entre santos. maria rosa duarte de oliveira

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Artigo sobre Machado de Assis

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  • Entre Santos de Machado de Assis: fantstico ou realista?

    Maria Rosa Duarte de Oliveira

    O gnero conto na Literatura Brasileira tem em Machado de Assis a sua figura mais

    representativa. O autor elevou este gnero ao pice de desempenho, experimentando-o at

    o limite. Leitor de Edgar Alan Poe, Machado no nega a parceria com aquele que deu a

    esta narrativa breve, sob o signo de um novo meio o jornal o carter de uma forma

    enunciativa singular, em que a projeo do efeito pretendido fizesse do acontecimento

    narrado, pensado do fim para o comeo, uma verdadeira equao matemtico- imaginativa.

    Machado escreveu cerca de 200 contos espalhados por inmeros peridicos e

    muitos deles ainda sem publicao em livro. Neste vasto material, o escritor ensaiou

    variaes de efeitos - moralizante, filosfico-ensastico, desvendamento de enigmas,

    fantstico -, no se deixando, porm, aprisionar em categorias fixas de modo que era

    sempre a fora do efeito esttico, isto , da criao de um universo que se sabe ficcional e

    possvel, plstico e virtual, o grande condutor do gnero.

    Ao exercitar o fantstico, Machado trabalha a favor e contra o prprio padro deste

    operador esttico-ficcional que, no sculo XIX, campo propcio para a reflexo sobre os

    limites entre a razo e a loucura; a cincia e a imaginao; a observao e a anlise dos

    fenmenos do mundo real e da mente humana.

    Todorov (2003), em seu clssico estudo de 1968 sobre o fantstico, oferece

    significativa contribuio para o gnero ao coloc-lo sob a perspectiva de um pndulo que,

    por meio da dvida, oscila entre o acontecido e o no-acontecido; entre aquilo que pode ser

    explicado pela razo e o que escapa ao razovel, inserindo-se em universos catalogados

    como, no mnimo, estranhos: estados alterados de conscincia, vises, sonhos, fenmenos

    extrassensoriais, etc. No fundo, Todorov parte de toda uma linhagem de estudos sobre o

    fantstico que, tal como Tomachevski, no ensaio Temtica (1925), analisa a narrao

    fantstica no contexto da motivao realista. A est o princpio da polaridade causador da

    hesitao que, mantida at o final da narrativa, d o tom dominante da construo do

    fantstico nos sculos XVIII e XIX, conforme a categorizao de Todorov, na sua rdua

    tarefa de definio do fantstico na literatura.

  • Estamos agora em condies de precisar e completar nossa definio de fantstico. Este

    exige que trs condies sejam preenchidas. Primeiro preciso que o texto obrigue o leitor

    a considerar o mundo das personagens como um mundo de criaturas v ivas e a hesitar entre

    uma explicao natural e uma explicao sobrenatural dos acontecimentos evocados. A

    seguir, esta hesitao pode ser igualmente experimentada por uma personagem; desta forma

    o papel do leitor , por assim dizer, confiado a uma personagem e ao mesmo tempo a

    hesitao encontra-se representada; torna-se um dos temas da obra; no caso de uma leitura

    ingnua, o leitor real se identifica com a personagem. Enfim, importante que o leitor

    adote uma certa atitude para com o texto: ele recusar tanto a interpretao alegrica quanto

    a interpretao potica. (2003, p. 39).

    preciso, portanto, que se preencham trs condies: a primeira a que implica a

    viso do narrador, preferencialmente personagem e representado no plano da histria; a

    segunda, a identificao leitor-narrador facilitada por este ser uma figura nos

    acontecimentos narrados; a terceira a funo representativa e no-potica ou alegrica da

    leitura, que deve partir no de existentes apenas potenciais, incorpreos ou evocados como

    presena a partir de sua nomeao, mas de fatos representativos e verossmeis em termos

    de sua inexplicabilidade.

    , assim, o acontecimento extraordinrio que funda o fantstico e determina a

    hesitao inscrita em figuras ficcionais, quais sejam: o narrador, a personagem e o leitor

    implcito1, isto , o tu implicado no processo comunicativo engendrado pelo texto e cuja

    funo ficcional s se atualiza pelo ato efetivo da leitura realizada por leitores empricos,

    em tempos e espaos que vo alm daqueles em que o texto foi produzido e, portanto,

    segundo horizontes de expectativas diferentes.

