométrica eclética, propõem algumas variações. No

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exemplo curitibano, as mudanças ficam por conta das linhas curvas que aparecem nos canteiros, porém a força dos eixos longitudinais, dos três estares centrais e da simetria remete claramente à lógica do Ecletismo.

Os projetos românticos, por serem mais elaborados, necessitaram de maiores áreas para sua implantação, de custo mais elevado e muito característicos de sua época, não se consolidaram como padrão tão forte quanto os projetos clássicos, porém a proposta de valorização da imagem naturalista e romântica e a forma cênica de plantio incorporaram-se ao ideário das praças urbanas entremeando-se ao geometricismo clássico.

Principalmente a partir do começo do século XX, surgem projetos que utilizam-se de elementos dos dois estilos. Geralmente com a colocação de elementos pitorescos e cenários bucólicos sobre uma estrutura de caminhos e canteiros com eixos e espaços centrais bem definidos como, por exemplo, a Praça Dom Pedro em Beléme a Praça General Osório em Curitiba.

3.1.6 O Parque Eclético:

A tradição de construção de parques públicos na cidade brasileira consolida-se no século XX, sendo que vários projetos de grande porte são executados nas principais cidades do país. Durante as primeiras quatro décadas são entregues ao público importantes logradouros, que se tornam paradigmas de qualidade urbana, como o Parque Antártica(1900) e o Bosque da Saúde (1908) em São Paulo, de propriedade particular e já desaparecido; o Campo São Bento(1909) em Niterói; o Bosque dos Jequitibás(1915) em Campinas; o Parque da Independência, conhecido como Ipiranga(finalizado em 1922 em São Paulo); início da implantação do Jardim Botânico em São Paulo em 1929 (concluída em 1939), o Parque da Farroupilha (Parque da Redenção)(1935) em Porto Alegre, construído no local de uma grande feira de exposições; os grandes jardins da Orla de Santos(concluídos em 1937) e o Parque 13 de Maio em Recife (1939).

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3.1.7 Projetos Urbanos. Rio de Janeiro e São Paulo

O Segundo Império marca um período de crescimento e consolidação do Rio de Janeiro como capital, que se moderniza na sua arquitetura, nos seus arruamentos e nos seus espaços públicos. A Rua do Ouvidor é, então, uma via de comércio elegante e diversificado, o hábito de ir ao teatro é comum, um sem número de prédios públicos e privados de arquitetura nova de influência européia são construídos no centro, novos bairros são abertos e, pouco a pouco, as senhoras de "boas" famílias passam também a freqüentar o espaço público, que tem seu uso disciplinado e saneado.

As últimas três décadas do século XIX caracterizaram-se, então, por um processo progressivo e constante de transformação dos espaços públicos da grande cidade brasileira, que foram redimensionados, reelaborados cenicamente e adequados a um novo papel sócio-econômico que, de certo modo, estava preparando as condições para as grandes transformações ocorridas nas duas primeiras décadas do século XX.

O Rio de Janeiro, a capital da nova república, e São Paulo, são então, o palco de grandes transformações em suas áreas centrais, que destroem de vez as antigas estruturas espaciais coloniais, colocando-as dentro dos cânones do urbanismo europeu.

As obras executadas no Rio de Janeiro na primeira década do século são emblemáticas e servem de padrão para todo o país. A abertura da Avenida Central em 1905, o primeiro boulevard em área central urbana brasileira, a construção da Avenida Beira-marem 1904, os jardins da Praia de Botafogode 1903 e ainda os jardins da Glória, da Lapa e do Monroe executados pela Inspetoria de Matas e Arborização, sob a direção de Júlio Furtado, representam mudanças significativas para o espaço público.

O núcleo antigo da cidade de São Paulo passa, na primeira década do século, por inúmeras mudanças como alargamento de ruas, ajardinamento de praças e a construção de um sem números de novos edifícios; mas a grande transformação se dá na segunda década, quando após numerosos estudos são, finalmente, transformadas as grandes várzeas que cercavam o centro antigo em dois parques, com a idéia deral de Joseph Antoine Bouvard.

Esses parques, o Dom Pedro, construído na antiga várzea do Carmo, e o Anhangabaú, construído em parte do vale pelo qual corria o córrego de mesmo nome, eliminam definitivamente os focos de insetos, os terrenos incultos e quintais, que conferiam ao centro em formação um aspecto acanhado. Os dois parques possuíam um desenho romântico nitidamente enquadrado na mesma linha projetual seguida por Glaziou nos seus projetos para o Rio de Janeiro. Constituíram, na época, uma moldura ajardinada para o centro da cidade, pois formavam um semi-anel verde em volta da sua parte principal.

Ainda na área vizinha ao centro paulistano foi construída, em 1905, praticamente um pequeno parque, em área não distante do Parque Anhangabaú, a Praça da República. Essa área era, na época, totalmente residencial e ao seu redor construíram-se inúmeros palacetes,

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como os da Avenida São Luís, então, uma das mais elegantes vias da cidade.

3.1.8 Projetos Urbanos. Belém, Manaus e Belo Horizonte

Por todo país, ao final do século XIX e no começo do século XX, são feitas importantes reformas urbanísticas junto às áreas centrais e aos principais bairros vizinhos. O Intendente Antônio José de Lemos, por exemplo, na sua longa gestão à frente da Administração Municipal de Belém do Pará constrói um dos mais expressivos conjuntos de áreas livres do início do século. Durante os anos de 1898 a 1911, foi o responsável pela modernização da estrutura urbana da capital paraense, que enriquecida pelo ciclo da borracha, transforma-se em um dos mais importantes centros do país, priorizando o embelezamento urbano, simbolizado pela criação de parques e praças, além do ajardinamento de logradouros já existentes, formando um dos mais completos sistemas de áreas verdes públicas para lazer do período.

São criados vários boulevards, praças e um grande parque - o Bosque Municipal, depois denominado Parque Rodrigues Alves. Como no Parque Municipal, predomina em todas as praças da cidade o traçado geométrico e clássico, que sempre direciona o usuário a um ponto focal ou à área central do logradouro. Assim são concebidas as praças Brasil, Dom Pedro, Amazonas, da Sé, da República e Baptista Campos, além do Boulevard junto ao Mercado Ver-o-Peso.

A Praça Baptista Campos, reinaugurada em 1904, após uma grande reforma, transformou totalmente um campo vazio, plantado com mangueiras, em um dos mais significativos exemplos da arquitetura paisagística eclética brasileira. . Ao longo dos caminhos são colocados os mais diversos e pitorescos elementos, como bancos e pontes trabalhados em formas orgânicas, ilhotas, formações rochosas falsas, imitando situações naturais, chafarizes, uma torre de castelo, utilizada para disfarçar as instalações de abastecimento d'água, enfim, toda uma cenarização romântica que visava possibilitar ao flaneur diversas possibilidades de descanso e prazer visual.

A Praça Dom Pedro II destaca-se pelo seu caráter extremamente bucólico e romântico, obtido por meio de seus gramados emoldurados por um lago sinuoso e tranquilo, e grandes maciços arbóreos.

Igualmente na cidade de Manaus, a outra capital brasileira do ciclo da borracha, um sem número de obras de embelezamento foram executadas. Muitas foram as praças construídas e reformadas, formando um

conjunto significativo. Entre elas, destacam-se as praças Dom Pedro II(1893) e 15 de

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Novembro, os Jardins da Igreja Matriz, e a Praça Heliodoro Balbi, conhecida como Praça da Polícia.

Entre as grandes obras públicas de construção da paisagem, destaca-se, ainda no final do século XIX (1897), a implantação da nova capital de Minas Gerais (Belo Horizonte, sucedendo a velha Ouro Preto), desenhada por Aarão Reis, que com certeza é a obra de construção paisagística de maior porte de todo o período do Ecletismo. Com seu traçado em grelha, cortado por eixos radiais arborizados, na realidade, grandes boulevards inspirados nas experiências parisienses e dotada de um grande parque central, projetado dentro do estilo romântico por Paul Villon, Belo Horizonte consolida-se como cidade-modelo nas primeiras décadas do século XX.

O parque então denominado de Municipal, e hoje Américo Renné Gianetti, com uma área de 180.000 m2, foi inaugurado em 12 de dezembro de 1897 e chega ao final do século XX com sua estrutura morfológica e funcional bastante íntegra, apesar de ter sofrido algumas intervenções importantes para a construção do edifício do centro cultural Paço das Artes.

3.2 MODERNO

O modernismo significa, na arquitetura paisagística brasileira, ruptura e construção. Ruptura, pois abandonaram-se definitivamente os modos de projetar do Ecletismo, do qual só se conserva a prática de lidar com a vegetação nativa, já bastante desenvolvida, e o uso de certos materiais para pavimentos, como o mosaico português e o arenito.

Construção, pois a nova forma de encarar o espaço possibilita a formação de uma identidade própria da arquitetura paisagística nacional. Os novos espaços se identificam com a paisagem local, da qual extraem elementos para sua construção e partem de novos hábitos sociais que se delineiam no período de sua gestação.

O programa de atividades do espaço livre moderno evoluiu, a partir do programa contemplativo eclético, para novas formas de uso.

A apropriação tradicional para o lazer contemplativo, passeio, apreciação da natureza e convivência permaneceu como a forma de utilização intrínseca e mais comum; no entanto, novos programas voltados ao lazer esportivo e a recreação infantil passaram a ser propostos e muito bem aceitos.

Esse novo programa provoca uma forte ruptura formal entre os projetos ecléticos e modernos, derivada da alteração da função de espaço, uma vez que, no parque ou praça modernos, os espaços são criados para serem usados para a permanência dos frequentadores, ao passo que, no Ecletismo, os espaços eram concebidos como trajetos e caminhos para passar ou passear.

A vegetação já não é mais utilizada como bordaduras de caminhos e canteiros ou como peças de cenários naturalistas, mas como elementos de composição espacial, estruturando os espaços organizando a circulação. No paisagismo moderno brasileiro, a forma de utilização da vegetação vincula-se à idéia de criação de estares e de setorização. A vegetação participa do projeto como elementos tridimensional do espaço.

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3.2.1 Nascionalismo e Ruptura. Antecedentes.

O movimento moderno no paisagismo nacional veio a reboque do movimento moderno na arquitetura e no urbanismo brasileiro, que se instala nos anos 30. Nos anos 40, 50 e 60 difunde-se pelo país, sendo institucionalizado pelo novo Estado que se estabelece, sendo transformado em um dos produtos da modernidade e identidade nacional.

A construção do projeto do Ministério da Educação e Saúde, citado como o marco da modernidade arquitetônica, urbanística e paisagística, ministério mais emblemático, não é casual. É por meio da renovação e modernização da saúde, a criação dos institutos de previdências e os programas de aposentados e saúde popular, o patrocínio das artes novas, como a pintura e a música, que o novo Governo expressa suas intenções e ações de mudança.

A arquitetura paisagística moderna brasileira caracteriza-se por uma forte identidade nacional, que vem atrelada ao nacionalismo cultural típico do período de sua formação nos anos 40, 50 e 60 e tem como símbolo a valorização exacerbada da vegetação tropical no tratamento e formalização dos seus projetos.

A prática de esportes, que é introduzida em massa nas grandes cidades, exige instalações adequadas para seu exercício formal, como as quadras esportivas, as canchas de bocha e os campos gramados de futebol, que passam a fazer parte dos programas dos novos logradouros,

construídos especialmente após os anos 40 e 50, bem como dos espaços livres particulares.

A partir dos anos 40 chega ao país o playground, criação típica norte-americana, que consiste basicamente na concentração de conjuntos de brinquedos industrializados, em determinados locais dos espaços livres, em geral público, para lazer infantil. A crescente carência de espaços livres para lazer infantil populariza esse tipo de equipamento que se torna obrigatório nas escolas e pré-escolas de então, particularmente nos jardins de infância, nas praças públicas e parques. Essa carência é o resultado direto do aumento de custo do solo urbano e dos aluguéis, que inviabiliza grandes quintais e jardins, espaços antes ocupados por atividades infantis ao ar livre.

