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Revista Escolas | João de Araújo Correia Nº 22 - Junho 2017 ensar(es)

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Revista Escolas | João de Araújo Correia Nº 22 - Junho 2017

ensar(es)

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Índice

EditorialA. Marcos Tavares

Pensamentos de um...Carlos Carvalhosa

Só EuAna Fernandes

Dois corpos unidosBárbara Queirós

Liberdade políticaInês A. e J. Montenegro

Poeta da LuaMariana Clérigo

Um corte mais profundoJoana Machado

Direitos dos animaisB. Trindade, H. Marques, S. Augusto

Coisas do destinoCarlos Santana

Igualdade e justiçaJoão Morgado

A hora prateadaJoão Pedro Pereira

Quero ser euCátia Coutinho

Andar negroJosé Pedro Fonseca

Clarim da VerdadePedro Babo

TalvezAriana Lopes

Devia olhar-teFernando Fidalgo

Especial Centro EscolarAlagoas

Especial Centro EscolarAlameda

Soltam-se as PalavrasJoão Rebelo

030405060809

12131415161720212226

414344454647

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40

João Lobo AntunesPedro Miranda

Quarto AzulLuísa Mamede

A dimensão religiosa do humanoA. Marcos Tavares

EutanásiaPatrícia Fernandes

About TodayJosé Artur Matos

Quem sou eu?Conceição Dias

A vida - conto de fadas?Daniela Silva

Quero tempoManuel Ferreira

AmarDiana Ferreira

Pensamentos noturnosGabriela Pinto

PensamentoLuísa Chambel Gonçalves

Grande edifícioRafaela Gonçalves

Estás a olhar por mimJoana Santos

A in�uência da imprensaSandra Peres

DezembroHalys

Meu Douro, meu rioAna Raimundo

Altos e baixosAna Xavier

Biodiversidade no DouroSónia Lopes

Homem do cestoIsabel Babo30

32

3839

10

49

3536

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Edit

oria

l

1. Assiste-se nos nossos dias a situações e a movimentos muito preocupantes. Quando se pensava que nas democracias ocidentais a interculturalidade tinha aprofundado a tolerância, vemos triunfar o populismo e os nacionalismos exacerbados.Mais preocupante ainda é que toda esta movimentação acontece no seio de democracias de referên-

cia, como são a americana, a inglesa e a francesa – todas elas historicamente abertas e cimentadoras de diálogo e de valores como a liberdade e a tolerância.Os argumentos de Trump, dos defensores do Brexit e da extrema-direita francesa de Marine Le Pen assentam em três eixos fundamentais: a identidade nacional, a segurança e o emprego. E para todos eles a perda da identidade, a insegurança e o desemprego devem-se aos imigrantes. Com estas premissas, a conclusão é logicamente avassaladora: há que fechar as fronteiras, construir muros, fechar-se na própria concha, abandonar compromissos com outros povos. Estamos muito próximos dos monstros de séc XX: o nazismo e o fascismo. Também agora se criam bodes expiatórios, que são sempre os outros – os diferentes, aqueles que não encaixam nos esquemas domi-nantes. Se antes eram os judeus ou os ciganos ou simplesmente os «não arianos», agora são os refugiados que procuram a Europa para fugirem das atrocidades da guerra e da fome, ou até os mexicanos que vêm «conspurcar os angélicos trumpianos».Parece-me que os donos do mundo não estão a compreender suficientemente esta situação paradoxal e alarmante: quem verdadeiramente desvirtua a identidade e atenta contra a segurança são aqueles que as querem preservar à sua maneira, por meios irracionais, insensatos e contrários à liberdade e à dignidade do ser humano.

2. Pela primeira vez, nos seus dezanove anos, a Pensar(es) integra no seu seio textos, trabalhos e atividades dos mais pequenos. São bem-vindos os alunos dos Centros Escolares das Alagoas e da Alameda!

Em defesa da dignidade humana

A. Marcos Tavares

President-elect Donald Trump ( Photo Credit: Gage Skidmore via Flickr CC)

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Quase que já me considero um �lósofo. Digo isto, porque às vezes dedico o meu tempo a raciocinar sobre algum tema, ou a navegar na internet à bus-

ca de perguntas �losó�cas para tentar deixar o meu professor de �loso�a sem resposta, o que é tecnicamente impossível, pois ele é um homem cheio de cultura!Eu, baseando-me nas aulas de �loso�a que tenho, tento adquirir conteúdo essencial para argumen-tar contra ele. Por mais que tente argumentar de acordo com certos �lósofos, como Kant, Des-cartes, David Hume, entre outros, existe sempre um argumento que me contraria. Talvez �loso�a seja isso mesmo, argumentar e contra-argumen-tar, procurar novos argumentos, ir em busca de novas fontes de conhecimento. É um caminhar constante na busca do saber.Filoso�a não é só aquela coisa “chata” de argu-mentar, estar 90 minutos numa sala de aula a dar matéria. Na minha opinião, é mais que isso, é ver para lá da matéria. É pensar que todos nós viemos ao mundo com um objetivo, e nem sequer temos a certeza de quem foi o criador desse mun-do. É por tudo em dúvida para chegar à razão, a princípios claros e distintos, que se apresentem indubitáveis. É saber que daqui a 10 ou 20 anos, a �loso�a nos ajudou a tomar decisões, a traçar rumos e rotas, é saber persuadir e dissuadir, aci-ma de tudo, é olhar pra nós mesmos e pensar:” A �loso�a ajudou-me a tornar-me mais culto, a

tornar-me melhor do que já era.”Para concluir esta minha re�exão, deixo aqui uma frase presente na obra “Os Maias” de Eça de Queirós: “Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com imaginação”.

Pensamentos de um estudante de �loso�aCarlos Carvalhosa . Aluno do 11º E

O Pensador, August Rodin (1840-1917)

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Por vezes sinto-me numa luta constante comigo mesma, com os meus pensamentos e opiniões. Sem perceber, entro em desa�os interiores e só eu entendo... e sinceramente

gosto disso...”só eu”.Só eu me conheço, só eu me entendo.Nasci sozinha e vou morrer sozinha.Não que seja antissocial, até gosto bastante de uma mesa cheia de bons amigos, mas, quando chegamos a casa, paramos um pouco, somos só nós.Os amigos, a família, os colegas são importantís-simos, sem dúvida, no entanto, o nosso interior, por muito sociais que sejamos, não o podemos partilhar com ninguém.O amor próprio vai muito além de não ter complexos com o corpo (por exemplo)...é gos-tarmos de nós, trabalhar todos os dias para nos conhecermos um pouco melhor.Eu gosto de mim e gosto de gostar de mim, e não tenho de me julgar egocêntrica ou egoísta por causa disso.En�m, gosto disto de ser “só eu”.

Só EUAna Fernandes . Aluna do 10º E

Me, Myself and I, Julija Jan

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Éramos dois corpos que se amavamÉramos tudo que os outros sonhavam Mas não era bem assimEu virava as costas e ficavas melhor sem mim

Dava-te tudo, e esse tudo parecia nadaTu consegues mas para mim ainda é difícil manter a calmaPassam-se minutos, horas e diasCada vez é mais complicado saber o que sentias

Nas aulas de português a ler CamõesEscrevo a pensar em ti e a falar com os meus botõesMas será que mereces asssim tanta importância?Tu não queres saber e eu continuo na ignorância

Mas pensa, eu posso desaparecer Mas tudo que eu fiz por ti vais demorar a esquecer

Bárbara Queirós. Aluna do 10ºA

Dois corpos unidos

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A liberdade política é a liberdade construí-da na sociedade politicamente organiza-da. Supõe a participação do cidadão na vida política, o seu direito a participar nos

assuntos que dizem respeito à comunidade. Contu-do, a liberdade política restringe o direito de lberdade de ação do indivíduo àquilo que é permitido por lei.Deste ponto de vista, a liberdade e a justiça de-verão ser garantidas pelo Estado. Para Aristóte-les, polis é o local de realização da liberdade dos indivíduos e a cidade será justa se os homens livres forem capazes de criar leis justas. John Locke, por seu lado, considera que o indivíduo só se torna verdadeiramente livre a partir do mo-mento em que o Estado, por consentimento dos cidadãos, estabelece as regras e as leis que ga-rantem a proteção dos seus direitos. Segundo as teorias contratualistas, celebrado o contrato social, e uma vez criadas as leis, temos obrigação de lhe obedecer. As leis, por princípio, devem ser justas e garan-tir os direitos dos indivíduos na sociedade. Mas, na realidade, constata-se que nem sempre assim acontece. Será, portanto, possível que o Estado, legitimado politicamente, possa não ser um Es-tado justo e que algumas leis possam ser injus-tas. Neste sentido, devemos perguntar se existem situações que possam justificar a desobediência à lei. Quando pensamos, por exemplo, em Estados em

que impera a injustiça social, capazes de atentar contra os direitos fundamentais do ser humano ou de discriminar os seus cidadãos por motivos de género, de cor ou de religião, não temos difi-culdade em aceitar como óbvia a desobediência civil.Uma outra situação pode acontecer quando de-terminada lei violenta claramente a consciência de uma pessoa, seja por convicções filosóficas, éticas ou religiosas.Neste enquadramento de relação entre liberdade política e obediência à lei, traçar-se-á uma breve reflexão sobre a desobediência civil e a objeção de consciência.A desobediência civil consiste na violação pacífi-ca e pública da lei, com o objetivo de chamar a atenção para leis ou políticas injustas.Embora não seja reconhecida legalmente, a deso-bediência civil poderá, moralmente, justificar-se. Ela revela-se como um recurso adequado quando já não há meios legais para combater a injustiça e promover a mudança. Apesar de ser ilegal, não ameaça a maioria nem tenta coagi-la. Não prati-cando a violência e aceitando as sanções legais pe-los seus atos, os que recorrem à desobediência civil manifestam tanto a sinceridade do seu protesto como o respeito pela lei e pelos princípios funda-mentais da democracia.Mahatma Gandhi, Martin Luther king e Aung San Suu Kyi são, a este tema, exemplos paradig-

Liberdade política e obediência à leiDesobediência civil e objeção de consciênciaInês Arcanjo e José Pedro Montenegro . Alunos do 10ºB

