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I Revista Educação Pública Equidade e avaliação Ensino Médio Juventude Que fase da vida é essa? ISSN 2525-7013 Ano 1 n.° 1 Julho/Dezembro 2016 Luau de saberes na aldeia dos índios Pataxó, em Carmésia Avaliação veja como escolas melhoram seus resultados Entrevista com a Secretária Macaé Evaristo Gestão democrática em escola quilombola nas terras do Velho Chico

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Page 1: Equidade e avaliação Educação Pública · Ano 1 n.° 1 Julho/Dezembro 2016 Luau de saberes na aldeia dos índios Pataxó, em Carmésia Avaliação ... o que os jovens queriam

I

Revista

Educação PúblicaEquidade e avaliação

Ensino Médio

JuventudeQue fase da vida é essa?

ISSN 2525-7013Ano 1 n.° 1 Julho/Dezembro 2016

Luau de saberes

na aldeia dos índios

Pataxó, em Carmésia

Avaliação

veja como escolas

melhoram seus resultados

Entrevista com a

Secretária Macaé Evaristo

Gestão democrática

em escola quilombola

nas terras do Velho Chico

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Nenhum estudante a menos e todos aprendendo mais

Fernando Pimentel Governador do Estado de Minas Gerais

editorial

O foco da educação em Minas Gerais é oferecer serviço de qualidade para os mais de 2 milhões de estudantes matriculados na rede estadual. Mas como medimos essa qualidade? A diminuição do abandono escolar; a oferta de vagas para todos os estudantes, independentemente de sua situação social e da região onde moram; a melhoria da infraestrutura das escolas e das condições de trabalho para os pro�ssionais são alguns indicadores que nos ajudam a medir essa qualidade. No entanto, o que devemos considerar, principalmente, é se nossos estudantes estão aprendendo, segundo a sua realidade e o seu percurso dentro da escola.

A partir de 2015, o Simave (Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Pública), coordenado pela Secretaria de Estado de Educação, passa a ser, além de um instrumento de avaliação, um sistema que contribui para a redução das desigualdades educacionais. É uma mudança fundamental, pois oferece às escolas e às suas comunidades condições de analisar suas potencialidades e seus desa�os e de construir uma educação de qualidade, com “nenhum estudante a menos e todos aprendendo mais”.

Agora, as escolas devem se apropriar desses resultados e dialogar com toda a comunidade escolar para criar respostas que transformem a realidade da educação, tendo como foco o aprimoramento de cada um dos estudantes, das crianças aos jovens. O Governo do Estado se esforça para garantir a melhoria da aprendizagem, por meio da autonomia pedagógica das escolas e da integração entre planejamento e participação, fortalecendo a escola como um ambiente vivo e coletivo.

A revista Educação Pública traz experiências e relatos que mostram como a educação pode ser plural, democrática e inovadora. Ela mostra a força dos projetos pedagógicos das nossas escolas, que têm garantido, dentre outros avanços, o destaque de nossos estudantes no cenário nacional.

Esta revista serve de inspiração para todos os pro�ssionais em seu trabalho diário. Há aqui o nosso compromisso em continuar construindo pontes entre nós, nessa nossa tarefa de fomentar um projeto novo de educação em nosso Estado.

Boa leitura!

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ISSN 2525-7013Ano 1 n.° 1 Julho/Dezembro 2016

Governador de Minas GeraisFernando Damata Pimentel

Secretária de Estado de Educação de Minas Gerais (SEEMG)Macaé Maria Evaristo dos Santos

Secretário Adjunto de Estado de EducaçãoAntônio Carlos Ramos Pereira

Chefe de GabineteHercules Macedo

Subsecretária de Informações e Tecnologias EducacionaisJúnia Sales Pereira

Subsecretaria de Desenvolvimento da Educação BásicaAugusta Aparecida Neves de Mendonça

Superintendente de Avaliação EducacionalGeniana Guimarães Faria

Superintendente de Desenvolvimento do Ensino MédioCecília Cristina Resende Alves

Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF)

Reitor da Universidade Federal de Juiz de ForaMarcus Vinicius David

Coordenação geral do CAEdLina Kátia Mesquita de Oliveira

Coordenação da Unidade de PesquisaTu� Machado Soares

Coordenação de Análises e PublicaçõesWagner Silveira Rezende

Coordenação e Instrumentos de AvaliaçãoRenato Carnaúba Macêdo

Coordenação das Medidas EducacionaisWellington Silva

Coordenação de Operações de AvaliaçãoRafael de Oliveira

Coordenação de Processamento de DocumentosBenito Delage

Coordenação de Contratos e ProjetosCristina Brandão

Coordenação de Design da ComunicaçãoRômulo Oliveira da Farias

Coordenação editorial Augusta Aparecida Neves de Mendonça - SEEMGEleuza Maria Rodrigues Barboza - CAEdJúnia Sales Pereira - SEEMGNeuza Maria Santos Macedo - SEEMG

Editora-geralRosangela Guerra

Projeto editorialRosangela Guerra

Projeto grá� coRômulo Oliveira da Farias e Tiago Sera� m Marques

Jornalista responsávelRosangela Guerra (Reg. Prof. n 13.271 SJP/SP)

Colaboradores Júnia Sales PereiraLina Kátia Mesquita de OliveiraMarcelo Baumann BurgosMarcos Antônio SilvaMônica Profeta - Assessoria de Comunicação da SEEMG

DiagramaçãoTiago Sera� m Marques

RevisãoCibele Silva

Impressão e AcabamentoIndústria Grá� ca Brasileira - IGB

Capa e contracapa: alunos da E.E. Olegário Maciel, Belo Horizonte, MG

Capa: Marcus Vinícius da Silva Pereira

Contracapa (da esquerda para direita): Gabriella Figueiredo do Carmo, Ezequiel Henrique Vaz de Carvalho, Kelly Lenejane Santos da Silva, Josué Victor dos Santos Gomes, Rhanna Lavínia Costa Araújo, Marcos Paulo Moreira, Leonardo Henrique de Oliveira Bambirra, Nathália Coimbra de Brot, Moisés Pereira da Silva, Nathalle Shakira Ribeiro de Araújo, Eduardo Eugênio Ferreira Júnior, Dayane Nunes Gonçalves, Kaylla Lorena de Oliveira Ambrósio, Átila Henderson de Almeida Fernandes, Kênia de Jesus Santos, Flávio J. de Jesus Alves, Juliana Pereira Gonçalves da Silva, Virgínia Dandara dos Santos, Pedro Augusto Alcântara Mendonça, Ana Eliza Lopes Laudino, Jenniffer Mirella Rodrigues Cota, Jade Drumond Magalhães, Jonas Araújo da Silva, Fernanda de Fátima Costa, Ághatta Inêz Anunciação, Kênia Moreira Martiniano, Maria Eduarda Ribeiro Moreira, Fabiana Martins Nazareth Soares, Davidson Thompson Pereira e Laís Pires do Espírito Santo.

Fotos de capa e contracapa: Mauro Chagas

Revista Educação Pública | Ensino Médio

Ensino Médio

Revista

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Capa

Contracapa

Entrevista Escutar para educar

Macaé Maria Evaristo dos Santos

Plano Nacional de Educação De olho na meta três

MosaicoNa rede

Gestão democrática

Num quilombo do Velho Chico

Escola e comunidade

Educação do Campo

Trabalho coletivo

Luau de saberes

Avaliação

Por que avaliar?

Para entender a avaliação

Escolas que fi zeram a diferença

Educação pública, democrática e inclusiva

Juventude

Que fase da vida é essa?

Palavra de jovem

Opinião De aluno a professor da rede pública

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sumário

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Os jovens têm se manifestado nas

ruas e nas redes sociais. A escola

de hoje não atende às demandas

da contemporaneidade e não os

representa. Para Macaé Evaristo,

precisamos nos colocar em

posição de escuta para construir

novas estratégias na educação

Escutar para educar

Macaé Maria Evaristo dos SantosSecretária de Estado de Educação de Minas Gerais

Quais são os desa�os para construir uma política pública de educação para Minas Gerais?

Nosso Estado é um dos maiores do País em exten-são territorial e um dos mais populosos, com cerca de 20 milhões de habitantes. No total, são 853 municípios que apresentam grande variação em termos de densidade de-mográ�ca, área e população. Só na rede estadual de edu-cação, são mais de 2 milhões de estudantes.

Com relação aos sujeitos, há os que vivem no cam-po, nas áreas indígenas, em quilombos e nas regiões ri-beirinhas, de cerrado, de mata atlântica e de montanhas. Alguns lugares têm Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito alto, e outros, muito baixo. É preciso, por-

tanto, enfrentar o desa�o de fazer uma política com foco na redução das desigualdades educacionais. Isso exige sensibilidade para estabelecer objetivos.

No início de sua gestão, foi feito um diagnóstico edu-cacional. Conte-nos sobre alguns desses resultados.

Em janeiro de 2015, �zemos um diagnóstico para co-nhecer a realidade do Estado e balizar o nosso trabalho. O primeiro ponto de tensão observado estava relacionado ao fato de que Minas Gerais não pagava o piso salarial pro�s-sional nacional do magistério público da educação básica, como determina a Lei n. 11.738, de 2008. Por meio de diálo-go, transparência e vontade política, foi possível resolver essa

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sindicatos, movimentos sociais, coletivos juvenis, uni-versidades, órgãos de outros setores de políticas sociais, gestores municipais, pesquisadores, pro�ssionais da educação e a comunidade escolar de modo geral.

Todo esse percurso foi fundamental para construir-mos uma política pública mais próxima e condizente com as realidades de nossas escolas e comunidades. Elegemos como princípio norteador da educação no Estado a promoção da pluralidade, da integralidade e da equidade. Trabalhar sob uma ótica plural signi�-ca considerar a diversidade como condição do proces-so formativo de todos. A promoção da integralidade contribui para uma formação sem hierarquização dos saberes, o que possibilita a construção do conhecimen-to a partir das diversas dimensões do ser humano. A busca da equidade pressupõe o compromisso com a superação das desigualdades educacionais.

O direito do cidadão à educação de qualidade pas-sa pela construção de uma escola “com” todos, e não apenas “para” todos ou “de” todos. A preposição “com” demarca a nossa posição em defesa de uma concepção de educação coletiva, democrática, com o envolvimento de todos os sujeitos. Para isso, é fundamental ampliar e fortalecer a participação de toda a comunidade nos pro-cessos de aprendizagem e construção do conhecimento.

Quais são os caminhos para a construção de uma política pública para o ensino médio, e o que a Secretaria já tem realizado nesse sentido?

A necessidade de termos um olhar cuidadoso em relação aos jovens nos fez criar na SEEMG a Direto-ria da Juventude, ligada à Subsecretaria de Desenvol-vimento da Educação Básica. Articulamos também o movimento Virada Educação Minas Gerais, para ouvir o que os jovens queriam da escola. Foram realizadas rodas de conversa em todos os 17 Territórios de De-senvolvimento de Minas Gerais, com a participação de cerca de 4.500 pessoas, entre estudantes e educadores.

Uma questão recorrente nessas ações é a necessidade de a escola se abrir para a participação da juventude, não apenas naqueles modelos concebidos de participa-ção – como grêmios estudantis e conselhos escolares –,

questão. Em maio de 2015, o governador Fernando Pimentel assinou um acordo histórico, aprovado pela Assembleia Le-gislativa, que possibilitou o pagamento do piso salarial nacio-nal para os professores da rede pública de Minas.

A precarização do trabalho docente foi também apontada pelo diagnóstico, pois dois terços dos pro�ssio-nais tinham vínculo precário com o Estado. Uma parte era designada, e a outra parte tem a ver com a Lei de n. 100, de 2007, que “efetivou” pro�ssionais sem concurso pú-blico. Em 2015, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), a lei foi considerada inconstitucional e os servidores tiveram que ser desligados.

Para garantir o fortalecimento dos projetos pedagógi-cos, é fundamental que as escolas tenham um quadro mais estável de professores e, para isso, é necessária uma agenda sistemática de concursos públicos e nomeações, associada à formação e à valorização dos pro�ssionais da educação.

O que o diagnóstico mostrou sobre os jovens e o ensino médio?

Em nosso Estado, 15% dos jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola, e 38% dos jovens dessa faixa etária estão matriculados no ensino fundamental, quando deveriam estar no ensino médio. O diagnóstico mostrou que o aces-so à educação é desigual para a população negra, indíge-na, quilombola, do campo e das periferias urbanas. Outro dado relevante é que, de 2011 a 2014, houve um decrésci-mo de cerca de 200 mil matrículas no ensino médio.

A evasão e a reprovação são altas. Além disso, os resultados das avaliações educacionais têm demonstra-do a pouca pro�ciência dos estudantes dessa etapa da educação básica. Isso indica que temos muitos desa�os para a inclusão dos jovens na escola e que precisamos ter um olhar mais sensível para a juventude.

A partir do conhecimento da realidade educacional do Estado, como a SEEMG conduziu o trabalho?

Priorizamos o diálogo entre a Secretaria, as escolas e a sociedade civil. Criamos grupos de trabalho, rea-lizamos reuniões, seminários, fóruns, debates, rodas de conversa, entre outras atividades em todo o Estado. Isso foi feito junto a entidades ligadas à educação –

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mas também na gestão do currículo e no desenvolvimento de processos de produção e construção do conhecimento.

