encarte sobre a abolição da escravatura

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  • 8/14/2019 Encarte sobre a Abolio da Escravatura

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    Rio de Janeiro, segunda-feira, 14 de maio de 1888rgo do Senado do Imprio

    ASSINADA A LEI UREA

    No Pao da Cidade, senadores e outras autoridades assistem a D. Isabel assinar a Lei urea

    A resistncia dos negros ao trabalho servil foi umdos fatores que levaram abolio da escravatura

    OBrasil est livredo trabalho es-cravo. Na tardede ontem, a Princesa Isabelsancionou a lei que psim a mais de 300 anosde escravido. Conormeo senador Sousa Dantas,havia no pas 600 mil

    escravos. Levantamentodo Imprio mostra que, noano passado, eram maisde 700 mil. A Lei JooAlredo, mais chamada deLei urea, oi aprovada emtempo recorde na Cmarados Deputados e no Senado,apesar dos protestos dos

    poucos parlamentaresco ntr rios abolio.Calcula-se que cercade 5 mil pessoas seconcentraram diante doPao da Cidade, paraacompanhar a solenidadede assinatura. O povoirrompeu em aplausos

    quando o deputado Joa-quim Nabuco, de umasacada, comunicou queno havia mais escravos noBrasil. Em uma das janelas,Dona Isabel oi aclamadapelos maniestantes.O Imperador Dom Pedro2 , que s e encontra

    gravemente enermo emMilo, na Itlia, onde sesubmete a tratamento desude, ainda no sabe dasano da lei. Por meiodo telgrao, a notcia jchegou vrias provnciasdo Pas e naes americanase europias. Pg. 3

    Os primeiras relatos dere sistncia escravidoso de 1575, quando oImprio recebeu, da Bahia,notcias de negros ugitivos.Inicialmente, eles se reu-giavam em mocambos, es-pcie de acampamento. Ascomunidades de ugitivos

    passaram, depois, a serchamadas de quilombos;o mais conhecido deles oio dos Palmares, que podeter abrigado mais de 20mil pessoas em 1670. Aresistncia oi um dos atoresque levaram abolio daescravatura. Pg. 7

    O Projeto de Lei n 1 oi apro-

    vado em apenas dois dias pelaCmara dos Deputados. Adeciso em tempo recorde soi possvel graas ao esoroda bancada antiescravagista liderada pelo pernambucanoJoaquim Nabuco e ajuda dopresidente da Casa, deputadoBaro de Lucena. Precisamosapressar a passagem do projeto,de modo que a libertao sejaimediata, deendeu Nabucoaos colegas. Pg. 4

    Ontem, domingo, o Senado do

    Imprio aprovou a proposta queextinguiu o trabalho escravono Brasil. Dois senadoresse maniestaram contra ainiciativa: o Baro de Cotegipe advertindo que no uturo havergrave perturbao da ordem noBrasil e Paulino de Sousa.Deendendo a proposta, SousaDantas disse que a abolioconstitui o maior acontecimentoda histria do Brasil e tornar aNao mais prspera. Pg. 5

    Em 1845, surgiu a lei queprevia sanes contra o tricode escravos. Em 1871, oiadotada a Lei do VentreLivre, que dava liberdade aosilhos de escravos nascidos apartir da sua edio, mas osmanteve na tutela dos seussenhores at os 21 anos. E em1885, garantiu-se liberdadeaos que completassem 60

    anos, com a obrigao deprestar servios, a ttulo deindenizao ao senhor, portrs anos. Essas medidas,porm, no trouxeram osresultados esperados, poisa contrapartida geralmenteexigida inviabilizava seucumprimento ou a lei erasimplesmente desrespeitada.Pg. 2

    O abolicionista Joaquim Nabuco

    relata que o movimento peloim do trabalho servil no pascon centrou-se inicialmenteem clubes, lojas manicas,associaes, cas e jornais, es aos poucos estendeu-se populao. Nesse perodo, quedurou de 1879 a 1884, diz ele,os abolicionistas combateramss, entregues aos seus prpriosrecursos. S mais tarde, dis-cursos nas tribunas, artigos epoemas nos jornais ajudarama pressionar o Imprio paraque osse extinta a escravido.Os republicanos, praticamentetodos eles, eram abolicionistas,mas nem todo deensor do imdo trabalho escravo preeria aRepblica.Joaquim Nabuco, Ru Barbosa eCastro Alves so grandes nomesdo abolicionismo, que contoutambm com negros ilustres,como Andr Rebouas, Jos doPatrocnio, Lus Gama e TobiasBarreto. Lus Gama chegou aser vendido, aos dez anos, comoescravo, e se transormou emsmbolo do movimento em SoPaulo. Pg. 6

    No Cear a escravido acabou h quatro anos. Ainiciativa reforou o sentimento abolicionista em pro-vncias como Amazonas, Pernambuco, Bahia, Gois,Piau, Rio de Janeiro, So Paulo, Rio Grande do Sule Paran. Foi Mossor, em 1883, a primeira cidade apr fim ao trabalho servil. Pg. 8

    Cmara dosDeputados votou oprojeto em dois dias

    Campanha envolveumonarquistas erepublicanos

    Leis que antecederam a abolio nemsempre provocaram resultados prticos

    No Sendo, pensdois sendores semnifestrm contr

    Escravido oi abolida noCear quatro anos atrs

    Primeiros registros daresistncia negra so de 1575

    Edio comemorativa dos 120 anos da Lei urea Jornal do Senado 12 a 18 de maio de 2008 Ano XIV N 2.801/172

    Uma reconstituio histrica

  • 8/14/2019 Encarte sobre a Abolio da Escravatura

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    Rio de Janeiro, segunda-eira, 14 de maio de 1888Jornal do Senado2

    Ao chegarem ao Brasil, os negros ficavam em depsitos espera dos leiles e onde eram inspecionados por compradores

    Em 7 de novembro de1831, a Cmara dosDeputados promul-

    gou uma lei que proibiao trco de escravos ari-canos. O texto, resultadode acordo do Brasil coma Inglaterra, estabeleciaque todos os escravos queentrassem no territrio ouportos do Brasil vindos deora cariam livres. Porm,o ltimo desembarque deescravos aricanos no pass ocorreria em 1855, nolitoral de Pernambuco.Os 14 anos entre a in-teno e a realidade orama sobrevida daquilo que

    Jos Bonicio de Andradae Silva chamou de cancromortal que ameaava osundamentos da nao.O ato de 1831 oi um pri-meiro passo, mas inecaz.A turbulncia poltica emvrias provncias impediuque o governo central -zesse cumprir a lei duranteas duas dcadas seguintes.

    S com a presso polticae militar inglesa o cenriose modicou. Em 1845, oParlamento em Londresaprovou lei (o Bill Aber-deen) que dava Marinhainglesa o direito de aprisio-nar navios negreiros, mes-

    mo em guas territoriaisbrasileiras, e julgar seuscomandantes.

    O governo brasileiro noresistiu presso e o mi-nistro da Justia de DomPedro 2, Eusbio de Quei-roz, enviou projeto ao Par-lamento que determinavaa apreenso de navios quetracassem escravos. A Lein 581, de 4/9/1850, co-nhecida como Lei Eusbiode Queiroz, consideravacriminosos o dono do navio,o capito e seus subordina-dos, alm do pessoal emterra que participasse docomrcio ilegal.

    Para burlar a lei, azen-deiros incentivaram o tr-co interno, tirando es-cravos de reas em que aagricultura decaa, comoos engenhos de acar doNordeste, para as lavourasde ca no Centro-Sul. Masoi aprovado, em 1854, aLei Nabuco de Arajo (mi-nistro da Justia), que pre-via sanes para as autori-dades que encobrissem ocontrabando de escravos.

    Com o m do trco, pro-

    gressivamente os imigran-tes europeus comearam asubstituir a mo-de-obraservil.

