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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
A SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL NO BRASIL
BENONI FARIAS
Itajaí (SC), maio de 2008
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA
A SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL NO BRASIL
BENONI FARIAS
Monografia submetida à Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, como
requisito parcial à obtenção do grau de
Bacharel em Direito.
Orientadora: Profª. MSc. Márcia Sarubbi Lippmann
Itajaí (SC), junho de 2008
ii
AGRADECIMENTO
À professora MSc. Márcia Sarubbi Lippmann,
por seus ensinamentos e disposição em
conduzir a orientação do presente estudo
monográfico, meu agradecimento eterno.
Ao meu grande e eterno amigo Jairo Santos,
por todo o apoio e amizade, lhe sou
eternamente grato.
A Administração e serventuários, além de
todos os professores do curso de Direito, pelo
estímulo e atenção a mim dispensados, bem
como por todo o ensinamento passado,
agradeço por toda a eternidade.
Aos meus amigos: Alexandre Volney Rizzi, Ana
Maria da Silva Poersch, André Eduardo
Campos, Bianca Anelise Debiazi, Carolina
Pereira, Carlos Vinícius Priess, Cecília Serapiaõ
dos Santos, Cláudio Eduardo Silva, Cléverson
Tanaka Rubini, Daiana Reitz, Daniele Alves,
Diego de Paula, Eliza Pereira Lisboa, Emanuel
Duarte de Souza, Fabrício Rozza, Gisele
Cardoso Fiamoncini, Gisele Tomczyk, Gyanni
Amalie M. de O. S. Martinell, João José
Martins Filho, Josiane Spoltti, Kalil Alfredo
Raizer, Larissa Cristina Anastácio, Larissa
Noschang, Leandro Cleto Righetto, Lucas
Toledo, Márcio Hass da Silva, Marco Aurélio
Ribeiro, Marlon Besbati, Monike Tibncoski,
Nelson Rabeca dos Rios Júnior, Nívia Daiane
Regis Brancher, Rosana Amália Appelt,
Viviane Bohn, pela grande amizade que nos
uniu durante o curso de Direito e nos
enlaçará eternamente.
iii
DEDICATÓRIA
À minha amada esposa, Nazira Cleusa Farias,
por ser uma pessoa especial, que está
sempre ao meu lado, presente nas horas
felizes e, principalmente, nas horas difíceis.
Por contornar todos os problemas cotidianos
e tornar nossa convivência especial. Enfim,
por todo o apoio, AMOR, carinho, amizade e
companheirismo.
À minha querida filha, Sabrina Cleusa de
Farias, por toda a sua dedicação, carinho,
amizade, amor. Enfim, por todo o grande
AMOR a mim dispensado, apoio
incondicional e irrestrito.
À minha mãe, senhora Nair Machado Farias,
pela vida que me deu AMOR, carinho,
amizade e incentivo, agradeço eternamente.
A meus irmãos Beloni Farias, Beduini Farias e
Ben-Hadade Farias, amigos de sempre, pelo
incentivo, agradeço eternamente.
Aos meus tios, especialmente, Rogério
Sebastião Farias / Maria Petrolina Farias (Tia
Nóca) e Romélio Farias / Valdete Santana
Farias, pelo apoio incondicional no Rio de
Janeiro.
Aos primos e sobrinhos, pelo incentivo,
respeito, carinho e eterna amizade.
Ao meu filho, Alex Sandro de Farias (in
memorian), em razão daquilo que eu poderia
ter lhe ensinado e por suas lembranças tão
fortemente guardadas.
Ao meu saudoso pai Reduzino Farias (in
memorian), meu avô Ramiro Farias (in
memorian) e minha avó Marcolina Farias (in
iv
memorian) e a avó Lídia Infância Machado
(in memorian), berço do saber, a quem tudo
devo.
Aos meus tios, Romualdo Farias (in
memorian), razão de minha profissão; Ranila
Farias (in memorian) e Rita Farias (in
memorian), pelo apoio e acolhida na cidade
do Rio de Janeiro e,
Especialmente a Deus, por todos os seus
significados.
v
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade
do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Benoni Farias, sob
o título A SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL NO BRASIL, foi submetida em
09/06/2008 à Banca Examinadora composta pelas seguintes Professoras:
MSc. Márcia Sarubbi Lippmann (Orientadora e Presidente da Banca) e
MSc. Aparecida Correia da Silva (Examinadora) e aprovada com a nota
8,5 (oito e meio).
Itajaí (SC), 09 de junho de 2008.
Prof. MSc Antônio Augusto Lapa Coordenação de Monografia
vi
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade
pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de
Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer
responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí (SC), 09 de junho de 2008.
Benoni Farias Graduando
vii
ROL DE CATEGORIAS
Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos
operacionais.
Comoriência
Em síntese, a comoriência é um fator importante a ser observado à luz do
que dispõe a legislação nacional acerca da sucessão, eis que, esta vem a
ser “a morte de duas pessoas ao mesmo tempo, não se tendo condições
de estabelecer qual delas ocorreu em primeiro lugar1”. A comoriência
produz seus efeitos jurídicos somente no caso de haver reciprocidade
sucessória entre os comorientes2.
Família
A família é uma organização espontânea e natural que surgiu nos
primórdios, sendo que é do Direito Romano que se colacionam os maiores
subsídios em torno da família, eis que naqueles dias a família era
congregada pelo chefe desta diariamente a frente de um altar para
cultuar divindades, sendo o ponto inicial do casamento naquela época, o
casamento3.
1 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro. 2 ed. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2004. p. 23-24.
2 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro. Revista Jurídica Cesumar Mestrado. V. 4, n 1, 2004. p. 23-24.
3 CACHAPUZ, Rozane da Rosa. Da Família Patriarcal à Família Contemporânea, p. 70.
viii
Legado
No legado, o titular é sucessor a título particular, é sucessor em objetos, em
coisas limitadas pela quantidade, qualidade ou situação4.
Sucessão
Corresponde ao sentido de vir depois, isto é, uma modificação da
situação jurídica existente com o pensamento de uma pessoa, fazendo
com que seus sucessores tomem posse das relações jurídicas do de cujus
e, a partir disso, torna-se imprescindível a verificação acerca da abertura
da sucessão5.
União Estável
O conceito de União Estável, retratado no art. 1.723 do novo Código Civil,
corresponde a uma entidade familiar entre homem e mulher, exercida
contínua e publicamente, semelhante ao casamento. Hoje, é
reconhecida quando os companheiros convivem de modo duradouro e
com intuito de constituição de família. Na verdade, ela nasce do afeto
entre os companheiros, sem prazo certo para existir ou terminar. Porém, a
convivência pública não explicita a união familiar, mas somente leva ao
conhecimento de todos, já que o casal vive com relacionamento social,
apresentando-se como marido e mulher 6.
4 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 18.
5 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 17.
6 AZEVEDO, Álvaro Villaça. A união estável no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 191, 13 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4580>. Acesso em: 20 maio 2008.
ix
SUMÁRIO
ROL DE CATEGORIAS .......................................................................................... VII
RESUMO ................................................................................................................ XI
CAPÍTULO 1 .......................................................................................................... 15
ASPECTOS GERAIS DA SUCESSÃO NO DIREITO BRASILEIRO E ESTRANGEIRO .. 15
1.1 Noções Conceituais e Históricas .................................................................. 15 1.1.2 Acepções do Termo Sucessão .................................................................. 16 1.3 ASPECTOS introdutórios DA Sucessão no Direito Brasileiro ....................... 18 1.4 Da Comoriência .............................................................................................. 22 1.5. Capacidade Sucessória e Foro Competente ........................................... 23 1.6 A Herança e sua Administração .................................................................. 26 1.7 diferenciação entre Legado e Herança .................................................... 30 1.8 sucessão no direito estrangeiro .................................................................... 32 1.8.1 A SUCESSÃO NO DIREITO EUROPEU ........................................................... 32 1.8.1.1 PORTUGAL .................................................................................................. 32 1.8.1.2. França ........................................................................................................ 34 1.8.1.3 Itália ............................................................................................................. 38 1.8.1.4 Espanha ...................................................................................................... 40 1.8.1.5 Alemanha ................................................................................................... 41 1.9. A SUCESSÃO NA AMÉRICA LATINA .............................................................. 42 1.9.1. Argentina ...................................................................................................... 42 1.9.2. Chile .............................................................................................................. 46 1.9.3. Cuba ............................................................................................................. 48 CAPÍTULO 2 .......................................................................................................... 51
ASPECTOS DESTACADOS DA UNIÃO ESTÁVEL ................................................... 51
2.1 CONCEPÇõES SOBRE FAMÍLIA ....................................................................... 51 2.2 escorço histórico legislativo da união ESTÁVEL: análise DA CONSTITUIÇÃO, LEIS 8971/94 E 9278/96. ............................................................ 54 2.3 UNIÃO ESTÁVEL NO CÓDIGO CIVIL .............................................................. 58 2.4 DIFERENÇAS ENTRE UNIÃO ESTÁVEL E CONCUBINATO .............................. 64 2.5 CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL ..................... 67 2.5.1 UNIÃO ESTÁVEL PLENA ................................................................................. 68 2.5.2 UNIÃO ESTÁVEL CONDICIONAL ................................................................. 69 2.6 DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL E SEUS EFEITOS ....................................... 70 2.6.1 DISSOLUÇÃO E SEUS EFEITOS ....................................................................... 70 2.6.2 DOS ALIMENTOS ............................................................................................ 73
CAPÍTULO 3 .......................................................................................................... 75
ASPECTOS DESTACADOS DA SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL NO DIREITO
x
BRASILEIRO ........................................................................................................... 75
3.1. apontamentos à sucessão na União Estável ............................................ 75 3.2 Sucessão do Companheiro ........................................................................... 77 3.2.2 UNIÃO ESTÁVEL NO NOVO CÓDIGO CIVIL E A PARTILHA DE BENS: regra geral 81 3.2.2.1 DO CONTRATO DE CONVIVÊNCIA ......................................................... 83 3.2.3 EFEITOS PATRIMONIAIS DA UNIÃO ESTÁVEL: LEITURA DO ART. 1.790 DO CC 2002 ................................................................................................................... 84 3.3 DIREITO AO RECEBIMETNO DO SEGURO DE VIDA NA UNIÃO ESTÁVEL ... 91 3.4 TESTAMENTO E COMPANHEIROS ................................................................... 93 3.5 CONCORRêNCIA DO COMPANHEIRO COM O CÔNJUGE SOBREVIVENTE 94 3.6 INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 1.790 DO CODIGO CIVIL BRASILEIRO DE 2002 .................................................................................................................... 95 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 100
xi
RESUMO
A presente monografia trata da sucessão na união
estável no Brasil. Para tal percorreram-se os aspectos gerais da sucessão
no direito brasileiro, seguindo para uma descrição ilustrativa do direito
estrangeiro no que se refere a temática proposta. Na seqüência
trabalhou-se descritivamente sobre os aspectos destacados do instituto da
união estável sem, contudo, adentrar no âmbito de Direito de Família, vez
que o cerne deste trabalho se concentrou nos contornos jurídicos da
sucessão na união estável no Brasil, o que se delineou ao final. De tudo
pode-se verificar manifesta distinção entre os direitos do cônjuge e do
companheiro quando da abertura da sucessão, vislumbrando-se, por fim,
que muito ainda se tem que evoluir a legislação pátria civil, a fim de fazer
valer o preceito constitucional da isonomia.
12
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objeto verificar a
Sucessão da União Estável no ordenamento jurídico brasileiro.
O objetivo institucional é produzir uma monografia
para obtenção do Grau de Bacharel em Direito, pela Universidade do
Vale do Itajaí – UNIVALI.
O objetivo geral da pesquisa é descrever os
contornos diferenciados deste regime sucessório.
Dentre os objetivos específicos, estão o de traçar
linhas gerais do direito sucessório no Brasil e partir do reconhecimento
constitucional da união estável como sendo um instituto de tutela pelo
direito, verificar quais os moldes que ocorre sua sucessão, quando do
falecimento de um dos companheiros, precisamente, os direitos do
companheiro sobrevivente.
Para tanto, principia-se, no Capítulo 1, os aspectos
gerais da sucessão no direito brasileiro e estrangeiro, desde noções
conceituais e históricas, aqui incluídas a acepção do termo sucessão,
aspectos introdutórios para compreensão do direito sucessório no Brasil.
Tratar-se-á da comoriência, capacidade sucessória e foro competente,
partindo para analise da herança e sua administração e diferenças
entre legado e herança. A fim de ilustrar o presente trabalho, até
mesmo para se abordar perspectivas, descreveu-se também a sucessão
no direito estrangeiro, precisamente em Portugal, França, Itália, Espanha
e Alemanha em se tratando de direito europeu. Já na América Latina,
transcorreu-se sobre a sucessão na Argentina, Chile, Peru e Cuba.
No Capítulo 2, tratar-se-á de discorrer sobre o
instituto da união estável no Brasil, introduzindo as concepções de
13
família, visto entender-se que a união estável encontra-se inserida neste
conceito. Passando-se a realizar um escorço histórico legislativo da
união estável, analisando a Constituição Federal de 1988 e as Leis 8.971
de 94, Lei 9.278 de 96 e, o atual Código Civil Brasileiro. Por derradeiro,
diferencia-se união estável e concubinato, para então caracterizar e
classificar da união estável em plena e estável condicional. Por fim,
verificar-se-á a dissolução da união estável e seus efeitos, dando ênfase
para a questão de alimentos.
No Capítulo 3, finalizar-se-á o trabalho tratando de
apresentar o cerne deste trabalho quanto aos aspectos destacados da
sucessão da união estável no direito brasileiro, discorrer sobre os direitos
sucessórios do companheiro diante da previsão do Código Civil
Brasileiro e, ainda, quando se tem ou não o contrato de convivência,
para ao fim verificar os efeitos patrimoniais da união estável diante de
uma análise crítica acerca da inconstitucionalidade do art. 1.790 do
Código Civil de 2002 e outros direitos, como o do recebimento de
seguro de vida na união estável e a relação testamento-companheiros.
Ao final, verifica-se a concorrência do companheiro com o cônjuge
sobrevivente.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das
reflexões sobre a sucessão da união estável no Brasil.
Para a presente monografia foram levantadas as
seguintes hipóteses:
1- É possível a concorrência do companheiro da
União estável, na partilha de bens.
2 – Os direitos sucessórios do cônjuge e do
companheiro não são os mesmos.
14
Quanto à Metodologia empregada, registra-se que,
na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de
Tratamento de Dados o Método Cartesiano, e, o Relatório dos
Resultados expresso na presente Monografia é composto na base
lógica Indutiva.
Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as
Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da
Pesquisa Bibliográfica.
15
CAPÍTULO 1
ASPECTOS GERAIS DA SUCESSÃO NO DIREITO BRASILEIRO E ESTRANGEIRO
1.1 NOÇÕES CONCEITUAIS E HISTÓRICAS
Principia-se o presente estudo abordando, as
noções gerais quanto à sucessão e, para tanto, é necessário identificar
a correta previsão legal desta. A sucessão pode se dar a título gratuito
ou oneroso e somente com a morte. O termo sucessão significa
substituir, ou seja, no campo do Direito implica dizer que um indivíduo
tomará o lugar de outro quanto aos fenômenos jurídicos patrimoniais7.
O Direito das Sucessões fundado no preceito de
transmitir a alguém os bens do de cujus, pelo motivo de sua morte,
remonta da antiguidade, ou seja, a Era Cristã, todavia, as razões em
que se baseiam a idéia de transmitir aos herdeiros a herança vem se
modificando com o tempo, nos atuais dias muitas são as vozes que
questionam a conveniência em torno da sucessão hereditária8.
Diante disso, entende-se que a personalidade se
inicia com a vida e termina com a morte, sendo esta última etapa
regida pelo direito sucessório, assim sendo, é certo dizer que com a
morte de um indivíduo, seus bens e suas relações jurídicas patrimoniais
não desaparecem9. Logo, na hipótese da ocorrência da morte,
7 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito das sucessões. 7 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007. p. 1.
8 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: direito das sucessões. V. 7. 26. ed. rev. e atual. por Zeno Veloso; de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 4.
9 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 15.
16
observa-se que a sucessão se opera de duas formas, quais sejam: por
disposição de última vontade ou em conformidade com a lei, segundo
Magalhães10, é a sucessão testamentária que surgiu como uma forma
de se fazer valer a última vontade do de cujus, pois a sucessão legítima
ocorre sempre que não existir àquela.
Seguindo a mesma premissa Venosa11 conclui que a
sucessão se dá com a morte, com o desaparecimento físico de uma
pessoa, razão pela qual esta transfere situações jurídicas a outra pessoa,
fato este caracterizado, inclusive, na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, bem como salienta que tal fato não se dá
apenas em razão do interesse privado, mas, sim, coletivo.
Observa-se que a sucessão consagra-se pela
transferência patrimonial com a ocorrência da morte, ordem esta
fundada desde a Era Cristã, com o simples propósito de proteger os
bens e, por conseguinte, a família do defunto, sendo que a sucessão
pode se dar de duas formas, a saber: por disposição de última vontade
ou em decorrência de lei e, para tanto, é necessário conhecer-se o
exato sentido da expressão sucessões.
1.1.2 ACEPÇÕES DO TERMO SUCESSÃO
Neste ponto do trabalho monográfico, se faz
necessário abordar o sentido da expressão sucessão e, em princípio,
haure-se para o fato de que o termo sucessão remonta de tempos
antigos e desde então significa substituir, vir depois e assumir algo.
10 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 16.
11 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito das sucessões, p. 4.
17
Diante disso, destaca-se o fato de as relações
jurídicas se modificarem, logo, a sucessão pode ser uma espécie de
modificação subjetiva (sucessão hereditária) ou objetiva (sucessão
hereditária e herança), destacando que a sucessão é a forma de
modificação do sujeito da relação ativa ou passiva, ocorrendo assim o
inter vivos ou causa mortis12.
