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AUNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO EMBARGOS À EXECUÇÃO E EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE NA AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL BRUNA SOARES CABRAL Itajaí, 17/11/2009.

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AUNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

EMBARGOS À EXECUÇÃO E EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NA AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL

BRUNA SOARES CABRAL

Itajaí, 17/11/2009.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

EMBARGOS À EXECUÇÃO E EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NA AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL

BRUNA SOARES CABRAL

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc Marta Elizabeth Deligdish

Itajaí, 17/11/2009.

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AGRADECIMENTO

Agradeço primeiramente a Deus, que me concedeu vida, saúde e sabedoria, para poder

concluir meus estudos, me iluminando e colocando no meu caminho pessoas importantes

para a minha felicidade.

Aos meus pais, Otacílio e Eva, que me dão amor, compreensão, apoio nas minhas escolhas, uma

ótima educação e excelentes condições de vida. Amo muito e tenho vocês como exemplo para

tudo.

Aos meus irmãos, Edson, Marlos e Rodrigo, que eu amo demais e que sempre cuidam de mim.

Aos meus sobrinhos, Carolina, Victória, Henrique e ao meu sobrinho e afilhado, Kauã, que dão o

amor e o carinho dá onde obtenho a minha felicidade.

A toda minha família, avós (in memoriam), tios, primos, que sempre estão presentes.

Aos meus amigos, colegas de turma e todas as pessoas que passaram pela minha vida ao longo

desses anos acadêmicos, me incentivando e contribuindo para o meu crescimento pessoal e

profissional.

A todas as pessoas que eu tive o prazer de trabalhar, e que me deram oportunidade de

adquirir experiência e conhecimento na área.

A minha orientadora, que me deu atenção e ajuda para concluir o presente trabalho. A qual admiro

muito pelo seu esforço e sua inteligência.

A todos os professores que tem o dom e a paciência necessária para lecionar e formar bons

profissionais.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, pelo amor, compreensão e por todo o incentivo de vocês não

só com relação à faculdade, mas em tudo na minha vida. Vocês são os responsáveis por esta

conquista.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 17/11/2009.

Bruna Soares Cab ral Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Bruna Soares Cabral, sob o título

Embargos à Execução e Exceção de Pré-Executividade na Ação de Execução

Fiscal, foi submetida em 17/11/2009 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: Profª. MSc. Marta Elizabeth Deligdisch – Orientadora e

Presidente da Banca, Profª. Dra. Claudia Regina Althoff Figueiredo -

Examinadora, e aprovada com a nota [Nota] ([nota Extenso]).

Itajaí, 17/11/2009.

Profª. MSc Marta Elizabeth Deligdisch Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CC Código Civil Brasileiro CPC Código de Processo Civil Brasileiro CRFB Constituição da República Federativa do Brasil CTN Código Tributário Nacional Brasileiro LEF Lei de execuções Fiscais – Lei 6.830/80

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................ VIII

INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ........................................ .................................................. 3

DO PROCESSO EXECUTIVO .............................................................. 4

1.1 PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DA EXECUÇÃO ........... ................................... 4

1.2 ESPÉCIES DE EXECUÇÃO ........................................................................... 11

1.2.1 DA EXECUÇÃO PARA A ENTREGA DE COISA CERTA E DE COISA INCERTA .............. 13

1.2.2 DA EXECUÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E DE NÃO FAZER ............................. 14

1.2.3 DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENT E ..................... 16

1.2.4 DA EXECUÇÃO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA ...................................................... 22

CAPÍTULO 2 ........................................ ................................................ 25

DA EXECUÇÃO FISCAL................................. .................................... 25

2.1 EXECUÇÃO FISCAL - DÍVIDA ATIVA DA FAZENDA PÚBLI CA .................. 25

2.1.1 CRÉDITO TRIBUTÁRIO E NÃO -TRIBUTÁRIO ......................................................... 29

2.1.2 REQUISITOS E CONDIÇÕES DA AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL .............................. 31

2.1.3 TRAMITAÇÃO DA AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL .................................................. 34

2.1.4 SEGURANÇA DO JUÍZO .................................................................................... 35

2.2 EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL .................... ........................................ 37

2.2.1 MATÉRIA ARGÜÍVEL ........................................................................................ 43

CAPÍTULO 3 ........................................ ................................................ 46

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE PODE SER RECEBIDA COMO EMBARGOS NA EXECUÇÃO FISCAL? ................. .............. 46

3.1 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE .................. ........................................ 46

3.1.1 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO INSTITUTO ................................................................. 46

3.1.2 CONCEITO ...................................................................................................... 50

3.1.3 PROCEDIMENTO DA EXCEÇÃO .......................................................................... 53

3.1.3.1 Prazo para interposição ................... ................................................................. 56

3.1.4 MATÉRIAS ARGÜÍVEIS ...................................................................................... 58

3.2 DO RECEBIMENTO DA EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE COMO EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL ........................ .......................................... 65

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. .................................. 70

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ..................... ....................... 73

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viii

RESUMO

A presente monografia tem como objetivo estudar a

possibilidade da peça de Exceção de Pré-executividade ser recebida como

Embargos na Ação de Execução Fiscal, em face da alteração no Código de

Processo Civil. A alteração foi criada para dar celeridade aos processos, e prevê

a possibilidade de opor Embargos, para defesa do executado, sem que haja a

necessidade de garantia do juízo nas ações de execução comum. A temática

proposta encontra relevância em razão da efetividade buscada pela novel

legislação e as modificações ocorridas no âmbito do processo execucional, visto

que o Código de Processo Civil é aplicado subsidiariamente à Lei de Execuções

Fiscais. Assim, abordou-se o entendimento doutrinário e jurisprudencial a respeito

do cabimento da Exceção de pré-executividade, que também é meio de defesa do

executado, e a possibilidade desta ser recebida como Embargos sem a garantia

do juízo na Ação de Execução Fiscal. O levantamento e tratamento de dados foi

efetuado pelo método indutivo e a narrativa da pesquisa se confeccionou sob a

base lógica dedutiva.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto verificar a

possibilidade da petição de exceção de pré-executividade ser recebida como

embargos à execução na ação de execução fiscal.

Sendo assim, este trabalho tem como objetivos: a)

institucional: produzir uma monografia para obtenção do grau de Bacharel em

Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI; b) geral: analisar a

possibilidade jurídica de utilização da exceção de pré-executividade como

embargos na ação de execução fiscal; c) específicos: 1) identificar e compreender

os princípios informativos do processo de execução e suas diversas espécies; 2)

analisar o trâmite da ação de execução fiscal – regida pela lei 6.830/80, e dos

embargos à execução; 3) identificar a possibilidade jurídica da defesa do devedor

mediante exceção de pré-executividade e analisar sua possibilidade de

recebimento como embargos.

O questionamento que guinou esta investigação pode assim

ser exposto: há possibilidade da exceção de pré-executividade ser recebida como

embargos do devedor, no âmbito da execução fiscal? Em resposta, cogitaram-se

as seguintes hipóteses:

1. Poderá ser aplicado o disposto do Livro II do Código

Processo Civil quando a lei específica das Execuções Fiscais for omissa.

2. Será aceito o recebimento da Exceção de Pré-

executividade como Embargos à Execução no processo de Execução fiscal,

quando o juiz entender que não há necessidade de garantia do juízo para a opor

Embargos, e desta forma dar celeridade ao julgamento do processo, para que

seja argüida todas as matérias cabíveis em meio de defesa.

3. Para o recebimento da exceção como embargos, é

necessário abrir prazo para o executado, querendo, complementar a inicial, do

contrário, ocasionará cerceamento de defesa.

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4. Não poderá ser aceita a troca das peças, pois deverá ser

aplicado o que dispõe na lei específica das Execuções Ficais, e não o que

estabelece o Código Civil, obedecendo à regra de que para opor Embargos há a

necessidade de garantia nos autos da Execução Fiscal, e ainda que as matérias

sem necessidade de dilação probatória poderão ser argüidas através de Exceção

de Pré-executividade.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando dos

Princípios Informativos que são aplicados ao processo de Execução, bem como

do procedimento das diversas espécies de execução previstas no Código de

Processo Civil brasileiro.

No Capítulo 2, tratando especificamente sobre a Ação de

Execução Fiscal, discorrendo sobre créditos tributários e não-tributários, sobre os

requisitos da ação, bem como sobre a tramitação desta, e ainda, sobre a

segurança do juízo, e a apresentação dos Embargos à Execução Fiscal e as

matérias que neste podem ser argüidas.

No Capítulo 3, tratando da Exceção de pré-executividade,

sobre sua origem e evolução, sobre seu conceito e procedimento, e inclusive

sobre o prazo para interposição e sobre as matérias argüíveis. Dispõe também

sobre a possibilidade desta peça ser recebida como Embargos à Execução na

Ação de Execução Fiscal.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o recebimento da Exceção de Pré-Executividade ser recebida como

Embargos na Ação de Execução Fiscal.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação1 e de Tratamento de Dados foi utilizado o Método Indutivo2 e o

1 “[...] momento no qual o Pesquisador busca e recolhe os dados, sob a moldura do Referente

estabelecido[...]. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007. p. 101.

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3

Relatório dos Resultados expresso na presente Monografia é composto na base

lógica Dedutiva3.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente4, da Categoria5, do Conceito Operacional6 e da Pesquisa

Bibliográfica7, sendo que por opção metodológica as categorias e seus conceitos

operacionais foram abordados na medida de sua aparição, ao longo do estudo.

2 O método indutivo, segundo PASOLD, baseia-se na “lógica da dinâmica Pesquisa Científica que consiste em examinar um fenômeno sob o seguinte paradigma: entrada-processamento-saída ou produto – [...] realimentação – restrições e favorecedores – ambiente”. (PASOLD, Cezar Luiz. Prática da pesquisa jurídica. 7ª ed. Florianópolis: OAB/SC, 2002, p. 238). 3 Esse método baseia-se na “lógica da dinâmica da Pesquisa Científica que consiste em estabelecer uma formulação geral e,em seguida, buscar as partes do fenômeno de modo a sustentar a formulação geral”. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . p. 237). 4 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o

alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 62).

5 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, (Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 31).

6 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos [...]”. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica . p. 45).

7 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesqu isa jurídica . p. 239).

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CAPÍTULO 1

DO PROCESSO EXECUTIVO

1.1 PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DA EXECUÇÃO

A atividade jurisdicional de execução é satisfativa, porque

parte de um título que consagra uma obrigação e tem por fim efetivar o direito do

credor entregando-lhe o bem jurídico devido.8

É possível definir a execução como o conjunto de atos

jurisdicionais materiais concretos de invasão do patrimônio do devedor para

satisfazer a obrigação consagrada num título.9

Para concretizar a sanção, o Estado intromete-se no

patrimônio do devedor, independentemente de sua concordância, ou impõe-lhe

meios coercitivos, de pressão psicológica.10

Como conseqüência direta da existência de regime geral

comum para a atividade jurisdicional cognitiva e executiva, aplicam-se ao

processo de execução as regras sobre pressupostos processuais e condições da

ação relativos ao processo de conhecimento.11

As partes precisam deter capacidade de ser parte e estar em

juízo; o juiz não pode ser impedido, nem o juízo pode ser incompetente; é vedada

a reiteração de pretensão executiva já externada em processo em curso

(litispendência) ou rejeitada em seu mérito (coisa julgada); a petição inicial deve

8 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 07 9 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 08 10 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . v. II. 9ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006/2007. p. 52 11 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 51

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ser regular e apta; impões-se a presença de interesse processual, possibilidade

jurídica do pedido e legitimidade das partes etc.12

Os pressupostos básicos para realizar a execução estão

estabelecidos no art. 580 e seguintes do CPC. Nos termos do art. 583: “Toda

execução tem por base título executivo judicial ou extrajudicial”. E o art. 586 prevê

que “a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título líquido,

certo e exigível”. O art. 475-J, caput (acrescido pela Lei 11.232/2005) também

alude à certeza de liquidez da “quantia” objeto da condenação. Ainda, o art. 618

determina ser nula a execução não fundada em título líquido, certo e exigível

(incs. I e III). Os arts. 580 e 581, por fim, veiculam a viabilidade da execução ao

inadimplemento total ou parcial do devedor.13

Considera-se título executivo cada um dos atos jurídicos que

a lei reconhece como necessários e suficientes para legitimar a realização da

execução, sem qualquer nova ou prévia indagação acerca da existência do

crédito; em outros termos, sem qualquer nova ou prévia cognição quanto à

legitimidade da sanção cuja determinação está veiculada no título.14

No processo de execução do Livro II do CPC também

revelam princípios, evidentemente calibrado à natureza da respectiva função

judicial.15

Os princípios que espelham os valores formativos do

ordenamento para a função executiva, se incluem no grupo dos princípios

fundamentais, cuja matriz se encontra da Constituição.16

Com esta orientação em mente, Lopes da Costa tratou dos

princípios executivos sob o título de “caracteres da execução”.17

12 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 51 13 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 51 14 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 51 15 ASSIS, Araken de. Manual da execução. 9ª ed. ver., atual. e ampl. da 8ª edição do livro Manual do Processo de Execução. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2004. p. 89. 16 ASSIS, Araken de. Manual da execução. p. 89.

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6

Identificam-se os fundamentais princípios sem maiores

dificuldades:

a) Devido processo legal:

Trata-se da situação política em que o Estado reconheceu

que, se de um lado poderia criar o direito, de outro tinha o dever de submeter-se a

ele. A lei, portanto, é o limite de atuação de toda sociedade e do próprio Estado.18

A Constituição vigente referiu-se ao devido processo legal

dentro do capitulo dos direitos e garantias fundamentais. Dispõe o art. 5º, LIV, da

CRFB:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros

residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LIV - Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o

devido processo legal.

O devido processo legal é realmente um postulado dirigido

diretamente ao Estado, indicando que lhe cabe o dever de observar

rigorosamente as regras legais que ele mesmo criou.19

b) Princípio do contraditório:

A vigência dessa garantia na execução tem por fundamento

o art. 5º, inc. LIV e LV da Constituição da Republica Federativa do Brasil, ainda

assim, existia o equivoco de se afirmar que não haveria contraditório na

17 ASSIS, Araken de. Manual da execução. p. 90. 18 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo . 7ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p.738-739. 19 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo . p.738-739.

