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A formação da classe trabalhadora de Engels

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Classe Trabalhadora EngelsA histria da classe operria na Inglaterra inicia-se na segunda metade do sculo passado, com a inveno da mquina a vapor e das mquinas destinadas a processar o algodo. Tais invenes desencadearam uma revoluo industrial que transformou a sociedade burguesa em seu conjunto.A Inglaterra constitui o terreno clssico dessa revoluo, que foi tanto mais grandiosa quanto mais silenciosamente se realizou. por isso que a Inglaterra tambm o pas clssico para o desenvolvimento do principal resultado dessa revoluo: o proletariado. Somente na Inglaterra o proletariado pode ser estudado em todos os seus aspectos e relaes. Antes da introduo das mquinas, a fiao e a tecelagem das matrias primas tinham lugar na casa do trabalhador. A mulher e os filhos fiavam e, com o fio, o homem tecia - quando o chefe da famlia no o fazia, o fio era vendido. Essas famlias tecels viviam em geral nos campos vizinhos s cidades e o que ganhavam assegurava sua existncia (quase no havia mercado externo, e a concorrncia se apresenta com a chegada do mercado externo. A isso se somava um constante crescimento da demanda do mercado interno, ao lado de um diminuto aumento populacional, o que permitia ocupar todos os trabalhadores.O tecelo s vezes podia economizar e arrendar um pequeno pedao de terra, que cultivava nas horas livres, escolhidas segundo sua vontade, posto que ele mesmo determinava o tempo e a durao de seu trabalho (No era um proletrio). Os trabalhadores sobreviviam suportavelmente e levavam uma vida honesta e tranquila, piedosa e honrada; sua situao material era bem superior de seus sucessores: no precisavam matar-se de trabalhar, no faziam mais do que desejavam. Seu nvel intelectual e moral era o da gente do campo. Tambm respeitavam o esquire* - o mais importante proprietrio de terras da regio como seu superior natural, pediam-lhe conselhos, submetiam-lhe pequenas querelas e prestavam-lhe todas as honras inerentes a essa relao patriarcal. Eram gente "respeitvel" e bons pais de famlia, viviam segundo a moral. Tinham os filhos em casa durante todo o tempo e inculcavam-lhes a obedincia e o temor a Deus; essas relaes patriarcais subsistiam at o casamento dos filhos. Em suma, os trabalhadores industriais ingleses dessa poca viviam e pensavam como se vive e se pensa ainda aqui e acol na Alemanha, isolados e retirados, sem vida intelectual e levando uma existncia sem sobressaltos. Raramente sabiam ler e, menos ainda, escrever, iam regularmente igreja, no faziam poltica, no conspiravam, no refletiam, apreciavam atividades fsicas, escutavam com a tradicional devoo a leitura da Bblia e, em sua singela humildade, tinham boas relaes com as classes mais altas da sociedade. Sentiam-se vontade em sua quieta existncia vegetativa e, sem a revoluo industrial, jamais teriam abandonado essa existncia. No eram verdadeiramente seres humanos: eram mquinas de trabalho a servio dos poucos aristocratas que at ento haviam dirigido a histria; a revoluo industrial apenas levou tudo isso s suas consequncias extremas, completando a transformao dos trabalhadores em puras e simples mquinas e arrancando-lhes das mos os ltimos restos de atividade autnoma.A primeira inveno que transformou a situao dos trabalhadores ingleses foi a jenny, tornou-se possvel produzir muito mais fio. A demanda de tecido, de resto em aumento, cresceu ainda mais graas reduo de seu preo, provocada pela diminuio dos custos de produo do fio devida nova mquina; houve necessidade de mais teceles e seus salrios aumentaram. Podendo ganhar mais trabalhando em seu tear, a pouco e pouco o tecelo abandonou suas ocupaes agrcolas e dedicou-se inteiramente tecelagem. Nessa poca, uma famlia de quatro adultos e duas