entre práticas [historiográficas e de desenho]: um movimento metodológico de pesquisa

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  • 7/26/2019 Entre Prticas [Historiogrficas e de Desenho]: Um Movimento Metodolgico de Pesquisa

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    ANAIS DO VI SIPEM

    RESUMO

    15 a 19 de novembro de 2015Pirenpolis - Gois - Brasil

    Palavras-chave:

    Entre Prticas [Historiogrficas e deDesenho]: Um MovimentoMetodolgico de Pesquisa1Rosilene Beatriz Machado, 2Cludia Regina Flores

    Este artigo tem por objetivo apresentar os caminhos terico-metodolgicos percorridos em uma pesquisa atual que tomacomo unidade de anlise prticas sociais [de desenhar]. Assim,busca-se discutir os ferramentais utilizados em suaspotencialidades para uma histria do desenho que no se operasob um vis epistemolgico, mas discursivo. Ainda, e desse modo,para uma prtica historiogrfica que no se limita estritamente auma histria da cincia ou uma histria da educao, mas queatravessa distintos campos de saber, desenhando matemtica[s]nas relaes possveis entre prticas de desenhar e prticasmatemticas sem, no entanto, limitar-se a elas.

    1Universidade Federal de Santa Catarina - [email protected]

    2Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

    [email protected]

    Histria; desenho; prticas sociais.

    mailto:[email protected]:[email protected]
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    Nossa trajetria pelos territrios do desenho j vm de algum tempo. Mais propriamente,

    desde o enveredamento pelos estudos resultantes na dissertao de mestrado intitulada Entre

    Vida e Morte: Cenas de um Ensino de Desenho1. Percorrer esta trajetria implica, a cada vez e

    sempre, encontrar novos caminhos e possibilidades terico-metodolgicas. Isto porque, o

    objeto complexo, catico, fluido, mas tambm porque esta trajetria d-se sob territrios

    movedios de um grupo de pesquisa2em que tanto pesquisa quanto histria so concebidos

    como formas em movimentos, narrativas subjetivas, panoramas provisrios... Da que, nesse

    percurso, temos permitido que teias terico-metodolgicas emaranhem-nos, ativem

    potencialidades outras, iluminem pontos outrora obscuros... Apresentemos nossamovimentao atual...

    Pois bem. Inicialmente cumpre dizer que temos tratado de histria. Mas no unicamente

    de histria [da matemtica, do desenho, da cincia]; tampouco de histria da educao

    [matemtica, do desenho, etc.]. Procuramos, outrossim, atravessar esses campos de saber

    disciplinarizados e nos movimentar transversalmente entre eles. Se outrora nos debruamossobre a histria de uma disciplina escolar especfica no Brasil3, percebendo a uma rede

    complexa [e contingencial] de elementos que sustentaram sua vida e morte, intentamos agora

    questionar que condies de possibilidade tornaram possvel que este saber se tornasse

    disciplinarizado. Com Foucault, ento, temos perguntado: como se puderam formar

    domnios de saber a partir de prticas sociais? (2013, p. 17).

    Com isto, afastamo-nos de uma compreenso que considera os contedos

    escolares transposies didticas de conhecimentos cientficos (Chevallard 2009); tambmdaquela que considera as disciplinas escolares criaes espontneas da escola, pela escola e

    para a escola (Chervel, 1990). Aproximamo-nos, pois, de uma perspectiva em que disciplinas

    escolares so pensadas como resultantes de processos de escolarizao disciplinarizadores de

    prticas socioculturais no-escolares. Processos estes que nada mais fazem do que eleger

    certas prticas encenadas em contextos socialmente valorizados de atividade humana,

    extraindo de tais performances contedos considerados privilegiados e reencenando-as de um

    Preambulando

    Territorializando

    1MACHADO, R. B. Entre Vida e Morte:Cenas de um Ensino de Desenho.2012. 254f. Dissertao (Mestrado em Educao Cientfica e Tecnolgica) UniversidadeFederal de Santa Catarina, Florianpolis, 2012.2Grupo de Estudos Culturais e Educao Matemtica (GECEM), sediado na Universidade Federal de Santa Catarina, coordenado pela Profa. Dra. Cludia ReginaFlores.3Referente dissertao de mestrado supracitada.

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    modo tipicamente escolar (isto , fazendo a elas referncia exclusivamente atravs de

    encenaes verbais e/ou imagticas da linguagem) (Miguel, 2014, p. 24, traduo livre).

    Assim sendo, o que problematizamos em nosso movimento atual de pesquisa4: como

    prticas sociaisde desenhar teriam adquirido o estatuto de contedo escolar?Isto pressupe

    (no para provar mas para, tomando tal suposio, explorar suas potencialidades) que

    investigar formas de vida no escolares de prticas de desenhar pode melhor esclarecer as

    caractersticas da forma de vida escolar dessas mesmas prticas. O que implica, portanto, que

    so as prticas [de desenhar] a unidade de anlise tomada nesta investigao.

