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EMPREENDEDORISMO NA BASE DA PIRÂMIDE A HISTÓRIA DE UM INTRAEMPREENDEDOR DESAFIOS E APRENDIZADOS

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EmprEEndEdorismo na BasE da pirâmidE A históriA de um intrAempreendedor

desAfios e AprendizAdos

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Os Autores

Fernando DolabelaFernando Dolabela se dedica há mais de duas décadas à educação empreendedora em todos os níveis, a qual escolheu como veículo de sua proposta de mudança cultural. É autor de doze livros, entre eles “O Segredo de Luísa”, com mais de 300 mil cópias vendidas. Além de suas metodologias estarem presentes em centenas de instituições de ensino superior, Dolabela implementou a educação empreendedora em cerca de duas mil escolas em 140 municípios brasileiros, envolvendo dez mil docentes e cerca de 400 mil alunos a partir dos quatro anos de idade. Com atuação internacional atra-vés de consultorias e conferências, Dolabela foi convidado para ser membro fundador do World Entrepreneurship Forum. É membro fundador da Red EmprendeSUR de inovação e pesquisa. Seu traba-lho enfatiza a importância do empreendedorismo como principal instrumento no combate à miséria. Ele vê na utilização do potencial empreendedor das pessoas com deficiência a fonte de energia mais adequada à sua inserção social e econômica. A participação no pro-jeto Tenda de Empreendedores, junto com Marco Gorini e sua fabu-losa equipe, foi um momento incomparável de ousadia e inovação.

Marco GoriniMarco Gorini é sonhador por natureza e, para se sentir realizado, optou por empreender seus sonhos. Desde a juventude envolvido em proje-tos que traziam em sua essência a semente da transformação e do impacto socioeconômico, é um apaixonado pela espontaneidade, resiliên-cia e capacidade de ação dos nano, micro e pe-

quenos empreendedores do nosso país, assim como um defensor da relevância desse setor como vetor de desenvolvimento e prosperida-

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Empreendedorismo na Base da Pirâmide

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de para a América Latina. Tem dedicado seu tempo, energia e com-petência para criar soluções que promovem o desenvolvimento sau-dável desse segmento, com ações focadas na área de consultoria em planejamento e gestão, microfinanças e educação empreendedora. Dentre as iniciativas em que esteve envolvido, destaca-se o projeto Tenda de Empreendedores, idealizado e liderado por Gorini no pe-ríodo de 2008 a 2013 e vencedor do G20Challenge2012 On Inclu-sive Business Innovation, coordenado pelo Banco Mundial no âmbi-to do G20 (grupo dos 20 países com maior economia do mundo), como um dos 15 projetos mais inovadores e com maior potencial de impacto social do mundo, após concorrer com mais de 400 projetos executados por mais de 70 corporações. No contexto desse projeto, Gorini teve a feliz oportunidade de encontrar Fernando Dolabela e um time de primeira grandeza, podendo vivenciar na prática do dia a dia que o sabor da vida não está apenas em alcançar o destino al-mejado, mas também no caminhar que nos conduz a ele.

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Apresentação

Este livro narra um processo intraempreendedor cujos resul-tados geram transformações de duas dimensões. Propõe uma es-tratégia complementar de atuação mercadológica para uma grande empresa através da geração de valor compartilhado e, em seu cerne, planta a semente de um processo de spin off muito especial: a ge-ração de um ousado empreendimento, podemos assim chamá-lo, cujo objetivo é desenvolver centenas de milhares de nanoempreen-dedores que integram a camada socioeconômica denominada Base da Pirâmide (BdP).

O processo é inovador em vários aspectos, mas a inovação maior está em sua essência, que busca promover autonomia e sustentabi-lidade para cada empreendedor BdP em particular e fortalecer a comunidade em geral. Não se trata de assistencialismo, responsa-bilidade social ou proteção ao mais fraco. O processo indica cami-nhos para se estabelecer relações entre uma megaempresa e seus clientes de forma que todos possam se desenvolver com autonomia, aumentando seus lucros e impactando o ecossistema do qual fazem parte. Todos ganham.

