empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de...

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FACULDADE CÁSPER LÍBERO MAÍRA MEDEIROS Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas São Paulo 2016

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Page 1: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

FACULDADE CÁSPER LÍBERO

MAÍRA MEDEIROS

Empreendedorismo feminino pela comunicação digital:

um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de

canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

São Paulo

2016

Page 2: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

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MAÍRA MEDEIROS

Empreendedorismo feminino pela comunicação digital:

um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher pormeio de

canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

Trabalho de conclusão de curso de Pós-

Graduação lato sensu apresentado à Faculdade

Cásper Líbero como requisito parcial para a

especialização em Teorias e Práticas da

Comunicação.

Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise

São Paulo

2016

Page 3: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

2

Medeiros, Maíra Veloso

Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as

oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância

e redes sociais colaborativas / Maíra Veloso Medeiros. -- São Paulo, 2016.

268 f. ; 30 cm.

Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise

Monografia (lato sensu) – Faculdade Cásper Líbero, Programa de Pós-

Graduação em Teorias e Práticas da Comunicação

1. Empreendedorismo feminino. 2. Aprendizagem virtual. 3. Comunicação

digital. I. Brandalise, Roberta. II. Faculdade Cásper Líbero, Programa de Pós-

Graduação lato sensu em Teorias e Práticas da Comunicação. III. Título.

Page 4: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

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MAÍRA MEDEIROS

Empreendedorismo feminino pela comunicação digital:

um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher pormeio de

canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

Trabalho de conclusão de curso de Pós-

Graduação lato sensu apresentado à Faculdade

Cásper Líbero como requisito parcial para a

especialização em Teorias e Práticas da

Comunicação.

Orientadora: Profa. Dra. Roberta Brandalise

__________________

Data da aprovação

Banca examinadora:

________________________________________

________________________________________

São Paulo

2016

Page 5: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

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AGRADECIMENTOS

À Lucitânia, mãe e incentivadora, responsável pelos maiores apoios em minha

trajetória acadêmica e profissional.

Aos professores da pós-graduação da Faculdade Cásper Libero, pelos

ensinamentos fundamentais para a conclusão do curso.

Em especial, à professora Dra. Roberta Brandalise, minha orientadora, por suas

aulas magníficas, aconselhamentos, incentivos e por ser um modelo de

inspiração profissional e acadêmico.

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RESUMO

A pesquisa analisou o conteúdo e o impacto das ferramentas de comunicação digital que

apresentam às mulheres oportunidades de trabalho e as capacitam para o empreendedorismo,

por meio da investigação da apropriação da informação e da realização de cursos com foco

em negócios em seu dia a dia. As abordagens metodológicas adotadas foram: as contribuições

das escolas de administração, educação e comunicação para a investigação acerca do

empreendedorismo feminino, da aprendizagem virtual e da comunicação digital; as

colaborações de Dijk e Bakhtin sobre as discussões de discurso e poder e sobre dialogismo; e

a abordagem construtivista e fenomenológica para a interpretação das construções de mundo e

experiências das empreendedoras. Foram analisados os sentidos e efeitos de sentido

manifestados nos textos visuais e escritos extraídos dos sites Rede Mulher Empreendedora,

Escola de Você, Sebrae e revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, e exploradas as

compreensões a partir de pesquisas qualitativa e quantitativa com empreendedoras brasileiras.

Constatou-se que os conteúdos e cursos geram mais oportunidades para as mulheres ao

possibilitar o seu empoderamento e a sua independência financeira, e ao prepará-las em sua

educação técnica para o desenvolvimento dos seus negócios, fortalecendo a prática

empreendedora, e impulsionando economias mais fortes, justas e estáveis.

Palavras-chave: Empreendedorismo feminino. Aprendizagem virtual. Comunicação digital.

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ABSTRACT

The research analyzed the content and the impact of digital communication tools that present

to women job opportunities and enable them to entrepreneurship, through research of

information ownership and of courses focused on business in their day to day. The adopted

methodological approaches were: the contributions of business, education and communication

schools for research on women's entrepreneurship, virtual learning and digital

communication; collaborations of Dijk and Bakhtin on the discourse discussions about power

and dialogism; and the constructivist and phenomenological approach to the interpretation of

the world of constructions and experiences of entrepreneurs. Sense and meaning effects were

analyzed manifested in the visual texts and writings extracted from the websites Woman

Entrepreneur Network (Rede Mulher Empreendedora), School of You (Escola de Você),

Sebrae and magazine Small Business & Big Business (revista Pequenas Empresas & Grandes

Negócios), and explored the insights from qualitative and quantitative research with Brazilian

entrepreneurs. It was found that the content and courses generate more opportunities for

women to enable their empowerment and financial independence, and to prepare them for

their technical education for the development of their business, strengthening the

entrepreneurial practice, and driving strongest, fairest and more and stable economies.

Keywords: Women's entrepreneurship. Virtual learning. Digital communication.

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LISTA DE SIGLAS E DE ABREVIATURAS

ABED Associação Brasileira de Educação à Distância

AD Análise de discurso

AVA Ambiente Virtual de Aprendizagem

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CSCL Computer Supported Cooperative Learning (Aprendizado cooperativo

suportado por computadores)

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

EAD Educação a Distância

ECD Estudos críticos de discurso

FGV ou GV Fundação Getúlio Vargas

GEM Global Entrepreneurship Monitor (Monitor de Empreendedorismo Global)

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MEI Micro-empreendedor individual

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

P2P Peer to Peer (Processo de produção par a par – colaborativo)

PEGN Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios

Quali Pesquisa qualitativa

Quanti Pesquisa quantitativa

RME Rede Mulher Empreendedora

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TEA Total Early Stage Entrepreneurship Activity (Taxa de atividade de

empreendimento em estágio inicial)

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SUMÁRIO

1 Introdução 10

2 Empreendedorismo, aprendizagem virtual e comunicação digital – desafios,

paradigmas e novas perspectivas 18

2.1 Empreendedorismo feminino: abordagens administrativas, motivações e cenários

adversos 18

2.1.1 Empreendedorismo feminino: representações sociais e contexto econômico e

cultural 23

2.1.2 Principais impactos da atuação feminina no empreendedorismo 31

2.2 Aprendizagem virtual e educação à distância: desafios brasileiros, obstáculos à

equidade de gênero e principais plataformas de trabalho 50

2.2.1 Educação e qualificação profissional feminina: ferramenta de

empoderamento global 66

2.3 Comunicação digital: acessibilidade às tecnologias, fluxos e relações virtuais no

ciberespaço 68

2.3.1 Redes colaborativas e sociedade da informação: compartilhamento, criação

de conhecimento e educação 75

3 Os ambientes de aprendizagem: análise dos sites Rede Mulher Empreendedora, Escola

de Você, Sebrae e revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios 82

3.1 Rede Mulher Empreendedora 83

3.2 Escola de Você 91

3.3 Sebrae 98

3.4 Pequenas Empresas & Grandes Negócios (PEGN) 104

3.5 Ambientes virtuais em perspectiva 115

4 Análise de conteúdos de aprendizagem e interação nos ambientes virtuais 118

4.1 Análise de discurso nos artigos do site Rede Mulher Empreendedora 120

4.2 Análise de discurso nos artigos do site do Sebrae 128

4.3 Análise de discurso nos artigos do site da revista PEGN 130

4.4 Análise de discurso nos vídeos do site Escola de Você 135

4.5 Análise de discurso nos vídeos do site do Sebrae 144

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4.6 Análise de discurso nos vídeos do site da revista PEGN 151

4.7 Considerações analíticas sobre os conteúdos analisados nos ambientes virtuais 156

5 Impacto das ferramentas de comunicação digital e efeitos de sentido nas

empreendedoras 159

5.1 Impactos das ferramentas de comunicação digital para o empreendedorismo feminino:

interpretações e compreensões de sentido 167

5.2 Análises das interpretações de pesquisas com empreendedoras: considerações

conclusivas 184

6 Considerações finais 187

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 196

APÊNDICE A - Roteiro das entrevistas em profundidade 203

APÊNDICE B - Transcrição das entrevistas em profundidade 204

APÊNDICE C - Questionário e resultados da pesquisa quantitativa 224

APÊNDICE D - Quadros de categorização das análises das entrevistas 230

ANEXO A - Artigos extraídos do site Rede Mulher Empreendedora 244

ANEXO B - Artigos extraídos do site do Sebrae 254

ANEXO C - Artigos extraídos do site da revista PEGN 260

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1 Introdução

O estímulo ao empreendedorismo, principalmente em populações de baixa renda e

escolaridade, nas quais há, de maneira comum, o raro acesso à educação formal acadêmica e

técnica, tem sido uma das principais válvulas de crescimento da economia em países em

desenvolvimento, principalmente em ciclos de crise de empregos formais e desintegração de

setores tradicionais, como a indústria e o comércio. No entanto, ao observar o

empreendedorismo exclusivamente feminino, pode-se notar uma força complementar: seja

pela necessidade da criação dos filhos, ao liderar suas famílias, seja pela necessidade de

independência financeira, após a dissolução de um casamento ou relacionamento conjugal,

observa-se que as mulheres que encontram o caminho do empreendedorismo tornam-se

importantes mecanismos de oxigenação de suas economias locais, retomam sua auto-estima, e

constituem núcleos de fortalecimento de laços comunitários e familiares nos locais onde

residem e trabalham. Algumas pesquisas sobre o empreendedorismo, tanto global, quanto

brasileiro, como as desenvolvidas pelo GEM (Global Entrepreneurship Monitor) e pelo

Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) demonstram estas

conclusões.

A desigualdade de gênero intriga e incomoda, principalmente nos aspectos

relacionados ao mercado de trabalho, por registrar, ainda nos dias atuais, um abismo enorme

para as oportunidades que se apresentam para homens e mulheres. Por que, e até quando,

mulheres receberão menores salários do que os homens, ou terão acesso restrito às vagas de

trabalho apenas por serem mulheres? Neste sentido, uma vasta literatura científica, pesquisas

e cientistas já se debruçaram diretamente sobre o tema da desigualdade de gênero no trabalho.

No entanto, o que chama a atenção é que, apesar das adversidades encontradas em seus

ambientes, tanto culturais, quanto econômicas, há um contingente cada vez maior de mulheres

que não precisaram, e não precisam, aguardar pelas oportunidades: antes, elas são criadoras

de suas próprias histórias e de seus próprios destinos.

E, para que o empreendedorismo feminino se torne uma realidade, duas questões

tornam-se vitais para o seu sucesso: comunicação e acesso. Comunicação, pois há que se

formar e transmitir o conhecimento técnico e específico para cada ramo de negócio, além da

base mínima administrativa para dar suporte à empreendedora iniciante. Acesso, pois as

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mulheres são, em sua imensa maioria, mães – muitas vezes de filhos em idade escolar –

esposas, ou cuidadoras de algum ente familiar – idosos, adultos com necessidades especiais –

e que, por isso, apresentam dificuldade de deslocamento (por não poderem se ausentar de suas

residências por longos períodos de tempo) ou de tempo (por realizarem muitas atividades

dentro e fora de casa) ou mesmo de ambos. Desta forma, a comunicação digital traz, para

estas mulheres, um vasto universo de oportunidades de empreendedorismo, ao possibilitar o

acesso a ferramentas de educação à distância e a redes sociais colaborativas.

O acesso à informação e à comunicação por meios digitais é, hoje, um dos fatores

essenciais para o desenvolvimento de comunidades em situação de limitação de recursos

financeiros ou em desenvolvimento. Segundo o estudo Value of Connectivity, realizado pela

consultoria Deloitte, e divulgado em fevereiro de 2014, há uma estimativa de que, caso fosse

possível o acesso à internet em países em desenvolvimento a níveis encontrados hoje em

economias desenvolvidas, seria possível incrementar a economia destes países em 25%1.

E, sobre a questão do empoderamento feminino, segundo o site Weprinciples.org (que

une a sigla em inglês “wep” – ou Women’s Empowerment Principles - à palavra também em

inglês “principles”), desenvolvido pela UN Women, órgão das Nações Unidas voltado para as

questões da mulher,

empoderar a mulher para participar completamente da vida econômica em todos os

setores e níveis de atividade econômica é essencial para construir economias fortes,

estabelecer sociedades mais justas e estáveis, alcançar níveis internacionais para

desenvolvimento, sustentabilidade e direitos humanos, melhorar a qualidade de vida

para mulheres, homens, famílias e comunidades, e impulsionar negócios2.

Em um relatório3 produzido também pela UN Women, a partir de sua iniciativa WEP

(Women’s Empowerment Principles)4, alguns dados apresentados mostram a situação ainda

bastante vulnerável da mulher em todo o mundo, o que reforça, ainda mais, a necessidade

emergencial do estímulo ao empoderamento feminino. Entre as informações apresentadas,

estima-se que 70% de toda a população pobre mundial seja de mulheres; cerca de 72% dos 33

milhões de refugiados no mundo são de crianças e mulheres; em média, pelo menos 6 em

1 Value of Connectivity, 23/02/2014. Disponível em: <http://internet.org/press/value-of-connectivity>. Acesso

em: 22 abr. 2015.

2 Disponível em: <http://www.weprinciples.org/Site/Overview/>. Acesso em: 4 jan. 2016. 3 Dados extraídos do relatório “Princípios de Empoderamento das Mulheres – Igualdade significa negócios”,

segunda edição 2011. Disponível em: <http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016. 4 Princípios de Empoderamento das Mulheres, em tradução livre.

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cada 10 mulheres são agredidas, forçadas a ter relações sexuais ou são vítimas de qualquer

outra forma de abuso por parte de um parceiro íntimo ao longo da vida; segundo relatório da

Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco de Desenvolvimento Asiático

(ADB) de 2011; 45% das mulheres permaneceram fora do mercado de trabalho, contra 19%

dos homens; segundo estimativa do Banco Goldman Sachs, de 2007, os países poderiam

aumentar seu PIB significativamente ao reduzir a diferença nas taxas de emprego entre

homens e mulheres: a Zona do Euro poderia aumentar o PIB em 13%; o Japão, em 16%; os

Estados Unidos, em 9%; sobre o tema educação, uma em cada cinco meninas matriculadas no

Ensino Fundamental não conclui o 1º. ciclo; e segundo cálculos da Parceria de Aprendizagem

para as Mulheres (Women’s Learning Partnership – WLP), para cada ano escolar que as

meninas frequentam depois da quarta série, os salários aumentam 20%, a mortalidade infantil

se reduz em 10%, e o tamanho da família diminui 20%.

Entre os principais problemas que podem ser analisados a partir destas questões, está a

alta incidência de mulheres fora do mercado de trabalho, explicitada por diversos fatores: a

falta de oportunidades em empregos formais; inflexibilidade em horários de expediente,

impossibilitando a conciliação com a maternidade ou cuidados especiais a idosos; número

menor de vagas oferecidas a mulheres pela não aceitação da possibilidade da maternidade ou

de afastamentos momentâneos para cuidados dos filhos.

Outra importante questão a ser observada é a desigualdade de acesso à informação

digital, que acarreta a impossibilidade de comunicação, formação continuada e educação para

o emprego e para o empreendedorismo.

A falta de oportunidades formais de trabalho para as mulheres, aliada às dificuldades

de acesso às conexões digitais, geram um entrave importante para dificultar o

empoderamento, a independência e a educação feminina, impossibilitando a criação de novos

negócios e, consequentemente, barrando o crescimento de um importante segmento da

economia.

Assim, pode-se observar que tanto as conexões digitais (aliada à educação à distância),

quanto o empoderamento feminino, são questões cruciais, hoje, para o desenvolvimento de

economias e para incrementar a qualidade de vida das populações, principalmente as que

habitam países em desenvolvimento.

Portanto, o objetivo geral desta monografia é analisar o conteúdo e o impacto de

ferramentas de comunicação digital (como sites, cursos de educação à distância e redes

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sociais colaborativas) que apresentam às mulheres oportunidades de trabalho e as capacitam

para o empreendedorismo. Esta análise se deu, em primeiro lugar, a partir de uma profunda

análise de discurso (AD) para analisar os conteúdos de sites de educação a distância com foco

em cursos para mulheres empreendedoras. O principal objetivo desta estratégia foi

compreender os sentidos e os efeitos de sentido manifestados por meio dos discursos

apresentados nestes cursos. Nesse processo, elementos conceituais da semiótica também

serviram de base na análise da linguagem verbal e não-verbal, nos discursos ou textos

culturais diversos que integraram a amostra da pesquisa. Em segundo lugar, foram realizadas

duas pesquisas: uma de perfil quantitativo, realizado por meio de questionário eletrônico com

empreendedoras participantes da comunidade “Empreendedoras” no Facebook, e outra, de

perfil qualitativo, realizada por meio de entrevistas em profundidade com sete mulheres

empreendedoras, com o objetivo de analisar a apropriação da informação e o impacto da

realização dos cursos focados em empreendedorismo em seu dia a dia.

Ao longo da investigação, procurou-se verificar a hipótese de que o conteúdo dos

canais de comunicação digital gera mais oportunidades para o empreendedorismo feminino, e,

consequentemente, para o seu empoderamento e independência financeira, ao prepará-las em

sua educação técnica e gerencial para o desenvolvimento de seus negócios.

Neste sentido, a comunicação foi contributiva para esta investigação a partir do recorte

da análise das ferramentas de comunicação digital que podem possibilitar e incrementar o

acesso à educação à distância, e permitir o intercâmbio de informações por meio de conexões

colaborativas e que, em conjunto, tornam possíveis e reais as oportunidades de formação

empreendedora e a criação de novos negócios para mulheres.

O objeto de pesquisa proposto para estudo foi composto por sites brasileiros que se

dedicam ao desenvolvimento e divulgação de conteúdos educacionais focados no tema de

empreendedorismo – sendo ele global, ou, em alguns momentos, apresentado como conteúdo

exclusivo para mulheres. Foram estudados, especificamente, os seguintes sites: o Rede

Mulher Empreendedora, plataforma que reúne cursos e rede social de comunicação para

mulheres com pequenas empresas; o Escola de Você, site que oferece cursos gratuitos on-line

exclusivos para mulheres; e os sites do Sebrae e da revista PEGN (Pequenas Empresas &

Grandes Negócios, da Editora Globo). Para seleção destes sites para estudo, foram observados

quatro critérios: relevância e audiência; produção de conteúdos exclusivos para mulheres; e

apresentação de ambiente de relacionamento para construção de redes.

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No caso do site Rede Mulher Empreendedora, o site foi selecionado pois ele se

constitui como um ambiente digital de relacionamento exclusivo para mulheres: além de

fornecer acesso à conteúdos educacionais sobre o empreendedorismo, permite a construção de

uma rede de relacionamentos entre as mulheres usuárias do site. É uma plataforma pioneira no

Brasil neste sentido, e, hoje, é reconhecido como um dos principais sites fomentadores do

empreendedorismo feminino no Brasil.

O site Escola de Você apresenta conteúdo de educação à distância voltado

exclusivamente para a audiência feminina. Além de cursos de empreendedorismo, apresenta

cursos e conteúdos que remetem a questões do universo da mulher – neste sentido, ele é

inovador, ao buscar foco no nicho de conteúdo feminino.

Já os sites do Sebrae e da revista PEGN foram selecionados por sua relevância,

alcance nacional, grande audiência e reconhecimento – construídos principalmente por sua

atuação extra-site: o Sebrae é a principal instituição brasileira de apoio ao micro e pequeno

empreendedor, reconhecido internacionalmente; já a revista PEGN é a principal revista

mensal brasileira dedicada exclusivamente à conteúdos para o pequeno empresário

(disponível no formato impresso e digital). Apesar de não serem dedicados exclusivamente à

audiência feminina, ambos apresentam conteúdos exclusivos para as mulheres, e apresentam

conteúdos em diversos formatos: vídeo-aulas, podcasts, textos, entrevistas, entre outros.

Apresentam uma oferta maior e mais diversificada de conteúdos sobre o empreendedorismo,

quando comparados com a Rede Mulher Empreendedora e a Escola de Você.

Todos os sites citados são brasileiros, desenvolvidos para populações que vivem no

Brasil e no idioma português. Todos também são de acesso gratuito, mediante cadastro prévio

do usuário.

E, para concretizar esta pesquisa, foi realizada investigação e pesquisa de literatura

acadêmica nos três temas focais de estudo: empreendedorismo, aprendizagem virtual e

comunicação digital, contemplando nestes tópicos uma análise aprofundada das questões

femininas que marcam relevantes discrepâncias na comparação entre os gêneros. Foram

analisadas as principais conceituações teóricas sobre a importância do empreendedorismo

feminino na economia, do papel da educação à distância e ambientes virtuais de

aprendizagem e seu consequente impacto na educação feminina, e para entender o papel

social e educativo da acessibilidade e da comunicação digital, principalmente com relação a

questões de uso colaborativo da rede. Para tal, além da análise teórica, foi feito o

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levantamento sobre dados de educação à distância e empreendedorismo feminino no Brasil

nos últimos dez anos.

O empreendedorismo, de maneira geral, tem exercido papel essencial no

desenvolvimento das economias de diversos países, em distintos setores produtivos e camadas

sociais. E, quando mencionamos o empreendedorismo feminino, pode-se perceber de forma

ainda mais clara o seu papel transformador para a qualidade de vida e para o crescimento

econômico dos locais onde ele é implementado.

Relatórios elaborados pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM)5 indicam dados

importantes sobre a participação da mulher brasileira na atividade empreendedora. Segundo o

relatório de 2005 deste instituto, o Brasil ocupava a 15ª. posição no empreendedorismo por

oportunidade (quando a motivação para abrir o negócio é espontânea, gerada por um cenário

favorável da economia e de maneira geral instigada pelo perfil de um empreendedor

capacitado e conhecedor da atividade econômica). No entanto, o país ocupava a 4ª. posição

em empreendimentos abertos por necessidade (quando a atividade empreendedora é iniciada

diante da dificuldade do profissional em manter-se ou inserir-se no mercado de trabalho, tanto

com relação à adequação das atividades, quanto com relação à renda).

Outro dado importante, também extraído a partir do relatório do GEM de 2002,

indicava que as mulheres brasileiras representavam, já naquela década, 42% de todos os

empreendedores. Entretanto, as mulheres brasileiras se situam com 16,1% no

empreendedorismo por sobrevivência, contra um percentual masculino de 12,1%.

Ainda segundo dados do GEM, do ano de 2005, quando comparado a outros países no

globo, o Brasil alcança o 3º lugar em número de mulheres empreendedoras, (6,3 milhões),

ficando atrás apenas das norte-americanas e das chinesas.

E, para atingir alcance em locais remotos, ou ainda populações femininas com

restrições de deslocamento, a comunicação digital, por meio dos canais de educação a

distância e redes sociais, torna-se fator crucial para que seja possível formar e capacitar

mulheres para que criem e conduzam seus negócios próprios, e para que possam

retroalimentar economias antes estagnadas ou, minimamente, suprir financeiramente famílias

e comunidades em situação de fragilidade de emprego.

5 In: NATIVIDADE, Daise Rosas da. Empreendedorismo feminino no Brasil: políticas públicas sob análise.

Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro , v. 43, n. 1, p. 231-256, fev. 2009 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-76122009000100011&lng=en&nrm=iso>.

Acesso em: 6 jan. 2016.

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Esta pesquisa buscou contribuir para os estudos da comunicação com um olhar sobre

as oportunidades de desenvolvimento econômico, por meio da geração de novos negócios,

possibilitadas pela comunicação digital e pelo acesso à capacitação via sites e redes sociais.

Compreender e avaliar iniciativas já desenvolvidas para empoderar as mulheres representa

tornar visíveis as possíveis soluções de geração de trabalho e renda, aliadas a estratégias de

comunicação digital, e vislumbrar economias ativas em ambientes que, sem a força do

empreendedorismo, estariam estagnadas e pouco produtivas.

No entanto, investigar o empoderamento feminino alcançado por meio do

empreendedorismo e das plataformas digitais é não somente estudar possibilidades de

desenvolvimento econômico, mas, sobretudo, possibilitar uma análise sobre os possíveis

caminhos para a independência financeira e a melhoria na qualidade de vida de milhares de

mulheres em todo o país.

E para compreender todo o espectro apresentado para a presente pesquisa, o texto está

organizado em cinco capítulos: no segundo (uma vez que o primeiro é esta introdução),

apresentaram-se as conceituações e os principais dados globais e brasileiros a respeito do

empreendedorismo – e empreendedorismo feminino; da aprendizagem virtual e educação à

distância; e da comunicação digital. Este capítulo apresenta os temas acima nesta ordem, por

haver, nela, certa lógica no entendimento do contexto da pesquisa: primeiro, será apresentado

o tema do empreendedorismo, pois, dentro do macro e micro-ambiente de atuação da mulher,

o empoderamento da mulher (tanto econômico, quanto cultural), é possibilitado a partir do

empreendedorismo. Na sequência, segue a análise sobre educação à distância e aprendizagem

virtual, pois estes são os canais que permitem o empoderamento e o acesso das mulheres para

a educação e formação técnica a respeito do empreendedorismo. E, por último, apresenta-se a

análise sobre a comunicação digital, uma vez que ela torna possível a mediação dos ambientes

virtuais de aprendizagem, por meio dos canais de comunicação, como os sites, as redes sociais

e os conteúdos adaptados para o meio on-line.

A interrelação entre estes três campos de estudo fundamentou o recorte de análises

apresentadas na pesquisa, apresentando as possíveis conexões interdisciplinares entre os

temas e suas principais correntes estudadas até o presente momento.

No terceiro capítulo, apresentou-se a análise dos ambientes onde se encontram os

conteúdos educacionais: os Sites Rede Mulher Empreendedora, Escola de Você, Sebrae e

revista PEGN.

Page 18: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

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Já no quarto capítulo apresentou-se a descrição e análise do conteúdo dos sites (com

foco no tema de empreendedorismo) e suas linguagens, separados por site e por tipo de

discurso (visual ou textual), contemplando a observação a respeito da narrativa do material

selecionado, e entendimento do perfil de temas abordados nos vídeos e artigos. E, por fim, no

quinto capítulo, apresentou-se a análise das pesquisas quantitativa e qualitativa, onde o

objetivo maior foi compreender e interpretar os significados trazidos a partir das entrevistas e

dos dados numéricos obtidos nestas investigações.

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2 Empreendedorismo, aprendizagem virtual e comunicação digital – desafios,

paradigmas e novas perspectivas

2.1 Empreendedorismo feminino: abordagens administrativas, motivações e cenários

adversos

A literatura a respeito do empreendedorismo é vasta e amplamente estudada por

algumas correntes de saber. No entanto, cada uma delas apresenta um enfoque diferenciado,

de acordo com os seus objetivos e público-alvo analisado.

Entre as ciências que analisam o empreendedorismo, observa-se que a administração

apresenta um foco muito mais generalista da questão, e preocupa-se, principalmente, em

apresentar as suas definições, além de oferecer, na maioria das obras pesquisadas, orientações

e guias para a gestão da abertura de novas empresas. Seu enfoque é, majoritariamente, a

didática das ciências administrativas: o que é uma empresa, o que é missão, o que é

planejamento estratégico, etc. Sua leitura está moldada para a conceituação mecanicista e

técnica sobre o tema, explorando o empreendedorismo fora de seus contextos ambientais e

culturais.

Já para as ciências sociais (e, aqui, pode-se considerar a sociologia e a psicologia

como exemplos), o foco se dá nas relações, nos perfis empreendedores, e, acima de tudo, nas

características do ambiente e da cultura que influenciam na formação e no desenvolvimento

dos empreendedores.

Para esta pesquisa, será analisada a seguir a conceituação do empreendedorismo de

maneira genérica, não a segmentando incialmente pelas questões específicas do gênero

feminino – ponto que será abordado na sequência. Além disso, serão apresentados os

principais aspectos relacionais do empreendedorismo: perfil social do empreendedor,

ambiente, entraves e dificuldades encontradas em seu meio, aspectos educacionais,

econômicos e culturais, e comparativo de oportunidades entre os gêneros.

O conceito de empreendedorismo é apresentado na literatura científica de diversas

formas, mas encontra-se em Chiavenato (2012) uma definição clara e objetiva e que abarca a

maior parte dos tipos de negócios e perfis de empresários. Para o autor,

O empreendedor é a pessoa que inicia e/ou dinamiza um negócio para realizar uma

ideia ou projeto pessoal assumindo riscos e responsabilidades e inovando

continuamente. Essa definição envolve não apenas os fundadores de empresas e

criadores de novos negócios, mas também os membros da segunda ou terceira

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geração de empresas familiares e os gerentes-proprietários que compram empresas

já existentes de seus fundadores6.

Em resumo, o empreendedorismo é a prática de criar novos negócios, ou, ainda,

revitalizar negócios já existentes (CHIAVENATO, 2012). Já em Robbins (2001) encontramos

outra definição:

O empreendedorismo é um processo pelo qual os indivíduos buscam oportunidades,

organizam os recursos necessários e, por meio da inovação, abrem seu próprio

negócio, assumindo os respectivos riscos e recompensas do empreendimento e

satisfazendo suas necessidades e desejos.7

Considerando esta definição, pode-se definir como empreendedor não apenas o novo

empresário, o que provoca a abertura de uma empresa (o que seria o conceito primário), mas,

antes, todo aquele que atua de forma inovadora e assume riscos na criação não apenas de

negócios, mas de projetos, ideias e processos. Nesta questão, cabe o conceito de

intraempreendedorismo: atitude de criação para assumir riscos e inovar continuamente

exercida por funcionários dentro de uma empresa na qual não são donas ou sócias

majoritárias.

Na análise da definição do termo empreendedorismo, as palavras risco e incerteza são

as que permeiam a grande maioria das conceituações, além de estarem presentes na quase

totalidade da definição do “perfil empreendedor”. Não à toa, estas palavras estão na base da

palavra que deu origem ao termo. “Empreendedor” tem origem na palavra francesa

“entrepreneur” – e significa aquele que assume riscos e começa algo inteiramente novo

(CHIAVENATO, 2012).

De fato, por assumir os aspectos de risco e incerteza, a palavra deriva adjetivos que

fogem da atividade gerencial ou negocial em si. Segundo o dicionário Melhoramentos, a

definição de empreendedor é “1. Que, ou o que empreende. 2. Ativo, arrojado.”8. Ainda

segundo o mesmo dicionário, a definição do ato de empreender é “1. Tentar realizar algo

difícil. 2. Pôr em execução. 3. Fazer.”9

O ato de empreender, então, delimita, de alguma forma, o próprio perfil do ator que

busca a atividade empreendedora: é, de certa forma, um realizador, um executor, mas não de

atividades rotineiras e que já sejam desenvolvidas – antes, ele é criador de uma nova

6 LONGENECKER, J. G; MOORE, C.W.; PETTY, W. J. Administração de pequenas empresas. São Paulo:

Makron Books, 1998. P. 3. In: CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo: dando asas ao espiríto

empreendedor. Barueri: Manole, 2012. P. 3. 7 GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.). Empreendedorismo e

estratégia de empresas de pequeno porte – 3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010. 8 BORBA, Francisco da Silva, BAZZOLI, Marina Bortolatti, BORBA, Márcia Rodrigues. Minidicionário da

língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1988. P. 365. 9 _______________________.

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atividade, de um novo negócio, de um novo processo. Sua atuação se dá, sobretudo, pelo

aspecto da inovação, e, frequentemente, tendo como base contextos adversos e críticos.

Podemos ainda caracterizar o empreendedor em suas tipologias para a condução do

negócio: executor e administrador. O primeiro, executor, caracteriza-se por aquele que

empreende em atividades que atestam as suas habilidades profissionais técnicas: sua

experiência na produção e execução do material ou serviço que será vendido o validam para a

abertura de um negócio. Por exemplo, o caso de um pizzaiolo, que decide abrir sua própria

pizzaria; ou de uma manicure, que abre um salão de beleza. Nestes casos, a habilidade do

profissional está na atividade-fim de seu negócio. Este tipo de empreendimento é o mais

comum encontrado na realidade brasileira. Já para o segundo caso, o administrador, a

habilidade profissional está centrada na gestão e administração do negócio como um todo: o

empreendedor poderá conhecer ou não a atividade-fim da empresa, mas terá conhecimentos

aprofundados nos aspectos gerenciais, tais como abertura de capital, tomada de empréstimos,

mercado, concorrência, contratação de recursos humanos, controle orçamentário, cenário

econômico, entre outras questões. Este perfil de empreendedor é mais comumente encontrado

entre profissionais com renda alta, maior qualificação educacional, ou ainda o que é

comumente chamado na literatura econômica de “investidor”, ou seja, pessoas com capital

disponível para investimento em empresas ou setores da economia que estejam em

crescimento, independentemente do setor de atuação (CHIAVENATO, 2012).

Com relação aos perfis empreendedores, Chiavenato destaca ainda o que seriam as três

características que os identificariam: a necessidade de realização, a disposição para assumir

riscos, e a autoconfiança. No entanto, percebe-se, pelos estudos de Chiavenato, que o foco se

dá apenas no estudo do empreendedor motivado pela oportunidade, ou seja, o indivíduo que

opta pelo empreendedorismo por opção, e que conta, como fatores motivacionais para esta

atuação, intenções de espectro positivo, como inovação e realização. Sabe-se, porém, que a

atividade empreendedora é composta também por aqueles que criam novos negócios por

necessidade – então, por encontrar no empreendedorismo sua última opção para o

recebimento de renda, seja por falta de qualificação para exercer uma atividade como

empregado, seja por cenário econômico com alto índice de desemprego (BRITO; WEVER,

2004; DORNELAS, 2005).

Esta divisão na tipologia – empreendedorismo por necessidade e empreendedorismo

por oportunidade – é apresentada nos estudos do GEM, e é considerada em pesquisas sobre o

tema desenvolvidas pelo Sebrae e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e

Estudos Socioeconômicos). Esta divisão, que é, sobretudo, o indicador motivacional da

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atividade empreendedora, é extremamente relevante, uma vez que o perfil do empreendedor,

de acordo com a sua base motivadora, muda acentuadamente. Assim, apesar de ser importante

a definição objetiva do termo empreendedorismo, sua análise não poderá estar desvinculada

de sua relação com o meio e com o perfil motivacional dos atores participantes, bem como do

contexto econômico, social e cultural em que as atividades são desenvolvidas.

Retomando o enfoque das ciências administrativas, que observam a atividade

empreendedora apartada de seu contexto, encontra-se na literatura algumas das principais

motivações da atividade empreendedora. Entre elas, pode-se listar o forte desejo pela

independência trabalhista, para uma atuação sem chefes; a oportunidade de trabalhar com o

que se mais gosta, no lugar da segurança financeira; possibilidade de desenvolvimento de

iniciativas próprias, sem entraves ou negativas; desejo pessoal de reconhecimento;

possibilidade de ganhos maiores que os alcançados pela atividade empregadora; desafio de

criação de algo novo; etc (CHIAVENATO, 2012).

Além dos aspectos motivacionais, ainda dentro do espectro administrativo,

descontextualizante, encontra-se em McClelland a definição das características do

“empreendedor bem-sucedido”: iniciativa própria, perseverança, determinação,

comprometimento, busca de qualidade e eficiência, coragem para assumir riscos,

planejamento, capacidade de persuasão, estabelecimento de redes de relacionamento,

independência, autonomia e autocontrole (CHIAVENATO, 2012).

Souza, Trindade e Freire (2010) ressaltam alguns autores que abordaram a vertente das

características psicológicas para traçar o perfil do empreendedor. Eles lembram que

McClelland e Weber defendem essa linha de estudo, ao mencionarem que existem traços de

personalidade que seriam próprios de indivíduos empreendedores. No entanto, estes autores

também mencionam que há ainda uma linha de estudos do empreendedorismo que enfatiza a

abordagem sociológica, defendida por autores como Guimarães (2002) e Feuerschutte (2006),

que levam em consideração o contexto em que os indivíduos estão inseridos em grupos

sociais, e que as experiências vividas influenciam a escolha dos que empreendem. Já outros

autores, como Carland, Carland e Hoy (1992), Gimenez e Inácio Júnior (2002) e Gimenez,

Ferreira e Ramos (2008) deram ênfase a uma abordagem multidimensional, que une, para

traçar o perfil do empreendedor, ao mesmo tempo as suas características individuais, os

fatores econômicos e ambientais, e as características do futuro empreendimento (FERREIRA,

2005).

Ao analisar estes três tipos de abordagem, pode-se inferir que a última, de caráter

multidimensional, seria a mais completa e que poderia apontar, com maior clareza, o perfil do

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empreendedor, e os locais onde há maior probabilidade para o desenvolvimento do

empreendedorismo.

Entretanto, é importante enfatizar que tais definições, sem uma abordagem científica

ou dotada da apresentação de pesquisas que as embasem, são altamente criticadas,

principalmente por sua ausência de validade para conclusões, e, como já comentado

anteriormente, por sua total separação do ambiente onde se dá a atividade empreendedora, e

descaracterização dos aspectos sociais, culturais e econômicos que influenciam fortemente a

formação e o estabelecimento do empreendedorismo em um dado local. Embora na

comunidade científica tais caracterizações sejam menosprezadas, faz-se importante mencionar

os autores da linha administrativa que o fazem sem embasamento em pesquisas, uma vez que

é justamente esta literatura a que é absorvida majoritariamente em ambientes acadêmicos no

nível de graduação, principalmente em cursos de administração, finanças e economia.

Apesar das limitações das análises de abordagem administrativa, é importante

mencionar que ela ressalta os aspectos que inibem a atividade empreendedora no Brasil, e, no

entanto, se resumem a questões relacionadas aos ambientes macro-econômico e legal, e,

novamente, desconsidera aspectos culturais e sociais. Entre estes pontos limitantes, destacam-

se a existência de uma grande lacuna nas questões de transferência tecnológica; a ausência de

uma estrutura tributária e trabalhista orientada para pequenos negócios; falta de opções de

micro-crédito; ausência de políticas educacionais voltadas ao estímulo da atividade

empreendedora; sistema altamente burocratizado para abertura, desenvolvimento e

fechamento de empresas; sistema tributário complexo e ineficaz; ausência de políticas

públicas de apoio ao pequeno empresário (CHIAVENATO, 2012).

Por isso, faz-se necessária uma análise ampla e aprofundada a respeito do macro e do

micro-ambiente empreendedor – características e perfil da mulher que trabalha e que

empreende; análise do ambiente (no Brasil e no mundo); e os aspectos motivacionais do ato

de empreender – falta de oportunidades no mercado de trabalho, descoberta de uma

oportunidade de venda para um produto ou serviço, entre outros.

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2.1.1 Empreendedorismo feminino: representações sociais e contexto econômico e

cultural

A atividade empreendedora feminina apresenta aspectos sociais, econômicos e

culturais bastante peculiares e diferenciados da ação masculina. Questões como a

maternidade, a responsabilidade pelos afazeres domésticos, a educação dos filhos e condições

desiguais de salários e oportunidades de emprego trafegam entre as principais questões de

entrave para o desenvolvimento do empreendedorismo pelas mulheres no Brasil e no mundo.

Observa-se pela análise de pesquisas realizadas globalmente que as dificuldades,

apesar de apresentarem diferenças regionais, são localizadas em todas as partes do planeta

pelas mulheres que buscam atuar como empresárias; além disso, aspectos culturais e

educacionais reforçam os empecilhos para a plena atividade empreendedora nacionalmente,

principalmente devido a questões relacionadas ao machismo, à debilidade no sistema

educacional, à burocracia e a desigualdade de gênero nas relações trabalhistas (salários

menores, quando comparado aos dos homens; poucas oportunidades na direção das empresas;

assédio sexual e moral; acesso restrito a determinadas funções consideradas “masculinas”).

Desta forma, faz-se importante a análise da caracterização do empreendedorismo

feminino brasileiro e internacional, seus aspectos críticos, seu perfil diferenciador, e dos

dados de contextualização sobre os fatores motivacionais e sobre os entraves à atividade

empreendedora pelas mulheres.

No entanto, antes da análise dos dados a respeito do empreendedorismo feminino, uma

investigação a respeito da representação social da mulher no trabalho torna-se essencial para

entender o contexto do ambiente onde se constroem as motivações, as inibições, as

expectativas e as frustrações femininas com relação ao trabalho. Não seria possível construir

uma investigação aprofundada sobre o tema analisando os dados sem considerar a

significação do feminino no trabalho e seus aspectos relacionais (família, sociedade, escola,

auto-estima).

As relações de trabalho para as mulheres representam um ambiente arenoso e com

uma série de barreiras há séculos, principalmente pela sua imersão, no mundo ocidental, em

atividades previamente estabelecidas como masculinas, a partir da Revolução Industrial, e

depois, com maior força, da Segunda Guerra Mundial.

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No início do século XX, a segregação entre os distintos tipos de empregos para

homens e mulheres já estava bastante estabelecido. Alguns estudos demonstram que, nessa

época, nenhuma atividade era exercida tanto por homens quanto por mulheres; se isso

acontecia, havia diferenças na qualidade e na quantidade apresentada no resultado final dos

produtos e serviços realizados. De maneira geral, as mulheres executavam tarefas

consideradas “inferiores”, geralmente recusadas pelos homens, e recebiam salários menores.

No Brasil, a consolidação da cidadania feminina é exemplificada por Penna (1981): o direito

ao voto para as mulheres só foi concedido depois de 1930; na família, a submissão feminina

diante do ente familiar masculino, consolidado no Código Civil desde 1916 – e revisado

apenas em 2003. Além disso, seu acesso ao mercado de trabalho era obstruído ou pela

dependência familiar, ou pelos inúmeros obstáculos legais existentes. Segundo Camargo,

Brolesi, Meza, Cunha e Bulgacov (2010),

As liberdades burguesas não a atingiam [à mulher] e o Estado lhe foi sempre

autoritário. A mulher brasileira, desde o Império, esteve submetida, na sociedade,

por meio da legalidade, à submissão de sua família; seu acesso ao mundo público se

deu por meio de seu marido.10

Nas indústrias nos anos de 1920 a 1950, as mulheres se concentraram em algumas

tarefas, e não tinham acesso a outras, exclusivamente masculinas, assim, o gênero

caracterizava um atributo quase definitivo para o tipo de ocupação a ser exercida. Em

fábricas, por exemplo, as mulheres eram alocadas em atividades consideradas “leves”, mais

lentas e mais rotineiras (CAMARGO, Et al, 2010).

O crescimento das oportunidades de trabalho para as mulheres está amplamente ligado

ao momento durante a Segunda Guerra Mundial, influenciado principalmente pelo ambiente

europeu, no qual havia uma grande necessidade de ocupação de postos de trabalho que antes

estavam ocupados exclusivamente pelos homens – e, que em uma situação de guerra, no qual

a ausência masculina nas cidades gerou oportunidades de emprego para as mulheres. Além

disso, já no pós-guerra, houve um crescimento vertiginoso do mercado de trabalho feminino

por algumas questões econômicas: a necessidade de complementação salarial, devido à

deterioração dos salários reais dos trabalhadores homens, e também pelo incentivo ocorrido

pelas expectativas de maior consumo (CAMARGO Et al., 2010). É importante mencionar

ainda o fortalecimento dos movimentos feministas, principalmente nas décadas de 30 até os

10 CAMARGO, Denise, Et al. O significado da atividade empreendedora: as práticas da mulher brasileira em

2008. In: GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.).

Empreendedorismo e estratégia de empresas de pequeno porte – 3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010.

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anos 60, e, em seguida, da emancipação feminina (tanto do pai, quanto do cônjuge) a partir do

maior acesso às universidades e à formação técnica, que permitiram com que a mulher

pudesse estar tanto ou melhor qualificada do que o homem para o mercado de trabalho. Seria

incoerente deixar de mencionar ainda outros dois elementos que contribuíram para a

independência feminina, e para que a mulher dispusesse de mais tempo para os estudos e para

o trabalho: a invenção da pílula contraceptiva, nos anos 60, e as novas tecnologias do

ambiente doméstico, tais como máquina de lavar, micro-ondas e itens descartáveis (como

fraldas e absorventes), que possibilitaram com que os afazeres domésticos fossem

drasticamente reduzidos em tempo.

Desde então, houve a necessidade de desconstruir estereótipos sociais e culturais, que

ainda permanecem nos dias de hoje, e se apresentam como os mais difíceis de serem

superados (CRAMER Et al., 2012).

Apesar de não haver mais espaços e papéis atribuídos em definitivo a um gênero ou

outro (BELLE, 1987, 1993), nota-se que há ainda uma segregação disfarçada, e que atinge as

mulheres, no denominado fenômeno do “teto de vidro” (STEIL, 1997). Este fenômeno

consiste em uma barreira sutil, mas transparente e suficientemente forte para bloquear a

ascensão das mulheres a níveis hierárquicos mais altos.11

Outro aspecto importante é a desconsideração de interpretações biologistas, e

considerar que as representações sociais, atributos e características construídas para os

gêneros são social, histórica e linguisticamente elaboradas (LOURO, 2000; SCOTT, 1995; e

MEDRADO, 1996). Uma definição importante sobre gênero é dada por Louro (2000), quando

apresenta que ele é uma construção social feita sobre as diferenças sociais – ou seja, ele

representa a forma como estas diferenças são entendidas numa sociedade e em um contexto, e

como elas são trazidas para a prática social.12

Para a ação empreendedora, faz-se necessário que o profissional desenvolva algumas

habilidades e competências gerenciais, importantes para a abertura e o pleno desenvolvimento

11CRAMER, Luciana, CAPELLE, Mônica, ANDRADE, Áurea, BRITO, Mozar. Representações femininas da

ação empreendedora: uma análise da trajetória das mulheres no mundo dos negócios. Revista de

Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - REGEPE, v.1, n.1, jan/abril de 2012. Disponível em:

<file:///C:/Users/Ma%C3%ADra/Downloads/14-54-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016.

12CRAMER, Luciana, CAPELLE, Mônica, ANDRADE, Áurea, BRITO, Mozar. Representações femininas da

ação empreendedora: uma análise da trajetória das mulheres no mundo dos negócios. Revista de

Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas - REGEPE, v.1, n.1, jan/abril de 2012. Disponível em:

<file:///C:/Users/Ma%C3%ADra/Downloads/14-54-1-PB%20(1).pdf>. Acesso em: 10 jan. 2016.

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de seu negócio. Alguns autores defendem que existem, sim, algumas características gerenciais

observadas com maior frequência nas mulheres (BUTTNER, 2001). Segundo Mendell (1997),

as mulheres consideram a situação em seu contexto próprio, enquanto que os homens tendem

a perceber cada situação segundo suas próprias regras.

Em outros estudos, específicos sobre o estilo gerencial feminino, apresentam que as

mulheres empreendedoras traçam objetivos culturais e sociais em suas empresas – além do

objetivo meramente financeiro. Além disso, há uma preocupação mais acentuada com as

equipes envolvidas, e uma tendência para que os objetivos sejam claros para todos os

funcionários (TURNER, 1993).

Entretanto, entre os aspectos limitadores da atividade empreendedora feminina, nota-

se que as questões relacionadas ao âmbito familiar apresentam um dos seus principais

inibidores. O tempo gasto com afazeres domésticos, a criação dos filhos, e a falta de suporte

dos cônjuges estão entre os maiores fatores de desestímulo ao trabalho feminino, não apenas à

ação empreendedora. Em pesquisa realizada por Cramer et al. (2012), foi evidenciado que há

um conflito na busca da independência financeira pelo trabalho: ao mesmo tempo em que ele

é benéfico para a mulher, resta ainda um sentimento de culpa – tanto em relação a abrir mão

da carreira para cuidar da família, quanto no caminho contrário, ao se desvincular da família

para a dedicação aos negócios (CRAMER et al., 2012). Com relação ao menor tempo

dedicado à família, a mesma pesquisa observou que, além da culpa, já sentida pela mulher, há

uma cobrança dos familiares para que a mulher esteja em casa.

O conflito família-trabalho é uma questão importante para ser considerada na análise

da atividade empreendedora, uma vez que ele interfere diretamente na qualidade e no

desempenho do negócio e do trabalho feminino. Shelton (2006) destaca que a gestão deste

conflito (gerados por demandas advindas tanto do trabalho, quanto da família) colabora para o

bem-estar da empreendedora e, consequentemente, para o desempenho do empreendimento

(STROBINO, TEIXEIRA, 2010). No quadro abaixo, desenvolvido por Grennhaus e Beutell

(1985), apresenta-se de maneira mais clara alguns dos principais motivos de conflito e tensão

nas relações família versus trabalho – antagonismo que aparece em sua grande maioria das

vezes para as mulheres, mas não para os homens, que, a priori, não enfrentam estas

dificuldades na condução de suas rotinas de trabalho.

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Tabela 1. Incompatibilidade de pressões entre o trabalho e a família. Fonte: GRENNHAUS, BEUTEL, 1985, p.

78. In: STROBINO, Marcia, TEIXEIRA, Rivanda. O empreendedorismo feminino e o conflito trabalho-família:

estudo de caso no setor da construção civil da cidade de Curitiba. In: GIMENEZ, Fernando, FERREIRA, Jane

Mendes, RAMOS, Simone Cristina (org.). Empreendedorismo e estratégia de empresas de pequeno porte –

3Es2Ps. Curitiba: Champagnat, 2010.

Um aspecto interessante, desta vez, demonstrado pelos pesquisadores acima, mas

também na pesquisa Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e

Pequenas Empresas, elaborado pelo Sebrae em parceria com o Dieese, é que a composição

familiar influencia na atividade empreendedora. Nas famílias em que o casal não tem filhos, a

mulher tem mais tempo para dedicar-se ao trabalho, uma vez que a exigência familiar é

menor; já nas famílias com filhos, há uma cobrança maior, e a dedicação ao trabalho fica

prejudicada. Talvez, por isso, a média de número de filhos de mulheres empreendedoras não

alcance o segundo filho. O próprio acesso à creche é um fator importante para a participação

feminina no trabalho: segundo pesquisa do IBGE, entre mulheres com filhos de 0 a 3 anos de

idade que frequentam creche, 71,7% estavam ocupadas, e, consequentemente, a participação

das mulheres no mercado de trabalho é bastante reduzida quando nenhum filho frequenta

creche (43,9%) ou algum outro não frequenta (43,4%).13

13 IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa

ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.

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Gráfico 1. Média de filhos entre mulheres empreendedoras. Fonte: DIEESE. Anuário das mulheres

empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela

elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso

em: 20 fev. 2016.

Na análise da tão chamada “dupla jornada” enfrentada pelas mulheres, nota-se que ela

é real. Segundo dados do IBGE, o trabalho doméstico no Brasil ainda é tarefa

predominantemente feminina. A jornada média semanal das mulheres nessas atividades é 2,5

vezes maior que a masculina. Em 2011, as mulheres dedicavam, em média, 27,7 horas

semanais a afazeres domésticos, enquanto os homens destinavam somente 11,2 horas de seu

tempo para tais atividades. Assim, pode-se afirmar que não há no Brasil, ainda, uma divisão

equânime das tarefas domésticas, cabendo às mulheres a responsabilidade pela maior parte

deste tipo de trabalho.14

14Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa

ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.

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Gráfico 2. Horas gastas em afazeres domésticos, segundo o sexo. Fonte: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais:

uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/def

ault.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.

A característica “multi-tarefa” da mulher, tão amplamente aceita e naturalizada em

diversas sociedades – tanto ocidentais quanto orientais – é fruto, na verdade, de uma

construção social, arraigada a partir de um passado no qual a mulher era apenas uma

trabalhadora doméstica, e que, a partir da maior participação da mulher no mercado de

trabalho, houve apenas uma espécie de complementação de afazeres – agora, dentro e fora do

lar. No lugar de uma estrutura compartilhada de responsabilidades domésticas com o homem,

a mulher apenas acumulou as duas atividades (domésticas e externas), acarretando-lhe uma

sobrecarga física e psicológica. Como bem menciona Jonathan (2005, p. 373-382),

A multiplicidade de papéis tende a ser considerada uma característica do universo

feminino, levando ao reconhecimento de um talento nas mulheres para fazer e

pensar várias coisas simultaneamente. No entanto, o acúmulo de tarefas – públicas e

privadas – rotulado de “dupla jornada” é, frequentemente, considerado causa ou

origem de conflitos e desgastes (Jablonski, 1996; Rocha-Coutinho, 2003). Em uma

perspectiva naturalista, as dificuldades seriam inerentes à multiplicidade de papéis

envolvendo demandas concebidas como inconciliáveis em sua natureza.

Como conclusão, pode-se inferir que a consolidação do espaço feminino no meio

empresarial depende da dedicação e do seu posicionamento tanto em relação à família, quanto

em relação ao lado profissional (CRAMER et al., 2012).

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O contexto e o ambiente influenciam positiva ou negativamente o desenvolvimento do

empreendedorismo em uma dada região, dependendo das percepções e atitudes da sociedade

local com relação ao trabalho feminino e à atuação da mulher no mercado laboral. Estas

atitudes fortalecem, ou enfraquecem, as motivações e intenções das mulheres para que se

tornem empreendedoras, e podem ser exemplificadas por apoio cultural e social,

financiamento e políticas públicas de micro-crédito, redes de afiliações e associações que

propiciam relacionamento entre as participantes, assistência e formação educacional sobre

temas relacionados ao empreendedorismo, entre outras. Segundo a OCDE (Organização para

a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 2004), as mulheres são menos estimuladas a

atuarem como empreendedoras do que os homens pois elas encontram barreiras sociais e

culturais que são inexistentes para eles. Entre essas barreiras, pode-se mencionar os níveis

elevados de responsabilidade doméstica, menores níveis de educação, falta de exemplos

femininos nos negócios, poucas redes (ou inexistência delas) de relacionamento em suas

comunidades, falta de financiamento e crédito, e falta de assertividade e confiança, induzidas

culturalmente, em suas habilidades para ter êxito nos negócios.15

Em pesquisa realizada por GOMES (2004) na cidade de Vitória da Conquista (BA)

também foi levantada, junto a cem empresárias entrevistadas, as principais dificuldades

enfrentadas para uma mulher que pretende montar seu próprio negócio. Segundo o autor, a

mulher que trabalha fora tem uma grande dificuldade de conciliar trabalho e família, e essa

dificuldade não costuma se apresentar para o universo masculino na mesma frequência. Já a

dificuldade de obtenção de financiamentos parece ser uma dificuldade de qualquer gestor,

independente de sexo, e que atinge mais as empresas de micro e pequeno porte (GOMES,

SANTANA, SILVA, 2004).16

15GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016. 16 GOMES, Ferraz Almiralva, SANTANA, Piau Gusmão Weslei, SILVA, Moreira Jovino. Mulheres

Empreendedoras: Desafios e Competências. Disponível em: <http://www.cyta.com.ar/ta0406/v4n6a1.htm>.

Acesso em: 10 jan. 2016.

Page 32: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

31

Gráfico 3. Dificuldades enfrentadas para ser empreendedora. Fonte: GOMES (2004). In: GOMES, Ferraz Almiralva,

SANTANA, Piau Gusmão Weslei, SILVA, Moreira Jovino. Mulheres Empreendedoras: Desafios e

Competências. Disponível em: <http://www.cyta.com.ar/ta0406/v4n6a1.htm>. Acesso em: 10 jan. 2016.

2.1.2 Principais impactos da atuação feminina no empreendedorismo

Hoje, o incentivo ao empreendedorismo é visto como uma das principais alavancas

com força capaz de desenvolver e fazer crescer a economia ao redor do globo. Em países

desenvolvidos e em desenvolvimento, o desafio da geração de emprego e renda é crítico,

considerando o cenário macroeconômico de ajustes fiscais, crises ambientais (que afetam

diretamente a agricultura e setores industriais ligados à alimentação), a geração de recursos

sustentáveis e a cada vez maior demanda pela geração de empregos. Assim, é imperativo

capacitar as mulheres para que elas possam participar plenamente do mercado de trabalho, e,

ainda, possam ser capacitadas para que transmitam o seu potencial produtivo na forma de

criação de novos negócios e empresas.

Segundo dados do relatório especial sobre empreendedorismo feminino desenvolvido

pelo GEM em 2015, o GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015, há notícias

positivas a respeito da atividade empreendedora no mundo, mas há também muitos gargalos –

principalmente em regiões onde ainda há uma barreira bastante visível com relação à

participação da mulher no mercado de trabalho. Nesta pesquisa, verificou-se que a taxa de

atividade de empreendimento em estágio inicial (TEA – Total Early Stage Entrepreneurship

Activity) aumentou 7% desde 2012, e a distância entre os gêneros na participação em

atividades empreendedoras diminuiu 6%. Este relatório analisou 83 países, e observou que,

em 10 deles (sendo o Brasil um destes) as mulheres são tão ou mais propensas a atuar como

empreendedoras. De modo geral, este ambiente favorável ao empreendedorismo se deve a

alguns fatores que nem sempre são positivos: de certa forma, a atividade empreendedora é

estimulada nestes países (todos em desenvolvimento) pela necessidade das mulheres em gerar

renda para as suas famílias – ou porque são as líderes em seus núcleos familiares, ou pela

ausência do suporte do cônjuge, ou ainda pela ausência de emprego formal e qualificação

adequada para encontrar trabalho no mercado de trabalho formal.

Como características da empreendedora mundial, podemos mencionar que a idade é

um fator comum neste grupo: em geral, a faixa entre 25 a 34 anos de idade apresenta os

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32

maiores índices de mulheres empreendedoras. Com relação à educação, 33% delas tinham ao

menos o nível secundário ou ainda um nível maior de educação.

Outro dado interessante é com relação às interrelações entre os dados: de modo geral,

em países onde há taxas maiores de empreendedorismo, consequentemente há mais mulheres

que conhecem outra que é empreendedora. Isso se explica facilmente, porque o número

absoluto de empreendedoras presentes na economia é maior. Além disso, com altas taxas de

empreendedorismo, há uma maior tendência à formação de redes de associações, que

oferecem apoio, suporte, modelos, orientação e conselhos, fortalecendo e estimulando

mulheres não-empreendedoras, em um efeito cascata que potencializa a força do

empreendedorismo ainda mais nestes locais.

Com relação à tipologia de negócios estabelecidos, o comércio se destaca

mundialmente na preferência das empreendedoras: mais de 2/3 das empreendedoras

trabalham no setor comercial.

A atividade empreendedora, sem caracterização por gênero, é uma mola propulsora de

empregos e de oxigenação da economia, ao estimular a geração de renda e o consumo. No

entanto, uma série de pesquisas comprova que a atuação da mulher no empreendedorismo é

capaz de melhorar índices de educação e saúde, e fomentam a melhoria da economia como

um todo.

Ainda segundo o relatório da GEM17, elas são importantes para a economia porque

elas investem em suas comunidades, educam as crianças, e investem o que recebem ajudando

aos outros. No mundo todo, as mulheres controlam aproximadamente 20 trilhões de dólares

em consumo na economia mundialmente, um número que poderá chegar a 28 trilhões nos

próximos cinco anos. Hoje, as mulheres já representam cerca de 40% da força de trabalho

global. O relatório World Employment and Social Outlook: Trends 2015 report (WESO

Report) apresenta alguns dados que reforçam os benefícios da elevada participação feminina

no mercado de trabalho: economias com níveis elevados de mulheres trabalhadoras são mais

resilientes e experimentam menos quedas; a força de trabalho feminino é uma poderosa

ferramenta anti-pobreza, pois quando a renda familiar não depende unicamente de um único

membro, e é compartilhada por duas pessoas, o risco da unidade familiar perder todos os seus

ganhos é reduzido drasticamente; em regiões com os maiores abismos entre os gêneros há

17GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016.

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33

geralmente a perda de ganhos de até 30% da renda per capita18. Outro estudo, desta vez

realizado pela Goldman Sachs 10,000 Women Initiative19 demonstrou que, entre as mulheres

que participaram deste programa de incentivos, realizado em 43 países, os negócios

proporcionaram um crescimento de 50% entre os empregos das empresas participantes com

apenas seis meses de atuação no projeto, e os lucros cresceram 480% após um ano e meio da

finalização da participação no programa. E, adicionalmente, 87% das mulheres

empreendedoras foram mentoras de outras mulheres em suas comunidades. Segundo este

mesmo estudo, as mulheres empreendedoras tendem a ter níveis mais elevados de educação

do que as mulheres não-empreendedoras. Como resultado, educação e treinamento tendem a

trazer crescimento para os negócios, bem como o fortalecimento da auto-confiança e das

habilidades de liderança para estas mulheres.20

Outro estudo recente aponta que as mulheres investem 90 centavos de cada dólar que

elas ganham em recursos humanos, o que pode ser traduzido por educação em sua família,

saúde e nutrição – em comparação, os homens investem de 30 a 40 centavos, no máximo. As

mulheres empreendedoras também estão mais predispostas a investir em educação e em suas

comunidades, usando os lucros gerados pelos seus negócios.21

18 GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016. 19BABSON COLLEGE. Investing in the Power of Women; Progress Report on the Goldman Sachs 10,000

Women Initiative. Desenvolvido pela Babson College, Wellesley, EUA, 2014. 20GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016. 21GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016.

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Tabela 2. Média das intenções de empreender por região e gênero, em porcentagem. Fonte: GEM Special

Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org>/. Acesso em: 6 jan.

2016.

Gráfico 4. Taxas de Empreendedorismo em estágio inicial (TEA rates) por região e por faixa etária. Fonte:

GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016.

Além da análise do macro e do micro-ambiente que circundam a mulher

empreendedora, faz-se necessário o estudo a respeito das percepções que as mulheres tem de

si mesmas, tendo em vista que a auto-avaliação das empresárias sobre suas capacidades e

habilidades para gerir seus negócios impactará diretamente na evolução e na crença de que

sua empresa poderá crescer e se expandir. Neste sentido, países dos continentes africano e sul-

Page 36: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

35

americano tem uma grande vantagem: neles, o índice de mulheres que acreditam ter as

capacidades necessárias para abrir um negócio alcança mais de 50%.22. No entanto, é possível

perceber neste mesmo dado uma grande diferença entre os gêneros: quando a amostra

feminina total do globo é comparada com as respostas masculinas, pode-se perceber que o

grau de auto-confiança no empreendedorismo masculino é substancialmente maior – no

mundo todo, o índice alcança 46%, enquanto que os homens que acreditam serem capazes de

gerir um negócio próprio somam 59%. No Brasil, a diferença permanece significativa entre os

gêneros: as mulheres auto-confiantes são 55%; já os homens são 65%.

Gráfico 5. Porcentagem de Adultos que acreditam ter capacidade para iniciar um negócio, por região e por

gênero. Fonte: GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em:

<http://www.gemconsortium.org/>. Acesso em: 6 jan. 2016.

22GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016.

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36

Em continuidade às auto-percepções relacionadas ao empreendedorismo, é importante

mencionar a questão relacionada à aversão ao risco, já que este fator é item inerente à

atividade empreendedora – ou seja, não há empreendedorismo sem assumir riscos, e a

predisposição a aceitá-los é fator condicionante para que uma pessoa se torne empreendedora

ou não. E aí novamente as mulheres (com base em dados globais) estão em desvantagem com

relação aos homens. As mulheres tem mais aversão ao risco do que os homens: 41% delas não

iniciariam um negócio por medo do fracasso, contra 34% dos homens.23 Estes dados

demonstram que as mulheres tem menos confiança em si mesmas e em suas capacidades para

empreender, afetando assim de maneira significativa o número de negócios que serão abertos.

Apesar do abismo ainda existente entre as oportunidades de negócios geradas por

homens e mulheres, ou ainda pelas dificuldades encontradas em economias em

desenvolvimento, como burocracia e falta de suporte da família e dos governos locais (como

ausência de micro-crédito ou dificuldades de acesso a financiamentos), o empreendedorismo

feminino expande-se gradualmente em todos os países do globo. De 2012 para 2015, a taxa de

empreendedorismo inicial cresceu 7%, e distância entre homens e mulheres que exercem

atividades empreendedoras ficou 6% menor. 24 Ainda assim, as dificuldades enfrentadas pelas

mulheres no empreendedorismo ainda são fortemente arraigadas, e contam com barreiras em

seus contextos sociais, culturais e econômicos. Apesar dos progressos, as mulheres continuam

a enfrentar discriminação, marginalização e exclusão25. Além disso, um fator importante para

que a atividade empreendedora feminina se estabeleça e cresça é o suporte e apoio não apenas

para que as mulheres iniciem novos negócios, mas também para que estes empreendimentos

sejam mantidos e se desenvolvam de maneira sustentável em suas economias, gerando

benefícios de longo prazo às suas comunidades. Neste sentido, o microcrédito, oferecido por

empresas privadas ou governos, torna-se importante ferramenta para que o empreendedorismo

feminino se estabeleça como mola propulsora em economias de baixa renda.

Mas antes de analisar alguns casos relacionados a experiências de microcrédito,

importantes para contextualizar a necessidade fundamental deste tipo de financiamento para

prestar suporte a economias com elevado grau de atividade empreendedora, é necessário

23GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016.

24 __________________. 25ONU MULHERES E ESCRITÓRIO DO PACTO GLOBAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios de

Empoderamento das Mulheres – Igualdade significa negócios”, segunda edição 2011. Disponível em:

<http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016.

Page 38: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

37

apresentar a composição do perfil da população afetada diretamente por este tipo de atividade

financeira.

