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Page 1: Entrevista Outros perfis - Revista Maxillaris

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Afonso Pinhão Ferreira, pintor e médico dentista

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152 MAXILLARIS, Março 2008

««Cada vez que entro em casa sinto-me no mundo da Arte

Cada vez que entro em casa sinto-me no mundo da Arte

No plano profissional, o currículo diz tudo: foi oprimeiro médico dentista a exercer, em Portugal, a

especialidade de Ortodontia em regime deexclusivamente, é presidente do Conselho

Directivo da Faculdade de Medicina Dentária daUniversidade do Porto e principal dirigente da

Sociedade Portuguesa de Ortopedia Dento-Facial.Mas é no domínio das artes que reside a (outra)grande vocação de Afonso Pinhão Ferreira: a de

retratista com estilo próprio. O professorcatedrático reconhece, em entrevista a MAXILLARIS,

que a pintura é a sua paixão “número um”, mastambém dedica os tempos livres à literatura de

expressão artística. E revela-se um coleccionadorde arte “quase fanático”, que guarda em casa maisde uma centena de peças assinadas por pintores eescultores da talha de Paula Rego e João Cutileiro.

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Parece que os seus quadros são muito solicitados por ami-gos, colegas e não só...Pinhão Ferreira. Realmente, tenho muitos pedidos. Lembro-me de um quadro muito grande, em que retratei 18 compan-heiros do Rotary Club da Póvoa do Varzim, que foi colocado pordetrás da mesa de honra da assembleia que aconteceu nesseano na mesma localidade e que contou com a presença de rotá-rios de todo o País. As pessoas reconheciam cada um dos cole-gas que estavam no quadro e vinham pedir-me para lhes fazerum retrato.

A minha mulher está convencida que eu, se não fosse den-tista, podia ganhar a vida a fazer quadros [risos]. Claro que háaqui alguma dose de exagero, mas acredito que seria capaz dedesempenhar essa função perfeitamente.

Em todo o caso, gosto de fazer este trabalho sem estar con-dicionado a prazos, sem ter que desenhar o que não gosto.

Já vendeu algum quadro?Pinhão Ferreira. Nunca vendi quadros porque não quis ven-der. Já tive vários pedidos nesse sentido, um deles até me sur-preendeu pelo valor. Um grande industrial de Famalicão, quepassou pelo meu consultório, quis-me comprar o quadro daRua da Igreja de Vila do Conde por uma verba bastante avulta-da. Fiquei admirado. Mas, realmente, não trabalho para venderquadros.

Neste momento, tem algum trabalho entre mãos?Pinhão Ferreira. Tenho quatro em fase de elaboração. Tenhosempre em mãos mais do que um quadro, porque quando che-go ao atelier, às vezes, pode não me apetecer pegar em deter-minado quadro ou ainda não sei como hei-de terminá-lo e,assim, dedico-me a outro.

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Paralelamente à sua actividade académica e clínica na áreada Medicina Dentária, consta que é um grande aficionado pelaarte, em geral, e pela pintura, em particular...Pinhão Ferreira. Sim, estou ligado a três vertentes artísticas. Apintura é, indiscutivelmente, a minha paixão “número um”, mastambém dedico o meu tempo à literatura relacionada com aarte e sou um coleccionador de arte quase fanático. Cheguei apassar dificuldades monetárias para investir em peças. É quasecomo jogar no casino.

Em suma, não resisto à arte, nem eu nem a minha mulher.Ao longo da nossa vida, comprámos muitas peças e temos hojeuma colecção que já considero apreciável. Orgulho-me muitode cada peça. Cada vez que entro em casa, sinto-me no mundoda arte.