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7 ensar(es)máticos da desobediência civil como resposta à injustiça e à desigualdade social. Mahatma, lutou pela independência da Índia, manifestando -se pública e pacificamente contra a dominação colonial britânica.Martin Luther King opôs-se, através da deso-bediência civil, à segregação racial nos USA.Aung San Suu Kyi, fundadora da Liga Nacional para a Democracia na Birmânia, ao longo das últimas décadas tem defendido uma política de não-violência e recorreu à desobediência civil contra o regime militar de Myanmar.Todavia, a desobediência civil tem sido bastante contestada. Eis algumas das principais críticas: - a mudança deve ser realizada por meios legais; - a desobediência civil constitui um ataque à democracia; - a desobediência civil pode conduzir à anar-quia. A desobediência civil é, no entanto, o modo mais natural de os grupos marginalizados poderem manifestar o seu descontentamento. Em seu fa-vor podem apresentar-se os seguintes argumen-tos: - os meios legais muitas vezes não são opera-cionais e prolongam-se bastante no tempo; - não é admissível que o governo da maioria (democracia) tenha o poder legal de marginalizar a minoria; - a desobediência civil, tal como os exemplos da história indicam, pode contribuir mais para a estabilidade da sociedade do que para a sua anar-quia.Uma outra objeção pode apontar-se aos críticos da desobediência civil que partam do pressuposto contratualista de que o Estado é o resultado de um acordo ou contrato que legitima o poder e que, portanto, seria incoerente desobedecer-lhe. Se o contrato é realizado por todos os indvíduos que cedem alguns direitos para retirar outros benefíci-os, a questão que se coloca agora é: que benefícios retiram desse Estado os grupos marginalizados? Se não retirarem os benefícios esperados, então o contrato perde a sua legitimidade e nesse sentido já não se tratará, em última instância, de deso-bediência civil. A objeção de consciência, por seu lado, é a recu-sa de cumprir uma prescrição legal, cujas conse-

quências são consideradas contrárias às próprias convicções ideológicas, morais ou religiosas.A objeção consiste na recusa, por parte do in-divíduo, por motivos de consciência, de se sub-meter a um comportamento que, em princípio, seria juridicamente exigível (quer a obrigação provenha diretamente de uma norma, quer de-rive de um contrato). O objetor pretende omitir um comportamento previsto pela lei e pede que tal omissão lhe seja permitida. A objeção de consciência, entendida em sentido rigoroso, não põe em questão a lei enquanto tal, embora implicitamente denuncie a sua imoralidade, nem constitui um programa ar-ticulado de resistência ou contestação (dissensão ou desobediência civil). Característica saliente da objeção de consciência é o assumir, em primeira pessoa, sem envolver outros sujeitos, as conse-quências que derivam da objeção. A objeção de consciência consiste em afirmar o primado da consciência em relação à autoridade e à lei, o di-reito do indivíduo a avaliar se o que lhe é pedido é compatível com os princípios morais em que sente dever inspirar o seu comportamento. Juridicamente, a objeção de consciência prevê: - a obrigação de adotar um determinado com-portamento previsto por uma lei; - a existência de um valor fundamental não res-peitado pela mesma lei e que se encontra, relativa-mente à lei, numa relação de causalidade (conexão causal); - a isenção, por parte da lei, da obrigação de adotar tal comportamento. Tal estatuto aplica-se às normas jurídicas espe-cíficas que o prevêm e que, em geral, se referem: - à obrigatoriedade do serviço militar; - à experimentação animal; - à interrupção voluntária da gravidez; - às práticas de reprodução assistida. Podemos concluir que a desobediência civil é uma forma de protesto político, feito pacifica-mente, geralmente por uma comunidade de ci-dadãos que pretendem denunciar leis injustas, enquanto que a objeção de consciência consiste na recusa por parte do individuo. por motivos de consciência, de se submeter a um comportamen-to, que em principio seria juridicamente exigível.

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Podem chamar-me loucaA verdade é que o sou. Só viver é uma loucuraMas eu nem no mundo estou….

Sinto-me um pouco estranha,Sinto que mal sei amar,Preciso de um copo de sonhos,Preciso do meu luar!

Suspiro a falta de alguém,Suspiro pelo amor,Preciso de respirar paixão,Preciso de um sonhador

Poeta da LuaTalvez poeta pintor,Ou então um pintor em verso…Um lunático, loucoEm magia submerso.

Alguém que realidadeE sonho consiga distinguirMas, que na sua verdade, Os pre� ra confundir.

A lua é o meu céu,Lá, loucura é normalPor isso procuro «o louco»Pois da lua é natural…

Mariana Clérigo. Aluna do 10ºC

3ºPOESIASecundário

EspecialConcurso Literário

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Os cortes são o refúgio de muitos. Muitos se cortam, pois acham que a lâmina ou a faca são um alívio para os seus problemas. Acham que a dor

e o sangue será a melhor solução. Eis a história de uma menina que nunca pensara observar o sangue a escorrer-lhe pelos braços, mas observou. Era uma tarde de verão, o sol brilhava por fora das persianas fechadas. Kristian estava na sala, olhando o sol pelas frinchas abertas da persiana. Kristian era uma rapariga de cabelos curtos e lisos, castanhos cor de chocolate, os seus olhos eram brilhantes, de igual cor, os lábios rosados e carnudos e o corpo magro.Kristian chorara a tarde inteira, e mantinha-se sem comer o dia todo. Muito fraca e frágil, e com pensamentos a atormentarem-lhe a mente, a po-bre menina teve como primeira reação automu-tilar-se.Correu até à cozinha e pegou delicadamente numa faca. Caminhou novamente para a sala e fechou a porta, apesar de não estar ninguém em casa. Kristian observava a faca, as lágrimas es-corriam-lhe pelo rosto. Fechou os olhos e passou a lâmina pelo braço. Abriu os olhos e viu o seu braço com o corte, sentiu-se aliviada e não sentia o ardor da abertura na pele. Passou novamente a faca no braço. Kristian parou de chorar, ficou no chão da sala, olhando o teto e imaginando a sua vida sem

Um corte mais profundo Joana Machado . Aluna do 9ºB

aquele momento. A partir daí, a faca passou a ser a sua melhor companheira…

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10 ensar(es)

A defesa dos direitos dos animais ou da libertação animal constitui um movi-mento que luta contra qualquer uso de animais que os transforme em proprie-

dades de seres humanos, ou seja, meios para fins humanos. A visão dos defensores dos direitos animais re-jeita o conceito onde os animais são meros bens capitais ou propriedade dedicada ao benefício humano. O conceito é frequentemente usado de forma confusa com a posição do bem-estar animal (ou bem-estarismo), que acredita que a crueldade empregada em animais é um proble-ma, mas que não lhes dá direitos morais espe-cíficos. Alguns ativistas sustentam a ideia de que qualquer ser humano ou instituição que modifica animais para alimentação, entretenimento, cosméticos, vestuário, vivissecção ou outra razão qualquer vai contra os direitos dos animais se possuírem a si mesmo e procurarem os seus próprios fins.A defesa dos direitos dos animais fundamen-ta-se em diferentes pontos de vista filosóficos: a posição baseada em direitos tem como seu repre-sentante pioneiro o filósofo Tom Regan. A teoria de Regan sobre a inclusão de não-humanos na comunidade moral tem como base a noção de animais como "sujeitos-de-uma-vida".Segundo Regan, os direitos morais dos humanos são baseados na posse de certas habilidades cog-nitivas. Essas habilidades seriam certamente

Direitos dos animais Maria Beatriz Trindade, Helena Marques, Sofia Augusto . Alunas do 10º E

compartilhadas por alguns animais não-hu-manos, tais como mamíferos com pelo menos um ano de idade. Sendo assim, ao menos estes animais deveriam ter direitos morais semelhan-tes aos humanos.Existe também um movimento, a que se pode

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11 ensar(es)chamar um estilo de vida que respeita os direitos animais e ambientais: o Veganismo. Por razões éticas, os veganos são contra a exploração dos animais e do meio ambiente. Excluem da sua alimentação carnes e enchidos, lacticínios, ovos, mel e derivados, frutos do mar e quaisquer ali-mentos de origem animal.Podemos concluir que os animais são seres vivos e por isso têm direito à vida. Os animais têm di-reitos próprios, mas muitos não são respeitados. Não concordamos com o que as pessoas fazem aos animais, por exemplo no circo, onde domes-ticam os animais e os maltratam com chicotadas para seu benefício próprio. Também não concor-damos com o abandono dos animais. Ninguém é obrigado a gostar de animais, mas to-dos devíamos respeitá-los.

Para concluir apresentamos os seguintes direitos constantes da Declaração Universal dos Direitos Animais, formulada pela UNESCO em Bruxelas, no dia 27 de Janeiro de 1978:1 - Todos os animais têm o mesmo direito à vida.

2 - Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem.3 - Nenhum animal deve ser maltratado.4 - Todos os animais selvagens têm o direito de viver livres no seu habitat.5 - O animal que o homem escolher para com-panheiro não deve ser nunca ser abandonado. 6 - Nenhum animal deve ser usado em experiên-cias que lhe causem dor.7 - Todo ato que põe em risco a vida de um ani-mal é um crime contra a vida.8 - A poluição e a destruição do meio ambiente são considerados crimes contra os animais.9 - Os diretos dos animais devem ser defendidos por lei.10 - O homem deve ser educado desde a infância para observar, respeitar e compreender os animais.

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12 ensar(es)

Não foi premeditado,Foi o destino que agiu,Naquela nossa amizadeAlgo mais forte surgiu.Até tentei mudar, O que sinto por ti,Mas por muito que eu tentasseAinda não consegui.Não quero fazer má figuraMas paixão é assim,Não se escolhe nem esquece,Quando o coração falou que sim.Enquanto estou contigoEsqueço-me do resto do mundo,Apenas com um sorrisoFazes-me feliz num segundo. Tu dás-me tranquilidadeA vida que sempre quisA sensação de novamenteVoltar a ser feliz.Pode ser que o destinoNos junte novamentePara como num livro romântico,Vivermos felizes para sempre.