Os jovens têm se manifestado, nas ruas e nas redes sociais, pela melhoria da educação e em defesa da cida-dania, da diversidade, do acesso às novas mídias. Com isso, eles estão nos dizendo que é preciso promover mu-danças para atender às demandas da contemporaneida-de e que esse modelo de escola que temos hoje não os representa. Ao dizerem o que querem para hoje e para o futuro, eles nos apontam caminhos.

Como gestores públicos, não podemos ignorar es-sas iniciativas populares. Precisamos nos colocar em posição de escuta para construir novas estratégias na educação. A juventude está nos dizendo que aprende-mos na vida, e não só na escola. Temos, então, o desa-�o de concretizar essa conexão.

Para atender a esse público, promo-vemos várias ações. Em 2015, realiza-mos a Campanha VEM, uma chamada pública para incluir na escola jovens de 15 a 17 anos. Com isso, este ano foram feitas 114 mil novas matrículas. Outra medida foi a reestruturação do ensino médio noturno e da Educação de Jo-vens e Adultos (EJA), com a inserção na grade curricular de um novo conteú-do pedagógico chamado Diversidade, Inclusão e Mundo do Trabalho (DIM). Esta nova disciplina interage com as quatro áreas de conhecimento – Matemática, Linguagens e Códigos e Ciências da Natureza e Humanas – e permite um diá-logo do conteúdo apresentado na escola com a realidade que o estudante vive no seu dia a dia. O horário das au-las também mudou: o início passou de 18h para 19h, e o �nal, de 22h30 para 22h15. Isso para atender aos alunos que trabalham em jornada integral e que geralmente se atrasavam para o primeiro horário.

Além disso, a Secretaria abriu novas turmas de en-sino médio no noturno. Em 2015, 20.729 estudantes cursaram o 1º ano do ensino médio em escolas da rede estadual de ensino no turno da noite. Para 2016, esse número subiu para 38.904 alunos. Vamos oferecer

também ensino pro�ssionalizante em 107 escolas es-taduais, que devem atender mais de 20 mil estudantes.

Qual é o papel da avaliação na política educacional de Minas?

Havia em nosso Estado uma política educacional muito centrada nos resultados da avaliação, incluindo um programa de boni�cação para docentes das escolas que alcançavam bons resultados.

Hoje, isso mudou. Consideramos a avaliação como um dos elementos importantes da política educacio-nal, mas não o único. Não queremos que os resultados da avaliação sejam usados para o ranqueamento, para comparações e competições entre escolas.

O Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Educação Pública (Simave) é um ins-trumento importante para Minas Gerais e para o Brasil. Em 2015, ele passou por mudanças tanto na forma de realização das provas quanto nas etapas avaliadas. O enfoque passou a ser a promoção da equidade. [Veja as mudanças no Simave, no quadro que está na página 30 desta edição.]

Para nós, a avaliação deve ser en-tendida em função dos sujeitos. As trajetórias educativas de milhares de estudantes estão entrelaçadas à nossa

capacidade de criar um ambiente pedagógico favorável ao diálogo, comprometido com os direitos humanos, com a valorização e o respeito à pluralidade cultural.

Nosso desa�o é pensar em mecanismos para que os pro�ssionais da educação e as escolas se apropriem do processo de avaliação e de seus resultados. A par-tir daí, é possível fazer intervenções para promover a equidade educacional.

Na nova dinâmica, pudemos veri�car o desenvolvi-mento do aluno durante o percurso de aprendizagem. Ao divulgar os resultados, a Secretaria quer que as esco-las se apropriem desses dados e desenvolvam estratégias e ações para avançar. É importante que cada escola olhe para si mesma e faça uma proposta de como ser melhor.

Nosso desa�o é pensar

em mecanismos para

que os pro�ssionais da

educação e as escolas

se apropriem do

processo de avaliação

e de seus resultados

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7revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

plano nacional de educação

De olho na meta trêsO Plano Nacional de Educação (PNE) de�niu um total de 20 metas que

devem ser alcançadas de 2014 a 2024. A meta de número 3 é dedicada

exclusivamente ao ensino médio: “universalizar, até 2016, o atendimento

escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até o �nal do período

de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio para

85%”. O desa�o é grande! Veja o que está sendo feito em Minas Gerais para

que os alunos estudem numa escola compromissada com a superação

das desigualdades educacionais e que atenda às demandas da juventude

Foto: Imprensa SEEMG

Virada Educação Minas Gerais e Campanha VEM

Aproximar a escola da juventude e evitar a evasão dos jovens é o objetivo da Virada Educação, movimento iniciado em 2015. Em julho daquele ano, educadores e ges-tores discutiram a realidade das escolas. De agosto a setembro, foram realizadas rodas de conversa nos 17 Territórios de Desenvolvimento do Estado, com a par-ticipação de cerca de 4.500 jovens e educadores para criar uma escola sintoni-zada com as demandas da juventude no mundo contemporâneo. No dia 19 de setembro, data do aniversário de Paulo Freire, as escolas ofereceram uma programação variada à comunidade escolar.

De 21 de setembro a 31 de dezembro de 2015, foi realizada a Campanha VEM, uma grande mobilização para chamar os jovens de volta à escola. Como resultado, 114 mil novas matrículas foram feitas em 2016. Dessas, 47.500 são do ensino médio regular, e as demais, da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A partir do diálogo aberto com a juventude, a Secretaria de Estado de Educação planejou novas estratégias e incrementou outras ações para atrair os jovens que esta-vam fora da escola.

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plano nacional de educação

Virada Educação, 2015

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Em 2016, a Virada Educação “Escola em movimento” foi lançada no I Encontro Estadual Educação e Juventude, no período de 15 a 17 de julho, e reuniu cerca de 300 estudantes e lideranças juvenis de todo o Estado. Além de lançar a Virada, o evento procurou fortalecer a Rede de Estudantes do Estado, proporcionando um espaço de troca e de formação para a juventude. As rodas de conversa trataram dos temas participação e gestão democrática na escola (principal demanda dos jovens, evidenciada nos diálogos realizados no ano passado), novas tecnologias e mídias alterna-tivas, diversidade, inclusão e ações a� rmativas, como formas de garantir a permanência, com qualidade, do jovem na escola. A Virada 2016 pretende debater os temas apresentados no Encontro, além de incentivar os jovens a construir a Virada em sua própria escola e no seu território.

Com a � nalidade de promover o intercâmbio de experiências para a inclusão escolar de adolescentes no ensino médio, a Secretaria de Educação realizou este ano o Seminário Internacional sobre Inclusão de Adolescentes e Jovens no Ensino Médio. O evento contou com a parceria do Ministério da Educação, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ), da Fundação Itaú Social e do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).

Educação Integral e Integrada

As ações da Educação Integral e Integrada nas escolas estaduais buscam o estreitamento de laços com a comunidade, a convivência e o acesso a todo tipo de linguagem que contribua para a formação e cidadania dos alunos. Em todo o Estado, 2.076 escolas estaduais desenvolvem ações da Educação Integral e Integrada. Ao todo, 141.260 estudantes são atendi-dos. A meta da Secretaria é ampliar esse quantitativo para 200 mil ainda este ano.

Escola Aberta O Programa Escola Aberta foi implantado em 1.632 escolas estaduais,

nas 47 Superintendências Regionais de Ensino (SREs) do Estado. Com isso, há incentivo e apoio para que as escolas estaduais situadas em territó-rios de vulnerabilidade social � quem abertas nos � nais de semana. A pro-posta é oferecer aos estudantes e à população do entorno uma programação variada. No espaço da escola são realizadas atividades educativas, culturais, esportivas, além de outras dedicadas à formação inicial para o trabalho e à geração de renda.

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Campanha VEM, 2015

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Territórios de iniciação cientí� ca nas escolas estaduais

A Secretaria de Educação e a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) � rmaram uma cooperação que visa à criação de um pro-grama estadual de iniciação cientí� ca voltado aos alunos do ensino médio. O objetivo é promover a pesquisa, a investigação e a produção acadêmi-ca do estudante do ensino médio. Serão ofertadas bolsas de pesquisa para alunos e professores da rede estadual. Escolas de todos os Territórios de Desenvolvimento serão contempladas.

Ensino médio noturno e EJA

Em 2016, os currículos do ensino médio noturno e da Educação de Jo-vens e Adultos (EJA) ganharam um novo conteúdo: Diversidade, Inclusão e Mundo do Trabalho (DIM). Com carga horária semanal de 45 minutos, a DIM é ministrada de forma interdisciplinar e conjunta por professores de Matemática, Linguagens e Códigos e Ciências da Natureza e Humanas. A proposta é que os alunos elaborem projetos que conciliem suas poten-cialidades e as necessidades de seu ambiente de trabalho ou estágio. Essa iniciativa tem motivado os estudantes do noturno.

Além disso, o horário de início das aulas passou de 18h para 19h, para atender àqueles que trabalham em jornada integral e que geralmente se atrasavam para o primeiro horário.

Outra novidade foi a ampliação no número de vagas. Em 2015, o núme-ro de alunos matriculados no 1º ano do ensino médio noturno nas escolas da rede estadual foi de 20.729. Em 2016, esse número passou para 38.904.

Educação Pro� ssional A Rede Estadual de Educação Pro� ssional está sendo consolidada para

ampliar a oferta de cursos técnicos nas escolas estaduais. A partir do segun-do semestre deste ano, a Rede oferecerá o ensino técnico concomitante (o aluno cursa o ensino médio em um turno e o pro� ssionalizante em outro), subsequente (para quem já se formou no ensino médio) e integrado (com conteúdos do ensino médio e do pro� ssionalizante).

No total, 107 escolas ofertam o ensino profissional, atendendo a 20 mil alunos que já concluíram o ensino médio em qualquer rede de ensino ou que ainda estejam cursando na rede estadual ou EJA. Dessas, cinco são Centros de Educação Profissionalizante (CEPs), e 18, Esco-las Polivalentes. 

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plano nacional de educação

1a caminhada da Promoção da Igualdade Racial, 2016

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Projetos inovadores

A Secretaria de Educação abriu, de forma inédita, a possibilidade de as escolas estaduais inscreverem pro-jetos pedagógicos que serão custeados via transferência pela Caixa Escolar. Foram inscritos cerca de 3 mil pro-jetos, elaborados pelas próprias instituições para pro-mover a formação integral dos estudantes e transformar o ambiente escolar.

AfroConsciência: com essa história, a escola tem tudo a ver

No início de 2015, foi criada a AfroConsciência, que tem o objetivo de fomentar, por meio de diferentes iniciativas, ações nas unidades escolares para a supera-ção do preconceito racial, na busca pelo reconhecimen-to e pela valorização da história e da cultura dos africa-nos na formação da sociedade brasileira.

Estão sendo criados os Núcleos de Estudos Africa-nos e Afro-Brasileiros e da Diáspora (NUPEAAs) nas es-colas estaduais. Há previsão de criação de cinco Núcleos em cada uma das 47 Superintendências Regionais de Ensino (SREs), que serão abrigados nas “Escolas-Polo”.

O objetivo dessa ação da SEEMG é potencializar o desenvolvimento intelectual, social e acadêmico dos jovens das escolas estaduais e favorecer a efetiva imple-mentação das Leis 10.639/03 e 11.645/08, que tornam obrigatório o ensino de história e cultura africana, afro--brasileira e indígena nas escolas de ensino fundamen-tal e médio do País.

Enem

A partir do segundo semestre deste ano, os Centros de Educação Continuada (Cesecs) começaram a ofertar um curso de aprofundamento e revisão nas quatro áreas do conhecimento (Ciências da Natureza, Linguagens, Mate-mática e Ciências Humanas) para as pessoas que vão fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O curso é aberto ao público. Minas Gerais conta com 117 Cesecs, e 62 já estão ofertando a preparação para as provas.

Além disso, para garantir a participação dos jovens no Exame, as secretarias de Estado de Educação, de Desenvolvimento Social (Sedese) e de Direitos Huma-nos, Participação Social e Cidadania (Sedpac) �rmaram uma parceria com o objetivo de estimular os estudantes do 3º ano do ensino médio a tirarem carteira de iden-tidade e CPF para que pudessem se inscrever no Enem. Em um levantamento realizado pela SEEMG, foram identi�cados 5.612 alunos da rede estadual de ensino que não tinham CPF e carteira de identidade. O servi-ço foi gratuito.

Mais esportes nas escolas Os Jogos Escolares de Minas Gerais (Jemg) são uma

ferramenta pedagógica que valoriza a prática esportiva escolar e a construção da cidadania dos jovens de for-ma educativa e democrática. A coordenação é feita pela Secretaria de Estado de Esportes (SEEsp), em parceria com a Secretaria de Estado de Educação.

Participam dos jogos estudantes de escolas públicas e particulares. Anualmente, cerca de 6 mil alunos atletas participam da etapa estadual da competição. Em 2016, os Jogos terão a participação de mais de 160 mil estudantes, com 8 mil professores e 16 mil pro�ssionais envolvidos. 

