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1 ENTRE O DESPOTISMO ABSOLUTISTA’ E A ANARQUIA REPUBLICANA’: A MONARQUIA CONSTITUCIONAL NO PENSAMENTO POLÍTICO DE JOSÉ BONIFÁCIO WILLIAM ZOLINGER FUJII 1 Resumo: O presente trabalho tem como objeto o pensamento político de José Bonifácio de Andrada e Silva, mais especificamente sua concepção de Estado monárquico constitucional centralizado para as províncias luso-brasileiras. O artigo propõe-se a percorrer algumas das ideias políticas de José Bonifácio e sua visão sobre a monarquia constitucional e o Estado, incluindo suas críticas aos regimes absolutista e republicano. Nesse sentido, a pesquisa parte de uma premissa de que o pensamento político de Bonifácio e seu projeto de Estado constituíram uma alternativa liberal moderada de centro, em oposição àquilo que ele considerava ‘despotismo absolutista’ do Antigo Regime e ‘anarquia republicana’ que varria a América espanhola. Palavras-chave: José Bonifácio; monarquia constitucional; republicanismo; absolutismo. Introdução O processo de independência do Brasil deu origem a uma disputa acerca do modelo de Estado que seria construído no novo país independente, com diversos setores das elites luso-brasileiras competindo para levar adiante seus projetos políticos. Em especial, José Bonifácio de Andrada e Silva se destacou como liderança política nesse processo devido ao papel central que teve tanto para a independência brasileira quanto para o projeto de Estado monárquico-constitucional que foi implantado no Brasil independente. Este trabalho pretende percorrer as ideias de Bonifácio sobre a edificação do Estado brasileiro na forma monárquica-constitucional, bem como sua participação na disputa política surgida ainda durante o processo de independência do Brasil, ou das províncias luso-brasileiras, termos que serão utilizados indistintamente neste trabalho. A ideia de monarquia constitucional Assim como o parlamentarismo, o surgimento da monarquia constitucional não se deu em um único momento histórico, nem foi resultado de formulações teóricas de 1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília (UnB)

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ENTRE O ‘DESPOTISMO ABSOLUTISTA’ E A ‘ANARQUIA

REPUBLICANA’: A MONARQUIA CONSTITUCIONAL NO

PENSAMENTO POLÍTICO DE JOSÉ BONIFÁCIO

WILLIAM ZOLINGER FUJII1

Resumo: O presente trabalho tem como objeto o pensamento político de José Bonifácio de

Andrada e Silva, mais especificamente sua concepção de Estado monárquico constitucional

centralizado para as províncias luso-brasileiras. O artigo propõe-se a percorrer algumas das

ideias políticas de José Bonifácio e sua visão sobre a monarquia constitucional e o Estado,

incluindo suas críticas aos regimes absolutista e republicano. Nesse sentido, a pesquisa parte de

uma premissa de que o pensamento político de Bonifácio e seu projeto de Estado constituíram

uma alternativa liberal moderada de centro, em oposição àquilo que ele considerava

‘despotismo absolutista’ do Antigo Regime e ‘anarquia republicana’ que varria a América

espanhola.

Palavras-chave: José Bonifácio; monarquia constitucional; republicanismo; absolutismo.

Introdução

O processo de independência do Brasil deu origem a uma disputa acerca do modelo

de Estado que seria construído no novo país independente, com diversos setores das

elites luso-brasileiras competindo para levar adiante seus projetos políticos. Em

especial, José Bonifácio de Andrada e Silva se destacou como liderança política nesse

processo devido ao papel central que teve tanto para a independência brasileira quanto

para o projeto de Estado monárquico-constitucional que foi implantado no Brasil

independente. Este trabalho pretende percorrer as ideias de Bonifácio sobre a edificação

do Estado brasileiro na forma monárquica-constitucional, bem como sua participação na

disputa política surgida ainda durante o processo de independência do Brasil, ou das

províncias luso-brasileiras, termos que serão utilizados indistintamente neste trabalho.

