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1 ÍNDICE Introdução ------------------------------------------------------------------------------------- 2 Objectivos do estudo------------------------------------------------------------------------ 2 Objectivos específicos----------------------------------------------------------------------- 3 Metodologia de trabalho-------------------------------------------------------------------- 3 Capítulo I Enquadramento da ilha de Santiago---------------------------------------- 4 1.1. Aspectos climatéricos----------------------------------------------------------------- 7 1.2. Aspectos geomorfológicos----------------------------------------------------------- 7 1.3. Aspectos geológicos------------------------------------------------------------------ 11 1.4. Sequência vulcano-estratigráfica--------------------------------------------------- 11 1.5. Aspectos hidrogeológicos------------------------------------------------------------ 13 1.6. Unidade hidrogeológicas------------------------------------------------------------- 16 Capítulo II Caracterização geral do concelho do Tarrafal--------------------------- 17 2.1. Localzação e divisão administrativa----------------------------------------------- 17 2.2. Aspectos climáticos------------------------------------------------------------------ 18 2.3. Aspectos geomorfológicos----------------------------------------------------------- 19 2.4. Aspectos geológicos------------------------------------------------------------------ 21 2.5. Aspectos hidrogeológicos------------------------------------------------------------ 22 Capítulo III A situação de exploração de georecursos na zona norte de Santiago------- 24 3.1. Condições ambientais em Cabo Verde--------------------------------------------- 26 3.2. Identificação e caracterização dos geomorfismos--------------------------------- 27 3.3. Exploração dos georecursos--------------------------------------------------------- 28 Capítulo IV Exploração de georecursos em Tarrafal--------------------------------- 30 4.1. Piroclastos------------------------------------------------------------------------------ 30 4.2. Areia------------------------------------------------------------------------------------ 31 4.3. Brita------------------------------------------------------------------------------------- 33 4.4. Basalto---------------------------------------------------------------------------------- 34 4.5. Aspectos anbientais relacionados com as explorações--------------------------- 35 Capítulo V Impactes Ambientais----------------------------------------------------------- 37 5.1. Impactes nos Recursos Naturais----------------------------------------------------- 38 5.1.1. Vegetação------------------------------------------------------------------------ 38 5.1.2. Fauna----------------------------------------------------------------------------- 40 5.1.3. Solo------------------------------------------------------------------------------- 41 5.1.4. Água------------------------------------------------------------------------------ 42 5.1.5. Geomorfologia------------------------------------------------------------------ 43 Capítulo VI Alternativas para o abastecimento do mercado de construção-------45 6.1. Estratégias de criação de alternativas de formação e valorização dos R.H.--- 46 6.2. Estratégias de implementação de madidas institucionais ----------------------- 47 Conclusões e recomendações------------------------------------------------------------------ 48 Referências bibliográficas--------------------------------------------------------------------- 50

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1

ÍNDICE

Introdução ------------------------------------------------------------------------------------- 2

Objectivos do estudo------------------------------------------------------------------------ 2

Objectivos específicos----------------------------------------------------------------------- 3

Metodologia de trabalho-------------------------------------------------------------------- 3

Capítulo I Enquadramento da ilha de Santiago---------------------------------------- 4

1.1. Aspectos climatéricos----------------------------------------------------------------- 7

1.2. Aspectos geomorfológicos----------------------------------------------------------- 7

1.3. Aspectos geológicos------------------------------------------------------------------ 11

1.4. Sequência vulcano-estratigráfica--------------------------------------------------- 11

1.5. Aspectos hidrogeológicos------------------------------------------------------------ 13

1.6. Unidade hidrogeológicas------------------------------------------------------------- 16

Capítulo II Caracterização geral do concelho do Tarrafal--------------------------- 17

2.1. Localzação e divisão administrativa----------------------------------------------- 17

2.2. Aspectos climáticos------------------------------------------------------------------ 18

2.3. Aspectos geomorfológicos----------------------------------------------------------- 19

2.4. Aspectos geológicos------------------------------------------------------------------ 21

2.5. Aspectos hidrogeológicos------------------------------------------------------------ 22

Capítulo III A situação de exploração de georecursos na zona norte de Santiago------- 24

3.1. Condições ambientais em Cabo Verde--------------------------------------------- 26

3.2. Identificação e caracterização dos geomorfismos--------------------------------- 27

3.3. Exploração dos georecursos--------------------------------------------------------- 28

Capítulo IV Exploração de georecursos em Tarrafal--------------------------------- 30

4.1. Piroclastos------------------------------------------------------------------------------ 30

4.2. Areia------------------------------------------------------------------------------------ 31

4.3. Brita------------------------------------------------------------------------------------- 33

4.4. Basalto---------------------------------------------------------------------------------- 34

4.5. Aspectos anbientais relacionados com as explorações--------------------------- 35

Capítulo V Impactes Ambientais----------------------------------------------------------- 37

5.1. Impactes nos Recursos Naturais----------------------------------------------------- 38

5.1.1. Vegetação------------------------------------------------------------------------ 38

5.1.2. Fauna----------------------------------------------------------------------------- 40

5.1.3. Solo------------------------------------------------------------------------------- 41

5.1.4. Água------------------------------------------------------------------------------ 42

5.1.5. Geomorfologia------------------------------------------------------------------ 43

Capítulo VI Alternativas para o abastecimento do mercado de construção------- 45

6.1. Estratégias de criação de alternativas de formação e valorização dos R.H.--- 46

6.2. Estratégias de implementação de madidas institucionais ----------------------- 47

Conclusões e recomendações------------------------------------------------------------------ 48

Referências bibliográficas--------------------------------------------------------------------- 50

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho enquadra-se no âmbito do trabalho científico exigido pelo Instituto

Superior da Educação (ISE), para a obtenção do grau de Licenciatura em Geologia.

Com este trabalho pretendo alertar as autoridades competentes e a população em geram

sobre a forma desordenada que se está a fazer as explorações dos georecursos pondo em causa

o património geológico e a própria vida de quem executa essa tarefa.

A crescente procura de material de construção civil devido ao aumento demográfico, da

urbanização, da modernização e da emergência do sector turístico, tem provocado uma

intensa pressão sobre os georecursos da ilha de Santiago,nos últimos anos.

A exploração dos georecursos nem sempre é feita de forma mais criteriosa e racional, o

que põe em causa o desenvolvimento sustentável da ilha, sobretudo no que concerne à

preservação do património geológico, destruição do solo, da vegetação, dos habitats e da

paisagem, por vezes de forma irreversível.

Muitas vezes, devido ao não cumprimento das normas e exigências impostas pelos

órgãos competentes, durante as várias fases do processo de exploração, é frequente o domínio

do económico sobre o ecológico, ou do imediato sobre o sustentável, em vez de os conciliar

na perspectiva da sustentabilidade e, observando as regras de equilíbrio ambiental durante as

várias etapas de instalação, de exploração e de abandono.

Alguns casos vão ser debruçados ao longo deste trabalho, de acordo com as observações

e o diagnóstico constatado a partir dos trabalhos de campo, na zona norte da ilha de Santiago

onde fazem a exploração dos georecursos.

OBJECTIVOS DO ESTUDO

Este trabalho tem como objectivo principal o conhecimento da realidade ligada ao sector

de exploração e utilização dos georecursos, procurando identificar os pontos negativos desta

actividade, criando bases para que venha a constituir um elemento de apoio, com carácter

dinâmico, que ajuda a fundamentar tomadas de posição e/ou decisão por parte de entidades

públicas e privadas ligadas ao sector, ou outros com os quais este interfere, de acordo com as

medidas legislativas aplicáveis.

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OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO TRABALHO

Analisar a problemática de extracção dos georecursos;

Avaliar os impactes causados pela exploração de georecursos;

Identificar as alternativas para minimizar as consequências negativas desta prática;

METODOLOGIA DE TRABALHO

Para atingir os objectivos propostos, na elaboração do documento, foi utilizada a

seguinte metodologia:

Levantamento bibliográfico sobre a problemática da exploração de georecursos no

INGRH, INIDA, Câmara municipal, Direcção geral do Ambiente, Guardas marítimas,

Esquadra da Polícia e outros;

Aulas de campo com o objectivo de observar o terreno e entrevistar apanhadores,

camionistas, empreiteiros e construtores;

Visitas de terreno às diversas localidades donde se faze-se a exploração de

georecursos duma forma tradicional;

Recolha de informações sobre a problemática e alternativa de solução;

Levantamento das estratégias de exploração e abastecimentos alternativos, como

programas de luta contra a pobreza e promoção da qualidade de vida.

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CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO DA ILHA DE SANTIAGO

1.1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A ilha de Santiago, como todas as ilhas do arquipélago de Cabo Verde, eleva-se de um

soco submarino em forma de ferradura, situado a uma profundidade de ordem dos 3.000

metros.

A ilha de Santiago fica situada na parte sul do arquipélago entre os paralelos 15º 20 e 14º

50 de latitude norte e os meridianos 23º 50 e 23º 20 de longitude oeste do meridiano de

Greenwich. Tem um comprimento máximo de 54,9 km entre a Ponta Moreia, a norte e a

Ponta Mulher Branca a sul, e a largura máxima de 29km entre a Ponta Janela a oeste, e a

Ponta Praia Baixo a leste.

A formação da ilha teria sido iniciada por uma actividade vulcânica submarina central,

mais tarde completada por uma rede fissural nos afloramentos.