Como é que despertou a sua vocação para a pintura?Pinhão Ferreira. A história é simples... Desde criança, sempretive jeito para desenhar, mas nunca valorizei muito essa habi-lidade. Um dia, já na minha fase de profissional de MedicinaDentária, desafiei um colega – o professor Carlos Silva - parame acompanhar num curso de pintura, ministrado numa esco-la especializada da Póvoa do Varzim. Nessa escola, que fre-quentávamos à noite, puseram-nos a fazer um desenho deuma escultura. Deram-nos uma hora para o fazer, a lápis, e odesenho saiu-me muito bem, tal e qual o modelo que lá esta-va. O professor pediu-nos, então, para fazermos a mesma coi-sa em meia hora; nós fizemos e ficou razoável. Depois, pediupara fazermos o mesmo num quarto de hora, e lá repetimos odesenho cada vez mais simplificado. E assim, sucessivamente,até chegar aos 15 segundos, ou seja, acabei praticamente adesenhar uma linha.

A verdade é que achei aquele exercício fantástico. Fiqueiapaixonadíssimo pela simplificação, pela arte, pelo desenho,pela volumetria. A partir daí, nunca mais parei...

Quando é que assumiu a pintura como um “caso sério” nashoras livres? Pinhão Ferreira. Tive a sorte de o arquitecto que fez a minhacasa me propor construir um atelier de pintura anexo à mora-dia. Tudo isto levou a que eu seja compulsivamente um pintor.Hoje em dia, não há semana em que não pinte. Pinto nos feria-dos, nos fins de semana, nas férias. Dá-me um prazer enormepintar.

Os seus trabalhos obedecem a algum estilo em particular?Pinhão Ferreira. Acima de tudo, considero-me um retratista. Jáfiz perto de 200 retratos a óleo. Tenho vários quadros que nãosão retratos (paisagens, por exemplo) e gosto de pintar um pou-co de tudo. Mas conseguir eternizar a expressão de uma pessoatem, para mim, um significado especial. Sinto um gosto enor-me em desenhar o retratado, pouco a pouco, através da cons-trução dos volumes e das cores, e depois reconhecer essa pes-soa. Mais: transmitir o estado de espírito que essa pessoa temno momento em que está presente no quadro.

De facto, é a forma que me dá mais satisfação e a arte ondesou mais conseguido.

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Quando dou uma aula, o primeirodiapositivo que apresento aos

alunos de Medicina Dentáriacorresponde a um quadro de um

pintor português, que tentoadequar ao tema que se vai tratar

Quando dou uma aula, o primeirodiapositivo que apresento aos

alunos de Medicina Dentáriacorresponde a um quadro de um

pintor português, que tentoadequar ao tema que se vai tratar

Quantos quadros da sua autoria mantém na sua posse?Pinhão Ferreira. Devo ter em casa uns 40, outros 160 estão naposse de terceiros. Foram todos oferecidos. Ofereci quadros avárias instituições, incluindo a Faculdade de Medicina Dentáriaa que estou ligado, que tem, neste momento, uns cinco ou seistrabalhos meus.

É um prazer muito grande oferecer quadros, em primeirolugar, porque é um trabalho muito pessoal; em segundo, por-que toda a gente gosta de ter um retrato a óleo; em terceiro,porque é uma prenda diferente.

Que mestres e/ou referências artísticas tiveram ou têminfluência no seu estilo?Pinhão Ferreira. Antes de mais, defino-me como um autodi-dacta, embora o meu percurso seja diferente daquele a que aspessoas estão habituadas. Fiz um trajecto evolutivo, estudeivários pintores, mas estudei-os mesmo a fundo, li muito sobreeles. Depois, copiei alguns quadros, embora nunca os tenhacopiado na essência. Fiz retratos segundo Cézanne, Matisse, VanGogh, entre outros. Enfim, fiz uma série de retratos até chegarao meu estilo próprio. Hoje, acho que já sou detentor de umestilo próprio.

Tenho um grande amigo – o escultor José Nobre – a quemcomprei a minha primeira peça de arte. Há tempos, organizei-lhe um jantar de homenagem em minha casa e ofereci-lhe umquadro (um retrato). E ele disse-me, sentidamente, que adora aminha pintura, porque considera que faço a composição dosvolumes e as perspectivas através da adição de cores muito for-tes e contrastantes. Diz que consigo obter a tridimensionalida-de com a cor.

