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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Eng RAFAEL FARIAS LOG˝STICA DO CONTINGENTE BRASILEIRO NA MINUSTAH: CONTRIBUI˙ES PARA A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA Rio de Janeiro 2018

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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Eng RAFAEL FARIAS

LOGÍSTICA DO CONTINGENTE BRASILEIRO NA MINUSTAH: CONTRIBUIÇÕES

PARA A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA

Rio de Janeiro

2018

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Maj Eng RAFAEL FARIAS

LOGÍSTICA DO CONTINGENTE BRASILEIRO NA MINUSTAH:

CONTRIBUIÇÕES PARA A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA

Dissertação apresentada à Escola de Comando

e Estado-Maior do Exército, como pré-

requisito para a obtenção do grau de Mestre

em Ciências, na linha de pesquisa �Gestão da

Defesa�.

Orientador: Professor Doutor LUIZ ROGÉRIO FRANCO GOLDONI

Rio de Janeiro

2018

Maj Eng RAFAEL FARIAS

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F224l Farias, Rafael.

Logística do contingente brasileiro na MINUSTAH: contribuições para a Base Industrial de Defesa. / Rafael Farias. 2018.

160 f. : il. ;30 cm.

Dissertação (Mestrado em Ciências Militares) Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2018.

Bibliografia: f. 138-153.

1. OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ. 2. LOGÍSTICA. 3. BASE INDUSTRIAL DE DEFESA I. Título.

CDD 355.4.

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À minha amada esposa Janaína e à nossa Petite Joana Maria, pelo amor que me dão, sem o qual não teria forças para concluir este importante trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Jairo Alves Farias e Tânia Maria Farias, pela educação e por sempre

acreditarem no meu potencial, o que contribuiu decisivamente para a minha carreira no Exército

Brasileiro.

À Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, em especial ao Instituto Meira

Mattos, pelo aprendizado e pela oportunidade de cursar o programa de stricto sensu.

Ao meu orientador, Professor Doutor Goldoni, pela confiança e pelo apoio desde

seleção para o programa de Mestrado Acadêmico stricto sensu.

Aos Coronéis Hernandes, Rolant e Sousa Coelho, pelo apoio a todas as fases deste

trabalho, o que remonta ao período de planejamento e preparação do primeiro Estágio de

Logística e Reembolso do CCOPAB, em 2013.

Aos amigos TC Celso e Maj Arones pela amizade e pelo companheirismo que

transcendem o convívio na caserna.

Ao amigo Rafael Felício, pela amizade que conquistamos no programa de mestrado.

Aos docentes do Programa stricto sensu, pelo profissionalismo e pela compreensão das

especifidades do Curso de Comando e Estado-Maior.

Aos colegas do Programa stricto sensu da ECEME pelo companheirismo e, sobretudo,

pelas brilhantes discussões em sala de aula, sempre em proveito de um Brasil do tamanho dos

nossos sonhos.

Ao Doutor em História Ianko Bett, pela nossa amizade cultivada no CPOR/PA e pelas

orientações que me auxiliaram sobremaneira no processo de seleção para o programa de

mestrado acadêmico.

À Rita, à Helena e à Victória, por todo o apoio prestado, principalmente na reta final do

trabalho.

À Dona Regina, vovó Regina de nossa Petite Joana Maria, pela lealdade e dedicação

irrestritos desde a época da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e, sobretudo, durante o

Curso de Comando e Estado-Maior.

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�Nosso maior medo não é sermos inadequados. Nosso maior medo é que nós somos poderosos além do que podemos imaginar. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos assusta. Nós nos perguntamos: �Quem sou eu para ser brilhante, lindo, talentoso, fabuloso?� Na verdade, quem é você para não ser? Você é um filho de Deus. Você pensando pequeno não ajuda o mundo. Não há nenhuma bondade em você se diminuir, recuar para que os outros não se sintam inseguros ao seu redor. Todos nós fomos feitos para brilhar, como crianças brilham. Nós nascemos para manifestar a glória de Deus dentro de nós. Não é somente em alguns de nós; é em todos. E enquanto permitimos que nossa própria luz brilhe, nós inconscientemente damos permissão a outros para fazer o mesmo. Quando nós nos libertamos do nosso próprio medo, nossa presença automaticamente libertará outros.�

Discurso da Posse de Nelson Mandela em 1994

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RESUMO

Este trabalho destinou-se a analisar em que medida a logística empregada em Operações de Manutenção da Paz pode contribuir para a Base Industrial de Defesa (BID) do Brasil. Nas missões do qual o país fez parte em Angola e em Moçambique, na década de 1990, inicia-se um progressivo aumento do emprego de materiais e de equipamentos fabricados pela indústria nacional pelos capacetes azuis brasileiros. No Haiti, há uma participação ainda maior de empresas brasileiras no fornecimento de materiais para os capacetes azuis brasileiros. Nessas Operações, as exigências impostas pela logística da Organização das Nações Unidas (ONU) demandaram uma eficiente cadeia de suprimentos, desde a fabricação dos componentes de defesa até seu emprego pelas tropas desdobradas na missão. A presente pesquisa teve como objeto de estudo a participação dos capacetes azuis brasileiros na MINUSTAH (2004-2017), por meio de uma análise qualitativa dos equipamentos por eles utilizados, bem como da logística utilizada pelas Forças Armadas brasileiras para desdobrá-los na ilha caribenha. Por fim, são feitas considerações a respeito de como as operações de paz, a partir da experiência no Haiti, podem se converter em um indutor de fomento à BID.

PALAVRAS-CHAVE: Operações de Manutenção da Paz, Logística, Base Industrial de Defesa.

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ABSTRACT

This Master´s Dissertation aimed to analyze how the logistics deployed in Peacekeeping Operations may contribute to Brazil's Industrial Defense Base (IDB). In the 1990s, Brazil took part in missions in Angola and Mozambique, at a time where Brazilian blue helmets began a progressive increased the use of materials and equipment manufactured by the national industry. In Haiti, there is an even greater participation of Brazilian companies in the supply of materials for Brazilian blue helmets. In these Operations, the requirements imposed by the logistics of the United Nations (UN) demanded an efficient supply chain, from the manufacture of the components of defense until its use by the troops deployed in the mission. The present study had the objective of studying the participation of Brazilian blue helmets in MINUSTAH (2004-2017), through a qualitative analysis of the equipment used by them, as well as the logistics used by the Brazilian Armed Forces to deploy them on the Caribbean island. Finally, some considerations are made as to how peace operations, based on experience in Haiti, might can become a promoter of development for the IDB. KEY-WORDS: Peacekeeping Operations, Logistics, Industrial Defense Base

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Base Industrial de Defesa ou o "Iceberg" Científico-Tecnológico Militar ....... 45

Figura 3- Anexo A do MOU do BRABAT 2 - Reembolso pelo pessoal cedido ................. 62

Figura 4- GFMV relativo aos carros de combate sobre lagarta e rodas .......................... 64

Figura 5- Anexo B do MOU do BRABAT - Provisão de Major Equipment .................... 65

Figura 6- Anexo C do MOU do BRABAT - Reembolso dos itens de Self-sustainment.... 66

Figura 7- Estrutura do Departamento de Apoio às Missões (DFS) .................................. 71

Figura 8- Encarregados das funções logísticas em uma missão multidimensional ......... 74

Figura 9- Diagnóstico da Pirâmide de Defesa - Apreciação da ABIMDE ........................ 80

Figura 10- Transporte Aéreo e Marítimo do Brasil para o Haiti ..................................... 82

Figura 11- Modificações realizadas no EE 11-Urutu ...................................................... 111

Figura 12- Viaturas EE 11 Urutu versão ambulância ..................................................... 111

Figura 13- Equipamento 7VT e 7VR ............................................................................... 122

Figura 14- UFOR 1210 ..................................................................................................... 122

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1-Acordos e/ou contratos estabelecidos com as FA nos últimos vinte anos....... 126

Gráfico 2- Produtos vendidos para as Forças Armadas ................................................. 127

Gráfico 3- Acordos/contratos firmados com militares brasileiros para a MINUSTAH 127

Gráfico 4- Aumento da exposição de produtos pelo uso em missões de paz................... 128

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Divisão de responsabilidades atinentes ao apoio logístico em OMP................. 20

Tabela 2- Pesquisa inicial de termos em inglês .................................................................. 29

Tabela 3- Pesquisa inicial de termos na língua portuguesa .............................................. 30

Tabela 4- Pesquisa de artigos em inglês delimitada ao Haiti ............................................ 30

Tabela 5- Pesquisa de artigos em português delimitada ao Haiti ..................................... 31

Tabela 6- Cruzamento de �Humanitarian Logistics� com outras palavras-chave .......... 31

Tabela 7- Cruzamento de "Logística Humanitária" com outras palavras-chave ............ 32

Tabela 8- Gestão das Classes de Suprimento da Força Terrestre para OMP .................. 46

Tabela 9- Materiais de emprego militar utilizados por contingentes brasileiros em OMP ............................................................................................................................................. 94

Tabela 10- Consulta sobre a logística em OMP envolvendo empresas brasileiras .......... 94

Tabela 11- Consulta sobre a contribuição da logística das OMP para a indústria de defesa ............................................................................................................................................. 95

Tabela 12- Resumo dos documentos e medidas voltadas para a Base Industrial de Defesa ........................................................................................................................................... 100

Tabela 13- Empresas participantes da pesquisa .............................................................. 126

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABDI Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

ABIMDE Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa e Segurança

AGSP Arsenal de Guerra de São Paulo

Apex Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos

Avibras Avibras Indústria Aeroespacial S.A.

BID Base Industrial de Defesa

BRABAT Brazilian Battalion (Batalhão de Infantaria de Força de Paz)

BRAENGCOY Brazilian Engineering Company (Companhia de Engenharia de Força de Paz)

CBC Companhia Brasileira de Cartuchos

CMID Comissão Mista da Indústria de Defesa

CSNU Conselho de Segurança das Nações Unidas

CTEx Centro Tecnológico do Exército

CTID Comitê Técnico da Indústria de Defesa

C,T&I Ciência, Tecnologia e Informação

C&T Ciência e Tecnologia

CF/88 Constituição Federal do Brasil de 1988

CFN Corpo de Fuzileiros Navais

COE Contigent Owned Equipment

Comdefesa Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria da Defesa

CONTBRAS Contingente Brasileiro desdobrado em missões de paz

DFS Department of Field Support

DPKO Department of Peacekeeping Operations

EB Exército Brasileiro

EED Empresa Estratégica de Defesa

Embraer Empresa Brasileira de Aeronáutica

END Estratégia Nacional de Defesa

Engesa Engenheiros Especializados S.A.

FAB Força Aérea Brasileira

FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

FIERGS Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul

FIESC Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina

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FIEP Federação das Indústrias do Estado do Paraná

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

GFMV Generic Fair Market Value

Imbel Indústria de Material Bélico do Brasil

Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LBDN Livro Branco de Defesa Nacional

MB Marinha do Brasil

MCTI Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação

MD Ministério da Defesa

MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

MOU Memorandum of Understanding

MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

MRE Ministério das Relações Exteriores

NDCC Navio de Desembarque de Carros de Combate

MINUSTAH Missão de Estabilização das Nações Unidas para o Haiti

OMP Operação de Manutenção da Paz

ONU Organização das Nações Unidas

OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

ORI Operational Readiness Inspection

PAC Programa de Aceleração do Crescimento

PAED Plano de Articulação e Equipamento de Defesa

PBL Performance-Based Logistics

PBM Plano Brasil Maior

PEEx Plano Estratégico do Exército

PDN Política de Defesa Nacional

PED Produto Estratégico de Defesa

PND Política Nacional de Defesa

PNEMEM Política Nacional de Exportação de Material de Emprego Militar

PNEPRODE Política Nacional de Exportações de Produtos de Defesa

POTI Peace Operations Training Institute

PRODE Produto de Defesa

PROTEGER Sistema Integrado de Proteção de Estruturas Estratégicas Terrestres

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SCM Supply Chain Management

SIMDE Sindicato Nacional da Indústria de Material de Defesa

SIPRI Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo

UFOR Ultrafiltragem e Osmose Reversa

WG Working Group

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 19

PROBLEMA .................................................................................................................... 22

OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 23

OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................ 23

DELIMITAÇÃO DA PESQUISA .................................................................................... 24

JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 25

METODOLOGIA ............................................................................................................. 27

CAPÍTULO 1 � DEFINIÇÕES E PRESSUPOSTOS TEÓRICOS .................................. 35

1. 1. CONCEITOS RELATIVOS À LOGÍSTICA ............................................................ 35

1.1.1 Logística Militar e Logística Empresarial ......................................................... 35

1.1.2 Logística da ONU e Logística Humanitária ...................................................... 42

1.2 BASE INDUSTRIAL DE DEFESA ............................................................................ 44

1.2.1 Base Industrial de Defesa: Conceitos e Definições ............................................ 44

1.2.2 Base Industrial de Defesa e Política Externa..................................................... 48

CAPÍTULO 2 - LOGÍSTICA EM OPERAÇÕES DE PAZ .............................................. 54

2.1 LOGÍSTICA DA ONU ............................................................................................... 54

2.1.1 Evolução das Missões de Paz sob a égide da ONU ............................................ 54

2.1.2 Estrutura de reembolso aos países contribuintes da ONU ............................... 58

2.1.2.1 Reembolso pela cessão de materiais e equipamentos ..................................... 59

2.1.2.2 Reembolso pelo pessoal cedido........................................................................ 61

2.1.3 Estrutura da ONU voltada para as Operações de Manutenção da Paz ........... 68

2.1.3.1 As instâncias e os Departamentos da ONU voltados para as Operações de Manutenção da Paz ..................................................................................................... 68

2.1.3.2 A Estrutura de Apoio Logístico de uma Missão de Paz da ONU .................. 72

2.1.3.3 A Logística da ONU na área de missão .......................................................... 74

2.2 PERFORMANCE LOGÍSTICA DO EXÉRCITO BRASILEIRO EM OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ ............................................................................................... 76

2.2.1 A estrutura logística do Exército Brasileiro voltada para as Operações de Paz ..................................................................................................................................... 77

2.2.1.1 O Papel dos Órgãos de Direção Setorial do Exército Brasileiro .................... 77

2.2.1.1.1 A missão do Comando Logístico .................................................................. 77

2.2.1.1.3 A missão do Departamento de Engenharia e Construção ........................... 79

2.2.1.2 As coordenações entre as Forças Armadas para a logística do Contingente Brasileiro na MINUSTAH .......................................................................................... 79

2.2.1.2.1 O Centro de Coordenação Logística de Operações de Paz ......................... 82

2.2.1.2.2 A Estrutura Logística do Exército Brasileiro concebida para a MINUSTAH ..................................................................................................................................... 84

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2.2.2 Operações logísticas do Exército Brasileiro na MINUSTAH ........................... 87

2.2.2.1 Logística do Batalhão de Infantaria de Força de Paz (BRABAT) ................. 87

2.2.2.2 Logística da Companhia de Engenharia de Força de Paz (BRAENGCOY) . 89

CAPÍTULO 3 � CONSIDERAÇÕES SOBRE A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA ..................................................................................................................... 93

3.1 RESULTADOS PRELIMINARES DA PESQUISA ................................................... 93

3.2 BREVE HISTÓRICO E SITUAÇÃO ATUAL DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA .................................................................................................................. 95

3.2.1 Breve histórico da Base Industrial de Defesa do Brasil .................................... 95

3.2.2 Atual estágio da BID .......................................................................................... 98

3.2.3 O Papel das Federações das Indústrias no Fortalecimento da Base Industrial de Defesa ........................................................................................................................ 101

3.3 IMPACTOS DA PARTICIPAÇÃO NA MINUSTAH PARA A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA ........................................................................................... 105

3.3.1. Empresas Brasileiras no Haiti ........................................................................ 106

3.3.1.1 Agrale............................................................................................................. 106

3.3.1.2 Avibrás Indústria Aeroespacial S/A ............................................................. 107

3.3.1.3 Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) ................................................. 108

3.3.1.4 Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda ............................. 109

3.3.1.5 Arsenal de Guerra de São Paulo ................................................................... 110

3.3.1.6 Condor Munições não letais .......................................................................... 112

3.3.1.7 ER Amantino Indústria de Máquinas, Equipamentos, Acessórios e Armas Esportivas LTDA ...................................................................................................... 114

3.3.1.8 Grupo InbraFiltro ......................................................................................... 115

3.3.1.9 Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) ........................................ 115

3.3.1.10 Leon Heimer S/A ......................................................................................... 116

3.3.1.11 MAN Latin América Indústria e Comércio - de Veículos Ltda. ................ 117

3.3.1.11 Mardiesel Comercio e Representações Ltda .............................................. 119

3.3.1.12 Motorola Solutions ...................................................................................... 119

3.3.1.13 Perenne ........................................................................................................ 121

3.3.1.14 Santoslab ...................................................................................................... 123

3.3.1.15 Yamaha Motor da Amazônia Ltda ............................................................. 124

3.3.2. Análise dos resultados da participação das empresas brasileiras na MINUSTAH .............................................................................................................. 125

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 131

Abordagem epistemológica do referencial teórico estudado ....................................... 131

Análise e discussão dos resultados alcançados............................................................. 133

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 138

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ANEXO A � QUESTIONÁRIO ENVIADO AOS MILITARES .................................... 154

ANEXO B � QUESTIONÁRIO ENVIADO ÀS EMPRESAS ........................................ 156

ANEXO C � PROPOSTA DE ENTREVISTA ................................................................ 158

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende analisar como a logística aplicada às Operações de

Manutenção da Paz (OMP) realizadas pelo Brasil pode contribuir para a Base Industrial de

Defesa (BID1) nacional. Dessa forma, ao conhecer as características atinentes à preparação, às

aquisições de material, ao desdobramento e ao emprego propriamente dito de tropas brasileiras

no exterior, procurar-se-á descrever como essas atividades podem fomentar a BID.

Segundo Fontoura (2005, p. 209), �o Brasil participa de missões desde os anos de 1930

e, no âmbito da ONU, desde 1957�. Estas missões concentram-se, majoritariamente, nas OMP:

A manutenção da paz é uma técnica destinada a preservar a paz, por mais frágil que seja, onde os combates tenham sido encerrados, assim como para assessorar na implementação das metas alcançadas pelos mediadores do processo de paz. Ao longo dos anos, a manutenção da paz evoluiu de um modelo basicamente militar de observar cessar-fogo e separação de forças após guerras entre Estados, para incorporar um modelo complexo de muitos elementos - militares, policiais e civis - trabalhando juntos para ajudar a estabelecer as bases para uma paz sustentável (UNITED NATIONS, 2008, p. 18)

A década de 1990 registra o envio de grandes efetivos brasileiros para missões de paz.

Em 1993, foi enviada uma Companhia de infantaria com 170 homens para a Operação das

Nações Unidas em Moçambique (ONUMOZ), cuja missão estendeu-se até o fim do ano

seguinte (AGUILAR, 2012). Em 8 de fevereiro de 1995, teve início a III Missão de Verificação

das Nações Unidas em Angola (UNAVEM III), para a qual o Brasil chegou a enviar 1300

homens, a maior força militar fora do país desde a Segunda Guerra Mundial (GARCIA, 2004,

p. 254). Em 2004, o Brasil passou a integrar a Missão da Organização das Nações Unidas no

Haiti (MINUSTAH), desde então mais de 32.000 homens e mulheres já foram enviados para o

país centro-americano (HAMANN, 2016).

No que concerne às OMP, a Política Nacional de Defesa (PND) atesta a importância da

participação do Brasil em missões internacionais:

Para ampliar a projeção do País no concerto mundial e reafirmar seu compromisso com a defesa da paz e com a cooperação entre os povos, o Brasil deverá aperfeiçoar o preparo das Forças Armadas para desempenhar responsabilidades crescentes em ações humanitárias e em missões de paz sob a égide de organismos multilaterais, de acordo com os interesses nacionais (BRASIL, 2012a, p. 33, grifo nosso)

1 A BID é formada pelo conjunto integrado de empresas públicas e privadas, e de organizações civis e militares, que realizem ou conduzam pesquisa, projeto, desenvolvimento, industrialização, produção, reparo, conservação, revisão, conversão, modernização ou manutenção de produtos de defesa (Prode) no País (BRASIL, 2012b, p. 99).

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A Estratégia Nacional de Defesa (END) reforça a necessidade de �Preparar as Forças

Armadas para desempenharem responsabilidades crescentes em operações internacionais de

apoio à política exterior do Brasil� (BRASIL, 2012b, p. 59). Para o emprego de tropas

brasileiras de forma combinada ou multinacional, a Doutrina Militar de Defesa2 define como

deverá ser a utilização de forças militares. Nesse sentido, as ações sob a égide de organismos

internacionais poderão ocorrer em arranjos internacionais de defesa coletiva (coalizões de

forças multinacionais), operações de paz (de natureza militar, política ou de assistência à

população civil) e ações de caráter humanitário (catástrofes naturais ou decorrentes de guerra).

Em tais missões, a logística segue o princípio de que cada nação participante é responsável pelo

apoio as suas próprias forças (BRASIL, 2014b, p. 2-8).

Referente à logística em OMP sob a égide da ONU, é lícito apresentar a divisão de

atribuições entre esta Organização e os países contribuintes de tropa (Troop Contributing

Countries- TCC) no terreno (UNITED NATIONS, 2017b), conforme pode ser observado na

tabela 1:

Tabela 1- Divisão de responsabilidades atinentes ao apoio logístico em OMP3

ONU TCC Combustível, água, acomodações e rações para os contingentes

Major Equipment4 e Self-Sustainment5, incluindo veículos e geradores

Instalações de trabalho e equipamentos, veículos, acesso a serviços públicos;

Serviço de cozinha, lavanderia, internet, equipamento médico orgânico e material de engenharia.

Aviação, transporte de cargas e de passageiros, movimentos e instalações médicas para todo o período da missão

O apoio logístico e os serviços prestados pelos TCC/PCC varia consideravelmente. Os detalhes necessários são acordados como parte do Memorando de Entendimento, assinado pelo TCC e pela ONU

Fonte: (UNITED NATIONS, 2017d) Elaboração: o autor

Consoante a tabela 1, os TCC são responsáveis pelo provimento de uma série de

equipamentos e consumíveis a serem utilizados nos Teatros de Operação. Neste ponto,

2 Conceito relativo às normas gerais da organização, do preparo e do emprego das Forças Armadas, quando empenhadas em atividades relacionadas com a defesa do país (BRASIL, 2014a, p. 1-1). 3 As responsabilidades atinentes aos dois grandes atores diretamente envolvidos na execução de uma OMP são aqui apresentadas de forma não exaustiva. O Capítulo 2 destina-se a abordar a estrutura de apoio logístico para as OMP, em uma parte da presente dissertação em que serão apresentadas as especifidades recomendadas pela ONU para as missões de paz. 4 Materiais relacionados diretamente com a execução da missão, tais como veículos, geradores e equipamentos de engenharia (UNITED NATIONS, 2017e, p. 13) 5 Componentes destinados a apoiar o cumprimento da missão e a sobrevivência da tropa (UNITED NATIONS, 2017e, p. 13).

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destacam-se alguns dos Objetivos Nacionais de Defesa definidos na PND (BRASIL, 2012a, p.

30):

IX. desenvolver a indústria nacional de defesa, orientada para a obtenção da autonomia em tecnologias indispensáveis; X. estruturar as Forças Armadas em torno de capacidades, dotando-as de pessoal e material compatíveis com os planejamentos estratégicos e operacionais; e XI. desenvolver o potencial de logística de defesa e de mobilização nacional.

A END, de acordo com as diretrizes da PND, prevê a reorganização da indústria

nacional de material de defesa. Sobre este aspecto, a END salienta que:

[...] serão estimuladas iniciativas conjuntas entre organizações de pesquisa das Forças Armadas, instituições acadêmicas nacionais e empresas privadas brasileiras. O objetivo será fomentar o desenvolvimento de um complexo militar universitário- empresarial capaz de atuar na fronteira de tecnologias que terão quase sempre utilidade dual, militar e civil (BRASIL, 2012b, p. 105).

O Plano Brasil Maior (BRASIL, 2011) , que substituiu a Política de Desenvolvimento

Produtivo (PDP), impõe um fortalecimento da relação entre Ciência, Tecnologia e Inovação na

área de defesa. Por meio desse Plano, o Governo Federal estabeleceu sua política industrial,

tecnológica, de serviços e de comércio exterior para o período de 2011 a 2014. A meta de tal

Plano é o estímulo à inovação e à produção nacional para alavancar a competitividade da

indústria nos mercados interno e externo (BRASIL, 2012b, p. 103).

A utilização de equipamentos fabricados ou montados no Brasil foi um aspecto comum

às missões transcorridas em Angola e em Moçambique e aumentou significativamente a partir

da MINUSTAH. Desde 2006, por exemplo, a Perenne Equipamentos e Sistemas de Água S/A

equipa a Companhia de Engenharia de Força de Paz (BRAENGCOY) com uma estação de

tratamento d�água, encarregada de potabilizar água para o consumo do contingente (AQUINO,

2015). A partir da missão na ilha caribenha, a empresa, criada em 19916 passou a investir em

outros países além da América Latina, estendendo seus negócios para o Oriente Médio

(CUTAIT, 2012).

A partir de 2009, as tropas da Argentina na MINUSTAH passaram a contar com 18

unidades do Agrale Marruá, modelo AM20, destinados ao transporte de tropas. Tais viaturas já

vinham sendo utilizadas pelas tropas brasileiras na missão e despertaram o interesse dos

militares argentinos (FORÇAS TERRESTRES, 2009). Os exemplos alentam para a

6 Conforme informação disponibilizada no site da empresa: < http://www.perenne.com.br/index.php/institucional1-2/historia-2>. Acesso em 23 maio 2017.

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possibilidade de materiais empregados em OMP contribuírem para o fomento à indústria

nacional de defesa, particularmente no emprego dual militar e civil, consoante com o que é

preconizado pela PND e pela END.

Diante do exposto, o presente trabalho pretende analisar como a logística aplicada às

OMP realizadas pelo Brasil pode contribuir para a BID, a partir do estudo da participação do

país na MINUSTAH. Essa análise compreenderá as características atinentes à preparação, às

aquisições de material, ao desdobramento e ao emprego propriamente dito de tropas brasileiras

no exterior. Igualmente, serão verificadas as atividades realizadas pelos órgãos de Direção

Setorial das Forças Armadas afetos à logística em OMP, bem como suas interações com as

empresas públicas e privadas produtoras de componentes destinados ao uso militar. Ademais,

serão estudadas tais empresas e os resultados que as OMP podem lhes proporcionar. Isso posto,

serão analisadas como essas Operações podem fomentar a BID.

PROBLEMA

A END identificou vulnerabilidades na atual estrutura de defesa do Brasil,

particularmente no que concerne à obsolescência da maioria dos equipamentos das Forças

Armadas e ao elevado grau de dependência em relação a produtos de defesa estrangeiros

(BRASIL, 2012b, p. 42). Outro óbice verificado diz respeito à falta de inclusão, nos planos

governamentais, de programas de aquisição de produtos de defesa em longo prazo, calcados em

programas plurianuais e em planos de equipamento das Forças Armadas, com priorização da

indústria nacional de material de defesa (BRASIL, 2012b, p. 43).

A década de 1990 marca a inserção do país no neoliberalismo. A matriz

desenvolvimentista, inaugurada em 1930, foi posta de lado, sem que qualquer política

consistente fosse adotada em seu lugar. A noção de projeto, interesse ou soberania nacional foi

largamente abandonada, em nome da abertura à nova ordem neoliberal globalizante do pós-

Guerra Fria. Grande parte do patrimônio econômico acumulado, que se encontrava

majoritariamente nas empresas estatais, foi destruído ou alienado com privatizações

desnacionalizantes (VISENTINI, 2005, p. 79).

A indústria de armas brasileira foi ainda mais prejudicada, pois, assim como aconteceu

com as empresas de outros setores, o longo período de proteção comercial acabou tornando-as

ineficientes em relação às empresas de outros países e, consequentemente, em condições

desiguais de competição. Esse fato acabou forçando algumas empresas brasileiras a se

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reestruturarem e algumas delas passaram a buscar parcerias para atuar no mercado civil

(LESKE, 2013). Ainda de acordo com Leske (2013, p. 95):

[...] somente oito empresas brasileiras exportaram equipamentos militares para o exterior no período compreendido entre 1975 e 2010, a saber: Engesa � falida em 1993 �, Embraer, Avibras, Helibras, Indústria Aeronáutica Neiva � adquirida pela Embraer em 1980 �, Aerotec � adquirida pela Embraer em 1987 �, e Mectron � controlada pela Odebrecht a partir de 2011, Engepron, CBC e Taurus. Estas empresas atuam nos mercados civis e militares, e prestam serviços de manutenção e assistência técnica

A partir do início da MINUSTAH, empresas civis nacionais e estrangeiras sediadas no

Brasil aumentaram sua participação na fabricação de equipamentos atendendo às demandas das

Forças Armadas do Brasil. Em janeiro de 2009, o contingente brasileiro passou a contar com

viaturas Volkswagen Worker 15.210 4X4 (O CARRETEIRO, 2009). Já em 2011, a Motorola

Solutions, contratada pelo Exército Brasileiro para fornecer a tecnologia de comunicação via

rádio para a missão, forneceu ao contingente rádios portáteis e rádios móveis fabricados no

Brasil (C. PEREIRA, 2011). Dessa forma, empresas civis instaladas no país começaram a

aumentar sua participação no fornecimento de equipamentos às Forças Armadas, contribuindo

para o uso dual de tecnologias desenvolvidas para a defesa.

Assim, o problema do presente estudo é enunciado da seguinte forma: Em que medida

as demandas logísticas impostas pela missão de manutenção da paz no Haiti contribuíram

para o fortalecimento da BID brasileira?

OBJETIVO GERAL

Do exposto, o objetivo geral da presente pesquisa passa a ser assim definido: Analisar

a logística dos equipamentos e serviços utilizada pelos contingentes militares brasileiros

desdobrados na MINUSTAH e os seus impactos na BID nacional.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral do presente estudo, os seguintes

objetivos específicos foram formulados:

a. Estudar os aspectos logísticos relativos ao desdobramento do Exército Brasileiro para

o cumprimento de OMP;

b. Investigar o sistema logístico adotado pelo EB;

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c. Analisar a origem dos fornecedores dos materiais e serviços empregados e utilizados

pelo EB na missão no Haiti;

d. Identificar a interface realizada pelas Forças Armadas brasileiras com a indústria

nacional de defesa; e

e. Averiguar mudanças na produtividade das empresas fornecedoras de serviços e

equipamentos utilizados pelo EB no contexto da MINUSTAH.

DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Com a intenção de delimitar o tema para a presente pesquisa, faz-se necessário

apresentar uma acepção inicial do termo logística no seu sentido mais amplo:

Logística- Parte da guerra que trata do planejamento e da realização de: a) projeto e desenvolvimento, obtenção, armazenamento, transporte, distribuição, reparação, manutenção e evacuação de material (para fins operativos ou administrativos); b) recrutamento, incorporação, instrução e adestramento, designação, transporte, bem-estar, evacuação, hospitalização e desligamento de pessoal; c) aquisição ou construção, reparação, manutenção e operação de instalações e acessórios destinados a ajudar o desempenho de qualquer função militar; d) contrato ou prestação de serviços (FERREIRA, 2004, p. 1225, grifo nosso)

Tendo em vista a amplitude de atividades que podem ser empreendidas a partir da

expressão �Logística�, o escopo do presente trabalho estará concentrado nos conceitos relativos

à obtenção, aquisição, reparação, manutenção e operação de materiais, de equipamentos e de

serviços destinados ao cumprimento da missão da ONU por parte das tropas do EB na missão

no Haiti. Os conceitos relativos à logística, particularmente à logística militar, empresarial, da

ONU e humanitária serão mais bem explorados no capítulo 1 desta dissertação.

Em relação à extensão da pesquisa, será abordada a logística empregada pelo EB na

MINUSTAH. Sobre este aspecto, ressalta-se que, ainda que a Marinha do Brasil (MB) e a Força

Aérea do Brasil (FAB) estejam presentes na ilha caribenha, o presente trabalho estará

concentrado apenas na interface que estas Instituições realizam com o EB para prover o apoio

logístico ao contingente desdobrado na missão.

Em relação ao critério de delimitação espacial, a presente pesquisa terá como espaço

geográfico precípuo o território brasileiro e o haitiano, com foco principal no EB.

No que concerne à delimitação temporal, o período a ser estudado será a partir de 2004,

ano em que teve início a MINUSTAH, até o ano de 2017.

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JUSTIFICATIVA

Pretende-se discorrer sobre o tema tendo em vista que a participação em missões de paz

sob a égide de organismos internacionais, principalmente a ONU, é assunto bastante estimulado

por meio da PND, da END e do Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). Igualmente, o

fomento à base industrial de defesa consiste em uma preocupação já manifestada também por

tais documentos, assim como pela PDP, pelo Plano Brasil Maior e no Programa de Aceleração

do Crescimento (PAC), ao ser criada a sua vertente para a defesa. Entretanto, não foram

encontradas publicações estabelecendo correlações entre as OMP e a BID.

Análises preliminares da documentação da ONU sobre o reembolso pelo uso de

equipamentos em OMP dão indícios de possíveis estímulos para o desenvolvimento das

indústrias de defesa dos países contribuintes. Em 1996, a Assembleia Geral das Nações Unidas

(AGNU) aprovou um procedimento de reembolso por meio do �Equipamento de Propriedade

do Contingente e Bens de Consumo� (denominado de COE- Contingent Owned Equipment and

Consumables), baseado no conceito de leasing, segundo o qual há um acordo prévio sobre os

equipamentos que cada unidade militar deve colocar à disposição das Nações Unidas (UNITED

NATIONS, 2015a; UNITED NATIONS, 2017c; FONTOURA, 2005).

Esse acordo, denominado Memorando de Entendimento (Memorandum of

Understanding- MOU7), é firmado entre o país contribuinte de tropa (TCC) e a ONU. Por meio

do MOU - específico para cada contingente e para cada unidade - o país pode optar pelos

sistemas de Wet Lease8, em que ele receberá o reembolso conforme as taxas determinadas pela

AGNU pela manutenção dos seus equipamentos, ou de Dry Lease9, cuja manutenção e suporte

aos equipamentos do contingente é provida pela ONU (LESLIE, 2006, p. 16). Dessa forma, o

TCC estabelece um acordo com a ONU, de forma a definir quais equipamentos e materiais ele

irá desdobrar na área de missão, recebendo da Organização o reembolso mediante os sistemas

de dry ou wet lease.

O custo das operações de paz inclui o reembolso pela contribuição da tropa, por meio

do pagamento de taxas de US$ 1.410,00 para cada integrante dos contingentes por mês

(UNITED NATIONS, 2017d). Igualmente, abrange o reembolso aos Estado membros pelo uso

de seus próprios equipamentos e os custos por morte e invalidez permanente (AGUILAR,

7 O conceito será abordado mais exaustivamente no Capítulo 2, referente à Logística da ONU. 8 Idem. 9 Ibidem.

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2015a; SOLOMON, 2007). A sistemática relativa ao reembolso pela seção de materiais e de

equipamentos será explorada de forma mais detalhada no capítulo 2.

Solomon (2007) produziu um estudo acerca dos benefícios econômicos/financeiros

tanto para os países anfitriões de missões, quanto os contribuintes de tropa. De acordo com esse

autor, os maiores gastos para a ONU são os custos com o pessoal civil e militar, o que inclui

forças internacionais de polícia, voluntários da ONU, pessoal local contratado e outros

funcionários civis. Por volta de 80% desses recursos retorna para os países contribuintes de

tropa como reembolso pelo pessoal empregado e pelos equipamentos utilizados na missão

(SOLOMON, 2007, p. 768).

O assunto desperta interesse pelas possibilidades que as OMP representam, sobretudo a

partir do protagonismo internacional que o Brasil passou a ter com a MINUSTAH: maior

contingente militar presente e chefia do componente militar da missão. De acordo com Kenkel

(2011), a experiência vivenciada no Haiti ensejou a construção de um modelo que tem ido muito

mais longe que o processo político na transformação, em ações concretas, dos preceitos

estabelecidos nos documentos da política declaratória brasileira e na sua longa tradição de

política externa. O modelo haitiano, comumente associado ao Brazilian Way of Peacekeeping,

estabelece uma sinergia entre a propensão brasileira para a negociação e a resolução pacífica

de conflitos com o foco tradicional do país, tanto interno como na política externa, sobre o

desenvolvimento econômico sustentável (KENKEL, 2011).

Ainda com relação à justificativa do presente tema, é lícito mencionar o Plano

Estratégico do Exército (PEEx)10. O PEEx, inserido no Processo de Transformação do Exército,

tem a intenção de implementar, até 2022, uma nova doutrina - com o emprego de produtos de

defesa tecnologicamente avançados, profissionais altamente capacitados e motivados � de

forma a permitir ao EB enfrentar, com os meios adequados, os desafios do século XXI,

respaldando as decisões soberanas do Brasil no cenário internacional (BRASIL, 2014c, p. 3).

Um dos objetivos desse Plano refere-se à ampliação da projeção do Exército no cenário

internacional (BRASIL, 2014c, p. 9). Para atingir esse objetivo, o PEEx define as seguintes

ações estratégicas, destinadas ao aumento da capacidade de projeção de poder (BRASIL, 2014c,

p. 10): �2.2.3) Preparar forças para atuar em missões de paz; e 2.2.4) Desenvolver as

capacidades expedicionária e multinacional.� Em sintonia com o que é preconizado no PEEx,

10 Algumas das abreviaturas empregadas no presente trabalho adotam o padrão já consagrado pelos Manuais de Abreviatura e Convenções Cartográficas do Exército Brasileiro - C 21-30 - e do Ministério da Defesa � MD33-M-02. A utilização de acrônimos, formulados de acordo com a Doutrina Militar, deve-se a eles já terem a sua escrituração consagrada nas publicações militares utilizadas em boa parte deste trabalho.

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a intenção da Força Terrestre em aumentar sua capacidade de projeção de poder, seja mediante

OMP, seja por meio das capacidades expedicionária e multinacional, demandará um esforço

logístico que possa sustentar a ampliação de sua projeção no cenário internacional.

Esta dissertação permite realizar uma interface entre dois assuntos que mereceram

importantes considerações nas diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa: fomento às

operações de paz e à recuperação da indústria nacional de defesa. No presente trabalho, busca-

se entender com maior profundidade o assunto relativo às contribuições das OMP para a

indústria nacional de defesa, com a finalidade de integrar estas duas áreas estratégicas sugeridas

pela END.

A forma como o assunto em questão foi abordado é inédita. Ressalta-se que, durante a

presente pesquisa, não foram encontrados trabalhos de nível stricto sensu, livros ou artigos que

tenham analisado com profundidade a interface entre as OMP e a BID, propiciada pela logística

empregada pelo contingente brasileiro em missões de paz, a partir da experiência do Brasil na

MINUSTAH.

METODOLOGIA

Esta seção tem por finalidades apresentar classificações metodológicas e descrever o

caminho que se pretende percorrer para solucionar o problema de pesquisa, especificando os

procedimentos necessários para alcançar as respostas pretendidas, obter as informações de

interesse e analisá-las.

O presente trabalho será realizado por meio de dois enfoques. Inicialmente, abordam-se

os conceitos de logística que podem ser encontrados nas diferentes fases dos desdobramentos

de contingentes militares brasileiros em OMP, particularmente na MINUSTAH. Quando se

aborda a expressão logística, faz-se necessário mencionar as semelhanças e diferenças entre

logística militar, logística empresarial, logística de defesa, logística humanitária, logística

baseada em performance (performance based-logistics, mais comumente denominada pelo

acrônimo PBL) e Supply Chain Managment (SCM) haja vista que, ao mencionarmos o tema da

presente dissertação: �A Logística dos contingentes brasileiros em Operações de Manutenção

da Paz� todas as acepções supracitadas do termo logística estarão envolvidas.

Ainda com relação ao segundo enfoque do referencial teórico, é mister abordar

conceitos relativos à economia de defesa, haja vista que contingentes militares, particularmente

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do EB, são empregados em OMP. Igualmente, merecerá destaque uma abordagem conceitual

relativa à Base Industrial de Defesa do Brasil, com foco para a sua interface com as OMP.

O trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa documental, buscando-se fontes

primárias e secundárias, públicas e privadas, que documentam o tema, de forma a trazer

conhecimentos que sirvam de background ao campo de interesse (LAKATOS, 2003). Nesse

sentido, foram consultados os estudos realizados pelo Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) já existentes,

assim como publicações do Governo Federal e dos Ministérios cujas atribuições estejam direta

ou indiretamente ligadas à BID, tais como MD, MDIC, MCT e Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão (MPOG). Igualmente, mereceram especial atenção os relatórios de término

de missão do Batalhão de Infantaria de Força de Paz (BRABAT11) e da Companhia de

Engenharia de Força de Paz do Contingente Brasileiro (BRAENGCOY12), unidades do

Exército Brasileiro desdobradas na missão, assim como os documentos relativos ao

envolvimento do Comando Logístico (COLOG), do Comando de Operações Terrestres

(COTER) e do Departamento de Engenharia e Construção (DEC) com a MINUSTAH.

Em virtude de a abordagem de pesquisa adotada ser de natureza qualitativa, o trabalho

privilegiou a revisão bibliográfica e a análise de documentos para solucionar o problema

proposto, tendo como método a leitura exploratória e seletiva do material de pesquisa, bem

como sua revisão integrativa, com o objetivo de síntese e interpretação dos resultados. Quanto

ao objetivo geral, a pesquisa caracteriza-se como descritiva.

A pesquisa bibliográfica abrangeu a análise das publicações já existentes sobre a BID,

com enfoque na ponta do �Iceberg� Científico-Tecnológico Militar e nas empresas industriais

e de serviços. Sendo assim, foram analisados os documentos que norteiam a BID, tais como a

PND e a END, de 2012, e o LBDN de 2012, assim como as Políticas e Planos do Governo para

a BID, tais como a PDP e o Plano Brasil Maior. No âmbito do Exército Brasileiro, foram

analisados o Plano Estratégico do Exército e os Projetos Estratégicos Indutores da

Transformação do Exército.

A pesquisa envolveu também a consulta a informações acerca do tema em revistas,

jornais e artigos indexados nas bases de dados Scielo, J-Stor, Pro-Quest Scopus, Emerald,

11 O acrônimo que se refere a esta OM foi cunhado na língua inglesa: Brazilian Battalion (BRABAT). Dessa forma, o vocábulo BRABAT encerra a definição de Batalhão de Infantaria de Força de Paz, haja vista ser a única Unidade de infantaria, valor batalhão, desdobrada na missão. 12 Processo semelhante de anglicização foi adotado em relação à Companhia de Engenharia de Força de Paz: Brazilian Engineering Company (BRAENGCOY).

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Taylor and Francis, Springer Link, Science Direct/ Elsevier, Sistema integrado de Bibliotecas

Universidade de São Paulo (SIBi) e periódicos CAPES. A revisão da pesquisa dos artigos

utilizou as seguintes técnicas: seleção da bibliografia; leitura analítica da bibliografia

selecionada e fichamento (elaboração das fichas bibliográficas, de citação, de resumo e

analíticas).

Como parte do mapeamento, foi realizado um levantamento bibliográfico nos portais de

pesquisa de bases de dados da FGV, campus Botafogo, e no Portal de periódicos CAPES, no

período de 15 de janeiro a 20 de abril de 2017, com a finalidade de levantar as referências

delimitadas para a realização do presente trabalho. O universo temporal concentrou-se entre os

anos de 2004, início da MINUSTAH, e o corrente ano. Nessa fase da pesquisa, foram realizadas

buscas envolvendo os termos atinentes ao objetivo geral da presente dissertação, de forma a

verificar a quantidade de artigos já publicados sobre o tema. A pesquisa foi conduzida

utilizando-se palavras-chave na língua inglesa e na portuguesa.13

No que diz respeito ao idioma inglês, foram pesquisados artigos contendo as seguintes

palavras-chave: Military Industry, Military Logistics, Defense Industry, Defense Logistics,

Humanitarian Logistics, Disaster Relief e Humanitarian Assistance. Ao se realizar a procura

de artigos com essas expressões, inseriu-se o parâmetro �é exato� no mecanismo de busca, de

forma a restringir o número de publicações encontradas. A produção acadêmica sobre esse tema

na língua inglesa é bastante vasta, o que pode ser atestado por meio de uma quantidade

expressiva de artigos, cujos resultados são apresentados na tabela 2:

Tabela 2- Pesquisa inicial de termos em inglês

Termo Nr de artigos

resultantes da busca Revisados por pares

Military Industry (�é exato�) 1592 1130 Military Logistics (�é exato�) 3020 1169 Defense Industry (�é exato�) 17649 5005 Defense14 Logistics (�é exato�) 2992 598 Humanitarian Logistics (�é exato�) 625 549 Disaster Relief (�é exato�) 2741 1785 Humanitarian Assistance (�é exato�) 8784 3900 Total 37403 14136

13 A busca realizada somente nestes dois idiomas diz respeito a dois motivos. O primeiro deles é atinente à farta disponibilidade de artigos publicados em língua inglesa, o que foi observado inclusive por meio de pesquisadores oriundos de países francófonos e hispanófonos. No que concerne à língua pátria brasileira, a pesquisa destina-se a realizar um apanágio do que já foi produzido neste idioma referente à ajuda humanitária. 14 Ao digitar a versão em inglês para Defesa, empregou-se tanto a grafia do idioma estadunidense � Defense- quanto a do britânico � Defence. O mecanismo de busca do portal de bibliotecas FGV e do Portal de Periódicos CAPES não fizeram distinção entre as duas formas de escrever tal expressão na língua inglesa.

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O mesmo procedimento foi adotado para efetuar a seleção de artigos, empregando a

língua portuguesa. Nessa parte da busca, foram utilizadas as seguintes palavras-chave: Indústria

Militar, Logística Militar, Indústria de Defesa, Logística de Defesa, Logística Humanitária,

Socorro a desastres15 e Ajuda Humanitária. Os resultados para a pesquisa inicial em português

são apresentados na tabela abaixo:

Tabela 3- Pesquisa inicial de termos na língua portuguesa

Termo Nr de artigos

resultantes da busca Revisados por pares

Indústria Militar (�é exato�) 2 2 Logística Militar (�é exato�) 2 2 Indústria de Defesa (�é exato�) 4 3 Logística de Defesa (�é exato�) 2 2 Logística Humanitária (�é exato�) 11 9 Socorro a desastres (�é exato�) 0 0 Ajuda Humanitária (�é exato�) 70 40 Total 91 58

De forma a restringir o escopo da presente pesquisa, foi realizado o cruzamento de dados

das palavras-chave constante das tabelas 2 e 3 com a expressão �AND� Haiti. Foi realizada a

pesquisa de termos na língua inglesa, de acordo com a tabela 4:

Tabela 4- Pesquisa de artigos em inglês delimitada ao Haiti

Termo

Nr de artigos

resultantes da busca

Revisados por pares

Nº de Artigos

Selecionados

Military Industry (�é exato�) �AND� Haiti 57 31 2 Military Logistics (�é exato�) �AND� Haiti 42 29 1 Defense Industry (�é exato�) �AND� Haiti 66 29 1 Defense Logistics (�é exato�) �AND� Haiti 69 13 4 Humanitarian Logistics (�é exato�) �AND� Haiti 135 123 5 Disaster Relief (�é exato�) �AND� Haiti 1958 847 0 Humanitarian Assistance (�é exato�) �AND� Haiti 982 538 0 Total 3309 1610 13

Procedimento análogo, delimitando a pesquisa apenas ao Haiti, foi adotado para as

palavras-chave na língua portuguesa, cujos resultados podem ser verificados na Tabela 5:

15 No presente trabalho, utilizou-se �Socorro a desastres� como a tradução de �Disaster Relief�. (BERTAZZO, BRITO JUNIOR, et al., 2013).

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Tabela 5- Pesquisa de artigos em português delimitada ao Haiti

Termo

Nr de artigos

resultantes da busca

Revisados por pares

Nº de Artigos

Selecionados

Indústria Militar (�é exato�) �AND� Haiti 2 2 2 Logística Militar (�é exato�) �AND� Haiti 2 2 2 Indústria de Defesa (�é exato�) �AND� Haiti 0 0 0 Logística de Defesa (�é exato�) �AND� Haiti 0 0 0 Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Haiti 0 0 0 Socorro a desastres (�é exato�) �AND� Haiti 26 10 0 Ajuda Humanitária (�é exato�) �AND� Haiti 70 40 0 Total 91 58 4

A comparação entre as tabelas 2 e 3 e 4 e 5 atesta uma ocorrência mais significativa de

artigos publicados na língua inglesa.

A seleção dos artigos prosseguiu por meio do cruzamento de palavras-chave, destinada a

delimitar a amplitude de publicações a serem consultadas para esta dissertação. Nesse sentido,

foram realizados cruzamentos envolvendo a expressão Logística Humanitária, em inglês e em

português. Na língua inglesa, foram inseridos no mecanismo de busca os seguintes termos,

todos antecedidos por ocasião da busca pela expressão-parâmetro (�é exato�) para

Humanitarian Logistics: Humanitarian Logistics �AND� Defense Industry, Humanitarian

Logistics �AND� Military Industry, Humanitarian Logistics �AND� Military. Os resultados

podem ser verificados por meio da Tabela 6:

Tabela 6- Cruzamento de �Humanitarian Logistics� com outras palavras-chave

Termo Nr de artigos resultantes da

busca

Revisados por pares

Nº de Artigos

Selecionados Humanitarian Logistics (�é exato�) �AND� Defense

Industry (�contém�) 43 40 11

Humanitarian Logistics (�é exato�) �AND� Defense

Industry (�é exato�) 2 2 2

Humanitarian Logistics (�é exato�) �AND� Military

Industry (�contém�) 73 70 0

Humanitarian Logistics (�é exato�) �AND� Military

Industry (�é exato�) 1 1 1

Humanitarian Logistics (�é exato�) �AND� Military

(�contém�) e (�é exato�)16

171 155 2

Total 290 268 16

16 Ao ser digitada a expressão Military, foram encontrados o mesmo número de artigos, seja mediante �contém� ou �é exato�.

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Já na língua portuguesa, foi adotado procedimento análogo ao que é descrito na Tabela

6, utilizando-se as seguintes expressões: Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Indústria

de Defesa (�é exato� e �contém�), Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Indústria Militar

(�é exato� e �contém�), Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Militares (�é exato� e

�contém�).

Uma análise dos dados coletados nas tabelas numeradas de 2 a 7 permite chegar a

algumas conclusões para conduzir a pesquisa na presente dissertação. Ao digitar a expressão

Defense Industry (�é exato�) foram encontrados 5.005 artigos em periódicos revisados por

pares. Já quando foi inserido no mecanismo de busca Military Industry (�é exato�), foram

achados 1.130 artigos. Logo, percebe-se a existência de mais de 6.000 artigos que contém em

sua estrutura textual as expressões Defense Industry e Military Industry. Quando foi digitada a

palavra-chave Humanitarian Logistics (�é exato�), foram encontrados 549 periódicos revisados

por pares.

Tabela 7- Cruzamento de "Logística Humanitária" com outras palavras-chave

Termo

Nr de artigos

resultantes da busca

Revisados por pares

Nº de Artigos

Selecionados

Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Indústria de Defesa (�contém�)

0 0 0

Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Indústria de Defesa (�é exato�)

0 0 0

Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Indústria Militar (�contém�)

0 0 0

Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Indústria Militar (�é exato�)

0 0 0

Logística Humanitária (�é exato�) �AND� Militares (�contém�) e (�é exato�)17

1 1 1

Total 1 1 1

A busca cruzada Humanitarian Logistics AND Defense Industry resultou em 40 artigos

revisados por pares, destes apenas dois apresentam a expressão �Defense Industry� de forma

exata. Por seu turno, a pesquisa cruzada Humanitarian Logistics AND Military Industry

apresentou 70 artigos revisados por pares, destes apenas um com a expressão �Military

17 Ao ser digitada a expressão Militares, foram encontrados o mesmo número de artigos, seja mediante �contém� ou �é exato�.

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Industry� de forma exata. A pesquisa cruzada mostra que de um total de 549 artigos revisados

por pares sobre Humanitarian Logistics, 110 (ou seja, 20%) contém Defense Industry ou

Military Industry e apenas três (ou seja, 0,54%) apresenta essas expressões de forma exata.

Os resultados desse levantamento bibliométrico demonstram uma clara carência de

estudos que versem ao mesmo tempo sobre os temas propostos na presente dissertação: logística

humanitária e indústria de defesa.

Outro procedimento adotado para a execução da dissertação foi a realização de

entrevistas, objetivando a coleta de dados para auxiliar no diagnóstico do tema, de forma a

permitir o desenvolvimento de precisão, focalização, fidedignidade e validade do objeto de

estudo (LAKATOS, 2003, p. 95). Em face da especificidade do assunto, o universo de

entrevistados foi constituído por Oficiais que participaram diretamente de OMP e/ou fizeram

parte (ou ainda fazem) de Órgãos de Direção Setorial (ODS) das Forças Armadas que tem

ligação mais estreita com o desdobramento de contingentes brasileiros para tais Operações.

Igualmente, foram conduzidas entrevistas com diretores comerciais e institucionais das

empresas fornecedoras de materiais e equipamentos empregados pelo contingente brasileiro.

O modelo para a execução das entrevistas encontra-se no anexo C, o que não implicou

na execução de indagações rígidas e estruturadas aos entrevistados. Na verdade, o modelo em

pauta serviu de roteiro, contribuindo para que todos os aspectos que façam uma correlação entre

as OMP e BID pudessem ser pontuados. Assim, cada ator envolvido no processo em questão

foi ouvido por meio de uma entrevista semi-estruturada, tendo em vista ser �mais flexível que

a entrevista estruturada e não tão amorfa quanto a entrevista não-estruturada� (MOORE, 2014,

p. 118).

Ademais, observou-se os passos metodológicos necessários para as entrevistas em

profundidade, ensinados por Cresswell (2007), a citar: a revisão da literatura escolar, o

estabelecimento de um protocolo de entrevista, a realização de um pré-teste, a identificação dos

entrevistados e a determinação de outros detalhes relacionados à entrevista, como o local, a data

e a hora.

O questionário foi outra técnica empregada na realização do trabalho, de forma a

permitir contato com maior número de militares e com as empresas públicas e privadas ligadas

à logística das OMP. Os questionários têm por objetivo apreender relações entre OMP com a

BID. O questionário apresentado no anexo A foi enviado à militares que servem ou serviram

em órgãos de direção setorial das Forças Armadas ligados à logística afeta às OMP e/ou

desempenham ou desempenharam funções logísticas em missões sob a égide da ONU. Já o

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questionário mostrado no anexo B foi encaminhado para empresas que compõem a BID

brasileira e que cujos produtos foram utilizados pelas FA no Haiti.

A organização desta Dissertação está estruturada na Introdução, já apresentada, no

Desenvolvimento e nas Considerações Finais.

O Desenvolvimento será constituído por três capítulos, a seguir descritos:

· O Capítulo 1 destina-se a apresentar as definições e pressupostos teóricos do presente

trabalho. O capítulo terá duas seções. Na primeira delas, apresentam-se conceitos relativos à

logística. Já a segunda seção contemplará conceitos relativos à base industrial de defesa,

enquanto que na terceira serão estudadas as Teorias das Relações Internacionais e suas

aplicações à política externa brasileira e às operações de paz que o Brasil tem participado;

· No Capítulo 2 será abordada a logística em operações de paz. O Capítulo terá duas

seções. A primeira delas estará voltada para a logística da ONU, principalmente sobre as

especificidades exigidas pela Organização para as OMP. A outra seção contemplará a

performance logística do Exército Brasileiro em operações de manutenção da paz, cujo escopo

é a MINUSTAH. Nesta seção, também serão apresentadas as aquisições de equipamentos, os

serviços prestados e a interface com a indústria nacional propiciada pela missão no Haiti. Sobre

este aspecto, ressalta-se que o escopo das operações de paz será tanto as OMP quanto operações

de ajuda humanitária.

· O Capítulo 3 versa sobre considerações sobre a base industrial de defesa

brasileira. Nesta parte do desenvolvimento apresenta-se o atual estágio da indústria de defesa

brasileira, particularmente nos setores que produzem componentes empregados em OMP.

Igualmente, foram analisadas a produção de componentes de defesa utilizados em missões de

paz por empresas civis, as quais não são, a priori, voltadas para a defesa. Por fim, procurar-se-

á confirmar se a participação do Brasil na MINUSTAH gera impactos positivos na BID

nacional.

Finalmente, nas Considerações Finais, serão reforçados os principais pontos abordados

no Desenvolvimento.

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CAPÍTULO 1 � DEFINIÇÕES E PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

A presente dissertação propõe-se a realizar uma integração entre logística e Base

Industrial de Defesa (BID) a partir das Operações de Manutenção da Paz (OMP). Por esta razão,

o capítulo 1 dedica-se à apresentação de definições e de pressupostos teóricos relativos sobre

logística e BID.

Na primeira seção, discorre-se de forma cronológica sobre a logística militar, em uma

discussão teórica na qual é salientado o progressivo aumento de sua importância para decidir

os combates ao longo dos séculos. Outrossim, ao se examinar a logística a empresarial, merece

destaque a sua interface com a vertente militar, em um processo de mútua reciprocidade e de

intercâmbio de melhores práticas, cujos exemplos mais marcantes são os conceitos de Supply

Chain Management e Perfomance Based Logistics. A seção ainda aborda a logística da

Organização das Nações Unidas (ONU) e a humanitária, fundamentais para a execução das

OMP.

A segunda seção, por sua vez, dedica-se à apresentação de conceitos e de definições da

BID, consoante com o referencial teórico de Amarante (2012). A partir do Iceberg Científico-

Tecnológico Militar, delimita-se o escopo da pesquisa realizada e apresentam-se como estão

situados na BID os Órgãos de Direção Setorial (ODS) do Exército Brasileiro. Ademais, foi

realizada uma discussão teórica na qual se apresenta a importância estratégica de BID como

instrumento voltado para o desenvolvimento nacional, ensejando uma política externa mais

autônoma.

1. 1. CONCEITOS RELATIVOS À LOGÍSTICA

1.1.1 Logística Militar e Logística Empresarial

A dinâmica do espaço de batalha exige a constante avaliação das capacidades

necessárias para que a Força Terrestre (FT) possa atuar nas Operações no Amplo Espectro. Tal

consideração traz implícito o desafio de conceber uma logística que seja capaz de ajustar-se à

multiplicidade de situações de emprego, com suas nuances e especificidades. Essa �logística na

medida certa� deve ser capaz de prever e prover o apoio em materiais e serviços necessários

para assegurar a FT a liberdade de ação, amplitude do alcance operativo e capacidade de durar

na ação (BRASIL, 2014b, p. 11).

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Por logística militar, depreende-se o conjunto de atividades relativas à previsão e à

provisão dos recursos e dos serviços necessários à execução das missões das Forças Armadas

(BRASIL, 2014b, p. 1-3).

O estudo da evolução da arte da guerra indica que desde priscas eras o sucesso em

campanha esteve atrelado à logística. Nesse sentido, Sun Tzu, há aproximadamente 2500 anos,

já identificava diversos tipos de fornecimento e/ou logística para viabilizar as guerras.

Posteriormente, Alexandre, o Grande - nas campanhas militares empreendidas por volta de 336

a.C. a 323 a.C. - incluiu o estudo da logística em seus planejamentos (RUTNER; AVILES;

COX, 2012).

Posteriormente, no século XIX, o general prussiano Carl Von Clausewitz, ao discorrer

sobre princípios de guerra, apontou sugestões para administrar os exércitos em períodos de

guerra. Em sua obra Der Krieg18 (Da Guerra, em tradução livre), Clausewitz define o que seriam

outras funções relacionadas ao combate, além da estratégia e da tática, voltadas para a

manutenção da tropa. Essas funções seriam a subsistência administração, o tratamento das

doenças, o reparo das armas e do equipamento e a construção das fortificações. Ressalta-se,

contudo, que o General não empregava a expressão �logística� (CLAUSEWITZ, 1997).

Posteriormente à Claussewitz, com o general suíço Antoine de Jomini já se percebe uma

definição para a expressão logística. Em �Princípios da Arte da Guerra�, ao definir o que é

estratégia e o princípio fundamental da guerra, Jomini estabelece que a arte da guerra,

independentemente de suas relações políticas e morais, consiste em cinco partes principais:

Estratégia, Grande Tática, Logística, Táticas das diferentes tropas e a Arte da Engenharia

(JOMINI, 1862, p. 44).

Ainda de acordo com Jomini, a logística é a arte de movimentar exércitos. Compreende

as ordens e os detalhes das marchas e dos acampamentos, e do aquartelamento e do suprimento

de tropas. Em resumo, logística seria a execução de empreendimentos estratégicos e táticos. A

logística compreende os meios e os arranjos empregados para elaborar os planos de estratégia

e de tática. Nesse sentido, o autor assinala que a estratégia decide onde agir, a logística traz as

tropas para este ponto, enquanto que as grandes táticas decidem o modo de execução e o

emprego das tropas (JOMINI, 1862, p. 51).

Em seus estudos, Jomini identificou que a logística era um método para ganhar

vantagem competitiva quase 200 anos antes de o setor empresarial chegar à mesma conclusão

(RUTNER; AVILES; COX, 2012). Por esta razão, tornou-se eternizada sua citação de que a

18 A obra fora organizada por sua esposa pós mortem.

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logística militar é tudo, ou quase tudo, no campo das atividades militares, exceto o combate.

Nesse sentido, a relevância da logística parece ter inspirado o general do Exército dos EUA

Omar Bradley - que se notabilizou pelo comando de exércitos no Norte da África e na Europa

durante a Segunda Guerra Mundial � a afirmar que "Amadores estudam estratégia, profissionais

estudam logística".19

Ainda segundo Jomini (1862), a palavra �logística� é derivada do título que era

concedido ao Major General Des Logis20. Tal título era concedido a um oficial cujo dever era,

primordialmente, alojar e acampar as tropas, dar direção às marchas de colunas e posicioná-los

no terreno.

Até a Segunda Guerra Mundial, a acepção de �logística� referia-se apenas à logística

militar, cujo interesse era suprir e transportar homens, animais, alimento, munição e

equipamentos. Uma das consequências do conflito iniciado em 1939 é a chamada logística

moderna. Durante a Segunda Guerra, a constante demanda por suprimentos para o combate

fomentou a capacidade dos militares para criar instalações autônomas perto das linhas de frente,

facilmente acessíveis por viaturas a partir de fontes maiores de suprimentos (RUTNER;

AVILES; COX, 2012; SLACK; CHAMBERS; JONHSTON, 2002).

O supracitado conflito proporcionou avanço significativo na área da logística, devido à

necessidade estratégica de movimentação de pessoas e suprimentos de guerra em dois teatros

de operações completamente distintos: o Pacífico e a Europa (SILVA; MUSSETI, 2003, p.

344). A interdependência entre estratégia, tática e logística militares, imprescindível para o

sucesso das operações em campo de batalha, tão evidenciada na Segunda Guerra Mundial,

tornou-se um conceito fundamental e aplicável à administração da logística empresarial

(SILVA; MUSSETI, 2003, p. 346).

Conforme Kress (2002), os três níveis de logística são semelhantes aos três níveis da

guerra � estratégico, operacional e tático:

a. Logística estratégica: refere-se ao conjunto de atividades diretamente relacionadas

com o esforço realizado pelas autoridades políticas e militares, envolvendo organizações

militares e civis, assim como as indústrias, para garantir a sustentação das forças militares.

19 Em contrapartida aos ensinamentos de Clausewitz e, principalmente, de Jomini, a história dos combates mostra casos de destacados chefes militares que tiveram graves consequências operacionais militares por desprezarem a logística. Nesse sentido, Kress (2002) salienta casos em que a inobservância de um planejamento logístico dificultou severamente ou, ainda, impossibilitou, o cumprimento dos objetivos políticos por meio da campanha militar, como ocorreu com o George Washington, na Guerra de Independência Norte-Americana; Napoleão, na Espanha e, principalmente, na campanha contra a Rússia; e o General Macarthur, na Guerra da Coréia. 20 Para maiores detalhes, consultar o capítulo VI da obra, dedicado integralmente à logística ("Logística, ou a arte prática dos exércitos em movimento"),

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Inclui, conceitualmente, atividades como a prospecção de novos equipamentos, sistemas e

metodologias, aquisições de equipamentos, projeção da força, mobilidade estratégica e

concentração estratégica de recursos no Teatro de Operações (TO).

b. Logística operacional: foca-se no estabelecimento e manutenção das linhas de

comunicação e na sustentação da força militar no TO, estabelecendo a ligação entre os níveis

estratégico e tático, incluindo as atividades de melhoramento de infraestruturas, gestão e

distribuição das reservas do TO, melhoramento e recuperação de recursos materiais e humanos,

e estabelecimento de contratos

c. Logística tática: compreende atividades básicas e práticas que facilitam a "produção"

de ganhos militares. A Logística tática sustenta as tropas, fornece-lhes matéria-prima (munições

e combustível) e mantém seus equipamentos, sendo utilizada para afetar a batalha em progresso.

Após a Segunda Guerra Mundial, a palavra logística foi, progressivamente,

desvinculando-se do significado de apoio exclusivo às forças militares em operações e à

Segurança Nacional, envolvendo hoje ações das mais variadas naturezas, não se cingindo

somente às ações de guerra. Em consequência, o conceito de logística foi ampliado em sua

dimensão, extravasando a Expressão Militar e fazendo-se presente em todas as Expressões do

Poder Nacional (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2009)21.

A partir dos anos de 1950, diversas modificações no cenário mundial ensejaram o que

se pode definir como a separação entre a logística militar e a logística empresarial. Destaques

no campo da tecnologia, como o surgimento do computador e o progresso dos meios de

comunicação, vão ao encontro desta tendência. As empresas passaram a incluir conceitos de

desempenho ligados à prestação de serviços, valorizando, assim, a logística e integrando-a às

atividades de manufatura e de marketing (SILVA; MUSSETI, 2003).22

Para definir o que passou a ser denominado logística empresarial, Bowersox e Closs

(2001) por meio da abordagem do processo de integração da cadeia de suprimentos, consideram

que esta acepção da logística inclui todas as atividades de movimentação de produtos e a

transferência de informações de, para e entre participantes de uma cadeia de suprimentos. A

logística participa de todas as atividades da cadeia de suprimentos, desde a obtenção do insumo

até a distribuição do produto final ao cliente.

21 O Manual Básico da Escola Superior de Guerra define as seguintes Expressões do Poder Nacional: Política, Econômicas, Psicossocial, Militar e Científico-Tecnológica (ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, 2014, p. 60). 22 Durante os anos 1960, o ambiente produtivo é influenciado por uma nova realidade: o setor de marketing consolida-se e passa a exercer forte pressão sobre a produção. Além disso, a manufatura ganha importância estratégica e as preocupações voltam-se para os materiais, estoques e compras, que são incorporados às atividades de transportes e de distribuição física (RUTNER; AVILES; COX, 2012).

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O Council Of Supply Chain Management Professionals (Conselho de Profissionais de

Gestão da Cadeia de Suprimento - CSCMP) apresenta uma definição mais ampla. Sendo assim,

conforme essa instituição, logística é o processo de planejamento, implementação e controle de

procedimentos para o transporte eficiente e efetivo e armazenamento de bens, incluindo

serviços, e informações relacionadas desde o ponto de origem até o ponto de consumo com a

finalidade de atender às exigências do cliente. Esta definição inclui movimentos de entrada, de

saída, internos e externos (COUNCIL OF SUPPLY CHAIN MANAGEMENT

PROFESSIONALS, 2013, p. 117).

A partir do fim da década de 1980 até o início dos anos 1990, os novos processos de

administração aplicados nesse período (customização, qualidade, just-in-time, gestão

estratégica, etc.) proporcionam destaque à logística no planejamento estratégico das empresas,

assumindo uma função de integração e coordenação de atividades de diferentes áreas. O

interesse acadêmico e o de associações profissionais estimulam discussões e propiciam

contribuições práticas para as organizações empresariais de logística ou com funções dessa

atividade em sua estrutura (SILVA; MUSSETI, 2003).

Ao estudar a evolução da logística militar, percebe-se o quanto ela influenciou a

logística empresarial. Nesse sentido, a integração da manufatura ao esforço bélico em tempo de

guerra proporcionou avanço significativo para a logística militar e despertou a atenção das áreas

acadêmica e empresarial. A evolução recente do conceito de logística esteve relacionada ao

crescimento gradativo da aplicação dessa atividade na área empresarial (SILVA; MUSSETI,

2003). Frisa-se, todavia, que segundo Yoho, Rietjens e Tatham (2013) a Logística de Defesa é

uma área carente de pesquisadores.23

Assim como as melhores práticas em atividades estritamente militares foram aplicadas

na logística empresarial, o processo inverso ocorreu por meio da privatização e da terceirização.

No estudo intitulado �Does the future of military logistics lie in outsourcing and privatization?�

(o futuro da logística militar reside na terceirização e na privatização?, em tradução livre),

Cardinali (2001) aponta os prós e os contras da privatização e de terceirização de funções

logísticas militares por firmas contratadas no meio civil.

No que diz respeito à privatização, o autor analisou as atividades dos depósitos de

manutenção de material de defesa dos EUA, nos quais grande parte da manutenção é provida

23 Os referidos autores, no artigo �Defence logistics: an important research field in need of researchers� demonstram a escassez de trabalhos acadêmicos referentes à Logística de Defesa. Em outro trabalho, Rutner, Aviles e Cox (2012) demonstram o �descompasso� entre a evolução das formulações referentes à Logística de Defesa em comparação com a logística empresarial.

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pelo governo, e apenas os artigos não-essenciais estão sujeitos a competição com o setor

privado, em que vence a melhor oferta. Quanto à terceirização, Cardinali (2001) salienta que

ela aumenta a capacidade operacional das forças militares para a atividade-fim. Todavia, em

caso de emergência ou situação contingencial, o pessoal contratado pode ser obrigado a

executar serviços em um teatro de operações hostil, o que requer uma avaliação do risco ao

pessoal e à própria operação.

Ao se estudar a evolução da logística, particularmente a interface entre a militar e a

empresarial, merece atenção os exemplos recentes de guerras empreendidas pelos EUA. Suas

Forças Armadas foram empregadas, simultaneamente, em um país sem saída para o mar

(Afeganistão) e no Iraque, ao mesmo tempo em que era mantido o apoio às suas bases militares

que se estendem desde a península coreana até a Europa e a África. Ressalta-se que o apoio a

todas as tropas desdobradas ocorreu sem grandes falhas de logística (RUTNER; AVILES;

COX, 2012). Não por acaso, Rutner, Aviles e Cox (2012) demonstram que há uma recente

evolução no pensamento em Logística de Defesa justamente em períodos marcados por grandes

operações militares: Guerra do Golfo de 1991 e as recentes guerras no Iraque e no Afeganistão.

Para atender suas demandas em logística de defesa, os EUA haviam concebido, em

1985, o Logistics Civil Augmentation Program (LOGCAP) - Programa de Expansão da

Logística Civil, em tradução livre. O LOGCAP utiliza empresas civis contratadas para realizar

ou complementar tarefas de apoio logístico às forças militares em operações de guerra ou de

não-guerra, atendendo ao mandato do Exército como força de projeção de poder (SILVA;

MUSSETI, 2003, p. 348). Dessa forma, a logística insere-se na estratégia de projeção do poder

dos EUA, que demanda uma sustentação das Forças Armadas a longo prazo, não apenas quando

elas são desdobradas em teatros de operações. Para isso, faz-se necessário uma base industrial

flexível e ativa, capaz de desenvolver, produzir e apoiar sistemas de armas em tempo de paz.

Prosseguindo nessa interface entre a logística empresarial e a militar, e vice-versa,

realizou-se um estudo nos EUA, voltado para a otimização dos custos da defesa. Esta pesquisa

apontou que cerca de 70% do dinheiro gasto com um sistema de armas é usado para logística e

manutenção, o que significa que apenas 30% do valor investido durante todo o ciclo de vida do

sistema é gasto em sua aquisição. Infere-se que qualquer tentativa de redução de custos

relacionados à equipamentos perpassa por estudos relacionados à logística de prestação de

serviços, principalmente de manutenção e fornecimento de peças de reposição (GLAS;

HOFMANN; ESSIG, 2011). Dessa forma, fazem-se necessárias nova abordagens estratégicas,

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dentre elas a Performance-Based Logistics (PBL) (Logística Baseada em Performance, em

tradução livre).

A logística baseada em performance trata do problema de custos relativos ao suporte de

sistemas complexos como aeronaves, infraestrutura e sistemas de armas na cadeia de

suprimento de defesa (GLAS; HOFMANN; ESSIG, 2011). O PBL faz parte de uma família de

estratégias, tais como a contratação baseada na performance e o pagamento pela performance,

cuja essência é uma mudança da compra de produtos e serviços discretos para a compra de

desempenho (RANDALL, 2013; MIRZAHOSSEINIAN; PIPLANI, 2011).

O sistema de PBL apresenta diversas vantagens, tais como o estímulo à competição

interna, eliminando o desperdício e melhorando a qualidade; o favorecimento de contratos de

longo prazo para incentivar o investimento; a otimização da gestão de bens que são difíceis de

prever estatisticamente; e a criação de resultados ótimos ao lidar com incerteza e diferentes

restrições (RANDALL, 2013, p. 330). Dessa forma, o PBL constitui-se em um exemplo de

melhores práticas da logística militar que pode ser aplicado na logística empresarial. No que

diz respeito à indústria de defesa do Brasil, o PBL pode representar importante passo para a

redução do custo dos produtos finais destinados às Forças Armadas.

Por fim, faz-se necessário mencionar outro conceito que, na verdade, encerra a logística:

a Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Managment-SCM). Evans e Danks (1998)

relatam que o termo SCM já era utilizado desde a década de 1970, para representar a integração

necessária entre os almoxarifados/armazéns e o transporte nos processos de distribuição. Já

Cooper, Lambert e Pagh (1997) relataram que executivos de corporações líderes em seus

segmentos e que têm implementado o estado-da-arte em SCM entendem que ela abrange um

escopo maior de processos e funções que a logística.

A SCM engloba o planejamento e o gerenciamento de todas as atividades envolvidas na

terceirização e aquisição, conversão e todas as atividades de gerenciamento logístico. Ela inclui

também a coordenação e colaboração com parceiros de canal, que podem ser fornecedores,

intermediários, prestadores de serviços de terceiros e clientes. Em essência, o gerenciamento

da cadeia de suprimentos integra a gestão da oferta e da demanda dentro e entre empresas

(COUNCIL OF SUPPLY CHAIN MANAGEMENT PROFESSIONALS, 2013, p. 187).

Supply Chain Management é uma função de integração com a responsabilidade primária

de vincular as principais funções empresariais e processos de negócios dentro e entre as

empresas em um modelo de negócios coesos e de alto desempenho. Inclui todas as atividades

de gerenciamento de logística mencionadas acima, bem como operações de manufatura, e

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impulsiona a coordenação de processos e atividades com e através de marketing, vendas, design

de produto, finanças e tecnologia da informação (COUNCIL OF SUPPLY CHAIN

MANAGEMENT PROFESSIONALS, 2013, p. 187; PELTZ; ROBBINS; MCGOVERN, 2012;

RUSSELL, 2011).

A aplicação de princípios de logística militar em atividades similares na área civil

apresenta semelhanças entre a obtenção de vantagem estratégica e operacional em ações bélicas

e a obtenção de vantagem estratégica competitiva sobre os concorrentes na área empresarial.

Em contrapartida, a utilização da experiência do setor privado, como na terceirização de

funções logísticas, pode contribuir para atenuar as deficiências conjunturais de escassez de

recursos e redução de efetivos militares. Nos anos de 1990, os casos experimentados pelos EUA

em diversos continentes e situações possibilitaram uma validação do uso de empresas

contratadas para apoiar as atividades logísticas em qualquer contingência de projeção de poder

(SILVA; MUSSETI, 2003, p. 350).

Em vista do que se expôs, a acepção inicial de logística referia-se somente ao

fornecimento dos meios para o combate, o que persistiu até a Segunda Guerra Mundial. Após

o fim deste conflito, a nova configuração geopolítica mundial somada às modificações

tecnológicas vicejaram a separação entre a logística militar e a logística empresarial, em um

processo em que esta recebeu da vertente voltada para a guerra diversas influências. Em

contrapartida, a partir da década de 1980, ocorre uma reversão neste processo e a logística

militar passa a incorporar melhores práticas da logística empresarial, cujos exemplos mais

marcantes são o PBL e a SCM.

1.1.2 Logística da ONU e Logística Humanitária

A ONU define logística como a ciência do planejamento e execução da administração,

movimento e manutenção de forças e materiais necessários em uma missão e inclui atividades

relacionadas a serviços de comunicações, engenharia e aviação. No seu sentido mais

fundamental, a logística é a arte de transportar, alojar, fornecer e prestar apoio técnico às tropas

militares (UNITED NATIONS, 2010).

No entanto, no contexto das operações da ONU, como o apoio é muitas vezes necessário

para o pessoal não militar, aquela definição tem um sentido mais amplo. Assim, a definição de

logística das Nações Unidas abrange não apenas as necessidades das unidades militares e

policiais, mas também do pessoal civil relacionado originário de 192 países diferentes e com

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culturas muito diversas. Dessa forma, o contexto logístico das operações da ONU inclui o apoio

a ser prestado à polícia, ao pessoal de numerosas agências das Nações Unidas, bem como a

especialistas civis que servem em missões com múltiplos propósitos (BAIG, 2010).

Assim como o setor privado, os humanitários tiveram que olhar para além da logística

básica e usar a abordagem de SCM para coordenar os diferentes atores envolvidos em uma

operação de socorro. Usar a abordagem de SCM oferece a oportunidade de otimizar o

desempenho logístico ao nível inter-organizacional. Ademais, obriga as empresas a escolherem

quais capacidades ao longo da cadeia de valor devem investir e desenvolver internamente e

quais as atividades a serem alocadas para o desenvolvimento de fornecedores. Observa-se que

o uso de técnicas de SCM está se tornando cada vez mais popular em operações de ajuda

humanitária (TOMASINI; WASSENHOVE, 2009).

Tomasini e Wassenhove (2009) salientam, contudo, que a cadeia de suprimento

humanitária deve-se adequar às peculiaridades das missões de ajuda humanitária ou socorro a

atingidos por catástrofes. Segundo os autores, nessas missões: os objetivos são ambíguos; os

recursos disponíveis são limitados; os recursos humanos possuem alta rotatividade; os recursos

financeiros nem sempre estão disponíveis; a infraestrutura (afetada por catástrofes) muitas

vezes é inexistente ou insuficiente; e a urgência para a resolução dos problemas é aguda. Além

disso, existe elevada incerteza, na medida em que cada desastre reúne um novo conjunto de

atores com diferentes recursos e níveis de comprometimento. Adicionalmente, muitas vezes as

missões ocorrem em ambiente politizado, marcado por conflitos de diferentes origens e

características.

Faz-se necessário também abordar algumas diferenças entre as acepções de logística no

que concerne às operações de ajuda humanitária. A Logística Militar Humanitária pode ser

definida como as funções, dentro do ramo da logística militar, que lidam com as fases de

preparação e resposta a um desastre. Já a logística militar de emergência abrange o processo de

planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e armazenagem de mercadorias e

material, bem como a provisão de apoio de engenharia de infraestrutura (ZEIMPEKINS;

ICHOUA; MINIS, 2013). Por outro lado, há igualmente semelhanças entre a logística militar e

a humanitária: ambas têm padrões de demanda dinâmicos e incertos, enfrentam dificuldades

devido à degradação da infraestrutura física local - assim como a ausência de certas funções

governamentais. Os dois tipos de ambientes são similarmente caracterizados pelo atendimento

de feridos e vítimas com trauma e ambos estão sob constante observação dos meios de

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comunicação (BALCIK et al., 2010; KOVACS; TATHAM, 2009; TATHAM; PETTIT, 2010

apud HEASLIP; BARBER 2013, p. 65).

