vida e obra de marx e engels
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Texto didático biográfico sobre Marx e Engels.TRANSCRIPT
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Aspectos da vida e da obra deMarx e EngelsSandra M.M. SiqueiraFrancisco Pereira
A questo de saber se ao pensamento humano
pertence a verdade objetiva no uma questo da
teoria, mas uma questo prtica. na praxe que o ser
humano tem de comprovar a verdade, isto , a
realidade e o poder, o carter terreno do seu
pensamento. A disputa sobre a realidade ou no
realidade de um pensamento que se isola da praxe
questo puramente escolstica
Os filsofos s interpretaram o mundo de diferentes
maneiras, do que se trata de transform-lo
(Marx, Teses sobre Feuerbach)
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Aspectos da vida e da obra de Marx e Engels
Sandra M. M. Siqueira e Francisco Pereira
Lemarx, 2011.Dedicatria
Aos marxistas revolucionrios.
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SUMRIO
I Introduo
II Encontro para uma obra comum
III Os jovens hegelianos e a Gazeta Renana
IV O movimento socialista e o materialismo histrico
V - A militncia revolucionria e a crtia da socieade burguesa
VI O exlio em Londres e a publicao da obra magna
VII A fundao da Primeira Internacional
VIII A morte de Marx e a atividade cientfica de Engels
Concluso
Bibliografia
I - INTRODUO
No presente texto disponibilizamos uma sntese dos aspec-
tos mais importantes da vida e da obra de Karl Marx e Friedrich
Engels, para os leitores interessados no estudo do marxismo. O
estudo foi realizado a partir da obra e do contexto histrico em
que viveram os fundadores do marxismo e de textos publicados
sobre os dois pensadores, remetendo os leitores particularmente
s fontes e aos textos de Marx e Engels.
Trata-se de uma verso ligeiramente modificada de um tex-
to produzido para o Curso de Introduo ao Marxismo promovido
pelo Laboratrio de Estudos e Pesquisas Marxistas (LeMarx), se-
diado na Faculdade de Educao da Universidade Federal da
Bahia (FACED/UFBA), publicado pela primeira vez no site do
mesmo grupo, intitulado Marx e Engels: aspectos da vida e da
obra dos fundadores do marxismo.
Em virtude da riqueza de acontecimentos da vida revolucio-
nria e intelectual dos dois pensadores, muita coisa relevante foi
preterida. O leitor pode, no entanto, aprofundar os conhecimen-
tos fazendo o estudo das biografias existentes e de obras especi-
alizadas sobre os detales do pensamento marxista. Por ltimo, o
marxismo uma concepo de histria e de sociedade articulada
luta de classe do proletariado e demais explorados pela supe-
rao do capitalismo e constituio do socialismo. Eis o sentido
desse texto.
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II ENCONTRO PARA UMA OBRA COMUM
Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Trier, na Alemanha,
e morreu em 14 de maro de 1883, em Londres; Engels nasceu
em 28 de novembro de 1820 em Barmen, na Alemanha, faleceu
em 5 de agosto de 1895, em Londres, Inglaterra.1
Marx era filho de um advogado judeu, de nome Heinrich
Marx, convertido ao protestantismo e adepto de idias liberais e
democrticas, e de Enriqueta Pressburg. A casa de Marx se tor-
nou um ambiente de discusso em torno de tericos iluministas e
liberais, como Voltaire e Rousseau. Engels, de outro lado, era fi-
lho de um rico industrial do ramo txtil, tambm chamado Friedri-
ch Engels e de Elizabeth Franziska Mauritia van Haar. De famlia
1Quanto aos aspectos biogrficos existem bons livros que retratam a vida e a obra dos dois revolucionrios, em sua ligao com a luta social. Entre os autores, podemos citar: LNIN, V. I. As Trs Fontes. So Paulo: Expresso Popular, 2006; TROTSKY, Leon. O pensamento vivo de Karl Marx. So Paulo: Ensaio, 1990; RIAZANOV, David. Marx e Engels e a histria do movimento operrio. So Paulo: LPM,1990; KAUTSKY, Karl. As Trs Fontes do Marxismo. So Paulo: Centauro, 2002; HOFMANN, Werner. A Histria do pensamento do movimento social nos sculos XIX e XX. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984; BEER, Max. Histria do Socialismo e das lutas sociais. So Paulo: Expresso Popular, 2006; HOBSBAWM, Eric (org.). Histria do Marxismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985; MANDEL, Ernest. A formao do pensamento econmico de Karl Marx (de 1843 at a redao de O Capital). Rio de Janeiro: Zahar, 1968; FREDERICO, Celso. O Jovem Marx: as origens da ontologia do ser social. So Paulo: Cortez, 1995; LWY, Michael. A Teoria da Revoluo no Jovem Marx. Petrpolis, RJ: Vozes, 2002; MACLELLAN, David. Karl Marx: vida e pensamento. Petrpolis: Vozes, 1990; LUKCS, Georg. O Jovem Marx e Outros Textos Filosficos. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007; COGGIOLA, Osvaldo. Engels: o segundo violino. So Paulo: Xam, 1995; BOTTOMORE, Tom (org.). Dicionrio do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
religiosa e conservadora, teve em seu seio uma formao calvi-
nista.
Marx e Engels chegaram ao mesmo referencial por cami-
nhos bem particulares. Marx finalizou o ginsio em Trier, sua ci-
dade de origem. Aos 17 anos, ingressou na Universidade de
Bonn, onde cursou inicialmente Direito, transferindo-se em segui-
da para a Universidade de Berlim, concluindo seus estudos em
Filosofia. Doutorou-se em 1841, em filosofia, na Universidade de
Iena, com a apresentao de uma tese sobre os filsofos materi-
alistas da antiguidade, Demcrito e Epicuro.
Engels, por sua vez, cursou o ginsio em Elberfeld. Educa-
do para suceder o pai nos negcios, mostrou desde cedo dotes
literrios na escola, sendo influenciado inicialmente pelos liberais
democrticos. Chegou a freqentar a Universidade de Berlim
apenas como ouvinte. Em 1841, uniu-se ao crculo jovem-hegeli-
ano e destacou-se na crtica da filosofia conservadora de Schel-
ling, um terico opositor das idias de Hegel. Por influncia de
Moses Hess, revolucionrio alemo, Engels se tornou comunista
mais cedo que Marx.
O primeiro encontro entre Marx e Engels se deu na poca
em que Marx era ainda redator da Gazeta Renana, em 1842,
quando Engels se achava de passagem para a Inglaterra. Encon-
trando-se em Paris em 1844, comunistas assumidos, Marx e En-
gels travaram um profundo debate sobre suas idias e posies
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polticas, tomando conscincia das concluses tericas a que ha-
viam chegado, a partir de suas experincias e estudos filosficos
e cientficos.
A sntese de seus estudos histricos, econmicos, sociais,
polticos e culturais, em meio ao contato com o movimento oper-
rio, os haviam conduzido concepo materialista da histria, de
base dialtica. Diante disso, os dois pensadores socialistas colo-
caram firmemente a tarefa de produzir uma obra em comum de
crtica aos jovens hegelianos, grupo que haviam integrado, ex-
pondo a nova concepo de histria, de sociedade e dos indiv-
duos.
o incio de uma longa, tortuosa e profcua vida terica e
prtica revolucionria, que findaria apenas com a morte de Marx,
em 1883, trajetria esta que forneceu humanidade e classe
operria em particular, um faboloso e atual instrumento para a
luta de classes e para a compreenso da sociedade capitalista e
suas contradies, cujo aprofundamento revela a necessidade da
luta por sua superao, isto , pelo socialismo. Vejamos os prin-
cipais fatos de sua vida revolucionria e as obras que produzi-
ram.
III OS JOVENS HEGELIANOS E A GAZETA RENA-NA
Na Carta ao pai (1837), uma das nicas preservadas, Marx
apresenta um balano de seu desenvolvimento intelectual no pri-
meiro ano na Universidade de Berlim. Como era caracterstico do
futuro revolucionrio, para passar a um novo patamar intelectual,
realizava uma avaliao crtica de seu passado terico e de sua
experincia poltica. Marx diz no texto: H momentos na vida
que, tais quais marcas fronteirias, colocam-se diante de um pe-
rodo concludo, porm, ao mesmo tempo, com determinao,
para uma nova direo.2
Trata-se, portanto, de um relato sobre encontro inicial de
um jovem com as idias de grandes pensadores como Kant e Fi-
chte, suas debilidades, as leituras que fazia de poetas e filsofos
e a necessidade de superar sua primeira orientao filosfica a
partir do novo patamar terico que havia alcanado, ou seja, o
sistema hegeliano. Marx expressa j a influncia de Hegel, ao di-
zer que, para alm do formalismo kantiano, que fazia uma cliva-
gem entre o real e o ideal (ser e dever ser), era preciso investi-
gar as idias na realidade mesma, em seu movimento, em suas
contradies, em seu devir.
2A carta pode ser encontrada em http://www.scientific-socialism.de/KMFEDireitoCapa.htm. Os textos da juventude de Marx e Engels foram publicados em: MARX, Carlos. Escritos de Juventude. Mxico: Fundo de Cultura Econmica, 1987.
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A carta expressa tambm seu encontro tortuoso com o pen-
samento de Hegel e com o Clube de Doutores (Doctorclub), a ala
esquerda do pensamento hegeliano, do qual faziam parte Bruno
Bauer, Karl Kppen, Adolf Rutenberg, Edgar Bauer, Ludwig Buhl,
Karl Nauwerk e Max Stirner. o incio de uma complexa, crtica e
autocrtica relao com o pensamento hegeliano.