    Muita negociao polti-ca entre liberais e conser-vadores oi necessria paraque a Cmara dos Deputa-dos aprovasse outro proje-to antiescravagista enviado

    pelo governo imperial Assemblia Geral. Sancio-nada pelo Imperador DomPedro 2 com o n 3.270,em 28 de setembro de1885, a Lei dos Sexagen-rios tambm cou conheci-da como Saraiva-Cotegipe,em reerncia aos dois che-es do gabinete ministerialdo Imprio, o liberal con-selheiro Saraiva e o conser-vador (e mulato) Baro deCotegipe, que deram apoio medida.

    Na verdade, a iniciativa do ano anterior, 1844, pro-

    posta pelo senador SousaDantas, ento chee de ga-binete. Muito mais abran-gente, ao xar os 60 anoscomo idade limite para

    o escravo, no prevendoqualquer tipo de indeni-zao aos proprietrios, oprojeto oi violentamentetorpedeado pelos escravo-cratas no Parlamento, a

    ponto de causar a quedado gabinete e a dissoluoda Assemblia Geral.

    A lei sancionada no anoseguinte continha diversasnormas para regular a ex-tino gradual do elementoservil. Eram libertados osescravos que completassem60 anos, com a obrigaode prestar servios, a ttulode indenizao ao senhor,pelo prazo de trs anos. Omaior de 65 anos cava li-berado de tais trabalhos.

    A crtica dos abolicionis-tas lei era aos limitados

    eeitos prticos, pois ospoucos que chegavam aessa idade j no tinhamcondies de garantir seusustento.

    Nasceu da vontade deDom Pedro 2 o projeto

    da Lei do Ventre Livre,elaborado pelo gabineteconservador do Viscon-de do Rio Branco em27 de maio de 1871.Em sua Fala do Trono,dias antes, na aberturado ano legislativo, o Im-perador antecipara queconsideraes da maiorimportncia aconselhamque a reormada legisla-o sobre o estado ser vilno continue a ser umaaspirao nacional inde-nida e incerta.

    Por vrios meses, de-

    putados dos partidosConservador e Liberaldiscutiram a proposta.Quatro meses depois,em 28 de setembro,transormou-se na Lein 2.040, assinada porDona Isabel. Os deen-sores dessa lei arma-vam que ela, juntamen-te com a proibio dotrco negreiro, assegu-rava a extino gradualda escravido. J os do-nos de escravos acusa-

    vam o governo de que-rer provocar uma crise

    econmica.As controvrsias o-ram desproporcionaisaos seus eeitos prticos.A lei deu liberdade aoslhos de escravos nas-cidos a partir daqueladata, mas os mantevesob a tutela dos seus se-nhores at os 21 anos.

    Segundo essa norma,os lhos menores ca-riam em poder e sob aautoridade dos senhoresde suas mes, os quaisdeveriam cri-los atos 8 anos. Nessa idade,

    o senhor optava entrereceber do Estado in-denizao de 600 milris ou de utilizar-se dosservios do menor at21 anos.

    A verdade que alei, ao libertar os bebs,estabeleceu ao mesmotempo que at os 21 anoseles permaneceriam empoder do senhor. Na pr-tica, at essa data, conti-nuavam escravos ana-lisou Joaquim Nabuco.

    Ordem do dia dehoje, segunda-eira, 14 de maiode 1888, s 11h

    Uma primeira tentativa deproibir o trfco de negros

    Com poucos eeitos prticos, a Lei Eusbio de Queiroz, a do

    Ventre Livre e a dos Sexagenrios antecederam a Lei urea

    Lei dos Sexagenrios foifruto de acordo poltico

    Dom Pedro 2 defendeua Lei do Ventre Livre

    erceira dita da propostada Cmara dos Deputadosn. 42, de 1887, aprovandoa penso de 1$4000 di-rios aos menores irmosdo 2 sargento do CorpoMilitar da Polcia da CorteAntonio Nery de OliveiraArajo, para que votou-sedispensa de interstcio.

    egunda dita do proje-to do Senado letra S de1887 determinando quea disposio do pargrao1 do artigo 1 do Decreton 3.300, de 9 de outubro,no aplicvel ao minis-tro do Supremo Tribunalde Justia que exercesse jsemelhante cargo e tivessemais de 72 anos de idade.

    Esta edio especial reproduz osprincipais episdios relacionados abolio da escravatura no Brasil.O ormato adotado simula o quepoderia ser uma edio do Jornaldo Senado publicada em 14 demaio de 1888, dia seguinte ao daassinatura da Lei urea. Naqueleperodo, o Senado no possua ne-nhuma publicao jornalstica. Ostextos oram elaborados com base

    nos Anais do Senado e da Cmarados Deputados, jornais e revistas dapoca e livros de estudiosos do mo-vimento abolicionista.

    Crditos das otos:Pg. 1: Museu Histrico Nacional;Rugendas/Fund. Joaquim NabucoPg. 2: Rugendas/Fund. JoaquimNabucoPg. 3: Museu Imperial;Reproduo/Geraldo MagelaPg. 4: Cedi/Cmara dosDeputadosPg. 5: Flickr; Arquivo SenadoFederal; Reprodues/ArquivoFotogrco JSPg. 6: Fund. Joaquim Nabuco;ABL; Reprodues/Arquivo

    Fotogrco JSPg. 7: Rugendas/Fund. JoaquimNabucoPg. 8: Rugendas/Fund. JoaquimNabuco; Christiano Jr.

    Jornal do Senado FederalPraa dos Trs Poderes Ed.Anexo I do Senado Federal, 20andar 70165-920 Braslia (DF)www.senado.gov.br/[email protected].: 0800 61-2211Fax (61) 3311-3137

    Diretor do Jornal do Senado:Davi EmerichEdio: Eduardo LeoCoordenao de texto: Jos doCarmo Andrade

    Redao: Janana Arajo, PaulaPimenta, Sylvio Guedes, Jos doCarmo AndradePesquisa histrica: Jos doCarmo Andrade e Eliana LucenaDiagramao: Bruno Bazlio,Henrique Eduardo Lima deArajo, Iracema F. da Silva eSrgio Luiz Gomes da SilvaReviso: Eny Junia Carvalho eLindolo do Amaral AlmeidaTratamento de imagem:Edmilson Figueiredo e HumbertoSousa LimaArquivo otogrfco: Ana Volpe,Laiane Borges e Elida Costa

    Expediente

    FESTEJOS POPULARES

    sexta-feira 18 do corrente

    comemorativoS da abolio

    DERBy - CLUB

    Uma reconstituio histrica

  • 8/14/2019 Encarte sobre a Abolio da Escravatura

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    Jornal do Senado Rio de Janeiro, segunda-feira, 14 de maio de 18883

    O Imperador Dom Pedro 2, que seencontra em Milo, na Itlia, onde sesubmete a tratamento de sade, aindano pde ser inormado da lei que baniude nosso pas o regime de escravido.Transcrevemos, a respeito, os seguintestelegramas:Milo, 12 O estado de S.M. o Impe-

    rador apresenta uma pequena melhora.Os fenmenos cerebrais cessaram apsdelrio intenso. Agora est em plena in-tegridade de suas faculdades mentais.

    Atribui-se esse resultado aplicao degelo na cabea e s injees hipodrmi-cas de cafena, receitadas pelo Dr. Sem-mola. esperado o Dr. Charcot.Milo, 13 O estado de S.M. o Im-

    perador apresenta progressivas melho-ras, conforme o boletim dos mdicosassistentes. Os Drs. Charcot, Semmola,e Giovani declaram em boletim que a

    febre tem declinado quase totalmente eque o estado nervoso do augusto enfer-mo calmo.

    O milagre da cincia e datcnica neste nal do s-culo 19, de que exemploo telgrao, com a ajuda

    dos cabos submarinos, ezcom que a notcia da abo-lio chegasse rapidamente maioria das provnciasbrasileiras e a grande par-te das naes americanas eeuropias.