A ideia de monarquia constitucional

Assim como o parlamentarismo, o surgimento da monarquia constitucional não se

deu em um único momento histórico, nem foi resultado de formulações teóricas de

1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília (UnB)

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apenas um pensador político. Sua construção teórica e aplicação prática ocorreram

gradualmente em um longo processo histórico associado ao constitucionalismo, do qual

decorreu a ideia de monarquia constitucional. Como marco histórico, normalmente

atribui-se à imposição da Magna Carta ao rei John I pelos barões ingleses um caráter

precursor do constitucionalismo inglês, o mais antigo entre os diversos

constitucionalismos.

Para Canotilho, constitucionalismo pode ser definido como ‘uma teoria ou ideologia

que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos direitos em

dimensão estruturante da organização político-social de uma comunidade’ (2003: 57).

Em outras palavras, o constitucionalismo visa à limitação dos poderes do Estado e à

instituição de um governo limitado, ao mesmo tempo em que busca garantir

determinados direitos dos cidadãos que integram determinada sociedade. E o

instrumento central dessa teoria ou movimento é a Constituição, que, segundo Bobbio

(1997), representa a estrutura de uma comunidade política organizada, a ordem que

decorre da designação de um poder soberano e dos órgãos que o exercem. Na Idade

Moderna, o constitucionalismo representou uma reação ao paradigma absolutista e às

teorias políticas que buscavam legitimá-lo, como as formuladas por Maquiavel (1532),

Jean Bodin (1576) e Thomas Hobbes (1651).

Rejeitando as teorias legitimadoras do absolutismo, John Locke elaborou uma teoria

do contrato social que rompeu com o paradigma absolutista e inseriu ideias liberais no

debate teórico-político da época, assentando a legitimidade do governo no

consentimento dos governados e na limitação do próprio poder estatal. Na obra Segundo

tratado sobre o governo civil, Locke resgata a tradição jusnaturalista e defende os

direitos naturais do homem à liberdade, à propriedade e à vida. Para o pensador inglês, a

legitimidade do Estado é dependente de sua capacidade de garantir os direitos naturais

no homem – que, afinal, precedem à própria existência do Estado –, e tal garantia não

poderia existir sem que o soberano fosse responsável perante seus súditos e tivesse

poderes limitados. Por essa perspectiva, a soberania única manifestada na figura do

monarca, pedra angular do absolutismo monárquico, torna-se um problema, e a solução

proposta por Locke é a divisão dos poderes do Estado em Executivo e Legislativo

(BRITO, 2012: 125). Nessa divisão, a capacidade e a legitimidade legislativa do

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monarca seriam transferidas ao Poder Legislativo, composto por representantes do

povo2, que por sua vez passava a ser co-titular da soberania nacional. Isto é, para o

pensamento lockeano, fundador do liberalismo político, dever-se-ia conferir maiores

poderes aos representantes do povo em detrimento do soberano, que então veria seus

poderes limitados. A monarquia deveria transitar de sua forma absoluta para a

parlamentar e constitucional, ideia colocada em prática em terras britânicas, onde a

Revolução Gloriosa de 1688 marcou o declínio definitivo do poder relativo da Coroa

perante o Parlamento.

Formação intelectual de José Bonifácio

Em comparação à Grã-Bretanha, a superação do paradigma absolutista se deu

tardiamente em Portugal, país aonde José Bonifácio chegou em 1783 para estudar na

Universidade de Coimbra. Embora Portugal ainda fosse formalmente uma monarquia

absoluta, onde a soberania nacional se manifestava na figura do monarca e o poder real

era virtualmente ilimitado, Bonifácio encontrou um ambiente intelectual em Coimbra

afetado pelas reformas pombalinas instituídas a partir de 1772. Principal representante

do reformismo ilustrado3 em terras portuguesas, o marquês de Pombal implantara

reformas modernizadoras no país em diversas áreas, cujos reflexos na educação se

manifestaram através do aumento de investimentos públicos e reformas curriculares que

incluíam maior ênfase às ciências naturais. Desta forma, o clima intelectual que José

Bonifácio encontrou em Coimbra era relativamente liberal para um país que ainda vivia

sob a égide do absolutismo, tendo lido obras de importantes pensadores iluministas

como Locke, Rousseau, Voltaire, Montesquieu e Adam Smith (CALDEIRA, 2002: 13).