No ano de 1841, Marx apresentou a tese de doutoramento
intitulada Diferena entre as filosofias da Natureza em Demcrito
e Epicuro Universidade de Iena, na Alemanha, recebendo o t-
tulo de Doutor. a ltima presena de Marx na academia. Suas
esperanas de se tornar professor universitrio se dissiparam
quando a reao monrquica prussiana expulsou Bruno Bauer da
ctedra de Teologia da Universidade de Bonn.
Em sua tese, Marx desenvolve uma anlise criativa e nica
dos filsofos materialistas da antiguidade e suas importantes
contribuies para o desenvolvimento filosfico e cientfico. Criti-
ca os jovens hegelianos por no manterem uma atitude crtica e
autocrtica em relao ao mestre Hegel.3
Marx se dedica ao jornalismo nos anos de 1842-1843 e co-
labora com a Rheinische Zeitung (Gazeta Renana), um jornal da
burguesia liberal editao em Colnia, que tinha como horizonte a 3H as seguintes publicaes em portugus: MARX, Karl. Diferena entre as Filosofias da Natureza em Demcrito e Epicuro. Lisboa: Presena, 1972. H uma edio brasileira: MARX, Karl. Diferena entre as Filosofias da Natureza em Demcrito e Epicuro. So Paulo: Global, 1979.
defesa das idias democrticas, de mudanas polticas e de re-
forma do Estado. Marx se torna redator do jornal, atraindo com
suas idias e posies a ateno da censura monrquica.
Nele, Marx publica textos decisivos na sua trajetria intelec-
tual, que expressam o contato com questes sociais, econmicas
e polticas, como a criminalizao de um antigo costume campo-
ns de recolher lenha nas florestas comunais por conta do avan-
o da propriedade privada, a situao de misria dos vinhateiros
do Mosela, os ataques liberdade de imprensa pelo governo mo-
nrquico, entre outros.
Na Gazeta Renana, Marx publica, entre outros textos, O
Manifesto Filosfico da Escola Histrica do Direito, Debates acer-
ca da Lei sobre o Furto de Madeira e Sobre a Liberdade de Im-
prensa.4 Aqui, Marx obrigado a dar respostas a problemas pol-
ticos, sociais e jurdicos, mas ainda com o arsenal categorial e
terico que tinha chegado, qual seja o idealismo hegelino, da
Marx combater o direito positivo estatal (injusto) com a ideia de
um direito justo, dos camponeses pobres, para ele o verdadeiro
direito.
4Alguns destes textos podem ser lidos em: http://www.scientific-socialism.de/KMFEDireitoCapa.htm. O texto sobre A liberdade de imprensa foi publicado em portugus em: MARX, Karl. A liberdade de imprensa. Porto Alegre: L&PM, 2006 e Notas sobre as recentes instrues prussianas relativos censura. In: MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Sobre literatura e arte. So Paulo: Global, 1986. Os textos da juventude de Marx e Engels foram publicados em: MARX, Carlos. Escritos de Juventude. Mxico: Fundo de Cultura Econmica, 1987.
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A influncia hegeliana fica patente na seguinte passagem
da crtica de Marx ao prolema da censura liberdade de impren-
sa pela monarquia: Desde o ponto de vista da ideia, evidente
que a liberdade de imprensa tem uma justificativa completamente
diferente da censura, j que a primeira em si mesma um aspec-
to da Ideia, da liberdade, um bem positivo; a censura apenas
um aspecto da falta de liberdade, uma polmica entre o ponto de
vista da semelhana e o ponto de vista da essncia, uma mera
negao. E arremata: Uma lei da censura tem apenas a forma
de lei. Uma lei da imprensa uma verdadeira lei. Uma lei de im-
prensa uma lei verdadeira porque a essncia positiva da li-
berdade.
tambm durante este perodo que Marx forado, pela
primeira vez, a tomar posio sobre as idias socialistas,
pressionado por um jornal de direita. Em resposta, Marx conclui
sobre a necessidade de estudar as idias socialistas para poder
manifestar-se sobre elas. Nas palavras do prprio Marx:
confessei francamente que os meus estudos feitos at ento
no me permitiam ousar qualquer julgamento sobre o contedo
das correntes francesas.
Por conta da censura, Marx deixa a Gazeta Renana em
1843, casa-se com Jenny von Westphalen e vai para Kreuznach.
Como disse certa vez, se retirou do cenrio pblico para o gabi-
nete de estudos.
Dedica-se crtica do pensamento de Hegel, em especial
sobre o direito e o Estado. O produto deste acerto de contas com
as idias hegelianas o Manuscrito de Kreuznach, tambm chamado de Crtica Filosofia do Direito de Hegel ou Crtica da Teoria do Estado de Hegel, s publicada em 1927 pelo
historiador marxista David Riazanov, na Unio Sovitica.5
Nele, Marx se mostra do ponto de vista de suas posies
polticas um verdadeiro democrata radical, sendo do ponto de
vista filosfico influenciado pelo materialismo humanista de
Ludwig Feuerbach, que havia realizado uma crtica materialista
da filosofia hegeliana. Com base no materialismo feuerbachiano,
Marx realiza uma crtica lgica idealista hegeliana, que, no fun-
do, abria brechas legitimao da monarquia. Era preciso extrair
o ncleo revolucionrio da dialtica hegeliana.
Marx defende idias radicais para a poca como a sobera-
nia popular, se ope monarquia e cita passagens que se torna-
ram clebres como: A democracia o enigma resolvido de todas
as constituies, O homem no existe em razo da lei, mas a
5O texto foi publicado em portugus: MARX, Karl. Contribuio Crtica da Fi-losofia do Direito de Hegel. So Paulo: Boitempo, 2005.
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lei existe em razo do homem e no a constituio que cria o
povo, mas o povo que cria a constituio.
Nosso filsofo, ao reexaminar criticamente a obra do seu
antigo mestre, Hegel, encontra o seu prprio objeto de estudo: a
sociedade. No ano seguinte, iniciar o estudo da anatomia da so-
ciedade burguesa: a economia poltica.
IV O MOVIMENTO SOCIALISTA E O MATERIALIS-MO HISTRICO
No final de 1843, Marx viaja a Paris, poca o centro das
idias e movimentos socialistas. Estuda a histria da Revoluo
Francesa, de 1789, as idias socialistas e os tericos da econo-
mia poltica. Conhece socialistas como Proudhon e Bakunin e en-
tra em contato com a Liga dos Justos, fundada por Weitling, um
emigrado socialista alemo. Funda a revista Anais Franco-Ale-
mes(Deutsch-Franzosische Jahrbucher), junto com Arnold
Ruge.
No nico nmero, que saiu em fevereiro de 1844, Marx pu-
blicou A questo judaica e a Introduo Crtica da Filosofia do
Direito de Hegel. Nesta mesma edio dos Anais Franco-Ale-
mes, Friedrich Engels tambm publicou o texto Esboo de uma
Crtica da Economia Poltica, que causou uma profunda e simp-
tica impresso no jovem Marx.
Na Questo Judaica, Marx, apesar de reconhecer o carter
progressivo da emancipao poltica burguesia, ela se limitava
ser sujeito de direitos e obrigaes no mbito de uma socieade
dilacerada pelas desigualdades sociais e econmicas, a socieda-
de capitalista. Assim, contrape a emancipao humana cha-
mada emancipao poltica limitada sociedade burguesa:
emancipao poltica a reduo do homem, por um lado, a
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membro da sociedade civil, indivduo independente e egosta e,
por outro, a cidado, a pessoa moral. Conclui que s ser plena
a emancipao humana quando o homem real e individual tiver
em si o cidado abstrato; quando como homem individual, na sua
vida emprica, no trabalho e nas suas relaes individuais, se ti-
ver tornado um ser genrico; e quando tiver reconhecido e orga-
nizado as suas prprias foras (forces propres) como foras soci-
ais, de maneira a nunca mais separar de si esta fora social
como fora poltica.
Na Introduo crtica do direito de Hegel, Marx reconhece
a classe revolucionria no capitalismo, capaz de levar at s lti -
mas consequncias a luta pela superao do capitalismo. Porm,
trata-se de viso ainda filosfica da classe operria. Segundo
Marx, da mesma forma como a filosofia identifica as armas ma-
teriais no proletariado, o proletariado tem as suas armas intelec-
tuais na filosofia.
Engels, por sua vez, destaca em seu Esboo de uma crtica
da economia poltica, que a livre concorrncia na sociedade capi-
talista leva constituio de monoplios e que a capacidade de
produo adquirida pelo capitalismo, em razo da revoluo nas
foras produtivas, pela industrializao e introduo das mqui-
nas modernas engendra a superproduo, ou seja, a possibilida-
de concreta de crises econmicas profundas.
Em suas crticas s contradies da sociedade burguesa,
Engels destaca ainda os mais fortes argumentos econmicos
para a transformao social (...). a propriedade privada faz do
homem uma mercadoria, cuja produo e destruio dependem,
tambm elas, apenas da concorrncia, e que o sistema
concorrencial massacrou deste modo, e massacra, diariamente
milhes de homens; vimos tudo isto e tudo isto nos leva a
suprimir este aviltamento da humanidade ao suprimir a
propriedade privada, a concorrncia e os interesses
antagnicos. E conclui: a concorrncia coloca capital contra
capital, trabalho contra trabalho (...), como tambm cada um
destes elementos contra os restantes, lanando o homem em
estado de profunda degradao (Idem:76/77)
Os textos de 1844, de Marx e Engels, A Questo Judai-
ca, Introduo Crtica da Filosofia do Direito de Hegel, Manus-
critos Econmico-Filosficos; Glosas Crticas Marginais ao Artigo
O Rei da Prssia e a Reforma Social de um Prussiano represen-
tam um avano em suas concepes filosficas, polticas e
econmicas. Neles, Marx realiza uma crtica da cidadania bur-
guesa limitada e defende a perspectiva da emancipao humana.