A prontidão é a chave para o sucesso às respostas a desastres (KOVÁCS; SPENS, 2009;

PETTIT; BERESFORD, 2005; RUTNER; AVILES; COX, 2012; KOVÁCS; SPENS, 2007;

PETTIT; BERESFORD, 2009; HEASLIP; BARBER 2013) e incorpora cinco exigências chave

do Supply Chain: estabelecimento de uma abrangente rede de gerenciamento e coordenação de

desastres; estabelecimento de operações logísticas e do processo de gerenciamento;

gerenciamento dos recursos humanos; gerenciamento do conhecimento e preparação dos

recursos financeiros (WASSENHOVE, 2006).

Em vista do que se expôs, a logística empregada em missões humanitárias, em um

contexto de Humanitarian Supply Chain Management, reúne as especificidades do SCM

empresarial, adaptadas a ambientes hostis. A revisão da literatura realizada, não exaustiva,

mostrou que a evolução do SCM apresenta contribuições muito importantes para a logística

humanitária, a qual é complementada pelo relevante papel desempenhado pela logística

desdobrada quando militares são empregados em operações de ajuda humanitária.

1.2 BASE INDUSTRIAL DE DEFESA

1.2.1 Base Industrial de Defesa: Conceitos e Definições

A BID pode ser entendida como uma pirâmide na qual coexistem as infraestruturas

Científica, envolvendo atividades de ensino e pesquisa básica; Tecnológica, responsável por

atividades de pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e avaliação; e Industrial, atuando

em projeto; fabricação de produtos e criação de serviços; e logística (HECK; AMARANTE,

2013, p. 53). Na figura 1, é apresentada a pirâmide da BID, também definida por Amarante

(2012) como o "Iceberg" Científico-Tecnológico Militar.

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Figura 1- Base Industrial de Defesa ou o "Iceberg" Científico-Tecnológico Militar

Fonte: (HECK; AMARANTE, 2013).

De acordo com o LBDN, aprovado em julho de 2012, a BID também pode ser definida

como um conjunto de indústrias e empresas nacionais, instaladas no país, organizadas em

conformidade com a legislação brasileira e que participam de uma ou mais etapas de pesquisa,

desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de produtos de defesa (BRASIL, 2012c,

p. 210). As indústrias de defesa, públicas e privadas, estão representadas no nível das empresas

industriais no �iceberg�, enquanto que as empresas de serviços são os órgãos de direção setorial

das Forças Armadas ligados à logística de material e suas unidades subordinadas (HECK;

AMARANTE, 2013, p. 54).

De forma a delimitar a definição de BID para o presente estudo, procurou-se também o

conceito apresentado no Mapeamento da Base Industrial de Defesa. De acordo com tal

publicação, o escopo da BID concentra-se nas empresas que ofertam bens e serviços militares,

deixando de lado diversas empresas que comumente seriam incluídas em outras análises na

área, como empresas fornecedoras de suprimentos ou equipamentos estritamente civis às Forças

Armadas (ANDRADE, 2016, p. 12). Tal definição (que passa doravante a ser adotada no

presente trabalho) é contrária, por exemplo, a análise de Hartley (2007), que sustenta que a BID

é composta tanto por número reduzido de grandes empresas integradoras como por milhares de

micro, pequenas e médias empresas fornecedoras de partes e subsistemas.

De forma a melhor compreender a BID, faz-se necessário apresentar seus principais

segmentos. Para Amarante (2012), uma indústria de defesa (ID) sozinha não possui condições

para estabelecer a capacitação nacional de abastecimento de produtos e serviços militares. Na

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realidade, essa capacitação somente será atingida na sua plenitude se toda a infraestrutura de

Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) for devidamente estabelecida, ativada e trabalhada

integradamente.

Conforme Amarante (2012), sobre os centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D),

estaria o órgão de engenharia, também denominado Base Infraestrutural, o qual utiliza

conhecimentos já disponíveis que, destarte, não necessitam de esforços adicionais de

pesquisa.24 Assentada sobre a Base Infraestrutural, tem-se a ID, que recebe igualmente o nome

de Base Industrial. Ela é a estrutura responsável pela fabricação de todos os meios (produtos e

serviços) de uso militar.25 Esses meios precisam ser colocados em operação e disponibilizados,

efetivamente, para o emprego na defesa nacional. Dessa forma, tem-se a ligação entre logística

e BID.26

Referente a participação do EB na logística da BID, é lícito aprofundar a definição de

Amarante (2012). Nesse sentido, existe uma divisão de atribuições entre alguns dos órgãos de

direção setorial no que diz respeito à aquisição, distribuição e manutenção dos materiais e

equipamentos de defesa, de acordo com as classes de suprimento na Força Terrestre:

Tabela 8- Gestão das Classes de Suprimento da Força Terrestre para OMP

CLASSE DESCRIÇÃO ÓRGÃO RESPONSÁVEL I Subsistência, incluindo ração animal e água.

Comando Logístico (COLOG) II

Intendência, englobando fardamento, equipamento, móveis, utensílios, material de acampamento, material de expediente, material de escritório e publicações. Inclui vestuário específico para Defesa Química, Biológica Radiológica e Nuclear (DQBRN).

24 No nível de engenharia militar, operam no Brasil, atualmente, os seguintes órgãos vinculados às Forças Armadas: o Departamento de Engenharia e Construção (DEC) e seus Batalhões de Engenharia de Construção, no Exército Brasileiro (EB); a Diretoria de Engenharia Naval (DEN) e o Centro de Hidrografia da Marinha (CHM); e a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), na Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) (AMARANTE, 2012). 25 No nível de produção de artefatos e serviços militares, funcionam no país atualmente as seguintes instituições públicas: a Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel) e os Arsenais de Guerra do Rio de Janeiro (AGR) e de São Paulo (AGSP), na fabricação de meios militares terrestres; e a Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron) e o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), na fabricação de meios militares navais (AMARANTE, 2012). A ID também engloba diversas empresas no país, em grande parte reunidas na Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde). As empresas mais relevantes do setor fazem parte desta associação, tais como: Embraer, Imbel, Emgepron, Avibras, Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), Odebrecht Defesa e Tecnologia, Mectron, Condor, Atech, Agrale, Forjas Taurus, Helibras, Inbrafiltro, Universal, Orbisat, dentre outras (AMARANTE, 2012). 26 No nível de serviços logísticos de finalidade militar, operam hoje no Brasil os seguintes órgãos diretamente vinculados às Forças Armadas: o Comando Logístico (COLOG) e os parques regionais de manutenção, no caso do EB; o Departamento de Material de Marinha e o AMRJ; e o Departamento de Material da Força Aérea e os seus diversos parques de manutenção (AMARANTE, 2012).

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III Combustíveis, óleos e lubrificantes (sólidos e a granel).

IV Construção, incluindo equipamentos e materiais de fortificação.

Departamento de Engenharia e Construção (DEC)

V Armamento e munição (inclusive DQBRN), incluindo foguetes, mísseis, explosivos, artifícios pirotécnicos e outros produtos relacionados.

COLOG

VI Engenharia e cartografia DEC

VII Tecnologia da informação, comunicações, eletrônica e informática, incluindo equipamentos de imageamento e de transmissão de dados e voz.

Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do

Exército (Cmdo Com GE Ex)27

VIII Saúde (humana e veterinária), inclusive sangue. Diretoria de Saúde

(D Sau)28

IX Motomecanização, aviação e naval. Inclui material para DQBRN.

COLOG X

Materiais não incluídos nas demais classes, itens para o bem estar do pessoal e artigos reembolsáveis.

Fonte: (BRASIL, 2014b, p. 3-5).

O presente trabalho, ao abordar a BID, estará concentrado nos dois últimos degraus do

Iceberg Científico-Tecnológico Militar e, sobretudo, no produto, conforme demonstra a Figura

1. Entretanto, ao analisar os componentes produzidos pela indústria de defesa nacional, a cargo

de empresas públicas e privadas, é lícito apresentar a participação dos órgãos de direção setorial

do EB que participam desse processo, conforme descrito na Tabela 8.

Em vista da complexidade e diversidade de órgãos envolvidos na BID, infere-se que seu

progresso resultaria no desenvolvimento econômico nacional, o que, de certa forma, remete a

discussão acerca do binômio segurança x desenvolvimento introduzida ainda na Era Vargas

(GOLDONI, 2011; MOURA, 1980). Sobre esse aspecto, Leske (2013) ressalta as formas como

a BID pode afetar a economia, as quais podem ser positivas (mediante a geração de empregos)

ou negativas (ao desviar recursos de outras áreas como saúde e educação). Entre as

externalidades positivas, está a transferência de tecnologia, ou também seu processo inverso,

adquirindo tecnologias para o desenvolvimento de sistemas de armas.

A experiência internacional dos países que têm a área de defesa como elemento

importante de seus sistemas nacionais de inovação mostra que a participação relativa da

demanda militar interna no faturamento das empresas do complexo produtivo militar é

relativamente significativa. No Brasil, infelizmente, tal processo não ocorre; o componente da

27 O Cmdo Com GE Ex é delegado para esta atribuição pelo Órgão de Direção Setorial (ODS) a que está subordinado: Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT). 28 A D Sau é subordinada ao Departamento Geral de Pessoal (DGP), sendo delegada por este ODS para o gerenciamento do suprimento de saúde no âmbito do Exército Brasileiro.

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demanda militar interna é insignificante no faturamento das empresas do complexo (LESKE;

CASSIOLATO, 2014).

O percentual da participação das Forças Armadas como fonte de faturamento das

empresas é muito baixo, não chegando nem a 10%, o que ajuda a compreender porque a

indústria tem tido dificuldades em se manter ao longo das duas últimas décadas (LESKE;

CASSIOLATO, 2014). Ademais, as vendas para o exterior são mais importantes para as

empresas do que aquelas realizadas para as Forças Armadas (LESKE, 2013). Sobre este

aspecto, Andrade (2016, p. 17) salienta que os principais compradores de bens de defesa

brasileiros entre os anos de 2000 e 2010 foram Colômbia, Equador e Chile, totalizando cerca

de 48% das exportações do setor. A missão no Haiti, na qual conviviam lado a lado diversos

países latino-americanos sob a liderança do Brasil, poderia representar uma oportunidade para

fomentar a indústria de defesa nacional.

Conforme diagnóstico da ABDI:

[...] a perspectiva de expansão da demanda por Produtos Estratégicos de Defesa � por conta dos novos programas de reaparelhamento e adequação das Forças Armadas Brasileiras inseridos na Estratégia Nacional de Defesa � oferece uma excelente oportunidade para capacitação, expansão, diversificação e fortalecimento da BID nacional (FERREIRA; SARTI, 2011, p. 40).

Consoante com essa afirmação, as OMP podem representar possiblidades de fomento

à BID, haja vista a logística que é mobilizada para o envio de tropas brasileiras para o exterior.

1.2.2 Base Industrial de Defesa e Política Externa

No que concerne à importância da BID, é lícito mencionar o prefácio do embaixador

José Maurício Bustani na obra �Indústria de defesa e desenvolvimento estratégico: estudo

comparado França-Brasil�. Conforme o embaixador, o complexo industrial e tecnológico de

defesa constitui fonte de autonomia estratégica, indispensável ao próprio sonho de

desenvolvimento nacional e à emergência do Brasil como ator-chave no plano mundial. Ao

mesmo tempo em que assegura a proteção adequada e necessária do território e de seu povo, ao

criar instrumentos de dissuasão, uma indústria de defesa constitui alavanca importante para o

desenvolvimento, tanto do ponto de vista da produção e da geração de empregos como dos

desdobramentos tecnológicos para a economia como um todo, que vai, portanto, muito além do

próprio setor de defesa (BUSTANI, 2015). Ainda conforme o embaixador, a consolidação de

uma base industrial e tecnológica de defesa tem de ser um projeto de Estado, que mobilize todos

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os atores competentes, na Presidência, no Congresso, nos ministérios da Defesa, da Indústria e

Comércio Exterior, de Ciência e Tecnologia, de Relações Exteriores, além, evidentemente, das

Forças Armadas, dos centros tecnológicos e das universidades.

Cepik (2014) salienta a necessidade de uma mudança no perfil do orçamento de defesa,

com fortes investimentos para a aquisição de sistemas de armas e desenvolvimento de uma base

industrial de defesa, assim como desdobramentos das políticas e doutrinas em projetos de força,

de forma a contribuir para a modernização das Forças Armadas brasileiras. Neste sentido, o

parâmetro das capacidades combatentes e o parâmetro do orçamento de defesa convergem para

constituir a próxima etapa de desafios a serem superados na política de defesa do Brasil

(CEPIK, 2014).

A BID é reflexo do desenvolvimento econômico e militar de uma nação. Sobre este

aspecto, Bandeira (2009) assegura que a extensão territorial, o poder econômico e o poder

militar são três fatores que devem ser considerados para qualificar um país como potência e

compreender sua posição na hierarquia entre Estados. Estes são os fatores que permitem a um

Estado atuar independentemente e influir sobre outros e, portanto, determinar em que condições

ele se expressa como potência regional internacional.

O autor salienta ainda que um Estado, dispondo de potencial econômico, força militar e

extensão territorial pode tornar-se hegemônico, o líder e o guia de um sistema de alianças e

acordos de variado alcance. Ademais, faz-se necessário que o Estado tenha capacidade de

exercer pressão diplomática, o que implica capacidade para obter parte do que poderia ser o

resultado de uma guerra vitoriosa, sem a necessidade de, efetivamente, entrar em combate

(BANDEIRA, 2009, p. 77). Tal assertiva remete ao pensamento de Sun Tzu (2007), que

afirmava que a suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar, ressaltando a importância

dos aspectos geográficos, militares e econômicos como um instrumento dissuasório para uma

nação.

Carvalho (2013), ressalta que a mais importante característica da indústria de defesa de

uma nação, ainda que intangível, refere-se ao poder de dissuasão geopolítica que ela lhe

propicia. Uma indústria de defesa desenvolvida viceja um maior poder de negociação e de

barganha dos interesses, o que aumenta, por conseguinte, o poder militar de um Estado

(CARVALHO, 2013).

Consoante com a importância do potencial econômico para um Estado, a BID pode ser

considerada um instrumento de pressão diplomática, vicejando a condução de uma política

externa mais assertiva. Sobre esse aspecto, no governo do General Ernesto Geisel (1974-1979)

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foi conduzida uma política externa mais ousada, representando a forma mais desenvolvida do

paradigma da diplomacia do regime militar brasileiro (VISENTINI, 2004, p. 197). A

originalidade do pragmatismo responsável situa-se no fato dele respaldar uma política de

autonomização econômica que não existia antes e da resposta imediata e ousada aos desafios

gerados pela crise internacional (VISENTINI, 2004, p. 211, 212). A assertividade quase

agressiva do Pragmatismo Responsável e Ecumênico era baseada em uma infraestrutura

econômica que sustentava o discurso e a prática diplomática.

O Pragmatismo Responsável e Ecumênico colocava a política externa como vetor de

um projeto de desenvolvimento que visava autonomia em termos industriais e energéticos

(VISENTINI, 2004, p. 213). Isso gerou atritos entre a diplomacia brasileira e o governo norte-

americano em dois planos, o econômico e o político. Na esfera econômica, a disputa residia no

esforço brasileiro em aumentar a venda de manufaturados para os EUA, bem como o

desinteresse americano em uma reforma do sistema comercial e financeiro internacional. Já no

campo político, os conflitos se estabeleceram em duas questões: a tecnologia nuclear e os

direitos humanos (VISENTINI, 2004, p. 214).

Na década de 1970, o Brasil produziu 80% do seu material bélico, importando os 20%

restantes de diferentes países com mínima participação americana (VISENTINI, 2004, p. 223).

Nesse sentido, pode-se afirmar que a postura assertiva da diplomacia brasileira em relação aos

EUA somente pôde ser adotada porque havia sólidos elementos de hard power na indústria de

defesa nacional.

O desenvolvimento da indústria bélica norteou boa parte da política externa brasileira

durante o regime militar. A capacidade industrial instalada possibilitou adotar uma agressiva

estratégia comercial, que destinava 95% de sua produção bélica ao mercado externo. Em 1984,

a indústria de defesa era uma das principais vedetes da política brasileira para a geração de

crescentes superávits comerciais (VISENTINI, 2004; AMARANTE, 2012; LESKE, 2013).

A prioridade acordada à indústria bélica nacional foi um dos eixos da política

governamental durante o regime militar. O presidente Figueiredo sancionou, em junho de 1982,

a lei que criava a Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), vinculada ao Ministério

da Marinha e sediada no Rio de Janeiro. A Emgepron completava, ao lado da Imbel e da

Embraer, o tripé do nascente complexo industrial-militar brasileiro (VISENTINI, 2004;

AMARANTE, 2012). Em 1984, a indústria bélica nacional bateu o recorde de exportação,

vendendo cerca de 1,2 bilhão de dólares em armamentos (VISENTINI, 2004).

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A política externa do Regime Militar, num sentido mais amplo, encontra-se associada à

noção de Projeto Nacional, que buscava elevar a posição do Brasil no cenário internacional

através da industrialização do país e de sua transformação numa potência média. Isso permitiu

ao Brasil tornar-se o único país ao sul do Equador a possuir um parque industrial completo e

moderno, posicionando-se entre as dez maiores economias do mundo (VISENTINI, 2004).

O desenvolvimentismo do período dos Governos Militares (1964-1985) ainda floresceu

no governo de José Sarney e as exportações de materiais bélicos da indústria nacional de defesa

foram ampliadas. De acordo com Pereira (2010), o Brasil assinou em 1986 um contrato no valor

de 150 milhões de dólares com Angola para a venda de caminhões militares fabricados pela

Engesa. Era a primeira vez que o Brasil negociava equipamentos bélicos com este país

(PEREIRA, 2010).

O governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) representou um retrocesso para o

desenvolvimentismo nacional que remonta à �Era Vargas�29. A noção de soberania também foi

deixada de lado, em nome da adesão à globalização, aceita como �inevitável� e mesmo

desejável. O resultado foi o encolhimento da diplomacia brasileira e a dilapidação do

patrimônio acumulado nesta área ao longo de décadas (VISENTINI, 2005). Conforme

apresentado na introdução do presente trabalho, a indústria de defesa foi ainda mais atingida, o

que ficou materializado pela falência da Engesa em 1993. A indústria de defesa não se constituía

mais em um esteio para a condução de uma política externa mais assertiva, como ocorrera nos

Governos Militares.

A partir do segundo mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso (1999 a 2003)

e em todo o período da presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (2003�2011), ocorre uma

evolução do modelo brasileiro de inserção internacional, no que Amado Cervo e Clodoaldo

Bueno (2015) definem como o paradigma logístico de inserção internacional. Cardoso, o

neoliberal que se tornou cético ao elaborar o conceito de globalização assimétrica, ao ensaiar,

na segunda metade de seu governo tal paradigma, acabou abrindo a porta para seu sucessor,

que adotou o novo padrão com o fim de promover a inserção independente do país (CERVO;

BUENO, 2015, p. 503).

O paradigma logístico de inserção internacional precisa ser elucidado a partir da

experiência desenvolvimentista. O Estado desenvolvimentista, de características tradicionais,

reforça o aspecto nacional e autônomo da política exterior. Trata-se do Estado empresário, que

29 Consolidada durante os governos militares e, apesar da � década perdida�, ainda viveu um interregno no governo Sarney (VISENTINI, 2005).

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arrasta a sociedade no caminho do desenvolvimento nacional mediante a superação de

dependências econômicas estruturais e a autonomia de segurança. Já o Estado normal,

instaurado em países como Argentina, Brasil, Peru, Venezuela e México na década de 1990,

possui três parâmetros de conduta: como Estado subserviente, submete-se às coerções do centro

hegemônico do capitalismo; como Estado destrutivo, dissolve e aliena o núcleo central robusto

da economia nacional e transfere renda para ao exterior; como Estado regressivo, reserva para

a nação as funções da infância social. O Estado logístico, por sua vez, fortalece o núcleo

nacional, transferindo à sociedade responsabilidades empreendedoras e ajudando-a a operar no

exterior, para equilibrar os benefícios da interdependência mediante um tipo de inserção madura

no mundo globalizado (CERVO; BUENO, 2015, p. 489).

No Brasil, o Estado normal conduziu a um desmonte da segurança nacional e a adesão

a todos atos de renúncia à construção de potência dissuasória. Na vigência dessas novas

condições políticas, o Estado normal encaminhou no Brasil a destruição do patrimônio e do

poder nacionais. A ação destrutiva do Estado normal priva, ademais, o governo de meios de

poder sobre a arena internacional (CERVO; BUENO, 2015, p. 492).

Conforme Cervo e Bueno (2015, p. 495), o ensaio de Estado logístico recuperou

estratégias de desenvolvimento e conferiu à política exterior funções assertivas:

a. o reforço da capacidade empresarial do país;

b. a aplicação da ciência e da tecnologia assimiladas;

c. a abertura dos mercados do Norte em contrapartida ao nacional; e

d. uma política de defesa nacional.

O Estado logístico coloca a estratégia a serviço do desenvolvimento, cuja conduta se

diferencia daquela do Estado neoliberal, especialmente ao recuperar a autonomia decisória na

esfera política e ao voltar-se para o reforço do núcleo duro da economia nacional. O modelo de

inserção internacional brasileiro corresponde ao globalismo industrialista, marcado nessa etapa

de maturidade do processo de desenvolvimento por dois traços essenciais: o multilateralismo

da reciprocidade e a internacionalização econômica (CERVO; BUENO, 2015, p. 530).

Do exposto, a atual política de defesa do Brasil, que volta a conceder atenção à base

industrial de defesa do país, insere-se no paradigma de atuação do Estado logístico. Nesse

sentido, o fomento à indústria de defesa, salientado pela PND, pela END e pelo LBDN, criam

condições para que o Brasil volte a ter uma política externa mais assertiva, como ocorrera

anteriormente. A participação em OMP, também exortada por tais diplomas legais, pode ser um

indutor de uma política externa voltada para o desenvolvimento do Brasil.

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CAPÍTULO 2 - LOGÍSTICA EM OPERAÇÕES DE PAZ

A logística desdobrada em Operações de Manutenção da Paz (OMP) possui

especificidades que demandam elevado nível de coordenação entre a Organização das Nações

Unidas (ONU), os países contribuintes de tropa (Troop Contributing Countries- TCC) e atores

� internacionais e locais - presentes nas áreas de missão. O presente capítulo concentrará sua

abordagem na logística utilizada pela ONU e pelo Exército Brasileiro (EB) em operações de

paz. Igualmente, serão apresentadas as interações entre aquela Organização e a Força Terrestre

no desdobramento logístico da MINUSTAH.

A primeira seção versa sobre a logística da ONU. Nesta parte, discorre-se sobre os

aspectos relativos à evolução do número e da complexidade das OMP, passando das missões

tradicionais até as do tipo multidimensionais - na qual se insere a MINUSTAH - o que

demandou profundas mudanças na estrutura de apoio às missões. Igualmente, serão abordados

conceitos necessários ao entendimento de como funcionam a estrutura do reembolso aos TCC

e às operações logísticas conduzidas na ilha caribenha, seja em proveito da população haitiana,

seja para a sustentação das tropas.

Já a segunda seção contempla a performance logística do EB em operações de

manutenção da paz, a partir da experiência obtida na MINUSTAH. São apresentados como

ocorre o desdobramento logístico para prover a manutenção da tropa na missão, assim como as

operações logísticas conduzidas pela tropa. Sobre este aspecto, são analisadas as operações de

assistência e de ajuda humanitária, as operações de socorro a desastres e as atividades

conduzidas no âmbito dos Quick Impact Projects (QIP, Projetos de Rápido Impacto, em

tradução livre).

2.1 LOGÍSTICA DA ONU

2.1.1 Evolução das Missões de Paz sob a égide da ONU

A ONU foi oficialmente criada em 24 de outubro 1945 com a finalidade de contribuir

para a paz mundial (UNITED NATIONS, 2008). Dentre os 51 Estados-membros que a

fundaram, estava o Brasil (GARCIA, 2004; HAMANN, 2016).

As operações de paz evoluíram em número e em nível de complexidade a partir do fim

da guerra fria. Até a debacle da União Soviética, diversas missões deixaram de ser instauradas

por questões relativas ao poder de veto deste país e dos Estados Unidos da América

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(VIZENTINI, 1999). O poder de veto dos membros permanentes do CNSU, particularmente

dos EUA e da ex-URSS, causava entraves à autorização de novas missões em áreas que

demandavam maior intervenção por parte das Nações Unidas.

Durante a Guerra Fria, consagram-se as missões denominadas clássicas, ou tradicionais,

nas quais observadores militares e tropas dotadas de armamentos leves interpunham-se em uma

zona tampão desmilitarizada entre dois antigos países ou territórios litigantes, de forma a

observar o cessar-fogo determinado pelas Nações Unidas (FONTOURA, 2005).

O fim da Guerra Fria trouxe uma mudança sem precedentes na história dos conflitos.

Em um processo que Visentini (1999) conceitua de tribalização e desestrategização, diversos

conflitos que tiveram palco na América Latina, na África e na Ásia, deixaram de estar inseridos

na lógica da confrontação bipolar de inserção na Guerra Fria e passaram a não sofrer ingerências

diretas das grandes potências mundiais. Este processo culminou em um recrudescimento sem

precedentes de rivalidades de cunho étnico e religioso. No continente africano, por exemplo,

houve diversos conflitos tribais e étnicos, dentre os quais o genocídio ocorrido em Ruanda, sem

uma intervenção efetiva da ONU, é o mais emblemático. Igualmente, o massacre de civis

muçulmanos por tropas sérvias em Sbrenica, durante as guerras que sucederam a dissolução da

ex-Iugoslávia, ficou marcado pela inação das tropas da Organização do Tratado do Atlântico

Norte (OTAN), que operavam sob a égide da ONU, sem que ainda houvesse, em nenhum desses

organismos, uma doutrina voltada para a proteção de civis.

Os conflitos aumentaram em número e em complexidade, demandando uma maior

atenção por parte das Nações Unidas. A estrutura onusiana30, contudo, ainda não havia se

adaptado para lidar com uma nova realidade em que guerras intraestatais passaram a se

sobrepujar às interestatais, exigindo uma maior intervenção por parte da ONU. Nos anos 1990,

foram desdobradas mais missões de paz do que em todo o período da Guerra Fria (BUZAN;

HANSEN, 2009). Bertrand31 (1995), já alertava que, no fim dos anos 1980, o CNSU

multiplicou as operações dos Boinas Azuis para a manutenção da paz. Entre 1988 e 1993, por

exemplo, a ONU teve de conduzir 21 missões, as quais foram qualificadas como �operações de

segunda geração�, porque seus objetivos e métodos foram consideravelmente ampliados em

relação às operações tradicionais das três primeiras décadas.

30 Trata-se de uma transliteração realizada a partir do adjetivo onusien, cunhado em francês, um dos idiomas oficiais da ONU, que se refere ao que é ligado a esta Organização. 31 O autor realizou um estudo versando a respeito das perspectivas da ONU após o fim da guerra fria, discorrendo sobre a sua eficácia em resolver conflitos. Ademais, dedicou especial atenção às novas demandas que se apresentariam ao CSNU, em especial o cenário mundial que acabou conduzindo à autorização de uma nova gama de missões por parte do Conselho.

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A complexidade da conjuntura mundial exigia um novo padrão para a condução dos

processos de paz, ainda inseridos na lógica da Guerra Fria, cujas missões de paz ainda eram as

do tipo tradicionais. Por meio do documento �Uma Agenda para a Paz�, Boutros Boutros

Gahli32 alertava para a necessidade de novas formas de intervenção por parte da ONU para

garantir a paz mundial. A Agenda passou a classificar as atividades conduzidas pelas Nações

Unidas no campo da paz e da segurança internacionais em cinco categorias: diplomacia

preventiva; promoção da paz; manutenção da paz; consolidação da paz; e imposição da paz, as

quais viriam a ser consolidadas na Doutrina Capstone33 da ONU, expedida em 2008 (UNITED

NATIONS, 2008).

O Relatório do Grupo para as Operações de Paz da ONU, também conhecido como o

Relatório Brahimi34, apresentou um estudo consubstanciado acerca das razões de fracasso das

Nações Unidas, em situações nas quais seu papel foi seriamente contestado, como ocorreu no

massacre em Srebnica. Igualmente, os conflitos étnicos que produziram mais de um milhão de

mortos em Ruanda e Burundi também não tiveram a ação necessária para que fossem

impedidos, ou, ainda, tivessem a sua amplitude restringida por alguma força capaz de se

interpor às partes em conflito e contribuir para um cessar fogo.

Nesse sentido, o Relatório Brahimi conclui que a ONU não teria as condições de se fazer

presente em toda e qualquer ameaça à paz mundial (BRAHIMI, 2009). Outrossim, nos conflitos

em que ela se fizesse presente, deveria estar dotada dos meios jurídicos e militares necessários.

Para que missões de manutenção da paz da ONU tivessem êxito, algumas condições mínimas

seriam necessárias, tais como a atribuição de um mandato claro e específico, a obtenção do

consentimento das partes em conflito e, sobretudo, recursos suficientes. De acordo com

Bertrand (1995), havia a necessidade de modificar o sistema de financiamento da Organização.

Como fator de comparação, as despesas da ONU, que eram da ordem de 2 bilhões de dólares

em 1986, saltaram para 5,54 bilhões em 1992; esse aumento deveu-se essencialmente ao custo

das OMP (BERTRAND, 1995). Atualmente, esse custo é da ordem de 7,3 bilhões de dólares.

(UNITED NATIONS, 2017d)35

32 Nascido no Egito, foi Secretário Geral da ONU de 1992 a 1996, antecedendo o ganês Kofi Annan. 33 O documento estabeleceu os princípios e diretrizes para as Operações de Manutenção da Paz sob a égide da ONU. 34 Lakhdar Brahimi, ex- Primeiro-Ministro da Argélia e Secretário-Geral Adjunto da ONU, recebeu a missão de Kofi Annan, em 2000, de chefiar uma equipe de peritos internacionais com a finalidade de examinar o funcionamento das OMP da ONU, a fim de identificar as áreas e as missões em que a manutenção da paz seria mais eficaz, e que apresentasse propostas no sentido de melhorar as operações. 35 A seção deste capítulo relativa à logística da ONU abordará mais aprofundadamente como a AGNU conduz este processo.

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Conforme já abordado anteriormente, as missões de paz do tipo tradicionais -

implementadas como uma medida provisória para ajudar a gerenciar um conflito e criar

condições nas quais a negociação de uma solução duradoura possa ser realizada � já não se

mostravam suficientes para lidar com os conflitos que eclodiam. Tais tipos de missões,

essencialmente de caráter militar, precisariam se adaptar às guerras que ocorriam nos países

mais pobres do mundo, nas quais a capacidade do Estado pode ser fraca e os beligerantes podem

ser motivados pelo ganho econômico, assim como por ideologia e por injustiças cometidas no

passado (UNITED NATIONS, 2008).

O CSNU começou a trabalhar mais ativamente para promover a contenção e a resolução

pacífica de conflitos regionais, em um ambiente internacional que se transformava

substancialmente, ensejando a origem da chamada nova geração de operações de paz das

Nações Unidas "multidimensionais". Essas operações geralmente são implantadas após um

violento conflito intra-estatal36 e podem empregar uma combinação de capacidades militares,

policiais e civis para apoiar a implementação de um acordo de paz abrangente (UNITED

NATIONS, 2008).

As operações de paz multidimensionais implantadas como parte de um esforço

internacional muito mais amplo para ajudar os países que emergem de conflitos a fazer a

transição para uma paz sustentável37 têm as seguintes funções (UNITED NATIONS, 2008):

a) Criar um ambiente seguro e estável38, ao mesmo tempo em que fortalece a capacidade

do Estado de garantir segurança, com pleno respeito pela lei e os direitos humanos;

b) Facilitar o processo político promovendo o diálogo e a reconciliação; apoiando o

estabelecimento de instituições de governança legítimas e eficazes;

36 Desdobradas após um conflito interno, as operações multidimensionais enfrentam um ambiente particularmente desafiador. A capacidade do Estado de proporcionar segurança à sua população e manter a ordem pública é muitas vezes fraca, e a violência ainda pode estar em andamento em várias partes do país. A infraestrutura básica provavelmente estará destruída e grandes setores da população podem ter sido deslocados. A sociedade pode ser dividida em linhas étnicas, religiosas e regionais e graves abusos dos direitos humanos podem ter sido cometidos durante o conflito, complicando ainda mais os esforços para alcançar a reconciliação nacional (UNITED NATIONS, 2008). 37 Assim como as missões tradicionais, as multidimensionais também recebem a incumbência de monitorar e observar o cessar-fogo (UNITED NATIONS, 2008). 38 Esta atribuição envolve fornecer segurança nas principais instalações governamentais, portos e outras infraestruturas vitais, estabelecer as condições de segurança necessárias para o livre fluxo de pessoas, bens e assistência humanitária; e providenciar assistência humanitária para a ação contra minas e restos explosivos de guerra (UNITED NATIONS, 2008).

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c) Prover uma estrutura para assegurar que todas as agências da ONU e outros atores

internacionais39 cumpram suas metas em prol do país-sede de forma coerente e coordenada, em

um ambiente seguro.

Outro aspecto inovador das operações multidimensionais de operações de paz diz

respeito à implementação dos QIP (DEPARTMENT OF PEACEKEEPING

OPERATIONS/DEPARTMENT OF FIELD SUPPORT, 2016a). Tratam-se de projetos de

pequena escala, concebidos para beneficiar a população. Os QIPs podem assumir uma série de

formas, incluindo assistência de infraestrutura ou atividades de geração de emprego de curto

prazo, destinados a estabelecer e a construir a confiança na missão, no seu mandato e no

processo de paz (UNITED NATIONS, 2008, p. 30).

A coordenação e consulta com atores humanitários em relação à administração de QIPs

é essencial para ajudar a aliviar as preocupações humanitárias quanto ao perigo de confundir

atividades político-militares com suas operações humanitárias. A missão deve estar ciente de

que os atores humanitários podem ter preocupações sobre a caracterização de QIPs, ou projetos

de Coordenação Militar Civil (CIMIC40), atividades de conquista de "corações e mentes" ou

outros projetos de segurança ou recuperação considerados de caráter humanitário, os quais

devem estar voltados para as prioridades políticas, de segurança ou de reconstrução (UNITED

NATIONS, 2008).

2.1.2 Estrutura de reembolso aos países contribuintes da ONU

Assim como as missões de paz conduzidas sob a égide da ONU evoluíram de forma

quantitativa, elas também aumentaram em termos de amplitude e de abrangência. Conforme

visto na seção anterior, houve uma mudança na estrutura da ONU que vicejou a instauração de

missões multidimensionais a partir do fim da década de 1980 e, com maior vigor, a partir dos

anos 1990 com o fim da Guerra Fria. Isso demandou uma maior estrutura de financiamento e

de apoio logístico para as missões.

39 As operações multidimensionais de manutenção da paz das Nações Unidas também costumam receber mandatos para prestar apoio operacional às agências nacionais de aplicação da lei (UNITED NATIONS, 2008). 40 A coordenação civil-militar em Operações de Paz visa a coordenação das atividades do componente militar com o componente civil da missão, e também com os atores civis presentes no local da missão e que não estão inseridos na operação de paz, o governo local em todos os níveis, as organizações internacionais, as organizações não governamentais e a população (CERQUEIRA, 2014).

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No que concerne ao financiamento e à estrutura de apoio das operações de paz, preferiu-

inicialmente analisar tal tema a partir do nível político e operacional, abordando-se as relações

entre a ONU e os países contribuintes de tropa (TCC), por meio do estudo da evolução da

estrutura de reembolso desta Organização às nações que fornecem contingentes para as missões

de paz. Os aspectos logísticos nos níveis estratégico e tático serão abordados no item seguinte,

quando será estudada a estrutura da ONU voltada à condução das OMP.

2.1.2.1 Reembolso pela cessão de materiais e equipamentos

O sistema de reembolso da ONU remonta à década de 1970, ocasião em que a

Organização começou a solidificar a atual estrutura existente, em que os países contribuintes

de tropa recebem uma compensação financeira da Organização pelo envio dos seus efetivos e

materiais, em uma sistemática do tipo leasing (VIERA JR, 2017; HERNANDES, 2017). Ao

determinar as taxas a serem pagas às tropas, o estudo inicial considerou alguns princípios

basilares que ainda se mantém (LESLIE, 2006): i) tropas operando lado a lado deveriam ser

reembolsadas nas mesmas bases para serviços idênticos; e ii) nenhum Governo poderia receber

valores de reembolso mais altos do que os materiais, de fato, custam � em outras palavras,

nenhum Estado Membro poderia �lucrar� com sua participação em uma operação.

Antes da implementação do sistema que vigora atualmente � conhecido como

Contingent Owned Equipment System (Sistema do Equipamento de Propriedade do

Contingente41), as compensações da ONU pela cessão de material e de tropas para as missões

era baseada na sistemática de In e Out Survey (LESLIE, 2006; UNITED NATIONS, 2015a). A

ONU conduzia somente duas inspeções, destinadas ao reembolso pelo uso de equipamento de

propriedade dos contingentes e bens de consumo. Havia uma inspeção no momento em que o

TCC desdobrava os equipamentos nas áreas de operações � In Survey � com listagem

abrangente e avaliação do valor de cada item, de acordo com seu custo inicial, tempo de uso e

estado de conservação. Outra inspeção seria conduzida somente quando o contingente fosse

repatriar seus materiais para o país de origem42 � Out Survey - e o reembolso era calculado com

base no fator de depreciação (30% do valor do bem no primeiro e segundo anos de uso, 20%

nos anos seguintes). Esse sistema exigia grande carga burocrática e serviços de pessoal

41 Retomando-se o que já foi abordado na introdução, explorando de forma mais detalhada a estrutura do COE System nesta seção do trabalho. 42 Este processo também é conhecido como reversão dos materiais, conforme será abordado desta forma mais adiante.

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especializado em equipamentos militares, o que acabava por acarretar atrasos no reembolso

(FONTOURA, 2005; UNITED NATIONS, 2015a).

Isso gerava distorções no pagamento do reembolso e, sobretudo, fomentava dissensões

entre países desenvolvidos, países em desenvolvimento e países de menor desenvolvimento

relativo, na medida em que os custos das operações eram arcados desproporcionalmente pelos

países desenvolvidos. Sobre este aspecto, Khana, Sandler e Shimizu (1998) realizaram um

estudo das operações conduzidas sob a égide da OTAN e da ONU no período de 1976 a 1996.

O balanço a que chegaram foi de que havia uma desproporcionalidade dos países ricos em

relação aos países mais pobres no que diz respeito ao custo a ser pago pelo desdobramento de

OMP43.

Conforme foi apresentado na introdução do presente trabalho, no ano de 1996, por meio

da Resolução 50/22244, a AGNU aprovou a atual estrutura de reembolso pela cessão de

materiais e equipamentos pelos TCC, implementando o Contingent Owned Equipment System

(COE, Sistema do Equipamento de Propriedade do Contingente, em tradução livre)

(FONTOURA, 2005). O leasing firmado entre a ONU e o país contribuinte estabelece, por meio

de um Memorando de Entendimento, quais equipamentos passarão à disposição das Nações

Unidas, durante o período da missão.

De forma a sistematizar como seriam estabelecidos os valores de reembolso, a AGNU

concebeu, concomitantemente com o Sistema supracitado, o Manual do COE (UNITED

NATIONS, 2015). Revisado a cada três anos, o COE Manual descreve procedimentos

autorizados pela AGNU, destina-se a prover assistência aos contribuintes de tropa/polícia e

garantir que a decisão da Assembleia é plenamente e consistentemente implementada e suas

contribuições reembolsadas. Os valores para reembolso são previstos no COE Manual, os quais

são revistos e atualizados por meio da realização de um grupo de trabalho45 a cada três anos.

Após a revisão executada por meio do grupo de trabalho, o Manual é submetido para aprovação

na AGNU.