O público-alvo ao qual se destina o financiamento de microcrédito é, de maneira geral,

o que pode ser conceitualizado como “mercado emergente”, ou “mercado de consumo

emergente”. Prahalad (2010) traz luz ao conceito, ao identificar que este grupo da população,

antes estigmatizado e tratado de forma generalista por empresas e estrategistas de marketing,

é, antes de tudo, um grupo heterogêneo, composto por pessoas das mais diversas etnias, faixas

de renda e formação acadêmica. Antes, era comum a definição desta população pelo limite de

ganhos anuais ou mensais; hoje, esta definição é vista já como arcaica, pelos diversos estudos

econômicos já realizados a respeito deste grupo. Entretanto, seria possível segmentar ou

classificar corretamente quais seriam as pessoas que compõem a chamada “base da pirâmide”,

termo firmado por Prahalad?

O conceito da “base da pirâmide” foi estabelecido para identificar os cerca de quatro

bilhões de pobres não atendidos ou mal atendidos pelas grandes organizações do setor privado

(PRAHALAD, 2010). No entanto, segundo Prahalad, não seria possível estabelecer a

classificação para “pobre”, o que muitos economistas e instituições se debateram durante

décadas em definir – por exemplo, se seriam pessoas que vivem com menos de dois ou com

menos de um dólar por dia. Estas classificações se mostraram completamente dúbias, pois

cada país e cada localidade apresentam especificidades locais, e a composição da população

economicamente emergente pode passar por questões educacionais e culturais, por exemplo.

Assim, a categorização em classes de A a E, com C, D e E construindo a “base da pirâmide”,

não seria a classificação mais aceita atualmente, ainda segundo Prahalad. Embora não se

possa classificar esta população por perfis de renda, uma questão é comum a todas estas

populações no globo: estas pessoas constituem um segmento invisível (com raras exceções)

para o direcionamento de produtos e serviços, tanto privados quanto estatais. Trata-se de um

segmento cujas necessidades não são atendidas ou não são sequer contempladas no

planejamento de mercado das empresas – não são objeto de estudo para a adequação e criação

de preços, produtos, embalagens, pontos de venda, financiamento e comunicação dirigidos

para atender às necessidades deste público. Itens como oferta dos produtos ou serviços em

locais sem lojas, como favelas, parcelamento da compra em cotas limites analisadas para

atender a rendas mensais flutuantes e sem possibilidade de comprovação, ou ainda

embalagens pequenas, previstas para atender a um ou dois momentos de uso (como xampús

ou sabões em pó para lavar roupa) são raros e muitas vezes desconsiderados em

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planejamentos de marketing de empresas privadas. Segundo estudo publicado pela parceria

World Resources Institute e pela International Finance Corporation, os consumidores da “base

da pirâmide” representam cerca de US$ 5 trilhões em termos de paridade de poder de

compra.26

A menção a este mercado de consumidores emergentes é importante dentro do

contexto da análise do empreendedorismo feminino pois ele constitui uma base importante de

origem da grande maioria das empreendedoras, principalmente aquelas em estágio inicial. Por

isso, serão apresentados a seguir alguns casos de iniciativas destinadas a operações de

microcrédito voltadas a este público, pois caracterizam importantes exemplos de experiências

a respeito de possibilidades de empoderamento27 de populações da base da pirâmide.

Um dos casos apresentados por Prahalad (2010) é o do Banco Grameen, que é voltado

a operações de financiamento de populações de baixa renda. A média de valor dos

empréstimos, por pessoa, é de aproximadamente 20 dólares. Outro caso mencionado pelo

mesmo autor é o do ING Vysya Bank, que atende também ao público de

microempreendedores. Suas principais operações consistem no financiamento a grupos de

auto-ajuda, composto basicamente por mulheres empreendedoras. Em dezembro de 2008, o

volume total em empréstimos concedidos a este perfil de público era de 10,3 milhões de

euros.

Outra experiência relatada por Prahalad, ainda no setor financeiro, é a do Banco ICICI,

mas, desta vez, voltada para o atendimento a pequenos agricultores. Esta instituição dispõe de

um produto de financiamento baseado no sistema de recibo de armazéns, utilizado para

compor os fundos dos agricultores nas épocas logo após a colheita, quando os preços das

mercadorias tendem a cair bruscamente. Assim, o produtor rural obtém o empréstimo tendo

como base o cálculo do produto estocado em seu armazém, possibilitando que ele mantenha o

produto estocado até que o preço no mercado se estabilize.

Mas um dos principais casos relacionados ao microcrédito, relatado também por

Prahalad, não se encontra no setor financeiro, mas sim no setor da construção civil. A Cemex,

26PRAHALAD, C.K. A riqueza na base da pirâmide: como erradicar a pobreza com o lucro. Porto Alegre:

Bookman, 2010. P. 29. 27 Empoderamento significa que as pessoas podem assumir o controle das suas vidas: definir os seus objetivos,

adquirir habilidades, aumentar a autoconfiança, resolver problemas e desenvolver a sua independência. In: ONU

MULHERES E ESCRITÓRIO DO PACTO GLOBAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios de Empoderamento

das Mulheres – Igualdade significa negócios”, segunda edição 2011. Disponível em:

<http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016.

Page 40: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

39

a maior fabricante de cimento do México e a terceira maior do mundo, inovou ao criar

iniciativas voltadas para o atendimento ao público consumidor de baixa renda.

A população mexicana, público atingido pela experiência a ser mencionada, tem perfil

semelhante à brasileira com relação a indicadores sócio-econômicos. Uma das características

que se assemelham nas duas populações é a de que ambas não costumam ter a prática corrente

de poupar dinheiro – quando ela acontece, é na forma de “tandas” (espécie de cooperativas de

familiares e vizinhos que se reúnem para juntar dinheiro, no formato que se assemelha a um

consórcio). Além disso, no México as mulheres são, de maneira geral, as principais

responsáveis pela poupança nas famílias, e são dotadas de espírito empreendedor. Em

pesquisa conduzida pela empresa CEMEX, revelou-se que 70% das mulheres que poupavam

o faziam pelo sistema de tandas para construir suas casas. Assim, a empresa criou o projeto

Patrimonio Hoy (PH), que possibilita a famílias de baixa renda adquirir serviços e materiais

de construção a crédito, mediante um esquema de poupança realizado pelas próprias famílias,

liderado geralmente por mulheres. Além disso, o projeto desenvolve iniciativas de apoio a

microempreendedores, que são fabricantes de tijolos cerâmicos de baixa renda, para que

possam se tornar produtores de tijolos de concreto. Estes produtores de tijolos enfrentam de

modo geral algumas dificuldades, tais como processos de produção poluidores e perigosos

para os profissionais; produtividade ineficiente e ciclos sazonais de produção, devido à

interrupção da atividade em períodos de chuva.

Em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a CEMEX criou

um projeto que investe no treinamento e capacitação destes produtores de tijolos, para que

possam aprender práticas mais eficazes e sustentáveis para seus negócios, e fornece

microcrédito para que os produtores possam atuar de maneira mais competitiva e equilibrada

sazonalmente no mercado. Além disso, a empresa fornece maquinários e ferramentas

necessárias para a produção dos tijolos a estes produtores. De 2006 até dezembro de 2008,

1.200 famílias de baixa renda haviam sido beneficiadas, 550 mil tijolos haviam sido

produzidos, e 1.800 cômodos foram construídos, de 10 metros quadrados cada (PRAHALAD,

2010).

As experiências aqui apresentadas compõem importantes relatos para o entendimento

do contexto social de grande parcela da população empreendedora, principalmente daqueles

que dependem fundamentalmente do microcrédito para sua atuação no ambiente de negócios.

Iniciativas como as relatadas desenvolvidas por empresas privadas demonstram que não

apenas o governo ou instituições públicas são capazes de gerar possibilidades de micro-

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financiamento; antes, há um mercado potencial enorme que pode ser explorado por setores

privados, desde que haja um planejamento para a criação de frentes de apoio aos pequenos

empreendedores e suporte para as condições sociais das famílias que se engajam neste tipo de

atividade.

A atividade empreendedora no Brasil concentra boa parte das características

encontradas na maioria dos países, ressaltadas no tópico anterior, mas apresenta algumas

peculiaridades que dialogam com aspectos específicos de sua economia e de sua sociedade.

Muitas de suas características se assemelham ao perfil empreendedor de outras populações da

América Latina; outras estão atreladas a questões inerentes ao perfil da população brasileira.

Segundo dados do GEM, o Brasil apresenta uma atividade empreendedora típica dos

países em desenvolvimento: altos índices de empreendedorismo inicial, mas

fundamentalmente por motivações de necessidade (quando a atividade empresarial é o último

ou único recurso para obtenção de renda) do que por motivações de oportunidade (quando a

atividade empreendedora é uma escolha planejada e colocada em prática pela análise

organizada das oportunidades de mercado existentes). Além disso, o índice de famílias

dependentes da renda advinda da mulher é crescente, tanto pelo desemprego do cônjuge,

quanto pela existência de famílias monoparentais (isto é, com a liderança única da mãe na

família, e ausência do pai – seja por abandono, seja por separação ou divórcio).

Na análise do gráfico da figura xx, pode-se observar que o Brasil apresenta taxas

acima das médias da América Latina e do mundo com relação aos negócios estabelecidos

pelas mulheres. Já com relação aos níveis de fracasso dos negócios femininos, e às taxas de

empreendedorismo inicial (TEA rates), sua média está muito similar ao dos seus vizinhos

continentais e dos demais países avaliados pela pesquisa do GEM. No entanto, com relação às

intenções para a atividade empreendedora, o percentual brasileiro está consideravelmente

abaixo dos demais países de sua região e do mundo (20% contra 30%).

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Gráfico 6. Comparativo entre taxas de intenção de empreender, taxas iniciais de empreendedorismo (TEA

rates), negócios estabelecidos e taxas de fracasso em negócios, exclusivamente femininas, no Brasil, na média

da América Latina e Caribe, e média de todos os países pesquisados pelo GEM Special Report 2015. Fonte:

GEM Special Report Women’s Entrepreneurship 2015. Disponível em: <http://www.gemconsortium.org/>.

Acesso em: 6 jan. 2016.

Entretanto, antes de lançar um olhar aprofundado a respeito das características do

empreendedorismo feminino no Brasil, há que se observar os principais dados sociais e

demográficos comparativos entre os gêneros no país, tendo em vista que este contexto será

capaz de propiciar uma análise mais completa a respeito da condição da mulher brasileira e as

suas relações com o trabalho.

Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios) 2012,

realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a população brasileira

ocupada era composta por 62,1% de empregados (58,3 milhões), 20,8% de trabalhadores por

conta própria (19,5 milhões), 6,8% de trabalhadores domésticos (6,4 milhões) e 3,8% de

empregadores (3,6 milhões).

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Gráfico 7. Distribuição percentual de pessoas de 15 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência,

segundo a posição na ocupação de trabalho principal no Brasil, comparativo entre dados de 2011 e 2012.

Fonte: Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/defa

ult.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.

Há, ainda, evidências importantes sobre o crescimento da participação das mulheres

no total de pessoas ocupadas no Brasil. Segundo o levantamento do IBGE, o percentual de

ocupação cresceu 27,3%, entre 2001 e 2011, e ficou acima, portanto, do crescimento da

ocupação total, que foi de 22,9%. Se consideradas apenas as mulheres que estão à frente de

um negócio (empregadoras e conta própria), a participação feminina aumentou de 28,7%, em

2001, para 30,8%, em 2011.

O tipo de emprego para a atividade produtiva muda bastante de acordo com o gênero.

Embora a inserção como empregador e conta própria seja mais frequente entre os homens

(29,2%), é verificado um percentual expressivo entre as mulheres (17,8%). Nesse sentido,

apesar da prevalência do assalariamento, outras formas de inserção produtiva são bastante

relevantes para as mulheres, entre as quais a ocupação por conta própria.

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Gráfico 8. Distribuição dos ocupados por posição na ocupação, segundo gênero – Brasil, 2011 (em %).

Fonte: IBGE, Pnad. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas:

2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e

Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São

Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso

em: 20 fev. 2016.

Quando se menciona a renda, o distanciamento entre os gêneros alcança os patamares

mais elevados entre todos os índices comparativos. Ainda segundo o IBGE, em 2012 o

rendimento médio mensal real de trabalho dos homens foi de R$ 1.698,00 e das mulheres foi

de R$ 1.238,00. Outra forma de verificar a diferença entre o rendimento recebido por homens

e por mulheres é através da proporção de pessoas que recebiam até um salário mínimo: 23,7%

dos homens ocupados recebiam até um salário mínimo, enquanto para as mulheres este

percentual era de 33,3%. Além disso, havia proporcionalmente mais mulheres ocupadas sem

rendimentos ou recebendo somente em benefícios (9,0%) do que homens (4,9%).

O rendimento médio no trabalho principal das pessoas ocupadas registrou um aumento

real de 16,5% no período de 2001 a 2011. As mulheres e os trabalhadores informais foram os

que apresentaram os maiores ganhos reais (22,3% e 21,2%, respectivamente). A desigualdade

de rendimentos entre homens e mulheres tem se reduzido nos últimos anos, mas as mulheres

ainda recebem menos que os homens (em média, 73,3% do rendimento deles). Além disso,

pode-se constatar que, entre os mais escolarizados (12 anos ou mais de estudo), a

desigualdade de rendimentos é mais elevada, dado que as mulheres recebem 59,2% do

rendimento auferido pelos homens.

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Gráfico 9. Percentual do rendimento médio das mulheres ocupadas em relação ao rendimento médio dos

homens, segundo grupos de anos de estudo – Brasil – 2001-2011. Fonte: Síntese de Indicadores Sociais: uma

análise das condições de vida da população brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/def

ault.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.

De 2001 a 2011, a proporção de pessoas ocupadas em trabalhos formais registrou

aumento de 10,7 pontos percentuais, e se concentrou na segunda metade do período

considerado (2006 a 2011) com 8,6 pontos percentuais. No caso das mulheres, o avanço foi

ainda maior: 9,9 pontos percentuais. O país, entretanto, continua registrando ainda um grande

volume de sua capacidade produtiva (sendo homens ou mulheres) em trabalhos informais:

44,2 milhões de pessoas. As regiões Norte e Nordeste apresentaram as menores taxas de

formalidade (37,0% e 38,0%, respectivamente) e as taxas de informalidade das mulheres

nessas regiões foram as mais elevadas do país. Estes índices de tipo de ocupação – formal ou

informal – são extremamente importantes para a análise do ambiente empreendedor no país,

pois estes dados demonstram previamente que a sociedade brasileira contempla boa parte de

seus trabalhadores sem garantias formais do mercado assalariado, o que pode caracterizar o

grande número de profissionais que buscam no empreendedorismo uma saída para melhores

condições de renda do que as estipuladas pelo mercado de trabalho informal.

Page 46: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

45

Gráfico 10. Distribuição percentual de pessoas ocupadas em trabalho formal e informal, segundo o gênero.

Brasil – 2001-2011. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas:

2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e

Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo:

DIEESE, 2013. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso

em: 20 fev. 2016.

Com relação ao aspecto educacional no mercado de trabalho brasileiro, a população

mais escolarizada tende a procurar trabalhos mais formalizados. Em 2011, a média de anos de

estudo da população nestes trabalhos era de 9,2 anos para os homens e de 10,7 anos para as

mulheres. Nos trabalhos informais, a média era de 6,1 anos e 7,3 anos, respectivamente.

Assim, as mulheres ocupadas apresentam uma escolaridade média superior à dos homens, em

mais de um ano, em ambos os tipos de trabalho.

Considerando o panorama acima descrito do contexto social brasileiro, pode-se avaliar

que há fatores no perfil da população que demonstram um ambiente propício para o alto

índice de atividade empreendedora feminina no país: altos índices de informalidade, maior

qualificação educacional feminina, distanciamento nos salários pagos entre homens e

mulheres, menor acesso ao mercado de trabalho formal pelas mulheres. Embora estes dados

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46

acima apresentados já sejam condicionantes de um ambiente empreendedor, faz-se necessária

a avaliação de dados específicos relacionados à atividade empreendedora no país. Em parceria

com o Dieese, o Sebrae realizou um amplo estudo para analisar o perfil do empreendedorismo

feminino no país: o Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e

Pequenas Empresas, que abarca dados compilados entre 2001 e 2011.28

Segundo este estudo, o número de empreendedoras cresceu 21,4% no período de dez

anos. A participação dos homens à frente dos micro e pequenos negócios, por sua vez, subiu

9,8% no mesmo período. O estudo também revela que as mulheres que estão montando o seu

próprio negócio são bastante jovens: 41,3% têm entre 18 e 39 anos e 52% têm entre 40 e 64

anos. Além disso, cerca de 40% delas são chefes de família, sendo que a maioria (70%) tem

ao menos um filho.

Considerando a soma de empregadores e conta própria29 como o número aproximado

de empreendedores no país, verifica-se que o total passou de 20,2 milhões para 22,8 milhões,

com expansão de 2,6 milhões de novos empreendedores, entre 2001 e 2011. A maioria dos

novos empreendedores são homens (1,4 milhão), contudo, a participação feminina cresce no

período analisado, saindo de 28,7%, em 2001, para 30,8%, o que, em números absolutos,

alcança sete milhões de empreendedoras.

28O estudo considera, além do levantamento realizado pelo Sebrae e pelo Dieese, dados divulgados pela Pnad

2011, realizado pelo IBGE. 29 Trabalhador por conta própria: de acordo com o IBGE, se refere à pessoa que trabalha explorando o próprio

empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado, ainda que contando com ajuda de trabalhador não

remunerado. Empregador: conforme o IBGE, se refere à pessoa que trabalha explorando o próprio

empreendimento, com pelo menos um empregado. In: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em

micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento

Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos,

tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso

em: 20 fev. 2016.

Page 48: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

47

Gráfico 11. Evolução da estimativa do total de empreendedores no Brasil (soma dos empregadores e dos

trabalhadores por conta própria), por gênero, Brasil 2001-2011, em mil pessoas. Fonte: Anuário das mulheres

empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela

elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso

em: 20 fev. 2016.

Ao analisar a escolaridade dos empregadores e trabalhadores por conta própria, em

2011, nota-se que esse atributo é muito contrastante entre os dois grupos. Os dados mostram

que, entre os empregadores, a proporção de pessoas com escolaridade superior é maior,

principalmente entre as mulheres. Neste grupo, o percentual de mulheres com ensino superior

completo é de 33,4%, enquanto o de homens fica em 23,2%. Do total de empregadores,

percebe-se que somente 1,7% são mulheres analfabetas. Já entre as que trabalhavam por conta

própria, o percentual era superior, de 6,4%.

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48

Gráfico 12. Distribuição dos empregadores e trabalhadores por conta própria por gênero e porte da empresa,

segundo a escolaridade – Brasil – 2011 (em %). Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras

em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas;

Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da

pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso

em: 20 fev. 2016.

Já com relação às principais atividades desenvolvidas pelas empreendedoras

brasileiras, nota-se que há uma relevante predominância no setor de serviços voltados à

estética (13,6%) e no setor comercial, principalmente o relacionado ao vestuário e à

alimentação (6,3% e 4,9%, respectivamente).

Tabela 3. Relação das 10 principais atividades de empregadores em microempresas e conta própria por

mulheres – Brasil – 2011. Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e trabalhadoras em micro e pequenas

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empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas; Departamento Intersindical de

Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos].

– São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso

em: 20 fev. 2016.

Outro aspecto importante relacionado à análise do perfil da empreendedora é o acesso

ao microcrédito. Nota-se, pelo estudo, que há um acesso preponderante das mulheres ao

Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, que é desenvolvido pelo governo

federal brasileiro e é destinado a pessoas físicas e jurídicas empreendedoras de pequeno porte,

com renda bruta anual de até R$ 120 mil. Em 2012, 63,9% dos empreendedores que tiveram

acesso ao programa eram mulheres, contra 36,1% de homens. Em valores concedidos, as

mulheres tiveram acesso a mais de R$ 3,8 milhões em microcrédito, e tomaram 61,3% dos

empréstimos concedidos.

Tabela 4. Distribuição dos microempreendedores atendidos e dos valores concedidos pelo Programa Nacional

de Microcrédito Produtivo Orientado. Brasil – 2009-2012. Fonte: Anuário das mulheres empreendedoras e

trabalhadoras em micro e pequenas empresas: 2013 / Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas; Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos [responsável pela elaboração

da pesquisa, dos textos, tabelas e gráficos]. – São Paulo: DIEESE, 2013. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/Anuario_Mulheres_Trabalhadoras.pdf>. Acesso

em: 20 fev. 2016.

Em resumo, a mulher empreendedora brasileira reúne entre as suas principais

características: potencial de investimento maior em capacitação; tem maior grau de

escolaridade do que os homens (as empresárias com Ensino Médio completo representam

quase o dobro de homens com a mesma escolaridade); buscam mais informações para o seu

desenvolvimento como profissionais e para o desenvolvimento de seu negócio (PIRES, 2013).

O empreendedorismo, tal como já analisado nas páginas anteriores, se torna possível, e

com amplas possibilidades de fortalecimento, a partir da geração de oportunidades de

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capacitação e educação. Quanto mais qualificadas e capacitadas estiverem as mulheres

empreendedoras, mais chances seus negócios terão de prosperar e de seguir uma trajetória de

êxito. Neste sentido, as diversas possibilidades de acesso facilitadas pelo formato de educação

à distância (ou aprendizagem virtual, como os principais cientistas da área preferem

mencionar) facilitam a amplificação do alcance da qualificação de mulheres empreendedoras

(tanto iniciantes, quanto já estabelecidas). E, por este motivo, faz-se necessária uma análise a

respeito da conceituação da aprendizagem virtual, bem como do seu papel na disseminação de

conteúdo para a formação educacional nos dias atuais.

2.2 Aprendizagem virtual e educação à distância: desafios brasileiros, obstáculos à

equidade de gênero e principais plataformas de trabalho

A qualificação técnica para o trabalho, independentemente da área de atuação

(empreendedorismo, como objeto de análise desta pesquisa, ou quaisquer outras) enfrenta

hoje, no Brasil e no mundo, uma série de desafios para ampliar o seu alcance e possibilitar a

formação profissionalizante nas mais diversas atuações solicitadas pelo mercado de trabalho.

Entre eles, a amplificação e as barreiras de acesso, e a constituição de modelos pedagógicos

mais integradores – e que permitam que o papel do professor passe de instrumentador para o

de tutor e curador, com uma participação mais ativa do aluno – constituem as grandes

dificuldades do campo educacional em todo o globo.

Em países em desenvolvimento como o Brasil, os desafios são ainda maiores. Suas

dimensões continentais, uma população de proporções gigantescas e com um alto grau de

diversidade regional, aliados a políticas governamentais de escassez de investimentos

educacionais e baixo acesso à educação formal pela população constituem sérios agravantes

para o desenvolvimento pleno da qualificação profissional no país.

O ensino por meio da educação à distância (EAD), ou ainda pela aprendizagem

virtual, como alguns estudiosos da área preferem chamar a modalidade, apresenta-se como

uma importante metodologia para ampliar o acesso da população a conteúdos e para a

capacitação em diversas plataformas de interação, que não seriam possíveis, em muitos casos,

pelo método presencial. No resultado da combinação entre educação e plataformas de

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comunicação, é possível o alcance de um grande número de pessoas, pela possibilidade de

utilização de variados recursos didático-tecnológicos – como ensino por correspondência,

programas radiofônicos e de TV educativa com recepção aberta ou controlada, videotextos e

programas de softwares educativos (NISKIER, 1999). Schlemmer (2010, apud VALENTINI;

SOARES, p. 145) considera que a EAD amplia o acesso à educação para um número maior de

pessoas, possibilitando que elas possam interagir e produzir conhecimento de forma flexível,

independentemente de sua localização física. Apesar de seus atrativos, devido ao seu baixo

custo para os usuários e a velocidade de transmissão com que as informações podem ser

compartilhadas, a educação à distância é vista, por vezes, como educação de “segunda

classe”, carregando talvez estigma semelhante ao da falta de credibilidade de muitas fontes na

internet, desacreditadas justamente por não serem provenientes de produtores de conteúdos

tradicionais ou já estabelecidos no mercado (ALMEIDA, 2003).

O acesso a distância constitui-se apenas um dos benefícios da modalidade a distância.

Além dele, pode-se mencionar o aspecto do auto-controle, tanto do conteúdo apresentado,

quanto do tempo: possibilita-se ao aluno controlar o horário e o tempo disponibilizado para

cada aula, e a velocidade das interações – assim, o sistema torna-se quase que individual, pois

permite que cada aluno estude em seu ritmo e de acordo com as suas necessidades e

possibilidades.

A gratuidade da modalidade, possibilitada, em algum grau, por uma série de entidades

educacionais (desde conteúdos profissionalizantes, como os do Sebrae, até conteúdos do

ensino superior, como os propiciados por escolas como Fundação Getúlio Vargas, no Brasil, e

Harvard, nos EUA) caracteriza um importante benefício de acesso à educação para muitos

alunos – destacadamente para os que proveem de camadas mais pobres da população. A

localização geográfica do aluno e da instituição, e ainda os custos consideráveis da educação

presencial (que envolvem não apenas o pagamento do curso, mas também despesas como

transporte e alimentação) fortalecem ainda mais a necessidade de ampliação da metodologia

virtual para ensino.

Assim, a EAD contempla um processo que constrói e socializa o conhecimento,

permitindo seu acesso a qualquer pessoa, independentemente do tempo e do espaço. Além

disso, permite que o usuário seja agente ativo do processo de aprendizagem, de forma

cooperativa e colaborativa consigo mesmo e com seus pares (SCHLEMMER apud

VALENTINI; SOARES, 2010, p. 146).

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52

A caracterização da educação à distância faz-se necessária na medida em que o seu

entendimento trará luz ao impacto de seus benefícios frente à modalidade presencial. Segundo

a Secretaria de Educação a Distância (Seed), a educação a distância

é a modalidade educacional na qual a mediação didático pedagógica nos processos

de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de

informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades

educativas em lugares ou tempo diversos (BRASIL, Decreto 5.622, de 19/12/2005.

disponível em: <http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/portarias/dec5622.pdf >,

apud VALENTINI; SOARES, 2010, p. 146).

No que tange à legislação, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

menciona ainda, em seu Artigo 80, que

os Municípios, os Estados e a União deverão prover cursos presenciais ou à

distância aos jovens e adultos insuficientemente escolarizados (NISKIER, 1999).

(Negrito da autora).

Por insuficientemente escolarizados, o Brasil apresenta dados que comprovam a

grande carência da população neste sentido. Conforme dados30 da OCDE (OCDE apud

CHAN; TAMI, 2015), o Brasil ficou entre os últimos colocados no exame de 2012 do

Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, mais conhecido como PISA. Entre 65

países, o Brasil alcançou as posições de 58º. lugar, para o exame de matemática, e de 55º.

lugar para o exame de leitura. Um dado alarmante é o nível de investimento por aluno no país.

Por ano, no Ensino Médio, são gastos 2.751 dólares por aluno – a Rússia, outro país em

desenvolvimento como o Brasil, gasta 4.100 dólares. Outro dado preocupante é o número de

crianças ainda fora da escola. Segundo a pesquisa PNAD de 2012 (IBGE apud CHAN;

TAMI, 2015), há mais de 3,3 milhões de crianças entre 4 e 17 anos fora da escola.

O desafio, no Brasil, com relação à educação básica, ainda alcança proporções

continentais. Segundo a mesma PNAD de 2012, o número a seguir é desanimador: 45,5% da

população brasileira acima dos 25 anos não tem o ensino fundamental completo. No entanto,

a matrícula e a presença na escola não são os únicos problemas. A qualidade do aprendizado

demonstra que a educação brasileira ainda é insuficiente e de baixo nível. Segundo dados da

Prova Brasil 2011, nove entre dez estudantes não aprenderam o que deveriam em matemática,

30 Dados extraídos de CHAN, Iana, TAMI, Julia. Os desafios da educação brasileira em números. Disponível

em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/indicadores/educacao-brasileira-numeros-850741.shtml>. Acesso em:

19 mar. 2016.

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53

e sete em cada dez não aprenderam o que deveriam em português, no último ano do Ensino

Fundamental (9ª. série).

E quando nos referimos à estrutura disponível para o ensino nas escolas, os dados não

são positivos também. Segundo dados do site Qedu.org.br, mais da metade das escolas

públicas no país, considerando os anos iniciais do Ensino Fundamental, estão ou em sinal de

alerta, ou em estado de atenção, conforme gráfico abaixo.

Gráfico 13. Situação das escolas no Brasil, Ideb 2013. Disponível em:

<http://www.qedu.org.br/brasil/ideb?dependence=5&grade=1&edition=2013>. Acesso em: 19 mar. 2016.

O acesso à tecnologia dentro das escolas apresenta-se como um importante entrave à

expansão de novas metodologias de ensino com o uso de computadores e da internet. No

total, segundo dados do Censo Escolar 2014, apenas 61% das escolas de educação básica no

país tinham acesso à internet, e, destas, um número menor tinha acesso à rede por meio de

banda larga (51%). O laboratório de informática é presente ainda em menor grau: apenas 45%

das escolas dispõem dele.

Gráfico 14. Tecnologia disponível nas escolas de educação básica no Brasil. Fonte: Censo Escolar/INEP 2014.

Organizado por Merrit. Disponível em: <http://www.qedu.org.br/brasil/censo-

escolar?year=2014&dependence=0&localization=0&education_stage=0&item=>. Acesso em: 19 mar. 2016.

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Gráfico 15. Estruturas disponíveis nas escolas de educação básica no Brasil. Fonte: Censo Escolar/INEP 2014.

Disponível em: <http://www.qedu.org.br/brasil/censo-

escolar?year=2014&dependence=0&localization=0&education_stage=0&item=>. Acesso em: 19 mar. 2016.

Mesmo com o acesso ao computador e à internet na escola, o seu uso não é garantido

pela sua simples presença na escola. A decisão do professor demonstra ser questão relevante

no acesso do aluno a estes recursos. Entre os professores entrevistados pelo questionário

Prova Brasil 2011, apenas 68% utilizam o computador como método de ensino -

(considerando que 20% não o usavam porque a escola não o tinha, e 12% o consideravam que

não eram necessário no aprendizado). A internet é utilizada apenas por 62% dos professores,

contra 12% que não a consideram necessária no ensino, e 26% que não a usam porque a

escola não dispõe deste recurso.

Gráfico 16. Uso de computadores na metodologia de ensino. Fonte: site QEdu.org.br. Disponível em:

<http://www.qedu.org.br/brasil/pessoas/professor>. Acesso em: 19 mar. 2016.

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Gráfico 17. Uso de internet na metodologia de ensino. Fonte: site QEdu.org.br. Disponível em:

<http://www.qedu.org.br/brasil/pessoas/professor>. Acesso em: 19 mar. 2016.

Apesar dos dados alarmantes a respeito do panorama da educação brasileira, o cenário

atual aponta que a EAD pode tornar-se em breve a principal modalidade para possibilitar a

expansão do ensino no país. Segundo dados do Censo EAD.br 2013, realizado pela

Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), havia, neste ano, mais de quatro

milhões de matrículas em cursos a distância, distribuídas entre 15.733 cursos, sendo a maior

parte delas em cursos livres para o público em geral (40,3%) (ABED, 2013).

Outro dado importante é a relação intrínseca da EAD com o mercado de trabalho.

Mais de 80% dos cursos a distância, segundo o censo da ABED, são dedicados à formação e

qualificação profissional.

Ao relacionar a educação a distância com o perfil do aluno que o escolhe como

método de ensino, mostra-se que as mulheres constituem público importante desta

metodologia. Segundo a ABED, o principal perfil do aluno a distância é feminino, maduro e

ocupado. Elas representam, segundo o censo de 2013, 56% dos alunos dos cursos

regulamentados totalmente a distância de modo geral. Elas são minoria apenas nos cursos

corporativos (45,5% contra 54,5%). O perfil etário deste tipo de aluno também parece

demonstrar certa predominância de adultos maduros. Em 60% das instituições pesquisadas, a

faixa etária predominante é entre 31 a 40 anos.

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Tabela 5. Perfil do aluno de EAD, em todos os tipos de curso. In: ABED. Censo EAD.br: relatório analítico da

aprendizagem a distância no Brasil 2013. Curitiba: Ibpex, 2014. Disponível em:

<http://www.abed.org.br/censoead2013/CENSO_EAD_2013_PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2016.

Tabela 6. Perfil etário dos educandos dos cursos EAD oferecidos pelas instituições formadoras participantes do

Censo EAD.br 2013. In: ABED. Censo EAD.br: relatório analítico da aprendizagem a distância no Brasil 2013.

Curitiba: Ibpex, 2014. Disponível em:

<http://www.abed.org.br/censoead2013/CENSO_EAD_2013_PORTUGUES.pdf>. Acesso em: 19 mar. 2016.

Entre os dados que se constituem ainda como um desafio à expansão da educação a

distância no país, pode-se mencionar quatro elementos principais: a evasão dos alunos – entre

10,5% e 16,9% - e a resistência de três elementos: a da migração do ensino presencial para o

ensino a distância, a dos alunos e a dos professores (ABED, 2013).

Tabela 7. Índices de evasão registrados no período 2010-2013 pelos Censos EAD.br da ABED. In: ABED.

Censo EAD.br: relatório analítico da aprendizagem a distância no Brasil 2013. Curitiba: Ibpex, 2014.

Disponível em: <http://www.abed.org.br/censoead2013/CENSO_EAD_2013_PORTUGUES.pdf>. Acesso em:

19 mar. 2016.

Outro grande desafio trata da desequilibrada participação regional no país nos cursos

de EAD. Apesar dos alunos não dependerem de suas localizações geográficas para acesso aos

cursos a distância, há uma maciça concentração de alunos matriculados nas regiões Sudeste

(45%) e Sul (40%). Isso demonstra que as regiões que mais poderiam se beneficiar deste tipo

de metodologia, por apresentarem distâncias continentais aos cursos presenciais, e

concentração de populações com menores níveis de renda, acabam por perpetuar a mesma

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lógica perversa dos cursos presenciais – ou seja, pode-se observar que a questão de acesso não

trata apenas de distâncias geográficas, mas, também, de acesso a ferramentas tecnológicas,

cultura de uso da internet e do computador, ou mesmo da amplificação do conhecimento a

respeito do método a distância de ensino.

Gráfico 18. Distribuição geográfica de matrículas em cursos EAD regulamentados totalmente a distância. In:

ABED. Censo EAD.br: relatório analítico da aprendizagem a distância no Brasil 2013. Curitiba: Ibpex, 2014.

Disponível em: <http://www.abed.org.br/censoead2013/CENSO_EAD_2013_PORTUGUES.pdf>. Acesso em:

19 mar. 2016.

Com a tecnologia das plataformas virtuais, a educação brasileira tem uma aliada de

peso para enfrentar alguns importantes desafios, tais como a erradicação do analfabetismo, a

universalização do ensino fundamental, a melhoria da qualidade do ensino e a formação para

o trabalho (NISKIER, 1999).

Além da questão da acessibilidade e de melhoria da escolarização, o processo

pedagógico tradicional, no qual o aluno não interfere e pouco interage com o professor, está

seriamente em risco atualmente. A mudança no perfil do aluno, mais questionador e

indisciplinado do que antes, aliado à dificuldade na assimilação do conteúdo meramente

“transmitido” pelo professor, exigem que o processo de educação seja continuado – e não

apenas durante as aulas – e que tenha por objetivo o educar para pensar, promovendo, nos

alunos, o desejo de aprender a aprender (NISKIER, 1999).Niskier (1999) complementa ainda

que o ensino presencial tem ainda outras desvantagens. Entre elas, pode-se destacar o

tratamento homogêneo dado a todos os alunos; o uso de métodos pontuais de avaliação do

aprendizado restrito a provas e trabalhos escritos; baixo rendimento escolar; e a

heterogeneidade de rendimento escolar entre escolas situadas em regiões mais desenvolvidas,

e aquelas situadas em áreas mais carentes do país.

Para tal mudança, a legislação brasileira contribuiu definitivamente com a

promulgação da LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que permitiu a criação de novas

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modalidades de cursos, podendo ser incorporados novos conteúdos, práticas pedagógicas e

procedimentos de avaliação.

A construção coletiva especializada para os conteúdos programáticos dos cursos tem

sido uma defesa constante por especialistas da área de educação nos dias de hoje, no lugar do

saber individualizado e transmitido por um único professor. Niskier (1999) apresenta o

modelo desenvolvido pelo especialista Michael Moore para um sistema de educação à

distância, e que contempla, em sua base, a interface entre diversos meios e atores, e que, em

conjunto, interagem para propiciar um processo educacional multidirecional.

Fontes Desenho Apresentação Interação Ambiente de

Aprendizagem

Organizações Desenho instrucional Escrita Instrutores Local de

trabalho

Teoria / História Mídia Gravações de áudio /

vídeo Orientadores Residência

Filosofia Programa Rádio / Televisão Conselheiros Sala de aula

Avaliação Software Staff administrativo Centro de

aprendizagem

Audioconferência Outros alunos

Videoconferência

Redes de computação

Tabela 8. Modelo de sistema para a educação à distância. Autor: Michael Moore. Desenvolvido pela autora

com conteúdo extraído de NISKIER, Armando. Educação à distância – a tecnologia da esperança. Loyola,

1999.

Entre as características de instrumento pedagógico, pode-se afirmar que a diferença

básica entre a educação presencial e à distância é a forma de interação: na primeira, ela

acontece face a face, fisicamente; na segunda, não há contato físico – de acordo com a

plataforma a ser utilizada, a interação pode ocorrer de diversas formas: sem contato visual e

sem interação com o usuário, como pelo rádio e TV, e em alguns casos pela internet; com

contato visual, por meio de ferramentas de vídeo interativo, como o Skype; interação de voz,

com o uso do telefone ou chat via internet; interação escrita; via salas de bate-papo e

ferramentas de mensagens instantânea; pela internet; entre outras.

Entre os instrumentos pedagógicos, pode-se mencionar ainda para a educação à

distância as técnicas de auto-instrução; produção dos conteúdos (desde vídeo-aulas, jogos,

softwares interativos, arquivos de voz, e até documentos escritos); e infraestrutura para o

sistema (desenvolvimento de sites, estúdios para gravação de aulas, contratação de

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profissionais, além dos professores, específicos para o desenvolvimento dos produtos

educativos, tais como profissionais de audiovisual, webdesigners, jornalistas, curadores de

conteúdo, revisores de texto, desenvolvedores da área de tecnologia da informação, entre

outros).

Para análise do melhor canal para a educação à distância (TV, rádio, internet, entre

outros), dois aspectos são mencionados por Niskier (1999): sua viabilidade – tanto

econômica, quanto tecnológica – e sua eficácia, de aprendizagem e de desempenho do aluno.

Assim, para uma escolha adequada, há que se avaliar estes aspectos, uma vez que cada tipo de

ferramenta poderá propiciar distintos benefícios e desafios para a sua plena utilização.

Embora a expressão “educação à distância”, apresentada no tópico anterior, seja

amplamente conhecida do público em geral para designar a modalidade de ensino que difere

do ambiente presencial, muitos autores da área pedagógica se referem a este tipo de

modalidade preferencialmente por “aprendizagem virtual” ou “ambientes virtuais de

aprendizagem (AVA)”. Entre estes autores, estão Valentini e Soares (2010, p.15), que

definem a AVA como o “uso de recursos digitais de comunicação utilizados para mediar a

aprendizagem”. Além deste conceito, estas autoras vão além, explicando que seu

entendimento de AVA não é apenas o conjunto de sites hospedados na internet com

ferramentas de interação e imersão, mas sim um ambiente social, que contempla interações

cognitivas e transforma a internet em uma comunidade de interação como um todo, e não

apenas um canal pelo qual o aluno complementa ou mesmo realiza integralmente a sua

formação educacional. Neste ambiente de interação, há a mediação por meio de hipertextos,

que, segundo Costa (1999, apud LEVY, 1999, p. 254) trata-se de

uma forma não-linear de apresentar e consultar informações. Um hipertexto vincula

as informações contidas em seus documentos (...) criando uma rede de associações

complexas através de hyperlinks (...).

Desta forma, é importante destacar que o canal internet e suas interfaces gráficas não

constituem o essencial da aprendizagem virtual; antes, o que constitui a riqueza deste novo

ambiente de educação é justamente a apropriação que seus usuários (alunos, professores e

mediadores) fazem destes cenários, verdadeiras comunidades educativas de aprendizagem

virtual. Como destacam Valentini e Soares (2010, p.15), o que sustenta este ambiente é a

interação ativa entre os participantes do processo educacional, que tornam-se também co-

autores da aprendizagem – trazendo para a educação um conceito importante da internet, onde

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60

todos são autores e produtores de informação, e não meros ouvintes e receptores passivos da

mensagem.

Ainda sobre as interações, é possível que a leitura e a escrita sejam inovadas, e se

apresentem trazendo uma cadeia de informações, que são seguidas de maneira livre pelo

usuário por meio de links. Ao contrário da estrutura tradicional de texto, que massifica

igualmente a leitura, o hipertexto possibilita que o conteúdo seja modificado, e lido em uma

teia de possibilidades de raciocínio, de acordo com o interesse e com o fluxo de leitura do

usuário (SLOCZINSKI; CHIARAMONTE, 2010, apud VALENTINI; SOARES, 2010, p.

142). Considerando isso, Almeida (2003, p. 329) avalia que é preciso analisar as novas

linguagens e formas de mediação no ensino com o uso da tecnologia, uma vez que a alteração

na forma, na velocidade, e nos recursos disponíveis altera de forma impactante o processo de

aprendizado. Outro conceito é apresentado por esta autora, que denomina estes espaços

virtuais como “ambientes digitais de aprendizagem” (ALMEIDA, 2003, p. 331). Para ela,

estes ambientes são “sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte

de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação” (ALMEIDA, 2003,

p. 331).

Por isso, estudiosos da pedagogia preferem o termo “aprendizagem virtual” a usar

“educação a distância”, pois o primeiro conceito é muito mais amplo do que o segundo, e

considera as interações e o ambiente virtual como parte importante do processo educativo.

Além disso, a educação à distância geralmente se refere apenas ao canal que media as

transmissões de conhecimento, como se houvesse, pela internet, uma simples transposição do

conteúdo disponibilizado presencialmente para o conteúdo digital. Milhares de experiências

pedagógicas desenvolvidas para a modalidade virtual mostram que a internet não apenas se

trata de um benefício relacionado à questão da acessibilidade remota, mas, antes, de um

modelo totalmente novo de interação pedagógica, para o qual tanto alunos quanto professores

e mediadores deverão estar preparados para assimilar uma experiência completamente

diferente do modelo presencial de educação.

Neste sentido, a AVA se refere ao desenvolvimento de condições, estratégias e

intervenções de aprendizagem na internet, organizado de forma que propicie a construção de

conceitos pela interação entre os atores do processo educativo (alunos, professores e

mediadores) (VALENTINI; SOARES, 2010, p. 16).

No entanto, Almeida (2003, p. 329) considera o uso do termo “educação a distância” e

explica que a diferença de conceituação dependerá do enfoque dado pelo estudioso: a

abordagem pode ser baseada na comunicação, na estrutura do curso, ou ainda na separação

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física entre aluno e professor, ou no tipo de tecnologia utilizada (KEEGAN apud ALMEIDA,

2003, p. 329).

Em complemento a este conceito, Bisol (2010, apud VALENTINI; SOARES, 2010, p.

21) alerta sobre a tradicional concepção de aprendizagem. Para a autora, a tecnologia digital

não trata apenas de um método de transmissão de informações – ela atua significativamente

nos modos de interação e na apropriação do conhecimento. Com isso em mente, a relação

ensinante-aprendente se altera completamente e é reconfigurada para um modelo de tutor /

curador de conhecimentos – aluno receptor / interatuante / replicador de conhecimentos.

Assim, o conhecimento deixa se circular unilateralmente, na direção professor-aluno

exclusivamente, para se espalhar em uma rede de conexões e fluxos constantes

multidirecionais, típico do modelo de nós da internet. Isso muda, inclusive, o poder do ator

mais influente no processo de aprendizagem: se antes o professor era único em seu papel

influenciador, na modalidade virtual todos os atores do processo influenciam em maior ou

menor grau, mas não mais de acordo com a sua hierarquia no mundo físico, mas

principalmente pelo seu grau de interações no ambiente digital.

Figura 1. Fluxo do conhecimento no ambiente tradicional (à esquerda) e no ambiente virtual de aprendizagem

(à direita). Fonte: desenvolvido pela autora.

Sobre o papel do professor, e do processo de ensinar em um ambiente digital, algumas

atividades são bastante semelhantes às do processo de ensino presencial, tais como a

organização dos temas e dos conteúdos de aula, a análise de situações de aprendizagem e

planejamento de atividades, o fornecimento de informações e a provocação da reflexão nos

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alunos. No entanto, algumas ações são bastante inovadoras, como o uso de diferentes mídias e

linguagens, como o hipertexto, e a atuação do professor como tutor e/ou mediador de

conteúdos (ALMEIDA, 2003, p. 334-335).

Ao considerar esta notável mudança no fluxo do conhecimento e nos influenciadores

do processo educacional, é importante ressaltar que isto caracteriza também uma alteração nas

relações entre alunos e professores, e trazendo para este processo o ciberespaço, que se

configura como o terceiro elemento nestas relações (BISOL, 2010 apud VALENTINI;

SOARES, 2010, p. 24). Assim como demonstrado na figura 15, a partir desta nova mediação

virtual, alunos e professores se posicionam de maneira diferente de quando estavam no

ambiente tradicional: suas relações são mais integradas, cooperativas e interrelacionadas.

Como ciberespaço, pode-se entendê-lo como o

(...) espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e

das memórias dos computadores. (...) [A codificação digital] condiciona o caráter

plástico, fluido, calculável com precisão e tratável em tempo real, hipertextual,

interativo e, resumindo, virtual da informação que é (...) a marca distintiva do

ciberespaço.(LEVY, 1999, p. 93).

Ao considerar as relações aluno-professor no ambiente do ciberespaço, pode-se

afirmar que elas são construídas e sentidas de maneira mais próxima e, paradoxalmente, mais

distante, seja pela quantidade e qualidade de conexões que podem ser estabelecidas

(proximidade), seja pelo distanciamento físico das relações ou mesmo pela diminuição das

conexões em algum dado momento (distanciamento) (BISOL, 2010 apud VALENTINI;

SOARES, 2010, p. 30).

Além da reconstituição das relações no ambiente virtual, os conteúdos e o aprendizado

também se remodelam e são apropriados de maneira distinta à apropriação no modelo

tradicional.

Assim, faz-se necessária a conceituação do processo de aprendizagem neste novo

cenário. Segundo Valentini e Fagundes (2010, apud VALENTINI; SOARES, 2010, p. 33), o

aprender trata da construção e reconstrução do conhecimento, e não apenas de uma

aprendizagem a partir de um professor ou de regras, mas sim como matéria criativa que move

o aluno em busca de seu conhecimento, apropriado de acordo com suas experiências e

contexto social individual.

No entanto, é importante lembrar que o ser humano é um ser social – assim, sua

aprendizagem, e consequentemente, seu desenvolvimento, ocorrem pela participação em seu

meio. Assim, apenas o contato com o conteúdo não garantirá o aprendizado: a interação e as

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conexões, mesmo que virtuais, são essenciais para que o processo educacional evolua e se

construa eficazmente (SLOCZINSKI; SANTAROSA, 2010 apud VALENTINI; SOARES,

2010, p. 52). Ao considerar as relações sociais humanas como processo fundamental da

aprendizagem virtual, pode-se introduzir aqui a importância do conceito de aprendizagem

cooperativa, destacado por Levy (1999, p. 170-171). O autor ressalta que os processos de

aprendizagem virtual se constituem a partir de uma perspectiva de aprendizagem em grupo,

por meio do compartilhamento de bancos de dados, uso de conferências e correio eletrônico

(e-mail). Nos AVA’s, professores e alunos compartilham conteúdos e informações, com

atualizações e aprendizado simultâneos por todos os atores deste processo. Aqui, Levy ainda

apresenta uma possível redefinição do papel do professor para o processo educacional. No

lugar de mero difusor de conhecimentos (assumido, de forma mais ampla e rápida pelo espaço

virtual), ele se torna um incentivador do conhecimento, e, nas palavras do autor, um

“animador da inteligência coletiva31” (LEVY, 1999, p. 171). Suas principais atividades

passam a ser a de um curador e mediador de aprendizados, estimulando a troca de saberes,

mediando relações e liderando trajetos educacionais.

É importante ressaltar que, apesar dos aspectos positivos apresentados até o momento

com relação às possibilidades inovadoras dos ambientes virtuais de aprendizagem, ainda há

muito para evoluir, principalmente no Brasil, com relação à adoção do ciberespaço como

cenário educacional. Como já exposto no tópico anterior, e fortemente defendido por Niskier,

o pleno desenvolvimento da educação em ambiente virtual depende em alto grau não apenas

de interações e de redefinições de papéis, mas também de estrutura, investimento e,

principalmente, de adaptação. Adaptação não para modelos de atuação, mas sim para a

criação de novos modos de mediação e de criação de conteúdos. Valentini e Soares (2010,

apud VALENTINI; SOARES, 2010, p. 88) destacam que a simples digitalização dos

conteúdos, ou ainda considerar os ambientes virtuais como meros transmissores de

informação não é suficiente para o desenvolvimento de AVA’s consistentes, nem de novas

habilidades e competências para alunos e professores.

Ainda que a mudança no escopo de funções do aluno e do professor seja benéfica para

o processo de aprendizagem como um todo, há que se considerar que nem todos reagem ou

atuam da mesma forma no processo educativo. Uma visão positiva consideraria que todos

31Levy (1999, p. 164) defende que a transmissão do saber, ao longo da história, mudou sua plataforma de uso

conforme a evolução das sociedades. Após a consolidação da transmissão pelos livros e documentos impressos e

pelos sábios e cientistas, entramos hoje, pelo uso do ciberespaço, em uma era em que o saber é transmitido por

“coletividades humanas vivas e não por mais por suportes separados fornecidos por intérpretes ou sábios”

(LEVY, 1999, p. 164). Este saber não se estabelece em plataformas físicas, mas em plataformas virtuais, onde as

comunidades interagem e constroem saberes coletivamente.

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absorveriam o conhecimento neste novo modelo de maneira receptiva, e atuariam pró-

ativamente com interações e compartilhamento de conhecimentos. No entanto, faz-se

necessária, neste ponto, uma visão realista a respeito dos distintos perfis de atuação no

processo. É esperado que uma parcela de alunos, e também de professores, não atue de

maneira interativa, e talvez tenham uma receptividade igual ou até mesmo pior do que nos

ambientes de aprendizagem tradicionais. Vale relembrar que as precárias condições de

desenvolvimento sociais e de educação no Brasil não favorecem o estímulo e o

desenvolvimento de perfis de alunos e professores com competências importantes para a

aprendizagem virtual, tais como a autodidática, a disciplina e o comprometimento

retroalimentados por motivações pessoais e do ambiente em que estejam inseridos. Almeida

(2003, p. 330) lembra que a simples disponibilização de recursos e de ambientes tecnológicos

não garante que haja um pleno desenvolvimento do aprendizado, nem que o acesso a uma

nova linguagem hipertextual e a recursos de mídia possam, sozinhos, contemplar todas as

possibilidades de aprendizagem dentro do universo educacional atual.

Os desafios estão, desta forma, não na virtualização de conhecimentos prontos em

plataformas físicas, mas sim em três elementos: na transformação de relações entre os atores

do processo educacional; na reconfiguração da mediação e tutoria dos conhecimentos; e na

ressignificação da apropriação dos conhecimentos, tomados agora dentro de um contexto e

necessidades sociais individualizadas, no lugar de uma transmissão massificada, global e

descaracterizada de sentidos para os aprendizes.

A respeito desta temática, é importante integrar, neste momento, duas questões

nevrálgicas que impactam diretamente o desenvolvimento da educação atualmente: a

apropriação e uso das tecnologias para o ensino, e a mudança de um processo educacional

restrito, pré-moldado e rígido para um modelo amplo, integrado, interativo e construído em

rede. Schlemmer (2010, apud VALENTINI; SOARES, 2010, p.155) discute a respeito disso

trazendo um interessante cruzamento com a teoria de sociedade em rede de Castells (1999),

ao considerar que, na área da educação, não há espaço mais para o modelo anterior, amarrado

e estático, de aprendizagem. A autora usa o termo “cultura de aprendizagem” para designar o

momento educacional no qual vive-se hoje: o foco seria a interação, a construção de

conhecimentos e o desenvolvimento de competências e habilidades. Neste sentido, Castells

(1999, p. 69) apresenta uma valiosa contribuição para o segmento da aprendizagem virtual,

quando defende que “a atual revolução tecnológica não é a centralidade de conhecimentos e

informação, mas a aplicação desses conhecimentos e dessa informação para a geração de

conhecimentos e de dispositivos de processamento/comunicação da informação (...)”. Ou seja,

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a aprendizagem virtual tem a sua devida importância não simplesmente por apropriar-se de

tecnologias para a transmissão de conhecimentos, mas sim pela remodelação e reconfiguração

do modelo educacional como um todo, e permitindo, desta forma, uma verdadeira revolução

educativa global conectada em rede: interativa, flexível, mutante, adaptável, e em constante

transformação.

Além dos conceitos apresentados nos tópicos anteriores a respeito de educação à

distância e aprendizagem virtual, faz-se necessário o conhecimento de algumas das principais

plataformas disponíveis, até o momento, para a disponibilização e acesso dos conteúdos

educacionais.

Apesar do acesso massivo à internet ser realizado ainda, no Brasil, por meio de

hardwares fixos, como desktops, a tendência é o crescimento de acesso por meio de

tecnologias móveis e sem fio (TMSF), tais como celulares, smartphones, PDA’s, notebooks,

entre outros (SCHLEMMER apud VALENTINI; SOARES, 2010, p. 152). Estes últimos

possibilitam o acesso à internet de maneira mais remota e flexível, além de apresentar grande

viabilidade econômica, por ter custos menores do que os desktops fixos. Estas tecnologias

propiciaram o surgimento de novas modalidades educacionais, como o mobile learning (m-

Learning), o pervasive learning (p-Learning) – na qual a informação encontra o usuário, por

meio de sistemas de localização, como o GPS -, e o ubiquous learning (u-Learning) – que

permite que os processos de aprendizagem aconteçam em qualquer lugar ou tempo, com

qualquer dispositivo, integrada ao cotidiano do usuário (SCHLEMMER apud VALENTINI;

SOARES, 2010, p. 153).

É importante mencionar ainda os softwares ou plataformas, voltadas ou não para o

ramo educacional, que contribuem significativamente para o avanço da aprendizagem virtual.

Com relação aos ambientes na internet, além dos sites (componentes da chamada Web 1.0,

onde o usuário era mero receptor e leitor das informações), as tecnologias da chamada Web

2.0 – que permitiu a interação, a colaboração e a cooperação entre os usuários –

transformaram e potencializaram enormemente o processo de educação à distância. Neste

segmento, weblogs, fotologs, wikis, comunicadores instantâneos como MSN e Skype, e redes

sociais como Twitter, Facebook, Linkedin e Instagram se destacam como plataformas

integradoras de milhões de usuários, agrupados individualmente ou em comunidades virtuais

com interesses em comum.

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Não menos importante para o processo de aprendizagem virtual são as novas

tecnologias da Web 3D, tais como Metaversos (Active World, There, Second Life,

OpenSimulator, Wonderland). Estes metaversos permitem a criação de mundos digitais

virtuais em 3D (MDV3D’s), onde os usuários são apresentados como “avatares” – ou “corpos

digitais virtuais”. Há ainda, neste segmento, os MMORPG’s, que desenvolvem estratégias de

resolução de problemas; programas de realidade aumentada e misturada; e os ECODI’s, em

que a interação é, além de textual, é oral, gestual e gráfica. Neste contexto, há o surgimento de

uma nova modalidade de ensino, o Immersive Learning (i-Learning). (SCHLEMMER apud

VALENTINI; SOARES, 2010, p. 153).

Além das plataformas disponíveis atualmente para uso pela aprendizagem virtual, ela

pode ser planejada e estruturada de acordo com o tipo de suporte ou de processo envolvido na

recepção e na interação entre os agentes envolvidos. Prado e Valente (2002, p. 29, apud

ALMEIDA, 2003, p. 330) defendem que há três tipos de abordagens possíveis. A primeira

seria a broadcast, onde ocorre simplesmente a transmissão da informação pela tecnologia

utilizada, semelhantemente ao processo realizado pelo rádio e pela TV. Já a segunda

abordagem seria a virtualização da sala de aula presencial, como acontece no caso de vídeo-

aulas, e onde o conhecimento é trabalhado de maneira semelhante a uma sala de aula física. E

o terceiro modo de estruturação seria pelo “estar junto social” (ALMEIDA, 2003, p. 330), este

sim mais amplo, e que considera todo o potencial interativo e colaborativo das novas

tecnologias.

2.2.1 Educação e qualificação profissional feminina: ferramenta de empoderamento

global

Trazer à luz os conceitos de educação a distância e ambientes virtuais de

aprendizagem dá suporte para explorar a força de uma ferramenta essencial para o

empoderamento feminino. Dados levantados ao redor do globo demonstram que ainda há uma

série de entraves à educação feminina, o que significa, essencialmente, sérios riscos à

qualificação profissional, ao acesso a níveis superiores de educação e ao mercado de trabalho

– consequentemente, isso torna as mulheres mais vulneráveis à dependência marital ou

patriarcal, seja ela econômica, social ou cultural.

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Segundo dados da ONU Mulheres, cerca de dois terços dos adultos que não

completaram a educação básica em todo o globo são mulheres. Ainda segundo esta mesma

instituição, em países em desenvolvimento, uma em cada cinco meninas matriculadas no

Ensino Fundamental não conclui o primeiro ciclo de educação básica32.

E, para comprovar a importância da educação feminina para a sociedade como um

todo, e não apenas em benefício individual, calcula-se que para cada ano escolar que as

meninas frequentam depois da quarta série, os salários aumentam 20%, a mortalidade infantil

se reduz em 10%, e o tamanho da família diminui 20%33.

Em sociedades onde há o cerceamento e restrições de acesso à informação e ao

conhecimento – no todo ou em partes, no caso de proibições direcionadas exclusivamente ao

gênero feminino – o papel da comunicação, e essencialmente da capacidade de distribuição

destas comunicações a regiões remotas, a custos consideravelmente reduzidos, quando

comparados a formatos tradicionais, como o impresso, torna-se fundamental para o

empoderamento e para a educação de camadas da população que, de outra forma, se

manteriam isoladas e empobrecidas.

Quando mencionamos a importância da conexão digital, como é o caso da educação a

distância e dos ambientes virtuais de aprendizagem, para o empoderamento de comunidades,

esse valor da web reside, essencialmente, em sua capacidade de proporcionar acesso imediato

à informação (SHAPIRO; VARIAN, 1999). Este é o valor essencial para as populações

menos favorecidas economicamente: mulheres e meninas, isoladas ou proibidas de irem à

escola ou de realizarem trabalho remunerado, permanecem presas a um sistema onde a

ignorância e a falta de informação prevalecem. Segundo dados do Fundo Malala34, há hoje

aproximadamente 62 milhões de meninas fora da escola, sendo que, entre as que estudam, a

média de permanência nos bancos escolares é de apenas três anos. O acesso à informação e à

educação, possíveis a distância e a custos relativamente menores via internet, permitiriam a

ampliação da educação de comunidades com acesso restrito a este direito.

32 ONU MULHERES E ESCRITÓRIO DO PACTO GLOBAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios de

Empoderamento das Mulheres – Igualdade significa negócios, segunda edição 2011. Disponível em:

<http://www.weprinciples.org/Site/ToolsAndReportingWepMaterials/>. Acesso em: 4 jan. 2016. 33 WOMEN’S LEARNING PARTNERSHIP, apud ONU MULHERES E ESCRITÓRIO DO PACTO GLOBAL

DAS NAÇÕES UNIDAS, 2011, p. 12. 34Disponível em: <http://www.malala.org/#main/home/>. Acesso em: 23 abr. 2015.

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68

Gráfico 19. Média em anos de permanência na escola por país. Disponível em:

<http://community.malala.org/12-years-free-education-1026865390.html>, com dados da Unesco. Acesso em:

23 abr. 2015.

Desta forma, a análise da educação à distância e dos ambientes virtuais de

aprendizagem, aliados ao entendimento prévio, já apresentado, a respeito do

empreendedorismo, se tornam essenciais para a interface com o terceiro elemento do

composto proposto para o empoderamento feminino: a comunicação digital. Separadamente,

estes três elementos são componentes importantes em todas as esferas da sociedade e dos

campos de estudos científicos. Integrados, somam importantes contribuições para o

fortalecimento das mulheres, não apenas em seus negócios, mas em todas as esferas sociais de

suas vidas.

2.3 Comunicação digital: acessibilidade às tecnologias, fluxos e relações virtuais no

ciberespaço

Estabelecer as relações existentes entre o empreendedorismo, o empoderamento e a

aprendizagem virtual perpassa, obrigatoriamente, pelo conhecimento do meio de comunicação

onde estas relações se estabelecem – e, no caso deste estudo, essas relações se conectam e são

tecidas no meio digital. Assim, é fundamental analisar o quê e como a comunicação digital

influencia e altera os ambientes socioeconômicos impactados por negócios empreendedores, e

como se dão as relações e os sentidos neste ambiente – marcado, principalmente, pela

formação de fluxos, nós e redes com dinâmicas bastante diferenciadas dos ambientes físicos –

sejam de aprendizagem, sejam de realização dos negócios.

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Assim como já mencionado na introdução deste trabalho, a comunicação digital é a

teia que possibilitou, e ainda possibilita, a superação de uma série de obstáculos à expansão

do empreendedorismo feminino, principalmente devido à facilitação da acessibilidade à

informação, à educação a distância e à formação de redes colaborativas e comunidades

virtuais para troca de experiências ou mesmo de colaboração empresarial. A ferramenta

tecnológica – o computador – em conjunto com o novo ambiente de comunicação – o

ciberespaço – e a rede que conecta o fluxo de informações e une pessoas e comunidades – a

internet – se unem para dar forma a uma gama imensa de oportunidades de empoderamento

feminino, que, graças a estes três elementos, se fortalece e se expande em ritmo acelerado.

Para entender mais claramente a importância da comunicação digital no

entrelaçamento entre empreendedorismo e aprendizagem virtual, o tema será apresentado a

seguir considerando as três principais questões que impactam diretamente em seu

desenvolvimento: a acessibilidade à internet; o espaço virtual onde as relações e fluxo de

informações circulam – o ciberespaço; e as redes colaborativas que permeiam os tecidos

virtuais. Estes quesitos, juntos, possibilitam a conjunção das práticas de comunicação digital e

revelam as apropriações e os sentidos de uso assimilados por meio deste novo tipo de

linguagem.

A franca expansão da internet e o crescimento exponencial do uso de tecnologias

móveis digitais ao redor do globo – tais como tablets, telefones celulares de tipo smartphones

e notebooks – são realidades inegáveis, mas que devem ser observadas e analisadas com

cautela, principalmente por se tratar de uma expansão bastante desequilibrada do ponto de

vista geográfico e socioeconômico. Apesar do crescimento do acesso à internet e à

ferramentas digitais ser observado, atualmente, principalmente em países sub-desenvolvidos,

uma vez que em países desenvolvidos o acesso a estes recursos já é uma realidade

praticamente superada, é importante ressaltar que há diferenças regionais importantes entre os

grupos populacionais nestes países, e que influenciam e distorcem análises vistas fora de um

contexto abrangente que analise, principalmente, aspectos sociais que determinam o acesso à

tecnologia. Basicamente, há que se refletir que muitos países em desenvolvimento sequer

alcançaram ainda metas mínimas de acesso a recursos necessários à sobrevivência e à saúde,

como água, energia elétrica e coleta e tratamento de esgoto. Desta forma, o crescimento da

acessibilidade à internet e às tecnologias digitais deve ser otimista, mas ponderado,

principalmente, pelo grande desequilíbrio de acesso já existente entre as populações em todo

o planeta.

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RIBEIRO, MERLI e SILVA (2012) expõem a extensão do problema da acessibilidade digital:

O acesso equitativo e qualitativo à internet se tornou hoje um horizonte a ser

alcançado por repercutir diretamente na circulação da informação, do conhecimento

e da cultura. Não por acaso, a universalização da banda larga tem sido objeto de leis,

de programas governamentais e uma preocupação amplamente reconhecida por

organismos multilaterais.

Entre os recursos imprescindíveis para a conexão digital, podem-se citar: a energia

(sendo ela elétrica, solar, ou quaisquer outras que forneçam combustível para o carregamento

de baterias para o funcionamento dos dispositivos digitais, como computadores, notebooks,

tablets e celulares); o acesso aos dispositivos, seja por sua disponibilização a preços

acessíveis para o nível de renda destas populações, seja por locação ou ainda doação e

disponibilização de centros gratuitos para acesso aos dispositivos; e o acesso à internet – o

que pode significar problemas de acesso em áreas remotas (questões geográficas), falta de

investimento nestas regiões pelas empresas provedoras de serviços, devido à baixa

atratividade de mercado, e ainda questões culturais, religiosas e políticas, que podem coibir o

acesso ou mesmo proibi-lo inteiramente.