Marx assume-se definitivamente socialista e revolucionrio
e, filosoficamente, encontra-se com o sujeito revolucionrio da
poca atual: o proletariado. Estuda os economistas burgueses,
aprofunda sua viso da sociedade capitalista, da propriedade pri-
-
vada e da alienao. Expe a sua primeira abordagem do comu-
nismo nos Manuscritos Econmico-Filosficos.
Para Marx, o trabalhador se torna tanto mais pobre quanto
mais riqueza produz, quanto mais a sua produo aumenta em
poder e extenso. O trabalhador se torna uma mercadoria to
mais barata quanto mais mercadorias cria. Com a valorizao do
mundo das coisas (Sachenwelt) aumenta em proporo direta a
desvalorizao do mundo dos homens (Menschenwelt). O traba-
lho no produz somente mercadorias; ele produz a si mesmo e
ao trabalhador como uma mercadoria, e isto na medida em que
produz, de fato, mercadorias em geral.
Comunista assumido, Marx expe a sua viso: O comunis-
mo a posio como negao da negao, e por isso o momen-
to efetivo necessrio da emancipao e da recuperao huma-
nas para o prximo desenvolvimento histrico. O comunismo a
figura necessria e o princpio energtico do futuro prximo, mas
o comunismo no , como tal, o termo do desenvolvimento hu-
mano a figura da sociedade humana.
Expulso de Paris em 1845, por presso do governo alemo,
Marx viaja a Bruxelas (Blgica), onde se encontra com Engels.
Publicam sua primeira obra conjunta: A Sagrada Famlia, que ha-
viam terminado em novembro de 1844. Neste texto, os dois revo-
lucionrios realizam uma crtica mordaz dos jovens hegelianos,
em especial aos irmos Bruno e Edgar Bauer, defendendo o ma-
terialismo contra o idealismo. Apesar de ainda defender Feurba-
ch contra os jovens hegelianos, Marx e Engels j defender uma
concepo materialista mais aperfeioada.6
O afastamento definitivo do materialismo humanista de Feu-
erbach se dar ainda em 1845, quando Marx redige as Teses so-
bre Feuerbach, publicadas postumamente por Engels em 1888.
Nas famosas teses Marx faz uma sntese das idias que comea-
r a desenvolver, junto com Engels, em A Ideologia Alem, no
transcurso do mesmo ano at 1846. , como dissemos, a primei-
ra crtica aberta a Feuerbach, em cujas idias Marx se baseou
desde a crtica de Hegel em 1843 e com as quais produziu os
textos de 1844.
H passagens memorveis como Os filsofos tm apenas
interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questo, porm,
transform-lo; Mas, a essncia humana no uma abstrao
inerente a cada indivduo. Na sua realidade ela o conjunto das
relaes sociais; A doutrina materialista de que os seres huma-
nos so produtos das circunstncias e da educao, [de que] se-
6Parte dos textos pode ser encontrada em: www.marxists.org. H publicao em portugus de: MARX. Karl. Introduo Crtica da Filosofia do Direito de Hegel. In:Contribuio Crtica da Filosofia do Direito de Hegel. So Paulo: Boitempo, 2005; MARX, Karl. A Questo Judaica. So Paulo, Centauro: 2002; MARX, Karl. Sobre a questo judaica. So Paulo: Boitempo, 2010; ENGENS, Friedrich. Esboo de uma crtica da economia poltica. In: ENGELS, Friedrich. Poltica. So Paulo: tica, 1981; MARX, Karl. Manuscritos econmico-filosfi-cos. So Paulo, Boitempo, 2006; MARX, Karl. Glosas crticas marginais ao ar-tigo O rei da Prssia e a reforma social de um prussiano. So Paulo: Expres-so Popular, 2010; MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A sagrada famlia. So Paulo: Boitempo, 2003.
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res humanos transformados so, portanto, produtos de outras cir-
cunstncias e de uma educao mudada, esquece que as cir-
cunstncias so transformadas precisamente pelos seres huma-
nos e que o educador tem ele prprio de ser educado; A ques-
to de saber se ao pensamento humano pertence a verdade ob-
jetiva no uma questo da teoria, mas uma questo prtica.
na praxe que o ser humano tem de comprovar a verdade, isto ,
a realidade e o poder, o carter terreno do seu pensamento. A
disputa sobre a realidade ou no realidade de um pensamento
que se isola da praxe uma questo puramente escolstica.7
Em 1844, Engels escreveu uma obra magistral: A situao
da classe trabalhadora na Inglaterra, publicada em 1845, uma
anlise contundente das razes da sociedade capitalista, da in-
dustrializao, das condies de misria e opresso da classe
trabalhadora, de suas primeiras formas de organizaes e lutas,
enfim o jovem revolucionrio denuncia a profunda explorao a
que eram submetidos os operrios.8
Engels tem cincia sobre a necessidade do trabalhador
sair dessa situao que os embrutece, criar para si uma existn-
cia melhor e mais humana e, para isso, devem lutar contra os in-
teresses da burguesia enquanto tal, que consistem precisamente
7MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Teses sobre Feuerbach. In: A ideologia alem. So Paulo: Boitempo, 2002. Pode ser encontrado em: www.marxists.org.8ENGELS, Friedrich. A Situao da Classe Trabalhadora na Inglaterra. So Paulo, Boitempo, 2007.
na explorao dos operrios. Mas a burguesia defende seus inte-
resses com todas as foras que pode mobilizar, por meio da pro-
priedade e por meio do poder estatal que est sua disposio.
A partir do momento em que o operrio procura escapar ao atual
estado de coisas, o burgus torna-se seu inimigo declarado.
Por essa poca Marx tambm redigiu um texto chamado
Carta a Pvel V. Annenkov, em que sintetiza a nova concepo
de mundo a partir de uma crtica s posies de Proudhon.9 Em
Bruxelas, Marx e Engels levam frente o projeto da unidade en-
tre teoria e prtica revolucionria, organizando um Comit de
Correspondncia, com o objetivo de socializar as idias e lutas
comunistas, aproximando os revolucionrios e as organizaes.
Entre 1845 e 1846, concluem o manuscrito de A Ideologia
Alem, que no seria publicado por dificuldades editoriais, per-
manecendo indito at 1932, quando foi publicado na Rssia. o
acerto de contas final com a sua conscincia filosfica anterior, o
hegelianismo e os jovens hegelianos. Trata-se da primeira e mais
extensa, profunda e densa crtica dos dois socialistas filosofia
idealista e a exposio da concepo materialista da histria, que
desenvolvero nas obras posteriores.10
9A Carta a Pvel V. Annenkol, de Marx, pode ser encontra em: www.marxists.org. Podemos encontr-la tambm como anexo ao livro: MARX, Karl. Misria da Filosofia: resposta filosofia da misria do senhor Proudhon. So Paulo: Centauro, 2003.10O texto por completo foi publicado em: MARX, Karl. A ideologia alem. So Paulo: Boitempo, 2002.
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Desde a antiguidade greco-romana, os pensadores se divi-
diam em duas concepes fundamentais: materialismo e idealis-
mo filosfico. possvel encontrar as teses iniciais do materialis-
mo filosficos nos chamados fsicos como, por exemplo, Dem-
crito e Epicuro. Por outro lado, a filosofia idealista encontrar na
antiguidade a sua mais acabada expresso na obra do filosfo
Plato.
Desde ento, essas duas correntes opostas de pensamento
e de explicao da relao entre as ideias e a matria vem se de-
senvolvendo e se expressando nas teses dos diferentes pensa-
dores. No diferente em nosso sculo, basta verificar as con-
cepes reinantes, em aberta contraposio ao marxismo e
luta dos explorados na atualidade.
O materialismo histrico, que tem a sua base filosfica na
corrente materialista, de base dialtica, parte da perspectiva, em-
piricamente observvel e historicamente demonstrada, da anteri-
oridade da matria (inorgnica e orgnica) sobre as idias e a
conscincia. Trata-se de um fato j demonstrado pelas cincias
que estudam o passado da humanidade (paleontologia, arqueolo-
gia, histria) e do universo (fsica). A natureza inorgnica, duran-
te bilhes de anos, e, mesmo a orgnica (animais e plantas),
existiu antes do advento dos primeiros humanos e continuar a
existir mesmo se a humanidade for exterminada.
Somente em determinadas condies histricas que a
conscincia comeou a se desenvolver, sob a base da matria
altamente evoluda (o crebro) at chegar ao estgio atual. A
conscincia , portanto, um estgio superior de desenvolvimento
da matria e s pode existir sob esta base material.
Eis um dos motivos pelos quais o materialismo inconcili-
vel com as diversas concepes idealistas, que se apegam ao
princpio da anterioridade das ideias e da conscincia sobre a
matria, posio evidentemente sem qualquer base histrica. As
concepes idealistas, desde a platnica at as mais recentes,
no fundo se casam com as concepes religiosas, de modo que
a idia primeira se confunde com a prpria idia de um ser sobre-
natural, superior e anterior ao mundo, que o teria criado, segundo
um plano pr-estabelecido, em que o destino dos homens se en-
contra previamente traado e contra o qual impossvel lutar e
transformar radicalmente.
Mas quando no se trata do materialismo marxista, deve-
mos deixar claro que difere do materialismo mecnico do sculo
XVIII. O materialismo de Marx histrico e dialtico. Ao analisar
a histria e estender a aplicao da filosofia materialista ao estu-
do do desenvolvimento das formaes econmico-sociais, Marx
parte da materialidade scio-histrica: as condies de produo
e reproduo da vida social.