Neste sentido, verifica-se que o cerne da questão
em torno da expressão Direito das Sucessões, sempre foi tomado em
sentido estrito, apontando para a substituição de uma pessoa por outra
em uma relação jurídica, no caso, quanto a transferência de
titularidade de um patrimônio em razão da ocorrência da morte, como,
destaca Magalhães13.
Por fim entende-se que o termo sucessão
corresponde ao sentido de vir depois, isto é, uma modificação da
situação jurídica existente com o pensamento de uma pessoa, fazendo
com que seus sucessores tomem posse das relações jurídicas do de
cujus e, a partir disso, torna-se imprescindível à verificação acerca da
abertura da sucessão14.
12 GOMES, Orlando. Sucessões. 13 ed. ver. atual. Aumentada de acordo com o Código Civil de 2002 / por Mário Roberto de Carvalho de Faria. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 5.
13 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 17.
14 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro,p. 17.
18
1.3 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA SUCESSÃO NO DIREITO BRASILEIRO
Para o bom desenrolar do presente trabalho, tem-se
como fator norteador, a análise quanto a abertura da sucessão, bem
como no que tange à legislação nacional atinente ao tema.
A abertura da sucessão se dá no exato momento
da morte, pois não é inconcebível este direito subjetivo sem que exista
um titular, sendo, por óbvio, que seja considerada a legitimação para
suceder àquela, a do tempo da abertura da sucessão, assim sendo,
Rodrigues15 ensina que:
A sucessão causa mortis se abre com a morte do autor
da herança. No momento exato do falecimento, a
herança se transmite aos herdeiros legítimos e
testamentários do de cujus, quer estes tenham ou não
ciência daquela circunstância. Isso porque, a
personalidade civil, ou seja, a capacidade da pessoa
humana para ser titular de direitos e obrigações na órbita
do direito, extingue-se com morte.
Como já visto, a abertura da sucessão se dá com a
morte de um indivíduo, ou seja, deriva de um fato jurídico stricto sensu,
não se confunde de forma alguma com a causa da morte, todavia,
esta pode ser real ou presumida (presume-se 10 anos depois de
passado em julgado a sentença da abertura da sucessão provisória),
sendo que esta última ocorre com relação aos ausentes16.
É certo afirmar que a transmissão dos bens do de
cujus, se dá com a morte deste, passando aos herdeiros ou
testamenteiros todas as relações jurídicas afeitas ao patrimônio pessoal
do defunto e, vale destacar neste sentido, que mesmo tendo somente
15 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 11.
16 GOMES, Orlando. Sucessões, p. 14.
19
uma quota parte, ao herdeiro ou testamenteiro é reconhecido o poder
defensivo de todo o acervo17.
Segundo Magalhães18:
A sucessão hereditária tem como pressuposto para sua
abertura a morte do autor da herança. A nossa
legislação não contempla a possibilidade da sucessão
de pessoa viva, sendo nula qualquer convenção que a
tenha por objeto, viventis nulla hereditas. Também não
reconhece a morte civil, a exemplo do que ocorria em
algumas legislações como a francesa e a italiana,
especialmente em relação aos que ingressavam numa
ordem religiosa e passavam a ser considerados mortos
para a vida civil, não podendo recolher qualquer
herança.
Destaca-se também à sucessão como fator
preponderante, pois não há como ser em sucessão de pessoa viva,
tampouco de direito adquirido no que concerne à herança, portanto, é
defeso a um futuro ou pretenso herdeiro buscar impedir que uma
pessoa titular de um determinado patrimônio se desfaça deste, sob a
hipótese de que tal atitude poderá comprometer a sua herança, do
mesmo modo, não há previsão legal no que tange aos pactos
sucessórios, conforme se observa19.
De todo modo, a legislação nacional referente ao
tema prevê que seja feita a abertura da sucessão do ausente, sem
necessitar que seja reconhecida a sucessão hereditária de pessoa viva,
17 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. p. 21-22.
18 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 21.
19 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 21.
20
sendo esta uma tentativa clara do legislador em proteger um
determinado patrimônio, segundo se apura.
Logo, sabe-se que a morte é o marco inicial para a
sucessão e, para tanto, esta precisa ser devidamente comprovada por
meio de um atestado médico, sendo este documento de inteira
responsabilidade do profissional que o passar e, será registrado junto ao
Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais, na qual, posteriormente,
será extraída a certidão de óbito, que é prova maior20.
Considera-se falecida a pessoa que for dada por
desaparecida em razão, por exemplo: de um grande acidente aéreo,
na qual não restou uma pessoa viva sequer ou mesmo um naufrágio,
terremoto etc. Nestes casos, há a necessidade de se provar que o
indivíduo estava no local no momento do infortúnio, conforme dispõe o
artigo 88 da Lei 6.015/7321.
No que se refere a legislação nacional atinente à
sucessão, é importante destacar que a sucessão legítima é sempre
decorrente de lei, conforme Rodrigues22:
Assim, legítima é a sucessão procedida de acordo com a
lei e deferida às pessoas nela definidas que, por serem
ligadas ao de cujus por laços de parentesco, ou
matrimônio, presumivelmente seriam por ele
beneficiadas, se houvesse manifestado sua última
vontade. A sucessão legítima se dá quando a pessoa
morre sem deixar testamento, ou quando o testamento
caducar ou for julgado nulo, pois nesses casos deixa de
20 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 21-22.
21 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 21-22.
22 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 16-17.
21
haver disposição de última vontade e é a lei que
determina o destino dos bens do finado.
Partindo-se da mesma premissa, é certo considerar
que a sucessão legítima e testamentária poderão ser concomitantes,
desde que o testamento do de cujus não abarque todos os bens deste,
caso tal fato ocorra, os bens apontados no testamento serão
destinados aos testamentários e legatários, ao passo que os bens
restantes tocarão aos herdeiros legítimos, em conformidade com a
ordem de vocação hereditária23. No tocante à sucessão universal, esta
se dá quando o de cujus expressa que um todo universal de sua
herança se destina a determinada pessoa e, por isso, a herança se
processa na forma Universal24.
No que diz respeito ao lugar da abertura da
sucessão, observa-se que este se dará, em regra, no último domicílio do
de cujus, não considerando para tanto o último endereço residencial,
mas, sim, a sede principal dos interesses jurídicos do defunto25. A
abertura da sucessão por certo somente se dará com a ocorrência da
morte, haja vista que no Brasil não há previsão legal quanto à sucessão
de pessoa viva, todavia, há que se salientar que a legislação garante os
direitos do nascituro, bem como do ausente e, ainda, daquelas pessoas
que por algum infortúnio vieram a desaparecer.
Por fim, é possível realizar-se a sucessão a título
universal, legítima e testamentária e, não importando qual a forma em
que se dará a sucessão, para tal desiderato deverá ser considerado o
último domicílio jurídico do de cujus para a abertura da sucessão,
23 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 17.
24 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 17.
25 GOMES, Orlando. Sucessões, p. 15.
22
contudo, deve o juízo atentar-se para as mais diversas peculiaridades
que abarcam o ato, considerando, inclusive, os casos de comoriência.
1.4 DA COMORIÊNCIA
Fato dos mais controvertidos em nosso
ordenamento jurídico pátrio é a comoriência, haja vista que a sucessão
gravita em torno da morte e, por conseguinte, em razão desta como
um fato jurídico que se transmite a herança. Assim, como já aludido no
presente estudo monográfico, com a morte, ou seja, com o
desaparecimento físico de um indivíduo se transmite a herança, logo, é
de extrema importância a exata apuração do tempo da morte, sendo
necessário em conformidade com os ditames da lei, a comprovação
acerca do tempo desta26.
Venosa27 aponta que a legislação nacional visando
apurar com eficácia a ocorrência ou não de comoriência, busca
assentar o horário e a indicação precisa do local do passamento, na
cautelosa tentativa de afastar com segurança equívoco que possam
ocorrer.
Em síntese, a comoriência é um fator importante a
ser observado à luz do que dispõe a legislação nacional acerca da
sucessão, eis que, esta vem a ser “a morte de duas pessoas ao mesmo
tempo, não se tendo condições de estabelecer qual delas ocorreu em
26 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito das sucessões, p. 11.
27 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: direito das sucessões, p. 12.
23
primeiro lugar28”. A comoriência produz seus efeitos jurídicos somente no
caso de haver reciprocidade sucessória entre os comorientes29.
Contudo, há que se mencionar que a comoriência
pode gerar muitos conflitos, haja vista, que numa situação hipotética
em que, por exemplo: um casal, sem descendentes, ascendentes e
casados pelo Regime da Comunhão Universal de Bens, em viagem
sofrem um acidente e falecem simultaneamente, assim sendo, não há
como precisar quem morreu primeiro, os herdeiros partilharam os bens
do casal meio pelo meio30.
Como se vê dentre os muitos meandros que
norteiam os processos sucessórios, dos mais controvertidos é a
comoriência, eis que, involuntariamente pode privar um pretenso
herdeiro e, por conseguinte, sua família de uma herança, haja vista que
no caso de ocorrer o falecimento de um filho concomitante a um pai,
àquele não terá direito a qualquer herança deste e, por isso, é de suma
importância também, a verificação em torno da capacidade
sucessória.
1.5. CAPACIDADE SUCESSÓRIA E FORO COMPETENTE
De certo, todas as pessoas existentes no momento
da sucessão detêm a capacidade sucessória, sejam estas físicas e ou
jurídicas, resguardando-se, inclusive, os direitos do nascituro, todavia,
28 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 23-24.
29 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 23-24.
30 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 24.
24
ocorrem duas espécies de incapacidades, quais sejam: a) a inexistência
do sucessível; b) indignidade31.
Em princípio, a legislação requer que o sucessor
exista no momento da abertura da sucessão, para poder assumir a
posição jurídico/econômica do defunto, entretanto, o legislador abriu
uma lacuna e concedeu o direito àquele que à época da abertura da
sucessão já esteja concebido, isto é, ao nascituro, mas, este somente
sucederá se nascer com vida, ficando assim, seu representante legal
em condição resolutiva32. A legitimidade para suceder não se altera,
todavia, há casos em que o herdeiro ou testamenteiro poderá abster-se
de receber a herança ou ainda, perder o direito a esta em razão da
indignidade ou deserdação33.
Ainda, retira-se do determinado no Código Civil,
que a lei põe a salvo os direitos do nascituro, sendo assegurado a este o
direito de reserva de bens, até que se confirme o nascimento com vida,
bem como que a sucessão pode se dar por disposição de última
vontade ou por lei. Também, observa-se que o foro competente será
àquele em que foi o último domicílio do de cujus.
Quanto à capacidade sucessória, é correto dizer
que a sucessão se dá com a morte, transmitindo-se os bens do de cujus
aos respectivos herdeiros, que, consequentemente necessitaram deter
capacidade para tal intento, como aponta Pereira34.
Quanto à legislação vigente no país quanto à
sucessão, verifica-se que esta se dá desde logo aos herdeiros legítimos e
31 GOMES, Orlando. Sucessões, p. 29.
32 GOMES, Orlando. Sucessões, p. 30.
33 PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, p. 29-30.
34 PEREIRA, Cáio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, p. 29.
25
testamentários, isto é, transfere-se a posse e o domínio da herança aos
respectivos herdeiros, independentemente da abertura de inventário,
pelo princípio da saisine35. Neste sentido, cabe destacar o que dispõe o
artigo 1787 do Código Civil36: “Regula a sucessão e a legitimação para
suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela”.
Observa-se também, que o Código Civil elenca a
ordem de vocação hereditária, tais como: as pessoas naturais, entre
estes os descendentes, ascendentes, cônjuges, companheiros e
colaterais, bem como as pessoas jurídicas, nos casos de herança
jacente.
Segundo Magalhães37:
A primeira condição para que possam herdar, portanto,
para que tenham capacidade sucessória passiva, é que
estejam vivos por ocasião da morte do autor da herança;
a segunda é de que não tenham sido declarados
indignos por sentença judicial definitiva; a terceira, para o
caso do cônjuge sobrevivente, que não estivesse
separado judicialmente ou de fato do outro há mais de
dois anos, salvo prova, no caso de separação de fato,
que ela não ocorreu por culpa sua, art. 1830 do Código
Civil; a quarta, quanto aos colaterais, que não tenham
ultrapassado o grau máximo sucessível, ou seja, até o
quarto grau, art. 1839 do citado diploma legal.
As pessoas jurídicas podem suceder de forma
igualitária com as pessoas físicas, todavia, àquelas devem ser
35 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 25.
36 BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Artigo 1787. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 11 já. 2008.
37 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 26.
26
designadas por intermédio de testamento, bem como constituídas
legalmente38.
Quanto ao lugar em que se abre a sucessão, o
artigo 1.785 do Código Civil dispõe que está se dará no lugar do último
domicílio do falecido, logo, também será prevento o juízo do último
local de domicílio do de cujus39.
No que tange ao domicílio, sabe-se que a abertura
da sucessão, em regra, dar-se-á no último domicílio do falecido,
segundo acentua Magalhães40.
Por derradeiro tem-se que, todas as pessoas
presentes no momento da ocorrência da morte de uma pessoa estarão
aptas a suceder e, por conseguinte, assumir o patrimônio do de cujus,
bem como todas as relações jurídicas pertencentes a este, entretanto,
o legislador buscou garantir os direitos do nascituro também.
1.6 A HERANÇA E SUA ADMINISTRAÇÃO
Como já visto no presente estudo monográfico, a
abertura da sucessão e, por conseguinte, a transferência da herança
ocorre de forma simultânea e no que diz respeito à posse ou
propriedade desta não será fracionada, em conformidade com os
ditames do disposto no artigo 1791 e parágrafo único do Código Civil41.
38 GOMES, Orlando. Sucessões, p. 31.
39 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 22.
40 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 27.
41 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 23.
27
Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário,
ainda que vários sejam os herdeiros.
Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros,
quanto à propriedade e posse da herança, será
indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao
condomínio42.
No que concerne a herança e sua administração,
Magalhães43 ensina que:
A herança é universitas juris. A ela sendo chamadas duas
ou mais pessoas, será indivisível o direito de cada uma
quanto à posse e ao domínio até que se ultime a partilha.
Cada herdeiro, por direito próprio, antes da partilha,
poderá reclamar a universalidade da herança de quem
quer que indevidamente a possua e o demandado não
poderá opor-lhe o caráter parcial do seu direito nos bens
que compõem a massa.
Antes de realizada a partilha, nenhum herdeiro terá
a propriedade ou posse exclusiva sobre o patrimônio destinado ao
acervo hereditário e, sabidamente a herança e o patrimônio são coisas
universais, por isso, quando destinados a mais de um herdeiro, este terá
a titularidade universal sobre a sua quota parte44. Quanto ao caráter
universal e indivisível da herança, Magalhães45 relata que:
Em face do caráter universal e indivisível da herança, o
que o herdeiro cede não é uma coisa singularizada, e sim
o seu direito hereditário, cuja quota pode ser composta
42 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Artigo 1791, parágrafo único. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03 /LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 11 já. 2008.
43 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 30.
44 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 23.
45 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 32.
28
de bens de diversas naturezas, bem por isso ele não se
sujeita à evicção, mas estará obrigado para com o
cessionário a comprovar a sua qualidade de herdeiro.
Enquanto pendente a indivisibilidade, a eficácia da
cessão de direitos hereditários dependerá de prévia
autorização do juiz da sucessão.
Verifica-se dos ditames do Código Civil, que o
herdeiro em tempo algum é obrigado a comprometer seu patrimônio
para saldar o passivo da herança, todavia, compete a este comprovar
o excesso do passivo, ou seja, a herança não suportará encargos
superiores as suas forças46. Do mesmo modo, o herdeiro não é obrigado
a aceitar a herança, podendo transmitir esta de forma gratuita ou
onerosa, conforme dispõe o artigo 1793 do Código Civil47: “O direito à
sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro,
pode ser objeto de cessão por escritura pública”.
Acerca da cessão, somente pode ceder quem tiver
capacidade civil e, se casado o for, necessitará da outorga conjugal,
salvo, se for casado pelo regime da separação de bens, bem como se
observa que a cessão somente poderá ocorrer após a abertura da
sucessão e antes da partilha48.
Diante de o fato a sucessão hereditária ser um
direito patrimonial de cunho econômico e que pode ser transferido
gratuita ou onerosamente, constata-se que por certo pode ser
transferido, cedido, salientando que tal cessão é negócio jurídico inter
vivos, translativo, eis que somente com a morte se dá a sucessão, pois se
46 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 30.
47 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Artigo 1793. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 11 já. 2008.
48 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 32.
29
tal ato se realizasse antes deste fato, se daria então o pacto sucessório,
bem como seria negócio nulo de pleno direito49.
Assim sendo, realizada a cessão, fica o cedente em
lugar do cessionário, ocupando desta forma a posição jurídica do
cedente, sub-rogando-se em todos os direitos e obrigações, como se
fosse o herdeiro, todavia, existem situações jurídicas que não são afeitas
à cessão, tais como: direitos adquiridos em razão de substituição ou
direito de acrescer50.
Parece prudente a corrente jurisprudencial que tem
entendido que o juízo, dentro dos limites possíveis, deve obedecer a
ordem legal quanto a nomeação do inventariante, evitando desta
forma ferir de morte direitos individuais, contudo, existindo razões que
levem o juízo a entender ser relevantes, este pode desatender a ordem
legal51.
O legislador buscando evitar conflitos jurídicos
determinou no artigo 1797 do Código Civil52, que a herança será
administrada provisoriamente pelas pessoas e na ordem estabelecida
em lei:
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a
administração da herança caberá, sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia
ao tempo da abertura da sucessão;
49 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 26/27.
50 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 27.
51 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 30.
52 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Artigo 1797 e incisos. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 11 já. 2008.
