JAÇANÃCAUSOS E A VIDA DE UMA PAJÉ PATAXÓ

São Paulo 2016

JAÇANÃCAUSOS E A VIDA DE UMA PAJÉ PATAXÓ

Ilana Lewinsohn

Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa Jacilene MoraesFotografia Ilana LewinsohnDiagramação Jacilene MoraesRevisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________L651j

Lewinsohn, Ilana Jaçanã: causos e a vida de uma pajé pataxó / Ilana Lewinsohn. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2016. il.

ISBN 978-85-437-0594-1

1. Folclore indígena - Conto brasileiro. 2. Conto brasileiro. II. Título.

16-32095 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________06/04/2016 08/04/2016

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

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HONRANDO

O povo pataxó e toda a força de uma gente que resiste, com muita história pra contar.

Honrando todo o povo e a história dos brasileiros que aqui esta-vam desde muito antes desta terra virar Brasil.

Honrando o povo da terra e a tradição de contar histórias.

O QUE E EM QUE PÁGINA ENCONTRAR:

PrefácIo ......................................................................................... 13

NAS PALAVrAS De JAÇANÃ ........................................................ 17

e Lá VAI: cAUSoS e SoNHoS DA PAJÉ .....................................19

A HISTÓRIA DO NENÊ E A MULHER DE BRANCO ................................19

A HISTÓRIA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO ..................................20

A VIDA QUANDO ERA CRIANÇA ...............................................................21

CRIANÇA CORRENDO DA POLÍCIA: O FOGO DE 51 ............................26

O CASAMENTO ..............................................................................................30

A RETOMADA DA ALDEIA VELHA .............................................................31

A MORTE DOS FILHOS PELO FOGO .........................................................36

O SONHO DA LUA E O FIM DO MUNDO ................................................37

O SONHO ENTREGANDO OS FILHOS PARA O CASAL DE BRANCO ....38

FILHOS NAS MÃOS DE DEUS ......................................................................41

FÉ .......................................................................................................................41

SOFRIMENTO, FÉ, VENCER ........................................................................41

CHORAR PRA DENTRO ................................................................................42

AJUDAR AO PRÓXIMO .................................................................................42

NÃO GUARDAR RAIVA .................................................................................43

TUPÃ ARÉ .........................................................................................................43

ALIMENTAÇÃO E VÍCIOS.............................................................................44

MATANÇA; COMER CARNE ........................................................................47

A PArTerIA ...................................................................................49

COMO COMEÇOU A FAZER PARTO..........................................................49

PARTOS E ADIVINHAÇÕES ........................................................................50

PARTOS, CESÁREA E COMO ERA ANTIGAMENTE, SEM CESÁREA ....52

PARTO DAS FILHAS E OS MALFORMADOS .............................................53

oS reMÉDIoS .................................................................................55

COMO ACONTECEU DE A SENHORA FAZER REMÉDIOS? .................55

REMÉDIOS ......................................................................................................56

CUIDANDO DAS PESSOAS, DOS ANIMAIS, DAS PLANTAS ...................56

REMÉDIO DE MATO, BRUXARIA ...............................................................58

BrINcANDo, cANTANDo, coNTANDo HISTÓrIA ......................59

SOBRE RODA DE HISTÓRIA ........................................................................59

CANTAR RODA ...............................................................................................59

HISTÓRIA DO SAPO, CANTORIA DO VEADO ........................................60

A COBRA PRA CASAR COM MARIA ............................................................62

MAIS UNS cAUSoS .........................................................................65

NOME DA AVÓ ...............................................................................................65

FAZENDO BRINCOS......................................................................................65

PENSAR DEMAIS ENLOUQUECE ...............................................................65

PICADAS DE MARIMBONDO E O CREME DE AROEIRA.......................66

MARIMBONDO TAPA-GOELA .....................................................................66

MARIMBONDOS, XIXI DE VELHA PRA BEBER ........................................67

SOBRE A MÃE E AS CAÇAS ..........................................................................68

BARRACA QUEIMADA DE NOVO... E O FILHO DELA PASSA A NOITE

NO HOSPITAL COM O ATEADOR .............................................................68

oS eNcANTeS e AS VISÕeS ......................................................... 71

MEIA-LUA ENCANTADA ...............................................................................71

ENCANTE SONCIN ......................................................................................72

ENCANTE O PAI DA MATA ..........................................................................73

A COBRA PICO DE JACA ASSOMBRANDO ..............................................75

ENCANTE CAIPORA ......................................................................................76

ANTERO E AMBRÓSIO .................................................................................77

A MACACA E SEU FILHO ..............................................................................78

ENCANTE MÃE D’ÁGUA ..............................................................................78

CABELO DE OURO DA MAE D’ÁGUA ........................................................79

ENCANTE JIBURA ..........................................................................................80

ENCANTE NAZARIN, NEGO D’ÁGUA .......................................................80

É DE VERDADE ..............................................................................................81

SoNHoS ............................................................................................83

