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Plano de Pormenor de Salvaguarda do Núcleo Histórico da Cidade de Serpa www.dhv.pt 3.ª Fase DHV, S.A. Abril | 2013 E21256 Estudos de Caracterização Estrada de Alfragide, 92 2610-015 Amadora T +351 214 127400 F +351 214 127490 E [email protected]

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Plano de Pormenor de Salvaguardado Núcleo Histórico da Cidade deSerpa

www.dhv.pt

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3.ª Fase

DHV, S.A.

Abril | 2013E21256

Estudos de Caracterização

Estrada de Alfragide, 92 2610-015 AmadoraT +351 214 127400F +351 214 127490E [email protected]

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Plano de Pormenor de Salvaguarda e Reabilitação do Núcleo Histórico da Cidade de Serpa 1ª Fase – Estudos Sectoriais de Caracterização e Diagnóstico

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ÍNDICE

1. ENQUDRAMENTO E INTEGRAÇÃO URBANA ..................................................................................7

1.1. CENTRO HISTÓRICO/CIDADE DE SERPA NO SISTEMA URBANO REGIONAL .............................................7 1.2. ENQUADRAMENTO DE INTERVANÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE SERPA – GRANDES TEMAS DE REFLEXÃO ................................................................................................................................................ 12

2. ESTRUTURA URBANA E PATRIMÓNIO HISTÓRICO-ARQUEOLÓGICO ..................................... 16

2.1. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO ................................................................................................ 16 2.1.1. Introdução ......................................................................................................................................... 16 2.1.2. Metodologia ....................................................................................................................................... 16

2.1.2.1. Considerações gerais ................................................................................................................... 16 2.1.2.2. Recolha de informação ................................................................................................................. 17 2.1.2.3. Trabalho de campo ....................................................................................................................... 18 2.1.2.4. Registo e inventário ...................................................................................................................... 19

2.1.3. Enquadramento histórico e urbanístico ............................................................................................. 21 2.1.3.1. A ocupação do território da pré-história à actualidade .................................................................. 21 2.1.3.2. O património arqueológico, arquitectónico e a cidade antiga........................................................ 34

3. CARACTERIZAÇÃO DO EDIFICADO .............................................................................................. 48

3.1. ESTRUTURA URBANA .................................................................................................................... 50 3.1.1. Morfologia Urbana ............................................................................................................................. 50

3.2.1.1. Zona Intra-Muralhas ...................................................................................................................... 51 3.2.1.2. Zona Extra-Muros ......................................................................................................................... 52

3.1.2. Espaços Públicos .............................................................................................................................. 52 3.1.3. Quarteirão ......................................................................................................................................... 75

3.2. VOLUMETRIA................................................................................................................................. 76 3.3. AGRUPAMENTO E NÚMERO DE FOGOS ........................................................................................... 80 3.4. TIPO DE OCUPAÇÃO ...................................................................................................................... 83 3.5. ESTADO DE CONSERVAÇÃO ........................................................................................................... 86 3.6. ÉPOCA DE CONSTRUÇÃO .............................................................................................................. 88

3.6.1. ÂMBITO ............................................................................................................................................ 88 3.6.1.1. Serpa medieval: o Gótico .............................................................................................................. 88 3.6.1.2. Serpa quinhentista: o Manuelino o Renascimento e o Maneirismo .............................................. 90 3.6.1.3. Serpa seicentista: a sobrevivência do Maneirismo ....................................................................... 90 3.6.1.4. Serpa setecentista: o Neoclássico ................................................................................................ 91 3.6.1.5. Serpa contemporânea .................................................................................................................. 92

3.6.2. ANÁLISE DO LEVANTAMENTO ....................................................................................................... 94 3.7. SISTEMAS CONSTRUTIVOS ............................................................................................................ 98

3.7.1. ÂMBITO ............................................................................................................................................ 98 3.7.1.1. Materiais e Processos Construtivos .............................................................................................. 98 3.7.1.2. O Alicerce ..................................................................................................................................... 98 3.7.1.3. As Paredes ................................................................................................................................. 100 3.7.1.4. Os Pilares ................................................................................................................................... 102 3.7.1.5. O Arco ......................................................................................................................................... 102 3.7.1.6. As Escadas ................................................................................................................................. 107 3.7.1.7. Os Vãos ...................................................................................................................................... 108 3.7.1.8. O Sobrado................................................................................................................................... 109 3.7.1.9. Os Terraços ................................................................................................................................ 110 3.7.1.10. Os Telhados ........................................................................................................................... 110 3.7.1.11. O Pavimento ........................................................................................................................... 112 3.7.1.12. A Chaminé .............................................................................................................................. 113

3.7.2. TIPOLOGIAS NO CENTRO HISTÓRICO DE SERPA .................................................................... 116

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3.7.2.1. Análise Detalhada do Tipo de Chaminés Existentes .................................................................. 129 3.7.3. CONSTRUÇÃO DE PAREDES EXTERIORES ............................................................................... 133

3.7.3.1. Paredes em Terra ....................................................................................................................... 133

4. ESTRUTURA VERDE E AMBIENTAL ............................................................................................ 141

4.1. CARACTERIZAÇÃO ....................................................................................................................... 141 4.2. FISIOGRAFIA ............................................................................................................................... 141 4.3. CLIMA E MICROCLIMA .................................................................................................................. 142 4.4. SOLOS ....................................................................................................................................... 143 4.5. ESTRUTURA VERDE E AMBIENTAL ................................................................................................ 143

5. REDE DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS .................................................................................... 146

6. REDE VIÁRIA, CIRCULAÇÃO E ESTACIONAMENTO ................................................................. 149

6.1. CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTES ACTUAL .......................................... 149 6.1.1. Objectivos........................................................................................................................................ 150 6.1.2. Caracterização da Rede viária e Circulação ................................................................................... 150

6.1.2.1. Características físicas e geométricas ......................................................................................... 151 6.1.2.2. Esquema de Circulação .............................................................................................................. 154 6.1.2.3. Hierarquização da rede viária ..................................................................................................... 155

6.1.3. Caracterização do Estacionamento ................................................................................................. 156 6.1.4. Circulação pedonal .......................................................................................................................... 161 6.1.5. Transportes públicos ....................................................................................................................... 162 6.1.6. Cargas e descargas ........................................................................................................................ 163

7. REDES DE INFRA-ESTRUTURAS URBANÍSTICAS ..................................................................... 164

7.1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 164 7.2. REDE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA ............................................................................................. 164

7.2.1. Caracterização da rede ................................................................................................................... 164 7.3. REDE DE DRENAGEM DE ÁGUAS RESIDUAIS DOMÉSTICAS ............................................................. 165

7.3.1. Caracterização da rede ................................................................................................................... 165 7.4. REDE DE DRENAGEM DE ÁGUAS RESIDUAIS PLUVIAIS ................................................................... 165

7.4.1. Caracterização da rede ................................................................................................................... 165 7.5. REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA .............................................................. 166

7.5.1. Caracterização da rede ................................................................................................................... 166

8. DINÂMICA DEMOGRÁFICA E SÓCIO-ECONÓMICA.................................................................... 167

8.1. DEMOGRAFIA.......................................................................................................................... 167 8.1.1. Tendências Regionais ..................................................................................................................... 167 8.1.2. Quadro Demográfico Concelhio e Local .......................................................................................... 169

8.1.2.1 Evolução e distribuição da população ......................................................................................... 169 8.1.2.2 Dinâmica demográfica ................................................................................................................ 170 8.1.2.3 Estrutura etária ........................................................................................................................... 171 8.1.2.4 Famílias ...................................................................................................................................... 173

8.2. ESTRUTURA SÓCIO-ECONÓMICA ........................................................................................ 174 8.2.1. Condição da População Perante o Emprego .................................................................................. 174 8.2.2. Base Económica ............................................................................................................................. 175

8.2.2.1. Estrutura empresarial concelhia .................................................................................................. 176 8.2.3. Sectores de Actividade .................................................................................................................... 179

8.2.3.1. Agricultura, Pecuária e Silvicultura ............................................................................................. 179 8.2.3.2. Indústria e Construção ................................................................................................................ 180 8.2.3.3. Comércio e Serviços ................................................................................................................... 180 8.2.3.4. Turismo ....................................................................................................................................... 181

8.2.4. Estrutura Económica na Área de Intervenção ................................................................................. 186

9. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 190

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ÍNDICE DE PEÇAS DESENHADAS

21256-F1-PP-0001: Planta de Enquadramento

21256-F1-PP-0002: Planta da Situação Existente

21256-F1-PP-0003: Planta de Codificação

21256-F1-PP-0004: Planta de Valores Patrimoniais e Históricos

21256-F1-PP-0005: Planta de Volumetrias

21256-F1-PP-0006: Planta do Número de Fogos

21256-F1-PP-0007: Planta do Estado de Conservação da Fachada

21256-F1-PP-0008: Planta do Estado de Conservação da Cobertura

21256-F1-PP-0009: Planta de Usos

21256-F1-PP-0010: Planta da Época de Construção

21256-F1-PP-0011: Planta da Estrutura Verde e Ambiental

21256-F1-PP-0012: Planta da Rede Viária, Circulação e Estacionamento

21256-F1-PP-0013: Planta da Rede de Infra-estruturas I

21256-F1-PP-0014: Planta da Rede de Infra-estruturas II

ÍNDICE DE ANEXOS Anexo I

Figura 1 – Divisão Estatística das Freguesias da Área de Intervenção

Figura 2 - População Residente, 2001

Figura 3 - Taxa de Variação da População Residente, 1991/2001

Figura 4 - Proporção Jovens, 2001

Figura 5 - Proporção de Idosos, 2001

Figura 6 - Número de Famílias, 2001

Figura 7 - Taxa de Variação do Número de Famílias, 1991/2001

Figura 8 - Dimensão Média da Família, 2001

Figura 9 - Alojamentos Familiares de Residência Habitual, 2001

Figura 10 - Percentagem de Alojamentos Familiares Vagos, 2001

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Figura 11 - Percentagem de Edifícios com menos de 30 anos, face ao total de edifícios

Figura 12 - Percentagem de Edifícios Principalmente não Residenciais, 2001

Figura 13 - Percentagem de Alojamentos Familiares de Residência Habitual com Água, 2001

Figura 14 - Percentagem de Alojamentos Familiares de Residência Habitual com Esgotos, 2001

Anexo II 21256-F1-PP-AN-001 - Paisagem e Estrutura Verde - Hipsometria

21256-F1-PP-AN-002 - Paisagem e Estrutura Verde - Declives

21256-F1-PP-AN-003 - Paisagem e Estrutura Verde - Levantamento da Situação Actual

Anexo III 21256-F1-PP-AN-001 – Largo da Nossa Senhora dos Remédios

21256-F1-PP-AN-002 – Rua de Santo António

21256-F1-PP-AN-003 – Largo das Portas de Moura

21256-F1-PP-AN-004 – Travessa das Mal Lavadas

21256-F1-PP-AN-005 – Rua dos Farises

21256-F1-PP-AN-006 – Rua Nova da Porta Nova

21256-F1-PP-AN-007 – Rua das Varandas

21256-F1-PP-AN-008 – Rua dos Baloiços

21256-F1-PP-AN-009 – Rua do Meio

21256-F1-PP-AN-010 – Rua Bráz Carrasco

21256-F1-PP-AN-011 – Terreiro Humberto Delgado

21256-F1-PP-AN-012 – Rua Rosa Machado

21256-F1-PP-AN-013 – Rua da Fonte Santa

21256-F1-PP-AN-014 – Rua dos Arcos

21256-F1-PP-AN-015 – Rua de São Pedro

21256-F1-PP-AN-016 – Rua dos Lagares (antiga Rua da Liberdade)

21256-F1-PP-AN-017 – Rua de Nossa Senhora

21256-F1-PP-AN-018 – Rua das Portas de Beja

21256-F1-PP-AN-019 – Rua dos Canos

21256-F1-PP-AN-020 – Rua da Capelinha

21256-F1-PP-AN-021 – Largo Dom Martim Afonso de Melo

21256-F1-PP-AN-022 – Rua da Ladeira do Amaral

21256-F1-PP-AN-023 – Rua do Jardim

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21256-F1-PP-AN-024 – Rua da Parreira

21256-F1-PP-AN-025 – Rua de Frei Bento (antiga Travessa da Figueira)

21256-F1-PP-AN-026 – Rua do Cano

21256-F1-PP-AN-027 – Rua da Figueira

21256-F1-PP-AN-028 – Largo dos Condes de Ficalho

21256-F1-PP-AN-029 – Travessa do Castelo

21256-F1-PP-AN-030 – Terreiro do Castelo

21256-F1-PP-AN-031 – Largo dos Santos Próculo e Hilarião

21256-F1-PP-AN-032 – Rua do Prior

21256-F1-PP-AN-033 – Rua do Governador

21256-F1-PP-AN-034 – Rua do Poço da Talha

21256-F1-PP-AN-035 – Largo Dom Jorge de Melo

21256-F1-PP-AN-036 – Praça da República

21256-F1-PP-AN-037 – Rua dos Cavalos

21256-F1-PP-AN-038 – Rua da Barbacã

21256-F1-PP-AN-039 – Rua de Pedro Anes

21256-F1-PP-AN-040 – Rua da Cadeia Velha

21256-F1-PP-AN-041 – Travessa do Serra

21256-F1-PP-AN-042 – Rua Roque da Costa

21256-F1-PP-AN-043 – Terreiro de São João

21256-F1-PP-AN-044 – Travessa de São Paulo

21256-F1-PP-AN-045 – Largo de São Paulo

21256-F1-PP-AN-046 – Largo do Corro

21256-F1-PP-AN-047 – Rua do Doutor Manuel Corte Real Abranches

21256-F1-PP-AN-048 – Rua dos Fidalgos

21256-F1-PP-AN-049 – Rua Dom Fernando Barreto

21256-F1-PP-AN-050 – Rua Quente

21256-F1-PP-AN-051 – Rua do Assento

21256-F1-PP-AN-052 – Rua João Valente

21256-F1-PP-AN-053 – Rua dos Quartéis

21256-F1-PP-AN-054 – Rua Nova (antiga Rua Soldado Luís)

21256-F1-PP-AN-055 – Rua Braz Gonçalves

21256-F1-PP-AN-056 – Rua de João Lampreia

21256-F1-PP-AN-057 – Rua Ajudante da Terra

21256-F1-PP-AN-058 – Rua do Prego (antiga Rua das Escadinhas)

21256-F1-PP-AN-059 – Travessa do Quebra Costas

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21256-F1-PP-AN-060 – Rua da Ladeira

21256-F1-PP-AN-061 – Rua dos Barrigos

21256-F1-PP-AN-062 – Rua de Sevilha

21256-F1-PP-AN-063 – Rua António Carlos Calisto

21256-F1-PP-AN-064 – Rua Estreita

21256-F1-PP-AN-065 – Terreiro João Prelado

21256-F1-PP-AN-066 – Largo Prior de Belas

21256-F1-PP-AN-067 – Rua da Era

21256-F1-PP-AN-068 – Rua Padre Medeiros

21256-F1-PP-AN-069 – Rua do Águio

21256-F1-PP-AN-070 – Rua de Mértola

21256-F1-PP-AN-071 – Largo da Cruz Nova

21256-F1-PP-AN-072 – Rua das Amendoeiras

21256-F1-PP-AN-073 – Travessa das Amendoeiras

21256-F1-PP-AN-074 – Rua de São Roque

21256-F1-PP-AN-075 – Largo 5 de Outubro

21256-F1-PP-AN-076 – Largo do Salvador / Rua do Salvador

21256-F1-PP-AN-077 – Travessa do Salvador

21256-F1-PP-AN-078 – Rua do Calvário

21256-F1-PP-AN-079 – Largo da Corredoura

21256-F1-PP-AN-080 – Rua das Cruzes

Anexo IV 21256-F1-PP-AN4-001: Tabela de Caracterização do Edificado do Centro Histórico da Cidade de Serpa

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1. ENQUDRAMENTO E INTEGRAÇÃO URBANA

1.1. CENTRO HISTÓRICO/CIDADE DE SERPA NO SISTEMA URBANO REGIONAL

Núcleo Histórico da Cidade de Serpa

A área do presente plano corresponde ao núcleo histórico da cidade de Serpa, que inclui uma área principal intramuros e outra extramuros.

Na primeira destas áreas é ainda possível distinguir duas zonas distintas, uma (com cerca de 2 ha) localizada numa pequena elevação dominante que seria limitada por uma muralha mais antiga, e outra limitada pela actual cerca urbana (com uma área total de cerca de 6 hectares).

É sobretudo o primeiro núcleo, mais antigo, que se evidencia na paisagem envolvente, numa posição dominante e limitada por uma faixa de declives relativamente acentuados.

O território do concelho de Serpa estende-se por uma área de cerca de 1.105,6 km2 e divide-se em 7 freguesias. Em 2001 residiam no Concelho 16.723 habitantes, dos quais 3.550 concentravam-se no interior do perímetro do Centro Histórico da Cidade de Serpa (21,2%).

A nível administrativo Serpa insere-se no distrito de Beja e está integrado na Sub-região do Baixo Alentejo (NUT III) no que se relaciona com as nomenclaturas das unidades territoriais para fins estatísticos.

O sistema urbano do Alentejo, no qual Serpa está inserido, apresentou nas últimas décadas um reforço demográfico dos principais centros urbanos, suportado no crescimento do sector terciário e em detrimento dos aglomerados populacionais de menor dimensão.

O fortalecimento do sistema urbano regional fez-se, fundamentalmente, à custa das cidades capitais de distrito, nomeadamente de Beja, cuja performance sócio-económica tem-se revelado mais dinâmica face ao restante território regional.

De acordo com os Censos 2001, 15,7% da população residente na Região Alentejo vivia nos cinco aglomerados com mais de 15.000 habitantes (Évora, Santarém, Beja, Portalegre e Elvas) e 21,1% em 22 aglomerados entre os 5.000 e 15.000 habitantes (entre os quais se enquadra Serpa). Estes centros apresentam-se, em geral, dotados de serviços públicos associados à sua função político-administrativa e revelam uma maior oferta de emprego (indústria, comércio e serviços).

Todavia, o sistema urbano regional continua a apresentar fortes debilidades, fundamentalmente associadas ao reduzido relacionamento funcional entre os centros urbanos, nomeadamente no que respeita à falta de complementaridade de equipamentos e oferta de bens e serviços.

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De uma forma geral, constata-se existir nas várias escalas de análise (intra-regional e intra-concelhia) uma fraca relação entre os pólos urbanos e o restante território, em parte devido a ritmos muito diferenciados de crescimento e investimento. Estas situações promovem a concentração demográfica nos centros urbanos mais dinâmicos, fenómeno que é acompanhado pela descaracterização da imagem das cidades e aglomerados urbanos, nomeadamente nas novas expansões, e pelo esvaziamento demográfico e abandono dos aglomerados rurais.

De acordo com os documentos já elaborados do Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo, o Concelho em apreço encontra-se integrado no Subsistema Urbano do Sul, que se organiza em torno de Beja e ainda de Moura, Serpa e Castro Verde (Figura 1). Sendo referido que o potencial de desenvolvimento deste subsistema surge associado à atractividade administrativa e do futuro aeroporto de Beja, ao eixo industrial de Castro Verde – Aljustrel, ao elevado valor patrimonial de Mértola, à polarização residencial de Serpa e de Ferreira do Alentejo e à afirmação de Moura na estrutura urbana de Alqueva.

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T

T

e

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L IS BO A

L IS B O A E

V A LE D O T E J O

E S P A N H A

A LG A R V E

B a d a jo z

(1 4 0 00 0 h a b . )

S ev ilh a 2 1 9 K m

M a d r id 4 03 K m

B ar c e lo n a 1 0 22 K m

A B R A N TES

0 1 0 K m

C orre dores n acio nais e reg iona is

F luxo s ca sa -tra balh o (2 001 )

Porto sTAeropo rtose

N

S istem a s urba nos e struturantes

S istem a s urba nos c om p lem en tare s

Polar idad es reg io na is

P rin cipais rios e albu fe iras

C entros u rb ano s re gion ais

C entros u rb ano s es truturan tes

C entros u rb ano s co m plem entares R ede viá r ia pr in cipa l

R ede fe rrov iá ria

Figura 1 - Modelo territorial do sistema urbano

Fonte: CCDR Alentejo, Plano Regional de Ordenamento do Território do Alentejo – Opções Estratégicas de Base Territorial/Modelos Territoriais Sectoriais (Documento de Trabalho), Maio de 2007.

A nível económico o contributo do Alentejo para a produção de riqueza é relativamente modesto. Com efeito, a região representa somente 6,5% do PIB

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português no ano de 2003, situando-se o PIB per capita (89 pontos em 2003) cerca de 11% abaixo da média nacional.

No contexto sub-regional, registam-se diferenças significativas entre as NUTS III, com destaque para a Lezíria do Tejo, onde é gerado 33,2% do PIB do Alentejo (Figura 1.1.2). Por seu turno, as sub-regiões do Alto Alentejo e Baixo Alentejo detêm o menor peso relativo com, respectivamente, 14,9% e 13,9% do PIB regional.

Gráfico 1 - Evolução do PIB per capita 1995 - 2003

Fonte: Augusto Mateus et al., com base em dados do INE, contas regionais

Historicamente a base económica da Região Alentejo assentava na agricultura. Todavia, a evolução registada nos últimos anos revelou um aumento da importância que o sector terciário passou a assumir no quadro da economia regional, relegando a agricultura para um plano inferior no conjunto dos três principais sectores de actividade. Em termos globais, é o sector terciário que mais contribui para o valor acrescentado bruto (VAB) regional, com um peso relativo de 56,6% (dados de 2003), seguindo-se o sector secundário com 27,1% do VAB regional, e o sector primário com apenas 16,3%.

Apesar das alterações na base económica regional, o sector primário no Alentejo continua a deter uma importância muito superior à média nacional, pelo que o padrão de especialização regional continua a ser globalmente marcado pela relevância da produção agrícola.

Paralelamente, o perfil de especialização produtiva do Alentejo apresenta uma importância relevante dos serviços de carácter não transaccionável, nomeadamente nas áreas da educação, administração pública e acção social. Por outro lado, os serviços de apoio à actividade económica apresentam um peso manifestamente reduzido, sobretudo nos serviços de maior valor acrescentado, como é o caso das actividades financeiras e dos serviços prestados às empresas (em 2003 o peso relativo das actividades financeiras no VAB nacional era de 6,3%, ao passo que na Região se cifrava em 3,0%), confirmando uma reduzida “densidade empresarial” da

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região e a escassez de serviços de suporte ao desenvolvimento e inovação do tecido económico.

A Administração Pública assume na Região Alentejo um peso superior face à média nacional, não sendo alheio o facto de em alguns concelhos as autarquias surgirem como os maiores empregadores, devido ao escasso dinamismo empresarial.

A baixa produtividade da economia alentejana resulta do facto da sua base económica ser pouco diversificada e por apresentar uma reduzida capacidade para gerar emprego.

Relativamente à capacidade exportadora do Alentejo, cabe referir que o volume das exportações per capita da região entre 1995 e 2002 manteve-se a níveis inferiores à média do país. Esta situação resulta de uma excessiva focalização do tecido empresarial do Alentejo no mercado local e regional (dimensão reduzida das empresas, reduzida capacidade de investimento, frágeis estruturas de capital, etc) contribuem para explicar uma deficiente inserção do sector produtivo no mercado internacional.

Gráfico 2 - Dimensão da actividade exportadora por NUT III (euros per capita)

Fonte: Augusto Mateus et al., com base em dados do INE, estatísticas do comércio internacional e contas regionais

A estrutura empresarial do Alentejo caracteriza-se por assentar, maioritariamente, em empresas de pequena dimensão. De acordo com os dados do INE, 87,7% do total de estabelecimentos sedeados na Região têm menos de 10 trabalhadores, suplantando a média nacional que se situa em torno dos 84,5%.

O tecido empresarial nesta região estrutura-se, fundamentalmente, em torno de 4 ramos de actividade, designadamente no sector do comércio por grosso e a retalho (31,0%), na agricultura e pescas (20,8%), na construção civil (15,0%) e no alojamento e restauração (11,2%).

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No tocante à especialização da base económica regional, cabe referir o Plano Regional de Inovação do Alentejo , no qual foram analisados diversos clusters estratégicos. Nesse plano é referida a coexistência de clusters tradicionais e clusters emergentes na economia regional.

Os clusters tradicionais estão associados à estrutura produtiva local e integram a indústria agro-alimentar, a vitivinicultura, a cortiça e rochas ornamentais, carecendo de uma aposta na inovação, de modo a acrescentar-lhes valor e reforçar a sua capacidade competitiva a nível nacional e internacional. Neste âmbito destaca-se o sector do Olival e do Azeite e a consolidação da fileira oleícola, onde os azeites de Moura/Serpa se destacam pela sua qualidade e potencial enquanto produto regional de excelência e pela forte ligação com a tradição industrial local.

Os clusters emergentes, estão relacionados com a inovação tecnológica e com a oferta de emprego altamente qualificado. Dos clusters emergentes, assumem particular relevância: as tecnologias de informação e comunicação (TIC), o automóvel, a aeronáutica e a produção de energias renováveis, nomeadamente na sua componente da energia fotovoltaica. Este último cluster apresenta um elevado potencial de crescimento, atestado pela localização de duas centrais de grande dimensão, designadamente em Serpa (11 MW) e Moura (64 MW), bem como um conjunto de centrais de menor dimensão que se encontram em processo de instalação na região. Todavia, a consolidação deste cluster na região está dependente do estabelecimento de uma forte integração da capacidade de produção de energia e de produção de componentes industriais neste sector com as instituições de conhecimento e de investigação (regionais e nacionais), como por exemplo a Universidade de Évora e o Instituto Politécnico de Beja.

Serpa poderá ainda tirar partido do potencial de desenvolvimento regional associado ao corredor Sines – Beja – Vila Verde de Ficalho, ancorado na plataforma logístico-industrial de Sines e no aeroporto de Beja, assim como do potencial de articulação transfronteiriça com a Andaluzia. Os projectos de desenvolvimento local deverão estar consonantes com esta perspectiva de desenvolvimento regional, tirando partido das oportunidades que daí advirão.

1.2. ENQUADRAMENTO DE INTERVANÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE SERPA – GRANDES TEMAS DE REFLEXÃO

Globalização

Hoje em dia, a maior ameaça aos centros históricos das cidades, e sobretudo de pequenas cidades como Serpa, reside no fenómeno da globalização, que conduz a uma cada vez maior homogeneidade e simplificação da paisagem urbana, com a progressiva eliminação dos aspectos únicos e diferenciadores que as caracterizam.

Sobretudo nos países mais desenvolvidos, é cada vez mais difícil encontrar o Genius Loci diferenciador, que torna determinados locais únicos à escala global.

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Se o fenómeno da globalização é a actual grande ameaça, constitui também a grande oportunidade, já que aqueles que melhor conseguirem aproveitar as suas vantagens e controlar os seus efeitos mais nefastos estarão em condições de ganhar vantagem competitiva a longo prazo, que se evidenciará, por exemplo, num crescimento sustentado de um turismo de qualidade.

Desenvolvimento sustentável

O “combate” à globalização não implica uma paragem no tempo em que a protecção do património (arqueológico, edificado e natural) se sobrepõe à necessária evolução tecnológica e melhoria das condições de vida das populações locais. Implica, isso sim, uma maior exigência em termos de qualidade e adequação das intervenções, num total respeito pelo património existente.

O conceito de desenvolvimento sustentável está patente na lei de bases do ordenamento do território e do urbanismo e no regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial (Lei nº 48/98, de 11 de Agosto e Decreto-Lei nº 380/99, de 22 de Setembro), designadamente no que se refere aos princípios a observar pelos instrumentos de gestão territorial, os quais devem assegurar a harmonização dos vários interesses públicos com expressão espacial, tendo em conta as estratégias de desenvolvimento económico e social, bem como a sustentabilidade e a solidariedade intergeracional na ocupação e utilização do território.

No caso presente, não será possível alcançar um desenvolvimento sustentável na cidade de Serpa sem garantir simultaneamente o progresso e aumento da qualidade de vida da população e a preservação patrimonial, sendo fundamental que sejam encontradas as soluções mais adequadas que permitam conciliá-los.

De um modo geral o privilégio de cada uma destas duas vertentes terá como principal consequência a descaracterização ou a desertificação do centro histórico, sendo fundamental que se encontrem as medidas mais adequadas que contrariem, em simultâneo estas duas tendências.

Alguns factores que contribuem para a desertificação do centro histórico de Serpa

A progressiva desertificação que se tem vindo a verificar no centro histórico de Serpa resulta sobretudo das dificuldades em compatibilizar o estilo de vida actual e as suas exigências com a preservação morfológica e patrimonial destas áreas. Apresentam-se de seguida alguns factores que contribuem para esta desertificação:

Morosidade resultante do eventual aparecimento de achados arqueológicos afasta muitos dos potenciais investidores, por contribuir para atrasar e dificultar qualquer obra no interior desta área.

Existência de espaços de circulação e estacionamento pouco adaptados a uma utilização cada vez mais intensa do automóvel e inexistência de alternativas a este meio de transporte.

Morfologia urbana e volumetria do edificado pouco adaptadas às actuais exigências da população e das edificações mais modernas.

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Redes de infra-estruturas antigas que não respondem a muitas das exigências actuais.

Fraca presença de equipamentos públicos, nomeadamente de recreio e lazer, que surgem fundamentalmente distribuídas pelas áreas mais recentes da cidade.

Ausência de pequenos espaços de recreio e lazer de proximidade, sobretudo importantes para os estratos etários extremos da população (crianças e idosos).

Alguns factores que contribuem para a descaracterização do centro histórico de Serpa

À semelhança do referido no ponto anterior tem-se verificado uma lenta e progressiva descaracterização do centro histórico de Serpa, que resulta sobretudo das dificuldades em compatibilizar o estilo de vida actual e as suas exigências com a preservação morfológica e patrimonial destas áreas. No entanto, são evidentes os esforços que têm vindo a ser feitos e que têm evitado uma mais profunda descaracterização da cidade. Apresentam-se de seguida alguns factores que contribuem para esta descaracterização:

As justificadas aspirações da população por um maior conforto e qualidade de vida não se compadecem com a demora no surgimento de regulamentações que privilegiem a adopção das soluções que mais se adequam ao interior de um centro histórico, levando ao surgimento de elementos dissonantes que penalizam a qualidade visual da paisagem urbana. São exemplos: os cabos eléctricos aéreos, os cabos de telefone, as antenas de televisão, os aparelhos de ar condicionado, etc.

Tal como referido no ponto anterior, a ausência de normas e regulamentos que balizem as novas intervenções nos espaços públicos levam ao surgimento de alguns (poucos) elementos dissonantes que penalizam a qualidade visual da paisagem urbana. São exemplos: o mobiliário urbano, os candeeiros de iluminação pública, os materiais utilizados nestes, bem como nos pavimentos e revestimentos, etc.

A expansão da cidade nas áreas extramuros (e sobretudo entre poente e nascente pelo lado norte) deveria acautelar melhor os elementos que conferem a Serpa um carácter único (fruto de uma conjugação original entre morfologia territorial e património construído), não permitindo nunca que a ocupação urbana e as intervenções mais recentes os afectem e desvalorizem.

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Viabilidade económica das intervenções propostas

À partida, muitas das intervenções a serem propostas no âmbito do presente plano poderão vir a ser contempladas num futuro programa POLIS para o núcleo histórico da cidade de Serpa.

Seria de todo o interesse que, numa pequena cidade como Serpa, se privilegiassem intervenções geograficamente mais abrangentes no âmbito deste programa, estendendo-as à generalidade do centro histórico, procurando promover uma qualificação geral do mesmo, em vez de privilegiar intervenções mais dispendiosas nas zonas de maior centralidade.

Desta forma seriam mais abrangentes os benefícios à população e aos visitantes, e mais evidentes os efeitos na qualificação da paisagem urbana global do centro histórico.

São exemplos de intervenções consideradas prioritárias: o enterramento das infra-estruturas aéreas (electricidade, telefone,...), eliminação de antenas de televisão e sua substituição por ligações por cabo, etc.

Isto não significa que não sejam também concretizadas intervenções mais qualificadoras nas zonas de maior centralidade, mas devidamente ponderadas no âmbito de uma abordagem integrada à globalidade do centro histórico.

É importante referir que o actual Programa Operacional Regional (2007/2013) privilegia programas integrados de acções relativamente a projectos isolados.

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2. ESTRUTURA URBANA E PATRIMÓNIO HISTÓRICO-ARQUEOLÓGICO

2.1. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO

2.1.1. Introdução

O presente capítulo consiste na caracterização e diagnóstico sobre o património histórico-cultural integrado no núcleo histórico da cidade de Serpa.

Trata-se de uma área de estudo particularmente sensível do ponto de vista arqueológico.

A evolução histórica de uma cidade é indissociável da leitura e interpretação dos espaços, dos edifícios, dos monumentos que a compõem e simultaneamente é indissociável da dinâmica diacrónica do território no qual se integra e com o qual interage.

2.1.2. Metodologia

2.1.2.1. Considerações gerais A metodologia geral de caracterização do património histórico-cultural existente no núcleo histórico da cidade de Serpa consiste na sistematização da informação disponível, relativa a:

Achados arqueológicos e potencial do subsolo (nomeadamente, o valor, o número e locais onde existem ou possam existir, de onde provêm notícias de ocorrência de vestígios) e elementos edificados (no que respeita a tipologias, estado de conservação, usos, cronologias, alterações, etc.);

Desenvolvimentos da investigação arqueológica e patrimonial na área e os conhecimentos que permitiram alcançar, sobre a evolução da malha urbana;

Esta recolha de informação permite reconstituir a evolução histórica do tecido urbano, de forma coerente, fundamentada em bases científicas e devidamente actualizada.

Para uma correcta leitura da área de incidência do Plano é necessário ter em consideração não apenas as ocorrências integradas na mesma, mas também nas áreas adjacentes, em espaços de possível expansão urbana e mesmo no território rural envolvente.

São consideradas três etapas fundamentais de investigação:

Recolha de informação;

Trabalho de campo;

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Registo e inventário.

Na implementação da metodologia de pesquisa foram considerados distintos elementos patrimoniais, nomeadamente, os materiais, as estruturas e os sítios incluídos nos seguintes âmbitos:

Património abrangido por figuras de protecção, compreendendo os imóveis classificados e em vias de classificação ou outros monumentos, sítios e áreas protegidas, incluídos em cartas de condicionantes dos planos directores municipais e outros planos de ordenamento e gestão territorial;

Sítios e estruturas de reconhecido interesse patrimonial e/ou científico, que não estando abrangidos pela situação anterior, constem em trabalhos de investigação creditados, em inventários nacionais e ainda aqueles cujo valor se encontra convencionado;

Estruturas singulares, testemunhos de humanização do território, representativos dos processos de organização do espaço e de exploração dos seus recursos naturais em moldes tradicionais, definidos como património vernáculo.

Assim, aborda um amplo espectro de realidades:

Elementos arqueológicos em sentido restrito (achados isolados, manchas de dispersão de materiais, estruturas parcial ou totalmente cobertas por sedimentos, locais de informação paleo-ambiental);

Vestígios de rede viária e caminhos antigos;

Vestígios de mineração, pedreiras e outros indícios materiais de exploração de matérias-primas;

Estruturas hidráulicas e industriais;

Estruturas defensivas e delimitadoras de propriedade;

Estruturas de apoio a actividades agro-pastoris;

Estruturas funerárias e/ou religiosas.

2.1.2.2. Recolha de informação A recolha de informação incide sobre registos de natureza distinta:

Manancial bibliográfico – através de desmontagem comentada do máximo de documentação específica disponível, de carácter geral ou local;

Suporte cartográfico – base da pesquisa toponímica e fisiográfica (na escala 1:25.000 folha 532 da CMP, IGeoE) e da recolha comentada de potenciais indícios.