Segundo dados do Facebook35 de 2013, apenas 2,7 bilhões de pessoas em todo o

mundo estão conectadas à internet – ou 1/3 de toda a população global. Ou seja: 2/3 da

população de todo o mundo ainda não tem acesso à internet. O gráfico abaixo apresenta o

índice de penetração da internet e do acesso por meio de banda larga em alguns países em

desenvolvimento. Na comparação com Argentina, México, África do Sul e Índia, o Brasil se

destaca em número de usuários da rede: em dez anos, o percentual de usuários passou de

pouco menos de 5% da população para 40% - o maior índice entre estes outros países

avaliados. Apesar do crescimento exponencial do uso da internet no Brasil, de 2005 a 2010, o

volume de assinaturas de banda larga ainda é bastante tímido: passou de pouco mais de 2%

para aproximadamente 5% da população.

35 FACEBOOK. Technology Leaders Launch Partnership to Make Internet Access Available to All. Disponível

em: <https://newsroom.fb.com/news/2013/08/technology-leaders-launch-partnership-to-make-internet-access-

available-to-all/>. Acesso em: 22 abr. 2015.

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Gráfico 20. Usuários de internet em países emergentes. Fonte: UIT. Disponível em:

<http://www.caminhosdabandalarga.org.br/2012/11/capitulo-7/>. Acesso em: 22 abr. 2015.

Gráfico 21. Assinaturas de banda larga em países emergentes. Fonte: UIT. Disponível em:

<http://www.caminhosdabandalarga.org.br/2012/11/capitulo-7/>. Acesso em: 22 abr. 2015.

Segundo dados do IBGE, no Brasil, em 2012, aproximadamente 83,0 milhões de

pessoas de 10 anos ou mais de idade declararam ter acessado a internet no país nos últimos

três meses anteriores à data da pesquisa, contra 77,7 milhões no ano anterior, assinalando um

avanço de 6,8%. Observa-se ainda, por esta mesma pesquisa, que o acesso é concentrado

principalmente nas faixas etárias mais jovens, destacadamente entre os 15 aos 24 anos. Os

grupos etários mais velhos, a partir dos 25 anos, tem o nível de acesso reduzido

consideravelmente, decaindo a partir de cada nova faixa etária.

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Gráfico 22. Percentual de pessoas que utilizaram a internet, no período de referência dos últimos três meses, na

população acima de 10 anos, por faixas etárias – Brasil – 2011-2012. Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas,

Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2011-2012.

Disponível em IBGE. Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população

brasileira 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro: 2012. Disponível em:

<www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/def

ault.shtm>. Acesso em: 20 fev. 2016.

Ao avaliar o poder que o acesso digital traz a sociedades restringidas deste direito, é

consideravelmente importante analisar a problemática criada a partir destas restrições: a

chamada “exclusão digital”, associada à crescente importância das Tecnologias de Informação

e Comunicação (TIC’s) no desenvolvimento econômico dos países, torna ainda mais iminente

o risco de marginalização dos grupos excluídos das práticas educativas. Assim, um novo

prisma da exclusão social é desenvolvido, gerado a partir da incapacidade de participar da

sociedade da informação – o que significa exclusão do acesso às tecnologias e aos meios de

aprendizado para desenvolver as habilidades necessárias ao uso das novas ferramentas

digitais. (RIBEIRO, MERLI e SILVA, 2012 e CLARO, 2011).

Para minimizar o problema do acesso digital, alguns dos principais atores do mercado

de tecnologia e internet hoje desenvolvem iniciativas pioneiras que aliam o enfrentamento da

barreira geográfica e da ausência de recursos. Entre estas iniciativas, pode-se mencionar o

projeto Loon, liderado pelo Google, que oferece acesso digital a áreas remotas a partir de

balões. Segundo o site do projeto, o Loon é uma rede de balões que viaja pelo espaço, para

conectar pessoas em áreas rurais e remotas, ajudar a preencher falhas de cobertura e ajudar a

recuperar a conexão com a Internet em áreas que passaram por desastres. Entre as

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comunidades beneficiadas pelo Loon, está uma escola rural brasileira, Linoca Gayoso, que

nunca havia tido acesso à internet antes do projeto36.

A conceituação e o entendimento de ciberespaço solicita que, antes, seja apresentado o

ambiente no qual se desenvolveu e possibilitou a formação de um cenário de redes e de

linguagens hipertextuais e hipermidiáticas.

O entendimento da revolução da tecnologia da informação, segundo Castells (1999),

passa pelo entendimento do “dilema do determinismo tecnológico”. Castells argumenta que

este é um problema sem fundamentos, uma vez que “a tecnologia é a sociedade, e a sociedade

não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas” (CASTELLS,

1999, p. 43). Assim, o ambiente que propiciou o desenvolvimento pleno do ciberespaço é,

antes de tudo, fruto de uma série de elementos e conjunções sociais, econômicas e culturais

diversas. Entre estes elementos, pode-se mencionar o estímulo, gerido principalmente pelas

necessidades bélicas e científicas dos Estados Unidos em desenvolver ferramentas que

permitissem a criação de inteligências virtuais capazes de administrar, calcular e antecipar

dados e conexões em velocidades inimagináveis para cérebros humanos. A partir disso,

financiam-se e desenvolvem-se experimentos para a criação de tecnologias capazes de

possibilitar avanços consideráveis em momentos de guerra. A internet se originou desta

forma, em um projeto da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de

Defesa dos Estados Unidos (DARPA) (CASTELLS, 1999).

Neste ponto, cabe conceituar o entendimento de tecnologia, para a partir daí analisar-

se o conceito de ciberespaço. Segundo Castells (1999, p. 67), tecnologia é “o uso de

conhecimentos científicos para especificar as vias de se fazerem as coisas de uma maneira

reproduzível”. Neste conceito, reside uma das características da tecnologia digital – a da

reprodutibilidade. Tanto o fluxo de informações, quanto a criação de conteúdos de qualquer

tipo, devem ser passíveis de reprodução, a partir do uso do código binário (0 e 1), que

permitem que informações e blocos de informações sejam divididos, reagrupados e

reproduzidos no espaço virtual. Ou, nas palavras de Castells (1999, p. 68):

(...) o processo atual de transformação tecnológica expande-se exponencialmente em

razão de sua capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos mediante

uma linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada,

recuperada, processada e transmitida.

36O que é o projeto Loon? Disponível em: <http://www.google.com/loon/>. Acesso em: 22 abr. 2015.

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Neste sentido, o ciberespaço é o ambiente onde se dá a mediação desta linguagem

digital comum – e apresenta-se como o “espaço de comunicação aberto pela interconexão

mundial dos computadores e das memórias dos computadores” (LEVY, 1999, p. 92). É neste

espaço em que as informações se expandem, são geradas, armazenadas, recuperadas,

processadas e transmitidas, parafraseando Castells. Além disso, Levy lembra que uma das

principais funções do ciberespaço é o acesso a distância aos diversos recursos de um

computador. Ou seja, toda a estrutura de informações, redes, cálculos, textos, documentos

podem ser acessados remotamente graças a este ambiente virtual, que permite a replicação e

transmissão de informações a velocidades exponenciais, e jamais vista em qualquer outro

aparato tecnológico já inventado pelo homem. A possibilidade de acesso remoto às

informações constitui em si uma grande revolução, pois permite que comunidades e

indivíduos “possam comunicar-se por meio do compartilhamento de uma telememória, na

qual cada membro lê e escreve, qualquer que seja sua posição geográfica (LEVY, 1999, p.

94).

Uma reflexão importante a respeito do ciberespaço é o que Levy defende como

“suporte da inteligência coletiva”. Segundo o autor, esta característica é uma das condições de

desenvolvimento do ciberespaço, uma vez que este ambiente permite à inteligência coletiva

um cenário propício para o seu crescimento. Sua mediação permite que o fluxo de interações

das comunidades e dos indivíduos possa ocorrer com agilidade e gerar tantas informações

quantas forem necessárias e solicitadas pelos grupos atuantes.

Dentro da perspectiva de inteligência coletiva, é importante mencionar que sua lógica

perpassa um paradigma atual: a negação ao individualismo e ao isolamento. Com o advento

das tecnologias digitais, pensava-se que futuramente a tendência dos indivíduos e das

comunidades era isolar-se dia após dia, e que as pautas de interesse público desapareceriam.

O avanço do uso massivo da internet apenas demonstrou o contrário. Apesar de os interesses

estarem fragmentados em pautas específicas – como descriminalização do aborto, racismo,

direitos LGBT37 ou outros – e não mais agrupados em grandes grupos de poder político e

social, o que se observa é que a chamada “esfera pública virtual38” representa, hoje, o

principal ambiente de troca de reflexões e pode ser considerado como um dos termômetros

das principais pautas discutidas pela sociedade. O que ocorre, diferentemente do que

37 Lésbicas, gays, bissexuais e transexuais. 38 Esfera pública, segundo o conceito de Habermas, é uma “rede de comunicação de informações e pontos de

vista”. Segundo Rossini, ela se torna global e digital e ganha força ao conferir oportunidades de participação

cidadã, e ao possibilitar a construção e apropriação de conhecimento (ROSSINI, 2010, p. 209).

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acontecia antes do ambiente virtual, é que as discussões são organizadas apenas em torno de

interesses em comum pela pauta em questão; dentro de cada grupo, os perfis de usuários são

os mais heterogêneos possíveis. O que os une, no entanto, é apenas a luta pela causa ali

apresentada – muitas vezes, os integrantes dos grupos se desconhecem entre si, ou nem

consideram que os demais sejam completamente diferentes em quaisquer características que

se queira considerar (por exemplo, religião, etnia, escolaridade, classe social, entre outras).

2.3.1 Redes colaborativas e sociedade da informação: compartilhamento, criação de

conhecimento e educação

Em sociedades onde há restrições de acesso à informação e ao conhecimento, o papel

da comunicação, e essencialmente da capacidade de distribuição destas comunicações a

regiões remotas, a custos consideravelmente reduzidos, quando comparados a formatos

tradicionais, como o impresso, torna-se fundamental para o empoderamento e a educação de

camadas da população que, de outra forma, se manteriam isoladas e empobrecidas.

Considerando valores como transparência e autorregulação, podemos analisar porque

iniciativas empreendedoras que tem acesso a conexões digitais conseguem obter níveis de

sucesso e permanência consideravelmente mais altos do que iniciativas similares sem tais

conexões. Fica evidente que a comunicação transparente e sem barreiras permite que os

negócios possam se espalhar e compartilhar suas informações a um número imensamente

maior de pessoas e regiões, a custos praticamente zero. A eliminação de barreiras geográficas,

aliada ao empoderamento trazido pela autorregulação das iniciativas, permite que

praticamente quaisquer inciativas possam ter graduações consideráveis de êxito, desde que

seus membros tenham engajamento e dedicação ao negócio, eliminando-se barreiras de filtros,

censura ou ainda de custos proibitivos.

O valor da comunicação digital para o empoderamento de comunidades e negócios

empreendedores reside em alguns elementos essenciais para o sucesso destas iniciativas.

Entre eles, pode-se mencionar a abundância de informação encontrada na internet – o que

propicia, ao usuário conectado, acesso a um volume de dados que possibilita pesquisas, trocas

de informações, buscas, comparações com situações similares em outras regiões, entre outras

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possibilidades. Ainda há que se citar a possibilidade de compartilhamento, como os processos

peer to peer, que permitem processos produtivos entre pares e colaboração voluntária. Por

fim, é importante mencionar ainda que, pela web, muitos projetos se tornam economicamente

viáveis por meio de captação de financiamento coletivo (o chamado crowdfunding), e que

permite que a captação tenha maior alcance e menor custo efetivo na atividade de

arrecadação.

A ampliação do acesso à educação a distância, fundamental para o processo de

expansão das informações relacionadas ao empreendedorismo, passa, essencialmente, por

processos colaborativos de produção de conteúdo – o chamado peer to peer. Segundo

Bauwens39,

(...) o P2P designa todos os processos que visam aumentar a participação

generalizada de participantes equipotenciais. (...) [os processos P2P] produzem valor

de uso através da cooperação livre entre produtores que tem acesso a capital

distribuído: este é o modo de produção P2P, um ‘terceiro modo de produção’,

diferente da produção com fins lucrativos e da produção pública efetuada por

companhias detidas pelo estado. O seu produto não reside num valor de troca

destinado ao mercado, mas num valor de uso dirigido a uma comunidade de

utilizadores.

Outro aspecto importante do P2P é que, neste modo de produção, cada indivíduo

contribui de acordo com as suas capacidades e vontades, e retira de acordo com as suas

necessidades. Não há reciprocidade obrigatória associada. Ou seja, ao se considerar o

ambiente empreendedor, e da educação voltada ao empreendedorismo, há, por este método, a

possibilidade de construção de conhecimentos colaborativos sem a lógica do mercado em

atuação, e permite, assim, que seus usuários – leitores ou colaboradores – possam

compartilhar e construir informações apenas a partir de suas motivações individuais ou

comunitárias, sem que seja necessário aporte monetário ou financiamento de terceiros para

fomentar estas iniciativas.

Faz-se importante mencionar, ainda, os aspectos relacionados ao financiamento

coletivo (ou crowdfunding), que tratam de iniciativas de compartilhamento de recursos

financeiros em rede – o que pode ser extremamente útil para iniciativas de

empreendedorismo, principalmente em estágio inicial. Tendo como base estruturas

39 BAUWENS, Michel. A Economia Política da Produção entre Pares. Disponível em:

<http://p2pfoundation.net/A_Economia_Pol%C3%ADtica_da_Produ%C3%A7%C3%A3o_entre_Pares>.

Acesso em: 19 mar. 2016.

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referenciadas no P2P, projetos que captam recursos por meio de crowdfunding apresentam

maior facilidade de captação, por permitirem a qualquer pessoa (sendo física ou jurídica) a

realizarem a doação, sendo ela de quaisquer valores, ou valores previamente estipulados (mas,

que de maneira geral, apresentam valores mínimos bastante acessíveis). Segundo a pesquisa

Retrato Financiamento Coletivo Brasil 2013/201440, 74% das pessoas que fazem o

financiamento coletivo acontecer no Brasil ganham até R$ 6.000,00 por mês. Outro dado

interessante refere-se à arrecadação: 25% dos realizadores dos projetos financiados

arrecadaram entre R$ 10 a 20 mil, e outros 25% arrecadaram entre R$ 20 a 50 mil. Ou seja: os

doadores são pessoas com faixa de renda da classe média, e o valor arrecadado total é

consideravelmente baixo, quando comparado a outros projetos bancados pela iniciativa

privada ou governos.

No entanto, a colaboração em rede e o compartilhamento de saberes na sociedade da

informação trazem à superfície não apenas aspectos relacionados à construção compartilhada

de conteúdos, como o peer-to-peer, ou o financiamento coletivo, como o crowdfunding. A

comunicação digital transformou os processos educacionais como um todo – e pode-se falar

que se vive, no momento, uma economia do saber (LEVY, 1999). Se nas economias

industriais e de serviços (formadas, em grande parte, pelo período dos séculos XIX e XX) a

propriedade de bens, de capitais e de recursos traduziam a riqueza de homens, sociedades e

nações, hoje, o que distingue o poder dos países e a valorização dos profissionais no mercado

de trabalho são os seus saberes, sua capacidade de criação e de inovação e o seu nível

educacional. Considerando isto, é inevitável que a demanda pela educação e qualificação

profissional cresça exponencialmente, e as redes digitais contribuam de maneira significativa

para este processo. Levy (1999, p. 171) traduz esta contribuição no campo educativo com o

uso do termo “aprendizagem cooperativa”. Segundo o autor, a aprendizagem cooperativa traz

a perspectiva da inteligência coletiva para o domínio educacional, por meio da mudança nos

processos de aprendizagem – no lugar da transferência dos cursos presenciais, há, pela

comunicação digital, conteúdos mediados em formatos hipermídia interativos. Com relação

ao compartilhamento, é importante mencionar ainda o Computer Supported Cooperative

Learning (CSCL), que, em tradução livre, seria o “Aprendizado Cooperativo suportado por

Computadores”. Em outras palavras, os CSCL são uma espécie de “campus virtuais”, ou

dispositivos informatizados de aprendizagem em grupo especialmente concebidos para o

compartilhamento de bancos de dados e o uso de conferências e correio eletrônicos (LEVY,

40http://pesquisa.catarse.me/, acessado em 23/04/2015.

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1999, p. 171). Assim, nestes ambientes, é possível compartilhar recursos e informações entre

todos – alunos e professores – com atualizações constantes, possibilitando, assim, a formação

continuada entre todos os atores do processo.

A economia do saber não implica mudanças apenas com relação à valorização do

conhecimento, em detrimento de aspectos materiais. Ela altera todos os sistemas de valoração

de competências profissionais, uma vez que a velocidade de aquisição, valorização e

desvalorização dos conhecimentos é tomada em um ritmo cada vez mais sobre-humano.

Como bem avaliou Levy (1999, p. 157), “pela primeira vez na história da humanidade, a

maioria das competências adquiridas por uma pessoa no início de seu percurso profissional

estarão obsoletas no fim de sua carreira”. Isso implica uma mudança profunda no modelo

pedagógico de construção dos saberes. Baseadas em conceito fortemente arraigado ainda hoje,

carreiras profissionais são pensadas e estruturadas para durarem uma vida inteira. No entanto,

diante deste panorama, este modelo não mais se adequa a uma realidade onde a constante

mudança é a única certeza no percurso profissional e educacional.

A respeito desta mudança no perfil das sociedades, como já mencionado, para uma

economia do saber, Castells (1999, p. 41) levanta uma importante reflexão a respeito dos

aspectos valorizados atualmente entre os homens: “cada vez mais, as pessoas organizam seu

significado não em torno do que fazem, mas com base no que elas são ou acreditam que são”.

Isto remete à valorização dos conhecimentos e saberes adquiridos, mais do que à aplicação

técnica e instrumentalizada para um determinado fim ou aplicação mercadológica.

A partir disso, a ideia de “economia do saber” se fortalece quando a sociedade passa a

dar sentido e valor a bens culturais e educacionais, no lugar de bens materiais: “(...) é a defesa

da personalidade e cultura do sujeito contra a lógica dos aparatos e mercados que substitui a

ideia de luta de classes” (TOURAINE apud CASTELLS, 1999, p. 58). Em vista disso, é

possível afirmar que, em um ambiente em rede, o valor, antes perene e quase imutável em

elementos físicos, reside agora em elementos altamente cambiáveis, e que não respeita

hierarquias e classes sociais – o conhecimento e o saber são fluídos, e sua valorização

dependerá mais da velocidade de adequação às novas necessidades sociais do que a titulações

ou símbolos de poder pré-estabelecidos, tais como diplomas ou cargos em empresas.

Ao considerar o conhecimento como valor ideal de progresso na economia do saber, e

a colaboração e o compartilhamento como lógica para a distribuição e expansão deste

conhecimento, torna-se plausível que a configuração das relações e conexões digitais seja a de

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redes. A rede é a estrutura mais adequada para atender às características necessárias ao

ambiente digital: ela permite a estruturação mínima das informações, mas não as torna rígidas,

mantendo a flexibilidade característica e fundamental dos processos virtuais. O sistema em

rede possibilita ainda um número maior de conexões, e que todos os elementos do sistema

possam ser modificados pela reorganização de seus componentes (CASTELLS, 1999, p. 108-

109).

A respeito desta lógica de compartilhamento de saberes, e de uma aprendizagem

cooperativa, é possível afirmar, então, que hoje vive-se um momento crucial de ruptura com

modelos atuais de educação, estruturação de competências a serem aprendidas e ensinadas, e

até mesmo de divisão do trabalho. Com a inversão dos papéis dos emissores e receptores de

conteúdo, já que o receptor é ao mesmo tempo produtor, curador e tutor, abala-se o modo

tradicional do ensinar pedagógico, uma vez que o aluno tem amplo acesso à informação e

pode questionar, compartilhar e produzir conhecimento tanto quanto o professor. Há que se

refletir, inclusive, se cabe ainda esta divisão de papéis pedagógicos dentro da lógica digital,

uma vez que o professor é antes um curador e orientador, e, para o aluno, o aprender é apenas

uma das facetas de seu processo educativo.

No entanto, o campo educacional é apenas um dos que se beneficiam do ambiente das

redes digitais. Questões políticas e sociais, tais como cidadania e direitos humanos encontram

no ciberespaço um cenário ideal para o fortalecimento de suas reflexões, para a conexão entre

diversos indivíduos por meio de comunidades virtuais, e para o compartilhamento e criação

de conteúdos sem censores a princípio. Na era dos grandes meios de comunicação de massa,

como a TV e o rádio, a figura do gatekeeper era essencial, já que ele era responsável pela

seleção e análise de quais pautas iriam configurar o jornal ou qualquer mídia de comunicação.

Ou seja: a decisão sobre o que seria comunicado recaía sobre alguns poucos editores e donos

dos meios de comunicação. Com o advento das tecnologias digitais, e, principalmente, com o

avanço da web 2.0 (que significa uma web participativa e colaborativa, demonstrada

principalmente pela força de redes sociais como Twitter e Facebook) essa lógica do

gatekeeper fica cada vez mais ameaçada de desuso. Hoje, o processo decisório da pauta está

na mão do usuário, que compartilha com os meios de comunicação a produção de conteúdos.

Como lembra Rossini (2010, p. 209), “(...) os cidadãos não estão mais sujeitos somente à

posição de leitores ou de observadores de conteúdo; a rede permite sua participação e redefine

o locus de criação”. Além disso, o poder do compartilhamento em rede, e a velocidade das

opiniões emitidas por meio das redes sociais demonstram que a força comunicacional transita

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de forma mais equilibrada entre leitores e meios de comunicação, em um pêndulo que varia a

sua posição de acordo com o assunto, o volume de usuários interessados na pauta e a

velocidade de compartilhamento das informações.

Bustamante (2010) dialoga com esta faceta cidadã das redes digitais ao apresentar o

conceito de hipercidadania. Segundo o autor, a hipercidadania seria o exercício mais profundo

da participação política, e tem como base alguns elementos, tais como a apropriação social da

tecnologia – ou o uso do ambiente digital para questões sociais, e não apenas para o trabalho

ou excelência técnica; direito ao acesso de ideias sem censura ou fronteiras por meio das

redes; a promoção de políticas de inclusão digital; o desenvolvimento de serviços públicos

eletrônicos; a aposta no software livre, entre outras.

As práticas de cidadania se relacionam profundamente com o empreendedorismo e

com o empoderamento na medida em que o empreendedor é um ator social, além de ser um

ator do processo econômico. A prática empreendedora acarreta uma série de mudanças no

entorno onde é gerida: movimenta economias locais, ao gerar emprego, renda e arrecadação

de impostos; promove o empoderamento e independência dos gestores dos negócios e

influencia positivamente na auto-estima das comunidades locais; fortalece redes comunitárias

de comunicação e educação; e promove o despertar para atitudes cidadãs onde se estabelece,

ao motivar as comunidades a pensar coletivamente nas pautas de interesse público. Neste

ponto, relaciona-se o conceito de biopoder de Foucault (BUSTAMANTE, 2010), que pode ser

traduzido como o poder expresso em múltiplas dimensões, muito além da política, e que leva

em consideração as teias sociais e as relações de comunicação estabelecidas em uma dada

comunidade. Por meio das redes digitais e de atuação cidadã possibilitada por meio delas,

pode-se observar claramente “a chamada microfísica do poder, presente nas práticas

cotidianas, em que se expressa o poder em todas as suas formas” (BUSTAMANTE, 2010, p.

17).

Ao considerar as redes digitais como ambiente de propagação de conhecimentos,

saberes e práticas cidadãs, deve-se refletir que esta mediação se fortalece na medida em que

os debates e reflexões são universais, mesmo que em pautas fragmentadas. O valor e a força

destas redes residem não apenas nos conteúdos ali apresentados, mas, antes, pelo volume de

usuários, de compartilhamentos e de acessos – universalizando e trazendo para a discussão

indivíduos que, sem a conexão digital, talvez nunca tivessem acesso às pautas discutidas em

um grande número de comunidades virtuais. Bustamante (2010, p. 31) menciona, sobre tal

tema, a Lei de Metcalfe, “segundo a qual o valor do conteúdo de uma rede equivale ao seu

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número de participantes elevado ao quadrado”, e a Lei de Rendimentos Crescentes de Adoção

(ARTHUR, 1989, apud BUSTAMANTE, 2010, p. 31), que diz que “quanto maior é o número

de participantes nas comunidades de interesse, maior é a utilidade prática e a relevância

científica da informação criada a partir dessa interação”.

Por fim, há que se considerar que a comunicação digital, dada em um ambiente

interativo e, que, sobretudo, permite o compartilhamento e a criação de conhecimentos e

informações sem impor barreiras de censura ou de custos proibitivos, é, hoje, o principal meio

para a propagação e o fortalecimento de práticas educacionais e empreendedoras. Os desafios

constituem-se, assim, na expansão dos elementos aqui explicitados a respeito da comunicação

digital: o incremento de acesso à internet e à dispositivos tecnológicos, tais como

smartphones, notebooks e desktops; a readequação de modelos educacionais e de

comunicação considerando a mediação do ciberespaço, por meio de hipertextos e hipermídias;

e a ampliação da relevância das redes digitais e de seus conteúdos ali refletidos e

compartilhados local e globalmente. Em resumo, pensar o empreendedorismo e a educação

sem considerar a força da comunicação digital hoje é desconsiderar uma mediação valiosa e

talvez a única capaz de amplificar e possibilitar o alcance necessário para estas práticas

considerando os inúmeros obstáculos de renda e barreiras geográficas que se perpetuam ainda

no Brasil.

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3 Os ambientes de aprendizagem: análise dos sites Rede Mulher Empreendedora, Escola

de Você, Sebrae e Pequenas Empresas & Grandes Negócios

O fortalecimento do empreendedorismo feminino, tal como apresentado no capítulo

anterior, perpassa fortemente pela educação e pelo acesso à informação para as mulheres

condutoras de seus negócios, e, fundamentalmente, pela amplitude do alcance do acesso

destes conteúdos pela mediação digital, e dos ambientes virtuais de aprendizagem.

Desta forma, este estudo apresenta, a seguir, a análise dos ambientes digitais onde se

hospedam os conteúdos que compõem o objeto de pesquisa deste trabalho. A seleção dos sites

analisados, que foi baseada a partir de três critérios, teve como objetivo observar ambientes

nos quais houvesse a maior possibilidade de impacto e alcance no público estudado neste

projeto, ou seja, nas mulheres empreendedoras. Dentro desta perspectiva, o primeiro critério

utilizado para seleção dos sites foi o de relevância e audiência. Assim, buscou-se localizar os

sites que tivessem maior frequência de uso e cujo público objetivo final fosse formado

essencialmente por mulheres empreendedoras. Neste sentido, os sites do Sebrae e do

Pequenas Empresas & Grandes Negócios (PEGN) foram selecionados por atenderem a estes

critérios de forma massiva. Ambos se estabeleceram como referências de informação para o

empreendedor (nestes dois casos, não exclusivamente para mulheres) fora do ambiente digital.

Há mais de 40 anos, o Sebrae atua como entidade de apoio e capacitação ao micro e pequeno

empreendedor, e, com o surgimento da internet no Brasil há pouco mais de 15 anos, sua

plataforma digital deu continuidade e fortaleceu um trabalho já desenvolvido em suas sedes

físicas e capacitações presenciais. Já a revista PEGN, publicação da Editora Globo, é um meio

de comunicação amplamente reconhecido pela sociedade e um dos poucos veículos dedicados

exclusivamente às questões dos pequenos empreendedores no país, e se tornou referência para

este público. Assim como o Sebrae, sua trajetória não foi iniciada no meio digital: a revista foi

criada para a veiculação impressa, e, hoje, além do site, conta também com um programa

transmitido em rede aberta, pelo canal Globo, e que leva o mesmo nome da revista. Esta

multiplicação das plataformas do veículo permitiu uma ampliação no alcance de seus

conteúdos, e demonstra a força e a credibilidade estabelecida com seus leitores,

telespectadores e usuários.

O segundo critério de seleção dos sites estudados foi a produção de conteúdos

exclusivos para mulheres. Neste sentido, os sites Rede Mulher Empreendedora e Escola de

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Você foram localizados como duas das principais plataformas digitais reconhecidas por

mulheres empreendedoras (observado em entrevistas realizadas por este estudo). Em ambos

os sites, os conteúdos são dedicados exclusivamente para a audiência feminina, e abordam

questões específicas do universo da mulher. Assim, eles foram selecionados por apresentarem

um impacto importante no público-alvo deste estudo, e por gerarem importantes fontes de

informação dentro e fora do ambiente digital.

Por fim, o terceiro critério de seleção foi a apresentação de um ambiente de

relacionamento para a construção de redes. Observou-se que, entre os quatro sites analisados

(Sebrae, Pequenas Empresas & Grandes Negócios, Escola de Você e Rede Mulher

Empreendedora), todos apresentam plataformas de comunicação em redes sociais, sendo a

mais frequente e a de maior uso e interação a do Facebook. Assim, a disseminação do

conhecimento não acontece de forma apenas unilateral, com informações via sites; as redes

possibilitam uma mediação interativa dos conteúdos, onde os curadores de informação dos

sites e o público final podem refletir, discutir, buscar soluções para dúvidas e, talvez o mais

importante, construir relações com outras mulheres empreendedoras, ao trocar informações e

divulgar produtos e serviços. Em última análise, a comunicação não se limita a um fluxo

tradicional com origem no emissor, e fim no receptor; há uma profusão de fluxos,

característica da web 2.0, que permite trocas diversas em todos os sentidos, e onde a criação e

a replicação de conteúdo não se restringe unicamente aos sites, mas se espalha por todos os

usuários, permitindo, assim, um fortalecimento da disseminação das informações e uma

apropriação muito mais concreta para o dia a dia destas empreendedoras.

Na sequência, apresentam-se os perfis dos sites estudados individualmente.

3.1 Rede Mulher Empreendedora

O site Rede Mulher Empreendedora (<http://redemulherempreendedora.com.br/>) –

RME - é um exemplo de plataforma digital que expande a sua atuação muito além das redes

virtuais. Fundado em 2010, a RME atua, hoje, de forma intensa em ambientes presenciais, por

meio da realização de cursos e eventos, além de prestar suporte às empreendedoras por meio

de parcerias com outras empresas e entidades do terceiro setor.

A RME é considerada a primeira e maior rede de apoio ao empreendedorismo

feminino no Brasil, e, atualmente, o site conta com 36.500 empreendedoras cadastradas, que,

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gratuitamente, são atualizadas todos os dias com informações e notícias, tanto textuais, quanto

em formato de vídeo. O objetivo principal do site é ser uma plataforma de serviços para unir e

apoiar mulheres empreendedoras no Brasil para o desenvolvimento de seus negócios. Além

disso, o RME trabalha pela integração, disseminação de conhecimento e interação entre as

usuárias, por meio dos conteúdos divulgados e pela manutenção de plataformas de discussão,

como a página no Facebook e os grupos de debates.

Em 2016, o RME foi ganhador do troféu de menção honrosa no Prêmio WEP’s41

Brasil 2016, que tem como propósito incentivar e reconhecer esforços das empresas que

promovem a cultura da equidade de gênero e o empoderamento da mulher no Brasil. A

premiação tem a chancela da Organização das Nações Unidas (ONU).

O uso do site é realizado mediante um cadastro gratuito, e, a partir daí, as

empreendedoras podem publicar um perfil de seu negócio, acessar informações e participar

dos fóruns de discussões.

Figura 2. Página inicial do site RME para login. Nas laterais esquerda e direita, pode-se observar as fotos das

mulheres cadastradas no site. Disponível em:< www.redemulherempreendedora.com.br>. Acesso em: 17 abr.

2016.

Com relação ao perfil do público que acessa e se cadastra no RME, ele é bastante

similar ao perfil da mulher empreendedora brasileira, já apresentado no capítulo anterior.

Segundo dados do próprio site, 69% das usuárias estão acima dos 31 anos, 84% tem nível

superior ou pós-graduação, e buscam o caminho do empreendedorismo principalmente pela

possibilidade de maior flexibilidade nos horários de trabalho e pela independência financeira.

41WEP é a sigla em inglês para Women’s Empowerment Principles – ou, em tradução livre, Princípios de

Empoderamento das Mulheres – programa desenvolvido pela UN Women, órgão das Nações Unidas para o

desenvolvimento de ações de empoderamento feminino em todo o mundo.

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Sobre o setor de atuação, os dados espelham a realidade brasileira: cerca de 62% das usuárias

estão no ramo de serviços.

Um dado interessante, observado pela fundadora da RME, Ana Fontes, é sobre os

conhecimentos das usuárias empreendedoras. De uma forma geral, a escolha do negócio é

realizada a partir do conhecimento técnico inicial que cada empreendedora tem, mas, após um

breve período, ela se depara com dificuldades em conhecimentos específicos de gestão, tais

como as áreas de finanças, marketing e comunicação.

Entre as sessões disponíveis para acesso no site, destacam-se:

Seção O que é: apresenta um breve perfil do site.

Seção Quem faz: traz um perfil das fundadoras e colaboradores da RME. A seguir,

apresentam-se estes perfis, que trazem uma similaridade com as usuárias e trazem

aproximação com o público-alvo. A fundadora do site é Ana Fontes, graduada em propaganda

e pós-graduada em marketing pela ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing - e

Relações Internacionais pela USP – Universidade de São Paulo. Atualmente é colaboradora

da Rede Mulher Empreendedora, é fundadora do NATHEIA – Coworking e Eventos, e

curadora dos eventos Virada Empreendedora e Fórum Empreendedoras. Uma das diretoras da

RME é Claudia Mamede, sócia da PitchCom – Assessoria de Comunicação e Imprensa – que

é focada em mulheres empreendedoras. Já Heloisa Motoki é diretora administrativa-financeira

da RME, e é sócia fundadora da QualiContábil, tem formação em MBA em Controladoria e

graduação em Ciências Contábeis. Outra colaboradora do site é Fernanda Nascimento,

executiva com mais de 20 anos de experiência em marketing estratégico, e especialista em

marketing digital e branding, com passagem por grandes multinacionais como o grupo

americano Danaher e a alemã Volkswagen. É atualmente Diretora de Desenvolvimento de

Negócios da RME e é sócia da Stratlab, consultoria para pequenas e microempresas na área

de desenvolvimento de negócios e planejamento estratégico. O time é composto ainda por

Isadora Leone, empresária e sócia fundadora da PitchCom, agência de comunicação e

assessoria de imprensa, é graduada em Relações Públicas pela FAAP, pós-graduada em

Marketing pela ESPM e em Administração de Organizações da Sociedade Civil pela USP. Já

Marcela Quiroga é profissional com mais de 30 anos de experiência na área de vendas. Atuou

em empresas de grande porte e atualmente é Diretora da RME, e empreende por sua

consultoria Nós na Venda Direta. O time de colaboradoras da RME é ainda formado por Tatty

Nascimento, jornalista e coordenadora de comunicação do NATHEIA, da RME e do evento

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Virada Empreendedora, e por Ana Paula Faria, coordenadora de atendimento da empresa

NATHEIA Coworking e Eventos, da RME e do evento Virada Empreendedora.

Seção Como participar: apresenta área de login e senha, e criação de perfil para a usuária que

está acessando pela primeira vez a RME. Apresenta, ainda, os canais de participação possíveis

para as usuárias, tais como a página oficial e o grupo de discussão no Facebook, e eventos

realizados pelo RME. Entre os eventos realizados, estão encontros de networking, cursos,

workshops e mentorias coletivas. Um dos principais eventos realizados pelo RME é o Virada

Empreendedora (que conta com um site próprio:

<http://www.viradaempreendedora.com.br/>), que teve sua sexta edição realizada nos dias 16

e 17 de abril de 2016. É, hoje, um dos maiores eventos sobre empreendedorismo no Brasil,

com 24 horas ininterruptas de atividades, realizadas na Fundação Getúlio Vargas, na capital

paulista. O evento é realizado integralmente de forma colaborativa, com curadores e parcerias

estratégicas de serviços e materiais necessários para a sua realização.

Seção Saiu na imprensa: apresenta um clipping de matérias com menção ao site RME, ou que

contam como fonte algumas de suas diretoras. Matérias completas estão disponíveis, e, de

forma geral, são focadas em veículos especializados no tema empreendedorismo e pequenas

empresas.

Seção Fale Conosco: a RME mantém ainda um escritório físico na capital paulista, e

disponibiliza, pelo site, alguns meios de contato, como telefone e e-mail (telefone: 11 2619-

9190, e e-mail:[email protected]). Além disso, disponibiliza um

contato para informações para a imprensa - [email protected]; tel.:

(11) 2619-9190; celular: (11) 98555-5234.

Seção Anuncie conosco: área onde é divulgado contato para venda de espaços publicitários no

site.

Seção Login: área para acesso das usuárias já cadastradas.

Seção Cadastre-se: área para cadastro de usuárias que entram no site pela primeira vez.

Seção Vídeos: área com postagem de vídeos diversos, com conteúdos sobre

empreendedorismo e entrevistas.

Seção Colunistas: área com publicação de artigos com dicas de negócios e

empreendedorismo.

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Seção Notícias: área com publicação de notícias diversas relacionadas ao universo do

empreendedorismo.

Seção Empresas cadastradas: espaço com os anúncios das empresas das usuárias do site.

Seção Artigos: área com publicação de artigos relacionados ao empreendedorismo.

Além do site, o RME mantém uma página oficial no Facebook

(<https://www.facebook.com/RedeMulherEmpreendedora>), que, atualmente, conta com

mais de 260 mil “fãs”, e uma página aberta a discussões, na mesma rede social, para interação

entre as empreendedoras – mas que é um grupo fechado, cuja entrada é permitida apenas

depois de autorização, e cujo conteúdo é mediado por colaboradoras da RME.

O conteúdo da página oficial nesta rede social é basicamente a divulgação de eventos

da Rede Mulher Empreendedora, frases em formato meme, replicação de notícias do site e

vídeos com entrevistas das fundadoras da empresa.

Figura 3. Página oficial do RME no Facebook. Disponível em:

<https://www.facebook.com/RedeMulherEmpreendedora>. Acesso em: 17 abr. 2016.

Na figura 4, pode-se observar o exemplo de um post publicado na página oficial, com

a divulgação de um dos painéis do evento Virada Empreendedora, realizado pela RME entre

os dias 16 e 17 de abril de 2016.

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Figura 4. Exemplo de post na página oficial do Facebook. Disponível em:

<https://www.facebook.com/RedeMulherEmpreendedora>. Acesso em: 17 abr. 2016.

Outros posts divulgam ainda notícias sobre eventos da entidade, como a Virada

Empreendedora, ou outras notícias relevantes para o universo do empreendedorismo (figuras

5 e 6).

Figura 5. Exemplo de post na página oficial do Facebook. Disponível em:

<https://www.facebook.com/RedeMulherEmpreendedora>. Acesso em: 17 abr. 2016.

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Figura 6. Exemplo de post na página oficial do Facebook. Disponível em:

<https://www.facebook.com/RedeMulherEmpreendedora>. Acesso em: 17 abr. 2016.

Além da página oficial, a RME mantém no Facebook um grupo de discussões,

disponível em <https://www.facebook.com/groups/mulheresempreendedoras/>. Em 17/04/16,

o grupo tinha 29.933 membros, e é fechado - ou seja, apenas os convidados previamente

autorizados pelos moderadores é que podem participar e ter acesso às informações desta

página.

Figura 7. Grupo “Empreendedoras”, fechado no Facebook e moderado pelo RME. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/mulheresempreendedoras/>. Acesso em: 17 abr. 2016.

O conteúdo do grupo fechado é bem diferente do da página oficial da RME. Enquanto

na Rede as publicações são as oficiais da entidade, com perfil mais noticioso, no grupo

fechado a interação e a participação ganham vez. As postagens são, em sua maioria, de

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participantes que buscam informações ou precisam tirar dúvidas sobre o seu empreendimento,

no que as outras participantes colaboram, respondendo com informações e dicas. Os temas

discutidos são bastante variados, mas são bem focados em dúvidas que as empreendedoras

têm sobre os seus negócios, tais como marketing, vendas, questões jurídicas e legais, entre

outros.

Figura 8. Exemplo de post no grupo fechado “Empreendedoras”, moderado pelo RME. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/mulheresempreendedoras/>. Acesso em: 17 abr. 2016.

Figura 9. Exemplo de post no grupo fechado “Empreendedoras”, moderado pelo RME. Disponível em:

<https://www.facebook.com/groups/mulheresempreendedoras/>. Acesso em: 17 abr. 2016.

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3.2 Escola de Você

O site Escola de Você, criado pelas jornalistas Ana Paula Padrão e Natália Leite, busca

ser reconhecido como uma escola na internet voltada exclusivamente para o público feminino.

No entanto, ao contrário do site Rede Mulher Empreendedora, seu conteúdo não é

exclusivamente dedicado ao empreendedorismo – os temas abordados no site passam por

dicas de carreira, relacionamentos e imagem pessoal. Os conteúdos abordados são trazidos

principalmente por meio de vídeos.

Todos os cursos disponibilizados no site são gratuitos, mediante um cadastro prévio

realizado no primeiro acesso ao site.

Figura 10. Home Page do site Escola de Você. Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br/>. Acesso em:

17 abr. 2016.

O site conta com um menu com quatro sessões: cursos, embaixadoras, papo de

escolete e TV EDV. Na sequência, apresentaremos os conteúdos presentes em cada uma

destas sessões.

Seção Cursos: área onde estão disponibilizados os vídeos com os cursos gratuitos oferecidos

pelo site. Em 17 de abril de 2016, havia 10 cursos disponíveis para acesso. Entre os temas dos

vídeos, estão: “Bem-vinda ao seu melhor”; “Sucesso não é sorte”; “Fazer amigos e negócios”;

“Presente simples, futuro brilhante”; “Que mulher você quer ser?”; “A hora do ‘sim!’ – dicas

rápidas para quem vai casar”; “Mãe – ser ou não ser?”; “Mãe de primeira viagem”; entre

outros.

Observa-se, pelos temas abordados nos vídeos, que o perfil da Escola de Você não é

fechado ao universo do empreendedorismo, nem tem como objetivo primordial a capacitação

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técnica ou gerencial. Seu foco é, essencialmente, a disponibilização de informações e

conhecimento para o fortalecimento da auto-estima da mulher não apenas no campo

profissional, mas também no campo familiar e pessoal. O site entende que não apenas a esfera

do ambiente de trabalho e da gestão do negócio são importantes para a mulher empreendedora

– as demais áreas da vida da mulher são valorizadas e discutidas pelo site, pois são

reconhecidas como importantes temas que refletem impactos consideráveis na condução dos

negócios.

Figura 11. Seção de cursos do site Escola de Você. Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br>., Acesso

em: 17 abr. 2016.

Seção Embaixadoras: área onde são apresentadas as chamadas “embaixadoras” da Escola de

Você. As embaixadoras são empreendedoras nomeadas pelo site, e que replicam

conhecimentos e organizam encontros com outras mulheres em suas regiões de atuação. Com

este modelo, o site consegue atingir um alcance muito maior, além de poder propagar os

conteúdos de capacitação sem necessitar de uma atuação presencial própria em todos os

eventos realizados. Nos encontros realizados pelas embaixadoras, o objetivo é trocar ideias,

experiências e realizar contatos em rede com todas as empreendedoras participantes. As

embaixadoras podem ser escolhidas por região de localização, e as usuárias podem entrar em

contato com elas para obter informações sobre cursos e encontros futuros, ou mesmo sobre

dicas e dúvidas que girem em torno das temáticas apresentadas no site.

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Figura 12. Seção Embaixadoras do site Escola de Você. Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br>. Acesso em: 17 abr. 2016.

Seção Papo de escolete: esta área é reservada a fóruns de discussão, e apresenta alguns temas

em debate, onde uma mediadora lança o tema principal, e as participantes discutem o tema

abordado. Em 16/04/16, havia cinco fóruns cadastrados, cujas temáticas eram: “encontre sua

vocação e seja feliz”; “mulheres inspiradoras”; “para ampliar sua rede de contatos e amigas!”;

“por que votar?”; e “seja bem-vinda!”.

Figura 13. Seção Papo de escolete do site Escola de Você. Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br/>. Acesso em: 16 abr. 2016.

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Figura 14. Fórum “Encontre sua vocação e seja feliz”. Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br>. Acesso em: 16 abr. 2016.

Seção TV EDV: área onde são disponibilizadas aulas online, em formato de dicas e pequenos

cursos. A apresentação dos vídeos é realizada por convidados especialistas em suas áreas de

atuação, e pelas colaboradoras do site. Entre alguns dos temas abordados, estão a maternidade

e vendas, por exemplo.

Figura 15. Seção TV EDV. Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br/>. Acesso em: 16 abr. 2016.

O site Escola de Você, a exemplo do que é realizado pela Rede Mulher

Empreendedora, também explora as redes sociais para a interação com o seu público e para a

consolidação da divulgação dos conteúdos do site. Uma das redes utilizadas é o Facebook,

onde mantém uma página oficial (disponível em

<https://www.facebook.com/EscolaDeVoce>), a qual tinha 34.706 “fãs” em 16/04/16.

A página da Escola de Você no Facebook posta frases de motivação, informações

sobre eventos, vídeos e notícias sobre negócios e auto-estima.

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Figura 16. Página oficial da Escola de Você no Facebook. Disponível em:

<https://www.facebook.com/EscolaDeVoce>. Acesso em: 16/04/16.

Figura 17. Exemplo de post na página oficial da Escola de Você no Facebook.. Disponível em:

https://www.facebook.com/EscolaDeVoce. Acesso em: 16 abr. 2016.

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Figura 18. Exemplo de post na página oficial da Escola de Você no Facebook. Disponível em:

<https://www.facebook.com/EscolaDeVoce>. Acesso em: 16 abr. 2016.

Além do Facebook, a Escola de Você está presente também em outras redes sociais,

como o Twitter (<https://twitter.com/EscolaVoce>), com uma audiência de 329 seguidores, e

a produção de 721 tweets em 17/04/16; o Periscope

(<https://www.periscope.tv/EscolaVoce>), que contava com 252 seguidores em 17/04/16; o

Instagram (<https://www.instagram.com/escoladevoceoficial/>), com uma audiência de 3.862

seguidores e 251 publicações em 17/04/16; além de manter um canal exclusivo no YouTube

(<https://www.youtube.com/channel/UCukGCAd1zDgLqZ9QLdSqBgg>).

Figura 19. Página inicial da Escola de Você no Twitter. Disponível em: <https://twitter.com/EscolaVoce>.

Acesso em: 17 abr. 2016.

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Figura 20. Página inicial da Escola de Você no Periscope. Disponível em:

https://www.periscope.tv/EscolaVoce. Acesso em: 17 abr. 2016.

Figura 21. Página inicial da Escola de Você no Instagram. Disponível em:

<https://www.instagram.com/escoladevoceoficial/>. Acesso em: 17 abr. 2016.

Figura 22. Página inicial do canal da Escola de Você no YouTube. Disponível em:

<https://www.youtube.com/channel/UCukGCAd1zDgLqZ9QLdSqBgg>. Acesso em: 17 abr. 2016.

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3.3 Sebrae

O Serviço de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae) é hoje, certamente, a

principal instituição de suporte e incentivo ao pequeno empreendedor brasileiro. Sua

credibilidade é reconhecida por usuários dos serviços, pelo governo, pelas instituições

parceiras e pela imprensa. Pelo amplo escopo de suas atividades, o alcance de sua influência

passa pelas esferas presenciais e virtuais, e ultrapassa os limites da educação e capacitação do

empreendedor – seu apoio passa por atividades de acesso ao crédito, estímulo à inovação e

promoção de eventos.

Apesar de sua atuação ser diretamente relacionada à prestação de serviços de interesse

público, o Sebrae é uma entidade privada, sem fins lucrativos, mantida por repasses de

grandes empresas brasileiras, e que tem como objetivo a promoção da competitividade e o

desenvolvimento sustentável de empreendimentos de micro e pequeno porte no Brasil (o que

equivale a empresas que tenham faturamento bruto anual de até R$ 3,6 milhões).

A entidade já atua há mais de 40 anos em atividades que alicercem o fortalecimento do

empreendedorismo e a aceleração do processo de formalização das pequenas empresas, por

meio de parcerias com os setores público e privado, programas de capacitação, acesso ao

crédito e à inovação, estímulo ao associativismo, feiras e rodadas de negócios. Em resumo,

sua atuação é de um agente capacitador e promotor do desenvolvimento, e articulador de

parcerias que possibilitem o acesso dos empreendedores a cooperativas de crédito e

instituições de microcrédito.

O Sebrae conta com uma sede nacional, em Brasília, e mais 27 unidades regionais,

espalhadas em todos os Estados brasileiros. Nestas unidades físicas, são oferecidos cursos,

seminários, consultorias e assistência técnica para pequenos negócios de todos os setores.

A instituição surgiu no país antes mesmo de sua fundação oficial, em 1972. Em 1964,

o então Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), atual Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criou o Programa de Financiamento à

Pequena e Média Empresa (Fipeme) e o Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico

(Funtec), atual Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Estes dois últimos formaram uma

espécie de grupo de apoio gerencial às micro e pequenas empresas, pois, na época, levantou-

se a necessidade de prestar apoio a este núcleo de negócios, uma vez que elas apresentavam

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altos índices de inadimplência nos contratos de financiamento celebrados com o BNDES.

Alguns anos depois, em 1967, foram criados os Núcleos de Assistência Industrial (NAI) pela

Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que foram os embriões das

atividades realizadas pelo Sebrae hoje.

Hoje, a entidade atua com mais de cinco mil funcionários diretos, e outros 8 mil

consultores e instrutores credenciados que trabalham fundamentalmente com capacitação e

orientação negocial, técnica e de gestão.

O público-alvo do Sebrae é o micro e pequeno empreendedor, sejam homens ou

mulheres, no entanto, atua também com foco na estimulação e incentivo ao profissional que

ainda não tem um negócio próprio, mas que deseja iniciar uma atividade empreendedora. Sua

atuação abrange, além da capacitação, a oferta de soluções para empresas que queiram

melhorar a sua atuação no mercado, o incentivo à cooperação entre os empreendedores, e o

estímulo à formalização dos pequenos negócios, mesmo aqueles que são profissionais

autônomos (como, por exemplo, a atuação como microempreendedor individual, o MEI).

Entre as atividades desenvolvidas pelo Sebrae, estão: educação e capacitação

empreendedora; articulação de políticas públicas que criem um ambiente legal mais favorável;

acesso a novos mercados; acesso à tecnologia e à inovação; e orientação para o acesso aos

serviços financeiros. Entre os serviços disponibilizados pela entidade para atendimento a estas

atividades, estão os cursos, consultorias, publicações, eventos e premiações. Seu atendimento

perpassa os segmentos da indústria, comércio e serviços e agronegócios.

Entre os programas desenvolvidos pelo Sebrae, está o Programa Educação

Empreendedora, uma iniciativa na qual estudantes podem desenvolver as suas potencialidades

para o empreendedorismo, ou seja, atitudes como trabalho em equipe, assimilação de

competências múltiplas, capacidade de aprendizado e adaptação em situações novas e

complexas, e enfrentamento de desafios. Ele tem como objetivo ampliar, promover e

disseminar a educação empreendedora nas instituições de ensino.

Com a atuação em duas frentes – desenvolvimento de competências e estímulo à

inserção no mundo do trabalho – o Programa incentiva o aluno tanto a estar preparado para

atuar com empreendedor, quanto para lidar com os desafios e riscos inerentes a um cenário

econômico de incertezas. O alcance do Programa é bem abrangente, pois ele atua em todos os

níveis de educação formal: ensinos fundamental, médio, superior e educação

profissionalizante. Ele conta ainda com parcerias com importantes instituições que são

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referência no ambiente empreendedor, como o Canal Futura, o Instituto Endeavor, o Junior

Achievement e o Programa ViraVida.

O entendimento da instituição Sebrae como um todo permite contextualizar a sua

abrangência e a sua credibilidade no ambiente empreendedor brasileiro. Por atuar de maneira

intensa e consistente com modelos de educação empreendedora, sua atuação no ambiente

virtual é apenas uma extensão de um trabalho já bastante consolidado no ambiente físico e

presencial. É possível entender, assim, porque a instituição é mencionada e lembrada entre os

empreendedores de maneira repetida, e porque ela está presente, seja como protagonista, seja

como parceira, de forma intensa em eventos, cursos e programas voltados ao empreendedor

brasileiro.

Apesar de não ter sua atuação focada na mulher empreendedora, objeto de estudo

desta pesquisa, analisar o empreendedorismo feminino no Brasil sem estudar o Sebrae traria

uma perspectiva incompleta, uma vez que ele é hoje um dos atores mais influentes do

ambiente empreendedor brasileiro.

Desta forma, a abrangência de sua atuação no ciberespaço segue a estruturação

consolidada na atuação presencial. O site do Sebrae apresenta uma ampla gama de conteúdos,

tendo em vista a sua ampla atuação. Na home page, os conteúdos são apresentados divididos

em nove temas: empreendedorismo, mercado e vendas, pessoas, planejamento, inovação,

organização, finanças, cooperação e leis e normas. Há ainda uma página exclusiva para

conteúdos sobre empreendedorismo (figura 24). O acesso a todo o site do Sebrae é gratuito,

mediante cadastro prévio.

Figura 23. Home page do site do Sebrae. Disponível em: <www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/>. Acesso

em: 16 abr. 2016.

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Figura 24. Página exclusiva para o tema empreendedorismo no site do Sebrae. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/tipoconteudo/empreendedorismo?codTema=2>. Acesso em: 16

abr. 2016.

Nesta área do site, há vídeos, textos, guias, notícias, cursos e eventos e cursos online

exclusivamente dedicados à temática. Dentro desta guia, há no menu duas possibilidades de

acesso: conteúdo e cursos e eventos (esta estrutura é adotada para os demais oito segmentos

do site).

Na área “conteúdo”, o usuário acessa textos com conteúdos diversos, mais específicos

sobre orientação ao negócio, como por exemplo “Como montar um serviço de reciclagem de

plástico” ou “Como montar um serviço de personalização de carros e motos” (figura 25).

Figura 25. Seção “conteúdos”, dentro da página exclusiva para o tema empreendedorismo no site do Sebrae.

Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/tipoconteudo/empreendedorismo/conteudos>.

Acesso em: 16 abr. 2016.

Já na seção “cursos e eventos” são apresentadas as atividades que serão realizadas no

futuro pela instituição, disponibilizando informações sobre cada uma delas.

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Figura 26. Seção “cursos e eventos”, dentro da página exclusiva para o tema empreendedorismo no site do

Sebrae. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/tipoconteudo/empreendedorismo/cursos>. Acesso em: 16 abr.

2016.

Fora da página exclusiva de conteúdos sobre empreendedorismo, outra seção do site se

destaca: a área “abertura de empresa”. Nela, são apresentados vídeos, textos e dicas com

orientações para a abertura do negócio, e apresenta no menu os seguintes itens: “passo a

passo”, “papo de especialistas”, e “começar bem”. Esta área mostra-se bastante relevante para

o profissional que ainda não iniciou o seu empreendimento, mas que necessita de orientações

para abrir o seu negócio.

Figura 27. Área “abertura de empresa” dentro do site do Sebrae. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/6-passos-para-iniciar-bem-o-seu-novo-

negocio,a28b5e24d0905410VgnVCM2000003c74010aRCRD>. Acesso em: 16 abr. 2016.

Nesta área, diversos conteúdos online estão disponíveis. Em “passo a passo” o usuário

tem acesso a um roteiro que informa os itens necessários para a abertura de uma empresa no

Brasil. Já na seção “papo de especialistas”, alguns vídeos estão disponíveis, com dicas de

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planejamento e outros temas importantes para o empreendedor, ministrados por especialistas e

empresários em algumas áreas de atuação. Entre os assuntos abordados, estão informações

sobre formalização de empresa como MEI, a importância de um plano de negócios,

oportunidades para a crise, entre outros. E na seção “começar bem” há uma série de vídeos

com conhecimentos e técnicas para o início das atividades da empresa, para aqueles

empreendedores que já tem uma noção do segmento de atividade que seguirão, ou que já tem

experiência na atividade empreendedora. Está hospedada nesta página a série “10 dicas para

Começar Bem”, que segue esta orientação.

Não foram localizados no site nenhum conteúdo especificamente orientado para a

mulher empreendedora. No entanto, o Sebrae promove um prêmio que é dedicado

exclusivamente à mulher, o Prêmio Mulher de Negócios. Esta premiação acontece em duas

categorias, a nacional e a estadual, reconhece mulheres que iniciaram um empreendimento e

tem como objetivo replicar o exemplo das empreendedoras premiadas para estimular outras

mulheres a seguir o caminho do empreendedorismo. Ele é realizado em parceria com a

Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e a Federação das Associações de Mulheres

de Negócios e Profissionais do Brasil (BPW), com apoio técnico da Fundação Nacional da

Qualidade (FNQ). As inscrições e informações sobre o prêmio são todas realizadas pelo site

<http://www.mulherdenegocios.sebrae.com.br/>.

O Sebrae atua ainda em três redes sociais oficialmente: o Facebook

(Facebook.com/sebrae), o Twitter (Twitter.com/sebrae), e o Snapchat (sebraenacional).

No dia 17/04/16, a página do Sebrae no Facebook contava com 1.160,061 curtidas, e o

conteúdo disponibilizava de maneira geral informações e dicas sobre empreendimentos,

notícias relevantes sobre o universo do pequeno empresário, entre outras. A linguagem usada

no Facebook é adaptada a esta rede, e, neste sentido, difere dos textos utilizados no site. Os

posts utilizam os símbolos gráficos emojis, largamente utilizado pelos usuários das redes

sociais, e tem um tom mais descontraído e informal, como em um diálogo aberto com os

usuários. Eles contam ainda com uma imagem ilustrada abaixo do texto, que dialoga com o

conteúdo abordado, e apresenta elementos gráficos simples, mas com cores de impacto e de

fácil compreensão.

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Figura 28. Página oficial do Sebrae no Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/sebrae>. Acesso

em: 16 abr. 2016.

Figuras29 e 30. Post na página oficial do Sebrae no Facebook. Disponível em:

<https://www.facebook.com/sebrae>. Acesso em: 16 abr. 2016.

3.4 Pequenas Empresas & Grandes Negócios (PEGN)

O site é originário da revista impressa “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”

(PEGN), publicada mensalmente pela Editora Globo. Pequenas Empresas & Grandes

Negócios é uma referência nacional em empreendedorismo, cuja missão é ajudar pessoas

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inovadoras a transformar ideias em grandes realizações. É, hoje, a marca líder em

empreendedorismo nas plataformas revista, site, tablet, mobile e redes sociais.

A publicação se tornou também um programa de televisão que vai ao ar semanalmente

pela Rede Globo, na TV aberta, e tem a duração de 35 minutos em cada programa. As

reportagens apresentam histórias de empreendedores e dicas sobre gestão e negócios.

Em maio de 2012, a revista lançou o Movimento Empreenda, uma iniciativa para

encorajar e capacitar o empreendedor brasileiro, e tem como missão prestar suporte a todos

que sonham abrir o próprio negócio e também àqueles que já são donos de empresas. Dentro

do site, há uma seção no menu principal que direciona para o site do Movimento:

<http://movimentoempreenda.revistapegn.globo.com/>. Nele, há uma seção de ferramentas,

onde estão disponíveis guias para elaborar planos de negócios, formar equipes

empreendedoras, controlar as finanças e métodos eficazes para estimular a inovação, entre

outros instrumentos de gestão. Todos os materiais estão disponíveis para download. Ainda

dentro deste site, há um ambiente chamado “Super FAQ”, com 100 respostas para as

perguntas mais frequentes dos empreendedores, preparadas pelo consultor Carlos Miranda.

Além do site, o Movimento realiza eventos presenciais em diversas capitais brasileiras, como

o “Encontre um Anjo”, para apresentação de projetos de empreendedores a investidores, e a

entrega do prêmio “Empreendedor de Sucesso”.

Figura 31. Website do Movimento Empreenda. Disponível em:

<http://movimentoempreenda.revistapegn.globo.com/>. Acesso em: 23 abr. 2016.

Assim como o Sebrae, o PEGN não é um site exclusivo para mulheres, mas tornou-se

referência de conteúdo para o pequeno empreendedor, por seu alcance, abrangência e

divulgação de conteúdos de relevância para a comunidade empreendedora.

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Devido à amplitude de conteúdos do seu site, a análise será limitada a apenas algumas

sessões. Cada uma delas, apresentadas no menu, se sub-divide em mais um sub-menu, com

temas específicos.

No menu principal, encontram-se as sessões: Como abrir uma empresa; Administração

de empresas; Franquias, Startups; MEI, Vídeos, Ideias de Negócio, Mais, Últimas notícias,

Melhores Franquias, Movimento Empreenda, Extreme Makeover e Empreendedor de

Sucesso.

Na home page do site, são apresentadas notícias e vídeos sobre negócios e

empreendedorismo. Entre os conteúdos postados na home page, alguns temas eram: “Como

fazer uma reunião rápida e produtiva”; “Serviço online lava e passa roupas”; e

“Empreendedoras faturam R$ 300 mil com bazares”.

Figura 32. Home page do site Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Disponível em:

<http://revistapegn.globo.com/>. Acesso em: 23 abr. 2016.

Na seção “Como abrir uma empresa”, por exemplo, abre-se um sub-menu com os

seguintes assuntos: “plano de negócios”, “formalização”, “simples nacional”, “ponto

comercial” e “crédito para empresas”. Este sub-menu apresenta ainda três conteúdos: “porque

um mundo sem concorrência é ruim”; “máquina promete fazer um logo para sua empresa”;

“como separar os custos e as despesas do negócio”.

Ao abrir a sub-seção “plano de negócios”, encontram-se textos diversos específicos

sobre a temática. Há ainda vídeos, como os episódios da série “Empreendedores do Futuro”

(figura 33). Entre alguns dos temas abordados nesta seção, estão: “Programa oferece

Educação Empreendedora para Mulheres”; “6 dicas para montar seu plano de negócios”;

“Inscreva-se para o evento do Movimento Empreenda em 05/08”; “Ampliação do

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supersimples é aprovada por comissão especial da câmara” e “ O que incluir em um plano de

negócios para sua startup”.

Figura 33. Sub-seção “plano de negócios”. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/>. Acesso em: 23 abr.

2016.

Figura 34. Vídeo da série “Empreendedores do Futuro”. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Como-

comecar/noticia/2015/09/como-lidar-com-negocios-familiares.html>. Acesso em: 23 abr. 2016.

Na seção de vídeos, é possível acessar os vídeos sem divisão por tema, ou separados

por assunto, por meio de um menu organizador. Entre os temas, estão: “educação”,

“empreendedores futuro”, “empreendedorismo social”; “finanças”, “gestão”, entre outros.

Cada vídeo é apresentado com um título e um breve resumo do seu conteúdo. Há, nesta seção,

18 páginas com vídeos, sendo que cada uma contém 6 vídeos (ou seja, há um total de 48

vídeos postados no site nesta seção).

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Figura 35. Seção “Vídeos” do site PEGN. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Videos/index.html>.

Acesso em: 23 abr. 2016.

Figura 36. Vídeo “Sua empresa consegue crescer na crise?” do site PEGN. Disponível em:

<http://revistapegn.globo.com/Videos/index.html>. Acesso em: 23 abr. 2016.

Na sub-seção “colunistas”, alocada dentro do menu “mais”, o usuário pode acessar

artigos separados pelo autor (havia, em 23/04/16, 16 colunistas no site), ou por assunto

(“todos”, “oportunidades”, “gestão”, “digital”, “franquias”, e “sustentabilidade”) (figura 37).

Apenas a colunista Leila Velez, por exemplo, tinha nove artigos publicados nesta seção.

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Figura 37. Sub-seção “colunistas” do site PEGN. Disponível em:

<http://revistapegn.globo.com/colunistas.html>. Acesso em: 23 abr. 2016.

Figura 38. Artigos da colunista Leila Velez no site PEGN. Disponível em:

<http://revistapegn.globo.com/colunistas.html>. Acesso em: 23 abr. 2016.

Apesar do site da PEGN não ser dedicado exclusivamente às mulheres, há uma sub-

seção, dentro do menu “Mais”, chamada “Mulheres empreendedoras”, onde há textos sobre

iniciativas lideradas exclusivamente por mulheres.

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Figuras 39 e 40. Sub-seção “Mulheres Empreendedoras” no site da PEGN. Disponível em:

<http://revistapegn.globo.com/Mulheres-empreendedoras/>. Acesso em: 23 abr. 2016.

Já na sub-seção “Agenda”, há um calendário com os principais eventos de interesse do

mundo empreendedor, apresentando a data, o nome do evento e um resumo do evento.

Figura 41. Sub-seção “Agenda” no site PEGN. Disponível em:

<http://revistapegn.globo.com/Agenda/index.html>. Acesso em: 23 abr. 2016.

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Já na seção “Empreendedor de Sucesso”, são apresentadas as informações sobre o

Prêmio Empreendedor de Sucesso, que faz parte dos eventos realizados pelo Movimento

Empreenda. A premiação, que em 2015 completou a sua nona edição, tem como objetivo

encorajar e capacitar o empreendedor brasileiro. Os empreendedores são premiados em cinco

categorias: Destaque do Ano, Startup, Negócio de Impacto Social, e duas divisões nos

Negócios de Alto Impacto, com Serviços e Indústria. O prêmio conta ainda com indicações de

embaixadores espalhados por vários estados brasileiros e curadoria do Insper, parceiro

educacional do Movimento Empreenda.