crianas, com uma jornada de dez horas, chegava a ganhar quatro libras esterlinas por semana. Gradativamente, a classe dos teceles-agricultores foi desaparecendo, sendo de todo absorvida na classe emergente dos exclusivamente teceles, que viviam apenas de seu salrio e no possuam propriedade. As famlias passam a viver exclusivamente deste trabalho e outras que por conta da facilidade da jenny tiveram que sobreviver do tear. Iniciando assim a divio do trabalho entre tecelagem e fiao.Simultaneamente ao proletariado industrial que se desenvolvia com essa primeira mquina, ela mesma tambm originava a formao do proletariado rural. Havia, at ento, um grande nmero de pequenos proprietrios rurais, os chamados yeomen, cuja vida transcorria na mesma tranquilidade e apatia de seus vizinhos, os teceles-agricultores. Entre eles, existiam tambm muitos pequenos arrendatrios, no no sentido atual da palavra, mas gente que, por fora de costume antigo ou a ttulo de renda hereditria, recebera dos pais ou avs um pequeno pedao de terra e que nele se estabelecera to solidamente como se se tratasse de propriedade sua. Na medida em que, ento, os operrios industriais abandonavam a agricultura, inmeros terrenos tornaram-se disponveis e neles se instalou a nova classe dos grandes arrendatrios, - os tenants-at-will, arrendatrios cujo contrato podia ser anulado anualmente e que, mediante melhores mtodos agrcolas e explorao em larga escala, souberam aumentar a produtividade da terra. Podiam vender seus produtos a preos mais baixos que os do pequeno yeomanO movimento da indstria, porm, no se deteve. Alguns capitalistas comearam a instalar jennys em grandes prdios e a acion-las por fora hidrulica, o que lhes permitiu reduzir o nmero de operrios e vender o fio a preos mais baixos que os fiandeiros isolados. O sistema fabril, recebeu um novo impulso com a spinning throstle,a associao dessas maquinas e a mquina a vapor permitiu que o sistema fabril tornou-se o nico vigente na fiao do algodo. Com essas invenes, desde ento aperfeioadas ano a ano nos principais setores da indstria inglesa tornou-se claro a vitria do trabalho mecnico sobre o trabalho manual e toda a sua histria recente nos revela como os trabalhadores manuais foram deslocados de suas posies pelas mquinas. As consequncias disso foram, por um lado, uma rpida reduo dos preos de todas as mercadorias manufaturadas, o florescimento do comrcio e da indstria, a conquista de quase todos os mercados estrangeiros, o crescimento veloz dos capitais e da riqueza nacional; por outro lado, o crescimento ainda mais rpido do proletariado, a destruio de toda a propriedade e de toda a segurana de trabalho para a classe operria, a degradao moral, as agitaes polticas e todos os fatos que tanto repugnam aos ingleses proprietrios.Se durante o sculo XVIII a Inglaterra importava algodo por volta de 1834 ela passou a ser a grande exportadora.O centro principal dessa indstria o Lancashire, onde ela comeou. A histria do Lancashire meridional compreende os maiores milagres dos tempos modernos, todos eles operados pela indstria do algodo.Vrios ramos dependentes da indstria do algodo experimentaram uma evoluo similar, como o alvejamento, a tinturaria e a estamparia.A mesma operosidade verificou-se no tratamento da l. Este j constitua o setor principal da indstria inglesa. Em 1782, toda a produo de l (tosquia) dos trs anos precedentes continuava em estado bruto por falta de operrios, e assim permaneceria se as novas invenes mecnicas no houvessem tornado possvel a sua fiao. A adaptao das mquinas para a fiao da l se efetivou com xito. O principal distrito dessa indstria o West Riding de Yorkshire, onde a l inglesa de fibra longa transformada em fio de tricotar.Na indstria do Linho os progressos foram mais lentos, porque a natureza particular da matria-prima tornava muito difcil o emprego da