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O levantamento bibliográfico baseia-se nas seguintes fontes de informação:

Inventários Patrimoniais de organismos públicos (Endovélico do Instituto Português de Arqueologia; Base de dados do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico, base Thesaurus do Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais);

Bibliografia especializada;

Instituições públicas ou privadas com colecções de arqueologia e um papel interventivo ao nível do património local;

Planos de ordenamento e gestão do território;

Projectos de investigação e processos de avaliação de impactes existentes na região.

A pesquisa incidente sobre documentação cartográfica levou à obtenção de um A pesquisa incidente sobre documentação cartográfica levou à obtenção de um levantamento sistemático de informação de carácter fisiográfico e toponímico.

O objectivo desta tarefa foi identificar indícios potencialmente relacionados com vestígios e áreas de origem antrópica antiga.

As características próprias do meio determinam a especificidade e a implantação mais ou menos estratégica de alguns valores patrimoniais. As condicionantes do meio físico reflectem-se ainda na selecção dos espaços onde se instalaram os núcleos populacionais e as áreas nas quais foram desenvolvidas actividades depredadoras ou produtivas ao longo dos tempos.

Assim, a abordagem da orohidrografia do território é indispensável na interpretação das estratégias de povoamento e de apropriação do espaço, mas é também uma etapa fundamental na planificação das metodologias de pesquisa de campo e na abordagem das áreas a abordar.

Frequentemente, através do levantamento toponímico, é possível identificar designações com interesse, que reportam a existência de elementos construídos de fundação antiga, designações que sugerem tradições lendárias locais ou topónimos associados à utilização humana de determinados espaços em moldes tradicionais.

A pesquisa bibliográfica permite traçar um enquadramento histórico para a área em estudo. Com este enquadramento procura-se facultar uma leitura integrada de possíveis achados, no contexto mais amplo da diacronia de ocupação do território.

Desta forma, são apresentados os testemunhos que permitem ponderar o potencial científico e o valor patrimonial da área de incidência do Plano e do seu entorno imediato.

2.1.2.3. Trabalho de campo

Nos termos da Lei (Decreto-Lei n.º 270/99 de 15 de Julho – Regulamento dos Trabalhos Arqueológicos, com as alterações que lhe foram introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 287/2000 de 10 de Novembro) a prospecção arqueológica é

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previamente autorizada pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico.

A metodologia de pesquisa pressupõe a execução de trabalhos de prospecção arqueológica sistemática, quando se verifica a necessidade de verificar áreas ainda não urbanizadas.

2.1.2.4. Registo e inventário

A inventariação pretendeu corresponder ao levantamento sistemático, actualizado e exaustivo das ocorrências de valor patrimonial presentes na área de incidência do Programa Polis, tendo em vista a identificação e descrição destas ocorrências.

O levantamento integra os imóveis classificados e em vias de classificação e os elementos que embora não sejam objecto de protecção legal específica mereçam uma protecção e valorização especial, devido a um interesse histórico-cultural relevante.

Os resultados são apresentados de forma sintética no Anexo XX, soba forma de inventário organizado de acordo com diferentes vertentes temáticas abordadas.

Neste ponto é necessário proceder à explicação conceptual dos termos utilizados no Inventário do Património Arqueológico e Arquitectónico de Núcleo Histórico de Serpa integrado neste Plano.

Nº de inventário – referência numérica atribuída a cada um dos bens culturais imóvies, à qual também se reporta a cartografia de localização;

Designação – referência toponímica do bem cultural imóvel;

Localização geográfica – registo das coordenadas geográficas;

Localização administrativa – indicação da freguesia onde se insere;

Categoria – referência conceptual, que estabelece a distinção entre os elementos de carácter arqueológico e de carácter arquitectónico;

Tipologia – referência ao tipo de sítio ou imóvel de acordo com os critérios empregues nas bases de dados nacionais, Endovélico (aplicados aos vestígios arqueológicos) e Thesaurus (aplicados aos imóveis);

Cronologia – enquadramento crono-cultural, sendo que esta poderá ser indeterminada, enquanto que a referência a vários períodos pressupõe um significado cumulativo.

Constam do inventário os bens culturais que se inscrevem nos critérios seguidamente definidos, que conferem e que conferem valor patrimonial aos sítios, estruturas e monumentos:

Potencial cientifico – Pertinência para as problemáticas cientificas, como exponente de funcionalidade, de cronologia, etc.;

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Significado histórico-cultural – Considera-se marco de relevância histórica e ponto de referência para a tradição e cultura tanto local como nacional;

Interesse público – Grau de valoração atribuído pela comunidade local/nacional e entidades competentes;

Raridade/singularidade – Consideração da cronologia/funcionalidade do sítio/monumento verificando-se a presença/ausência e número de paralelos;

Antiguidade – Ponderação da dimensão cronológica;

Dimensão/monumentalidade – Associação entre a componente estética/artística e a dimensão das estruturas;

Padrão estético – Ponderação dos padrões e preocupações estéticos empregues na edificação da estrutura;

Estado de conservação – A análise da preservação das estruturas face ao período de referência;

Inserção paisagística – Grau de integração paisagística no meio envolvente e indícios de degradação/preservação da paisagem de enquadramento original.

O inventário encontra-se materializado no Desenho x – Carta do Património Arqueológico e Arquitectónico do Núcleo Histórico de Serpa, que constitui a representação cartográfica do trabalho de recolha de informação e de compilação de dados, abrangendo os vestígios de natureza arqueológica, os imóveis de valor arquitectónico e os elementos com interesse etnográfico.

A cartografia é baseada numa sustentação, justificação e definição dos critérios subjacentes sua à elaboração. Esta procura sistematizar o conhecimento e mesmo actualizar, corrigir e afinar as informações disponíveis nas bases de dados (IPA, IPPAR, DGEMN e CMS) e na bibliografia/cartografia.

Os critérios que presidem à sua elaboração consistem na representação de todos os achados e intervenções arqueológicas, indispensáveis para a composição de uma carta arqueológica e arquitectónica urbana e consequente aferição de sensibilidade/risco.

São representados todos os elementos patrimoniais identificados e listados, de forma individualizada, perfeitamente delimitada (quer sejam edifícios, quer sejam áreas de dispersão de vestígios e respectivos perímetros de protecção).

A apresentação de solos arqueológicos urbanos foi uma das preocupações do Plano, tendo em vista a sua representação nas respectivas Planta de Ordenamento e Planta de Condicionantes.

A carta arqueológica urbana implica a representação dos índices de potencialidade e afectação arqueológica do subsolo, delimitação fundamentada das zonas seleccionadas e respectivos graus de intervenção. Desta resultam as propostas de intervenção normativa de protecção, salvaguarda, conservação e investigação (âmbito, tipo, obrigações, deveres, etc.).

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2.1.3. Enquadramento histórico e urbanístico

2.1.3.1. A ocupação do território da pré-história à actualidade Do ponto de vista da evolução do conhecimento relativo aos vestígios da presença humana no actual território do concelho de Serpa, diversos projectos de investigação, inventariação e salvamento de arqueossítios permitiram identificar um amplo manancial de informação e o preenchimento de um amplo mapa de vestígios dispersos pelo território.

A obra “Arqueologia do Concelho de Serpa” constitui uma referência, enquanto carta arqueológica do concelho (Lopes et al., 1997). Os trabalhos realizados na segunda metade da década de 1990 permitiram documentar 322 sítios arqueológicos e 41 epígrafes.

Figura 2 – Excerto da carta arqueológica do concelho de Serpa (Lopes et al., 1997, p. 61) – 147 –

Bemposta (troço de via romana); 150 – Olival da Peste 1 (uilla romana, medieval/moderno); 151 – Olival da Peste 2 (uilla romana?); 152 – Serpa I (castelo pré-história até época contemporânea); 153 – Serpa II

(pequeno sítio romano); 157 – Horta dos Banhos (uilla romana, medieval/moderno); 165 – El Rincon (pequeno sítio romano); 166 – Alto da Forca (habitat neolítico-calcolítico, pequeno sítio romano); 167 – Pedra Longa (monumento megalítico calcolítico); 169 – Fonte da Baina 2 (pequeno sítio romano); 170 –

Fonte da Baina 3 (forja medieval/moderno); 172 – Poço d´el Rey (mancha de ocupação medieval/moderno).

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Actualmente encontram-se documentadas 514 entradas relativas às ocorrências de interesse arqueológico no concelho de Serpa na base de dados nacional Endovélico (de acordo com a pesquisa realizada a 26 de Setembro de 2007 em www.ipa.min-cultura.pt).

Uma parte bastante significativa desta actualização da informação decorre das ocorrências integradas em meio rural e resultantes da avaliação e minimização de impactes de projectos diversos, designadamente dos projectos associados ao Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA).

Alguns projectos de investigação associados a processos evolutivos e períodos crono-culturais específicos têm permitido alguns desenvolvimentos significativos da diacronia da presença antrópica localmente.

Destacam-se os trabalhos pioneiros de Abel Viana na recolha de materiais macro-líticos da designada tradição languedocense ao longo das margens do Rio Guadiana; o projecto de investigação de Mariana Diniz relativo ao processo de neolitização do Alentejo Interior; o estudo de António Monge Soares sobre a metalurgia pré-histórica da região; ou o trabalho de síntese de Rui Parreira relativo ao fenómeno das necrópoles da Idade do Bronze do Alentejo Interior.

O território envolvente à actual cidade de Serpa detém condições naturais e uma ampla diversidade de recursos particularmente propiciatórias para a fixação de comunidades humanas, desde épocas bastante remotas.

A fertilidade dos solos, o potencial mineralógico do subsolo, a diversidade de espécies florísticas e faunísticas autóctones das serranias, montados, dos rios e ribeiras, aliam-se à transitabilidade das paisagens e à presença de uma importante via fluvial: o Rio Guadiana (Lopes et al., 1997, p. 127).

Não são precisos os limites temporais do início da ocupação do território, uma vez que as cronologias paleolíticas atribuídas a inúmeros artefactos macro-líticos1 identificados nas margens do Rio Guadiana é actualmente contestada e contraposta a uma cronologia pós-paleolítica, embora pouco afinada (Lopes et al., 1997, p. 127).

Acrescem às questões cronológicas as dúvidas relativas à composição de efectivas jazidas arqueológicas, uma vez que se trata de deposições secundárias resultantes do transporte e rolamento fluvial (Lopes et al., 1997, p. 127).

Não existem actualmente dados crono-estratigráficos fiáveis e a presença desta macro-utensilagem em contextos neolíticos (como Foz do Enxoé ou Toca da Galinha) e calcolíticos (como São Brás 1) indiciam uma ampla diacronia de utilização dos seixos rolados como matéria-prima de captação local.

Os dados mais consistentes relativos à ocupação humana, datam do V milénio a.C. e mesmo estes são algo incipientes.

A este período poderão ser atribuídos os materiais provenientes da Foz do Enxoé, da Horta da Morgadinha e da Toca da Galinha e consistem em cerâmica com decoração plástica, incisa e impressa, integrada na tradição morfológica e estilística do Neolítico Antigo (Lopes et al., 1997, p. 127).

1 Instrumentos talhados sobre seixos de quartzo ou quartzito, tradicionalmente designados como “de tipo Languedocense”.

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Estas primeiras comunidades, com um significativo grau de mobilidade (eventualmente sazonal) e detentoras de algum domínio sobre a produção de alimentos, ter-se-ão estruturado em pequenos grupos, aos quais é atribuída uma ampla diversidade de estratégias de exploração de recursos, dando uma particular preferência à proximidade de recursos hídricos (Lopes et al., 1997, p. 128).

No IV milénio a.C. e sobretudo na transição para o II milénio a.C. amplia-se o conjunto de vestígios e de fontes de informação, decorrente da maior tipicidade dos achados, mas sobretudo do processo de fixação das comunidades a um determinado espaço físiográfico. Também neste período é notável o papel preponderante dos recursos hídricos na estruturação das manchas de povoamento, mas agora em conjugação com a selecção de áreas férteis, com aptidão agrícola. É a norte de Serpa, estruturado em torno da Ribeira do Enxoé e do Barranco da Retorta, que se localiza o núcleo composto por sítios como Monte Luís Mendes, Torre de Lóbios 1, Foz do Enxoé, Casa Branca 1, Casa Branca 6 e Casa Branca 7, Atalaia da Torre 1, Canada ou Retorta 1 (Lopes et al., 1997, p. 128).

Estes habitats implantam-se genericamente sobre o topo de amplas plataformas, suaves colinas e respectivas encostas, em pontos de baixa altitude que não indiciam preocupações de defesa natural, denunciando um modelo de povoamento “pouco diversificado, disperso e instável (Lopes et al., 1997, p. 128).

As estruturas habitacionais identificadas em Moinhos Velhos são rudimentares e precárias.

No plano da economia coeva pode aferir-se um modelo de comunidade já agro-pastoril, mas na qual a recolecção, a caça e a pesca continuam a ocupar uma posição determinante para assegurar a subsistência (Lopes et al., 1997, p. 128).

Do conjunto artefactual destaca-se a produção em pedra polida, a indústria de talhe laminar e lamelar e os elementos de moagem.

A partir de meados do III milénio a.C. distinguem-se núcleos de habitat, nos quais é evidente um maior investimento na arquitectura.

Vila Verde de Ficalho e o mais tardio sítio do Alto da Forca são emblemáticos devido à identificação de fossos escavados, que delimitam total ou parcialmente a área habitacional (Lopes et al., 1997, p. 128).

Outro indício da progressiva fixação das comunidades ao território corresponde aos espaços sepulcrais e aos marcos simbólicos e sagrados que definem na paisagem.

De facto, os monumentos megalíticos (antas ou dólmenes e menires) e as gravuras rupestres são as manifestações materiais de um processo de demarcação simbólica da paisagem.

As sepulturas megalíticas são de cariz colectivo, concentram-se nas zonas de serra e são parcas e modestas nesta área de estudo. Assinala-se o seu posicionamento espacialmente disperso, surgindo isoladamente (como Araújo e Lagarinho 2, Boa Vista e Arcins, embora no último caso haja uma referência à existência de outras duas estruturas nas imediações). Casos excepcionais são os de conjuntos como Monte da Velha (onde foi identificada uma anta e um pseudo-tholos) e Sobralinho 1 e

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2 (que se encontram englobados num conjunto que integra monumentos mais tardios).

Não deverá ser ocasional a localização do único menir conhecido no actual concelho de Serpa num ponto central do já mencionado núcleo de maior concentração de vestígios datáveis do IV milénio a.C.

As gravuras conhecidas representam covinhas (Santa Justa 3 e o abrigo sob rocha de Galeadas 1), insculturas (identificadas em Gião e Foz de S. Lourenço), figuras circulares e um pequeno antropomorfo (registados cerca de 15 ou 20 km a montante do Pulo do Lobo).

As mutações simbólicas e sociais inerentes ao III milénio a.C. estão patentes em exemplos como a estela antropomórfica de Alcaria (Lopes et al., 1997, p. 129).

Este é também um período de maior diversidade e crescente estabilização das formas de ocupação do solo.

Para além na manutenção de habitats anteriores (como Alto da Forca, Atalaia do Peixoto e Atalaia da Torre 1), surgem novos pólos de ocupação, em zonas de difícil acesso e providas de condições naturais de defesa (designadamente, Serpa 1, Serra de Ficalho, S. Brás 1).

Com o Calcolítico surgem também os padrões de economia agro-pastoril mais evidentes, com maior vinculo a territórios com potencial agrícola e com o aproveitamento de produtos secundários, resultantes da exploração dos animais domesticados, como o leite, o queijo, a lã e a força de tracção (Lopes et al., 1997, p. 130).

Para além do incremento da produção associada ao consumo diário diversificam-se as actividades com o impulsionar da tecelagem (cujos vestígios foram identificados sob a forma de prováveis pesos de tear em Atalaia do Peixoto, Alto da Forca e Monte Luís Mendes) e a emergência da actividade metalúrgica, em locais como Atalaia do Peixoto e S. Brás 1 (com uma produção local atestada por cadinhos, pingos de fundição e um possível algaraviz).

A implantação de sítios como na Serra de Ficalho poderá justamente decorrer da captação sazonal de recursos metalúrgicos (Lopes et al., 1997, p. 130).

Os fossos (de Alto da Forca), as muralhas (de S. Brás 1) o emprego da pedra na edificação das habitações acentuam a perenidade da arquitectura e a estabilização do povoamento.

Também no final deste milénio se acentuam as interligações entre comunidades, evidenciadas pelo intercâmbio de materiais alógenos, nomeadamente através da importação de cerâmicas de tipologia campaniforme (Lopes et al., 1997, p. 130).

A esta fase são parcos os exemplos de estruturas de cariz funerário associadas aos espaços de habitat. Embora seja plausível a continuidade de utilização dos monumentos megalíticos erigidos na fase anterior, surge uma nova tradição de construção, muito menos imponente e de cariz individual, como Monte da Velha 1 (Lopes et al., 1997, p. 130).

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Com o início da Idade do Bronze (II milénio a.C.) afirma-se a tradição de construção de pequenas cistas com uma laje de cobertura, para inumações individuais, mas não isoladas. Constituem-se, pelo contrário, efectivos cemitérios, compostos por núcleos de cistas, como Sobralinho ou Aldeia Velha (Lopes et al., 1997, p. 130).

No entanto, os vínculos com tradições arcaizantes são aferíveis através da implantação destas novas necrópoles em espaços previamente sacralizados pela presença de monumentos megalíticos ou através da utilização de pequenos tumuli sobre as cistas, patentes em núcleos como Talho do Chaparrinho, Covão ou Herdade do Montinho.

Este fenómeno funerário caracteriza-se pela variedade de escolhas na implantação paisagística das necrópoles2, pelo polimorfismo da arquitectura funerária e pela diversidade de rituais patentes.

Em contrapartida, não se dispõe de dados relativos aos núcleos de povoamento associados a estes espaços da morte. Uma hipótese aparentemente verosímil é a diluição das preocupações de implantação com domínio sobre terrenos com potencial agrícola e sobre recursos hídricos (Lopes et al., 1997, p. 131).

Encontra-se atestada a continuidade de ocupação de habitats calcolíticos, como S. Brás 1, no Bronze Inicial. Este habitat volta a ser ocupado no final da Idade do Bronze, mas desconhece-se totalmente o que ocorreu no hiato temporal, que apenas as necrópoles documentam.

A base da organização social terá então correspondido a pequenos grupos diversos e dispersos, entre os quais se salienta a afirmação do estatuto social, do poder e da riqueza, que progressivamente se concentram em determinados indivíduos e/ou grupos (Lopes et al., 1997, p. 131).

As sepulturas de Belmeque, datadas da Idade do Bronze Médio (ou seja, meados do II milénio a.C.) são documentativas da existência de indivíduos ricos e poderosos, para o enterramento dos quais foram empregues cânones bastante peculiares para a tradição indígena: a arquitectura consiste em estruturas negativas, escavadas na rocha como é frequente em contextos mediterrânicos; e o espólio integra os metais precisos prata, ouro e bronze (em punhais e numa faca).

Outros indícios coevos de concentração de riqueza são as cinco cadeias de espirais de ouro de Vale de Viegas e o torque de ouro de Vila Nova de S. Bento (Lopes et al., 1997, p. 131-2).

Para o final do II milénio a.C. e a transição para o milénio seguinte são conhecidos os espaços de habitat, mas, em contrapartida (e até ao período romano), desconhecem-se os testemunhos dos espaços de morte coevos (Lopes et al., 1997, p. 132).

Esta fase é pautada pela extrema diversidade de núcleos de habitat, quanto à sua implantação paisagística, dimensão, morfologia e funcionalidade, que se conjuga

2 Encontram-se documentadas necrópoles em áreas aplanadas e férteis, nas proximidades de linhas de água (como Carapetal e Montinho), sobre pequenos outeiros sobranceiros à peneplanície (Santa Justa 2) e mesmos em áreas de relevos acidentados, onde os solos não possuem aptidão agrícola (como Cortesinhas, Sobralinho ou Aldeia Velha).

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com um processo de hierarquização, especialização e complexificação da própria sociedade (Lopes et al., 1997, p. 132).

São identificáveis povoados abertos, sem condições naturais de defesa, que dominam pequenas áreas com potencial agrícola, como Pantufe, Casa Branca 1, Santa Margarida ou Vila Verde de Ficalho.

Em contraponto, existem os povoados de altura, com condições naturais de defesa ou com estruturas defensivas edificadas, segundo um padrão de concentração da ocupação, como Serpa 1, Passo Alto ou Crespa.

Salienta-se ainda a provável especialização funcional de sítios como Azenha da Misericórdia ou Passo Alto, com uma vocação metalúrgica.

Permanece por aferir que tipos de vínculo e que eventuais relações de interdependência poderiam conectar os diferentes povoados.

Relativamente aos sistemas defensivos, persistem dúvidas quanto a uma funcionalidade pragmática versus uma simbólica. O que é evidente é que até então estes sistemas não haviam assumido um papel tão relevante à escala regional (Lopes et al., 1997, p. 132).

Destaca-se o emprego da pedra nas construções defensivas, a edificação de taludes de pedra e terra, de torreões, de eventuais muros radiais de reforço (como em Crespa e Pulo do Lobo 1) e a colocação de pedras fincadas ou “cavalos de frisa” em zonas particularmente vulneráveis de acesso ao povoado (observadas em Passo Alto).

O aparente colapso do povoamento referido para a fase do Bronze Médio, parece repetir-se em meados do I milénio a.C., uma vez que, após as ocupações dos primeiros séculos, só voltam a registar-se vestígios balizáveis entre os séculos IV e III a.C., na designada II Idade do Ferro.

Actualmente só são conhecidos materiais desta fase em Serpa 1, Vila Verde de Ficalho e Azenha da Misericórdia, que correspondem a habitats de grandes dimensões, com ocupações prévias. O aparentemente peculiar sítio de Espinhaço implica um projecto de investigação que fundamente a sua cronologia sidérica e interprete a sua singularidade, resultante da implantação paisagística e da exígua dimensão.

O Rio Guadiana adquire um novo papel estruturante do povoamento, resultante da intensificação e diversificação dos contactos e intercâmbios inter-regionais, em conjugação com as vias terrestres e marítimas com as quais conflui. Neste contexto salientam-se os circuitos de exploração e consumo de metais (Lopes et al., 1997, p. 132).

Assim, neste período correspondente à II Idade do Ferro é possível detectar num mesmo contexto arqueológico (como no Castelo de Serpa) vestígios coevos provenientes de distintas tradições culturais e de diferentes proveniências geográficas, como por exemplo, as cerâmicas pintadas de tradição ibérica em associação com cerâmicas estampilhadas de filiação céltica (Lopes et al., 1997, p. 132-3).

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O processo de romanização deste território inicia-se na primeira metade do século II a.C., não sendo evidentes, no registo escrito ou arqueológico, sinais de resistência por parte das populações autóctones perante os novos ocupantes (Lopes et al., 1997, p. 135).

No entanto, a dominação romana provocará profundas, embora lentas, mutações nas estratégias de ocupação do espaço, na gestão dos recursos naturais, na estrutura social e mesmo nos padrões culturais e religiosos. Estas mutações assumem distintas fases e ritmos, de acordo com os interesses de índole militar, política ou económica que as impulsiona.

Os vestígios arqueológicos indiciam uma efectiva fixação de população de origem itálica apenas na segunda metade do século I a.C., sendo a presença anterior mais inerente ao processo de conquista e à exploração dos recursos naturais de rendimento mais imediato (nomeadamente, os metais), desprovida de uma política estruturada de ocupação. Assim, nesta primeira fase bastavam os habitats preexistentes bem posicionados, como Serpa e Fines (Vila Verde de Ficalho).

Pax Iulia (a actual cidade de Beja), fundada entre 31 a.C. e 27 a.C. é constituída como cidade capital do território, sede do poder político e administrativo (Faria, 1989), mas só com a implementação do projecto augustano de reorganização administrativa da Hispânia, se concebe em 16 a.C. a província da Lusitânia.

Terá sido nesta fase que a civitas de Pax Iulia é dotada do estatuto de colónia e são redefinidos os limites do seu território administrativo, que passou a incluir Serpa, que até então seria um oppidum autónomo (Lopes et al., 1997, p. 136).

A transição para uma efectiva política de ocupação, implica que os povoados preexistentes se adeqúem aos cânones romanos de ordenamento e gestão do território ou se extingam (Lopes et al., 1997, p. 137).

Integrada neste contexto, Serpa, tal como Fines, desenvolve-se enquanto aglomerado secundário, em relação à capital de civitas e beneficia do seu posicionamento estratégico em relação aos itinerários terrestres (como a via Pax Iulia/Onuba, a actual Huelva) e fluviais (o Rio Guadiana) do ocidente peninsular.

A posição secundária é atribuída devido à inexistência de equipamentos inerentes ao estatuto de cidade e à extensão do cadastro fundacional de Pax Iulia até esta zona.

No entanto, nada se conhece sobre a estrutura urbana característica destes pequenos aglomerados (Lopes et al., 1997, p. 137).

Ainda assim, a sua importância poderá ser aferida a partir de dados como o privilégio de cunhagem de moeda na segunda metade do século I a.C., com a legenda SIRPIENS, para além da integração do topónimo no “Itinerário de Antonino”.

De facto, as vias de comunicação assumiram um papel fundamental na estruturação do povoamento, fundamentando a distribuição espacial de diversos sítios coevos.

Foi proposto um traçado para a via Pax Iulia/Onuba: entre Pax Iulia e Serpa o traçado desta via é apenas sugerido com base na localização e orientação da calçada de Bemposta, podendo seguir ao longo do Barranco da Amendoeira, em direcção ao Monte do Farrobo, onde atravessaria o Rio Guadiana, seguindo em direcção a Quintos; em contrapartida, o troço entre Serpa e Fines foi definido com

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base no “Itinerário de Antonino”, na distância de XX milhas entre os dois locais (o equivalente a um dia de marcha, que permite ponderar a hipótese de Serpa e Fines terem sido manciones, grandes estabelecimentos para pernoita e abastecimento, complementados com mutatio, pontos de paragem secundários, como se poderão afigurar Figueiras, Meirinho ou Abóboda3), na análise da distribuição do povoamento e na orografia (Lopes et al., 1997, p. 141).

O traçado passaria pelas uillae de Santa Justa, Cidade das Rosas, Maria da Guarda, Lage, Meirinho, Figueiras, Abóboda e Coelheiras, até atingir Fines, que poderá ser inclusivamente interpretado como caput viae, entre a Lusitânia e a Bética, como sugere o marco miliário de Corte do Alho.

Complementarmente existiam vias secundárias, que conectavam pólos populacionais à escala regional. O marco miliário de Corte do Alho pode ser integrado na via entre Moura e Fines, da mesma forma que o marco de Chilre pode corresponder à via entre Serpa e Moura (embora este último não se encontre no seu contexto original).

A rede viária terrestre completa-se com os caminhos vicinais e agrícolas.

O Guadiana era a via fluvial que permitia a ligação a Mirtilis (Mértola), embora alguns troço, como o Pulo do Lobo tivessem de ser transpostos por terra.

Os novos núcleos de povoamento são compostos por edifícios erigidos em pedra, tijolo e argamassa, que surgem dispersos pelos campos ou aglomerados sob a forma de incipientes pólos urbanos (uillae, casais agrícolas e alguns pequenos sítios), posicionados em pontos estratégicos de domínio das fontes de matérias-primas e das vias de comunicação que permitem a sua circulação.

As uillae deste território (sendo as maiores4 Cidade das Rosas, Monte das Oliveiras, Salsa, Horta dos Banhos, Aldeia do Grilo, embora se suponha a existência de unidades com fundi mais pequenos5 como, Escalfacães, Fidalgos, Arouches, Santa Margarida ou Campinas) farão parte integrante do conjunto dos grandes latifúndios, propriedades que se consistem na unidade mais relevante de estruturação do mundo rural romano (Lopes et al., 1997, p. 138).

A sua implantação corresponde genericamente a encostas suaves, com domínio sobre os melhores terrenos agrícolas, com controlo de linhas de água e das principais vias de comunicação.

A produção cerealífera ocuparia a grande percentagem dos terrenos dos fundi, correspondendo às exigências de uma economia de mercado, no entanto, existiriam outras áreas produtivas de menor dimensão como a vinha e a oliveira, os produtos frutícolas e hortícolas, as pastagens para o gado e manchas florestais com intuito de auto consumo ou produção apenas para abastecimento de um circuito mais regional, de pequena escala.

3 Nas ligações entre Moura, Fines e Serpa são propostas mutatio em Belmeque, de onde provem uma ara dedicada a Mercúrio ou Corte do Alho, onde para além do marco miliário existente, são consideradas condições naturais mais propensas à passagem de uma via. Também em Zambujeiro 2 se considera a possível correspondência a um estabelecimento do tipo taberna, eventualmente dependente da uilla Zambujeiro 1. 4 Com dimensões gerais de cerca de 400 ha. 5 Que não ultrapassariam os 200 ha.

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A integração nas redes de circulação inter-regional encontra-se atestada através dos materiais recolhidos nas uillae, como por exemplo a coexistência de recipientes de fabrico regional, com outras de proveniências longínquas. Estes itens atestam igualmente a capacidade financeira dos proprietários rurais, sejam eles colonos oriundos da península itálica e do norte de África ou alguns indígenas plenamente romanizados, e a sua integração nos circuitos culturais vigentes, conforme corrobora a epigrafia, a decoração dos respectivos suportes, a escultura e as práticas funerárias (Lopes et al., 1997, p. 138 e 147).

Já os casais agrícolas, como Ervancos, consistem em unidades rurais de exploração familiar, menos diversificadas, com dimensões muito mais exíguas6, onde o espólio ligado à vida quotidiana se afigura bastante mais modesto e com uma subsequente área de exploração associada muito mais reduzida7.

Outra característica notória é o posicionamento periférico em relação aos bons terrenos agrícolas, surgindo dominantemente na transição para os solos pobres, em áreas onde o relevo se torna mais acidentado, ocupando sobretudo o topo de cabeços. Assim, são bastante numerosos os casais identificados na área de Vila Verde de Ficalho.

São diversas as questões sem resposta que se colocam sobre a ocupação dos casais: como as origens dos seus ocupantes; se teriam um estatuto de proprietários ou de rendeiros; se existiria algum vínculo em relação às uillae, ou pelo contrário, se seriam totalmente autónomos (Lopes et al., 1997, p. 138).

Parece evidente, pela sua posição marginal, que aufeririam de menores rendimentos, baseando a sua existência num pressuposto de auto consumo da produção agrícola. No entanto, a funcionalidade destes habitats poderia extravasar o âmbito da produção agrícola, uma vez que vestígios de escória sugerem que pelo menos alguns deles se conectariam com a actividade metalúrgica.

A estas duas formas de estruturação dos habitats rurais acrescem os pequenos sítios, cuja área de dispersão de vestígios raramente ultrapassa os 300/400 m2, geralmente implantados no topo de pequenos outeiros, integrados nos territórios de uillae e de alguns casais, que parecem corresponder a pontos destacados no interior dessas propriedades, embora a sua funcionalidade não seja propriamente evidente (Lopes et al., 1997, p. 140).

Coloca-se a hipótese destes pequenos arqueossítios corresponderem a estruturas de apoio à agricultura e à pecuária, distribuídas pelo fundus, resultante assim a sua estrutura regra geral precária, por vezes em taipa e com cobertura em materiais perecíveis.

As necrópoles do período romano identificadas no concelho de Serpa não são propriamente monumentais e coadunam-se com o ambiente rural em que se inserem. Cada uillae, cada casal, teriam o seu espaço funerário próprio, nas proximidades da área residencial.

Embora sejam escassos exemplos os conhecidos, a memória popular regista a frequente ocorrência de sepulturas no decurso da lavra mecânica dos terrenos, como

6 Que se balizam entre os 0,1 e 0,3 ha. 7 De cerca de 50 ha.

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em Vale de Matanças, desconhecendo-se contudo, o destino do espólio ou tão pouco a localização exacta do achado.

Santa Justa foi a única necrópole escavada, na qual se registaram sepulturas de inumação, que quase sempre integram um ossário resultante de uma inumação anterior. Consistem numa caixa rectangular, composta por tijolo e por vezes pedra, com cobertura em tegulae ou de lajes pétreas.

Nestes contextos o espólio é pouco significativo ou mesmo inexistente, com traço de tradição tardia, provavelmente já sob a influência do cristianismo.

Nos primeiros séculos de ocupação, a prática funerária mais corrente é a incineração e a deposição das cinzas num recipiente colocado directamente na terra ou inserido numa caixa composta por tijolo, em associação com espólio variado (como unguentários, lucernas, recipientes cerâmicos, moedas, jóias, etc.), documentada em Ferragial de Manuel Correia.

Monte da Salsa constitui um exemplo dos mausoléus de tipo familiar (Lopes et al., 1997, p. 140).

Sucintamente, os autores consideram que o período de romanidade neste território se encontra balizado entre o século I a.C. e a segunda metade do século V d.C. (Lopes et al., 1997, p. 136).

Na fase de transição correspondente à segunda metade do século V d.C. assiste-se ao abandono de diversas uillae, porém existem vestígios que atestam a sua ocupação no período seguinte, como as basílicas e as necrópoles paleo-cristãs de Vila Verde de Ficalho e de Alpendres de Lagares (Lopes et al., 1997, p. 136). No entanto, tudo aponta para que estes pólos populacionais tenham sofrido significativas alterações funcionais.

A título de exemplo em Cidade das Rosas foram identificados em escavação fornos de cal de época visigótica, sobrepostos à estrutura termal de período romano (Lopes et al., 1997, p. 157).

Após a conquista islâmica (iniciada em 711 d.C.), em escassos anos assume o domínio do sudoeste do território peninsular, e neste contexto o núcleo urbano de Serpa permanece ocupado, agora administrativamente integrado no distrito (ou kura) de Beja.

As populações autóctones permanecem detentoras de liberdade de culto, mediante a devida tributação, tornando-se moçárabes. Mas estes podiam adoptar o novo culto e tornar-se muladies.

A conturbada história política e bélica deste período pode ter localmente como marco a segunda metade do século IX d.C., num contexto de diversas rebeliões, no qual surgem principados, que persistem até às primeiras décadas do século X, quando o surgimento do califado de Córdova apazigua a situação. Neste período procede-se à intensa construção de castelos e à reconstrução de antigos recintos amuralhados, como pode ter ocorrido em Serpa (Lopes et al., 1997, p. 154).

Serpa detém a importância inerente a uma fortificação (hisn), centro dominador de um pequeno território, que não foi alvo de comentários por parte dos cronistas

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árabes coevos. No entanto, a sua posição estratégica, em ponto equidistante entre Moura e Beja, nas imediações de importantes vias de comunicação, permite conjecturar que se tratava de um castelo califal.

Entre os séculos X e XI d.C. Serpa seria uma pequena urbe amuralhada, com alcáçova para o governador local.

O século XI d.C. corresponde à queda do poder califal e à formação dos reinos das taifas e este território é incorporado na taifa de Sevilha, sob o domínio da família Abácida.

Sucedem-se a fase das taifas, dos domínios almorávida e almóada e só no século XII d.C. surgem as primeiras referências documentais a Serpa (Lopes et al., 1997, p. 154).

No âmbito das vias de comunicação do al-Andaluz Serpa é mencionada por Edric como Sirba, integrada no percurso de uma via que grosso modo mantinha o traçado do período romano, indicado no “Itinerário de Antonino”.

Os documentos árabes e cristãos também referem Serpa, no âmbito do processo de reconquista cristã do Alentejo, iniciada a partir do reinado de D. Afonso Henriques. Ibn Sahib al-Sala cita a vila na descrição do ataque dirigido por Giraldo Sempavor em 1165/1166, mas é referida noutros textos de Bayan e Ibn Sahib al-Sala, datados das décadas de 1150 e 1160.

Em 1166 Serpa sofre um ataque cristão, perante o qual os muçulmanos não tiveram capacidade de resistir.