    Habitantes de So Paulo,Santos, Campinas, Salva-dor, Recie, Vitria, Belm,Ouro Preto, Fortaleza e ou-tras cidades saram s ruasem procisses cvicas, noaltando bandas de msicae ogos. noite, ediciospblicos e particulares dacapital paulista oram ilu-

    minados.Das capitais das provn-cias e do exterior chegama toda hora ao Rio telegra-mas de congratulaes. EmBuenos Aires, oi decretadoeriado a prxima quinta-eira, para grande estejocvico em honra do Brasillivre. O Senado argentinoe a corporao acadmicatelegraaram a Dona Isa-bel, elicitando-a.

    Princesa Isabel assina a Lei urea

    Desde a tarde de on-tem, dia 13, estextinto em todo o

    Brasil o trabalho escravo,prtica das mais cruis econdenveis que oi per-mitida legalmente no paspor mais de 300 anos. Me-nos de trs horas depois daaprovao do projeto peloSenado do Imprio, a Prin-cesa Regente Dona Isabel,com uma pena de ourooertada pelo povo, san-cionava em solenidade noPao da Cidade a j cha-mada Lei urea.

    opinio generalizadaque a Ptria se tornou real-mente livre com o ato queretirou o Brasil da condi-o de nica nao do Oci-dente que ainda exploravao elemento servil. Estima-se que mais de 600 milnegros oram beneciadospela lei.

    Poucas vezes nos seus 62anos de uncionamento aAssemblia Geral produziuuma lei com extraordinriarapidez como a que acabade emancipar os escravos.Foram s seis dias de tra-mitao da mensagem,no obstante a tentativados parlamentares antia-bolicionistas de imporem

    obstculos adoo deurgncia para a matria.Nos debates na Cmara e

    no Senado se enrentaram,quer deendendo, quer ata-cando o projeto, alguns dosmaiores tribunos do pas.

    Sorriso e lgrimasA sionomia da Princesa

    Regente, sempre expres-sando contentamento peloato que acabava de assi-nar, s vezes dava ares depreocupao, em virtudeda gravidade do estado de

    sade de seu augusto pai,que est em tratamento nacidade italiana de Milo,

    sob os cuidados de trs dosmelhores mdicos euro-peus.

    Conante em que o Se-nado aprovaria a propos-ta nesse domingo, DonaIsabel, que se encontravaem Petrpolis, dirigiu-sede trem de erro logo apso meio-dia para o Rio deJaneiro. Acompanhada deseu esposo, o Conde dEu,e dos ministros do Imprio,

    Costa Pereira, e da Agri-cultura, Rodrigo Silva, SuaAlteza chegou ao Pao por

    volta das 14 horas, rece-bendo demorados aplausosdo pblico.

    Coube a uma comissode senadores, tendo ren-te Sousa Dantas, entregar Princesa Regente o aut-grao do projeto, cujo tex-to oi transormado numaverdadeira pea de artepelo conhecido calgraoLeopoldo Heck. Na opor-tunidade, Dantas elicitou

    Dona Isabel por caber-lhea glria de assinar a lei queapaga dos nossos cdigos a

    neanda mcula da escra-vido, como j lhe coubea de conrmar o decretoque no permitiu nasceremmais cativos no Imprio (aLei do Ventre Livre).

    Falando em seguida, semconter as lgrimas, DonaIsabel declarou:

    Seria o dia de hoje umdos mais belos de minhavida se no osse saber es-tar meu pai enermo. Deuspermitir que ele nos voltepara tornar-se, como sem-pre, til nossa Ptria.

    Participaram da ceri-mnia, na Sala do Trono,senadores, deputados, mi-nistros, magistrados, em-baixadores e outras perso-nalidades, alm de gentedo povo que, em verdadei-ro delrio, invadiu o pal-cio. Em rente ao edicio,na Praa Dom Pedro 2,cerca de 5 mil pessoas seaglomeravam. A multi-do irrompeu em ruidosasaclamaes quando o de-putado Joaquim Nabuco,de uma sacada do Pao,comunicou ao povo queno havia mais escravosno Brasil. Chamada peloscidados que se concen-travam diante do palcio,Dona Isabel surgiu numa

    janela, sendo mais umavez aclamada pelos mani-estantes.

    Texto possui apenas dois artigos e j est em vigor tanto na Corte como nas provncias

    Dom Pedro 2 aindano foi informado Abolio repercute

    nas provncias eno estrangeiro

    Concebida para abolir de ormaimediata e incondicional o ele-mento servil no Pas, a mais im-portante e mais humana normalegal j adotada pelo Brasil, e querecebeu o nmero 3.353, contmapenas dois dispositivos:

    Art. 1 declarada extintadesde a data desta lei a escra-vido no Brasil.

    Art. 2 Revogam-se as dis-posies em contrrio.Assim que a Cmara recebeu o

    texto na tera-eira dia 8 dasmos do ministro Rodrigo Silva, odeputado Joaquim Nabuco, lan-ando mo de recurso regimental,solicitou ao presidente daquelaCasa, deputado Henrique Pereirade Lucena, a designao imedia-ta da comisso especial que dariao parecer transormando a men-sagem em projeto. Sob os pro-testos do deputado conservadorAndrade Figueira, o parecer oiacolhido pela Cmara no mesmodia 8, seguindo-se, nos dias 9 e

    10, a discusso e aprovao.Da mesma orma agiu o Sena-do, nomeando em 11 de maio acomisso especial, cujo pareceroi votado no mesmo dia. Ontem,dia 13, ocorreu a aprovao -nal, mediante votao simblica.Pessoas que se encontravam nasgalerias jogaram fores no Ple-nrio. Apenas dois senadores semaniestaram contrrios mat-ria: o Baro de Cotegipe e Pau-lino de Sousa. Quando o Senadoconclua a deliberao sobre aproposta, chegava ao Plenrio a

    notcia de que alguns azendeirosfuminenses j estavam libertan-do seus escravos.

    Soar de sinosEm razo da grande concentra-

    o de pessoas na praa, s commuita diculdade as carruagensque levavam a comisso de sena-dores e o presidente do Minist-

    rio, senador Joo Alredo, conse-guiram chegar s portas do Pao,sob aplausos dos maniestantes.Na ocasio, soaram os sinos dasigrejas do Rio, trs delas situadasperto do palcio: as de So Jos,de Nossa Senhora do Carmo e daCapela Imperial.

    Depois de sancionada a lei, in-tensicaram-se os estejos e pas-seatas pelas ruas do Rio de Janei-ro, em meio a bandas de msicae espocar de oguetes. Ao entrarna Rua do Ouvidor, aps deixaro Pao, o veterano abolicionistaSousa Dantas oi carregado nosbraos do povo.

    Pena ser expostaA pena de ouro com que a Prin-

    cesa Regente assinou o decretoda abolio da escravatura ca-r exposta a partir do dia 21 demaio no salo do jornal O Paiz.A pena, que tem no dorso 43 bri-lhantes, traz a seguinte inscrio:A D. Isabel, a redentora, o povoagradecido, e tem no lado opostoo nmero e a data da Lei urea.

    A campanha de subscrio ini-ciada por aquele dirio logo rece-beu a adeso daRevista Ilustrada .

