entrevista marcelo pimenta revista ag

3

Click here to load reader

Upload: genevere

Post on 05-Jul-2015

439 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Entrevista marcelo pimenta revista ag

Entrevista do Mês - MARCELO PIMENTA

A gestão ainda é o calcanhar de Aquiles de muitas propriedades, e o primeiro passo para consegui-la está na mudança de mentalidade: a fazenda é um negócio. Simples assim! Deve ter metas, planejamento e gerar retorno econômico. Quem fala sobre o tema é Marcelo Pimenta, sócio-diretor da Exagro Consultoria.

Adilson [email protected]

Revista AG - A gestão ainda é um desafio para os empreendimentos pecu-ários?

Marcelo Pimenta – Se considerar-mos que boa parte dos pecuaristas ain-da não encara a fazenda como negó-cio, que exige planejamento, controle e produtividade, a resposta é sim. O grande desafio é fazer com que o fa-zendeiro se veja como um empresário rural.

Revista AG - Qualquer pecuarista é capaz de desenvolver uma gestão eficaz?

Marcelo Pimenta – Certamente, e independe do tamanho do negócio, locali-zação ou situação financeira. O único pré-requisito é que ele veja a fazenda como empresa, trabalhe de maneira mais profis-sional e menos empírica.

Revista AG - Independente do porte, quais itens não podem ser esquecidos?

Marcelo Pimenta – Se tiver de lis-tar resumidamente o imprescindível, cito planejamento, controle de dados, dimen-sionamento e treinamento de mão de obra. Isso é o básico para uma gestão de sucesso, lembrando que no Planejamento devem estar envolvidas todas as questões técnicas e econômicas da atividade em uma visão de longo prazo.

Revista AG - E, normalmente, estes

Div

ulga

ção Mudança de

MENTALIDADE

Page 2: Entrevista marcelo pimenta revista ag

Temos a premissa que as melhores soluções

sempre devem ser simples. Para a implantação de um programa de gestão, os únicos investimentos necessários são conhecimento e um sistema básico de controle de informações, o que não passa de um computador.

também são os pontos falhos do pecua-rista?

Marcelo Pimenta – São, justamen-te porque não fazem parte do “pacote” aprendido com os pais ou com os vizinhos. E isso ficou muito claro em diagnósticos que realizamos a partir de 2008, usando a Avaliação Funcional Interna, uma das fer-ramentas do Benchmarking Exagro.

Revista AG - Quais os principais pas-sos para se implementar uma gestão efi-caz na fazenda?

Marcelo Pimenta – 1) Reflexão sobre as metas e objetivos do proprietário com a fazenda. É preciso ter em mente qual re-sultado econômico é satisfatório no curto e longo prazo, para posteriormente verificar a viabilidade no planejamento. 2) Conhe-cimento dos recursos que a fazenda dis-põe, como um mapa detalhado, análises de solo e levantamento total do rebanho por categoria. 3) Avaliação dos resultados produtivos e econômicos atuais, visando à detecção de pontos fortes e fracos do sistema atual. 4) Planejamento e Estudo de Viabilidade do negócio no longo prazo, nos quais todas as variáveis de-vem ser testadas, simulando diferentes cenários e sistemas de produção, para se encontrar o caminho mais adequado para as condições da fazenda e objeti-vos do proprietário. 5) Dimensionar e treinar os funcionários para execução dos planos de ação traçados. Criação de um sistema de levantamento e aná-lise de dados de campo e movimenta-ção financeira.

Revista AG - Consistiria também em promover um verdadeiro processo de reeducação?

Marcelo Pimenta – Passa inicial-mente por uma mudança de mentali-dade do proprietário, e também pelo treinamento das pessoas envolvidas no sistema de produção.

Revista AG – Para uma boa ges-tão, são necessários grandes investi-mentos ou medidas simples dão conta do recado?

Marcelo Pimenta – Temos a pre-missa que as melhores soluções sempre devem ser simples. Para a implantação de um programa de gestão, os únicos investimentos necessários são conhe-cimento (estudando ou contratando o conhecimento externo) e um sistema básico de controle de informações, o que não passa de um computador com um programa ou planilhas para avalia-ção dos dados.

a Europa. Por outro lado, se pensarmos na rastreabilidade da produção como um levantamento interno do que e como se está produzindo, ela é fundamental, pois a produção e produtividade têm uma alta correlação com os resultados econômicos traçados.

