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2010Mestrado em Desporto

Anlise da Influncia do Treino de Visualizao Mental na Execuo do Livre Directo,em atletas de vrios escalesLus Miguel Oliveira Santos MorgadoDissertao apresentada com vista obteno do grau de Mestre em Desporto, Especializao em Treino Desportivo

Orientador Professor Doutor Carlos Silva

Resumo

Pretendemos com este estudo aumentar o conhecimento sobre os mecanismos subjacentes visualizao mental e demonstrar a sua eficcia no contexto desportivo. Existe ampla evidncia que a prtica mental combinada e alternada com a prtica fsica, mais eficaz na aprendizagem de um elemento tcnico, do que a prtica fsica isolada. No nosso estudo procurmos faz-lo em relao ao livre directo no Futebol. Numa primeira parte, procedemos validao da traduo e adaptao do Questionrio de Avaliao da Capacidade de Visualizao Mental (QCVM), desenvolvido por Bump (1989). Apesar de existir uma traduo efectuada por Alves em 1996, esta nunca foi validada. Numa segunda parte do estudo, dividimos a nossa amostra (n=145) de forma aleatria em trs grupos, grupo experimental 1 (prtica combinada, n=47), grupo experimental 2 (prtica motora, n=48) e grupo 3 (grupo de controlo, n=50). O grupo 1 realizou treino mental juntamente com o treino de prtica motora, o grupo 2 apenas realizou o treino de prtica motora e o grupo 3 no efectuou qualquer tipo de treino. Para a avaliao da prestao da tarefa motora, os atletas dos diferentes grupos realizaram dez ensaios, com o objectivo de obter a mxima pontuao possvel. Para tal, foi utilizada uma baliza de Futebol 11, dividida com diferentes reas de pontuao. Aps o perodo de 6 semanas (12 sesses) de treino de visualizao mental, verificou-se que o grupo de prtica combinada apresentou uma melhoria de desempenho significativamente superior ao grupo de prtica motora, tendo o grupo de controlo apresentado mesmo um decrscimo na sua performance. Registou-se tambm uma melhoria da capacidade de visualizao mental nos indivduos que estiveram sujeitos ao programa de treino de visualizao mental.

Palavras-chave: Visualizao Mental; Treino Mental; Livre Directo; Futebol.

Abstract

This essay aims to increase knowledge about the underlying mechanisms to mental imagery and demonstrate its effectiveness in the sporting context. There is ample evidence that mental practice combined and alternated with physical practice is more effective in learning a technical element, rather than physical practice alone. In our study we tried to do it over the free kick in soccer. In the first part, we proceed to validate the translation and adaptation of the Questionnaire for Assessment of Mental Capacity View (QCVM) developed by Bump (1989). Although there is a translation by Alves in 1996, this was never validated. In the second part of the study, we divided our sample (n = 145) randomly into three groups, experimental group 1 (combined practice, n = 47), experimental group 2 (motor task, n = 48) and group 3 (control group, n = 50). The experimental group 1 held a mental training along with training of motor task, the second group only performed the motor task training and group 3 did not make any kind of training. For the evaluation of the benefit of the motor task, the athletes of the different groups performed ten trials with the aim of obtaining maximum possible score. We used a Football 11s goal, split with different scoring areas. After a period of six weeks (12 sessions) training mental imagery, it was found that the combined practice group showed significantly better performance than the motor practice group, and the control group displayed even a decrease in performance. There was also an improvement in the ability of mental imagery in individuals who have been subject to rigorous training program for mental imagery.

Keywords: Imagery; Mental Training, Free kick; Football.

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Agradecimentos

A realizao deste estudo s foi possvel com o apoio de um nmero considervel de pessoas e entidades que, directa ou indirectamente, contriburam para a sua concretizao. Cumpre-nos expressar publicamente os nossos sinceros agradecimentos:

Ao professor Doutor Carlos Silva, orientador da presente tese de mestrado, pela bibliografia cedida, pela constante reviso do trabalho, pelas sugestes pertinentes, pela sua eficincia e elevada disponibilidade demonstrada e pela capacidade nica de tornar sempre fcil aquilo que parece de difcil resoluo.

Ao professor Doutor Hugo Louro pelos incentivos e por todo o apoio manifestado durante o curso de mestrado.

A todos os clubes em cujos treinadores e atletas nos foram criadas as condies necessrias para a realizao deste estudo.

Para a concretizao da parte experimental do estudo, queria prestar o devido reconhecimento aos atletas e treinadores que gentilmente se disponibilizaram para participar, sempre num ambiente de abertura e vontade em ajudar, verdadeiramente dignos de registar. Este agradecimento reforado para os treinadores Ricardo Moura, Filipe Moreira, Marco Santos, Pedro Boua e para os psiclogos Paulo Teixeira, Nelson Azevedo e Jos Silva, sem os quais no seria possvel um trabalho desta dimenso.

minha me, pela confiana, carinho e apoio incondicional que me prestou em todos os momentos da minha vida.

minha companheira de vida, Dalila, pelo amor, fora, apoio e incentivo que me transmitiu ao longo deste trabalho, sendo a sua ajuda crucial na superao dos momentos mais difceis, sendo por isso totalmente decisiva.

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Aos meus filhos, Diogo e Maria Beatriz, pelo tempo que no me foi possvel estar com eles para atender s suas necessidades.

iv

NDICE GERAL

ndice de tabelas ............................................................................................................................................... viii ndice de grficos ................................................................................................................................................. x ndice de figuras ................................................................................................................................................. xi ndice de anexos ................................................................................................................................................ xii Lista de Abreviaturas ........................................................................................................................................ xiii CAPTULO I INTRODUO ........................................................................................................................ 15 1.1 OBJECTIVOS DO ESTUDO .................................................................................................................... 18 CAPTULO II REVISO DE LITERATURA ............................................................................................... 20 2.1 TREINO PSICOLGICO ......................................................................................................................... 21 2.2 TREINO MENTAL.................................................................................................................................... 23 2.3 A VISUALIZAO MENTAL ................................................................................................................. 25 2.3.1 Introduo ...................................................................................................................................... 25 2.3.2 Conceito de Visualizao Mental .................................................................................................... 28 2.3.3 Variveis Mediadoras ..................................................................................................................... 32 2.3.3.1 A Capacidade de Visualizao Mental Individual .................................................................... 32 2.3.3.2 A Perspectiva Face Visualizao Mental .............................................................................. 33 2.3.3.3 O Resultado Positivo ou Negativo da Visualizao Mental ...................................................... 34 2.4 OS USOS DA VISUALIZAO MENTAL .............................................................................................. 36 2.5 TEORIAS EXPLICATIVAS DA VISUALIZAO MENTAL ............................................................... 40 2.5.1 Teoria Psiconeuromuscular ............................................................................................................. 41 2.5.2 Teoria da Aprendizagem Simblica................................................................................................. 42 2.5.3 Teoria Bioinformacional/Psicofisiolgica ou do Processamento da Informao ................................ 43 2.5.4 Teoria do Triplo Cdigo ................................................................................................................. 45 2.5.5 Teoria da Activao ........................................................................................................................ 45 2.5.6 Perspectiva mais recente ................................................................................................................. 46

v

2.6 VISUALIZAO MENTAL E APRENDIZAGEM MOTORA............................................................... 47 2.6.1 Conceito de Aprendizagem Motora ................................................................................................. 54 2.6.2 A Visualizao Mental nos Diferentes Estgios de Aprendizagem ................................................... 55 CAPTULO III METODOLOGIA.................................................................................................................. 58 3.1 VALIDAO DA TRADUO DO QUESTIONRIO DE AVALIAO DA CAPACIDADE DE VISUALIZAO MENTAL ........................................................................................................................... 59 3.1.1 Participantes ................................................................................................................................... 59 3.1.2 Instrumento .................................................................................................................................... 59 3.1.3 Procedimentos ................................................................................................................................ 60 3.1.3.1 Recolha de Dados ................................................................................................................... 60 3.1.3.2 Traduo e Validao do Questionrio QCVM de Bump (1989) .............................................. 61 3.1.3.3 Anlise Factorial Exploratria (AFE) ...................................................................................... 62 3.1.3.4 Tratamento Estatstico ............................................................................................................ 63 3.2 PROGRAMA DE TREINO DE VISUALIZAO METAL .................................................................... 64 3.2.1 Participantes ................................................................................................................................... 64 3.2.2 Tarefa............................................................................................................................................. 65 3.2.3 Desenho do Estudo ......................................................................................................................... 66 3.2.4 Instrumentos de Pesquisa ................................................................................................................ 68 3.2.5 Programa de Treino de Visualizao Mental ................................................................................... 69 3.2.6 Procedimentos e Fases de Interveno............................................................................................. 71 3.2.6.1 - Procedimentos Prvios ......................................................................................................... 71 3.2.6.2 - Procedimentos Metodolgicos .............................................................................................. 72 3.2.7 Variveis do Estudo ........................................................................................................................ 73 3.2.7.1 Variveis Independentes ......................................................................................................... 73 3.2.7.2 Variveis Dependentes ........................................................................................................... 74 3.2.8 Hipteses do Estudo ....................................................................................................................... 74 3.2.9 Tratamento Estatstico .................................................................................................................... 74 CAPTULO IV APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ................................................... 77 4.1 ANLISE FACTORIAL EXPLORATRIA DA VERSO PORTUGUESA DO QCVM...................... 78

vi

4.1.1 Anlise Descritiva .......................................................................................................................... 78 4.1.2 Anlise da Validade de Constructo.................................................................................................. 80 4.1.3 Anlise da Consistncia Interna ...................................................................................................... 84 4.1.4 concluso da AFE ........................................................................................................................... 85 4.2 APLICAO DO PROGRAMA DE TREINO DE VISUALIZAO MENTAL................................... 86 4.2.1 Estudo das diferenas de desempenho entre os grupos em anlise .................................................... 86 4.2.1.1 Anlise da variao do desempenho, em funo do tipo de prtica ........................................... 87 4.2.1.2 Anlise da variao do desempenho, em funo do escalo e do tipo de prtica ....................... 91 4.2.2 Estudo da capacidade individual de visualizao mental aps aplicao do programa de treino de visualizao mental ................................................................................................................................. 93 4.2.2.1 Resultados globais das dimenses da avaliao da capacidade de visualizao mental (ACVM)93 4.2.2.2 Resultados das diferentes dimenses da ACVM ...................................................................... 95 4.2.3 Estudo da correlao entre a capacidade de visualizao mental e a melhoria de desempenho ........ 101 4.3 Discusso dos Resultados ................................................................................................................ 102 CAPTULO V CONCLUSES ..................................................................................................................... 105 CAPTULO VI BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 108 ANEXOS ........................................................................................................................................................ 119

