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Page 1: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS
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ENADE COMENTADO 2007 Serviço Social

Page 3: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ChancelerDom Dadeus GringsReitorJoaquim ClotetVice-ReitorEvilázio Teixeira

Conselho EditorialAna Maria Lisboa de MelloElaine Turk FariaÉrico João HammesGilberto Keller de AndradeHelenita Rosa FrancoJane Rita Caetano da SilveiraJerônimo Carlos Santos BragaJorge Campos da CostaJorge Luis Nicolas Audy – PresidenteJosé Antônio Poli de FigueiredoJurandir MalerbaLauro Kopper FilhoLuciano KlöcknerMaria Lúcia Tiellet NunesMarília Costa MorosiniMarlise Araújo dos SantosRenato Tetelbom SteinRené Ernaini GertzRuth Maria Chittó Gauer

EDIPUCRSJerônimo Carlos Santos Braga – DiretorJorge Campos da Costa – Editor-chefe

Page 4: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

Gleny Terezinha Duro Guimarães

Francisco Arseli Kern

(organizadores)

ENADE COMENTADO 2007 Serviço Social

Porto Alegre

2010

Page 5: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Ficha Catalográfica elaborada pelo Setor de Tratamento da Informação da BC-PUCRS.

EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRSAv. Ipiranga, 6681 – Prédio 33Caixa Postal 1429 – CEP 90619-900 Porto Alegre – RS – BrasilFone/fax: (51) 3320 3711e-mail: [email protected] - www.pucrs.br/edipucrs

© EDIPUCRS, 2010

CAPA Vinícius XavierPREPARAÇÃO DE ORIGINAIS Gleny Terezinha Duro Guimarães e Francisco Arseli KernREVISÃO DE TEXTO Rafael SaraivaEDITORAÇÃO ELETRÔNICA Gabriela Viale Pereira e Laura Guerra

Questões retiradas da prova do ENADE 2007 do Serviço Social

E56 ENADE comentado 2007 : serviço social [recurso eletrônico] / organizadores, Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2010. 127 p.

Sistema requerido: Adobe Acrobat Reade Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/edipucrs/> ISBN 978-85-397-0002-8 (on-line)

1. Ensino Superior – Brasil – Avaliação. 2. Exame Nacional de Desempenho de Estudantes. 3. Serviço Social – Ensino Superior. I. Guimarães, Gleny Terezinha Duro. II. Kern, Francisco Arseli. CDD 378.81

Page 6: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 7 Beatriz Gershenson Aguinsky

COMPONENTE ESPECÍFICO - QUESTÕES OBJETIVAS

QUESTÃO 11 ........................................................................................................... 10 Maria Beatriz Marazita

QUESTÃO 12 ........................................................................................................... 14 Jane Cruz Prates

QUESTÃO 13 ........................................................................................................... 17 Maria Palma Wolff

QUESTÃO 14 ........................................................................................................... 22 Idilia Fernandes

QUESTÃO 15 ........................................................................................................... 26 Márcia Salete Arruda Faustini

QUESTÃO 16 ........................................................................................................... 31 Dolores Sanches Wünsch

QUESTÃO 17 ........................................................................................................... 35 Maria Palma Wolff

QUESTÃO 18 ........................................................................................................... 38 Leonia Capaverde Bulla

QUESTÃO 19 ........................................................................................................... 44 Inês Amaro da Silva

QUESTÃO 20 ........................................................................................................... 47 Ana Lúcia Suárez Maciel

QUESTÃO 21 ........................................................................................................... 50 Dolores Sanches Wünsch

QUESTÃO 22 ........................................................................................................... 54 Idilia Fernandes

QUESTÃO 23 ........................................................................................................... 62 Esalba Maria Silveira

QUESTÃO 24 ........................................................................................................... 65 Maria Isabel Barros Bellini

QUESTÃO 25 ........................................................................................................... 69 Idilia Fernandes

QUESTÃO 26 ........................................................................................................... 74 Ana Lúcia Suárez Maciel e Leonia Capaverde Bulla

Page 7: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

QUESTÃO 27 ........................................................................................................... 78 Ana Lúcia Suárez Maciel e Inês Amaro da Silva

QUESTÃO 28 ........................................................................................................... 82 Patricia Krieger Grossi

QUESTÃO 29 ........................................................................................................... 85 Esalba Maria Silveira

QUESTÃO 30 ........................................................................................................... 89 Márcia Salete Arruda Faustini e Francisco Arseli kern

QUESTÃO 31 ........................................................................................................... 94 Patricia Krieger Grossi

QUESTÃO 32 ........................................................................................................... 96 Jane Cruz Prates

QUESTÃO 33 ......................................................................................................... 100 Patricia Krieger Grossi

QUESTÃO 34 ......................................................................................................... 102 Gleny Terezinha Duro Guimarães e Anelise Gronitzki Adam

QUESTÃO 35 ......................................................................................................... 107 Gleny Terezinha Duro Guimarães e Anelise Gronitzki Adam

QUESTÃO 36 ......................................................................................................... 112 Alzira Maria Baptista Lewgoy

QUESTÃO 37 ......................................................................................................... 115 Alzira Maria Baptista Lewgoy

COMPONENTE ESPECÍFICO - QUESTÕES DISCURSIVAS

QUESTÃO 38 ......................................................................................................... 120 Maria Beatriz Marazita

QUESTÃO 39 ......................................................................................................... 123 Maria Palma Wolff

QUESTÃO 40 ......................................................................................................... 124 Maria Isabel Barros Bellini

LISTA DE CONTRIBUINTES ................................................................................. 126

Page 8: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 7

APRESENTAÇÃO

Um dos maiores desafios que se coloca para todos aqueles que dão vida a

dinâmicas e processos constitutivos da Educação Superior é a busca permanente

por mecanismos de construção de conhecimentos e aprendizagem que, de fato,

decorram de processos avaliativos. Como aprender sem avaliar? Como avaliar sem

perder de vista os processos formativos que deveriam ser intrínsecos a toda

avaliação no âmbito educativo? E como agregar valor a estratégias avaliativas –

sejam elas externas ou internas às Universidades – de modo a resistir a lógicas

binárias e retrógradas que insistem em povoar a cultura das práticas avaliativas,

quando associadas meramente a resultados per se, burocraticamente orientadas a

formas de premiação ou punição nas mais variadas dimensões da educação?

O enfrentamento desse desafio exige esforços intencionais de gestores,

professores e alunos, para que processos avaliativos não apenas estejam

incorporados ao cotidiano da vida universitária, mas que sejam conhecidos e

apropriados por todos, servindo a propósitos elevados: o compartilhamento de

saberes a serviço de patamares de qualidade na formação superior.

Com esse propósito, a Faculdade de Serviço Social (FSS) da Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) associa-se à iniciativa da Pró-

Reitoria de Graduação, através da EDIPUCRS, lançando o ENADE 2007

Comentado: Serviço Social, na forma de e-book.

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) é parte

integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES),

responsável pela avaliação externa de Instituições de Ensino Superior e de Cursos.

É objetivo do ENADE de aferir o rendimento dos estudantes dos cursos de

graduação das Instituições de Ensino Superior. Por essa razão, costuma-se associá-

lo tão somente a uma prova. No entanto, o ENADE articula quatro instrumentos

distintos: uma prova, um questionário de impressões sobre a prova, um questionário

socioeconômico – todos a serem respondidos pelos estudantes – e um questionário

destinado ao(a) coordenador(a) do(a) curso/habilitação. Por força de disposições

legais do SINAES, o ENADE é componente curricular obrigatório, ficando a colação

de grau do estudante condicionada à comprovação de sua participação no Exame.

Page 9: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

8 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

A prova aplicada na área de Serviço Social apresenta 40 questões, sendo 10

questões de formação geral, comuns a todos os cursos da área da saúde, e 30

questões de componente específico. Assim, tendo por base as questões do

componente específico do ENADE 2007, aplicada em todo o território nacional aos

estudantes de Serviço Social, a presente publicação reúne a contribuição de

docentes da FSS/PUCRS, que responderam às questões do ENADE de modo

comentado. O conjunto das questões e das respostas apresentadas na forma de e-

book, certamente será uma oportuna fonte de consulta e estudos de temas

contemporâneos da área para os estudantes e também como material didático para

o trabalho em sala de aula.

Agradeço aos Professores Francisco Arseli Kern e Gleny Terezinha Duro

Guimarães que organizaram o ENADE 2007 Comentado: Serviço Social. Agradeço

especialmente aos docentes da FSS que se dedicaram às respostas comentadas às

questões do ENADE, cujo produto do zeloso trabalho, ao tornar-se público, revigora

a certeza do quanto a avaliação formativa é fecunda para o aprimoramento

constante da formação de qualidade em Serviço Social.

Beatriz Gershenson Aguinsky

Diretora da Faculdade de Serviço Social da PUCRS

Page 10: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

COMPONENTE ESPECÍFICO QUESTÕES OBJETIVAS

Page 11: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

10 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 11

Corrente importante de estudiosos da profissão considera que a análise do papel do

Serviço Social na reprodução das relações sociais deve partir do suposto de que a

apreensão do significado histórico da profissão só é possível com a sua inserção na

sociedade, pois o Serviço Social se afirma como instituição peculiar na e a partir da

divisão social do trabalho. Esta concepção identifica, como princípio que rege a

estruturação das relações sociais na sociedade,

(A) a solidariedade. (B) a contradição de classes. (C) a ideologia. (D) a intersubjetividade. (E) o saber/poder. Gabarito: Questão B

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta.

Conteúdo avaliado: O Serviço Social no processo de reprodução das relações

sociais

Autora: Maria Beatriz Marazita

Comentário: A questão correta é a B

Desde os anos 80, a análise do significado social da profissão está centrada

no processo de reprodução das relações sociais, sustentando que a questão social é

indissociável das relações socais capitalistas, nos marcos da expansão monopolista

e de seu enfrentamento pelo Estado. (Iamamoto, 2001: 27).

A questão social encontra-se a base da profissionalização do Serviço Social

(Iamamoto, 1992; Netto, 1992). Ela tem sido analisada como elemento fundante do

exercício profissional na sociedade em suas múltiplas expressões: “A

profissionalização da profissão pressupõe a expansão da produção e de relações

sociais capitalistas, impulsionadas pela industrialização e urbanização, que trazem,

no seu verso, a Questão Social” (Iamamoto, 2008:171).

A obra Relações Sociais e O Serviço Social no Brasil de Iamamoto e

Carvalho, publicada em 1982, apresenta a análise da profissão de Serviço Social no

Page 12: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 11

processo de produção e reprodução das relações sociais e a tese de que a profissão

afirma-se como uma especialização do trabalho coletivo no quadro do

desenvolvimento industrial e da expansão urbana.

Processos esses apreendidos sob o ângulo das classes sociais – a

constituição e expansão do proletariado e da burguesia industrial – e as modificações

verificadas na composição dos grupos e frações de classes que compartilham o

poder do Estado em conjunturas históricas determinadas (Iamamoto, 2008:167).

Os processos sociais que a questão social traduz estão no centro dos estudos

de Marx sobre a sociedade capitalista. Nessa tradição intelectual o regime capitalista

de produção é tanto um processo de produção das condições materiais da vida

humana quanto um processo que se desenvolve sob relações sociais histórico-

econômica: sua dinâmica produz e reproduz as condições materiais de existência; as

relações socais contraditórias e as formas sociais através das quais se expressam. Indissociável relação entre a produção dos bens materiais e a forma econômica social em que é realizada, isto é, a totalidade das relações entre os homens em uma sociedade historicamente particular, regulada pelo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social (Iamamoto, 2008:281).

Essa é a forma clássica de compreender as relações sociais do trabalho em

que sua dinâmica produz e reproduz seus expoentes: suas condições materiais de

existência e as relações sociais contraditórias e as formas sociais através das quais

se expressam. Essa análise tem uma dupla dimensão: a existência material das

condições de trabalho e a forma social pela qual se realiza: a natureza do valor de

troca e os fetichismos que a acompanham.

Historicamente a Questão Social tem a ver com o surgimento da classe

operária e seu ingresso no cenário político por meio das lutas em prol de direitos

trabalhistas. Foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações

entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública,

exigindo a interferência do estado para o reconhecimento e a legalização de direitos

e deveres dos sujeitos sociais envolvidos (Iamamoto, 2001;17).

Assim, o Estado afirma o caráter público da questão social, administrando

suas refrações – que assumem um caráter massivo –, e reforça a aparência da

Page 13: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

12 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

natureza privada de suas manifestações individuais, tidas como problema do

indivíduo isolado (Netto, 2001:44).

A alternativa A está incorreta porque o princípio da solidariedade, como

diretriz ordenadora das relações sociais obscurece a coisificação das relações que

se estabelece no universo da mercadoria, realçando as relações pessoais,

solidárias, personalizadas. Analisar a sociedade a partir desse princípio é negar a

sociedade capitalista e sua forma de produção e reprodução da vida material.

A alternativa C está incorreta porque, segundo Thompson (1995), o conceito

de ideologia é ambíguo e apresenta uma multiplicidade de significados e nuances

diferentes devido o longo caminho percorrido desde que foi introduzido nas línguas

europeias, há dois séculos. Na teoria social e política das duas últimas décadas

houve duas respostas comuns à herança ambígua do conceito de ideologia. Uma

define ideologia como “sistemas de pensamento”, “sistemas de crenças”, ou

“sistemas simbólicos”, que se referem à ação social ou à prática política. A outra

resposta aponta para o abandono do conceito. O conceito seria muito controvertido

e contestado, demasiado marcado por uma história em que ele foi usado e abusado

de diferentes modos, a tal ponto que ele não se prestaria mais, hoje em dia, para

fins de análise social e política (Thompson,1995:16).

A alternativa D está incorreta uma vez que a intersubjetividade não abrange a

totalidade das relações entre os Homens em uma sociedade capitalista, regulada

pelo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho. A intersubjetividade remete

a um sistema de valores e crenças, uma proliferação de divisões entre indivíduos e

grupos, uma falta de consenso, atitudes opostas.

A alternativa E está incorreta porque o saber/poder, remete a tese da

“correlação de forças” que apresenta como eixo central de sua abordagem a relação

do Serviço Social com a política, com o pensamento gramsciano, introduzindo

noções de “hegemonia” e “intelectual”. Segundo Iamamoto (2008), nessa acepção o

objeto de trabalho do assistente social é uma questão disputada, um objeto de luta

formado pelas relações de força, de poder e de saber para a conquista pelas classes

subalternas de lugares, recursos, normas e espaços ocupados pelas classes

dominantes (Iamamoto, 2008:295).

Page 14: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 13

Referências

IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e Conservadorismo no serviço social. Ensaios Críticos. São Paulo: Cortez, 1992. ______. A Questão Social no Capitalismo. In: TEMPORALIS. Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa. ABEPSS. Ano II, nº3, janeiro a junho de 2001. ______. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008. ______; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. Esboço de uma interpretação histórico-metodológico. São Paulo: Cortez, 1982. NETTO, José Paulo. Cinco Notas a Propósito da “Questão Social”. In: TEMPORALIS. Revista da Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social – ABEPSS. Ano II, nº3, janeiro a junho de 2001.

Page 15: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

14 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 12

Analise as afirmativas a seguir.

Na expansão monopolista, as funções políticas do Estado burguês articulam-se

organicamente com as suas funções econômicas.

PORQUE O Estado condensa os interesses comuns de toda a sociedade.

A esse respeito é possível concluir que

(A) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. (B) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. (C) a primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa. (D) a primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira. (E) as duas afirmativas são falsas. Gabarito: Questão C

Tipo de questão: Escolha associada com indicação da resposta correta

Conteúdos avaliados: Função política e econômica do Estado

Autora: Jane Cruz Prates

Comentário: O Estado tem papel fundamental na expansão monopolista, na medida em

que além de proporcionar as condições estruturais para viabilizar esse processo,

seja do ponto de vista da infraestrutura (prioridade na construção de portos,

estradas, incentivos fiscais e auxílios econômicos), seja via superestrutura, a partir

de uma cultura que promulga os valores capitalistas associados ao consumo e a

mercantilização que capilarizam-se em todas as esferas da vida social ou ainda via

legislação que protege os proprietários dos meios de produção. Contudo, é

permeado pela luta de classes atendendo a demandas populares quando essas

conformam-se como expressão da questão social. Ou seja, quando essas

reivindicações coletivas têm poder de pressão e pautam a implementação de

direitos e políticas públicas que as materializem. O Estado aporta, portanto,

também as condições políticas para viabilizar esse processo na medida em que

não podem ser dicotomizadas dos aspectos econômicos, pois se articulam

organicamente. O desenvolvimento do capitalismo é impensável sem a ajuda do

Page 16: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 15

Estado como mediador, o que não significa dizer que ele não é atravessado por

contradições, como resultado da luta de classes e interesses antagônicos em

disputa, embora seja preciso reconhecer que hegemonicamente atende aos

interesses da classe dominante.

Conforme Iamamoto (2004, p. 132), a expansão monopolista “aprofunda as

disparidades econômicas, sociais e regionais, na medida em que favorece a

concentração social, regional e racial de renda, prestígio e poder”. Para tanto, o

Estado assume papel decisivo, unificando os interesses das frações da classe

burguesa e como elemento que irradia sua ideologia, valores e interesses para toda

a sociedade (cultura burguesa passada como cultura geral).

Há diferentes formas de interpretar o papel do Estado. Numa primeira

perspectiva é simplesmente considerado um aparelho de dominação de uma classe

sobre a outra, contudo, em razão do reconhecimento da contradição, se pode

afirmar que ele é permeado pelos diferentes interesses da sociedade, mesmo que

em níveis diferenciados e deve, portanto, condensar os interesses coletivos.

Pereira considera como condições fundamentais à explicitação da questão

social a problematização da relação entre estrutura e sujeitos, entre necessidades e

agentes com poder de pressão para dar visibilidade às formas diversas de opressão,

mas, ressalta que é fundamental a presença de um Estado e uma superestrutura

(leis, ensino, comunicação) que regule e garanta direitos. Contudo, é exatamente

isso que está sendo desmantelado. Questão social, diz a autora, “não é sinônimo de

contradição entre capital e trabalho [...], mas de embate político determinado por

essas contradições” (Pereira, 2004, p. 53-54).

Logo, com relação às alternativas de resposta apontadas na questão 12, a

primeira afirma serem ambas verdadeiras e a segunda justifica a primeira. Em que

pese o fato da primeira parte da afirmativa estar correta, a segunda não justifica a

primeira, ao contrário a condensação de interesses, em princípio, deveria se

contrapor a esse processo de expansão, na medida em que a grande maioria da

população se vê alijada dos benefícios que proporciona a grupos privados.

A alternativa B é a correta, considerando a segunda concepção de Estado

apontada por nós. Nessa alternativa de resposta há a afirmação de que ambas são

verdadeiras, embora a segunda não justifique a primeira.

Page 17: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

16 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

A alternativa C considera a primeira resposta verdadeira e a segunda falsa,

essa afirmativa só poderia ser considerada correta caso a concepção de Estado

utilizada não levasse em conta a contradição, como explicitado anteriormente.

Por fim, as alternativas D e E consideram a primeira assertiva falsa ou ambas

as afirmações falsas, estão, portanto, incorretas.

Referências

IAMAMOTO, Marilda. A questão social no capitalismo. In: Revista Temporalis, nº. 3. Brasília: ABEPSS, 2004. p. 9-32. PEREIRA, Potyara. Questão social, Serviço Social e Direitos de Cidadania. In: Revista Temporalis, nº. 3. Brasília: ABEPSS, 2004. p. 51-62

Page 18: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 17

QUESTÃO 13

É hoje consensual que, no Brasil, o Serviço Social se origina no seio do movimento

católico, mas seu processo de profissionalização e legitimação está vinculado à

expansão das grandes instituições assistenciais em um período histórico marcado

pelo aprofundamento do corporativismo do Estado e por uma política econômica

industrializante. A expansão do proletariado urbano cria a necessidade política de

controlar e absorver este contingente. O Estado, incorporando parte das

reivindicações populares, amplia a base legal da cidadania, mediante uma intensa

legislação social e sindical.

Este período da história brasileira refere-se

(A) à República Velha (1889-1930). (B) à Segunda República (1930-1937). (C) ao Estado Novo (1937-1945). (D) à Quarta República (1945-1964). (E) à transição democrática (1985-1988). Gabarito: Questão C

Tipo de questão: Escolha simples com indicação da resposta correta

Conteúdos avaliados: Desenvolvimento econômico e social brasileiro,

institucionalização do Serviço Social, política social e legislação social no Brasil.

Autora: Maria Palma Wolff

Comentário: No contexto histórico brasileiro é apenas um ano antes da Proclamação da

República que se registra a criação da primeira legislação social, com a criação de

uma caixa de socorro para a burocracia pública. Tal concepção de proteção social,

como direitos coorporativos, perdurará até os anos 60 do século XX. (BEHRING E

BOSCHETTI 2007). Com a Proclamação da República em 1889 e a instalação da

República Velha (1889-1930), outras legislações, abrangendo categorias específicas

de trabalhadores urbanos, foram sendo implantadas, entre as quais se destaca a Lei

Eloy Chaves, que em 1923 cria a Caixa de Aposentadoria e Pensões dos

Ferroviários. No entanto, ainda que fosse registrado um crescente processo de

Page 19: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

18 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

industrialização as iniciativas da época não representaram um rompimento com as

características agrário-exportadora, oligárquica e rural da economia e da política

brasileira. Assim, ainda que seja registrado a implantação de legislações e a

expansão do proletariado no período mencionado, as reivindicações protagonizadas

– citando-se em especial a greve geral de 1917 – não se traduziram em intensa

legislação social e na expansão da cidadania (FEE 1983). O controle desses

movimentos era dado por uma intervenção repressiva, ou seja, a resolução dos

conflitos que emergiam da relação capital e trabalho eram tratados como casos de

polícia e não alvo de estratégias políticas no âmbito do Estado, estando, portanto,

incorreta a alternativa A. O segundo período, referido pela alternativa B, referente à Segunda

República (1930-1937) é caracterizado pela crise do poder oligárquico e pelo

aumento da importância da indústria e do comércio na economia, fato que contribuiu

para o surgimento de medidas de promoção e controle da massa trabalhadora. Com

a Revolução de 30 inicia-se um processo de centralização que reduziu a autonomia

dos estados e aumentou a intervenção na sociedade; os movimentos do proletariado

urbano, que possuía uma forte organização sindical, foram contrapostos com

medidas de atrelamento ao Estado e de controle da massa trabalhadora através de

uma significativa incorporação das políticas sociais. Foram criados inúmeros

institutos de pensões e aposentadorias (bancários, comerciários, industriários) cuja

separação por ramo de produção também significou um elemento de controle dos

trabalhadores já que dificultava a união em torno de reivindicações comuns. Outro

aspecto a destacar é a orientação dessa política para as populações urbanas,

denotando interesse na promoção da industrialização sem que, no entanto, fossem

atingidos os interesses da oligarquia rural. Isso porque, a despeito do

enfraquecimento político e econômico, a mesma continuava a deter influência na

correlação de forças do cenário político brasileiro. (FEE, 1983).

Uma medida importante desse período foi a criação em 1930 do Ministério do

Trabalho, da Indústria e do Comércio e do Ministério da Saúde Pública e Educação.

É destaque ainda, a Constituição Federal de 1934 que incorporou ao seu texto a

previdência social através da assistência médica e sanitária ao trabalhador e à

gestante e da previdência, mediante contribuição paritária da União, do empregador

Page 20: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 19

e do empregado. Esse texto legal atribui pela primeira vez ao Estado a

obrigatoriedade de assegurar o amparo dos desvalidos. No entanto, a despeito de

tal previsão, nenhuma medida concreta foi tomada nesse período, o que só iria

acontecer com a vigência do Estado Novo (IAMAMOTO E CARVALHO, 1985).

Esse momento histórico marca o surgimento do Serviço Social no Brasil,

processo desencadeado a partir de diversas ações desenvolvidas pela Igreja

Católica no campo social em busca da reforma social e a restauração dos valores

cristãos. A primeira escola de Serviço Social foi criada em São Paulo, em 1936,

após a participação de representantes brasileiros em cursos da École Catholique de

Service Social, na Bélgica. (AGUIAR 1985)

Assim, apesar desse período (1930-1937) ter representado avanços no

ordenamento da política econômica industrializante, a oligarquia agrária continuava

mantendo influência na vida política e econômica brasileira. Nos anos mencionados

ocorreu a organização das bases da política social e não sua consolidação. Da

mesma forma, era incipiente o processo de profissionalização do Serviço Social,

bem como da criação de grandes instituições sociais, sendo a opção B incorreta.

Foi no período do Estado Novo (1937-1945), mencionado na alternativa C,

que o conjunto de medidas políticas, econômicas e sociais, levou à constituição

definitiva da sociedade urbano-industrial, consolidando medidas adotadas

anteriormente. A Constituição Federal de 1937 representou retrocessos em

relação às conquistas democráticas da Carta de 1934; entre as medidas adotadas

estava a intervenção nos estados e a proibição da organização sindical

independente. Assim, o Estado assume um caráter marcadamente autoritário,

tendo praticamente eliminado a oposição operária e atrelado os sindicatos à

estrutura governamental. (FEE 1983).

Entre as principais medidas do período está a instituição, em 1940, do salário

mínimo para uma jornada de 200 horas mensais. Foi fixado de forma diferenciada

para cada uma das regiões brasileiras, percentuais para a alimentação, vestuário,

habitação, higiene e transporte; em 1943 foi instituída a Consolidação das Leis do

Trabalho – CLT. No âmbito da previdência social verificou-se uma ampliação das

instituições de aposentadorias de pensões e assim da cobertura até então fornecida

aos trabalhadores. Esse fato expressava interesse do governo em ampliar seu

Page 21: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

20 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

espectro de controle, mas contraditoriamente, permitiu também a ampliação do

acesso dos trabalhadores a esses serviços.

Outro destaque foi a criação do Serviço Nacional da Indústria (SENAI), em

1942, e o Conselho Nacional de Serviço Social, junto ao Ministério da Educação e

Saúde, em 1938, com funções de consultivas no campo das políticas sociais.

Embora tenha sido um organismo de pouca efetividade, esse Conselho expressou a

intenção de organização e de centralização de uma política assistencial no país.

(IAMANOTO E CARVALHO, 1985). Tal papel será efetivamente exercido pela

Legião Brasileira de Assistência – LBA – criada, em 1942, pela primeira dama Darcy

Vargas. Embora a proposta inicial dessa Instituição tenha sido fornecer amparo às

famílias dos praças que combatiam na II Guerra Mundial, posteriormente vai se

configurar “como instituição articuladora da assistência social no Brasil, com uma

forte rede de instituições privadas conveniadas, mas sem perder essa marca

assistencialista, fortemente seletiva e de primeiro-damismo”. (BEHRING E

BOSCHETTI, 2007, p. 108).

É nesse período que se consolida a instiuicionalização do Serviço Social no

Brasil; no Rio de Janeiro é criado o Instituto de Educação Familiar Social, em 1937,

e em seguida outras escolas de Serviço Social são criadas no Brasil. Ao mesmo

tempo em que o surgimento do Serviço Social no Brasil é definido com uma estreita

vinculação com a Igreja Católica, inúmeras professoras das Escolas de Serviço

Social realizaram, no início da década de 40, programas de estudos em

universidades norte-americanas com bolsas do governo dos Estados Unidos,

marcando a introdução do funcionalismo na formação e no exercício profissional do

Serviço Social brasileiro.