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Na sntese de Marx e Engels: No a conscincia que de-
termina a vida, mas sim a vida que determina a conscincia. Na
primeira forma de considerar as coisas, partimos da conscincia
como sendo o indivduo vivo; na segunda, que corresponde
vida real, partimos dos prprios indivduos reais e vivos, e consi-
deramos a conscincia unicamente como a sua conscincia.
O trabalho a atividade que faz a mediao entre os ho-
mens e a natureza na produo das condies materiais, isto ,
econmico-sociais, necessrias existncia da vida em socieda-
de. Nenhuma sociedade possvel sem o trabalho, sem a rela-
o metablica do homem com a natureza.
Mais trabalho ou menos trabalho, explorado ou associado,
mas sempre o trabalho ser, como diz Marx, a eterna relao do
homem com a natureza para produzir os meios de produo e de
subsistncia. Mesmo a sociedade mais evoluda (comunista) ter
como base o trabalho associado, livre, coletivo e destinado a
atender as necessidades sociais, estando todo o processo de tra-
balho sob o controle dos produtores organizados.
Desta forma, no processo histrico, os homens estabele-
cem entre si relaes de produo, de cooperao ou de explora-
o, que se expressam nas relaes de propriedade. Ao longo da
histria, os homens passaram por diversas formaes socioe-
conmicas, cada uma com determinadas formas de trabalho. So
estas condies socioeconmicas, ao longo da histria, que
constituem a base sobre a qual se constroem determinadas for-
mas de conscincia social (arte, filosofia, religio, cincia, direito,
entre outras) e as instituies jurdico-polticas (Estado).
Para os dois revolucionrios, estrutura social e o Estado
nascem continuamente do processo vital de indivduos determi-
nados; mas desses indivduos no tais como aparecem nas re-
presentaes que fazem de si mesmos ou nas representaes
que os outros fazem deles, mas na sua existncia real, isto , tais
como trabalham e produzem materialmente; portanto, do modo
como atual em bases, condies e limites materiais determinados
e independentes de sua vontade. A produo das ideias, das re-
presentaes e da conscincia est, a princpio, direta e intima-
mente ligada atividade material e ao comrcio material dos ho-
mens; ela a linguagem da vida real. As representaes, o pen-
samento, o comrcio intelectual dos homens aparecem aqui ain-
da como a emanao direta de seu comportamento material. O
mesmo acontece com a produo intelectual tal como se apre-
senta na linguagem da poltica, na das leis, da moral, da religio,
da metafsica etc. de todo um povo. So os homens que produ-
zem suas representaes, suas ideias etc., mas os homens re-
ais, atuantes, tais como so condicionados por um determinado
desenvolvimento de suas foras produtivas e das relaes que a
elas correspondem, inclusive as mais amplas formas que estas
podem tomar
-
A formao social tem como base um determinado modo de
produo e de troca dominante. Isto significa que numa mesma
formao social permanecem resqucios de relaes sociais an-
teriores. Na sociedade burguesa, baseada na indstria e na ex-
plorao do trabalho assalariado pelo capital, observa-se a per-
manncia de relaes sociais pr-capitalistas, particularmente
nos pases capitalistas mais atrasados. Entretanto, na sociedade
burguesa, o modo de produo capitalista o dominante e tende
mesmo a se expandir gradualmente, mercantilizando as relaes
sociais e colocando-as sob o controle do capital.
O modo de produo uma articulao de foras produti-
vas (fora de trabalho, ferramentas, instalaes etc.) e relaes
de produo (se expressam nas relaes de propriedade). As re-
laes de produo podem desenvolver ou obstaculizar o avano
das foras produtivas.
Enquanto foi possvel expandir as relaes mercantis, sob a
base da propriedade privada, as relaes de produo capitalis-
tas incentivaram o desenvolvimento da cincia e da tcnica, apli-
cando-as ao processo produtivo, aumentando a produtividade do
trabalho, incrementando a quantidade e qualidade das mercado-
rias, diminuindo o tempo de trabalho socialmente necessrio para
produzi-las.
Hoje, quando os mercados esto partilhados entre as po-
tncias, o emprego limitado da tcnica na produo acompa-
nhado do desemprego crnico e de crises de superproduo,
quase permanentes e cada vez mais profundas. As relaes de
produo capitalistas tornaram-se um estorvo ao desenvolvimen-
to da cincia e da tcnica e a sua aplicabilidade para resolver os
problemas da humanidade. Quando isto ocorre, diz Marx, abre-se
uma poca de revoluo social.
Desde o incio do sculo XX, vivenciamos revolues prole-
trias em vrios pases, como foi o exemplo histrico da Revolu-
o Russa de 1917 e de diversos outros processos revolucionri-
os vitoriosos ou no. Esta concepo materialista da histria, de-
senvolvida por Marx e Engels, a base segura para a compreen-
so do passado e do presente, abrindo perspectivas para a luta
por novas relaes sociais (socialismo).
O perodo em que Marx e Engels desenvolverm mais
exaustivamente o materialismo histrico ao mesmo tempo um
momento de acerto de contas com outros socialistas como Jo-
seph Proudhon e Weitling. Na Carta a Annenkov, Marx critica a
obra de Proudhon, denominada Filosofia da Misria. o fim de
uma simpatia que nutria por Proudhon, em particular por sua
obra O Que a Propriedade?.
Marx demonstra o carter reformista das teses de
Proudhon, que sequer arranhavam as relaes de produo capi-
talista, e, por conseqncia, seu apego aos ideais burgueses
abstratos (liberdade, igualdade), transmutando-os para a sua
-
anlise da sociedade burguesa. Portanto, um momento de dife-
renciao com as demais correntes filosfico-polticas do movi-
mento operrio.
V A MILITNCIA REVOLUCIONRIA E A CRTICA DA SOCIEDADE BURGUESA
Finalmente, em 1847, Marx e Engels se integram Liga dos
Justos, uma organizao que evolui para o comunismo e que se
torna, por influncia de Marx, a Liga dos Comunistas, inscreven-
do em seu estatuto a luta pelo fim da propriedade privada. Alm
do trabalho na Liga dos Comunistas, Marx e Engels fundam uma
Associao de Operrios em Bruxelas.
Neste ano, Marx continua a sua crtica de maneira mais
acabada s idias de Proudhon, numa obra denominada A Mis-
ria da Filosofia, em oposio Filosofia da Misria. Mostra as fra-
quezas das teorias de Proudhon e sua adaptao s relaes de
produo burguesas. Como se disse mais acima, Proudhon havia
se conduzido de uma postura inicialmente revolucionria para
uma concepo reformista da transfoirmao social.
O Proudhon de Filosofia da Misria, que Marx tanto admira-
va, j se encontrava muito distante daquele de O que a proprie-
dade?. Enquanto o primeiro criticava ardorosamente a proprieda-
de privada, a explorao da fora de trabalho e os males sociais
do capitalismo, o segundo esboo um programa reformista e
adaptado pequena burguesia, defendendo idias como o Ban-
co Popular, que, segundo supunha, daria crdito sem juros aos
-
trabalhadores. Ainda em 1849, a experincia de fundao de um
Banco Popular por Proudhon findaria fracassada.
Marx antecipa o fracasso das teorias reformista de
Proudhon em seu livro de polmica com o pensador francs, mas
aproveita a ocasio para expor de uma forma mais penetrante a
teoria materialista da histria, a partir de uma anlise dos tericos
da economia, consolidando, numa sntese concreta do desenvol-
vimento econmico-social, as aquisies tericas anteriores.11
Ainda em 1847, Marx e Engels foram encarregados no pri-
meiro Congresso da Liga dos Comunistas de redigir um manifes-
to sobre o programa e as idias da organizao comunista. En-
gels elabora um documento em forma de perguntas e respostas
intitulado Princpios do Comunismo.
Com base nele, Marx e Engels escrevem o Manifesto do
Partido Comunista, por ocasio do caldeiro da luta de classes
na Europa. O texto s foi publicado em fevereiro de 1848, quan-
do explodiu a Revoluo de 1848. Na Frana, por fora dos
acontecimentos revolucionrios, a monarquia foi derrubada e pro-
clamada a Repblica.
Os operrios demonstraram a fora e o vigor apresentando
suas prprias reivindicaes, diferenciando-se claramente da
11Os textos podem ser encontrados, em parte, no site: www.marxists.org. H publicao em portugus: MARX, Karl. A Misria da Filosofia. So Paulo: Cen-tauro, 2003.
burguesia. A classe dominante reagiu luta operria com repres-
so, processos, exlios e expurgos. Expulso de Bruxelas, Marx
retorna a Paris e em seguida Alemanha, organizando, com En-
gels, em Colnia, a revista Neue Rheinische Zeitung. Participam
ativamente das lutas polticas, dirigindo a associao operria de
Colnia e a resistncia operria em Elberfeld.
O Manifesto Comunista de 1848 um marco na histria do
pensamento da humanidade, constituindo uma sntese do desen-
volvimento histrico da sociedade burguesa e de suas contradi-
es. Expressa o contexto revolucionria da poca em que foi
produzido, antecipa as tendncias polticas do movimento socia-
lista e assenta o programa dos comunistas no movimento oper-
rio.
Logo na comeo do documento, nossos autores argumen-
tam: Um espectro ronda a Europa o espectro do comunismo.
Todas as potncias da velha Europa unem-se numa Santa Alian-
a para conjur-lo: o papa e o czar, Metternich e Guizot, os radi-
cais da Frana e os policiais da Alemanha. A averso s idias
comunistas era uma prova clara de que: 1: O comunismo j
reconhecido como fora por todas as potncias da Europa; 2:
tempo de os comunistas exporem, abertamente, ao mundo intei-
ro, seu modo de ver, seus objetivos e suas tendncias, opondo
um manifesto do prprio partido lenda do espectro do comunis-
mo.
