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Embebição de matriz coloidal e matriz fibrosa
Carlos Henrique Britto de Assis Prado1, Marco Aurélio Bortoni2, Clara Di
Martino2
1Professor Associado do Departamento de Botânica da Universidade Federal
de São Carlos, 2Alunos do curso de graduação do Bacharelado em Ciências
Biológicas, Universidade Federal de São Carlos
Materiais utilizados
Vidrarias: Placas de Petri com 14 cm de diâmetro, Becker de 50 mL
Drogas: gelatina em folha colorida, água destilada
Outros materiais: papel milimetrado, cronômetro, tesoura, régua de 30 cm,
pinça, caneta de ponta porosa, lápis, papel sulfite branco (papel A4)
Introdução
A parede celular é um componente típico das células vegetais, é semi-rígida,
fibrosa, e apresenta finos capilares internos1. A parede celular é denominada
corretamente de matriz extracelular, capaz de competir por solutos e água com
o solo, proteger mecanicamente a epiderme dos órgãos e proporcionar rigidez
às células vegetais. Assim, a matriz extracelular oferece simultaneamente
capacidade de competição por recursos no ambiente, proteção e estrutura
mecânica aos vários níveis de organização do vegetal (células, tecidos e
órgãos). Por outro lado, a matriz extracelular protege a célula contra
microorganismo patógenos e contra a abrasão de materiais sólidos na parte
aérea e na porção subterrânea da planta.
No entanto, a matriz extracelular permite a entrada da água e dos
nutrientes minerais dissolvidos até que esses materiais encontrem a 1Diâmetro médio entre 3,5 e 5,2 nm.
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plasmalema (membrana plasmática) antes de alcançar o interior da célula. A
matriz extracelular, mais o lúmen das células mortas e os espaços entre as
células no corpo da planta perfazem o apoplasto, um ambiente contíguo, mas
sem biomembranas.
O simplasto é o volume da célula constituído pelos plasmodesmata, o
citoplasma e todo o seu conteúdo (citosol e organelas citoplasmáticas) menos
o vacúolo. O simplasto está conectado entre células por meio dos
plasmodesmata. O volume simplasmático é bem diferente do volume do
vacúolo e da parede celular. No simplasma há quantidade significativa de
solutos (sais, óxidos e moléculas orgânicas) e de biomembranas que limitam as
organelas como as membranas da mitocôndria, dos cloroplastos, do complexo
de Golgi, a plasmalema e o retículo endoplasmático. O simplasto e o vacúolo
juntos resultam no protoplasto, ou seja, todo o conteúdo interior da célula
vegetal livre da matriz extracelular. Apesar de o vacúolo apresentar uma
biomembrana delimitando seu exterior com o simplasto o vacúolo não é
considerado parte do simplasma.
O vacúolo é a maior organela da célula vegetal, ocupando cerca de 90%
do protoplasto das células homeohídricas (as células vegetais que apresentam
um só vacúolo). O conteúdo do vacúolo é distinto da parede celular e do
simplasto e não está conectado diretamente a nenhum outro vacúolo de outra
célula. No vacúolo é possível serem encontrados pigmentos, ácidos orgânicos,
enzimas digestivas e, principalmente, água. O vacúolo é o principal local de
reserva de água da célula vegetal. Portanto, há três volumes bem distintos na
célula vegetal, o vacúolo com água e uma grande diversidade de solutos, o
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simplasto composto pelo citosol e as organelas e a matriz extracelular
composta principalmente de celulose na forma de fibras (parede celular).
A concentração significativa de proteínas e açúcares livres e aderidos na
interface das biomembranas com o citosol confere ao simplasto um caráter
mais viscoso que o vacúolo. O simplasto se comporta como um gel. O gel é
caracterizado por conter substâncias coloidais2 que se dispersam em um
solvente, resultando em uma massa que pode ter consistência gelatinosa. O
solvente no simplasto é a água e os colóides são principalmente proteínas e
açúcares solúveis de diversos tamanhos. A sacarose, por exemplo, é um
colóide que apresenta o tamanho reduzido de 1,0 nm.