Dessa forma, a opção C está correta, ter sido no período do Estado Novo

(1937-1945) que ocorreu a efetiva consolidação da industrialização no Brasil, a

ampliação da legislação social, a criação de grandes instituições assistenciais e a

institucionalização da profissão de Serviço Social.

A opção D está incorreta. Ela menciona a Quarta República (1945-1964)

período marcado por uma grande disputa de projetos nacionais e intensificação da

luta de classes, com uma lenta expansão de direitos, mantendo o formato

corporativista anterior. Assim, também a transição democrática (1985-1988), referida

Page 22: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 21

na letra E, expressou uma grande arena de lutas e de esperança para a população

brasileira (BEHRING E BOSCHETTI, 2007) o que não traduz as condições

mencionadas no enunciado da questão, ou seja, também a opção E está incorreta.

Referências AGUIAR, Antônio Geraldo de. Serviço Social e Filosofia. São Paulo: Cortez, 1985. BEHRING, Elaine R. e BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2007. FEE – Fundação de Economia e Estatística. A Política social brasileira 1930 – 1964. Porto Alegre: FEE, 1983. IAMANOTO, Marilda Vilela e CARVALHO, Raul. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil. São Paulo: Cortez, 1985.

Page 23: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

22 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 14

Analise as afirmativas que se seguem, relativas às particularidades históricas da

sociedade brasileira.

I – Durante a República Velha, desenvolveu-se a indústria pesada no país. II – A chamada Revolução de 1930 é um marco na revolução burguesa no Brasil. III – A “questão social” resulta, no Brasil, do fim da República Velha. IV – No Brasil, o desenvolvimento capitalista coincidiu com a expansão da

democracia. V – A modernização capitalista, no Brasil, não rompeu com a dependência

econômica do país. Estão corretas, apenas, as afirmativas (A) I e IV. (B) I e V. (C) II e III. (D) II e V. (E) III e V. Gabarito: Questão D

Tipo de questão: Escolha combinada

Conteúdos avaliados: Particularidades históricas da sociedade brasileira

Autora: Idilia Fernandes

Comentário: A questão D é a correta, considerando que a opção II “a chamada Revolução

de 1930 é um marco na revolução burguesa no Brasil”, pois a partir dela a estrutura

do Estado brasileiro modifica-se profundamente depois de 1930, tornando-se mais

ajustada às necessidades econômicas e sociais do país, em contraponto as políticas

oligarquicas do período anterior. Da mesma forma está correta a afirmação V,

demonstrando que “A modernização capitalista, no Brasil, não rompeu com a

dependência econômica do país”. Essa modernização se deu no limite do “ajuste

necessário” as novas demandas produtivas dos países desenvolvidos, mantendo-se

como regra a relação de fornecedor de matérias-primas ou produtos cada vez mais

“qualificados” e demandados pelas economias centrais capitalistas.

Page 24: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 23

O capitalismo se desenvolveu, estamos na era toyotista da acumulação

flexível, o que significa dizer na era da super informatização, de super exigências

para o trabalhador que hoje deve ser polivalente, na era da flexibilização dos

contratos de trabalho, dos direitos trabalhistas, mas grande parte da sociedade vive

em condições de pobreza e exclusão social. Segundo NETTO (2001), a Questão

Social surge com a capacidade da sociedade produzir riquezas e bens sociais e

muitos não terem acesso a isso. O país se modernizou, sim, produziu riquezas, mas

ainda somos dependentes de outras economias e com alto nível de exclusão social

e pobreza de seu povo.

A alternativa I, que diz que “durante a República Velha, desenvolveu-se a

indústria pesada no país”, está errada porque a República Velha desenvolveu-se de

1889 a 1930. A indústria de base no Brasil foi instalada a partir de 1939 com a

participação do país na II Guerra Mundial.

Sendo assim, a questão A e B estão erradas.

Como está colocado na afirmação IV – “No Brasil, o desenvolvimento

capitalista coincidiu com a expansão da democracia”. Pode-se dizer que essa

afirmação é falsa, pois é possível compreender o desenvolvimento brasileiro

enquanto um processo dotado de especificidades marcantes, entre as quais

podemos afirmar que: 1. o estudo do período colonial torna-se essencial, pois é

sobre esse “passado” que conforma-se uma certa estrutura econômica, dotada de

características próprias, distintas das estruturas que emergem de um passado

feudal; 2. sobre essa estrutura irá se desenvolver uma economia capitalista, cujo

ponto culminante estará na emergência de forças produtivas especificamente

capitalistas, com a “industrialização pesada”, a partir da segunda metade do século

XX. Esse processo de desenvolvimento das bases do capitalismo brasileiro é,

obviamente muito anterior aos processos de expansão da democracia que, de fato

vão ocorrer a partir da II Guerra Mundial.

Na afirmação III “A ‘questão social’ resulta, no Brasil, do fim da República

Velha”. Por consequência as opções apontadas nas questões C e E também estão

erradas. Segundo Iamamoto (2001, p. 11): A expressão questão social é estranha ao universo marxista, tendo sido cunhada por volta de 1830 (Stein, 2000). Historicamente foi tratada sob o ângulo do poder, vista como ameaça que a luta de

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24 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

classes – em especial, o protagonismo da classe operária – representativa à ordem instituída. Entretanto, os processos sociais que ela traduz encontram-se no centro da análise de Marx sobre a sociedade capitalista. Nessa tradição intelectual, o regime capitalista de produção é tanto um processo de produção das condições materiais da vida humana, quanto um processo que se desenvolve sob relações sociais-históricos-econômicas – de produção específicas. Em sua dinâmica produz e reproduz seus expoentes: suas condições materiais de existência, as relações sociais contraditórias e formas sociais através das quais se expressam. Existe, pois uma indissociável relação entre produção dos bens materiais e a forma econômico-social em que é realizada, isto é, a totalidade das relações entre os homens em uma sociedade historicamente particular, regulada pelo desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social.

Com a crescente globalização econômica, acentua-se a privatização, quando

a questão social deixa de ser associada ao mercado de trabalho para ser vinculada

ao mercado de consumo. Atualmente o Estado procura diminuir o seu tamanho, ou

seja, reduzir os custos com as políticas públicas voltadas a realização da cidadania.

O cidadão agora é visto pela sua capacidade de consumo e não por ser portador de

direito ao pertencimento social pelo fato de fazer parte da sociedade, assim também

a sua proteção social fica reduzida e ameaçada.

O povo se vê desvalido de direitos sociais básicos, enquanto que as elites

políticas não articulam democracia política com democracia social, pois o país é uma

das maiores economias do mundo e também é uma das maiores desigualdades

sociais. Os direitos sociais, cada vez mais, passam a ser entendidos como

necessidades sociais, pois os direitos estando privatizados, vincula a proteção à

capacidade produtiva de cada um.

A questão social no Brasil é moldada de acordo com os interesses das elites

políticas. A questão social, que com a questão trabalhista firma-se como proteção

social (como direitos sociais e filantropia), assume característica paternalista, de

política do favor, de patriarcalismo autoritário, ou seja, misérias transformam-se em

instrumentos, armas de dominação, bem como a reprodução do sistema. Por isso,

ainda hoje, direitos são vistos pela elite como privilégios, favores.

Desde a sua origem, o nosso sistema de proteção social, ao invés de existir

para garantir a capacitação e inclusão dos cidadãos (desempregados, analfabetos,

pessoas em situação de miséria) no mercado de trabalho, tem funcionado apenas

para reproduzir o atual sistema de reprodução de subalternidade, de subserviência,

Page 26: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 25

de apadrinhamento das classes assalariadas e do povo, em geral, para com aqueles

detentores do poder econômico e político do país. Vivemos na verdade um sistema

de desproteção social e as múltiplas expressões da questão social atravessam o

cotidiano da maior parte dos brasileiros, levando-os a uma vida de privações e não

acesso aos bens sociais e a riqueza produzida socialmente.

Referências

CASTEL. Robert. As Armadilhas da Exclusão. 2ª edição. In: Desigualdade e a Questão Social. São Paulo: EDUC, 2000. IAMAMOTO, Marilda. A Questão Social no Capitalismo. In: Revista Temporalis 3, Ano II, nº 3, jan./jul. 2001. Brasília: ABEPSS, Grafline, 2001, p.9-32. MARX, Karl. Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844. In: Conceito Marxista do Homem. Apêndice: manuscritos econômicos e filosóficos de 1844 de Karl Marx. 8ª ed. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1983. NETTO, José Paulo. Cinco Notas a Propósito da “Questão Social”. In: Revista Temporalis 3, ano II, nº 3, jan./jul. 2001. Brasília: ABEPSS, Grafline, 2001.

Page 27: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

26 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 15

A análise do significado social do Serviço Social no processo de reprodução das

relações sociais salienta o caráter contraditório da profissão. Ela reproduz, pela

mesma atividade, interesses contrapostos que convivem em tensão – demandas do

capital e do trabalho – e só pode fortalecer um ou outro pólo pela mediação de seu

oposto. De que decorre esse caráter contraditório da atuação profissional?

(A) Da intencionalidade do Assistente Social. (B) Da condução da atuação profissional. (C) Da pressão dos empregadores. (D) Da relação de classes. (E) Das demandas dos usuários. Gabarito: Questão D Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta.

Conteúdos avaliados: Identidade social da profissão Autores: Márcia Salete Arruda Faustini

Comentário: A alternativa correta é a (D).

Encontramos essa ideia em Iamamoto e Carvalho (1993), quando discutem

“O Serviço Social no processo de produção das relações sociais”, na obra citada.

Nessa obra – marco do pensamento crítico na profissão – os autores trazem a

discussão do significado social da profissão no contexto da sociedade capitalista.

Para tanto, irão (re)tecer a trajetória histórica da profissão e situá-la no contexto

das relações capitalistas, destacando, especialmente, a lógica reprodutiva do capital e

as relações sociais construídas no contexto. As referências teóricas trazidas e as

reflexões pontuadas em Relações Sociais e Serviço Social no Brasil, tendo sua

primeira edição em 1982, são balizas à evolução do pensamento crítico na área.

Entender a profissão é entendê-la em seu contexto, é compreendê-la no

contexto da divisão social do trabalho, e, não, simplesmente, tentar compreendê-la a

partir de movimentos endógenos que a mesma poderia autoproduzir. Estado,

sociedade civil e profissão são elementos inter-relacionados para essa

compreensão. Assim, a profissão precisa ser compreendida, tanto na reprodução

Page 28: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 27

das relações de classe quanto no relacionamento contraditório entre elas. “É

necessário historicizar as práticas da sociedade, as lutas sociais recriadas nas

contradições do capitalismo...” (CELATS, 1985, p.57).

As necessidades sociais humanas vão impondo estratégias a sua satisfação,

que ocorrem por meio do trabalho. Pela via do trabalho os homens produzem

objetos, e, no contexto da organização social capitalista, produzem também

mercadorias, que envolvem a possibilidade de reprodução de sua vida material,

mas, ao trabalharem os homens também vão tecendo relações entre si. Iamamoto

(2001, p.26) destaca que “Quando se fala em produção/reprodução da vida social

não se abrange apenas a dimensão econômica [...]”. A autora faz uma crítica a uma

redução economicista, muitas vezes, feita nessa questão, e complementa que a

produção e a reprodução das relações sociais incidem também em “[...] formas de

pensar, isto é, formas de consciência, através das quais se aprende a vida social”.

(Marx apud Iamamoto, 2001, p.27).

Então, o trabalho profissional, ao incidir sobre as expressões da questão

social – compreendendo que manifestam desigualdades da sociedade capitalista –

lida com uma contradição fundamental: o trabalho, cada vez mais coletivizado e

apropriação de sua atividade e de seus frutos, cada vez mais privativa. E, nesse

contexto, diversos e divergentes interesses concorrem, expressando-se, no

cotidiano, em manifestações de vida em diversas áreas – no trabalho, na família,

nas amizades, na saúde, na educação [...] –, revelando expressões de fragilidades,

mas também de rebeldia e resistência. (Iamamoto, 2001).

A profissão encontra seu significado no movimento da sociedade, adquire

concretude histórica ao enfrentar seu objeto de intervenção – as expressões da

questão social –, mas, para fazê-lo, trabalha na contradição gerada por distintos

interesses frutos da relação capital x trabalho. Nesse espaço contraditório, tem como

objetivos profissionais, à luz do Projeto Ético-Político – que, encontra-se respaldado

no Código de Ética (1993); na Lei de Regulamentação Profissional (1993) e nas

Diretrizes Curriculares (1996) – acionar mecanismos que direcionem-se a garantia

de direitos. Por isso, o lugar do Estado é tão importante, posto que “[...] só o Estado

pode atribuir universalidade a estes direitos” (Iamamoto, 2002, p.28).

Page 29: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

28 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

É importante destacar que o significado social da profissão vai sendo tecido

nas próprias relações da sociedade, que são econômicas, políticas, ideológicas,

afetivas, entre outras, relações que implicam numa dinâmica de poder, remetem ao

terreno de uma totalidade social. A dinâmica da sociedade capitalista cria

mecanismos para que as formas de produção e reprodução da lógica de

acumulação possam garantir a sobrevivência do sistema social, e, nesse

movimento, entram em cena mecanismos de reprodução da vida social. Não sem

confronto e conflitos, asseveram-se formas de desigualdades entre os homens no

que diz respeito ao acesso e a permanência no usufruto dos bens, coletivamente,

produzidos. A apropriação, por parte da população, de uma parcela maior dos bens,

socialmente, gerados em sociedade, traz a marca da contradição do sistema e

engendra formas de tensão e resistência por parte de parcelas que se veem

excluídas desse usufruto. O Estado assume um lugar importante na administração

dessa relação, na medida em que, via políticas públicas, preenche um campo

importante de possibilidades mediadoras a essa relação.

Os interesses do capital e do trabalho convivem em tensão. Por isso, a

importância da clareza de um projeto profissional que seja coletivamente construído,

teoricamente adensado, permanentemente avaliado e enraizado em seu tempo e

seu contexto. A dinâmica das classes sociais e as formas de produzir-se e

reproduzir-se a vida social, sofrem profundas alterações neste início de século,

consequentemente, as mediações profissionais não podem ser assumidas como

fórmulas e nem replicadas a distintos contextos sociais sem que uma clareza de

compreensão se construa.

Iamamoto (2008) ao final de sua obra, na qual problematiza as alterações

profundas no movimento do capital e seu fetiche, bem como o trabalho profissional

nesse contexto, lembra o grande pensador brasileiro Ianni que refere: para conhecer a história do Brasil é indispensável conhecer ‘ a história social do povo brasileiro’. A maneira como se relacionam os grupos e classes sociais é uma dimensão fundamental da realidade política (Ianni apud Iamamoto, 2008, p. 469).

Portanto, as alternativas (A), (B), (C) e (E) não respondem a questão

enunciada, na medida em que, suas afirmações não respondem ao enunciado:

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 29

(A) Da intencionalidade do Assistente Social: configura-se como um elemento

importante para compreender a direção do trabalho profissional. Entretanto, a

intenção, o sentido, a direção do trabalho não indica, por si só, o caráter

contraditório da atuação, do exercício do trabalho, em si, do assistente social. A

intencionalidade irá indicar finalidades da ação.

(B) Da condução da atuação profissional: elemento vago para compreensão

do trabalho profissional. Não é a condução da atuação que determina o caráter

contraditório da mesma, mas o próprio caráter contraditório da ação profissional é

que condiciona possibilidades e limites da ação profissional.

(C) Da pressão dos empregadores: o caráter contraditório da atuação

profissional advém de uma “relação” e não de um só elemento constitutivo da

relação.

(E) Das demandas dos usuários: o mesmo argumento do item (C). Segundo

Lefebvre apud Iamamoto (2008, p.49-50), [...] as relações sociais de produção envolvem contradições de classe (capital e trabalho) que se amplificam em contradições sociais (burguesia e proletariado) e políticas (governados e governantes). Toda a sociedade torna-se o ´lugar` da reprodução das relações sociais.

Portanto, o caráter contraditório da atuação profissional vai mediar interesses

do capital e do trabalho, a partir da dinâmica das classes sociais, em determinado

contexto histórico.

Referências

ABESS/CEDEPSS. Proposta básica para o projeto de formação profisssional. In: Revista Serviço Social e Sociedade: o serviço social no século XXI. São Paulo: Cortez, ano XVII, nº 50, p.143-171, abril de1996. BRASIL. Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Lei n. 8.662/1993. CENTRO LATINO AMERICADO DE TRABALHO SOCIAL – CELATS. Serviço Social Crítico: problemas e perspectivas. São Paulo: Cortez, 1985. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética do Assistente Social. Brasília 1993. IAMAMOTO, Marilda. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.

Page 31: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

30 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

______. Projeto Profissional: espaços ocupacionais e trabalho do assistente social na atualidade. In: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Atribuições Privativas do Assistente Social em questão, Brasília: CFESS, fev. de 2002. p.13-49. ______. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. ______; CARVALHO, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 9ª. ed. São Paulo: Cortez; [Lima,Peru]: CELATS, 1993.

Page 32: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 31

QUESTÃO 16

Na trajetória recente do Serviço Social, surgem requisições inéditas; novas

respostas profissionais são exigidas, tanto no campo investigativo quanto no da

intervenção. Entre outras, abrem-se possibilidades no complexo campo da

formulação, gestão e avaliação de políticas públicas, planos, programas e projetos

sociais.

Em face das atuais exigências de democratização do espaço público, o que cabe a

gestores e técnicos para que o planejamento não fique adstrito ao âmbito da gestão

e do poder?

(A) Processar teórica, política e eticamente as demandas sociais, intervindo para o seu atendimento.

(B) Elaborar pronunciamentos políticos e planos, afirmando intenções sociais na perspectiva das demandas.

(C) Executar projetos de lei e decretos governamentais, dando visibilidade às demandas.

(D) Socializar recursos para, com as organizações não governamentais, viabilizar projetos.

(E) Viabilizar ações que atendam as demandas populares, tais como estas são direta e empiricamente formuladas.

Gabarito: Questão A

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta. Conteúdo avaliado: Política Social, Gestão e Avaliação de Políticas Públicas,

Serviço Social e Processo de Trabalho Autora: Dolores Sanches Wünsch

Comentário: A alternativa correta é a (A). Compreende-se que o “processar teórica, política

e eticamente as demandas sociais, intervindo para o seu atendimento”, possibilita

contribuir para formular respostas efetivas, por meio das políticas sociais públicas,

às demandas sociais, as quais materializam diferentes expressões e dimensões da

questão social. As políticas sociais como resultado das históricas contradições entre

estado e sociedade, Boschetti (2009), se desenvolveram como um importante

mecanismo para o enfrentamento das desigualdades sociais e garantia de direitos

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32 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

sociais, na sociedade capitalista. Historicamente, as políticas sociais, constituíram-se

em espaços profissionais “privilegiados” para o trabalho do Assistente Social, sendo

que, a profissão se institucionalizou e legitimou circunscrita a um conjunto de

determinações sócio-históricas que a requisitaram para atender as refrações de um

modelo de desenvolvimento societário desigual.

As conformações atuais das políticas sociais, entretanto, trazem novas

requisições para os Assistentes Sociais, renovando suas competências e atribuições

e que ultrapassam as funções “tradicionais” voltadas, exclusivamente, à execução

das políticas sociais.

A partir da luta pela democratização do estado brasileiro, em meados da

década de 80, fortalece-se a lógica do direito da cidadania, que tem como um de

seus desdobramentos o processo de descentralização político-administrativa da

gestão pública, representada pelo processo de municipalização das políticas sociais

públicas e garantido pela Constituição Federal de 1988. Esse novo cenário

redimensiona o trabalho do Assistente Social, sendo este, chamado “a atuar na

esfera da formulação e avaliação de políticas e do planejamento e gestão”

(IAMAMOTO, 2006, p. 192). Dessa forma o Assistente Social, no papel de gestor ou

técnico, necessita de um conjunto de competências profissionais que se expressa no

plano teórico-metodológico, técnico-operativo e ético-política de sua ação. O

trabalho profissional parte do reconhecimento do papel do Estado e sua relação com

a sociedade e dos interesses de classe que a envolvem; passa pela democratização

dos espaços públicos com a efetiva garantia da participação da população no

planejamento e decisões dos rumos das políticas sociais; no fortalecimento do

controle social, traduzindo-se na definição de programas e projetos, bem como,

avaliando, constantemente, o impacto dos mesmos no atendimento às reais

necessidades da população.

Sendo assim, é incorreto afirmar que compete ao técnico ou gestor, conforme

presume a alternativa (B), “elaborar pronunciamentos políticos e planos, afirmando

intenções sociais na perspectiva das demandas”, uma vez que essa ação que não

condiz com o domínio das suas legítimas atribuições, no âmbito das políticas

sociais. Suas competências passam, sim, pela ampliação e criação de canais de

planejamento participativo e do envolvimento dos diferentes atores e profissionais

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 33

para sua implementação. As proposições e intenções do gestor só irão atender as

demandas da população-usuária quando incorporarem os seus interesses e

necessidades, que se dá pelo conhecimento da realidade social e das formas

particulares que essas demandas emergem dos processos sociais. Havendo, para

tanto, a exigência de uma permanente formação teórica-metodológica para o

processamento desse conhecimento e suas mediações sobre a realidade.

Dessa forma, requer do profissional um perfil crítico e investigativo, que

supere o pragmatismo de suas ações, como limitar-se a “executar projetos de lei e

decretos governamentais, dando visibilidade às demandas” e que estão colocadas,

também, incorretamente, na alternativa (C). Ou seja, essa ação representa uma

resposta verticalizada às demandas sociais e, mesmo que dê visibilidade às

mesmas, é imprescindível reconhecer os diferentes condicionantes e determinações

que perpassam a elaboração de leis e projetos resultantes das relações de poder

que as definem, especialmente em razão do planejamento destas, nem sempre

garantir mecanismos de participação social.

Evidencia-se, também, a necessidade do profissional conhecer e dominar a

leitura e análise dos orçamentos das políticas sociais e suas fontes de

financiamento e dessa forma identificar recursos disponíveis para melhor propor

projetos sociais. Não cabe a esse profissional “socializar recursos para, com as

organizações não governamentais, viabilizar projetos”, como enseja de forma

incorreta a alternativa (D), sendo a definição dos recursos para as entidades uma

prerrogativa dos conselhos setoriais e de direitos, através de ampla participação

dos conselheiros na elaboração do plano municipal da política específica, definindo

diretrizes programáticas e orçamentárias e a destinação dos recursos de seus

fundos públicos.

São múltiplas, portanto, as competências profissionais, para o processamento

do trabalho em que se insere o Assistente Social, no âmbito da gestão das políticas

sociais. São competências que condiz com um perfil profissional que rompa com

práticas imediatistas, empiristas que reproduzam antigas e insuficientes “fórmulas”

de enfrentamento as necessidades sociais. Portanto, evidencia-se que a alternativa

(E), “viabilizar ações que atendam as demandas populares, tais como estas são

direta e empiricamente formuladas”, também é incorreta, pois significa reiterar ações

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34 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

destituídas do caráter participativo, político e ético, comprometida com a

transformação da realidade, na mera reprodução cotidiana das crescentes

demandas sociais.

Por fim, para melhor situar esta análise é fundamental retomar a questão do

papel do Estado e a democratização do espaço público, na perspectiva de

compreender o significado e o papel das políticas sociais, como campo de

conhecimento e intervenção do Serviço Social e outras profissões. Segundo

Boschetti (2009), deve-se buscar analisar a política social na sua totalidade e

compreender o seu caráter contraditório, bem como articular os determinantes

estruturais que incide na conformação das políticas sociais como as diferentes

forças sociais que agem na sua formulação e execução. Portanto, não há respostas

profissionais às demandas sociais, sem a devida apropriação de competências

teórico-práticas adquiridas ao longo da formação profissional e construídas nas

tensas relações político-institucionais cotidianas.

Referências

BOSCHETTI, Ivanete. Avaliação de políticas, programas e projetos sociais. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. 760p. IAMAMOTO, Marilda. As dimensões ético-políticas e teórico-metodológicas no Serviço Social contemporâneo. In: MOTA, A.E. et al. (Org). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006.

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 35

QUESTÃO 17

Considerando que a cidadania moderna compõe-se, tradicionalmente, de três

ordens de direitos, assinale aqueles que, no decurso do século XX, foram os que

mais tardiamente ingressaram na agenda pública brasileira.

(A) Direitos humanos. (B) Direitos civis. (C) Direitos sociais. (D) Direitos políticos. (E) Direitos de expressão. Gabarito: Questão A

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta.

Conteúdos avaliados: O ingresso dos direitos humanos na agenda pública

brasileira Autora: Maria Palma Wolff

Comentário: Inicialmente é necessário destacar que o gabarito oficial, que define a letra A

como resposta para essa questão, está incorreto. Isso porque o conceito de “Direitos

humanos” abrange diversas categorias de direitos, inclusive aquelas referidas nas

demais opções. A resposta incorre, portanto, em redundância e imprecisão no

tratamento do tema proposto.

De acordo com seu surgimento histórico convencionou-se definir gerações de

direitos humanos; assim, os direitos civis e os direitos políticos são considerados

como a primeira geração de direitos humanos, isso porque são os que, no contexto

histórico, foram primeiro definidos e positivados. Os principais marcos da definição

desses direitos são a declaração dos direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e a

Declaração da Independência dos Estados Unidos da América de 1776.

Os direitos sociais, introduzidos a partir da luta dos trabalhadores no final dos

séculos XIX e no século XX por melhores condições de vida e de trabalho, são

considerados a segunda geração de direitos humanos.

No âmbito do direito internacional, a principal referência na definição dos

direitos humanos é a promulgação da Declaração Universal de Direitos Humanos

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36 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

das Nações Unidas, em 1948, a qual abrange, tanto os direitos civis e políticos como

os direitos econômicos, sociais e culturais. No contexto pós II guerra e da guerra fria

a Declaração foi dividida para que fossem especificados os direitos, definindo-se,

então, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos

Direitos Econômicos Sociais e Culturais, ambos datados de 1968.

Assim, “Direitos civis”, letra B, “Direitos sociais”, letra C, “Direitos políticos”

letra D e os “Direitos de expressão” – que fazem parte dos direitos civis – letra E,

são todos considerados direitos humanos, sendo, portanto, impossível afirmar que

foram os direitos humanos, enquanto uma categoria genérica, a ordem de direitos

que mais tardiamente ingressaram na agenda pública brasileira.

Da mesma forma não está correta a letra B, já que os direitos civis se

constituem na primeira conquista de direitos; surgem no século XVIII, associados a

afirmação do processo capitalista de produção europeu e, consequentemente, à

organização do estado liberal. São assim relacionados às liberdades individuais:

liberdade de palavra, liberdade de pensamento e de fé, direito à propriedade e direito

à justiça. Esse processo teve correspondência tardia na implementação dos direitos

humanos no Brasil. Aqui é possível registrar como marca dos direitos civis a abolição

da escravidão (1888) e posteriormente a primeira Constituição Republicana (1891)

que assegurou a igualdade legal entre os cidadãos brasileiros, garantiu as liberdades

de crença, de associação e reunião, além do habeas corpus para fazer frente a

violências ou coações por ilegalidade ou abuso de poder. Os direitos de expressão,

referidos na letra E, compõem o catálogo dos direitos civis, fazendo parte daqueles

que menos tardiamente foram recepcionados pela legislação brasileira.