-
Porm, os fundadores do marxismo no apenas sintetizam
o programa proletrio. O Manifesto Comunista mostra que todas
as formaes econmico-sociais, com exceo das sociedades
comunistas primitivas, foram marcadas pela diviso em classes
sociais e, portanto, pela luta de classes em torno dos seus inte-
resses materiais. Da sociedade escravista antiga, passando pe-
las sociedades feudais at a sociedade capitalista atual, a classe
dominante procurou manter o seu poder na base da explorao
da fora de trabalho e na apropriao do excedente econmico
produzido pelos trabalhadores, com os recursos existes, em par-
ticular o Estado e as suas instituies.
Como nas sociedades classistas anteriores, a sociedade
capitalista marcada pela diviso em classes sociais distintas e
antagnicas: sociedade burguesa moderna, que brotou das ru-
nas da sociedade feudal, no aboliu os antagonismos de classe.
No fez mais do que estabelecer novas classes, novas condies
de opresso, novas formas de luta em lugar das que existiram no
passado.
O capitalismo foi, entre todas as formaes econmico-soci-
ais anteriores, o que mais desenvolveu as foras produtivas (a
tcnica e a organizao do trabalho), com o processo de industri-
alizao e exapanso do comrcio em escala mundial. Durante
sculos, as relaes de produo burguesas, fundadas na propri-
edade privada dos meios de produo, garantiu o livre desenvol-
vimento das foras produtivas e a internacionalizao da forma
mercantil.
A burguesia criou, como dizem Marx e Engels, o seu prprio
coveiro. No s criou foras produtivas para alm das condies
de absoro dos mercados, como as foras produtivas constitu-
das pela indstria moderna se chocam profundamente com as re-
laes de produo baseadas na propriedade privada.
Como dizem, A sociedade burguesa, com suas relaes de
produo e de troca, o regime burgus de propriedade, a socie-
dade burguesa moderna, que conjurou gigantecos meios de pro-
duo e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que j no pode
controlar os poderes infernais que invocou. H dezenas de anos,
a histria da indstria e do comrcio no seno a histria da re-
volta das foras produtivas modernas contra as modernas rela-
es de produo, contra as relaes de propriedade que condi-
cionam a existncia da burguesia e seu domnio. Basta mencio-
nar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ame-
aam cada vez mais a existncia da sociedade burguesa. Cada
crise, destri regularmente no s uma grande massa de produ-
tos fabricados, mas tambm uma grande parte das prprias for-
as produtivas j criadas.
O resultado so as crises constantes e peridicas de produ-
o, previstas por Marx e Engels no Manifesto, que acumularam
ao longo do sculo XIX, e mais particulamente no sculo XX, os
-
elementos de uma crise maior, a chamada crise estrutural do ca-
pitalismo, como ocorre na atualidade.
Para minimizar os efeitos catastrficos da crise capitalista,
tendo em vista que no podem super-las definitivamente, a bur-
guesia, mostraram Marx e Engels, no s destri foras produti-
vas excedentes, como explora ainda mais os mercados em dis-
puta e a classe operria. No sculo XX, alis, a burguesia no
exitou em destruir conquistas histricas dos trabalhadores e, se
falharem os intrumentos anteriores, provocar guerra regionais e
mundiais.
Fazendo uma anlise histrica do capitalismo, Marx e En-
gels mostram que o comunismo no uma utopia ou um ideal
puramente moral, como acreditavam os socialistas anteriores,
mas uma possibilidade aberta pelo desenvolvimento da socieda-
de burguesa atual, com o processo de industrializao, a articula-
o da economia mundial, o desenvolvimento da cincia e da
tcnica e o surgimento do proletariado, classe que produz a ri-
queza social, apropriada pelo capital sob a forma da mais-valia,
que vive inteiramente de seu prprio trabalho e que no tem, por-
tanto, interesse em manter a sua explorao social.
Entretanto, a emancipao do proletariado deve ser realiza-
da pelo prprio proletariado. Marx e Engels deixam patente a ne-
cessidade de organizao poltica do proletariado em um partido
de novo tipo, capaz de levar at as ltimas conseqncias o pro-
cesso de transformao social.
Afirmam nossos auotores: A burguesia, porm, no se limi-
tou a forjar as armas lhe traro a morte; produziu tambm os ho-
mens que empunharo essas armas os operrios modernos, os
proletrios. Com o desenvolvimento da burguesia, isto , do capi-
tal, desenvolve-se tambm o proletariado, a classe dos oprrios
modernos, os quais s vivem enquanto tm trabalho e s tm tra-
balho enquanto seu trabalho aumenta o capital. Esse operrios,
constrangidos a vender-se a retalho, so mercadoria, artigo de
comrcio como qualquer outro; em consequncia, esto sujeitos
a todas as vicissitudes da concorrncia, atodas as flutuaes do
mercado.
O manifesto uma obra, que, ainda hoje, representa uma
fonte para os revolucionrios, que lutam pela superao do capi-
talismo e a construo de uma sociedade socialista. Foi publica-
do em diversos idiomas.12
No perodo seguinte, dcada de 1850, marcado pela derrota
das lutas operrias e pela avassaladora contra-revoluo burgue-
sa na Europa, os revolucionrios dos diversos pases sofreram
perseguio, represso e condenaes da justia burguesa.
Marx e Engels, por exemplo, so processados pela justia alem 12Em portugus ver: MARX, Karl. O Manifesto Comunista. So Paulo: Boitem-po, 2002.
-
por criticar as autoridades e participar da resistncia poltica. So
absolvidos no processo judicial de Colnia.
So desse perodo as seguintes obras conjuntas ou indivi-
duais de Marx e Engels:Trabalho Assalariado e Capital
(1849); As Lutas de Classes na Frana de 1848 a 1850 (1850);
18 Brumrio de Lus Bonaparte (1852); Mensagem do Comit
Central Liga dos Comunistas (1850); Carta a Joseph Weyde-
meyer (1852); Revoluo e Contra-Revoluo na Alemanha
(1852); O Recente Julgamento de Colnia (1852).13
Trabalho Assalariado e Capital foi produto de conferncias
de Marx aos operrios, sendo que nele se faz uma anlise das
relaes entre capital e trabalho no capitalismo. Na Mensagem
do Comit Central Liga dos Comunistas, Marx expe o carter
permanente da revoluo socialista e alerta para o fato dos ope-
rrios manterem a vigilncia frente a burguesia e a pequena-bur-
guesia, assegurando a sua independncia de classe em todas as
situaes, no deixando que a revoluo se esgote nas tarefas
democrticas.
Os escritos do perodo de 1849 a 1852, particularmente As
Lutas de Classes na Frana e O 18 Brumrio traam um quadro
histrico dos acontecimentos revolucionrios, dos quais Marx e 13 Os textos podem ser encontrados em: www.marxists.org. Tambm h as seguintes publicaes: MARX, Karl. Trabalho assalariado e capital. So Paulo: Global, 1987; MARX, Karl. As lutas de classes na Frana: 1848-1850. So Paulo: Global, 1986; MARX, Karl. O 18 Brumrio de e Cartas a Kugelmann. So Paulo: Paz e Terra, 1977.
Engels tiraram importantes concluses histricas sobre o carter
contra-revolucionrio da burguesia nos acontecimentos de 1848
em diante, o papel do operariado como classe revolucionria e a
luta de classes como motor dos fatos histricos.
-
VI O EXLIO EM LONDRES E A PUBLICAO DA OBRA MAGNA
Marx continua suas atividades revolucionrias em Londres,
onde passa a morar com a famlia, depois da derrota dos proces-
sos revolucionrios de 1848 e do desencadeamento da contra-re-
voluo burguesa em toda a Europa, de modo que, como revolu-
cionrio, colabora no apoio aos emigrados, reforando a luta dos
operrios e de suas organizaes. Passando por muitas priva-
es financeiras, encontra apoio no amigo Engels.
Durante um longo perodo, com a sade agravada, Marx
afasta-se temporariamente dos estudos de economia poltica,
que s retomar progressivamente. Escreve para os peridicos
New York Daily Tribune, Peoples`s Paper e Neue Oder-Zeitung,
sobre diversos temas e fatos da poca, tais como A Guerra da
Crimia, Revoluo Espanhola, a dominao britnica da ndia,
China, Guerra Anglo-Persa e um ensaio sobre Smon Bolvar.
Foram escritos nesta fase: A Dominao Britnica na ndia
(1853); A Companhia das ndias Orientais (1853); A Revoluo
na China e na Europa (1853); Os Resultados Eventuais da Domi-
nao Britnica na ndia (1853); A Guerra Anglo-Persa (1856); A
Guerra contra a Prsia (1857); Cartas a Friedrich Engels (1856),
Simon Bolvar (1858) e, particularmente, os Grundrisse (1857-
1858). 14
Com o retorno aos estudos econmicos, Marx escreve entre
1857 e 1858 volumosos manuscritos preparatrios s suas obras
posteriores de economia, que passaram a ser conhecidos
como Grundrisse (fundamentos para a crtica da economia polti-
ca), publicados pelo Instituto Marx-Engels de Moscou, em 1939-
1941.