    A partir da, especialmente nas narrativas fantsticas do sculo XX, possvel

    perceber a neutralizao do fator hesitao, determinante do modo operatrio do fantstico

    tal como se apresentava nas narrativas dos sculos XVIII (o romance gtico) e XIX, na

    representao no plano da histria (personagem) ou da narrao (narrador-leitor). No h

    mais razo em hesitar, j que, agora, a prpria realidade dentro e fora do homem que

    paradoxal e absurda.

    possvel, ento, no limite do gnero, assumir o fantstico como quinta-essncia

    do prprio literrio. Neste caso, a ambivalncia como espao lgico e paradoxal, onde

    possvel permanecer sem duvidar, passa para primeiro plano, e o fantstico assume a sua

    raiz ficcional, isto , a de um entre-lugar ocupado por objetos imaginrios e potenciais,

    fluidos e moventes entre existncia/no-existncia; realidade/virtualidade.

    1 A categoria do leitor implcito, criada por Iser (1996, p. 73-75), diz respeito, por um lado, s demandas dos

    ndices de indeterminao do prprio texto literrio que pedem preenchimento de seus vazios e, por outro,

    implica o prprio ato de leitura do leitor emprico na sua interao com o texto.

  • O prprio Todorov, embora no tenha considerado o potico e o alegrico como

    instncias interpretativas do modo operatrio do fantstico dos sculos XVIII e XIX, no

    deixa de enfatizar, porm, o estreito vnculo entre a construo do efeito fantstico e o

    universo da fico: a literatura fantstica representa a quinta-essncia da literatura, na

    medida em que o questionamento do limite entre real e irreal, caracterstico de toda

    literatura, seu centro explcito. (2003, p. 176).

    assim que, no sculo XX, o fantstico toma outra direo. J no mais o

    fenmeno extraordinrio que detona as reaes de conflito entre natural x sobrenatural,

    mas a prpria realidade passa a ser o habitat natural do nonsense, tal qual ocorre na

    Metamorfose de Kafka, onde o acontecimento sobrenatural no provoca mais hesitao,

    pois o mundo descrito inteiramente bizarro, to anormal quanto o prprio acontecimento

    a que serve de fundo. (TODOROV, 2003, p. 181).

    Esse nos parece ser o caminho de Entre Santos que, embora pertena ao sculo

    XIX, no partilha apenas dos procedimentos do fantstico deste perodo. No entanto, isso

    no nega o fato de Machado ter adotado em outros contos, como o caso de Um

    Esqueleto e Sem Olhos, por exemplo, (MAGALHES JR, 1998) o modelo cannico da

    hesitao tendendo ao estranho, explicao racional, provavelmente um dbito do autor

    s solues formais elaboradas por Poe de quem era leitor e grande admirador.

    Entre Santos, como o prprio ttulo j nos sugere, est no meio. Publicado,

    originalmente, no peridico Gazeta de Notcias, em 1886, s mais tarde, em 1895, passou a

    fazer parte da coletnea Vrias Histrias. Todavia, Entre Santos no consta nem da

    primeira coletnea de contos fantsticos machadianos - Contos Fantsticos - Machado de

    Assis (1973) - que Raymundo de Magalhes Jnior publicou a partir da seleo de contos

    dispersos provenientes de vrios peridicos, nem classificado como tal por outros

    estudiosos da obra machadiana. Fato estranho e singular que, justamente por isso, nos

    inquietou. Nem mesmo o olhar escrutinador do crtico pde perceber uma forma, talvez, de

    ser fantstico, pelo menos como era entendido e apreciado pelos cultores do gnero no

    sculo XIX. Artimanhas bem prprias de Machado de Assis que se deliciava em atordoar

    os cnones e a crtica mais acadmica.

    Visto sob o ngulo do modelo de fantstico do sculo XIX, segundo Todorov, o

    conto preenche as trs condies, a saber: a partir de um fato extraordinrio presenciado no

    passado pelo narrador-personagem (um capelo) a conversa entre santos que descem do

    altar e, como homens, passam a analisar os fiis instala-se para ele a hesitao entre a

    explicao natural e a sobrenatural para o fenmeno: No posso descrever o que senti.