Na sequência dos direitos civis estão os direitos políticos, que no âmbito

internacional e local representam as conquistas posteriores. No continente europeu,

já no final do século XVIII, as legislações de alguns países já asseguravam a participação da população nos assuntos políticos por meio do voto, ou seja, o direito

de votar e ser votado. No Brasil, a Constituição Republicana de 1891 aboliu o voto

censitário, que exigia um padrão de renda para que o cidadão pudesse votar. No

entanto, as mulheres somente conquistaram o direito ao voto na Constituição de 1934 e os analfabetos em Lei sancionada em 1985. Dessa forma, a letra D, também

não pode ser considerada correta, já que os direitos políticos são, ainda que não em

sua totalidade, originários da organização republicana.

Page 38: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 37

A resposta correta seria, portanto, a letra C, que se refere aos “Direitos sociais”,

os quais são conquistas que surgem com mais força no século XX. Trata-se de

direitos que estão relacionados à busca de garantias de condições dignas de vida

para os segmentos sociais e parcelas da população assalariada ou pobre. Os direitos

sociais incorporam direitos trabalhistas, a aposentadoria e garantias de acesso à

educação e à saúde pública. A Constituição Federal Brasileira de 1934 também

marcou a introdução dos direitos sociais no contexto brasileiro, quando foram

disciplinadas as condições de trabalho, estabelecendo o salário mínimo, a jornada de

trabalho de 8 horas, o repouso semanal, as férias remuneradas, a indenização por

dispensa sem justa causa, a assistência médica ao trabalhador e à gestante, também

trabalhadora. No entanto, a ampliação dos direitos sociais, ou seja, sua definição

também para os trabalhadores rurais e à população não vinculada ao mercado de

trabalho ocorreu apenas pela Constituição Federal de 1988, a qual universalizou o

acesso à saúde, à previdência e à assistência social, estipulando direitos para todos

os cidadãos, independentemente de sua vinculação ao mercado de trabalho. Pelo

exposto, no âmbito dos direitos de cidadania, enfocado no enunciado da questão, é

possível considerar os direitos sociais como aqueles que por último foram legitimados,

tanto do ponto de vista político como legal. Portanto, a letra C seria aquela que

poderia responder corretamente à questão.

Assim, considerando que a definição de direitos humanos engloba mais do

que uma categoria de direitos, é impossível afirmar como quer o gabarito oficial

através da letra A que esses foram os “que mais tardiamente ingressaram na

agenda pública brasileira”. Salienta-se ainda que desde a definição das leis que

enfrentaram a escravidão no Brasil, estava-se buscando a efetivação de direitos

humanos, ainda que nesse caso tratava-se apenas dos direitos civis.

Referências

MONDAINI, Marco. Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Contexto, 2009. TRINDADE, José Damião de Lima. História Social dos Direitos Humanos. São Paulo: Peirópolis, 2002. BRAGATO, Fernanda Fizzo; CULLETON, Alfredo; FAJARDO, Sinara Porto. Curso de Direitos Humanos. São Leopoldo: Unisinos, 2009.

Page 39: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

38 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 18

“O Assistente Social é (...) um intelectual que contribui, junto com inúmeros outros

protagonistas, na criação de consensos na sociedade. Falar de consenso diz

respeito não apenas à adesão ao instituído: é consenso em torno de interesses de

classes fundamentais, sejam dominantes ou subalternas, contribuindo no reforço da

hegemonia vigente ou criação de uma contra-hegemonia no cenário da vida social.” IAMAMOTO, M.V. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação

profissional. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2001, p. 60.

A partir da leitura do texto acima, pode-se afirmar que,

(A) há consenso de que todos os Assistentes Sociais defendem os interesses das classes subalternas.

(B) há consenso de que todos os Assistentes Sociais defendem os interesses das classes dominantes.

(C) a criação de consensos depende da adesão ao instituído por parte dos Assistentes Sociais.

(D) o Assistente Social pode contribuir para a formação de consenso contra- hegemônico.

(E) os Assistentes Sociais são intelectuais que excluem o consenso das suas atividades.

Gabarito: Questão D

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta. Conteúdos avaliados: O Assistente Social como intelectual e sua contribuição para

a formação de consenso na sociedade

Autora: Leonia Capaverde Bulla1

Comentário:

Na questão 18 é solicitada a escolha da alternativa que melhor se relacione

com o posicionamento de Iamamoto (2001, p.60), expresso em um trecho de seu

livro O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 1 Leonia Capaverde Bulla, Assistente Social, Mestre em Serviço Social (UNI-LAVAL - Canadá), Doutora em Ciências Humanas-Educação (UFRGS - Brasil), Pós-Doutora em Serviço Social (UNI-KASSEL- Alemanha), Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Graduação, Mestrado e Doutorado); Membro da Comissão Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Coordenadora do Núcleo de Pesquisas em Demandas e Políticas Sociais; Coordenadora do Programa Geron da PUCRS; Pesquisadora do CNPq, nível I. [email protected]

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 39

Dentre as alternativas propostas, a resposta (D) é a correta, ou seja, “o Assistente

Social pode contribuir para a formação de consenso contra-hegemônico”.

O texto que fundamenta a questão 18 traz à discussão alguns conceitos

tratados por Gramsci em sua obra Os intelectuais e a organização da Cultura (1981),

entre eles, a questão do Intelectual, relacionada à formação de consenso, aos

interesses das classes subalternas, à hegemonia e à contra-hegemonia e que são

discutidos por Iamamoto (2001, p.60) quando trata, mais especificamente, da

“prática como trabalho e a inserção do Assistente Social no processo de trabalho”.

Para aprofundar essas questões, é importante que se retome, então, o

pensamento de Gramsci sobre o assunto. Para o autor, os intelectuais

desempenham um papel fundamental na organização da hegemonia, articulando a

infraestrutura com a superestrutura, assegurando o consenso ideológico da massa

em torno do grupo dirigente. Gramsci não se referia, entretanto, aos que comumente

se conceituam como intelectuais, sejam os literatos, os filósofos, os artistas e outros,

colocados num alto pedestal, como se fossem forças independentes, nas lutas

político-ideológicas que se enfrentam numa sociedade. Na realidade, dizia o autor,

"todos os homens são intelectuais", pois nenhuma atividade humana dispensa um

mínimo de intervenção intelectual (GRAMSCI, 1981, p.14).

Gramsci propunha, dessa forma, uma concepção ampliada de intelectual, que

levasse em conta a função exercida no conjunto das relações sociais e não a

natureza do trabalho que cada pessoa realiza de modo preponderante, manual ou

intelectual. Sua preocupação era com a criação de uma nova camada intelectual,

que se articulasse ativamente com a prática social, que ajudasse a construir uma

nova relação orgânica com a classe revolucionária, o proletariado.

As reflexões de Gramsci partem da constatação de que não existem

intelectuais autônomos e independentes. Eles estão ligados de modo orgânico ao

seu grupo social, não podendo esse prescindir dos intelectuais “que lhe dão

homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico,

mas também no social e no político” (GRAMSCI, 1981, p.7). Sendo altamente

qualificados nos vários campos do saber ou especialistas na metodologia científico-

tecnológica, os intelectuais estão preparados para elaborar, aprofundar e justificar a

concepção de mundo de seu grupo social, estando em condições de planejar e

Page 41: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

40 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

colaborar, igualmente, nas estratégias de direção e domínio da sociedade. A

assimilação e a conquista ideológica desses elementos é um fator muito importante

na escalada de um grupo em direção ao poder.

Nas sociedades capitalistas, os intelectuais ligam a infraestrutura à

superestrutura, como se fossem um “tecido conjuntivo” (MACCIOCCHI, 1977,

p.197), e que garante ao bloco histórico a conquista e a permanência no poder. Com

base em dados históricos e na realidade concreta, Gramsci conclui que os

intelectuais são “os comissários do grupo dominante” (GRAMSCI, 1981, p.14), os

elementos mediadores, não só para o desempenho da função da hegemonia, mas

também para a função de comando político. Nesse sentido, os intelectuais são os

organizadores da coesão social de um bloco de forças, são os porta-vozes da classe

no poder, para conseguir o consentimento “espontâneo” da população, mas estão

também em conexão estreita com o governo político, com o comando do aparato

estatal, de aplicação de leis, de punição, repressão e violência.

Assim como os grupos dominantes possuem seus intelectuais, é

imprescindível que a classe trabalhadora crie os seus. Contando com pessoal

especializado e elementos mediadores, os trabalhadores teriam maiores chances de

acesso à cultura, poderiam incrementar as instituições de classe e desenvolver

estratégias de ação na sociedade, que possibilitasse uma futura conquista do poder.

Desse modo, a classe trabalhadora poderia ir assumindo algumas funções de

direção na sociedade, preparando-se para assumir o poder governamental.2

Seria igualmente fundamental a conquista de intelectuais não originários da

classe operária ou dela afastados, para que eles se tornassem organicamente

aliados aos trabalhadores na luta por uma nova hegemonia.

A ação contra-hegemônica não é mecânica nem automática. Exige esforços.

Mas como poderá o homem assumir seu papel de sujeito da práxis social, se lhe

falta uma percepção mais ampla da realidade em que está inserido, se ele não

consegue compreender as relações de poder em que se estrutura a sociedade? As

reflexões de Paulo Freire auxiliam a responder a essas questões:

2 Gramsci faz a distinção entre direção e domínio. Para ele direção é o momento de organização do consenso e domínio é o momento da força. Mesmo que o grupo social tenha assumido o poder, ele precisa continuar a ser dirigente e nesse ponto é muito importante a ação intelectual, pois, segundo o autor, “o grupo dominante não se torna dirigente senão quando chega, por meio dos seus intelectuais, a exercer a sua hegemonia sobre a sociedade inteira” (GRAMSCI, 1981, p.72-73).

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 41

O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade, se não é auxiliado a tomar consciência da realidade e de sua própria capacidade para transformá-la. [...] É importante preparar o homem para isso por meio de uma educação autêntica: uma educação que liberte, que não adapte, domestique ou subjugue (FREIRE, 1980, p.40).

O acesso ao saber significa a possibilidade de desvelar as múltiplas

conexões do poder, através do questionamento das relações sociais e de suas

contradições. Pelo saber, o indivíduo se descobre como parte integrante de um

todo social, enquanto assimila os bens culturais da humanidade. A escola, a

universidade e outras instituições da sociedade (como o Serviço Social) podem

assumir um papel de mediação muito importante nesse processo de

conscientização. Introduzindo um discurso crítico nas relações pedagógicas e

estabelecendo um elo entre a teoria e a prática, essas instituições preparam as

pessoas para a ação transformadora.

Assim como os demais intelectuais (na acepção de Gramsci), os assistentes

sociais podem exercer uma ação transformadora na sociedade, assumindo um papel

de mediação no processo de conscientização, dando a sua contribuição à formação

de consenso e à luta contra-hegemônica (BULLA, 1992). Isso não significa que

todos os Assistentes Sociais contribuam para essa ação contra-hegemônica e sim,

que os assistentes sociais podem defender os interesses das classes trabalhadoras

e que podem contribuir para a formação de consenso contra-hegemônico. Nas

últimas décadas, houve um processo de renovação muito significativo no Serviço

Social afinado com as mudanças ocorridas na sociedade brasileira, formando-se um

consenso profissional sobre a necessidade de construção de um novo projeto ético-

político que deu as bases para o Código de Ética Profissional dos Assistentes

Sociais, instituído em 1993 (CFESS, 1993). A partir desse Código de Ética, os

assistentes sociais assumem compromissos alicerçados em princípios fundamentais,

entre eles aqueles que deixam claro alguns pontos enfatizados nesta discussão: Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa dos arbítrios e do autoritarismo; a ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; [...] Opção por um

Page 43: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

42 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e gênero (CFESS, 1993).

Partindo dos princípios fundamentais preconizados pelo Código de Ética

Profissional (CFESS, 1993) conclui-se que compete ao Assistente Social posicionar-se

em favor da classe trabalhadora e que o profissional pode contribuir para a construção

de um consenso contra-hegemônico sempre que houver, na sociedade, ameaças à

liberdade e a ordem democrática. A resposta D é, portanto, a correta. Mas não se trata

somente de criar consensos societários contra-hegemônicos para o restabelecimento

da vida democrática, mas, também, de desafios cotidianos propostos ao profissional de

Serviço Social. Como afirma Iamamoto (2001, p.59), o Assistente Social se encontra

num “mar de criação de consensos” juntamente com outros profissionais e demais

integrantes da sociedade que labutam pela criação de melhores condições de vida

para toda a população, sem abrir mão dos princípios democráticos.

As respostas A, B, C e E são, por outro lado, consideradas incorretas.

Embora todos os assistentes sociais possam contribuir para a criação de consensos,

não se pode afirmar que todos defendam os interesses das classes subalternas. Por

outro lado, não há como excluir o consenso das atividades dos assistentes sociais e

a criação de consensos não depende da adesão ao instituído por parte dos

profissionais, pois nem sempre o instituído reconhece e respeita a “autonomia,

emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais”, mas esse é um

compromisso dos assistentes sociais alicerçado em princípios fundamentais do seu

Código de Ética Profissional (CEFESS, 1993). Nesse caso, cabe ao profissional “A

defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo, a

ampliação e consolidação da cidadania” (CEFESS, 1993), associando-se a todos

aqueles que defendem a mesma proposta de sociedade, formando um consenso

contra-hegemônico, com vistas à garantia de direitos civis, políticos e sociais e de

melhor qualidade de vida para todos os cidadãos.

Referências

BULLA, Leonia Capaverde. Serviço Social, Educação e Práxis: tendências teóricas e metodológicas. Tese de Doutorado. Porto Alegre: FACED/UFRGS, 1992.

Page 44: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 43

______. Origens e profissionalização do Serviço Social no Brasil. In: FLICKINGER, Hans-Georg. Entre caridade, solidariedade e cidadania: história comparativa do Serviço Social Brasil/Alemanha. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. CFESS. Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Resolução nº.273/93 do Conselho Federal de Serviço Social, publicada no Diário Oficial da União, nº. 60, de 30/3/93, Seção I, p. 4.004-4.007 e alterado pela Resolução CFESS, nº. 290, publicada no Diário Oficial da União de 11/2/1994. Brasília, 1993. FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação, uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez e Moraes, 1980. GRAMSCI, Antonio. A ciência política e o príncipe moderno. Lisboa: Estampa, 1974. (Obras escolhidas). ______. Os intelectuais e a organização da cultura. São Paulo: Círculo do Livro, 1981. IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 2001. ______. Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008. MACCIOCCHI, Maria Antonietta. Gramsci y la revolución de occidente. 3ª. ed. México: Siglo Veinteuno, 1977.

Page 45: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

44 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 19

Dentre suas atribuições, o Assistente Social enfrenta o desafio de elaborar planos,

programas e projetos para a Área Social. Observe o quadro, que explicita os

diferentes níveis do planejamento social.

I – PLANO Maior nível de abrangência do planejamento social.

II – PROGRAMA Menor nível de abrangência que o Plano, setorialização do planejamento social e menor detalhamento que o projeto.

III – PROJETO Menor abrangência que o Plano e o Programa e maior detalhamento de ações de execução das políticas sociais.

A análise do quadro permite assegurar que está (ão) correta(s) a(s) afirmação (ões)

contida na(s) coluna(s):

(A) I, apenas. (B) II, apenas. (C) III, apenas. (D) I e II, apenas. (E) I, II e III. Gabarito: Questão E

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta.

Conteúdos avaliados: Conceito de Plano, Programa e Projeto

Autora: Inês Amaro da Silva

Comentário: A resposta correta é a (E): estão corretas as características enunciadas para

os três níveis do Planejamento: Plano, Programa e Projeto.

O Planejamento Social constitui-se em uma instância estratégica da

intervenção profissional na realidade social e é condição para uma ação profissional

competente, crítica e criativa, alinhada com a dinâmica da realidade e das

necessidades e demandas sociais.

Como processo político, o planejamento social envolve continuamente a

tomada de decisões, as quais se inscrevem nas relações sociais e envolvem poder,

Page 46: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 45

participação social e exercício de cidadania. Enquanto processo técnico-político, o

planejamento tem como centro de interesse uma situação social delimitada que se

constitui objeto da intervenção profissional. Nesse sentido, todo o planejamento

envolve e expressa uma intencionalidade, bem como requer domínio instrumental,

para seu pleno desenvolvimento.

O planejamento é um importante instrumento da gestão social. Como função

gerencial, através do mesmo a instituição/organização prepara-se para o futuro,

traça objetivos, define recursos e meios necessários para atingi-lo. Planejar permite

realizar rupturas com as ações aleatórias e dispersas na realidade social, muitas

vezes sustentadas por ideias superficiais e orientações difusas, dirigidas por

espontaneismo ou ativismo.

Para cada nível da gestão institucional/organizacional – Estratégico Tático e

Operacional – correspondem diferentes níveis e funções de planejamento, que se

materializam em Planos, Programas e Projetos.

Do ponto de vista da dinâmica do processo, o planejamento envolve uma

racionalidade que se expressa em um conjunto de operações complexas e

interligadas de reflexão, decisão, ação e retorno da reflexão. Esse processo se dá

em um movimento contínuo de análise e síntese entre prioridades, meios e recursos

disponíveis para consecução das finalidades, efetivação de metas e realização dos

resultados desejados, em determinados períodos de tempo.

Para cada uma dessas fases metodológicas do processo de planejamento

social (reflexão, decisão, ação e retorno da reflexão), existem instrumentos

correspondentes. Os Planos, Programas e Projetos são documentos que

materializam o momento das decisões no planejamento e dizem respeito aos

diferentes níveis da gestão, acima referidos.

Dessa forma, o Plano constitui-se no documento que expressa a dimensão

mais ampla, é um instrumento normativo e político que contempla as decisões do

nível estratégico e de caráter geral do sistema, as grandes linhas, as diretrizes

gerais e os macro-objetivos que norteiam a instituição ou organização. Os Planos

correspondem muitas vezes à dimensão da Política Social, por exemplo: Plano

Nacional da Educação, Política/Plano Nacional da Assistência Social.

Page 47: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

46 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

O Programa é o documento de desdobramento do Plano. Apresenta por

setores ou áreas, as diretrizes, os objetivos e as metas setoriais, estabelecendo o

quadro mais amplo de referência dos projetos. Assim como um programa social é

um conjunto de projetos, uma política social é um conjunto de programas. No

planejamento social, projetos e programas são a tradução operacional das políticas

sociais. O Programa corresponde, assim, ao nível tático da gestão e envolve, em

geral, um horizonte de tempo mais longo que os projetos.

O Projeto é o documento que sistematiza e cria um traçado prévio da

operacionalização da ação. Contém um conjunto de atividades inter-relacionadas e

coordenadas para atingir determinados resultados em uma dada perspectiva de

tempo, em geral, em horizonte mais curto, e com determinado limite de recursos,

previstos em orçamento. O projeto constitui-se, assim, na unidade elementar do

processo de racionalização das decisões, sendo o instrumental mais próximo da

operação ou da execução propriamente dita.

(A) I, apenas – esta alternativa não é correta, pois estão certas as

características apontadas nos itens I, II e III, referentes à Plano, Programa e Projeto.

As demais alternativas estão incorretas

pelas razões a seguir:

(B) II, apenas – esta alternativa não é correta, pois estão certas as

características apontadas nos itens I, II e III, referentes à Plano, Programa e Projeto.

(C) III, apenas – esta alternativa não é correta, pois estão certas as

características apontadas nos itens I, II e III, referentes à Plano, Programa e Projeto.

(D) I e II, apenas – esta alternativa não é correta, pois estão certas as

características apontadas nos itens I, II e III, referentes à Plano, Programa e Projeto.

Referências

BAPTISTA, Myrian Veras. Planejamento Social: intencionalidade e instrumentação. São Paulo: Veras; Lisboa: CPIHTS, 2000. LUCK, Heloisa. Metodologia de projetos: uma ferramenta de planejamento e gestão. 4ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003. MELO RICO, Elizabeth (org.). Avaliação de Políticas Sociais: uma questão em debate. São Paulo: Cortez, 1998. TENÓRIO, Fernando G. Gestão de ONGs: principais funções gerenciais. 9ª ed. Rio de janeiro: FGV, 2005.

Page 48: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 47

QUESTÃO 20

Analise as afirmações a seguir:

No contexto da ofensiva neoliberal, a elaboração e execução de projetos sociais

vêm sendo deslocadas do Estado para as ONGs e Organizações Sociais, cuja

atuação não esgota o atendimento às demandas do campo dos direitos e das

políticas sociais.

PORQUE Só o Estado reúne as condições da universalidade com potencialidade de promover

ações permanentes, abrangentes e sistemáticas, na provisão de serviços e sistemas

sociais.

A esse respeito, é possível concluir que

(A) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. (B) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. (C) a primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa. (D) a primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira. (E) as duas afirmações são falsas. Gabarito: Questão A

Tipo de questão: Asserção e razão; escolha simples com indicação da resposta

correta.

Conteúdos avaliados: Neoliberalismo e Terceirização das Políticas Sociais

Públicas

Autora: Ana Lúcia Suárez Maciel

Comentário: A resposta correta é a A: “as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda

justifica a primeira”.

Ao analisarmos a questão fica evidente a discussão acerca da incidência

do neoliberalismo nas políticas sociais. Neoliberalismo é um termo que, a partir

da década de 60, passou a significar a doutrina econômica que defende a

absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a

economia, só devendo esta ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim

num grau mínimo. (Moraes, 2001).

Page 49: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

48 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Desde a Constituição Brasileira de 1988, quando os direitos sociais foram

incluídos como direito do cidadão e dever do Estado, as políticas sociais passaram a

ocupar o centro das discussões acerca da sua garantia em uma perspectiva de

universalidade, sendo o Estado o ator central na sua condução. Historicamente, o

Estado brasileiro desenvolveu um importante papel na sociedade, sendo

considerado um ator essencial porque colaborava com o funcionamento da

economia de mercado, estabilizando e aumentando a sua produtividade. No entanto,

a partir do final da década de 70 e início dos anos 80, o Estado passou a apresentar

sinais de enfraquecimento no que dizia respeito às suas forças enquanto regulador

e, com isso, o seu papel começou a ser repensado no sentido de restaurar as

condições para a liberdade do mercado, tendo em vista a conjuntura marcada pela

manifestação de sinais de falência do seu padrão intervencionista.

A política econômica brasileira da década de 90, especialmente a adotada pelo

governo de Fernando Henrique Cardoso, estava ancorada na perspectiva de fazer o

país avançar no sentido de sua integração ao contexto internacional de globalização.

A criação do Ministério de Administração e da Reforma do Estado, com destaque para

o Plano Diretor da Reforma do Estado, elaborado em 1995, foi um dos fatores

decisivos para a conformação de uma nova forma do Estado gerenciar as políticas

públicas. O objetivo da reforma do Estado pode ser conferido no extrato a seguir: Reformar o aparelho do Estado significa garantir a esse aparelho maior governança, ou seja, maior capacidade de governar, maior condição de implementar as leis e políticas públicas. Significa tornar muito mais eficientes as atividades exclusivas de Estado, através da transformação das autarquias em "agências autônomas", e tornar também muito mais eficientes os serviços sociais competitivos ao transformá-los em organizações públicas não-estatais de um tipo especial: as "organizações sociais”.3

Conforme a citação acima, a reforma do Estado supõe uma mudança

gerencial, mas, especialmente, uma redefinição das atividades exclusivas do

Estado, o que vem sendo considerada uma contrarreforma do Estado brasileiro. No

âmbito das políticas sociais, verifica-se que “(...) no atual contexto neoliberal, global

e produtivo, são substantivamente alteradas em suas orientações e em sua

funcionalidade” (Behring, 2003: 244).

3 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/PLANI6.HTM. Acesso em 30/4/2010.

Page 50: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 49

Dentre as novas formas de gerenciamento das políticas públicas se destaca a

constituição da esfera pública não estatal, ou seja, a constituição da parceria do

Estado com as organizações do chamado Terceiro Setor que abrange as ONGs e as

OS referidas no enunciado da questão em análise.

Como consequência se verifica novas formas de gestão dos programas sociais,

com destaque para a focalização, a terceirização como forma de contratação, a

descentralização do atendimento pela transferência direta, ou através de parcerias,

nos serviços para a comunidade, ou para organizações filantrópicas particulares.

A atuação desse Terceiro Setor, diferentemente do Estado, se caracteriza

pelo atendimento das demandas sociais, a partir, de um recorte das mesmas,

considerando-se a missão com a qual a organização se propõe a atuar. Assim, é

comum que as organizações que compõem esse setor atuem com um determinado

grupo ou demanda social, já que não lhes é exigido o trato universal, tal qual ocorre

no âmbito das políticas públicas.

Desse modo, conclui-se que a atuação das ONGs e OS se caracteriza como

uma forma complementar a ação do Estado e, por isso, a sua prática não esgota o

atendimento às demandas do campo dos direitos e das políticas sociais, o que

justifica a resposta A para a questão proposta.

Com relação à alternativa B, de fato, as duas afirmações são verdadeiras,

mas a segunda alternativa não justifica a primeira, pois o que está em questão é o

modelo de gestão do Estado (neoliberal) e não a natureza do mesmo.

Com relação à alternativa C, a mesma está incorreta, pois a primeira

afirmação é verdadeira e a segunda também é verdadeira.

A alternativa D está incorreta, pois ambas as afirmações são verdadeiras.

Por fim, a alternativa E está incorreta, pois afirma que as duas afirmações são falsas, quando na verdade, é o contrário: ambas são verdadeiras.

Referências

BEHRING, Elaine. Brasil em Contra-Reforma: desestruturação do Estado e perda de direitos. São Paulo: Cortez, 2003. BRASIL. PLANO DIRETOR DA REFORMA DO APARELHO DO ESTADO. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/PLANDI6.HTM. Acesso em 30/4/2010. MORAES, Reginaldo. Neoliberalismo: de onde vem, para onde vai? São Paulo: Senac, 2001.

Page 51: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

50 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 21

A participação dos usuários nos Conselhos de Políticas Públicas tem sido um

desafio para a sociedade brasileira: de fato “os usuários só poderão ter participação

efetivamente qualificada e transitando para o status de sujeito de direitos se tiverem

os instrumentos de análise da realidade.” GOMES, A.L. Os conselhos de políticas e de direitos. Capacitação em Serviço

Social e Política Social: módulo 4 – O trabalho do Assistente Social e as políticas Sociais. Brasília: UnB, 2000.

Com base nessa afirmação, e levando em conta o Código de Ética Profissional

vigente, cabe aos Assistentes Sociais:

(A) contribuir para a ampliação do conhecimento dos usuários para garantir direitos.