    Para tanto, entendemos que, estando estas prticas situadas historicamente (no

    nos possibilitando experiencia-las), as mesmas s podem ser conhecidas atravs dos discursos/

    elementos discursivos delas constitutivos e por elas constitudos mutuamente (Foucault, 2013,

    p. 143). E a, por discurso preciso tratar-se no de conjuntos de signos (elementos

    significantes que remetem a contedos ou representaes), mas de prticas que formam

    sistematicamente os objetos de que falam (2009, p. 55). O que significa interrogar a

    linguagem no na direo a que ela remete, mas na dimenso que a produz (Ibidem, p. 126).

    Mais ainda, considerar que no possa haver realidade pr-discursiva; que no possa haver

    realidade antes ou fora do discurso que por este seja representada. O discurso no assume,

    ento, um papel mediador mas constitutivoda realidade.

    Dito isto, sob esta perspectiva, prticas sociais (ou no-discursivas), prticas culturais

    e prticas discursivas s podem ser entendidas em simbiose. As prticas discursivas so dadas

    sempre no interior de prticas sociais que, por sua vez, esto sempre investidas de

    discursividade. Em outras palavras, cada instituio ou atividade social gera e requer seu

    prprio universo distinto de significados e prticas - sua prpria cultura. (...) Todas as prticas

    sociais, na medida em que sejam relevantes para o significado ou requeiram significado parafuncionarem, tm uma dimenso cultural (Hall, 1997, p. 28). No se quer argumentar com

    isso que tudo seja cultural ou quetudo seja discursivo, mas que as prticas sociais relacionam-

    se e dependem do significado; que a cultura , assim, uma das condies constitutivas de

    existncia dessas prticas e que, portanto, toda prtica social tem uma dimenso cultural.

    No que no haja nada alm do discurso, mas que toda prtica social tem o seu carter

    discursivo (Ibidem).

    De fato, segundo Foucault, tudo prtica (Deleuze, 2005, p.82). Logo, situar -se nombito dos discursos consiste, com efeito, em operar no territrio das prticas. Entretanto,4Referente ao estudo em nvel de doutoramento iniciado em 2012, realizado por Rosilene Beatriz Machado, no Programa de Ps-Graduao em Educao Cientfi-ca e Tecnolgica da Universidade Federal de Santa Catarina, sob orientao da Profa. Dra. Cludia Regina Flores.

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    considerar o prprio discurso enquanto prtica (Foucault, 2009, p. 52), no significa

    entender a a competncia e atividade de um sujeito, e sim a existncia objetiva e material de

    certas regras s quais o sujeito tem que obedecer quando participa do discurso (Lecourt,

    2008, p. 51); um conjunto de regras annimas, histricas, sempre determinadas no tempo e

    no espao (Foucault, 2009, p. 133).

    Da no ser o discurso uma simples superfcie de inscrio de objetos instaurados a

    priori, mas sim um conjunto de regras que constituem as condies de aparecimento histrico

    de tais objetos. Da, tampouco, ser o discurso um simples fenmeno de expresso de um

    sujeito que pensa, que conhece e que o diz: , ao contrrio, um conjunto em que podem ser

    determinadas a disperso do sujeito e sua descontinuidade em relao a si mesmo (Ibidem, p.

    61). Da, enfim, ser o discurso prtica [discursiva] no especificamente por um suposto carter

    praxiolgico mas, fundamentalmente, por seu carter regrado.

    Se o discurso assume um carter constitutivo e no representacional da linguagem; e se,

    doravante, pode ser tomado como jogos (games), jogos estratgicos de ao e reao, de

    pergunta e de resposta, de dominao e de esquiva, como tambm de luta (Foucault, 2013,

    p. 19), resta potencializado aqui um atravessamento do Wittgenstein das Investigaes

    Filosficas. Isto porque, o filsofo austraco j bem pressups a o papel constitutivo da

    linguagem, entendida na multiplicidade (no somativa) de jogos de linguagem regrados

    [ressalte-se, todavia, ausentes da dimenso de poder].

    Sob este atravessamento, ento, consideramos pertinente (e assumimos) a aproximao

    entre o construto foucaultiano prticas discursivas e o construto wittgensteiniano jogos de

    linguagem, j sugerida por autores tais como Flynn (1994, apud Veiga -Neto 2007) e Schatzki

    (1996, apud Miguel, 2010), operacionalizada tambm por autores brasileiros tais como

    Antnio Veiga-Neto, Antnio Miguel e Samuel Edmundo Lopez Bello, dentre outros. Nessesentido, ao mesmo tempo em que as prticas so vistas como jogos de linguagem, estes, por

    sua vez, so vistos como prticas (Miguel, 2010, p. 45).