30
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos
bens, e, se houver mais de um nessas condições, ao mais
velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das
indicadas nos incisos antecedentes, ou quando tiverem
de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.
Finalmente, até que seja nomeado o inventariante,
a herança será administrada de forma provisória por um administrador
provisório, que representa os interesses dos herdeiros de forma ativa e
passivamente e, este mesmo administrador provisório poderá ser
mantido à frente da administração da herança, caso seja nomeado o
inventariante53. Em princípio a herança é universal, ou seja, conferida no
todo aos herdeiros até que se formalize a partilha e para tanto,
necessita-se indicar um administrador provisório, que será o
inventariante, que deverá ser apontado dentro dos ditames da lei, pelo
juízo prevento.
1.7 DIFERENCIAÇÃO ENTRE LEGADO E HERANÇA
Inicialmente, convém esclarecer que o herdeiro
sucede a título universal e o legatário, a título singular, sendo que a
primeira forma caracteriza-se pela transmissão no todo ou em parte dos
bens do de cujus, ao passo que a segunda, dá-se sobre bens
determinados54. Ainda, a herança é o patrimônio propriamente dito,
enquanto que o legado é o bem ou o conjunto de certos bens e, por
53 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 34/35.
54 GOMES, Orlando. Sucessões, p. 5/7.
31
isso, não há se falar em confundir legado com herança, haja vista que
este último sucede somente a título singular55.
Acerca da distinção entre herança e legado,
Rodrigues56 aponta que:
Distingue-se a instituição de herdeiro do legado. Na
primeira, o titular tem o universum is do autor da herança
– a totalidade de seu patrimônio ou parte dele, abstrata
e ideal. No legado, o titular é sucessor a título particular, é
sucessor em objetos, em coisas limitadas pela
quantidade, qualidade ou situação. A distinção ora
esboçada é de enorme relevância, pois, conforme se
trate de herança ou legado, umas ou outras serão as
conseqüências de ordem prática.
Por fim, a distinção entre herança e o legado é de
extrema importância prática, motivada pelas conseqüências destas,
destacando que o legatário necessita autorização do herdeiro quanto
à entrega da coisa legada, bem como não responde por dívidas da
herança, em suma, é sucessor singular, bem como cabe ainda
destacar, que uma mesma pessoa pode ser herdeira e legatária ao
mesmo tempo57.
55 GOMES, Orlando. Sucessões, p. 7.
56 RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: direito das sucessões, p. 18.
57 GOMES, Orlando. Sucessões, p. 8.
32
1.8 SUCESSÃO NO DIREITO ESTRANGEIRO
1.8.1 A SUCESSÃO NO DIREITO EUROPEU
1.8.1.1 PORTUGAL
Impendem-se observar, inicialmente, os ditames da
legislação portuguesa, na qual prevê a seguinte ordem de vocação
hereditária: a) cônjuge e descendentes; b) cônjuges e ascendentes; c)
irmãos e seus descendentes; d) outros colaterais até o quarto grau; e)
Estado58.
Nota-se a falta de previsão do cônjuge em classe
diferenciada, posicionando-se ora na primeira classe de
sucessíveis, junto com descendentes, ora na segunda
classe, com os ascendentes. Certo é, no entanto, que ao
cônjuge cabe a totalidade da herança na falta de
descendentes e ascendentes, conforme vem a ser
explicitado nos arts. 2.141 e 2.144 do Código lusitano59.
Na concorrência entre o cônjuge e os
descendentes, faz-se a partilha por cabeça, dividindo-se a herança por
igual, mas com atribuição ao cônjuge de quota não inferior a uma
quarta parte da herança60. Não importa se os filhos são ou não comuns
ao cônjuge sobrevivo e ao autor da herança, tampouco se leva em
conta o regime de bens adotado no casamento, que tem efeitos
somente para o cálculo da meação61.
58 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 36.
59 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 36/37.
60 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 37.
61 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 37.
33
Neste sentido, observa-se que a legislação
portuguesa assemelha-se a brasileira, haja vista que aquela igualmente
não permite que o cônjuge tenha quota parte inferior a ¼ (um quarto),
como ocorre na legislação pátria atinente ao tema, quando se
concorre com descendentes comuns ou não. Oliveira62 aponta que:
Não havendo descendentes, mas somente ascendentes
sobrevivo, o cônjuge fica com duas terças partes, e os
ascendentes, com uma terça parte da herança. Nesse
ponto, o direito vigente em Portugal é mais favorável ao
cônjuge que o direito pátrio, no qual o cônjuge recebe
apenas um terço do que couber aos ascendentes pais
(ou metade, se houver um só ascendente, ou
ascendentes de maior grau).
Observa-se cristalinamente, que o direito português
a contraponto com o direito brasileiro, não faz qualquer distinção entre
os direitos do cônjuge e os filhos do autor da herança, ou seja, pouco
importa se os filhos são comuns ou não. Cumpre-se aclarar que
igualmente como na legislação nacional, o direito luso prevê que na
falta de descendentes o cônjuge é chamado a herdar em sua
totalidade63. Já quanto à representatividade de parentes colaterais, tal
se dá no mesmo formato que o Direito Brasileiro, porquanto são
chamados os parentes até quarto grau mais próximos64.
Ainda há que se mencionar, que na falta de
cônjuge e ou descendentes e ascendentes, a sucessão será do Estado,
haja vista que a herança se tornará vacante, como no Estado
62 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 38.
63 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 38.
64 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 38.
34
Brasileiro65. Nota-se que o direito luso não faz qualquer alusão a
sucessão dos companheiros, deixando, assim, uma lacuna jurídica
naquele país, ao passo que no Brasil tal fato é previsto em que pese
essa modalidade de sucessão prever certos desmandos em relação aos
companheiros66.
1.8.1.2. FRANÇA
Quanto ao Direito Francês, enfoca-se que este
difere em muitos aspectos do Direito Brasileiro no que é pertinente à
Sucessão. No que tange as diferenças existentes entre os dois direitos,
importa destacar o que bem aponta Oliveira67:
O Código Civil francês, conhecido como Código de
Napoleão, conserva a precedência sucessória dos
descendentes, dos ascendentes e dos irmãos do
falecido, deixando em quarto lugar o cônjuge, embora
lhe reserve direito de usufruto em concorrência com os
demais herdeiros.
Para melhor compreensão deste cenáculo francês,
faz-se necessário apontar que68:
O antigo direito francês, precedente ao período
revolucionário, distinguia os herdeiros em nobres e
plebeus, com regimes diversos de transmissão hereditária,
conforme a região do país. Lembra-se a existência da Lei
65 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 38.
66 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 38.
67 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, pp. 38/39.
68 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 39.
35
Sálica, que excluía do direito ao trono as mulheres e seus
descendentes, tendo sido aprovada na dinastia dos
Bourbons, até que veio a ser revogada em 1830.
Quanto à sucessão chamada de primeira classe, ou
seja, a dos descendentes nota-se que esta se equipara a legislação
nacional concernente ao tema, porquanto os descendentes herdarão
em partes iguais por cabeça ou representação. Igualmente ocorre com
a sucessão dos ascendentes, em não havendo descendentes ou
irmãos, àqueles dividem a herança de forma igualitária para cada
grupo69.
Contudo, neste ponto prevalece outra norma do
direito francês acerca da sucessão dos ascendentes, conforme
demonstra Oliveira70:
Se os pais do autor da herança eram pré-mortos, a
propriedade dos bens se transmite aos irmãos. Se apenas
um dos pais sobrevive, terá um quarto da herança,
tocando aos irmãos o remanescente.
Ainda71:
Havendo cônjuge sobrevivente, contra o qual não existia
separação de corpos com trânsito em julgado, terá
direito ao usufruto dos bens da herança nas seguintes
proporções: a) um quarto, se o falecido deixou
descendentes, ascendentes ou filhos naturais concebidos
durante o casamento.
Aduz-se também que em caso de não haver
descendentes, ascendentes e ou irmãos, a herança será deferida por
69 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 39.
70 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 39.
71 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 39.
36
inteiro ao cônjuge72. É oportuno dizer que a sucessão na linha colateral
é prevista até o 6º grau, sendo possível se dilatar até o 10º grau, nos
casos em que o autor da herança era incapaz de testar ou mesmo se
estava interdito73. Dessarte, no que tange a não existência de
descendentes, ascendentes, irmãos e cônjuge, observa-se que do
mesmo modo que no direito brasileiro, a herança se reverte em prol do
Estado74.
De outro vértice, convém salientar fator
preponderante acerca da sucessão dos companheiros, conforme bem
esquadrinha Oliveira, à luz do disposto na Lei francesa n. 99-944, de 15
de novembro de 199975:
A lei introduziu alterações no art. 515 do Código Civil
francês para permitir a celebração do pacto civil de
solidariedade, contrato pelo qual duas pessoas naturais,
maiores, de sexos diferentes ou do mesmo sexo,
organizam sua vida em comum no plano familiar.
Paralelamente, continua possível o concubinato, que
passou a ser definido como a união de fato,
caracterizada por uma vida em comum, com as
características de estabilidade e de continuidade, entre
duas pessoas de sexos diferentes ou do mesmo sexo, que
viviam como um casal.
Observa-se que tal lei é uma espécie de progresso
em termos legais atinentes aos direitos do companheiro, eis que, abarca
inclusive a união entre pessoas do mesmo sexo. Contudo, resta
evidenciado que os benefícios conjugais em termos civis são restritos,
72 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 39.
73 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 39.
74 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 39.
75 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 40.
37
pois esta prevê que a divisão ou partilha de bens se dê ao final da união
de forma igualitária, salvo disposição em contrário76.
Consoante também a essa significativa evolução
da legislação francesa, Oliveira destaca que77:
Também se concede a cobertura do seguro social ao
companheiro, em caso de doença, maternidade ou
falecimento, além de outros direitos no exercício de
funções públicas e de preferência no prosseguimento da
locação da residência comum. Mas nada se estabelece
a respeito de sucessão hereditária.
Desta feita, todos os que possuem vínculo afetivo e
convivem em união “estável” de forma objetiva no pacto civil de
solidariedade reconhecido pela legislação francesa, por não haver
qualquer previsão legal acerca da sucessão para estas, tais são
consideradas estranhas ao processo sucessório78. Contudo, a lei em
comento conjectura a sucessão testamentária, observado os direitos
dos descendentes e ascendentes e, ainda, dispõe que o companheiro
está isento de pagar o imposto de transmissão, acenando com um
abatimento de 57.000 euros sobre os bens que tenham sido doados79.
76 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 40.
77 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 40.
78 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 40.
79 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 40.
38
1.8.1.3 ITÁLIA
Sabidamente as relações familiares na Itália é um
forte elo de ligação entre os integrantes de uma família e por tal motivo,
o Código Civil da República Italiana prevê um forte paralelo sucessório,
incluindo, o cônjuge, descendentes, ascendentes, bem como se faz
uma espécie de concorrência entre o cônjuge e os parentes, inclusive
irmãos e entre estes e os ascendentes80.
Outrossim, importa destacar algumas peculiaridades
afeitas do Direito Italiano, consoante aponta Oliveira81: “Sucedem
prioritariamente os filhos legítimos ou naturais, em partes iguais.
Equiparam-se aos filhos legítimos os adotivos, porém, com restrições,
uma vez que são estranhos à sucessão dos parentes do adotante”.
Ainda82: “No concurso com os descendentes, o cônjuge tem direito à
metade da herança, se á um só filho, e a um terço, nos outros casos.
Concorrendo com ascendentes ou com irmãos do falecido, o cônjuge
fica com dois terços da herança”.
Verifica-se, na sucessão integral ao cônjuge na falta
dos demais herdeiros, que de forma peculiar esta prevalece, inclusive,
no caso de casamento putativo, desde que comprovada a boa-fé
posteriormente à morte do autor da herança, conforme assinala Régis83:
(...) ao cônjuge de boa-fé serão assegurados todos os
direitos sucessórios, desde que a sentença de invalidade
80 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 41.
81 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 41.
82 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 41.
83 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 41. Apud: RÉGIS, Mário Luiz Delgado. Controvérsias na sucessão do cônjuge e do convivente. Será que precisamos mudar o Código?, p. 201.
39
venha a ser proferida ou a transitar em julgado em data
posterior à abertura da sucessão. O que pode gerar
situações esdrúxulas, como a hipótese em que o de cujus
vem a falecer deixando dois cônjuges, o verdadeiro e o
putativo, ambos legitimados a sucedê-lo. A divisão da
herança, para a maioria dos autores, deve ser feita em
partes iguais, ou seja, o quinhão do cônjuge e do
convivente.
É resguardado o direito à sucessão ao Cônjuge
separado de fato, desde que não tenha sido este quem deu causa à
separação84. De outro ponto, observa-se num paralelo comparativo,
que o direito italiano acerca dos direitos resguardados do cônjuge
muito se assemelha ao direito brasileiro. Oliveira enfatiza quanto ao
concurso existente entre irmãos e ascendentes, que85: “O concurso
entre ascendentes e irmãos do falecido dá-se por cabeça,
resguardando-se o direito dos pais à metade da herança”.
Afeito ao direito francês e até mesmo ao brasileiro,
contudo, em relação a este último a distinção é o grau de parentesco
na qual se estende a sucessão, verifica-se que o direito sucessório
italiano prevê que a sucessão se opere até o 6º grau e, em caso de não
existir qualquer pessoa apta a herdar, a herança se reverte em prol do
Estado86.
84 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 41.
85 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 42.
86 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 42.
40
1.8.1.4 ESPANHA
Analisando o direito espanhol, verifica-se que este
se aproxima dos ditames legais previstos no Código Civil de 1916,
conforme se verifica a seguir:
Linha Modo como se opera a sucessão
Reta
descendente
Atribuição da herança aos filhos, em quinhões iguais; aos
netos e demais descendentes por representação.
Reta ascendente Não existindo descendentes, à sucessão se fará em benefício
dos pais ou ascendentes em grau mais próximo.
Cônjuge
sobrevivente
Faltando descendentes e ascendentes, cabe a totalidade ao
cônjuge, salvo se estiver separado judicialmente ou de fato
por mútuo acordo.
Colaterais Primeiramente irmãos e filhos, após parentes até o quarto
grau.
Estado Na falta de qualquer dos demais atores aptos à herança, esta
se reverte por quotas iguais a entidades oficiais beneficentes
e de instrução.
Fonte: OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, 2005. p. 42-43.
Do que se depreende da ilustração feita em torno
do direito espanhol, é que tal ordenamento jurídico é demasiadamente
arcaico se comparado a outras legislações nacionais atinentes à
sucessão, porquanto está arraigado a paradigmas ultrapassados no
tempo e no espaço da vida civil contemporânea.
41
1.8.1.5 ALEMANHA
Sabidamente, o Direito Civil Alemão é tido como
dos mais modernos em todos os sentidos, embora, seja um tanto quanto
diverso no seu formato. Oliveira bem denota que87:
A previsão é de ordens sucessórias em que se dá primazia
aos parentes, a começar pelos descendentes e depois
referindo a atribuição da herança aos ascendentes –
pais, avós e seus descendentes, aqui se compreendendo
os colaterais do falecido. Ao cônjuge se reserva
participação concorrente com os parentes mais
próximos, ou toda a herança, se não houver pessoas
sucessíveis.
Consideram-se herdeiros legítimos de primeira
ordem os descendentes do autor da herança, por direito próprio ou por
representação. São herdeiros de segunda ordem os pais do falecido,
em partes iguais. Se houve morte precedente de um ou de ambos os
pais, são chamados no lugar os seus descendentes, pela proximidade
de grau (irmãos ou sobrinhos do falecido). Como herdeiros de terceira
ordem, situam-se os avós do falecido e, na sua falta, os seus
descendentes (tios ou primos do falecido), pelo grau mais próximo.
Herdeiros de quarta ordem são os bisavós do falecido, ou seus
descendentes, também observada a primazia dos parentes de grau
mais próximo88.
De forma diferenciada, observa-se que o cônjuge
não se apresenta à sucessão de forma específica, pois se concorrer
com herdeiros de primeira ordem, recebe ¼ (um quarto) da herança;
de segunda ordem, recebe metade da herança e, em não havendo
87 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 43.
88 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 43-44.
42
qualquer herdeiro, o cônjuge recebe o quinhão integral da herança89.
Outrossim, incumbe-se demonstrar que no caso de o cônjuge concorrer
com parentes de segunda ordem ou avós, àqueles terão o direito de
ficar com os utensílios domésticos, bem como com presentes oriundos
do casamento90.
Demais disso, constata-se que os direitos sucessórios
do cônjuge se encerram a partir do momento que este interpõe o
divórcio ou pediu a extinção matrimonial91. Aliás, característica
interessante a ser apontada é que se o cônjuge for parente do autor da
herança, receberá o quinhão relativo ao enlace, como também ao
relativo ao parentesco, em porções independentes92. Derradeiramente,
congruente a outros direitos, a herança se converterá em benefício do
fisco, quando não houver qualquer herdeiro apto a receber a
herança93.
1.9. A SUCESSÃO NA AMÉRICA LATINA
1.9.1. ARGENTINA
O Código Civil Argentino dispõe que a sucessão se
dará de forma legítima aos descendentes, ascendentes, cônjuge
supérstite, aos parentes colaterais até o quarto grau e na falta destes se
89 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 44.
90 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 44.
91 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 44.
92 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 44.
93 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 44.
43
dará na sua integralidade ao Estado94. Relevante sublinhar, que num
paralelo comparativo com o direito brasileiro, o direito argentino de
forma parente preconiza que a sucessão se dará de forma a excluir os
parentes mais remotos, será atribuída por direito próprio ou
representação95. Pontua Kallajian96, quanto à vocação hereditária no
Direito Argentino:
Neste país, assim como no Brasil, a vocação hereditária é
a ordem de chamamento que a lei determina para que
se transmita herança do falecido, atribuindo a essas
pessoas a titularidade da vocação hereditária, que pode
partir da lei ou do testamento, nas condições que a lei
determinar. Recebida essa titularidade, cabe ao herdeiro
indicado, aceitar ou renunciar a herança.