(B) substituir, em algumas circunstâncias, os usuários nos Conselhos. (C) fortalecer as representações das instituições que atendem os usuários. (D) criar normas e manuais de conduta que ensinem os usuários a serem

conselheiros. (E) representar, sistematicamente, os usuários nos seus Conselhos. Gabarito: Questão A

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta. Conteúdos avaliados: Conselhos de Políticas e de Direitos, Participação Social e

Projeto Ético-político da Profissão

Autora: Dolores Sanches Wünsch

Comentário: A questão problematiza a participação dos usuários nos Conselhos de

Políticas Públicas, evidenciando a importância e os desafios para a sua efetivação e

o papel do Assistente Social, a luz do Código de Ética Profissional, nesses espaços,

bem como a sua relação com os conselheiros-usuários. Cabe situar que o processo

de democratização do Estado brasileiro e a descentralização das políticas públicas

são recentes em nosso país, é através da Constituição Federal brasileira de 1998

que se cria uma nova institucionalidade na relação Estado-sociedade. Sendo os

conselhos das políticas sociais setoriais e de direitos e expressões desse processo,

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 51

constituindo-se em importante instrumento de controle social no âmbito da esfera

pública. Segundo Raichelis (2006), os espaços de representação social na

organização e gestão das políticas sociais ao se ampliarem, permitiram a

participação de novos e diversificados atores sociais, em particular aqueles que

historicamente estiveram excluídos das decisões políticas. Por sua vez, para o

Assistente Social esses espaços encontram-se em consonância com os princípios

fundamentais que norteiam o projeto ético-político profissional contribuindo para o

fortalecimento da direção social da profissão na busca constante da garantia dos

direitos de cidadania.

Esse breve preâmbulo atesta que a alternativa (A) está correta, pois cabe ao

Assistente Social, “contribuir para a ampliação do conhecimento dos usuários para

garantir direitos,” essa contribuição situa-se no reconhecimento do papel dos

usuários das políticas sociais, na proposição e definição dos rumos das mesmas

para atendimento das reais necessidades da população destinatária das políticas.

Evidencia-se que os conselhos são espaços de disputa de projetos hegemônicos

societários distintos, quanto mais qualificada for a participação dos usuários, mais se

amplia o processo democrático de controle social. Considerando especialmente, que

os usuários das políticas públicas, historicamente representam segmentos sociais,

subjugados a relações de poder e de subalternização entre governo e governados.

Na perspectiva dessa análise é de competência ético-política do Assistente

Social, nas políticas sociais, atuar nas instâncias de controle social. Seu trabalho na

relação com os conselheiros-usuários passa, dentre outras competências, pela

democratização da informação e ampliação do conhecimento dos princípios,

diretrizes e orçamento da política, e dessa forma, a representação e participação

destes, torna-se mais equânime, os usuários têm a possibilidade de exercerem um

papel mais efetivo, ou seja, de fato como sujeito de direitos.

Portanto, destaca-se que é incorreto afirmar que cabe ao Assistente Social

“substituir, em algumas circunstâncias, os usuários nos Conselhos,” conforme cita a

alternativa (B) ou ainda, a alternativa (E) “representar, sistematicamente, os

usuários nos seus Conselhos”, uma vez que a participação dos usuários é uma

prerrogativa legal. Também o Assistente Social não deve se limitar a “criar normas e

manuais de conduta que ensina os usuários a serem conselheiros” como sugere a

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52 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

alternativa (D), nem tão pouco “fortalecer as representações das instituições que

atendem os usuários” indicada pela alternativa (C) em detrimento a representação

dos próprios usuários. Todas essas alternativas são expressões de tutela à

participação política dos usuários, presentes na cultura política autoritária da

sociedade brasileira e criam obstáculos a autonomia dos usuários e ferindo assim o

Código de Ética Profissional, em seu princípio primeiro, que é o de “reconhecimento

da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes –

autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais” (CFESS, 1993).

Nessa direção, o Assistente Social deve contribuir para o processo de

autonomia dos usuários, tornando os conselhos um instrumento de mobilização e

aprendizagem para que os usuários possam se reconhecer como agentes políticos

públicos. Conforme aponta Gomes (2000), a participação qualificada e politicamente

comprometida dos usuários, incide no exercício do controle social e amplia o espaço

público.

Ressalta-se que a construção da esfera pública como espaço de participação

social dos usuários e demais atores envolvidos, relaciona-se a outros princípios do

Código de Ética Profissional que preconiza a ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda a sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; e a defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida (CFESS, 1993).

Nessa perspectiva concebe-se a esfera pública, conforme definida por

Raichelis (2006), como uma totalidade dinâmica e articulada, sendo constitutiva

desta a visibilidade social das ações, que pressupõe a transparência e publicização

das políticas públicas e a representação dos interesses coletivos, através da

constituição de sujeitos políticos ativos.

Finalizando, a participação do Assistente Social, no campo do controle

democrático das políticas sociais, fortalece o projeto ético-político da profissão, seu

trabalho envolve diferentes estratégias e competências cujas determinações

conjugam ações que transformam e resignificam esses espaços profissionais,

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 53

reconhecendo-os como potencialmente locus de enfrentamento de amplos e

históricos processos de desigualdades sociais.

Referências

CFESS. Código de Ética Profissional. Brasília: CFESS, 1993. GOMES, Ana Ligia. Os conselhos de políticas e de direitos. In: Capacitação em Serviço Social e Política Social: módulo 4 – O trabalho do Assistente Social e as políticas Sociais. Brasília: UnB, 2000. RAICHELIS, Raquel. Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pela sociedade civil. In: MOTA, A.E. et al. (Org). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006.

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54 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 22

Analise as afirmativas a seguir:

O Assistente Social deve estimular a participação dos usuários nas instâncias em

que se decidem as políticas públicas.

PORQUE A democracia é princípio constitutivo dos compromissos éticos do Serviço Social.

A esse respeito, é possível concluir que

(A) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. (B) as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. (C) a primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa. (D) a primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira. (E) as duas afirmativas são falsas. Gabarito: Questão B Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta

Conteúdos avaliados: participação social e democracia para o serviço social

Autora: Idilia Fernandes

Comentário: A questão B é a verdadeira porque a democracia é princípio dos

compromissos éticos do serviço social como indica o Código de ética dos assistentes

sociais: “defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da

participação política e da riqueza socialmente produzida” (1997, p. 31). Além da democracia ser princípio ético do serviço social, a participação social

é um processo que diz respeito as relações sociais e que pode ser trabalhada a

partir de seus elementos pedagógicos, tais sejam: a conscientização, a organização

e a capacitação, que são assim vislumbrados por Souza (1993). Para o serviço

social é essencial trabalhar com o processo social da participação. Seguindo a

orientação de Souza a “conscientização” é o momento em que se pode ampliar os

horizontes da consciência, ampliar o olhar sobre aquilo que se percebe da realidade.

É a superação da consciência ingênua para uma consciência crítica. Quando é

possível despertar para o sujeito coletivo de ações articuladas, de percepções de

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 55

situações em comum, estamos no momento da “organização”. No momento da

capacitação, uma pequena coletividade deverá adquirir conteúdo técnico e político

para planejar intervenções concretas diante das situações vivenciadas e

enfretamentos das expressões da questão social. Define-se como processo educativo da participação: o processo que se expressa através da conscientização, da organização e capacitação contínua e crescente da população ante sua realidade social (Souza, 1993, p. 84).

A questão A está errada, pois o fato de ser dever do assistente social

estimular os usuários é justificado pelo fato da democracia ser princípio constitutivo

e não o contrário. Os profissionais da área social têm a possibilidade de propiciar a

abertura de espaços para o desenvolvimento da participação, trabalhando com

acesso a informação sobre os direitos do povo e estimulando o mesmo a reconhecer

seus direitos e a se reconhecer como um cidadão que deve estar atento a forma

como as políticas públicas vêm atendendo a suas necessidades humanas. A própria

constituição de 1988, na seção IV, (da assistência social) artigo 204 preconiza no

inciso II: “– participação da população, por meio de organizações representativas, na

formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis”. Enquanto

processo social a participação é ponto alto a ser trabalhado nas práticas sociais, no

intuito de estimular o processo de fortalecimento da dimensão coletiva da profissão e

do elo entre a população, seus direitos, suas necessidades em comum e sua

possibilidade de protagonizar sua história. Por isso, a questão D está errada, pois

sugere que a primeira afirmativa que fala do estímulo à participação esteja errada. O processo social precisa ser compreendido no desenvolvimento das

relações sociais. Processo social é o que está sendo produzido, constantemente, na

dinâmica das relações socais. É, portanto, também, resultado dessas relações, das

interações entre os sujeitos, entre os grupos, entre as nações. Nas relações sociais

os sujeitos se aproximam ou se afastam, se incluem ou ficam de fora das diversas

instâncias societais. Os processos sociais são produzidos constantemente nas

interações entre os seres humanos na sociedade. Essa produção pode ser de

aproximação entre pessoas, grupos, nações, tanto quanto poderão ser de

afastamento, hostilidade, discriminações e segregações.

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56 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Há uma dinâmica que se desenvolve nas interações entre as pessoas, dinâmica

que é mediatizada por uma série de fatores econômicos, culturais, históricos, locais e

globais. Existe, também, uma interação de reciprocidade e interdependência nessa

dinâmica com as pessoas entre si e o seu contexto histórico social. [...] Embora o homem seja um indivíduo único – e é justamente esta particularidade que o torna um indivíduo, um ser comunal realmente individual – ele é igualmente o todo, o todo ideal, a existência subjetiva da sociedade como é pensada e vivenciada (Marx, 1983, p. 119).

A dinâmica da realidade social, sempre em construção, propicia resultados

também dinâmicos, por isso os processos sociais estão em constante

processualidade e construção. Entretanto, existem alguns processos sociais que

permanecem existentes no movimento histórico dos povos e da civilização, bem

como no processo histórico de consolidação da sociedade de classes, mediada pela

relação entre capital e trabalho, que produz mais valia, sociedade salarial e

inúmeras desigualdades entre os indivíduos. O processo social é ação, é o que

acontece na interação, não é algo simbólico ou metafísico, é práxis, pois transforma

o real com o seu movimento e sua rede de inter-relações. O homem cria a história e vive na história já muito tempo antes de conhecer a si mesmo como ser histórico. Mas a consciência histórica, que descobriu na história a dimensão essencial da realidade humana, não nos diz ainda por si mesma a verdade sobre o que é a história (Kosik, 1995, p. 210).

O Serviço Social apresenta uma particularidade significativa, o fato de mediar-

se pelo contato direto com as pessoas, com a população, através do estabelecimento

de relações, seu principal instrumento de trabalho. Essa característica se concretiza

em um amplo campo de ação. A ação profissional passa pelo atendimento

individualizado, grupal, comunitário, institucional e outros aspectos. Esses aspectos

estão em uma unidade dialética, o que implica, necessariamente, trabalhá-los em

conjunto, como um todo. Afinal, não se pode apreender o indivíduo sem a percepção

do seu contexto comunitário, assim como não há sentido trabalhar com a

comunidade como abstração conceitual, e sem a leitura dos meandros institucionais,

nos quais, os indivíduos sociais organizam suas vidas.

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 57

Para o Assistente Social há uma mediação realizada entre população-

instituição, que está inserida em um contexto contraditório e bastante complexo

“onde o caminho entre o espaço permitido e o espaço conquistado é o profissional

que faz” (Martinelli, 1999). As instituições como componentes do real, também

devem ser desvendadas. É preciso conhecer os objetivos institucionais

historicamente determinados, suas relações internas e externas, seu processo

histórico e suas contradições, os possíveis espaços ou “brechas”, a identificação dos

aliados, seu poder de decisão em nível de Estado e sua política da atuação, são

aspectos fundamentais a serem desvendados e mediados, junto à população, para

que fundamentem estratégias de ação.

A lei Orgânica da Assistência Social (lei nº. 8.742/93), Seção II Das Diretrizes

Art. 6º preconiza: As ações na área da assistência social são organizadas em sistema descentralizado e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assistência social abrangidas por esta Lei, que articule meios, esforços e recursos e por um conjunto de instâncias deliberativas compostas pelos diversos setores envolvidos na área.

Essa lei é mais uma forma de subsidiarmos, enquanto assistentes sociais,

nossa prática social em uma perspectiva de cidadania e participação, buscando

sempre encontrar o protagonismo dos sujeitos com os quais trabalhamos.

Trabalhamos com as diversas políticas sociais entre elas a da assistência social e da

saúde, nessas políticas já está estabelecido o controle social, na perspectiva da

constituição de 1988, como um mecanismo necessário ao desenvolvimento dessas

políticas. O controle social, numa primeira concepção (antes da constituição de

1988), é o controle do Estado sobre a sociedade em favor dos interesses da classe

dominante por meio de políticas sociais para amenizar os conflitos de classe. Nessa

visão o Estado fica restrito a administrar os interesses e demandas da classe

dominante. No livro Manifesto do Partido Comunista, de 1848, Marx diz que o Estado

é como um comitê que serve para gerenciar os negócios da burguesia (1983).

As instituições estatais através de programas sociais buscam o controle

social. A partir da constituição de 1988, temos uma nova concepção de controle

social que é o “controle da sociedade sobre as ações do Estado”. A sociedade

organizada deve participar das políticas públicas, através de diversos conselhos

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58 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

deliberativos para exercer o controle social. Dessa forma, nos aproximamos do que

Gramsci denominava de Estado ampliado, como espaço contraditório de interesses

de classe. Apesar de representar hegemonicamente os interesses da classe

dominante, o Estado incorpora, também, demandas das classes populares (Correia,

2002, p.120-121). O novo conceito de controle social nasce do campo contraditório

das políticas sociais, o Estado controla a sociedade ao mesmo tempo em que há

algum espaço para suas demandas num verdadeiro jogo de forças e interesses, por

vezes, bem antagônicos. Neste sentido o controle social envolve a capacidade que a sociedade civil tem de interferir na gestão pública, orientando as ações do Estado e os gastos estatais na direção dos interesses da maioria da população. Conseqüentemente, implica o controle social sobre o fundo público (Correia, 2002, p.121).

Os conselhos gestores são ilustrativos do lugar de participação

institucionalizada, a população tem espaço para defender seus interesses,

influenciar e controlar os rumos das políticas sociais. É preciso ter cuidado para

esse espaço não se tornar de consenso entre Estado e conselhos no desenho de

políticas públicas de acordo com expansão do capital, realizar cortes públicos,

privatizar e focalizar tais políticas, conforme alerta Correia (2002). Os assistentes

sociais devem estar atentos e qualificados para realizar essa discussão, tanto com

gestores quanto com a própria população, a fim de favorecer a real democracia e o

processo social da participação.

É importante compreender que a “descentralização e democratização” não

são sinônimos – nem elementos inseparáveis, tanto os que querem o Estado mínimo

quanto aqueles que defendem políticas sociais podem demandar por

descentralização. Por vezes ocorre um “divórcio entre descentralização do Estado e

a democratização da gestão pública”. Por exemplo, quando a municipalização é

proposta repassando os encargos de serviços das instâncias estadual ou federal

para esfera municipal, sem repassar os recursos financeiros necessários para

subsidiar as políticas.

Se não houver a criação de uma estrutura para a capacitação de conselheiros

e entidades de usuários, como um processo contínuo de formação e de troca de

informações para inserir uma agenda de lutas nessa área, há um risco da qualidade

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 59

do debate e do embate não acontecer da forma necessária. Por isso, será

imprescindível o trabalho permanente de educação e politização popular, através de

mecanismos de coletivização e espaços de discussão em grupos.

Segundo nos previne Raichelis (2000, p.132), não se deve afirmar a prática

conselhista como panaceia para o enfrentamento de todas as dificuldades do

aprofundamento dos processos democráticos. Necessário se faz levar em conta que

os conselhos não são o único conduto de controle social no âmbito das políticas

sociais, há outros mecanismos que vão sendo criados pela própria população.

A questão C está errada ao afirmar que a segunda afirmativa sobre a

democracia seja falsa, pois a mesma é fundamental no exercício profissional. O

profissional que trabalha na perspectiva do processo social da participação e da

democracia precisa aprender, no cotidiano de seu serviço à população, a reconhecer

o protagonismo da mesma. Saber valorizar o reconhecimento da política da

população, de sua capacidade de resistir, de lutar, de criar estratégias de

resistências, de se rebelar, mesmo vivenciando situações de grandes sofrimentos, é

preciso reconhecer esse sofrimento e as alternativas de superação do mesmo.

Um fator que pode fortalecer as relações das comunidades é algo estratégico

como a possibilidade de perceber a constante relação entre o global e o particular,

ao mesmo tempo em que se dá ênfase à dinâmica dos bairros, dos territórios, não

se perde a perspectiva da política da cidade. Por exemplo: o AS promover um

grande seminário de encontro entre diferentes territórios. O Serviço Social, ao lidar com as múltiplas e diversificadas expressões da questão social e políticas públicas correspondentes, tem tido uma inserção privilegiada nesse âmbito. No Brasil, é da maior importância o trabalho que vem sendo realizado por assistentes sociais especialmente na esfera da seguridade social: nos processos de sua elaboração, gestão, monitoramento e avaliação, nos diferentes níveis da federação. Destaca-se, ainda, a atuação dos assistentes sociais junto aos conselhos de políticas – com saliência para os Conselhos de Saúde e de Assistência Social nos níveis nacional, estadual e municipal [...] (Iamamoto, 2008, p.198).

O trabalho na área social que leva em conta a imprescindibilidade da

participação popular, também, leva em consideração aquilo que Potyara (2002)

denomina de “necessidades humanas básicas x mínimos sociais”. Nesse sentido, os

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60 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

objetivos do controle social nas diferentes políticas sociais devem estar voltados e

priorizando o atendimento às necessidades humanas básicas (natural, social,

política e cultural) e não apenas aquilo que é mínimo. Um exemplo aqui para ilustrar

essa questão, poderia ser pensar na situação das pessoas com deficiência que

tiveram historicamente suas demandas atendidas apenas pelas áreas da assistência

social, educação e saúde, como se as demais áreas das vidas das pessoas com

deficiência inexistissem.

Sposati (2002, p.49-52) faz uma crítica interessante em relação à exigência

de políticas sociais complexas em Estados que sequer instalaram os modos

tradicionais das políticas sociais. No processo social atual ocorre a exigência e

demanda por uma nova geração de políticas socais sem que tenha sido assentada

uma velha geração. As demandas dos movimentos sociais ultrapassam a realidade

das políticas, o perfil tradicional das políticas por necessidades setoriais (saúde,

habitação, educação, etc.) é interpelado por demandas, por direitos específicos de

novos segmentos: mulheres, idosos, crianças, jovens, etnias, homoafetividade,

pessoas com deficiência, drogadição, população em situação de rua, etc. No que a

autora chama de “regulação social tardia” ocorre, portanto, um deslizamento das

responsabilidades nacionais para as locais no campo social. [...] é preciso, pois, no âmbito dos esforços com vistas ao conhecimento da realidade humana, praticar, intencional e sistematicamente, uma dialética entre as partes e o todo, o conhecimento das partes fornecendo elementos para a construção de um sentido total, enquanto o conhecimento da totalidade elucidará o próprio sentido que as partes, autonomamente, poderiam ter (Severino, 1989, p.17).

Para finalizarmos nossa reflexão em torno da questão da participação voltemos

a Correia (2002) que nos indica que descentralização pressupõe partilha de poder,

seja da esfera federal para a estadual e municipal, seja no âmbito do Estado para

sociedade civil. Nesse processo estão implicadas, tanto as transferências de

competência quanto ao planejamento e tomada de decisões como a compatibilização

de recursos para implementação dos serviços. Outro aspecto fundamental trabalhado

pela autora (Correia, 2002) e a discussão em torno do fundo público – o controle

social só pode acontecer de fato sobre as políticas públicas, se houver, por parte dos

setores organizados, a participação na definição da alocação de recursos, pois a

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 61

política social se desenha de acordo com a utilização desse fundo. Por toda reflexão

feita até então, reafirma-se que a questão E esteja errada, pois, considera que as

duas afirmativas acima sejam falsas, viemos mostrando até então justamente o

contrário, ou seja, o quanto essas duas afirmativas são verdadeiras.

Referências

COLETÂNEA DE LEIS. CRESS SER. Gestão 1996-99. POA: CRESS 10ª região, 1997. CORREIA, Maria Valéria Costa. Que Controle Social na Política de Assistência Social? In: Serviço Social e Sociedade: cidade, proteção e controle n.º 72, ano XXIII. São Paulo: Cortez, 2002. FILHO, Nylson Paim de Abreu (org.). CONSTITUIÇÃO FEDERAL, CÓDIGO PENAL e CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. 4ª Edição. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2003. IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço Social em Tempo de Capital Fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008. KOGA, Dirce. Cidades entre territórios de vida e territórios vividos. In: Serviço Social e Sociedade: cidade, proteção e controle n.º 72, ano XXIII. São Paulo: Cortez, 2002.

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62 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 23

No planejamento de uma ação profissional inserida numa política pública de saúde,

no que se refere aos benefícios a serem concedidos aos usuários, o que o

assistente social deve considerar prioritariamente?

(A) A universalidade dos direitos. (B) A parceria entre Estado e sociedade civil. (C) O poder aquisitivo dos usuários. (D) Os recursos técnico-institucionais. (E) Os serviços imediatamente disponíveis. Gabarito: Questão A

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta.

Conteúdos avaliados: SUS; Princípios doutrinários; direitos sociais

Autora: Esalba Maria Silveira

Comentário: No planejamento de uma ação profissional inserida numa política pública de

saúde, no que se refere aos benefícios a serem concedidos aos usuários, o

assistente social deve considerar prioritariamente a universalidade dos direitos. A

universalidade tem sido considerada na ciência política como uma noção

relacionada ao campo do direito, mais especificamente ao campo dos direitos

humanos (MATA, 2008). Ou seja, os direitos que são comuns a todas as pessoas,

como um direito positivo que visa à manutenção da vida individual e social no

mundo moderno. Constitui-se como um dos princípios fundamentais do Sistema

Único de Saúde (SUS) e está inscrita na Constituição Federal brasileira desde

1988. Esse princípio doutrinário aponta para o rompimento com a tradição

previdenciária e meritocrática do sistema de saúde brasileiro, que conferia

unicamente aos trabalhadores formais, por meio da contribuição previdenciária, o

acesso às ações e serviços de saúde. Com a instituição do SUS, a saúde tornou-

se um direito de qualquer cidadão brasileiro, independente de raça, renda,

escolaridade, religião ou qualquer outra forma de discriminação, e um dever do

Estado brasileiro em prover esses serviços. A saúde é direito de todos e dever do

Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 63

risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e

serviços para sua promoção, proteção e recuperação (Brasil, 2005, p. 39). A

universalidade é o princípio que organiza e dá sentido aos demais princípios e

diretrizes do SUS na garantia do direito à saúde de forma integral, equânime,

descentralizada e com participação popular (MATTA, 2007).

A universalidade é um valor a ser fortalecido e defendido como um projeto

emancipatório de sociedade. É nessa perspectiva que a ideia de uma construção

social da universalidade permite a sua “desnaturalização” e a valorização de suas

dimensões histórica, política e cultural.

(B) A alternativa é incorreta

O planejamento das ações do assistente social prioritariamente deve ser

pautado pela universalidade dos direitos.

(C) A alternativa é incorreta

O argumento para afirmar que essa alternativa é incorreta, está entre outros,

num dos princípios do Código de Ética dos Assistentes sociais que diz:

“posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure universalidade

de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem

como sua gestão democrática”. Conclui-se que não deve ser considerado

prioritariamente para concessão de benefícios o poder aquisitivo dos usuários, tendo

em vista o princípio da universalidade no SUS.

(D) A alternativa é incorreta

A alternativa é incorreta, porque limitar o planejamento das ações aos

recursos técnico-institucionais pode ser incompatível com o princípio da

universalidade.

(E) A alternativa é incorreta

A alternativa é incorreta, considerando que o sistema de saúde deve centrar

suas ações nas reais necessidades de saúde da população e articular ações

intersetoriais com as demais políticas sociais que intervêm nas condições de vida da

população, como é o caso da habitação, do saneamento, das condições de trabalho,

da educação, assistência, previdência, acesso à terra, etc.

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64 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Referências

CEFFS. Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_1993. Acesso em 4/5/2010. COSTA, M. D. H. O Trabalho nos Serviços de Saúde e a Inserção dos(as) Assistentes Sociais. Disponível em: http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto2-7. Acesso em 4/5/2010. MATTA, G. C. Princípios e Diretrizes do Sistema Único de Saúde. In: MATTA, G. C.; PONTES, A. L. de M. (Org.). Políticas de Saúde: organização e operacionalização do Sistema Único de Saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2007. PEREIRA, Isabel Brasil; LIMA, Júlio César França. Dicionário da educação profissional em saúde. 2ª.ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: EPSJV, 2008. PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (Orgs.). Construção Social da Demanda: direito à saúde, trabalho em equipe e participação e os espaços públicos. Rio de Janeiro: IMS, Uerj, Cepesc, Abrasco, 2005.

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 65

QUESTÃO 24

“Ao reconhecer a saúde como resultante das condições de vida, a obtenção de

dados sobre as condições econômicas, políticas, sociais e culturais passa a fazer

parte do conjunto dos procedimentos necessários à identificação e análise dos

fatores que intervêem no processo saúde/doença.” MOTA, A. E. et alli, org. Serviço Social e saúde. Formação e trabalho

profissional. S. Paulo, Cortez, 2006.

A partir desse texto, pode-se afirmar que, no planejamento de sua intervenção numa

política de saúde, o Assistente Social deve, prioritariamente,

(A) apoiá-lo no exame abrangente das condições de vida dos usuários. (B) fundamentá-lo no conhecimento das representações culturais dos usuários. (C) embasá-lo em práticas e técnicas médicas, jurídicas e antropológicas. (D) justificá-lo a partir da história familiar e de vida dos usuários. (E) legitimá-lo mediante pesquisas sobre serviços de alta complexidade. Gabarito: Questão A

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta.

Conteúdos avaliados: política de Saúde

Autora: Maria Isabel Barros Bellini

Comentário: A resposta correta é a letra A: apoiá-lo no exame abrangente das condições

de vida dos usuários.

Considerado por muitos como o “pai da medicina”, além de ser uma figura

muito importante na história da saúde, Hipócrates (460 a.C. - 377 a.C.), apesar de

ter vivido no século IV a.C., anunciava, já naquela época, que o tipo de vida

influenciava na saúde dos indivíduos. Cerca de dois séculos após, no século XVI, o

médico e alquimista, suíço-alemão, Paracelso alertava quanto à importância das leis

físicas da natureza e fenômenos biológicos no conhecimento do organismo humano.

No século XIX, ainda que não tivesse sido cunhada a denominação “saúde do

trabalhador”, Engels apontava que as condições de vida e os ambientes de trabalho

na Inglaterra influenciavam o processo de saúde dos trabalhadores. Portanto, as

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66 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

condições de vida, de trabalho e a organização social participam de forma

consistente nos processos de saúde e doença, fato que tem sido observado no

decorrer dos séculos.

No Brasil, por décadas a saúde foi concebida como um processo individual,

delegando aos indivíduos a capacidade e responsabilidade por manter-se

saudável ou adoecer, o meio ambiente, as condições de vida não eram elementos

contemplados como determinantes nos processos de saúde-doença. O conceito

ampliado de saúde, firmado na Constituição Federal de 1988 e tema da Reforma

Sanitária, compôs a pauta do movimento de democratização, em que participaram

vários segmentos da sociedade em busca, na área da saúde, da construção de

uma consciência sanitária e de um sistema de saúde democrático,

descentralizado, único e universal. Na 8ª Conferência Nacional de Saúde de 1986

constituiu-se o espaço no qual essas conquistas e o Sistema Único de Saúde –

SUS – consolidaram-se.

