entre “tucos” e “bochas”: a potência fabulatória dos ... · sociabilidades urbana –...

16
GÓMEZ, Guillermo Stefano Rosa; MAGNI, Claudia Turra. Entre “Tucos” e “Bochas”: A potência fabulatória dos apelidos de ferroviários aposentados na cidade de Pelotas/RS. Sociabilidades Urbana Revista de Antropologia e Sociologia, v.1, n. 1, p. 101-116, março de 2017. ISSN 2526-4702. ARTIGO http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/ Entre “Tucos” e “Bochas”: A potência fabulatória dos apelidos de ferroviá- rios aposentados na cidade de Pelotas/RS. 1 Between "Tucos" and "Bochas": The fabulatorian power of the nicknames of retired railroad workers in the city of Pelotas/RS Guillermo Stefano Rosa Gómez Claudia Turra Magni Resumo: Este trabalho fundamenta-se em uma etnografia realizada na antiga vila ferroviá- ria da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Pretendemos destacar um elemento importante na sociabilidade deste espaço, que remonta à memória coletiva da estrada de ferro: a cria- ção, circulação e o uso de apelidos por parte de trabalhadores ferroviários aposentados. O material empírico foi obtido por meio do trabalho de observação participante no chalé do sindicato ferroviário, assim como através da flutuação etnográfica pelo território do “bai r- ro”, que contém as ruínas de um empreendimento operário. Neste contexto, o apelido apa- rece como integrante de uma linguagem profissional, extensivo a agentes não-humanos, como as locomotivas, indicando como os sujeitos se reconhecem, identificam-se uns aos outros e subvertem relações hierarquizadas e processos do mundo do trabalho. No contexto de rigidez que marcava as normas de controle, disciplina e setorização do trabalho destes operários, essas formas de nomeação, de caráter “pessoal”, “profissional” ou “irônico”, apa- recem como pista etnográfica para refletir sobre leituras cotidianas, afetividades e subver- sões deste sistema. Os apelidos, inseridos nos atos narrativos dos aposentados, apresentam a potência da fabulação do trabalho mediante a ação do tempo, passível de reconfigurar a sua inserção no universo simbólico da profissão. Palavras-chave: trabalho, ferroviários a- posentados, apelidos, ethos, narrativa Abstract: This article is based on an ethnography developed in an old railway village in the city of Pelotas, Rio Grande do Sul. We intend to expose an important aspect on the socia- bility of this urban space, which characterizes their collective memory: the creation, circu- lation and use of nicknames among retired railway workers. This aspect of their ethos, re- current in its daily narratives, was obtained through participant observation in the syndicate, and also with “floating” observations on the neighborhood territory,where are visible the ruins of an urban proletarian universe. From this ethnographic approach, the nickname ap- pears as part of a professional language, extended to non-human agents, such as locomo- tives, that shows how the retired workers recognize and identify each other, and also used to deal with hierarchical processes, relationships and structures in their professional labour. In a context where the rigidity,the control and the vigilance was remarkable, this kind of denomination identified by a “personal”, a “professional” or an “ironic” attribute ap- pearsas part of their biographical narratives able to show the creativity and the energyof the symbolic universe of this profession. Keywords: labour, retired railwaymen, nicknames, ethos, narrative Uma pesquisa 2 sobre as formas cotidianas de narrar o tempo vivido entre traba- lhadores ferroviários aposentados em uma antiga vila operária da cidade de Pelotas, no 1 Uma primeira versão deste artigo foi apresentada na 30ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2016, João Pessoa/PB.

Upload: dinhdung

Post on 06-Jul-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

GÓMEZ, Guillermo Stefano Rosa; MAGNI, Claudia Turra. Entre “Tucos” e “Bochas”: A potência fabulatória dos

apelidos de ferroviários aposentados na cidade de Pelotas/RS. Sociabilidades Urbana – Revista de Antropologia e

Sociologia, v.1, n. 1, p. 101-116, março de 2017. ISSN 2526-4702.

ARTIGO

http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/

Entre “Tucos” e “Bochas”: A potência fabulatória dos apelidos de ferroviá-

rios aposentados na cidade de Pelotas/RS.1

Between "Tucos" and "Bochas": The fabulatorian power of the nicknames of retired railroad workers in the city of Pelotas/RS

Guillermo Stefano Rosa Gómez

Claudia Turra Magni

Resumo: Este trabalho fundamenta-se em uma etnografia realizada na antiga vila ferroviá-

ria da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Pretendemos destacar um elemento importante

na sociabilidade deste espaço, que remonta à memória coletiva da estrada de ferro: a cria-

ção, circulação e o uso de apelidos por parte de trabalhadores ferroviários aposentados. O

material empírico foi obtido por meio do trabalho de observação participante no chalé do

sindicato ferroviário, assim como através da flutuação etnográfica pelo território do “bair-

ro”, que contém as ruínas de um empreendimento operário. Neste contexto, o apelido apa-

rece como integrante de uma linguagem profissional, extensivo a agentes não-humanos,

como as locomotivas, indicando como os sujeitos se reconhecem, identificam-se uns aos

outros e subvertem relações hierarquizadas e processos do mundo do trabalho. No contexto

de rigidez que marcava as normas de controle, disciplina e setorização do trabalho destes

operários, essas formas de nomeação, de caráter “pessoal”, “profissional” ou “irônico”, apa-

recem como pista etnográfica para refletir sobre leituras cotidianas, afetividades e subver-

sões deste sistema. Os apelidos, inseridos nos atos narrativos dos aposentados, apresentam

a potência da fabulação do trabalho mediante a ação do tempo, passível de reconfigurar a

sua inserção no universo simbólico da profissão. Palavras-chave: trabalho, ferroviários a-

posentados, apelidos, ethos, narrativa

Abstract: This article is based on an ethnography developed in an old railway village in the

city of Pelotas, Rio Grande do Sul. We intend to expose an important aspect on the socia-

bility of this urban space, which characterizes their collective memory: the creation, circu-

lation and use of nicknames among retired railway workers. This aspect of their ethos, re-

current in its daily narratives, was obtained through participant observation in the syndicate,

and also with “floating” observations on the neighborhood territory,where are visible the

ruins of an urban proletarian universe. From this ethnographic approach, the nickname ap-

pears as part of a professional language, extended to non-human agents, such as locomo-

tives, that shows how the retired workers recognize and identify each other, and also used

to deal with hierarchical processes, relationships and structures in their professional labour.

In a context where the rigidity,the control and the vigilance was remarkable, this kind of

denomination – identified by a “personal”, a “professional” or an “ironic” attribute – ap-

pearsas part of their biographical narratives able to show the creativity and the energyof the

symbolic universe of this profession. Keywords: labour, retired railwaymen, nicknames,

ethos, narrative

Uma pesquisa2 sobre as formas cotidianas de narrar o tempo vivido entre traba-

lhadores ferroviários aposentados em uma antiga vila operária da cidade de Pelotas, no

1Uma primeira versão deste artigo foi apresentada na 30ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada

entre os dias 03 e 06 de agosto de 2016, João Pessoa/PB.