43 Os autores salientaram que o custeio das operações de paz cabia, majoritariamente, aos países de maior desenvolvimento relativo. Igualmente, ressaltaram que uma maior participação dos países em desenvolvimento e de menor desenvolvimento relativo necessitaria ser acompanhada de um aumento na contribuição para o orçamento da ONU por parte destas nações (KHANA;SANDLER; SHIMIZU, 1998) 44 O novo sistema está em vigor desde 1 de julho de 1996. 45 A cada três anos, os países contribuintes enviam delegações para um encontro que tem lugar na sede da ONU em Nova Iorque, denominado COE Working Group (COE WG). Os TCC formulam propostas para atualização dos valores e condições do reembolso, por meio de Issue Papers.

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2.1.2.2 Reembolso pelo pessoal cedido

No que concerne ao reembolso pela cessão de tropas para a ONU46, os efetivos dos

membros contribuintes envolvem uma diversa gama de países. Ainda que a Organização tenha

conduzido muitos esforços no sentido de padronizar material e adestramento por meio de

manuais, as missões enfrentam problemas de comando devido às diferenças de cultura (religião,

idioma, nível educacional, entre outros) e às desigualdades de treinamento e de equipamentos

dos contingentes cedidos. De acordo com Fontoura (2005), havia duas categorias distintas de

países contribuintes de pessoal: i) aqueles cujos valores de manutenção estão abaixo dos valores

de ressarcimento, ou seja, esses países lucram ao participar das operações (sobretudo, os países

de menor desenvolvimento relativo, como Bangladesh, Paquistão e Nepal, e os países do leste

europeu); e ii) aqueles cujos gastos estão acima dos valores de reembolso, ou seja, países que

perdem recursos com suas participações (países industrializados e alguns em desenvolvimento).

Igualmente, Durch (1993), em um estudo abordando a evolução das OMP de 1947 a

1991, salienta que nas forças de paz coexistem tropas cujos custos para os países de origem

variavam de US$ 280,00 homem/mês até US$ 4.400,00 homem/mês. No entanto, o valor médio

do reembolso pago pela ONU, a partir de 1 de julho de 2017, é de US$ 1.410,0047.

De forma a exemplificar essa abordagem, toma-se como exemplo o caso do Brasil. Na

figura 3, apresenta-se o efetivo acertado pelo país a ser cedido para a ONU, em um período de

missão iniciado em fevereiro de 2010. O documento é o Anexo �A� do MOU, cujos conceitos

serão mais detalhados na seção seguinte.

Os valores relativos ao custo do pessoal � US$ 1028,00 por homem e por Unidade a

cada mês - ainda eram os praticados até aquele momento. Igualmente, são explicitadas as taxas

como subsídio mensal por homem para fardamento, equipamento individual e munições.

46 O reembolso pelo custo da tropa foi originalmente criado em 1974, em uma quantidade de US$ 500,00 por homem, por mês a ser paga por serviços prestados em OMP (LESLIE, 2006; FONTOURA, 2005). Ainda em 1974, a AGNU aprovou a concessão de um subsídio mensal por homem para fardamento, equipamento individual (o que inclui armamentos) e munições. As taxas pagas eram de US$ 65 por mês para equipamento individual e fardamento e US$ 5 por mês para munição (UNITED NATIONS, 2015; LESLIE, 2006). 47 Consoante com a Resolução 68/281, da AGNU, de 30 de Junho de 2014, aprovada após o relatório da Quinta Comissão da Assembleia (A/68/618).

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2.1.2.3 Conceitos relativos a Reembolso pela cessão de materiais e equipamentos

O MOU materializa um acordo formal48, por meio do qual a ONU se utiliza para

requisitar tropas e equipamentos dos Estados Membros (LESLIE, 2006; UNITED NATIONS,

2015). Tal acordo assegura a prestação de contas e o controle para a locação de equipamentos

e a provisão de serviços para o pessoal. O MOU elimina a necessidade de levantamentos acerca

48 Trata-se de uma das metas do COE System: assinatura do MOU antes do desdobramento, estipulando as obrigações de cada parte relacionada ao pessoal, aos Major Equipment e Self-sustainment.

Figura 2- Anexo A do MOU do BRABAT 2 - Reembolso pelo pessoal cedido

Fonte: (BRABAT, 2013)

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de equipamentos, peças sobressalentes e materiais de consumo, colocando a ênfase no país

contribuinte para a gestão dos bens.

Os aspectos legais do MOU devem estar de acordo com as regras financeiras e

regulações da ONU (LESLIE, 2006; VIERA JR., 2017). Ressalta-se que o TCC irá assinar com

a ONU um MOU para cada Organização Militar (OM) a ser desdobrada no exterior

(HERNANDES, 2017). Nesse sentido, o Brasil estabeleceu um MOU com a ONU para o

BRABAT em 2004, outro para a BRAENGCOY a partir de 2005, outro para o BRABAT 2,

após o terremoto em 2010.

Os contribuintes de tropa49 / polícia são reembolsados sob o sistema Dry ou Wet Lease,

cuja definição será explorada mais adiante, conforme taxas adotadas pela AGNU. O reembolso

é limitado àqueles itens de Major Equipments em plenas condições de utilização operacional

(incluindo equipamentos menores associados e consumíveis) acordados especificamente pelas

Nações Unidas. Caso o país contribua com menos equipamento do que o estipulado, há redução

na taxa de reembolso; por outro lado, qualquer contribuição superior à prevista no acordo passa

a ser de inteira responsabilidade do país contribuinte (UNITED NATIONS, 2017e).

Major Equipments (Equipamentos Principais, em tradução livre), são os itens principais

diretamente relacionados com a missão da unidade, conforme determinado pelas Nações

Unidas e pelos TCC. São aplicadas taxas de reembolso separadas para cada categoria de itens

de equipamentos principais. Essas taxas incluem o reembolso de Minor Equipments (materiais

menores, em tradução livre) e itens de consumo em apoio aos itens considerados como Major

Equipments. Os materiais menores são divididos em duas categorias: itens concebidos para

integrarem equipamentos principais; e itens que, direta ou indiretamente, apoiam o pessoal. São

empregados em apoio de contingentes, como serviços de preparo de refeições, acomodação,

comunicações e engenharia, assim como outras atividades relacionadas à missão (UNITED

NATIONS, 2017e).

O valor genérico de mercado justo (GFMV50) significa a avaliação dos Major

Equipments para fins de reembolso (UNITED NATIONS, 2017e). O GFMV inclui todos os

itens associados aos Major Equipments no desempenho de sua função operacional e é estimado

49 O COE System é aplicado tanto para os países que fornecem tropas militares (os TCC) quanto para as unidades de polícia constituída, oriundas dos Police Contributing Countries (PCC). O contingente militar brasileiro no Haiti contou somente com tropas, tornando o Brasil um TCC. Por esta razão, no presente trabalho, ao se abordar o Sistema de Equipamento Próprio do Contingente, somente se fará menção aos países contribuintes de tropa (TCC). 50 Generic Fair Market Value é um valor estabelecido pela ONU para realizar o pagamento do reembolso aos países contribuintes de tropa.

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de acordo com a finalidade a que se destina e a sua potência. Na figura 4, apresenta-se o Anexo

A do Capítulo do COE Manual, para melhor elucidar esse conceito. Toma-se como exemplo os

carros de combate sobre lagartas e sobre rodas, cujas taxas para o pagamento do GFMV são os

descritos na primeira coluna da tabela. Ressalta-se que, caso o país contribuinte pague mais ou

menos por um veículo blindado, a ONU realizará o reembolso de acordo com os valores

previstos no Capítulo 8 do COE Manual, os quais são reajustados a cada três anos.

Outro conceito importante relativo ao reembolso refere-se às modalidades de leasing

efetuados entre a ONU e o TCC. A primeira delas, a locação sem serviços de manutenção (Dry

Lease), significa um sistema de reembolso em que o contribuinte fornece os equipamentos

principais para a missão e as Nações Unidas assumem a responsabilidade por sua manutenção.

(UNITED NATIONS, 2017e).

Já a segunda modalidade, a locação com serviços de manutenção (Wet Lease) significa

um sistema de reembolso do equipamento de propriedade de contingente em que o TCC fornece

e assume a responsabilidade de manter e prover a logística e a manutenção dos Major

Figura 3- GFMV relativo aos carros de combate sobre lagarta e rodas

Fonte: (UNITED NATIONS, 2015).

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Equipments desdobrados, juntamente com os Minor Equipments associados. Conforme pode

ser verificado na figura 5, o Brasil optou por esta modalidade, tendo recebido valores maiores

de reembolso. Em contrapartida, houve a necessidade do Ministério da Defesa e os Órgãos de

Direção Setorial ligados à logística das Forças Armadas se adaptarem à uma situação em que

tiveram de gerenciar a cadeia de suprimento dos equipamentos desdobrados na área de missão

(VIEIRA JR., 2017; SOUZA COELHO, 2017).

Ainda com relação aos desdobramentos logísticos advindos da adoção da modalidade

Wet Lease, toma-se como exemplo os Armoured Personnel Carriers (APC) Wheeled Infantry

Carrier (Veículos Blindados de Transporte de Tropa sobre Rodas, em tradução livre),

ressaltado na figura 5. Os APC empregados pelo CONTBRAS (Contingente Brasileiro),

particularmente o Exército Brasileiro (EB) foram os EE 11 Urutu, da empresa brasileira

Engesa51. A cessão destes carros de combate por parte do Brasil, cuja fabricação remonta à

década de 1980, mostra-se como uma forma interessante de mantê-los em operação, haja vista

que, na modalidade Wet Lease estão incluídos os custos relativos à manutenção do material e

as peças de reposição; no entanto, a gestão da cadeia dos suprimentos para esses carros cabe

somente ao país.

51 De acordo com o que foi abordado no Capítulo 1, trata-se de uma das integrantes do tripé do complexo industrial-militar brasileiro, consolidado na década de 80. No capítulo 3, ao se analisar as empresas presentes no Haiti, haverá uma retomada do caso esquemático do carro de combate Urutu por meio do estudo da participação da própria Engesa, da Columbus e do Arsenal de Guerra de São Paulo.

Figura 4- Anexo B do MOU do BRABAT - Provisão de Major Equipment

Fonte: (BRABAT, 2013).

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Outro conceito importante do COE Manual refere-se ao Self-sustainment (Auto-

sustento, em tradução livre). Por meio do Auto-Sustento, o Estado contribuinte fornece algum

suporte logístico específico ou total ao contingente e é reembolsado pela ONU para isso.

Enquadram-se nesta categoria serviços, o fornecimento de equipamentos menores e de bens de

consumo não diretamente relacionados aos Major Equipments (LESLIE, 2006; UNITED

NATIONS, 2015a). Na figura 6, por meio do exemplo do Anexo �C� do MOU do BRABAT,

percebem-se alguns exemplos de itens enquadrados neste tipo de provisão logística, tais como

materiais destinados à preparação de refeições, apoio médico52, material de escritório,

comunicações, equipamento elétrico, equipamentos para a desativação de artefatos explosivos

e acomodações.

52 Consta o valor �zero� nos itens em que não houve a obrigação de o Brasil desdobrar na missão, como é o caso das instalações médicas dos níveis 2 (a cargo da MINUSTAH) e nível 3 (desdobrado fora da área de missão, na República Dominicana).

Figura 5- Anexo C do MOU do BRABAT - Reembolso dos itens de Self-sustainment

Fonte: (BRABAT, 2013).

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67

A diferença em relação aos Major Equipments é que o reembolso é feito em função do

efetivo pronto da tropa (Personnel Strength Ceiling). Outra nuance é que os itens das categorias

de Self-sustainment não estão sujeitos à prestação de contas por ocasião da entrada e da saída

na área da missão, mas sim a verificações e inspeções para certificar de que estejam nos padrões

definidos pela ONU53 e conforme o que foi previamente definido pelo MOU. Assim como no

caso dos Major Equipments, os contingentes somente serão reembolsados pelo o que

efetivamente estiver presente na área de missão.

Por fim, a ONU estabelece procedimentos de verificação e controle para assegurar que

os termos do MOU entre as Nações Unidas e o contribuinte da tropa sejam atendidos por ambas

as partes no início e durante todo o período de vigência do MOU, assim como adotar medidas

corretivas quando necessário (LESLIE, 2006; UNITED NATIONS, 2015a). Os padrões a serem

atingidos pelos Major Equipments e pelos Self-sustainment são definidos para garantir suas

capacidades operacionais. Vale ressaltar que, para a ONU, a operacionalidade dos materiais e

equipamentos significa mais de 90% de disponibilidade.

Para o pagamento do reembolso54, em linhas gerais, faz-se necessário atestar se: i) o

material previsto no MOU efetivamente existe; ii) o equipamento inspecionado funciona; e iii)

o equipamento possui um operador capacitado ao manuseio. Destarte, são conduzidas as

seguintes inspeções nos contingentes: inspeção de chegada, Operational Readiness Inspection

(ORI, inspeção de prontidão operacional, em tradução livre), inspeção de repatriação e outras

verificações ou inspeções consideradas necessárias pelo Force Commander ou pelo

Secretariado (UNITED NATIONS, 2017e).

A inspeção de chegada deve ocorrer após o contingente desembarcar os materiais na

área de missão e ser completada dentro do prazo de um mês, mediante definição estabelecida

pela célula de logística da Unidade de Força de Paz e o Chief of Integrated Support Services

(CISS), cujas atribuições serão exploradas na próxima subseção. Os Major Equipments, assim

como as capacidades de Self-sustainment, serão inspecionados para assegurar que as categorias

e grupos, assim como a quantidade de equipamentos enviados para a missão correspondam ao

MOU e que estejam em plenas condições de uso55. (UNITED NATIONS, 2017e). Em

53 Exemplifica-se a reestruturação completa das cozinhas do BRABAT e BRAENGCOY que tiveram de instalar fogões elétricos. Visando à prevenção de incêndios, a ONU proíbe a utilização de gás de cozinha em suas bases. 54 Padrões a serem atingidos obrigatoriamente pelos Major Equipments e a maioria dos itens de Self-sustainment. No caso desta categoria, itens como acomodações e material de escritório, a necessidade de comprovação é de que tenham um espaço e uma quantidade de materiais compatível com o efetivo presente. 55 Neste caso, a ONU avalia se os equipamentos estão operacionais, ou seja, funcionam e estão de acordo com as especificações previstas no MOU.

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contrapartida, a ONU, por sua vez, deve demonstrar que, nos itens em que lhe cabe o

fornecimento de Self-sustainment, sejam adotados os mesmos padrões aprovados pela AGNU

(UNITED NATIONS, 2017e). Dessa forma, ao mesmo tempo em que a Organização inspeciona

os equipamentos principais recém-desdobrados pelos contingentes, ela deve atestar que

cumprirá sua parte no fornecimento de Self-sustainment, como por, exemplo, alimentação para

as tropas.

A inspeção de prontidão operacional deve ser realizada pelo menos uma vez a cada seis

meses do desdobramento do contingente na área de operações e sempre que o comando da

missão, particularmente o componente civil, cuja estrutura será abordada na seção seguinte,

acredite que os equipamentos ou os serviços não atinjam aos padrões. A condição dos Major

Equipments e dos Self-sustainment serão inspecionadas com o objetivo de avaliar se a

capacidade é suficiente e satisfatória. Já as inspeções de repatriação verificam todos os Major

Equipments do TCC para serem repatriados e as suas condições de funcionamento. A inspeção

também assegurará que nenhum equipamento que não esteja classificado como Equipamento

Próprio do Contingente da ONU seja repatriado.

Após o estudo da estrutura de reembolso aos países contribuintes da ONU, infere-se que

a MINUSTAH aportou uma experiência diferente para as tropas do Brasil: o sistema de

inspeções da ONU, restituindo para os países contribuintes o reembolso somente por

equipamentos considerados operacionais (existente, em plenas condições de funcionamento e

com o operador habilitado). Nesses termos, pode-se inferir que essa sistemática se assemelha à

filosofia da Logística Baseada em Perfomance (PBL), abordada no Capítulo 1.

2.1.3 Estrutura da ONU voltada para as Operações de Manutenção da Paz

2.1.3.1 As instâncias e os Departamentos da ONU voltados para as Operações de Manutenção da Paz

Para cumprir sua missão de contribuir para a paz mundial, a ONU foi estruturada em

seis grandes órgãos: a AGNU, o CSNU, o Secretariado (os quais estão diretamente ligadas às

OMP), o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela e a Corte Internacional de Justiça

(Tribunal de Haia)56. O presente trabalho abordará mais especificamente o que é afeto às

Missões de Paz sob a égide daquela Organização.

56 A Corte Internacional de Justiça, sediada em Haia é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. Todos os países que fazem parte do Estatuto da Corte �parte da Carta das Nações Unidas � podem recorrer a ela. Além

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A AGNU é o órgão deliberativo máximo. Tem como atribuições principais discutir,

iniciar estudos e deliberar sobre qualquer questão que afete a paz e segurança em qualquer

âmbito, exceto quando a mesma for debatida pelo CSNU. A AGNU está estruturada em seis

instâncias, denominadas Comissões: a Primeira (desarmamento e segurança internacional), a

Segunda (Comitê Econômico e Financeiro), a Terceira (questões humanitárias, sociais e

culturais), a Quarta (Comitê Político Especial e de Descolonização), a Quinta (questões

administrativas e orçamentárias) e a Sexta57 (questões jurídicas) (UNITED NATIONS, 2017d).

A Quinta Comissão elabora os relatórios para que a Assembléia examine e aprove o

orçamento da Organização de acordo com o Capítulo IV, Artigo 17 da Carta das Nações Unidas,

o que inclui o financiamento de uma missão de manutenção da paz autorizada pelo CSNU. Essa

Comissão também examina as questões relativas ao reembolso aos países contribuintes de tropa

para missões de paz, atualizando os valores a serem pagos a cada três anos (UNITED

NATIONS, 2017d).

O CSNU foi criado para manter a paz e a segurança internacionais, além de examinar

qualquer situação que possa provocar atritos entre países e recomendar soluções ou condições

para a solução (BERTRAND, 1995). O órgão é responsável pela autorização de uma operação

de peacekeeping, que deve possuir um mandato objetivo e claro, e a determinação de números

e prazos (UNITED NATIONS, 2008).

O Secretariado, chefiado pelo Secretário-Geral (nomeado pela AGNU mediante

recomendação do CSNU), tem como principais atribuições: administrar as forças de paz,

analisar problemas econômicos e sociais, assim como organizar conferências internacionais

(UNITED NATIONS, 2008). Está estruturado por meio de linhas departamentais, com cada

departamento ou escritório com uma área de ação e responsabilidade distintas, coordenando

entre si o trabalho da Organização58.

disso, a AGNU e o CSNU podem solicitar à Corte pareceres sobre quaisquer questões jurídicas, assim como os outros órgãos das Nações Unidas. Conforme será visto mais adiante, a Corte é também a última instância da ONU para fins de resolução de controvérsias ligadas à solicitação de reembolso por parte dos países contribuintes (FONTOURA, 2005). 57 Como principal fórum para a consideração de questões jurídicas na AGNU, a Sexta Comissão constitui-se na segunda instância para a resolução de disputas relativas à solução de controvérsias relativas a reembolso (DAMMEN, 2014). 58 Mencionam-se aqui alguns dos escritórios e departamentos diretamente ligados ao Secretariado, em especial: Executive Office of the Secretary-General (EOSG); Department of Political Affairs (DPA); Office for Disarmament Affairs (ODA); Department of Peacekeeping Operations (DPKO) e Department of Field Support

(DFS). Para um maior entendimento sobre tais departamentos, consultar:< http://www.un.org>.

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Diretamente ligados às OMP, estão o Department of Peacekeeping Operations (DPKO,

Departamento de Operações de Manutenção da Paz, em tradução livre) e o Department of Field

Support (DFS, Departamento de Apoio às Missões, em tradução livre)59.

O DPKO é o responsável pelo planejamento, preparação, gestão e direção das OMP da

ONU. Sua missão é fornecer orientação política e executiva de operações de paz da ONU60 no

mundo e manter contato com o CSNU, os contribuintes financeiros e de tropas, e com as partes

em conflito na implementação dos mandatos. O Departamento foi criado somente em 1992, em

uma conjuntura em que o número de missões de manutenção de paz e sua complexidade

exigiam uma administração com dedicação completa. Antes da criação do DPKO, as missões

eram operadas por meio do Escritório das Nações Unidas para Assuntos Políticos Especiais

(UNITED NATIONS, 2008).

Consoante com o que já foi mencionado, a complexidade de missões sob a égide da

ONU mudou, o que demandou adaptações na estrutura de apoio logístico. O típico ambiente

operacional de uma OMP61 encontra-se em áreas remotas, austeras e, crescentemente,

perigosas, por vezes abertamente hostis à presença da ONU (GENERAL ASSEMBLY, 2010)62.

Dessa forma, tornou-se progressivamente mais complexo o desdobramento de tropas nas áreas

de missão e a provisão de suprimentos para a continuidade das operações.

As dificuldades impostas ao desdobramento de missões de paz, principalmente a partir

dos anos de 2000, induziram o DPKO a verificar a necessidade da criação de um outro

departamento para prover o apoio logístico da ONU. Em 29 de junho de 2007, na sua resolução

61/279, a AGNU decidiu estabelecer um novo departamento, com a intenção de reforçar a

capacidade da Organização para apoiar as operações de manutenção da paz, retirando esta

atribuição do DPKO e passando-a para o Departamento de Apoio às Missões (DFS).

59 Consoante com uma das línguas oficiais da ONU, o Department of Field Support foi vertido para o idioma francês como Départment d�Appui aux Missions (Departamento de Apoio às Missões, em tradução livre). Ainda que na literatura encontrem-se muitas traduções de DFS como Departamento de Apoio ou de Suporte ao Terreno, preferiu-se utilizar no presente trabalho a tradução a partir do vocábulo na língua francesa por considerar que as palavras �Apoio� às �Missões� encerram de forma mais clara a função do referido Departamento em prover a logística às diversas missões da ONU. 60 No âmbito destas atribuições, encarrega-se, por exemplo, de expedir uma diretriz logística específica para cada missão a ser desdobrada sob a égide da ONU. 61 Em ambientes com estas especificidades, as linhas de comunicações - para prestar o apoio e o autossustento � são frequentemente longas e sujeitas a descontinuidades provocadas por fatores naturais ou pelo homem. Mercados locais para a obtenção de mercadorias e de serviços são limitados ou inexistentes e o Estado de direito pode ser tênue ou completamente inexistente. Além disso, a água potável é escassa e altamente demandada, alimentos frescos podem ser difíceis de serem obtidos em quantidade, disponibilidade de locais para alojamento de tropas bastante restringida e faltam comunicações confiáveis nas infraestruturas (GENERAL ASSEMBLY, 2010). 62 Consoante com a Global Field Support Strategy (GISS). Para um maior aprofundamento, ver resolução A/64/633 da AGNU.

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O DFS, cuja composição pode ser verificada por meio da figura 7, foi criado para ser o

principal responsável pela mobilização de todos os serviços humanos, materiais e de apoio

necessário para garantir que as missões de campo das Nações Unidas sejam, em grande medida,

autossuficientes e que tenham sucesso em uma ampla gama de condições pós-conflito. As

principais atribuições do DFS são: Administração Geral, Finanças, Logística, Informação,

Comunicação e Tecnologia, Recursos Humanos e Reembolsos.

Dentre as estruturas do DFS, a United Nations Logistics Base (UNLB, Base Logística

da ONU, em tradução livre) é a única que não está em Nova York (UNITED NATIONS,

2017b). A Base, sediada na cidade italiana de Brindisi, constitui-se em um eixo mundial da

ONU para a provisão das missões, encarregando-se das missões logísticas mais críticas.

Destacam-se o desdobramento logístico inicial das operações, assim como o fornecimento de

veículos, contêineres e materiais de escritório para observadores militares e para civis e

militares em funções de Estado-Maior em OMP.

As demais divisões estão na sede da ONU nos EUA. Diretamente ligada às operações

logísticas dos contingentes militares em OMP está a Logistics Support Division (LSD, Divisão

de Suporte Logístico, em tradução livre). No escopo de suas atribuições, ressaltam-se os

trâmites para a assinatura dos MOU com os TCC e as inspeções logísticas nas áreas de missão

(UNITED NATIONS, 2017b). Essas competências são delegadas às Contingent Owned

Equipment Units (COE Unit, Unidades de Verificação do Equipamento Próprio do Contingente,

em tradução livre), diretamente subordinadas ao componente civil da missão, conforme será

abordado mais adiante.

Figura 6- Estrutura do Departamento de Apoio às Missões (DFS)

Fonte: (UNITED NATIONS, 2017b) Elaboração: o autor

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72

2.1.3.2 A Estrutura de Apoio Logístico de uma Missão de Paz da ONU

Conforme foi abordado na introdução do presente trabalho, a logística em operações

internacionais segue o princípio de que cada país provê sua própria sustentação em campanha;

contudo, no que diz respeito às OMP, algumas ponderações se fazem necessárias. A primeira

delas diz respeito à divisão de atribuições para a provisão logística das tropas. Prosseguindo a

partir do que foi apresentado no capítulo 1, cabe analisar de forma mais detalhada como ocorre

o apoio logístico em uma missão de paz sob a égide da ONU.

A eficácia de uma missão de manutenção da paz sob a égide da ONU depende de um

alto grau de apoio logístico e outras formas de apoio: pessoal, equipamento, financeiro e

recursos (UNITED NATIONS, 2017b). O apoio a missões no terreno inclui a provisão de rações

para alimentar tropas, o transporte aéreo para deslocar as pessoas em lugares onde quase não

há estradas ou infraestrutura.

As funções logísticas63 exigidas são geradas a partir de diversas fontes, incluindo

materiais de propriedade da ONU, dos contingentes de tropa ou contratados (BAIG, 2010). A

exata composição dos componentes logísticos é decidida pelo DFS na sede da ONU durante o

processo de planejamento da missão em consulta ao DPKO ou ao DPA. A combinação dos

meios necessários para o apoio logístico dependerá de diversos fatores incluindo as tarefas -

impostas e deduzidas - da missão, o ambiente operacional, a situação econômica, o orçamento

disponível, a urgência no desdobramento e questões de segurança.

As operações da ONU desdobradas no terreno exigem um sistema complexo de apoio

às missões (LESLIE, 2011). A ONU precisa integrar meios de apoio logístico, aeronaves,

veículos, tecnologia da informação e de comunicações, assim como recursos humanos,

oriundos de diversas fontes: i) bens civis, cuja propriedade e gestão cabem à ONU; ii) bens

pertencentes aos Estados-Membros; iii) Unidades de tropa e de polícia constituídas; e iv) bens

e serviços contratados comercialmente, tais como veículos, comunicações e tecnologia da

informação, equipamentos médicos, acomodações e rações. No que concerne aos contingentes

militares desdobrados em missões de paz, a ONU tem a responsabilidade de prover

combustível, água, alojamento e alimentação. Em proveito dos Observadores Militares, Oficiais

de Estado-Maior, Policiais e pessoal civil da ONU, cabe a ela fornecer material de escritório e

equipamentos, veículos, serviços públicos, comunicações e tecnologia da informação

63 Para a ONU, são sete as funções logísticas: Suprimento, Transporte, Manutenção, Comunicações, Apoio Aéreo, Engenharia e Saúde.

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(UNITED NATIONS, 2017b). Ademais, a Organização tem a incumbência de realizar o

transporte de pessoal e de material para a área de missão � por via área e/ou marítima, conforme

o teatro de operações - e de prover instalações médicas para todo o pessoal envolvido em uma

missão.

Tais insumos são contratados por parte da Organização em um processo licitatório

internacional a cargo do United Nations Global Marketplace (UNGM, Mercado Global das

Nações Unidas, em tradução livre) (UNGM, 2017). O UNGM é responsável pelas aquisições

em proveito dos diversos órgãos, instâncias e agências das Nações Unidas. Por meio do seu

website, reúne as equipes responsáveis pelas compras da ONU e a comunidade de fornecedores

em todo o mundo. Como forma de estímulo aos países contribuintes, as Nações Unidas

representam um mercado global de mais de US$ 17 bilhões anualmente para todos os tipos de

produtos e serviços. Em nome da AGNU, o UNGM tem um mandato para: i) Melhorar a

transparência e aprimorar a harmonização das práticas de aquisição da ONU; ii) Simplificar e

racionalizar o processo de registro para fornecedores; iii) Aumentar as oportunidades de

compras oriundas de fornecedores de países em desenvolvimento; e iv) Criar um portal comum

de aquisições globais da ONU.

No que concerne aos países contribuintes, cabe a provisão de Major Equipment e

capacidades de Self-sustainment 64, conforme já foi abordado quando se mencionaram os

conceitos relativos ao reembolso pelo fornecimento de materiais e de equipamentos. As

responsabilidades atinentes aos Estados Membros ficam plenamente definidas após a assinatura

do MOU com a ONU. Conforme será mais explorado no Capítulo 3, a visibilidade

proporcionada pelos equipamentos empregados pelo contingente brasileiro na MINUSTAH

pode estimular as empresas nacionais, de defesa ou do segmento civil, a se cadastrarem no

UNGM para passarem a fornecer produtos e serviços para a ONU.

Por fim, ainda existem serviços e equipamentos adicionais igualmente contratados

comercialmente pela ONU. Estes incluem limpeza, manutenção e serviços de segurança. Esta

forma de provisão logística também poder contar com fornecedores do país-sede, o que pode

fomentar a economia local. Conforme será mais detalhado na próxima seção, o contingente

brasileiro realizou o enquadramento de mão-de-obra local para os trabalhos do pelotão de

64 A provisão inclui veículos, geradores, serviço de cozinha/cocção de alimentos/ aprovisionamento, lavanderia, internet, equipamento médico orgânico e de engenharia, de acordo com o que já foi abordado no item 2.1.2.3 Conceitos relativos a Reembolso pela cessão de materiais e equipamentos.

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engenharia do BRABAT e da BRAENGCOY, contribuindo para projetar uma imagem positiva

do Brasil junto à população haitiana.

2.1.3.3 A Logística da ONU na área de missão

De forma a elucidar a presente explicação acerca da logística na área de missão,

apresenta-se o organograma de uma missão multidimensional, como foi a MINUSTAH.

Encabeçando o organograma apresentado na figura 8, tem-se o Head of Mission65 (Chefe de

Missão, em tradução livre), cuja escolha compete diretamente ao Secretário-Geral da ONU.

Subordinados ao Head of Mission e no mesmo nível de hierarquia, estão o Comandante do

Componente Militar (Force Commander), encarregado do controle operacional da ONU sobre

todas as tropas e Unidades militares designadas para a missão; o Comissário de Polícia, que

exerce o controle operacional sobre as tropas da United Nations Police (UNPOL, Polícia da

65 Também designado Special Representative of the Secretary General (SRSG, Representante Especial do Secretário Geral da ONU, em tradução livre) em missões multidimensionais.

Figura 7- Encarregados das funções logísticas em uma missão multidimensional

Fonte: (DAMMEN, 2014)

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ONU, em tradução livre) e outras unidades de polícia constituída operando em nome da ONU;

assim como outros componentes civis, conforme a necessidade da missão (BAIG, 2010).

Na figura 8, foram destacadas as células e os encarregados pela logística, previstos para

uma missão de paz multidimensional da ONU. O Civilian Component (Componente Civil, em

tradução livre) exerce a função de Chief Administrative Officer (CAO, Chefe Administrativo,

em tradução livre), normalmente um funcionário civil de carreira da ONU, designado

diretamente pelo DFS, na sede da ONU em Nova York (SOUZA COELHO, 2017; VIERA JR.,

2017). O CAO atua como o principal conselheiro para o Chefe da Missão em todas as questões

relativas à administração da missão.

O CAO é o encarregado das operações financeiras e orçamentárias devidamente

autorizadas, da contratação de empresas e serviços na área de operações e da administração dos

funcionários internacionais da operação, dos observadores militares e do pessoal local

contratado. Ele é responsável pela ligação com todos os componentes e segmentos da missão,

assim como o gerenciamento do apoio logístico para todos os componentes da missão, inclusive

o militar e o policial (LESLIE, 2011).

De forma a operacionalizar o apoio ao pessoal e as tropas presentes na missão, foram

concebidos os Integrated Support Services (ISS, Serviços Integrados de Apoio, em tradução

livre), cuja chefia é realizada por um civil, normalmente um funcionário de carreira da ONU,

denominado Chefe do ISS (CISS). O CISS possui um Deputy (DCISS, subchefe, em tradução

livre), cuja função é exercida normalmente por um Coronel ou Tenente-Coronel, que se

incumbe da interface com o componente militar da missão. Para isso, liga-se diretamente com

o Chief of Staff (Chefe do Estado-Maior, em tradução livre) do Force Commander, visando a

assegurar que as missões tipicamente militares, em prol do cumprimento do Mandato, não

sejam preteridas em função das demandas dos componentes civis (LESLIE, 2011).

Diretamente ligado ao CISS está o Joint Logistics Operation Centre (Centro Conjunto

de Operações Logísticas, em tradução livre). O JLOC coordena a provisão de apoio logístico

para as tropas presentes na missão. Integrado tanto por civis quanto por militares, o JLOC

planeja e conduz as operações logísticas. Possui uma estrutura flexível, mobiliado por células

funcionais conforme o tipo, dimensão e especificidade da missão66. Dentre elas, é estruturado

66 Exemplifica-se a célula de Mine Actions (Ação contra Minas e Restos Explosivos de Guerra), importante para o gerenciamento das atividades de desminagem humanitária em ações pós-conflitos armados interestatais, cuja estrutura foi bastante reduzida na MINUSTAH. Os confrontos que conduziram ao estabelecimento da missão não culminaram na disseminação de munições pelo país, como ocorreu, por exemplo, na maior parte das missões desdobradas no continente africano. Por essa razão, não houve a necessidade da instauração de tal célula de forma mais robusta.

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um Centro de Movimento e Controle, de forma a facilitar o transporte de pessoal, equipamentos

e suprimentos (DEPARTMENT OF PEACEKEEPING OPERATIONS/DEPARTMENT OF

FIELD SUPPORT, 2016b).

Em missões de paz sob a égide da ONU, somente o CAO tem a autoridade para

comprometer recursos financeiros de missão para qualquer finalidade (DEPARTMENT OF

FIELD SUPPORT, 2015). Cabe aos comandantes militares encaminhar para o JLOC os

requisitos para tais recursos e serviços, os quais podem incluir alojamento, rações frescas,

rações de combate, abastecimento de água, aluguel de equipamentos, instalações de serviços

públicos, trabalho civil, coleta de lixo, serviços de limpeza, lavanderia e transporte de pessoal

e equipamento, dentre outros. O JLOC possui um canal técnico com os G4 (Célula Logística)

das unidades de Força de Paz. Tal elemento de Estado-Maior chefia a célula responsável pela

parte logística e administrativa da Unidade.

As atribuições da célula do G4 incluem a logística militar interna da Unidade

considerada e, sobretudo, a parte de contratos e aquisição de materiais e equipamentos que não

são fornecidos pelas Nações Unidas, tornando, mais uma vez, a logística de importância

fundamental para a manutenção dos níveis operacionais da tropa desdobrada (LEITE SILVA,

2014b).

Ainda com relação à logística utilizada pelos contingentes nas OMP, ressalta-se a

utilização do National Support Element (NSE, Elemento Nacional de Apoio, em tradução livre).

A ONU autoriza os Governos a fornecer pessoal ou material adicional às suas próprias custas

(LESLIE, 2011). Para o caso de NSE, não haverá pagamento de reembolso aos TCC pelo uso

de Major Equipments ou de Self-sustainments (UNITED NATIONS, 2015). Os NSE podem

auxiliar a célula do G4 na execução de tarefas administrativas de seus contingentes, haja vista

que, por vezes, ocorrem soluções de continuidade no fornecimento de determinados itens por

parte da ONU (SILVA JUNIOR, 2014).

2.2 PERFORMANCE LOGÍSTICA DO EXÉRCITO BRASILEIRO EM OPERAÇÕES DE

MANUTENÇÃO DA PAZ

A presente seção destina-se a analisar a performance logística do EB em Operações de

Manutenção da Paz (OMP), a partir da atuação da Força Terrestre na MINUSTAH. De forma

a atingir este objetivo, propôs-se uma divisão em duas partes principais.

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Inicialmente, discorrer-se-à acerca da estrutura logística do EB empregada na Missão.

Serão apresentadas algumas especificidades voltadas ao apoio logístico que foram concebidas

após o início da MINUSTAH em 2004 e que, precipuamente, não eram previstas na doutrina

de emprego das Forças Armadas em operações combinadas. Ainda que de forma não exaustiva,

a presente seção abordará algumas das lições aprendidas neste processo que poderão vir a ser

empregadas pelo EB em futuras participações em OMP. A segunda parte desta seção estará

concentrada nas missões logísticas desempenhadas pelo contingente brasileiro desdobrado no

Haiti. Sobre este aspecto, ressalta-se que a presente abordagem estará concentrada em missões

desempenhadas pelo BRABAT e pela BRAENGCOY, particularmente nos campos de

assistência humanitária, ajuda humanitária, socorro a desastres e os projetos de rápido impacto

(QIP).

2.2.1 A estrutura logística do Exército Brasileiro voltada para as Operações de Paz

No Capítulo introdutório conceitual, na subseção 1.2.1 Base Industrial de Defesa:

Conceitos e Definições, foram exploradas algumas definições acerca do estamento logístico do

iceberg-científico tecnológico. De acordo com Amarante (2012), considera-se como empresas

de serviços os órgãos de direção setorial das Forças Armadas ligados à logística dos

componentes de defesa empregados por tropas brasileiras, seja no Brasil ou no exterior. Dessa

forma, serão abordadas no presente trabalho a participação dos Órgãos de Direção Setorial

(ODS)67 do EB diretamente ligados à logística, particularmente o Comando Logístico

(COLOG) e o Departamento de Engenharia e Construção (DEC). Ressalta-se que a abordagem

se restringe a Órgãos do EB, haja vista que a presente pesquisa está delimitada à Força Terrestre.

2.2.1.1 O Papel dos Órgãos de Direção Setorial do Exército Brasileiro �

2.2.1.1.1 A missão do Comando Logístico

O Comando Logístico (COLOG) - ODS encarregado de orientar e coordenar o apoio

logístico ao preparo e emprego da Força Terrestre - realiza o apoio ao preparo, ao emprego e à

67 Ainda que não esteja diretamente ligado à logística, faz-se necessário mencionar que o Comando de Operações Terrestres (COTER), por meio da Divisão de Missões de Paz, possui a atribuição de orientar e acompanhar o preparo e o emprego, e conduzir a avaliação de tropa do Exército para as missões de paz. O COTER constitui-se no ODS do EB encarregado de planejar e coordenar a composição, o apoio e o acompanhamento da atuação da tropa brasileira na MINUSTAH (COTER, 2017).

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desmobilização das tropas que integram os contingentes brasileiros na MINUSTAH desde o

desdobramento do primeiro contingente para a ilha caribenha em 2004 (COLOG, 2017). Em

2009, esse ODS concebeu sua Seção de Missões De Paz, destinada a aprimorar o apoio logístico

às tropas da Força Terrestre em missões no exterior (SOUZA COELHO, 2017).

Um dos primeiros passos para o planejamento logístico da missão refere-se à consulta

da Diretriz específica expedida pelo DPKO (BRASIL, 2013). Neste documento, constam

diversas orientações de caráter operativo, administrativo, financeiro e logístico a serem

seguidas pelos contingentes. Dentre elas, destacam-se: i) o valor e a natureza do contingente68;

ii) os veículos e equipamentos de grande porte necessários ao contingente; iii) o deslocamento

do contingente para a área de operação, desdobramentos e rodízios; e iv) as capacidades

logísticas de Self-sustainment do contingente.

O COLOG, em coordenação com o Ministério da Defesa, articula com a Marinha do

Brasil (MB) e a Força Aérea Brasileira (FAB) o transporte dos itens negociados no MOU e de

suprimentos para a área de missão (LEITE SILVA, 2014b). A partir do desdobramento na ilha

caribenha, a principal preocupação do COLOG passa a ser o reabastecimento e o

recompletamento de itens críticos, além da substituição daqueles que se tornem indisponíveis.