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7

execução, sendo que o que não ocorre é a discussão quanto ao mérito do crédito

do exeqüente. 20

O contraditório está inserido na execução, nos casos em que

para que não se exija que o executado aguarde até a alienação judicial do bem

para só então poder argüir o defeito através de embargos à arrematação, bem

como nos casos em que há a necessidade que se suscitem questões em que o

juiz poderia até conhecer de ofício, como os pressupostos processuais, condições

da ação, validade dos atos da execução, mas nada impede que o executado

aponte ao magistrado a existência delas.21

c) Principio do resultado:

O conjunto dos meios executórios, integrado pela

expropriação, tem o único objetivo de satisfazer o credor. Desta forma, toda

execução, há de ser específica. E tão bem sucedida quanto entregar ao

exeqüente o bem perseguido, objeto da obrigação inadimplida, ou obtém o direito

reconhecido no título executivo, favorecendo a realização do crédito.22

Em conseqüência da busca incessante da satisfação do

crédito, caso o resultado não se cumprir, se o executado não suportar todos os

ônus do processo, inclusive honorários advocatícios, o exeqüente deverá arcar

com todas as despesas processuais.23

Ainda, o principio tutela ao executado que, nenhum ato inútil,

a exemplo da penhora de bens de valor insignificante e incapaz de satisfazer o

crédito (art. 659, § 2º), poderá ser consumado. A execução é hoje parcial, ou seja,

limita-se ao necessário e suficiente para solver a dívida.24

d) Princípio do Título ( Nulla executio sine titulo):

20 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 130 21 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 131 22 ASSIS, Araken de. Manual da execução. p. 94. 23 ASSIS, Araken de. Manual da execução. p. 94. 24 ASSIS, Araken de. Manual da execução. p. 94.

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8

A ação executória nasce do efeito executivo da condenação,

e está regulada no Livro II do CPC, nos arts. 475-N e 585, onde se encontram

relacionados os Títulos Judiciais e Extrajudiciais.25

A ausência de título gera nulidade, porém obedecidos o

conteúdo e os efeitos do art. 618, inc. I do CPC, o título não é a condição da

demanda executória, tampouco representa o fato constitutivo da ação, pois o

pressuposto do processo válido é no sentido de que se exige prova pré-

constituída do crédito, desta forma deverá o credor invocar e exibir o título

executivo, sob pena de inépcia da inicial.26

e) Toda execução é real;

No direito processual civil moderno, a atividade jurisdicional

executiva incide, direta e exclusivamente, sobre o patrimônio, e não sobre a

pessoa do devedor.27

Neste sentido, dispõe o art. 591 do CPC:

Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas

obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as

restrições estabelecidas em lei.

Portanto, frustra-se a execução e suspende-se o processo

quando o devedor não disponha de bens patrimoniais exeqüíveis. (art.791, inc. III

do CPC28).29

f) Principio da realidade da execução:

25 ASSIS, Araken de. Manual da execução. p. 92. 26 ASSIS, Araken de. Manual da execução. p. 93. 27 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. 44ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 121. 28 Art. 791. Suspende-se a execução: III - quando o devedor não possuir bens penhoráveis. 29 JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p. 121.

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9

Este princípio é referente a responsabilidade patrimonial que

está enunciada no art. 591 do CPC, o qual versa:

Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas

obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as

restrições estabelecidas em lei.

Procura-se destacar que a execução civil recai

precipuamente sobre o patrimônio do executado, e não sobre a sua pessoa,

desdobrando-se em duas proposições: todos os bens respondem por suas

obrigações; somente os bens do devedor respondem por suas obrigações.30

g) Princípio do menor sacrifício do executado:

Ao lado da preocupação com a efetividade da execução em

prol do credor, deve-se buscar sempre o caminho menos oneroso para o

devedor.31 É essa a norma expressa no art. 620 do CPC:

Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a

execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso

para o devedor.

Refere-se a uma limitação da autuação do juiz, e não a uma

regra jurídica, que estabelecerá de que modo e qual a intensidade das medidas

coercitivas que serão aplicadas, pois o conflito de interesses é que obriga à

intermediação de um órgão imparcial para arbitrar a conciliação dos interesses

em questão.32

h) Princípio da máxima utilidade da execução:

30 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 111 31 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 129 32 DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de execução dos títulos extrajudiciais. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 26

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A execução deve redundar, em proveito do credor, no

resultado mais próximo que se teria caso não tivesse havido a transgressão de

seu direito.33

Enfatiza Wambier34 que:

A atuação da sanção e a satisfação do credor só são

concretamente atingidos mediante obtenção de resultados

materiais, fisicamente tangíveis: só se estará dando a quem tem

direito tudo aquilo e exatamente aquilo que lhe cabe quando se

consegue, mediante meios executivos, modificar a realidade,

fazendo surgir a situação concreta similar, quando não idêntica, à

que se teria com a observância espontânea das normas.

Esse é um principio pretende o resultado máximo dentro do

processo de execução. O contra balanceamento desse principio é o da não

oneração indevida do devedor (Art. 653 do CPC). A própria lei autoriza a proceder

ao arresto de bens, para depois procurar o devedor e durante o processo de

execução transformarem-se em bens penhorados.35

i) Princípio da disponibilidade da execução:

O Estado-juiz tem que ser devidamente provocado para que

preste a tutela jurisdicional, qualquer que seja ela, com o rompimento do seu

estado de inércia. 36

O art. 475-J, caput, introduzido pela Lei n. 11.232/2005,

atesta suficientemente, a subsistência do princípio da disponibilidade ao impor ao

credor o ônus pelo início da atividade jurisdicional executiva destinada a satisfazer

33 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 129 34 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 129 35 DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de execução dos títulos extrajudiciais. p. 26. 36 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil : Tutela jurisdicional executiva. São Paulo:Saraiva, 2008. p. 20-21.

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o seu direito, reconhecido no título executivo judicial, sendo que com a omissão

do credor ocorre a remessa dos autos ao arquivo. 37

Nos casos dos títulos executivos extrajudiciais não é o

Estado-juiz que forma o título que atesta suficientemente a existência de direito,

sequer houve atuação do Estado, por isso é necessária o rompimento da inércia

para que seja prestada a tutela jurisdicional. 38

Para a tutela jurisdicional executiva a conseqüência deste

princípio é que o exeqüente pode pretender desistir de sua prestação, total ou

parcialmente, de acordo com o art. 569, caput. 39

Desde que requerido que lhe seja prestada a tutela

jurisdicional, o Estado-juiz pode atuar, até mesmo de ofício, através dos meios

existentes para alcançar a satisfação do exeqüente independente de qualquer

outro pedido específico.40

1.2 ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

O Código de Processo Civil classificou as espécies

executivas segundo o tipo de prestação a ser cumprida, e a cada uma

correspondem medidas executivas diferentes.

Quando a execução tem por objeto a entrega de coisa

imóvel, a medida executiva essencial é a imissão na posse41; na execução das

obrigações de fazer42 ou não fazer43, a medida executiva é o mandado que

37 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil : Tutela jurisdicional executiva. p. 20-21. 38 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil : Tutela jurisdicional executiva. p. 20-21. 39 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil : Tutela jurisdicional executiva. p. 20-21. 40 BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil : Tutela jurisdicional executiva. p. 20-21. 41 Ação que visa à retirada de coisa ilegitimamente na posse o réu. - ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 476. 42 Ação executória nascente do efeito executivo da condenação civil, seja decorrente do dever imposto pela lei, seja pelo vínculo obrigacional, na qual o obrigado se positiva a obrigação de fazer, um fato ou uma atividade, e se negativa a obrigação, o comportamento é omissivo. - ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 494.

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contém a ordem para fazer ou não fazer, apresentando algumas alternativas se a

prestação é fungível44 ou infungível45; na execução por quantia contra devedor

solvente46, a medida executiva inicial é a penhora, que apreende bens do devedor

para pagamento do credor. A execução contra a Fazenda Pública é classificada

como execução por quantia, porém, os bens públicos são impenhoráveis. Assim

como a execução de prestação alimentícia, que também é considerada execução

por quantia, mas impõe medidas processuais mais rigorosas do que contra o

devedor comum.47

Ainda, se o devedor é insolvente48, a execução é coletiva49

ou universal50, sendo a medida executiva inicial a arrecadação, que é a

apreensão de todos os bens do devedor sujeitos a execução.51

Os processos de execução são classificados da seguinte

forma:

43 É a prestação que se almeja do devedor, em algumas obrigações consiste num comportamento omissivo, e abrange um rol de devedores. – ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 520. 44 Tolera que terceiro, com satisfação cabal da dívida pelo obrigado, reproduza o comportamento objeto do fazer. - ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 494. 45 A conduta pessoal do obrigado é indispensável, as obrigações somente podem ser satisfeitas pelo obrigado, em razão de suas aptidões ou qualidades pessoais. (ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 494.) 46 Devedor solvente é aquele cujo patrimônio apresenta ativo maior do que o passivo. A execução por quantia certa contra o devedor dito solvente consiste em expropriar-lhe tanto bens quantos necessários para a satisfação do credor. (JÚNIOR, Humberto Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p. 259.) 47 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 57 48 A insolvência é compreendida como insuficiência dos bens expropriáveis no patrimônio executivo para atender os créditos exigíveis (art. 748 CPC), em certo momento, se originam limitações recíprocas aos credores, sendo a satisfação integral de todos os créditos impossível. (ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 993.) 49 Nas execuções coletivas é limitada aos credores que penhoraram sucessivamente (art. 613 do CPC), os titulares do direito real sobre a coisa e o bem atingido pela penhora, a nem todos os bens do executado, e participam pelo direito de preferência que decorre da anterioridade da penhora em confronto com as demais constrições. (ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 994-995.) 50 É universal, abrangendo todos os credores e todos os bens do executado. (ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 994.) 51 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 58

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1.2.1 Da execução para a entrega de coisa certa e d e coisa incerta

Esta também pode decorrer de título extrajudicial, ou pode

ser instaurada com fundamento em uma sentença condenatória, com força

executiva, que é à que a lei atribui privilégio de execução por ordem do juízo, e

independem de instauração de processo de execução para serem cumpridas,

pois podem ser cumpridas por mandado, sem necessidade de nova citação,

ficando restrita a possibilidade de defesa do devedor, como ocorre no caso das

sentenças em ações possessórias, nas ações de despejo, na ação de busca e

apreensão decorrente de alienação fiduciária.52

Na execução para entrega de coisa incerta, o código de

processo civil prevê um procedimento de definição da coisa a ser entregue,

seguindo, depois, os trâmites da execução para a entrega de coisa certa.53

Na execução para entrega de coisa certa, o devedor,

constante de título extrajudicial será citado para, dentro de dez dias, satisfazer a

obrigação ou, seguro o juízo, apresentar embargos. Depositada esta, o exeqüente

não poderá levantá-la antes do julgamento dos embargos. 54

Não sendo a coisa entregue e nem efetuado o depósito, será

expedido mandado de imissão na posse ou busca e apreensão, conforme o caso,

em favor do credor. Ao devedor é possibilitada a oposição de embargos, que

poderá suspender ou não a execução, dependendo da matéria alegada. 55

Ainda prevê o art. 287 do CPC que, se o autor demandar

que seja imposta ao réu a abstenção da prática de algum ato, tolerar alguma

atividade, prestar ato ou entregar coisa, poderá requerer a cominação de pena

52 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 58 53 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 58 54 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 59 55 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 59

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pecuniária para o caso de descumprimento da sentença56 ou da decisão

antecipatória de tutela.57

1.2.2 Da execução das obrigações de fazer e de não fazer

Esta poderá ser através de meios indiretos de coerção que

visam a compelir o devedor à pratica do fato devido, bem como poderá ser

imprópria, que se inicia com a força da própria sentença que já tem força

executiva por ordem do juiz, ou ainda, poderá ser a execução propriamente dita,

em que há um processo autônomo em relação ao processo de conhecimento e

com contraditório peculiar à situação consagrada do título.58

Em princípio, a tutela jurisdicional executiva é para alcançar

a satisfação específica da obrigação, ou seja, a própria prestação devida, ou

converte-la para alcançar somente a satisfação de uma prestação compensatória,

em perdas e danos que, geralmente é a econômica.59

Ao ser citado, o réu recebe uma ordem para cumprir a

obrigação, se esta for fungível, isto é, se o fato puder ser prestado por terceiro, e

se o devedor não a cumpre a requerimento do credor, a obrigação poderá ser

prestada à custa do próprio credor ou por terceiro, sendo que, após os trâmites do

processo, o juiz condenará o devedor ao pagamento das despesas com a

conclusão ou correção.60

Um caso típico de obrigação de fazer, de caráter infungível,

é a obrigação de prestar declaração de vontade, isto é, admitir que o devedor seja

condenado a emitir declaração de vontade e que, se não cumprir o acordo, a

56 É a resolução judicial ao direito material posto em causa. (ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 476.) 57 Liminar que causa efeito executivo antecipado. (ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 477.) 58 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 61 59 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 61 60 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 61

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sentença, que é condenatória com execução imprópria, vale como instrumento da

declaração omitida. 61

Não há necessidade de fixação de prazo para que o devedor

cumpra a obrigação (diferente das demais obrigações de fazer), porque a própria

sentença produz, com o trânsito em julgado, os efeitos que o contrato ou a

declaração de vontade produziram. A sentença passa a ser título hábil para o

registro, se necessário.62

Ainda, deverá o credor requerer expressamente o pedido, de

maneira cumulativa, a condenação em emitir declaração de vontade e a

condenação nas prestações contidas no contrato omitido, para que a sentença

condenatória seja também título para execução das prestações constantes do

contrato.63

Na obrigação de não fazer, que também deve ser

consagrada em título judicial ou extrajudicial, é possível interpor a ação diante da

ameaça da prática do ato proibido, para que, sob cominação de multa, deixe o

devedor de fazer o que está fazendo ou ameaçando fazer. Se o ato já foi

praticado e pode ser desfeito, o próprio credor ou terceiro o desfaz à custa do

devedor; se não pode ser desfeito, a execução converte-se por quantia certa, em

perdas e danos.64

A pena de multa, que pode ser cominada em obrigações de

fazer ou não fazer infungíveis ou fungíveis, bem como na entrega de coisa, é

medida executiva que tem por finalidade compelir o devedor a cumprir a

obrigação, podendo ultrapassar o valor da obrigação, pois deve ser fixada em

valor suficiente para causar o efeito forçado, não podendo ser irrisória.65

61 A obrigação de concluir um contrato decorre sempre de um pré-contrato, e a obrigação de emitir declaração de vontade pode decorrer da lei ou também de negócios jurídicos unilaterais. –(FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 63.) 62 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 66. 63 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 66 64 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 67 65 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 68-69