SONHO DO RIO RETO ................................................................................83

A MORTE DO IRMÃO E OS SONHOS DIZENDO QUE VINHAM BUSCÁ-LA ..83

SONHO ATUAL – MADEIRA COM ÁGUA, CESTO DE PEIXE MORTO .... 85

A PORTA ENFEITADA E HOMEM SAINDO ..............................................85

OS ANJINHOS .................................................................................................86

O CAVALO ........................................................................................................86

O ENFORCADO; A NINHADA DE GALINHA ...........................................87

coMo É Ser ÍNDIo HoJe? ............................................................89

POR QUE CONTAR SUA HISTÓRIA ...........................................................90

HISTÓRIA TERMINADA ...............................................................................90

DEUS SABE DAS NOSSAS NECESSIDADES ...............................................91

TrADUTÓrIo ................................................................................... 93

foToS ..............................................................................................95

Jaçanã - Causos e a vida de uma pajé pataxó 13

PREfÁCIO

Este escrito é um feliz acontecido. Para Jaçanã – Maria D’Ajuda, no batismo –, para mim, e para todos os que quiserem conhecer um pouco de sua história.

Logo ao chegar à Bahia, em Arraial d’Ajuda, estive a visitar a Al-deia Velha, morada dos Pataxós. Pus-me à disposição para o que fosse, revelando à coordenadora da escola indígena que minha vontade maior – sabendo-me um tanto atrevida, mas com muito amor – era ouvir os anciãos e poder registrar suas histórias. Disseram-me, então, que para isso seria necessária a permissão do cacique e que haveria poucas chan-ces de dar certo. Bem... Fui-me embora, feliz da vida por um primeiro contato, apesar de aparentemente não ter sido muito bem-sucedido.

Saindo da aldeia, sorridente que estava eu, dei passagem para uma moça de moto.

No dia seguinte, bate alguém à minha porta, pedindo uma ajuda específica. Surpresas ficamos, quando descobrimos que era a tal moça da moto, Ananda, que me reconheceu por conta do sorriso, ou seja, da felicidade em que eu me encontrava diante da possibilidade de servir na Aldeia Velha. Ela então disse que, naquele momento em que havíamos nos cruzado na véspera, ela ia visitar Jaçanã, a pajé da aldeia, que estava ansiosa por poder contar suas histórias a alguém que as pu-desse redigir. Encantada com a generosidade do Universo, e a beleza de sua precisão, contei a Ananda minha empreitada, e diante disso, no dia seguinte, lá estávamos nós com Jaçanã, e este livro pôde acontecer.

A pajé achou melhor fazermos a coisa toda para depois mostrar ao cacique.

14 Ilana Lewinsohn

Muito bem! E assim foi, alguns meses ouvindo e registrando a fala dessa senhora tão querida, tão forte e tão doce. Sou grata, verda-deiramente, por ter tido a chance de fazer isto, e de alguma forma, ainda que muito singela, ofertar algo ao povo pataxó, através da vi-vência de uma sua pajé.

Em nome dos “meus”, peço perdão aos “teus”, porque somos todos um.

Gratidão.

Jaçanã - Causos e a vida de uma pajé pataxó 15

oBSerVAÇÃo

Esta história está, toda ela, contada com as palavras de Jaçanã. Minha tarefa foi, unicamente, transcrever da maneira mais fiel possível suas palavras e interferir minimamente, para facilitar a compreensão de sua fala – na medida em que percebo como sua relação com uma linearidade do tempo parece um pouco distinta da do senso comum.

Jaçanã não é letrada em português. Não sabe ler ou escrever pa-lavras. Sua sabedoria se voltou para ler a Natureza, aprender direta-mente com as ervas e os sonhos, e assim fica registrado. Não intento “corrigir” sua fala, mudar a linguagem que lhe é natural para uma que pareça mais correta aos que estudaram a língua portuguesa na escola.

Vez ou outra participam Mundinha e Paru, suas filhas.Então, para conservar a poesia, mantenho as palavras, sempre

que cabe, como foram ditas. Para o caso de o leitor não entender algo, há um apêndice final com um tradutório.

Aquele que procura rebuscamento e dados técnicos, não vai encontrar muito o que lhe interesse nestas páginas; aquele, porém, que busca simplicidade e boa prosa... Ah, este vai se regozijar!

Sim?

Então vamos lá!