Durante o período de estudos em Coimbra, onde cursou Direito e Filosofia Natural, o

intelectual paulista foi influenciado por ideias tipicamente iluministas que

2Locke não defendeu o sufrágio universal, visto que o conceito de povo no século XVII (e nos XVIII e

XIX) possuía uma conotação muito mais restrita em comparação ao seu sentido atual. 3 Também conhecida como despotismo esclarecido, forma de governar marcada pela introdução de

reformas modernizadoras nos campos da administração pública, economia, cultura, ciências e educação,

ao mesmo tempo em que o poder político mantinha-se concentrado nas mãos do Estado, a quem incumbia

liderar o processo de modernização. Tratou-se de uma reação ao iluminismo e às mudanças trazidas pela

Revolução Industrial, diante dos quais as monarquias absolutas buscaram empreender reformas que

contribuíssem para a superação de seu atraso perante economias mais dinâmicas, sobretudo a Grã-

Bretanha e as Sete Províncias Unidas dos Países Baixos. Em Portugal, manifestou-se na figura do

marquês de Pombal, ministro de D. José I que governou de 1750 a 1777.

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caracterizavam o liberalismo político e econômico, vindas sobretudo da França e da

Grã-Bretanha, desenvolvendo uma concepção da economia essencialmente liberal: a de

que Estado deve garantir determinados direitos naturais e criar as condições para o

progresso econômico, em oposição à ideia de que ele, o Estado, deveria ser o principal

dirigente da economia. É essa a ideia central de sua obra Memória sobre a pesca das

baleias e extração de seu azeite, de 1790, onde Bonifácio expõe argumentos decorrentes

da ideia de que o Estado deve atuar como regulador da economia e não como gerador

direto de riquezas, função que caberia aos indivíduos. Para remediar o atraso econômico

no qual o país se encontrava, Portugal deveria superar o paradigma mercantilista,

romper com o sistema de monopólios e estimular a livre concorrência (SILVA, 2002:

51-56). Nesse ponto, pode-se dizer que a visão de Bonifácio, a essa época, era contrária

à ideia predominante no governo português segundo a qual o Estado era o principal

condutor dos negócios econômicos do país.

Tal concepção representava um traço essencial do absolutismo que havia sido

superado em países que adotaram o liberalismo político e econômico, mas que ainda se

mostrava hegemônico em Portugal. É notória a influência da economia política britânica

nesse aspecto do pensamento de José Bonifácio, que lera A Riqueza das Nações, de

Adam Smith, publicado em 1776. Ao mesmo tempo, Bonifácio se associava ao regime

absolutista português como um intelectual fundamentalmente ligado ao Estado que

aderia a um sistema em cujo centro estava uma monarquia absoluta (VARELA, LOPES,

FONSECA, 2004: 2), contrariando suas convicções políticas que o aproximavam do

liberalismo inglês, não do absolutismo português. Pragmático e contraditório ao mesmo

tempo, José Bonifácio conciliava seu pensamento marcadamente liberal com suas

relações íntimas com o Estado absolutista lusitano, o que implicava ser um liberal no

campo das ideias e aceitar, ainda que tacitamente, os pilares do absolutismo4 na prática.

Após a conclusão dos estudos em Coimbra, tendo se formado jurista e filósofo

natural, José Bonifácio ingressou na Academia de Ciências de Lisboa em 1789, onde

permaneceu por pouco tempo. Já em 1790, partia para o que seria uma longa viagem de

4 Tais como a existência de uma sociedade altamente hierarquizada, a ampla influência da Igreja em todas

as esferas da vida, o direito a privilégios por parte da nobreza e a concentração de poderes nas mãos do

monarca.

