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DESCRIÇÃO TÉCNICO-ECONÓMICA DE SOLUÇÕES DE REABILITAÇÃO DE P AVIMENTOS EM EDIFÍCIOS ANTIGOS FRANCISCO MARIA NOVAIS FERREIRA PIMENTEL Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES CIVIS Orientador: Professor Doutor Hipólito José Campos de Sousa JANEIRO DE 2012

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DESCRIÇÃO TÉCNICO-ECONÓMICA DE

SOLUÇÕES DE REABILITAÇÃO DE

PAVIMENTOS EM EDIFÍCIOS ANTIGOS

FRANCISCO MARIA NOVAIS FERREIRA PIMENTEL

Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de

MESTRE EM ENGENHARIA CIVIL — ESPECIALIZAÇÃO EM CONSTRUÇÕES CIVIS

Orientador: Professor Doutor Hipólito José Campos de Sousa

JANEIRO DE 2012

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MESTRADO INTEGRADO EM ENGENHARIA CIVIL 2011/2012

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Tel. +351-22-508 1901

Fax +351-22-508 1446

[email protected]

Editado por

FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Rua Dr. Roberto Frias

4200-465 PORTO

Portugal

Tel. +351-22-508 1400

Fax +351-22-508 1440

[email protected]

� http://www.fe.up.pt

Reproduções parciais deste documento serão autorizadas na condição que seja mencionado o Autor e feita referência a Mestrado Integrado em Engenharia Civil - 2011/2012 - Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da

Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2012.

As opiniões e informações incluídas neste documento representam unicamente o ponto de vista do respectivo Autor, não podendo o Editor aceitar qualquer responsabilidade legal ou outra em relação a erros ou omissões que possam existir.

Este documento foi produzido a partir de versão electrónica fornecida pelo respectivo Autor.

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Aos meus pais e irmãs

À Raquel

“A pessimist sees the difficulty in every opportunity; an optimist sees the opportunity in every

difficulty.”

Winston Churchill

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Hipólito Sousa pelos conselhos que clarificaram tantas dúvidas.

À Porto Vivo, SRU, nas pessoas dos Srs. Arqºs Paulo Valença e Ana Oliveira, pela cedência de material, toda a simpatia e disponibilidade imediata sempre que necessitei.

À Viseu Novo, SRU, nas pessoas dos Srs. Arqºs Natália Figueiredo e Carlos Gaspar e do Sr. Eng. Rui Santos, pela incomensurável ajuda na realização deste trabalho, desde a visita às obras à disponibilização e explicação dos casos de estudo.

Ao Sr. Vereador da Câmara Municipal de Viseu, Dr. Américo Nunes, pela mediação no contacto com a Viseu Novo, SRU bem como manifestação de apoio e cedência dos Serviços da CMV.

Aos meus colegas e companheiros nas longas horas deste trabalho, Lino Marques, Miguel Esteves.

À minha prima Rita Sapage e ao meu amigo André Almeida com quem ganhei inspiração no arranque deste estudo.

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RESUMO

O presente trabalho foi efectuado no âmbito do Mestrado Integrado em Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e tem como objectivo principal a identificação e análise sob os pontos de vista técnico e económico de soluções aplicáveis na reabilitação de pavimentos em edifícios antigos.

Tem sido prática cada vez mais comum em Portugal, à semelhança do panorama experimentado no resto do mundo e particularmente na Europa, uma preocupação estratégica com a preservação e reabilitação dos centros urbanos. Estes factos aliados à perceção de que existe construção nova em excesso, contribuíram para uma mudança de paradigma no sector, sendo prova disso a concertação de esforços dos seus agentes e respetivas entidades de gestão e regulação no sentido de se voltarem em uníssono para a reabilitação.

Sendo esta uma prática em expansão e desenvolvimento, mas ainda longe de uma fase completamente amadurecida, verificam-se algumas carências documentais quer no que diz respeito a soluções disponíveis no mercado, quer no registo e tratamento dos dados e resultados do que já foi executado em obras de reabilitação.

Apresenta-se, então, esta obra, como uma tentativa de satisfação dessas necessidades. Pretende-se que este seja um trabalho que explane, de forma clara, quais as características e especificidades de soluções correntes de pavimentos utilizadas em reabilitação e que, com a sua consulta se esclareçam dúvidas sobre a sua adequação e seja possível algum apoio e orientação na sua escolha e aplicação. São, inclusivamente, apresentados e explorados alguns casos de estudo para que se dote este trabalho de um caráter prático e realista que contribua, de facto, para para aumentar a sua utilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Reabilitação, Pavimentos, Estudo de Caso, Análise Técnico-Económica; Soluções.

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ABSTRACT

This thesis was prepared within the framework of the Integrated Master in Civil Engineering of the Faculty of Engineering of the Oporto University, and its main purpose is the identification and the technical and economic analysis of pavement rehabilitation solutions for old buildings.

In recent years the strategic concern with the preservation and rehabilitation of urban centres has increasingly become common practice in Portugal, similarly to what happens in the rest of the world and particularly in Europe. This fact, along with the realization that there is an excess of new construction, contributed to a paradigm shift in the sector, as evidenced by the concerted efforts of its agents and management and regulatory bodies in order to turn to rehabilitation.

Since this is a growing and developing practice, which is still far from its fully mature stage, there are some documental lacks regarding the solutions available in the market and the processing of data and results of what has been executed in previous rehabilitation works.

This study is therefore an attempt to address those needs. It is intended that it clearly explains what the features and specificities of standard solutions used in pavement rehabilitation are, and that with its consultation any doubts regarding their adequacy can be clarified. Furthermore, this work is also intended to serve as guidance for the selection and implementation of these solutions. In order to provide this work with a practical and realistic context, and thus increase its usefulness, some case studies are included and widely discussed.

Keywords: Rehabilitation, Pavement, Case Study, Technical and Economic Analysis, Solutions.

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ÍNDICE GERAL

AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... i

RESUMO ................................................................................................................................. iii

ABSTRACT ............................................................................................................................................... v

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 1

1.1. ENQUADRAMENTO. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.................................................................. 1

1.2. ÂMBITO, OBJECTIVOS E METODOLOGIA DO TRABALHO .............................................................. 2

1.3. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ....................................................................................................... 2

2. ENQUADRAMENTO ..................................................................................................... 3

2.1. NOTA PRÉVIA ................................................................................................................................... 3

2.1.1. APRESENTAÇÃO DO CAPÍTULO .......................................................................................................... 3

2.1.2. Conceito e DEFINIÇÕES ................................................................................................................... 3

2.2. INTRODUÇÃO À REABILITAÇÃO....................................................................................................... 4

2.2.1. Enquadramento .............................................................................................................................. 4

2.2.2. Necessidades de Reabilitação no Parque Edificado Português .................................................... 7

2.2.3. Enquadramento Histórico, Legal e Normativo ............................................................................. 11

2.2.3.1. Introdução ................................................................................................................................. 11

2.2.3.2. Internacional .............................................................................................................................. 11

2.2.3.3. Nacional..................................................................................................................................... 15

2.2.3.4. Herança Cultural ....................................................................................................................... 18

3. IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE SOLUÇÕES ............................... 21

3.1. NOTA PRÉVIA ................................................................................................................................. 21

3.2. SOLUÇÕES ..................................................................................................................................... 21

3.2.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 21

3.2.2. LISTA GERAL DE SOLUÇÕES ............................................................................................................ 23

3.2.3. PAVIMENTOS EM MADEIRA ............................................................................................................... 25

3.2.3.1. Introdução ................................................................................................................................. 25

3.2.3.2. Intervenção ................................................................................................................................ 26

3.2.4. PAVIMENTOS EM LAJE DE BETÃO ..................................................................................................... 30

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3.2.5. PAVIMENTOS COM ESTRUTURA METÁLICA ....................................................................................... 31

3.2.6. SOLUÇÕES MISTAS ........................................................................................................................ 31

4. ESTUDO DE CASO .................................................................................................... 33

4.1. NOTA PRÉVIA ................................................................................................................................ 33

4.2. SOCIEDADES DE REABILITAÇÃO URBANA .................................................................................. 33

4.2.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 33

4.2.2. SRU PORTO, PORTO VIVO ............................................................................................................. 34

4.2.2.1. Introdução ao Estudo de Casos ............................................................................................... 36

4.2.2.2. Projecto 11 ................................................................................................................................ 37

4.2.2.3. Projecto 13 ................................................................................................................................ 41

4.2.2.4. Projecto 1 .................................................................................................................................. 44

4.2.2.5. Projecto 4 .................................................................................................................................. 46

4.2.2.6. Projecto 9 .................................................................................................................................. 49

4.2.3. SRU VISEU, VISEU NOVO ............................................................................................................... 51

4.2.3.1. Casa do Miradouro ................................................................................................................... 52

4.2.3.2. Calçada da Vigia....................................................................................................................... 60

4.2.3.1. Rua Escura ............................................................................................................................... 62

4.2.3.1. Rua do Comércio 108-114 ....................................................................................................... 66

4.2.3.1. Rua do Comércio 92 ................................................................................................................. 68

5. CONCLUSÃO ................................................................................................................... 71

5.1. ANÁLISE DO ESTUDO DE CASOS ................................................................................................. 71

4.2.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES .................................................................................................... 71

4.2.1. ANÁLISE E CONCLUSÕES ................................................................................................................ 72

5.2. DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ................................................................................................... 74

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ÍNDICE DE FIGURAS

Fig.1 – Taxas de crescimento dos alojamentos e de famílias em Portugal

Fig.2 – Taxas de crescimento dos alojamentos – enquadramento internacional

Fig.3 – Evolução de alojamentos e Edifícios – 1981 a 2011

Fig.4 – Nº de alojamentos por família, 2001

Fig.5 – Camillo de Boito e Cesare Brandi

Fig.6 – Mapa geral das Zonas de Intervenção

Fig.7 – Planta de localização geral dos Casos de Estudo

Fig.8 – Planta de localização “Projecto 11”

Fig.9 – Pormenor do pavimento num piso intermédio

Fig.10 – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior

Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior

Fig.12 – Pormenor da ligação da fachada com o piso intermédio

Fig.13 – Vista da Rua da Bainharia onde se situam os projectos 11 e 13

Fig.14 – Planta de localização “Projecto 13”

Fig.15 – Pormenor do pavimento do piso térreo

Fig.16 – Pormenor do pavimento do piso intermédio

Fig.17 – Planta de localização “Projecto 1”

Fig.18 – Pormenor do pavimento do piso térreo

Fig.19 – Vista da Rua da Bainharia onde se situam os projectos 1 e 4

Fig.20 – Planta de localização “Projecto 4”

Fig.21 – Pormenor da laje de pavimento de separação com os espaços não aquecidos

Fig.22 – Pormenor da laje de pavimento de separação com os espaços aquecidos

Fig.23 – Pormenor da ligação da parede de fachada com o pavimento térreo

Fig.24 – Pormenor da parede e pavimento em contacto com o terreno

Fig.25 – Planta de localização “Projecto 9”

Fig.26 – Pormenor do pavimento

Fig.27 – Planta de delimitação da ACRRU de Viseu

Fig.28 – Aspecto geral exterior do edifício antes da intervenção

Fig.29 – Planta de localização “Casa do Miradouro”

Fig.30 – Aspecto geral exterior do edifício aquando da intervenção

Fig.31 – Esquema da execução do pavimento 1

Fig.32 – Esquema da execução do pavimento 2

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Fig.33 – Esquema da execução do pavimento 3

Fig.34 – Esquema da execução do pavimento 4

Fig.35 – Pormenor construtivo do pavimento

Fig.36 – Planta de localização “Calçada da Vigia”

Fig.37 – Aspecto geral do edifício antes da intervenção

Fig.38– Planta de localização “Rua Escura”

Fig.39 – Aspecto geral do edifício antes da intervenção

Fig.40 – Aspecto geral do edifício depois da intervenção

Fig.41 – Esquema da execução do pavimento 1

Fig.42 – Esquema da execução do pavimento 2

Fig.43 – Pormenor construtivo do pavimento do piso térreo

Fig.44 – Pormenor construtivo do pavimento do piso intermédio

Fig.45 – Planta de localização “Rua do Comércio 108-114”

Fig.46 – Aspecto geral do edifício antes da intervenção

Fig.47 – Planta de localização “Rua do Comércio 92”

Fig.48 – Aspecto geral do edifício antes da intervenção

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 – A evolução do parque habitacional português: Reflexões para o futuro

Quadro 2 – Panorama geral das soluções de reabilitação de pavimentos

Quadro 3 – Soluções de pavimento e respectiva altura final

Quadro 4 – Peso/m2 dos pavimentos

Quadro 5 – Custo/m2 dos pavimentos

Quadro 6 – Quantidades e custos energéticos dos pavimentos

Quadro 7 – Enquadramento do Projecto 11 no Quadro de Soluções

Quadro 8 – Enquadramento do Projecto 13 no Quadro de Soluções

Quadro 9 – Enquadramento do Projecto 1 no Quadro de Soluções

Quadro 10 – Enquadramento do Projecto 4 no Quadro de Soluções

Quadro 11 – Enquadramento do Projecto 9 no Quadro de Soluções

Quadro 12 – Valores dos investimentos e comparticipações

Quadro 13 – Enquadramento do Pavimento 1 do Projecto “Casa do Miradouro” no Quadro de Soluções

Quadro 14 – Enquadramento do Pavimento 2 do Projecto “Casa do Miradouro” no Quadro de Soluções

Quadro 15 – Enquadramento do Pavimento 3 do Projecto “Casa do Miradouro” no Quadro de Soluções

Quadro 16 – Enquadramento do Pavimento 4 do Projecto “Casa do Miradouro” no Quadro de Soluções

Quadro 17 – Enquadramento do Projecto “Calçada da Vigia” no Quadro de Soluções

Quadro 18 – Enquadramento do Pavimento 1 do Projecto “Rua Escura” no Quadro de Soluções

Quadro 19 – Enquadramento do Pavimento 2 do Projecto “Rua Escura” no Quadro de Soluções

Quadro 20 – Enquadramento do Projecto “Rua do Comércio 108-114” no Quadro de Soluções

Quadro 21 – Enquadramento do Projecto “Rua do Comércio 92” no Quadro de Soluções

Quadro 22 – Dados pavimentos Porto Vivo, SRU

Quadro 23 – Dados pavimentos Viseu Novo, SRU

Quadro 24 – Dados económicos dos pavimentos

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INTRODUÇÃO

1.1. ENQUADRAMENTO E CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Face às atuais condições socioeconómicas nacionais e internacionais afigura-se premente a mudança do paradigma do setor da Construção Civil. É do entendimento geral que uma das soluções para a dinamização e revigoração do setor passa por fazer convergir os recursos disponíveis para o âmbito da reabilitação imobiliária. O setor da Construção Civil, especialmente no contexto português, é fortemente condicionado pelo panorama económico vivido. A ligação destes dois indicadores é praticamente recíproca na medida em que, até hoje, este setor viveu muito alimentado quer por investimentos públicos quer pelo bom estado aparente do setor imobiliário. Com a eminente falência ou, pelo menos, crise de ambos testemunham-se as dificuldades óbvias sentidas no setor da construção. Os centros urbanos degradados e abandonados, resultado do fluxo migratório das pessoas para a periferia das cidades, e o excesso de construção nova são algumas das realidades que fazem com que seja urgente uma adequação da estratégia para salvar as cidades e rejuvenescer o próprio setor da construção. Esta necessidade de mudança obrigou o setor da construção a procurar novas possibilidades de progressão percebendo que residia na reabilitação uma fonte potencial de negócio pelas carências claras de que os centros urbanos apresentam.

O caráter recente e em crescimento deste movimento reabilitador faz com que não existam devidamente sustentadas bases de conhecimento e estudo que sirvam de exemplo às intervenções. Cada intervenção é um caso específico com características diferentes da anterior. A adequação das técnicas e soluções existentes deve satisfazer as necessidades variáveis de cada caso, especificiadades próprias de intervenções de reabilitação. Nesse sentido, este estudo apresenta-se como um manual ao serviço do agente reabilitador pretendendo auxiliar a sua decisão, fundamental para um resultado adequado às exigências particulares técnicas e de conforto pretendidas pelo Dono de Obra. Em paralelo, é fundamental que deste estudo resultem dados não só de cariz económico que certamente irão pesar na decisão da solução a ponderar, mas também dados de carácter técnico que respeitem as identidades histórica e cultural latentes neste tipo de edifícios.

Optou-se por restringir esta dissertação ao elemento construtivo “pavimento” que, por vezes, se reconhece subvalorizado tendo ele, no entanto, uma importância extrema no cômputo geral da intervenção, quer pelo que diz respeito à sua notória exposição visual, quer pelo que diz respeito ao seu caráter estrutural, pela sua contribuição orçamental que, ainda que reduzida no panorama geral das especialidades, pode, por si só, influenciar de sobremaneira os valores finais da intervenção e pelo seu desempenho que é fundamental para averiguar da sua adequação.

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1.2. ÂMBITO, OBJETIVOS E METODOLOGIA DO TRABALHO

A execução deste trabalho visa uma descrição técnicoeconómica de soluções disponíveis no mercado e utilizadas na reabilitação de pavimentos de edifícios antigos.

Neste sentido, entendeu-se importante efetuar uma primeira contextualização histórica do tema. A evolução das técnicas e materiais utilizados no passado na construção de pavimentos para que se perceba melhor as particularidades dos elementos a intervencionar no presente. Evidencia-se assim, uma das preocupações mais presentes no tema da reabilitação de edifícios antigos que é o respeito pela herança histórica e cultural dos edifícios.