Revista AG - Mas, é possível desen-volver uma rastreabiliade mais simples e fácil de controlar?

Marcelo Pimenta – Internamente, sim. Basta termos um levantamento do peso dos animais a cada movimentação importante (compra, venda, vacinas e apartações) e temos como calcular a pro-dução por hectare e por categoria, por época do ano, etc. Isso pode ser feito com um controle individual dos animais ou por lotes, dependendo do nível de estrutura e mão de obra da fazenda.

Revista AG - Hoje, o produtor possui ferramentas ao seu alcance para otimi-zar a administração da propriedade?

Marcelo Pimenta – Existem vários programas para facilitar o processo administrativo, todos com vantagens e deficiências. Contudo, a principal fer-ramenta que o pecuarista pode dispor é o conhecimento em como aplicar es-ses recursos na própria fazenda.

Revista AG - O conceito de gestão é o mesmo para a pecuária extensiva e confinamento?

Marcelo Pimenta – É o mesmo para qualquer tipo de atividade econô-mica em qualquer parte do mundo. O que difere de uma empresa para outra é a aplicabilidade de cada processo, pois cada atividade tem características próprias e as prioridades são diferen-tes. No caso da pecuária extensiva e confinamento, os conceitos e modelos de gestão são praticamente iguais, ob-viamente, com parâmetros e indicado-res diferentes. Na produção a pasto, os indicadores são aferidos por hectare, enquanto que no confinamento são por diária/animal. O confinamento também exige um planejamento mais criterioso de caixa, por envolver des-pesas e receitas altas e concentradas em períodos descasados.

Revista AG - É comum o criador fechar a conta no negativo sem se dar conta?

Marcelo Pimenta – Mais do que se pensa. Em centenas de diagnósti-cos, a maioria absoluta não tinha ne-nhum levantamento dos seus números

Revista AG – Então, o controle da informação seria o coração do processo de gestão?

Marcelo Pimenta – É impossível dis-sociar o controle da informação do plane-jamento e do treinamento de mão de obra. Diria que o coração do processo de gestão é a interação entre os três. Não existe le-vantamento e análise segura de dados sem um correto preenchimento e manipulação por parte dos envolvidas. Também, não adianta um levantamento detalhado de dados se eles não podem ser comparados com as metas traçadas. O objetivo da boa gestão não deve ser simplesmente a im-plantação de processos e controles boni-tos. Precisa ser, sempre, a obtenção dos resultados econômicos almejados.

Revista AG - Neste quesito, a rastre-abilidade da produção torna-se um atri-buto fundamental?

Marcelo Pimenta – A rastreabilidade externa, com o nível de exigência e bu-rocracia criadas pelo MAPA, só é fun-damental para quem quer exportar para

Mudança de

MENTALIDADE

Page 3: Entrevista marcelo pimenta revista ag

A maioria (dos pecuaristas) não tinha nenhum levantamento dos seus números ou os tinha sem ter ideia de como analisá-los. Quando a conta fecha no negativo, ele percebe. Ele não sabe é o porquê do resultado ruim e como fazer para reverter a situação.

ou os tinha sem ter ideia de como analisá-los. Quando a conta fecha no negativo, o produtor percebe. Ele não sabe é o porquê do resultado ruim e como fazer para re-verter a situação.

Revista AG - Recentemente, a Exa-gro apresentou os resultados de ben-chmarking dos seus clientes. O que foi exposto?

Marcelo Pimenta – Apresentamos o detalhamento do nível de qualidade dos processos internos e os resultados pro-dutivos e econômicos de cada cliente, resumidos em indicadores importantes. O cliente também recebeu uma comparação sua com os dados de dezenas de outras fa-zendas distribuídas por todo o País, anali-sadas sob os mesmos critérios. Foram 142 fazendas, de 99 clientes, e 43 diagnósticos realizados em 2010. O perfil de produção foi o mais variado possível.

Revista AG - Para esclarecer, o que é benchmarking e quem trouxe o conceito para o agronegócio brasileiro?