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estudos e pesquisa em Mineralogia, Filosofia e História Natural pela Europa, sendo o

primeiro destino a França. Embora o objetivo dessas viagens, financiadas pelo governo

português, fosse o estudo de Mineralogia, Bonifácio se aprofundou em estudos de

outros campos do conhecimento, inclusive as ciências humanas. O contato que tivera

com obras de pensadores iluministas em Coimbra se aprofundaria durante esse período

durante o qual Bonifácio também bebeu na fonte de autores clássicos como Platão,

Cícero e Tito Lívio (DOHLNIKOFF, 2012: 41).

Em Paris, presenciou em primeira mão as turbulências da Revolução Francesa, o que

teria profundo impacto no pensamento político bonifaciano. Se José Bonifácio era um

intelectual com ideias liberais influenciadas pelo iluminismo filosófico, científico e

econômico, os excessos cometidos durante a revolução, principalmente na Fase do

Terror (1792-1794), fizeram com que o paulista passasse a desconfiar fortemente das

paixões populares, concorrendo para a formação de sua convicção de que grandes

mudanças não devem ser conduzidas pelo povo. Trata-se de um importante componente

do pensamento político de José Bonifácio que teria consequências práticas no processo

de independência e de construção do Estado brasileiro, dos quais o pensador participou

ativamente tendo como um de seus princípios guiadores a desconfiança de mobilizações

das massas (COSTA, 1998: 46). Por outro lado, a Revolução Francesa trouxe

definitivamente para o centro do debate político europeu a ideia de governo

representativo – cuja instituição, na Europa, já havia ocorrido em Londres –, fato que

também exerceu importante influência sobre o pensamento político de José Bonifácio.

Se ele já pensava (quase) como um liberal no tocante à economia e aos direitos

individuais, a ideia de governo representativo, pedra angular do liberalismo político,

também seria incorporada ao pensamento bonifaciano. Bonifácio via o Antigo Regime

ruir no coração da Europa e a monarquia absoluta ser derrubada, mas ao mesmo tempo

não aceitava a via revolucionária por considerá-la sinônimo de anarquia. Como, então,

conciliar a ideia de um governo representativo e potencialmente instável que garante os

direitos naturais de seus cidadãos e a ordem ao mesmo tempo? A resposta a que José

Bonifácio chegaria era a monarquia constitucional.

Após dez anos de excussões científicas que incluíram, além da França, Saxônia,

Áustria, Península Itálica, Países Baixos, Suécia, Noruega, Dinamarca e Grã-Bretanha

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(DOHLNIKOFF, 2012: 33), Bonifácio retornou a Portugal em 1800, assumindo a

cátedra de Mineralogia na Universidade de Coimbra no ano seguinte. Daí até seu

retorno ao Brasil em 1819, ocupou uma série de cargos no Estado português, tornando-

se, além de intelectual e cientista, um homem de Estado Apesar de todo seu preparo

intelectual e de suas ligações com a Coroa, Bonifácio não teve maiores ambições

políticas em Portugal, decidindo retornar à terra onde havia nascido; ironicamente, ao

voltar à parte americana do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Bonifácio

buscava se afastar da política e viver tranquilamente em um sítio, isolado e longe dos

grandes acontecimentos, de onde pretendia realizar pesquisas mineralógicas pelo

interior do Brasil.

Tendo se formado intelectualmente em um país onde o paradigma absolutista ainda

sobrevivia e sido patrocinado por uma monarquia absoluta durante muitos anos, não era

óbvio, em 1819, que em apenas dois anos José Bonifácio não só rejeitaria a alternativa

absolutista para o Estado brasileiro, mas seria personagem central no processo que tirou

do Império português justamente sua porção mais rica. A Revolução Liberal do Porto e

as subsequentes decisões das Cortes que se instalaram em Lisboa, no entanto,

colocariam Portugal em rota de colisão com os interesses brasileiros, dos quais José

Bonifácio passaria a ser um dos principais representantes.

