enquanto isso, no brasil e no mundo - uemg · da ponte do rio surubi que facilitou a exportação...

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na Bahia 48 48 48 48 48 48 48 48 48 48 Especial editado pelo Jornal Folha da Manhã e Fundação de Ensino Superior de Passos - FESP JORNAL FOLHA DA MANHÃ Carlos Antônio Alonso Parreira - Diretor Jornalístico Maria das Graças Lemos - Diretora Comercial FESP/UEMG Prof. Fábio Pimenta Esper Kallas - Presidente do Conselho Curador EDIÇÃO EDIÇÃO EDIÇÃO EDIÇÃO EDIÇÃO: : : : : Carlos Antônio Alonso Parreira/ Profª. Selma Tomé PESQUISA E REDAÇÃO: PESQUISA E REDAÇÃO: PESQUISA E REDAÇÃO: PESQUISA E REDAÇÃO: PESQUISA E REDAÇÃO: Profª. Leila Maria Suhadolnik Oli- veira Pádua Andrade REVISÃO: REVISÃO: REVISÃO: REVISÃO: REVISÃO: Prof. José dos Reis Santos IMA IMA IMA IMA IMAGENS E FO GENS E FO GENS E FO GENS E FO GENS E FOTOGRAFIA OGRAFIA OGRAFIA OGRAFIA OGRAFIA: Prof. Diego Vasconcelos PROJET PROJET PROJET PROJET PROJETO GRÁFICO/MONT O GRÁFICO/MONT O GRÁFICO/MONT O GRÁFICO/MONT O GRÁFICO/MONTAGEM: GEM: GEM: GEM: GEM: Profª. Heliza Faria Fascículo 05/10 - Julho de 2008 EXPEDIENTE EXPEDIENTE EXPEDIENTE EXPEDIENTE EXPEDIENTE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, Sebastião Wenceslau. Memoriando, 3ed, Editora São Paulo, 2003. FAUSTO, Boris. História do Brasil , Edusp, 2ed,1995. GRILO, Antonio Theodoro. Sindicato Rural de Passos, Editora São Paulo, 2002. GRILO, Antonio Theodoro. Câmara Municipal 150 anos, Editora São Paulo, 1998. NORONHA, Washington. História da cidade de Passos, do Senhor Bom Jesus dos Passos, vol. 1 e 2. O PAPIRO, ano 1 nº 1, publicação da Faculda- de de Filosofia de Passos, 1973. VASCONCELOS, Elpídio Lemos de. Álbum de Passos, 1920. Acervo Darci Morais de fotos e documentos. http://www.geocities.com/Athens/7452 Enquanto isso, no Brasil e no Mundo... O Brasil das oligarquias O Brasil das oligarquias O Brasil das oligarquias O Brasil das oligarquias O Brasil das oligarquias De 1889 a 1930, o período deno- mina-se Primeira República, República Velha ou República dos Coronéis. Esse período iniciou-se com a presidência dos militares Deodoro da Fonseca e Floria- no Peixoto, tentando solidificar o poder do Exército. Porém, em 1894, foi eleito Prudente de Morais, da oligarquia pau- lista. Durante seu governo, ocorreu no sertão baiano o Movimento de Canudos. A Guerra de Canudos – 1896-97 A Guerra de Canudos – 1896-97 A Guerra de Canudos – 1896-97 A Guerra de Canudos – 1896-97 A Guerra de Canudos – 1896-97 Após a abolição, muitos negros e mulatos ficaram desempregados e mar- ginalizados. O Nordeste, desde a deca- dência da cana-de-açúcar, passava por problemas econômicos. Estes motivos geraram uma exclusão social acentuada. no preço do produto provocava uma crise imediata na econo- mia. Os fazendeiros dominavam os meca- nismos do governo e sempre usavam o Es- tado para atender suas necessidades privadas. Além de Canu- dos, vários movimen- tos sociais acontece- ram naquela época: Revolta do Contestado em evolta do Contestado em evolta do Contestado em evolta do Contestado em evolta do Contestado em Santa Catarina e Paraná (1912- Santa Catarina e Paraná (1912- Santa Catarina e Paraná (1912- Santa Catarina e Paraná (1912- Santa Catarina e Paraná (1912- 1916) 1916) 1916) 1916) 1916) - Sertanejos foram expulsos pelo governo, após invadirem uma ter- ra contestada pelos dois Estados. Mui- ta gente morreu pretendendo um pe- daço de terra. Revolta da V Revolta da V Revolta da V Revolta da V Revolta da Vacina acina acina acina acina (1904) - Mo- radores dos cortiços do Rio de Janeiro, na maioria imigrantes, tiveram suas ca- sas derrubadas para o alargamento das ruas da capital brasileira. Ficaram revol- tados e negaram-se a tomar a vacina obri- gatória do governo. Movimento Anarco-sindicalis- Movimento Anarco-sindicalis- Movimento Anarco-sindicalis- Movimento Anarco-sindicalis- Movimento Anarco-sindicalis- ta ta ta ta ta – Foi liderado pelos imigrantes ale- mães e italianos que, ao chegarem ao Brasil, ficavam espantados com a ausên- cia de leis trabalhistas, regulamentando a relação patrão e empregado. Na Europa do início do século XX Na Europa do início do século XX Na Europa do início do século XX Na Europa do início do século XX Na Europa do início do século XX O início do século XX apresenta-se com grandes disputas industriais entre os países europeus. A Inglaterra e a França detinham a liderança do mercado e da economia mundiais, disputavam colônias no mun- do inteiro. A Alemanha e a Itália não eram nações antes de 1870. Por meio de guerras e unindo povos da mesma na- cionalidade, Otto Von Bismarck (ale- mão) e Camilo de Cavour (italiano) li- deraram os processos de unificação de seus países. Em 1870, após a Guerra Franco- Prussiana, estavam formados dois novos países na Europa: a Itália e a Alemanha. Esses novos países e sua burguesia esta- vam ávidos por colônias. A Alemanha logo se destacou e, em 1900, já produzia mais aço que a Inglaterra. Os conflitos nasci- dos dessas disputas vão envolver o mun- do em duas guerras mundiais. O auge das divergências políticas: a “Matança do Fórum” em 1909 e suas conseqüências para a cidade. A especialização na pecuária de gado zebu e a reestruturação da elite agrária levando à formação de novos partidos e embates entre Patos e Perus. O avanço na organização e do progresso da cidade, abertura de ruas e praças, a construção da ponte do Rio Surubi que facilitou a exportação do gado e a implantação da rede ferroviária. Moeda de ouro de 1889. Ela foi cunhada em comemoração à Proclamação da República e valia 20 mil réis. Antonio Conse- lheiro era um crente que tinha um comércio à beira da estrada. Além de vender secos e molha- dos, aconselhava as pessoas usan- do a Bíblia. Foi ficando famoso como crente, deixou a vendinha, mulher e filhos e iniciou pregações pelo sertão, impregnadas do mito do sebastianismo: prometia uma nova vida, “o sertão vai virar mar”, a vida vai melhorar. Muitas pessoas passaram a seguí-lo. Pouco depois, invadiram umas terras abandonadas e começaram a er- guer uma vila com casas e igreja. Foi uma experiência comunitária. Plantavam, co- lhiam, faziam as casas, teciam e dividiam tudo entre si. Antonio Conselheiro, seus seguido- res e sua comunidade não agradaram aos latifundiários, que viram a mão-de-obra ba- rata evaporar-se. Conselheiro não era pa- dre e era criticado pela Igreja e pelo Esta- do, pois não aceitava o casamento civil. Prudente de Morais, primeiro pre- sidente da elite agrária, queria afastar o Exército do jogo político, mandando-o para uma missão nos confins da Bahia. Cinco expedições do Exército exter- minaram com o arraial de Canudos. A igreja foi destruída, Conselheiro e a mai- or parte da comunidade morreram du- rante a guerra. Muitos fugiram, sobra- ram os velhos, mulheres e crianças. A Guerra de Canudos Guerra de Canudos Guerra de Canudos Guerra de Canudos Guerra de Canudos deu ori- gem a um dos clássicos da literatura bra- sileira, o livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, e inspirou o longa-metragem Canudos, de Sergio Rezende, que teve José Wilker no papel de Conselheiro. fotos Canudos - Conselheiro Os coronéis apropriaram-se do po- der. Durante esse período, as oligarqui- as paulista e mineira, economicamente mais fortes, monopolizaram o poder es- tabelecendo o que se convencionou cha- mar de “República do Café com Leite”. São Paulo e Minas eram os maiores pro- dutores de café do Brasil, porém Minas Gerais também produzia leite e seus de- rivados. A economia brasileira, na época, de- pendia de um único produto: o café. Por isso, era muito fragilizada. Qualquer abalo