Este livro conta a história de aprendizado construída na con-cepção, no planejamento e na execução do projeto até a fase de roll--out. Portanto, não é a história de algo que já terminou. São dois os propósitos deste texto: compartilhar o aprendizado acumulado e ao mesmo tempo colher contribuições e sugestões, em um pro-cesso de inovação aberta para enriquecer e fomentar a iniciativa em organizações de grande porte que decidam ampliar e qualificar o impacto potencial de suas ações. O projeto “encuba” ideias e ino-vações mundiais em algumas frentes. Utiliza os conceitos de rede e de jogos como instrumentos de aprendizagem em substituição ao processo professor-aluno, que não é adequado e proficiente quando aplicado a empreendedores estabelecidos. A metodologia utilizada

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Empreendedorismo na Base da Pirâmide

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propõe conscientizar o empreendedor BdP de que ele é protago-nista e autor de sua própria história. Além disso, permite escalar; estabelece uma relação entre uma grande corporação e milhares de nanoempreendedores BdP em que o desenvolvimento geral do negócio e a prosperidade de todos é o dínamo do processo. Cria conexões entre os nanoempreendedores cujo conteúdo são os sabe-res e os instrumentos para seu desenvolvimento pessoal e de suas empresas. Aborda o empreendedorismo como uma decorrência do ecossistema individual, incluindo aí a família, a emoção, o equilí-brio e a felicidade como variáveis essenciais ao desenvolvimento empresarial. Por fim, e talvez como o aspecto mais relevante, inova ao propor soluções dessa natureza para o empreendedor BdP abso-lutamente desassistido, isolado, sobrevivendo em um habitat árido e vulnerável.

A solução descrita neste livro é um piloto com potencial de aplicação mundial, tanto nos países em desenvolvimento quanto naqueles de economia avançada. Para o Brasil, é um caminho que pode permitir a travessia do assistencialismo para a sustentabili-dade, ponte necessária para a superação de uma relação de depen-dência e passividade para uma relação de cidadania, fortalecendo a dinâmica e o protagonismo no desenvolvimento social. Nessa nova ótica, é possível e desejável extrair-se de relações capitalistas processos em que todas as partes saiam vencedoras, ampliando os sentidos e as percepções para a geração de valor compartilhado. O projeto não tem dono e não é uma plataforma metodológica fecha-da. É de domínio público, está no site do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e já foi apresentado e registrado em diversas conferências internacionais promovidas pelo próprio BID, um dos principais parceiros apoiadores, e pelo IFC/Banco Mundial, por isso está sendo publicado.

Esta obra é também uma documentação importante para vá-rios públicos. Um instrumento coeso que pode alimentar a reflexão das pessoas que atualmente conduzem o projeto. Também é uma preciosa informação para os apoiadores, como o BID, a Coreia do Sul e os parceiros brasileiros. Antes de tudo, é um material para o público em geral, para empresas, ONGs, governos e executivos, tanto como experiência a ser melhorada e aplicada quanto como uma fonte de aprendizado para jovens em formação e técnicos de políticas públicas. É um texto dedicado a todos aqueles que, em sua

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Apresentação

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essência, desejam melhorar o ecossistema em que vivem. Além dis-so, há uma expectativa dos autores: que venham sugestões, ideias, emendas e acréscimos de todas as partes, em um gigantesco pro-cesso de cocriação, ou de open innovation, cujo objetivo é diminuir as diferenças entre a base e o topo da pirâmide brasileira. A nossa preocupação central é e sempre será: qual o próximo passo?

O piloto em campo desse projeto foi desenvolvido ao longo do período compreendido entre o segundo semestre de 2011 e o pri-meiro semestre de 2013 e, na sua vertente pedagógica, foi cocria-do com aproximadamente 1.500 empreendedores, desde a fase de pesquisa até a execução da metodologia em campo, com grupos de aprendizagem. Em sua vertente crédito, trabalhou com mais de 25 mil empreendedores no período de 2008 ao primeiro semestre de 2013, data da última atualização. Em parceria com o BID, o projeto pretende atingir 60 mil empreendedores BdP em sua vertente cré-dito e seis mil empreendedores em sua vertente aprendizagem até 2017. Como ficará claro ao longo do texto, para a corporação, é uma oportunidade de criar e desenvolver seu próprio mercado futuro, desenvolvendo seu cliente principal. Para o empreendedor, é uma oportunidade de dar os primeiros passos para sair da lógica da sub-sistência e ingressar na lógica do desenvolvimento.