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1.2.3 Da execução por quantia certa contra devedor solvente

De acordo com o art. 646 do CPC, a execução por quantia

certa, que está condicionada ao título executivo, tem por objetivo expropriar bens

do devedor a fim de satisfazer o direito do credor. 66

Proposta a execução, o devedor deverá ser citado para, no

prazo de 03 dias, pagar sob pena de penhora (art. 652 do CPC). O pagamento

extingue a execução, desde que abranja a importância da dívida, mais juros,

custas e honorários advocatícios fixados de plano pelo juiz, sendo que este direito

pode ser exercido pelo devedor enquanto não arrematados ou adjudicados os

bens. 67

Se a citação do devedor restar frustrada, o oficial de justiça

poderá proceder ao arresto de bens, tantos quantos forem necessários para

garantir a execução (art. 653 do CPC). A autorização implícita que tem o oficial de

justiça de arrestar bens quando não encontra o devedor deve estar ligada à

convicção de que o réu, de fato, não será encontrado e precisará ser citado por

edital, o que gera a presunção da demora e do abandono dos bens.68

Com a citação, não ocorrendo nem o pagamento, nem a

nomeação válida, decorrido o prazo previsto na lei, o oficial de justiça irá proceder

a penhora de tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal, juros,

custas e honorários advocatícios (art. 659 do CPC). 69

Não havendo bens passiveis de penhora que sejam

encontrados ou se estes não forem suficientes para a garantia da execução, não

será realizada a penhora, devendo o oficial de justiça certificar este fato e

devolver o mandado. 70

66 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 70 67 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 72 68 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 72 69 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 74-75 70 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 76

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Se o devedor possuir bens em outra localidade, será

expedida carta precatória para que se proceda à penhora, à avaliação e à

alienação dos bens.71

O ato seguinte é a avaliação dos bens, que tem por

finalidade definir um valor básico para a futura arrematação, adjudicação ou

remição dos bens, que será feita de imediato à penhora, pelo próprio oficial de

justiça encarregado da diligência, no processo de execução, conforme a previsão

legal72 do art. 652 do CPC:

Art. 652 . [...]

§ 1.º Não efetuado o pagamento, munido da segunda via do

mandado, o oficial de justiça procederá de imediato à penhora de

bens e sua avaliação, lavrando-se o respectivo auto e de tais atos

intimando, na mesma oportunidade, o executado.

A avaliação por oficial de justiça, especificamente está

contida no Art. 680 do CPC, com a seguinte redação:

Art. 680. A avaliação será feita pelo oficial de justiça (art. 652),

ressalvada a aceitação do valor estimado pelo executado (art.

668, parágrafo único, inciso V; caso sejam necessários

conhecimentos especializados, o juiz nomeará avaliador, fixando-

lhe prazo não superior a 10 (dez) dias para entrega do laudo.

Essa exceção contemplada na lei, por certo, fica reservada

para a hipótese de penhora de determinados bens, que não tem fácil cotação no

mercado ou de difícil especificação, a qual deve ser justificada pelo Oficial de

Justiça.73

71 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 77 72 PEREIRA, Clovis Brasil. A importância da correta avaliação dos bens no cumpri mento da sentença e no processo de execução por quantia cert a. Disponível em: http://jusvi.com/artigos/29505. Acesso em: 30 de maio de 2009. 73 PEREIRA, Clovis Brasil. A importância da correta avaliação dos bens no cumpri mento da sentença e no processo de execução por quantia cert a. Disponível em: http://jusvi.com/artigos/29505. Acesso em: 30 de maio de 2009.

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Considera-se a penhora feita com a lavratura do auto ou do

termo de penhora, constituindo o depositário do bem, providenciando-se o registro

no respectivo órgão, se necessário, e a imediata intimação do executado.74

Com a atualização do CPC através da Lei nº 11.382 de

2006, não há mais a necessidade de penhora nos autos para opor embargos à

execução, conforme dispõe o art. Art. 736 do CPC:

Art. 736. O executado, independentemente de penhora, depósito

ou caução, poderá opor-se à execução por meio de embargos.

Embargos à execução trata-se de remédio processual

específico de oposição à execução, consoante reza o art. 736 do CPC, para tratar

de controvérsia em torno da existência da pretensão a executar, ou sobre a

validade dos atos executivos, realizada em outro processo, gerado pela iniciativa

do devedor. 75

Diante disso, estabelece o art. 738 do CPC que os

embargos serão oferecidos no prazo de 15 dias, contados da data da juntada aos

autos do mandado de citação.

Dando início aos atos de expropriação de bens, verifica-se a

possibilidade da adjudicação, que é a transferência de bens, a título de

pagamento, ao próprio credor exeqüente, quando este voluntariamente, preferir

ficar com os bens penhorados. Como se fala em adjudicação dos bens

penhorados, sem qualquer distinção, entende-se que não há nenhuma restrição

de quais bens podem ser adjudicados.76

Também com a reforma do Código esta matéria agora está

antecedendo as subseções referentes às alienações por iniciativa particular e a

74 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 75 75 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 1185. 76 CASTRO, Sebastião de Oliveira Filho. O Novo Perfil da Adjudicação no Código de Processo Civil . Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/11482/1/Novo_Perfil_Adjudica%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 25 de abril. 2009.

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arrematação77, que consiste, propriamente, na alienação judicial. A vantagem do

deslocamento, é que com a mudança pode resultar em maior celeridade à

satisfação do credor. 78

A alienação de bens por iniciativa particular trata-se da

possibilidade, conferida ao exeqüente, de, após passada a oportunidade de

adjudicação dos bens penhorados, solicitar sua alienação por iniciativa própria ou

por intermédio de corretor credenciado perante o juízo, para acelerar,

descomplicar e baratear o processo de execução, sendo que tal alienação fica

subordinada ao valor definido para o bem e circunscrita aos ditados do juiz,

conforme prevê o art. 685-C do CPC.79

Antes, a adjudicação só era possível se frustrada a

arrematação, após a alteração legislativa a adjudicação passa a gozar de

prioridade, sendo que os interessados que estão legitimados no art. 685-A,

podem requerê-la até mesmo antes de publicados os editais de praça, isto é, logo

que cumpridas as providências preconizadas pelo art. 685 do CPC80:

Art. 685. Após a avaliação, poderá mandar o juiz, a requerimento

do interessado e ouvida a parte contrária:

I - reduzir a penhora aos bens suficientes, ou transferi-la para

outros, que bastem à execução, se o valor dos penhorados for

consideravelmente superior ao crédito do exeqüente e acessórios;

Il - ampliar a penhora, ou transferi-la para outros bens mais

valiosos, se o valor dos penhorados for inferior ao referido crédito.

77 A arrematação é o ato que consuma a expropriação de bens do devedor mediante alienação em hasta pública. A alienação pública de imóveis é feita mediante praça; a dos demais bens mediante leilão. A arrematação será precedida de edital, que conterá os requisitos do art. 686 do CPC, e será fixado no local de costume e publicado, em resumo, com antecedência mínima de cinco dias. (FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 82-84.) 78 CASTRO, Sebastião de Oliveira Filho. O Novo Perfil da Adjudicação no Código de Processo Civil . Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/11482/1/Novo_Perfil_Adjudica%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 25 de abril. 2009. 79 MARINONI, Luiz Guilherme. Novidades na execução por expropriação . Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6518. Acesso em: 25 de abril. 2009. 80 CASTRO, Sebastião de Oliveira Filho. O Novo Perfil da Adjudicação no Código de Processo Civil . Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/11482/1/Novo_Perfil_Adjudica%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 25 de abril. 2009.

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Findo o prazo estipulado pelo juiz ou, em sua falta, de cinco

dias (art. 185 do CPC81), e não requerida a adjudicação ou a alienação particular,

será expedido edital de hasta pública. Ainda assim, o exeqüente ou quaisquer

daqueles que poderiam adjudicar não estarão impedidos de adquirir o bem na

praça ou no leilão. 82

Realizada a praça ou leilão, será imediatamente lavrado um

auto, relatando as condições pelas quais foi alienado o bem, sendo este assinado

pelo juiz, pelo arrematante e pelo serventuário da justiça ou leiloeiro, a

arrematação considerar-se-á perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham a

ser julgados procedentes os embargos do executado (art. 694 caput do CPC).

Será então expedida a respectiva carta, que é título aquisitivo de propriedade, e,

em se tratando de imóvel, pode ser levada a registro imobiliário. 83

Contudo, a arrematação poderá desfazer-se nos casos

previstos no §1º do art. 694 do CPC, veja-se:

Art. 694. [...]

§ 1o A arrematação poderá, no entanto, ser tornada sem efeito:

I - por vício de nulidade;

II - se não for pago o preço ou se não for prestada a caução;

III - quando o arrematante provar, nos 5 (cinco) dias seguintes, a

existência de ônus real ou de gravame (art. 686, inciso V) não

mencionado no edital;

IV - a requerimento do arrematante, na hipótese de embargos à

arrematação (art. 746, §§ 1o e 2o);

V - quando realizada por preço vil (art. 692);

VI - nos casos previstos neste Código (art. 698).

81 Art. 185. Não havendo preceito legal nem assinação pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte. 82 CASTRO, Sebastião de Oliveira Filho. O Novo Perfil da Adjudicação no Código de Processo Civil . Disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/11482/1/Novo_Perfil_Adjudica%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 25 de abril. 2009. 83 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 88-89

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Nos casos acima aludidos, a arrematação é desfeita,

respeitados os prazos previstos, sendo decretada pelo próprio juiz da execução,

enquanto não extinto o processo, pois após seu encerramento somente se poderá

declarar a nulidade da arrematação por ação própria. Pode o devedor opor

embargos à arrematação ou à adjudicação (art. 746 do CPC).84

O pagamento do credor é feito conforme o art. 708 do CPC,

que preceitua:

Art. 708. O pagamento ao credor far-se-á:

I - pela entrega do dinheiro;

II - pela adjudicação dos bens penhorados;

III - pelo usufruto de bem imóvel ou de empresa.

Se sobre os bens alienados existia somente a penhora de

um credor, o juiz autorizará que este levante, até a satisfação integral de seu

crédito, o dinheiro depositado para segurar o juízo ou o produto dos bens

alienados, que ao receber o dinheiro deverá conceder ao devedor, por termo nos

autos, a quitação da quantia paga (art. 709 do CPC).85

Existindo sobre os bens algum gravame86, instituído

anteriormente à penhora87, como, por exemplo, a hipoteca88, ou se houver outras

penhoras, este concurso sobre o valor dos bens será decidido pelo juiz de acordo

com a preferência de credores.89

84 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 89. 85 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 89. 86 Gravame é um encargo, ônus. (WEISZFLOG, Walter. MICHAELIS . Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?typePag=creditos&languageText=portugues-portugues. Acesso em: 21/10/2009.) 87 A penhora é o ato executivo que afeta determinado bem à execução, permitindo sua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietário ineficazes em face do processo. (AZEVEDO, Luiz Carlos de. (Da penhora ), citado por ASSIS, Araken. Manual da execução . 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 591.). 88 É direito real de garantia sobre coisa alheia, sendo que a hipoteca ocorre sobre bens imóveis, constituindo em contrato garantidor de um pagamento em dinheiro resultante de negócio jurídico. (FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 31). 89 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 89.

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A execução por quantia certa contra a Fazenda Pública tem

um procedimento diferente, pois os bens públicos são inalienáveis, decorrendo

então a impenhorabilidade, não sendo possível a expropriação de bens. Ainda, a

execução deve ser fundada somente em título judicial, desta forma, o detentor de

título extrajudicial deve opor ação de conhecimento para a obtenção do título

judicial, procedimento justificado pela peculiaridade do direito público.90

Será então a Fazenda citada para opor embargos em dez

dias. Se não os opuser no prazo legal ou se forem rejeitados, irá seguir a

requisição de pagamento por intermédio do presidente do tribunal competente,

segundo o procedimento constitucional do art. 100 da CRFB91 (art. 730 do

CPC).92

1.2.4 Da execução de prestação alimentícia

Como é uma execução por quantia certa, podendo ser

aplicados tanto à execução de alimentos provisionais quanto de definitivos,

podem adotar o procedimento dessa espécie de execução, com penhora,

arrematação, etc., e como alternativa são dados ao credor outros meios

executivos e coativos, autorizados, inclusive pela Constituição (art. 5º, inc. LXVII

da CFRB), a prisão do responsável pelo inadimplemento injustificado de

obrigação alimentar (art. 733 do CPC). 93

Um dos meios de cumprimento, de execução imprópria, de

sentença de alimentos é o desconto em folha de pagamento quando o devedor for

funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa, bem como empregado

90 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 93/96 91 Art. 100. À exceção dos créditos de natureza alimentícia, os pagamentos devidos pela Fazenda Federal, Estadual ou Municipal, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. 92 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 94. 93 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 97.

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sujeito à legislação do trabalho, em que o juiz mandará descontar o valor da

prestação alimentícia (art. 734 do CPC).94

Não sendo possível fazer o desconto em folha, a

requerimento do credor, o juiz mandará citar o devedor para, em três dias, efetuar

o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo (art. 733

do CPC).95

Se o devedor não pagar, não se escusar ou se a sua

justificativa não for aceita, a requerimento do credor, o juiz decretará sua prisão

pelo prazo de um a três meses, conforme dispõe o art. 733, §1º do CPC, desde

que o devedor tenha sido citado ou intimado com essa cominação expressa.96

Entende Wambier97 que não parece coerente admitir-se um

meio tão severo para uma espécie de alimentos, e não para outras, haja vista o

art. 733, caput98 do CPC, dá a entender que a prisão somente seria cabível para

os alimentos provisionais, e não para os definitivos ou, ainda, os provisórios.

