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O SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE, UMA DAS CONQUISTAS MAIS IMPORTANTES DA REVOLUÇÃO DE ABRIL O ataque ao SNS que o ministro Paulo Macedo está a fazer pela via do estrangulamento financeiro, pontos críticos que estão a degradar o SNS e alternativas para garantir a sua sustentabilidade EUGÉNIO ROSA Economista www.eugeniorosa.com [email protected]

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O SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE, UMA DAS CONQUISTAS MAIS IMPORTANTES DA

REVOLUÇÃO DE ABRIL

O ataque ao SNS que o ministro Paulo Macedo está a fazer pela via do estrangulamento financeiro, pontos críticos que estão a degradar o SNS e

alternativas para garantir a sua sustentabilidade

EUGÉNIO ROSA

Economistawww.eugeniorosa.com

[email protected]

RAZÃO DA DIVULGAÇÃO DESTES SLIDES� Estes “slides” utilizei-os em intervenções que fiz em dois debates

recentes sobre a comemoração dos 35 anos do SNS: um em Coimbra,organizada pela CGTP, e outro na Câmara do Barreiro, organizada pelaAssociação das Autarquias da Margem Sul. O objetivo destes debates quecongregou pessoas de várias áreas (Dr. António Arnaut, Prof. PauloMoreira, Dr. Santos Silva, etc.) foi precisamente fazer um balanço de 35anos de SNS: êxitos alcançados; deficiências e problemas com que sedebate; desafios e ataques que enfrenta; e medidas necessárias paraultrapassar as dificuldades atuais, para corrigir deficiências e garantir asua sustentabilidade.

� Estes “slides”, por um lado, contêm um conjunto de dados que poderãoser eventualmente úteis a todos aqueles que se interessam pelosproblemas da saúde em Portugal e, em particular, por todos aqueles queestão empenhados em defender o SNS e, por outro lado, apresentam umconjunto de reflexões e propostas visando a melhoria, sustentabilidade econsolidação do SNS, uma das principais conquistas de Abril,instrumento importante não só da promoção da saúde em Portugal mastambém de combate às desigualdades, pois o SNS é a forma de tornareste bem fundamental - serviço de saúde – acessível a toda a população.

� Ao divulgar estes “slides” apenas pretendemos contribuir para o debatecoletivo e nacional tão necessário neste momento em que o SNS é objetode um forte ataque por parte deste governo e de toda a direita.

PORTUGAL NÃO GASTA MUITO COM A SAÚDE NEM COM O SNS COMO AFIRMAM O GOVERNO E A DIREITA: em 2011, a despesa por habitante com a

saúde em Portugal correspondia apenas 78% da média dos países da OCDE (e apenas 61% era despesa pública) e os EUA – pátria da saúde privada - gastam 3,2

vezes mais por habitante que Portugal e tem indicadores de saúde piores

PORTUGAL

MESMO GASTANDO MENOS QUE OUTROS PAÍSES OS INDICADORES DE SAÚDE EM PORTUGAL SÃO MELHORES: entre 1970 e 2011, a esperança de vida aumentou nos países da OCDE em média 10 anos, mas em Portugal subiu 13 anos. Segundo a

OCDE a esperança de vida em Portugal em 2011 era de 80,8 anos e nos EUA (pátria da

saúde privada), que gasta 3,2 vezes por habitante, era de 78,7 anos

PTEUA

SEGUNDO A OCDE, EM 2011 A MORTALIDADE INFANTIL EM PORTUGAL ERA INFERIOR À MEDIA DA OCDE E MUITO INFERIOR À DOS ESTADOS

UNIDOS : Portugal gastando muito menos por habitante em saúde, e apresenta um melhor indicador

O ESTRAGULAMENTO FINANCEIRO DO SNS LEVADO A CABO PELO GOVERNO PSD/CDS E “TROIKA” : Entre 2009 e 2012, a despesa pública com a saúde sofreu um corte superior a 1700 milhões € em termos nominais porque em termos reais foi superior (passou de 6,9%

do PIB em 2009 e 5,9% do PIB em 2012) . Sem meios não é possível prestar serviços de saúde qualidade

DESPESA PÚBLICA COM A SAÚDE EM PORTUGAL - Em % do PIB - Periodo 2000/2012 - Dados da OCDE