No sentido de se compreender quais as soluções de reabilitação passíveis de serem utilizadas é importante proceder a uma esquematização geral dos tipos de intervenção bem como dos elementos contemplados e materiais utilizados no processo. Desta forma será possível, cruzando este cadastro com as soluções dissecadas neste trabalho, enquadrar os tipos de intervenção analisados.

A adequação das técnicas e dos materiais às necessidades de reabilitação do elemento intervencionado tem extrema importância na salvaguarda da identidade do edifício. Sendo assim, apresentam-se dez exemplos de intervenções em fases de evolução distintas que darão uma componente mais real ao presente trabalho. A sua análise permitirá perceber o que é preferido pelos técnicos no momento de executar e dar a conhecer as suas opções e justificações quando confrontados com problemas decorrentes da obra.

As conclusões do trabalho pretendem enquadrar cada uma das soluções atrás descritas no grupo das possíveis intervenções. Identificar as preocupações na sua formulação e o agrupar esta informação por forma a tornar possível a sua rápida consulta.

1.3. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A estrutura deste trabalho divide-se em cinco capítulos.

O primeiro capítulo diz respeito à introdução do trabalho, seu enquadramento nas necessidades de estudo do tema e a organização seguida posteriormente.

De seguida, o segundo capítulo, servirá para contextualizar o tema. Para isso, recorrer-se-á a uma análise histórica e evolutiva, quer ao nível da execução de pavimentos como ao nível da reabilitação em geral. Tenta-se, neste capítulo, sensibilizar para a importância da herança histórico-cultural no tema da reabilitação e para as necessidades de reabilitação no contexto nacional.

O terceiro capítulo introduz a análise de soluções existentes no mercado. Procura não deixar de fora nenhum dos grupos gerais de possíveis soluções de reabilitação de pavimentos e especificar, tanto quanto o tempo permitiu, algumas delas.

O estudo de casos é feito no quarto capítulo deste trabalho. São apresentadas algumas opções já tomadas em intervenções de reabilitação em edifícios antigos e é feita uma descrição geral dos casos em estudo. Procura-se fazer um enquadramento do edifício no contexto da cidade e seu património histórico bem como dos propósitos da solução adotada na reabilitação do pavimento no contexto do edifício.

Por fim, no quinto e último capítulo, procede-se a uma síntese geral do estudado nos dois capítulos anteriores. Segue-se uma análise das soluções utilizadas nos casos práticos estudados no capítulo quatro e algumas considerações sobre a sua adequação. Ainda neste capítulo cruzam-se as conclusões tiradas com as soluções estudadas no capítulo três por forma a sugerir algumas destas soluções como alternativas válidas para os casos estudados ou situações similares. Reserva-se, ainda, uma parte deste capítulo para a descrição de futuros desenvolvimentos de que este trabalho poderá, eventualmente, ser alvo.

Em anexo, apresentam-se alguns dados relativos aos materiais e soluções.

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ENQUADRAMENTO

2.1. NOTA PRÉVIA

2.1.1.APRESENTAÇÃO DO CAPÍTULO

Pretende-se, no presente capítulo, fazer o enquadramento histórico bem como a localização e definição da reabilitação de pavimentos no contexto abrangente da reabilitação de edifícios. Procura-se também realçar neste capítulo conteúdos que promovam um conhecimento da organização do sector da reabilitação, bem como do seu quadro normativo e legal.

Por outro lado tenta-se chamar a atenção para as necessidades de intervenção em pavimentos sob a forma de reabilitação descriminando quais as causas e panoramas encontrados em Portugal.

2.1.2CONCEITO E DEFINIÇÃO

A necessidade de devolver as funções iniciais aos edifícios que as foram perdendo ao longo do tempo suscita a discussão sobre a problemática da reabilitação. Reabilitar é, então, de acordo com a definição etimológica, reparar, renovar, restituir.

Reabilitação, s. f. Acção de reabilitar ou de ser reabilitado; o efeito dessa acção. (...) Recobramento da estima pública pela regeneração moral. || Recuperação do bom e antigo conceito. || Regresso ao estado de consideração social. (...) || Restauração do bom conceito momentaneamente perdido. [1]

Da perspetiva da engenharia civil o significado do termo não sofre grandes alterações apesar das diferentes possibilidades de definição encontradas. As ideias fundamentais por trás da reabilitação de um edifício de habitação ou até mesmo de um monumento é a restituição de características fundamentais para que estes possam desempenhar novamente as funções que outrora desempenharam.

Segundo Appleton “O termo reabilitação designa toda a série de acções empreendidas tendo em vista a recuperação e a beneficiação de um edifício, tornando-o apto para o seu uso actual. O seu objectivo fundamental consiste em resolver as deficiências físicas e as anomalias construtivas, ambientais e funcionais, acumuladas ao longo dos anos, procurando ao mesmo tempo uma modernização e uma beneficiação geral do imóvel sobre o qual incide, melhorando o seu desempenho funcional e tornando esses edifícios aptos para o seu completo e actualizado reuso” [2]

Outra definição pouco consentânea pela variação de perceção, de especialista para especialista, é a delimitação de que edifícios podem ser considerados “Edifícios Antigos”. Neste trabalho optou-se por utilizar uma definição abrangente de edifício antigo como “aqueles cuja construção se baseia no uso de tecnologias tradicionais, nomeadamente o uso de madeira na cobertura e pisos e tabiques para

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paredes divisórias. Geralmente a estrutura do edifício é constituída por paredes resistentes de alvenaria de pedra argamassada. De um modo geral, distinguem-se estes pela tecnologia de construção, que se manteve sem grande alteração até ao advento do betão armado, que teve início no final do século XIX e se tornou prática corrente na segunda metade do século XX” [3]

2.2. INTRODUÇÃO À REABILITAÇÃO

2.2.1. ENQUADRAMENTO

São várias as especificidades e condicionantes que tornam as intervenções deste caráter algo complexas. À partida, poder-se-á, inclusivamente, dizer que reabilitar pode ser, como se explicará de seguida, mais exigente do que construir de raiz.

À partida para este trabalho é fundamental distinguir, claramente, os edifícios de carácter monumental dos edifícios que, pelo contexto em que se inserem, se consideraram aptos a uma classificação como património histórico. A intervenção nos primeiros deve ser, como se compreenderá, mais purista, primando pela manutenção de todas as características originais enquandrando-se no conceito de restauro. As intervenções, nestes casos, tornam-se mais onerosas e demoradas pela pormenorização exaustiva e o respeito que se tem que demonstrar pelo mais pequeno material e técnica utilizada na reabilitação. No que diz respeito aos edifícios compreendidos no leque dos classificados como património histórico por se enquadrarem numa área protegida, no centro das cidades ou nas proximidades de outros edifícios monumentais de interesse histórico, estes são, normalmente, destinados a comércio ou habitação e a sua reabilitação deve ter em conta o fim a que se destinam. Sendo assim, na sua reabilitação deve pesar a importância dos materiais e técnicas utlizados contrapondo-a com a sua funcionalidade e custos. O produto final da obra de reabilitação deve ser competitiva económicamente para se afigurar, de facto, como uma alternativa à construção nova e impedir a fuga da população dos centros urbanos para as periferias.

A Carta de Cracóvia sustenta o que foi previamente referido “...Os edifícios que compõem as zonas históricas podem não apresentar por si um valor arquitectónico especial, mas devem ser salvaguardados como elementos do conjunto pela sua unidade orgânica, dimensões particulares e características técnicas, espaciais, decorativas e cromáticas, insubstituíveis dentro da unidade orgânica da cidade”. [4]

No que diz respeito à herança histórica de um edifício antigo, esta será, provavelmente, a questão mais complexa com que um projectista se poderá deparar aquando de uma intervenção deste género. Pelo facto de não ser quantificável, a dimensão da importância histórica para uma cidade, um povo, uma cultura e o potencial turístico que contém tornam muito arriscada a alteração quer estética quer funcional do intervencionado. O reabilitador está condicionado por um legado muito marcado mas que será muito dificilmente definível.

Não só o cariz histórico do edifício como elemento definidor de uma cultura e de uma cidade constitui uma limitação para a livre intervenção no acto de reabilitar. O respeito pelos materiais e técnicas utilizadas originalmente deve estar também patente nestas situações. Sozinhas, elas próprias são também parte de uma herança cultural de enorme peso. Representam a época em que foram utilizados e os hábitos construtivos da altura. Desta forma deve ser demonstrado um profundo conhecimento e respeito pelas técnicas e materiais utilizados na obra.

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Neste sentido, exige-se que a mão-de-obra, no que concerne a obras de reabilitação, tenha mais sensibilidade e formação que a de outras obras de engenharia que não impliquem a afectação de elementos com valor histórico e cultural tão marcados. Infelizmente, particularmente em Portugal, a mão-de-obra no setor da engenharia é, em geral, de formação baixa e pouco sensibilizada para a temática e importância do respeito pelo legado histórico inerente à reabilitação de edifícios antigos. A escassez de mão-de-obra qualificada é, aliás, uma das principais razões para o encarecimento relativo de obras deste género. A referida sensibilidade pode ser incutida por uma orientação preocupada e cuidadosa por parte dos engenheiros envolvidos na obra que terão um papel fundamental na garantia do cumprimento das disposições do projeto. Sendo uma prática recente com um caráter expansivo e evolutivo, prevê-se que a própria mão-de-obra se especialize à medida que o número de obras em que intervem aumente. Será previsível que a sensibilidade com que abordam este tipo de intervenção seja crescente ao longo do tempo.

Tendo em conta o que foi anteriormente dito, é do interesse patrimonial e conservacionista que a reabilitação prime por ser uma intervenção, tanto quanto possível, pouco invasiva, respeitadora do legado histórico e cultural patente não só na sua localização, traça, mas também na sua tipologia, materiais e técnicas utilizadas na construção. Estas preocupações ganham especial relevo quando nos referimos a edifícios de cariz maioritariamente histórico como é o caso de monumentos. A preservação do autêntico durante o ato de reabilitar é, então, fulcral para a consequente preservação da identidade do edifício. Esta preservação passa pelo que foi dito quanto ao respeito pela história, materiais e técnicas do edifício. Protege-se o seu legado minorando os efeitos da intervenção, tentando que esta seja o menos invasiva possível.

Uma corrente de reabilitadores insistiu em “limpar” os edifícios com necessidades de intervenção de todo o seu conteúdo ou levando a cabo uma substituição total dos materiais, técnicas e tipologias, deixando apenas a sua fachadaculminando numa destruição de todo o caráter histórico dos edifícios. Ainda que frequentemente recriminados por este tipo de intervenções descaracterizadoras utilizam-se como pretexto as exigências funcionais e argumentos de segurança para justificar estes atentados à autenticidade. [5]

Fala-se então da prática do fachadismo como a corrente em causa, responsável pelos referidos atentados sobre os edifícios. As suas práticas assentam na preservação da fachada em detrimento de todo o conteúdo que seria completamente substituído por um edifício novo. Esta técnica invasiva e transformadora permitia conferir mais liberdade ao reabilitador na altura de escolher materiais, técnicas e mesmo a tipologia pretendida para dotar o espaço das características ideais para o uso a que se destina.

Outra grande vantagem deste tipo de intervenção, é dotar o edifício de uma estrutura moderna e completamente nova que se afigura capaz de suportar as cargas pretendidas, abrindo, assim, o leque de opções funcionais que, no futuro, o reabilitado pode desempenhar.

Em contraponto a esta prática cada vez menos recomendada e cada vez menos defendida pela comunidade técnica reabilitadora, cresce uma vertente que respeita o património e o seu legado histórico e cultural. A grande exigência da intervenção no património histórico prende-se pela subjectividade que se exige. O bom-senso e o respeito pelo edificado são valores não mensuráveis e dificilmente implementáveis mas que devem estar fortemente presentes neste tipo de intervenções.

O princípio da intervenção mínima nasce, então, da necessidade de minimizar a intervenção nos edifícios no sentido de salvaguardar o valor histórico e artístico dum edifício. Este princípio está devidamente recomendado em alguns dos documentos normativos falados mais à frente e é princípio basilar das recomendações do ICOMOS – International Council on Monuments and Sites.

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O ICOMOS é um organismo não governamental que faz da sua missão a proteção da herança cultural dos espaços não só a nível arquitetónico mas também arqueológico. Os seus princípios fundamentais assentam nos estabelecidos em 1964 na Carta de Veneza. De entre todas as suas recomendações técnicas e de estratégia, o princípio da intervenção mínima é uma das mais significativas pela importância que tem na manutenção da já mencionada identidade histórica.

Atendendo ao defendido pela reconhecida associação de empresas GECoRPA – Grémio do património, hoje em dia olha-se para este princípio atendendo a uma lógica de sustentabilidade e tomando em consideração diversos pontos de vista:

• Económicos: “porque o custo da elevação dos padrões de desempenho de um edifício existente é geralmente superior ao custo de um acréscimo equivalente num edifício em projecto.”

• Sociais: ”porque as intervenções muito intrusivas originam menos-valias em termos patrimoniais e identitários, além de limitarem ou impedirem a utilização dos edifícios durante a execução;”

• Ambientais: “porque os resíduos produzidos e os materiais e a energia consumida são tanto maiores quanto mais intrusiva for a intervenção;” [6]

Mas as dificuldades encontradas numa obra de reabilitação não se prendem apenas com os materiais e as técnicas. As condições em obra podem ser particularmente difíceis.

Normalmente inseridos em meios urbanos, particularmente nos centros históricos das cidades, os edifícios mais vulgarmente alvo de reabilitação são em geral servidos por vias estreitas e sinuosas que dificultam o acesso a veículos de grandes dimensões como camiões e betoneiras.

No que diz respeito à disposição do estaleiro, a sua implantação é, frequentemente, diminuta ou, até mesmo em locais afastados das obras. Sendo que a ocupação da via pública pode, pelas características de espaço disponível, ser muito limitada, torna-se, por vezes, impossível a colocação de estaleiro, a montagem de andaimes ou gruas no local da obra.

É curioso notar que uma prática de reabilitação preocupada com o património tem consequentemente uma incidência benéfica na sustentabilidade ambiental. “Uma intervenção <<amiga do Património>> é também <<amiga do Ambiente>>”. [6]

Este é um princípio aplicável a qualquer elemento do edifício passível de ser reabilitado.

Os pressupostos de reutilização e recuperação relacionados com todo o processo de reabilitação fazem desta uma opção tendencialmente mais amiga do ambiente. Existe, intrínsecamente ligada à reabilitação, uma subentendida poupança de recursos e meios que tenderão a concorrer privilegiadamente com a construção nova pelo reconhecimento como opção mais sustentável.

Nos dias que correm as preocupações e responsabilização por fatores de caráter social e ambiental são cada vez mais abordados e levados em consideração. Sendo assim, “Não só a reabilitação é uma actividade inerentemente “amiga do ambiente”, como ela própria pode ser levada a cabo em obediência a critérios de sustentabilidade ambiental.”. [5]

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De acordo com a publicação Green Building Guidelines, que inclui algumas orientações no sentido de promover a sustentabilidade nas intervenções de reabilitação, este passa pela abordagem séria dos seguintes pontos fundamentais relacionados com o ambiente:

• Localização e envolvente;

• Eficiência energética;

• Economia dos materiais e recursos;

• Melhoria da qualidade do ambiente interior;

• Preservação e economia da água. [7]

2.2.2. NECESSIDADES DE REABILITAÇÃO NO PARQUE EDIFICADO PORTUGUÊS

Como já foi referido no capítulo anterior, a conjetura económica do país bem como a necessidade de recuperar os centros históricos das cidades, levaram a uma mudança de estratégia. A nova linha de procedimentos passa pela reabilitação do património degradado que, grande parte das vezes, é monumental ou classificado. Só desta forma se conseguirá, de novo, atrair as pessoas de volta para os centros urbanos de onde saíram em busca de uma maior qualidade de vida por menores custos.

O parque habitacional português experimentou, nos últimos 40 anos, desde a década de 70, altura coincidente com os primeiros Censos, um crescimento acentuado. Inclusivamente, esse crescimento foi superior ao experimentado por outros países europeus como é o caso da Alemanha e da França.

Fig.1 – Taxas de crescimento dos alojamentos e de famílias em Portugal

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Fig.2 – Taxas de crescimento dos alojamentos – enquadramento internacional

Esta divergência relativamente à década de 70 poderá ser justificada pelas necessidades de crescimento demográfico do pós-guerra que depois se nota ter vindo a ser consecutivamente atenuado. Esta atenuação deu-se, no entanto, a um nível bem mais lento no que diz respeito ao caso português. Verifica-se, inclusivamente uma divergência de crescimento em alguns casos quando comparados o número de famílias com o parque habitacional. [8]

De referir que a tendência de crescimento se verifica ainda na última década à luz dos resultados dos censos de 2011 que, ainda que provisórios nos dizem que “De acordo com os resultados preliminares dos censos 2011 verificou-se, em Portugal, um ligeiro crescimento da população em relação a 2001: a população residente cresceu cerca de 1,9% e a população presente cerca de 3,2%. As famílias apresentam um crescimento mais significativo, cerca de 11,6%.

Relativamente a 2001, também se verifica um elevado crescimento dos alojamentos e dos edifícios, cerca de 16,3% e 12,4%, respectivamente.” [7]

Fig.3 – Evolução de alojamentos e Edifícios – 1981 a 2011

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A conjugação de todos estes fatores levou a que o número de habitação nova no parque habitacional português continuasse a crescer a um ritmo demasiado elevado face às necessidades do País e especialmente face às possibilidades económicas dos cidadãos.