102

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

Rio Grande do Sul, é a base etnográfica deste artigo. Os apelidos ferroviários, extensi-

vos aos agentes não-humanos, como as locomotivas, enquanto parte importante da soci-

abilidade do grupo, estão no centro deste artigo, na medida em que permitem refletir

sobre o modo de vida de um grupo profissional, ponderando as relações de hierarquia e

poder, assim como a potência criativa de suas narrativas.

Herança da revolução industrial inglesa do século XVIII, o trem é um dos ícones

da Modernidade. Sua imagem surge na tela dos primeiros filmes dos irmãos Lumière,

chocando-se contra a platéia, que foge em alvoroço, conforme diz a lenda. Elemento

vital na formação dos centros urbanos, a ferrovia, com sua velocidade de tempo e espa-

ço, estabelece uma nova mentalidade, “a da pressa, a do chegar logo, a do não ter tem-

po, a de estar em dois lugares antes separados por dias de cavalgada” (MARTINS,

2008, p.16). Essa mudança, de uma sociedade rural para o grande aglomerado urbano,

sede da economia monetária, cria uma série de novas possibilidades e novos comporta-

mentos, um modo de vida (WIRTH, 1973). “O tempo e o espaço da ferrovia, a discipli-

na industrial que a regulava, impunham também a necessidade de inventar a sociedade

dos trabalhadores” (MARTINS, 2008, p.22). Com o novo invento do trem, surge tam-

bém o novo trabalho.

O contexto brasileiro atual e, consequentemente, do Rio Grande do Sul, contras-

ta com esta efervescência tecnológica dos projetos iniciais da era industrial. A privatiza-

ção e redução da malha são dois elementos importantes para compreender o atual cená-

rio das linhas férreas em um país que, historicamente, optou pelo sistema rodoviário. De

acordo com o Relatório da Subcomissão de Transporte Ferroviário da Assembléia Le-

gislativa do RS, “em 1954, o sistema ferroviário contava com 37 mil km e o sistema

rodoviário tinha 1200 km; em 1989, enquanto o sistema rodoviário havia sido ampliado

para 115 mil km, o sistema ferroviário perdera 7 mil Km”.

Assim, a decadência do setor ferroviário de transporte tem início na década de

1970.

A “partir de então, o sucateamento das vias permanentes e o enfren-

tamento com a rede rodoviária, que chegou a contar, em 1970, com

50.298 km de rodovias pavimentadas e 1.079.492 km não-

pavimentadas, agravou a decadência das ferrovias. Neste mesmo ano

o setor ferroviário contou apenas com 32.052 km de linhas, pratica-

mente a mesma quantidade que na década de 1930” (SILVEIRA,

2003, p.130).

A Rede Ferroviária Federal (1957-1998) foi uma empresa estatal que comandava

a maior parte das ferrovias no período. Uma análise de suas características (PARADE-

LA, 1998) demonstra a existência do paternalismo empresarial3, representado pela imo-

bilização da força de trabalho (LEITE LOPES, 1978), através da organização de vilas

operárias, que consistiam em moradias, de propriedade da própria empresa, localizadas

próximas ao local de trabalho. “Em função desse sistema os operários foram condicio-

nados sob a visão empresarial de uma comunidade de trabalho como uma família corpo-

rativa” (LORD, 2002 p.2). Esta característica não se restringia às vilas operárias, pre-

2A pesquisa “Cidade, Trabalho e Narrativa: Etnografia Urbana com ferroviários aposentados em Pelo-

tas/RS” (GÓMEZ, 2015) foi apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso do Bacharelado em

Ciências Sociais da Universidade Federal de Pelotas, sob orientação da Profa Dr

a. Claudia Turra Magni,

coordenadora do projeto de pesquisa para o “Memorial da Estação Férrea”. A partir do trabalho de campo

realizado por Guillermo Gómez, ambos os pesquisadores refletem sobre os dados etnográficos obtidos e

assinam o presente artigo. 3Ou mesmo a Rede Ferroviária como “mãe”, ver: https://portalferroviario.blogspot. com.br/2017/01/ex-

ferroviarios-de-apucarana-relembram.html?m=1

103

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

sente também na existência das cooperativas, sistema de saúde, alfaiataria, escolas fer-

roviárias, entre outros serviços que agregavamas “vidas do trabalho e não trabalho”

(SALAMAN, 1971).

A política de uma empresa “obesa em nome da inclusão social” (SENNET,

p.35), isto é, que agregava muitos trabalhadores e que incentivava sua longa permanên-

cia e ascensão na “carreira ferroviária”, produziu um impacto significativo nesta classe

profissional. Portanto, ao ouvirmos as narrativas dos oito trabalhadores ferroviários a-

posentados que foram os interlocutores privilegiados desta pesquisa, esboçou-se uma

combinação entre a herança simbólica de um modo de vida e a influência de sua des-

continuidade. Chagas, o viajante colecionador de paisagens; Mazarope, o herói do tra-

balho de turma e da resolução dos acidentes; Luís Carlos, o construtor admirador das

pontes; Pisca, o manobrador e piadista; Cardoso, o ídolo do futebol; Rubinho, o Agente

de Estação dedicado; Bueno, o Comerciante e Gildo, um “Bocha” experiente, são os

protagonistas desta etnografia. Eles observaram, sofreram e agenciaram a desconstrução

da lógica ferroviária durante seu tempo de trabalho e seguem sob a influência deste pro-

cesso durante sua aposentadoria.

Partindo do pressuposto deste cenário de redução, ruína e reconfiguração deste

sistema de transporte brasileiro, lançamo-nos à problemática de compreender um ethos

ferroviário marcado pela descontinuidade e ruptura com o vínculo profissional, com

implicações no cotidiano deste grupo de trabalhadores. Tal como no estudo realizado na

década de oitenta por Cornélia Eckert entre os mineiros de carvão, procurávamos “me-

dir a devastação na qual os habitantes vivem esta descontinuidade do tempo ritmado

pelo trabalho” (ECKERT, 2012, p. 95). Porém, no trabalho de campo a que nos atemos,

emergiram importantes formas narrativas, diferentes das cicatrizes dolorosas dos “viú-

vos da Rede”4. Trata-se de procedimentos fabulatórios, que resgatam e alimentam o

imaginário coletivo da profissão, através dos causos, das piadas e dos apelidos - aspec-

tos lúdicos das relações de sociabilidade mantidas durante a velhice - referentes às anti-

gas relações de trabalho. Estimulados por este insight, nós nos deteremos nos apelidos

como o principal dado etnográfico, buscando expor como estas formas de nomeação,

inseridas em uma sociabilidade “de bairro”, remetem ao cotidiano de trabalho e às suas

posições e relações hierárquicas, agindo como um meio de ironizar, resistir, ressignifi-

car e reescrever a biografia compartilhada destes sujeitos.

A temática dos apelidos aparece desde a literatura antropológica clássica, a co-

meçar pelas relações jocosas. Radcliffe Brown (2013, p.86), ao pensar as relações de

parentesco por brincadeira, demonstra como as jocosidades estabelecem um “desrespei-

to lícito”, entre determinadas pessoas. A zombaria é um código compartilhado no qual a

“única obrigação é não se sentir ofendido” (idem, p.96). O autor propõe entender as

relações jocosas como parte do que chamava de “estrutura social”. As posições que os

indivíduos ocupavam eram mediadas por este tipo específico de relação, que merecia

ser estudado por ser um “modo comum de proceder em qualquer sociedade humana”

(idem, ibidem). Outra leitura clássica, Nós os Tikopia, de Raymond Firth (1998, p.622),

discorre sobre as brincadeiras, nas quais o uso dos “epítetos” possibilitava referências

que iam da sexualidade ao comércio e às relações com as crianças. Em estudos antropo-

lógicos contemporâneos com operários, os apelidos podem estar relacionados ao traba-

lho e à afirmação da masculinidade, como demonstra Eckert (1988) entre os mineiros de

carvão, ou ainda em contexto da sociabilidade, entre ferroviários aposentados em Santa

Maria (NUNES, 2013).