Já o Programa Transforma, que tem como foco o fortalecimento do papel do estudante como agente de transformação, é uma iniciativa desenvolvida pela Secretaria de Estado de Educação em parceria com o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

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11revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

Seguindo diferentes caminhos, muitas escolas da rede estadual

têm construído um ambiente de aprendizagem comprometido

com os direitos humanos e com a valorização da pluralidade

cultural. Con�ra algumas ações e projetos desenvolvidos

por educadores em diferentes territórios de Minas Gerais

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O trabalho com a pedagogia de projetos desenvolvi-do na E. E. Olegário Maciel, em Belo Horizonte, pro-porciona aos alunos espaço para trocas de ideias e re�e-xões sobre temas próximos à realidade que eles vivem. O diretor Michael Vieira Rodrigues conta que, este ano, a escola está mobilizada para responder à seguinte questão: qual é o espaço do negro em Belo Horizonte e na Região Metropolitana?

As cotas na universidade, a representatividade dos negros na mídia, o preconceito e a discriminação são alguns dos assuntos nas rodas de conversa realizadas na escola.

Jovens com atitude

Divididos em grupos, os alunos se dedicam a pes-quisar temas especí�cos, como capoeira, duelos de MCs, religiosidade, feminismo, literatura negra, perso-nagens negros na história do Brasil, entre outros.

Josué Victor dos Santos Gomes, 17 anos, 3º ano do ensino médio, reconhece que a escola o encoraja a se manifestar e fez com que ele percebesse o racismo no cotidiano. “Há um padrão branco em vários espaços de Belo Horizonte”, a�rma.

Na Olegário Maciel, as meninas circulam, cheias de atitude, com os cabelos cacheados. Uma delas mostra o brinco com os dizeres “I love my hair”. Samilla Georgia Almeida, 17 anos, 3º ano do ensino médio, diz que tudo isso tem a ver com o empoderamento da mulher negra. Kelly Linejane Santos da Silva, 18 anos, 3º ano, comenta: “Assumir o cabelo é só o começo. Há um mundo de opressão de que precisamos nos libertar”.

Articulados e questionadores, os alunos elegeram este ano o Grêmio Estudantil, que tem como priorida-de as questões LBGT, étnica, e a situação da mulher. A turma do Grêmio participa de manifestações nas redes sociais e nas ruas sobre política, movimento estudantil e LGBT etc. Além disso, costuma ir à Câmara Municipal de Belo Horizonte e à Assembleia Legislativa quando uma pauta de interesse está em discussão.

Alunas empoderadas

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Todos os anos, em novembro, acontece a “Cozinha de preto” na E. E. João Guimarães Rosa, em Betim. O evento, que conta com a parceria de moradores e comerciantes da redondeza, é a culminância de um trabalho sobre as relações étnico-raciais desenvolvido durante o ano. Os alunos participam de rodas de conversa sobre temas como a África do passado e do presente, o líder Mandela e as mulheres negras que se destacaram na história. A diretora Júnia Mara Santos conta que, no grupo de batucada da escola, os alunos mais experientes ensinam os outros a tocar os instrumentos.

Ela criou o “Café com a diretora”, realizado quinzenalmente com um aluno de cada turma. “Conversamos sobre o cotidiano da escola, e, assim, surgem muitas ideias interessantes para a gestão”, diz. Por sugestão dos estu-dantes, as paredes da escola foram pintadas com cores claras, para tornar o ambiente mais agradável.

Café com a diretora

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Escolas públicas e particulares estão de olho nos alunos egressos do Curso Normal de Educação Infantil da E. E. Odilon Behrens, em Belo Hori-zonte. Criado em 2008, o curso atendia, inicialmen-te, aqueles que já trabalhavam em instituições de educação infantil e que tinham concluído o ensino médio. “A maioria era das Unidades Municipais de Educação Infantil (Umeis) de Belo Horizonte”, lem-bra a diretora Neuza Maria Magalhães. Hoje, basta ter o ensino médio completo para se inscrever nesse curso com um ano e meio de duração, incluindo 800 horas de estágio.

A proposta é buscar o equilíbrio entre a prática e a teoria, tendo como referência as ideias de Piaget, Vygotsky e Emília Ferreiro. Os alunos participam de atividades fora do espaço da escola, como palestras, seminários, visitas a exposições de arte e museus. Ao �nal do curso, eles devem apresentar os resultados de um projeto interdisciplinar que desenvolveram. Alguns desses projetos têm despertado a curiosidade de professores das Umeis. A diretora conta que há uma saudável troca de experiências entre o Curso Normal e as Umeis, o que enriquece a docência na educação infantil.

Curso Normal Pré-Enem

A ideia de criar o cursinho pré-Enem partiu de Lucas Viana, um estudante de Medicina da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) compromissado com o direito de todos à educação. A proposta é contribuir para que os alunos das escolas estaduais de Divinópolis tenham mais chances de acesso ao ensino superior.

O Cursinho Popular Darcy Ribeiro, iniciado em 2015, conta com a parceria da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Divinópolis e é uma ação extensionis-ta da UFSJ, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet), instituições que têm campi no município. Para o diretor da SRE, Sílvio Novais, a iniciati-va aproxima ainda mais a universidade da educação básica.

A grande procura fez com que os organizadores do cursinho ampliassem as vagas e estabelecessem um critério de seleção baseado nas condições socioeconô-micas dos jovens. Em um ano, o número de matrícu-las dobrou: hoje, 90 alunos frequentam o pré-Enem.

As aulas são dadas por professores e universitários voluntários em dois espaços: na E. E. Dona Antônia Valadares e no campus da UEMG. O material didáti-co, produzido pelos voluntários, tem sido reproduzi-do pelas escolas estaduais, contribuindo assim para a melhoria da educação na rede pública.

Turma do Normal

Aula inaugural com a presença dos pais dos alunos

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As aulas da disciplina Diversidade, Inclusão e Mundo do Trabalho (DIM) têm movimentado a E. E. Imaculada Conceição, em Pedro Leopoldo. Segundo o diretor da escola, Marco Antônio de Souza, os alunos se entusias-maram com os projetos que desenvolveram ao longo do primeiro semestre.

A supervisora pedagógica Danielly da Silva Araújo diz que as experiências dos estudantes fora da escola enrique-ceram os trabalhos interdisciplinares. Um aluno da EJA, que é confeiteiro, propôs a realização de um projeto sobre doces brasileiros. Para isso, a escola disponibilizou uma sala que passou a ser utilizada como espaço de gastro-nomia. Contéudos de Biologia, Química e Matemática foram utilizados para estudo do custo dos ingredientes, das unidades de medida e da composição dos alimentos. A escrita detalhada da receita fez com que os estudantes caprichassem na produção de texto. O grupo envolvido nesse projeto entrevistou doceiros antigos da cidade e pes-quisou os doces tradicionais na culinária mineira.

Foram também desenvolvidos projetos sobre músi-ca, cinema, teatro, dança, cinema, fotogra� a, turismo

Sou um dos professores da DIM na minha es-cola. No início, tive muitas dúvidas sobre como lecionar essa disciplina nova. Mas agora vejo que a DIM mudou a minha visão sobre a educação. Passei a incorporar a dimensão social à Matemá-tica. Estou muito mais atento às questões que in-teressam aos alunos. Procuro me informar sobre diversos assuntos do mundo contemporâneo. De fato, era preciso mudar o ensino noturno e torná-lo mais motivante para os estudantes.

Adair Ribeiro Vieira, professor de Matemáticada E. E. Mestre Zeca Amâncio, Itabira

Diversidade, Inclusão e Mundo do Trabalho (DIM)

e cultura regional. Este último foi dedicado ao Boi da Manta, manifestação folclórica da região. No � nal do semestre, todos os projetos foram apresentados para a comunidade escolar. Durante a apresentação, o grupo do 1º ano do ensino médio que pesquisou o funk no Brasil animou a plateia e recebeu muitos aplausos.

A E. E. Luiz Salgado Lima tem cinco turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no presídio do município de Leopoldina. Muitos alunos nunca tiveram acesso a um computador. Em março último, dez notebooks foram colocados à disposição desses estudantes. “Foi uma festa”, conta a professora Elizabeth de Almeida Silva.

A proposta é que os computadores contribuam para o desenvolvimento da leitura e da escrita e na preparação para o mundo do trabalho. Inicialmente, os alunos digitaram o próprio nome. “No presídio, eles são chamados pelo número de identidade penal. Precisamos reforçar a autoestima, a partir do trabalho com o nome”, explica a professora. Os estudantes aprendem também a formatar seus currículos e são incentivados a produzir textos de diversos gêneros.

Na disciplina Diversidade, Inclusão e Mundo do Trabalho (DIM), são abordados temas como a escolha da pro� ssão, o preparo para uma entrevista de emprego e as ofertas de trabalho na região. Além disso, são exibidos � lmes que contam histórias verídicas de pessoas que investiram em suas pro� ssões e tiveram êxito.

Educação prisional

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A professora de Arte Cícera Aparecida Rodrigues Silva, do Centro Estadual de Educação Continuada Umbelina Diniz (Cesec), em Pirapora, buscou inspiração no Clube da Esquina para a realização de um projeto com os alu-nos da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Esse movimento musical que nasceu nos anos 1960, em Belo Horizonte, segundo Cícera, oferece muitas possibilidades para trabalhar temas, como as manifes-tações artísticas e culturais dessa época e a ditadura mi-litar no Brasil. Animada, ela apresentou o projeto no Cesec e teve a adesão dos colegas.

Nas aulas de Língua Portuguesa, foram analisadas letras de músicas dos integrantes do Clube, como Milton Nascimento, os irmãos Borges (Marilton, Márcio e Lô), Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta e Fernando Brant, assim como poemas marginais dos anos 1960. A censura imposta no País foi um dos temas das aulas de História, que despertaram muito interesse, sobretudo pela forma como artistas e intelectuais agiam para burlar os censores.

As o�cinas de pintura, dança, música, poesia e teatro foram um desa�o para a turma composta por 26 alunos, de 15 a 60 anos, com vivências muito diversi�-cadas. “Alguns moravam no campo, outros na cidade,

Clube da Esquina na EJA uns apresentavam de�ciência auditiva e a maioria tinha uma história de fracasso escolar”, lembra Cícera. Ela conta que era comum ouvir frases como: “Não posso fazer isso, porque não tenho o dom”, “Não tenho co-ragem de cantar”. Pouco a pouco isso foi mudando. A ajuda de um aluno experiente em dança contemporâ-nea foi fundamental para que os colegas soltassem o corpo e entrassem no ritmo da o�cina.

Um grupo de mulheres quis cantar “Maria, Maria” porque se identi�cou com a história de luta que é contada na música. Na o�cina de pintura foram fei-tas 21 telas que mostram como os jovens e adultos interpretaram “Travessia”, “Encontros e despedidas”, “Caçador de mim”, “Paisagem da janela”, entre ou-tras canções.

A culminância do projeto teve de tudo um pouco: exposição de arte, declamação de poesia, dança e uma peça de teatro sobre a história do Clube da Esquina. Além de atuarem como atores, os alunos criaram o ro-teiro e o cenário da peça: a esquina da rua Paraisópolis, no bairro Santa Tereza, onde os amigos dos anos 1960 se reuniam para cantar e tocar violão. Aplaudidos pela comunidade escolar, eles se sentiram muito orgulhosos, como relata a professora.

Pinturas dos alunos inspiradas em músicas

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A Secretaria de Estado de Educação de Minas Ge-rais assumiu, em 2015, o Programa Plug Minas. Esse importante espaço da rede de ensino desenvolve pro-jetos em parceria com o Sebrae e o Senac, com o obje-tivo de contribuir para a formação integral e cidadã dos estudantes do ensino médio das redes públicas de Belo Horizonte e da Região Metropolitana.

Este ano, foram criados no Plug Minas o Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (Cicalt), que coordena o projeto Valores de Minas, o curso de Inglês do Laboratório de Culturas do Mundo (LCM) e, junto com a Associação Imagem Comunitária (AIC), o Projeto de Educação Integral e Integrada para os alunos dos ensinos fundamental e médio das escolas estaduais situadas no entorno do Plug Minas.

O projeto Valores de Minas proporciona aos es-tudantes do ensino médio das escolas públicas da Região Metropolitana de BH a experiência do fazer artístico nos campos de artes visuais, circo, dança, música, teatro e gestão cultural em três módulos, cada um com a duração de dez meses. Nas o�cinas, os

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Novo espaço de cultura, arte e tecnologias

Uma vez por semana, os alunos de ensino médio da E. E. Pedro II, em Belo Horizonte, participam de o�cinas no contraturno, segundo a escolha de cada um. A oferta é variada. Há o�cinas de pequenos reparos (para os in-teressados em pro�ssionalização), teatro, música, conversação em inglês, pré-Enem e nivelamento. Esta última é voltada para os alunos que necessitam melhorar a aprendizagem em Matemática, Química e Física.

Segundo a diretora Cristiane Michelle Just, o bom desempenho da escola tem a ver com a importância que a toda a equipe dá aos processos avaliativos em larga escala. “Nós analisamos os resultados do Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (Proeb), procurando entender o que eles nos revelam sobre nosso trabalho e que estratégias devemos adotar”, diz.

Ela explica que, em 2015, o Proeb passou a ter quatro níveis na avaliação do aluno. Além de “baixo”, “inter-mediário” e “recomendado”, agora tem o nível “avançado”. Cristiane vê nessa mudança um avanço em relação à melhoria da qualidade da educação.

O�cinas no contraturno

jovens vivenciam o processo de criação colaborativa, a convivência com a diferença e a valorização da diver-sidade cultural para que possam atuar como gestores culturais em suas comunidades e também se integrar aos grupos artísticos da cidade, visando à inserção no mercado de trabalho.