Todavia, o art. 19 da Lei de Alimentos deixa claro que pode o juiz tomar todas as

providencias necessárias “para o cumprimento do julgado ou do acordo, inclusive

a decretação de prisão do devedor”.

O recolhimento do devedor à prisão ou mesmo o

cumprimento da cominação não o exime do pagamento das prestações vencidas

ou vincendas, pois a prisão é civil e só tem natureza coativa, compulsiva e não

substitutiva ou compensatória da prestação alimentar. Desta forma, sendo paga a

prestação alimentícia, o juiz suspenderá o cumprimento da medida

imediatamente.99

94 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 97. 95 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 98. 96 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 99. 97 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 379 98 Art. 733. Na execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos provisionais, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. 99 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 99.

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Se mesmo com a prisão o devedor não pagar, poderá o

credor propor a execução por quantia se tiver o devedor bens penhoráveis (art.

735 do CPC).100

De sua parte, a execução de dívida ativa da Fazenda

Pública é disciplinada por lei especial, qual seja, Lei nº 6.830, de 22 de setembro

de 1980 – Lei de Execuções Fiscais – LEF, mas é uma execução por quantia

certa, a qual é o ensejo do presente estudo e será abordada no capítulo seguinte.

100 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 99.

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CAPÍTULO 2

DA EXECUÇÃO FISCAL

2.1 EXECUÇÃO FISCAL - DÍVIDA ATIVA DA FAZENDA PÚBLI CA

Os créditos da Fazenda Pública são executados pelo rito

disposto pela Lei nº 6.830, lei especial que instituiu forma diferenciada de

satisfação dos créditos tributários e não-tributários dos quais a Fazenda Pública é

titular, mas é uma execução por quantia certa.101

Fazenda Pública é a União, Estados, Municípios, Distrito

Federal e respectivas autarquias, inclusive os territórios ou outras entidades que,

por lei federal, tenham os mesmos privilégios.102

Regula a satisfação dos créditos fazendários pelo

procedimento da execução, sendo que a dívida da Fazenda Pública não exige a

propositura da ação de cobrança, pois por presunção legal os créditos da

Fazenda, ou seja, a Certidão de Dívida Ativa - CDA são considerados títulos

executivos extrajudiciais, dispensando, desta forma, o acertamento da relação

jurídica entre o fisco e o contribuinte em âmbito judicial.103

Desta forma, consta no Código de Processo Civil que dentre

os títulos executivos extrajudiciais está a certidão de dívida ativa da Fazenda

Pública, de acordo com o art. 585, inc. VII, que dispõe:

Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:

[...]

101 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2005. p. 19 102 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 101 103 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 19

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VII – a certidão de dívida ativa da Fazendo Pública da União,

Estado, Distrito Federal, Território, Município, correspondentes

aos créditos inscritos na forma da lei.

O requisito básico para iniciar a execução é o

inadimplemento do devedor, tornando-se causa justificadora para a realização do

processo de execução. Contudo, é necessária a existência de três requisitos

fundamentais, segundo Theodoro Júnior: “a) a insatisfação da obrigação; b) o

caráter de certeza , liquidez e exigibilidade da obrigação; c) a consubstanciação

da obrigação em título executivo. ” 104

Desta forma, para promover uma execução não basta a

simples prova do credor em demonstrar a insatisfação do crédito, com todos seus

requisitos fundamentais (certeza, liquidez e exigibilidade), mas sim a

apresentação de um documento com as características de um título executivo.105

Tanto o Código Tributário, no artigo 204106, quanto a Lei de

Execução Fiscal no artigo 3º107, ambos com redação muito semelhante, outorgam

presunção de certeza e liquidez à divida ativa regularmente inscrita.108

Ainda, o art. 586 do Código de Processo Civil estabelece

que são atributos indispensáveis de qualquer execução109:

Art. 586. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á

sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.

104 ACQUAVIVA, Marcos Cláudio. Dicionário acadêmico de direito . São Paulo: Atlas S. A. 2005. p. 564. 105 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal: comentários e jurisprudências. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2002. p. 14-15 106 Art. 204. A dívida regularmente inscrita goza da presunção de certeza e liquidez e tem o efeito de prova pré-constituída. Parágrafo único. A presunção a que se refere este artigo é relativa e pode ser ilididos por prova inequívoca, a cargo do sujeito passivo os do terceiro a que aproveite. 107 Art. 3º. A Dívida Ativa regularmente inscrita goza da presunção de certeza e liquidez. Parágrafo único. A presunção a que se refere este artigo é relativa e pode ser ilididos por prova inequívoca, a cargo do sujeito passivo os do terceiro, a quem aproveite. 108 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 47 109 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 47

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Segundo Assis, “é certo o crédito, constante do título,

quando não há dúvida sobre sua existência; líquido, quando insuspeito seu

objeto; e exigível, quando inexistem objeções contra sua atualidade”.110

Cabe somente ao julgador forçar, por meio de sua

autoridade estatal, o cumprimento desse dever através de deslocamento de bens

do patrimônio do devedor ou até mesmo de bens que estejam na posse do

executado para o patrimônio ou a posse do exeqüente. O fato é que o processo

de execução não está preordenado à discussão e declaração das partes,

possuindo a função precípua da realização de um direito material certificado por

um título reclamado pelo credor ao devedor, por uma obrigação não realizada.111

A Lei de Execução Fiscal, criada após a edição do Código

de Processo Civil de 1973, teve por objetivo tornar mais célere a consecução dos

créditos de que dispunha a Administração.112

Apesar de já contar com a presunção de certeza, liquidez e

exigibilidade nas Certidões de Dívida Ativa, autorizando a propositura de ação de

execução por título extrajudicial, a Administração Pública, ainda assim, entendia

necessário dotar as suas Procuradorias de aparato jurídico que permitisse a

realização do crédito de forma ainda mais expedita.113

A determinação do que exatamente significa dívida ativa tem

por fim último determinar se a Fazenda ou suas autarquias podem se valer do

privilégio que a Lei de Execução Fiscal oferece, pois conforme preceitua Porto: “O

ponto fulcral da Execução Fiscal reside na Certidão de Dívida Ativa, vez que se

110 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 926 111 LUCON, Paulo Henrique dos Santos. Embargos à execução . São Paulo: Saraiva, 2001. p. 174 112 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 20 113 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 20

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constitui no título executivo de que a Fazenda dispõe para propor a execução de

seus créditos.” 114

O conceito lançado por Delgado115 diz que:

A dívida ativa surge todas as vezes que a Fazenda Pública se

envolve numa relação jurídica de direito público ou de direito

privado e que se situe em posição de credora, desde que a

obrigação não seja cumprida no vencimento. No particular, o

conceito de direito vencido da Fazenda Pública pode

juridicamente exigir a qualquer título. A expressão crédito vencido

é identificadora da posição de nossos tribunais e da doutrina que

entendem só existir dívida ativa quando se constata crédito

vencido e não liquidado.

Delgado116 desdobra o art. 201 do Código Tributário

Nacional117, apontando os elementos que devem estar presentes:

(a) dívida que tenha se originado de crédito tributário constituído

através de processo administrativo ou judicial definitivamente

decidido, isto é, com o trânsito em julgado por haver esgotado o

prazo fixado para o cumprimento da obrigação ou por haver sido

atingido pela perempção; (b) a dívida deverá se referir a cobrança

de impostos, taxas, contribuições de melhoria, empréstimos

compulsórios e multas fiscais; (c) a inscrição em registro próprio,

isto é, em livro especificamente destinado a esse fim da repartição

competente, transformando-a em líquida e certa; (d) a não

exigência de que seja aguardado o início do exercício financeiro

subseqüente para que se possa fazer a inscrição da dívida.

114 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 35 115 DELGADO, José Augusto. Novos aspectos da execução fiscal . Revista Forense n. 276. p. 327 116 DELGADO, José Augusto. Novos aspectos da execução fiscal . Revista Forense n. 276. p. 327 117 Art. 201. Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito dessa natureza, regularmente inscrita na repartição administrativa competente, depois de esgotado o prazo fixado, para pagamento, pela lei ou por decisão final proferida em processo regular. Parágrafo único. A fluência de juros de mora não exclui, para os efeitos deste artigo, a liquidez do crédito.

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A LEF dá abrangência ampla ao conceito de Dívida Ativa e

admite a execução fiscal como procedimento judicial aplicável tanto à cobrança

dos créditos tributários como dos não-tributários. Basta apurar-se a sua liquidez e

realizar-se a devida inscrição em Dívida Ativa para que a Fazenda Pública esteja

autorizada a promover a execução fiscal.118

2.1.1 Crédito tributário e não-tributário

A Lei de Execução Fiscal prevê que a Dívida Ativa da

Fazenda Pública pode ser tributária ou não-tributária. Com isso pretendeu-se

ampliar a possibilidade de satisfação dos créditos da Fazenda mediante rito mais

célere, englobando tanto os créditos provenientes de tributos (impostos119,

taxas120, contribuições de melhoria121, contribuições sociais122 e empréstimos

compulsórios123) quanto aqueles créditos considerados não-tributários (contratos

não cumpridos, multas contratuais, entre outros),124 de outro modo, a Dívida Ativa

não-tributária é, por exclusão, proveniente dos créditos que não possuem

natureza tributária.125

118 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal: comentários e jurisprudências. p. 14 119 Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte (art. 16 do CTN). – TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de direito tributário. 2ª ed., Florianópolis: Momento Atual, 2005. p. 66 120 Taxa configura uma obrigação legal cuja hipótese de incidência encontra-se vinculada a uma atividade estatal diretamente vinculada ao contribuinte, podendo se constituir num serviço público ou num ato de polícia. - TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de direito tributário. p. 68 121 Contribuição de melhoria é uma espécie tributária que tem por hipótese de incidência uma atuação estatal indiretamente referida ao contribuinte, consiste na valorização imobiliária decorrente de obra pública. - TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de direito tributário. p. 72 122 Contribuição social é espécie de tributo com finalidade constitucional definida, a saber, intervenção no domínio econômico, interesse de categorias profissionais ou econômicas e seguridade social. - TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de direito tributário. p. 77 123 Empréstimo compulsório trata-se de tributo de competência privativa da União, cuja finalidade essencial é que toda receita deve ser aplicada à despesa que serviu de fundamento de validade de sua instituição. - TAVARES, Alexandre Macedo. Fundamentos de direito tributário. p. 75 124 PAULSEN, Leandro, ÁVILA, René Bergmann e SLIWKA, Ingrid Schroder. Direito Processual Tributário: Processo Administrativo Fiscal e Execução Fiscal à luz da Doutrina e Jurisprudência. 5ª ed. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2009. p. 167 125 CASSONE, Vittorio, e CASSONE, Maria Eugenia Teixeira. Processo Tributário: teoria e prática. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 474.

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Ao definir a natureza do crédito que será inscrito na Dívida

Ativa de Fazenda, estar-se-á determinando também o prazo de prescrição deste

crédito. 126

Uma vez constituído determinado crédito, é estabelecido um

prazo para que se busque a sua satisfação, como forma de assegurar certeza e

segurança nas relações jurídicas. Assim, transcorrido determinado prazo

estipulado pela lei e persistindo inerte o credor em cobrar a dívida, ocorre a

extinção da pretensão do direito material, ou seja, a prescrição.127

O Código Civil assim dispõe sobre a prescrição:

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual

se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts.

205 e 206.

Os créditos não-tributários são regidos pelo Código Civil,

sendo o prazo geral para prescrição fixado em 10 anos, conforme o art. 205. No

entanto, aplica-se esta disposição aos prazos que não tenham sido reduzidos ou

quando não transcorrido mais da metade do prazo constante na lei revogada.

Todavia, havendo legislação especial regulando a prescrição de determinado

crédito não-tributário, valerá esta em prejuízo do disposto no Código Civil,

considerado lei geral.128

Já sobre os créditos tributários é o CTN o diploma legal

constitucionalmente competente para disciplinar a prescrição. 129

A fluência da prescrição pode sofrer alteração por ocasião

da suspensão ou interrupção. No primeiro caso, uma vez finda a suspensão, o

prazo de prescrição volta a fluir no ponto em que havia parado. Já na interrupção,

126 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 40 127 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 52 128 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 53 129 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 53

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quando recomeçada à contagem, o prazo é devolvido integralmente e recomeça-

se a contagem do zero.130

Uma vez transcorrido o prazo prescricional, o crédito já não

pode mais ser cobrado pela Fazenda, assim a jurisprudência prudentemente vem

aplicando as regras previstas no CTN e no CPC, para interpretar a interrupção da

prescrição.131

2.1.2 Requisitos e Condições da Ação de Execução Fi scal

A petição inicial, agora, nas execuções de Dívida Ativa, é

bastante singela. Não precisa conter todos os dados do art. 282 do CPC.132

Os requisitos da Execução Fiscal estão enumerados no art.

6º da Lei 6.830/80, inicialmente deverá indicar o juiz a quem é dirigida, sendo que

a redação comete um equívoco, pois deveria, na verdade, referir-se ao juízo

competente.133

As partes devem estar identificadas para a propositura da

ação, ou seja, o executado deverá estar identificado na Certidão de Dívida Ativa,

bem como na inicial, sob pena de inépcia (art. 295, inc. VI do CPC).134

Quanto ao pedido, para alcançar o objetivo visado há o

credor de pedir, imediatamente, a atuação de determinado meio executório

(pedido imediato), que se amplia na efetivação de atos coercitivos.135

Recebida a inicial, devedor será citado, conforme preceitua o

artigo 6º, inciso III da Lei 6.830/80, de modo que a Fazenda Pública deverá

requerer a citação do executado. Automaticamente esta citação se realizará via

correio por carta com aviso de recebimento (AR), que pelo disposto no artigo 8º,

II, 1ª parte, da Lei 6.830/80, considera-se efetivada a citação pelo correio

130 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 53-54 131 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 55-56 132 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal: comentários e jurisprudências. p. 54 133 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 83 134 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 943 135 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 378

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mediante a entrega da carta no endereço do executado.136 Como já acolhido pelo

Superior Tribunal de Justiça, a citação não precisa ser pessoal, bastando que de

forma inequívoca a citação tenha sido entregue no endereço do executado e,

somente quando efetivamente não for encontrado, é que se procederá à citação

por edital.137

A efetiva citação é de extrema relevância, pois como

asseverou Assis138:

A Fazenda Pública não se apresenta imune aos riscos da citação

pessoal, caso não ocorra a citação da pessoa do devedor, ou do

representante legal da pessoa jurídica devedora, podendo a

citação ser considerada nula, em caso de ser alegado vício – e a

nulidade (art. 247 e 618, II do CPC), antes dos embargos, se torna

ao citando imperioso praticar o ato a que se propõe – pagar,

nomear ou garantir a execução -, porquanto o comparecimento

equivale à citação (art. 214, § 1º); após, nos embargos, caber-lhe-

á pleitear a invalidação do processo.