    Bandas animam festejo nas ruas

    D. Pedro 2 encontra-se doente em Milo,sob os cuidados de trs famosos mdicos

    Sua Alteza Dona Isabel sancionou em nome de seu augusto pai a lei que acaba com aescravido, prtica das mais cruis que foi permitida no Brasil por mais de 300 anos

    Uma reconstituio histrica

  • 8/14/2019 Encarte sobre a Abolio da Escravatura

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    Rio de Janeiro, segunda-eira, 14 de maio de 1888Jornal do Senado4

    menoes e 30 nos:195.726 escravos

    de 30 40 nos:336.174 escravos

    de 40 50 nos:122.097 escravos

    de 50 55 nos:40.600 escravos

    de 55 60 nos:28.822 escravos

    Graas ao zelo legislativoe experincia de minis-tro do Supremo Tribunalde Justia (STJ) do de-putado baiano Baro deArajo Ges, o projeto delei que acaba com a es-cravido pde entrar emvigor imediatamente apsser sancionado pela Prin-

    cesa Isabel. Arajo Gesconseguiu apoio do Plen-rio para inserir pequena ecrucial emenda de redaoao Artigo 1 do texto origi-nal. Onde se lia declara-

    da extinta a escravido noBrasil, o deputado acres-centou desde a data destalei. O deputado contestouas acusaes de que a alte-rao seria intil.

    uma necessidade in-declinvel em ace da legis-lao, porque a lei no podevigorar na Corte seno oito

    dias e nas provncias senotrs meses depois de pu-blicada. necessrio queo prazo que se exige paraa Corte seja o mesmo paratodo o Imprio.

    APrincesa Im-perial RegenteIsabel enviara

    Assemblia Geral, natera-eira 8 de maiode 1888, a propostadeterminando o mda escravido no Pas.Dois dias depois, o pro-jeto j estava aprovadoem segundo turno, eseguia para o Senado.

    A aprovao se deuem tempo recorde,graas ao esoro dabancada antiescrava-gista liderada pelopernambucano Joa-quim Nabuco e coma ajuda do presidenteda Casa, Henrique Perei-ra de Lucena, o Baro deLucena (PE). O ministroda Agricultura, deputadoRodrigo Augusto da Silva,que oi o portador da men-sagem, leu o sucinto textode apenas dois artigos.

    UrgnciTerminada a leitura, o

    Plenrio irrompeu em rui-

    dosas maniestaes, segui-

    do pelas galerias. JoaquimNabuco era um dos maisemocionados.

    A escravido ocupa onosso territrio, oprime aconscincia nacional e pior do que o estrangeiropisando no territrio daPtria. Precisamos apres-sar a passagem do projeto,de modo que a libertaoseja imediata props Na-

    buco, sugerindo a criao

    de uma comisso especial ea dispensa de todos os pra-zos e interstcios para que alei pudesse ser votada pelaCmara no dia seguinte.Andrade Figueira, depu-tado pelo Rio de Janeiro elder da bancada antiaboli-o, protestou, sem suces-so, contra a tentativa deacelerar a tramitao.

    Qualquer que sejam as

    impacincias para conver-

    ter em lei a pro-posta do governo,acho que precisocolocar acima detudo a legalidadedos atos do Parla-mento esbrave-jou o representan-te dos azendeirosfuminenses, acu-sando os abolicio-nistas de rasgar oRegimento da C-mara.

    O Baro de Lu-cena submeteu votao o requeri-mento, aprovadopelo Plenrio daCmara, por am-

    pla maioria. Dispensadosdiversos prazos e exign-cias regimentais, menos detrs horas aps a leitura doprojeto a comisso especialcriada para analisar o as-sunto j apresentava pare-cer avorvel em Plenrio.Na quinta-eira, dia 10,com 83 votos avorveis eapenas 9 contrrios, o pro-jeto recebeu aprovao -

    nal dos deputados.

    Na Cmara, 83 deputados votaram a favor da abolio; apenas nove, contra

    No sculo 16 jhvi escvosno bsil

    Cmara discute e vota fmda escravido em dois dias

    Aprovao do projeto em tempo recorde s oi possvel graas ao

    esoro da bancada antiescravagista, com apoio do presidente da Casa

    Projeto ameaa ordempblica, diz Alfredo Chaves

    Uma pequena, mas crucial,emenda de redao

    Um dos nove deputadosque votaram contra a extin-

    o da escravatura, AlredoChaves dirigiu seus ataquesao ministro Rodrigo Silva,que para ele apresentou oprojeto sem nenhuma razode estado, cedendo a pres-ses e ignorando os direitosdos proprietrios rurais.

    O projeto uma amea-a iminente ordem pbli-ca, porque no se tomaramprecaues para garantir asociedade contra essa classede cidados novos que a elaso atirados, sem os meios,

    sequer, de proverem a suasubsistncia disse o de-

    putado escravagista, em re-erncia ao nmero de 600mil escravos que ainda exis-tiam no pas.

    Para o deputado, o go-verno imperial caiu emcontradio ao apresentaro projeto apenas trs anosdepois da Lei do Ventre Li-vre, que xava critrios dereparao aos senhores deescravos, alm de estabe-lecer as condies em queo m completo do regimeservil se daria no pas.

    O portador do projeto delei que acabou com a es-cravido no Brasil, depu-tado e ministro da Agricul-tura Rodrigo Silva, reagiuda tribuna s crticas deAndrade Figueira deci-so do governo imperial

    de apresentar a proposta.Segundo o ministro, em to-das as democracias o poderpblico tem o dever de in-tererir na soluo de pro-blemas sociais como o doelemento servil.

    No havia um s rgorespeitvel, desses que or-mam o sentimento de umpovo e a opinio de umanao, que no estivesseempenhado nesta cruzada.Se observamos esta agi-tao pacista por toda aparte, poderamos, aceitan-do o poder, cruzar os bra-

    os e deixar que a revolu-o decretasse a libertaodos escravos? questionouo deputado.

    Rodrigo Silva citou a de-esa da abolio pela Igre-ja, academias, tribunais eamlias. At mesmo, disse,os prprios interessadosna manuteno da proprie-dade escrava davam dia-riamente exemplos os maisadmirveis de abnegao,libertando os seus escravosincondicionalmente.

    rodigo Silv:tod socieddeque olio

    O deputado AndradeFigueira, da Provncia doRio de Janeiro, apontoua interveno dos pode-res pblicos na soluode um assunto eminente-mente social, ao acusar ogoverno imperial de ceder

    s presses da imprensa edos apoplticos da abo-lio ao enviar o projetode lei.

    Entre poucos aplausose seguidos gritos de noapoiado, Andrade Fi-gueira reverberou o sen-timento da bancada deproprietrios rurais de seuestado.

    Que necessidade tourgente esta quando oproblema tem sua soluonatural nas leis de 1871[Ventre Livre] e 1885[Sexagenrios]? Com a

    sua interveno, os pode-res pblicos no zerammais do que comprometera marcha do problema,produzindo uma agitaoestril, promessas engana-doras, pesares dolorosos acusou o deputado, emreerncia expectativade emancipao de escra-vos criada pelas leis an-teriores. Para Figueira, aestratgia governamentalde emancipao gradualenganou os proprietrios.

    Figuei cusgoveno de cede poplticos

    16:000$000LOTERIAS DE S. PAULO

    AMANH AMANH

    EXTRACO

    IMPRETERIVELMENTE

    1 DA 133

    BACHAREL DUPONCHELLECCIONA

    todas as materias do cursopreparatorio.

    Cartas no escriptorio desta redaco

    RESIDENCIA EM NITHEROY

    93 93rUa noVa

    H quem diga que osprimeiros negros oramtrazidos ao Brasil en-tre os anos de 1516 e1526, mas somente como desenvolvimento docultivo da cana no Nor-deste cresceu signicati-vamente a demanda pornegros escravos. dicilavaliar com preciso ovolume do trco exter-no para o Brasil duran-te os trs sculos e meiode durao do trabalhoescravo. A maioria dosestudiosos estima a vin-da de aproximadamente3,5 milhes.

    Os escravos trazidosao Brasil pertenciam adois grupos de lngua ecultura distintas: o dossudaneses, encontradosnas regies mais ao nor-

    te do litoral aricano, eos bantos, nas reas aosul do Equador.