Os diferentes projetos políticos para o Estado brasileiro independente

Antes mesmo do Sete de Setembro, os diferentes grupos da elite nacional que

haviam se aglutinado em torno do príncipe regente com o objetivo de resistir às

pressões das Cortes de Lisboa passaram a atuar no sentido de avançar seus diferentes

projetos políticos, estando divididos, em linhas gerais, segundo Emília Viotti da Costa

(1998), em três ‘partidos’5. O partido brasileiro, do qual a principal figura era José

Bonifácio e que até meados de 1822 ainda flertava com a manutenção do Reino Unido

de Portugal, Brasil e Algarves por meio da instalação de uma monarquia dual que

permitiria à parte americana do reino manter sua autonomia; o partido português, que

buscava restabelecer os antigos privilégios coloniais de Portugal; e dos ditos liberais

radicais, entre os quais havia republicanos, de tendências democráticas e que defendiam

5 Não no sentido formal e moderno do termo, mas no sentido de agrupamentos de pessoas com os

mesmos interesses políticos.

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não só a secessão do Brasil do Reino Unido e sua constitucionalização, mas também a

participação popular no processo de construção do novo Estado.

É importante mencionar que o assim chamado partido brasileiro, que defendia a

edificação do Estado Nacional sobre pilares monárquico-constitucionais, era ainda

subdividido entre federalistas e unitários: estes visavam à concentração do poder

político no Rio de Janeiro, de modo a estabelecer um governo unitário onde a União

fosse o único centro de poder; aqueles, que, embora buscassem instaurar uma

monarquia constitucional, defendiam a descentralização política onde as diversas

províncias brasileiras se uniriam por meio de laços federativos, com cada uma

mantendo sua autonomia política perante o governo central no Rio de Janeiro. Esse

grupo criaria uma dissidência entre os partidários da monarquia constitucional,

afastando-se dos centralizadores e surgindo como principal facção de oposição ao

governo imperial a partir dos trabalhos da Assembleia Constituinte, em maio de 1823.

No entanto, este artigo não abordará o projeto dos monarquistas federalistas, visto que

tal escopo demandaria um trabalho mais amplo.

José Bonifácio e a opção de centro: o projeto de monarquia constitucional

centralizada

José Bonifácio tornou-se ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros em janeiro

de 1822, pouco depois do episódio do ‘Dia do Fico’, que selou a permanência de D.

Pedro do Rio de Janeiro. Na verdade, o ‘Fico’ representou o desfecho de um processo

que teve início com a chegada dos decretos das Cortes de setembro de 1821, que

desvinculavam politicamente do Rio de Janeiro as demais províncias e as subordinavam

diretamente a Lisboa, aboliam órgãos judiciais e exigiam o retorno imediato de D.

Pedro a Portugal (LUSTOSA, 2006: 235-6). Chegando ao Brasil apenas em dezembro,

as notícias sobre as medidas das Cortes acarretaram uma intensa mobilização pela

permanência do príncipe no país. Representando o governo paulista, do qual era Vice-

Presidente, José Bonifácio redigiu uma carta a D. Pedro incitando-o a desafiar as Cortes

e permanecer no Brasil, além de articular a formação de uma frente de apoio ao príncipe

com as elites das províncias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais.

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Bonifácio percebera rapidamente que a figura de D. Pedro representava a

possibilidade – talvez única – de manter as províncias luso-brasileiras unidas, eis que

representava o poder monárquico, a Coroa, e era essa legitimidade dinástica que poderia

servir como força aglutinadora dos interesses contrários à política cada vez mais

recolonizadora das Cortes portuguesas para o Brasil. A intenção de manter as províncias

luso-brasileiras unidas, ainda que como parte integrante do Reino Unido, apareceria

como objetivo central de José Bonifácio a partir desse período, servindo mesmo como

um dos pilares do pensamento político do intelectual. Tamanha é a importância da

unidade nacional para José Bonifácio que se pode mesmo identificá-la, juntamente com

a questão da autonomia política, como núcleo de seu projeto de Estado – em um

primeiro momento, como parte integrante do Reino Unido na forma de uma monarquia

dual; a partir maio de 1822, como Estado soberano e independente (DOHLNIKOFF,

2012: 146).

