empresa x sociedade

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Resumo: A empresa o principal agente de transformao da sociedade, e vem assumindo novos papeis cada dia. Paralelamente a esta constatao, verificamos que a sociedade no tem sido bem sucedida na diminuio das desigualdades sociais e na soluo de um processo crescente de excluso no simplesmente econmico, mas das possibilidades de acesso a novas formas de trabalho, a novas formas de conhecimento, a criao de uma sociedade mais justa. Um dos desafios maiores da empresa talvez o maior seja vencer a aparente contradio entre a sobrevivncia e o crescimento, sem descuidar a humanizao do trabalho e o resgate da dignidade da pessoa humana. Ser reconhecida como uma empresa tica e socialmente responsvel seja no plano interno como na sociedade onde est inserida. O autor analisa o contexto global atual e algumas chaves de ao para percorrer de forma participativa e rpida esse caminho de transformao da sociedade que hoje constitui um imperativo categrico.

Uma viso empresarial tica e socialmente responsvel Para aprofundar este tema deveremos desenvolver duas vertentes: Qual o contexto empresarial atual e, Qual pode ser uma nova atitude empresarial transformadora desse contexto. Hoje h uma pergunta latente na sociedade, que deu errado? Que fizemos como administradores ou empresrios, para chegar aos nveis de excluso atuais? H uma forma de transformar esta situao, com a participao da sociedade como um todo? Alguns fatos inquestionveis do contexto empresarial atual: I A organizao empresarial o principal agente de transformao da sociedade Isto um fato que se consolida sem cessar durante os ltimos 150 anos. No falamos somente das grandes corporaes transnacionais, seno de todos os tipos de organizaes: grandes, medias, pequenas, micros, cooperativas, empresas de autogesto, e at as ONGs, nos referimos a toda organizao que se estruture como uma empresa. Entretanto, esta organizao influi e influda em uma relao de causa efeito constante com a sociedade onde se insere, isto vale para seus produtos, servios, mdios de produo, distribuio, tecnologias e sobre tudo os talentos que as compem. Pelas mudanas em outras reas sociais, as empresas tendem a assumir de mais em mais, papeis que antes estiveram reservados para o poder pblico ou algum outro setor da sociedade. Neste contexto dois aspectos tm uma influencia marcante: a) A evoluo das formas de trabalho dentro das organizaes e, b) O impacto da revoluo tecnolgica. a) A tese de Porat nos mostra claramente quando temos a passagem de uma sociedade agrcola, ou agropecuria para uma sociedade industrial, e tambm quando passamos desta para uma sociedade dos servios e depois para uma sociedade da informao. Evidentemente todos aqueles que estiveram ou esto envolvidos com o mundo da tecnologia sabem que grau de importncia teve esta para possibilitar essas mudanas de eras, como se conhecem habitualmente. Todavia, essa evoluo tem criado serias conseqncias na comunidade. 1 - O ciclo de aprendizado diminui drstica e dramaticamente. A evoluo de uma populao agrcola para as primeiras industrias no apresentou grandes problemas de habilidades e conhecimentos, e o ciclo ativo desses primeiros trabalhadores industriais podia-se medir em uma ou mais geraes. Este ciclo se contraiu e hoje podemos falar de alguns poucos anos, ou at menos. O homem comum, quem no

tem acesso s novas formas de educao, fica excludo das novas fronteiras de trabalho. 2 A tecnologia impacta o nmero de postos de trabalho, muito menos quantidade que na qualidade necessria para desempenha-lo (tipo conhecimento). Ao mesmo tempo em que vemos diminuio em alguns tipos trabalho, surgem outros. O maior problema no a quantidade, seno impossibilidade de migrao laboral. na de de a