O Cicalt oferecerá, em breve, cursos de formação em Arte para os professores da rede estadual de ensino.

O�cina de dança no Cicalt

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É possível trabalhar o conteúdo curricular de Fi-loso�a sem banalizar a disciplina? Movido por essa indagação, Uanderson de Jesus Menezes, professor da E. E. João XXIII, em Ipatinga, criou o projeto TV Filoso�a, que entrelaça um campo antigo de conhe-cimento com a produção humana atual, a tecnologia. Os jovens compartilham o que aprendem nas aulas, produzindo vídeos destinados a outros alunos do en-sino médio e pessoas interessadas.

Como utilizar a linguagem audiovisual para discutir, por exemplo, a lógica aristotélica ou o pensamento de Nietzsche, entre tantos outros temas? Questões como essas desa�am os alunos a elaborar roteiros precisos e de-talhados, sempre com a orientação do professor.

O projeto é realizado desde 2012 e faz sucesso na escola e na cidade. Os estudantes circulam pelos espa-ços urbanos fazendo gravações para programas variados, como “Domingão do Platão”, “Jornal de Filoso�a Políti-ca” e o curta-metragem “A mente do acorrentado”, basea-do na alegoria da caverna de Platão. Os vídeos podem ser acessados no blog: http://�loso�a-j23.blogspot.com.br/.

Pelo desenvolvimento do projeto, em 2015, Uanderson foi o vencedor da região Sudeste da 9a edição do Prêmio Professores do Brasil, na catego-ria ensino médio. “Foi uma injeção de ânimo. Quero desenvolver novos projetos, aprender mais e ensinar melhor,” comemora o professor.

Filoso�a e tecnologia

Gravação para TV Filoso�a: prof. Uanderson e alunas

Professores e alunos do CEP Tancredo Neves

Ensino pro�ssionalizante O Centro de Educação Pro�ssional (CEP) Tancredo

Neves, em Brazópolis, inaugura uma fase promisso-ra. Este é o primeiro ano de oferta do ensino médio integrado, que articula a educação pro�ssional com as disciplinas da educação básica. Os alunos podem optar pelos cursos de Eletrônica, Administração ou Informática. A partir de 2017, haverá também o cur-so de Logística. O CEP oferece ainda o curso técnico com concomitância externa (o estudante faz o técnico simultaneamente ao ensino médio cursado em outra instituição) e o técnico subsequente (pós-médio).

O diretor João Pedro Visotto diz que as empresas conhecem a trajetória de sucesso do CEP e que agora a política educacional do Estado enxergou o potencial da instituição. “O Brasil tem carência de pro�ssionais de nível técnico”, argumenta.

Com equipamentos novos nos laboratórios de Eletrônica e Informática, o CEP desenha novos projetos voltados para a sustentabilidade. Um deles é uma horta orgânica, um espaço agroecológico de construção coletiva que certamente trará muitas con-tribuições para a formação dos alunos.

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mosaico . gestão democrática

Num quilombo do Velho Chico

Escola quilombola, no norte de Minas, se destaca por seu

trabalho voltado para uma educação democrática e inclusiva

A E. E. Antônio Corrêa e Silva �ca no Povo-ado de Alegre, remanescente de um qui-lombo, em Januária, município mineiro

às margens do rio São Francisco. Na escola, a mo-vimentação é sempre grande. Professores e alunos vivem às voltas com seus projetos. O diretor Odair Nunes de Almeida circula pelos espaços, atendendo aos membros da comuni-dade, incentivando os professores, acompa-nhando o trabalho na horta, entre outras ati-vidades. É esse o dia a dia de uma escola cheia de vida, com uma equi-pe a�nada, que corre atrás do mesmo objetivo: ofere-cer uma educação de qualidade, democrática, com a participação de todos.

Todo esse empenho tem sido reconhecido. Este ano, a escola ganhou o segundo lugar no Prêmio De-

senvolvimento Educacional Inclusivo, iniciativa do Ministério da Educação (MEC) para experiências de gestão voltadas para o desenvolvimento educacional in-clusivo de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade

social. Em abril último, o diretor Odair recebeu a Medalha da Incon�-dência, que é concedida pelo governo de Minas a pessoas que têm um pa-pel relevante no desen-volvimento do Estado.

A escola atende a dez comunidades, sendo três delas quilombolas. O Povoado de Alegre foi certi�cado como rema-nescente de quilombo em 2012, depois de um

intenso trabalho da escola junto aos moradores, cerca de 550 pessoas. “Eles não queriam se declarar como quilombolas porque tinham medo do preconceito”, conta Zilda Soares dos Santos, da Associação dos Agri-cultores Familiares Quilombolas de Alegre.

Professora Thaisa Matos: projeto sobre cultura quilombola

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Muitos projetosA proposta da escola é desenvolver projetos

pautados pela realidade local que despertem o interesse e a vontade de aprender dos alunos. Marlúcio de Abreu Meireles Júnior, professor de Química, levou estudantes do ensino médio para visitar o lixão a céu aberto do município. Eles se surpreenderam com o grande volume de lixo e ouviram atentos as explicações do professor sobre os danos que isso causa ao meio ambiente. Muitos �lmaram o lixão com seus celulares. “É uma imagem muito forte. Quero mostrar isso para minha família, porque temos que cuidar mais do meio ambiente”, diz o aluno Carlos Alves Cardoso, 23 anos.

O projeto “Resgate da história cultural de gerações quilombolas passadas”, realizado pelas professoras �aisa Matos (Educação Física) e Marta Guedes (História), mobilizou escola e comunidade. Os alunos �zeram um estudo de campo, entrevistando moradores sobre brinquedos, brincadeiras, danças típicas e cantigas de roda antigas. Depois, eles pesquisaram na internet sobre a origem desses brinquedos e danças citados na pesquisa. O passo seguinte foi a participação em o�cinas de confecção dos brinquedos e de danças típicas da região. O Canta e Dança, evento que acontece anualmente na escola, abriu espaço para a exposição de brinquedos e para a apresentação de danças, como a de São Gonçalo e o Maculelê.

Este ano, a escola está envolvida com o projeto inter-disciplinar Quilombo do Velho Chico, realizado com a verba que a SEEMG distribuiu para o desenvolvimento

Portas abertas para todosA E. E. Antônio Corrêa e Silva sobressai no Povoado

de Alegre, com suas ruas de terra e pequenas casas cercadas por cactos. Para os moradores, a escola é o centro da comunidade. É o lugar a que todos recorrem não só para falar de educação, mas também para tratar de questões que afetam a vida de todos ali, como atendimento médico, iluminação pública, saneamento, entre outros.

Situado logo na entrada da escola está um pátio, chamado de Praça da Leitura, com seus bancos e canteiros. De um lado �ca a ala dos escritores. Nela estão as salas de aula, cada uma com o nome de um escritor: Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Machado de Assis, entre outros. Do lado oposto �ca a ala das madeiras de lei. O laboratório de informática, por exemplo, ocupa a sala Pequizeiro; a biblioteca, a sala Ipê--Roxo; já a sala dos professores tem o nome de Jequitibá.

Estudam na escola em torno de 300 estudantes nos ensinos fundamental, médio e EJA. Cerca de 80% deles são bene�ciados pelo Programa Bolsa Família. Os alunos do fundamental participam da Educação Integral e Integrada, que oferece uma programação variada no contraturno.

A visita domiciliar, feita no início de cada ano letivo pela equipe da escola, ajudou a aumentar a taxa de matrícula e assegurar a frequência dos alunos. O diretor explica que essa iniciativa fortaleceu a parceria entre a escola e as famílias.

Zilda Soares dos Santos, da Associação dos Agricultores

Aluno Carlos Cardoso: “Lixão é uma imagem forte”

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Diretor Odair Nunes de Almeida com a Medalha da Incon�dência que recebeu este ano

de propostas curriculares inovadoras na rede estadual. Os alunos já iniciaram as pesquisas sobre a origem do Povoado e o estudo da situação atual do rio São Francisco. Uma das atividades previstas é a produção de pequenos documentários feitos pelos estudantes com o celular.

Animados, os professores contam que participam de um grupo de WhatsApp para trocas de ideias e experiências sobre os projetos. “A gente tem uma ideia,

e a direção dá muita força. Isso faz toda a diferença”, conta Marlúcio, professor de Química.

Alguns, mesmo morando na sede do município, preferem percorrer 15 km de estrada para trabalhar na escola do Povoado de Alegre. É o caso do supervisor Carlos Alberto Lisboa Mota: “Aqui tem uma equipe unida, que luta pela educação”.

Escola inclusivaDesde 2013, a Antônio Corrêa e Silva realiza

um trabalho de inclusão de crianças e jovens com de�ciência. A pequena sala de recursos tem materiais em braile e computadores para uso de pessoas com de�ciência visual e auditiva. A professora Roseli Mameluk, responsável pela sala, trabalha em sintonia com os demais professores para a inclusão dos alunos.

Nas visitas domiciliares realizadas pela escola, é feito um trabalho de conscientização dos pais para que os �lhos com de�ciência frequentem as aulas. “Mostramos que eles têm o direito de ter uma vida escolar como qualquer outro estudante”, conta o diretor.

Um gestor democrático

Ele não para. O diretor Odair Nunes de Almeida está sempre envolvido com as questões da escola e da comuni-dade. “Bora lá”, é o que costuma dizer antes de ir atrás de soluções para os desa�os do dia a dia. “Ninguém pode fazer tudo sozinho, por isso delego e con�o nas pessoas”, diz. Ele conta que aposta no trabalho coletivo e procura reforçar o potencial de cada um. Sempre atento ao Povoado, ele busca a contribuição de diversas instituições para melhorar as con-dições de vida no semiárido.

Para Stela Aparecida Abreu Santos, diretora da Superin-tendência Regional de Ensino (SRE) de Januária, Odair vive e pensa a gestão democrática de forma muito intensa. “Ele é um grande articulador, sabe fazer parcerias para o desenvolvi-mento tanto da escola como das comunidades do sertão”, diz.

Moradores do Povoado de Alegre

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21revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

Educação do Campo

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mosaico . escola e comunidade

Escola Família Agrícola de Veredinha (EFAV), situada no município de mesmo nome, MG, tem como missão

proporcionar aos �lhos dos agricultores um ensino de qualidade, articulado aos princípios da Educação do Campo. O trabalho pedagógico é voltado para a formação de cidadãos críticos e capazes de contribuir para o desenvolvimento sustentável do campo. No total, 112 jovens, de 50 comunidades rurais de diversos municípios das redondezas, frequentam o curso técnico em Agropecuária com ênfase em Agroecologia, que é integrado ao ensino médio e tem duração de três anos.

A Associação Comunitária de Desenvolvimento Educacional, Familiar e Agropecuário de Veredinha é a entidade responsável pela gestão e pela manutenção da Escola Família Agrícola de Veredinha. A parceria com a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais vai além do �nanceiro. São realizadas várias ações conjun-tas, como informa o coordenador da EFAV, Clebson Souza de Almeida.

A EFAV ocupa uma área de 9,4 hectares. Além da sede para as aulas do currículo do ensino médio, há uma infraestrutura adequada para a realização de atividades práticas em diferentes setores, como horticultura, Roda de conversa dos alunos

Vista da Escola Família Agrícola de Veredinha

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No Vale do Jequitinhonha, jovens fazem o curso técnico em Agropecuária.

Alternando um tempo na escola e outro com suas famílias, eles contribuem

para o desenvolvimento da comunidade onde vivem

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suinocultura, avicultura, apicultura, pani�cação, fruticultura, viveiro de mudas, sistema agro�orestal (SAF) e produção de cereais.

Seguindo a Pedagogia da Alternância, os alunos passam 15 dias na escola e outros 15 com suas famílias. Assim, trocam saberes e experiências com pessoas da comunidade. Sebastiana Soares, mãe de um estudante do 2º ano, conta que os jovens acompanham os agricultores na roça: “Eles vão conversando, perguntando, e a gente vai respondendo”.

Adriana Rodrigues, educadora da EFAV, explica que a Pedagogia da Alternância contribui para a integração entre a escola e a comunidade. Os alunos desenvolvem um plano de estudo pautado pela realidade em que vivem. Eles pesquisam, por exemplo, a água e o solo da região, assim como as estratégias que podem ser utilizadas pelos agricultores para preservação ambiental. Estudam ainda os conhecimentos tradicionais sobre o uso das plantas medicinais do cerrado, a história de ocupação da região e da organização comunitária, entre vários outros temas.

A escola realiza projetos nas comunidades rurais de seu entorno, por meio de ações, como a construção de barraginhas e de bacias de contenção para a captação da água da chuva, recuperação de áreas degradadas, proteção

Ponto de tropeirosO município de Veredinha teve seu início, no século XIX, como ponto de tropeiros que viajavam em seus

burros carregados de mercadorias para serem vendidas no Alto do Vale do Jequitinhonha. Situado numa área de cerrado, o município teve parte de suas terras ocupadas por extensas plantações de eucalipto. Isso se deu a partir dos anos de 1970 e causou a degradação ambiental que se observa hoje na região.

de nascentes etc. Além disso, participa de seminários e outros eventos ligados à Educação do Campo.