5,45,65,86,06,26,46,66,87,0

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

ANOS

% d

o P

IB

Portugal

A INTENÇÃO DE DESTRUIR O SNS ATRAVÉS DO ESTRANGULAMENTO FINANCEIRO DO SNS: redução da despesa com o SNS em 1.667 milhões € entre

2010 e 2014 (passa de 9.710M€ para 8.043M€ em valores nominais) segundo Ministério da Saúde – dados fornecidos à A. República

DESPESA TOTALLinha

vermelho

FINANCIAMENTO OE

Linha azulRECEITA TOTAL (OE + Utentes)

E ISTO APESAR DE PORTUGAL SER, SEGUNDO A OCDE, É O 5º PAÍS ONDE AS DESPESAS COM SAÚDE POR HABITANTE, EM

TERMOS REAIS, MAIS DIMINUÍRAM ENTRE 2000-2011 – Dados da OCDE

PORTUGAL

AS TRANSFERENCIAS DO OE PARA O SNS DIMINUEM, E DO SNS PARA OS HOSPITAIS EPE TAMBÉM DIMINUEM, SÓ AUMENTAM PARA AS PPP (privados)

ANOS2010 Mil-

hões €

2011 Milhões €

2012 Milhões €

2013 Milhões €

2014 Milhões €

2014 ou 2013/

2010

RECEITA TOTAL 9.167,9 8.583,9 10.151,3 8.345,2 -9,0%

Transferência do OE para o SNS

8.848,7 8.251,8 9.700,3 7.882,6 7.582,1 -14,3%

DESPESA PAGA 9.167,9 8.583,4 10.151,3 8.345,2 -9,0%

Produtos vendidos

em farmácias1.724,0 1.401,2 1.224,2 1.213,4 -29,6%

MCDT 768,8 756,9 682,4 683,4 -11,1%

Parcerias Público

Privadas (PPP)160,4 232,1 351,6 393,2 428,0 +166,8%

Hospitais EPE 4.741,6 4.510,5 4.270,3 4.313,8 -9,0%

PPP - Hospitais de Braga, Cascais, Loures e Vila Franca Xira, Centro MR Sul, Centro de Atendimento do SNS FONTE: Execução Orçamental - Jan2012,2013 e 2014; Relatório do OE-2014

HOSPITAIS PÚBLICOS EPE COM DIFICULDADES: Transferências do OEpara o SNS são insuficientes, logo do SNS para os Hospitais são também

insuficientes que acumulam prejuízos para poderem funcionar

ANOSTranferencias do OE RESULTADOS -Milhões euros

Milhões € OPERACIONAIS LIQUIDOS

2003-HSA -175 -125,9

2004 –HSA -169,4 -91,2

2005-HSA/HEPE -122,1 -0,6

2006- HEPE -293,9 -273,8

2007-HEPE 3.188,2 -194,9 -142,5

2008 - HEPE 3.271,2 -293,9 -212,7

2009 – HEPE (+EPE) 3.786,7 -302,1 -278

2010 - HEPE (+EPE) 4.741,6 -403,5 -327,8

2011 - HEPE 4.545,9 -243,4 -415,2

2012-EPE (até 0.6.2012) 4.262,7 -34,58 -111,87

SOMA 2003-2012 -2.232,78 -1.979,57

FONTE: Serviço Nacional de Saúde - Execução Económica-Financeira - Administrração Central do Serviço de Saúde, IP

HOSPITAIS PÚBLICOS SÓ CONSEGUEM FUNCIONAR ENDIVIDANDO-SE: dividas às farmacêuticas em Fev.-2014

atingiam 993,7 milhões €

COMO CONSEQUENCIAS DOS CORTES NA DESPESA PÚBLICA, PORTUGAL É O 3º PAÍS DA OCDE ONDE OS GASTOS DAS FAMILIAS

COM A SAÚDE MAIS CRESCERAM ENTRE 2000 E 2011 – Dados da OCDE

PORTUGAL É O 3º PAÍS ONDE MAIS AUMENTOU

E ISSO QUANDO JÁ EM 2009, SEGUNDO A OCDE, PORTUGAL ERA O 4º PAÍS ONDE AS FAMILIAS MAIS GASTAVAM COM A SAÚDE: 4,2% do seu

orçamento, quando a média nos países da OCDE era DE 3,2%

PORTUGAL

A UTILIZAÇÃO DA ADSE PARA REDUZIR O DÉFICE ORÇAMENTAL: O aumento do desconto para 3,5% sobre os salários e pensões da Função