A ilha é dominada por emissões de escoadas lávicas e de matérias piroclásticos (escórias,

bagacinas ou “lapilli” e cinzas) sub aéreas predominantemente basálticas.

Administrativamente a ilha é constituída por nove (9) conselhos e onze (11) freguesias.

O Concelho da Praia, sendo a maior localizada na parte sul, ocupa uma área de

96,8 km2 com a população de 97240 habitantes, distribuídos pelas freguesias da Nossa

Senhora da Graça. (INE, 2005)

O Concelho de São Domingos com uma área de 134,5km2

e uma população de 13.

305 habitantes divididos pelas freguesias de São Nicolau Tolentino e Nossa Senhora da luz.

(Censo 2000)

O Concelho de Santa Cruz , situada a leste da ilha, ocupa uma área de 109,8 km2

e

uma população 32.965 habitantes repartidos pelas freguesias de Santiago Maior.(INE, 2005)

O Concelho de Santa Catarina, situada na parte central, apresenta uma área de 214,2

km2

e uma população de 49ooo habitantes, espalhados pelas freguesias de Santa Catarina.

(INE 2005)

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O Concelho de Calheta São Miguel, Situado a nordeste da ilha, abrange uma área de

90,7km2 na qual reside uma população de 16.104 habitantes, distribuídos pelo São Miguel

Arcanjo.( Censo 2000)

O Conselho do Tarrafal, situada a Norte com uma área de 112,4km2

e a população de

18.059 Habitantes, distribuídos pela freguesia de Santo Amaro de Abade. (Censo 2000).

O Concelho de Picos São Salvador do Mundo, situado na zona central da ilha, com uma

área de 28,7 km2 e

uma população de 9.172 habitantes, distribuídos pela freguesia de São

Salvador do Mundo (INE 2005).

O Concelho de São Lourenço dos Órgãos, situada na zona leste da ilha, com uma área

de 39,5 km2 uma população de 1.781 habitantes, distribuídos pela freguesia de São Lourenço

dos Órgãos (INE 2005)

O Concelho de Ribeira Grande, com uma área de 164, 4 km2, situada na zona sul da

ilha, com uma população de 2983 habitantes distribuídos pelas freguesias de Santíssimo

Nome de Jesus e São João Baptista. ( INE 2005)

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Quadro n.° l - Distribuição dos Concelhos e freguesias da Ilha de Santiago

Concelho Área

Superficial

(km2)

Freguesia N° Populacional Total

Ambos os

Sexos

Masculino

Feminino

Tarrafal 112.4 Santo Amaro Abade

17788 7904 9880 17788

Santa Catarina 214.2 Santa Catarina 40657 18415 22242 40657

São Salvador do

Mundo

28.7 São Salvador do

Mundo

9172 4148 5024 9172

São Miguel 90.7 São Miguel Arcanjo

16104 7114 8990 16104

Santa Cruz 109.8 São Tiago Maior 25184 11861 13325 25184

São Lourenço dos

Órgãos 39.5 São Lourenço dos

Órgãos 7781 3667 4114 7781

São Domingos 137.6 São Nicolau

Tolentíno

8715 4187 4528 13305

Nossa Senhora da Luz

4590 2214 2376

Praia 96.8 Nossa Senhora da

Graça

97240 46567 50673 97240

Ribeira Grande 164.4 São João Baptista 4730 2169 2561 4730

Santíssimo Nome de

Jesus

2983 1447 1536 2983

Fonte - Instituto Nacional de Estatística (2005).

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1.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS

O clima de Santiago tem as mesmas características que a do arquipélago de Cabo

Verde. È do tipo árido e semi-árido com uma temperatura média de 25ºC e irregularidade de

precipitações.

O clima de Santiago apresenta duas estações distintas:

A estação das chuvas ou “ tempo das águas” que compreende os meses de Agosto a

Outubro, é a mais quente com chuvas irregulares e encontra-se ligada a deslocação da frente

de convergência inter-tropical.

A estação seca ou “tempo das brisas” que vai de Dezembro a Junho, é mais fresca e seca na

qual predomina a acção dos ventos álisios de Nordeste.

Os meses de Julho e Novembro são considerados de transição.

A precipitação concentra-se num curto intervalo de tempo na maioria das vezes muito

irregular ou nula, apesar da humidade relativa atingir valores elevados.

Esta irregularidade, a partir de 1968, com casos de nula precipitação por exemplo nos anos de

1972 e 1977.

A forma de relevo, muito montanhosa, influência bastante o clima. Pode-se definir

vários tipos de climas locais, devido a combinação do efeito da altitude com a da orientação

das massas do relevo em relação aos ventos dominantes. Aridez no litoral humidade e

vegetação nos pontos altos, precipitação na vertente oriental, escassez de humidade na

vertente ocidental.

Verifica-se que a medida que se caminha para o interior, o tipo árido do litoral passa

para semi-árido e semi-humido a húmido ( Ilídio do Amaral, Santiago da Cabo Verde, A terra

e os Homens).

O clima da ilha de Santiago de acordo com o trabalho de F. Reis Cunha, relativamente

ao regime térmico, divide-se em três grupos:

Clima litoral, como o da Praia, Achada baleia, Tarrafal e São Tomé.

Clima de altitude, como o do Pico de Antónia, Santa Catarina e Serra Malagueta .

Clima de vertente, não exposta aos ventos alísios como Principal e Boa Entrada.

A temperatura é praticamente uniforme, com humidade relativa elevada, amplitudes

térmicas pequena, sendo as médias de 6 a 8 graus.

O relevo é um factor determinante, proporcionando o surgimento de microclimas em

determinados vales do interior, nomeadamente Órgãos, São Domingos, Picos e Principal.

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Segundo estes parâmetros, distinguem-se as seguintes zonas climáticas:

Zona árida, situada a uma altitude abaixo dos 100m e precipitações inferiores a

250mm.

Zona semi-árido situada na faixa dos 100 aos 200 metros e precipitações que

variam entre 250 a 400mm.

Zonas húmidas, de altitude acima dos 500 metros e precipitações superiores a

500mm.

Essa precipitação varia conforme a exposição das vertentes em relação aos ventos alísios,

sendo maior nas vertentes e nas zonas altas ( Serra Malagueta e Picos de Antónia),

favorecendo a prática de agricultura de sequeiro, à margem das florestas.

1.3. ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS

De acordo com Manuel Monteiro Marques (1990), na ilha de Santiago da República de

Cabo Verde, consideram-se sete unidades geomorfológicos, nomeadamente:

Achadas meridionais (I)

Maciço montanhoso do Pico de Antónia (II)

Planalto de Santa Catarina (III)

Flanco oriental (IV)

Flanco ocidental (V)

Maciço montanhoso da Malagueta (VI)

Tarrafal (VII)

A altitude média da ilha é de 278,5 m, sendo a altitude máxima de 1392 m (Pico de

Antónia).

A sul destaca-se uma série de achadas escalonadas entre o nível do mar e 300 a 500 m de

altitude.

A oeste o litoral é normalmente escarpado e a leste é baixa e constituído por achadas.

No centro da ilha localiza-se o extenso planalto de Santa Catarina, que se situa entre 400 e

600 m de altitude.

Limitando a sul e a norte aquele planalto erguem-se, respectivamente, os maciços

montanhosos do Pico de Antónia e da Malagueta, cujos cimos ultrapassam os 1000 m.

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A oeste, o flanco do planalto de Santa Catarina é extremamente declivoso até ao mar; a

leste, o flanco oriental inicia-se por encostas alcantiladas, mas os declives médios vão-se

adoçando bastante até às achadas litorais.

No norte da ilha, destaca-se o Tarrafal, extensa região de achadas cujas altitudes variam

entre 20 e 300 m, que se desenvolvem a partir do sopé setentrional do maciço montanhoso da

Malagueta, devendo-se destacar a plataforma de Chão Bom, Tarrafal, cujas altitudes variam

entre 0 a 20 m. Neste relevo variado e bastante movimentado insere-se uma rede hidrográfica

de regime temporário relativamente densa e, na grande maioria dos casos, correndo em vales

encaixantes cujos talvegues apresentam perfil longitudinal torrencial. Nesta paisagem,

sobressaem os traços terminais dos vales principais das bacias hidrográficas mais importantes

cuja forma terminal em canhão é vulgar, isto fundamentalmente nos traços que cortam as

achadas, tanto nos litorais como nos planaltos do interior da ilha. Esta forma de vale é devido

a estrutura colunar que afecta as escoadas lávicas.

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fig. 1 – Grandes unidades geomorfológicas

Fonte: Grarcia de Horta, Sér. Est. Argon., Lisboa, 17 (1-2), 1990, 19-29

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1.4. ASPECTOS GEOLÓGICOS

A ilha de Santiago é de origem vulcânica formada essencialmente por formações

vulcânicas com predominância de rochas basálticas e produtos piroclásticos (brechas, lapilli e

tufos).

Há rochas de vários tipos de formação geológica de idades diferentes. As mais antigas

encontram-se em áreas desnudadas normalmente no leito das ribeiras.

As rochas afaníticas abrangem a maior parte da ilha, enquanto que as faneríticas ocupam

pequenas áreas, entre as rochas afaníticas os produtos de origem explosiva têm importância

reduzida, ocupam os derrames a maior extenção.