vii

NDICE DE TABELAS

Tabela 1 Caracterizao dos participantes na validao ........................................................ 59 Tabela 2- Caracterizao dos participantes.............................................................................. 64 Tabela 3- Caracterizao dos Grupos de Estudo ...................................................................... 64 Tabela 4- Caracterizao dos Escales Etrios ........................................................................ 64 Tabela 5 - Design da Pesquisa ................................................................................................ 67 Tabela 6 - Desenho Experimental do estudo ........................................................................... 67 Tabela 7 - Anlise Descritiva das Respostas aos Itens do QCVM............................................ 79 Tabela 8 - Teste KMO e Teste de Bartlett. .............................................................................. 80 Tabela 9 - Anlise Factorial Exploratria (com rotao oblqua Promax) do QCVM............... 81 Tabela 10 - Correlao entre os 5 factores............................................................................... 82 Tabela 11 - Alfa de Cronbach ................................................................................................. 84 Tabela 12 - Anlise da Consistncia Interna do QCVM .......................................................... 84 Tabela 13 - Medidas de tendncia central da performance dos grupos de estudo ..................... 88 Tabela 14- Comparao da varivel Evoluo de Desempenho nos grupos em anlise ............ 89 Tabela 15- Teste Tukey da varivel Evoluo de Desempenho nos grupos em anlise ............ 89 Tabela 16- Apresentao dos subgrupos derivados do teste Tukey.......................................... 90 Tabela 17 - Comparao da varivel Evoluo de Desempenho nos grupos e escales em anlise ............................................................................................................................ 91 Tabela 18 - Teste Tukey da varivel Evoluo de Desempenho nos grupos e escales em anlise ............................................................................................................................ 92 Tabela 19 - Apresentao dos subgrupos derivados do teste Tukey ......................................... 92 Tabela 20- Anlise Descritiva da CVM Global Inicial e Final ................................................. 94 Tabela 21- Comparao entre CVM Global inicial e final nos escales em anlise ................. 94

viii

Tabela 22 - Anlise Descritiva da dimenso Visual da ACVM ............................................... 95 Tabela 23 - Comparao entre a dimenso visual inicial e final da ACVM nos escales em anlise ............................................................................................................................ 95 Tabela 24 - Anlise Descritiva da dimenso Auditiva da ACVM ............................................ 96 Tabela 25 - Comparao entre a dimenso auditiva inicial e final da ACVM nos escales em anlise ............................................................................................................................ 96 Tabela 26 - Anlise Descritiva da dimenso Cinestsica da ACVM ........................................ 97 Tabela 27 - Comparao entre a dimenso cinestsica inicial e final da ACVM nos escales em anlise ............................................................................................................................ 97 Tabela 28 - Anlise Descritiva da dimenso Emocional da ACVM ......................................... 98 Tabela 29 - Comparao entre a dimenso emocional inicial e final da ACVM nos escales em anlise ............................................................................................................................ 98 Tabela 30 - Anlise Descritiva da dimenso Controlo de Imagem da ACVM .......................... 99 Tabela 31 - Comparao entre a dimenso controlo de imagem inicial e final da ACVM nos escales em anlise ......................................................................................................... 99 Tabela 32- Correlao entre Capacidade de Visualizao Mental e Desempenho .................. 102

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NDICE DE GRFICOS

Grfico 1 - Comparao dos valores mdios das diferentes dimenses da ACVM ................. 100

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NDICE DE FIGURAS

Figura 1- Local de marcao do livre directo .......................................................................... 66 Figura 2 - Barreira .................................................................................................................. 66 Figura 3 - Pontuaes da Baliza .............................................................................................. 68

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NDICE DE ANEXOS

Anexo 1 Questionrio de Avaliao da Capacidade de Visualizao Mental ................ 120 Anexo 2 - Programa de Treino de Visualizao Mental.................................................... 121

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LISTA DE ABREVIATURAS

EMG Electromiografia GC Grupo Controlo GE Grupo Experimental PTP - Programa de Treino Psicolgico PTVM Programa de Treino de Visualizao Mental QCVM Questionrio de Avaliao da Capacidade de Visualizao Mental QVM Questionrio de Visualizao de Movimentos SNC Sistema Nervoso Central VM - Visualizao Mental VMA Visualizao Mental Interna ou Associada VMD Visualizao Mental Externa ou Dissociada AFE Anlise Factorial Exploratria VMBR - Ensaio Visuo-Motor de Comportamentos PTCP - Programas de Treino de Competncias Psicolgicas PPP Perfil Psicolgico de Prestao ACVM Avaliao da Capacidade de Visualizao Mental VMGI Visualizao Mental Global Inicial VMGF Visualizao Mental Global Final VMVI Visualizao Mental Visual Inicial VMVF Visualizao Mental Visual Final VMAI Visualizao Mental Auditiva Inicial VMAF Visualizao Mental Auditiva Final VMCI Visualizao Mental Cinestsica Inicial xiii

VMCF Visualizao Mental Cinestsica Final VMEI Visualizao Mental Emocional Inicial VMEF Visualizao Mental Emocional Final VMCII Visualizao Mental Controlo de Imagem Inicial VMCIF Visualizao Mental Controlo de Imagem Final

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Introduo

CAPTULO I INTRODUO

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Introduo

Na sua essncia, um batedor de basebol pode ver a bola ser libertada pelo lanador, sentir os msculos do brao enquanto se prepara para bater na bola, de seguida, consegue ouvir o momento de contacto da bola com o taco. Isto significa que os atletas podem praticar habilidades fsicas sem realmente realiz-las em prtica ou competio. (Weinberg, 2008).

Sendo o Desporto uma actividade com enorme protagonismo social, e que os desportistas so das figuras pblicas mais conhecidas a nvel mundial, facilmente percebemos a pertinncia de realizar estudos na rea do Desporto e que visem melhorar o rendimento, quer dos atletas, quer das equipas. Uma crena tradicional no mundo do desporto, refere que a nica maneira de aprender uma destreza motora se verifica, quando se gasta muitas horas em prtica fsica. No entanto, ler sobre essa destreza, ver um vdeo ou simular o movimento tambm importante quando o objectivo adquirir essa mesma destreza (Murphy & Jowdy, 1992). Nas diferentes modalidades, no basta trabalhar a parte tcnica, a resistncia e a velocidade. O movimento no se realiza apenas com os msculos mas com uma srie de aspectos subjacentes. Quando se fala em treino no podemos pensar s nos aspectos fsicos, mas de tudo o que est volta, as partes formam o todo. preciso algo mais, a Psicologia do Desporto pode ser uma dessas componentes valiosas. reconhecido pela generalidade dos agentes desportivos, que a preparao mental fundamental para que os atletas procurem obter melhores performances, sendo estas cada vez mais difceis de alcanar. A Visualizao Mental um dos factores que influenciam positivamente a performance das atletas (Dias, 2007). O acto motor passa pela compreenso do acto intelectual, dependentes um do outro mas no sendo estanques. A grande maioria dos estudos apresenta resultados positivos na utilizao da Visualizao Mental durante o processo de treino e na preparao da competio. No entanto, apesar do 16

Introduo

optimismo em alguns estudos realizados, D. Feltz, Landers, & Becker (1988) afirmam que, apesar de se terem realizado imensos estudos sobre prtica mental entre 1930 e 1988, no foram dadas respostas definitivas quando se procurava saber se uma determinada quantidade de prtica mental, antes da execuo de uma tarefa motora, poderia melhorar o desempenho dessa mesma tarefa. De acordo com estes autores, no foram dadas respostas definitivas para esta questo uma vez que as concluses encontradas so contraditrias. Mais recentemente, estudos sobre o crebro tm provado que o treino mental permite tanto diminuir o tempo de treino como tambm melhorar o rendimento. Atravs da estimulao cognitiva, obtm-se resultados que, somados com a prtica fsica, maximizam determinadas respostas motoras, uma vez que os movimentos no so controlados unicamente por programas motores, mas tambm por mecanismos de funes cognitivas (Silva, 2009). Alguns estudos sobre o fluxo regional de sangue ao crebro indicam que a simulao mental de movimentos activa algumas das estruturas neurais centrais requeridas para a execuo dos movimentos reais. Assim, a prtica mental por si s parece suficiente para promover a modulao de circuitos neurais envolvidos nas primeiras etapas da aprendizagem de habilidades motoras. Tem-se demonstrado que a imagtica capaz de proporcionar alteraes ao nvel cortical e motor, podendo influenciar movimentos fsicos subsequentes. Ainda no que se refere imagtica, verifica-se que o registo de actividade muscular que resulta da imaginao de um movimento mais intenso em indivduos que possuem maiores experincias motoras prvias, ou seja, em atletas mais experientes, supondo assim que a capacidade de imaginar o movimento mais real. Existem ainda algumas evidncias de que os desportistas de maior habilidade beneficiam mais da visualizao do que os desportistas com menos habilidade. A ligao entre o nosso corpo e a nossa mente extremamente poderosa. O nosso corpo reage a tudo aquilo que pensamos, independentemente de ser real ou imaginado. Todos ns j tivemos um sonho em que ao acordar verificamos que o nosso corao estava acelerado e tnhamos o corpo coberto de suor. Da mesma forma, em termos desportivos, quase todos j passmos pela experincia de ao olhar de forma concentrada para um remate numa qualquer modalidade, por exemplo, no futebol, acabamos por efectuar um movimento semelhante 17

Introduo

embora estejamos comodamente sentados no sof. Em ambas as situaes algo de real se passava na nossa cabea de modo a desencadear as reaces do corpo. O treino de visualizao mental, para alm dos estmulos de ordem psicolgica que favorecem mais ou menos o desenvolvimento de caractersticas como a memria ou a concentrao, afectar tambm o desempenho motor, nomeadamente nas vertentes de coordenao e preciso. Os atletas e treinadores procuram as melhores maneiras de se prepararem mentalmente para as competies e para os treinos. Dado o nfase que os atletas e treinadores do preparao mental, no surpreendente que os investigadores em Psicologia do Desporto demonstrem interesse neste tema (Gould, Flett, & Bean, 2009).