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Page 1: Enquanto isso, no Brasil e no Mundo - UEMG · da ponte do Rio Surubi que facilitou a exportação do gado e a implantação da rede ferroviária. Moeda de ouro de 1889. Ela foi cunhada

na Bahia

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Especial editado pelo Jornal Folha da Manhã e Fundação deEnsino Superior de Passos - FESP

JORNAL FOLHA DA MANHÃCarlos Antônio Alonso Parreira - Diretor JornalísticoMaria das Graças Lemos - Diretora Comercial

FESP/UEMGProf. Fábio Pimenta Esper Kallas - Presidente do ConselhoCurador

EDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃO: : : : : Carlos Antônio Alonso Parreira/ Profª. Selma ToméPESQUISA E REDAÇÃO:PESQUISA E REDAÇÃO:PESQUISA E REDAÇÃO:PESQUISA E REDAÇÃO:PESQUISA E REDAÇÃO: Profª. Leila Maria Suhadolnik Oli-veira Pádua AndradeREVISÃO:REVISÃO:REVISÃO:REVISÃO:REVISÃO: Prof. José dos Reis SantosIMAIMAIMAIMAIMAGENS E FOGENS E FOGENS E FOGENS E FOGENS E FOTTTTTOGRAFIAOGRAFIAOGRAFIAOGRAFIAOGRAFIA::::: Prof. Diego VasconcelosPROJETPROJETPROJETPROJETPROJETO GRÁFICO/MONTO GRÁFICO/MONTO GRÁFICO/MONTO GRÁFICO/MONTO GRÁFICO/MONTAAAAAGEM:GEM:GEM:GEM:GEM: Profª. Heliza Faria

Fascículo 05/10 - Julho de 2008

E X P E D I E N T EE X P E D I E N T EE X P E D I E N T EE X P E D I E N T EE X P E D I E N T E

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORGES, Sebastião Wenceslau. Memoriando,3ed, Editora São Paulo, 2003.FAUSTO, Boris. História do Brasil, Edusp,2ed,1995.GRILO, Antonio Theodoro. Sindicato Rural dePassos, Editora São Paulo, 2002.GRILO, Antonio Theodoro. Câmara Municipal150 anos, Editora São Paulo, 1998.NORONHA, Washington. História da cidade dePassos, do Senhor Bom Jesus dos Passos, vol. 1 e 2.O PAPIRO, ano 1 nº 1, publicação da Faculda-de de Filosofia de Passos, 1973.VASCONCELOS, Elpídio Lemos de. Álbum dePassos, 1920.Acervo Darci Morais de fotos e documentos.http://www.geocities.com/Athens/7452