Carlos Santana. Aluno do 11ºE

Coisas do Destino

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13 ensar(es)

A desigualdade social é o fenómeno onde alguns indivíduos são privilegia-dos dependendo do seu género, etnia, religião, orientação sexual, etc. Ape-

sar de terem sido feitos progressos significativos nas últimas décadas, este problema está bastante presente na nossa sociedade. Como é óbvio, os seres humanos não são todos iguais, possuímos todos características diferentes. Estas diferenças até acabam por ser vantajosas, dado que tornam a cooperação entre pessoas mais eficaz.Podemos definir a igualdade como um valor ético, que diz que todos os indivíduos possuem direito de se realizar enquanto pessoas, e como um objetivo político, onde todos os cidadãos são vistos como iguais perante a lei. No entanto, estes conceitos não são suficientes para compreender totalmente a definição de igualdade. Como é que é possível alcançar a igualdade se somos todos diferentes? Como é possível repartir bens, encar-gos e cargos políticos de forma justa?Uma distribuição absolutamente igualitária do dinheiro levantaria muitos problemas. As pessoas gerem o dinheiro de formas diferentes. Enquan-to que umas iam gastar o seu dinheiro, outros guardariam o seu, voltando assim a criar-se uma situação desigual. Se houvesse uma distribuição igualitária do dinheiro, não haveria nenhum in-centivo para as pessoas desempenharem as suas tarefas com eficácia, visto que receberiam o mes-mo independentemente da quantidade de tra-

Igualdade e JustiçaJoão Morgado . Aluno do 10ºB

balho. Outro argumento contra este método de distribuição é que há indivíduos que necessitam mais do dinheiro. Uma pessoa que sofre de uma doença e precise de um tratamento caro precisa mais do dinheiro do que um indivíduo saudável.Um ponto de vista igualitarista defende que os cidadãos têm as mesmas oportunidades no mer-cado de trabalho. No entanto, ainda é comum as profissões de destaque serem ocupadas maioritaria-mente por homens. Para combater este proble-ma, foi proposta a discriminação positiva. Este processo favorece as pessoas que anteriormente foram vítimas de discriminação, tentando assim tornar a sociedade menos desigual. Um exemplo da discriminação positiva é a lei da paridade, que obriga a que um terço dos membros de uma lista política seja do sexo feminino.A discriminação positiva tem sido alvo de algu-mas críticas. Há quem considere que promover a desigualdade é injusto e não deve ser praticado. Também pode causar ressentimento, pois isto permite que haja situações onde se dá prioridade a uma pessoa com qualificações inferiores pelo facto de ser do sexo feminino. Em conclusão, a nossa sociedade ainda apresenta vários problemas de desigualdade. A igualdade absoluta é um objetivo irrealista, havendo pou-cas ou nenhuma maneira de ser verdadeiramente aplicado. A discriminação positiva, apesar de parecer um bom método para tentar igualar a so-ciedade, apresenta alguns aspetos negativos.

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A noite,A noite é a hora prateada,A lua, o espelhoO luar, a santa energiaQue desde que a arte primeiramente emergiaMovia a inspiraçãoDos homens que lhe sabiamAbrir o coração.

O luar,Essa força misteriosa,A luz que ilumina a noite,Os montes enegrecidos,Torna os rios em prata,Que invoca o mundo dos esquecidos…

E que ainda quebra o sonoA quem sabe, que é sobre o manto estelarQue o corpo e alma se alinham,Dando à mente a divina forçaQue muitos chamam de profunda reflexão,Mas para mim,Responde também por pura inspiração.

E é durante essa grandiosa hora,Hora prateada,Em que o coração dá voltas às memórias,Em que a mente procura a sábia compreensão,Em que o lurar fornece a louca inspiração,Que as grandiosas ideias,Aquelas com que Pessoas de grande reconhecimentoMudam os mares e as areias,Veem o momento do seu nascimento.

E é durante esta hora de prata,Que me ilumina o corpo e coração,Que eu reflito sobro a estelar criação.

João Pedro Pereira. Aluno do 11ºC

A hora prateada

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Será que sou apenas um corpo composto por células e partículas? Ou será que sou apenas um animal que nasceu com consciência?

Sinceramente não sei, e a resposta também não me interessa, mas se for, a única coisa de que tenho a certeza é que quero ser mais que isso.Quero ser mais do que uma matéria viva com-plexamente organizada. Quero ser aquela pessoa que quando tudo aca-bar, não se arrependa de nada do que fez. Quero ser lembrada pela pessoa que realmente era.Quero fazer de tudo, experimentar de tudo, rir de tudo, quero transformar todas as situações em momentos inesquecíveis.Resumidamente…Quero ser feliz à minha maneira, digam o que disserem.Quero ser mais do que o que as pessoas acha-ram que eu pudesse vir a ser, passar por elas futuramente e poder mostrar-lhe a pessoa em que me tornei. Quero ser valorizada por aquilo que faço, ape-sar de saber perfeitamente que haverá sempre teorias que vão por isso em causa…-Será que fez aquilo só para �car bem vista?-Será que só fez aquilo porque foi “obrigada”?É interessante como para grande parte das pessoas nada é feito com boa intenção, imagi-nam sempre o mal em tudo o que façamos.

Quero ser eu Cátia Coutinho . Aluna do 10ºE

Talvez porque comecem por julgar as outras pela aparência e não pelo seu interior. Há que aprender a levantar a cabeça e a sorrir nos piores momentos, mesmo que seja a coisa mais difícil de fazer.Há que aprender a manter-se sempre de pé, bem erguidos na nossa dignidade.Custe o que custar, doa a quem doer.

15 ensar(es)

Would You Let Me Be Myself, Floorbanger in Deviantart

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Finjo ser pedra quando passo.Lança-se um beijo, lança-se um abraçoE eu, fraquejo sem olhar...Com vontade de abraçar, de beijar.

Se ando perdido em busca de mimÉ porque nada foi sentido.E se estou hoje assimÉ por toda a lágrima que terá escorrido.

Minha alma foi pintada de incertezas.Minha felicidade, só tive imaginada...É este o caminho repleto de tristezasQue nunca me ligou a nada.

As minhas feridas abriram a sua portaE a minha beleza por elas se enlaçou…E hoje já não sei o que mais me importa,Onde estou, onde pertenço, onde vou...

João Pedro Fonseca. Aluno do 12ºC

Andar Negro

1ºPOESIASecundário

Especial

Concurso Literário

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17 ensar(es)

É aceite pela generalidade dos historiadores (Cruz 1998:15, Léonard 1998:117-113)1 que apesar do Estado Novo não ter sido um regime confessional existiu entre o regime

salazarista e a Igreja uma grande cumplicidade na defesa de uma orientação moral essencialmente de inspiração católica. A leitura do jornal paroquial Clarim da Verdade permite-nos aceder ao discurso o� cial com que ambas as instituições procuraram moldar a identidade de género em Fontelas. A forte implantação da Igreja no meio rural, com-posta na sua generalidade por um clero extrema-mente colaborador com o regime, com canais de comunicação perfeitamente estabelecidos e dire-

1 A quando da assinatura da Concordata, Salazar exprimiu a ne-cessidade de uma separação estrita entre os poderes espiritual e temporal: «O Estado vai abster-se de fazer política com a Igre-ja, na certeza de que a igreja se abstém de fazer política com o Estado. Isto pode e deve ser assim. Pode ser, primeiro, em virtude de todas as razões derivadas da formação espiritual deste povo e da sua vocação histórica, e depois pelo facto de termos en� m um estado Nacional, ou seja, termos chegado à integração da nação no Estado Novo Português. Deve ser assim, porque a política corrom-pe a Igreja, quer quando faz quer quando a sofre, e para todos é útil que as coisas e pessoas sagradas as toquem o menos possível mãos profanas, e o menos possível também as agitem sentimentos, interesses ou paixões terrenas. Considero perigoso que o Estado adquira a consciência de tal poder que lhe permita violentar o céu, e igualmente fora da razão que a Igreja, partindo da superioridade do interesse espiritual, busque alargar a sua ação até in� uir no que o próprio Evangelho pretendeu con� ar a César» (in Léonard 1998:63).Informações recolhidas na obra « Fontelas - Per� l Monográ� co» do padre Alípio Martins Afonso edição do autor de 1971.

“Clarim da Verdade” O género visto por um jornal paroquial Pedro Babo . Professor de História de Arte

tos (Eucaristia, Jornais paroquiais e organizações religiosas), ofereceu ao Estado Novo um precio-so sustentáculo para manter as províncias rurais numa ordem que era apresentada como imutável porque plenamente conforme à natureza das coi-sas. Se atendermos às suas reduzidas dimensões geográ� cas e populacionais, Fontelas apresenta uma tradição invejável no âmbito da imprensa local e regional, ao possuir jornais próprios des-de 1925, saídos da o� cina grá� ca aí instalada na mesma data, da propriedade de Carlos Frias. O primeiro título Defesa do Douro foi publicado de 1925 a 1933, como semanário regional, sob a direção de Júlio Vilela. Seguiram-se-lhe respe-tivamente Voz de Fontelas (1930-33?) e Fontelense (1933) ambos mensários da responsabilidade do próprio Carlos Frias e, simultaneamente, Termas de Moledo (1930-33?) dirigido especi� camente àquela estância termal sob a direção de Armindo da Conceição Pinto. Com a transferência das o� cinas grá� cas para a sede do concelho terminaram as publicações lo-cais. Reapareceram passados 19 anos com a for-ma de boletins paroquiais, o quinzenário Clarim da Verdade e o mensário À Luz da Torre, recu-perando assim a tradição jornalística de Fontelas. Graças ao cuidado dos sucessivos párocos em preservar estes documentos tive a possibilidade de consultar na íntegra a totalidade dos seus 164

1ªPARTE

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e 54 números respetivamente. Tal já não foi pos-sível no que diz respeito às anteriores publicações, das quais se lhe perdeu o rasto por completo. Para o investigador das questões de género, o se-gundo título tem pouco interesse. Com ambições bem modestas, não passa de um típico boletim paroquial, surgindo só muito esporadicamente colunas com objetivos fiscalizadores da moral sexual dos jovens fontelenses. Por tal facto, dirigi preferencialmente a minha análise para o primeiro título, que se apresenta com objetivos bem mais alargados no que diz respeito à formação moral dos paroquianos. O primeiro boletim das Paróquias de Oliveira e Fontelas foi publicado na década de cinquenta, mais propriamente entre 10 de fevereiro de 1952 e 18 de janeiro de 1959, com o referido título de Clarim da Verdade. Sob a direção dos párocos José Ribeirinha Machado até 10 de Novembro de 1957 e Alípio Martins Afonso depois desta data até ao termo da sua publicação, o Clarim, mais do que um simples boletim informativo das atividades ligadas às suas paróquias, era um manual de formação, quer para os jovens, quer para as famílias, fornecendo de forma exaustiva modelos comportamentais considerados ade-quados “à natureza de cada sexo.” As relações entre homens e mulheres e a função atribuída “naturalmente” a cada um dos sexos na família e na sociedade foram objeto de colunas, com uma permanência de vários meses, como as intituladas «Sede Heróis!» e «Aos Jovens» des-tinadas aos rapazes e a rúbrica «A ti rapariga amiga» dirigida às raparigas, publicada com uma regularidade quase absoluta ao longo dos sete anos de sobrevivência do Clarim.Todas estas rúbricas foram publicadas utilizando a estratégia literária do pseudónimo, as duas primei-ras com um simples «S» e a dirigida às jovens com a simbólica assinatura de «Maria». Pelo teor das mensagens e pela linguagem empregue, não se-ria de estranhar que o «S» fosse o próprio pároco. Quanto à «Maria», a única pista que deixou cair foi o facto de se intitular uma “Jacista” , termo que designava os membros da Acção Católica, organização que formava um grupo muito ativo nos anos cinquenta, em Fontelas e que, a julgar pelas palavras desta sua ativista, mais não fez do

que perpetuar o tradicional conservadorismo da Igreja em matéria de relações entre os sexos. fórmula «devendo sempre abster-se de toda a atividade política» o Estado Novo im-pediu a livre organização política e eleitoral dos católicos (cf. Cruz 1998:69-78). Sem afastar a possibilidade de o Clarim não atingir de todo os seus propósitos em matéria de regu-lamentação das relações de género, penso ser de toda a importância, numa época em que as relações entre o Estado e a Igreja eram tão es-