4Termo usado pelo maquinista aposentado Chagas, em referência àqueles que “acham que a Rede vai

voltar um dia”, que lamentam sua dissolução e alimentam-se da nostalgia, de forma quase acrítica.

104

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

Neste artigo, os apelidos foram entendidos como parte de uma linguagem pró-

pria (BAKHTIN, 2015), um jargão profissional, constituinte do universo simbólico fer-

roviário. Ao mesmo tempo, nos termos de Certeau (1994, p.41), desempenham um pa-

pel característico da “língua ordinária” em seu caráter inventivo, na medida em que “jo-

gam com os mecanismos da disciplina”. Dentro de uma ampla gama de apelidos em

seus contextos narrativos diversos, buscamos identificar seus “aspectos categoriais”

(MAGNANI, 2012 p. 269), agrupando-os, visando à construção de uma unidade – de

interpretação - etnográfica.

Porém, antes de dedicarmo-nos propriamente aos apelidos que emergiram nas

narrativas desta etnografia, cabe um reconhecimento das particularidades deste universo

ferroviário e de suas expressões urbanas, assim como do método de pesquisa empregado

para aceder a eles.

As tradições da etnografia “na” e “da” cidade5 apresentam suas particularidades,

teóricas e práticas, em relação ao tradicional método da observação participante, do qual

não se dissocia, - pelo contrário, acrescenta-lhe elementos - e demanda do pesquisador-

constante vigilância auto-reflexiva e ética.

Etnografia Urbana em Pelotas

A etnografia teve como ponto de partida a Estação Ferroviária de Pelotas, recen-

temente revitalizada, após ter sido fechada e, durante anos, depredada. Seguido do pro-

cesso de requalificação do prédio, concluído no início de 2015, passou a abrigar o Cen-

tro de Referência Especializada em Saúde do Trabalhador (CEREST) e o Programa Es-

tadual de Defesa dos Consumidores (PROCON). A Estação está localizada no bairro

Simões Lopes, que também agrega, em suas margens, o “Ferrinho” (antigo Clube Fer-

roviário, que atualmente perdeu seu caráter corporativo) e a Delegacia do Sindicato dos

Ferroviários.

Seguindo o padrão característico das estações de trens, um largo faz frente à fa-

chada do prédio, enquanto atrás, junto à plataforma de embarque, estão os trilhos, no

qual atualmente circulam os trens da empresa privada. Neste pátio de manobras6, as oito

linhas que existiram outrora foram reduzidas a duas. No espaço contíguo jaz o campo de

futebol, construído pelos trabalhadores, que jogavam pelo time da Rede – uma tradição

esportiva importante que se mantém, embora desvinculada da corporação. Uma via ele-

vada, construída ao lado da estação, transpõe os trilhos, viabilizando o fluxo de pedes-

tres que circulam entre o centro e o bairro Simões Lopes, que nasce com a vila ferroviá-

ria. Os prédios das antigas oficinas hoje abrigam uma empresa de construção, enquanto

os armazéns de carga, sem uso, foram leiloados e adquiridos pelo supermercado da re-

gião, que destina o terreno frontal para estacionamento dos clientes. Alguns vestígios

arquitetônicos permitem reconhecer, ao longo dos trilhos, as moradias “da Rede”: cha-

lés de madeira construídos pelos trabalhadores das oficinas, onde habitavam as famílias

ferroviárias. Após a privatização, o leilão de grande parte destes terrenos e imóveis e a

posse de alguns deles deixaram seus novos proprietários em uma situação legal que

permanece ambígua até hoje. Embora alguns moradores tenham desmanchado ou re-

formado os antigos chalés, evidencia-se a herança ferroviária pela característica dos

terrenos, que têm duas vias de acesso: a porta que dá frente para a avenida principal do

bairro, e a porta “dos fundos” que dá acesso direto à área onde estão os trilhos. Apesar

das rupturas com a profissão, este vínculo espacial e afetivo nunca se desfez e impede

5Sobre a distinção entre Antropologia da cidade e Antropologia na cidade, ver: (OLIVEN, 1995); (DU-

RHAM, 2004); (ROCHA; ECKERT, 2013b). 6Local onde se acham dispostas as diversas linhas utilizadas para composição de trens, cruzamentos,

desvios.

105

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

seus habitantes de sentirem qualquer incômodo com o apito, o barulho, ou os tremores

que adentram suas casas diariamente, sempre que passa o trem de carga, concedido à

empresa privada.

Durante a pesquisa, estes espaços foram percorridos, sob inspiração do flaneur,

personagem poético que, no contexto da metrópole francesa narrada por Charles Baude-

laire, vaga pelas ruas como um “colecionador de sensações” (BOLLE, 2000 p.71). Em

meio à massa disforme da multidão, perambula essa figura ambígua de “sonhador e

produtor de imagens” (idem, 2000 p.67), adivinhando fisionomias, analisando e seguin-

do pistas, filetes de conversas, murmúrios e vultos.

Duas perspectivas metodológicas, fundamentadas nesta “poética do andarilho”

(ROCHA; ECKERT, 2013a, p.24) foram recorrentes na pesquisa. A primeira é a obser-

vação flutuante, inaugurada por Colette Petonnet, que visa compreender a dinâmica e a

complexidade do modo de vida urbano permanecendo “vago e disponível em toda a

circunstância”, visto que esta técnica consiste em “não mobilizar a atenção sobre um

objeto preciso, mas em deixá-lo “flutuar” (PETONNET, 2008, p.102). Permanecer dis-

ponível em campo permite captar as nuances, os imprevistos, os caminhos alternativos

da vida urbana. Consiste em seguir pistas, identificar informantes, como um “detetive

da cidade” (ROUANET, 2008, p.22).

A segunda perspectiva é a da Etnografia de Rua, proposta por Ana Luiza Carva-

lho da Rocha e Cornelia Eckert. Tem como intuito captar a urbe e seus “processos di-

nâmicos e fugazes” (Rocha; Eckert, 2013a, p.24), a partir do ato de caminhar pela cida-

de, uma combinação entre imprevisto e casualidade por um lado, e o registro sistemáti-

co da vida social em cenários urbanos, como ruas ou bairros, por outro. A Etnografia de

Rua permite traçar um perfil de um determinado grupo urbano, aos poucos, através de

“colagens de seus fragmentos de interação” (idem, 2013a, p.25) e procura absorver a

cotidianidade, valorizando o contato profundo do Eu com o Outro.