Fig.4 – Nº de alojamentos por família, 2001

“Apesar de não existirem carências a nível quantitativo, ao nível qualitativo, o cenário português revela-se mais preocupante, podendo ser identificadas as seguintes:

• 568 886 alojamentos sobrelotados (...) que representam 16% do parque habitacional;

• 114 183 alojamentos integrados em edifícios muito degradados, que representam 3% dos edifícios recenseados em 2001;

• 326 008 alojamentos sem pelo menos uma das quatro infra-estruturas básicas (electricidade, instalações sanitárias, água canalizada e instalações de banho ou duche), afectando cerca de 9% dos alojamentos portugueses.

Assim, à luz destes números sobre carências habitacionais conclui-se que a questão central não se coloca na necessidade de construir mais alojamentos, mas antes na necessidade de:

i) preservar e requalificar o parque habitacional existente evitando a sua degradação até níveis por vezes irreversíveis;

ii) conceder níveis mínimos de conforto a uma franja do parque habitacional, atingindo coberturas totais ao nível das infra-estruturas básicas;

iii) inverter a lógica de segmentação social que se constata, com coexistência de famílias a residirem em alojamentos sem um nível mínimo de conforto, com famílias que detêm segundas e terceiras habitações e com bolsa muito significativa de alojamentos vagos. A última questão extravasa claramente a esfera da política habitacional, trespassando uma série de outros domínios, desde a distribuição da riqueza à questão da educação e formação. Contudo, procurando recentrar a questão na esfera habitacional, esta situação constitui pelo menos um indício de que a oferta de novas habitações não se coaduna com as necessidades da procura, para além de existir um forte enviesamento da oferta a favor da construção de novas habitações, em detrimento da requalificação.” [8]

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A facilidade de acesso ao crédito e as perspetivas de vida mais compensatórias e económicas fizeram com que se verificasse uma migração em massa dos centros urbanos para as periferias. As políticas de arrendamento vinculadas no pós 25 de Abril que praticamente impossibilitavam os despejos e as actualizações das rendas face a casos de claro incumprimento são protetoras do infrator e conduziram à degradação acentuada do parque edificado. As camadas mais idosas da população, pela maior dificuldade que têm em reajustar-se e sem grandes motivos para largar casas no centro da cidade pelas quais pagam rendas infímas, foram a faceta da população que permaneceu nos centros urbanos.

Este facto é sustentado pelos resultados pré-provisórios dos Censos 2011, “A nível nacional, os arrendatários com 50 ou mais anos representam 53,8% do total de arrendatários, correspondendo 36,8% ao escalão com 60 ou mais anos, o escalão com maior peso” [9]

Do ponto de vista dos proprietários este problema afigura-se de resolução muito difícil. As rendas baixas que auferem pelos imóveis que, à partida, seriam de grande valor patrimonial leva-os a abandonarem as intenções de reparação e investimento. Casos de manutenção simples evoluem por falta de reparação para situações de degradação extrema que passam a requerer obras ainda mais onerosas e complicadas. Por vezes dá-se o caso de estes problemas degenerarem de tal forma que se verifica mesmo a rotura inevitável das estruturas.

Há ainda uma diferente perspetiva neste triângulo que é a da autarquia que pretende ver os centros urbanos vividos e receber o Imposto Municipal sobre Imóveis relativos a esse património. Mas também aqui o normal funcionamento das coisas é afetado pela lei até aqui em vigor e que favorecia o desinvestimento. Os proprietários tendiam a não fazer obras para não lhes serem visto atualizado o valor patrimonial do imóvel e consequentemente aumentado o IMI.

Verifica-se ainda, da análise dos resultados dos Censos de 2001, que “cerca de 60% dos edifícios foram construídos após 1970 e 19% foram construídos na última década” (década de 90 no texto) [8]

Quadro 1 – A evolução do parque habitacional português: Reflexões para o futuro

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Ora, face ao cenário de crise económica internacional que se atravessa, com especial incidência em Portugal, o acesso mais difícil ao crédito e os entraves aos apoios estatais no que diz respeito à construção levaram a uma consequente crise imobiliária. A diminuição da procura por habitação nova foi crescente e espontânea pelo que se torna cada vez mais importante satisfazer as necessidades de mercado através da reabilitação do parque edificado existente, em vez da construção de habitação nova.

Poder-se-á, também encarar a reabilitação em Portugal como uma tentativa da devolução do carisma e da vida que os centros urbanos outrora tiveram. É nesse sentido que se criaram entidades como as Sociedades de Reabilitação Urbana como mais à frente se explicará.

Prevê-se, então, que ,na tão falada mudança de paradigma, se pondere, no futuro, no que diz respeito ao parque habitacional existente, uma clara aposta na reabilitação “que resulta da intervenção em quatro eixos complementares:

a) maior incidência de programas públicos de recuperação;

b) eficaz reanimação do mercado de arrendamento, que conceda à procura de habitação uma real possibilidade de escolha entre compra e arrendamento e à oferta de casas para arrendar a possibilidade de garantir a preservação do seu património e consequentemente dos níveis de conforto neste tipo de oferta;

c) utilização proactiva da expensão das residências secundárias como factor de requalificação das habitações existentes (...);

d) tornar as intervenções de recuperação mais apelativas para os interesses dos principais agentes do setor da construção – banca e construtores.

2.2.3. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO, LEGAL E NORMATIVO

2.2.3.1. Introdução

Na sequência do que foi dito anteriormente e percebendo que a reabilitação é, de facto, uma alternativa viável à construção nova, é necessário conhecer um pouco da sua evolução. O facto de esta envolver a intervenção em património classificado fez com que se tornasse incontornável a necessidade de regulamentar a actividade.

É esta evolução do quadro legal e normativo, sustentada sempre nas realidades e necessidades sociais de preservar o seu legado patrimonial que deliniam desde há algumas décadas o caminho histórico seguido pela reabilitação.

São várias as entidades com soberania no poder de decisão, sobre as estratégias e regras a seguir, que têm vindo a produzir documentos que auxiliam e orientam os agentes responsáveis ligados à reabilitação.

As condições são variáveis pelo que estas entidades têm, obrigatoriamente, que permanecer inconformadas adaptando-se constantemente às novas realidades e tendências de mercado.

2.2.3.2. Internacional

Num trabalho sobre intervenções de reabilitação, um correcto enquadramento histórico reveste-se de uma importância redobrada. O já falado respeito pelo potencial histórico do edifício, seus materiais e técnicas é fundamental e só será conseguido se os agentes reabilitadores estiverem instruídos e

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alertados para estas preocupações. Reabilitar não só significa devolver uma função a um edifício entretanto prejudicada mas também fazê-lo com recurso e atendendo à evolução das técnicas e materiais. A evolução das exigências legais e normativas é também um condicionante da arte e estratégia de reabilitar. No passado, os limitados meios tecnológicos disponíveis levavam a que as intervenções em construções fossem feitas com recurso às mesmas técnicas e materiais originais. Isso possibilitou a lenta consolidação do caráter daquilo que, para as atuais e futuras gerações, constitui um precioso património cultural.

Ao longo dos tempos e face à crescente importância do planeamento das intervenções foram vários os documentos que estabeleceram critérios diretivos fruto de convenções internacionais que visavam a salvaguarda do património arquitectónico.

A reabilitação de edifícios é uma preocupação que já se sente desde há muitos séculos. Inicialmente, com Camillo Boito (1836 – 1914) e mais tarde, através de Cesare Brandi (1906 – 1988). A “Teoria da Conservação” veio reclamar a intervenção mínima e a salvaguarda dos materiais originais. No entanto, apenas a partir do século XX, com as denominadas “Cartas do Património”, sendo a primeira carta, a Carta de Atenas de Outubro de 1931, se começam a definir os conceitos de conservação e restauro do património edificado, desenvolvendo-se as primeiras entidades direccionadas para a reabilitação. É em Maio de 1964, no II Congresso Internacional de Arquitectos e Técnicos de Monumentos Históricos, quando verdadeiramente se assume os conceitos de defesa do património, com a elaboração da Carta de Veneza, ou Carta Internacional sobre a Conservação e o Restauro de Monumentos e Sítios. O documento define monumento como sendo não só a criação arquitetónica, mas também o meio envolvente, referindo ainda que na conservação e restauro devem ser usadas todas as ciências e técnicas que possam contribuir para o estudo e proteção do património.

Fig.5 – Camillo de Boito e Cesare Brandi

Em 1975, na cidade de Amesterdão, surge a Declaração de Amesterdão. No seguimento das conclusões do Congresso sobre o património arquitetónico europeu, destaca-se a crescente preocupação por uma nova política de proteção e conservação do edificado, reconhecendo-se que o património arquitectónico da Europa é comum a todos os seus povos, aspeto que se concretiza na disponibilidade de colaboração entre os diversos Estados europeus, numa tentativa de proteção deste. Concluiu-se na data, que a conservação dos edifícios permite uma melhor economia dos recursos e exige profissionais qualificados.

Até à elaboração da Carta de Cracóvia em 2000, surgem ainda outros documentos relativos a orientação sobre o património, como a Carta de Washington – Carta Internacional para a Salvaguarda das Cidades Históricas em 1987, e ainda a Carta da Vila Vigoni – sobre a conservação dos bens culturais eclesiásticos em 1994.

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Tendo como base fundamental a Carta de Veneza e toda a documentação doutrinária internacional no âmbito do património cultural, a Carta de Cracóvia reflecte a atenção e complexidade a que se assistiu na teorização e prática sobre o património cultural, tentando readaptar e atualizar práticas antiquadas, compatibilizando algumas das Normas, Cartas e Convenções Internacionais produzidas desde a Carta de Veneza (1964).

Definiu nos seus objectivos que “(…). A conservação pode ser feita mediante diferentes tipos de

intervenções, tais como o controlo ambiental, a manutenção, a reparação, a renovação e a

reabilitação.”. Assim, procede à caraterização, no âmbito geral, do que deve contemplar a intervenção em cada especificidade do património construído.

Como recomendação, este documento vincula a estreita articulação entre técnicas de conservação e investigação pluridisciplinar científica sobre materiais e tecnologias interventivas, devendo-se respeitar a função original do edificado e assegurar a compatibilização com as pré-existências, tal como citado na referida carta “(…) os instrumentos e métodos desenvolvidos para uma correcta

preservação devem ser adequados à actual situação de mudança, sujeita a um processo de evolução

contínuo”.

Defende ainda que na gestão do património cultural se deve estar atento às oportunidades e ameaças, salvaguardando a participação efectiva dos cidadãos e contribuindo para um desenvolvimento sustentável da sociedade, reforçando a ideia que o papel da formação e educação é parte fundamental desse desenvolvimento. Os profissionais e técnicos devem conhecer os métodos adequados e as técnicas necessárias.

Por último, esta carta indica que a protecção e conservação do património será tanto mais importante e eficaz se for complementada com acções legais/jurídicas e administrativas. [3]

Internacionalmente, a norma ISO 13 822, é dedicada à questão da avaliação estrutural das construções existentes, definindo os princípios e procedimentos a que essa avaliação deve obedecer. Fornece também orientações aos engenheiros de estruturas e aos clientes deste tipo de serviços, para a racionalização dos encargos envolvidos nas intervenções, entendendo a minimização das intervenções de construção como claramente coerente com os princípios do desenvolvimento sustentável. Esta norma é expressamente aplicável a estruturas históricas, desde que a leitura e os materiais históricos sejam salvaguardados. [6]

Em consequência, e de acordo com a norma ISOO 13822, o objectivo de “intervenção estrutural mínima”, fazendo quanto possível uso dos materiais que constituem a estrutura, aplica-se à maior parte das construções existentes destinadas a usos e ocupações correntes. [5]

Critérios a que obedecem as intervenções

• Carta Europeia do Património Arquitectónico (1975)

• Convenção De Granada da Salvaguarda do Património Arquitectónico da Europa

• Carta das Cidades Históricas

• Carta de Cracóvia

“Na carta das Cidades Históricas (IOCOMOS, adoptada pela 8ª assembleia-geral do ICOMOS em Washington, Outubro de 1987), é afirmado:

• Nº2:Os valores a preservar são o carácter histórico da cidade e o conjunto dos elementos materiais e espirituais que a sua imagem exprime, em particular... a forma e o aspecto dos

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edifícios (exterior e interior), tal como definidos pela sua estrutura, volume, estilo, escala... Os atentados contra estes valores comprometem a autenticidade da cidade histórica.

Na Carta de Cracóvia 2000, salienta-se que:

• Nº8 Os edifícios que constituem as áreas históricas, podendo não ter eles próprios valor arquitectónico especial, devem ser salvaguardados como elementos do conjunto pela sua unidade orgânica, dimensões particulares e características técnicas, espaciais, decorativas e cromáticas insubstituíveis na unidade orgânica da cidade.

O projecto de restauro das áreas históricas contempla os edifícios da estrutura urbana na sua dupla função:

a) Os elementos que definem os espaços da cidade dentro da sua forma urbana e

b) Os valores espaciais internos que são uma parte essencial do edifício”

No que respeita ao factor sísmico, interessa referir o que diz o EC8 (...). No seu Anexo F, “Particular Considerations For Historical Buildings and Monuments”, estabelece que as provisões referentes a edifícios correntes só são aplicáveis aos monumentos e edifícios históricos, se não produzirem efeitos negativos na sua salvaguarda, e que as técnicas de intervenção propostas para um monumento deve preencher os requisitos da salvaguarda, aplicando os seguintes critérios:

Eficácia: a intervenção deve ser eficaz, e a sua eficácia deve ser demonstrada por provas qualitativas e quantitativas.

Compatibilidade: A intervenção deve ser compatível com a estrutura original e os seus materiais, do ponto de vista químico, mecânico, tecnológico e arquitectónico e arquitectónico.

Durabilidade: A intervenção deve ser realizada usando materiais e técnicas cuja durabilidade seja comprovadamente comparável com a dos outros materiais do edifício. É aceitável uma intervenção menos durável, se se prevê uma substituição periódica.

Reversibilidade: A intervenção deve ser tão reversível quanto possível, para que possa ser removida, se uma decisão diferente for tomada no futuro.

A estes quatro critérios há que juntar o da:

Eficiência: A intervenção deve ser feita com o menor consumo possível de recursos e, sempre que possível, com o menor custo.” [5]

“A prioridade de salvaguarda da autenticidade do monumento sobre o respeito pelas prescrições regulamentares é, de resto, a linha seguida pela normativa italiana (...), que distingue dois graus de intervenção em património arquitectónico:

• Intervenção de melhoria (“miglioramento”): execução de uma ou mais obras envolvendo apenas os elementos estruturais do edifício com o objectivo de conseguir um maior grau de segurança sem, no entanto, lhe modificar de maneira substancial o comportamento global.

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• Intervenção da adequação (“adeguamento”): torna o edifício apto a resistir às acções sísmicas previstas na regulamentação. [5]

2.2.3.3. Nacional

Em Portugal e na sequência do que já foi dito, a reabilitação começa a ganhar relevo como prática alternativa à construção nova. Na verdade, esta tendência é uma consequência do excesso de habitação nova e aliado à degradação sucessiva dos centros das cidades.

A necessidade de intervir no património edificado e as próprias crises que afetaram os setores económico e imobiliário levaram a que o sector da construção em Portugal se reinventasse voltando-se, naturalmente, para a reabilitação com especial atenção para os seus centros históricos.

Sendo assim, foram começando a ser determinadas normas e seguidas directivas que condicionassem a prática da reabilitação no nosso país.

À semelhança do que ia acontecendo no resto do mundo, também Portugal experimentou uma evolução nos procedimentos e na abordagem que empregou para o tratamento e recuperação dos seus edifícios. A tão falada sensibilidade, necessária neste tipo de obras, foi sendo conseguida em parte graças à experiência dos agentes nacionais ligados à reabilitação ou, por vezes, impostas através de orientações internacionais.

Numa tentativa de medir o potencial de rentabilidade do mercado da reabilitação em Portugal, estudos defendem que o sector vale cerca de duzentos mil milhões de euros. [10]

A produção de normas legais e regulamentos que se verifivou em Portugal nos últimos anos, por vezes até de forma excessiva, fizeram-se reflextir no exercício da actividade. É, no entanto, claro que o simples acto de legislar não evita, sozinha a consequente degradação dos centros históricos que se continuou a testemunhar.

Na opinião de alguns especialistas como Hipólito Sousa, “A reabilitação tem que ser sem dúvida uma actividade com maior expressão na construção portuguesa, contrabalançando de alguma forma, mas parcialmente, a redução da construção nova. A reabilitação é ao mesmo tempo, mesmo numa perspectiva meramente económica, uma atitude inteligente de manutenção do valor dos activos. No entanto, para que a reabilitação avance de facto, penso que há um conjunto de equívocos a resolver.