Que materiais utiliza para pintar?Pinhão Ferreira. Óleo. Já fiz umas aguarelas, já pintei uns pas-téis e admito que não resultaram mal. Mas se há um materialnobre para o retrato, para mim, esse material é o óleo.

Que experiência acumula no campo das exposições?Pinhão Ferreira. Já participei em várias colectivas e numa ouduas individuais. Devo confessar que detesto exposições. Aspessoas, ou melhor, as associações e instituições com que man-tenho contacto pedem-me para fazer exposições. Sempre queposso, fujo disso. Dá muito trabalho trazer e levar os quadros,depois, estragam-se as molduras. Enfim, como não tenho aque-la mania de ser, digamos, muito conhecido ou de ser um gran-de pintor, não sinto a necessidade de expor os meus trabalhos.

Pinto apenas por gosto, por prazer, embora valha a pena res-salvar que a pintura, quando atinge um certo nível, já não é sóprazer; tem um tecnicismo tal que obriga a horas de trabalho,obriga a métodos, etc. Quando falava na minha faceta de auto-didacta, devo dizer que essa faceta foi muito, muito trabalhada,exigiu muita leitura, muitas cópias. Tudo para chegar ao tal esti-lo próprio que hoje sinto que tenho.

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Auto-retrato.

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apreciação minha sobre a pintura moderna e contemporânea,o meu ponto de vista sobre o aspecto evolutivo e biográfico dopintor que mais admiro. Daí tiro ilações para a análise que façoda pintura em geral.

O Modigliani não alinhou na politica do vanguardismo dofim do século XIX e princípio do século XX. Apesar de ter vividocom os surrealistas, com os pós-impressionistas, não foi propria-mente um indivíduo que alinhasse com qualquer destas corren-tes. Teve um estilo próprio. Neste contexto, eu aproveito paramostrar o que penso da evolução da pintura.

É um livro cuja leitura e compreensão exige algum conheci-mento cultural.

Este livro representa uma incursão pontual no mundo daescrita? Ou pensa continuar a desenvolver a sua “veia literária”?Pinhão Ferreira. Se tiver tempo, penso fazê-lo.

Aliás, estou também a trabalhar num livro profissional sobreOrtodontia. Talvez dentro de um ano esteja cá fora.

Passemos ao seu lado de coleccionador de arte. Quando éque começou a investir neste campo?Pinhão Ferreira. Comecei em meados dos anos oitenta. Comoatrás referi, comprei a minha primeira peça ao escultor JoséNobre, intitulada “O Sonho”. É uma peça fantástica em bronze,um braço sobre uma cabeça a repousar. Na altura em que acomprei – para se perceber até que ponto sou fanático pela arte– ainda não tinha sequer mobília na sala de jantar. Estava acomeçar na profissão, tínhamos um apartamento simples, ain-da por rechear, e fui logo comprar uma peça de arte que andeia pagar, às prestações, durante um ano. Portanto, mesmocom necessidades incríveis, fui comprar uma peça de arte.

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À parte da sua faceta de pintor, também tem vindo a dedi-car-se à escrita sobre a arte. Que projecto(s) está a preparar nes-te domínio?Pinhão Ferreira. Estou prestes a publicar um livro sobre pintu-ra, intitulado “Olhadelas pelas Oleadelas”. Dentro da minha veiacriativa, trata-se da primeira produção literária. O livro já seencontra na fase de impressão e, em princípio, será lançado emMarço ou Abril.

Qual é a temática do livro?Pinhão Ferreira. É um livro-catálogo das minhas pinturas, masé também, sobretudo, um livro sobre o pintor que mais admiro– Amadeo Modigliani (1884-1920) – onde imagino que ele saide um livro que tenho no meu atelier e vem falar comigo. É umahistória engraçada em que ambos trocamos impressões. A dadopasso, o Modigliani considera que ser-se autodidacta, nos diasde hoje, é perfeitamente possível, reforçando a sua teoria comuma simples constatação: quem é que no tempo dele biológicopodia, de repente, visitar o Museu D’Orsay ou o do Louvre semsair de casa, através da internet?