Estes procedimentos metodológicos foram importantes para uma primeira fase

da pesquisa: de identificação da rede de interlocutores, dos seus principais pontos de

encontro no bairro e de seus circuitos de sociabilidade. Após conhecermos estas pesso-

as, estabelecendo relações e consentimento para a pesquisa, de acordo com os princípios

éticos da antropologia, a técnica da observação participante foi se impondo como prio-

ridade em meio ao trabalho de campo. Assim, realizamos este contato continuado com

os sujeitos da pesquisa nos espaços desta antiga vila operária, nos quais o nativo estava

“dominando seu pedaço”7. De acordo com Claudia Fonseca (1999, p.64), é somente

quando o pesquisador percebe “sua incompetência nas línguas locais” e se defronta com

“dinâmicas sociais que não domina bem” (idem, ibidem), que se produz o saber etnográ-

fico. Este tipo de conhecimento, segundo James Clifford (2008, p. 32) é produzido a

partir da “dialética entre a experiência e a interpretação”, pois é no encontro entre os

dados de campo e as teorias – da experiência e da dialética – que os avanços antropoló-

gicos surgem. Conflitivo, ambíguo e sobreposto, esse encontro se dá no pesquisador,

possibilitando que diferentes culturas comuniquem-se “via experiência singular de uma

única pessoa” (PEIRANO, 1995, p.40). É no pesquisador que vai se alocar o resíduo, o

não explicado, o “novo arranjo” (MAGNANI, 2002), um conhecimento gerado pelo

confronto entre duas cosmologias ou “universos imaginativos” (GEERTZ, 2014, p.9)

díspares. O registro desta experiência intersubjetiva no diário de campo acompanhou

toda a pesquisa.

7Fazemos menção à categoria de Magnani, desenvolvida em sua tese de doutorado: “Festa no Pedaço:

Cultura popular e lazer na cidade” (MAGNANI, 2003), definida como um espaço de sociabilidade de

bairro, entre “chegados”, “colegas”, amigos. Um espaço entre o privado da casa e o público da rua, para

mencionar a famosa distinção de Roberto Damatta (1997).

106

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

O sindicato

Para muito além das conversas de portão, neste antigo reduto ferroviário do bair-

ro Simões Lopes, um importante espaço para a realização do trabalho de campo, através

do qual foi possível entrar em contato com estas formas lúdicas de sociabilidade, foi a

delegacia do Sindicato dos Ferroviários. Neste discreto chalé, situado no largo frontal à

estação férrea, trabalha o aposentado Chagas, um dos principais interlocutores da pes-

quisa.

Neste espaço se reúnem, ocasionalmente, alguns ferroviários aposentados, para

trocar informações, bater papo, contar piadas e causos. Alguns são amigos “dos tempos

da Rede”, outros conheceram Chagas após a aposentadoria. A solidão do sindicato e seu

esvaziamento (inclusive no sentido político) é relatada por Chagas, que muitas vezes se

encontra sozinho no pequeno chalé de madeira, escondido por um muro alto, onde a

tinta desbotada mal permite ler a indicação da “Delegacia Pelotas”, que impede o pas-

sante desavisado de identificar a finalidade do estabelecimento.

Fotos: Guillermo Gómez

Através da observação participante nesse ambiente de códigos, glossário e con-

texto geracional desconhecido para um jovem pesquisador, foi possível, aos poucos,

conhecer os elementos narrativos do cotidiano destes aposentados, tanto quanto suprir

as curiosidades do grupo a respeito das motivações pessoais, acadêmicas, sociais e polí-

ticas deste aspirante a antropólogo. Este reconhecimento mútuo, em alguns casos, evo-

luiu para uma verdadeira relação de amizade, parceria e projetos partilhados. Os assun-

tos variavam: futebol, troca de informações sobre jornais locais, corrupção, mulheres,

“o motor das viaturas que rodam nos trilhos”, a decadência do sindicato, reforma ou

destruição dos chalés, atores de ação hollywoodiana e, claro, causos sobre o trabalho

ferroviário, suas figuras, suas malandragens, os acidentes, pessoas conhecidas, os che-

fes... A participação nos assuntos deste “pedaço” (MAGNANI, 2003), inserindo a voz,

atenção e opinião do pesquisador era fundamental para conhecer o outro, uma lição a-

prendida com William Foote-Whyte (2005)8.

Os ambientes que os trabalhadores tinham nas viagens, de isolamento no campo,

“só com a turma”, pareciam se replicar em nossas conversas no Sindicato, em que havia

comentários do tipo: “Moacir anda sempre com a mulher, aí a conversa não rende”. Um

ambiente de sociabilidade majoritariamente masculina, apesar da presença, rara, de mu-

lheres ferroviárias.

As piadas, tais quais as narrativas, são formas de “passado presentificado”, que

integram o “caráter declarativo da memória” (RICOEUR, 1998, p.45), tornando-se uma

8Em seu texto Sociedade de Esquina (2005), Whyte, utilizando o método da observação participante,

insere-se no cotidiano de imigrantes italianos em Boston, produzindo uma monografia que se tornou

clássica na área dos estudos urbanos.

107

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

forma de os aposentados invocarem suas biografias como trabalhadores e sua posição na

dinâmica social em relação aos outros, remetendo a uma experiência de vida coletiva e

ao ato partilhado de “envelhecer junto” (Schutz, 1979, p.187). Este ato coletivo de con-

tar pode sofrer a censura do ouvinte (do tipo “isso não era assim”) como no de eleger “o

quê” e “como” contar. Um determinado apelido remete a uma situação marcante, a uma

“figura” carismática, ou a uma relação de trabalho ou poder. De quem e com quem se dá

risada mostrou-se fundamental para se compreender este universo simbólico operário.

Dentre este amplo espectro de representações – cômicas, burlescas - que se a-

presentaram no ato narrativo de construção da memória coletiva (Halbwachs, 2006),

selecionamos os apelidos. Além de permitirem pensar o cotidiano do aposentado e de

suas relações com o universo do trabalho (muitas vezes, abusivas ou perigosas), os ape-

lidos também possibilitam evidenciar a capacidade criativa destes agentes, ao recriarem

este imaginário operário, fazendo-o durar9, em uma narrativa coletiva. O apelido revela

também uma pluralidade de trajetórias pessoais e profissionais, vida familiar, função no

trabalho, preferências de lazer e rede de amizades.

Os Apelidos

O cotidiano do bairro estudado apresentava-se como um espaço onde “todo

mundo se conhece por apelido” e os nomes próprios muitas vezes não eram lembrados.

Jean-Pierre Hassoun (2000) estuda o uso dos apelidos com um grupo de trabalhadores

do setor financeiro, no MATIF10

francês. O autor concentra-se no estudo de dois termos

locais: la vanne (o deboche) e la chambrette (zombaria, provocação). No ambiente do

mercado financeiro, prioritariamente masculino e onde o grito e o contato físico são

recorrentes, o apelido “peut être considere comme la fixation (...) d’une “relation à

plaisanterie”11

(Hassoun, 2000, p.18). A gozação pode assumir numerosas formas lin-

guísticas, mas ela se fixa, sobre a forma de um apelido, como uma “chacota que perma-

nece”. O apelido corresponde às “figuras” do ambiente em questão, “personnages qui

sont unanimement respectés, admirés, enviés”12

. De acordo com seu carisma ou suas

competências, recebem um ou vários apelidos correspondentes. Para além das “figures”

o autor identifica algumas constantes no processo de instauração de um apelido: a) mo-

do de integração e aceitação do indivíduo, possibilitado pela fluidez relacional que o

“apelidar” permite; b) forma de controle social imposta por grandes “figuras” para se

imporem na competição de mercado; c) meio de suportar o ritmo e o volume de ordens

necessárias de se “absorver”; d) alívio do stress em termos gerais.