Enquanto isso, no Brasil e no Mundo...O Brasil das oligarquiasO Brasil das oligarquiasO Brasil das oligarquiasO Brasil das oligarquiasO Brasil das oligarquias

De 1889 a 1930, o período deno-mina-se Primeira República, RepúblicaVelha ou República dos Coronéis. Esseperíodo iniciou-se com a presidência dosmilitares Deodoro da Fonseca e Floria-no Peixoto, tentando solidificar o poderdo Exército. Porém, em 1894, foi eleitoPrudente de Morais, da oligarquia pau-lista. Durante seu governo, ocorreu nosertão baiano o Movimento de Canudos.

A Guerra de Canudos – 1896-97A Guerra de Canudos – 1896-97A Guerra de Canudos – 1896-97A Guerra de Canudos – 1896-97A Guerra de Canudos – 1896-97

Após a abolição, muitos negros emulatos ficaram desempregados e mar-ginalizados. O Nordeste, desde a deca-dência da cana-de-açúcar, passava porproblemas econômicos. Estes motivosgeraram uma exclusão social acentuada.

no preço do produtoprovocava uma criseimediata na econo-mia. Os fazendeirosdominavam os meca-nismos do governo esempre usavam o Es-tado para atendersuas necessidadesprivadas.

Além de Canu-dos, vários movimen-tos sociais acontece-ram naquela época:

RRRRRevol ta do Contestado emevol ta do Contestado emevol ta do Contestado emevol ta do Contestado emevol ta do Contestado emSanta Catarina e Paraná (1912-Santa Catarina e Paraná (1912-Santa Catarina e Paraná (1912-Santa Catarina e Paraná (1912-Santa Catarina e Paraná (1912-1916)1916)1916)1916)1916) - Sertanejos foram expulsospelo governo, após invadirem uma ter-ra contestada pelos dois Estados. Mui-ta gente morreu pretendendo um pe-daço de terra.

Revolta da VRevolta da VRevolta da VRevolta da VRevolta da Vacinaacinaacinaacinaacina (1904) - Mo-radores dos cortiços do Rio de Janeiro,na maioria imigrantes, tiveram suas ca-sas derrubadas para o alargamento dasruas da capital brasileira. Ficaram revol-tados e negaram-se a tomar a vacina obri-gatória do governo.

Movimento Anarco-sindicalis-Movimento Anarco-sindicalis-Movimento Anarco-sindicalis-Movimento Anarco-sindicalis-Movimento Anarco-sindicalis-tatatatata – Foi liderado pelos imigrantes ale-mães e italianos que, ao chegarem aoBrasil, ficavam espantados com a ausên-cia de leis trabalhistas, regulamentandoa relação patrão e empregado.

Na Europa do início do século XXNa Europa do início do século XXNa Europa do início do século XXNa Europa do início do século XXNa Europa do início do século XX

O início do século XX apresenta-secom grandes disputas industriais entreos países europeus.

A Inglaterra e a França detinham aliderança do mercado e da economiamundiais, disputavam colônias no mun-do inteiro.

A Alemanha e a Itália não eramnações antes de 1870. Por meio deguerras e unindo povos da mesma na-cionalidade, Otto Von Bismarck (ale-mão) e Camilo de Cavour (italiano) li-deraram os processos de unificação deseus países.

Em 1870, após a Guerra Franco-Prussiana, estavam formados dois novospaíses na Europa: a Itália e a Alemanha.Esses novos países e sua burguesia esta-vam ávidos por colônias. A Alemanha logose destacou e, em 1900, já produzia maisaço que a Inglaterra. Os conflitos nasci-dos dessas disputas vão envolver o mun-do em duas guerras mundiais.

O auge das divergênciaspolíticas: a “Matança doFórum” em 1909 e suas

conseqüências para a cidade.A especialização na pecuária degado zebu e a reestruturação

da elite agrária levando àformação de novos partidos eembates entre Patos e Perus.O avanço na organização e doprogresso da cidade, aberturade ruas e praças, a construçãoda ponte do Rio Surubi que

facilitou a exportação do gado ea implantação da rede

ferroviária.

Moeda de ourode 1889. Ela foi

cunhada emcomemoração àProclamação daRepública e valia

20 mil réis.

Antonio Conse-lheiro era umcrente que tinhaum comércio àbeira da estrada.Além de vendersecos e molha-dos, aconselhavaas pessoas usan-do a Bíblia.

Foi ficandofamoso comocrente, deixou avendinha, mulhere filhos e inicioupregações pelo sertão, impregnadas domito do sebastianismo: prometia umanova vida, “o sertão vai virar mar”, a vidavai melhorar. Muitas pessoas passaram aseguí-lo. Pouco depois, invadiram umasterras abandonadas e começaram a er-guer uma vila com casas e igreja. Foi umaexperiência comunitária. Plantavam, co-lhiam, faziam as casas, teciam e dividiamtudo entre si.

