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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Erika Campanharo de Moraes Incubadora Social: Um Estudo da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO SÃO PAULO 2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Erika Campanharo de Moraes

Incubadora Social: Um Estudo da Escola Empreendedora de Corte e Costura da

Fundação Jari

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

SÃO PAULO

2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Erika Campanharo de Moraes

Incubadora Social: Um Estudo da Escola Empreendedora de Corte e Costura da

Fundação Jari

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

como exigência parcial para a obtenção do título de

Mestre em Administração, sob a orientação do

Prof. Dr. Arnaldo Jose França Mazzei Nogueira.

SÃO PAULO

2015

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Banca Examinadora

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Dedico este trabalho aos meus filhos, Guilherme e Laura,

para que busquem um mundo melhor para todos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Capes e à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo pela concessão

da bolsa de estudos que viabilizou a minha permanência no mestrado.

Ao meu orientador, professor doutor Arnaldo Jose França Mazzei Nogueira, pelo

conhecimento transmitido, orientação, apoio, parceria na publicação de artigo e,

especialmente, por aceitar que eu direcionasse o meu trabalho, mesmo não sendo a sua linha

de pesquisa, para um tema que descobri e com o qual me encantei durante a realização do

mestrado: os negócios privados com objetivos sociais.

Ao professor doutor Arnoldo de Hoyos Guevara pelas aulas, pelo incentivo à

participação no Congresso ICIM e à publicação do meu primeiro artigo sobre os bancos

comunitários, cujo tema influenciou esta dissertação.

Ao professor doutor Luciano Antônio Prates Junqueira pelo incentivo e parceria na

elaboração de artigos acadêmicos durante o curso, pela indicação de referências bibliográficas

sobre negócios sociais e por todo o apoio durante o mestrado.

Ao professor doutor e coordenador do Mestrado em Administração Belmiro

Nascimento João e aos professores doutores Ladislau Dowbor e Onésimo Cardoso pelo

conhecimento compartilhado durante as aulas.

À minha prima Joyce Reissler que, mesmo em fase de conclusão de sua pesquisa de

mestrado, leu inúmeras vezes meu trabalho e colaborou com sugestões e correções na minha

redação.

À minha mãe, Maria Helena Russo Campanharo, e à minha tia Lucy Helena Russo por

cuidarem dos meus filhos todas as vezes que precisei assistir a uma aula, participar de alguma

atividade relacionada ao mestrado ou me dedicar à escrita do trabalho fora do período em que

as crianças estavam na escola.

Ao meu pai, Antonio Carlos Campanharo, por ter me acompanhado até a cidade de

Suzano para que eu pudesse realizar a pesquisa empírica.

Aos meus filhos, Guilherme e Laura, pela paciência e parceria em todas as vezes que

precisaram me acompanhar em congressos, aulas e visitas à biblioteca, mesmo sendo tão

pequenininhos.

Ao meu marido, Jose Alexandre de Moraes, pelo apoio para a realização do mestrado.

A todos os colegas de curso, que deixavam o ambiente agradável, interessante e

divertido. Especialmente à Francine Suescun, que, em um momento em que pensei que não

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conseguiria concluir os créditos e estava um pouco “desesperada”, me disse palavras das

quais vou me lembrar sempre: Calma, tudo isso é vida!

Ao coordenador da incubadora Escola Empreendedora da Fundação Jari, que

prontamente concordou em participar da pesquisa e se mostrou muito acessível e disposto a

colaborar com este trabalho, além das empreendedoras das empresas graduadas, que foram

muito receptivas e compartilharam informações comigo mesmo estando em horário de

trabalho e cheias de tarefas.

A Deus, por iluminar o meu caminho e permitir que eu pudesse cursar o mestrado.

Deixo o curso com muito aprendizado e muito feliz.

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RESUMO

Os micros e pequenos negócios, bem como os microempreendedores individuais, são

importantes para a geração de emprego e o dinamismo da economia. Estudos comprovam que

esses negócios, quando criados e/ou desenvolvidos em incubadoras de empresas, sobrevivem

mais no mercado em relação àqueles que foram criados e desenvolvidos sozinhos. Nesse

contexto, as incubadoras de empresa se destacam como uma importante organização para toda

a sociedade. Há diversas modalidades de atuação, e uma delas inclui o desenvolvimento de

negócios chamados de inclusivos, sociais e/ou de impacto social.

Este trabalho teve como objetivo geral analisar a atuação de uma incubadora social de

negócio inclusivo considerando suas atividades, resultados e impactos sociais conforme são

percebidos pelo coordenador da incubadora e pelos empreendedores que passaram pelo

processo de incubação.

Para atingir esse objetivo, foi realizada uma pesquisa empírica qualitativa com a

incubadora social da Escola Empreendedora da Fundação Jari. A partir do estudo de caso

deste trabalho, foi possível identificar que incubadoras sociais possuem práticas semelhantes

às incubadoras de empresas de base tecnológica e tradicional, porém adotam outras para

melhor atingir as necessidades de seu público-alvo. Dentre as outras práticas, pode-se

destacar: a fase da pré-incubação, que corresponde a um treinamento e preparo prévio para o

ingresso na incubadora, e a geração de renda na fase da incubação, uma vez que a renda se faz

necessária para manter os participantes no projeto, pois é utilizada para necessidades básicas.

A incubadora social da Escola Empreendedora de Corte e Costura se mostrou como

uma importante organização para a inserção de pessoas em condições menos favorecidas na

cadeia produtiva. O primeiro ciclo de incubação tornou possível que quatro mulheres

empreendessem seus próprios negócios, e uma delas deixou de ser dependente de um

programa assistencialista do governo. Além disso, a incubadora também pôde ser reconhecida

por facilitar a entrada de pessoas no mercado de trabalho, na fase de capacitação da pré-

incubação e até mesmo durante a incubação, na qual as profissionais tiveram a oportunidade

de adquirir experiência nos moldes de um estágio corporativo. Portanto, a incubadora

desenvolveu empresas e também mão de obra experiente para trabalho assalariado.

Assim, este estudo mostra-se relevante por contribuir com o debate a respeito da

atuação das incubadoras sociais.

PALAVRAS-CHAVE: Incubadora de empresa; incubadora social; negócio inclusivo.

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ABSTRACT

Micro and small businesses as well as individual micro-entrepreneurs are important

for job creation and economic dynamism. Studies show that these businesses, when created

and/or developed in business incubators, survive longer in the market than those that are

created and developed alone. In this context, the company incubators stand out as important

organizations for the whole society. There are several modes of operation, and one of them

includes the development of businesses called inclusive, social and/or with social impact.

The aim of this study was to analyze the performance of a social incubator that

develops inclusive business through its activities, results and social impacts, by means of the

perception of the incubator coordinator and entrepreneurs that have been incubated.

To achieve this objective, a qualitative empirical research was made with a social

incubator called Escola Empreendedora da Fundação Jari.

From the case study of this work, it was found that social incubators have similar

practices of technology and traditional base companies´ incubators, but also adopt other

practices to better meet the needs of your target audience. Among other practices, can be

highlighted: the phase of pre-incubation, corresponding to a training and preparation prior to

entry into the incubator, and income generation at the beginning stage of incubation, since the

income is needed to keep participants in the project by providing basic needs.

The Social Incubator of Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari

has shown itself to be an important organization for the integration of people in disadvantaged

conditions in the production chain. The first incubation cycle enabled four women to

undertake their own businesses, and one of them is no longer dependent on a government

welfare program. In addition, the incubator could also be recognized for facilitating the entry

of people into the labor market, during the training phase of pre-incubation and even during

incubation, in which the professionals had the opportunity to gain experience by means of a

corporate internship. Therefore, the incubator developed business and attracted experienced

workers to the labor market.

Therefore, this study is relevant as contributing to the debate about the role of social

incubators.

KEYWORDS: Business incubator, social incubator, inclusive business.

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LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANPROTEC Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores

BOP Base da Pirâmide

CEO Chief Executive Officer

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico

COEP Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida

ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing

FAAP Fundação Armando Álvares Penteado

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

FBES Fórum Brasileiro de Economia Solidária

FIESP Federação da Indústria do Estado de São Paulo

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

FPC Flexible Purpose Corporation

ITCP Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares

ITCP/COPPE Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares

L3C Low Profit Limited Liability Company

MCT Ministério da Ciência e Tecnologia

MCTI Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

MPE Micro e Pequena Empresa

NBIA National Business Incubation Association

ONG Organização não governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PRONINC Programa Nacional de Cooperativas Populares

RELAPI Rede Latino-Americana de Associações de Parques Tecnológicos e Incubadoras

de Empresas

RIDI Rede de Incubadoras de Desenvolvimento Inclusivo

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAES Secretaria Nacional de Economia Solidária

SIES Sistema de Informação da Economia Solidária

UFC Universidade Federal do Ceará

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFPR Universidade Federal do Paraná

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNEB Universidade do Estado da Bahia

USP Universidade de São Paulo

YSB Yunus Social Business

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

1. INCUBADORA DE EMPRESAS 13

1.1. Histórico 13

1.2. Definições e objetivos 16

1.3. Atuação no Brasil 18

1.4. Etapas de um processo de incubação de empresas 20

1.5. A efetividade: práticas, resultados e impactos 22

2. UM PANORAMA SOBRE ORGANIZAÇÕES PRIVADAS COM 27

OBJETIVOS SOCIAIS

2.1. Negócio inclusivo 32

2.2. Negócio social na concepção de Muhammad Yunus 34

2.3. Negócio social na concepção de Prahalad - Oportunidades na base da pirâmide 38

2.4. A certificação do B lab e outras iniciativas dos Estados Unidos 41

2.5. As empresas sociais da economia solidária 42

2.6. Análise sobre as diferentes concepções de organizações privadas com objetivos sociais 46

3. MÉTODO E PROCEDIMENTOS 48

3.1. Estratégia de investigação da pesquisa empírica 49

3.2. Método para coleta de dados 50

3.3 Procedimento de transcrição das entrevistas e apresentação e análise dos dados 51

4. O ESTUDO DE CASO: A INCUBADORA DA ESCOLA 53

EMPREENDEDORA DE CORTE E COSTURA DA FUNDAÇÃO JARI

4.1. A Fundação Jari 53

4.2. A cidade de Suzano 54

4.3. A incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari 54

4.4. Empresa graduada 1 63

4.5. Empresa graduada 2 68

4.6. Análise dos dados da pesquisa 70

CONCLUSÕES 75

REFERÊNCIAS 79

ANEXOS 85

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INTRODUÇÃO

Segundo dados de 2011 da Associação Nacional de Entidades Promotoras de

Empreendimentos Inovadores (ANPROTEC), havia no Brasil 384 incubadoras de empresas,

sendo que 40% delas atuavam com empresas ligadas à tecnologia, 18% incubavam empresas

ligadas a setores considerados tradicionais e 18% trabalhavam com ambos os segmentos,

sendo consideradas de atuação mista. Em relação à incubação de empresas de prestação de

serviços, 8% das incubadoras brasileiras atuavam com esse tipo de empresa. As demais

incubadoras, que representavam 16% da totalidade brasileira, atuavam com empresas ligadas

à cultura (7%), ao social (7%) e ao agronegócio (2%) (ANPROTEC; MCTI, 2012). Já um

estudo da Fundação Avina identificou 60 incubadoras sociais em todo o Brasil. Essas

incubadoras sociais trabalham para criar e/ou desenvolver empreendimentos cujo objetivo é

uma melhora nas condições sociais de uma pessoa, de uma comunidade ou mesmo de toda a

sociedade. Esse tipo de negócio pode receber diferentes denominações: negócio inclusivo,

negócio social, empresa social ou negócio com impacto social.

Um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)

aponta que, em 2010, a taxa de mortalidade média das micro e pequenas empresas no Brasil,

nos dois primeiros anos de existência, atingiu 27% (FIESP, 2012), e as principais causas de

fechamento do negócio são a falta de (ou pouco) planejamento prévio; dificuldade com a

gestão do negócio, especialmente com a aquisição de clientes; e o comportamento

empreendedor (SEBRAE-SP, 2014). Em contrapartida, quando esses empreendimentos

passam por uma incubadora de empresas, a taxa de mortalidade média das empresas cai para

20% (BOAS..., 2008). Dessa maneira, as incubadoras de empresas possuem importância

relevante para a criação e o desenvolvimento de negócios que, se bem-sucedidos, contribuirão

para dinamizar a economia e gerar empregos.

No âmbito acadêmico, é possível encontrar estudos que apresentam análises de

pesquisas realizadas com incubadoras de empresas, especialmente as de base tecnológica. No

caso dessas incubadoras de base tecnológica, há ainda estudos que identificam e analisam a

percepção de empreendedores incubados em relação à infraestrutura e aos serviços oferecidos

pelas incubadoras. São encontrados também estudos sobre incubadoras sociais de

empreendimentos da economia solidária que abordam, entre outras questões, as práticas

dessas incubadoras.

Porém, não se encontrou nenhum estudo a respeito das práticas ou da percepção de

empreendedores de incubadoras sociais que desenvolvem negócios inclusivos não ligados à

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economia solidária, sendo escasso o material acadêmico disponível aos profissionais e

acadêmicos que atuam nesse tipo de organização. Assim, a realização de estudos sobre

incubadoras sociais se torna relevante para demonstrar a atuação desse tipo de

empreendimento, de modo que o modelo possa ser verificado e possivelmente considerado

por outras organizações que se propõem a desenvolver esses negócios.

Sabendo-se que há incubadoras sociais trabalhando para alavancar negócios

inclusivos, o presente trabalho teve como pergunta de partida: como se dá a atuação de

incubadoras sociais de negócios inclusivos?

Com base nessa pergunta, definiu-se o objetivo geral deste trabalho: analisar a

atuação de uma incubadora social de negócio inclusivo por meio de suas atividades,

resultados e impactos sociais a partir da percepção do coordenador da incubadora e dos

empreendedores que já foram incubados.

Os objetivos específicos são:

caracterizar a incubadora e sua metodologia de trabalho;

explorar o processo de incubação das empresas (infraestrutura e serviços oferecidos,

tempo de incubação e apoio pós-incubação);

verificar a quantidade de empresas incubadas, suas atividades e o tempo de atuação no

mercado;

analisar como a incubadora acompanha o desempenho das empresas graduadas

(sobrevivência, sustentabilidade financeira e impacto social);

explorar a percepção das empresas incubadas em relação às ações da incubadora

(infraestrutura e serviços oferecidos, tempo de incubação e apoio pós-incubação).

O presente estudo trabalha ainda com a seguinte proposição: as práticas das

incubadoras de empresas de base tecnológica e tradicional não são suficientes para as

necessidades de uma incubadora social.

Com base nos objetivos da pesquisa e na proposição, o trabalho está assim

estruturado:

capítulo 1, “Incubadora de empresas”: apresenta a concepção de incubadora de

empresas e um breve panorama da teoria existente sobre a atuação desse tipo de

empreendimento.

capítulo 2, “Um panorama sobre organizações privadas com objetivos sociais”:

discute as concepções de organizações que buscam impactar de maneira positiva a sociedade

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e o meio ambiente, aí englobados os negócios inclusivos, a fim de se apresentar uma

discussão sobre diferentes nomenclaturas e perspectivas desses negócios.

capítulo 3, “Métodos e procedimentos”: apresenta os procedimentos e as técnicas para

coleta e análise dos dados.

capítulo 4, “O estudo de caso: a incubadora da Escola Empreendedora de Corte e

Costura da Fundação Jari”: apresenta os dados obtidos na pesquisa empírica e uma análise

desses dados.

O estudo de caso mostra como atua uma incubadora social que desenvolve negócios

que incluem pessoas em condições vulneráveis na cadeia produtiva. O estudo também mostra

porque as práticas das incubadoras de empresas de base tecnológica ou tradicional não

atendem à totalidade das necessidades de uma incubadora social, especialmente as de negócio

inclusivo.

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1. INCUBADORA DE EMPRESAS

O presente capítulo tem como objetivo construir uma lente teórica sobre incubadoras

de empresas por meio da apresentação de dados históricos, definição, objetivos, etapas,

atuação e efetividade de incubadoras de empresas. Como o objeto de estudo empírico é uma

incubadora social, se dará mais ênfase a essa modalidade.

1.1. Histórico

Em 1959, o fechamento de uma fábrica na cidade de Batavia, em Nova York, nos

Estados Unidos, resultou em um galpão de 80 mil m2 vazio e uma taxa de desemprego de

20% entre os habitantes da cidade (DIAS, 2002, apud ARANHA, 2008). A área da fábrica foi

vendida, e o comprador das instalações, Joseph Mancuso, sublocou o espaço para empresas

iniciantes, que utilizavam equipamentos e serviços em conjunto, além de contarem com

serviços fornecidos no próprio local, como secretaria, contabilidade, marketing, etc., o que

contribuiu para a redução dos custos operacionais e o aumento da competitividade dessas

empresas. Esse local foi chamado de Centro Industrial de Batavia, porém ficou conhecido

pelo apelido de incubadora por causa de um aviário que havia no prédio (ARANHA, 2008)1.

Também na década de 1950 surgiram na região do Vale do Silício as incubadoras de

novas empresas de tecnologia (ARANHA, 2008), com o objetivo de incentivar os estudantes

recém-graduados da Universidade de Stanford a “disseminar suas inovações tecnológicas e a

criar espírito empreendedor”. A universidade oferecia espaço físico e assessoria gerencial,

jurídica, de comunicação, administrativa e tecnológica, o que viabilizou o surgimento de

novas empresas2. Os estudantes e a universidade criaram um parque industrial e depois um

parque tecnológico para transferir o conhecimento tecnológico desenvolvido na universidade

para as novas empresas, especialmente de eletrônicos (ARANHA, 2008).

À expansão do movimento de incubadoras, a partir da década de 1970, podem ser

atribuídas três razões, de acordo com Meeder (1993, apud DORNELAS, 2002): motivação

para encontrar finalidade de uso para prédios abandonados; criação de fundos de

investimento de apoio à inovação nas maiores universidades dos Estados Unidos;

engajamento de empreendedores em transferir conhecimento e experiência para novas

empresas.

1 Ver também informações sobre esse histórico no site da ANPROTEC. Disponível em: <http://www.anprotec.org.br/publicacaoconhecas2.php?idpublicacao=80>. Acesso em: 5 jan. 2015. 2 Disponível em: <http://www.anprotec.org.br/publicacaoconhecas2.php?idpublicacao=80>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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Um estudo realizado pela Anprotec em parceria com o Ministério da Ciência,

Tecnologia e Inovação (MCTI) (ANPROTEC; MCTI, 2012) comparou a atuação de

incubadoras de empresas localizadas em dez países – Portugal, Bélgica, França, Alemanha,

Itália, Espanha, Reino Unido, Coreia do Sul, Israel e Argentina – e constatou que nesses

países as incubadoras se desenvolveram mais rapidamente após 1980, devido a políticas

públicas de fomento para empreendimentos inovadores e a fontes de receitas governamentais,

que passaram a considerar as pequenas e médias empresas na geração de emprego e renda. A

partir dos anos 1990, o crescimento é acelerado e atua na transformação da cultura

disseminando a ideia de que empreender é tão bom quanto estar empregado.

No Brasil, as incubadoras de empresas surgiram da iniciativa do presidente do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq), o professor

Lynaldo Cavalcanti, que, na década de 1980, implantou o primeiro Programa de Parques

Tecnológicos do país abrangendo cinco fundações tecnológicas: em Campina Grande

(Paraíba), São Carlos (São Paulo), Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Manaus (Amazonas) e

Florianópolis (Santa Catariana). O programa tinha como objetivo transferir conhecimento das

universidades para as empresas, e dele surgiu, em 1984, a primeira incubadora de empresas,

no parque tecnológico de São Carlos (ARANHA, 2008). Essa iniciativa deu início ao

empreendedorismo inovador no Brasil e esteve na base do surgimento de “um dos maiores

sistemas mundiais de incubação de empresa” (ANPROTEC; MCTI, 2012). Em relação ao

avanço das incubadoras, esse se dá com a estabilização da macroeconomia brasileira, após o

Plano Real, em 1994, além de contar com a própria capacidade de empreender de seus

gestores (PLONSKY, 2002).

Dois fatores importantes estão relacionados ao movimento de incubação. O primeiro

envolve a “capacidade da organização solidária” (PLONSKI, 2002, p. 5), que resultou na

criação da ANPROTEC, em 1987, com a finalidade de atuar por meio da promoção de

atividades de capacitação, da articulação de políticas públicas e da geração e disseminação de

conhecimentos entre seus associados e demais interessados (PLONSKY, 2002; ANPROTEC;

MCTI, 2012). Atualmente a ANPROTEC conta com 280 associados, entre as 384

incubadoras em operação e aproximadamente 90 parques tecnológicos (ANPROTEC; MCTI,

2012). O segundo constitui-se no apoio de entidades do governo, como do então Ministério

da Ciência e Tecnologia (MCT) e suas agências CNPq e Financiadora de Estudos e Projetos

(FINEP), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) (PLONSKI, 2002).

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A primeira incubadora de empresas do setor tradicional surgiu em 1991 na cidade de

Itu, com a adesão da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) à Anprotec e em

parceria com a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) (ARANHA, 2008).

Já as incubadoras de tecnologia social surgiram de uma proposta apresentada pela

Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP/COPPE), em 5 de janeiro de 1995,

de que as experiências das incubadoras de base tecnológica fossem utilizadas para a inclusão

socioeconômica (ARANHA, 2008) – em um contexto histórico, social e econômico de um

país que se libertara do regime militar na década anterior, convivia com vários problemas

sociais como a miséria, o desemprego e a fome (presentes até a atualidade) e observava o

surgimento de diversos movimentos populares, que buscavam igualdade de oportunidades e

inclusão social (VECHIA et al., 2011).

Nesse movimento, o papel das universidades também começou a ser questionado,

uma vez que, apesar de serem detentoras do conhecimento, não estavam gerando ferramentas

sociais que pudessem combater esses problemas de maneira eficaz. Um desafio lançado pelo

Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (COEP) – que dirigia, entre outras

iniciativas, a Campanha Contra a Fome, de Herbert de Souza, o Betinho – à Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) deu início ao projeto da incubadora tecnológica de

cooperativas populares, que visava a transferência de tecnologias inspirada nas incubadoras

de base tecnológica dos Estados Unidos (VECHIA et al., 2011).

Esse projeto recebeu financiamento do governo federal por meio da Finep, para

difusão da metodologia da incubadora (VECHIA et al., 2011). Inspiradas no trabalho da

UFRJ em 1995, ao final de 1998 foi criada a Rede Universitária de Incubadoras Tecnológicas

de Cooperativas Populares, a Rede de ITCPs, com seis incubadoras originadas nas seguintes

universidades: UFRJ, Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de São Paulo

(USP), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (REDE DE ITCPs, 2009).