  • Durante algum tempo, que no chego a calcular, fiquei sem ir para diante nem para trs,

    arrepiado e trmulo. Com certeza, andei beirando o abismo da loucura, e no ca nele por

    misericrdia divina. (Entre Santos, 1998, p. 309).2

    Tal hesitao atinge, tambm, o leitor que vai sendo envolvido, da mesma forma

    que o capelo-narrador, pela atmosfera de mistrio e de estranheza. Concorre para isso a

    presena de uma luz inexplicvel

    que no vinha de parte nenhuma, porque os lustres e castiais estavam todos apagados [...].

    A luz, sem ser muito intensa, era-o demais para ladres; alm disso notei que era fixa e

    igual, no andava de um lado para outro, como seria a das velas ou lanternas de pessoas

    que estivessem roubando. (ES. p. 308-310).

    Finalmente, atendendo terceira condio do fantstico todoroviano, a

    representao da hesitao se faz no plano da histria, a partir de um acontecimento

    extraordinrio impulsionador deste estado de dvida no narrador-personagem e no leitor,

    no derivando nem para uma leitura potica, nem para uma leitura alegrica.

    , entretanto, no espao intermdio do conto que a reviravolta se faz por uma sutil

    expresso antecipatria da histria: a realidade ia dar-me coisa mais assombrosa que um

    dilogo de mortos. (ES, p. 309). A est uma chave ambivalente que pode ser lida em duas

    direes: ou aquela confirmadora do modelo de fantstico do sculo XIX, que prev a

    criao da expectativa para o choque entre o natural e o extraordinrio; ou a que vai em

    direo oposta, apontando para o que ser uma das constantes do sculo XX: a conscincia

    de que na prpria realidade que reside o surpreendente, isto , a ambivalncia e a tenso

    permanentes entre o possvel e o impossvel.

    Dupla antecipao que funciona, tambm, do ponto de vista autoral, como um

    desvio operado sobre o modelo de fantstico vigente no sculo XIX por meio da abolio

    de qualquer tipo de hesitao, seja por parte das personagens - os santos - que deixam o

    altar e assumem a natureza humana e terrena; seja por parte do narrador-capelo, que passa

    para a posio de observador e testemunha do desenrolar da cena, no para duvidar, mas

    para contemplar e buscar compreender o fenmeno.

    A vida que vivi durante esse tempo todo, no se pareceu com a outra vida anterior e

    posterior. Basta considerar que, diante de to estranho espetculo, fiquei absolutamente sem

    medo; perdi a reflexo, apenas sabia ouvir e contemplar.

    2 Todas as citaes do conto Entre Santos referem-se ao volume II da edio da Companhia das Letras de

    1998, antologia organizada por John Gledson. A partir daqui, as referncias ao conto sero feitas pela sigla

    ES, seguida do nmero da pgina.

  • Compreendi, no fim de alguns instantes, que eles inventariavam e comentavam as oraes e

    imploraes daquele dia. Cada um notava alguma coisa. Todos eles terrveis psiclogos

    tinham penetrado a alma e a vida dos fiis, e desfibravam os sentimentos de cada um, como

    os anatomistas escalpelam um cadver. (ES, p. 310; grifos nossos).

    O surpreendente, agora, est na inverso de posies: ao invs da f, os santos,

    posicionando-se do ponto de vista terreno, mas sem perder o privilgio da oniscincia que

    possuem, assumem a observao e a anlise de verdadeiros realistas capazes de penetrar

    nas camadas mais ocultas da conscincia dos homens, vendo-os para alm da aparncia.

    O narrador-capelo, por sua vez, passa a ser, simultaneamente, o analisado do

    passado lembrou-me que eles, que vem tudo o que se passa no interior da gente, como

    se fssemos de vidro, pensamentos recnditos, intenes torcidas, dios secretos, bem

    podiam ter me lido j algum pecado ou grmen de pecado (ES, 1998, p. 312) - e o analista

    do presente, que seleciona o que e como narrar, posicionando-se como avaliador e

    anatomista do comportamento dos prprios santos: A narrao do santo foi to longa e

    mida, a anlise to complicada, que no as ponho aqui integralmente, mas em

    substncia. (ES, p. 313-314; grifos nossos).