    O Gabinete Dantas,que esteve no poder de6 de junho 1884 a 5 demaio de 1885, e levan-tamento realizado em1887 orneceram dadosestatsticos sobre a po-pulao escrava no Bra-sil nos ltimos anos:

    A classicao, poridade, dos 723.419 es-cravos matriculados nolevantamento de 1887 a seguinte:

    1873:1.541.348 escravos

    1883:1.211.946 escravos

    1887:723.419 escravos

    Uma reconstituio histrica

  • 8/14/2019 Encarte sobre a Abolio da Escravatura

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    Jornal do Senado Rio de Janeiro, segunda-eira, 14 de maio de 18885

    As atenes da Cor-te se voltaram, nosbado e no do-

    mingo, 13 de maio, para oSenado do Imprio, ondese processava a discussonal do Projeto de Lei n1 da Cmara dos Deputa-dos, que baniu de ormaimediata e incondicionala escravido no territriobrasileiro. A proposta oiaprovada sem diculdadespela Casa. Apenas dois se-nadores, os conservadores,Joo Maurcio Wanderley,o Baro de Cotegipe (BA),e Paulino de Sousa (RJ), oSegundo Visconde do Uru-guai (RJ), se posicionaramcontra a iniciativa.Logo aps a leitura daproposta na sesso do lti-mo dia 11, pelo 1 vice-pre-sidente do Senado, AntnioCndido da Cruz Machado,que exercia a Presidnciada Casa, o lder do libera-lismo abolicionista, sena-dor Manuel Pinto de SousaDantas (BA), solicitou queosse nomeada a comisso

    especial de cinco membrosdestinada a dar o parecersobre o projeto.

    A solicitao oi acolhidasem debate e Cruz Macha-do nomeou para comporo colegiado os senadores

    Sousa Dantas, AonsoCelso (pai), o Visconde deOuro Preto (MG), Jer-nimo Jos Teixeira Jnior(RJ), Jos Antnio Correiada Cmara (RS) e AlredoEscragnolle Taunay (SC).

    A comisso apresentouimediatamente o parecer,destacando que a propostacontinha providncia ur-gente, por inspirar-se nosmais justos e imperiosos in-tuitos e satisazia a mais

    e mais veemente aspiraonacional.

    aprooNo sbado dia 12, du-

    rante a segunda discusso,Cotegipe ez longo pro-nunciamento contrrio proposta, que oi aprovadadomingo, dia 13, em sessoextraordinria.

    Na direo dos traba-lhos da Casa, o senadorCruz Machado designoua comisso que levaria oprojeto ao Pao e que oicomposta pelos membrosda comisso que oereceu oparecer e ainda por outrosnove senadores.

    O senador e presidente doConselho de Ministros JooAlredo (PE) comunicou,ento, ao Plenrio da Casaque Sua Alteza a Prince-sa Regente receberia s 3horas da tarde, no Paoda Cidade, a comisso desenadores que levaria o de-creto da Assemblia Geraldeclarando extinta a escra-vido no Brasil.

    Em resposta aos argumentosde que a abolio dever acarre-tar transtornos, o senador ManuelFrancisco Correia (PR) armouque no se extirpa do organismosocial um cancro secular sem queperturbaes se operem.

    Mas o senador conservador disseacreditar na cicatriz de uma eri-da que nunca mais ser aberta,possibilitando ento a prosperi-dade da Ptria.

    grande ortuna para o Im-prio que a leipossa ser pro-

    mulgada, re-vestida de or-a moral e doprestgio quelhe d o acor-do refetido equase unni-me de ambasas parcialida-des polticas nalizou.

    Repetindo argumentos do Barode Cotegipe e do deputado An-drade Figueira contra a abolio,o senador Paulino de Sousa (RJ)armou que a proposta era in-constitucional, antieconmica edesumana, porque deixaria ex-postos misria e morte os in-vlidos, os enermos, os velhos, osros e crianas abandonadas daraa que quer proteger.

    Apontando o projeto da aboliocomo algo arriscadssimo para aordem social e econmica da Na-o, o senador criticou tambm o

    trnsito pressuroso da matriana Casa. Na sua avaliao, o ele-mento servil era o nico trabalhoorganizado em quase todo o Pas,

    que no podiaser to rpidae subitamentesuprimido.

    Paulino dis-se que, para aemancipaodos escravosdas colniasrancesas, apartir de 1848,oi observadoum prazo de

    dois meses, contados da promulga-o do ato, e garantido undo paraindenizao aos proprietrios.

    Devo dizer que iludem-se ouquerem iludir-se os que acreditamremover uma grande diculdadecom esta lei da abolio do elemen-to servil; pelo contrrio, agoraque recressem, com a desorganiza-o do trabalho e com a entrada de700 mil indivduos no preparadospela educao e pelos hbitos da li-berdade anterior para a vida civil,as contingncias previstas para aordem econmica e social.

    A verdade que vai haver umaperturbao enorme no Pas du-rante muitos anos, o que no vereitalvez, mas aqueles a quem Deusconceder mais vida, ou que o-rem mais moos, presenciaro. A

    previso som-bria oi eitapelo senadorBaro de Co-tegipe, ao des-erir crticasao projeto daabolio.

    Para o sena-

    dor, ningumacreditar nouturo que serealizasse com

    tanta precipitao e to poucosescrpulos a transormao quevai aparecer.

    A principal crtica de Cotegipe sereeria ao ato de que a propostano previa indenizao aos pro-prietrios de escravos.

    Armando que a propriedadesobre o escravo era uma criao dodireito, ele enatizou que a Cons-tituio, a lei civil, as leis eleitorais,as leis de azenda, os impostos etc.,tudo reconhece como propriedade

    e matria tributvel o escravo, as-sim como a terra.Com a abolio, segundo Co-

    tegipe, estaria se decretando queno pas no h propriedade, quetudo pode ser destrudo por meiode uma lei sem ateno nem a di-reitos adquiridos nem a inconve-nientes uturos.

    Entendo que grandes males vosurgir dessa medida, que convmque sejam, o quanto antes, toma-das providncias em benecio nos da lavoura, como tambm dosque vo ser libertados.

    Contestan-to os senado-res Paulino eCotegipe, osenador Sou-sa Dantas(BA) armouda tribunaque a aboli-o no mar-car no Brasiluma pocade misria,

    de sorimentos e de penria.

    Dantas maniestou a con-vico de que o desapareci-mento de 600 mil criaturasescravas, em vez de produ-zir a nossa runa, tornar oBrasil mais prspero, graasao trabalho livre.

    No h, portanto, perigoalgum, e at onde a minha voz,a minha responsabilidade, aconana que eu possa ins-pirar aos meus concidados,at onde a minha experinciados negcios, o meu estudo detodos os dias me puderem daralguma autoridade, eu direidesta cadeira a todo o Brasil

    que ns, hoje, vamos consti-tuir uma nova Ptria, que estalei vale por uma nova Consti-tuio sustentou.

    Sousa Dantas declarouainda que a votao pro-posta representava o maioracontecimento da histria doPas, e, ao concluir, recitouestes trs pequenos versos dosculo 13:

    O libertad!Luz del dia!Tu me guia.

    O domingo da vitria no SenadoProposta oi aprovada ontem, em sesso extraordinria, sem diiculdades

    Em frente ao Palcio dos Arcos, populares aguardam aprovao do projeto pelos senadores

    Baro de Cotegipe

    Sousa Dantas

    Sousa Dantas

    Manuel FranciscoCorreia

    A lei reconhece comopropriedade e matria

    tributvel o escravo

    Medida arriscadssimapara a ordem social e

    econmica da Nao

    No h perigo algum.