Consoante a ordem de vocação hereditária,
Oliveira apõe que97:
A ordem de preferência na sucessão é dos descendentes
e, não os havendo, dos ascendentes do autor da
herança. Mas em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, em procedimento símile ao do vigente
Código Civil brasileiro, porém de forma mais simplista.
Assim, em concurso com filhos deixados pelo falecido, na
sucessão o cônjuge terá a mesma quota de cada um
deles, salvo quanto à parte dos bens comuns
(gananciales) que tocaria ao cônjuge pré-morto.
94 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, pp. 44-45.
95 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 45.
96 KALLAJIAN, Manuela Cibim. A ordem de vocação hereditária e seus problemas no direito brasileiro, no direito comparado e no direito internacional privado. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 84, 25 set. 2003. Disponível em: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4385>. Acesso em: 30 mar. 2008.
97 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 45.
44
Ademais, importa destacar quanto ao concurso do
cônjuge com os demais herdeiros, o que aponta Oliveira98:
No concurso com os ascendentes, o cônjuge viúvo terá a
metade dos bens próprios e também a metade dos bens
comuns que corresponda ao falecido. A outra metade
ficará para os ascendentes. Se faltarem descendentes e
ascendentes, os cônjuges se herdarão reciprocamente,
excluindo todos os parentes colaterais.
É bem verdade que existe uma excludente quanto
ao direito do cônjuge sobrevivente à sucessão, tal fato se dá quando
da realização do casamento o autor da herança esteja convalescendo
e venha a falecer no decurso de 30 dias após a celebração
matrimonial, exceto, se o matrimônio tiver se realizado para regularizar
uma união de fato99. Sobre o tema ainda, destaca-se que a lei
argentina garante ao cônjuge o direito de habitação sobre o imóvel
deixado pelo de cujus, desde que este seja o chamado bem de família
e o referido direito se afasta quando o cônjuge sobrevivente contrai
novas núpcias100.
Kallajian101 sustenta a mesma afirmação acerca do
direito real de habitação ao cônjuge sobrevivente, conforme observar-
se:
Encontramos também no direito Argentino o direito real
de habitação do cônjuge supérstite, introduzido pela lei
98 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 45.
99 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 45.
100 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 45.
101 KALLAJIAN, Manuela Cibim. A ordem de vocação hereditária e seus problemas no direito brasileiro, no direito comparado e no direito internacional privado. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 84, 25 set. 2003. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4385>. Acesso em: 30 mar. 2008.
45
argentina n. 20.798 de 27 de setembro de 1974 e
encontrando incorporação no Código Civil, art. 3573 bis,
no Capítulo III, Título IX da Seção I do Livro IV deste
Código. Este artigo dispõe que, havendo como herança
apenas um imóvel, sendo este o lar conjugal, mesmo que
haja outras pessoas em concorrência na vocação
hereditária, o cônjuge sobrevivente terá direito real de
habitação neste imóvel de forma vitalícia e gratuita. Mas,
este direito não permanecerá se o cônjuge supérstite
contrair novas núpcias.
Neste liame, Oliveira ainda bem disserta acerca dos
direitos do cônjuge à sucessão102: “Nos casos de separação judicial a
que tenha dado causa, divórcio vincular ou separação de fato por sua
culpa, o cônjuge sobrevivente perderá sua vocação hereditária”.
Também, em amplo sentido, Oliveira aduz que103:
Interessante previsão diz com direitos sucessórios do
cônjuge viúvo que permaneça nesse estado e não tenha
filhos, sobre a quarta parte dos bens dos sogros, da quota
que caberia ao seu esposo na referida sucessão. Trata-se
de benefício em favor de afim do autor da herança,
como espécie de representação do seu finado cônjuge
na sucessão paterna a que teria direito.
A partilha da herança conforme consubstancia o
direito argentino se dá da seguinte forma: a) 4/5 para os filhos; b) 2/3
para os ascendentes e; c) metade para os Cônjuges. 104
102 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 45.
103 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 46.
104 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 46.
46
1.9.2. CHILE
O Direito Civil Chileno também estabelece as regras
para sucessão, num formato bem semelhante a outros países. Neste
sentido, vale mencionar a distinção apontada por Oliveira105: “Nota-se
a distinção em parentes legítimos e parentes naturais, com
reconhecimento do direito sucessório destes, porém em quantificação
inferior ao programado para os herdeiros legítimos”.
Assim, observa-se que o cônjuge concorre com
outros herdeiros como: filhos naturais, ascendentes e irmãos, num
diferenciado sistema de quinhões diferenciados106. Demais disso,
observa-se que os filhos legítimos excluem todos os demais herdeiros,
exceto, os filhos naturais e a parte reservada ao cônjuge107.
Outrossim, impende-se salientar que108:
Se o falecido não deixou posteridade legítima, sucedem
em concurso os seus ascendentes legítimos de grau mais
próximo, o seu cônjuge e os filhos naturais, com a divisão
da herança em três partes. Se não houver cônjuge
sobrevivente ou filhos naturais, a herança se dividirá por
metade, uma para os ascendentes legítimos e outra para
os filhos naturais ou o cônjuge. Não havendo cônjuge
nem filhos naturais, pertencerá toda a herança aos
ascendentes legítimos.
Ainda, quanto à falta de descendentes e
ascendentes legítimos, Oliveira esclarece que109:
105 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 46.
106 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 46.
107 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 47.
108 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 47.
47
Na falta de descendentes e ascendentes legítimos,
sucederão os filhos naturais, o cônjuge e os irmãos
legítimos, na seguinte proporção: três partes para os
filhos, duas partes para o cônjuge e uma para os irmãos.
Não havendo irmãos legítimos, sucederão em quotas
iguais os filhos naturais e o cônjuge. Não havendo
cônjuge, levarão três quartas partes da herança os filhos
naturais e uma quarta parte os irmãos. Não havendo
cônjuge e nem irmãos legítimos, levarão a herança os
filhos naturais. Entre os irmãos, distinguem-se os bilaterais
(por parte de pai e de mãe) dos unilaterais, cabendo a
estes, metade do que couber aos primeiros.
É oportuno salientar que, no caso de o de cujus não
ter descendentes ou ascendentes legítimos, tampouco filhos naturais, a
herança será distribuída em três quartas partes para o cônjuge e uma
quarta parte aos irmãos legítimos e, se estes também não existirem, a
herança se dará por inteiro aos irmãos ilegítimos110.
Peculiarmente, observa-se que o direito sucessório é
garantido ao cônjuge, mesmo que este esteja divorciado do de cujus,
contudo o cônjuge sobrevivente não pode ter dado causa ao
divórcio111.
Por fim, constata-se que diferentemente do Direito
Sucessório Brasileiro e semelhante a outros, o direito chileno apõe que
na falta de descendentes, ascendentes, irmãos, cônjuge e filhos
naturais, serão chamados a herdar os parentes colaterais até o sexto
109 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 47.
110 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 47.
111 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 47.
48
grau e, na falta de todos os autores ora mencionados, a herança será
totalmente revertida em prol do Estado112.
1.9.3. CUBA
Das mais controversas economia-mundo está a
República de Cuba, razão pela qual importa destacar os meandros da
sucessão naquele país. Desta feita, Oliveira destaca que as regras
quanto à sucessão pouco difere das de outros países capitalistas,
salvo113: “(...) o direito de representação e o previsto sobre direitos
concorrentes do cônjuge, assim como dos pais não aptos para
trabalhar e que dependiam economicamente do autor da herança”.
Atinente à sucessão dos descendentes, verifica-se
que os filhos herdam por direito próprio, netos de outros descendentes,
por representação. Quanto aos pais, estes herdam sem prejuízo do
quinhão relativo ao cônjuge e, ainda caso fossem dependentes do de
cujus, cabe a estes concorrerem à herança com os descendentes e
com o cônjuge, recebendo parcela igual a dos descendentes114.
No que tange ao direito dos cônjuges, infere-se que
este está preservado, inclusive, quando o processo de divórcio estiver
ainda em trâmite e se o cônjuge sobrevivente não for o culpado, caso
112 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 47.
113 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 48.
114 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 48.
49
o divórcio já tenha se encerrado, conclui-se que tal direito não é
previsto115.
Ainda, acerca dos herdeiros necessários, Oliveira
aponta que116:
Na categoria dos herdeiros necessários, especialmente
protegidos pelo direito à metade da herança, situam-se
os filhos, seus descendentes, o cônjuge sobrevivente e os
ascendentes, desde que não estejam aptos a trabalhar e
sejam dependentes do autor da herança.
Demais disso, cumpre-se mencionar que, ponto
luminoso no cenáculo da sucessão hereditária cubana, é a
preocupação que se teve com os pais incapazes se manterem
economicamente117.
Dentre as peculiaridades que permeiam a sucessão
cubana, outro fator preponderante é que a sucessão dos parentes
colaterais dá-se somente até o terceiro grau118. Segundo revela Oliveira,
que119:
Merece enfoque esse aspecto próprio do país de regime
socialista, em que se preserva mais que laços de
parentesco, o trato humanitário dos parentes tidos por
necessitados. Não existe essa preocupação no direito
brasileiro, salvo no que respeita aos direitos securitários, 115 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 48.
116 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 49.
117 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 49.
118 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 49.
119 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Direito de herança: a nova ordem da sucessão, p. 49.
50
pelo reconhecimento de proteção legal aos
dependentes do falecido, com reflexo nas sucessões
ditas anômalas ou irregulares, em que determinados
bens, como saldo de salários e depósitos do Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço, transmitem-se
independentemente da ordem de vocação hereditária,
para favorecimento dos dependentes do falecido.
Por fim, igualmente aos demais países analisados
até aqui, em não havendo qualquer herdeiro, a herança se transmite
ao Estado em sua totalidade.
51
CAPÍTULO 2
ASPECTOS DESTACADOS DA UNIÃO ESTÁVEL
2.1 CONCEPÇÕES SOBRE FAMÍLIA
Vale dizer que a entidade família é composta por
pessoas que cooperam e se solidarizam na busca de algo maior e, que
tal instituto existe desde os primórdios, fazendo, assim, uma base moral e
ética num contexto social.
A família é uma organização espontânea e natural
que surgiu nos primórdios, sendo que é do Direito Romano que se
colacionam os maiores subsídios em torno da família, eis que naqueles
dias a família era congregada pelo chefe desta diariamente a frente de
um altar para cultuar divindades, sendo o ponto inicial do casamento
naquela época, o casamento120.
Destaca-se que nesta fase da história as famílias
eram regidas pelo poder patriarcal, porquanto o culto era dos varões e
transmitidos a esses sucessivamente, sublinha-se que não havia o
desenvolvimento da personalidade da mulher, haja vista que esta era
absorvida pelo homem121.
120 CACHAPUZ, Rozane da Rosa. Da Família Patriarcal à Família Contemporânea. Revista Jurídica Cesumar Mestrado. V. 4, n. 1, 2004. p. 70.
121 CACHAPUZ, Rozane da Rosa. Da Família Patriarcal à Família Contemporânea, p. 70.
52
Consoante Ferreira Coelho122, família é: “a reunião
de seres humanos sujeitos as regras especiais, de conformidade com as
relações ou dependências naturais ou sociais”.
Já para Nery Júnior123, a expressão família contém:
(...) vasta variedade de acepções, significando, por
exemplo, tanto a relação de descendência como a
relação de ascendência, bem como o conjunto de
pessoas relacionadas, a um casal ou a alguém, por laços
de parentesco civil ou de consangüinidade. Embora no
CC seja utilizada a qualificadora de um ramo do Direito
Civil, o termo é utilizado pela Constituição para denotar a
base da sociedade.
Nesse contexto, há que se mencionar que a família
vem passando por um processo de transformação na acepção da
palavra, pois a sociedade moderna franqueia a possibilidade de
pessoas constituírem uma família sem laços matrimoniais legais, haja
vista que atualmente se pode ter uma união fulcrada no amor,
companheirismo e em laço econômicos sem a existência de qualquer
barreira ou preceito legal que aflija as partes numa possível dissolução
“conjugal”.
Seguindo esse preceito, aponta-se que a família hoje
pode ser constituída sem o interesse precípuo de reprodução, evolução
esta que, inclusive, originou por assim dizer a união estável. Assim,
quanto a esta afirmativa, vale destacar o afirmado por Gobbo124:
122 NERY JUNIOR, Nelson. Novo código civil e legislação extravagante anotados. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p. 512. Apud: Ferreira Coelho, CC, V. XII, n. 3. p. 28.
123 NERY JUNIOR, Nelson. Novo código civil e legislação extravagante anotados, p. 172 a 176.
124 GOBBO, Edenilza. A tutela constitucional das entidades familiares não fundadas no matrimônio. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 46, out. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=546>. Acesso em: 20 maio 2008.
53
Seguindo esta tendência das relações familiares, que já
evoluiu a ponto de dar à união estável, desde que
reconhecida, os mesmos efeitos do casamento civil, além
de dar um novo conceito ou concepção ao matrimônio,
o próximo passo a ser dado é o reconhecimento da
união entre homossexuais. Talvez esta seja a barreira mais
eminente a ser superada pelo direito de família, já que o
próprio texto constitucional reconhece, para efeitos de
tutela familiar, somente aquela formada por pessoas de
sexos diferentes. Cabe, principalmente aos estudantes do
direito, ver mais longe, em razão das transformações e
exigências das relações familiares. Por mais que às vezes
não se tenham leis infraconstitucionais que
regulamentem as situações de fato, há de se ter em
mente que existem garantias constitucionais, que, de
uma forma ou de outra protegerão às novas formas de
constituição familiar.
Assim, considerando o tempo em que vivemos, onde
muitos conceitos e preceitos se modificaram, alguns dogmas foram
relegados a um segundo plano, passando, assim, interesses primordiais
como a felicidade familiar vigorarem entre os ideais mais importantes,
seguido de perto pelo interesse econômico e sucesso profissional, para
alicerçar as bases de uma família consolidada e, não, a simples união
legal de um homem e uma mulher, que, objetivam a reprodução da
espécie humana.
Nesse aspecto pontua Gobbo125:
Neste tempo em que até o milênio muda, muda a
família, mudam as pessoas que a compõe, mudam seus
motivos, que passam a ser de meramente procriativa, à
união de pessoas por afeto e amor, fato este que a torna
um reduto com enormes possibilidades da concretização
de projetos e da conquista da felicidade.
125 GOBBO, Edenilza. A tutela constitucional das entidades familiares não fundadas no matrimônio. Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 46, out. 2000. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=546>. Acesso em: 20 maio 2008.
54
Destarte, considerando a formação familiar
conhecida há milênios e os novos preceitos quanto à formação deste
instituto carregado de simbologias e padrões éticos e morais, é salutar
mencionar que a família é a união de pessoas com objetivos e
desígnios, no mínimo, semelhantes em prol de se atingir bens comuns, a
saber: felicidade, amor e prosperidade, respeitados os direitos e deveres
de cada parte integrante dessa entidade.
Por isso, é cogente que se observe a constituição
familiar sob o olhar constitucional e infraconstitucional atinente ao tema
no Brasil.
2.2 ESCORÇO HISTÓRICO LEGISLATIVO DA UNIÃO ESTÁVEL: ANÁLISE DA
CONSTITUIÇÃO, LEIS 8971/94 E 9278/96.
O Código Civil Brasileiro de 1916 possui clara
oposição ao concubinato, vedando inclusive a adoção entre os
concubinos, bem como relacionar qualquer concubino como
beneficiário em seguro de vida.
Gerando neste ínterim o direito de regresso da
mulher casada e demais herdeiros necessários a virem reclamarem,
quaisquer bens eventualmente transferidos à companheira, etc.
Foi através do Decreto-lei 4.737 de 1942, que se
tornou possível o reconhecimento de filhos oriundos de uniões, após o
desquite, como herdeiros, ampliando-se esta possibilidade para
qualquer caso de dissolução conjugal através da Lei 883 de 1949.
O reconhecimento de um filho havido fora do
casamento, por meio do instituto do casamento cerrado se deu com a
Lei 6.515/1977.
55
Um dos maiores ganhos foi a edição de leis na
década de 60, conferindo a companheira o direito à pensão por morte,
cumprindo alguns requisitos126:
APELAÇÃO CÍVEL - PENSÃO POR MORTE DIVIDIDA ENTRE
ESPOSA LEGÍTIMA E CONCUBINA - POSSIBILIDADE.
Comprovada a vida em comum e a dependência
econômica, deve ser dividido o benefício pensão por
morte entre a concubina e a legítima esposa, ressalvada
as frações destinadas aos filhos. Concubina é a mulher
de encontros velados, freqüentada por homem casado e
que convive, ao mesmo tempo, com sua esposa legítima.
É a que divide, com esta, as atenções e assistência
material do marido. PREVIDENCIÁRIO - PENSÃO POR
MORTE - DIES A QUO A PARTIR DO RECONHECIMENTO DA
CONDIÇÃO DE DEPENDÊNCIA ECONÔMICA. O marco
inicial do benefício se dará a partir da data da prolação
da sentença, quando foi reconhecida a condição de
dependência econômica da concubina em relação ao
segurado, ex-servidor público.
Fato é que tão somente com a Constituição Federal
de 1988, como já dito é que sistema jurídico brasileiro veio reconhecer e
tutelar toda relação que fosse entre homem e mulher, possui intuito de
constituir família, embora não formalmente submetidas às regras do
casamento.
Assim, com muita demora, o legislador brasileiro, em
1994, através da Lei 8.961, veio reconhecer a estas uniões, o direito
sucessório, ou seja, o direito de seus membros poderem partilhar, todos
os bens adquiridos durante a constância do relacionamento, caso um
dos companheiros viessem a morrer.