Esse manuscrito, realamos, no publicado em vida por se
tratar de apontamentos sobre seus estudos, teve uma grande in-
fluncia nos debates marxistas no sculo XX e continuam a des-
pertar a ateno de muitos estudiosos. De qualquer forma, um
texto fabuloso, que deve ser estudado por todos os marxistas,
porque ele nos d um quadro de como Marx desenvolvia suas
pesquisas. uma fonte valiosa para a questo do mtodo.15
Marx trabalhou resolutamente para a publicao de sua pri-
meira grande obra econmica, Para a Crtica da Economia Polti-
ca (1859).16 Acumulou longos anos de estudo, desde a dcada
14Os textos podem ser encontrados em www.marxists.org.15Uma parte do manuscrito, sobre as sociedades pr-capitalistas, foi publicada em portugus: MARX, Karl. Formaes econmicas pr-Capitalistas. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991. O texto completo foi pubicado recentemente em portugus: MARX, Karl. Grundrisse. So Paulo, Boitempo, 2011. Os demais textos em:www.marxists.org.16O texto pode ser encontrado em: www.marxists.org. Publicao em portu-gus: MARX, Karl. Para a Crtica da Economia Poltica. So Paulo: Abril Cultu-ral, 1982.
-
de 1840, quando iniciou as primeiras leituras dos economistas
clssicos. A obra to esperada foi adiada por vrios anos, at
que finalmente veio a lume. Numa linguagem rebuscada e difcil,
a obra se tornou um fracasso editorial. Poucos compreenderam a
complexa anlise empreendida pelo gigante Marx.
Os contornos fundamentais de sua teoria econmica esta-
vam sedimentados, como o estudo da clula da sociedade capi-
talista, a mercadoria, e do dinheiro. Trata-se de uma obra mpar
na histria da economia, mas pouco lida pelos prprios marxis-
tas. Junto com os estudos econmicos, Marx d continuidade
elaborao de artigos sobre problemas da conjuntura da poca
para o New York Daily Tribune e Das Volk.
Entretanto, o primeiro livro de O Capital, a obra magna de
Marx, s veio a lume em 1867.17 A partir da anlise da forma
mercadoria, que, como falamos, a clula mais simples da
sociedade burguesa, Marx realiza uma anlise profunda da
organizao capitalista e de suas contradies scio-
econmicas.
Para ele, o trabalho a relao metablica do homem com
a natureza, a partir do qual se extraem os meios de produo e
17No Brasil, a obra foi publicada integralmente em: MARX, Karl. O Capital: crtica da economia poltica. So Paulo: Civilizao Brasileira, 2002; MARX, Karl. O Capital. So Paulo: Nova Abril Cultural, col. Os Economistas, 1982.
os meios de subsistncia, indispensveis existncia social.
Portanto, a fora de trabalho produz, em seu intercmbio com a
natureza, desde as sociedades mais simples s mais complexas,
o contedo material da riqueza social.
Desde que surgiram as sociedades classistas, a fora de
trabalho explorada pela classe dominante. Na sociedade
escravista antiga, os escravos eram explorados pelos ricos
proprietrios de terra. No feudalismo, os camponeses eram
submetidos ao trabalho servil. Sob o capitalismo, o trabalho
assalariado explorado pela burguesia.
O trabalho toma, portanto, determinaes histricas,
dependendo da formao social em anlise. Mas nenhuma delas
pode existir sem trabalho, sem a relao com a natureza, sem a
produo da riqueza social.
A teoria do valor-trabalho a base a partir da qual Marx
analisa a sociedade burguesa e desenvolve suas idias
econmicas. Esta teoria foi desenvolvida inicialmente pelos
economistas clssicos, em particular por Adam Smith e David
Ricardo, em quem Marx tanto se inspirou para aprofundar a sua
anlise da sociedade capitalista e a crtica da prpria economia
poltica burguesa.
Em O Capital, diz Marx, a mercadoria a clula da
sociedade burguesa, e esta constitui uma coleo de
-
mercadorias. A mercadoria, por sua vez, um objeto externo,
uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz necessidades
humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenham
do estmago ou da fantasia.
Segundo o autor, A riqueza das sociedades onde rege a
produo capitalista configura-se em imensa acumulao de
mercadorias, e a mercadoria, isoladamente considerada, a
forma elementar dessa riqueza. Por isso, nossa investigao
comea com a anlise da mercadoria. Com a expanso das
relaes capitalistas em todo o mundo, mercantilizam-se as
relaes sociais. Diversas coisas e relaes passam a ser
exploradas pelo capital.
Na parte sobre a acumulao primitiva do capital, Marx
analisa como foram constitudas as pr-condies para a
sedimentao do capitalismo, atravs da transformao dos
trabalhadores em assalariados, de modo que a classe dominante
os expropriou de qualquer meio de produo, e a acumulao de
capital, por meio da explorao colonial, da expropriao de
bens da igreja, da espoliao de camponeses e artesos, entre
outros. Coube aos governos e Estados imporem o trabalho
assalariado como forma dominante atravs de leis de
assalariamento, as chamadas leis sanguinrias, com penas para
os que no se sujeitavam a elas.
Estudadas as pr-condies para a sociedade capitalista,
Marx estuda como se d a relao entre capital e trabalho no
processo de produo. Atravs da explorao da fora de
trabalho pelo capital, os trabalhadores engendram a riqueza
social, apropriada de forma privada pela burguesia.
Na sociedade burguesa, o trabalhador trabalha sob o
controle do capitalista, a quem pertence seu trabalho. O
capitalista cuida em que o trabalho se realize de maneira
apropriada e em que se apliquem adequadamente os meios de
rpoduo, no se desperdiando matria-prima e poupando-se o
instrumental de trabalho, de modo que s se gaste deles o que
for imprescindvel execuo do trabalho.
Porm, o produto propriedade do capitalista, no do
produtor imediato, o trabalhador. O capitalista paga, por
exemplo, o valor dirio da fora de trabalho. Sua utilizao, como
de qualquer outra mercadoria por exemplo, a de um cavalo que
alugou por um dia -, pertence-lhe durante o dia. Ao comprador
pertence o uso da mercadoria, e o possuidor da fora de
trabalho, apenas cede realmente o valor-de-uso que vendeu, ao
ceder seu trabalho. Ao penetrar o trabalhador na oficina do
capitalista, pertence a este o valor-de-uso da sua fora de
trabalho, sua utilizao, o trabalho. O capitalista compra a fora
de trabalho e incorpora o trabalho, fermento vivo, aos elementos
mortos constitutivos do produto, os quais tambm lhes
pertencem. Do seu ponto de vista, o processo de trabalho
-
apenas o consumo da mercadoria que comprou, a fora de
trabalho, que s pode consumir adicionando-lhe meios de
produo. O processo de trabalho um processo que ocorre
entre coisas que o capitalista comprou, entre coisas que lhe
pertencem. O produto desse processo pertence-lhe do mesmo
modo que o produto do processo de fermentao em sua
adega.
Sob a aparncia de uma igualdade jurdico-formal, expressa
no contrato de trabalho, o capital adquire a mercadoria fora de
trabalho no mercado, colocando-a a seu servio durante uma
certa jornada de trabalho. Pela utilizao da fora de trabalho, o
capitalista paga o preo desta mercadoria, ou seja, o salrio,
que, no limite, constitudo pela quantidade de trabalho
socialmente necessrio para a reproduo da fora de trabalho e
de sua famlia. evidente que o preo, que varia para cima e
para baixo do valor da fora de trabalho depende da oferta e da
procura, mas sofre tambm os condicionamentos histrico-
sociais da luta de classes.
Marx continua: durante uma parte da jornada (necessria),
produz-se o salrio pago ao trabalhador. Na outra parte
(excedente) o trabalhador produz a riqueza a mais, no paga, o
excedente econmico, apropriado sob a forma de mais-valia pelo
capitalista. Portanto, a mais-valia constituda na produo
social, enquanto a sua realizao, a sua transformao em
capital-dinheiro, depende do comrcio, da circulao.
Estava desvendado o segredo da produo capitalista, da
riqueza social e da acumulao de capital. A riqueza do
capitalista no produto de sua natural capacidade de negociar,
como defendiam tericos burgueses anteriores a Marx, nem da
proteo divina, como imaginavam outros, mas da explorao da
fora de trabalho assalariada na base da propriedade privada
dos meios de produo.
Marx analisa na parte sobre A lei geral da acumulao
capitalista, a tendncia do capitalismo de produzir, de um lado,
uma imensa riqueza, acumulada pela burguesia, e, de outro,
uma enorme misria, vivenciada cotidianamente pelos
trabalhadores. A pauperizao relativa das massas uma
tendncia geral do desenvolvimento capitalista, tendo em vista a
desproporo crescente entre o que o trabalhador recebe, em
salrios, e o que o capitalista acumula, em capitais.
A concorrncia entre os capitalistas leva-os a inovar
permanentemente, introduzindo a tcnica mais moderna no
processo de produo (capital constante), tendo em vista a
produo de mais mercadorias, a um preo menor. Portanto,
inovam para reduzir o tempo socialmente necessrio para a
produo das mercadorias e ganhar a concorrncia com seus
pares.
Na concorrncia acirrada, ocorre a centralizao e a
concentrao do capital entre cada vez menos capitalistas,
-
formando-se grandes monoplios. A mudana na composio
orgnica do capital (aumento do capital investido em maquinaria)
leva tendncia a queda da taxa de lucro, com a reduo do
capital varivel, investido em salrios. A cincia e a tcnica se
tornam, nas condies de aplicao burguesa, instrumentos de
opresso dos capitalistas sobre os trabalhadores, incrementando
o desemprego, que, no sculo XX, acompanhando as
contradies analisadas por Marx, se faz cada vez mais
estrutural, crnico.