A partir daí a concepção ampliada de saúde passou a pautar as ações em

saúde que evoluíram de um modelo curativo para um modelo integral de atenção à

saúde. Nessa perspectiva, as condições de vida, de trabalho, as relações de

sociabilidade, as redes de pertencimento, o acesso a educação de qualidade, a

segurança, estão diretamente implicadas na construção de processos de saúde-

doença e devem ser o fundamento no planejamento de ações em saúde. Configura-

se a integralidade em saúde, a qual se caracteriza pela [...] articulação e sintonia entre as estratégias de produção da saúde, a ampliação da escuta dos trabalhadores e serviços de saúde na relação com os usuários, quer individual e/ou coletivamente, de modo a deslocar a atenção da perspectiva estrita do seu adoecimento e dos seus sintomas para o acolhimento de sua história, de suas condições de vida e de suas necessidades em saúde, respeitando e considerando suas especificidades e suas potencialidades na construção dos projetos e da organização do trabalho sanitário (MS, 2006, p.10).

A inserção do assistente social na área da saúde pressupõe a atividade de

planejamento, sendo observado por alguns autores que essa é uma das

atividades de concentração juntamente com ações de caráter emergencial

assistencial, educação, informação e comunicação em saúde, assessoria,

Page 68: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 67

mobilização e participação social (COSTA, 2006). Portanto, tendo em vista os

elementos discutidos, o assistente social deve, ao realizar o planejamento,

considerar as condições econômicas, políticas, sociais e culturais expressas nos

modos de vida, condições de trabalho, condições de habitação, cultura, lazer,

acesso a educação e acesso a serviços, para que esse planejamento se

constitua em uma ferramenta balizadora de uma ação competente que responda

as necessidades e as demandas postas pela realidade. No planejamento, os

modos de viver devem ser entendidos na perspectiva do coletivo para além de

uma perspectiva centrada no indivíduo, também não podem ser entendidos

apenas como [...] exercício da vontade e/ou liberdade individual e comunitária. Ao contrário, os modos como sujeitos e coletividades elegem determinadas opções de viver como desejáveis, organizam suas escolhas e criam novas possibilidades para satisfazer suas necessidades, desejos e interesses pertencem à ordem coletiva, uma vez que seu processo de construção dá-se no contexto da própria vida (MS, 2006, p.7).

As demais alternativas estão incorretas pelas razões a seguir:

(B) fundamentá-lo no conhecimento das representações culturais dos usuários.

Estabelece como único foco as representações culturais dos usuários e não

inclui os aspectos econômicos, políticos, sociais, etc.

(C) embasá-lo em práticas e técnicas médicas, jurídicas e antropológicas.

Estabelece como foco elementos médicos, jurídicos e antropológicos, não

incluindo outros elementos importantes no planejamento e que compõe a formação

do assistente social.

(D) justificá-lo a partir da história familiar e de vida dos usuários.

A história familiar e de vida é uma ferramenta que compõe a metodologia da

pesquisa qualitativa e é utilizada para conhecimento de realidade do usuário e

articulação com o contexto social mais amplo. Outras ferramentas e técnicas

poderão compor o planejamento.

(E) legitimá-lo mediante pesquisas sobre serviços de alta complexidade.

O foco de pesquisa, “serviços de alta complexidade”, não possibilita

conhecimento sobre a realidade do usuário e sim sobre “serviços de alta

complexidade”.

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68 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Referências

COSTA, Maria Dalva H. da. O trabalho nos serviços de saúde e a inserção dos assistentes sociais. In: MOTA, A. E. et all., (org.) Serviço Social e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006. FLEURY, S. A questão democrática na saúde. In: FLEURY, S. Saúde e democracia: a luta do CEBES. São Paulo: Lemos, 1997. PAIM, Jairnilson. Reforma Sanitária: contribuição para a Compreensão e Crítica. Salvador: EDUFBA; Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. FLEURY, Sonia; BAHIA, Lígia; AMARANTE, Paulo (Org.). Saúde em Debate: fundamentos da reforma sanitária. Rio de Janeiro: Cebes, 2008. MIOTO, Regina Célia; NOGUEIRA, Vera Maria R. Sistematização, planejamento e avaliação das ações dos assistentes sociais no campo da saúde. In: MOTA, A. E. et alli. (org.) Serviço Social e saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez, 2006. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Lei Orgânica da Saúde de nº. 8.080/90 e Lei complementar de nº. 8.142/90. 2ª. ed. MS — Assessoria de Comunicação Social. Brasília, 1991.

Page 70: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 69

QUESTÃO 25

As pesquisas no campo das ciências históricas têm, no centro do debate

metodológico, para a interpretação e transformação da realidade social, a secular

questão da relação objetividade x subjetividade. Neste debate são freqüentes as

afirmações como as apresentadas a seguir:

I − O estudo da realidade social exige a mesma neutralidade requerida ao físico, ao químico e ao biológico.

II − Os fenômenos sociais devem ser considerados da mesma forma que os fenômenos da natureza.

III − O modelo social-darwinista da “sobrevivência” dos mais “aptos” serve para explicar a sociedade.

IV − As ciências históricas têm especificidades metodológicas: seus objetos são transitórios e atravessados por interesses de classes.

V − A visão de mundo das classes sociais condiciona a produção acadêmica das ciências sociais.

Estão corretas, apenas, as afirmações

(A) I e II (B) I e V (C) III e IV (D) IV e V (E) I, II, III e IV Gabarito: Questão D

Tipo de questão: Escolha combinada com indicação da resposta correta

Conteúdos avaliados: As pesquisas no campo das ciências históricas

Autoras: Idilia Fernandes

Comentário: A questão D é a correta pelo fato de que na afirmação 4 se coloca que as

ciências históricas têm especificidades metodológicas: seus objetivos são transitórios

e atravessados por interesses de classes. Da mesma forma a afirmação 5 demonstra

que a visão de mundo das classes sociais condiciona a produção acadêmica das

ciências sociais. Essa afirmação implica em percebermos que a visão de mundo das

classes sociais condiciona a produção acadêmica nas ciências sociais.

Page 71: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

70 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Não Há neutralidade nas ciências humanas, pois são atravessadas pela

subjetividade dos sujeitos e por valores humanos que vão perpassar os projetos de

pesquisa. Não se pode dizer que o estudo da realidade social exige a mesma

neutralidade requerida ao físico, ao químico e ao biológico, como está colocado na

afirmação 1. Por outro lado, não se pode afirmar que os fenômenos sociais devem

ser considerados da mesma forma que os fenômenos da natureza, conforme

afirmação 2. Dessa forma a questão A e B estão erradas.

No processo de desvendamento do cotidiano, busca-se conhecer o

significado do vivido, de cada fato singular experienciado pelos sujeitos de uma

coletividade. Procura-se apreender como se constrói o seu viver histórico, pois, no

conjunto, na articulação de significados dados a esse viver, se expressa e constrói o

modo de vida, a cultura de uma comunidade. É preciso conhecer os significados

atribuídos pelos sujeitos para que se possam estabelecer mediações com a prática

profissional. Os aspectos singulares, que se dão na interação coletiva, devem ser

entendidos de forma relacionada com o universo maior, a cultura, a estrutura

econômica, os condicionantes da mídia. São múltiplos os aspectos que estimulam

ou condicionam seres singulares a atitudes repetidas, aspectos que ultrapassam a

esfera individual e dizem respeito a um contexto mais amplo e mais complexo. O

processo de desvendamento desse real deve pressupor a conscientização de

múltiplos fatores para interpretá-los globalmente, em suas articulações.

A afirmação 3 não está correta ao dizer que modelo social-darwinista da

“sobrevivência” dos mais “aptos” serve para explicar a sociedade. Sendo assim, as

questões C e E estão erradas. Charles Darwin criou uma tentativa de explicar a

diversidade de espécies de seres vivos através da evolução. Sua teoria defende a

ideia de que no mundo sobrevive o mais forte, por isso há a evolução. Não se deve

dizer, entretanto, que existem características sociais que determinariam que uma

pessoa é superior à outra e, que as pessoas seriam umas mais aptas do que as

outras para viver em sociedade. Se isso fosse verdade estaríamos desconsiderando

os processos socias, nos quais são criadas as desigualdades de condições, com as

quais o sujeito se encontra limitado por questões da estrutura social e não por méritos

e deméritos pessoais. Não é adequado aplicar a “teoria das espécies” ao mundo

social, pois a biodiversidade difere da diversidade da condição humana.

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 71

O saber popular está expresso no que é dito e no que não é dito, no aparente,

mas igualmente no que está encoberto. O investigador da área social deve procurar

compreender e interpretar, em conjunto com a população, os fenômenos vividos e

apresentados no real.

Esse processo de descoberta vai sendo mediado pelo profissional que busca

estabelecer as conexões com contextos mais amplos. Trabalhar no processo de

conscientização dos indivíduos, ao mesmo tempo em que também nos

conscientizamos a partir deles, deve ser a base do movimento reflexivo e investigativo

na área histórico-social. Segundo Paulo Freire “[...] este e não outro parece ser o

papel do Trabalhador Social que optou pela mudança” (Freire, 1979, p. 60).

O diálogo é um instrumento importante de trabalho, pois através dele se pode

pensar com a população o entendimento do real e atividades de contraponto. Essas

atividades apresentam sentido oposto ao desenvolvimento de programas pré-

determinados, cuja população não participa de sua construção, trazendo seus reais

interesses e o rico conteúdo do seu “saber feito”. Da mesma forma, na pesquisa na

área social as entrevistas semiestruturadas, de teor qualitativo, dão um tom mais

humano à relação entre sujeito e objeto.

Considerando a pluralidade de significados, da sociedade de nosso tempo

atual, onde a ciência, a arte, a política, a filosofia, e tudo o mais é plural, não se

pode falar em uma ciência única, nem de um sentido absoluto para filosofia, nem na

política com um corpo único de relações de poder ou de um sentido único para arte.

Não estamos com isso fazendo uma apologia ao pluralismo científico, apenas

constatando a diversidade dos significados que os sujeitos dão aos diversos setores

da vida. No cotidiano da moda de vestir, por exemplo, temos a convivência de várias

décadas na presente década, o que era moda nos anos 50, permanece com a moda

dos anos 60, 70, 80 nos anos 90, 2000 e assim por diante.

No campo da sexualidade, predominam as relações heterossexuais, mas em

convivência com muitos casais homoafetivos que assumem a relação de forma

pública, com ampla discussão da sociedade sobre a possibilidade da união civil

entre as diferenças de orientação sexual, discussão que atualmente o Brasil vem

fazendo. Diante dessa diversidade toda, se poderá falar de neutralidade nas

ciências humanas?

Page 73: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

72 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Tendo em vista a pluralidade, a diversidade, a imensa complexidade da

conjunção de tantas forças singulares significantes, não deixamos de considerar,

também, que a unidade faz parte da diversidade. O único coexiste no múltiplo,

portanto, falaremos de um sentido para o Serviço Social de nosso tempo, que não

tem a pretensão de se considerar único. Um sentido que faz parte da pluralidade,

compondo a unidade, que em última instância não deixa de ser um sentido próprio

àquilo que é da área social, diferentemente de outras áreas do saber.

A atividade humana é atividade prática, na prática se dá a relação sujeito –

objeto, o objeto só faz sentido como produto real da atividade. O sujeito ativo, em

sua atividade prática, transforma o mundo, que só pode ser transformado de forma

prática. Dessa forma, o sujeito, numa concepção marxiana, objetiva sua

subjetividade, dá concretude a seu projeto pensado pela consciência, realiza a

passagem do subjetivo para a objetivação do seu ser, se realiza como sujeito,

através de sua atividade prática, de seu trabalho concreto não alienado. Os animais só constroem de acordo com os padrões e necessidades da espécie a que pertencem, enquanto o homem sabe produzir de acordo com os padrões de todas as espécies e como aplicar o padrão adequado ao objeto. Assim, o homem constrói também em conformidade com as leis do belo. [...] A atividade vital consciente distingue o homem da atividade vital dos animais [...] O trabalho alienado inverte a relação, pois o homem, sendo um ser auto-consciente, faz de sua atividade vital, de seu ser, unicamente um meio para sua existência (Marx, 1983, p. 96 ).

A elaboração feita por Marx da categoria Práxis é central em sua teoria do ser

social, que se firma no pressuposto de uma unidade entre sujeito e objeto, bem

como, nas relações entre homem e natureza. A prática humana vai dar um caráter

antropológico à natureza e ao objeto, ao mesmo tempo vai caracterizar uma relação

de conhecimento, chamada de “relação cognoscitiva sujeito-objeto”, segundo Vázquez (1997, p. 143). O sujeito na construção de seu mundo estará em constante

relação de aprendizagem, na manipulação e transformação da natureza. Em um

sentido marxiano produzir é projetar-se, objetivar-se no mundo dos objetos, e

converter a natureza em uma natureza humanizada para os sujeitos. Nesse sentido,

para Marx o trabalho é parte constitutiva do ser, de sua realização pessoal, da

construção de sua identidade de ser social.

Page 74: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 73

Remeter-nos a uma análise permanente das implicações (afetivas, históricas, profissionais, etc.), desmontando e questionando as construções da ideologia neutralista do acadêmico e profissional é sinalizar que as instituições não existem fora das práticas dos sujeitos, dos nossos corpos. Sendo assim, podemos concluir que as relações que estabelecemos com os acontecimentos, com os encontros no cotidiano estão permanentemente atravessando e produzindo subjetividades (Duarte, 1995, p.45).

O cotidiano de cada individualidade está imerso em um conjunto de fatores

sociais, foram constituídos no conjunto da sociedade e, por isso, influenciam a

individualidade de cada um. O conjunto da sociedade está historicamente

condicionado pela estrutura social econômica. Essa estrutura é permeada por

relações desiguais e opressoras entre os indivíduos. A autonomia de cada um é

relativa, devido às relações já estruturadas no conjunto. Necessário se faz

considerar a imbricação que há na relação entre o indivíduo e a sociedade na

ciência que produz o saber e na prática profissional que articula esse saber em seu

desenvolver cotidiano.

Referências

DUARTE, Marco José de O. Formação Profissional e Produção de Subjetividade: contribuição de uma análise micropolítica. In: Cadernos de Comunicação. CBSS, Bahia, 1995. DUARTE, Newton. A Individualidade Para–Si: contribuição a uma teoria histórico-social da formação do indivíduo. 2ª. ed. São Paulo: Autores Associados, 1999. FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1979. MARX, Karl. Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844. In: Conceito Marxista do Homem. Apêndice: manuscritos econômicos e filosóficos de 1844 Karl Marx. 8ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. VÁZQUEZ, A. Sánchez. Filosofia da Praxis. Tradução de Luiz F. Cardoso. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

Page 75: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

74 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 26

“A assessoria à gestão das políticas sociais tem sido demandada por diferentes

sujeitos [...] que atuam nesta esfera. Expressa reconhecimento da capacidade

profissional dos Assistentes Sociais no domínio da temática. É resultado do trânsito,

como afirma Netto (1992), da atuação profissional exclusivamente pautada na

execução terminal das políticas sociais para uma atuação profissional competente

na gestão da totalidade do processo da política social, incluindo as suas dimensões

de formulação, de gestão, e de sua operacionalização”. BRAVO, M. I. S. e MATOS, M. C., orgs. Assessoria, Consultoria & Serviço Social.

Rio de Janeiro, 7 Letras, 2006, p.53-54.

A partir desse texto, é correto argumentar que

(A) a intervenção do Assistente Social em assessoria e consultoria no campo das políticas sociais indica uma redução do campo de ação profissional.

(B) a atuação do Assistente Social em assessorias e consultorias possibilita a conquista de novos espaços ocupacionais, contribuindo para maior visibilidade e promoção da profissão.

(C) assessorias e consultorias contradizem as atribuições privativas do Assistente Social, embora ampliem o seu mercado de trabalho.

(D) assessorias e consultorias ameaçam diminuir a empregabilidade do Assistente Social no espaço público e estatal.

(E) atividades de assessoria e consultoria consolidam a posição do Assistente Social nos limites da execução terminal de políticas.

Gabarito: Questão D

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta. Conteúdos avaliados: Assessoria e Consultoria em Serviço Social

Autora: Ana Lúcia Suárez Maciel e Leonia Capaverde Bulla

Comentário: A resposta correta é a B: “a atuação do Assistente Social em assessorias e

consultorias possibilita a conquista de novos espaços ocupacionais, contribuindo

para maior visibilidade e promoção da profissão”.

Para analisar a questão proposta é preciso partir do reconhecimento da

profissão de Assistente Social como uma profissão inserida na divisão sociotécnica

do trabalho, cujo exercício é livre, no Brasil, se forem observadas todas as

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 75

condições prescritas pela Lei nº 8.662/93 (Brasil 1993), que regulamenta a profissão.

O Assistente Social é, portanto, um profissional liberal, mas, também, tem condições

de exercer funções, estabelecidas em lei, em órgãos de administração pública direta

ou indireta, empresas, entidades e organizações populares. Entre as competências

do profissional, a Lei de Regulamentação da Profissão, nos artigos 4º e 5º, reafirma

o trabalho do Assistente Social como assessor ou consultor (Brasil, 1993). É

importante acentuar, ainda, que a atuação do profissional como assessor ou

consultor ocorre em ambas as modalidades de trabalho: a liberal e a assalariada.

A competência profissional para atuar como assessor ou consultor resulta do

reconhecimento social da profissão, no que se refere a sua capacidade de dar

respostas às demandas sociais, sejam elas decorrentes das instituições

empregadoras e/ou dos próprios usuários dos serviços. Decorre, também, da larga

trajetória profissional na execução de políticas sociais que, a partir da década de 90,

ampliam as possibilidades do exercício profissional, com a incorporação dos

assistentes sociais nas esferas de formulação das políticas sociais.

Soma-se a essa trajetória, a capacidade organizativa da categoria

profissional, expressa pela sua decisiva participação na formulação das políticas

sociais em vigor no País, e a consolidação da profissão como área de

conhecimento, materializada pelo adensamento das produções teóricas no campo

da política social. A qualificação profissional e o patamar das produções acadêmicas

eleva o profissional de Serviço Social à categoria de pesquisador, reconhecido pelas

agências de fomento, como acentua Iamamoto (2008). A partir desse status, ele é

inserido nos comitês de assessores e consultores de instituições como Coordenação

e Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior – CAPES/MEC –, Conselho

Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPq –, Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS –; Fundação de

Amparo à Pesquisa de São Paulo – FAPESP – e outras fundações estaduais de

amparo à pesquisa.

Concomitantemente, as substantivas alterações no mundo do trabalho,

especialmente, as alterações no padrão de organização e gestão do trabalho

vinculado ao modelo de acumulação flexível (ANTUNES, 1998) demarcaram um novo

perfil para as profissões. Para assumir esse novo perfil, o profissional foi instigado a

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76 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

compreender o processo de trabalho em que estava inserido na sua totalidade e, não

mais, na sua particularidade, tal qual vigorava no modelo taylorista-fordista.

Essa perspectiva impôs ao Assistente Social a necessidade de ampliar a

sua atuação no âmbito das políticas sociais que, historicamente, o colocaram na

esfera da execução terminal, para uma atuação que abrange a formulação, a

gestão, a operacionalização e a avaliação das políticas sociais. Alia-se a essa

alteração no mundo do trabalho a adoção da teoria social crítica na profissão, o

que tem permitido aos profissionais a compreensão dos processos sociais em

uma perspectiva de totalidade. Com isso, esses profissionais habilitam-se para o

trabalho que engloba o planejamento, a execução e a avaliação como uma

unidade indissociável.

Com base nessas considerações, é possível afirmar que as respostas A, C,

D e E são incorretas, acrescentando-se os seguintes argumentos: As atuações no

âmbito da assessoria e da consultoria não indicam uma redução do campo de

ação profissional, pois, evidenciam, ao contrário, uma ampliação do escopo da

atuação da profissão. Essas formas de atuação não contradizem, tampouco, as

atribuições privativas do Assistente Social, visto que a própria Lei de

Regulamentação (BRASIL, 1993) afirma essas atribuições e competências do

profissional, que ampliam o seu mercado de trabalho. Da mesma forma, as

funções de assessoria e consultoria não ameaçam diminuir a empregabilidade do

Assistente Social no espaço público e estatal. As pesquisas existentes na área,

por exemplo, a publicada em 2005, pelo Conselho Federal de Serviço Social

(CFESS, 2005), não indicam que a atuação do profissional nesse âmbito seja

uma ameaça para a empregabilidade da profissão, pois a esfera pública e estatal

se reafirma como a maior empregadora dos profissionais. Finalmente, os

argumentos elencados até o momento indicam que as atividades de assessoria e

consultoria, além de não consolidar a posição do Assistente Social nos limites da

execução terminal de políticas, demonstram que ocorre, justamente, o oposto, ou

seja, a posição profissional se consolida ao ampliar o escopo da sua atuação:

que ultrapassa o âmbito da execução e assume a gestão, o monitoramento e

avaliação das políticas, com vistas à afirmação, à consolidação e garantia dos

direitos dos cidadãos.

Page 78: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 77

Referências

ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 5ª. ed. São Paulo: Cortez, 1998. BRASIL. Lei N° 8.662, de 7 de junho de 1993. Dispõe sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências. Brasília, 1993. BRAVO, Maria Inês de Souza; MATOS, Maurílio Castro de (Orgs). Assessoria, Consultoria & Serviço Social. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006. BULLA, Leonia Capaverde. Origens e profissionalização do Serviço Social no Brasil. In: FLICKINGER, Hans-Georg. Entre caridade, solidariedade e cidadania: história comparativa do Serviço Social Brasil/Alemanha. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000. CFESS. Assistentes Sociais no Brasil: elementos para o estudo do perfil profissional. Brasília: CFESS, 2005. Disponível em: www.cfess.org.br. Acesso em 15/5/2010. IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008. MACIEL, Ana Lúcia Suárez; FERNANDES, Rosa Maria Castilhos. Requisições para o trabalho dos assistentes sociais. Porto Alegre: Graturck, 2009.

Page 79: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

78 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 27

Nas requisições de assessoria e consultoria aos Assistentes Sociais, surgem, hoje,

as demandas das etnias, que travam uma luta permanente pelos seus direitos e pela

promoção da igualdade étnico-racial.

Sobre esse assunto, analise as afirmações a seguir:

A compreensão das questões étnicas exige mais que uma consciência da defesa

dos direitos como um imperativo legal e ético.

PORQUE A implementação de políticas étnicas na perspectiva da soberania alimentar,

organização política e auto-sustentabilidade não pode simplesmente obedecer a

padrões gerais de políticas públicas.

A esse respeito, é possível concluir que

(A) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. (B) as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. (C) a primeira afirmação é verdadeira, e a segunda é falsa. (D) a primeira afirmação é falsa, e a segunda é verdadeira. (E) as duas afirmações são falsas. Gabarito: Questão B Tipo de questão: Asserção e razão, com indicação da alternativa correta

Conteúdo avaliado: Assessoria, Consultoria e Políticas étnicas Autora: Ana Lúcia Suárez Maciel e Inês Amaro da Silva

Comentário: A resposta correta é a B: “as duas afirmações são verdadeiras, e a segunda

não justifica a primeira”.

Ao analisarmos a questão fica evidente a discussão acerca da relação entre o

processo de assessoria/consultoria e as políticas étnicas no âmbito da atuação do

assistente social.

Inicialmente é importante destacar que a assessoria e a consultoria se

constituem em competências do profissional, conforme a Lei de Regulamentação da

Page 80: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 79

profissão, com destaque para o Artigo 4º que sinaliza, dentre as referidas

competências, as seguintes: VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades; IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade (Lei Nº 8.662/93, Regulamenta a Profissão do Assistente Social).

No exercício dessas competências, o profissional se ancora no Projeto Ético-

Político do Serviço Social que, em um dos seus princípios, ressalta a questão da

diversidade e das diferenças. O princípio refere: “Empenho na eliminação de todas

as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de

grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças” (Código de Ética do

Assistente Social. Resolução CFESS Nº 273, de 13 de março de 1993).

Esses balizamentos legais e éticos são fundamentais para o desenvolvimento

do trabalho profissional e estão, diretamente, associados à atual configuração do

objeto da profissão, pois: Na atualidade, a “questão social” diz respeito ao conjunto multifacetado das expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. A “questão social” expressa desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização.4

As questões étnicas são consideradas expressões da Questão Social e

resultam da formação sócio-histórica do Brasil, sendo consideradas como uma

dívida social, tendo em vista o longo período de escravidão e o fato de que as

políticas públicas no nosso país, ainda, precisam abarcar as particularidades dos

grupos que, historicamente, constituíram as minorias sociais e, portanto, se

encontram mais suscetíveis às desigualdades.

4 Disponível em: http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto2-.pdf. Acesso em 5 de maio de 2010.

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80 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

As políticas étnicas no Brasil passaram a ser reconhecidas como políticas

públicas, em 2003, quando o governo criou a Política Nacional de Promoção da

Igualdade Racial – PNPIR. A PNPIR tem como objetivo a: Redução das desigualdades raciais no Brasil, com ênfase na população negra, mediante a realização de ações exeqüíveis a longo, médio e curto prazos, com reconhecimento das demandas mais imediatas, bem como das áreas de atuação prioritárias (Decreto Nº 4.886, de 20 de novembro de 2003).

Nesse sentido, o Assistente Social ao atuar como assessor/consultor dos

grupos que compõem as minorias sociais deverá observar além das questões legais

e éticas, pois sabemos que a trajetória histórica de luta e garantia dos direitos

sociais impõe o reconhecimento das particularidades, no caso da pergunta em

análise, das questões étnico-raciais que se retratam na luta dos movimentos que as

representam pela garantia da igualdade étnico-racial.

Assim, retomamos as afirmações feitas com relação à questão formulada: “A

compreensão das questões étnicas exige mais que uma consciência da defesa dos

direitos como um imperativo legal e ético porque a implementação de políticas

étnicas não pode simplesmente obedecer a padrões gerais de políticas públicas”,

pois deve abarcar as lutas dos grupos que as representam. Nesse sentido, a

resposta correta indica que as duas afirmações são verdadeiras, mas que a segunda

não justifica a primeira, pois o que justifica é o caráter de disputa pela garantia da

igualdade racial e não a mera garantia de políticas públicas. E, ainda, as questões

de soberania alimentar, organização política e autossustentabilidade não interferem

nesse processo de disputa, pois a ênfase é na igualdade racial.

Com relação à alternativa A, está incorreta, pois a as duas afirmações são

verdadeiras, mas a segunda não justifica a primeira.

Com relação à alternativa C, está incorreta, pois a primeira afirmação é

verdadeira, e a segunda, também, é verdadeira e não falsa.

Com relação à alternativa D, está incorreta, pois a primeira afirmação é

verdadeira e a segunda, também, é verdadeira.

Por fim, a alternativa E, está incorreta, pois as duas afirmações são verdadeiras e não falsas.

Page 82: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 81

Referências

BRASIL. Decreto Nº 4.886, de 20 de novembro de 2003. Institui a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial - PNPIR e dá outras providências. Disponível em: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaoespecial/legislacao Acessado em 5/5/ 2010. Conselho Federal de Serviço Social. Lei Nº 8.662/93. Lei de Regulamentação da Profissão do Assistente Social. ______. Código de Ética do Assistente Social. Resolução CFESS Nº 273, de 13 de março de 1993. IAMAMOTO, Marilda V. As Dimensões Ético-políticas e Teórico-metodológicas no Serviço Social Contemporâneo. São Paulo: Cortez, 2001.