Por um lado, os constrangimentos associados ao arrendamento, aspectos jurídicos de propriedade que criam inúmeras dificuldades à realização de intervenções com escala nos centros urbanos antigos, já que as pequenas intervenções, quase de “bricolage”, não são sustentáveis. Por outro lado, é necessário actuar ao nível da regulamentação técnica que está fundamentalmente preparada para obra nova, sendo necessárias orientações específicas para reabilitação. Se continuarmos a querer que as intervenções de reabilitação respeitem, na integra, exigências aplicáveis às obras novas, muitas delas tornam-se pouco viáveis no plano técnico-económico. Por último a reabilitação carece de algum pragmatismo para sertambém economicamente viável. È necessário graduar as intervenções, tratar de forma particularmente cuidada e profunda o que tem valor relevante indiscutível, mas em muitos casos adoptar intervenções mais simples, estancando o processo de degradação e melhorando funcionalmente alguns aspetos mais relevantes, mas situando os custos da intervenção a níveis compatíveis com a nossa riqueza e com intervenções em maior número de edifícios.” [11]

Noutra publicação, o mesmo especialista refere que “Enquanto no caso da obra nova, para além dos aspectos de ordenamento do território, as outras condicionantes mais relevantes têm a ver com o terreno, e o conjunto de variáveis que este representa, no caso de trabalhos de reabilitação de edifícios

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antigos, além do conjunto de aspectos que genericamente se colocam à obra nova, provocam condicionamentos fortes todos os aspectos associados à pré-existência, ao seu valor patrimonial, ao seu estado de conservação e às restrições de vizinhança.” [12]

Pode-se então concluir que a carência verificada não diz respeito está relacionada com a ausência de regulamentação ou legislação que, no caso Português, aparece em resposta a exigências internacionais, mas sim à deficiente garantia do seu cumprimento. É, por vezes, o próprio excesso de regulamentação que contribui para que as normas e exigências se contradigam levando a uma descredibilização e desrespeito consequentes por elas. Dever-se-ão ter em atenção as exigências culturais de cada país na aplicação das regras para que as normas não atentem, elas próprias, contra o mais básico e profundo sentido da reabilitação, a preservação do valor histórico e cultural daquele imóvel ou daquele lugar.

As disposições legais e normativas que se consideram mais importantes e que estão associadas aos projectos e execução de obras de reabilitação são:

• Regulamento Geral das Edificações Urbanas (RGEU), aprovado pelo Decreto de Lei n.º 38382/51, de 7 de Agosto;

• Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação (RJUE), aprovado pela Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro;

• Regime Geral da Edificação (RGE) (ainda por aprovar);

• Regime Jurídico Excepcional da Reabilitação Urbana da Zonas Históricas e das Áreas Críticas de Recuperação e Reconversão Urbanística, aprovado pelo decreto de lei n.º 104/2004 de 7 de Maio;

• Regulamentos Municipais;

• Novo Regime de Arrendamento Urbano (NRAU), aprovado pela Lei n.º 06/2006, de 27 de Fevereiro;

• No dimensionamento deve-se fazer uso da legislação nacional em vigor (RSA, REBAP, REAE) e da Regulamentação e Normativa europeia em vigor ou em aprovação, sempre que seja mais actualizada do que a Regulamentação nacional, ou contemple aspectos não referidos na mesma (Eurocódigos 1 a 8, EN 10025 (2004), EN 206, NP 4305 (2003), EN 1194 (1999));

• Regulamento das Características de Comportamento Térmico de Edifícios (RCCTE), aprovado pelo Decreto de Lei n.º 80/2006, de 4 de Abril;

• Regulamento dos Requisitos Acústicos dos Edifícios (RRAE), aprovado pelo Decreto de Lei n.º 96/2008, de 9 de Junho;

• Regulamento Geral do Ruído (RGR), aprovado pelo Decreto de Lei n.º 9/2007, de 17 de Janeiro;

• Novo Regulamento Geral de Segurança Contra Incêndio em Edifícios (RG-SCIE), aprovado em Conselho de Ministros de 4 de Setembro de 2008.

Não abordando cada um dos regulamentos exaustivamente, por não ser esse o propósito deste trabalho, verifica-se que apesar de existirem inúmeros regulamentos, a actual legislação encontra-se sobretudo vocacionada para construção nova, e os requisitos exigidos pelos regulamentos quando aplicados à reabilitação, são difíceis de cumprir (pelo menos a preços razoáveis) tornando muitas vezes os projectos de intervenção de difícil concretização. Deve-se promover um quadro legislativo de

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excepção, adequado a este tipo de operações, mais objectivo, mais realista e efectivo, respondendo a um equilíbrio entre as exigências a satisfazer e o factor de índole económica [11].

A agravar este problema constata-se que a legislação está dispersa e muitas vezes não é esclarecedora, existe um vazio, pois permite interpretações muito variadas. Seria importante resolver esta problemática, uma vez que a legislação no caso concreto de reabilitação de edifícios tradicionais, não devia ser tão impeditiva e desajustada. [3]

O Regime Jurídico da Reabilitação Urbana, diploma aprovado recentemente, vem colmatar algumas das falhas identificadas no sector, nomeadamente algumas das aqui referidas.

São uma realidade do nosso País alguns programasde apoio e incentivos ao setor da reabilitação como forma de atrair investimento mas acima de tudo incentivar os privados a reabilitar o seu património edificado. “(…) o conjunto de incentivos fiscais que existem na baixa do Porto, permitem ter custos inferiores em 45 % no centro histórico, face a uma construção nova. Com os mesmos 100 m2, a reabilitação de um edifício degradado, fica mais barata em 45 %.” [12].

Assim, existem três tipos de apoio diferenciados à reabilitação urbana:

• Benefícios Fiscais;

• Taxas e Licenças Municipais;

• Programas de apoio à reabilitação urbana – programas financeiros.

O objectivo essencial dos apoios e incentivos é promover a reabilitação, procurando a modernização e beneficiação dos imóveis, melhorando o seu desempenho e a resolução das deficiências físicas e anomalias construídas, ambientais e funcionais acumuladas ao longo do tempo.

Os benefícios fiscais são concedidos pelo Governo, e são fundamentais para a competitividade face à construção nova. Em termos fundamentais consistem em:

• Taxa reduzida de IVA de 5%;

• Isenção de IMI, Imposto Municipal sobre Imóveis por um período de 5 anos, a contar do ano, inclusive, da conclusão da mesma reabilitação, podendo ser renovada por um período adicional de 5 anos;

• Isenção /Reembolso do pagamento de IMT (Imposto Municipal sobre Transacções) para as aquisições de prédio urbano ou de fracção autónoma de prédio urbano destinado exclusivamente a habitação própria e permanente, na primeira transmissão onerosa do prédio reabilitado, quando localizado na área de reabilitação urbana;

• Incentivos à constituição de Fundos de Investimento Imobiliário em reabilitação urbana (isenção de IRC ou taxa especial de 10 % de IRS e IRC). [3]

Os programas de apoio financeiro à reabilitação que existem neste momento, por parte do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), são os seguintes:

• RECRIA – Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados (D.L. n.º 329-C/2000, de 22 de Dezembro);

• REHABITA – Regime de Apoio à Recuperação Habitacional em Áreas Urbanas Antigas;

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• RECRIPH – Regime Especial de Comparticipação e Financiamento na Recuperação de Prédios Urbanos em Regime de Propriedade Horizontal (D.L. n.º 106/96, de 31 de Julho);

• SOLARH – Solidariedade de Apoio à Reabilitação de Habitação (D.L. n.º 39/2001, de 9 de Fevereiro). [3]

2.2.3.4. Herança Cultural

No antigo Egito, por muitos considerada a primeira grande civilização juntamente com a Mesopotâmia, tendo instalações datadas de 4000 A.C., observam-se os primeiros focos de organização urbana e a criação das primeiras grandes metrópoles mundiais.

Os principais materiais utilizados pelas civilizações egípcias para as suas construções eram a pedra e a argila, com utilização também de madeira. Mas devido à escassez e má qualidade desta última naquelas regiões, era necessária a sua importação.

Estruturas importantes, como templos e túmulos, “destinados a durar para sempre”, o material utilizado era a pedra de grés ou calcária. Nas residências, nos palácios e nas construções militares eram utilizados materiais mais perecíveis, tais como tijolos, barro e madeira e que, consequentemente, não sobreviveram ao tempo. Os tijolos de argila eram misturados com palha e secos ao sol, unidos por meio de argamassa de argila ou areia fina. [13]

As coberturas dos edifícios eram planas e construídas com vigas de pedras dispostas horizontalmente e que se apoiavam em colunas. As residências privadas eram de alvenaria de tijolo e tecto plano com terraço.

Nos templos egípcios e gregos, os tectos costumavam ser constituídos por pedra apoiada nas arquitraves, nas paredes ou nas colunas. Embora estas edificações fossem essencialmente de pedra, é relevante perceber que esta não era o único elemento utilizado; os templos eram também construídos com outros materiais, necessários à completa edificação. O interior dos pavimentos apresentava espaços vazios, para aligeirá-los, ornamentados com esculturas ou pinturas. [14]

A arquitectura romana foi muito influenciada pelas culturas antecessoras, designadamente pela civilização grega. O que as distinguia era o sentido prático; os Romanos, cedo trataram de avaliar a arquitectura de um prisma diferente.

Relativamente aos pavimentos dos edifícios, estes eram realizados em madeira, que se apoiavam em vigas tratadas de forma a oferecerem um aspecto agradável. Vitrúvio e Plínio foram os arquitectos responsáveis por prescrever regras de execução para que esta técnica fosse possível. Até ao aparecimento do ferro, a utilização da madeira foi a solução mais empregada nas construções civis, no que respeita aos pavimentos.

Os romanos por vezes usavam vigas cruzadas que formavam tectos artesanais com formas quadradas, rectangulares ou ainda poligonais. Existem vários exemplos desta prática durante a época renascentista, com técnicas utilizadas não muito diferentes das romanas. [14]

Com a descoberta do arco e da abóbada passaram-se a construir alguns monumentos com esta solução. A vantagem desta alternativa é a beleza proporcionada aos espaços interiores; para um pavimento conseguir atingir um elevado grau estético precisa de enriquecer-se com elementos decorativos tais como pinturas e esculturas, enquanto um espaço coberto com uma abóbada se ficar reduzida à sua essência construtiva chega.Actualmente a utilização das abóbadas não é muito corrente, os pavimentos

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construídos através de vigas empregam-se mais em todos os todos os tipos de edificações por razões diversas, destacando-se entre elas:

• Maior facilidade e rapidez de execução;

• Maior aproveitamento do volume do edifício;

• Menor peso próprio e como consequência menores cargas sobre as estruturas de suporte;

• Maior economia na construção do edifício;

Os pavimentos de pedra utilizados para construir os templos egípcios e gregos pertencem a um passado remoto, seria hoje impensável voltar a construir pavimentos através deste material.

Hoje em dia é possível dispor de numerosos tipos de pavimentos que se enriquecem continuamente com novos sistemas construtivos. Pavimentos formados através de materiais elásticos, pois estes têm a capacidade de resistir a esforços de flexão e de corte a que estão submetidos por efeito das forças exteriores. Estes materiais podem-se agrupar em três categorias: pavimentos de madeira, de ferro e de betão armado.

A herança cultural é um dos mais fundamentais valores ligados à reabilitação. O conhecimento da história da arquitectura, da engenharia, das técnologias e dos materiais é fundamental para criar uma base de respeito necessária para a correcta prática da reabilitação.

A utilização dos materiais tem que ser bem pensada por forma a que a sua substituição não seja descontextualizada do potencial histórico e cultural dos edifícios intervencionados.

A preservação da autenticidade passa, então pela manutenção do carácter histórico dos edifícios. Há, por vezes situações em que se tem que abdicar de uma intervenção demasiado conservacionista em detrimento de uma mais realista. Uma noção que o agente reabilitador não deve nem pode ignorar é a rentabilidade da intervenção que leva a cabo. Uma intervenção demasiado onerosa está condicionada ao fracasso pelo incomportável valor de mercado que terá. Intervenções “cegas” do ponto de vista dos custos por forma a preservar todos e quaisquer traços de história só são exigíveis e compreensíveis nas intervenções sobre o património monumental.

Existe uma responsabilidade geracional em que cada geração deve ser apenas portadora e curadora deste património edificado até o entregar à geração seguinte que, de forma natural, prosseguirá este ritual. Toda a sociedade deve estar sensibilizada para tal facto pois cabe a cada um dos indivíduos o dever de respeito e a responsabilidade de preservação deste legado.

Poder-se-ão distinguir os diversos tipos de valor inerentes a um edifício de interesse histórico“A avaliação de propriedades com interesse histórico acrescenta três parcelas a este valor: valor de antiguidade, valor arquitectónico e valor histórico.

a) Valor de antiguidade: valor atribuído face à idade da propriedade, associado à sua singularidade como representante do passado4.

b) Valor arquitectónico: valor resultante da integridade arquitectónica do edifício, como exemplo de um período ou de um estilo, ou do trabalho de um arquitecto.

c) Valor histórico: valor conferido à propriedade pela sua relação com uma personagem histórica ou pela ocorrência de um acontecimento histórico.” [15]

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“Recorrendo a materiais, instalações e equipamentos hoje disponíveis e especialmente concebidos para intervenções de reabilitação “suaves”, é possível conferir às habitações dos centros históricos condições de salubridade e conforto adequadas, adaptando-as, por exemplo, às exigências habitacionais de uma população de estudantes e trabalhadores solteiros, de jovens casais ou de pequenas famílias.” [5]

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IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DE SOLUÇÕES

3.1. NOTA PRÉVIA

Neste capítulo serão expostas e analisadas as diferentes soluções passíveis de serem usadas em obras de reabilitação de pavimentos em edifícios antigos.

Procura-se dar ênfase às diversas características que podem pesar na decisão da sua escolha. Esta avaliação prende-se com factores directamente ligados à definição técnica e de comportamento dos materiais bem como no que diz respeito à sua aplicabilidade e manutenção.

Serão também abordadas as exigências regulamentares em vigor para que se enquadre claramente o tema por forma a avançar sustentadamente para os capítulos seguintes.

3.2. SOLUÇÕES

3.2.1. INTRODUÇÃO

Recuando até ao início das civilizações humanas e observando os edifícios realizados pelo Homem, podemos assistir a uma grande evolução no que respeita aos pavimentos elevados dos edifícios. Estes foram e continuam a ser objecto de um estudo intenso, de forma a encontrar cada vez mais e melhores soluções para aumentar a qualidade dos pavimentos. [16]

A definição das soluções a adoptar é um dos problemas complexos com que o agente reabilitador se depara. Pretende-se, como foi descrito no capítulo anterior, fazer prevalecer as características basilares quer estéticas quer funcionais, que conferem identidade ao edifício. É necessário ter redobrados cuidados para que a solução adotada não elimine a ligação que existe com o passado. A sensação intangível da componente histórica depende, também, da escolha das soluções para o pavimento.

Deverá, então, o agente reabilitador abordar o problema de uma forma que não seja demasiado conservadora, não pondo em risco a melhoria das condições de habitabilidade, conforto e segurança, mas também, por outro lado, não deve ser demasiado disruptivo com a linha base do edifício. Essa linha assegura interesse patrimonial e valoriza-o pelo carácter histórico que sustenta.

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São conhecidas muitas formas de reabilitação de pavimentos, podendo começar por dividir os tipos de intervenção em dois grandes grupos.De um lado está uma intervenção mais conservacionista que preserva o existente ou parte dele, quase sempre em madeira, e que apenas trata de reparar falhas pontuais quer da estrutura quer do revestimento e conferir-lhes as condições necessárias para desempenharem com sucesso as funções que foram perdendo com o tempo.Este tipo de solução é bastante comum, estando, porém, presa a algumas condições que a limitam.

Desde logo, esta técnica, por vezes mais desejada quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista da duração da intervenção, pode-se tornar inconcebível mediante o estado de degradação do pavimento existente.Por vezes a degradação do soalho ou da estrutura que o sustenta é de tal forma avançada que a sua recuperação implicaria custos e tempos que, na maior parte das vezes não seria possível dispender. É, então, que aparece como solução, de carácter mais invasivo, a reabilitação por demolição ou transformação formal da estrutura e construção de uma de raiz, que substitui a original.

Neste ponto são várias as opções que se afiguram válidas perante o projectista. As estruturas construídas terão que ser compatíveis com a restante estrutura do edifício, grande parte das vezes original e, como tal, com limitações próprias da sua antiguidade.

A construção de raiz da solução de pavimento traz, no entanto, algumas vantagens. O cumprimento do disposto nos regulamentos torna-se mais fácil, as garantias de segurança e de fidelidade do construído são mais rapidamente cumpridas.

Cada uma das soluções apresenta características próprias e a sua escolha vem condicionada por razões variadas, designadamente: considerações de resistência, durabilidade, resistência ao fogo, económicas, salubridade e estéticas. Os pavimentos têm no entanto, que reunir determinadas condições:

• Resistência adequada e absoluta segurança;

• Elasticidade limitada entre valores aceitáveis, ou seja, a flecha de flexão deve ser mínima, mas sem cair, no entanto, numa rigidez excessiva;

• Espessura mínima para o aproveitamento máximo dos espaços;

• Peso moderado para reduzir o mais possível a carga sobre a estrutura de suporte;

• Deve proporcionar isolamento térmico e estanquidade;

• Possibilidade de instalar no seu interior canalizações para água, electricidade, entre outras;

• Eficaz resistência contra os incêndios;

• Economia, através de um emprego inteligente dos materiais, conseguindo o máximo aproveitamento da sua resistência mecânica, bem como, através de uma racional organização do trabalho, incluindo o recurso à préfabricação sos elementos sustentantes que, entre outras coisas, permitem simplificar as construções. [16]

Segue-se, portanto, uma descrição pormenorizada de alguns exemplos deste tipo de soluções.

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3.2.2. LISTA GERAL DE SOLUÇÕES

Como foi atrás exposto, o tipo de escolhas a fazer relativamente às soluções a adoptar depende, directamente, da primeira opção que diz respeito à definição do tipo de intervenção a fazer.