Com efeito, hoje, a acessibilidade à arte é impressionante.Mais: as pessoas dispõem de vídeos exemplificativos de comose pinta, com diferentes técnicas. Tudo isso está ao nosso alcan-ce, mas é preciso estudar. Não acredito na pintura, nem na talvertente auto-didacta, sem estudo, sem técnica. As coisas têmde ter uma evolução.

Trata-se, portanto, de um conjunto de reflexões pessoaissobre a pintura...Pinhão Ferreira. O livro, no fundo, além de retratar o meu con-tributo à arte e de mostrar as pessoas que retratei, vai trazer uma

“Rua da Igreja” (Vila do Conde),“Ribeira” (Porto) e

“Os Especialistas”, respectivamente.

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A partir daí, sempre que podíamos, eu e a minha mulher, assis-tíamos a exposições, negociávamos, comprávamos peças.

Hoje em dia, quantas peças tem em casa?Pinhão Ferreira. Temos cerca de uma centena de quadros eumas 50 esculturas. A maioria são trabalhos de artistas portu-gueses.

Que artistas plásticos de renome estão representados nasua colecção?Pinhão Ferreira. Para começar, temos um quadro grande daPaula Rego, que aparece no catálogo da Tate Gallery. Por sorte,adquiri-o por um bom preço e já me ofereceram dez vezes maisque o valor que dei por ele. Como é sabido, o trabalho da PaulaRego está hoje muito valorizado. Também temos três obras daVieira da Silva e uma do marido, Arpad Szenes. Além disso, acolecção inclui quadros de artistas como José Malhoa, NadirAfonso, Manuel Cargaleiro, Graça Morais, Artur Boal, ArmandaPassos, António Macedo, entre outros.

A nível de esculturas, a colecção abrange peças de João Cuti-leiro, Francisco Simões, José Nobre, Helena Fortunato, JoséRodrigues, etc.

Como combina todas estas actividades artísticas com osseus deveres profissionais?Pinhão Ferreira. Acho que se complementam perfeitamente.Um profissional bem sucedido, com uma carreira estável, deveter uma ocupação para além da profissão. E não me refiro a irao café ou jogar às cartas; refiro-me a qualquer coisa no sentidode desenvolver a sua parte cultural.

A Medicina Dentária é uma profissão demasiado técnica,muito restrita e fechada. No meu caso pessoal, senti necessida-de de abrir os olhos a outros horizontes mais culturais. A arteveio trazer-me essa abertura à leitura, ao conhecimento, à pers-pectiva, etc. Por outro lado, esta ocupação funciona como umescape. Quando pinto, estou sozinho, a pensar, a reflectir, numambiente sossegado. Fujo a toda esta dinâmica da Faculdade eda minha actividade clínica.

Na sua opinião, que lugar deve ocupar a arte na sociedadeem geral?Pinhão Ferreira. É indispensável que qualquer português sedesenvolva em arte. A arte é a manifestação mais humana queexiste. Se é humana, se obriga a pensar, a reflectir e a apreciar,também leva, portanto, a que as pessoas sejam mais tolerantese que compreendam o mundo de uma maneira mais fácil. Aspessoas que compreendem a arte, que amam a arte, não sãocapazes de destruir, porque têm um sentido distinto de posse. Épreciso cultivar as pessoas nesse sentido.

Quando vou a qualquer museu dos Estados Unidos, surpre-ende-me sempre ver ali várias visitas escolares, coisa que nãovejo aqui salvo raras excepções. Não temos a vocação de edu-car as pessoas para a arte. Isto traz-se à memoria um episódiorecente muito curioso: estava eu no meu atelier, quando apare-ceu um picheleiro para proceder a uma reparação qualquer. Derepente, ele olhou para um quadro que eu lá tinha e disse:“Istoé um quadro do Gustav Klimt”. O comentário surpreendeu-me

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A Medicina Dentária é umaprofissão demasiado técnica,

muito restrita e fechada. Por isso,senti necessidade de abrir os olhosa outros horizontes mais culturais.