A sociedade do século XX destitui dos grandes espaços públicos o hábito do flanar, principal atividade de lazer que deve agora conviver com as atividades esportivas.

Roberto Burle Marx, o paisagista do Ministério da Educação e Saúde, torna-se nos

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anos 40 e 50 o arquiteto paisagista dos novos projetos arquitetônicos de Pampulha, subúrbio de Belo Horizonte, concebido para ser o palco da modernidade urbana das novas elites locais. Seus projetos arquitetônicos encomendados por Juscelino Kubitschek para valorizar o entorno da represa de mesmo nome, inaugurados em 1942, possuem caráter arquitetônico de vanguarda. Com eles Oscar Niemeyer chegou à criação de alguns de seus mais marcantes projetos de início de carreira: os edifícios do Iate Tênis Clube, Cassino ( hoje Museu de Arte Moderna), da Capela de São Francisco de Assis, e da Casa do Baile.

Com o projeto do MES e a praça Salgado Filho, em 1938, no Rio de Janeiro, rompem-se totalmente os padrões de parcelamento e estruturação tridimensional dos espaços livres até então vigentes, criando espaços únicos, estruturados por uma densa vegetação tropical da qual explora cores, texturas e formas.

3.2.2 Influencia americana e tropicalização.

Os anos 40 caracterizam-se por um drástico processo de transformação social e urbana no país, reforçado com o advento da Segunda Grande Guerra Mundial, alterando formalmente o eixo de influência cultural do país que passa dos países da Europa para os Estados Unidos da América, e por um crescimento econômico sensível, devido ao aumento das exportações e a possibilidade de uma industrialização diversificada e de porte.

O ambiente cultural está aberto a inovações e os padrões americanos que, desde os últimos anos da década de 20, já penetravam maciçamente no país, passando a fazer parte do ideário das classes média e alta brasileira. Apesar de bastante influenciada ainda pela cultura européia, essa população se rende de uma maneira generosa à influência americana, sobretudo durante o período da guerra e nos anos posteriores, em que cinema, rádio, imprensa e mais tarde a televisão colaboram na difusão do "American Way Of Life", que passa a fazer parte do desejo da família brasileira, com seus objetos de consumo como casas de subúrbio, carros, geladeiras, pátios e piscinas.

A casa deve ser funcional e eficiente, com espaços livres estruturados como continuidade dos espaços internos, com salas e quartos formando locais de trabalho, em substituição ao velho quintal com galinheiros e pátios dedicados ao lazer familiar, nos quais uma quase sempre inacessível piscina

seria bem-vinda. Seriados da TV, ou filmes que retratam a família americana média e discursos

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sobre os espaços livres dos lotes residenciais urbanos apontam nessa direção.

Os novos princípios projetuais, tornam os espaços excessivamente geometrizados, criando-se formas bastante diferenciadas do passado, notando-se um nítida influência das novas concepções formais em desenvolvimento nos Estados Unidos da América por paisagistas como Garret Eckbo e Lawrence Halprin, que também influenciam na geometrização de pisos e canteiros.

3.2.3 Casa, prédios, pátios, piscinas e jardins

Nas novas concepções projetuais, tanto arquitetônicas como paisagísticas, deve haver uma continuidade espacial entre os espaços internos da residência ou edifício e o espaço externo. A fluidez é garantida por amplas janelas e portas envidraçadas, pisos contínuos e generosas varandas, que a exemplo das suas congêneres do passado, são amplamente utilizadas pelas famílias como espaços de estar e socialização, cumprindo o papel de elemento de transição entre a residência e o jardim.

O quintal, agora denominado também de área de serviço, é minimizado, serve basicamente para o lavar e estender roupas e ocupa muito pouco espaço no lote, abrigando, além das instalações de serviço, áreas de estacionamento de automóveis. O jardim frontal, destinado a valorizar a arquitetura da residência, é simplificado ao extremo, perdendo tamanho, reduzindo-se por vezes a simples e singelos gramados, emoldurados por tufos de vegetação, o que deixa a arquitetura totalmente exposta.

A grande novidade será a introdução do jardim dentro do lote urbano verticalizado, o que acontecia esporadicamente desde os anos 40, principalmente em

volta de edifícios públicos como escolas, hospitais e postos de saúde ou em bairros residenciais, como, por exemplo, nos edifícios Prudentia, Bretagne e Louveira, construídos no bairro de Higienópolis em São Paulo. Foi nesta cidade que se consolidou o hábito de construir prédios isolados no lote, onde em alguns dos seus bairros residenciais, que nos anos 50 e 60 passaram por um processo de verticalização oposto ao anteriormente praticado pelo país, que enclausurava o edifício de apartamentos em quadras - bloco verticais, comuns nas áreas centrais dos centros urbanos mais importantes de então e que tem na cidade do Rio de Janeiro os seus exemplares perfeitos.

A verticalização em São Paulo, na medida em que sai da área de influência direta do centro da cidade, instala-se a princípio nas áreas tradicionalmente ocupadas pela antigas elites cafeeiras, no Bairro de Higienópolis e nas vizinhanças da Avenida Paulista, quando velhos casarões são substituídos por prédios de luxo. A classe média, por sua vez, habita prédios em geral dotados de recuos frontais, de fundo e laterais, nos quais o ajardinamento é obrigatório. Essas edificações, muitas delas encomendadas a arquitetos de renome na época, seguem os

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princípios modernos de concepção arquitetônica, que exige o prédio isolado, disposto sobre pilotis, por entre os quais devem fluir pessoas e vegetação.

3.2.4 O parque moderno

O primeiro grande parque moderno construído no país foi o Parque Ibirapuera, erguido para as Comemorações do IV Centenário da Capital Paulista em 1954, que pelo seu porte, localização e significado sócio-cultural se transforma em referencial paisagístico tanto para a cidade como para país.

O parque situado junto aos bairros mais elegantes da cidade, foi construído sobre antigas terras alagadiças, que formavam uma barreira a expansão urbana de então. O projeto concebido por Oscar Niemeyer e equipe inicialmente deveria ter o projeto paisagístico de Burle Marx que, entretanto, não foi levado adiante. Ao invés do projeto semi-geometrizado do paisagista, foi implementado um projeto de caminhos extremamente orgânicos, emoldurados por maciços de árvores e recortado por um lago quase serpenteante. O projeto na realidade não passou de uma releitura de uma simplificação formal do parque romântico do ecletismo, em meio a qual foram dispostos um grande conjunto de pavilhões, que serviram para as comemorações do centenário e mais tarde converteram-se em museus e edifícios públicos.

No início da década seguinte foi gestado o Parque do Aterro do Flamengo, o mais significativo parque público moderno do país, pelo seu porte, localização e visibilidade na orla de uma das cidades e paisagens mais famosas do mundo, e pelo seu programa como o do Ibirapuera, totalmente moderno com um projeto paisagístico desenvolvido por Burle

Marx e equipe. A concepção do parque foi de uma comissão de trabalho, que formado por Lota Macedo Soares, no início do governo de Carlos Lacerda (1961), indicou e coordenou a implantação do parque em uma área já ganha ao mar e na qual já haviam sido construídas vias de transito rápido e sobre a qual foi idealizado o projeto do parque.

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3.2.5 Roberto Burle Marx

Roberto Burle Marx (1909-1994), o mais importante paisagista do país, teve um papel relevante e simbólico na construção da arquitetura paisagística nacional, tendo desenvolvido centenas de obras durante toda a sua vida profissional. Burle Marx foi essencialmente o paisagista das elites e do Estado, para os quais dedicou a maioria de seus serviços; foi o paisagista da modernidade, da ruptura, da conquista total da identidade nacional no projeto paisagístico, devida a uma forte identificação pessoal com a cultura modernista e com os valores culturais e ecológicos brasileiros. O seu primeiro projeto consagrado, os jardins da Casa Forte de Recife, tem um traçado ainda acadêmico, clássico, como se vê na sua planta de piso. O contraste está no uso da vegetação nativa, que é utilizada para estruturar os seus três grandes espaços, um deles, destinado a representar, figurativamente, o caráter de paisagens diversas, como a da Amazônia e da América do Sul em geral.

A ruptura definitiva dá-se nos jardins do Ministério da Educação e Saúde, de 1937, a já citada obra-marco do paisagismo e arquitetura nacional, onde abandona totalmente o formalismo típico do ecletismo vigente, concebendo jardins, tanto para o terraço como para os espaços do lote. Radicalmente diferentes das formas até então utilizadas, usa as formas orgânicas, tanto para o desenho dos canteiros, como no plantio das massas multicoloridas de vegetação.

Como pesquisador, descobriu inúmeras espécies nativas e introduziu o uso de outras tantas. O uso da cor, da vegetação e dos pisos, tirando partido

do mosaico português, e o caráter, ora orgânico, ora geométrico, de suas águas, fizeram sempre parte de sua obra.

Criou os principais parques do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília; praças e jardins de grandes corporações, museus, bancos, casas e prédios de apartamentos. Executou importantes projetos fora do país, como o Parque Del'Este, em Caracas - Venezuela - (1956) e o parque junto as Torres Patronas na Indonésia.

O trabalho de Burle Marx sempre esteve ligado ao poder e às elites: são seus os jardins dos Palácios do Itamaraty(Relações Exteriores), do Exército em e outros mais Brasília, o Aterro do Flamengo(Rio de Janeiro) e o Parque das Mangabeiras(Belo Horizonte) e inúmeros outros jardins e parques públicos e particulares pelo Brasil afora

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3.2.6 Roberto Burle Marx Projetos

O projeto de Burle Marx retrata um artista de fina percepção, que concebeu espaços livres de alta qualidade, utilizando a vegetação tropical, os panos de pisos coloridos e as águas em formato ora geométricos, ora insinuamente rocambólicos com maestria.

O paisagista teve oportunidades únicas e as aproveitou de um modo sensato e competente, criando espaços marcantes pelas formas e materiais empregados.

Nos anos 30 e 40, período de transformações radicais na arquitetura e urbanismo nacional, teve trabalhos junto a obras de porte no Rio de Janeiro, como a Praça Salgado Filho, de 1938, e os inúmeros Jardins da Pampulha, como os do Cassino e da pequena Capela de Dom Bosco.

Nos anos 50 e 60, os Jardins de Olivo Gomes (hoje Parque Burle Marx, em São José dos Campos, São Paulo), o grande Parque do Aterro do Flamengo, do qual foi encarregado do tratamento paisagístico, dividindo com outros tantos profissionais de gabarito, como Affonso Eduardo Reidy, Jorge Machado Moreira, Hélio Mamede, Berta Leichick e o botânico Luiz Emydgio de Mello Filho, a sua autoria, em equipe coordenada por Lota de Macedo Soares, os jardins do Museu de Arte Moderna (no próprio Aterro) e outros mais.O seu trabalho na fazenda Vargem Grande, no município de Areias, onde transforma um velho terreiro de secagem de café em jardim de águas terraceadas (1979), e o jardim do condomínio

Macunaímaem São Paulo (1979) - SP; são bons exemplos de seu trabalho com planos, materiais, cores, águas e a exuberante flora tropical.

O trabalho de Burle Marx e equipe, único no gênero, se torna referência para gerações de arquitetos paisagistas pelo país então, que utilizam materiais, e formas como referências para seus projetos.

O período de trabalho de Burle Marx (1934-1994) é, com certeza, o tempo do uso da planta nativa e tropical como elemento fundamental no projeto paisagístico, e tem no próprio seu usuário principal e grande incentivador.

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3.2.7 Roberto Coelho Cardozo e Waldemar Cordeiro

Duas formas de pensamento direcionaram a nova arquitetura paisagística brasileira, moderna por excelência, advindas de dois extremos. De um lado a obra única e emblemática de Roberto Burle Marx, que apesar de nunca ter formado uma escola projetual, direcionou com seus posicionamentos éticos, rupturas morfológicas e espaciais, o modo de projetar de dezenas de jovens profissionais. Do outro, o posicionamento dos paisagistas modernos da Costa Oeste Americana, especialmente de Garret Eckbo e Lawrence Halprin, que transpostos para o Brasil de modos diversos, se fundiram aos princípios nacionalistas vigentes e colaboraram na criação do paisagismo moderno nacional.