São postas como opções, como já foi dito, a intervenção mais conservadora, por vezes impossível de realizar devido ao avançado estado de degradação dos pavimentos, ou uma intervenção com transformação formal que implicará uma alteração ou reconstrução da estrutura, do revestimento ou de ambos.

Quadro 2 – Panorama geral das soluções de reabilitação de pavimentos

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaDuctos

Instalações

Estrutura

Recuperação dos tectos em gesso

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Ductos

Zona Técnica

Instalações

Tratamento adequado aos soalhos

Revestimento

Estrutura

Conservadora

(Recuperar o pavimento existente)

Solução

Reforço estrutural com diminuição do espaçamento dasvigas

Substituição da madeira em más condições

Inclusão de novos elementos de descarga

Revisão das ligações entre os pavimentos e os

outros elementos estruturais

Previsão de ductos e outros espaços para

equipamentos

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Em grande parte dos casos, no território nacional, os edifícios antigos, anteriores à década de cinquenta, estão dotados de uma estrutura em madeira. “A este propósito (Lopes; 2006 b) efectuou um estudocomparativo entre várias soluções de pavimentos para um vão de 7 metros, tendo avaliado para cada uma das cargas e custos associados e a energia gasta na sua reprodução.

As soluções de pavimentos analisados e apresentadas no Quadro 3 foram a laje maciça de betão armado (designado por P1) e a laje aligeirada de vigotas (designada por P2) (provavelmente as mais utilizadas na construção em Portugal), tendo também sido estudada a laje mista com perfis metálicos HEB e lajeta de betão armado (designado por P3). Por outro lado, foram estudadas duas soluções que não são ainda muito utilizadas na construção em Portugal, e que fazem uso da madeira: uma solução mista com perfis metálicos e madeira maciça (designada por P4) e outra solução apenas com elementos estruturais de madeira maciça e de madeira lamelada colada (designada por P5). De forma a simular os pesos totais referentes a cada solução, associaram-se os respectivos materiais de revestimento mais comuns.

Quadro 3 – Soluções de pavimento e respectiva altura final

O autor chegou a conclusões interessantes:

• Como se esperava, as três primeiras soluções são, claramente, as mais pesadas, sendo que a laje maciça de betão armado supera largamente todas as outras, chegando a um peso sete vezes maior do que a solução em madeira, Quadro 4.

• A espessura final da laje mais reduzida é conseguida com a solução mista metálica-betão, resultando numa espessura de cerca de metade da solução apenas com madeira. As soluções de betão armado permitem também uma espessura reduzida de pavimento, Quadro 3.

• Considerando os custos definidos pelo autor para a região do Porto em 2006 (betão armado: 260€/m2; laje aligeirada: 37,5€/m2, aço em perfil: 2€/Kg; madeira lamelada colada GL28h: 750€/m3) verificou-se que a solução da laje aligeirada é a mais económica, representando 50% do custo das restantes, seguida da laje maciça de betão armado, com custo 25% inferior às soluções com elementos metálicos e de madeira, que apresentam um custo semelhante entre si, Quadro 5.

Quadro 4 – Peso/m2 dos pavimentos Quadro 5 – Custo/m2 dos pavimentos

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• A solução com madeira é claramente a que apresenta menor exigência energética e, sendo a madeira um material isolante, é a solução que apresenta o melhor comportamento térmico não tendo, por outro lado, um bom comportamento acústico a sons aéreos e /ou com percussão, Quadro 6.

Quadro 6 – Quantidades e custos energéticos dos pavimentos

• As soluções que não envolvem betão armado, ou seja, as constituídas por elementos metálicos ou de madeira, são as mais rápidas de executar” [17] [18]

3.2.3. PAVIMENTOS EM MADEIRA

3.2.3.1. Introdução

A madeira foi, ao longo de toda a história da construção mundial, eleita como um dos principais materiais. Esta preferência deve-se à excelência das suas características mecânicas e de durabilidade.

Até ao aparecimento do ferro e do betão os pavimentos elevados dos edifícios eram predominantemente realizadas em madeira, material que subsiste até aos dias de hoje, embora caindo em desuso na maioria dos países devido à descoberta daqueles materiais. Em certos países como o Canadá, Estados Unidos e norte da Europa, onde este material é abundante, a tradição dos pavimentos em madeira ainda se mantém viva, tendo-se atingido grandes progressos na execução destes, designadamente ao nível do aspecto, durabilidade e condições de salubridade. [14]

Ainda nos dias de hoje, este papel de destaque como material de eleição preferencial é desempenhado pelas madeiras apesar de todos os rivais que a evolução dos meios tecnológicos e de investigação trouxeram. O leque de madeiras passíveis de serem utilizadas na construção é muitissimo vasto pelo que, se encontra com relativa facilidade uma espécie que se adeque às características que se pretende para a construção.

Sendo a madeira o material utilizado na maior parte dos pavimentos dos edifícios construídos no território nacional e anteriores à década de 50, este material reveste-se de uma importância extrema no que concerne ao tema desta tese. Ao longo dos tempos e à medida que foram sendo necessárias intervenções de reabilitação em pavimentos de madeira, esta foi, por muitas vezes preterida a favor de outras técnicas mais modernas e menos onerosas mas que, em grande parte dos casos, não respeitaram o legado histórico do edifício e a identidade que lhe era conferida por materiais como este.

A substituição da madeira deve-se, muitas vezes, também, ao seu estado de degradação, consequência do seu uso, de humidades e infiltrações ou até mesmo da destruição decorrente de incêndios.

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No entanto, a grande dúvida em relação à reabilitação de pavimentos em madeira é, que tipo de intervenção se deve levar a cabo.

• “A reabilitação é a solução mais natural e adequada para resolver os problemas que os pavimentos apresentam, permitindo que as suas características “originais” sejam restauradas;

• O reforço deve ser utilizado, por exemplo, quando se prevêem mudanças de uso e aumento de carga dos pavimentos;

• A substituição deve ser uma opção a tomar apenas quando nenhuma das anteriores for exequível (…)” [18]

Contudo, são apontados à madeira alguns defeitos que podem pesar na hora de escolher a solução a adoptar. Agentes reabilitadores menos informados poderão ser influenciados pelos preconceitos que existem de quem vê a madeira como um material de resistência e durabilidade muito limitadas.

A experiência mostra-nos que estes temores são infundados, sendo que pela Europa fora, inclusivamente e talvez especialmente em Portugal testemunhamos as boas performances de edifícios seculares cuja estrutura dos pavimentos é em madeira.

A utilização da madeira traz, ao contrário do que grande parte das vezes se pensa, algumas vantagens também do ponto de vista económico.

Como sustenta Tiago Dias [18], o facto de se poder muitas vezes aproveitar alguma madeira da obra pode contribuir para esta solução ser mais competitiva que aquela que prevê a construção de uma estrutura nova.

Para além disso, esta opção garante custos decorrentes da remoção de entulho e desperdícios mais reduzidos bem como uma simplificação dos estaleiros que, obviamente, também pesará favoravelmente nas contas finais.

No contexto geral da estrutura um pavimento em madeira vai ter uma influência menos agressiva em termos de cargas nas paredes resistentes. Esta pode ser uma das maiores vantagens deste tipo de estruturas devido à reconhecida leveza da madeira.

Paralelamente a todas estas questões de ordem estrutural, de funcionamento e desempenho, a madeira destaca-se pela salvaguarda do valor histórico e da identidade cultural privilegiando o pré-existente e a sintonia e harmonia entre elementos construtivos próprios de um edifício antigo.

A utilização da madeira como solução de pavimento pressupõe, contudo, uma série de cuidados e tratamentos para que sejam preservadas as suas características estéticas e comportamentais.

3.2.3.2. Intervenção

As intervenções em construções são um compromisso entre a execução de um pequeno trabalho de conservação, tentando não interferir com o conceito orifinal da construção e a necessidade de uma intervenção de reforço para assegurar as exigências de segurança. [36]

O tipo de intervenção a realizar numa estrutura deste tipo está intrinsecamente dependente da função pretendida para a obra. Essa é, aliás, uma das principais dificuldades da intervenção estrutural. Adequar o tipo de intervenção às exigências funcionais torna-se muito complicado quando é extremamente difícil avaliar a capacidade resistente final.

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Cada caso reveste-se de características específicas e a avaliação do tipo de intervenção tem que ser feita a cada nova abordagem.

O uso das tecnologias tradicionais ou modernas deve ser sempre avaliado segundo uma óptica de prudência e bom senso, utilizando os instrumentos de avaliação que a moderna teoria da conservação coloca ao nosso dispor. [18]

Por sua vez, na implementação de soluções de reabilitação ou reforço é muito importante assegurar a manutenção da autenticidade original das estruturas de madeira. Tendo em conta esse objectivo (...) faz as seguintes recomendações:

• Sempre que se usarem materiais e soluções modernas, deve-se respeitar o passado preservando tanto quanto possível, os materiais existentes. Por sua vez, não se deve intervir de uma forma destruidora, tentando deixar uma marca profunda da intervenção: a melhor solução é a que implica o menor número de alterações possível;

• Deve-se aceitar a necessidade de intervenções futuras respeitando ao mesmo tempo as intervenções precedentes e o seu contexto;

• Deve ser preparado um plano de monitorização e manutenção para a construção em fase de utilização, que assegure o adequado acompanhamento da estrutura;

• A intervenção deve ser exaustivamente documentada para permitir no futuro uma actuação compatível com as decisões tomadas em cada contexto. Por sua vez deve-se avaliar a necessidade de ajustar as soluções projectadas, tendo em conta o observado em fase de obra” [18] [20]

As preocupações estruturais na reabilitação de um pavimento em madeira devem também ter em atenção uma série de pontos. Cuidados a ter na reabilitação de estruturas de madeira de forma a efectuar a verificação de segurança estrutural (Estados Limite Últimos e de Utilização), conseguindo melhorar a funcionalidade da estrutura:

• Antes de proceder às acções de reabilitação devem-se eliminar todas as causas existentes de degradação;

• Deve-se assegurar a ventilação dos apoios dos elementos estruturais evitando, na medida do possível, o contacto directo da madeira com materiais que retenham a humidade ou impeçam a ventilação (por exemplo, argamassas de cimento);

• É conveniente manter as estruturas num nível adequado (normalmente baixo) de esforço mecânico, devendo o controle da fluência e do desempenho em serviço (deformações, vibrações) ser executado com o mesmo cuidado da resistência mecânica;

• Deve-se manter, sempre que possível, o nível existente de restrições ao deslocamento e de condições de apoio, evitando mudar a forma como os diversos elementos estruturais se encontram em serviço em relação ao esforço;

• Deve-se verificar a estabilidade, o nível de degradação e a deformabilidade dos elementos de suporte (fundações, paredes, etc) das estruturas de madeira antes de intervir nelas;

• Sempre que possível, deve possibilitar-se a visualização das estruturas intervencionadas, permitindo a realização de inspecções periódicas (controle da temperatura, humidade, teor em água da madeira, etc.);” [18]

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Falou-se anteriormente na regra da reversibilidade da intervenção que consistia em que cada intervenção levada a cabo num pavimento se deveria revestir de um carácter reversível que permitisse devolver, em qualquer altura, as carcterísticas originais ao pavimento reabilitado. Como se pode facilmente perceber qualquer intervenção sobre a madeira do pavimento resulta na quebra da regra de preferência pela reversibilidade da intervenção tornando-a mesmo muito subjectiva.

A necessidade de reforço dos apoios das estruturas de madeira pode resultar da existência de roturas decorrentes da influência dos esforços de flexão e dos esforços de corte ou a “perdas de secção resistente originadas por ataque de agentes bióticos, à existência de nós ou defeitos, a mudanças de uso ou acréscimo de carga, etc”. Todas estas condicionantes causadoras de roturas ou funcionamentos deficientes como vibrações ou deformações exageradas das estuturas são suficientes para a necessidade de intervenção não só ao nível do apoio mas também ao longo de todo o comprimento da estrutura. O teor em água da estrutura junto ao apoio pode favorecer a deterioração da estrutura por ataques bióticos. O enfraquecimento do elemento nesta zona privilegia o aparecimento de roturas quer por forças de flexão quer por forças de corte. [18]

Nestas situações e ainda que o resto da peça se encontre em bom estado, é necessário actuar para recuperar as condições de estabilidade que se encontram comprometidas. Este tratamento é muito importante, na medida em que a degradação das condições de ligação entre a estrutura dos pavimentos e as paredes resistentes tem consequências duplamente negativas sobre a segurança global da estrutura do edifício, i.e., quer para acções verticais, quer para acções horizontais, nomeadamente as sísmicas. [21]

São muito variadas as opções que existem para acorrer a estas patologias. No limite, recorrer-se-á à substituição do elemento para a sua reparação.

A introdução de novos elementos de madeira acaba por ser uma solução muito utilizada, já que permite que as características do pavimento se mantenham. Ainda assim, para que isso aconteça, é muito importante que os novos elementos de madeira a introduzir sejam da mesma espécie e possuam características naturais, como a resistência, o módulo de elasticidade semelhantes às da madeira existente. [21] refere mesmo que é conveniente adoptar madeiras velhas, bem secas e de boa qualidade. Por sua vez, o teor em água na altura da aplicação deve ser compatível com o da madeira da estrutura, de forma a evitar-se problemas de incompatibilidade física.[18]

Ainda assim, nem sempre é possível conseguir madeira idêntica à existente já que, ou não existem as secções comerciais necessárias, ou não há tempo suficiente para secar a madeira cortada de forma a garantir o seu posterior bom desempenho (...). Pode-se atenuar esta limitação aproveitando madeira proveniente de demolições de edifícios antigos ou guardando as novas peças de madeira já secas no edifício onde vão ser instaladas para que adquiram a humidade de equilíbrio com o ambiente. Nas zonas de apoio das vigas é possível utilizar pelo menos duas soluções de reforço utilizando peças de madeira. Uma mais simples, consistindo no acoplamento das novas peças ao elemento existente, sem a remoção das partes degradadas e a sua substituição por novas peças de madeira. [18]

A introdução de elementos de madeira é, à partida, uma opção de reforço adequada, já que consiste na adição de um material com características semelhantes ao existente. Ainda assim, em ambas as soluções apresentadas, a ligação entre as novas peças de madeira e as antifas deve ser cuidada para que haja uma correcta transmissão de esforços , sendo importante, no caso da solução com sobreposição de elementos de madeira garantir um comprimento de sobreposição mínimo entre eles. A segunda

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solução apresentada é mais complexa em termos de mão-de-obra, uma vez que obriga à utilização de entalhes e encaixes. [18]

Ambas as soluções com introdução de peças de madeira se podem aplicar sem limitações arquitectónicas, mesmo quando existam tectos a manter, uma vez que não aumentam a espessura total do pavimento. A primeira solução sem remoção das partes degradadas tem a vantagem de não envolver, à partida, o escoramento do pavimento, o que é obrigatório nas restantes soluções. No entanto necessita de um tratamento preservador da madeira mais cuidado, já que os novos elementos de madeira ficarão em contacto com os deteriorados. [18]

Depois de analisadas as diferentes formas de reforçar as zonas de apoio dos elementos estruturais dos pavimentos, passa-se agora a analisar os métodos de reabilitação/reforço ao longo do seu comprimento, e particularmente a meio vão, zona em que se encontram submetidos principalmente a esforços de flexão. [18]

As causas mais comuns para os problemas existentes nestes elementos são a presença de ataques de agentes bióticos (normalmente associados à presença de humidade) originando a redução da secção; a presença de defeitos ou nós; a aplicação de cargas de tipo ou intensidade não previstas, nomeadamente em processos de alteração funcional de edifícios; o espaçamento exagerado entre vigas, as secções e tarugamento insuficientes para suportar as cargas com uma tensão ou deformação admissíveis (deficiências de projecto), etc. [18]

Estes problemas vão originar vibrações e deformações em excesso, normalmente devido à não consideração, em fase de projecto, da segurança em relação à vibração e deformação, ou do efeito da fluência da madeira associada a aplicaºão contínua de cargas. Este processo pode eventualmente culminar na rotura por flexão de um elemento singular ou da totalidade do pavimento.