    Todavia, a surpresa maior estava reservada para o caso extraordinrio que So

    Francisco de Sales narra e que nada apresenta de sobrenatural, como se poderia esperar

    pelo andamento inicial do conto, pois faz parte da anlise da natureza ambivalente,

    paradoxal e contraditria do prprio homem. Trata-se da absolvio e intercesso por outro

    Sales, no por acaso um duplo seu. A estranheza est no fato de ser um caso em que a

    virtude est ausente frente ao vcio da avareza.

    - Tem cinqenta anos o meu homem [...] Ningum acredita na dor do Sales (ele tem o meu

    nome), ningum acredita que ele ame outra coisa que no seja dinheiro [...] Que ele

    usurrio e avaro no o nego; usurrio, como a vida, e avaro, como a morte [...]

    O mundo no v que, alm de caseira eminente, educada por ele, e sua confidente de mais

    de vinte anos, a mulher deste Sales amada deveras pelo marido. No te espantes [...]

    naquele muro asprrimo brotou uma flor descorada e sem cheiro, mas flor. A botnica

    sentimental tem dessas anomalias . (ES, p. 312-313; grifos nossos).

    O pice do relato de So Francisco de Sales3, no por acaso aquele de ndole mais

    indulgente, o momento da relao custo-benefcio entre a promessa de Sales e o valor da

    intercesso do santo para a cura de sua mulher.

    No ar, diante dos olhos, recortava-se-lhe a perna de cera, e logo a moeda que ela havia de

    custar. A perna desapareceu, mas ficou a moeda, redonda, luzidia, amarela, ouro puro [...]

    3 Diz o conto: S. Francisco de Sales ouvia ou contava coisas com a mesma indulgncia que presidira ao seu

    famoso livro da Introduo vida devota (ES, p. 310). O livro, publicado em 1604, e a aluso figura de S. Francisco de Sales (1567-1622) esto afinados com a inteno autoral de colocar o julgamento dos homens

    nas mos daquele que considerado um exemplo de humanidade e de benevolncia.

  • Aqui o demnio da avareza sugeria-lhe uma transao nova, uma troca de espcie, dizendo-

    lhe que o valor da orao era superfino e muito mais excelso que o das obras terrenas . E o

    Sales, curvo, contrito, com as mos postas, o olhar submisso, desamparado, resignado,

    pedia-me que lhe salvasse a mulher. Que lhe salvasse a mulher, e prometia-me trezentos, -

    no menos - trezentos padre-nossos e trezentas ave-marias [...] Foi subindo, chegou a

    quinhentos, a mil padre-nossos e mil ave-marias. (ES, p. 315-316; grifos nossos).

    Preserva-se, ao final, a crtica realista igreja e f no sobrenatural, j to

    degradadas e contaminadas pelos vcios humanos. Afinal, qual a fronteira entre a flor e o

    pntano, o vcio e a virtude, se at mesmo o prprio ser santificado parceiro desta mesma

    ambivalncia e indulgente com as imperfeies dos homens?

    Este dilogo entre os santos acaba remetendo para outro, que abre a cena inicial da

    Odissia de Homero: o conselho de deuses em discusso sobre o destino de Ulisses. L

    como aqui, o plano divino se v imerso no terreno e j no h mais um limite

    intransponvel que os separe j que deuses e homens compartilham do sublime e do vulgar;

    da virtude e do vcio. Nesse sentido, a aluso a Homero (Ilada, canto I) revela uma fina

    inteno irnica do narrador. E os outros santos riram efetivamente, no daquele grande

    riso decomposto dos deuses de Homero quando viram o coxo Vulcano servir mesa, mas

    de um riso modesto, tranqilo, beato e catlico. (ES, p. 316).

    Neste riso ambivalente possvel resgatarmos, tambm, a linhagem lucinica da

    stira menipeia, qual Machado de Assis se vincula4, e que se caracteriza justamente pela

    mistura entre o srio e o cmico, fazendo uso do hibridismo de formas literrias, inclusive

    do fantstico, como ocorre neste novo dilogo dos mortos aos vivos5, porm, subvertido

    pela chave realista, via ironia ou pardia, gerando um efeito de crtica corrosiva aos

    gneros nobres e sociedade.