Figura 42. Seção “Empreendedor de Sucesso” do site PEGN. Disponível em:

<http://revistapegn.globo.com/Empreendedor-de-Sucesso/>. Acesso em: 23 abr. 2016.

A revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, assim como os demais ambientes

analisados neste estudo (Rede Mulher Empreendedora, Escola de Você e Sebrae), também se

relaciona com seus públicos por meio das redes sociais. A PEGN está presente em quatro

delas: o Facebook (<https://www.facebook.com/revistapegn/>), o Twitter

(<https://twitter.com/peqempresas>), o Google Plus

(<https://plus.google.com/+RevistaPEGN>), e o Linkedin

(<https://www.linkedin.com/company/3256606?trk=tyah&trkInfo=clickedVertical%3Ashowc

ase%2CclickedEntityId%3A3256606%2Cidx%3A2-1-

2%2CtarId%3A1461430528716%2Ctas%3Apequenas%20empresas%20grandes%20neg%C3

%B3cios>).

A influência da página da PEGN no Facebook impressiona, pois o número de curtidas

é maior que o dobro dos números da página do Sebrae nesta rede social: 2.418.203 (em

23/04/16). Este número demonstra a força da relevância do conteúdo apresentado pela PEGN,

que é marcado por matérias, artigos e entrevistas, muitas vezes replicados do site, mas, aqui, a

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linguagem é um pouco menos formal do que os textos do site, mas sempre com um tom mais

jornalístico, característico do perfil da revista. O foco dos conteúdos é, assim como o site,

voltado aos temas de empreendedorismo, gestão e negócios.

Imagens de banco de imagens e de produção própria sempre acompanham os posts.

Figuras 43 e 44. Posts publicados na página oficial da revista PEGN no Facebook. Disponível em:

<https://www.facebook.com/revistapegn/>. Acesso em: 23 abr. 2016.

No Twitter, a influência da PEGN também é marcante. Em 23/04/16, a página no

Twitter da PEGN tinha 301 mil seguidores, e 31,4 mil tweets. Os posts são de

compartilhamentos de notícias relevantes ao universo do empreendedorismo, mas, como

adaptação ao perfil desta rede, os textos são extremamente curtos (limitados a 140 caracteres)

e direcionam para matérias já existentes no site. Todos os posts são acompanhados de fotos

que tem relação com o conteúdo da frase postada.

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Figuras 45 e 46. Página oficial da PEGN no Twitter e exemplo de post na rede social. Disponível em:

<https://twitter.com/peqempresas>. Acesso em: 23 abr. 2016.

Na terceira rede social onde a PEGN está presente, o Google Plus, o conteúdo é

similar ao postado no Facebook e no Twitter, com informações sobre eventos e notícias do

universo empreendedor. Aqui, o número de seguidores é bem menor: apenas 43.936

seguidores. No entanto, a influência diminuída nesta rede social pode ser explicada pelo fato

de que o número de usuários do Google Plus é bastante menor do que o número de usuários

do Facebook ou do Twitter. Desta forma, este volume de usuários, tão mais baixo nesta rede,

não demonstra discrepância, mas, sim, acompanha proporcionalmente a influência de cada

rede social na comunidade de internautas.

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Figuras 47 e 48. Página oficial da PEGN no Google Plus e exemplos de posts. Disponível em:

<https://plus.google.com/+RevistaPEGN>. Acesso em 23 abr. 2016.

Por fim, a quarta rede social utilizada pela PEGN, o Linkedin, apresenta um número

de seguidores similares aos números do Google Plus (47.003 em 23/04/16). Este fato pode ser

explicado pelo menor número de usuários desta rede, mas ela se caracteriza de forma

diferente do Google Plus, que é dedicada a temas sociais. O Linkedin é uma plataforma de

relacionamento exclusivamente dedicada a temas profissionais, e quase que a maioria dos

temas discutidos nesta rede são relacionados ao campo do mercado de trabalho e aos

negócios. Assim, apesar de ter um número menor de usuários, sua estratégia de nicho faz com

que tenha uma influência em sua zona de atuação muito maior do que qualquer outra rede

social, uma vez que apresenta uma credibilidade muito forte entre os seus usuários. Por isso,

apesar de o conteúdo da página da PEGN no Linkedin ser similar ao das demais redes sociais,

com postagens de notícias e textos sobre empreendedorismo e negócios, a linguagem adquire

um tom mais formal e corporativo. As imagens que ilustram os posts e artigos são fotos ou

imagens brancas, compradas em bancos de imagens, e apresentam bastante similaridade com

a linguagem de posts de outras páginas de empresas ou até mesmo de usuários dentro desta

rede.

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Figuras 49 e 50. Página oficial da PEGN no Linkedin e exemplos de posts. Disponível em:

<https://www.linkedin.com/company/3256606?trk=tyah&trkInfo=clickedVertical%3Ashowcase%2CclickedEntit

yId%3A3256606%2Cidx%3A2-1-

2%2CtarId%3A1461430528716%2Ctas%3Apequenas%20empresas%20grandes%20neg%C3%B3cios>. Acesso

em: 23 abr. 2016.

3.5 Ambientes virtuais em perspectiva

Após uma análise aprofundada dos ambientes virtuais que compõem o objeto de

estudo desta pesquisa, pode-se concluir que os quatro sites analisados (Rede Mulher

Empreendedora, Escola de Você, Sebrae e revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios)

apresentam, cada um, perfis diferentes de atuação, os quais atendem a diversas demandas

geradas pelo público empreendedor feminino. No entanto, é importante frisar que há, entre

eles, um elo que os une: a missão pela capacitação em empreendedorismo, e a forte influência

e credibilidade em suas comunidades de usuários. Cada um destes sites, à sua maneira, exerce

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a sua devida força para a disseminação dos conteúdos e promove, assim, o fortalecimento de

suas comunidades empreendedoras por meio da educação à distância, nas mais diversas

linguagens – textual ou visual.

A Rede Mulher Empreendedora exerce a sua influência em sua comunidade por ser

pioneira ao tratar o tema do empreendedorismo de maneira exclusiva para o público feminino.

Além disso, expandiu a sua atuação para além da esfera virtual, e age também no ambiente

presencial, por meio de cursos e eventos. Apresenta ampla penetração e reconhecimento no

universo empreendedor feminino, e é uma das plataformas com maior impacto na integração

comunitária das empreendedoras, ao fortalecer os laços por meio do uso das redes sociais e de

grupos de discussão moderados pelo RME.

A Escola de Você apresenta também uma estratégia de atuação de nicho, com foco na

comunidade empreendedora feminina, mas sua atuação é bastante diferente à da RME. Nele,

o foco dos temas abordados não é exclusivamente o campo profissional, mas também a

discussão de temas da vida pessoal e familiar, como a maternidade e a auto-estima, universos

de bastante influência entre as usuárias. Além disso, sua estratégia de atuação fora da esfera

virtual – por meio de cursos realizados pelas “embaixadoras” do site – permite uma forte

ampliação do alcance das capacitações da Escola de Você.

Finalmente, os sites do Sebrae e da revista PEGN não atendem exclusivamente ao

universo empreendedor feminino, mas são, ambos, as maiores referências em capacitação e

conteúdo dedicados ao empreendedor brasileiro. Sua credibilidade e influência no ambiente

virtual são fortalecidas pela origem em ambiente físico das duas instituições (o Sebrae, como

instituição de apoio ao micro e pequeno empreendedor, nascido há mais de 40 anos, e a

revista PEGN, que se originou como veículo impresso, e hoje, está presente não apenas na

internet, mas também na TV). O volume de dados, informações e conteúdos para capacitação

voltados ao empreendedorismo impressiona, e se tornaram, juntos, as duas maiores escolas

virtuais gratuitas de empreendedorismo no Brasil. Apesar de seu foco não estar voltado

apenas à empreendedora mulher, o raio de atuação, a credibilidade, as parcerias firmadas e a

força das atividades realizadas por estas duas entidades permitem concluir que o estudo de

suas contribuições para o empreendedorismo é essencial para a análise do impacto da

educação virtual e conteúdos digitais para a geração de oportunidades para o empoderamento

e o empreendedorismo feminino.

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Os aspectos apresentados neste capítulo foram necessários para a contextualização dos

dados que serão apresentados a seguir nesta pesquisa, com a análise detalhada de alguns dos

conteúdos dos sites, e entrevistas realizadas com empreendedoras. Desta forma, pode-se

afirmar que os quatro sites analisados em seus ambientes abordam e contemplam todas as

questões demandadas pela comunidade empreendedora feminina no Brasil, e se caracterizam

por apresentarem profunda influência em sua audiência-alvo.

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4 Análise de conteúdos de aprendizagem e interação nos ambientes virtuais

Analisar o conteúdo e os impactos dos ambientes virtuais para a capacitação à

distância e para a melhoria das oportunidades de empoderamento de mulheres

empreendedoras, principal objetivo do presente estudo, perpassa pela necessidade de estudo

crítico das mensagens, discursos e linguagem utilizados nos ambientes virtuais analisados

(Rede Mulher Empreendedora, Escola de Você, Sebrae e revista PEGN), bem como pela

avaliação das apropriações destes conteúdos pelo principal público receptor destas

comunicações – as mulheres empreendedoras. Para tal, e para compreensão dos sentidos e

efeitos de sentido manifestados pelos textos culturais e discursos apresentados nestes

ambientes, o alicerce para esta análise crítica foram os elementos conceituais da semiótica e

dos estudos críticos de discurso (ECD)42.

O caminho percorrido para a seleção das amostras dos diversos elementos pesquisados

para este estudo apresentou alguns critérios objetivos para a sua qualificação para análise do

impacto e das respectivas apropriações por parte das empreendedoras. Será apresentada uma

seleção de textos em linguagem visual e textual em todos os ambientes virtuais estudados

nesta pesquisa, sendo que os formatos textuais selecionados - artigos e vídeos – foram

escolhidos por apresentarem as estruturas de texto mais comuns em ambientes de

aprendizagem à distância, e também por serem os formatos em comum entre os quatro sites

estudados. No entanto, houve algumas exceções. Para o site da Rede Mulher Empreendedora,

foram selecionados e analisados três artigos, e não foram selecionados vídeos, pois este

ambiente não disponibiliza materiais neste formato para capacitação e educação de suas

usuárias. Já para os sites do Sebrae e da Revista PEGN, foram igualmente selecionados três

artigos e três vídeos, uma vez que ambos apresentam materiais nestes dois formatos. Já para o

site da Escola de Você foram selecionados três vídeos, e não foram analisados artigos, pois

neste ambiente não estavam disponíveis artigos para capacitação e orientação de seu público-

alvo.

42 O termo “estudos críticos de discurso” (ECD) foi utilizado no lugar de “análise de discurso”, recorrendo a uma

apropriada análise de Dijk (2015, p. 10), na qual o autor defende que estes estudos não são um método de análise

do discurso, por simplesmente não existir este tipo de método. Os ECD “usam qualquer método que seja

relevante para os objetivos dos seus projetos de pesquisa e tais métodos são, em grande parte, aqueles utilizados

em estudos de discurso em geral (VAN DIJK, 2015, p. 10).

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Focar o olhar e trazer luz ao tema do empreendedorismo feminino, como já explicitado

nos capítulos anteriores do presente trabalho, é uma contribuição para trazer à frente dos

estudos de comunicação possibilidades que possam empoderar e gerar novos negócios por

meio de canais de comunicação digital e educação à distância. No entanto, pode-se

questionar, legitimamente, quais são as contribuições mais práticas, e talvez mais próximas e

de curto prazo, da observação e análise dos ambientes virtuais de aprendizagem. Algumas

perguntas são válidas: por que avaliar como o conteúdo é retratado nestes ambientes? Por que

analisar como este mesmo conteúdo é apropriado pelas empreendedoras? Por que, avaliando

por um viés mais pragmático, se justifica este tipo de estudo, quando talvez outras questões de

ordem mais prática urgem no atual cenário econômico empreendedor brasileiro?

Primeiramente, ter em mente que a linguagem, o signo e o discurso não são neutros, e,

consequentemente, desnaturalizar as suas construções pelos emissores das mensagens é o

primeiro passo para ter uma percepção crítica do que Dijk chama de “reprodução discursiva

do poder” (DIJK, 2015). Poder, aqui, apresentado não simplesmente por uma conotação

negativa, uma vez que a sua atuação em uma sociedade organizada é necessária para o

estabelecimento de direitos e liberdades entre todos. O problema, como explicitado pelo autor,

é o abuso de poder, quando as autoridades e instituições dotadas de poder em suas respectivas

sociedades retroalimentam desigualdades sociais e reforçam o desequilíbrio de liberdades

individuais e grupais, por meio do favorecimento de grupos dominantes, em detrimento de

minorias dominadas. Ao estudar o empreendedorismo focado no público feminino, e os

impactos para o seu empoderamento, não seria plausível negar ou omitir as práticas

recorrentes e ainda bastante atuais de reproduções de discursos nas mais diversas

comunicações na sociedade brasileira que perpetuam as desigualdades de gênero, os

obstáculos ao acesso da população feminina à educação (sendo ela formal, informal,

presencial ou à distância), e os preconceitos sociais que mantém mulheres e meninas presas a

condições desiguais de salário, acesso ao crédito, a empregos e a vagas nas instituições

educacionais, sem contar os números expressivos de violações morais e sexuais diárias

sofridas pelas mulheres.

No entendimento de Dijk, o estudo crítico do discurso só é possível a partir de uma

tríade que se interrelaciona, formada por discurso, cognição e sociedade. Em sua análise, o

autor explicita que não há ligação direta entre discurso e sociedade: antes, entre os dois, há

sempre uma interação e a formação de representações mentais, que permitem que os discursos

sejam observados, experimentados, interpretados e representados pelos membros da

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sociedade. Neste presente estudo, a análise da sociedade foi apresentada durante a

fundamentação teórica; o discurso será apresentado por meio das análises dos conteúdos dos

ambientes virtuais estudados; por fim, a cognição será avaliada por meio das apropriações e

sentidos formados pelas empreendedoras. A partir desta tríade, podem-se extrair as

“percepções úteis do papel que o discurso desempenha na reprodução da dominação, e como

tal abuso de poder leva à desigualdade social” (DIJK, 2015, p. 34). Dijk resume de maneira

especial a importância social deste tipo de análise:

(...) a relevância prática dos ECD’s pode ser encontrada especialmente na educação

crítica de estudantes como futuros profissionais, no seu papel na preparação de

especialistas para poderosas organizações internacionais como também para as

organizações de base, e ao mostrar para os empreendimentos empresariais que

qualquer forma de discriminação discursiva será no fim das contas ruim para seus

negócios” (DIJK, 2015, p. 37).

4.1 Análise de discurso nos artigos do site Rede Mulher Empreendedora

Para o site da Rede Mulher Empreendedora, serão analisados na sequência três artigos,

coletados diretamente do próprio site. Os artigos selecionados foram43: “O DNA dos grandes

empreendedores brasileiros”44, de Pedro Mello; “Como fidelizar clientes?”45, sem autor

identificado, e “Como anda a saúde financeira da sua empresa?”46, de Jaqueline Guerra.

Antes de seguir com as análises dos textos, faz-se necessária uma breve conceituação

de discurso, e mesmo da análise do discurso (ou estudo crítico do discurso, termo cunhado

por Dijk). Segundo Verón (2004, p. 60-61, apud CITELLI et al., 2014), o discurso “designa

qualquer conjunto significante (lugar de investimento de sentido) considerado como tal,

independente das matérias significantes em questão (a linguagem propriamente dita, o corpo,

a imagem, etc)”. Verón explicita ainda o entendimento da análise de discurso (AD) como “o

exame de fenômenos heterogêneos e complexos, uma vez que o sentido não estaria no

43 Os textos completos encontram-se disponíveis para leitura nos anexos deste trabalho. 44 Disponível em: <http://webapp7349.cloud517.configrapp.com/o-dna-dos-grandes-empreendedores-

brasileiros/>. Acesso em: 5 jun. 2016. 45 Disponível em: <http://webapp7349.cloud517.configrapp.com/como-fidelizar-clientes-2/>. Acesso em: 5 jun.

2016. 46 Disponível em: <http://webapp7349.cloud517.configrapp.com/como-anda-a-saude-financeira-da-sua-

empresa/>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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discurso em si, mas nos ‘sistemas de relações’ que os produtos significantes estabelecem, de

um lado, com as condições de produção, e de outro, com seus efeitos” (VERÓN, 1996, p. 128

apud CITELLI et al., 2014). Assim, a análise de discurso é tanto mais abrangente do que a

análise de conteúdo, ao estender a sua abrangência para as relações entre texto cultural e

relações sociais. Neste sentido, as contribuições de Dijk para as análises que se apresentarão a

seguir são essenciais, uma vez que o autor estabelece que os ECD focam os discursos que

podem variar em função de condições sociais relevantes, ou contribuir para consequências

sociais importantes, tais como influenciar crenças ou outras ações sociais dos receptores

(DIJK, 2015, p. 14).

Em primeiro lugar, apresenta-se a análise do artigo “O DNA dos grandes

empreendedores brasileiros” de Pedro Mello. O título do texto já anuncia de certa forma

algumas pretensões e algumas marcas de estilo do autor. A utilização de um signo originado

na biologia (“DNA”) demonstra certa inclinação a apresentar o empreendedorismo com um

traço nato, e não aprendido com técnicas e capacitações. O uso do adjetivo “grandes” também

mostra outra marca do autor: a predileção por empresários de grande porte e com grande

referência no repertório popular.

Ao seguir para a análise do texto, ele está carregado de referências à escola americana

de negócios. Percebe-se, pelo uso de termos como “liberdade”, “intuição” e alguns outros

elementos que se desprendem pela leitura uma predileção do autor na valorização do modelo

americano de trabalho, de “self-made man”, explicitado na sentença “Empreender é uma

decisão de vida, onde você escolhe criar seu próprio futuro em vez de deixá-lo nas mãos dos

outros”. Na sequência, o autor utiliza a palavra “liberdade” em oposição à “segurança”, ao se

referir ao empreendedorismo em oposição ao emprego formal, buscando trazer a equivalência

do emprego à escravidão – sendo que o próprio autor traz o termo “escravizados” no

parágrafo seguinte, em uma referência aos empregados que trabalham em empresas.

Outra observação que se conecta à valorização da escola americana de fazer negócios

é o uso repetido de determinados termos ligados ao reconhecimento do capitalismo como

modelo de vida: a palavra “liberdade” aparece duas vezes em dois parágrafos sequenciais; a

palavra “sucesso” é usada seis vezes ao longo de todo o artigo; e as palavras “intuição” e

“sustentável” aparecem duas vezes cada uma.

Pela menção do termo “sucesso” em repetidas vezes ao longo do texto, o signo merece

uma atenção especial. A redundância na escolha da palavra pelo autor não foi utilizada sem

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critério. A preocupação em explicar o que é ser um empreendedor de sucesso é frequente no

texto, ainda que ser bem-sucedido esteja explícito por atender a uma lógica de mercado: é

medido monetariamente – em faturamento – ou pela liderança de mercado: “São pessoas com

brilho e talento que fazem seus negócios se desenvolverem de forma excepcional.

Empreendedores que (...) com um toque especial, conseguiram transformá-las em grandes

grupos econômicos que faturam bilhões de reais por ano. Ou então, se ainda estão longe dos

faturamentos gigantescos, certamente são líderes nos setores em que atuam (...)” (negritos

da autora). Sobre o uso de termos como “iluminados” ou ainda “com um toque especial” para

se referir aos empreendedores ditos como “de sucesso”, há que se frisar uma nuance

importante pretendida pelo autor: a de que este empreendedor tem uma espécie de dom

divino, equivalente à crença na Idade Média de que os monarcas e a família real assim o eram

por escolha divina.

Apesar de apresentar claramente elementos que defendem o modelo americano de

trabalho, alguns signos se mostram de forma contraditória a este modelo, talvez trazidos ao

texto com a intenção de suavizar a proposta capitalista do lucro e da vida com o foco no

trabalho. Outra característica levantada pelo autor como sendo marca do “empreendedor de

sucesso” seria a do altruísmo: “(...) [o empreendedor de sucesso tem] uma característica em

comum. Se tivesse que apontá-la, diria que seria uma visão holística e altruísta do mundo”.

E, para fechar, o autor destaca uma citação de um empreendedor (Miguel Krigsner, do O

Boticário): “(...) Pensar apenas no dinheiro é uma das maiores pobrezas que um ser pode

ter”. Em ambas as frases, pode-se perceber a contradição da defesa do lucro e da liderança de

mercado como marcas de sucesso, e apresentar, depois, que o altruísmo e o pensar em outros

elementos além do dinheiro como fatores importantes para o empreendedor.

O autor demonstra um estilo bastante contundente em alguns pontos do texto.

Afirmações como “deixam claro” e “nunca” a partir da análise de uma frase de um único

entrevistado deixam o artigo frágil. Nesta mesma frase destes elementos, pode-se ainda

desprender certa defesa pela globalização, e desvalorização do olhar local, pelo uso da

expressão “seu próprio umbigo”: “Afirmações como essa deixam claro que um empreendedor

que só consegue olhar para seu próprio umbigo nunca será um grande empreendedor”

(negritos da autora).

A predileção pela grandiloquência do autor acaba por fazer com que ele misture

conceitos de empreendedorismo e liderança. Para ele, o empreendedor “de sucesso” deve ser

um “líder genuíno”, ou seja, deve ser admirado, como se ele devesse se espelhar numa espécie

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de Cidadão Kane47, o grande líder empresarial que, além de ser empreendedor nato e seguir a

cartilha do “self-made man”, constrói, com a mesma dedicação à empresa, uma imagem

projetada de si mesmo, necessária para a composição de um personagem que possa ser

seguido como um grande mártir do mundo empresarial. O espelho é objeto tão importante

nesta construção da liderança que em uma das cenas mais emblemáticas do filme, Kane

aparece sob um fundo de diversos espelhos repetidos, como um Narciso confuso sobre sua

própria imagem, já totalmente despido de sua identidade.

As referências americanas, e a defesa do modelo empresarial deste país apresentam-se

cada vez mais evidentes ao longo do texto. A menção a Bill Gates, presidente da Microsoft, e

o espaço que ele toma no artigo (há alguns parágrafos inteiramente dedicados a contar a

história do empresário) denotam uma predileção por apresentar como foco empresários já

bem estabelecidos e com grandes empresas. Outra marca deste estilo é a defesa do treino e da

intensa dedicação ao trabalho como outra possível característica dos “grandes”

empreendedores. Pela disciplina e pelo treino, como defende o autor do artigo, seria possível

alcançar o sucesso, reforçando a crença, utilizada de forma massiva pela escola americana, de

que o indivíduo é o único responsável pelo seu destino, e de que ele pode realizar qualquer

coisa, a partir apenas da força de vontade – “(...) pessoas consideradas como fora de série

fazem 10.000 horas de treinamento antes de serem consagradas como geniais. Foi assim

com Bill Gates, que não virou o empresário mais rico do mundo por acaso. Antes de fundar a

Microsoft com Paul Allen, em 1975, ele já tinha muito mais do que 10.000 horas de

treinamento naquilo que viria a ser sua profissão (...)” (negritos da autora). Aliás, a menção

repetida ao número de horas gastas pelos empreendedores parece ser uma preocupação

recorrente do autor: ao longo do texto, ele menciona uma série de outros números

relacionados à exaustiva rotina de trabalho: “(...) Em apenas sete meses de trabalho para esse

projeto, Bill Gates acumulou 1.575 horas de trabalho, uma média de oito horas por dia, sete

dias por semana” ou ainda em quando o autor traz o exemplo dos Beatles “(...) eles tocaram

um total de 106 vezes [em um bar de striptease em Hamburgo, na Alemanha], sendo que cada

apresentação durava no mínimo cinco horas. Quando o quarteto começou a fazer sucesso,

Lennon e seus amigos acumulavam 1.200 shows, volume que muitas bandas não chegam a

alcançar durante sua carreira inteira” (negritos da autora).

47 Charles Foster Kane, personagem principal do filme Cidadão Kane, retrata um magnata da imprensa norte-

americana que se transforma em mito, e foi inspirado na história real de William Randolph Hearst, um dos

maiores empresários da imprensa dos Estados Unidos nas décadas de 1920 a 1940. CIDADÃO Kane (1941).

Produção e Direção de Orson Welles. Holywood: RKO Pictures. DVD simples (119 min.), son., preto e branco.

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124

A defesa do modelo americano de trabalho segue por todo o texto, em diversas

demonstrações. Outro exemplo que vale ser mencionado é a defesa do autor pela iniciação

precoce, ainda na infância ou na juventude, ao mundo do trabalho, demonstrando a

valorização de aspectos fortemente presentes na cultura empresarial americana, como a

competição e a concorrência acirrada – e o estímulo precoce como possibilidade de ganho de

vantagem na corrida pelo tão almejado sucesso: “(...) [os empreendedores de sucesso] tiveram

uma grande exposição ao mundo profissional desde muito cedo. Ou seja, antes que se dessem

conta, a quilometragem de sua experiência estava rodando desde muito cedo, em alguns

casos ainda na infância. (...) o contato com os negócios ainda cedo certamente foi vital no

aprendizado dos nossos personagens”.

Por fim, entre outros elementos que reforçam a defesa do “american way of life” nos

negócios, um que merece ser apresentado é a ideia defendida pelo autor de que o

empreendedor iniciante não teria tanta necessidade de capacitação; antes, seria mais

importante o fazer imediato, contradizendo todas as correntes de educação preparatória para o

empreendedorismo, defendidas por muitas instituições, e reforçando o estereótipo de que não

é necessário preparo mínimo para se iniciar um negócio, e que o principal é ter boas ideias e

realizá-las em primeiro lugar, em detrimento de um bom planejamento inicial prévio: “(...)

arriscamos afirmar que sair da inércia e fazer acontecer é muito mais importante no início de

um negócio do que fazer business plan e pesquisas que demandam muito tempo e dinheiro”.

Em um artigo apresentado no ambiente da Rede Mulher Empreendedora, o estilo e as

marcas apresentadas no texto parecem não estar alinhadas com os propósitos desta

comunidade. Ao reunir prioritariamente pequenas empreendedoras, o presente artigo parece

falar muito mais com homens executivos do que com mulheres que enfrentam dificuldades

cotidianas em seus pequenos empreendimentos. A fala dominante é a do empresário de

grande porte de modelo americano, em um ambiente ideal em que o contexto social, os

entraves burocráticos e os obstáculos de acesso ao crédito parecem não existir. Reforça-se

assim, neste texto, a representação do empreendedor nato, construído sozinho e sem apoio de

nenhuma parte, e que sequer busca se capacitar, enfraquecendo as possibilidades de diálogo

com as usuárias do RME.

A seguir, apresenta-se a análise do artigo “Como fidelizar clientes?” sem autoria

apresentada no site da RME.

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O estilo do segundo artigo difere bastante do primeiro. Neste texto, o tom é

jornalístico, direto e objetivo. Essencialmente, o texto trata de dicas para a empreendedora

poder fidelizar os clientes de sua empresa. Para tal, no lugar de aconselhamentos, o texto traz

como falantes dois especialistas de instituições de referência em seus campos de ação: o

Sebrae, um dos principais atores do empreendedorismo brasileiro, e a ESPM (Escola Superior

de Propaganda e Marketing), uma das principais escolas de marketing do país. A apresentação

de dois especialistas para embasar os argumentos apresentados no artigo reforça a necessidade

de trazer credibilidade e certo rigor com relação aos dados mostrados.

De maneira geral, encontra-se uma linguagem didática, simples e bastante acessível, e

que prima pelo foco objetivo: a praticidade de dicas apresentadas em parágrafos separados,

com destaque para cada sub-título, funciona como uma espécie de manual de fácil acesso, e

que pode ser aplicado diretamente no empreendimento.

Em alguns momentos, há o uso de redundâncias, que podem ter tido como propósito a

memorização das dicas apresentadas, e facilitar o aprendizado, como no trecho “Conheça os

clientes – e suas diferenças” (um dos sub-títulos), e, logo abaixo, o parágrafo se inicia com

“Conhecer o cliente é fundamental (...)”.

Além das redundâncias, a apresentação de dicas práticas e objetivas, que levam à ação,

é recorrente no texto, e reforça a didática para garantir o entendimento dos temas

apresentados, como nos exemplos a seguir: “(...) Conhecer o cliente é fundamental e pode ser

feito através de um banco de dados que contenha além do nome, endereço, e telefone, um

histórico de compras, com o perfil do cliente”, “(...) Uma boa estratégia para o cliente notar

o que se oferece é apostar em benefícios como ofertas, descontos ou até um brinde”, “(...)

Pode ser uma pizza grátis a cada dez compradas, por exemplo”.

O estilo jornalístico do texto não se revela apenas pela sua objetividade, mas, também,

pela apresentação de dados numéricos, que parecem enfatizar a comprovação das dicas

apresentadas: “(...) apenas 47% das micro e pequenas empresas cadastram seus clientes e

somente 16% delas atualizam esse sistema. O consultor do Sebrae ressalta que 20% dos

clientes correspondem a 80% do faturamento de uma empresa (...)”.

O texto, em tamanho, é curto, de rápida leitura, e explicita o seu objetivo de que as

dicas apresentadas sejam assimiladas de forma rápida pela leitora. É perceptível que o

interesse do redator é a ação prática e imediata, e não a reflexão, como talvez tenha sido

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pretendido no primeiro artigo analisado. No contexto do site do RME, produz um sentido

pragmático, e que auxilia diretamente no cotidiano da empreendedora usuária do site.

Na sequência, o artigo “Como anda a saúde financeira da sua empresa”, de Jaqueline

Guerra, é analisado.

O terceiro texto analisado do site RME é similar ao perfil do segundo, por ser objetivo

e prático, no entanto, ele não tem o estilo jornalístico do anterior: ele se apresenta com um

perfil de aconselhamento e não traz as vozes de outros falantes no discurso. Logo no início do

texto, a autora chama a leitora para uma reflexão, mas o que se observa é que o que o texto

menos convoca é a atitude reflexiva: a linguagem é, o tempo todo, diretiva, chamando a

leitora para a ação. Isso é demonstrado em trechos como “(...) O fluxo de caixa tem que ser

acompanhado diariamente (...)”, “(...) Estar atento às despesas variáveis e fixas da empresa,

acompanhar todos os lançamentos (...) e “Antes mesmo de tomar uma atitude de colocar o

nome do seu cliente no serviço de proteção ao crédito, entre em contato, negocie e mostre a

ao mesmo que tem respeito por ele e que quer negociar para que ambos não saiam

perdendo”.

Além da linguagem diretiva, a autora faz uso de um estilo simples e didático, com o

objetivo de facilitar a assimilação da mensagem, adotando também um tom de

aconselhamento. Observa-se também que não há espaço para a reflexão, como foi proposto

pela autora no início do texto.

Outro dado recorrente no texto é o uso de diversas metáforas com termos do universo

do campo da medicina, como “saúde financeira”, “empresa doente”, “morte”, “saudável”,

“check-up”, “diagnóstico” e “viroses”. Aqui, percebe-se a intenção da autora em tornar a

linguagem acessível e simples, aproximando termos que são do universo do dia a dia da

empreendedora no lugar de palavras originadas no campo da administração, nem sempre

dominadas ou conhecidas da leitora.

Ao analisar em profundidade os três textos coletados no site da Rede Mulher

Empreendedora, percebem-se algumas diferenças de estilo e linguagem, e ainda de objetivos a

serem alcançados por cada um deles, mas o que os torna comuns em seu direcionamento

discursivo é a correlação entre os temas, focados em temáticas do cotidiano administrativo da

gestão dos empreendimentos. Apesar de, a princípio, todos apresentarem a meta de falar à

mulher empreendedora, é importante avaliar, além das questões textuais, elementos que

contextualizam os lugares de fala, o discurso dominante e a produção de sentido gerados em

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conteúdos como os analisados neste estudo. É importante considerar, como lembra Dijk

(2015, p. 50), que o discurso não é totalmente livre e democrático, uma vez que ele é

controlado por determinados grupos que perpetuam o poder social, e isto é bastante válido no

ambiente educacional. Os artigos, livros, aulas e materiais de ensino não são escritos,

planejados, distribuídos e acessados igualmente por todos os grupos presentes em nossa

sociedade; antes, há um controle sobre os assuntos e temas que serão abordados, determinados

por aqueles que planejam e assumem o direcionamento dos ambientes educacionais, como

professores, diretores de ensino, e redatores de artigos, como é o caso dos textos apresentados

nesta pesquisa. Assim, estilo e conteúdo do discurso educacional são controlados por um

grupo, exercendo influência e reproduzindo determinadas correntes de pensamento (DIJK,

2015, p. 50). Assim, identificar quem fala e escreve (ou quem pode falar e escrever, ou ainda

quem tem acesso à fala e à escrita), sobre o quê, e quando é tão importante quanto a avaliação

de signos utilizados, frequência de uso dos termos e estilo (DIJK, 2015, p. 89). Ao considerar

que o público-alvo desta pesquisa são mulheres empreendedoras, cuja necessidade de

formação e capacitação é proeminente, mas, muitas vezes, o acesso à educação é dificultado

por uma série de barreiras sociais e econômicas, a escolha dos autores e do estilo dos artigos

influencia diretamente na formação e na articulação de modelos mentais desejados pelos

grupos de domínio do controle educacional. Ao dar voz apenas a especialistas graduados, em

algumas vezes não-empreendedores, e ao destacar temas prioritariamente administrativos, em

detrimento de outros mais reflexivos, como por exemplo a análise de cenários econômicos ou

mesmo o papel social do empreendedorismo, reduz-se bastante o espectro de reflexão entre as

empreendedoras. O próprio uso de linguagem excessivamente simples e direta pode

caracterizar certa desvalorização da formação da leitora empreendedora, ao subestimar a sua

capacidade reflexiva, que seria possível por meio de artigos mais densos. Pode-se concluir,

assim, que os textos coletados no site da Rede Mulher Empreendedora carecem de uma

curadoria mais atenciosa para assumirem, de fato, um papel capacitador mais efetivo na vida

das usuárias empreendedoras.

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4.2 Análise de discurso nos artigos do site do Sebrae

Extraídos do site do Sebrae, serão apresentadas as análises dos seguintes artigos:

“Como escolher um bom ponto para comércio ou indústria”48, “Boas práticas para a sua

empresa produzir mais e melhor”49, e “Tudo o que você precisa para se tornar MEI”50 – em

nenhum dos três artigos, foi localizada a identificação do autor.

No primeiro artigo, “Como escolher um bom ponto para comércio ou indústria” é

possível notar explicitamente o perfil do Sebrae, dedicado ao atendimento de pequenos e

micro empreendedores. Com uma linguagem simples, frases curtas e diretas, o estilo do texto

é principalmente de caráter informativo, e dialoga bem com o perfil do público usuário do site

do Sebrae, formado basicamente pelo pequeno empreendedor. Outra característica encontrada

no artigo é a do reforço das mensagens pela repetição, o que parece ter sido um efeito

escolhido propositalmente pelo autor, a fim de trazer certo didatismo ao texto. Aliás, o tom

didático permeia todo o artigo, trazido principalmente por um texto sem conectores entre as

frases e os parágrafos, e formado em sua quase totalidade por tópicos, para a separação de

diferentes assuntos tratados. Essa estratégia simplificou a linguagem e permitiu facilitar a

compreensão do conteúdo, para atingir um público o mais heterogêneo possível, mas,

principalmente, aquele com menor grau de escolaridade, preocupação regular do site do

Sebrae, observada em outros tipos de texto divulgados neste canal, tais como materiais

institucionais, históricos ou orientações diversas.

Uma observação importante é que neste artigo as questões de ordem legal –

orientações sobre legislação, nomes de instituições que devem ser consultadas – ocupam um

espaço considerável, o que demonstra a preocupação do Sebrae em ser fonte de consulta e

referência para informações oficiais necessárias para questões de ordem prática da vida do

empreendedor, em detrimento do espaço para reflexões no texto, que é inexistente.

48 Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/como-escolher-um-bom-ponto-para-

comercio-ou-industria,e1d89e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD>. Acesso em: 5 jun. 2016. 49 Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/boas-praticas-para-a-sua-empresa-

produzir-mais-e-melhor,b1b1438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD>. Acesso em: 5 jun. 2016. 50 Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/o-que-e-ser-

mei,e0ba13074c0a3410VgnVCM1000003b74010aRCRD>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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O segundo artigo (“Boas práticas para a sua empresa produzir mais e melhor”) traz

uma série de elementos bastante similares ao primeiro. O didatismo, reforçado pelo uso da

estrutura de tópicos, a linguagem simples, as frases curtas e objetivas, e os sub-títulos em

formato de pergunta, destaca-se como um estilo da linguagem utilizada no site do Sebrae,

cumprindo o seu papel de tornar acessíveis os conteúdos apresentados a um público bastante

heterogêneo, e de ser responsável por prestar informações cruciais para o dia a dia do pequeno

empreendedor. A linguagem enxuta, a quase inexistência de conectores entre uma frase e

outra, e um resumo apenas como reforço para a memorização do conteúdo apresentado

acabam por formar um espécie de padrão normativo para os textos presentes no site do

Sebrae, além de atender às necessidades de um público leitor que muitas vezes não teve

acesso prévio a este tipo de informação, ou até mesmo a capacitações anteriores sobre os

temas apresentados.

As características presentes nos dois artigos anteriores se repetem no terceiro artigo

(“Tudo o que você precisa para se tornar MEI51”), o que demonstra uma linha de estilo para

os textos escritos do site do Sebrae, e reforça a sua preocupação em apresentá-los de forma

homogênea, ou minimamente alinhada com os objetivos da entidade: a prestação de serviços

ao pequeno empreendedor. Os sub-títulos, neste artigo, reduzem-se a apenas uma palavra; o

tom é um pouco mais imperativo do que nos demais textos, mas mantém a objetividade e a

linguagem enxuta. A didática é uma marca presente, e faz com que os conteúdos sejam

referenciados como uma espécie de “manual” do pequeno empreendedor, trazendo apenas as

informações mais essenciais para a sua vida prática. Uma pequena diferença apresentada neste

terceiro texto é a de que há um diálogo com outras linguagens, como a visual, ao anunciar e

direcionar, por meio de hiperlinks, vídeos relacionados ao tema do artigo, possibilitando uma

ampliação do escopo apresentado no texto, e permitindo a integração entre dois tipos

diferentes de linguagem para a capacitação sobre um mesmo assunto.

Percebe-se, assim, em uma análise integrada entre os três textos, que há uma linha

dialógica que os une, fornecendo respostas a dúvidas cotidianas do empreendedor – isso

explica a perenidade no estilo presente nos textos, e até um alinhamento com o estilo dos

demais textos observados no site do Sebrae. Aqui, podemos ver uma compreensão do texto a

partir do conceito de dialogismo de Bakhtin, quando se observa que esse entendimento só é

possível quando encontra-se um diálogo relacional entre os textos e com o seu público

receptor (FIORIN, 2016, p. 8). As orientações diretas e objetivas falam diretamente ao

51 Micro-empreendedor individual.

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empreendedor leitor, e convergem para um discurso educacional didático simples, que busca,

antes de qualquer preocupação estética do signo, entregar a informação ao usuário da maneira

mais compreensível e assimilável possível.

4.3 Análise de discurso nos artigos do site da revista PEGN

Os artigos que serão analisados do site da revista PEGN são: “O empreendedor e seu

potencial de transformação52”, de Anna Aranha; “A importância do fracasso53”, de Marcos

Hashimoto; e “A experiência de vida é um diferencial para empreender na crise54”, de

Simone Jardim.

O primeiro texto, “O empreendedor e seu potencial de transformação” faz um

contraponto interessante com os estilos de texto dos sites da Rede Mulher Empreendedora e

do Sebrae. Nele, valorizam-se os aspectos humanos e as relações, que seriam tão igualmente

importantes para o empreendedor quanto questões administrativas, mercadológicas e

financeiras. Ao analisá-lo lado a lado com o primeiro artigo analisado do site da RME, o

estilo e o conteúdo se opõem quase que integralmente, uma vez que aquele texto é marcado

por uma visão fortemente defensiva do modelo empreendedor e de trabalho americano, que

preza o pragmatismo, o lucro e a eficiência acima de tudo.

O estilo assumido pelo texto é basicamente reflexivo, e a linguagem é bastante

acessível e enxuta, um traço comum entre os textos analisados nos demais sites. Há certa

recorrência em traçar um perfil positivo do empreendedor, generalizando o comportamento

dele, como nas frases: “(...) todo empreendedor gera impacto positivo para o país ao criar um

negócio de sucesso (...)” e “(...) todo empreendimento naturalmente gera um impacto positivo

(...)”.

Além destas características, a autora traz também ao texto personagens para

exemplificar o seu argumento. Os exemplos, simples e de fácil entendimento, demonstram

52 Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Colunistas/Anna-de-Souza-Aranha/noticia/2015/06/o-

empreendedor-e-seu-potencial-de-transformacao.html>. Acesso em: 5 jun. 2016. 53 Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Colunistas/Marcos-Hashimoto/noticia/2015/12/importancia-do-

fracasso.html>. Acesso em: 5 jun. 2016. 54 Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Colunistas/Simone-Jardim/noticia/2016/02/experiencia-de-vida-

e-um-diferencial-para-empreender-na-crise.html>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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contradições no comportamento do empreendedor – contradições entre o que é considerado

“correto” e o que é considerado “errado” na visão da autora. Nos três personagens criados

para o artigo, há comportamentos que contrastam, mas, pelo texto, é possível fazer a leitura de

que não são comportamentos compatíveis, ou esperados, para o empreendedor moderno dos

dias atuais. Observa-se, assim, uma grande preocupação da autora pelos fatores sociais

necessários para a composição do caráter do empreendedor, e para a condução dos

empreendimentos.

Percebe-se, ainda, um destaque para uma visão holística do negócio: o empreendedor

não pode simplesmente ser individualista, e pensar apenas em si e em sua empresa; deve,

antes, preocupar-se com os diversos públicos que impactam e que são impactados pelo seu

negócio, de forma responsável, equilibrada e sustentada.

O texto traz marcas de preocupação com o fácil entendimento pelo leitor, ao trazer a

voz dele para dentro do texto: “(...) Legal que isso exista, mas, por que eu deveria fazer parte

disso? (...)”. Esta estratégia demonstra uma necessidade em facilitar o entendimento e trazer o

leitor para a reflexão sobre o tema exposto.

A visão humanista da autora marca quase que a totalidade do artigo, reforçando a sua

preocupação de afirmar que o empreendedor é responsável não apenas pela sua empresa, mas

também pelo seu entorno, pelos funcionários, pelos clientes e pela sociedade – e essa marca

pode ser resumida pela frase “(...) Se cada um pensar ‘o outro que resolva isso’, tudo

continuará como está – e com certeza não é esse o futuro que sonhamos para nós (...)”.

É importante notar que a autora, em seu texto, faz uma crítica bastante pertinente às

contradições existentes entre ação e discurso das empresas. Na área de sustentabilidade, foi

cunhado um termo específico para isso – o chamado “greenwashing55”, para ressaltar a

prática de algumas empresas em apresentar seus produtos ou serviços em suas propagandas,

embalagens e comunicações diversas que destacam falsos atributos “verdes”, como não

agressão ao meio-ambiente, componentes orgânicos, certificações ou até mesmo processos

inexistentes de extração de matérias-primas de maneira sustentada. Ou seja, o “greenwashing”

seria a tradução da anti-ética, do discurso vazio de verdade, e que produz sentido apenas como

55 “Greenwashing” “é um termo em inglês utilizado por uma organização (empresa, governo, etc.) com o

objetivo de dar à opinião pública uma imagem ecologicamente responsável dos seus serviços ou produtos, ou

mesmo da própria organização. Neste caso, a organização tem, porém, uma atuação contrária aos interesses e

bens ambientais. Disponível em: <http://www.coletivoverde.com.br/o-que-e-greenwashing/>. Acesso em: 19

jun. 2016.

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fator diferencial de compra no mercado, mas totalmente incoerente com a forma identitária de

agir da empresa que utiliza este tipo de prática.

Trazendo este conceito para os comparativos entre o agir e o falar do empreendedor,

pode-se concluir que as relações humanas, a honestidade e a prática empresarial ética

constituem elementos fundamentais da formação do empreendedor genuíno, e assume, no

texto, um tom motivador e emocional, garantido pela frase final: “(...) o Brasil está cheio de

desafios esperando por você que, além de serem oportunidades rentáveis de negócio, são

também grandes oportunidades para transformar o nosso país (...)”.

O segundo artigo, “A importância do fracasso”, de Marcos Hashimoto, apresenta um

estilo bastante semelhante ao do primeiro texto analisado, e traz como tema um interessante

contraponto com relação à visão hegemônica a respeito de uma das palavras mais utilizadas

no universo empreendedor: o sucesso. Hashimoto defende em seu artigo que o erro e o

fracasso são importantes componentes para o aprendizado do empreendedor, por permitir o

seu crescimento e o seu amadurecimento pessoal e profissional. Ao apresentar este ponto de

vista, o autor traz à luz uma noção pouco valorizada no ensino (e nas práticas profissionais)

brasileiro: a importância – e a necessidade – do erro. Errar é uma característica intrínseca do

aprendizado, em qualquer época e lugar. O erro faz parte deste processo educacional, e, no

universo empreendedor, ele é praticamente inevitável, uma vez que está lidando-se com um

ambiente propenso ao risco. No entanto, o autor lembra que, no Brasil, há um tratamento cruel

dado àquele que fracassa, o que não acontece em outras culturas, como a americana e a

europeia – onde, na verdade, há um entendimento mais claro de que o erro faz parte do

processo empreendedor, criativo, profissional, enfim, de todos os processos humanos.

Alguns estudos já apontam que, em empresas e ambientes onde o erro é admitido e

bem recebido, de um modo geral, há um cenário mais propício para a inovação e para a

mudança positiva. E a razão disso é bastante fácil de entender. Quando o erro é bem-vindo, as

pessoas tem menos medo de arriscar, pois sabem que, caso errem, não serão “massacradas”

por seus erros, mas sim estimuladas a analisarem o que motivou o erro, e a prepararem as

ações necessárias para recomeçar. E, arriscando mais, há mais possibilidades de se criar algo

novo e jamais visto. Já em ambientes com pouca tolerância ao erro, há na verdade um

desestímulo à criação, uma vez que cria-se um medo pelas consequências do erro, e restringe-

se, assim, a capacidade criativa para novas ideias – sejam de empresas, processos, produtos ou

serviços.

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Em um dado momento do texto, o autor dialoga com o empreendedor, que entra no

artigo como falante, onde a intenção é mostrar as respostas comumente dadas por

empreendedores para justificar o seu fracasso, mas, com esta estratégia, pretende causar

incômodo, ao apresentar que os verdadeiros motivos para o fracasso do empreendimento são

originados pelo próprio empreendedor. O autor ainda percorre didaticamente as possíveis

causas para o fracasso de um negócio, mantendo o objetivo de chamar a responsabilidade do

erro para o indivíduo, e não para causas externas, como geralmente é justificado pelo

empreendedor (tais como crises econômicas, mudanças de legislação, funcionários, clientes,

etc).

Ao falar de aprendizado e de educação, é imprescindível falar sobre o erro, e como ele

deve ser tratado. Para estimular o empreendedorismo, e auxiliar o empreendedor em sua

jornada, o reforço sobre a importância do erro e do fracasso - lembrando-os como

componentes intrínsecos do aprendizado – é essencial para o crescimento e esforços de

capacitação destes empresários. Mesmo contrapondo-se ao discurso prevalecente nos textos

sobre empreendedorismo, que valorizam exponencialmente o sucesso, essa voz dissonante,

que defende o erro como fator inerente ao processo de empreendimento, é de suma

importância para a construção de diálogos mais equilibrados e coerentes com a prática

empreendedora.

O terceiro artigo analisado do site da revista PEGN, “A experiência de vida é um

diferencial para empreender na crise”, de Simone Jardim, traz como tema outro assunto não

muito popular entre os conteúdos voltados a empreendedores: profissionais experientes, acima

de 40 anos, vistos de forma positiva e valorizada. A autora destaca, em seu estilo, as vozes de

outros empreendedores nesta faixa etária, tomados como exemplo para justificar a sua visão.

Segundo a autora, o profissional mais experiente apresenta uma série de vantagens

sobre o mais jovem quando o assunto é empreender. Para reforçar os aspectos positivos do

profissional experiente versus o profissional jovem, o cenário apresentado é o da crise, que

afetou tanto o Brasil (em 2016) quanto a Europa (especificamente a que afetou a região em

2008). Assim, o tipo de empreendedorismo abordado neste texto é o motivado pela

necessidade, que acontece quando o empreendedor abre um negócio por falta de emprego

formal para geração de renda, e não por iniciativa própria. Neste sentido, cabe aqui abrir uma

pequena análise sobre este olhar. Na grande maioria dos textos e conteúdos dedicados ao

empreendedor, há certa exaltação sobre o empreendedorismo motivado por iniciativa própria:

os personagens apresentados são, em sua maioria, profissionais criativos e inovadores que, em

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determinado momento de suas vidas, perceberam que poderiam contribuir de forma muito

mais relevante para a sociedade se empreendessem, no lugar de trabalhar para outras pessoas.

No entanto, a grande realidade, principalmente no Brasil, como demonstram os dados

apresentados no primeiro capítulo desta pesquisa, é a de que a maior parte dos

empreendedores são motivados pela necessidade de geração de renda, por não terem outra

alternativa de trabalho. Mostrar este olhar em seu artigo demonstra que a autora está

conectada com a realidade e que dialoga com o cotidiano enfrentado pelos empreendedores.

Retomando o tema principal de seu texto, é interessante notar que o artigo se torna voz

dissonante em meio a uma visão bastante hegemônica na sociedade como um todo – e não

apenas nos aspectos econômicos ou ligados ao mundo do trabalho: a valorização do

profissional experiente, em contraponto ao profissional jovem. Assim, pode-se dizer que o

texto dialoga, sem consenso, com a voz da sociedade que valoriza a juventude, em uma

análise sob a perspectiva de Bakhtin, quando o autor, “para constituir um discurso, leva em

conta o discurso de outrem, que está presente no seu. Por isso, todo discurso é

inevitavelmente ocupado, atravessado, pelo discurso alheio” (FIORIN, 2016, p. 22). Esse

diálogo traz à luz os argumentos nos quais a autora do artigo acredita que justifiquem a sua

opinião, como a experiência de vida e profissional, autoconfiança, sabedoria, desapego,

maturidade, entre outras características, como se pode observar nos trechos a seguir: “(...)

pessoas maduras têm um repertório de vida maior para lidar com desafios (...)”; “(...) quem

está na meia-idade – e além dela - já tem um senso de quem é e do que realmente importa em

sua vida. São donos de uma autoconfiança e de uma sabedoria singular para lidar com os

revezes (...)”.

E, para reforçar o seu ponto de vista, a autora traz certa preocupação em embasar os

seu argumento de forma científica, ao dizer “(...) hoje muitos estudiosos acreditam que

empreendedores com mais de 40 anos tendem a ser mais bem-sucedidos que os mais jovens,

pois têm uma ampla experiência como consumidores e uma sólida competência profissional

(...)” (negrito da autora). O uso da palavra “estudiosos” reforça a ideia de que o argumento já

foi estudado e não é uma simples opinião da autora – isso serve, de certa forma, para proteger

o texto de possíveis argumentações contrárias. É interessante notar, ainda, que o artigo traz ao

longo do texto duas palavras que provavelmente deveriam ser mensuradas pela quantidade de

repetições em textos sobre empreendedorismo, tamanho é o seu uso em exaustão: “sucesso” e

“bem-sucedido”. Neste artigo, a palavra “sucesso” é utilizada duas vezes, e “bem-sucedido”,

apenas uma, mas é interessante notar a sua recorrência nos artigos aqui analisados nesta

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pesquisa, e também em tantos outros observados do universo empreendedor. O uso destas

palavras denota, de certa forma, a preocupação da autora em utilizar estes termos para

designar o empreendedor realmente importante, que é aquele que lucra, que permanece no

mercado durante muito tempo, apesar de estes termos poderem apresentar diferentes sentidos,

dependendo do contexto, do momento histórico e do grupo social ao qual o texto pertence.

Em suma, os três artigos analisados do site da revista PEGN se conectam por

apresentarem um estilo próprio, e que difere bastante dos demais ambientes analisados neste

estudo: há uma forte marca jornalística nos três textos, o que demonstra a origem e a missão

do site, por apresentarem informações objetivas, mas ao mesmo tempo crítica, e com uma

visão mais holística e humana. O foco dos textos é apresentar um ponto de vista crítico a

respeito de temas importantes ao universo empreendedor, sem perder, no entanto, o retrato

positivo a respeito da atividade empreendedora, com vistas ao estímulo do trabalho

empreendedor.

4.4 Análise de discurso nos vídeos do site Escola de Você

Para o site Escola de Você, foram analisados os vídeos “Dicas da Tatyane Luncah

para ser uma mulher inspiradora56”; “Dicas para começar a vender na internet57”; e “Que

mulher você quer ser58”.

Ao analisar o primeiro vídeo, “Dicas da Tatyane Luncah para ser uma mulher

inspiradora”, que tem a duração de 2m9s, observa-se que ele segue a linguagem, tanto visual

quanto textual, do site Escola de Você – simples, direta, e que cujo foco é apresentar dicas e

aconselhamentos comportamentais à empreendedora, e não apenas de caráter técnico e

administrativo.

O vídeo foi analisado dentro das perspectivas sonoras, visuais e textuais (conteúdo

falado pela apresentadora). Com relação aos aspectos sonoros, observa-se que há sempre uma

56 Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/83/21/250/dicas-para-ser-uma-mulher-

inspiradora/nivel-1/dicas-da-tatyane-luncah-para-ser-uma-mulher-inspiradora>. Acesso em: 5 jun. 2016. 57 Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/86/24/255/dicas-para-comecar-a-vender-na-

internet/nivel-1/como-vender-na-internet>. Acesso em: 5 jun. 2016. 58 Disponível em: <http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/75/13/207/que-mulher-voce-quer-ser/nivel-1/nivel-

1-aula-1---seu-mundo-voce-faz>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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música de fundo que acompanha todo o vídeo, em volume médio, e que acompanha a fala da

apresentadora, que acontece em ritmo bastante acelerado durante todo o tempo. Já com

relação aos aspectos visuais, é importante notar que o material é apresentado por apenas uma

apresentadora, mulher, que se apresenta como autora de um livro sobre o tema do vídeo, e

dialoga com o receptor do vídeo de forma direta – ela fala sempre com o olhar dirigido para a

câmera, como se conversasse com o receptor. Há a apresentação de elementos gráficos

simples de texto na tela e textos (letterings) com fontes simples e coloridas, que mostram no

início o nome do vídeo (apresentado, inclusive, de forma abreviada: “Dicas p/ ser uma mulher

inspiradora” (figura 51), e, na sequência, os números e nomes das cinco dicas apresentadas

pela apresentadora, Tatyane Luncah.

Figura 51. Tela de apresentação do vídeo “Dicas para ser uma mulher inspiradora”. Disponível em:

<http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/83/21/250/dicas-para-ser-uma-mulher-inspiradora/nivel-1/dicas-da-

tatyane-luncah-para-ser-uma-mulher-inspiradora>. Acesso em: 5 jun. 2016.

Tatyane aparece com o seu nome em destaque na tela, e ela apresenta uma imagem

bastante profissional: camisa formal preta, cabelo liso e loiro, pouca maquiagem. O uso de

fundo neutro (cor cinza claro) favorece a apresentação da postura profissional. Merece

destaque o fato de ela apresentar o vídeo sempre sorrindo, com movimentos leves de cabeça

positivos, alguns movimentos de ombro, e ampla gesticulação das mãos acompanhando sua

fala, o que denota sua intenção de mostrar-se positiva, e como se estivesse em um diálogo

presencial com o receptor.

A cada dica apresentada, aparece graficamente, ao lado da apresentadora, o número da

dica, a palavra que a representa (por exemplo, “motivação”), e a sonoridade de uma sineta a

cada dica mostrada. Além das palavras apresentadas na tela, há também a apresentação de

elementos gráficos que representam o que a apresentadora fala, com o acompanhamento de

breves sons que representam o que foi dito, havendo um reforço do mesmo signo na fala, no

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elemento gráfico, e na sonoridade. Um exemplo disso é quando Tatyane fala sobre motivação:

“(...) eu costumo dizer que motivação é como você tomar banho, você tem que fazê-lo todos

os dias (...)”. Durante esta fala, um desenho representando uma pessoa tomando banho

aparece na tela, acompanhado de um som da água do chuveiro caindo.

Figura 52. Representação de banho enquanto apresentadora fala sobre motivação. Disponível em:

<http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/83/21/250/dicas-para-ser-uma-mulher-inspiradora/nivel-1/dicas-da-

tatyane-luncah-para-ser-uma-mulher-inspiradora>. Acesso em: 5 jun. 2016.

Há ainda uma continuidade de palavras que são faladas por Tatyane, e que são

reforçadas em lettering. Essa estratégia de redundância parece simplificar a linguagem, mas

também demonstra um esforço para a memorização dos conteúdos, mostrando uma

preocupação didática com o conteúdo transmitido.

Outro exemplo que reforça o uso da redundância da fala e dos elementos visuais é

quando há um reforço do termo “dois lados”. A apresentadora fala a seguinte frase: “(...) para

você ter sucesso, não basta só que você goste do seu negócio, é importante também que o seu

cliente ame o que você faz, afinal, para uma paixão ser verdadeira, e duradoura, é preciso

que ela seja vivida pelos dois lados (...)”. No momento em que Tatyane fala “dois lados”,

aparece na tela a sua imagem duplicada, acompanhada pelo seu gesto de mão com dois dedos

levantados, representando o número dois, conforme a imagem a seguir.

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Figura 53. Imagem duplicada da apresentadora para reforçar o uso do termo “dois lados”. Disponível em:

<http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/83/21/250/dicas-para-ser-uma-mulher-inspiradora/nivel-1/dicas-da-

tatyane-luncah-para-ser-uma-mulher-inspiradora>. Acesso em: 5 jun. 2016.

Com relação ao conteúdo falado, o vídeo apresenta as possíveis qualidades que

mulheres inspiradoras tem, e que, segundo Tatyane, a receptora do vídeo também pode ter. As

dicas apresentadas são cinco: determinação, persistência, trabalho duro, motivação e paixão.

Ao explanar cada uma delas, a apresentadora dá exemplos e explica, de forma didática, o que

representa cada uma destas características. Há uma predileção por apresentar as dicas com

verbos no infinitivo, como por exemplo na primeira dica, quando Tatyane fala que, para ter

determinação, é preciso “(...) acreditar, decidir, você ir atrás, você ter bastante resistência

(...)”. O conteúdo da fala de Tatyane é marcado por palavras positivas, que parecem ter como

objetivo a motivação da empreendedora, em uma linguagem que se assemelha bastante à

encontrada em livros de estilo de auto-ajuda. Exemplo disso é o uso das palavras “inspirado”,

“positivo”, “acreditar”, com um contraste interessante com palavras negativas, como

“sacrifício” e “obstáculos”. Há uma retomada, como localizado nos artigos analisados neste

estudo, dos termos “sucesso” e “fracasso”, para reforçar que “sucesso” é algo positivo, que

deve ser almejado, e que “fracasso”, apesar de ser ruim, faz parte do risco da atividade

empreendedora. O final do vídeo parece apresentar à empreendedora um final feliz, marcando

uma espécie de conto de fadas: apesar das dificuldades, com as dicas apresentadas, Tatyane

espera que a receptora “(...) também se torne uma mulher inspiradora (...)”.

Este primeiro vídeo demonstra que há uma preocupação pelos aspectos

comportamentais e psicológicos da mulher empreendedora, o que parece ser uma percepção

feminina sobre quais elementos formadores da capacidade empreendedora são importantes

para o seu desenvolvimento e formação. Esta visão contrasta fortemente com o conteúdo de

outros sites, como o do Sebrae e o da revista PEGN, marcadamente voltados para uma visão

administrativa e mais pragmática. Apesar de estes elementos caracterizarem o vídeo com uma

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percepção mais humanística, a sua representação, por meio de reforços redundantes, e

algumas vezes até desnecessários, de muitos dos signos apresentados em diversas linguagens

ao mesmo tempo – visual, falada e sonora – reforçam certa simplificação da abordagem do

conteúdo tratado, aparentando até mesmo um aspecto infantil para a linguagem utilizada no

vídeo. No entanto, é importante notar que todas as marcas de estilo do vídeo conectam-se

entre si, formando um alinhamento de linguagem que caminha para a formação de um

discurso simples, de perfil de aconselhamento, e que dialoga com textos localizados em

publicações catalogadas como de “auto-ajuda”. O uso deste estilo pode ser justificado pela

sua aceitação ampla pelo público feminino. Segundo o site Mulher.com.br, os livros deste

gênero estão entre os mais vendidos para as leitoras. Segundo matéria publicada no site, em

explicação apresentada pela psicóloga Ana Lucia Ribeiro, do Hospital Beneficência

Portuguesa de São Paulo, “as mulheres, em geral, são mais suscetíveis aos livros de auto-

ajuda e buscam na leitura um caminho diferente daquele que elas vêm percorrendo”. (BURRI,

sem data). Já para Francisco Rüdiger, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro (PUC-RJ), a aceitação de livros de auto-ajuda pelo público feminino deve ser

contextualizada histórica e culturalmente:

(...) Vivemos na era do individualismo. Em que, com o passar do tempo, as pessoas

vão se dando conta de que só podem contar consigo próprias e com suas

experiências. Isso se explica por que as principais instituições estão enfraquecidas,

como a Igreja, por exemplo (...). (...) as mulheres vão procurar esses livros,

geralmente, porque estão mal ou com algum problema que não conseguem resolver.

E o livro vai dizer que essa pessoa é capaz e que pode tudo. É uma massagem no

ego que elevará a auto-estima naquele momento. Uma solução temporária (...).

(BURRI, sem data).

Assim, a linguagem do vídeo analisado parece oferecer uma solução imediata

confortável, a um problema que está sendo enfrentado pela empreendedora, trazendo conforto

e acolhimento na linguagem e na forma de agir da apresentadora, buscando, principalmente,

uma possível elevação da auto-estima da receptora.

Ao analisar o segundo vídeo, “Dicas para começar a vender na internet”, observa-se

que ele tem uma estrutura bastante similar à do primeiro vídeo analisado. O título do vídeo é

apresentado sobre o mesmo fundo, e também são utilizadas fontes coloridas e simples, mas

bastante chamativas. O formato de apresentação com apenas uma pessoa permanece igual,

sendo que novamente a apresentação é feita por uma mulher – desta vez, por Gabriela

Szprinc, da empresa PayPal. O vídeo tem duração de 2m53s.

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Figura 54. Tela de abertura do vídeo “Dicas para começar a vender na internet”. Disponível em:

<http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/86/24/255/dicas-para-comecar-a-vender-na-internet/nivel-1/como-

vender-na-internet>. Acesso em: 5 jun. 2016.

A estratégia de utilização de elementos sonoros é repetida neste vídeo. A música de

fundo acompanha o material desde o início até o final, marcado por um leve som de sineta a

cada entrada de um ponto importante, como o anúncio de uma dica. O formato de exibição do

conteúdo é semelhante ao do primeiro vídeo, com a apresentação de cinco dicas, que são

apresentadas graficamente na tela, por meio de letterings, no formato de números e das

palavras principais que as representam. Além disso, repete-se a fórmula do uso de elementos

gráficos para reforçar o conteúdo falado pela apresentadora.

Figura 55. Elementos gráficos reforçam fala da apresentadora. Disponível em:

<http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/86/24/255/dicas-para-comecar-a-vender-na-internet/nivel-1/como-

vender-na-internet>. Acesso em: 5 jun. 2016.

A estética da apresentadora parece ser um pouco mais natural quando comparada à

apresentadora do primeiro vídeo, pois utiliza uma maquiagem mais leve, e utiliza cabelos

cacheados, sem pintura aparente. Além disso, a atitude no vídeo é mais espontânea, pois não

há sorrisos forçados, mas sim uma fala tranquila, objetiva e natural.

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Com relação ao conteúdo, o material apresenta cinco dicas para auxiliar a

empreendedora a vender na internet: “planejamento”, “peça ajuda”, “contrate bons

profissionais”, “atendimento” e “investimento em marketing”. Nota-se, pelo conteúdo

apresentado, que há uma preocupação muito mais focada para necessidades cotidianas e

práticas, sem espaço para reflexões, ou afirmações motivadoras, como acontece no primeiro

vídeo. Aqui, são apresentadas informações que irão auxiliar diretamente a empreendedora a

começar ou melhorar as suas vendas pela internet, e não haveria espaço para um perfil de

mensagem diferente. É interessante notar que as dicas são apresentadas com verbos no

imperativo: “estude o mercado”, “veja o que você quer vender”, “contrate bons profissionais”,

“preste atenção”, “se você tiver um chat, responda ele prontamente”. O uso do imperativo

denota uma necessidade de uso de uma linguagem mais diretiva, sem espaço para discussões

ou reflexões – a orientação é dada com o objetivo de que a espectadora realize o que está

sendo solicitado.