Em nosso trabalho de campo, encontramos os apelidos como forma de gozação.

Pareceram inclusive, num primeiro momento, formas de agressão verbal. O seguinte

diálogo com um Ferroviário13

– “campeão de colocar apelido”, segundo ele mesmo -

demonstra isso:

Ferroviário: “O apelido do cara era Buceta”: “há dez anos era aposen-

tado. A mulher dele não sabia que ele tinha outra mulher. Minha so-

brinha me disse que não podia chamar o cara disso por que... não era

racismo, era outra coisa”.

Guillermo: Preconceito?

9Uma referência a proposta de “Etnografia da Duração” de Ana Luiza Carvalho da Rocha e Cornelia

Eckert (2013c) 10

Marché à Terme International de France. 11

“Pode ser considerada como a fixação de uma relação de “brincadeira” [gozação].Tradução própria. 12

“Personagens que são unanimemente respeitados, admirados, invejados”. Tradução própria. 13

Decidimos, neste diálogo, preservar sua identidade.

108

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

Ferroviário: “Era outra coisa, o cara podia te processar entende? Aí eu

chamava: “aí ô nome feio! ”

Guillermo: Então o apelido era pesado?

Ferroviário: “Não, era apelido normal”

Guillermo: Nenhum apelido é de graça...

Ferroviário: Nenhum é de graça.

O questionamento sobre o caráter “pesado” dos apelidos e a resposta do infor-

mante ao fato de ser “normal” expressa uma relação bastante comum na antropologia: o

estranhamento. Ele pode decorrer de uma cena particular, que acende “a luz da sensibi-

lidade etnográfica” (FONSECA, 1998, p.67), de estar em contato com um acontecimen-

to banal para o interlocutor, mas que causa estranhamento no pesquisador. Como Has-

soun (2000) observa em seu estudo, os apelidos fazem parte do que ele chama de “re-

presentations collectives “professionnelles”, do “imaginário social de uma geração”

(idem, p.16). Considerando a contribuição de Bakhtin (2015), é uma das diferentes “lin-

guagens” e dos jargões profissionais, que povoam a cidade14

.

É importante destacar que os apelidos que encontramos no trabalho de campo re-

lacionam-se com formas de gozação e que também podem ser interpretados no sentido

de um sistema político de relações sociais cotidianas, mesmo que no campo de uma

“arte de fazer” da linguagem ordinária (CERTEAU, 1994). Estas formas de apelidar,

quando narradas em causos ou histórias dos interlocutores, apresentam elementos enrai-

zados nas relações de poder e de hierarquia do universo do trabalho.

Sob essa perspectiva, buscando realizar o que Geertz (2014, p.18) conceitua co-

mo “generalizar dentro dos casos”. Apostamos na universalidade a partir de uma expe-

riência particular (PEIRANO, 1995), ainda que cientes de que qualquer modelo vá ser

uma “simplificação grosseira da realidade” (FONSECA, 1998, p.76). Propomos agrupar

os apelidos que retivemos no trabalho de campo em três conjuntos: os apelidos pessoais,

profissionais e irônicos.

a) Apelidos Pessoais

Os apelidos que denominamos pessoais, eram (no tempo de trabalho) e ainda são

(na aposentadoria) utilizados para designar, muito especificamente um sujeito.Cessado

o vínculo com o trabalho, estes apelidos perduram, comumente chegando a uma situa-

ção de “nem lembrar o nome” da pessoa, reconhecendo-a exclusivamente por meio de

seu apelido. Alguns se referem a uma característica corporal acentuada /extravagante:

Batata Refugada: “cara amassada, feio”; Pirata: “por causa desse meu olho fechado. Aí

eu dizia que era por causa daquele centro avante do Grêmio15

- tinha que dar a volta

neles! (Risos); Pontaria: “ele tinha um olho mais „gacho‟ [vesgo], por isso tava sempre

fazendo pontaria”.

Existem também, apelidos pessoais que se relacionam com a profissão ferroviá-

ria: Sabonete: “resvaloso, qualquer coisa já queria se mandar [do trabalho]!”; Zebra:

“Estavam em Bagé, fazendo uma anarquia, bebendo (...). E os Engenheiros, perto! E

esse cara dizia: Isso vai dar zebra...” (risos)16

.

14

Em termos de língua e suas divisões em diferentes grupos, podemos pensar no conceito de “léxico espe-

cializado” (SAPIR,1976) e no de “divisão do trabalho significativo” que Marshall Sahlins (1990) aborda,

citando Hilary Putnam (1975). 15

Clube de Futebol de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Teve um jogador chamado Barcos, apelidado de

pirata. 16

“Dar Zebra”: é uma expressão popular que significa algo inesperado, ou que dá errado.

109

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

A relação do apelido Sabonete com o universo do trabalho é mais direta, en-

quanto aquela do termo Zebra remete à estruturação do setor ferroviário da Via Perma-

nente, cuja divisão em “Turmas” requer breve esclarecimento.

Uma turma de Via Permanente define um grupo de vinte, trinta homens respon-

sável pela manutenção da linha, troca de dormentes17

e de trilhos, regulagem das bito-

las18

, nivelação das curvas, revisãodas pontes. As várias Turmas eram espalhadas em

um intervalo de dez a quinze quilômetros ao longo da linha férrea. O trabalho neste se-

tor era árduo e braçal, de “carregar dormente nas costas”, no sol, “chegava a bufar de

calor”. A turma é o “primeiro degrau” da carreira ferroviária. Para ascender, era neces-

sário fazer “cursos”, que qualificavam o trabalhador para outros postos. Para as pessoas

que trabalharam na “Rede”, nas décadas de 50, 60 e 70 do século vinte, o trabalho era

bastante precário, muitas vezes realizado de “chinelo de dedo e picareta”.

O trabalhador de Via Permanente respondia ao “Imediato”, que por sua vez obe-

decia ao Supervisor (também chamado de Feitor), o qual seguia ordens do Mestre de

Linha e por fim, do Engenheiro “que manda em todo esse povo”. Dessa forma, o apeli-

do Zebra, e a situação “cômica” que influenciou a nomeação deste sujeito, nos instiga a

conhecer a hierarquia e as formas de controle e vigilância do trabalho.

b) Apelidos Profissionais

O trabalho ferroviário é bastante segmentado em setores (por exemplo: Escritó-

rio, Comercial, Oficinas, Estação, Engenharia, Segurança), e a Via Permanente é um

dentre eles. Dada a esta multiplicidade de setores de trabalho, a divisão também ocorre

em tipos de funçãoe, no interior destas, em níveis salariais19

. Além das definições ofici-

ais de cada função pertencente ao ofício ferroviário, alguns apelidos eram utilizados

para designar estas divisões ou características de trabalho, o que nos levou a designá-los

como “apelidos profissionais”. Tuco e Bocha, são exemplos reincidentes nas narrativas

dos interlocutores.