Um sólido ou um semi-sólido capaz de reter quantidade significativa de
água no seu interior devido aos colóides (como a gelatina ou o simplasto) ou
capilares internos (como o solo ou a matriz extracelular) pode ser considerado
uma matriz. A matriz, portanto, se caracteriza por uma grande capacidade de
reter água na superfície de seus componentes coloidais que interagem
prontamente com a água (no caso do amido e gelatina) ou nas superfícies
internas molháveis de seus capilares (no caso da madeira, papel, solo, e tijolo).
Portanto, em uma célula vegetal viva há duas matrizes adjacentes e
competitivas por água e solutos, o simplasto coloidal (citoplasmas e organelas
interligados por plasmodesmata) e a matriz extracelular (a parede celular).
Essas matrizes são separadas por uma biomembrana, a plasmalema,
denominada também de membrana plasmática. A matriz extracelular é de
natureza muito distinta da matriz coloidal (o simplasto). A celulose da parede
celular é um polissacarídeo cujas moléculas são formadas por cadeias lineares
2 Sólidos com tamanho reduzido, entre 1,0 nm e 1,0 µm. Os colóides dificilmente decantam em solução aquosa e podem dar consistência gel à solução.
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de glicose. Cada molécula de celulose é formada por cerca de 10.000 resíduos
de glicose. Os resíduos são ligados mediante uniões β-1,4 glucano, ou seja, o
carbono 1 da molécula de glicose é ligado ao carbono 4 da próxima molécula
de glicose. A ligação β-1,4 posiciona os resíduos de glicose em um mesmo
plano e sem ramificações. As moléculas de celulose formam uma fibra
molecular com cerca de 0,8 nm de largura. Na parede celular essas longas
moléculas de celulose estão arranjadas em paralelo formando um feixe, a
microfibrila. Cada microfibrila é formada por dezenas de longas cadeias de
celulose fortemente estruturadas por pontes de hidrogênio entre grupos
hidroxila. Essas pontes atribuem coesão ao feixe de celulose. A microfibrila é a
unidade básica da construção da parede celular primária e secundária.
Portanto, a matriz extracelular é, essencialmente, formada por fibras (matriz
fibrosa) em contraste com a matriz simplasmática adjacente no interior da
célula, o simplasto (matriz coloidal).
A gelatina comercial em folha é constituída por um conjunto de proteínas
(cerca de 85% da massa seca) e açucares que se comportam como colóides
em solução aquosa, semelhante ao volume simplasmático. Por ser um meio
com composição predominantemente protéica, a gelatina se embebe
rapidamente, pois as proteínas apresentam cargas e pólos que interagem
prontamente com os pólos da água (interação colóide-água). Se estiver na
forma comercial de folha seca a gelatina incha e perde a sua forma inicial à
medida que a embebição avança. Sem ter como limitar a entrada de solutos e
de água na matriz protéica, a gelatina em folha perde paulatinamente a forma
inicial devido ao aumento de volume e conseqüente aumento de sua área após
a embebição. Assim como no simplasto da célula vegetal, a água entra e
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aumenta o volume da lâmina de gelatina. A folha de gelatina cresce conforme a
embebição até certo limite, quando a folha pode quebrar e se dissolver na
própria solução de embebição. A água entra na gelatina molhando primeiro as
bordas de contato. Posteriormente, a água atinge o interior da gelatina com o
avanço da franja de embebição.
Por outro lado, a estrutura do papel sulfite de impressão é constituída de
fibras de celulose obtida do lenho de árvores e se assemelha à estrutura física
da matriz extracelular. Durante a fabricação do papel as fibras são depositadas
em um arranjo semelhante ao da parede celular secundária. O arranjo de
microfibrilas da celulose confere maior rigidez à matriz fibrosa em relação à
matriz gelatinosa. As microfibrilas estão interconectadas por vários materiais na
parede da célula vegetal: pectina, hemicelulose, íons cálcio e lignina. Apesar
da pectina e da lignina serem parcialmente retiradas durante o beneficiamento
da polpa para a fabricação do papel, essas substâncias ainda estão presentes
no papel de impressão. O papel assume um tom amarelado e se quebra mais
facilmente conforme envelhece devido à degradação da pectina e da lignina
residual. Celulose, pectina e lignina são substâncias com muitos pólos
negativos, capazes de interagir eletronicamente com os pólos positivos da
água. Portanto, a água também embebe a matriz fibrosa como a matriz
coloidal, formando uma franja de molhamento em direção ao interior da matriz.