Atenção especial deve ser dada a este diploma,
que trata dos chamados concubinatos puros, em outras palavras, vale
126 TJSC. Acórdão: Apelação cível 2003.012826-3. Relator: Volnei Carlin Data da Decisão: 02/06/2005. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
56
dizer, que se trata daqueles concubinatos, constituídos seja de pessoas
solteiras, sejam viúvas, sejam separadas judicialmente sejam
divorciadas, desde que não sejam concomitantes a uma outra relação
de casamento.
Exige-se ainda tratar-se de relacionamento
existente, de no mínimo 5 (cinco) anos, ou que dele tenha sido
originado filhos.
Desta feita, preenchidos os requisitos legais,
estariam assegurados aos companheiros: a) direito a alimentos, b)
direito à meação e c) direito a participação sucessória, nas seguintes
condições:
Art. 2º [...]
I – o (a) companheiro (a) sobrevivente terá direito
enquanto não constituir nova união, ao usufruto de
quarta parte dos bens do de cujos, se houver filhos ou
comuns;
II – o (a) companheiro (a) sobrevivente terá direito,
enquanto não constituir nova união, ao usufruto da
metade dos bens do de cujos, se não houver filhos,
embora sobrevivam ascendentes;
III - na falta de descendentes e de ascendentes, o (a)
companheiro (a) sobrevivente terá direito à totalidade
da herança.
Como se depreende do transcrito acima, o
companheiro sobrevivente concorre com os filhos, com os ascendentes
e, em caso de ausência deles, terá direito a herdar a totalidade da
herança, ressalvada, ainda, a meação, que se destaca não é herança.
57
Com o advento posterior da Lei 9.278/1996, novo
entendimento foi dado à união estável, assim considerada aquela que
preenche cumulativamente os seguintes requisitos: a) duradoura; b)
pública; c) contínua; d) entre um homem e uma mulher; e)
estabelecida com o intuito de constituir de família.
Auferindo além dos direitos já consagrados pela
normativa anterior, o direito real de habitação sobre o imóvel destinado
à residência familiar, direito este já garantido aos cônjuges desde o
Código Civil de 1916, adverte-se, contudo a mencionada lei limitou esta
habitação enquanto o companheiro não constituir nova união ou
casamento, cessando nestas hipóteses, em claro tratamento
diferenciado entre cônjuges e companheiros.
De tudo pode-se considerar conclusivamente que
antes da entrada em vigor do Novo Código Civil, frente à Constituição
Federal de 1988 e das Leis 8.971 e 9.278, foram garantidas, ao
companheiro sobrevivente, independentemente de aspecto temporal
mínimo, ou ainda da existência de filhos oriundos do relacionamento os
seguintes direitos sucessórios: a) a quarta parte da herança, caso
concorra com descendentes; b) a metade, caso concorra com
ascendentes; c) a totalidade da herança, quando inexistentes qualquer
dos parentes mencionados; e d) o direito real de habitação sobre o
imóvel familiar, enquanto não constituir novo casamento ou união.
Discussão que se apresenta é se o Novo Código Civil
veio ou não revogar as normas aqui descritas, vez que não o fez
expressamente, se limitando em suas disposições finais a dispor sobre
alguns aspectos da Sucessão, determinando qual diploma deve ser
aplicado às situações ali previstas.
58
2.3 UNIÃO ESTÁVEL NO CÓDIGO CIVIL
A evolução das relações familiares passou a ser
concebida de forma expressa a partir da instituição da Constituição da
República Federativa do Brasil em 1988 e foi corroborada pelas
disposições do Código Civil de 2002.
Assim, é certo afirmar que a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, com o reconhecimento da
união estável buscaram afastar àquelas uniões “clandestinas”, bem
como fundamentou as uniões livres de quaisquer preceitos legais.
Ressalte-se, ainda, que a emenda constitucional que
originou a norma vigente, considerou inconstitucional que fosse
estabelecido prazo para a real e efetiva caracterização da união
estável127.
Concernente ao prazo para a configuração da
união estável, Silva128 destaca:
Quanto ao prazo de duração, as uniões estáveis formam-
se e desenvolvem-se de maneira natural e espontânea,
de modo que o estabelecimento de período mínimo de
duração para que gere efeitos jurídicos merece certa
análise. Relações estáveis, com a formação de família e
patrimônio comum, podem ocorrer antes do decurso do
prazo de cinco anos, que era estabelecido anteriormente
no projeto. O estabelecimento de prazo mínimo pela lei
acabaria por gerar situações de extrema injustiça e de
locupletamento ilícito daquele que tem o patrimônio em
seu nome e dissolve a relação antes do alcance daquele
prazo, em prejuízo do outro convivente, que ofereceu seu
esforço na respectiva aquisição. No entanto não podem
127 SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Coordenador Ricardo Fiuza. Novo Código Civil comentado. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 1531-1532.
128 SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Coordenador Ricardo Fiuza. Novo Código Civil comentado, p. 1533.
59
ser olvidadas as dificuldades de apuração da existência
de união estável diante da falta de prazo
preestabelecido em lei, de modo que, se tivesse ocorrido
a adoção de período mínimo, que poderia ser de dois
anos, chegou-se a sugerir a produção, em caráter
excepcional, de efeitos jurídicos antes de seu
vencimento, com a prova do esforço comum, para o fim
de evitar a locupletamento ilícito daquele que fica com
o patrimônio em seu nome, embora constituído pelo
esforço de ambos os companheiros, e desfaz a relação
às vésperas do decurso do prazo.
Desta feita, para a configuração e efetiva
caracterização da união estável, basta que esta seja uma união
pública e notória e que suas partes objetivem constituir família.
Acerca da conceituação da união estável sob a
égide do Código Civil, impende-se apontar o que delineia Azevedo129:
O conceito de união estável, retratado no art. 1.723 do
novo Código Civil, corresponde a uma entidade familiar
entre homem e mulher, exercida contínua e
publicamente, semelhante ao casamento. Hoje, é
reconhecida quando os companheiros convivem de
modo duradouro e com intuito de constituição de família.
Na verdade, ela nasce do afeto entre os companheiros,
sem prazo certo para existir ou terminar. Porém, a
convivência pública não explicita a união familiar, mas
somente leva ao conhecimento de todos, já que o casal
vive com relacionamento social, apresentando-se como
marido e mulher.
Nesse sentido, é cogente que se diga que a união
estável reconhecida no Código Civil é uma união de fato, sem limite
temporal para sua configuração, visando, desta forma, salvaguardar os
129 AZEVEDO, Álvaro Villaça. A união estável no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 191, 13 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4580>. Acesso em: 20 maio 2008.
60
interesses familiares, tanto quanto o é no casamento em sua forma
legal.
Atinente ao disposto no artigo 1724130 do Código
Civil, são deveres e direitos inerentes a qualquer relação familiar e
quando aviltadas se convertem em fortes injúrias131.
Ainda, consoante ao texto redacional previsto no
artigo 1724 do Código Civil, vale destacar o que declina Silva132:
Assim, foi acrescido, pelo novo Código Civil o dever de
lealdade, que tem o conteúdo do dever de fidelidade
existente no casamento (art. 1.566, I), de modo a ver a
manutenção de relações que tenham em vista a
satisfação do instinto sexual fora da união estável. (...) O
dever de assistência tem duplo aspecto: material e
imaterial, assim como ocorre no casamento. (...) A
guarda, sustento e educação dos filhos, como dever de
ambos os companheiros, dispensa maiores comentários,
acentuando-se somente que o novo Código acolheu o
princípio constitucional da absoluta igualdade entre
homens e mulheres, ditado no art. 5º, inciso I, da Lei
Maior.
Destarte, poder-se-ia afirmar que a assistência
material apregoada no instrumento jurídico em apreço abarca todo um
aspecto material, incluindo-se ai os alimentos que devem ser pagos
130 Artigo 1724, Código Civil. “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.”
131 AZEVEDO, Álvaro Villaça. A união estável no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 191, 13 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4580>. Acesso em: 20 maio 2008.
132 SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Coordenador Ricardo Fiuza. Novo Código Civil comentado, p. 1537-1538.
61
entre os conviventes na hipótese de dissolução da sociedade
conjugal133.
Ademais está previsto no Código Civil, em seu artigo
1725, que, em caso de não existir contrato escrito entre os
companheiros, no que tange ao patrimônio amealhado na constância
da união, serão aplicadas, em regra, as normas atinentes ao regime da
comunhão parcial de bens.
Pertinente ao preceito legal ora mencionado,
Azevedo134 destaca que:
O artigo 1.725 é o único que atende à possibilidade de
constante mutação no patrimônio dos companheiros,
inclusive com a possibilidade de alienação judicial para
extinção do condomínio, o que é impossível em qualquer
regime de bens onde exista comunhão, regulada pelo
Código Civil. Mesmo que se equivoquem os
companheiros na aquisição de quaisquer bens, as regras
para negociação por contrato escrito entre os
companheiros encontradas nesse artigo, podem ser
alteradas, modificando-se, por exemplo, os percentuais
ou cotas condominiais entre eles existentes. O mesmo
contrato escrito pode ser utilizado pelos companheiros
para regularem outras situações não patrimoniais,
relativas à sua convivência. No que diz respeito à relação
com terceiros, entendo que, em instrumentos firmados
nessas circunstâncias, os companheiros devem
mencionar a existência da união estável e a titularidade
do objeto de negociação. Casos contrários serão
preservados os interesses dos terceiros, resolvendo-se os
eventuais prejuízos em perdas e danos entre os
companheiros e aplicando-se as sanções penais cabíveis.
133 AZEVEDO, Álvaro Villaça. A união estável no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 191, 13 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4580>. Acesso em: 20 maio 2008.
134 AZEVEDO, Álvaro Villaça. A união estável no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 191, 13 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4580>. Acesso em: 20 maio 2008.
62
Ressalte-se, que, em princípio, havia a necessidade
de se comprovar o esforço mútuo para a aquisição do patrimônio dos
companheiros, quanto a isso disserta Campos135: “Não mais existe a
possibilidade de comprovar ausência de esforço comum com o intuito
de negar-se a partilha de bens”.
Vale mencionar, que, a união estável poderá a
qualquer tempo ser convertida em casamento, para isso basta que os
companheiros façam requerimento ao juízo competente, no sentido de
ver a união estável convertida em casamento, conforme preconiza o
artigo 1726 do Código Civil.
No que tange ao requerimento a ser realizado pelos
companheiros ao juízo, Azevedo136 disserta que:
Seria mais viável aos companheiros a submissão ao
processo de habilitação não para conversão, mas para
casar-se. Isso porque a conversão automática é
impossível. Jamais poderia a lei mencionar que quem
vive em união estável, por tanto tempo ou diante de
certas circunstâncias, seja casado. Além disso, o art. 1.727
do novo Código Civil explica que no concubinato existe
cometimento de adultério quando há relacionamento de
um homem ou de uma mulher casados, com quem não
é seu cônjuge. Isso porque as pessoas impedidas de
casar-se, por estarem separadas judicialmente ou de
fato, estão excluídas dessa situação concubinária
impura, pois não mantém qualquer relacionamento
coabitacional com seu cônjuge.
Diante de todo o exposto no presente estudo
monográfico atinente as disposições constitucionais, civis e
135 CAMPOS, Patrícia Eleutério. A união estável e o novo Código Civil: uma análise evolutiva. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 89, 30 set. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4342>. Acesso em: 20 maio 2008.
136 AZEVEDO, Álvaro Villaça. A união estável no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 191, 13 jan. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4580>. Acesso em: 20 maio de 2008
63
infraconstitucionais relevantes à união estável, faculta-se argumentar
que o Código Civil elencou de forma sintética os elementos
infraconstitucionais dispostos até então sobre a união estável, conforme
aduz Campos137:
No tocante às conseqüências patrimoniais, segundo o
art. 1725 do Código Civil de 2002, "na união estável, salvo
convenção válida entre os companheiros, aplica-se às
relações patrimoniais, no que couber, o regime da
comunhão parcial de bens". Quanto aos alimentos
decorrentes da dissolução da união estável, de acordo
com o art. 1694 do novo diploma, os conviventes (assim
como os cônjuges) podem reclamar, reciprocamente, os
alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com sua condição social. Neste passo, a
melhor interpretação do dispositivo é a de que devem se
aplicar à obrigação alimentar dos conviventes, as
mesmas regras e os mesmos princípios que regem tal
obrigação resultante da separação judicial (arts. 1694 a
1710, CC/2002). Em relação aos direitos sucessórios dos
companheiros o novo código andou mal. Trataram de
maneira absolutamente desigual os cônjuges e os
companheiros, o que, como visto não se admite no
regime constitucional vigente. Enquanto o cônjuge
sobrevivente é herdeiro necessário, com posição
privilegiada (pois concorre em certos casos com os
ascendentes e os descendentes do de cujus), o
companheiro continua como herdeiro facultativo e só
terá direito à totalidade da herança se não houver
colaterais sucessíveis (art.1790, inc. IV, CC/2002). Trata-se
de evidente retrocesso, uma vez que pelo regime anterior
(Lei nº 8971/94), na ausência de ascendentes e
descendentes do companheiro morto, o convivente teria
direito à totalidade da herança.
137 CAMPOS, Patrícia Eleutério. A união estável e o novo Código Civil: uma análise evolutiva. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 89, 30 set. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4342>. Acesso em: 20 de maio de 2008.
64
Por todo o examinado, é certo dizer que o Código
Civil alinhavou os ditames constitucionais e os previstos em dispositivos
infraconstitucionais de sinteticamente, buscando dar maior ênfase as
uniões estáveis, porquanto estas são lastreadas pela união entre homem
e mulher com direitos e deveres inerentes à respectiva união, contudo,
algumas arbitrariedades foram cometidas, principalmente, no que
tange a partilha de bens, conforme se verificará adiante no presente
estudo.
2.4 DIFERENÇAS ENTRE UNIÃO ESTÁVEL E CONCUBINATO
De tudo o concubinato e a união estável não se
confundem, merecendo explanação no sentido de melhor esclarecê-
los.
Não perdendo o foco constitucional, a Lei nº
9.278/1996, em seu artigo 1º, conceituou a união estável, criando
critérios para identificá-la: "é reconhecida como entidade familiar à
convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma
mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família".
Entende-se por união estável, àquela convivência
pública e notória constituída sem vínculo matrimonial entre um homem
e uma mulher, que, coabitam o mesmo local ou não.
Os ensinamentos acima permitem o entender que
companheira é aquela mulher unida longo período temporal a um
homem, como se casada fosse; mas diante da inexistência formal do
casamento, no entanto a lei facilita sua conversão em casamento.
Pode-se dizer deste modo que a união estável gera efeitos jurídicos.
65
Quanto ao concubinato sabidamente a
doutrinadora Maria Helena Diniz, define duas espécies de concubinato:
a) o puro e b) o impuro.
(...) caracterizando-se o primeiro quando resultar de
união duradoura, sem casamento civil, entre homem e
mulher livres e desimpedidos de se casarem; quanto ao
segundo, ocorreria nas hipóteses em que um dos
partícipes da relação, ou ambos, estariam
comprometidos ou impedidos legalmente de se casar.
Aliás, convém assinalar que anterior a entrada em
vigor Código Civil Brasileiro de 2002, muita confusão de fazia entre as
duas espécies de concubinato definidas acima: impuro e puro (união
estável), visto que ambos eram tratados vulgarmente como se
concubinatos fossem genericamente138:
APELAÇÃO CÍVEL - PENSÃO POR MORTE DIVIDIDA ENTRE
ESPOSA LEGÍTIMA E CONCUBINA - POSSIBILIDADE.
Comprovada a vida em comum e a dependência
econômica, deve ser dividido o benefício pensão por
morte entre a concubina e a legítima esposa, ressalvada
as frações destinadas aos filhos. Concubina é a mulher
de encontros velados, freqüentada por homem casado e
que convive, ao mesmo tempo, com sua esposa legítima.
É a que divide, com esta, as atenções e assistência
material do marido.
A celeuma se resolveu com os artigos 1.723 ao
1.727, do referido diploma, que considera como concubinato, tão
somente a relação caracterizada como espúria e, portanto, não
respaldada legalmente nos termos do art. 1.727, que se transcreve:
Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a
mulher, impedidos de casar, constituem concubinato. 138 TJSC. Acórdão: Apelação cível 2003.012826-3. Relator: Volnei Carlin Data da Decisão: 02/10/2003. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
66
Nos termos do art. 1723 do Código Civil Brasileiro, é
união estável aquela embasada na convivência pública, contínua e
duradoura, com objetivo de se constituir família, excepcionando a
existência do instituto na hipótese de ocorrerem impedimentos para o
casamento.
A jurisprudência139 assim já decidiu para a
configuração de união estável:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE SOCIEDADE
DE FATO - EXEGESE DO ARTIGO 1º DA LEI 9.278/96 -
REQUISITOS INDISPENSÁVEIS AO RECONHECIMENTO DA
UNIÃO CONCUBINÁRIA - EXIGÊNCIAS LEGAIS NÃO
VERIFICADAS - PROVA TESTEMUNHAL CONFLITANTE -
COABITAÇÃO - INEXISTÊNCIA - INSURGÊNCIA RECURSAL
PROVIDA O mero relacionamento afetivo e sexual não é
suficiente para caracterizar a existência de sociedade de
fato com base na Constituição Federal. Para tanto, deve
haver, além de outros requisitos, a convivência e
relacionamento aparente como se casados fossem, com
a inequívoca intenção de formar uma entidade familiar
(in Apelação cível n. 01.010792-9, de Tubarão, em
acórdão da lavra deste Relator).
Em síntese aponta-se que a estabilidade da união é
fator preponderante tanto para a união estável quanto para o
concubinato, todavia, a grande diferenciação entre os dois institutos
está abarcada no fato de a união estável somente poder ser
caracterizada como tal, em razão de os companheiros estarem
desimpedidos de contrair matrimônio, ao passo que o concubinato
ocorre em virtude da existência de impedimento legal para a
realização do casamento.