É a partir do objetivo inegociável de consolidar a união político-territorial do Brasil

como país autônomo/independente que José Bonifácio vai moldar suas demais

concepções políticas acerca de seu projeto de Estado, tendo sempre como princípio

fundamental a busca simultânea pela autonomia e unidade nacional. Nesse sentido, a

monarquia constitucional não constituía um fim em si mesmo, mas um meio através do

qual se consolidaria a união de todas as partes do Brasil sob um único centro de poder,

no caso, a cidade Rio de Janeiro. Por essa razão, do momento em que assumiu o cargo

de ministro em janeiro de 1822 até meados do mesmo ano, o estadista Bonifácio atuou

no sentido de buscar a manutenção da autonomia do Brasil sem necessariamente romper

politicamente com Portugal. Buscava, assim, manter e aprofundar os laços tênues que

uniam as províncias brasileiras e defender a autonomia conquistada gradualmente desde

1808, pouco importando se o Brasil continuasse integrando o Reino Unido; isto é, para

o pensamento político bonifaciano, a questão da autonomia era mais importante do que

a da independência, e se a primeira se tornasse inviável, restaria o caminho da segunda

(COSTA, 1998: 50-55).

A concepção política segundo a qual a autonomia do Reino do Brasil era o objetivo a

ser perseguido já havia sido manifestada antes mesmo de Bonifácio tornar-se ministro

de Estado, aparecendo de forma inequívoca no documento Lembranças e

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apontamentos do governo provisório da província de São Paulo para os seus

deputados. O documento, redigido por José Bonifácio em outubro de 1821 na qualidade

de membro da Junta Provisória de São Paulo, teve o intuito de servir como orientação

para a delegação de deputados paulistas que participou dos trabalhos das Cortes de

Lisboa6. As instruções tratavam da organização política e de interesses da União – o

Reino Unido –, do Brasil e da província de São Paulo, que deveriam ser defendidos

pelos deputados paulistas em Lisboa na condição de constituintes. A

constitucionalização do Império português deveria se dar de modo a preservar a

autonomia do Brasil, que teria plena autonomia política, legislativa e administrativa,

sendo comum aos dois reinos pouca coisa além de questões relativas à guerra e à paz,

comércio e assinatura de tratados internacionais (LEMBRANÇAS E

APONTAMENTOS, 1821: 111-113).

Ocorre que as Cortes não só não estavam dispostas a aquiescer ao projeto de José

Bonifácio, como tinham como um de seus objetivos principais justamente o oposto, que

era a fragmentação do Brasil e sua subordinação política e econômica a Portugal através

de uma política que a historiografia denominou ‘medidas recolonizadoras’. Era evidente

que Bonifácio, em razão de suas convicções, não aceitaria o projeto das Cortes para o

Brasil. E, tendo influência sobre o príncipe regente e ocupando o cargo de ministro mais

poderoso do Brasil, estava em condições de resistir às medidas das Cortes e colocar em

prática suas ideias políticas e projeto de Estado.

Primeiro, era necessário assegurar a unidade das províncias brasileiras em face da

decisão das Cortes de submetê-las diretamente a Lisboa, e Bonifácio propôs a D. Pedro

a instalação de um Conselho de Procuradores-Gerais das Províncias para servir como

centro aglutinador dos interesses das diversas forças políticas presentes no país e

analisar as decisões das Cortes que chegariam dali em diante. Como consequência, o

príncipe assinou um decreto em 16 de fevereiro de 1822 criando o Conselho e definindo

suas atribuições e regras para a eleição de seus membros, que deveriam ser eleitos de

forma indireta nas províncias (SENADO FEDERAL, 1973).

6 Oficialmente, Assembleia Constituintes do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

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Em oposição a Bonifácio, os assim chamados liberais radicais defendiam uma maior

participação popular no encaminhamento das questões relativas à autonomia ou

independência do Brasil, e viam a ideia de um Conselho de Procuradores como uma

alternativa conservadora, defendendo a convocação de uma Assembleia-Geral

Constituinte. Parte desse grupo, incluindo seus principais líderes, Gonçalves Ledo e

Januário Barbosa, tinham antigas aspirações republicanas e simpatizavam com a ideia

de abolição da monarquia e a instalação de um regime republicano no Brasil (COSTA,

1998: 49), o que, afinal, se apresentava como caminho natural no continente americano.