Este segundo vídeo parece se conectar ao primeiro apenas pela sua linguagem visual, e

pela sua formatação de apresentação do conteúdo, que são bastante similares. No entanto, ao

analisar-se o conteúdo, é possível notar que este segundo vídeo preza pelo conteúdo

informativo, sem carga emocional, e com uma apresentação muito mais natural e menos

caricata, tornando-o, assim, um material mais didático e focado na capacitação

empreendedora do que o primeiro – cujo foco era integralmente comportamental. Neste

segundo material, não se nota nenhum traço aparente que se assemelhe ao estilo de auto-

ajuda, uma marca do primeiro vídeo analisado.

Na análise do terceiro vídeo, “Que mulher você quer ser?’’, que tem a duração de

5m54s, observa-se que o seu formato é diferente dos dois vídeos analisados antes. Neste

material, a apresentação é feita por três mulheres: Ana Paula Padrão, jornalista e fundadora da

Escola de Você, abre o vídeo e faz a mediação com as outras duas apresentadoras; Natália

Leite, jornalista, que apresenta um caso que é usado como uma metáfora para ilustrar o tema

tratado no vídeo; e Patrícia Tucci, consultora de imagem e desenvolvimento pessoal, que tem

um papel de conselheira.

O tema do vídeo, assim como os outros dois vídeos da Escola de Você analisados

neste estudo, é comportamental: o negativismo, e como ele afeta o dia a dia de uma pessoa

que vive constantemente mal-humorada. O tom da fala das três apresentadoras é casual, e

todas apresentam bastante desenvoltura com a câmera, principalmente Ana Paula Padrão e

Natalia Leite. A fala delas parece objetivar a busca de certa intimidade com a receptora, com

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o uso de termos como “Olá, amiga”, “seja muito bem-vinda”, e o direcionamento do que é

falado é para simular um diálogo com esta receptora, pois o tempo todo há perguntas

direcionadas diretamente a ela, e o gestual e o olhar parecem simular um diálogo real. Frases

como “eu aposto que você conhece alguém que está sempre mal-humorado” e “quer entender

melhor isso? Vamos trazer pro dia a dia?” demonstram essa preocupação em tornar a

linguagem do vídeo um diálogo com a receptora.

Figura 56. A apresentadora Ana Paula Padrão no vídeo “Que mulher você quer ser”. Disponível em:

<http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/75/13/207/que-mulher-voce-quer-ser/nivel-1/nivel-1-aula-1---seu-

mundo-voce-faz>. Acesso em: 5 jun. 2016.

Figura 57. A apresentadora Natalia Leite no vídeo “Que mulher você quer ser”. Disponível em:

<http://www.escoladevoce.com.br/Cursos/75/13/207/que-mulher-voce-quer-ser/nivel-1/nivel-1-aula-1---seu-

mundo-voce-faz>. Acesso em: 5 jun. 2016.

Ao contrário dos dois vídeos anteriores, as apresentadoras falam de forma pausada, e

modulam a voz de acordo com o que está sendo falado. Percebe-se uma desenvoltura com a

câmera e com a apresentação principalmente em Ana Paula Padrão e Natália Leite, explicado

talvez pelo fato de ambas serem jornalistas com bastante experiência em televisão.

Em vários momentos, o vídeo apresenta metáforas para ilustrar e explicar o tema

apresentado, trazendo um tom didático e objetivo para o material. O conceito defendido é o de

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que o negativismo é um hábito, e que isso faz com que todo o entorno de uma pessoa negativa

se torne, consequentemente, negativo. Inclusive, há um momento em que Ana Paula Padrão

traz o embasamento científico para justificar o que é defendido: “as pesquisas mostram que

isso é possível sim, reaprender como você vai lidar com os problemas”. No entanto, nem os

nomes das pesquisas nem os das instituições responsáveis por elas são mencionados.

Claramente, nota-se a defesa de que a responsabilidade pelo comportamento é sempre do

indivíduo, desvinculando os impactos sociais e econômicos como possíveis causadores do

comportamento negativo. Aqui, percebe-se novamente uma característica observada nos dois

outros vídeos do site Escola de Você, que é a linguagem similar à da didática de auto-ajuda,

buscando apresentar à receptora dicas simples e de fácil uso, com o objetivo de elevar a sua

auto-estima a curto prazo. Algumas frases exemplificam este perfil: “essa turma da

nuvenzinha cinza na cabeça não se dá conta do que faz contra si. É como quando a gente

prepara um bolo. Assim como a forma molda a massa, as atitudes da pessoa, a forma dela

agir molda a vida que ela leva”, ou no trecho “o ônibus atrasou, não passou na hora certa.

Em vez de ficar mal-humorada, reclamando, reclamando, vamos pensar em maneiras úteis de

usar bem esse tempo de espera pelo ônibus. Tem um livro aí na bolsa?”. A defesa deste

discurso, em que o indivíduo é responsabilizado por todas as suas atitudes e comportamentos,

é essencialmente um pensamento liberal, pois está vinculado à necessidade de estabelecer a

independência dos atos do indivíduo frente ao Estado ou à Igreja. Montaner (2013) assim

explicita uma das premissas do liberalismo:

(...) os liberais também acreditam na responsabilidade individual. Não pode haver

liberdade sem responsabilidade. Os indivíduos são (ou deveriam ser) responsáveis

por seus atos, tendo o dever de considerar as consequências de suas decisões e os

direitos dos demais indivíduos (...). (MONTANER, 2013).

Em uma das frases de conclusão do vídeo, é possível observar com clareza a defesa da

responsabilização do indivíduo pelas suas atitudes: “A maneira como a gente olha os

problemas e as questões do nosso dia a dia tem muito a ver com o nosso modelo mental. Se

não tem como mudar, tirar os problemas da nossa vida, tem como a gente analisá-los de uma

forma mais positiva. Não dá pra gente mudar o vento, mas a gente pode ajustar a vela”. A

frase final desta fala foi negritada com o objetivo de enfatizar como há uma marca forte no

discurso que é apresentada para reforçar a crença de que o indivíduo é o único responsável

pelo seu destino, e que não há nenhuma influencia do ambiente ou da sociedade na formação

dos acontecimentos ou em seus atos.

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Ao analisar os três vídeos do site Escola de Você, nota-se uma forte tendência e

predileção pela escolha de temas comportamentais, em detrimento de temas administrativos

ou voltados ao negócio. A linha temática do site está claramente posicionada, no entanto, a

linguagem utilizada em seus materiais audiovisuais se assemelha de forma bastante profunda

à que se observa em livros de auto-ajuda, marcadamente reconhecidos por seu sucesso com o

público feminino, mas também amplamente criticados, tanto na comunidade científica, quanto

em alguns círculos da sociedade, por apresentarem temas e conceitos de forma rasa, sem

aprofundamento, e com o foco em elevar a auto-estima do leitor em curto prazo. Apesar desse

posicionamento, é importante enfatizar que o conteúdo comportamental, trazido de forma

leve, simples e didática, tem o seu lugar de importância na educação empreendedora

feminina, uma vez que estes aspectos precisam ser trabalhados e apresentam o mesmo nível

de relevância que os conteúdos administrativos e negociais. É essencial que os fatores

comportamentais sejam considerados para a formação da aluna, e o reforço de um site

dedicado a conteúdos deste perfil contribuem positivamente para uma capacitação mais

holística da mulher empreendedora.

4.5 Análise de discurso nos vídeos do site do Sebrae

No site do Sebrae, foram analisados os vídeos “Gestão Financeira59”, “5 dicas para o

pequeno negócio não quebrar60”, e “5 dicas de comportamento para o empresário61”.

O primeiro vídeo analisado, “Gestão Financeira” tem a duração de 7m47s, e é

apresentado por Fábio Moraes, educador financeiro. Pelo perfil do apresentador e a linguagem

utilizadas no vídeo, nota-se a vocação do Sebrae, e a sua linha de atuação, focada no pequeno

empreendedor, homem ou mulher. O apresentador está vestido de maneira formal, de terno e

gravata, e está sentado. À sua frente, está o micro-empreendedor individual da área de

alimentação Fred, que está vestido mais informalmente, de calça jeans e camiseta. O formato

do vídeo é de uma entrevista, realizada por Fabio com Fred, sendo que ao final de cada

59 Disponível em: <https://ead.sebrae.com.br/videos/gestao-financeira>. Acesso em: 5 jun. 2016. 60 Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/Busca?q=5%20dicas%20para%20o%20pequeno%20neg%C3%B

3cio%20n%C3%A3o%20quebrar>. Acesso em: 5 jun. 2016. 61 Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/Busca?q=5%20dicas%20de%20comportamento%20para%20o%2

0empres%C3%A1rio&origem=tema&filtroTema=2>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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resposta do empreendedor, o consultor Fabio explica o conceito abordado. O tom de voz de

ambos é calmo, pausado e tranquilo, e o fundo utilizado é neutro – não há a utilização de

elementos gráficos ou letterings como apoio visual.

O tema do vídeo é sobre o controle financeiro do micro-empreendimento, e os

principais meios e ferramentas para controle e obtenção de crédito para o crescimento do

negócio. Pelo formato de entrevista, o apresentador pergunta a Fred como ele faz a gestão

financeira da empresa, e quais métodos ele utiliza para fazer o controle financeiro. Na

sequência, Fred dá exemplos do dia a dia da operação de sua empresa, com experiências

próprias sobre cada item questionado. Na réplica de Fábio, o educador fecha o conceito

explicando a importância de determinada ferramenta ou tipo de crédito. Nota-se, em

comparação entre os dois, que Fred utiliza uma linguagem mais coloquial, com o uso de

gírias; já Fábio é formal e procura fazer uso da fala em um tom mais didático. Como exemplo,

logo no início do vídeo Fred exemplifica a trajetória financeira da sua empresa: “(...) hoje

graças a Deus a minha empresa está funcionando no azul, mas a maior parte da minha

trajetória empreendedora eu sempre funcionei no vermelho (...)”. Aqui, Fred utiliza a palavra

“azul” para dizer que hoje a empresa está financeiramente saudável, lucrativa; mas, no

passado, a empresa operava no “vermelho”, ou seja, tinha prejuízo. O termo “estar no

vermelho” para significar uma situação financeira ruim é amplamente conhecida e utilizada

no Brasil, enquanto que “estar no azul”, expressão também popularmente conhecida, significa

estar financeiramente saudável. Já a fala de Fábio contrasta pois é explicativa, e demonstra

que o seu objetivo no vídeo é o de atuar como professor, ao explicar cada fala de Fred. Um

exemplo é quando Fábio comenta sobre o uso da máquina de cartão de crédito pelo

empreendedor: “muitas vezes, o empreendedor fala que não vai entrar nessa, mas muitas

vezes ele perde bons negócios, [perde] aumento de receita e principalmente o seu cliente

satisfeito”, ou quando ele fala sobre o uso do microcrédito: “o microcrédito sim é uma linha

para você expandir o seu negócio, com taxas muito mais interessantes, e realmente vale a

pena conhecer, vale a pena você procurar (...)”.

Na conclusão do vídeo, fica bem evidente a diferença no tipo de linguagem utilizada

por cada falante: Fred comenta que “é fundamental o planejamento, né, cê tê tudo em mãos, tê

o controle financeiro da empresa, pra você saber onde investir, pra onde crescer, pra que

você não dê um passo maior do que a perna (...)”. Já Fabio conclui desta forma, bem

didática e formal: “muito bem. Então, ficam essas dicas muito importantes do Fred:

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planejamento, não misturar as contas da empresa com as contas pessoais, ter a sua situação

regularizada, pagar os seus impostos em dia, né, crescer”.

Observa-se, então, que há uma clara distinção entre a postura, vestimenta, e tipo de

fala do educador e do empreendedor. Enquanto o empreendedor é informal, usa termos

populares, e sua experiência é prática, o educador é formal e teórico. Há certa polarização

entre os dois papéis, uma vez que cada um é colocado em um lado do enquadramento – o

educador à esquerda, e o empreendedor, à direita – e um fortalecimento da diferença pelas

vestimentas e linguagem distintas. O reforço destes dois lados talvez seja marcado para

demonstrar a valorização da experiência prática do empreendedor, mas também a necessidade

da capacitação formal pela educação, representada aqui por Fábio. Com relação ao conteúdo

do vídeo, é possível notar um foco dedicado à capacitação formal de conteúdos

administrativos mais básicos necessários para a formação e manutenção dos pequenos

empreendimentos, mantendo coerência com a missão do Sebrae no atendimento aos micro-

empreendedores.

Figuras 58 e 59. Lettering com título do vídeo “Gestão Financeira”, e momento da entrevista do educador

financeiro Fábio Moraes com o empreendedor Fred. Disponível em:< https://ead.sebrae.com.br/videos/gestao-

financeira>. Acesso em: 5 jun. 2016.

No segundo vídeo analisado, “5 dicas para o pequeno negócio não quebrar”, com

2m51s de duração, o formato de apresentação se assemelha aos vídeos analisados do site

Escola de Você, pois é apresentado por uma única pessoa, Ricardo Magalhães (sua profissão

não é explicada no vídeo). No entanto, esta parece ser a única semelhança com os vídeos do

site Escola de Você, e apresenta outras características que o assemelham mais ao primeiro

vídeo analisado neste estudo do site do Sebrae. O apresentador, novamente um homem, está

sentado, vestido formalmente, de terno e camisa, e, assim como os dois homens que falam no

primeiro vídeo, Ricardo não olha para a câmera. O fundo é neutro, e a introdução é a

apresentação do logo do Sebrae, seguida de um lettering com o nome do vídeo na tela. O tom

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da fala de Ricardo é rápida, e bastante coloquial – em alguns momentos, ele faz o uso de

termos populares e de gírias. Já a sua linguagem é bem direta e até mesmo um tanto crua – no

início do vídeo, não há uma saudação, como “olá”, ou “seja bem-vindo”. Ele simplesmente

começa o vídeo dizendo a primeira dica. Uma diferença bastante marcante quando comparado

com as apresentadoras dos vídeos da Escola de Você é que Ricardo nunca sorri, está sempre

sério, e, muitas vezes, franze a testa, expressando certo nervosismo ou chateação – já nos

vídeos da Escola de Você, as apresentadoras sempre estão sorrindo, ou exprimindo uma

atitude positiva em suas feições faciais.

Ao analisar o conteúdo, percebe-se uma recorrência presente em vídeos e artigos já

analisados aqui neste estudo: a ênfase na apresentação dos temas em formato de dicas – e o

número de cinco parece ser bastante recorrente. A palavra “dica” é utilizada exaustivamente, e

este formato de cinco dicas foi localizado em outros vídeos presentes no site do Sebrae. Sua

recorrência pode ser explicada pela necessidade de apresentar o conteúdo de forma curta,

direta e prática, o que parece ser um mantra para o dia a dia do empreendedor, que necessita

ter agilidade e dispõe de pouco tempo para a sua capacitação.

Outra característica observada na análise do discurso apresentado neste vídeo é que o

apresentador faz afirmações como se fossem verdades absolutas, sem um cuidado maior por

apresentar argumentos que embasem suas opiniões. Por exemplo, quando Ricardo diz que “no

Brasil, já tá (sic) cheio de pizzaria, então se você tentar fazer mais uma pizzaria, você vai

cair num erro de ser igual aos outros, e quando a gente é igual aos outros, a única maneira

de se diferenciar é baixando preço. E se você baixar o preço, você acaba (sic) a margem, se

você acaba (sic) a margem, acaba (sic) os funcionários, se acaba (sic) os funcionários, acaba

(sic) os investimentos, acaba (sic) os investimentos, você quebra”. Claramente, percebe-se a

transmissão de uma opinião enviesada, que não apresenta as várias possibilidades que um

empreendedor pode ter ao montar negócios de sucesso que podem sim já existir no mercado,

mas com uma abordagem diferenciada, como a apresentação de serviços exclusivos, por

exemplo.

Percebe-se ainda uma linguagem carregada por termos negativos, tais como

“burrada”, “erro”, “não ser”, além de outras construções marcadas pelo pessimismo. Um

exemplo disso é a justificativa para a terceira dica, “comece pequeno”. Ricardo explica que o

empreendedor deve começar pequeno porque “todos os negócios que começam, começam

errado. Então, é melhor começar pequeno, porque vai dar errado. Então, pra você não

perder muita grana, comece pequeno (...)”. Além da negatividade marcada neste trecho, fica

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clara novamente a intenção do apresentador de mostrar sua opinião de forma impositiva, sem

qualquer justificativa ou ponderação para a apresentação de um argumento tão duro. Outro

trecho marcadamente negativo é o que se apresenta na quarta dica, “seja vendedor”: “(...) o

quarto erro que a gente comete quando está começando é não ser vendedor. (...) Então não

vem com a história de que você é engenheiro, que você é matemático, você é filósofo, você é

escritor, você é artista, que nada dessas coisas interessa (sic), enquanto você não vender,

entendeu? Você tem que vender”. A apresentação reiterada de frases que expressam opiniões

pessoais, e não conceitos difundidos e reconhecidos por estudiosos ou pelo meio acadêmico

demonstram que o vídeo está marcado quase que inteiramente por opiniões superficiais sem

fundamentação conceitual, além de estar impregnada de preconceito contra o saber

acadêmico, como se ele fosse conflituoso com a atividade empreendedora, ao defender que o

estudo formal não é válido se não há venda. Esta lógica, perversa, reforça uma corrente já

observada no primeiro artigo analisado neste estudo, onde o estudo é desvalorizado, e apenas

a lógica de mercado tem seu lugar no ambiente de negócios atual. A apresentação de visões

pessoais em um material que se propõe didático é finalizada com linguagem fortemente

machista, demonstrando falta de atenção por parte da curadoria de conteúdo do Sebrae, uma

vez que o site atende tanto a homens quanto a mulheres, em uma instituição que promove até

mesmo um prêmio para valorizar o empreendedorismo feminino. Isso fica explícito no trecho

sobre a quinta dica, “seja generoso”: “(...) que diferencial você poderia ter hoje em dia? Vou

ter o melhor produto, ter a melhor qualidade, ter o melhor atendimento, vou ser o cara mais

inovador, tudo isso é besteira, e os grandes, médios já estão fazendo esse tipo de coisa. Eu

recomendo a você que é ser generoso (sic). Entendeu? Generoso (...). O Google faz coisa de

graça para você. Você já arrumou mulher no Tinder62, aquele aplicativo novo, fala aí?

Você já arrumou a ex-namorada no Facebook, fala aí? (...). Você já usou o Waze sem dar

nada pros caras (...)” (negritos da autora). Há, aqui, uma série de erros demonstrada pelo

apresentador. Em primeiro lugar, uma equivocada comparação entre generosidade e

estratégias de oferta de serviços sem cobrança na internet, que são compensadas por

anunciantes e pela obtenção de dados cadastrais revendidos ou reutilizados em novas

estratégias de relacionamento destes sites. Em segundo lugar, o discurso claramente machista

não cabe em um material didático e exibido em um site como o do Sebrae, reconhecido como

uma das principais plataformas de capacitação para empreendedores de ambos os gêneros. A

reprodução discursiva machista contribui para influenciar negativamente os públicos

62 Aplicativo de relacionamentos, onde os parceiros são escolhidos a partir de uma foto, como em um catálogo

comercial.

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receptores do vídeo analisado, considerando que ele está suportado em um ambiente

educador, envolto por uma sala de aula virtual, e é bastante crítico perceber que este conteúdo

está validado por uma instituição respeitada como o Sebrae. Nesse sentido, é importante trazer

à luz que este tipo de reforço discursivo ganha força ao se conhecer o poder de influência

destas instituições, uma vez que, como lembra Dijk (2015, p. 50), a “(...) estratégia de

controle do conhecimento exerce-se por meio da seleção restritiva de assuntos e, mais

geralmente, por meio de reconstruções específicas das realidades sociais e políticas”. Assim,

ao selecionar e validar um conteúdo com claro posicionamento que desvaloriza a mulher, e

reforça o poder do homem para exemplificar uma situação de negócios, o Sebrae reproduz um

discurso que reforça a desigualdade de gênero e auxilia na perpetuação da crença da

superioridade masculina sobre a mulher, retratando-a como um mero objeto a ser coletado em

redes sociais, como apresentado na fala do apresentador.

Figuras 60 e 61. Abertura do vídeo “5 dicas para a empresa não quebrar” e apresentador Ricardo Magalhães.

Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/Busca?q=5%20dicas%20para%20o%20pequeno%20neg%C3%

B3cio%20n%C3%A3o%20quebrar>. Acesso em: 5 jun. 2016.

O terceiro vídeo analisado no site do Sebrae, “5 dicas de comportamento para o

empresário” segue o mesmo formato do segundo vídeo, com um único apresentador –

Elmano Negri, presidente da empresa Arquitetura Humana – sentado, vestido com terno e

gravata, em fundo neutro. A escolha exclusiva de apresentadores homens nos vídeos,

observada em outros vídeos postados no site do Sebrae, e a ausência de apresentadoras

mulheres, representa uma escolha da instituição em reforçar que a liderança e o saber

especializado sobre empreendedorismo estejam sempre na voz de um homem, o que reforça o

desequilíbrio entre os gêneros.

Novamente, a repetição da estruturação por dicas é a estrutura escolhida, reforçando

uma predileção por este formato não apenas do Sebrae, mas também de outros canais

produtores de conteúdos para empreendedores.

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A recorrência da palavra “sucesso”, tão presente nos artigos estudados nesta pesquisa,

e também em alguns vídeos, aparece neste vídeo com Elmano Nigri também. Ele utiliza a

palavra duas vezes durante a dica sobre autoconhecimento: “(...) quanto mais você se

conhecer, mais sucesso você terá no seu negócio (...)”. O uso da palavra “sucesso”, assim

como o formato de dicas na estruturação dos conteúdos, são marcas presentes em todos os

ambientes analisados neste estudo, o que demonstra uma predileção pela repetição de

determinados repertórios já consagrados e certa imobilidade na apresentação dos conteúdos.

Apesar da similaridade de formato, ao se analisar o conteúdo e o discurso da fala do

apresentador, percebem-se algumas sutis diferenças com relação ao primeiro e ao segundo

vídeo analisados do Sebrae. Aqui, Elmano Nigri faz uma pequena introdução antes de

começar a dar as dicas, e sua fala se aproxima a de um diálogo com o receptor: “Você que é

pequeno empreendedor, micro-empreendedor, ou está pensando em abrir o seu negócio, a

minha primeira dica para você (...)”. Em outros trechos, fica evidente a marca do diálogo:

“(...) a quarta dica que eu tenho para você, empreendedor (....)”; “(...) a quinta dica que eu

dou para você (...)”. Como reforço deste diálogo, Elmano olha para a câmera, ou seja, ele se

propõe a conversar com o receptor, ao contrário do apresentador do segundo vídeo. Além do

diálogo, Elmano introduz neste vídeo uma marca que não é percebida em outros conteúdos do

site do Sebrae, que são os conteúdos relacionados a temas comportamentais. Na análise dos

artigos desta instituição, e nos dois primeiros vídeos analisados, observa-se a priorização da

escolha de temas administrativos, e nota-se este foco em outros conteúdos apresentados no

site. No entanto, Elmano aborda temas como autoconhecimento, conhecimento da equipe e

finaliza o vídeo recomendando que o empreendedor seja feliz: “(...) empreendedor desse

nosso imenso Brasil, é que você olhe pra você, olhe para sua equipe, porque, se você não for

feliz, você não terá resultados. Pra você ter grandes resultados no seu negócio, você precisa

ser feliz. E a felicidade está ligada a você se conhecer, e conhecer a sua equipe”. Com esta

mensagem, o apresentador conclui o vídeo de forma positiva, e difere da tradição de

conteúdos do Sebrae ao trazer um elemento humano como contributivo para os resultados do

empreendedor.

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Figuras 62 e 63. Abertura do vídeo “5 dicas de comportamento para o empresário”, e apresentador Elmano

Nigri. Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/Busca?q=5%20dicas%20de%20comportamento%20para%20o

%20empres%C3%A1rio&origem=tema&filtroTema=2>. Acesso em: 5 jun. 2016.

Ao observar as regularidades e discrepâncias entre os três vídeos extraídos do site do

Sebrae analisados nesta pesquisa, nota-se, assim como a linha orientativa dos artigos deste

mesmo site, uma marca vocacional forte voltada a temas administrativos e pragmáticos,

focados no dia a dia do empreendedor. Dicas sobre o que fazer, como fazer, e o que não fazer,

estão presentes em todos os materiais avaliados. É importante observar que algumas escolhas

realizadas pela instituição reforçam discursos de desequilíbrio de gênero. A predileção por

apresentadores homens em todos os vídeos, e a reprodução de mensagens machistas em um

dos vídeos analisados denotam a força do grupo ainda dominante – os homens – em

detrimento de vozes femininas, apresentando, desta forma, o Sebrae como uma instituição que

prioriza o discurso masculino, apesar de algumas iniciativas pontuais para a visibilidade de

empreendedoras femininas (como a realização de uma premiação exclusiva para elas). Para a

empreendedora, a navegação pelo site do Sebrae é consideravelmente útil sem sua formação

para o negócio, mas cabe perceber que esta capacitação se dá em um ambiente que privilegia

a voz masculina e esconde importantes contribuições de profissionais mulheres.

4.6 Análise de discurso nos vídeos do site da revista PEGN

No site da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, foram analisados três

vídeos: “3 dicas para divulgar seu negócio nas redes sociais63”, “Como atender os clientes

pelas redes sociais64”, e “Como levar mais clientes para o seu negócio65”.

63 Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Videos/noticia/2016/05/conheca-algumas-dicas-para-fazer-seu-

negocio-viralizar.html>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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No primeiro vídeo analisado, “3 dicas para divulgar seu negócio nas redes sociais”, é

possível observar novamente o formato de apresentação de conteúdo em formato de dicas,

recorrente em outros vídeos já analisados neste estudo, o que permite que ele seja mostrado de

forma rápida e sem conexão entre uma dica e outra. Porém, a linguagem visual e textual do

material difere bastante dos demais vídeos já estudados. O vídeo é apresentado por uma

mulher (não identificada), que aparece ao centro, sobre um fundo colorido e gráfico, com uma

roupa casual: calça jeans, camiseta e um blazer. Sua postura também parece ser mais

descontraída: está apoiada em uma banqueta, segurando um caderno – para representar,

talvez, a possibilidade de anotação das dicas que serão apresentadas na sequência. O vídeo,

por ser extremamente curto (tem a duração de apenas 1m16s) tem linguagem direta, e já se

inicia sem nenhuma introdução ou conectores: a apresentadora já começa o vídeo falando

“Uma geradora de desejos. É assim que os especialistas em empreendedorismo definem as

redes sociais (...)”. Além do formato de dicas, o vídeo é estruturado de modo semelhante a

uma reportagem, pois a apresentadora cede a palavra para o consultor Rafael Bluvol, que

aparece em outro cenário. Há, aqui, um equilíbrio entre os apresentadores, um homem e uma

mulher, mas ainda o peso do especialista no assunto recai sobre o homem, e a mulher

representa apenas o suporte para a introdução ao vídeo. A cada dica apresentada, uma tela

com desenhos gráficos e o nome da dica são apresentados, para em seguida o consultor iniciar

a sua fala, que é bastante curta e rápida, com apenas os principais elementos resumidos do que

cada dica representa. Por exemplo, na primeira dica “faça parcerias com criadores de

conteúdo”, Rafael comenta apenas esta frase: “Isso pode te dar uma visibilidade muito

importante, fazendo com que outras pessoas que ainda não conhecem a sua marca ou o seu

negócio comecem a te seguir e a se tornarem aos poucos clientes dos seus produtos”. O teor

das dicas é focado em assuntos do dia a dia, relacionados diretamente a tarefas práticas que

podem ser executadas pelo empreendedor, sem qualquer espaço para reflexões. Além da

primeira dica, as demais são “indique o caminho para o seu negócio” e “transforme a pessoa

em cliente”. A finalização do vídeo acontece de maneira brusca, pois ao final da fala da última

dica, ele termina sem nenhuma conclusão ou fechamento com a apresentadora. A conclusão

acontece com a fala da última dica apresentada por Rafael: “(...) já no seu e-commerce, ou

dentro do seu site, ou da sua loja, a pessoa já vai tendo mais informação sobre o seu produto,

sobre você, e aí ela vai monetizar, ela vai se tornar uma compradora, uma cliente.”.

64 Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Videos/noticia/2016/05/como-atender-os-clientes-pelas-redes-

sociais.html>. Acesso em: 5 jun. 2016. 65 Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Videos/empreendedores-futuro/noticia/2016/03/como-levar-

mais-clientes-para-o-seu-negocio.html>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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Figuras 64 e 65. Apresentadora e consultor no vídeo “3 dicas para divulgar seu negócio nas redes sociais”.

Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Videos/noticia/2016/05/conheca-algumas-dicas-para-fazer-seu-

negocio-viralizar.html>. Acesso em: 5 jun. 2016.

Figura 66. Elementos gráficos para apresentação das dicas no vídeo “3 dicas para divulgar seu negócio nas

redes sociais”. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Videos/noticia/2016/05/conheca-algumas-dicas-

para-fazer-seu-negocio-viralizar.html>. Acesso em: 5 jun. 2016.

No segundo vídeo do site da revista PEGN, “Como atender os clientes pelas redes

sociais”, com duração de 3m27s, o formato difere do primeiro vídeo, pois não é apresentado

como uma reportagem, mas sim com apenas a explanação dos conceitos por uma única

apresentadora, mulher, a editora Renata Leal. Ela aparece centralizada no vídeo, de pé, o que

lhe dá certo destaque, e está vestida com roupas formais, pretas, usa maquiagem leve, óculos,

e está sobre fundo neutro, com o uso de apenas uma planta ao lado para compor o cenário.

Apesar de a estrutura de apresentação do conteúdo não estar formada em dicas, pois a

apresentadora fala de forma fluída, com o uso de linguagem coloquial, há a estruturação por

tópicos, deixando o entendimento do tema mais fácil. Há a presença de alguns elementos que

demonstram a intenção de aproximar o receptor da apresentadora, como em um diálogo, como

o uso dos termos “Olá, tudo bem? Hoje a gente vai falar um pouco (...)”. A linguagem se

aproxima a de um aconselhamento, pois durante todo o tempo do vídeo a apresentadora não é

interrompida por nenhum outro falante, nem mesmo por elementos gráficos na tela, o que lhe

confere autoridade, autonomia e credibilidade em sua fala. Cada item apresentado é explicado

de forma detalhada, com alguns exemplos, o que permite que o receptor reflita sobre o que

fazer, mas, novamente, os temas tratados são pragmáticos, e não comportamentais. O formato

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por tópicos pode ser observado na estrutura de fala a seguir: “(...) o primeiro passo é o

seguinte: é muito importante que você responda aos clientes pelo mesmo canal que eles

entraram em contato. Outro ponto importante é o tempo de resposta (...)”. O coloquialismo

de sua fala aparece em trechos como o seguinte: “(...) é legal que você tenha respostas ali

meio na mão já para mandar para as pessoas, mas que você tenha coisas personalizadas

para cada uma delas, para que elas não sintam que você simplesmente colocou uma resposta

padrão e você enviou para elas uma resposta que é uma resposta só daquela mais prontinha,

já toda quadradinha (...)”. A apresentadora permanece procurando estabelecer o diálogo com

o receptor, para tornar sua fala mais próxima de seu dia a dia: “(...) não basta apenas dizer:

ah, estamos resolvendo o seu problema, vamos dar uma resposta em seguida. Não, você tem

que estabelecer prazos (...). Diga para ele em quanto tempo ele vai ter aquela questão

resolvida (...)”. E, diferentemente do primeiro vídeo analisado, há uma finalização da fala

com um fechamento, novamente marcado pelo estilo dialógico: “(...) se você tiver perguntas

para ver aqui na série Empreendedores de Futuro, pode mandar para mim no

[email protected]. Brigada e até a próxima”. Esse diálogo com o receptor,

estabelecido com uma linguagem acolhedora e amistosa, o aproxima da apresentadora,

tornando a comunicação mais espontânea e natural.

Figuras 67 e 68. Editora Renata Leal e tela de apresentação no vídeo “Como atender os clientes pelas redes

sociais”. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Videos/noticia/2016/05/como-atender-os-clientes-pelas-

redes-sociais.html>. Acesso em 5 jun. 2016.

O terceiro vídeo analisado, “Como levar mais clientes para o seu negócio”, com

duração de 1m43s, tem estrutura e formato bastante semelhantes com o segundo vídeo. A

apresentação é novamente da editora Renata Leal, que aparece vestida com camisa branca,

mas muda o cenário: desta vez, ela está em uma redação de jornalismo. Até mesmo a

saudação inicial é a mesma: “Olá, tudo bem?”. A estrutura permanece fluída e natural, mas

desta vez sem tópicos, com o estabelecimento de uma conversa contínua com o receptor. O

tema trata agora da captação e manutenção de clientes, e Renata apresenta o conceito de que é

mais barato manter os clientes já existentes, do que investir na captação de novos, ainda mais

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em momentos de crise. Ela explica: “(...) em momentos de crise como esse66, em que a

economia tá (sic) desequilibrada, é importante a gente ter objetividade para investir no que

dá retorno, e não perder dinheiro com clientes que possam demorar muito para que você

possa conquistar”. Renata ressalta a importância da objetividade como componente

importante para obter melhores resultados nesta ação de captação, por meio do foco em

clientes que já tenham o perfil do produto ou do serviço que a empresa venda. A finalização

do tema é feita de forma a permanecer na estrutura dialógica, reforçando o conceito de

manutenção dos clientes já existentes: “(...) nunca é demais repetir que é mais barato manter

a clientela que você já tem do que conquistar uma nova clientela, portanto foque total no

atendimento, e aí na carteira de clientes que você já tem. Ok?”. A conclusão do vídeo é

idêntica à do segundo vídeo, com a apresentação de um e-mail para o receptor tirar dúvidas, e

a mesma saudação de despedida: “Obrigada e até a próxima”.

Figuras 69 e 70. Abertura do vídeo “Como levar mais clientes para o seu negócio” e editora Renata Leal.

Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Videos/empreendedores-futuro/noticia/2016/03/como-levar-mais-

clientes-para-o-seu-negocio.html>. Acesso em: 5 jun. 2016.

Nos três vídeos estudados nesta pesquisa do site da revista PEGN, observam-se

algumas características que trazem uma linearidade e conjunto à leitura dos materiais. Em

todos, é possível perceber a valorização e o favorecimento da fala da mulher, eleita como

apresentadora em dois dos três vídeos, e presente juntamente com um homem no outro. Nesse

sentido, há uma contribuição importante, uma vez que o site da revista PEGN não é dedicado

exclusivamente a mulheres, e é acessado também por homens, mas permite que as

empreendedoras femininas possam se ver representadas em ambientes de capacitação,

promovendo empatia e identificação. Outra forte marca dos vídeos é que são extremamente

objetivos, carregados por uma linguagem direta e que se aproxima do fazer jornalístico,

inclusive com a apresentação de especialistas consultados para o primeiro vídeo avaliado.

Pela objetividade, justifica-se a escolha por temas pragmáticos, importantes ao cotidiano do

66 A editora se refere à crise econômica vivenciada no Brasil em 2016, pois o vídeo foi postado no site em 16 de

março de 2016.

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empreendedor, como as redes sociais (tema de dois dos vídeos) e a captação e manutenção de

clientes. A estrutura de dicas permanece presente no primeiro vídeo, e nota-se a sua influência

ainda no segundo, reforçando uma escolha presente nos vídeos dos outros ambientes virtuais

estudados nesta pesquisa. A eleição do formato em dicas de maneira regular nos três

ambientes demonstra certa superficialidade, necessidade de rapidez na transmissão dos

conceitos, e perda do aprofundamento dos temas apresentados. Por fim, a presença do diálogo

permanente das apresentadoras com os receptores atestam a preocupação do site da revista

PEGN em estabelecer uma aproximação contínua com os seus espectadores e leitores, ao

abrir, inclusive, um canal de comunicação direta com a apresentadora dos dois últimos vídeos,

com a divulgação de um e-mail para dúvidas. Este cuidado permite que o diálogo se forme de

maneira continuada, estando presente não apenas durante a visualização do vídeo, mas

permitindo respostas e contestações, contemplando a naturalidade do discurso dialógico,

como defende Bakhtin (1988), quando afirma que “a orientação dialógica é naturalmente um

fenômeno próprio a todo discurso. Trata-se da orientação natural de qualquer discurso vivo.”

(BAKHTIN apud FIORIN, 1988, p. 21).

4.7 Considerações analíticas sobre os conteúdos analisados nos ambientes virtuais

A aprendizagem empreendedora, em ambientes virtuais como os analisados neste

estudo – RME, Escola de Você, Sebrae e revista PEGN – é planejada, desenvolvida e

disseminada por meio de discursos sociais carregados de escolhas, percepções e

interpretações de temas, signos e contextos que influenciam e impactam diretamente a

formação das mulheres que buscam nestes sites a capacitação necessária para o seu

desenvolvimento e de seus negócios. Ao integrar as análises entre os conteúdos estudados nos

quatro ambientes virtuais, foi possível observar uma série de características similares e

regularidades, mas também muitas discrepâncias, e entender a marca estilística de cada um

deles. À exceção da Escola de Você, os demais sites priorizam o seu foco em temas do

cotidiano, administrativos, e apresentam nitidamente uma preocupação com o pragmatismo e

com o caráter utilitarista dos conteúdos apresentados. Neste sentido, a Escola de Você se

apresenta como um ambiente onde há a possibilidade de obter orientações a respeito de

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assuntos comportamentais, valorizando estes aspectos como essenciais para a formação

empreendedora. No entanto, sua abordagem com linguagem simplificada, motivacional e com

estilo similar ao de livros de auto-ajuda reforça uma abordagem superficial dos temas e

limitam o nível de criticidade e aprofundamento necessários em certa medida para melhor

aproveitamento dos conteúdos. Entre as similaridades, nota-se uma predileção pelo formato

em dicas rápidas, o que denota a necessidade de transformar o conteúdo em algo facilmente

assimilável, com rapidez de leitura e entendimento. Apesar da linguagem se apresentar

didática, simples, direta e objetiva, observa-se que os artigos e vídeos tratam os temas de

maneira superficial, sem aprofundamento, e não permitem espaço para reflexões ou até

mesmo contestações do que foi apresentado.

Um ponto que merece ser destacado nesta análise, além dos próprios conteúdos já

amplamente observados, é sobre a escolha dos falantes em cada um dos materiais. Nota-se

que há uma divisão de perfil neste aspecto entre os ambientes analisados. No RME e no

Sebrae, o protagonismo masculino dos falantes é uma marca; já na Escola de Você, o

protagonismo é claramente da mulher; e no site da revista PEGN, há um equilíbrio entre as

vozes masculina e feminina. Cabe destacar este aspecto de escolha do gênero que protagoniza

as falas nos materiais estudados, uma vez que ela não acontece por acaso, mas, antes,

demonstra quem é o falante que está sendo valorizado nesta ou naquela instituição. Neste

sentido, vale ressaltar que um dos vídeos analisados, originados no site do Sebrae, continha

linguagem fortemente machista, reforçando a reprodução de um discurso de poder desigual de

gênero em um ambiente de aprendizagem.

Para a efetivação das análises construídas neste capítulo, e para um entendimento

aprofundado dos sentidos apresentados nos discursos avaliados, dois autores mostraram-se

fundamentais: Dijk, por meio de sua defesa de análise do discurso como instrumento de

reprodução abusiva do poder, e Bakhtin, por sua conceituação de dialogismo existente entre

os textos, o leitor-receptor e o dinamismo vivo da linguagem.

Ao estudar ambientes educacionais, é importante a reflexão de Dijk a respeito da

correlação entre discurso e poder67, pois ele lembra que, por trás da construção dos textos, há

escolhas temáticas, de vozes, de acesso e de signos que irão configurar a estruturação de

programas acadêmicos, estruturas curriculares e conteúdos didáticos que, em última instância,

67 Aqui, é importante apresentar a conceituação de Dijk para poder: “(...) é baseado em um acesso privilegiado a

recursos sociais valorizados (...) ou mesmo um acesso preferencial ao discurso e à comunicação públicos”

(DIJK, 2015, p. 88).

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formam os discursos que serão assimilados em escolas, cursos e outras plataformas de ensino.

Dijk alerta que o discurso é, junto com outros recursos sociais, item constitutivo da formação

e manutenção do poder, e que, por isso, seu acesso é restrito e desigual (DIJK, 2015, p. 89).

Assim, as escolhas relacionadas ao acesso do discurso perpetuam relações desiguais, pois

implicam selecionar

(...) quem pode falar e escrever para quem, sobre o que, quando e em que contexto,

ou quem pode participar desses eventos comunicativos nos mais variados papéis de

ouvintes (...) (DIJK, 2015, p. 89).

E, além das implicações decorrentes do poder no discurso, o dialogismo, conceito

central da obra de Bakhtin, é essencial para o entendimento do texto como uma obra viva em

constante interpretação no ambiente social no qual está inserido. Como afirma Fiorin (2016,

p. 8), “toda compreensão de um texto (...) implica, segundo Bakhtin, uma responsividade e,

por conseguinte, um juízo de valor. (...) Toda compreensão é carregada de resposta”. A

compreensão e o estabelecimento de um diálogo com o texto são fundamentais para que se

estabeleçam sentidos, e apropriações de sentido, com o leitor-receptor, uma vez que são estas

respostas e construções cognitivas que permitem a fundamentação da aprendizagem e

assimilação de novos conhecimentos.

No acesso à fala, na escolha dos temas, e na linguagem utilizada, cada ambiente de

aprendizagem teve como objetivo reforçar a sua identidade institucional, marcadas por estilos,

escolhas de signos e reprodução de representações a respeito do empreendedorismo. Estas

seleções impactaram positivamente e permitiram o empoderamento de mulheres

empreendedoras no momento em que são disponibilizados gratuitamente por meio de fácil

acesso, e promovem a sua capacitação; no entanto, não é possível negar que, em cada

ambiente, em cada artigo, em cada vídeo, as marcas discursivas representam as vozes e

conteúdos dominantes, limitando a empreendedora em suas possibilidades de apreensão de

conhecimento e reflexão.

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159

5 Impacto das ferramentas de comunicação digital e efeitos de sentido nas

empreendedoras

No entendimento deste estudo a respeito do empreendedorismo feminino e das

apropriações de conteúdos de aprendizagem relacionados ao tema, por meio de ferramentas de

comunicação digital destinadas a mulheres, a análise aprofundada destes conceitos, e de seus

respectivos impactos, perpassa por três eixos fundamentais: discurso, cognição e sociedade

(DIJK, 2015, p. 26). No capítulo anterior, buscou-se apresentar o estudo do primeiro eixo, o

discurso, no qual foram apresentadas as análises de alguns textos, visuais e escritos, que

demonstram o posicionamento, as escolhas e a visão de mundo dos ambientes virtuais

estudados. Já este capítulo buscará a conexão com os outros dois eixos, cognição e sociedade,

ao apresentar as análises de duas pesquisas realizadas pela autora deste estudo com

empreendedoras, fundamentadas no objetivo de apreender os sentidos, e os efeitos de sentido,

trazidos pelo contato, aproximação e aprendizagem dos diversos cursos oferecidos às

empreendedoras para a sua capacitação profissional.

Para o planejamento e escolha da metodologia mais adequada para estas análises,

levou-se em consideração, em primeiro lugar, a questão de pesquisa do presente estudo:

analisar o conteúdo e o impacto das ferramentas de comunicação digital que apresentam às

mulheres oportunidades de trabalho e as capacitam para o empreendedorismo. Como objetivo

secundário, buscou-se ainda avaliar a apropriação da informação, e o impacto da realização

dos cursos focados em empreendedorismo no dia a dia das mulheres empreendedoras. Estes

objetivos foram considerados essenciais para a delimitação dos métodos utilizados, uma vez

que o entendimento dos significados apreendidos pelas mulheres por meio dos cursos e

informações obtidas pelos meios digitais seria possível com a estruturação de métodos de

análise específicos para a captação e compreensão dos sentidos, do contexto e do meio em

que estão inseridas estas questões.

Ao se delimitar tais objetivos, a investigação procurou observar, e compreender, como

hipótese de resposta para tais indagações, se os conteúdos dos canais de comunicação digital

gerariam mais oportunidades para o empreendedorismo feminino, para o seu empoderamento

e independência financeira ao capacitá-las para o desenvolvimento de seus negócios.

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160

Para completar o ciclo de análise deste estudo, ao avaliar não apenas os canais

emissores das mensagens e dos discursos, observados no capítulo anterior, mas, também,

analisar as apropriações destas comunicações pelas mulheres empreendedoras, serão

apresentados os dados e as respectivas análises de duas pesquisas: a primeira, de perfil

quantitativo, teve como objetivo coletar dados sobre o perfil, frequência de uso e impactos no

cotidiano de 18 empreendedoras. O perfil da amostra foi fechado para mulheres que já fossem

empreendedoras, e os dados foram coletados exclusivamente com usuárias do grupo fechado

de discussões no Facebook “Empreendedoras”

(https://www.facebook.com/groups/mulheresempreendedoras/) mediado por colaboradoras do

site Rede Mulher Empreendedora, frequentado ativamente por quase 30 mil mulheres. Os

dados foram coletados no período de 4 a 18 de junho de 2016, por meio de questionário

online possibilitado pela ferramenta Google.

Já a segunda pesquisa teve perfil qualitativo, e foram realizadas sete entrevistas em

profundidade, com mulheres empreendedoras que participaram do evento Virada

Empreendedora, realizado nos dias 16 e 17 de abril de 2016, na cidade de São Paulo, na

Fundação Getúlio Vargas. Cinco entrevistas foram realizadas presencialmente pela

pesquisadora deste estudo, e outras duas foram realizadas por e-mail com empreendedoras

que não puderam disponibilizar o seu tempo durante o evento, mas cederam seus e-mails para

o envio da pesquisa. O objetivo foi observar os principais sentidos, fatos e apreensões dos

conteúdos apresentados às mulheres para a sua capacitação e empoderamento. As entrevistas

presenciais foram realizadas no ambiente deste evento, pois ali se encontravam

majoritariamente empreendedores (o evento não foi dedicado exclusivamente às mulheres), e,

por apresentar conteúdos voltados à capacitação do público-alvo, era propício para o debate

dos temas abordados nas entrevistas. Além disso, o evento é realizado pela Rede Mulher

Empreendedora, um dos ambientes virtuais de estudo desta pesquisa, e contou também com o

apoio de outros dois ambientes aqui analisados: o Sebrae (por meio de sua unidade do Estado

de São Paulo) e a revista PEGN.

A pesquisa quantitativa foi selecionada como método na primeira avaliação, pois se

necessitava medir, estatisticamente, a presença de algumas características com maior

amplitude, tais como a realização de cursos à distância voltados ao negócio e à frequência de

uso da internet e de redes sociais, entre outros. Apesar de este método apresentar uma

profundidade relativamente mais baixa quando comparada a métodos qualitativos, objetivou-

se mensurar determinados elementos com representatividade estatística moderada, a fim de

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161

obter dados a partir de uma amostra para a elaboração de algumas afirmações sobre o

universo do qual esta amostra foi extraída (TRUJILLO, 2001). A pesquisa quantitativa foi

aplicada depois da realização das entrevistas da pesquisa qualitativa, mas considera-se, para

este estudo, que a análise qualitativa foi realizada em último lugar, uma vez que o objetivo foi

obter o aprofundamento dos resultados extraídos da pesquisa quantitativa – e, também, porque

as analises qualitativas foram realizadas após a aplicação do questionário quantitativo. O

método de coleta de dados selecionado foi por meio interativo, com questionário online, e a

pesquisa foi realizada por meio da técnica de questionário, constituído por 22 perguntas

fechadas, com opções de resposta de múltipla escolha (contendo várias alternativas para

escolha da resposta), alternativa (com respostas delimitadas a “sim” e “não”) e escala (de 0 a

10). Para uma leitura completa do questionário e dos resultados obtidos, estas informações

estão disponíveis na íntegra no Apêndice C.

As principais análises obtidas pela intermediação com empreendedoras foram

apreendidas por meio de abordagens qualitativas, já iniciadas pelas análises de discurso

realizadas no capítulo anterior, quando foram observados os fatores linguísticos e semióticos

formadores dos textos. Aqui cabe, antes de analisar os temas deste estudo, os caminhos

percorridos, e também escolhidos, para a metodologia apresentada e sua adequação aos

objetivos propostos. É importante frisar, no entanto, que o método qualitativo não é apenas

uma forma, mas “uma coleção de formas: ele é interpretativo, baseado em experiências,

situacional e humanístico” (STAKE, 2011, p. 41). Isto posto, é necessário entender que o

caminho traçado para os entendimentos aqui propostos formam conexões em busca da

compreensão, da interpretação e dos sentidos construídos pelas empreendedoras entrevistadas.

Ao entender-se que as análises são, antes de tudo, um processo interpretativo – onde o

pesquisador, não neutro, filtra e também contribui em suas avaliações para uma visão

particular e contextual de determinadas experiências – são também, portanto, construções de

mundo. Estas construções e interpretações são o entendimento das experiências formadas

pelas pessoas, e que, a partir disso, vivenciam um mundo que surge de realidades múltiplas e

socialmente construídas (GIBBS, 2009, p, 22). A partir desta abordagem construtivista,

buscou-se observar o comportamento das pessoas e suas experiências frente às suas interações

com os ambientes virtuais e as capacitações voltadas ao empreendedorismo.

Para trazer à luz o comportamento e o impacto destas experiências na vida das

empreendedoras, a influência do método fenomenológico foi fundamental, uma vez que a

fenomenologia busca compreender os significados das experiências vividas em determinados

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162

fenômenos sociais, de natureza individual (SILVA, 2010, p. 268). Sob este aspecto, este

método busca trazer a elucidação dos significados da vivência humana, que Chanlat (apud

SILVA, 2010, p. 270) destaca como sendo o centro da condição humana, já que está

conectada ao conhecimento adquirido, às experiências, e como cada indivíduo enxerga estas

vivências. O resgate da contextualização do meio e do ser humano como ator ativo e

influenciador em suas atitudes e reflexões é fundamental à compreensão profunda do

fenômeno aqui analisado – o impacto do uso de ferramentas digitais para o aprendizado

empreendedor feminino – uma vez que, sem este entendimento, se esvaziaria a compreensão e

a tornaria repleta de elementos descritivos, formais e essencialmente burocráticos (SILVA,

2010, p. 270). O resgate da abordagem fenomenológica trouxe ao presente estudo o destaque

necessário ao significado das experiências vividas pelas empreendedoras, objetivando trazer

um entendimento mais profundo da natureza e do significado destas vivências.

Para a análise das pesquisas realizadas, entende-se que dois processos foram tomados

como práticas de estudo: o fenomenológico, pois realizaram-se descrições das experiências

vividas, e o hermenêutico, porque estas experiências foram descritas por meio de

interpretações, em forma de textos ou unidades menores de análise (VAN MANEN apud

SILVA, 2010, p. 277). Com estes dois processos, buscou-se “compreender os significados

presentes no fenômeno em estudo para descobrir o seu sentido” (SILVA, 2010, p. 277).

Para a organização do relatório de análises, utilizou-se como estratégia de estudo a

influência de alguns autores. Em primeiro lugar, foi realizada uma descrição estruturada em

torno dos principais temas identificados nas entrevistas, trazendo exemplos ilustrativos de

cada transcrição (KING apud GIBBS, 2009, p. 53). Na sequência, o método de codificação foi

essencial para a organização das categorias de análise estruturadas, que serviram como base

para as interpretações e compreensões acerca dos sentidos e significados apreendidos a partir

das entrevistas. Gibbs (2009, p. 60) define a codificação como a “identificação e o registro de

uma ou mais passagens de texto ou outros itens dos dados, como partes do quadro geral (...)

várias passagens são identificadas e então relacionadas com um nome para a ideia, ou seja, o

código”. Neste estudo, o código, termo utilizado por Gibbs, será nomeado como categoria. A

escolha pelo termo “categoria” é inspirada na defesa de Dey (apud GIBBS, 2009, p. 60), que

usa esta terminologia pois acredita que a atribuição de nomes a passagens de texto não é

arbitrária, e envolve o processo reflexivo de categorizar conteúdos. Este processo representa o

caminho traçado para as análises obtidas neste estudo, e, para tal, as perguntas elaboradas por

Charmaz (apud GIBBS, 2009, p. 63) foram essenciais neste processo:

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163

(...) O que está acontecendo? O que as pessoas estão fazendo? O que a pessoa está

dizendo? Qual o pressuposto dessas ações e declarações? De que forma a estrutura e

o contexto servem para sustentar, manter, impedir ou mudar essas ações e

declarações?” (GIBBS, 2009, p. 63).

A construção das análises deste estudo foi realizada a partir da delimitação da seguinte

lista de categorias, criada a partir das interpretações das entrevistas com as empreendedoras, e

que teve como objetivo apreender os principais significados atrelados à questão de pesquisa

da presente investigação:

1. Temas investidos na capacitação empreendedora

Informa os principais assuntos de interesse em cursos, seminários, workshops e leituras para a

capacitação da empreendedora.

2. Formato de curso realizado

Informa o tipo de curso realizado pela empreendedora, pela tipologia em presencial ou à

distância.

3. Motivações para realização dos cursos

Informações relevantes para a empreendedora sobre o que a levou a realizar os cursos:

necessidades, desafios e sentimentos.

4. Consequências e impactos da realização dos cursos

Principais aspectos relacionados diretamente à realização dos cursos, e impacto objetivo:

aspectos técnicos e comportamentais.

5. Atitudes e apropriações decorrentes da realização dos cursos

Compreensão dos sentidos e efeitos de sentido manifestados a partir dos cursos.

6. Fatores que justificam o impacto positivo dos cursos à distância

Aspectos mencionados que contribuem para justificar a importância do formato à distância

dos cursos.

7. Preferência de formato de curso

Menções de justificativa da escolha do formato do curso: presencial ou à distância.

8. Motivação para escolha do curso à distância

Page 165: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

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Justificativas que motivaram a empreendedora a escolher o formato à distância.

9. Frequência de uso da internet

Dados quantitativos de frequência e informações comportamentais sobre o uso da internet no

dia a dia da empreendedora.

10. Modelo de atuação digital – sites e redes sociais

Comportamento digital na internet – modos de utilização e justificativas.

11. Motivação para tornar-se empreendedora: maternidade

Empreendedoras que mencionaram a maternidade como motivo de escolha pelo

empreendedorismo.

12: Impactos de atuação da mulher empreendedora

Aspectos importantes da atividade empreendedora feminina que impactam no entorno social e

econômico.

13. Início da atividade empreendedora

Relato narrativo de destaque sobre as atividades e comportamentos no começo da atividade

empreendedora.

No entanto, antes do início da elaboração das categorias de análise, condensou-se em

um quadro único o perfil das empreendedoras, para um melhor entendimento e agrupamento

das principais informações contextualizadoras do meio em que elas estão inseridas, essencial

para as compreensões estabelecidas no momento de análise. Na página seguinte, apresenta-se

o quadro de perfil das empreendedoras entrevistadas.

Page 166: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

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Quadro comparativo de informações de perfil das entrevistadas

Entrevistada / Informações A1 A2 A3 A4 A5 A6 A7

Idade 27 anos. 34 anos. 54 anos. 36 anos. 41 anos. 56 anos. 32 anos.

Escolaridade Nível superior. Graduação em Direito.

Nível superior.

Graduação em

engenharia de

produção.

Nível superior. Graduação em psicologia.

Pós-graduação (MBA). Pós-graduação. Graduação

em análise de sistemas e

pós-graduação em Gestão

de Negócios de Tecnologia.

Nível superior.

Graduação em jornalismo.

Pós-graduação.

Localidade Santos – SP Não consultado. Não consultado. Não consultado. Osasco – SP. São Paulo – SP São Paulo – SP

Tamanho da empresa Micro-empresa (atua sozinha).

Micro-empresa (duas

pessoas –

empreendedora e mãe sócia).

Micro-empresa (três pessoas). Micro-empresa (atua sozinha).

Micro-empresa (três funcionários).

Micro-empresa (atua sozinha).

Micro-empresa

(quatro

funcionários).

Segmento de atuação Consultoria e

assessoria empresarial

focada na visão

jurídica

Moda – comércio de

pashminas importadas da Turquia.

Serviços de prospecção,

comercialização de produtos e de

alto valor agregado e inteligência

em negócios para pequenas e médias empresas.

Cosméticos e beleza (consultoria de beleza).

Comércio de calçados

femininos de tamanhos especiais.

Comunicação. Eventos.

Tempo de empresa Empresa foi lançada na

época da entrevista (abril de 2016).

Um ano. Treze anos. Dois anos. Seis anos. Dezoito anos. Dez anos.

Locais e ambientes

virtuais dos cursos

realizados

Sebrae (à distância e

presenciais) e vídeos

do autor Roberto Tranjan.

RME (presenciais),

Escola de Você (é embaixadora68)

Sebrae, COGN-MGR, Metamaia. RME, Escola de Você

(é embaixadora),

Sebrae, site revista PEGN.

FGV (Fundação Getúlio Vargas) e Sebrae.

Não respondido. FGV, Senac, Coursera, EduK.

Sites conhecidos pela

empreendedora para

sua capacitação

RME, Sebrae, site

revista PEGN. Não

conhece o Escola de Você.

RME, Escola de Você

(é embaixadora), revista PEGN

RME, Escola de Você, Sebrae,

revista PEGN, Endevour, Itaú Mulher Empreendedora.

de Você (é

embaixadora), Sebrae, site revista PEGN.

RME, Escola de Você,

Sebrae, site revista PEGN.

Não respondido. RME, Escola de

Você, Sebrae, site revista PEGN.

Frequência de uso da

internet

Semanalmente. Diariamente. Quase todos os dias. Meia hora por dia, não chegando a uma hora.

Diariamente (três a

quatro horas por dia).

Uso intensivo de redes sociais.

Não consultado. Diariamente (nove

horas por dia em

média).

Diariamente (mais

de quatro horas por

dia).

68 As embaixadoras da Escola de Você são alunas que apoiam a Escola de Você, e organizam encontros de alunas em suas cidades, criando oportunidades para troca de ideias, experiências e fazer contato com outras pessoas que também estão

passando por transformações estimuladas pelos cursos da Escola de Você. Fonte: Escola de Você (material encontrado na página interna: <http://www.escoladevoce.com.br/Embaixadoras/Embaixadora/Inscricao>. Acesso em: 9 jul. 2016).

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166

Após a construção da lista de categorias, preparou-se um quadro comparativo, onde se

apresentou o início das bases de análise das entrevistas, com a divisão em três colunas: a

primeira, chamada “discurso”, onde são expostos os trechos das transcrições das entrevistas

que expõem objetivamente as falas das entrevistas e que representam a categoria indicada em

cada quadro; a segunda, chamada “unidade de significado” informa a principal informação

apreendida a partir desta fala; e a terceira, chamada “sentidos do discurso”, contém as

principais análises realizadas pela pesquisadora deste estudo, e suas afirmações sobre o

discurso relatado, ou sobre a unidade de significado. A elaboração e preenchimento deste

quadro, bem como dos temas em cada coluna, foram inspirados a partir da proposta de Silva

(apud SILVA, 2010, p. 285-287), elaborada com base em estudos de Van Manen, Bicudo,

Barrit et al. e Santos (apud SILVA, 2010, p. 285-287). A criação dos quadros temáticos foram

fundamentais para a etapa de análise, pois delimitaram a estrutura para a redação das

compreensões e interpretações, e auxiliaram a estabelecer uma organização interna para a

elaboração das seções de cada tema, formando um todo significativo e representativo, por

meio do agrupamento dos vários discursos em temas comuns obtidos pelas diferentes

entrevistas (SILVA, 2010, p. 290; 292).

Como método qualitativo, foi selecionada a modalidade de entrevista em profundidade

baseada em roteiro, que é “caracterizada pela preparação desse roteiro, e por dar ao

entrevistador flexibilidade para ordenar e formular as perguntas durante a entrevista”

(GODOI; MATTOS, 2010, p. 304). Para tal, foi adotado, durante a interação com as

empreendedoras, um estilo aberto de investigação, no qual predominaram alguns preceitos,

tais como a liberdade para que a entrevistada pudesse se expressar livremente a partir do

estímulo da pesquisadora; a flexibilidade na fragmentação e ordem das perguntas, a fim de

não prejudicar a expressão livre da entrevistada; e a possibilidade de inserção de novas

perguntas no diálogo, conforme o contexto (GODOI; MATTOS, 2010, p. 305). A entrevista

em profundidade foi escolhida tendo-se em vista que o foco neste estudo são as experiências,

ideias e valores das entrevistadas, e a adoção do estilo aberto por objetivar trazer um olhar a

como as empreendedoras atuam e reconstroem as representações sociais e suas práticas

individuais (Sierra e Alonso apud GODOI; MATTOS, 2010, p. 305-306).

A partir destas considerações a respeito da metodologia adotada no presente estudo,

serão apresentadas a seguir as interpretações construídas pela análise das entrevistas obtidas

com as empreendedoras. Para uma leitura detalhada de todos os quadros categóricos

comparativos construídos nesta investigação, eles estão disponíveis na íntegra no Apêndice D.

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5.1 Impactos das ferramentas de comunicação digital para o empreendedorismo

feminino: interpretações e compreensões de sentido

Aprendizagem, capacitação e empoderamento. Estas três palavras resumem os

principais sentidos observados a partir das pesquisas realizadas com as empreendedoras, e

demonstram, ainda, que ainda há um gargalo importante a ser transposto no que diz respeito à

acesso, conhecimento e conteúdo demandado nos cursos e canais de comunicação digital.

É interessante observar que, tanto na pesquisa quantitativa, quanto na qualitativa, o

perfil das empreendedoras, no que tange aos aspectos de idade e de escolaridade, são bastante

similares, e, ao mesmo tempo, correspondem a dados obtidos em pesquisas secundárias

apresentadas no primeiro capítulo deste estudo. Na avaliação qualitativa, observa-se que a

grande maioria das empreendedoras está nos grupos de idade entre 26 e 50 anos, totalizando

um percentual de 83,4%; já entre as entrevistadas da pesquisa quantitativa, a idade variou

entre 27 e 56 anos. Este perfil etário demonstra que a atividade empreendedora de modo geral

é iniciada após a estabilização e finalização dos estudos até a graduação, ou pós-graduação, e

em um momento de maior maturidade pessoal e profissional. Já com relação à escolaridade, a

pesquisa mostra que as empreendedoras são bastante qualificadas: 77,7% delas tem curso

superior ou pós-graduação nível lato-sensu, ou ainda MBA. No grupo das entrevistadas da

análise qualitativa, o perfil segue o mesmo: quatro delas tem nível superior, e três realizaram

pós-graduação. Esse perfil escolar alto representa um importante dado a respeito do

empreendedorismo feminino: a alta qualificação significa um melhor preparo técnico e

gerencial, podendo-se induzir que seus empreendimentos tenham maior probabilidade de

serem perenes por um longo período de tempo.

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Gráficos 13 e 14. Perfil etário e escolar das empreendedoras da pesquisa quantitativa. Fonte: realizado pela

autora.

Entre os segmentos eleitos para o empreendimento, novamente há uma regularidade

com dados localizados em pesquisas secundárias. Há uma predominância forte do setor de

serviços, com 61,1% das empreendedoras da pesquisa quantitativa neste segmento. Já entre as

entrevistas da pesquisa qualitativa o perfil é mais equilibrado: há quatro entrevistadas

dedicadas ao setor de serviços, e três dedicadas ao comércio.

Gráfico 15. Segmentos de atuação das empresas das empreendedoras – pesquisa quantitativa. Fonte: realizado

pela autora.

Com relação ao tamanho dos negócios, o perfil é bastante similar ao do ambiente

empresarial brasileiro, com a grande maioria dos empreendimentos estabelecidos entre micro

e pequenas empresas. Na pesquisa quantitativa, metade eram micro-empresas, e outras 44,4%

eram MEI’s (micro-empreendedoras individuais). Já na pesquisa qualitativa, três

empreendedoras trabalhavam sozinhas, e as outras quatro tinham micro-empresa. Este perfil

demonstra que o grau inicial dos empreendimentos é bastante presente no ambiente de

negócios brasileiro, e apresenta a grande força dos micro-empreendimentos nos setores de

comércio e serviços no país.

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Gráfico 16. Tamanho dos empreendimentos – pesquisa quantitativa. Fonte: realizado pela autora.

A análise dos dados relacionados à capacitação voltada ao negócio e ao

empreendedorismo revela pontos interessantes a respeito da correlação entre formação inicial,

e necessidades observadas pelas empreendedoras para desenvolver a sua empresa. Na

pesquisa quantitativa, quando questionadas se já haviam realizado algum curso de gestão,

empreendedorismo, ou algum tema relacionado ao negócio, 88,9% responderam que sim. Ao

observar os números desta forma, pode-se avaliar, superficialmente, que eles não trariam

nenhuma revelação, uma vez que estes cursos poderiam ter sido realizados muito antes da

ideia de abertura de um empreendimento.

Gráfico 17. Incidência de realização de cursos relacionados à gestão e ao empreendimento. Fonte: realizado

pela autora.