O membro da Turma é conhecido como “Tuco”, o trabalhador que protege a li-

nha, verifica irregularidades e troca dormentes. Rubinho, de 80 anos, começou a traba-

lhar na Rede Ferroviária em 1957, no município Cerro Chato (Rio Grande do Sul) e

durante vinte anos realizou o trabalho de turma, antes de ser promovido a Agente de

Estação. Seu pai, que também era um Tuco, incentivou e mediou sua entrada na empre-

sa. Este interlocutor nos conta a origem do apelido: “tem um bicho, na cidade não se vê

esse bicho, ele vive no mato, no campo, e ele tá sempre cavando – e quando ele tá ca-

vando ele faz assim: “tuc, tuc, tuc!”. E o Tuco, quando tá socando o dormente, também

faz assim “ãhn, ãhn,, ãhn!”20

. O “mito fundador” deste apelido pode variar21

, mas rela-

ciona sempre as características do trabalho de Via Permanente ao nome que designa

este tipo de trabalhador.

Bocha é outro apelido que integra o trabalho de Via Permanente. O Bochaé a-

quele que providenciava água e alimento para os trabalhadores da Turma, além de cui-

dar dos suprimentos. Cardoso, de 68 anos iniciou a trabalhar na Rede em 1971 como

Tuco, antes de trocar a picareta pelo serrote e ir para as Oficinas,onde consertava e fa-

17

Peças, geralmente de madeira, dispostas de forma transversal e sob as quais se apoiam os trilhos. 18

“Bitola”: é a distância entre um trilho e outro, que varia de acordo com regiões ou países. 19

Era possível alcançar novos salários sendo promovido, ou seja, avanço de nível, que era representado

numericamente (201 para 202, por exemplo). Existem duas formas de promoção, por tempo de trabalho e

por “merecimento”, o que também cria distinções entre trabalhadores de uma mesma função. 20

Rubinho imita o som do esforço do trabalhador que movimenta a picareta ou o “soquete”, para afundar

a pedra e a terra, fixando o dormente (peça de madeira ou concreto que apóia os trilhos). 21

Em sua pesquisa com ferroviários aposentados em Porto Alegre, Yuri Shornardie e Cornelia Eckert

(RAPKIEWICZ; ECKERT, 2015) encontraram outra versão narrativa para o apelido de “tuco”.

110

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

bricava vagões. Geralmente o escolhido para ser Bocha era aquele que não podia traba-

lhar por estar cansado, machucado, ou por outra razão similar e, assim, recebia uma

função mais “leve”. Também era uma forma de trabalho em que os jovens de treze ou

quatorze anos eram iniciados na profissão ferroviária.

Já a narrativa de Gildo, 70 anos, que durante seus sete anos de trabalho de

“Turma”, iniciados em 1970, trabalhou “muito tempo de Bocha”, faz uma defesa da

função: “Depende do cara saber atender corretamente, não deixar a comida d‟um esfri-

ar”. Gildo, como Bocha, já se inseria no ofício no início da manhã, quando selecionava

alguns gravetos secos para levar consigo e possibilitar o início do fogo no campo. Este

interlocutor narrousua rotina e, especialmente, as agruras desse tipo de serviço:

Tinha que ir numa cacimba, longe, para buscar água. Aquela água, a

gente levava num galãozinho ou dois. Tava no verão. Chegava lá, be-

biam aquela água em seguidinha, trabalhando na picareta, suando, não

tem água que chegue. Aí ia buscar água, longe, como daqui à Esta-

ção22

. Aconteceu comigo isso aí. Pulava um riacho que tinha para cru-

zar, derrubava [o galão contendo água], tinha que voltar de novo. Os

braços cansados, né? Aqueles baldes eram baldezinhos meio pesados,

quinze litros, eu acho que era. E não paravam de beber água.

O controle do horário era fundamental, pois se fazia necessário “pedir dispensa”

para o Feitor, visto que “se a lenha estiver molhada” o fogo para aquecer a comida tem

de ser feito ainda mais cedo. Caso o almoço não estivesse prontoao término do trabalho,

“a turma, com fome”, a culpa recaia sobre o Bocha. É importante destacar de que o Bo-

cha era, de certo modo, uma função ou divisão “informal”, dentro do grupo de trabalho

de Turma. Ele era definido pelo chefe de Turma diariamente,a partir de seus próprios

critérios.

A comida mais comum, segundo Gildo, era o “clássico brasileiro: arroz e feijão.

Uns, nem carne levavam”. Quando isso acontecia, era necessário um processo de solida-

riedade, narrado por Luisão – torneiro mecânico, filho de ferroviário e trabalhador apo-

sentado das Oficinas - o chamado “empanar”. Na hora do almoço, o trabalhador “junta

panela” com colegas, “pegava massa de um, carne de outro” e assim complementavam a

refeição.

Os apelidos profissionais foram chamados assim por uma maior proximidade

com funções internas do trabalho ferroviário. Estas nomeações mudaram conforme as

atualizações tecnológicas e de processos de trabalho. “Vai modernizando e vai mudando

os apelidos”, conta Cardoso. Tuco se transforma em trabalhador da “Manutenção de Via

Permanente”. O “Guarda-Chave” torna-se “Manobrador”, que se tornou “Operador de

Produção” nos tempos atuais, pós-privatização. Os trabalhadores aposentados com que

mantivemos contato etnográfico, mobilizam em suas narrativas, estes processos de no-

meação, remetendo a uma experiência ferroviária particularizada e localizada espacial e

temporalmente.

c) Apelidos Irônicos

A estrutura de trabalho da Rede Ferroviária Federal era bastante hierarquizada,

tanto pelos diversos setores, como pelos níveis salariais internos à profissão. Analisando

o manual de funcionamento da Via Permanente da Viação Férrea do Rio Grande do

Sul23

relativo à década de 1950, podemos observar como se aplicava um organograma de

trabalho. Na sessão que apresenta os deveres de cada função pertencente a este setor, lê-

22

Gildo mora em um bairro afastado da estação férrea, cerca de 1,5 km. 23

Cedido por Calixta Menna, filha do ferroviário Calixto Mena, morto em acidente que tombou vagões-

tanque contendo gasolina, em outubro de 1961.

111

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

se, como primeira regra, a necessidade de obedecer às orientações dos supervisores ou

“residir dentro da sua secção, donde só sahirá com licença do residente [engenheiro]”24

.

Além disso, prescreve, para cada trabalhador, a constante vigília nos atos de zelar “e

fazer observar” os regulamentos, para segurança da linha férrea.

Fotos de Guillermo Gómez

Existe um tipo de apelido que, consciente desta estrutura hierarquizada, ironiza

uma posição social e usa da brincadeira como forma de relativização da relação de po-

der. Estes apelidos, que chamamos de irônicos, não são tão “públicos”, quanto os pes-

soais e os profissionais. Os apelidos irônicos circulavam entre os grupos de trabalhado-

res, mais “chegados”. Um dos exemplos é o de “Terneirão”, aquele que está sempre

“mamando” no chefe, o “puxa-saco”, o “denunciador”, o “entregador”, o “cobra”.