Page 83: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

82 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 28

Conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Conselho

Tutelar é um órgão permanente, autônomo e não jurisdicional, composto por

representantes eleitos pela comunidade local, que tem a função de zelar pelo

cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Presente neste conselho, o

assistente social vai muito além da execução terminal de políticas sociais. Dentre as

atribuições específicas do Conselho Tutelar, previstas no ECA, aquela que mais

explicitamente exige do assistente social um papel que ultrapassa o que lhe foi

delegado, tradicional e historicamente é:

(A) atender crianças e adolescentes cujos direitos foram ameaçados ou violados; (B) assessorar na elaboração da proposta orçamentária de planos e programas; (C) atender, aconselhar e orientar, quando necessário os pais ou responsável; (D) providenciar e expedir, eventualmente, notificações e documentos similares; (E) requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança e adolescente, se

necessário. Gabarito: Questão B

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta.

Conteúdos avaliados: Estatuto da Criança e do Adolescente, Direitos da Infância e

Juventude

Autora: Patricia Krieger Grossi

Comentário: Cabe ressaltar que o Conselheiro Tutelar é eleito pela comunidade e não

necessita ser um profissional do Serviço Social. O Conselho Tutelar foi instituído

pelo ECA (arts.131 a 140) e teve os parâmetros de sua atuação e funcionamento

traçados pela Resolução nº 75 de 22/10/2001 do CONANDA. O Conselho é um

órgão municipal, público, permanente e autônomo, não jurisdicional, de natureza

administrativa, encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do

adolescente, aplicando as medidas de proteção contra sua ameaça ou violação.

Compõe-se de cinco membros, maiores de 21 anos de idade, eleitos pela

comunidade local para um mandato de três anos, permitida uma reeleição.

(SIMÕES, 2006). Alguns Conselhos Tutelares podem contar com assistentes sociais

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 83

para assessorar e acompanhar o trabalho que desenvolvem na comunidade.

Custódio e Souza (2009, p.2.723) ressaltam que o Conselho Tutelar não deve

substituir o atendimento, por meio de serviços técnicos especializados, de qualquer

rede de políticas públicas como saúde, assistência social, educação, entre outras,

pois “não cabe ao Conselho Tutelar fazer o serviço especializado, mesmo nos casos

em que os próprios conselheiros tenham formação específica”. Entretanto, o

Conselheiro tutelar poderá requisitar serviços especializados de profissionais, como

do Serviço Social, para completar suas observações e análises e fundamentar suas

decisões em relação à aplicação de medidas pertinentes aos pais ou responsáveis,

por exemplo, visando atender as necessidades de cada situação.

Resposta A – a resposta A está incorreta, pois tradicionalmente, o assistente

social é um profissional habilitado a intervir nas expressões da questão social, como

pobreza, mendicância, trabalho infantil, abuso sexual e outras formas de violação de

direitos vivenciadas por crianças e adolescentes.

Resposta B – a resposta B está correta, pois a elaboração de proposta

orçamentária de planos e programas vai além da execução terminal de políticas

sociais. Tradicionalmente, era delegado ao assistente social, o atendimento a

indivíduos, famílias e grupos sociais, com um caráter educativo no sentido de

orientar os diferentes segmentos populacionais na busca pelo acesso a seus direitos

sociais, visando a “integração social”. Não ocupava cargos de gestão, assessoria e

consultoria. Portanto, a elaboração de propostas orçamentárias passa a ser uma

tarefa importante dos assistentes sociais como equipe técnica que assessora o

Conselho Tutelar, ultrapassando a visão tradicional do assistente social.

Resposta C – a resposta C está incorreta, pois o atendimento aos pais e

responsáveis faz parte do papel tradicional dos assistentes sociais, pois a família é a

base da sociedade e o Serviço Social sempre teve a centralidade de sua atuação na

família. Isso ocorre desde a investigação de denúncias de maus-tratos e violência na

família, através de visitas domiciliares, elaboração de estudos sociais sobre as

condições econômicas e sociais da família, relações entre os membros, entorno

social, entre outros aspectos. O assistente social, bem como o Conselheiro Tutelar

investiga se a denúncia de maus-tratos é procedente, quem são os envolvidos por

ação ou omissão de cuidados, a gravidade da situação, identificação dos fatores de

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84 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

risco, se há necessidade de medidas emergenciais e como proceder para garantir o

bem-estar da criança e adotam as medidas cabíveis. O assistente social busca

articular a rede social no atendimento às demandas apresentadas pela mesma.

Resposta D – a resposta D está incorreta, pois o assistente social é um

profissional habilitado a requisitar a documentação dos usuários para garantir o

acesso a direitos sociais como BPC (Benefício de Prestação Continuada), bolsa

família, aposentadoria, pensão e outros benefícios sociais. Também realiza

notificações de acidentes e violências em crianças, mulheres, idosos, entre outros.

Resposta E – a resposta E está incorreta, pois o assistente social, desde os

primórdios da profissão, costumava requisitar certidões de óbito e/ou nascimento

para providenciar auxílio-funeral, auxílio maternidade, entre outros benefícios sociais

para os usuários.

Referências

ANDRADE, Jorge. Conselhos Tutelares: sem ou cem caminhos?. São Paulo: Veras, 2002. REIS, Jorge Renato dos e LEAL, Rogério Gesta (orgs.). Direitos Sociais & Políticas Públicas. Desafios Contemporâneos. Tomo 9.1ª ed. Santa Cruz: EDUNISC, 2009. SIMÕES, Carlos. Curso de Direito do Serviço Social. Biblioteca Básica do Serviço Social. 2ª ed. Revista e atualizada São Paulo: Cortez, 2006.

Page 86: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 85

QUESTÃO 29

A Constituição Federal de 1988 introduziu conquistas inéditas no campo da proteção

social. Dentre elas, destaca-se a criação de novas modalidades de exercício da

democracia participativa no campo das políticas sociais - os Conselhos de Políticas

e de Direitos na área de assistência, saúde, infância e juventude, entre outras. A

concepção que melhor retrata o potencial destas novas modalidades na luta pela

garantia de direitos é a que toma os Conselhos como instância/espaço de

(A) construção de consensos entre as classes e camadas sociais. (B) afirmação do papel do Estado como agente neutro nos conflitos sociais. (C) promoção da solidariedade e da construção de parcerias entre o público e o

privado. (D) fortalecimento dos governos no enfrentamento das desigualdades sociais. (E) luta e confronto entre projetos societários antagônicos na disputa por

hegemonia. Gabarito: Questão E

Tipo de questão: Escolha simples com indicação da resposta correta

Conteúdos avaliados: Conselhos de Políticas e de Direitos, Controle Social,

Direitos Sociais, Participação social, Projeto Ético-político da Profissão

Autora: Esalba Maria Silveira

Comentário: (A) Alternativa incorreta.

A palavra consenso aponta que essa afirmação está incorreta, pois ela

oferece o sentido de acordo geral entre os membros de um grupo, levando em conta

as preocupações de todos e visa resolvê-los antes que uma decisão seja tomada. A

luta pela afirmação dos direitos é hoje também uma luta contra o capital. Como

afirma Iamamoto (2009), os direitos sociais foram negados durante muito tempo

entre outras alegações, a de que violam o direito individual à propriedade e

estimulam o paternalismo estatal. A lógica do capital expõe a contradição entre

cidadania e classe social. É ainda Iamamoto que refere que a classe social constrói

privilégios e diferenças, impossibilitando que todos possam participar

igualitariamente da produção do patrimônio espiritual e material produzido

Page 87: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

86 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

coletivamente. As conquistas passam pelo enfrentamento no reconhecimento dos

direitos e não pelo consenso.

(B) Alternativa incorreta.

A relação Estado-sociedade orientada pelo neoliberalismo evidencia que o

Estado não é um agente neutro. Todavia exige o desocultamento do real, no qual o

poder aparece encoberto por uma racionalidade burocrática e de um discurso de

neutralidade que pode esconder formas de ação pré-traçadas.

(C) Alternativa incorreta.

As instâncias públicas de controle democrático foram propostas num contexto

de mobilização da sociedade civil a fim de buscarem corrigir as históricas injustiças

sociais acumuladas ao longo da história, até então incapazes de universalizar

direitos e cumprindo a tradição de privatizar a coisa pública pelas classes

dominantes. Bravo (2001) afirma que o sentido do controle social inserido na

Constituição é o de participação da população na elaboração, implementação e

fiscalização das políticas sociais. Semionato (2006) destaca que se tem proposto a

mobilização da sociedade civil para assumir ações emergenciais como a distribuição

de alimentos, educação alimentar, entre outros, dentro da perspectiva do

voluntariado. Ela considera que esse tipo de participação dirige-se à contramão da

história, pois a sociedade civil passa a ser vista como o espaço de resolução de

problemas, cujas ações seriam da esfera estatal.

Os conselhos são espaços de vigilância na conquista de direitos e não de

parcerias solidárias. Lembra Yasbeck (2001) que o pensamento neoliberal estimula

a “refilantropização do social” e a transferência pelo Estado para o mercado e

filantropia como alternativa aos direitos sociais.

(D) Alternativa incorreta.

Potyara Pereira (1996) define política pública como "linha de ação coletiva

que concretiza direitos sociais declarados e garantidos em lei". As políticas públicas,

embora sejam de competência do Estado, não representam decisões autoritárias do

governo para a sociedade, mas envolvem relações de reciprocidade e antagonismo

entre essas duas esferas. É mediante as políticas públicas que são distribuídas ou

redistribuídos bens e serviços sociais em resposta às demandas. Todavia a crise do

capitalismo contemporâneo acabou por abrir o caminho para a emergência das

Page 88: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 87

teses neoliberais de desmontagem do Estado enquanto instância mediadora da

universalização dos direitos e da cidadania, como discute Raichelis (2010). Sendo

assim, o potencial dos Conselhos não se localiza no fortalecimento dos governos,

considerando que ele também reproduz as desigualdades sociais postas pela

sociedade, mas [sim em] identificar as contradições e buscar estratégias para

garantia dos direitos por parte do Estado.

(E) Alternativa CORRETA.

A Constituição de 1988 trouxe a definição de novos processos e regras

políticas capazes de redefinir as relações do Estado com a sociedade, no sentido de

criar uma nova institucionalidade democrática. Requalificou o processo de

participação e passou a reconhecer e acolher a diversidade de interesses e projetos

societários colocados na arena política e social. Souza (2004) refere que a essa

nova modalidade de participação dá-se o nome de “participação social”. A categoria

central da participação social é a “sociedade”. Não mais a comunidade ou o povo ou

grupos excluídos, mas sim o conjunto da sociedade configurado por diversos

interesses e projetos, desenhando a disputa pelo poder do Estado. A participação

social assim entendida tem como objetivo a universalização dos direitos sociais, a

ampliação do conceito de cidadania e a interferência da sociedade no aparelho

estatal, bem como a publicização do Estado e com isso buscou superar as históricas

injustiças sociais acumuladas. (CARVALHO, 1995).

Para melhor entender a alternativa correta, cabe enfatizar que concepções de

publicização e de público comportam variadas e divergentes leituras. Raichelis (2010)

destaca que a esfera pública é o espaço de explicitação de interesses em conflito, de

confronto entre projetos sociais e de luta pela hegemonia. Afirmar que um elemento

constitutivo e inerente à esfera pública é sua ocupação por sujeitos sociais investidos de

representação, que será, tanto mais legítima quanto forem capazes de exercê-la com

autonomia a partir dos interesses sociais que se propõem a representar. Dagnino (2002)

concorre para esse argumento quando diz que enquanto expressão da luta política e da

mobilização da sociedade civil, sob a base de um papel efetivo dos Conselhos Gestores,

faz com que o papel dessas instâncias de controle social da política governamental se

torne efetivamente um espaço de disputa de interesses e projetos políticos diferenciados

e não apenas um espaço de representação virtual da sociedade civil.

Page 89: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

88 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

A Constituição para a efetivação dessa concepção, introduziu dispositivos

para descentralizar o poder federal e para a democratização das políticas no sentido

de criação de um novo pacto federativo, sendo o município reconhecido como ente

autônomo da federação, transferindo-se para o âmbito local, novas competências e

recursos públicos capazes de fortalecer o controle social e a participação da

sociedade civil. O controle social como direito conquistado pela Constituição Federal

pretende ampliar a democracia representativa para a democracia participativa de

base. Estão previstas duas instâncias de participação nas políticas sociais: os

conselhos e as conferências (Para reforçar o argumento de que os conselhos são

espaços de luta e confronto entre projetos societários antagônicos, é Bravo (2009)

que destaca que a democracia representativa é uma vitória dos movimentos

organizados da sociedade, mas parcial, uma vez que na sociedade capitalista existe

o domínio da classe capitalista, havendo limite interno, pois as principais decisões

econômicas são tomadas pelo poder privado). Sendo assim os conselhos devem ser

visualizados como lugar do fazer político, como espaços contraditórios, orientado

pela democracia participativa.

Referências

CARVALHO, Antonio Ivo de. Conselhos de Saúde no Brasil: participação cidadã e controle social. Rio de Janeiro: Fase/Ibam, 1995. DAGNINO, E. Sociedade civil e espaços públicos no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na cena contemporânea. In: CEFSS e ABEPSS, Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília, 2009. PEREIRA, Potyara A. P. A Assistência na Perspectiva dos direitos: crítica aos padrões dominantes de proteção aos pobres no Brasil. Brasília: Thesaurus, 1996. RAICHELIS, R. Democratizar a Gestão Pública das Políticas Sociais: um desafio a ser enfrentado pela sociedade civil. Disponível em: www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto1 Acesso em 5/5/2010. SOUZA, O. Rodriane. Participação e controle social. In: SALES, M.A; MATOS, M. C.; LEAL, M. C. (orgs) Política social, família e juventude: uma questão de direitos. São Paulo: Cortez, 2004. YASBECK, M. C. Classes Subalternas e Assistência Social. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 1993.

Page 90: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 89

QUESTÃO 30

O Artigo 5º, inciso 4º da Lei de Regulamentação da profissão reza: “realizar vistorias,

perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de

Serviço Social”. Pode-se, pois, inferir que esses procedimentos privativos

(A) obrigam os Assistentes Sociais a realizá-los somente após aprovação dos empregadores.

(B) podem ser realizados por outros profissionais, desde que autorizados por Assistentes Sociais.

(C) estão reservados exclusivamente a profissionais que prestaram concurso público.

(D) são cabíveis, apenas, para Assistentes Sociais graduados em universidades públicas.

(E) devem ser realizados, apenas por Assistentes Sociais no pleno exercício profissional.

Gabarito: Questão E

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta. Conteúdo avaliado: Lei de Regulamentação da Profissão e Documentos do CFESS

Autora: Márcia Salete Arruda Faustini e Francisco Arseli kern

Comentário: A alternativa correta é a (E). Devem ser realizados, apenas por Assistentes

Sociais no pleno exercício profissional.

Nessa questão estaremos a discutir alguns elementos que compõe a Lei de

Regulamentação da Profissão nº. 8.662/93. Ela irá dispor da regulamentação do

livre exercício da profissão de Assistente Social em todo o território, demarcando

que esse exercício só poderá ser executado por possuidores de diploma em curso

de graduação em Serviço Social, oficialmente reconhecido, e que somente podem

exercer a profissão aqueles profissionais, regularmente registrados, em seus

Conselhos Regionais, sendo que a designação profissional de Assistente Social é

privativa dos habilitados na forma da legislação vigente. (Lei 8.662/93).

A Lei de Regulamentação apresenta, em seus artigos 4º e 5º, elementos

de indicação acerca das Competências e Atribuições Privativas Profissionais dos

Assistentes Sociais. Cabe destacar a concretude dessa discussão profissional

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90 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

que é vivida, cotidianamente, nos espaços de trabalho, a fim de clarear, delimitar

e exercer a construção de conhecimentos, proposições e intervenções

profissionais, eticamente responsáveis, e coadunadas com um trabalho

profissional responsável que, inserido num contexto de profundas e rápidas

transformações sociais, possa ser elemento de reflexão e orientação ao

exercício profissional.

Uma discussão importante sobre questões e debates referentes a

competências e atribuições privativas do assistente social está na obra publicada

pelo CFESS (2002): Atribuições Privativas do Assistente Social em Questão.

Nela, elementos fundamentais à fiscalização profissional, que dizem respeito a

identidade profissional são problematizados, a partir de uma sondagem junto aos

CRESS e ABEPSS que indicou uma discussão significativa, afirmando que As preocupações predominantes confirmam que a discussão não aponta para a revisão da Lei, uma vez que dela não se repreende qualquer incorreção, mas, apenas, aprimorar a reflexão sobre o fazer profissional[...] (CFESS, 2002, p.6).

A questão, acima referida, compõe o artigo 5º, da Lei supracitada. Ela traz,

em si, uma questão fundamental para ser discutida: refere que é atribuição privativa

do assistente social realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações

e pareceres e, especifica, que estas, referem-se sobre a matéria de Serviço Social

(grifo nosso).

A discussão aponta então para a questão da matéria de Serviço Social. Poderíamos, simplesmente, referir que as atividades acima descritas se

tornam atribuições privativas quando incidem sobre o objeto profissional – sendo

“matéria” – o objeto profissional. Entretanto, nos parece que essa questão exige um

certo aprofundamento reflexivo, tanto que na obra, anteriormente, referida ( CFESS,

2002), há uma discussão realizada por Iamamoto sobre “A questão social como

‘matéria’ do Serviço Social”.

Quando falamos em “competência”, estamos a nos referir a algo que nos

compete, que podemos realizar, temos competência para tal, mas, outros

profissionais também o podem. Entretanto, ao nos referirmos sobre “atribuições

privativas” entramos num terreno particularizado, que diz respeito a algo que nos é

privativo. Por exemplo: a pesquisa é algo para a qual temos competência, ou seja,

Page 92: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 91

podemos realizar, pois estamos equipados com saberes, conhecimentos,

instrumental, para tal. Entretanto, outras áreas também podem estar equipadas, e

podem atuar nesse campo de trabalho. Já, para realizar o laudo social, por exemplo,

exige que tenhamos conhecimentos específicos para compreender determinações e

possibilidades que estão dando visibilidade a expressões da questão social sobre o

qual o trabalho do Assistente Social está a incidir. Exige, então, conhecimentos

específicos para captar a realidade, habilidades específicas no manejo de

instrumentos, saberes teóricos e metodológicos que reafirmem o sentido ético na

intervenção, clareza política nas mediações que estão sendo acionadas na

realização desse trabalho.

Entretanto, ao assumir a “matéria” do Serviço Social como objeto, estamos

diante de algo bastante complexo: a questão social na contemporaneidade.

A questão social, como vai referir Iamamoto (2002, p.26), expressa [...] desigualdades econômicas, políticas, culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Dispondo de uma dimensão estrutural, ela atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa luta aberta e surda pela cidadania (Iani,1992), no embate pelo respeito aos direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos.

Assim, a perspectiva de lidar com a matéria do Serviço Social no tempo

presente, traz a mesma complexidade que diz respeito a lidar com nosso objeto de

intervenção. Como estamos concebendo, apreendendo e lidando com a questão

social e suas expressões, numa “profissão que é historicamente determinada, isto

é, construída no seio de relações sociais mais amplas”, como destacam Brites e

Sales (2000, p.21).

Nesse sentido, a contemporaneidade, no processo de produção e reprodução

das relações sociais, se vê marcada por profundas e radicais transformações. As

crises do sistema capitalista imputam novas formas de organização da vida social; a

reestruturação produtiva impacta nas formas de organizar e gerenciar do capital; as

mudanças significativas na relação Estado-sociedade civil, ancoradas na lógica

neoliberal. Mudanças importantes que impactam na economia e na política, mas

também nas formas de sociabilidade. (Iamamoto, 2002).

Page 93: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

92 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Todos esses elementos desdobram-se em impactos no cotidiano do trabalho

de várias profissões. A reestruturação produtiva que atende a preceitos neoliberais

condiciona a redefinição de espaços e possibilidades de inserção profissional; a

progressiva mercantilização do atendimento das necessidades sociais, que

acompanham a privatização das políticas sociais (op. Cit., p.36) vão rebater

profundamente na concepção e no acesso dos serviços sociais que [...]deixam de expressar direitos sociais, metamorfoseando-se em atividade de outra natureza, inscrita no circuito de compra e venda de mercadorias, em detrimento dos direitos sociais de cidadania que, em sua necessária dimensão de universalidade, requer a ingerência do Estado (idem).

A criminalização, a moralização, a fragmentação da questão social são

elementos importantes como desdobramentos desse contexto. A questão social que

nasce imbricada “na própria natureza das questões sociais capitalistas”, apresenta

hoje, “novas roupagens, novas expressões em decorrência dos processos históricos

que a dimensionam na atualidade, aprofundando suas contradições.” (ibidem, p.28).

Isso significa que a matéria do Serviço Social, está a sofrer profundas

reconfigurações. E está a exigir dos profissionais uma vigilância crítica no sentido da

apreensão nos diferentes espaços de trabalho, da identidade comum de suas

diversas expressões.

Sendo assim, a questão de origem deste texto (o Artigo 5º, inciso 4º da Lei

de Regulamentação da profissão que refere “realizar vistorias, perícias técnicas,

laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social [...]

devem ser realizados, apenas, por Assistentes Sociais no pleno exercício

profissional”) reforça a importância do sentido do trabalho ser bem apropriado

pelos assistentes sociais, pois só ele(a) poderá realizar as atividades acima

descritas e seu conteúdo deve ser pleno de direção ética, claro, teoricamente,

competente, metodologicamente, e capaz de articular elementos técnicos e

políticos para a garantia da direção social profissional.

Nesse contexto o Projeto Ético-Político, coletivamente, construído nas últimas

décadas, e que se vê expresso no Código de Ética Profissional (1993), na Lei de

Regulamentação da Profissão (1993) e nas Diretrizes Curriculares (1996), reafirma a

direção social do trabalho profissional no sentido de enfrentamento a questão social

Page 94: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 93

em suas expressões cotidianas, que articulem a luta pela defesa de direitos num

tempo em que os mesmos são cotidianamente ameaçados no mundo do trabalho.

Essa atribuição privativa nos convoca a responsabilidades do trabalho profissional,

num contexto contraditório, que superem mecanismos que reforçam a exclusão, os

individualismos, e a mistificação das relações sociais.

As alternativas (A), (B), (C) e (D) não respondem a questão enunciada, à

medida que, suas afirmações não guardam coerência com o enunciado: a atribuição

privativa do Assistente Social não pode ser determinada pelo empregador; o

Assistente Social não tem ingerência para designar outros profissionais a

atividades especificas; qualquer espaço profissional pode demandar vistorias,

perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres; qualquer profissional

graduado regularmente tem os mesmos direitos e deveres.

Referências

ABESS/CEDEPSS. Proposta básica para o projeto de formação profisssional. In: Revista Serviço Social e Sociedade: o serviço social no século XXI. São Paulo: Cortez, ano XVII, nº 50, p.143-171, abril. 1996. BRASIL. Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Lei nº. 8.662/93. BRITES, Cristina e SALES, Mione. Ética e Práxis Profissional. 2ª.ed. Brasília: CFESS, 2000. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética do Assistente Social. Brasília, 1993. CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Atribuições Privativas do Assistente Social em questão. Brasília: CFESS, fev.2002. IAMAMOTO, Marilda. Projeto Profissional. Espaços ocupacionais e trabalho do assistente social na atualidade. In: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Atribuições Privativas do Assistente Social em questão. Brasília: CFESS, fev.2002. p.13-49.

Page 95: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

94 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 31

O ECA, no seu artigo 121, indica que a internação constitui-se em medida privativa

de liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à

condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Nesse sentido, ao elaborar um

estudo social, cabe ao assistente social que trabalha com um adolescente:

I − indicar medidas que o punam de forma correta;

II − preservar a sua permanência próximo à sua família;

III − garantir a preservação dos seus direitos sociais;

IV − indicar plano de trabalho durante a sua permanência na Instituição

V − monitorar o trabalho de outros técnicos. São corretos apenas os itens:

(A) I, II e III.

(B) II, III, IV.

(C) II, IV e V.

(D) III, IV e V.

(E) I, II, III e IV.

Gabarito: Questão B

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta. Conteúdo avaliado: Direitos da Infância e Juventude Autora: Patricia Krieger Grossi

Comentário: Alternativa A: a questão A está incorreta, pois o estudo social não visa

“indicar medidas que punam o adolescente de forma correta”, pois o objetivo da

medida socioeducativa é a reinserção social do adolescente e a responsabilização

pelo ato infracional praticado e não a mera punição, dentro da lógica retributiva do

sistema de justiça (item I).

Alternativa B: A questão correta é a Alternativa B, pois o estudo social

elaborado pelo assistente social que trabalha com adolescentes em conflito com a lei

busca analisar a situação familiar para que essa família participe do processo de

Page 96: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 95

execução de medida socioeducativa de privação de liberdade. Os vínculos familiares

devem ser preservados e fortalecidos durante o processo de internação do

adolescente em conflito com a lei para que este possa ter garantido o direito à

convivência familiar e comunitária. Está previsto no ECA (art.94), entre as obrigações

das entidades de privação de liberdade, “diligenciar no sentido do restabelecimento e

da preservação de seus vínculos familiares”. Entre as atribuições do assistente social

que intervém com essa demanda, encontra-se a elaboração de um plano de

atendimento individualizado para cada adolescente que está cumprindo medida com o

objetivo de estabelecer ações, visando a autonomia, responsabilidade e novo projeto

de vida. Na Fundação de Atendimento Sócio-educativo de Porto Alegre (FASE), por

exemplo, esse plano é conhecido por PIA (Plano Individualizado de Atendimento).

Em relação às preservações dos direitos sociais dos adolescentes, mesmo

privados de liberdade, estes têm direito a condições adequadas de habitabilidade,

educação, atividades culturais, esportivas e de lazer, assistência religiosa àqueles

que desejarem, segurança, cuidados médicos, psicológicos, odontológicos,

farmacêuticos, higiene, vestuário e alimentação adequadas. Esses direitos sociais

devem ser garantidos, atendendo à condição peculiar de desenvolvimento do

adolescente e na perspectiva de sujeito de direitos, conforme estabelece os

parâmetros do SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Sócio-educativo).

Alternativa C: Essa alternativa está incorreta, pois não cabe ao assistente

social monitorar o trabalho de outros técnicos (ref. Item 5). O assistente social

trabalha em equipe interdisciplinar, no sentido de estabelecer objetivos comuns em

relação ao plano de atendimento ao adolescente, dentro da especificidade de cada

profissional.

Alternativa D: Está incorreta, pois o item 5 não procede (vide explicação

acima).

Alternativa E: está incorreta, pois o item 1 não procede, pois a medida

privativa de liberdade não tem o caráter punitivo e sim um caráter socioeducativo.

Referências

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº. 8.068/90. BRASIL. Sistema Nacional de Atendimento Sócio-educativo. SINASE. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Brasília: DF: CONANDA, 2006.