No momento em que os itens providos pelo COLOG chegam ao Haiti, suas respectivas

logísticas passam a ser de responsabilidade das OM de Força de Paz. Sendo assim, o controle

e a referida responsabilidade pelo material passa a ser do BRABAT e da BRAENGCOY de

forma descentralizada, por meio de suas respectivas células do G4 (SOUZA COELHO, 2017).

A missão do COLOG, no que concerne ao apoio logístico às operações de paz, encerra-

se com a reversão dos materiais utilizados. Nesta etapa, prioriza-se a manutenção e o retorno

dos itens à cadeia de suprimento para posterior distribuição às organizações militares do EB.

De forma a ressaltar a importância do papel do COLOG na provisão logística dos

capacetes azuis brasileiros, apresentam-se alguns dados (REVISTA VERDE OLIVA, 2009):

a. Apoio a um efetivo médio de 1298 militares por contingente;

b. Transporte de cerca de 1200 toneladas em voos de ressuprimento por ano;

c. Aquisição de 225 viaturas e de 28 geradores de energia a partir das demandas da

missão;

d. Cumprimento de 100% do material previsto no MOU assinado entre o Brasil e a ONU

� já disponibilizado para emprego da tropa; e

68 Contribuição com polícia ou tropa. Neste caso, especificam-se se serão tropas de infantaria e/ou de engenharia, por exemplo, assim como os seus efetivos.

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e. Índice de disponibilidade do material da ordem de 98%.

2.2.1.1.3 A missão do Departamento de Engenharia e Construção

O Departamento de Engenharia e Construção (DEC) é responsável por gerenciar a

função logística engenharia69, que se divide em duas vertentes bastante singulares (FREITAS,

2013; SANTOS, 2015). A primeira delas diz respeito aos trabalhos realizados em proveito da

execução de obras de infraestrutura e de instalações que as Organizações Militares de Força de

Paz desdobradas no Haiti precisam providenciar em suas bases, de acordo com o que é firmado

no MOU entre a ONU e o Brasil. Já a segunda vertente está atrelada ao fornecimento de

equipamentos pesados, peças de reposição e mão de obra especializada para a manutenção

desses maquinários que as tropas brasileiras operavam na MINUSTAH.

O DEC é o responsável pela gestão da cadeia de suprimento dos materiais de engenharia,

provendo os Major Equipments destinados a cada uma das OM no Haiti. No BRABAT 1 e no

BRABAT 270, os equipamentos presentes eram a Estação de Tratamento de Água de osmose

reversa, geradores, assim como equipamentos destinados a prover a mobilidade da tropa, tais

como retroescavadeira, motoniveladora e caminhão Basculante (FREITAS, 2013). Na

BRAENGCOY, por sua vez, além destes materiais de engenharia existentes nos BRABAT,

existiam também equipamentos empregados na construção de estradas, tais como distribuidor

de piche, pavimentadora e usina de asfalto (SANTOS, 2015). Igualmente, a Companhia de

Engenharia detinha equipamentos destinados à realização de obras de infraestrutura, tais como

trator de esteira, Guindaste autopropulsado, Rolo compressor autopropulsado e perfuratriz de

poços (FREITAS, 2013). Merecem destaque os itens para navegação e patrulha fluvial, tais

como botes e motores de popa, que foram fundamentais para o apoio às ações de ajuda

humanitária após o terremoto e os furacões.

2.2.1.2 As coordenações entre as Forças Armadas para a logística do Contingente

Brasileiro na MINUSTAH

69 Conforme foi apresentado no capítulo introdutório-conceitual, o DEC é o responsável pelo fornecimento de suprimento Classe VI (materiais de Engenharia) para o Exército Brasileiro, condição que é replicada em proveito do Contingente Brasileiro desdobrado na missão. 70 O BRABAT 2 foi desdobrado em 2010 após o terremoto que assolou a ilha caribenha. Os seus materiais foram revertidos para o BRABAT 1, que passou a se chamar novamente BRABAT após a extinção do BRABAT 2 em 2013.

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80

Por ocasião da formulação dos objetivos específicos da presente pesquisa, procurou-se

investigar o sistema logístico adotado pelo EB, assim como estudar os aspectos logísticos

relativos ao desdobramento do EB para o cumprimento de OMP. Sobre este aspecto, Ferreira

Neto (2011)71, ao conceituar a respeito da Pirâmide de Defesa72, de acordo com a figura 11, já

alertava para o afastamento entre cada um dos seus estamentos, assim como a fragmentação

que eles apresentam entre si.

Um dos aspectos da fragmentação no bloco das Forças Armadas reside em não haver

uma plena integração entre as cadeias de suprimento da MB, do EB e da FAB. Consoante com

Alsina Jr. (2003), até a criação do Ministério da Defesa, não havia alinhamento algum entre as

Forças singulares no que se refere à formulação de uma política conjunta de aquisições. Isso

gerou, até mesmo, disputas entre elas, dentre as quais o pleito pela posse do porta aviões e a

primazia pela aviação embarcada entre a MB e a FAB foi o caso mais marcante (ALSINA JR,

2003).

No que diz respeito à fragmentação entre as Forças Armadas, a partir da análise de

Ferreira Neto (2011), a criação do Ministério da Defesa em 1999 vicejou o início de uma

mudança de paradigma na interoperabilidade entre as Forças Singulares. As operações

conjuntas, que eram restritas, aumentaram cada vez mais.

71 Orlando José Ferreira Neto, Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança entre 2011 e 2012. 72 Consoante com a definição apresentada pelo autor, a pirâmide de defesa inclui todos os estamentos que possuem interações diretas com a Defesa, tais como as Forças Armadas, a BID e a Base Nacional.

Figura 8- Diagnóstico da Pirâmide de Defesa - Apreciação da ABIMDE

Fonte: (FERREIRA NETO, 2011)

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A MINUSTAH representou uma oportunidade de integração por meio do Estado-Maior

conjunto do próprio BRABAT73. Igualmente, o trabalho conjunto para prover a logística da

missão ensejou, ou, até mesmo, impeliu uma maior integração entre as Forças Armadas. Ainda

durante a assinatura do MOU entre o Brasil e a ONU e, sobretudo, partir do desdobramento do

primeiro contingente para a ilha caribenha, constatou-se que seria impositivo para o apoio

logístico das tropas desdobradas na missão o transporte de suprimentos pela MB e pela FAB.

No que que diz respeito à Marinha, foram disponibilizados navios para o transporte

principalmente dos Major Equipments, particularmente por meio dos Navios de Desembarque

de Carro de Combate (NDCC) ALMIRANTE SABÓIA (capacidade de 1.000 Ton),

MATTOSO MAIA (capacidade de 2.000 Ton) e GARCIA D�ÁVILA (capacidade de 1.000

Ton), que partiam do Rio de Janeiro para Porto Príncipe (FERNANDES, 2017). De forma a

exemplificar a relevância desse apoio, o emprego de materiais mais volumosos e pesados como

pneus, cilindros hidráulicos, lâminas de tratores, hastes de perfuração de poços artesianos pela

BRAENGCOY seria inviável sem o transporte a cargo da Armada do Brasil, que ocorre duas

vezes por ano.

A demanda de peças de reposição para atender os níveis de exigência de disponibilidade

previstos no MOU74 aumentou a necessidade de transporte pela MB. Em contrapartida, o risco

das tempestades tropicais e furacões na região do Caribe, que ocorrem no segundo semestre de

cada ano, limitam o transporte a cargo da Armada. Isso fez com o que o COLOG contratasse

navios mercantes para completar a provisão logística na missão, particularmente devido à

limitação da capacidade de carga dos navios da MB (SOUZA COELHO, 2017).

Com relação ao papel da FAB na logística do CONTBRAS Haiti, coube a ela a

execução dos chamados voos logísticos, a cada 20 dias (FERNANDES, 2017). As decolagens

eram feitas da Base Aérea do Galeão (BAGL), para Porto Príncipe, com escala em Boa Vista �

Roraima, conforme é demonstrado na figura 11. O transporte realizado pela FAB priorizava

itens de menor volume e peso específico, assim como componentes que demandavam urgência

por parte da tropa brasileira.

73 Mencionam-se aqui algumas das funções de Estado-Maior do BRABAT que, apesar de ser uma organização militar do Exército Brasileiro, possui uma estrutura conjunta: G2 (Inteligência) e Encarregado do Setor Financeiro, desempenhadas por Oficiais Superiores do CFN da Marinha do Brasil; G1 (Pessoal), G3 (Operações) e G4 (Logística), exercidas por oficiais do Exército Brasileiro; e G9 (Coordenação Civil-Militar-CIMIC) exercida por um oficial da Força Aérea do Brasil. 74 Como o Brasil assinou o MOU na modalidade Wet Lease, as peças de reposição para os equipamentos previstos no MOU são de sua inteira responsabilidade, o que inclui o transporte para a área de missão.

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Após o término da presença brasileira no Haiti, atestou-se que o apoio logístico prestado

mediante as aeronaves da FAB foi imprescindível para o sucesso da missão. Graças aos voos

realizados pela Força Aérea, foi viabilizada a regularidade dos transportes, o que incluiu o envio

de materiais75 e de equipamentos cujas demandas passaram a surgir durante a missão,

garantindo um permanente fluxo logístico entre o Brasil e o Haiti. Alguns dos exemplos desta

relevância podem ser constatados por meio do envio de insumos químicos para as Estações de

Tratamento de Água (ETA), existentes em cada uma das OM de Força de Paz desdobradas na

missão (FREITAS, 2013).

2.2.1.2.1 O Centro de Coordenação Logística de Operações de Paz

Por ocasião do início do planejamento para o desdobramento do CONTBRAS, foi

verificada a necessidade de ativar o Centro de Coordenação Logística de Operações de Paz

75 Peças de reposição para os Major Equipments do CONTBRAS também foram enviados por meio da FAB.

Figura 9- Transporte Aéreo e Marítimo do Brasil para o Haiti

Fonte: https://www.cartograf.fr/carte_amerique_2.php Elaboração: o autor

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(CCLOP)76, subordinado ao MD, órgão constituído temporariamente em território nacional

(BRASIL, 2013). O CCLOP foi estabelecido na 1ª Região Militar, no Rio de Janeiro77, contando

com representantes de cada uma das Forças singulares.

A partir da ativação do CCLOP, passou a ser sua responsabilidade a coordenação

logística em proveito do CONTBRAS (HERNANDES, 2017). Dessa forma, permitiu-se a

centralização do recebimento e do embarque do material para a área de operações, utilizando

para isso os voos logísticos da FAB, os navios da Marinha ou transportes contratados, como

ocorreu com a contratação de navios para complementar a logística de material.

A relevância do CCLOP pôde ser constatada por meio do desembaraço alfandegário do

material enviado ao Haiti. De acordo com o Decreto Presidencial Nº 6.759, referente à

administração das atividades aduaneiras78, faz-se necessária uma verificação do material no

momento de sua saída para a ilha caribenha (denominada exportação) � seja material orgânico

de OM designada para transferir o item temporariamente para o CONTBRAS ou itens para

consumo � bem como por ocasião da repatriação (designada de importação). No âmbito do EB,

os trâmites necessários a essas operações são de responsabilidade da Base de Apoio Logístico

do Exército79 (Ba Ap Log Ex80) por meio da Divisão de Importação e Exportação

(DEFESANET, 2015b).

Outra importância do CCLOP refere-se à coordenação do apoio logístico da MB e da

FAB ao CONTBRAS. O Centro reunia-se quinzenalmente, de forma a definir como seria o

embarque de material por meio das Forças. Nestas reuniões, eram estabelecidas prioridades

para o envio de material, assim como os locais e datas disponíveis para o transporte. No que

concerne aos materiais do EB enviados para a ilha caribenha, o Núcleo de Apoio Logístico de

Força de Paz, sediado no 1º Depósito de Suprimento � subordinado à Ba Ap Log Ex � realizava

as coordenações necessárias junto ao CCLOP para o envio dos materiais para a MINUSTAH.

Ademais, todas as classes de suprimento do EB destinados ao CONTBRAS eram centralizadas

no 1º Depósito de Suprimento e, partir desta OM, transportadas para o Haiti (FERNANDES,

2017).

76 � [...] A constituição do CCL caberá a um órgão dentro da estrutura do MD designado para tal. Para maior eficiência, é importante que seja integrado por representantes das Forças Singulares envolvidas e que tenha sua atuação na coordenação do apoio logístico ao contingente nas fases de concentração, do preparo, do emprego, dos rodízios/repatriamento de contingentes e da desmobilização (BRASIL, 2013, p. 34). 77 De acordo com reunião realizada no dia 7 de maio de 2004, no Comando Militar do Leste. 78 O Decreto Presidencial Nº 6.759, de 5 de fev. 2009, regulamenta a administração das atividades aduaneiras, e a fiscalização, o controle e a tributação das operações de comércio exterior. 79 A Base de Apoio Logístico do Exército está sediada no Rio de Janeiro e é diretamente subordinada ao COLOG. 80 Trata-se de um acrônimo que segue o padrão adotado pelo Exército Brasileiro. Para maiores detalhes, consultar o Manual de Campanha C 21-30 - Abreviaturas, Símbolos e Convenções Cartográficas.

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84

A atuação do CCLOP em proveito do CONTBRAS Haiti mostrou-se uma importante

lição aprendida. Conforme foi discutido na introdução do presente trabalho, em operações

combinadas, a doutrina militar terrestre estabelece o princípio de que cada nação é responsável

por prover sua própria logística. A provisão de tropas expedicionárias passou a impelir uma

integração progressivamente maior entre as Forças singulares, atestando a importância da

ativação do CCLOP. Igualmente, a coordenação para o transporte do material para a ilha

caribenha, conduzido mediante frequentes reuniões entre representantes das três Forças,

contribuiu para diminuir a fragmentação entre as Forças Armadas.

Em suma, o CCLOP vicejou uma oportunidade para implementar o que é previsto na

base doutrinária das Forças Armadas, particularmente do EB, em uma situação o mais próximo

possível de um conflito, o que demanda um grande esforço logístico. Destarte, espera-se que

em futuras missões que contem com a presença de capacetes azuis brasileiros esta estrutura seja

mantida.

2.2.1.2.2 A Estrutura Logística do Exército Brasileiro concebida para a MINUSTAH

A estrutura logística concebida em proveito do contingente brasileiro desdobrado em

Porto Príncipe mostrou-se sui generis por alternar características previstas na doutrina militar

com as especificidades demandadas pela missão.

O COLOG81 é responsável por expedir uma Diretriz Logística para cada contingente do

EB a ser desdobrado em OMP, após a seleção realizada pelo COTER. Esta Diretriz estabelece

as missões e responsabilidades das OM do EB82 diretamente envolvidas no preparo, emprego e

desmobilização do contingente brasileiro.

Conforme apresentado no capítulo introdutório-conceitual, outros ODS participam da

gestão da cadeia dos suprimentos utilizados em operações de paz. O Departamento de Ciência

e Tecnologia (DCT), delega ao Comando de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército

(Cmdo Com GE Ex) a gestão dos materiais de comunicações utilizados pelo CONTBRAS, o

que incluiu a aquisição de rádios especificamente em proveito da missão, conforme será mais

detalhadamente explorado no Capítulo 3. Outrossim, a Diretoria de Saúde, subordinada ao

Departamento Geral de Pessoal (DGP), possuía a incumbência de gerenciar o suprimento classe

81 Conforme visto anteriormente, o COLOG é o ODS encarregado de coordenar e controlaras atividades de suprimento, manutenção e transporte durante a execução do apoio logístico ao CONTBRAS. 82 Neste caso, consideram-se não apenas as OM que constituirão, efetivamente o CONTBRAS, mas também as Unidades responsáveis por apoiar a preparar da tropa.

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85

VII para o CONTBRAS Haiti. Já o DEC era o ODS encarregado de estruturar os contingentes83

que iriam integrar a BRAENGCOY e da logística dos materiais de engenharia destinados a esta

subunidade e ao BRABAT. A gestão da cadeia de suprimentos destinada ao apoio do

CONTBRAS Haiti, portanto, foi conduzida pelos ODS que estão diretamente ligados à provisão

logística da Força Terrestre. Contudo, as especificidades atinentes ao desdobramento de tropas

para atuar no exterior demandaram novos desafios.

As necessidades que se impuseram durante a missão na ilha caribenha ensejaram a

criação de uma nova estrutura, a Célula Logística de Apoio ao Contingente Brasileiro no Haiti

(CLACH)84, subordinada diretamente ao COLOG (LEITE SILVA, 2014b; SOUZA COELHO,

2017). A CLACH passou a ser integrada por representantes daquele ODS a partir de agosto

2010, com o fito de gerenciar, otimizar e aperfeiçoar o apoio logístico ao CONTBRAS Haiti.

A Célula constituiu-se em uma estrutura de ligação do COLOG com as OM do CONTBRAS,

intermediando suas demandas com os ODS sediados no Brasil. Dessa forma, a CLACH

processava a necessidade de material e a encaminhava para o DGP (material de saúde), para o

DCT (material de comunicações), para o DEC (material de engenharia) e para o COLOG

(materiais das outras classes, tais como armamentos, munições e viaturas).

De acordo com Leite Silva (2014b) e Souza Coelho (2017), a CLACH notabilizou-se

pelo acompanhamento da situação logística do CONTBRAS, mediante a adoção de medidas

particulares de transporte, suprimento e de manutenção e integrou-se ao planejamento das OM

do CONTBRAS, no que se referia ao aspecto logístico existente na Área de Operações. Nesses

termos, a Célula constituiu-se no braço-direito do COLOG no terreno.

A CLACH possuia, ainda, a atribuição de fornecer subsídios necessários que permitam

ao COLOG: i) propor ao COTER e ao Estado-Maior do Exército (EME) medidas para

aperfeiçoar a doutrina de logística da Força Terrestre; ii) coordenar o processo de aquisição e

remanejamento de meios a ser alocado no CONTBRAS; e iii) planejar e controlar as atividades

de manutenção do material empregado pelo CONTBRAS Haiti.

O controle dos materiais adquiridos para a missão ou transferidos temporariamente para

o CONTBRAS, o que também é chamado de controle patrimonial pelo EB, foi realizado pela

Ba Ap Log Ex até a conclusão do processo de envio para o contingente na operação

83 A seleção para compor o efetivo da BRAENGCOY é um pouco diferente da que é feita para o BRABAT. Enquanto que os integrantes desta Unidade são, majoritariamente, oriundos de um Comando Militar de Área previamente definido pelo COTER, aquela é constituída por militares de diferentes partes do Brasil, o que chega a envolver cerca de oitenta OM do EB. Isso se deve às particularidades do trabalho realizado pela Companhia, o que demanda qualificações e treinamentos bastante específicos. 84 A CLACH foi criada por meio da Portaria nº 070- Departamento Geral do Pessoal, de 23 mar. 2010.

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86

(DEFESANET, 2015b). Ao chegar no porto ou aeroporto de desembarque da área de missão, a

responsabilidade tornava-se encargo do G4 da OM de Força de Paz que recebia o material.

As aquisições em proveito da missão foram realizadas no Brasil pelo COLOG85, DCT,

DGP e DEC, conforme a categoria de suprimento, por meio do Sistema de Registro de Preço

(SRP) abertos ou por dispensa de licitação. Sobre este aspecto, ressalta-se que o recurso para

aquela finalidade provinha da �Ação 20X1 - Participação Brasileira em Missões de Paz� 86, não

comprometendo o orçamento público da União e nem mesmo o das Forças Armadas.

A logística praticada no CONTBRAS Haiti era de responsabilidade dos respectivos G4

de cada uma das OM de Força de Paz (UNITED NATIONS, 2015b). Sobre este aspecto, o

Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais gerenciava sua própria logística por meio do seu

G4, mediante coordenação com a MB. Isso decorre desta fração ter sido subordinada ao

BRABAT87 precipuamente para fins de emprego nas operações, em uma condição próxima à

de controle operacional88.

As atribuições e funções logísticas necessárias à condução das operações, tais como

suprimento, transporte, saúde, manutenção, salvamento e engenharia eram de inteira

responsabilidade da célula do G4 (SOUZA COELHO, 2017). Igualmente, os encargos

administrativos atinentes à manutenção da Base do CONTBRAS e dos pontos fortes ocupados

por tropas brasileiras em Porto Príncipe, também estavam no rol de atribuições do G489.

Como o Brasil assinou o MOU com a ONU sob a modalidade Wet Lease, todas as

atribuições relativas à manutenção de seu material passaram a ser de responsabilidade de seu

contingente, o que incluía os custos do treinamento do pessoal empregado nessa atividade,

assim como as peças de reposição. A célula do G4 é a responsável por estabelecer o contato

com a CLACH, a qual possui a atribuição de estabelecer a interface com o COLOG e com os

demais ODS, de acordo com a classe de suprimento que é demandada. Itens cuja atribuição

85 Os itens que não sejam de possível aquisição do Brasil são adquiridos pela Comissão do Exército Brasileiro em Washington (CEBW) e pela CLACH. 86 Conforme informações obtidas do portal do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (BRASIL, 2016). 87 O Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, apesar de estar descrito no MOU com uma de suas subunidades do BRABAT, permaneceu sob o controle operacional do Batalhão durante toda a Missão. 88 �[...] Grau de autoridade atribuído a um comandante ou chefe de serviço para dirigir determinados elementos, de forma a capacitá-los ao cumprimento de missões ou tarefas específicas e, normalmente, limitada, sem contudo incluir a autoridade para empregar, separadamente, os componentes dos elementos em questão e o controle logístico dos mesmos� (BRASIL, 1999, p. 1-14, grifo nosso). 89 Neste caso, trata-se especificamente do G4 do BRABAT, haja vista que é uma atribuição desta OM de Força de Paz a ocupação e a manutenção de Pontos Fortes, destinados a manter o ambiente seguro e estável por meio da presença de efetivos de tropas em locais sensíveis de Porto Príncipe.

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cabe a ONU fornecer, tais como combustíveis e lubrificantes, água e rações para os

contingentes, também precisam ter o seu controle exercido pelo G4.

Após a análise da estrutura logística do Exército Brasileiro voltada para as Operações

de Paz, a apreciação que se faz é de que a MINUSTAH ensejou uma integração maior entre os

ODS da Força Terrestre. Isso foi bastante percebido no que concerne à logística, cujas

categorias de suprimento são gerenciadas separadamente, em um processo em que cada ODS,

(particularmente COLOG, DEC, DCT e DGP) está à frente de uma Supply Chain Managment

distinta, sem ter havido soluções de continuidade no provimento das tropas. A nova estrutura

da CLACH, em que integrantes do COLOG na missão realizam a interface junto aos ODS no

Brasil auxiliou muito neste processo. Dessa forma, a MINUSTAH contribuiu para fomentar o

segmento das chamadas Empresas de Serviços da BID.

Outro juízo de valor refere-se à logística conjunta entre as Forças Armadas por meio do

CCLOP. A experiência realizada em proveito do CONTBRAS mostrou-se importante para a

provisão dos itens previstos no MOU sob responsabilidade do Brasil, seja por meio do modal

aéreo quanto pelo marítimo. Nesse sentido, a ativação do CCLOP foi relevante para o apoio

logístico de tropas brasileiras no exterior.

Por fim, a experiência da logística combinada, que contou com a provisão de itens como

combustíveis, lubrificantes e rações por parte da ONU, mostra-se como um aprendizado para o

EB. Sobre este aspecto, ressalta-se que, por ocasião do maior efetivo de tropas antes da

MINUSTAH, ocorrido em Angola nos anos de 1990, o COE System e a estrutura de reembolso

já mencionados no presente trabalho ainda não estavam plenamente consolidados. Isso

demandou adaptações por parte do EB ao desdobrar suas tropas no Haiti, o que contribuiu para

o aprimoramento de sua capacidade logística e revelando-se uma grande experiência para o

emprego e para a doutrina do EB.

2.2.2 Operações logísticas do Exército Brasileiro na MINUSTAH

2.2.2.1 Logística do Batalhão de Infantaria de Força de Paz (BRABAT)

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O BRABAT realizou um importante trabalho na pacificação de bairros violentos da

capital haitiana como Cité Soleil90, Cité Militaire e Belle Air. Ações em força, que se destacaram

pela firmeza no cumprimento do mandato em bairros e setores extremamente violentos de Porto

Príncipe, fizeram com que a tropa brasileira ganhasse prestígio internacional (AGUILAR,

2012). O nível de segurança estabelecido possibilitou que agências e ONGs pudessem se

aproximar e fornecer assistência sem a ameaça de violência das gangues (KEEN et al., 2010;

PINHEIRO, 2011).

A ação do contingente brasileiro representou um importante passo para que a transição

política ocorresse no Haiti, o que pôde ser atestado pela eleição de René Préval, em 2006, e as

eleições para o Senado, em 2009. Ainda que todos os países que contribuíram com soldados

para a MINUSTAH compartilhem desses êxitos, Keen et al (2010) e Sotero (2010) ressaltam

que autoridades do governo dos EUA elogiaram o papel de liderança do Brasil na missão das

Nações Unidas como uma demonstração bem-vinda de que o país desponta como um líder no

âmbito regional e mundial.

Juntamente com a ocupação dos bairros mais violentos de Porto Príncipe, houve a

condução de atividades de Coordenação Civil-Militar (CIMIC), implementadas

progressivamente à medida em que as operações do BRABAT eram executadas (CERQUEIRA,

2014). Isso foi fundamental para a conquista da estabilidade no país, vicejando a criação de

espaço para a atuação das agências e organismos da ONU, do Governo local e de ONGs,

contribuindo para beneficiar a população das comunidades do Haiti (AGUILAR, 2012).

De acordo com Pinheiro (2011), a neutralização das gangues e a realização de trabalhos

em proveito da população contribuiu para a conquista de corações e mentes no âmbito da

população haitiana, aumentando a credibilidade da tropa brasileira junto à ONU e à comunidade

internacional. Isso se mostrou relevante para o apoio à MINUSTAH em um dos seus momentos

mais cruciais: o terremoto que assolou o país em 2010. As ações executadas pelo BRABAT

foram muito importantes para a manunteção de um ambiente estável na ilha caribenha,

particularmente em Porto Príncipe.

A atuação do Batalhão foi relevante para a condução das atividades após a catástrofe,

mediante a provisão da segurança para a condução da ajuda humanitária, feita por diferentes

atores que chegaram na ilha caribenha, e a distribuição de gêneros para a população haitiana

(PINHEIRO, 2011; KEEN et al., 2010). Nessa segunda missão, a própria tropa brasileira

90 Neste bairro os soldados brasileiros da MINUSTAH ocuparam a área e a transformaram em um ambiente de normalidade, após seis anos de operações bem-sucedidas (KEEN et al., 2010).

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realizava a segurança nas áreas em que ficou encarregada da distribuição de alimentos, oriundos

do Brasil e do World Food Program (WFP).

Em apoio à ONU, particularmente o WFP, diariamente as tropas brasileiras eram

deslocadas para os depósitos, a fim de escoltar as carretas repletas de gêneros para serem

distribuídos em locais previamente reconhecidos (PINHEIRO, 2011). Como parâmetro de

comparação para atestar a relevância dessa missão, aproximadamente 80 toneladas de alimentos

eram distribuídas pelo BRABAT durante cinco ou seis horas, por dia, após o terremoto,

enquanto que durante o primeiro semestre de 2009, toda a MINUSTAH distribuiu algo em torno

de 40 toneladas de gêneros no Haiti (PINHEIRO, 2011;CERQUEIRA, 2014).

As missões de ajuda humanitária e de socorro a desastres pós-terremoto ainda se fizeram

presentes após a ocorrência dos furacões Katrina e Matthew, que também atingiram a ilha

caribenha; entretanto, nenhum destes desastres naturais teve a magnitude do terremoto, o que

demandou um esforço logístico de maior amplitude por parte do CONTBRAS.

A relevância da logística humanitária conduzida pelo BRABAT também pode ser

atestada por meio de missões de CIMIC (CERQUEIRA, 2014). Foram realizadas ações como

a distribuição de água, de alimentos e de material escolar, assim como atendimento médico de

emergência para a população haitiana (DE OLIVEIRA, 2013, VARELLA; MACIEL NETO;

GONÇALVES, 2013). Igualmente, no âmbito dos QIPs, o BRABAT conduziu o treinamento

de grupos comunitários de emergência, a implantação de um Gabinete Odontológico e uma

Clínica Médica em Cité Soleil e a execução de projetos ambientais, contribuindo para o resgate

e o desenvolvimento da cidadania do povo haitiano (PACHECO, 2012). Conforme De Oliveira

(2013), o BRABAT, em parceria com o Community Violence Reduction (CVR)91, contribuiu

para promover a reeducação da população, particularmente no bairro de Cité Soleil, por meio

de ações de melhoria e de manutenção de áreas públicas (notadamente praças), bairros e casas,

por intermédio de uma conscientização coletiva da população.

2.2.2.2 Logística da Companhia de Engenharia de Força de Paz (BRAENGCOY)

A Engenharia do EB foi representada desde o início da missão por meio de um Pelotão

incorporado ao BRABAT. Enquanto o BRABAT 2 esteve desdobrado no Haiti (2010 a 2013),

91 O Programa de Redução da Violência Comunitária da MINUSTAH foi implementado em 2006 (UN NEWS, 2016).

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90

contava também com um Pelotão de Engenharia92. A partir de 2005, foi instituída a

BRAENGCOY93. O DEC foi o ODS responsável pelo treinamento e preparação dessas três

frações.

A BRAENGCOY foi responsável por proporcionar o apoio de engenharia em trabalhos

de construção em campanha, de instalações (infraestrutura e superestrutura) e de proteção para

os contingentes de Força de Paz em todo o Haiti, não apenas em Porto Príncipe (TEIXEIRA;

SILVA, 2007; BRAENGCOY, 2010a; LOPES, 2013). Dentre as diversas possibilidades da

BRAENGCOY, ressaltam-se, no presente trabalho, as que podem ser empregadas na logística

humanitária, particularmente: i) reparação, reforma, melhoramento, adaptação e construção de

instalações, estradas, aeródromos e pontes; ii) trabalhos de infraestrutura, o que inclui

construção de bueiros e sistemas de drenagem; iii) desobstrução, com remoção de entulhos,

escombros e carcaças94; e iv) reparação e manutenção das vias de circulação, em apoio à

mobilidade e segurança das tropas da Força de Paz da ONU e às ações humanitárias.

No que concerne à reconstrução do país, a BRAENGCOY realizou obras em benefício

da população haitiana, particularmente, a perfuração de poços artesianos, serviços de

terraplanagens95, recuperação de estradas e asfaltamento de ruas, assim como o tratamento de

água para fornecer à população (TEIXEIRA; SILVA, 2007). Ademais, a Companhia realizava

o enquadramento de mão-de-obra civil para executar parte desses trabalhos, o que é um fator

importante para a estabilização do país, objetivo principal da MINUSTAH.

Com relação à ajuda humanitária e socorro a desastres, a BRAENGCOY realizou

trabalhos em escolas e orfanatos, por intermédio da recuperação de carteiras, pintura de escolas,

melhoria dos acessos das crianças às escolas, além da prestação de assistência médica e

92 A seleção dos integrantes do Pelotão é encargo de uma OM de Engenharia designada para isso, podendo ser um Batalhão ou uma Companhia. Pode também ocorrer de o Pelotão ser constituído por integrantes de mais de uma OM. A designação de qual (is) OM virão a constituir esta fração é definida por meio de Diretriz do COTER para o Comando Militar de Área designado para preparar o contingente. As instruções comuns a todos os integrantes do contingente, tais como Material Básico de Treinamento para Operações de Paz (Core Pre-Deployment Materials), Armamento, Munição e Tiro, normalmente ficam a cargo das OM de origem dos militares. Já a preparação e o treinamento para atividades específicas de Engenharia a cargo do Pelotão contam com o apoio do DEC. 93 Ao se mencionar �Engenharia no Haiti�, a maior parte dos artigos, publicações e notícias veiculadas pelos meios de comunicação refere-se somente à BRAENGCOY. As frações de Engenharia dos BRABAT são integradas na cadeia de suprimento gerenciada pelo DEC, recebendo também materiais de engenharia deste ODS. Ainda que existam outras frações desta arma, a presente seção abordará somente o trabalho realizado pela BRAENGCOY. 94 Isso foi feito por meio da participação em várias operações militares, nas quais havia necessidade de desobstrução de vias e acessos. Até 2009, por exemplo, já haviam sido removidos cerca de 11.000 metros cúbicos de material (REVISTA VERDE OLIVA, 2009). 95 Como exemplo, menciona-se a execução de trabalhos de terraplanagem, com movimentação de mais de 200.000 metros cúbicos de material na primeira metade da missão (REVISTA VERDE OLIVA, 2009).

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programação de atividades de recreação. Essas atividades foram importantes para melhorar a

imagem da MINUSTAH perante a população local (TEIXEIRA; SILVA, 2007). Após o

terremoto que devastou Porto Príncipe, a BRAENGCOY participou das missões de assistência

humanitária e de socorro a desastres que couberam ao CONTBRAS. Com relação a estas

últimas, recebeu a incumbência de desobstruir ruas e vielas, ao mesmo tempo em que, em

coordenação com órgãos de assistência humanitária, apoiava as atividades de sepultamento

mediante o emprego de seus equipamentos (PINHEIRO, 2011).

Os trabalhos em proveito da MINUSTAH traduziram-se em uma oportunidade de

adestramento para a BRAENGCOY, particularmente na vertente do apoio ao combate da arma

de engenharia96. Em 2009, a Companhia montou uma ponte logística97, restabelecendo a ligação

terrestre entre as cidades de Saint-Raphael e Dondon, interrompida após a destruição da ponte

que existia no local pelas enchentes e pelos furacões ocorridos (REVISTA VERDE OLIVA,

2009). Igualmente, conduziu a destruição de aproximadamente 9.000 quilos de explosivos e

munições, tanto em apoio aos demais contingentes quanto em proveito da população haitiana

(REVISTA VERDE OLIVA, 2009).

Assim como o BRABAT, a BRAENGCOY também se inseriu na condução dos QIPs

em proveito da população haitiana (PINHEIRO DA SILVA, 2012). A Companhia construiu

obras de interesse público, as quais visavam conquistar corações e mentes da população

haitiana. Dentre os projetos desenvolvidos pela BRAENGCOY destacam-se a abertura de

poços artesianos, o reparo e o asfaltamento de ruas e estradas, assim como a reforma de praças

e a melhoria de escolas, em trabalhos que sempre incluíam o emprego de mão de obra local

(DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO, 2017).

O término da MINUSTAH, encerrada em 31 de agosto de 2017, mostra que a

contribuição da Engenharia do Exército Brasileiro foi importante para a reconstrução do Haiti,

atestada mediante o apoio à mobilidade e à proteção das tropas da missão, assim como os

96 De acordo com o Manual de Fundamentos EB20-MF-10.101: O Exército Brasileiro, a arma de engenharia do possui duas vertentes: combate e construção. Na vertente do combate, apoia diretamente as armas-base, a Infantaria e a Cavalaria, facilitando o deslocamento das tropas amigas, realizando reconhecimentos técnicos, reparando estradas, pontes e realizando trabalhos de fortificação de campanha e camuflagem. Já no ramo da construção, realiza obras de infraestrutura, construindo estradas de rodagem, ferrovias, pontes (construções horizontais) e açudes, barragens, poços artesianos e instalações (construções verticais) em proveito da Força Terrestre e apoio a instituições governamentais e civis (BRASIL, 2014e). 97 A denominação deste tipo de equipagem de ponte é oriunda do termo anglófono Logistics Support Bridge (Ponte Logística de Apoio, em tradução livre). A equipagem tem emprego dual: é concebida para o transporte da logística da tropa � envolvendo os equipamentos mais pesados � e para a utilização temporária em substituição a pontes destruídas em catástrofes naturais. A versão mais conhecida é a que era fabricada pela empresa britânica que dá nome à equipagem utilizada no Haiti: Bailey M2. No entanto, existem outras versões, dentre elas a que foi adquirida pelo EB, fabricada pela empresa também britânica Mabey.

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trabalhos de ajuda humanitária e de QIP. De forma a quantificar esta importância, apresenta-se

um balanço das seguintes missões cumpridas pela BRAENGCOY (DEPARTAMENTO DE

ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO, 2017): mais de 365 mil m3 de produção e transporte de

água tratada, 64 poços artesianos perfurados, cerca de 349 mil m2 de asfaltamento de vias e de

815 mil m2 de estradas reparadas, além de 23 mil m3 de escombro/entulho removidos. Nesse

sentido, a BRAENGCOY representou uma parcela importante para o processo de estabilização

do Haiti, podendo ser considerada uma ferramenta essencial à obtenção do êxito da missão do

Brasil no Haiti.

Por fim, constata-se que as tropas brasileiras se destacaram pela realização de trabalhos

humanitários, os quais contribuíram para melhorar as condições de vida da população haitiana,

assim como implementar condições para o desenvolvimento sustentável daquele país. Dessa

forma, pode-se afirmar que os Capacetes Azuis do Brasil implementaram uma estrutura que

assegurou às Nações Unidas e a outros atores internacionais cumprirem suas atividades em

proveito do Haiti de forma coerente e coordenada, consoante com uma das metas previstas para

uma missão multidimensional98.

O CONTBRAS prestou importante apoio ao povo haitiano realizando assistência

humanitária, socorro a desastres e reconstrução. De acordo com Varella, Maciel Neto e

Gonçalves (2013), a atuação das tropas brasileiras no Haiti serviu de importante treinamento

do planejamento logístico, estreitando os laços entre as Forças Armadas e demonstrando sua

capacidade de mobilização em caso de conflito e em situações de ajuda humanitária. O

resultado bem-sucedido da missão contou com eficientes meios de comando e controle, uma

quantidade adequada de viaturas sobre rodas e blindadas e de meios de vigilância na obtenção

de dados e na proteção da tropa, majoritariamente produzidos por indústrias brasileiras,

conforme será abordado no capítulo a seguir.

98 Conforme abordado no presente capítulo, tal meta destina-se a prover uma estrutura para assegurar que todas as agências da ONU e outros atores internacionais cumpram suas metas em prol do país-sede de forma coerente e coordenada, em um ambiente seguro (UNITED NATIONS, 2008).

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CAPÍTULO 3 � CONSIDERAÇÕES SOBRE A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA

Após as discussões e ilações expostas nos capítulos 1 e 2, parte-se agora para as

considerações sobre a Base Industrial de Defesa (BID).

O capítulo 3 possui três seções. Incialmente, apresentam-se os resultados preliminares

da pesquisa99, em que se procurou estabelecer uma relação entre as Operações de Manutenção

da Paz (OMP) e a indústria de defesa. Na segunda seção, discorre-se sobre o histórico da BID

do Brasil, a sua evolução o seu atual estágio, parte em que são examinadas as políticas de

Estado para a Defesa. Igualmente, há uma discussão sobre o papel das federações das indústrias

no fomento à BID, assim como o aumento do interesse do empresariado nacional para o

fornecimento de materiais e de equipamentos para as Forças Armadas a partir da visibilidade

que a missão no Haiti trouxe ao Brasil

O escopo da última seção do capítulo 3 destina-se à apresentação dos impactos da

participação na MINUSTAH para a BID, a partir da análise das empresas brasileiras na missão.

Por meio do envio de pesquisas enviadas às empresas e da realização de entrevistas, foram

elaborados estudos de caso com os componentes empregados pelos capacetes azuis brasileiros

na missão, de forma a analisar de que forma contribuíram para a BID.

3.1 RESULTADOS PRELIMINARES DA PESQUISA

A elaboração do presente capítulo foi precedida de uma pesquisa de campo, destinada

a identificar aspectos relacionados à logística atinente às OMP e suas ligações com a indústria

de defesa. O universo da pesquisa100 constou de 332 oficiais, subtenentes, e sargentos das três

Forças Armadas (FA) brasileiras que tiveram ligações com OMP. De todos os questionários

enviados, 59 foram respondidos, constituindo-se na base de dados para a realização da presente

pesquisa.