São poucos os exemplos desse tipo de apelido, posto que as situações de ironia

não se “fixam” – usando o termo de Hassoun (2000) - tanto em apelidos (afinal, não se

pode colocar um apelido irônico em um chefe, só em determinados contextos e para

determinados “interlocutores-cúmplices”), pois essas situações se diluem e aparecem

mais recorrentemente entre outra forma narrativa: as piadas e os causos. Apelidos como

estes demonstram como a “ordem reinante serve de suporte para produções inúmeras”

(Certeau, 1994 p.50). São táticas cotidianas destes sujeitos que negociam com a estrutu-

ra de poder,estabelecida pela divisão e tecnologia de controle do trabalho.

É interessante observar a postura de alguns aposentados de “excluir” de seu ciclo

de relações aqueles que “tinham de aguentar” enquanto trabalhavam. Conta um ferrovi-

ário: “tinha uns que tu pensava: quando sair do trabalho, nunca mais quero ver.” Ou

devido à morte dos mesmos: “já estão todos no inferno”, conta outro sobre seus feitores.

Apesar disso, o contato com estes sujeitos, produzido pela relação de trabalho, impreg-

na-se sobre as narrativas de vida e trabalho dos aposentados, compondo seu imaginário

coletivo, enquanto grupo urbano.

d) Outros Apelidos - As Locomotivas

Além destas três categorias de apelidos, percebemos a recorrência de formas de

nomeação vinculadas aos próprios trens. „Nando‟ Chagas entrou na RFFSA em 1983;

foi demitido com a privatização da empresa e recontratado pela ALL25

em 1999, tendo

se aposentando em 2012. Hoje é representante sindical do município de Pelotas e moto-

rista de táxi. Como ferroviário, com experiência de lógicas de trabalho distintas (tanto

24

Grifo nosso. 25

América Latina Logística, empresa que detinha a concessão privada das linhas férreas, de 1997 até

2015, ano em que foi absorvida pela empresa RUMO.

112

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

na empresa federal como na privada), desempenhou as funções de Manobrador26

e de

Maquinista. É esse interlocutor que nos narra sobre a linguagem destas duas funções,

caracterizadas pelo convívio aproximado com as máquinas.

De acordo com seu formato, número de série, potência ou origem, são atribuído-

sàs locomotivas os apelidos de: “Cachorronas”, “Africanas” e “Turbinadas”. A máquina

de manobra, menor do que as outras, e utilizada pelos manobradores, é apelidada de

“Pixirica”. O conhecimento sobre a locomotiva é o que permite apelida-la, tornando-a

familiar. É fundamental conhecer a organização e distribuição dos “vagões fracos” – os

vagões vazios -, que devem ser deixados na cauda do trem, enquanto os mais carregados

são posicionados próximos à locomotiva. Durante a viagem, o maquinista sente-se liga-

do corporalmente à poderosa máquina, sendo capaz de perceber todo o peso do trem nas

curvas e freadas somente pelo contato “das costas” com o seu assento. Com o aumento

da tecnologia e automatização deste transporte, resultando no controle digital da veloci-

dade e do percurso, houve uma redução drástica dos acidentes, e, consequentemente, da

figura “heroica” do ferroviário, que, até então, era capaz, com seu corpo, de “dominar”

um trem.

Novos Rumos

Com esta pesquisa, tentamos desvelar aspectos do ethos de uma cultura traba-

lhadora urbana: a dos ferroviários. Um dos desafios mais importantes foi o aprendizado

sobre o fazer etnográfico, vivido na prática, através do contato direto com os sujeitos da

pesquisa e do “deixar-se afetar” por suas narrativas (FAVRET-SAADA, 2005)27

. As

visitas ao bairro estenderam-se por meses, o que favoreceu o entendimento da lógica do

“outro” e a aceitação e recepção do pesquisador por estes interlocutores.

É através dos apelidos que se intentou uma leitura interpretativa do cotidiano e

das narrativas destes operários da estrada de ferro, que poderia passar desapercebida no

caso de uma pesquisa que tem como tema o trabalho, suas relações hierárquicas e de

poder. Através do apelido, enquanto forma narrativa, o trabalho da picareta, do controle

do trem e do tempo é remoldado pelo esforço de fabulação, na vida de ferroviário apo-

sentado. Destacamos que este não é um testemunho naïf ou alienado. Pelo contrário, é

uma narrativa galhofeira, mas consciente da brutalidade das condições de trabalho, das

relações hierárquicas, da estrutura de poder, dos níveis e das posições do ofício; ciente

da malandragem, dos “esquemas”, das histórias que permearam a profissão. Estes tes-

temunhos reorganizam e ressignificam as experiências vividas e as reapresentam em

formato de trama e de drama. Como bem esclarece Chagas: “Para o ferroviário, não é

piada, é fato, que se torna engraçado”. Pela escuta atenta e participativa destas conver-

sas com ferroviários aposentados, buscamos compreender os significados dos apelidos e

das piadas dentro desse universo simbólico, bastante revelador do ethos destes sujeitos e

de sua pertença a seu grupo profissional.

Esta etnografia também contribuiu para o desenvolvimento da primeira fase da

pesquisa sobre o Memorial da Estação Férrea de Pelotas, realizado de forma coletiva

pelo Laboratório de Ensino Pesquisa e Produção da Antropologia da Imagem e do Som

(LEPPAIS/UFPel), sob coordenação da Profa Claudia Turra Magni. Um filme docu-

mentário e um Museu de Rua, intitulados “Vida nos Trilhos”, o segundo composto por

26

Os “Manobradores” ou “ Guarda-Chaves”, trabalhavam nas estações, recebiam o trem, desmontavam-

no, organizando os vagões e atrelando-os às locomotivas, também atuando no descarregamento de cereais

e outros produtos nas empresas da cidade. 27

“Fazer da participação um instrumento de conhecimento (FAVRET-SAADA, 2005, p. 157). Apropriar-

se da “comunicação não verbal, não intencional e involuntária, ao surgimento e ao livre jogo de afetos

desprovidos de representação” (idem, p. 161)

113

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

doze painéis temáticos, com fotografias atuais e de acervos públicos e privados, acom-

panhados da transcrição de trechos das narrativas dos interlocutores foi a forma encon-

trada pela equipe para restituir os dados obtidos ao longo de 2015, em reuniões periódi-

cas com a comunidade.

Paralelamente, a exposição coletiva itinerante tornou-se um projeto participativo

com estes ferroviários aposentados. Por iniciativa deles, o Museu de Rua foi instalado

no período de 08 de abril a 21 de outubro de 2016 no Sindicato dos Trabalhadores em

Empresas Ferroviárias no Estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Porto Alegre, ten-

do sido apresentado o filme no dia de sua inauguração e de seu encerramento. De forma

colaborativa, pretende-se produzir um material imagético que acompanhará a itinerância

da exposição, rumo às cidades de Pedro Osório e de Rio Grande (RS), além de outros

municípios marcados pela presença ferroviária.

Este processo de interlocução, que guia nossos paradigmas e postura ética na

construção do conhecimento, permanece em curso de várias formas. Uma delas foi a

presença de dois ferroviários aposentados - Srs. Orlando Chagas e Rubem Medeiros - na

defesa do Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Sociais na Universidade Fede-

ral de Pelotas28

. A interlocução é mantida também, através da pesquisa de mestrado que

Guillermo Gómez realiza no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGAS/UFRGS) e ao Núcleo de Antropo-

logia Visual (NAVISUAL), sob orientação da professora Cornelia Eckert.