Entre os profissionais, que influenciaram ao extremo a penetração destes princípios e suas formas no país, destaca-se o paisagista Roberto Coelho Cardozo, que desenvolveu intenso trabalho profissional em São Paulo nos anos 50, 60 e 70, dirigindo de um modo direto as posturas de uma geração importante de novos paisagistas. Cardozo, nascido em 1923, estudou arquitetura paisagística na Universidade da Califórnia em Berkeley, e teve na ocasião também contato com a obra em andamento de Garret Eckbo, Royston e Willians (1947 1949).

No Brasil, em 1952 teve contato com o trabalho de Burle Marx no Rio de Janeiro, e a partir de 1954 estabelece um estúdio próprio em São Paulo, na mesma época em que inicia suas atividades como docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1954 1970).

A obra de Cardozo é modesta em termos de porte e dimensão em relação a de Burle Marx, restringindo-se o seu trabalho praticamente só ao Estado de São Paulo, onde projetou jardins para edifícios residenciais, casas unifamiliares, hidrelétricas, avenidas e fazendas.

Trabalhou, a princípio, com sua mulher Suzana Osborn Coelho. Teve um trabalho importante com Luciano Fiaschi, com Antônio Augusto Neto, arquiteto e paisagista, que como Cardozo também desempenhou, por alguns anos, importante trabalho docente na FAUUSP, na disciplina, então existente, de Paisagismo,e com o arquiteto Marcos Souza Dias, entre os quais a Praça Roosevelt, em São Paulo.

Entre os seus trabalhos, destaca-se pela extrema qualidade o magnífico Jardim do São Paulo Clube, na Avenida Higienópolis. Este, um clube reservado, ocupa a antiga propriedade da Família Prado em São Paulo, que no passado teve seus jardins desenhados pelos Dieberguer em "estilo inglês", e que foi totalmente transformado por Cardozo nas obras de adaptação da propriedade para Clube.

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A atividade dos dois Robertos não foi isolada, pois trabalharam em um período em que houve de fato, uma extrema expansão das oportunidades no campo do paisagismo. No mesmo período que Cardozo atuou em São Paulo, outro paisagista, Valdemar Cordeiro, também artista plástico como Burle Marx, desenvolveu um trabalho bastante intenso.

Seguia basicamente os mesmos princípios de Cardozo, mas como Burle Marx, incorporou em sua obra algumas concepções próprias advindas da sua experiência de artista, construindo espaços pictóricos, geometrizados, em exploração desenhos ortogonalizados ou curvilíneos. Foi notável, por exemplo, o seu trabalho com tapetes de grama em forma de xadrez, em um condomínio da Rua João Ramalho, em Perdizes.

3.2.8 Os seguidores

A partir dos anos 60 e 70, uma série de jovens arquitetos paisagistas firmam uma posição no mercado, como Antunes Neto, Rosa Kliass, Miranda Magnoli, Luciano Fiaschi, Jamil Kfouri, Madalena Ré, em São Paulo, e Fernando Chacel e outros no Rio de Janeiro. É notável como em suas obras nota-se a influencia dos dois Robertos, como pode se ver no traçado de seus pavimentos, na escolha da vegetação, enfim, na composição espacial dos seus projetos.

Cardozo, na medida que desenvolveu seus trabalhos, suas aulas e divulgou sua obra em revistas especializadas, sintetizou suas idéias projetuais em alguns pontos, que servem de base para o entendimento tanto das suas posturas como daquelas que vão direcionar os trabalhos de seus discípulos e contemporâneos. São eles: respeito ao usuário, procurando soluções de lazer adequadas a cada faixa etária; os acessos e percursos dos espaços criados deveriam sempre tirar o maior partido das emoções e sensações usuais, de modo que se possibilitasse ao usuário orientação e intimidade com os espaços e lugares nos quais estivessem inserido; respeito as condições de visibilidade dos espaços a serem projetados, consideradas a partir dos deslocamentos prováveis, suas velocidades e dos pontos de parada principais, sejam de automóvel, ou do usuário correndo, andando ou simplesmente do observador parado; o uso da vegetação como um elemento construtivo de ambientes e espaços semelhantes aqueles criados pela arquitetura. A planta é importante a partir dos efeitos que dela pode se tirar, como brilho, transparência, vedação e textura, e orientação do

espaço a ser projetado em relação ao percurso solar, que se constitui em um critério de seleção fundamental para a designação de zonas de uso.

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Durante os anos 50, e especialmente nas três décadas seguintes, consolidam-se os princípios projetuais modernistas, como pode ser atestado pelo surgimento de centenas de projetos seguindo seus preceitos, tanto em São Paulo como em Curitiba, Porto Alegre, Salvador e Recife.

Se de um lado o trabalho de Burle Marx e sua equipe continua intenso e onipotente, por outro lado a abertura real do mercado de trabalho, tanto na esfera pública como privada, possibilita o surgimento de um número significativo de profissionais, que desenvolvem seus projetos dentro dos novos cânones.

A formação destes paisagistas é como a de seus antecessores, bastante autodidata e somente um ou outro cursa uma escola especializada no exterior. Paralelamente, se populariza nas escolas de arquitetura, o ensino do paisagismo, fazendo com que muitos jovens arquitetos se introduzam nas práticas da arquitetura paisagística e desenvolvam posteriormente suas carreiras profissionais na área.

A atuação dos novos paisagistas pode ser observada nos primeiros planos e estudos de áreas verdes do país: em São Paulo, 1967-1968, por Miranda Magnoli, Rosa Kliass e Madalena Ré, em Salvador - 1977, por Rosa Kliass, Jamil J. Kfouri e Vanusa Oliveira, nas centenas de projetos de pátios e jardins de prédios de apartamento, nas novas praças e parques, nos jardins de fabricas, etc., e muitos deles como Benedito Abbud, Rosa Kliass, Fernando Chacel, Luis Vieira, José Tabacow e Isabel Duprat, atuam em diversos centros, levando a arquitetura paisagistica gestada no sul para diversas partes do país.

3.2.9 Novos parques I

O período imediatamente pós-guerra caracterizou-se por profundas transformações no hábitos sociais urbanos brasileiros, condicionados pela mudança do perfil econômico do país. Cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo já bastante industrializadas, cresceram rapidamente tornando-se as duas principais metrópoles nacionais, englobando na sua malha urbana cidade vizinhas. Como essas, inúmeros outros centros urbanos se expandiram, gerando pela primeira vez, uma necessidade real da existência de parques públicos.

Na Europa e nas grandes cidades americanas do século XIX, o contínuo urbano tinha eliminado toda a possibilidade de contato imediato da sua população com áreas campestres, riachos e bosques. Como também naqueles casos, grande parte da nova população urbana, tem origem rural e o atavismo natural, a saudade dos cenários bucólicos está impressa no seu meio, existindo culturalmente toda a condição de uma demanda por parques urbanos.

Do mesmo modo, em muitos países, alguns

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parques particulares foram gradativamente abertos ao público, em especial os parques de diversos palácios oficiais, como o Parque Guinle, desmembrado do Palácio das Laranjeiras, o Parque Lagee muitos outros, a maioria no Rio de Janeiro.

O parque moderno tem um caráter mais popular do que o parque do passado, que no Brasil era o cenário de desfrute das elites, redirecionando as políticas públicas de construção de novos parques, passaram ao final dos anos 70 e início dos anos 80 a serem construídos também em bairros populares.

Brasília, a nova capital, concebida nos anos 50 e inaugurada em 1961, é o arquétipo mais significativo da introdução do parque no contexto urbano brasileiro, já que foi idealizada como uma cidade-parque.

O Parque Rogério Python de Faria, depois Sarah Kubitschek, projetado por Burle Marx (1974), possui uma área extensa, que corre paralelamente a todas as quadras habitacionais da Asa Sul, tem todos os equipamentos e atrações diversas de um parque urbano convencional moderno, atraindo milhares de usuários todos os fins de semana.

3.2.10 Novos Parques II

Os novos parques são, em geral, concebidos por equipes técnicas de órgãos públicos, muitas compostas por jovens profissionais, arquitetos, agrônomos, etc, que precisam projetar seus espaços enfrentando a falta crônica de recursos para suas obras e para a aquisição de glebas adequadas em porte e estrutura morfológica.

A estratégia adotada por muitos para enfrentar o problema, como foi feito, por exemplo, em Curitiba pelos técnicos do IPUC Instituto de Planejamento Urbano de Curitiba, ou do DEPAVE Departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura Municipal de São Paulo, foi a de adaptar glebas de propriedades do Estado com remanescentes vegetais, tanto de matas nativas como de pomares e jardins de antigas chácaras para a formalização dos novos parques.

Este é o exemplo do Parque do Piqueriem São Paulo, que foi criado sob a área densamente arborizada de uma antiga chácara da família Matarazzo na zona leste, que é reciclada para se converter em um dos poucos parques deste setor da cidade. Nele foram introduzidos pavimentos, equipamentos esportivos, brinquedos infantis e vegetação de modo a adequá-lo aos novos usos pretendidos.

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Segue-se a prática já feita, na mesma cidade, no Parque Alfredo Volpi(Bosque do Morumbi), cuja área possuía remanescentes de mata nativa, que foram conservados e receberam trilhas e alguns poucos equipamentos de lazer, e que se tornam comuns na grande maioria dos novos parques urbanos projetados a partir dos anos 70.

Estas práticas de aproveitamento e conservação se tornam populares e direcionam a construção da maioria dos novos parques urbanos brasileiros, dando origem a logradouros de tal tipo em todo o país, de Teresina a Porto Alegre, de Porto Velho a Salvador, e Manaus.

A ênfase na conservação de recursos paisagísticos e ambientais, pré-existentes, se torna um hábito e um consenso técnico social, favorecendo a proposta e concepção de novas idéias, que têm no ideal do Parque Ecológico uma das suas sínteses.

3.2.11 A praça Moderna

Forma-se no período um verdadeiro arquétipo projetual sobre a figura da nova praça, que deve conter dentro do imaginário dos projetistas, e mesmo de muitos usuários, uma série de elementos padrão. Esta praça figurada, imaginária, sempre contém playground, quadra esportiva, espelho d'água ou fonte, e eventualmente uma arena para apresentações de concertos, que de certo modo substitui o velho coreto.

Ao mesmo tempo que se criam uma série de arquétipos formais e funcionais para a praça moderna, novas experiências projetais são feitas, em especial em decorrência dos grandes projetos de reurbanização dos anos 60 e 70, por que passam a maioria das grandes cidades brasileiras. As obras em andamento para a construção de novas vias expressas e de avenidas, para a construção dos sistemas de trens subterrâneos urbanos no Rio de Janeiro e São Paulo, possibilitam o surgimento de uma série de novas praças, com características bastantes especiais, como o já citado Largo da Carioca, a Praça Roosevelt(São Paulo) e o conjunto de praças das estações da linha norte-sul do metrô paulistano.

O playground como um espaço especial para a recreação infantil dotado de equipamentos, os

conhecidos brinquedos infantis, como gangorras, escorregadores, gaiolas e gira-giras, torna-se comum na composição do programa da nova praça, como também posteriormente se torna rotineira a construção de quadras poliesportivas.

Os coretos não são mais necessários, pois as bandas diminuem em número sofrendo a concorrência de outras formas de prática músical, na medida que aumentam os bailes em clubes de bairro com pequenos conjuntos e bandas, com o incremento do rádio, da

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TV e principalmente da indústria fonográfica, que permite a cada um desfrutar de sua música preferida em casa.

Nos espaços da nova praça só são aceitos uns poucos elementos decorativos como murais e esculturas, de preferência de artistas da época e os tradicionais espelhos d'água e fontes adaptados aos novos princípios projetuais.

