ensaios e outros escritos 15

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“Ensaios e Outros Escritos” é uma coletânea de artigos, crônicas e ensaios na qual se pode apreciar uma mente inquieta, observadora e questionadora debruçada sobre os relacionamentos sociais, novas mídias e tecnologias, e outros assuntos que compreendem nossa vida. Trata-se de uma série de escritos que nos levará às reflexões sobre vários temas, cujo confronto com valores atuais e antigos nos conduzirá a considerações mais conscientes dos fatos que presenciamos no dia a dia

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EscritosEnsaios e outros

São Paulo - 2015

EscritosEnsaios e outros

Davi Roballo

Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Projeto Gráfico Felippe Scagion

Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________

R544e

Roballo, Davi Ensaios e outros escritos / Davi Roballo. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0468-5

1. Poesia brasileira. I. Título.

15-25507 CDD: 869.91 CDU: 821.134.3(81)-1

________________________________________________________________12/08/2015 12/08/2015

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo – SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Todos os direitos reservados.Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.

À ItacIana, grande IncentIvadora e companheIra de todas horas.

sumárIo

As ilusões do ensino superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11A modernidade e o Mito de Narciso . . . . . . . . . . . . . 14Invisíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17As redes sociais e o vazio existencial . . . . . . . . . . . . . 19A vida pede passagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22Sê tu mesmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25Sincericídio, a verdade é inconveniente . . . . . . . . . . 27O discurso do ladrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30Quem está no comando? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33A ética jornalística sob o prisma de “A imprensa e o dever da verdade” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36Reflexões de um homem de quarenta . . . . . . . . . . . . 42A qualidade oculta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45Profissão: Ladrão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48Novos costumes suplantando velhos hábitos . . . . . . . 52O menino de mim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55Somos todos escritores, porque o autor não existe . . 59O meu pé de Chorão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62O desmantelamento da sala de jantar . . . . . . . . . . . . 66

A natureza da felicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69O mito de Eresictão e a modernidade . . . . . . . . . . . . 72O super-homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75A Síndrome da Costela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78O livro como extensão de imagens de nós mesmos . . 82A sogra, a nora e o homem dividido . . . . . . . . . . . . . 85Sobre Nietzsche . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87Gulliver, uma questão de opção . . . . . . . . . . . . . . . . 90Reflexões sobre a morte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94Antropologia extraterrena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97A criança que fomos e o adulto que somos . . . . . . . 104Não ofusque o brilho do mestre . . . . . . . . . . . . . . . 106Para onde vamos? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109A marcha do idiotismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113A desumanização do homem . . . . . . . . . . . . . . . . . 117A corrupção nossa de cada dia . . . . . . . . . . . . . . . . 121Maneco fumaça e o homem de pau . . . . . . . . . . . . 124A prostituição moral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129Barba Santa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132Catástrofe no formigueiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138Contrato de tolerância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 144Crepúsculo dos lobos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149Cinema do fundo do baú “1984” . . . . . . . . . . . . . . 153Confinamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157Novilíngua Tupiniquim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162A galinha cega . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

Como comer um livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168Sobre a liberdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171A utopia e o sentido da vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175A culpa é dos meios ou do homem? . . . . . . . . . . . . 178Maneira de como dizer as coisas . . . . . . . . . . . . . . 182O porquê das mulheres assustarem tanto . . . . . . . . 185A insatisfação de cada um . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189Rituais fúnebres da educação . . . . . . . . . . . . . . . . . 192O fofoqueiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196O pecado nosso de cada dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199O valor de cada um . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201Entrevista com um macaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206A paz e a felicidade que nunca alcançaremos . . . . . . 211A cultura do corpo e o vazio existencial . . . . . . . . . 213Empreendedores de fim de semana . . . . . . . . . . . . . 216O inferno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219Por onde anda nossa referência . . . . . . . . . . . . . . . 222Sete bilhões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225Eldorado dos buracos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 228O professo da estagnação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232O mal amado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 234Por que choras? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 238Reflexões sobre a vaidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 243Câncer “O imperador dos males” . . . . . . . . . . . . . . 246O hábito de ler e o analfabetismo funcional . . . . . . 249Pessoas e pinturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253

Valores & valores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 256Pai, afasta de mim este “cálice”... . . . . . . . . . . . . . . 259Relações humanas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 263Bipolar, o que é isso? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267“Quem sou eu? E, se sou quantos sou?” . . . . . . . . . 270O velho Pablito do Prado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273Novas mídias, tecnologia e solidão . . . . . . . . . . . . . 275E se fosse você? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 278Luta pela mente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281Mídia de massa e mídia interativa . . . . . . . . . . . . . . 284Eu converso com gente morta . . . . . . . . . . . . . . . . 287Somos o que somos em qualquer lugar . . . . . . . . . . 290O eterno retorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297

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as Ilusões do ensIno superIor

Foi-se o tempo em que as universidades formavam o homem. Na virada do século XIX para o século XX, a nascente perspectiva futurista influenciada pela revolução industrial lançou os ocidentais a uma busca de estabiliza-ção profissional, isto é, começava a se ter nos bancos es-colares uma maior preocupação em formar o profissional, o especialista em detrimento da formação moral, cívica e verdadeiramente intelectual do homem. O mais impor-tante, então, passou a ser o preenchimento das lacunas especializadas exigidas pela cadeia produtiva, isto é, o ho-mem foi transformado em máquina.