Para José Bonifácio, contudo, a ideia de república era indissociável das de desordem e

anarquia, visão reforçada pela experiência da América espanhola, cujo processo de

independência havia levado à sua fragmentação através do surgimento de diversas

repúblicas independentes mergulhadas em guerras civis. Ainda que não se chegasse tão

longe no tocante à instalação de uma república – ao longo do primeiro semestre de

1822, sequer a ruptura com Portugal parecia inevitável –, Bonifácio preocupava-se com

um possível envolvimento direto das camadas populares na campanha autonomista que

ele encabeçava. A Revolução Francesa havia mostrado que a mobilização das massas

em acontecimentos políticos turbulentos carregava um alto grau de imprevisibilidade, e

isso não era aceitável para José Bonifácio.

Sempre fiel ao princípio da ordem em seu pensamento e atuação política, Bonifácio

não poderia ser favorável a um regime que havia se mostrado empiricamente instável

nos países vizinhos, dando origem a turbulências das quais muitas dessas repúblicas

ainda não haviam saído. Mais que isso, a alternativa republicana aparecia para

Bonifácio como o início do fim da unidade nacional brasileira, uma vez que, da mesma

forma que o retorno de D. Pedro a Portugal na época do ‘Dia do Fico’ resultaria na

separação de várias províncias brasileiras, a instauração de uma república no Brasil

levaria a uma onda separatista que terminaria com o fim do reino na forma como ele

existia em 1822. De fato, o risco de secessão de várias províncias brasileiras era uma

realidade durante o período e aumentaria após a Independência, e Bonifácio, ciente

dessa ameaça, buscou o fortalecimento de um centro de poder e unidade em torno do

qual as províncias se organizariam (DOLHNIKOFF, 2012: 138), que era a capital do

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país7. Sem embargo, o processo de Independência do Brasil foi essencialmente um

projeto das elites das províncias de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, havendo

províncias que permaneceram leais a Lisboa, como a Bahia, a Cisplatina, o Grão-Pará, o

Maranhão e o Piauí, e Pernambuco, que se encontrava sob o controle dos ditos liberais

radicais – monarquistas federalistas e republicanos. Impunha-se, então, não só a

necessidade de consolidar a Independência e instalar uma monarquia constitucional no

país, mas também de assegurar que essa monarquia fosse unitária e centralizada, com

um único centro de poder e com D. Pedro à frente da chefia política do nascente Estado.

Com a ruptura política, fortalecia-se a necessidade de se criar uma nação brasileira

independente Eis mais um objetivo fundamental do projeto nacional de José Bonifácio:

a construção da nação brasileira. Bonifácio via como essencial a criação gradual de uma

verdadeira nação brasílica, devendo tal processo ser conduzido pelo Estado. Aqui, é

possível identificar outro objetivo fundamental que José Bonifácio perseguiria e que

poderia ser realizado por uma monarquia constitucional forte. Diferentemente do José

Bonifácio dos anos 1790, o estadista do início dos anos 1820 abandonara o princípio

liberal de atuação limitada do Estado para conceber um poder estatal que liderasse um

projeto nacional, um poder que construísse uma nação genuinamente brasileira. Esse

projeto seria oposto pela maioria das forças políticas e econômicas do país por envolver

uma série de reformas profundas na sociedade, tais como a abolição gradual da

escravidão, a ‘civilização’ dos índios, uma espécie de ‘reforma agrária’ e a

miscigenação racial, sendo enterrado de vez com o fechamento da Assembleia

Constituinte por D. Pedro em novembro de 1823. Muito provavelmente, as reformas

propostas por Bonifácio jamais teriam sido aprovadas, mas elas revelam o modelo de

nação que o intelectual e estadista pretendia construir no Brasil, sendo a monarquia

constitucional, também aqui, um meio através do qual se chegaria a um fim – que, neste

caso, era a construção da nação brasileira.