Em 1999, a Rede de ITCPs foi convidada a participar de outra rede mais ampla, a

Unitrabalho, fundada em 1996, uma rede nacional de universidades que apoia os

trabalhadores na sua luta por melhores condições de vida e trabalho e incentiva e apoia a

criação de incubadoras sociais de empreendimentos solidários nas dependências das

universidades filiadas3. Por divergências no modelo administrativo, em 2001, as duas redes se

separaram (VECHIA et al., 2011).

3 Disponível em: <http://www.unitrabalho.org.br/spip.php?article6>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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Outro fator importante para a difusão das incubadoras foi o surgimento do Programa

Nacional de Cooperativas Populares (PRONINC), que financiou as primeiras incubadoras e

cuja verba era proveniente da Fundação do Banco do Brasil e da FINEP (VECHIA et al.,

2011).

No âmbito da ANPROTEC, em 2008, foi criada a Rede de Incubadoras de

Desenvolvimento Inclusivo (RIDI), que integra a Rede Latino-Americana de Associações de

Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas (RELAPI), com o objetivo de trocar

informações e experiências, gerar e compartilhar conhecimento e desenvolver políticas

voltadas para esse tipo de incubadora. Atualmente seis incubadoras fazem parte da RIDI.

Para este trabalho não foi localizado pela autora nenhum estudo acadêmico derivado ou

atrelado à RIDI sobre incubadora social ou desenvolvimento inclusivo.

1.2. Definições e objetivos

Para a ANPROTEC, uma incubadora de empresa:

é uma entidade que tem por objetivo oferecer suporte a empreendedores para que

eles possam desenvolver ideias inovadoras e transformá-las em empreendimentos

de sucesso. Para isso, oferece infraestrutura, capacitação e suporte gerencial,

orientando os empreendedores sobre aspectos administrativos, comerciais,

financeiros e jurídicos, entre outras questões essenciais ao desenvolvimento de uma

empresa.4

As incubadoras possuem um caráter único de atuação, diferindo de qualquer outro modelo de

empreendimento, e, conforme definido por Plonski (2002), são:

entidades heterodoxas, que contestam os modelos arcaicos puristas estabelecidos de

dissociação entre as esferas acadêmica, empresarial e governamental. Incubadoras são, deliciosamente, entidades ambíguas – ao mesmo tempo empresa e

universidade, concomitantemente espaço privado e público, esgrimindo as armas da

competição e, simultaneamente, praticando ações de cooperação.

Essa definição de Plonski evidencia a atuação multissetorial por trás de uma

incubadora, que interliga diversos agentes da sociedade em busca do desenvolvimento de um

negócio. O setor público pode identificar na incubadora uma oportunidade para direcionar

verbas para o desenvolvimento de empreendimentos que dinamizam a economia local e

geram empregos para uma região. As universidades têm a possibilidade de compartilhar suas

4 Disponível em: <http://anprotec.org.br/site/pt/incubadoras-e-parques/perguntas-frequentes/>. Acesso em: 5 jan.

2015.

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17

pesquisas com os empreendedores das empresas incubadas, dando utilidade prática aos seus

estudos. Além disso, as incubadoras são espaços privados, porém de utilidade pública, pois

cedem às empresas incubadas, em muitos casos, até mesmo a chave da porta de entrada do

espaço físico, para que as empresas se instalem e utilizem a infraestrutura como se fossem

proprietárias do local. Durante o período de incubação, seus gestores e coordenadores

possuem uma atitude de orientação, atendimento, cooperação e capacitação em relação aos

empreendedores incubados, ao mesmo tempo que ensinam a eles estratégias para competir

com outras empresas.

Dornelas, de maneira similar a Plonski e acrescentando a necessidade de orientação

prática e sustentabilidade após o período de incubação, define incubadora de empresas como:

um mecanismo – mantido por entidades governamentais, universidades, grupos

comunitários etc. – de aceleração do desenvolvimento de empreendimentos

(incubados ou associados), mediante um regime de negócios, serviços e suporte

técnico compartilhado, além de orientação prática e profissional (DORNELAS,

2002, p. 14).

O autor acrescenta que se deve buscar empresas capazes de competir no mercado e

que sejam financeiramente viáveis, mesmo após o período de incubação (DORNELAS,

2002).

O SEBRAE, assim como a ANPROTEC, define as incubadoras como

desenvolvedoras de empresas inovadoras, entre outras características, conforme segue:

um ambiente que promove a transferência de tecnologia e é especialmente

planejada para apoiar e estimular a criação e/ou desenvolvimento de micro e

pequenas empresas industriais, de prestação de serviços, de base tecnológica ou de manufatura leves, voltadas à produção de bens ou serviços inovadores. Para isso

disponibiliza uma infraestrutura diferenciada, serviços e consultorias especializadas

que contribuem para a formação complementar do empreendedor em seus aspectos

técnicos e gerenciais.5

Para Aranha (2008), a incubadora é considerada além das instalações físicas, sendo

que:

uma incubadora consiste num processo, num mecanismo (e não numa organização

ou localidade) dos mais eficientes para a criação de empresas e de transformação de

conhecimento em processos, produtos e serviços.

Diante das concepções apresentadas, é possível identificar que a incubadora de

empresas é uma organização que estabelece conexões entre diversos agentes da sociedade –

5 Disponível em: <http://www.sebrae-sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto=423&%5E%5E>. Acesso em: 5 jan.

2015.

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como governo, universidades, empresas privadas – e qualquer outro agente que possa

contribuir com o objetivo de auxiliar empreendedores a criar e desenvolver seus negócios,

inovadores ou não. Desse modo, as empresas incubadas são apoiadas por meio dessas

conexões e da disponibilização de recursos, como infraestrutura física para a instalação da

empresa e suporte administrativo do negócio em todas as suas etapas, o que significa uma

transferência de conhecimento. Além de serem criados e desenvolvidos dentro da incubadora,

os negócios devem ser preparados para sobreviver no mercado após o período de incubação,

o que representará a efetividade da incubadora.

Em relação às incubadoras sociais, de maneira geral, suas ambições são as mesmas

das incubadoras de empresa de base tecnológica ou tradicional, porém a finalidade das

empresas incubadas é diferente: elas devem ser criadas e desenvolvidas para solucionar um

problema social. Essas empresas podem ser da economia solidária ou constituir um negócio

social e/ou inclusivo (a distinção entre esses negócios é apresentada no capítulo 2).

As incubadoras sociais vinculadas às universidades desenvolvem principalmente

empreendimentos da economia solidária. Para Culti (2002), essa é uma maneira que as

universidades têm para resgatar o compromisso com a sociedade que a mantém.

1.3. Atuação no Brasil

Dados da ANPROTEC de 2012 apontam que as 384 incubadoras existentes no Brasil

abrigam 2.640 empresas, geram 16.940 postos de trabalho (uma média de 6,20 postos por

empresa) e juntas faturam 533 milhões de reais por ano. Além disso, 2.509 empreendimentos

já graduaram, ou seja, já atuam de maneira independente da incubadora, gerando atualmente

29.205 empregos e faturando 4,1 bilhões de reais anualmente (ANPROTEC; MCTI, 2012).

No país, existem diversas modalidades de incubadoras: a de base tecnológica, nas

quais a tecnologia nos produtos e serviços gerados representa um alto valor agregado; a

tradicional, que abriga empreendimentos considerados tradicionais na economia; a mista, que

abriga empreendimentos de base tecnológica e tradicional; a social, que desenvolve

empreendimentos resultantes de projetos sociais; a de cooperativa, que abriga

empreendimentos associativos, além de incubadoras específicas de determinada atividade

como as culturais, de agronegócio, etc. (INCUBADORAS..., 2012).

Em 2011, 40% das incubadoras brasileiras atuavam com empresas ligadas à

tecnologia, 18% incubavam empresas ligadas a setores considerados tradicionais e 18%

trabalhavam com ambos os segmentos, sendo consideradas de atuação mista. Em relação à

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incubação de empresas de prestação de serviços, 8% das incubadoras brasileiras atuavam

com esse tipo de empresa. As demais incubadoras, que representavam 16% da totalidade

brasileira, atuavam com empresas ligadas à cultura (7%), ao social (7%) e ao agronegócio

(2%), conforme ilustrado no Gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1. Setores de atuação das incubadoras brasileiras

Fonte: ANPROTEC; MCTI, 2012

Em relação às incubadoras sociais vinculadas à Unitrabalho, atualmente há 45

associadas, nove na região Norte, dezesseis na região Nordeste, seis na região Centro-Oeste,

oito na região Sudeste e seis na região Sul. Sobre a Rede de ITCPs, em 2010 já havia 42

incubadoras de universidades vinculadas à rede6.

Há também organizações não governamentais (ONGs) e organizações da sociedade

civil de interesse público (OSCIP) que atuam como incubadoras sociais. Um estudo

coordenado pela Fundação AVINA, Ande Polo Brasil e Potencia Ventures identificou que,

em 2011, havia no Brasil 60 incubadoras de negócios sociais e negócios inclusivos, e destas

20 eram de base tecnológica que abrangiam também os negócios sociais e inclusivos (ANDE

POLO BRASIL; FUNDAÇÃO AVINA; POTENCIA VENTURES, 2011).

No Brasil, o tempo médio de incubação de um negócio é de três anos, e esse tempo

pode variar dependendo do segmento de atuação. Além disso, há duas possibilidades para

incubar uma empresa (ANPROTEC; MCTI, 2012):

Incubação residente: na qual o negócio incubado permanece nas instalações da

incubadora.

Incubação não residente: na qual o negócio permanece em sua própria sede mesmo

recebendo apoio e orientação da incubadora.

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1.4. Etapas de um processo de incubação de empresas

Em relação ao processo de incubação, Aranha (2008) afirma que há uma etapa

anterior à seleção dos participantes, muito importante, que requer iniciativas do potencial

empreendedor. Essa etapa é chamada de pré-incubação, e as iniciativas correspondem, por

exemplo, à procura de outros empreendedores para a realização de uma empresa em conjunto

e à pesquisa de mercado para a elaboração do plano de negócios. Depois de verificada a

viabilidade do plano de negócios, o empreendedor está apto a participar da etapa de seleção

dos potenciais empreendimentos.

A etapa de seleção corresponde ao período em que a incubadora avalia os planos de

negócios e os empreendedores para participar da incubadora. Para Aranha (2008), o período

de seleção é o mais crítico e é nele que se inicia a possibilidade de se gerar empreendimentos

de qualidade. Essa seleção deve ser realizada a partir de critérios claros e buscando atingir o

objetivo final, que pode ser inovar e gerar novas tecnologias, gerar postos de trabalho,

diminuir desigualdade, incluir na cadeia produtiva pessoas marginalizadas, dinamizar a

economia, etc. Acima de tudo, Aranha afirma ser necessário verificar a possibilidade da

sustentabilidade dos empreendimentos.

Depois de selecionados, os empreendimentos passam para a etapa da incubação e são

chamados de “incubados”. Nessa etapa os empreendedores utilizam a infraestrutura e os

serviços oferecidos pela incubadora e devem ser capazes de se desenvolver e atuar de

maneira sustentável para passar para a próxima etapa, que é a etapa da graduação

(ARANHA, 2008).

Na etapa da graduação os empreendimentos passam a se chamar “graduados” e estão

aptos a deixar a infraestrutura e os serviços oferecidos pela incubadora e a competir no

mercado. Aranha (2008) ressalta que isso pode acontecer antes ou depois de um período

médio de dois anos, dependendo de cada empreendimento, e que a empresa graduada pode

manter contato com a incubadora e utilizar seus serviços, porém de maneira associada, desde

que não gere conflito com os demais parceiros. O processo de graduação deve ser iniciado

com pelo menos seis meses de antecedência e deve conter a elaboração de um novo plano de

negócio e a previsão de todos os possíveis gastos (ARANHA, 2008).

6 Disponível em: <http://antares.ucpel.tche.br/nesic/redeitcps.php>. Acesso em: 5 jan. 2015

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Em seguida vem a etapa chamada de pós-incubação, na qual o principal objetivo é

inserir os empreendimentos graduados em redes de parcerias para o crescimento e

consolidação do negócio (ARANHA, 2008).

Embora as incubadoras sociais tenham sido originadas a partir das incubadoras

tecnológicas, as do tipo social realizaram adaptações em suas etapas e práticas, uma vez que

o público, principalmente no caso dos empreendimentos solidários e dos negócios inclusivos,

apresenta maior vulnerabilidade social e econômica, muitas vezes associada à baixa

escolaridade e à pobreza.

Para Vechia et al. (2011), no que diz respeito às incubadoras vinculadas às

universidades e aos membros da Rede de ITCPs, há quatro etapas: a “pré-incubação”, na qual

há o conhecimento entre as partes; a “incubação”, na qual há formação, assessoria e

consultoria dos grupos solidários; a “desincubação” e a “pós-incubação”, nas quais os grupos

podem recorrer a determinada ação da incubadora.

A ITCP/COPPE, por exemplo, incuba as empresas por três anos e meio seguindo

quatro fases, que serão vistas a seguir, porém é necessária a chamada “Fase 0” anterior à

primeira etapa. Essa fase compreende a seleção e a sensibilização dos candidatos, além da

difusão da proposta e do processo da incubação.

Na primeira etapa, ou “Fase 1”, é elaborado o projeto do empreendimento para os três

anos subsequentes, e essa etapa é concluída quando os participantes: demonstrarem na prática

comportamentos e conhecimentos cooperativistas; tiverem o próprio estatuto social;

conhecerem o foco da própria produção; e possuírem conhecimento sobre precificação e

organização da produção. A ITCP/COPPE afirma ser importante um ritual de passagem entre

a primeira e a segunda etapa como um reconhecimento e valorização das atividades

concluídas na primeira.

A segunda etapa, ou “Fase 2”, compreende o desenvolvimento do projeto; nela, os

membros têm a oportunidade de identificar forças e fraquezas e rever o projeto, caso

necessário. A passagem para a terceira etapa também deve contemplar um ritual de passagem

e deve acontecer após o alcance da viabilidade econômica e cooperativa.

A terceira etapa, ou “Fase 3”, busca uma expansão do empreendimento com menos

intervenção da incubadora e, consequentemente, mais autonomia dos membros da empresa.

A última etapa, a “Fase 4”, corresponde ao período de graduação e autonomia da

cooperativa, na qual é realizada uma análise das ações do empreendimento e das perspectivas

para o futuro (ITCP/COPPE).

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1.5. A efetividade: práticas, resultados e impactos

A discussão sobre a efetividade das incubadoras está presente em estudos acadêmicos,

além de estudos de organizações que atuam em parceria com as incubadoras. Para a National

Business Incubation Association (NBIA), organização localizada nos Estados Unidos que

conta com mais de 2 mil membros distribuídos em 60 países, há dois princípios que

caracterizam a efetividade de uma incubadora:

a incubadora deve buscar um impacto positivo na saúde econômica da comunidade

por meio da maximização do sucesso das empresas emergentes e a incubadora deve

ser um modelo dinâmico de sustentabilidade e eficiente na operação do negócio7

(tradução nossa) .

Em relação ao impacto positivo na economia, no Brasil, as incubadoras de empresas

desenvolvem principalmente micro e pequenas empresas (MPEs), com maior índice de

sobrevivência no mercado em relação àqueles empreendimentos que não passaram pelas

incubadoras. Junto com os microempreendimentos individuais, são reconhecidos por

dinamizar a economia e pela geração de empregos, incluindo pessoas em condições

vulneráveis, como aquelas acima de 40 anos, portadores de necessidades especiais, jovens que

buscam o primeiro emprego, desempregados de longa data, entre outros, além de desenvolver

novas tecnologias, que resultam em produtos e serviços melhores e/ou mais baratos (SOUZA;

SOUZA; BONILHA, 2008).

Um estudo do SEBRAE aponta que, no Brasil, em 2010, a taxa de mortalidade média

das MPEs nos dois primeiros anos de existência atingiu 27% (FIESP, 2012) e as principais

causas para o fechamento do negócio são: falta de (ou pouco) planejamento prévio;

dificuldade com a gestão do negócio, especialmente com a aquisição de clientes; e

comportamento empreendedor (SEBRAE-SP, 2014). Em contrapartida, quando esses

empreendimentos passam por uma incubadora de empresas, a taxa de mortalidade média das

empresas cai para 20% (BOAS..., 2008). Sendo uma média, há incubadoras que atingem um

número maior de empresas sobreviventes. A taxa de sobrevivência é calculada pela relação do

número de empresas que entram na incubadora e que continuam operando após cinco anos do

início da graduação (ARANHA, 2008).

Para Aranha (2008), as incubadoras devem mesmo buscar uma taxa maior de

sobrevivência das empresas incubadas em relação àquelas que não passam por incubadora e

7 Disponível em: <http://www.nbia.org/resource_library/best_practices/index.php>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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no menor tempo possível. O menor tempo possível de incubação pode ser atingido pela

capacitação do candidato antes do período de incubação, o que pode ocorrer por meio de

parcerias para treinamento, por exemplo.

Para ser efetiva, a NBIA definiu que uma incubadora deve:

• comprometer-se com os dois princípios da incubação de negócios (descritos no

início deste item 1.5); • obter consenso na missão que define a responsabilidade da incubadora na

comunidade e desenvolver um plano estratégico que contenha objetivos

quantificáveis para atingir a missão do programa;

• garantir estrutura para a sustentabilidade financeira por meio do desenvolvimento

e implementação de um plano de negócios realista;

• recrutar e compensar apropriadamente a gerência capaz de atingir a missão da

incubadora e que possua habilidades para fazer empresas crescerem;

• construir um conselho eficaz de administração comprometido com a missão da

incubadora e que maximize o papel da gestão no desenvolvimento de empresas de

sucesso;

• priorizar o tempo dos gestores para colocar a ênfase maior no atendimento ao cliente, incluindo assessoria proativa e orientação que resulte em sucesso da

empresa e criação de riqueza;

• desenvolver instalações, recursos, métodos e ferramentas que efetivamente

contribuam com as empresas incubadas e que atendam às necessidades de

desenvolvimento de cada negócio;

• procurar integrar programas e atividades da incubadora na construção da

comunidade, bem como em seus objetivos de desenvolvimento econômico e

estratégias;

• manter um sistema de gerenciamento de informação e coletar estatísticas e outras

informações necessárias para avaliações do programa em curso, melhorando assim

a eficácia do programa e permitindo que esse evolua de acordo com as necessidades dos clientes8 (tradução nossa).

Embora definidos em 1995, os princípios, bem como as orientações aos dirigentes,

ainda estão disponíveis no site da NBIA, o que faz com que sejam considerados atuais.

Em relação à estrutura e aos serviços que uma incubadora deve fornecer aos

empreendimentos incubados, Dornelas (2002), com base em estudos que levam em

consideração diversos autores e instituições ligadas a atividades das incubadoras, destaca que

é necessário:

promover expertise em relação à administração de negócios, pois muitas vezes os

empreendedores possuem a ideia e a empolgação para abrir e gerir um empreendimento,

porém não possuem formação suficiente em gestão financeira, de recursos humanos, entre

outros;

facilitar o acesso a financiamentos e investimentos;

oferecer suporte e assessoria financeira aos gerentes das empresas incubadas;

8 Disponível em: <http://www.nbia.org/resource_library/best_practices/index.php>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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conquistar o apoio da comunidade para o próprio crescimento da incubadora. Isso pode

acontecer com a divulgação dos resultados das empresas incubadas ou pela inserção de

membros da comunidade no conselho de administração;

estabelecer redes de relacionamento com atores que promovem a atividade

empreendedora, como universidades e organizações que forneçam suporte, como

associações de empreendedorismo, empresas de contabilidade, marketing, assessoria

jurídica, entre outros, além de fornecedores e clientes, para que as empresas incubadas

sejam beneficiadas com essas relações;

estabelecer redes e parcerias com universidades e/ou centros de pesquisas para que a

incubadora possa se tornar um meio de transferência de tecnologia entre as universidades

e o mercado e a universidade possa prover tecnologia e novos empreendimentos à

incubadora;

ensinar empreendedorismo;

selecionar com base em critérios claros as empresas que serão incubadas;

estabelecer um programa de metas com procedimentos e metas da incubadora e das

empresas incubadas. É necessário que a incubadora preste contas sobre sua atuação e que

as empresas incubadas saibam como serão avaliadas;

criar a percepção de sucesso da incubadora, para garantir mais financiamentos e parcerias

e para facilitar a inserção das empresas graduadas no mercado.

Segundo Dornelas (2002), essa percepção de sucesso pode ser medida pelas

instalações da incubadora; pela capacidade de estabelecer parcerias com entidades públicas e

privadas; pela atuação de um gerente experiente e efetivo; pela diretoria engajada no sucesso

da incubadora; por um conselho consultivo composto de pessoas reconhecidas na área de

atuação; pelo sucesso das empresas graduadas; pela alta possibilidade de sucesso das

empresas incubadas; pela exposição na mídia como um referencial de sucesso; pelo período

de incubação dentro da média, de 2 a 3 anos; pela baixa mortalidade das empresas incubadas;

pelo estágio de desenvolvimento da incubadora compatível com o tempo de existência e o

ensino de empreendedorismo. Esse autor afirma ainda que uma incubadora não deve se

prender ao sucesso de um ciclo concluído e deve buscar inovar nas suas práticas

(DORNELAS, 2002).

De acordo com o SEBRAE, é necessário prover também um “espaço físico individual

com um endereço conhecido e respeitado”, a “formação de parcerias entre as empresas” e o

“acesso facilitado e subsidiado às orientações financeiras, tecnológicas e gerenciais”. Além

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disso, a implantação de uma incubadora deve identificar a vocação da localidade e as

possíveis deficiências nas cadeias produtivas. Em relação à seleção criteriosa das empresas

que serão incubadas, conforme identificado por Dornelas e descrito anteriormente, o

SEBRAE solicita aos candidatos que apresentem um plano de negócio9.

Já Aranha (2008) afirma que, entre outras iniciativas já apresentadas, o gestor da

incubadora é peça fundamental na criação e no desenvolvimento de novos empreendimentos,

atuando desde a seleção criteriosa dos empreendedores até a capacidade de transferir

conhecimento, além de introduzir novas competências como gestão dos relacionamentos e

ambientes colaborativos (ARANHA, 2008).

Em um estudo realizado em 2007, com empresas incubadas no estado de São Paulo,

Souza, Souza e Bonilha (2008) identificaram que, de maneira geral, os empreendedores estão

satisfeitos com a estrutura física das incubadoras, porém muito ainda deve ser realizado em

relação aos apoios técnico e gerencial em recursos humanos, estratégia, contabilidade,

planejamento, finanças, produção, marketing e operação. Já um estudo realizado em 2011,

com empresas do MIDI tecnológico, uma incubadora que apoia empresas de base tecnológica

localizada em Florianópolis, concluiu que os empreendedores estavam satisfeitos tanto com a

infraestrutura como com os serviços oferecidos pela incubadora (SOUSA; BEUREN, 2011).