mquina de fiar. De fato, j nos ltimos anos do sculo passado, algumas experincias nessa direo foram feitas na Esccia. A partir de ento, a indstria inglesa do linho conheceu um rpido desenvolvimento. Com o mesmo sucesso, os ingleses se dedicaram preparao da seda..O gigantesco desenvolvimento da indstria inglesa desde 1760, no se limitou fabricao de tecidos. Uma vez desencadeado, o impulso do setor txtil expandiu-se para todos os ramos da atividade industrial e uma srie de invenes ganhou mais importncia por ser contempornea desse movimento geral. Demonstrada na prtica a enorme significao do emprego da fora mecnica na indstria, buscaram-se meios para utiliz-la em todos os setores e para explor-la em proveito de seus diversos inventores e fabricantes; alm disso, a demanda de mquinas, combustveis e material de transformao multiplicou a atividade de uma massa de operrios e de Indstrias. Foi com a mquina a vapor que se comeou a valorizar as grandes jazidas de carvo da Inglaterra. A fabricao de mquinas inicia-se e, com ela, surge um novo interesse pelas minas de ferro, que forneciam a matria prima para as mquinas.Foi sobretudo a produo de ferro que cresceu. At ento, as ricas minas de ferro inglesas eram pouco exploradas; o mineral do ferro era sempre fundido com carvo vegetal, descobriu-se um novo mtodo para transformar ferro fundido com carvo mineral em ferro tambm utilizvel para a forja (antes s empregado como ferro fundido). Com esse mtodo, abriu-se todo um novo campo produo inglesa de ferro. Assim, graas melhor qualidade dos materiais disponveis, ao aperfeioamento das mquinas existentes e inveno de novas e a uma diviso do trabalho mais apurada, a metalurgia comeou a assumir uma posio mais significativa na Inglaterra.Tambm a agricultura foi sacudida - e no s porque, a propriedade da terra passou para as mos de outros possuidores e cultivadores, mas por outras razes. Os grandes fazendeiros investiram capital na melhoria dos solos, destruram os pequenos muros divisrios inteis drenaram e adubaram a terra, utilizaram instrumentos melhores e introduziram a rotao sistemtica das culturas (croping by rotation). Tambm eles foram auxiliados pelo progresso das cincias.Ademais, em consequncia do aumento da populao, a demanda por produtos agrcolas cresceu mas, apesar disso, a Inglaterra passou de exportador a importador de trigo.Ampliao das comunicaes. Antes de 1755, praticamente no havia canais na Inglaterra. Naquele ano, abriu-se o canal de Sankey Brook a St. Helens, no Lancashireb e, em 1759, James Brindley construiu o primeiro canal importante, o do duque de Bridgewater, que liga Manchester e as minas da regio foz do Mersey e, em Barton, passa, atravs de um aqueduto, sobre o rio Irwell. A rede de canais ingleses, que Brindley foi o primeiro a valorizar, data dessa poca. A partir de ento, foram construdos canais em todas as direes e os rios tornaram-se navegveis. As ferrovias foram iniciadas mais recentemente. A primeira importante foi a de Liverpool a Manchester, inaugurada em 1830; desde ento, todas as grandes cidades esto ligadas por ferrovias. O vapor, assim como revolucionou as comunicaes em terra, deu uma nova relevncia navegao.Resumindo: o proletariado nasce com a introduo das mquinas.A veloz expanso da indstria determinou a demanda de mais braos; os salrios aumentaram e, em consequncia, batalhes de trabalhadores das regies agrcolas emigraram para as cidades - a populao cresceu rapidamente e quase todo o acrscimo ocorreu na classe dos proletrios. Mesmo na Irlanda - onde apenas no princpio do sculo XVIII reinou certa ordem -, a populao, mais que dizimada pela barbrie inglesa nas agitaes do passado, aumentou rapidamente, em particular a partir do momento em que o desenvolvimento industrial comeou a atrair para a Inglaterra uma multido de irlandeses. Surgiram assim as grandes cidades industriais