    Mas surpresa maior ainda est por vir quando, no pargrafo de encerramento do

    conto, a matriz do fantstico do sculo XIX retorna para trazer de volta a inclinao ao

    estranho, pela explicao racional que o narrador d ao evento extraordinrio vivido por

    ele no passado. Nem por isso, porm, a certeza se restabelece para o leitor, ao final:

    Depois, no pude ouvir mais nada. Ca redondamente no cho. Quando dei por mim j era

    4 A filiao de Machado de Assis tradio lucinica da stira menipeia foi objeto de vrios estudos crticos

    como os de Jos Guilherme Merquior (1972), Enylton de S Rego (1989), Valentim Facioli (2002) e, mais

    recentemente, o de Ivan Teixeira no prefcio nova edio de Papis Avulsos de Machado de Assis (2005). 5 Dilogos dos Mortos , provavelmente, a obra mais conhecida de Luciano de Samsata, nascido na Sria,

    mas vivendo entre Grcia e Itlia durante o sculo II d.C. Nestes escritos, Luciano ficcionaliza por meio da

    ironia e da pardia, a crtica sociedade e aos gneros cannicos na forma de dilogos de mortos famosos da

    histria, da literatura e da mitologia (Scrates, Agamnon, Tirsias, Digenes, Mnipo, Pluto, etc) com os

    vivos. O riso a fora aglutinadora entre o alto e o baixo, o cu e a terra, o clssico e o popular, inaugurando

    a linhagem da stira menipeia.

  • dia claro... Corri a abrir todas as portas e janelas da igreja e da sacristia, para deixar entrar

    o sol, inimigo dos maus sonhos. (ES, p.316; grifos nossos.)

    por isso que no se trata de uma simples opo pelo estranho, no sentido

    todoroviano. Mais do que isso, o que acontece a uma estratgia de criao de uma

    ambientao fantstica para, a partir da, erigir, outra construo e efeito que, sem abrir

    mo do fantstico, pudesse reconstru-lo sobre novas bases, apostando no efeito da

    presena simultnea de duas matrizes - a fantstica e a realista - sem a anulao de uma

    pela outra.

    Este talvez seja o motivo da no incluso de Entre Santos na categoria de conto

    fantstico pela crtica machadiana. O olhar de mope machadiano, no entanto, aquele que

    v o escondido das coisas, foi capaz de projetar mais longe o efeito esttico de Entre

    Santos, que perdura, justamente, pela convivncia tensa com a incerteza: conto fantstico

    e/ou realista?

    Portanto, o modo literrio do fantstico acaba sendo, para a literatura do sculo

    XIX, um operador cognitivo eficaz na investigao do vasto campo das ordens de

    razoabilidade possveis dentro do universo do conhecimento. A literatura mesma, matriz

    geradora de mundos possveis, seria a maior beneficiria desse modo, prenhe de vigor e de

    potencialidade criativa, que continua a inventar modalidades de reaparecimento no mundo

    contemporneo.

    Referncias bibliogrficas

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    Vol. II. So Paulo: Companhia das Letras, 1998, p.308- 316.

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    Editora 34, 1996.

    LUCIANO. Dilogos dos Mortos. Traduo e notas de Maria Celeste Consolin Dezotti.

    Edio bilnge. So Paulo: Hucitec, 1996.

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    de Janeiro: Bloch Editores, 1998.

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    Colquio/Letras, n.8, Lisboa, 1972, p 12-20.

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    1989.

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    Avulsos. In: Papis Avulsos de Machado de Assis. So Paulo: Martins Fontes, 2005.

    TODOROV, Tzvetan. Introduo Literatura Fantstica. 2.ed. So Paulo: Perspectiva,

    2003.

  • Maria Rosa Duarte de Oliveira es profesora doctora y titular en Teora Literaria y

    Literatura Brasilea en el Programa de Posgrado en Literatura y Crtica Literaria de la

    Pontificia Universidad Catlica de So Paulo (PUCSP). Possui vrias publicaes sobre a

    obra machadiana e dentre elas destaca-se Recortes Machadianos (So Paulo: Nankin-

    Edusp, 2008), livro em que alm de organizadora tambm autora do ensaio Memrias

    Pstumas de Brs Cubas entre o ver e o verme: uma potica da leitura.