Em caso de citação frustrada, na devolução da carta pelo

correio, por exemplo, por não ter localizado o endereço indicado pelo remetente,

deve a citação ser realizada pelos meios ordinários, ou seja, pelo oficial de justiça

ou por edital, conforme os pressupostos legais de uma ou outra diligência.139

O modo prioritário é a citação por oficial de justiça, pois a

citação por edital se fará necessária nos casos previstos no artigo 231 do CPC,

ou caso o executado esteja fora do país, conforme previsto no artigo 8º, § 1º da

Lei 6.830/80.140

Como ocorre em todos os ritos processuais, a ação de

execução deve ser instruída com o título executivo, seja judicial ou extrajudicial.

136 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 946 137 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 84 138 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 946-947 139 THEODORO JUNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal: comentários e jurisprudências. p. 58 140 THEODORO JUNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal: comentários e jurisprudências. p. 59-60

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No caso da execução fiscal, deve acompanhá-la a Certidão de Dívida Ativa (art.

6º, §1º da LEF).141

A título de simplificar a tarefa das procuradorias em executar

os créditos inscritos em dívida ativa, a Lei de Execução Fiscal tratou de assegurar

a possibilidade de formular a petição inicial e a certidão de dívida ativa um único

documento (art. 6º, § 2º, da LEF).142

Após a devida inscrição e com a emissão da Certidão de

Dívida Ativa (título executivo extrajudicial), é que a Fazenda Pública estará

habilitada a promover a execução em juízo.143

Em relação à produção de provas, no §3º do artigo 6º da

LEF é garantida independente de requerimento expresso na inicial, a qual

ocorrerá na impugnação aos eventuais embargos. 144A Fazenda Pública se

obrigará a indicar os meios de prova hábeis a contradizer os fundamentos de fato

do embargante, sendo que estas provas se resumem ao processo administrativo,

contendo cópias ou certidões, solicitadas pelo juízo de ofício. 145 Todavia, não se

quer dizer com isso que é livre a produção de provas. Cabe ao magistrado que

conduz a demanda deferir ou não confecção das provas pleiteadas pelo Fisco,

dada a pertinência do pleito. Já ao executado é garantido momento próprio para

elaboração de provas quando forem ofertados os embargos à execução.146

O valor também deverá estar indicado na inicial,

compreendendo o valor da dívida e encargos constantes da certidão de dívida

ativa, que por fim estará incorporada à inicial, conforme preceitua o artigo 6º, § 4º

da LEF. As causas que tem valor excedente ao mínimo estipulado pelo artigo 34,

caput, da LEF, comportam recurso diverso de embargos. Para melhor esclarecer

o § 1º do artigo 34 da LEF, prevê que deve ser considerado valor da dívida

141 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 85 142 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 86 143DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de execução dos títulos extrajudiciais. p. 08-09 144 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 86 145 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 944 146 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 87

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monetariamente atualizado e acrescido de multa e juros de mora e demais

encargos legais, na data da distribuição, tratando-se da dívida lançada na certidão

como originário, a inicial conterá a atualização deste valor na data da inscrição até

o ajuizamento. 147

2.1.3 Tramitação da Ação de Execução Fiscal

O art. 8º da Lei 6830/80 versa sobre a tramitação desta

ação, conforme exposto a seguir:

Art. 8º. O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias,

pagar a dívida com os juros e multa de mora e encargos indicados

na Certidão de Dívida Ativa, ou garantir a execução:

[...]

§ 2º - O despacho do Juiz, que ordenar a citação, interrompe a

prescrição.

Com o recebimento da inicial, sendo uma decisão positiva,

o juiz determinará a citação do executado, como também a realização da

penhora, e/ou arresto com a avaliação dos bens apanhados, almejando a

celeridade das execuções fiscais (art. 7º da LEF). 148Esta determinação

interrompe a prescrição, conforme prevê o art. 8º, § 2º da Lei 6830/80 c/c art. 174,

inc. I do CTN.149

O devedor terá o prazo de cinco dias, contados da data de

citação, para o pagamento ou a garantia da execução, devendo este pagamento

ser englobado todas as parcelas com juros, correção monetária, multas ou

demais despesas.150

A LEF também prevê o arresto para conferir à Fazenda

Pública uma possibilidade de pré-penhorar os bens do executado, quando este

não tiver domicílio ou deste se ocultar. Está disposto no art. 7º, inc. III da LEF, e

147 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 945 148 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 89 149 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 948 150 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 955

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tem caráter satisfativo, haja vista que os bens “arrestados” servirão como garantia

do juízo, pois serão convertidos em penhora (art. 12 e 15 da LEF).151

2.1.4 Segurança do Juízo

Caso o devedor opte por garantir a execução, poderá

depositar o total, oferecer fiança bancária, nomear bens à penhora, observada a

ordem do artigo 11 da LEF, ou indicar à penhora bens oferecidos por terceiros e

aceitos pela Fazenda Pública.152

A garantia oferecida deve corresponder ao valor total da

execução, incluindo juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de

Dívida Ativa, de acordo com o art. 9º da LEF.153

O art. 11 da LEF estabelece a ordem para penhora dos

bens, exposta a seguir:

Art. 11. A penhora ou arresto de bens obedecerá à seguinte

ordem:

I - dinheiro;

II - título da dívida pública, bem como título de crédito, que tenham

cotação em bolsa;

III - pedras e metais preciosos;

IV - imóveis;

V - navios e aeronaves;

VI - veículos;

VII - móveis ou semoventes; e

VIII - direitos e ações.

§ 1º - Excepcionalmente, a penhora poderá recair sobre

estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como em

plantações ou edifícios em construção.

§ 2º - A penhora efetuada em dinheiro será convertida no depósito

de que trata o inciso I do artigo 9º.

151 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 90-91 152 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 91 153 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 91

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§ 3º - O Juiz ordenará a remoção do bem penhorado para

depósito judicial, particular ou da Fazenda Pública exeqüente,

sempre que esta o requerer, em qualquer fase do processo.

A ordem determinada para o oferecimento de bens à

penhora é diferente da hierarquia de bens encontrada no art. 655154 do CPC.

O oferecimento de bens à penhora pode ser feito tanto por

meio de petição, quanto diretamente ao oficial de justiça. No primeiro caso, será

obedecido o disposto nos arts. 655 a 657 do CPC, cabendo à Fazenda discordar

dos bens indicados (art. 15, da LEF). Havendo aceitação do fisco, será lavrado

termo de penhora. No segundo caso, a indicação dos bens é feita diretamente ao

oficial de justiça, que, independente de manifestação prévia da parte contraria,

lavrará o auto de penhora. Será facultada de qualquer forma, a manifestação da

Fazenda pela substituição dos bens penhorados, tendo em vista que tal

manifestação pode ocorrer a qualquer tempo, consoante previsão legal da LEF

(art. 15, inc. II da LEF).155

A avaliação do bem penhorado é feita no exato momento da

penhora, devendo constar no termo ou no auto, sendo que ela é realizada com

base nas informações prestadas pelo próprio executado, com a estimação do

valor do bem no mercado, podendo ser impugnada pelas partes, antes que o

edital de leilão seja publicado, de modo que o juiz nomeará um avaliador que

154 Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006) I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - veículos de via terrestre III - bens móveis em geral; IV - bens imóveis; V - navios e aeronaves; VI - ações e quotas de sociedades empresárias; VII - percentual do faturamento de empresa devedora; VIII - pedras e metais preciosos; IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado; X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; XI - outros direitos. § 1º Na execução de crédito com garantia hipotecária, pignoratícia ou anticrética, a penhora recairá, preferencialmente, sobre a coisa dada em garantia; se a coisa pertencer a terceiro garantidor, será também esse intimado da penhora. § 2º Recaindo a penhora em bens imóveis, será intimado também o cônjuge do executado. 155 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 94

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emitirá nova avaliação, e uma vez apresentado o laudo, o juiz decidirá de

plano.156

Penhora realizada, o executado será intimado, por

publicação no órgão oficial, ou por carta de aviso de recebimento, isso se o

mesmo foi citado por tal modalidade. O registro da Penhora se realizará de

acordo com a natureza dos bens, ou seja, no ofício imobiliário, na repartição

competente para emissão de certificado de registro de veículos, na junta

comercial, na bolsa de valores, ou na sociedade comercial. 157

É a partir do ato processual de segurança do juízo que

começa a fluir o prazo de 30 dias para apresentar Embargos (art. 16 da LEF),

diferentemente do que ocorre no procedimento de execução por quantia certa

regulada pelo CPC. 158

2.2 EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL

A execução fiscal não comporta discussão acerca do crédito,

de seus atributos e regularidade na constituição, vez que os títulos executivos são

necessariamente dotados de exigibilidade, certeza e liquidez.159

Assim, os embargos à execução é meio de defesa do

devedor, que têm por objetivo desconstituir o título executivo ou declarar sua

nulidade ou inexistência160, investindo contra o seu caráter de liquidez e certeza

presumidas, para que afastada fique sua exigibilidade.161

Inserem-se no ordenamento jurídico brasileiro, com caráter

de verdadeira ação autônoma, como medida incidental, relacionada por

interdependência com a execução. 162

156 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 102-103 157 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 842 158 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal: comentários e jurisprudências. p. 91 159 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 124 160 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 108 161 FILHO ROCHA, J. Virgílio Castelo Branco. Execução fiscal: doutrina e jurisprudência. 2ª ed., 4ª tir., Curitiba: Juruá, 2005. p. 217 162 FILHO ROCHA, J. Virgílio Castelo Branco. Execução fiscal: doutrina e jurisprudência. p. 217

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A oportunidade para apresentação dos embargos encontra-

se disposta no art. 16 da LEF que estabelece o prazo de 30 (trinta) dias contados:

“I – do depósito; II – da juntada da prova da fiança bancária; III – da intimação da

penhora.” 163

Os embargos na execução fiscal possuem características

semelhantes aos embargos de execução comum por quantia certa, em razão de

ser ação incidental, com a diferença de que a LEF, em seu art. 16, § 1º164, exige a

garantia do juízo para propor embargos, enquanto que o CPC em seu art. 736165

informa que o executado não precisa assegurar o juízo para apresentar sua

defesa.166

Como ação, os embargos possuem condições e

pressupostos processuais, quanto à legitimidade, pode apresentar embargos o

devedor, figurando no pólo passivo o credor, bem como também poderá embargar

o terceiro, que tem interesse jurídico, também em desfazer o título.167

Além da legitimidade para agir, deverá ser verificada a

competência, que é de natureza meramente funcional, pois esta se estende do

juízo da execução para o processo e julgamento dos embargos, contudo, no caso

de execução por carta (art. 747), os embargos serão oferecidos no juízo

deprecante ou no juízo deprecado, sendo que a competência para julgá-los é do

juízo deprecante, salvo se versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da

penhora, avaliação ou alienação dos bens, quando serão julgados pelo juízo

deprecado. 168

No tocante à produção de provas, as admitidas em direito

podem ser empregadas nos embargos do devedor, dentre elas, prova

163 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 124 164 Art. 16. [...] § 1º - Não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a execução. 165 Art. 736. O executado, independentemente de penhora, depósito ou caução, poderá opor-se à execução por meio de embargos. (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006). 166 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil . p. 462 167 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 109 168 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 109

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documental, depoimento pessoal, prova testemunhal e prova pericial, conforme o

art. 16, § 2º da LEF.169

O juiz, para conhecer bem a extensão da matéria, objeto do

litígio, terá que se inteirar do conteúdo do processo administrativo, que deu

origem à Certidão da Dívida Ativa.170 Estes autos não vão ao juízo, ficando na

repartição competente, mas deles podem ser extraídas peças a requerimento do

devedor ou da Fazenda Pública.171

A petição inicial deverá seguir as regras do art. 282 e

seguintes do CPC. O valor da causa retratará a matéria discutida nos embargos –

não coincidindo, necessariamente, com o valor da execução.172

No que tange aos efeitos dos Embargos, a suspensividade

do processo de execução, antes da alteração do CPC, era efeito automático,

provocando a paralisação total do processo de execução com relação à quantia

embargada, porém, atualmente para obter o efeito suspensivo é necessário que

sejam preenchidos os requisitos do art. 739-A, § 1º do CPC173, a saber:

Art. 739-A. Os embargos do executado não terão efeito

suspensivo.

§1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito

suspensivo aos embargos quando, sendo relevantes seus

fundamentos, o prosseguimento da execução manifestamente

possa causar ao executado grave dano de difícil ou incerta

reparação, e desde que a execução já esteja garantida por

penhora, depósito ou caução suficiente.

Com a penhora efetivada e o risco de alienação judicial do

bem penhorado, será possível justificar a suspensão da execução em razão do

169 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 128 170 FILHO ROCHA, J. Virgílio Castelo Branco. Execução fiscal: doutrina e jurisprudência. p. 229 171 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 128 172 WANBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: processo de execução. p. 306 173 THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial . Rio de Janeiro: Forense, 2007. p.194

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perigo de dano causado pelo prosseguimento da ação, sendo necessária a

decisão do juiz em deferir ou indeferir o efeito suspensivo aos embargos.174

A suspensividade dos embargos deferida pelo juiz é

provisória e reversível, podendo a qualquer momento ser cassada pelo exeqüente

mediante apresentação de requerimento em que comprove mudança das

circunstâncias que provocaram a suspensividade da ação (fumus boni iuris175 e

periculum in mora176) apresentadas pelo executado.177

Na falta do pedido, o juiz não poderá atribuir efeito

suspensivo de ofício, por isso, são relevantes os fundamentos que, mediante juízo

sumário, tornam provável o êxito da impugnação ou dos embargos.178

Tal decisão sobre a revogação do efeito suspensivo deverá

ser adequadamente fundamentada pelo juiz, conforme prevê o art. 739-A, § 2º do

CPC179:

Art. 739-A. [...]