3 Estes elementos em conjunto, tem criado uma crescente cultura do medo nas pessoas, assim como uma cada vez mais clara perda de referencias na relao homem trabalho empresa. J no e possvel pensar logicamente em trabalho como um compromisso colaborador empresa de longo prazo. b) No nos deteremos no desenvolvimento no processo de revoluo tecnolgica, que afeta tanto o processo, armazenamento e a distribuio da informao dentro de um mundo sem nenhuma fronteira, nem para o capital, nem os mdios de produo e, onde somente subsistem cada vez mais arraigadas as diferencias culturais e de acesso a informao. Um ponto merece minha ateno neste trabalho: a revoluo tecnolgica e a mudana de comportamento. Antigamente, na era agrcola, o homem produzia e consumia dentro de seu habitat, com o advento da era industrial, o homem passou a se deslocar para produzir fora de seu habitat cotidiano, nas fabricas e centros de produo. Com o passar do tempo tambm passo a consumir fora dele. Hoje, graas a tecnologia, o homem pode pensar em voltar a produzir e consumir praticamente sem sair de seu habitat, igual que dois sculos atrs, com alguns agravantes, antigamente tratava-se de um habitat no urbano, hoje quase que exclusivamente urbano. Em concluso desta primeira constatao: a relao trabalho empresa pessoa (ser individual) no mais a mesma, e no sabemos como ser daqui a 10 ou 20 anos. E fundamental criar novos conceitos. II Novas formas de gerenciamento de pessoas. Ns ltimos 5 anos, a sociedade ocidental viveu a fantasia ou o imaginrio coletivo de um novo descobrimento de tipo de empresas, as ponto com. E claro que elas vieram para ficar, claro que elas respondem a uma nova realidade de como se processa a economia clssica, entretanto tivemos exageros tanto no plano financeiro (especificamente a definio de seu valor e nos critrios de avaliao da atividade) como no plano da relao de trabalho (pudemos ver nelas as novas galeras do sculo XXI). III Vivemos uma mudana de poca. Como diz o filosofo Carriquirri, o fluir do tempo no resulta homogneo, todas as reas de conhecimento e atividade humanas evoluem e se transformam de forma assincrnica, de tanto em tanto, acontecem mudanas que so algo mais que evoluo, mudanas que podemos chamar de rupturas.

Quando todo muda simultaneamente, em um curto perodo de tempo, podemos dizer que em vez de viver uma poca de mudanas, vivemos uma mudana de poca. Isto o que acontece nos ltimos 10 anos, e certamente ainda nos prximos 5 deste novo sculo. IV Um processo crescente de coisificao. Na vida empresarial muitos elementos foram elevados a categoria de verdadeiras essncias: O lucro, o mercado, a competitividade, a produtividade, a tecnologia, o planejamento, o processos, a viso marketing, a qualidade, o produto, a informao, a reengenharia, o downsizing, e tantas outras... coisas, que foram so permanentemente consideradas mas importantes que as pessoas, que o homem, que o sujeito, a causa e o fim de toda atividade empresarial. No queremos defender a tese de que as coisas acima no so importantes, elas o so, e realmente sem saber claramente como afetam nossa organizao podemos dizer que no somos bons administradores; sem elas hoje no e possvel a sobrevivncia de qualquer empresa. A tese outra: Porque sempre diante das dificuldades o primeiro elemento afetado o homem? Como fazer para mudar essa situao? Como as organizaes empresariais podem assumir o papel de transformao que hoje j tem, vencendo o desafio da humanizao, construindo uma sociedade mais solidria? Esta a grande e estratgica questo que se nos coloca. Sobre a qual temos que refletir. Que significa uma empresa solidria? Empresa solidria o nome que pode perfeitamente identificar uma organizao que tenha uma viso tica e socialmente responsvel. Uma empresa que seja verdadeiramente transformadora, no pela sua inrcia, mas pela atitude de seus talentos. Solidariedade, no significa um pacto de coeso ou adeso temporria entre pessoas ou grupos, ou uma poltica administrativa. Solidariedade, no pode ser entendida como artificialismo arbitrrio, ou mera gratuidade. A solidariedade a amalgama, o alicerce que mantm a humanidade unida, ainda a pesar das rupturas. As sociedades so compostas por indivduos interdependentes, assim como os grupos organizados que existem na sociedade, grupos onde evidentemente inclumos as empresas. A interdependncia a essncia do social, interdependncia at o ponto de no chegar a existir sem a correspondncia com os demais, sem o respeito a alteridade, sem a conquista da reciprocidade. Sobre esta base de princpios, uma empresa solidria : Uma parceria com propsitos comuns, onde todos compartam de maneira madura os xitos, mas tambm os insucessos da empresa.