No mês que se seguiu à declaração de Independência, uma nova disputa entre José

Bonifácio e o grupo de Gonçalves Ledo seria travada em torno da extensão dos poderes

7 O projeto político de Bonifácio incluía a transferência da capital nacional para uma cidade a ser

construída no interior do país, na comarca de Paracatu, a cerca de 200km do atual Distrito Federal, com o

nome de Petrópole ou Brasília. A proposta foi apresentada à Assembleia Constituinte do Brasil em 1823,

no documento Memória sobre a necessidade de edificar no Brasil uma nova capital.

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que o imperador teria na configuração política do novo país. Nas negociações que

ocorreram principalmente na loja maçônica Grande Oriente, da qual Bonifácio, Ledo e o

próprio D. Pedro eram membros, os liberais radicais buscaram extrair um juramento

prévio do príncipe aos princípios da Constituição que ainda seria elaborada. Ao buscar

tal compromisso, Ledo pretendia submeter a autoridade imperial ao Parlamento, o que,

aliás, era coerente com os preceitos da monarquia constitucional. Por que, então, opôs-

se José Bonifácio a essa ideia? Afinal, a despeito das desavenças que tinha com

Gonçalves Ledo, a proposta deste parecia razoável na medida em que garantiria tanto a

continuidade da monarquia quanto sua natureza constitucional, ambos objetivos

perseguidos por Bonifácio.

É importante salientar que, na visão de José Bonifácio, a monarquia constitucional é

a manifestação de um pacto, um contrato entre monarca e as várias elites nacionais, e

como tal a Carta Política do Brasil deveria ser aceita por ambas as partes em uma

espécie de soberania compartilhada (BASILE, 2003: 369). Da maneira como queriam os

liberais liderados por Gonçalves Ledo, Clemente Pereira e Januário Barbosa, ao

imperador não caberia aceitar ou recusar a Constituição, independentemente de seu

conteúdo. Se José Bonifácio buscava a instalação de uma monarquia constitucional,

essa monarquia deveria ser forte e centralizada de modo a conferir-lhe instrumentos

para comandar o processo de consolidação da Independência e a assegurar construção

do novo Estado-nação, inclusive no que tange à manutenção da unidade das províncias e

ao combate a desígnios separatistas. E o juramento prévio à Constituição significaria, na

prática, a assinatura de um ‘cheque em branco’ que poderia inviabilizar esse projeto.

Conclusão

O nascimento do Brasil independente como monarquia constitucional centralizada,

embora não fosse objetivo de uma só pessoa, mas de muitas, significou a vitória de um

projeto político cujo principal mentor e expoente foi José Bonifácio. Rejeitando tanto

ideias à direita que flertavam com a manutenção da monarquia absoluta quanto à

esquerda, que defendiam ampla participação popular no processo político e até mesmo a

alternativa republicana, Bonifácio liderou um projeto de centro que combinava a

primazia do Poder Executivo com a existência de uma instância representativa; a força

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da Coroa com a garantia de direitos civis e políticos; uma vasta base territorial com um

governo centralizado no Rio de Janeiro. Apesar disso, em 1823, quando caiu do

ministério, José Bonifácio não dava como certa a consolidação de seu projeto político,

que só se consolidaria nos anos 1840, após o fim do Período Regencial. Assistindo à

derrota de seu projeto de nação na Assembleia Constituinte, Bonifácio não viveu para

ver seu projeto de Estado vitorioso, tendo falecido em 1838, em pleno auge das revoltas

regenciais que ameaçavam a unidade político-territorial do Império. Pouco tempo

depois de sua queda do governo, José Bonifácio lamentava:

‘’O Brasil agora é feito para a democracia ou para o despotismo. Errei em querer

dar-lhe uma monarquia constitucional. Onde está uma aristocracia rica e instruída?

Onde está um corpo de magistratura honrado e independente? E que pode um clero

imoral e ignorante, sem crédito e sem riqueza? Que resta pois? Uma democracia sem

experiência, desunida, corrompida e egoísta, ou uma realeza sem confiança e sem

prudência; fogosa e despótica, sem as artes de Augusto, nem a dissimulação

profunda de um Tibério. A catástrofe é inevitável’’.

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