No meu caso, a arte funciona como um escape

A Medicina Dentária é umaprofissão demasiado técnica,

muito restrita e fechada. Por isso,senti necessidade de abrir os olhosa outros horizontes mais culturais.

No meu caso, a arte funciona como um escape

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nos têm sempre uma frase de um escritor célebre na capa e umquadro de um pintor. Assim, quer se queira quer não, os alunosfixam a ilustração do caderno, lêem o nome do pintor e vãoassociando os quadros aos respectivos autores. Em suma, vãoacumulando alguma cultura.

Ao nível profissional, sente que já atingiu todas as metas?Pinhão Ferreira.Sou um homem que vive por objectivos. Todaa minha vida foi assim: quando o objectivo foi o doutoramento,concluí o doutoramento; quis chegar a catedrático, lá cheguei;quis ficar à frente do Serviço de Ortodontia, fiquei. Mais recen-temente, empenhei-me na direcção da Faculdade, lutei por isso,fiz um projecto, fiz todas as démarches nesse sentido, e cá estou.

No futuro, não sei. Neste momento, o meu objectivo é cum-prir o plano de actividades a que me propus na Faculdade.

Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira?Pinhão Ferreira. O doutoramento foi um aspecto importantena minha vida. Quando o concluí, em 1997, cheguei a casa ecomecei a chorar, porque tinha cumprido um objectivo. Curio-samente, fico triste quando atinjo um objectivo. Trabalhei nãosei quanto tempo para aquilo, e quando terminei fiquei semnada para fazer, senti um vazio. Um ano depois, fiz a agregação.Foi outro momento especial.

Mas aquilo que mais me marcou profissionalmente foi terganho as eleições para presidente do Conselho Directivo daFaculdade. Dediquei um ano de trabalho a este projecto, tivede fazer um projecto imenso, levei as coisas a sério. No final, oíndice de votação foi tão elevado (81 por cento dos votos) quesenti uma grande alegria por ver que os colegas acreditam nes-te projecto e apoiam-no.

O que o levou a optar pela Medicina Dentária? Foi por moti-vo “hereditário”?Pinhão Ferreira. Não, não. O meu pai era funcionário judicial ea minha mãe professora do ensino primário. Inicialmente, con-corri para Medicina, precisamente quando abriu a Escola Supe-rior de Medicina Dentária da Universidade do Porto. Como erauma escola nova e uma área que me interessava, que me podiadar um futuro melhor, acabei por optar por esta especialidade.Estou aqui mesmo por vocação própria.

O que mais o fascina na sua profissão?Pinhão Ferreira. A estética. Sou Ortodontista por essa razão.Para poder trabalhar com faces, mudar a posição dos lábios, mel-horar os sorrisos, alinhar os dentes, melhorar a expressão, mel-horar a capacidade de influência que as pessoas têm umasperante as outras. Fazê-las sentirem-se bem. Penso que essa é aessência de ter escolhido Ortodontia e de ter sido o primeiromédico dentista em Portugal a exercer exclusivamente estaespecialidade. Já pratico Ortodontia há 18 anos.

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de tal modo, que decidi perguntar-lhe como é que ele sabia dis-so. Respondeu-me que tinha vivido e estudado na Alemanha eque ali ensinavam os pintores. Ora, isto em Portugal é quaseimpensável.

Temos de desenvolver essa vertente, porque criamos pesso-as mais felizes, com maior capacidade de apreciação, com maiorespírito criativo e também com maior tolerância na sociedade.Isso é fundamental.

Em que medida esses valores são transmitidos aos alunosda Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto?Pinhão Ferreira. O ano passado, por exemplo, desenvolvemosa Semana das Artes. Estiveram aqui elementos da Escola deBelas Artes que fizeram demonstrações de arte. Foi uma sema-na diferente na Faculdade.

Por outro lado, quando dou uma aula, o primeiro diapositi-vo que apresento aos alunos corresponde a um quadro de umpintor português, que tento adequar ao tema que se vai tratarna aula. Mesmo os cadernos pedagógicos que entrego aos alu-

Retrato de Orlando Monteiro da Silva, bastonário da OMD

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