Mas em 1175/1176 os Almóadas retomam Beja e neste contexto Serpa passa a ser governada pelo alcaide (cadí) Abû Bakr Wasir. Quando este personagem passa a dominar Beja, o governo de Serpa é entregue ao sobrinho Ali Wasir.

Em 1188 ocorre um novo cerco cristão a Serpa. No entanto, a conquista efectiva só será obtida várias décadas mais tarde, em 1232, durante o reinado de D. Sancho II, protagonizada por D. Paio Peres Correia, Mestre da Ordem de Santiago (Lopes et al., 1997, p. 156).

Para além do núcleo urbano fortificado, os vestígios do povoamento do território rural em período islâmico são aparentemente escassos. Conhecem-se sítios como Tojosas de Baixo 1, implantado numa encosta, das imediações do Barranco da Fonte Branca. Neste contexto foi identificado espólio cerâmico com decoração a verde e manganês e a corda seca total, a par de cerâmicas não vidradas, integráveis no período islâmico antigo (califal) e pleno (século XI d.C. e seguintes). No mesmo arqueossítio foram registados materiais que apontam para uma ocupação posterior (tardo-medieval/ moderna).

A estratégia comum de povoamento rural consistiria na selecção de pontos com cotas altimétricas elevadas, de encosta e topos de cumeada, deixando libertas as melhores terras agrícolas.

Aponta-se ainda para a conjectural ocupação, mesmo que temporária, da Serra Grande de Serpa (onde se registam malhadas dos séculos XIII e XIV d.C.), aproveitando inclusivamente habitats pré-romanos (Lopes et al., 1997, p. 156).

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Também se verifica a ocupação de habitats romanos, nomeadamente as uillae de Zambujeiro 1, Monte da Salsa, Testudos 1 e Cidade das Rosas 1 (que se situa muito próximo do único topónimo “alcaria” ou alqariya localizado no território do concelho), sendo as três últimas referências efectivas povoações ou alcarias, com ocupação islâmica antiga e plena. O espólio cerâmico, com filiações nas tradições locais e regionais, como as decorações polícromas no interior, os vidrados melados, o emprego do óxido de manganês e os brunidos espatulados apontam para uma cronologia entre os séculos IX/X e XI d.C. Contudo, elementos como as grandes malgas carenadas com brunidos podem corresponder aos séculos XI/XII d.C.

Pequenos sítios romanos como Fonte da Baina 1, Morenas 2, Santa Ana e Entre-Águas, integram espólio do período islâmico pleno, como as cerâmicas vidradas dos séculos X/XI d.C. em diante.

Em Testudos 1, Morenas 2 e Fonte da Baina 3 foi mesmo registada cerâmica datada do período pós-reconquista cristã, nomeadamente dos séculos XV/XVI d.C., numa época que parece corresponder à fundação dos “montes” alentejanos (Lopes et al., 1997, p. 157).

Relativamente às origens da antiga organização administrativa do concelho, refira-se que a documentação escrita só nos finais do século XIII d.C. consagra a área do termo (www.cm-serpa.pt).

Ainda sobre o domínio de Castela, no decurso do ano de 1281, Afonso X estabeleceu a demarcação do concelho, com o objectivo de incrementar o povoamento de Serpa e de todas as terras da Margem Esquerda do Guadiana, através da atribuição do primeiro foral: o Foral de Sevilha.

Após um século de peripécias militares e diplomáticas e com a reconquista cristã do Alentejo, Serpa recebe de D. Dinis, no ano de 1295, nova carta de foral.

Este novo documento indicia a preponderância das actividades agro-pecuárias na economia local. No entanto, também refere as actividades comerciais e os produtos transaccionados: pão, vinho, panos de lã e linho, peixe e mesmo mouros.

O foral dionisino denuncia ainda um ambiente de reorganização, no qual é evidente a tensão social e política, notória por exemplo nas aplicadas às infracções ou nas regras de controlo e vigilância do tráfego fluvial no Rio Guadiana e n as vias terrestres, que indicia uma preocupação de assegurar a manutenção das actividades mercantis (www.cm-serpa.pt).

O documento aborda ainda a estratificação social vigente, que implicava a divisão dos que tinham direitos políticos, os vizinhos do concelho, de acordo com as posses, cavaleiros e peões. Progressivamente aumentam as subdivisões nos estatutos superiores e destaca-se ainda o grupo mais poderoso dos homens bons. Mais tardiamente surge ainda a diferenciação dos homens honrados de boa fazenda.

Na base da pirâmide social, sem direitos políticos encontravam-se os mesquinhos, os mancebos, os solarengos e escravos. Os distintos estatutos referidos não eram estanques e aponta-se mesmo para uma intensa mobilidade social.

Do ponto de vista da organização administrativa e judicial, o concelho era dirigido por dois juízes, definidos em eleição na assembleia dos vizinhos, após ratificação pelo

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rei. Note-se que uma disposição do foral condiciona a escolha dos candidatos, inibindo o gentile (o estrangeiro ou pagão) de exercer o cargo.

Este é um período de desenvolvimento privilegiado de relações entre os concelhos de Serpa e Moura, que consistiam em assistência mútua, no abastecimento de bens (sendo autorizado o comércio livre entre as duas povoações desde 1317, desde que feito pelos respectivos moradores), apoio financeiro e mesmo na defesa recíproca (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.). Documentação do século XIV atesta a tomada de decisões comuns no extremo dos dois territórios, onde actualmente se situa a aldeia de Pias.

No ano de 1513 D. Manuel (que, antes de ser rei, tinha sido senhor de Serpa) concede novo foral (www.cm-serpa.pt).

Este foral é pouco incisivo nas questões relativas à política e administração ou estrutura social do concelho e incide principalmente na carga fiscal.

O foral manuelino permite perspectivar Serpa no início do século XVI, como um núcleo urbano em expansão, um dos mais importantes portos secos do reino.

Localmente as culturas cerealíferas de sequeiro e a pastorícia assumiam um papel relevante na estrutura económica, embora o artesanato (designadamente a tecelagem e a metalurgia) e o comércio (incluindo a transacção de escravos) indiciassem um notável desenvolvimento.

As ligações viárias terrestres desempenham um papel fundamental e Serpa é ponto de passagem de duas estradas principais de ligação entre Portugal e Castela: a ligação Salamanca/Cáceres, que dai partia para Évora e Lisboa e a ligação Sevilha/Lisboa, com passagem por Serpa e Beja.

O Alentejo, em meados do século XVI, concentrava o maior número de centros urbanos do país, sendo a província que a nível nacional mais contribuía para as receitas do Estado e nesse quadro, Serpa apresentava-se como uma das mais importantes vilas da província e do próprio reino.

Na centúria seguinte a população de Serpa quase duplica, em consonância com a evolução geral do país. De facto, nos séculos XVI e XVII, no interior fronteiriço não se verifica um cenário de desertificação.

Em 1674, o príncipe regente, futuro rei D. Pedro II, confere à vila o título e os privilégios de "Vila Notável", fundamentados pelo número de moradores (que ascendia ao milhar e meio), pela notoriedade dos locais, no domínio bélico e intelectual e pela posição fronteiriça estratégica que ocupava, em situação de conflito.

Mas a sua posição fronteiriça acarretou para o concelho a insegurança e as destruições inerentes à Guerra da Restauração de 1640-48, à Guerra da Sucessão de Espanha (1703-1713) e às invasões napoleónicas (de 1801 e 1814).

Em meados do século XVIII, o concelho perde preponderância militar e, contrariamente à tendência nacional, não se verifica um aumento populacional. As causas poderão residir, genericamente, nas diversas fases de crise inerentes a maus anos agrícolas.

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No final da centúria de Setecentos mantém-se profundamente enraizado o antigo regime económico e as desigualdades sociais inerentes. As terras férteis do concelho encontram-se na posse de grandes proprietários, que controlam a vida municipal e constitui-se uma massa crescente de camponeses sujeitos a crises cíclicas de trabalho e a uma situação de subsistência precária.

A tendência de concentração da propriedade rural sob a forma de grandes latifúndios mantém-se nos séculos seguintes.

Durante a segunda metade do século XIX, verifica-se a multiplicação dos desbravamentos, não só das terras agrícolas mas também das terras improdutivas, denominadas de galegas. Nos anos 30 e 40 do século XX, a Campanha do Trigo, que estendeu a cultura mesmo às vastas regiões de xisto, teve consequências desastrosas no desequilíbrio do frágil sistema produtivo baseado na complementaridade da pecuária com as actividades recolectoras e com o cultivo intenso das hortas.

2.1.3.2. O património arqueológico, arquitectónico e a cidade antiga O ponto mais alto da vila, e aparentemente aquela onde se regista o primeiro núcleo de povoamento, corresponde à área do castelo. Esta implantação ter-se-á fundamentado na posição estratégica de domínio visual do território envolvente (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

De facto, as escavações arqueológicas realizadas no castelo revelaram várias fases de ocupação (Lopes et al., 1997, p. 156; Antunes, 2006).

A realização de uma sondagem8 a Sul da Torre da Horta, permitiu identificar uma sucessão diacrónica de vestígios, que documentaram a ocupação deste espaço desde a Pré-História (Soares e Braga, 1986).

Os dados obtidos nesta sondagem foram entretanto complementados por outras leituras no âmbito de diversas intervenções (Antunes, 2006, p. 1):

Um perfil estratigráfico na Rua das Varandas, sobre o qual assenta o pano Oeste da Muralha, no âmbito de uma intervenção efectuada no interior do Restaurante Zens9, onde terão surgido diversos níveis, enquadráveis entre a Idade do Ferro e a Época Medieval;

Os resultados dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos, no perímetro urbano e decorrentes do loteamento da zona poente de Serpa, que afectaram a necrópole urbana alto-medieval da Zona Poente10;

8 Sondagem com 16 m2, na qual foram atingidos os 4 metros de profundidade, sem que tenha sido atingindo o substrato geológico. 9Trata-se de um estabelecimento comercial, contíguo ao largo Condes de Ficalho, no qual a empresa ArcheoEstudos, sob a coordenação de Heloísa Valente dos Santos, realizou uma sondagem arqueológica, mas cujo relatório ainda não se encontra disponível. 10 Encontram-se documentadas as intervenções iniciadas a partir de 1998, com a coordenação de Maria da Conceição Lopes, Jorge de Alarcão, António Marques da Silva, Pedro Carvalho e Eugénia Cunha. Em 2001 ocorreram intervenções da responsabilidade de Manuela de Deus e José Correia e entre 2004/2005 Ana Sofia Antunes procedeu ao acompanhamento de obras (http://www.ipa.min-cultura.pt, CNS 12396).

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Os trabalhos relacionados com o Plano de Requalificação Urbana e Funcional do Centro Histórico de Serpa11.

Outras intervenções desenvolvidas na área do núcleo histórico não permitiram identificar evidências arqueológicas (designadamente, o acompanhamento de obras na Rua dos Lagares / Largo da Corredoura12, ou as sondagens realizadas na Rua Frei Bento, nº 413 no âmbito da recuperação do imóvel) ou não dispõem ainda de relatórios (como o acompanhamento arqueológico da Rua das Amoreiras, nº 49 no âmbito da recuperação do imóvel14).

No entanto, a informação actualmente disponível relativa à arquitectura militar e/ou eventuais outros edifícios anteriores à fortificação gótica é particularmente escassa e as interpretações avançadas constituem meras hipóteses de trabalho, que implicam a corroboração através de investigação (Antunes, 2006, p. 1).

Embora a ocupação mais arcaica do Cerro do Castelo de Serpa arqueologicamente documentada corresponda ao Calcolítico (entre o final no IV milénio a.C. e o início do milénio seguinte), os vestígios são bastante ténues, e correspondem apenas a um escasso conjunto de fragmentos de cerâmica desprovidos de contexto deposicional original. Estes materiais foram recolhidos na sondagem de 1986 por António Monge Soares e José Braga em níveis medievais da fase de construção ou da reformulação arquitectónica do Castelo, que perfuraram os estratos mais antigos (Soares e Braga, 1998e, p.169).

A interpretação da ocupação deste período, para além do enquadramento regional anteriormente traçado, remete mais proximamente, para um núcleo de povoamento bastante próximo e de eventuais características similares ao Cerro do Castelo: o Alto da Forca, onde foi identificado um sistema de estruturas negativas, escavadas no substrato rochoso, que poderão corresponder a um fosso (Antunes, 2006, p. 2).

Também a Idade do Bronze se encontra documentada através de um pequeno conjunto de materiais cerâmicos recolhidos na mesma circunstância que o espólio calcolítico (Soares e Braga, 19986, p.169). Enquanto dissociados de contextualização deposicional, apenas é possível integrar culturalmente os achados nas produções do Bronze do Sudoeste, genericamente datável do II milénio a.C.

Embora a interpretação seja baseada em escassos dados, aponta-se para uma continuidade de ocupação entre o Calcolítico e a Idade do Bronze, enquanto que parece existir um hiato desprovido de vestígios entre o final da Idade do Bronze e a Idade do Ferro (abrangendo toda a primeira metade do I milénio a.C.), à semelhança do que se constata, genericamente, em todo o sul do actual território português (Antunes, 2006, p.3).

Os vestígios arqueológicos correspondentes à fase da Idade do Ferro (datáveis entre os séculos IV a.C. e III a.C.) são mais consistentes: estratos conservados, contendo cerâmica ática, cerâmica estampilha, pintada, com decorações incisas, vasos de

11 Acompanhamento arqueológico de obras de remoção de infra-estruturas e de pavimento, realizado por Ana Sofia Antunes entre 2004 e 2006. 12 Datados de 2006 e desenvolvidos por Amílcar Ventura Charraz, com a coordenação de Teresa Ricou. 13 Datados de 2006/7 e desenvolvidos por Pedro Vilão Biscoito, com a coordenação de Teresa Ricou. 14 Trabalhos de 2006, dirigidos por Jorge Feio.

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janelas triangulares e um muro em taipa edificado sobre soco de pedra, identificados num corte escavado no interior do castelo (Soares e Braga, 1986).

Sob um pano de muralha, na ligação entre a torre que ladeia a Porta Nova e o Palácio dos Condes de Ficalho, na Rua das Varandas, foram documentados níveis com espólio coevo do anteriormente mencionado15.

A extensão do povoado sidérico para sul é atestada pela presença de vestígios na Ladeira do Amaral, onde foram recolhidos cossoiros decorados.

A localização dos vestígios em áreas distintas indicia a existência de um povoado com alguma dimensão16. Este povoado estender-se-ia ao longo de uma plataforma com cotas altimétricas mais elevadas, com os contornos aproximados correspondentes às actuais ruas que delimitam o castelo (Antunes, 2006, p. 4-5)17.

Figura 3 – Muro da Idade do Ferro identificado nas sondagens do castelo (Fonte: Soares e Braga, 1986, p. 176-177).

Os primeiros indícios de contacto da população de Serpa com o processo de romanização datam do século II a.C. e encontram-se atestados através de um conjunto de fragmentos de cerâmica fina de importação, campaniense de tipo A, proveniente da Rua das Varandas (Braga e Soares, 1981, p. 120).

Contudo, os vestígios de época romana no núcleo urbano de Serpa são genericamente escassos e não foram até à actualidade identificados quaisquer elementos arquitectónicos para permitir conceber o seu papel, indiciar a existência

15 Estes níveis arqueológicos foram registados em 1981 por António Monge Soares num perfil de escavação, num contexto de obras de beneficiação do acesso ao castelo. 16 Potencialmente entre 2 e 3 ha. 17 A Rua das Varandas, a Rua dos Farizes e a Rua da Barbacã.

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de uma urbe ou corroborar a hipótese de existência de uma mansio associada à via Pax Iulia / Onuba (Antunes, 2006, p.6).

A intervenção arqueológica do castelo permitiu identificar dois níveis de entulho romano, empregue na regularização do terreno, do qual provem sobretudo material de construção eventualmente datável do século I d.C. (Soares e Braga, 1986, p. 183).

Os trabalhos desenvolvidos no Restaurante Zens puseram a descoberto níveis de ocupação romana. No entanto, ainda não se encontra disponível informação detalhada sobre os vestígios, designadamente quanto à sua funcionalidade ou cronologia concreta.

Finalmente e fora dos limites do núcleo histórico, mais precisamente na Avenida da Paz, foram também localizados vestígios romanos (Antunes, 2006, p. 7).

Com base nos conhecimentos actuais, não é datável o termo da presença romana em Serpa.

Da mesma forma, do período paleo-cristão não são conhecidos quaisquer vestígios.

O castelo (hisn) islâmico de Serpa poderá ter sido erigido na segunda metade do século IX d.C. ou inícios do século X d.C., no contexto do fenómeno de fortificação de todo o al-Andaluz, devido às lutas da primeira Fitna e do domínio centralizado do califado de Córdova (Lopes et al., 1997, p. 156).

Os vestígios do passado islâmico, que podem remontar aos séculos X e XI, conservam-se ainda nalguns troços da muralha (já bastante alterada, que delimitava uma área com cerca de 21000 m2), sob a forma de acrescentos e reparações em taipa e em duas torres: a da Horta, parcialmente reaproveitada nas obras do castelo gótico e a do Relógio (transformada em 1440 em torre relojoeira, ao que se supõe, a terceira mais antiga do país).

Também a torre quadrangular da Igreja de Santa Maria integra no seu interior uma estrutura cilíndrica, possível testemunho da almádena da antiga mesquita, que a igreja matriz terá vindo substituir (www.cm-serpa.pt)

A muralha que delimitava o povoado deste período desenvolvia-se a partir do ângulo sudeste do castelo, na direcção da Torre do Relógio, flectindo então para poente, alcançando a norte da Porta de Beja o troço de muro que actualmente delimita a propriedade dos senhores de Ficalho (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

A própria estrutura urbana da área conhecida como “castelo velho” é tipicamente islâmica, se considerada a sinuosidade dos arruamentos e a irregularidade topográfica (Antunes, 2006, p. 8).

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Fotografia 1 – Torre do Relógio e escadaria construída no século XIX, que terá implicado a demolição de parte da muralha.

António Monge Soares registou nas sondagens do castelo alguns estratos do período dos Reinos das Taifas e uma calçada, que poderia relacionar-se justamente com a torre de taipa que a Torre da Horta incorporou (Soares e Braga, 1986, p. 197).

Abel Viana identificou uma inscrição islâmica perto da Porta Nova, fora da vila (Lopes et al., 1997, p. 156; Viana, 1950, p. 14), que nunca foi objecto de leitura ou datação.

Em 1984, na área que actualmente funciona como estacionamento do Hospital de Serpa, foi recolhido um conjunto de fragmentos de cerâmica islâmica, atribuído à segunda metade do século XI, que corrobora a cronologia sugerida para o espólio proveniente da área do castelo (Caeiro, 1992).

No espaço do Restaurante Zens também foram registados vestígios desta fase.

A escavação de António Monge Soares no castelo permitiu identificar indícios de uma reformulação medieval: uma calçada construída entre os séculos XI e XII, sendo que a mesma área terá sido posteriormente utilizada como necrópole, com inumações compreendidas entre os séculos XII e XIV (Soares e Braga, 1986, p. 197).

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Figura 4 – Sepulturas medievais cristãs identificadas nas sondagens do castelo (Fonte: Soares e Braga, 1986, p. 173).

Já fora do núcleo histórico, na área correspondente ao loteamento urbano da zona poente de Serpa, foi localizada uma extensa área de necrópole, na qual foram objecto de escavação 123 sepulturas, cronologicamente integradas entre os séculos XIII e XIV (Antunes, 2006, p.8).

Figura 5 – Planta do castelo, séculos XIII-XIV (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

Nos finais do século XIII, D. Dinis, num esforço de reorganização cristã do Alentejo, refunda a vila muçulmana e manda construir de raiz o alcácer e uma imponente cerca urbana com 65000 m2, uma nova ordem muralhada, quadrangular, que integra a construção da barbacã (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

Muralha (troços existentes) Barbacã (reconstituição proposta) N- Porta falsa O- Porta principal P- Torre de menagem Q- D – Torre da Horta R- Igreja de S. Maria S- Torre do Relógio T- Portas de Beja U- Portas de Mouras V- Portas de Sevilha W- Postigo sudoete X- Torre octogonal

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No interior desta nova muralha, provavelmente vista como um projecto megalómano para a época, deveriam existir vastos espaços abertos, os ferragiais, as cercas cultivadas e os rossios (que ainda marcavam presença no século XIX).

Figura 6 – Planta do castelo de Duarte de Armas (Fonte: Armas, 1509).

Embora se inicie um período de quase dois séculos de crise na centúria de quatrocentos, o hiato temporal entre os séculos XIV e XV corresponde à definição do tecido urbano da vila, com base no recinto amuralhado de D. Dinis, composto por escassas centenas de casas de carácter eminentemente campestre (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.). Aparentemente esta estruturação do espaço terá conduzido ao abandono da zona intramuros por parte de alguns agregados familiares.

Figura 7 – Planta do castelo, séculos XV-XVI (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

J- Misericórdia K- Cadeia L- Convento de S. Francisco M- Igreja de N. S. da Saúde

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Para contrariar esta tendência, D. Pedro I terá inclusivamente levado novamente para o adro da Igreja de Santa Maria (erigida em pleno século XIV, embora sejam muito escassos os traços arquitectónicos que documentam esta primeira fase, designadamente a nave, vide www.monumentos.pt) o mercado que se havia transferido para a actual Praça da República (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

Fotografia 2 – Igreja de S. Maria

O século XVI relança a expansão do povoamento. A vila de Serpa apresentava-se como centro urbano de certa importância no contexto sub-regional.

No início deste século e por encomenda régia, Duarte de Armas elabora a primeira representação iconográfica de Serpa e representa as muralhas do castelo velho, uma muralha intermédia e as muralhas e as torres da cerca de D. Dinis, fixando a imagem do espaço urbano tardo-medieval.

Aponta-se para uma considerável densidade populacional, que ocuparia as casas no interior do castelo e um arrabalde extramuros. A área fortificada parece dividida entre castelo, vila velha e vila nova e a sua defesa contaria com duas torres de atalaia implantadas em cabeços próximos.

O mesmo autor indica ainda pormenorizadamente as construções que existiam no interior do castelo, com os aposentos térreos e sobradados, adossados às muralhas.

Também descreve os trajectos a percorrer para aqui chegar a partir de Mértola e de Moura (Lopes et al., 1997, p. 156).

A iconografia transmite a imagem de uma vila contida por dupla cintura de muralhas, a muralha principal e a barbacã, em que escasseiam os edifícios com menos de dois pisos, o que significa que pertenciam a "fidalgos, cavaleiros e escudeiros e outra gente grossa".

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A cerca, que evidencia um traçado de tendência reticulada, que permanece ainda legível no actual núcleo, surge interrompida por três portas que tomam o nome dos caminhos que delas partiam: Beja, Moura e Sevilha (www.cm-serpa.pt).

Na primeira década da centúria, possuía cerca de 500 fogos (o equivalente a 2.500 habitantes) teria ocorrido a expansão da povoação para a área extramuros, em direcção à Igreja de São Salvador (para o designado Bairro do Outeiro), abrindo-se para o efeito a Porta de São Martinho e edificando-se uma ermida sob a mesma evocação. A freguesia de Salvador foi criada nesta fase.

Também terá surgido um núcleo de casario na área do posterior Palácio dos Condes de Ficalho e um terceiro na zona do Largo do Corro, para onde terá sido mudada a feira (terreiro sempre impelido para a periferia pelo crescimento populacional).

A expansão urbana terá mesmo sido prolongada ao longo das estradas de saída da vila. A rua de S. Pedro conserva ainda traços do casario primitivo, com origem no loteamento feito pela Misericórdia num ferragial que possuía.

Dos edifícios criados nesse período, prova do efectivo crescimento do aglomerado, destaca-se o Palácio dos Mello, a Igreja de São Francisco (construída em 1502), o Convento de S. Francisco e o complexo da Misericórdia (em 1505).

Aos primeiros anos do século XVI é ainda atribuída a construção das ermidas de São Pedro, São Sebastião, Nossa Senhora de Guadalupe e São Roque. Estes edifícios são considerados característicos da interpretação regional da linguagem manuelina (www.cm-serpa.pt).

A construção primitiva da Igreja de S. Salvador também remonta ao século XVI, mas desta fase restarão vestígios muito escassos, como mísulas, no actual edifício (www.monumentos.pt).

Nos finais da centúria ergue-se, no lugar de uma capela dedicada a Santo André, a Igreja de Nossa Senhora da Saúde (www.cm-serpa.pt), reflexo da arquitectura maneirista pós-tridentino regional. A marcada austeridade exterior contrasta com a sumptuosidade do barroco patente no interior, na azulejaria polícroma e no retábulo de talha dourada (datado de 1681-1683).

No final do século XVI, Francisco de Melo (alcaide-mor de Serpa) manda erigir, sobre o pano nascente da muralha medieval, o edifício actualmente designado como Palácio dos Condes de Ficalho. Neste edifício encontra-se patente uma grande austeridade e a continuação de soluções maneiristas, depuradas, que caracterizam o designado estilo chão, mas denotando o espírito barroco na relação com o tecido urbano.

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Fotografia 3 – Vista das muralhas sobre bairro habitacional e ao fundo o Palácio dos Condes de Ficalho

Com o propósito único de abastecer o palácio, foi levantado, sobre o mesmo pano da muralha, um aqueduto sobre arcada, de vão redondo, que se prolonga até à extremidade sul, onde remata numa gigantesca nora apoiada no bocal de um poço (www.cm-serpa.pt).

Fotografia 4 – Aqueduto e nora, erigidos sobre a muralha

Mesmo contrariando a tendência de um período de recessão e após os anos conturbados, que se seguiram à Restauração (marcados pela guerra e finalmente pela consolidação da independência), a vila de Serpa é palco de novo ímpeto construtivo, no qual são inevitáveis as preocupações defensivas, mas não só, surgem mesmo novas urbanizações, das quais a mais notável é a das ruas de Mértola e das Amoreiras (www.cm-serpa.pt).

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Figura 8 – Planta do castelo, séculos XV-XVI (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.)

Também são destruídas casas no âmbito da reestruturação das defesas da vila, como a construção de uma fortificação junto à Igreja de S. Salvador e de um forte na zona do Corro, embora não existam vestígios materiais, nem tão pouco notícias da conclusão destas obras. Somente um forte localizado no outeiro de S. Pedro foi concluído em 1668, mas não chegou a albergar guarnição (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

O século XVII corresponde à fundação da Porta Nova, junto ao Palácio dos Condes de Ficalho, para servir dos seus senhores e os moradores do bairro extramuros.

Neste período o número de habitantes das casas intramuros era inferior ao dos arredores: trezentos e trinta e setecentos e oitenta vizinhos, respectivamente.

No século XVII procede-se ainda à reconstrução, ao estilo maneirista, das igrejas de São Salvador e de Santa Maria (www.cm-serpa.pt; www.monumentos.pt).

A construção de raiz deste ciclo tardo-maneirista encontra-se patente na Igreja e Convento de São Paulo, cujas obras, iniciadas no final do século, só são concluídas no século seguinte, a expensas do benfeitor Manuel Fialho (www.cm-serpa.pt).

A- Palácio, aqueduto e nora B- Solar Gavião Peixoto C- Capela de N. S. dos Remédios D- Paços do Concelho E- Forte de S. Pedro F- Porta Nova G- Convento de S. Paulo H- Rebelim I- Santuário

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Fotografia 5 – área do Convento e Igreja de S. Paulo, vista a partir do topo das muralhas

No mesmo período foi ainda edificado o Calvário, estrutura de planta circular e cobertura em cúpula, com pedras irregulares incrustadas nas paredes exteriores, de marcado pendor vernacular, e a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, em estilo chã (www.cm-serpa.pt).

Fotografia 6 - Calvário

Como resultado da participação de Portugal na Guerra da Sucessão de Espanha, a vila foi tomada em 1707 pelos espanhóis, que se retiraram no ano seguinte. Esta passagem deixou grandes danos na vial, nomeadamente, no castelo e na cerca urbana, incluindo a destruição da torre de menagem (www.cm-serpa.pt).

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Fotografia 7 – Ruína da Torre de Menagem

Conforme o já referido, as crises na produção cerealífera não permitiram a Serpa acompanhar a tendência de crescimento populacional nacional setecentista. Isto não é sinónimo de perda da importância social da urbe. Em 1758 registavam-se 5576 habitantes e via-se ser vila "notável e de avultado crédito" pelas "casas das pessoas de primeira grandeza" (www.cm-serpa.pt).

No entanto, o esforço construtivo parece ter abrandado. Os danos provocados pelo terramoto de 1755 foram de pouca monta, não obrigando a obras de envergadura.

Nesta fase terá ocorrido a remodelação da Igreja da Misericórdia e da Igreja de Santa Maria.

No final do século é construída intramuros a Igreja de Nossa Senhora do Carmo (também conhecida por Santuário), testemunho da arquitectura neoclássica no Baixo Alentejo (www.cm-serpa.pt).

Neste final de século, testemunhos referem que em Serpa a maior parte das casas se erguia fora das muralhas, com desenvolvimento urbano para nascente (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

A progressiva perda de importância das muralhas e o desenvolvimento crescente dos contactos e comércio, implicam a abertura de novas comunicações com o exterior: a Porta da Corredoura, a ligação entre o Largo de S. Paulo e o Largo do Corro (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

No século XIX a muralha perde definitivamente a sua funcionalidade. Existe mesmo documentação da vereação autárquica (de 1839), que contesta a construção de edifícios adossados às muralhas, na Rua Nova, que prejudicariam a defesa da vila.

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Em 1850 é aprovado o alargamento da Porta da Corredoura e a abertura da Porta de Nossa Senhora, pelo general governador de província.

Entre 1863 e 1864 a câmara solicitou a autorização do governo para proceder à demolição de parte das muralhas enquanto “contrárias à saúde pública”. Este pedido não foi atendido (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.). As muralhas tornam-se um constrangimento para o crescimento urbano em curso.

A fase entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX corresponde a uma expansão urbana desenvolvida essencialmente em duas vias, que apenas encobriam parte das muralhas, sem as destruir: por um lado intensificou-se significativamente a ocupação do espaço intramuros, por meio da divisão dos edifícios existentes; por outro lado, a vila estendeu-se para sul, na zona anteriormente ocupada pelas eiras e arramadas (estábulos).

As novas urbanizações, com efectiva conotação actual, atestam que o espaço defendido por D. Dinis se encontra, de facto repleto (Câmara Municipal de Serpa et al., s.d.).

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3. CARACTERIZAÇÃO DO EDIFICADO O conhecimento detalhado dos edifícios de um centro histórico é fundamental para a sua requalificação e revalorização. Neste sentido, foi realizado um levantamento sobre todas as construções, incluídas na Área de Intervenção do Plano de Pormenor, que abrange uma área de 51,2 hectares e que totaliza 1387 construções. O levantamento de campo foi executado nos meses de Julho e Agosto de 2007.

O levantamento realizado nesta fase permitiu caracterizar a situação actual do Centro Histórico de Serpa. Destas 1387 construções, 1379 são edifícios e 8 são outras construções: Portas de Moura, Portas de Beja, Aqueduto e Nora, Depósito de Água Da muralha, Torre de Menagem do Castelo Velho e Torre do Relógio.

Relativamente aos resultados do levantamento cabe referir que não foram identificadas construções dentro de logradouros não acessíveis, tais como: barracas, arrecadações, anexos, telheiros e demais construções.

O levantamento ao edificado existente comtemplou as seguintes análises:

número de pisos existentes nos diferentes edifícios;

tipo de utilização em cada edifício: habitação, comércio, serviços ou equipamentos;

estado de conservação do parque edificado, de modo a identificar as suas necessidades de reabilitação;

época de construção de cada edifício, de modo a entender a evolução urbana do aglomerado do Centro Histórico;

avaliação do tipo de materiais dominantes nas fachadas e coberturas, assim como de elementos singulares e dissonantes e de outros elementos característicos da arquitectura popular desta região, como por exemplo as chaminés.

Para a organização do levantamento foi atribuído um número a cada quarteirão, que tem correspondência com as secções e subsecções do INE (ver figura 9). Dentro de cada quarteirão foi ainda atribuído um número a cada edifício. A codificação encontra-se registada no desenho 21256-F1-PP-0003.

Complementarmente a este relatório apresentam-se dois anexos: o Anexo III –Alçados da Ruas à esc.1/2000 e AnexoIV – Tabela com toda a informação recolhida sobre o parque edificado.

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Figura 9 – Numeração dos quarteirões dentro da área de intervenção

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3.1. ESTRUTURA URBANA

3.1.1. Morfologia Urbana A malha urbana do Centro Histórico de Serpa apresenta situações distintas consoante os tipos de morfologia urbana em presença, podendo-se em termos esquemáticos, traduzi-la em nove zonas homogéneas (figura 10).

Como elementos marcantes da estrutura urbana são de destacar a cerca amuralhada, que condicionou as dimensões e características da malha urbana no seu interior, e a sua envolvente imediata que se organiza a partir desta. Na zona extramuros evidenciam-se os edifícios religiosos, como elementos estruturantes do desenvolvimento urbanístico.

Figura 10 – Morfologia Urbana

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3.2.1.1. Zona Intra-Muralhas Na zona intra-muralhas, a própria muralha e as suas portas definem dois eixos perpendiculares estruturantes:

Oeste / Este – Rua das Portas de Beja e Rua dos Fidalgos, que ligam as Portas de Beja às Portas de Sevilha;

Sul / Norte – Rua dos Cavalos e Rua da Cadeia Velha / Terreiro de São João, que ligam a Porta da Corredoura às Portas de Moura.

Na intersecção das quatro ruas encontra-se a Praça da República que desempenha um papel central enquanto espaço público.

Zona 1 - Localiza-se a Noroeste e abrange a zona do Castelo, sendo este o ponto mais elevado da área de intervenção. Esta zona é constituída pelo primeiro núcleo de povoamento e caracteriza-se por uma malha orgânica. É limitada pela muralha, alcáçova e Rua das Portas de Beja, Rua da Barbacã e Terreiro de São João. Nela se destacam a Igreja de Santa Maria, a Torre do Relógio, o Museu Arqueológico, o Palácio dos Condes de Ficalho e a típica casa popular com características vernaculares. Inseridos nesta malha encontram-se também o Largo dos Santos Próculo e Hilarião e o Largo dos Condes de Ficalho, onde adjacente existe o jardim do Palácio (propriedade privada).

Zona 2 - Localiza-se a Nordeste da muralha e caracteriza-se igualmente por uma malha orgânica, mas com quarteirões de maior dimensão. É limitada pela muralha, pela Rua da Barbacã, Rua dos Fidalgos e Terreiro de São João. Nesta zona destacam-se: a Igreja do Santuário, Igreja e Convento de São Paulo onde actualmente funciona o Hospital de Serpa e o Largo de São Paulo.

Zona 3 - Localiza-se a Sudoeste e caracteriza-se por uma malha ortogonal com quarteirões de média e grande dimensão e traçado regular das vias. É limitada pela muralha, pela Rua das Portas de Beja e pela Rua dos Cavalos. Nesta zona destacam-se: a Igreja da Misericórdia com a Sede da Sociedade Filarmónica de Serpa e a Associação da Rota do Guadiana. Nesta área predominam os edifícios de dois pisos com logradouro no interior do quarteirão.

Zona 4 - Localiza-se a Sudeste e caracteriza-se por uma malha de traçado rectilíneo com ruas paralelas horizontais, originando quarteirões rectangulares longitudinais. É limitada pela muralha, pela Rua dos Fidalgos e pela Rua dos Cavalos. Nesta zona destacam-se: o edifício da Câmara Municipal e a Praça da República, o antigo Convento do Mosteirinho e o Museu do Relógio. Nesta área, na zona adossada à muralha, os edifícios distinguem-se pela casa popular de um piso com características vernaculares, predominando os dois pisos no restante edificado.