No entanto, ao observar as falas e experiências das empreendedoras entrevistadas em

profundidade, é possível notar, essencialmente, que suas qualificações técnicas iniciais,

obtidas na graduação e na pós-graduação, não foram suficientes para prepará-las para o

ambiente empreendedor. A maioria delas mencionou a realização de cursos de curta e média

duração para suprir a necessidade por conhecimentos específicos necessários à condução dos

seus negócios. As entrevistadas A1 e A2 relataram situações muito semelhantes, e enfocaram

a necessidade de obter mais conhecimentos na área de marketing: “eu me afastei até um

pouco do mundo jurídico e das formações todas na área jurídica por já ter um certo

conhecimento e investi apenas em empreendedorismo”; “(...) marketing também. Marketing

44,4%

50%

5,6%

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170

eu senti a importância desse assunto e acredito bastante no investimento do marketing hoje.”

- quando questionada sobre qual tema desses cursos que ela acreditava que fosse o mais

importante para o seu negócio atualmente - (citações da entrevistada A1); “Sim. Marketing .

Marketing pra mim é mais difícil porque eu não tinha muita noção, acho que é tipo,

financeiro talvez seja mais fácil pra mim do que o de marketing mas como tenho um marido

que trabalha na área de marketing digital, então ele me ajudou bastante com relação a essa

parte.” (citação da entrevistada A2). Ao analisar-se o entendimento do significado dos

discursos, e o que essas experiências de realização dos cursos representavam para as

empreendedoras, foi possível apreender que a formação inicial não foi suficiente para a

empreendedora desenvolver o seu negócio. Assim, outras áreas de conhecimento foram

necessárias para que ela pudesse se capacitar adequadamente – finanças, vendas e marketing –

e ter um entendimento mais holístico a respeito de um negócio. Para elas, os temas

necessários ao desenvolvimento do negócio são os de maior interesse. Aqui, cabe destacar

algumas falas específicas a respeito da experiência de duas entrevistadas, a A4 e a A5. A4

mencionou o seu interesse pelo tema de empoderamento feminino, possivelmente pela relação

com o segmento de atuação da entrevistada (cosméticos e beleza): “Geralmente o que me

interesso mais é sobre marketing, vendas, e sobre o empoderamento feminino”. Já A5

participou de um importante curso, o 10.000 Mulheres, que é um programa global do banco

Goldman Sachs e da Goldman Sachs Foundation, que proporciona educação em

administração e gestão de negócios a mulheres empreendedoras, e no Brasil é realizado em

parceria com a Fundação Getúlio Vargas. Esta experiência e atitude de A5 demonstra sua

grande proatividade, dedicação e comprometimento com a sua capacitação. Ela ainda estava

realizando, no momento da entrevista, um curso de marketing digital, na FGV (à distância), e

comentou porque para ela se capacitar nessa disciplina era importante para o seu negócio:

“Por eu trabalhar com um mercado segmentado, o marketing é o mais fundamental” (o

negócio de A5 é a comercialização de calçados de tamanhos especiais, geralmente não

encontrados facilmente em lojas comuns; sua estratégia de atuação é de nicho, e, por isso, o

entendimento do marketing é fundamental para a sua atuação).

Com relação ao formato de curso realizado – presencial ou à distância – observa-se

uma importante divisão de preferências, que são bastante motivadas por comportamentos

individuais, não podendo se afirmar uma tendência maior de preferência por um formato ou

outro – conclui-se, daí, que esta escolha irá depender dos objetivos e das necessidades

específicas de cada empreendedora. Na pesquisa quantitativa, observou-se que 61,1% das

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mulheres haviam realizado os cursos mencionados na questão anterior à distância, e 27,8%

mencionaram que não o haviam realizado à distância.

Gráfico 18. Grau de realização de cursos relacionados à gestão e empreendedorismo no formato à distância.

Fonte: realizado pela autora.

Entre as mulheres da pesquisa qualitativa, há um grande equilíbrio entre as

preferências. Há algumas que preferem o formato presencial; já há outras que não tem

preferência: realizam cursos igualmente à distância e presencialmente. Há ainda uma que não

havia feito por falta de oportunidade apenas, e outra que estava fazendo um curso à distância

no momento da entrevista. Entre os principais motivos para a preferência do curso à distância,

foram mencionados a gestão do tempo de forma mais equilibrada, o networking e o

intercâmbio de experiências. A empreendedora A1 assim relatou a sua experiência:

“pensando na relação tempo eu gosto bastante dos cursos à distância”. Já A3 comentou:

“Acho que tem a questão do networking e tem a força do grupo, né, no sentido de troca, às

vezes o desafio que eu tô enfrentando no negócio alguém já passou e tem uma solução pra me

dar, às vezes eu também posso contribuir com o grupo, então acredito que é importante sim,

mas não descarto a questão de fazer on-line” (quando questionada sobre sua preferência pelos

cursos presenciais). No entanto, é importante observar que uma das empreendedoras prefere o

formato presencial, pois o curso à distância tem a desvantagem da ausência do contato físico,

quando comparado com o curso presencial, fator valorizado pela empreendedora A2 para que

o curso lhe seja produtivo: “É, eu prefiro fazer qualquer tipo de curso presencial porque pra

mim é fundamental ter contato ali com as pessoas, enfim. Acho que é mais produtivo”.

Na pesquisa quantitativa, algumas perguntas foram realizadas com o objetivo de

entender o comportamento e a frequência de realização de cursos à distância, cujos fatores

motivadores foram analisados na pesquisa qualitativa também. Quando perguntadas sobre o

número de cursos à distância relacionados ao negócio já realizados, observa-se que a

frequência ainda é baixa: a maioria (27,8%) mencionou que havia realizado apenas de um a

três cursos. O mesmo percentual respondeu que nunca havia realizado cursos à distância

relacionados ao tema. Apesar de estes números representarem o baixo uso de cursos à

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172

distância neste segmento pelas empreendedoras, um total de 27,8% já havia realizado entre

quatro e doze cursos, o que poderia caracterizar uma sensível aceitação e mudança de

comportamento para o formato digital.

Gráfico 19. Quantidade de cursos realizados à distância relacionados ao negócio. Fonte: realizado pela autora.

Entre os motivos observados para a não realização dos cursos à distância, para o tema

de negócios, apesar de a maioria ter respondido que já havia realizado cursos à distância neste

tema (61,1%), e outras terem alegado “outros motivos”, não sendo possível identificá-los

(22,2%), o fator tempo foi o principal obstáculo identificado na questão para a não realização

dos cursos para 16,7% das empreendedoras. Já entre os fatores motivadores para terem

realizado o curso à distância, observa-se um grande equilíbrio entre os motivos: uma sensível

maioria (27,8%) respondeu que a comodidade era o principal motivador – podiam definir os

horários de estudo, e intermediar o curso com outras atividades domésticas; já para 16,7%,

justamente o fator tempo era o mais importante, pela economia no tempo gasto em

deslocamentos. Custo, falta de escolha e o cuidado com filhos ou parentes foram outros itens

igualmente respondidos, com 5,6% cada um. Essa distribuição equilibrada entre os fatores

motivacionais para escolha da plataforma à distância demonstra que tempo e flexibilidade

para adequação a rotinas individuais contribuem fortemente para o estímulo ao uso dos cursos

à distância.

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173

Gráficos 20 e 21. Fatores motivacionais para a realização e não realização de cursos à distância sobre o tema

negócios e empreendedorismo. Fonte: elaborados pela autora.

Na análise das respostas obtidas nas entrevistas em profundidade, o discurso

observado não foi relacionado à escolha da plataforma, mas sim às motivações gerais para a

realização dos cursos, e às consequências relacionadas a esta vivência em suas vidas. Foi

possível analisar estas motivações nas entrevistas de três empreendedoras. O significado

apreendido de suas falas retrata três elementos principais: os cursos foram realizados pela

necessidade de desenvolvimento da empresa, por necessidades de conhecimento específicas,

decorrentes da falta de capacitação em áreas necessárias ao empreendimento, como vendas e

mentoria, e a necessidade de preparo para a atividade empreendedora, não existente em outras

formações da entrevistada. Há, assim, o entendimento de que, em primeiro lugar, as

motivações são relacionadas ao sucesso do empreendimento e pela necessidade de

atendimento aos clientes: “tudo voltado ao empreendedorismo não só pro desenvolvimento da

minha empresa, mas pra eu poder aplicar com os clientes” (citação da entrevistada A1); em

segundo lugar, de que a formação original não as preparou para o ambiente empreendedor, e

sentiu-se a necessidade de se preparar melhor em temas como vendas; e, em terceiro lugar, de

que a capacitação formal é entendida como essencial, e é motivada pela falta de

conhecimentos prévios em temas necessários ao empreendimento, e principalmente pela

necessidade de explorar e estudar o seu mercado de atuação: “Eu comecei a buscar cursos

depois que eu abri meu negócio. Na faculdade por você já tá nesse universo de aprendizado

passa-se por algumas matérias, mesmo meu curso sendo tecnologia a gente teve alguma

visão de empreendedorismo, de economia, então eu sabia que não era uma coisa assim, você

não pode ser amadora, pelo menos um plano de negócio, a partir de um plano de negócio

você começa a buscar o conhecimento pra você colocar o negócio em prática. No começo foi

mais pelo feeling mas eu tive que buscar conhecimento” (citação da entrevistada A5).

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174

Uma vez relatadas as experiências relacionadas aos motivos para a realização dos

cursos, as empreendedoras da pesquisa qualitativa também foram questionadas sobre as

razões para a escolha de cursos à distância, assim como avaliado na pesquisa quantitativa.

Além do controle do tempo, e a gestão dele de forma mais autônoma, para melhor

aproveitamento de cada momento disponível nas rotinas de mãe e empresária - fator já

observado na pesquisa quantitativa - outros fatores positivos dos cursos à distância são a

interação com outras pessoas de meios distintos, e a troca de experiências que extrapolam os

temas dos cursos realizados, se tornando importante meio de networking. A empreendedora

A1 assim relata a sua experiência: “Eu tenho investido bastante nisso. Assim, eu gosto por

conta do tempo. Não tenho muito tempo”; “Aí eu prefiro que eles sejam à distância, porque

eu faço o curso o tempo que eu posso”. Para a entrevistada A5, o compartilhamento de

informações com pessoas de ambientes diferentes dos seus, e a gestão do tempo facilitada são

suas principais motivações para a realização dos cursos: “Você consegue conversar com

outras pessoas que estão em diferentes meios. A troca de informação é maior porque ali no

meio virtual à distância a pessoa acaba te passando link de algo que depois que você navega,

você encontra mais alguma informação (...) então a interação com outras pessoas e com mais

conteúdo é maior. Questão de tempo. Eu sendo empresária já atuante, como mãe com filhos,

tenho que também ter e conseguir encaixar os meus estudos nos meus horários que me

sobram. Então o EAD dá essa possibilidade”.

E para compreender as respostas obtidas com os principais fatores motivacionais de

realização dos cursos, faz-se necessário entender as consequências e impactos observados

pelas empreendedoras após a realização dos cursos. Com relação ao impacto direto no

crescimento de seus negócios, as empreendedoras da pesquisa quantitativa avaliaram que este

impacto foi de regular a médio: em uma escala de 0 a 10, onde 0 representava nenhum

impacto e 10, muito impacto, a maioria das respostas se concentrou nas notas 5 (22,2%), e 7

(27,8%). Já com relação ao impacto em sua evolução individual, tanto profissional quanto

pessoal, as notas destacadas foram mais elevadas: houve a concentração entre as notas 7

(22,2%), 8 (16,7%), e 9 (22,2%). Os números revelam que, apesar de as empreendedoras não

observarem um impacto tão alto direto nos negócios, o que representaria, de certa forma,

resultados de curto e médio prazo, pois precisariam ser mensurados por meio de fatores como

aumento em faturamento, por exemplo, o impacto em seu crescimento pessoal é notado de

forma altamente positiva. Isso demonstra possivelmente que as empreendedoras notam que os

cursos alteram sua visão de negócios, sua perspectiva pessoal de capacidade, e despertam o

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175

potencial existente para crescerem. Sob este aspecto, os cursos as auxiliam de certa forma em

seu empoderamento pessoal, ao trazer auto-confiança e auto-estima, necessárias

fundamentalmente para que acreditem e continuem firmemente investindo em suas empresas.

Gráficos 22 e 23. Impactos no crescimento do negócio e na evolução profissional e pessoal das

empreendedoras, a partir da realização dos cursos e conteúdos on-line. Fonte: realizados pela autora.

É interessante notar ainda que, na pesquisa quantitativa, as empreendedoras observam

uma grande utilidade prática dos cursos realizados, ou mesmo outros conteúdos acessados

digitalmente. Apesar de a maioria das respostas ter se concentrado na nota 6 (22,2%), a

maioria das respostas se concentrou entre as notas 7 a 10, totalizando, neste grupo de notas,

55,6% das empreendedoras.

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Gráfico 24. Utilidade prática dos cursos à distância ou conteúdos acessados on-line. Fonte: realizado pela

autora.

As empreendedoras da pesquisa qualitativa apresentaram importantes depoimentos a

respeito dos impactos das capacitações para seu crescimento profissional e pessoal. Entre os

principais significados apreendidos, observou-se que as empreendedoras sentiram a

importância dos cursos pelo crescimento profissional proporcionado e pela nova visão

conquistada – possibilidade de incentivo a parceiros, funcionários e clientes; houve o

entendimento do aprendizado como contribuição mais ampla à sua formação, não apenas

utilitarista, mas como conteúdos complementares que se integram em uma formação mais

holística; a partir da realização dos cursos, uma forte auto-estima, possibilitada pelo

empoderamento feminino, pode ser construída, e este fator é importante em segmentos como

o de beleza; e a evolução constante do mercado, principalmente devido a atualizações

tecnológicas, que impõem que a empreendedora se atualize constantemente, e é fundamental

que ela se prepare desde o começo do negócio, para que ela possa se preparar melhor para a

expansão dos seus negócios. A entrevistada A1 relatou o impacto dos cursos em sua vida:

“(...) Eu já percebi pelo meu crescimento profissional, eu vi quanto isso agregou e é uma

porta de entrada até para eu incentivar meus parceiros profissionais, futuros funcionários,

indicar pras empresas clientes. Então eles ajudam de diversas formas. Me ajudou bastante e

eu acredito muito nesse caminho aí. Acho que é a tendência mesmo do mercado”. Já a

entrevistada A4 mencionou a importância do empoderamento feminino, e o conhecimento em

geral: “porque na minha área, a área de beleza, é o empoderamento feminino que ajuda às

mulheres, né, pela maquiagem você se sente mais empoderada, né, constrói auto-estima...”;

“Sim. Conhecimento mesmo à distância, presencial qualquer tipo de conhecimento tem

impacto pro negócio. Acho que conhecimento é tudo. Não importa de que forma você tá

tendo, se você tá no computador, se você tá no celular, de todo jeito acho que é válido”. E a

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empreendedora A7 relatou como os cursos auxiliam na atualização e no crescimento

profissional: “Os cursos online, portanto, vem para ajudar o empreendedor, possibilitando o

aprendizado e a atualização profissional de forma acessível, prática e de qualidade,

abordando diversos temas de interesse (desde temas técnicos até temas de gestão) e

incentivando seu crescimento profissional e ampliação de horizontes”.

Ao se falar em atitudes e apropriações das empreendedoras a partir da realização dos

cursos, uma série de significados de suas experiências podem ser compreendidos,

principalmente no que tange a novas descobertas e comportamentos. Foi possível observar

que, para uma delas, o curso presencial é importante, além da capacitação, para promover

relacionamentos que auxiliam na jornada empreendedora, que muitas vezes pode levar ao

isolamento se o empreendedor não estiver atento a procurar momentos de integração com

outros empresários: “Acho que tem uma questão assim que o empreendedor ele é muito

solitário na jornada dele de negócio. Então esses cursos presenciais permitem com que a

gente tenha uma troca tipo assim mais genuína e mais fácil com pessoas que passam pelos

mesmos desafios com a gente.” (citação da entrevistada A3). Já outra empreendedora acredita

que a auto-confiança e o auto-conhecimento são elementos essenciais para a mulher se sentir

segura e, consequentemente, gerir o seu negócio com melhores resultados, e que o

planejamento é atividade fundamental na atividade empreendedora para evitar que o negócio

gere resultados ruins: “(...) acho que é muito importante, se você não se conhece, não sabe

sua capacidade, você não consegue crescer, não consegue mostrar seu negócio de forma

segura, como é que você vai passar confiança pras pessoas? Então é muito importante

principalmente pra mulher se conhecer, ter a postura de atitude empreendedora, se

empoderar desse poder que a gente tem. E fazer o negócio acontecer, não ficar com medo. É

nisso que eu acredito”;“acho que essencial é fazer um planejamento de transição ter essa

certeza com você. Quer empreender? Então pensa bem no que você quer, faz um

planejamento. É importantíssimo fazer e se planejar porque também não é arriscar tudo,

fazer um negócio e daqui meses você se arrepender porque pra mim você vai estar investindo

tempo, dinheiro, depois vai ficar frustrada e não vai dar resultado nenhum, vai ser uma

péssima empresa pra você” (citações da entrevistada A4).

A capacitação ainda permitiu que outra empreendedora errasse menos, ou ainda que,

ao errar, rapidamente pudesse se adequar para não perder negócios. O compartilhamento do

conhecimento para uma delas ainda contribuiu para que as equipes sob sua gestão também

pudessem auxiliar no crescimento do seu empreendimento: “(...) eu errei em algumas

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compras, negociação, negociação com banco. Então você acaba perdendo tempo e demora

um pouco mais pra atingir o sucesso ou os resultados positivos quando você erra. A partir do

momento que eu errei uma vez e fui buscar o porquê que eu errei seja o conhecimento,

conversando, trocando informações com outras pessoas você se ajusta rapidamente pra

continuar”; “(...) porque você consegue também extrair informações pra preparar o seu time.

Então muitas vezes você deixa um conteúdo pra um vendedor, pra um funcionário

acompanhar e ele volta com aquela informação ou com uma dúvida e acaba que um troca

informação com o outro. Então ele acaba construindo também com base no conteúdo que

você distribuiu, que você compartilhou” (citações da entrevistada A5).

O comportamento digital das empreendedoras é bastante intensivo, e os dados

encontrados revelam regularidades entre as pesquisas quantitativa e qualitativa. Na pesquisa

quanti, a grande maioria respondeu que usa a internet para assuntos profissionais diariamente,

mais de uma hora por dia: 72,2%, sendo que as demais 27,8% também a usava diariamente,

mas limitadas a uma hora por dia. A frequência de uso das redes sociais, com foco nos

negócios, também é similarmente bastante intensiva, mas um pouco menor do que o uso da

internet como um todo: 44,4% responderam que usam as redes sociais com este foco

profissional diariamente, mais de uma hora por dia; 22,2% responderam que usam

diariamente, mas limitado a uma hora por dia; e os grupos de uso de três vezes por semana e

uma vez por semana somaram 22,2% das respostas. Entre as redes sociais que são mais

acessadas, o Facebook é a preferência da maioria: é utilizado por 77,8% das empreendedoras.

Esse comportamento demonstra claramente a importância do papel da internet e das redes

sociais no dia a dia profissional das empreendedoras, que as utilizam intensamente, seja para

buscar informações, seja para resolver problemas de seus negócios, ou ainda para ter contato

com outras empreendedoras ou profissionais.

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Gráficos 25, 26 e 27. Frequência de uso da internet e de redes sociais, e redes sociais mais utilizadas. Fonte:

realizado pela autora.

Entre as empreendedoras da pesquisa quali, o comportamento digital é bastante similar

aos dados aqui apresentados, mas consegue-se observar que há um uso mais intensivo da

internet e das redes sociais de acordo com o perfil de segmento de atuação do

empreendimento. Quando há um uso da internet de baixo a moderado pela empreendedora, o

que representa ainda um perfil mais tradicional de comunicação, isso acontece por seu

negócio não exigir que a empreendedora faça uso intensivo da internet (seu segmento de

atuação é o de prestação de serviços de consultoria). No entanto, para outras empreendedoras,

o uso intensivo da internet é intensificado pela necessidade de comunicação mais direta e

intensa pelo segmento de atuação da empreendedora (caso das empreendedoras que se

dedicam ao comércio). Para uma delas, o uso da internet objetiva a comunicação com clientes,

e a divulgação massiva do seu negócio, que exige que ela esteja atualizada e atuante na

internet o tempo todo. O uso da internet, para ela, significa estar próxima aos clientes,

relacionar-se com eles, e ter à sua disposição um canal de divulgação de seus produtos e

serviços.

Apesar de a realização de cursos à distância ainda não ser uma realidade

compartilhada entre todas as empreendedoras entrevistadas, observou-se que, na pesquisa

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quanti, a totalidade delas utiliza a internet como meio para obtenção de informações e

conhecimento pertinentes ao seu negócio, o que demonstra um profundo interesse delas em se

atualizar e buscar desenvolvimento profissional. Já entre as ferramentas preferidas para sua

atualização e capacitação na internet, a maioria prefere a leitura de artigos e/ou notícias

(66,7%), enquanto que outras preferem vídeos (11,1%) ou ainda redes sociais ligadas a temas

de gestão, empreendedorismo e negócios (16,7%).

Gráficos 28 e 29. Hábitos de atualização profissional na internet das empreendedoras. Fonte: realizados pela

autora.

Entre as empreendedoras entrevistadas na pesquisa quali, o comportamento digital se

altera bastante de acordo com os objetivos de cada uma. No caso de A1, ela tem uma

experiência mais restrita na internet, e não a explora como ferramenta de relacionamento com

seus clientes – a prioridade é transmitir as informações de maneira unilateral. Já A2 faz uso

intensivo da internet, e seu comportamento digital é mais dedicado diretamente ao negócio do

que à capacitação ou busca de informações: “(...) tenho que ver o negócio porque eu tenho

uma loja on-line. Tenho que ver as redes porque eu também faço divulgação nas redes, nas

mídias, e-mails, pesquisa, compras, enfim, N coisas” (citação de A2). A3 já apresenta um

perfil híbrido: apesar da empreendedora usar a internet diariamente, seu comportamento

digital é mais moderado e conservador. Seu objetivo de uso é manter-se atualizada, mas não

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há espontaneidade ou proatividade: há a necessidade de ser estimulada para acessar os

conteúdos. A empreendedora ainda percebe que poderia fazer um uso mais intensivo da

internet, em benefício próprio e do seu negócio: “Eu uso pouco. Eu diria que eu acho assim

que eu tenho pouco conhecimento em relação ao benefício que a rede poderia trazer pro meu

negócio. Eu acabo fazendo uso das práticas que eu já venho tendo e faço pouco uso. Eu diria

assim, sei lá, eu faço alguma coisa assim uma vez por semana. Acho que é pouco” (citação de

A3). Para A4, o uso da internet e das redes sociais é crucial no dia a dia da empreendedora, o

que torna a comunicação digital uma ferramenta comercial de sustentação do negócio dela:

“Porque eu faço muito contato com meus clientes pela internet, por Instagram, Facebook, por

e-mail, eu tô sempre fazendo postagens...”; “Tenho um site pros produtos que eu comercializo

e tenho também o presencial, faço visita às clientes, mas muita da divulgação que eu consigo

usar é por rede social. Então muito do meu tempo é isso”; “Sim. Tem muita gente me

procurando por conta da rede social, um post, alguém falou que viu um post meu... É muito

relevante” (citações de A4). E, para A7, o uso da internet permeia todo o dia da

empreendedora, que torna o seu uso essencial como qualquer outro recurso, como água ou

luz. Além do escopo profissional, bastante intensivo pela divulgação e contato com clientes,

há um importante uso com objetivos pessoais, e, por isso, o uso da internet se torna item

fundante de seu comportamento diário, e não apenas uma mera necessidade profissional em

seu dia a dia: “[Uso] todos os dias. Mais de 4h/dia. Para todas as atividades. Ler (jornais,

blogs, artigos), estudar, usar redes sociais, entrar em contato com amigos, clientes e

fornecedores, pesquisar, buscar referências e fotos, fazer publicidade na internet, usar

GPS/mapas, ouvir música, baixar vídeos, ouvir audiobooks, ler e-books, assistir filmes,

pesquisar fornecedores e endereços etc”; “Sim. Todos os dias, seja postando fotos, posts

patrocinados, respondendo solicitações de clientes, fazendo anúncios em grupos...

principalmente Facebook, Instagram e Pinterest” (citações de A7).

Além da análise comportamental e algumas compreensões dos sentidos sobre os

impactos e apropriações da capacitação empreendedora, apreendidas nas duas pesquisas

realizadas com as empreendedoras, cabe, aqui, analisar alguns importantes relatos trazidos

pelas mulheres nas entrevistas em profundidade, e que contribuem para importantes

interpretações a respeito de suas vivências. Afinal, ao enfocar como método de análise das

entrevistas a fenomenologia, as interpretações devem observar “a maneira como as pessoas

experienciam o mundo, para conhecer o mundo em que elas vivem como seres humanos”

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(VAN MANEN apud SILVA, 2010, p. 278). Desta forma, o destaque aqui proposto a estas

vivências individuais se deve a que

(...) o estudo dos fenômenos sociais tem como foco os significados dos sujeitos que

os constroem, o que requer partir-se do princípio que o estudo precisa também ser

analisado na perspectiva dos sujeitos. (PATRÍCIO et al. apud SILVA, 2010, p. 279).

Foi possível perceber, durante todo o depoimento da entrevistada A5, que a atividade

empreendedora, para ela, significa toda a sua capacidade produtiva, e transmitiu, por meio de

suas falas, o intenso comprometimento e dedicação apostados em sua atividade profissional.

A agilidade da empreendedora no momento de início do empreendimento, relatada em uma de

suas falas, demonstra a sua pró-atividade e o seu engajamento. Entre ter a ideia e ter o negócio

funcionando, se passaram apenas quatro dias, o que mostra sua dedicação e comprometimento

com o seu negócio e com os resultados. Ela declarou sua experiência pessoal e como foi o

processo inicial da construção do seu empreendimento: “A ideia era infantil porque eu tava

com dois filhos pequenos, e aí eu comecei a avaliar ali, sentada na frente da televisão. Eu

falei não, mas espera aí, eu como mãe de criança, qual é a frequência de compra de sapatos?

Então naquela hora eu já descartei o infantil, e comecei a pensar na numeração especial

porque eu calço 41 e sei da dificuldade que é pra encontrar, então naquele dia eu já falei

‘amanhã eu estou nessa feira [FRANCAL, feira do setor calçadista]’. E dei um jeito e

consegui entrar na feira e já saí de lá com quatro pedidos prontos sem ter o CNPJ e com

quatro dias já tava com a loja aberta funcionando na internet”. A empreendedora, assim,

teve a ideia para o seu empreendimento inspirada a partir de uma necessidade de seus filhos

pequenos, relacionada ao vestuário infantil. No entanto, por meio de uma breve análise ela

alterou o foco de atuação, mantido no segmento de calçados, mas com mudança no público-

alvo: agora, ela atenderia ao público feminino adulto, mas com necessidade de tamanhos

especiais. Foi proativa e ágil, pois visitou logo no início uma feira do seu setor, e já iniciou as

vendas no próprio local. Em quatro dias, ela já havia desenvolvido o site de e-commerce para

venda dos calçados na internet.

Além das motivações de realização dos cursos, em dois depoimentos destacaram-se

importantes falas a respeito do que motivou as entrevistadas a se tornarem empreendedoras, e

um ponto relevante é que o motivo, para estas duas entrevistadas que comentaram sobre o

assunto, foi o mesmo: a maternidade. No capítulo teórico deste estudo, foi analisada uma série

de motivos pelos quais as mulheres escolhem trilhar o caminho do empreendedorismo: por

necessidade, devido a dificuldades de reinserção no mercado de trabalho formal, ou até

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mesmo por opção, para desenvolver-se autonomamente ou criar algo inovador. No entanto,

em nenhuma pesquisa secundária foi observada a maternidade como sendo um elemento

importante na escolha de um novo caminho profissional. Pelo conteúdo e força dos

depoimentos relacionados a este tema, destacam-se aqui os depoimentos prestados pelas

empreendedoras A4 e A5, que comentaram a respeito: “É porque eu sou mãe. Eu tenho três

filhos. Então o que me motivou foram meus filhos porque no mundo corporativo não dá pra

você ser mãe, e eu trabalhava na área financeira. Então eu tinha muito pouco tempo com

eles. Daí eu optei a ter meu próprio negócio, ter flexibilidade de horário porque eu tô

participando da vida deles, mas também obtendo a minha renda” (citação de A4); “Foi num

momento quando eu tinha acabado de ter meu segundo filho, ainda estava na licença–

maternidade e como eu sou da área de tecnologia e demanda muita disponibilidade pra você

tá virando noite, implantando sistemas, e na licença-maternidade eu assisti um anúncio da

FRANCAL - feira de calçados - aí naquele momento eu pensei: por que não abrir um negócio

de calçado infantil?” (citação de A5). Observa-se que o empreendedorismo significa para as

empreendedoras a possibilidade de ter mais tempo para a maternidade e cuidar de suas

famílias, uma prioridade tão importante quanto o trabalho. A falta de equilíbrio de tempo,

existente em trabalhos formais corporativos, demanda que a mulher com filhos tenha menos

tempo para se dedicar à maternidade. As empreendedoras, então, optaram por ter maior

equilíbrio em suas vidas, e priorizaram a participação ativa na vida dos filhos, e manter o seu

trabalho, possível por meio do empreendedorismo.

E, para finalizar as compreensões e interpretações das pesquisas, dois depoimentos –

trazidos pelas mesmas empreendedoras que trouxeram relatos sobre a maternidade, A4 e A5 –

resgataram uma das justificativas para a elaboração desta investigação: os impactos de

atuação da mulher empreendedora. Em ambos os relatos, é possível compreender que a

mulher, em sua atividade empreendedora, transforma o ambiente social ao seu redor, e

influencia a família e a sociedade. Seu jeito de gerir é diferente ao do homem, pois o faz de

maneira mais emotiva, e é mais determinada e dedicada. Outro importante ponto relatado é

que a mulher assume o protagonismo nas famílias atuais, e o empreendedorismo fortalece

esse papel feminino, uma vez que ele reforça a sua auto-estima, a sua confiança, e o seu

exemplo como profissional dedicada, em condições iguais às do homem. A empreendedora se

torna, assim, exemplo de inspiração para outras mulheres que enfrentam as mesmas

dificuldades, e há a criação de uma rede colaborativa forte, que cria elos de sustentação e

colaboração de caráter pessoal e profissional. A4 relata que “a mulher tem tudo pra mudar,

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(...) porque a gente tem um jeito de administrar diferente né, de ser, e mulher, quando a gente

empreende, começa a ganhar dinheiro a gente mexe na família, na sociedade, então a gente

mexe em tudo em volta, então tudo começa a ficar assim, e a maioria dos homens não, então

tudo começa a ficar mais, ter negócio próprio, então é bem diferente. O jeito de fazer

negócio”; “Porque a mulher reinveste em tudo isso que ela trata, porque as mulheres que

empreendem geralmente tem família, e não querem o mundo corporativo, (inaudível), e a

mulher é mais emoção, é mais coração, então quando ela vai determinada a fazer, ela faz

com muito mais tempo, dedicada, né. Bem diferente!”. E A5 complementa que “Hoje em dia,

a família, o pilar da família acredito que seja a mulher. Já foi o homem no passado, mas a

mulher é a base de tudo. Você ser empreendedora você consegue mostrar pro seus filhos

valores, força. (...) Você consegue inspirar outras mulheres quando você mostra pra elas que

olha, eu passei pelas mesmas dificuldades, também tenho o mesmo problema na minha casa e

vamos embora. Cria-se uma rede muito forte. Mulheres indicando mulheres”. Pela análise

dos depoimentos, apreende-se que o empreendedorismo feminino é influenciador para a

transformação de processos sociais, uma vez que sua forma de gestão e sua conduta de

investimento e comprometimento geram um ciclo contínuo de mudanças. Além disso, o seu

protagonismo é capitaneado por este empreendedorismo, uma vez que este movimento

capacita a mulher para torná-la mais auto-confiante e ser vista como exemplo de liderança

tanto na família, quanto no meio profissional. Este processo econômico ainda cria redes de

colaboração social extremamente fortes, o que permite que as empreendedoras estejam unidas

por elos contributivos e harmônicos.

5.2 Análises das interpretações de pesquisas com empreendedoras: considerações

conclusivas

O empreendedorismo feminino, a educação à distância e os ambientes virtuais de

aprendizagem, cenário sob o qual teceu-se este presente estudo, permitiram trazer o foco de

análise para os contextos vivenciais das mulheres que empreendem, e cujas experiências

trazem as respostas para a principal questão de pesquisa desta investigação: a análise do

impacto das ferramentas de comunicação digital que apresentam às mulheres oportunidades

de trabalho e as capacitam para o emprendedorismo.

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E para trazer à luz como as mulheres experienciaram os cursos e aprendizados

relacionados ao empreendedorismo e aos negócios, no formato à distância ou presencial, a

metodologia selecionada buscou valorizar justamente o contexto e as vivencias destas

mulheres, por meio da realização de duas pesquisas: uma quantitativa (realizada com

questionário on-line) e uma qualitativa (com entrevistas em profundidade). Apenas a análise a

partir de uma abordagem construtivista, que considerasse as construções de mundo realizadas

pelas empreendedoras, traria respostas holísticas e aprofundadas sobre o tema. Desta forma, a

análise inspirou-se na metodologia fenomenológica, que busca compreender os significados

das experiências vividas, pelo resgate do contexto e pela observação do comportamento.

Pelo cruzamento das análises realizadas, foi interessante observar que, de modo geral,

para as empreendedoras pesquisadas, a formação técnica inicial, obtida pela graduação ou

pós-graduação, não é suficiente para prepará-las para o ambiente empreendedor. Há uma

demanda importante para cursos de curta e média duração, e que tragam conhecimentos

específicos sobre os negócios, trazendo-lhes uma visão mais holística de suas empresas e do

mercado em geral.

Outra conclusão, e que deixa em aberto uma importante questão, é a de que a

preferência pelo formato à distância de aprendizagem, ou o presencial, dependem

prioritariamente do comportamento e das experiências individuais. Não foi possível

identificar um padrão que apontasse um comportamento que induzisse a preferência por um

ou por outro formato. No entanto, foi interessante notar que há sim um indício de que o

comportamento digital seja mais intensivo conforme o segmento de atuação do

empreendimento: quando voltado ao comércio, pela necessidade de contato direto com os

clientes, o comportamento digital da empreendedora é mais intensivo; já quando o segmento é

mais voltado a serviços, a empreendedora tem um comportamento de acordo com seu

histórico individual – ela não se sente pressionada a atuar digitalmente em função do seu

negócio.

Ao trazer o enfoque para as principais compreensões e interpretações observadas a

partir das experiências das empreendedoras, objetivou-se captar os principais significados

extraídos a partir das experiências de aprendizagem empreendedora. E, ao filtrar-se as

informações mais relevantes, pode-se observar três principais considerações. Em primeiro

lugar, fazer o curso à distância significa, para estas mulheres, ter mais tempo para a

maternidade, e cuidar de suas famílias; ter melhor controle e gestão sobre o seu tempo; e

conhecer outras realidades, talvez até distantes da sua própria. Em contrapartida, e em

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segundo lugar, fazer cursos presencialmente implica em trocar experiências; deixar de lado

um sentimento solitário; e trazer um sentido de pertencimento importante, ao perceberem que

fazem parte de um grupo, o de mulheres empreendedoras. E, em terceiro lugar, a

aprendizagem, em qualquer formato, e que tenha como objetivo a sua capacitação

profissional, significa poder desenvolver o seu negócio; crescer profissionalmente; aprender

novas habilidades e, com grande impacto, empoderar-se e tornar-se mais independente.

No entanto, não seria possível deixar de lado a finalização deste capítulo com os

impactos da atuação da mulher empreendedora na sociedade. Muitos destes itens foram

abordados no primeiro capítulo deste estudo, mas, nas pesquisas, eles foram reforçados e

ressaltados, lembrando que eles são elementos fundantes do empreendedorismo feminino. É

essencial reforçar que a mulher empreendedora transforma o ambiente social ao seu redor –

influencia a família e a sociedade – e assume um papel de protagonismo em sua comunidade,

e o empreendedorismo fortalece esse papel. Além disso, a empreendedora se torna exemplo

de inspiração para outras mulheres, e cria importantes e fortes elos colaborativos que

fortalecem e estreitam laços de relacionamento. E, por fim, o empreendedorismo empodera as

mulheres para que se tornem auto-confiantes e seguras, o que o torna fator influenciador para

transformações sociais importantes, em um ciclo contínuo de mudanças positivas e

economicamente sustentáveis.

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187

6 Considerações finais

O empoderamento feminino, possibilitado pelo empreendedorismo, mostra-se, hoje,

elemento nevrálgico para a oxigenação das economias em todas as sociedades no mundo, e

em especial, no Brasil. A investigação profunda a respeito do empreendedorismo liderado por

mulheres, aliado à aprendizagem virtual e à comunicação digital, proposta por este estudo,

trouxe à luz uma série de elementos que são primordiais ao desenvolvimento e ao

fortalecimento de comunidades sustentáveis, isto é, que possam se retroalimentar de seus

próprios recursos, e repô-los continuamente sem que eles se esgotem.

Esta investigação se propôs a analisar o conteúdo e o impacto de ferramentas de

comunicação digital que apresentam às mulheres oportunidades de trabalho, e as capacitam

para o empreendedorismo, por meio de quatro principais metodologias: a primeira, uma

aprofundada fundamentação teórica que analisou os três itens fundantes para a análise do

empoderamento feminino: o empreendedorismo, a aprendizagem virtual e a comunicação

digital. Em seguida, foi realizada uma análise de discurso, apoiada nos preceitos de Dijk e

Bakhtin, e nos estudos semióticos, sobre uma amostra de vídeos e artigos extraídos dos sites

formadores do objeto de estudo desta pesquisa: a Rede Mulher Empreendedora, a Escola de

Você, o Sebrae e a Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios. Em terceiro lugar,

foram realizadas duas pesquisas: uma quantitativa, por meio de um questionário on-line, e

uma qualitativa, por meio de entrevistas em profundidade. Ambas buscaram compreender os

sentidos e os significados, apoiadas fortemente pela metodologia fenomenológica,

apreendidos a partir da realização de cursos e capacitações voltadas aos negócios e aos seus

empreendimentos. E, a partir da questão de pesquisa principal, delimitada pelo objetivo

exposto acima, e pela seleção das metodologias percorridas para encontrar respostas a esta

questão, fundou-se uma hipótese: a de que os conteúdos dos canais de comunicação digital

geram mais oportunidades para o empreendedorismo feminino, e para o seu empoderamento e

independência financeira, ao prepará-las em sua educação técnica e gerencial para o

desenvolvimento de seus negócios. Esta pesquisa procurou, ao longo de seus capítulos,

alcançar este objetivo de investigação, mas, acima de tudo, responder positivamente a esta

hipótese.

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Ao retomar os principais elementos investigados, notam-se aspectos fundamentais

para a formação e a impulsão do empoderamento feminino. Entre estes aspectos, destaca-se o

empreendedorismo, que é reconhecido como uma válvula essencial ao crescimento de

economias em desenvolvimento, e atua como mecanismo de movimentação de economias

locais, além de reforçar a auto-estima feminina, e fortalecer núcleos familiares e comunitários.

No entanto, é importante lembrar que há dois elementos que se tornam vitais para o

empreendedorismo feminino: a comunicação e o acesso. A comunicação, pois é por meio dela

que há a mediação para a formação e capacitação técnica para os negócios, e o acesso, pois

muitas mulheres encontram uma série de obstáculos para a realização de cursos: escassez de

tempo, maternidade, cuidado com familiares e afazeres domésticos, entre outros. A união

entre esses dois elementos forma a comunicação digital, que permite o acesso destas mulheres

a ferramentas de educação à distância – ou aprendizagem virtual.

Entre os principais empecilhos estabelecidos para o empoderamento feminino, está a

falta de oportunidades de trabalho para mulheres, aliada às dificuldades de acesso às conexões

digitais, o que dificulta a sua independência e formação. Assim, a comunicação digital torna-

se fator crucial para formar e capacitar mulheres, para que criem e conduzam os seus

negócios, e para reestabelecer economias que estariam estagnadas sem a sua atividade

empreendedora.

Assim, esta pesquisa buscou contribuir para os estudos de comunicação ao lançar

olhar sobre as oportunidades de desenvolvimento econômico, por meio da geração de novos

negócios, possibilitadas pela comunicação digital e pelo acesso à capacitação via sites e redes

sociais, possíveis caminhos para a independência financeira e melhoria na qualidade de vida

das mulheres.

Com relação ao empreendedorismo feminino, as principais conclusões observadas se

relacionaram ao perfil da mulher empreendedora brasileira, e ao contexto em que ela vive e

pratica suas vivências de negócio. Entre os principais levantamentos realizados, notou-se que

a empreendedora brasileira tem como principais características um potencial de investimento

maior em capacitação do que o homem; tem maior grau de escolaridade do que eles; e busca

mais informações para o seu desenvolvimento e de seu negócio.

Outro dado importante a respeito do empreendedorismo é que, quanto mais

qualificadas e capacitadas estiverem as mulheres empreendedoras, mais chances seus

negócios terão de prosperar e de ter êxito. Assim, o empreendedorismo se torna possível, e se

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fortalece, na medida em que existam mais oportunidades de capacitação e de educação

formadora para os negócios. Por isso, o acesso facilitado à aprendizagem virtual facilita a

amplificação do alcance da qualificação de mulheres empreendedoras.

Todavia, não é possível negar os obstáculos enfrentados não apenas por mulheres, mas

também por homens, em sua jornada empreendedora no Brasil. Uma série de questões atrasa e

desestimula a formação de novos negócios no país: a lacuna na transferência de tecnologia; a

ausência de uma estrutura tributária e trabalhista orientada para pequenos negócios; a falta ou

até mesmo dificuldade de acesso ao micro-crédito; a ausência de políticas educacionais

voltadas ao empreendedorismo; a burocracia para a abertura, manutenção e fechamento de

empresas; um sistema tributário complexo; e poucas políticas de apoio ao pequeno

empresário.

E, ao se focar o olhar sobre a mulher, outras questões aprofundam as dificuldades

observadas no cenário empreendedor – e que formam barreiras culturais e sociais, formadoras

da sociedade brasileira, e que não atingem aos homens. Entre esses elementos, podem-se

destacar a maternidade, pela cultura ainda forte de responsabilização única da mulher pela

criação e educação dos filhos; a responsabilidade unilateral pela realização de afazeres

domésticos, sem uma equilibrada distribuição de tarefas com os cônjuges; as condições

desiguais de salário e emprego; a falta de apoio cultural e social para o financiamento e

políticas públicas de micro-crédito; a ausência de numerosas associações de empreendedoras,

e de exemplos femininos nos negócios; poucas redes de relacionamento; e a falta de

assertividade e confiança, constituem verdadeiros entraves ao desenvolvimento do

empreendedorismo feminino.

No entanto, apesar de todos estes obstáculos ao florescimento da atividade

empreendedora, no período de 2012 a 2015, a taxa de empreendedorismo inicial no mundo

cresceu 7%, e a diferença entre homens e mulheres ficou 6% menor, segundo dados do GEM

(Global Entrepreneurship Monitor).

No que diz respeito à aprendizagem virtual (ou educação à distância), notou-se que ela

também enfrenta uma série de desafios, assim como o empreendedorismo, no Brasil e no

mundo, para ampliar o seu alcance: a amplificação de barreiras de acesso; a constituição de

modelos pedagógicos mais integradores; a mudança do papel do professor – de

instrumentador a tutor e curador, com participação mais ativa do aluno; as dimensões

continentais, grandes populações e escassez de investimento em países como o Brasil.

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É importante destacar que a aprendizagem virtual é essencial no processo de

ampliação do empreendedorismo, uma vez que ela amplia o acesso da população a conteúdos,

e possibilita a capacitação em plataformas diversas de interação – não possíveis pelo método

presencial. Entre os benefícios da educação à distância, estão o acesso remoto, o auto-controle

– de conteúdo e de tempo -, a velocidade das interações, a gratuidade dos cursos em uma série

de instituições, a diminuição das despesas com transporte, e a possibilidade de acesso a cursos

em locais inalcançáveis pelas barreiras geográficas. Todos estes elementos se tornam fatores

para a ampliação da importância da metodologia virtual, frente à metodologia presencial.

É importante ressaltar aqui que a barreira de acesso à aprendizagem não trata apenas

de uma barreira geográfica: trata, também, da barreira de acesso a ferramentas tecnológicas, à

cultura de uso da internet e do computador, e ao próprio conhecimento da metodologia

virtual, que constituem, em conjunto, entraves importantes para a expansão da capacitação

não apenas empreendedora, mas também da formação básica da população.

Outro ponto relevante levantado por esta investigação é a colocação em risco do

processo pedagógico tradicional nos dias de hoje. Por este método, o aluno não interfere e não

interage com o professor – ele é mero receptor de informações. No entanto, com as atuais

mudanças na sociedade, para as quais o advento das tecnologias de informação e

comunicação foram essenciais, o perfil do aluno se altera drasticamente, e, hoje, ele exige

participar de um processo de educação continuado, onde ele participa ativamente tanto quanto

o professor. Entre alguns dos fatores que levaram a esta mudança de perfil, estão as próprias

desvantagens do método presencial, onde há um tratamento homogêneo dado a todos pelo

professor, há métodos de avaliação pontuais, e nem sempre coerentes com o conteúdo

apreendido, e o baixo rendimento.

Assim, o conceito tradicional de aprendizagem entra em xeque, onde a relação

ensinante-aprendente é alterada para o modelo tutor/curador-aluno receptor/interatuante, e

onde há um fluxo multi-direcional de conhecimento, com relações integradas, cooperativas e

interrelacionadas. O saber passa a se tornar uma construção coletiva, ao contrário de um saber

individualizado do professor, existente no modelo tradicional.

É importante ressaltar que, na aprendizagem virtual, a riqueza não está no canal ou na

interface gráfica, mas, sim, na apropriação que seus usuários fazem destes ambientes, que se

transformam em comunidades educativas de aprendizagem virtual, onde todos são autores e

produtores de conteúdo, e não meros ouvintes e receptores passivos da mensagem. Assim, a

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aprendizagem virtual possibilita um modelo novo de interação pedagógica – não se tratando

apenas de novas possibilidades de acesso remoto.

A partir destes elementos enriquecedores de um novo modelo pedagógico proposto,

faz-se necessário ressaltar o conceito de economia do saber trazido por Levy (1999). Nele,

Levy ressalta a demanda existente hoje por educação e qualificação, que cresce

exponencialmente, já que o poder e o valor residem, nos dias atuais, no conhecimento – e as

redes digitais contribuem para isso. Nesse sentido, outro conceito, o de aprendizagem

cooperativa, também trazido por Levy (1999), precisa ser lembrado, pois reforça a

importância da inteligência coletiva na educação, possível pela comunicação digital, por meio

de conteúdos em formatos hipermídia interativos. Assim, há uma ruptura com os modelos

atuais de educação, uma vez que o aluno agora questiona, produz e compartilha tanto quanto o

professor. Além disso, ao se falar de competências profissionais e empreendedorismo, é

importante lembrar o que Levy comenta a respeito das mudanças nos saberes profissionais –

onde as competências se tornam obsoletas cada vez mais rapidamente, e as carreiras mudam

constantemente. Hoje, o modelo tradicional pedagógico está abalado, uma vez que há

mudança permanente de competências que precisam ser aprendidas e ensinadas, e há uma

nova divisão no trabalho – valorização de carreiras super especializadas, em detrimento de

formações generalistas ou médias, onde a formação universitária básica não é mais suficiente

para galgar postos de trabalho mais valorizados.

Como principais desafios para o desenvolvimento da aprendizagem virtual, podem-se

mencionar a redefinição das interações e dos papéis de aluno e professor; as estruturas, o

investimento e a adaptação para novos modelos de mediação e criação de conteúdos; a

transformação das relações entre os atores do processo educacional; a reconfiguração da

mediação e tutoria dos conhecimentos; a ressignificação da apropriação dos conhecimentos; e

a mudança para a contextualização individual, versus o modelo tradicional de transmissão

massificada, global e sem sentido. Assim, a aprendizagem virtual torna-se importante na

medida em que remodela e reconfigura o modelo educacional como um todo, e torna possível

uma revolução educativa global conectada em rede.

Ressalta-se ainda, aqui, no que concerne à educação feminina, que há ainda uma série

de restrições enfrentadas por mulheres e meninas em todo o globo, tais como o cerceamento e

restrição de acesso à informação, e, por isso, o papel da comunicação e da capacidade de

distribuição destas informações a áreas remotas, a custos mais baixos do que o modelo

tradicional, torna-se fundamental para o empoderamento e educação desta parcela da

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população que, de outra forma, permaneceria isolada e empobrecida culturalmente. Por isso,

retoma-se aqui a afirmação de Shapiro e Varian (1999), na qual eles afirmam que o valor da

web reside na capacidade de proporcionar acesso imediato à informação.

A comunicação digital é o elemento que une o empreendedorismo e a aprendizagem

virtual, por sua mediação e transmissão do conhecimento capacitador necessário para a

formação empreendedora. É ela a teia que possibilita a superação de obstáculos à expansão do

empreendedorismo feminino.

Entre os fatores que impactam a comunicação digital, estão essencialmente o acesso à

internet, o ciberespaço e as redes colaborativas. É importante ressaltar aqui que a exclusão

digital, como um dos principais obstáculos da aprendizagem virtual e do conhecimento nos

dias atuais, pode se constituir como um risco iminente de marginalização dos grupos

excluídos das práticas educativas.

Faz-se necessário ressaltar que as iniciativas empreendedoras com conexões digitais

tem maior nível de êxito do que iniciativas similares sem tais conexões, pois a comunicação

transparente, a baixo custo, permite que os negócios possam se espalhar e compartilhar as

suas informações (tais como divulgações de marketing) a um número maior de pessoas, a

custos consideravelmente menores. Hoje, a comunicação digital é o principal meio para a

propagação e o fortalecimento de práticas educacionais e empreendedoras. No entanto, alguns

desafios ainda precisam ser superados, tais como: o incremento ao acesso à internet e à

dispositivos tecnológicos; a readequação de modelos educacionais e de comunicação com a

mediação do ciberespaço; e a ampliação da relevância das redes digitais e de seus conteúdos.

Estes elementos, uma vez superados, talvez integrem a única forma de amplificar e

possibilitar o alcance a práticas empreendedoras, considerando-se os obstáculos de renda e de

barreiras geográficas ainda existentes no Brasil.

No que concerne aos ambientes de aprendizagem que formaram objeto de estudo da

presente pesquisa, é importante ressaltar que todos apresentam perfis bastante distintos entre

si, e que cada um deles atende a demandas diferentes geradas pelo público empreendedor

feminino. Em comum, todos demonstram ter em sua missão a capacitação empreendedora, e

apresentam uma forte influência e credibilidade com as usuárias. Já entre as diferenças, é

possível notar que elas se reforçam na delimitação e na construção dos conteúdos

disponibilizados. A Rede Mulher Empreendedora é um ambiente exclusivo para mulheres

empreendedoras, age presencialmente também, e gera impacto por meio de suas redes de

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associação. Já a Escola de Você se caracteriza por ser um site de nicho, com foco voltado a

discussões comportamentais, e por atuar fora do ambiente virtual também, por meio da

atuação com as suas embaixadoras. Já o Sebrae e a revista PEGN se perfilam como não sendo

exclusivos para mulheres, mas tem uma grande força por terem ampla credibilidade e

influencia entre o público de empreendedores em geral, e se configuram, hoje, como as duas

maiores escolas virtuais gratuitas de empreendedorismo no Brasil.

Pela análise de discurso dos documentos investigados nesta pesquisa, foi possível

observar que a aprendizagem empreendedora, nestes ambientes, é realizada por textos (visuais

e escritos) carregados de escolhas, percepções e interpretações de temas, signos e contextos

que impactam a formação das mulheres que buscam, nestes sites, a capacitação para o seu

desenvolvimento e de seus negócios. Como principais conclusões destas análises, pode-se

mencionar o alto foco administrativo e em temas do cotidiano – com exceção da Escola de

Você -; o foco no pragmatismo e no caráter utilitarista; na Escola de Você, assuntos

comportamentais com linguagem simplificada, mais voltada a fatores motivacionais, com

abordagem superficial dos temas; o formato em dicas rápidas; e o conteúdo assimilável com

facilidade, mas que também não permite espaço para reflexões. Foi interessante notar que, no

lugar de fala, os sites divergem entre os gêneros que protagonizam os textos analisados: nos

sites da Rede Mulher Empreendedora e do Sebrae, prevalece o protagonismo masculino; já na

Escola de Você, o protagonismo é essencialmente feminino; e na revista PEGN, ele é

equilibrado igualmente entre os dois gêneros. Estas escolhas demonstram o posicionamento

claro de cada ambiente ao favorecer um ou outro gênero no protagonismo de suas falas, uma

vez que estão carregados de valores e de questões culturais intrínsecas.

Como mencionado no início destas considerações, dois autores foram essenciais para a

produção das análises de discurso nesta investigação. O primeiro, Dijk, por apresentar o

discurso como instrumento de reprodução abusiva de poder – importante, aqui, por esta

pesquisa avaliar os impactos de poder de gênero – onde o discurso é item essencial para a

formação e manutenção do poder -, e também porque as escolhas de discurso impactam a

formação das estruturas de programas curriculares educacionais em todas as instâncias. O

segundo, Bakhtin, por sua conceituação do dialogismo, onde a linguagem é um organismo

dinâmico e vivo. Por meio desta visão, observou-se o texto como elemento em constante

interpretação no ambiente social no qual está inserido. Assim, pode-se analisar como cada

discurso teve como objetivo reforçar a identidade institucional do seu ambiente virtual de

origem, por meio de estilos, signos e representações.

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Na finalização do presente estudo, as pesquisas conduzidas avaliaram os impactos das

ferramentas de comunicação digital, e os efeitos de sentido provocados pelos cursos de

capacitação empreendedora, realizadas com o objetivo de avaliar os contextos vivenciais e

experiências das empreendedoras que trariam as respostas à questão de pesquisa formulada

como objetivo principal desta investigação. Para tal, a abordagem construtivista e a

metodologia fenomenológica foram essenciais, ao trazerem à luz as construções de mundo das

empreendedoras, e a compreensão dos significados das experiências vividas por elas.

Ao final das investigações e análises das pesquisas, foi possível chegar-se a uma série

de conclusões entre os principais significados compreendidos destas experiências. Entre elas,

observou-se que a formação inicial não é suficiente para preparar as empreendedoras para o

ambiente de negócios. Além disso, fazer o curso à distância representa uma série de

significados, tais como ter mais tempo para a maternidade; ter mais controle e gestão sobre o

tempo; ter a possibilidade de conhecer outras realidades; trocar experiências; desenvolver o

sentido de pertencimento a um grupo maior – de empreendedoras -; poder desenvolver o seu

negócio; crescer profissionalmente; aprender novas habilidades; e empoderar-se e tornar-se

mais independente. Foi importante concluir, ainda, assim como observado nas pesquisas

secundárias trazidas nesta investigação, que a empreendedora transforma o ambiente social ao

seu redor, e assume o protagonismo em sua comunidade, e a própria atuação empreendedora

fortalece esse seu papel, se tornando, assim, exemplo de inspiração para outras mulheres,

fortalecendo sua auto-confiança e segurança em si mesma, e fortalecendo laços de

relacionamento por meio de elos colaborativos.

Considera-se, assim, que a hipótese desenvolvida no início deste estudo foi respondida

positivamente, pois concluiu-se que os conteúdos e cursos geram, sim, mais oportunidades

para o empreendedorismo feminino, pois permitem que as mulheres se capacitem, se tornem

mais seguras, confiantes e tenham sua auto-estima elevada, acessem remotamente e

gerenciem seu tempo com mais liberdade, possam estar presentes e fortaleçam suas famílias e

comunidade, e fortaleçam igualmente o seu entorno, uma vez que reinvestem o que ganham e

o que aprendem. Além disso, se tornam mais independentes, não dependendo de familiares ou

do Estado para sua sobrevivência, e fortalecem e movem economias, e ainda se qualificam

para compartilhar e produzir novos conteúdos, para o desenvolvimento de seus negócios, de si

mesmas e da sociedade.

O fortalecimento da prática empreendedora, possível por meio de cursos de

capacitação mediados pela aprendizagem virtual, gera mudanças em toda a sociedade e

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comunidades locais: movimenta economias, gera empregos, renda e arrecadação de impostos,

promove o empoderamento feminino, fortalece redes comunitárias, promove a cidadania e

influencia a auto-estima. Por fim, é essencial para construir economias fortes, impulsionar

novos e atuais negócios, e estabelecer sociedades mais justas e estáveis.

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203

APÊNDICE A

Roteiro das entrevistas em profundidade

Pré-requisitos: ser mulher e empreendedora.

Local de abordagem das entrevistadas: evento Virada Empreendedora, realizado entre os dias

16 e 17 de abril de 2016, na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo – SP. O evento é

dedicado ao tema de empreendedorismo.

Técnica: entrevista em profundidade estruturada.

Amostra: Sete empreendedoras.

1. Dados de perfil

1.1. Idade

1.2. Escolaridade

1.3. Local de residência

1.4. Você é empreendedora?

1.5. Qual o tamanho da sua empresa?

1.6. Quantos funcionários ela tem?

2. Há quanto tempo você tem um negócio próprio?

3. Qual o setor / segmento de atuação da sua empresa?

4. Você já fez ou faz algum curso desde que abriu a sua empresa?

5. Você já fez algum curso de gestão?

6. Você já fez algum curso técnico específico sobre a sua atividade?

7. Você já fez algum destes cursos à distância?

8. Se sim, em qual escola / site você realizou o curso? / Você conhece alguns destes sites

a seguir:

Rede Mulher Empreendedora / Escola de Você / Sebrae / revista Pequenas Empresas

& Grandes Negócios?

9. O que você achou dos cursos que realizou? Eles foram úteis para o dia a dia do seu

negócio?

10. Você observou que estes cursos tiveram impacto no crescimento do seu negócio?

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11. Qual temática mais impactou no seu negócio? (por exemplo, gestão financeira,

marketing, etc).

12. Você gostou de fazer o curso à distância?

Se sim, o quê?

Se não, o quê?

13. Além dos cursos, você costuma ler, ver vídeos, ler artigos e/ou acompanhar redes

sociais sobre o tema empreendedorismo, ou sobre informações pertinentes ao seu

negócio?

14. Você costuma usar a internet? Com qual periodicidade? Quantas horas por dia? Para

quais atividades?

15. Você usa redes sociais para o seu negócio? Se sim, quais e com qual frequência de

uso?

16. O seu negócio tem site?

17. Você acredita que os cursos à distância, mais os conteúdos online (como artigos ou

vídeos) a auxiliam no seu crescimento profissional e do seu negócio? Por quê?

APÊNDICE B

Transcrição das entrevistas em profundidade

Entrevista 1 – código da entrevistada: A1.

ENTREVISTADORA: Bom, por favor, qual que é sua idade?

A1: 27 anos.

ENTREVISTADORA: E qual sua escolaridade?

A1: Nível superior. Sou formada em Direito.

ENTREVISTADORA: Bacana. E qual seu local de residência, cidade?

A1: Santos.

ENTREVISTADORA: É, e qual é o tamanho de sua empresa? Quantos funcionários ela tem?

A1: Então hoje eu tô iniciando sozinha, mas a estrutura, a ideia é trabalhar com co-working,

sistema de parceria, mas a minha estrutura física comporta mais cinco profissionais da minha

mesma área, então cinco advogados.

ENTREVISTADORA: E é uma empresa então do segmento de advocacia?

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205

A1: Consultoria e assessoria empresarial focada na visão jurídica, mas abrange um pouco

mais que isso.

ENTREVISTADORA: Ah, bacana!

A1: Não só a visão jurídica, mas a parte gestacional também.

ENTREVISTADORA: E há quanto tempo você tem a empresa?

A1: Então, a empresa está iniciando agora. Eu já estou trabalhando no projeto e investindo no

marketing há um ano. E eu estou inaugurando a empresa agora essa semana.

ENTREVISTADORA: Ah, bacana. E você já fez ou faz algum curso desde que você abriu

sua empresa, relacionado ao empreendedorismo?

A1: Sim, bastante. Na verdade, eu me afastei até um pouco do mundo jurídico e das

formações todas na área jurídica por já ter um certo conhecimento e investi apenas em

empreendedorismo. Então, fiz cursos do Sebrae, cursos à distância e presenciais, investi em

livros – Roberto Tranjan. Tudo voltado ao empreendedorismo não só pro desenvolvimento da

minha empresa, mas pra eu poder aplicar com os clientes.

ENTREVISTADORA: Legal. E bom. Algum curso de gestão específico que você já tenha

feito que você gostaria de mencionar que foi importante pra você abrir a empresa?

A1: Gestão financeira, gestão em vendas, curso focado em marketing. Eu acho que esses

fizeram toda a diferença e me abriram um novo horizonte. Pela minha formação ser jurídica e

a gente ter essa coisa mais focada quando eu fiz esses cursos eu tive uma nova visão do

mercado e das necessidades dos meus clientes. Então foi extremamente importante.

ENTREVISTADORA: Legal. E alguns que você já mencionou que você fez alguns cursos à

distância né. Você se lembra quantos foram, sobre qual assunto eles foram?

A1: Na verdade, esses cursos à distância eu acabei complementando os cursos que eu fiz

presenciais que foram de gestão financeira, alguns vídeos do Roberto Tranjan, tem muita

coisa disponível. Então foi nesse sentido do empreendedorismo. Os demais eu preferi fazer

presencial mesmo.

ENTREVISTADORA: Você mencionou esse dessa escola é Roberto Tranjan, né, o nome da

escola onde você fez esse curso à distância ou não?

A1: Não. Os vídeos à distância na verdade não chegaram a ser cursos que me ofereceram

certificados. Os que mais me interesso sobre empreendedorismo são do autor Roberto

Tranjan, mas os cursos que eu fiz presenciais foram do Sebrae, uma instituição que eu

também prezo bastante, ajudou muito.

ENTREVISTADORA: E eu ia te perguntar até agora porque dentro dessa minha pesquisa

acadêmica eu tô focando em alguns sites específicos pra analisar o impacto desses cursos na

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vida e nos negócios das empreendedoras e aí eu vou mencionar alguns deles pra saber se você

conhece ou não pra saber o nível de impacto deles. A REDE MULHER EMPREENDEDORA

você conhece?

A1: Com certeza.

ENTREVISTADORA: Ah, legal. A ESCOLA DE VOCÊ?

A1: A ESCOLA DE VOCÊ eu já ouvi falar, mas não cheguei a fazer nenhum...

ENTREVISTADORA: Ele foi fundado pela Ana Paula Padrão e também são cursos

exclusivos para mulheres.

A1: Ah, que legal!

ENTREVISTADORA: São sobre empreendedorismo. Esse você não conhece?

ENTREVISTADA: Esse eu não conheço.

ENTREVISTADORA: O SEBRAE você mencionou né. E os conteúdos que existem no site

da revista PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES NEGÓCIOS?

A1: Sim. Esse eu conheço e acesso.

ENTREVISTADORA: No que você observa que esses cursos especificamente à distância

tiveram impacto? Você falou que o seu negócio está começando agora. Você acredita que eles

vão impactar você e serão importantes pro seu negócio?

A1: Sem dúvida. Principalmente pelo custo-benefício. Hoje em dia a falta de tempo é um

fator determinante e eu acho que os cursos à distância contribuem muito com isso e vai muito

do interesse também do profissional. No meu caso eles contribuem muito, ajudaram bastante

nessa jornada. Foi só um ano de estudo e de pesquisas e que me agregaram muito porque eu

pude juntar as duas coisas: cursos presenciais e à distância.

ENTREVISTADORA: Ah, que bom. E qual foi o tema desses cursos que mais você acredita

que sejam importantes pro seu negócio atualmente?

A1: Bom, eu sou apaixonada pelo empreendedorismo de um modo geral. Então, assim, o

empreendedorismo, a gestão financeira, que são pontos muito falhos hoje nas empresas de

pequeno e médio porte foram os temas que eu mais foquei e que complementaram meu

conhecimento jurídico, então eu tive bem focada nesses temas. Marketing também. Marketing

eu senti a importância desse assunto e acredito bastante no investimento do marketing hoje.

ENTREVISTADORA: Legal. E você prefere fazer os cursos presencialmente, à distância e

por quê?

A1: Bom, pensando na relação tempo eu gosto bastante dos cursos à distância. Acho que os

profissionais, as empresas estão cada vez mais especializadas em oferecer esse tipo de serviço

sem deixar a desejar. Então assim tá bem bacana. Eu tenho investido bastante nisso. Assim, eu

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gosto por conta do tempo. Não tenho muito tempo. E os presenciais totalmente. Hoje em dia

tem muito tele presenciais. Aí não fazem muito sentido. Aí eu prefiro que eles sejam à

distância, porque eu faço o curso o tempo que eu posso. Exatamente. Porque muitas vezes

você vai até o local e eles são tele presenciais, então eu prefiro nesse caso eles serem à

distância.

ENTREVISTADORA: Além dos cursos em si você costuma ler? Você já mencionou os

vídeos, ler artigos, acompanhar as redes sociais sobre empreendedorismo ou outras

informações na internet sobre empreendedorismo. Coisas que sejam pertinentes ao seu

negócio. Você usa bastante a internet sucessivamente?