Uma empresa espao virtual onde o homem exercita sua capacidade de criao onde seja possvel decidir responsvel e solidariamente o que melhor para todos. Onde o homem, criador e, portanto princpio da empresa, no seja subordinado a coisa. Esta mudana empresarial deve ser mas profunda que o nvel verbal, ou o nvel das formalidades sociais, deve ter origem nas idias, em uma ideologia orientadora. Uma mudana desta magnitude est interligada profundamente com a mudana da constelao do poder interior do grupo. Uma mudana que somente tem sucesso se ela verdadeiramente participativa, ou seja, a maioria por no dizer todos dos membros da organizao participam nela, e dela, uma mudana onde uma chave importante de sucesso o engajamento das lideranas. Algumas chaves de ao para criar uma empresa tica e socialmente responsvel: 1- Trabalhar conscientemente para construir uma sociedade nova, uma sociedade da solidariedade. Deixar o discurso para agir, ainda que nos pequenos gestos, nas pequenas obras. Praticar contagia e conquista novas atitudes, solidrias, crescentes, que no fim constituem uma exigncia coletiva, realista e consciente. 2- Considerar sempre, em todas as negociaes internas, ou em nossas decises de negcios externas, o homem como centro de tudo. Intelectualmente importante lembrar que todo trabalho e realizado pelo e para o homem, a este homem devem subordinar-se todo aquilo que constitui meios de trabalho. Isto significa tambm um respeito irrestrito no negocivel do processo tico na empresa, a tica nos negcios. O fato de no corromper, nem ser corrompido, significa respeitar a dignidade da pessoa humana. Isto significa tambm o respeito ao mdio ambiente, a natureza, a conservao e/ou recuperao dos recursos naturais. 3- Desenvolver um verdadeiro processo de participao interna na empresa. Ter a transparncia como atitude, no como discurso. A comunicao como processo, no como oportunidade. Desenvolvendo e refletindo juntos a todos os nveis da empresa. Criando novas formas de participao, exercitando e preparando constantemente para a gesto participativa. Resgatando o talento criador das pessoas, e no somente seu trabalho. 4- Desenvolver a conscincia e adotar aes concretas, de forma participativa, que demonstrem a viso e o compromisso social da empresa. Isto passa por um processo que se inicia na definio clara e indubitvel de como a empresa quer ser reconhecida nos aspectos sociais tanto no mbito interno como com a comunidade onde est inserida. Estar preparada, e assumir com foco, aquilo que realmente possa ser feito. Distinguir permanentemente o assistencialismo da verdadeira responsabilidade social e promoo humana. Definir indicadores precisos, que possam ser acompanhados por todos, e que demonstrem os avanos realizados. Ter um sistema de comunicao que incentive o comprometimento pessoal. 5- No desencorajar diante das dificuldades e barreiras, internas e externa.

Como a tecnologia pode nos auxiliar neste processo? H duas vertentes a serem desenvolvidas: A primeira levar em todos os nveis de nossa empresa a possibilidade de refletir sobre como nosso trabalho, nossos produtos, servios, projetos, em ltima instancia os elementos que proporcionam receita e sustentao econmica da organizao favorece o desenvolvimento integral da sociedade. Esta reflexo tem duas conseqncias imediatas, a primeira, predispe nossas equipes a uma melhor compreenso da razo de ser de nosso trabalho, identifica elementos de referencia de nossa relao pessoa empresa sociedade. A segunda nos impele a selecionar, escolher reas de atuao sustentveis, e a criar um processo de rpido reconhecimento por parte dessa sociedade. A segunda vertente, mais prosaica, porm no menos importante, trata de como disponibilizar de forma permanente, a recuperao das informao que acompanham os indicadores definidos de responsabilidade social, como possibilitar o intercambio de experincias, de opinies, a disseminao dos valores, etc. Vamos comear?