§ 2º A decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a

requerimento da parte, ser modificada ou revogada a qualquer

tempo, em decisão fundamentada, cessando as circunstâncias

que a motivaram.

Não obstante a execução fiscal obedeça a regras especiais,

elas nada dispõem acerca da eficácia suspensiva dos respectivos embargos.

Logo, para esse assunto, valem as normas gerais do CPC (Art. 1º da LEF180).181

174 THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial . p.195 175 “a fumaça do bom direito (fumus boni iuris) exigível para as medidas cautelares” - THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial . p.195 176 “risco de dano grave e de difícil ou incerta reparação (periculum in mora) com o prosseguimento da ação” - THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial . p.195 177 THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial . p.195 178 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 455. 179 THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial . p.195 180 Art. 1º . A execução judicial para cobrança da Dívida Ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e respectivas autarquias será regida por esta Lei e, subsidiariamente, pelo Código de Processo Civil.

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Ademais, esta regra está de acordo com decisão do

Superior Tribunal de Justiça182, ao prever que o art. 739-A, §1º do CPC, se aplica

à LEF, para regular sobre a suspensividade dos embargos à execução fiscal.

Se os embargos forem recebidos com efeito suspensivo o

processo executivo se travará, conforme reza o art. 791, I do CPC:

Art. 791. Suspende-se a execução:

I - no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo

os embargos à execução (art. 739-A);

181 NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira. Código de processo civil – e legislação processual em vigor. 39ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 1461 182 PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. EFEITO SUSPENSIVO. LEI 11.382/2006. REFORMAS PROCESSUAIS. INCLUSÃO DO ART. 739-A NO CPC. REFLEXOS NA LEI 6.830/1980. "DIÁLOGO DAS FONTES". 1. Após a entrada em vigor da Lei 11.382/2006, que incluiu no CPC o art. 739-A, os embargos do devedor poderão ser recebidos com efeito suspensivo somente se houver requerimento do embargante e, cumulativamente, estiverem preenchidos os seguintes requisitos: a) relevância da argumentação; b) grave dano de difícil ou incerta reparação; e c) garantia integral do juízo. 2. A novel legislação é mais uma etapa da denominada "reforma do CPC", conjunto de medidas que vêm modernizando o ordenamento jurídico para tornar mais célere e eficaz o processo como técnica de composição de lides. 3. Sob esse enfoque, a atribuição de efeito suspensivo aos embargos do devedor deixou de ser decorrência automática de seu simples ajuizamento. Em homenagem aos princípios da boa-fé e da lealdade processual, exige-se que o executado demonstre efetiva vontade de colaborar para a rápida e justa solução do litígio e comprove que o seu direito é bom. 4. Trata-se de nova concepção aplicada à teoria geral do processo de execução, que, por essa ratio, reflete-se na legislação processual esparsa que disciplina microssistemas de execução, desde que as normas do CPC possam ser subsidiariamente utilizadas para o preenchimento de lacunas. Aplicação, no âmbito processual, da teoria do "diálogo das fontes". 5. A Lei de Execuções Fiscais (Lei 6.830/1980) determina, em seu art. 1º, a aplicação subsidiária as normas do CPC. Não havendo disciplina específica a respeito do efeito suspensivo nos embargos à execução fiscal, a doutrina e a jurisprudência sempre aplicaram as regras do Código de Processo Civil. 6. A interpretação sistemática pressupõe, além da análise da relação que os dispositivos da Lei 6.830/1980 guardam entre si, a respectiva interação com os princípios e regras da teoria geral do processo de execução. Nessas condições, as alterações promovidas pela Lei 11.382/2006, notadamente o art. 739-A, § 1º, do CPC, são plenamente aplicáveis aos processos regidos pela Lei 6.830/1980. 7. Não se trata de privilégio odioso a ser concedido à Fazenda Pública, mas sim de justificável prerrogativa alicerçada nos princípios que norteiam o Estado Social, dotando a Administração de meios eficazes para a célere recuperação dos créditos públicos. (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 2008/0015146-7, da T2 – Segunda Turma, julgado em 13/05/2009. Lex: Súmula do Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=1024128&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1. Acesso em: 26/10/2009.)

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E, na falta do efeito suspensivo, a execução prosseguirá

definitivamente na pendência de apelação interposta contra a sentença proferida

nos embargos.183

De acordo com a seriação posta nos incisos do art. 647, a

Lei 11382/2006 situa a adjudicação à frente de qualquer outra modalidade

expropriativa, a exemplo da alienação em hasta publica.184

O que acontece nos embargos é que, o juiz somente

passará ao exame da atribuição do efeito suspensivo após admitir a

impugnação.185

Assim, recebidos os embargos, cabe à Fazenda Pública,

apresentar impugnação, no prazo de 30 (trinta) dias, contestando as afirmações

expendidas pelo embargante.186

Ainda que a Fazenda fique omissa, não respondendo aos

embargos, contra ela não se registram os efeitos da revelia, porque o título

exeqüendo por si só é prova completa do direito da exeqüente, ao devedor é que

toca, por inteiro, o ônus da prova em contrário.187

Muito embora a LEF silencie a respeito do julgamento dos

embargos, mais uma vez é preciso socorrer-se da disciplina do CPC para dirimir

as questões omissas. Assim, julgados os embargos, e esgotadas as hipóteses de

recursais, a lide transitará em julgado. Quando julgados favoravelmente à

Fazenda (sentença de improcedência dos embargos), a execução fiscal tem seu

curso recomeçado até a satisfação integral do débito. Caso seja julgado

favoravelmente ao embargante (sentença procedência), a execução é extinta na

183 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 454. 184 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 793. 185 ASSIS, Araken de. Manual do processo de execução. p. 454. 186 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 130 187 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Lei de execução fiscal: comentários e jurisprudências. p. 95

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parte sob a qual versou a irresignação, prosseguindo com relação ao

remanescente.188

O novo CPC prevê, ainda, que no prazo dos Embargos,

sendo comprovado o depósito de 30% do valor do débito, que deve ser

considerado inclusive o valor total dos honorários, o executado poderá requerer

seja admitido a pagar o restante em até 6 parcelas mensais, conforme o art. 745-

A.189

Antes de deferir a proposta deverá o juiz ouvir o exeqüente,

em atenção ao princípio do contraditório, sendo que uma vez reconhecido o

crédito do exeqüente, fica o executado desarmado para se opor à execução, na

hipótese de sua proposta ser indeferida e haver a retomada dos atos executivos.

(art. 745-A §1º do CPC)190

2.2.1 Matéria Argüível

É lícito ao executado argüir toda e qualquer outra defesa que

lhe seria possível deduzir, em processo de conhecimento, pois considerado que a

execução fiscal se funda em título executivo extrajudicial, que é a natureza da

Certidão de Dívida Ativa. 191

A LEF remete ao CPC no que tange às peculiaridades dos

embargos do devedor, pois em seu texto somente afirma a possibilidade de sua

interposição (art. 16 LEF).192

Os embargos na execução fiscal pouco diferem dos

embargos na execução comum por quantia certa, pois ambos são fundados em

título executivo extrajudicial, e pelo art. 745 do CPC prestam-se a veicular toda e

qualquer matéria de defesa, além daquelas expressamente discriminadas para os

188 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 131 189 NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira. Código de processo civil – e legislação processual em vigor. p. 905 190 NEGRÃO, Theotonio; GOUVÊA, José Roberto Ferreira. Código de processo civil – e legislação processual em vigor. p. 905 191 FILHO ROCHA, J. Virgílio Castelo Branco. Execução fiscal: doutrina e jurisprudência. p. 220 192 THEODORO JÚNIOR, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial . p.95

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embargos à execução fundada em titulo judicial. Ocorre que, não tendo havido

oportunidade de exercício de contraditório em juízo, antes da formação do título,

seria inconstitucional qualquer limitação à matéria argüível.193

Dispõe o art. 745 do CPC:

Art. 745. Nos embargos, poderá o executado alegar:

I - nulidade da execução, por não ser executivo o título

apresentado;

II - penhora incorreta ou avaliação errônea;

III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;

IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de

título para entrega de coisa certa (art. 621);

V - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em

processo de conhecimento.

Ainda, em linhas gerais, as noções expostas a respeito das

condições objetivas e sobre as matérias alegáveis nos embargos à execução

estão igualmente presentes na impugnação ao cumprimento de sentença, que foi

estabelecido pela Lei 11.232/2005, ao instruir nova forma de execução dos títulos

judiciais (a fase de “cumprimento de sentença”), estabelecendo assim, novo meio

de defesa do executado, em lugar dos embargos à execução.194

Desta forma, o art. 475-L do CPC relaciona o que poderá ser

discutido na impugnação ao cumprimento de sentença, e subsidiariamente nos

embargos à execução:

Art. 475-L . A impugnação somente poderá versar sobre:

I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;

II – inexigibilidade do título;

III – penhora incorreta ou avaliação errônea;

IV – ilegitimidade das partes;

193 WANBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: processo de execução. p. 299 e 391 194 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: processo de execução. p. 314-315

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V – excesso de execução;

VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da

obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação

ou prescrição, desde que superveniente à sentença.

Portando, entende-se que são argüíveis nos embargos à

execução fiscal as matérias previstas no art. 745 do CPC, além das expostas no

art. 475-L do CPC.

Por fim, não se admite reconvenção nem compensação nos

embargos à execução fiscal. E as exceções de suspeição, impedimento ou

incompetência serão argüidas em peça apartada (art. 16, § 3º da LEF).195

No próximo capítulo, será abordado sobre a Exceção de pré-

executividade, que também é meio de defesa do executado e sua aplicabilidade

na Ação de Execução Fiscal.

195 WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil, volume 2: processo de execução. p. 391

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CAPÍTULO 3

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE PODE SER RECEBIDA COMO EMBARGOS NA EXECUÇÃO FISCAL?

3.1 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE

Em algumas ocasiões, em que a ação executiva não deveria

prosperar devido a falhas no julgamento acerca da admissibilidade jurisdicional,

ou quando for verificada nulidade não apreciada de ofício, o devedor executado

ficaria numa situação injusta pela via de defesa, pois o trâmite judiciário é

invariavelmente prolongado e, no caso do processo executivo, a demora torna-se

um fator extremamente danoso por conta da constrição patrimonial efetiva.196

Assim, admite-se independente de embargos e do

asseguramento do juízo, a alegação de inexistência do título.197

Desta forma, diante das dificuldades do executado quando

indevidamente demandado, a doutrina nacional, em consonância com os

preceitos e ditames constitucionais, foi a responsável pela flexibilização e

conseqüente possibilidade de se operar o mecanismo conhecido e difundido

como “exceção de pré-executividade”.198

3.1.1 Origem e evolução do instituto

A exceção de pré-executividade consiste numa criação

doutrinária, com acolhimento jurisprudencial, não encontrando respaldo em

nenhum dispositivo legal.

196 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. 1ª ed. São Paulo:IOB Thomson, 2005. p.16 197 FILHO GRECO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 110 198 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p.16

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A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu

artigo 5º, incisos LIV e LV, prevê, respectivamente, os princípios do devido

processo legal, contraditório e ampla defesa:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros

residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o

devido processo legal;

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla

defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

O contraditório e a ampla defesa são instrumentos

imprescindíveis também no processo executivo, tendo em vista que nem sempre

a pretensão do autor exeqüente encontra o respaldo legal necessário, por vezes

faltando-lhe pressupostos e condições de executoriedade. Com isso, faz-se

necessário um maior cuidado e conseqüente controle para se evitar lesões ou

constrangimentos indevidos.199

A estabilidade em torno do entendimento da matéria fora

edificada ao longo de vários anos, desde os contornos traçados por Pontes de

Miranda no ano de 1966, quando o jurista em parecer histórico propugnou pelo

conhecimento de nulidade de títulos executivos extrajudiciais falsificados, sem a

necessidade de garantia do juízo, alegando a tese de que, quando se pleiteia a

execução da dívida, tem que ser examinado se o título é executivo, e enfatiza que

somente se deve exigir depósito ou penhora para a oposição de embargos do

executado, e não para a oposição de exceções e de preliminares concernentes à

falta de eficácia executiva do título.200

199 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p.17 200 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p.63

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Antes mesmo da proposta de Pontes de Miranda, José da

Silva Pacheco sustentou que a defesa do executado não se restringe nem se

esgota nos embargos, admitindo a possibilidade de uma defesa no bojo do

processo executivo com demonstração da impossibilidade do feito executivo.201

Moreira202 referencia como marco inicial do presente instituto

o Decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890, que tratou da Organização da

Justiça Federal e que conferia ao executado o direito de defesa sem a garantia do

juízo como requisito, desde que apresentasse prova documental do pagamento

ou da anulação da dívida.

Em sede legislativa tem-se o Decreto nº 5.225, de 31 de

dezembro de 1932, do Estado do Rio Grande do Sul, que instituiu a exceção de

impropriedade do meio executivo, pela qual a parte citada para a execução de

título executivo poderia, antes de qualquer procedimento, opor exceções de

suspeição e de incompetência do juízo ou de impropriedade do meio executivo.203

Ainda, enfatiza Dinamarco204 que:

É preciso debelar o mito dos embargos, que leva os juízes a uma

atitude de espera, postergando o conhecimento de questões que

poderiam e deveriam ter sido levantadas e conhecidas

liminarmente, ou talvez condicionando o seu conhecimento à

oposição destes.

Após indicar o indeferimento da inicial, a ausência dos

pressupostos processuais e das condições da ação como casos de extinção da

execução, diz Humberto Theodoro Júnior205 que “em todos esses exemplos, a

201 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p.64 202 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. 2ª ed. ver. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 22-23. 203 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 23. 204 DINAMARCO, Cândido (Intervenção de terceiros), citado por MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 23. 205 THEODORO JÚNIOR, Humberto (Processo de execução), citado por, MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 25.

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extinção pode ser provocada por simples petição da parte, independentemente de

embargos, e o juiz tem poderes para declará-la mesmo de ofício, já que

relacionam com requisitos procedimentais de ordem pública”.