O questionário que subsidiou a pesquisa supracitada encontra-se no Anexo �A� desta

dissertação. Ressalta-se que nem todas as perguntas formuladas estão reproduzidas nestes

99 Os resultados foram obtidos durante uma pesquisa apresentada durante o processo seletivo para o Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, realizado em 2015. 100 O universo foi escolhido a partir da experiência prévia do autor como responsável pela concepção, planejamento e coordenação do Estágio de Logística e Reembolso do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB). A pesquisa foi enviada somente para militares que haviam sido instrutores do referido estágio, assim como alunos após a conclusão de suas funções na MINUSTAH. Ademais, o questionário também foi enviado para integrantes de ODS que tiveram participação direta ou indireta na logística do CONTBRAS Haiti.

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resultados preliminares; contudo, de forma a expor os dados obtidos com maior clareza e

coerência, preferiu-se manter os números das perguntas exatamente como é descrito no anexo

supracitado.

Ao ser solicitado ao militar responder a respeito da origem dos equipamentos, materiais

ou viaturas empregados na missão em que o militar participou, a maioria respondeu que são de

fabricação nacional, de acordo com a tabela 9:

Tabela 9- Materiais de emprego militar utilizados por contingentes brasileiros em OMP

Na missão de paz que o(a) senhor(a) participou, havia equipamentos, materiais ou viaturas fabricados no Brasil? Percentagem Resposta Sim 86,4 % 52 Não 12,1 % 7 Nº de respostas 59 Fonte: o autor. Disponível em <http://www.survio.com/survey/d/G2I2Q4H7Q1Q8A1L2R>

O questionamento também solicitava para que o militar descrevesse, sucintamente,

quais seriam os equipamentos existentes. De forma espontânea, foram mencionados os diversos

itens que compõem a logística do contingente brasileiro, assim como algumas das empresas

fornecedoras, todas sediadas no Brasil, a saber: Engesa, Agrale, Volkswagen, MBB, Ford,

Iveco, Perenne, Mercedes-Benz, Catterpilar, Komatsu, Geradores SDMO e Weatherheaven do

Brasil.

No que concerne à logística do material empregado pelos contingentes brasileiros,

formulou-se a seguinte pergunta:

Tabela 10- Consulta sobre a logística em OMP envolvendo empresas brasileiras

O(a) senhor(a) acredita que os procedimentos atinentes à logística do material empregado em missões de paz, tais como manutenção, substituição de componentes e transporte de peças de reposição, podem ser mais simples quando existem fábricas de tais materiais instaladas no Brasil ? Resposta Percentagem Respostas Concordo plenamente 61,0 % 36 Concordo 22,4 % 13 Discordo 10,3 % 6 Não tenho opinião formada 6,9 % 4 Número de respostas 59

Fonte: o autor. Disponível em <http://www.survio.com/survey/d/G2I2Q4H7Q1Q8A1L2R>

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Por fim, solicitou-se aos militares opinarem se a logística empregada pelos contingentes

brasileiros em missões das Nações Unidas poderia contribuir para o desenvolvimento da

indústria de defesa brasileira, conforme a tabela 11:

Tabela 11- Consulta sobre a contribuição da logística das OMP para a indústria de defesa

A logística empregada pelas Forças Armadas em Operações de Manutenção de Paz sob a égide da ONU poderia contribuir para o desenvolvimento da indústria de defesa do Brasil ? Resposta Percentagem Respostas Concordo plenamente 61,0 % 36 Concordo 27,6 % 16 Discordo 3,4 % 2 Não tenho opinião formada 8,6 % 5 Número de respostas 59 Fonte: o autor. Disponível em <http://www.survio.com/survey/d/G2I2Q4H7Q1Q8A1L2R>

A sondagem realizada serviu como parâmetro inicial para a elaboração do projeto desta

dissertação de mestrado, possibilitando-se inferir que há correlação entre as OMP e a indústria

de material de defesa. Os resultados preliminares, apresentados nas tabelas de 9 a 11,

constituíram-se em subsídios para o prosseguimento da presente pesquisa. As seções 3.2 Breve

Histórico e Situação Atual da Base Industrial de Defesa Brasileira e 3.3 Impactos da

Participação na MINUSTAH para a BID Nacional do presente capítulo destinam-se a

comprovar, de forma qualitativa e quantitativa, em que medida a MINUSTAH pode fomentar

a BID nacional.

3.2 BREVE HISTÓRICO E SITUAÇÃO ATUAL DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA

BRASILEIRA

3.2.1 Breve histórico da Base Industrial de Defesa do Brasil

A Base Industrial de Defesa (BID) do Brasil, partindo novamente da conceituação de

Amarante (2012), remonta ao período da chamada Era Vargas. Durante os dois períodos desta

Era, houve o fomento à indústria de base, permitindo a fabricação de insumos para as fábricas

de armamentos. Igualmente, houve o aumento da construção de hidrelétricas para a produção

de energia, o que contribuiu para o fomento à atividade industrial e, por conseguinte, foi

importante para a incipiente indústria de defesa. Posteriormente, no período do presidente

Juscelino Kubistchek (1956-1961), a consolidação do parque industrial brasileiro,

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impulsionado pela entrada das empresas transnacionais de automóveis, ensejou o impulso à

formação e à capacitação de engenheiros e de técnicos voltados para a indústria.

No período dos governos militares (1964-1985), contudo, é que ocorre a consolidação

da BID do Brasil (VISENTINI, 2004; CERVO; BUENO, 2015; ANDRADE, 2016). Foi neste

período em que foram criadas as empresas estatais do segmento de defesa como a Empresa

Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER) � privatizada em 1994 � a Indústria de Material Bélico

do Brasil (IMBEL) � vinculada ao Exército Brasileiro (EB) � e a Empresa Gerencial de Projetos

Navais (Emgepron) � vinculada à Marinha do Brasil (MB). Essas empresas solidificaram o tripé

do complexo industrial militar brasileiro (VISENTINI, 2004; AMARANTE, 2012). No

segmento privado, surgiram a Engenheiros Especializados S.A. (Engesa)101 e a Avibrás

Indústria Aeroespacial S/A, o que possibilitou que, em 1984, a indústria bélica nacional batesse

o recorde de exportação, vendendo cerca de 1,2 bilhão de dólares em armamentos (VISENTINI,

2004).

Ainda com relação aos governos militares, foi neste período em que houve maior

fomento aos centros de pesquisa, como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) � criado

em 1941, no governo Vargas � e ao Instituto Militar de Engenharia (IME), OM do EB.

Igualmente, o início do Programa Nuclear brasileiro no Governo de Ernesto Geisel (1974-1979)

criou condições para a produção de energia a partir de minerais físseis e, posteriormente, para

o projeto do submarino nuclear da MB.

A partir do mandato de Emílio Médici (1969-1974) até o de José Sarney (1985-1989)

houve um aumento quantitativo e qualitativo das exportações de armamentos. A indústria de

defesa do Brasil passou a comercializar com países da América Latina, do norte da África e do

Oriente Médio aviões e carros de combate, armamentos leves � fuzis e pistolas � mísseis e

veículos lançadores de foguetes (VISENTINI, 2004). Na década de 1980, a Engesa fabricou o

protótipo do carro de combate Osório, melhor blindado do mundo à época, superando os rivais

Abrams dos EUA, Challenger do Reino Unido e Renault da França (PEREIRA, 2010).

De acordo com Visentini (2005), o retrocesso para o desenvolvimentismo nacional no

governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) culminou na dilapidação do patrimônio

acumulado nesta área ao longo de décadas e no encolhimento da diplomacia brasileira. Destarte,

a indústria de defesa não se constituía mais em um esteio para a condução de uma política

externa mais assertiva, como ocorrera nos Governos Militares e no de Sarney. Empresas que

101 A empresa, que era a maior exportadora de produtos militares no Brasil até o começo da década de 1990, foi à falência em 1993 (ANDRADE, 2016).

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contribuíram decisivamente para as exportações bélicas passaram por sérias dificuldades, como

a Avibras, que se manteve sem vendas externas entre 1993 e 1999, tendo passado por crises e

concordatas, e não tendo, ainda hoje, recuperado sua saúde financeira102. Outras decretaram

falência, cujo caso mais emblemático foi o da Engesa, em 1993.

A partir dos mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e prosseguindo nos

de Luís Inácio Lula da Silva (2003�2011), ocorreu o início da formulação de políticas de Estado

voltadas para a Defesa Nacional (CERVO, BUENO, 2015). Em 1996, Cardoso expediu a

Política de Defesa Nacional (PDN), cuja meta mais marcante era a de criar o Ministério da

Defesa, subordinando os antigos ministérios de cada uma das Forças Armadas ao comando de

um civil, em uma tendência que progressivamente ocorreu em todos os países da América

Latina (ALSINA JR, 2003).

No governo de Lula, a tensa situação envolvendo a greve dos controladores de voo da

Aeronáutica e o caos aéreo conduziram à formulação da Política Nacional de Defesa (PND) em

2005, em uma tentativa de contornar a crise que se instaurou (OLIVEIRA, 2009). Destarte, no

primeiro mandato desse presidente, foi expedida a Política Nacional da Indústria de Defesa

(PNID)103, na qual são apresentadas as definições de Base Industrial de Defesa104 e de Produto

Estratégico de Defesa105. A PNID foi concebida com o objetivo geral de fortalecer a BID, o que

viria a ser retomado pelos diplomas legais expedidos posteriormente.

Já no segundo mandato de Lula, foi lançada, em 2008, a Política de Desenvolvimento

Produtivo (PDP), que considerou o complexo industrial de defesa como um dos Programas

Mobilizadores em Áreas Estratégicas (ANDRADE, 2016). A PDP contempla 32 áreas, dentre

as quais o programa estruturante do Complexo Industrial de Defesa, com a finalidade de

recuperar e incentivar o crescimento da base industrial instalada, ampliando o fornecimento

para as Forças Armadas brasileiras e exportações.

No mesmo ano, foi formulada a Estratégia Nacional de Defesa (END) que, juntamente

com a PND, foram revisadas e atualizadas em 2012. A primeira edição da END previa o

102 ANDRADE, Israel de Oliveira. Base Industrial de Defesa: contextualização histórica, conjuntura atual e perspectivas futuras. In: ABDI-IPEA Mapeamento da Base Industrial de Defesa. Brasília: [s.n.], 2016. p. 11-29. 103 Conforme a PORTARIA NORMATIVA Nº 899/MD, DE 19 DE JULHO DE 2005 - Aprova a Política Nacional da Indústria de Defesa � PNID. 104 De acordo com a PNID, a BID é o conjunto das empresas estatais e privadas, bem como organizações civis e militares, que participem de uma ou mais das etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de produtos estratégicos de defesa 105 Idem. (idem o que? Creio que não caiba...) Bens e serviços que pelas peculiaridades de obtenção, produção, distribuição, armazenagem, manutenção ou emprego possam comprometer, direta ou indiretamente, a consecução de objetivos relacionados à segurança ou à defesa do País.

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estabelecimento da Secretaria de Produtos de Defesa junto ao Ministério da Defesa106, com o

objetivo de implementar uma política centralizada de compras de produtos de defesa. A

Estratégia voltava-se para o estabelecimento de um plano de defesa centrado em ações

estratégicas de médio e de longo prazo, além de buscar a modernização da estrutura nacional

de defesa. Igualmente, a END demonstrou especial atenção à indústria de defesa (ANDRADE,

2016).

O período de Lula coincidiu com uma época de crescimento econômico e,

particularmente no segundo mandato, com o ápice da participação do Brasil no Haiti,

materializada na pacificação de Cité Soleil, a partir de 2007, e nas ações de ajuda humanitária

e de socorro a desastres após o terremoto em 2010. Igualmente, ocorreu a criação do Comitê da

Indústria de Defesa da Federação das Indústrias de São Paulo (COMDEFESA/FIESP), em

2007, e do Conselho Empresarial de Defesa e Segurança do Sistema FIRJAN107 no ano seguinte

(FIESP, 2017; FIRJAN, 2017a).

3.2.2 Atual estágio da BID

Na conjuntura recente da BID, percebe-se uma maior integração das FA com as

empresas de defesa e com empresas civis, particularmente por meio da atuação dos

COMDEFESA, conforme será explorado a seguir. A partir do lançamento da PND e da END

em 2008, revisadas em 2012, houve a expedição de leis e decretos em proveito da Defesa a

partir de 2013.

No governo da presidente Dilma Rousseff, houve uma continuidade nos programas e

medidas voltadas para a indústria de defesa, considerada estratégica para a soberania do país108.

Durante seu primeiro mandato, foi criado o Plano Brasil Maior, em 2011, destinado a dar

continuidade à PDP (ANDRADE, 2016).

106 Consoante com o DECRETO Nº 6.703, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008 - Aprova a Estratégia Nacional de Defesa, e dá outras providências. 107 O órgão é também denominado COMDEFESA/FIRJAN. 108 [...] �seja pelo tamanho do nosso território, pela extensão de nossas fronteiras e pelo fato de o nosso país ter sido abençoado com enormes riquezas, nós precisamos dessa indústria, porque ela é estratégica na nossa soberania� [...]. Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante cerimônia de anúncio de medidas de fomento à indústria nacional de Defesa. Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/discursos/discursos-da-presidenta/discurso-da-presidenta-da-republica-dilma-rousseff-durante-cerimonia-de-anuncio-de-medidas-de-fomento-a-industria-nacional-de-defesa-brasilia-df>. Acesso em 20 dez. 2017.

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99

O ano de 2012 marca o lançamento do Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). O

documento registra o crescente diálogo entre civis e militares em torno da defesa nacional, além

de apresentar a política declaratória do Brasil para os atores e instituições internacionais

(CEPIK, 2014). Ainda segundo Cepik (2014), o LBDN esclarece o caráter dissuasório das

forças militares brasileiras diante de ameaças externas. O texto confere especial atenção ao

conceito de transformação da defesa, que visa possibilitar maior capacitação das FA e criar

oportunidades para o crescimento econômico (ANDRADE, 2016). De forma a viabilizar tal

mudança, o LBDN previu a implementação do Plano de Articulação e Equipamento da Defesa

(PAED) e a reorganização da BID (BRASIL, 2012c).

A Lei de fomento à Base Industrial de Defesa 109 foi expedida em 2012110 pelo MD

como um desdobramento do Plano Brasil Maior, criado para aumentar a competitividade da

indústria nacional, a partir do incentivo à inovação tecnológica. A Lei tornou-se um marco no

modo como o país trata o papel da indústria de defesa, por criar o regime especial de tributação

para o setor (o RETID111), desonerando empresas de encargos diversos. A Lei diminui o custo

de produção de companhias legalmente classificadas como estratégicas e estabelece incentivos

ao desenvolvimento de tecnologias indispensáveis ao Brasil. Além de instituir o RETID, a Lei

Nº 12.598 estabeleceu as definições de Produto de Defesa (Prode)112, Produto Estratégico de

Defesa (PED)113, Sistema de Defesa (SD)114 e Empresa Estratégica de Defesa (EED)115.

Outro aspecto importante é a criação da Comissão Mista da Indústria de Defesa �

CMID. A Comissão tem por finalidade assessorar o Ministro de Estado da Defesa em processos

109 Conforme informações disponíveis no portal do Ministério da Defesa. Disponível em:< http://www.defesa.gov.br/industria-de-defesa/lei-de-fomento-a-base-industrial-de-defesa.> Acesso em 15 mar. 2017. 110 Neste ano, o MD credenciou 26 empresas e 26 produtos estratégicos de defesa, que passaram a ter benefícios fiscais e tributários que permitirão desonerar a cadeia produtiva em até 18%, tornando-as mais competitivas nos Lei de fomento à Base Industrial de Defesa mercados interno e externo. 111 De acordo com o DECRETO Nº 8.122, DE 16 DE OUTUBRO DE 2013- Regulamenta o Regime Especial Tributário para a Indústria de Defesa (RETID), instituído pela Lei nº 12.598, de 22 de março de 2012. 112 [...] �todo bem, serviço, obra ou informação, inclusive armamentos, munições, meios de transporte e de comunicações, fardamentos e materiais de uso individual e coletivo utilizados nas atividades finalísticas de defesa, com exceção daqueles de uso administrativo� [...] (BRASIL, 2012d, p. 1). 113 [...] � todo Prode que, pelo conteúdo tecnológico, pela dificuldade de obtenção ou pela imprescindibilidade, seja de interesse estratégico para a defesa nacional [...] (BRASIL, 2012d, p. 1) 114 [...] � conjunto interrelacionado ou interativo de Prode que atenda a uma finalidade específica [...] (BRASIL, 2012d, p. 1). 115 Enquadram-se nesta categoria empresas que atendam exigências como ser voltada para a produção, reparo, conservação, revisão, conversão, modernização ou manutenção de PED no País e dispor de dispor, no País, de comprovado conhecimento científico ou tecnológico próprio ou complementado por acordos de parceria com Instituição Científica e Tecnológica para realização de atividades conjuntas de pesquisa científica e tecnológica e desenvolvimento de tecnologia (BRASIL, 2009).

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decisórios e em proposições de atos relacionados à indústria nacional de defesa116. A CMID

encarrega-se, dentre outras atribuições, de propor que novas empresas possam ser classificadas

como empresas estratégicas de defesa, ensejando uma maior integração entre o Governo e a

iniciativa privada em proveito da Defesa.

Ademais, a Comissão define que os produtos de defesa serão catalogados conforme as

normas e os procedimentos compatíveis com o Sistema Militar de Catalogação das FA

(SISMICAT)117. A implementação do SISMICAT propicia a melhoria no relacionamento

governo-indústria, por meio de um único sistema de identificação (BRASIL, 2003). Destarte,

facilita a coordenação entre órgãos de obtenção, possibilitando a composição mais eficiente de

lotes econômicos de compra a partir da combinação de pedidos de vários usuários, além de

apresentar a possibilidade de apoio ao suprimento coordenado entre organizações participantes

do sistema e outras organizações vinculadas no país e no exterior (BRASIL, 2003). Dessa

forma, o SISMICAT torna-se um atrativo para indústria de defesa, para o Governo e para as

Forças Armadas, estimulando as vendas para o exterior, o que representa uma contribuição para

o fortalecimento da BID.

O PAED é outro reflexo da PND e da END; sua concepção foi definida pelo LBDN

(BRASIL, 2012c). Trata-se de um instrumento que o Estado dispõe para garantir o

fornecimento dos meios que as FA necessitam, bem como a infraestrutura que irá provê-los.

Por meio dele, o Ministério da Defesa planeja e executa as compras associadas aos projetos

estratégicos de defesa, ao mesmo tempo em que organiza e sustenta, com esses investimentos,

o setor industrial de defesa no país.

Tabela 12- Resumo dos documentos e medidas voltadas para a Base Industrial de Defesa

Documento/ Medida Principais Aspectos e Reflexos Política de Defesa Nacional (PDN) (1996)

Criação do Ministério da Defesa

Política de Defesa Nacional (2005) Reedição da PDN de FHC, lançada no governo Lula e reeditada em 2008 como Política Nacional de Defesa

Política Nacional da Indústria de Defesa (PNID) (2005)

Concebida com o objetivo geral de fortalecer a BID, apresenta os conceitos de Base Industrial de Defesa e de Produto Estratégico de Defesa

116 Consoante com o DECRETO Nº 7.970, DE 28 DE MARÇO DE 2013- Regulamenta dispositivos da Lei nº 12.598, de 22 de março de 2012, que estabelece normas especiais para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e sistemas de defesa, e dá outras providências. 117 Instituído pela instituído pela Portaria nº 2.429/CPCM, de 23/08/1982, alterada pela Portaria nº 1.510/CPCM, de 05/06/1984, ambas do então Estado-Maior das Forças Armadas. Para maiores detalhes, consultar o Manual Do Sistema Militar de Catalogação, expedido pelo Departamento de Logística do Ministério da Defesa.

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101

Política do Desenvolvimento Produtivo (PDP) (2008)

Programa estruturante do Complexo Industrial de Defesa - recuperação e incentivo ao crescimento da base industrial instalada, ampliando o fornecimento para as FA brasileiras e exportações.

Estratégia Nacional de Defesa (END) 2008

Estabelecimento de um plano de defesa centrado em ações estratégicas de médio e de longo prazo. Modernização da estrutura nacional de defesa. Especial atenção à indústria de defesa. Lançamento da SEPROD

Plano Brasil Maior (2011) Continuidade à PDP

Livro Branco de Defesa Nacional (2012)

Instituição do PAED e reorganização da BID

Lei nº 12.598 (2012) Criação do RETID. Estabelecimento de conceitos relativos à defesa � Prode, PED, SD e EED

Decreto nº 7.970 (2013) Criação da CMID e do SISMICAT

Decreto nº 8.122 (2013) Regulamentação do RETID

Elaboração: o autor

3.2.3 O Papel das Federações das Indústrias no Fortalecimento da Base Industrial de Defesa

As medidas adotadas pelo Governo em relação à indústria de defesa foram muito bem

aceitas pelo empresariado nacional, particularmente no âmbito da Federação das Indústrias de

São Paulo (FIESP) (THE MILITARY BALANCE, 2013). A inserção das empresas brasileiras

na produção de componentes de defesa, particularmente no que concerne ao emprego dual �

conforme orientação da END � é majoritariamente percebida nas Regiões do país de maior

Produto Interno Bruto (PIB) e produção industrial, em especial no Sul e, sobretudo, Sudeste.

Dessa forma, não é de admirar que os primeiros COMDEFESA foram estruturados junto às

Federações das indústrias destes Estados da Federação, à exceção do Espírito Santo.

A FIESP foi a primeira a instituir tal órgão118, em setembro de 2007, após a expedição

da PND, o que atesta a atenção do empresariado paulista com a Defesa. Após a instituição do

COMDEFESA/FIESP, foram concebidos os homólogos da Federação das Indústrias dos

Estados de Minas Gerais (FIEMG), Rio de Janeiro (FIRJAN), Rio Grande do Sul (FIERGS) e

118 Denominado de Departamento da Indústria de Defesa da FIESP (Comdefesa)

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102

do Paraná (FIEP). No ano de 2018, as federações das indústrias dos estados de Pernambuco

(FIEPE) e de Goiás (FIEG) lançaram seus Comitê da Indústria de Defesa e Segurança.

O COMDEFESA/FIESP, segundo a própria Federação, conduz projetos e atividades

que visam conhecer o setor em detalhes, desenvolver projetos alinhados com as premissas da

Política Nacional de Defesa e valorizar as missões das FA por meio de eventos e projetos que

envolvam a sociedade (FIESP, 2017). Para isso, estruturou as divisões de Mercado

Internacional de Produtos de Defesa, Inovação e Soluções para Defesa e Competitividade para

a Indústria Nacional de Defesa, a qual acompanha as Políticas de Desenvolvimento Produtivo

(PDP) para o setor de defesa e a criação de projetos que visem à eliminação da assimetria

tributária na cadeia produtiva (KATSANOS, 2017)119. A Federação cita diversas conquistas

realizadas em proveito da Defesa, dentre as quais ressaltam-se Carros de Combate, Viaturas

Blindadas, Desenvolvimento Nuclear, Projeto de Lei Complementar � PLC e, sobretudo, o

Fortalecimento da Indústria Nacional de Defesa (FIESP, 2017). No que concerne

especificamente à MINUSTAH, registra-se a visita de Paulo Skaff ao BRABAT 2 em 2011

(EXÉRCITO BRASILEIRO, 2011), assim como a recepção ao primeiro-ministro do Haiti,

Laurent Lamothe, na sede da FIESP, em 2013.120

O Conselho Empresarial de Defesa e Segurança do Sistema FIRJAN foi fundado em

2008 com a finalidade de fortalecer a cadeia produtiva do setor e, por conseguinte, contribuir

para impulsionar a economia do estado (FIRJAN, 2017a). O COMDEFESA fluminense trata

de temas como financiamento e incentivos fiscais e busca manter um relacionamento próximo

com as FA do Brasil, os órgãos de segurança e as áreas interligadas, visando conhecer o que é

planejado para o setor, de forma que a indústria possa se adequar a essas demandas121. De

acordo com o presidente do Conselho, Carlos Erane de Aguiar, os órgãos de segurança, neste

caso incluídas as Forças Armadas, podem representar grandes oportunidades de negócios para

as indústrias (FIRJAN, 2017b).

O COMDEFESA da FIEMG foi concebido com a finalidade de identificar efetivas

oportunidades de negócio entre as demandas das FA e as indústrias de Minas Gerais (FIEMG,

2017a). Conforme a Federação mineira, o órgão trabalha para agregar valor às cadeias

119 Anastácio Katsanos, Diretor Titular Adjunto do Departamento da Indústria de Defesa � COMDEFESA - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. 120 O encontro do primeiro-ministro com o presidente da FIESP, Paulo Skaf, destinou-se a fomentar as relações bilaterais entre os dois países e atrair investimentos para o Haiti, com foco nos setores de agronegócio, têxtil, construção e bioenergia (FIESP, 2013). 121 De forma a melhor atende-las, estruturou quatro comitês internos (aeroespacial, da força terrestre, da segurança pública e naval).

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produtivas, promover a competitividade e incentivar o avanço tecnológico das empresas,

fortalecendo o parque industrial do Estado. O COMDEFESA mineiro tem promovido ações no

apoio à atividade industrial mediante o mapeamento das indústrias com potencial de

fornecimento, o cadastramento das empresas e catalogação de seus produtos nos órgãos do MD

e nos membros da OTAN, assim como a divulgação e acompanhamento das oportunidades de

negócios (FIEMG, 2017a). Por fim, ressalta a necessidade de as FA conhecerem os projetos

que tem desenvolvido, o que pode ensejar a produção de equipamentos e insumos militares em

território nacional, diminuindo a dependência do mercado externo. Sobre esse aspecto,

menciona-se o projeto de válvulas nucleares para a Marinha do Brasil, concebido pelo Centro

de Inovação e Tecnologia da FIEMG (FIEMG, 2017b).

A FIERGS instituiu seu COMDEFESA em 2008, que reúne os principais fornecedores

do estado e empresas com potencial para atendimento de demandas do segmento de Defesa

(FIERGS, 2017a). Para isso, busca oportunidades crescentes no ambiente dos negócios para

indústrias gaúchas que possam atender, tanto com produto final quanto intermediário,

demandas das FA e do Parque Industrial Brasileiro. O COMDEFESA/FIERGS estabeleceu

estratégias para desenvolver projetos alinhados com as premissas da PND; reunir parceiros

estratégicos, para o atendimento a demandas de fornecimento; assim como atuar em iniciativas

voltadas à inserção de novas empresas no setor (FIERGS, 2017a).

O COMDEFESA122 do Paraná123 foi concebido em 2014, de forma a se preparar para

as possíveis demandas do Exército Brasileiro (FIEP, 2016). O grupo reúne empresas e

instituições do estado que fornecem ou têm interesse em fornecer produtos para as Forças

Armadas. Sua meta é criar um ambiente favorável para o segmento da defesa, considerado um

importante desencadeador de inovação e produção, capaz de gerar um círculo virtuoso em

proveito do setor produtivo do Paraná. Como resultados já obtidos, mencionam-se parcerias

firmadas entre o EB e os Instituto Senai de Inovação e Sesi.

Em Santa Catarina, o COMDEFESA124 foi criado pela FIESC em 2016, a partir de

convênios firmados com o EB e com a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

(FIESC, 2016). Sua função é promover a aproximação entre a indústria e as Forças Armadas,

ensejando a geração de oportunidades de negócios e o desenvolvimento do setor de Defesa

122 Denominado Comitê da Indústria da Defesa e Segurança do Paraná. 123 Diferentemente dos seus congêneres, o COMDEFESA paranaense não é coordenado diretamente por sua Federação, o que é feito pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado do Paraná (Sindimetal-PR). 124 Comitê da Indústria de Defesa de Santa Catarina

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como segmento estratégico para o estado. O COMDEFESA/FIESC busca desenvolver projetos

em consonância com a PND e a END e gerar oportunidades de negócio no setor de defesa.

A sucessiva concepção dos COMDEFESA, somados ao progressivo aumento das

interações entre Governo, FA e o empresariado nacional em proveito da indústria de defesa,

converteram-se incentivos para que outros estados brasileiros seguissem essa trajetória.

Primeiro da região nordeste do Brasil, o COMDEFESA da FIEPE tem como propósitos

descentralizar as indústrias de defesa do país, concentradas nas regiões Sudeste e Sul, assim

como agregar valor às cadeias produtivas, promover a competitividade e incentivar o avanço

tecnológico das empresas locais (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2018; BARBOSA, 2018). De

acordo com o presidente da FIEPE, fulano de tal, o comitê pretende inserir a indústria

pernambucana na área da defesa, fornecendo o que for preciso para atender o MD, como

vestuário, alimentos, tecnologia da informação, e não apenas material bélico. Destarte, o

COMDEFESA/FIEPE será responsável pelo mapeamento das indústrias locais com potencial

de fornecimento, e pelo cadastramento das empresas do estado e catalogação de seus produtos,

nos órgãos do MD e nos países-membro da OTAN.

Em Anápolis, na região Centro-Oeste do Brasil, foi implementado o COMDEFESA de

Goiás (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2018). A existência da Base Aérea (que receberá os caças

de fabricação binacional Grippen) e a proximidade com Formosa (sede do Forte Santa Bárbara

onde será instalado o Sistema de Mísseis Astros) reuniram condições para que Anápolis fosse

escolhida para se tornar um polo regional que objetiva contribuir para ampliação e o

fortalecimento da BID (FIEG, 2018; BRITO, 2018). O COMDEFESA goiano pretende

identificar oportunidades de negócios para que empresas do estado possam atender demandas

de diversos produtos e serviços relacionados às FA e às forças de segurança, envolvendo não

apenas material bélico, mas também produtos como uniformes, alimentos e produtos de maior

valor agregado (MINISTÉRIO DA DEFESA, 2018; BRITO, 2018).

Conforme foi mencionado no Capítulo 2, o United Nations Global Marketplace

representa uma perspectiva atrativa para fornecedores do mundo inteiro de vendas de materiais

diversos para suprir com equipamentos e suprimentos as tropas da ONU. A participação de

empresas brasileiras neste nicho ainda é restrita: dentre as mais de 8.000 fornecedoras do

mundo, somente 17 são brasileiras (HERNANDES, 2017). Dentre elas, destaca-se a Condor,

por meio do fornecimento de munições não letais, conforme será abordado na próxima seção.

A atenção do EB para que o empresariado nacional aumente sua fatia nesse mercado

pôde ser exemplificada por meio do Comandante Logístico do EB, General Theóphilo. Ao

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visitar as Federações de Indústrias do Amazonas (FIEAM, 2017), do Ceará (SENAI/CE, 2017;

SISTEMA FIEC, 2017) e do Mato Grosso do Sul (CÉSAR, 2017), o General enfatizou que a

ONU representa um comércio da ordem de US$ 17 bilhões por ano nas missões que desdobra,

do qual o Brasil tem participado com apenas 1,5% no atendimento às demandas.

Hernandes (2017) ressalta que na maior parte das compras feitas pela ONU é levado

em consideração o sistema de catalogação da OTAN. Ainda que não seja impositivo adotar tal

padrão de classificação de produtos, a empresa que não o utilizar concorrerá em piores

condições frente à outras que já o seguem. Sobre esse aspecto, salienta-se que o SISMICAT

atende ao padrão da aliança militar do ocidente, o que pode contribuir para aumentar as vendas

tanto de produtos fabricados por empresas inscritas como estratégicas de defesa quanto de

empresas civis que comercializam equipamentos que atendam às demandas militares.

Dessa forma, o cadastramento de novas empresas e, sobretudo, a catalogação de seus

produtos, que se tornou meta de todos os COMDEFESA no Brasil, permitiria aumentar a

comercialização de materiais de defesa produzidos pela indústria nacional não apenas para

países membros da OTAN, mas principalmente em proveito da ONU.

Em suma, pode-se inferir que os COMDEFESA estão alinhados com a PND e a END,

pois trabalham em prol do desenvolvimento do parque industrial a partir de demandas das

Forças Armadas. Suas atuações têm propiciado uma maior interação entre o Governo, as FFAA

e empresas, fortalecendo a BID. Outrossim, a dualidade tecnológica civil-militar pode

influenciar no desenvolvimento da BID, em um processo que tem crescido por meio da atuação

dos COMDEFESA.

De acordo com Amarante (2012), a BID necessita comercializar seus produtos e a

dualidade amplia a gama de mercadorias que empregam a tecnologia dual civil-militar.

Igualmente, a venda de produtos militares é sazonal, feita por encomenda, que implica na

ocorrência de períodos de atividade fabril intercalados por fases de estagnação produtiva. Em

consequência, a dualidade também ajuda a reduzir o tempo de ociosidade produtiva. De forma

a mitigar as questões atinentes à descontinuidade na demanda, as operações de paz da ONU

representam uma oportunidade para as empresas nacionais, o que também inclui as que não

estão diretamente ligadas à defesa.

3.3 IMPACTOS DA PARTICIPAÇÃO NA MINUSTAH PARA A BASE INDUSTRIAL DE

DEFESA BRASILEIRA

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3.3.1. Empresas Brasileiras no Haiti

Antes de proceder à divulgação dos resultados obtidos a partir da pesquisa com as

empresas do Brasil presentes na MINUSTAH, é mister abordar de que forma cada uma delas

contribuiu com o CONTBRAS. Serão apresentados quais materiais e equipamentos as empresas

comercializaram com o EB, assim como alguns itens que foram testados durante a missão. As

informações foram obtidas mediante consulta direta às empresas, feita durante o envio dos

questionários, pela consulta ao portal das empresas e por entrevistas concedidas por

encarregados das empresas. Mereceu também especial atenção a análise dos relatórios de

término de missão das Unidades brasileiras no Haiti, em especial o BRABAT e a

BRAENGCOY, de forma a verificar a origem dos fornecedores de materiais para os

contingentes.

Às Empresas Estratégicas de Defesa (EED) presentes na missão, apresentadas por

Hernandes (2017), foram acrescidas outras que estiveram na ilha caribenha mas que não são

enquadradas como Empresas de Defesa (ED) ou EED, como a Perenne e a Motorola Solutions,

por exemplo.

3.3.1.1 Agrale

A empresa, sediada em Caxias do Sul (RS), é inscrita como EED desde 2014 (ABIMDE,

2017). Nos últimos 20 anos, estabeleceu acordos comerciais com o EB, a MB, a Força Aérea

Brasileira (FAB) e Forças Armadas de outros países (MATOS, 2017). Com a Argentina, por

exemplo, a Agrale teve participação direta no processo de aquisição de novos equipamentos,

realizados de forma conjunta por suas Forças Armadas, o que pôde ser constatado mediante a

aquisição de viaturas Marruá pela Infantaria de Marinha125 (DEFENSA NACIONAL Y DEL

MUNDO, 2014)

A linha Agrale Marruá Militar foi desenvolvida especialmente para as Forças Armadas

(AGRALE, 2017). Por meio de dados obtidos com o questionário enviado, a empresa informou

que firmou mais de 10 acordos nos últimos 20 anos, comercializando tanto produtos que já

faziam parte do seu catálogo quanto produzindo novos veículos para atender especificamente

as demandas militares. No que concerne à MINUSTAH, foram firmados contratos com

militares brasileiros especificamente em proveito da missão, particularmente os veículos

125 Equivalente ao Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da MB.

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utilitários de transporte não-especializado (VTNE)126 de ¾ Ton, modelos AM21 e AM20, com

o EB.

No questionário enviado, em um espaço aberto para sugestões e comentários de forma

espontânea, a empresa registrou que as contratações e compras são pontuais, o que acaba não

sustentando uma linha de produção durante o restante do ano (MATOS, 2017). Igualmente, a

urgência de prazo para as encomendas das Forças Armadas acaba tornando muitas vezes

inviável a fabricação. Outra dificuldade apresentada diz respeito ao não cumprimento dos

prazos de pagamento ao fornecedor. A empresa relatou, ainda, que o RETID, apesar das

isenções fiscais que propicia, é difícil de ser efetivamente praticado.

Referente a essas dificuldades alegadas pela Agrale, cabe destacar que a

imprevisibilidade do orçamento destinado às aquisições pelas Forças Armadas é uma séria

restrição para que o empresariado invista em Defesa. Isso gera incertezas quanto ao retorno dos

investimentos para a adequação de plantas e de linhas de montagens destinadas a produzir

equipamentos militares. Ressalta-se, também, que as chamadas �compras de ocasião� podem

restringir o aumento da produção por parte das ED ou EED.

3.3.1.2 Avibrás Indústria Aeroespacial S/A

A Avibrás, com instalações em Jacareí e Lorena (SP), é uma empresa que possui capital

100% nacional e é inscrita como EED desde 2014. Produz sistemas de defesa ar-terra e terra-

terra, aeronaves remotamente pilotadas (ARP) e mísseis, com software e hardware próprios

desenvolvidos (AVIBRÁS, 2015).

No que diz respeito à sua participação na MINUSTAH, a Avibrás produziu a viatura

blindada de reconhecimento 4x4 sobre rodas AV-VB4-RE Guará, em uma parceria firmada

com o EB (BASTOS, 2012, p. 28-29). Trata-se do protótipo de um carro de combate destinado

ao emprego em áreas urbanas que foi enviado para testes pelo CONTBRAS em solo haitiano a

partir de 2010, retornando ao Brasil no final de 2014127 (SOUZA, 2015).

O Guará exemplificou que o emprego de tropas brasileiras no exterior, em uma situação

o mais próximo possível do combate, pode representar uma oportunidade para a indústria

nacional de defesa. Nesse sentido, o protótipo da Avibrás, que permaneceu com o CONTBRAS

126 Trata-se de uma Viatura para transporte de tripulantes ou carga de 750kg com capota removível e carroceria metálica com teto de vinil, cujos detalhes podem ser verificados no catálogo do produtos no portal da empresa (AGRALE, 2017). 127 Em 2012 e 2014, a AVIBRAS enviou equipes técnicas aquele país para uma verificação das condições da viatura, visando o prolongamento da sua missão

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108

por quatro anos, contribuiu para aumentar a visibilidade dos produtos fabricados por esta

empresa no exterior e, por conseguinte, da indústria de defesa do Brasil. A MINUSTAH foi,

assim, uma espécie de campo de provas �real� para o veículo, que foi testado e aprovado em

uma situação de combate.

De acordo com Bastos (2012), a partir da experiência vivenciada no Haiti, o Centro

Tecnológico do Exército (CTEx) iniciou, em 2008, o desenvolvimento de diversos protótipos

de veículos blindados sobre rodas tração 4x4, destinados ao uso em Operações de Garantia da

Lei e da Ordem. O blindado Guará está relacionado a este projeto do CTEx, o que permite

inferir que a experiência do combate urbano na MINUSTAH contribui para uma maior

aproximação entre as Forças Armadas e as empresas do segmento de defesa.

3.3.1.3 Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC)

A CBC, inscrita como EED desde 2014, é a fornecedora de munições de uso letal para

o EB, particularmente as de calibre 7,62mm e 9mm, destinadas, respectivamente, aos fuzis e

pistolas de dotação da Força Terrestre (GLIOSI, 2017). Para o treinamento e emprego da tropa

brasileira no Haiti, foi utilizada a munição que já era de posse do EB (KATSANOS, 2017;

CARMO, 2017; LAGO, 2017). Conforme foi relatado pela empresa mediante entrevista, a

MINUSTAH não representou relevante contribuição para indústria de defesa do setor de

munições. De acordo com Gliosi (2017), ainda que se considere a munição utilizada para

treinamento e em operação do contingente brasileiro, as quantidades não são significativas.

A empresa também apresentou uma ponderação referente à continuidade da demanda

para o segmento de Defesa. Nesse sentido, a CBC estima que o equilíbrio e o fortalecimento

das indústrias brasileiras de material de defesa estão condicionados a existência de mercados

alternativos às Forças Armadas, de forma a assegurar continuidade, escala para

competitividade, e capacitação tecnológica para investimentos contínuos em pesquisa,

desenvolvimento e inovação. Destarte, avalia que há necessidade de buscar outros mercados

para seus produtos, além das encomendas feitas pelas Forças Armadas.

De forma a viabilizar a produção, a empresa relatou a necessidade de buscar

alternativas, dentre as quais o emprego dual e as exportações. Como exemplo disso, a CBC

apresentou que, em 2016, as vendas para as Forças Armadas representaram 1,5% do

faturamento da CBC, e deste percentual, pequena parcela referiu-se à missão para o Haiti.