Em relação a este ponto, Appleton indica que no caso de se verificar a existência de cargas em excesso, é conveniente proceder à sua distribuição, transferindo-as para outras zonas do pavimento. Uma vez que as cargas que se encontram aplicadas a meio vão são as que provocam maior deformação, refere a possibilidade de as deslocar para junto dos apoios fazendo previamente a verificação de segurançã dos elementos estruturais em relação ao corte. [21]

A deformabilidade do pavimento pode ser limitada através de vários processos distintos, consistindo um deles na redução do vão do pavimento, através da criação de pontos intermédios (vigas transversais às existentes), que podem alterar o tipo de esforços nos elementos de madeira, e outro no reforço da capacidade resistente do pavimenteo, levando a um aumento da sua rigidez. (...), estes processos de reforço podem ter um carácter passivo ou activo.No reforço passivo, que pode ser executado sem precauções especiais, limita-se a deformação dos pavimentos a partir da altuea em que o reforço é aplicado, sendo o reforço analisado tendo em consideração as cargas a aplicar após a intervenção. No reforço activo limita-se a deformação em valor absoluto, sendo o reforço estudado de acordo com a totalidade das cargas aplicadas no pavimento. Neste processo aplica-se, antes da execução dos reforços, uma força ascendente (através de escoramentos) que contraria a totalidade das cargas aplicadas no pavimento, criando uma contra flecha igual ao valor da deformação do pavimento, anulando-a. Quando existem paredes sob ou sobre o pavimento a reforçar, este tipo de reforço não deve ser aplicado, uma vez que implicará graves estragos nesses elementos. (...).” [18] [21]

Verifica-se com frequência que os pavimentos antigos de madeira apresentam uma ligação suficientemente eficaz às paredes de alvenaria que lhes permita prevenir forças fora do plano nestes elementos quando sujeitos a sismos. Por esta razão, e como se referiu no ponto anterior, é muito importante proceder á melhoria da ligação pavimento-parede, de forma a permitir que os pavimentos

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ajudem a estabilizar as paredes impedindo, na ocorrência de sismos, a sua deformação fora do plano. [18]

Para além de proceder à melhoria desta ligação, e com o objectivo de melhorar o comportamenteo do edifício ao sismo, é possível aumentar a rigidez do pavimento, tanto no plano como fora do plano. Para o fazer, (Marini et al.; 2006) propõe várias soluções, nomeadamente a criação de elementos metálicos perimetrais e de diafragmas ao nível dos pavimentos. Uma vez que a pimeira solução pode ser inadequada no caso das relações altura/espessura desfavoráveis, o autor sugere a atribuição aos pavimentos de um melhor comportamento de diafragma, transformando basicamente o edifício numa caixa, e podendo inclusivamente impedir o colapso das paredes. Este diafragma, para além de melhorar o comportamento do pavimento, aumentando a sua capacidade de carga, ajuda a suster a estrutura contra o primeiro e mais significativo modo de colapso, envolvendo o derrube das paredes sendo, no entanto, pouco efectivo para evitar outros mecanismos de colapso eventualmente despoletados por sismos fortes. [18]

No entanto, é importante notar que as melhorias do comportamento do edifício ao sismo com a atribuição ao pavimento dum comportamento de diafragma (mais ou menos rígido) não reúnem consenso na comunidade científica. A razão para esta situação reside no facto de se terem verificado alguns casos em que a introdução de pavimentos com comportamento de diafragma, com grande rigidez, levou à ocorrência de graves danos nas paredes de alvenaria. Nesse sentido, é importante ponderar bem o uso dos diafragmas, tendo sempre em conta que, em determinadas situações, a melhoria da ligação pavimento-parede pode ser mais adequada para atribuir ao edifício um melhor comportamento ao sismo. [18]

A atribuição (ou melhoria) do comportamento de diafragma do pavimento pode ser feita de diversas formas, devendo sempre o cuidade de impedir um aumento no peso dsa estrutura e consequentemente o aumento da acção sísmica. Os diafragmas devem satisfazer, em particular, o critério da capacidade resistente, de forma a permitir a transferência das acções sísmicas para as paredes resistentes devendo, no entanto, controlar-se as deformações no plano do diafragma que possam vir a provocar danos nas paredes de alvenaria (Giuriani et al.; 2005) em (Marini et al.; 2006). [18]

3.2.4. PAVIMENTOS EM LAJE DE BETÃO

Os pavimentos que compreendem a utilização de uma laje em betão quer seja ela aligeirada, armada etc, são dos mais comuns quer no que diz respeito à construção nova, quer no que diz respeito à prática da reabilitação. Os custos baixos, facilidades de execução aliadas e as performances técnicas excelentes que lhe são largamente reconhecidas contribuem para que o betão se afirme como um dos materiais preferidos para estas práticas.

A descoberta do betão armado veio revolucionar a indústria da construção. Devido às suas caracterís-ticas tornou-se um dos materiais mais importantes utilizados na arquitectura do século XX, tendo tido a sua verdadeira expansão após a 2ª grande guerra [22]. Em Portugal, a utilização do betão foi crescendo gradualmente após o início, em 1894, da produção de cimento Portland na Fábrica de Cimento Tejo, em Alhandra. O início do actual domínio do betão armado nos nossos hábitos construtivos foi marcado pela construção da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, concluída em 1938 nas Avenidas Novas. Também nesta época, o betão armado começou a ser utilizado nas alterações dos edifícios pombalinos.

As alterações feitas com recurso à tecnologia do betão armado foram particularmente intrusivas e responsáveis por adulterações profundas dos edifícios pombalinos. O aumento de massa que a

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ultilização deste material acarreta pode ter efeitos negativos no comportamento sísmico dos quarteirões pombalinos. [5]

Desde o início da sua utilização até aos dias de hoje têm-se feito inúmeros estudos com a intenção de encontrar mais e melhores soluções no que se refere a lajes de edifícios. Inicialmente, quando o conhecimento era ainda pouco, as lajes faziam-se unicamente com betão armado, mas com o evoluir dos tempos e com o objectivo de melhorar as características das lajes foram-se realizando vários estu-dos até conseguir chegar a melhores soluções.

Actualmente, é possível encontrar uma vasta gama de possibilidades que permitem responder de forma diferente consoante o problema apresentado. Encontram-se diversas soluções de lajes mistas que trata-remos de mostrar nos pontos subsequentes, começando por definir as lajes simples de betão armado.

É de referir o esforço efectuado para incorporar o máximo de prefabricação, tal como nas lajes dos materiais atrás enumerados, de forma a tornar a realização destas numa operação mais industrializada e consequentemente mais económica.

Hoje já é possível a prefabricação parcial e total das lajes de betão armado, como é o caso das lajes de vigotas, pré-lajes ou as lajes alveolares.[16]

3.2.5. PAVIMENTOS COM ESTRUTURA METÁLICA

É também cada vez mais comum a utilização de estrutura metálica na execução de obras de reabilitação.

A inclusão de perfis metálicos é muito vantajosa por constituir uma forma simples de substituir as vigas de madeira e os tarugos normalmente encontrados nas estruturas dos pavimentos dos edifícios antigos.

As extraordinárias características resistentes destes elementos e a sua componente de préfabricação que elimina trabalho e complicações na obra são factores que contribuem para a tendência na escolha destes elementos.

3.2.6. SOLUÇÕES MISTAS

São, muitas vezes, preferidas soluções que contemplam a compatibilização de diferentes materiais passíveis de figurarem como estrutura de um pavimento de um edifício reabilitado.

São comuns as lajes que combinam o betão e o metal ou a madeira e o metal como, de resto, será possível testemunhar no capítulo seguinte.

Por vezes a inclusão de elementos metálicos prende-se apenas com pequenas peças ou aplicações fundamentais para o funcionamento da estrutura. Como Cóias refere no seu estudo, ”ferro encontra-se presente sob a forma de elementos de contraventamento e de ligação entre componentes estruturais (...):

• “Linhas de ferro” (tirantes), ligando as paredes de fachada com as de tardoz. Eram constituídas por vergalhões, amarrado exteriormente por travessas de varão ou por outros vergalhões.

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• Ferrolhos, em barra, de ligação dos pisos de madeira à alvenaria das paredes de contorno, nas duas direcções e, também, nos cunhais. Estes elementos amarravam por vezes ao paramento exterior, por meio de uma travessa de varão ou vergalhão.

• Ferrolhos de fixação dos aros de cantaria aos primos interiores de madeira.

• Cavilhas, pregos, braçadeiras e outras peças metálicas usadas na montagem das estruturas de madeira dos pisos e das coberturas

Na construção original, o ferro era na sua maioria, forjado. Trata-se de um material composto quase exclusivamente por ferro, com menos de 0,1 por cento de carbono, e com inclusões (veios) de escória (cinza). O ferro fundido (ou vazado) surge sobretudo em acessórios (gradeamento de varandas), e em alterações introduzidas nos edifícios em épocas posteriores. Trata-se essencialmente de uma liga moldável de ferro com 1,8 a 5 por cento de carbono, associada a outros elementos (enxofre, fósforo, silício, manganésio, etc.), em pequenas percentagens.” [5]

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4

ESTUDO DE CASOS

4.1. NOTA PRÉVIA

Neste capítulo abordar-se-á a temática da reabilitação de pavimentos em edifícios antigos através da análise de alguns casos práticos, cujos elementos de projecto foram gentilmente fornecidos pela Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto, Porto Vivo e pela Sociedade de Reabilitação Urbana, Viseu Novo.

4.2. SOCIEDADES DE REABILITAÇÃO URBANA

4.2.1. INTRODUÇÃO

A necessidade de controlar as tendências normais de desenvolvimento do mercado imobiliário promoveu o aparecimento das Sociedades de Reabilitação Urbana. O seu papel fundamental é o de apoiar e dinamizar a reabilitação dos centros urbanos contrariando o seu crescente abandono e degradação bem como a evolução da cidade para a periferia.

A conservação do património degradado exige regras e planeamento cuidadosos e a SRU assume-se, nas cidades, como uma entidade capaz e responsável por os aplicar.

Actuando como intermediário de todos os agentes envolvidos no processo de reabilitar desde investidores imobiliários, proprietários, construtos e municípios, a SRU pretende orientá-los de acordo com as necessidades e exigências do mercado. Nesse sentido, o seu trabalho é, não só ao nível do agente reabilitador como deve incluir também os representantes da procura a que o intervencionado se destina. “O papel das Sociedades de Reabilitação Urbana será o de despoletar iniciativas de oferta canalizando manifestações de procura.” [31]

Dotar os investimentos de uma rentabilidade que os permita ser aliciantes para os investidores é uma das preocupações centrais das SRU’s. O exemplo passado no resto do Continente Europeu demonstra-nos que “a reabilitação urbana tem procura e por isso justifica o investimento” [17]

O processo de reabilitar é complexo e exigente, como se descreveu com mais pormenor no Capítulo 2. A Sociedade de Reabilitação Urbana pretende participar em todas as etapas que o compõem de forma a garantir que o resultado final se reveste das características pretendidas e o seu valor de venda é suficientemente acessível para se tornar competitivo no mercado imobiliário.

Sendo assim, porque o papel da SRU não se limita à reabilitação direccionada exclusivamente para o lucro , o seu papel pedagógico e de atracção de investimento para imóveis e espaços à partida menos

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aliciantes reveste-se de uma faunção de responsabilidade social que se reflete no desenvolvimento ordenado do meio urbano.

A SRU esforça-se por se envolver o meio público nos processos que desenvolve. É essa a mudança de paradigma que se afigura fundamental para a rentabilidade da reabilitação.

“No plano da economia as SRU devem captar investimentos, mobilizar os Senhorios, assessorar as autarquias e criar as condições estratégicas para que os geradores da oferta sejam capazes de apostar neste produto “novo”, ainda sem procura conhecida , mas indispensável para a viragem funcional e cultural da cidade.” [31]

A cidade e o seu centro urbano dependem do trabalho das SRU’s. A preservação do património, grande parte das vezes monumental ou classificado, e a sua disponibilização no mercado com condições exigenciais rígidas e a preços competitivos fará com que o imóvel reabilitado e localizado no centro urbano, normalmente com mais condicionantes de trânsito, acessos e estacionamento, possa competir e sobreviver à “luta” contra o imóvel novo, construído de raiz, na periferia da cidade, onde a maior parte destes problemas não se colocam.

“Só pela salvaguarda activa se poderá encarar novas gerações de vitalidade para as nossas cidades, o que, aliás, foi sempre feito na transição de épocas anteriores quando as cidades deram os seus saltos em frente, na idade média, no renascimento, no Barroco ou no séc. XIX.” [31]

4.2.2. SRU PORTO, PORTO VIVO

Com um campo de intervenção definido estatutáriamente como Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística (ACRRU) de cerca de 1000 hectáres, a Sociedade de Reabilitação Urbana da Cidade do Porto insere-se no tipo de organismo acima mencionado tendo sido, inclusivamente, o primeiro a aparecer no país. No sentido de prioritizar a actuação da SRU, esta área abrangente foi delimitada a uma Zona de Intervenção prioritária (ZIP) mais restrita onde se verificará o início dos trabalhos.

A referida ZIP corresponde a cerca de metade da ACRRU e inclui na sua área o Centro Histórico do Porto classificado como Património da Humanidade, bem como a Baixa tradicional e áreas substanciais das freguesias de Bonfim, Santo Ildefonso, Massarelos e Cedofeita, correspondentes ao crescimento da cidade nos séculos XVIII e XIV.

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Fig.6 – Mapa geral das Zonas de Intervenção

Constítuída por capitais públicos do Estado (IHRU – Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, IP) e da Câmara Municipal do Porto (CMP) a Porto Vivo, SRU tem como principal desígnio a execução do Projecto de Reabilitação Urbana da Baixa Portuense. Reconhece-se-lhe a função de “promover a reabilitação da respectiva zona de intervenção”, “orientar o processo, bem como elaborar a estratégia de intervenção e investidores, entre proprietários e arrendatários e, em caso de necessidade, tomar a seu cargo a operação de reabilitação, com os meios legais de que dispõe.” [25]

“As áreas de reabilitação correspondem a espaços urbanos que, em virtude da insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infra-estruturas urbanas, dos equipamentos ou dos espaços urbanos e verdes de utilização colectiva, justificam a intervenção integrada.”

Agrupam-se como principais objectivos da Porto Vivo, SRU os seguintes:

� A re-habitação da Baixa do Porto; � O desenvolvimento e promoção do negócio na Baixa do Porto; � A revitalização do Comércio; � A dinamização do turismo, cultura e lazer; � A qualificação do domínio público.

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4.2.2.1. Introdução aos Estudo de Casos

Fig.7 – Planta de localização geral dos Casos de Estudo

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4.2.2.2. Projecto 11

A intervenção em apreço situa-se em pleno centro hitórico do Porto. O edífício alvo da reabilitação localiza-se mais precisamente na Rua da Bainharia, paralela à Av. Mouzinho da Silveira.

Esta rua caracteriza-se pela sua exiguidade, facto que influenciará, certamente, a dificuldade do transporte de materiais e maquinaria para a obra, bem como exigirá maiores cuidados e técnicas menos comuns na colocação de andaimes e na instalação do estaleiro.

Fig.8 – Planta de localização “Projecto 11”

As características dos edifícios desta zona são típicas das encontradas na generalidade dos bairros da baixa portuense. A cércea é de 4 pisos e a fachada e empena do edifício que serão os únicos elementos a manter são em alvenaria de pedra.

A intervenção no edifício não começou ainda que o projecto já esteja pronto.

Apresentam-se de seguida alguns cortes construtivos, que permitem identificar claramente a solução adoptada. Como se disse em cima, apenas a fachada e as empenas do edifício se manterão pelo que se pode concluir facilmente que a intervenção ao nível dos pavimentos se situa no campo daquelas que se referiram como totalmente novas.

Estruturalmente escolheu-se uma solução em laje de betão aligeirada.

Genéricamente, no que diz respeitao pavimento dos pisos intermédios este é constituído, do limite superior para o inferior por um pavimento flutuante em carvalho, uma camada de espuma de politileno, uma lajeta de inércia composta por argamassa armada com rede electrosoldada, isolamento acústico do tipo Impactodan D10, uma camada de betão leve em EPS, a laje aligeirada e, por fim, para servir de acabamento ao tecto do piso inferior, uma camada de gesso cartonado.

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Fig.9 – Pormenor do pavimento num piso intermédio

Na zona de ligação da fachada com o pavimento exterior e atendendo aos cuidados de isolamento

que, neste tipo de pavimentos, são fundamentais, a solução é ligeiramente diferente sendo que se

optou por proceder à impermeabilização inferior através de uma argamassa do tipo Maxit Superflex

D1. Imediatamente em cima desta camada de impermeabilização assentar-se-á uma laje de granito

com 16cm de espessura. De seguida, a solução prevê uma camada de enchimento em betão leve

com EPS encimada por uma lajeta de inércia em argamassa com rede electrosoldada à semelhança

do que acontece nos pisos intermédios bem como no revestimento em que se optou mais uma vez

por um soalho do tipo flutuante.

Fig.10 – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior

No que diz respeito ao pavimento que liga com a parede exterior, também aqui se tem uma preocupação acrescida com os pormenores de impermeabilização. Inferiormente a solução é limitada por uma manta geotextil. De seguida, preenche-se uma camada de 15cm com brita até se cobrir com uma folha de polietileno. Entre esta folha e uma tela asfáltica preenchem-se 4cm com argamassa para camada de regularização. Sobre esta camada estende-se uma manta geotextil a que se segue uma laje em betão com 6cm. Segue-se uma camada de betão leve para enchimento (7cm) e uma lajeta de inércia armada com rede electrosoldada à semelhança do que foi referido anteriormente.

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Fig.11 – Pormenor do pavimento térreo com a parede exterior

Apresenta-se na Fig. 12 um pormenor da ligação da fachada com o piso intermédio onde se pode identificar a inclusão de um tecto falso que permite a passagem de cabelagem e tubagem sem ter que abrir rossos. De resto, a solução é aquela anteriormente descrita.

Fig.12 – Pormenor da ligação da fachada com o piso Intermédio

Atendendo ao que foi descrito anteriormente, poderemos identificar estas soluções no quadro de

soluções apresentado no Capítulo 3 deste trabalho. Assim,

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Quadro 7 – Enquadramento do Projecto 11 no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Fig.13 – Vista da Rua da Bainharia onde se situam os projectos 11 e 13

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4.2.2.3. Projecto 13

Esta intervenção de reabilitação a levar a cabo pela Sociedade de Reabilitação Urbana Porto Vivo diz respeito a um edifício sito na Rua da Bainharia e, à semelhança do que acontecia na obra anteriormente estudada, à data da realização deste trabalho a obra ainda não tinha começado.

Fig.14 – Planta de Localização “Projecto 13”

Também neste caso as características do edifício são consonantes com as da envolvente. O seu estado de degradação levou a que se considerasse, também neste caso, mais vantajoso reconstruir de raiz o novo pavimento.