Antonio Conselheiro, seus seguido-res e sua comunidade não agradaram aoslatifundiários, que viram a mão-de-obra ba-rata evaporar-se. Conselheiro não era pa-dre e era criticado pela Igreja e pelo Esta-do, pois não aceitava o casamento civil.

Prudente de Morais, primeiro pre-sidente da elite agrária, queria afastar oExército do jogo político, mandando-opara uma missão nos confins da Bahia.

Cinco expedições do Exército exter-minaram com o arraial de Canudos. Aigreja foi destruída, Conselheiro e a mai-or parte da comunidade morreram du-rante a guerra. Muitos fugiram, sobra-ram os velhos, mulheres e crianças.

A Guerra de CanudosGuerra de CanudosGuerra de CanudosGuerra de CanudosGuerra de Canudos deu ori-gem a um dos clássicos da literatura bra-sileira, o livro “Os Sertões”, de Euclidesda Cunha, e inspirou o longa-metragemCanudos, de Sergio Rezende, que teveJosé Wilker no papel de Conselheiro.fotos Canudos - Conselheiro

Os coronéis apropriaram-se do po-der. Durante esse período, as oligarqui-as paulista e mineira, economicamentemais fortes, monopolizaram o poder es-tabelecendo o que se convencionou cha-mar de “República do Café com Leite”.São Paulo e Minas eram os maiores pro-dutores de café do Brasil, porém MinasGerais também produzia leite e seus de-rivados.

A economia brasileira, na época, de-pendia de um único produto: o café. Porisso, era muito fragilizada. Qualquer abalo

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Em 1882, pormeio da CâmaraMunicipal de Passos,importaram-se mu-das de cana. Desdeo início da formaçãodas fazendas, há re-ferências aos enge-nhos domésticospara a fabricaçãoda rapadura, doaçúcar mascavo e dagarapa.

A partir da impor-tação das mudas, aprodução passou aser mais efetiva e vaise desenvolver cadavez mais, chegando àformação das UsinasAçucareiras.

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O coronelismo à moda passenseurante o Impé-rio, as disputaspolíticas dividi-am conservado-res e liberais.

Embora divergissem quanto aopoder, tinham a mesma postu-ra a respeito das classes bai-xas: precisavam ser controladasquanto ao acesso à terra e aopoder.

O maior exemplo desseelitismo foi a criação da GuardaNacional, um instrumento cons-tituído legalmente que permi-tiu aos latifundiários a formaçãode suas próprias milícias. Rece-beram títulos militares comotenente, capitão e coronel –expedidos pelo governo – e,assim, firmaram o poder e o seudomínio oficial sobre as propriedades e apolítica.

Esses títulos foram oferecidos prin-cipalmente durante a República Velha,gerando o fenômeno conhecido comoCoronelismo. Podiam ser comprados ouobtidos gratuitamente junto ao gover-no, como forma de troca de favores.

Em Passos, os coronéis deram o tomdo jogo político, divididos em dois par-tidos: o Comercial e o Lavourista. O pri-meiro defendia os coronéis ligados aocomércio, e o segundo reunia a força docampo. Nos dois casos, faziam uso daforça militar paralela ao Exército oficial.

Os delegados exerciam função pú-blica, mas também tinham milícias pa-gas, recrutadas no seio da população paradefender a lei.

Nos primeiros anos do século XX,houve um aumento sensível da violênciana região, compondo um cenário novo eperigoso, cujo desfecho foi violento etraumático para Passos.

Joaquim Gomes, agente executivo(cargo equivalente ao de prefeito, hoje),era do Partido Republicano Mineiro -PRM -, mas defendia os interesses doComércio. Os Lavouristas, que repre-sentavam o campo, estavam fora do po-der e irritados. Havia, portanto, uma ri-validade na elite política.

Devido à pecuária de engorda, per-cebia-se uma grande ociosidade duran-te os intervalos em que o gado estavanas invernadas. Os trabalhadores envol-vidos nas caravanas ficavam na vadiagempela cidade, bebendo, jogando, freqüen-tando as casas de prostituição e arru-mando confusão. Esse modelo de vidadurava de três a seis meses. Depois,eles partiam em caravanas com gado gor-do para ser vendido em Três Corações.

Esses trabalhadores eram ex-escra-vos ou pessoas que migraram para a re-gião, possivelmente acompanhando o RioSão Francisco e fugindo da Guerra deCanudos. Na época, o arraial de Canu-

Lavouristas contra Governistas:o avanço da violência

dos, na Bahia, esta-va em guerracontra o Exér-cito Nacio-nal. Em1 8 9 7 ,n u m ac ampa -nha im-pulsiona-da pelopresidentePrudente deMorais, o Exércitopromoveu uma verda-deira carnificina na região, matando mi-lhares de seguidores do beato AntonioConselheiro.

Esses homens chegavam revoltadoscom a violência promovida no enfrenta-mento das forças de Antonio Conselhei-ro contra o Exército. Muitos deles, ex-escravos ou mulatos, estavam revoltadostambém com as condições sub-humanasa que foram submetidos após a abolição ecom a falta de proteção do governo à suanova situação. Nada tinham a perder e,por isso, envolviam-se com uma série decrimes no Nordeste e em nossa região.