Outro estudo realizado em 2013, com empreendimentos da incubadora de base tecnológica da

Universidade de Brasília, identificou que a infraestrutura é percebida como importante pelos

empreendedores, mas passa a ser secundária após a instalação dos empreendimentos. O que

se torna de grande importância é a rede de relacionamentos entre as empresas (BARBOSA;

HOFFMANN, 2013).

Segundo Vechia et al. (2011), em relação às incubadoras vinculadas às universidades

e membros da Rede de ITCP, não há uma metodologia única – cada incubadora desenvolve a

sua própria metodologia de acordo com sua realidade. Porém, para a Rede de ITCPs, há

princípios éticos-políticos que as unificam como: a defesa dos princípios da economia

solidária; a “articulação plena entre ensino, pesquisa e extensão”; o comprometimento da

universidade com setores populares; a autogestão dentro da própria incubadora; a

interdisciplinaridade e a participação nos fóruns da economia social e solidária (VECHIA et

al., 2011, p. 127-8).

Ainda de acordo com Vechia et al. (2011), algumas incubadoras atendem apenas a

demandas já organizadas e outras sensibilizam a população para a economia solidária. Em

9 Disponível em: <http://www.sebrae-sc.com.br/leis/default.asp?vcdtexto=423&%5E%5E>. Acesso em: 5 jan.

2015.

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relação às equipes de trabalho, esses autores afirmam que há incubadoras em que a

distribuição do trabalho entre professores e estudantes é equilibrada, enquanto em outras os

estudantes predominam e seu trabalho pode ser remunerado por meio de bolsas de extensão

ou de pesquisa ou mesmo realizado de maneira voluntária, este último característico

principalmente das universidades privadas. Além disso, algumas incubadoras realizam cursos

de formação básica para os empreendedores que irão participar da incubadora, iniciativa mais

comum em incubadoras em que o trabalho dos professores tem maior importância (VECHIA

et al., 2011). Ainda para esses autores, a mensuração dos resultados da própria incubadora

também é variável.

Em relação ao processo de seleção, algumas incubadoras não possuem um método

para tal e há polêmica sobre se devem incubar empreendimentos não populares, embora a

maioria das incubadoras trabalhe com populações de baixa renda e baixa escolaridade

(VECHIA et al., 2011).

Para Vechia et al. (2001), a incubação social nas universidades é um processo de troca

constante caracterizado por pedagogias participativas. Além disso, exige intervenção

interdisciplinar especialmente nas áreas de direito, economia, administração, contabilidade,

pedagogia, serviço social, psicologia, além das áreas relacionadas ao próprio negócio. O

tempo de incubação não é predeterminado e, em geral, dura de dois a três anos (VECHIA et

al., 2011).

Com base nas informações apresentadas sobre as incubadoras de empresas, pode-se

dizer que essas são relevantes para a construção e a consolidação de empreendimentos,

incluindo os sociais, e a consequente geração de emprego e dinamização da economia. Faz-se

necessário, então, definir o que é empreendimento solidário, negócio inclusivo, negócio

social e negócio com impacto social. As concepções que embasam esses empreendimentos

são apresentadas no capítulo 2.

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2. UM PANORAMA SOBRE ORGANIZAÇÕES PRIVADAS COM OBJETIVOS

SOCIAIS

Antes de abordar as diferentes concepções que embasam as organizações que se

propõem a resolver um problema social, será feita uma breve apresentação do contexto em

que essas organizações estão se desenvolvendo.

Atualmente, há mais de 7 bilhões de pessoas em nosso planeta. Embora muito tenha

sido alcançado em termos de desenvolvimento no século XX, grande parte da população

sofre com a pobreza e a miséria, que podem ser atreladas à fome, à desnutrição, à falta de

saneamento básico e de água potável, à falta de acesso à educação, entre outras necessidades

básicas. A pobreza e a miséria estão diretamente ligadas à exclusão social, condição na qual

as pessoas são privadas do acesso a produtos e serviços básicos para a satisfação das

necessidades do ser humano e da sua própria liberdade (SEN, 2000). Além disso, há ainda

grupos de pessoas marginalizadas por causa de sua etnia, de seu gênero, de suas

características físicas ou mentais, entre outros.

O atual modelo econômico compõe-se, principalmente, de empresas privadas

tradicionais, que buscam essencialmente a maximização dos lucros para seus acionistas,

muitas vezes em detrimento do bem-estar coletivo e ambiental. Compõe-se também dos

Estados, que foram concebidos para fiscalizar e regular a ação das empresas privadas e para

garantir o suprimento de necessidades básicas da população, mas que, por si sós, em diversas

partes do mundo, apresentam-se como insuficientes e, muitas vezes, ineficazes na solução

desses problemas.

Segundo Dowbor (2007), os mecanismos de mercado atuais não são capazes de

reverter o processo de destruição de nosso ecossistema, que é a base para a subsistência e a

prosperidade da espécie humana. As empresas visam benefícios em curto prazo para seus

próprios acionistas e não enfrentam oposição alguma dos principais prejudicados por essas

ações, que são as gerações futuras e a natureza.

A produção global de alimentos, por exemplo, é suficiente para combater a fome de

todos os habitantes do planeta, porém há ainda, segundo dados da Organização das Nações

Unidas (ONU), aproximadamente 925 milhões de pessoas passando fome em todo o globo

terrestre, resultado de políticas que enxergam os alimentos como produtos de interesse

econômico para os governos e para as empresas privadas, que buscam lucros cada vez

maiores, em vez de considerá-los uma necessidade básica do ser humano, cuja produção e

consumo devem ser inseridos em políticas públicas (KLIASS, 2011).

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Além disso, segundo a ONU, 1% da população mundial possui riqueza equivalente à

soma da riqueza de 50% da população do globo terrestre. O secretário-geral da ONU, Ban

Ki-moon, afirmou que a desigualdade de renda entre ricos e pobres está aumentando entre os

países e também dentro dos países. Já Guy Ryder afirmou que “atualmente toda uma geração

de jovens enfrenta a perspectiva de um futuro mais incerto e menos próspero do que o que

teve a geração anterior. A situação de muitos é tão desesperadora que parece difícil acreditar

que pode piorar”10

.

Aktouf (2004) condena a ordem econômica atual, que nos é apresentada como algo

contra o qual nada se pode fazer, como se estivesse ligada à natureza humana ou dominada

por leis e fenômenos invencíveis, ou como uma etapa de um processo que conduziria a uma

ordem necessária e boa, sendo preciso eliminar barreiras que criam empecilhos para a sua

instalação. O autor ainda destaca a prática crematística da economia atual, principalmente das

grandes organizações, que lucram bilhões de dólares e, ao mesmo tempo, provocam

desemprego em massa.

O relatório Inequality Matter, Report on the World Social Situation 2013 (ONU,

2013) evidencia que o crescimento da economia, tal como está, não é suficiente para reduzir a

pobreza e os problemas de desigualdade. Como já evidenciado na Rio+20, uma

transformação nos modelos e uma abordagem inclusiva são necessárias nos setores da

economia, da sociedade e do meio ambiente – grupos marginalizados e desfavorecidos devem

receber atenção especial de líderes globais para o combate da desigualdade. Além disso, o

relatório também demonstra que, embora não percebido pela camada mais privilegiada da

sociedade, a desigualdade atinge de maneira negativa a todos, pois gera desperdício e

subaproveitamento de mão de obra.

Stiglitz (2014) ressalta a crescente desigualdade econômica e social nos Estados

Unidos e defende a concorrência justa entre empresas com geração de lucros zero. No

entanto, o que se observa são cada vez mais monopólios e oligopólios, que maximizam os

resultados financeiros dessas empresas, além da brusca diferença salarial entre um Chief

Executive Officer (CEO) e um funcionário da mesma empresa (diferença que chega a ser de

295 vezes, sem que o CEO possa ter uma produtividade 295 vezes maior que a do

funcionário). A constatação de Stiglitz é fruto de políticas empresariais que visam à

centralização do poder econômico no topo da pirâmide, em detrimento de uma maior

igualdade econômica e social em todos os segmentos. O conceito de crescimento econômico

10 Disponível em: <http://unicrio.org.br/oit-cerca-de-1-da-populacao-mundial-possui-a-mesma-riqueza-que-35-

bilhoes-de-pessoas>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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29

vem considerando que não somente medidas econômicas, mas também sociais e ambientais

contribuem para o desenvolvimento de nossa economia.

A desigualdade de renda também é parte da realidade do Brasil, que possui

aproximadamente 200 milhões de habitantes e ocupa o 7o lugar no ranking das maiores

economias do mundo, ranking que considera o produto interno bruto (PIB) do país, que em

2013 foi de 4,8 trilhões de reais (IBGE, 2014). O país possui um índice de desenvolvimento

humano (IDH) de 0,744 (em uma escala que vai de 0 a 1), ocupando a 79a posição em uma

lista de 187 países (PNUD, 2014). Essa disparidade entre a posição do Brasil segundo o PIB

e sua posição segundo o IDH evidencia que o que está sendo produzido no Brasil não

beneficia da mesma maneira todo o povo brasileiro.

O PIB pode ser considerado um indicador insuficiente de progresso de um país, pois

mede a quantidade de recursos que está sendo utilizada sem avaliar se esses recursos

representam um resultado positivo para a sociedade e o meio ambiente. Por exemplo, pode

ocorrer um aumento do PIB por causa do maior consumo de grades e portões – decorrente da

falta de segurança –, ou ele pode diminuir como consequência do investimento em saúde –

que resulta em redução no consumo de remédios e em gastos hospitalares (DOWBOR, 2014).

Para Dowbor (2013, p. 31), “temos olhado para a economia apenas do ponto de vista do ritmo

do crescimento, esquecendo-nos de pensar o que está crescendo, para quem, e com que

impactos ambientais”.

Já o IDH é composto de três pilares: saúde, medida por meio da expectativa de vida

da população; educação, medida por meio do cálculo de anos de estudo e expectativa de anos

de estudo das pessoas; e renda, considerada a renda per capita da população. A pontuação do

Brasil, 0,744, está em uma faixa considerada índice de desenvolvimento humano alto. Há

também as faixas “baixo”, “médio” e “muito alto” (BORGES; CALGARO, 2014). Esse

índice tende a refletir melhor a realidade de todos os brasileiros, mas também é insuficiente

por ser calculado considerando o resultado médio da população, o que, em uma sociedade

muito desigual, não permite uma correta interpretação do que ocorre no país.

Já se constatou que o Brasil vem apresentando melhores resultados sociais há duas

décadas, e muito se deve a políticas econômicas e programas sociais adotados pelos governos

desse período, porém há ainda um longo caminho a percorrer, pois a concentração de renda e

a consequente desigualdade social estão fortemente presentes no cenário brasileiro. Um

estudo publicado pelo Washington Post destaca o Brasil como um dos países de maior

desigualdade de renda no mundo todo, conforme ilustrado na Figura 1.

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30

Figura 1. Desigualdade de renda

Fonte: Fisher, 2013

Os países em vermelho indicam maior desigualdade na distribuição de renda e os

países em azul uma maior igualdade, de acordo com o índice Palma, que calcula a diferença

de renda entre os 10% mais ricos e os 40% mais pobres. Esse mapa da desigualdade também

mostra que apenas a igualdade de renda não é suficiente para garantir as necessidades básicas

do ser humano. Países podem ter igualdade de renda, e todos os seus habitantes serem muito

pobres (FISHER, 2013).

Dinis e Mendes (2004) procuraram retratar a desigualdade por meio de uma situação

concreta. Em Santana de Parnaíba, cidade da Grande São Paulo, há um condomínio de luxo,

chamado Alphaville, cercado por muros e, assim, com as residências separadas das demais

casas da cidade. Distante cerca de cinco quilômetros do condomínio, se localiza o Jardim São

Vicente de Paula, no qual a população vive até em casas de papelão e chão de terra batida e

sem emprego formal. Em 2010, o IDH de Santana de Parnaíba foi de 0,81, considerado muito

alto11

. Certamente esse IDH não reflete a expectativa de vida, o tempo de estudo e a renda

per capita da população do Jardim São Vicente de Paula, no qual o índice cairia muito.

Em 2010, com o objetivo de “descontar” do resultado do IDH os valores que

representam a desigualdade, surgiu o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à

Desigualdade (IDHAD). A partir de então, o IDH pode ser visto como um índice potencial e

11 Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil/santana-de-parnaiba_sp>. Acesso em: 5 jan.

2015.

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31

o IDHAD como um índice mais real12

. No caso do IDHAD, o Brasil recebe nota 0,54, insere-

se na faixa “baixa” e cai 16 posições no ranking mundial. O fator que mais contribuiu para a

queda foi o da renda per capita (desconto de 39,7% na nota), seguido pela educação

(desconto de 24,7% na nota) e pela saúde (desconto de 14,5% na nota) (FORMENTI;

NOSSA, 2014).

Direitos sociais à educação, à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao lazer, à

segurança, à previdência social, à proteção da maternidade e da infância e à assistência aos

desamparados são aspectos garantidos pela Carta Magna brasileira, a Constituição Federal de

1988 (BRASIL, 1988). Ela traz como objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir as desigualdades sociais e regionais,

bem como promover o bem de todos. No entanto, ainda há no país um longo caminho a ser

trilhado entre a declaração e a efetiva prestação dos direitos fundamentais sociais aos

cidadãos. A desigualdade social ainda é um fator determinante na qualidade de vida de todos

e é diretamente influenciada pelo sistema econômico-financeiro adotado no país.

Portanto, há a necessidade de atuação tanto do Estado como das demais organizações

para a construção de uma sociedade mais justa. Com o objetivo de solucionar problemas

sociais, surgem organizações privadas que atuam com mecanismos de mercado e buscam

benefícios sociais. Diversas são as iniciativas e os modelos organizacionais existentes. É

possível encontrar iniciativas de organizações sem fins lucrativos, de empresas tradicionais e

também de novos modelos emergentes chamados de negócio inclusivo, negócio social,

empresa social e negócio com impacto social.

Não há uma definição clara e única, tampouco um consenso quanto à utilização

desses termos, o que gera certa imprecisão nos estudos sobre o assunto, pois muitas vezes o

mesmo termo é utilizado para nomear iniciativas com premissas e resultados diferentes.

O que esses novos modelos emergentes têm em comum são os seguintes elementos:

que a organização seja privada, atue sob mecanismos de mercado e gere impacto social

positivo, especialmente entre pessoas que vivem em condições de maior vulnerabilidade

social e econômica. Esse novo modelo de negócio é emergente e vem despertando o interesse

de diversos atores da sociedade ao redor do mundo, inclusive no Brasil, sendo visto como

uma solução alternativa na geração de uma maior inclusão social. Essa possibilidade

despertou atenção também de membros das incubadoras de empresas, que atuam para

12 Disponível em: <http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH>. Acesso em: 5 jan.

2015.

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32

oferecer infraestrutura e suporte aos empreendimentos até que esses negócios tenham

condições de “sobreviver” no mercado.

A seguir são apresentadas concepções presentes na literatura acadêmica e que, juntas,

compõem um panorama das organizações privadas com objetivos sociais.

2.1. Negócio inclusivo

O termo negócio inclusivo tem origem nas organizações de países em

desenvolvimento da América Latina, incluindo o Brasil, e é encontrado em estudos realizados

por pesquisadores da Social Enterprise Network (SEKN), rede formada em 2001 por diversas

e importantes escolas de administração de empresas da América Latina.

Segundo o Consejo Empresarial Colombiano para el Desarrollo Sostenible

(CECODES), negócios inclusivos podem ser considerados empreendimentos que fazem com

que seus beneficiários sejam inseridos no mercado como sócios, fornecedores, distribuidores

de produtos ou também como consumidores13

.

Para Teodósio e Comini (2012, p. 410), negócio inclusivo é um “termo adotado para

explicar as organizações que visam solucionar problemas sociais com eficiência e

sustentabilidade financeira” e que podem ser definidos como:

aqueles voltados à geração de oportunidades de emprego e renda para grupos com

baixa mobilidade no mercado de trabalho, dentro dos padrões do chamado “trabalho

decente” e de forma autossustentável, estabelecendo relações com organizações

empresariais privadas tradicionais na condição de fornecedores ou distribuidores de

seus produtos ou serviços (TEODOSIO; COMINI, 2012, p. 410).

Embora no Brasil o termo seja mais conhecido para se referir à inclusão de portadores

de necessidades especiais no mercado de trabalho, negócios inclusivos abrangem mais do que

essa população e incluem:

mulheres e homens com mais de 40 anos de idade, pobres e com pouca educação

formal, comunidades locais com fortes laços étnicos e educação precária (indígenas,

descendentes de vilarejos de escravos fugitivos, etc.), jovens sem experiência

profissional que vivem em áreas com alta vulnerabilidade social, portadores de necessidades especiais e outros grupos similares (TEODÓSIO; COMINI, 2012, p.

411).

13 Disponível em: <http://www.cecodes.org.co/negocios.html>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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Para ser considerado inclusivo não basta o acesso ao consumo, é necessária uma

mudança no statu quo (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009). Esses negócios incluem

diversos tipos de empreendimento, incluindo as grandes corporações, que permitem uma

inserção das pessoas em condição vulnerável em uma já consolidada rede de clientes,

fornecedores e demais parceiros do negócio (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009). Para

Márquez, Reficco e Berger (2009), a ideia de Prahalad (que é vista com mais detalhe no item

2.3) de buscar a riqueza na base da pirâmide conseguiu capturar a atenção do setor privado,

que mobilizou recursos e mão de obra em escalas não atingidas anteriormente por fundações

ou outras entidades sociais.

Os autores apontam ainda uma mudança de paradigma na concepção de valor dos

produtos e serviços desenvolvidos por esse negócio. Para eles, o valor deve ser percebido e

determinado pelo público que consome, e não decidido por quem está produzindo. Isso

significa também novas culturas organizacionais, nas quais “os segmentos pobres deixam de

ser invisíveis como atores econômicos” (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009, p. 32,

tradução nossa). Sobre a mudança de paradigma sobre o que é valor para os excluídos,

segundo esses autores, é comum a crença de que produtos e serviços devem ser de baixo

custo ou baixa qualidade. Por outro lado, constata-se que os pobres da América Latina

preferem produtos de marcas líderes ou intermediárias, com a segurança de minimizar os

riscos da compra de um produto de baixa qualidade. Como exemplo, os autores citam o fato

de que, na Argentina, consumidores pobres preferem comprar um modelo de celular mais

caro do que o preferido por consumidores de classe média. Isso porque o celular mais caro

também oferece acesso a outros recursos, como ouvir e armazenar música, tirar fotos, acessar

a internet, etc. Os consumidores de classe média preferiam acessar esses recursos em outros

equipamentos destinados a fins específicos (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009).

O envolvimento e o apoio do ecossistema são também importantes para os negócios

inclusivos, que devem englobar em sua cadeia de valor os fornecedores, os produtores e os

consumidores, além de agentes não comerciais como as agências reguladoras. Essa rede

contribui para “reduzir as incertezas” sobre esses negócios, “legitimar o negócio” e

“capitalizar a infraestrutura social existente”, além de propiciar a aquisição de inteligência de

mercado e a captação de recursos financeiros para financiar os negócios, por meio de fundos

da própria comunidade (MÁRQUEZ; REFICCO; BERGER, 2009, p. 34-35).

Para desenvolver um negócio inclusivo, é necessário que o empreendedor busque

objetivos sociais, porém ele deve apresentar competências de empreendedores de negócios

tradicionais. Sem empreendedores “capazes de conceber o setor privado como parte da

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solução, será difícil estabelecer a conexão entre mercado e progresso social” (MÁRQUEZ;

REFICCO; BERGER, 2009, p. 35, tradução nossa).

Em muitos estudos, o termo negócio inclusivo é encontrado com o termo negócio

social.

2.2. Negócio social na concepção de Muhammad Yunus

Muhammad Yunus pode ser chamado de pai dos negócios sociais (YUNUS

NEGÓCIOS SOCIAIS, 2014). Nascido em Bangladesh, em 1940, Yunus formou-se em

Economia pela Universidade de Dhaka em 1960 e obteve seu PhD na mesma área em 1969,

pela Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos. Retornando a seu país, no início da

década de 1970, identificou que as teorias aprendidas na universidade não refletiam as

necessidades de seu povo, que sofria com a fome, a desnutrição, a falta de acesso à água

potável, entre outras necessidades humanas básicas.

Ao conhecer uma mulher, Sufia Begum, que vivia com menos de dois centavos de

dólar por dia, Yunus descobriu que ela dependia do crédito de agiotas para conseguir bambu,

matéria-prima para produzir tamboretes, e que, devido a essa relação, precisava vender seu

produto ao próprio credor a um custo inferior ao do mercado. Ela e seus companheiros da

comunidade estavam inseridos em um ciclo vicioso gerador de pobreza, do qual não tinham

meios para se libertar. Yunus pediu então que uma de suas alunas fizesse uma pesquisa na

aldeia para levantar de qual quantia em dinheiro a comunidade precisava para pagar as

dívidas com os agiotas e poder começar a comprar a matéria-prima de seus produtos com o

próprio dinheiro. O valor, que beneficiaria 42 pessoas, era de 27 dólares. Yunus emprestou

essa quantia e a partir dessa experiência, em 1976, nasceu o Banco Grameen, formalmente

reconhecido como banco em 1983, o primeiro negócio social.

Yunus afirma ter certeza de que a pobreza e as condições precárias em que vivem

uma pessoa são resultado da falta de oportunidades, e não da capacidade do indivíduo, e, para

definir os procedimentos do Banco Grameen, disse que fez o oposto do que faz qualquer

outro banco (YUNUS, 2011).

Logo após o Banco Grameen, vieram outros negócios sociais, resultados de joint

ventures com grandes multinacionais, como o Grameen Danone, Grameen Adidas, Grameen

Veolia Waters, entre outros, conforme informações do Quadro 1 a seguir (YUNUS, 2010;

YUNUS, 2011).

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Quadro 1. Empresas Grameen

Problema endereçado Solução oferecida

Grameen Danone

Foods

Desnutrição infantil; redução da

pobreza.

Iogurte fortificado com

micronutrientes acessível; geração de

renda para comunidade local (desde

2007).

Grameen Veolia

Water

Água contaminada com arsênico nas

zonas rurais.

Água limpa por meio de pontos de

torneiras nas aldeias (desde 2008).

BASF Grameen Risco de malária em algumas partes de

Bangladesh.

Tela duradoura e acessível para

proteção contra o mosquito (desde 2009).

Grameen Intel Social

Business

Uso ineficiente de fertilizantes; falta de cuidados adequados à saúde

materna.