As formas orgânicas passam a ser menos elaboradas em geral, a exceção do trabalho de Burle Marx. As fontes e repuxos d'água são simplificadas e geometrizadas ao máximo, sendo menos comuns nas praças modernas.

A disposição da vegetação é totalmente diversa do passado e, como nos jardins particulares, passa a ser explorada como elemento de formação do espaço, colaborando na criação de um modo nitidamente arquitetônico. A Praça Santos Dumont em Goiâniae a Praça Vinícius de Moraesem São Paulo são dois excelentes exemplos deste novo modo de utilizar a vegetação, que rapidamente se difunde pelo país. No caso, pode-se observar como o arvoredo delimita o contorno das praças, cria espaços mais abertos e fechados, formando dentro do conjunto da praça, diversos sub-ambientes, que são reforçados, no caso da Praça Vinícius de Moraes, por maciços de arbustos.

3.2.12 A praça Moderna - Projetos

A configuração da praça urbana, típica da segunda metade do século XX, apresenta variações formais e projetuais sutis de cidade a cidade. No Rio de Janeiro, a praça recreativa, sombreada, dotada de equipamentos de lazer, se torna um fato comum, enquanto em São Paulo a adoção do padrão praça-parque é a tônica. São então construídas nesta cidades, nos anos 60 e 70, cerca de uma centena de praças, muitas ainda em bom estado de conservação. Estas apresentavam uma estrutura morfológica organizada por pequenos bosques e gramados extensos por entre os quais se entremeavam equipamentos esportivos e recreativos, como as praças Barão de Pirapama, hoje Vinícius de Moraes, Barão Pinto Limae a Província de Santaina, projetos resultantes de organização, pela primeira vez na cidade, de um departamento de Parques e Áreas Verdes.

3.2.13 Calçadões em áreas centrais

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As áreas centrais das principais cidades brasileiras, à medida que o crescimento urbano foi se dando no século XX, tiveram apenas uma pequena parcela de suas vias adaptadas às novas formas de transporte e chegam aos anos 60 extremamente congestionadas. As calçadas - como as ruas, são estreitas e mal comportam o fluxo intenso de pedestres, que transborda para o leito carroçável, e este por sua vez abriga um trânsito pesado e lento de ônibus, automóveis e bondes (estes últimos praticamente são eliminados como meio de transporte coletivo nos anos seguintes, subsistindo apenas em áreas turísticas e pitorescas, como o Bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro).

Os calçadões ou ruas de pedestres são introduzidos em Curitiba, que pedestrianiza sua principal artéria comercial, a Rua XV de Novembro, conhecida popularmente como Rua das Flores, e posteriormente uma série de outras vias de sua área central. Estes visaram basicamente solucionar os problemas de trânsito e fluxo de pedestres de modo a favorecer o comércio local.

O tratamento de tais espaços é extremamente inovador para a época e consiste basicamente na eliminação total dos leitos carroçáveis, que são substituídos por novas calçadas elevadas ao nível das antigas, formando um novo piso plano, revestido por pavimentos contendo desenhos geométricos em mosaico português. Ao longo dos calçadões são dispostos uma série de equipamentos urbanos como telefones públicos (daí em diante popularmente denominados de orelhões), jardineiras,

luminárias de "design" moderno, bancas de jornal, bancos, quiosques, totens e esculturas.

3.2.14 Calçadões a beira mar

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O hábito de tomar banhos de mar, que ainda no início do século se limitava a determinadas temporadas populariza-se nos anos 30 e 40 e passa a fazer parte do cotidiano das massas, o que favorece a ocupação rápida, o adensamento e a verticalização da orla carioca. Praticamente na mesma época em que surge o calçadão de área central é implementado o primeiro calçadão de praia do Brasil na Praia de Copacabana, como resultado de uma grande reforma deste trecho da orla carioca.

O projeto paisagístico concebido em 1970 por Burle Marx e equipe abrange todos os quatro quilômetros da beira da praia e substitui a antiga via e calçada beira-mar, datados dos primeiros anos do século e totalmente saturada tanto para o uso de veículos quanto de pedestres.

Este projeto de urbanização paisagística não foi pioneiro, já que no final dos anos 30 a inauguração do grande parque linear da orla de Santos(São Paulo) dentro da linha clássica do ecletismo, consiste de fato no primeiro projeto paisagístico de porte executado em uma beira-mar brasileira destinado a se tornar um apoio ao uso da praia.

Na orla da praia de Iracema, em Fortaleza, é implantado outro projeto emblemático, que ao contrário do de Copacabana, que se divide em três ambientes; entre a praia, e sua avenida lindeira se constrói uma grande calçada, se organiza em uma única larga faixa contínua, qual um piso sinuoso. Palmeiras e arvoredos configuram um sem número de

pequenos espaços, que contêm equipamentos diversos, como quadras e quiosques e até um pequeno "falso" anfiteatro.

Pode-se dizer que a praia é o palco de parte importante dos encontros sociais ao ar livre no cotidiano de tais cidades, assumindo portanto as funções de parque urbano, apesar de não apresentar sua conformação espacial típica, sempre estruturada por vegetação de porte.

3.2.15 A experiência de Curitiba

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Desde os anos 1960, a cidade de Curitiba desenvolve de maneira pioneira uma política de investimentos públicos, não só especificamente na criação de espaços livres, como também na elaboração de um plano urbanístico para a região metropolitana. Tal política é conduzida de maneira sistemática desde 1966 até os dias atuais pelo IPPUC - Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba - o que conferiu à cidade uma infraestrutura de áreas de lazer eficiente e que se destaca no país. Antigas áreas de bosque aprisionadas na mancha urbana, então em processo de crescimento, foram convertidas em parque, iniciativa que trouxe duas vantagens imediatas: de um lado facilitou a conservação dos remanescentes vegetais de porte, cuja recuperação ou introdução é demorada ou custosa; por outro, permitiu a inauguração de logradouros com estruturas formais bastante prontas, uma vez que grande parte da vegetação já alcançou o desenvolvimento máximo.

Surgiram logradouros como o Parque Barigüi, cuja área é totalmente ocupada por bosques de araucária, os ParquesBarreirinha, Gutierrez, São Lourenço, General Iberê de Matos, de modo que a cada gestão corresponde à inauguração de alguns parques públicos de linhas projetuais mais ou menos estabelecidas.

3.2.16 Os parques de São Paulo

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As tentativas de criação de novos espaços de lazer foram muito importantes nos anos 1970 em São Paulo, pois já na década de 1950 a cidade apresentava uma grave carência de tais espaços, conseqüência de um intenso processo de urbanização. Foram concebidas desde pequenas praças dentro dos padrões modernistas até grandes parques com programas diversificados. As gestões de Faria Lima (1966 a 1969) Miguel Colasuono (1972 a 1974) e Olavo Setúbal (1975 a 1979) tiveram a clara intenção de valorizar o espaço público urbano, em especial praças e parques, então criados em grande número. Foi organizado, na gestão Faria Lima, o Depave - Departamento de Parques e Áreas Verdes -, no qual equipes de jovens arquitetos tiveram a oportunidade de projetar inúmeros espaços de excelente qualidade. São desse período os Parques do Piqueri (1978), Nabuco(1977), Anhangüera(1978), Conceição(1975) e muitos outros.

Nos anos 70, o projeto do Parque Ecológico de São Paulo reuniu em uma grande proposta para os subúrbios da capital paulista as ideias de recuperação das várzeas ainda não ocupadas do rio Tietê que, juntamente com um plano ambicioso de criação de centros populares de lazer, visavam proteger e inserir tais várzeas no contexto urbano da cidade.

O projeto apresentado em 1975 pelo arquiteto Rui Othake e equipe visava a criação de um gigantesco parque linear, que transformava em parque público extensas áreas remanescentes da antiga várzea do rio Tietê. Entretanto, só foram concretizados dois núcleos: Tamborée Engenheiro Goulart.

3.3 CONTEMPORÂNEO:

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Os anos 80 marcam o início de um processo de liberdade na concepção do espaço livre urbano, resultado do questionamento cultural ocorrido nos anos 1960 e 1970, que revisou os já tradicionais princípios modernistas, tanto na arquitetura quanto no urbanismo e paisagismo.

Observa-se o retorno a muitos dos antigos valores, principalmente estéticos, do Ecletismo, que irão fundir-se às novas formas de uso. Tudo pode ser experimentado, tudo é possível. A linha contemporânea de projeto paisagístico caracteriza-se, assim, por uma postura experimental, de busca, não chegando a apresentar padrões definidos como suas antecessoras.

Essas novas experimentações e a revisão das regras e dogmas das linhas anteriores leva a uma vigorosa e fértil produção de espaços livres urbanos. Mudanças profundas, porém, não se processam em curtos períodos de tempo, o que torna a linguagem contemporânea dos espaços livres públicos brasileiros, até o momento, extremamente difusão.

Liberdade e profusão de formas e linguagem são suas principais marcas e, paradoxalmente, constituem seu mais forte elemento de coesão.

3.3.1 A Nova Ruptura: Introdução

O final do século XX caracteriza-se pela grande velocidade de comunicação e troca de informação, abrangendo todas as formas do cotidiano e superando em muito as possibilidades até então efetivadas. A intensa comunicação, veloz e voraz, que permeia o mundo urbano interconectando e aproximando metrópoles, fomenta o surgimento de inúmeros movimentos artísticos inovadores nos mais diversos pontos do planeta. Conseqüentemente colabora também na divulgação e difusão dessas vanguardas, gerando a pluralidade que estrutura a produção paisagística contemporânea. O conhecimento imediato das tendências de vanguarda paisagística mundial fica extremamente acessível aos projetistas da paisagem no Brasil na medida que os grandes centros do país estão conectados às redes mundiais de informação.

Os projetos internacionais em voga caracterizam-se por grande pluralidade formal e conceitual, uma verdadeira liberdade espacial que faz surgir projetos com as mais diversas configurações, possibilitando uma liberdade de expressão ainda não alcançada no paisagismo. Estabelecem-se situações de confronto e de complementaridade constantes entre posturas diversas, desde o desvario formal pós-modernista que prega o uso irrestrito de formas iconoclastas como frontões, colunas gregas, pórticos e topiarias até as linhas conservadoras de projeto dos restauradores pragmáticos, que buscam recriar fielmente imagens do passado, reconstruindo antigos jardins segundo sua concepção original. O rebatimento deste arcabouço conjuntural nos espaços livres públicos das cidades - que são reflexo direto da sociedade que os constrói - torna-se expresso em formas de projeto que englobam inúmeras posturas e tendências, quase um neo-ecletismo contemporâneo.

As características dos projetos contemporâneos podem ser elencadas de maneira parcialmente conclusiva, pois ao final do século estariam configurando-se novas posturas e modos de projetar que iriam complementar esta forma de construção urbana. Liberdade e profusão de formas e linguagens são suas principais características e, paradoxalmente,

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constituem-se da sua mais forte forma de coesão.

O projeto paisagístico contemporâneo e típico dos anos 90, ainda é uma exceção, uma vanguarda em meio a onipresente tradição modernista, e absorve os programas de uso, as formas e partidos modernos e vai muito mais além. Basicamente, evolui-se do conceito moderno de liberdade, abrindo possibilidades formais antes impensáveis. A base morfológica dos projetos obedece a mesma da lógica espacial moderna, com estares, esplanadas e patamares que fundem-se e se entrelaçam criando ambientes e sub-espaços, porém a liberdade de programas, formas, desenhos, cores e materiais permite a criação de projetos com variadas linguagens e elementos, como por exemplo no Centro Empresarial Itaú Conceição, em São Paulo.

A ruptura com regras e dogmas das linhas anteriores leva a uma vigorosa e fértil produção de espaços livres urbanos. Mudanças profundas, porém, não se processam em curtos espaços de tempo, e devido a esse fato a linguagem contemporânea dos espaços livres tanto públicos como privados brasileiros é, nesta década ainda, extremamente difusa.