Ao contrrio dos economistas burgueses que defendiam um
suposto equilbrio permanente do mercado e desprezam a
importncia das crises, Marx demonstrou o carter cclico da
economia capitalista. O capitalismo desenvolve contradies
internas, que, periodicamente, levam-no a crises cada vez mais
profundas. So as leis histricas da sociedade burguesa,
estudadas em O Capital e desenvolvidas posteriormente por
outros tericos marxistas, particularmente quanto aos
monoplios, previstos em suas tendncias por Marx.
Como ficou evidenciado ao longo do sculo XX, o
capitalismo no cai de podre, por mais desagregadoras que
sejam as suas contradies, que levam a humanidade a guerras,
destruio de foras produtivas, misria, ao desemprego e
fome. No mximo, ao desenvolver as suas contradies sociais,
arrasta a humanidade para a barbrie, mas descarrega sobre os
trabalhadores os efeitos nefastos das crises econmicas.
o que percebemos na atual crise econmico-financeira,
iniciada nos EUA e expandida para a Europa, Amrica Latina,
sia e frica. Para quem achava que Marx estava morto e o
capitalismo triunfante, surpreendeu-se com o estouro da crise e a
profunda atualidade da teoria marxista.
Por fim, preciso dizer que os livros II e III, de O Capital,
foram publicados por Engels, respectivamente, em 1885 e 1894.
O livro IV, tambm conhecido como Teorias da mais-valia, foi
publicado por Karl Kautsky, em 1905 e 1910. H tambm um
escrito intitulado O Captulo VI Indito de O Capital, que deveria
se constituir o sexto captulo do primeiro livro, segundo indicao
de Marx, mas no chegou a ser publicado junto com o Livro I.
Somente em 1933 seria publicado em Moscou.
-
VII A FUNDAO DA PRIMEIRA INTERNACIONAL
O movimento operrio renasce na dcada de 1860 na
Europa, depois da contrarrevoluo da dcada de 1950.
Envolvido nas lutas polticas, Marx inicia a redao de O Capital
em 1863, ao tempo em que escreve inmeros textos importantes
de economia. Marx continua redigindo O Capital, concluindo sua
redao em 1866.
So desse perodo os textos: Mensagem Inaugural da
Associao Internacional dos Trabalhadores (1864); Salrio,
Preo e Lucro (1865); Maquinaria e Trabalho Vivo (Os efeitos da
Mecanizao sobre o Trabalhador)(1863); Produtividade do
Capital, Trabalho Produtivo e Improdutivo (1863); Trabalho e
Tecnologia (Manuscritos de 1861-1863); Carta a J. B. Von
Schweitzer (Sobre Proudhon - 1865); Carta a Engels (1866) e
Instrues para os Delegados do Conselho Geral Provisrio: as
diferentes questes (1866).18
Do ponto de vista de sua teoria econmica, em 1865, Marx
pronunciou um discurso no Conselho Geral da Associao
Internacional dos Trabalhadores, que deu origem ao livro Salrio,
Preo e Lucro, uma obra em que Marx, de forma clara e em
18Os textos podem ser lidos em: www.marxists.org. Publicaes em portugus: MARX, Karl. Salrio, Preo e Lucro. So Paulo: Global, 1981.
linguagem simples, desenvolve a sua teoria econmica e conclui
com as seguintes palavras de ordem: Em vez do lema
conservador de: um salrio justo por uma jornada de trabalho
justa!, dever inscrever na sua bandeira esta divisa
revolucionria: Abolio do sistema de trabalho assalariado!". .
Engels participa juntamente com Marx do grande
empreendimento de unir as lutas e esforos do proletariado
numa organizao internacional. Em 28 de setembro de 1864,
fundada a Associao Internacional dos Trabalhadores, em
Londres, Inglaterra, conhecida posteriormente como Primeira
Internacional.
Na Mensagem Inaugural, Marx diz: Conquistar o poder
poltico tornou-se, portanto, o grande dever das classes
operrias e finaliza afirmando: Proletrios de todos os pases,
uni-vos!. Seu primeiro Congresso ocorreu em Genebra, Sua,
em 1866.
Durante a sua existncia, a Internacional realizou cinco
Congressos, em Genebra (1866), Lousane (1867), Bruxelas
(1868), Basilia (1869) e Haia (1872). Neste ltimo, ocorreu o
embate com Bakunin e seus adeptos, causando uma ciso na
Internacional e a transferncia de sua sede para Nova York.
Apesar dos esforos de Marx e Engels, a Internacional era,
de fato, uma federao de organizaes nacionais e grupos
-
polticos de vrios pases, inclusive composta por adeptos de
Bakunin, Proudhon, Mazzini e Lassalle. As divergncias no
interior da internacional se tornaram antagnicas, tendo em vista
as profundas diferenas de pressupostos e concepes entre
marxistas e anarquistas, particularmente quanto ao Estado, a
transio ao socialismo, o partido poltico e as formas de
organizao do proletariado.
Alm disso, um fato tornou-se a pedra de toque da Primeira
Internacional e selou o seu destino: a Comuna de Paris. A
Guerra Franco-Prussiana levou derrota, humilhao e runa da
Frana. Sobre os escombros da guerra, o proletariado se
levantou em Paris, em 1871, e tomou o poder. Tal
acontecimento, de dimenses histricas internacionais, ficou
conhecido como A Comuna de Paris. Para Marx, a Comuna era
essencialmente um governo da classe operria, o produto da
luta da classe produtora contra a apropriadora, a forma poltica,
finalmente descoberta, com a qual se realiza a emancipao
econmica do trabalho.
Marx destacou que a Comuna de Paris, A Comuna foi
formada por conselheiros municipais, eleitos por sufrgio
universal nos vrios bairros da cidade, responsveis e revogveis
em qualquer momento. A maioria dos seus membros eram
naturalmente operrios ou representantes reconhecidos da
classe operria. A Comuna havia de ser no um corpo
parlamentar mas operante, executivo e legislativo ao mesmo
tempo. Em vez de continuar a ser o instrumento do governo
central, a polcia foi logo despojada dos seus atributos polticos e
transformada no instrumento da Comuna, responsvel e
revogvel em qualquer momento. O mesmo aconteceu com os
funcionrios de todos os outros ramos da administrao. Desde
os membros da Comuna para baixo, o servio pblico tinha de
ser feito em troca de salrios de operrios. Os direitos adquiridos
e os subsdios de representao dos altos dignitrios do Estado
desapareceram com os prprios dignitrios do Estado. As
funes pblicas deixaram de ser a propriedade privada dos
testas-de-ferro do governo central. No s a administrao
municipal mas toda a iniciativa at ento exercida pelo Estado
foram entregues nas mos da Comuna.
Tomadas essas medidas, inclusive a separao entre o
governo e a influncia da Igreja, continua Marx, Todas as
instituies de educao foram abertas ao povo gratuitamente e
ao mesmo tempo desembaraadas de toda a interferncia de
Igreja e Estado. Assim, no apenas a educao foi tornada
acessvel a todos mas a prpria cincia liberta das grilhetas que
os preconceitos de classe e a fora governamental lhe tinham
imposto.
-
Marx aponta que Os funcionrios judiciais haviam de ser
despojados daquela falsa independncia que s tinha servido
para mascarar a sua abjeta subservincia a todos os governos
sucessivos, aos quais, um aps outro, eles tinham prestado e
quebrado juramento de fidelidade. Tal como os restantes
servidores pblicos, magistrados e juizes haviam de ser eletivos,
responsveis e revogveis.
Para tanto, a grande medida social da Comuna foi a sua
prpria existncia atuante. As suas medidas especiais no
podiam seno denotar a tendncia de um governo do povo pelo
povo. Tais foram a abolio do trabalho noturno dos oficiais de
padaria; a proibio, com penalizao, da prtica dos patres
que consistia em reduzir salrios cobrando multas a gente que
trabalha para eles, sob variados pretextos um processo que o
patro combina na sua prpria pessoa os papis de legislador,
de juiz e de executor, e surrupia o dinheiro para o bolso. Outra
medida desta espcie foi a entrega a associaes de operrios,
sob reserva de compensao, de todas as oficinas e fbricas
fechadas, quer os capitalistas respectivos tivessem fugido quer
tivessem preferido parar o trabalho.
Apesar do pouco tempo em que os operrios
permaneceram no poder, pouco mais de dois meses, a Comuna
representou uma experincia monumental para a luta proletria
internacional, fornecendo as bases reais para a elaborao por
Marx da obra A Guerra Civil na Frana, de 1871, na qual analisa
a experincia da Comuna, tirando concluses histricas sobre a
questo do Estado, da transio socialista, do papel do
proletariado revolucionrio e da direo poltica.
No mbito da Associao Internacionao dos
Trabalhadores e das lutas polticas com as demais tendncias
em seu interior e fora dela, podemos citar os seguintes textos: A
Guerra Civil na Frana (1871); Artigo de Engels sobre O Capital
de Marx (1868); Mensagem Unio Operria Nacional dos
Estados unidos (1869); Sobre o Direito de Herana em Face dos
Contratos e da Propriedade Privada (1869); Extrato de uma
Participao Confidencial (1870); Sobre a Comuna (Marx e
Engels 1871); Estatutos Gerais da Associao Internacional
dos Trabalhadores (1871); Das Resolues do Congresso Geral
Realizado em Haia (1872).19
A experincia transformada em teoria a partir do evento da
Comuna de Paris de 1871 e da prpria organizao e atuao da
Associao Internacional dos Trabalhadores, a Primeira
Internacional, foi fundamental para os revolucionrios da
Segunda e Terceira Internacionais e para a militncia socialista
nas diversas situaes revolucionrias do sculo XX.
19Os textos podem ser encontrados em: www.marxists.org. Publicado em portugus: MARX, Karl. A Guerra Civil na Frana. So Paulo: Global, 1986.