1.1 OBJECTIVOS DO ESTUDO

O estudo, a que nos propomos realizar, insere-se no mbito da Psicologia do Desporto, e pretende analisar os efeitos do treino mental, atravs da prtica de Visualizao Mental, na aprendizagem do livre directo na modalidade de Futebol. Verificar se a prtica mental combinada e alternada com a prtica fsica, mais eficaz do que a prtica fsica isolada na aprendizagem do elemento tcnico. Numa primeira parte do nosso estudo, procederemos validao da traduo e adaptao do Questionrio de Avaliao da Capacidade de Visualizao Mental (QCVM), desenvolvido por Bump (1989). Apesar de existir uma traduo efectuada por Alves em 1996, esta nunca foi validada. Este questionrio ser utilizado para avaliar a capacidade individual de visualizao mental do grupo de prtica combinada. Numa segunda parte do estudo, procuramos dar resposta seguinte questo Que benefcios esperamos do treino de visualizao mental? Qual o papel da capacidade individual de visualizao mental na obteno desses benefcios? Para tal, a amostra do nosso estudo ser dividida de forma aleatria em trs grupos, grupo experimental 1 (prtica combinada), grupo experimental 2 (prtica motora) e grupo 3 (grupo de controlo). O grupo 1 realizar treino 18

Introduo

mental juntamente com o treino de prtica motora, o grupo 2 apenas realizar o treino de prtica motora e o grupo 3 no efectuar qualquer tipo de treino. Este estudo ser efectuado atravs da comparao das performances de uma avaliao inicial (i. e. antes de qualquer tipo de treino) e uma avaliao final (i. e. aps o tipo de treino realizado).

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Reviso da Literatura

CAPTULO II REVISO DE LITERATURA

20

Reviso da Literatura

2.1 TREINO PSICOLGICO

Nos ltimos anos, a literatura em Psicologia do Desporto tem visto um aumento no nmero de estudos experimentais sobre a eficcia dos conhecimentos psicolgicos na melhoria do desempenho desportivo (Patrick & Hrycaiko, 1998; Rogerson & Hrycaiko, 2002; Thelwell & Greenlees, 2003). No entanto, este desenvolvimento de conhecimento trouxe consigo duas lacunas que precisam de ser abordadas. Primeiro, houve alguma inconsistncia na tentativa de justificar a utilizao das habilidades psicolgicas no treino. Alguns trabalhos recentes (Thelwell & Greenlees, 2001, 2003) fornecem uma base racional para a incluso destas habilidades no processo de treino. A segunda questo diz respeito a que a maioria dos estudos publicados procuram examinar os resultados de forma isolada, ou seja, analisam apenas uma componente do rendimento, negligenciando todas as outras que tambm possam estar envolvidas. Esta viso mais global pode levar a uma melhor compreenso do rendimento desportivo (Rogerson & Hrycaiko, 2002). Williams (1991) citado por Alves (2002), diz-nos que as performances de alto nvel consistem nos momentos mgicos em que um atleta d tudo tanto fsica como mentalmente. A execuo resulta excepcional, parecendo transcender os nveis de realizao normais. Competitivamente, estes desempenhos resultam de uma melhoria pessoal. So o ltimo degrau, o momento mgico para o qual o atleta e o treinador trabalharam com vista consecuo do xito. Ainda segundo o mesmo autor (1991), a presena de um clima emocional adequado ajuda a mobilizar as reaces psicolgicas que so essenciais para uma execuo brilhante () podendo existir uma relao circular onde o estado mental ptimo conduz a uma melhor execuo e o xito implica estados mentais desejveis. Dentro desta linha de pensamento, surge o conceito de Programa de Treino Psicolgico (PTP), que consiste num programa que identifica, analisa, ensina e treina as competncias cognitivas, mentais ou psicolgicas mais directamente relacionadas com o rendimento desportivo (Alderman, 1984, cit. por Cruz, 1996). Assim, as competncias psicolgicas, semelhana das fsicas, tcnicas e tcticas, podem ser aprendidas e melhoradas atravs do ensino, do treino e da prtica sistemtica. 21

Reviso da Literatura

O treino psicolgico coloca-nos ao dispor tcnicas a partir das quais poderemos controlar trs componentes: a componente emocional onde se inclui a ansiedade, a componente cognitiva onde se inclui a ateno e a concentrao, e a componente fisiolgica onde se inclui o nvel de activao e a frequncia cardaca (Passos & Arajo, 1999). As competncias psicolgicas mais relevantes para a preparao mental dos atletas so: - a nvel pessoal: o controlo do stress e da ansiedade, a ateno e concentrao, a imaginao e a visualizao mental, a formulao de objectivos e a autoconfiana; - a nvel social ou interpessoal: competncias de comunicao e relao interpessoal, assim como a coeso e esprito de equipa. A maior caracterstica das capacidades psicolgicas, tendo em vista a sua optimizao, aperfeioamento e rentabilizao, que podem ser sujeitas a contnuos e intensos programas de treino de acordo com os objectivos que se podem alcanar (Passos & Arajo, 1999). Tem havido um aumento no nmero de estudos que examinam a eficcia de intervenes psicolgicas no desempenho desportivo. Apesar de tais avanos, ainda h uma base de conhecimento limitado quanto eficcia das competncias psicolgicas nos desportos de equipa (Kendall, Hrycaiko, Martin, & Kendall, 1990; McPherson, 2000), onde os atletas so submetidos a constantes mudanas das situaes ambientais, principalmente dependentes do comportamento de outros colegas (G. Martin, 1997). Nos diferentes estudos realizados, verifica-se que muito pouco tem sido focado na utilizao das competncias psicolgicas no Futebol (Reilly & Gilbourne, 2003). Procurando verificar qual a importncia das habilidades psicolgicas para um jogador de meio-campo no Futebol (Thelwell & Greenlees, 2003), verificou-se que o relaxamento, predominantemente na forma de relaxamento muscular progressivo e centralizado, parece ser adequado na premissa de que estes jogadores so obrigados a estar no seu estado ideal de excitao, antes e durante a execuo. A imagtica tambm traz benefcios para este tipo de jogadores. Os atletas na preparao de um jogo, devem visualizar o sistema tctico e a estratgia da sua equipa, como a equipa adversria vai actuar e, alm disso, imaginar-se a concluir as suas aces com sucesso. Outra das habilidades que ser vantajosa para um mdiocentro a auto-verbalizao. Por exemplo, utilizar na auto-motivao e na procura do melhor estado de activao (Hardy, Gammage, & Hall, 2001). 22

Reviso da Literatura

2.2 TREINO MENTAL

Para Passos & Arajo (1999), o conceito de treino mental, define-se como uma aplicao prtica dos contedos de programas definidos pelo treino psicolgico, tendo como objectivo a sua aplicao em situaes de aprendizagem e prestao motora. No incio da aplicao de um programa de treino mental, necessrio realizar uma avaliao inicial, de forma a recolher informao em relao nitidez e ao controlo das imagens produzidas mentalmente, por cada um dos nossos atletas. Nas fases de desenvolvimento do programa, a relaxao poder ser utilizada, para controlo do nvel de activao ptimo para a realizao da tarefa (Passos & Arajo, 1999). Verifica-se que o treino mental pode ajudar os atletas a melhorar o seu rendimento desportivo, bem como a encontrar os estados psicolgicos ptimos para renderem no mximo das suas potencialidades, tanto nos treinos como nas competies e provas desportivas. Neste sentido os Programas de Treino de Competncias Psicolgicas (PTCP) partem do princpio de que as competncias psicolgicas podem ser ensinadas e de que os atletas so primeiro seres humanos e s depois atletas (Cruz & Viana, 1996). Dentro destas competncias existem tambm as que se relacionam com a recepo e tratamento da informao (percepo, ateno, memria, deciso, visualizao mental, etc.) e que se designam por habilidades cognitivas. Os PTCP devem ser planeados e adaptados em funo das necessidades dos atletas, dos treinadores e das prprias exigncias especficas de cada modalidade desportiva. O Treino de Habilidades Psicolgicas THP considerado uma das habilidades essenciais para todos os atletas em diferentes nveis de preparao (Weinberg & Gould, 2001), o pilar central da psicologia do desporto aplicada (Holmes & Collins, 2002), uma ferramenta cognitiva que auxilia o atleta a tornar-se campeo (Moran, 2000) ou ainda uma estratgia psicolgica para que o atleta tenha o poder de enfrentar treinos e competies da melhor forma, aumentando o seu rendimento e o seu bem-estar (Dosil, 2004). Tal como o treino fsico, tcnico e tctico, a preparao mental, demora tempo a desenvolver e est sujeito s mesmas dificuldades das outras reas, ou seja, tambm necessrio calma e persistncia no ensino de competncias psicolgicas aos atletas, antes de estes dominarem totalmente esses contedos. 23

Reviso da Literatura

Weinberg & Gould (2001) defendem que todos ns nascemos com certas predisposies fsicas e psicolgicas, mas as habilidades podem ser aprendidas e desenvolvidas, dependendo das experincias que encontramos em nossas vidas (p.250). Estes autores afirmam que o treino de habilidades psicolgicas frequentemente negligenciado devido falta de conhecimento, percepo da falta de tempo ou crena de que habilidades psicolgicas so inatas e no podem ser ensinadas. A prtica mental no difcil de usar, no entanto, requer algum treino. Como sugesto, deve-se realizar algum tipo de formao antes de comear a us-la sistematicamente com os atletas. Num nvel mais baixo, o treino mental simplesmente pensar no que se vai fazer. No existe problema em fazer isso com os atletas (McMorris & Hale, 2006). A maioria das formas de treino mental precedida de relaxamento. Existem diversas maneiras de induzir o relaxamento, alternando tenso muscular e libertao dessa tenso, estando outros mais prximos das maneiras que os hipnotizadores induzem o relaxamento. O relaxamento normalmente seguido pelo uso de imagens. A imaginao pode ser de duas formas, interna ou externa. Externa obriga a pessoa a imaginar-se a realizar uma percia, como se estivesse olhando para um filme de si mesmo. A interna significa que a pessoa v e sente o movimento de dentro do seu corpo. Pensa-se que o ltimo o mais poderoso. Os Psiclogos do Desporto usam uma variedade de tcnicas para ajudar os atletas a responder s suas necessidades. Essas tcnicas, que so muitas vezes combinadas na forma de treino de habilidade psicolgicas, so a fixao de objectivos, relaxamento, imaginao e autoverbalizao (Brewer, 2009). Embora apresentados separadamente, os quatro mtodos so facilmente integradas no mbito de um programa de treino de habilidades psicolgicas individuais, quando apropriado. Alm disso, estes mtodos so complementares. Para Samulski (2002) existem trs formas de praticar uma habilidade mentalmente: a) auto-verbalizao, que a repetio mental e descrio verbal do movimento; b) autoobservao, que a observao mental do prprio movimento, na qual o indivduo se observa mentalmente a praticar o movimento. Neste caso, ele o espectador da sua prpria execuo; e c) ideomotor, que a imaginao e sensao cinestsica do prprio movimento, na qual o indivduo executa mentalmente o movimento. Nesse caso, ele passa a ser o actor do movimento.