Formalmente, a pluralidade do fim do século é expressa em projetos que transitam entre os mais rígidos e formais traçados e a leveza de desenhos simples, passando por diversas soluções que exploram possibilidades cênicas, simbólicas e escultóricas de elementos construídos e da vegetação. A liberdade obtida a partir da revisão de conceitos modernistas e a recuperação e reinterpretação de ícones do passado permite a

inclusão de partidos e linguagens irreverentes, simbólicas, cenográficas e espetacularizadas.

As praças contemporâneas, por exemplo, são representativas de uma conjuntura urbana onde muitas formas de expressão são aceitas. Utilizando-se de novas tecnologias dos materiais construtivos, os projetistas possuem a seu alcance um espectro extremamente diversificado de possibilidades para materializar suas intenções projetuais.

3.3.2 Influencia e Referencias

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Os novos projetos têm como fonte de inspiração duas bases: a literatura especializada e as experiências isoladas de cada projetista. A difusão de conceitos e da produção paisagística de alguns países como França, Espanha, Estados Unidos e Japão, por meio da publicação de livros, revistas e material editorial, aproximou dos profissionais brasileiros a forma de concepção e construção do espaço livre urbano contemporâneo internacional. A expressividade de algumas propostas influenciou a produção nacional e suas características podem ser notadas em projetos por todo o país.

Existem várias tendências no desenho paisagístico cuja concepção se baseia em estruturas formais e gráficas, como por exemplo o Parc de La Villetteem Paris, onde o projeto deconstrutivista de Bernard Tschumi justapõe três sistemas reguladores distintos: as linhas, os planos e os pontos dispostos em forma de retículas. Outro exemplo é o Parque André Citroën com suas fontes em movimento, suas estufas e seu desenho fortemante geométrico. Outros exemplos contemporâneos são o Parc de L`Espanya Industrial,em Barcelona, parques temáticos como a Disneyworld, na Flórida, e o parque André Citroën, em Paris, com seus jogos de água.

3.3.3 Ecologismo/ambientalismo

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Os novos princípios ecológicos em voga desde os anos 70 funcionaram como crítica aos extensivos danos ambientais do pós-guerra e influenciaram de um modo extremo o projeto paisagístico urbano internacional/ocidental, que passou a sobrevalorizar a conservação dos remanescentes dos ecossistemas nativos ainda existentes dentro da cidade. Essas idéias rapidamente chegaram ao país, identificando-se com posturas já praticadas, especialmente em Curitiba, nos seus parques em meio a bosques nativos, e foram absorvidas principalmente na concepção e implementação dos novos parques urbanos como, por exemplo, o Parque Cidade de Toronto, em São Paulo (1992), e o Parque Professor Mello Barreto, no Rio de Janeiro (1994). O Parque Cidade de Toronto, projetado por uma equipe mista das prefeituras das cidades de São Paulo e de Toronto (Canadá), conserva um pequeno charco pelo qual se pode passear, ao passo que no Parque Professor Mello Barreto conservam-se os manguezais remanescentes da Lagoa da Tijuca, no trecho do parque (projeto de Fernando Chacel e Sidney Linhares).

Os princípios ambientalistas, que visam a conservação e preservação dos recursos ambientais do país e que a partir de 1988 estão incluídos na nova Constituição Brasileira, influenciam a concepção de um sem número de novos logradouros públicos de porte, especialmente parques. Torna-se frequente, por exemplo, a manutenção de largas áreas com vegetação natural, que só podem ser acessadas por trilhas rústicas, ou mesmo por pontes sobre a vegetação de várzea ou de bosques, como no

Parque do Mindúem Manaus.

3.3.4 Cenarização

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A evocação de signos anacrônicos e de imagens simbólicas também é uma das características inovadoras que caracterizam projetos de espaços livres contemporâneos nacionais. Apropriando-se de partidos temáticos, históricos ou simplesmente simbólicos, os projetos paisagísticos passam a ter incorporados elementos e estruturas cênicas para valorizar o ambiente criado.

São influenciados por tendências de projetos internacionais como o pós-modernismo simbólico e cenográfico da Piazza d'Italia em Nova Orleans, onde os autores (Charles Moore e equipe) utilizaram-se de elementos da cultura italiana dentro da linguagem espetacularizada típica de norte-americanos para elaborar um projeto que homenageasse a colônia da cidade. São também influenciados por posturas culturalistas, que buscam renovar de um modo simbólico paisagens naturais e históricas de cada nação, como pode ser o observado na evocação das paisagens campestres de várias regiões do Canadá, que foi ponto de partida para a concepção doVillage of Yorkville Parkem Toronto.

Poucos e marcantes são os exemplos brasileiros de praças que adotaram tal partido. O exemplo mais importante é a Praça Itália em Porto Alegre onde, em uma releitura pós-moderna do ecletismo romântico, são explorados os valores da vegetação e dos elementos construídos. A vegetação cria arcabouços cênicos em dois diferentes setores: o primeiro que traz as espécies vegetais típicas das paisagens da Toscana, como o Cipreste Italiano, para ambientar o logradouro em referência à Itália distante,

pátria natal dos muitos imigrantes presentes no Rio Grande do Sul, e o segundo que caracteriza-se por uma ambientação cênico-ecológica, procurando relembrar, com uma vegetação típica de alagadiços plantada no lago semi orgânico, as barrancas do Rio Guaíba e da Lagoa dos Patos, em uma recomposição da paisagem primitiva da região de Porto Alegre. Ainda como intenção simbólica, a grande esplanada que corta a praça está ornada de colunas de pedra que não possuem função claramente definida, sendo talvez uma referência às ruínas da civilização romana, berço da cultura italiana ou simples marcos referencias aplicados à paisagem do bairro.

Também apropriando-se da vegetação como elemento cênico, a Praça do Relógioconstruída no campus paulistano da Universidade de São Paulo, possui um projeto que propõe a criação de inúmeros bosques, cada qual com espécies vegetais representativas da flora pré-existentes na região da cidade e no estado de São Paulo: os campos do cerrado, as matas de araucárias, atlântica e semi-decídua e dos campos de atitude. O partido adotado neste projeto visa criar uma série de sub-espaços onde podem ser observados diversos tipos de espécies vegetais. A proposta cênica e educativa da Praça do

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Relógio foi concebida para atender às solicitações da Reitoria da Universidade de criar uma praça de caráter estritamente contemplativo.

Outros tantos exemplos são observados em parques temáticos, como o Jardim Botânicode Curitiba, em jardins privados de condomínios e casas particulares e mesmo em jardins de edifícios de grandes corporações.

3.3.5 Formalismo gráfico e irreverencia

Caracteriza os projetos onde toda a estruturação morfológica obedece a composições bidimensionais de desenho marcadas pelo intensivo formalismo e rigidez gráfica. Formalismo este, que se expressa em desenhos, às vezes virtuosísticos, às vezes simples e rígidos, que utilizam-se de linhas mestras, grelhas, retículas, malhas e eixos para estruturar o espaço globalmente, interferindo inclusive na colocação dos equipamentos e da vegetação.

Tridimensionalmente caracterizam-se por uma construção excessiva, uma profusão de planos horizontais, verticais e construções. O rigor formal dos elementos construídos é com certeza uma das características mais expressivas de praças formalistas, como as praças Itália(Porto Alegre) e Demóstenes Martins( Campo Grande). Pórticos, colunatas, muros e os mais diversos elementos construídos são básicos neste tipo de concepção tridimensional e a própria vegetação, quando utilizada, assume um caráter escultural e arquitetônico. As possibilidades morfológicas de estruturação espacial que os maciços vegetais, largamente utilizados no modernismo criavam, e que foram seu principal legado, deram lugar a projetos de plantio que destacam elementos vegetais isolados, concebidos como esculturas vivas, ou que propõe seu plantio de forma rígida e inseridos no contexto formal e gráfico do desenho, plantando-se árvores e arbustos em fileiras e retículas. O nacionalismo, expresso na utilização da vegetação nativa que caracteriza o Modernismo, sucumbe ao formalismo internacional e nestes projetos é abandonado o uso intensivo deste

tipo de vegetação, que passa a ser utilizada como elemento adicional e não mais estrutural na composição do novo espaço.

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3.3.6 Reforma e reconfigurações

Os processos de revitalização e reconfiguração de trechos urbanos são expressão de uma tendência vanguardista do urbanismo e paisagismo contemporâneos. A valorização de antigos ícones e de ideais do passado é uma postura que não cabia plenamente na ideologia moderna que rejeitava muitos dos padrões tradicionais clássicos e românticos da cidade oitocentista.

Com o passar do anos, os rígidos dogmas modernos começam a ser questionados e revisados dando lugar a uma apreensão histórica da arquitetura e do urbanismo, que aceita propostas de reedição de antigos valores estéticos. Dentro deste processo de exultação pós-moderna, de valorização das origens e revisão dos conceitos modernos de cidade, as atenções voltam-se para os antigos centros históricos de cidades brasileiras e seu rico patrimônio arquitetônico colonial, republicano, eclético. Cidades como Rio de Janeiro, Recife, Salvador e São Luís passam, nos anos 80 e 90, por grandes reformas em seus centros históricos. Nesta última década são comuns as propostas de revitalização de áreas de patrimônio com mudança no tipo da ocupação, isto é, o arcabouço formal e cenográfico das antigas edificações permanece, sendo restaurado, e sua utilização transforma-se.

Em Salvador, o centro antigo da cidade colonial, o Pelourinho, foi transformado em um grande complexo turístico. Os antigos casarões residenciais foram desocupados para dar lugar aos serviços de apoio a atividade turística. O Pelourinho sempre foi

uma área extremamente utilizada na cidade e seus espaços livres (os largos, terreiros e ruas) foram e são palco de muitos festejos, atividades culturais folclóricas e manifestações populares.

No bairro do Recife na capital pernambucana, o processo de revitalização segue o processo de Salvador, transformando uma antiga área também abandonada e degradada em um importante pólo de entretenimento e atividade turística. Em São Luís do Maranhão o centro histórico também passou por grande reforma.

As implantações dos novos projetos visam soluções para problemas diagnosticados nas configurações anteriores: desobstruir calçadas e redimensionar passagens e caminhos, quando necessário refazer o projeto de plantio atentando para as questões ambientais e climáticas. Alguns exigiram reformas estruturais que transformaram radicalmente o espaço desfigurando o projeto anterior, como é o caso da praça do Carmo em Belém, praça Cuiabá em Campo Grande e da praça Bandeiraem Belo Horizonte, entre outras. Como também existem propostas que apenas restauram os antigos projetos dando-lhes uma linguagem formal

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contemporânea como nas praças Nova York em Belo Horizontee Saens Peña no Rio de Janeiro.

Um exemplo que pode ser considerado emblemático de reconfiguração de um espaço consagrado é a reforma da Praça Ary Coelho em Campo Grande. Esta, uma das mais antigas e utilizadas praças da cidade recebeu, em 1996, um projeto totalmente novo elaborado por um escritório de arquitetura de Campo Grande. O antigo projeto caracterizava-se fortemente pela "tríade eclética completa" em formas geométricas e o projeto da reforma quebrou esta rigidez utilizando-se de formas orgânicas na reformulação dos canteiros. Porém a tradição da praça e seu já consagrado traçado eclético, que persistiu por décadas, não foi esquecido completamente no novo desenho: buscando a memória e valorizando a imagem do projeto anterior os autores propuseram um desenho de piso na forma dos antigos caminhos sobreposto ao projeto novo. Um piso de cor avermelhada representa o antigo traçado.

3.3.7 Figurações

Paralelamente, ao incremento da verticalização urbana, em grande parte destinada à habitação, observa-se o surgimento em grande escala de condomínios horizontaisdestinados à moradia das classes média e alta, situadas por muitas vezes em áreas distantes das áreas centrais ou, até mesmo, totalmente fora da malha urbana convencional. Geralmente protegidos por guaritas, com administração própria e sua imagem é construída como um reflexo direto dos subúrbios americanos. Compõe-se de residências isoladas, construídas em lotes muitas vezes de grande porte, com recuos frontais ajardinados, sem muros, calçadas gramadas, arborização de rua e uma arquitetura bastante diversa, que apresenta formas extremamente opostas, como a de chalés suíços e palacetes normandos, até obras assinadas por arquitetos expoentes do modernismo ou do pós-modernismo nacional. Para seu morador, como no passado recente, para o mesmo público de classe média alta e alta, são executados projetos de paisagismo que expressam, a seu modo, a vanguarda do projeto paisagístico brasileiro.