“Assim a nossa escola vai tecendo a sua história, como uma colcha de retalhos de muitas cores, costurada por muitas mãos, tingida e curada pelo suor de muitos rostos”, diz Clebson. A proposta, segundo o coordenador da escola, é construir uma nova perspectiva de ver e de viver no campo. “A decisão de sair ou de �car na roça não deve ser condicionada pela falta de perspectivas, mas uma escolha consciente e justa”, pondera. O jovem Luiz Carlos Martins, aluno do 2º ano da EFAV, quer �car: “A escola me prepara para viver na minha comunidade, de forma sustentável”. Ele pretende continuar os estudos, cursando Agronomia.

Aulas práticas

Há EFAs em diferentes regiões do Brasil e de Minas. Ao todo, 21 escolas compõem a rede estadual de Minas, coordenada pela

Associação Mineira das Escolas Família Agrícola (AMEFA). Esta, por sua vez,

está vinculada à União Nacional das EFAs do Brasil (UNEFAB).

Escola Família Agrícola (EFA)

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Luau de saberes

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Em noite de ritual, alunos do ensino médio de uma escola Pataxó

compartilham o resultado de suas pesquisas com os moradores da aldeia

uando o sol se põe, alunos e professores do ensino médio começam a se preparar para o Luau de saberes, promovido pela E. E.

Indígena Pataxó Bacumuxá, na Aldeia Imbiriçu, em Carmésia, MG. Uns ajudam os outros a fazer as pinturas corporais com pigmentos de plantas e a colocar adereços de sementes vermelhas. O Luau de saberes é a culminância do projeto “Folhas sagradas”, desenvolvido pelo professor Flávio, o Mahã, que na língua Pataxó quer dizer “peixe do rio”.

No pátio da escola, a mesa já está posta com chás e os bolos recém-saídos do forno de barro. Tudo feito pelos membros da comunidade especialmente para essa noite de ritual. Aos poucos, as cadeiras que circundam o pátio são ocupadas pelos mais velhos da aldeia, pelas mulheres com crianças no colo e pelos convidados, como as professoras de uma escola da cidade. O defumador com capim de aruanda perfuma e puri�ca o ar nessa noite fria de maio.

O cacique Txonãg toma o microfone e anuncia que o Luau de saberes foi criado para mostrar os trabalhos realizados pelos alunos do 1º ano do ensino médio. “Isso é muito importante para nossa aldeia”, diz, com orgulho e cheio de razão. A�nal, o ensino médio passou a ser oferecido este ano na E. E. Indígena Pataxó Bacumuxá, depois da luta de muitos ao longo do tempo. Os jovens Pataxó não

queriam estudar na escola da sede do município, que não segue os princípios da educação indígena.

Com um cocar de penas, o professor Mahã pluga o computador e exibe no telão as primeiras imagens dos projetos feitos pelos 24 alunos da turma, que trabalharam divididos em quatro grupos. Cada um deles é chamado à frente para fazer a sua apresentação.

Ao pesquisar a mandioca, um grupo fez entrevistas com pessoas da aldeia e gravou os depoimentos em vídeo. Outro grupo estudou o jenipapo, uma árvore da família Rubiaceae, cujo nome em guarani signi�ca “fruta para pintar”. Do sumo do fruto é extraída uma tinta preta.

Dança ritual

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mosaico . trabalho coletivo

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Os Pataxó faziam pinturas corporais apenas com o pigmento laranja do urucum, mas passaram a usar também o jenipapo, como sinal do luto pela morte do índio Galdino Jesus dos Santos, líder da etnia Pataxó-hã-hã-hãe, que, em 1997, foi queimado vivo enquanto dormia em um abrigo de um ponto de ônibus em Brasília, DF, após participar de manifestações do Dia do Índio.

A amesca, árvore da família Burseraceae, comum na mata atlântica, foi pesquisada por um grupo. A resina de sua casca é utilizada para defumar o ambiente. O óleo essencial extraído da resina tem ação anti-in�amatória, analgésica e cicatrizante. As plantas medicinais usadas para fazer chás e garrafadas foram objeto de estudo de outro grupo de alunos.

Depois da apresentação, o cacique Txonãg convida os alunos e professores para participar de uma roda onde todos dançam, marcando o ritmo com os maracás, e cantam em Patxôhã, a língua Pataxó. Enquanto isso, os �ashes das câmeras fotográ�cas dos celulares iluminam a noite, mostrando que a aldeia está conectada com o mundo digital.

O ritual está por terminar. Os alunos circulam entre os presentes, oferecendo bolos de mandioca e de milho e chá de capim-santo (Cymbopogon densi�orus), um calmante natural.

No pátio perfumado com capim de aruanda, as crianças pequenas já dormem no colo das mães. É hora de cada um voltar para sua casa. Muitos saberes e sabores nessa noite em que a lua, teimosa, não quis aparecer.

Conhecimentos tradicionais e cientí�cos

O projeto interdisciplinar “Folhas sagradas” tem como objetivo a preservação dos saberes tradicionais indígenas, aliado à aprendizagem de conhecimentos cientí�cos. Professor das disciplinas Química, Física, Biologia e Matemática, Mahã conta que o projeto foi desenvolvido ao longo de um bimestre, em uma aula semanal de 50 minutos. Foram feitas rodas de conversa com os moradores mais velhos da aldeia, que repassaram aos alunos seus saberes sobre os temas de estudo de cada grupo. “A oralidade é uma forma importante de transmissão de conhecimento entre os Pataxó”, diz.

Mahã cursou licenciatura em Ciências Biológicas, é habilitado para lecionar Biologia e autorizado para dar aulas de Química, Física e Matemática.

Alunos apresentam trabalhos

Professor Flávio, o Mahã

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Alfabetização com arte Nascida em Barra Velha, em Porto Seguro, BA,

Jandaia chegou à aldeia Imbiriçu em 1985. “Os brancos tomaram as nossas terras e por isso minha família veio para Carmésia”, lembra. Quando a E. E. Indígena Pataxó Bacumuxá começou a funcionar, ela matriculou os �lhos e passou a frequentar também as aulas, para aprender a ler e a escrever. “A escola reavivou a nossa história e cultura”, diz.

O desejo de estudar e de lutar por seu povo foi uma motivação para que ela �zesse o Curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Seu trabalho �nal foi uma cartilha, em que arte e alfabetização se unem para ensinar as crianças Pataxó a falar, ler e escrever em sua língua. O livro é ilustrado com belos desenhos de pessoas da comunidade, principalmente do cacique Mongangá, que tanto lutou pela educação indígena.

Luta por direitosTodos os 24 alunos do 1º ano do ensino médio

formam um grupo de jovens, o primeiro a ser criado na aldeia. A proposta é que eles se preparem para participar dos Conselhos Municipais e Estaduais de Juventude, como esclarece Japoteru, professor de Filoso�a e História. A aluna Nayá, 18 anos, explica que o grupo de jovens quer conhecer as leis que asseguram os direitos dos índios.

Os alunos manifestam o desejo comum de continuar os estudos, participar do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), fazer curso superior ou técnico. “Assim podemos ajudar o nosso povo”, a�rma o aluno Urutu, 38 anos, que fez questão de levar para o Luau de saberes uma camiseta com a foto do seu pai, o cacique Mongangá, que fundou a escola em 1999.

Na E. E. Indígena Pataxó Bacumuxá estudam cem alunos: 20 na educação infantil, 56 no ensino fundamental e 24 no ensino médio. Essa etapa de ensino permanece vinculada à E. E. José Vieira da Silva, que �ca na sede do município de Carmésia. Para a diretora Indayara, essa situação precisa ser revista, para assegurar a autonomia da escola Pataxó.

Pinturas corporais Pataxó

Jandaia (acima) e Indayara, diretora da escola

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Fotos: Arquivo CAEd

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27revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

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Por que avaliar? Lina Kátia Mesquita de OliveiraCoordenadora-geral do Centro de Políticas Públicas

e Avaliação da Educação da Universidade Federal

de Juiz de Fora (CAEd/UFJF)

oje, é possível dizer que uma educação de qualidade, direito de todos os brasileiros, não pode mais ser formulada sem os processos de avaliação. Os dados e as informações por eles

produzidos são fundamentais para realizar um debate público consisten-te e promover ações orientadas para a equidade e a democratização da educação. Não é difícil perceber a relação entre a qualidade e a avaliação educacional, um dos principais instrumentos para um ensino e�caz, pois foi projetada como um sistema de informações para revelar a situação educacional efetiva de nosso País.

Políticas educacionais bem-sucedidas não resultam apenas da experi-ência de seus formuladores. As chances de sucesso aumentam à medida que são estruturadas a partir de informações seguras sobre a realidade que pretendem transformar. Além disso, é preciso utilizar meios que permitam avaliar o acerto das medidas adotadas e acompanhar os avanços em relação aos objetivos estabelecidos.

Evidentemente, para que as políticas educacionais sejam efetivas e pos-sam produzir os resultados desejados, elas não podem estar fundamentadas apenas na avaliação em larga escala. Para melhor identi�car os desa�os a enfrentar e escolher as estratégias a serem utilizadas, é preciso dispor de um conjunto mais amplo de informações. Isso inclui as informações produ-zidas pelas próprias escolas das redes de ensino. Ou seja, as avaliações em larga escala constituem apenas uma dentre as várias fontes de informação que podem auxiliar na tomada de decisões.

H

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Criado como um instrumento de promoção de um ensino consistente, fecundo e autônomo, o Simave (Sistema Mineiro de Avaliação e Equidade da Edu-cação Pública) realiza o Proalfa (Programa de Avaliação da Alfabetização) e o Proeb (Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica).

No âmbito do Simave, mais importante do que com-parar os resultados alcançados por regiões, municípios e escolas é re�etir coletivamente sobre a realidade reve-lada pelos programas de avaliação em larga escala. Estes envolvem sempre um rico material de discussão a ser cotejado pelo projeto pedagógico de cada escola e a ser consultado pelos gestores em todos os níveis de governo. Isso permite a discussão sistemática do currículo e a ado-ção de estratégias pedagógicas destinadas a fazer com que nossos alunos prossigam nos estudos com sucesso.

Todos nós sabemos o quanto temos ainda que cami-nhar para a qualidade e a equidade que buscamos. Mais do que simplesmente a oferta de vagas, o direito à edu-cação envolve, intrinsecamente, a qualidade em nossas redes de ensino. A avaliação do desempenho escolar, portanto, encontra-se atada diretamente ao direito uni-versal de todos os brasileiros à educação.

Para cumprir o seu papel, a avaliação deve oferecer informações sobre o desenvolvimento cognitivo dos es-tudantes dos ensinos fundamental e médio, descreven-do as habilidades desenvolvidas por eles nas disciplinas Língua Portuguesa e Matemática, que são avaliadas pelo Simave. Os resultados devem ser apresentados em diferentes níveis, como mostra o diagrama a seguir:

Os resultados obtidos a partir dos testes realizados pelos alunos no Simave propiciam a produção de im-portantes indicadores de desempenho escolar, tais como:

• a equalização das médias de pro�ciência por escola, município, região e de Minas Gerais produzidas nas avaliações do Simave na escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), referência nacional para as avaliações em larga escala. Isso permite a comparação com os resultados de todo o País, ordenando o desempenho dos alunos num continuum, do nível mais baixo ao mais alto;

• a distribuição dos alunos segundo os diversos níveis de pro�ciência, de�nidos também de acordo com a escala do Saeb;

• a interpretação dos níveis de pro�ciência com base na descrição do conjunto de habilidades caracterís-ticas de cada nível.

De posse dessas informações, é possível veri�car em qual dos níveis situa-se a média de desempenho dos alu-nos e também o percentual de estudantes que já desenvol-veram as habilidades básicas em cada período de escolari-dade avaliado. Pode-se, ainda, determinar os percentuais dos que se encontram abaixo e acima do nível desejável.

Temos ainda muitos desa�os. Somos �rmes no nosso propósito de que é preciso combater a crença (mais difundida do que se pensa) de que para muitos brasileiros basta algum rudimento de escolarização. Por essa razão, é preciso conceber políticas que incentivem os pro�ssionais da educação e rompam com os cenários tão frequentes de paralisia e inércia. Isso não se faz só com recursos e orçamentos. É preciso ter ideias generosas e democráticas; bons programas de ensino e propostas curriculares inovadoras; padrões de desempenho estudantil bem de�nidos; atenção redobrada com a formação e a valorização do professor.

Estado

Regionais

Municípios

Escola

Turma

Aluno

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Para entender a avaliação

Por que avaliar?Política públicaO Brasil assumiu o compromisso, partilhado por

estados e pela sociedade, de melhorar a qualidade da educação e promover a equidade.

Diagnósticos educacionais Para melhorar a qualidade do ensino ofertado, é preciso identi�car problemas e lacunas na aprendizagem. Por isso, é necessário estabelecer diagnósticos educacionais.

Avaliação Para que os diagnósticos sejam estabelecidos, é preciso fazer uma avaliação em larga escala, isto é, um grande contingente de estudantes deve ser avaliado.

O que avaliar? Conteúdo avaliado Para de�nir o conteúdo que será avaliado, especialis-

tas de cada área de conhecimento realizam uma seleção das habilidades consideradas essenciais para os alunos.

Matriz de referência Selecionadas a partir do currículo, as habilidades são elencadas na matriz de referência, que as organiza em competências.