Sendo assim, apresentam-se de seguida pormenores, respresentativos desta mesma solução adoptada neste caso.

Começando por analisar o que se optou para o piso térreo, podemos observar que se prevê uma camada de tout-venant imediatamente acima do solo. Segue-se uma camada de betão de limpeza. Optou-se, de seguida pela aplicação de uma camada estrutural de betão encimada por betonilha de regularização e, por fim, a aplicação de um soalho de madeira.

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Fig.15 – Pormenor do pavimento no piso térreo

No que diz respeito aos pisos intermédios e, como descrito na Fig. 15, a estrutura do pavimento é constituída por uma solução mista. Neste caso, optou-se por uma laje colaborante em que uma chapa metálica irregular dá forma e serve de cofragem a uma laje de betão. Os espaçamentos da laje, resultantes das irregularidades provocadas pela forma da chapa, são preenchidos por um isolamento térmico que é repetido na superfície superior da laje. Por cima deste isolamente térmico é aplicado directamente o soalho. Previu-se isolamente acústico, na face inferior da laje mista em lã de rocha. O tecto do piso inferior é revestido a placas de gesso cartonado.

Fig.16 – Pormenor do pavimento no piso intermédio

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Quadro 8 – Enquadramento do Projecto 13 no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Apresenta-se no Quadro 8 as soluções correspondentes a este projecto integradas no quadro de

soluções apresentado anteriormente. Destaca-se a preocupação na reserva de uma zona técnica.

Page 60: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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4.2.2.4. Projecto 1

A obra correspondente ao Projecto 1 situa-se na Rua de Miragaia, junto à Sé do Porto e é mais uma das intervenções promovidas pela Porto Vivo, SRU.

Fig.17 – Planta de Localização “Projecto 1”

Esta é, mais uma vez, uma intervenção num edifício cujas configurações se enquadram nos edifícios típicos da baixa portuense. A tipologia do edifício é pequena e a intervenção ainda não tinha começado à data da realização deste trabalho.

Em baixo incluem-se pormenores retirados dos desenhos fornecidos pela Porto Vivo, SRU em Anexo neste trabalho.

Através da sua análise podemos inferir que, para o pavimento térreo se optou por uma solução semelhante à do Projecto 13. Uma camada de tout-venant imediatamente acima do solo, seguida de uma camada de betão de limpeza. A estrutura deste pavimento é, novamente em betão, encimada por uma camada que serve de isolamento térmico. Sobrepõe-se uma betonilha de regularização acabada por uma betonilha afagada.

Fig.17 – Pormenor do pavimento do piso térreo

Page 61: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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Na figura seguinte salienta-se, no quadro geral de soluções, as diferentes opções do projectista para cada elemento neste projecto.

Quadro 9 – Enquadramento do Projecto 1 no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho

Soalho flutuante

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Betonilha afagada

Acrílico

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Fig.18 – Vista da Rua da Bainharia onde se situam os projectos 1 e 4

Page 62: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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4.2.2.5. Projecto 4

Este projecto diz respeito a um edifício localizado na Rua de Miragaia como se pode constatar pela Fig. 18.

Fig.19 – Planta de Localização “Projecto 4”

A tipologia pequena e as caracteristicas do edífício são as mesmas dos casos anteriores e, mais uma vez, espectáveis para um edifício da Zona Histórica do Porto. Este edífício insere-se ná área de intervenção da Porto Vivo, SRU e será alvo de uma intervenção de reabilitação apoiada por este organismo.

Para a intervenção optou-se, também como nos anteriores, por manter apenas a fachada e as empenas laterais em pedra, sendo que a restantes estruturas do edifício serão integralmente reconstruídas.

Bem como o que aconteceu com os casos de estudo anteriores, também esta obra não havia começado à data deste trabalho.

Apresentam-se, de seguida os cortes construtivos, cedido pela Porto Vivo, SRU, que permitem uma análise pormenorizada da constituição das soluções eleitas para os pavimentos.

Nas Figuras 19 e 20 são representadas duas soluções semelhantes utilizadas na separação de espaços não aquecidos. Apemas diferem na utilização ou não de uma camada constiruída por placas rígidas de lã mineral de alta densidade que contribuirá para o isolamento térmico do edifício.

Como se pode verificar, neste caso de estudo optou-se por uma solução que prevê uma estrutura para os pavimentos integralmente em madeira. Vigas de madeira com carácter resistente são dispostas para servir de estrutura que, por sua vez, é revestida, tanto inferiormente como superiormente, por soalho de madeira maciça.

Page 63: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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Fig.20 – Pormenor da laje de pavimento de separação com os espaços não aquecidos

Fig.21 – Pormenor da laje de pavimento de separação com os espaços aquecidos

Ao nível do pavimento térreo a constituição é, naturalmente, mais complexa. Aqui, uma manta geotextil é a primeira linha de separação entre o terreno e o edifício. Segue-se uma camada de 15cm de brita delimitada superiormente por uma película de PVC. Sobre esta película estende-se uma laje térrea em massame de argamassa a que se sobrepõe uma impermeabilização. Prevê-se, sobre este elemento, a inclusão de uma camada de isolamento acústico do tipo Impactodan D10 ou outro, de características equivalentes, a que se segue uma lajeta de inércio constituída por argamassa com rede electrosoldada. O revestimento final é em madeira densa colada.

Fig.22 – Pormenor da ligação da parede de fachada com o pavimento térreo

Fig.23 – Pormenor da parede e pavimento em contacto com o terren

Page 64: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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Quadro 10 – Enquadramento do Projecto 4 no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho de madeira

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Estrutura

Mista

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Madeira

Betão

Metálica

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4.2.2.6. Projecto 9

O último caso de estudo relativo às obras de intervenção apoiadas pela Porto Vivo, SRU situa-se, também, na zona próxima da Sé do Porto mais precisamente na Rua da Pena Ventosa.

Fig.24 – Planta de localização “Projecto 9”

Quanto à tipologia e aspecto, este edifício é, em tudo, semelhante aos anteriores. Com tipologia pequena e a preservação apenas das empenas laterais e da fachada na obra de reabilitação.

Também aqui a obra não tinha, ainda, começado à data da realização deste trabalho.

O pormenor que se segue foi, também ele, fornecido pela Porto Vivo SRU e retirado do Anexo 5 que se apresenta no fim deste trabalho.

Aqui, estão descritas as várias camadas constituintes do pavimento previsto no projecto para este edifício. Começando pelo limite superior, a imagem Fig. 24, permite-nos distinguir os vários revestimentos utilizados nas diferentes divisórias da casa e variáveis consoante as funções a que se destinam. Para a cozinha, lavandaria e caixa de escadas escolheu-se uma betonilha pintada com tinta epóxida, para a casa de banho, azulejo sobre uma camada de argamassa de assentamento e para o hall, sala e quartos, um pavimento flutuante em carvalho decapé aplicado sobre uma espuma de polietileno.

Sob estes revestimentos estende-se uma camada de argamassa hidrofugada que, por sua vez, assinta numa camada de betonilha de regularização. De seguida e continuando a descrição no sentido descendente, encontra-se uma camada de betão leve. Entre esta camada e a estrutura em laje de betão encontra-se uma fina camada resiliente. De seguida um perfil de fixação e novamente outra camada resiliente. O tecto do piso inferior é realizado em placa de gesso cartonado.

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Fig.25 – Pormenor do pavimento

Quadro 11 – Enquadramento do Projecto 9 no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Page 67: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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4.2.3. SRU VISEU, VISEU NOVO

A Câmara Municipal de Viseu e a Viseu Novo, SRU prontificaram-se, de imediato a contribuir com os elementos necessários para este trabalho. Foi efectuada, inclusivamente, uma visita guiada às obras abaixo estudadas que foi muito benéfica para o esclarecimento de todas as dúvidas relativas a estas intervenções e mais especificamente ao Modus Operandi desta Sociedade de Reabilitação Urbana.

Procurou-se abranger um vasto leque de intervenções para que as soluções estudadas fossem o mais diversificado possível.

A Viseu Novo, SRU é uma empresa de capitais públicos, da Câmara Municipal de Viseu e do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), que tem por objectivo conduzir o processo de reabilitação urbana da Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística de Viseu, onde se inclui, na totalidade, a Zona Histórica.

Este organismo foi, então constitído a 15 de Dezembro de 2005 e começou a sua actividade a 15 de Setembro de de 2006 actuando sempre no sentido de orientar o processo, elaborar a estratégia de intervenção e actuar como mediador entre proprietários e investidores, entre senhorios e arrendatários e, em caso de necessidade, tomar a seu cargo a operação de reabilitação, com os meios legais que lhe foram conferidos.

Fig.26 – Planta de Delimitação da ACRRU de Viseu

A Viseu Novo, SRU baseia a sua actividade em quatro pontos funamentais que se prendem com a promoção e reabilitação urbana na sua Zona de Intervenção, a criação de factores de actividade sustentada que permitam valorizar a Zona de Intervenção nos planos sociail, cultural e económico, a dinamização e coordenação das iniciativas e recursos públicos e privados e, por fim, o recentrar do Centro da Cidade, incentivando a regeneração e a coesão do tecido social.

Page 68: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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Com isto, a Viseu Novo, SRU, visa garantir condições de segurança, habitabilidade e salubridade nos edifícios a intervir para uma consequente protecção do património arquitectónico, uma melhoria das infra-estruturas existentes, a manutenção das habitações existentes, adequando as condições de habitabilidade às exigências da vida moderna, a revitalização das actividades económicas e locais de convívio, o reformilar do sistema de trânsito e estacionamento, o assegurar dos meios de protecção activa e passiva contra incêndios, a garantia das suficientes áreas livres e de lazer, o assegurar das acessibilidades aos interiores de quarteirão, o possibilitar lugares de estacionamento em zonas relativamente próximas e, por fim, a melhoria do tecido social com vista à fixação das populações.

Os processos de reabilitação utilizados do ponto de vista do investimento procuram repartir o investimento não só pela o Estado e pelo Poder Local mas também por Privados e diversas outras entidades.

4.2.3.1. Casa do Miradouro

A intervenção em estudo tem como objecto a casa do Miradouro. O referido edifício data do séc. XVI, cerca de 1520 e foi mandado construir por Fernando Ortiz Vilhegas, Chantre da Sé de Viseu. O Brasão de Ortiz figura ainda hoje na fachada principal da casa.

Fig.27 – Aspecto geral exterior do edifício antes da Intervenção

Historicamente o edifício enquadra-se “na denominada Arquitectura Civil Residencial”. Como edifício de habitação, a casa está plantada no topo de uma colina, junto à Sé de Viseu. A propriedade contígua à casa que serve de logradouro e jardim está delimitada por um muro de pedra encimado por um

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gradeamento em ferro. Em planta, o edifício projecta-se como dois volumes articulados, com coberturas de 2, 3 e 4 águas.

O projecto benificia por se integrar na Zona Histórica de Protecção à Sé e, consequentemente, na Área Crítica de Recuperação e Reconversao Urbanística. Desta forma a Viseu Novo, SRU permitiu-se inluí-lo na sua ordem de trabalhos e assinalá-lo como uma dos edifícios a intervencionar.

Fig.28 – Planta de Localização da “Casa do Miradouro”

Relativamente ao programa proposto para a intervenção pretende dotar o espaço de características de habitabilidade e funcionalidade por forma a poder albergar a coleção de arqueologia Dr. José Coelho bem como servir de sede da própria Viseu Novo, SRU.

No que diz respeito ao concurso público aberto para adjudicar a obra sabe-se o que se apresenta no quadro seguinte.

Consegui-se ainda apurar que concorreram a este concurso, lançado no dia 28 de Julho de 2009, duas empresas de construção sendo que a obra seria mais tarde adjudicada à empresa Soares & Carvalho por um valor de proposta de 693.742,76€.

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Quadro 12 – Valores dos investimentos e comparticipações

Designação da Operação Investimento

Elegível

FEDER

Empreitada de

Requalificação da Casa do

Miradouro

772.135,92€ 540.495,14€

A visita decorreu com a obra já em fase de acabamentos e estiveram presentes a Sra. Arq. Natália Figueiredo e o Sr. Eng. Rui Santos da Viseu Novo, SRU. A evolução da obra, à data da visita, tornou foi possível averiguar o resultado final das intervenções levadas a cabo e das soluções adoptadas para a intervenção.

Fig.29 – Aspecto geral exterior do edifício aquando da intervenção

No que diz respeito aos pavimentos, estes eram constituídos inicialmente por ripado de madeira assentes em estrutura de vigas de secção quadrangular de 40cm de lado. No piso térreo os pavimentos eram de lage de pedra assentes directamente no solo, ou, em alguns compartimentos, em tijoleira aplicada sobre uma camada de betão de regularização.

No sentido de conferir as características de conforto térmico pretendidas, optou-se por levantar grande parte do pavimento do piso térreo, construir uma caixa de ar sobre a qual seria, então recolocado um pavimento em soalho de madeira de pinho (Fig. 32)

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55

Fig.30 – Esquema geral da execução do pavimento 1

Quadro 13 – Enquadramento do Pavimento 1 do Projecto “Casa do Miradouro” no Quadro de Soluções

Opção Elemento Solução

Conservadora

(Recuperar o pavimento existente)

Estrutura

Reforço estrutural com diminuição do espaçamento dasvigas

Substituição da madeira em más condições

Inclusão de novos elementos de descarga

Revisão das ligações entre os pavimentos e os outros

elementos estruturaisPrevisão de ductos e outros espaços para

equipamentos

RevestimentoTratamento adequado aos soalhos

Recuperação dos tectos em gesso

Zona TécnicaInstalações

Ductos

A intervenção caracteriza-se por várias soluções diferentes usadas nos pavimentos consoante as necessiadades de cada espaço da casa. No caso do pavimento 1 a solução é a da recuperação da estrutura e revestimento de madeira existente. Apenas foram substituidas as vigas e os barrotes de madeira que não se apresentassem nas condições exigidas e, no caso das vigas, substituídas por vigas de madeira lamelada colada.

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56

Fig.31 – Esquema geral da execução do pavimento 2

Quadro 14 – Enquadramento do Pavimento 2 do Projecto “Casa do Miradouro” no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

No caso do pavimento 2 correspondente a uma zona significativa do primeiro piso. A estrutura porque se optou é metálica com a aplicação de uma camada de betonilha armada. O isolamento acústico é feito através da colocação de uma tela acústica. É ainda utilizado contraplacado maritímo e o

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revestimento varia de espaço para espaço sendo utilizado um pavimento autonivelante da Sika ou pedra de granito.

Fig.32 – Esquema geral da execução do pavimento 3

Quadro 15 – Enquadramento do Pavimento 3 do Projecto “Casa do Miradouro” no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho de madeira

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Page 74: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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O pavimento do tipo 3 é composto por uma estrutura de perfis metálicos atravessada por barrotes de madeira e revestida a soalho de madeira de pinho.

Fig.33 – Esquema geral da execução do pavimento 4

Quadro 16 – Enquadramento do Pavimento 4 do Projecto “Casa do Miradouro” no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho de madeira

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Quanto ao quarto e último tipo de pavimento, este diz respeito ao do piso térreo e decidiu-se criar uma caixa de separação em relação ao solo. Para a sua execução espalhou-se uma camada de mistura de brita e pedra proveniente dos resíduos das demolições. Colocou-se um geodreno seguida de betonilha

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armada. Para a elevação utilizou-se tijolo cerâmico e espalhou-se argila expandida (Leca). Por fim aplica-se o soalho de madeira sobre uma tela que garante o isolamento térmico.

Fig.34 – Pormenor do pavimento

Um dos problemas com que os engenheiros responsáveis pela intervenção se depararam foi a excentricidade da parede resistente de alvenaria de pedra que faz de fachada do edifício. Esta era uma manifestação causada pelas retracções e dilatações das vigas estruturais de madeira que suportavam o pavimento do primeiro piso e descarregavam as suas cargas nesta parede.

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4.2.3.2. Calçada da Vigia

O edifício alvo de intervenção situa-se na Calçada da Vigia nºs 7-9, 11-13 e 15-17 da freguesia de Santa Maria e insere-se na Zona Especial de Protecção do Edifício do Antigo Seminário, contíguo à Sé de Viseu e, portanto, parte da Área Crítica de Reconversão e Recuperação Urbanística.

Fig.35 – Planta de localização da “Calçada da Vigia”

“O alçado principal confina, a Sudoeste, com a Calçada da Vigia, o posterior, virado a Nordeste, com paredes meeiras e coberturas de edifícios existentes, o lateral esquerdo, a Poente, com uma garagem existente e alçado direito, a Nascente, com a Rua Escura.”

Na génese, os edifícios em questão eram dois edifícios distinos facto que foi devidamente previsto em projecto de reabilitação pelo que se optou por manter estas características tipológicas.

Fig.36 – Aspecto geral do edifício antes da intervenção

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Este exercício permitiu uma maior liberdade de opções no que diz respeito ás soluções de pavimento. Neste caso, o pavimento escolhido para a reabilitação do imóvel foi laje aligeirada nas zonas húmidas e laje maciça numa parte e madeira resistente nas outras.

Quadro 17 – Enquadramento do Projecto “Calçada da Vigia” no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho de madeira

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Page 78: DESCRIÇÃO TÉCNICO -ECONÓMICA DE … – Pormenor da ligação da fachada com o pavimento exterior Fig.11 – Pormenor da ligação do pavimento térreo com a parede exterior Fig.12

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4.2.3.3. Rua Escura

Este edifício, parte integrante do programa de intervenção da Viseu Novo, SRU, insere-se na Zona Histórica de Protecção à Sé que, por sua vez, é parte integrante da, já mencionada, Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística (ACRRU).