Soluções tecnológicas fáceis de usar

(desde 2009).

Grameen Yukiguni

Maitake Pobreza e desemprego.

Empregos para a camada pobre pelo

cultivo de feijão mung.

Grameen GC Eye

Care Hospital

Acesso limitado para tratamento

especializado dos olhos para os

pobres.

Exame acessível de cuidados dos

olhos e cirurgias para os pobres das

zonas rurais.

Grameen Caledonian

College of Nursing

Escassez de enfermeiros e falta de

acesso a cuidados médicos entre pobres e comunidades rurais.

Ensino de enfermagem para meninas

carentes (desde 2010).

Grameen Shakti Falta de eletricidade; ambiente

domiciliar insalubre.

Energia limpa (desde 2006) com:

energia domiciliar solar; fogões de

cozinha; unidades de biogás.

Grameen

Distribution

Falta de acesso a produtos básicos nas

zonas rurais.

Produtos sociais e de consumo

distribuídos porta a porta em áreas

rurais (desde 2011).

Grameen Fabrics &

Fashions Pobreza e desemprego.

Emprego para os pobres por meio de

produção local de itens como as telas

para mosquitos (desde 2012).

Fonte: Social Business Pedia, 2013, tradução nossa

Para Yunus (2010), o negócio social tem como objetivo a superação da pobreza ou a

busca de solução para um ou mais problemas ligados à educação, à saúde, à habitação, ao

acesso a tecnologia ou a qualquer outro tipo de bem ou de serviço que ameacem as pessoas e

a sociedade. Esse tipo de negócio deve ser sustentável e o lucro reinvestido na própria

empresa, para sua expansão ou melhoria de serviços ou produtos oferecidos. Além disso, a

empresa deve ser ambientalmente responsável, e os seus funcionários devem ter salários de

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36

mercado e condições de trabalho melhores do que as empresas tradicionais. A distribuição de

dividendos aos investidores não é permitida, uma vez que eles podem receber de volta apenas

a quantia investida.

A principal diferença entre um negócio social e um tradicional é a razão da sua

existência. No primeiro, o objetivo é atender a uma demanda da população, especialmente de

pessoas de baixa renda ou de baixo acesso a determinado serviço ou produto. Em um negócio

tradicional, a razão da existência é o lucro, mesmo que o produto ou o serviço oferecido seja

benéfico para a população, sendo ela de baixa renda ou não, ou que o motivo de sua

existência traga algum tipo de benefício profissional e pessoal para seu dono.

A ideia de Yunus difere das demais perspectivas de negócios com impacto social ou

de empresa social (são vistos mais detalhes sobre negócios com impacto social no item 2.3. e

empresas sociais no item 2.5.) ao redor do mundo principalmente por não ser permitido

distribuir dividendos aos investidores. O autor defende esse ponto baseado em três

argumentos:

“moral: é imoral lucrar à custa dos pobres” (YUNUS, 2010, p. 31);

“pragmático: o lucro sempre prevalece sobre as outras prioridades” (YUNUS, 2010, p.

32);

“sistêmico: é necessário criar negócios sociais como uma alternativa claramente definida,

separada dos mundos dos negócios e da caridade, a fim de mudar mentalidades,

remodelar estruturas econômicas e encorajar novas formas de pensar” (YUNUS, 2010, p.

33).

Yunus afirma ser muito difícil equilibrar a balança da busca pelo benefício social e

pelo lucro. Lucrar significa que um montante que poderia ser reinvestido para expandir o

negócio ou para melhorar bens e serviços oferecidos às pessoas pobres está sendo alocado

apenas em benefício dos próprios investidores, e o critério para definir o montante do lucro

prejudica o próprio objetivo do negócio social. Além disso, ao passar por uma dificuldade

financeira, a empresa arrisca a qualidade do serviço ou do produto oferecido à população com

o objetivo de manter o lucro, mesmo que ele seja mínimo. Muhammad Yunus afirma que, em

época de crise, um CEO pode se confrontar com estratégias contraditórias e deparar-se com

condições difíceis para manter uma empresa lucrativa aos seus acionistas e que, além disso,

gere bem-estar social. O impacto social não deve ser comprometido, e, na busca do lucro,

provavelmente a qualidade ou custo do produto serão alterados para manter a lucratividade.

Yunus definiu que os sete princípios para iniciar um negócio social são:

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1. O objetivo do negócio é a superação da pobreza ou de um ou mais problemas em

áreas como educação, saúde, acesso a tecnologia, meio ambiente, etc., que ameaçam as pessoas e a sociedade – e não a maximização dos lucros.

2. A empresa alcançará a sustentabilidade econômica e financeira.

3. Os investidores recebem de volta apenas o montante investido. Não se paga

nenhum dividendo além do retorno do investimento inicial.

4. Quando o montante do investimento é recuperado, o lucro fica com a empresa

para cobrir expansões e melhorias.

5. A empresa será ambientalmente consciente.

6. A força de trabalho recebe salários de mercado e desfruta de condições de

trabalho melhores que as usuais.

7. Faça-o com alegria!14 (tradução nossa).

Figura 2. Sete princípios básicos para iniciar um negócio social

Fonte: Yunus Centre

Os negócios sociais no modelo de Yunus prezam por salários competitivos e por

melhores condições de trabalho em comparação com as empresas tradicionais, pois um

negócio social não pode ser gerido com o risco de causar um problema social.

Todos esses elementos caracterizam o negócio social do tipo I (YUNUS, 2010). Há

também o negócio social do tipo II (YUNUS, 2010), representado por empresas comuns

14 Disponível em: <http://muhammadyunus.org/index.php/social-business/seven-principles>. Acesso em: 5 jan.

2015.

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desde que os proprietários estejam em condições vulneráveis. Nesse caso, o lucro gerado

apoia essas pessoas e as ajuda a se livrar da pobreza e/ou exclusão social. Os produtos ou

serviços oferecidos por essas empresas disputam igualmente com empresas tradicionais a

produção ou execução de qualquer produto ou serviço disponível. De acordo com Yunus, no

negócio social do tipo II, “os bens e serviços produzidos poderiam ou não criar um benefício

social. Na realidade, o benefício social por esse tipo de empresa emana de sua propriedade” e

“qualquer benefício financeiro gerado pelas operações da empresa ajudará os necessitados”

(YUNUS, 2008, p. 42).

No Brasil, em outubro de 2013, a cidade do Rio de Janeiro foi certificada como a

primeira capital de negócios sociais da América Latina, com a presença de membros do

governo e do Yunus Social Business (YSB). Como resultado dessa certificação, foram

criados uma plataforma para atrair investidores e, em fevereiro de 2014, um fundo de

investimento para microempreendedores de favelas pacificadas, com estimativa de cinco

milhões de reais em três anos (PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO, 2013).

Em relação à academia, em 2013, em parceria com a Escola Superior de Propaganda e

Marketing (ESPM), localizada em São Paulo, foi fundado o Yunus ESPM Social Business

Centre, com o objetivo de estimular empresas e indivíduos a adotar o conceito e as

oportunidades de negócio social, tendo como princípios:

Missão: estimular empresas, indivíduos e estudantes a promover negócios que

atuem na resolução de problemas sociais.

Visão: fomentar negócios vinculados ao desenvolvimento social.

Valores: unir o espírito empreendedor ao compromisso social; dar igualdade de

oportunidade para todos; apoiar a liberdade de mercado e a livre iniciativa

empresarial; estimular o uso consciente de recursos naturais (ESPM).

2.3. Negócio social na concepção de Prahalad - oportunidades na base da pirâmide

Outra abordagem para negócio social foi concebida por pesquisadores da

Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, embasados nas ideias de Prahalad.

Coimbatore Krishnarao Prahalad era indiano e professor da Universidade de

Michigan, nos Estados Unidos. Entre seus estudos e livros publicados, a obra A riqueza na

base da pirâmide – Erradicando a pobreza com o lucro obteve grande repercussão entre

administradores de empresa. Nessa obra, Prahalad (2008) aponta a oportunidade de se obter

lucro e combater a miséria por meio da produção e da venda de produtos e serviços para as

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pessoas mais pobres, classificadas como “a base da pirâmide” (BOP), incentivando as

empresas a direcionarem suas ações para esse segmento.

Prahalad e outros pesquisadores da Universidade de Harvard podem ser

considerados grandes influenciadores do modelo de gestão de empresas não só nos Estados

Unidos, mas ao redor do mundo. Um estudo realizado pelos também pesquisadores de

Harvard Rangan, Chu e Petkoski (2011) sugere uma divisão em três partes dos 4 bilhões de

pessoas consideradas a base da pirâmide: um grupo de 1 bilhão de pessoas que ganham até 1

dólar por dia; outro com 1,6 bilhão de pessoas que vivem com cerca de 1 a 3 dólares por dia;

e um terceiro grupo com 1,4 bilhão de pessoas que vivem com cerca de 3 a 5 dólares por dia.

O estudo aponta produtos e serviços que cada um dos grupos consome e/ou tem potencial

para consumir e destaca que as pessoas que ganham menos de 1 dólar por dia vivem em

condições muito precárias e são excluídas do mercado tanto como produtores como

consumidores, o que faz com que precisem de trabalhos remunerados e produtos baratos para

o dia a dia. Os autores apontam também as vantagens de se produzir para esses grupos da

base da pirâmide a custo baixo, porém com melhor qualidade, o que deve gerar um processo

de inovação nos processos e uma transformação na produtividade. Eles consideram o

potencial de consumo das populações mais pobres, do segmento de subsistência, mesmo que

modesto.

Em relação à participação da comunidade no processo de produção, Rangan, Chu e

Petkoski (2011) apontam a oportunidade de moradores locais serem treinados e atuarem

como trabalhadores na produção, no transporte e na venda de produtos de grandes empresas;

desse modo, a renda do trabalho poderia melhorar sua capacidade de consumo.

Contudo, eles alertam para o risco de as empresas acreditarem que fornecer produtos

e serviços para os pobres e integrar a população local ao trabalho seja suficiente para o

negócio ser considerado social, sendo que, muitas vezes, essas mesmas empresas são alvos de

protestos da própria população. Para unir valor comercial e social, Rangan, Chu e Petkoski

sugerem que as empresas simplifiquem suas operações para se tornarem economicamente

viáveis, de modo que criem incentivos para atrair as pessoas para a organização e

desenvolvam canais de distribuição para informar a população sobre o benefício do produto.

Os autores afirmam também que produzir e fornecer para a base da pirâmide

representa um risco para as empresas e que até os bem-intencionados e bem financiados

podem falhar; assim, são incentivadas parcerias com ONGs. Além disso, como serviços e

produtos para a base da pirâmide, como fornecimento de água potável, saneamento básico,

entre outros, requerem grandes investimentos, para que essas atividades garantam o lucro no

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longo prazo, é necessário também que se estabeleçam parcerias com o setor público, a fim de

se obter garantias para a recuperação dos custos, além de subsídios e exclusividade de

atuação no mercado.

Rangan, Chu e Petkoski (2011) apontam como pontos de sucesso a busca pelo valor

social em conjunto com o valor comercial e colocam a produção em grande escala como um

importante fator para lidar com os obstáculos da base da pirâmide.

Sob a influência da perspectiva de Prahalad, projetos de empresas tradicionais

voltados para a base da pirâmide estão presentes nas organizações brasileiras. Diversas

empresas passaram a olhar para o potencial de consumo das pessoas da base da pirâmide,

também chamadas no Brasil de classes C, D e E. A Escola de Administração da Fundação

Getúlio Vargas entrou como parceira nesse modelo de negócio e sedia o laboratório BOP no

país, com o objetivo de pesquisar e divulgar esse modelo de negócio no Brasil (HART,

2013). Uma reportagem da revista IstoÉ Dinheiro listou 50 empresas no Brasil que atuam sob

essa perspectiva, nacionais ou não, entre elas empresas de telefonia, bancos, fabricantes de

produtos de higiene e limpeza, supermercados, etc. (CAETANO; FREIRE, 2013).

Como estratégia para uma ação bem-sucedida das empresas que querem atuar com a

BOP, Barki e Parente (2010 apud BARKI, 2013) definiram os três “Rs” que o administrador

deve considerar: Reach (alcance), canais de distribuição e meios de acesso são necessários

para que o produto ou o serviço chegue até as pessoas da BOP; Relantioship

(relacionamento), se faz necessário criar uma relação de confiança com o consumidor; e

Relevance (relevância), o produto deve ser útil para o consumidor e não apenas barato.

Segundo Torres e Izzo (2013), esse modelo de negócio atua sobre os pilares do triple

win, no qual as empresas ganham por meio do lucro, os consumidores ganham por meio do

acesso aos produtos e serviços e a sociedade ganha por meio do processo de inclusão social

das pessoas da BOP.

Em relação à utilização do lucro, essa abordagem afirma que é possível a

distribuição de dividendos aos acionistas, o que faria com que mais investidores se sentissem

atraídos pelo modelo, e, portanto, os impactos sociais seriam mais rapidamente atingidos e

em maior escala.

No Brasil, os pesquisadores brasileiros Comini, Barki e Aguiar (2013) utilizam o

termo negócio com impacto social. Nessa categoria, segmentam em: “negócio social com

maior ênfase no social” para denominar organizações que atuam de maneira similar à

proposta por Muhammad Yunus, cujo principal objetivo é a redução da pobreza, sendo o

lucro reinvestido na própria organização, entre outras características; e “negócio social com

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maior ênfase no mercado” para denominar organizações que buscam acesso ao mercado da

base da pirâmide e nas quais a geração de valor social é relevante, mas não necessariamente o

principal objetivo, entre outras características. Essa segunda abordagem corrobora as ideias

de Prahalad.

2.4. A certificação do B lab e outras iniciativas dos Estados Unidos

Outra abordagem para a organização privada com objetivo social é representada pela

chamada B Corporation (Corporação B), uma certificação que surgiu em 2007, resultado da

iniciativa de três amigos, Jay Coen Gilbert, Bart Houlahan, e Andrew Kassoy, que estudaram

juntos na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, no final dos anos 1980 (MARQUIS,

KLABER; THOMASON, 2011).

Qualquer empresa privada ao redor do mundo pode receber a certificação concedida

por uma instituição sem fins lucrativos, chamada de B lab (laboratório B), desde que atenda

aos critérios por eles definidos de responsabilidade social e ambiental, de contabilidade e de

transparência. Até setembro de 2014, havia 1.116 empresas certificadas como B Corporation

em 121 segmentos de atuação, em 35 países.

O B lab pretende redefinir o que é considerado modelo de sucesso e tem como lema

que uma empresa deve ser “melhor para o mundo”, em vez de ser “melhor do mundo” (B

CORPORATION, 2014). Além disso, tem como objetivo que a empresa certificada direcione

parte ou todo o lucro obtido para causas sociais (YUNUS, 2010). A ideia é fazer da

certificação B uma marca valiosa e reconhecida pela sociedade, que identifique empresas

responsáveis (YUNUS, 2010).

Algumas organizações brasileiras começaram a aderir ao movimento da B

Corporation; até setembro de 2014, já havia vinte empresas certificadas no Brasil (B

CORPORATION).

Outra iniciativa do B lab é a chamada benefit corporation. Essa é uma estrutura

interessante de empresa, que deve ser criada e gerida de acordo com princípios de

sustentabilidade e de impacto social definidos pelo B lab; assim, ela não precisa da

certificação B Corporation, uma vez que sua criação e estrutura seguem necessariamente os

pré-requisitos da certificação. Até setembro de 2014, 27 estados dos Estados Unidos já

adotaram essa estrutura legal e 17 estão analisando a proposta. O objetivo da benefit

corporation é amparar gestores para que consigam priorizar impactos sociais positivos e

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42

também permitir que a comunidade tenha condições de identificar e de patrocinar as

empresas15

.

Há também a chamada Flexible Purpose Corporation (FPC), reconhecida como

estrutura legal apenas no estado da Califórnia. A diferença entre a FPC e a benefit corporation

é que o objetivo social da FPC pode estar representado em uma única atividade claramente

definida, e não em diversas e indeterminadas como na benefit corporation (FIELD, 2012).

Ainda sob forma legal, há também as chamadas L3Cs, Low Profit Limited Liability

Company, empresas híbridas, pois têm um objetivo social e também buscam o lucro. Entre os

principais objetivos da empresa não estão a geração de renda, embora não haja um valor

máximo determinado para os dividendos ou um órgão fiscalizador para verificar se a

distribuição de lucros está sendo abusiva (YUNUS, 2010). Até agosto de 2014, dez estados

norte-americanos já incluíram as L3Cs como uma forma legal de empresa, que já somam

1.072 organizações nos Estados Unidos16

.

As L3Cs devem ter como objetivo atividades filantrópicas ou educacionais e

correspondem a uma forma simples para que uma empresa com objetivo social receba

doações de fundações por meio do Program Related Investments (FIELD, 2012).

2.5. As empresas sociais da economia solidária

Outra perspectiva para organizações privadas com objetivos sociais são as chamadas

empresas sociais da economia solidária. Esse termo surgiu pela primeira vez na Itália, nos

anos 1980, para nomear organizações que preenchem um espaço não ocupado pelos governos

e pelas empresas privadas no fornecimento de bens de consumo e de serviços de interesse

geral. Em vez de reclamar dos governantes, a comunidade organiza-se para criar empresas e

solucionar os problemas, contando em seu início com trabalhos voluntários (BORZAGA;

DEPEDRI; GALERA, 2012).

Essas empresas, no contexto europeu, atuam principalmente na inserção de pessoas

em condições desfavoráveis no mercado de trabalho, no desenvolvimento social e local da

economia e na produção de bens e serviços para consumo que geram benefício social ou são

orientados por interesses coletivos (TRAVAGLINI; BANDINI; MANCINONE, 2010).

Oferecem também serviços diversos, como saúde, educação, cultura etc., sem custo ou a um

custo baixo para quem não pode pagar pelos produtos e serviços tradicionais.

15 Disponível em: <http://www.bcorporation.net/>. Acesso em: 18 jun. 2014. 16 Disponível em: <http://www.intersectorl3c.com/l3c_tally.html>. Acesso em: 27 set. 2014.

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Em relação à gestão, geralmente as empresas sociais possuem um gerenciamento

coletivo, que deriva de associações e de cooperativas, tendo como objetivo assegurar: a) a

participação dos stakeholders, incluindo a comunidade que se beneficia dos produtos ou

serviços; b) a identificação das necessidades dessa comunidade; c) o cumprimento dos

objetivos sociais; d) a distribuição justa dos lucros, de maneira a beneficiar todos os

envolvidos; e) o bem-estar dos funcionários; f) o compartilhamento da missão da empresa

entre todos os stakeholders, a fim de envolvê-los na motivação no trabalho, além da

motivação monetária; g) a distribuição da informação em vez de centralizá-la em estruturas

mais formais de gestão (BORZAGA; DEPEDRI; GALERA, 2012).

Esse modelo é contrário à hierarquia rígida e ao controle e à utilização de poder

monetário como motivação. Com a restrição de distribuição de lucros nessas empresas, é

estimulado o envolvimento de stakeholders que estejam alinhados com os objetivos da

empresa, de funcionários que sejam comprometidos com o objetivo social dela e que aceitem

baixa remuneração, quando comparada às das empresas tradicionais, bem como de

financiadores que aceitem receber retorno abaixo do custo de mercado de capitais. Atendem-

se, em geral, pessoas que não conseguem comprar produtos ou contratar serviços de empresas

privadas e que não são consideradas carentes para receber apoio do governo.

Nas empresas tradicionais, o relacionamento com os stakeholders é baseado em

transações de mercado, enquanto nas empresas sociais o relacionamento se baseia em

confiança, em conhecimento e em parceria, fazendo com que a empresa tenha boa reputação

na comunidade em que atua. Esses stakeholders são membros da comunidade com

conhecimentos diversos, alguns são contratados como funcionários e outros atuam como

voluntários (BORZAGA; DEPEDRI; GALERA, 2012), com grande envolvimento nos

processos de decisão, que não são baseados no capital e, sim, no “um voto por membro”

(TRAVAGLINI; BANDINI; MANCINONE, 2010).

Empresas sociais tendem a enfrentar algumas das dificuldades de organizações sem

fins lucrativos por adotarem modelos similares de captação de recursos financeiros, contando

com doações e investidores externos e também com a gestão de seus funcionários, que

recebem salários abaixo do mercado. Na visão de Borzaga, Depedri e Galera (2012), essa

característica exclui funcionários que não estejam alinhados com os objetivos sociais da

empresa.

Por outro lado, e conforme relatado por esses autores, as empresas sociais:

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promovem trabalho voluntário, melhoram a divulgação de conhecimentos e de

normas sociais dentro da comunidade, aumentam a confiança e a cooperação e

reforçam relações e coesão social. Finalmente, as relações com a comunidade local

fortalecem os princípios de equidade, as ações coletivas, o comportamento altruísta

e causam um impacto sobre a marginalização social de usuários e dos trabalhadores

desfavorecidos de empresas sociais (BORZAGA; DEPEDRI; GALERA, 2012, p.

407).

As empresas sociais estão evoluindo de acordo com a habilidade de seus gestores em

interagir com os governantes. Em países que possuem uma gestão mais descentralizada dos

serviços públicos é mais comum o surgimento dessas empresas como resposta eficaz diante

de dificuldades governamentais, como a crise fiscal (BORZAGA; DEPEDRI; GALERA,

2012).

Em relação à legislação, diversos países estão criando suas próprias leis para

formalizar as empresas sociais. Com o objetivo de identificar modelos de governança de

empresas sociais na Europa e afirmando que a legislação interfere no modelo das empresas,

os pesquisadores Travaglini, Bandini e Mancinone (2010) identificaram que doze países

possuem uma lei específica para empresa social e dividiram os países em dois grupos: o

primeiro por França, Grécia, Polônia, Portugal e Espanha, devido às cooperativas sociais; e o

segundo pela Bélgica, Finlândia, Itália, Letônia, Lituânia, Espanha e Reino Unido, devido às

empresas sociais. As principais características dessas leis estão descritas nos quadros dos

anexos 1 a 6.

No Brasil, organizações com objetivos e atuações similares são chamadas de

empreendimentos solidários, e compõem o movimento da Economia Solidária. Esses

empreendimentos se opõem a qualquer modelo de empresa definido pelas teorias dominantes

por contar (não como opção, mas por falta de alternativa) com mão de obra considerada

desqualificada, apresentar pouca escala de produção e baixa produtividade de bens e serviços.

O lucro não é o objetivo principal, mas a satisfação de necessidades cotidianas de maneira

autossustentável, sem filantropia (RÊGO, 2013).