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109

Sobre o uso de munição letal em operações de paz, cabe ainda uma ponderação a partir

do que é previsto no reembolso realizado pela ONU. Os países contribuintes de tropa não serão

reembolsados pelo uso de munição em adestramento e na preparação para a missão, apenas pelo

transporte até a área de operações (UNITED NATIONS, 2017e, p. 34). Poderão ser

reembolsadas as munições utilizadas no emprego da tropa já no terreno ou, eventualmente, em

treinamentos autorizados pelo Force Commander128.

Após verificar o que foi apresentado pela CBC e as especificidades supracitadas

relativas ao reembolso, cabe uma apreciação. O uso de munição letal em uma operação de

manutenção da paz, importante para a autodefesa e para o cumprimento do mandato, contribui

mais para a visibilidade do fabricante por outros países do que propriamente uma possibilidade

de aumento do seu faturamento.

3.3.1.4 Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda

A Columbus é uma empresa totalmente brasileira, fundada em 1993 por ex-funcionários

da área técnico/industrial da empresa Engesa - Engenheiros Especializados S.A. (que havia

consolidado sua falência naquele ano) (COLUMBUS, 2007). A empresa foi concebida para

evitar o desaparecimento da tecnologia desenvolvida e empregada pela Engesa na fabricação

dos produtos que haviam sido exportados para mais de 20 países. Em 2014, a Columbus passou

a ser inscrita como EED (ABIMDE, 2017).

No questionário enviado, a empresa declarou que foi concebida com a finalidade de

manter, modernizar e desenvolver novas tecnologias que possam ser empregados nos produtos

fabricados pela Engesa, particularmente: EE-9 Cascavel, EE-11 Urutu, EE-15 (caminhão 4x4),

EE-25 (caminhão 6x6), EE-12 e outros (NETO, 2017).

No que concerne especificamente ao contingente brasileiro no Haiti, a participação da

empresa está ligada ao emprego dos carros de combate sobre rodas EE-11 Urutu (BASTOS JR.;

TASSARA; HIGUCHI, 2006). Trata-se de um dos veículos mais conhecidos fabricados pela

indústria de defesa nacional, graças à sua simplicidade e facilidade de manutenção, razão pela

128 O país contribuinte de tropa solicita, por meio do Chief of Mission Support o reembolso mediante a apresentação do Certificado de Consumo de Munição Operacional (Operational Ammunition Expenditure Certificate). Em tal documento, devidamente assinado pelo Force Commander, deve constar a quantidade de munição consumida (UNITED NATIONS, 2017e, p. 250).

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110

qual ainda opera em diversos países129 (BASTOS, 2012). Na MINUSTAH, o referido carro de

combate foi utilizado pelos contingentes da Jordânia e do Brasil.

Ao ser solicitada se gostaria de realizar alguma contribuição ou ponderação sobre os

acordos e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas

necessárias, a Columbus declarou que, para operações militares de envergadura da ONU, seria

interessante evitar o sistema de aquisição via pregão eletrônico, haja vista não atender as

exigências técnicas que essas operações requerem (NETO, 2017). Sobre esse aspecto, a Lei Nº

12.598, de 21 mar. 2012, relativa à implementação do RETID, e o Decreto Nº 7.970, de 28 mar.

2013, concerne às atribuições da CMID, foram expedidas com a finalidade de mitigar o

problema apresentado pela empresa.

3.3.1.5 Arsenal de Guerra de São Paulo

De acordo com Amarante (2012), no nível de produção de artefatos e serviços militares

da BID, funcionam no país as seguintes instituições públicas: a Indústria de Material Bélico do

Brasil (Imbel) e os Arsenais de Guerra do Rio de Janeiro (AGR) e de São (AGSP). Por esta

razão, será abordada nesta seção o trabalho de repotencialização realizado pelo AGSP a partir

da missão do Brasil no Haiti.

As dificuldades para a operação nas ruas de Porto Príncipe demandaram modificações

na concepção original do carro de combate EE-11 Urutu (BASTOS, 2012). Foram instalados

uma lâmina do tipo bulldozer, destinada a auxiliar na desobstrução de vias, e uma torre giratória

blindada, com vidros a prova de bala para o motorista, a qual propiciou o aumento do campo

de visão e da proteção. Na figura 12, é exibida uma foto do carro de combate da Engesa, com

a pintura no padrão da ONU e as modificações preparadas pelo AGSP, destacadas por meio de

elipses.

129 O Urutu ainda está operando na Bolívia, Colômbia, Emirados Árabes Unidos, Equador, Gabão, Jordânia, Paraguai, Suriname, Tunísia, Venezuela, Zimbábue e no próprio Brasil (BASTOS, 2012).

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111

O AGSP concebeu uma nova modificação do carro de combate, o EE-11 Urutu

Ambulância (BASTOS, 2012). Bastos (2012) salienta que a Engesa chegara a produzir e

exportar cerca de 12 veículos para o Chile, Equador, Colômbia e Jordânia. Ressalta-se que o

veículo que foi enviado para o Haiti foi completamente montado no AGSP, já que lá existia

uma carcaça nova, sem qualquer componente interno, que pertencia ao espólio da Engesa

(BASTOS, 2012). A figura 12 mostra dois modelos da versão ambulância, onde podem ser

verificadas as principais nuances em relação ao Urutu concebido para o emprego nas operações

em solo haitiano.

Figura 10- Modificações realizadas no EE 11-Urutu

Fonte: (BASTOS JR;TASSARA;HIGUCHI, 2006)

Figura 11- Viaturas EE 11 Urutu versão ambulância

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112

De acordo com Bastos (2012), a MINUSTAH representou uma oportunidade de teste

efetivo do carro de combate Urutu em combate urbano. Ademais, o autor atesta que,

considerando-se a idade e o conceito para a época em foram concebidos � fim dos anos de 1970,

até o início da década de 1990 � os veículos estão atendendo as exigências do momento.

Surgiram diversos problemas durante a missão, advindos do desgaste e da operação em

condições extremas; contudo, foram solucionados por intermédio do pessoal de logística na

área da missão, do apoio de empresas e do EB (BASTOS JR.; TASSARA; HIGUCHI, 2006;

BASTOS, 2012).

O emprego da viatura blindada de transporte de tropa EE 11 Urutu no Haiti permite

inferir algumas considerações sobre sua contribuição para a BID do Brasil. Na ilha caribenha,

houve a presença de um carro de combate de fabricação nacional, cujo fornecimento de peças

de reposição ficou a cargo de uma empresa estratégica de defesa do Brasil. Igualmente, houve

intensa participação do AGSP na remodelagem do Urutu para adaptação às exigências da

missão. Nesse sentido, pode-se afirmar que houve a interação de uma empresa privada e de uma

instituição pública em proveito da logística de produto um de defesa � neste caso incluídos a

maior parte dos aspectos atinentes à manutenção - vicejando uma maior sinergia em um dos

segmentos da BID.

3.3.1.6 Condor Munições não letais

A Condor Munições Não Letais, sediada no Rio de Janeiro, foi inscrita como EED em

2014. Conforme foi relatado por meio do questionário enviado, a empresa realizou acordos

comerciais nos últimos 20 anos com as três Forças Armadas do Brasil, assim como as de outros

países e Agências da ONU. No que concerne à comercialização dos seus materiais, houve a

venda de produtos que faziam parte do catálogo da empresa e de itens que foram concebidos

especificamente para as demandas militares (MONTEIRO, 2017). Dessa forma, pode-se inferir

que a empresa tem o caráter dual na sua produção.

De acordo com Monteiro (2017), foram firmados contratos com militares brasileiros

especificamente para atender às demandas da MINUSTAH. Para a missão no Haiti, a empresa

Fonte: (BASTOS, 2012)

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comercializou Granadas Explosivas Não Letais, Granadas Fumígenas Coloridas, Granadas

Fumígenas de Agentes Irritantes, Munições de Impacto Controlados cal. 12, Munições de

Impacto Controlado Cal. 37/4 0 mm, Lançadores de Munições e Munição de Impacto

Controlável Expansível de curta distância (desenvolvida a pedido da ONU para operações

militares).

Questionada se gostaria de aportar alguma contribuição ou ponderação sobre os acordos

e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas necessárias, a

empresa fez considerações acerca da doutrina da ONU voltada para o emprego de munição não-

letal. Sobre esse aspecto, Monteiro (2017) ressaltou que, até o Brasil começar a operar com

suas tropas em missão de paz, em especial na MINUSTAH, a concepção de uso de produtos

não letais pela ONU era diferente e mais retrógrada. Foi com o empenho das tropas e o uso de

munições não letais pelo Exército Brasileiro na MINUSTAH que a ONU começou a dar um

enfoque e importância maior para essas tecnologias nesses tipos de missão (MONTEIRO,

2017).

Monteiro (2017) considera, ainda, que o Brasil é hoje um dos maiores especialistas e

defensores no uso proporcional da força em respeito aos Direitos Humanos e deve utilizar de

seu conhecimento técnico e experiência para liderar na ONU as discussões sobre protocolos de

engajamento com esse tipo de material, tecnologias aplicáveis, etc. Stochero (2007) salientara

o desenvolvimento de técnicas pelas tropas brasileiras para atirar sem serem alvo fácil das

gangues haitianas, ao mesmo tempo, respeitando as regras de engajamento da ONU, o que

exigia proporcionalidade na reação. Tal proporcionalidade foi vicejada mediante o emprego de

munições não-letais pelo CONTBRAS.

De acordo com Magalhães (2013), graças à campanha que o Brasil fez na MINUSTAH,

o Departamento de Operações de Manutenção da Paz (DPKO) manifestou interesse em

conhecer as tecnologias usadas pelas tropas sob o comando brasileiro no Haiti, que conseguiu

lidar com diversos episódios extremamente contundentes e graves, sem que morresse ninguém,

empregando armamento não letal. O interesse manifestado pelo DPKO traduziu-se em duas

exposições feitas pela Condor na sede da ONU130, o que a permitiu tornar-se fornecedora desta

Organização para emprego em missões de paz. Magalhães (2013) ressaltou que isso possibilitou

à Condor expandir sua participação no mundo todo, exportando para 45 países.

130 Magalhães (2013) salientou que foi a ONU quem convidou a empresa para as exposições sobre suas tecnologias não letais e o uso progressivo da força pelas tropas brasileiras.

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114

Dessa forma, salienta-se que o uso progressivo da força por parte do contingente

brasileiro no Haiti foi implementado com a utilização de munições fabricadas no Brasil. A

experiência do uso de tecnologias não letais trouxe contribuições para o incremento da doutrina

a ser empregada nas operações de paz e, ao mesmo tempo, vicejou o aumento da produção em

escala mundial de uma empresa estratégica de defesa brasileira, cujo principal cliente no

exterior é a ONU.

3.3.1.7 ER Amantino Indústria de Máquinas, Equipamentos, Acessórios e Armas Esportivas LTDA

A ER Amantino, sediada no município de Veranópolis (RS) não é considerada uma ED

e tão pouco EED. Por meio do questionário recebido, a empresa informou que, nos últimos 20

anos, vendeu somente para o EB espingardas calibre 12, as quais já faziam parte do catálogo

da empresa (ROLF, 2017).

Referente à MINUSTAH, a empresa informou no questionário que não houve acordos/

contratos firmados com militares brasileiros especificamente por conta da missão. Igualmente,

considera não ter havido aumento da exposição de seus produtos por meio de suas utilizações

pelas Forças Armadas Brasileiras em missões de paz.

Ao ser questionada se gostaria de realizar alguma contribuição ou ponderação sobre os

acordos e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas

necessárias, informou que foram vendidas em torno de 2.000 espingardas Pump (BSA-5T-84)

Standard (ROLF, 2017) Outrossim, em 2015, a empresa participou de um processo de

requalificação técnica deste armamento, ministrando instruções de reparo em todo o Brasil e

fornecendo peças de reposição. Sobre esse aspecto, ressalta-se que a Diretoria de Material do

Comando Logístico enviou uma equipe ao Haiti para apoiar nos trabalhos de manutenção,

visando a manter essa espingarda em plenas condições de funcionamento (EXÉRCITO

BRASILEIRO, 2013).

As espingardas calibre 12 da ER Amantino, que já eram de dotação do EB, equiparam

o CONTBRAS no Haiti desde o início da missão, permitindo que a tropa pudesse realizar o uso

de munição não-letal, particularmente elastômeros e projeteis de borracha. Sendo assim, o

armamento, fabricado no Brasil, contribuiu para viabilizar o uso progressivo da força por parte

das tropas presentes no Haiti, inclusive durante a pacificação de violentas áreas de Porto

Príncipe, concluída em 2009.

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115

3.3.1.8 Grupo InbraFiltro

O Grupo InbraFiltro131 é uma empresa 100% nacional, sediada em Mauá, na Grande

São Paulo, classificada como EED desde 2015, voltada para a produção de blindagens e

equipamentos de proteção. Por meio do questionário enviado, a empresa informou que, nos

últimos 20 anos, estabeleceu acordos comerciais com o EB, a MB, a FAB e Polícias Militares

do Brasil. No que concerne à comercialização de seus materiais, houve a venda de produtos

concebidos especificamente para atender demandas militares, particularmente coletes e

capacetes com proteção balística.132

Com relação ao Haiti, a participação da empresa está ligada aos capacetes e coletes

balísticos133 utilizados pelas tropas do EB. Conforme foi mencionado por Katsanos (2017) e

Hernandes (2017), tais equipamentos inserem-se no rol de materiais que já eram de posse do

EB por ocasião do desdobramento para a missão.

A utilização de proteção balística individual pelo CONTBRAS possibilita uma reflexão

acerca de sua contribuição para a BID nacional. Nas operações de pacificação de violentos

bairros da capital haitiana, como Cité Soleil e Bel Air, o combate às gangues demandava

proteção balística para a tropa. Isso envolvia não apenas os carros de combate, mas, sobretudo,

a proteção individual, possibilitando o avanço sistemático da tropa brasileira e garantindo a

ocupação. Nesse sentido, ressalta-se que a tropa teve sua proteção contra os impactos recebidos

assegurada mediante a utilização de equipamentos fabricados no Brasil, por uma empresa

nacional.

3.3.1.9 Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL)

131 O Grupo InbraFiltro, fundado em 1979, iniciou suas atividades como fornecedor de tecidos técnicos industriais e elementos filtrantes, passando a desenvolver novos produtos no segmento de blindagens automotivas e produzir diferentes soluções de proteção balística (GRUPOINBRA, 2017). 132 Além de soluções voltadas para a proteção balística individual, a empresa desenvolve veículos blindados sobre rodas. Com o veículo Gladiador II, o Grupo InbraFiltro apresentou-se como um dos concorrentes no processo para obtenção das viaturas leves, 4×4, no âmbito do programa Viatura Blindada Multitarefa � Leve de Rodas (VBMT-LR) do Projeto Guarani do EB, vencido pela empresa IVECO (DEFESANET, 2013). Entraram na disputa também outras quatro empresas: a Avibrás, em conjunto com a francesa Renault VI, e as multinacionais BAE Systems, Iveco e AM General. O Gladiador II não foi aprovado na fase de pré-qualificação, encerrada em outubro de 2014 (TECNODEFESA, 2016). 133 Todos os coletes, capacetes e escudos balísticos, são ensaiados no Campo de Prova de Marambaia � Exército Brasileiro, e homologados através de emissão dos RETEX`S e posterior apostilamento ao Título de Registro. (DEFESANET, 2013). O material da empresa também foi submetido a avaliação por meio de ensaios mecânicos (dureza, tração, flexão e impacto) e balístico (WEBER, 2004).

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116

A Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) é uma empresa vinculada ao EB e

inscrita como EED. Consoante com o que foi respondido no questionário, nos últimos 20 anos,

a IMBEL estabeleceu acordos comerciais com o EB, a MB e Forças Armadas de outros países.

A empresa acredita que houve aumento da exposição de seus produtos por meio de suas

utilizações pelas Forças Armadas Brasileiras em missões de paz (AVERSA, 2017). Entretanto,

isso não contribuiu para sua internacionalização.

No que concerne à MINUSTAH, não houve o estabelecimento de novos contratos para

a missão. Sobre esse aspecto, ressalta-se que a IMBEL é a fabricante do fuzil calibre 7,62mm,

armamento de dotação do EB, empregado pelas tropas da Força Terrestre na ilha caribenha

desde o início da missão em 2004 (HERNANDES, 2017; AVERSA, 2017).

A presença da IMBEL no Haiti também é percebida por meio das operações de

desativação134 de artefatos explosivos. Cumprindo missões designadas pela célula de Mine

Action do Joint Logistics Operation Centre (JLOC), cuja estrutura foi explorada no capítulo 2,

a BRAENGCOY realizou a destruição de estoques de munições de contingentes de outros

países presentes na missão. Para isso, utilizou materiais de destruição fabricados pela IMBEL,

em especial espoletas, petardos de TNT e cordéis detonantes.

Ainda com relação ao Haiti, o último contingente da BRAENGCOY, desdobrado em

2017, foi equipado com o novo Fuzil IA2 concebido pela IMBEL e pelo Centro Tecnológico

do EB135 (DEFESANET, 2015a; PLAVETZ, 2016). Trata-se do novo armamento recentemente

padronizado pelo EB e que já equipa diversas organizações militares da Força Terrestre. Dessa

forma, pode-se afirmar que a MINUSTAH contribuiu para dar visibilidade a um armamento

genuinamente nacional utilizado pela tropa do Brasil no Haiti

3.3.1.10 Leon Heimer S/A

134 Atividades ligadas à neutralização, desarmamento e destruição de artefatos explosivos. Trata-se de uma explicação não exaustiva sobre tal tarefa, que demanda capacitação e treinamento bastante específicos para lidar com munições e explosivos. Para um entendimento mais detalhado acerca desta atividade e de seus conceitos, consultar a Normativa Internacional da Ação contra Minas Terrestres 09.30 Explosive Ordnance Disposal (desativação de artefatos explosivos, em tradução livre), expedido pelo United Nations Mine Actions Service (UNMAS). Sugere-se também o DECRETO Nº 3.665, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2000 - Dá nova redação ao Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R-105). 135 O projeto é de um armamento totalmente novo, não se tratando de uma simples modernização do IMBEL MD 97 - que usava muitas peças do Fuzil Automático Leve 7,62. O fuzil veio ao público em 2010, quando começou a ser testado no Centro de Avaliações de Exército (CAEx), no Campo de Provas de Marambaia, Rio de Janeiro. Em 2012, o Exército fez a encomenda inicial de 1.500 fuzis IA-2, no modelo 5.56×45mm NATO e 7.62×51mm NATO, e, no ano seguinte, encomendou 20.000 fuzis. A Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) adquiriu um lote inicial de 500 fuzis para equipar a ROTA e Força Tática. Força Aérea Brasileira e Marinha do Brasil começaram a adotar esse modelo de arma (PLAVETZ, 2016).

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117

A Leon Heimer S/A, fabricante de geradores de grande porte, é uma das empresas

pesquisadas no presente trabalho que não é classificada como EED. Conforme foi relatado no

questionário respondido, nos últimos 20 anos a empresa estabeleceu mais de 10 contratos,

envolvendo o EB, a MB e agências da ONU. Os geradores comercializados faziam parte do

catálogo da empresa, o que permite inferir que a empresa, ainda que não seja uma EED, pode

atender às necessidades das tropas no exterior. Conforme foi relatado por Lima (2017), a

exposição dos geradores na MINUSTAH contribuiu para a internacionalização da empresa.

Ainda de acordo com Lima (2017), houve a comercialização de produtos voltados

especificamente para atender às demandas militares, dentre os quais exemplificam-se os

geradores de 380 KVA existentes na BRAENGCOY.

Nesses termos, a provisão de eletricidade em proveito de uma tropa brasileira

empregada no exterior, mediante a utilização de geradores de fabricação nacional, contribuiu

para o fomento da BID. De acordo com Vieira Jr. (2017), a experiência na utilização de

geradores de grande porte foi uma importante lição aprendida a partir da missão no Haiti. Antes

do desdobramento para a ilha caribenha, ainda não havia uma expertise consolidada na

utilização de energia elétrica 100% a partir de geradores de grande porte, o que demandava uma

operação de 24 horas diárias de sete dias por semana. Vieira Jr. (2017) salienta que tal

experiência é um legado importante para futuras missões em que tropas brasileiras poderão vir

a ser empregadas.

3.3.1.11 MAN Latin América Indústria e Comércio - de Veículos Ltda.

A MAN Latin América Indústria e Comércio, fabricante de veículos automotores

pesados, não é classificada como EED. Trata-se de uma empresa multinacional que, nos últimos

20 anos, estabeleceu mais de 10 acordos comerciais com as Forças Armadas do Brasil

(envolvendo o EB, a FAB e a MB) e de outros países. Por meio do questionário enviado, a

empresa relatou que, a partir de 2006, passou a fornecer produtos concebidos especificamente

para atender às demandas militares, particularmente: Viaturas de Transporte de Tropas 5 QT -

VOP 2136 - Modelo VW 15.210 4 X4, também denominada Worker 15.210 4×4, assim como

Viaturas Administrativas de Transporte de Água e de Combustível, Viaturas Guindaste e

Viaturas de Transporte Geral.

136 Trata-se da denominação militar para Veículo Operacional Categoria 2 � 5 toneladas Qualquer Terreno.

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118

No que concerne à Viatura Worker 15.210 4×4, há um exemplo da dualidade de um

equipamento fabricado para atender a uma necessidade militar. De acordo com Ramos (2017),

após a aprovação nos testes elaborados pelo EB e consagrando-se no setor militar, o veículo

comprovou também ser adequado para segmentos da economia que demandam veículos fora

de estrada, tais como o eletricitário, a mineração, a construção e em usinas.

Conforme foi relatado por Ritton (2015), em 2008 a empresa venceu a licitação para o

fornecimento de 150 caminhões operacionais com tração integral para o Exército Brasileiro,

dentre os quais 40 unidades VW Worker 15.210 4X4 embarcaram para a ilha caribenha.

Ainda com relação à operação em solo haitiano, a empresa considera que a MINUSTAH

contribuiu para o aumento da exposição de seus produtos, particularmente por meio do emprego

do VW Worker 15.210 4X4 pelo EB (GALIZIA, 2017). Sobre esse aspecto, a utilização destes

caminhões pelo CONTBRAS em estradas destruídas e com pavimentação precária, por onde é

preciso circular com agilidade e robustez, tornou-se uma oportunidade de testá-los em uma

situação de conflito.

Ao ser questionada se gostaria de realizar alguma contribuição ou ponderação sobre os

acordos e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas

necessárias, a empresa respondeu que os contratos de fornecimento com as Forças Armadas

contribuíram para o desenvolvimento dos Caminhões Volkswagen, com a criação de uma linha

específica de viaturas militares, entre elas o novo modelo 6X6 - 10 QT (qualquer terreno), que

atende as necessidades da Artilharia (reboque de obuseiros 155 mm e transporte de tropas ) e

da Engenharia (transporte de equipagens de pontes).

A análise do estudo de caso dos produtos militarizados comercializados pela MAN

Latin América Indústria e Comércio permite inferir que houve o desenvolvimento de

tecnologias com utilidade dual, militar e civil, consoante com o que apregoa a END (BRASIL,

2012b, p. 105). Concebidos para atender demandas específicas militares, os caminhões por ela

fabricados foram efetivamente testados pelo EB em território nacional e em uma missão no

exterior, aumentando a integração entre as Forças Armadas e o empresariado do país e, por

conseguinte, fomentando a BID do Brasil. Igualmente, a experiência bem sucedida da viatura

operacional despertou o interesse de outros segmentos da economia brasileira, vicejando uma

oportunidade para o aumento de vendas de uma empresa sediada no Brasil, gerando mais

empregos e contribuindo para a economia do país.

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119

3.3.1.11 Mardiesel Comercio e Representações Ltda

A Mardiesel Comercio e Representações Ltda, fabricante de botes pneumáticos, não é

considerada uma EED. Conforme foi mencionado por meio do questionário enviado, nos

últimos 20 anos a empresa estabeleceu mais de 10 acordos comerciais com o EB e a MB

(VIEIRA, 2017). Os produtos vendidos tanto faziam parte do catálogo da empresa quanto foram

concebidos especificamente para as demandas militares. No que concerne especificamente à

MINUSTAH, a Mardiesel firmou um contrato especificamente com o EB, por meio do qual

vendeu embarcações pneumáticas da linha FUTURA COMMANDO (VIEIRA, 2017).

As embarcações comercializadas com o EB foram incorporadas aos materiais da

BRAENGCOY (CARMO, 2017). Conforme foi apresentado no capítulo 2, na parte referente à

logística humanitária executada pelas tropas brasileiras de engenharia, os botes pneumáticos

foram de vital importância nas missões de salvamento e de resgate, sobretudo durante as

catástrofes que assolaram o Haiti. Dessa forma, a utilização de meios fluviais fabricados no

Brasil na MINUSTAH pode ser considerada como uma oportunidade de aumento da

visibilidade de uma empresa nacional no exterior.

3.3.1.12 Motorola Solutions

A Motorola Solutions, empresa multinacional que não é considerada uma EED, passou

a fabricar equipamentos-rádio no Brasil mediante acordos comerciais firmados com o EB e a

MB (GALLO, 2017). Conforme foi informado por meio do questionário enviado, a empresa

firmou mais de 10 acordos nos últimos 20 anos, comercializando produtos que faziam parte de

seu catálogo, assim como concebidos especificamente para as demandas militares.

No que concerne à MINUSTAH, a empresa informou que foram firmados contratos

com militares brasileiros especificamente para a missão, tendo sido vendidos: Sistema Rádio

Digital Troncalizado (SRDT), Tecnologia P25, Rádios Digitais tecnologia P25 (Moveis e

Portáteis); Repetidoras convencionais.

Segundo Ayala (2007), os primeiros contingentes desdobrados no Haiti dispunham de

equipamentos Motorola PRO 5100 e PRO 5150, os quais têm largo emprego civil e militar, mas

não dispõem de tecnologia de segurança na tramitação de informações. Em 2011, foi firmado

um contrato entre a Força Terrestre e a Motorola Solutions, que envolveu a venda de rádios

digitais usados na MINUSTAH (C. PEREIRA, 2011). C. Pereira (2011) ressalta ainda que a

tecnologia digital, inédita no uso de equipamentos-rádio pelo EB, possibilitou que os dados

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tramitados pelos militares passassem a ser criptografados, melhorando a qualidade do áudio e

aumentando entre 40% e 50% a distância de alcance. A partir do contrato firmado com a

empresa, o EB passou a contar com novos rádios, os quais propiciaram maior capacidade de

comando e controle de suas tropas em diversas operações, como garantia da lei e da ordem,

operações humanitárias e, também, na segurança do cidadão durante a Copa do Mundo

(DEFESANET, 2014). Ainda com relação à fabricação desses rádios, ressalta-se que os

equipamentos portáteis, da série SRX1200, foram desenvolvidos com requisitos adicionais para

atender às necessidades do EB (DEFESANET, 2014).

A exploração das comunicações no Haiti, sobretudo por meio dos equipamentos-rádio,

mostrou que a missão ensejou um teste efetivo do equipamento em uma situação que em muito

se assemelha ao combate. Isso permitiu que mais unidades desses equipamentos fossem

fabricadas no Brasil e utilizadas em outras operações, o que inclui a participação nos Grandes

Eventos que ocorreram no Brasil a partir de 2013.

De acordo com Gallo (2017), a empresa acredita que houve aumento da exposição de

seus produtos por meio de suas utilizações pelas Forças Armadas Brasileiras em missões de

paz. Outrossim, ao ser questionada se gostaria de realizar alguma contribuição ou ponderação

sobre os acordos e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas

necessárias, a empresa considera que os contratos com o Exército Brasileiro têm sido de suma

importância para a Motorola Solutions. Nestes últimos anos, foram realizados vários cases de

sucessos entre o EB e a Motorola, dentre os quais destaca-se a parceria firmada com o Comando

de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército (Cmdo Com GE Ex) para prover os

equipamentos-rádio para a Força Terrestre nos Grandes Eventos após a experiência bem-

sucedida nas dificuldades enfrentadas no Haiti (GALLO, 2017).

No que diz respeito ao Cmdo Com GE Ex, pode-se afirmar que a MINUSTAH vicejou

um aumento na expertise da exploração dos sistemas de comunicações. De acordo com Ayala

(2007), a instalação de grande parte e manutenção dos equipamentos e sistemas era dominada

por integrantes do Exército Brasileiro, responsáveis pelo Comando e Controle. Igualmente, a

exploração de tecnologias mais modernas a partir de 2011 propiciou um melhor desempenho

dos sistemas de Comando e Controle das tropas, o que ficou ressaltado por ocasião da ajuda

humanitária prestada após a passagem do Furacão Matthew (ABIMDE, 2016). Nestas

operações, a instalação de antenas e equipamentos para aumentar o alcance das comunicações

do BRABAT, assim como a manutenção na rede lógica de computadores e do SRDT, foram

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realizados por especialistas do Comando de Comunicações e Guerra eletrônica do Exército

Brasileiro (ABIMDE, 2016).

3.3.1.13 Perenne

A Perenne137 é uma empresa de engenharia, não enquadrada como EED, fabricante de

máquinas, equipamentos e prestação de serviços de tratamento de água e de efluentes para

sistemas industriais e de abastecimento público. Conforme foi relatado pela empresa, no Brasil

ela fornece equipamentos de tratamento de água, dessalinização e potabilização de água de rios,

açudes e poços, o que também é estendido para os batalhões de fronteira e estados brasileiros

(GUANAES, 2017).

De acordo com Guanaes (2017), a Perenne elaborou um projeto, em 2006, que se

destinou a potabilizar água para abastecimento em Porto Príncipe. Por meio de uma solicitação

e atendendo as exigências do EB, a empresa concebeu a UFOR 1210 (utilizando os processos

de Ultrafiltração138 e Osmose Reversa139), que passou a constituir as Estações Industriais de

Tratamento de Água (ETA) presentes no BRABAT, na BRAENGCOY e no BRABAT 2140.

Dessa forma, houve a fabricação de um equipamento destinado a atender uma demanda do EB

durante a missão, por uma empresa não classificada como EED e que, até então, não possuía

um segmento voltado às Forças Armadas.

A operação das ETA fabricadas pela Perenne ensejou uma mudança nas técnicas e, até

mesmo, no paradigma de tratamento de água. Antes da operação no Haiti, era utilizado processo

de filtração por método químico-físico, empregando uma tecnologia que remontava à década

de 1960 (SOUZA, 2014). Era um processo que demandava o desdobramento no terreno de dois

tanques de grande capacidade, dos quais um destinado ao pré-tratamento da água captada e

137 De acordo com informações disponibilizadas no portal da empresa: <http://www.perenne.com.br/index.php/home2>. Acesso em 5 out. 2015. 138 Processo de fracionamento seletivo para a purificação de água utilizando pressões acima de 145 psi (10 bar). É a barreira mais eficiente para a remoção de sólidos em suspensão, bactérias, vírus e outros patogênicos. O método costuma ser bastante utilizado como pré-tratamento de águas superficiais, água de mar, e efluentes biologicamente tratados, para os sistemas de desmineralização por membranas, tais como osmose reversa e nanofiltração. É mais utilizado em purificação de água para consumo humano e tratamento de esgotos (DE AQUINO, 2011). 139 Procedimento em que uma membrana semipermeável retém o sal e componentes nocivos à saúde, permitindo apenas a passagem da água purificada. O sistema remove até 99% de cloreto de sódio, além de possuir quase a mesma eficácia para outros minerais presentes na água. Dessalinização, alimentação para caldeiras e produção de produtos químicos são alguns dos exemplos que necessitam de uma água praticamente pura (DE AQUINO, 2011). 140 Após o término da missão do BRABAT 2, sua ETA da Perenne foi repassada para o BRABAT em 2013, no âmbito do processo de reversão dos seus materiais.

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outro destinado a enviar a água clorada141 (Figura 13), permitindo tratar cerca de 12 mil litros

de água por hora142. Souza (2014) destaca que, em contrapartida, a UFOR (Figura 14) emprega

o método de tratamento físico, através da filtragem por ocasião da passagem da água em alta

pressão por dentro de membranas especiais, com uma capacidade de produção de até 20 mil

litros por hora, em cada unidade. Outrossim, as ETA desdobradas no Haiti permitem uma

filtração da ordem de 10.000 a 100.000 vezes mais eficiente, tornando muito melhor a qualidade

da água (AQUINO, 2015).

Figura 12- Equipamento 7VT e 7VR

Figura 13- UFOR 1210

Fonte: EXÉRCITO BRASILEIRO (2016) Fonte: O AUTOR (2013)143

O novo processo de tratamento de água utilizado no Haiti demandou maior capacitação

do pessoal para operar o equipamento. Consoante com esta demanda, a preparação do pessoal

de engenharia144 para a missão passou a incluir um Estágio de Operação e Manutenção de ETA

por Osmose Reversa e Ultrafiltragem (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2015). Esta capacitação era

conduzida incialmente em uma das sedes da Perenne, em São José dos Campos (SP), e,

141 Empregava-se para isso a estação de tratamento à vela (7 VT) da empresa Útil/Tetis, que necessita de uma preparação da água a ser tratada pelo processo de floculação das partículas (chamado pré-tratamento). A filtragem é feita por um diato-filtro de membrana impregnada com sílica diatomácea e, ao final, realiza-se a cloração da água depositada em tanques de 11 mil litros (SOUZA, 2014). 142 De acordo com informações disponibilizadas pela empresa Útil/Tetis, multinacional sediada no Rio de Janeiro, fabricante do equipamento 7VT comercializado com o EB na década de 1960. Disponível em: <http://www.tetis.com.br/empresa.html>. Acesso em 20 fev. 2018. 143 Como coordenador do Estágio de Logística e Reembolso do CCOPAB, o autor integrou a comitiva do Ministério da Defesa que participou da Operational Readiness Inspection do 18º CONTBRAS, quando foi fotografada a ETA da Perenne na Base General Bacelar, em Porto Príncipe. 144 Os militares da arma de engenharia do EB eram os responsáveis pela operação de todas as ETA do CONTBRAS, seja no BRABAT quanto na própria BRAENGCOY.

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posteriormente, passou a ser conduzida no 2º Batalhão de Engenharia de Combate, em proveito

da BRAENGCOY.

Questionado se gostaria de realizar alguma contribuição ou ponderação sobre os acordos

e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas necessárias,

Guanaes (2017) realçou sua preocupação com a continuidade de trabalhos como o que foi

desenvolvido por sua empresa com o EB. Destacou também a necessidade do estabelecimento

de critérios prévios para a escolha e habilitação de fornecedores, de forma a não ocorrer

meramente �leilões de preços�, sob o pretexto da isenção na escolha das empresas a serem

contratadas. Por fim, salientou a necessidade de preservar o que foi investido de tecnologia e

recursos humanos pelas empresas em proveito do EB e da MB, sob o risco de comprometer as

soluções já desenvolvidas.

Ao analisar este estudo de caso referente à Perenne, pode-se inferir que um

equipamento fabricado por uma empresa nacional, vicejou um aprimoramento da expertise no

que concerne ao tratamento de água. Atendendo à uma demanda militar, a empresa desenvolveu

um produto que foi testado em uma situação de combate, permitindo-lhe aumentar a visibilidade

no exterior mediante a exposição pelo CONTBRAS. Outrossim, a operação da UFOR 1210

permitiu ao EB atingir o estado da arte no que concerne ao tratamento de água em campanha,

aproximando-se do que é feito pelos exércitos mais modernos do mundo145.

3.3.1.14 Santoslab

A SantosLab é uma EED sediada no Rio de Janeiro, voltada para o desenvolvimento de

inovações integradas com Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) e Aeronaves

Remotamente Pilotadas (ARP)146. De acordo com o questionário respondido, a empresa relatou

que, nos últimos 20 anos, estabeleceu quatro acordos comerciais com a MB, tendo vendido

tanto produtos que já faziam parte do seu catálogo, quanto concebidos especificamente para

atender às demandas militares. Dentre eles, destaca-se o Carcará 2, VANT produzido segundo

os requisitos da MB e que foi empregado na MINUSTAH. Trata-se de um material que já era

de dotação desta Força Armada, particularmente do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), não

havendo a assinatura de novos contratos a partir da missão na ilha caribenha.

145 Conforme informações do periódico GlobalSecurity.org. Disponível em: <https://www.globalsecurity.org/military/systems/ground/rowpu.htm>. Acesso em 20 dez. 2017. 146 As expressões VANT e ARP já eram plenamente consagradas no âmbito das Forças Armadas e são de uso corrente em periódicos militares. Por esta razão, não se utilizou a expressão drone para se referir a estes equipamentos.

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De acordo com Sbragio Jr. (2017), além dos veículos de emprego militar, a empresa

desenvolve soluções para a Agricultura, Defesa e Segurança, Meio Ambiente, Monitoramento

de Infraestrutura, Imageamento Aéreo, o que atesta o emprego dual de seus produtos.

Ao ser questionada se gostaria de realizar alguma contribuição ou ponderação sobre os

acordos e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas

necessárias, a empresa salientou a importância do Governo do Brasil para o desenvolvimento

da BID. De acordo com Sbragio Jr. (2017), o Governo é um ator que precisa estar consciente

do seu papel para o fortalecimento da BID.

Sbragio Jr. (2017) alertou também sobre a descontinuidade entre os pedidos feitos pelas

Forças Armadas. Sobre este aspecto, relatou haver períodos de até 10 anos entre uma entrega e

uma nova encomenda às empresas, o que pode tornar difícil a manutenção do investimento em

uma linha de montagem concebida para a fabricação de equipamentos para atender demandas

militares. Prosseguindo nesta análise, avaliou que as empresas acabam relegando a BID a um

segundo plano, passando a atender outros ramos da economia, tais como agricultura e

mineração, onde os pedidos são constantes.

Soluções de continuidade no processo de solicitação, pesquisa e desenvolvimento,

produção e comercialização de equipamentos militares pode acarretar um ciclo vicioso que não

favorece a BID. Nesse sentido, Sbragio Jr. (2017) salientou que, quando forem feitas novas

demandas, a empresa poderá pensar duas vezes se vale a pena investir em uma nova linha de

montagem ou se não seria melhor adaptar um produto já existente, destinado a outra finalidade,

para atender ao pedido. Continuando com este raciocínio, o representante da Santoslab

considera que, como tais produtos não foram feitos atendendo aos requisitos militares, as Forças

Armadas não o aceitarão, procurando os que atendam. Por fim, avalia que essa busca tem

ocorrido em empresas de fora do Brasil, o que contribui para reduzir o tamanho da BID do país.

3.3.1.15 Yamaha Motor da Amazônia Ltda

A Yamaha, multinacional com sede no Polo da Zona Franca de Manaus, não é

considerada uma EED. No questionário recebido, a empresa relatou que, nos últimos 20 anos,

estabeleceu acordos comerciais com o EB e a MB. Questionada acerca do perfil das vendas,

respondeu que comercializou tanto produtos que já faziam parte do catálogo da empresa, quanto

outros concebidos especificamente para atender as demandas militares.

De acordo com Cagnino (2017), a MINUSTAH não representou a assinatura de novos

acordos para a empresa. Sobre esse aspecto, salienta-se que, antes do início da missão, o EB já

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dispunha de motores de popa da Yamaha. Por ocasião do desdobramento da BRAENGCOY na

missão a partir de 2005, os botes pneumáticos passaram a contar com motores dessa empresa.

Tais embarcações prestaram relevante papel em um país que ocupa cerca de um terço da Ilha

de São Domingos, com um litoral recortado por enseadas e penínsulas.

Ao ser questionada se gostaria de realizar alguma contribuição ou ponderação sobre os

acordos e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas

necessárias, a empresa respondeu que a regra de aquisição de produtos pelas Forças Armadas

segue a Lei Federal nº 8.666/1993147, a qual acaba colocando em um mesmo parâmetro

empresas públicas e autarquias (CAGNINO, 2017). Destarte, avalia que nem sempre é possível

atender às demandas militares, tendo em vista que as condições comerciais divergem das

condições técnicas impostas. Por fim, ressaltou que, com uma legislação específica, possa ser

mais viável o atendimento às Forças Armadas com produtos e serviços mais específicos, que

possam ser desenvolvidos sob medida às necessidades operacionais.