Pública dará uma receita de 579 milhões €, quando a despesa prevista para 2014 é de 438,8 milhões €. O excedente final será de 284 M€ em 2014

A

N

O

S

RECEITAS - Milhões euros DESPESAS - Milhões euros

SALDOM€

BENEFI-CIÁ-RIOS

SERVIÇOS

RE-

E

M

TOTAL

Medi-

ca

m

en

to

s

Reg.

conven-

cio

na

do

R.livre Ad. TOTAL

2012 226 263 489 73,6 273 138,2 7,6 492,4 -3,4

2013 285 182,4 52 519 33 290 132,8 8 463,8 55,2

2014 579 120 24 723 8,8 290 132 8 438,8 284,2

OS OBJETIVOS DOS GRUPOS ECONÓMICOS NA ÁREA DA SAÚDE NO DISCURSO DOS SEUS REPRESENTANTES

� Já em 2004, o grupo Jorge Mello, um dos maiores grupos económicosda área da saúde, considerava que “A SAÚDE ERA O NEGÓCIO DOSEC. XXI” constando mesmo no seu “site” em 3/6/2004 a seguintereivindicação: “O GRUPO MELLO DEFENDE A PRIVATIZAÇÃO DEMETADE DO SNS”.

� Em Março 2014 (está no “site” do grupo) “o presidente da José de Mello Saúdedefende que a liberdade de escolha seja uma realidade no sistema de saúde”mas paga pelo Estado . E diz que “ acredita que, adoptada de formaprogressiva, é, não só exequível, como se virá a tornar indispensável naestruturação e sustentabilidade de um sistema de saúde”.

� Em 27-3-2014, Paulo Macedo, ministro vindo do grupo BCP, afirmou naComissão de Saúde da AR que “quer aumentar a escolha dos utentesna área das cirurgias, exames e consultas (DN)

� Artur Osório, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada,em entrevista dada ao JN en 31/3/2014, defendia que “os modelos públicos setransformem em privados, com gestão privada, com liberdade de escolha do doente” ,cabendo ao Estado a obrigação de garantir um serviço de saúde tendencialmentegratuito , ou seja de o pagar

� A administradora Isabel Vaz da ES Saúde do grupo Espírito Santo, defende que oO.E. deve financiar seguros de saúde para todos os portugueses, a fim de que estespossam escolher entre serviços privados e unidades de saúde públicas em igualdade deconcorrência.

� O PSD defende também no seu programa a liberdade de escolha entre serviços de saúdeprivado e público, mas ambos pagos pelo OE.

COMO GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DO SNS

PONTOS CRITICOS DO SNS

A ANALISAR E A ELIMINAR PARA GARANTIR A SUS SUSTENTABILIDADE

Alguns contributos para o debate

A REDUÇÃO DO NÚMERO DE PROFISSIONAIS NO SNS ESTÁ A DEGRADAR O SNS ( O recurso tem sido contratos de prestação de

serviços:1869 médicos, 172 enfermeiros e 158 TDT)

PROFISSIONAIS Nº - 2007 Nº -2009 Nº - 2011 Nº - 2012

Médicos 25.102 23.266 26.136 24.490

Enfermeiros 38.904 39.951 40.283 39.526

Técnico Superior Saúde 1.736 1.889 1.781 1.779

Técnico Diag. Terapêutica 7.730 7.834 7.999 7.824

Técnico Superior 3.277 3.479 3.766 3.833

Assistente Técnico 19.661 18.794 17.772 17.266

As. Operacional 29.402 29.542 28.063 27.081

SOMA 125.812 124.755 125.800 124.192

TOTAL 127.903 130.599 128.526 126.604

FONTE: Balanço Social do Ministério da Saúde : 2009-2012 –2012: inclui 2412 prestação de serviços, 1869 médicos

OUTRO MEIO UTILIZADO PELO MINISTÉRIO DE SAÚDE :em 2012 a contratação através de empresas de trabalho temporário

(1153 profissionais com um custo de 63,2M€ )