Assis206 acreditou que com a alteração do processo de

execução através das Leis 11.232/2005 e 11.382/2006 se eliminaria a utilização

da exceção de pré-executividade, veja-se:

A Lei 11.232/2005 [...] previu como meio de oposição do

executado a impugnação do art. 475-L. Todavia, a esperança de

eliminar o uso da exceção de pré-executividade se desvanece à

primeira vista. Em primeiro lugar, ao executado interessa obstar a

penhora – os exemplos históricos bem demonstram tal

necessidade – mas, a impugnação pressupõe a penhora, como

resulta do art. 475-J, § 1º: o prazo para impugnar flui da intimação

que porventura se fizer da penhora ao executado. Ademais,

vencido o prazo para impugnar, que é de quinze dias, nada

obstante subsistem ou podem surgir objeções e exceções imunes

ao fenômeno da preclusão. É necessário que o órgão judiciário

avalie tais questões, assegurando meio hábil ao executado para

fazê-lo. A esta iniciativa dê-se o nome que se quiser; porém, no

fundo, tratar-se-á da exceção de pré-executividade.

Diante disso, Assis207 entende que foi ampliado o campo de

incidência natural da exceção de pré-executividade, pois fora fixado prazo rígido

para a impugnação, a partir da intimação da penhora, ocorrendo a real

necessidade de controlar os atos de expropriação.

Mesmo que com as alterações previstas na Lei 11.382/2006

tenha desaparecido a necessidade de “garantia do juízo”, sucede que a

concessão de efeito suspensivo aos embargos não impedirá a efetivação dos atos

de penhora e de avaliação de bens, haja vista esses serem requisitos para a

concessão deste benefício. Sendo assim, com o interesse ou a necessidade do 206 ASSIS, Araken de. Manual da execução . 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.1069. 207 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1069

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executado, se for o caso, de impedir a realização da penhora, foi acentuado pelo

legislador o campo de atuação da exceção de pré-executividade, antes de

restringi-lo ou eliminá-lo.208

3.1.2 Conceito

Sobre o significado da palavra “exceção” houve divergência

entre os autores, bem como com relação à exceção de pré-executividade em que

há controvérsias sobre a denominação.209

Dentre as muitas qualificações do instituto, Assis

provavelmente foi quem primeiro utilizou a expressão atualmente difundida no

meio jurídico, conhecida como exceção de pré-executividade, contudo sem

nenhum demérito a quem a denominava de oposição pré-processual ou de

exceção pré-processual, ou, ainda, de objeção processual.210

Alguns consideram didaticamente inadequada a

momenclatura amplamente aceita na doutrina e na jurisprudência pelo fato de

que, por exceção, entende-se defesa estritamente processual, ao passo que

atualmente alguns aspectos materiais são oponíveis pelo viés da objeção de

executividade, tais como a prescrição e a decadência, que dá a verdadeira

amplitude ao incidente processual, sendo cabível a qualquer tempo.211

Historicamente a palavra “exceção” sempre teve o sentido

de defesa e, qualquer que seja o conceito que se adote desse vocábulo, estará no

seu núcleo a idéia de que serve de meio defensivo, assumindo o caráter de

defesa interna ao processo de execução. 212

208 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1069-1070 209 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 35-36. 210 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p.18 211 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p.18 212 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 37.

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A palavra pré-executividade pretende significar a

possibilidade de dedução da exceção antes mesmo do início da atividade

executória, antes da penhora, antes do gravame, antes da constrição, enfim, dos

atos marcantes executivos, não se limitando a esse momento, podendo ser

alegada até mesmo depois dos embargos do devedor e da arrematação, em

ataque aos atos de instrução do processo de execução.213

No tocante à natureza jurídica da exceção de pré-

executividade, deve-se levar em conta que a argüição de matérias, pelo devedor,

em sua maioria de ordem pública, no curso da execução, sem que haja previsão

legal para tal, embora o sistema processual as aceite, leva ao reconhecimento de

que tal atitude é de natureza incidental214. 215

Sobre “exceção de pré-executividade” entende Moreira216

que:

É simples petição, de conteúdo limitado a certas matérias,

endereçada ao juízo da execução, efetivando a participação do

executado no processo de execução e a garantia constitucional do

contraditório.

No conceito de Rocha Filho217, exceção de pré-

executividade trata-se de hipótese excepcional, cuja utilização fica adstrita a

limitadas situações, sob pena de subverter-se toda a ordem e estrutura do

processo de exceção.

Entende Alves que “a objeção de pré-executividade

consubstancia-se em via de defesa no próprio bojo da ação executiva sem a

213 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 39. 214 “Incidente constitui momento novo no processo, formado por um ou mais atos não inseridos na cadeia procedimental prevista em lei, tendo a palavra origem latina incidents, que significa cair em ou sobre algo, neste caso a exceção de pré-executividade recai sobre o processo de execução.” (MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 42.) 215 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 40-41. 216 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 37. 217 FILHO ROCHA, J. Virgílio Castelo Branco. Execução fiscal: doutrina e jurisprudência. p. 235.

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necessidade prévia de garantia do juízo e mediante a argüição de matérias

específicas que não demandam dilação probatória”, ou seja, “todas as provas que

embasam o pleito devem estar pré-constituídas e ter o mesmo status de

relatividade que tem o título apresentado na petição inicial do processo

executivo”.218

A questão é abordada por Paulsen e Ávila219 ao aduzirem

que: “Sendo a execução inconsistente por vício demonstrável de pronto ou em

razão de alguma hipótese de suspensão ou extinção do crédito, poderá o

Executado provocar uma decisão sobre a matéria através de simples petição nos

próprios autos da Execução, à qual se dará o nome de exceção de pré-

executividade”.

Porto220situa que:

Há determinadas matérias que em razão de sua relevância podem

ser argüíveis a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição,

pois são pressupostos processuais que devem ser analisados de

ofício pelo juiz, mas que muitas vezes cabe ao executado suscitá-

las. A argüição de tais matérias arraigou na prática forense

através da exceção de pré-executividade, ganhando aceitação e

aplicação dos tribunais, bem como na execução fiscal.

Apesar da existência de divergências doutrinárias com

relação ao conceito, é certo afirmar que a exceção é um instrumento de defesa do

executado para amparar questões em execuções errôneas e que não dependem

de dilação probatória, conforme será demonstrado em item posterior.

218 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p.69. 219 PAULSEN, Leandro, ÁVILA, Renê Bergmann e SLIWKA, Ingrid Schroder. Direito Processual Tributário. p. 271. 220 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 137-138.

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3.1.3 Procedimento da exceção

Formulará o executado petição endereçada ao juízo em que

tramita a execução, com exposição das razões com que infirma a pretensão do

exeqüente. 221

A petição deverá ser entranhada nos autos do processo de

execução, portanto, não há necessidade de autuação em apenso.222

Legitimam-se para oferecer a exceção de pré-executividade,

em primeiro lugar o executado, ou seja, pessoa que figura no pólo passivo da

execução, bem como os responsáveis (sócio e o cônjuge), contra os quais atuam

os meios executórios, assumem a condição de parte e se enquadram no título

geral.223

Além do executado, podem existir pessoas interessadas no

processo, que não são partes na execução, mas acabaram suportando suas

conseqüências, não podendo ser subtraídos seus bens ao destino que os

aguarda, que são as pessoas que têm responsabilidade executória secundária,

como o fiador, o proprietário de bem oferecido em hipoteca, o sócio que responda

subsidiariamente pelas obrigações da sociedade, a mulher casada, o proprietário

dos bens alienados em fraude contra credores, o terceiro que adquiriu bens

submetidos a medidas preventivas.224

Desta forma, são legitimados também, para apresentar

exceção de pré-executividade, os terceiros que são estranhos ao processo de

execução, mas sofrem constrição patrimonial, ostentando interesse jurídico.

No tocante à competência, a exceção de pré-executividade

segue o mesmo regime dos embargos, devendo o executado oferecer a sua

221 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 61. 222 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 62. 223 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1073. 224 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 66.

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defesa no juízo em que corre a execução, sendo evidente que o juízo competente

para o conhecimento da exceção de pré-executividade é o juízo da execução.225

Se houver necessidade de ataque ao ato praticado em juízo

deprecado, especialmente os atos referentes à penhora, lá deverá o devedor-

executado oferecer a sua petição.226

Questão interessante e relevante é acerca da atitude a ser

tomada pelo magistrado quando diante de uma petição instauradora da exceção

de pré-executividade, pois poderia o juiz imediatamente proferir decisão ou intimar

o credor para se manifestar acerca do incidente.227

A ausência de previsão legal específica leva ao emprego da

analogia, aplicando-se o disposto nos artigos 326 e 327 do CPC: quando o

executado argüir fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do executado,

ou quando argüir quaisquer das matérias arroladas no art. 301228 do CPC, o

exeqüente será ouvido no prazo de 10 dias.229

225 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 47. 226 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 47. 227 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p. 73. 228 “Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar: I - inexistência ou nulidade da citação; II - incompetência absoluta; III - inépcia da petição inicial; IV - perempção; V - litispendência; Vl - coisa julgada; VII - conexão; Vlll - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; IX - compromisso arbitral; IX - convenção de arbitragem; X - carência de ação; Xl - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar.” 229 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 61.

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Mediante tais providências, o juiz cumpre o principio do

contraditório, em oportunidade tão importante que poderá ensejar a extinção do

processo executivo.230

Ademais, a extinção do processo executivo, sem a oitiva do

credor exeqüente, não coaduna com a própria essência do incidente processual

da exceção de pré-executividade, que teve seu surgimento nos princípios

constitucionais da ampla defesa e do contraditório, dentre outros, não sendo

plausível desconsiderar o prestígio destes princípios quando não lhe interessar.231

Discorre Assis232 que: “A falta de observância do

contraditório invalida a eventual sentença de extinção, prejudicial aos interesses

do credor. Por isso, a exigência constitucional não pode ser ignorada.”

Assim, estará eivada de nulidade a decisão de extinção do

feito executivo se, porventura, o credor não for ouvido. Tudo em perfeita

consonância analógica com o art. 398233 do CPC.234

No tocante à produção de provas, como na execução não há

espaço para dilação probatória, quando houver a necessidade, é mister o

ajuizamento de ação de Embargos.235

Ainda, Assis236 relata sobre a produção de provas:

Embora a natureza do processo executivo não seja tão infensa à

dilação probatória, pois até audiência o órgão judiciário poderá

designar (art. 599, I), a produção de provas mais complexas, a

exemplo da perícia, realizar-se-á nos embargos. Daí porque há

necessidade de prova pré-constituída e não de dilação probatória.

230 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1076. 231 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p. 74. 232 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1076. 233 “Art. 398. Sempre que uma das partes requerer a juntada de documento aos autos, o juiz ouvirá, a seu respeito, a outra, no prazo de 5 (cinco) dias.” 234 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p. 74. 235 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 138 236 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1072.

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A extensão da produção de provas precisa ser delimitada,

eis que o juiz tem diante de si título executivo ao qual a lei confere o poder de

desencadear atos executivos, assim, a defesa do executado no próprio processo

de execução tem sido admitida desde que formulada com juntada de prova

documental.237

Na exceção de pré-executividade há certa peculiaridade com

relação à disciplina recursal. Quando extinta a execução por acolhimento da

matéria argüida na execução, o recurso cabível é a apelação, haja vista que a

execução só produz efeitos quando declarada por sentença. Já quando inadmitida

a exceção de pré-executividade o recurso cabível é o agravo de instrumento, pois

a decisão é interlocutória e a execução terá prosseguimento.238

3.1.3.1 Prazo para interposição

Dado que a exceção de pré-executividade não está

contemplada legislativamente, não existe prazo para a sua prática. Ainda que

houvesse sido marcado pela lei, não seria preclusivo, pois a natureza das

matérias possíveis de ser alegadas não se subordina à perempção inerente a

preclusão.239

Alves questiona a inadequação do termo consagrado na

doutrina com a interposição da exceção a qualquer tempo, pois “exceção de pré-

executividade” induz a uma interpretação que leva a entender que o cabimento

está adstrito à primeira participação do executado no processo, assim não estaria

o procedimento atrelado ao nome, e sim à sua natureza, podendo sua

interposição ocorrer em qualquer época. 240

Assis relata que “o requerimento do devedor não se cinge ao

prazo de três dias do art. 652, caput, na redação da Lei 11.382/2006, na

237 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 48-49. 238 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 138 239 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 62. 240 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p. 75.

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execução por quantia fundada em título extrajudicial, e aos prazos de

cumprimento nos demais procedimentos, nem se vincula ao interstício assinado

ao executado para oferecer os embargos do art. 736 ou a impugnação do art.

475-L”.241

Refere que, a 4ª Turma do STJ proclamou que a exceção,

formulada nos autos da execução, não depende “do prazo fixado para os

embargos do devedor”, e essa abertura se deve à possibilidade do juiz conhecer

a qualquer tempo de matéria relativa a pressupostos processuais e condições da

ação (art. 267, §3º do CPC), e à inexistência de prazo próprio para

excepcionar.242

Ainda, de acordo com o art. 267, §3º do CPC, a exceção de

pré-executividade deve ser oposta no primeiro momento possível, sob o ônus da

responsabilidade do executado nas penas previstas243:

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

[...]

IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de

constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência

ou de coisa julgada;

Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como

a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse

processual;

[...]

§3º O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de

jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da

matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não

alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos,

responderá pelas custas de retardamento.

241 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1074. 242 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1074. 243 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p. 75.

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58

Desse modo, o executado que pretenda valer-se da exceção

deverá argüir todas as matérias em dose única, sob pena de pagamento das

custas de retardamento.