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treitas, conhecer em pormenor e na forma escrita, o ideário moral com o qual a Igreja local procurava moldar a identidade de género em Fontelas. Ao fazer chegar o bole-tim paroquial a todas as residências obrigando à sua devolução no caso de o paroquiano não estar interessado na sua leitura, o pároco assegurava a chegada do seu “manual” de organização familiar a todos os lares de Fontelas.A leitura do Clarim permite, por outro lado, ul-trapassar, pelo menos parcialmente, o lamento de tantos investigadores das questões de género que nos seus trabalhos não podem contar com o testemunho escrito de mulheres por causa da milenar prisão da mulher à palavra escrita do homem: «Há assim uma longa história do corpo, fascinantemente contado através de um olhar mas-culino e espantado» ( Joaquim 1997:53).O olhar feminino transmitido pelas mulheres que escrevem no Clarim não difere em nada, como veremos mais adiante, da visão masculina; antes, pelo contrário, inscreve-se perfeitamente nos modelos de género preconizados pelo bole-tim de Fontelas. A dominação masculina con-tou pelo menos parcialmente com a colaboração feminina. A mulher foi, e ainda o é, ao mesmo tempo vítima e corresponsável pela perpetuação da sua submissão ao homem. Não restam dúvi-das que a construção da identidade de género se faz, em primeiro lugar, dentro da família e esse papel educativo foi culturalmente assumi-do fundamentalmente pela mulher. Como afir-

mou De Beauvoir (1976:28): «Uma das maldições que pesa sobre a mulher está em que, na infância, é abandonada às mãos das mulheres». A visão que a mulher transmite é assim, muitas vezes, uma visão dominada, em resultado da incorporação de princípios tornados naturais pela educação (cf. Bourdieu 1995:58). Não se espere pois encontrar no Clarim uma visão feminina desviante. Essa, se a houver, terá de ser procurada fora dos discursos oficiais, na oralidade ou no âmbito das atitudes observáveis do trabalho de campo.

(continua no próximo número) Afonso, Alípio Martins, Fontelas - Perfil Mono-gráfico, Chaves, Edição do Autor,1971.Beauvoir, Simone, O Segundo Sexo, Amadora, Livraria Bertrand,1976.Bloch, Marc, Introdução à História, Men Mar-tins, Publicações Europa América, s/d.Bourdieu, Pierre, “Observações sobre a História das Mulheres” in Duby e Perrot (org.) As Mulheres e a História pp 57-59, Lisboa, Publicações Dom Quixote,1995.Bourdieu, Pierre, La domination masculine, Paris, Éditions du Seuil, 1998.Cruz, Manuel Braga da, O Estado Novo e a Igre-ja Católica, Lisboa, editorial Estampa,1998.

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Tudo é uma questão de talvez. Talvez eu vá, talvez não. Talvez mude, talvez não. Tudo na vida é feito de incerteza.

Talvez a minha vida mude agora, talvez mude daqui a uns dias ou talvez apenas daqui a al-guns anos… Nada é certo ao ponto de poder-mos dizer “sim” ou “não”. Será que talvez é sempre a melhor resposta às perguntas que nos são feitas? Talvez…Talvez é sempre a melhor coisa a dizer, porque nós não temos a certeza de nada. Nada é certo na vida. Talvez eu me livre de um vício, talvez não. Talvez eu viva até aos cem anos, talvez não. Nada é certo nesta nossa vida. A única coisa que temos como verdadeira é que vamos todos morrer, mais cedo ou mais tarde, sabe-mos que irá acontecer, deixaremos a vida que levamos hoje em dia, porque um dia tudo irá acabar.Talvez eu faça isto, talvez não. Talvez eu morra amanhã, talvez não. Talvez esta seja sempre a coisa certa a dizer, porque ninguém sabe o que irá acontecer amanhã ou depois, porque nada aqui é uma certeza, mas sim uma questão de talvez.Talvez sim, talvez não, talvez esta seja a res-posta certa.

TalvezAriana Lopes . Aluna do 9ºB

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Existe algo que se desprende de tisuspiros que não segurasmetaplasias que largam lastroem almas alheiasdevia olhar-tena ausência das palavrasconcluir do alinhamento do solna imaterialidade do teu rostoe dançar para ti.

Fernando Fidalgo

Devia olhar-te

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No dia 28 de janeiro de 1975 aterrei, com o meu foguetão supersóni-co, no planeta Marte.Era um planeta deserto, cheio de areia vermelha e com algumas casas.

Comecei a explorar as redondezas e de repente saiu de trás de uma duna de areia um marciano. Tinha três olhos pretos, o maior era na testa, tinha a pele verde e tinha duas antenas.Apesar de muito amedrontado, resolvi falar com ele e disse-lhe:- Não me faças mal, por favor. Eu sou amigo.Ele respondeu numa língua estranha que eu não percebi nada. Foi então que resolveu carregar num botão vermelho e verde que tinha no seu cinto e, como se fosse magia, começou a falar português.- Eu não te vou fazer mal. Nós aqui não gostamos de violência. Diz-me, o que vieste fazer a este planeta?- Eu trabalho para a NASA e vim explorar os planetas. Queremos saber se aqui há vida, em quais é que há água, se respiram como nós e comem como nós.Foi assim que iniciámos um alonga conversa e fi cámos bons amigos. Agora espero que ele também me faça uma visita ao planeta Terra.

A minha aventura em MarteLisandro Mendes . Aluno da turma 3.1 - CE Alameda

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Deitado à frente da sua casota, o Simba encontra-se a dormir a sesta após um almoço recheado.De repente, abre o olho verde por cima daquele focinho comprido ao ouvir-me a chegar:

- Au, au – ladrou ele com voz mansinha.- Ainda queres comer mais? Já te dei uma tijela de biscoitinhos para te pôr o pelo castanho tão luzidio.Este meu cão é um mamífero muito espetacular, só come e dorme, mas ainda tem tempo de namorar uma cadelinha que passa ali por perto. Parece-me que querem formar uma família! Eu até queria mas depois vão ser muitas bocas para alimentar.Eu estimo muito o meu cão e vou querer tomar sempre conta dele, pois ele é um bom companheiro.

O SimbaAfonso Araújo . Aluno da turma 3.2 - CE Alameda

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Antigamente era para mim um suplício ver o mundo lá das nuvens. Tinha pavor a andar de avião. Relembro a minha primeira viagem. Lisboa- Ma-

drid- Cairo. Agora, aos poucos tenho mudado. Cada vez mais aprecio estar acima da nuvem. Sinto uma espécie de apelo divino. A partici-pação com o Criador. E de repente tudo pode acabar. Ver a cidades lá tão em baixo fervilhantes de seres e de espíritos. Serão as nuvens as mis-turas dos espíritos dos mortos? Todas as lutas, todas as ambições, os anseios os desgostos e as alegrias se desvanecem neste espaço. Estão con-centradas lá em baixo nas vidas de todos. Aqui é

o silêncio que imagino fora do avião. Gosto mais das descolagens. O mundo não gira ao meu redor. Eu é que giro com ele. Vou nele com o tempo. Sou uma ínfima parte do planeta, que faz parte de um todo, que faz parte de uma inteligência cheia de amor e profundidade. Isto lembra-me que pertenço a esse todo, apesar das minhas mundividencias me levarem para outros mundos. Sou um minúsculo ser sentado neste avião, agora, e lá fora o mundo e o tempo vivem com outras realidades, com milhões de seres. Sou parte de um todo eterno e infinito, mesmo que me pareça apenas este instante.Lembro-me de um filme que vi recentemente,

Soltam-se as PalavrasPrendem-se as nuvensJoão Rebelo . Professor de Filosofia

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apesar de já ter seis anos. Medianeras, que fala da vida nos dias de hoje, nas complicações de viver numa cidade, no século XXI. A nossa construção da realidade depende das nossas escolhas e elas dependem de um conjunto aleatório de factores que relacionam as pessoas e as inserem em or-ganizações próprias. Vivemos os tempos dos hologramas, daquilo que é disparado pelas redes ditas sociais como o Facebook, o Twitter ou o Instagram. São tempos em que a subjectividade individual prevalece sobre a subjectividade geral. O que marca a notícia é o instante. Amanhã já ninguém pensa como foi ontem, o que aconteceu. Vivemos dominados por algoritmos que não en-tendemos e que fazem tudo para nos espiar sem no entanto nos conhecer. Eles são os criadores deste estado das coisas, da dita realidade. Filtram limitam e mostram aquilo que supostamente queremos ver e pensar. Estas novas plataformas são representações de realidades fabricadas sob um paradigma que está muito longe da realidade em si. Aldous Huxley viu isto muito bem.

Há uma espécie de real, pré-fabricado (e mal) que resulta simplesmente do excesso de repetição com muito de sensacionalismo.Volto a subir nestes voos sobre as nuvens, para me tentar encontrar comigo mesmo e participar na realidade em que acredito, cristã, universal. Podemos sempre ser mais do que agora somos desde que tenhamos a tenacidade suficiente para contrariar as tendências e ver o mundo pelos nossos olhos, com as nossas emoções. Não há como escapar ao paradoxo. Hoje, estes voos bara-tos levam a mais consumo mas dão-nos outra liberdade para sermos mais nós, com toda a alma e mente. Olha só...