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Introdução

Sozinho, o empreendedor está em péssima companhia

O alicerce desse projeto é que toda ideia de desenvolvimento está muito vinculada a ganhar liberdade. Ou seja, à medida que uma pessoa se desenvolve, ela alcança maior grau de liberdade em rela-ção ao entorno, em relação à sua intervenção no mundo, e aprende a realizar melhores escolhas. O desenvolvimento e o empoderamento do indivíduo é um pressuposto ao desenvolvimento de sua empresa. Empresa e indivíduo formam um só conjunto, são indissociáveis. Ao se desenvolver, o indivíduo desenvolve sua empresa.

E como se ganha graus de liberdade? Percebendo e se apode-rando daquilo de melhor que está disponível em seu entorno, prin-cipalmente conhecimentos, e fortalecendo seu autoconhecimento e elevando sua autoestima. Há uma tese subjacente à proposta: a de que as grandes corporações empresariais também têm um papel importante no desenvolvimento das comunidades em que estão in-seridas e, sem perder o foco de seu core business, mas ampliando o olhar para o ecossistema em que se inserem, podem desenvolver relações mais fortes e ganha-ganha com seus clientes e a comunida-de. Através dessas relações, tornam-se agentes efetivos de impacto no desenvolvimento econômico, social e ambiental, assumindo um papel de liderança como catalisadoras e promotoras da prosperida-de e do bem comum. Para que isso ocorra, basta que os executivos e os tomadores de decisão estejam sensíveis, dispostos e atentos à oportunidade que se apresenta e tenham tal intenção e ousadia para colocá-la em prática. Em um mundo integrado e globalizado, com um nível de capital tecnológico, econômico e intelectual como

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Empreendedorismo na Base da Pirâmide

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o atual, não há qualquer entrave técnico para que isso aconteça. Os entraves são culturais e atitudinais. São, portanto, fruto do olhar influenciado pelas nossas crenças e do paradigma sob o qual elen-camos nossos valores, que, por consequência, definem nossas esco-lhas, nossas ações e nossas omissões.

O projeto Tenda de Empreendedores não é uma ação de respon-sabilidade social. Na verdade, a expressão “empresa com responsabili-dade social” é um pleonasmo, uma redundância, uma tautologia. Pode uma empresa não ter responsabilidade social? Não existe responsabi-lidade maior do que com a vida, em todas as suas manifestações. Essa será a versão madura daquilo que o capitalismo pode fazer em países democráticos. O projeto Tenda de Empreendedores é um projeto de negócios sociais. Hoje, devido a esse paradigma estar incipiente, ainda é necessário qualificarmos dessa forma. É relevante fazermos confe-rências para tratar de negócios sociais, de negócios de impacto e de capitalismo consciente. No entanto, em um mundo mais equitativo, justo e evoluído, deveríamos estar falando só de negócios, que deve-riam naturalmente gerar impacto social e ambiental positivos e, obvia-mente, lucros reais, nos quais todos os impactos seriam capturados.

Ninguém promove simpósios, encontros e conferências para afirmar que o lucro deve existir, visto que esse é o óbvio na dinâ-mica capitalista. Da mesma forma, haverá de chegar o dia em que será desnecessário, por sua escandalosa redundância, promover um simpósio para se discutir sobre negócios inclusivos ou sobre como toda empresa deve ter o social, o ambiental e o lucro como conse-quência de suas decisões e ações. Essa é a tese e o sonho de todos que conduzem e apoiam esse projeto em específico e a filosofia sub-jacente ao mesmo em geral, a qual é promovida por iniciativas ainda escassas mundialmente, mas cuja dimensão e ousadia poderão ge-rar mudanças na essência do funcionamento capitalista, qual seja, promover o próprio desenvolvimento e aumentar o próprio lucro, fortalecendo o desenvolvimento e aumentando o lucro da clientela e do habitat em que está inserido. Sim, o princípio de que a dinâmica dos mercados é a essência do capitalismo, mas que por trás dessa dinâmica não há uma mão invisível, e sim seres humanos que to-mam decisões e fazem escolhas que geram impacto em outros seres humanos e nos ecossistemas em que estão inseridos, e de que essas escolhas podem (e devem) ampliar sua perspectiva para a constru-ção de um mundo mais digno, sustentável e melhor.