Esses chamados empreendimentos solidários tiveram origem em grupos de

trabalhadores que se uniam para tentar sair do desemprego e, com o apoio de outras

instituições como Igreja, ONG e sindicato, começaram a formar associações e cooperativas

(VECHIA et al., 2011). O movimento faz parte de uma economia substantiva e vem

ganhando força e destaque a cada ano, demonstrando uma nova possibilidade de mercado que

valoriza as relações entre as pessoas em vez do dinheiro apenas. Esses empreendimentos

existem em zonas rurais e urbanas e em diversos setores, como bancos solidários, feiras de

troca, produção de alimentos, prestação de serviços diversos, e são de autogestão,

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fortalecidos pelos laços comunitários. Eles atuam sob um ambiente constitucional e tributário

desfavorável, muitas vezes sob a lei das cooperativas, que não é suficiente para endereçar as

necessidades e as diversidades do setor. Como a economia solidária ainda é desconhecida por

muitas pessoas na sociedade brasileira, é possível que existam muitas outras organizações

que seguem os mesmos critérios, mas ainda não se juntaram ao movimento (RÊGO, 2013, p.

45).

Rêgo (2013) identificou como oportunidade para os empreendimentos de economia

solidária a relação direta entre produtor e consumidor. Ao se eliminar intermediadores, é

possível remunerar melhor os produtores e cobrar um menor valor dos consumidores,

contribuindo com um consumo mais responsável por meio da eliminação da concentração de

poder nas mãos dos “atravessadores”. Além disso, esse autor aponta a importância de

construção e da gestão de redes sociais entre os empreendimentos para facilitar a compra de

matéria-prima, acesso ao crédito, entre outros, além da articulação entre produtores e

consumidores, a fim de se conseguir uma relação mais justa e mais participativa para todos.

Em 2003, foi criada a Secretaria Nacional de Economia Solidária no Brasil, a

SENAES, sob a coordenação de Paul Singer, com o objetivo de “viabilizar e de coordenar

atividades de apoio à Economia Solidária em todo o território nacional, visando à geração de

trabalho e de renda, a inclusão social e a promoção do desenvolvimento justo e solidário”17

.

Para o Sistema de Informação da Economia Solidária (SIES), desenvolvido pela

SENAES e pelo Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), um empreendimento

solidário tem as seguintes características:

coletivas – serão consideradas as organizações suprafamiliares, singulares e

complexas, tais como: associações, cooperativas, empresas autogestionárias,

grupos de produção, clubes de trocas, redes etc.;

cujos participantes ou sócios(as) são trabalhadores(as) dos meios urbano e rural

que exercem coletivamente a gestão das atividades, assim como a alocação

dos resultados;

permanentes, incluindo os empreendimentos que estão em funcionamento e

aqueles que estão em processo de implantação, com o grupo de participantes

constituído e as atividades econômicas definidas;

que disponham ou não de registro legal, prevalecendo a existência real; e

que realizam atividades econômicas de produção de bens, de prestação de

serviços, de fundos de crédito (cooperativas de crédito e os fundos rotativos

populares), de comercialização (compra, venda e troca de insumos, produtos e

serviços) e de consumo solidário (SENAES, 2013).

Em relação à legislação, atualmente há uma tentativa de se apresentar um projeto de

lei para garantir o reconhecimento dos empreendimentos solidários, sem ainda formalizar ou

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legalizar os próprios empreendimentos. É necessário que 1% do eleitorado brasileiro assine o

pedido para que ele seja considerado de iniciativa popular18

.

No documento resultante da II Conferência Nacional de Economia Solidária (2010),

que debateu o tema “O direito às formas de organização econômica baseadas no trabalho

associado, na propriedade coletiva, na cooperativa e na autogestão”, é reafirmada a

necessidade de reconhecimento da economia solidária como estratégia e política de

desenvolvimento sustentável e como um direito de cidadania, cujo objetivo é a redução da

desigualdade de renda e de riqueza, contrário às práticas do capitalismo. No modelo de

autogestão, os trabalhadores contam com a inteligência um dos outros; são responsáveis pelo

território onde atuam e os ganhos da produção são repartidos entre todos os envolvidos nesse

processo. Além disso, a produção deve atender a necessidade do grupo, e não há produção e

consumo em massa (CONFERÊNCIA NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2010).

Esse reconhecimento deve viabilizar maior informação e maior educação sobre os

empreendimentos, acesso ao crédito, ampliação de instrumentos de comercialização dos

produtos e dos serviços e sua compra também por órgãos governamentais (CONFERÊNCIA

NACIONAL DE ECONOMIA SOLIDÁRIA, 2010). Os empreendimentos solidários no

Brasil ainda estão se consolidando como um modelo econômico, e seus empreendedores e

demais envolvidos no processo estão lutando para que oportunidades e incentivos sejam

oferecidos a esses negócios.

2.6. Análise sobre as diferentes concepções de organizações privadas com objetivos

sociais

As organizações com objetivos sociais surgem como uma resposta da sociedade para

solucionar problemas sociais e abrangem diversos atores da sociedade, como ONGs,

fundações, entidades governamentais e empresas tradicionais. Em relação às empresas

tradicionais, algumas já nascem com esse propósito e recebem novas denominações como

inclusivas e sociais, outras estão se adaptando, seja por causa de exigência legal (destinação

de cotas para trabalhadores com necessidades especiais nas grandes empresas, por exemplo),

seja pela pressão de uma nova geração mais engajada na busca pelo desenvolvimento social.

17 Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/ecosolidaria/apresentacao-1.htm>. Acesso em: 5 jan. 2015. 18 Disponível em: <http://cirandas.net/leidaecosol/por-que-uma-lei-da-economia-solidaria>. Acesso em: 5 jan.

2015.

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Do ponto de vista do impacto social, é possível considerar que há uma multiplicidade

de concepções e ações que, juntas, interferem de maneira positiva na redução da pobreza, na

inclusão social e na melhora da condição de vida de toda a sociedade. A principal diferença

percebida entre os diferentes modelos de negócios sociais e inclusivos se dá na utilização do

lucro, que pode ser reinvestido integralmente na melhoria ou expansão do próprio negócio,

ou apropriado pelos acionistas. Ainda não há estudos comparativos que indiquem qual das

concepções tende a gerar mais impacto social positivo.

Do ponto de vista dos estudos administrativos, é interessante segmentar as atuações

para melhor definir as possíveis estratégias de gestão de cada concepção, uma vez que os

objetivos, impactos, modelos de gestão e público-alvo envolvidos na gestão e mão de obra do

negócio, bem como os stakeholders, podem ser distintos.

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3. MÉTODO E PROCEDIMENTOS

Neste capítulo serão apresentados o método e os procedimentos adotados nesta

pesquisa para atingir o objetivo geral e os objetivos específicos propostos para este trabalho,

que podem ser divididos em duas etapas.

Na primeira etapa, foi realizada uma pesquisa exploratória sobre o tema negócio

social a partir do conhecimento da existência de bancos comunitários no Brasil e do Banco

Grameen e também, por meio desse estudo, pela descoberta de um modelo de negócio cuja

existência é benéfica especialmente para pessoas em condições vulneráveis.

Devido ao interesse nesse novo modelo de negócio, foi possível identificar uma das

concepções de negócio social, a de Muhammad Yunus, e em seguida a outras perspectivas ao

redor do mundo, além da constatação da imprecisão nas denominações dos negócios – o

mesmo termo pode ser utilizado para se referir a negócios com características diferentes, e

negócios com características iguais podem receber mais de um nome. Além disso, foi

possível identificar, por meio de pesquisa em sites e artigos acadêmicos que abordam o tema

do negócio social, que incubadoras de empresas no Brasil também criam seus próprios

conceitos de negócio social e trabalham para desenvolver iniciativas sociais. São as chamadas

incubadoras sociais.

Foi então iniciado um trabalho de levantamento de informações sobre as incubadoras

de empresas. Com a exploração desses dois temas, surgiu a pergunta de partida: como se dá a

atuação de incubadoras sociais de negócios inclusivos?

A partir dessas constatações e da pergunta de partida, delimitou-se a pesquisa

bibliográfica e documental para a elaboração de um capítulo teórico sobre negócios

inclusivos (e variações do termo) e de um capítulo sobre incubadoras de empresas, para

serem utilizados como uma lente teórica para a condução do estudo empírico, conforme

indicado por Creswell (2007 apud CRESWELL, 2010). Em seguida, estabeleceu-se a

proposição da pesquisa: as práticas das incubadoras de empresas de base tecnológica e

tradicional não são suficientes para as necessidades de uma incubadora social.

Na segunda etapa, foi realizada uma pesquisa empírica com a incubadora social da

Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari, localizada no município de

Suzano, em São Paulo, e duas empresas graduadas do primeiro ciclo de incubação, com a

finalidade de analisar a atuação de uma incubadora social de negócio inclusivo por meio de

suas atividades, resultados e impactos sociais, a partir da comparação da percepção do

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coordenador da incubadora e dos gestores das duas empresas incubadas (o que corresponde

ao objetivo geral deste trabalho).

Para isso, optou-se por uma abordagem “qualitativa” (Severino, 2007, p. 119), que,

segundo Flick (2000 apud Günter, 2006, p. 202), aponta “a primazia da compreensão como

principio do conhecimento, que prefere estudar relações complexas ao invés de explicá-las

por meio do isolamento de variáveis”. Segundo Creswell (2007 apud Creswell, 2010), a

pesquisa qualitativa possui as seguintes características, entre outras, que são importantes e

consideradas para o presente estudo:

é utilizada uma lente teórica para conduzir o estudo (no caso do presente trabalho, essa

lente corresponde aos capítulos sobre negócios inclusivos e incubadoras de empresas);

o pesquisador é um instrumento fundamental para coletar os dados, por meio da consulta

a documentos e da entrevista direta com os participantes;

o pesquisador elabora seu próprio roteiro de entrevista;

o plano da pesquisa pode ser alterado durante o processo, caso seja adequado para melhor

coletar os dados;

deve-se identificar o significado que os participantes dão ao tema estudado, e não apenas

considerar o significado que os pesquisadores expressam sobre o assunto;

os dados são examinados e deles são extraídos os sentidos;

a análise dos dados é interpretativa e não pode ser desvinculada da origem, história e

conhecimentos anteriores do pesquisador.

3.1. Estratégia de investigação da pesquisa empírica

O método adotado para a pesquisa qualitativa é o estudo de caso, pois:

A essência de um estudo de caso, a tendência central entre todos os tipos de estudo

de caso, é que ele tenta iluminar uma decisão ou conjunto de decisões: por que elas

são tomadas, como elas são implementadas e com que resultado (SCHRAMM, 1971

apud YIN, 2010, p. 38).

De acordo com Yin (2010), esta pesquisa é um estudo de caso único integrado. É

único, pois trata da análise de uma única incubadora, a Escola Empreendedora de Corte e

Costura da Fundação Jari, e integrado, pois também analisa, além da incubadora, outras duas

empresas que nasceram por meio dela. Para Yin, admite-se o estudo de caso único quando se

trata de um estudo revelador. Incluir as empresas graduadas no estudo de caso da incubadora

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é relevante pois o estudo integrado “permite que seja desenvolvido um projeto mais

complexo” (YIN, 2010, p. 76).

Para a seleção do estudo de caso, a autora utilizou a ferramenta de busca do Google

com as palavras-chave “incubadora social”, “incubadora negócio social” e “incubadora

negócio inclusivo”. Em seguida foram realizados contatos telefônicos com as incubadoras

localizadas na cidade de São Paulo para identificar o tipo ou modelo de negócio social

desenvolvido por elas. A busca estava centrada em uma incubadora que incluísse pessoas em

condição vulnerável no sistema produtivo e não pertencesse à economia solidária. Nesse

processo, as próprias incubadoras contatadas indicaram outras incubadoras. Porém, o objeto

de estudo desta pesquisa, a incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da

Fundação Jari, foi identificado durante uma visita informal a outra incubadora de negócio

social (do tipo I de Yunus), na qual a incubadora estudada participava de um processo de

incubação.

A incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari foi

selecionada por caracterizar-se como uma incubadora social que desenvolve

empreendimentos cujos proprietários são prioritariamente pessoas que estavam em condições

de vulnerabilidade social. Além disso, a incubadora já concluiu um ciclo de incubação, e as

empresas graduadas estão no mercado há nove meses, sendo assim possível analisar as

práticas da incubadora, bem como os resultados do ciclo e os impactos até o momento, da

perspectiva da incubadora e de duas empresas já graduadas. Outro fator de seleção dessa

incubadora foi a pronta disponibilidade de um dos coordenadores em participar da pesquisa,

além da facilitar o contato com as empresas graduadas, que serão chamadas neste trabalho de

empresa 1 e empresa 2.

3.2. Método para coleta de dados

Para a coleta dos dados, trabalhou-se com dados primários e secundários. Os dados

secundários da incubadora foram obtidos por meio do site da organização, no qual foi possível

identificar o ano de fundação, os princípios, os objetivos, a abrangência, uma breve descrição

da implantação de uma nova incubadora e o projeto que serviu de referência ao projeto que é

objeto de estudo desse trabalho.

Os dados primários da incubadora foram obtidos por meio da realização de uma

entrevista com um roteiro semiestruturado (Anexo 7), com 12 questões previamente definidas

com base no referencial teórico, no conhecimento prévio da autora e nos objetivos geral e

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específico deste trabalho; algumas questões foram modificadas e outras foram inseridas

durante o processo, de modo a não se interromper a fala do entrevistado e facilitar a obtenção

das informações desejadas. A entrevista com o coordenador da incubadora foi realizada em 19

de novembro de 2014 e teve duração de aproximadamente 50 minutos, em um local na cidade

de São Paulo não vinculado à incubadora, pois aproveitou-se a oportunidade de o coordenador

estar na cidade de São Paulo (local de residência da autora). Durante a entrevista foram

coletados os dados relativos às etapas do processo de incubação, às práticas da incubadora nas

etapas e ao número de empresas graduadas. Ainda sobre a incubadora, uma visita foi realizada

pela autora no dia 9 de dezembro de 2014, para verificar e fotografar sua infraestrutura

(Anexos 9 a 13).

Em relação aos dados das empresas graduadas, todos são primários. Por meio da

realização de entrevistas também feitas pela autora deste trabalho, foi possível obter as

informações sobre as empresas, bem como as percepções de suas gestoras em relação à

incubadora.

As entrevistas com as gestoras das empresas graduadas foram realizadas nas próprias

empresas 1 e 2, também com base no referencial teórico deste trabalho, no conhecimento

prévio da autora, nos objetivos geral e específico e nas respostas obtidas na entrevista com o

coordenador da incubadora sobre as práticas, resultados e impactos da incubadora. A

entrevista com a empresa 1 foi realizada em 29 de novembro de 2014, com duração

aproximada de 40 minutos, e a entrevista com a empresa 2, em 9 de dezembro de 2014, com

duração aproximada de 30 minutos. Em ambos os casos foi utilizado um roteiro

semiestruturado com 24 perguntas (Anexo 8) para guiar a conversa, porém ele foi utilizado

apenas para garantir que nenhum ponto que se pretendia cobrir estava sendo esquecido. Pode-

se dizer que a entrevista ocorreu mais como uma conversa informal.

Antes da realização das entrevistas, as pessoas entrevistadas foram avisadas de que os

dados coletados seriam utilizados neste trabalho e foram colhidas pela autora autorizações

assinadas pelos participantes para a utilização dos dados.

3.3. Procedimento de transcrição das entrevistas e apresentação e análise dos dados

As entrevistas foram transcritas de maneira a representar a fala dos entrevistados, e

somente após a transcrição foram realizadas correções ortográficas e gramaticais a fim de

facilitar a leitura e o entendimento dos dados. Nomes próprios de empresas citadas foram

substituídos pelos termos “a empresa” ou “essa empresa”. Após a transcrição, a autora

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eliminou as informações repetidas que foram apresentadas ao longo das entrevistas e agrupou

as informações de acordo com categorias criadas com base no referencial teórico e nos

objetivos geral e específico, são elas: infraestrutura, etapas do processo de incubação e as

práticas dessas etapas, resultados da incubadora e impactos da incubadora. Essas categorias

serviram de base também para a análise dos dados.

As informações obtidas pelo coordenador da incubadora foram confrontadas com as

recebidas dos participantes das empresas graduadas, por categorias, de modo a verificar se a

percepção do coordenador da incubadora correspondia à percepção das gestoras das empresas

graduadas. Além disso, as concepções teóricas apresentadas no capítulo 1, sobre incubadoras

de empresas, e no capítulo 2, sobre concepções de organizações privadas com objetivos

sociais e, especialmente, as melhores práticas, infraestrutura e serviços esperados, foram

confrontadas com os dados obtidos para analisar a própria ação da incubadora e os resultados

e impactos obtidos.

Para analisar os dados, optou-se pela estratégia analítica, que considera a proposição

teórica, uma vez que a proposição ajuda “a focar a atenção em determinados dados e a ignorar

outros” (YIN, 2010, p. 159).

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4. O ESTUDO DE CASO: A INCUBADORA DA ESCOLA EMPREENDEDORA DE

CORTE E COSTURA DA FUNDAÇÃO JARI

Com o objetivo de contextualizar o ambiente no qual atua a incubadora de empresa

Escola Empreendedora da Fundação Jari, breves informações socioeconômicas sobre a

Fundação Jari e sua atuação e sobre a cidade de Suzano, no estado de São Paulo, na qual a

incubadora está instalada, são apresentadas a seguir, antes dos dados obtidos durante a

pesquisa empírica.

4.1. A Fundação Jari

Fundada em 1994, a Fundação Jari é uma instituição sem fins lucrativos do Grupo

Jari, que atua nos segmentos de madeira certificada, celulose, minerais e produtos não

madeireiros e que anualmente contribui com 1% de seu faturamento bruto para a fundação –

até 2009, esses investimentos somaram 150 milhões de reais. A fundação tem como princípio

atuar em rede para ampliar o alcance de suas ações, estabelecendo parcerias com diversos

atores da sociedade como governo, empresas tradicionais, institutos, ONGs, entre outros, nas

áreas de educação, saúde, garantia de direitos humanos, meio ambiente, cultura e geração de

emprego e renda. O objetivo da fundação é disseminar modelos de tecnologias sociais que

possam ser adotados e multiplicados pelos parceiros. A Fundação Jari está presente

atualmente nos estados brasileiros do Pará, Amapá, Goiás e São Paulo.

Na prática, a Fundação Jari inicia um trabalho com a delimitação de um território. Em

seguida, diversos atores dessa localidade são envolvidos para elaborar um Plano de

Desenvolvimento Local, que contém propostas de crescimento social, econômico e financeiro

para a localidade. Durante esse processo, a fundação atua na sensibilização dos atores sociais,

no estudo da viabilidade social e também na realização de monitoramento e avaliação de tudo

o que está sendo elaborado.

Depois de concluída a etapa de elaboração do Plano de Desenvolvimento Local, por

meio da Promoção do Desenvolvimento Local, são implantados os projetos definidos para o

território19

.

19 Informações obtidas no site da fundação. Disponível em: <http://www.fundacaojari.org.br/pt/historia.aspx>.

Acesso em: 11 dez. 2014.

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4.2. A cidade de Suzano

A cidade de Suzano foi fundada em 1948 em uma área de 205.865 km2. Desde antes

da fundação da cidade, a localidade atraiu e atrai indústrias e empresas principalmente por ser

uma localidade de fácil acesso a rodovias que conduzem ao litoral e ao interior do estado de

São Paulo. Embora seja referência industrial e comercial e possua o maior Produto Interno

Bruto (PIB) da região, é considerado o quarto município mais pobre da localidade e o décimo

sexto de todo o estado de São Paulo (com base no PIB per capita). Isso ocorre porque a

riqueza está concentrada nas mãos de poucos, o que gera uma grande desigualdade social20

.

4.3. A incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari

Um dos projetos desenvolvidos pela Fundação Jari e que serviu de referência para a

incubadora aqui analisada é o projeto Agulhas Versáteis, idealizado em 2003, que atua na

região do Vale do Jari, nos estados do Pará e Amapá. Por meio dele, estimula-se o

empreendedorismo em mulheres do local para incluí-las no sistema produtivo, o que garante a

profissionalização, a conscientização sobre cidadania e direitos humanos e a geração de renda

para essas mulheres. Em 2009, essas empreendedoras produziram aproximadamente 10 mil

unidades de vestuário por ano para prestadores de serviços do Grupo Jari e outras empresas da

região e cada empreendedora pôde ter uma renda por volta de dois salários mínimos.

Em 2012, foi implantado um projeto similar na cidade de Suzano, chamado de Escola

Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari, objeto de estudo deste trabalho.

A incubadora da Escola Empreendedora é 100% social. É uma incubadora de corte e

costura realizada em parceria com a Petrobras e a prefeitura da cidade de Suzano. Atualmente

tem um processo de incubação já concluído e um segundo processo em andamento.

Infraestrutura: a Escola Empreendedora está instalada em um sobrado emprestado

pela prefeitura de Suzano e localizado no bairro Palmeiras (Anexos 9 e 10). No andar térreo,

em duas salas (Anexos 11 e 12), estão instaladas as máquinas de costura, um banheiro

feminino e um banheiro masculino, uma copa e um depósito. No andar superior, há mais uma

sala com máquinas de costura (Anexo 13), a sala dos coordenadores, um banheiro masculino

e um banheiro feminino e uma sala com computadores para a Escola Empreendedora de

20 Disponível em: < http://www.encontrasuzano.com.br/suzano/>. Acesso em: 11 dez. 2014.

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Tecnologia da Informação, que treina e capacita jovens para entrar no mercado de trabalho ou

abrir seu próprio negócio.

Recrutamento: para o recrutamento de participantes, são realizados anúncios nas

mídias locais, que avisam que será realizada uma seleção para o curso de corte e costura. A

participação no curso gera a oportunidade de incubação. Para o primeiro processo, que teve

início em 2012 e terminou no início de 2014, 500 pessoas se inscreveram para um total de 80

vagas.

Processo seletivo: o processo seletivo é rigoroso e segue alguns critérios. O primeiro

critério é que a participante deve estar em condição de vulnerabilidade alta. Segundo o

coordenador, por vulnerabilidade alta se entende, por exemplo, pessoas que estão na linha da

miséria, ou que sofrem algum tipo de violência doméstica, ou que possuem renda per capita

de R$ 30,00 por mês. Esse é o público prioritário, e não exclusivo.

A avaliação do perfil do participante é realizada por meio de um questionário online

disponível no site da incubadora. A partir dele, uma assistente social realiza uma entrevista

para investigar a situação social em que a pessoa se encontra. Nas palavras do coordenador,

“chega gente lá de carro importado querendo fazer o curso. Então essa pessoa tem condição

de pagar o curso de corte e costura”; “tem muitas pessoas que querem ir lá para passar o

tempo e pensam: ah, então vou costurar. Lá não é o lugar, então a gente consegue identificar

essas pessoas também”.