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João Lobo Antunes não é, apenas, um dos mais consistentes seguidores da máxima de Abel Salazar, segundo a qual quem só sabe de medicina, nem de medicina sabe. O facto

de ser um proficiente cultor dessa verdade per-mite-lhe testemunhar em favor dela e arremeter contra uma medicina, mais, um sistema de ensi-no, que dela se terá afastado. No ensaio O consolo das Humanidades, publicado no livro que acaba de sair do neurocirurgião (Ouvir com outros olhos, Gradiva), concretiza, com especial acuidade, o que pretende estabelecer quando considera que a ignorância da literatura, da filosofia, da história, da religião, por parte de quem tem a medicina por ofício, faz desse profissional menos excelente. A questão, não se julgue, não se prende com qualquer adorno, uma erudição que combinaria bem com uma profissão prestigiada. Bem mais do que isso: na mais prosaica interpretação do que o doente conta acerca de si mesmo e sua doença, na frase que lhe sai aparentemente tão cristalina, escondem-se interstícios, zonas obscu-ras, sentidos outros que o desconhecimento de outras vozes - que se expressam na poesia, na fi-losofia, no grande romance, nas grandes tradições religiosas - não permite entrever/encontrar/descobrir. O grande médico é, assim, também, o grande leitor…para ser o grande ouvinte: "É

João Lobo Antunes* - O médico humanistaPedro Miranda . Professor de EMRC

que a narrativa da doença - e é importante no meu ofício saber ouvi-la -, só é bem entendida quando já se escutaram outras vozes, na ficção, na filosofia ou na poesia, que ajudam a apreender o seu sentido mais profundo, oculto tantas vezes nos interstícios de um discurso que tanto pre-tende revelar, como ocultar. De facto, o encontro singular da clínica é feito de palavras mas, não raramente, também da eloquência de um silêncio igualmente revelador" (p.43). Daqui ao j'accuse, um pequeno passo: "a verdade é que não encontro nos médicos das novas gerações o mesmo vibrato emocional que me animou toda a vida, talvez porque desconhecem os dialectos do sofrimento, ou porque receiam mergulhar num mundo de emoções que só vagamente vis-lumbram ou, mesmo, penetrar no íntimo de uma solidão tão unicamente humana. Isto apesar da intervenção de uma pedagogia solicita, chamada a ensinar alíneas da comunicação entre médico e doente, formais, correctas, irrepreensíveis, mas que desdenham a compaixão"(p.43).Mas ensina-se, a compaixão? João Lobo An-tunes abeira-se do próximo, munido dessa lin-guagem que nos religa, para responder: "Sempre duvidei que a compaixão fosse um sentimento ensinável, embora admitisse tal ser possível em relação a certos valores morais, usando, como

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método, o exemplo. Podemos apenas apontar o que no outro - e aqui o conceito de próximo adquire uma admirável ressonância cristã - nos parece digno de merecer compaixão" (p.44).O Professor excelentíssimo, que por tanto se ter destacado no campo das ciências duras ganha es-pecial autoridade quando não aceita o cientis-mo divinizado, ou a idolatria de uma tecnologia sem a densidade de rosto humano, prossegue na denúncia do esquecimento do complexo de textos que dão textura à experiência - médica também -, permanecendo, ainda, nos novos tempos ad-miráveis: "falando ainda das novas gerações dos meus companheiros de ofício, creio que, em cer-ta medida, esta falta de curiosidade pela história do outro e a platitude da sua resposta emocional se devem, em parte, à incapacidade de descobrir e ser desafiado pelo mistério das narrativas que quase não chegam a ouvir, confinados ao mundo de um conhecimento científico cujas limitações ignoram, e cegos pelas maravilhas da tecnologia que lhes confere autoridade e poder. Alguns, os mais perigosos, nunca irão perceber que no cére-bro desta Medicina Contemporânea se juntam, em inesperadas sinapses, incerteza, risco e erro. Ora, como alguém notou só as Humanidades reconhecem a incerteza como a emoção humana dominante" (p.44).

Que aprendeste tu, afinal, com esses livros to-dos, com essas tertúlias entre literatos e filóso-fos, para que te serviram? João Lobo Antunes adivinha a pergunta e ilustra-a, percebe-se com que prazer, profusamente: "A maior conquista foi ter-me apurado o ouvido para captar outras vozes, compreender o significado oculto das pala-vras, e ter a competência para falar com qualquer pessoa num diálogo que nos eleva àquela altitude comum que permite o olhar horizontal, olhos nos olhos. Mas muito mais aprendi em obras de ficção. Em Moby Dick, por exemplo, encontrei o eco dos meus receios numa sala de operações, mas também o impulso de perseguir o inimigo até ao limite das minhas forças, e da necessi-dade de aquele impulso ser moderado pela mais negligenciada das virtudes, o bom senso. Não conheço elogio mais belo ao carácter pastoral do meu ofício, oficio agitado pelo heroísmo e pela cobardia, pelo orgulho e pela humildade, do que La Peste de Camus. Não existe talvez nenhum tratado de bioética que penetre o cerne do sofri-mento físico e espiritual da doença mais profun-damente que A morte de Ivan Ilitch de Tólstoi, a que repetidamente aludi. E muito mais poderia citar. Foi na filosofia, aprendida nos livros mas, sobretudo, tão socraticamente, no convívio com Fernando Gil, que descobri a importância de

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olhar para além das aparências e fazer perguntas cuja resposta, sabia de antemão, seriam outras perguntas. E, finalmente, muito me ensinaram os poetas, pois, como ensinou o genial Brodsky, a poesia é a forma mais concisa de transmitir a experiência humana" (p.45)A doença, sobretudo a doença que ameaça a vida humana "é a incisão mais forte na essência que somos" (p.35). De aí que no cuidado, na sageza com que o médico com ela lida, há-de nutrir-se de grande preparação e, como se vê, o estetoscó-pio não é o principal instrumento para conhecer o outro. Na doença, conclui de muitos anos de experiência João Lobo Antunes, acedemos, olhan-do finalmente o sol de frente - e "olhar para estas coisas de frente exige a coragem de um domador de leões", nas palavras de Virgínia Woolf -, provavelmente ao único momento lúcido de um exame do que foi a nossa vida. Nesse instante, em que se dá o "desdobramento da personagem que somos é um fenómeno fascinante: uma é fria, racional; a outra exuberante e emotiva; esta é movida pela esperança, aquela abatida pelo de-

salento; a primeira não ilude a verdade, a segun-da faz-lhe ouvidos moucos" (p.39), regressam à cena actores esquecidos da nossa biografia, e a coragem é o que fica quando a esperança se foi. Talvez, nesses momentos, a solidão seja, de facto, iniludível e inultrapassável, mas até para a com-preender é preciso alguém com antenas afinadas: "médico para ser perfeito devia sofrer todas as doenças, pois só assim podia formar o juízo exacto" (Francisco Sanches citado por J.Lobo Antunes). E ter a subtileza de intuir que isto é mais do que uma imagem.Uma espécie de carta - desencantada talvez - aos médicos de novas gerações, enquanto advertên-cia; ao sistema de ensino, como proposta; às gerações que um dia querem praticar medicina como inciso para que sejam cumpridoras inte-grais da sua regra.

* Neurocirurgião e escritor, falecido em 27.10.2016

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Somos dois corpos friosvestidos das mesmas palavras.Bebemos da chuva intermitente que cai sobre a nossa pele,com medo que o desejo nos transforme em fantasmas.

Finto-te com inocência no olhar,tão doce como o de uma criança.Observo a tua cândida facee, com medo, vou percorrendo-a com os meus dedosatravés de uma terna dança.

Somos reféns deste quarto azul onde habitamos.O tempo urge e a felicidade esmorecenum mundo onde o sonhoé meramente uma representação ilusóriade tudo o que fantasiamos.

Luísa Mamede. Aluna do 12ºC

Quarto Azul

2ºPOESIASecundário

EspecialConcurso Literário

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A figura do argentino Jorge Mario Bergoglio, o atual Papa Francisco, é bastante consensual não só entre católicos, mas também entre outros

cristãos e mesmo entre não crentes. Ouve-se muita gente dizer que não é crente mas que nu-tre especial admiração pela missão deste homem vestido de branco.Penso que este consenso não se deve apenas à simpatia, à ternura ou à proximidade do Papa. Francisco, de algum modo, apresenta um caráter de hierofania, ou seja, converteu-se numa mani-festação visível do sagrado. Por outras palavras, o Papa Francisco tornou-se uma revelação palpável de transcendência, um símbolo de religiosidade no sentido mais radical do conceito.A opinião mais frequente dos linguistas é que o conceito «religião» vem do latim religare e traduz a dimensão de união, de ligação à transcendên-cia. Esta religação mostra o caráter finito do ser humano, que procura ultrapassar a sua finitude e a sua fragilidade projetando-se numa dimensão mais profunda e mais completa. Neste sentido, todo o ser humano é um ser religioso, pois procu-ra a plenitude não só em si mas também fora de si, na sua relação com o outro.Claro que ser religioso não significa necessaria-mente acreditar em Deus, nem que a transcendên-

A dimensão religiosa do ser humano*A. Marcos Tavares . Professor de Filosofia

cia que plenifica o humano seja a transcendência divina. A ânsia de realização última está presente no humano, seja ele crente, agnóstico ou ateu. Ora, a personalidade de Francisco é de tal forma abrangente e cativante que nela se reveem todos aqueles que procuram essa religação última, to-dos aqueles que procuram a transcendência. A preocupação pelos pobres, pelos pequenos, pelos mais frágeis, tão vincada em Francisco, representa nitidamente essa religação ao fundamental, revela a transcendência. É a dimensão religiosa na sua essência.Ao contrário do que alguns pensam, a religião por si não significa a fuga do mundo e das responsa-bilidades. A acusação de Karl Marx - «a religião é o ópio do povo» - só se poderá aplicar a falsas vivências religiosas, que projetam num qualquer deus os anseios mas nada fazem para os cumprir. A religiosidade no seu sentido autêntico exige com-promisso com a humanidade e esforço constante de realização. O ser humano realiza-se na sua pleni-tude, liga-se à transcendência, lutando pelo bem de todos os seres humanos. Não há ser humano sem Humanidade.Claro que para os crentes, é em Deus que se al-cança toda a realização e transcendência. Para os crentes, designadamente para os cristãos, a realização última do humano está em Deus. S.

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Agostinho dedicou grande parte da sua vida e obra a tentar compreender o mistério divino. A inteligência humana, por muito limitada, não atingindo a compreensão de Deus, pode ajudar no aprofundamento da fé. É o seu «Intellige ut credas; crede ut intelligas» (Entende para acredi-tares; acredita para entenderes). Razão e fé ilu-minam-se reciprocamente.Digo muitas vezes aos meus alunos, quando me questionam sobre se há provas da existência de Deus, que eu, que sou crente, deixaria de acred-itar se fossem apresentadas provas de que Deus existe. É que se fosse possível provar �loso�-camente ou cienti�camente que Deus existe, isso signi�caria que Deus era tematizável, era abarcável, pela razão humana. Ora, sendo a razão humana �nita e limitada, tudo o que ela possa abarcar é também necessariamente �ni-to e limitado. Logo, a provar-se racionalmente que Deus existe este ser passaria a ser �nito e

limitado, portanto, não Deus.Não há, então, qualquer possibilidade de chegar até Deus? Penso que há e o caminho é aponta-do por Francisco: a religação à transcendência (a Deus, para os crentes) realiza-se na abertura aos outros, no compromisso com os mais frágeis, na defesa da liberdade e da dignidade do ser huma-no, contra tudo o que o possa diminuir, denegrir ou escravizar. Esta é a religiosidade no seu sentido mais profundo.