Observa-se na arquitetura paisagística nacional um resultado imediato da onda de novas informações que chegam ao país. As paisagens novas, acessíveis à classe média, de Miami e Orlando, com seus jardins neo-românticos, seus detalhes arquitetônicos pós-modernistas, seus extensos canteiros floridos com amores-perfeitos e outras tantas flores sazonais banidas do cotidiano brasileiro pelo Modernismo nacionalista. Os cenários

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novos com pinheiros, tuias e palmeiras, gramados e podas topiárias influenciam o novo imaginário popular chique que se configura.

Como em uma parte da nova arquitetura de etiqueta encomendada aos profissionais arquitetos da moda, com casas que remetem ao subúrbio americano, ou chalés normandos e suíços, de novo em voga, que caracterizam um certo neo-ecletismo arquitetônico, os velhos ícones paisagístico/românticos do Ecletismo, voltam a ser utilizados: fontes de pedra, caramanchões treliçados, esculturas de deuses, bordaduras floridas, tanques d'água e piscinas em formas clássicas, luminárias românticas, falsas ruínas de pedra para jardins, vasos vagamente gregos ou italianos e todo um repertório decorativoGrandes condomínios a beira-mar devem ao contrário ter um aspecto tropical, o que justifica o uso intenso de uma vegetação nativa, tropical e luxuriante emoldurando e formando espaços diversos, entremeando torres e casas que tanto podem seguir linhas arquitetônicas de vanguarda ou remeter a formas pseudo polinésias ou ítalo-mediterrâneas.

No Rio de Janeiro, especialmente na Barra da Tijuca, são comuns os grandes empreendimentos que seguem tais premissas de tratamento espacial, com uma clara alusão ao caráter tropical do lugar.

Nos espaços privados, pátios e jardins de prédios e residências, apesar da ainda evidente presença dos padrões modernistas, todas as tendências formais se misturam e a cenarização temática então passa a ser comum. Jardins relembrando românticos desenhos de casinholas suburbanas dos Estados Unidos, o uso e abuso dos pinheirinhos, tuias e buxinhos podados topiariamente, o retorno às bordaduras de canteiros e gramados, o uso de materiais brilhantes e polidos para piso ao lado dos pisos mais tradicionais, esculturas de jardim, tudo é utilizado, variando de acordo com o gosto do proprietário ou do empreendedor imobiliário.

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3.3.8 Obras e autores

A liberdade de criação ou de composição fica vinculada de novo ao "espírito desejado para o lugar", que de certo modo acompanha a linha de composição do projeto arquitetônico ou urbanístico, como nos velhos tempos de Ecletismo.

Os espaços junto a prédios destinados a grandes corporações ou ao aluguel para escritórios e serviços seguem o padrão da arquitetura nitidamente baseada nas tendências internacionais, inspirando-se também nos espaços dos seus congêneres americanos, canadenses, entre outros. Com pouca vegetação, grandes pisos de materiais "nobres", como granitos, contam com esculturas e fontes eventuais. A vegetação tropical pode até estar presente, mas disposta de um modo controlado, visando valorizar a entrada e a fachada da torre. O seu uso intenso, como no caso do Banco Safra e do edifício Brasilinvest, projetos modernistas de Burle Marx e Ayako Nishikawa, em São Paulo, diminui de modo expressivo, ficando restrito a poucos casos.

Em muitos núcleos urbanos de porte é possível perceber o surgimento de novos projetistas, verdadeiros arquitetos paisagistas, que vão dando forma a um paisagismo brasileiro novo, contemporâneo. Ainda que não preencham o vácuo deixado por Burle Marx, com sua morte em 1994, indicam o fortalecimento de um modo de projetar o

espaço público, aproveitando-se da experiência acumulada e da sensibilidade pessoal para criar obras e espaços de qualidade.

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3.3.9 Rio Cidade: Requalificação urbana

Os programas Rio Cidade I, implementado em 1996, e Rio Cidade II, iniciado em 1998, caracterizam-se como dois marcos do paisagismo nacional. Por meio de concurso público foram selecionadas equipes multidisciplinares para agirem sobre alguns dos mais importantes logradouros da cidade. Essas equipes encabeçadas de arquitetos e paisagistas tiveram a possibilidade de criar soluções inovadoras para segmentos importantes da cidade, que são totalmente reformados, de modo a exercerem da melhor maneira suas funções urbanas. A mudança não é só estética e formal, mas envolve a revisão e recuperação das infra-estruturas existentes, fato que se reflete em uma melhoria real das condições urbanísticas dos logradouros.

Paralelamente, os projetos são desenvolvidos junto a uma discussão com a comunidade local, o que os torna bem mais entrosados com as necessidades sociais existentes, facilitando a manutenção de sua integridade, posteriormente.

Os projetos baseiam-se, todos eles, cada um em sua individualidade, em pesquisas projetuais e formais de seus autores, que buscam criar novos modos de expressão espacial, compondo pisos de desenhos inéditos, redesenhando e criando equipamentos e mobiliário urbano e paralelamente aproveitando a experiência acumulada no Modernismo.

Como nessa linha projetual o uso do mosaico português é frequente, agora utilizado em

combinação com materiais bem mais diversificados que no passado e em paginações inéditas, como pisos em xadrez ou com desenhos expressivamente geometrizados. As palmeiras e a vegetação tropical são também ainda utilizadas a larga, mas misturam-se agora a esculturas, tótens e pórticos que fazem alusões as vanguardas internacionais, especialmente as espanholas.

O sucesso real do projeto Rio Cidade I, que contou inclusive com o apoio da opinião pública, conduziu à execução de um segundo concurso: o Rio Cidade II, que possibilitou a inclusão de muitos subúrbios distantes, anteriormente preteridos em função de áreas centrais e das zonas sul e norte da cidade, criando-se uma abertura para o projeto e para a renovação urbana.

3.3.10 Rio Cidade: Vocações e símbolos

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O programa Rio Cidade caracteriza-se na última década do século XX como o mais amplo programa de renovação urbana utilizando-se amplamente recursos paisagísticos, levado a cabo na país. Outros vários foram feitos em Salvador, Recife e João Pessoa, mas vinculados à renovação urbana, ou então se limitaram a simples ajardinamentos.

Os projetos já implementados da sua primeira fase, o Rio Cidade I, foram absorvidos, em sua maioria, pela população dos bairros à que se destinaram, sendo considerados como referência para o paisagismo urbano, como foi nos anos 70 e 80 o calçadão da Rua das Floresem Curitiba.

3.3.11 Realidades

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Parques temáticos, jardins neo-ecléticos ou tropicais, calçadões e piscinões são figuras urbanas comuns na cidade brasileira que, somadas aos parques e praças do passado, respondem as demandas urbanas em voga.

A necessidade de novos espaços livres, urbanos ou não, é extremamente grande, ainda mais quando a atividade ao ar livre torna-se um ícone social explorado pela "mídia". Por outro lado, existe um processo de fechamento de partes importantes da cidade, que tornam-se muradas e excluídas do restante, formando-se verdadeiras ilhas de conforto e sonho lado a lado às construções, formais ou informais, de bairros populares, nos quais a carência de infra-estrutura é quase total e o espaço para convivência social é a rua ou a viela.

Dessa forma, perdem-se espaços de alta importância ecológica e paisagística dentro do contexto urbano, com invasões, asseoramento e disposição de lixo e entulhos, como corpos d´água, matas e campos, tornando-se, pouco a pouco, muito difícil e oneroso, quando não impossível, a recuperação de parte deste patrimônio social. Já nas áreas centrais e consolidadas, estabeleceu-se uma postura oficial de sobrevalorização através de investimentos de alto custo e manutenção, com projetos paisagísticos de alto nível, enquanto que para as áreas mais carentes ocorre o inverso - manutenção e fiscalização precárias e projetos inacabados e de má qualidade

3.3.12 Os primeiros anos do século XXI

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As novas propostas projetuais continuam a ser feitas por todo o país, bastante desconectadas em termos de conceitos e formas, mas sempre refletindo duas vertentes básicas: saudosistas ou revolucionárias.

Na esfera pública, o projeto do Piscinão de Ramosna cidade do Rio de Janeiro, vira um ícone popular graças a propaganda maciça feita pelos meios de comunicação de massa, principalmente uma novela de televisão exibida em horário nobre, servindo de idéia a outros projetos não concientizados.

O restauro e recuperação de velhos centros históricos, como o de João Pessoa ou Fortaleza, e a adaptação de velhos logradouros as novas formas de uso, como o Parque Moscosoem Vitória (ES) - com sua quarta versão espacial. São outras situações de qualidade e apropriação popular.

No Rio de Janeiro, a tropicalidade dos novos projetos para orlas e dos projetos particulares continua uma tradição da cidade, dos tempos do Império e de Burle Marx do uso farto da vegetação nativa, como no Parque de Educação Ambiental Professor Mello Barreto, nos jardins do Centro Empresarial e Shopping Center Città América e nos jardins do Shopping Downtown, projeto de Isabel Duprat. Em São Paulo esta tropicalidade está expressa tanto nos jardins centrais da Avenida Brigadeiro Faria Lima como no projeto da grande praça do Banco de Boston. Em Salvador essa característica pode ser observada na Praça Nossa Senhora da Luz, projeto de Lucinei Cardoso, na qual

se faz uma releitura do projeto eclético clássico.

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Anexo 01 – Cronologia do Paisagismo Brasileiro

Século VIII

Contexto Nacional: Brasil Vice-Reino (Capital Rio de Janeiro)

Contexto Urbano: Cidade Colonial. Ruas, largos e terreiros, construções geminadas. Vegetação confinada a quintais e pátios Intenso uso de ruas e largos feira, mercado, procissões, vendedores ambulantes, mascates. Criação de jardins botânicos e hortos para pesquisa de essências e vegetação nativa.

Projetos:

1783 : Inauguração do Passeio Público no Rio de Janeiro. Autor: Mestre Valentim1798:Ordem de criação do Jardim Botânico de São Paulo, atualmente, Parque da Luz, São Paulo.1798:Criação do Jardim Botânico de Belém.

1801 - 1860

Contexto Nacional: Vinda da família real portuguesa para o Brasil. 1816: Brasil na condição de Reino Unido; Missão Artística Francesa. Quatro grandes cidades: Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Belém.1822:Brasil Império.1840:Início do II Império. Ciclo do café no Estado do Rio.Influência cultural francesaInfluência econômica inglesa.Ciclo da Borracha: Belém e Manaus modernizam-se.

Contexto Urbano: O neoclássico é a arquitetura oficial do início do Império, substituindo a arquitetura colonial nos solares rurais e na cidade. Transformam-se os hábitos urbanos.Influências européias, principalmente francesas. Reformas urbanas no Rio de Janeiro. Surge o palacete, a residência da elite. Os jardins se tornam usuais nas casas das elites do Império. Ajardinamento de praças e largos por todo o país. Criação dos primeiros parques urbanos.

Projetos:

1803-1806:Criação do Passeio Público de Belém (desaparecido).1808: Criação do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, então Real Horto Botânico.1810-1818: Passeio Público de Salvador.1821:O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é transformado em jardim público.1825: O Jardim Botânico de São Paulo é aberto ao público.1858:Auguste François Marie Glaziou, a convite de Dom Pedro II, ocupa o cargo de Diretor Geral de Matas e Jardins.

1861-1900

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Contexto Nacional: Proclamação da República. Capital: Rio de Janeiro.

Contexto Urbano: Surgem e se consolidam os primeiro bairros da elite: Cosme Velho, Laranjeiras (RJ), Graça (Salvador), Campos Elíseos (SP) e outros. Arborização de ruas, calçadas elaboradas, iluminação pública.