    Assim sendo, o usoque fazemos do construto prticas sociais de desenhar est sempre

    entrelaado aos construtos prticas discursivas e jogos de linguagem. E estes, igualmente,

    esto sempre imbricados ao construto formas de vida5. Da, assim como o significado de uma

    palavra seu uso na linguagem, ancorada em uma forma de vida, consideramos que as

    significaes das prticas de desenhar so dadas pelos diversos usos que delas foram feitos emvariadas formas de vida. So esses usos que tentaremos investigar nos documentos analisados.5Com tal construto quer-se enfatizar o entrelaamento entre cultura, viso de mundo e linguagem; de maneira que uma forma de vida uma formao culturalou social, a totalidade das atividades comunitrias em que esto imersos os nossos jogos de linguagem (Glock, 1998, p. 174).

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    Entretanto, fundamental destacar que a anlise que pretendemos no deve ser

    entendida no sentido de que se queira interrogar qual o valor de verdade dos textos

    investigados ou buscar o que por trs deles se oculta. O que se quer compreender como

    prticas sociais so a significadas e produtoras de significaes. Assume-se, dessa forma, o

    documento enquanto monumento, ou seja, enquanto prprio objeto da histria, no incuo,

    no neutro, carregado de intenes e mediado por relaes de poder. Permanece-se,

    portanto, na dimenso do discurso, percorrendo a singular existncia de enunciados que vm

    tona no que a se diz e em nenhuma outra parte.

    Logo, a anlise que se opera , na verdade, uma anlise enunciativa, j que o

    discurso conjunto de enunciados (Foucault, 2009). Anlise esta que s pode se referir a

    coisas efetivamente ditas, a frases efetivamente pronunciadas ou escritas, precisamente porque

    foram ditas, porque existem oferecendo-se observao, leitura, a variados usos e

    transformaes possveis. , ento,

    uma anlise histrica, mas que se mantm fora de qualquer interpretao: s coisasditas, no pergunta o que escondem, o que nelas estava dito e o no-dito queinvoluntariamente recobrem, a abundncia de pensamentos, imagens ou fantasmas queas habitam; mas, ao contrrio, de que modo existem, o que significa para elas o fato dese terem manifestado, de terem deixado rastros e, talvez, de permanecerem para uma

    reutilizao eventual: o que para elas o fato de terem aparecido e nenhuma outra emseu lugar (Ibidem, p. 124, grifos nossos).

    Desse modo, perceba-se que no se trata aqui de uma histria do referente, tal

    qual umahistria da disciplina de desenho ouumahistria dos contedos de desenho ouat

    mesmo uma histria do desenho. No obstante, e aparentemente paradoxal (s

    aparentemente), sim, ao mesmo tempo, uma histria do desenho,desde que por desenho

    considere-se no um objeto epistemolgico, mas to somente um objeto discursivo.

    Desprendemo-nos, assim, desse jogo de espelhos que insiste em fabricar uma imagem dual, e

    unitria, de agrupamentos que hoje nos so familiares mas que, historicamente, v-sedistribudos e caracterizados de formas totalmente diferentes. Procuramos desrealizar o

    desenho, fazendo a histria de suas possibilidades, vasculhando suas camadas constitutivas, a

    fim de apreender o momento em que ganha consistncia, dizibilidade e visibilidade. Samos,

    enfim, do terreno das origens e adentramos o campo de emergnciade prticas de desenhar

    especficas. Falamos de desenhos; e de histrias.

    O desenho enquanto objeto discursivo, destarte, no unitrio; , ao contrrio,

    disperso de enunciados. essa disperso que se quer descrever, buscando o jogo das regrasque tornaram possvel, durante determinado perodo, o aparecimento e transformao de tais

    objeto(s). Situamo-nos, portanto, no nvel do saber, que no nem o esboo enrugado, nem

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    o subproduto cotidiano de uma cincia constituda, sequer um canteiro

    epistemolgico (Ibidem, p. 206). Que no , tampouco, uma soma de conhecimentos (dos

    quais se pode dizer sempre se so verdadeiros ou falsos), mas um conjunto de elementos

    (objetos, tipos de formulaes, conceitos e escolhas tericas) formados regularmente no

    interior de uma prtica discursiva.

    Com isto, o que intentamos fazer funcionar ferramentas foucaultianas especficas,

    em uma tentativa de aproximao a uma espcie de arqueogenealogia das prticas de

    desenhar. Mostrar, assim, como e por que uma prtica social-discursiva pode formar grupos

    de objetos, conjuntos de enunciaes, jogos de conceitos, sries de escolhas tericas (Ibidem,

    p. 203). O que significa, arqueologicamente, compreender as condies de possibilidade ou

    de emergncia de um determinado objeto, neste caso, desenho[s]. Mas tambm,

    genealogicamente, investigar sua transformao e usos em domnios diversos, perseguindo

    seus efeitos e as condies de sua disciplinarizao.