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A imaginao, juntamente com outras habilidades mentais como o estabelecimento de objectivos, a visualizao de situaes de competio ou de estgios de preparao que deseja atingir, a concentrao em estmulos especficos, bem como o controlo da ansiedade ou do estado ptimo de activao formam a base da preparao psicolgica do atleta (Simons, 2000). Nos ltimos trinta anos, a investigao em Psicologia do Desporto tem mostrado repetidamente a influncia do treino mental no desempenho dos atletas. Os resultados revelaram que a preparao mental influncia positivamente o desempenho, quando comparado com atletas que no realizam qualquer tipo de preparao. No entanto, nenhuma das tcnicas de preparao mental foi consistentemente superior. Alm disso, o tipo de preparao mental mais eficaz dependia do tipo de tarefa a ser executada (por exemplo, fora versus tarefas de preciso motora). Isto implica que os atletas devem preparar-se mentalmente de forma diferente, dependendo do tipo de tarefa a ser executada (Gould, et al., 2009). Atletas de nveis competitivos superiores possuem habilidades psicolgicas mais desenvolvidas (Carvalho & Vasconcelos-Raposo, 1998; Coelho & Vasconcelos-Raposo, 1995; Golby & Sheard, 2004; Gould, Dieffenbach, & Moffett, 2002; D. Silva & Vasconcelos-Raposo, 2002). Meacci & Price (1985) concluram que uma combinao da prtica fsica e mtodos cognitivos conduziam a uma melhor aquisio de competncias do que a prtica fsica isolada.

2.3 A VISUALIZAO MENTAL

2.3.1 INTRODUO

A visualizao mental tem sido referida na literatura por uma srie de nomes visualizao, ensaio mental, prtica mental, e desenvolvimento cognitivo para citar apenas alguns. Esta tcnica tem sido considerada como uma das mais eficazes no desenvolvimento de competncias fsicas e psicolgicas, devido sua polivalncia em trabalhos de vrios tipos.

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Algumas das indicaes resultantes da literatura sugerem o facto da Visualizao Mental (VM) aparecer entre as tcnicas mais empregues, juntando-se s tradicionais intervenes dirigidas ao controlo do stress, da ansiedade (treino de relaxamento), da promoo da motivao e do empenho nos treinos e competies (formulao de objectivos) e da estimulao de padres de pensamentos positivos e ajustados face s exigncias e problemas colocadas pela actividade desportiva (planos mentais) (Cox, 1994). A visualizao uma tcnica bastante verstil, em que os atletas so orientados para criarem imagens mentais, envolvendo os mltiplos sentidos. Muitas vezes este tipo de treino acontece juntamente com o treino de relaxamento, sendo utilizado na aquisio de uma nova habilidade fsica ou mental, no aperfeioamento de uma habilidade fsica ou mental anteriormente adquirida, na aprendizagem de uma nova estratgia ou noutras funes da psicologia do desporto. Por exemplo, quando a imagem usada para promover o desenvolvimento de uma habilidade fsica, como um balano do golfe, os psiclogos do desporto podem instruir os atletas a usar o tipo visual, auditivo, cinestsico e outras imagens que correspondem ao balanar de um taco de golfe (Brewer, 2009). Hall (2001) argumenta que a imagem deve ser considerada a principal componente da prtica mental. A utilizao de Programas de Treino de Visualizao Mental (PTVM) tem sido apontada como uma estratgia aplicada pelos atletas no sentido de melhorarem determinados gestos motores ou como forma de anteciparem e avaliarem as aces efectuadas num movimento ou jogada realizada durante as competies (Atienza & Balaguer, 1994). Segundo Bandura (1997), "desenvolvimento cognitivo" ou visualizao pode incidir sobre as questes, cognitivas (planos, estratgias), motoras (ou seja, a regulao dos padres de aco e das sensaes que os acompanham) ou emotivas (gesto do stress e reduo de tenso) do desporto. A VM uma tcnica que se configura como um processo que permite ao sujeito ver-se a si prprio numa dada situao (Vealey, 1991). Recorre s informaes guardadas na memria para produzir as imagens mentais. Ao relembrarmos aspectos importantes da tcnica, estamos a provocar uma activao do nosso organismo ficando este num melhor estado de preparao, para a execuo do exerccio (Passos & Arajo, 1999). 26

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Podemos assim afirmar que Visualizao Mental a conjugao de representaes mentais da realidade e da imaginao, incluindo no somente retratos mentais, mas tambm representaes mentais do som, toque, cheiro, gosto, movimento e emoes. Como as outras habilidades fsicas, o treino da habilidade psicolgica de visualizao mental requer uma prtica sistemtica para ser eficaz. Em termos de investigao, tem-se verificado que esta tem sido bastante diversificada e pode incluir estudos descritivos e/ou experimentais, utilizando mtodos qualitativos e/ou quantitativos (Silva, 2009). Num nvel mais bsico, os investigadores tm realizado estudos descritivos e tm respondido a questes como por exemplo; quem usa visualizao mental?, o que que as pessoas visualizam?, porque que as pessoas visualizam?, e/ou onde e quando as pessoas visualizam?, sendo muitas vezes includas como variveis independentes, diferenas individuais, como a capacidade ou nvel competitivo e de gnero. (Shelton & Mahoney, 1978; Short & Short, 2005; Short, Tenute, & Feltz, 2005 cit. Silva, 2009). Noutro patamar de investigao temos a avaliao da visualizao mental. Neste caso, tem-se procurado o desenvolvimento e validao de escalas e testes de medida de visualizao mental, incluindo caractersticas que variam desde o momento da sua utilizao, at nitidez da imagem (Bump, 1989). Outros investigadores esto mais interessados em descobrir como que a visualizao mental funciona, existindo vrios modelos ou teorias diferentes (Morris, Spittle, & Watt, 2005b; Murphy, Nordin, & Cumming, 2006). Alm do referido anteriormente, o que torna as pessoas boas visualizadoras tambm constitui um tema que os investigadores esto interessadas em desvendar. Variveis como a capacidade de visualizao mental e perspectiva (interna/externa) tm sido estudadas. Outra linha de investigao diz respeito s estratgias para a aplicao da visualizao mental - como podem as intervenes em visualizao mental ajudar as pessoas a atingir os resultados desejados? (Munroe-Chandler, Hall, Fishburne, & Shannon, 2005; Orlick, 2000). As questes nesta rea consideram o tamanho ideal dos programas de visualizao mental, o contexto da interveno, o contedo das imagens, etc. (Munroe, Giacobbi, Hall, & Weinberg, 2000). A meta-anlise, conduzida por D. Feltz & Landers (1983) e Hinshaw (1991), concluiu que a prtica mental foi mais eficaz do que nenhuma prtica para melhorar o desempenho posterior de uma habilidade motora. No entanto, difcil explicar a eficcia da visualizao 27

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porque nos diferentes estudos foram utilizadas diferentes formas de prtica mental (por exemplo, visualizao, auto-verbalizao, relaxamento). Assim, ser necessrio realizar estudos que procurem verificar se a visualizao (e apenas visualizao) tem um efeito positivo sobre o desempenho motor (Weinberg, 2008).

2.3.2 CONCEITO DE VISUALIZAO MENTAL

Quando nos referimos Visualizao Mental, estamos a referir-nos ao que os autores de lngua inglesa designam de imagery. Esta refere-se a uma tcnica mental que programa a mente para responder tal como foi programada (Cruz & Viana, 1996; Vealey & Walter, 1993). Para Passos & Arajo (1999), o imagery surge como uma tcnica de treino mental distinta da imaginao e da visualizao assumindo-se como uma representao do mundo exterior e dos seus objectivos dotada de um realismos sensorial que nos permite interagir com a imagem. Para Vasconcelos-Raposo, Costa, & Carvalhal (2001), o imagery surge como a capacidade de nos vermos a ns prprios a desempenhar tarefas evocando pensamentos e imagens. Esta habilidade consiste em recuperar a informao armazenada na memria e remodel-la atravs de processos cognitivos. A VM um processo bsico para o tratamento da informao e facilita uma captao adequada, coerente com as exigncias da situao. Pode ser utilizada para ordenar o pensamento ou o reconhecimento da situao e, quanto mais preciso e elaborado for o processo de imaginao dos diferentes passos da activao, mais eficiente e efectivamente ser executado o plano desenvolvido (Eberspcher, 1995). Pode-se considerar que a visualizao a tcnica mais utilizada no treino mental, sendo definida como o processo que envolve praticar sistematicamente um comportamento motor, usando a imaginao de uma habilidade motora especfica, tambm conhecido como memria muscular. Quem primeiro usou esta terminologia foi Jacobson, que demonstrou existirem contraces musculares durante a imaginao de um simples movimento de flexo dos braos. Mais tarde, estes resultados foram confirmados por Bird (1984) e Jowdy & Harris (1990). Williams (1994) aprimorou a definio proposta por Lang et al. (1980), que definiu imaginao como uma tcnica mental que programa a mente e o corpo a responder acertadamente a um 28