Observam-se filões com frequência, mas a sua presença é mais vincada nas formações

antigas.

Devido às oscilações do nível do mar, encontram-se derrames que se originaram abaixo

da água do mar.

Caracterizando a origem das diversas formações, pode-se afirmar que os derrames

basálticos foram os primeiros a serem projectados. Em seguida, as formações de rochas

fonolíticas e traquíticas formaram chaminés, domas e filões que vieram a ser seguidos de uma

erupção das rochas basálticas.

Podem-se observar rochas calcárias depositadas sobre parte do litoral ocupada por rochas

basálticas que se encontram submersas.

Com o levantamento posterior da ilha houve actividade vulcânica manifestada pela

presença de mantos basálticos que cobriram as rochas calcárias e de filões que atravessaram

as referidas rochas vulcânicas.

1.5. SEQUÊNCIA VULCANO-ESTRATIGRÁFICO

Os trabalhos realizados por António Serralheiro, que conduziram à elaboração e

publicação da carta geológica nas escalas de 1/25000 e 1/100000 e a respectiva Notícia

Explicativa, permitiram estabelecer a sequência Vulcano-Estratigráfica da ilha de Santiago,

que tem servido de suporte básico para os trabalhos de hidrogeologia e recursos hídricos.

Também se poderá salientar a contribuição dada pelo “Estudo geológico, petrológico e

vulcanológico da ilha de Santiago (Cabo Verde)” da autoria de C. A. Mota Alves, J. R.

Marcelo, L. Celestino Silva, A. Serralheiro e A. F. Peixoto Faria (1979) no reforço dos

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conhecimentos da sequência Vulcano-Estratigráfica da ilha de Santiago.É neste contexto que

se passa a descrever as ocorrências dos acontecimentos geológicos, tomando como princípio

do mais antigo (I) ao mais recente (X).

I. Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA) – é caracterizado apenas pela fácie

terrestre, representada pelas seguintes subunidades.

a) Complexo filoniano de base de natureza essencialmente basáltico (CA);

b) Intrusões de rochas granulares silicatadas (Y);

c) Brechas intravulcânicas e filões brechóides (B);

d) Intrusões e extrusões fonolíticas e traquíticas (φ);

e) Carbonatitos (CB).

II. Conglomerados antiformação dos flamengos.

III. Formação dos flamengos (λρ) – formada por mantos, brechas e piroclástos, de

natureza marinha. O maior afloramento dessa formação pode-se observar na

Ribeira dos Flamengos e, daí o seu nome.

IV. Formação dos órgãos (CB) – apresenta duas fácies: terrestre e marinha. Na fácie

terrestre observam-se depósitos de enxurrada e na face marinha, calcários e

calcarenito fossilíferos.

V. Formação lávica pós-formação dos órgãos – constituída por rochas traquítico-

fonolíticas.

VI. Sedimentos posteriores à formação dos órgãos (CB) e anteriores às lavas submarinas

e inferiores do Complexo Eruptivo do Pico de Antónia.

VII. Complexo Eruptivo do Pico de Antónia – deste complexo fazem parte produtos

resultantes das actividades explosiva e efusiva, subaéreos, que tiveram lugar em

épocas geológicas diferentes. É constituído por duas fácies. A fácie terrestre

apresenta as subunidades da mais antiga à mais recente:

a) Série espessa, essencialmente de mantos e alguns níveis de piroclastos.

b) Fonólitos, traquitos e rochas afins.

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c) Tufo, brecha (TB).

d) Mantos e alguns níveis de piroclastos.

e) Piroclastos e escoadas.

A fácie marinha apresenta, conglomerados e calcarenitos fossilíferos, mantos

basálticos inferiores, calcários, calcarenitos, conglomerados e mantos basálticos

superiores.

VIII. Formação de Assomada (A) – é constituída por mantos e piroclastos, ambos de

natureza basáltica, fazendo parte da face terrestre.

IX. Formação de Monte da Vacas (MV) – corresponde à última manifestação vulcânica,

constituída por cones de piroclastos basálticos e pequenos derrames associados na

face terrestre.

X. Fomações Sedimentares Recentes – com duas fácies, em que na marinha tem-se

areias e cascalheiras da praia, e a terrestre com aluviões, areias, dunas, depósitos

de vertente e depósitos de enxurrada.

1.6. ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS

A ilha de Santiago tem recorrido a utilização de águas subterrâneas para abastecer as

populações urbanas e rurais, para a agricultura, criação de gado e outras necessidades.

Das águas provenientes da precipitação só 13% consegue infiltrar no subsolo para originar as

águas subterrâneas. Uma grande parte escoa-se para o mar através do escoamento superficial,

uma quantidade razoável evapora-se para a atmosfera, e apenas uma pequena quantidade

infiltra-se em direcção ao C.E.P.A., através das fracturas e fendas, onde circulam e

armazenam sob a forma das águas subterrâneas.

Os principais pontos de águas inventariados são nascentes, furos e poços, com caudal

honorário e diário muito variável, mas significativo.

Os pontos de água encontram-se distribuídos por diversos concelhos, sendo a água

extraída utilizada para diversos fins.

A quantidade de água que se infiltra através das fendas e fracturas das rochas acaba por

acumular no aquífero principal o C.E.P.A.

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Através da observação do mapa da ilha de Santiago com as suas respectivas linhas de

águas, notam-se três grandes zonas de drenagem, partindo do Pico de Antónia (Ilídio de

Amaral, in “A ilha de Santiago – a terra e os homens”):

Do Pico de Antónia em direcção à Baia de Santa Clara.

Do Pico de Antónia para a Ponta Prinda.

Do Pico de Antónia à Baia de Medronho.

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Fig 2 Mapa da rede hidrográfica de Santiago

Fonte: Santiago de Cabo Verde, A Terra e os Homens, Ilídio do Amaral, 1964

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1.7. UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS

Estudos hidrogeológicos permitiram chegar à conclusão da possibilidade da existência de

três grandes unidades hidrogeológicas:

I. Unidade Recente – constituída pela formação do Monte da Vacas (MV), formada por

cones de piroclastos e alguns derrames associados. É a unidade bastante permeável e

que privilegia a infiltração da água em direcção ao aquífero principal.

II. Unidade Intermediária – constituída pelo Complexo Eruptivo do Pico de Antónia (PA) e

Formação da Assomada. A formação do Pico de Antónia é formada fundamentalmente

por mantos basálticos subaéreos intercalados por piroclastos e mantos basálticos

submarinos. Essa é a formação mais extensa constituindo, deste modo, o aquífero

principal. Tem um coeficiente de armazenamento relativamente elevado, se a

compararmos com as unidades de base, devido a facturação vertical, a porosidade e a

permeabilidade. Também se inclui nesta unidade a Formação de Assomada.

III. Unidade de Base – formada pelo Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), Formação

dos Flamengos (P), e Formação Conglumerática Brechóide (CB). Esta unidade

comporta-se como unidade impermeável, porque possui boa percentagem de argila que

não permite a infiltração da água. É constituída pelas formação mais antigas que têm

maior percentagem de argila.

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CAPÍTULO II

CARACTERIZAÇÃO GERAL DO CONCELHO DO TARRAFAL

2.1. LOCALIZAÇÃO E DIVISÃO ADMINISTRATIVA

Concelho do Tarrafal foi criado em 1917 pelo decreto-lei nº3108-B de 25 de Abril,

publicado no supremo nº3 do B.O. nº 25 em 1917, provocando a sua desintegração do

concelho de Santa Catarina, que até 1912 tinha a sua sede na Vila do Tarrafal.

O concelho do Tarrafal fica situado no extremo norte da ilha de Santiago, a uma distância

de 70 Km2 da cidade da Praia (capital do país), ocupa uma área de 112,4 km

2 o que representa

cerca de 11% da área total da ilha de Santiago e cerca de 2,8% do território nacional.

Encontra-se confrontado a sudoeste com o concelho de São Miguel e a Sudeste com o

concelho de Santa Catarina.

Com a elevação da freguesia de São Miguel à categoria de concelho, em 1997, Tarrafal

passa a abarcar apenas o espaço territorial da freguesia de Santo Amaro Abade.

Segundo o Censo 2000 o concelho conta com uma população que ronda os 17.784

habitantes, distribuído administrativamente pela única freguesia, a do Santo Amaro Abade

constituídas por vinte localidades, sendo a Vila do Tarrafal (Mangue) a sede do concelho.

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Quadro2. População segundo as localidades

A. Biscaínhos 128 107 235 1,3

A. Lagoa 108 74 182 1,0

A. Longueira 436 289 725 4,0

A. do Meio 151 120 271 1,5

A. Mairão 401 270 671 3,7

A. Tenda 639 474 1113 6,2

Biscaínhos 429 295 724 4,0

Chão Bom 2446 2073 4519 25,4

Curral Velho 207 162 369 2,0

Fazenda 86 56 142 0,7

F. Muita 123 105 228 1,2

Lagoa 102 87 189 1,0

Mato Brasil 123 87 210 1,1

Mato Mendes 197 126 323 1,8

Milho Branco 140 95 235 1,3

Ponta Lubrão 212 148 360 2,0

Ribeira da

Prata

503 411 914 5,1

Ribeirão Sal 45 31 76 0,4

Trás-os-

Montes

309 246 555 3,1

Vila do

Tarrafal

3110 2662 5772 32,4

2.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS

No que se refere aos aspectos climáticos, sendo o concelho de Tarrafal uma das partes

integrantes da ilha de Santiago, não escapa a influência dos factores que condicionam o clima

do arquipélago de um modo geral e particularmente o clima de Santiago. Mas, por outro lado,

sendo Tarrafal uma região específica da ilha, com todas as suas características próprias, torna-

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se necessário destacar os factores que de uma forma ou de outra, influenciam o clima desta

região norte da ilha.