    Disto, uma investigao dessa natureza est sempre no plural, exercendo-se em

    uma multiplicidade de registros, fazendo aparecer relaes entre domnios discursivos e no-

    discursivos. Ressalte-se, porm, no em uma anlise simblica ou causal, e sim, no sentido de

    compreender como e por que acontecimentos no-discursivos fazem parte das condies de

    emergncia, insero e funcionamento de acontecimentos discursivos; de compreender como

    e por que estes acontecimentos esto inevitavelmente imbricados em um mesmo processo

    produtivo.

    com este ferramental terico-metodolgico, portanto, que adentramos o vasto

    territrio arqueolgico em que prticas de desenhar podem ser investigadas. Vasto porque tais

    prticas (ou jogos de linguagem) desenrolam-se entre outras prticas e se articulam com elas,

    significadas em domnios de saber (ou formas de vida) diversos, tais como o da anatomia, dabotnica, da cartografia, da astronomia, da pintura, da arquitetura, da engenharia militar,

    dentre outros. E, exatamente por esta amplitude, escolhas so requeridas. assim que somos

    impelidas a operar um recorte neste terreno que, por ora, lana-nos ao campo da cartografia6.

    aqui que se pretende investigar como prticas de desenhar especficas so significadas e

    articuladas a outras tantas.

    Cumpre dizer que os documentos analisados constituem-se tanto de fontes escritas

    quanto de fontes imagticas e/ou iconogrficas. Nestes ltimos, a partir dos modos e6Um breve exerccio de anlise de prticas de desenhar nos domnios da anatomia e da pintura foi desenvolvido em: MACHADO, R. B.; FLORES, C. R. O CorpoDespido pelas Prticas de Desenhar: Dos Usos Disciplinarizao do Desenho. BOLEMA, So Paulo, v. 27, n. 45, 2013. Entretanto, no desenvolver da pesquisa, namedida em que nos aprofundamos na problemtica e que escolhas precisaram ser operadas, percebemos que o campo da cartografia extremamente potentepara a anlise empreendida. Restam pretendidos para pesquisas futuras os demais campos de saber apontados.

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    propsitos com que as imagens-desenhos so mobilizadas que buscaremos elucidar os usos

    das referidas prticas. Ainda, estrategicamente, toma-se um estrato temporal especfico para a

    anlise proposta: aquele designado por Foucault (2007) como poca Clssica - perodo que se

    estende do Renascimento at a poca da Revoluo Francesa (1789). Entretanto, com isto

    designa-se menos um perodo histrico e mais um modo de ser das coisas e da ordem (p.

    XIX). Acreditamos que justamente a alterao na forma geral do saber que se opera nesse

    perodo, a que alude Foucault, a condio de possibilidade para que determinadas prticas de

    desenhar tornassem-se socialmente valorizadas e disciplinarizadas, especialmente nos domnios

    cartogrficos.

    Por fim, ressaltamos que consciente de nossa no pertena a um campo

    disciplinar especfico, que nos permitisse assumir a posio de historiadoras, que nos

    arriscamos to somente a tecer histria[s]. O que significa que este , portanto, um estudo de

    histria, mas no um trabalho de historiador (Foucault, 1984, p. 13). Tentamos, assim, apenas

    gozar de certa liberdade de escrita para produzir narrativas a partir de peregrinaes a terras

    por vezes desconhecidas e distantes, dentre as quais, as terras historiogrficas. Procuramos,

    ento, ao produzir essas narrativas, atuar como ensastas, como um leitor que escreve e um

    escritor que l (Larrosa, 2003, p. 107); seguindo o caminho sinuoso que se adapta aosacidentes do terreno e no o caminho retilneo daquele que sabe previamente aonde vai

    (Ibidem, p. 111).

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    Traduo de: LOURO, G. L. Teoria e Educao, Porto Alegre, n. 2, p. 177-229, 1990.

    CHEVALLARD, Yves. La transposicin didctica. 3. ed. Buenos Aires: Aique Grupo Editor, 2009.

    DELEUZE, G. Foucault.So Paulo: Brasiliense, 2005.

    FOUCAULT, M. Histria da sexualidade II: o uso dos prazeres.Rio de Janeiro: Edies Graal,1984.

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    FOUCAULT, M.A Arqueologia do Saber.7 ed., Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2009.

    FOUCAULT, M.A verdade e as formas jurdicas.Rio de Janeiro: Nau, 2013.

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    Referncias

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    WITTGENSTEIN, L. Investigaes filosficas.9. ed. Petrpolis, RJ: Vozes; Bragana Paulista, SP:Ed. Universitria So Francisco, 2014.