Prioritariamente, as pessoas devem estar em condições de vulnerabilidade alta, embora

haja outros casos, conforme palavras do coordenador: “Não tem ninguém que tenha um

salário de R$ 5.000,00 e que está fazendo o curso lá, isso não. A gente tem um processo que a

gente pergunta se tem água encanada, se já sofreu algum tipo de violência, enfim, é um

questionário muito extenso, se tem esgoto, como que é a casa, se é alugada, se é invadida,

enfim, a gente traça um perfil”. Mesmo assim é possível ter falhas, pois, de acordo com o

coordenador, “tem pessoas que sabem mentir muito bem. Então assim acaba fazendo (o

curso)”.

Pré-incubação: o curso de corte e costura é conduzido por uma professora do SENAI,

resultado de uma parceria dessa instituição com a Fundação Jari. O curso é pago pela

fundação e segue a metodologia do SENAI, mas com algumas adaptações feitas pela

fundação, para adequar o método empresarial e a linguagem empregada ao público do curso.

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A infraestrutura oferecida para o curso contempla: espaço físico; máquinas de costura,

incluindo sua regulagem e conserto quando necessário; material; lanche (o curso tem um

intervalo depois de duas horas de aula); água, luz e telefone.

Nos seis primeiros meses, período correspondente ao curso, o trabalho de pré-

incubação tem foco na formação dos participantes em técnicas de costura, ensino que é

totalmente voltado para a prática. O público é formado geralmente por mulheres.

Nesses seis meses de treinamento em técnicas de corte e costura, a metodologia da

incubadora permite que, na 18a semana, em geral, podendo variar para menos ou para mais, as

participantes já comecem a gerar renda para elas. Isso é permitido porque as participantes

precisam garantir suas necessidades básicas, como alimentação, e não podem aguardar um

período muito grande para começar a obter renda, caso contrário elas podem desistir de

participar do treinamento, buscando outras oportunidades remuneradas fora da incubadora.

A renda é originada da própria produção das participantes. A incubadora ensina as

técnicas e faz a conexão entre as participantes e o mercado, essencialmente no início. Para

isso, ela já conta com alguns clientes parceiros nessa primeira etapa. Como a incubadora não

tem fins lucrativos e não cobra nada para a utilização da infraestrutura e dos demais serviços,

incluindo material e treinamento, 100% do lucro é destinado às participantes produtoras.

Quando as participantes optam por passar para a próxima etapa, que corresponde a um

período de um ano e meio de incubação, os custos de matéria-prima e serviços, como água,

luz, telefone, etc., são precificados no valor da venda da mercadoria.

O curso foi realizado às segundas e quartas-feiras ou às terças e quintas-feiras, com

duração de 4 horas por dia, ou às sextas-feiras, com duração de 8 horas. É realizado dessa

maneira, com aulas duas vezes na semana ou em um único dia inteiro, para que as

participantes tenham tempo para poder gerar negócio e renda. Para isso, elas utilizam as

máquinas da incubadora. Se a Escola Empreendedora utilizar as máquinas em tempo integral,

oferecendo outros períodos para o curso, as participantes irão conseguir gerar negócio e renda

somente a partir do sexto mês.

Após os seis meses do processo de aprendizado, a participante já sabe costurar, porém

não com muita eficiência. Há mais de 18 modelos de máquinas, e não é possível aprender a

utilizar todas com destreza, porém as participantes adquirem ao menos uma noção de como

manusear essas máquinas. Pode-se dizer que terminam o curso sabendo costurar, mas não

com tanta precisão e velocidade. Nesse momento há dois caminhos: a participante pode optar

por ir para a incubadora e participar dos grupos produtivos ou trabalhar no mercado, a opção é

pessoal. A incubadora é sempre procurada por empresas da região e pelo sindicato de

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vestuário e de tecidos em busca de mão de obra, dado que costureiras estão em falta no

mercado de trabalho, sendo esse, aliás, um dos fatores na abertura dessa escola

empreendedora. Quando uma incubadora vai iniciar qualquer tipo de atividade, deve ser

verificada a viabilidade do próprio negócio, conforme retratado na própria fala do

coordenador: “quando a gente vai fazer qualquer tipo de incubadora a gente vê a viabilidade

do negócio, não é: ah, vamos abrir costura porque a gente acha que é bonitinho costurar, não,

a gente faz um estudo de viabilidade para ver qual é o mercado hoje que está crescendo. No

caso de Suzano é escola de confecção, por isso que a gente focou na confecção”.

Geralmente, nos seis primeiros meses, as participantes já realizam seu cadastro como

microempreendedora individual, com CNPJ e e-mail, porque precisam gerar nota fiscal para

conseguir vender os produtos. Os clientes não aceitam qualquer recibo, e a fundação não gera

nota fiscal para elas. É fornecida às participantes toda a assessoria jurídica e contábil

necessária, pelos próprios coordenadores.

Portanto, algumas participantes vão para o mercado de trabalho e outras optam por

empreender e ser donas do próprio negócio. A partir daí, tem início o primeiro ciclo de

incubação. No primeiro processo, das 80 participantes do curso, aproximadamente 25 optaram

pelo ingresso na incubadora.

Primeiro ciclo de incubação: No primeiro ciclo de incubação, que tem duração de

seis meses, as participantes continuam produzindo, e, do lucro obtido, 10% do valor é

guardado pela incubadora, para que possa ser resgatado pela agora empreendedora ao final da

incubação.

Nesse período, as participantes continuam aprendendo a costurar, além de terem

também um treinamento de empreendedorismo na prática, no qual aprendem a acessar o

mercado, a lidar com o fornecedor, a formar preço de venda, enfim, aprendem toda a parte

administrativa do negócio. Nesse momento, embora não sejam cobrados itens de

infraestrutura, como água, luz, telefone e combustível, os valores gastos com esses recursos

são precificados. Essa precificação ocorre para que as empreendedoras tenham noção de

quanto irão gastar com essa estrutura após a saída da incubadora, já que, uma vez graduadas,

o negócio passa a ser por conta e risco delas. Esse processo é realizado dessa maneira porque,

nas palavras do coordenador, “se ela aprende na teoria tudo é maravilhoso, mas na hora que

vai pôr na prática ela vai se perder”.

O carro-chefe da produção é a confecção de uniformes industriais. De acordo com o

coordenador, “a gente não tá preocupado em fazer modinha, que não dá dinheiro”, além de ter

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sido constatado pela fundação que a China não atua no mercado de roupas industriais no

Brasil. As empreendedoras, porém, sabem produzir outras peças – por exemplo, um dos

clientes não compra uniforme industrial, e, assim, para essa empresa, elas confeccionam jogos

americanos de patchwork.

Elas aprendem também a negociar com os clientes. Quando foi oferecido para essa

empresa, o modelo original do jogo americano tinha um custo de produção muito alto e teria

que ser vendido, a unidade, a R$ 46,00. O cliente afirmou que não tinha público para isso.

Então, foi realizado um trabalho inverso: determinou-se o preço de venda e foram verificadas

as possibilidades de produção para se atingir esse valor. Atualmente é fornecido um kit com

dois jogos americanos ao preço de venda de R$ 23,60.

As empresas entram no mercado para competir. A venda pelo apelo social não é

realizada, conforme as falas do coordenador: “A gente entrou no mercado para competir e é o

nosso diferencial também, não é porque é projeto social que tem que ter sobrepreço, de

maneira nenhuma, isso não dá certo, a empresa [cliente] pode até pagar sobrepreço porque é

projeto social só que a hora que ela [a empresa incubada] sai do projeto ela deixou de ser

social, ela é uma empresa normal como outra qualquer que paga impostos. Então quando a

gente vai para dentro do mercado que a gente cria essas pontes, é preço de igual para igual, é

preço de mercado. Elas vão concorrer com grandes empresas”; “Tem que ser bom e preço

justo”; “Nosso diferencial é assim, quando se tem o mesmo preço, igual à de uma empresa [já

no mercado] e o nosso, a empresa [cliente] acaba optando pela gente porque é um projeto

social. Porque aí entre aspas elas estão ganhando um selo: estou contribuindo para projetos

sociais”.

A busca pela qualidade é parte do processo de produção, e o coordenador afirma ter

recebido opinião de que a qualidade da produção dos grupos produtivos é superior à de

grandes empresas. Nas palavras dele: “isso a gente não abre mão, qualidade e velocidade, que

é onde elas vão ganhar dinheiro. Isso é fundamental”.

Quando as participantes estão incubadas, a mesma infraestrutura física é oferecida –

maquinário, incluindo regulagem e conserto; material; água, luz e telefone –, porém todos os

recursos passam a ser precificados e considerados no valor de venda do produto. No período

de incubação não é oferecido o lanche.

Em relação ao tempo de permanência na incubadora, o período de dois anos é

considerado alto, porém é necessário para que elas ganhem velocidade e prática e sejam

capazes de realizar uma costura mais fina.

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A fundação constrói “pontes” entre os clientes e as participantes, pois elas não

possuem habilidade ou condições de ir até o cliente inicialmente. O coordenador da fundação

visita os clientes e oferta os produtos. Em um momento futuro, as participantes são levadas

para as visitas para negociar com os clientes e com os fornecedores, para saber quem são eles

e como lidar nas negociações. Nas palavras do coordenador, “não é eu faço e depois vocês se

viram, não, eles nos acompanham”.

No período de incubação, quando surge um novo pedido de um cliente, os

coordenadores da incubadora se reúnem com as participantes, compartilham a descrição e

qual será o lucro em cada etapa do produto, e a decisão é tomada em conjunto com elas. Se as

participantes concordarem com o serviço, os coordenadores confirmam o pedido. Os

coordenadores alertam, então, sobre o prazo e a importância de cumpri-lo. Muitas vezes, para

cumprir o prazo, elas optam por trabalhar no sábado e no domingo. A chave da incubadora

fica com elas, tudo é de responsabilidade delas, inclusive o espaço. Até porque a incubadora

não trabalha nos fins de semana. Quando há necessidade de conserto de alguma máquina ou

compra de matéria-prima, por exemplo, no período de incubação, todo o custo é das

participantes. Elas não precisam pagar nada em dinheiro: a fundação antecipa o pagamento

das despesas e, quando o pagamento do pedido é recebido, retira quanto gastou como se fosse

uma despesa real delas.

O pagamento pelos produtos vendidos é feito de acordo com o desempenho de cada

participante. Não se considera uma produção coletiva, e a renda não é dividida igualmente

entre elas. O mesmo ocorre com o fundo de 10%, que é proporcional ao produzido. O

processo de produção sempre corresponde a mais de uma etapa. Por exemplo, há produtos que

requerem 50 etapas. Cada participante executa uma ou mais etapas do produto, e nunca

confecciona um produto sozinha. Dessa maneira, cada etapa é precificada separadamente, e

por isso o valor ganho por participante é diferente. Além disso, a fundação não exige nenhum

tipo de compromisso das participantes com o horário de trabalho. Há algumas que não

trabalham todos os dias, há outras que só podem ir no período da tarde, por exemplo. Nas

palavras do coordenador: “Tranquilo, você vai ganhar de acordo com a sua produção”. Ao

final desse período de seis meses, que é chamado de “carga de empreendedorismo”, tem

início o segundo ciclo de incubação, ou terceiro e último ciclo (considerado o curso).

Segundo ciclo de incubação: o segundo ciclo de incubação tem duração de um ano, e

nele a participante permanece produzindo com os equipamentos da incubadora. Nesse

período, as participantes continuam visitando fornecedores e clientes com os coordenadores

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da incubadora, para aprender como se negocia na prática. Todo pedido feito para a fundação é

oportunidade de produção e renda para elas. Para o segundo processo, que está acontecendo

atualmente, a fundação está para fechar um contrato com uma rede de supermercados, no

valor de R$ 450.000,00. Só na compra de matéria-prima foram investidos R$ 150.000,00.

Até esta etapa o período total do processo dura dois anos. A incubação é realizada em

um ano e meio e pode ser antecipada para a 18a semana do treinamento, caso as participantes

já formem os grupos produtivos. Em relação aos serviços, são oferecidos consultoria jurídica,

contábil, de recursos humanos, financeira, administrativa, de gestão do negócio, de

estabelecimento de redes com fornecedores e de redes com clientes e relacionamento

interpessoal.

Algumas participantes desistem porque mudam para outro estado ou arrumam

emprego em outros empreendimentos, pois as empresas da região continuam em contato com

a incubadora oferecendo vagas de trabalho no mercado, por exemplo. Os motivos da

desistência são diversos, o que é considerado normal. Quem não optou pelo mercado de

trabalho no período após o curso, pode optar por esse caminho a qualquer momento, mesmo

estando na incubadora. Das participantes que não foram para a incubadora, há algumas que

também não foram para o mercado de trabalho, ainda que o processo seletivo para participar

do curso seja rigoroso. Ninguém saiu por falta de capacidade ou de habilidade para continuar.

Há desistência natural também porque há muitos conflitos de relacionamento entre as

participantes. Para solucionar essa questão, a Escola Empreendedora tem um código de ética,

um código de convivência para minimizar esse tipo de problema.

De maneira geral a metodologia é muito simples, é falada a linguagem dos

participantes, é oferecido todo o suporte técnico e não há cobrança por nada disso, são tudo

100% gratuito. Apenas após o momento da incubação é que os recursos passam a ser

precificados, de modo seja conhecido o que é necessário para gerar o produto embora os

participantes não precisem aportar recursos. Ao final do ciclo completo de dois anos, todas as

participantes automaticamente deixam a incubadora da Escola Empreendedora de corte e

costura.

Graduação: as empresas são graduadas porque novos grupos devem entrar. Ninguém

estende o período porque dois anos são suficientes, e as participantes já estão com as

empresas formadas. Ao final da incubação, todos os clientes conquistados nesse período de

dois anos passam para as empresas incubadas. A Escola Empreendedora não fica com

nenhum cliente. Portanto, as empresas saem da incubadora com clientes e gerando negócios,

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conforme se pode perceber pela fala do coordenador: “a gente tem uma empreendedora que a

gente abriu um cliente. Hoje o cliente é dela. Só [esse cliente] para ela gera R$ 60.000,00

mais ou menos de pedidos por ano”; “Hoje elas têm produtos em mais de 150 supermercados

da rede desse cliente. Então o cliente vai pra elas, não é nosso”. Com o início da próxima

turma, a Escola Empreendedora começa a trabalhar para conquistar outros clientes para as

participantes do próximo ciclo.

O tempo de incubação de dois anos é considerado adequado, pois observou-se que,

nesse período, o produto confeccionado pelas participantes atinge uma melhor qualidade e,

assim, elas passam a obter mais renda pela escala de produção. Nesse período, elas estão aptas

a deixar a incubadora trabalhando com a velocidade e a qualidade que são exigidas pelo

mercado. É possível obter renda com a costura com a produção em escala.

Em relação ao resgate do fundo de 10% acumulado durante todo o período de

incubação, houve uma empresa, composta de duas mulheres, que resgatou R$ 7.000,00 de

uma participante e R$ 6.000,00 da outra. Com isso, elas compraram as próprias máquinas, e é

exatamente por isso que existe esse fundo de 10%. Nas palavras do coordenador: “se eu desse

100% (do fundo), eu poderia dar 100% para elas, só que assim eu sei que não teriam dinheiro

para comprar o maquinário, teriam que fazer um empréstimo e aí é superdifícil... então por

isso que a gente retém os 10% que no final ela sai [com o valor]. Aí é uma opção dela, a gente

não interfere, mas, geralmente, não teve nenhum caso que eu me lembre de alguém que falou:

ah, vou pegar o dinheiro e não vou comprar nada, vou ficar para mim, todas investiram no seu

próprio negócio. A gente já sabe se a gente desse os 100% para elas [antes da graduação] elas

não construiriam a própria empresa, gastariam, é natural, estou com dinheiro na mão então

vou gastar”.

Pós-incubação: a Escola Empreendedora não abandona as participantes, oferecendo a

chamada assistência técnica, também gratuita, para sanar dúvidas. Quanto a esse apoio, há

poucas solicitações de ajuda, em geral relacionadas ao preenchimento de uma planilha Excel

criada pela fundação para o cálculo do preço de venda do produto com base no custo

operacional, da matéria-prima, etc. A planilha automaticamente gera o preço de venda e o

valor de lucro.

Algumas vezes, foi também necessária a interferência da fundação na resolução de

brigas entre sócias, devidas à carga de trabalho de cada uma. Segundo o coordenador, esse é

um problema que elas precisam resolver entre elas, porém a fundação acaba colaborando. Não

foi necessária a interferência na gestão dessas novas empresas. De acordo com o coordenador,

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elas já “saem prontas”. O software para precificar os produtos também é passado para as

empreendedoras. As máquinas ficam na incubadora, as participantes compram as delas.

A fundação também já foi procurada para auxiliar em um caso em que o cliente não

pagou pelos produtos vendidos. As participantes perguntaram quem ficaria com o prejuízo.

Nas palavras do coordenador: “Para vocês [participantes], ué, tem que correr atrás como

qualquer empresa. A gente não gostaria que vivenciasse, mas às vezes acontece, demora para

pagar, enfim, acontece para elas [participantes] também, deixou de receber, vai ter que ir

atrás, é negócio. Não é um negócio em que nunca vai acontecer nada, acontece como outra

empresa qualquer”.

Resultado: como resultado do primeiro processo de incubação, realizado de 2012 a

2014, foram formadas duas empresas, cada uma composta de duas participantes do processo,

porque a ideia é montar empresas em conjunto, todas com CNPJ. O primeiro processo de

incubação está graduado há oito meses e, nesse período, nenhum cliente ou fornecedor foi

perdido. Nas palavras do coordenador: “a gente costuma falar que a gente não perde negócio,

isso é fundamental. A gente só vai perder negócio, lógico, quando o preço está incoerente

com o mercado…”. Nenhuma das empresas parou de funcionar.

A metodologia foi validada, porque participantes que tinham uma renda de R$ 100,00

ou R$ 150,00 por mês passaram a obter R$ 800,00 a R$ 2.000,00 por mês. Isso depende da

produção de cada participante. Houve mulheres que, no final do ciclo, conseguiram tirar R$

7.000,00 ou R$ 8.000 por mês. Nas palavras do coordenador: “Se cada uma tirou R$

7.000,00, R$ 8.000,00 significa que cada mulher gerou R$ 70.000 de faturamento naquele

ano. Tem dado resultado. A cada dia que passa a gente melhora a metodologia. Hoje a gente

está escrevendo um manual que está praticamente pronto, para que a gente não erre no

processo. Ou seja, também no processo a gente acaba errando, então, tem dado resultado esse

tipo de metodologia que a gente adotou. Então esse é o diferencial, que tem dado certo e que

agora a gente está validando na escola de tecnologia da informação, que é uma parceria com

uma grande empresa. Essa escola de TI tem em Campinas, estamos começando lá e estamos

começando também em Suzano, com o objetivo de treinar jovens em tecnologia da

informação, para colocar esses jovens no mercado de trabalho ou para terem seus próprios

negócios. Hoje essa grande empresa tem um déficit de 18.500 funcionários e não acha esses

funcionários; então, existe a possibilidade de colocar esses garotos que estão se formando no

mercado de trabalho, dentro dessa empresa”.

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Durante o período de incubação, o acompanhamento do faturamento de cada

participante é realizado por meio dos pedidos gerados e registrados no software da fundação.

Na pós-incubação, faz-se um acompanhamento superficial, pois a empresa é das participantes.

É sabido que a empresa continua operando porque há conversas informais entre a fundação e

as empreendedoras e também porque a fundação continua repassando clientes para elas,

porque em geral há muitos clientes e a produção na incubadora não dá conta de todos os

pedidos. Por exemplo, se em uma semana é necessário confeccionar 2 mil camisetas, a

fundação reparte o pedido entre as empresas que já passaram pela incubadora e pelo grupo

produtivo atual. Não se sabe efetivamente quanto as empresas graduadas faturam, mas é

sabido que estão faturando.

Quando não estão faturando, elas procuram a incubadora. O acompanhamento é

realizado de maneira informal porque, se for diferente, a fundação pode assumir uma postura

paternalista, numa relação sem prazo para acabar. Nas palavras do coordenador: “elas sabem

que, em qualquer momento que surgir um problema, a gente está lá para resolver, e não é essa

a ideia. Ela teve os dois anos, a gente presta a assistência técnica e a gente não a abandona,

mas a gente não acaba fazendo [um acompanhamento formal] porque é uma empresa dela,

mas a gente sabe porque a gente conhece, está ao nosso redor e a gente também imputa mais

clientes para ela, mais pedidos, e a gente sabe quanto elas estão faturando também, mas não

com o compromisso de falar assim: geramos tanto. Do grupo produtivo a gente tem esse

controle, controle total”.

4.4. Empresa graduada 1

A empresa 1 é uma oficina de costura composta pela sociedade de duas participantes

da incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari.

Infraestrutura da Escola Empreendedora da Fundação Jari: Nas palavras da sócia

A: “Vou te dizer uma coisa, não tem lugar, estrutura, com todas as máquinas, como tem na

fundação aqui nessa região. As máquinas são de primeira, tem todo tipo de máquina”.

A localidade também foi considerada adequada pela proximidade da residência da

sócia A, que podia se deslocar a pé. Nas palavras dela, “se fosse mais distante, a condução até

a fundação seria difícil, pelo custo da passagem de ônibus. Porém se é parte de um objetivo a

gente não deixa”. A localização foi considerada adequada também pela sócia B, que podia se

deslocar com uma condução de ônibus.

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Recrutamento e seleção: Ambas já realizavam outros cursos na Fundação Jari e

foram convidadas a participar da Escola Empreendedora de Corte e Costura. A sócia A

iniciou a participação nos cursos da fundação por uma requisição do programa federal Bolsa

Família, do qual era beneficiária por causa de uma das filhas. Já a sócia B estava

desempregada e optou por conhecer os projetos da fundação.

Pré-incubação: O treinamento de corte e costura foi considerado ótimo e a percepção

foi de que resultou em um grande aprendizado. Na fala da sócia A: “geralmente, quando você

vai para um curso, você só aprende o básico... você só vai aprender a peça, e para se

aprimorar precisa da prática... e isso eles estão dando... de você fazer a prática... o

desempenho depende só da pessoa querer crescer mesmo”. O curso foi realizado às segundas

e quartas e já nesse período as sócias trabalhavam na incubadora todos os dias da semana. Nas

palavras da sócia A: “o espaço já estava em nossas mãos. O grupo produtivo da incubadora

veio acontecer em função dos grupos já organizados nos cursos anteriores”; “Havia as

máquinas, que ficavam paradas por períodos, e a gente trabalhava”. A sócia A era responsável

por algumas máquinas e pelo espaço.