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3.2.1.2. Zona Extra-Muros Zona 5 - Localiza-se na zona adjacente à muralha e caracteriza-se por uma malha

linear que se desenvolve acompanhando a forma exterior da cerca amuralhada, originando logradouros no interior dos quarteirões. É limitada pela muralha e por um conjunto de vias que a circundam: Rua dos Farizes, Largo das Portas de Moura, Rua Bráz Gonçalves, Rua de João Lampreia, Largo do Côrro, Rua António Carlos Calisto, Largo 5 de Outubro, Rua do Calvário, Rua Nova e Rua dos Lagares. Nesta zona destaca-se o Museu Etnográfico situado no Largo do Côrro.

Zona 6 - Localiza-se a Sudeste da área de intervenção e caracteriza-se por uma malha linear com desenvolvimento em quadrícula bastante irregular, com um acentuado direccionamento entre o Largo do Salvador e o Largo da Cruz Nova, criando quarteirões de dimensões muito variadas. É limitada pela Rua de Sevilha, Rua António Carlos Calisto, Largo 5 de Outubro, Rua do Calvário, Rua do Rossio e Largo 25 de Abril. Nesta zona destacam-se a Igreja e o Largo do Salvador e o Largo 5 de Outubro.

Zona 7 - Compreende grande parte da área de intervenção da zona extramuros e caracteriza-se por uma malha urbana espontânea, de traçado bastante irregular, constituindo quarteirões de pequena e grande dimensão, os maiores de toda a área de intervenção, com grandes áreas interiores livres. Nesta zona destacam-se a Igreja e o Largo Nossa Senhora dos Remédios, o Terreiro Humberto Delgado, o Largo da Corredoura, o Largo do Côrro e a Rua dos Arcos onde se assinalam o aqueduto e a nora. Esta zona distingue-se pelo uso predominantemente habitacional.

Zona 8 - Localiza-se a Sul da área de intervenção e caracteriza-se por uma malha reticulada com quarteirões de grande dimensão. É limitada pelo Largo da Corredoura, Rua Nova, Rua do Rossio, Largo 25 de Abril e Alameda Padre Correia da Serra.

Zona 9 - Localiza-se a Norte da área de intervenção e compreende ainda uma grande área de campos de cultivo.

3.1.2. Espaços Públicos Os espaços públicos do Centro Histórico de Serpa apresentam diferentes tipos de importância, consoante a sua localização, os usos a eles associados e o equipamento urbano nele existente. São utilizados como lugares de lazer, estar, convívio, etc., e a sua utilização varia fortemente durante as estações do ano.

A circulação viária não ordenada, o estacionamento anárquico e a falta de áreas pedonais e de equipamentos de mobiliário urbano adequados (nomeadamente estruturas de ensombramento), são os factores que mais influenciam a fraca afluência da população residente e visitante a este espaços.

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PRAÇA DA REPÚBLICA

Figura 11 – Planta de localização da Praça da República

A Praça da República, o Largo Jorge de Melo e o Largo dos Santos Próculo e Hilarião constituem um núcleo de espaços públicos que desempenham uma função central no Centro Histórico de Serpa. No entanto é a Praça da República que se destaca pela sua localização e usos centrais, onde funcionam a sede dos Paços do Concelho e outros serviços e actividades económicas com significativa capacidade de atracção.

Com intervenção de inicio do século XXI - que acaba com o estacionamento e circulação automóvel - o espaço público é palco de diversos acontecimentos culturais nocturnos no Verão, cuja atractividade é complementada pelas esplanadas dos restaurantes e cafés. No Inverno, a sua utilização nocturna é bastante escassa.

A carência de mobiliário urbano (apenas existem dois bancos) de apoio a actividades ligadas a estadia e lazer bem como de suporte a espectáculos ao ar livre, nomeadamente mais bancos e estruturas de ensombramento, contribui para a fraca afluência a este espaço público.

No geral os edifícios que compõem o espaço, apresentam formas imponentes e valor arquitectónico relevante, destacando-se o edifício dos Paços do Concelho e o do Restaurante “O Alentejano”. Destaca-se do conjunto, o edifício da Caixa Geral de Depósitos que apresenta uma linguagem arquitectónica dissonante.

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Fotografias 8, 9, 10, 11, 12 e 13 – Imagens da Praça da República

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LARGO JORGE DE MELO

Figura 12 – Planta de localização do Largo Jorge de Melo

O Largo Jorge de Melo estabelece a ligação entre a Praça da República e o Largo dos Santos Próculo e Hilarião. Este espaço é habitualmente utilizado como estacionamento automóvel, com acesso através da Rua das Portas de Beja e saída pela Rua da Barbacã, circunstância que provoca situações de congestionamento urbano e anula a importância da ligação pedonal entre os outros dois espaços públicos mencionados anteriormente.

Os edifícios que compõem o espaço apresentam coerência formal destacando-se o edifício do Posto de Turismo. O edifício da Caixa Geral de Depósitos surge novamente neste espaço como um elemento dissonante do Conjunto. A escadaria de acesso ao Largo dos Santos Próculo e Hilarião e a Torre do Relógio são elementos que caracterizam este espaço público, conferindo-lhe uma elevada qualidade urbana.

Fotografias 14, 15 e 16 – Imagens do Largo Jorge de Melo

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LARGO DOS SANTOS PRÓCULO E HILARIÃO

Figura 13 – Planta de localização do Largo dos Santos Próculo e Hilarião

O Largo dos Santos Próculo e Hilarião localiza-se na zona do Castelo Velho, com acesso automóvel para residentes através do Largo dos Condes de Ficalho.

Neste largo situa-se a Igreja de Santa Maria, matriz de Serpa, uma das primeiras da cidade, que terá sido edificada sobre uma antiga mesquita árabe, no século XIV. Ergue-se neste espaço a chamada Torre do Relógio (vestígio da primitiva cerca da vila), de planta quadrangular, onde se ergue a sineira, com coruchéus18 de remate cónico rodeados por merlões chanfrados. Foi transformada em relógio em 1440, constituindo-se na terceira torre relojoeira mais antiga do país.

No conjunto edificado evidenciam-se diferentes épocas de construção, desde o período anterior ao século XVI até ao século XX, destacando-se ainda um imóvel com características do estilo gótico.

O Largo localizado numa posição privilegiada, com vista sobre a zona mais baixa da cidade necessita de uma intervenção urbana, que potencie o lazer e a estadia através de: mobiliário urbano adequado, ordenamento do estacionamento, a utilização do edificado, e a manutenção das sombras existentes.

18 É o remate piramidal de uma torre ou de um campanário. O coruchéu pode ser de madeira ou de pedra e ser revestido ou não por telhas.

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Fotografias 17, 18, 19, 20, 21 e 22 – Imagens do Largo dos Santos Próculo e Hilarião

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LARGO DOS CONDES DE FICALHO

Figura 14 – Planta de localização do Largo dos Condes de Ficalho

O Largo dos Condes de Ficalho localiza-se na zona do Castelo Velho, junto à muralha e tem acesso automóvel através de uma porta na mesma. É o maior espaço público intra-muralhas e nele destaca -se o Palácio dos Condes de Ficalho19, que se eleva sobre o pano de muralha.

É constituído por quatro frentes, das quais apenas duas são edificadas (a Nascente e a Poente); a Sul localiza-se o Jardim do Palácio (propriedade privada).

Os edifícios que organizam o espaço apresentam qualidade arquitectónica e datam dos séculos XVII e XIX.

O Largo é utilizado fundamentalmente como parque de estacionamento; a ausência de mobiliário urbano adequado é outro dos factores determinantes para que não seja utilizado como espaço de convívio e lazer.

Este espaço de elevada histórica e qualidade formal, encontra-se sub-aproveitado, pelo que deverá ser valorizado com uma intervenção que assegure a compatibilização da oferta de estacionamento com a estadia e o lazer, através de equipamentos adequados.

19 Foi classificado como Monumento Nacional no Diário da República de 21 de Abril de 2007.

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Fotografias 23, 24, 25 e 26 – Imagens do Largo dos Condes de Ficalho

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LARGO DE SÃO PAULO

Figura 15 – Planta de localização do Largo de São Paulo

Este largo localiza-se no interior do recinto amuralhado, junto às Portas de Moura. Tem uma forma triangular e é limitado por três frentes de rua edificadas, em que duas têm circulação automóvel.

É coroado pelos edifícios da Igreja e do Convento de São Paulo, onde hoje funciona o Hospital, com grande importância histórica e arquitectónica, que remontam ao século XVII. O restante edificado apresenta características arquitectónicas tradicionais.

A circulação automóvel e o estacionamento têm um peso muito elevado neste espaço, condicionando a qualidade do mesmo. Este factor, aliado às diferenças altimétricas existentes no terreno, origina um espaço de estadia e lazer fechado e elevado, com pouca utilização. Trata-se de um espaço com bastante afluência de pessoas que se concentram no passeio junto ao Hospital e na esplanada do café (localizado a Sul).

Este espaço público necessita de uma reorganização espacial, privilegiando a estadia e o convívio dos utentes, ligados ao hospital e comércio existente, sendo necessária a manutenção dos espaços verdes e a criação de estruturas de ensombramento.

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Fotografias 27, 28, 29 e 30 – Imagens do Largo de São Paulo

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LARGO DO CÔRRO

Figura 16 – Planta de localização do Largo do Côrro

Localizado numa zona extramuros este Largo é caracterizado por um conjunto edificado de relevante qualidade arquitectónica e coerência formal, destacando-se o Museu Etnográfico (antigo mercado municipal do século XIX). Salienta-se na frente Sul do Largo a existência de um edifício dissonante.

O Largo, preferencialmente de uso habitacional, é constituído por quatro frentes edificadas e tem duas vias de circulação automóvel sendo a sua ligação ao interior da muralha é realizada através da porta de Sevilha.

Este espaço público é actualmente um importante ponto de passagem automóvel e de estacionamento, contendo igualmente na sua periferia um conjunto de estruturas de ensombramento e de mobiliário urbano. Este elementos urbana alguma vivência deste espaço publico, que se caracteriza pela fraca oferta de actividades económicas.

O Largo necessita de proposta de requalificação urbana que redefina o desenho urbano, nomeadamente do “Auditório” subdimensionado e o acesso automóvel junto aos edifícios localizados a Sul.

A sua dimensão espacial e qualidade formal dos edifícios que enquadram potenciam a existência de um espaço para actividades culturais, que deverá ser complementadas por actividades económicas/comércio, que incentivem e apoiem a vivência deste espaço.

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Fotografias 31, 32, 33, 34, 35 e 36 – Imagens do Largo do Côrro

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LARGO 5 DE OUTUBRO

Figura 17– Planta de localização do Largo 5 de Outubro

Localizado numa zona extramuros este espaço publico é um espaço com bastante circulação automóvel sendo também utilizado como zona de lazer e estadia. Este espaço reúne diversos tipos de actividades económicas, destacando-se o Banco Santander (edifício com qualidade arquitectónica).

A sua forma triangular é definida por três frentes edificadas, delimitadas por vias de circulação automóvel. Ao centro situa-se uma zona pedonal com zonas de estadia, apoiadas por bancos e estrutura verde que proporciona ensombramento a este espaço. Esta plataforma contudo não oferece dimensão suficiente para tráfego de utentes que utilizam este espaço público, gerado pelo comércio e serviços disponíveis.

Os edifícios que compõem o espaço não apresentam qualidade formal relevante, sendo alguns dos edificios dissonantes. A forte actractividade deste Largo para actividades económicas foi determinante para o surgimento de elementos dissonantes nas fachadas dos edifícios tais como: toldos, publicidade, ar condicionado, etc.

Para este espaço já existe uma proposta de intervenção, que desincentiva o conflito entre o peão e o automóvel, tornando muito maior as áreas de estadia.

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Fotografias 37 e 38 – Imagens do Largo 5 de Outubro

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LARGO DO SALVADOR

Figura 18 – Planta de localização do Largo do Salvador

Localizado na continuidade do Largo 5 de Outubro, este espaço apresenta bastante circulação automóvel sendo fundamentalmente utilizado como zona de estacionamento.

O largo é constituído por cinco frentes edificadas, limitadas por vias de circulação automóvel que ocupam na sua totalidade o espaço público existente, anulando assim outros possíveis usos para o mesmo. Nele destacam-se o edifício da igreja do Salvador e o antigo edifício da cruz vermelha pela sua qualidade arquitectónica e pela sua localização estratégica no Centro Histórico, realçada pelo do acentuado declive terreno.

O edificado envovente do Largo reune diferentes tipos de actividades económicas, destacando-se dois edifícios de actividade hoteleira: a Residencial Beatriz e a Casa de Serpa (turismo rural). Neste espaço também se realizam actividades de carácter religioso e cultural de grande importância para a cidade, sobretudo nas festas da Páscoa é na igreja do Salvador que todos os dias são celebradas missas.

Da proposta de intervenção mencionada no largo anterior, do qual também faz parte este largo, é de salientar a separação entre o que é zona pedonal e o que é zona de circulação automóvel e de estacionamento, tornando muito maior as áreas de estadia e proporcionando a ligação pedonal continua entre os dois espaços referidos: Largo 5 de Outubro e Largo do Salvador. Esta proposta evidencia os edifícios emblemáticos e o chafariz e proporciona locais de estadia e estacionamento controlado e organizado.

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Fotografias 39, 40, 41 e 42 – Imagens do Largo do Salvador e Igreja do Salvador

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LARGO 25 DE ABRIL

Figura 19– Planta de localização do Largo 25 de Abril

O Largo 25 de Abril estabelece o encontro de quatro quarteirões formando no seu interior um espaço central actualmente muito descaracterizado.

Este espaço público de forma quadrangular é constituído por três frentes edificadas, sendo a quarta definida por uma via de circulação automóvel. Ao centro situa-se uma zona ajardinada que proporciona mais um local de estacionamento. Contudo, esta plataforma não oferece dimensionamente coerente com a real dimensão de espaço livre ocupado pelas vias de circulação que a circundam.

Os edifícios que compõem o espaço não apresentam qualidade formal relevante, tendo alguns intervenções dissonantes. A variedade de actividades económicas existentes neste largo propicia ainda mais a existência de elementos dissonantes nas fachadas dos edifícios: toldos, publicidade, ar condicionado, etc.

É necessário a redefinição do desenho urbano do largo, proporcionando-lhe um uso diferenciado, conjugando a extensa área de estacionamento e a possível integração de um espaço de convívio e lazer, equipado com mobiliário urbano adequado e estrutura de ensombramento que potencie a valorização das actividades económicas desta zona.

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Fotografias 43 e 44 – Imagens do Largo 25 de Abril

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LARGO DA CRUZ NOVA

Figura 20 – Planta de localização do Largo da Cruz Nova

Localizado no extremo Sul da zona de intervenção este espaço resulta da confluência de seis vias de circulação automóvel. Neste espaço destaca-se o edifício do depósito de água que marca a entrada no centro histórico.

Este espaço é um ponto de convergência de um conjunto de ruas, sendocaracterizado por um conjunto de edifícios muito diferenciados no qual se encontram várias intervenções dissonantes.

O Largo necessita de um projecto de requalificação urbana que redefina: o traçado viário e a circulação, a integração do estacionamento e criação de espaço de estadia e lazer.

Fotografias 45 e 46 – Imagens do Largo da Cruz Nova e Depósito de Água

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LARGO DA CORREDOURA

Figura 21 – Planta de localização do Largo da Corredoura

Localizado numa zona extramuros, este espaço é resultante da confluência de várias vias, o que torna funcionalmente complexo. O largo é caracterizado por uma edificado de pouca qualidade arquitectónica que apresenta várias intervenções dissonantes quer a nível formal e quer a nível da volumétrica. Este espaço funciona fundamentalmente com parque de estacionamento, prejudicando os restantes usos que intrega ligados: às actividades económicas, às actividades de lazer e estadia e ao importante atravessamento pedonal que se faz sentir através da rua dos cavalos (ligação intra/extramuros).

O espaço público necessita de uma redefinição do seu desenho urbano que qualifique este espaço e o adeque aos usos pretendidos: criação de bolsa de estacionamento e de local de estadia e lazer (com adequado mobiliário urbano e estrutura verde e de ensombramento).

Fotografias 47 e 48 – Imagens do Largo da Corredoura

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TERREIRO HUMBERTO DELGADO

Figura 22 – Planta de localização do Terreiro Humberto Delgado

Localizado a Poente da zona de intervenção este espaço é uma importante “porta” de entrada no centro histórico,esta área com grande circulação automóvel é igualmente utilizado como zona de lazer e estadia.

De forma triangular é constituído por duas frentes edificadas, limitadas por três vias de circulação automóvel. Ao centro situa-se uma zona pedonal com uma zona de estadia, apoiada por bancos e estrutura verde que proporciona ensombramento. Contudo, esta plataforma não oferece dimensão e qualidade suficiente para a utilização por parte dos utentes.

Das duas frentes que compõem o espaço somente a que se localiza a norte apresenta qualidade arquitectónica: o Palácio dos Mello datado do século XVII, os restantes edifícios apresenta características tradicionais populares.

A escassez de comércio e serviços faz deste espaço um local de simples entroncamento de vias e de passagem automóvel. Por sua vez, o próprio arranjo urbano não potencia a sua utilização tal como a ausência de equipamento urbano de atracção. É necessário reorganizar a circulação quer pedonal, quer automóvel de modo a evidenciar o Palácio dos Mello criando um espaço urbano com carácter de convívio e lazer e redefinindo áreas de estacionamento.

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Fotografias 49, 50, 51 e 52 – Imagens do Terreiro Humberto Delgado e Palácio dos Mello

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LARGO NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS

Figura 23 – Planta de localização do Largo da Nossa Senhora dos Remédios

O Largo da Nossa Senhora dos Remédios localiza-se numa zona extramuros, a norte da zona de intervenção, e é caracterizado por um conjunto edificado com características arquitectónicas diferenciadas, destacando-se a Igreja da Nossa Senhora dos Remédios datada do século XVII.

É definido por três frentes edificadas e por uma via de circulação automóvel que limita o espaço urbano a Sul. A construção precária existente encontra-se degradada o que desvaloriza de forma determinante este espaço público.

Este Largo necessita de uma proposta de requalificação urbana que : organize o estacionamento, valorize o local com equipamento adequado e redefina o desenho urbano de modo a motivar a estadia e lazer deste espaço.

Fotografias 53 e 54 – Imagens do Largo da Nossa Senhora dos Remédios e respectiva Igreja

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3.1.3. Quarteirão Os quarteirões apresentam diferentes formas de agrupamento dentro da zona de intervenção. São verificados seis tipos de agrupamentos:

1. Quarteirão em banda: os edifícios apresentam-se dispostos em banda contínua com uma frente de rua e logradouros de dimensão variada, que se encontram justapostos à muralha ou transformados por vezes em grandes extensões e áreas de cultivo (exemplo de alguns quarteirões: 11, 20, 45, 50, 51, 62);

2. Quarteirão ortogonal: os edifícios apresentam-se dispostos em banda e agrupam-se ortogonalmente, formando um quadrado ou rectângulo, originando no seu interior um conjunto de logradouros. As frentes de rua, que poderão ser duas ou quatro, são sempre compostas por fachadas de edifícios (exemplo de alguns quarteirões: 19, 17, 26, 27, 46);

3. Quarteirão rectangular, regular e comprido: os edifícios apresentam-se dispostos em banda originando formas geométricas rectangulares regulares e possuem quatro frentes de rua, sendo possível existirem logradouros ou pátios encerrados por muros que podem originar frentes de rua (exemplo de alguns quarteirões: 47,48,49);

4. Quarteirão irregular de raiz rectangular: os edifícios apresentam-se agrupados em banda originando rectângulos com quatro frentes de rua com alinhamentos irregulares e sinuosos. Os logradouros são por vezes reduzidos a pequenos pátios no interior do quarteirão (exemplo de alguns quarteirões: 5, 37, 66, 68, 69);

5. Quarteirão irregular: os edifícios apresentam-se agrupados de forma irregular e os logradouros organizam-se também de forma e dimensão irregular (exemplo de alguns quarteirões: 25, 22, 44);

6. Quarteirão trapezoidal: os edifícios apresentam-se contínuos em forma de trapézio com quatro frentes de rua de dimensões diferentes. Os logradouros agrupam-se no interior do quarteirão (exemplo de alguns quarteirões:2, 3, 4, 9, 40, 58, 76).

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3.2. VOLUMETRIA Existem seis tipos de volumetrias analisadas, são elas:

1. Edifício com 1 piso: 838 edifícios. Os edifícios de 1 piso localizam-se maioritariamente na zona extramuros que compreende grande parte da área de intervenção, sendo de realçar a existência de pequenos aglomerados no interior das muralhas, junto à zona do Castelo Velho e nas Rua dos Quartéis e Rua João Valente;

Fotografia 55 - Edifício com 1 piso – ID 0204

2. Edifício com 1 piso + 1 piso recuado: 146 edifícios. Estes edifícios estão dispersos por toda a zona de intervenção, verificando-se a existência de edifícios com acrescentos volumétricos (piso recuado) com algum significado formal que por vezes danificam a coerência formal do conjunto urbano.

Fotografia 56 - Edifício com 1 piso + 1 piso recuado – ID 0813

3. Edifício com 2 pisos: 380 edifícios contabilizados. Constata -se que os edifícios de 2 pisos predominam sobretudo no interior das muralhas, com excepção da zona do Castelo Velho e um troço da Rua dos Quartéis e Rua João Valente. Na zona extra-muros os conjuntos de edifícios com 2 pisos encontram-se no lado Nascente e junto ao Largo das Portas de Moura;

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Fotografia 57 - Edifício com 2 pisos – ID 0601

4. Edifício com 2 pisos + 1 piso recuado: 11 edifícios. Estes edifícios estão dispersos nas zonas acima referidas;

Fotografia 58 - Edifício com 2 piso + 1 piso recuado – ID 2034

5. Edifício com 3 pisos: 3 edifícios. Estes edifícios encontram-se situados na zona intra-muros e na entrada das Portas de Moura;

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Fotografia 59 - Edifício da Câmara Municipal de Serpa – ID 4601

Fotografia 60 - Edifício na Praça da República – ID 3902

Fotografia 61 - Edifício no Largo das Portas de Moura – ID 4421

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6. Edifício com 4 pisos: 1 edifício.

Fotografia 62 - Edifício com 4 pisos na Rua do Calvário – ID 7202

Gráfico 3 – Número de pisos por edifício

Nota: Os edifícios identificados no gráfico com “não aplicável” são as construções já referenciadas neste documento, são elas: Portas de Moura, Portas de Beja, Aqueduto e Nora, Depósito de Água Da muralha, Torre de Menagem do Castelo Velho e Torre do Relógio. Foram retiradas ao total de 1387 edifícios analisados 8 edifícios, perfazendo um total de 1379 edifícios.

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Analisados os dados da tabela verificou-se que os edifícios de 1 piso concentram-se em grande maioria na ZI, cerca de 60,4% do total de edifícios levantados. Sem grande significado quantitativo encontram-se os edifícios com 3 e 4 pisos, cerca de 0,1%.

3.3. AGRUPAMENTO E NÚMERO DE FOGOS A estrutura urbana do Centro Histórico de Serpa apresenta situações diferenciadas, que se distinguem consoante a sua localização, disposição das vias de acesso à cidade, época de construção, etc.

Existem seis números diferentes de fogos:

1. Um fogo: 1075 edifícios (77,5% do edificado habitacional). Este tipo de fogos encontra-se em toda a zona de intervenção;

2. Dois fogos: 82 edifícios (5,9% do edificado habitacional). Este tipo de fogos encontra-se disperso pela zona de intervenção;

3. Três fogos: 18 edifícios (1,3% do edificado habitacional). Este tipo de fogos encontra-se situado sobretudo na zona intra-muros e na zona extramuros na parte nascente da zona de intervenção;

4. Quatro fogos: 4 edifícios (0,3% do edificado habitacional). Este tipo de fogos encontra-se situado no lado sudeste da zona de intervenção, na Rua do Calvário, na Rua Padre Medeiros, na Rua dos Barrigos e no Largo do Corro;

5. Cinco fogos: 1 edifício (0,1% do edificado habitacional). Este edifício encontra-se situado na Rua do Inspector;

6. Seis fogos: 1 edifício (0,1% do edificado habitacional). Este edifício encontra-se situado na Rua do Calvário.

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Gráfico 4 – Número de fogos por edifício

Nota: Os edifícios identificados no gráfico com “não aplicável” são edifícios de uso não habitacional (206 edifícios).

Foram contabilizados 1181 edifícios habitacionais com 1 a 6 fogos.

Verifica-se que o agrupamento dos fogos e dos pisos, por vezes torna-se pouco clara em algumas situações, deste modo, consideraram-se quatro grupos:

1. Edifício unifamiliar de 1 piso com 1 fogo: 804 edifícios, cerca de 68,1% do total de 1181 edifícios habitacionais;

2. Edifício unifamiliar de 2 pisos com 1 fogo: 207 edifícios, cerca de 17,5% do total de 1181 edifícios habitacionais;

3. Edifício plurifamiliar de 1 piso com 2 fogos: 20 edifícios, cerca de 1,7 % do total de 1181 edifícios habitacionais;

4. Edifício plurifamiliar de 2 a 4 pisos com 1 a 6 fogos: 150 edifícios, cerca de 12,7 % do total de 1181 edifícios habitacionais.

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Fotografia 63 – Edifício unifamiliar de 1+2 pisos na rua dos Farizes; edifício unifamiliar de 2 pisos na rua dos Barrigos; edifício plurifamiliar de 2 pisos na Rua de Santo António.

Gráfico 5 – Agrupamento de fogos por piso ou pisos

Agrupamento e N.º de Fogos

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

Edifício Unifamilar de 1Piso e com 1 Fogo

Edifício Unifamilar de 2Piso e com 1 Fogo

Edifício Plurifamilar de 1Piso e com 2 Fogos

Edifício Plurifamilar de 2a 4 Pisos e com 1 a 6

Fogos

(%)

Para uma análise mais detalhada do agrupamento e número de fogos de cada edifício, deverá ser consultado o desenho 21256-F1-PP-0006.

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3.4. TIPO DE OCUPAÇÃO Para análise funcional da zona de intervenção da Cidade de Serpa, consideram-se oito categorias de actividades:

1. Habitação; 2. Comércio; 3. Serviços; 4. Restauração; 5. Hotelaria; 6. Pequenas indústrias / armazém / garagem; 7. Unidades de produção de queijo; 8. Associações e Cooperativas.

Para uma análise mais detalhada do tipo de ocupação de cada edifício e eventuais associações entre cada tipo de ocupação, deverá ser consultado o desenho 21256-F1-PP-0009.

Associado a este grupo de categorias encontra-se também assinalado um conjunto de 21 edifícios devolutos.

A habitação distribui-se de forma equilibrada por toda a malha urbana, sendo fora da cerca amuralhada que se encontra um número significativo de quarteirões exclusivamente de ocupação habitacional.

O comércio, serviços, restauração, hotelaria e pequenas indústrias localizam-se, sobretudo, na zona intra-muros e na zona extramuros da parte sul da zona de intervenção. Todos estes usos surgem na malha urbana de forma dispersa sem formarem grandes concentrações numa só área.

Fotografias 64 e 65 – Imagem de edifício com ocupação mista: habitação e comércio situado na Rua

das Portas de Beja; habitação e serviços situado no Largo 5 de Outubro.

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Gráfico 6 – Uso de cada Edifícios

Nota: Os edifícios identificados no gráfico com “não aplicável” foram excluídos do total de 1387 edifícios levantados. Os 11 edifícios excluídos são: as Portas de Moura, as Portas de Beja, o Aqueduto e a Nora, o Depósito de Água da muralha, a Torre de Menagem do Castelo Velho, a Torre do Relógio, o Depósito de Água do Largo da Cruz Nova, as duas Instalações sanitárias situadas no Largo Jorge de Melo e no Largo do Salvador. Deste modo o gráfico analisa somente 1376 edifícios.

Analisando o gráfico retiram-se as seguintes conclusões:

1. Edifícios exclusivamente residenciais: 1076 edifícios, cerca de 77,6% do total de 1376 edifícios considerados;

2. Edifícios preferencialmente residenciais: 84 edifícios, cerca de 6,1% do total de 1376 edifícios considerados;

3. Edifícios exclusivamente não residenciais: 216 edifícios, cerca de 15,6 % do total de 1376 edifícios considerados;

No quadro seguinte estão descritas todas as funções que existem em cada tipo de actividades.

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Tipo de Ocupação do Edificado:

ACTIVIDADES

COMÉRCIO SERVIÇOS RESTAURAÇÃO HOTELARIA PEQUENAS

INDÚSTRIAS/ ARMAZÉNS

FUNÇÃO DE CADA TIPO DE ACTIVIDADE 1. Alimentares: - Supermercado - Mini-Mercado - Mercearia - Frutaria - Padaria

2. Vestuário / Calçado: - Loja de Roupa - Sapataria - Loja de Bijutaria - Ourivesaria - Boutique - Artigos Desporto

3. Áudio-visuais / Papelaria: - Tabacaria - Papelaria - Livraria - Fotografia

4. Serviços Pessoais: - Cabeleireiro - Barbeiro

5. Serviços e Artigos Domésticos: - Drogaria - Antiquário / Velharias - Decoração / Artigos Lar - Mat. Construção - Arranjos de Costura - Loja de Tintas - Retrosaria - Têxteis - Gás - sapateiro

6. Comércio diversificado: - Lavandaria - Venda de automóveis - Óptica - Venda de automóveis - Artesanato - Garrafeira - Produtos Naturais - Animais - Artigos Variados - Artigos Pesca e Caça - Artigos Regionais

- Farmácia - Correios - Banco - Seguradora - Funerária - Agência de Viagens - Clínica - Dentista - Escola de condução - Escritórios - Soc. Construções - Advogado - contabilidade - Arquitecto - Médico - Imobiliária - Ag. de Seguros - Agência Funerária - Restauro - centro de formação

- Restaurante - Café - Cafetaria - Pastelaria - Doces Regionais - Pizzaria - Snack-Bar - Cervejaria - Taberna - Bar

- Hotel - Residencial - Pensão - Turismo de Habitação

- Serralharia - Carpintaria - Tipografia - Oficina de Automóveis - Garagem - Armazém - Arrecadação

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3.5. ESTADO DE CONSERVAÇÃO A análise do estado de conservação do parque edificado é um pouco subjectiva, pois apenas foram observados os aspectos exteriores dos edifícios.

Esta análise corresponde a um levantamento de campo executado nos meses de Julho e Agosto de 2007.

Critérios de classificação do estado de conservação das fachadas e coberturas:

Bom: se o edifício não necessitar de qualquer reparação;

Razoável: se o edifício necessitar de algumas reparações localizadas;

Mau: se o edifício ou parte do mesmo se encontre deteriorada, mas possível de reparação;

Ruína: se o edifício ou parte do mesmo se encontre deteriorada e prestes a cair, de tal modo que só se possa reconstruir e não reparar.

Em Recuperação: se o edifício encontra-se em trabalhos de recuperação de fachada ou cobertura (recuperação: execução de trabalhos de melhoramento, restauro ou conserto);

Em Construção: se o edifício encontra-se em trabalhos de construção total ou parcial (construção: execução de todas as etapas de um projecto desde a fundação aos acabamentos).

Nota: estas definições aplicam-se tanto para o estado de conservação das fachadas como também para o estado de conservação das coberturas do edificado analisado.

Gráfico 7 – Estado de conservação das fachadas

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Gráfico 8 – Estado de conservação das coberturas

No que diz respeito ao estado de conservação das fachadas, pode-se concluir que 1,4% do parque edificado encontra-se em ruína, 4,3% em mau estado de conservação, 30,4% em razoável estado de conservação e 62,6% em bom estado de conservação sem necessidade de reparação.

O estado de conservação das coberturas encontra-se 55,7% do edificado analisado em bom estado de conservação, 36% em razoável estado de conservação, 5,4% em mau estado de conservação e 1,7% em ruína necessitando de reconstrução total.

Foram identificados oito imóveis em construção e onze imóveis em recuperação de fachada. Em recuperação de cobertura existem somente dois imóveis. Estes dados deverão ser actualizados com o finalização dos respectivos trabalhos de execução.

Para uma análise mais detalhada do estado de conservação das fachadas e das coberturas de cada edifício, deverá ser consultado o desenho 21256-F1-PP-0007 e o desenho 21256-F1-PP-0008, respectivamente.

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3.6. ÉPOCA DE CONSTRUÇÃO

3.6.1. ÂMBITO O Plano de Reabilitação Urbana do Centro Histórico de Serpa de 1995, contem um capítulo sobre Épocas de Construção que introduz cronologicamente a evolução do património edificado na zona de intervenção. Dada a importância desta matéria para a compreensão do Centro Histórico retomam-se seguidamente na íntegra alguns extractos dessa análise.

3.6.1.1. Serpa medieval: o Gótico O que subsiste da arquitectura militar do período gótico, felizmente poupado às destruições oitocentistas¹, é considerável.

A Torre do Relógio, é o único vestígio de um pano de muralha que delimitava a sul a acrópole (com uma área de cerca de 2 hectares), provavelmente levantado no reinado de D. Sancho II, mas seguindo o reaproveitamento parte de uma muralha islâmica. Sobre a torre, cuja parte mais alta caiu ou foi derrubada, por altura das suas ameias, foi construído em 1440 um apoio destinado a receber o relógio².

Monumentos góticos são também o castelo e a cerca urbana dionisinas. Escreve Rui de Pina, no último capítulo da Crónica de D. Dinis, que “Este rei em seu tempo fez quasi de novo todalas Villas, e Castellos de riba Dodiana, ha saber: Serpa, Moura, Olivença, Campo Maior, Ouguella, cujos alacaceres, e Castelos fez de fundamento com muitas desprezas...”

A delimitação cada vez mais rigorosa da fronteira só se torna sistemática a partir da época em que se difundem as noções de medida e quantidade, ou seja, durante a segunda metade do século XIII e a primeira do seguinte. As numerosas construções de castelos de fronteira por D. Dinis resultam de uma mutação de mentalidade que corresponde a esta problemática. O longo reinado do monarca (1279-1325) assinala uma evolução fundamental na costrução das fortalezas que, como escreve Mário Chicó, abandonam em definitivo as formas românticas para adoptarem o novo formulário gótico.

Aquando da sua integração plena na coroa portuguesa, em 1295, Serpa, terra fronteiriça, onde as ocasiões de conflito eram frequentes, parece sentir de forma bem vincada a necessidade de protecção a quaiquer ameaças externas. Assim Dinis um terço das rendas das igrejas de Serpa e Moura para o “refazimento e mantimento dos alcaceres dos ditos castelos”. O reforço dos castelos de Serpa e Moura era uma imperiosa necessidade, não só para defenderem as suas populações com ainda para dar apoio logístico ao castelo de Noudar, fortificação localizada junto à linha de separação entre os reinos de Portugal e Castela.

Os trabalhos realizados no período dionisio terão reforçado de forma sensível o anterior amuralhamento do período islâmico, mas foi contruído um muro separador entre a alcáçova e a restante vila intra-muros. O “refazimento” do alcacer do castelo teve como consequência a passagem de um espaço unitário no interior da fortificação para duas zonas perfeitamente delimitadas. A passagem de um tipo de fortificação a outro marca, de forma evidente, a transição de um modelo de sociedade a outro.

Durante o período islâmico a autoridade do representante do poder central era fortemente limitada pela organização comunitária local. A comunidade exercia de forma autónoma, e em conjunto, a autoridade tanto sobre o território como sobre o castelo. Isso explica, em parte, o carácter unitário da organização do espaço amuralhado e, também, as alterações físicas que a fortificação sofreu após a “Reconquista”. É que a antiga estrutura habitacional “pré-senhorial” pouco teria a ver com o sistema feudal imposto no periodo pós-“Reconquista” pelos cavaleiros cristãos, em que o castelo é símbolo da autoridade do alcaide e do próprio rei.