O relevo e a disposição das vertentes em relação aos ventos dominantes, são factores

decisivos na determinação do clima do concelho do Tarrafal, pois, sendo uma região baixa,

a disposição do relevo, principalmente do Monte Graciosa, contribui grandemente para a

diminuição do aridez.

Devido ao factor do relevo há predominância de microclimas áridos e semiáridos no

concelho. Constata-se que à medida que aumenta a altitude, também se verifica um aumento

da pluviosidade e, consequentemente, uma diminuição considerável de aridez. Á semelhança

do que acontece noutros concelhos do arquipélago, no Tarrafal, as chuvas distribuem-se de

uma forma bastante irregular, criando um contraste vigoroso entre as zonas altas e os litorais,

caracterizadas por duas estações bem definidas:

A estação das chuvas ou “das águas”, que vai de Agosto a Outubro, em que as chuvas são

irregulares e estão intimamente ligadas as migrações da C.I.T. (convergência inter tropical).

A estação seca ou” das brisas”, que vai de Dezembro a Junho, a mais fresca e seca , em

que há predominância da acção dos ventos alísios de nordeste que, de uma maneira geral,

sopram todo o ano.

Os meses de Julho e Novembro são considerados de transição.

2.3. ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS

Com base na publicação da obra de Ilídio Amaral (1964), “ Santiago de Cabo Verde, a

terra e os homens”, a área do Tarrafal, com uma altitude média de 150 metros, é dominada

por relevo de altura variável, desde os pequenos cones de dezenas de metros à enorme cúpula

Monte Graciosa. Situado no extremo nordeste do concelho, possui uma cota máxima de 643

metros o que lhe atribui o título da terceira grande elevação da ilha de Santiago.

As principais elevações do concelho do Tarrafal são as seguintes:

Monte Graciosa, de aspecto esbranquiçado, estende-se de leste para oeste, desde

Achada Biliar à Baía do Tarrafal. As suas vertentes são bastante declivosas, sendo

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difícil a sua subida aos pontos mais altos. A vertente mais a sul apresenta aspectos

variados com alguns esporões do lado da baía.

Monte Costa, com 336 metros de altitude.

Monte Matamão, com 360 metros de altitude, ambos situados a leste do Monte

Graciosa, apresentando cones bastante erudidos e de materiais bastante alterados.

Monte Vermelho, com cerca de 296 metros de altitude.

Monte Furna, com 222 metros de altitude.

Monte Covado, com 281 metros de altitude.

Monte Achada Grande, com 260 metros de altitude.

De toda a extensão territorial do concelho do Tarrafal, é de realçar as duas formas de

relevo de capital relevância que são respectivamente:

Monte Graciosa.

Caldeira de Sevilha (situada junto à localidade de Ribeira da Prata, a única bem

conservada).

Das depressões mais importantes destacam-se as seguintes:

Ribeira da Fontão

Ribeira Grande.

Ribeira de Lebrão.

Ribeira de Fazenda.

Ribeira de Porto Formosa.

Ribeira de Cuba.

Ribeira Biscainhos, etc.

Entre as achada mais importantes destacam-se:

Achada Bilim.

Achada Tenda.

Achada Porto.

Achada Carreira.

Achada Tomás.

Achada Biscainhos.

Achada Boi.

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Achada Grande.

Achada Chão Bom.

Achada Cuba

2.4. ASPECTOS GEOLÓGICOS

No concelho do Tarrafal, as formações predominantes são as rochas basálticas subaéreas

e submarinas. Mas torna-se necessário por em evidência as rochas traquifonolíticas cujo

testemunho é o Monte Graciosa. Ainda é de assinalar a presença de rochas sedimentares, com

especial destaque para os afloramentos de calcarenito e areias de origem calcárias, nas praias

e nas ribeiras. Como é natural em todas as ribeiras há presença de aluviões e, na parte

terminal, areia e cascalheiras da praia.

A sequência estratigráfica é estabelecida da mais antiga à mais recente, de acordo com as

descrições que se seguem:

I. Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), encontra-se distribuída de uma forma

bastante dispersa. Observa-se, principalmente, no farol de Ponta Preta, Chão de

Arruela e Baía de Angra.

II. Formação dos Flamengos (P), pode ser observada em pequenos retalhos na zona Ponta

Preta e Ponta Bicuda.

III. Formação dos Órgãos (CB), pode ser observada, principalmente, os depósitos de fácie

marinha nas escarpas do mar do Tarrafal. Nota-se claramente nas partes do litoral os

conglomerados brechóides marinhos estabelecendo contactos com mantos basálticos

submarinos. Na ribeira de Fontão pode-se observar calcarenitos fossilíferos e na Ponta

Lanche Grande aparecem os calcarenitos marinhos.

IV. Complexo Eruptivo Principal (PA), constitui a unidade mais espessa e mais extensa.

Algumas ribeiras de profundidade espectacular foram cavadas nesta formação ( é no

concelho do Tarrafal que se encontra a maior representação de fonólitos e traquitos na

ilha de Santiago).

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V. Formação do Monte da Vacas (MV), esta formação encontra-se representada por

cones de piroclastos evidenciando a fase explosiva. Estes materiais estão alterados

apresentando, por isso, a cor avermelhada.

Exemplos de cones que fazem parte desta formação: Monte Covado, Monte Contador,

Monte Vermelho, etc.

VI. Formação de Sedimentos Recentes, constituída por duas fácies marinha e terrestre,

sendo a terrestre formada por aluviões, dunas, depósito de vertentes, de enxurrada e a

fácie marinha com areias e cascalheiras da praia.

2.5. ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS

A hidrogeologia é a parte da hidrologia que se ocupa do armazenamento de água terrestre

na zona saturada das formações geológicas.

Os recursos hídricos utilizados no concelho do Tarrafal, à semelhança do que acontece

em todas a ilha de Santiago, provêm das águas subterrâneas que são alimentadas pelas

precipitações que caem na época chuvosa, embora de uma forma irregular.

A principal rede de drenagem do concelho parte do maciço montanhoso Serra Malagueta

que é o segundo maior da ilha logo a seguir a do Pico de Antónia.

De acordo com as características das formações geológicas, dos inventários de pontos de

águas, sondagens mecânicas e ensaios de bombagem é possível estabelecer provisoriamente,

um esquema hidrogeológico geral do concelho. Assim, com os trabalhos realizados e os dados

disponíveis, foi possível estabelecer as seguintes unidades hidrogeológicas:

I. Unidade de Base, esta unidade é constituída pelo Complexo Eruptivo Interno Antigo

(CA), Formação dos Flamengos e Formação dos Órgãos. Estas formações

caracterizam-se por possuírem uma alta percentagem de argila, elevado grau de

alteração, baixa permeabilidade e capacidade de infiltração reduzida. Tendo em conta

estas características, o caudal desta unidade torna-se pouco expressivo.

II. Unidade Intermédia composta pela Formação do Complexo Eruptivo (PA) à qual se

associa a Formação de Assomada (A). É uma unidade extensa e a mais espessa.

Constitui o principal aquífero da ilha, visto que a porosidade e a permeabilidade são

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elevadas, contrariamente à Unidade de Base. A fracturação vertical e a expessura

considerável do conjunto ocupam dezenas de metros fazendo desta unidade o aquífero

principal.

III. Unidade Recente, esta unidade é constituída pela Formação do Monte das Vacas (MV)

que é essencialmente formada por cones de piroclastos e alguns derrames associados.

Caracteriza-se por possuir forte permeabilidade, permitindo a infiltração e a chegada

da água à formação de Pico de Antónia (PA).

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CAPÍTULO III

A SITUAÇÃO DE EXPLORAÇÃO DE GEORECURSOS NA ZONA

NORTE DE SANTIAGO

A exploração e o consumo dos georecursos tem sido o rendimento económico o

sustento de muitas famílias, por outro lado é motivo de preocupação por parte das autoridades

competentes, que vê o futuro ambiental em risco por causa dessa actividade executada de uma

forma desproporcional e na maioria das vezes clandestino.

È notável a erosão causada nos leitos das ribeiras, nas praias de mar e também nos

cones de piroclastos, devido a extracção desses recursos de forma desorganizada que acaba

colocando em risco o equilíbrio ambiental prejudicando a própria população de uma forma

directa ou indirecta.

Normalmente, na maioria das situações, esta actividade apresenta um carácter

tradicional, onde a extracção é feita de forma artesanal em que a maioria dos apanhadores, já

com uma certa idade, exercem esta profissão cujo prática vem sendo transmitidos aos

adolescentes.

Devido ao crescimento demográfico acelerado, há uma grande procura destes produtos

para a construção de aldeias, vilas e cidades. Este sector de carácter primitivo vem

complementando o mercado destes materiais, permitindo, assim, que um número significativo

da população pobre e desempregada, especialmente mulheres chefes de família, integre a

equipa de exploração.

Vários são os materiais extraídos, nomeadamente rocha para alicerces, calçada

(pavimento), brita, cascalho, areia e jorra para a construção civil etc.