Sobre essa questão aventada pela empresa, ressalta-se que as empresas não consideradas

ED ou EED não podem ser beneficiadas pelo RETID. Quando lidam com vendas para as Forças

Armadas, estão sujeitas à Lei de licitações e contratos da Administração Pública, o que pode

dificultar os processos de aquisições de materiais de emprego militar. No que concerne aos

motores de popa comercializados pela Yamaha com o EB, vale ressaltar que não se tratam de

produtos precipuamente militarizados, mas que atendem plenamente às demandas operacionais

da Força Terrestre, sobretudo nas atividades de navegação. Nesses termos, cabe a seguinte

reflexão: será que produtos destinados às Forças Armadas, ainda que oriundos de empresas não

consideradas ED ou EED não poderiam ter um regime jurídico diferenciado, de forma a

estimular as vendas para os militares?

3.3.2. Análise dos resultados da participação das empresas brasileiras na MINUSTAH

De forma a analisar a manifestação do poder econômico do Brasil na MINUSTAH, foi

realizada uma pesquisa entre os dias 14 de junho e 15 de setembro de 2017, com a finalidade

de coletar informações acerca das empresas brasileiras fornecedoras de equipamentos militares

e de emprego geral para o contingente do país desdobrado no Haiti. A base de dados para a

quantificação dos resultados pretendidos consiste de 25 empresas que receberam a sondagem

147 LEI Nº 8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Trata-se da lei que regulamenta as compras públicas em todas as esferas de Governo.

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inicial, das quais 16 repassaram informações para a presente pesquisa e efetivamente

responderam ao questionário posteriormente enviado, de acordo com a tabela 13:

Tabela 13- Universo de empresas estudado na pesquisa

Sondagem inicial Informações para a pesquisa Agrale X Avibrás Indústria Aeroespacial S/A X Arsenal de Guerra de São Paulo X Caterpillar - Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) X Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda X Deutz Motores a Diesel - ER Amantino Indústria de Máquinas, Equipamentos, Acessórios e Armas Esportivas LTDA

X

Ford Caminhões - Grupo InbraFiltro X Indústria de Material Bélico do Brasil (IMBEL) - Komatsu - Leon Heimer Geradores S/A X MAN Latin América Indústria e Comércio - de Veículos Ltda. X Mardiesel Comercio e Representações Ltda X Mercedes-Benz - Motorola Solutions X Perenne X Santoslab X SDMO Geradores - Taurus - Terex - Yamaha Motor da Amazônia Ltda X Fonte: o autor. Disponível em <http://www.survio.com/survey/d/G2I2Q4H7Q1Q8A1L2R>

Foi demandado incialmente para que as empresas respondessem quantos acordos e/ou

contratos foram estabelecidos com as FA do Brasil nos últimos 20 anos. Conforme pode ser no

gráfico 1, cerca de 70% responderam que firmaram mais de 10 acordos e/ou contratos.

Fonte: o autor. Disponível em: <https://www.onlinepesquisa.com/s/dff2220>

Gráfico 1-Acordos e/ou contratos estabelecidos com as FA nos últimos vinte anos

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Em seguida, foi perguntado se os produtos vendidos faziam parte do catálogo da

empresa ou se foram concebidos especificamente para as demandas militares, consoante com o

gráfico 2:

Ao confrontar as respostas apresentadas por meio do gráfico 2, conclui-se que uma

pequena parcela dos itens comercializados com as FA, cerca de 20%, foram fabricados

especificamente para as demandas militares.

Foram feitos questionamentos acerca dos contratos estabelecidos especificamente para

a missão na ilha caribenha, representados pelo gráfico 3, tendo-se obtida uma proporção

relativamente estreita entre acordos firmados exclusivamente para a missão (58 %) e os que não

foram (42%).

Gráfico 3- Acordos/contratos firmados com militares brasileiros para a MINUSTAH

Sim

58%

N�o

42%

Fonte: o autor. Disponível em: <https://www.onlinepesquisa.com/s/dff2220>

Fonte: o autor. Disponível em: <https://www.onlinepesquisa.com/s/dff2220>

Gráfico 2- Produtos vendidos para as Forças Armadas

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Por fim, foi solicitado se houve aumento da exposição dos produtos das empresas por

meio de suas utilizações pelas Forças Armadas Brasileiras em missões de paz, cujos resultados

foram graficamente compilados no gráfico 4:

Gráfico 4- Aumento da exposição de produtos pelo uso em missões de paz

Os resultados obtidos permitem afirmar que cerca de 75% das empresas firmaram

contratos com as Forças Armadas do Brasil nos últimos anos. Destes contratos, mais de 80%

dos produtos comercializados já faziam parte do portfólio das empresas . Isso permite inferir

que a maior parte dos equipamentos desdobrados no Haiti já eram de posse das FA. Sobre esse

aspecto, Katsanos (2017) ressalta que o nível tecnológico e os equipamentos efetivamente

usados no Haiti eram os que já eram produzidos pela indústria nacional com algumas

adequações.

Em contrapartida, a participação do contingente militar brasileiro na MINUSTAH

permitiu a assinatura de novos contratos com as FA � cerca de 65% das empresas sondadas - e

representou um aumento de mais de 72% de visibilidade dos produtos no exterior. Dessa forma,

a missão ensejou um aumento na exposição dos produtos de defesa no exterior por meio do

universo analisado.

A análise das empresas que proveram parte da logística dos capacetes azuis brasileiros

no Haiti permite estabelecer algumas inferências sobre suas contribuições para a BID.

O fornecimento de tecnologias não letais pela Condor ensejou uma mudança na

concepção da ONU sobre o uso da força. A empresa passou a fabricar munições não letais

mediante solicitação da própria Organização, aumentando de forma expressiva seu mercado,

gerando um ciclo virtuoso iniciado por meio da atuação das tropas brasileiras em situações

violentas que puderam ser controladas com o auxílio da munição por ela fornecida.

Sim

73%

N�o

27%

Fonte: o autor. Disponível em: <https://www.onlinepesquisa.com/s/dff2220>

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129

O �veterano� carro de combate Urutu mostrou- se adequado para as operações, mesmo

após as agruras sofridas durante a missão. Tais vicissitudes demandaram trabalhos de

repotencialização e de adaptação148, realizados pelo Arsenal de Guerra de São Paulo, contando

com peças de reposição fabricadas pela Columbus. Nesse sentido, a logística para um veículo

fabricado entre as décadas de 1980 e o começo dos anos de 1990 tornou-se exequível por haver

empresas brasileiras em condições de apoiar a realização das manutenções corretiva149 e,

sobretudo, modificadora150.

A fabricação de equipamentos mediante solicitação e atendendo às exigências do EB,

por empresas não inscritas como EED é um legado importante deixado pelo Haiti. Nesse

sentido, destaca-se a Perenne, que fabricou uma ETA sob encomenda do EB que atendeu às

especificidades inerentes a um equipamento militar, colocando a Força Terrestre no estado da

arte no que concerne ao tratamento de água em operações. Por seu turno, os rádios digitais da

Motorola - fabricados no Brasil em coordenação com o Cmdo Com GE Ex - puderam ser

testados e aprovados. Além de aumentar a capacidade de comando e controle do EB na missão,

esses aparelhos incrementaram a capacidade de atuação do EB nos Grandes Eventos que

ocorreram no país.

Os veículos empregados pelo contingente são outro exemplo de contribuição para a

BID. Nesse sentido, a MAN, ainda que não inscrita como EED, entende que os contratos de

fornecimento com as Forças Armadas contribuíram para o desenvolvimento dos Caminhões

Volkswagen, com a criação de uma linha específica de viaturas militares, cuja eficiência foi

comprovada na missão. Outrossim, a Agrale passou a ter uma linha específica de veículos

militarizados e pôde aumentar suas encomendas a partir da missão, tanto para as Forças

Armadas do Brasil quanto para as de outros países.

No que concerne ao armamento utilizado, houve a oportunidade de empregar o novo

fuzil IMBEL 5,56 IA2. Destinado a substituir os fuzis 7,62mm, o armamento reúne condições

técnicas que permitem ao EB tornar-se um Exército de 4ª Geração (VICENTE, 2017). Dessa

148 Ressalta-se que as modificações realizadas para o combate em área urbana estão presentes nos Urutus doados às forças de segurança do Rio de Janeiro (DEFESANET, 2018). 149 [...] �destina-se à reparação ou recuperação do material danificado para repô-lo em condições de uso� (BRASIL, 2014d, p. 3-8). A gestão da cadeia de suprimento de peças e conjuntos de reparação tem influência significativa na disponibilidade dos materiais, de modo a evitar interrupções (paradas) e atrasos na manutenção por falta desse insumo (BRASIL, 2014d). 150 Diz respeito às ações destinadas a adequar o equipamento às necessidades ditadas pelas exigências operacionais e melhorar o desempenho de equipamentos existentes. Envolve as ações de reconstrução, modernização/modificação de equipamentos e sistemas de armas, bem como a reparação e recuperação de conjuntos e componentes. Normalmente, exige projetos de engenharia, pessoal com competências técnicas específicas e infraestrutura fabril (civis e/ou militares) (BRASIL, 2014d).

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forma, a visibilidade em uma operação de paz é um vetor importante que pode estimular futuras

encomendas desse material.

Em suma, a análise da participação das empresas presentes na missão se mostrou mais

qualitativa do que quantitativa. Ainda que não tenha havido uma presença mais expressiva do

empresariado nacional, pode-se afirmar que a MINUSTAH ensejou uma oportunidade para a

indústria de defesa do Brasil. Isso pôde ser observado mediante a concepção de novos

equipamentos, mediante projetos estabelecidos com o EB, pelo aumento da demanda a partir

da missão e pela visibilidade que o Haiti proporcionou tanto às empresas estratégicas de defesa

quanto às que não estão inscritas nesta condição.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente dissertação se propôs a analisar em que medida a logística empregada pelo

Contingente Brasileiro (CONTBRAS) na MINUSTAH aportou contribuições para a Base

Industrial de Defesa (BID).

O trabalho realizado teve como escopo principal o Exército Brasileiro (EB),

notadamente por meio de suas unidades de força de paz desdobradas na missão: BRABAT,

BRAENGCOY e BRABAT 2. Cabe ressaltar que a abordagem em relação à Força Terrestre

não se fez de forma excludente, haja vista durante toda a operação ter ocorrido um trabalho

conjunto entre todas as Forças Armadas (FA) brasileiras. No entanto, conforme foi delimitado

na introdução do presente trabalho, o relevante papel desempenhado pela Marinha do Brasil e

pela Força Aérea Brasileira em proveito da MINUSTAH foi abordado no que diz respeito à

interface destas forças singulares com o EB, em especial no que concerne ao apoio logístico

das tropas desdobradas na ilha caribenha. Igualmente, preferiu-se não incluir na presente

pesquisa o Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais, uma das subunidades do BRABAT,

haja vista que, durante a missão, tal fração gerenciou diretamente em contato com a Marinha

do Brasil a sua própria logística.

Abordagem epistemológica do referencial teórico estudado

Realizou-se inicialmente uma abordagem epistemológica da BID, partindo do

pressuposto de Amarante (2012), de forma a verificar como nela estão inseridas a logística do

EB e a indústria de defesa nacional. O trabalho ampliou a definição do Iceberg Científico-

Tecnológico Militar por considerar que os produtos destinados às FA podem ser PRODE ou

equipamentos militarizados fabricados por empresas civis, consideradas como Empresas

Industriais (Produção) no presente estudo. Ainda estendendo o pressuposto de Amarante

(2012), no que diz respeito às Empresas de Serviços (Logística), incluiu-se o DEC e o DCT

(por meio do Cmdo Com G Ex) junto ao COLOG por estes serem os ODS do EB que

gerenciaram a cadeia dos suprimentos enviados ao Haiti.

Referente à logística, a digressão realizada permite inferir que há uma interface entre a

logística militar e a empresarial. A vertente militar, restrita apenas ao fornecimento dos meios

para o combate até a Segunda Guerra Mundial, forneceu subsídios e melhores práticas que

foram utilizados na estruturação da logística empresarial. A busca de soluções para o confronto

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entre a maximização dos lucros e a diminuição dos custos levou à incorporação de inovações

tecnológicas da Terceira Revolução Industrial, como a robotização e a conteinerização, o que

conduziu ao aumento da terceirização e da privatização. Tais práticas, engendradas pela

logística empresarial, foram implementadas pelas FA dos Estados Unidos da América (EUA),

com a finalidade de reduzir os custos das campanhas militares. Da mesma forma, ao constatar

que a maior parte dos custos com sistemas de armas refere-se à manutenção, as FA norte-

americanas conceberam a logística baseada em performance (PBL), a qual, posteriormente,

passou a ser utilizada por empresas civis. Para esse país, a logística está inserida em sua

estratégia de projeção do poder, demandando uma sustentação de suas FA a longo prazo, o que

exige uma base industrial flexível e ativa, capaz de desenvolver, produzir e apoiar sistemas de

armas em tempo de paz.

Ainda com relação à abordagem sobre logística, no meio empresarial passa-se a adotar

a Gestão da Cadeia de Suprimentos (SCM), englobando a terceirização, a aquisição e as

atividades de gerenciamento logístico, que, por sua vez, progressivamente passa a ser

empregada nos exércitos dos países desenvolvidos, nos quais pode-se afirmar que a logística

militar esteja no Estado da Arte. Atinente à logística humanitária, ressalta-se que ela reúne

elementos da Supply Chain Management, assim como da logística militar, tais como a

prontidão, o atendimento a vítimas e o desdobramento em áreas com infraestrutura precária.

No Capítulo 2, a análise da evolução das Operações de Manutenção da Paz (OMP), em

número e em complexidade, apresentou a demanda premente de reestruturação do sistema de

apoio logístico da ONU. Destinada a aprimorar custos e a inserir um número maior de nações

no burden sharing, foi concebida a nova sistemática de reembolso. O COE System traduz-se

em um leasing estabelecido entre os países contribuintes de tropa e a ONU, formalmente

assinado pelo MOU. A logística empregada pela ONU passa a reunir elementos da logística

empresarial, da logística humanitária e a contar com elementos de PBL. Dessa forma, desdobra

em suas operações meios logísticos de sua propriedade, oriundos de países contribuintes - como

foi o caso do Brasil na MINUSTAH - ou contratados comercialmente na área da missão.

Com relação à BID, a partir do que foi exposto constata-se que ela é reflexo do

desenvolvimento econômico e militar de uma nação. Para ser consolidada, necessita-se de um

projeto de Estado, que mobilize todos os atores competentes. O complexo industrial e

tecnológico de defesa constitui fonte de autonomia estratégica, contribuindo para o aumento da

dissuasão geopolítica que, por sua vez, enseja uma maior capacidade do Estado de exercer

pressão diplomática. No Brasil, a assertividade da política externa durante o governo Geisel

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assentava-se em uma autonomia em termos industriais e energéticos. Um dos aspectos que deu

esteio ao Pragmatismo Responsável e Ecumênico era uma BID em franca expansão, capaz de

produzir cerca de 80% do material bélico do Brasil, permitindo ao país resistir a pressões

diplomáticas graças à sua capacidade industrial-militar.

A prioridade à indústria bélica nacional constituiu-se em um dos eixos da política

governamental durante o regime militar e se manteve na presidência de Sarney. Na década de

1980, consolidava-se o tripé do complexo industrial militar brasileiro, formado pela Embraer,

Emgepron e a Engesa, fabricante do protótipo da viatura blindada de combate Osório, melhor

do mundo naquela década. A política externa brasileira, entretanto, passaria a não ser mais

respaldada por sua BID a partir do início dos anos de 1990. Cervo e Bueno (2015) salientam

que houve o desmonte da segurança nacional e a adesão a todos atos de renúncia à construção

de potência dissuasória, conduzindo à destruição do patrimônio e do poder nacionais,

restringindo o governo de meios de poder sobre a arena internacional.

O final da década de 1990, contudo, marcaria um refluxo neste processo. O Estado

logístico recuperou estratégias de desenvolvimento e conferiu à política exterior funções

assertivas, mediante o reforço da capacidade empresarial do país, a aplicação da ciência e da

tecnologia assimiladas e a expedição de uma Política de Defesa Nacional. Isso possibilitou que,

a partir dos anos 2000, houvesse um retorno da prioridade ao desenvolvimento da BID do país,

salientado pela PND, pela END e pelo LBDN. Como reflexo destes diplomas legais, ocorre

pela primeira vez a publicação de regras de incentivo à área estratégica de defesa (Lei Nº

12.598), regulamentados pelos Decretos Nº 8122 (RETID) e Nº 7970 (CMID).

Consequentemente, são sedimentadas condições para reforçar a capacidade militar-industrial

do país, permitindo a retomada de uma política externa mais assertiva.

Análise e discussão dos resultados alcançados

A partir do que foi estudado nos capítulos 1 e 2, constatou-se que a logística empregada

no Haiti aportou ao EB uma experiência inédita. Houve o incremento da expertise da gestão da

cadeia de suprimentos para tropas no exterior, de uma forma como ainda não havia ocorrido.

Cada um dos ODS estudados no presente trabalho � COLOG, DEC e DCT � gerenciou uma

plêiade de suprimentos, conforme a especificidade do equipamento. Durante a missão,

concebeu-se uma estrutura nova, a CLACH, baseada no Haiti, destinada a realizar a interface

das demandas do CONTBRAS com cada um desses ODS no Brasil. A CLACH, engendrando

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uma maior integração entre os ODS do EB, a partir das demandas impostas pela missão, ensejou

um fortalecimento do segmento Empresas de Serviços da BID.

A provisão logística aos capacetes azuis brasileiros também contribuiu para uma

integração maior entre as FA brasileiras. O transporte de equipamentos mais volumosos e

pesados - como carros de combate, motoniveladoras e caminhões basculantes � seria inviável

sem o apoio da MB. Igualmente, o envio de materiais de comunicações e de insumos para o

funcionamento da Estação de Tratamento de Água (ETA), por exemplo, salientaram a

relevância dos voos logísticos realizados pela FAB. A necessidade do apoio logístico por meio

de diferentes modais demandou a ativação do Centro de Coordenação Logística de Operações

de Paz (CCLOP) do MD. O CCLOP propiciou a coordenação necessária entre as três FA para

a provisão do CONTBRAS, mostrando-se uma estrutura que precisa ser replicada em futuras

missões em que o EB possa vir a participar. Igualmente, a partir de uma constatação feita por

Ferreira Neto (2011), trata-se de uma experiência que diminui a fragmentação das FA e que,

por conseguinte, fortalece o segmento Logística da BID.

A logística humanitária realizada pelo CONTBRAS permite também realizar ilações

acerca de sua contribuição para a BID. Os transportes marítimo e aéreo realizado pelas FA do

Brasil asseguraram o aporte de suprimentos em proveito da população haitiana após as

catástrofes naturais que assolaram o país, sobretudo após o terremoto de 2010. Igualmente, a

realização de atividades de QIP, de CIMIC � incluindo a distribuição de água tratada em uma

estação de tratamento de fabricação nacional - e de reconstrução contou com meios

majoritariamente das próprias FA. Nesses termos, pode-se afirmar que as operações de

assistência humanitária e de socorro a desastres representam uma contribuição para a BID.

A logística da ONU demandou adaptações pelo CONTBRAS. Sobre esse aspecto,

exemplifica-se a exigência de fogões elétricos para a cocção de alimentos � visando a prevenir

incêndios - e a provisão de energia elétrica exclusivamente a partir de geradores, operando

diuturnamente. Dessa forma, houve a necessidade da aquisição de novos insumos e o

desenvolvimento de uma nova capacitação, para a qual o EB ainda não estava plenamente

adaptado antes do início da missão. Nesses termos, houve uma contribuição para a doutrina de

logística da Força Terrestre e, por conseguinte, para o segmento Logística da BID.

Ainda com relação à logística das Nações Unidas, a adoção do sistema de reembolso

Wet Lease aumenta a necessidade de manutenção do material, em todos os níveis. Tomando

como base os Major Equipments, por exemplo, a ONU somente realiza o reembolso ao país

contribuinte caso sejam atendidas, simultaneamente, as seguintes condicionantes operacionais:

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o equipamento de fato existe no contingente, funciona e há operador habilitado a operá-lo. Isso

demandou uma grande coordenação para o envio de peças sobressalentes, de forma a manter

sempre em condições de funcionamento os equipamentos do contingente, o que muitas vezes

foi assegurado por meio dos voos logísticos da FAB. Ao mesmo, aumentou a exigência para a

capacitação do pessoal empregado na manutenção preventiva e corretiva dos materiais. O MOU

traduz-se em um leasing, por meio do qual equipamentos são cedidos temporariamente à ONU,

que, por sua vez, indeniza os contingentes por meio do pagamento do reembolso. As inspeções

e os mecanismos de controle, destinadas a averiguar a operacionalidade do que foi assinado no

MOU, remetem ao PBL que, ao mesmo tempo, exigiu uma eficiente SCM por parte do EB.

Destarte, houve uma importante contribuição para os ODS ligados à logística do EB.

A missão demandou uma quantidade expressiva de meios e de equipamentos,

mobilizados ainda em território nacional a partir do que estava disponível nas OM da Força

Terrestre, particularmente nos primeiros contingentes desdobrados. A partir da evolução do

grau de complexidade da missão, a partir de 2006, novos meios, com maior valor agregado,

passaram a ser demandados. De forma a atender tais exigências, boa parte dessas aquisições

foram realizadas no Brasil, tanto em EED quanto em empresas civis fabricantes de produtos

que se adaptam às necessidades militares, tais como embarcações e viaturas. Registraram-se

vendas de materiais que já pertenciam ao catálogo das empresas, assim como sob encomenda

do EB. A discussão de como essas aquisições puderam fomentar a BID foi apresentada no

capítulo 3.

A MINUSTAH ensejou a concepção de equipamentos mediante solicitação e conforme

as exigências da Força Terrestre, os quais mostraram-se adequados às vicissitudes da missão.

Exemplificam-se inicialmente os casos esquemáticos que envolveram soluções de Engenharia

e de Comunicações. A mudança do processo de tratamento de água por meio da UFOR 1210

engendrou um incremento qualitativo de expertise que colocou o EB no mesmo patamar dos

exércitos mais avançados do mundo. Outrossim, os sistemas de comunicações desenvolvidos,

pela primeira, vez contaram com tecnologia digital, aumentando a segurança nas transmissões

e aprimorando sobremaneira a capacidade de comando e controle das operações. Outrossim,

registra-se que empresas não inscritas como EED, mediante a concepção de equipamentos

militarizados para o EB, aportaram uma contribuição tecnológica para o EB e, por conseguinte,

para o segmento Empresas Industriais (Produção) da BID.

No que diz respeito às viaturas utilizadas pelo CONTBRAS, salienta-se o aumento das

aquisições do EB tanto em empresas civis quanto em EED. O uso em uma situação de combate

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conduziu ao aumento da visibilidade dos produtos negociados com a Força Terrestre,

propiciando um incremento quantitativo nas vendas e no número de clientes, sobretudo no

exterior. As demandas militares conduziram à concepção de linhas específicas de viaturas

militares ou militarizadas, o que também despertou o interesse de segmentos da economia que

necessitam de veículos mais robustos, como a mineração e a construção. Por meio de um ciclo

virtuoso envolvendo o fornecimento de veículos ao EB antes e, principalmente, durante a

missão, houve uma contribuição importante para o segmento Produção da BID.

O emprego de munições não letais, por sua vez, ensejou a mudança da concepção da

ONU sobre o uso da força. O êxito dos capacetes azuis brasileiros no uso progressivo da força,

empregando tecnologias não letais, permitiu lidar com situações críticas de perigo na missão

sem provocar danos colaterais, ao mesmo tempo, causando a letalidade seletiva nos momentos

em que isso se fez necessário. Isso despertou o interesse do DPKO em conhecer tais tecnologias,

tornando a Condor fornecedora da ONU de munição não-letal destinada ao emprego em OMP.

As munições não-letais fabricadas por uma empresa brasileira passaram a ser exportadas para

mais de 45 países, fomentando a indústria de defesa nacional do Brasil.

O carro de combate Urutu, fabricado por uma das empresas que constituíam o tripé

industrial militar brasileiro, evidenciou a sinergia entre uma EED pública e uma privada. As

adaptações do veículo para o combate urbano, em especial a instalação da lâmina bulldozer e a

torre giratória blindada, contaram com o trabalho do Arsenal de Guerra de São Paulo e da

Columbus. Igualmente, o aumento exponencial da utilização de um carro de combate que

remonta à década de 1980 aguçou as necessidades de manutenção e demandou trabalhos de

repotencialização. Mesmo assim, o veículo mostrou-se adequado às agruras do combate urbano,

o que evidenciou a capacidade tecnológica da indústria militar nacional. Dessa forma, o

emprego do EE 11 Urutu no Haiti, ao demandar a interação entre duas EED, contribuiu para

fortalecer o segmento da Produção da BID.

A partir do fim dos 2000 e, principalmente, na presente década, percebe-se um

progressivo aumento da atenção do empresariado brasileiro com a BID. Isso pode ser

evidenciado por meio da estruturação dos COMDEFESA nas regiões Sul e Sudeste do país e,

recentemente, nos estados de Pernambuco e de Goiás, ensejando um aumento da integração

entre o Governo, as FA e as empresas. A visibilidade que o Brasil adquiriu por meio do emprego

de suas tropas na MINUSTAH chegou em um momento em que o paradigma de que indústria

de defesa é apenas fuzil e munição parece estar sendo definitivamente superado, percebendo-

se um aumento no mercado oferecido pelas OMP. Nesse sentido, a missão contou com a visita

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de presidentes de Federações das Indústrias, o que pôde ser retribuída, por exemplo, pela visita

do Primeiro Ministro do Haiti à FIESP e à FIERGS. O United Nations Marketplace representa

uma gama de serviços e de produtos a serem fornecidos para as missões de paz, vicejando uma

oportunidade para as indústrias do Brasil, ligadas ou não à defesa. Dessa forma, um mercado

anual da ordem de US$ 17 bilhões torna-se atrativo para o empresariado nacional,

representando uma possibilidade concreta de fortalecer tanto o segmento Produção da BID

quanto empresas sem ligações com a defesa.

Contribuições para a BID também puderam ser verificadas por meio do Fuzil IA2. O

armamento, desenvolvido pela IMBEL e pelo CTEx, foi enviado ao Haiti após ter sido

efetivamente testado em território nacional e comercializado com o EB e Forças Auxiliares. A

MINUSTAH, portanto, permitiu dar visibilidade a um equipamento cuja eficiência foi

devidamente comprovada pelo país que o fabrica, diminuindo contratempos para exportações.

A produção desse armamento fortalece a BID na medida em que contou com uma empresa do

segmento Produção e uma instituição de Pesquisa e Desenvolvimento.

A análise da logística desdobrada pelo EB, as aquisições de material e as empresas

presentes na missão permitem concluir que houve uma contribuição para a BID do Brasil.

Afirma-se, portanto, que a participação do Brasil na MINUSTAH gerou impactos positivos na

BID nacional. A partir do que foi exposto, constatou-se que a missão vicejou o fortalecimento

dos segmentos Logística (Empresas de Serviços) e Produção (Empresas Industriais) a partir dos

produtos utilizados na missão, situados no topo do Iceberg Científico-Tecnológico Militar.

Conclui-se, portanto, que a logística do contingente brasileiro na MINUSTAH ensejou

uma possibilidade concreta de fomento à BID, traduzida na participação de empresas nacionais,

nas inovações tecnológicas propiciadas pela missão e no desenvolvimento e no aprimoramento

da doutrina de emprego da Força Terrestre. Outrossim, a partir do estudo da participação dos

capacetes azuis brasileiros no Haiti, constata-se que as operações de manutenção da paz

inserem-se em uma política externa voltada para o desenvolvimento nacional.

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HERNANDES, Fernando César. (Coronel do Exército Brasileiro, Gerente da Subchefia de Operações de Paz da Chefia de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa; Exerceu as funções de Delegado junto à ONU no Grupo de Trabalho do Brasil para assuntos do Manual de Equipamento Próprio do Contingente, de Delegado junto a ONU como assessor da Missão Permanente do Brasil nas reuniões da Comissão Especial para Operações de Paz e Chefe da Divisão de Operações Correntes do Comando Logístico do Exército, responsável por coordenar e controlar o apoio logístico às tropas em Operações de Paz). Entrevista concedida ao autor na Subchefia de Operações de Paz do Ministério da Defesa em 16 ago. 2017. KUNZ, Adalberto de Souza Ferreira. (Coronel do Exército Brasileiro, Adjunto da Célula Logística de Apoio ao Contingente Brasileiro no Haiti (CLACH)). Entrevista por meio eletrônico em 10 out. 2017. LIMA, Luiz Nilson F. (Gerente Comercial da Heimer Grupos Geradores). Entrevista por meio eletrônico em 28 jul. 2017. MATOS, José Alberto da Rosa de. (Gerente de Vendas de Utilitários da Agrale). Entrevista por meio eletrônico em 31 jul. 2017. MONTEIRO, Luiz Cristiano Vallim. (Diretor de Relações Institucionais da Condor Tecnologias Não-Letais). Entrevista por meio eletrônico em 28 jul. 2017. NETO, Odilon Lobo de Andrade. (Diretor da Columbus Comercial Importadora e Exportadora Ltda). Entrevista por meio eletrônico em 10 ago. 2017. PALMA, Marcelo. (Coronel do Exército Brasileiro, Oficial de Logística (G4) do BRABAT 18/ 2013). Entrevista por meio eletrônico em 11 out. 2017. RITTON, Danielle Ribeiro.(Volkswagen Caminhões). Entrevista por meio eletrônico em 6 nov. 2015. ROLF, Paul (Diretor Técnico Rolf Armas Boito/ER Amantino). Entrevista por meio eletrônico em 20 out. 2017. SBRAGIO JR, Roberto (Diretor Administrativo da Santos Lab). Entrevista por meio eletrônico em 20 out. 2017.

SEREJO, Francisco Marcelo Matos. (Tenente-Coronel do Exército Brasileiro, Oficial de Coordenação Civil-Militar (CIMIC) no 17º Contingente Brasileiro no Haiti em 2013, quando houve a junção do BRABAT 2 ao BRABAT; Chefe da Subseção de Reembolso e Custo de Missões de Paz da 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército). Entrevista concedida ao autor na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército em 09 out. 2017.

SOUZA COELHO, Alexandre. (Coronel do Exército Brasileiro, Adjunto da Célula Logística de Apoio ao Contingente Brasileiro no Haiti (CLACH) 13º Contingente e Gestor da Logística Haiti na Diretoria de Abastecimento). Entrevista concedida ao autor no Comando Logístico em 14 ago. 2017. SOUZA, Marcos Agmar de Lima (Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Avibrás). Entrevista por meio eletrônico em 17 nov. 2015. VIEIRA JR., Rolant. (Coronel do Exército Brasileiro, Chefe da Seção de Missões de Paz e da Subseção de Reembolso e Custo de Missões de Paz da 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército. Delegado da Representação Brasileira Integrante do Grupo de Trabalho para

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Atualização do Manual de Reembolso da ONU para Países Contribuintes de Tropas em Missões de Paz). Entrevista por meio eletrônico em 21 ago. 2017. VIEIRA, Regina (Representante Comercial MD-BALLY MARDIESEL). Entrevista por meio eletrônico em 9 ago. 2017.

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ANEXO A � QUESTIONÁRIO ENVIADO AOS MILITARES

A Logística em Operações de Paz e suas contribuições para a indústria de defesa do Brasil Prezado Sr (a). Este questionário destina-se a levantar dados a respeito das contribuições da logística empregada em Operações de Paz para o desenvolvimento da indústria de defesa no Brasil. As informações aqui coletadas são um importante subsidio para o meu projeto de mestrado. Bastam poucos cliques para completar este breve questionário. Sua colaboração é fundamental para o êxito desta pesquisa sobre a logística, atividade fundamental para a Defesa Nacional. Obrigado! 1- Qual a instituição a que o (a) senhor(a) pertence?

2- O (a) senhor(a) já participou de alguma missão de paz sob a égide da ONU? Qual? Marque mais de uma opção caso tenha participado de mais de uma missão de paz.

3- O (a) senhor(a) já desempenhou, no Brasil, alguma função ligada ao desdobramento logístico de Contingentes Brasileiros empregados em Missões sob a égide da ONU?

4- O (a) senhor(a) já exerceu alguma função logística em Contingentes Brasileiros desdobrados em Operações de Manutenção da Paz?

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5- Na missão de paz que o (a) senhor (a) participou, havia equipamentos, materiais ou viaturas fabricados no Brasil?

6- O Contingente Brasileiro empregado na Missão de Estabilização das Nações Unidas para o Haiti (MINUSTAH) possui diversos equipamentos, materiais e viaturas. O(a) senhor(a) poderia precisar qual a porcentagem destes itens são fabricados pela indústria de defesa do Brasil ?

7- O (a) senhor(a) acredita que os procedimentos atinentes à logística do material empregado em missões de paz, tais como manutenção, substituição de componentes e transporte de peças de reposição, podem ser mais simples quando existem fábricas de tais materiais instaladas no Brasil ?

8- A logística empregada pelas Forças Armadas em Operações de Manutenção de Paz sob a égide da ONU poderia contribuir para o desenvolvimento da indústria de defesa do Brasil ?

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ANEXO B � QUESTIONÁRIO ENVIADO ÀS EMPRESAS A Logística em Operações de Paz e suas contribuições para a indústria de defesa do Brasil Prezado Sr(a).

Este questionário destina-se a levantar dados a respeito das contribuições da logística

empregada em Operações de Paz para o desenvolvimento da indústria de defesa no Brasil.

As informações aqui coletadas são um importante subsídio para a minha dissertação de

mestrado.

Bastam poucos cliques para completar este breve questionário. Sua colaboração é fundamental

para o êxito desta pesquisa sobre a logística, atividade fundamental para a Defesa Nacional.

Obrigado!

1. Qual a razão social da empresa? 2. A empresa estabeleceu acordos comerciais nos últimos 20 anos com?

Exército Brasileiro Marinha do Brasil Força Aérea Brasileira Agências da Organização das Nações Unidas Forças militares/ Forças Armadas de outros países Nenhuma das opções anteriores

3. Quantos acordos e/ou contratos foram estabelecidos com as Forças Armadas Brasileiras nos últimos vinte anos?

1 -2 3-4 5-10 � 10

4. Os produtos vendidos faziam parte do catálogo da empresa ou foram concebidos especificamente para as demandas militares?

Faziam parte do catálogo Foram concebidos especificamente Ambas as opções

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5. Houve acordos/ contratos firmados com militares brasileiros especificamente por conta da MINUSTAH?

6. Caso a resposta anterior tenha sido �SIM�, quais produtos foram vendidos? Ao descrever tais produtos, incluir a letra �M� após o equipamento/material caso ele tenha sido concebido especificamente para atender demandas militares. 7. O Sr/Srª acredita que houve aumento da exposição de seus produtos por meio de suas utilizações pelas Forças Armadas Brasileiras em missões de paz?

8. Caso o questionamento anterior tenha sido respondido com �SIM�, a exposição contribuiu para a internacionalização da empresa?

9. Se, porventura, desejar, o espaço a seguir destina-se a contribuições/ ponderações sobre os acordos e/ou contratos firmados, assim como sugestões e melhores práticas julgadas necessárias.

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ANEXO C � PROPOSTA DE ENTREVISTA

MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

INSTITUTO MEIRA MATTOS Programa de Pós-Graduação em Ciências Militares (PPGCM) Roteiro de Entrevista Posto e nome do entrevistado: Principais funções desempenhadas (de acordo com os dados já mapeados): Data: Local: Horário de início: Horário de término:

Passo nº 1: verificação das datas disponíveis para o apoio às entrevistas; Passo nº 2: envio do convite ao entrevistado, informando o local, data, hora e objetivo da

entrevista. O envio dessa documentação ocorrerá por intermédio do IMM/orientadora, após tratativas com o pesquisador;

Passo nº 3: confirmação da entrevista por parte do entrevistado e tratativas, via contato

telefônico, acerca das medidas administrativas necessárias à condução do entrevistado até o local da entrevista;

Passo nº 4: por ocasião da chegada do entrevistado no local da entrevista, haverá uma

conversa informal entre o pesquisador e o entrevistado, com vistas a tornar o ambiente e a atividade confortáveis (�Breaking the Ice�);

Passo nº 5: início da entrevista propriamente dita, com a leitura do seguinte texto:

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Bom dia _________________________________________, antes de mais nada, eu

gostaria de agradecer, em meu nome, em nome do Professor Luiz Rogério Franco Goldoni

e em nome do IMM, a disponibilidade do senhor em disponibilizar parte de seu tempo para

colaborar em uma atividade de pesquisa de interesse para o Exército.

O PPGCM/ECEME tem, entre outros objetivos, o de desenvolver a pesquisa como

instrumento para elaboração de doutrina e resolução de problemas baseado em uma

metodologia cientifica. Nesse sentido, a pesquisa científica é altamente estimulada no referido

Programa e a confecção de uma Dissertação e requisito parcial para a conclusão do Curso de

Mestrado.

O objetivo dessa entrevista é colher valiosos subsídios para a confecção de uma

Dissertação de Mestrado intitulada �A Logística dos contingentes brasileiros em Operações

de Manutenção da Paz: contribuições para a Base Industrial de Defesa�.

O que se pretende não é apenas reunir subsídios que permitam quantificar e qualificar as

contribuições para a Base Industrial de Defesa prestadas pela logística dos contingentes

brasileiros em Operações de Manutenção da Paz, mas principalmente mapear o

desdobramento dos contingentes e registrar as impressões de oficiais que tiveram relevante

papel neste processo.

Considera-se que esse assunto é de fundamental importância e está diretamente ligado ao

processo de transformação vivenciado pelas Forças Armadas brasileiras nos últimos anos.

Assim, eu gostaria de contar com a sua colaboração, por meio dessa entrevista, a qual

gostaria de iniciar nesse momento:

1. Quais as funções que o senhor desempenhou na missão de paz da qual participou? O senhor

exerceu funções logísticas neste processo?

2. A indústria de defesa faz parte de um setor da defesa chamado de BID, a qual necessita

promover o funcionamento e a operação harmônica e efetiva do conjunto de empresas e

instituições que a integra. A BID é um �Iceberg� Científico-Tecnológico Militar, na qual

coexistem as infraestruturas Científica, envolvendo atividades de ensino e pesquisa básica;

Tecnológica, responsável por atividades de pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e

avaliação; e Industrial, atuando em projeto; fabricação de produtos e criação de serviços; e

logística. As indústrias de defesa, públicas e privadas, estão representadas no nível das empresas

industriais no �iceberg�, enquanto que as empresas de serviços são os órgãos de direção setorial

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das Forças Armadas ligados à logística de material e suas unidades subordinadas. O

presente trabalho, ao abordar a BID, está concentrado nos dois últimos degraus do

Iceberg Científico-Tecnológico Militar e, sobretudo, no produto.

Diante do exposto, o senhor exerceu funções logísticas no âmbito da BID do Brasil?

3. O senhor acredita que a logística empregada pelos contingentes brasileiros em operações de

paz pode fomentar a BID? Em que medida? Em caso positivo, o senhor poderia citar de forma

isso poderá ocorrer?

4. O senhor acredita que as empresas brasileiras � neste caso, empresas nacionais e estrangeiras

com sede no Brasil � têm interesse em participar da logística relativa ao desdobramento de

contingentes brasileiros em OMP?

5. O presente questionamento destina-se a coletar informações a serem abordadas de forma

livre pelo entrevistado. O senhor gostaria de acrescentar mais algum conhecimento à presente

pesquisa?

Passo nº 6: agradecimentos, com a leitura do seguinte texto:

Na certeza que essa entrevista foi bastante produtiva, eu gostaria de agradecer, em meu

nome, em nome do Professor Luiz Rogério Franco Goldoni e em nome do IMM, todas as

informações prestadas pelo senhor no dia de hoje.

Agradeço por sua prestimosa colaboração e me coloco, desde já, à disposição na ECEME.

RAFAEL FARIAS - Maj Aluno do Mestrado

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