O espaço intra-muros ficou, a partir dessa altura, dividido em duas áreas diferente. Por um lado, a nova alcáçova feudal, habitada pelo senhor da vila (ao qual pertencem os “apousentamentos sobradados” a que alude o desenho de Duarte Darmas) e pela sua guarnição: os seus muros separavam-na do restante povoado intra-muros e faziam dela uma célula perfeitamente autónoma, abastecida por um poço próprio e com uma porta que abria directamente ao exterior. Do outro lado ficava a vila intra-muro, ainda habitada neste século XX.

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O castel ode Serpa adopta planta regular (com quase todos os castelos de planicie), desenhando um rectângulo. Os seu muros, coroados de adarves e ameias, eram flanqueados por seis torres escalonadas – que permitiam vigiar os seus aliceres e possibilitavam mais facilmente os tiros sobre os sitiantes. Atorre de menagem, de planta rectangular, encontrava-se inserida num dos ângulos da própria cortina defensiva, contribuindo, pela força da sua massa e pela solidez da sua construção, a para a defesa activa que a fortificação gótica evidencia³. À volta do muro erguia-se a barbacã, a qual terá sido em parte modificada durante o período da Restauração.

A cerca4 com que D. Dinis cercou a povoação serpense (o circuito amuralhado tem aproximadamente 7 hectares) era constituída por muros espessos, com dois ou três metros de largura, com ameias e adarves. Junto das três portas da muralha, que tomaram o nome da povoação mais próxima para a qual estavam viradas, isto é, o do caminho que delas partia (para Beja, Moura e Sevilha) levantaram-se cubelos maciços com eirados guarnecidos de ameias. Para além das portas principais existiam também entradas mais pequenas ,chamadas postigos. A cerca era acompanhada em toda a sua extensão por uma barbacã (de que restam hoje apenas uns poucos trechos) com torres distanciadas entre si alguns metros., em 1320, a Ordem de Avis doa a D.

No que diz repeito à arquitectura religiosa, não esquecer que as igrejas de Santa Maria e de São Salvador do Mundo eram também góticas, antes de serem reconstruídas em seiscentos – subsistem os preciosos desenhos de Duarte Darmas (1509-1510) que permitem reconhecer igrejas de três naves, com a central sobre-elevada e duas laterais mais baixas. Os seus portais, de recortes gótico, eram encimados por rosáceas. Aliás, o templo de Santa Maria conserva ainda como testemunho desse período as três naves divididas por arcos em ogiva assentes em colunas de capiteis profusamente ornados com motivos fantásticos, humanos e vegetalistas.

Após a “Reconquista”, a igreja de Santa Maria, cujo adro constitui hoje o denominado Largo dos Santos Próculo e Hilarião (segundo o Agiologio Lusitano, naturais de Serpa – ainda hoje se assinala a casa onde nesceram, na zona do castelo -, martirizados junto à Horta dos Banhos no ano de 110 d.C. por se terem recusado a renegar a sua religião), ocupou certamente o lugar da mesquita erguida durante o periodo da ocupação islâmica. A torre sineira do templo, quadrangular, envolve uma base cilíndrica que, desligada do corpo do templo, cria o caracol da escada que conduz aos sinos. É bem possível que esse corpo seja o testemunho vivo da almádena da mesquita a que a matriz se veio substituir. Mas as razões aduzidas em defesa singular e pouco ortodoxa orientação a nordeste do templo, escapando à orientação canónica Este-Oeste. Em segundo lugar, a persistência de ocupação do local com um imóvel religioso constitui uma característica comum a outros centros urbanos do sul peninsular. Sintomaticamente, o nome dado à igreja (Santa Maria) aparece com frequência associado a mesquitas convertidas ao cristianismo, nas quais se pretendia afirmar a mudança radical ante os princípios unitarianos e rigidamente monoteístas de Mahomé.

O mais importante cemitério cristão da vila medieval localizar-se-ia em torno da igreja de Santa Maria. Este menteve durante longos sèculos uma tradição de utilização para diferentes finalidades: era ali que tinha lugar o mercado e o local constituiria, pela sua priveligiada posição, ponto de encontro da população. Ali se achava também a “Casa de Audiência e Vereação” que, segundo noticia de 1625, confinava “pela parte do norte com casas de António Gomes, morador em Lagos, reino do Algarve, e pela parte sul com o adro da igreja de Santa Maria e pelas mais partes com o dito adro”.

Um relativo abandono da acrópole em favor da cerca urbana dionisína terá ocorrido nos princípios do século XIV, conforme deixa pressupor um documento outorgado por D. Pedro I. Para obstar a essa situação, o monarca confere, nessa altura, privilégios especiais aos habitantes do castelo e leva de novo para o adro da igreja de Santa Maria o mercado que, entretanto, se tinha transferido para a praça (actualmente designada da República).

Da igeja da Misericórdia, construída no início do século XVI, em 1505, hoje apenas se pode admirar o seu portal de cantaria e traçado ogival, cuja decoração acisa ja a influência do Manuelino.

A arquitectura civil desta época é evocada pela presença de alguns portais (no Largo dos Santos Próculo e Hilarião, na Rua Roque da Costa, na Rua Fonte Santa, no Largo de D. João e na Rua dos Fidalgos) ou seus vestígios (na Rua do Assento, na Travessa da Figueira, na Rua dos Cavalos e Rua João Valente – capela do “Mosteirinho” – e na Rua dos Quartéis).

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3.6.1.2. Serpa quinhentista: o Manuelino o Renascimento e o Maneirismo No século XVII, a vila de Serpa apresentava-se como centro urbano de certa importância no contexto sub-regional. O povoado, com 500 fogos (2500 habitantes), ou mais5 , detinha uma agrucultura especializada e importante actividade artesanal. A concessão por D. Manuel I, em 1513, de um novo foral – o segundo que a vila conhecia – confirmando e aumentando antigos privilégios municipais, contribuiu para a importância da vila serpense, que se reflectiu na expansão do povoamento, na construção de novos equipamentos e na reconstrução de velhos edifícios.

Os desenhos de Duarte Darmas, da primeira década do século XVI, revelam o extravasamento do casario para fora das muralhas, em duas ou três direcções diferenciadas. Verifica-se que tanto nos novos bairros extra-muros como dentro da cerca dionisina eram raras as casas com menos de um piso, o que obviamente significa que não pertenciam às classes populares mas sim a “fidalguos, caualeyros e escudeyros e outra gente grossa”.

Dos equipamentos criados neste período, prova do efectivo crescimento do aglomerado, destaca-se o vasto complexo da Misericórdia, erigido em 1505, composto por “igreja pequena, mas notavelmente adornada de talha de ouro, pedra fingida e fino azulejo, com côro sobre a porta, casa de despacho, celeiros, páios e oficinas necessárias para o seu uso e do hospital anexo”.

Também nos alvores da centúria de Quinhentos, em 1502, é fundado o convento de Santo António (depois designado de S. Francisco), com capacidade para receber vinte religiosos. O edifício situava-se fora das muralhas, junto à principal via de acesso a Moura.

De igual modo há a referir a construção da cadeia, no reinado de D. Sebastião, na rua actualmente denominada da Cidade Velha, a qual era constituida por “quatro casas por baixo, a saber: duas em que os homens estão presos e uma em que as mulheres estão presas e outra que serve de necessária aos presos da cadeia de cima, as quais casas têm por cima três sobrados”.

Poderão datar desta época algumas das ermidas que se levantaram nos arrabaldes da vila, geralmente próximo dos mais importantes caminhos, que se integram na corrente artística chamada luso-mourisca.

O surto construtivo foi incentivado durante a centúria, seguindo as mutações estilísticas operadas na arte portuguesa, mas porque à natural degradação dos imóveis se juntaram as muitas delapidações dos homens, Serpa pouco preserva hoje desse acervo patrimonial. Pode afirmar-se que chegaram até aos nossos dias pouquíssimos monumentos íntegros deste século, restando apenas significativo número de portais (ou seus vetígios) de traça manuelina, clássico-renascentista e maneirista.

O que subsiste na zona de intervenção do estilo manuelino6 reduz-se a escassos vestígios de portadas na Rua João Valente (verga horizontal desenhada em duplo arco canopial, com pequenos botões florais pendentes dos vértices), na Rua das Portas de Beja e na Rua de Santo António (padieira recortada em arco canopial com ornatos geométrico-vegetalistas e concha). Na Rua dos Quartéis e na Rua da Parreira existem duas casas que apresentam na fachada o recorte da antigas janelas manuelinas, não obstante as pedras de emolduramento terem desaparecido. O exmplar mais rico deste período é constituído pela casa situada no Largo de D. João, que preserva no primeiro andar duas janelas maineladas, uma de arcos de volta inteira assentes em fino colunelo e a outra de arcos contracurvados apoiados em bela coluna de lavor manuelino, e portal com lintel decorado por arco canopial biselado.

3.6.1.3. Serpa seicentista: a sobrevivência do Maneirismo Os primeiros decénios do século XVII prolongaram, em termos de cultura artística, os últimos da centúria anterior; o Barroco7 despontou em Portugal tardiamente em relação às referências cronológicas extranacionais8, e imperou a continuidade do Manuelino sui generis de tipo “chão”, particularmente visível em contextos periféricos, onde as mutações de gosto eram mais lentas e difusas. Natural é que na arquitectura de Serpa de seiscentos domine a sobriedade das soluções e a clareza dos códigos programéticos em que assenta o Maneirismo de sinal contrareformista, não se encontrando nela sinais das inquietudes e agitadas mutações do Barroco europeu (compreendido sensivelmente entre c. 1600 e c. 1738/40).

É nesta centúria que tem lugar a reconstrução, concebida em solução maneirista, da igraja de São Salvador, como claramente refere o pároco da freguesia, em 1758: “A igreja do Salvador é um formoso

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templo de uma só nave, com forma moderna ao uso do último século passado, em que esta igreja se pôs na figura que tem hoje”.

Provavelmente, também durante o século XVII a igreja gótica de Santa Maria foi reconstruída segundo figurino maneirista, pelo que apresenta portal com colunas jónicas e frontão triangular, enquadrado por dois botaréus e encimado por janela reentrante. Nova reconstrução se terá imposto mais tarde, no século XVIII, pois sabe-se que, em 1758, o templo tinha “o tecto da nave do meio caído, e o resto arruínado há catorze anos”, causando indignação o facto de não se “expedir arbítrio pronto, ou lento, para obra tão precisa em vila dos predicados, nobreza e merecidos desta”.

Construção de raiz deste ciclo tardo-maneirista, a igreja do Convento de S. Paulo foi iniciada nos finais da centúria, a expensas do benfeitor Manuel Fialho, um natural da vila, que “mandou das êndias de Castela, onde era muito rico, um donativo tão grande para a obra do convento que se erigiu formoso templo pelo risco da igreja dos Paulistas da Corte, ainda que menos grande e menos sumptuoso”. As obras prolongar-se-iam pelo século seguinte.

A igreja de Nossa Senhora da Saúde, bom testemunho da arquitectura maneirista, foi edificada “no lugar da pequena ermida de Santo André, albergaria de lázaros, das que chamavam gafaria”, em data que se desconhece mas certamente anterior a 16169. No interior, deve atentar-se na fábrica de talha dourada da capela-mor, cerca de 1690-95, filiada na produção da escola barroca eborense e, na opinião de José António Falcão, “atribuída à autoria, se não do grande mestre Franciasco Machado, pelo menos de uma parceria de ensambladores do círculo da sua oficina”.

Uma fonte do século XVIII, dá conta que a igreja de Nossa Senhora dos Remédios, erguida extra-muros, era “igreja moderna feita juntoao fim do século passado”. Possuía então “capela-mor cheia toda de agradável e custosa talha dourada” e “painés avulsos nas paredes de pintura fina”.

A “casa do Castelo”, hoje mais conhecida por palácio dos condes de Ficalho, foi edificado no século XVII, ao que se supõe por iniciativa dos irmãos Pedro de Mello e D. Martim Afonso de Mello, bem assim como o aqueduto, “em bela arcada italiana”, como escreveu Ramalho Ortigão, destinado a levar água de uma Nora para o jardim particular. Uma visita ao interior do imóvel mostra, no entanto, que um edifício preexistente de raiz medieval foi integrado na concepção do implanto arquitectónico seiscentista.

Coeva do palácio dos Mello deverá ser a bela casa seiscentista que se encontra no Terreiro Humberto delgado.

O surto construtivo que se verificou em Serpa depois dos contorbados anos que se seguiram à Restauração, anos de guerra e de consolidação da independência, em que particular atenção foi dada às construções militares10, foi ainda assinalado, em 1676, pela edificação das casas da Câmara, situadas na Praça, centro cívico do aglomerado.

3.6.1.4. Serpa setecentista: o Neoclássico Como resultado da participação de Portugal na guerra da Sucessão de Espanha, a Vila foi tomada, em 1707, pelos espanhóis, que se retiraram no ano seguinte mas deixaram destruido o castelo, o “palácio” do porteiro-mor, a ermida de S. Martinho e danificada a cerca urbana. No pano da muralha virado a sueste, numa zona arrombada, foi mandada edificar por D. João V (1706-1750) “um baluarte de estilo moderno, bipartido com dosi angulos exteriores, por aquela forma em que remata a obra exterior que chamam corna, com terrapleno por dentro e de fora fosso”.

Ao contrário do resto do país, a população da vila não aumentou nesta centúria, talvez devido à excessiva sensibilidade da economia serpense às flutuações da produções de trigo, que criaram inúmeras situações de crise, sobretudo na segunda metade do século.

Apesar de tudo, a urbe não perdem assim tanta importância social. Em 1758 eram registados 5576 habitantes, e uma das coisas por onde se viaser a vila “notável e de avultado crédito” era “pelas casas das pessoas de primeira grandeza, como: casas de Roque da Costa Barreto, casas do Almirante, casas do conde e Ibidos, dos Pereiras de Lacerda, dos porteiros-mores, dos enhores de Ficalho, de José de Melo, pessoa da mesma família e de outras muito grandes”. A esta aristocracia rural dominante, que detinha o poder municipal, opunha-se a massa anónima dos trabalhadores sem terra.

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O surto construtivo parece ter esmorecido nesta época e, ao contrário do que aconteceu em outras zonas do país, os danos provocados pelo terramoto de 1755, por serem de pouca monta, não obrigaram a obras de envergadura, pois há notícia de que “só e esmoreceram alguns telhados, poucas casas velhas caíram, abriram algumas rachaduras as igrejas e casas de maior vulto”.

Poderá datar desta centúria a remodelação da igreja da Misericórdia, que apenas conserva da sua fundação a portada de traça ogival, bem como de alguns anexos. No templo existia um revestimento azulejar do século XVIII de fina pintura azul e branca, de que subsiste apenas um painel.

Não é de descurar a possibilidade nesta altura ter sido edificada a igreja denominada “Santuário”, sobre a qual nada se sabe, nãos sendo referenciada pelos priores de Serpa nas Memórias Paroquiais de 1758.

3.6.1.5. Serpa contemporânea Com a extinção de Serpa como praça fronteiriça, perdeu-se definitivamente a funcionalidade das muralhas dionisinas, que se tornaram um empecilho ao crescimento urbano que caracterizou a segunda metade do século XIX e a primeira do século XX. Por mais de uma vez a Câmara solicitou ao governo a demolição da cerca, evocando entre outros argumentos o de que era “contrária à saúde pública”. No entanto, o crescimento urbano fez-se através de duas vias que apenas encobriram partes das muralhas, sem as destruirem: por um lado, intensificou-se até aos limites do imaginável a ocupação do espaço interno, através da divisão dos edifícios existentes e, por outro lado, a vila estendeu-se decididamente para sul, para a zona das eiras “arramadas” (estábulos).

Até aos anos quarenta da nossa centúria, são visíveis as marcas de prosperidade proporcionada pela expansão dos arroteamentos e pela retabilidade do trigo, garantida pela legislação proteccionista da altura. Riqueza essa que se traduzio na maioria das casas burguesas pela renovação dos primeiros andares, pela proliferação das varandas de ferro (algumas orgulhosamente datadas), pelos baixos relevos em trabalhos de massa aplicados nas frontarias ou na moldura dos vãos pela concepção luxuosa dos interiores.

Muitos edifícios desta época caracterizam-se pela existência de platibanda (geométricos ou lisos), por vezes cimalhas coroadas com balaústres de barro ou loiça ou sem pináculos nas extremidades, pelo aparecimento de portas rematadas em arco de volta perfeita, pela ausência de cunhais de pedra aparelhada e surgimento de “cunhais” curvos. Um ou outro prédio manifesta gosto e desenho arts deco.

Alguns imóveis de oitocentos e da primeira década da presente centúria foram marcados pelo gosto historicista, traduzido em diferentes versões como o neo-manuelino, neo-mudejar ou o neo-barroco, quer em reconstituições estilisticamente independentes quer fazendo convergir várias correntes de gosto na mesma habitação.

O programa da “casa portuguesa”, desenvolvida longamente nos primeiros trinta anos do século XX, em textos e em arquitectura construída por Raul Lino, teve também em Serpa os seus adeptos (casa regional, na Rua de Sevilha, entre outras).

Notas:

a. Nos anos da segunda metade do século XIX e dos princípios do século XX, vários centros históricos do país foram alvo de um novo ordenamento urbanístico desenvolvido de forma pouco criteriosa e norteado por valores de falso “progressismo”, em que se deitaram abaixo com ou sem a conivência das Câmaras, troços de muralhas, igrejas, mosteiros, etc. Em Serpa, por mais de uma vez o Municípiosolicitou a demolição das muralhas, pedido que, felizmente, não foi atendido. Mesmo assim, as Portas do Sol foram destruidas em finais de oitocentos. Também o pelourinho que se encontrava na Praça desapareceu, ignorando-se qual o destino que lhe foi dado despois de 1830.

b. Os relógios mecânicos chegaram a Portugal ainda no século XIV e multiplicaram-se durante a centúria seguinte.

c. O castelo românico encontrava-se dominado pela ideia de uma defesa passiva, de resistência, visando, sobretudo, dificultar a aproximação e a entrada na torre de menagem,

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a qual se situava no interior da cerca, ergendo-se isolada como último refúgio dos seus defensores.

d. O que se disse sobre os castelo góticos aplica-se também em relação às cercas góticas: se é com D. Afonso III que terá começado o amuralhamento das vilas, é apartir de D. Dinis e ao longo de todo o século XIV, que esse processo se realiza sistematicamente. Este fenomeno corresponde à nova importância que, em termos administrativos e económicos, as cidades adequirem. Estas ganham um território para si, em detrimento do castelo senhorial, e passam a dispor de um termo sujeito à cobrança de impostos para as suas obras. Ocupar um território significa agora a tomada da cidade que o encabeça, e não do castelo que o protege. O aspecto defensivo que a cerca urbana representa corresponde, pois, a esta nova importância política da cidade: “fazer vila” chamava-se na baixa idade média ao acto de cercar muralhas uma povoação.

e. Numeramento de 1527-1531

f. Jorge Henriques Pais da Silva esclarece que a arte no reinado de D. Manuel I (1495-1521) não pode ser confundida com o Manuelino, pois este “constitui uma das correntes artísticas que se registam no mesmo reinado, paralelamente às do Gótico Final, do Luso-Mourisco e do Renascimento”. O autor afirma ainda que “A deformação do vocabulário de raíz erudita mediante gradual popularização permitiu a sobrevivência do manuelino, que resistiu durante algum tempo ao clima renascentista dominante no reinado de D. João III (1521-1557)”.

g. Escreve Pais da Silva que “Formalmente o Barroco manifestou-se como esforço de recuperação do equilíbrio renascentista e em activo desacordo com o ideário do maneirismo, embora colhesse neste importantes soluções”.

h. José Fernandes Pereira, no seu estudo sobre o Barroco em Portugal, define para este estilo um “período de experimentação” (1651-1690) e um “período de definição” (1690-1717). Destingue despois o “Barroco da Corte” (1717-1750) e o “Barroco no Norte” (1725-1769). Por último, marca o período entre 1750 e 1779 como o das “persistências e declíneo” do estilo.

i. Segundo Graça Affreixo, quando os religiosos paulistas foram autorizados a erigir o seu cenóbio na vila, em 1616, intentaram “fabricar o convento no lugar da igreja de N. S. da Saúde, já muito concorrida de devotos e esmolas”.

j. Documentos de 1655 dão conta que se tencionava construir um forte no Côrro e outro junto da igreja do Salvador, o que implicava o derrube das casas existentes nesses locais. Não há, contudo, notícias nem indícios de que essas obras tenham sido realizadas. Construiu-se sim, a oeste da vila o forte de S. Pedro, o qual foi concluído em 1668.

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3.6.2. ANÁLISE DO LEVANTAMENTO O critério de classificação do conjunto edificado na zona de intervenção, teve como suporte o exterior dos edifícios, que considerámos em alguns casos, bastante insuficiente para análise dos mesmos. Deste modo, foi necessário encontrar um critério coerente com todas as falhas temporárias encontradas.

Critérios de classificação da época de construção do edificado:

1. Anterior ao século XVI: 26 edifícios, cerca de 1,9% do total de 1387 edifícios. Neste período de tempo estão incluídos alguns edifícios com características do estilo gótico. São identificados neste período alguns edifícios de grande qualidade arquitectónico, tais como, a Igreja de Santa Maria localizada junto à zona do castelo; as Muralhas de Serpa que remontam ao século XII classificado como Monumento Nacional; a Torre do Relógio datada do século XIV e século XVI, a Igreja da Misericórdia construída no século XV foi sofrendo posteriores remodelações, entre outros, entre outros;

Fotografias 66 e 67 – Imagens de edifícios anteriores ao século XVI: Igreja de Santa Maria, Muralhas de Serpa e Torre do Relógio.

2. Entre o séc. XVI e o século XVII: 22 edifícios, cerca de 1,6% do total de

1387 edifícios. Neste período existiu um crescimento populacional considerável que implicou a expansão extramuros do tecido urbano criando assim novas concentrações de edifícios junto sobretudo, aos equipamentos religiosos já existentes. È notável a inserção de elementos arquitectónicos notáveis nos edifícios, elementos esses com características do Manuelino, Renascimento e Maneirismo. O Aqueduto e a Nora são construções datadas do século XVII, classificadas como Monumento Nacional no conjunto das Muralhas de Serpa. A construção do Palácio dos Condes de Ficalho e o respectivo jardim da propriedade remontam o século XVII, sendo o Palácio classificado Monumento Nacional. O actual café e restaurante o Alentejano construído no século XVII foi utilizado como celeiro e posteriormente como cadeia. A Igreja e o antigo Convento de S. Paulo também são construções

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datadas do século XVII, tal como a Igreja do Salvador (imóvel proposto para classificação) e a Igreja da Nossa Senhora dos Remédios (imóvel proposto para classificação);

Fotografias 68 e 69 – Imagens de edifícios entre o séc. XVI e o século XVII: Aqueduto e Nora, Café o Alentejano, Igreja de Nossa Senhora dos Remédios.

3. Entre o século XVIII e inícios do século XX: 170 edifícios, cerca de 12,3% do total de 1387 edifícios. Estes dois séculos acumulam características construtivas idênticas, deste modo foi necessário considerar a junção deste período longo de tempo. Este período coincidiu com uma recessão na construção de novas edificações, no entanto a construção de algum equipamento religioso foi considerado: a igreja do Santuário datada entre o século XVIII e XIX; o oratório da Rua de S. Roque e o oratório das Portas de Beja ambos do século XVIII;

Fotografias 70 e 71 – Imagens de edifícios entre o séc. XVIII e inícios do século XX: Oratório das Portas de Beja, Oratório da Rua de S. Roque e dois edifícios situados na Praça da República.

4. Século XX: 756 edifícios, cerca de 54,5% do total de 1387 edifícios. Este período inclui toda a construção contemporânea apartir dos anos 40 / 50;

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Fotografias 72 e 73 – Imagens de edifícios do séc. XX: Correios na Rua dos Lagares e Habitação no Largo Dom Martim Afonso de Melo.

5. Século XXI: 8 edifícios, cerca de 0,6% do total de 1387 edifícios. Este período inclui toda a construção executada apartir de ano 2000;

Fotografias 74 e 75 – Imagem de edifício do séc. XXI: Casa Mortuária na Rua de Serpa Pinto.

6. Edifícios de construção antiga de data não identificada: 120 edifícios, cerca de 8,7% do total de 1387 edifícios. Devido ao elevado número de casas com características populares que não apresentam elementos de um grupo cronológico reconhecível, consideramos que seria mais correcto incluir este grupo numa categoria independente;

Fotografias 76 e 77 – Imagens de edifícios de construção antiga de data não identificada:edifícios de habitação na Rua do Cano, na Rua da Era e Rua de São Pedro.

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7. Edifícios de construção antiga alterada de data não identificada: 285 edifícios, cerca de 20,5% do total de 1387 edifícios. de igual modo, foi necessário criar esta variante para os edifícios que pelas frequentes intervenções sofridas não deixaram no entanto de possuir as características originais.

Fotografias 78 e 79 – Imagens de edifícios de construção antigan alterada de data não identificada:edifícios de habitação Rua dos Quartéis e na Rua dos Farizes.

Gráfico 9 – Época de construção dos edifícios

Época de Construção

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

Edifício deconstrução

antigaalterado dedata não

identificada

Edifício deconstrução

antiga de datanão

identificada

Anterior aoSéc XVI

Séc XVI atéao Séc XVII

Séc XVIII atéao início do

Séc XX

Séc XX Séc XXI

(%)

Para uma análise mais detalhada da época de construção de cada edifício, deverá ser consultado o desenho 21156-F1-PP-0010.

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3.7. SISTEMAS CONSTRUTIVOS

3.7.1. ÂMBITO O Plano de Reabilitação Urbana do Centro Histórico de Serpa de 1995, contém um estudo sobre Processos e Materiais Construtivos bastante completo. Dada relevância desta matéria para a compreensão dos sistemas construtivos em presença reproduzem-se na íntegra algumas das suas componentes mais significativas.

3.7.1.1. Materiais e Processos Construtivos O conhecimento e a reflexão sobre os processos e as formas que ao longo dos tempos conduziram à edificação dos espaços de habitação na zona do “Castelo Velho”, é, em nosso entender, indispensável num trabalho com as características deste Plano de Pormenor.

Assim, trata este texto dos processos construtivos praticados na zona, responsáveis pela construção e manutenção do parque edificado. Por outro lado, procurou-se fornecer algumas ideias que contribuam para um procedimento mais correcto e eficaz em futuras intervenções a levar a cabo no local. Apontam-se também alguns erros que foram observados como prática corrente no decurso do estudo da zona; referem-se outras deficiências construtivas; indicam-se métodos correctos de intervenção, de cuja adopção poderão resultar proveitos significativos. Procede-se ainda a uma descrição mais pormenorizada de algumas práticas seculares como a taipa, o adobe e a construção de abóbadas. O recurso a esquemas gráficos contribuirá para uma melhor elucidação de alguns aspectos referidos no texto.

3.7.1.2. O Alicerce O alicerce, em pedra, areia e cal, é um pouco mais largo que a parede, atingindo profundidades de ordem dos 40 a 50 cm e subindo acima do pavimento (já com a largura da parede) 10 a 20 cm recebendo as cargas das paredes e pilares e distribuindo-as depois pelo solo. Deve-se juntar ao alicerce um elemento repelente da água (alcatrão ou cimento, por exemplo) pois este funciona como tampão à capilaridade, impedindo a ascensão da água e consequente penetração na parede.

Encontram-se muitas vezes paredes sem qualquer tipo de alicerce: tratam-se sobretudo dos tabiques, em tijolo maciço com cerca de 10 cm de espessura e que formam algumas paredes divisórias interiores. Este procedimento é incorrecto pois apesar de não suportarem nada a não ser a si próprias, qualquer pequeno assentamento do solo provocará a sua fissuração para além de ficar diminuída a sua estabilidade lateral.

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Figura 24 – preparação do terreno para construção de alicerces

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3.7.1.3. As Paredes As paredes são geralmente em taipa. Têm esta designação porque são executadas entre taipais. O taipal é um molde formado por tábuas e barrotes, constituindo uma caixa vertical sem fundo nem tampa, para o enchimento alternado com massas de terra argilosa apiloada, e fileiras de tijolos em adobe ou pedra na separação horizontal das fiadas de taipas, com 2 metros de comprimento por 0,45 m de altura.

A primeira operação para executar paredes de taipa consiste na abertura de uma caixa para preparação da terra argilosa com dimensão adequada às necessidades da obra. Aberta a caixa, vão-se espalhando camadas de terra com 15 cm de espessura que se regam até formar uma massa plástica. Depois de cheia a caixa tapa-se em ervas ou mato para protecção da acção directa do sol.

Para que a humidade se distribua igualmente pela terra deve manter-se em repouso pelo menos uma semana. Prepara-se uma taipa com maior resistência à acção directa da chuva cobrindo cada camada de terra com cal em pó, em capas com cerca de 5 cm de espessura antes de as regar.

A taipa é depois rebocada com uma argamassa de cal e areia seguida de caiação para protecção da água e do envelhecimento (dão-se várias demãos), sendo a última demão aplicada adicionando à cal sebo ou borras de azeite (a junção de uma gordura à cal melhora a capacidade impermeabilizante desta). Também se encontram casos em que a fase do reboco é suprimida, sendo feita uma caição directa sobre a taipa o que resulta num acabamento menos liso.20

Conseguem-se com esta técnica artesanal paredes com espessura de 40 a 70 cm, com excelente comportamento isotérmico, mas que no entanto têm fraca resistência às solicitações horizontais (sismos, peso dos telhados, de arcos ou de abóbadas). Por este motivo exigem, além de volumetrias baixas (até 2 pisos), por vezes a aposição de pesadas massas de alvenaria de pedra ou tijolo de forma triangular ou trapezoidal nas paredes exteriores (são os gigantes ou dormentes). Poder-se-ão também colocar grampos de madeira ou de metal nas paredes, ligados entre si por um tirante metálico de secção circular (10 mm de diâmetro) ou quadrada (com 10 mm de lado). As paredes deverão ser protegidas ao nível inferior, junto do embasamento do edifício, por uma camada de argamassa fina ou alisada (cimento “queimado” ou “afagado”) com uma largura de cerca de 20 cm e devidamente inclinada, para afastar a água da chuva e a canalizar pelas valetas dos arruamentos.

Verifica-se nos edifícios mais elaborados a existência de um soco com cerca de um metro de altura, em reboco, que é caiado para assegurar melhor impermeabilização: trata-se do soco ou rodapé para proteger o edifício das infiltrações da água.

20 Em algumas construções de mais de um piso observa-se um outro tipo de construção de paredes. Nuns casos todas as paredes ao nível do rés-do-chão são construídas em alvenaria de pedra, sendo a taipa utilizada só ao nível do primeiro piso nas paredes exteriores assentes sobre as de alvenaria de pedra. Noutros casos tanto as paredes exteriores e interiores ao nível do rés-do-chão como as paredes exteriores, e porventura paredes mestras interiores, dos pisos superiores são construídas em alvenaria de pedra. Nestes casos é frequente encontrarem-se tirantes em ferro a atravessar o edifício, ancorados nas paredes exteriores, para maior solidez da construção. Em construções mais recentes a técnica utiliza a alvenaria de tijolo furado ligada por argamassa de cimento e areia e rebocada com igual material. Desde que foi publicada a última versão do Regulamento Geral de Edificações Urbanas a parede exterior passou a ser obrigatoriamente dupla com isolamento térmico, o que também já se encontra nas reconstruções efectuadas em edifícios existentes na ZI.

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Figura 25 – Embasamento da parede com protecção exterior da parede

As divisórias interiores nas argamassas deverão ser muito bem lavadas e limpas de quaisquer tipo de impurezas. Assim se evitará que surjam problemas no futuro, como por exemplo, a salitre que afecta muitas das paredes dos edifícios do “Castelo Velho” causando sérios problemas de conservação.

Os componentes das argamassas devem ser muito bem misturados a seco. Só depois se lhes deverá juntar água, mas não em demasia, pois apesar de com a crescente adição de água se obter uma massa cada vez mais fácil de trabalhar isso acarretará uma perda significativa das características da argamassa. É também incorrecto utilizar areias húmidas para fazer as argamassas pois a mistura dos componentes não é tão eficaz.

Acontece por vezes surgirem fendas nas paredes de taipa, o que se deve a motivos vários, como por exemplo, o deslocamento das paredes por assentamento dos alicerces, má distribuição de cargas no telhado para as paredes por execução incorrecta da estrutura de suporte da cobertura (fendas nas paredes junto ao apoio das vigas de madeira).

O problema de fendas pouco severas pode resolver-se fazendo entalhes horizontais (com cerca de 15 cm de profundidade) nas paredes, nele se introduzindo armaduras de ferro e depois uma massa de betão, devendo as extremidades das barras ser deixadas livres.

Problemas mais severos podem exigir o esforço das fundações ou a estabilização das paredes pela introdução nestas de perfis em betão armado, fazendo-se depois, se necessário, a substituição das paredes.

Na maioria das casas do bairro do “Castelo Velho” as paredes exteriores e interiores são caiadas de branco. Alguns edifícios apresentam fachadas onde o soco e a moldura dos vãos são sublinhados por uma cor diferente da pintura base, geralmente o cinzento. Refira-se que a caiação, para além de ser uma prática tradicional que exige poucos custos, protege muito eficazmente as paredes da acção da chuva e dos raios solares.

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Por último salienta-se que é sempre preferível a reconstrução de um edifício à sua demolição e construção de raiz: evita-se o custo da demolição, não se gasta dinheiro numa nova estrutura, conseguindo-se com a casa renovada um edifício mais típico e melhor adaptado ao clima local.

Figura 26 – Controlo de fissuras e estabilização e substituição de parede

3.7.1.4. Os Pilares Os pilares são feitos em tijolo maciço cruzado e consolidado com argamassa rica de areia e cal. Tratam-se de importantes elementos estruturais que conferem estabilidade às paredes, constituem os cunhais e podem receber as cargas dos arcos e abóbadas, descarregando-as nos alicerces. Os pilares podem também existir sob arcos de portas, portões ou janelas, sendo nestes casos comummente designados de pilaretes.

3.7.1.5. O Arco O arco, em tijolo maciço, pode ser duplo, triplo (etc.) em largura, e simples ou duplo em altura.

Trata-se de um elemento estrutural bastante frequente podendo, no entanto, encontrar-se muitas vezes encoberto por tabiques.

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Os arcos podem existir: nas vergas dos vãos (portas, portões e janelas) tratam-se de pequenos arcos mais ou menos abertos, por vezes quase horizontais, vulgarmente chamados de aduelas, na ligação de divisões de casas (funcionando em termos estruturais como parede mestra), nas vergas das chaminés. Os arcos podem ainda receber cargas de abóbadas e servir de reforço a estas.

Encontram-se nos imóveis da zona do “Castelo Velho” abobadilhas e abóbadas nos tipos berço, aresta e barrete de clérigo, por vezes reforçadas com arcos de tijolo maciço, servindo para suportar os pisos superiores (totais ou parciais) ou terraços.

Em construções de melhor qualidade as abóbadas podem igualmente constituir o tecto de edifícios de um só piso.

Em vãos mais pequenos (4 a 5 metros) o tijolo é assente segundo a sua dimensão menor constituindo a chamada abobadilha. Em vãos maiores o tijolo é colocado segundo a sua dimensão média, formando a abóbada.

Os tijolos são solidarizados com uma argamassa rica em cal (cal e areia fina ao traço 1:3), à qual se pode juntar cimento sobretudo se se tratarem de vãos de maiores dimensões. Verifica-se por vezes que além do cimento se adicionou à argamassa gesso. Tal procedimento é incorrecto pois se por um lado o gesso permite uma presa rápida (facilitando o trabalho), por outro lado apodrece facilmente com a humidade.

A construção destas abóbadas dispensa a utilização de cimbres, ainda que para vencer vãos superiores a 6 metros.