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Quadro3 - Preço de inertes extraídos na Zona norte da ilha de Santiago

Tipo de

Material

Produção

Actual

Pedra/dia

Produç

ão

Actual

Areia/d

ia

Produção

Actual

Brita/dia

Preço

/Carrada

Pedra

Preço

/Carrad

a

Areia

Preço/

Carrada

Brita

Emprego

Directo

Nº de

Pessoas

Localização

Areia

(apanha no

mar) -

Tarrafal

3

carrada

s/mês

5

000$00

10

mulheres

Ribeira da

Fazenda

Areia de

ribeira –

Tarrafal

______

__

2

500$00

6

mulheres

Ribeira de

Chão-Bom

Brita de

ribeira –

Tarrafal

_______

_

2

000$00

6

mulheres

Ribeira de

Chão-Bom

Areia

(apanha no

mar)-

Tarrafal

3

carrada

s/mês

8

000$00

> 100 Ribeira-da-

Prata

Areia

(apanha no

mar)-

Tarrafal

3

carrada

s/mês

8

000$00

> 100 Ribeira-da-

Prata

Brita de

ribeira-

Tarrafal

4

carradas

/mês

7

000$00

13

mulheres

Ribeira-da-

Prata

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É de se realçar que, se por um lado, estas práticas de exploração contribuem para

responder às necessidades do sector imobiliário, por outro, não compensa os graves

problemas ambientais e ecológicos provocados pelas consequências nefastas para o solo,

vegetação, água subterrânea e água superficial.

Portanto, a amplitude dos impactes ambientais e económicos da extracção dos

georecursos é de considerar. Pois, a destruição dos recursos paisagísticos, a salinização do

lençol freático nas zonas agrícolas, a destruição de praias com potencialidades turísticas, bem

como a destruição de habitats das espécies marinhas são bem visíveis em todos os espaços

ecológicos onde se faz a extracção. Por isso, torna-se necessário e urgente estudos de

orientação que remedeiam e recuperem estes distúrbios paisagísticos.

A indústria mecânica de britagem poderá constituir uma alternativa credível na

solução da apanha de areia, contribuindo de forma positiva na recuperação dos espaços,

actualmente, degradados, concertando, deste modo, a dinâmica do sector das construções de

imobiliárias com o funcionamento ambiental.

3.1. CONDIÇÕES AMBIENTAIS EM CABO VERDE

As condições ambientais em cabo verde estão condicionadas por alguns factores como:

O clima;

A seca;

A perda do solo;

Aumento demográfico,

Más práticas agriculas, etc.

O crescimento demográfico tem contribuído para o aumento da procura de terrenos para

construção nas zonas urbanas e suburbanas, provocando especulação do preço das terras e

pressão sobre inertes especialmente areia das praias e a perda do solo devido a erosão hídrica

e eólica é considerada um problema ambiental mais crítico em cabo verde. Estes danos

causados ao ambiente têm sido uma das preocupações para o governo cabo-verdiano, por isso

as autoridades competentes têm dado os seus contributos avaliando os Impactes Ambientais, e

as técnicas e métodos de minimizar os danos.

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A nível da Geológico Ambiental o contributo faz-se ao:

entender os ecossistemas, os grandes ciclos como um todo, bem como as inteirações multi-

direcçionais;

definir as formas de prevenção e previsão dos processos naturais;

identificar os elementos em riscos, exposição e a vulnerabilidade dos sistemas

humanizados;

participar na determinação das qualidades e dos equilíbrios ecológicos, bem como as

vulnerabilidades.

3.2. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GEORECURSOS

Em Cabo Verde ainda não foram encontrados jazidas de minerais metálicos

economicamente exploráveis, mas em contrapartida há uma ocorrência generalizada de

grandes jazidas de minerais não metálicos como, areia, piroclastos, britas e outras rochas com

muito interesse económico no domínio da construção civil.

Os jazidos de minerais não metálicos que são explorados são as matérias primas para a

construção civil, como:

Basaltos;

Areias;

Piroclastoas;

Cascalheiras das praias e das ribeiras.

O aumento demográfico dos últimos tempos provocou a necessidade de uma expansão

urbana e consequentemente houve um aumento (crescente) na procura de matéria-prima,

aliada a uma maior capacidade tecnológica da extracção, teve como consequência visível um

aumento do número de pedreiras que, na maioria das vezes, provocam agressões ambientais,

por demais evidentes na paisagem, e um agravar de problemas no domínio da poluição

principalmente relacionada com a água subterrânea e superficial.

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No período de desenvolvimento que a sociedade cabo-verdiana se encontra, a

preservação do recursos naturais tem sido uma das preocupações, mas não há um programa

que planeia um crescimento económico tendo em conta a preservação do meio ambiente.

Deste modo, tendo em conta toda a degradação provocada pela exploração de

georecursos, tanto ao nível dos impactes físicos como sociais, torna-se necessário fazer-se

uma monitorização pelos órgãos de planos de recuperação ambiental e órgãos da própria

sociedade civil, bem como pela comunidade científica.

3.3. EXPLORAÇÃO DOS GEORECURSOS

EXPLORAÇÃO TRADICIONAL

A exploração feita na zona norte da ilha de Santiago é de uma forma rudimentar e

tradicional. Faz-se exploração de britas, areias, rochas basálticas nas pedreiras etc. Esses

materiais são usados na construção de casas, estradas, pontes e outros.

A exploração é feita com o objectivo de aproveitar os recursos naturais, como forma

de resolver o problema da sobrevivência e bem estar de um grupo de pessoas. Portanto, a

exploração tradicional constitui uma visão real do quanto é possível fazer, numa luta de

sobrevivência, tendo em conta as suas consequências nefastas, em muitos casos, para o meio

ambiente. Por isso, não deverão, obviamente, ser confundidas como uma abordagem do tipo

"Melhor Método Disponível".

Na exploração são utilizados materiais rudimentares como pá, picareta, enchada,

martelo, balde etc. As pessoas encontram-se vestidas de uma forma não adequada, não usam,

capacetes, botas luvas e outros vestuários adequados. Por isso correm o riscos de se

magoarem facilmente.

No método tradicional não há preocupação da conservação do solo. Observa-se uma

destruição total do solo arável e de culturas existentes nas áreas, bem como as árvores,

afectando também a flora local devida a destruição de habitats, dificultando assim a sua

posterior recuperação.

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Nestas explorações são visíveis a produção de grandes quantidades de materiais que

posteriormente serão utilizados na construção rural (muretas, diques, banquetas), na

construção de casas, estradas, etc.

Em termos geomorfológicos estas actividades alteram significativamente a morfologia

dos solos, modificando a correlação das forças físicas que governam os processos. Alteram

ainda, a morfologia da paisagem natural, onde é frequente a presença de covas abandonadas

pela extracção, que conjuntamente com o tráfego de veículos de transporte e no

funcionamento no local, constituem factores responsáveis pela poluição sonora e visual.

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CAPÍTULO IV

EXPLORAÇÃO DOS GEORECURSOS EM TARRAFAL

4.1. PIROCLASTOS

Os piroclastos são rochas magmáticas, pertencente a fase explosiva das actividades

vulcânicas. Encontram enquadrados na formação dos Montes das Vacas, que é a penúltima

formação do quadro estratigráfico da ilha de Santiago, também considerada como formação

mais permeável da ilha.

É um material muito permeável, não retém água devido as suas características,

apresenta uma cor negra quando não são alterados, e uma cor avermelhada quando sofrem

erosão ou alteração.

Os cones de piroclastos alterados não são explorados porque não servem para a

construção civil, ou seja, não são utilizados como matéria prima para a construção de blocos

porque produzem blocos podres e nem na produção de massa para o betão das casas.

O cone vulcânico actualmente a ser explorado na zona norte é o monte Achada Grande,

embora exista outros , mas devido ao alto grau de erosão não são explorados.

O monte Achada Grande é um cone de piroclastos com 260 metros de altitude, os

piroclastos são de boa qualidade apresentam pouca percentagem de erosão.

Fig.3- Estado actual do Cone de piroclastos Achada grande, Tarrafal- ilha de Santiago

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São explorados por cerca de dez grupos de pessoas, em cada grupos encontram-se três

pessoas, que por dia abastece um camião. Cada camião custa 4500 escudos, o abastecimento é

feito aos camiões oriundos de Santa Cruz, Assomada, Calheta etc.

O piroclástos na ilha de Santiago são utilizados como matéria prima na produção de

blocos. No Tarrafal há quatro pistas de blocos a serem abastecidos, duas em Chão Bom e duas

na Vila do Tarrafal.

Fig.4- Degradação ambiental provocada pela exploração de piroclastos do Monte grande

A exploração que se faz é a tradicional, onde as pessoas correm muitos riscos,

principalmente na época das chuvas, onde pode haver desabamento de terras e blocos.

Também o equipamento e os materiais utilizados são rudimentares. Na extracção utiliza-se pá,

balde, carrinho, picareta, garfo, etc.

Essa exploração é da inteira responsabilidade das pessoas que a fazem, a Câmara

Municipal não licencia a exploração.

4.2. AREIA

A exploração de areia é, sem qualquer sombra de dúvida, a actividade mais crítica no

domínio de extracção de georecursos.

A areia é uma rocha sedimentar constituída por partículas com granulação inferior a

2mm de diâmetro.