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1- Juca Miranda, 2 - Neca Medeiros, 3 - Totonho Medeiros, 4 - Bernardino Vieira,5- Antônio Celestino, 6 - Belarmino, 7 - Bernardino Borges

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ALei nº. 337de 28 dejaneiro de1911, nogoverno doc o r o n e lJoão deBarros, re-gulamen-tou a insta-lação dae n e r g i aelétrica em Passos por meio de uma concessão de privilégios, primeiramente aocoronel Jorge Luiz Davis e depois ao coronel João Cândido de Mello e Souza. Os doisfundaram a Empresa de Força e Luz Mineira de Mello e Davis e exploraram a queda doRio São João, distante 15 km de Passos. A empresa fornecia energia elétrica para aspequenas indústrias durante o dia e, à noite, para casas particulares e iluminaçãopública. Os dois não eram passenses.

Primeira empresa de telefonia

A partir de 27 de julho de 1910,no governo do coronel João de Barros,foi legalizada a Empresa Telephônica. Deinício, a empresa teve algumas dificulda-des, porém a partir de 1915 ampliou aslinhas e os aparelhos, que eram de ma-deira nobre (aroeira ou peroba) e os iso-ladores de porcelana. A empresa foi diri-gida por vários empresários, entre eles:Veridiano de Mello Pádua, Abelardo deMello Pádua e Jerônymo de Mello.

A chegada da luz elétrica

Caravanas dedonos de terras,capatazes, cozi-nheiros, pontei-ros, matreiros, cu-latreiros e peõesdirigiam-se para ospostos de vendade gado ou para osertão de MatoGrosso e Goiás,levando gado gor-do e/ou para bus-car gado magro etrazer para as fa-zendas de engorda. Eram experientes,conheciam as estradas e seus perigos. Co-nheciam os postos de venda do gado e,principalmente, os animais: burros, cava-los, bois e vacas.

As boiadas tinham mais de mil cabe-ças. Não era fácil conduzir tanto gado. Aviagem durava meses, percorrendo cincoa seis léguas por dia. Com o berrante àfrente, as caravanas, enfrentando calor echuva, conduziam os bois e cuidavam paraque não se desgarrasse nenhum animal.Quando paravam para descansar, acendi-am uma fogueira, deitavam-se em redese cobriam-se com capas gaúchas.

Sebastião Wenceslau descreve oTio Pedro, um boiadeiro, em seu livro “Me-moriando”: “...seu chapéu de aba larga

As comitivas de gado

Os nomes das ruas de nossa ci-dade comprovam a história:

TTTTTenente Venente Venente Venente Venente Vasconcelosasconcelosasconcelosasconcelosasconcelos fundou aprimeira botica da cidade;Coronel João de BarrosCoronel João de BarrosCoronel João de BarrosCoronel João de BarrosCoronel João de Barros foi pre-

feito de Passos por duas vezes;Coronel Neca MedeirosCoronel Neca MedeirosCoronel Neca MedeirosCoronel Neca MedeirosCoronel Neca Medeiros construiu o Grupo EscolarWenceslau Braz – hoje, Escola Municipal Francina deAndrade;Capitão LimírioCapitão LimírioCapitão LimírioCapitão LimírioCapitão Limírio foi professor e político e empreen-deu a abertura da Avenida Progresso, hoje OttoKrakauer.

de barbela de couro, seu lenço vermelhono pescoço, as camisas xadrez ou as ris-cadas, calças largas de brim, amarelas oucinzas e as calças rancheiras. A guaiacade carregar o dinheiro estava sempre nacintura. Usava um par de botinas, espo-ras de rosetas e tinha sua polaina paraproteger as pernas. Trazia na cintura suafamosa garrucha calibre 32” e tinha umfacão e cabo de relho especiais.

Inaugurada em 1906 e medindo489 metros, a ponte do Surubi, no RioGrande, abriu um corredor que ligavaPassos a Cássia e Delfinópolis. O movi-mento intenso de gado levou para a re-gião de Toledos um novo surto de de-senvolvimento, uma nova escola, umanova capela e muita riqueza.

Comitiva do Capitão ManoelFerreira de Andrade, em Passos

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MEMÓRIAMEMÓRIAMEMÓRIAMEMÓRIAMEMÓRIA 4343434343434343434346464646464646464646

As eleições fraudulentasprocesso eleitoral do ano de 1900, em Passos, gerou váriasdenúncias, principalmente de problemas com o alistamentoeleitoral. Isso não era particularidade passense, já que naRepública Velha o sistema eleitoral era muito viciado efraudulento. Expressões historicamente famosas con-firmam tal situação: “voto de cabresto”, “curral elei-toral”, “voto fantasma”, “eleição a bico de pena”,

etc. Estas expressões indicam o uso indiscriminado do favorecimento,do compadrio, da manipulação e compra de listas eleitorais e do voto. Ébom lembrar que o voto era aberto, isto é, oral; o eleitor precisavaapenas assinar o nome para vigorar nas listas eleitorais.

Hilarino de Morais registrou que, na gestão do CoronelJayme Gomes de Souza Lemos, foram plantadas vinte mudas de painei-ras ao redor do Largo da Matriz. Uma delas, mais frondosa, ficava emfrente à casa dos Gomes. Na sombra desta paineira, os chefes políticosfaziam seus acordos e conchavos, principalmente durante as eleições.

De 1901 a 1903: disputas acirradasA partir de 1901, vários incidentes

foram ocorrendo e as disputas políticastornaram-se cada vez mais apimentadas.Críticas severas à administração de Joa-quim Gomes foram protocoladas à Câ-mara e o vereador Cel. Neca Medeiros,enraivecido, pediu demissão. A Câmarasolicitou, por intermédio de ofício, queo Presidente do Estado mandasse forçaspara manter a ordem pública.

O “Jornal Comércio e Lavoura”, queexistia em Passos, foi o canal usado porLavouristas e Governistas para trocaremgraves ofensas e insultos.