139 TJSC. Acórdão: Apelação cível 03.027252-6. Relator: José Volpato de Souza Data da Decisão: 20/02/2004. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
67
2.5 CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL
Importa destacar, inicialmente, que a família é um
instituto consagrado na Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988, em seu artigo 226, sendo que neste mesmo instrumento jurídico
foi reconhecida a união estável, isto é, a família formada entre um
homem e uma mulher que não estão ligados por laços legais, mas,
somente afetivos.
Demais disso, há que se frisar que a união estável, à
luz dos ditames do Código Civil, se caracteriza por ser a união contraída
entre o homem e a mulher com convivência pública e duradoura e,
que, objetivam constituir uma família, contudo, para a real
caracterização do instituto em comento não pode haver qualquer dos
impedimentos legais previstos no artigo 1521 do Código Civil140.
Nesse sentido, vale destacar o disposto no artigo
1521 do Código Civil:
Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o
parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o
adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais,
até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
140 NERY JUNIOR, Nelson. Novo código civil e legislação extravagante anotados, p. 582.
68
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por
homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu
consorte.
Art. 1.522. Os impedimentos podem ser opostos, até o
momento da celebração do casamento, por qualquer
pessoa capaz.
Parágrafo único. Se o juiz, ou o oficial de registro, tiver
conhecimento da existência de algum impedimento,
será obrigado a declará-lo.
Assim, diante da caracterização e elevação da
união estável ao status constitucional e infraconstitucional reconhecido,
buscou-se classificar a união estável em modalidades, no afã de acirrar
a já tão aclamada discussão acerca de preceitos e valores éticos e
morais que circundam a união estável.
Por assim dizer, a união estável se constitui num
enlace entre um homem e uma mulher, mas, que, a qualquer momento
pode ser convertido num casamento nos moldes definidos na legislação
nacional.
2.5.1 UNIÃO ESTÁVEL PLENA
Em termos gerais, a união estável plena é àquela na
qual duas pessoas de sexo igual, constituem uma união, contudo, há
que se sopesar que a legislação nacional não prevê tal feito,
destacando, inclusive, que pessoas do mesmo sexo são impedidas de
contrair matrimônio.
69
Melo141 define união estável plena como àquela:
(...) que se constituiria pela convivência de duas pessoas,
de sexos diferentes, sem impedimentos à realização do
casamento, que só não o realizam por uma questão de
opção, como por exemplo: solteiro com solteira; solteiro
com viúva; divorciado com viúva ou solteiro, etc.
2.5.2 UNIÃO ESTÁVEL CONDICIONAL
Concernente à união estável condicional, nota-se
que esta se caracteriza em razão de algum tipo de impedimento que
conduziu os companheiros a optarem por essa modalidade de
constituição familiar.
Consoante a isso, Melo142 conceitua que:
(...) um homem e uma mulher constituem uma família de
fato, sem detrimento de qualquer outra família legítima
ou de outra família de fato, havendo tão somente,
impedimentos temporários à realização do casamento.
Exemplo seria o relacionamento entre uma mulher solteira
e um homem separado judicialmente; ou, um homem
solteiro e uma mulher casada, porém, separada de fato
de seu marido. Veja-se que as causas que impedem a
realização do casamento são temporárias, pois, passado
o lapso temporal para o desfazimento do vínculo
matrimonial, não haverá nenhum impedimento quanto à
celebração de um novo casamento. Tanto é verdade
que a Lei 10.406/02 fez expressa menção a tal situação
ao excetuar no parágrafo 1° do art. 1.723 que não se
constitui em impedimento à realização da união estável,
141MELO, Nehemias Domingos de. União estável: conceito, alimentos e dissolução. Disponível em: http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=696. Acesso em: 21 mai. 2008.
142MELO, Nehemias Domingos de. União estável: conceito, alimentos e dissolução. Disponível em: http://www.boletimjuridico.com. br/doutrina/texto.asp?id=696. Acesso em: 21 mai. 2008.
70
“o caso da pessoa casada se achar separada de fato ou
judicialmente”.
Pelo que se depreende acerca da classificação da
união estável, é que de fato, estas não têm como ficar explicitamente
configuradas, haja vista que as causas que levam a suposta existência
da união estável plena e condicionada, são fatores atinentes ao
impedimento da concepção da união estável propriamente dita e
afronta a preceitos morais e éticos.
2.6 DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL E SEUS EFEITOS
2.6.1 DISSOLUÇÃO E SEUS EFEITOS
A união estável por ser uma união de fato, detém
prerrogativas similares a dos casamentos no que se refere a dissolução,
pontuando-se algumas diferenciações, como por exemplo: o fato de a
dissolução da sociedade, em tese, conjugal da união estável poder ser
desfeita com um instrumento particular que assegure o interesse de
ambos os companheiros.
Em regra, a dissolução da união estável se procede
em virtude da morte de um dos companheiros, pela concretização do
casamento, por vontade mútua e, ainda, em razão do rompimento dos
direitos e deveres inerentes à união estável.
Acerca da dissolução da união estável, Melo143
afirma que:
143 MELO, Nehemias Domingos de. União estável: conceito, alimentos e dissolução. Disponível em: http://www.boletimjuridico. com.br/doutrina/texto.asp?id=696. Acesso em: 21 mai. 2008.
71
Caso a união estável se baseie em contrato, a resilição
(unilateral) ou o distrato (bilateral) deverá ser processada
e homologada judicialmente. Mesmo quando ocorra
resilição unilateral, pode ser proposta ação declaratória
para que o judiciário declare a existência da união, além
de sua dissolução. Aspecto interessante é que o novo
Código Civil estabeleceu a possibilidade de conversão
da união estável em casamento, mediante requerimento
ao juiz de direito da comarca onde residam os
conviventes que, verificando a regularidade do pedido,
determinará o seu processamento no Registro Civil.
É oportuno salientar que a dissolução da união
estável gera inúmeros efeitos, destacando dentre estes, a guarda dos
filhos, que, poderá ficar com qualquer dos companheiros ou ser
compartilhada entre estes, sendo que ambos deverão arcar com seus
respectivos deveres frente ao poder familiar advindo da sociedade
moderna exercido sobre os filhos.
Entretanto, é usual ainda a guarda dos filhos
permanecerem com a genitora destes e, nesse sentido, destaca
Venosa144:
É evidente que essa e as demais normas também se
aplicam aos menores no desfazimento da união estável e
do concubinato. Ora, todo juiz de vara de família sempre
tem ou deve ter em mente essa regra, ainda que não
estivesse escrita. A maior questão nessa seara é definir o
que representam, no caso concreto, "as melhores
condições" para a guarda. Já apontamos que somente
em situações excepcionalíssimas o menor de tenra idade
pode ser afastado da mãe, a qual, por natureza, deve
cuidar da criança. Nem sempre, por outro lado, as
melhores condições financeiras de um dos cônjuges
representarão melhores condições de guarda do menor.
144 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 3 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2003. p. 240.
72
No mais, quanto aos aspectos dos efeitos que a
dissolução da união estável traz à partilha de bens, como já dito, não é
mais necessário que se confirme o real esforço de cada um dos
companheiros para a aquisição do patrimônio amealhado na
constância da união em comento.
Colhe-se da jurisprudência catarinense o seguinte
entendimento145:
CONCUBINATO. SOCIEDADE DE FATO. INTELIGÊNCIA DO
ART. 226, § 3°, DA CF. REQUISITOS COMPROVADOS.
PARTILHA DE BENS ADQUIRIDOS DURANTE O PERÍODO DE
VIGÊNCIA DA UNIÃO. DIREITO À MEAÇÃO. RECURSO
IMPROVIDO. “Assim, independentemente da prova
acerca da maior ou menor colaboração do Apelado na
aquisição do patrimônio casal, o certo é que este, pelo
simples fato da convivência, faria jus à metade, e não a
apenas 25% (vinte e cinco), como entendeu o nobre
magistrado, motivo pelo qual o apelo não merece
provimento, haja vista a sentença ter-se mostrado, ao ver
este órgão ministerial, bastante favorável à Apelante.”
Quanto às disposições pertinentes à partilha de bens
na dissolução da união estável, observa-se que a novidade foi o fato de
que se não tiver qualquer documento escrito hábil, a partilha se dará
em conformidade com o disposto em relação ao regime da comunhão
parcial de bens, conforme já mencionado no presente estudo
monográfico.
Ainda, em consonância com as disposições do
Código Civil, em caso de dissolução da união estável em decorrência
de morte, ao companheiro sobrevivente será garantido o direito real de
habitação.
145 TJSC - Apelação Cível nº 97.012827-4, de Joinvile.j.26/08/1999. Rela. Des. Cesar Abreu. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
73
Por fim, há que se abordar de forma mais detalhada,
haja vista suas controvérsias e celeumas um efeito de suma
importância, a saber: os alimentos.
2.6.2 DOS ALIMENTOS
Dos mais controvertidos efeitos atinentes a
dissolução da união estável são os alimentos, muitos são os mitos e
dogmas que são evocados após a separação dos companheiros,
contudo, o que deve, primordialmente, ser considerado é a real
capacidade de pagamento do alimentante e a efetiva necessidade
do alimentando.
Nesse sentido, vale destacar o disposto no artigo
1694, § 1º, do Código Civil:
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou
companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua
condição social, inclusive para atender às necessidades
de sua educação. § 1o Os alimentos devem ser fixados na
proporção das necessidades do reclamante e dos
recursos da pessoa obrigada.
Assim, depreende-se do ensinamento de
Monteiro146:
Na fixação dos alimentos equacionam-se, portanto, dois
fatores: as necessidades do alimentado e as
possibilidades do alimentante. Trata-se, evidentemente,
de mera questão de fato, a apreciar-se em cada caso,
não se perdendo de vista que alimentos não se
concedem ad utilitatem, ou ad voluptatem, mas ad
necessitatem.
146 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 29 ed. v. II. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 292.
74
Ainda, é cogente que se diga que os companheiros
mesmo separados deverão contribuir para os alimentos necessários ao
alimentando de forma proporcional, conforme se extrai dos ditames do
artigo 1703 do Código Civil.
A esse respeito, Diniz leciona147:
Imprescindível será que haja proporcionalidade na
fixação dos alimentos entre as necessidades do
alimentando e os recursos econômico-financeiros do
alimentante, sendo que a equação desses dois fatores
deverá ser feita, em cada caso concreto, levando-se em
conta que a pensão alimentícia será concedida sempre
ad necessitatem.
Portanto, é certo dizer que, em que pese, os
companheiros não mais estarem ligados pela união estável, estes
devem arcar com todos os direitos e deveres atinentes ao pagamento
dos alimentos aos filhos, de forma proporcional e na medida das
respectivas capacidades contributivas e em razão da necessidade dos
alimentandos.
147 DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 361.
75
CAPÍTULO 3
ASPECTOS DESTACADOS DA SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL NO DIREITO BRASILEIRO
3.1. APONTAMENTOS À SUCESSÃO NA UNIÃO ESTÁVEL
Após se verificar os traços gerais que conduzem a
sucessão no direito estrangeiro, bem como se analisar os aspectos
gerais da sucessão no Brasil se passa a analisar, por se entender de
estrema relevância pratica, a sucessão na união estável no Brasil.
Tal análise se da, principalmente, pela entrada em
vigor do novo Código Civil, que muito embora não tenha trazido muitas
mudanças na seara do direito sucessório, modificou com relevância e
polêmica os aspectos da sucessão do companheiro, até para destacar
as controvérsias que se apuram em razão de uma lacuna deixada pelo
legislador atinente a este tema.
Com o advento da Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, a União Estável foi reconhecida como uma
entidade familiar, segundo o determinado no artigo 226, § 3º148:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial
proteção do Estado.
(...)
§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida
a união estável entre o homem e a mulher como
148 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Artigo 226, § 3º. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/Constituicao/Constituição.htm. Acesso em: 11 jan. 2008.
76
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão
em casamento.
Sobre o tratamento constitucional da matéria,
Venosa149 assim leciona:
Até a promulgação da constituição de 1988, dúvidas não
havia que o companheiro ou companheira não eram
herdeiros. A nova carta reconheceu a união estável do
homem e a mulher como entidade a ser protegida.
Neste sentido, o Código Civil faz referência ao
companheiro no que diz respeito à sucessão na união estável, contudo,
ainda deixou lacunas a serem sanadas, conforme demonstra
Magalhães150:
Podem os companheiros, por contrato escrito, adotar
qualquer dos regimes de bens que o Código Civil prevê.
No silêncio dos companheiros, a regra sucessória
aplicável é semelhante à do regime da comunhão
parcial de bens. Semelhante porque o art. 1725 do
Código Civil faz a ressalva no que couber, e o regime da
comunhão parcial de bens adquiridos na constância da
união estável a título oneroso, excluindo aqueles
adquiridos por fato eventual ou fortuito. No regime da
comunhão parcial essa espécie de bens se comunica ao
cônjuge, excluindo-se da comunhão tão-somente os
havidos antes do casamento, os adquiridos em seu lugar
por sub-rogação e os a título gratuito.
Assim, percebe-se de um modo geral que se o casal
que não optar por qualquer tipo de contrato escrito, ficará sujeito ao
disposto no artigo 1790 do Código Civil, isto é, o companheiro
sobrevivente terá direito a uma cota parte se concorrer com filhos em
149 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família, p.125, 126.
150 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito das sucessões no novo Código Civil brasileiro, p. 29.
77
comum e, metade de uma cota parte, no caso de concorrer com filhos
do de cujus.
Igualmente, o companheiro sobrevivente concorrer
com parentes sucessíveis, terá direito a uma terça parte dos bens
adquiridos na constância da união estável151.
Desta forma, por existir um silêncio da lei, ocorreu
uma injustiça com o companheiro sobrevivente, que por certo não
gostaria de ser posto num grau de “inferioridade” em relação aos
demais herdeiros, é o que se passa a discutir.
3.2 SUCESSÃO DO COMPANHEIRO
3.2.1 LEGISLACAO DIRECIONADA PARA A UNIÃO ESTÁVEL E PARTILHA DE
BENS
Volta-se neste momento ao cerne deste trabalho
monográfico, qual seja: verificar a sucessão do companheiro no direito
sucessório pátrio.
De acordo com Venosa152: “Sem dúvida, essa nova
legislação representa uma guinada radical nos direitos em proteção a
união estável”.
Primeira discussão sobre o tema, refere-se a verificar
se o código civil de 2002 revogou ou não o direito sucessório
disciplinado nas Leis 8.971/94 e 9.278/96, como já versado.
151 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Artigo 1844. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm>. Acesso em: 11 já. 2008.
152 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família, p. 128.
78
A preocupação central da Lei n. 8.971/94 era dispor
sobre a situação dos companheiros em relação ao direito sucessório,
tendo como foco o direito a alimentos, como se verifica da leitura literal
do seu artigo 2º, que tinha redação mais favorável ao companheiro na
opinião de Souza e Fontanella153, vez que os colaterais ficavam
afastados da sucessão.
No artigo 3º, a lei em comento aponta que terá
direito a metade dos bens, aquele companheiro que participar na
aquisição:
Quando os bens deixados pelo (a) autor (a) da herança
resultarem de atividade em que haja colaboração do (a)
companheiro (a), terá o sobrevivente direito a metade
dos bens.
Não havendo, como observa Venosa154:
Superposição de direito, porque o usufruto incide sobre a
herança, e a meação não é herança. Esse usufruto, da
quarta parte ou da metade dos bens, incide sobre a
totalidade da herança, ainda que venha a atingir a
legítima dos herdeiros necessários.
O que se denota é que, em que pese, o constituinte
de 1988 ter cristalinamente demonstrado a diferenciação entre um e
outro concubinato e ter dado tratamento legal à união estável, o fato é
que até o final de 1994 nenhuma legislação havia se preocupado em
delinear quaisquer direitos a alimentos, nas modalidades patrimoniais ou
sucessórias entre conviventes.
153 SOUZA, Maria Faria de; FONTANELLA, Patrícia. Analise da sucessão entre companheiros no novo código civil. Curso de Direito das sucessões. : Florianópolis: Vox Legem, 2007. p. 307.
154 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família, p. 125.
79
Ficava a encargo da jurisprudência tal tutela,
principalmente na interpretação do que se entendia por esforço
comum.
A Lei n. 9.278/96 por seu turno previa que uma vez
dissolvida a união estável, diante da morte de um dos conviventes, o
companheiro sobrevivente terá direito real de habitação enquanto
viver ou não constituir nova união ou casamento, sendo tal
peculiaridade relativa ao único imóvel destinado à residência da
família, silenciando acerca da efetiva sucessão.
A jurisprudência155 estadual assim resolve a questão:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - UNIÃO ESTÁVEL - DIREITO REAL
DE HABITAÇÃO - APLICAÇÃO DO ART. 7º, PARÁGRAFO
ÚNICO, DA LEI Nº 9.278/96 - REINTEGRAÇÃO DE POSSE -
MEDIDA LIMINAR - AUSÊNCIA DE REQUISITOS LEGAIS DO
ART. 927 DO CPC - INDEFERIMENTO DO PEDIDO - AGRAVO
DESPROVIDO O art. 7º, parágrafo único, da Lei nº
9.278/96, que regula o § 3º do art. 226 da Constituição
Federal, assegura ao convivente supérstite da união
estável, ainda que o reconhecimento dessa relação
esteja sub judice, direito real de habitação, enquanto
viver ou não constituir nova união ou casamento,
relativamente ao imóvel destinado à residência da
entidade familiar, sem prejuízo do direito sucessório dos
herdeiros. Incumbe ao autor provar a sua posse, o
esbulho praticado pelo réu, a data da moléstia e a perda
da posse em razão dela; do contrário, ausente um dos
requisitos legais do art. 927 do CPC, impõe-se o
indeferimento do pedido de medida liminar, mormente
porque o exame das provas não pode e nem deve ser
aprofundado no âmbito estreito do agravo de
155 Acórdão: Agravo de Instrumento 2001.000060-7. Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Data da Decisão: 29/08/2002. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
80
instrumento, cujo objeto está restrito ao acerto ou
desacerto do decisum impugnado.