UM ELEVADO NÚMERO DE MÉDICOS CONTINUA SEM DEDICAÇÃO EXCLUSIVA: em 2012, 5.999 médicos. É NECESSÁRIO REMUNERÁ-LOS

MELHOR E EXIGIR DEDICAÇÃO EXCLUSIVAFONTE: Balanço Social 2012 - SNS

A DIMENSÃO DA PROSMICUIDADE PÚBLICO-PRIVADO EM 2012 – FONTE: Balanço Social 2012 - SNS

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DETERMINA ELEVADO NÚMERO DE HORAS EXTRAORDINÁRIAS CUJO CUSTO

ULTRAPASSA 200 MILHÕES EUROS /ANOFONTE: Balanço Social 2012 - SNS

“O SNS tem 3.854 cirurgiões que em média apenas fazem uma operação

por semana”: afirmou o presidente do CA do Hospital S. João à TVI24 no dia 26.1.2013, embora nada faça para resolver o problema mesmo no

Hospital que dirige

� “No SNS fizemos em Portugal, em 2010, 196 675 cirurgias, em todas asespecialidades. Temos em Portugal cirurgiões especialistas, não estoua falar dos internos de especialidade, que também trabalham noshospitais, 3854. Se considerarmos um ano de 46 semanas isto dá umindicador que é que cada cirurgião especialista, das váriasespecialidades, faz em média uma cirurgia por semana, convencional".

� O Prof. Manuel Antunes no seu livro “A doença da saúde –SNS:ineficiência e desperdício” escreveu o seguinte há já vários anos: “Assalas de operações dos hospitais públicos funcionam em média,apenas cerca de 4 horas diárias. Um aumento de apenas uma hora detrabalho diário seria suficientes para eliminar em meio anos 70.000 queestão em lista de espera” (pág. 145)

� Não se pode responsabilizar apenas os cirurgiões por esta baixaprodutividade e pela reduzida utilização dos blocos operatórios quedeterminam elevados desperdícios e custos como procurou fazer opresidente do CA do Hospital S. João, mas é necessário investigarrapidamente (o que o MS não faz) para identificar as causas a fim de asremover. É preciso saber se existe subaproveitamento a nível dosblocos operatórios e respetivas causas (o ministro prometeuinvestigar mas nada mais disse e o problema continua).

Nº MEDICOS POR 1000 HABITANTES EM PORTUGAL EM 2011 (4) É SUPERIOR À MÉDIA DA OCDE (3,2), NO ENTANTO DOS 42.000

QUE EXISTIAM APENAS 25.000 ESTAVAM NO SNS

PORTUGAL

UM PROBLEMA GRAVE QUE É URGENTE CORRIGIR: DISTORÇÃO NA REPARTIÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE: 72% dos médicos e 81% dos

enfermeiros estavam nos hospitais, em prejuízo dos Centros de Saúde, quando era fundamental investir nos cuidados primários, mais baratos e eficientes

PROFISSIONAISCENTROS SAUDE HOSPITAIS TOTAL

CS+HNº % do Total Nº % do Total

Médicos 6.748 28,0% 17.311 72,0% 24.059

Enfermeiros 7.674 19,0% 32.615 81,0% 40.289

Técnicos Diagnóstico e Terapêutica

931 12,3% 6.669 87,8% 7.600

Pessoal Tec. Sup. Saúde

294 18,7% 1.275 81,3% 1.569

Técnicos Superiores 391 15,8% 2.089 84,2% 2.480

Administrativos e auxiliares

9.566 42,5% 12.962 57,5% 22.528

Auxiliares de ação médica

0,0% 23.714 100,0% 23.714

A DISTORÇÃO NA DISTRIBUIÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DIMINUIU EM 2012, MAS CONTINUA ELEVADA

FONTE: Balanço Social – 2012 - SNS

Nº DE ENFERMEIROS É INSUFICIENTES: em 2011 existiam 6,1 enfermeiros por 1000 habitantes, e no SNS a média ainda é mais baixa, quando a média

nos países da OCDE é 8,8 por 1000 habitantes. Milhares de enfermeiros continuam no desemprego e muitos emigram por falta de emprego