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movimento desejado. Williams (1994) explicou que a imaginao permite recriar e criar experincias no plano imaginrio. O ser humano capaz de imitar aces motoras de outros, porque a mente fotografa a habilidade e utiliza-a como se fosse a base para o desempenho. A imaginao baseada na memria, que experimentamos internamente para reconstruirmos eventos externos em nossas mentes. Existem muitas definies para a VM, no entanto a mais reconhecida tem sido a de Richardson (1969), A Visualizao Mental refere-se a todas as experincias quasi-sensoriais e quasi-perceptivos, das quais estamos conscientes e que existem para ns na ausncia dos estmulos que normalmente produzem as verdadeiras sensaes e percepes. A definio apresentada anteriormente refere trs pontos fundamentais relativos VM. O primeiro que, durante a VM, o atleta no s visualiza o acontecimento na sua mente, como tambm reintegra a experincia completa, incluindo os aspectos visuais, auditivos, olfactivos, tcteis, quinestsicos e emocionais. O segundo que o sujeito est consciente da experincia. O terceiro que a VM ocorre na ausncia do estmulo real que normalmente desencadeia a experincia. Para que as imagens visualizadas sejam o mais prximas possvel da realidade, o atleta necessita de recriar a situao com todos os seus ingredientes, o que s consegue se estiver atento a toda a informao que o rodeia. Para tal, o atleta deve treinar a captao de todo o tipo de informao relativa situao. Apesar do exposto, na literatura, utilizam-se muitas vezes os termos visualizao mental e prtica mental, indiferenciadamente (Murphy & Jowdy, 1992). Importa por isso diferencilos de forma clara e precisa. Visualizao Mental refere-se a um processo cognitivo, enquanto Prtica Mental se refere a uma tcnica particular, usada em diferentes contextos. Com o objectivo de distinguir estes dois conceitos, Suinn (1993) utiliza os termos prtica mental e repetio em imaginao. O segundo termo envolve o atleta a visualizar-se a completar uma determinada tarefa com sucesso. Esta visualizao pode referir-se aprendizagem de novos skills motores e/ou ao reforo dos j aprendidos ou preparao para uma competio. Quando o atleta utiliza a visualizao, fora da competio e com o objectivo de melhorar a performance num determinado skill ou numa determinada estratgia, estamos a falar da visualizao mental como prtica mental. Alm disso, quando o atleta utiliza a 29

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visualizao para se preparar para uma determinada competio, estamos a falar de visualizao mental como preparao psicolgica. Em termos concretos, quando um jogador de basquetebol imagina que est a efectuar um lanamento livre, ele est a utilizar esta competncia como forma de relembrar as vrias aces e sensaes inerentes a essa situao do jogo. No entanto, a aceitao da aplicao desta competncia d-se a partir do momento em que se verifica um envolvimento dos vrios sentidos (visual, olfactivo, auditivo, cinestsico e emocional), sendo o atleta no s capaz de imaginar a situao em causa mas tambm de incorporar as informaes auditivas (rudos e sons prprios do local), as sensaes tcteis (contacto com a bola), os movimentos efectuados (ocupao do espao) e as prprias emoes desencadeadas pela situao (sentimentos positivos ou negativos antes da execuo motora). Dito por outras palavras, o objectivo da VM recriar uma experincia no atleta, to prxima daquela que ele vai encontrar quando efectivamente executar o comportamento em causa, sendo esta reproduo da situao na mente do atleta que melhor caracteriza a competncia. Como se pode verificar, a VM uma experincia similar s que nos so proporcionadas pelos prprios sentidos (ouvir, ver, sentir, etc.), mas advm na ausncia da habitual estimulao externa, ou seja, o atleta pode imaginar-se a executar um determinado movimento ou gesto tcnico (por exemplo, o servio de voleibol), experimentando todas as sensaes prprias da situao (ex. ansiedade, barulho, calor, etc.), sem ter que estar realmente a execut-lo (Gomes & Cruz, 2001). A VM pode ser utilizada num grande nmero de situaes, como seja, na aprendizagem de uma determinada competncia motora, na correco de erros cometidos, na preparao e antecipao das situaes competitivas e na prpria promoo da confiana do atleta para a competio. Martens (1987) refere que a VM uma experincia semelhante experincia sensorial (ver, sentir, ouvir), mas que acontece na ausncia do estmulo externo habitual. O atleta v, ouve e sente tudo o que envolve a execuo de uma determinada tarefa, mas apenas na sua mente, sendo estas sensaes, essencialmente, produto da memria e experienciada internamente por uma recordao activa e, possivelmente, por uma reconstruo de acontecimentos externos anteriores. Murphy & Jowdy (1992) definem VM como um processo pelo qual experincias sensoriais so guardadas na memria e recordadas e executadas internamente, na ausncia de 30

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estmulos externos. Tambm nesta definio, a VM entendida como envolvendo o uso de todos os sentidos e no s o visual. No domnio desportivo, alm do movimento, tambm o contexto desportivo importante, como por exemplo o cheiro do cloro da piscina para o nadador, o som dos skis a deslizar na neve para o esquiador, etc. De acordo com Alves (2001), a influncia da visualizao mental na performance pode ser mediada por diversas variveis de entre as quais podemos destacar a Capacidade Individual. Para alm desta encontramos tambm a questo da perspectiva (interna/externa) face visualizao mental (Mahoney & Avenet, 1977), o resultado (positivo/negativo) da visualizao mental (Woolfolk, Parrish, & Murphy, 1985). No que se refere capacidade individual de visualizao mental, verifica-se que a sua eficcia superior nos indivduos que demonstram melhor capacidade individual. Uma boa capacidade de visualizao mental tem sido definida pelo nvel de nitidez e controlo que o atleta tem sobre as imagens que visualiza. A nitidez refere-se clareza e realidade da imagem, enquanto o controlo se refere capacidade do atleta em alterar e reconstituir a imagem (Alves, 2001). A visualizao uma das poderosas estratgias de treino mental capaz de traduzir os desejos mentais dos atletas em performances fsicas. A habilidade de pensar em imagens em vez de palavras, de controlar o fluxo da visualizao numa direco positiva e de visualizar vivamente e com grandes detalhes os gestos pretendidos so importantes predizeres de uma alta performance. Estes skills mentais so crticos no desenvolvimento de altas performances (Loehr, 1986). Desenvolver altas performances, num desporto, requer que um atleta passe de um estado em que pensa de uma forma lgica, racional e deliberada para um estado muito mais espontneo e instintivo. A prtica de visualizao antes e durante os desempenhos motores, nas modalidades, ajudam a facilitar esta passagem (Loehr, 1986).

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2.3.3 VARIVEIS MEDIADORAS

A influncia da Visualizao Mental na performance pode ser mediatizada por diversas variveis, de entre as quais podemos destacar: 1) a capacidade de visualizao mental individual; 2) a perspectiva face visualizao mental; 3) o resultado positivo ou negativo da visualizao mental.

2.3.3.1 A Capacidade de Visualizao Mental Individual

A eficcia da VM superior em indivduos que demonstram melhor capacidade. Estes indivduos apresentam melhor nitidez e controlo sobre as imagens que visualizam. A nitidez refere-se clareza e realidade da imagem, enquanto o controlo se refere capacidade do atleta em alterar e reconstituir a imagem (Alves, 2001). A investigao nesta rea tem demonstrado uma relao positiva e significativa entre a capacidade dos atletas para visualizar uma tarefa e a performance subsequente nessa mesma tarefa (Highlen & Bennet, 1983). Estudos em que foi utilizado o Questionrio de Visualizao de Movimentos (QVM) de Hall, Pongrac, & Buckholz (1985) (existe traduo de Alves e Gomes, 1998), tm demonstrado que atletas com elevados resultados neste questionrio demonstravam, igualmente, maior facilidade na aquisio e memorizao de padres de movimentos (Hall, Buckolz, & Fishburne, 1989). Da mesma forma, os estudos de Ryan (1981, 1982), Goss (1986), Highlen (1983) e Orlick (1988) confirmaram que os indivduos com melhor capacidade para visualizar imagens com maior nitidez e controlo obtinham performances superiores nas diferentes tarefas a que foram submetidos. Ryan (1981) constatou que esta situao se verificava apenas em tarefas de natureza cognitiva. Os estudos de Atienza (1994) e Gould (1996) vieram constatar isso mesmo, ou seja, verificou-se que a VM pode ter maior eficcia em actividades que envolvem uma maior componente cognitiva (por exemplo, visualizar todos os movimentos implcitos na realizao de uma jogada no basquetebol), por contraponto s tarefas onde predominantemente

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solicitada uma resposta motora (por exemplo, visualizar o levantamento de pesos nos treinos fsicos). A VM uma capacidade que difere de atleta para atleta, podendo ser melhorada com a prtica. Tal ficou demonstrado por Rodgers (1991), num estudo em que investigou os efeitos de um programa de treino da visualizao (durante 16 semanas) na capacidade de VM. Os resultados alcanados revelaram uma melhoria significativa na capacidade de visualizao. Tambm Gomes (1999) encontrou resultados idnticos num estudo que realizou com jovens basquetebolistas. Os resultados obtidos nestes estudos sugerem que no devemos considerar, apenas, a capacidade individual dos atletas, mas tambm a melhoria dessa capacidade com treinos sistemticos e intensivos.

2.3.3.2 A Perspectiva Face Visualizao Mental

Outra varivel que pode influenciar a eficcia da VM a perspectiva em que o atleta se coloca. Mahoney (1977) foi um dos primeiros a colocar esta problemtica. Podemos constatar duas perspectivas: 1) Externa ou dissociada (VMD) e 2) Interna ou associada (VMA). A primeira perspectiva diz respeito VM de si mesmo quando executa o movimento, ou seja, o indivduo assume um papel de espectador de si prprio. Mentalmente, o indivduo v-se como num filme, como se fosse um espectador da sua prpria execuo e refere-se mais a estmulos visuais, apesar dos auditivos, quinestsicos ou olfactivos tambm estarem presentes. Relativamente segunda perspectiva, o indivduo v mentalmente a sua performance, como actor, plenamente inserido nas sensaes da aco em que os estmulos so essencialmente quinestsicos, isto , reflecte a vivncia da sensao dos processos internos que ocorrem na execuo do movimento (sentir o peso do disco, a presso da perna no momento do lanamento, etc.). Resumindo, em VMD, o indivduo est dissociado das suas sensaes, enquanto em VMA, est totalmente associado a elas, ou seja, est fora e dentro das sensaes, respectivamente (Missoum, 1991 cit. por Alves, 2002). 33

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Investigaes recentes tm evidenciado que os atletas de elite utilizam mais frequentemente a VM interna ou associada (VMA) que a visualizao externa ou dissociada (VMD). Os atletas menos hbeis utilizam, normalmente, a visualizao externa em detrimento da interna (Rotella, Gansneder, Ojala & Billing, 1980; Mahoney, Gabriel & Perkings, 1987; Barr & Hall, 1992; cit. por Alves, 2002). No entanto, existem alguns estudos que no confirmam estes resultados. (Hall, Rodgers, & Barr, 1990) realizaram um estudo em que analisaram atletas de seis modalidades diferentes e de quatro nveis diferentes. Neste estudo, no encontraram diferenas no uso das duas perspectivas em relao ao nvel de habilidade dos atletas. No entanto, outros tipos de estudos revelaram que a visualizao interna produz uma actividade fisiolgica superior, nomeadamente na actividade muscular, produzida pela visualizao externa (Hale, 1982). Num estudo realizado com atletas de Karat, verificou-se que a visualizao interna produzia significativamente mais actividade muscular que a externa (D. Harris & W. Robinson, 1986). Esta discrepncia de resultados poder-se- dever finalidade da interveno (Gould & Dmarjian, 1996). Estes autores referem que a visualizao interna poder estar mais associada aprendizagem e melhoria de skills motores, atravs do feedback quinestsico, enquanto a visualizao externa poder estar mais associada utilizao de estratgias pr-competitivas, como por exemplo, aumentar a autoconfiana.