-
Lnin e Trotsky se amparam nas anlises de Marx sobre a
Comuna para produzir textos axiais para a luta socialista e para a
compreenso dos problemas da transio do capitalismo ao
socialismo. Essas anlises em conjunto devem ser estudadas e
compreendidas pela militncia socialista da atualidade.
VIII A MORTE DE MARX E A ATIVIDADE CENTFICA DE ENGELS
No perodo que vai do incio dos anos 1870 at 1883, Marx
se encontra com a sade abalada. No consegue mais se
dedicar com a mesma fora e ritmo com que se atirou
anteriormente causa do proletariado e produo terica.
Ainda consegue foras para intervir nos debates no Partido
Social-Democrata Alemo, realizando uma crtica mordaz ao seu
programa, que fazia concesses ao reformismo para justificar
alianas com setores do movimento operrio, como os
lassallianos. Para tanto, redige a Crtica do Programa de Gotha
(1875) e a Carta a W. Bracke (1875) em que expe suas
crticas.20
Nessa poca, Marx manifesta interesse sobre o movimento
revolucionrio russo e as formas de propriedades existentes no
pas, como a comuna camponesa (o Mir). Engels, por sua vez,
escreve vrias obras importantes neste perodo, procurando
estender a anlise marxista a domnios vastos, dando grandes
contribuies teoria marxista na compreenso de vrias
temticas.
Deste perodo, pode-se citar entre outras obras de
Engels: Sobre o Problema da Autoridade (1873); O Papel do
20Os textos se encontam em: MARX, Karl. Crtica do programa de Gotha. So Paulo: Boitempo, 2012.
-
Trabalho na Transformao do Macaco em Homem (1876); Anti-
Dhring (1877-1878); Dialtica da Natureza (1878-1882);
Discurso diante da Sepultura de Marx (1883).21
Karl Marx morre em Londres, em 14 de maro de 1883. Em
seu discurso diante da sepultura de Marx, Engels disse: Pois
Marx era antes de tudo revolucionrio. Contribuir, de um ou outro
modo, com a queda da sociedade capitalista e de suas
instituies estatais, contribuir com a emancipao do moderno
proletariado, que primeiramente devia tomar conscincia de sua
posio e de seus anseios, conscincia das condies de sua
emancipao essa era sua verdadeira misso em vida.
Na dcada seguinte, alm de continuar a atividade de
organizao e publicao dos Livros II e III de O Capital, de
Marx, Engels elabora obras formidveis como A Origem da
Famlia, da Propriedade Privada e do Estado (1884);
Contribuio Histria da Liga dos Comunistas (1885) Ludwig
Feuerbach e o fim da filosofia clssica alem (1886); O Papel da
Violncia na Histria (1887-1888). 22
21Existem as seguintes publicaes: MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Obras Escolhidas. So Paulo, Alfa-mega, 1980; MARX, Karl. Dialtica da natureza. Lisboa: Editorial Presena, 1974; MARX, Karl. A dialtica da natureza. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979; ENGELS, Friedrich. Anti-Dhring. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1990. Os textos podem ser lidos em: www.marxists.org.
22 Parte dos textos podem ser obtidos em: www.marxists.org. Os textos foram publicados tambm em: ENGELS, Friedrich. A Origem da Famlia, da Propriedade Privada e do Estado. Rio de Janeiro: bertrand Brasil, 1991; MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Obras Escolhidas. Rio de Janeiro: Vitria, 1963.
Em 5 de agosto de 1995, falecia o principal amigo de Karl
Marx e um dos maiores gnios produzidos pela humanidade:
Friedrich Engels. Deixou de existir um homem que soube
produzir cincia e atuar entusiasticamente na organizao das
massas proletrias.
Junto com Marx, assimilou criticamente tudo de bom que foi
produzido pela humanidade e contribuiu decisivamente para a
compreenso da histria dos homens e da sociedade capitalista.
Por fim, Marx e Engels dedicaram toda a sua vida luta contra a
explorao social sem conformismos ou adaptaes. Com suas
vidas e sua obra, representam o cume a que chegou o
pensamento histrico-social no sculo XIX e a abertura para
novos conhecimentos na cincia social no sculo XX at os
nossos dias.
Na a toa, Lnin sintetizou a importncia de Engels da
seguinte maneira: Engels foi o mais notvel sbio e mestre do
proletariado contemporneo em todo o mundo civilizado. Desde o
dia em que o destino juntou Karl Marx e Friedrich Engels, a obra
a que os dois amigos consagraram toda a sua vida converteu-se
numa obra comum. Assim, para compreender o que Friedrich
Engels fez pelo proletariado, necessrio ter-se uma ideia
precisa do papel desempenhado pela doutrina e atividade de
Marx no desenvolvimento do movimento operrio
-
contemporneo. Marx e Engels foram os primeiros a demonstrar
que a classe operria e as suas reivindicaes so um produto
necessrio do regime econmico atual que, juntamente com a
burguesia, cria e organiza inevitavelmente o proletariado;
demonstraram que no so as tentativas bem intencionadas dos
homens de corao generoso que libertaro a humanidade dos
males que hoje a esmagam, mas a luta de classe do proletariado
organizado. Marx e Engels foram os primeiros a explicar, nas
suas obras cientficas, que o socialismo no uma inveno de
sonhadores, mas o objectivo final e o resultado necessrio do
desenvolvimento das foras produtivas da sociedade atual. Toda
a histria escrita at aos nossos dias a histria da luta de
classes, a sucesso no domnio e nas vitrias de umas classes
sociais sobre outras. E este estado de coisas continuar
enquanto no tiverem desaparecido as bases da luta de classes
e do domnio de classe: a propriedade privada e a produo
social anrquica. Os interesses do proletariado exigem a
destruio destas bases, contra as quais deve, pois, ser
orientada a luta de classe consciente dos operrios organizados.
E toda a luta de classe uma luta poltica.
Neste sentido, destaca Lnin, Todo o proletariado que luta
pela sua emancipao tornou hoje suas estas concepes
de Marx e Engels; mas nos anos 40, quando os dois amigos
comearam a colaborar em publicaes socialistas e a participar
nos movimentos sociais da sua poca, eram inteiramente novas.
Ento, eram numerosos os homens de talento e outros sem
talento, honestos ou desonestos, que, no ardor da luta pela
liberdade poltica, contra a arbitrariedade dos reis, da polcia e do
clero, no viam a oposio dos interesses da burguesia e do
proletariado. No admitiam sequer a ideia de os operrios
poderem agir como fora social independente. Por outro lado, um
bom nmero de sonhadores, algumas vezes geniais, pensavam
que seria suficiente convencer os governantes e as classes
dominantes da iniquidade da ordem social existente para que se
tornasse fcil fazer reinar sobre a terra a paz e a prosperidade
universais. Sonhavam com um socialismo sem luta. Finalmente,
a maior parte dos socialistas de ento e, de um modo geral, os
amigos da classe operria, no viam no proletariado seno
uma chaga a cujo crescimento assistiam com horror medida
que a indstria se desenvolvia. Por isso todos procuravam o
modo de parar o desenvolvimento da indstria e do proletariado,
parar a roda da histria. Contrariamente ao temor geral ante o
desenvolvimento do proletariado, Marx e Engels punham todas
as suas esperanas no contnuo crescimento numrico deste.
Quanto mais proletrios houvesse, e maior fosse a sua fora
como classe revolucionria, mais prximo e possvel estaria o
socialismo. Pode exprimir-se em poucas palavras os servios
-
prestados por Marx e Engels classe operria dizendo que eles
a ensinaram a conhecer-se e a tomar conscincia de si mesma, e
que substituram os sonhos pela cincia.23
Lnin conclui: por isso que o nome e a vida
de Engels devem ser conhecidos por todos os operrios; por
isso que, na nossa compilao, cujo fim, como o de todas as
nossas publicaes, acordar a conscincia de classe dos
operrios russos, devemos dar um apanhado da vida e da
actividade de Friedrich Engels, um dos dois grandes mestres do
proletariado contemporneo.
Enquanto o capitalismo estiver de p, enquanto houver
explorao, misria, fome e desemprego, a obra de Marx e
Engels ser atual e somente a partir da assimilao de suas
idias e da experincia internacional do proletariado possvel
se pensar na luta conseqente por uma nova sociedade, o
socialismo.
23O artigo de Lnin intitulado Friedrich Engels, de 1895, pode ser lido em www.marxists.org.
CONCLUSO
Marx e Engels alm de terem dado uma contribuio
cientfico-filosfica formidvel ao pensamento humano, eram
homens que conjugaram durante toda a sua vida a teoria com a
prtica militante. Seu esforo cientfico estava voltado
compreenso da histria da humanidade, crtica da sociedade
burguesa atual e organizao da classe operria e demais
explorados para superar a propriedade privada e a explorao de
classe e abrir uma nova perspectiva para os trabalhadores.
O desenvolvimento do capitalismo ao longo do sculo XX e
no incio do presente sculo XXI s tem demonstrado a justeza
do pensamento desses dois revolucionrios, de que o
capitalismo s pode continuar existindo concentrando de um lado
a riqueza nas mos de uma minoria e a misria entre a maioria
da sociedade em todos os pases. medida que a crise
estrutural evolui aprofundam-se a misria, a fome, o desemprego
e a destruio da natureza.
O capitalismo, portanto, no tem mais nada de progressivo
a dar humanidade, ao contrrio, a sua base, a propriedade
privada monopolista dos meios de produo, tem conduzido a
humanidade ao abismo das guerras e da barbrie. Da advem a
atualidade do marxismo e a necessidade de transform-lo numa
arma material a servio da organizao poltica da classe
operria e da maioria explorada nas suas lutas contidianas,
articuladas luta pelo socialismo.
-
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