    Esta lei vale por umanova Constituio

    acodo quse unnimegnte fo mol e

    pestgio deciso

    PROGRAMMA

    EM HOMENAGEM ABOLIO

    Enseada deBotaogo

    Sabbado 19 de maio de 1888

    S 1 1/2 DA TARDE EM PONTO

    GRANDES REGATAS

    DAS

    NA

    Uma reconstituio histrica

  • 8/14/2019 Encarte sobre a Abolio da Escravatura

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    Rio de Janeiro, segunda-eira, 14 de maio de 1888Jornal do Senado6

    Aabolio da escravaturaoi um processo secularresultante de mobilizaessociais inclusive dos prpriosnegros , morais, polticas e eco-nmicas. Da assinatura da LeiEusbio de Queirs, que proibiuo trfco negreiro, j se passaram38 anos de intensa campanhaabolicionista que se fnda agoracom a Lei urea.

    Com exemplos europeus de abo-lio da mo-de-obra escrava,por um bom tempo, o processoda crtica abolicionista no Brasilconcentrou-se em espaos comoclubes, lojas manicas, associa-es, cas e jornais e, aos poucos,estendeu-se populao.

    Essa oi, segundo o abolicionis-

    ta Joaquim Nabuco, a primeiraase do movimento pelo fm daescravido, entre 1879 a 1884,quando os abolicionistas com-bateram ss, entregues aos seusprprios recursos.

    Mais tarde, discursos nas tribu-nas, artigos e poemas em jornaisbrasileiros e estrangeiros e a ortepresso sobre o Imprio fzeramruir de vez a escravido.

    No geral, todos os republicanosmostravam-se abolicionistas, masnem todos os que lutaram pela li-bertao dos escravos preerema Repblica. Monarquistas comoAndr Rebouas e Joaquim Na-buco tm sido incansveis nessaluta pelo fm da escravido. Mui-tos outros so deensores erre-

    nhos da mesma causa, entre elesRuy Barbosa, Jos do Patrocnio eTobias Barreto. J alecidos, LusGama e Castro Alves tambmno podem ser esquecidos nessabatalha.

    Mesmo os republicanos tiverammaneiras dierentes de pensar aabolio. O Congresso exprimiupor um bom tempo o pensar dospaulistas que no adotavam a so-luo geral e totalmente liberta-dora.

    A proposta era que o proble-ma osse resolvido gradualmente,conorme o interesse de cada pro-vncia, aceitando o princpio daindenizao, reconhecendo o quealguns chamam de o direito dohomem sobre o homem.

    Mas a orte presso social e mo-ral e a reduo do interesse eco-nmico pelo negro, que com otempo passou a apresentar customaior que a mo-de-obra livrecompetitiva, culminaram com aaceitao dos parlamentares pelaabolio total dos ainda escra-vos.

    Um pouco antes da proibiodo trfco negreiro, o preo do es-cravo j subia no mercado com apreviso de que no seriam maistrazidos negros para o Brasil.

    Essa alta manteve-se at 1880,em especial pela orte demandada lavoura caeeira. Agora, quan-do se assina a Lei urea, boa par-te da mo-de-obra escrava j oisubstituda.

    Uma luta social, poltica e econmicaCampanha pelo im da escravido no pas envolveu monarquistas e republicanos

    Grandes defensores da abolio

    Abolicionistas negrosJoqui Nuo

    ruy bos

    cso aves

    Diplomata, historiador, jurista, jorna-lista e poltico, Joaquim Nabuco oi o

    maior porta-voz do abolicionismo parla-mentar. Sua campanha antiescravocratana Cmara dos Deputados comeou em1878. Fundou a Sociedade Antiescra-vido Brasileira, o que mostra sua lu-ta veemente pelo m do trabalho servil.Ele apresentou projeto de lei em 1880propondo o m da escravido a partir

    de 1890, com indenizao dos proprie-trios, o que provocou choque com osmais radicais, que sempre exigiam a abolio imediata e semque houvesse qualquer paga aos senhores de escravos. Trsanos mais tarde, em Londres, o maom Joaquim Nabuco es-creveu O Abolicionismo, em que deende a abolio legalista,imediata e no mais com indenizaes.

    an reous

    Filho de um advogado mulato autodidata e da flhade um comerciante, o engenheiro baiano Andr

    Rebouas engajou-se no movimento abolicionista aolado de deensores da causa como Joaquim Nabuco.

    Monarquista, muito ligado ao Imperador Dom Pe-dro 2, a partir de 1872 dedicou-se integralmente

    abolio da escravatura, ajudando a criar a Socieda-de Brasileira contra a Escravido e a ConederaoAbolicionista. Publicou diversos artigos em jornaiscontra o trabalho servil, propondo sempre a conci-liao entre as classes.

    Jos o Ponio

    Entre os abolicionistas negros, Jos do Patrocniooi incansvel at os segundos que antecederam a

    assinatura da Lei urea. Para o jornalista, lho deme escrava e de um vigrio, a propriedade escra-va um roubo duplo.

    Natural do Rio de Janeiro, tornou-se muito cedoum articulista amoso. Depois de conhecer a Prince-sa Isabel, undou o jornalA Gazeta da Tarde e pas-

    sou a ser chamado de O Tigre da Abolio. Ao ladode Andr Rebouas, criou em 1883 a ConederaoAbolicionista.

    lus G

    Oadvogado e jornalista Lus Gonzaga Pinto da Gamaera flho de um fdalgo portugus e da aricanaLusa Maheu, de Nag, que diversas vezes oi presapor estar envolvida com insurreies de escravos.

    Nascido em 1830, Lus Gama teria sido vendidocomo escravo, de orma ilegal, pelo seu pai, aos 10anos. Foi um smbolo do movimento pela abolioem So Paulo, tendo sido responsvel pela libertaode mais de mil escravos cativos. Morreu em 1882,seis anos antes da assinatura da Lei urea.

    tois beo

    Um dos principais nomes do condoreirismo, escolaliterria da poesia brasileira marcada pela tem-

    tica social e deesa de idias igualitrias, Tobias Bar-reto, assim como Castro Alves, ez de alguns de seuspoemas armas para o combate escravido.

    Alm de poeta, Tobias Barreto flsoo, crtico ejurista. Sergipano, ele se declara o mestio de Ser-gipe. Em 1868, publicou o poemaA Escravido.De1871 a 1881, viveu em Escada, em Pernambuco, ci-dade que teve de deixar aps ter alorriado todos osescravos que pertenciam a seu sogro.

    Escolhido para redigir o Projeto Dan-tas, precursor da Lei dos Sexagen-

    rios em 1885, tornando livre todos osescravos com idade igual ou superior a65 anos, Ruy Barbosa tambm destaca-se entre os deensores do abolicionismo.

    Seu texto no oi aprovado pela C-mara porque propunha a liberdade dosescravos a partir dos 60 anos, sem quehouvesse indenizao aos proprietrios,o que causou grande revolta dos senho-res. Foi aprovada ento a Lei Saraiva-

    Cotegipe, muito menos abrangente.Iniciou sua carreira poltica como deputado na Bahia em

    1878. Desde os tempos de estudante participou ativamentenas campanhas de combate escravido e o az por meio dasassociaes abolicionistas, da imprensa e da tribuna.

    OPoeta dos Escravos e da Liberdadeez de seus versos palavras ortes naluta pela abolio da escravatura. Nasci-do em Muritiba (BA), em 1847, AntnioFrederico de Castro Alves morreu aos 24anos, muito antes da assinatura da Leiurea.

    Em 1868, em um gesto de coragem, eza apresentao pblica, em uma come-morao cvica onde estavam diversos se-nhores de escravos, do poema Tragdiano mar, que depois passou a ser chamado

    de O navio negreiro.A obra uma crtica errenha do republicano Castro Alves

    aos maus-tratos a que eram submetidos os negros, desde suacaptura at a sua utilizao desumana nos latindios. Umclssico, o poema oi escrito quando ele tinha apenas 21 anos.