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Em Cabo Verde encontrámos dois tipos de areia, uma de cor escura que é a areia

basáltica (originada a partir da erosão do basalto) outra de cor clara que é a areia calcária

(originada a partir da erosão do calcário).

A extracção de areia representa uma actividade que envolve um ambiente muito

complexo, pois pode provocar desequilíbrios ambientais irreversíveis a curto, médio e longo

prazos.

A extracção feita tanto nas praias como nos leitos das ribeiras, provocam

desequilíbrios dos processos biológicos tanto na flora como na fauna, bem como na criação de

condições de salinização do meio terrestre ( intrusão salina).

Fig.5 -Mulheres apanhando areia na Ribeira das Pratas, Tarrafal – ilha de Santiago

A extracção de areia, como se constata, interfere directa ou indirectamente sobre as

características ambientais da área, como a remoção da cobertura vegetal que provoca a

desagregação dos solos, com consequentes danos do meio físico, que por sua vez facilita os

processos de inundação bem como as acções erosivas, a poluição hídrica, sonora e

atmosférica.

Portanto, é notório as suas consequências nos vales e terrenos antes bastante

produtivos, que se tornaram improdutivos, com impacte directo sobre os rendimentos das

populações rurais e na segurança alimentar no país.

Por outro lado, apanha de areia nas linhas de água e na orla marítima estão sendo

realizadas de uma forma desproporcional, contribuindo assim para facilitar o processo de

intrusão salina, destruição de habitat, e consequentemente desaparecimento de algumas

espécies.

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4.3. BRITA

A procura da areia e brita tem vindo a aumentar a nível nacional. Um dos grandes

problemas ecológicos da sociedade cabo-verdiana contemporânea é a extracção de areia e

britas nas praias com consequências nefastas para os nichos ecológicos de espécies marinhas e

aves, bem como para a paisagem natural. È necessário que haja uma alternativa para impedir

as consequências desagradáveis dessa actividade.

Devido ao ritmo acelerado do crescimento populacional na ilha de Santiago, o ritmo

de construção civil aumentou. Por isso, convém realçar que o consumo de brita variou de 53

856 toneladas para 170 963 toneladas de 1985 a 1995, e que no mesmo período o consumo de

areia varia de 173 959 toneladas para 552 224 toneladas.

O consumo associado de britas e areia foi de 227 815 toneladas em 1985 e 723 187

toneladas em 1995. Ainda prevê-se, portanto, que o consumo de georecursos venha aumentar

cada vez mais num horizonte muito curto.

Em relação ao Tarrrafal pode-se observar o estado degradado da ribeira do Chão Bom

e das praias, devido a extracção que se fazem de uma forma desorganizada. O objectivo dessa

prática é arranjar meios de sobrevivência e material para construção das casas.

Na ribeira de Chão Bom todas as pessoas têm a liberdade de fazer a exploração, tendo

em conta que é um meio de sobrevivência, esquecendo-se do impacte ambiental que essa

prática possa vir a ocorrer.

Fig.6 – estado de exploração no leito de uma ribeira, Chão-Bom - Tarrafal -

ilha de Santiago

È necessário tomar as medidas certas e no tempo certo para impedir essas

práticas,;uma das medidas é a implantação da indústria mecânica de britagem que poderá

constituir uma alternativa credível na solução da apanha de brita, contribuindo de forma

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positiva na recuperação dos espaços actualmente degradados, concertando, deste modo, a

dinâmica do sector das construções de imobiliárias com o funcionamento ambiental. Por outro

lado, a constituição de pedreiras, como indústria de georecursos (inertes), poderá lançar no

mercado de construção civil algum material com qualidade e características, embora

diferentes, em termos de granulometria, daqueles que são recolhidos nas praias.

4.4.BASALTO

O basalto é uma rocha magmática vulcânica, que pertence predominantemente a

formação do Pico de Antónia (PA), formação de Assomada. Em Cabo Verde é a rocha mais

abundante, e o seu modo de jazida, facilita a sua extracção. Por isso é uma das rochas mais

exploradas em Cabo Verde.

No concelho de Tarrafal, na entrada do Mangue podemos observar uma pedreira em

que se faz a extracção do basalto. Faz-se a extracção de uma forma tradicional, sem utilização

de explosivos nem máquinas, devido ao seu modo de jazida dijunção colunar, que facilita a

sua extracção. As pessoas que fazem a extracção, não tem recursos para compra de materiais

adequados, utilizam martelo, picareta, pá etc. Se extraí-se uma pequena quantidade de

material que é vendido às próprias pessoas da vila.

Fig.7- Dejunção colunar modo de jazida explorado na pedreira localizada no Mangue.

A localização da pedreira não é adequada porque fica perto das casas, o que não é

aconselhável, devido aos problemas que pode causar a população, como o ruído, as poeiras a

deformação na paisagem visual, etc.

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As autoridades competentes, muitas vezes não tomam uma iniciativa para acabar com

essas práticas porque vêm isso como um meio de sobrevivência para os que executam tais

acções.

4.5. ASPECTOS AMBIENTAIS RELACIONADOS COM A EXPLORAÇÃO DE

GEORECURSOS

O crescente aumento das necessidades de georecursos para a construção civil

provocou um aumento progressivo na exploração de pedreira, tornando cada vez mais

agravante o problema que esta constitui para o meio ambiente.

Os impactes ambientais negativos associados à exploração de pedreiras podem ocorrer

nas seguintes fases:

Antes da exploração;

Durante a exploração;

Após a exploração;

A existência de uma pedreira provoca sempre problemas ambientais relacionados com:

O solo;

Agricultura,

Alteração das linhas de água,

Ocupação humana

Destruição da paisagem.

A exploração provoca sempre perturbações nas fases preliminares, nomeadamente,

pela destruição do coberto vegetal e pela remoção de terras de cobertura, em alguns casos, o

seu desaparecimento, estando frequentemente, associados a estas acções efeitos ambientais

negativos, nomeadamente, a nível do ruído, produção de poeiras e afectação da rede de

drenagem superficial etc.

No decorrer da exploração o uso de equipamentos de extracção e a ocorrência de

explosões em muitos casos não adequados provocam, muitas vezes, impactes ambientais

negativos pela produção de níveis de ruído incómodos e pelas vibrações nas áreas

envolventes, que se acentuam nos casos em que há ocupação humana.

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Durante a exploração, há produção de poeiras associada ao processo de extracção e ao

intenso movimento dos camiões de transporte dos materiais na área afectada. São também

impactes negativos que, frequentemente, caracterizam esta fase pelos efeitos nefastos nas

populações, vegetação e linhas de água etc. Pode-se também considerar a ocorrência de

derrames de produtos poluentes como óleos, que poderão contribuir para a poluição do solo e

da água superficial e subterrânea. São, também, muito significativos os impactes visuais, com

origem na exploração, pelo efeito do solo nu, depósito de materiais e equipamento.

Fig.8 – Degradação paisagística resultante da exploração de areia na Ribeira de Chão-

Bom, Tarrafal, ilha de Santiago

Após a exploração quase sempre tem-se a tendência de se abandonar o local, o que

provocando impacte a nível paisagístico associado muitas vezes a geomorfologia. O abandono

das frentes de exploração sem que sejam removidos os equipamentos e o edificado (oficinas e

apoios sociais) e sem serem promovidos os necessários trabalhos de recuperação de solos e da

paisagem. Este facto origina descontinuidade biofísica e é, também, foco provável de

contaminação a vários níveis.

As escavações abandonadas constituem, habitualmente, verdadeiras “feridas” na

paisagem sendo também os impactes ambientais negativos muito significativos, associados

aos inadequados usos dos antigos locais de exploração. Estes constituem, por vezes,

autênticos depósitos de lixos e de resíduos diversos, bem como locais com problemas de

segurança e de sinalização insuficientes ou até inexistentes. Esta última situação agudiza-se

se considerarmos os desníveis topográficos.

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CAPÍTULO V

IMPACTES AMBIENTAIS

Considerando o ambiente como o conjunto dos sistemas físicos, químicos e biológicos

e as suas relações com os factores económicos, sociais e culturais, com efeitos directo ou

indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida, facilmente se

compreende que a exploração dos georecursos, modificando as condições do meio, gera

impactes ambientais.

Face a esses considerandos conclui-se que os impactes são extremamente negativos.

Realçam-se os seguintes:

EXPLORAÇÃO DE AREIA E CASCALHO NAS PRAIAS E LITORAIS:

diminuição de praias de arrasto de botes de pesca;

aumento de salinização das terras agrícolas, localizadas nas proximidades da foz, como

resultado de uma excessiva exploração de areia nas praias;

destruição do habitat utilizado pela fauna marinha e costeira, nomeadamente espaço

para a desova das tartarugas;

destruição de dunas e dos respectivos ecossistemas;

delapidação de praias, reduzindo espaços de lazer e a potencialidade turística das ilhas;

degradação paisagística de praias, linha de costa e formas de relevo.

EXPLORAÇÃO DE AREIA E CASCALHO NO LEITO DAS RIBEIRAS:

perturbação da linha de escoamento das ribeiras com o desvio das cheias para áreas

cultivadas ou habitadas;

aumento do risco de contaminação da água subterrânea;

criação de instabilidade nas infra-estruturas de correcção torrencial, nomeadamente

diques nas ribeiras.