Fig.37 – Planta de localização da “Rua Escura”

As intenções da intervenção contemplam para funções futuras do edifício, habitação e comércio. De referir que, à data da visita à obra esta se encontrava já em fase de acabamentos pelo que se tornavam claras as funções a que cada espaço se destinava e o resultado das soluções adoptadas.

Fig.38 – Aspecto geral do edifício antes da intervenção

O edifício em análise apresenta características de exiguidade próprias desta zona da cidade. Com uma área de implantação de 36,60m2 o edifício é constituído por três pisos acima da cota de soleira sendque o piso térreo se destina a actividade comercial e os restantes para habitação.

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No que diz respeito aos pavimentos, aquilo que se encontrava à data do início da intervenção eram pavimentos interiores em betão nos pisos 0 e 1. Nos restantes pisos o pavimento era em soalho de pinho assente em estrutura de madeira.

A solução do pavimento nº 1 prevê uma laje aligeirada do tipo Previcon. O revestimento escolhido para esta solução é um soalho freixo.

Para o pavimento 2 optou-se por se escolher um solução estrutural em madeira lamelada colada. O isolamento acústico está ao cuidado de uma camada de lã de rocha sendo que o revestimento neste piso é feito em solho de madeira de freixo.

Fig.39 – Aspecto geral do edifício depois da intervenção

Fig.40 – Aspecto geral da realização da solução para o pavimento 1

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Quadro 18 – Enquadramento do Pavimento 1 do Projecto “Rua Escura” no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho de madeira

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Fig.41 – Aspecto geral da execução do pavimento 2

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Quadro 19 – Enquadramento do Pavimento 2 do Projecto “Rua Escura” no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho de madeira

Soalho flutuante madeira

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Betonilha afagada

Sintético

Gesso

Gesso cartonado

Madeira

Estuque

Solução

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

Fig.42 – Pormenor construtivo do pavimento do piso térreo

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Fig.43 – Pormenor construtivo do pavimento do piso intermédio

4.2.3.4. Rua do Comércio 108-114

Inaugurado a 12 de Junho de 1927, o edifício da Associação Viseense dos Bombeiros Voluntários situa-se confinado pelas ruas do Comércio e D. Duarte.

Fig.44 – Planta de localização da obra “Rua do Comércio 108-114”

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As intenções de reabilitação resultam de um acordo de colaboração assinado entre os Bombeiros e a Câmara Municipal de Viseu. Este contrato visava o comprometimento da Câmara Municipal de Viseu em “elaborar o projecto de reabilitação, proceder às respectivas obras e afectá-lo a serviços públicos” mediante a cedência do imóvel por um período de 25 anos, a partir da conclusão dos trabalhos de reabilitação.

De referir que o edifício se destina a albergar o pólo de Viseu da rede “NestPolis”, centro urbano de acolhimento empresarial, vocacionado preferencialmente para a instalação de “Indústrias Criativas” e Instituições de I&D.

As obras de reabilitação não tinham ainda começado à data da visita ao imóvel, pelo que foi impossível verificar o resultado final das soluções escolhidas para os pavimentos e restantes elementos reabilitados.

Os pavimentos do edifício são em madeira e encontram-se em estado de acentuada degradação.

Fica, no entanto, a nota para a intenção de se substituir o pavimento por um novo em madeira resistente com características semelhantes ao existente.

Fig.45 – Aspecto geral do edifício antes da intervenção

Quadro 20 – Enquadramento do Projecto “Rua do Comércio 108-114” no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Substituição da madeira em más condições

Inclusão de novos elementos de descarga

Revisão das ligações entre os pavimentos e os outros

elementos estruturais

Previsão de ductos e outros espaços para

RevestimentoTratamento adequado aos soalhos

Recuperação dos tectos em gesso

Solução

Conservadora

(Recuperar o pavimento existente)

Estrutura

Reforço estrutural com diminuição do espaçamento dasvigas

Zona TécnicaInstalações

Ductos

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4.2.3.5. Rua do Comércio 92

O último dos edifícios citados pertencentes ao leque de intervenções da SRU Viseense, Viseu Novo é contíguo ao anterior, partilhando, como tal, os mesmos benifícios estratégicos de reabilitação no que à Zona de Localização diz respeito.

Fig.46 – Planta de Localização da “Rua do Comércio 92”

“A Câmara Municipal de Viseu enquanto proprietária do edifício, no âmbito do programa RUCI Rede Urbana para a Competitividade e Inovação) co-financiado pelo QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional) “pretende promover a oferta integrada de acolhimento empresarial em espaço urbano” designadamente na aposta de um modelo de inovação sustentado na promoção do empreendedorimso.

“O objectivo fundamental da Câmara Municipal de Viseu será o de apoiar a inserção de jovens criadores na vida activa , proporcionando meios e estratégias de suporte no desenvolvimento dos seus produtos apoiando a sua divulgação através de salas de trabalho onde os jovens criadores possam dinamizar os seus projectos de carácter cultural, social e formativo.”

Assim como no caso-de-estudo anterior, também neste a obra ainda não começara à data da visita ao local. Sendo assim, foi permitido observar a degradação avançada dos pavimentos em soalho de madeira suportados por estrutura básica de vigas de madeira. Esta degradação devia-se, fundamentalmente à flexão das tábuas do soalho que, por carência de apoios suficientes de vigas adoptaram uma subpressão que evidencia uma grande flecha.

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Fig.47 – Aspecto geral do edifício antes da intervenção

A solução prevista no projecto de reabilitação, já executado, para o referido edifício consiste em manter o pavimento existente restaurando-o e devolvendo-lhe sempre que possível as características funcionais desejáveis.

Quadro 21 – Enquadramento do Projecto “Rua do Comércio 92” no Quadro de Soluções

Opção Elemento

Betão + Aço

Madeira + Aço

Soalho

Ripado de madeira

Cerâmico

Pedra

Acrílico

Sintético

Gesso

Estuque

Solução

Reabilitação interventiva

(Com ou sem transformação formal)

Estrutura

Madeira

Betão

Metálica

Mista

Revestimento

Chão

Teto

Zona TécnicaInstalações

Ductos

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Conclusão

5.1. ANÁLISE DO ESTUDO DE CASOS

5.1.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Apresentados os casos de estudo, impõe-se a análise dos dados e a formulação de conclusões que permitam tirar ilações deste trabalho.

É, no entanto, importante referir uma série de pequenos pontos a ter em atenção antes de proceder aos resultados finais deste estudo.

Uma das principais limitações verificadas ao longo do processo de recolha de informação e tratamento de dados foi o facto de o tempo disponível para esta unidade curricular ser muito reduzido. Este facto fez com que o processo de acompanhamento dos casos de estudo fosse muito rápido e limitado, não tendo sido permitida uma análise paralela à evolução das obras.

Específicamente no que diz respeito às obras da Porto Vivo, SRU, foi impossível a verificação da aplicação do disposto no projecto, por estas não terem ainda começado, sendo, portanto, muito precipitado tirar conclusões profundas sobre a adequação das soluções.

A análise passível de ser feita neste caso é mais quantitativa do que qualitativa, ou seja, pode-se perceber, analisando os projectos, que tipos de soluções são mais frequentemente utilizadas, se essas soluções cumprem o disposto nos regulamentos exigenciais mas não se pode propriamente concluir sobre o real sucesso ou adequação das soluções.

No ponto 1.2. Desenvolvimentos Futuros, são sugeridos alguns procedimentos que podem, relativamente a estes casos de estudo específicos, enriquecer este trabalho.

No que diz respeito aos casos de estudo fornecidos pela Sociedade de Reabilitação Urbana Viseense, Viseu Novo, SRU, há, especificamente, dois deles bastante completos pela fase avançada em que as obras se encontravam. Destacam-se, então, a Casa do Miradouro e o edifício denominado neste trabalho como Rua Escura. Em ambos os casos, à data da visita ao local da obra, esta encontrava-se em fase de acabamentos pelo que as soluções previstas no projecto eram já uma realidade.

No que concerne as outras obras da mesma SRU, enquanto que nas da Rua do Comércio a análise passível de ser feita é, apenas, a do projecto pelas razões já mencionadas anteriormente na abordagem às obras da Porto Vivo, SRU, na obra da Calçada da Vigia foi também impossível concluir sobre a aplicação das soluções porque a obra se encontrava em fase de demolições à data da visita ao local.

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5.1.2.ANÁLISE E CONCLUSÕES

Na sequência do que foi dito anteriormente, podemos entender que a análise a estes casos de estudo deverá ser feita a dois níveis. Numa primeira fase poder-se-á olhar para o panorama geral das soluções adoptadas e perceber o nível de complexidade técnico da solução adoptada. Nesta fase poderemos incluir mesmo aqueles casos anteriormente mencionados, ainda em fase de projecto à data da visita às obras e da realização deste trabalho.

Numa abordagem mais detalhada dar-se-á mais preponderância às duas obras de que se dispõe de mais elementos e das quais, previsivelmente, se poderá tirar mais conclusões.

Assim sendo, apresenta-se o quadro seguinte por forma a ter uma visão geral que auxilie à análise dos dados.

Quadro 22 – Dados pavimentos Porto Vivo, SRU

SRU Obra Pavimento Acústica Térmica Estrutura Revestimento

Piso intermédio Sim Sim Laje de betão aligeirada Pavimento flutuante em carvalho

Piso térreo Sim Não Laje de granito Pavimento flutuante em madeira

Piso térreo Não Não Laje de betão Soalho de madeira

Piso intermédio Sim Sim Laje colaborante Soalho de madeira

Projecto 1 Piso térreo Não Sim Laje de betão Betonilha afagada

Separação

espaços n/

aquecidos Sim Sim Madeira resistente Madeira

Separação

espaços

aquecidos Não Não Madeira resistente Madeira

Piso térreoSim Não

Laje térrea em massame

de argamassa Madeira

Projecto 9 Piso intermédio Sim Sim Laje de betão Pavimento flutuante em carvalho

Porto Vivo, SRU

Projecto 11

Projecto 13

Projecto 4

Quadro 23 – Dados pavimentos Viseu Novo, SRU

SRU Obra Pavimento Acústica Térmica Estrutura Revestimento

Pavimento 1 Não Não Madeira resistente Soalho existente restaurado

Pavimento 2Sim Não Metálica

Pavimento autonivelante da Sika

ou pedra de granito

Pavimento 3 Não Não

Metálica c/ barrote de

madeira Soalho de madeira de pinho

Pavimento 4 Não Não

Tijolo cerâmico e

betonilha armada Soalho de Madeira

Pavimento 1 Não Não Laje de betão alijeirada Soalho de madeira de freixo

Pavimento 2 Sim Sim Madeira lamelada colada Soalho de madeira de freixo

Rua do Comércio I Piso intermédio Sim Sim Madeira resistente Soalho de madeira

Rua do Comércio II Piso intermédio ? ? Madeira resistente Soalho de Madeira

Viseu Novo, SRU

Casa do Miradouro

Rua Escura

Como se pode perceber pela análise do quadro, as soluções que prevêem estruturas em madeira ou betão são as mais frequentes dentro das obras utilizadas. Certamente que a amostra será demasiado pequena para extrapolar estes resultados por forma a definir um padrão, mas, de qualquer maneira, é interessante assinalar que quando foi preciso reconstruir de raiz o pavimento foram usadas,

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preferencialmente soluções que previam ou a manutenção/reparação dos pavimentos de madeira existentes ou uma estrutura totalmente nova, maioritariamente em madeira ou em laje de betão.

Podemos aperceber-nos, no entanto, que, ainda que numa amostra limitada como esta, face ao universo que compreende as obras de reabilitação, estruturas metálicas e mistas não são, de todo, descartadas das possibilidades.

Percebe-se em alguns casos que a preferência por soluções novas se prende com o avançado estado de degradação dos pavimentos, como é o caso do edifício estudado na Rua do Comércio em Viseu, cujos custos de recuperação do existente ultrapassavam o montante razoável. Noutros casos, esta opção prende-se por questões funcionais. Por um lado, uma solução nova como no caso da Casa do Miradouro, o aproveitamento do pavimento novo para contemplar a passagem de tubagens e outros equipamentos e, por outro lado, para servir nas condições ideais a função a que se destina. Por vezes, a capacidade resistente de um edifício ou mesmo as suas características técnicas não são as adequadas para a função para ele prevista após a intervenção. Assim, os projectistas vêem-se obrigados a escolher entre adaptar o pavimento existente a estas condições e dotá-lo das características de conforto acústico, térmico, segurança contra incêndio e estrutural que se pretende ou, então, construir de raiz uma solução que preveja estas mesmas características.

A nível económico, apresenta-se de seguida um quadro comparativo que contrasta os problemas da Viseu Novo, SRU nas casas do Miradouro e da Rua Escura.

Quadro 24 – Dados económicos dos pavimentos

SRU Obra Pavimento Preço Unitário (€/m2)

Pavimento 1 40

Pavimento 2 200

Pavimento 3 150

Pavimento 4 180

Pavimento 1 90

Pavimento 2 160

Viseu Novo, SRU

Casa do Miradouro

Rua Escura

Como era de prever a solução menos onerosa é a que aproveita a madeira existente no local e a repara à medida das neceddidades (Casa do Miradouro, Pavimento 1). Esta é uma das grandes razões porque vale a pena perceber se há a possibilidade de aproveitar o pavimento existente no local ou, pelo menos parte dos materiais nele existentes.

A solução que compreende uma laje aligeirada do tipo Previcon é a segunda mais económica enquanto que os preços das soluções Casa do Miradouro 2, 3 e 4 e a Rua Escura 2, são, todas elas muito próximas em termos de custo. Denota-se, no entanto, um aumento de preço quando se compara as restantes soluções com a que prevê uma estrutura metálica.

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5.2DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Como foi referido anteriormente, o tempo disponível para a realização deste trabalho foi demasiado curto para que se pudesse fazer um acompanhamento extensivo das obras. Este acompanhamento teria permitido compreender a evolução dos trabalhos, as dificuldades de implementação das soluções e o seu resultado final no contexto da obra. Teria sido também possível acrescentar dados relativos aos custos de mais soluções e compará-las não só com o valor final da obra mas também, transversalmente, com os custos das outras soluções.

Ressalva-se, então, o facto de ser benéfico para o enriquecimento deste trabalho a continuação do acompanhamento das obras estudadas e a integração dessa monitorização no tratamento e análise de dados.

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[11] http://www.apcmc.pt/publicacoes/Revista/Revista_157/ent_h_sousa.pdf. 09 de Janeiro de 2012

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[17] Paulino, B. Análise exigencial comparada, em edifícios, das soluções de pavimentos total ou

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Engenharia e Vida

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[22] Appleton, J; Reabilitação de edifícios antigos. Patologias e Tecnologias de Intervenção; Edições Orion, Amadora

[24]http://www.google.pt/url?sa=t&source=web&cd=1&ved=0CBUQFjAA&url=http%3A%2F%2Fpessoal.utfpr.edu.br%2Flevi%2Farquivos%2FAULA2%2520%2520historico.ppt&rct=j&q=AULA+2++historia+da+prefabrica%C3%A7ao&ei=N3MoTMfFM9TNjAeHsYGLAQ&usg=AFQjCNFBzQLePiqt3GFrWF921yvMPfx1sA. 10 de Janeiro de 2012

[25] http://www.viseunovo.pt/Mediateca/files/PDF/Planta%20Area%20Intervecao/AreaInter.pdf. 05 de Janeiro de 2012.

[26] http://www.viseunovo.pt/Projectos.php?ProjID=52. 05 de Janeiro de 2012

[27] http://www.viseunovo.pt/Projectos.php?ProjID=57. 05 de Janeiro de 2012

[28] http://www.viseunovo.pt/Projectos.php?ProjID=54. 05 de Janeiro de 2012

[29] http://www.viseunovo.pt/Projectos.php?ProjID=68. 05 de Janeiro de 2012

[30] http://www.viseunovo.pt/Projectos.php?ProjID=67. 05 de Janeiro de 2012

[31] http://www.portovivosru.pt/pdfs/papeldassru.pdf. 09 de Janeiro de 2012

[33] http://www.icomos.org/index.php/en/about-icomos/mission-and-vision/mission-and-vision. 18 de Janeiro de 2012

[34] DGEMN, Carta de Cracóvia 2000 – Princípios para a Conservação e Restauro do Património Construído. Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Lisboa.

[35] http://194.65.130.238/media/uploads/cc/cartadecracovia2000.pdf. 19 de Dezembro de 2012

[36] http://maps.google.com/?ll=41.143087,-8.61312&spn=0.000581,0.001206&t=h&z=20. 06 de Janeiro de 2012

[37] http://maps.google.com/?ll=41.143414,-8.612348&spn=0.000581,0.001206&t=h&z=20. 06 de Janeiro de 2012

[38] http://maps.google.com/?ll=41.141795,-8.613001&spn=0.000581,0.001206&t=h&z=20. 06 de Janeiro de 2012

[39] http://maps.google.com/?ll=41.14247,-8.613482&spn=0.000581,0.001206&t=h&z=20. 06 de Janeiro de 2012

[http://maps.google.com/?ll=41.142842,-8.613178&spn=0.000585,0.001206&t=h&z=20. 06 de Janeiro de 2012

[40] http://www.cesarebrandi.org/brandi_chi.htm. 07 de Janeiro de 2012