    Uma reconstituio histrica

  • 8/14/2019 Encarte sobre a Abolio da Escravatura

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    Jornal do Senado Rio de Janeiro, segunda-eira, 14 de maio de 18887

    As maiores comunidadesde ugitivos de toda a Am-rica concentraram-se naregio aucareira de Per-nambuco e de Alagoas. V-rios ncleos de povoamentode negros ugitivos orma-ram o Quilombo dos Pal-

    mares, que pode ter abriga-do mais de 20 mil pessoaspor volta de 1670. Os regis-tros indicam sua undaoem 1597.

    Localizado na serra daBarriga, Zona da Mata ala-goana, o quilombo resistiupor mais de um sculo aortes combates de tropasdo governo colonial.

    As invases holandesas noBrasil, entre 1624 e 1654,intereriram na rotina dosengenhos e, com isso, aju-daram a uga dos negros ea ormao dos ncleos de

    povoamento do quilombo,sendo Macaco, Subupira,Zumbi e Tabocas os prin-cipais.

    Mas a expulso dos holan-deses do Nordeste brasileiroez aumentar a necessida-de de mo-de-obra paraos engenhos e, por isso, osproprietrios de terras e

    o governo colonial deramincio a numerosas caadase ataques a Palmares pararecapturar os ugitivos.

    Os lderes negros de maiorrepresentatividade oramGanga Zumba e seu sobri-nho Zumbi, que acabou as-

    sassinado. Foram mais de18 as expedies realizadasat que se conseguisse aca-bar defnitivamente com oQuilombo de Palmares, porvolta de 1710.

    Outra orte ao negraaconteceu na Revolta dosMals, de 25 a 27 de janeirode 1835, quando centenasde escravos aricanos adep-tos do Isl lutaram nas ruasde Salvador contra tropasde cavalaria e milcias.

    Os mals queriam o fmdo catolicismo, que lhes eraimposto, assassinar os bran-

    cos e confscar seus bens eo direito de praticar o isla-mismo.

    O governo conseguiu im-pedir os ataques aos quar-tis de Salvador. Nos con-rontos ocorridos, morreramsete integrantes das tropasofciais e 70 negros. Outros281 oram presos.

    O escravo que se insurgisse contra o trabalho servil e arepresso era violentamente punido, sem direito a defesa

    Os aricanos escravi-zados no Brasil nodemoraram muito

    para dar incio aos movi-mentos de uga e ormaode acampamentos arma-dos que, alm de serviremde moradias, eram princi-palmente centros de resis-tncia e contriburam parao m do trabalho escravono pas.

    Ainda no sculo 16, porvolta de 1575, o Imprio jrecebia notcias da movi-mentao de escravos ugi-tivos na Bahia.

    Inicialmente eles se reu-niram no que se chamoude mocambo, espcie deacampamento militar emoradia dos negros de ln-gua bantu da rica Cen-tral e Centro-Ocidental.

    Em 1588 oi publicadoregimento que estabeleciapunio exemplar paraos ugitivos. Nos quasequatro sculos de escravi-

    do no Brasil, houve gran-de enrentamento de tropasdo governo e perseguiesdeterminadas pelos senho-res dos escravos, que con-

    tavam com o trabalho doscapites-do-mato.

    As capitanias de Sergipee da Bahia oram tomadaspor mocambos no incio dosculo 17. Na Paraba, em1691, se ormou o Quilom-bo do Cumbe, combatidoem 1731.

    No Rio de Janeiro, osprimeiros registros so de1625. No sculo seguin-te, os mocambos surgiramem Cabo Frio, Campos dosGoitacazes e Saquarema.

    O sculo 18 oi de ex-panso dos grupos negros,quando a denominaomocambo oi substitudapor quilombo. No Mara-nho, as tropas atacaramgrupos que se reuniam en-tre os rios Gurupi e Turiauno incio dos anos 1700.

    Nas capitanias do RioNegro e do Gro-Par, ascomunidades negras tam-bm recebiam militares de-sertores e ndios. H regis-tros de ugitivos em outrasregies da Floresta Ama-znica, assim como nas ca-pitanias do Esprito Santoe de Minas Gerais.

    Na segunda metade dosculo 18, as dennciascontra os quilombos sur-gem no Rio Grande do Sul,em Mato Grosso e Gois.

    Muitos desses grupos o-ram desenvolvendo ao lon-go dos anos relaes comas comunidades locais. Aprpria Princesa Isabel, svsperas de assinar a Lei

    urea, j havia acolhido ehospedado mais de mil u-gitivos.

    No poema O navio ne-greiro, Castro Alves relataos horrores que soriamhomens, mulheres e cri-anas nos navios que os

    transportavam da ricapara o Brasil. Arranca-dos da terra natal, eramsubmetidos a toda sortede doenas, maus-tratos,ome e rio na travessia doAtlntico.

    O quadro tambm des-crito, em 1813, por DomJoo VI, que, no alvar de24 de novembro daqueleano, determina a adoode humanitrias provi-

    dncias contra o trata-mento duro e inhumanoque, no transito dos portosaricanos para os do Bra-zil, sorem os negros, che-

    gando a tal extremo a bar-baridade e sordida avarezade muitos dos mestres dasembarcaes que os con-duzem (...)

    Segundo o alvar, essesmestres, seduzidos pelaatal ambio de adquirirretes, e de azer maioresganhos, sobrecarrego osnavios, admitindo nel-les muito maior numerode negros do que podem

    convenientemente conter;altando-lhes com alimen-tos necessarios para a sub-sistencia delles, no s naquantidade, mas at na

    qualidade, por lhes orne-cerem generos avariadose corruptos, que podemhaver mais em conta; re-sultando de hum to abo-minavel traco, que se nopode encarar sem horror eindiganao maniestaremse enermidades, que, poralta de curativo e conve-niente tratamento, notardo a azerem-se epide-micas e mortais.

    Resistncia comeou no sculo XVIPrimeiros registros de escravos ugitivos so de 1575, na Bahia

    Navios negreiros, navios de horrores

    Para minimizar a situa-o cruel a que eram sub-metidos os negros a bordodos navios negreiros, al-var de 24 de novembrode 1813, de Dom Joo VI,determinava uma srie decondutas.

    Entre as providncias,

    estava a limitao donmero de negros trans-portados, dando-se aoscativos espao para semoverem e respirar.Tambm deveria ter umlivro de carga para s-calizar a lotao e a pro-priedade dos escravos. As

    caravelas que saam parao Brasil carregavam, emmdia, de 500 a 700 ne-gros.

    Todos os navios negrei-ros precisavam ter umcirurgio-perito e umaenermaria aparelhada. Amortalidade dos escravos

    no poderia passar de 3%,mas o percentual chegavaa 10%, em mdia.

    Alm disso, deveria ha-ver scalizao sanitriada tripulao e dos escra-vos, para evitar a trans-misso de molstias, as-sim como dos alimentos,

    que precisavam oerecervariedade e qualidade.

    Os navios, conorme oalvar, teriam de apre-sentar condies de salu-bridade, asseio e ventila-o, o que, pelo nmeroexcessivo de escravos abordo, no ocorria.

    Nos pores dos navios, os negros eram amontoados, comprimidos uns contra os outros

    Populao de Palmares podeter ultrapassado 20 mil pessoas

    Alvar determinou espao aos cativos para se moverem e respirar

    29 29CASADOALMEIDA

    CASADOALMEIDA

    CASA DO ALMEIDA

    FAZENDAS, MODAS E ARMARINHO

    Grande sortimento de voile de pura l, metro 600 ris

    RUA GONSALVES DIAS

    Uma reconstituio histrica

  • 8/14/2019 Encarte sobre a Abolio da Escravatura

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    Rio de Janeiro, segunda-eira, 14 de maio de 1888Jornal do Senado8

    A ora do movimentoabolicionista logo atingiuMossor, que abraou acausa com entusiasmo especialmente a LojaManica 24 de Junho.A cidade comemorou emgrande evento, no dia 30de setembro de 1883, om da escravido. Naque-la ocasio, o lder da So-ciedade Libertadora Mos-soroense, Joaquim Bezerrada Costa Mendes, ez umadeclarao histrica.