Estes desdobramentos esboçam o vigor de um projeto antropológico que se pro-

põe a pensar o saber como construção coletiva, dialógica e compartilhada. Que se per-

mite fluir, abrigar e abrir diálogos, inaugurar novas conexões, ações e práticas.

Referências

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS TRANSPORTADORES FERROVIÁRIOS – Glos-

sário Ferroviário. Disponível em: http://www.antf.org.br/index.php/informacoes-do-

setor/glossario-ferroviario. Acessado em 01/11/15 as 16:35h.

BAKHTIN, M. Teoria do Romance I: A estilística. São Paulo: Editora 34, 2015.

BENJAMIN, W. Charles Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. Sobre alguns

temas em Baudelaire. Seções V – VIII. Obras escolhidas. Vol. III. São Paulo: Brasilien-

se, 1997.

BOLLE, Willi. Introdução: Walter Benjamin – Fisiognomista da metrópole Moderna;

In: Fisiognomia da Metrópole Moderna: representações da história em Walter Benja-

min. São Paulo: Edusp, 2000 (1994).

CLIFFORD, James. Sobre a autoridade etnográfica. In: A Experiência Etnográfica:

antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2008.

DaMATTA, R. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema brasi-

leiro. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.

CERTEAU, Michel de. A invenção do Cotidiano: 1artes de fazer. Rio de Janeiro: Pe-

trópolis, 1994.

DURHAM, Eunice. A dinâmica da cultura: ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac

Naify, 2004.

28

“Cidade, Trabalho e Narrativa: Etnografia Urbana com Ferroviários Aposentados em Pelotas (RS)”

(2015) é o título deste TCC, de autoria de Guillermo Gómez, realizado sob orientação da Profa Claudia

Turra Magni, ambos autores deste artigo.

114

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

ECKERT, Cornelia. Os homens da mina. Revista Ciência Hoje, v. 7, n. 41, p. 36-42

1988.

ECKERT, Cornélia. Memória e trabalho: etnografia da duração de uma comunidade

de mineiros do carvão (La Grand-Combe, França) Curitiba: Appris, 2012.

FAVRET-SAADA, Jeanne. “Ser Afetado”, de Jeanne Favret-Saada. Revista Cadernos

de Campo, v.13, n.13, 2005.

FONSECA, Claudia. Quando um caso não é um caso. Revista Brasileira de Educação,

s/v, n. 10. Rio de Janeiro, 1999.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2014.

GÓMEZ, G.S.R. Cidade, Trabalho e Narrativa: Etnografia Urbana com Ferroviários

Aposentados em Pelotas. TCC de Graduação em Ciências Sociais,l sob Orientação da

Drª. Claudia Turra Magni. Pelotas:UFPel, 2015.

GÓMEZ, G.S.R. & RAPKIEWICZ, Y. S. Vestígios, Ruínas e os Sentinelas da Memória

Ferroviária do Rio Grande do Sul: Ensaio Etnofotográfico nas cidades de Pelotas e Por-

to Alegre. Nova Revista Amazônica, v. 8, p. 1-13, 2016.

LEITE LOPES, José Sérgio. O vapor do diabo: o trabalho dos operários de açúcar.

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006.

HASSOUN, J-P. Le surnom et ses usages sur les marchés à la criée du Matif. Revue

Genèses n. 41, 2000/4.

INVENTARIANÇA DA EXTINTA REDE FERROFIARIA FEDERAL S.A. - Dispo-

nível em http://www.rffsa.gov.br/. Acessado em 17/10/15.

LORD, L. Nascidos na beira do trilho: um estudo antropológico na Vila dos Ferroviá-

rios - Porto Alegre. Revista Iluminuras, v. 3, n. 5, p. 1-61, 2002.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Da periferia ao centro: trajetórias de pesquisa em

Antropologia Urbana. São Paulo: Terceiro Nome, 2012.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia

urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 49, p. 1-29, 2002.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Festa no Pedaço: Cultura popular e lazer na ci-

dade.São Paulo: Unesp, 2003.

MARTINS, J. S. A aparição do demônio na fábrica: origens sociais do Eu dividido no

subúrbio operário. São Paulo: Editora 34, 2008.

MAUSS, M. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.

OLIVEN, R. A antropologia de grupos urbanos. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1995.

PARADELA, Célia. Desestatização da Rede Ferroviária Federal S/A. Impactos sobre

os recursos humanos da administração geral. Dissertação. Rio de Janeiro: FGV, 1998.

PEIRANO, Mariza. A Alteridade em Contexto. In: A Teoria Vivida e outros ensaios de

antropologia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, p. 53-67, 2006.

PEIRANO, Mariza. A Favor Da Etnografia. In: A Favor Da Etnografia. Rio de Janeiro:

Relume-Dumará, 1995.

115

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702

PETONNET, Colette. A observação flutuante: o exemplo de um cemitério parisiense.

Antropolítica, n. 25, p. 99-111, 2008.

RAPKIEWICZ, Y. S.& ECKERT, C. Entre trilhos e temporalidades: o tempo do traba-

lho nas memórias dos ferroviários aposentados de Porto Alegre. In: Cornelia Eckert,

Ana Luiza Carvalho da Rocha. (Org.). Etnografias do Trabalho Narrativas do Tempo.

1ed. Porto Alegre: Pallotti, p. 276-303, 2015.

RICOEUR, Paul. Arquitetura e Narratividade. Urbanisme, n.303, p 44-51, 1998.

ROCHA, Ana Luiza Carvalho da; ECKERT, Cornelia. Etnografia de rua: estudos de

antropologia urbana. Porto Alegre: UFRGS, 2013a.

ROCHA, Ana Luiza Carvalho da; ECKERT, Cornelia. Antropologia da e na cidade,

interpretações sobre as formas da vida urbana. Porto Alegre: Marca visual, 2013b.

ROCHA, Ana Luiza Carvalho da; ECKERT, Cornelia. A etnografia da duração. Porto

Alegre: Marca visual, 2013c.

ROUANET, Sergio Paulo. A Razão Nômade. Walter Benjamin e Outros viajantes. Parte

1 – Viajando com Walter Benjamin. Cap. 1: “Viagem no Espaço: a Cidade”. Rio de

Janeiro: EdUFRJ, 1993.

SAHLINS, Marshall. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

SALAMAN, G. Two occupational communities: examples of a remarkable convergence

of work and non-work. The Sociological Review, v. 19, p. 389-407, 1971.

SAPIR, Edward. Língua e Ambiente. São Paulo: Editora Perspectiva, [1911] 1976.

SCHUTZ, A. Fenomenologia e relações sociais. (Textos escolhidos de Alfred Schutz).

In: Helmut R Wagner. (Org. e Introdução). Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

SILVEIRA, Márcio Rogério. A importância geoeconômica das estradas de ferro no

Brasil.. Tese. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 2003. Disponível em:

<http://hdl.handle.net/11449/101439>.

WHYTE, W. F. Sociedade de Esquina: a estrutura social de uma área urbana pobre e

degradada. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

WIRTH, L. O urbanismo como modo de vida. In: Octávio Velho (Org.). O fenômeno

Urbano. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1973.

116

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n1 março de 2017 ISSN 2526-4702