*A propósito da visita do Papa Francisco a Fátima em maio de 2017.

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Foto: Pablo Cuarterolo

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Eutanásia (do grego eu + thanatos, - eu "bom", thanatos "morte") é a prática pela qual se abrevia a vida de um pa-ciente em estado terminal ou que esteja

sujeito a dores intoleráveis e sofrimentos físicos ou psíquicos, de maneira controlada e assistida por um especialista.A eutanásia é um tema bastante polémico, uma vez que interfere com determinados princípios éticos (bioética- que é uma disciplina relativa-mente nova no campo da filosofia e surgiu em função da necessidade de se discutir moralmente os efeitos resultantes do avanço tecnológico das ciências da área da saúde, bem como aspetos tradicionais da relação de profissionais desta área e pacientes.), religiosos, jurídicos…. De modo geral, a eutanásia implica uma morte suave e in-dolor, evitando o prolongamento do sofrimento do paciente, mas, por outro lado, também pode ser interpretada como o ato de matar uma pessoa ou ajudá-la a cometer o seu suicídio. O motivo de polémica consiste justamente no confronto entre essas duas constatações.São vários os fatores da não legalidade em Por-tugal, um deles é de cariz religioso “Só Deus tem o direito de tirar a vida”, outro é o Código Deon-tológico dos Médicos, em que no seu juramento de Hipócrates defendem a vida, um outro vem

Eutanásia: direito de matar ou direito de morrer?Patrícia Fernandes . Aluna do 10ºE

das nossas tradições ancestrais, “morrer é a últi-ma etapa da vida” e deve ser entendida como tal e por último temos a Constituição da República, que não considera a sua legalidade.Existem dois tipos de eutanásia: a eutanásia ati-va e a eutanásia passiva. A eutanásia ativa con-siste em pôr término à vida, na medida em que é planeada e negociada entre o paciente e o profis-sional que vai praticar o ato. A eutanásia passi-va por sua vez, não provoca deliberadamente a morte, no entanto, com o passar do tempo, con-juntamente com a interrupção de todos e quais-quer cuidados médicos, farmacológicos ou outros, o doente acaba por falecer.Em suma, a eutanásia é um tema muito falado e conhecido por quase todas as pessoas, por ser um tema que tem sido discutido em Portugal e em muitos outros países devido a decisão de a tornar legal ou não. Na minha opinião acho que a eutanásia deveria ser legal, mas, esta só deverá ser praticada por profissionais de saúde e em situação em que já não haja qualquer hipótese de vida com dignidade e sem sofrimento. Nestas circunstân-cias, considero que ajudar a morrer é um ato de enorme coragem.

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Um amigo contou-me que na noite em que o pai morreu ouviu About Today*. Por alguma razão as pala-vras ficaram gravadas no centro do

placard onde acumulo pensamentos, visões, citações e outros momentos mais ou menos importantes. Fragmentos que geram redes de pensamento, lógicas que não domino, pres-

About TodayJosé Artur Matos . Professor de Artes Visuais

supostos não estabelecidos, matérias fluídas e outras coisas líquidas e informes. São ex-pressões de desejos que se esfumam e passam. Momentos precisos, imagens Instagram, a luz, o enquadramento, tempo, memória e olvido.

* The National, EP Cherry Tree

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Sou mar, fogo, terra e ar.Sou os quatro elementos propulsores da vida, do movimento...Sou o trovão , a chuva copiosa, o retum-

bante relâmpago num dia de tempestade.Sou o Sol resplandecente e acolhedor numa manhã quente de Verão...Sou tudo e não sou nada.Sou uma folha em branco, um ponto minúscu-lo no universo, a imensidão do mar com os seus mistérios, as suas angústias, as suas incógnitas...Sou restolho numa seara acabada de ceifar, o canto da ceifeira e o trigo que ela delicadamente afaga nas suas mãos cansadas...Sou mil e uma coisas e coisa nenhuma.Sou tudo e não sou nada.Sou um poema inacabado, um verso que não rima, uma pegada quase invisível, de um passáro aturdido que não sabe que as asas lhe foram da-das para voar, para voar... bem pra lá do horizon-te...Sou um grito aflito no silêncio da noite, um som quase inaudível, um ruido incómodo e indeseja-do...Quem sou eu?Sou uma colina verdejante, a Natureza no seu estado bruto, virginal, intocada pela nefasta mão do Homem...

Quem sou eu?Conceição Dias . Professora de Inglês

Sou uma floresta densa, escura e impenetrável com criaturas estranhas e árvores medonhas.Sou uma gota de orvalho, a brisa morna, o fogo que aquece, conforta e fascina e que, na sua im-petuosa voracidade, tudo destrói, tudo subjuga....Sou um ser imperfeito e faminto de perfeição; uma escrava cativa e rendida ao seu Senhor.Sou carrasco e sou vítima.Sou o ar que respiro, sou aquilo a que respondo, sou tudo o que faço e tudo aquilo que ainda não fiz...Sou o que quero ser, sou o que sou, sou imagem do que já fui.Sou depositária de memórias, de histórias queri-das, de personagens diversas que vão minuciosa e habilmente tecendo a manta de retalhos que me aconchega na cama.Sou um pouco disto tudo e um tudo deste nada.

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Principezinho? A bela e o monstro? Alice no país das Maravilhas? Amor efémero? Amar uma pessoa por dentro? O ver-dadeiro amor? Quanto dura o eterno?

Talvez um segundo? Qual é o melhor caminho? A vida é assim… Vivemos dentro de uma redo-ma de vidro, com medo de sair. O amor efémero todos procuram. Poucos encontram. Talvez um dia os mortais tenham a sorte de encontrar o seu monstro. Talvez todos os monstros encontrem a sua bela. Amar o outro por dentro. Dançar ao som do amor. Ao ritmo da chuva. Cair por vezes nos buracos, entrar em universos paralelos que só nós entendemos e encontrar alguém tão maluco quanto o Chapeleiro e ser tão amado quanto a rosa! Será que na vida não somos o Chapeleiro? So-mos “malucos” de uma forma saudável? Será que sabemos brincar sem magoar as pessoas? Será que somos puros como a Alice? Será que so-mos ingénuos em muitas situações? Ou será que nos dá jeito ser assim? Será que somos como a Bela? Que se apaixona pela verdadeira pessoa? Ou somos uma lagarta que um dia se irá tornar numa linda borboleta? Será que o ser humano não se transforma perante o mundo? Seremos tão autênticos e puros como o principezinho? Será que um dia vai haver algo para recordar?

A vida: conto de fadas?Daniela Silva . Aluna do 10ºC

Será que algum dia algo vai deixar a sua cicatriz? Uma cicatriz conta uma história que dura uma vida. Não necessariamente uma história negati-va, mas sim uma positiva. Coisas simples na vida começam com um arranhão. Uma ferida. Uma cicatriz. Esta cicatriz vai estar pressente toda a vida. As pessoas têm várias cicatrizes superficiais que não foram por bons motivos: quedas, ligeiros acidentes…. Mas também têm aquelas que nin-guém vê. Que ninguém sabe o porquê. Que nin-guém sabe o motivo. E que é melhor ninguém saber.Esquecimento? O esquecimento é inevitável! Um dia, as pessoas podem não lembrar-se de mim. Do que fomos uns para os outros. O ser humano é inconstante. Faz-se de forte. Posso pensar que o esquecimento não me afeta. Será que não? Será que um dia não me vou revoltar por não saber quem fui? Ou quem vou ser? Ou se as pessoas se lembram de mim? O ser huma-no procura neutralizar os atos, os sentimentos, as ações, a própria vida… eu procuro não magoar alguém. Impossível? Muito provavelmente! To-dos somos uma granada prestes a explodir, neu-tralizando os efeitos.Ouso-me a comparar a vida humana com uma se-mente! Nós somos a semente. A vida a terra. Um dia caímos na terra, somos regados, começamos

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Vivemos numa vida escabrosa. Numa mon-tanha russa. Um dia tudo vai acabar. A �or vai morrer, a Alice regressa ao seu mundo. A Bela e o Monstro serão esquecidos. E o principezinho volta ao seu asteróide. Será que o ser humano é tão fraco para se basear em contos de fadas? Será que o ser humano procura a perfeição num sítio onde provavelmente nunca a vai encon-trar? Será que nos que estamos a ler isto, e que um dia nos vamos transformar em pó iremos ser recordados? Será que um dia sairemos da redo-ma? Será?! Ser ou não ser, eis a questão!

a ganhar raízes. Começam a �car mais fortes e profundas. A pequena semente transformou-se numa linda �or, que cresce a cada dia que passa. Claro que às vezes as folhas caem, mas com o renovar das estações tudo volta a ser como era até mais forte. A isto, chama-se crescimento.Cada ser humano vem com uma missão. Muitos podem ainda não saber qual é. Outros já a desco-briram. Eu penso que todos marcamos algo, e que alguém nos marca. Um ciclo. Eu marco. Ele mar-ca. Alguém nos marca. Nos marcamos alguém. É o propósito da vida. E um dia, a �or vai morrer. Mas aquela �or marcou o local onde esteve. Assim como a cicatriz marca e conta uma história.

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Untitled (Triplo Igloo), Mário Mertz

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Não sou daqueles que gostam de ficar do lado de cá da janela. Gosto de olhar para além dela e atravessá-la em direção ao horizonte. Acordar

do sono profundo com que a vida nos aliena. E saber mais...A vida nunca deixou de me impressionar, pelo que tem de irracional, de absurdo, de estranho, de rude, de incompreensível e de enigmático.Por isso, ao longo da existência, tenho feito mui-tas perguntas sobre a vida e o mundo. Que valor tem um futuro em que a sobrevivência é a curto prazo? Em quem confiar? Com que é que nos devemos preocupar? O que nos faz sentir bem?Por vezes, o coração está aos saltos, o suor cobre o rosto e sinto o frio que o medo do desconhecido traz. O meu ceticismo sempre foi evidente.Não aceito as soluções dadas pela cultura popu-lar, porque são perigosas, as da religião, porque demasiado doutrinárias, e as dadas pela boa ou má ciência, porque são insuficientes.O mundo encerra maravilhas e prodígios, mas o mundo é bruto e cruel. Esta ambivalência sem-pre me estimulou e angustiou na reflexão sobre o conhecimento humano.Trata-se de perscrutar os segredos de uma vida cheia de ideias falsas, de confusões e imitações baratas. Assim, quotidianamente o pensamento está em contínua procura da luz e da perenidade e repudia a escala de tempo que nos é imposta.