Nos ensinamentos de Salaverry,156 referida lei visava
regulamentar o parágrafo 3º, da Constituição Federal de 1988,
revogando parcialmente os dispositivos da lei anterior e promovendo
maior harmonia entre ambas e, por conseguinte, maior aplicabilidade.
Referida lei previa, no entanto, dois regimes de
bens: o legal e o convencional157:
O regime legal esta mencionado no artigo 5º da referida
lei, mencionando a respeito dos bens adquiridos pelos
companheiros na constância da união, sendo que estes
pertencerão a ambos em condomínio e cotas iguais. No
parágrafo 2º do mesmo artigo, ocorre a autorização da
elaboração do contrato escrito, denominado pela
doutrina de contrato de convivência, onde será dada a
possibilidade de regime convencional.
Na vigência desta lei, a partilha se operava
mediante prova da união estável e sua participação efetiva na
aquisição dos bens, sendo matéria sumulada pela súmula 380 do STF.
Assim era a jurisprudência do Tribunal de Justiça de
Santa Catarina à época:
CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E
DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO C/C PARTILHA DE
BENS. TÉRMINO DA CONVIVÊNCIA MARITAL ANTERIOR À
VIGÊNCIA DA LEI N. 8.971/94. APLICAÇÃO DA SÚMULA 380
DO STJ. ESFORÇO COMUM. COMPROVAÇÃO
OBRIGATÓRIA. INEXISTÊNCIA DE PROVAS DA
CONTRIBUIÇÃO DO VARÃO. DIREITO À PARTILHA NÃO-
156 SALAVERRY, Ursula Ernlun. Aspectos patrimoniais no ato da conversão da união estável em casamento, p. 401.
157 SALAVERRY, Ursula Ernlun. Aspectos patrimoniais no ato da conversão da união estável em casamento, p. 394.
81
RECONHECIDO. RECURSO DESPROVIDO. A partilha dos
bens havidos ao longo do companheirismo, dissolvido
antes da vigência da Lei n. 8.971/94, exige prova da
efetiva colaboração do companheiro que pretende
abiscoitar parte dos bens do outro consorte. É que, nessas
hipóteses, aplica-se o enunciado da Súmula 380 do
Superior Tribunal de Justiça, exigente da prova da
existência de sociedade de fato entre os conviventes158.
Pode–se afirmar que, enquanto a lei n. 8.971/94,
inseriram no ordenamento jurídico pátrio os institutos da meação,
adjudicação e o direito real de usufruto, a Lei n. 9.278/96 instituiu o
direito real de habitação.
Assim, durante a vigência da Lei 8.278/96, as
disposições concernentes ao direito sucessório entre os conviventes
continuavam sendo reguladas pela Lei n. 8.971/94.
3.2.2 UNIÃO ESTÁVEL NO NOVO CÓDIGO CIVIL E A PARTILHA DE BENS:
REGRA GERAL
Neste sentido, vale o questionamento de qual
diploma legal disciplina hoje a sucessão entre companheiros frente a Lei
nº 10.406/2002, o Novo Código Civil.
Em primeiro lugar deve-se ater-se sobre questões de
ordem material, se a união estável é regulada por contrato ou não, vez
que por regra geral deve-se observar que o art. 1.725 autoriza que os
companheiros venham regular suas relações patrimoniais por meio de
contrato particular formalmente escrito, desde que não haja qualquer
impedimento legal. 158 TJSC. Acórdão: Apelação Cível 2004.008365-3. Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Data da Decisão: 30/11/2006. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
82
Por derradeiro, surge o questionamento acerca da
existência do mencionado contrato escrito, pois, caso exista, qual
sistema deverá ser adotado quanto a sucessão? Vejamos:
Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os
companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que
couber, o regime da comunhão parcial de bens.
Recente jurisprudência do TJSC assim decidiu:
CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL
E PARTILHA DE BENS. RAZÕES RECURSAIS RESTRITAS À
DISCUSSÃO DA PARTILHA. TÉRMINO DA CONVIVÊNCIA
MARITAL NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 2002.
APLICAÇÃO DO REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE
BENS. DIREITO DE PARTILHA RECONHECIDO. BENS
ALIENADOS POUCO ANTES DO TÉRMINO DO
COMPANHEIRISMO. AUSÊNCIA DE PROVA DA ENTREGA DA
MEAÇÃO AO VARÃO. DEVER DE PARTILHAR. Nos termos
do artigo 1.725 do Código Civil de 2002, aplica-se às
relações patrimoniais oriundas da união estável o regime
da comunhão parcial de bens, exceto se existir contrato
escrito entre os companheiros159.
É exatamente esta regra geral que vem resolver
boa parte dos problemas que surgem no caso de sucessão na união
estável, haja vista que quando couber, aplicam-se as regras do regime
da comunhão parcial de bens.
Divide-se o patrimônio comum em duas meações,
ou se o de cujus deixou bens particulares, estes seriam divididos entre o
companheiro sobrevivente e os herdeiros, ficando àquele na qualidade
de meeiro e herdeiro.
159 TJSC. TAcórdão: Apelação cível 2006.025555-5. Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Data da Decisão: 08/02/2007. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
83
3.2.2.1 DO CONTRATO DE CONVIVÊNCIA
Fruto do art. 1.725 do CC 2002, os conviventes em
união estável podem ser tutelados juridicamente por contrato escrito.
Explica Assis160 que:
Os conviventes em união estável não possuíam o titulo de
casados, e conseqüentemente, ate certa época, não
eram alcançados pela própria lei. É de se pensar que, as
pessoas que podiam casar e não o fizeram, certamente é
porque não concordavam ou não queriam se submeter a
um determinado regime de casamento e a um conjunto
de regras, pois buscavam mesmo a informalidade na
relação.
Continua161:
Talvez seja a questão patrimonial a maior causadora das
divergências e intrigas entre os casais. Com o
reconhecimento de direitos e o agigantamento do tema,
tornou-se necessária para a própria estabilidade da
relação à convenção em contrato escrito, agora
permitido pelo art. 1.725 do NCCB.
Neste contrato os companheiros podem dispor de todos
os seus bens, desde que adquiridos licitamente, perante
eles e perante terceiros.
Tais contratos se submetem a legislação própria,
obedecendo aos princípios gerais do contrato, a fim de surtir efeitos
jurídicos.
160 ASSIS, Ricardo Barros de. O contrato de convivência no tocante às relações com o terceiro de boa-fé, p. 294.
161 ASSIS, Ricardo Barros de. O contrato de convivência no tocante às relações com o terceiro de boa-fé, p. 294.
84
Antes da pactuação do contrato de convivência, é
necessário saber se a situação fática é realmente possível, ou seja, não
estará sucessetível a quaisquer nulidades e se a união estável for
devidamente reconhecida.
Assim, verificados estes pormenores, o contrato de
convivência se apresenta como instrumento probatório em quaisquer
circunstâncias, pode ainda ser feito pública ou particularmente.
Por fim, distingue-se contrato de convivência com
pacto antenupcial.
3.2.3 EFEITOS PATRIMONIAIS DA UNIÃO ESTÁVEL: LEITURA DO ART. 1.790
DO CC 2002
Em termos simples, o companheiro só tem direito a
herança dos bens adquiridos na constância da união e a título oneroso,
ainda que não tenham a pretensão de constituir família, nada tendo
direito aos demais bens, concorrendo, ainda, com descendentes,
ascendentes e colaterais na ordem estabelecida pelo Código Civil de
2002 e não existindo estes, o companheiro sobrevivente herda
integralmente os bens havidos na constância da união estável.
Deve-se ainda entender que, para os bens que
cada um contribuiu financeiramente para sua aquisição, ainda que a
união estável venha a se constituir posteriormente, nestes bens haverá
comunicabilidade.
Quanto aos bens adquiridos após a constituição da
união estável, estes são considerados comuns, tendo equivalência com
85
a modalidade de bens aquestos no regime de comunhão parcial de
bens, em que também ocorrera a comunicabilidade.
Importa verificar que o legislador do novo cc 2002,
não inclui o companheiro na ordem de vocação hereditária,
disciplinando a matéria no Livro IV, que trata do direito de sucessões.
Da leitura do artigo 1.790, se vislumbra que o
companheiro sobrevivente participará da sucessão tão-somente
quanto aos bens adquiridos onerosamente e na constância da união
estável.
Em outras palavras, o companheiro não possui
quaisquer direitos de sucessão sobre os bens adquiridos antes da união,
ou havidos por liberalidade do autor da herança.
Assim, o companheiro sobrevivente terá direito:
Art. 1790. A companheira ou o companheiro participará
da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos
onerosamente na vigência da união estável, nas
condições seguintes:
I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma
quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;
II – se concorrer com descendentes só do autor da
herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada
um daqueles;
III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá
direito a 1/3 (um terço) da herança;
IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito à
totalidade da herança.
86
De tudo, frisa-se que os bens adquiridos a título
oneroso deverão ser divididos segundo os ritos do art. 1.790, na medida
em que seriam, presumivelmente, um patrimônio comum a ambos os
companheiros.
De acordo com Venosa162:
A impressão que o dispositivo transmite é de que o
legislador teve rebuços em classificar a companheira ou
companheiro como herdeiros, procurando evitar
percalços, e críticas sociais, não os colocando
definitivamente na disciplina da ordem de vocação
hereditária.
Como se vislumbra primeiro deverá se dividir os bens
adquiridos durante a união, uma vez que os bens adquiridos
gratuitamente (por doação ou sucessão) não entrarão na comunhão
do casal, serão particulares de quem os adquiriu, por força do art. 1.659,
I:
Art. 1.659. Excluem-se da comunhão:
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que
lhe sobrevierem, na constância do casamento, por
doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu lugar;
Feita esta separação temporal acerca dos bens
adquiridos gratuita e onerosamente, far-se-á a divisão legal, sempre
levando em consideração a regra geral e que o Princípio da Autonomia
da Vontade prevalece na união estável.
No que se refere aos bens gratuitamente e outros
que formem o patrimônio próprio do falecido, a sucessão se dará pelas
regras da sucessão legítima comum.
162 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família, p. 133.
87
Infere-se, que a sucessão daquele que falece
durante a constância da união estável está submetida às regras desse
dispositivo, que lido em consonância com artigo 1.829, traz a ordem de
vocação hereditária.
Divide-se igualmente o próprio do de cujus (bens
adquiridos por doação e outros que formem dito patrimônio) entre os
descendentes em concorrência com o companheiro sobrevivente, por
força da regra geral do art. 1.829, I, verbis:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem
seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no
regime da comunhão universal, ou no da separação
obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se,
no regime da comunhão parcial, o autor da herança
não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Não havendo parentes para abrir a sucessão, os
bens havidos fora da constância ou de outro modo adquiridos, serão
destinados ao Município, Distrito Federal ou União, conforme a
localidade dos bens, pelo menos em uma primeira leitura.
Seguindo a redação do artigo 1.844, pode-se
compreender que mesmo os bens adquiridos antes da união estável
poderiam ser herdados pelos companheiros. Eis uma tarefa para o
judiciário:
88
Art. 1.844. Não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro,
nem parente algum sucessível, ou tendo eles renunciado
a herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito
Federal, se localizada nas respectivas circunscrições, ou à
União, quando situada em território federal.
Neste ínterim, há de se verificar se o companheiro
terá ou não direito à meação, frente à lacuna legislativa.
Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka163,
colabora para enfrentamento da celeuma:
Diferentemente do que ocorre com o cônjuge, que
herda quota-parte dos bens exclusivos do falecido
quando concorre com os descendentes deste,
percebendo, quanto aos bens comuns, exclusivamente a
meação do condomínio até então existente, o
convivente que sobreviver a seu par adquire não apenas
a meação dos bens comuns (e, aqui, em igualdade
relativamente ao cônjuge supérstite) como herda quota-
parte desses mesmos bens comuns adquiridos
onerosamente pelo casal, nada recebendo, no entanto,
relativamente aos bens exclusivos do hereditando,
solução esta que, para adaptar uma expressão de Zeno
Veloso a uma outra realidade, “não tem lógica alguma,
e quebra todo o sistema.
Já da leitura do art. 1784 do Código Civil, o direito
do companheiro supérstite é de propriedade plena, nos termos e
condições arroladas no artigo 1.790:
Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se,
desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
163 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Direito das Sucessões brasileiro: disposições gerais e sucessão legítima. Destaque para dois pontos de irrealização da experiência jurídica à face da previsão contida no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 65, maio 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4093>. Acesso em: 27 maio 2008
89
Diz-se, que se protege de per si a legítima do
companheiro (art. 1.846), que terá direito à totalidade da herança
apenas quando não houver outros parentes sucessíveis (art. 1.790, inciso
IV) e, havendo estes (como os ascendentes e os colaterais) terá direito
apenas a um terço:
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno
direito, a metade dos bens da herança, constituindo a
legítima.
Desnecessário dizer que, uma vez que o
companheiro sobrevivente possua algum patrimônio particular, este
não será dividido, pois sua sucessão ainda não foi aberta.
Em outras palavras, seguindo a ordem da vocação
hereditária, nasce ao companheiro o direito à adjudicação da
herança, tão-somente quando findo o direito dos ascendentes e dos
colaterais do companheiro que morreu.
O novo código civil também não deixou de tratar
desse tema, quando do deferimento da herança vacante, de modo
que esta só se opera quando não existir cônjuge, companheiro ou
parente sucessível.
Disciplina ainda a respeito da indignidade:
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou
legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes
de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa
de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente;
90
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o
autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua
honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou
obstarem o autor da herança de dispor livremente de
seus bens por ato de última vontade.
E da deserdação:
Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814,
autorizam a deserdação dos ascendentes pelos
descendentes:
I - ofensa física;
II - injúria grave;
III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho
ou a do neto, ou com o marido ou companheiro da filha
ou o da neta;
IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental
ou grave enfermidade
Quanto à aquisição de bens, verifica-se que não é
necessário autorização do outro companheiro para aumentar o
patrimônio, no entanto, esta obrigação reside em caso de onerar qual
quer um deles.
De tudo, se verifica que muito embora o código civil
tenha firmado que o companheiro é participante na sucessão, há de se
apontar que participar não é herdar como o visto não foi inserido na
ordem de vocação hereditária (1.829), nem mesmo como herdeiro
necessário (1.845).
91
Para Venosa164 ao se referir ao legislador aponta:
Desse modo, afirma eufemisticamente que o consorte da
união estável “participará” da sucessão, como se
pudesse haver um meio-termo entre herdeiro e mero
participante da herança. Que figura híbrida seria essa
senão a de herdeiro!
Ainda, há o entendimento que um participante não
estaria sujeito a indignidade dos casos previstos no artigo 1.814, o que
acaba por ocorrer diante do entendimento, uma vez que este recebe
uma parcela da herança.
Poder-se-ia concluir, que o companheiro é tratado
de maneira não isonômica ao conjugue em termos sucessórios, estando
em posição inferior a ele na maior das vezes, não se cumprindo a
expectativa que se tinha quando da inauguração do CC 2002, em
privilegiar a relação entre companheiros lhe conferindo melhor tutela.
3.3 DIREITO AO RECEBIMETNO DO SEGURO DE VIDA NA UNIÃO ESTÁVEL
Outra questão polêmica que se origina do art. 1829
do CC 2002, é a questão do recebimento do seguro de vida do
companheiro falecido, caso não haja indicação da pessoa do
beneficiário na apólice, ou se por ventura não se aplicar o art. 792 do
diploma em análise:
Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário,
ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feito,
o capital segurado será pago por metade ao cônjuge
não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros
164 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família, p. 133.
92
do segurado, obedecida a ordem da vocação
hereditária.
De acordo com Tissei165:
Finalmente, necessário se faz evidenciar que o legislador,
ao tratar dos direitos sucessórios dos companheiros, o fez
de forma limitada, pois restringiu quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união estável,
distanciando ainda mais algum tipo de interpretação
referente ao seguro, que foge do âmbito delimitado
como herança.
Como se depara, o legislador não equiparou o
companheiro sobrevivente ao cônjuge, excluindo-o do recebimento do
benefício do seguro.
É a jurisprudência do TJSC166:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - SEGURO DE
VIDA EM GRUPO - AUSÊNCIA DE ESTIPULAÇÃO DE
BENEFICIÁRIO - CAPITAL SEGURADO PLEITEADO POR
ESPOSA - SEPARAÇÃO DE FATO - CONTRATO ESTIPULADO
NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO ESTÁVEL - COMPANHEIRA
EQUIPARADA A ESPOSA PARA EFEITOS DE INCIDÊNCIA DO
ART. 792 DO CC/2002 - EXEGESE DOS ARTS. 226, § 3º DA
CF/88 E 1.723 DO CC/2002. Para efeitos de incidência do
art. 792 do CC/2002, que dispõe acerca dos legitimados
a pleitearem o capital segurado, na falta de indicação
da pessoa ou beneficiário, a companheira com quem o
segurado mantinha união estável à época do óbito
equipara-se ao cônjuge não separado judicialmente,
competindo-a o recebimento de metade do valor
constante na apólice, cujo saldo remanescente será
devido aos demais herdeiros.
165 TISSEI, Marlene. Direito Sucessório na união estável e o novo código civil, p. 256.
166 TJSC. Acórdão: Apelação Cível 2006.024956-9. Relator: Salete Silva Sommariva. Data da Decisão: 13/03/2007. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
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Percebe-se, então, que a jurisprudência vem
resolvendo a matéria equiparando a companheira à conjugue,
gerando o direito do recebimento de metade da apólice segurada.