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Introdução

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Mas por que as estratégias vigentes são altamente concentrado-ras e não se preocupam com a emergência das camadas pobres? Por que é gerada tanta exclusão? A tese é demonstrar que é possível e desejável mudar a visão das corporações. A equipe deste projeto, ao estar próxima de empreendedores da BdP, se incomoda e se sensi-biliza por constatar que existe uma energia imensa subaproveitada ou não aproveitada nas pessoas da base da pirâmide. Um caminho árido e pouco explorado na direção do desenvolvimento das poten-cialidades com que todos nascemos. No caso do Brasil, a incompe-tência de suas tradições autocráticas se manifesta de duas formas absurdamente injustas: a primeira é permitir que a maioria da po-pulação tenha uma educação muito abaixo dos padrões mínimos para ser um cidadão do nosso tempo e a segunda é não reconhecer a criatividade, a energia e o potencial que essa imensa parcela do povo demonstra ter, mesmo possuindo um nível de escolaridade que compromete seu futuro. Evidência óbvia dessa afirmação é a resiliência e a capacidade de adaptação que essas pessoas possuem para sobreviver no ecossistema em que estão inseridas.

Essa é uma história de intraempreendedorismo com caracte-rísticas inovadoras. Como em todas as ações intraempreendedoras, trata-se de uma história da busca pelo novo. Neste caso, em uma grande empresa atuante no setor comercial, através de uma rede de supermercados, mas que não diz respeito à linha de produtos ou somente a estratégias de marketing ou processos de logística. É uma inovação que, em seu cerne, convida para a incorporação de novos valores internos da empresa e de seu portfólio de negócios, aproveitando justamente a identidade e a força construída por seu core business. Ela propõe que sejam introduzidas na estratégia cen-tral da empresa ações de desenvolvimento de seu próprio mercado futuro e a obtenção de resultados através da promoção contínua do desenvolvimento e crescimento de milhares de nanoempreen-dedores que são seus clientes. Não se trata de um fortalecimento da cadeia de fornecimento com manutenção de fidelidades ou exclu-sividades. Essa não é uma ação assistencialista. Um dos resultados almejados continua sendo o lucro. No entanto, a estratégia maior é a obtenção de prosperidade e perenidade através do desenvolvi-mento da prosperidade dos clientes e das comunidades. O lucro é uma consequência do trabalho bem-feito, não o propósito maior que norteia o processo. Essa relação ganha-ganha de geração de valor compartilhado dentro do modelo capitalista, sem proteção, é

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Empreendedorismo na Base da Pirâmide

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o método procurado por todo o mundo, principalmente por países em desenvolvimento.

A empresa Tenda realiza com pioneirismo essa experiência em seu setor no Brasil. O BID e o FSK são os apoiadores. É claro que esse é um projeto realizado por várias pessoas, com papéis diferen-tes e formas diversas de participação e contribuição. Mas é também a realização do sonho de uma pessoa, a melhoria das condições de vida das pessoas na base da pirâmide, que, para compartilhar e realizar seu sonho, construiu um caminho.

Uma palavra do narrador

Esta é uma história de pessoas que geram empreendimentos e pro-jetos. Não é um relato de estratégias empresariais, de políticas de gestão ou de caminhos que aumentam a criatividade. Este texto não é um caso acadêmico, porque a ciência jamais conseguirá aprisionar a alma do empreendedor. É uma história de muitos personagens, mas protagonizada pelo empreendedor Marco. Ela compartilha mo-mentos vividos por uma pessoa que resolveu derrubar os limites de seu próprio sonho para cocriar soluções que podem ser um modelo de sustentabilidade para todo o mundo e principalmente para os países em desenvolvimento. Os capítulos desta história narram a germinação e o desenvolvimento de uma percepção do mundo, do sentimento de tristeza diante de uma realidade injusta e de uma crença indomável de que é possível encontrar soluções simples, mas incompreensivelmente poucas vezes cogitadas.