Aplicação de testesA avaliação em larga escala utiliza uma metodologia que se baseia em testes padronizados. Cada questão se refere a um item que mensura uma única habilidade dos estudantes.

Escala de pro�ciência As habilidades avaliadas são ordenadas de acordo com a complexidade em uma escala de pro�ciência que per-mite veri�car o desenvolvimento dos alunos.

Como trabalhar os resultados? Padrões de desempenho A interpretação dos resultados possibilita de�nir

os padrões de desempenho estudantil. Com isso, pode-se identi�car o grau de desenvolvimento dos alunos e fazer um acompanhamento deles ao longo do tempo.

Metas, políticas públicas e divulgaçãoA partir da análise dos resultados dos alunos, das es-colas e da rede de ensino, pode-se fazer um diag-nóstico con�ável. Este serve de subsídio para o esta-belecimento de metas e para a de�nição de políticas voltadas para a qualidade da educação e para a promo-ção da equidade. Os resultados são divulgados no portal: http://www.portalavaliacao.caedu�f.net/

São muitas as etapas que envolvem a avaliação educacional em larga escala.

Con�ra o passo a passo de uma grande caminhada que começa na de�nição

de objetivos e segue até a divulgação dos resultados

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Este ano, foram feitas mudanças no Simave. Veja o que mudou

Você sabia?As avaliações educacionais em larga escala podem ser aplicadas em diversos níveis. Assim, há avaliações

para as redes estaduais e municipais (como o Simave); para todas as redes de ensino do País (Saeb); e para diversos países (Programme for International Student Assessment — Pisa).

Apesar de apresentarem características próprias, esses programas de avaliação têm aspectos comuns: • Utilizam a Teoria da Resposta ao Item (TRI) como metodologia de produção de testes e de medidas

de pro�ciência.• Avaliam competências básicas que devem ser desenvolvidas pelos estudantes.

Novidades do SimaveNovos anos avaliados no Proeb 7º ano do ensino fundamental / 1º ano do ensino médioEnfoque na equidade Publicação de novos indicadores de equidadeÊnfase pedagógica Aproximação entre as avaliações externas e internas

Mudanças do Proalfa (Programa de Avaliação da Alfabetização)Até 2014 A partir de 2015

Desenho do testeModelo único de caderno ou modelos com variação na posição dos itens

• 16 modelos de cadernos diferentes, com 20 itens cada• 80 itens na composição total dos cadernos

Procedimento de aplicação

Itens parcialmente lidos pelo professor aplicadorAutonomia do respondente, ou seja, itens não lidos pelo professor aplicador

Divulgação dos resultadosResultados de estudantes com de�ciência e de escolas indígenas divulgados separadamente

Resultados de estudantes com de�ciência e de escolas indígenas incorporados às médias gerais

Mudanças do Proeb (Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica)Até 2014 A partir de 2015

Etapas e periocidade

5° e 9° anos do ensino fundamental e 3° ano do ensino médio avaliados anualmente

5°, 7° e 9° anos do ensino fundamental e 1° e 3° anos do ensino médio, sendo que, em anos de aplicação da Prova Brasil, o 5° e o 9° anos não são avaliados pelo Simave

Desenho do teste

26 modelos de cadernos com 39 itens para cada disci-plina avaliada (Língua Portuguesa e Matemática)

21 modelos de cadernos com 26 itens para cada disci-plina avaliada (Língua Portuguesa e Matemática)

Procedimento de aplicação

Aplicação em dias diferentes, para cada disciplina avalia-da (Língua Portuguesa e Matemática)

Aplicação, em um único dia, das disciplinas avaliadas (Língua Portuguesa e Matemática), seguindo a aplicação da Prova Brasil

Divulgação dos resultados

Resultados de estudantes com de�ciência, de escolas indígenas e atendimento socioeducativo divulgados separadamente

Resultados de estudantes com de�ciência, de escolas indígenas e atendimento socioeducativo incorporados às médias gerais

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31revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

Matriz de Referência (Proeb) – Língua Portuguesa

I. Procedimentos de leitura 1º ano 3º ano

1 Identi�car o tema ou o sentido global de um texto. x x

2 Localizar informações explícitas em um texto. x x

3 Inferir informações em um texto. x x

4 Inferir o sentido de uma palavra ou uma expressão em um texto. x x

5 Distinguir um fato de uma opinião em um texto. x x

II. Implicações do suporte, do gênero e/ou do enunciador na compreensão do texto 1º ano 3º ano

6 Identi�car o gênero de um texto. x x

7 Identi�car a função de textos de diferentes gêneros. x x

8 Interpretar texto que conjuga linguagem verbal e não verbal. x x

III. Relação entre textos 1º ano 3º ano

9Reconhecer diferentes formas de abordar uma informação ao comparar textos que tratam do mesmo tema.

x x

10Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema.

x x

IV. Coerência e coesão no processamento do texto 1º ano 3º ano

11 Reconhecer relações lógico-discursivas presentes no texto. x x

12 Estabelecer a relação de causa e consequência entre partes e elementos do texto. x x

13 Estabelecer relações entre as partes de um texto, as quais contribuem para sua continuidade. x x

14 Identi�car o con�ito gerador do enredo e os elementos que compõem a narrativa. x x

15 Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto. x x

16 Identi�car a tese de um texto. x x

17 Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la. x x

V. Relações entre recursos expressivos e efeitos de sentido 1º ano 3º ano

18 Identi�car efeitos de ironia ou humor em textos variados. x x

19 Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações. x x

20 Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de recursos ortográ�cos e morfossintáticos. x x

21 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão. x x

22 Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso de recursos estilísticos. x x

VI. Variação linguística 1º ano 3º ano

23 Identi�car as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto. x x

Habilidades esperadas dos alunos do ensino médio

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Matriz de Referência (Proeb) – Matemática

I. Espaço e forma 1º ano 3º ano

1 Corresponder �guras tridimensionais e suas plani�cações ou vistas. x x

2 Corresponder pontos do plano e pares ordenados em um sistema de coordenadas cartesianas. x

3 Utilizar relações métricas de um triângulo retângulo na resolução de problemas. x x

4 Utilizar razões trigonométricas em um triângulo retângulo na resolução de problemas. x x

5 Utilizar semelhança de triângulos na resolução de problemas. x

6 Interpretar geometricamente os coe�cientes da equação de uma reta. x x

7 Utilizar o cálculo da distância entre dois pontos no plano na resolução de problemas. x

8Determinar a equação de uma reta a partir de dois pontos dados ou de um ponto e sua inclinação.

x

9Reconhecer, dentre as equações do segundo grau com duas incógnitas, as que representam circun-ferências.

x

10Utilizar o Teorema de Euler para determinar o número de faces, de vértices ou de arestas de poliedros convexos.

x

11 Utilizar a Lei dos Senos ou a Lei dos Cossenos na resolução de problemas. x

II. Grandezas e medidas 1º ano 3º ano

12Utilizar o cálculo da medida do perímetro de uma �gura bidimensional na resolução de problemas.

x x

13 Utilizar o cálculo da medida de área de �guras bidimensionais na resolução de problemas. x x

14Utilizar o cálculo da medida de área da superfície dos principais sólidos geométricos na resolução de problemas.

x

15 Utilizar o cálculo da medida de volume/capacidade na resolução de problemas. x x

III. Números e operações / Álgebra e funções 1º ano 3º ano

16 Corresponder números reais e pontos da reta numérica.  x x

17 Corresponder diferentes representações de um número racional. x

18 Executar expressões numéricas com números reais. x

19 Utilizar porcentagem na resolução de problemas. x x

20Utilizar relações de proporcionalidade entre duas ou mais grandezas na resolução de problemas. 

x x

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Matriz de Referência (Proeb) – Matemática

21 Identi�car um sistema de equações do 1º grau que expressa um problema. x

22 Utilizar equação ou inequação polinomial de 1º grau na resolução de problemas. x

23 Determinar o conjunto solução de um sistema de equações lineares. x

24 Utilizar equação ou inequação polinomial de 2º grau na resolução de problemas. x

25Identi�car zeros, regiões de crescimento e de decrescimento ou máximos e mínimos de uma função a partir de seu grá�co.

x x

26 Corresponder uma função polinomial de 1º grau a seu grá�co. x x

27 Corresponder uma função polinomial de 2º grau a seu grá�co. x x

28 Utilizar função polinomial de 2º grau na resolução de problemas. x

29Utilizar as coordenadas do vértice de uma função polinomial de 2º grau na resolução de problemas de máximo ou mínimo.

x x

30 Corresponder um polinômio fatorado por meio de polinômios de 1º grau às suas raízes. x x

31 Corresponder uma função exponencial a seu grá�co. x x

32 Utilizar função exponencial na resolução de problemas. x x

33 Corresponder uma função logarítmica a seu grá�co. x

34 Corresponder uma função trigonométrica a seu grá�co. x

35 Utilizar juros simples ou juros compostos na resolução de problemas. x

36 Utilizar propriedades de progressões aritméticas na resolução de problemas. x

37 Utilizar propriedades de progressões geométricas na resolução de problemas. x

38 Determinar o seno, o cosseno ou a tangente de arcos no círculo trigonométrico. x

39 Utilizar métodos de contagem na resolução de problemas. x

40 Utilizar noções de probabilidade na resolução de problemas. x

IV. Tratamento da informação 1º ano 3º ano

41 Utilizar dados apresentados em tabelas ou grá�cos na resolução de problemas. x x

42 Corresponder listas e/ou tabelas simples a grá�cos. x x

43 Utilizar medidas de tendência central na resolução de problemas. x x

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avaliação

ESCOLAS QUE FIZERAM A DIFERENÇA

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35revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

O que faz uma escola melhorar seu desempenho na avaliação externa? Que

estratégias são utilizadas por gestores e professores? Em busca de respostas

para essas questões, as pesquisadoras Mariana Junqueira e Sarah Laurindo,

sob a coordenação do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da

Universidade Federal de Juiz de Fora (CAEd/UFJF), visitaram duas escolas que

tiveram êxito, em 2015, no Programa de Avaliação da Educação Básica (Proeb)

pesquisa sobre boas práticas permite apren-der com as próprias escolas como enfrentar os desa�os do cotidiano e conseguir bons

resultados na aprendizagem de seus alunos. No último mês de maio, as pesquisadoras do CAEd/UFJF visitaram duas escolas localizadas em diferentes regiões de Minas Gerais: a E. E. Vereador Luzo Freitas de Araújo e a E. E. Bueno Brandão. Ambas alcançaram em 2015 um valor agregado no ensino médio, acima da média do Estado em pelo menos uma das duas disciplinas avaliadas – Lín-gua Portuguesa e/ou Matemática. Entre outras escolas que também tiveram êxito, essas foram selecionadas por terem participado da última avaliação com um número

Valor agregado das escolas no 3º ano do ensino médio em 2015

 Língua Portuguesa

Valor alcançado Valor estimado DiferençaRede Estadual 274,0 270,2 3,8E. E. V. Luzo Freitas de Araújo 263,8 261,2 2,6E. E. Bueno Brandão 299,9 271,1 28,8

 Matemática

Valor alcançado Valor estimado DiferençaRede Estadual 272,0 269,0 3,0

E. E. V. Luzo Freitas de Araújo 293,1 260,9 32,2

E. E. Bueno Brandão 308,1 269,8 38,3

superior a cem alunos e por representarem especi�cida-des da diversidade regional de Minas Gerais.

O cálculo do valor agregado toma como referência a estimativa da pro�ciência esperada para a escola, de acordo com o índice socioeconômico de seus alunos. A diferença entre a pro�ciência esperada e a efetivamen-te alcançada corresponde ao valor agregado. Como pode ser veri�cado na tabela abaixo, as duas escolas selecionadas apresentam elevado valor agregado no 3º ano do ensino médio em pelo menos uma das duas disciplinas: a E. E. Vereador Luzo Freitas de Araújo, em Matemática, e a E. E. Bueno Brandão, em Língua Portuguesa e Matemática.

A

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Parceria escola comunidadeA E. E. Vereador Luzo Freitas de Araújo �ca em

Ouro Verde de Minas, município situado na região do Vale do Mucuri. A escola atende a um total de 850 alu-nos. Nos turnos da manhã e da tarde estudam os alu-nos dos anos �nais do ensino fundamental e do ensino médio. No noturno, estão matriculados os da Educa-ção de Jovens e Adultos (EJA) e do Curso Normal. Uma parcela signi�cativa dos estudantes mora na zona rural, sendo muitos deles oriundos de cinco quilombos existentes nas cercanias.

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pes-quisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Indica-dor de Nível Socioeconômico (Inse) dos jovens da E. E. V. Luzo Freitas de Araújo é de Nível 3, numa escala que vai do Nível 1 ao 7. Isso indica que os alunos têm condição socioeconômica média baixa: as famílias têm renda mensal entre um e dois salários mínimos, e os pais ou responsáveis não completaram o ensino fundamental.

Mesmo com essas características, a escola tem se destacado, principalmente, no ensino de Matemática. Em 2015, o valor agregado nessa disciplina foi de 32,2 pontos. A pro�ciência média em Língua Portuguesa �-cou abaixo da média do Estado e um pouco acima da média da Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Teó�lo Otoni.