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EXPLORAÇÃO DE PIROCLASTOS E BASALTO:

degradação dos ecossistemas nas vertentes;

degradação da vegetação, flora e fauna nos sítios de lavra;

degradação paisagística na forma de relevo;

destruição de formas de relevo e estruturas geológicas de valor patrimonial;

aumento do risco de contaminação do lençol freático pela perturbação de infiltração;

aumento de probabilidade de ocorrência de desabamentos, deslizamentos e abatimentos

de cavernas;

ruídos ( poluição sonora)

poeiras (poluição atmosférica)

5.1. IMPACTES NOS RECURSOS NATURAIS

5.1.1.VEGETAÇÃO

É de salientar que o impacte das pedreiras sobre a vegetação e as populações faz-se

sentir em todas as fases da exploração. Quando a pedreira se encontra a céu aberto o impacte

sobre a cobertura vegetal traduz-se pela destruição de qualquer utilização agrícola.

No decorrer da exploração os impactes na vegetação são originados, especialmente,

pelas actividades como:

entulhos de materiais desperdiçados e blocos;

Acumulação de terra devido às escavações;

fossos donde é extraída a pedra e a areia, etc.

A vegetação existente na zona da pedreira e área envolvente é bastante afectada

devido as escavações e movimento de máquinas e dos camiões que transportam os materiais

nestas áreas.

De um modo geral, as poeira provenientes da exploração e também alguns produtos

químicos e tóxicos utilizados durante a exploração afectam a vegetação das proximidades,

depositando-se nas folhas e também infiltrando-se no solo prejudicando as raízes e

posteriormente as partes superficiais.

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A interferência da exploração no sistema de águas subterrâneas conduz muitas vezes a

sua contaminação e a um rebaixamento dos níveis piezométricos, podendo, também, afectar a

vegetação existente e a utilização agrícola nas proximidades.

No final da exploração se a pedreira for abandonada sem se tomarem as medidas

tendentes a instalar ou reinstalar a vegetação, o restabelecimento vegetal, além de oneroso,

difícil e lento, torna-se, por vezes, impossível.

Aspectos negativos na vegetação

Destruição da vegetação nos locais da exploração;

Instalação e funcionamento de equipamentos com possibilidade de derrame de

combustíveis e óleo;

Ocupação temporária da superfície agriculta;

Diminuição da actividade fotossintética inibindo o crescimento normal das plantas;

Destruição de habitat da fauna terrestre devido a limpeza de vegetação na zona de

implantação das obras;

Alteração na paisagem.

Fig.9 – Destruição da vegetação devido a exploração do solo na ribeira Chão Bom

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5.1.2. FAUNA

A fauna também não foge aos danos causados pelos impactes da exploração de

georecursos.

A fauna é prejudicada principalmente devido:

- a degradação dos solos;

- destruição de habitats;

- destruição de culturas e flora autóctone;

- limpeza da área de exploração;

- acumulação de desperdícios;

- instalação de parques de blocos;

- abertura de acessos para a movimentação de veículos pesados;

- funcionamento dos equipamentos de corte e ruído proveniente dessa actividade ;

Estes impactes acabam agravando com a dimensão das pedreiras, quantidade

exploradas, forma como se faz a exploração e o tempo da sua existência.

A exploração tradicional, também não foge a regra pois as pedreiras estão localizadas

nos leitos das ribeiras, encostas das montanhas e muitas vezes próximo das áreas de cultivo,

pondo assim em causa a extinção dos habitats e consequentemente algumas espécies típicos

dessas regiões, como as aves e diversos répteis.

A extracção da areia das praias provoca o desequilíbrio, por vezes, irreversível, nos

locais de desovas das tartarugas marinhas que utilizam a nossa costa litoral para o efeito. Por

outro lado, transtornam o espaço de vida de aves marinhas e costeiras.

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5.1.3. SOLO

“A degradação do solo é o fenómeno causado pelo homem que diminui a capacidade e

ou futuro do solo para sustentar a vida humana.”

Em relação ao solo os impactes negativos iniciam-se antes da exploração.

Ao iniciar a exploração, inicia-se a destruição da terra vegetal e do solo de cobertura,

devido a instalação de equipamentos de exploração, instalações de apoio, acessos e caminhos.

O principal impacte no solo resulta da escavação, instalação dos equipamentos,

abastecimento em combustíveis as máquinas, etc. Deste modo, pode ocorrer a destruição total

do solo arável e de eventuais culturas, bem como do arvoredo existente, afectando, também,

por vezes, a fauna local, devido a destruição de seus habitats.

Fig.10- Destruição do solo devido a exploração de areia numa das ribeiras de Tarrafal

Os materiais utilizados como óleos, lamas, e outros resíduos, principalmente, quando

se utilizam explosivos, que para além da poluição sonora, podem poluir as águas subterrâneas

isto é infiltrando nas fendas superficiais que facilitam a infiltração de águas poluídas, a partir

da zona de operação, e fissuras ao longo dos substratos dos aquíferos, conduzindo ao

desaparecimento da reserva subterrânea.

O impacte nos solos que resulta de actividades efectuadas durante o período de execução

é muito significativo. Todas as superfícies afectadas conduzem a mudanças nos solos, tanto

estruturais como funcionais.

Principais impactes nos solos durante o período de exploração:

- Perda de solos e erosão provocada pela destruição da cobertura vegetal;

- Degradação dos solos durante a escavação;

- Perda de fertilidade dos solos devido a depósitos de algumas substâncias poluentes;

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- Compactação do solo pela circulação frequente de veículos.

A exploração por processos tradicionais provoca rolamento de blocos nas vertentes,

danificando solos a jusante, por vezes acumulando pedaços de pedras, originando autênticos

pedregais de origem antrópica.

5.1.4. ÁGUA

A exploração dos georecursos pode provocar alterações na rede de drenagem natural e

no regime hidrológico de alguns cursos de água superficial.

Estas actividades também, têm graves consequências na contaminação das águas

subterrâneas, quer sejam através de restos e resíduos, ou através de modificações no regime

hidráulico do fluxo nos aquíferos e nas suas relações entre si com outras águas e formações.

Os derrames de produtos poluentes que se faz durante a exploração poderá contribuir

significativamente para a poluição das águas tanto superficiais como subterrâneas.

A nível hidrogeológico há que considerar as situações das pedreiras localizadas nas

encostas, em pontos altos, e pedreiras localizadas em zonas mais ou menos plano.

As contaminações das águas subterrâneas são por vezes, bem evidentes, os quais se

vêm favorecidos, em muitas ocasiões, pelo descuido, ignorância e falta de um adequado

controle nas gestão das explorações. As consequências podem ser muito graves e é possível

chegar a situações de remédio custoso ou invejável, se não se actuar a tempo decididamente.

A água é o solvente mais abundante e é capaz de incorporar grande quantidade de

substâncias ao estar em contacto com os terrenos pelos quais circula. As águas subterrâneas

têm uma maior oportunidade dissolver matérias devido as maiores superfícies de contacto,

lentas velocidades de circulação, maior pressão e temperaturas a que estão submetidas e

facilidades de dissolver dióxido de carbono e outros produtos tóxicos do solo. Por isso as suas

concentrações são superiores à das águas superficiais, em geral.

A qualidade de uma água fica definida pela sua composição e o conhecimento dos

efeitos que pode causar cada um dos elementos que contém o conjunto de todos eles, permite

estabelecer as possibilidades das sua utilização classificando assim, de acordo com os limites

estudados, seu destino para bebida, usos ágriculas, industriais etc. Dentro de cada um desses

grupos existem usos específicos, o que se põem outras classificações e novos campos de

aplicação, como por exemplo, a utilização de águas salobras devido a intrusão salina,

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classificadas como potáveis para aquelas aplicações domésticas que, com uma adequada

instalação independentes nas vivendas, não se usa para as bebidas.

Cabe considerar a qualidade natural de uma água e a quantidade afectada por

actividades humanas como a exploração das areias das praias e a exploração de alguns

georecursos, que em geral conduzem a uma declaração “poluição e contaminação.”A água

natural “água de boa qualidade” não são sinónimos e, em muitos casos as águas naturais

podem ser de muito baixa qualidade inclusive, tóxicas.

Em alguns casos, a exploração das pedreiras evolui em profundidade e os níveis

piezométricos ou freáticos podem ser atingidos, havendo necessidade de recorrer a uma

bombagem constante de forma a possibilitar a exploração de rocha. Essa bombagem introduz

alterações no regime hídrico subterrâneo, podendo provocar o rebaixamento de captações

existentes.

5.15.GEOMORFOLOGIA

A exploração de GEORECURSOS altera profundamente a fisionomia da paisagem,

provoca transformação no panorama devido a alteração do relevo, que é provocada pelas

explorações desordenadas que se fazem.

Na zona norte da ilha de Santiago fazem-se explorações de uma forma desordenada e

não há nenhuma entidade que controla essas explorações.

È o caso do Monte Achada Grande (cone de piroclastos) que se encontra cerca de sete

anos a ser explorado por um grupo de dez homens, em cada grupo três pessoas fazem a

exploração todos os dias. Cada grupo vende no mínimo um camião de piroclastos por dia. O

cone já perdeu a sua morfologia, e esta a desaparecer pouco a pouco.

Daqui a alguns anos vai haver a destruição total do Monte Achada grande, provocando

um dano irreversível a nível geomorfológico. Actualmente podemos observar nitidamente as

cavernas e a destruição de uma parte, provocados pelas explorações.