3.4 TESTAMENTO E COMPANHEIROS
Importa esclarecer, que companheiros podem
testar, inclusive, um contemplando o outro por meio de ato de
disposição de última vontade em cártulas testamentárias distintas167.
Podem como se ver deixar mais do que a lei
infraconstitucional permite, tendo tão-somente que respeitar os limites
de 50%, de seu patrimônio que deve ficar disponível 168.
Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno
direito, a metade dos bens da herança, constituindo a
legítima.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens
existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e
as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o
valor dos bens sujeitos a colação.
Observa-se, que no último requisito deverá o
testador ser solteiro, divorciado, separado judicialmente ou ainda
viúvo169.
167 OLIVEIRA, Simone Cristina. Aspectos da partilha de bens no casamento e na união estável após o advento do novo código civil brasileiro, p. 360.
168 OLIVEIRA, Simone Cristina. Aspectos da partilha de bens no casamento e na união estável após o advento do novo código civil brasileiro, p. 360.
169 OLIVEIRA, Simone Cristina. Aspectos da partilha de bens no casamento e na união estável após o advento do novo código civil brasileiro, p. 360.
94
3.5 CONCORRÊNCIA DO COMPANHEIRO COM O CÔNJUGE
SOBREVIVENTE
A idéia que se tem sobre união estável está na
maior das vezes relacionada, com a presunção de que os
companheiros sejam solteiros ou viúvos, ou ainda separados
judicialmente ou de fato, como preconiza o art. 1723 do CC 2002.
Por seu turno o art. 1830, do mesmo diploma legal
pátrio diz:
Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao
cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro,
não estavam separados judicialmente, nem separados
de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de
que essa convivência se tornara impossível sem culpa do
sobrevivente.
Assim, surge a questão em torno que o Código Civil
brasileiro, como visto não veio estipulando prazo para que uma união
seja reconhecida e, tal fato merece guarida jurídica.
Há de se considerar a hipótese em que o
convivente seja separado e, viva em união estável no momento do
falecimento.
Venosa170 indaga que:
Aqui já se abre margem a infindáveis discussões judiciais,
porque pode o de cujus ter falecido em união estável,
que pode ser reconhecida na separação de fato. A
questão será então definir quem será herdeiro; o cônjuge
ou companheiro.
170 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Direito de Família, p. 115.
95
Parece acertado que nos moldes dos arts. 1790 e
1829 e 1830 do CC, a participação do companheiro sobrevivente ficará
limitada aos bens adquiridos no curso do relacionamento, considerando
patrimônio comum entres os companheiros, conforme ensinamentos de
Souza e Fontanella171:
Em suma deve a participação do companheiro, ficar
restrita aos bens adquiridos durante a união estável
(patrimônio comum), enquanto o direito sucessório do
cônjuge só alcançara os bens anteriores, adquiridos antes
da data da reconhecida judicialmente como de início
da união estável. Essa parece ser a única forma de
compatibilizar as disposições dos arts. 1.790, 1.829 e 1.830
do novo código.
Já no que se refere ao direito sucessório do cônjuge,
este ficará restrito aos bens porventura adquiridos anteriormente ao
inicio da união estável.
Ou seja, antes da data reconhecida em juízo como
inicio da união estável, vez que tal discussão se dará em ação
declaratória autônoma, independente ao inventário e suspendendo-a.
3.6 INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 1.790 DO CODIGO CIVIL
BRASILEIRO DE 2002
É corrente a discussão da inconstitucionalidade do
art. 1790 do CC 2002, face ao art. 1, III, da CRFB/88, que, assim, reza:
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará
da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos
171 SOUZA, Maria Faria de; FONTANELLA, Patrícia. Analise da sucessão entre companheiros no novo código civil, p. 312.
96
onerosamente na vigência da união estável, nas
condições seguintes:
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá
direito a um terço da herança;
O entendimento gira em torno dos conceitos dos
princípios da isonomia e da dignidade da pessoa humana, esculpidos
nos artigo 1º e 5º da Constituição Federal de 1988:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana
(...)
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
(...)
Neste norte, de acordo com os princípios supra
explicado, existem autores que entendem que o casamento e a união
estável foram equiparados, não havendo distinções entre os dois
institutos e qualquer legislação diversa seria, portanto, inconstitucional.
Estas anotações permitem concluir que o art. 1.790
do CC 2002, claramente confere tratamento diferenciado à união
estável, demonstrando-se, assim, inconstitucional.
97
Souza e Fontanella172 verificam a
inconstitucionalidade do art. 1.790 em analise:
Verifica-se, portanto, que a inconstitucionalidade do art.
1.790, não se diz respeito apenas ao fato de tratamento
dado ao direito sucessório na união estável ser inferior ao
atribuído no casamento, e sim, pelas condições de
desigualdade com que são tratadas as duas instituições
familiares, tendo em vista que, ora a sucessão de
companheiros; é inferior ao casamento, ora é superior.
Recente a decisão do TJRS173, decidiu a
equiparação do companheiro e cônjuge e afasta direito sucessório de
irmão:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. INVENTÁRIO. SUCESSÃO DA
COMPANHEIRA. ABERTURA DA SUCESSÃO OCORRIDA SOB
A ÉGIDE DO NOVO CÓDIGO CIVIL. APLICABILIDADE DA
NOVA LEI, NOS TERMOS DO ARTIGO 1.787. HABILITAÇÃO
EM AUTOS DE IRMÃO DA FALECIDA. CASO CONCRETO, EM
QUE MERECE AFASTADA A SUCESSÃO DO IRMÃO, NÃO
INCIDINDO A REGRA PREVISTA NO 1.790, III, DO CCB, QUE
CONFERE TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE
COMPANHEIRO E CÔNJUGE. OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO
DA EQUIDADE. Não se pode negar que tanto à família de
direito, ou formalmente constituída, como também
àquela que se constituiu por simples fato, há que se
outorgar a mesma proteção legal, em observância ao
princípio da eqüidade, assegurando-se igualdade de
tratamento entre cônjuge e companheiro, inclusive no
plano sucessório. Ademais, a própria Constituição Federal
não confere tratamento iníquo aos cônjuges e
companheiros, tampouco o faziam as Leis que
regulamentavam a união estável antes do advento do
novo Código Civil, não podendo, assim, prevalecer a
172 SOUZA, Maria Faria de; FONTANELLA, Patrícia. Analise da sucessão entre companheiros no novo código civil, p. 317.
173 TJSC. DESª. MARIA BERENICE DIAS - Presidente - Agravo de Instrumento nº. 70020389284, Comarca de Uruguaiana. Disponível em: www.tj.sc.gov.br
98
interpretação literal do artigo em questão, sob pena de
se incorrer na odiosa diferenciação, deixando ao
desamparo a família constituída pela união estável, e
conferindo proteção legal privilegiada à família
constituída de acordo com as formalidades da lei.
O que se pode verificar também da leitura do art.
226 da CRFB/88, já transcrito neste trabalho, é que o constituinte não
realizou qualquer distinção entre as espécies de família, por assim
entender que não poderia o interprete o fazer.
A discussão suscitada ganhou relevo a ponto de
haver Projeto de Lei 4.944/2005 em tramitação no Congresso Nacional,
de autoria do deputado Antônio Carlos Biscaia, que propõe a
revogação do artigo 1.790 e a alteração do artigo 1.829 do CC 2002,
deste modo oportuno citar as razões do projeto:
Deve-se abolir qualquer regra que corra em sentido
contrário à equalização do cônjuge e do companheiro,
conforme revolucionário comando constitucional que
prescreve a ampliação do conceito de família,
protegendo de forma igualitária todos os seus membros,
sejam eles os próprios partícipes do casamento ou da
união estável, como também os seus descendentes. A
equalização preconizada produzirá a harmonização do
Código Civil com os avanços doutrinários e com as
conquistas jurisprudenciais correspondentes, abonando
quase um século de vigoroso acesso à justiça, e de
garantia da paz familiar.
Assim sendo, propugna-se pela alteração dos dispositivos
nos quais a referida equalização não esteja presente. O
caminho da alteração legislativa, nesses casos, se mostra
certamente imprescindível, por restar indene de dúvida
que a eventual solução hermenêutica não se mostraria
suficiente para a produção de uma justiça harmoniosa e
coerente, senão depois de muito tempo, com a
consolidação de futuro entendimento sumulado, o que
99
deixaria o indesejável rastro, por décadas quiçá, de se
multiplicarem decisões desiguais para circunstâncias
jurídicas iguais, no seio da família brasileira.
Por fim, concluem Souza e Fontanella174: “neste
pensar, observa-se que, independentemente do entendimento
doutrinário, o artigo mencionado fere a CRFB/88, violando os princípios
da dignidade da pessoa humana e da igualdade”.
174 SOUZA, Maria Faria de; FONTANELLA, Patrícia. Analise da sucessão entre companheiros no novo código civil, p. 317.
100
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatou-se, com o presente estudo monográfico
que a sucessão é a substituição do controle dos bens e ou relações
jurídicas de uma pessoa física para seus herdeiros, podendo ocorrer de
forma onerosa ou gratuita e por disposição de última vontade ou
segundo os preceitos legais. Observou-se também, que a sucessão
ocorre exatamente no momento da morte, haja vista que a
personalidade da pessoa se inicia com o nascimento e se extingue com
a morte, sendo que está pode ser conferida de forma presumida após o
transcurso de 10 anos do desaparecimento da pessoa, excetuando tal
prazo para pessoas que falecem num desastre, como num acidente
aéreo e seu corpo jamais é resgatado. Ainda, aferiu-se que a sucessão
legítima é sempre oriunda de lei, ao passo que a testamentária advém
de um documento formal assinado pelo falecido, já em termos de
sucessão universal, nota-se que esta ocorre quando o falecido expressa
que deseja deixar seus bens a determina pessoa.
Verificou-se, que o local onde será aberta a
sucessão, em regra, será no último domicílio do de cujus, não
necessitando este ser o último endereço residencial. De igual modo
averiguou-se que, no Brasil não existe sucessão de pessoa viva e o
nascituro tem seus direitos resguardados na legislação. Examinou-se, no
hodierno estudo que a comoriência é dos fatos mais polêmicos com
relação a sucessão, eis que para tal desiderato é importante que se
tenha a exata informação acerca do horário de falecimento das
pessoas envolvidas numa eventual sucessão, ou seja, num caso de
estarem viajando pai e filho e ambos falecem, para se apurar a
sucessão é cogente que se verifique quem efetivamente faleceu
primeiro, porque se foi o filho, legalmente os herdeiros deste não terão
101
direito à herança do avô, existindo ainda outros casos controvertidos
acerca do instituto da comoriência.
Observou-se, que todas as pessoas capazes podem
suceder, salvo os inexistentes, os indignos declarados por sentença
judicial definitiva e aqueles que optem por não receber a herança a
que teriam direito, resguardando sempre os direitos do nascituro, desde
que nasça com vida, ainda, curiosamente verificou-se que as pessoas
físicas podem suceder igualmente como as pessoas físicas, desde que
designadas por testamento. Constatou-se, quanto à administração da
herança que em ocorrendo a partilha de bens entre dois ou mais
herdeiros, estes somente terão direito a “administrar” a sua parte e não
o todo, pois os bens que compõem uma herança têm caráter indivisível.
Ainda, verificou-se que o herdeiro em tempo algum necessitará dispor
de valor excedente ao recebido para pagar débitos do falecido. Enfim,
atinente à administração da herança concluiu-se que até que seja
nomeado o inventariante, esta será administrada de forma provisória
por um administrador, que representa os interesses dos herdeiros de
forma ativa e passivamente e, este mesmo administrador poderá ser
mantido à frente da administração da herança, caso seja nomeado o
inventariante.
Também se constatou a diferenciação existente
entre legado e herança, haja vista que o primeiro se caracteriza pela
transmissão de bens determinados por sua qualidade, quantidade e ou
até mesmo pela situação e a segunda pela transferência dos bens em
sua totalidade ou parte destes. Por fim, observou-se a sucessão na
Europa e na América Latina, ao que se verificou que as legislações
atinentes à sucessão pouco divergem umas das outras, sendo mínimas
as diferenças encontradas, pois algumas não fazem distinções entre os
direitos dos cônjuges, companheiros e filhos, outras apontam parentes
até o sexto grau para sucessão e assim sucessivamente.
102
Compreendeu-se também com o presente estudo,
que a família é a base moral e ética de uma sociedade e que tal
preceito está abalizado em nosso ordenamento constitucional e
infraconstitucional, conferindo à família uma relevância fundamental.
Quanto ao instituído da união estável, concluiu-se que esta é uma
forma de família constituída sem qualquer vínculo legal, mas erigida de
forma espontânea com o objetivo claro de constituição de família entre
um homem e uma mulher. Verificou-se ainda que, a “família” por assim
dizer vêm passando por inúmeras transformações institucionais, tanto
que atualmente a jurisprudência já tem acautelando a união estável
entre pessoas do mesmo sexo.
Observou-se, que a legislação não estipulou
qualquer prazo para a efetiva configuração da união estável, basta
que o casal comprove que possuem uma união notória, pública e
duradoura, ou seja, um enlace no formato do casamento legal. Ainda,
conferiu-se que na união estável o casal também deverá prestar
assistência um ao outro, inclusive, no que tange aos alimentos em caso
de dissolução da união e, aos filhos quanto a sustento, guarda e
educação. Na hipótese de ocorrer a dissolução da sociedade conjugal,
ao se apurar os bens que foram amealhados na constância da união
estável, não se hão falar em maior ou menor contribuição financeira
para a compra destes, homem e mulher terão direitos iguais numa
eventual partilha. Enfim, a união estável pode a qualquer tempo ser
convertida em casamento por meio do respectivo requerimento dirigido
ao juiz competente, desde que não haja nenhum impedimento legal
para isso. Por fim, é certo afirmar que a legislação nacional pertinente
aos direitos e deveres que norteiam a união estável, conferiu direitos e
deveres a homens e mulheres que optarem por esse modo de
constituição familiar, todavia, algumas arbitrariedades foram
cometidas, principalmente, no que tange a partilha de bens.
103
Finalmente, constatou-se com a presente
monografia que com a entrada da CRFB/88 extirpou-se por completo a
idéia de que o companheiro não era herdeiro, pois neste diploma legal
a união estável foi reconhecida como uma instituição, contudo, com o
advento do Novo Código Civil em 2002, pontos relevantes acerca dos
direitos do companheiro à sucessão foram conferidos legalmente de
forma polêmica, haja vista que determinou que numa união estável,
homem e mulher podem optar por qualquer dos regimes de casamento
existentes na legislação por meio de um contrato escrito, desde que
observados certos aspectos que porventura possam anular a união,
destacando que normalmente não ocorre a realização deste
instrumento, ficando, assim, esta parte da lei sem implementação em
razão da falta de uso.
Observou-se, que o código assegurou que no
silêncio da constituição da união estável, em ocorrendo a sucessão,
esta se dará nos moldes previstos ao regime da comunhão parcial de
bens, contudo, com algumas diferenciações, pois o companheiro
sobrevivente se concorrer com filhos comuns e do falecido, terá direito
a metade dos bens que os filhos herdarão e se concorrer somente com
filhos comuns, terá direito a um quinhão inteiro, portanto, o que se
verifica é que ocorreu uma ilegalidade no texto legal, pois o
companheiro teve seu direito de sucessão relegado a segundo plano,
considerado por assim dizer inferior aos demais herdeiros, ou seja, uma
ocorreu uma “discriminação” velada.
De igual forma, se o companheiro sobrevivente
concorrer com parentes sucessíveis, terá direito a 1/3 do valor da
herança se tiver contribuído de forma onerosa para a aquisição do
patrimônio, o que por certo gera uma controvérsia imensa, haja vista
que num caso de dissolução o companheiro terá direito igual,
independentemente, de ter ou não contribuído para a compra de
104
determinado bem na constância da união estável. Quanto a partilha
entre companheiro e outros parentes, reside grande controvérsia e
“injustiça”, pois se o casal que vive em união estável adquiriu bens de
forma onerosa na constância desta, contudo, uma das partes não
estava separada legalmente de seu ex-cônjuge, caso não estejam
separados de fato há mais de dois anos e ou, ainda, caso a separação
não tenha sido culpa do ex-cônjuge sobrevivente, caso ocorra o
falecimento de um dos companheiros, o ex-cônjuge terá direito a 1/3
dos bens amealhados pelo casal formado na união estável, ou seja,
falece o companheiro e deixa companheira, ex-esposa, pai e mãe, a
companheira terá direito a 1/3 da integralidade da herança, a ex-
esposa 1/3 e pai e mãe dividirá meio por meio o restante da herança, o
que por certo é um absurdo praticado pelo legislador em face dos
companheiros sobreviventes, pois por certo aquele buscou abster-se de
quaisquer críticas sociais que pudessem surgir, o que é lastimável. Enfim,
caso o falecido não tiver herdeiros, o companheiro herdará a
totalidade bens. Ainda, em razão da limitação conferida ao
companheiro na legislação sucessória, esta mais uma vez foi silente no
que diz respeito ao recebimento de apólices de seguro, contudo, a
jurisprudência de forma correta buscou erradicar mais este abuso, pois
confere ao companheiro o direito ao recebimento de metade do
prêmio do seguro caso concorra com outros herdeiros e a integralidade
caso não existam herdeiros. Enfim, entende-se que as expressas
determinações do artigo 1790 do CC podem ser chamadas, no mínimo,
de inconstitucionais, eis que violam por completo o princípio da
dignidade da pessoa humana, pois a união estável de certa forma foi
equiparada ao casamento. Portanto, as desigualdades que se
verificam no diploma legal em comento são aviltantes, haja vista que a
proteção conferia ao companheiro é infinitamente menor do que a
dado ao cônjuge sobrevivente, ficando, assim, evidente o sentido
contrário que tomou a disposição constitucional e civil atinente à
sucessão na união estável.
105
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