Fragmento do artigo publicado pelojornal “Comércio e Lavoura”, em 28/07/1901:

“O Partido da Lavoura, porém, nãose erguerá para repelir tão vis quantodegradantes atos; aguarda somente omomento da violência física e então ogrupo insultador, provocador e autor dosfatos constantes das interrogações queaí ficam feitas terá a merecida respostae nós faremos valer os nossos foros dehomens, membros de um partido queaspira a reivindicar os seus direitos(...)”

No ano de 1902, a mando dos co-ronéis, alguns eleitores foram presos porjagunços. Abriu-se inquérito e vários ca-pangas foram presos. A cidade foi inva-dida por um bando de jagunços arma-dos, que assaltaram a delegacia, deramtiros para o alto, rasgaram os autos doprocesso e soltaram os presos.

Alguns dias depois, o soldado Bal-bino foi morto na Rua da Chapada. Teveo corpo queimado e a orelha cortada.

O ano de 1903 também foi muitoviolento. Capangas invadiram a coleto-

ria e o hospital. Houve um tiroteio noCirco de cavalinhos, com o saldo de umamorte e outros assaltos ao Hospital e àcasa do juiz alistador, onde os livros deassentamentos foram destruídos.

Chegou a Passos, nesse ano, o ja-gunço mais famoso da nossa história, ocamarada Sancho Garcia, que ficou co-nhecido como “Dente de Ouro”. Sua sé-rie de crimes começou com um assassi-nato no Glória e se estendeu por váriosanos. foto contratadores da morte

Os governistas passenses manti-nham o governo informado dessa violên-cia acentuada. Com isso, transformaramos incidentes que se sucediam em justi-ficativas para uma ação mais incisiva doGoverno do Estado. Os lavouristas, porsua vez, defendiam-se acusando os go-vernistas de manipularem as listas elei-torais e as eleições.

O Governo do Estado interferiu ra-pidamente: adiou as eleições por um anoe o Cel. Joaquim Gomes permaneceu nopoder, para descontentamento dos lavou-ristas.

Passos foi ganhando fama de cidadeviolenta “por cujas ruas transitava umahorda de malfeitores e indivíduos sus-peitos, de facínoras de toda espécie, quedava fortes descargas de carabinas a qual-quer hora do dia e da noite, aterrorizan-do a pacata população que se achava com-pletamente ameaçada...”.

O livro “Contratadores da Morte”,de Antonio Celestino, que viveu nessetempo e era lavourista, retrata o períodoviolento em que os coronéis dispunhamda milícia composta pelos jagunços parareforçar o jogo político e manter o poder.

Antônio Celestino foi advogado, escritor, jornalista e comercianteque residiu em Passos, no início do século XX, e foi testemunha docrescimento da violência na cidade e do seu desfecho, na Matança doFórum.

Acuado com os acontecimentos e com o desagrado das famílias,devido aos artigos críticos que andava escrevendo, o escritor mudou-seda cidade. “Os Contratadores da Morte” são um conjunto de três folhe-tins publicados em 1915 e 1917, na cidade de Guaxupé.

Dois folhetins trazem subtítulos: Crimes e Criminosos no Sul deMinas e Aventuras Criminosas. Todos os fascículos relatam um episódioespecial: Na caverna dos tigres, Turbilhão de Sangue e A herança Maldita.

No ano 2000, a primeira publicação da Editora FESP reeditou osfascículos em forma de livro, organizados pelo professor Antônio Theo-doro Grilo.

Cortar a orelha do morto era uma prática usual. Durante asrevoltas regenciais, especialmente a Cabanagem, o governoincentivava os soldados a lutarem contra os revoltosos, ofe-recendo prêmios pelas mortes. Os soldados chegavam aoRio de Janeiro trazendo colares de orelhas salgadas, a fimde receberem as premiações. Na Guerra de Canudos, estaprática também foi relatada.

Como nos filmes de faroeste!

26 de setembro – 1909A chacina Isidoradaou tragédia qu’inda comovea gente ao ser lembrada...

Num domingo tenebrosoo brabo Alferes Isidoro,porém astuto e jeitoso,fez da cadeia um foro...

Para inquirir testemunhassobre o crime passional...Pós ouvir mui caramunhas;abriu inquérito, afinal:

Primeiro a ser inqueridofora o Cap. Juca Mirandaera valente e temidode coragem formidanda

Em frente ao inquiridor,firme, ele , então depunha,sobre o crime de rancor como mera testemunha...

Mas atrás havia um soldadocom machadinha e veementedesfere golpe acertado:na face do depoente...

Sai, pois da cadeia correndonum desespero sem fim,com sangue ao rosto escorrendo,foi morto pelo Furquim...

Loquaz Antenor dentistafoi futriqueiro afamadopor isso tomou um tirona testa e morreu ajoelhado

Coronel Neca Medeiros,mesmo sem ser intimado;como chefe executivo;foi também assassinado

George Davis, um inglêsco’um tiro no medalhãocaiu vivo e por sua vez,ficou quietinho no chão...

Mas os outros intimadosà fatídica chacina,correram-se apavorados,dobrando ruas e esquinas...

Foram três mortos, portantodo atroz acontecimento;deixando a cidade em pranto,e familiares em lamento...

E todo o mundo com medo,e recolhidos nos lares...como se fosse um degredode infinitos pesares

Foi em 26 de setembroque se deu o torpe acidenteAssaz nítido me lembro,pois já era adolescente.