Projetos:

Glaziou reforma o Passeio Público do Rio de Janeiro.1870:Abertura do bairro dos Campos Elíseos em São Paulo.1860-1876:Ajardinamento da Quinta da Boa Vista por Glaziou.1873:Projeto do Campo de Santana por Glaziou.1886: Passeio Público de Curitiba.1891: Abertura da Avenida Paulista São Paulo.1892:Inauguração do Largo do Campo Grande, hoje (Praça 2 de Julho)em Salvador.1893-1896:Loteamento de Copacabana. Criação da Inspetoria de Matas, Florestas, Jardins Públicos e Arborização do Rio de Janeiro1897: Inauguração de Belo Horizonte. O projeto do Parque Municipal é de Paul Villon1898:Abertura do Parque da Cantareira, São Paulo.1899:Reforma do Jardim da Luz.1900:Parque Antártica, São Paulo, um dos primeiros parques particulares.

1901-1930

Contexto Nacional: Expansão urbana. Primeira Guerra Mundial, desenvolvimento industrial e crescimento urbano. 1922:Centenário da Independência e Semana de Arte Moderna, o nacionalismo começa a surgir nos meios culturais.1930: Final da República Velha.

Contexto Urbano: Consolidação dos bairros de Copacabana, (o primeiro bairro de praia do Rio de Janeiro), e Higienópolis em São Paulo. Abertura de grandes avenidas e programas de saneamento em Santos, Recife, Rio de Janeiro, etc. O Rio de Janeiro moderniza-se sob o Governo Pereira Passos.A avenida-boulevarde a alameda são vias padrão. Introdução do lazer ativo nos parques públicos. Clubes são formados e esportes de origem inglesa, como o tênis e o futebol, são implementados. Em São Paulo os bairros-jardim consolidam-se.

Projetos:

1898-1911: Em Belém, no Governo do Intendente Antônio Lemos, o Serviço de Parques, Hortos e Jardins Municipais cria praças, avenidas, parque e marcos ajardinados.1901:Primeiro tratamento do Campo da Redenção, hoje Parque Farroupilha, Porto Alegre.1902:Ajardinamento da Praça do Ferreira, em Fortaleza.1903:Jardins da praia de Botafogo, Rio projeto de Paul Villon.1905:Avenida Central Rio de Janeiro.1906:Avenida Beira-Mar Rio de Janeiro.1908:Bosque da Saúde, São Paulo parque particular.1909:Campo de São Bento Niterói projeto de Arséne Puttmans.1911:Plano de Bouvard, São Paulo: parques em volta do Centro (Anhangabaúe D. Pedro II).

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1915:Abertura do Bosque dos Jequitibás o primeiro parque de Campinas.1922:Exposição do Centenário, Rio de Janeiro e reconstrução dos jardins do Ipiranga, São Paulo, por Reynaldo Dierberger, o paisagista da elite do café.1929:Início da construção do Jardim Botânico de São Paulo.

Construção da Praça Paris, Rio de Janeiro, projeto de Archimedes José da Silva.1930:Plano de Avenida de Prestes Maia: proposta de parques, playgrounds, parques esportivos, realizada em parte nas décadas seguintes.

1931-1967

Contexto Nacional: 1937 :Estado Novo: nova política sócio-econômica; influência econômica dos Estados Unidos. O cinema americano como elemento de definição de padrões culturais e, portanto, urbanísticos e paisagísticos.Criação do primeiro Parque Nacional em Itatiaia.1939 a 1945:II Guerra Mundial, industrialização e expansão habitacional; novos hábitos, declínio da influência européia. Expandem-se as fronteiras urbanas nos Estados de São Paulo e Paraná. São implementadas novas cidades ferroviárias com praças centrais e traçado em xadrez. No pós-guerra, cresce a influência cultural dos EUA.1947:Fim do Estado Novo, forte nacionalismo.A indústria automobilística começa a ser implantada. Programas habitacionais de massa. Expansão das fronteiras urbanas do país. Implantação da TV nas grandes cidades. As estradas de rodagem são construídas em massa e há o declínio do transporte ferroviário.São Paulo e Rio de Janeiro configuram-se como as duas grandes metrópoles do país.

Contexto Urbano: Edifícios de apartamentos consolidam-se em áreas centrais do Rio de Janeiro e São Paulo, expandindo-se pela beira-mar sul do Rio de Janeiro no final das décadas de 30 e 40. Primeiros edifícios e jardins modernos com influência da arquitetura modernista européia. Novos hábitos urbanos: piscinas e banhos de mar. A arquitetura moderna consolida-se e os jardins deixam de ser moldura das residências para tonarem-se espaços de estar, como continuidade da casa. Os esportes de massa ganham importância; o futebol consolida-se como esporte nacional. São construídos parques infantis e playgrounds. A piscina como sonho da classe média. A influência do urbanismose torna mista (européia modernista e americana), mas continuam os planos e avenidas haussmanianos, que reformulam velhos centros urbanos.O desenho do Ecletismo começa a ser abandonado também nos espaços públicos, primeiramente devido à influência da obra de Burle Marx.Grandes contingentes de classe média compram casas e apartamentos no litoral.O hábito do banho de mar é consolidado em Copacabana .1950-1960:Crescimento urbano acelerado.Nas décadas de 40 e 60, em termos quantitativos são poucos os parques públicos construídos nas cidades brasileiras. Fortalecimento de órgãos de planejamento. As grandes cidades têm um planejamento centralizado. Abertura de sistemas viários de porte nas grandes e médias cidades.A casa e o prédio isolado: bairros inteiros são construídos sob esses padrões.O BNH (Banco Nacional da Habitação) cria grandes conjuntos habitacionais dotados de generosas áreas livres. Partes dessas são posteriormente invadidas pelos moradores.Os edifícios de apartamentos em São Paulo, construídos em bairros de elite, estão isolados no lote. Paisagistas assinam alguns dos projetos dos seus espaços livres. A verticalização ainda incipiente começa a se espalhar por todas as cidades do país.Com a televisão alteram-se gradativamente os usos dos espaços públicos, que são por muitas

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vezes minimizados. Muda o programa de parques e praças, agora nitidamente voltados para o lazer ativo. Expansão urbana. Metropolização. Grandes obras urbanas: terminais, praças, calçadões, viadutos, etc.

Projetos:

1937:Projeto dos Jardins de Alá Rio de Janeiro, em moldes clás-sicos, por José Silva de Azevedo Neto.1938:Jardins do MES (Ministério da Educação e Saúde) e Praça Salgado Filho, no Rio de Janeiro, projetos de Burle Marx.Oficialização do Jardim Botânico de São Paulo.1939:Parque 13 de maio - Recife.1942:Construção da Pampulha com os modernos jardins de Burle Marx.Criação do Departamento de Parques do Rio de Janeiro.Projeto definitivo do Parque da Redenção por Arnaldo Gladosh.1942-1943:Abertura da Avenida Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.Durante toda a década de 40, Burle Marx produz projetos modernistas trabalhando junto com arquitetos modernos. Torna-se o paisagista oficial do Estado.1954:Abertura do Parque Ibirapuera, São Paulo.1954:Projeto do Parque do Flamengo, por Affonso Reidy, Burle Marx e equipe.1957:Concurso de Brasília. Durante a década de 50, Roberto Coelho Cardozo, radicado em São Paulo. Influência de paisagistas da costa oeste americana como Eckbo e outros.Os dois Robertos (Cardozo e Burle Marx) possuem um denominador comum: a valorização da vegetação nativa. Influenciam a obra dos arquitetos que se formam em São Paulo.1960: Inauguração de Brasília, o ideal da cidade no meio do verde. 1961:Inauguração do Aterro do Flamengo Rio de Janeiro.1967:Centro Cívico de Santo André, projeto de Burle Marx.1967:É feito o primeiro e único estudo de áreas verdes da cidade de São Paulo por Rosa Kliass, Miranda Magnoli e equipe.

1968-1980

Contexto Nacional: Governo Militar (1964-1984): início de um período de projetos urbanos centrali-zados. Consolidação das grandes redes nacionais de televisão.Anos de fastígio econômico. Abertura de fronteiras: devastação florestal. Grandes investimentos estatais. Fortalecimento da indústria automobilística. Aumento do número de veículos.

Contexto Urbano: Década de 70:instala-se a primeira linha de metrô de São Paulo. Consolida-se em São Paulo e Porto Alegre uma linha de projeto fortemente influenciada por paisagistas da Califórnia / EUA.

1971:É promulgada em São Paulo a lei que favorece a criação de espaços livres nos lotes verticalizados, voltadas sobretudo para áreas de lazer. São concebidos os primeiros condomínios fechados Alphaville, em São Paulo, como Alphaville, e na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. O desenho das praças modernas é muito elaborado, com programas complexos ao passo que o projeto de parques tende a uma grande simplificação em relação aos do período do Ecletismo. Surgem as praças-edifício, muitas delas derivadas da construção do metrô, em São Paulo. O maior exemplo é a Praça da Sé. Uma legislação mais abrangente referente ao

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patrimônio histórico urbano é criada, incentivando a presença de "monumentos" de todas as épocas, inclusive parques e jardins. Proliferação dos calçadões de área central e de praia. Todas as grandes cidades têm um planejamento centralizado e as leis de zoneamento são estabelecidas por todo país. Programas habitacionais em massa.

Projetos:

1967-1968: Praça Centro de Convivência Cultural, Campinas, a praça-edifício de autoria de Fábio Penteado e outros.1969: Plano da Barra, por Lúcio Costa, um projeto modernista com viés ecológico.1970-1980: São inaugurados mais de 10 parques na cidade de São Paulo, entre eles o Parque do Carmo (aproveitando a mata nativa) e centenas de praças.1972:Calçadão da Rua XV de Novembro/ Rua das Flores Curitiba.1972:Parques Barigüi, São Lourençoe Barreirinha Curitiba.1973:Construção da Praça Alberto Dalva Simão, Belo Horizonte, projeto-escultura de Roberto Burle Marx.1974: Parque Guarapiranga, São Paulo, o primeiro parque à beira de represa da cidade é inaugurado.1975:Parque Rogério Pitton Farias (Parque da Cidade Sarah Kubitschek), na Asa Sul em Brasília projeto de Roberto Burle Marx.1976:Parque Iguaçu, Curitiba.Projeto para o Parque Ecológico do Tietê em São Paulo por Ruy Othake, (construído anos depois parcialmente). Bosque João Paulo II, primeiro parque temático de Curitiba.1982:Parque das Mangabeiras, Belo Horizonte um parque que conserva a mata nativa, projeto de Roberto Burle Marx.

1981-1990

Contexto Nacional: Expansão urbana acelerada. Correntes migratórias de porte refletem-se na criação de uma rede nacional de metrópoles.Onda ecológica. Criam-se secretarias do verde e meio ambiente.O país está conectado por uma rede nacional de comunicações: rádio, TV, telefone.1988: Nova Constituição, com itens que privilegiam o meio ambiente e as paisagens notáveis.

Contexto Urbano: Proliferação dos calçadões de área central e de praia. Surgem os padrões ecológicos, volta a idéia dos contatos com a vegetação. Expansão dos condomínios horizontais e verticais. Segregação. Estabelece-se uma forma desconstrutivista de projeto.

Projetos:

Em São Paulo e por todo o Brasil, centenas de projetos de paisagismo são feitos.1981:Largo da Carioca projeto de Burle Marx. 1983:Lei nº 506 de 17/01/84 aprova o corredor cultural, como zona especial do Centro Histórico do Rio de Janeiro, que preserva 1300 edificações do centro da cidade.1987;Projeto do Parque Villa Lobos, São Paulo: um parque de lazer ativo, contemplativo e cultural , projeto de Décio Tozzi.1989:Lei 1989, do estado do Rio de Janeiro, cria a Fundação de Parques e Jardins.