PORTUGAL

PORTUGAL CONTINUA A SER UM DOS PAÍSES (penúltimo) DA OCDE EM QUE A DESPESA PÚBLICA COM CUIDADOS CONTINUADOS É MAIS BAIXA (apenas 0,2%

do PIB em 2011) O QUE DETERMINA MENOS APOIO AOS IDOSOS E MAIS CUSTOS (como consequência idosos nos hospitais, com elevados custos para o SNS)

PORTUGAL

O NEGÓCIO DOS PRIVADOS NA SAUDE FINANCIADO PELO ORÇAMENTO DO ESTADO CONTINUA O QUE É UM ESCANDALO : Em Portugal (diferentemente do que acontece no

Canadá, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Itália, Suécia, Espanha) 85% dos doentes em tratamento de hemodiálise estão em centros privados (duas multinacionais –PRESENIUS e DIAVERIUM- dominam o setor) pagos pelo Orçamento do Estado (cada tratamento semanal custa 450€) que custa ao Estado cerca de 269 milhões €/ano. Muitos médicos dos serviços

de nefrologia dos Hospitais públicos são consultores das empresas privadas.

Portugal

As companhias de seguro continuam a ser financiadas pelo SNS e pela Segurança Social e o governo nada faz para pôr cobro a tal

situação o que agrava as dificuldades financeiras do SNS

� Todos os anos verificam-se milhares de acidentes de trabalho edoenças profissionais cujo tratamento é feito no SNS e osrespetivos dias de baixa, que atingem milhões de dias, sãosuportados pela Segurança Social.

� E esta situação tem fundamentalmente duas causas: (1) Ascompanhias de seguros que deviam suportar os custos dostratamentos e dos dias de baixa têm por principio recusar a fazê-locom o argumento de que não são acidentes de trabalho nemdoenças profissionais e só depois do recurso a tribunais é queaceitam suportar essas despesas; (2) Porque as próprias unidadesde saúde muitas vezes não fazem o esforço necessário para obtero reembolso das respetivas despesas. Era fundamental obrigar ascompanhia de seguros a suportar tais custos mas o governo nadafaz para alterar a situação existente.

COMO GARANTIR A SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DO SNS: FAZER O QUE NUNCA FOI FEITO

� O Tribunal de Contas no Relatório de auditoria que fez em2003 ao SNS tendo concluído que “o desperdício derecursos financeiros do SNS atinge, pelo menos, 25% domontante afecto à saúde”. E 25% do Orçamento do SNS de2012 corresponde a cerca de 2.300 milhões €. TALLEVANTAMENTO NUNCA FOI FEITO E ATUALIZADO PELOMINISTÉRIO DA SAÚDE

� No lugar de cortes cegos como têm sido feitos, énecessário fazer um levantamento/diagnóstico muitoconcreto e minucioso, unidade por unidade de saúde, paraidentificar onde se localizam desperdícios e quantificá-los(subutilização de blocos operatórios, de laboratórios de hospitais, decirurgiões, etc.), e com base em tal trabalho elaborar um relatórioseguido de um debate público e de medidas imediatasvisando acabar com o desperdício e as ineficiências quecontinuam a existir.

15 MEDIDAS PARA AUMENTAR A EFICIENCIA NA UTILIZAÇÃO

DOS RECURSOS E GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DO SNS: Algumas áreas que podiam ser estudadas para serem aplicadas medidas visando

uma melhor utilização dos meios disponíveis

� 1-Eliminar a promiscuidade público privado a nível de profissionaisque diminui a produtividade aumentando os custos, para isso énecessário pagar melhor as profissionais de saúde;

� 2-Corrigir a grave distorção existente na distribuição geográficados profissionais de saúde assim como a elevada concentraçãonos hospitais em prejuízo dos centros de saúde;

� 3- Aumentar o número de enfermeiros por médico que é muitoinferior aos rácios internacionais e às necessidades;

� 4-Criar condições para aumentar o número de consultas pormédico, e de operações por cirurgião;

� 5- Controlar o consumo excessivo de medicamentos, de MCDT –Necessidade de protocolos clínicos e da ficha clínica eletrónica pordoente a fim de cada médico saiba o que foi já prescrito pelomédico anterior para evitar duplicações;

� 6-Eliminar a subutilização de equipamentos (blocos operatórios,laboratórios, diapositivos médicos, etc.)