2.3.3.3 O Resultado Positivo ou Negativo da Visualizao Mental

Os resultados de diversas investigaes sobre o estudo dos efeitos do resultado da VM tm-se revelado bastante consistentes. Dos primeiros estudos realizados sobre os efeitos do resultado negativo ou positivo da visualizao mental, Powell (1973) verificou que os indivduos que visualizavam positivamente as suas aces aumentavam a sua performance em 28%, enquanto os sujeitos que visualizavam performances negativas decresceram 3% na sua performance. Segundo Cratty (1984), a visualizao de performances negativas, antes da competio, leva a uma inibio da performance. Por sua vez, Suinn (1985) refere que a visualizao 34

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negativa pode diminuir a concentrao, a motivao e a autoconfiana. Outros estudos sugerem que uma VM positiva e correcta melhora a performance subsequente, ao contrrio da negativa e incorrecta da qual resulta uma performance inconsistente. Durante uma competio de golfe, Shaw (2002) pediu a atletas experientes e inexperientes que realizassem aproximaes (Putts) com trs tipos de condio: visualizao de resultado positivo, visualizao de resultado negativo e sem visualizao. Os maiores ndices de erro registaram-se nas visualizaes negativas. Nos trabalhos de investigao realizados por Woolfolk (1985) foi feita a comparao entre trs grupos, tendo um deles, utilizado a visualizao mental para resultados positivos, outro para resultados negativos e um grupo de controlo. A partir dos resultados obtidos os investigadores concluram que o grupo que utilizou as imagens negativas teve desempenhos significativamente mais baixos, no s em relao ao grupo que utilizou as imagens positivas, mas tambm em relao ao grupo de controlo. Sintetizando, tem surgido um conjunto de trabalhos centrados na anlise das variveis mediadoras da relao entre a VM e a aprendizagem motora e o rendimento desportivo (Murphy & Jowdy, 1992). Estes trabalhos, em termos gerais, sugerem o estabelecimento de quatro grandes reas de interesse. Em primeiro lugar, verificou-se que a capacidade dos atletas recriarem mentalmente uma determinada situao era representada pela clareza e realismo com que a imaginavam (vivacidade) bem como pela capacidade de mudarem e manipularem o seu contedo (controlabilidade). Assim sendo, os atletas que evidenciam este tipo de caractersticas tendem a obter os melhores resultados na visualizao realizada representando, de acordo com os dados de alguns estudos, os praticantes com os melhores nveis de rendimento desportivo (Highlen & Bennet, 1983). Uma segunda rea remeteu para a forma como a VM efectuada, defendendo-se a ideia de que, quando se incluem contedos positivos na forma como so recriadas as situaes (por exemplo, efectuar correctamente um movimento, ter sucesso numa determinada jogada, etc.), se obtm maiores vantagens no processo de imaginao (Short, et al., 2002; Woolfolk, et al., 1985). Um terceiro domnio interessou-se pelo tipo de tarefas a recriar, existindo um certo consenso relativamente ao facto da VM poder assumir uma maior eficcia em actividades que envolvem uma maior componente cognitiva (por exemplo, visualizar todos os movimentos implcitos na realizao de uma jogada no basquetebol) por contraponto s tarefas onde predominantemente solicitada uma resposta 35

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motora (por exemplo, visualizar o levantamento de pesos nos treinos fsicos) (Atienza & Balaguer, 1994; Gould & Dmarjian, 1996). Por fim, foi proposta uma distino na perspectiva de imaginao adoptada, assumindo-se duas grandes orientaes. A primeira refere-se VM interna, respeitando aos casos onde o atleta se serve do seu prprio ponto de vista para antecipar a situao em causa. Neste caso, ele recria a situao como se estivesse a execut-la e aquilo que v e sente o que normalmente acontece quando de facto se encontra confrontado com a tarefa. Na VM externa, o praticante adopta o ponto de vista de um observador externo, analisando as suas aces como se estivesse a ver uma gravao das suas aces (Weinberg & Gould, 1995). Apesar dos dados serem algo inconclusivos quanto aos efeitos diferenciais dos dois tipos de visualizao, existindo a possibilidade dos praticantes combinarem as duas formas numa mesma tarefa, os autores tm valorizado mais a dimenso interna, pelo facto desta produzir experincias sensoriais mais prximas daquelas que tendem a ocorrer na realidade (por exemplo, nveis mais elevados de actividade elctrica nos msculos; ndices de batimento cardaco prximos dos que acontecem na situao desportiva, etc.) (Hale, 1982; Hall, et al., 1990).

2.4 OS USOS DA VISUALIZAO MENTAL

No domnio desportivo, a VM pode ser usada de variadas maneiras, dentro de condies de aplicao extremamente prximas da realidade e em todas as fases da competio (antes, durante e aps). Na VM exige-se ao atleta que imagine a execuo do movimento/gesto tcnico que deseja treinar e melhorar, sem o executar realmente. A utilizao da VM tem-se demonstrado eficaz, tanto quando se utiliza em combinao com outras estratgias cognitivas como quando usada sozinha (Lesley & Gretchen, 1997 cit. por Alves, 2002), nomeadamente em: ajudar os atletas a adquirir e a praticar habilidades motoras complexas; ensaiar estratgias; ajudar os atletas na aquisio de competncias psicolgicas; 36

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ajudar os atletas na recuperao de leses. Em termos gerais, alguns dos dados produzidos indicam melhorias nos nveis de ateno

e concentrao (Calmels, Berthoumieux, & dArripe-Longueville, 2004), nas percepes mais elevadas de auto-eficcia e auto-confiana (Callow, Hardy, & Hall, 2001; Feltz & Riessinger, 1990; Short, et al., 2002), na maior motivao e emoes positivas (Paivio, 1985) e nos nveis mais consistentes de rendimento desportivo (Alves, 2002; Short, et al., 2002). Por outro lado, este tipo de efeitos parece generalizar-se a distintos contextos, desde a formao desportiva, ajudando os jovens na aprendizagem dos gestos motores e das movimentaes tcticas da modalidade, at aos atletas mais experientes, facilitando a correco dos erros e o aperfeioamento das competncias desportivas (Vealey, 1991). Sintetizando, a VM pode ajudar atletas e treinadores na definio de estratgias de jogo, no controlo das emoes, no aumento da autoconfiana, na gesto do stress, na focalizao da ateno, no reforo da motivao, na aprendizagem de novos skills motores e no aperfeioamento dos j adquiridos, na recuperao de leses e reduo do tempo de retorno prtica, etc. Para que a VM seja eficaz, necessrio que o atleta consiga criar imagens, o mais prximo possvel da realidade. Para isso, necessita percepcionar todas as caractersticas associadas imagem (sons, sensaes). Poder ser treinada, quer na captao sensorial das caractersticas da situao, quer na nitidez, quer, ainda, no controlo da imagem. Para que isso seja possvel necessrio uma srie de requisitos: estado de relaxao, a experincia pessoal, a prpria perspectiva e a vivncia de forma profunda. Desde sempre, o uso de imagens mentais foi empregue pelos atletas. Recentemente vrias tcnicas de VM foram desenvolvidas e aplicadas em contexto desportivo com o objectivo de elaborar respostas alternativas de pensamentos, sensaes e atitudes. Muitos atletas acabam por descobrir que a utilizao dessas imagens serve alguns dos seus objectivos de melhorias na performance motora (efeitos positivos). No entanto, nem todos os atletas que recorrem a esta tcnica conseguem o resultado que mais desejam. Essencialmente, os efeitos nefastos da visualizao resultam do facto de os atletas nunca terem desenvolvido correctamente as suas habilidades mentais (Vasconcelos-Raposo, et al., 2001).

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Cruz & Viana (1996) referem que, devido visualizao se tratar de um modo especfico de pensamento, est permanentemente presente na aprendizagem motora, em todos os exerccios e na competio desportiva. Actualmente, o principal problema que se verifica que os atletas tm aplicado deficientemente a VM j que no a treinam e nem a aplicam sua actividade desportiva de uma forma sistemtica e com todo o potencial. Pode mesmo dizer-se que no so conhecidos os limites e horizontes que podero ser ultrapassados se esta capacidade for treinada de forma to intensa e consistente como por exemplo a velocidade, fora ou a resistncia. De entre todos os trabalhos que utilizaram o Perfil Psicolgico de Prestao (PPP), houve apenas um que indicou a visualizao ou imagtica como uma varivel psicolgica e que diferenciou, significativamente, atletas de nveis competitivos foi o que estudou as modalidades de desporto individual (Vasconcelos-Raposo, 1993). Isto revela-nos um aspecto importante, de que a visualizao em desportos colectivos poder ser menos influente do que em desportos individuais, sendo argumentado que isso se deve ao facto de estes ltimos actuarem sozinhos de modo a planear e controlar as suas aces. Esta justificao ganha realce quando notamos que a maioria dos demais trabalhos que analisaram o perfil psicolgico de prestao e que assumiram a posio (sector) de jogo como varivel independente verificaram que foi o atleta responsvel pelo planeamento e execuo das estratgias da equipa o que possua os melhores ndices quanto a esta habilidade psicolgica (Carvalho & Vasconcelos-Raposo, 1998; Casimiro & Lzaro, 2004; Vasconcelos-Raposo, 1994). Tendo em conta os estudos que investigaram as diferenas por sectores (Carvalho & Vasconcelos-Raposo, 1998; Casimiro & Lzaro, 2004; Vasconcelos-Raposo, 1994), verifica-se que as posies a que so atribudas funes de criao e de planeamento das estratgias tcticas da equipa possuem os melhores valores quanto visualizao mental. Estes dados levam-nos a perceber nuances acerca da delegao de funes especficas de cada posio em campo. Por exemplo, os atletas de meio-campo, responsveis pela criao de jogadas, aqueles de quem se espera os lances de construo criativa e de solues para o ataque, so os que possuem maiores nveis de visualizao mental. De acordo com Gregg, Hall & Nederhof (2005) o uso extensivo de imagens pode ser utilizado numa grande variedade de circunstncias e o potencial de aprendizagem pode variar conforme a capacidade de utilizao da imaginao e das expectativas em relao a esta. 38