Na entrada do Conselho de Tarrafal pode se observar nas estradas a extracção de britas

nas encostas das montanhas, também de uma forma desordenada que se vai alterando a

morfologia da base das montanhas e das estradas que pode provocar desabamento de terra

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pondo em risco a segurança da vida dos que fazem a extracção e dos veículos que usufruem

da estrada para ter acesso ao Conselho de Tarrafal.

Em relação à extracção dos georecursos nas ribeiras é visível o aspecto degradante de

ribeira de Chão Bom e da Ribeira das Pratas, uma vez que a exploração ultrapassa os limites

desejados e requeridos. Vários são os materiais extraídos, nomeadamente, brita, cascalho,

areia etc. Se essas extracções continuarem, os leitos das ribeiras vão-se transformar em

grandes crateras onde a forma natural vai ser substituída por buracos e amontoados de

cascalhos e areias, provocando grandes danos na geomorfologia regional.

Fig.11- Alterração do Monte Achada Grande devido a exploração dos piroclastos

Neste mesmo contexto da degradação das paisagens, há uma área que actualmente é

muito afectada devido à apanha das areias e britas,são as praias do mar. Actualmente

podemos deparar com algumas praias profanadas como consequência das actividades de

extracção de georecursos. Essas actividades provocam danos catastróficos a população além

de destruir a morfologia e da geologia local. Como consequência temos o caso da intrusão

salina, avanço do mar, destruição de algumas espécies e habitat etc.

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CAPÍTULO VI

ALTERNATIVAS PARA O ABASTECIMENTO DO

MERCADO DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Devido ao rápido crescimento demográfico, prevê-se uma rápida expansão urbana,

consequentemente o aumento das infra-estruturas, que tem como consequência uma maior

procura de material de construção.

Perante a evidência do desequilíbrio entre a grande demanda e a escassez de recursos

em areia, sobretudo, ao nível de praias e ribeiras, das ilhas de maior concentração

demográfica, e da rápida expansão urbana, como é o caso da ilha de Santiago, haverá, deste

modo, uma tendência para o aumento dos custos das construções, criando uma grave crise no

sector da habitação.

Perspectiva-se um rápido crescimento da urbanização, que num horizonte até 2020, vai

absorver mais de 60% da população (Quadro X)

Quadro 4. Perspectiva de evolução demográfica até ao ano 2020

Anos População Total População Urbana População rural

1995 386 185 185 529 200 656

2000 430 601 228 333 211 268

2005 501 569 279 711 221 858

2010 573 227 340 945 232 282

2015 654 163 412 432 241 731

2020 743 317 494 396 248 921

Fonte: MCE 1996 «Perspective Démographiques du Cap Vert

Para evitar o aumento do custo das construções e a consequente crise no sector

habitação propõe-se as seguintes medidas :

melhorar a gestão dos georecursos no processo de construção;

criar alternativas de produção de georecursos (inertes), nomeadamente, através da

criação de centrais de britagem;

reciclar materiais provenientes de demolições;

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importar areia de países onde o recurso seja abundante, nomeadamente, países

sujeitos ao intenso processo de avanço de areias do deserto;

proibir a exploração de areia e cascalho nas praias com potencialidades turísticas ou

na foz de ribeiras irrigadas;

proibir toda a exploração de areia nas praias da ilha de Santiago;

criar mecanismos eficazes de controle das explorações clandestinas.

6.1. ESTRATÉGIAS DE CRIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE FORMAÇÃO E

VALORIZAÇÃO DOS RECURSO HUMANOS

criar fundos de desenvolvimento local na promoção de auto-emprego, nas

localidades com forte incidência na exploração de georecursos;

reforçar a capacidade técnica e institucionais das associações comunitárias;

promover a recuperação e desenvolvimento da base produtiva (como por exemplo, a

melhoria dos sistemas de rega, e da pecuária familiar);

identificar programas de promoção do artesanato associado ao turismo;

criar parceria entre os planos de desenvolvimento municipal e os programas de

iniciativas comunitárias e de grupos organizados;

valorizar iniciativas locais de acordo com as potencialidades em materiais e factores

de produção;

criar programas de carácter ambiental na promoção de comunicação de proximidade;

parceria entre os serviços descentralizados dos Ministérios: Educação e do

Ambiente, na coordenação dos programas de educação ambiental;

capacitar os pólos educativos e os professores do EBI para a valorização e

desenvolvimento das comunidades locais;

estudar a viabilidade de incentivar a aquacultura, nas zonas litorais, como alternativas

de emprego e do alargamento da base produtiva, nas comunidades de “apanhadores

de areia.”

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recuperação de sítios degradados no processo de exploração clandestina,

nomeadamente, praias com potencialidades turísticas e colinas destruídas na

exploração de piroclastos;

emprego da mão-de-obra proveniente da exploração clandestinas, na recuperação

destes mesmos sítios degradados, de acordo com um plano previamente elaborado;

utilização de entulhos para a recuperação de antigas zonas de exploração de

piroclastos, corrigindo, assim, as “feridas” provocadas na paisagem por aquele

processo;

localização das unidades de exploração de pedreiras em sítios que minimizem os

impactes negativos;

obrigatoriedade na recuperação ambiental das pedreiras logo após o abandono da

exploração;

identificação de patrimónios geológicos e geomorfológicos com vista a sua

protecção;

promoção do turismo rural como alternativa de emprego e valorização dos recursos

paisagísticos;

6.2. ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS INSTITUCIONAIS

intensificação do envolvimento dos municípios na gestão e valorização do património

natural;

melhoria da fiscalização das áreas de exploração de inertes, e a responsabilização por

parte dos municípios;

melhoria da fiscalização das praias e locais de exploração clandestina;

exigência de estudos de impacte ambiental (EIA), e plano de monitorização aos

projectos de exploração de georecursos;

obrigatoriedade à correcção ambiental na fase de abandono da exploração.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

No termo deste trabalho esperamos ter contribuído para um melhor conhecimento sobre

os impactes ambientais causados pela exploração de georecurso na zona norte da ilha de

Santiago e alerta às autoridades competentes a tomarem uma iniciativa mais credível no que

tange a este problema.

Pode-se concluir que os serviços responsáveis não dispõem os meios suficientes para

combater as extracções e a câmara não tem colaborado com isso por não haver alternativas ou

soluções para as pessoas que tem essa actividade como meio de sobrevivência e assim vai

continuar a degradação do solo, destruição da fauna e flora modificação no relevo, destruição

das praias e aumento de intrusão salina etc.

Neste momento há graves problemas de abastecimento de mercado de construção civil, em

materiais, nomeadamente, areia, piroclastos e brita. Pois o mercado não está capacitado em

corresponder as necessidades que o plano de desenvolvimento urbanístico exige, e isso

provoca um constrangimento que terá de ser ultrapassado.

Tendo em conta que a construção é uma das actividades com maior impacte ambiental,

sobretudo associado à construção nova, e a outros planos de desenvolvimento das cidades,

vilas e aldeias, é de esperar um enorme consumo, em quantidades de materiais de construção

civil, provenientes da natureza, num futuro muito próximo, que o Governo terá que dar

respostas.

Para combater a extracção e consequentemente os seus impactes a nível ambiental é

apresentada duas alternativas.

A primeira alternativa poderá ser um elevado investimento em unidades de britagem e

na sua racional distribuição pelas ilhas, e dentro da mesma ilha, pelos diferentes Concelhos.

A outra alternativa é importação de areia dos países africanos vizinhos, com um

incremento de postos de trabalho directo e indirecto, de modo a aproveitar os excedentes da

mão-de-obra desactivada da extracção de areia, nos leitos das ribeiras, das praias e dunas

litorais.

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Cabo Verde depara-se com enormes problemas a nível social, económico e ambiental,

constituindo assim conflitos que terão de ser conciliados para um desenvolvimento

sustentável, com base nos interesses comunitários e na preservação de recursos naturais.

O envolvimento da comunidade no processo de esclarecimento em questão ambiental,

como na extracção de areia e brita nas praias e nos leitos das ribeiras, mostrando as suas

consequências e os prejuízos que a própria comunidade pode sofrer. Por exemplo a campanha

de sensibilização da população, principalmente em zona onde há prática de agricultura,

mostrando o perigo de intrusão salina e as sua consequência na contaminação do lençol

freático. Essa e outras actividades podem ter um impacte positivo nas populações. Mas as

autoridades competentes devem arranjar uma alternativa viável para as pessoas que fazem

essas práticas e assim diminuir ou eliminar essas práticas que colocam em risco o nosso meio

ambiente.

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BIBLIOGRAFIA

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apanha e extracção de inertes em Cabo Verde.

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SERRALHEIRO, António – Geologia da ilha de Santiago (Cabo Verde), Vol.14 Lisboa,

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GOMES, Alberto da Mota – A Hidrogeologia da ilha de Santiago. Praia Março de 1980.

INSTITUTO SUPERIOR DA EDUCAÇÃO – DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS –

Revista do centro de geologia, Volume 1, nº 1, 2 e 3, 2004.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTATISTÍCA DE CABO VERDE (I.N.E.) 2005.

INSTITUTO NACIONAL DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS (INGRH)

DIRECÇÃO GERAL DO AMBIENTE – Perfil ambiental de Cabo Verde, Junho 2004.

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