Com base nos dados qualitativos levantados pela pes-quisa, é possível concluir que o mais importante aspecto para explicar o valor agregado em Matemática alcançado pela E. E. V. Luzo Freitas de Araújo é o bom ambiente pedagógico. O diretor Sioney Araújo da Paz conta que o esforço para a melhoria da aprendizagem se dá em duas frentes. A primeira está relacionada ao uso da avaliação externa. “São realizadas reuniões periódicas, em que se busca ver os prós e os contras para a rede�nição das metas e ações de trabalho. Inicialmente, há uma reunião com a equipe pedagógica, que repassa as informações para os professores, e estes, para os alunos”, explica o diretor.

De acordo com os professores, a escola procura conhecer os erros mais recorrentes dos alunos nas avaliações externas. Isso é levado em consideração no planejamento das atividades. A cada novo resultado das avaliações do Proeb, os professores se reúnem para discuti-lo. Surge daí um trabalho com enfoque nos conteúdos que apresentaram resultados críticos. No início e no �nal do ano, os pro�ssionais da es-cola fazem uma assembleia geral envolvendo toda a comunidade escolar, com o objetivo de apresentar os resultados das avaliações.

O diálogo entre gestores e professores foi bene�ciado pela iniciativa da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais de criar um intervalo de duas horas sema-nais para que os docentes de diferentes turnos possam se encontrar. “Antes disso, o trabalho era muito individu-alizado. Cada turno parecia uma escola diferente: Luzo, Freitas e Araújo”, lembra a supervisora pedagógica Márica Beatriz Ferreira. Esse horário contribui para criar uma comunidade de aprendizagem que propicia a troca de ideias e experiências sobre práticas pedagógicas.

Uma iniciativa importante para o êxito da escola é o desenvolvimento de projetos especí�cos, como o “Conto e reconto”, de estímulo à leitura. Esse projeto foi criado a partir da constatação de que os pro�ssionais da instituição não tinham a leitura como hábito. Com o projeto, todos os funcionários param uma hora por semana para realizar atividades de leitura, e os profes-sores fazem um trabalho semelhante com suas turmas. A premiação dos alunos que mais leem livros durante

300

290

280

270

260

250

240

272,0

259,2

293,1

Estado SRE Teó�lo Otoni E.E. V. Luzo Freitas de Araújo

Pro�ciência Média - Estado - SRE e Escola - 3° ano ensino médio - Matemática - Proeb/Simave - 2015

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o ano gera muita animação entre eles. Mesmo sem ter produzido efeito muito signi�cativo em Língua Portu-guesa, os professores estão certos de que esse projeto traz contribuições importantes para a formação integral dos estudantes. O avanço em Matemática está relacionado ao aprofundamento de estudos na disciplina. Os profes-sores contam que a Olimpíada Brasileira de Matemática representa um importante incentivo para os estudantes.

Um ponto forte da escola é saber lidar com as es-peci�cidades de seu público, formado em grande parte por alunos do campo e também por quilombolas. Na época da chamada “panha do café”, alguns jovens se de-dicam a trabalhos sazonais no Estado do Espírito Santo. “Quando eles retornam, procuramos acolhê-los, evitan-do assim a evasão escolar”, diz a supervisora pedagógica.

A escola é parceira de associações quilombolas, cada qual vinculada a um dos cinco quilombos existentes na região. Com isso, é feito um trabalho conjunto para estimular os alunos oriundos de quilombos a prestar vestibular em universidades públicas da região, como informa o vice-diretor Alexandre Vieira Rios, que tam-bém é quilombola.

Outro dado importante é a estreita parceria da esco-la com o Conselho Tutelar. Quando gestores e profes-sores percebem a necessidade de um acompanhamento mais próximo da vida do aluno, o Conselho Tutelar atua orientando as famílias para que estimulem os �-lhos a assumir os compromissos escolares.

A distância entre a escola e o local de moradia dos jovens di�culta, muitas vezes, a participação das famí-lias. Por isso, os professores procuram manter contato com os pais em todas as oportunidades, seja quando eles vão à cidade para resolver assuntos pessoais, seja em festas e demais eventos realizados na escola. A famí-lia é sempre informada quando o estudante apresenta di�culdades de aprendizagem e necessita, por exemplo, fazer recuperação paralela.

A E. E. V. Luzo Freitas de Araújo promove diferentes ações lúdicas e extracurriculares. Servem de exemplos a mostra cultural realizada pelos estudantes, sobre temas re-lacionados à realidade em que vivem, e o Dia do Estudan-te, comemorado com uma variada programação esportiva. E. E. V. Luzo Freitas de Araújo

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Equipe comprometidaA E. E. Bueno Brandão está localizada no município

de mesmo nome, que �ca na divisa de Minas com o Es-tado de São Paulo. Um total de 680 alunos frequentam os anos �nais do ensino fundamental (8º e 9º anos), o ensino médio, a EJA e o Curso Normal. Nos turnos da manhã e da tarde estudam 376 jovens do ensino médio. Cerca de 70% dos alunos são do meio urbano.

O Indicador de Nível Socioeconômico (Inse) dos alunos da E. E. Bueno Brandão é de Nível 4. Isso sig-ni�ca que a instituição possui um per�l de estudantes cujos pais ou responsáveis chegaram ao ensino médio, mas não necessariamente o completaram, e que as famí-lias têm renda mensal de um a dois salários mínimos.

A escola tem alcançado resultados positivos tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática. Em 2015, apresentou uma pro�ciência média de 299,9 pontos em Língua Portuguesa e 308,1 em Matemática, resultados superiores aos da rede e aos da Superintendência Regio-nal de Ensino de Pouso Alegre, como demonstram os grá�cos a seguir.

Na E. E. Bueno Brandão há um bom ambiente pe-dagógico. Isso é resultado de um diálogo permanente entre a gestão e toda a comunidade escolar, além de uma postura transparente no respeito às normas da instituição, que se evidencia, por exemplo, na manei-ra encontrada para preservar o patrimônio público. O diretor Ranieri Castrioto Putini conta que o aluno que rabisca a carteira ou a parede deve fazer a limpeza. Hoje, os próprios jovens criticam quem age dessa ma-neira na escola.

A direção, a vice-direção e a supervisão pedagógi-ca consideram a avaliação externa uma fonte relevante para a construção de planos de ação para a melhoria do ensino e da aprendizagem. Como informa a supervisora Aparecida de Fátima do Prado Carneiro, os resultados de avaliação da Prova Brasil (Inep/MEC) e do Proeb são utilizados para o planejamento. Se, por exemplo, foi detectado que os alunos não desenvolveram uma de-terminada habilidade, é feito um trabalho focado nesse ponto especí�co.

A escola valoriza a quali�cação docente, procurando bene�ciar-se de políticas voltadas para a formação conti-nuada. Os professores contam que o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio, iniciativa do Ministé-rio da Educação em parceria com as secretarias estaduais de educação, trouxe muitas contribuições. Os docentes sentiram-se estimulados a desenvolver atividades inova-doras, e isso repercutiu no desempenho dos alunos.

Entre as ações pedagógicas realizadas pela escola, uma das mais valorizadas é o Plantão de Dúvidas, por meio do qual professores se revezam no contraturno para tirar dúvidas dos alunos. Essa ação, juntamente com a recuperação paralela, tem ajudado a diminuir a retenção dos jovens com di�culdade de aprendizagem.

A gestão da escola investe em mecanismos de acom-panhamento do trabalho docente e discente. Isso é feito por meio do Caderno do Professor, que funciona como uma memória das atividades de sala de aula realizadas por ele. Já o Caderno de Responsabilidade guarda o re-gistro das tarefas que não foram feitas pelos alunos. Os pais são comunicados quando os estudantes não estão cumprindo os compromissos.

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274,0281,0

299,9

Estado SRE Pouso Alegre E.E. Bueno Brandão

Pro�ciência Média - Estado - SRE e Escola - 3° ano ensino médio - Língua Portuguesa - Proeb/Simave - 2015

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Estado SRE Pouso Alegre E.E. Bueno Brandão

Pro�ciência Média - Estado - SRE e Escola - 3° ano ensino médio - Matemática - Proeb/Simave - 2015

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39revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

A escola tem uma movimentada programação extra-curricular. São realizadas palestras sobre temas contem-porâneos, projetos artísticos, competições esportivas, além da tradicional festa junina, cuja organização conta com a colaboração dos alunos e seus familiares.

O que se pode aprender com essas escolas

O estudo sobre a E. E. Vereador Luzo Freitas de Araújo e a E. E. Bueno Brandão traz algumas evidências importantes para se pensar sobre o poder da escola no enfrentamento de contextos sociais que envolvem estu-dantes oriundos de famílias com pouca escolaridade e baixa renda.

As duas escolas apresentam em comum um conjun-to de medidas que se somam no sentido de criar um bom ambiente pedagógico. Dentre essas, três podem ser destacadas: a preocupação com a quali�cação da equipe de pro�ssionais; o uso da avaliação externa como fon-te de re�exão sobre os problemas de aprendizagem; e a valorização das funções do supervisor pedagógico e do vice-diretor, que, juntamente com o diretor, partici-pam da de�nição de programas e do monitoramento do trabalho docente e discente. Isso indica a compreensão da importância da divisão do trabalho como resposta à complexidade da gestão escolar.

Esse per�l institucional propicia a criação de um clima organizacional que favorece a coesão entre os pro�ssionais, tornando mais fácil a implementação de ações com alcance pedagógico de modo integrado e de acordo com as especi�cidades dos alunos. Entre essas ações, chama a atenção, em primeiro lugar, a utiliza-ção dos resultados de avaliação externa para subsidiar o trabalho do professor. Além disso, ambas as escolas adotam iniciativas como a recuperação paralela, o con-trole da frequência e outras medidas voltadas para a redução da evasão.

Pode-se concluir que o resultado alcançado por ambas as escolas alia simplicidade na busca de objetivos pedagó-gicos, comprometimento dos pro�ssionais, diálogo com a comunidade escolar e sentimento de responsabilidade em relação ao direito à aprendizagem de seus alunos.

E. E. Bueno Brandão

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Marcelo Baumann BurgosPesquisador do CAEd/UFJF e professor do Departamento de

Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro (PUC Rio)

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republicanismo tem em sua essência o autogoverno coletivo e a solidariedade no usufruto dos bens públicos. Trata-se de um sistema em que os indivíduos têm a liberdade e a opor-

tunidade de expressar seus interesses. Como os bens públicos devem ser de partilha comum, todos têm a possibilidade de usufruir deles, sem exclusões ou privilégios.

Por isso e pelo fato de ser eminentemente laico, o republicanismo está no fundamento das políticas de justiça social. Sendo assim, os indivíduos são considerados livres em suas orientações religiosa, política e sexual; e a escola é um espaço de respeito à diversidade, sendo garantido aos sujeitos o direito de ser e de pensar diferente.

A dialogia é uma das condições de realização da escola republicana, já que assegura tanto o exercício do uso da palavra quanto o da contrapala-vra. Dessa maneira, o contraditório, a divergência e o con�ito não devem ser escamoteados ou silenciados, mas vivenciados como regra da convi-vência entre diferentes. O confronto de vários pontos de vista leva à troca de ideias e possibilita a expansão da percepção e não, necessariamente, o convencimento de uns por outros.

Uma das bases dessa concepção de educação é a do autogoverno res-ponsável. Este se realiza pelo encontro de várias partes que pactuam a su-peração de interesses particularistas e, ao mesmo tempo, lutam coletiva-mente por justiça e solidariedade.

Outra condição fundamental de uma escola republicana é a equidade. Esta se orienta pelo compromisso com a igualdade de oportunidades e o acesso de todos à educação pública. Assim, nenhum estudante pode ser ex-

avaliação

Júnia Sales PereiraSubsecretária de Informações

e Tecnologias Educacionais

da SEEMG.

Educação pública, democrática e inclusiva

O

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41revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

cluído, em função de fatores como sua origem sociocul-tural, seu pertencimento étnico-racial, sua orientação política, religiosa ou suas preferências individuais.

Para que se promova a equidade, é preciso que edu-cadores e a sociedade se comprometam com a inclusão. Deve ser assegurado a todos o direito a estudar numa escola pública marcada pela experimentação curricular, pela valorização da pesquisa e pela autonomia pedagó-gica. Os mecanismos de avaliação (em larga ou em mi-croescala) devem contribuir para superar as desigualda-des. Assim, a aferição de indicadores educacionais deverá considerar o monitoramento de fatores de inclusão, como a universalização da oferta, a permanência do estudante na escola e o êxito na aprendizagem.

O humanismo é outra condição de uma escola republicana. Tendo como base os direitos humanos, a educação assume o compromisso com a dignidade humana e com a não violência; respeita a diversidade cultural, étnico-racial e de gênero, além de se compro-meter com a sustentabilidade do planeta. As práticas são solidárias e colaborativas, voltadas para o cultivo de talentos, o incentivo à criatividade, à autonomia, à emancipação e à liberdade.

Fala-se muito em uma educação cidadã, mas pouco se evidenciam os conteúdos do republicanismo na es-

cola contemporânea. É preciso haver o exercício hori-zontal da participação dos sujeitos, convocados a se ex-pressar e a se defender livremente. O respeito deve ser cultivado, levando-se em conta que crianças e jovens têm tanto a ensinar quanto os adultos. Os conteúdos pedagógicos não podem se orientar por razões compe-titivas, eurocentradas e urbanocêntricas. É necessário que a avaliação tenha como um de seus objetivos o en-frentamento dos desa�os educacionais para a constru-ção de uma pedagogia renovada.