e comerciais do Imprio Britnico, onde pelo menos trs quartos da populao fazem parte da classe operria e cuja pequena burguesia se constitui de comerciantes e de pouqussimos artesos. Adquirindo importncia ao converter instrumentos em mquinas e oficinas em fbricas, a nova indstria transformou a classe mdia trabalhadora em proletariado e os grandesnegociantes em industriais; assim como a pequena classe mdia foi eliminada e a populao foi reduzida contraposio entre operrios e capitalistas, o mesmo ocorreu fora do setor industrial em sentido estrito, no artesanato e no comrcio: aos antigos mestres e companheiros sucederam os grandes capitalistas e operrios, os quais no tm perspectivas de se elevarem acima de sua classe; o artesanato industrializou-se, a diviso do trabalho foi introduzida rigidamente e os pequenos artesos que no podiam concorrer com os grandes estabelecimentos industriais foram lanados s fileiras da classe dos proletrios. Ao mesmo tempo, com a supresso do antigo artesanato e com o aniquilamento da pequena burguesia, desapareceu para o operrio qualquer possibilidade de tornar-se burgus. At ento, sempre lhe restava a chance de instalar-se em algum lugar como mestre arteso e talvez contratar companheiros; agora, com os mestres suplantados pelos industriais, com a necessidade de grandes capitais para tocar qualquer iniciativa autnoma, o proletariado tornou-se uma classe real e estvel da populao, enquanto antes no era muitas vezes mais que um estgio de transio para a burguesia.Agora, quem quer que nasa operrio no tem outra alternativa seno a de viver como proletrio ao longo de sua existncia. Agora, portanto, pela primeira vez, o proletariado encontra-se em condies de empreender movimentos autnomos.A situao da classe trabalhadora, isto , a situao da imensa maioria do povo ingls, coloca o problema: o que faro esses milhes de despossudos que consomem hoje o que ganharam ontem, cujas invenes e trabalho fizeram a grandeza da Inglaterra, que a cada dia se tornaram mais conscientes de sua fora e exigem cada vez mais energicamente a participao nas vantagens que proporcionam s instituies sociais? Esse problema se converteu, desde o Reform Billa, na questo nacional: todos os debates parlamentares de algum relevo podem ser reduzidos a ele e embora a classe mdia inglesa ainda no o queira confessar, embora procure evit-lo e fazer passar seus prprios interesses particulares como os verdadeiros problemas da nao, esses expedientes de nada lhe servem. A cada sesso parlamentar, a classe operria ganha terreno, os interesses da classe mdia perdem importncia e, embora esta ltima seja a principal - seno a nica - fora no parlamento, a derradeira sesso de 1844 no foi mais que um longo debate sobre as condies de vida dos operrios (lei sobre os pobres, lei sobre as fbricas, lei sobre as relaes entre senhores e empregados)3. Thomas Duncombe, representante da classe operria na Cmara dos Comuns, foi a grande personalidade dessa sesso, ao passo que a classe mdia liberal (com sua moo sobre a supresso das leis sobre os cereais) e a classe mdia radical (com sua proposta de recusar os impostos) desempenharam um papel miservel. At mesmo as discusses sobre a Irlanda no passaram, no fundo, de debates sobre a situao do proletariado irlands e sobre os meios de melhor-la. Mas j tempo de a classe mdia inglesa fazer concesses aos operrios - que j no pedem, exigem e ameaam -, porque em breve pode ser tarde demais. Apesar disso, a classe mdia inglesa, em particular a classe industrial que se enriquece diretamente com a misria dos operrios, nada quer saber dessa misria. Ela, que se sente forte, representante da nao, envergonhasse de revelar aos olhos do mundo a chaga da Inglaterra; no quer confessar que se os operrios so miserveis, cabe a ela, classe proprietria, classe industrial, a responsabilidade moral por essa misria.