Quero Tempo...Manuel Ferreira . Professor de Filosofia

Compreender a natureza da vida, indagar os in-teresses que servem a morte é o que tem coloca-do o meu intelecto mais nervoso. É com descon-fiança que vejo que a morte não é o fim e que, no esquema da existência, o homem não é mais do que uma combinação de átomos particularmente complexa.A noção de que a vida é uma fraude leva a per-guntar: qual o espaço para a esperança? Como atenuar a obsessão pela incompreensão?É constante o borbulhar do desespero da ig-norância acerca do que cada um de nós é, face à manutenção dos problemas insolúveis que o mundo nos apresenta.E são estas limitações, o julgamento que faço das imperfeições e fragilidades humanas, o lugar pe-queno que ocupamos no cosmos, que me obrigam a um exame crítico e a uma constante increduli-dade. O melhor de que dispomos é pouco face ao que desejamos e ansiamos, face à grandeza do que podemos dar. A beleza e a subtileza da vida não cumprem as promessas de um futuro recheado de expectativas e a vontade de realização esplêndida daquela. Motiva-me, porém, a partilha de per-plexidades e a vontade de as confessar à huma-nidade. A expressão de uma maneira de pensar, sentir, viver e dizer quanto à dor e à desilusão por não ser o elemento humano a ter o controlo das coisas e a sua existência em mãos.

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Amar é gostar em demasia…Sinónimo é quase de loucura,É também uma torpe fantasiaE, muitas vezes, mal que não tem cura.

Se é certo que amar, amor cria,-E amor tem-no toda a criatura-Muita vez uma forte antipatiaO transforma de Amor em sanha cura.

Cautela, pois o amor é traiçoeiro,Fecha os olhos e fere o coração,Transforma-nos de honrado em bandoleiro

Arrasta-nos do Bem à Perdição O Amor é ciúme- mal feiticeiro,O Amor, ai, afinal é aversão.

Diana Ferreira. Aluna do 10ºE

Amar

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1ºPOESIA3º Ciclo

EspecialConcurso Literário

Encontro a minha força na solidão,Encontro a solidão na noite,Não tenho medo da chuva ou da ventania,Pois, também eu sou só mais um ponto no escuro da noite.As estrelas são as únicas que brilham na escuridãoElas guardam os segredos daqueles que esperam o dia,Vês o escuro a ser roubado pela luz do SolQue faz recomeçar o nosso dia com medos.A consciência fecha-se para o mundo de novoQuando sonhamos com aquilo que queremos,Pois só possuímos uma vidaE nela tens de fazer aquilo que desejasSe con� ares em ti mesmo, podes até voarPorque mesmo em noite sem estrelasA lua transforma-se na tua realização,Na transparência da madrugada,Cada detalhe sem nexo conta.Quando os teus olhos fecham do nadaTu encontras-te com o teu mundo de sonhoE pensas no temo perdido.Quando tudo na tua cabeça se acalmaO silêncio não pode invadirAs tuas lembranças, as tuas memóriasE iluminada pelas estrelas, tu só pensas,“Os pesadelos vão passar com o sol de amanhã”.

Gabriela Pinto. Aluna do 9ºC

Pensamentos noturnos

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Penso nas palavras,Nas imagens, no momento,Nas belas � guras Que desaparecem com o tempo.

Tudo se imagina!Sem pensar não há nada.Há um simples vazioComo uma vida acabada.

Tudo se transformaDa maneira com queremos,Basta pensar e crerE conseguiremos!

A vida é o pensamento,O pensamento que Hiberna na nossa cabeça,E na altura de este despertar,A vida começa!

Luísa Chambel Gonçalves. Aluna do 9ºA

Pensamento

2ºPOESIA3º Ciclo

EspecialConcurso Literário

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Estava quase a chegar a casa, depois de um dia cansativo de escola. Já estava tão completamente sem energia que tive de parar, fazer uma pausa para me

recompor. Sentei-me nas escadas de um grande edifício que me era familiar. Pois… era a biblio-teca municipal. Quando olhava para ele lembra-va-me de algo. Fiquei com os olhos postos no edifício durante alguns segundos. Não me recor-dava do que era, mas, de repente, lembrei-me de algo. Tinha que entregar os livros que tinha requisitado. Rapidamente pus-me em pé e fiz-me ao caminho com o passo acelerado. Ul-trapassando as pessoas e pedindo desculpa por qualquer pequeno empurrão, cheguei a casa.Chegando a casa, coloquei as minhas coisas nos respetivos lugares, peguei nos livros e lá fui eu. Durante o caminho, ponho-me sempre a pensar sobre que livro requisitar e se irei gostar da sua história. Depois de terem passado cinco minu-tos da minha vida, deparo-me com um grande portão ornamentado. Ultrapasso-o, entrando no recinto. Subo as suas escadas de pedra e em-purro a porta para conseguir entrar. Um silêncio “ensurdecedor” percorria a biblioteca… era de arrepiar a espinha. Continuei a andar. Cumpri-mentei as funcionárias com um simples e baixo “Boa Tarde” que mais pareceu um sussurro. Subi

Mais uma ida ao grande edifício Rafaela Cigarro . Aluna do 9ºB

outras escadas, mas estas davam acesso ao andar de cima, onde estavam eles, aqueles livros todos. Ainda a segurar os livros, “perco-me” naquele labirinto de enormes estantes repletas de livros. Sempre adorei ir àquela biblioteca, principal-mente perder-me lá. É incrível a sensação que aqueles livros todos nos oferecem e aquilo que se sente quando se está lá no meio. Por vezes, penso que só queria ter aqueles livros todos em casa, mas, enfim… Continuemos a minha busca pelo livro. Todas as vezes que entro lá, parece que o tem-po voa. É impossível eu não demorar mais do que uma hora. Só não demoro mais porque não posso. Durante essa hora, observo as capas dos livros com atenção, não falho nenhum detalhe, leio os pequenos resumos escritos na parte de trás e ando de um lado para o outro a “inspecio-nar” as estantes para ver se não escapou algum livro que me agrade. Sempre que venho em direção a ela, digo a mim mesma que não irei demorar muito tempo, mas é inevitável. Fico sempre mais tempo do que o pre-visto. E que outra coisa me podia ter acontecido senão isso? Foi o que aconteceu naquele dia. Às vezes, até as funcionárias me perguntam se pre-ciso de ajuda, mas eu digo sempre que não, pois eu sei o que quero, simplesmente gosto de estar

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ali. É um sitio calmo e sossegado, onde as ideias fluem mais facilmente. É espantoso!Voltando ao assunto principal. Ainda andei um bom bocado, para lá e para cá, até o encontrar. Reparei naquele livro de capa preta, que o torna misterioso, e que tinha um título inquietante e cativante. Sem mais delongas, desci as escadas à pressa, entreguei os livros que tinha trazido e levei o livro que tinha tirado da estante. Sain-do da casa onde os livros “moram”, rapidamente chego a minha casa e coloco-o em cima da có-moda.

É sempre uma surpresa quando se abre um livro. É uma explosão de emoções. Por vezes, quando leio um, o seu início não é muito in-teressante, mas é fundamental esta parte inicial para dar continuação à sua história. Por vezes, os pequenos detalhes fazem a diferença. Como pessoa curiosa que sou, não espero muito tempo, ou seja, sento-me na minha cama, abro o livro leio-o e leio-o, até que mate a minha curiosidade e até dizer “chega”.

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Ouço falar de ti,Mas nunca te vi.Conheço-te por outras pessoas,Infelizmente, é assim.

Minha mãe sempre me dizQue, daí, estás a olhar por mim.Às vezes, não acredito,Mas tenho a esperança que sim.

És o meu anjo da guarda,A estrela mais brilhante do céu.Gosto de olhar para ti, à noite,Imaginar que brinco contigo e com o teu chapéu.

Minha mãe diz que eras bondoso,Mas muito exigente às vezes.Eras adorado por toda a aldeia,Adoravas todos e toda a gente.

Ela não diz mais nada,Mas sente muito a tua falta…Até eu, que não te conheciQuanto mais uma filha por ti amada.

Gostava que estivesses ao meu lado,Que a crescer me tivesses observado.Gostava de aprender coisas contigo,Que não fosses só a foto no meu quarto.

Mas não te preocupes,Nunca serás esquecido.Serás sempre e sempre serásO meu avô muito amado.

Joana Santos. Aluna do 9ºB

Estás a olhar por mim

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“Nem tudo o que vemos ou ouvi-mos é sempre verdade” é uma frase que eu sempre disse e em que sempre acreditei. De todas

as várias capacidades que temos, eu acho que uma das mais importantes é conseguirmos distinguir aquilo que é verdade daquilo que não é. Muitas vezes, uma das razões de as pessoas acreditarem em certas coisas é o facto de as saberem através da imprensa, pela televisão, pelos jornais ou por uma revista. Mas será que tudo o que a imprensa nos transmite é o que acontece na realidade? Na minha opinião não, pois, muitas vezes, para terem grandes vendas de jornais e revistas ou para terem vários teles-petadores a assistir aos programas de televisão, a verdade acaba por ser distorcida, para as noticias que estão a vender se tornarem mais apelativas e aliciantes. E o pior é o facto de, só para ganharem dinheiro, os jornalistas que publicam esses arti-gos são capazes de falar sobre a vida dos outros e mudar algo que aconteceu, sem pensarem nas consequências que essas mentiras poderão trazer.Além disso, através dos media, passa uma imagem errada que leva a vários casos de doenças, nomeadamente a anorexia. Os adoles-centes, ao verem na televisão todos os modelos e atores elegantes, sentem-se mal consigo próprios

A influência da imprensaSandra Peres . Aluna do 9ºB

e, ao acontecer isso, acabam por recorrer a me-didas extremas para conseguirem ter os corpos que veem.Concluindo, a imprensa tanto tem vantagens como desvantagens, mas, se for usada correta-mente e com cuidado, contribui muito para a nossa sociedade.