Em relação à decisão de permanecer na incubadora ou entrar no mercado de trabalho,

houve pessoas que fizeram a segunda opção. A sócia A disse que decidiu participar da

incubadora por acreditar que seria possível construir a própria empresa. Nas palavras dela:

“Eu acreditei que podia chegar a outro objetivo, que era esse que eu queria. As oportunidades

para emprego fixo estão mais na cidade de São Paulo ou em algum outro local muito longe”.

A sócia A tem família e preferiu abrir o próprio negócio para ficar mais perto do local de

residência.

Primeiro e segundo ciclo de incubação: durante o período de incubação, foi recebido

apoio em relação ao cadastro de microempreendedor individual, assessoria contábil e tudo o

que foi necessário para a abertura do negócio.

A planilha do Excel usada para precificar os produtos foi considerada boa, pois nela é

possível visualizar todas as despesas, como custos com energia elétrica, aluguel e material.

Ao final, com todos os dados preenchidos, a planilha apresenta o preço pelo qual a peça deve

ser vendida.

Em relação às visitas aos fornecedores e clientes, as sócias acompanharam os

coordenadores da fundação em algumas delas, pois havia um revezamento do grupo. Essa

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prática foi considerada boa por elas, pois recebiam orientações de como vender e negociar um

produto.

A remuneração era dada por produção, cada costureira realizava uma etapa do trabalho

e então era calculado o preço. Quem trabalhava mais ganhava mais, quem ficava menos

tempo ganhava menos. Não havia uma regra da incubadora em relação ao tempo de trabalho,

o horário era flexível. A sócia A coordenava o grupo e distribuía cada etapa do serviço e qual

a remuneração. Nas palavras dela: “Mas a gente tem que saber lidar com todas essas

dificuldades. A fundação ajudava a resolver os conflitos, intermediava. Os atritos aconteciam

mais em relação à remuneração, quanto cada um vai ganhar... quem ganha mais, menos. Eu

descrevia toda a etapa, fazia o cronograma, quantos minutos eram necessários para fazer cada

etapa por peça, todo o planejamento da produção. Fazia uma média para saber quanto cada

uma ia ganhar”.

As sócias formaram sua parceria por afinidade e pelo local de residência delas. O

grupo ao qual pertenciam era composto de sete pessoas, que combinavam horário de trabalho,

que normalmente era das 8h às 17h, exceto em alguns dias, em que uma ou outra não podia

comparecer à incubadora. Estabelecer horário para o grupo viabilizava uma produção maior.

Quando é possível, criar um grupo em que ocorre uma boa interação é um grande facilitador,

pois durante o trabalho podem acontecer muitos atritos.

Em relação ao fundo de 10%, era realizado um caixa, que às vezes podia ser utilizado

pela fundação para comprar material, sendo logo reposto. Como foi dito, esse valor é

resgatado ao final da incubação. Toda a manutenção do espaço era realizada pela fundação, e

isso estava incluído no preço de venda dos produtos.

Em relação às orientações e aos serviços prestados pela incubadora, no geral, as sócias

consideraram ter aprendido grande parte do que é necessário saber para empreender e

afirmaram que, enquanto se está dentro da incubadora, pode-se contar com a fundação sempre

que houver qualquer coisa para aprender, como tempo para entregar um produto, realização

de um produto em parceria com outras pessoas, negociação de novo prazo de entrega com os

clientes, entre outros.

Como sugestão para melhorar o processo, elas acham necessário haver mais

orientação sobre o trabalho em grupo. Nas palavras da sócia A: “Mesmo que o horário seja

flexível, a pessoa tem que ter uma responsabilidade, que aquele horário ela tem que cumprir,

porque com aquilo a gente faz um cronograma de entrega”. A sócia B sugeriu que houvesse

uma regra a ser seguida em relação ao horário, para não comprometer a produção geral. Nas

palavras dela: “Se você tem um produto para entregar, você tem que entregar. Se a pessoa

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começa a não vir no horário certo, compromete o cronograma. Isso sim, cada vez mais tem

que trabalhar. Deixar o horário flexível prejudica o trabalho do grupo como um todo”.

De maneira geral, o forte da incubadora são as máquinas de primeira, a localização

próxima à residência das participantes e as atitudes dos coordenadores para com as

participantes. Nas palavras da sócia B: “A assistência deles é em tudo, em todas as etapas,

desde a mão de obra, a parte jurídica, não deixam sem informação, é assistência mesmo”.

Em relação ao atendimento das expectativas anteriores à incubação, nas palavras da

sócia A: “para mim foi até mais porque eu não fui lá por causa disso, mas para sair de dentro

de casa mesmo. Eu não tinha o objetivo de chegar aqui. Meu objetivo era cumprir o que o

Bolsa Família tinha mandado. Fui mudando minhas ideias, meu comportamento, fui criando”.

Sobre a permanência na incubadora, diz a sócia A: “É difícil chegar e precisa de

persistência. No total foram cinco anos de fundação, desde os primeiros cursos na fundação.

O apoio da família é necessário para conseguir concluir o ciclo de incubação. Porque na

incubadora se ganha conforme a própria produção. Não é um salário fixo, às vezes em um

mês se ganha bem, e em outro mês não. E aí você tem que ter persistência de estar lá dentro,

se não... e o objetivo. É necessário ter objetivo e confiança nas pessoas que trabalham para a

confecção do mesmo produto. O grupo [tem que] se formar com um objetivo inteiro. Cada

uma fazer só sua própria produção não dá certo”.

Graduação: Na graduação, o fundo acumulado de 10% do valor das vendas durante o

período de incubação foi utilizado para comprar máquinas e deixar um capital de giro para a

empresa, que foi instalada em um espaço alugado. Sobre o tempo incubado, nas palavras da

sócia A: “Foi o tempo necessário. Ou você se acomoda lá, para ficar sempre lá, e não vai

querer sair, ou você enfrenta. É o tempo necessário para você aprender. Ou você vai para o

ramo de trabalhar fixo na firma ou você monta o seu [negócio]. É o tempo certo. Para mim

foi. Eu sai com uma carga boa”.

Pós-incubação: O contato com a incubadora permaneceu após a graduação. Muitas

empresas clientes do atual processo da incubadora fazem pedidos de um mesmo produto em

grande quantidade. Por esse motivo, as sócias operam, em alguns casos, em parceria com a

fundação. Os pedidos são compartilhados com elas por causa do volume e por já terem

empresa aberta, o que viabiliza a emissão de nota fiscal. O relacionamento se dá por meio do

encaminhamento do pedido de produtos e da ajuda nas negociações com clientes e

fornecedores, como na determinação do preço de venda do produto, na contabilidade e em

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assistências relacionadas à parte administrativa. Não é necessária mais a assistência em

relação às técnicas de costura. Nas palavras da sócia A: “A gente ainda tá aprendendo. A

gente deu o primeiro passo. Não faz nem um ano que saímos da incubadora, faz 10 meses.

Quando a gente tem dúvida, a fundação ajuda. Quando precisa, pode utilizar as máquinas da

fundação, sem custo”.

Resultado: O primeiro processo de incubação foi mais difícil, pois teve de conquistar

a confiança dos clientes. Era um grupo que estava começando, sem nota fiscal e sem empresa.

Nas palavras da sócia A: “Agora já tem a porta aberta, o pessoal já acredita no projeto.

Através do que a gente fez chegou a Petrobras para financiar o projeto de Corte e Costura. O

nosso foi o mais difícil para entrar no mercado. Quando o primeiro jogo americano foi para o

mercado, o pessoal acreditou que o projeto estava dando certo”.

Sobre o andamento do negócio atualmente, nas palavras da sócia A: “Agora eu

negocio direto com a firma, já faço negócio direto com o fornecedor. Com o cliente também,

diretamente... Não é fácil, não... eu não tinha muitas habilidades com as palavras, mas agora...

aprendi muito na fundação. Eu era calada, agora que estou mudando aos poucos, aprendendo

mesmo... Quando eu entrei, para eu falar uma palavra era difícil. Aí fui acostumando, ele foi

levando a gente para falar, a gente aprende um pouquinho, vai gaguejando, mas aprende

[risos]”.

Ambas as sócias são cadastradas como microempreendedor individual, e os produtos

confeccionados são jogos americanos e uniformes industriais. O jogo americano foi estudado

e trabalhado durante um ano para se chegar ao modelo comercializado atualmente. Nesse

período foi verificado que o produto poderia chegar ao preço de venda e com tempo de

produção possível para cumprir o prazo de entrega solicitado pelo cliente. A primeira estampa

foi utilizada nos dois primeiros anos de produção e atualmente há outra estampa sendo

utilizada. As vendas para os clientes acontecem mensalmente.

Nas palavras da sócia A: “No fim eu fiquei sem o Bolsa Família, mas não fiquei sem

emprego [risos]. Aprendi e progredi. Através do Bolsa Família eu cheguei ao meu

empreendimento”. Nas palavras da sócia B: “Hoje o negócio vai bem, tem as dificuldades,

mas vai continuar, a gente vai trabalhando conforme a demanda. Tem cinco clientes e três

fornecedores. A incubadora foi fundamental, a incubadora nos orientou muito em todas as

partes, as etapas”.

Impacto: Nas palavras da sócia B: “eu sempre trabalhei para outras pessoas, sempre

fui funcionária. O meu conhecimento está valendo hoje porque eu abri o meu próprio negócio.

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Eu tenho alguns conhecimentos e posso botar em prática dentro da minha empresa”. A renda

da sócia B não melhorou em relação ao seu último emprego. O motivo de sua entrada na

incubadora foi o desejo de conhecer o projeto e realizar o curso. Nessa época, ela estava

desempregada.

Nas palavras da sócia A: “a renda mudou, melhorou. Primeiro eu não ajudava na

família, o Bolsa Família é só um... Agora eu já tenho um salário. Esse ano a gente já está

conseguindo tirar um salário todo mês. Isso já ajuda para dividir, comprar alimentação, pagar

uma conta, comprar um vestido, uma roupa, um calçado para o filho, ajuda. A sensação de ter

o próprio negócio é de ter muita dúvida, mas a sensação de ver que estamos conseguindo é

boa. A família está começando a entender que eu estou ganhando, porque no início era difícil

entender. Agora que eu estou ajudando, estão vendo que está progredindo. Estão entendendo

que é uma firma, não é um bico”.

4.5. Empresa graduada 2

A empresa graduada 2 é composta de duas participantes, mãe e filha, que foram

chamadas de sócia C e sócia D, respectivamente, da incubadora da Escola Empreendedora de

Corte e Costura da Fundação Jari. Atualmente, produzem capas para máquinas de lavar roupa.

Já produziram bolsas de TNT para campanhas promocionais de lojas, porém não receberam

mais pedidos dessas bolsas. A sócia C trabalhava como empregada doméstica e a sócia D

estava desempregada (anteriormente, era atendente de uma empresa que fornecia serviço de

guincho para automóveis). A sócia C concluiu o ensino fundamental II em 2014 e iniciará o

ensino médio neste ano. A sócia D concluiu o ensino médio.

Infraestrutura da Escola Empreendedora da Fundação Jari: a infraestrutura

oferecida durante o curso foi considerada positiva pelas sócias. Durante o período de

incubação, as sócias não ficavam com a chave da incubadora, pois havia outra pessoa no

grupo responsável por isso. O deslocamento até o local da incubadora era realizado por meio

de ônibus, uma forma de transporte rápida mas que não era de fácil acesso para as sócias, que

precisavam caminhar até uma rodovia para pegar o ônibus. Ainda assim, as sócias afirmaram

que, se a incubadora fosse em um local mais distante, teriam participado de todo o processo,

pela oportunidade do aprendizado.

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Recrutamento e seleção: as sócias tomaram conhecimento do curso de corte e costura

por meio da leitura de um anúncio publicado em um jornal local. Elas se inscreveram,

participaram de uma palestra explicativa sobre o curso e o possível processo de incubação e

foram selecionadas para participar uma semana após o início do curso, devido à desistência de

pessoas selecionadas primeiramente.

Pré-incubação: no curso de corte e costura as sócias aprenderam a manusear

diferentes tipos de máquinas de costura, uma vez que já possuíam conhecimento básico de

costura. Durante o curso, muitos participantes conseguiram emprego em empresas locais e

optaram por trabalhar como assalariado. As duas sócias optaram pela entrada no processo de

incubação, porque já tinham a ideia de montar a própria empresa.

Primeiro e segundo ciclo de incubação: durante o período de produção na

incubadora, as sócias não possuíam cadastro de microempreendedor individual e recebiam o

pagamento pela sua produção através de outra participante da incubadora que já possuía o

cadastro. Durante o processo de incubação, por diversas vezes, receberam orientação dos

profissionais da incubadora para regularizar o cadastro. Essa orientação foi considerada boa e

bem explicativa e não restou dúvida sobre o processo de regularização do empreendimento.

Todos os serviços recebidos foram considerados satisfatórios pelas participantes, e o fundo de

10% considerado bom. A sócia C acompanhou o gerente da incubadora em uma visita a um

cliente e achou a oportunidade boa. A planilha de precificação também foi considerada um

bom instrumento para definir o valor de venda do produto.

O conflito entre as participantes da incubadora foi citado como um ponto de

observação, que deve ser melhorado em um processo futuro. Conflitos ocorriam devido à

divisão do trabalho, que era sempre realizado em conjunto, e à carga horária escolhida pelas

participantes, o que impactava a produção de todo o grupo. As reclamações atrapalhavam o

ambiente de trabalho e a própria produtividade do grupo.

As sócias afirmaram que muitos participantes da incubadora saíram no meio do

processo por terem recebido convites de empresas locais para trabalhar como assalariado.

Graduação: As sócias ainda não resgataram o fundo de 10% por decisão própria, e

sabem que o valor está guardado e disponível para resgate quando quiserem. Elas já possuíam

três máquinas e adquiriram outras duas com a renda de um seguro recebido pela sócia C,

devido a um acidente ocorrido com um dos filhos.

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Pós-incubação: As sócias não utilizam a planilha para precificação do produto

produzida pois não a consideram necessária no momento; o cálculo do valor de venda é

realizado de maneira manual. Em relação à demanda, também recebem pedidos de trabalho da

incubadora. O relacionamento com ela se mantém ativo, e, quando não há serviço, as sócias

entram em contato com a incubadora para verificar se há pedidos que podem ser passados

para elas.

Resultado: As sócias, atualmente, possuem três clientes. Um deles é a própria

incubadora, que compartilha com elas pedidos de seus atuais clientes; outro cliente solicita

capas para máquinas de lavar roupa; e o terceiro ainda é potencial, estão em fase de

negociação. As sócias ainda não fizeram cadastro como microempreendedor individual, pois

possuem mais de três máquinas e têm de regularizar a empresa como microempresa. Porém,

essa regularização implica obrigatoriamente a contratação de um contador, e os altos custos

desse serviço fazem com que ainda estejam trabalhando na informalidade. Por diversas vezes,

receberam a orientação dos profissionais da incubadora para regularizar o cadastro da

empresa.

A demanda é considerada fraca e às vezes passam um mês sem que um único pedido

seja feito. Mas as sócias consideram que costurar é um serviço que não falta e é uma opção

para pessoas com mais de 40 anos de idade. O objetivo das sócias é consolidar a empresa, e

não fechá-la.

Impacto: A renda obtida com a confecção de produtos é superior à renda que a sócia

C obtinha anteriormente como empregada doméstica. O horário flexível de trabalho foi

considerado vantajoso pelas duas sócias, que afirmaram que, por terem o próprio negócio, a

sócia C pode programar uma consulta médica, o que não era possível quando trabalhava como

empregada doméstica. Para a sócia D, a renda também melhorou bastante.

4.6. Análise dos dados da pesquisa

Confrontando as informações obtidas na teoria e os dados da pesquisa empírica,

constatou-se que a incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari

é uma incubadora social de negócio inclusivo que desenvolve empreendimentos que são

propriedade de pessoas de maior vulnerabilidade social. Esse dado é confirmado pelas

próprias gestoras das empresas graduadas – entre as quatro, antes de participar do processo de

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incubação, três estavam sem emprego, sendo uma beneficiária do programa do governo

federal Bolsa Família, e a quarta trabalhava como funcionária doméstica. Portanto, essas

empresas podem ser classificadas como negócio social do tipo II, pela perspectiva de

Muhammad Yunus (2010), ou como negócio inclusivo, conforme concepção de Teodósio e

Comini (2012) e Márquez, Reficco e Berger (2009), pois inserem no sistema produtivo

pessoas em condições de vulnerabilidade, que passam a obter renda a partir da existência da

empresa.

Analisando os dados obtidos por meio das entrevistas com o coordenador da

incubadora e com as sócias das duas empresas graduadas, foi possível identificar uma

coerência entre o que o coordenador afirma que oferece às empresas incubadas e o que as

empreendedoras participantes da incubadora percebem que receberam da incubadora.

Por meio da pesquisa, foi possível identificar que a incubadora da Escola

Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari possui uma metodologia de dois anos de

duração, composta de quatro etapas:

a pré-incubação, que corresponde ao período do curso de corte e costura, com duração de

seis meses e considerada pré-requisito para participar da incubação;

a incubação, que corresponde ao período de aperfeiçoamento das técnicas de costura

aprendidas durante o curso de corte e costura e à aprendizagem na prática de

empreendedorismo, com duração de um ano e meio;

a graduação, na qual as empresas consolidadas na etapa de incubação estão aptas a deixar

a incubadora e a competir no mercado sem o suporte direto da incubadora, o que ocorre

obrigatoriamente ao final de dois anos (incluindo o período do curso);

a pós-incubação, na qual as empresas graduadas podem contar com o apoio da incubadora

para resolução de conflitos e definição do preço do produto de venda, por exemplo, e

também podem contar com a parceria para o recebimento de pedidos de trabalho.

A maneira de atuar da incubadora pesquisada concorda com muitas das concepções

de incubadoras de empresas definidas por Plonski (2002), Dornelas (2002), Aranha (2008),

ANPROTEC e SEBRAE. Apenas no caso de uma característica apontada pela Anprotec, em

relação ao incentivo para o desenvolvimento de ideias inovadoras, não a observamos na

incubadora social da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari, uma vez

que os participantes não desenvolvem as próprias ideias de negócios, pois o segmento já é

predefinido pela própria incubadora. A decisão em relação ao segmento do negócio é baseada

em estudos desenvolvidos pela incubadora, para verificar potenciais negócios na região em

que atua.

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Em relação às práticas da incubadora da Escola Empreendedora de Corte e Costura da

Fundação Jari, estas contemplam algumas das melhores práticas definidas pela NBIA e por

Dornelas (2002), como: a articulação de diversos atores da sociedade para a realização de seu

processo, que inclui o governo e empresas privadas (exceto pela parceria com a

universidade); a criação de redes com diversos atores da sociedade que podem contribuir com

a incubadora por meio de patrocínio, serviços e compra e venda dos produtos produzidos; e a

atuação da incubadora como um modelo para os empreendimentos incubados em relação à

negociação com clientes e fornecedores.

A fase de incubação e pós-incubação é similar ao definido por Aranha (2008), que

afirma que, durante a incubação, os empreendimentos utilizam a infraestrutura da incubadora

e se desenvolvem para buscar a sustentabilidade, especialmente para a etapa da graduação, e,

no período pós-incubação, as empresas incubadas podem manter contato com a incubadora.

Em relação às incubadoras vinculadas às universidades que desenvolvem

empreendimentos da economia solidária, conforme Vechia et al. (2011), as etapas são

similares às identificadas na incubadora social estudada.

Pode-se atrelar como prática de uma incubadora social de negócio inclusivo a

localização estratégica. Ao contrário de uma incubadora de base tecnológica ou tradicional,

por exemplo, a social não se instala em endereços próximos aos potenciais clientes e

fornecedores de seus empreendimentos incubados ou próximos às universidades para usufruir

de seus conhecimentos, mas sim em um local de fácil acesso para os empreendedores, visto

que a proximidade pode ser considerada um fator condicionante de participação para a

população-alvo. O processo de seleção também é diferenciado. No caso da incubadora social,

o critério para ingressar no processo não é um bom plano de negócio, e sim possuir um perfil

social e econômico considerado de vulnerabilidade alta. Na incubadora social pesquisada, o

processo seletivo ocorre antes da pré-incubação, e a pré-incubação não corresponde à

elaboração de plano de negócio, e sim a um treinamento prático que será necessário para a

operação da empresa. Além disso, é considerado fundamental que os participantes possam

gerar renda desde quase o início de todo o processo, de modo a não desistirem do treinamento

e da incubação pela necessidade de obter renda trabalhando em outros lugares, já que a renda

obtida no processo de incubação é utilizada para necessidades básicas.

Portanto, a proposição deste trabalho é confirmada, uma vez que as práticas das

incubadoras de empresas de base tecnológica e tradicional não são suficientes para satisfazer

as necessidades de uma incubadora social.

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O processo de incubação se mostrou fundamental na criação da empresa para a sócia

A da empresa 1, que já havia participado por três anos seguidos de outros cursos da fundação,

porém abriu o próprio negócio apenas após a participação na incubação da Escola

Empreendedora de Corte e Costura.

Foi possível identificar uma percepção positiva das empreendedoras em relação a

infraestrutura, serviços, tempo de incubação e quase todas as práticas da incubadora. Uma

percepção negativa foi observada em relação à flexibilidade de horário de trabalho do grupo

produtivo. Uma dificuldade apontada pelo coordenador da incubadora, e por todas as

mulheres empreendedoras, foi o relacionamento interpessoal entre os participantes durante o

processo de incubação. Conflitos relacionados a diferenças de agenda, à disponibilidade para

o trabalho, ao comprometimento e aos objetivos da produção coletiva dos vestuários e demais

peças foram constantes e foram necessárias intervenções dos coordenadores da incubadora

para solucionar as questões. Essas interferências foram consideradas satisfatórias para ambas

as partes. Na teoria, a necessidade de uma gestão que inclui novas competências de gestão de

relacionamento interpessoal foi apontada por Aranha (2008), que considera essa competência

inovadora.

Como resultados e impactos, a participação na incubadora viabilizou que quatro

mulheres pudessem empreender seus próprios negócios, e uma delas deixou de ser dependente

de um programa assistencialista do governo. Importante ressaltar que, embora o objetivo de

todo o processo seja gerar empresas, a incubadora também pode ser reconhecida por facilitar a

entrada de pessoas no mercado de trabalho, por meio da fase de capacitação da pré-incubação

e até mesmo durante a incubação, na qual as profissionais têm a oportunidade de adquirir

experiência nos moldes de um estágio corporativo. Portanto, a incubadora desenvolve

empresas e também mão de obra experiente para trabalho assalariado. As sócias que atuam

como microempreendedoras individuais parecem obter vantagens sobre aquelas que estão

trabalhando na informalidade em relação ao número de clientes, à demanda para a confecção

de produtos e à autonomia em relação à incubadora.