15 MEDIDAS PARA MELHORAR O APROVEITAMENTO DOS RECURSOS E GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DO SNS: Áreas a estudar visando aplicar

medidas para conseguir uma melhor utilização dos meios disponíveis

� 7 - Avaliar previamente a aquisição de novas tecnologias como é feitojá para os medicamentos, o que pressupunha a existência de umorganismo com as competências necessárias

� 8 - Promover a saúde preventiva (cuidados primários) mais importantee barato no lugar promover a medicina curativa hospitalar muito maiscara

� 9- Promover cuidados continuados para reduzir os custos doshospitais pois, em muitas zonas, funcionam também como serviçoscontinuados com elevados custos

� 10 - Promover genéricos (a imposição por lei da prescrição porprincipio ativo não causou diminuição da eficácia do tratamento com aindustria farmacêutica propagandeava), e promover indústria nacional

� 11 - Melhorar a utilização dos recursos existentes através de umamelhor planeamento e articulação entre as Unidades de Saúde(Centros de Saúde, ALC, ACS e Hospitais)

� 12- Melhorar o cálculo do financiamento das unidades de saúde combase em GDH, eliminado o financiamento cruzado e os seus efeitosnegativos a nível de custos de tratamento dos doentes

15 MEDIDAS PARA MELHORAR O APROVEITAMENTO DOS RECURSOS PARA GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DO SNS : Áeas a estudar para

aplicar medidas visando conseguir uma melhor utilização dos meios disponíveis

� 13 - Adequar a capacidade das unidades de saúde à procurasem sacrificar uma prestação adequada de cuidados de saúde,em termos qualitativos, quantitativos e de proximidade àpopulação:

� 14 - Pagar integralmente e não apenas metade, as dividas dasunidades de saúde, dotando estas do fundo de maneironecessário para poderem obter poupanças a nível de preçosnas aquisições que têm de fazer concentrando as compras.

� 15ª - Acabar com as PPP (parcerias com privados) em saúdepois elas determinam custos acrescidos para o Orçamento doEstado (os encargos em 2014 já atingem 428 milhões € e estão acrescer rapidamente) e os serviços de saúde prestados àpopulação são deficientes (ex. Braga, Loures)

MAS AS FUNÇÕES SOCIAIS, E NOMEADAMENTE O SNS, SÓ SÃO SUSTENTAVEIS COM CRESCIMENTO ECONÓMICO: Se o PIB por

habitante em Portugal (em 2012, apenas 15.791 €) fosse igual á média dos países da EU-27 (25.483 €), com 6,6% do PIB (os mesmos 6,6% de

2012) tinha-se mais 6.700 milhões € para a despesa pública com a saúde dos portugueses como mostram os dados do quadro

PAISPIB per-capita

em 2012

Despesa

Pública

% do

PIB

Despesa em

saúde per-

capita

Portugal

menos

(-)

UE27

Aumento possível da des-

pesa com saúde see PIB

per-capita fosse = UE27

Milhões €

UE27 25.483 € 6,6% 1.679 €

PORTU-GAL 15.791 € 6,6% 1.042€ -636 € + 6.708

UM APELO FINAL A TODOS OS TRABALHADORES, E NOMEADAMENTE AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

� A sustentabilidade do SNS não depende apenas do aumento dosrecursos e das transferências do Orçamento do Estado mas tambémde uma melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, em termosde eficiência e eficácia.

� É preciso nunca esquecer que os recursos que são disponibilizadosao SNS resultam fundamentalmente de impostos pagos pelosportugueses, e nomeadamente pelos trabalhadores que constituem amaioria da população portuguesa

� O desperdício e a má utilização dos recursos fazem o SNS perderanualmente muitos milhões de euros. É preciso por cobro a isso.

� Lutar por uma utilização eficiente dos recursos é tão importante comolutar para que os meios necessários sejam postos à disposição doSNS. Lutar por uma melhor utilização dos recursos é tão importantecomo lutar contra os cortes cegos na saúde que Paulo Macedo está aimpor no SNS, degradando-o para assim abrir o campo aos privados,em particular ao grupo BCP, onde era administrador antes de entrarpara o governo, grupo em que um dos negócios principais é a vendade seguros de saúde.

� É importante que todos aqueles que conheçam desperdícios no SNS ostornem público e lutem para que sejam eliminados. O que está em perigo édemasiadamente importante para não se poder ficar em silêncio