Diferente da matriz coloidal, a matriz de celulose apresenta capilares
formados pelos espaços entre fibras. Quando a água entra na matriz fibrosa
como na parede celular ou no papel essa matriz pode se distender somente até
certo limite, pois as microfibrilas de celulose estão entrelaçadas, sobrepostas e
interconectadas. O grau de adesão entre as microfibrilas pode variar
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dependendo da matriz fibrosa. Por exemplo, na parede celular primária as
microfibrilas estão interconectadas por pectina, extensina (uma das poucas
proteínas da parede celular) e dois tipos de glicanos: o xiloglucano e o
glucuronoarabinoxilano. No papel tipo sulfite a adesão das fibras de celulose é
limitada pelo grau de entrelaçamento das fibras, pelo conteúdo de pectina e
lignina e pelas pontes de hidrogênio eventuais entra microfibrilas. Dessa forma,
é possível ocorrer apenas um limitado deslizamento entre as fibras durante a
embebição da matriz fibrosa do papel.
Assim, a manutenção da integridade física do volume do simplasto
durante a entrada de água na célula é realizada por meio da matriz extracelular
e não da matriz coloidal do simplasma e nem da membrana plasmática que
envolve o volume simplasmático. A água entra no simplasto atravessando a
membrana plasmática (plasmalema) por meio do canal protéico denominado de
aquaporina. A água que entra no simplasto necessariamente aumenta esse
volume de forma correspondente, pois não é possível comprimir água líquida.
O simplasto com maior volume pressiona a parede celular (a matriz
extracelular) de dentro para fora. A matriz extracelular é deformada até certo
ponto, deslizando as microfibrilas em um processo limitado.
Se as matrizes coloidal e fibrosa estiverem totalmente separadas (o que
não é o caso de uma célula vegetal viva) a água poderá entrar continuamente
na matriz coloidal dissolvendo essa matriz, podendo o gel até perder a
integridade física após um estágio avançado de embebição. A matriz fibrosa
separada da coloidal irá embeber e se deformar até seus capilares internos
estarem totalmente preenchidos com água e as microfibrilas deslizarem até
certo limite. A embebição logo irá cessar na matriz fibrosa preenchendo todos
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os capilares e deslizando um pouco as microfibrilas de celulose. Portanto,
dificilmente a matriz fibrosa irá perder os seus contornos e sua integridade
física após plena embebição, mesmo estando isolada.
A vantagem para a planta é ter uma matriz coloidal interna que se
embebe continuamente limitada em volume por uma matriz fibrosa externa que
não perde seu contorno após embebição. Na célula vegetal essas matrizes
estão em contato íntimo, separadas apenas por uma fina camada de gordura e
proteína (a plasmalema). A plasmalema é capaz de manter ambas as matrizes
(coloidal e fibrosa) unidas por meio de íons cálcio (Ca2+) que interagem com as
proteínas que faceiam as matrizes e por meio dos plasmodesmata que
atravessam as matrizes fibrosas e unem os citoplasmas das células vegetais.
Nessa aula prática iremos trabalhar com matrizes coloidal e fibrosa
separadas fisicamente e submersas independentemente em água. A
capacidade e a velocidade de embebição de ambas matrizes serão
quantificadas e o significado biológico para a célula dessas matrizes
trabalhando em conjunto, lado a lado, mas separadas pela plasmalema, poderá
ser visualizado.
Objetivos
Comparar a velocidade de embebição de uma matriz fibrosa (papel) e de uma
matriz protéica coloidal (gelatina) por meio do incremento da área relativa sob
água.
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Discutir o significado biológico do comportamento da matriz coloidal e da matriz
fibrosa por meio da velocidade de embebição e do aumento da área relativa de
cada matriz durante o processo de embebição.
Evidenciar as propriedades da matriz fibrosa e de uma matriz protéica a partir
dos resultados de embebição.
Relacionar esses resultados ao sucesso do emprego simultâneo e adjacente
da matriz fibrosa como estrutura da parede celular e da matriz coloidal como
meio molecular apropriado para reações bioquímicas das rotas metabólicas,
separadas em compartimentos delimitados por uma biomembrana, a
plasmalema.