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Ter controlo sobre os pensamentos e as emoes uma das caractersticas que marca a histria de atletas vencedores (Rubio, 2006). Conforme Weinberg & Gould (2001), as imagens que registamos na nossa memria de experincias vividas so experimentadas externamente pela recordao e reconstruo de eventos anteriores. Alm disso, pode-se imaginar e criar situaes que ainda no ocorreram. A imaginao pode e deve desenvolver o mximo possvel os sentidos. O uso de todos eles fundamental para uma criao o mais real possvel da situao que se pretende criar. Simons (2000) aponta que os atletas devem aprender sobre suas imagens e sobre como aplic-las. Isso porque sendo produzidas de forma singular e, portanto, varivel de pessoa para pessoa, no h um modelo pr-estabelecido e pronto para ser aplicado em diferentes contextos. A imagtica a tcnica mais popular de treino mental usada pelos atletas, bem como a tcnica mais amplamente estudada na literatura do treino mental (Morris, et al., 2005b). De 235 atletas canadianos que participaram nos Jogos Olmpicos de 1984, 99% relataram o uso de imagens (Orlick & Partington, 1988). Em geral, os atletas de elite mais bem sucedidos usam as imagens de forma mais ampla e sistemtica, ao contrrio dos atletas menos sucedidos (Calmels, dArripe-Longueville, Fournier, & Soulard, 2003; Cumming & Hall, 2002; C. Hall, et al., 1990; Salmon, Hall, & Haslam, 1994). Todos os atletas tm potencial para aumentar as suas habilidades atravs da prtica sistemtica de VM (Evans, Jones, & Mullen, 2004; Orlick & Partington, 1988; Rodgers, et al., 1991) e com o aumento da capacidade de imaginao reforar a eficcia do treino de VM (Isaac, 1992). Imagtica eficaz para melhorar o desempenho dos atletas (Feltz & Landers, 1983; Morris, Spittle, & Watt, 2005a). Muitas vezes designado de "exerccio mental", normalmente envolve a prtica de visualizao durante um determinado perodo de tempo, alternando com a prtica fsica. Os atletas usam imagens por diversos motivos, incluindo a aprendizagem de competncias e prticas, desenvolvimento da estratgia e preparao da competio, incluindo a familiarizao com o local, o desenvolvimento de habilidades mentais, lidar com o stress, recuperao de leses (Morris, et al., 2005a; White & Hardy, 1998). A pesquisa mostrou tambm que as imagens de preparao, ou seja, usar imagens imediatamente antes do desempenho, pode melhorar o desempenho em tarefas de fora e em 39

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tarefas de resistncia muscular (Vealey & Greenleaf, 2006). Foi demonstrado tambm a sua eficcia no aumento da auto-confiana (Callow, Hardy, & Hall, 2001; Evans, et al., 2004; Garza & Feltz, 1998; Hale & Whitehouse, 1998; Short, et al., 2002), motivao (K. Martin & Hall, 1995), controlo da ateno (Calmels, et al., 2004) dos atletas durante a competio. Existem muitos atletas que relatam a importncia da utilizao das imagens na melhoria do seu desempenho (Weinberg, 2008). Por exemplo, o tenista Chris Evert afirmou que praticava VM antes dos jogos importantes, com o objectivo de visualizar aces especficas do adversrio e, em seguida, visualizava respostas bem sucedidas para essas aces. Numa perspectiva de treino, Pat Summit, treinador feminino de Basquetebol universitrio, descreve como a sua equipa usava imagens antes das grandes competies para relaxar e praticar situaes especficas de jogo. Embora no sejam provas cientficas, estas citaes fornecem um ponto de partida para determinar a eficcia da visualizao. Dentro do contexto desportivo, pode-se concluir que a VM uma ptima ferramenta facilitadora no s da aprendizagem motora mas tambm do aperfeioamento das habilidades j existentes.

2.5 TEORIAS EXPLICATIVAS DA VISUALIZAO MENTAL

Vrias teorias tm sido propostas para explicar os mecanismos subjacentes visualizao mental, no entanto, a investigao tem investido pouco no teste destes modelos. Os estudos tm-se centrado na relao da VM com o treino mental, a preparao cognitiva dos atletas, o nvel competitivo, as respostas musculares, estilos cognitivos, ou os estados de humor (Gouveia, 2001). No entanto, destacam-se uma srie de teorias que procuram explicar os mecanismos de como a VM melhora a performance motora, (1) Teoria Psiconeuromuscular ou Abordagem Ideomotora (proposta por Carpenter, 1894; Jacobson, 1931, cit. por Suinn, 1993), (2) Teoria da Aprendizagem Simblica ou Abordagem Cognitiva (proposta por Morriset, 1956; Sacket, 1934, cit por Suinn, 1993), (3) Teoria do Processamento da Informao (Feltz & Landers, 1983; Gould & Dmarjian, 1996; proposta por Lang, 1977, 1979, 1985, cit. por Suinn, 1993), (4) 40

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Teoria do Triplo Cdigo (proposta por Ahsen, 1984 cit. por Alves, 2002) e (5) Teoria da Activao proposta por Feltz (1983).

2.5.1 TEORIA PSICONEUROMUSCULAR

A teoria Psiconeuromuscular foi uma das pioneiras a procurar explicar o efeito da visualizao mental sobre o desempenho motor. Esta teoria baseia-se no princpio de que os efeitos da VM resultariam do facto de a representao mental de um gesto desportivo gerar uma enervao muscular semelhante do acto motor real, embora de menor amplitude. No entanto, essa activao suficiente para reproduzir o esquema de activao muscular correspondente (Hale, 1982; Suinn, 1987, cit. por Suinn, 1993). Jacobson (1932) apresentou como argumento a deteco de actividade elctrica muscular, registada em EMG, durante a execuo imaginada de um movimento (imagtica), neste caso registou actividade muscular durante a simulao de um movimento de elevao do membro superior. Recorrendo electromiografia (EMG), vrios outros autores (Feltz & Landers, 1983; D. Harris & W. Robinson, 1986; Suinn, 1980) confirmaram a existncia de actividade muscular durante sesses de imagtica, ficando apenas por esclarecer a especificidade do padro de resposta. Suinn (1980) regista actividade muscular coincidente com uma actividade real, ao pedir aos esquiadores para visualizarem uma descida em Ski, e em que os picos de actividade dos msculos das pernas ocorriam nos tempos em que na execuo real aconteceriam viragens ou outras situaes mais exigentes. Tambm Harris & Robinson (1986) registaram durante uma simulao (visualizao mental), de uma prova de Ski, actividade muscular em EMG com picos semelhantes s da execuo fsica. Tal como os autores anteriores, Bird (1984) confirmou a existncia de actividade muscular durante a visualizao mental e tambm a sua correspondncia em termos de picos de actividade muscular com a execuo real. Fundamentando esta teoria, Feltz & Landers (1983), numa reviso da literatura sobre este assunto, referem que no h dvida que os efeitos da prtica mental so produzidos por uma 41

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baixa enervao dos msculos que so usados durante a performance, no entanto, nesta sua meta-anlise afirmam que foram realizados poucos estudos que analisassem esta teoria tornando difcil fazer afirmaes consistentes, uma vez que quase todos os estudos quantitativos incluam a performance motora como varivel dependente.

2.5.2 TEORIA DA APRENDIZAGEM SIMBLICA

Esta teoria defende que os ganhos obtidos como consequncia da VM no so fruto da activao muscular, mas da oportunidade da prtica dos elementos simblicos da tarefa motora (Suinn, 1993), desta forma, permite a utilizao de processos cognitivos associados tarefa a executar. Quanto melhor codificados estiverem os elementos simblicos do movimento, mais fcil se torna execut-los. As habilidades de natureza mais cognitiva so mais facilmente codificadas que as de natureza essencialmente motora. Para os defensores desta teoria, todos os movimentos que fazemos so codificados no sistema responsvel pelo controle motor, logo a VM ir facilitar a execuo, ao permitir o ensaio cognitivo das diferentes componentes da tarefa na ordem apropriada, manter todas as caractersticas espaciais, assim como todos os potenciais problemas e objectivos e ainda planear a execuo do movimento. Quando se realiza um gesto desportivo, utiliza-se o feedback dos msculos e dos rgos sensoriais para codificar os elementos cognitivos pertinentes. Atravs da VM, os atletas podem utilizar este cdigo para os ajudar a consolidar o mapa mental (cdigo cognitivo simblico), a automatizar as destrezas e a construir uma execuo perfeita. Como o prprio nome indica, a presente teoria explica a aprendizagem de tarefas motoras atravs da codificao de padres de movimento (Martens, 1987) e no pela activao muscular (Feltz & Landers, 1983). Alguns estudos (Feltz & Landers, 1983; Vealey & Walter, 1993) vieram confirmar a eficcia desta teoria. No entanto, ficam algumas dvidas por esclarecer, nomeadamente, como que os atletas experientes podem beneficiar da utilizao da VM na melhoria das habilidades que j dominam a nvel elevado. 42

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2.5.3

TEORIA

BIOINFORMACIONAL/PSICOFISIOLGICA

OU

DO

PROCESSAMENTO DA INFORMAO

Perante o fraco poder explicativo das teorias apresentadas, os psiclogos viraram-se para as reas da Psicologia Cognitiva e Clnica, que tambm tm prestado especial ateno VM. Assim, Lang (1977, 1979, 1985) cit. por Suinn (1993), prope a Teoria Psicofisiolgica do Processamento da Informao, que analisa a VM em termos dos mecanismos subjacentes ao tratamento da informao pelo SNC, assumindo que o crebro organizado em caminhos e armazena um conjunto finito e organizado de preposies sobre relaes e descries de caractersticas de estmulos e respostas. Este aspecto sugere que a prtica da visualizao mental poder levar um indivduo a mudar o seu comportamento, se incluir muitas descries da resposta na apresentao da imaginao, permitindo-lhe deste modo o acesso ao programa motor adequado. Sendo o objectivo do treino/aprendizagem estabelecer uma ligao entre um determinado estimulo e o correspondente comportamento (resposta), atingindo-se essa ligao, ao apresentar o estmulo (fsica ou mentalmente) desencadeia-se o respectivo comportamento. As proposies de estmulo contm descritores sobre o estmulo (por exemplo a textura e o toque de uma bola de basquetebol ou o peso de um haltere). As proposies de resposta envolvem afirmaes sobre o comportamento, incluindo aspectos verbais, aspectos motores, ou aspectos fisiolgicos, tais como sentir a tenso de um msculo (Suinn, 1993). Segundo a Teoria Bioinformacional, para que o treino de visualizao mental influencie a performance atltica, as proposies de resposta devem ser activadas em paralelo com as proposies do estmulo. De acordo com esta teoria, uma cena de ansiedade e de aco, baseadas na realidade, produziro uma elevao da frequncia cardaca, enquanto outras baseadas puramente em fantasia no produziro alteraes, isto porque os sujeitos so capazes de reproduzir as proposies do estmulo e de resposta de acontecimentos familiares.