A tragédia de 26 de setembro de 1909pelo poeta Ananias Emerenciano Campos (20/08/1987)

Hermógenes Marcondes era descendente de ita-lianos e trabalhava na Companhia de Seguros Sul Amé-rica, em São Paulo. Chegou a Passos dia 04 de novem-bro de 1909, para pagar o seguro de vida à viúva deJuca Miranda, Sra. Valéria Lemos Miranda. Ficou hos-pedado na Fazenda das Águas, de propriedade de Joa-quim Júlio Lemos e Maria do Carmo Pádua Lemos.Joaquim Júlio era irmão de Valéria. Sr. Marcondes apai-xonou-se pela filha do casal chamada Cornélia de Pá-dua Lemos, ganhou uma fazenda do sogro e casou-secom a moça em junho do ano seguinte, formando aFamília Lemos Marcondes.

A Sra. Delva Marcondes de Melo Lemos afirmou:“Se não tivesse acontecido o fato de 26 de setembro,minha família não existiria e nem eu!”

O 26 de setembro e aFamília Lemos Marcondes

O gadozebu foi introdu-zido em Passospelo coronel Joséde Paula, quepassou a criar araça na sua fazen-da Taquarussu.Em seguida, vá-rios coronéisadotaram a raça:Eliziário José Le-mos, BernardinoVieira e GasparLourenço de Andrade. O coronel João Lourenço de Andrade, em 1908,importou diretamente da Ásia três touros zebus. Assim o zebu tomouconta da região e a pecuária foi se transformando na especialidade pas-sense, inclusive com a produção de derivados: queijo, manteiga e carne.

O avanço do gado indiano“Meu pai morreuqueimado na Guerrade Canudos. Foi. Euera criança aindaquando vi os sorda-dos da Repúblicabotá fogo cum kero-zene na minha gentetoda, por ordem dogeneral. Pois foi. Cumgente grande do go-verno que eu apren-di a num tê piedadedos inimigo. Quandomato algum, e tenhotempo, tamém gostode queimá o cor-po...” Claudimiro.Fascículo 1 dos Con-tratadores da Morte)

João Sarno fundou a Alfaiataria Sarno em1909 e, por muitos anos, vestiu os ho-mens elegantes de Passos.

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Page 4: Enquanto isso, no Brasil e no Mundo - UEMG · da ponte do Rio Surubi que facilitou a exportação do gado e a implantação da rede ferroviária. Moeda de ouro de 1889. Ela foi cunhada

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VOTO DE CABRESTOO alistamento eleitoralera feito por meio deum requerimento queo eleitor deveria pre-encher na frente doJuiz de Paz. Algunsfazendeiros privilegia-dos podiam trazer osrequerimentos pron-tos e aí a comissãoindeferia alguns, ale-gando que eram fal-sos ou que a pessoanão sabia escrever su-ficientemente.

A administração de Neca Medeiros

Wenceslau Brás era advogado e pro-motor. Neca Medeiros e Wenceslau Brástiveram um desentendimento pessoal ejurídico, na cidade de Monte Santo, ondeWenceslau era promotor. Os dois esta-vam, desde então, de relações cortadas.

Em 1908, Neca Medeiros, procuran-do uma aproximação com o Governo doEstado, deu nome de Wenceslau Brás parao primeiro Grupo Escolar da cidade. Em1909, estava instalado e foi inaugurado.

Neca Medeiros tinha muitos ami-gos pessoais como Antonio Celestino eJosé Stockler de Miranda, o Juca Miran-da, que era tenente-coronel e chefe daColetoria Federal. Eram coronéis de des-taque, possuíam uma jagunçada conside-rável e, por isso, praticavam vários des-mandos na cidade. A população estavainsegura e inquieta.

O desentendimentocom Wenceslau

delegado Isidoro não recebeu nenhuma denúncia do crime, mas resolveu convocar as pessoas a deporem sobreo caso João Modesto, primeiramente em dias diferentes, depois foi adiando os interrogatórios até que todosdepusessem no mesmo dia, o que aconteceu em 26 de setembro de 1909.

O primeiro a depor foi Juca Miranda, autor do crime. O plano do delegado era chamar cada coronel na salade interrogatórios, assassiná-los um a um, cortando-lhes as cabeças a machadadas.

Juca Miranda sentou-se à frente do delegado e o soldado Furquim, seu ajudante, ficou de pé ao lado dodelegado. Após o depoimento, quando Juca Miranda abaixou-se para assinar o livro, o soldado deu-lhe machadadas no crânio e nopulso. Juca reagiu e saiu ferido e gritando para os coronéis que estavam na sala de espera. Armou-se uma confusão. Não se sabia quematirava em quem.

Antenor Magalhães, amigo de Neca Medeiros, foi um dos muitos curiosos que foram ao Fórum assistir ao fato tão inusitado:os coronéis depondo. Foi morto na confusão. Neca Medeiros, quando viu o alferes Isidoro saindo doFórum, foi para o seu lado falando alto e protestando contra a violência. Este prontamenteofereceu-lhe proteção, dizendo-lhe que entrasse no Fórum, ao que Neca Medeiros aceitoude imediato, achando que estaria mais protegido.

Quando entraram, Isidoro fechou logo a porta e, nacozinha, Medeiros foi baleado, morrendo junto ao fogãode lenha. Os dois políticos mais influentes dePassos estavam mortos.George Davis, um americanoque estava em Passos devidoa acordos para instalação daCompanhia de Força e Luz,foi atingido por uma bala, aqual acertou o relógio que tra-zia no bolso, salvando-lhe damorte. Depois de baleado, fi-cou imóvel no chão, fingindo-se de morto até que a confu-são fosse desfeita.