A universidade há muito deixou de ser estritamente palco de discussões sérias a respeito do viver, da existên-cia, da localização do próprio ser na vida. Hoje, é mais imbeciliza e cria ilusão de superioridade intelectual do que prepara o homem para a sua própria existência. Preparar para o mercado de trabalho é prioridade, nem que para isso aja um déficit intelectual, pois o mais im-

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portante agora é quantidade e não mais a qualidade, ou seja, a cadeia produtiva dominou também a educação. A universidade está montando e condicionando homens--máquinas que estão deixando de viver o presente por estarem de olhos fixados e perdidos no futuro, que por si só é incerto, inalcançável, pois sempre vai exigir mais.

Jovens quando resolvem adentrar a universidade ilu-dem-se com a perspectiva de tornarem-se facilmente intelec-tuais. No entanto, para isso, é preciso basear-se em teorias e hipóteses e ultrapassá-las, reescrevendo-as, afinal, segundo a concepção nietzschiana, “não existe verdade absoluta”, mas recortes de realidade e fragmentos de verdade que, com o tempo e as descobertas, podem se agrupar como as peças de um grande quebra cabeça. Ideias que nascem condenadas a serem superadas mais adiante.

A universidade limita as possibilidades de o alu-no superar-se, pois o ensino superior está engessado de uma forma tão sistemática, que é normal os acadê-micos discutirem as teorias e hipóteses, muitas vezes confundindo os sentidos propostos. Somente as dis-cutem. Não tentam ultrapassá-las e modificá-las, pois para isso é preciso ter um método, dizem os mestres, “tens que provar que se trata de ciência, deves espe-cificar qual teórico e qual método vais usar...”, para não dizer: “qual teórico e qual método vais usar para bloquear-te a vertente de teus pensares”. A universida-de raramente forma “criadores”, pois é mais comum construir “copiadores”. Além do mais, se tem, ainda, a deficiência advinda dos ensinos fundamental e médio, como a dificuldade em abstrair e principalmente a de

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interpretar um texto, isto é, mesmo na universidade existe o analfabeto funcional.

A defasagem intelectual acarreta a ilusão de que um diploma resolve tudo, que é a panaceia para todos os pro-blemas. Formandos, em sua grande maioria, passam a co-nhecer o mínimo do mínimo de uma determinada área e se convencem de ter chegado ao ápice do conhecimento, isto é, adquirem um grão de areia e ostentam seus títulos de bacharéis, licenciados, tecnólogos etc., na ilusão e pre-potência de se ter o deserto do Saara no bolso. Quando, na verdade, se precisaria de uma eternidade para encher o cavado da mão com grãos de areia como é uma formação acadêmica em relação à sabedoria.

Poucos são os que ultrapassam das barreiras cons-truídas para reter os processos de criação e desaliena-ção e mais poucos ainda são os que rompem com os diques de inação intelectual. São aqueles alunos que se dedicam a ir além do proposto, os que têm sede de conhecimento, como também os professores que se esforçam paulatinamente para serem marcantes na vida de seus alunos como os professores: Keating (So-ciedade dos Poetas Mortos), William Hundert (Clube do Imperador). A universidade não deve formar ape-nas o profissional, mas também criar mecanismos que desperte nos alunos o espírito crítico, para que racioci-nem com lógica e sem influência, isto é, a formação de cidadãos autônomos moral e intelectualmente. Assim, creio, estaríamos a caminho da formação do homem, tanto como profissional quanto como cidadão.

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a modernIdade e o mIto de narcIso

A sede por evidência, aliada à possibilidade de con-cretização desse desejo através das mídias sociais, vem causando um fenômeno de exposição íntima como nunca se viu na história humana. Estamos perdendo as noções de pudor e do privado a ponto de fatos que antigamente ficavam limitados a consultórios psicológicos e salas de confissão religiosa, aparecerem de uma forma ou de ou-tra, expostas nos perfis de integrantes das redes sociais.

Poderíamos batizar o fenômeno em questão de “Síndrome do umbigo”, pois em tempo algum estive-mos centrados em nós mesmos, no entanto, esse olhar para si está longe de uma introspecção, mas dominado pela busca de uma idealização do que não somos e o insano desejo de ser o centro do mundo. Estamos per-dendo o nosso referencial humano a partir do momen-to em que tratamos nós mesmos como mercadorias

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que devem ser exibidas em uma feira e não mais como humanos que dependem de suas interligações, para vi-ver, sentir, receber e doar calor humano.

Aos poucos, estamos deixando o toque e a con-versa in loco, natural, espontânea para entrar cada vez mais em um mundo fictício e frio. Aplausos e cari-nho no ego é o que buscamos mais profundamente nas nossas inter-relações virtuais, pois estamos doen-tes psiquicamente, doença que poderíamos chamar de solidão silenciosa, e o pior, uma solidão carente de atenção, pois trata-se de uma outra parte que abando-namos em nós mesmos, uma parte que deserdamos. Esse abandono, creio, dá-se pelo fato de não aceitar-mos viver e ser como realmente somos, mas buscar manifestar na estética exterior e no status aquilo que idealizamos, mesmo sabendo que isso não é algo real, mas um sonho impossível de ser realizado.

A busca pela atenção em um mundo virtual, sem longe nem perto, território sem fronteiras e sem lei, tem causado uma espécie de cio coletivo devido à excitação acentuada a que estamos vivenciando, mergulhados nesse desejo de exposição cuja vaidade despertada simplesmen-te dá as cartas. Esse desejo de ser visto, contemplado e aplaudido carrega em si uma peculiaridade: não aceita algo negativo, como um comentário, mas exige velada-mente que todos aqueles que fazem parte de nossa teia de interligações pensem e nos vejam da mesma forma como nos vemos e pensamos. Somos o centro de nosso mundo e estamos inutilmente tentando nos colocar como o cen-tro do mundo dos outros.