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O relato de que o uso de uma perspectiva interna leva a um aumento da melhoria do desempenho pode ser interpretado pela Teoria Bioinformacional, de que esta perspectiva leva a uma maior clareza, a uma maior capacidade de sentir os movimentos corporais, e uma melhor capacidade de se envolver emocionalmente. Atravs desta teoria, a perspectiva interna parece induzir uma proposio de estmulo mais clara a par de maiores proposies de resposta, com a consequncia de uma melhor performance. Neste modelo, o ponto mais importante reside no facto de as caractersticas da resposta, o programa motor, estarem presentes na imagem criada, fazendo parte integrante dela. Daqui resulta que a modificao, de um comportamento ou imagem, implica a modificao do outro. Vrios autores (Hale, 1982; Suinn, 1993) tm demonstrado, em vrios estudos

psicofisiolgicos, que a VM acompanhada por uma actividade muscular apropriada ao contedo da imagem (teoria psiconeuromuscular) e que quanto maior a magnitude destas respostas fisiolgicas durante a visualizao, maiores as mudanas no comportamento (Lang, Melamed & Hart, 1970, cit. por Murphy, 1992). Suportando estes resultados, a teoria do processamento da informao refere que um dos factores que mais influencia a tomada de deciso, isto , a escolha da resposta, durante o processamento da informao a compatibilidade estmulo-resposta. Essa compatibilidade o grau de naturalidade entre o estmulo e a respectiva resposta, ou seja, um estmulo com determinadas caractersticas desencadeia uma resposta especfica, como resultado das ligaes anteriormente feitas. De acordo com a Teoria Hierrquica de Theios (1975), o grau de naturalidade entre o estmulo e a resposta est associado s repeties realizadas, quer de natureza fsica quer mental. Desta forma, a VM facilita, assim, a automatizao dos gestos tcnicos e consequente melhoria da performance. As investigaes realizadas (Weinberg, 1982; Feltz, 1983; Noel, 1980; Hall & Erffmeyer, 1983 cit. por Feltz, 2002) demonstraram que os indivduos mais experientes beneficiavam mais da VM que os menos experientes. Tal facto, deve-se aos atletas mais experientes terem o programa motor melhor definido e memorizado que os menos experientes. Assim, a VM permitiria activar o programa motor das respostas correctas dos atletas experientes, enquanto os menos experientes teriam de procurar, primeiro, as caractersticas correctas para elaborarem o programa motor, ou de acordo com a Teoria de Theios, fazer mais comparaes at encontrarem a resposta correcta para aquela situao. 44

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2.5.4 TEORIA DO TRIPLO CDIGO

Esta teoria proposta por Ahsen (1984), reconhece, tal como a Teoria Psicofisiolgica do Processamento da Informao, a importncia dos processos psicofisiolgicos na explicao dos mecanismos da VM. No entanto, acrescenta outro aspecto essencial para a compreenso do funcionamento dos referidos mecanismos e dos seus efeitos na performance o significado que a imagem criada tem para o sujeito. A primeira componente a imagem, a saber, uma sensao que possui todos os atributos associados a um estmulo externo mas que , por natureza, interna. A segunda componente a resposta somtica: as alteraes psicofisiolgicas que resultam da actividade mental. Finalmente, a componente ignorada por todos os modelos: o significado da imagem. Efectivamente, segundo Ashen (1984), cada imagem teria um significado particular para cada indivduo. Alm disso, cada um integraria a sua histria pessoal ao contedo e ao tratamento de ditas imagens. Desta forma, um mesmo conjunto de instrues poder ter consequncias diferentes dependendo de quem as ouve. Assim, a Teoria do Triplo Cdigo (imagem, resposta somtica e significado - IRS) defende que estas trs partes da VM devem ser tidas em conta.

2.5.5 TEORIA DA ACTIVAO

A VM estabelece um nvel de activao fisiolgico ptimo que facilita a aquisio ou o desempenho de tarefas (Alves, 2002). Feltz (1983), citados pelo mesmo autor, sugeriram que a activao serve para iniciar o trabalho muscular e, ento, este tipo de repetio cognitiva (visualizao) pode actuar nos limiares sensoriais do atleta e facilitar a performance. Esta teoria sugere, que o papel da VM consiste em alcanar um nvel preparatrio ptimo que aumente a aprendizagem ou a performance, ou seja, estabelece um nvel de activao que ptimo para a performance em causa (Suinn, 1993).

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Em certas circunstncias, a teoria confunde-se com as teorias da ateno e da activao (Abernethy, 2003). Desta forma a visualizao mental serviria para concentrar a ateno do atleta em pensamentos relevantes para a tarefa. A VM ajuda tambm o atleta a treinar a sua concentrao na tarefa e a ignorar as solicitaes parasitas do envolvimento (Mussoun, 1991 cit. por Alves, 2004).

2.5.6 PERSPECTIVA MAIS RECENTE

Mais recentemente, surgiu uma perspectiva que procura explicar os mecanismos que esto subjacentes aos efeitos da VM. Foi formulada por Hall, Mack, Paivio e Hausenblas (1998) a partir dos trabalhos de Paivio (1985). Em termos gerais, sugerido que a visualizao pode ter duas funes, uma cognitiva e outra motivacional, podendo ambas funcionar a um nvel geral e especfico. A faceta cognitiva refere-se visualizao das competncias motoras ou tcnicas prprias da modalidade (nvel especfico), bem como antecipao das tcticas ou planos de competio a utilizar (nvel geral). Por sua vez, a dimenso motivacional divide-se pela visualizao que os atletas fazem dos objectivos a atingir durante as competies (nvel especfico), dos nveis de activao que desejam atingir durante as provas (geral activao) e dos ndices de confiana e optimismo que pretendem demonstrar (geral mestria). Devido natureza algo recente dos pressupostos avanados, os dados acerca do modelo so ainda escassos, existindo apenas a evidncia acerca das vantagens da rea cognitiva especfica na aquisio e desempenho das tarefas motoras (Feltz & Landers, 1983; Lee, 1990; Marques & Gomes, 2006; Martin, Moritz, & Hall, 1999) dos efeitos mais positivos da motivao geral (mestria) relativamente VM cognitiva especfica na promoo dos nveis de auto-confiana (Callow, et al., 2001; Feltz & Riessinger, 1990; Marques & Gomes, 2006) e da motivao geral (activao) na ajuda aos atletas a controlarem mais eficazmente a ansiedade e o excesso de activao no confronto com as competies (Marques & Gomes, 2006; Munroe, et al., 2000; White & Hardy, 1998). Aps a formulao do modelo, verificou-se um grande interesse dos autores validarem as facetas da VM descritas, procurando estabelecer a prevalncia e os efeitos de cada uma delas. 46

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Em Portugal, so poucas as investigaes dedicadas a observar a aplicabilidade do modelo. Neste sentido, surge o trabalho de Marques (2006), que procura analisar a possibilidade do treino intencional e sistemtico da VM levar os atletas a melhorarem esta competncia psicolgica e de que forma poderiam integrar as tcnicas de visualizao no desempenho das suas funes durante os treinos e as competies. Dos resultados obtidos, constatou-se que os atletas melhoraram as suas competncias de visualizao, passando a usar esta dimenso psicolgica com maior frequncia em contexto de treino e em situaes competitivas. Verificou-se tambm que as maiores prevalncias de aplicao da VM foram observadas nos treinos, podendo-se justificar esta diferena pelo facto do programa ter optado por promover inicialmente a aprendizagem e a automatizao da competncia em situaes no competitivas. Todas estas teorias procuram fundamentar os estudos realizados, tentando esclarecer a estrutura e os mecanismos da prtica mental, bem como a sua relao com a melhoria do desempenho e a que parece apresentar mais consenso na literatura a Teoria da Aprendizagem Simblica (Suinn, 1993; Weinberg & Gould, 2001). De acordo com esta teoria, o processo de imaginao pode funcionar como um sistema codificador para ajudar as pessoas a entender e adquirir melhores padres de movimentos. A teoria preconiza que a aprendizagem atravs da prtica mental, ocorre basicamente pela repetio dos elementos simblicos (cognitivos) da tarefa motora (Samulski, 2002; Weinberg & Gould, 2001).

2.6 VISUALIZAO MENTAL E APRENDIZAGEM MOTORA

A investigao tem demonstrado a eficcia da VM na aprendizagem e aperfeioamento dos skills perceptivo-motores (Alves, et al., 1997; Hall, et al., 1985), bem como na resoluo de problemas relativos gesto do stress, da ansiedade, da autoconfiana e na preparao das estratgias para uma competio especfica. No entanto, procuraremos incidir o nosso trabalho no contributo da VM na aprendizagem e aperfeioamento de elementos tcnicos. Suinn (1993) descreve o uso de uma tcnica conhecida como Ensaio Visuo-motor de comportamentos (VMBR) que combina relaxamento com visualizao mental e relata aumentos da actividade neuromuscular de msculos de esquiadores durante uma simulao. 47

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Para alm disso apresenta ainda aumentos de performance em praticantes de Karat que usaram visualizao mental. De acordo com Gould (1996), os estudos sobre a relao entre a visualizao mental e a performance desportiva podem ser categorizados em quatro grandes reas: estudos sobre a prtica mental; investigao sobre a interveno pr-competitiva;