Page 97: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

96 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 32

Nas Diretrizes Gerais para o Curso de Serviço Social, aprovadas pela Assembléia

Nacional da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social, em

1996, as múltiplas expressões da “questão social” figuram como objeto de trabalho

do Assistente Social, nas mais variadas dimensões da realidade social. A realização

de estudos socioeconômicos, de acordo com o que postulam as diretrizes, orienta-

se por uma perspectiva teórico-metodológica crítica. À luz da orientação teórica

adotada pelas Diretrizes, seria legítimo sustentar que a direção social dos estudos

socioeconômicos deve ser parametrizada pela perspectiva

(A) da desintegração familiar e comunitária. (B) da disfunção social de indivíduos e grupos. (C) da má distribuição de renda. (D) da exclusão social. (E) das desigualdades criadas pela sociedade capitalista. Gabarito: Questão E Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta INCORRETA.

Conteúdos avaliados: Diretrizes da ABEPSS e Questão Social

Autor: Jane Cruz Prates

Comentário: A questão refere-se às Diretrizes Curriculares para o Curso de Serviço Social,

aprovadas pela ABEPSS, em 1996, quando as múltiplas expressões da questão

social passam a configurar o objeto de trabalho do Assistente Social, nas mais

variadas dimensões da realidade social. A realização de estudos socioeconômicos

orienta-se por uma perspectiva teórico-metodológica crítica. Após essas afirmações

é questionado se à luz da direção teórica, orientada pelas Diretrizes, seria legítimo

sustentar que a direção dos estudos socioeconômicos deve ser parametrizada por

diferentes perspectivas apontadas nas alternativas de reposta.

O documento ABESS/CEDEPS que sistematiza as Diretrizes Curriculares

enfatiza a categoria trabalho e as mediações necessárias para um “atento

deciframento das refrações da questão social no cotidiano da vida social”

(ABESS/CEDEPS, 1996, p.5). Para tanto, a interpretação da dinâmica societária

Page 98: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 97

deve incluir, segundo o documento: leitura da conjuntura (as mudanças no mundo

do trabalho, a globalização da economia e a política neoliberal), análise institucional,

conhecimento acerca das demandas sociais, da realidade brasileira, das

características dos excluídos e de suas representações, bem como das políticas

sociais, em especial da Política de Assistência Social.

O documento destaca que a questão social se expressa em suas refrações e

que por outro lado os sujeitos engendram formas para o seu enfrentamento. No

entanto, ressalta que “sua gênese está na maneira com que os homens se

organizam para produzir num determinado momento histórico e que tem

continuidade na esfera da reprodução social” (idem p.12). E a produção e

reprodução social, “são movimentos inseparáveis na totalidade concreta de

condições de vida, de cultura e de riqueza.”

Portanto, a abordagem da questão social consiste na apreensão do processo como totalidade, reproduzindo o movimento do real em suas manifestações universais, particulares e singulares, em seus componentes de objetividade e subjetividade, em suas dimensões econômicas, políticas, éticas, ideológicas e culturais, fundamentado em categorias que emanam da teoria crítica (p.12-13).

Diz ainda o documento que [...]a tradição marxista empreende, desde Marx e Engels até os dias de hoje, um esforço explicativo acerca da questão social, já que o que está subjacente às suas manifestações concretas é o processo de acumulação do capital, produzido e reproduzido com a operação da lei do valor, cuja contraface é o crescimento relativo da pauperização (p.13).

A primeira alternativa de resposta afirma que os estudos devem ser

parametrizados pela “desintegração familiar e comunitária”. Essa afirmativa está

pautada numa leitura positivista, que tem por objetivo identificar “situações-

problemas” para intervir no sentido de “adaptar sujeitos e grupos considerados

desintegrados”, além de não representar as mais variadas expressões da questão

social, não reconhece o seu contraponto, os processos de resistência

implementados pelos sujeitos sociais para enfrentar suas repercussões.

É importante destacar que a questão social não resulta “da desintegração

familiar ou comunitária”, mas do conjunto de desigualdades provocadas pelo

Page 99: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

98 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

desenvolvimento capitalista que se contrapõe ao trabalho, enquanto expressão e

condição necessária ao desenvolvimento humano, em qualquer forma de sociedade.

Portanto, mesmo desconsiderando processos de desintegração, a avaliação das

condições e modo de vida de famílias e comunidades descontextualizados de uma

leitura mais ampla, que contemple a totalidade, não seriam suficientes para

fundamentar a elaboração dos estudos propostos. Por outro lado análises que

desconsideram as particularidades também não abarcam as múltiplas determinações

que conformam a realidade social. A articulação entre ambas as perspectivas que são

complementares é que possibilitam a elaboração de estudos que efetivamente possam

desvendar a realidade social e sobre ela apresentar estratégias de enfrentamento.

A alternativa B se assemelha a primeira, direcionando o foco de análise a

“disfunções sociais”, portanto orienta-se pela mesma vertente paradigmática

anteriormente pontuada, o que contraria os fundamentos que norteiam as

Diretrizes Curriculares, pautadas nas contribuições da teoria marxiana, como

mencionado anteriormente.

A alternativa C afirma que os estudos socioeconômicos devem ser

parametrizados pela má distribuição de renda. Em que pese ser este um

componente fundamental ao processo de análise, pois a concentração de renda é

uma consequência do modo de produção capitalista, o que contribui sobremaneira

para o acirramento das desigualdades sociais, não é suficiente para explicar as

múltiplas determinações que caracterizam as expressões da questão social.

A pobreza, esclarece Yazbek (2004), “é uma face do descarte de mão de obra

barata que faz parte da expansão capitalista”. O capitalismo contemporâneo com

seus impactos destrutivos traz como marcas à população empobrecida, entre tantas

mazelas, o desemprego, a saúde precária, a moradia insalubre, a alimentação

insuficiente, “os limites da condição de vida dos excluídos e subalternizados [...], o que

também expressa “o quanto a sociedade pode tolerar a pobreza e banalizá-la” (p. 35).

Na mesma perspectiva a resposta D afirma ser a exclusão social o foco de

análise desses processos, também insuficiente para explicitá-lo na medida em que o

capitalismo exclui e inclui precariamente de acordo com suas necessidades e

interesses, mascarando a realidade social e ocultando as mazelas provocadas pelo

seu desenvolvimento.

Page 100: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 99

Por fim, a resposta E afirma que os estudos devem se direcionar ao

desvendamento das desigualdades criadas pela sociedade capitalista. Logo, essa é

a resposta correta na medida em que abarca, tanto aspectos relativos a distribuição

de renda, formas diversas de exclusão e inclusão precária, o acesso limitado ou

interditado a bens e serviços a grandes contingentes populacionais, fragilidades,

violências, entre outras expressões que resultam do binômio exploração-

acumulação que caracterizam o modo de produção capitalista, ampliando

progressivamente as desigualdades sociais que precisam ser desocultadas pelos

estudos socioeconômicos.

Referências

ABESS/CEDEPS – Diretrizes gerais para o Curso de Serviço Social. Rio de Janeiro, novembro, 1996. IAMAMOTO, Marilda. A questão social no capitalismo. Revista Temporalis nº 3, Brasília: ABEPSS, 2004. PEREIRA, Potyara. Questão social, Serviço Social e direitos da Cidadania. In: Revista Temporalis, nº. 3. Brasília: ABEPSS, 2004. YAZBEK, Maria Carmelita. Pobreza e exclusão social: expressões da questão social no Brasil. In: Revista Temporalis, nº 3. Brasília: ABEPSS, 2004.

Page 101: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

100 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 33

Nas Varas Especiais destinadas a atender jovens em conflito com a lei, o Assistente

Social é requisitado a realizar estudo social para subsidiar o magistrado na aplicação

de medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA). A utilização deste instrumental técnico-operativo privativo do assistente social

deve conter a:

(A) posição imparcial do perito para fornecer informações técnicas estritamente relacionadas com a área do Serviço Social.

(B) defesa juridicamente fundamentada dos direitos dos inúmeros sujeitos envolvidos no caso.

(C) interpretação do profissional sobre o modo pelo qual as “expressões da questão social” rebatem no dia-a-dia dos sujeitos.

(D) análise aprofundada dos fatores psicossociais que contribuíram para a ocorrência do delito.

(E) análise profunda do grau de periculosidade do indivíduo e da possibilidade de reincidência do erro.

Gabarito: Questão C

Tipo de questão: Escolha simples com indicação da resposta correta

Conteúdos avaliados: Direitos da Infância e Juventude

Autor: Patricia Krieger Grossi

Comentário: Resposta A – A resposta A está incorreta, pois o assistente social não é um

profissional neutro. Quando este realiza um estudo social, avalia as condições objetivas

e subjetivas relacionadas à situação investigada, dados do entorno social, composição

e relações familiares, histórico de violência doméstica, uso de drogas, entre outros, na

família, rede de apoio social existente, situação da moradia, situação escolar do

adolescente em conflito com a lei e emite um parecer, com base no qual o juiz irá

proferir uma sentença que irá afetar a vida de um indivíduo. O estudo social caracteriza-

se por ser um trabalho técnico científico de natureza ampla que pode ou não exigir a

perícia social. Para Simões (2006, p.505), a elaboração de um estudo social é uma

tarefa complexa e contraditória e desafia os assistentes sociais, pois não se trata

apenas de emitir um parecer sobre um dado técnico, como acontece em uma perícia da

construção civil, acerca de erros de cálculo na construção de um ponto, mas envolve

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 101

uma teia complexa de relações que exige do profissional do Serviço Social uma

apreciação ético-valorativa da conduta das ações das pessoas envolvidas no processo.

Resposta B – A resposta B está incorreta, pois a defesa juridicamente

fundamentada não é atribuição privativa do assistente social e sim, do profissional

do Direito. Ao realizar o estudo social, o assistente social se baseia no seu Código

de Ética profissional, nas legislações atinentes ao caso e também em fundamentos

especificamente assistenciais (art.203 CF e art.2º LOAS) e eventualmente, se julgar

necessário, poderá sugerir o parecer de outros profissionais da área da Psicologia

ou Direito, entre outros (SIMÕES, 2006).

Resposta C – A resposta C está correta, pois o assistente social, através do

estudo social, identifica as expressões da questão social vivenciadas no cotidiano dos

sujeitos sociais, tais como desemprego, pobreza, drogadição, e de que forma estas

obstaculizam o acesso a determinados bens e serviços sociais e que pode ter

contribuído para a ocorrência do ato infracional, bem como as potencialidades da

família, relações do adolescente com os responsáveis, sentimento de pertença ao

grupo, relações com a comunidade, entre outros aspectos, que podem ser fatores

protetivos e contribuir para a reinserção social do adolescente. O estudo social,

portanto, não é apenas resultado de uma observação passiva de condutas pessoais,

mas também exige uma pesquisa documental, visitas domiciliares a família e

colaterais, entrevistas a fim de examinar concretamente as condições objetivas da

situação para emissão do parecer que irá subsidiar o juiz na sua decisão em relação à

melhor medida a ser aplicada ao adolescente em conflito com a lei.

Resposta D – A resposta D está incorreta, pois não cabe ao assistente social

examinar o grau de periculosidade do adolescente em conflito com a lei, sendo

necessário avaliações neurológicas, psicológicas e psiquiátricas sobre

comportamento antissocial e desvio social, para verificar a existência de psicopatias

que resultam em comportamento violento.

Referências CFESS. O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres Técnicos. São Paulo: Cortez, 2005. SIMÕES, Carlos. Curso de Direito do Serviço Social. Biblioteca Básica do Serviço Social. 2ª ed. Revista e atualizada. São Paulo: Cortez, 2006. TÜRCK, Maria da Graça Maurer Gomes. Serviço Social Jurídico: perícia social no contexto da infância e da juventude. São Paulo: Livro Pleno, 2000.

Page 103: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

102 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 34 A Constituição de 1988, a contra-reforma do Estado e as mudanças do mundo do

trabalho têm exigido do profissional de serviço social brasileiro novas competências

e habilidades profissionais – dentre elas, a de exercer funções de gestão ou direção

em organizações públicas ou privadas. Isso requer o domínio crítico das teorias

organizacionais e das ferramentas gerenciais, bem como a clareza do significado da

direção estratégica do projeto hegemônico no Serviço Social brasileiro. De acordo

com o código de ética profissional em vigor, o exercício profissional, neste campo e

na perspectiva da defesa e do aprofundamento da democracia, deve buscar:

(A) a projeção de uma nova sociedade sem exploração e desigualdade de classe, gênero e etnia.

(B) a eficácia e eficiência por meio da moderna administração gerencial de resultados.

(C) a atenção às necessidades locais em função da municipalização das políticas públicas.

(D) a defesa da liberdade do mercado como princípio regulador das relações econômicas e sociais.

(E) a satisfação das necessidades e demandas sociais nos limites da ordem política liberal.

Gabarito: Questão A

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta. Conteúdo avaliado: Gestão, projeto ético-político e código de ética

Autora: Gleny Terezinha Duro Guimarães e Anelise Gronitzki Adam

Comentário: A resposta correta é a letra A: “a projeção de uma nova sociedade sem

exploração e desigualdade de classe, gênero e etnia”, considerando que:

No Código de ética dos assistentes sociais, Resolução CFESS, nº. 273, de 13

de março de 1993, o 8º princípio fundamental é a “opção por um projeto profissional

vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem

dominação, exploração de classe, etnia e gênero” e o 11º princípio determina que o

profissional não deve praticar nenhum tipo de discriminação “[...] por questões de

inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade

e condição física”. (CRESS, 2009, p. 27).

Page 104: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 103

Considerando esses dois princípios, o assistente social que assume função de

gestão, seja no âmbito público ou privado, deve ter como premissa uma visão crítica

das ferramentas gerenciais, pois na área da administração, a gestão nem sempre

canaliza seus interesses para uma visão democrática em função de estar a serviço de

empresas/corporações cujo objetivo é o lucro, na perspectiva capitalista, sem

considerar muitas vezes, se existe ou não, a exploração de classe, etnia e gênero.

A forma como as ferramentas gerenciais são utilizadas pelos assistentes

sociais, se diferenciam em função do compromisso com o projeto ético-político

profissional, que coloca acima de tudo o compromisso com a classe trabalhadora a

partir da teoria social crítica, especificamente a teoria marxista, com um

direcionamento ideológico e político, a favor da democracia.

As demais alternativas estão incorretas pelas razões a seguir:

(B) – a eficácia e eficiência por meio da moderna administração gerencial de

resultados.

O modelo de gestão empresarial com pressupostos no modelo taylorista das

teorias organizacionais, busca a eficácia e eficiência por meio da moderna

administração gerencial de resultados, esse tipo de modelo pode ser considerado

como gestão contra o social. A gestão contra o social apresenta-se como estratégia tecnológica e instrumental, viabilizadora da qualificação e eficiência do trabalho e organizações do campo social, afirmadores do capital e não da cidadania. (Maia, 2005, p.2)

O profissional do Serviço Social, comprometido com o código de ética e o

projeto ético-político profissional, defende uma gestão social, que se caracteriza,

segundo Maia (2005), por apresentar valores fundantes na democracia e na

cidadania; pressupõe um conjunto de ações, processos sociais e desenvolvimento

social e o lócus principal são as políticas públicas.

A gestão social e o código de ética profissional defendem a cidadania, ou

seja, no terceiro princípio é auferido que “ampliação e consolidação da cidadania, é

considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos

civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras” (CRESS, 2009, p.26).

(C) – a atenção às necessidades locais em função da municipalização das

políticas públicas.

Page 105: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

104 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Essa alternativa seria correta se a pergunta estivesse direcionada para a

gestão municipal que está detalhada na Política Nacional de Assistência Social/2004

e na Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência social –

NOB/SUAS. Porém, essa alternativa de resposta se torna incorreta porque se refere

especificamente ao código de ética.

Sob o prisma do SUAS, a municipalização das políticas públicas em

decorrência do processo de descentralização, tem se efetivado como elemento

básico da democracia, a chamada “democracia de base territorial” (Arretche, 2008).

Exemplo desse processo é o orçamento participativo, protagonizado na cidade de

Porto Alegre e que legitima uma democracia representativa. Numa gestão

democrática, a municipalização propõe aproximar e delegar a população formas de

participação nas políticas públicas seja através do planejamento, do poder de

decisão, do controle social, entre outras. É necessário considerar que os Conselhos

Municipais desempenham um importante papel para implementar e efetivar o

processo da municipalização.

Sob o prisma do código de ética, a opção de resposta “a atenção às

necessidades locais em função da municipalização das políticas públicas” não se

enquadra como correta, pois o Assistente Social, a partir dos princípios da ética

profissional, não deve buscar apenas os interesses locais. Mas sim, deve ter,

conforme apregoa o quinto princípio, um “posicionamento em favor da equidade e

justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos

aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática” (CRESS,

2009, p.27). Nesse sentido, o código de ética direciona para questões universais e

não municipais.

(D) – a defesa da liberdade do mercado como princípio regulador das

relações econômicas e sociais.

A defesa da liberdade de mercado é pressuposto da lógica neoliberal,

desencadeada a partir dos anos 70, com o advento da reestruturação produtiva

do mercado globalizado, através da livre circulação das mercadorias, enfim, de

um novo modelo que pudesse manter a primazia do capital. O “pacote” neoliberal

se caracteriza pelo modelo de produção toyotista (acumulação flexível) e pelas

novas configurações das relações de trabalho, que passam pela

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 105

desregulamentação dos direitos sociais, precarização das condições de trabalho,

tercerização, flexibilização na produção, inovação tecnológica, enfraquecimento

das organizações sindicais, etc. As consequências maléficas do pacote neoliberal

atingem diretamente os trabalhadores, acirrando as expressões da questão social

através da desigualdade social, exploração do trabalhador, violência,

desemprego estrutural, etc.

A defesa da liberdade enquanto projeto ético-político é o primeiro princípio do

código de ética, que considera o “reconhecimento da liberdade como valor ético

central e das demandas políticas a ela inerentes: autonomia, emancipação e plena

expansão dos indivíduos sociais. (CRESS, 2009,26). Portanto, esse princípio não

ocorre no âmbito da liberdade do mercado como princípio regulador das relações

econômicas e sociais, pois o Serviço Social defende um projeto societário, no âmbito

coletivo, cujo projeto profissional se vincula a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem social, sem exploração/dominação de classe, etnia e gênero. A partir destas opções que o fundamentam, tal projeto afirma a defesa intransigente dos direitos humanos e o repúdio do arbítrio e dos preconceitos, contemplando positivamente o pluralismo, tanto na sociedade como no exercício profissional (Neto, 2010).

(E) – a satisfação das necessidades e demandas sociais nos limites da ordem

política liberal.

O projeto ético-político profissional está na contramão do liberalismo. Esse

busca a satisfação das necessidades dos trabalhadores e as demandas sociais são

atendidas, desde que se enquadrem nos limites do individualismo. Segundo Vieira,

“o pensamento liberal consagra as liberdades individuais, a liberdade de empresa, a

liberdade de contrato, sob a égide do racionalismo, do individualismo e do não-

intervencionismo estatal na esfera econômica e social” (2004, p. 186).

O segundo princípio do código de ética determina que o profissional esteja na

“defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo”,

bem como a “defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da

participação política e da riqueza socialmente produzida”. (CRESS, 2009, p.27). O

Serviço Social não compactua com a ordem política liberal.

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106 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Referências

ARRETCHE, Marta. Mito da descentralização: mais democracia e eficiência nas políticas públicas? Disponível em http://www4.fct.unesp.br/grupos/gedra/textos/Texto2_2008_MITOS%20DA%20DESCENTRALIZ.pdf. Acessado em 2/5/2010 CRESS – CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL 10º REGIÃO (org). Coletânea de Leis. Porto Alegre: Dacasa e Palmarinca, 2009. NETTO, José Paulo. A construção do projeto ético-político do serviço social. Disponível em: http://www.cpihts.com/PDF03/jose%20paulo%20netto.pdf. Acessado no dia 1º/5/2010. VIEIRA, Evaldo. Os Direitos e a Política Social. São Paulo: Cortez, 2004. MAIA, Marilene. Gestão Social – Reconhecendo e construindo referenciais. In: Revista Virtual Textos & Contextos, nº 4, dez. 2005. Disponível em: http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/1010/790. Acessado no dia 1º/5/2010.

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 107

QUESTÃO 35

O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) requer, no campo da gestão, uma

atividade permanente de monitoramento e avaliação. O assistente social, também

no exercício da gestão, deve garantir os princípios fundamentais do seu código de

ética – dentre os quais o compromisso com a qualidade dos serviços prestados à

população. Em cada um dos cinco itens abaixo estão indicadas condições que

pretendem corresponder a este princípio.

I − Garantia da atuação de equipes interdisciplinares nos espaços profissionais.

II − Informações orçamentárias socializadas entre gestores, técnicos e usuários.

III − Elaboração de relatórios sistemáticos de avaliação dos serviços, programas e projetos sociais.

IV − Construção de indicadores capazes de expressar as desigualdades de classes.

V − Articulação de rede socioassistencial, ampliando a cobertura dos serviços. Correspondem ao princípio referido as condições

(A) II e V, apenas.

(B) III e V, apenas.

(C) I, II e III, apenas.

(D) I, II e IV, apenas.

(E) I, II, III, IV e V.

Gabarito: Questão E Tipo de questão: Escolha combinada com indicação da resposta correta Conteúdos avaliados: Gestão no SUAS e Código de Ética Autora: Gleny Terezinha Duro Guimarães e Anelise Gronitzki Adam

Comentário: A resposta correta é a letra E: “I, II, III, IV e V”, considerando que:

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) corresponde à política pública

que visa contribuir para efetivar os direitos sociais das populações que mais sofrem

com as desigualdades sociais geradas pelo sistema econômico vigente. O

assistente social possui uma formação acadêmica voltada para, não só

Page 109: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

108 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

compreender e analisar essa dinâmica social geradora de desigualdades, mas

fundamentalmente, para intervir nessas realidades de maneira propositiva. A

garantia de acesso aos direitos, principalmente aos direitos sociais, é para esse

profissional uma forma motriz em sua atuação. Todo o sistema de gestão, de

gerenciamento, avaliação e monitoramento dessa política vai ao encontro das

afirmações propositivas do código de ética do assistente social. A formação

acadêmica desse profissional visa, também, qualificá-lo para assumir cargos de

gestão no Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

A implementação do SUAS, em todos os municípios do país, requer o

trabalho de inúmeros técnicos com competências das mais variadas. Contudo, a

compreensão da finalidade dessa política pública, não deve se restringir aos

trabalhadores sociais, devendo se estender aos serviços de toda a sociedade. Para

que os objetivos dessa política, que é atender a quem dela precisar, seja alcançado

está previsto a sua avaliação e monitoramento constantes. O assistente social deve

estar capacitado para ocupar as mais variadas áreas de gestão dentro desse

sistema de atendimento à população.

O assistente social, utilizando as suas competências teórico-metodológica,

técnico-operativa e ético-política, possui um diferencial no mercado de trabalho para

ocupar os cargos de gestão dessa política pública e de acordo com as diretrizes do

SUAS, cinco princípios indicam essa condição de gestão, a saber:

Alternativa I – Garantia da atuação de equipes interdisciplinares nos espaços

profissionais;

A complexa dinâmica das relações humanas de trabalho requer dos

profissionais conhecimentos cada vez mais específicos de suas áreas e, ao mesmo

tempo, interação e atualização com os conhecimentos de outras áreas. No capítulo

III – Das Relações com Assistentes Sociais e Outros Profissionais, o art. 10º aufere

como dever do assistente social: “incentivar, sempre que possível, a prática

profissional interdisciplinar”. Esse direcionamento demonstra que, ao se trabalhar

com o social, ou seja, com o ser humano em sociedade, torna-se praticamente

impossível dividi-lo em partes e obter resultados satisfatórios. O profissional sabe

que, se o objetivo for a totalidade dos sujeitos e um atendimento qualificado, a

interdisciplinaridade torna-se fundamental. (CRESS, 2009, p.32).

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 109

O atendimento no SUAS está dividido em baixa, média e alta complexidade,

de acordo com o grau de vulnerabilidade e risco dos seus usuários e comunidades.

No entanto, está previsto que os gestores em todos os equipamentos devem possuir

equipes multidisciplinares – havendo profissionais de áreas distintas para atenderem

à população. O desafio dessas equipes será a conquista de um trabalho

interdisciplinar que garanta qualidade nos atendimentos e na atuação de cada

espaço profissional.

Alternativa II – Informações orçamentárias socializadas entre gestores,

técnicos e usuários;

Outro princípio, não menos importante que o anterior, direciona ao

profissional de serviço social, através de seu código de ética, a socialização e a

democratização das informações referentes à gestão. No artigo 8º do código de

ética, como dever do assistente social, consta “empregar com transparência as

verbas sob a sua responsabilidade, de acordo com os interesses e necessidades

coletivas dos usuários” (CRESS, 2009, p.30). Em uma gestão democrática em que

as decisões e informações são socializadas entre os técnicos, gestores e usuários

as chances de protagonismo da população usuária é muito maior. O tripé –

consciência, liberdade e responsabilidade – também é fomentado e tende a surgir,

como consequência, o fortalecimento da participação da comunidade envolvida

justamente pelo sentimento de pertencimento.

Para o desenvolvimento e gestão dos Centros de Referência de Assistência

Social – CRAS e Centro de Referência Especializada de Assistência Social –

CREAS, é necessário uma gestão nos moldes e princípios democráticos e,

principalmente, com a participação da comunidade é, sem dúvida, o objetivo dessa

política. O profissional do serviço social já tem, no projeto pedagógico de sua

formação, o comprometimento com essa forma de gestão participativa.

Alternativa III – Elaboração de relatórios sistemáticos de avaliação dos

serviços, programas e projetos sociais;

A fim de cumprir as providências exigidas pela Norma Operacional Básica do

SUAS, o gestor deve estar capacitado para a elaboração constante e sistemática de

avaliação de todos os serviços oferecidos à população, bem como dos programas e

dos projetos sociais que permeiam os trabalhos dos profissionais ligados à política.

Page 111: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

110 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

Somente com esse instrumento, de fundamental importância, será possível

mensurar e avaliar as rotas da política.

A implementação em todas as regiões do país traz uma dimensão continental

ao SUAS. Assim como o Sistema Único de Saúde – SUS – brasileiro, tornou-se

referência para diversos outros países pelo mundo afora, o SUAS tende a seguir o

mesmo destino. No entanto, a implantação de uma rotina sistemática de produção

dos relatórios de acompanhamento é essencial para a efetividade desse sistema

inovador e ousado.

Alternativa IV – Construção de indicadores capazes de expressar as

desigualdades de classes;

No processo de gestão é necessário avaliar os resultados previstos em cada

ação e no SUAS está previsto uma gestão da informação, monitoramento e

avaliação, dentre os quais é importante construir indicadores capazes de expressar

as desigualdades sociais. Porém, na área social alguns conceitos são abstratos para

serem avaliados e quantificados, pois são expressões da questão social, tais como:

desigualdade social, exclusão social, qualidade de vida, etc. Os indicadores sociais

foram criados para mensurar esse tipo de conceito. [...] os indicadores sociais se prestam a subsidiar as atividades de planejamento público e formulação de políticas sociais nas diferentes esferas de governo, possibilitam o monitoramento das condições de vida e bem-estar da população por parte do poder público e sociedade civil [...] (Jannuzzi, 2004, p.15).