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1991-2002

Contexto Nacional: Aumenta a já forte influência cultural americana, com a possibilidade de viagens para os EUA de amplos setores da classe média. Aumento do uso dos espaços públicos e privados urbanos em função do crescente aumento da população das cidades.1992: Eco 92, Rio de Janeiro: um marco das posturas ecológicas. Aumento da expansão urbana: ao final da década de 1990, o país é predominantemente urbano. O condomínio horizontal fechado se torna uma figura urbana comum nas médias e grandes cidades, se multiplicando ao longo de rodovias e áreas rurais vizinhas. A verticalização como habitação para as classes médias se torna um fato urbano nacional, expandindo-se inclusive pelas áreas turísticas. Ampliação nas áreas costeiras e serranas da Segunda Residência. Aumento da criação de áreas de proteção ambiental, parques nacionais e reservas naturais. Introdução nas áreas turísticas, principalmente nas costeiras, da figura do "resort" como uma opção de hospedagem. Ocupa grandes áreas com jardins tropicais e áreas de conservação. Expansão da moradia informal sobre áreas frágeis, como manguezais, florestas, dunas e áreas de proteção de mananciais, em volta dos principais centros urbanos. Aumento da demanda de áreas para recreação e lazer por todo o país, que cada vez mais são objetos de projeto

Contexto Urbano: Os calçadões de praia são renovados. O modo moderno de projetar começa a sofrer forte influência das novas correntes formalistas européias (Paris e Barcelona) e americanas. Volta-se a um decorativismo e os pórticos e canteiros floridos são elementos importantes nessas novas obras. Expansão do comércio informal por todos os principais centros urbanos do país, em especial nas áreas centrais e pontos de grande comércio e aglomeração humana. Começam a ser valorizadas novas formas de espaços livres. São projetados os primeiros parques temáticos do país. Por todas as principais cidades, os ajardinamentos de canteiros centrais de avenidas são comuns, com forte influência decorativista. Uso de elementos neo-ecléticos como fontes, esculturas, arbustos e forrações cuidadosamente elaboradas. Forte viés romântico no desenho dos jardins privados, convivendo com formas tradicionais modernistas.O jardim florido: um padrão de qualidade. Construção de parques públicos com alto teor ecológico: Manaus, São Paulo, Teresina e Salvador. Valorização extrema do "verde" na cidade, pela mídia, pelo mercado imobiliário e pelo senso popular. Forte apelo do "tropical" sob uma nova ordem formal, valorizando-se o uso de palmáceas e da vegetação nativa. Consolidação do pátio do edifício de apartamentos como um dos principais objetivos do projeto paisagístico dentro do urbano.

Projetos:

1991:Jardim Botânico, Curitiba a volta do Ecletismo revisto em uma posição pós- moderna.1992:Parque Cidade de Toronto, São Paulo.1992:Vale do Anhangabaú, São Paulo.Projeto Rio Orla: a orla do Rio é toda reformada, com a criação de um sistema de ciclovia costeira.1992-1996:Centenas de novos projetos são feitos para espaços livres nas cidades de Belo Horizonte, Fortaleza, Campo Grande, Curitiba, Recife. A Praça do Ferreiraé destruída e no seu lugar constrói-se um projeto totalmente contemporâneo. Parques são inaugurados em Belo Horizonte. Renovação do Pelourinho em Salvador e do centro do Rio de Janeiro.

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1995:Rua da Cidadania Boqueirão, Curitiba.

1996:Os 17 projetos do Rio-Cidade são entregues ao público do Rio de Janeiro.Inauguração da Terra Encantada primeiro parque temático ao ar livre do país.1996:Parque Tanguá Curitiba.1996:Bosque Alemão, Curitiba, trilha de João e Maria, a fantasia no parque temático.1997:Concurso Viva São Paulo no qual 20 praças da cidade são objeto de projetos de linhas contemporâneas.1998:Shopping ao ar livre: Downtown, Rio de Janeiro, paisagismo Isabel Duprat.Concurso Rio Cidade II: espaços públicos de periferias têm propostas de modernização.Recuperação de parques e praças em Salvador. Praça do Marco Zero em Recife

2000: Jardins do Shopping "Cittá América", Rio de Janeiro, de forte inspiração tropical - cenográfica do paisagista Sérgio Santana.Reforma de praças em Campo Grande, entre elas a do Rádio Clube. Inauguração da 1a fase da Praça da Sé em Salvador2001:Recuperação, abertura e tratamento paisagístico de parte na área das docas de Belém do Pará; Piscinão de Ramos (Rio de Janeiro): projeto que visa compensar a perda da balneabilidade das águas da Baía de Guanabara. Inauguração do novo calçadão de Fortaleza em lugar do projeto anterior, que é substituído em função de uma idéia de modernização. Recuperação paisagística do Mercado de Ver-o-Peso em Belém.2002:Projeto dos Jardins do Banco de Boston, São Paulo. Paisagismo de Isabel DupratAjardinamento das calçadas centrais da Avenida Faria Lima em São Paulo, com um caráter cenográfico-tropicalista. Inauguração da 2a fase da praça da Sé em Salvador.

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Anexo 02 – Roberto Burle Marx

A história do paisagismo brasileiro, a partir de 1930, está ligada à obra mundialmente famosa de Roberto Burle Marx. É um dos brasileiros mais consagrados no exterior em todos os tempos. Nascido em São Paulo em 1909, Roberto Burle Marx muda-se ainda menino para o Rio de Janeiro. Aos 19 anos, viaja para a Alemanha para se aperfeiçoar como desenhista.

E é lá que, casualmente, descobre a beleza das plantas tropicais, numa visita ao Jardim Botânico de Dahlen. De volta ao Brasil, Burle Marx começa a cultivar, colecionar e classificar plantas num jardim na encosta do morro, atrás de sua casa.

Seu primeiro trabalho como paisagista é feito a pedido do arquiteto e amigo Lúcio Costa, no início dos anos 30. Burle Marx projeta um jardim revolucionário, usando plantas tropicais e a estética da pintura abstrata.

O começo é difícil. Os jardins brasileiros obedecem ao modelo europeu: predominam azaléias, camélias, magnólias e nogueiras. A elite conservadora da época estranha o estilo abstrato e tropical de Burle Marx. Mas a renovação nas artes e na arquitetura é uma tendência mundial e irresistível nos anos 30. Burle Marx torna-se adepto da escola alemã Bauhaus, com seu estilo humanista e integrador de todas as artes.

No Brasil, um grupo de jovens arquitetos, profundamente influenciados pela corrente francesa liderada por Le Corbusier, revoluciona a arquitetura. Entre eles, Oscar Niemayer e Lúcio Costa.

A moderna arquitetura brasileira usa novos materiais. Aço, vidro e concreto pedem um paisagismo renovador. A associação entre Burle Marx, Niemayer e Lúcio Costa não pára mais.

Apaixonado pela flora brasileira, realiza incontáveis viagens por todo o país à procura de plantas raras e exóticas. Pouco a pouco, torna-se botânico autodidata, especialista em plantas tropicais. A relação de Burle Marx com a natureza é quase religiosa. Sua reverência ao verde torna-o pioneiro na luta pela preservação do meio ambiente.

Apaixonado pela flora brasileira, realiza incontáveis viagens por todo o país à procura de plantas raras e exóticas. Pouco a pouco, torna-se botânico autodidata, especialista em plantas tropicais. A relação de Burle Marx com a natureza é quase religiosa. Sua reverência ao verde torna-o pioneiro na luta pela preservação do meio ambiente.

Roberto Burle Marx é um artista polivalente. Pintor, designer, arquiteto, paisagista, artista plástico, tapeceiro. Nas horas vagas canta música lírica para os amigos. Sua obra como artista plástico é amplamente reconhecida e premiada em mostras e salões internacionais. Pouco a pouco, o nome de Burle Marx paisagista ultrapassa as fronteiras do Brasil. Sua assinatura brilha em milhares de projetos espalhados pelos cinco continentes.

Sua grande paixão, contudo, sempre foi o Brasil, sobretudo o Rio de Janeiro. Nos mais belos cartões postais da cidade estão os jardins de Burle Marx. O Largo da Carioca... a orla do Leme... o calçadão de Copacabana... os jardins suspensos do Outeiro da Glória...e a menina dos olhos do artista: o Aterro do Flamengo.

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Do trabalho conjunto com Oscar Niemayer e Lúcio Costa nascem o Parque da Pampulha, Minas Gerais, e os famosos jardins de Brasília. Entre suas obras mais expressivas estão os jardins do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Em 61 anos de carreira, Burle Marx assina mais de dois mil projetos e recebe inúmeras honrarias. Mas a homenagem que mais o sensibiliza é ver seu nome designando uma espécie de plantas tropicais: "Burle Marxii".

Em 1972, Burle Marx muda-se para o sítio Santo Antônio da Bica, nos arredores do Rio de Janeiro. Dedica-se à pintura, coleciona obras de arte e cultiva, ao longo de mais de vinte anos, três mil e quinhentas espécies de plantas do mundo inteiro, criando um verdadeiro Éden Tropical.

Em 1985, doa a propriedade ao governo federal. Seu grande sonho é criar ali uma escola para jardineiros e botânicos, e abrir o sítio à visitação pública. Mas é somente após a sua morte, ocorrida em 1994, aos 82 anos de idade, que os seus últimos projetos florescem. Graças ao empenho de sua equipe, o sítio, agora batizado com o seu nome, recebe visitantes do Brasil e do mundo.

E ecologistas, paisagistas e jardineiros podem freqüentar cursos regulares, ministrados em meio às plantas que o próprio Roberto Burle Marx cultivou.

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Hino do Estado do Ceará

Poesia de Thomaz LopesMúsica de Alberto NepomucenoTerra do sol, do amor, terra da luz!Soa o clarim que tua glória conta!Terra, o teu nome a fama aos céus remontaEm clarão que seduz!Nome que brilha esplêndido luzeiroNos fulvos braços de ouro do cruzeiro!

Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!Chuvas de prata rolem das estrelas...E despertando, deslumbrada, ao vê-lasRessoa a voz dos ninhos...Há de florar nas rosas e nos cravosRubros o sangue ardente dos escravos.Seja teu verbo a voz do coração,Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!Ruja teu peito em luta contra a morte,Acordando a amplidão.Peito que deu alívio a quem sofriaE foi o sol iluminando o dia!

Tua jangada afoita enfune o pano!Vento feliz conduza a vela ousada!Que importa que no seu barco seja um nadaNa vastidão do oceano,Se à proa vão heróis e marinheirosE vão no peito corações guerreiros?

Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!Porque esse chão que embebe a água dos riosHá de florar em meses, nos estiosE bosques, pelas águas!Selvas e rios, serras e florestasBrotem no solo em rumorosas festas!Abra-se ao vento o teu pendão natalSobre as revoltas águas dos teus mares!E desfraldado diga aos céus e aos maresA vitória imortal!Que foi de sangue, em guerras leais e francas,E foi na paz da cor das hóstias brancas!

Hino Nacional

Ouviram do Ipiranga as margens plácidasDe um povo heróico o brado retumbante,E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,Brilhou no céu da pátria nesse instante.

Se o penhor dessa igualdadeConseguimos conquistar com braço forte,Em teu seio, ó liberdade,Desafia o nosso peito a própria morte!

Ó Pátria amada,Idolatrada,Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívidoDe amor e de esperança à terra desce,Se em teu formoso céu, risonho e límpido,A imagem do Cruzeiro resplandece.

Gigante pela própria natureza,És belo, és forte, impávido colosso,E o teu futuro espelha essa grandeza.

Terra adorada,Entre outras mil,És tu, Brasil,Ó Pátria amada!Dos filhos deste solo és mãe gentil,Pátria amada,Brasil!

Deitado eternamente em berço esplêndido,Ao som do mar e à luz do céu profundo,Fulguras, ó Brasil, florão da América,Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Do que a terra, mais garrida,Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;"Nossos bosques têm mais vida","Nossa vida" no teu seio "mais amores."

Ó Pátria amada,Idolatrada,Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símboloO lábaro que ostentas estrelado,E diga o verde-louro dessa flâmula- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte,Verás que um filho teu não foge à luta,Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,Entre outras mil,És tu, Brasil,Ó Pátria amada!Dos filhos deste solo és mãe gentil,Pátria amada, Brasil!

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