Experimento
a) Desenhar dois retângulos de 3,0 x 6,0 cm em uma folha de papel
milimetrado, posicionados lado a lado e distantes em 3,0 cm (Figura 1).
Colocar a placa de Petri de 14,0 cm de diâmetro em cima do desenho a ser
utilizado como gabarito para determinar o incremento de área das folhas
das matrizes coloidal e fibrosa. O aumento da área será registrado minuto a
minuto por meio da alteração dos lados dos retângulos durante a
embebição.
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Figura 1 - Esquerda: desenhos dos retângulos 3,0 x 6,0 cm sobre papel
milimetrado, separados por 3 cm de distância. Esses desenhos servirão
como gabarito para verificar a alteração do comprimento e da largura dos
retângulos das folhas da matriz coloidal e da matriz fibrosa durante a
embebição em água na placa de Petri. Direita: Placa de Petri de 14 cm de
diâmetro sobre o papel quadriculado com os 2 retângulos desenhados
abaixo. A placa de Petri será preenchida com 50 mL de água e a
embebição das matrizes poderá ser acompanhada a cada minuto por meio
da área delimitada sob a placa.
b) Recortar as folhas de gelatina e de papel em retângulos de 3,0 x 6,0 cm
(Figura 2). Em cada placa de Petri, haverá um retângulo da matriz
coloidal e um retângulo para a matriz fibrosa (Figura 3). A folha de
gelatina deve ser completamente submersa desde o início do
experimento. Se a matriz de gelatina boiar durante a embebição
ocorrerá o aumento de área e de volume somente na parte inferior em
contato com a água. Dessa forma, a folha de gelatina se enrola
dobrando para cima e inviabilizando o acompanhamento do aumento
dos lados do retângulo (Figura 4). Esse tipo de problema dificilmente
ocorre com a matriz fibrosa (papel) pois essa matriz é de fácil
submersão em água.
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Figura 4 – Retângulo de gelatina com lados
de 3,0 x 6,0 cm submerso incompletamente
(errado) causando o aumento somente da
superfície inferior em contato com a água. O
resultado é o enrolamento da folha de
gelatina (ponta do instrumento) e
incapacidade de quantificação dos lados e
da área correspondente.
Figura 3 - Retângulos com lados de 3,0 x
6,0 cm de gelatina (acima) e papel (abaixo)
prontos para serem submersos em água.
Note a escala entre as diferentes matrizes
e o posicionamento exato das matrizes
sobre os retângulos desenhados
previamente em papel milimetrado. A
medição dos lados maior e menor é
realizada a cada minuto após o contato das
matrizes com a água. Utilize
constantemente duas pinças para manter
as matrizes submersas e posicionadas
durante a embebição.
Figura 2 - Retângulos com lados de
3,0 x 6,0 cm, de folhas de gelatina
(acima) e de papel (abaixo) cortados
previamente para serem submersos
em água.
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c) Coloque as matrizes na placa de Petri seca e verifique se o tamanho de
cada uma corresponde exatamente ao gabarito previamente desenhado
sobre o papel milimetrado (Figura 3). Após despejar cuidadosamente a
água mantenha as matrizes posicionadas sobre o gabarito desenhado
com o auxílio de uma pinça. Com base no molde do gabarito de medidas
abaixo de cada matriz é possível verificar minuto a minuto o aumento
dos lados das matrizes (aumento da área) por meio do papel
milimetrado. Marque em uma tabela o comprimento dos lados maior e
menor de cada matriz a cada minuto. Esses valores serão utilizados
para o cálculo do aumento da área em função do tempo. As medidas de
aumento de lado das matrizes a cada minuto exige atenção. Um aluno
poderá cuidar de apenas uma placa de Petri durante o experimento,
anotando o aumento dos lados de ambas as matrizes de uma mesma
placa. É necessário acompanhar o aumento da matriz durante 20
minutos.
d) O aumento da área de cada matriz em função do tempo deve ser
calculado multiplicando o valor obtido dos lados do retângulo (lado maior
vezes lado menor) a cada minuto. Construir um gráfico do aumento de
área de cada matriz em função do tempo (min) para cada placa de Petri.