Para o lançamento da abóbada, as paredes devem estar construídas até à altura do extradorso da abóbada, marcando-se nas paredes o desenvolvimento dos arcos sobre um pré-reboco. Acima do traço abre-se um roço na parede para receber a primeira fiada de tijoleira. Logo que a primeira fiada esteja completa inicia-se o assentamento dos quatro cantos, segundo o traçado nas paredes.

A partir dos cantos para o centro vão-se assentando duas tijoleiras por canto, e assim vai evoluindo este enchimento, progredindo em redor do fecho final.

Em abóbadas ou abobadilhas de compartimentos com mais de 4 metros deve fazer-se superiormente um reforço com cintas formadas por tijolos.

Pode acontecer, por vezes, a fissuração das abóbadas devido a razões diversas tais como o deslocamento de paredes em consequência do assentamento parcial das fundações. Estas situações podem exigir ou não o reforço de fundações e abóbadas. O reforço da abóbada pode ser feito pela introdução de elementos metálicos (cantoneiras) na parte mais elevada da abóbada, tal como se pode ver na figura.

O tijolo apareceu primeiramente sob a forma de adobe, com configuração e dimensões diversas. Para o seu fabrico fazia-se primeiro uma mistura com barro, ervas secas, palha e areia, a qual (com a adição de água) era convenientemente amassada.

A massa assim obtida era depois introduzida em moldes rectangulares em forma de tijolos que se deixavam ao sol a secar.

Verificou-se posteriormente que perto do fogo estes adobes endureciam muito mais e resistiam melhor à acção das chuvas e do tempo. Deste modo, um pouco mais tarde, encontrou-se uma forma de cozer o adobe em pequenos fornos denominados medas. Por esta forma os adobes transformaram-se em tijolos.

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Figura 27 – Tipos de arco e abóbada

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Figuras 28 e 29 – Tipos de abóbada; assentamento de tijoleira para construção de abóbadas

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Figuras 30 e 31 – Estabilização de parede abobadada; remates e reforço de abóbadas

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3.7.1.6. As Escadas As escadas de acesso a um piso superior ou intermédio (sobrado), este último mais usual nesta zona, assentam sobre um arco em tijolo maciço (sendo o espaço sob o arco aproveitado muitas vezes para arrumos) ou sobre um maciço de pedra e cal. Formam-se os degraus destas escadas, tijolos a cutelo (colocados segundo a dimensão média) ou tijolos assentes segundo a dimensão mais pequena, constituindo assim os cobertores e espelhos dos degraus.21

Figuras 32 e 33 – Fabrico de tijolo; Escadas tridimensionais

21 Também se podem encontrar escadas em pedra, calcário ou mármore, em edifícios antigos de média ou grande dimensão frequentemente assentes em maciços de alvenaria de pedra. Em edifícios novos ou remodelados recorre-se muitas vezes ao revestimento do espelho e do cobertor dos degraus com lajes de pedra.

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3.7.1.7. Os Vãos Podemos encontrar nesta zona portões, portas, janelas, janelinhas (por vezes protegidas com grades que impedem a entrada de intrusos e permitem ventilar o interior da habitação), frestas, óculos, janelas de sacada ao nível do primeiro andar com guarda em ferro forjado.

Alguns destes vãos são dissonantes quer porque as suas dimensões são desproporcionadas em relação às fachadas dos imóveis que, regra geral são estreitas, quer devido aos materiais empregues (ferro, alumínio).

Alguns vãos apresentam-se decorados com moldura branca ou cinzenta, mais ou menos trabalhada, outros com moldura em reboco e desenho de lintel. Existem ainda casos de vãos que têm a peculiaridade de serem protegidos por beirados salientes. Contudo, na grande maioria dos casos, encontra-se o vão comum sem qualquer moldura, característico das casas populares mais singelas.

As janelas são prtegidas de vários modos com estores plásticos com ou sem caixa exterior (elementos dissonantes incompatíveis com o carácter e a expressão arquitectónica dos edifícios da zona do “Castelo Velho”), ou com portadas interiores de madeira (solução preconizada para a zona). Observa-se normalmente no local a existência de vidraças e portais justapostas (estas sempre no interior), umas vezes à face externa da parede, outras ao nível do interior.

Figuras 34 e 35 – Janela de vidraça com portada interior e exterior; Introdução de perfil em betão

armado antes de abertura de vão

Em nosso entender as janelas poderiam apresentar a vidraça no plano exterior da parede e as portadas à face interior da parede, conseguindo-se assim que a água não penetre no interior das habitações mas

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escorra pelas paredes, para além de se criar uma caixa-de-ar entre a portada e a vidraça, óptimo isolamento térmico.22

A abertura de vãos nas paredes que não sejam de pedra e cal deve fazer-se de um dos seguintes modos:

1 - Abrir do lado exterior da parede um roço com cerca de metade da sua espessura. Introduzir neste um perfil metálico (o mais adequado é o perfil I) ou de betão armado pré-esforçado, e solidarizá-lo com argamassa. De seguida proceder do mesmo modo no lado interior da parede. Devem os perfis ser ligados um ao outro por parafusos (no caso de perfis metálicos) ou cintas (no caso de betão armado pré-esforçado). Estes perfis devem prolongar-se para além do vão no mínimo 25 cm para cada lado, a fim de garantir um adequado apoio e distribuição de cargas.

2 - Outro processo também eficaz, mas não tanto, é o fazer duas armações de ferro (com varões longitudinais e estribos) que se devem introduzir nos roços, aplicando-se depois o betão.

De acordo com o Regulamento preconizado para a zona, as portas e janelas deverão ser de madeira e pintadas a tinta de esmalte. Saliente-se que se a madeira for de boa qualidade, tratada com um produto adequado e pintado periodicamente ela não empenará e terá longa duração. As pinturas devem ser renovadas tão periodicamente quanto necessário.

3.7.1.8. O Sobrado É de aconselhar a construção deste elemento nos edifícios onde seja útil (pela exiguidade dos espaços) e praticável, mediante o aproveitamento do pé-direito mais alto do imóvel.

Apresentam-se de seguida dois exemplos de boa execução destes elementos, um em que apenas se utilizou madeira (sobrado mais “pesado”) e outro mais “leve”, em que foram além dos elementos em madeira, também utilizados perfis metálicos.23

Figura 36 – sobrado em elementos de ferro e madeira

22 Esta opinião sobre o posicionamento das vidraças e portadas das janelas é discutível. A colocação das vidraças à face exterior da parede implica uma maior exposição às intempéries e portanto uma degradação mais rápida das caixilharias e, em particular, não permite aos vãos beneficiar da sombra projectada pela respectiva verga em particular no Verão quando o Sol anda mais alto. 23 Muitos sobrados assentam em estruturas de Madeira sobre as abóbadas. É também frequente o uso de baldozas ao nível do primeiro piso.

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3.7.1.9. Os Terraços Encontram-se por vezes na zona do “Castelo Velho” o remate de platibandas de terraços em grilhagens feitas com ladrilhos inclinados alternadamente e mais raramente (dois casos), balaustradas cerâmicas.

Os terraços deverão ter uma inclinação mínima de 3% e apresentar sob a tijoleira as camada impermeabilizante e isolante térmica. A título exemplificativo discriminam-se no desenho as várias camadas do pavimento de um terraço bem executado.

3.7.1.10. Os Telhados Frequentemente e típica da zona é a telha de canudo assente sobre uma esteira de canas pregadas a um conjunto de vigas de madeira de secção circular com cerca de 10 cm de diâmetro, afastadas umas das outras cerca de 60 cm e vencendo o vão entre paredes mestras. As vigas principais (denominadas madres) apoiam-se nas paredes mestras através de uma madre de assentamento ou sobre duas a três fiadas de tijolo maciço que constituem uma espécie de viga. Trata-se de uma boa técnica pois consegue-se assim uma melhor e mais uniforme distribuição de cargas, evitando-se que se abram fendas nas paredes junto ao apoio das madres. Quando o vão o exige (mais de 3,50 m) é interposta a meio vão uma viga de maior secção (cerca de 15 cm de diâmetro) perpendicular às vigas principais.

Figura 37 – Telhados

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As vigas de madeira são geralmente de eucalipto, tendo melhor qualidade as de castanho e qualidade inferior as de pinho.

O caniço constitui uma rudimentar caixa de ar, podendo encontrar-se mais espaçado (caniço “salto de rato” – canas agrupadas três a três, com espaço entre grupos) nas divisões que necessitam de maior ventilação.

Acontece por vezes que a inclinação dos telhados inferior à recomendada (18 a 20º) e a sobreposição de telhas é insuficiente. Assim facilmente aparecem goteiras nesta estrutura frágil, sendo indispensável a sua reparação frequente (limpeza do telhado e substituição de algumas telhas). Vários são os problemas que afectam as estruturas das casas devido à penetração da humidade pelo telhado: degradação contínua dos materiais, fungos, etc. Hoje em dia o caniço é cada vez menos utilizado, sendo substituído por tabuado (tábuas de pinho com um a dois cm de sobreposição, com as dimensões de 2,64 / 0,20 / 0,01 m). Ganha-se em termos de resistência e durabilidade mas perde-se grandemente em termos de ventilação e estética (o caniço refresca a casa e torna-a mais acolhedora e característica).

É típico da zona o beirado em telha de canudo, simples, duplo e/ou saliente nos vãos. As telhas do beirado são assentes sobre um ressalto feito de tijolo, sendo nos casos mais elaborados executada uma cimalha.

Nas empenas, a telha é assente sobre a parede (duas fiadas de telha sobrepostas), sendo moldados no reboco uns traços perpendiculares à inclinação do telhado que permitem uma mais rápida escorrência das águas.24

Figura 38 – Beirados

24 Em arranjos recentes de telhados de edifícios antigos assim como em novas construções, algumas estruturas para suporte das telhas são feitas em aço ou vigas de betão pré-esforçadas, neste último caso formando ou não placas.

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3.7.1.11. O Pavimento São dos mais diversos tipos de materiais os pavimentos encontrados: mosaicos cerâmicos vidrados ou não, tijoleira (“badoza”), betonilha, soalho, etc.

Nos pisos térreos é comum ver-se a badoza assente sobre uma argamassa pobre de cal e terra. A resistência à abrasão neste tipo de pavimento é pequena, verificando-se o desgaste nas zonas de maior movimento. Dadas as características de permeabilidade deste material, é frequente no Verão a rega dos locais ladrilhados originando a evaporação um ambiente mais fresco.

Em pisos elevados e sobretudo nos sobrados, a tijoleira pode ser assente sobre uma estrutura de vigas de madeira e tarugos cruzados.

Figura 39 – Exemplo de um pavimento de terraço correcto

Figura 40 – Imagem de pavimento interior

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3.7.1.12. A Chaminé As chaminés têm uma presença marcante na silhueta da zona e também ao nível do arruamento.

Surgem nesta zona dois tipos importantes de chaminés: as de escuta, salientes no prumo da fachada e as cilíndricas, de volume e altura significativos. Não são ainda de menosprezar algumas chaminés de secção rectangular e outras de secção quadrada.

As chaminés não devem ser demolidas ou vedadas, mas sim preservadas com os necessários cuidados de restauro/manutenção. São elas responsáveis pelo escoamento de fumos e também um elemento de significativa importância para a ventilação dos fogos.

Aponta-se como sugestão que, aquando da reparação da grelha da chaminé, se atenda à sua orientação de modo a protegê-la mais do vento Norte, jogando com a inclinação dos tijolos da grelha.

Figura 41 – Tipos de Chaminés existentes

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Figura 42 – Vista de chaminés no interior da habitação e exterior

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BIBLIOGRAFIA Para a elaboração deste texto foram consultadas as obras que a seguir se enunciam, das quais se retiraram algumas das figuras apresentadas: Évora-Portugal-Project “Pilote” de Réhabilitation d’un Quartier du Centre Historique au Moyen d’un Atelier de Construction Communautaire – UNESCO, Établissements Humains et Environement Socio-Culturel (Paris, Septembre 1981) BRANCO, J. Paz – Manual de Pedreiro (Lisboa, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 1981) Otranto-Italiel-Project “Pilote” de Réhabilitation dans une Ville Ancienne au Moyen d’un Atelier de Construction Communautaire – Établissements Socio-Culturel, UNESCO, 9 (Paris, Juillet 1978) Plano de Pormenor e Salvaguarda no Núcleo Histórico da Vila de Mértola (Proposta, 1990) Plano de Salvaguarda e Reabilitação do Centro Histórico de Moura (Estudo Prévio – 1988 e Propostas – 1990).

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3.7.2. TIPOLOGIAS NO CENTRO HISTÓRICO DE SERPA

Para uma análise mais detalhada da tipologia dos edifícios existentes dentro da Zona de Intervenção, são apresentados alguns exemplos:

Castelo – “Sala da Ceia”

- Terreiro do Castelo: Quarteirão 22 - Edifício15

- Construção datada entre séc XVIII e início séc XX

- Instalações Sanitárias e Arrecadações

Figura 27 – Planta R/c e Cobertura; Cortes e Alçados

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Café / Restaurante “O Alentejano”:

- Praça da República: Quarteirão 38 – Edifício 02

- Construção datada do século XVII

- Restauração no R/C e 1º andar

Figura 28 – Planta R/c e Cave do Café/Restaurante “O Alentejano”

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Figura 29 – Corte do Café/Restaurante “O Alentejano”

Figura 30 – Planta R/c, Alçado Principal e Lateral do Café/Restaurante “O Alentejano”

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Snak-Bar “O Zé”:

- Praça da República: Quarteirão 35 – Edifício 04

- Construção datada do século XIX

- Restauração no R/C

Figura 31 – Planta R/c e Cave e Alçado Principal do Snak-Bar “O Zé”

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Habitação

- Rua Ladeira do Amaral nº 14: Quarteirão 24 – Edifício 01

- Construção séc. XX

- Tipologia T2 (sala, cozinha, i.s., terraço)

Figura 32 – Planta R/c , 1º andar e Cobertura; Alçado Principal e corte longitudinal

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Habitação

- Rua Braz Carrasco nº 13: Quarteirão 08 – Edifício 14

- Construção antiga alterada de data nao identificada

- Tipologia T1

Figura 33 – Planta R/c e Cobertura; Corte Longitudinal e Alçado Principal

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Habitação

- Rua Braz Gonçalves nº 24: Quarteirão 52 – Edifício 02

- Construção antiga de data nao identificada

- Tipologia T0

Figura 34 – Planta R/c e Cobertura; Corte Longitudinal e Alçado Principal

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Habitação

- Rua do Cano nº 16: Quarteirão 22 – Edifício 01

- Construção séc. XX

- Tipologia T1 (sala, cozinha, i.s. e pátio)

Figura 35 – Planta R/c e Cobertura; Corte Longitudinal e Alçado Principal

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Habitação

- Rua dos farizes nº 13: Quarteirão 20 – Edifício 33

- Construção séc. XIX

- Tipologia T2 (sala, cozinha, i.s. e quintal)

Figura 36 – Planta R/c e Cobertura; Corte Longitudinal e Alçado Principal

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Habitação

- Rua dos Fidalgos nº 13: Quarteirão 46 – Edifício 03

- Construção datada do século XIX

- DuasTipologias T2 (sala, cozinha, i.s.)

Figura 37 – Planta R/c com duas casas distintas, uma situada na Rua Quente e a outra na Rua dos Fidalgos

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Habitação

- Rua João Valente nº 3: Quarteirão 49 – Edifício 14

- Construção antiga alterado de data não identificada

- Tipologias T2 (sala, cozinha, i.s.)

Figura 38 – Planta R/c, 1º andar e Cobertura; Corte Longitudinal e Alçado Principal

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Habitação

- Rua das Portas de Beja nº 38: Quarteirão 18 – Edifício 06

- Construção século XX

- Tipologias T2 (sala, cozinha, i.s., quintal, terraço)

Figura 39 – Planta R/c, 1º andar e Cobertura; Cortes Longitudinais e Alçado Principal

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Habitação

- Rua dos Quartéis nº 31: Quarteirão 50 – Edifício 09

- Construção antiga de data não identificada

- Tipologias T1 (sala, cozinha, i.s., pátio, terraço não visitável)

Figura 40 – Planta R/c e 1º andar; Corte Longitudinal e Alçado Principal

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3.7.2.1. Análise Detalhada do Tipo de Chaminés Existentes As chaminés foram consideradas nesta análise do Centro Histórico de Serpa pelo facto de possuírem características marcantes na silhueta da ZI. Deste modo, foram considerados 7 tipos de chaminés:

1. Chaminé de escuta primitiva: este tipo de chaminé encontra-se sobretudo em edifícios localizados na zona noroeste, nordeste e intra-muros da área de intervenção. Este tipo de chaminés apresenta por vezes alterações com a introdução de vãos;

Fotografias 80 e 81 – Imagens de chaminés de escuta primitivas situadas na Rua das Cruzes e no Largo Dom Afonso Martim de Melo.

2. Chaminé poligonal primitiva: este tipo de chaminé encontra-se dispersa por toda a zona de intervenção;

Fotografias 82 e 83 – Imagens de chaminés poligonais primitivas situadas na Rua do Ajudante da Terra e na Rua dos Lagares.

3. Chaminé quadrangular primitiva: este tipo de chaminé encontra-se dispersa por toda a zona de intervenção;

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Fotografias 84 e 85 – Imagens de chaminés de quadrangulares primitivas situadas na Rua das Cruzes e Rua dos Farizes.

4. Chaminé tubular primitiva: este tipo de chaminé encontra-se dispersa por toda a zona de interveção;

Fotografias 86 e 87 – Imagens de chaminés tubulares primitivas situadas na Rua das Cruzes.

5. Chaminé de escuta primitiva c/ fuga tubular primitiva: este tipo de chaminé encontra-se dispersa por toda a zona de interveção;

Fotografias 88 e 89 – Imagens de chaminés de escuta com fuga tubular primitiva situadas na Rua das Cruzes e na rua Ajudante da Terra.

6. Chaminé tubular primitiva + chaminé de escuta modificada: este tipo de chaminé encontra-se dispersa por toda a zona de interveção;

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Fotografias 90 e 91 – Imagens de chaminé tubular primitiva + chaminé de escuta modificada no mesmo edifício localizado na Rua da Fonte Santa.

7. Chaminé modificada: este tipo de chaminé encontra-se disperso por toda a zona de interveção. O termo modificada surge devido às alterações introduzidas nos diversos tipos de chaminés.

Fotografias 92 e 93 – Imagens de chaminé modificadas: chaminé de escuta com tubo metálico situada na Rua das Portas de Beja e chaminé de escuta sem fuga na Rua Nova da Porta Nova.

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Figuras 41 e 42 – Imagem de chaminé de escuta modificada. A chaminé deu lugar a uma porta de entrada.

Fotografia 94 - Edifício na Rua do Assento

Para uma análise mais detalhada da classificação das chaminés, deverá ser consultado o desenho 21156-F1-PP-0004.

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3.7.3. CONSTRUÇÃO DE PAREDES EXTERIORES

3.7.3.1. Paredes em Terra A construção de paredes em terra, ainda que rara, persiste nos nossos dias pelas seguintes razões:

Trata-se de um material reutilizável e neutro;

Como a terra não é cozida existe logo à partida uma grande poupança de energia;

Como a matéria prima é obtida no local da obra poupa-se também no transporte;

Podem ser utilizados solos pobres – a própria terra retirada das fundações é também aproveitada.

Hoje, só não é mais utilizada devido ao custo elevado da mão-de-obra e a impossibilidade de se construir em altura com segurança (especialmente contra eventuais sismos).

Actualmente utilizam-se dois processos para a construção de paredes em terra:

Blocos de terra comprimida – a terra é comprimida em blocos com recurso a equipamento mecânico;

A taipa – a terra é compactada na parede com recurso a maços e taipais.

A terra utilizada na construção de paredes possui em geral uma grande percentagem de argila e alguma quantidade de areia, que melhora a sua resistência.

A presença da humidade embora enfraqueça as ligações das argilas (podendo levar à sua desagregação) aumenta a coesão das areias (por exemplo, na praia só se podem fazer construções na areia se esta estiver húmida). Por outro lado, a perda de humidade reduz a coesão das areias mas aumenta a das argilas.

A terra utilizada na construção deve ser estabilizada por forma a:

Resistir à erosão provocada pelo vento e pela chuva;

Possuir uma melhor resistência mecânica;

Reduzir a fissuração provocada pela expansão (térmica e higrotérmica);

Reduzir a porosidade (a permeabilidade).

A estabilização da terra pode ser conseguida com uma boa compressão, por adição de fibras ou de material pétreo ou ainda por adição de ligantes como o cimento Portland, cal hidráulica ou cal aérea (terrenos arenosos devem ser estabilizados com cimento Portland, terrenos argilosos devem ser estabilizados com cal).

Cuidados a ter na preparação da terra:

Para se assegurar um melhor resultado deve-se procurar terras medianamente argilosas;

Antes de se extrair a terra para a construção, deve-se proceder à remoção do coberto vegetal até uma profundidade de 30 a 35 centímetros.

Figura 43 – Preparação do terreno

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Figura 44 – Preparação do terreno para construção de paredes em terra

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Figura 45 – Construção de paredes em terra

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3.7.3.1.1. Taipa

Figura 46 – Construção de paredes em Taipa

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Figura 47 – Construção de paredes em Taipa

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3.7.3.1.2. Blocos de Terra Comprimida

Figura 48 – Blocos de terra comprimida

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BIBLIOGRAFIA Este texto foi extraído da seguinte obra: MASCARENHAS, Jorge – Sistemas de Construção III: Paredes (2.ª parte) e Materiais Básicos (1.ª parte), Livros Horizonte, 2003

Fotografias 95 e 96 – Montagem do taipal (fotografias extraídas do livro “Arquitectura de Terra em

Portugal”, Argumentum)

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Fotografias 97 e 98 – Exemplo de construção em taipa (quarteirão 03, edifício 01)

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4. ESTRUTURA VERDE E AMBIENTAL A presente componente deste plano incide nos espaços exteriores do núcleo histórico da cidade de Serpa, procurando-se nesta fase caracterizá-los do ponto de vista paisagístico e da sua estrutura verde, para poder diagnosticar os seus principais problemas e potencialidades, tendo em vista uma posterior definição de linhas de intervenção prioritárias, de médio e de longo prazo, que contribuam para conciliar a salvaguarda e reabilitação patrimonial com a qualificação global do ambiente urbano deste centro histórico.

4.1. CARACTERIZAÇÃO A presente fase de caracterização apoia-se num conjunto de peças desenhadas que procuram apresentar uma imagem da situação actual do centro histórico da cidade de Serpa, diagnosticando já aqueles que são alguns dos seus principais pontos fortes e fracos em termos de paisagem e estrutura verde.

Nesta fase elaboraram-se as seguintes peças desenhadas, todas elas apresentadas à escala 1:2000 e 1:1000:

1 – Hipsometria (anexo II);

2 – Declives (anexo II);

3 - Estrutura Verde e Ambiental (21256-F1-PP-0011: escala 1:1000);

4 – Levantamento da Situação Actual (anexo II)

4.2. FISIOGRAFIA Para caracterizar o relevo do centro histórico de Serpa e da sua envolvente elaboraram-se duas cartas: Hipsometria e Declives.

A carta da Hipsometria contém também a marcação das linhas de cumeada, verificando-se que o centro histórico de Serpa se encontra localizado na extremidade de uma cumeada de desenvolvimento de sueste para noroeste.

Esta cumeada localiza-se entre linhas de água afluentes da margem esquerda do Rio Guadiana, que se dirigem para o mesmo, localizado a poente.

Como se pode constatar pela peça desenhada apresentada, aquela que constituiria a muralha mais antiga surge a limitar uma elevação acima dos 200 m, que possibilitava um posicionamento estratégico sob o ponto de vista militar, já que este limite é acompanhado de uma das faixas mais declivosas que surgem no interior do centro histórico.

O crescimento da cidade tem-se dado no sentido das zonas de maior elevação, na direcção sul, tendo-se mantido as zonas mais baixas e simultaneamente menos declivosas localizadas a norte com uma ocupação predominantemente agrícola.

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Na elaboração desta carta estabeleceram-se classes hipsométricas com intervalos de 10 metros, que deram origem a 9 classes distribuídas entre os 150 e os 240 metros de altitude, sendo que os 150 metros de altitude ocorrem a nordeste da Muralha, próximo do Pavilhão Multiusos de Serpa e os cerca de 240 metros de altitude, a sueste de Serpa. As classes hipsométricas desenvolvem-se gradativamente na direcção norte-sul, ocorrendo os valores mais altos no canto sueste da área do plano, e os valores inferiores no canto noroeste.

Na carta de Declives estão representadas as inclinações do território em estudo, que nos dão uma caracterização do relevo mais direccionada para a definição das suas aptidões.

Para a análise de declives definiram-se seis classes: 0-2, 2-5, 5-8, 8-15,15-25 e >25%, cujos limites foram estabelecidos com base na escala de trabalho, nas limitações impostas pelos vários declives aos usos do solo e nos objectivos do plano.

De um modo geral os declives na área abrangida por este plano são suaves, predominando claramente as classes de 0-2%, 2-5%, e de 5-8% que se encontram distribuídas de forma relativamente uniforme na orla que envolve a zona central, desde a envolvente à zona da muralha antiga de Serpa e até ao limite do plano. Por outro lado, as classes de declives mais acentuados, >15% surgem junto à zona da muralha antiga de Serpa, envolvendo-a e acentuado assim a elevação onde se encontram alguns dos elementos mais importantes do seu património edificado.

De um modo geral as classes de declives mais suaves apresentam-se distribuídas por toda a área do plano. Salienta-se no entanto a presença de muitas áreas de relevo mais suave em toda a zona sul do plano, coincidentes com a área para onde se tem vindo a expandir todo o núcleo urbano de Serpa.

4.3. CLIMA E MICROCLIMA

O clima do concelho de Serpa é caracteristicamente mediterrânico com um período estival quente e seco e elevada concentração da precipitação nos meses mais frios do ano, apresentando ainda fortes amplitudes térmicas, tanto diurnas como anuais, fruto da continentalidade.

No concelho de Serpa ocorre a classe mais alta do país em termos de temperaturas médias anuais (16 a 18 ºC) e a classe mais baixa em termos de precipitação total anual (menos de 600 mm), tornando-o num dos concelhos mais quentes e menos húmidos.

Para melhor se perceber o nível das amplitudes térmicas anuais verifica-se que a média da temperatura máxima do ar nos meses de Verão surge na classe mais elevada do país (30 a 32 ºC), enquanto a média da temperatura mínima do ar nos meses de Inverno surge na 3ª classe mais baixa do país (4 a 6 ºC).

Verifica-se ainda que o nível de insolação anual é dos mais elevados do país, com 2700 a 2800 horas de sol.

Em termos de intensidade média anual do vento a situação surge abaixo da média nacional, com valores entre os 4 e 4,5 m/s, sendo mais frequentes os ventos de sudoeste, seguidos dos de norte e nordeste.

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Em termos de conforto bioclimático verifica-se que é menor nos meses de Verão e de Inverno, apresentando-se Muito quente em Julho e Frio moderado fresco em Janeiro.

É importante salientar que face à morfologia do território a zona a norte do centro histórico de Serpa, por se localizar na extremidade de uma cumeada de desenvolvimento de sudeste para noroeste, apresenta menor exposição solar, sendo menos adequada à expansão urbana.

4.4. SOLOS

A cidade de Serpa encontra-se envolvida por solos profundos de elevada fertilidade, que são de um modo geral barros.

Esta envolvente agrícola fértil de solos aplanados aumenta o contraste com a elevação do centro histórico de Serpa, valorizando a qualidade paisagística desta área.

4.5. ESTRUTURA VERDE E AMBIENTAL

A estrutura verde e ambiental do centro histórico de Serpa surge representada nas seguintes peças desenhadas: 3 - Estrutura Verde e Ambiental; 4 – Levantamento da Situação Actual (I); 5 – Levantamento da Situação Actual (II).

Na primeira destas peças desenhadas procura evidenciar-se a estrutura verde do centro histórico, que nas zonas localizadas intramuros corresponde fundamentalmente a zonas verdes públicas, logradouros privados e arborização de arruamento, enquanto extramuros corresponde essencialmente a áreas predominantemente agrícolas.

Nas outras duas peças desenhadas, para além de se repetir o conteúdo da peça anterior, apresenta-se um levantamento fotográfico exaustivo dos espaços públicos do centro histórico de Serpa e identificam-se muitas das espécies de árvores aqui existentes.

Valor Paisagístico

As peças desenhadas e levantamento fotográfico apresentados evidenciam o carácter único do centro histórico da cidade de Serpa, que constitui uma área com forte potencial paisagístico, como se pode verificar em algumas das imagens apresentadas, de que se destacam as vistas sobre: as Muralhas de Serpa (foto 55), o Aqueduto (foto 38), a Torre do Relógio (foto 53) e o Palácio dos Condes Ficalho (foto 19).

Espaços Verdes Públicos e Privados

Apesar da tendência para uma progressiva densificação urbana, a zona intramuros ainda mantém alguns espaços verdes públicos e privados, sendo estes últimos claramente dominantes, ocupando cerca de 8,31% da área do plano contra os cerca de 1,79% dos espaços verdes públicos.

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No que diz respeito à área extramuros caracteriza-se por uma ocupação actual do solo predominantemente agrícola. As áreas agrícolas são ocupadas sobretudo por culturas de sequeiro e olival, que ocorrem maioritariamente na faixa norte da área do plano. As restantes culturas existentes consistem em vinha e hortícolas presentes em pequenas áreas localizadas a sudeste e sudoeste.

Destaca-se ainda que os espaços verdes públicos existentes intramuros consistem unicamente em pequenos canteiros ou floreiras espalhadas um pouco por toda a área, acompanhadas de bancos, não cumprindo funções de recreio necessárias sobretudo à população mais jovem (foto 33).

Verifica-se uma grande carência de zonas verdes destinadas a recreio infantil, bem como de áreas relvadas destinadas a recreio informal, não se tirando também o devido partido de áreas de estadia e contemplação, que deveriam beneficiar de algumas vistas de maior amplitude.

De referir ainda que os espaços verdes públicos existentes nem sempre apresentam as melhores características para as funções de estadia a que se destinam, verificando-se que por vezes surgem em plataformas inclinadas pouco convidativas (foto 63).

O Jardim do Palácio dos Condes de Ficalho constitui o exemplo mais significativo de espaço verde da zona intramuros, encontrando-se no entanto num avançado estado de abandono e degradação. Este é um exemplo de uma área que, de forma adequada, a Câmara se disponibilizaria para recuperar e manter a troco de uma utilização pública condicionada, mediante o estabelecimento de um protocolo com os seus proprietários.

Arborização

Há uma moderada arborização do centro histórico de Serpa, com árvores de um modo geral adequadas e de espécies diversificadas, no entanto, com um porte relativamente reduzido, fazendo-nos pensar que resultarão de intervenções relativamente recentes.

São excepção alguns exemplares de grande porte, alguns dos quais classificados.

Acessibilidades

Verifica-se que existem muitas situações em que o peão é penalizado (e sobretudo o de mobilidade condicionada) relativamente ao automóvel, devendo em futuras intervenções ser dada especial atenção aos passeios e seus rebaixamentos, às passadeiras, às rampas, à sinalização, etc., sendo fundamental que se estabeleçam tipologias de arruamentos para futuras intervenções, que venham a ser adoptados faseadamente e vão eliminando alguns dos problemas existentes.

Por vezes os passeios apresentam uma largura tão reduzida que não permitem a circulação pedonal, devendo ser ponderada a opção por algumas áreas de circulação exclusivamente pedonal ou por soluções alternativas com supressão de passeios (foto 110).

Outro problema evidente no centro histórico de Serpa tem a ver com a falta de estacionamento automóvel, sendo frequente encontrarem-se carros a ocupar as

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áreas destinadas à circulação pedonal ou ocupando de forma desordenada qualquer outra área livre (foto 84).

Elementos dissonantes

Sobretudo em intervenções mais recentes surgem alguns elementos dissonantes que deveriam ser contrariados através da adopção de normas, regulamentos e tipologias de intervenção mais adequados ao centro histórico (fotos 26 e 27).

Embora relativamente ao mobiliário urbano e candeeiros de iluminação pública haja, de um modo geral, coerência na escolha dos mesmos, o exemplo atrás mencionado constitui uma excepção, agravada porém por se tratar de uma intervenção relativamente recente.

Assume também importância significativa o caso das antenas de televisão, fios eléctricos e aparelhos de ar condicionado que penalizam a qualidade do ambiente urbano (figura 99).

Fotografia 99 – aplicação no exterior dos edifícios de antenas, ar condicionado e fios eléctricos

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5. REDE DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS No âmbito do levantamento urbanístico efectuado no interior da Área de Intervenção foram identificados os seguintes equipamentos colectivos e serviços de utilidade pública:

• Câmara Municipal.

• Casa do Povo.

• Oficina de Artes e Ofícios Tradicionais de Serpa.

• Associação de Ex-Combatentes.

• Sede do Partido Comunista Português.

• Sede do Partido Socialista.

• Museu de Arqueologia.

• Museu Etnográfico Municipal.

• Museu do Relógio.

• Igreja de Santa Maria.

• Igreja da Misericórdia.

• Igreja do Santuário.

• Igreja do Salvador.

• Igreja e Convento de S. Paulo.

• Igreja Maná.

• Rota do Guadiana – Associação de Desenvolvimento Integrado.

• Centro de Formação Profissional Rota do Guadiana.

• Associação Serpense.

• Sociedade Filarmónica.

• Posto de Turismo.

• Sociedade Luso-União Serpense.

• Sede da Cooperativa Agrícola de Serpa.

• Associação dos Agricultores de Serpa.

• Espaço Internet.

• Hospital de S. Paulo (Hospital Distrital de Serpa) / Serviço de Atendimento Permanente.

• Correios.

• Creche Jardim Nossa Senhora da Conceição.

• A Alcáçova do Castelo de Serpa.

• Torre do Relógio.

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O Hospital de S. Paulo é um Hospital de Dependência Patrimonial Pública, integrado no Sistema Local de Saúde de Beja, pertencendo à Administração Regional de Saúde do Alentejo. É um Hospital Distrital de Nível I. De referir que o edifício principal (antigo Convento de S. Paulo) foi adaptado á actividade hospitalar, pela Santa Casa da Misericórdia, em 1675. As especialidades médicas presentes neste hospital são: Cirurgia Geral, Fisiatria, Medicina Interna, Patologia Clínica, Radiologia e Anestesiologia. Os Serviços do Hospital de S. Paulo abrangem a população dos Concelhos de Serpa, Moura, Barrancos e Mértola, num total de cerca de 43.949 habitantes.

O Museu Arqueológico de Serpa foi instalado em 1984 na antiga casa do governador da Praça, situada na alcáçova do Castelo, na sequência da actividade desenvolvida pelo núcleo de arqueologia do Centro de Cultura Popular de Serpa. O museu apresenta uma exposição permanente de materiais arqueológicos que abrangem um vasto período cronológico (do Paleolítico inferior à época islâmica), oriundos, na sua maioria, da área geográfica do Concelho.

O Museu Etnográfico Municipal, inaugurado em 1987, encontra-se instalado no edifício do antigo mercado municipal, construção de finais do século XIX. O museu apresenta uma exposição permanente denominada "Ofícios da Terra", que evoca a diversidade de ocupações e ofícios inerentes à produção de bens indispensáveis no quadro da vida local e o saber técnico e tecnológico tradicional ligado à sua fabricação. A colecção, composta por artefactos e utensílios diversos relacionados com os ofícios de albardeiro, abegão, alfaiate, cadeireiro, carpinteiro, cesteiro, ferrador, ferreiro, latoeiro, oleiro, roupeiro e sapateiro, constitui uma parte importante da memória do mundo do trabalho no Concelho.