    Mossor est livre:aqui no h mais escra-vos!.

    O exemplo dessa cida-de passou a ser seguidopor comunidades do in-terior da Provncia do RioGrande do Norte. Au li-bertou seus escravos em24 de junho de 1885; de-pois Carnaba, em 3 demaro de 1887; e, logo aseguir, Triuno, em 25 demaio de 1887. Natal nopossua mais escravos no

    incio deste ano.No Piau, em 1870, o

    jornalista David MoreiraCaldas iniciou ardorosacampanha abolicionistapela imprensa, undandoo jornal Oitenta e Nove,que em sua primeira edi-o, de 1 de evereiro de1873, proetizou a pro-clamao da repblicabrasileira no centenrioda Revoluo Francesa,no prximo ano, ou seja,em 1889.

    Cear acabou com aescravido h 4 anos

    Nas duas ltimas d-cadas, a idia delibertao dos es-

    cravos oi aos poucos se ir-radiando para o interior doBrasil, motivando vriossegmentos da sociedade,desde simples jangadeirose donos de barcaas noNordeste, que se recusa-vam a participar do trans-porte de cativos, a jorna-listas, poetas, escritores epolticos que abraarama causa com entusiasmo.Na Provncia cearense, om da escravido oi pro-clamado h quatro anos. OCear assumiu, no dia 25de maro de 1884, a res-ponsabilidade histrica deproclamar a extino dotrabalho escravo em todoo seu territrio. A iniciati-va pioneira repercutiu in-tensamente na Corte e nasprovncias, reorando osmovimentos que j come-avam a tomar corpo emoutras partes do pas, comoAmazonas, Bahia e Para-ba.

    A grande esta da abo-

    lio no Cear reuniu apopulao da capital, naPraa Castro Carreira. Ca-nhes da Fortaleza de Nos-sa Senhora de Assunoreboaram e os sinos repi-

    caram. Um grande desleatravessou a cidade antiga,desde a Rua 1 de Maroat o passeio pblico.

    victor HugoEm meio s maniesta-

    es, o presidente da Pro-vncia, Stiro de OliveiraDias, declarou em tom so-lene: Para a glria imor-tal do povo cearense e emnome e pela vontade dessemesmo povo, proclamo aopas e ao mundo que a pro-vncia do Cear no possuimais escravos.O abolicionista Jos doPatrocnio, que se encon-trava em Paris dias antes dobanimento da escravidono Cear, enviou carta aoescritor Victor Hugo comu-nicando que uma provnciabrasileira estava prestes aser considerada liberta docativeiro. Ele pedia ao po-eta uma palavra de anima-o, um conselho, que ser-visse de encorajamento aoImperador Dom Pedro 2,no sentido de engajar-se nacampanha pela abolio.

    O grande pensador ran-cs, na resposta a Patro-cnio, considerou grandenovidade o gesto dos ce-arenses e reorou que coma iniciativa libertadora a

    barbrie recua e a civiliza-o avana.

    Embora a luta nal te-nha se dado na cidade deFortaleza, oi no interiorda provncia, na pequenavila de Aracape, que logodepois se chamaria Reden-o, que a Sociedade Cea-rense Libertadora liderou aprimeira grande campanhapela abolio.

    Os jangadeiros tambmtiveram papel decisivo noprocesso cearense de abo-lio da escravatura. Em27 de janeiro de 1881, ten-do rente Francisco Josdo Nascimento, conhecidocomo Drago do Mar,os jangadeiros rmaramsua posio: No porto doCear no se embarcammais escravos!. Com estaatitude, eles conseguiramde ato abolir o trco deescravos na provncia.

    Assim como ocorria noCear, a luta pela abolioagregou no apenas gurasde expresso nas provn-cias e na Corte. Militaresrecusavam-se a perseguir

    escravos ugidos; mascatesajudavam na distribuiodos panfetos a avor daabolio; errovirios es-condiam negros nos trensajudando-os nas ugas.

    Medida repercutiu intensamente na Corte eestimulou o abolicionismo em outras provncias

    A criao de trabalho para os

    libertos uma preocupao

    Os negros mantiveram tradies do continente africano, como o jogo da capoeira

    Mossor se destaca como cidade pioneira

    No altaram discursosde abolicionistas como Joa-quim Nabuco, Jos do Pa-trocnio, Lus Gama e RuyBarbosa deendendo a ne-cessidade de oerecer opor-tunidades para integrar osex-escravos sociedade. Agrande dvida para com osescravos libertos deve sersaldada, para que se possaconstruir uma sociedadejusta e igualitria.

    Neste momento em que oBrasil comemora a assina-

    tura da Lei urea, algunsabolicionistas colocam emoco a preocupao diantedo quadro ainda nebuloso

    que envolve as conseqn-cias de um processo queera inevitvel diante de s-culos de domnio sobre aspopulaes negras, e queno oram contempladascom nenhum tipo de com-pensao.

    Em razo disso, lcitoprever que a pauta de de-bates do Parlamento, nestenal do sculo 19, deverincluir propostas visan-do contemplar, de algumaorma, os ex-escravos eseus descendentes. poss-vel at que essa discussono tenha m na prximadcada e termine se esten-dendo pelo sculo 20, masdeve-se ter em vista que areparao que precisa seratribuda aos ex-escravos esua gente no se conundecom qualquer tipo de d-vida, por representar, istosim, um legtimo direito.

    Ao longo da luta pela abo-lio oram discutidas pro-postas nesse sentido, comoa criao de colnias agr-colas para os libertos, a de-sapropriao de terras noexploradas e o desenvol-vimento da agricultura. mister que se estudem ain-da outras ormas de repara-

    o, como oportunidade deemprego na cidade e acesso educao, conerindo dig-nidade ao indivduo.

    Reparao aos ex-escravosprecisa ser discutida

    A Sociedade Emancipa-dora Amazonense, unda-da em 1870, cumpriu pa-pel decisivo na campanha

    libertadora na Provnciado Amazonas. A 24 deabril de 1884, a Assem-blia Provincial autorizouo governo a despender 300contos com alorrias. A 24de maio oi reconhecidoocialmente que Manausno tinha mais escravos.

    Em Pernambuco, a lutacontou com os nomes deJos Mariano, Joo Ramos,Gomes de Matos e outrosque criaram o Clube doCupim. O movimento con-seguiu minar a ora dosescravocratas. As barcaas

    pernambucanas tambmapoiaram a uga de escra-vos.

    Na Provncia da Bahia, omovimento ganhou a ade-so da imprensa de Salva-dor, que decidiu no maispublicar anncios de uga,compra e venda de escra-vos. Pessoas simples, comoManoel Roque, negro eoperrio, e personalidades,como Castro Alves, deramgrande ora ao movimen-to que comeou a se articu-

    lar em 1870.Em Gois, o movimento

    chegou a causar confitos,mas nos meses que antece-

    deram a assinatura da Leiurea a escravido estavaquase extinta em toda aprovncia. No Rio de Janei-ro, houve embates violen-tos, em especial em reasonde a lavoura caeeirase expandiu. A mobiliza-o cresceu em meados de1870. Nesse ano, um grupode parlamentares lanoucampanha pela abolioda escravatura. No nal de1887, j ocorriam alor-rias espontneas em toda aprovncia.

    Em So Paulo, diversas

    cidades libertaram seus es-cravos no ano passado. EmSo Carlos, o m do cati-veiro oi proclamado emdezembro. No Rio Grandedo Sul, o movimento co-memorou a libertao dacapital em 1884. Com umnmero menor de escravos,em relao s demais pro-vncias, o Paran tambmse engajou na luta, e antesda lei, cidades como Portode Cima j estavam livresda escravido.

    Movimento abolicionista seespalhou pelas provncias

    Uma reconstituio histrica