No gráfico a área deve ser expressa em área relativa, ou seja, a
porcentagem da área aumentada durante a embebição em relação à
área inicial dos retângulos em cada minuto de determinação (Figuras 5 e
6).
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Figura 5 - Incremento da área relativa (%) em função do tempo (min) da
superfície de uma matriz coloidal (proteína e açucares solúveis) na forma de
folha e submersa em água.
Figura 6 – Incremento da área relativa (%) em função do tempo (min.) da
superfície de uma matriz fibrosa na forma de folha (papel) submersa em água.
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e) A matriz coloidal (Figura 5) cresce mais rapidamente e atinge uma área
relativa 20 vezes maior que a matriz fibrosa (Figura 6). A maior
velocidade de crescimento da matriz protéica ocorre pelo motivo de não
haver canais a serem preenchidos por água antes de a matriz ganhar
volume. Toda a água que entra na matriz coloidal imediatamente
aumenta o volume e a área do corpo da matriz. No entanto, essa matriz
não é capaz de manter seu contorno e a folha de gelatina facilmente se
despedaça após 20 minutos de embebição. No interior da matriz coloidal
do experimento não há superfícies fixas onde interações elétricas
(reações químicas ou adsorção) podem ocorrer em um plano
bidimensional determinado. Essa matriz é um volume coloidal que expõe
totalmente as moléculas imersas nas 3 dimensões (profundidade,
largura e altura) possibilitando a exposição dos solutos nas rotas
metabólicas do simplasto. Por outro lado, a água que expande a matriz
coloidal não pode ser comprimida, pois não é possível comprimir água
líquida. Dessa forma, essa matriz quando expande pode pressionar os
volumes adjacentes durante a embebição. O simplasto com sua matriz
coloidal funciona mecanicamente dessa forma, quando recebe água
expande seu volume e pressiona a plasmalema e a matriz extracelular
(parede celular). Essa força dá origem à pressão de parede.
f) A matriz fibrosa não se distende tanto como a matriz protéica e a
velocidade de aumento de área é mais lenta (Figuras 5 e 6). As fibras do
papel se embebem até um limite de incremento de área de cerca de
10% (Figura 6). A partir desse ganho de área não mais ocorre
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afrouxamento (deslizamento) entre fibras. As interações químicas na
matriz fibrosa ocorrem freqüentemente entre uma superfície fixa semi-
sólida e polarizada negativamente (superfície das microfibrilas de
celulose) os solutos e o solvente da solução que embebe a matriz.
Nessa solução os íons e moléculas polarizadas eventualmente são
adsorvidos de forma reversível na superfície dos capilares formados
pelos espaços entre as fibras. Esse meio com superfícies fixas capazes
de adsorver solutos móveis é denominado de meio de Donnan. Essa
forma de organização celular com uma matriz extracelular fibrosa, uma
matriz intracelular coloidal e ainda uma reserva de água mais interna
(vacúolo) é bem sucedida na natureza. Cerca de 90% da biomassa
existente sobre os continentes apresenta essa organização estrutural. É
interessante notar que a matriz coloidal é construída a partir da
polimerização de glicose exatamente na plasmalema, no limite entre as
matrizes, a partir de proteínas transmembranares que catalizam a
polimerização. Todos os outros componentes da parede celular também
são fabricados pelo simplasto. Portanto, há forte interdependência
funcional entre as matrizes fibrosa e coloidal na célula vegetal.
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Síntese
A parede celular fibrosa, também denominada matriz extracelular, oferece às
plantas proteção mecânica e biológica. Essa matriz é capaz de aderir água e
solutos em sua grande superfície interna. A entrada de água e de nutrientes na
matriz extracelular ocorre até a membrana plasmática. Na outra face da
membrana plasmática está a matriz intracelular coloidal que também é capaz
de aderir água e solutos. Essas duas matrizes adjacentes apresentam
comportamentos distintos em relação à velocidade e à capacidade de
embebição. Nessa aula é possível comparar essas capacidades das diferentes
matrizes (protéica interna e fibrosa externa) discutindo o significado biológico
de cada uma e do conjunto matricial separado pela plasmalema.