Para que a justiça social fundamente as agendas educacionais, precisamos promover práticas que valo-rizem o sentido coletivo do trabalho docente, a gestão democrática e a expansão do território educativo em que está a escola, articulando-a social e culturalmente às experiências e às vivências públicas.

Nenhum projeto de fortalecimento do republi-canismo na contemporaneidade poderá ignorar a força, a representatividade e a legitimidade de uma educação pública, democrática, inclusiva e popular. Mesmo num cenário social marcado por profundas desigualdades, nós, educadores e educadoras, rea-�rmamos a pauta comum que nos reúne, inspira e orienta na luta pela educação pública numa república ainda em construção.

educadores autonomia

expansão

oportunidade

política

direito

equidade

construção

exercícioestudante

coletivo

serautogoverno

solidariedade

sustentabilidadetrabalhodocente

interesses inclusãolaico

incenti

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justiçademocrática

vivência

lutarepública

cidadaniaexperiências

crianças

êxito educacionaiseducadores

emancipação

social

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Ilustrações: Pedro Cupert, 16 anos, 3° ano do ensino médio da E. E. Dr. Raimundo Alves Tôrres, Viçosa, MG

juventude

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43revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

nicialmente, é preciso reconhecer as di�culdades em de�nir o que é a juventude. Não podemos reduzir a nossa compreensão desse termo a uma de�nição pautada pela idade cronológica, pois esse é um critério

variável e que muda de país para país. Hoje, na América Latina, há um consenso de que a juventude se estende até os 29 anos, tal como consta, no Brasil, do Estatuto e da PEC da Juventude.

A de�nição da juventude por idade encontra elementos objetivos no aspecto da maturidade biológica, e sua delimitação se reveste de im-portância para as políticas públicas, notadamente quando se pensa em contagem de população, de�nição de políticas e recursos orçamentários. Contudo, compreender os jovens apenas pelo fator idade seria simpli�car uma realidade complexa, que envolve elementos relacionados aos campos simbólico e cultural e aos condicionantes econômicos e sociais que estru-turam as sociedades.

Podemos a�rmar que a juventude é uma categoria socialmente produ-zida. Temos que levar em conta que as representações sobre ela, os sentidos que se atribuem a essa fase da vida, a posição social dos jovens e o trata-mento que lhes é dado pela sociedade ganham contornos particulares em contextos históricos, sociais e culturais distintos. A pesquisa antropológica é rica em exemplos que demonstram que as etapas biológicas da vida são elaboradas simbolicamente com rituais que de�nem fronteiras entre idades que são especí�cas de cada grupo social.

Que fase da vida é essa?

juventude

Juarez DayrellProfessor da Faculdade de Educação

da Universidade Federal de Minas Gerais

(UFMG) e coordenador do Observatório

da Juventude da UFMG

(http://observatoriodajuventude.ufmg.br)

I

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Ilustrações: Produção coletiva nas aulas da professora Vilma Oliveira Coelho em uma turma do ensino médio da E. E. Nossa Senhora do Belo Ramo, Belo Horizonte, MG

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45revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

Para saber mais

ABRAMO, Helena. Cenas juvenis – punks e darks no

espetáculo urbano. São Paulo: Escrita, 1994.

DAYRELL, Juarez. A escola faz juventudes? Re�exões

sobre a socialização juvenil. Educação e Sociedade,

Campinas, v. 28, n. 100, p. 1105-11, out. 2007.

UNESCO, MEC, ANPEd. Juventude e contemporaneidade

(Coleção Educação para Todos, 16). Brasília: 2007. Dispo-

nível em: http://migre.me/tBSG9. Acesso em: maio 2016.

Ainda nessa direção, pode-se a�rmar que a juven-tude é uma construção histórica. Diversos autores já mostraram que ela aparece como uma categoria social-mente destacada nas sociedades industriais modernas, resultado de novas condições sociais, como as trans-formações da família, a generalização do trabalho as-salariado e o surgimento de instituições, como a esco-la. Nesse processo, começou-se a delinear a juventude como uma condição social de�nida que ultrapassa os critérios biológicos e/ou de idade.

A juventude é, ao mesmo tempo, uma condição so-cial e um tipo de representação. De um lado, há um ca-ráter universal, dado pelas transforma-ções do indivíduo numa determinada faixa etária; de outro, diferentes cons-truções históricas e sociais relacionadas a esse tempo/ciclo da vida.

A entrada na juventude se faz pela fase da adolescência e é marcada por transformações biológicas, psicológi-cas e de inserção social. É nessa fase que �sicamente se adquire o poder de procriar; a pessoa dá sinais de ter menor necessidade de proteção por parte da família e começa a assumir responsabilidades, buscar a independência e dar provas de autossu�ciência, dentre outros sinais corporais, psi-cológicos e de autonomização cultural.

O mesmo não pode ser dito em relação à culmi-nância do processo que se dá com a passagem para a vida adulta. Isso porque esta se encontra cada vez mais �uida e indeterminada, fazendo com que os próprios marcadores da passagem para a “adultez” (terminar os estudos, trabalhar, casar, ter a própria casa e �lhos) ocorram sem uma sequência lógica pre-visível, ou mesmo não ocorram com o avançar da ida-de, como é o caso dos indivíduos que vivem em uma “eterna juventude”.

Consideramos que a categoria juventude é parte de um processo de crescimento totalizante, que ganha contornos especí�cos no conjunto das experiências vi-venciadas pelos indivíduos no seu contexto social. Isso signi�ca entender essa categoria mais amplamente e

não como uma etapa com um �m predeterminado, e muito menos como um momento de preparação que será superado quando se entrar na vida adulta.

A juventude constitui um momento determinado, mas que não se reduz a uma passagem. Ela assume uma importância em si mesma como um período de exercício de inserção social em que o indivíduo vai se descobrindo e descortinando as possibilidades em to-das as instâncias de sua vida, desde a dimensão afetiva até a pro�ssional. Essa realidade ganha contornos pró-prios em contextos históricos, sociais e culturais dis-tintos. A diversidade das condições sociais, culturais

e de gênero e até mesmo as diferenças territoriais se articulam para a consti-tuição das distintas modalidades de se vivenciar essa fase da vida.

A juventude é uma categoria di-nâmica, pois é transformada no con-texto das mutações sociais que vêm ocorrendo ao longo da história. Na realidade, não há tanto uma juven-tude, e sim jovens enquanto sujeitos

que a experimentam e a sentem segundo o contexto sociocultural no qual se inserem. Assim, eles elabo-ram determinados modos de ser jovem. É nesse senti-do que enfatizamos a noção de juventudes, no plural, para ressaltar a diversidade de modos de ser jovem. A partir destas re�exões, o desa�o está posto para os educadores: como trabalhar com os alunos levando em conta a sua dimensão de jovens?

Enfatizamos a noção

de juventudes, no

plural, para ressaltar

a diversidade de

modos de ser jovem

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Tenho 17 anos e trabalho desde os 8. Já carreguei ferro em serralheria, lata de cimento nas construções e vendi DVD e capa de celular na porta do supermer-cado do meu bairro. Tudo isso para ajudar a família, porque minha mãe tem que �car em casa para cuidar dos quatro �lhos pequenos. Antes, eu ia para a escola cansado e não tinha interesse nas aulas. Eu não apren-dia nada, e me passavam de ano mesmo assim. Andei meio desanimado e comecei a pensar que minha vida não ia mudar nunca e que eu não teria chance para virar o jogo.

Em 2012, entrei para a E. E. Professor Ricardo Souza Cruz, e foi aí que comecei a ver que as coisas podem ser diferentes. Eu ouvia a diretora Marta Ba-tista Abreu dizer que os alunos precisam participar e que a escola deve ouvir a voz do estudante. Com isso,

juventude

Pablo Gabriel da SilvaAluno do 1° ano do ensino médio, presidente do Grêmio da

E. E. Professor Ricardo Souza Cruz, Belo Horizonte, MG.

Pal

avra

de

jove

m acabei entrando para o Colegiado

e, este ano, fui eleito presidente do Grêmio. Aprendi que o aluno tem vez e pode contribuir para a melho-ria da educação.

Na Ricardo vi a diferença que faz quando o professor, além de en-sinar a disciplina, se dispõe a edu-car os alunos, mostrando que todos precisam aprender a ter postura, a escutar e a falar sem gritar ao par-ticipar de um diálogo. Isso foi fun-damental para formar a minha base como cidadão.

Está no sangue do jovem questio-nar, inovar e sonhar. Temos que lutar para mudar o modelo de educação que não atrai a juventude. A evasão escolar no ensino médio é alta. A de-sigualdade social torna tudo muito difícil, e por isso o aluno de perife-

ria acha que não pode sonhar com um futuro melhor. A escola tem que ensinar que todos podem sonhar. Os professores precisam fazer com que o jovem perceba que ele pode conquistar o que quiser na vida, como ter uma boa formação, fazer curso técnico ou superior e exercer uma pro�ssão que tenha a ver com o que gosta.

Para mim, a educação é muito mais do que en-sinar a ler e escrever. É para nos ensinar a lutar por nossos direitos. Precisamos disso para enfrentar as di�culdades do mundo e para realizar nossos so-nhos. O meu é fazer faculdade de Ciências Políticas. E eu vou conseguir.

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47revista educação pública . ensino médio . julho/dezembro 2016

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De aluno a professor da rede pública

Ao relembrar sua trajetória, Marcos Antônio Silva diz que a escola ampliou

seu campo de possibilidades. Como professor, ele se propõe a incentivar

e orientar os jovens na construção de seus projetos de vida

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ursei a educação básica numa escola pública em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Acompanhei a expansão da oferta de vagas na rede estadual de ensino e vivenciei situações marcantes relacionadas ao chamado “fracasso escolar”. Aos 9 anos de idade, fui encaminhado a uma turma com alunos de “rendimento inferior”. Ali, na convivência com colegas adolescentes e jovens, �cava impressionado com as muitas reprovações que vários deles tinham enfrentado. De alguma maneira, eu começava a perceber a crueldade do sistema educacional que culpa o indivíduo frente à incapacidade de ensiná-lo.

Como nessa escola só havia o ensino fundamental, tive que me matricular em outra para cursar o médio. Todo dia eu caminhava cinco quilômetros para poder assistir às aulas. Mas essa peregrinação terminou no ano seguinte, pois a escola próxima à minha casa passou a oferecer o ensino médio no período noturno.

Terminados os meus estudos na educação básica, decidi prestar vestibular. No entanto, eu não tinha pro�ciência su�ciente para ser aprovado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), única opção de ensino superior gratuito. Por isso, resolvi investir metade do salário como balconista de farmácia em um cursinho pré-vestibular. Só depois de três anos consegui ingressar no curso de Ciências Sociais da UFMG, no qual me licenciei como professor de Sociologia.

Mesmo com as adversidades enfrentadas, a escola pública foi fundamental para minha formação pessoal, principalmente no ensino médio. A escola ampliou meu campo de possibilidades. Era o único local onde eu tinha contato com pessoas que haviam feito um curso superior e, com seus exemplos, me estimulavam a querer progredir nos estudos. Considero a minha vida de estudante um exemplo do que chamamos de “efeito escola”, que é a contribuição dessa instituição para o desenvolvimento intelectual e social do aluno.

Muitos professores com trajetórias semelhantes à minha, recentemente, passaram a integrar a rede estadual de Minas Gerais. Como eu, eles são oriundos de famílias populares e conhecem bem as potencialidades e os limites da rede pública de ensino.

Defendo que é muito importante explicitar e valorizar a experiência desses pro�ssionais. Isso ajuda a construir com os nossos jovens alunos e com a comunidade onde atuamos um projeto de escola que leve em conta as especi�cidades e a grande diversidade dos sujeitos que hoje têm acesso à educação pública no Estado. Dessa forma, a escola pode contribuir para ampliar a visão de mundo desses jovens, incentivando-os e orientando-os na construção de seus projetos de vida.

Esses novos docentes que estão hoje na rede estadual podem mobilizar o coletivo dos professores para um trabalho que respeite e valorize a diversidade. A discussão

sobre esse tema permitirá desfazer equívocos ainda presentes na cultura escolar, como a predominância de uma visão exclusivamente meritocrática em relação aos jovens alunos. Ao insistir em não considerar as necessidades especí�cas desses sujeitos, a meritocracia aprofunda as desigualdades, ao invés de minimizá-las.

O que aprendi em minha trajetória escolar e nos nove anos como professor de ensino médio na rede estadual é que

as soluções mais e�cazes para os desa�os enfrentados pela escola pública partem dos pro�ssionais que nela atuam.

Esse fato aponta para a relevância de uma gestão democrática, que considere os saberes e as vivências de todos os sujeitos da comunidade escolar. Na minha opinião, só assim poderemos construir uma educação de qualidade para todos.

Marcos Antônio SilvaCientista Social pela UFMG, mestre em Educação pela

Faculdade de Educação (FaE/UFMG), professor de Sociologia

na E. E. Romualdo José da Costa e E. E. Nossa Senhora da

Conceição, ambas em Ribeirão das Neves.

As soluções mais

e�cazes para os

desa�os enfrentados

pela escola pública

partem dos

pro�ssionais

que nela atuam

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Educação coletiva, democrática e participativa. Escola com todos!