Marcelo Pimenta – O termo veio ori-ginalmente da topografia e significa “pon-to de referência”. É usado há anos em todo o mundo, em todos os tipos de negócios; consiste em levantar re-sultados e características de várias empresas de uma mesma atividade, para que as de melhor resultado em determinados indicadores (benchma-rks) possam servir de referência para comparação e melhoria das demais. Vimos essa ferramenta na agricultura e pecuária de leite. No corte, o Bench-marking Exagro é a primeira iniciati-va com esse conceito.

Revista AG - O benchmarking ajuda a expor que tipo de dados ou situações?

Marcelo Pimenta – Foi construído para observar a correlação entre como as fazendas trabalham os processos internos (Planejamento, Pastagens, Controladoria, Manutenção, Rebanho e Administração) e os resultados pro-dutivos e econômicos. Como foram fazendas dos mais diversos perfis, em todas as regiões do Brasil, ficou claro que o que determina o resultado eco-nômico é a forma como a fazenda é conduzida.

Revista AG - Quando confronta-do a outras realidades, fica mais fácil solucionar problemas?

Marcelo Pimenta – Esse é o cer-ne dos objetivos do Benchmarking

cabeça menos os custos. Isoladamente, esses pontos não significam nada.

Revista AG - Então, um termo mais apropriado para medir eficiência produ-tiva seria arrobas por hectare e não Uni-dade Animal por hectare?

Marcelo Pimenta – UA por hectare nunca foi medida de produtividade. Nem a adotamos nos nossos indicadores. Ela indica apenas a carga animal da fazenda, o que pode ou não indicar uma maior pro-dução ou uma maior margem de lucro por hectare. O cálculo da carga e do suporte em Kg de peso vivo por hectare a cada momento é um dado importantíssimo para o bom manejo de qualquer fazenda. Entretanto, o que realmente é indicador definitivo de eficiência produtiva é a pro-dução de arrobas por hectare, que é dada pelo número de cabeças vezes a produção média por cabeça. É claro que quanto maior o número de cabeças por hectare, maior a produção, desde que o ganho de peso por animal seja mantido. E os cálcu-los do Benchmarking Exagro mostraram que o ganho de peso por animal é ainda mais importante que a produção por hec-

tare na obtenção de lucro.

Revista AG - Na verdade, deverí-amos ir um pouco mais além, apre-sentando a renda líquida por hecta-re?

Marcelo Pimenta – Temos de usar os dois indicadores. A produção de arrobas por hectare mede a eficiência produtiva e a renda líquida, ou mar-gem líquida, mensura o resultado eco-nômico. O cálculo é feito somando-se o resultado de caixa (receitas menos despesas) à variação do inventário do rebanho em reais. A variação do in-ventário é calculada pelo estoque de rebanho em arrobas de boi no final do ano menos o estoque no início do ano vezes o valor médio de venda do ano. Outro indicador importante, que tam-bém deve estar presente na análise, é a rentabilidade, que é a margem líquida total do ano sobre o valor imobilizado em gado e máquinas. Dependendo do perfil do pecuarista, ele pode objetivar mais a margem líquida (maior volume de dinheiro obtido) ou a rentabilida-de (maior lucro em relação ao capital investido). Normalmente, sistemas mais intensivos, se bem conduzidos, podem mostrar maior margem líquida por hectare, enquanto sistemas menos intensivos, mostram maior rentabi-lidade, por imobilizar menos capital em gado.

Exagro. Psicologicamente, é muito mais fácil para o produtor se convencer que uma limitação precisa ser superada quan-do ele percebe que outros produtores já a venceram e que por isso estão obtendo resultados melhores.

Revista AG - Entretanto, o maior benefício seria mensurar a eficiência produtiva e comercial em detrimento de apenas apresentar o resultado final?

Marcelo Pimenta – Exatamente! Apresentar o resultado alcançado no final do ano, comparando com o planejado, sempre foi rotina na Exagro. Com o tem-po, nós e os clientes começamos a sentir que não era o bastante. Não basta saber-mos se cumprimos ou superamos metas. Precisamos descobrir se isso é o máximo possível, se tem alguém atingindo esse patamar e o que podemos fazer para al-cançá-lo.

Revista AG - Dessa forma, nem sem-pre a propriedade que suporta mais cabe-ças por hectare seria a mais lucrativa?

Marcelo Pimenta – O lucro vem do número de cabeças vezes a produção por