No Museu do Relógio, instalado no Convento do Mosteirinho, uma construção manuelina do séc. XVI, estão patentes 1.600 peças, todas mecânicas, datadas a partir do séc. XVII, contando com vários exemplares de bolso, pulso, sala, entre outros. Uma das salas de exibição é dedicada ao relógio de origem nacional, onde temporariamente decorrem exposições temáticas. O Museu é constituído por 10 salas, um pequeno jardim, um bar e uma biblioteca com mais de 500 livros temáticos.

Como se constata, são diversos os equipamentos instalados no interior da Área de Intervenção, abrangendo as áreas cultural, recreativa, religiosa, social, educativa e de saúde, entre outras.

Quanto à inserção urbana, os equipamentos organizam-se de três formas:

• Ao longo dos eixos estruturantes do tecido urbano.

• Em núcleos.

• Concentrados numa zona delimitada.

Também se verificam diferenças quanto à utilização dos edifícios. Existem equipamentos em edifícios próprios construídos de raiz (ex. Igrejas, Castelo), em edifícios adaptados ou reconvertidos (ex. hospital, museus), exclusivamente ocupados com essa actividade ou em edifícios mistos (ex. Associações) que comportam outras funções, geralmente a habitação.

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Estes equipamentos e serviços públicos conferem à Área de Intervenção e à Cidade de Serpa uma centralidade induzida pela atracção de utilizadores/visitantes, em especial os que cuja área de influência ultrapassa o nível do próprio aglomerado.

Como principais constrangimentos à actividade desenvolvida por estes equipamentos importa salientar a degradação física dos edifícios que os albergam, a falta de espaço para o desenvolvimento de algumas actividades e as dificuldades de manutenção das estruturas edificadas. De notar ainda a carência de espaços para a instalação de novas associações, nomeadamente recreativas, ainda não instaladas na Área de Intervenção, mas que aí pretendem desenvolver a sua actividade.

As principais potencialidades identificadas prendem-se com o número significativo de equipamentos instalados, a sua diversidade e a existência de equipamentos com um forte cariz urbano central.

Concluída a fase de inventariação dos equipamentos colectivos sedeados no interior da Área de Intervenção, proceder-se-á na fase subsequente a um diagnóstico mais detalhado das condições de funcionamento e das respectivas necessidades através da realização de questionários junto das respectivas entidades gestoras. Este trabalho deverá ter uma abrangência maior, alargada à Cidade de Serpa, no sentido de equacionar a possibilidade de levar para o interior da Área de Intervenção equipamentos e valências situadas no exterior desta e que de alguma forma possam contribuir para aumentar o seu grau de centralidade, salvaguardando o agravamento de outro tipo de constrangimentos, nomeadamente os que se prendem com as dificuldades de estacionamento e de circulação automóvel.

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6. REDE VIÁRIA, CIRCULAÇÃO E ESTACIONAMENTO

6.1. CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTES ACTUAL Nos últimos anos, têm-se observado alterações profundas nos padrões de mobilidade, com particular ênfase, nas áreas urbanas.

O crescimento das taxas de motorização, foi progressivamente enraizando hábitos de deslocação baseados no automóvel, que degradam as condições de estacionamento, circulação e da qualidade de vida das populações, em particular nas áreas centrais onde se verificam maiores concentrações de equipamentos, comércio e serviços.

Paralelamente aos factores que têm contribuído para o aumento das taxas de motorização, há ainda a salientar a crescente complexidade das deslocações urbanas, que têm induzido aumentos da intensidade de utilizações diárias do automóvel

Por outro lado, o desinvestimento, verificado nas últimas décadas, no sector dos transportes públicos e a sua desadequação / desajuste, face aos actuais parâmetros de qualidade exigidos, não permitem que este constitua uma alternativa aliciante à utilização sistemática do transporte individual, em particular nas deslocações urbanas.

Este acréscimo da mobilidade da população acarretou um conjunto de problemas, que se fazem sentir de forma mais acentuada nos centros históricos das cidades, que pelas suas características físicas, não estão capacidade de resposta. Destes problemas destacam-se o crescimento exponencial do tráfego automóvel, estacionamento, poluição sonora e atmosférica, os quais geram efeitos negativos na qualidade de vida das populações, mas também na perda do potencial turístico.

Em suma, o tráfego automóvel é um importante factor da degradação ambiental e da qualidade de vida nos centros históricos: o excesso de tráfego em vias pouco adaptadas para o suportar, poluição atmosférica e sonora, impacto visual, consumo excessivo de espaço, descaracterização de ruas e praças como lugares de encontro são algumas das consequências negativas do tráfego nestes espaços.

De um modo geral pode disser-se que associado ao aumento da mobilidade nos centros históricos surgem diversos problemas associados: problemas de circulação, de estacionamento, poluição sonora e do ar, os quais geram efeitos negativos não só na qualidade de vida das populações ai residentes, mas também na perda do potencial turístico.

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6.1.1. Objectivos O principal objectivo desta fase do estudo prende-se com a identificação e análise da rede viária, estacionamento e rede de transportes públicos actuais, por forma a levar a cabo uma caracterização da situação actual e determinação dos principais constrangimentos existentes e respectivas causa, possibilitando nas fases subsequentes do trabalho estabelecer um conjunto de propostas e acções relativas à optimização da diferentes componentes do sistema de transportes.

Ainda nesta fase, será proposto um conceito global de mobilidade para o centro histórico de Serpa, a qual contemplará os vários subsistemas em análise.

Assim, esta fase de diagnóstico será composta pelas actividades sintetizadas na figura 49.

Figura 49 - Caracterização do sistema de transportes actual

Rede Viária

-Carcaterísticas Fisicas e geométricas- Esquema de Circulação- Hierarquização da rede

Rede Viária

-Carcaterísticas Fisicas e geométricas- Esquema de Circulação- Hierarquização da rede

Estacionamento

- Oferta de Estacionamento- Cargas e descargas- Capacidade / Ocupação

Estacionamento

- Oferta de Estacionamento- Cargas e descargas- Capacidade / Ocupação

CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTES ACTUAL

CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTES ACTUAL

Circulação Pedonal

-Identificação e Carcaterização de Zonas de ViVencia pedonal

Circulação Pedonal

-Identificação e Carcaterização de Zonas de ViVencia pedonal

Rede Viária

-Carcaterísticas Fisicas e geométricas- Esquema de Circulação- Hierarquização da rede

Rede Viária

-Carcaterísticas Fisicas e geométricas- Esquema de Circulação- Hierarquização da rede

Estacionamento

- Oferta de Estacionamento- Cargas e descargas- Capacidade / Ocupação

Estacionamento

- Oferta de Estacionamento- Cargas e descargas- Capacidade / Ocupação

CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTES ACTUAL

CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE TRANSPORTES ACTUAL

Circulação Pedonal

-Identificação e Carcaterização de Zonas de ViVencia pedonal

Circulação Pedonal

-Identificação e Carcaterização de Zonas de ViVencia pedonal

6.1.2. Caracterização da Rede viária e Circulação A análise funcional da rede viária actual na área em estudo incidiu, essencialmente, sobre os seguintes aspectos:

• Características físicas e geométricas;

• Esquema de circulação;

• Hierarquia da rede viária;

• Pontos de conflito.

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6.1.2.1. Características físicas e geométricas O relevo da área em estudo caracterizado por declives irregulares condiciona de alguma forma as características da rede viária, observando-se a coexistência por um lado de vias planas (zona sul de expansão da cidade) e por outro de vias que apresentam declives mais acentuados com inclinações irregulares (zonas Norte, especialmente intra muralhas do núcleo histórico).

Fotografia 100 – Entrada na zona intra-muros

Especialmente na zona intra-muros, as ruas apresentam um traçado tortuoso, com uma topografia irregular, fruto de se encontrar implantado num espaço outrora com carácter defensivo e construído numa época construído em que os meios de transporte não eram motorizados e, como tal, o traçado viário não se encontra adaptado para a circulação automóvel.

No que se refere aos perfis transversais, a rede viária do Centro Histórico de Serpa apresentam geometrias muito diferenciadas. Na grande maioria das ruas localizadas intramuros a largura das vias é muito reduzida (inferior a 6 metros, existindo diversas situações de troços com larguras inferiores a 3 metros) não permitindo a circulação nos dois sentidos, nem a existência de passeios para circulação pedonal e de resguardos de entradas para o edificado.

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Fotografias 101 e 102 – Ruas do centro histórico intra-muralhas

Nas zonas localizadas fora dos muros as ruas apresentam, de um modo geral larguras superiores permitindo a maioria a circulação em ambos os sentidos, passeios e, em algumas vias a criação de espaços destinados a estacionamento e passeios para circulação de peões.

Em relação aos tipos de pavimento, a rede apresenta características bastante distintas, ainda que predominem com pavimentos em paralelepípedos e calçada de granito, sendo bastante reduzida as vias com pavimento betuminoso. Estas últimas encontram-se sobretudo nos principias acessos à cidade e ao centro histórico. Na zona intra muros existe um elevado número de ruas em calçada primitiva.

De referir a existência de diversos troços em mau estado de conservação, necessitando de repavimentação ou de algumas intervenções e carácter mais pontual de beneficiação no pavimento ou berma (Ruas: Miguel Dias Nunes, Afonso Henriques Castro Lemos, Terreiro Humberto Delgado, Rua da Fonte Santa, Rua Frei Bento, Estrada da circunvalação, Largo junto à rua dos Arcos, Travessa do Forte, Rua do Águio, Rua da Capelinha, Rua Dr. Manuel Corte Real Abranches, Rua João Valente, largo Salvador, entre outros).

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Fotografias 103, 104, 105 e 106 – Exemplos de ruas a necessitar de beneficiação no pavimento

Ainda ao nível do pavimento verificou-se a necessidade de beneficiação dos passeios em diversas ruas (Rua dos Lagares, Rua Afonso Henriques Castro Lemos, Rua Braz Carrasco, Rua de Santo António, etc).

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Fotografias 107, 108, 109 e 110 – Exemplos de ruas com passeios a necessitar de beneficiação

6.1.2.2. Esquema de Circulação Os vários levantamentos realizados incluíram um inventário dos sentidos de circulação e viragens permitidas (ver planta 21256-PP-012).

A organização da circulação da zona intra muros assenta maioritariamente num sistema de circulação de sentidos únicos, imposto pelo perfil transversal das ruas que impossibilitam a circulação nos dois sentidos.

No entanto, persistem situações em que se praticam os dois sentidos, como é o caso da Rua Dom F. Barreto, Rua Quente e Rua Frei Bento, originando risco de conflito e redução da fluidez dadas as estreita dimensões do perfil transversal destas vias.

Igualmente de referir, que zona intra muros a reduzida largura de algumas das vias dificulta a realização de algumas viragens, mesmo em vias de dois sentidos, pelo que se verifica a necessidade de proceder a um ordenamento que proporcione a redução de situações de conflito.

Nas áreas limites do centro histórico (ruas circundantes de acesso), a circulação processa-se nos dois sentidos. A maior largura das vias, bem como a função de distribuição de tráfego pela cidade que lhes está associada justificam os dois

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sentidos de circulação (Rua Serpa Pinto, Estrada da Cruz Nova, Estrada da Circunvalação, Rua da Fonte Santa, entre outras).

Fotografias 111 e 112 – Ruas do centro histórico fora Muralhas

Verificam-se contudo algumas situações de vias que apesar de possuírem dois sentidos de circulação é autorizado o estacionamento na via pública o que origina situações de conflito.

6.1.2.3. Hierarquização da rede viária A hierarquização da rede viária relaciona-se, directamente com o planeamento urbano pelo reconhecido papel estruturante que a rede viária pode assumir na expansão da Cidade.

Assim, considerando as características viárias e a funcionalidade do sistema foi estabelecida uma hierarquia viária estruturada completa em três níveis distintos:

Rede Principal – constituída pelas principais vias urbanas de acesso à cidade e ao centro histórico, tem por função assegurar a mobilidade entre os principais pólos geradores de tráfego, servindo o tráfego de entrada/ saida e de atravessamento;

Rede secundária - engloba as vias que permitem a mobilidade interna canalizando o tráfego entre as vias principais e as vias da rede local;

Rede local, constituída pelas vias que permitem o acesso local.

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6.1.3. Caracterização do Estacionamento A análise do estacionamento que seguidamente se apresenta foi efectuada com recurso ao levantamento efectuado por técnicos da Câmara Municipal de Serpa e pela equipa do estudo.

Os levantamentos efectuados permitiram concluir acerca da inexistência de uma política de estacionamento municipal para o centro histórico, processando-se este em todos os espaços públicos, sempre que estes o permitam, independentemente da sinalização existente, causando situações de conflito com a circulação.

Esta situação é ainda mais evidente na área central do núcleo histórico (intra muros) onde todos os espaços são aproveitados pelos moradores para o estacionamento das viaturas.

Fotografias 113, 114, 115 e 116 – Estacionamento Residentes

Do levantamento efectuado verificou-se que 90% da oferta de estacionamento no centro histórico é não tarifada. Para além desta oferta, existe oferta tarifada em dois locais da cidade, sendo a procura muito diferenciada. Assim, se no Largo Condes Melo os lugares se encontravam totalmente ocupados, o mesmo não acontecia no parquemento junto à Rua dos Lagares, em que 80% dos lugares se encontravam vagos.

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Fotografias 117 e 118 – Estacionamento junto à Rua dos Lagares

Fotografia 119 – Estacionamento no Largo do Conde Melo

As tarifas praticadas são as seguintes: 1hora – 0.40 cêntimos, 2 horas – 0.90 cêntimos, 3 horas – 1.40 cêntimos, 4 horas – 1.90 cêntimos.

O Largo dos Condes de Ficalho assume funções de parque de estacionamento gratuito, ainda que os lugares de estacionamento não se encontrem sinalizados no pavimento.

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Fotografia 120 – Estacionamento no Largo dos Condes Ficalho

Em termos de procura existem três locais em cuja procura é superior à oferta, gerando-se situações de estacionamento em segunda fila e, por vezes de conflito com a circulação automóvel:

- Largo de S. Paulo

A presença do Hospital justifica a elevada procura de estacionamento que se regista neste largo, sendo os lugares reservados para este equipamento insuficientes.

Fotografia 121 – Estacionamento no Largo de São Paulo

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- Largo do Salvador/ Largo 5 de Outubro

A elevada procura de estacionamento e ausência de marcação dos lugares levam a que as viaturas ocupem todos os lugares disponíveis na praça, descaracterizando um espaço com elevado interesse patrimonial.

A oferta actual é de 39 lugares não marcados no pavimento, sendo urgente o ordenamento de estacionamento neste espaço.

Fotografias 122 e 123 - Estacionamento no Largo Salvador

O largo 5 de Outubro é um espaço contínuo ao Largo Salvador e embora não possuindo lugares autorizados para estacionamento, verificou-se que este se efectua de forma ilegal em torno da placa existente no centro do Largo e junto aos passeios, dificultando a normal fluidez de tráfego.

Por se tratarem de espaços adjacentes quer em termos físicos com funcionais, que qualquer intervenção para estes espaços deverá ser pensada conjuntamente.

Fotografia 124 - Estacionamento no Largo 5 de Outubro

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- Largo do Côrro

Á semelhança dos dois largos anteriores, também aqui o número de lugares de estacionamento se revela insuficiente face à procura registada, verificando-se estacionamento ilegal em 2ª fila e em cima dos passeios, em especial de ambulâncias.

A oferta actual é de 26 lugares marcados no pavimento, com tudo as taxas de ocupação ao longo do dia são superiores a 100%.

Fotografias 125, 126, 127 e 128 – Estacionamento no Largo do Côrro

- Largo 25 de Abril

Com capacidade para cerca de 50 viaturas, a ausência de marcação dos lugares justifica o estacionamento “anárquico” que se verifica neste espaço, pelo que se justifica o ordenamento do mesmo.

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Fotografias 129 e 130 – Estacionamento no Largo 25 de Abril

Em suma, a apropriação do espaço público por parte do automóvel é a sensação dominante para os utilizadores dos referidos largos. Fruto da ocupação abusiva resultam problemas de circulação e degradação do ambiente urbano e degeneração destes espaços dos usos originais. Esta situação é acompanhada pela degradação dos passeios e a existência de outros obstáculos à circulação pedonal.

O quadro que se segue sintetiza a relação oferta procura nos espaços idebtificados como de maior procura no centro histórico, sendo de salientar que apesar da elevada procura, o largo 25 de Abril possui uma reserva de capacidade de cerca de 20%, ou seja, existem ainda alguns lugares disponíveis face à procura verificada ao longo de todo dia.

Os cálculos efectuados e aqui apresentados referem-se aos períodos de maior procura.

Quadro 1 – Taxa de ocupação nos principais largos

Manhã Período almoço Tarde Média Diária

Largo 25 de Abril 80% 70% 90% 80% Largo do Côrro 170% 150% 120% 147% Largo Salvador 110% 100% 100% 103% Largo S.Paulo 100% 100% 100% 100%

6.1.4. Circulação pedonal No que respeita às zonas de vivência pedonal, apresentam-se planta 21256-PP-012 (em anexo) as respectivas localizações. Estas encontram-se localizadas junto à Praça da República, Zona das Ruas dos Lagares, das Cruzes e dos Quintais, junto ao Jardim Municipal e uma parte da Rua do Calvário.

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Fotografias 131, 132, 133 e 134 – Praça da República e Rua do Calvário

Tal como referido anteriormente, na zona “intra muros” a maioria das ruas apresentam características físicas desfavoráveis ao tráfego automóvel, pelo que deverão constituir canais, preferencialmente para circulação pedonal.

6.1.5. Transportes públicos O reduzido perfil transversal destas vias condiciona a circulação de autocarros afectos a transportes públicos, permitindo apenas a circulação de veículos de dimensão reduzida (tipo mini bus), o que em parte justifica a inexistência de serviços no centro histórico da cidade.

A inexistência deste tipo de serviços estimula as deslocações em transporte individual, contribuindo para acréscimo das deslocações motorizadas na área em estudo.

Igualmente importante referir, que a Câmara Municipal de Serpa, no âmbito da semana Europeia da Mobilidade, ensaiou o funcionamento de uma carreira urbana, que embora não efectuando nenhum atravessamento intra muros, servia alguns dos principais equipamentos e pólos de comércio e serviços da cidade, passando muito próximo das muralhas da cidade. Embora não existindo dados sobre a procura da carreira, indicações fornecidas pela Câmara indicam uma boa adesão a este serviço.

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6.1.6. Cargas e descargas As cargas e descargas ocorrem na via pública e a qualquer hora do dia, não existindo regulamento municipal específico para o efeito. Esta situação gera dificuldades em efectuar estas operações e entra sistematicamente em rota de colisão com a circulação automóvel.

Refira-se a título de exemplo, que para abastecimento de alguns estabelecimentos comerciais no centro histórico, a carrinha de abastecimento pára junto à Porta de Beja, coloca um sinal de proibição temporária de circulação e efectua a descarga, impedido a normal circulação do trânsito, e impedido o acesso ao centro por este canal.

Do levantamento efectuado na área em estudo, constatou-se na generalidade a ausência de lugares especificamente destinados a este tipo de operações.

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7. REDES DE INFRA-ESTRUTURAS URBANÍSTICAS

7.1. INTRODUÇÃO A caracterização da situação das infraestuturas encontra-se sintetizada nas peças desenhadas que se apresentam à escala 1: 1000 – designadamente : Plantas de Infraestuturas I e II – 013 e 014.

7.2. REDE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA

7.2.1. Caracterização da rede A Rede de distribuição de água existente foi concebida nos finais dos anos 40 e integra, dentro desta, uma rede anterior que apenas servia os fontanários da Cidade. O material utilizado na concepção das condutas desta rede foi o fibrocimento.

No que concerne às perdas de água na rede, os únicos registos existentes apontam para valores da ordem dos 35% (este valor deverá ser inferior à falta de rigor inerente aos meios utilizados na medição de perdas).

No âmbito do “Plano de Reabilitação Urbana do Centro Histórico de Serpa” de 1995 foi efectuado um estudo de caracterização no qual foram identificados os principais problemas da rede e estabelecidos os seguintes objectivos de reabilitação/remodelação:

Reabilitação da rede de abastecimento (uma vez que a rede existente se encontra à mas de 40 anos em funcionamento);

Redução das perdas de água na rede;

Renovação da rede em articulação com as restantes propostas de reabilitação urbana, em particular as referentes às restantes infraestruturas e aos pavimentos;

Integração do abastecimento de água numa perspectiva mais global, de gestão racional de recursos hídricos da Cidade e da região.

Desde a realização do Plano de 1995 até à actualidade foram efectuadas as seguintes reabilitações:

Reabilitação de cerca de 60% da rede existente em paralelo com a substituição de pavimentos;

Substituição das tubagens em fibrocimento para tubagens em PVC;

Substituição das válvulas de seccionamento nas zonas que foram alvo de beneficiação do pavimento;

Colocação de contadores em pontos de consumo onde estes não existiam.

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7.3. REDE DE DRENAGEM DE ÁGUAS RESIDUAIS DOMÉSTICAS

7.3.1. Caracterização da rede A Rede colectora de águas residuais domésticas, foi construída nos anos 60/70, e teve como critério de concepção a duplicação da população em horizonte de projecto. Este cenário não se verificou, razão pela qual, o sistema ainda tem actualmente capacidade para servir a cidade.

Tem sido efectuada manutenção regular a esta rede, uma vez que é uma rede gravítica e o diagnóstico de funcionamento é rapidamente efectuado através dos acessos existentes através das caixas de visita.

Uma vez que o horizonte de projecto deste sistema se encontra ultrapassado, os materiais das condutas e acessórios constituintes da rede já não garantem o isolamento e as propriedades físicas dos mesmos, deverá ser efectuada uma campanha de monitorização de perdas e fugas do sistema, com o objectivo de avaliar o estado do sistema e a necessidade de reabilitação de alguns troços.

No âmbito do Plano de Reabilitação Urbana do Centro histórico de Serpa foram registados os principais problemas da rede e estabelecidos os seguintes objectivos:

Manutenção do bom funcionamento do sistema;

Extinção das ligações indevidas de particulares ao sistema de águas pluviais.

Desde a realização do plano anterior até à actualidade foram efectuadas as seguintes reabilitações:

Reabilitação de cerca de 60% da rede existente em paralelo com a substituição de pavimentos;

Operações de manutenção para conservação do bom funcionamento do sistema

7.4. REDE DE DRENAGEM DE ÁGUAS RESIDUAIS PLUVIAIS

7.4.1. Caracterização da rede A Rede Colectora de águas residuais pluviais, foi construída paralelamente à rede de águas residuais, pelo que a sua execução data dos anos 60/70. Esta rede embora tenha uma menor extensão do que as duas anteriores, cobre toda a zona de intervenção do plano.

No âmbito do “Plano de Reabilitação Urbana do Centro Histórico de Serpa” de 1995 foi efectuado um diagnóstico que aponta para uma falta de capacidade de drenagem em situação de caudais cheia em troços pontuais da rede.

Os objectivos patentes no plano supracitado são os seguintes:

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Reabilitação do sistema de drenagem de forma a melhorar o seu nível de serviço;

Remodelação dos troços em que se verifica a falta de capacidade de vazão.

Desde a realização do Plano de 1995 até à actualidade foram efectuadas as seguintes reabilitações:

Remodelação dos troços que provocavam cheias devido à falta de capacidade do sistema;

Operações de manutenção para conservação do bom funcionamento do sistema

Tal como se encontra referido relativamente ao sistema de drenagem de águas residuais, consideramos que deverá ser conduzida uma campanha de monitorização de perdas e fugas, para verificar o isolamento garantido e as propriedades físicas dos materiais constituintes da rede.

7.5. REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA

7.5.1. Caracterização da rede

Toda a zona de intervenção encontra-se coberta pela rede de distribuição de energia eléctrica.

A rede de distribuição é maioritáriamente caracterizada pela instalação de canalizações eléctricas aéreas, nas fachadas dos edifícios.

Na área de intervenção salienta-se a existência de Postos de Transformação e armários de distribuição instalados em locais pouco enquadrados com a envolvente, o que desqualifica o ambiente urbano.

No âmbito do “Plano de Reabilitação Urbana do Centro Histórico de Serpa” de 1995 foi efectuado um diagnóstico/proposta que aponta para a substituição das canalizações eléctricas aéreas nas fachadas dos edifícios por cabo subterrâneo.

As Intervenções no Espaço Publico desde então foram concebidas e executadas de modo a garantir o enterramento das infraestruturas de distribuição eléctrica, salienta-se nomeadamente a intervenção no Largo da Republica.

Consumos - Não se prevê que seja necessário incrementar a capacidade da rede, considerando-se que o consumo de mantêm a um nível relativamente baixo.

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8. DINÂMICA DEMOGRÁFICA E SÓCIO-ECONÓMICA

8.1. DEMOGRAFIA

8.1.1. Tendências Regionais Nas últimas duas décadas a Região Alentejo entrou num período de estagnação/declínio demográfico motivado pela quebra abrupta dos níveis de fecundidade e pelo envelhecimento crescente da população (duplo envelhecimento, em função da diminuição dos mais jovens e do aumento do peso relativo dos mais idosos).

Esta situação resultou da saída massiva da população em idade activa para os grandes centros urbanos do litoral nas décadas anteriores. Actualmente já não pesam tanto os movimentos migratórios para o litoral, e para o exterior, mas assiste-se a uma redistribuição da população residente na Região assente no crescimento populacional dos centros urbanos regionais mais importantes à custa do despovoamento das áreas rurais.

Gráfico 10 - População residente na Região Alentejo (NUT III), 1981 – 2001

020000400006000080000

100000120000140000160000180000200000

Alto Alentejo Alentejo Central Baixo Alentejo Alentejo Litoral

População 81População 91População 01

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População. A Região Alentejo encerra em si realidades sócio-demográficas relativamente distintas. Apesar de em todas as Sub-regiões (NUT III) do Alentejo se ter registado uma diminuição da população residente na década de 80, os anos 90 foram palco de uma inversão na dinâmica demográfica no Alentejo Central e no Alentejo Litoral, apresentando taxas de variação positivas. O Baixo Alentejo tem vindo a apresentar uma regressão populacional ao longo das últimas décadas, embora esse decréscimo tenha sido mais acentuado na década de 80 (Gráfico 10 e Gráfico 11).

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Gráfico 11 - Taxas de variação da população na Região Alentejo (NUT III), 1981/91 e 1991/01

-12,0%

-10,0%

-8,0%

-6,0%

-4,0%

-2,0%

0,0%

2,0%

4,0%

Alto Alentejo

Alentejo Central

Baixo Alentejo

Alentejo Litoral

Taxa Var 81-91 Taxa Var 91-01

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População.

Na Sub-região do Baixo Alentejo a generalidade dos concelhos apresentou um decréscimo populacional entre 1991 e 2005. O concelho de Alvito foi o único no período em análise a evidenciar uma evolução positiva, embora nos últimos anos essa dinâmica de crescimento tenha conhecido um abrandamento. Também o concelho de Castro Verde, com uma dinâmica demográfica negativa na década de 90, conseguiu inverter essa situação nos últimos anos a avaliar pelas estimativas da população residente publicadas pelo INE para o ano de 2005. O concelho de Serpa tem vindo a perder população, embora a um ritmo inferior nestes últimos anos (Gráfico 12).

Gráfico 12 - Taxas de variação da população nos concelhos do Alto Alentejo, 1991/2001

-14,0

-12,0

-10,0

-8,0

-6,0

-4,0

-2,0

0,0

2,0

4,0

Alju

stre

l

Alm

odôv

ar

Alvi

to

Barra

ncos

Beja

Cas

tro V

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Cub

a

Ferre

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tola

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ra

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Serp

a

Vidi

guei

ra

(%) 1991/2001

2001/2005*

* - os dados de 2005 dizem respeito a estimativas da população residente.

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População.

INE, Estimativas da População Residente.

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Os cenários voluntaristas apontam para a continuação da regressão demográfica na Região a curto/médio prazo. A inversão desta situação está, assim, manifestamente, dependente da capacidade da Região em conseguir fixar a população residente e em atrair população jovem e em idade de procriar. A alteração do modelo de desenvolvimento regional, e das premissas que o sustentam, revela-se cada vez mais como um imperativo à dinamização da Região Alentejo e à sua sobrevivência num contexto de elevada competitividade territorial.

8.1.2. Quadro Demográfico Concelhio e Local

8.1.2.1 Evolução e distribuição da população A evolução da população residente do concelho de Serpa no último período inter-censitário ficou marcada por uma redução do efectivo populacional em cerca de 1.192 indivíduos, correspondendo a um decréscimo relativo de menos 6,7%.

Todavia, este comportamento demográfico, globalmente regressivo, encerra em si dinâmicas demográficas internas dispares, nomeadamente o reforço populacional do centro urbano de maior dimensão – a cidade de Serpa – que se tem vindo a fazer a expensas do esvaziamento demográfico das povoações rurais.

De facto, entre 1991 e 2001 a freguesia urbana de S. Salvador foi a única a registar um aumento da sua população, em cerca de 416 indivíduos. A outra freguesia urbana, Santa Maria, apresentou um comportamento distinto, tendo perdido população nesse período. A cidade de Serpa apresenta-se como uma centralidade atractiva, com um efectivo populacional de 5.201 habitantes em 2001, mais 250 indivíduos do que em 1991 (acréscimo de 5%).

A população que se tem vindo a instalar na cidade de Serpa fixa-se fundamentalmente nas áreas urbanas mais recentes. O Centro Histórico (Área de Intervenção), por sua vez, tem vindo a perder população, como se pode observar no Quadro 2, afirmando-se como uma área demograficamente repulsiva. Em 2001 residiam na área de intervenção do Plano de Salvaguarda 2.510 habitantes, menos 496 indivíduos que no ano de 1991 (decréscimo de 16,5%). Todavia, importa salientar o elevado peso demográfico do Centro Histórico na globalidade da Cidade de Serpa, concentrando cerca de 48,3% da população residente em 2001.

Quadro 2 - População residente em 1991 e 2001 e taxas de variação inter-censitárias

População Residente

Variação Inter-censitária 91/01

1991 2001 N.º % Concelho de Serpa 17.915 16.723 -1.192 -6,7 Cidade de Serpa 4.951 5.201 250 5,0 Área de Intervenção 3.006 2.510 -496 -16,5

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População 1991 e 2001

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No interior da Área de Intervenção verifica-se que a população residente em 2001 concentra-se nos quarteirões mais periféricos do Centro Histórico (Figura 2, apresentada em Anexo ), designadamente nas sub-secções estatísticas 1.07(M), 3.01(M), 3.02(M) e 2.14(M) na freguesia de Santa Maria e nas sub-secções estatísticas 1.04(S), 1.05(S) e 1.09(S) na freguesia de São Salvador, todas elas com um efectivo populacional entre 64 e 108 indivíduos.

Como já referido, a Área de Intervenção revela-se globalmente repulsiva em termos demográficos, tendo vindo a perder população nos últimos anos. Todavia, algumas sub-secções estatísticas, com um predomínio das pertencentes ao núcleo mais central da Área de Intervenção, têm vindo a registar acréscimos populacionais (Figura 3, apresentada em Anexo), como é o caso das 3.03(S), 3.12(S), 3.02(S), 3.05(S), 1.11(S), 2.08(S), 2.07(S), 2.09(S), 2.10(S), 2.02(S), pertencentes à freguesia de São Salvador, e as 4.05(M), 3.14(M), 3.08(M), 3.02(M), 3.18(M) e 2.09(M), pertencentes à freguesia de Santa Maria.

A distribuição da população no território pode ser aferida através da sua densidade. No Quadro 2.1.2 apresenta-se a densidade da população por hectare para os anos censitários de 1991 e 2001. Constata-se que na Área de Intervenção a densidade populacional em 2001 é significativamente mais elevada (49,1 habitantes/ha) que a da Cidade de Serpa na sua globalidade (15,2 habitantes/ha).

Quadro 3 - Densidade populacional em 1991 e 2001

Densidade populacional (N.º Hab./Ha)

1991 2001 Concelho de Serpa 0,16 0,15 Cidade de Serpa 14,4 15,2 Área de Intervenção 58,8 49,1

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População 1991 e 2001

8.1.2.2 Dinâmica demográfica A dinâmica demográfica no concelho de Serpa tem sido pautada nas últimas décadas pela conjugação de saldos naturais e migratórios negativos. Esta conjugação foi responsável pela diminuição da população residente e por alterações significativas na estrutura demográfica, nomeadamente o envelhecimento populacional.

No Gráfico 10 apresenta-se a evolução do saldo natural da população residente para o concelho de Serpa e para as duas freguesias urbanas, Santa Maria e São Salvador. O saldo natural expressa a relação entre a mortalidade e a natalidade. Como se pode observar pela figura seguinte, a evolução do saldo natural da população nas unidades territoriais em análise foi negativa nestes últimos anos.

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Esta situação associada a uma tendência tradicionalmente negativa a nível dos movimentos migratórios tem sido responsável pelo decréscimo populacional nos últimos anos. Por outro lado, a incapacidade de renovação das gerações tem promovido um envelhecimento progressivo das estruturas demográficas como se verá a seguir.

Gráfico 13 - Evolução do Saldo Natural da População entre 1996 e 2002

-200-180-160-140-120-100-80-60-40-20

01996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Anos

N.º I

ndiv

íduo

s

Concelho Serpa Freguesia S. Salvador Freguesia Sta. Maria

Fonte: INE, Estatísticas Demográficas

8.1.2.3 Estrutura etária A estrutura etária das unidades territoriais em análise está expressa nos quadros seguintes. De uma forma geral, constata-se que a população residente no Concelho, na Cidade e na Área de Intervenção está a envelhecer progressivamente.

Em 2001 cerca de 11,8% da população residente na Área de Intervenção era constituída por jovens com menos de 15 anos, enquanto que os idosos representavam 23,5%. Ou seja, por cada jovem existiam 2 idosos, situação atestada pelo índice de envelhecimento de apresentado em 2001 (199,0).

A Área de Intervenção evidencia uma estrutura demográfica mais envelhecida que a da Cidade e do Concelho de Serpa. De referir que a Cidade de Serpa é no conjunto das unidades territoriais em análise a que apresenta uma população mais jovem, o que permite concluir que é nos quarteirões mais periféricos e recentes da Cidade que se concentra em termos absolutos a população mais jovem.

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Quadro 4 - Distribuição da população residente por grandes grupos etários, 1991 e 2001 (valores absolutos)

0 – 13 anos 14 – 64 anos 65 e mais anos 1991 2001 1991 2001 1991 2001

Concelho de Serpa 2.194 1.600 12.065 11.052 3.656 4.071 Cidade de Serpa 838 777 3.213 3.717 900 1.049 Área de Intervenção 457 297 1.984 1.793 565 591

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População 1991 e 2001

Quadro 5 - Distribuição da população residente por grandes grupos etários, 1991 e 2001 (valores relativos)

0 – 13 anos (%) 14 – 64 anos (%) 65 e mais anos (%) 1991 2001 1991 2001 1991 2001

Concelho de Serpa 12,2 9,6 72,1 66,1 20,4 24,3 Cidade de Serpa 16,9 14,9 61,8 71,5 18,2 20,2 Área de Intervenção 15,2 11,8 79,0 71,4 18,8 23,5

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População 1991 e 2001

Quadro 6 - Índices-Resumo da Estrutura Demográfica

Tx. Dependência Jovens (%)

Tx. Dependência Idosos (%)

Índice de Envelhecimento

1991 2001 1991 2001 1991 2001 Concelho de Serpa 16,8 13,8 20,4 24,3 121,3 175,8 Cidade de Serpa 16,9 14,9 18,2 20,2 107,4 135,0 Área de Intervenção 15,2 11,8 18,8 23,5 123,6 199,0

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População 1991 e 2001

Importa, no entanto, analisar a distribuição espacial da população jovem e da população idosa na Área de Intervenção.