Vários são os tipos de indicadores sociais que expressam as desigualdades

sociais, tais como: demográficos e de saúde; educacionais e culturais; mercado de

trabalho; habitacionais e de infraestrutura urbana; qualidade de vida e meio

ambiente; políticas sociais e de opinião pública; desenvolvimento e pobreza

humana; renda e pobreza.

No que diz respeito ao SUAS a gestão da informação, monitoramento e

avaliação, são imprescindíveis para se efetivar e manter as ações de gestão. As

informações são asseguradas pela REDE-SUAS, na qual se destaca entre outros

itens, o Cadastro Único e o SUAS-WEB.

Alternativa V – Articulação de rede socioassistencial, ampliando a cobertura

dos serviços.

Page 112: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 111

A rede socioassistencial é um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, que ofertam e operam benefícios, serviços, programas, e projetos, o que supõe a articulação entre todas estas unidades de provisão de proteção social, sob a hierarquia de básica e especial e ainda por níveis de complexidade. (Brasil, PNAS, 2005, p. 94)

De acordo com as diretrizes do SUAS, é imprescindível que ocorra ações

para que uma rede socioassistencial seja articulada. Os gestores, tanto da Proteção

Básica quanto da Proteção Especial, implementam essa rede através das

organizações governamentais e parcerias com entidades de Assistência Social

devidamente inscritas no Conselho de Assistência Social.

O trabalho em rede não é algo novo para o assistente social. Articular ações

de outros atores sociais sejam eles: profissionais, instituições ou até pessoas da

comunidade, em busca de atendimento às demandas sociais e institucionais, é algo

que faz parte do cotidiano profissional. Está ligado à suas competências e

atribuições profissionais.

Portanto, é possível afirmar, sem dúvida alguma, que o profissional assistente

social possui competência para trabalhar, nos mais variados níveis de gestão,

previstos no SUAS.

Referências

CRESS – CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL 10º REGIÃO (org). Coletânea de Leis. Porto Alegre: Dacasa e Palmarinca, 2009. JANNUZZI, Paulo de Martino. Indicadores sociais no Brasil: conceitos de estudos socioeconômicos. 3ª. ed. Campinas, São Paulo: Alínea, 2004. Brasil. Política Nacional de assistência Social PNAS/2004 e Norma Operacional Básica NOB/SUAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e Secretaria Nacional de Assistência Social, 2005.

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112 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 36

Reconhece-se atualmente o papel pedagógico que o supervisor de campo tem na

formação de futuros assistentes sociais empenhados na defesa de direitos. Essa

defesa se traduz pelo compromisso profissional com:

(A) a preservação do bem comum e dos direitos vigentes relativos à propriedade. (B) a elevação da auto-stima dos indivíduos na perspectiva de defesa do

individualismo. (C) o desenvolvimento solidário do país e a preservação da ordem e do bem

comum. (D) o posicionamento em favor da equidade e da justiça social. (E) o respeito à dignidade da pessoa humana, considerada abstratamente. Gabarito: Questão D

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da resposta correta.

Conteúdo avaliado: o compromisso ético-político do assistente social no exercício

profissional.

Autora: Alzira Maria Baptista Lewgoy

Comentário: A questão 36 apresenta como conteúdo o compromisso profissional vinculado à

defesa de direitos, postura que estabelece uma articulação com o Código de Ética

Profissional (1993), alicerce fundante do projeto ético-político, no qual há a prescrição

de direitos e deveres do assistente social, segundo princípios e valores radicalmente

humanistas, que fundamentam o exercício profissional. Evidencia, ainda, que esse

compromisso está relacionado com o papel pedagógico do supervisor de campo

nesse processo de formação com os futuros assistentes sociais. A alternativa que

melhor corresponde é a D, pela relação e pelo posicionamento em favor da equidade e da justiça social, o que implica a universalidade no acesso a bens e

serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão

democrática. Além desse, outros princípios ainda se destacam: o reconhecimento da

liberdade como valor ético central, o que requer o reconhecimento da autonomia,

emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais e de seus direitos; a defesa

intransigente dos direitos humanos contra todo tipo de arbitrariedade e autoritarismo; a

defesa, o aprofundamento e a consolidação da cidadania e da democracia, entendida

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 113

como socialização da participação política, da cultura e da riqueza produzida; o

empenho pela eliminação de todas as formas de preconceito e pela garantia do

pluralismo; e o compromisso com a qualidade dos serviços prestados na articulação

com outros profissionais e trabalhadores (CFESS, 2004).

A efetivação desses princípios remete à luta por direitos no campo

democrático popular que acumule forças políticas, base organizativa e conquistas

materiais e sociais capazes de dinamizar a luta contra-hegemônica no horizonte de

uma nova ordem societária, em que o homem seja a medida de todas as coisas. E

os princípios éticos, ao impregnarem o exercício cotidiano, indicam um novo modo

de operar o trabalho profissional, estabelecendo balizas para a sua condução nas

condições e relações de trabalho em que é exercido e nas expressões coletivas da

categoria profissional na sociedade.

Nessa direção, o aparato legal e institucional norteará a intervenção

profissional do supervisor não só do ponto de vista prescritivo, legal, mas também do

ponto de vista pedagógico pela dimensão teórico-ético-política. Essa dimensão

oferece pressupostos para as atividades operativas dos estagiários nas

organizações, direcionando, assim, as competências e habilidades à compreensão

de que o técnico e político são dimensões tratadas de forma unívoca. A Lei nº.

8.662/93 e o Código de Ética Profissional (1993), que dispõem sobre a profissão do

assistente social, são instrumentos imprescindíveis a serem vivenciados diariamente

nos espaços de trabalho (LEWGOY, 2009).

Desse modo, a alternativa A, a preservação do bem comum e dos direitos vigentes relativos à propriedade, apesar de ser um direito fundamental, conforme

o art. 5º da Constituição brasileira de 1988 que arrola a propriedade no conjunto dos

direitos e deveres individuais e coletivos – sendo hoje que a função social é parte

integrante do conceito de propriedade – não se constitui como compromisso

profissional do assistente social, tendo em vista que a perspectiva contida na

resposta A remete a uma compreensão abstrata de propriedade, podendo-se inferir

uma defesa da propriedade privada e consequentemente a defesa de um projeto

societário contrário ao projeto ético-político.

A alternativa B, a elevação da auto-estima dos indivíduos na perspectiva de defesa do individualismo, também não é uma alternativa correta, tendo em

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114 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

vista que o Serviço Social brasileiro, nas últimas décadas, redimensionou-se num

forte embate contra o tradicionalismo profissional e seu lastro conservador,

adequando criticamente a profissão às exigências do seu tempo, qualificando-a

teoricamente e fazendo um radical giro na sua dimensão ética e no debate nesse

plano, posicionando-se na direção de reforçar as lutas coletivas e um projeto

societário justo e igualitário.

A alternativa C, o desenvolvimento solidário do país e a preservação da ordem e do bem comum, e a alternativa E, o respeito à dignidade da pessoa humana, considerada abstratamente, não estão corretas, ainda que essas

questões perpassem o exercício profissional e não sejam totalmente contraditórias

ao exercício profissional, porque esses elementos não são fundantes para a

formação e para o exercício profissional, porque não são valores profissionais em si,

mas devem estar atrelados aos princípios fundamentais e dependem da efetivação

deles. Isso porque considerar tais valores desde uma perspectiva abstrata, não

significa necessariamente considerá-los como inexequíveis, mas sua efetivação será

parcial ou serão desenvolvidos de forma desigual, de acordo com as condições

dadas em cada sociedade e em seu desenvolvimento histórico e social. Assim, essa

abstração pode expressar seu movimento de valorização/desvalorização e a

existência, em dado momento histórico, de condições objetivas desfavoráveis à sua

realização. Nessa perspectiva, permanecem como possibilidades que podem ser

resgatadas pelos homens a partir de uma práxis política que se dirija

teleologicamente à sua realização (BARROCO, 2008).

Referências

BARROCO, Maria Lúcia. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. 7ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008. ______. Ética: fundamentos sócio-históricos. Coleção biblioteca básica/ serviço social: vol. 4. São Paulo: Cortez, 2008. BONETTI, Dilséa et. al. (Orgs.). Serviço Social e Ética: convite a uma nova práxis. 9ª. ed. São Paulo: Cortez, 2008. CFESS. Conselho Federal de Serviço Social. Código de Ética Profissional aprovado em 15 de março de 1993. In: Coletânea de Leis e Resoluções. Assistente Social: ética e direitos. 4ª. ed. Rio de Janeiro: CRESS, 2004. LEWGOY, Alzira Maria Baptista. Supervisão de estágio em serviço social: desafios para a formação e o exercício profissional. São Paulo: Cortez, 2009.

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 115

QUESTÃO 37

O estágio supervisionado é uma dimensão extremamente importante na formação

do assistente social, uma vez que permite ao aluno a identificação com a auto-

imagem de um profissional capaz de compreender o significado sócio-histórico do

Serviço Social, a mediação entre interesses antagônicos de classes em suas

relações com o Estado e as demandas profissionais. Assim, o estágio em Serviço

Social deve ser concebido como espaço de:

(A) cumprimento competente e eficaz das rotinas burocráticas presentes nas instituições.

(B) treinamento competente e eficaz das rotinas burocráticas presentes nas instituições.

(C) substituição de profissionais com vínculo formal por jovens prestadores dos serviços.

(D) articulação entre ensino teórico, pesquisa e formação para o exercício profissional.

(E) aplicação, na realidade institucional, dos componentes teórico-metodológicos. Gabarito: Questão D

Tipo de questão: Escolha simples, com indicação da alternativa correta.

Conteúdo avaliado: Concepção de estágio supervisionado em Serviço Social

Autora: Alzira Maria Baptista Lewgoy

Comentário: Nessa questão é solicitada a escolha da alternativa que melhor expresse a

concepção de estágio supervisionado em Serviço Social. A alternativa correta é a D, “articulação entre ensino teórico, pesquisa e formação para o exercício profissional”. Nela se afirma o significado atribuído contemporaneamente à supervisão e ao

estágio, na medida em que pressupõe o projeto político-pedagógico na realidade

profissional, situando ambos no movimento sócio-histórico do Serviço Social ao

romper com a visão endógena da profissão, com a compreensão de um Serviço

Social voltado para si mesmo, espectro também de ruptura no processo de estágio

supervisionado. Envolve, também, contextualizar as transformações societárias que

vêm ocorrendo na atualidade, de que maneira elas perpassam as ações

profissionais do assistente social e quais as novas mediações para a apreensão das

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116 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

demandas colocadas à profissão. Esse cenário nos remete a pensar nas alterações

que se processam no interior de cada profissão, no seu corpo teórico e prático e na sua relação com a sociedade mais ampla.

Esse quadro de profundas modificações traz implicações ao processo de

estágio supervisionado, tendo em vista a sua vinculação à formação e ao projeto ético-

político profissional. Sua gênese data do decênio de 1970, no marco das grandes

mobilizações da classe trabalhadora nos diversos países, constituindo-se no projeto

hegemônico da profissão e tendo como referência o rompimento com a herança

conservadora nela presente. Os aspectos indicativos do atual projeto manifestam os

princípios e compromissos assumidos pela profissão com as transformações da

sociedade. Mantendo em sua estrutura básica os eixos fundamentais, ele é

suficientemente flexível sem se descaracterizar, incorporando novas questões,

assimilando problemáticas diversas, enfrentando desafios emergentes.

Nessa perspectiva, o processo de estágio supervisionado requer pesquisa,

conhecimento da realidade, dos meios e modos de sua utilização, da prática

acumulada em forma de teoria, contribuindo, assim, para o estabelecimento das

finalidades ou para a antecipação dos resultados e dos objetivos que se pretende

atingir. Ao esclarecer os objetivos, indica ações profissionais, as possibilidades e as

forças sociais participantes. Portanto, tem a possibilidade de permitir que na

formação do aluno, futuro assistente social, aprenda os fundamentos de sua

intervenção profissional e que busque, conscientemente, os meios para alterar as

circunstâncias que põem obstáculos à intervenção profissional.

Nessa direção, é imprescindível a compreensão da concepção de estágio

supervisionado como um espaço afirmativo de formação, que tem como matéria-prima

o processo de aprendizagem. Este vai se assegurando diante da intencionalidade, da

orientação, do acompanhamento sistemático e do ensino, na perspectiva de garantir

ao aluno o desenvolvimento das competências profissionais, a capacidade de produzir

conhecimentos sobre a realidade com a qual se defronta no estágio e de intervir nessa

realidade, operando políticas sociais e outros serviços (LEWGOY, 2009).

Dessa forma, está incorreta a alternativa A, quando vincula a concepção do

estágio supervisionado ao cumprimento competente e eficaz das rotinas burocráticas presentes nas instituições, bem como a alternativa B, que a vincula

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 117

ao treinamento competente e eficaz das rotinas burocráticas presentes nas instituições, reduzindo, assim, o estágio a mero momento de execução de tarefas

para a organização, destituído de componentes teórico-investigativos, em que a

questão da instrumentalidade parece divorciada do aspecto teórico-metodológico do

Serviço Social, que fica dissociado do exercício de uma “competência crítica”

(IAMAMOTO, 1998). Tal competência não pode ser confundida com aquela

estabelecida pela burocracia da organização, segundo a linguagem

institucionalmente consentida e autorizada.

Do mesmo modo, a alternativa C está totalmente incorreta quando atrela a

concepção de estágio à substituição dos profissionais com vínculo formal por jovens prestadores dos serviços. O estágio não é um lugar onde o aluno exerce

o papel de substituto do profissional, mas um espaço em que reafirma sua formação,

não numa condição de empregado, mas de estudante estagiário. O Código de Ética,

em seu artigo 4º, trata do exercício ilegal da profissão, inclusive nos casos de

estagiários que exerçam atribuições específicas, em substituição aos profissionais. A

capacitação do aluno para o enfrentamento dos desafios do exercício profissional vai

sendo articulada na concretude do estágio, à medida que ocorre a compreensão da

unidade entre teoria e realidade e o entendimento de que, nele, a condição do aluno

não é a mesma de muitas instituições, que confundem “estágio” com “emprego” e

“estagiários” com “empregados”. Instala-se aí uma ideia distorcida dessa função,

pelo abuso da utilização de estagiários em situações em que o aprendizado nem

sempre está em primeiro plano. A ausência dessa diferenciação causa equívocos no

processo de ensino-aprendizagem, pois se verifica que a tendência é a identificação

do discente como um profissional a mais, não em processo de formação, uma vez

que é utilizado para prestar serviços institucionais, ampliando o quadro técnico das

organizações, com a justificativa de que é remunerado, servindo de mão de obra especializada barata. Esses elementos favorecem o processo de identificação

distorcido, pois a responsabilidade do estagiário é deslocada de um processo

formativo para o compromisso de responder à política institucional como um

funcionário contratado (LEWGOY, 2009). A capacitação do estagiário para o

enfrentamento dos desafios apontados no processo de estágio supervisionado está

relacionada, de forma indissociável, à compreensão de que esse espaço serve de

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118 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

conduto para o enfrentamento do cotidiano profissional como processo educativo,

para não reduzir a formação profissional à instrução e ao adestramento de mão de

obra (CATTANI, 2002).

E, por último, também está incorreta a alternativa E, quando conecta a

concepção de estágio à aplicação na realidade institucional dos componentes teórico-metodológicos, tendo em vista que a legitimidade do processo de

construção de conhecimento da realidade não é dada apenas teoricamente, mas

historicamente. Nesse processo de análise e de ação política, os procedimentos

metodológicos não são aplicados, compreendendo-se a metodologia como o conjunto

de estratégias e táticas que incidem sobre o real, transformando-o. Tais bases

possibilitam as construções metodológicas cuja aprendizagem implica investigação e

confronto com a realidade para entender a agudização no campo das relações sociais

e suas contradições na sociedade capitalista. A dimensão teórico-metodológica

consubstancia-se na interlocução entre história, teoria e método, requerendo, para

tanto, conhecimento que apreenda a realidade em seu movimento dialético, no qual e

por meio do qual se engendram como totalidade as relações sociais que configuram a

sociedade. Além disso, o saber-fazer só tem sentido como parte de um corpo teórico,

não como conjunto de regras preestabelecidas para conhecer alguma coisa, porque a

verdade dos fenômenos não está dada; é uma verdade que se constrói na história dos

fenômenos. A competência profissional é elemento transversal e constitutivo da

formação e do exercício profissional, cujo constructo deve viabilizar uma capacidade

teórico-metodológica e ético-política, como requisito fundamental para o exercício de

atividades técnico-operativas (ABESS/CDEPSS, 1996).

Referências

ABESS/CEDEPSS. Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social / Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço Social. Proposta básica para o projeto de formação profissional. Serviço Social & Sociedade. nº. 50. São Paulo: Cortez, 1996. p. 143-171. CATTANI, Antonio David (org.). Dicionário crítico sobre trabalho e tecnologia. 4ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. IAMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 2ª. ed. São Paulo: Cortez, 1998. LEWGOY, Alzira Maria Baptista. Supervisão de estágio em serviço social: desafios para a formação e o exercício profissional. São Paulo: Cortez, 2009.

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COMPONENTE ESPECÍFICO

QUESTÕES DISCURSIVAS

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120 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 38

Considerada como um direito social a assistência social ocupa hoje um espaço

relevante na agenda do Serviço Social brasileiro. Apresente duas razões para

explicar esse fato, analisando a sua procedência. Tipo de questão: Discursiva

Conteúdo avaliado: Fundamentos da política social e Política Nacional De

Assistência Social.

Autora: Maria Beatriz Marazita

Comentário: Segundo Couto (2009), a Assistência Social no Brasil assume caráter de

política pública a partir da Constituição de 1988 ao compor, juntamente com as

políticas de saúde e previdência, o sistema de Seguridade Social brasileiro. Em

1933, é promulgada a lei Orgânica da Assistência Social (LOAS – Lei nº. 8.742).

O artigo 5º da Lei Orgânica põe como exigência o comando único na

formulação da política da assistência social exercido pelo Estado, ao afirmar que

uma das diretrizes é a descentralização político-administrativa e comando único das

ações em cada esfera de governo, com a primazia da responsabilidade do Estado

na condução da política de assistência. Rompendo, assim, com a forma centralizada

no governo federal na execução de programas sociais. Coloca a necessidade da

esfera municipal ser o executor e formulador da política. Introduz como elementos

necessários à municipalização da política a existência de Conselho, do Plano e do

Fundo Municipal de Assistência Social. Associada a esta, coloca como outra

exigência a participação da população no sistema de paridade, evidenciando a sua

responsabilidade no controle das ações em todos os níveis.

A necessidade do aperfeiçoamento na gestão, qualificando a participação na

efetivação do controle social, são temas relevantes para a efetivação da política de

assistência. O controle deve ser exercido pela sociedade em parceria com o Estado.

Essas mudanças asseguram um novo tipo de prática que coloca em xeque as

formas tradicionais e exige a construção de novas metodologias de trabalho no

campo da Assistência Social, que contribua para o reordenamento institucional

proposto pela Constituição Federal, como princípio de consolidação da cidadania

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 121

plena e o reconhecimento da população excluída dos mínimos sociais, como plenos

cidadãos de direitos. Essa é uma das razões que sustentam a tese de que a

Assistência Social ocupa um espaço relevante na agenda da profissão.

Vivemos em uma sociedade que continua a apresentar desigualdade, agravada

pelas enormes diferenças sociais. Os sistemas de proteção social, ainda que tenham

avançado na conquista de políticas sociais públicas, continuam insuficientes para

responder às demandas colocadas pelas situações de pobreza. Essas demandas

solicitam metodologias capazes de reduzir vulnerabilidades da população e

fortalecimento de suas capacidades. A reflexão sobre metodologias de trabalho social,

garantindo a diversidade de perspectivas teórico-metodológicas, contemplando as

realidades regionais do imenso território brasileiro, constitui hoje, um desafio para o

trabalho social. É a segunda razão para explicar a tese de que a Assistência Social

ocupa hoje um espaço relevante na agenda do Serviço Social brasileiro.

A segunda razão tem sua origem na definição de Pereira (1996) sobre a

concepção de Assistência Social a partir da sua inserção na Seguridade Social,

afiançada como direito e definida como: [...] um tipo particular de política social que caracteriza-se por: a)genérica na atenção e específica nos destinatários; b)particularista, porque é voltada prioritariamente para o atendimento das necessidades sociais básicas; c) desmercadorizável; e d) universalizante, porque, ao incluir segmentos sociais excluídos no circuito de políticas, serviços e direitos, reforça o conteúdo universal de várias políticas sócio-econômicas e setoriais (PEREIRA,1996,P.29).

Para Couto (2009), essa definição recoloca questões centrais para o debate

brasileiro sobre o campo do trabalho assistencial. Reconhece a assistência social

como política pública, direito do cidadão e dever do estado. Aponta para o caráter

genérico da prestação dos serviços e identifica que o atendimento deve ser das

necessidades sociais básicas. E, acima de tudo, traz para a arena política as

demandas de uma parcela importante da população que anteriormente permanecia

invisível.

A partir de 2005, foi aprovada a Política Nacional de Assistência Social –

PNAS – e as Normas Operacionais Básicas, que institui o Sistema Único de

Assistência Social – SUAS – que estabelece como funções da política de

Assistência Social, segundo o PNAS ( Brasil,MDS,2005):

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122 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

a) Inserção: inclusão dos destinatários nas políticas sociais básicas proporcionando-lhes o acesso a bens, serviços e direitos usufruídos pelos demais segmentos da população; b) Prevenção: criar apoios nas situações circunstanciais de vulnerabilidade, evitando que o cidadão resvale do patamar de renda alcançado ou perca o acesso que já possui aos bens e serviços, mantendo-o incluído no sistema social a despeito de estar acima da linha de Pobreza; c) Promoção: promover cidadania, eliminando relações clientelistas que não se pautam por direitos e que submetem, fragmentam e desorganizam os destinatários, e d) Proteção: atenção às populações excluídas e vulneráveis socialmente, opercionalizadas por meio de ações de redistribuição de renda direta e indireta.

Segundo Couto (2004, p.176), incorporar a legislação à vida da população pobre brasileira é necessariamente um dos caminhos, embora insuficiente, para incidir na criação de uma cultura que considere a política de Assistência social pela ótica da cidadania.

Para a autora é necessário mais que isso, é preciso recolocar o debate sobre

o espaço da política no campo do acesso ao excedente do capital como forma de

garantir vida digna a todos os cidadãos brasileiros. (Couto, 2006).

Referências

BRASIL. MDS – Política Nacional de Assistência Social NOB/SUAS. Brasília, julho de 2004. CARVALHO, Maria do Carmo Brant. A política da Assistência Social no Brasil: dilemas na conquista de sua legitimidade. In: Revista de Serviço Social e Sociedade. nº. 62, ANO XXI. São Paulo: Cortez, 2000. COUTO, Berenice Rojas e SILVA, Marta Borba. A política de assistência social e o Sistema Único da Assistência Social: a trajetória da constituição da política pública Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. ______. O Direito Social e a Assistência Social na Sociedade Brasileira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2004. ______. A Assistência social como Política pública: do sistema descentralizado e participativo ao sistema único da Assistência Social-SUAS. In: Capacitação sobre PNAS e SUAS: no caminho da implantação.(Org.) MENDES, Jussara; PRATES, Jane; AGUINSKY, Beatriz. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. PEREIRA, P.A. A Assistência Social na perspectiva dos direitos: crítica aos padrões dominantes de proteção aos pobres no Brasil. Brasília: Thesaurus,1996.

Page 124: ENADE Comentado 2007: Serviço Social - PUCRS

ENADE Comentado 2007: Serviço Social 123

QUESTÃO 39

Há várias condições indispensáveis para que o Assistente Social, inserido num

órgão público (estatal), numa empresa ou numa organização da sociedade civil,

conduza a execução de uma política social. Uma das mais importantes dessas

condições diz respeito aos seus deveres e atribuições profissionais. Esclareça como

o Assistente Social pode informar-se com segurança sobre tais deveres e

atribuições e destaque a natureza das fontes que deve utilizar.

Tipo de questão: Discursiva

Conteúdo avaliado: Lei da Regulamentação da Profissão e Código de Ética

Profissional

Autora: Maria Palma Wolff

Comentário: A resposta deve referir-se explícita e diretamente ao conteúdo da Lei de

Regulamentação Profissional (Lei nº. 8.662/93) e do Código de Ética Profissional (1993).

Não há necessidade de remeter às partes pertinentes da Lei e do Código.

Uma resposta completa requer que aluno esclareça que o Código e a Lei são

instrumentos articulados, mas diferentes: um tem base normativa a partir da

categoria profissional, outro é impositivo por mediação do Estado.

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124 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

QUESTÃO 40

Trabalhando em um serviço cujos usuários preferenciais são jovens, o Assistente

Social, para orientá-los acerca dos seus direitos, deve recorrer à legislação.

Mencione os dois principais instrumentos legais disponíveis, nesse caso, ao

Assistente Social e destaque a importância de cada um deles. Tipo de questão: Discursiva

Conteúdo avaliado: Estatuto da Criança e do Adolescente

Autora: Maria Isabel Barros Bellini

Comentário: Durante séculos diversas formas de violência contra crianças e adolescentes

foram aceitas e constituíam-se práticas cotidianas. A morte das crianças era aceita e

há registros da existência do “infanticídio tolerado” até o fim do século XVII ainda

que considerado “era praticado em segredo, correntemente, talvez, camuflado, sob a

forma de um acidente: as crianças morriam asfixiadas naturalmente na cama dos

pais, onde dormiam. Não se fazia nada para conservá-las ou para salvá-las” (ARIÉS,

1981, p.17). O não reconhecimento da infância e da adolescência como período do

ciclo de vida do ser humano digno de atenção e cuidado perdurou. Nos século XVIII

e XIX a criança é colocada na centralidade da família a qual também passa a

conviver com maior privacidade, “recolhimento da família longe da rua, da praça, da

vida coletiva, e sua retração dentro de uma casa melhor defendida contra os intrusos

e melhor preparada para a intimidade” (ÁRIES, 1981, p.23).

No Brasil a criança e o adolescente são considerados sujeitos de direito a

partir da Constituição Federal de 1988 que afirma no art. 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

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ENADE Comentado 2007: Serviço Social 125

Garante assim a prioridade da criança e do adolescente em todas as formas

de acesso e atenção, bem como o direito a convivência aspecto esse fundamental

para a sua formação social e emocional.

Em 13 de julho de 1990 o Presidente da República sancionou a Lei nº. 8.069,

outra vitória na busca de proteção a esses indivíduos, criando o Estatuto da Criança

e do Adolescente que já no seu art. 1º afirma a disposição de legislar sobre a

proteção integral à criança e ao adolescente. Esse documento estabelece o que é

considerado criança e adolescente do ponto de vista legal, seus deveres e direitos.

Referência

ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

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126 Gleny Terezinha Duro Guimarães, Francisco Arseli Kern (Orgs.)

LISTA DE CONTRIBUINTES

Alzira Maria Baptista Lewgoy Ana Lúcia Suárez Maciel Anelise Gronitzki Adam Dolores Sanches Wünsch Esalba Maria Silveira Francisco Arseli Kern Gleny Terezinha Duro Guimarães Idilia Fernandes Inês Amaro da Silva Jane Cruz Prates Leonia Capaverde Bulla Márcia Salete Arruda Faustini Maria Beatriz Marazita Maria Isabel Barros Bellini Maria Palma Wolff Patricia Krieger Grossi

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