A invasão dos jagunçosA invasão dos jagunçosA invasão dos jagunçosA invasão dos jagunçosA invasão dos jagunços

O dia da matança do Forúm

No início de 1909, o Governo doEstado enviou um delegado militar, o al-feres Isidoro Correia Lima, para que pu-sesse fim aos desmandos e falsificaçõeseleitorais, enfim que fizesse uma “higi-enização” nas práticas criminais e elei-torais passenses. Desde que chegou, Isi-doro aproximou-se dos líderes políticoslavouristas: almoçava e jantava com eles,pedia-lhes dinheiro emprestado, pres-tava-lhes favores. Os lavouristas tinham

A missão do delegado Isidoroa impressão de que Isidoro estava apoi-ando a continuação da política local sujae violenta.

Em agosto de 1909, Juca Miranda eseu camarada Benvindo, após desenten-dimentos familiares, assassinaram JoãoModesto, cunhado de Juca, quando estechegava em casa. A família de João Mo-desto tinha certeza de que o crime nãoseria apurado e tudo ficaria como se nadativesse acontecido.

Após os assas-sinatos, Isidoro e

seus ajudantesfugiram atiran-do para o alto.

A cidadede Passos foi

invadida pelajagunçada. Nin-

guém saía de casa.Monsenhor João Pedro, por

meio de visitas e reuniões familiares,serenou os ânimos. Isidoro e seus aju-dantes retornaram alguns dias depois,sob a proteção do prefeito. Antes deentrar, explodiram dinamites e deramtiros para o alto, intimidando as pesso-as. Nesse mesmo dia, foram presos osenvolvidos.

Em março de 1910, numa sessãode júri público – presidida pelo juiz dedireito da Comarca, Dr. SaturninoAmâncio da Silveira, pelo promotor dejustiça, Dr. Fernando de Magalhães Ma-

cedo e servindo de escrivão o capitãoHilarino Joaquim de Moraes –, foi fei-to o julgamento dos envolvidos namatança. Ao lado do promotor de jus-tiça, o Dr. João Silveira, advogado re-sidente em Casa Branca, chamado aPassos para auxiliar o Ministério Pú-blico na acusação por parte das viúvasdo coronel Manoel Medeiros e do te-nente-coronel José Stockler de Miran-da, as senhoras Guilhermina Emygdiade Lima Medeiros e Valeria de LemosMiranda.

Os advogados de defesa foram Dr.Lycurgo Leite e Dr. João Leite, de Muzam-binho e Guaranésia, e Dr. Antônio Celes-tino, de Passos. Muitas pessoas aglomera-ram-se nas dependências e ao redor doFórum para acompanhar os debates. Fo-ram julgados em primeiro lugar o alferesIsidoro e o soldado Furquim e, depois, ocoronel Francisco de Lemos Medeiros.Todos os réus foram absolvidos.

Narrado em terceira pessoa,“Chapadão do Bugre” foi ins-pirado na chacina acontecidaem Passos, nos primeiros anosdo século passado, culminan-do com o assassinato do coro-nel Neca Medeiros.Para o crítico João H. Weber,“Chapadão do Bugre” repre-

senta o fim do império dos jagunços e coronéis: “Umaforça estranha e impiedosa, representada pelo capitão Eu-caristo Rosa, se abate sobre o sertão, destruindo tanto oscoronéis e suas práticas políticas clientelísticas como o ja-gunço José de Arimatéia, sem que ninguém (...) possachegar a entender as normas do novo mundo que se es-tabelecia no sertão. Apenas Camurça, a mula de José deArimatéia, percebe, à hora da morte, a realidade. E o fazdo ponto de vista dos marginais e oprimidos do sertão.Mas é tarde e a destruição é inexorável”.

CHAPCHAPCHAPCHAPCHAPADÃO DO BUGREADÃO DO BUGREADÃO DO BUGREADÃO DO BUGREADÃO DO BUGREAutor: Mário Palmério

Em 1904, o Partido Go-vernista perdeu as elei-ções para o Partido La-vourista. ManoelLemos de Medei-ros, lavourista,passou a ocuparo cargo de pre-sidente da Câ-mara e AgenteExecutivo.

No ano se-guinte, NecaMedeiros ini-ciou o seu gover-no lidando com vá-rios incidentes políti-cos. O governo mudou,mas as práticas políticas doconchavo, do jaguncismo e do com-padrio continuaram.

As principais realizações de NecaMedeiros foram: a criação de uma EscolaPública no Córrego dos Ferros (hoje, Itaúde Minas que, naquela época, pertencia

a Passos), implantação da primei-ra linha telefônica ligando

Passos a Guaxupé, compradas oficinas do “Jornal

do Comercio e Lavou-ra”, que havia sidoextinto e, assim, ini-ciou a publicação dojornal “Cidade dePassos”, um sema-nário oficial do mu-nicípio, ampliaçãoda canalização deágua da cidade e par-

ticipação da constru-ção da Casa Paroquial.

Em 1907, foi feito o lan-çamento da pedra fundamen-

tal do Grupo Escolar. O constru-tor foi João Orlandi.

Novas eleições foram realizadas e oPartido Lavourista, novamente, foi o ven-cedor. O Partido Governista fez denún-cias ao Governo do Estado, que era exer-cido por Wenceslau Brás.