Certamente existem milhares de intraempreendedores espa-lhados em muitas organizações. Pessoas que se identificarão com a história de um intraempreendedor aqui contada e que, cada um a sua forma, com suas habilidades, competências e limitações, mas acima de tudo com seus sonhos, estão buscando impactar e trans-formar a realidade. A história aqui narrada, de um intraempreen-dedor, busca compartilhar alguns desafios e as formas encontradas para superá-los na viabilização de um projeto-piloto inovador. Não pretende de forma alguma esgotar o tema nem definir conclusiva-mente. Muitos são os caminhos e as possibilidades que um empre-endedor pode seguir.

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Introdução

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O que se pode encontrar na presente narrativa diz respeito à fé na capacidade de realização de pessoas unidas pela mesma crença, pelo mesmo propósito. As estrelas, ou seja, os protagonistas deste relato sobre intraempreendedorismo são pessoas, não teorias. São sonhos de desenvolvimento de nanoempresas da BdP. Este relato não é isento, não é imparcial e não é ciência. É completamente con-taminado pelos sonhos, ideologias e crenças de seus protagonistas. É fiel à realidade, com endereço conhecido, os espaços específicos do Grupo Tenda. O presente relato não é isento porque eu, que sou o narrador, participei da equipe do projeto. Além do mais, é um projeto que, para ser aceito e entendido, pressupõe uma opção clara do leitor pelo desenvolvimento do país e pela diminuição das diferenças sociais como propósito maior. Sem dúvida é no mínimo constrangedor eu aceitar ser considerado, conforme se verá no de-correr do texto, como uma referência na área. Por isso, peço que re-levem e aceitem as minhas desculpas. Na verdade, as minhas ideias e contribuições foram poucas e modestas, mas me orgulho de terem servido de inspiração para que o grupo libertasse sua criatividade e criasse soluções verdadeiramente inovadoras.

É uma história, não é um estudo de caso. É real, não é uma fic-ção. Aconteceu, não é uma proposta. O relato não apresenta soluções ou respostas. Ele prefere, como um empreendedor, as dúvidas e as perguntas, pois sabe que elas são fertilizantes. Nos casos empresa-riais não se dá a devida importância à visão de mundo, às crenças e às emoções das pessoas. Aliás, raramente se dá importância às pes-soas. Durante a infância e a adolescência, as crenças e as percepções começam a ganhar um perfil e uma estrutura. No entanto, crianças e adolescentes não despertam a atenção dos teóricos da adminis-tração. No meu trabalho, me preocupo em deslindar as motivações das pessoas que criam empresas, empreendimentos e projetos. No empreendedorismo, o alvo é o ser, não o produto. O que interessa é o criador, não a criatura, que seria a empresa. Por esse motivo, conhecer o que se passou na infância e na adolescência é revelador. Por que um empreendedor se preocupa com a BdP e dedica sua vida ao seu desenvolvimento? Como ele construiu a percepção de que, sem sair do modelo capitalista, é possível contribuir para o desen-volvimento de uma grande corporação através do crescimento e do desenvolvimento de milhares de nanoempresas clientes? Como ele ousou criar caminhos para desenvolver empreendedores em grande quantidade? Como conseguiu escalas elevadas no desenvolvimento

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de pessoas da BdP e de suas nanoempresas? E, curiosamente, como ele deixou de ser empreendedor e se transformou em empregado, com o objetivo de empreender um sonho?

Só uma viagem a partir de sua infância para deslindar essas ra-zões. Esta história pode sensibilizar ou reforçar milhares de pessoas que comungam com o mesmo ideal e que estão diante de escolhas e decisões dentro de corporações e podem, portanto, alterar os pa-drões e as estratégias de relacionamento entre corporações, clientes e o ecossistema em geral. Ela pode fortalecer e acelerar uma grande evolução em andamento. É uma história de desenvolvimento hu-mano e social com lucro. Pessoas que transformam o mundo são contadores de histórias. Eu tive a sorte de ter encontrado Marco e seus sonhos, que são exatamente iguais aos meus. Tentei ser fiel às palavras do Marco, apostrofando-as no texto, mas ainda assim, dada a nossa convivência, talvez eu tenha me apropriado, sem ter essa intenção, de seus pensamentos. Li e reli o que está escrito, mas posso ter cometido alguma traição.

Boa leitura!

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