A1: Uso bastante. Uso bastante. Tem muitas referências na internet. Através dela eu adquiro

muitas informações. Chego a novos cursos, novos livros, novos grupos. Então, assim, sem

dúvida, eu utilizo bastante.

ENTREVISTADORA: Com que frequência você usa a internet para adquirir novos

conhecimentos, pra fazer cursos. Semanalmente, mensalmente? Qual a frequência com que

você utiliza a internet pra adquirir conhecimentos pro seu negócio?

A1: Semanalmente.

ENTREVISTADORA: Semanalmente?

A1: Isso.

ENTREVISTADORA: Você usa as redes sociais para divulgar o seu negócio? Você pretende

fazer isso?

A1: Utilizo. Eu tenho um site e lá tem uns vídeos educativos, então eu utilizo sim.

ENTREVISTADORA: E alguma rede social específica que você acha que é importante pro

seu negócio?

A1: Não, ainda não. Estou bem restrita ao site. Por ser um serviço personalizado eu ainda

utilizo só o site.

ENTREVISTADORA: Ok. E pra finalizar a última pergunta. Você acredita que os cursos à

distância mais esses conteúdos on-line, artigos, vídeos, eles vão auxiliar no crescimento tanto

seu profissional, quanto do seu negócio? O que você pensa sobre isso?

A1: Sem dúvida. Eu já percebi pelo meu crescimento profissional, eu vi quanto isso agregou e

é uma porta de entrada até para eu incentivar meus parceiros profissionais, futuros

funcionários, indicar pras empresas clientes. Então eles ajudam de diversas formas. Me

ajudou bastante e eu acredito muito nesse caminho aí. Acho que é a tendência mesmo do

mercado.

ENTREVISTADORA – Muito obrigada pelo seu tempo. Obrigada mesmo.

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Entrevista 2 – código da entrevistada: A2

ENTREVISTADORA: Qual seria sua idade?

A2: 34.

ENTREVISTADORA: E qual a sua escolaridade?

A2: Eu sou engenheira de produção.

ENTREVISTADORA: Qual o tamanho da sua empresa e quantos funcionários ela tem?

A2: Hoje ela é pequena. Hoje eu sou sozinha e a minha mãe tá entrando como sócia. Somos

em duas praticamente.

ENTREVISTADORA: E qual o segmento de sua empresa?

A2: Na verdade são duas né. Uma eu tô um pouco parada por causa da gravidez e agora eu tô

só com uma no ramo de beleza, não é beleza, é moda feminina, desculpa. Que é uma loja de

pashminas, que são todas importadas da Turquia.

ENTREVISTADORA: Quanto tempo você tem esse negócio?

A2: Esse negócio faz um ano exatamente.

ENTREVISTADORA: E você já fez ou faz algum curso sobre empreendedorismo desde que

você abriu a empresa?

A2: Sim, fiz. Na verdade, não cursos, mas vários workshops, eventos. Participo muito dos

eventos da REDE MULHER EMPREENDEDORA. São os que mais participo. De mentoria,

os cafés com empreendedoras também e eventuais workshops.

ENTREVISTADORA: E alguns deles você já fez à distância?

A2: Não, nenhum, nunca fiz à distância.

ENTREVISTADORA: Todos presenciais?

A2: Todos presenciais.

ENTREVISTADORA: E tem algum motivo específico pra não ter feito à distância ou você

prefere fazer presencial?

A2: É, eu prefiro fazer qualquer tipo de curso presencial porque pra mim é fundamental ter

contato ali com as pessoas, enfim. Acho que é mais produtivo.

ENTREVISTADORA: Eu tô fazendo essa pesquisa especificamente pra analisar alguns sites

que se dedicam a cursos à distância sobre empreendedorismo. Então, vou mencionar alguns

deles só pra saber se você o conhece. Você já mencionou um deles que é a REDE MULHER

EMPREEENDEDORA. Você utiliza bastante esse site?

A2: Utilizo, mas não faço curso à distância. Sempre procuro ir aos eventos da própria REDE.

ENTREVISTADORA: E a ESCOLA DE VOCÊ, você conhece?

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A2: ESCOLA DE VOCÊ, sim. Eu sou embaixadora da ESCOLA DE VOCÊ. Já fiz vários

cursos Aliás, desculpa, os cursos da ESCOLA DE VOCÊ fiz o curso de empreendedorismo da

ESCOLA DE VOCÊ. Fiz o primeiro antes do de empreendedorismo, feito pela ESCOLA

BRILHANTE. E agora eles mudaram a divisão de cursos, né. Disponibilizaram todos via

internet e agora especificamente eu também me inscrevi num curso de maternidade.

ENTREVISTADORA: Ah. Legal. Bacana. Os do SEBRAE?

A2: Do SEBRAE, não. À distância nunca fiz.

ENTREVISTADORA: E da revista PEQUENAS EMPRESAS GRANDES NEGÓCIOS você

acessa o conteúdo?

A2: Acesso às vezes a revista. A revista física mesmo. Às vezes assisto ao programa e vejo no

site também.

ENTREVISTADORA: Esses cursos que você fez, mesmo presencialmente, você sentiu que

eles tiveram impacto importante pro seu negócio? Como que você mensuraria isso?

A2: Sim. Principalmente os de mentoria, eles foram bem importantes pra mim no começo

quando eu tava em transição. Não em transição, mas pensando em montar a loja de pashminas

porque na verdade eu sou engenheira e tenho uma consultoria voltada em gestão de processos

então é uma área totalmente diferente e o de pashminas é uma área de vendas né. De vendas

eu não tinha muita noção, então os cursos né, na verdade, são reuniões de mentoria coletiva

pra mim foram fundamentais relacionados ao segundo negócio.

ENTREVISTADORA – Bacana. Você mencionou já que a mentoria foi muito importante. E,

além da mentoria, algum outro assunto específico que você crê que foi fundamental pro seu

negócio?

A2: Assunto...

ENTREVISTADORA: Como por exemplo gestão financeira ou marketing?

A2: Sim. Marketing. Marketing pra mim é mais difícil porque eu não tinha muita noção, acho

que é tipo, financeiro talvez seja mais fácil pra mim do que o de marketing mas como tenho

um marido que trabalha na área de marketing digital, então ele me ajudou bastante com

relação a essa parte.

ENTREVISTADORA: Legal. Bacana. Essa eu vou pular porque você mencionou que não fez

os cursos à distância. Quais os cursos, você lê intensamente artigos ou vê vídeos na internet?

Como que é o seu uso da internet pra obter informações sobre empreendedorismo ou mesmo

pessoais?

A2: Eu sou mais do visual do que leitora. Acho que é característica de engenheira, então eu

vejo mais vídeos, mais cursos, geralmente meu marido vê alguma coisa e me indica ou

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alguém que achou bacana indica ou eu mesmo dou uma fuçada. Vejo mais os vídeos mesmo

do que leitura.

ENTREVISTADORA: Com que frequência você usa a internet?

A2: Todo dia.

ENTREVISTADORA: Todo dia?

A2: Todo dia.

ENTREVISTADORA: Mais de uma forma geral, mais específica pro negócio?

A2: De tudo. Tenho que ver o negócio porque eu tenho uma loja on-line. Tenho que ver as

redes porque eu também faço divulgação nas redes, nas mídias, e-mails, pesquisa, compras,

enfim, N coisas.

ENTREVISTADORA: Agora a última pergunta. Você acredita que os cursos de uma forma

geral eles foram e são importantes para o seu crescimento profissional e para o crescimento do

negócio?

A2: Sim. Sem dúvida. Acho que todos os cursos pra mim foram válidos. Por mais que tenha

algum ali que tenha sido menos, digo, do que o outro, mas sempre me trouxe algum

aprendizado, sempre veio agregar alguma coisa, mesmo aqueles cursos que não são

específicos da área, como curso de fotografia, eu já fiz, como curso de dança, enfim vários

outros. Todos foram.

ENTREVISTADORA: Muito obrigada pelo seu tempo.

A2: Imagina...

Entrevista 3 – código da entrevistada: A3

ENTREVISTADORA: Qual é a sua idade?

A3: 54.

ENTREVISTADORA: Sua escolaridade?

A3: Superior completo. Eu fiz Psicologia.

ENTREVISTADORA: E qual o tamanho de sua empresa e quantos funcionários ela tem?

A3: A minha empresa é pequena, além de mim, tem mais duas pessoas.

ENTREVISTADORA: E qual o segmento de mercado, o que sua empresa faz?

A3: Nós prestamos serviços de prospecção, comercialização de produtos e serviços de alto

valor agregado e inteligência em negócios para pequenas e médias empresas.

ENTREVISTADORA: E há quanto tempo você tem esse negócio?

A3: Treze anos.

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ENTREVISTADORA: Você já fez ou faz algum curso específico sobre empreendedorismo

desde que você abriu a empresa?

A3: Eu fiz vários. Fiz o Empretec, pelo SEBRAE. Fiz o Grupo Dirigido de Psico-dinâmica

em Negócios, da COGN-MGR. Fiz o curso Gestão Semear, da empresa METAMAIA.

ENTREVISTADORA: E você já fez algum curso à distância?

A3: Não, nunca fiz. Fiz todos presenciais.

ENTREVISTADORA: Tem algum motivo específico?

A3: Acho que tem uma questão assim que o empreendedor ele é muito solitário na jornada

dele de negócio. Então esses cursos presenciais permitem com que a gente tenha uma troca

tipo assim mais genuína e mais fácil com pessoas que passam pelos mesmos desafios com a

gente.

ENTREVISTADORA: Uma oportunidade de fazer networking também...

A3: Também. Acho que tem a questão do networking e tem a força do grupo, né, no sentido

de troca, às vezes o desafio que eu tô enfrentando no negócio alguém já passou e tem uma

solução pra me dar, às vezes eu também posso contribuir com o grupo, então acredito que é

importante sim, mas não descarto a questão de fazer on-line.

ENTREVISTADORA: Eu vou mencionar alguns sites que eu estou estudando pra ver se você

já conhece. A REDE MJLHER EMPREENDEDORA?

A3: Conheço.

ENTREVISTADORA: A ESCOLA DE VOCÊ?

A3: Conheço.

ENTREVISTADORA: O SEBRAE?

A3: Conheço.

ENTREVISTADORA: E o site da revista PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES

NEGÓCIOS?

A3: A revista eu conheço, mas o site não é algo que eu pesquiso. A Endeavor é um que eu

recebo os conteúdos pela internet, eu leio e gosto bastante.

ENTREVISTADORA: Qual a frequência de uso desses sites, não pra fazer cursos, mas pra

leitura, ver vídeos, pra você se atualizar na sua área de atuação?

A3: Sabe um on-line que eu gosto bastante e que ano passado eu me associei é o ITAÚ

MULHER EMPREENDEDORA. Não sei se você conhece.

ENTREVISTADORA: Não é foco da minha pesquisa, mas conheço.

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A3: Então o ITAÚ o que é que acontece. Quando eles mandam uma news ou uma chamada

são os momentos que eu reservo daí à noite quando eu tô terminando as coisas da empresa é

pra olhar. Então é muito mais quando eles me cutucam do que eu espontaneamente buscar.

ENTREVISTADORA: E com qual frequência você utiliza a internet pra se atualizar, obter

informações?

A3: Direto. Quase todo dia.

ENTREVISTADORA: E quanto tempo você dedica mais ou menos pra essa atividade?

A3: Meia hora por dia, não chega a uma hora. Assim no final do dia, acabou tudo, deixa eu

xeretar o que tem de interessante.

ENTREVISTADORA: Tem alguma temática mais específica pela qual você se interessa pra

se especializar nesses cursos? Por exemplo, gestão financeira ou marketing?

A3: Tem a financeira e a parte de comercialização. Prospecção e comercialização. Inovação

também eu acho legal, eu gosto. Algo que gere novas ideias, novas abordagens eu gosto

também.

ENTREVISTADORA: Você acredita que os cursos de uma forma em geral eles tiveram

impacto positivo no seu crescimento profissional e pro crescimento do seu negócio?

A3: Total. Total. Eu acho assim desde o Empretec. Eu fiz o Empretec quando eu abri o

negócio em 2003. O ITAÚ MULHER EMPREENDEDORA eu frequento as palestras, eu uso

material também, assim bastante desde o começo eu tenho bastante palestra. A REDE

MULHER EMPREENDEDORA é algo recente que eu tô acompanhando. Mas certamente

todos eles fizeram diferença sim.

ENTREVISTADORA: E com relação ao seu perfil de uso da internet você utiliza site pra sua

empresa, você utiliza as redes sociais pra divulgar sua empresa, como que você avalia essa...

A3: Eu uso pouco. Eu diria que eu acho assim que eu tenho pouco conhecimento em relação

ao benefício que a rede poderia trazer pro meu negócio. Eu acabo fazendo uso das práticas

que eu já venho tendo e faço pouco uso. Eu diria assim, sei lá, eu faço alguma coisa assim

uma vez por semana. Acho que é pouco.

ENTREVISTADORA: E você utiliza as redes sociais para conversar com outras

empreendedoras, pra trocar informações?

A3: Não.

ENTREVISTADORA: Pelo Facebook?

A3: Não.

ENTREVISTADORA – Era só isso. Muito obrigada pelo seu tempo.

Page 214: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

213

Entrevista 4 – código da entrevistada: A4

ENTREVISTADORA: Qual é a sua idade?

A4: 36.

ENTREVISTADORA: E a sua escolaridade?

A4: Eu tenho MBA.

ENTREVISTADORA: E qual o tamanho de sua empresa e quantos funcionários ela tem?

A4: Então eu sou uma empreendedora eu sozinha. Eu sou autônoma.

ENTREVISTADORA: Qual o seu segmento?

A4: De cosméticos e beleza. Sou consultora de beleza.

ENTREVISTADORA: E há quanto tempo você atua dessa forma?

A4: Há dois anos.

ENTREVISTADORA: O que te motivou a ser empreendedora?

A4: É porque eu sou mãe. Eu tenho três filhos. Então o que me motivou foram meus filhos

porque no mundo corporativo não dá pra você ser mãe, e eu trabalhava na área financeira.

Então eu tinha muito pouco tempo com eles. Daí eu optei a ter meu próprio negócio, ter

flexibilidade de horário porque eu tô participando da vida deles, mas também obtendo a

minha renda.

ENTREVISTADORA: Você já fez ou faz algum curso de gestão específico?

A4: Eu já fiz de formação em (inaudível) dinâmica e estou sempre fazendo cursos específicos

de gestão do negócio, gestão financeira...

ENTREVISTADORA: E você já fez alguns desses cursos à distância?

A4: Não. À distância assim eu nunca fiz.

ENTREVISTADORA: Tem algum motivo específico pra não ter feito?

A4: Todos os que eu tive oportunidade assim foram presencial (sic).

ENTREVISTADORA: Eu vou mencionar alguns sites que eu estou estudando dentro dessa

pesquisa pra saber se você já os conhece ou não, tudo bem? A REDE MULHER

EMPREENDEDORA?

A4: Sim.

ENTREVISTADORA: A ESCOLA DE VOCÊ?

A4: Sim. Sou embaixadora.

ENTREVISTADORA: Ah é? Que legal.

ENTREVISTADORA: O SEBRAE?

A4: Sim.

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214

ENTREVISTADORA: E o site da revista PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES

NEGÓCIOS?

A4: Sim.

ENTREVISTADORA: Com que frequência você acessa esses sites ou outros de uma forma

em geral?

A4: A maioria, no mínimo uma vez por semana. Tem sempre artigos, tem sempre dicas,

bastante material. Toda semana eu tô passando por todos eles.

ENTREVISTADORA: Qual a relevância dessas informações, do acesso a essas informações

dos sites pro seu negócio, você acredita que eles influenciam positivamente o seu negócio?

A4: Sim, porque todos eles já são exemplos de uma empresa só, de um segmento só,

(inaudível), o negócio em geral, eles conseguem atender todos os públicos, eu acho bem

interessante esse apanhado geral que eles fazem. Eles não falam só de multinacional,

(inaudível).

ENTREVISTADORA: Tem algum assunto mais específico dentro desses sites que te

interessa mais, por exemplo, marketing, a gestão financeira?

A4: Geralmente o que me interesso mais é sobre marketing, vendas, e sobre o empoderamento

feminino, porque na minha área, a área de beleza, é o empoderamento feminino que ajuda às

mulheres, né, pela maquiagem você se sente mais empoderada, né, constrói auto-estima...

ENTREVISTADORA: Você acredita que o acesso a esses cursos pra mulheres

empreendedoras como um todo eles são importante para o empoderamento feminino, pra

independência dessas mulheres, financeira, pra auto-estima delas, como que você vê isso?

A: Acho que é muito importante, que nem, na ESCOLA DE VOCÊ eu entrei de cabeça nesse

projeto, e sou também embaixadora. Acho que é muito importante, se você não se conhece,

não sabe sua capacidade, você não consegue crescer, não consegue mostrar seu negócio de

forma segura, como é que você vai passar confiança pras pessoas? Então é muito importante

principalmente pra mulher se conhecer, ter a postura de atitude empreendedora, se empoderar

desse poder que a gente tem. E fazer o negócio acontecer, não ficar com medo. É nisso que eu

acredito.

ENTREVISTADORA: Você já mencionou que você lê artigos, vê vídeos sobre o seu

negócio. Com que frequência você utiliza a internet ou redes sociais de uma maneira geral,

diariamente, semanalmente?

A4: Diariamente.

ENTREVISTADORA: Quanto tempo por dia você gasta?

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215

A4: Olha em média umas 3 a 4 horas por dia. Porque eu faço muito contato com meus clientes

pela internet, por Instagram, Facebook, por e-mail, eu tô sempre fazendo postagens...

ENTREVISTADORA: Você faz a divulgação ativamente usando as redes sociais...

A4: Sim, sim.

ENTREVISTADORA: E você tem um site também?

A4: Tenho um site pros produtos que eu comercializo e tenho também o presencial, faço

visita às clientes, mas muita da divulgação que eu consigo usar é por rede social. Então muito

do meu tempo é isso.

ENTREVISTADORA: Você acredita que tem ponto positivo por conta desse seu uso

intensivo das redes sociais?

A4: Sim. Tem muita gente me procurando por conta da rede social, um post, alguém falou que

viu um post meu... É muito relevante.

ENTREVISTADORA: Você acredita que os cursos de uma forma geral presenciais, à

distância e mesmo conteúdos on-line, eles te auxiliam no seu crescimento profissional e têm

impacto no seu negócio?

A4: Sim. Sim.

ENTREVISTADORA: Têm impacto?

A4: Sim. Conhecimento mesmo à distância, presencial qualquer tipo de conhecimento tem

impacto pro negócio. Acho que conhecimento é tudo. Não importa de que forma você ta

tendo, se você tá no computador, se você tá no celular, de todo jeito acho que é válido.

ENTREVISTADORA: Como que você vê o papel da mulher como empreendedora nos dias

de hoje, você acha que existe um crescimento da participação feminina no empreendedorismo

ou não? O que falta pra mulher ser mais empreendedora, ir mais pra rua, vamos dizer assim,

no sentido de correr mais riscos, sair da vida corporativa. Você que já passou por essa

experiência, quais são os principais desafios?

A4: Eu acho que a gente tem muitos desafios porque a gente sendo empreendedora, sendo

corporativo, a gente tem conta pra pagar, tem família pra manter, tem filho, então é uma

estrutura grande, então acho que essencial é fazer um planejamento de transição ter essa

certeza com você. Quer empreender? Então pensa bem no que você quer, faz um

planejamento. É importantíssimo fazer e se planejar porque também não é arriscar tudo, fazer

um negócio e daqui meses você se arrepender porque pra mim você vai estar investindo

tempo, dinheiro, depois vai ficar frustrada e não vai dar resultado nenhum, vai ser uma

péssima empresa pra você e eu acho que a mulher tem tudo pra mudar porque no cenário que

a gente vive hoje principalmente, porque a gente tem um jeito de administrar diferente né, de

Page 217: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

216

ser, e mulher, quando a gente empreende, começa a ganhar dinheiro a gente mexe na família,

na sociedade, então a gente mexe em tudo em volta, então tudo começa a ficar assim, e a

maioria dos homens não, então tudo começa a ficar mais, ter negócio próprio, então é bem

diferente. O jeito de fazer negócio.

ENTREVISTADORA – Por isso eu tô estudando especificamente. Tem diferenças assim

gritantes. Quando você investe, um dos dados que eu investiguei, que quando você investe no

empreendedorismo feminino todos os índices sociais aumentam. O PIB, enfim... tudo.

A4: Porque a mulher reinveste em tudo isso que ela trata, porque as mulheres que

empreendem geralmente tem família, e não querem o mundo corporativo, (inaudível), e a

mulher é mais emoção, é mais coração, então quando ela vai determinada a fazer, ela faz com

muito mais tempo, dedicada, né. Bem diferente!

ENTREVISTADORA: Obrigada pelo seu tempo.

A4: Imagina.

ENTREVISTADORA: Desculpe incomodá-la, obrigada mesmo.

A4: Imagina.

ENTREVISTADORA: Bom evento.

A4: Bom trabalho pra você.

ENTREVISTADORA: Obrigada.

Entrevista 5 – código da entrevistada: A5

ENTREVISTADORA: Qual é sua idade?

A5: 41 anos.

ENTREVISTADORA: A sua escolaridade?

A5: Eu sou formada em Análise de Sistemas, tenho pós-graduação em Gestão de Negócios de

Tecnologia e fiz parte da 9ª. Turma do curso Dez Mil Mulheres da FGV.

ENTREVISTADORA: E qual o tamanho da sua empresa e quantos funcionários ela tem?

A5: Olha, minha empresa já foram duas lojas físicas e uma virtual com seis funcionários ao

todo. Por conta da crise, questões estratégicas, hoje a gente tá com uma única loja física e uma

virtual e três funcionários.

ENTREVISTADORA: E a loja é de quê?

A5: Calçados femininos tamanhos especiais.

ENTREVISTADORA: Tamanhos grandes?

A5: Tamanhos grandes. O menor é 44.

ENTREVISTADORA: E há quanto tempo você tem o negócio?

Page 218: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

217

A5: Desde julho de 2010.

ENTREVISTADORA: Por que você tomou a decisão de se tornar empreendedora?

A5: Foi num momento quando eu tinha acabado de ter meu segundo filho, ainda estava na

licença–maternidade e como eu sou da área de tecnologia e demanda muita disponibilidade

pra você tá virando noite, implantando sistemas, e na licença-maternidade eu assisti a um

anúncio da FRANCAL - feira de calçados - aí naquele momento eu pensei porque não abrir

um negócio de calçado infantil A ideia era infantil porque eu tava com 2 filhos pequenos e aí

eu comecei a avaliar ali. Sentada na frente da televisão. Eu falei não, mas espera aí, eu como

mãe de criança, qual é a frequência de compra de sapatos? Então naquela hora eu já descartei

o infantil, e comecei a pensar na numeração especial porque eu calço 41 e sei da dificuldade

que é pra encontrar, então naquele dia eu já falei amanhã eu estou nessa feira. E dei um jeito e

consegui entrar na feira e já saí de lá com quatro pedidos prontos sem ter o CNPJ e com

quatro dias já tava com a loja aberta funcionando na internet.

ENTREVISTADORA: E como que você se preparou pra abrir seu negócio com relação à

educação especificamente? Você fez algum curso relacionado especificamente ao

empreendedorismo, como que foi esse início?

A5: Eu comecei a buscar cursos depois que eu abri meu negócio. Na faculdade por você já tá

nesse universo de aprendizado passa-se por algumas matérias, mesmo meu curso sendo

tecnologia a gente teve alguma visão de empreendedorismo, de economia, então eu sabia que

não era uma coisa assim, você não pode ser amadora, pelo menos um plano de negócio, a

partir de um plano de negócio você começa a buscar o conhecimento pra você colocar o

negócio em prática. No começo foi mais pelo feeling, mas eu tive que buscar conhecimento.

A GV foi um dos lugares que me deu essa base. A GV e o SEBRAE. No primeiro momento

foi o SEBRAE.

ENTREVISTADORA: E você já fez algum curso à distância?

A5: Estou fazendo agora.

ENTREVISTADORA: E qual é?

A5: Marketing digital da GV.

ENTREVISTADORA: Da GV?

A5: Isso.

ENTREVISTADORA: E por que você escolheu a modalidade à distância? Tem alguma razão

específica?

A5: Você consegue conversar com outras pessoas que estão em diferentes meios. A troca de

informação é maior porque ali no meio virtual à distância a pessoa acaba te passando link de

Page 219: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

218

algo que depois que você navega você encontra mais alguma informação que muitas vezes

numa conversa em sala de aula se você tá meio disperso você não anota, então a interação

com outras pessoas e com mais conteúdo é maior. Questão de tempo. Eu sendo empresária já

atuante, como mãe com filhos, tenho que também ter e conseguir encaixar os meus estudos

nos meus horários que me sobra. Então o EAD dá essa possibilidade.

ENTREVISTADORA: E você acha que esses cursos todos que você já fez e vai continuar

fazendo, eles tiveram e terão impacto positivo pro crescimento do negócio?

A5: Sim. Principalmente esse último curso, porque eu terminei o curso 10 Mil Mulheres em

2013, não, desculpe 2014. Já estamos em 2016. Nesses dois anos eu já vi muita coisa

acontecendo que a gente à distância, parado ou só trabalhando na prática tá perdendo tempo.

O universo online, esse e-commerce, essas redes sociais elas estão evoluindo muito rápido.

Então se você ficar fora também do conhecimento você acaba se perdendo.

ENTREVISTADORA: E você falou que você vende on-line. Como foi o começo disso? Você

buscou uma orientação específica ou você fez, foi autodidata? Como que foi?

A5: A busca pela informação do comércio eu tive ajuda do SEBRAE. Eu saí da feira

FRANCAL, no dia seguinte eu já fui no SEBRAE pedir informações de como eu abriria a

minha empresa, como eu teria o CNPJ e se tinha algum material pra eu começar a estudar.

Dentro da plataforma do SEBRAE você encontra inclusive até como montar a sua loja no

ramo do calçado. Comecei essa leitura e a construção da loja virtual por eu ser formada em

tecnologia e eu mesma que construí. Até hoje, já tem seis anos, sou eu que faço sempre as

customizações, as parametrizações da loja. Mas o conhecimento inicial ele foi fundamental.

Você tem que ter uma base, a partir dela você começa a observar o seu mercado, o seu

público e vai buscando aquilo que tem que ser adequado. É óbvio que no começo quando

você vai muito no achismo se erra. Eu errei em algumas compras, negociação, negociação

com banco. Então você acaba perdendo tempo e demora um pouco mais pra atingir o sucesso

ou os resultados positivos quando você erra. A partir do momento que eu errei uma vez e fui

buscar o porquê que eu errei seja o conhecimento, conversando, trocando informações com

outras pessoas você se ajusta rapidamente pra continuar.

ENTREVISTADORA: Bacana. E tem algum assunto mais específico que você acha que foi

mais importante para o seu negócio. Por exemplo, marketing ou gestão financeira? Tem

algum tema que você acha que foi o mais impactante pro seu negócio?

A5: Por eu trabalhar com um mercado segmentado o marketing é o mais fundamental. Porque

eu tenho que buscar esse cliente que ainda não me conhece, eu tô num mercado pouco

explorado, eu tô numa região que não é muito favorecida que é Osasco, eu tenho um produto

Page 220: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

219

que eu concorro com outras lojas que já estão há 50 anos no mercado, então eu tenho que

saber me posicionar e isso é o marketing que te ajuda.

ENTREVISTADOR: Esse curso que você tá fazendo à distância, você já comentou um

pouquinho, mas você tá gostando? O que você tá gostando especificamente além dessa

questão do tempo, enfim? O quê que pra você tá sendo importante nesse curso à distância

enfim?

A5: Olha a troca de conhecimento de quem já está na prática. Isso é muito importante porque

material você lê, você baixa da internet. Ler sozinho todo mundo lê, mas absorver é outra

coisa. Então quando você lê algo e conversa com alguém e troca ideias e aquela pessoa viu

uma matéria, um blog, e também te manda essa informação, isso agrega muito.

ENTREVISTADORA: E além dos cursos, você costuma ler, ver vídeos, artigos na internet

pra estudar, pra se especializar ainda mais?

A5: Então essa é a pegada do EAD. Se me mandam eu leio, porque a vida é tão corrida. E é

muito conteúdo. É o tempo todo alguém tá postando alguma coisa, são sites importantes de

administração, de marketing, de mídias sociais. Então é muita informação o tempo todo e é

difícil você acompanhar isso ao pé da letra se você também tem um negócio pra cuidar. Então

hoje eu falo estar estudando à distância é uma oportunidade de você ficar trocando

informações não só acadêmicas.

ENTREVISTADORA: O foco da minha pesquisa é em alguns sites. Eu vou mencionar alguns

deles pra saber se você conhece ou não. A REDE MULHER EMPREENDEDORA?

A5: Conheço.

ENTREVISTADORA: A ESCOLA DE VOCÊ?

A5: Conheço. Estou lá.

ENTREVISTADORA: O SEBRAE?

A5: Estou lá. A REDE MULHER também estou lá.

ENTREVISTADORA: E o site da revista PEQUENAS EMPRESAS & GRANDES

NEGÓCIOS?

A5: Conheço mas não acesso.

ENTREVISTADORA: Fora esses, tem mais algum que você gosta muito, que você acessa

bastante?

A5: Olha...

ENTREVISTADORA: Enfim que seja bacana, que você queira compartilhar.

Page 221: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

220

A5: Olha agora não me vem nenhum à cabeça. Porque a partir desses eles sempre apontam

links pra outros. Então a gente acaba navegando muito pelo conteúdo sem se importar muito

com quem tá publicando, mas estou sempre nesses que você citou.

ENTREVISTADORA: E pra concluir, você acredita que os cursos tanto presenciais quanto à

distância e esses conteúdos on-line eles auxiliam você tanto no seu crescimento profissional

quanto pro crescimento de seu negócio de uma forma geral?

A5: Auxiliam. Porque você consegue também extrair informações pra preparar o seu time.

Então muitas vezes você deixa um conteúdo pra um vendedor, pra um funcionário

acompanhar e ele volta com aquela informação ou com uma dúvida e acaba que um troca

informação com um outro. Então ele acaba construindo também com base no conteúdo que

você distribuiu, que você compartilhou.

ENTREVISTADORA: Bacana. E uma última pergunta. A minha pesquisa ela é focada no

empreendedorismo feminino porque eu acredito que o empreendedorismo ajuda a empoderar

as mulheres. Como você vê isso, você acredita que a mulher quando ela tem um negócio

próprio ela se empodera, como você vê isso com relação à sociedade, você acha que isso é

importante pra independência da mulher na sociedade?

A5: Acredito. Acredito muito. Hoje em dia, a família, o pilar da família acredito que seja a

mulher. Já foi o homem no passado, mas a mulher é a base de tudo. Você ser empreendedora

você consegue mostrar pro seus filhos valores, força. Você mostra pro seu companheiro que

ele não tem só uma mulher dentro de casa, ele pode apoiar-se nela. Sabe que a partir dela a

família vai estar bem construída. Você consegue inspirar outras mulheres quando você mostra

pra elas que olha, eu passei pelas mesmas dificuldades, também tenho o mesmo problema na

minha casa e vamos embora. Cria-se uma rede muito forte. Mulheres indicando mulheres.

Num evento desses na GV até eu passei despercebida, não tinha notado uma delas que me

cutucou e falou “Oh, não tá me vendo aqui não?”. E no final das contas uma troca serviços

com a outra. Então passou do nível da amizade, virou aquela troca de negócios e isso é muito

bom. Dentro da GV eu tive a grata oportunidade de fazer a parte da nona turma das Dez Mil

Mulheres e fui chamada pelos professores da GV pra colherem matéria sobre o meu

empreendimento e hoje eu faço parte dos cases para os alunos da FGV.

ENTREVISTADORA: Parabéns. Nossa! Parabéns.

A5: E essa semana mesmo um aluno de Curitiba entrou em contato comigo fazendo uma

entrevista à distância porque ele tá fazendo um trabalho sobre marcas.

ENTREVISTADORA: Ah, que bacana! Você virou um case. Obrigada pelo seu tempo.

Desculpe incomodá-la. Desculpe mesmo.

Page 222: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

221

ENTREVISTADA – Não, imagina.

Entrevista 6 – código da entrevistada: A6 (entrevista realizada por e-mail).

1. Dados de perfil

1.1. Idade – A6: 56 anos

1.2. Escolaridade – A6: Superior em Jornalismo

1.3. Local de residência – A6: São Paulo - SP

1.4. Você é empreendedora? – A6: Sim.

1.5. Qual o tamanho da sua empresa? A6: Microempresa.

1.6. Quantos funcionários ela tem? A6: Não tem funcionários.

2. Há quanto tempo você tem um negócio próprio? A6: 18 anos

3. Qual o setor / segmento de atuação da sua empresa? A6: Comunicação.

4. Você já fez ou faz algum curso desde que abriu a sua empresa? A6: Não.

5. Você já fez algum curso de gestão? A6: Não.

6. Você já fez algum curso técnico específico sobre a sua atividade? A6: Não.

7. Você já fez algum destes cursos à distância? A6: Não.

8. Se sim, em qual escola / site você realizou o curso?

(não respondido).

9. Você conhece alguns destes sites a seguir:

Rede Mulher Empreendedora / Escola de Você / Sebrae / revista Pequenas Empresas &

Grandes Negócios?

A6: Sebrae e PEGN.

10. O que você achou dos cursos que realizou? Eles foram úteis para o dia a dia do seu

negócio?

(não respondido).

11. Você observou que estes cursos tiveram impacto no crescimento do seu negócio?

(não respondido).

12. Qual temática mais impactou no seu negócio? (por exemplo, gestão financeira,

marketing, etc).

(não respondido).

13. Você gostou de fazer o curso à distância?

(não respondido).

Se sim, o quê?

(não respondido).

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Se não, o quê?

(não respondido).

14. Além dos cursos, você costuma ler, ver vídeos, ler artigos e/ou acompanhar redes sociais

sobre o tema empreendedorismo, ou sobre informações pertinentes ao seu negócio?

A6: Sim. Faz parte do meu trabalho como jornalista na área de RH e Gestão de Pessoas

entender a questão do empreendedorismo e do intraempreendedorismo.

15. Você costuma usar a internet? Com qual periodicidade? Quantas horas por dia? Para

quais atividades?

A6: Diariamente – Média de 9 horas para pesquisas de trabalho, gestão de conteúdo do portal

da ABRH-Brasil – Associação Brasileira de Recursos Humanos e relacionamento via e-mail

com fontes/assessorias de imprensa.

16. Você usa redes sociais para o seu negócio? Se sim, quais e com qual frequência de uso?

A6: Sim. LinkedIn e Facebook. Acesso FB diariamente e LinkedIn conforme demanda.

Finalidade de manter rede de contatos e acompanhar novidades/notícias

17. O seu negócio tem site?

A6: Não.

18. Você acredita que os cursos à distância, mais os conteúdos online (como artigos ou

vídeos) a auxiliam no seu crescimento profissional e do seu negócio? Por quê?

A6: Sim. Evitaria deslocamentos em uma cidade caótica e permitiria flexibilidade de horários,

conforme a necessidade.

Entrevista 7 – código da entrevistada: A7 (entrevista realizada por e-mail).

1. Dados de perfil

1.1. Idade – A7: 32.

1.2. Escolaridade – A7: Pós graduação.

1.3. Local de residência – A7: Campo Belo – São Paulo – SP.

1.4. Você é empreendedora? – A7: Sim.

1.5. Qual o tamanho da sua empresa? – A7: Micro.

1.6. Quantos funcionários ela tem? – A7: Quatro.

2. Há quanto tempo você tem um negócio próprio? – A7: Dez anos.

3. Qual o setor / segmento de atuação da sua empresa? – A7: Eventos.

4. Você já fez ou faz algum curso desde que abriu a sua empresa? – A7: Sim.

5. Você já fez algum curso de gestão? – A7: Sim.

6. Você já fez algum curso técnico específico sobre a sua atividade? – A7: Sim.

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7. Você já fez algum destes cursos à distância? – A7: Sim.

8. Se sim, em qual escola / site você realizou o curso?

A7: FGV, Senac, Coursera, EduK e cursos livres com profissionais da área (ex.: organização

de eventos, assessoria de casamentos, arte floral, organização de mini wedding, organização e

decoração de festa infantil etc.).

9. Você conhece alguns destes sites a seguir: Rede Mulher Empreendedora / Escola de Você

/ Sebrae / revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios?

A7: Sim, todos.

10. O que você achou dos cursos que realizou? Eles foram úteis para o dia a dia do seu

negócio?

A7: Depende. Alguns foram ótimos, outros foram muito básicos e só reforçaram o que eu já

sabia. Mas aprendizado sempre é útil.

11. Você observou que estes cursos tiveram impacto no crescimento do seu negócio?

A7: Sim.

12. Qual temática mais impactou no seu negócio? (por exemplo, gestão financeira,

marketing, etc).

A7: Cursos específicos (técnicos) do meu negócio. Exemplo: curso de arte floral, curso de

cenografia etc.

13. Você gostou de fazer o curso à distância?

Se sim, o quê?

A7: Praticidade, preço, flexibilidade, poder assistir na hora que eu quero/posso.

Se não, o quê?

A7: São geralmente mais “rasos”, não se aprofundam.

14. Além dos cursos, você costuma ler, ver vídeos, ler artigos e/ou acompanhar redes sociais

sobre o tema empreendedorismo, ou sobre informações pertinentes ao seu negócio?

A7: Sim.

15. Você costuma usar a internet? Com qual periodicidade? Quantas horas por dia? Para

quais atividades?

A7: Sim. Todos os dias. Mais de Quatro horas/dia. Para todas as atividades. Ler (jornais,

blogs, artigos), estudar, usar redes sociais, entrar em contato com amigos, clientes e

fornecedores, pesquisar, buscar referências e fotos, fazer publicidade na internet, usar

GPS/mapas, ouvir música, baixar vídeos, ouvir audiobooks, ler e-books, assistir filmes,

pesquisar fornecedores e endereços etc.

16. Você usa redes sociais para o seu negócio? Se sim, quais e com qual frequência de uso?

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A7: Sim. Todos os dias, seja postando fotos, posts patrocinados, respondendo solicitações de

clientes, fazendo anúncios em grupos... principalmente Facebook, Instagram e Pinterest.

17. O seu negócio tem site?

A7: Sim.

18. Você acredita que os cursos à distância, mais os conteúdos online (como artigos ou

vídeos) a auxiliam no seu crescimento profissional e do seu negócio? Por quê?

A7: Sim. Pela variedade de temas, preço geralmente acessível, flexibilidade de horário para

assistir, possibilidade de atualização profissional de forma fácil, possibilidade de contato com

profissionais do setor etc. Na minha visão, quando se é funcionário de uma grande empresa, o

crescimento profissional não só é incentivado como também é mais almejado, até como forma

de galgar melhores posições ou promoções/aumento salarial. Há mais possibilidades de

participar de cursos, palestras, programas de aprendizado in company e os próprios

colegas/superiores/fornecedores ajudam a promover esse crescimento profissional. Já o

empreendedor (principalmente o da micro-empresa) corre o risco de “mergulhar” em seu

negócio e focar na resolução dos problemas do dia a dia, podendo criar uma “bolha” ao seu

redor, dificultando seu crescimento profissional e pessoal. Muitos deixam de se atualizar

profissionalmente, ficam longe da inovação e das novidades do mercado. Seja por falta de

recursos, falta de tempo ou simplesmente por falta de interesse (há tantos outros problemas

para se resolver, que o aprendizado fica em segundo plano). Os cursos online, portanto, vêm

para ajudar o empreendedor, possibilitando o aprendizado e a atualização profissional de

forma acessível, prática e de qualidade, abordando diversos temas de interesse (desde temas

técnicos até temas de gestão) e incentivando seu crescimento profissional e ampliação de

horizontes.

APÊNDICE C

Questionário e resultados da pesquisa quantitativa

Pré-requisitos: ser mulher e empreendedora.

Local de abordagem das entrevistadas: Grupo de discussão moderado pela Rede Mulher

Empreendedora no Facebook, formado por mulheres empreendedoras.

Técnica: pesquisa quantitativa, com questionário de perguntas fechadas.

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Amostra: 18 empreendedoras.

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APÊNDICE D

Quadros de categorização das análises das entrevistas69

69 Construídos a partir de proposta de Silva (apud SILVA, 2010, p. 285-287), elaborada com base em estudos de

Van Manen, Bicudo, Barrit et al. e Santos (apud SILVA, 2010, p. 285-287).

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Categoria: 1. Temas investidos na capacitação empreendedora

Entrevistada Discurso Unidade de significado – principal

informação apreendida

Sentidos do discurso – análise da pesquisadora

A1 “eu me afastei até um pouco do mundo jurídico e das formações

todas na área jurídica por já ter um certo conhecimento e investi

apenas em empreendedorismo”

“Tudo voltado ao empreendedorismo”

“Gestão financeira, gestão em vendas, curso focado em

marketing”

“Bom, eu sou apaixonada pelo empreendedorismo de um modo

geral. Então assim o empreendedorismo, a gestão financeira que

são pontos muito falhos hoje nas empresas de pequeno e médio

porte foram os temas que eu mais foquei e que complementaram

meu conhecimento jurídico, então eu tive bem focada nesses

temas. Marketing também. Marketing eu senti a importância desse

assunto e acredito bastante no investimento do marketing hoje.”

(quando questionada sobre qual tema desses cursos que ela

acreditava que fosse o mais importante pro seu negócio

atualmente).

Foco nos estudos de

empreendedorismo, gestão financeira,

gestão em vendas e marketing.

Os temas de empreendedorismo e

gestão financeira foram os de maior

foco por acreditar que são temas

falhos na gestão das pequenas

empresas.

Já o marketing é importante por ser

entendido como área de investimento.

A formação inicial em direito não foi suficiente para a

empreendedora desenvolver o seu negócio. Assim,

outras áreas de conhecimento foram necessárias para

que ela pudesse se capacitar adequadamente –

finanças, vendas e marketing – e ter um entendimento

mais holístico a respeito de um negócio.

A2 “Principalmente os de mentoria”

“Sim. Marketing . Marketing pra mim é mais difícil porque eu não

tinha muita noção, acho que é tipo, financeiro talvez seja mais

fácil pra mim do que o de marketing mas como tenho um marido

que trabalha na área de marketing digital, então ele me ajudou

bastante com relação a essa parte.”

Foco em mentoria e marketing. Foco em assuntos que não eram de sua área original

de formação, e necessários para o empreendimento.

A3 “Eu fiz vários[cursos sobre empreendedorismo]. Fiz o Empretec

pelo SEBRAE. fiz o Grupo Dirigido de Psico-dinâmica em

Negócios, da COGN-MGR. Fiz o curso Gestão Semear, da

empresa METAMAIA”.

“Tem a financeira e a parte de comercialização. Prospecção e

comercialização. Inovação também eu acho legal, eu gosto. Algo

que gere novas ideias, novas abordagens eu gosto também”.

(quando questionada se há alguma temática pela qual ela se

interessava mais).

Foco em empreendedorismo, finanças

e comercialização.

Temas necessários ao desenvolvimento do negócio

são os de maior interesse.

A4 “Eu já fiz de formação em (inaudível) dinâmica e estou sempre

fazendo cursos específicos de gestão do negócio, gestão

financeira...”

“Geralmente o que me interesso mais é sobre marketing, vendas,

e sobre o empoderamento feminino”.

Foco em gestão de negócios e

financeira, marketing e vendas e

empoderamento feminino.

Temas relacionados diretamente ao desenvolvimento

do negócio despertam maior interesse. O

empoderamento feminino é mencionado como

interesse, possivelmente pela relação com o segmento

de atuação da entrevistada (cosméticos e beleza).

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A5 “fiz parte da 9ª. Turma do 10.000 Mulheres da FGV”70

“Marketing digital da GV”

“A busca pela informação do comércio eu tive ajuda do SEBRAE.

Eu saí da feira FRANCAL, no dia seguinte eu já fui no SEBRAE

pedir informações de como eu abriria a minha empresa, como eu

teria o CNPJ e se tinha algum material pra eu começar a estudar.

Dentro da plataforma do SEBRAE você encontra inclusive até

como montar a sua loja no ramo do calçado. Comecei essa leitura

(...).”

“Por eu trabalhar com um mercado segmentado o marketing é o

mais fundamental”.

Marketing digital, empreendedorismo

e informações administrativas geram

maior interesse. O marketing é

importante pois a empreendedora atua

em mercado segmentado.

A empreendedora buscou conhecimentos práticos de

como abrir uma empresa, pois atuava como no mundo

corporativo. O enfoque em temas como

empreendedorismo e marketing foram necessários

para prepará-la melhor para o seu mercado de atuação.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

A7 “organização de eventos, assessoria de casamentos, arte floral,

organização de mini wedding, organização e decoração de festa

infantil etc.)”

“Cursos específicos (técnicos) do meu negócio. Exemplo: curso

de arte floral, curso de cenografia etc.”

Foco em temas específicos do seu

mercado de atuação (eventos).

Capacitações selecionadas pelo critério utilitário – se

será útil em seu segmento de atuação. Ausência de

cursos de gestão, negócios e empreendedorismo.

Categoria: 2. Formato de curso realizado

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “fiz cursos do SEBRAE, cursos à distância e presenciais, investi

em livros – Roberto Tranjan”

“esses cursos à distância eu acabei complementando os cursos

que eu fiz presenciais que foram de gestão financeira, alguns

vídeos do Roberto Tranjan, tem muita coisa disponível”.

“Os vídeos à distância na verdade não chegaram a ser cursos que

me ofereceram certificados”

“mas os cursos que eu fiz presenciais foram do SEBRAE, uma

instituição que eu também prezo bastante, ajudou muito”

A empreendedora realizou cursos

presenciais e à distância, além de exercer

atividades à distâncias fora do formato

formal de curso estruturado.

A empreendedora não tem predileção por um

único formato, e está aberta ao uso dos dois tipos

de curso.

A2 “Na verdade, não cursos mas vários workshops, eventos. Participo

muito dos eventos da REDE MULHER EMPREENDEDORA. São

os que mais participo. De mentoria, os cafés com empreendedoras

também e eventuais workshops”.

“Não, nenhum, nunca fiz à distância” (quando perguntada se já

havia feito algum curso à distância).

“Todos presenciais” (quando questionada se havia feito todos os

cursos presencialmente).

Preferência exclusiva por cursos

presenciais.

A empreendedora não tem o hábito de realizar

cursos à distância, e participa de outros formatos

de aprendizagem, como eventos e workshops,

mas sempre presencialmente.

A3 “Não, nunca fiz. Fiz todos presenciais” (quando perguntada se já Preferência exclusiva por cursos Não há indicativo de realização de curso à

70 O curso 10.000 Mulheres é um programa global do banco de investimentos Goldman Sachs e da Goldman Sachs Foundation, que proporciona educação em administração e gestão

de negócios a mulheres empreendedoras, a fim de ajudar a melhorar a qualidade da educação empresarial nos países em desenvolvimento. No Brasil, é realizado em parceria com a

Fundação Getúlio Vargas. Fonte: material encontrado em página interna: < http://www.10000mulheres.com.br/programa>. Acesso em: 9 jul. 2016.

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havia feito algum curso à distância). presenciais. distância.

A4 “Não. À distância assim eu nunca fiz”. (quando perguntada se já

havia feito algum curso à distância).

Preferência exclusiva por cursos

presenciais.

Não há indicativo de realização de curso à

distância.

A5 “Estou fazendo agora” (quando perguntada se já havia feito algum

curso à distância).

A empreendedora participa de cursos à

distância.

A empreendedora realiza cursos tanto

presencialmente quanto à distância.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

A7 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

Categoria: 3. Motivações para realização dos cursos

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “Tudo voltado ao empreendedorismo não só pro desenvolvimento

da minha empresa mas pra eu poder aplicar com os clientes”

Os cursos foram realizados pela

necessidade de desenvolvimento da

empresa e para prestar consultoria

aos clientes da própria empresa.

As motivações são relacionadas ao sucesso do

empreendimento e pela necessidade de atendimento

aos clientes.

A2 “Sim. Principalmente os de mentoria, eles foram bem importantes

pra mim no começo quando eu tava em transição. Não em

transição, mas pensando em montar a loja de pashminas porque

na verdade eu sou engenheira e tenho uma consultoria voltada em

gestão de processos então é uma área totalmente diferente e o de

pashminas é uma área de vendas né. De vendas eu não tinha

muita noção, então os cursos né, na verdade, são reuniões de

mentoria coletiva pra mim foram fundamentais relacionados ao

segundo negócio”.

Os cursos foram motivados por

necessidades de conhecimento

específicas, decorrentes da falta de

capacitação em áreas necessárias ao

empreendimento, como vendas e

mentoria.

A empreendedora tinha uma formação original que

não a preparou para o ambiente empreendedor, e ela

sentiu necessidade de se preparar melhor em temas

como vendas. Para a sua transição para o

empreendedorismo, o curso de mentoria mostrou-se

importante para prepará-la para a nova atividade.

A3 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A4 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A5 “Eu comecei a buscar cursos depois que eu abri meu negócio. Na

faculdade por você já tá (sic) nesse universo de aprendizado

passa-se por algumas matérias, mesmo meu curso sendo

tecnologia a gente teve alguma visão de empreendedorismo, de

economia, então eu sabia que não era uma coisa assim, você não

pode ser amadora, pelo menos um plano de negócio, a partir de

um plano de negócio você começa a buscar o conhecimento pra

você colocar o negócio em prática. No começo foi mais pelo

feeling mas eu tive que buscar conhecimento”.

“Por eu trabalhar com um mercado segmentado o marketing é o

mais fundamental. Porque eu tenho que buscar esse cliente que

ainda não me conhece, eu tô num mercado pouco explorado, eu tô

numa região que não é muito favorecida que é Osasco, eu tenho

um produto que eu concorro com outras lojas que já estão há 50

anos no mercado, então eu tenho que saber me posicionar e isso é

o marketing que te ajuda”.

Houve a necessidade de preparo para

a atividade empreendedora, não

existente em outras formações da

entrevistada.

A entrevistada observou que não há

possibilidade de amadorismo: a

capacitação é essencial, como a

elaboração de um plano de negócios.

Consciência de que o conhecimento

em marketing é fundamental para o

crescimento do seu negócio.

A capacitação formal é entendida como essencial, e é

motivada pela falta de conhecimentos prévios em

temas necessários ao empreendimento, e

principalmente pela necessidade de explorar e estudar

o seu mercado de atuação.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

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A7 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

Categoria: 4. Consequências e impactos da realização dos cursos

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “Eu acho que esses fizeram toda a diferença e me abriram um novo

horizonte”.

“Então foi extremamente importante”

“No meu caso eles contribuem muito, ajudaram bastante nessa jornada.

Foi só um ano de estudo e de pesquisas e que me agregaram muito

porque eu pude juntar as duas coisas: cursos presenciais e à distância”.

“Sem dúvida. Eu já percebi pelo meu crescimento profissional, eu vi

quanto isso agregou e é uma porta de entrada até para eu incentivar

meus parceiros profissionais, futuros funcionários, indicar pras empresas

clientes. Então eles ajudam de diversas formas. Me ajudou bastante e eu

acredito muito nesse caminho aí. Acho que é a tendência mesmo do

mercado”.

Os cursos foram importantes pois abriram

novas possibilidades para a

empreendedora, auxiliaram em seu

crescimento profissional, e incentivou

seus parceiros profissionais.

A empreendedora sentiu a importância dos

cursos pelo crescimento profissional

proporcionado e pela nova visão

conquistada – possibilidade de incentivo à

parceiros, funcionários e clientes.

A2 “Sim. Sem dúvida. Acho que todos os cursos pra mim foram válidos. Por

mais que tenha algum ali que tenha sido menos, digo, do que o outro, mas

sempre me trouxe algum aprendizado, sempre veio agregar alguma coisa,

mesmo aqueles cursos que não são específicos da área, como curso de

fotografia, eu já fiz, como curso de dança, enfim vários outros. Todos

foram”.

Todos os cursos foram importantes por

trazerem novas informações, mesmo

aqueles que não são específicos de sua

área de atuação.

Entendimento do aprendizado como

contribuição mais ampla à sua formação,

não apenas utilitarista, mas como

conteúdos complementares que se

integram em uma formação mais holística.

A3 “Total. Total” (quando perguntada se os cursos tiveram impacto positivo

no seu crescimento profissional e do seu negócio).

“Mas certamente todos eles fizeram diferença sim”.

Os cursos foram positivos e fizeram a

diferença.

Os cursos realizados foram importantes

para o crescimento profissional e do

negócio.

A4 “Porque na minha área, a área de beleza, é o empoderamento feminino

que ajuda às mulheres, né, pela maquiagem você se sente mais

empoderada, né, constrói auto-estima...”

“Sim. Conhecimento mesmo à distância, presencial qualquer tipo de

conhecimento tem impacto pro negócio. Acho que conhecimento é tudo.

Não importa de que forma você tá tendo, se você tá no computador, se

você tá no celular, de todo jeito acho que é válido”.

O empoderamento feminino é importante

na construção da auto-estima.

Todos os tipos de conhecimento, em

qualquer formato e plataforma, são

importantes.

A partir da realização dos cursos, uma

forte auto-estima, possibilitada pelo

empoderamento feminino, pode ser

construída, e este fator é importante em

seu negócio de atuação (beleza).

Todos os conhecimentos adquiridos são

importantes na formação da

empreendedora, obtidos em qualquer

formato.

A5 “Sim. Principalmente esse último curso, porque eu terminei o 10.000

Mulheres em 2013, não, desculpe, 2014. Já estamos em 2016. Nesses dois

anos eu já vi muita coisa acontecendo que a gente à distância, parado ou

só trabalhando na prática, tá perdendo tempo. O universo online, esse e-

commerce, essas redes sociais elas estão evoluindo muito rápido. Então

se você ficar fora também do conhecimento você acaba se perdendo”.

“Mas o conhecimento inicial ele foi fundamental. Você tem que ter uma

base, a partir dela você começa a observar o seu mercado, o seu público

A atualização constante é extremamente

importante para a manutenção e

crescimento do negócio.

O conhecimento de base para o

empreendedor iniciante é fundamental

para o começo do empreendimento, e é

isso que oferece as bases para que o

negócio comece a crescer.

A evolução constante do mercado,

principalmente devido às atualizações

tecnológicas, impõem que o empreendedor

se atualize constantemente.

Além disso, é fundamental que o

empreendedor se prepare desde o começo

do negócio, para que ele possa se preparar

melhor para a expansão dos seus negócios.

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e vai buscando aquilo que tem que ser adequado”.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A7 “Os cursos online, portanto, vêm para ajudar o empreendedor,

possibilitando o aprendizado e a atualização profissional de forma

acessível, prática e de qualidade, abordando diversos temas de interesse

(desde temas técnicos até temas de gestão) e incentivando seu

crescimento profissional e ampliação de horizontes”.

“Alguns foram ótimos, outros foram muito básicos e só reforçaram o que

eu já sabia. Mas aprendizado sempre é útil”.

“Sim” (quando perguntada se os cursos tiveram impacto no crescimento

do seu negócio).

Os cursos à distância são acessíveis,

práticos e de qualidade, auxiliando em

seu aprendizado e atualização

profissional, e também tiveram impacto

no crescimento do seu negócio.

No entanto, alguns cursos foram básicos e

não acrescentaram nenhum novo

aprendizado, mas, apesar disso, a

empreendedora acredita que qualquer

novo conhecimento é útil.

O formato à distância é importante por

permitir o aprendizado de forma acessível

e prática, mas alguns cursos são

superficiais e não lhe acrescentaram nada.

Categoria: 5. Atitudes e apropriações decorrentes da realização dos cursos

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “quando eu fiz esses cursos eu tive uma nova visão do mercado e

das necessidades dos meus clientes”.

Adoção de nova visão de mercado a

partir da realização dos cursos.

Os cursos possibilitaram novas descobertas e

desenvolvimento profissional.

A2 Não respondido. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

A3 “Acho que tem uma questão assim que o empreendedor ele é

muito solitário na jornada dele de negócio. Então esses cursos

presenciais permitem com que a gente tenha uma troca tipo assim

mais genuína e mais fácil com pessoas que passam pelos mesmos

desafios com a gente.”

Necessidade de realização de curso

presencial para possibilitação de

relacionamento com outros

empreendedores.

Nos cursos presenciais, é possível, além da

capacitação, promover relacionamentos que

auxiliam na jornada empreendedora, que muitas

vezes pode levar ao isolamento se o empreendedor

não estiver atento a procurar momentos de

integração com outros empresários.

A4 “Acho que é muito importante, que nem, na ESCOLA DE VOCÊ

eu entrei de cabeça nesse projeto, e sou também embaixadora.

Acho que é muito importante, se você não se conhece, não sabe

sua capacidade, você não consegue crescer, não consegue mostrar

seu negócio de forma segura, como é que você vai passar

confiança pras pessoas? Então é muito importante principalmente

pra mulher se conhecer, ter a postura de atitude empreendedora,

se empoderar desse poder que a gente tem. E fazer o negócio

acontecer, não ficar com medo. É nisso que eu acredito”.

“acho que essencial é fazer um planejamento de transição ter essa

certeza com você. Quer empreender? Então pensa bem no que

você quer, faz um planejamento. É importantíssimo fazer e se

planejar porque também não é arriscar tudo, fazer um negócio e

daqui meses você se arrepender porque pra mim você vai estar

investindo tempo, dinheiro, depois vai ficar frustrada e não vai dar

resultado nenhum, vai ser uma péssima empresa pra você”.

O auto-conhecimento é importante para

gerar confiança na empreendedora,

reforçar a atitude empreendedora e para

empoderar a mulher para o crescimento

do seu negócio.

Empreender exige planejamento para

obter melhores resultados e diminuir os

riscos da atividade.

A empreendedora acredita que a auto-confiança e o

auto-conhecimento são elementos essenciais para a

mulher se sentir segura e, consequentemente, gerir o

seu negócio com melhores resultados.

O planejamento é atividade fundamental na

atividade empreendedora para evitar que o negócio

gere resultados ruins.

A5 “a construção da loja virtual, por eu ser formada em tecnologia,

eu mesma que construí. Até hoje, já tem seis anos, sou eu que faço

A graduação na área de tecnologia

auxiliou a empreendedora no

O conhecimento prévio em uma área sem relação

com o seu negócio a auxiliou com uma ferramenta

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sempre as customizações, as parametrizações da loja”.

“É óbvio que no começo quando você vai muito no achismo se

erra. Eu errei em algumas compras, negociação, negociação com

banco. Então você acaba perdendo tempo e demora um pouco

mais pra atingir o sucesso ou os resultados positivos quando você

erra. A partir do momento que eu errei uma vez e fui buscar o

porquê que eu errei seja o conhecimento, conversando, trocando

informações com outras pessoas você se ajusta rapidamente pra

continuar”

“Auxiliam. Porque você consegue também extrair informações pra

preparar o seu time. Então muitas vezes você deixa um conteúdo

pra um vendedor, pra um funcionário acompanhar e ele volta com

aquela informação ou com uma dúvida e acaba que um troca

informação com o outro. Então ele acaba construindo também

com base no conteúdo que você distribuiu, que você

compartilhou”.

desenvolvimento de seu site de e-

commerce, excluindo a necessidade de

contratação de um terceiro para tal

atividade.

O conhecimento diminui a incidência

de erros e agiliza o processo para que a

empreendedora possa rapidamente se

adequar e ajustar o que está errado.

O conhecimento não é importante

apenas para a empreendedora, mas

também para o compartilhamento com

as equipes que trabalham com ela,

gerando melhorias nos processos.

importante de venda, permitindo que ela não tivesse

custos nesta etapa do seu negócio.

A capacitação permite que a empreendedora erre

menos, ou ainda que, ao errar, rapidamente possa se

adequar para não perder negócios.

O compartilhamento do conhecimento contribui

para que as equipes que estão no negócio também

possam auxiliar no crescimento do

empreendimento.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A7 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

Categoria: 6. Fatores que justificam o impacto positivo dos cursos à distância

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “Sem dúvida. Principalmente pelo custo-benefício. Hoje em dia a falta de

tempo é um fator determinante e eu acho que os cursos à distância

contribuem muito com isso”.

A falta de tempo gera a necessidade de

realização de cursos à distância, por

permitirem que o aluno realize o curso

no melhor momento, em qualquer

lugar, ao mesmo tempo em que oferece

uma boa relação custo-benefício.

O fator tempo é hoje elemento

determinante na escolha do formato de

curso, pois implica a eliminação de

barreiras ao aprendizado, e facilita o

acesso por meio de custos mais baratos do

que formatos presenciais de ensino.

A2 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A3 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A4 “eles conseguem atender todos os públicos, eu acho bem interessante esse

apanhado geral que eles fazem. Eles não falam só de multinacional”

Os cursos à distância tem abrangência

de público heterogêneo, e apresentam

conteúdo mais abrangente.

A amplificação do alcance do método à

distância implica que ele seja formatado

para alcançar um público diversificado e

com interesses múltiplos, daí a necessidade

de ter um escopo de conteúdo mais amplo.

A5 “Olha a troca de conhecimento de quem já está na prática. Isso é muito

importante porque material você lê, você baixa da internet. Ler sozinho

todo mundo lê, mas absorver é outra coisa. Então quando você lê algo e

conversa com alguém e troca ideias e aquela pessoa viu uma matéria, um

blog, e também te manda essa informação, isso agrega muito”.

O ambiente online de aprendizagem

permite uma rica troca de conhecimento

e de experiências.

O curso à distância não é apenas o formato

digitalizado dos conteúdos, mas possibilita

o compartilhamento de informações e de

experiências, que agregam no

desenvolvimento dos alunos.

A6 “Sim. Evitaria deslocamentos em uma cidade caótica e permitiria

flexibilidade de horários, conforme a necessidade”.

A dificuldade com a mobilidade é um

quesito importante para a escolha do

formato do curso à distância, além de

O ganho com tempo e mobilidade são dois

fatores importantes valorizados na escolha

do curso à distância.

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permitir melhor gestão do tempo.

A7 “Na minha visão, quando se é funcionário de uma grande empresa, o

crescimento profissional não só é incentivado como também é mais

almejado, até como forma de galgar melhores posições ou

promoções/aumento salarial. Há mais possibilidades de participar de

cursos, palestras, programas de aprendizado in company e os próprios

colegas/superiores/fornecedores ajudam a promover esse crescimento

profissional. Já o empreendedor (principalmente o da micro-empresa)

corre o risco de “mergulhar” em seu negócio e focar na resolução dos

problemas do dia a dia, podendo criar uma “bolha” ao seu redor”.

O empreendedor, por ter uma rotina

mais solitária do que a rotina de um

empregado, pode ficar isolado se não

estiver atento às oportunidades de

aprendizado, que podem ser facilitadas

pelo acesso à distância.

O conhecimento é importante para que o

empreendedor não se isole e possa se

desenvolver profissionalmente.

Categoria: 7. Preferência de formato de curso

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “pensando na relação tempo eu gosto bastante dos cursos à

distância”

O fator tempo é elemento essencial na

preferência pelos cursos à distância.

A educação à distância permite uma

melhor gestão do tempo e este elemento

influencia na escolha do formato do

curso.

A2 “É, eu prefiro fazer qualquer tipo de curso presencial porque pra

mim é fundamental ter contato ali com as pessoas, enfim. Acho que é

mais produtivo”.

O ambiente presencial é valorizado pelo aspecto

da convivência e do contato físico, que tornam o

curso mais produtivo para a empreendedora.

O curso à distância tem a desvantagem

da ausência do contato físico, quando

comparado com o curso presencial, fator

valorizado pela empreendedora para que

o curso lhe seja produtivo.

A3 “Acho que tem a questão do networking e tem a força do grupo, né,

no sentido de troca, às vezes o desafio que eu tô enfrentando no

negócio alguém já passou e tem uma solução pra me dar, às vezes

eu também posso contribuir com o grupo, então acredito que é

importante sim, mas não descarto a questão de fazer on-line”

(quando questionada sobre sua preferência pelos cursos presenciais).

A empreendedora valoriza aspectos presentes nos

cursos presenciais, como o networking e a troca

de experiências contributivas para soluções de

problemas. No entanto, ela enxerga a

possibilidade de realizar eventualmente um curso

on-line.

O curso presencial ainda apresenta mais

vantagens do que o curso à distância, e

que são valorizadas pela empreendedora

em seu aprendizado, como networking e

intercâmbio de experiências.

A4 “Todos os que eu tive oportunidade assim foram presencial (sic)”. A empreendedora apenas realizou cursos

presencialmente.

A empreendedora desconhece o formato

de cursos à distância, por falta de

oportunidade e acesso.

A5 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A7 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

Categoria: 8. Motivação para escolha do curso à distância

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “Eu tenho investido bastante nisso. Assim, eu gosto por conta

do tempo. Não tenho muito tempo”.

“Aí eu prefiro que eles sejam à distância, porque eu faço o

curso o tempo que eu posso”.

A falta de tempo é o principal

motivo para a escolha pelo formato

à distância. A flexibilidade de

poder realizar o curso no momento

mais conveniente é aspecto

O controle do tempo, possibilitado pelo curso à distância, é

fator decisório para que a empreendedora prefira o curso à

distância.

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importante.