Na Figura 4 (apresentada em Anexo) representa-se a proporção de jovens em 2001 em cada uma das subsecções em análise. As subsecções estatísticas com uma estrutura demográfica mais jovem (não as que concentram maior número de jovens em termos absolutos) são as 3.17(M) e 3.25(M) na freguesia de Santa Maria e as 2.07(S), 2.09(S), 3.03(S) e 3.12(S) na freguesia de São Salvador.

Por sua vez, na Figura 5 (apresentada em Anexo) representa-se a proporção de idosos em 2001 em cada uma das subsecções em análise. As subsecções estatísticas com uma estrutura demográfica mais envelhecida são 1.11(M), 3.27(M), 3.21(M), 3.14(M), 1.05(M), 2.03(M), 1.07(M), 3.05(M), 3.13(M), 4.04(M), 4.05(M), 4.07(M) e 1.09(M) na freguesia de Santa Maria e 1.07(S), 3.06(S), 1.03(S), 2.03(S), 1.09(S), 3.02(S), 3.04(S), 3.05(S), 3.08(S) e 3.07(S), todas com valores percentuais superiores a 25%.

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8.1.2.4 Famílias Em 2001 foram contabilizadas 967 famílias na Área de Intervenção, menos 64 que em 1991 (Quadro 4). Esta tendência é contrária à evolução registada na Cidade e no Concelho de Serpa em que o número de famílias aumentou ao longo do último período inter-censitário. Se a variação do número de famílias na Área de Intervenção e na Cidade de Serpa poderá estar directamente relacionada com a evolução demográfica registada, o aumento de famílias no Concelho parece dever-se mais às alterações na estrutura familiar, com o surgimento de novos modelos de família (ex. famílias monoparentais).

A dimensão média da família na Área de Intervenção em 2001 rondava os 2,6 indivíduos (Quadro 4), tendo decrescido face a 1991 (2,9). De referir que a dimensão média da família na Área de Intervenção é inferior aos valores apresentados pela Cidade e pelo Concelho de Serpa, situação que poderá relacionar-se com a própria estrutura etária da população, com um peso maior de indivíduos idosos.

Quadro 7 - Número de famílias clássicas e dimensão média das famílias, 1991 e 2001

N.º Famílias Clássicas

Dimensão Média da Família

1991 2001 1991 2001 Concelho de Serpa 5.991 6.077 3,0 2,8 Cidade de Serpa 1.602 1.807 3,1 2,9 Área de Intervenção 1.031 967 2,9 2,6

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População 1991 e 2001

Na Figura 6 (apresentada em Anexo) representa-se a distribuição do número de famílias no interior da Área de Intervenção em 2001. As subsecções estatísticas com maior número de famílias são 1.07(M) e 2.14(M) na freguesia de Santa Maria e 1.04(S), 1.05(S), 1.09(S), 3.02(S) e 3.10(S) na freguesia de São Salvador, todas elas com mais de 26 famílias.

Por sua vez, na Figura 7 (apresentada em Anexo) representa-se a taxa de variação do número de famílias relativa ao último período inter-censitário. As subsecções estatísticas que registaram um aumento do número de famílias foram 4.05(M), 3.21(M), 3.20(M), 3.25(M), 2.03(M), 3.01(M) e 3.02(M) da freguesia de Santa Maria e 2.05(S), 3.03(S), 3.05(S), 3.04(S), 3.02(S), 3.12(S), 1.03(S), 2.07(S), 2.09(S), 2.10(S), 2.08(S), 2.02(S) e 2.01(S) da freguesia de São Salvador.

Na Figura 8 (apresentada em Anexo) representa-se a dimensão média da família em cada subsecção no interior da Área de Estudo.

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8.2. ESTRUTURA SÓCIO-ECONÓMICA

8.2.1. Condição da População Perante o Emprego Para a análise da condição da população activa perante o emprego considerou-se o nível de instrução, a taxa de actividade, a distribuição da população empregada por sectores de actividade e a taxa de desemprego.

De uma forma geral constata-se que a população residente na Área de Intervenção possuía em 2001 um nível de instrução escolar inferior à média concelhia e da Cidade de Serpa. Exceptuando o 3.º Ciclo do Ensino Básico, a Área de Intervenção apresenta nos restantes níveis de ensino resultados inferiores aos das restantes unidades territoriais em análise. Esta situação poderá relacionar-se com o significativo peso relativo da população idosa na estrutura demográfica, reflectindo-se naturalmente em níveis de instrução também mais baixos.

Quadro 8 - Nível de instrução da população residente em 2001

Ensino Básico (%) Ensino Secundário

(%)

Ensino Médio

(%)

Ensino Superior

(%) 1.º Ciclo 2.º Ciclo 3.º Ciclo

Concelho de Serpa 36,9 12,8 9,9 11,0 0,3 5,6 Cidade de Serpa 25,4 11,7 14,6 11,0 0,5 5,7 Área de Intervenção 29,4 11,3 13,5 10,5 0,5 5,1

Fonte: INE, Recenseamento Geral da População de 2001

Apesar do agravamento do processo de envelhecimento da população, no último período inter-censitário assistiu-se ao reforço da taxa de actividade da população (Quadro 9). Esta situação resulta certamente do reforço da presença da população activa feminina no mercado de trabalho.

Em 2001 a taxa de actividade da população residente situava-se nos 40,4%, ligeiramente acima da média da Cidade de Serpa (39,7%), mas inferior à média concelhia (40,4%). Todavia, os valores apresentados são baixos, estando mais uma vez relacionado com o envelhecimento demográfico e uma menor participação da população no mercado de trabalho.

Quadro 9 - Taxa de Actividade e população empregada por sectores de actividade em 1991 e 2001

Taxa de Actividade

Sector I Sector II Sector III

1991 2001 1991 2001 1991 2001 1991 2001 Concelho de Serpa 39,0 42,5 34,0 22,7 18,8 20,7 47,2 56,6 Cidade de Serpa 35,7 39,7 16,8 7,6 16,6 15,8 66,5 76,6 Área de Intervenção 36,9 40,4 14,0 8,4 18,4 18,5 67,6 73,1

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População de 1991 e 2001

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Relativamente à distribuição da população activa por sectores de actividade (Quadro 9), constata-se que entre 1991 e 2001 assistiu-se por um lado a uma redução significativa da população afecta ao sector primário e a um crescimento relevante da população a laborar em actividades de comércio e serviços. Este fenómeno verificou-se em todas as unidades territoriais em análise.

Em 2001 a grande maioria da população activa residente na Área de Intervenção laborava no sector terciário, com 73,1%, seguido do sector secundário com 18,5% e por último o sector primário com 8,4%. Todavia, cabe salientar que as actividades agrícolas ainda desempenham um peso importante como sector aglutinador de mão-de-obra local.

As taxas de desemprego diminuíram no concelho de Serpa ao longo do último período inter-censitário, passando de 21,9% em 1991 para 16,5% em 2001.

Em 2001 a taxa de desemprego da população na Área de Intervenção situava-se em torno dos 11,7%, tratando-se de um valor bastante elevado, embora muito inferior à média concelhia. Do total de desempregados nesse ano, cerca de 80,6% encontravam-se à procura de novo emprego e somente 19,4% procuravam primeiro emprego.

Quadro 10 - Taxa de Desemprego, 1991 e 2001

Taxa de Desemprego (%)

Desempregados 2001 (%)

1991 2001 1.º Emprego

Novo Emprego

Concelho de Serpa 21,9 16,5 13,4 86,6 Cidade de Serpa 12,4 13,0 23,6 76,4 Área de Intervenção 11,2 11,7 19,4 80,6

Fonte: INE, Recenseamentos Gerais da População 1991 e 2001

8.2.2. Base Económica A caracterização da base económica que em seguida se apresenta assenta em diferentes escalas de análise e âmbitos de abordagem.

A análise da estrutura empresarial concelhia centra-se na identificação dos ramos de actividade económica mais relevantes no que respeita ao número de empresas, volume de emprego e volume de negócios, atendendo ainda à dinâmica registada nos últimos anos e ao peso relativo de Serpa na base económica da sub-região Baixo Alentejo.

Esta análise é complementada com uma caracterização sumária dos principais sectores de actividade existentes no Concelho, enquadrando a análise da estrutura económica da Área de Intervenção.

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8.2.2.1. Estrutura empresarial concelhia De acordo com os dados fornecidos pelo INE, em 2005 a base económica do concelho de Serpa era constituída por 1.972 empresas pertencentes a vários ramos de actividade (Quadro 11). Todavia, somente quatro ramos de actividade concentravam cerca de 83,4% do total de empresas existentes: o Comércio por Grosso e a Retalho (31,2%), a Agricultura e Pecuária (25,4%), o Alojamento e Restauração (14,7%) e a Construção Civil (12,1%).

Entre 1999 e 2005 o tecido empresarial do Concelho cresceu cerca de 11,0%. Os ramos de actividade que mais cresceram nesse período em termos relativos foram as Outras Actividades (mais 55,6%), as Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas (mais 32,5%), os Transportes, Armazenagem e Comunicações (mais 32,3%) e a Construção (mais 32,0%).

As empresas sediadas no concelho de Serpa representam cerca de 12,6% do total de empresas existentes na Sub-região do Baixo Alentejo. Os ramos de actividade no Concelho com maior expressão quanto ao número de empresas no contexto do sub-regional são a Agricultura e Pecuária (13,6%), o Alojamento e Restauração (13,6%), os Transportes, Armazenagem e Comunicações (13,3%) e o Comércio por Grosso e a Retalho (13,0%).

Quadro 11 - Empresas com sede no concelho de Serpa em 2005

N.º Empresas 2005

Variação 2005/1999

Peso do Concelho na Sub-Região

2005

V.A. % % %

Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura 501 25,4 2,9 13,6

Indústria Extractiva 1 0,1 0,0 12,5

Indústria Transformadora 132 6,7 0,8 12,5

Construção 239 12,1 32,0 12,2

Comércio por Grosso e a Retalho 616 31,2 13,2 13,0

Alojamento e Restauração 289 14,7 25,7 13,6

Transportes, Armazenagem e Comunicações 41 2,1 32,3 13,3

Actividades Financeiras 30 1,5 11,1 10,4

Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas

53 2,7 32,5 6,7

Outras Actividades 70 3,5 55,6 9,6

TOTAL 1972 100,0 11,0 12,6

Fonte: INE, Anuários Estatísticos da Região Alentejo.

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Do total de empresas existentes em Serpa cerca de 16,6% dizem respeito a Sociedades (Quadro 12). A maior parte das Sociedades existentes pertencem aos ramos do Comércio por Grosso e a Retalho (32,4%) e à Agricultura e Pecuária (22,6%). Neste Concelho são as Sociedades dos ramos da Indústria Extractiva. Da Construção Civil e da Indústria Transformadora que maior expressão têm no contexto sub-regional.

Quadro 12 - Sociedades com sede no concelho de Serpa em 2005

N.º Sociedades

2005

Variação 2005/1999

Peso do Concelho na Sub-Região

2005

V.A. % % %

Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura 74 22,6 105,6 10,4

Indústria Extractiva 1 0,3 0,0 14,3

Indústria Transformadora 33 10,1 32,0 12,1

Construção 35 10,7 250,0 13,5

Comércio por Grosso e a Retalho 106 32,4 51,4 11,6

Alojamento e Restauração 26 8,0 44,4 10,7

Transportes, Armazenagem e Comunicações 14 4,3 366,7 8,9

Actividades Financeiras 1 0,3 0,0 7,7

Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas

18 5,5 80,0 5,8

Outras Actividades 19 5,8 533,3 8,2

TOTAL 327 100,0 83,7 10,5

Fonte: INE, Anuários Estatísticos da Região Alentejo.

O conjunto de Sociedades presentes no concelho de Serpa em 2004 era responsável por 1.211 postos de trabalho, cabendo aos ramos do Comércio por Grosso e a Retalho (34,2%) e da Agricultura e Pecuária (24,3%) a maior concentração de número de empregos nas Sociedades instaladas (Quadro 13).

Os ramos de actividade que mais cresceram em número de postos de trabalho entre 1998 e 2004, em termos relativos, foram a Construção Civil, os Transportes, Armazenagem e Comunicações e as Outras Actividades (serviços públicos).

O peso relativo do concelho de Serpa no contexto sub-regional no que respeita ao volume de postos de trabalho afectos às Sociedades situava-se em 2004 em torno dos 7,9%. Os ramos mais representativos são a Agricultura e Pecuária (17,2%), a Construção Civil (12,1), a Indústria Transformadora (11,2%) e o Comércio por Grosso e a Retalho (10,6%).

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Quadro 13 - Pessoal ao Serviço nas Sociedades com sede no concelho de Serpa em 2004

N.º Trabalhadores

2004

Variação 2004/1998

Peso do Concelho na Sub-Região

2004

V.A. % % %

Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura 294 24,3 11,8 17,2

Indústria Extractiva ... … … …

Indústria Transformadora 178 14,7 49,6 11,2

Construção 160 13,2 300,0 12,1

Comércio por Grosso e a Retalho 414 34,2 47,9 10,6

Alojamento e Restauração 65 5,4 58,5 9,4

Transportes, Armazenagem e Comunicações 24 2,0 200,0 7,2

Actividades Financeiras ... … … …

Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas

42 3,5 90,9 4,0

Outras Actividades 26 2,1 188,9 0,9

TOTAL 1211 100,0 52,1 7,9

Fonte: INE, Anuários Estatísticos da Região Alentejo.

As Sociedades sediadas no concelho de Serpa em 2004 foram responsáveis por um volume de negócios de cerca de 92,6 milhões de Euros (Quadro 14). Os ramos de actividade que mais contribuem para a riqueza gerada no concelho de Serpa são o Comércio por Grosso e a Retalho (54,8%), seguido pela Indústria Transformadora (22,7%).

Entre 1998 e 2004 as Sociedades sediadas no Concelho registaram um aumento do volume de negócios na ordem dos 130,3%. Os ramos de actividade que apresentaram um maior crescimento relativo do volume de negócios nesse período foram as Outras Actividades, a Construção Civil, os Transportes, Armazenagem e Comunicações e a Indústria Transformadora.

Em 2004, o volume de negócios gerado pelas Sociedades do concelho de Serpa representava cerca de 8,4% do volume total de negócios associados às Sociedades do Baixo Alentejo.

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Quadro 14 - Volume de Negócios nas Sociedades com sede no concelho de Serpa em 2004

Volume de Negócios 2004

Variação 2004/1998

Peso do Concelho na Sub-Região

2004

Mil Euros

% % %

Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura 6769,0 7,3 197,5 6,1

Indústria Extractiva … … … …

Indústria Transformadora 21002,1 22,7 220,6 20,0

Construção 6213,6 6,7 478,0 11,3

Comércio por Grosso e a Retalho 50761,0 54,8 88,8 10,1

Alojamento e Restauração 1910,2 2,1 140,3 9,9

Transportes, Armazenagem e Comunicações 838,3 0,9 281,0 4,9

Actividades Financeiras … … … …

Actividades Imobiliárias, Alugueres e Serviços Prestados às Empresas

3171,5 3,4 90,5 8,4

Outras Actividades 815,5 0,9 579,6 1,4

TOTAL 92615,3 100,0 130,3 8,4

Fonte: INE, Anuários Estatísticos da Região Alentejo.

8.2.3. Sectores de Actividade

8.2.3.1. Agricultura, Pecuária e Silvicultura O desenvolvimento do sector agro-pecuário no concelho de Serpa nos últimos anos tem seguido as transformações estruturais que marcaram o sector a nível regional. Assistiu-se no passado recente a uma diminuição da população activa afecta ao sector, como se pôde observar anteriormente, e à redução das terras aráveis e das culturas permanentes, progressivamente substituídas por pastagens permanentes.

A actividade pecuária tem igualmente vindo a perder importância, com uma redução progressiva do número de cabeças de gado. Constitui excepção a criação de ovinos, associada à produção do queijo de Serpa. Também a criação de porco preto, após um período de declínio, voltou a demonstrar um maior dinamismo nos anos mais recentes em virtude de um aumento da procura pelos derivados deste tipo de produção.

A mão-de-obra agrícola caracteriza-se por ser fundamentalmente de carácter familiar e se apresentar bastante envelhecida.

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8.2.3.2. Indústria e Construção O sector industrial concelhio apresenta-se frágil. Como se viu anteriormente, as empresas da indústria transformadora representam unicamente 6,7% do total de empresas existentes no Concelho. Na indústria transformadora assume especial importância as indústrias alimentares, de bebidas e tabaco. A dimensão média das empresas do sector transformador ronda os 5 trabalhadores, evidenciando tratar-se de unidades empresariais de reduzida dimensão.

O sector da construção civil é responsável por cerca de 12% do total de empresas existentes no concelho de Serpa. Todavia, a dimensão média das empresas é igualmente muito reduzida, com cerca de 5 trabalhadores por unidade empresarial.

Todavia, estes dois sectores apresentam uma importância significativa para a base económica local a nível do emprego e do volume de negócios gerado.

A Cidade de Serpa possui uma Zona Industrial vocacionada para a instalação de pequenas e médias empresas não poluentes, com uma área total de 244.977 m2. Os lotes têm entre 900 e 5000 m2, sendo que os de menor dimensão destinam-se à implantação de armazéns ou oficinas. De acordo com o Diagnóstico da Rede Social de Serpa, datado de 2004, nesta Zona Industrial sedearam-se 16 empresas, com 117 postos de trabalho, com uma média de 7.3 empregados por empresa. Foram criados mais 72 postos de trabalho, com um crescimento percentual de 160%.

Na Cidade, junto dos Bombeiros Voluntários, existe também uma Zona de Armazéns, cujos lotes já estão atribuídos.

De referir ainda a existência de mais duas Zonas de Actividades Económicas nas freguesias de Vila Nova de S. Bento e de Pias, destinadas à instalação de micro, pequenas e médias empresas.

8.2.3.3. Comércio e Serviços O sector do Comércio e Serviços apresenta-se como o sector mais importante na base económica do concelho de Serpa. Representa cerca de 55,7% do total de empresas sedeadas em Serpa, 47,2% do emprego existente e a 62,1% do volume de negócios.

O ramo do Comércio por Grosso e a Retalho domina o sector, quanto ao número de empresas, volume de emprego e volume de negócios.

O Alojamento e Restauração assume alguma importância quanto ao número de empresas, embora se apresente pouco relevante quanto ao emprego e à riqueza gerada.

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8.2.3.4. Turismo O concelho de Serpa integra a Região de Turismo Planície Dourada e os Itinerários de Turismo Cultural "Terras da Moura Encantada" e "Rota do Manuelino", promovidos pelo Programa de Incremento do Turismo Cultural (Direcção-Geral do Turismo) em parceria com a organização internacional "Museu sem Fronteiras". Estes itinerários, de âmbito nacional, permitem aos visitantes conhecer, nos seus contextos originais, os mais importantes monumentos, conjuntos arquitectónicos, sítios arqueológicos e museus.

Serpa afirma-se regional e nacionalmente pelo seu importante património natural e paisagístico, bem como pelos seus valores patrimoniais histórico-culturais e arquitectónicos.

De referir que, o facto de ser um Concelho atravessado pelo itinerário principal que constitui a ligação mais directa entre Lisboa e Sevilha tem proporcionado nos últimos anos um acréscimo significativo do número de visitantes.

Também a proximidade a Mértola, importante centro patrimonial, tem motivado um cada vez mais significativo número de visitantes e turistas, potenciando Serpa como um centro complementar no quadro das potencialidades turísticas do troço médio inferior do Guadiana.

A oferta de alojamento turístico no Concelho de Serpa classificada pela Direcção Geral de Turismo apresenta-se no Quadro 15.

Quadro 15 - Estabelecimentos turísticos classificados pela Direcção Geral de Turismo

Estabelecimento Localidade Categoria N.º de Quartos

Pousada de S. Gens Serpa Pousada (R) 16 + 2 suites Albergaria Bética Pias Albergaria 14

Residencial Beatriz Serpa Pensão Residencial 2ª 10 Casa da Muralha Serpa TER – TR 5 Casa de Serpa Serpa TER – Casa de Campo 6

Monte de Vale Perditos Vila Nova de S. Bento TER – AT 4 Monte da Portela Nova Serpa Moradia Turística 2ª 3 Parque de Campismo Serpa Parque de Campismo Capac.: 700 pessoas

Fonte: Câmara Municipal de Serpa, Agenda 21, Diagnóstico para a Sustentabilidade, Dezembro de 2005

Para além destes alojamentos existem outros indicados que não estão classificados

pela Direcção Geral de Turismo:

• Casa de Hóspedes Serpínia, situada em Serpa e dotada de 14 quartos.

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• Casa da Serra (alojamento particular), situada em Vila Verde de Ficalho, com 3 quartos.

A estada média nos estabelecimentos hoteleiros de Serpa em 2005 é de 1,5 noites, sendo a taxa de ocupação-cama (bruta) de 32,7% (superior à média da Sub-região Baixo Alentejo que no mesmo ano se situava em torno dos 25,0%).

Em 2004 foram registadas 8.967 dormidas nos estabelecimentos hoteleiros do Concelho de Serpa. Atendendo às dormidas segundo o país de residência habitual verifica-se que 97% têm origem nos países da União Europeia, sendo Portugal o principal país emissor (com 84,8%).

Relativamente ao número de visitantes, importa referir que em 2002 foram registados 13.902 visitantes no Posto de Turismo de Serpa, na sua maioria de nacionalidade portuguesa (66%).

Para além da riqueza patrimonial, arquitectónica, arqueológica e natural, Serpa dispõe de um conjunto vasto de outros motivos de interesse turístico, nomeadamente as Festas e Feiras, o Artesanato, a Gastronomia e os Produtos Tradicionais.

Festas:

FESTA EM HONRA DE NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

Tem a duração de 5 dias e inicia-se na Sexta-feira da Paixão e termina na Terça-feira seguinte, que é feriado municipal. É considerada a festa do Concelho. Realiza-se em Serpa.

FESTA DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS

Realiza-se no 1º fim-de-semana de Fevereiro em Serpa. Consiste numa procissão e romaria circunscritas à área da ermida da Senhora dos Remédios.

FESTA DE S. BRÁS

Realiza-se no último fim-de-semana de Maio, em Serpa, com romaria circunscrita à área de S. Brás.

FESTA DE S. PEDRO

Realiza-se nos dias a 29 de Junho em Serpa. É a festa dos pastores de Serpa, com romaria, procissão e festas populares com marchas.

FESTA DE SANTA’ANA

Realiza-se nos dias 28 e 29 de Julho em Serpa. Romaria circunscrita à área de Sant’Ana.

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FESTAS DE S. SEBASTIÃO

Realizam-se no Domingo mais próximo do dia 20 de Janeiro em Vila Nova de S. Bento.

FESTAS DE S. LUÍS E SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Realizam-se no último fim-de-semana de Agosto em Pias.

FESTAS DE S. JOÃO

Realizam-se a 24 de Junho em Pias. Fazem-se os Jordões e os Mastros e canta-se

ao S. João.

FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO OU JUBILEU DE NOSSA SENHORA

Tem a duração de 3 dias e realiza-se nos 15 dias seguintes à Páscoa em Brinches.

PROCISSÃO DAS VELAS

Realiza-se de 4 em 4 anos no final de Maio em Brinches.

FESTA DE NOSSA SENHORA DAS PAZES

Realiza-se no 1º fim-de-semana após a Páscoa em Vila Verde de Ficalho, com romaria junto à ermida.

FESTA DE SANTO ANTÓNIO

Decorre no fim-de-semana mais próximo de 12 de Junho em Vila Verde de Ficalho.

FESTA DE SANTA MARIA

Decorre a 15 de Agosto em honra de Santa Maria em Vila Verde de Ficalho.

FESTA DE S. SEBASTIÃO

Realiza-se no fim-de-semana mais próximo de 20 de Janeiro em Vale de Vargo.

FESTA DE NOSSA SENHORA DA ASCENÇÃO

Realiza-se no fim-de-semana seguinte à quinta-feira de Ascensão em Vale de Vargo.

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FESTA DE SANTA MARIA

Realiza-se a 15 de Agosto, com romaria, em Vales Mortos.

FESTA DE SANTA IRIA

Realiza-se no fim-de-semana mais próximo de 20 de Outubro em Santa Iria.

FESTA DA MINA

Romaria no fim-de-semana a seguir à Páscoa em Mina Orada.

FESTA DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

Fim-de-semana mais próximo de 13 de Maio em A-do-Pinto.

Feiras:

FEIRA ANUAL DE PIAS

Realiza-se no último fim-de-semana de Junho em Pias e tem a duração de três dias. Contempla a venda de gado (corredoura) e a exposição de actividades económicas. Feira do Vinho Decorre em paralelo à Feira Anual. A par da promoção da actividade vitivinícola tem também lugar a exposição de outras actividades económicas.

FEIRA DO VINHO

Realiza-se em Pias, decorrendo em paralelo à Feira Anual. A par da promoção da actividade vitivinícola tem também lugar a exposição de outras actividades económicas.

FEIRA ANUAL DE SERPA

Realiza-se no fim-de-semana mais próximo de 24 de Agosto em Serpa. Compreende a venda de gado (corredoura).

FEIRA DE DESENVOLVIMENTO E TRADIÇÃO

Decorre em paralelo à Feira Anual de Serpa, no Parque de Feiras e Exposições. Mostra de actividades económicas do Concelho.

FEIRA DO QUEIJO DO ALENTEJO

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Realiza-se no final do mês de Fevereiro, no Parque de Feiras e Exposições de Serpa e tem a duração de quatro dias. O certame conta com a participação de um grande número de produtores de queijo (locais, regionais e estrangeiros) e de vários expositores de outros produtos regionais, tais como enchidos, azeite, mel e vinho. Colóquios sobre a temática e múltiplas actividades de animação cultural fazem parte da programação.

FEIRA DO AZEITE

Realiza-se no segundo fim-de-semana de Março em Vale de Vargo. Tem como finalidade a promoção do azeite que se produz em Vale de Vargo e noutras localidades do Concelho. No certame decorrem colóquios, provas de azeite e provas gastronómicas.

Artesanato:

Serpa constitui um reduto nacional no que respeita às artes tradicionais, que se mantiveram até muito tarde, imunes às inovações tecnológicas. Estas artes estiveram intimamente ligadas aos trabalhos do campo, tendo declinado com a modernização do sector agrícola.

Neste domínio importa salientar alguns ofícios, nomeadamente os carpinteiros de carros alentejanos (os abegões), os oleiros, os albardeiros (eram de espantar os "munis" enfeitados em que assentava a canga do gado de tracção), os correeiros (que tornaram famosas as "cabeçadas" dos animais de trabalho e de sela), os ferreiros (mestres ímpares no fabrico de alfaias, mas também de peças em ferro forjado), os latoeiros (na rebuscada arte de confecção de utensílios de folha), os curtidores (que preparavam o couro e as peles para o equipamento de homens e animais) e os cadeireiros (fabricantes das rústicas cadeiras de pau de choupo com fundo e encosto entrelaçados de bunho).

Alguns destes ofícios tradicionais ainda podem ser encontrados em Serpa, constituindo um motivo de interesse turístico relevante.

Mas cabe igualmente referir outro tipo de Mestres artesãos consagrados como são ainda hoje os "roupeiros", fabricantes do queijo de ovelha, produto de excelência e de reconhecimento da região. O "roupeiro" é assim chamado por trabalhar na "rouparia", local destinado ao fabrico do queijo que recebe tal nome pelo número considerável de roupa que está associada à laboração: coadeiros, panos de lãáspera e grossa com os quais se filtra o leite; tiras brancas de pano-cru que servem para cingir o queijo; fraldas, onde se escorre dependurado o requeijão (CMS, 2005).

Outros produtos do artesanato local destacam-se neste contexto, designadamente aqueles que passaram do domínio utilitário para o domínio dos objectos decorativos, como é o caso da reprodução de peças de madeira e cortiça da arte milenar dos pastores. Deles distinguem-se as colheres de madeira, por vezes de cabo ornamentado, e os "cocharros" de cortiça, muitas vezes gravados (por onde se bebia a água).

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Gastronomia:

A gastronomia de Serpa tem como base fundamental o pão, a carne de borrego e a de porco, bem como espécies cinegéticas como o coelho, a lebre, a perdiz e o javali. A estes produtos junta-se a utilização de alguns temperos, de que se destaca o azeite, nomeadamente o de Brinches, a banha de porco e as ervas aromáticas como a salsa, a hortelã, o coentro, o poejo, a hortelã da ribeira, o oregão, entre outras.

Desta combinação de sabores e de produtos locais resultam os pratos tradicionais da região como as "migas", a "açorda", o "borrego à pastora", as "lavadas" (sopa fria de tomate pisado), o "gaspacho" (em Serpa também chamado de "vinagrada"), as "masmarras" (papa quente de pão e alho), os "grãos com alho e louro", a "surra-burra" (na época da matança do porco), as "caldeiradas de peixe do rio" (CMS, 2005).

Uma das referências da gastronomia local é o Queijo Serpa, com marca firmada no mercado e bem conhecido dos apreciadores. Este produto provém exclusivamente do fabrico artesanal, utilizando o leite de ovelha como matéria-prima. É um queijo amanteigado no começo da sua cura, de crosta lisa, amarelo palha e massa fina, famoso pelo seu paladar, constituindo-se como verdadeiro ex-libris da gastronomia regional. O queijo Serpa está certificado pela Denominação de Origem Protegida, obrigando a que o queijo seja produzido de acordo com as regras estipuladas no caderno de especificações. Dos restos da coalhada para o fabrico do queijo é confeccionado o requeijão, outro produto de excelente qualidade.

Os enchidos de porco preto (da raça negra alentejana) são igualmente famosos, sendo de referenciar os de Vila Nova de S. Bento e de Vila Verde de Ficalho.

Merecem igual referência os espargos e os cogumelos, de criação espontânea e que conferem à gastronomia local uma autenticidade e riqueza impar. As azeitonas, designadamente as de Vale de Vargo, destacam-se pelo seu sabor e qualidade.

No domínio das sobremesas, merecem referência as frutas e os doces. Da fruta destaca-se o melão, cujo sabor reflecte a qualidade do solo e as condições do clima. Entre os doces, destacam-se os "folhados de gila", os "tosquiados" (de claras de ovos e amêndoa), as "turtas" (recheadas de batata doce) e as "queijadas de requeijão".

Por fim, não esquecer os afamados vinhos de Pias e de Serpa, com particular destaque para os tinto, premiados a nível nacional.

8.2.4. Estrutura Económica na Área de Intervenção A estrutura económica da Área de Intervenção é constituída por 191 estabelecimentos de comércio, serviços e pequena indústria, distribuídos por uma gama muito diversificada de áreas de negócio, confirmando a elevada importância do Centro Histórico de Serpa na base económica concelhia.

A actividade comercial é predominante, sendo responsável por cerca de 73% do total de estabelecimentos existentes (Quadro 15). A estrutura comercial caracteriza-se por uma elevada diversidade de estabelecimentos, dominando os ramos comerciais menos especializados, nomeadamente a restauração, a venda de vestuário e outros estabelecimentos de carácter indiferenciado.

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Quadro 16 - Estabelecimentos comerciais na Área de Intervenção

Ramo Actividade

Tipologia Estabelecimento N.º Estabelecimentos

Com

érci

o

Café/Pastelaria 20 Snack Bar/Cervejaria 4 Bar 2 Restaurante 14 Supermercado 2 Mercearia 5 Peixaria 3 Talho 1 Frutaria 2 Padaria 2 Venda de Queijos 5 Produtos Regionais 4 Ourivesaria 2 Perfumaria 2 Florista 2 Livraria 1 Papelaria 2 Vestuário 8 Sapataria 2 Material desportivo 1 Artesanato 2 Drogaria/Tintas 7 Artigos de Decoração 4 Retrosaria/Tecidos 3 Arte 1 Artigos Caça e Pesca 1 Stand Automóvel 1 Venda de Gás 2 Fotógrafo/Material Fotográfico 2 Utensílios Domésticos 1 Electrodomésticos 1 Óptica 1 Bicicletas 1 Animais de Estimação 1 Rações 1 Outro Comércio 22

Fonte: Levantamento de Campo, 2007

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Os serviços são responsáveis por 23% dos estabelecimentos (Quadro 16) e abrangem desde serviços especializados (clínicas médicas privadas, banca, seguros, escritórios de advocacia, contabilidade e arquitectura, etc.) a serviços comuns de apoio pessoal (cabeleireiros, sapateiros, lavandarias, etc.).

Quadro 17 - Serviços na Área de Intervenção

Ramo Actividade

Tipologia Estabelecimento N.º Estabelecimentos

Serv

iços

Banco 4 Seguradora 1 Gabinete de Arquitectura 1 Escritório de Advogados 3 Escritório de Contabilidade 2 Escritório de Construção Civil 1 Agência de Viagens 3 Unidades Alojamento Hoteleiro 5 Clínica Médica Privada 3 Farmácia 2 Veterinário 2 Empresa de Serviços Limpeza 1 Empresa de Distribuição de Bebidas 1 Empresa de Serviços Audiovisuais 1 Escola de Condução 1 Agência Funerária 1 Sapateiro 1 Lavandaria/Engomadoria 2 Barbeiro/Cabeleireiro 7 Gabinete de Estética 1 Costureira 1

Fonte: Levantamento de Campo, 2007

A pequena indústria (Quadro 17), que integra as oficinas de automóveis, serralharia, carpintaria, representa unicamente 4% dos estabelecimentos registados.

A distribuição dos estabelecimentos comerciais e de serviços na malha urbana apresenta-se relativamente dispersa por uma área vasta. Todavia, é possível identificar alguns eixos e pólos de estruturação de actividades económicas.

Como principais eixos estruturantes surge o conjunto das Ruas das Portas de Beja, dos Fidalgos e de Sevilha, onde a Praça da República se inclui, a Rua dos Cavalos e o Largo da Corredoura. Afirmam-se como potenciais eixos estruturantes, apesar de evidenciarem ainda uma concentração menos significativa de actividades económicas, a Rua dos Canos, a Rua dos Lagares, a Rua Nova, a Rua dos Arcos, a Rua de S. Pedro e a Rua da Cadeia Velha.

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Os Largos de 5 de Outubro e Salvador destacam-se como pólos de concentração de actividades económicas.

Quadro 18 – Pequenas Unidades Industriais na Área de Intervenção

Ramo Actividade

Tipologia Estabelecimento N.º Estabelecimentos

Pequ

ena

Indú

stria

Serralharia 1 Carpintaria 3 Oficina Automóveis 4 Oficina Restauro Móveis 3

Fonte: Levantamento de Campo, 2007

Os principais constrangimentos que se colocam às actividades económicas presentes na Área de Intervenção, designadamente aos comerciantes, são os seguintes:

• Desqualificação dos espaços de venda, nomeadamente no que respeita à decoração e à exposição dos produtos, dificultando a atracção de clientela.

• Diminuição do poder de compra da população.

• Fraca qualidade das mercadorias oferecidas.

• Preços praticados relativamente elevados.

• Insuficiência de estabelecimentos comerciais especializados, capazes de funcionar como “âncoras”.

• Acumulação de stocks e consequente desactualização das mercadorias.

• Elevado valor das rendas praticadas.

• Dificuldade de estacionamento, em especial na zona intra-muralhas.

• Relativa dispersão dos estabelecimentos comerciais por uma área relativamente vasta, dificultando a afirmação e consolidação de uma “Baixa Comercial” atractiva para os clientes.

• Tendência crescente da população residente procurar determinados produtos (vestuário, calçado, etc.) no exterior da Cidade de Serpa, nomeadamente nas superfícies comerciais de Beja.

Como principais potencialidades ao desenvolvimento comercial destacam-se as seguintes questões:

• Significativa dinâmica e diversidade comercial.

• Potencial desenvolvimento turístico associado à revitalização do Centro Histórico, que se apresenta relativamente bem preservado.

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• Crescente interesse dos consumidores pelos produtos tradicionais, artesanato e gastronomia regional, motivando deslocações numa área de influência relativamente extensa (Área Metropolitana de Lisboa, Estremadura espanhola e Andaluzia).

9. BIBLIOGRAFIA

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