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Quando soube saí de casa a correr, está-vamos no início da estação fria. Voei geladamente pela neve que cobria a estrada, com as pernas a tremer,

rumo à estação. Tarde de mais. Eu ainda corri, juro que corri. Mas o comboio em que seguias já tinha partido. As minhas lágrimas congelaram. O tempo parou naquele instante. Porque é que não disseste que te ias embora? Porque é que não me disseste adeus? Porquê?Na noite anterior sentei-me no banco de sempre, no bar de sempre à espera que o mundo viesse ter comigo, à espera que tu viesses ter comigo. A música estava alta, estávamos no auge da era do rock. Despi o casaco quente que me protegia naquela fria noite de inverno e ia dançando com a cabeça enquanto te esperava com os meus lábi-os pintados de escarlate e o vestido às � ores. Já era madrugada, o bar estava perto de fechar. Eu era a única que ainda apreciava a música, deses-peradamente suplicando que aparecesses. Mas não apareceste, e eu fui embora. Onde estás? Estou a morrer de frio, onde estás? A minha voz pequena nesta cidade grande, e tu do outro lado do mundo. Diz-me onde estás? É Dezembro, tenho frio. Foste voar? Está muito frio lá fora para anjos como tu voarem. Onde estás? Volta rápido, preciso das nossas conversas mor-nas de inverno. Aquece-me rápido ou a minha mente esquece-te rápido. Passaram eternidades, quando voltas?

DezembroHalys . Aluna do Secundário

Não vieste, mas não te esqueci. À medida que o inverno avançava, o meu amor por ti ia � cando congelado no tempo. Fui para o parque mais bonito da cidade, sentei-me no ban-co debaixo das árvores já despidas. Estava frio, muito frio. Estava a tremer, mas precisava de ali estar, precisava de te sentir. As lágrimas caiam-me ao som do silêncio e tinha o olhar cerrado no horizonte. Lá longe, outra cidade. Será que te mudaste para lá? Por favor diz-me, estou a mor-rer neste inverno. Já nada sei de ti, esperar por ti é como esperar por sol neste inverno, é como esperar por chuva no lugar mais seco do mundo, é como esperar por � ores no céu. Diz-me, por favor. É natal e tu não estás. Ter-te aqui seria o melhor presente que poderia receber. A ventania que faz lá fora é tão calma como a bomba relógio que trago no meu coração de vidro, prestes a des-pedaçar-se em mil bocados. Enfrentei a árvore sem ti, não sozinha mas sem-pre sem ti. É a mesma coisa.

1ºPROSASecundário

EspecialConcurso Literário

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Nesta tarde de fim de InvernoO sol foge-me depressaE aqui estouA tristeza dói-me na alma E procuro a pazE venho a tiMeu DouroMeu rio Minha paz e meu remansoBuscar a tranquilidade nas tuas águasQue correm suavementeNa cantilena imprecisaDo teu marulhar.

Cresce-me a nostalgia Dos meus tempos de meninaQuando acordava pela manhãE corria à janela para te verCalmoDum azul pintado a forteReverberando centelhas Que o sol te acendia

Doía-meSim, doía-me muitoVer os rabelos Rasgarem sem piedadeA serenidade das tuas águasE tu deixavasE agradecias aindaCom a espuma branca da tua paz.

Vinhas não sei de ondeVinhas do lugar donde vinha o solDepoisDepois via-te ir emboraSuavementeTão suavemente que mal dava por issoMas ias.Eu sei que iasMas via-te ficar tambémE ficava contentePorque gostavas de mim

Meu Douro, meu rioEnsinaste-me a sonharE aprendi a amar-teE a buscar-te para a minha paz. E quandoNum assomo de liberdadeGalgavas margensVi-te chegar aos pés da minha casaE não tinha medoPorque vinhas visitar-me.E depois ias, de novoPara o remanso do teu leitoNamorando as lindas margensQue encontravas no caminho.

Meu DouroMeu rioOlha-me ainda meninaDá-me a tua paz…Continua a ensinar-meQuero aprender contigoA lição dos teus segredos

Meu DouroMeu rioMergulho nas tuas águasO meu olhar E o meu coração doloridoE minha alma inquietaPedem-te por piedadeA bênção da tua paz.

Ana Raimundo. Professora de Matemática

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Às vezes, a vida troca-te as voltas. Num momento, estás sentado no sofá, rodeado de todos aqueles que te dizem algo, com todo o barulho

que possas imaginar, no seguinte estás sentado no teu quarto, com as luzes apagadas, deitado na cama a olhar para o teto, o teto que dese-jarias que nunca tivesse sido pintado de bran-co, mas sim com alguma cor que pudesse trazer um pouco de espaço ao teu interior. Num momento, tens os teus planos, sabes o que queres, quando queres e quem queres contigo. Os teus sonhos estão a ser cumpridos. E logo depois, o tempo age e não sabes onde estás, o que estás a fazer e de que serve estar ali, naquele lugar, a viver. Ao teu lado, tens aqueles que dizem que vão ajudar, que vão estar sempre ali, que dizem que vão fazer de tudo para te sentires bem. Dizem. Se tudo se resumisse a esta palavra, seria tudo muito mais fácil! Mas dizer não é fazer e então tu ficas sozinho, afastas-te daqueles a quem um dia chamaste de amigos. Aqueles que antes eram conhecidos passam a ser desconhecidos… Perguntas-te se a vida está a ser injusta conti-go ou se tu já foste injusto com ela e só estás a sofrer as consequências… Tens de encontrar res-postas sozinho, porque ninguém sabe aquilo que

Altos e BaixosAna Xavier . Aluna do 9ºA

tu sentes, és tu que o estás a sentir. Aprendes a desfrutar da tua própria companhia, pois sabes que será a única durantes uns tempos. Tentas que tudo volte ao normal, embora saibas que o nor-mal se encontra o mais longe possível de ti.A música e o papel passam a ser os teus refúgi-os, tu passas a ser tua própria companhia. Nada daquilo que tens parece satisfazer-te. Uma quan-tidade de perguntas passam pela tua cabeça e as respostas parecem estar a jogar a uma espécie de “escondidinhas” contigo, ignorando elas o facto de que já passou o tempo em que esse jogo sig-nificou algo para ti. E há também aquelas alturas em que pensas que tudo voltará ao normal, que te encontras, não num lugar, não numa pessoa, mas em ti. Encon-tras-te no meio de toda a confusão da tua ca-beça. Mas tudo fica apenas pelo pensar, porque no meio do teu caminho encontra-se uma pedra que é suficiente para tropeçares. E depois reparas que nunca irás escapar sozinho, caíste num buraco que está a aumentar cada vez mais e só conseguirás sair dele se alguém te aju-dar a escalá-lo.Todos nós temos destes momentos. Ninguém é construído de ferro, ninguém é tão forte assim. Sempre ouvi dizer que a vida tem altos e baixos e é exatamente destes baixos que eu estou falar. Destes baixos que existem, mas que sempre serão compensados pelos altos. Pelo menos, assim o espero…

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Apesar de se situar no norte do país, a Régua possui um clima mediterrâni-co por se encontrar encaixada no vale do Douro e protegida dos ventos at-

lânticos pelo maciço Marão-Alvão. O nosso mi-croclima reflete-se na vegetação. A vegetação de porte arbóreo é sobretudo constituí-da por sobreiros e azinheiras (conhecidas na região como carrascos), mas também carvalhos e pinheiro bravo sintomas de alguma atlanticidade.

Sobreiro, Quercus suber

A vegetação arbustiva é composta por zimbro, zêlha, medronheiro ou êrvedo, lentisco, trovisco, jasmineiro e madressilva.

Medronheiro, Arbustus unedo,com mais de um século

Biodiversidade no DouroSónia Lopes . Professora de Físico-Química

A cornalheira e o sumagre são arbustos de folha caduca, uma exceção na vegetação mediterrânica. Este último foi de grande importância económi-ca para a região nos séc. XVI e XVII.De porte inferior encontra-se a esteva, estevão, sangalho, rosêlha, bela-luz, espargo bravo, giesta, tojo, urze e rosmaninho.

Rosmaninho, Lavandula pendunculata

Podemos ainda encontrar:• 24 espécies de plantas bravias comestíveis entre elas: acelga brava, agrião, azedas ou vinagreiras, beldroega, chicória-brava ou Almeirão, espargo bravo, fiôlho ou funcho ou as urtigas.

Funcho, fiolho ou erva-doce, Foeninculum vulgar

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• 16 espécies de plantas bravias de frutos comestíveis como o abrunheiro-bravo, a ave-leira-brava, a cerejeira-brava, a framboeseira, a Groselheira-espim, o marmeleiro bravo, o medronheiro, o mirtilo, o morangueiro-bravo, o sabugueiro ou a silva.

Fruto da cerejeira brava, Prunus avium

• 17 espécies de plantas condimentares: zimbro, tomilhos, rosmaninhos, funcho, Alecrim entre outras.

Alecrim, Rosmarinus officinalis

• muitas plantas medicinais como a urtiga ou a erva-de-São-Roberto;

Erva-de-S. Roberto, Genciana robertianum

• Mais de 100 espécies de cogumelos;• 3 endemismos, um deles só existe aqui na Ré-gua, o Falso-trevo-de-quatro-folhas, Marsilia quadrifólia.Nas zonas ribeirinhas predominam os amieiros, salgueiros, freixos, choupos e o tamujo (um sal-gueiro espinhoso).

Rio Douro na cheia de abril de 2016

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HOMEM DO CESTO. EsculturaObra reproduzida em escala de cinzas

Ode ao Homem que carrega o cesto. Esta obra descreve a natureza do trabalho e a emoção do tra-balhador na vindima. As mãos estão em posição realista do ato de segurar o cesto e o rosto representa o esforço e o orgulho,

traduzido nos lábios em tensão. O cesto é representado, sob a forma de uma caixa/tesouro, com a impressão real de um cesto, numa alusão à importância que o trabalho na vinha tem para o homem do Douro.

Homem do CestoIsabel Babo . Professora de Artes Visuais

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ensar(es)1999 . 2017

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CoordenaçãoProfessores de Filosofia

RedaçãoA. Marcos TavaresJosé Artur MatosManuel Ferreira

Colaboradores/AlunosAna Fernandes, Ana Xavier, Ariana Lopes, Bárbara Queirós, Carlos Carvalhosa, Carlos Santana,Cátia Coutinho, Daniela Silva, Diana Ferreira, Gabriela Pinto, Helena Marques, Inês Arcanjo, Joana Machado, Joana Santos, João Morgado, João Pedro Pereira, José Montenegro, José Pedro Fonseca, Luísa Chambel Gonçalves, Luísa Mamede, Maria Beatriz Trindade, Mariana Clérigo, Patrícia Fernandes, Rafaela Gonçalves, Sandra Peres, Sofia Augusto

Colaboradores/ProfessoresAna Raimundo, A. Marcos Tavares, Conceição Dias,Fernando Fidalgo, Isabel Babo, João Rebelo, José Artur Matos, Manuel Ferreira, Pedro Babo, Pedro Miranda, Sónia Lopes

Participação EspecialCentro Escolar das AlagoasCentro Escolar da Alameda

Design, paginação e imagem da capaJosé Artur Matos

ImpressãoImprensa do Douro

Tiragem: 300 exemplares

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Património Mundial da Unesco“Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.”

António Barroso

DOURO