A2 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A3 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A4 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A5 “Você consegue conversar com outras pessoas que estão em

diferentes meios. A troca de informação é maior porque ali no

meio virtual à distância a pessoa acaba te passando link de

algo que depois que você navega você encontra mais alguma

informação que muitas vezes numa conversa em sala de aula se

você tá meio disperso você não anota, então a interação com

outras pessoas e com mais conteúdo é maior. Questão de

tempo. Eu sendo empresária já atuante, como mãe com filhos

tenho que também ter e conseguir encaixar os meus estudos

nos meus horários que me sobra. Então o EAD dá essa

possibilidade”.

“Então essa é a pegada do EAD. Se me mandam eu leio,

porque a vida é tão corrida. E é muito conteúdo. E o tempo

todo alguém tá postando alguma coisa, são sites importantes

de administração, de marketing, de mídias sociais. Então é

muita informação o tempo todo e é difícil você acompanhar

isso ao pé da letra se você também tem um negócio pra cuidar.

Então hoje eu falo estar estudando à distância é uma

oportunidade de você ficar trocando informações não só

acadêmicas”.

A interação com alunos de

diferentes ambientes é item

valorizado, por permitir a troca e a

agregação de conhecimento que

pode ser dispersa em uma sala de

aula física.

A maternidade e a atividade

empresarial implicam em ter pouco

tempo livre, e o curso à distância

permite que a empreendedora

estude com mais facilidade.

O curso à distância permite o

intercâmbio de conhecimento não

apenas específico sobre o curso,

mas também sobre outras

experiências.

Os cursos à distância possibilitam uma série de vantagens

para a empreendedora: interagir com outras pessoas de

meios distintos; gerir o seu tempo de forma mais autônoma,

e aproveitar cada momento disponível em sua rotina corrida

de mãe e empresária; e trocar experiências que extrapolam

os temas dos cursos realizados, sendo importante meio de

networking.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A7 “Praticidade, preço, flexibilidade, poder assistir na hora que

eu quero/posso”.

“Sim. Pela variedade de temas, preço geralmente acessível,

flexibilidade de horário para assistir, possibilidade de

atualização profissional de forma fácil, possibilidade de

contato com profissionais do setor etc”.

A empreendedora destaca que os

cursos à distância apresentam uma

série de vantagens, como

praticidade, custo, flexibilidade de

tempo e de conteúdo e networking.

O curso à distância é mais vantajoso pois reúne uma série de

elementos importantes para a empreendedora: gestão de

tempo, praticidade, baixo custo e relacionamento com

outros alunos.

Categoria: 9. Frequência de uso da internet

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “Uso bastante. Uso bastante”.

“Semanalmente”.

A empreendedora tem um uso

frequente da internet em sua

visão, e considera que este uso é

importante.

Há um uso da internet de baixo a moderado pela empreendedora, o que representa

ainda um perfil mais tradicional de comunicação, talvez por seu negócio não exigir

que a empreendedora faça uso intensivo da internet (seu segmento de atuação é de

prestação de serviços de consultoria).

A2 “Todo dia”. A empreendedora usa

intensivamente a internet.

O uso intensivo da internet é intensificado pela necessidade de comunicação mais

direta e intensa pelo segmento de atuação da empreendedora (comércio de

pashminas).

A3 “Direto. Quase todo dia”. A empreendedora tem um uso A empreendedora tem um uso intenso da internet, mas com o objetivo de atualização

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“Meia hora por dia, não chega a uma

hora”

intenso e moderado da internet. própria, e não para comunicação com clientes.

A4 “A maioria, no mínimo uma vez por

semana. Tem sempre artigos, tem sempre

dicas, bastante material. Toda semana eu

tô passando por todos eles”.

“Diariamente”.

“Olha em média umas três a quatro

horas por dia”.

A empreendedora apresenta uso

muito intensivo da internet,

ocupando significativa carga

horária do seu dia.

A empreendedora apresenta uso intensivo principalmente porque a utiliza para

realizar a comunicação com clientes e para fazer a divulgação massiva do seu

negócio, que exige que ela esteja atualizada e atuante na internet o tempo todo. O

uso da internet, para ela, significa estar próxima aos clientes, relacionar-se com eles,

e ter à sua disposição um canal de divulgação de seus produtos e serviços.

A5 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A7 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

Categoria: 10. Modelo de atuação digital – sites e redes sociais

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 “Utilizo. Eu tenho um site e lá tem uns vídeos educativos,

então eu utilizo sim” (quando questionada se utilizava as redes

sociais para divulgação do seu negócio).

“Não, ainda não. Estou bem restrita ao site. Por ser um

serviço personalizado eu ainda utilizo só o site” (quando

questionada se havia uma rede social específica que seria

importante para o seu negócio).

A empreendedora utiliza exclusivamente o

seu site para divulgação do seu negócio, e

não usa as redes sociais ainda.

A empreendedora tem uma experiência mais restrita

na internet, e não a explora como ferramenta de

relacionamento com seus clientes – a prioridade é

transmitir as informações de maneira unilateral.

A2 “De tudo. Tenho que ver o negócio porque eu tenho uma loja

on-line. Tenho que ver as redes porque eu também faço

divulgação nas redes, nas mídias, e-mails, pesquisa, compras,

enfim, N coisas”.

Há um uso intenso da internet pois a base

de suas vendas é realizada on-line, então,

obrigatoriamente ela precisa utilizar a

internet para se comunicar com clientes,

realizar pesquisas e fazer divulgação de

sua empresa.

Seu segmento de atuação, comércio de pashmina,

exige que a empreendedora faça uso intensivo da

internet, e torna o seu comportamento digital mais

dedicado diretamente ao negócio, do que à

capacitação ou busca de informações.

A3 “Então o ITAÚ o que é que acontece. Quando eles mandam

uma news ou uma chamada são os momentos que eu reservo

daí à noite quando eu tô terminando as coisas da empresa é

pra olhar. Então é muito mais quando eles me cutucam do que

eu espontaneamente buscar”.

“Assim no final do dia, acabou tudo, deixa eu xeretar o que

tem de interessante”.

“Eu uso pouco. Eu diria que eu acho assim que eu tenho

pouco conhecimento em relação ao benefício que a rede

poderia trazer pro meu negócio. Eu acabo fazendo uso das

práticas que eu já venho tendo e faço pouco uso. Eu diria

assim, sei lá, eu faço alguma coisa assim uma vez por

semana. Acho que é pouco”.

“Não” (quando questionada se usava as redes sociais para

O uso da internet é passivo, ou seja,

apenas por estimulação de algum site que

lhe envia mensagens para acessar algum

conteúdo específico.

Sua necessidade de uso da internet está

atrelada à atualização e curiosidade.

Não utiliza redes sociais para comunicação

de qualquer tipo.

Apesar da empreendedora usar a internet diariamente,

seu comportamento digital é mais moderado e

conservador. Seu objetivo de uso é para se manter

atualizada, mas não há espontaneidade ou

proatividade: há a necessidade de ser estimulada para

acessar os conteúdos.

A empreendedora ainda percebe que poderia fazer um

uso mais intensivo da internet, em benefício próprio e

do seu negócio.

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240

trocar informações com outras empreendedoras).

“Não” (quando questionada se usava o Facebook para se

comunicar).

A4 “Porque eu faço muito contato com meus clientes pela

internet, por Instagram, Facebook, por e-mail, eu tô sempre

fazendo postagens...”

“Sim, sim” (quando questionada se fazia divulgação usando

redes sociais).

“Tenho um site pros produtos que eu comercializo e tenho

também o presencial, faço visita às clientes, mas muita da

divulgação que eu consigo usar é por rede social. Então muito

do meu tempo é isso”.

“Sim. Tem muita gente me procurando por conta da rede

social, um post, alguém falou que viu um post meu... É muito

relevante”.

A empreendedora utiliza intensamente as

redes sociais para fazer comunicação com

seus clientes, por diferentes canais.

Promove a comunicação por meio de

postagens, atualizações e conversas com

suas clientes.

O uso da internet e das redes sociais é crucial no dia a

dia da empreendedora, e torna a comunicação digital

uma ferramenta comercial de sustentação do negócio

dela.

A5 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A6 “Sim. Faz parte do meu trabalho como jornalista na área de

RH e Gestão de Pessoas entender a questão do

empreendedorismo e do intraempreendedorismo”.

“Diariamente – Média de 9 horas para pesquisas de trabalho,

gestão de conteúdo do portal da ABRH-Brasil – Associação

Brasileira de Recursos Humanos e relacionamento via e-mail

com fontes/assessorias de imprensa”.

“Sim. LinkedIn e Facebook. Acesso FB diariamente e

LinkedIn conforme demanda. Finalidade de manter rede de

contatos e acompanhar novidades/notícias”

“Não” (quando perguntada se o seu negócio tinha site).

O uso da internet é intensivo, e mais

relacionado com o próprio escopo de

trabalho da empreendedora, que necessita

da internet para realizar o seu trabalho –

fazer pesquisas, manter contatos e manter-

se atualizada sobre informações relevantes

para a sua atividade jornalística.

Usar a internet significa o próprio trabalho em si.

Sem a internet, seu trabalho de pesquisa,

relacionamento e atualização ficaria altamente

prejudicado.

A7 “Sim. Todos os dias. Mais de quatro horas/dia. Para todas as

atividades. Ler (jornais, blogs, artigos), estudar, usar redes

sociais, entrar em contato com amigos, clientes e

fornecedores, pesquisar, buscar referências e fotos, fazer

publicidade na internet, usar GPS/mapas, ouvir música,

baixar vídeos, ouvir audiobooks, ler e-books, assistir filmes,

pesquisar fornecedores e endereços etc”.

“Sim. Todos os dias, seja postando fotos, posts patrocinados,

respondendo solicitações de clientes, fazendo anúncios em

grupos... principalmente Facebook, Instagram e Pinterest”.

“Sim” (quando perguntada se o seu negócio tinha site).

A empreendedora usa intensivamente a

internet com diversos objetivos, tanto

pessoais quanto profissionais.

O uso pessoal é bastante abrangente, e

perpassa por entretenimento, pesquisa e

atualização.

Como uso profissional, ela utiliza a rede

para fazer divulgação comercial e contatar

clientes.

O uso da internet permeia todo o dia da

empreendedora, que torna o seu uso essencial como

qualquer outro recurso, como água ou luz. Além do

escopo profissional, bastante intensivo pela

divulgação e contato com clientes, há um importante

uso com objetivos pessoais, e, por isso, o uso da

internet se torna item fundante de seu comportamento

diário, e não apenas uma mera necessidade

profissional em seu dia a dia.

Categoria: 11. Motivação para tornar-se empreendedora: maternidade

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

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A2 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A3 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A4 “É porque eu sou mãe. Eu tenho três filhos. Então o

que me motivou foram meus filhos porque no mundo

corporativo não dá pra você ser mãe, e eu trabalhava

na área financeira. Então eu tinha muito pouco tempo

com eles. Daí eu optei a ter meu próprio negócio, ter

flexibilidade de horário porque eu tô participando da

vida deles mas também obtendo a minha renda”.

A maternidade foi motivo para que a

empreendedora deixasse sua carreira corporativa e

abrisse um negócio próprio. Estar próxima aos

filhos, e ter tempo disponível para eles, é algo

valorizado por ela, e o empreendedorismo

permitiu isso pela possibilidade de flexibilidade

de horário, e que ela mantivesse sua renda.

O empreendedorismo significa para a empreendedora

a possibilidade de ter mais tempo para a maternidade

e cuidar de sua família, uma prioridade tão

importante quanto o trabalho. Este equilíbrio de

funções não era possível com o trabalho na área

financeira em corporações.

A5 “Foi num momento quando eu tinha acabado de ter

meu segundo filho, ainda estava na licença–

maternidade e como eu sou da área de tecnologia e

demanda muita disponibilidade pra você tá virando

noite, implantando sistemas, e na licença-maternidade

eu assisti a um anúncio da FRANCAL - feira de

calçados - aí naquele momento eu pensei porque não

abrir um negócio de calçado infantil”.

A maternidade foi fator determinante para a

empreendedora deixar seu emprego fixo e iniciar

um empreendimento próprio. A partir do

nascimento do segundo filho, ela teve despertado

o interesse em empreender, ainda em sua licença-

maternidade.

A falta de equilíbrio de tempo, existente em trabalhos

formais corporativos, demanda que a mulher com

filhos tenha menos tempo para se dedicar à

maternidade. A empreendedora optou por ter maior

equilíbrio em sua vida e priorizou participar

ativamente da vida dos filhos, e manter o seu

trabalho, possível por meio do empreendedorismo.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A7 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

Categoria: 12: Impactos de atuação da mulher empreendedora

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A2 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A3 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A4 “eu acho que a mulher tem tudo pra mudar porque no cenário

que a gente vive hoje principalmente, porque a gente tem um

jeito de administrar diferente né, de ser, e mulher, quando a

gente empreende, começa a ganhar dinheiro a gente mexe na

família, na sociedade, então a gente mexe em tudo em volta,

então tudo começa a ficar assim, e a maioria dos homens não,

então tudo começa a ficar mais, ter negócio próprio, então é

bem diferente. O jeito de fazer negócio”.

“Porque a mulher reinveste em tudo isso que ela trata, porque

as mulheres que empreendem geralmente tem família, e não

querem o mundo corporativo, (inaudível), e a mulher é mais

emoção, é mais coração, então quando ela vai determinada a

fazer, ela faz com muito mais tempo, dedicada, né. Bem

diferente!”.

A mulher, em sua atividade empreendedora,

transforma o ambiente social ao seu redor, e

influencia a família e a sociedade. Seu jeito de

gerir é diferente ao do homem, pois o faz de

maneira mais emotiva, e é mais determinada e

dedicada.

O empreendedorismo feminino é influenciador

para a transformação de processos sociais,

uma vez que sua forma de gestão e sua

conduta de investimento e comprometimento

geram um ciclo contínuo de mudanças.

A5 “Acredito. Acredito muito. Hoje em dia, a família, o pilar da

família, eu acredito que seja a mulher. Já foi o homem no

passado, mas a mulher é a base de tudo. Você ser

A mulher assume o protagonismo na família, e

o empreendedorismo fortalece esse papel

feminino, uma vez que ele reforça a sua auto-

O protagonismo feminino é capitaneado pelo

empreendedorismo, uma vez que este

movimento capacita a mulher para torná-la

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empreendedora (sic) você consegue mostrar pro seus filhos

valores, força. Você mostra pro seu companheiro que ele não

tem só uma mulher dentro de casa, ele pode apoiar-se nela. Sabe

que a partir dela a família vai estar bem construída. Você

consegue inspirar outras mulheres quando você mostra pra elas

que olha, eu passei pelas mesmas dificuldades, também tenho o

mesmo problema na minha casa e vamos embora. Cria-se uma

rede muito forte. Mulheres indicando mulheres. Num evento

desses na GV até eu passei despercebida, não tinha notado uma

delas que me cutucou e falou ‘Oh, não ta me vendo aqui não?’.

E no final das contas uma troca serviços com a outra. Então

passou do nível da amizade, virou aquela troca de negócios e

isso é muito bom. Dentro da GV eu tive a grata oportunidade de

fazer a parte da nona turma do curso 10.000 Mulheres, e fui

chamada pelos professores da GV pra colherem matéria sobre o

meu empreendimento e hoje eu faço parte dos cases para os

alunos da FGV”

“E essa semana mesmo um aluno de Curitiba entrou em contato

comigo fazendo uma entrevista à distância porque ele tá fazendo

um trabalho sobre marcas”.

estima, a sua confiança, e o seu exemplo como

profissional dedicada, em condições iguais às

do homem.

A empreendedora se torna exemplo de

inspiração para outras mulheres que enfrentam

as mesmas dificuldades, e há a criação de uma

rede colaborativa forte, que cria elos de

sustentação e colaboração de caráter pessoal e

profissional.

O seu trabalho como empreendedora já é

reconhecido no ambiente acadêmico, e é

estudado como case de empreendedorismo em

diferentes locais no Brasil.

mais auto-confiante e ser vista como exemplo

de liderança tanto na família, quanto no meio

profissional.

O empreendedorismo ainda cria redes de

colaboração social extremamente fortes, o que

permite que as empreendedoras estejam unidas

por elos contributivos e harmônicos.

O reconhecimento acadêmico de seu negócio a

inspira e a fortalece para que continue

desenvolvendo o seu negócio.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A7 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

Categoria: 13. Início da atividade empreendedora

Entrevistada Discurso Unidade de significado Sentidos do discurso

A1 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A2 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A3 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A4 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise. A5 “A ideia era infantil porque eu tava com dois filhos

pequenos e aí eu comecei a avaliar ali, sentada na

frente da televisão. Eu falei: ‘não, mas espera aí, eu

como mãe de criança, qual é a frequência de compra

de sapatos?’ Então naquela hora eu já descartei o

infantil, e comecei a pensar na numeração especial

porque eu calço 41 e sei da dificuldade que é pra

encontrar, então naquele dia eu já falei amanhã eu

estou nessa feira. E dei um jeito e consegui entrar na

feira e já saí de lá com quatro pedidos prontos sem

ter o CNPJ e com quatro dias já tava com a loja

aberta funcionando na internet”.

A empreendedora teve a ideia para o seu

empreendimento inspirada a partir de uma necessidade

de seus filhos pequenos, relacionada ao vestuário

infantil. No entanto, por meio de uma breve análise ela

alterou o foco de atuação, mantido no segmento de

calçados, mas com mudança no público-alvo: agora, ela

atenderia ao público feminino adulto, mas com

necessidade de tamanhos especiais. Foi proativa e ágil,

pois visitou logo no início uma feira do seu setor, e já

iniciou as vendas no próprio local. Em quatro dias, ela já

havia desenvolvido o site de e-commerce para venda dos

calçados na internet.

A agilidade da empreendedora no momento de

início do empreendimento demonstram a sua

proatividade e a sua capacidade produtiva. Entre

ter a ideia e ter o negócio funcionando, se

passaram apenas quatro dias, o que mostra sua

dedicação e comprometimento com o seu

negócio e com os resultados.

A6 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

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A7 Não observado. Sem possibilidade de análise. Sem possibilidade de análise.

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ANEXO A

Artigos extraídos do site Rede Mulher Empreendedora

Artigo 1 - O DNA dos grandes empreendedores brasileiros71

Por Pedro Mello

Empreender é uma decisão de vida, onde você escolhe criar seu próprio futuro em vez

de deixá-lo nas mãos dos outros. Para quem segue esse caminho, a liberdade conquistada é

mais importante do que toda segurança que um bom emprego pode oferecer. São pessoas que

fogem dos chefes pouco inspiradores para poder sonhar sem limites, arriscando-se sem medo

em águas totalmente desconhecidas pela maior parte das pessoas. Carregam como seu maior

ativo a intuição, usada para guiar cada passo desse caminho.

Mas poucos empreendedores conseguem viver plenamente as possibilidades de

liberdade que um negócio próprio pode proporcionar, especialmente no Brasil. Em sua

maioria, acabam escravizados pelo trabalho de tal forma que vivem apenas para suas

empresas. Seus empreendimentos tornam-se uma extensão de seus corpos, carregando o DNA

de seus fundadores a todos os níveis da organização. Pessoas física e jurídica fundem-se,

formando o elo invisível de um organismo completamente simbiótico.

Há mais de três anos pesquiso sistematicamente os empreendedores brasileiros.

Alguns parecem iluminados. São pessoas com brilho e talento que fazem seus negócios se

desenvolverem de forma excepcional. Empreendedores que criaram empresas que, até bem

poucos anos atrás, eram pequenas como milhares de outras que nasceram na mesma época.

Mas, com um toque especial, conseguiram transformá-las em grandes grupos econômicos que

faturam bilhões de reais por ano. Ou então, se ainda estão longe dos faturamentos gigantescos,

certamente são líderes nos setores em que atuam. Em sua maioria, mercados criados por eles

mesmos a partir de sua criatividade e visão de futuro.

Visão mais ampla do mundo

Quando selecionamos os dez empreendedores que fariam parte do livro Startup Brasil,

sabíamos que tínhamos montado um grupo com uma característica em comum. Se tivesse que

71 Disponível em: <http://webapp7349.cloud517.configrapp.com/o-dna-dos-grandes-empreendedores-

brasileiros/>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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apontá-la, diria que seria uma visão holística e altruísta do mundo. Entre os empreendedores

desse livro, o que mais personifica esse perfil é o Miguel Krigsner, do Boticário. Ficará para

sempre a lembrança de uma de suas colocações mais curtas e marcantes durante sua entrevista

para o livro: “Pensar apenas no dinheiro é uma das maiores pobrezas que um ser pode ter”.

Afirmações como essa deixam claro que um empreendedor que só consegue olhar para

seu próprio umbigo nunca será um grande empreendedor. Pode até vir a ser o dono de uma

grande empresa e, quem sabe, até construir um patrimônio milionário. Mas nunca será visto

como um líder genuíno, aquele que as pessoas seguem e admiram incondicionalmente.

Grandes empreendedores tem uma visão mais ampla. Sabem que medir o sucesso da

empresa apenas pelos dividendos pagos aos acionistas e o retorno sobre o patrimônio líquido

é, no mínimo, uma das maiores miopias do capitalismo. Vão à contramão de milhões de

pessoas seguidoras de práticas de gestão que visam apenas à remuneração do capital, e assim

constroem uma empresa que é muito mais do que apenas um índice de retorno sobre

investimento.

Profundamente treinados para empreender

Uma das principais teses apresentadas por Malcom Gladwell em seu livro Outliers (no

Brasil traduzido para “Fora de Série”) é que pessoas consideradas como fora de série fazem

10.000 horas de treinamento antes de serem consagradas como geniais. Foi assim com Bill

Gates, que não virou o empresário mais rico do mundo por acaso. Antes de fundar a Microsoft

com Paul Allen, em 1975, ele já tinha muito mais do que 10.000 horas de treinamento naquilo

que viria a ser sua profissão, o desenvolvimento de programas para computadores.

Gates também teve a sorte de estudar na escola Lakeside, em Seattle, onde foi

montado um dos primeiros clubes de informática da época. Com três mil dólares arrecadados

pelo Clube das Mães, a escola ganhou um terminal de computador que mudaria a vida do

garoto. Digo que ele teve sorte porque essa máquina era nada menos do que um ASR-33

Teletype, um terminal de tempo compartilhado ligado diretamente a um mainframe no centro

da cidade. O equipamento era muito mais avançado do que aqueles operados por cartões

perfurados que eram usados na época. Com isso, Gates começou a programar em tempo real

na oitava série, em 1968, enquanto muitos estudantes universitários ainda não tinham acesso a

essa tecnologia.

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A bonança computacional foi passageira. Logo, acabou o dinheiro usado para pagar o

aluguel das horas de mainframe. A saída encontrada por Gates e seus amigos foi gerar os

recursos em troca de testes em programas da empresa C-Cubed. Mas isso também durou

pouco. O negócio acabou indo à falência e lá se foi mais uma chance de mergulhar na

informática. Diante dessa dificuldade, os estudantes recorreram ao centro de computação da

Universidade de Washington, onde acabaram conhecendo a empresa Information Sciences

Inc., que abriu suas portas aos jovens nerds em troca do desenvolvimento de um software de

folha de pagamento. Em apenas sete meses de trabalho para esse projeto, Bill Gates acumulou

1.575 horas de trabalho, uma média de oito horas por dia, sete dias por semana.

Após o trabalho na ISI, Gates foi convidado por um de seus sócios a se mudar por um

período de três meses para Bonneville, cidade ao sul do estado de Washington, para

desenvolver os programas para a enorme usina de energia da cidade. Durante uma primavera

inteira ele desenvolveu os sistemas sob a supervisão desse sócio da ISI, John Norton, uma das

pessoas de que, segundo ele, mais aprendeu sobre programação. Como você pode perceber,

este seria apenas o início de uma longa jornada que levaria Bill Gates a cumprir suas mais de

10 mil horas de treinamentos, antes de acumular conhecimentos para revolucionar a

informática.

Também foi assim com os Beatles, um dos maiores grupos de rock de todos os

tempos, que mudaram a música popular americana a partir de 1964, quando desembarcaram

nos Estados Unidos pela primeira vez. O que poucas pessoas sabem é que essa invasão

britânica só foi possível depois de uma incontável quantidade de horas de ensaios e shows.

Lennon e McCartney começaram a tocar juntos em 1957, mas seriam necessários mais

três anos até que o quarteto (além deles havia Ringo Star e George Harrison) encontrasse seu

caminho para o sucesso em um bar de Hamburgo, na Alemanha. Segundo Philip Norton,

autor de Shout!, a biografia dos Beatles, o dono de uma boate de strip-tease na cidade alemã

teve a ideia de levar bandas de rock para tocar em diversas casas de show de uma forma muito

peculiar. As apresentações seriam ininterruptas, praticamente 24 horas por dia, para atrair

quem estivesse passando na frente das boates, a qualquer hora do dia ou da noite.

Os Beatles tocaram em Hamburgo durante cinco temporadas, entre 1960 e 1962. Na

primeira, eles tocaram um total de 106 vezes, sendo que cada apresentação durava no mínimo

cinco horas. Quando o quarteto começou a fazer sucesso, Lennon e seus amigos acumulavam

1.200 shows, volume que muitas bandas não chegam a alcançar durante sua carreira inteira.

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Se fizermos uma analogia entre os grandes empreendedores que estão no Startup

Brasil e as histórias do livro Outliers, veremos que todos tiveram uma grande exposição ao

mundo profissional desde muito cedo. Ou seja, antes que se dessem conta, a quilometragem

de sua experiência estava rodando desde muito cedo, em alguns casos ainda na infância. Vejo

esses estímulos mentais que são desenvolvidos na infância e juventude como algo que pode

ser comparado ao aprendizado de um novo idioma. Da mesma forma que é muito mais fácil

aprender uma nova língua nos primeiros anos de vida do que na vida adulta, o contato com os

negócios ainda cedo certamente foi vital no aprendizado dos nossos personagens.

Um novo jeito de fazer negócios

Outra característica marcante desses grandes empreendedores de sucesso é a dedicação

total aos seus negócios. No dia a dia das empresas, isso significa que muitas vezes eles

colocam em segundo plano outros componentes importantes de suas vidas, como família,

amigos, lazer e até a própria saúde. É comum isso acontecer pelo menos até que eles

alcancem o topo de suas ambições, quando finalmente começam a dedicar mais tempo a si

mesmos. Muitos têm dificuldade em manter uma vida equilibrada e acabam se distanciando

de questões pessoais.

No entanto, vários dos empreendedores que contam suas histórias no Startup Brasil

têm um perfil mais humanista, conseguindo lidar com um intenso volume de trabalho sem

deixar de se dedicar também a família, lazer e saúde. Isso é mais presente em parte deles,

porém todos parecem conseguir (ou ao menos buscar) certo equilíbrio em suas vidas. Talvez

exatamente por esse motivo tenham conseguido levar suas empresas a um estágio tão bem

sucedido.

Marcus Hadade, da Arizona, por exemplo, tem a busca por uma vida equilibrada como

uma de suas prioridades. Embora trabalhe quase doze horas por dia, ao deixar o escritório ele

faz questão de se entregar verdadeiramente à vida pessoal. “Se tenho meia hora com minha

esposa, esqueço o telefone e o e-mail. Fico com ela de verdade. Três vezes por semana,

reservo um horário para me exercitar. Nesses momentos, da mesma forma, fico absolutamente

focado na minha prática. Enxergo claramente a importância de ter disciplina, dividir bem o

tempo e estabelecer prioridades. E felizmente tenho conseguido praticar isso na minha vida”.

Para Vasco Carvalho Oliveira Neto, da AGV Logística, esse equilíbrio é mais

desafiante. Sua jornada diária de trabalho costuma tomar quase todo seu tempo e, para

compensar, ele procura preservar os finais de semana para o convívio com a família. Além

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disso, já faz alguns anos que não abre mão dos trinta dias de férias anuais, tempo em que fica

com a família e se desliga totalmente da empresa, sem fazer contatos por telefone nem por e-

mail.

O fato é que esses empreendedores já descobriram que sucesso sem equilíbrio é algo

momentâneo, sem bases sólidas para se perpetuar. Se o ritmo da empresa for alucinado, com

horas intermináveis de trabalho, a equipe não aguenta a pressão e vai embora. Com a troca

constante de profissionais, a única cultura que se perpetua é a do estresse.

Identificamos na maioria dos presentes no Startup Brasil uma visão mais ampla das

relações com familiares, amigos, clientes, fornecedores e colaboradores. São empreendedores

que mantêm um canal aberto para certa sensibilidade e que buscam uma vida equilibrada com

bom relacionamento com as pessoas que os cercam. São pessoas que claramente têm um

sucesso pautado em bases sólidas e, portanto, “sustentável”.

Empreendedores de alma ou excelentes planejadores

Outra característica notória entre esses grandes empreendedores, com exceção de

Vasco Oliveira, da AGV Logística, é a ausência de planejamento no início dos negócios.

Muitos começaram sem planos de negócio detalhados, análises de mercado ou planilhas de

fluxo de caixa. Foram empreendedores que começaram com a alma e a mais pura intuição,

inserindo só mais tarde o planejamento em suas rotinas.

Elói D’Ávila de Oliveira, da Flytour, é um exemplo disso. No início, a experiência de

vida foi seu maior ativo. Para dar o pontapé inicial, contou com seus desejos e intuições, além

de uma rede razoável de contatos. Assim como em outras histórias contadas aqui, a partir de

determinado estágio de amadurecimento do negócio, Elói passou a incorporar o planejamento

como importante ferramenta para o crescimento de suas operações. Esta decisão surgiu

depois, e não antes, que ele fizesse as bases de sua bem-sucedida operadora de turismo.

Esse perfil confirma uma das bases de um recente estudo publicado por Saras D.

Sarasvathy, uma proeminente pesquisadora do comportamento empreendedor e professora da

Darden Graduate School of Business, da Universidade de Virginia. Seu livro “Effectuation,

Elements of Entrepreneurial Expertise” apresenta uma tese controversa, segundo a qual a

maioria dos empreendedores norte-americanos parte para a execução sem um planejamento

prévio. Isso ocorre pelo simples fato de suas ideias embrionárias terem variáveis demais para

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serem pensadas dentro de um plano de negócio. Por isso, eles preferem construir seu futuro a

pensar nas chances de cada uma das variáveis dar certo ou errado.

Esse grupo de empreendedores é classificado por ela com sendo do tipo

“effectuation”. Seus negócios não são fruto da causa, mas sim dos efeitos de suas ações.

Pessoas com esse perfil são responsáveis pela criação da maior parte dos negócios no mundo.

Do outro lado, estão os empreendedores classificados como “causation”, aqueles que buscam

primeiro entender a causa por trás de seus negócios por meio de planejamentos mais

profundos na tentativa de controlar todas as variáveis necessárias para a empresa dar certo.

Embora minoria, sua atuação pode influenciar os empreendedores tipo “effectuation” a darem

o salto seguinte em seus negócios já iniciados, rumo a um bom planejamento e plano de

negócios.

Diante disso, arriscamos afirmar que sair da inércia e fazer acontecer é muito mais

importante no início de um negócio do que fazer business plan e pesquisas que demandam

muito tempo e dinheiro. Isso não significa uma postura contrária ao planejamento, de forma

nenhuma. Embora muitas empresas do Startup Brasil tenham tido grandes conquistas sem o

auxílio de qualquer plano de negócios, elas passaram a adotar sofisticadas ferramentas de

planejamento à medida em que os negócios cresceram e se solidificaram. Depois que a

empresa subiu os primeiros degraus, em todos os casos ficou clara a importância do

investimento em planejamento, para conseguir um crescimento sustentável e consistente.

Artigo 2 - Como fidelizar clientes?72

Segundo o consultor de marketing do Sebrae-SP, Wlamir Bello, é dez vezes mais

barato atrair e manter um cliente do que conseguir novos. “Antigamente se divulgava para

conquistar mais clientes. Hoje se pensa em quanto tenho de participação no gasto de cada

cliente”, diz.

O professor do MBA de Marketing de Serviços da ESPM, Carlos Fernando Nogueira,

defende a fidelização como uma forma de identificar oportunidades de faturamento não

evidentes em um primeiro momento. “Uma empresa que conhece um cliente a ponto de

conhecer, por exemplo, sua família, consegue ter componentes que envolvem escolhas mais

complexas e, consequentemente, pode manter uma relação mais rentável", ressalta o

72 Disponível em: <http://webapp7349.cloud517.configrapp.com/como-fidelizar-clientes-2/>. Acesso em: 5 jun.

2016.

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professor. Para Nogueira, fidelizar tem que ser visto como um meio de a empresa ser saudável

sob a ótica da geração de negócios. No entanto, ter clientes fiéis não significa apenas oferecer

produtos e serviços de qualidade. “Essa ideia está obsoleta. Uma empresa que acha isso está

olhando para o próprio umbigo, como se apenas ela existisse no mundo”, destaca o professor.

O quesito, de acordo com ele, é básico e passou a ser apenas o que garante a entrada no

mercado, mas não vai garantir a escolha do cliente. Os especialistas resumiram cinco pontos

fundamentais para fidelizar quem já compra no seu negócio.

1. Conheça os clientes – e suas diferenças

Conhecer o cliente é fundamental e pode ser feito através de um banco de dados que

contenha além do nome, endereço, e telefone, um histórico de compras, com o perfil do

cliente. Essa é a dica do consultor Wlamir Bello que destaca dados do Sebrae: apenas 47%

das micro e pequenas empresas cadastram seus clientes e somente 16% delas atualizam esse

sistema.

O consultor do Sebrae ressalta que 20% dos clientes correspondem a 80% do

faturamento de uma empresa. “Se tenho um banco de dados atualizado e identifico quem são

esses 20% que não posso perder, tenho como traçar uma estratégia mais bem definida”, ensina

Bello.

2. Demonstre importância

Outro fator essencial é fazer com que os clientes percebam a qualidade oferecida.

“Tem que ter qualidade em algo que o cliente perceba e valorize. Existem setores em que o

nível de expectativa é muito elevado”, afirma Nogueira.

Uma boa estratégia para o cliente notar o que se oferece é apostar em benefícios como

ofertas, descontos ou até um brinde. “É fundamental ter um programa de fidelização com um

sistema que mostre ao cliente que ele é importante e o estimule a comprar mais com a

empresa. Pode ser uma pizza grátis a cada dez compradas, por exemplo”, sugere Wlamir

Bello.

3. Conheça seus defeitos

É importante identificar e analisar os fatores que geram insatisfação e reclamação.

“Algumas vezes, o empresário pode resolver antes que o cliente vá embora”.

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251

Depois de identificá-los, deve-se traçar estratégias para resolver os problemas.

Nogueira citou o exemplo de um site de compras. Podem ser oferecidos canais de dúvidas,

chats online, sempre pensando em manter o mínimo de qualidade.

4. Acompanhe as críticas

Acompanhar o que dizem sobre o seu negócio é importante. Só assim, o empreendedor

é capaz de corrigir problemas a tempo de preservar a imagem da empresa. “Tem sempre que

olhar para como isso evolui, não achar que tratou de um problema e esquecer outras coisas

que podem estar acontecendo”, afirma Carlos Fernando Nogueira.

Para ele, é necessário estar atento ao dinamismo dos negócios e às outras empresas,

sempre com um pensamento aberto e pronto a se adequar a novas exigências. “Às vezes, o

problema está na empresa, no tratamento, na dinâmica. Outras, o concorrente é o empecilho

ao negócio”.

5. Treine Profissionais

Os planos da empresa não são capazes de prever e atender todas as situações possíveis

e, por isso, Nogueira destaca a importância de ter funcionários preparados para lidar com as

adversidades.

“Quando as coisas acontecem, o empresário tem que contar com pessoas que

entendam o espírito com que a empresa quer tratar cada situação”, diz o professor da ESPM.

Artigo 3 - Como Anda a Saúde Financeira da Sua Empresa?73

Por Jaqueline Guerra

Diariamente as empresas enfrentam dificuldades na gestão financeira, responsável por

mantê-las em pleno funcionamento, ela é parte crucial para as tomadas de decisões. Neste

artigo faremos uma reflexão sobre a importância de acompanhar de perto e todos os dias a

saúde financeira da sua organização. Uma empresa doente financeiramente pode sofrer

consequências graves, diminuindo sua capacidade competitiva diante do mercado, perdendo

seu capital intelectual para os concorrentes, perdendo sua credibilidade diante de seus clientes

e podendo chegar à “morte”, ou seja, ao fechamento da empresa.

73 Disponível em: <http://webapp7349.cloud517.configrapp.com/como-anda-a-saude-financeira-da-sua-

empresa/>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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252

O que ocorre na maioria das empresas é uma ausência muito grande de informações e

na maioria dos casos não existe o mínimo de controle de suas finanças. Desta forma fica

difícil tomar qualquer decisão em relação a investir ou buscar alternativas para ampliar o

negócio.

Diante destes cenários, queremos chamar a atenção para alguns aspectos importantes

que devem ser acompanhados de forma permanente pelos administradores/gestores das

empresas, para que possam manter suas atividades de forma saudável e sustentável

economicamente. Diagnosticando e controlando sua saúde financeira tempestivamente, a

empresa poderá se posicionar melhor no mercado altamente competitivo, onde os melhores

produtos, serviços, qualidade, atendimento, gestão e preço fazem toda a diferença.

Listamos a seguir alguns aspectos que precisam de atenção especial:

Fluxo de Caixa

O que ocorre na maioria dos casos é um descontrole do fluxo de entrada e saída de

dinheiro da empresa.

O fluxo de caixa tem que ser acompanhado diariamente, para que assim a empresa

consiga estimar seu ponto de equilíbrio, e trabalhar para gerar um fluxo líquido positivo.

Despesas Variáveis e Fixas

Estar atento às despesas variáveis e fixas da empresa, acompanhar todos os

lançamentos. Desta forma será possível controlar os pagamentos e analisar se as receitas

(faturamento) que estão entrando no caixa da empresa serão suficientes para cobrir as

despesas e obter lucro no final de cada mês.

As despesas dos sócios não devem ser misturadas/lançadas com as despesas da

empresa. Mesmo que a empresa pague as contas pessoais dos mesmos. Os sócios devem

estipular um pró-labore mensal que deve ser depositado em contas devidamente separadas.

Capital de Giro

É a quantia de dinheiro que a empresa precisa reservar para dar continuidade a suas

operações ao longo do tempo, seja para aquisição de bens, estoque ou para as despesas

operacionais. Se a empresa por algum motivo não vender ou receber durante um determinado

período, é o capital de giro que irá financiar suas despesas fixas, variáveis, folha de

pagamento, entre outras, evitando assim a paralização de suas atividades.

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253

Portanto, administrar o capital de giro da empresa significa avaliar o momento atual,

ou seja, as faltas e as sobras de recursos financeiros e os reflexos gerados por decisões

tomadas em relação a compras, vendas e o fluxo de caixa.

Inadimplência

É preciso muita atenção nesta situação dentro da empresa, pois a inadimplência tem

que ser devidamente acompanhada pelo financeiro. Deve ser analisada a liberação de crédito,

quantidade de dias de vencimento de cada título, prazo médio de cobrança do seu cliente em

relação ao prazo médio de pagamento aos seus fornecedores. Será preciso estipular um prazo

de recebimento para seu cliente, caso contrário à empresa pagará seus fornecedores com

atraso gerando multas e juros. Quando se tem uma inadimplência alta você está financiando o

seu cliente e assumindo os custos.

Antes mesmo de tomar uma atitude de colocar o nome do seu cliente no serviço de

proteção ao crédito, entre em contato, negocie e mostre a ao mesmo que tem respeito por ele e

que quer negociar para que ambos não saiam perdendo.

Custo da Mercadoria Vendida

Importante avaliar como estão sendo feitas as compras e o custo da mercadoria

vendida, ou seja, avaliar se as margens estão de acordo com os padrões estabelecidos pela

empresa. Acompanhar as negociações com os fornecedores, os preços praticados e os prazos

antes mesmo de efetuar uma nova compra. Negociar descontos e prazos é fundamental e ajuda

na gestão financeira da empresa. Uma boa compra é uma excelente venda.

Juros

Todo cuidado é pouco para não entrar em uma captação onerosa de recursos

financeiros, pois geralmente os juros são altos e muitas empresas, por não terem capital de

giro, acabam por optar por um financiamento bancário de capital de giro. Porém, antes mesmo

que isso aconteça, verifique se não poderá buscar este recurso com um sócio ou parente

próximo, com uma taxa de juros menor que as instituições bancárias. É preciso ter cuidado

também para não entrar nos juros do cheque especial ou cartão de crédito, já que estes dois

são ainda mais custosos que os empréstimos bancários voltados para a cobertura do capital de

giro.

Queremos alertar com estas informações que cada empresa deve parar e observar

ainda este ano como anda a sua saúde financeira. Faça o mais breve possível o check-up e

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tenha informações suficientes para entrar o ano de 2016 com o diagnóstico da sua empresa em

dia.

Assim, o empresário estará mais preparado para enfrentar algumas “viroses” que estão

previstas para acontecer no país ao longo do próximo ano.

ANEXO B

Artigos extraídos do site do Sebrae

Artigo 1 - Como escolher um bom ponto para comércio ou indústria74

O estudo de localização é diferente quando se trata de comércio e serviço ou de

indústria.

O negócio de comércio ou serviço deve ser estabelecido em lugar com facilidade de

acesso, circulação e estacionamento. Uma indústria deve ser localizada próxima ao fornecedor

e ao mercado principal. Conheça as diferenças para localização de comércio e de indústria.

A escolha do local e o espaço físico onde se pretende instalar o negócio é uma decisão

muito importante para o sucesso do empreendimento.

O estudo de localização é diferente quando se trata de comércio e serviço ou de

indústria.

Comércio e serviço

Para a escolha do local, os seguintes aspectos devem ser considerados:

• se o atendimento ao cliente ocorre no próprio estabelecimento;

• se o cliente é atendido fora do estabelecimento, seja em sua residência, escritório ou

outro local;

• se o empreendimento precisa ficar em local aberto para acesso direto do público;

74 Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/como-escolher-um-bom-ponto-para-

comercio-ou-industria,e1d89e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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255

• quais os recursos financeiros disponíveis para investimento inicial;

• qual o tipo de serviço a ser prestado ou a linha de produto a ser comercializada;

• qual o processo operacional do negócio, principalmente relacionado à armazenagem,

ao transporte, à manipulação de produtos, etc.;

• concorrência;

• potencial do mercado;

• hábitos e costumes do cliente;

• infraestrutura local (oferta de serviços públicos de transporte, segurança, limpeza,

entre outros);

• disponibilidade de mão de obra na região;

• facilidade de acesso, circulação e estacionamento;

• fluxo de tráfego e sentido direcional da via.

Indústria

O empreendedor que pretende iniciar um negócio industrial deve levar em conta os

seguintes aspectos:

• proximidade ou acesso fácil ao fornecedor da matéria-prima principal;

• proximidade do mercado principal (menor custo de transporte);

• disponibilidade de mão de obra (quanto mais especializada a indústria, maior a

exigência de pessoal qualificado ou especializado);

• infraestrutura local (oferta de serviços públicos de energia elétrica, transporte,

segurança e limpeza, entre outros);

• verificar se a região oferece incentivos econômicos e fiscais;

• condições ambientais da região (clima, temperatura, períodos e intensidade das chuvas

e umidade, entre outros) compatíveis com o que se pretende produzir;

• legislação urbana sobre uso do solo (permissão para indústria).

Aspectos comuns a serem observados

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256

Mesmo com esses cuidados específicos, existem alguns pontos a serem observados

para ambos os casos. São eles:

• se o local é legalmente compatível, conforme legislação de zoneamento urbano do

município ou do estado;

• a análise da documentação do imóvel, em caso de aluguel;

• a preparação da documentação do imóvel (IPTU, registro de propriedade ou contrato

de locação);

• a solicitação ou verificação das licenças de funcionamento (Licença Prévia de

Funcionamento e Vigilância Sanitária, Licença Ambiental, Vistoria do Corpo de Bombeiros e

outras necessárias).

Onde consultar

• Prefeitura local

• Licença Prévia de Funcionamento e Vigilância Sanitária e IPTU do Imóvel

• Cartório de Registro de Imóveis

• Órgão ambiental local

• Licença ambiental

• Corpo de Bombeiros

• Vistoria e observância às normas de segurança (obrigatórias para todas as empresas)

• Secretaria de Saúde

• Licença sanitária para empresas específicas

• Secretaria da Agricultura

• Licença sanitária para empresas específicas

• Sebrae - para informações complementares.

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Artigo 2 - Boas práticas para a sua empresa produzir mais e melhor75

Como o planejamento produtivo pode favorecer a competitividade no mercado para os

pequenos negócios.

A globalização exige competitividade para as empresas se manterem estáveis no

mercado e com perspectivas de crescimento. Do ponto de vista da manufatura, ser

competitivo significa destacar-se dos concorrentes atendendo às expectativas dos clientes, tais

como:

• Confiabilidade: atender pedidos no prazo;

• Velocidade: efetuar entregas com mais agilidade que os concorrentes;

• Qualidade: garantir um percentual insignificante de produtos defeituosos;

• Preço baixo: fazer barato, reduzindo custos;

• Flexibilidade: saber mudar o que está sendo feito.

O cumprimento desses itens pode ser facilitado quando a empresa tem uma gestão de

produção eficiente.

O que é gestão de produção?

É a administração adequada dos recursos destinados à produção de bens ou serviços de

uma empresa. Envolve planejamento, direção, organização e controle, sempre visando à

integração dessas áreas para que a empresa alcance melhores resultados.

Como se dá a produção nos pequenos negócios?

Nestes casos, as atividades de gestão da produção são executadas pelo gerente de

produção. Contudo, elas estão presentes em todas as etapas dos sistemas produtivos,

envolvendo, portanto, todos os profissionais, independentemente da estrutura e segmento da

empresa.

Quais as funções de um gestor?

São atribuições das pessoas que realizam a gestão de um sistema produtivo:

• Planejar materiais;

75 Disponível em: <http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/boas-praticas-para-a-sua-empresa-

produzir-mais-e-melhor,b1b1438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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258

• Programar ordens de produção;

• Controlar estoques;

• Gerenciar a qualidade de produtos e processos;

• Realizar a manutenção de equipamentos e instalações;

• Liderar, treinar e motivar pessoal de produção;

• Gerenciar custos;

• Gerenciar relações com o meio ambiente, saúde e segurança;

• Eliminar desperdícios e promover a melhoria contínua.

Quais as maiores dificuldades da gestão da produção?

• Não mensurar a produtividade das pessoas, matérias-primas, máquinas, energia e

demais recursos, o que pode gerar perdas e aumentar custos;

• Layout inadequado, pois a empresa pode perder tempo transportando materiais e

movimentando operadores;

• Inexistência de gestão da qualidade, dos erros e defeitos, o que implica a não

efetivação de melhorias nos processos e produtos, e pode resultar, inclusive, na extinção da

empresa;

• Falta de planejamento e controle de estoques. Estoque significa “capital parado” ou,

em alguns casos, um recurso estratégico, portanto devem ser planejados e controlados

sistematicamente.

Em resumo

A gestão da produção é uma importante ferramenta para garantir o controle das

rotinas, eliminar as perdas de produção, manter os estoques em níveis adequados e atender

clientes no prazo com menor custo e qualidade, ou seja, assegura a competitividade da

empresa.

Por meio da gestão ou controle dos processos, é possível produzir produtos de

qualidade, com baixo custo e no tempo requerido pelo cliente. Geralmente, nos pequenos

negócios este trabalho é concentrado numa única pessoa. Isso torna menos caracterizadas

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259

algumas funções, atividades, controles e objetivos. Não quer dizer, no entanto, que não exista

gerente de produção ou que essa seja uma função menos importante.

Artigo 3 - Tudo o que você precisa para se tornar MEI76

Veja como tornar-se um MEI, dono de um negócio legalizado, com CNPJ, previdência

e assessoria do Sebrae.

Entenda

O trabalhador conhecido como informal pode se tornar um Microempreendedor

Individual legalizado e passar a ter CNPJ, o que facilitará a abertura de conta bancária, o

pedido de empréstimos e a emissão de notas fiscais.

Para ser um microempreendedor individual, é necessário faturar hoje até R$ 60.000,00

por ano ou R$ 5.000,00 por mês, não ter participação em outra empresa como sócio ou titular

e ter no máximo um empregado contratado que receba o salário-mínimo ou o piso da

categoria.

O MEI será enquadrado no Simples Nacional e ficará isento dos tributos federais

(Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL).

Deveres

Ele terá como despesas apenas o pagamento mensal, que corresponde a R$ 45

(Comércio ou Indústria), R$ 49 (Prestação de Serviços) ou R$ 50 (Comércio e Serviços).

O cálculo corresponde a 5% do salário mínimo, a título da Contribuição para a

Seguridade Social, mais R$ 1 de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)

e/ou R$ 5 de Imposto sobre Serviços (ISS).

O pagamento deve ser feito por meio do Documento de Arrecadação do Simples

Nacional (DAS), uma guia de recolhimento emitida através do Portal do Empreendedor.

Direitos

O MEI tem direito aos benefícios previdenciários, como auxílio-maternidade, auxílio-

doença, aposentadoria, entre outros.

76 Disponível em http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/o-que-e-ser-

mei,e0ba13074c0a3410VgnVCM1000003b74010aRCRD, acessado em 5/06/16.

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260

• Registre-se agora mesmo no Portal do Empreendedor.

• Saiba quais são as atividades permitidas para o trabalhador se inscrever como MEI

Saiba mais

• Conheça a Resolução nº 36/2016 do Comitê para Gestão da Rede Nacional para

Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (CGSIM) e fique atento

para não ter o seu CNPJ cancelado.

• Aproveite as ferramentas e cursos do Sebrae que ajudam o Microempreendedor

Individual a ser lucrativo e ter sucesso como empresário.

• Assista ao vídeo com o exemplo de Valdir Novaki, pipoqueiro em Curitiba, que se

tornou MEI e se beneficiou com as vantagens da categoria.

• Veja também o vídeo com a participação do presidente do Sebrae Guilherme Afif

Domingos no Programa Melhor pra Você, da Rede TV!, no qual ele fala sobre vários temas

importantes para quem pretende empreender ou já tem um negócio. Entre eles, como se

formalizar como MEI, a importância de se fazer um plano de negócio, as oportunidades de se

empreender com a crise e a importância das pequenas empresas na nossa economia.

ANEXO C

Artigos extraídos do site da revista PEGN

Artigo 1 - O empreendedor e seu potencial de transformação77

Por Anna Aranha

O dono de uma empresa pode resolver problemas sociais e ajudar o mundo

Todo empreendedor tem um grande sonho.

Seu sonho é o que faz sair da cama todos os dias e superar as diversas barreiras que se

apresentam ao longo do caminho.

77 Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Colunistas/Anna-de-Souza-Aranha/noticia/2015/06/o-

empreendedor-e-seu-potencial-de-transformacao.html>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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Todo empreendedor também resolve um problema de alguém. Se há demanda para o

seu produto ou serviço, alguma necessidade está sendo suprida.

O empreendedor também gera empregos e paga tributos.

Poderíamos então dizer que todo empreendedor gera impacto positivo para o país ao

criar um negócio de sucesso.

Concordo com esse pensamento – mas proponho continuarmos.

Antônio tem uma fábrica de tecidos. Ele gera mais de cem empregos e, com isso,

renda para as famílias que vivem no entorno. No entanto, o riacho que passa ao lado da sua

fábrica está contaminado pelo despejo indevido que ele faz dos resíduos da produção.

Marina tem uma loja de acessórios. Todo fim de ano, ela faz doação para uma creche

que fica perto da sua casa. No entanto, o salário que paga aos seus colaboradores é tão abaixo

do mercado, que eles têm passado dificuldade para suprir as necessidades básicas de seus

filhos em casa.

Mateus resolveu criar um aplicativo. Tentou criar uma solução que facilitava o

aprendizado de matemática para crianças sem acesso a uma boa escola. Acabou mudando de

ideia e fez um jogo de luta.

Com esses exemplos, fico a refletir: “todo empreendimento naturalmente gera um

impacto positivo, mas será que podemos ir além?”.

Eu acredito que sim.

Analisar “para quê” nosso negócio existe e “como” ele está sendo gerido são bons

começos.

Um negócio pode existir para trazer retorno financeiro para seu dono. Mas ele também

pode existir para resolver um problema social ou ambiental. Ser lucrativo, ser sustentável, e

ainda contribuir para reduzir disparidades sociais – que são tão gigantes na sociedade atual.

Um negócio deve se preocupar com seu cliente. Mas ele pode também ser consciente

da forma como trata seus colaboradores. Olhar para o engajamento do time, espaço para

autonomia, políticas salariais, tratamento entre gêneros, condições dignas de espaço, respeito

a acordos firmados, entre outros.

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Um negócio pode olhar para o retorno no curto prazo. Mas ele também pode olhar

para o retorno no longo prazo e, por exemplo, perceber que se está deteriorando seu entorno e

exaurindo recursos naturais, sua atividade poderá também ser extinta futuramente.

Não é preciso criar um braço de instituto para a empresa. Não é preciso criar uma área

de responsabilidade social corporativa. Ao mesmo tempo, requer uma clareza por parte da sua

liderança. Clareza sobre o propósito da organização e seus valores, além de pensamento de

longo prazo, compromisso para colocar os valores em prática no dia a dia e humildade para

reconhecer as ações que, mesmo sem intenção, acabam saindo fora do eixo.

“Legal que isso exista, mas, por que eu deveria fazer parte isso?”. As razões são

diversas.

Uma empresa que tem a intenção de promover uma transformação positiva para o

mundo e que é consciente de suas ações perante seus stakeholders tende a ter um retorno

maior no longo prazo. Além disso, traz um senso de legado e realização para seus

colaboradores que, motivados, poderão engajar mais clientes em torno de crenças em comum

e fidelizá-los. Ainda, uma empresa que permite que seus colaboradores explorem seus

talentos e ajam de forma genuína, tende a ser mais inovadora e a criar diferenciais claros

perante seus concorrentes.

Por fim, basta assistirmos aos noticiários para entender que nossa realidade está

repleta de desafios sociais e ambientais para serem superados, e que eles afetam a todos. Se

cada um pensar “o outro que resolva isso”, tudo continuará como está – e com certeza não é

esse o futuro que sonhamos para nós. Mas, pensando como empreendedores, essas

disparidades sociais são também verdadeiras oportunidades de negócio e revelam demandas a

serem supridas. Áreas como educação, saúde, empregabilidade, gestão de resíduos,

mobilidade oferecem diversas oportunidades para gerar resultado financeiro – e ainda

contribuir para a transformação positiva da sociedade.

Vale destacar a importância de que essa abordagem seja genuína do empreendedor, da

liderança da organização. Os clientes percebem as inconsistências das organizações quando o

discurso e a ação não estão alinhados – o que, no mundo da sustentabilidade, pode ser

identificado como greenwashing. Os colaboradores também percebem isso com facilidade.

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Como em outras relações, tendem a ser recíprocos com a empresa – quando se sentem

menosprezados, tendem a não se importar com ela. Da mesma forma, quando se sentem

cuidados, cuidam dela de volta de forma genuína.

Assim, empreendedor, parabéns por já estar contribuindo para o mundo – e lembre-se

que está nas suas mãos a oportunidade de enxergar seu negócio com outros olhos e o gerir de

forma a ampliar o impacto positivo entre seus stakeholders. Você influenciará não apenas seu

negócio, como poderá inspirar todo o seu time pelo exemplo. Além disso, o Brasil está cheio

de desafios esperando por você que, além de serem oportunidades rentáveis de negócio, são

também grandes oportunidades para transformar o nosso país.

Artigo 2 - A importância do fracasso78

Por Marcos Hashimoto

Por mais que se prepare, o empreendedor vai acabar cometendo erros: esses fracassos são

esperados e representam uma importante fase do seu aprendizado

Publico aqui um resumo do artigo que publiquei no Caderno Empreenda-se, que faz

parte da iniciativa da Globo Universidade e pode ser obtido na íntegra neste link.

Vários estudos já foram publicados sobre os motivos pelos quais as empresas não

conseguem dar continuidade às suas operações e acabam por fechar as portas. Se

perguntarmos a um ex-empreendedor os motivos que o levaram a fechar o seu negócio, as

respostas vão girar em torno da falta de dinheiro, ou capital de giro. Só que falta de dinheiro é,

na verdade, uma consequência de outra dificuldade. Poucos sabem de fato qual é a real causa.

Para tentar descobrir, podemos continuar perguntando. Por que faltou dinheiro? Porque não

conseguiu vender. E por que não conseguiu vender? Os clientes não vieram. Por que os

clientes não vieram? Porque o produto é ruim? Porque o atendimento é fraco? Porque o

produto não chegou no prazo? E assim por diante: quanto mais perguntarmos, maior a chance

de descobrir a real causa do problema do negócio.

Existem os fatores externos, como a entrada de um concorrente maior, ou

macroeconômicos, como mudanças nas taxas de juros, variações cambiais, mudanças na

legislação, alterações no comportamento do consumidor, desastres naturais - como uma

78 Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Colunistas/Marcos-Hashimoto/noticia/2015/12/importancia-do-

fracasso.html>. Acesso em: 5 jun. 2016.

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inundação ou um incêndio. Existem também os fatores internos. Se os clientes desaparecem,

pode ser por causa de mal atendimento, produtos de má qualidade, localização ruim,

marketing ineficiente, distribuição falha, inexistência de pós-venda.

Dá para culpar funcionários, sócios, parceiros e fatores externos pelas causas do

fracasso, mas poucos são os que admitem o motivo que verdadeiramente está por trás de

quase todos os fracassos: a falta de competência do empreendedor para superar estas e outras

dificuldades que surgem ao longo da vida do negócio, como já escrevi aqui na minha coluna.

Empreendedores que dão a volta por cima e conseguem superar estas questões, em vez de

choramingar o prejuízo, crescem com o processo de recuperação, ficam mais calejados e

adquirem mais estrutura emocional. Muito da persistência e determinação típicas do

empreendedor são decorrentes das crises e das circunstâncias adversas que são obrigados a

enfrentar. Ou seja, fracassos decorrentes de circunstâncias independentes da competência do

empreendedor também podem - e devem - ser vistos de forma positiva, pois colaboram para a

formação do empreendedor e do seu negócio.

Como diz a letra de “O Homem que Não Tinha Nada”, de Projota, ninguém nasce

sabendo. Por mais que se prepare, estude, planeje, o empreendedor vai acabar cometendo

erros. Eu arriscaria dizer que esses erros são até esperados e representam uma importante fase

do aprendizado. Eu costumo agrupar esses fracassos em cinco incapacidades do

empreendedor: a incapacidade de perceber, a incapacidade de admitir seus erros, a

incapacidade de ler as pessoas, a incapacidade de aprender e a incapacidade de gerir.

O brasileiro rotula os fracassados de forma muito cruel. Rapidamente um

empreendedor que não deu certo é alvo de comentários e críticas nos seus círculos pessoais.

Admitir que não deu certo torna-se um fardo social, que apenas pessoas bem estruturadas

psicologicamente estão preparadas para carregar. Este traço cultural é comum em culturas

latinas, mas é mais raro entre anglo-saxões. Entre americanos e europeus, é mais fácil e

comum aceitar publicamente o status de empreendedor falido. Na verdade, dentro de alguns

ecossistemas empreendedores fora do Brasil, quebrar é condição obrigatória na carreira de

qualquer empreendedor. As pessoas estranham e não acreditam muito no empreendedor que

deu certo logo no primeiro empreendimento. Estatísticas americanas indicam que o

empreendedor quebra, em média, pelo menos três empresas antes de dar certo. Sabendo disso,

empreendedores nascentes incorporam rapidamente a seguinte regra: já que você vai quebrar,

quebre logo, perca pouco dinheiro, aprenda muito e recomece rápido.

Page 266: Empreendedorismo feminino pela comunicação digital: um estudo sobre as oportunidades de empoderamento da mulher por meio de canais de educação a distância e redes sociais colaborativas

265

Visto assim, o fracasso, se não servir para aprendizado, deve servir para o

autoconhecimento. Aumentar o conhecimento sobre si mesmo, sobre suas idiossincrasias e

peculiaridades de comportamento, ajuda a identificar suas forças e fraquezas. Se o

empreendedor não souber tirar lições do fracasso e dos erros que comete, vai impor restrições

ao crescimento e à sobrevivência do seu negócio, decorrentes de sua incapacidade de evoluir e

se desenvolver no mesmo ritmo que ele exige.

Artigo 3 – A experiência de vida é um diferencial para empreender na crise

Por Simone Jardim

Pessoas mais experientes estão mais preparadas para abrir um negócio de sucesso em

tempos de incerteza

Dediquei todo o período de janeiro até o Carnaval para recarregar as baterias, lendo

muito e viajando para reencontrar amigos que, no Velho Mundo, já passaram por crises tão ou

mais graves que a enfrentada atualmente no Brasil. Todos estão na faixa etária dos 40 anos,

são empreendedores em tempo integral ou conciliam a jornada de empregado com a de

empresário. Os países onde vivem - Espanha, Portugal e Alemanha - experimentaram aquela

avassaladora crise global de 2008 que, aqui no Brasil, dizia-se na época, não passaria de uma

“marolinha”. Lembra disso?

Aproveito essa coluna para compartilhar o que aprendi com meus amigos. Naquela

fatídica crise de 2008, milhares de pessoas perderam seus empregos e, sem qualquer chance

de encontrar uma nova vaga, tiveram que se virar, criando negócios próprios, muitos

precariamente montados nas garagens das próprias casas. Para quem já era empresário, a

situação não foi mais fácil. Muitos viram seu estabelecimento cambalear feio e até

desaparecer do radar.

O fato é que, hoje, meus amigos - e também outras pessoas de meia-idade com quem

tive a oportunidade de conversar - falam daqueles tempos difíceis de uma forma

surpreendentemente positiva. Perguntei a razão, pois acredito que as respostas podem ter um

efeito encorajador para os brasileiros acima dos 40 que, neste exato momento, vislumbram a

alternativa de abrir seu próprio negócio para ter uma fonte de renda.

Em primeiro lugar, todos com 40 anos ou mais destacaram que os tempos de crise

tiveram um efeito diferente sobre eles, comparado ao que aconteceu aos empreendedores mais

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jovens. Afinal, pessoas maduras têm um repertório de vida maior para lidar com desafios.

Normalmente quem está na meia-idade – e além dela - já tem um senso de quem é e do que

realmente importa em sua vida. São donos de uma autoconfiança e de uma sabedoria singular

para lidar com os revezes, seja no aspecto pessoal, familiar ou profissional.

Nessa fase, também dói menos desistir das coisas que se mostram supérfluas, como

objetos materiais ou certas vaidades pessoais, para se concentrar no que é realmente

importante, como o bem-estar da família. É a experiência de vida que permite a essas pessoas

ter esse desapego que ajuda muito a empreender em tempos de crise.

Hoje, meus amigos estão tocando seus próprios negócios e outros já conseguiram

voltar ao mercado de trabalho. Mas nenhum deles tem ilusões. Crises podem chegar a

qualquer momento, mas um dia vão embora.

Em tempos de incerteza, ter um caixa confortável para atravessar as turbulências

econômicas, ou estar à frente de negócios que valorizam o poder de compra do consumidor,

pode dar uma sensação maior de segurança. Mas é a atitude do empreendedor maduro,

amparada em sua disposição de enfrentar desafios e em sua sabedoria de vida, que vão fazer

toda a diferença.

Mais: hoje muitos estudiosos acreditam que empreendedores com mais de 40 anos

tendem a ser mais bem-sucedidos que os mais jovens, pois têm uma ampla experiência como

consumidores e uma sólida competência profissional, que os permite enxergar com clareza até

onde podem se arriscar. Sem contar que muitos têm conhecimentos aprofundados sobre

tendências do mercado e demandas ainda não atendidas, além de uma rede de contatos bem

estabelecida - o que favorece a escolha de um bom sócio, parceiros comerciais e mentores.

Outra dica que anotei: meus amigos e empreendedores “quarentões” não

desperdiçaram seu maior trunfo naqueles tempos de crise: investiram em negócios onde

poderiam aproveitar seu conhecimento e experiência de carreira. Em tempos de crise,

acreditam, seria extremamente desconfortável enveredar por um ramo totalmente

desconhecido.

Também não economizaram criatividade até encontrar formas de oferecer aos seus

clientes uma experiência de consumo que os afastasse da crise. A ideia é que os consumidores

tivessem a percepção de que, em suas gôndolas e prateleiras, seu dinheiro tinha maior poder

de compra. Que esses clientes entendessem que podiam recuperar seus bens de consumo,

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como eletrodomésticos, e até “repaginar” roupas e calçados usados. E também que seus

produtos ou serviços fossem capazes de tirar as pessoas das zonas de pessimismo e de

estresse.

Destacaram ainda que, em tempos de crise, o empreendedor com mais experiência de

vida não se deixa influenciar por falsas expectativas. Trabalha com margens de lucro

espartanas, mas, ao mesmo tempo em que projeta no longo prazo seus melhores resultados,

fica atento às oportunidades para ousar, que podem “turbinar” as metas traçadas.

Sendo assim, nesse atual momento da economia, conte com sua valiosa experiência de

vida para criar ou incrementar sua pequena empresa. Não tenho dúvida que, com essa postura,

os empreendedores com mais de 40 anos, por todo o Brasil, saberão reunir a necessária

determinação para moldar e impulsionar negócios de grande sucesso.