Como oportunidade, a incubadora pesquisada poderia “manter um sistema de

gerenciamento de informação e coletar estatísticas e outras informações necessárias para

avaliações do programa em curso, melhorando assim a eficácia do programa e permitindo

que esse evolua de acordo com as necessidades dos clientes”, conforme definido pela NBIA21

(tradução nossa), e desenvolver indicadores de desempenho como, por exemplo, número de

21 Disponível em: <http://www.nbia.org/resource_library/best_practices/index.php>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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pessoas inseridas na cadeia produtiva, seja pela inserção no mercado de trabalho como

assalariado ou como empreendedor do próprio negócio; e quantidade de participantes que

passam a não depender mais de programas assistencialistas do governo para obter renda.

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CONCLUSÕES

A partir da pesquisa exploratória, foi possível identificar que uma incubadora de

empresas é uma organização que estabelece conexões entre diversos agentes da sociedade –

como governo, universidades, empresas privadas – e qualquer outro agente que possa

contribuir com o objetivo de auxiliar empreendedores a criar e desenvolver seus negócios,

inovadores ou não. Desse modo, as empresas incubadas são apoiadas por meio dessas

conexões e da disponibilização de recursos, como infraestrutura física para a instalação da

empresa e suporte administrativo do negócio em todas as suas etapas, o que significa uma

transferência de conhecimento. Além de serem criados e desenvolvidos dentro da incubadora,

os negócios devem ser preparados para sobreviver no mercado após o período de incubação,

o que representará a efetividade da incubadora.

Em relação às incubadoras sociais, de maneira geral, suas ambições são as mesmas

das incubadoras de empresa de base tecnológica ou tradicional, porém a finalidade das

empresas incubadas é diferente: elas devem ser criadas e desenvolvidas para solucionar um

problema social. Essas empresas podem ser da economia solidária ou constituir um negócio

social e/ou inclusivo.

Pode-se também afirmar que as incubadoras de empresas são relevantes para a

construção e a consolidação de empreendimentos, incluindo os sociais, e a consequente

geração de emprego e dinamização da economia.

Com base na pesquisa exploratória sobre negócios sociais ou inclusivos, pode-se dizer

que eles surgem como uma resposta da sociedade para solucionar problemas sociais e

abrangem diversos atores da sociedade, como ONGs, fundações, entidades governamentais e

empresas tradicionais. Em relação às empresas tradicionais, algumas já nascem com esse

propósito e recebem novas denominações como inclusivas e sociais, outras estão se

adaptando, seja por causa de exigência legal (destinação de cotas para trabalhadores com

necessidades especiais nas grandes empresas, por exemplo), seja pela pressão de uma nova

geração mais engajada na busca pelo desenvolvimento social.

Do ponto de vista do impacto social, é possível considerar que há uma multiplicidade

de concepções e ações que, juntas, interferem de maneira positiva na redução da pobreza, na

inclusão social e na melhora da condição de vida de toda a sociedade. A principal diferença

percebida entre os diferentes modelos de negócios sociais e inclusivos se dá na utilização do

lucro, que pode ser reinvestido integralmente na melhoria ou expansão do próprio negócio,

ou apropriado pelos acionistas, e também na motivação para a existência do negócio, que

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pode se dar inicialmente pela busca de uma melhora social ou pela oportunidade de se fazer

negócio com populações até então não atendidas por outros tipos de empreendimentos. Esta

segunda motivação deve ser vista com cautela, pois se trata da inclusão social pelo consumo,

o que atualmente se mostra inviável ambientalmente, uma vez que estamos inseridos em um

movimento global no qual o padrão de consumo das pessoas mais privilegiadas também deve

ser revisto. Ainda não há estudos comparativos que indiquem qual das concepções tende a

gerar mais impacto social positivo.

Do ponto de vista dos estudos administrativos, é interessante segmentar as atuações

para melhor definir as possíveis estratégias de gestão de cada concepção, uma vez que os

objetivos, impactos, modelos de gestão e público-alvo envolvidos na gestão e mão de obra do

negócio, bem como os stakeholders, podem ser distintos.

O tipo de negócio desenvolvido pela incubadora social da Escola Empreendedora de

Corte e Costura da Fundação Jari, objeto de estudo deste trabalho, dialoga com os chamados

negócios inclusivos na concepção de pesquisadores da SEKN e também com os negócios

sociais do tipo II, na definição de Muhammad Yunus, na qual se entende que, apesar de os

negócios serem tradicionais, o fato de serem propriedade de pessoas menos favorecidas os

torna inclusivos.

A partir do estudo de caso deste trabalho, foi possível identificar que incubadoras

sociais possuem práticas semelhantes às das incubadoras de empresas de base tecnológica e

tradicional, porém elas adotam outras para melhor atingir as necessidades de seu público-

alvo. Dentre as outras práticas, pode-se destacar: a fase da pré-incubação, que corresponde a

um treinamento e preparo prévio para o ingresso na incubadora, e a geração de renda na fase

da incubação, pois a renda se faz necessária para manter os participantes no projeto, uma vez

que é utilizada para necessidades básicas.

Na incubadora analisada, a graduação necessariamente se dá após dois anos no

projeto, uma vez que esse período é considerado adequado para que os participantes

desenvolvam as competências adquiridas no período de incubação e adquiram velocidade nas

técnicas de costura. O período pós-incubação é representado por uma constante parceria da

incubadora com os empreendedores incubados, seja pela chamada assistência técnica, seja

pelo encaminhamento de novos pedidos de produção.

O coordenador da incubadora se mostrou peça fundamental para o sucesso de todo o

processo, uma vez que ele participa ativamente de todas as etapas: na adaptação da

linguagem do curso na fase da pré-incubação; na articulação de diversos atores da sociedade

na busca de parcerias para o projeto, incluindo fornecedores e clientes; na atuação ativa para

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a resolução de conflitos interpessoais entre as participantes; e na geração de novos pedidos de

trabalho mesmo no período de pós-incubação.

As sócias que atuam como microempreendedoras individuais parecem obter vantagens

sobre aquelas que estão trabalhando na informalidade, em relação ao número de clientes, à

demanda para a confecção de produtos e à autonomia em relação à incubadora.

A incubadora social da Escola Empreendedora de Corte e Costura se mostrou como

uma importante organização para a inserção de pessoas em condições menos favorecidas na

cadeia produtiva. O processo de incubação permitiu que quatro mulheres pudessem

empreender seus próprios negócios, e uma delas deixou de ser dependente de um programa

assistencialista do governo. É importante ressaltar que, embora o objetivo de todo o processo

seja gerar empresas, a incubadora também pode ser reconhecida por facilitar a entrada de

pessoas no mercado de trabalho, por meio da fase de capacitação da pré-incubação e até

mesmo durante a incubação, na qual as profissionais têm a oportunidade de adquirir

experiência nos moldes de um estágio corporativo. Portanto, a incubadora desenvolve

empresas e também mão de obra experiente para trabalho assalariado.

Como oportunidade, a incubadora pesquisada poderia “manter um sistema de

gerenciamento de informação e coletar estatísticas e outras informações necessárias para

avaliações do programa em curso, melhorando assim a eficácia do programa e permitindo

que esse evolua de acordo com as necessidades dos clientes”, conforme definido pela NBIA22

(tradução nossa), e desenvolver indicadores de desempenho como, por exemplo, número de

pessoas inseridas na cadeia produtiva, pela inserção no mercado de trabalho como assalariado

ou como empreendedor do próprio negócio, e quantidade de participantes que passam a não

depender mais de programas assistencialistas do governo para obter renda.

O presente estudo espera ter contribuído para o debate da atuação das incubadoras

sociais, especialmente as de negócios inclusivos. Nesse sentido, esta pesquisa é um estudo de

caso único que pode ser uma unidade de análise de um futuro estudo de casos múltiplos, o

que possibilitaria, com maior confiabilidade, a lógica da replicação definida por Yin (2010) e

uma maior credibilidade para uma generalização dos resultados, para a construção de uma

nova teoria sobre as práticas de incubadoras sociais que têm por objetivo incluir pessoas em

condições vulneráveis na cadeia produtiva.

Para estudos futuros, sugere-se estudar as competências do coordenador da

incubadora social, uma vez que este se mostrou fundamental para o sucesso da instituição,

22 Disponível em: <http://www.nbia.org/resource_library/best_practices/index.php>. Acesso em: 5 jan. 2015.

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78

atuando na adequação da linguagem do treinamento do Senai para o público-alvo, na

conquista de clientes e no estabelecimento de parcerias locais que viabilizaram a entrada e a

aceitação no mercado dos produtos feitos pelos participantes da Escola Empreendedora de

Corte e Costura, na transmissão dos conhecimentos sobre empreendedorismo e na gestão de

conflitos e de relacionamento interpessoal entre os participantes.

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ANEXO 1

Quadro 2. Base legal das empresas sociais - Itália e Letônia

Atividade Missão Força de trabalho

Formas legais e

sistemas de

governança

Envolvimento de

membros e

stakeholders

Prestação de contas Distribuição de

lucros

Empresa

Social

Lei

155/2006

(Itália)

Organizações

principalmente

atuando de um modo

empresarial estável de produção ou troca de

benefício social, bens

e serviços. 70% da

renda total devem ser

atingidas por meio da

atividade principal.

Benefício social

guiando as metas das

atividades de interesse

geral

Quantidade mínima

de trabalho pago

(max. 50% de

trabalhadores voluntários). Se

houver integração ao

trabalho, trabalhador

em desvantagem deve

ser de no mínimo 30%

do total.

Organizações

privadas. Controle e

direção dependem da

forma legal: se uma organização pública:

conselho e assembleia

geral e supervisão de

comitê. Se sociedade

de responsabilidade

limitada: gestores são

indicados por

assembleia geral.

Envolvimento do

consumidor e do

trabalhador tem que

ser fornecido pelos artigos ou

regulamento interno.

Através da

previdência de

informação,

consultoria e

participação eles

podem influenciar o

processo de tomada de

decisão. Organizações

cujas atividades estão diretamente ligadas

somente entorno de

seus membros estão

excluídas.

Uma planilha de

balanço social é

mandatória e a

principal informação é fornecida pela lei.

Não é permitida a

distribuição de lucros

direta ou

indiretamente aos acionistas ou gestores.

Há a possibilidade de

se assumir a forma de

companhia pública

(com repartição).

Empresa

Social Lei

(Letônia)

O objetivo é criar

benefício social.

Presença de

voluntários e

trabalhadores pagos

no caso de

associações; o

primeiro deve

elaborar um acordo

estabelecendo horas

de trabalho e deveres

As formas admitidas

são: Associações,

Fundações (Lei de

Associação e

Fundação), Entidades

religiosas. O comitê

executivo e outros

governantes tem que

ser estabelecidos como provedores pelo

regulamento.

Associação: reuniões

gerais como força

principal, e a presença

de um conselho.

Fundação: conselho e

"mordomias" dados a

outros organismos.

Não permitido.

Fonte: Travaglini, Bandini e Mancinone, 2010, tradução nossa

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ANEXO 2

Quadro 3. Base legal das empresas sociais - Finlândia e Bélgica

Atividade Missão Força de trabalho

Formas legais e

sistemas de

governança

Envolvimento de

membros e

stakeholders

Prestação de contas Distribuição de

lucros

Empresa

Social

Ato

1351/2003

(Finlândia)

Produção comercial

de bens e serviços.

Integração ao trabalho No mínimo 30% do

total dos

trabalhadores tem que

estar em desvantagem

(deficiência ou

desempregado por um

longo tempo).

Isso depende da

forma legal assumida

(formas previstas são

corporações,

fundações ou outra

empresa registrada).

Filiação não é

mandatória, o foco é

no contrato da lei e

sua relação com a

administração pública

(subsídios são

fornecidos).

Não tem limite, mas a

missão deve ser

respeitada.

Companhia

com

finalidade

social

Reforma do

código das

companhias

13/4/1995

(Bélgica)

Produção e venda de

bens e/ou serviços

Finalidade social deve

ser qualificada nos

Artigos da companhia.

Isso depende da

forma assumida

(qualquer tipo de

companhia fornecida

pelo Código da

Companhia). Direitos

de votação: não mais que 10% do capital

por acionista e isso é

menor em caso de um

acionista trabalhador

(5%). Restrições

estritas em termos de

sanções e controles

por parte dos

tribunais.

Trabalhadores podem

se tornar membros

depois de um ano de

comprometimento. O

estatuto tem que

fornecer

procedimentos que permita que cada

funcionário participe

da governança.

Uma planilha de

balanço social é

requerida anualmente.

Limitado (dividendos

com limite). Uma

política de alocação

do lucro de acordo

com o objetivo social.

Fonte: Travaglini, Bandini e Mancinone, 2010, tradução nossa

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ANEXO 3

Quadro 4. Base legal das empresas sociais – Reino Unido e Lituânia

Atividade Missão Força de trabalho

Formas legais e

sistemas de

governança

Envolvimento de

membros e

stakeholders

Prestação de contas Distribuição de

lucros

Companhias

de Interesse

comunitário

(CIC)

Ato das

companhias

2004/2005

(Reino

Unido)

Produção e venda de

bens e/ou serviços

Finalidade social

dirigida para a

comunidade ou

objetivo de interesse geral.

O formato legal da

companhia é:

companhia limitada

por divisão (CLS) ou por garantia (um

membro, um voto

regra). O regulador

da CIC supervisiona

as decisões da

governança e

monitora o conselho

(ajudado pelos

membros do conselho

de diretores indicados

por membros somente).

É requerido um teste

comunitário para se

tornar uma CIC e para

verificar primeiro os objetivos da

companhia. A

comunidade é o maior

stakeholder.

Beneficiários podem

representar um setor

da comunidade.

Um relatório anual de

interesse comunitário

é requerido

fornecendo indicadores sobre o

envolvimento dos

stakeholders.

Regra de bloqueio de

ativos. Uma limitada

distribuição de lucro

pode ser fornecida (remuneração de

dívida, capital

próprio).

Empresa

Social Lei

1/6/2004

(Lituânia)

Pequenas ou médias

empresas (lei de

SME). A renda de atividades não

suportadas pelas

empresas devem ser

de no máximo 20% da

renda total.

Desenvolvimento das

habilidades sociais e

do trabalho do trabalhador e

integração social.

No mínimo 40% dos

empregados devem

estar classificados como grupo alvo e

pelo menos 4 dos

empregados.

Condições

particulares são

estabilizadas para

empresas sociais para

pessoas com

deficiência.

Qualquer pessoa com

registro legal ou

qualquer outra forma legal; esse é um

status que pode ser

concedido de acordo

com as leis previstas.

Um relatório sobre o

uso dos subsídios a

cada quatro meses e ao final do ano.

Fonte: Travaglini, Bandini e Mancinone, 2010, tradução nossa

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ANEXO 4

Quadro 5. Base legal das cooperativas sociais - França e Espanha

Atividade

Relação com a

Administração

Pública

Força de trabalho Missão

Formas legais e

sistemas de

governança

Envolvimento de

membros e

stakeholders

Prestação de contas Distribuição de

lucros

Cooperativa de

Interesse Geral

Lei 2001-624

(França)

Produção ou suprimento de bens

e serviços

O departamento da prefeitura deve dar 5 anos de aprovação. 20% das divisões

podem ser de propriedade de

organizações públicas locais,

conforme estabelecido nos

Artigos.

Trabalhadores devem ser incluídos como stakeholder primário pela lei.

Interesse coletivo, atividades de

benefício social. Satisfaz

necessidades emergentes e ajuda

inclusão e coesão.

Se Sarl (sociedade de responsabilidade limitada): gerentes

designados por assembleia geral; Se

Sa (sociedade

anônima): conselho e comitê de

fiscalização. "Um membro, um voto",

mas há a possibilidade de

membros colegiados que podem ter de 10% a 50% dos

votos. Fornecimento de

certificado de cooperativa "não

votante" para uma contribuição financeira.

Pelo menos três categorias de

membros devem ser de trabalhadores e

usuários.

50% dos lucros devem ir para um

reserva indivisível, então a distribuição limitada de lucro é

permitida (não

incluindo subsídios públicos para o

cálculo de juros).

Cooperativa de

Iniciativa Social

Lei 27/1999,

Art. 106

(Espanha)

Produção ou provisão de bens e

serviços

Organizações privadas, mas há a possibilidade de ter entidades públicas como membros (se estabelecido pelos

estatutos).

É possível ter atividades que

forneçam integração laboral de pessoas

socialmente excluídas.

Fornecido pela lei segmentos especiais de atividades (saúde, educação, cultura ou qualquer atividade de natureza social)

ou qualquer atividade para a

integração ao trabalho de pessoas em desvantagens.

Um conselho de administração é requerido. Se

providenciado, membros

voluntários podem participar do conselho sem

direitos a voto.

Entidades públicas podem ser membros,

dependendo das clausulas do

estatuto, membros voluntários podem

ser aceitos.

Não permitido, 100% dos superávits

vão para reserva.

Fonte: Travaglini, Bandini e Mancinone, 2010, tradução nossa

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ANEXO 5

Quadro 6. Base legal das cooperativas sociais - Portugal e Grécia

Atividade

Relação com a

Administração

Pública

Força de trabalho Missão

Formas legais e

sistemas de

governança

Envolvimento de

membros e

stakeholders

Prestação de

contas

Distribuição de

lucros

Cooperativa

Social Solidária

Lei 22/12/1998

(Portugal)

Produção ou provisão de bens e

serviços

Satisfação de necessidades sociais,

promoção e integração de pessoas em

desvantagem e outros públicos-

alvo, de acordo com a população portuguesa.

Distinção entre efetivo

(beneficiários e trabalhadores) e

membros

honorários: o primeiro pode ser

parte do corpo diretivo e tem o direito a voto. Conselho de

diretores e conselho de fiscalização

devem ser providenciados.

Provisão de um Conselho Geral composto por

representantes de ambos os membros

efetivos e honorários.

Um balanço social é mandatório em caso de 100 membros ou

mais.

Não permitido, todo o superávit vai para

atividades institucionais.

Cooperativa

Social com

responsabilidade

limitada

Lei 2716/99

(Grécia)

Qualquer atividade econômica ou comercial em

qualquer segmento

Unidades de Saúde Mental dirigida e monitorada pelo departamento de Saúde Mental do

Ministério da Saúde

Inclusão socioeconômica e

integração profissional de indivíduos com

problemas

psicológicos.

Dois tipos de divisão: uma

compulsória, igual e indivisível para

todos os membros, e outra opcional.

Membros: min. 35% (ou numericamente 15) pacientes; Max.

45% de trabalhadores de

hospital psiquiátrico

e 20% privado e institucional.

Fonte: Travaglini, Bandini e Mancinone, 2010, tradução nossa

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ANEXO 6

Quadro 7. Base legal das cooperativas sociais - Polônia

Atividade

Relação com a

Administração

Pública

Força de trabalho Missão

Formas legais e

sistemas de

governança

Envolvimento de

membros e

stakeholders

Prestação de contas Distribuição de

lucros

Cooperativa

Social Lei

27/04/2006

(Polônia)

Atividades qualificadas como

não econômicas

Inscrições para o cadastro de conselho

nacional de cooperativas.

Cooperativas de trabalhadores,

estabelecida por desempregados ou

pessoas em desvantagens.

Reintegração social e/ou profissional de

seus membros.

80% dos membros devem ser de

desempregados e pessoas em

desvantagem. Os outros 20% devem

ser encontrados entre pessoas que

possuam competências que

faltam na cooperativa. Em cooperativas com

mais de 15 membros há um conselho de fiscalização; caso

contrário os membros controlam

diretamente.

Mínimo 5 e máximo 50 membros. ONGs

podem ser membros também se previsto

nos Artigos.

Contabilidade separada relativa às

atividades estatutárias.

Não permitido. Em caso de liquidação,

20% pode ser dividido entre os

membros.

Fonte: Travaglini, Bandini e Mancinone, 2010, tradução nossa

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ANEXO 7

Questionário com a incubadora

1. Qual é o público-alvo da incubadora?

2. Quais as atividades das empresas que passaram e passam pela incubadora?

3. Quais são as etapas do processo de incubação?

4. Como as etapas são realizadas?

5. Há financiamento? Em caso positivo de onde provém a verba e como funciona o processo?

6. Por quanto tempo os negócios ficam incubados?

7. Quais são os critérios para graduar um negócio social?

8. Há apoio pós-graduação?

9. Quantos negócios já passaram pela incubadora?

10. Quantos negócios já graduaram?

11. O que falta nos negócios que não graduaram?

12. Qual é o desempenho dos negócios graduados em relação à sobrevivência, à

sustentabilidade financeira e ao impacto social?

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ANEXO 8

Questionário com as empresas graduadas

1. Como você ficou sabendo da escola de corte e costura?

2. Por qual motivo você procurou a escola?

3. Por que decidiu participar da incubadora?

4. Como você avalia a infraestrutura oferecida pela incubadora (localização, máquinas)?

5. Como você avalia os serviços prestados pela incubadora (treinamento de corte e costura,

recursos oferecidos durante o treinamento como lanche, aulas sobre empreendedorismo,

assessoria jurídica para abertura de CNPJ como microempreendedor individual, assessoria

contábil, software para precificação, visita a fornecedores, visita a clientes, assistência

técnica) depois que você saiu da incubadora?

6. Depois de quanto tempo você começou a ganhar dinheiro? O que achou desse tempo?

7. Você pensou em desistir? Por que?

8. O que você acha dos 10% que são retidos todos os meses e resgatados ao final da

incubação?

9. O que você fez com esse dinheiro?

10. Você recebeu apoio financeiro? Como foi esse processo?

11. Por quanto tempo você ficou incubado? O que achou desse período?

12. Como foi o seu processo de graduação? Você estava pronta para sair? Quando foi isso?

13. E o período pós-graduação?

14. Você conheceu a sua sócia na incubadora?

15. Como você avalia a orientação que você recebeu em relação à gestão de seu negócio?

16. A incubadora atingiu suas expectativas?

17. O seu negócio vai bem?

18. O que você produz?

19. Quantos clientes você tem hoje?

20. Quantos fornecedores você tem hoje?

21. Como você avalia a importância da incubadora para o sucesso de seu negócio?

22. O que mudou em sua vida depois que você participou da incubadora?

23. Você mantém relação com a incubadora? Em caso positivo, como é essa relação? Em

caso negativo, por que não?

24. A sua condição socioeconômica mudou?

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ANEXO 9

Foto1: Fachada da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari

Fonte: autoria própria

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ANEXO 10

Foto 2: Identificação da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari

Fonte: autoria própria

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ANEXO 11

Foto 3: Sala 1 da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari

Fonte: autoria própria

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ANEXO 12

Foto 4: Sala 2 da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari

Fonte: autoria própria

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ANEXO 13

Foto 5: Sala 3 da Escola Empreendedora de Corte e Costura da Fundação Jari

Fonte: autoria própria