No entanto, Moreira entende que a conseqüência poderá ser

mais severa, pois “com fundamento no art. 22 do Código de Processo Civil, o juiz

poderá deixar de condenar o exeqüente em honorários caso o executado não

ofereça, na primeira oportunidade em que falar nos autos, exceção de pré-

executividade, alegando fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do

autor”, apenas não incidirá se “a parte desconhecia, quando da resposta, a

circunstância extintiva do direito ou se ocorrera motivo de força maior a impedir a

argüição”.244

3.1.4 Matérias argüíveis

O cabimento da exceção de pré-executividade à ação

executiva fiscal é determinado, segundo posicionamento pacífico na

jurisprudência, quando presentes vícios no título que possam ser declarados de

ofício.245

Além das matérias que o juiz deveria conhecer de ofício,

existem ainda outras matérias que podem ser argüidas, tais como: a prescrição, o

pagamento, a coisa julgada, a litispendência, dentre outras.246

São perfeitamente argüíveis pela via da exceção de pré-

executividade matérias e aspectos fáticos que versem acerca da inexequibilidade,

seja por defeito no título, seja por vício no processo, tornando-se sem importância

se o objeto do incidente trata de matéria apreciável de ofício ou não.247

244 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 63-64. 245 PORTO, Éderson Garin. Manual da Execução Fiscal. p. 138. 246 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p. 71. 247 ALVES, Rômulo Eugênio de Vasconcelos. Execução Fiscal e Objeção de Executividade. p. 72.

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Explana-se a seguir um rol de que podem ser matérias

objeto da exceção de pré-executividade:

a) Ausência de pressupostos processuais:

Está ligada à função de autonomia do processo em face do

direito material, amparada pelo direito positivo, no art. 267, IV do CPC:

Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito:

IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de

constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

A teor do art. 267, § 3º248 do CPC, o juiz conhece dos

pressupostos processuais de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, e

estando presentes o juiz está autorizado a iniciar a execução, agredindo o

patrimônio do devedor.249

Havendo razão séria para duvidar da presença de algum

pressuposto processual, deve o juiz extinguir o feito sem apreciação do mérito.250

Sobre a classificação dos pressupostos que podem ocorrer

no processo de execução, serão relacionados alguns, de acordo com o que a

doutrina dispõe:

Os pressupostos de constituição devem preencher os

requisitos da Jurisdição, que está relacionada com o juízo no qual as atividades

serão desenvolvidas; da Demanda, na qual uma petição inicial deve realizar o

pedido do direito, indicando a espécie de execução pretendida; e da Citação, que

248 Art. 267. [...] § 3º. O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento. 249 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 73. 250 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 73.

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60

é consubstanciada para existência do processo de execução sendo essencial o

chamamento do devedor.251

No tocante aos pressupostos processuais de validade, estão

relacionados com a Petição inicial apta, aplicam-se o disposto nos art. 282 e 295,

§ único, do CPC; a Citação válida, que deve ocorrer em conformidade com as

prescrições legais para não ser considerado nulo; ao Juízo competente e juiz

imparcial, que deve ser competente segundo as regras reguladoras da espécie, e

que o juiz atue de forma desinteressada e eqüidistante das partes; e a

Capacidade processual, sendo que o exeqüente ou executado devem estar

vinculados à existência do sujeito de direito, que é a aptidão abstrata de agir no

processo, reconhecida pela ordem jurídica.252

Ainda, há os pressupostos processuais negativos, como fato

impeditivo, faz referência à Coisa Julgada, que não pode existir, pois a parte, em

seu primeiro processo, já exerceu o seu direito de ação, havendo consumação do

direito de demandar; a Litispendência, que ocorre quando se repete a ação que

está em curso, ou seja, processos idênticos correndo simultaneamente, podendo

ocorrer possíveis decisões contraditórias; e a Perempção, acontece quando o

autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo fundamento previsto

inciso III do art. 267253 do CPC, não poderá intentar nova ação contra o réu com o

mesmo abjeto.254

b) Ausência das condições da ação:

251 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 74-76/77. 252 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 80-86. 253 “Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias;” 254 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 88-89.

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61

As condições da ação, são filtro para a apreciação do mérito,

devem ser apreciadas a qualquer tempo e grau de jurisdição, como matéria de

ordem pública que são.255

A principal delas é a Ilegitimidade passiva ad causam, que

no processo de execução é aferida em função de título executivo256.

Discorre a jurisprudência sobre o assunto:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXCEÇÃO de PRÉ-

EXECUTIVIDADE. Rejeição. Muito embora a objeção de pré-

executividade se constitua no meio hábil para questões relativas

aos pressupostos processuais e às condições da ação, dentre as

quais se insere a ILEGITIMIDADE PASSIVA 'AD CAUSAM' da

parte executada, nas hipóteses em que essa ilegitimidade ressalte

comprovada documentalmente. Entretanto, não há como se

admitir a exceção de pré-executividade para o reconhecimento da

ilegitimidade passiva da parte para a execução intentada, quando

o reconhecimento dessa ilegitimidade é matéria dependente de

apuração dentro de uma cognição exauriente.257

Desta forma, para essa matéria ser aplicada na exceção de

pré-executividade faz-se necessário que a prova seja inequívoca e pré-

constituída, sem deixar dúvidas para o julgador.

c) Vícios do título executivo:

255 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 96. 256 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 99. 257 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Agravo de Instrumento nº 2002.006042-4, da 3ª Câmara de Direito Comercial, Rel. Trindade dos Santos, julgado em 27/11/2003. Lex: Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Disponível em : http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qClasse=&qNao=&pageCount=10&qTodas=exce%E7%E3o+de+pr%E9-executividade&qRelator=&qDataFim=&qOrgaoJulgador=&d-49489-p=1&qEmenta=&qForo=&qCor=FF0000&qProcesso=&qTipoOrdem=relevancia&qFrase=ilegitimidade+passiva+ad+causam&qDataIni=&qUma=fiscal. Acesso em 13/10/2009.

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Os defeitos e vícios que possa conter o título são sempre

enfocados sob ótica da carência da ação, ainda que possam representar, no

plano do direito material, nulidade.258

Moreira259 estabelece que: “a exceção de pré-executividade

é via hábil para atacar defeito do título, desde que não dependa de prova a ser

produzida, e alegação do executado aponte vício que possa ser verificado com

leitura mais atenta do título; ou, se precisar de prova, que seja unicamente

documental.”

Assim também é o entendimento jurisprudencial:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-

EXECUTIVIDADE. REQUISITOS AUSENTES. DESCABIMENTO.

A doutrina e a jurisprudência, diante da existência de VÍCIOS no

TÍTULO executivo que possam ser declarados de ofício, vêm

admitindo a utilização da exceção de pré-executividade, cuja

principal função é a de desonerar o executado de proceder à

segurança do juízo para discutir a inexigibilidade de título ou a

iliquidez do crédito exeqüendo (STJ - Agravo de instrumento n.

649.011/GO, rel. Min. Luiz Fux, DJ 1-7-2005).260

d) Pagamento:

Se houve pagamento da quantia cobrada na execução,

ocorreu o adimplemento e extinção da obrigação, impedindo o prosseguimento da

258 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p. 127. 259 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p.129. 260 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Agravo de Instrumento nº 2005.007061-7, da 1ª Câmara de Direito Comercial, Rel. Salim Schead dos Santos, julgado em 06/04/2006. Lex: Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Disponível em : http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=v%EDcios+do+t%EDtulo&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em 13/10/2009.

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execução, devendo o juiz conhecer de ofício dos fatos extintivos presentes no

processo, isto é, fatos demonstrados pela prova produzida.261

O pagamento é modo de extinção da execução, conforme o

prevê o Código de Processo Civil:

Art. 794. Extingue-se a execução quando:

I - o devedor satisfaz a obrigação;

O Código Tributário Nacional também faz menção ao

pagamento como uma das formas de extinção do crédito tributário:

Art. 156. Extinguem o crédito tributário:

I - o pagamento;

Assis262 aponta que ”existe outro meio para deduzir essas

exceções, que é a ação autônoma; porém, o princípio da economia recomenda a

alegação incidental.”

Moreira263 também entende sobre o assunto que: “Exigir

embargos com a finalidade de pedir a extinção da execução pelo pagamento é

grave atentado à instrumentalidade do processo já que a solução pode ser obtida

pelo modo simples da exceção de pré-executividade.”

e) Prescrição:

A prescrição se encontra enxertada dentro do círculo das

argüições conhecidas de ofício, conforme o art. 219, § 5º do CPC:

Art. 219. [...]

§ 5º O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição.

261 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p.161-162. 262 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1071. 263 MOREIRA, Alberto Camiña. Defesa sem embargos do executado: exceção de pré-executividade. p.164.

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O artigo 162 do Código Civil possibilita a alegação de

prescrição em qualquer instância e tempo.

Uma corrente permite o conhecimento da matéria por meio

de simples petição, firmando orientação de que a argüição de prescrição por via

de exceção de pré-executividade é possível antes da oposição de embargos,

posto que implica desnecessário gravame ao executado. 264

Ainda sobre a prescrição, recentes julgados do Superior

Tribunal de Justiça vêm pacificando o entendimento de que é possível a sua

argüição, por meio de simples petição, quando não demandar dilação probatória,

a saber:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL.

ART. 545 DO CPC. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL.

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. DILAÇÃO PROBATÓRIA.

INADMISSIBILIDADE. ALEGAÇÃO DE NULIDADE DA

CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA. REDISCUSSÃO DE MATÉRIA

FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 07/STJ. 1. A exceção de pré-

executividade é servil à suscitação de questões que devam ser

conhecidas de ofício pelo juiz, como as atinentes à liquidez do

título executivo, os pressupostos processuais e as condições da

ação executiva. 2. O espectro das matérias suscitáveis através da

exceção tem sido ampliado por força da exegese jurisprudencial

mais recente, admitindo-se a argüição de prescrição e

decadência, desde que não demande dilação probatória. [...] O

acolhimento da exceção, portanto, depende de que as alegações

formuladas pela parte sejam averiguáveis de plano,

completamente provadas, praticamente inquestionáveis. Qualquer

264 MARTINS, Ana Luisa Fernandes. Exceção de pré-executividade em face da Fazenda Pública. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8016. Acesso em: 19/10/2009.

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consideração ou análise mais aprofundada impede o manejo

desse incidente. 265

Desta forma, a argüição da prescrição em âmbito da

exceção de pré-executividade depende da prova que será apresentada pelo

executado como meio de defesa.

No tocante às matérias e aos meios de provas que podem

ser admitidos, Assis266 demonstra da seguinte forma:

No caso de prescrição, inicialmente admitido, basta ao juiz cotejar

dados hauridos do processo com o calendário; na hipótese de o

executado alegar pagamento, ao juiz somente será possível

conhecer da exceção mediante prova documental; a litispendência

[...] demonstrar-se-á documentalmente; e assim por diante.

Nota-se que para argüir as matérias na exceção de pré-

executividade é necessário que sejam produzidas provas pré-constituídas, ou

seja, sem que haja a necessidade de dilação probatória.

3.2 DO RECEBIMENTO DA EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE COMO

EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL

Após a pesquisa apresentada, verificar-se-á a possibilidade

do recebimento da petição de exceção de pré-executividade como Embargos no

processo de execução fiscal.

Conforme demonstrado no capítulo anterior, com a reforma

do CPC, ficou estabelecido que nas ações de execução comum, não há mais a

necessidade de garantir o juízo para que o executado possa se defender através

dos Embargos à Execução.

265 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 2008/0115864-8, da T1 - 1ª Turma, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 02/12/2008. Lex: Jurisprudência do STJ. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sLink=ATC&sSeq=4512961&sReg=200801158648&sData=20081217&sTipo=5&formato=PDF. Acesso em 15/10/2009. 266 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1071-1072.

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Assim, ocorre com o instituto da exceção de pré-

executividade, pois o executado pode se defender sobre determinadas matérias

em qualquer fase do processo, sem que haja a necessidade de garantia do juízo.

Entretanto, não havendo mais esse requisito, pode ser mais

vantajoso ao executado opor Embargos, haja vista não haver delimitação de

matérias que possam ser argüidas, bem como poderá ocorrer dilação probatória.

Verificou-se também que a Lei 6.830/80 é uma lei específica,

que trata sobre a execução fiscal, prevê que deve existir a segurança do juízo

para que sejam opostos Embargos à Execução.

No impasse de saber se pode ser aplicado subsidiariamente

o previsto no CPC ao processo de execução Fiscal, que é regido por lei

específica, deve-se considerar o princípio da especificidade, que versa que onde

há Lei específica disciplinando determinado assunto, esta não poderá deixar de

ser aplicada em favor de Lei geral, eis que o intérprete não pode ir além do que

dispõe a lei.267

Há entendimentos de que não há mais espaço para a

exceção de pré-executividade na execução fiscal, existindo a possibilidade de

recebimento da exceção como embargos, porque não se exige mais a garantia,

bem como não há prazo para opor embargos antes da garantia disposto na LEF.

Ademais, não sendo de interesse do executado nomear

bens, ou mesmo por este não possuir bens passíveis de penhora, não precisa ser

concedido efeito suspensivo aos Embargos, já que, conforme a alteração do CPC,

não é imperativo ao juiz conceder efeito suspensivo à Ação de Execução, e sendo

a LEF uma lei omissa com relação à suspensividade do processo, será aplicado

subsidiariamente o previsto no CPC.

267 WILHELM, Mara Denise Poffo. Execuções Fiscais. Inaplicabilidade da multa de 10% prevista pelo art. 475-J do CPC. Disponível em: http://www.wilhelm.adv.br/hp/interna.asp?p_codmnu=3&p_codnot=671 . Acesso em: 11 de outubro 2009.

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Entende-se que não se vislumbra, assim, ofensa ao referido

art. 16, § 1º 268, da LEF, uma vez que a garantia integral da execução era exigida

na situação em que o recebimento dos embargos implicava em suspensão do

procedimento executivo, o que não mais acontece, como regra, em face da novel

legislação.

Há jurisprudência prevendo que a insuficiência da penhora

para garantir a execução fiscal não é óbice ao recebimento e processamento dos

embargos do devedor:

A dificuldade surge quanto à necessidade de garantia, pois o

disposto na LEF conflita com a atual redação do CPC. Uma

primeira interpretação sugere que, por ser a LEF lei especial, deva

esta prevalecer. Porém, tal argumento não resiste a uma análise

mais detida, pois, se adotar tal pensamento, o executado somente

poderá opor embargos à execução fiscal após a garantia do juízo

e aqueles serão desprovidos de efeito suspensivo, em regra. A

melhor interpretação, a meu ver, é aquela que permite a oposição,

mesmo em sede de execução fiscal, de embargos

independentemente de garantia e sem efeito suspensivo, em

regra, pois com o processamento dos embargos o executado terá

preservado o seu direito de acesso ao Judiciário (art. 5º, XXXV, da

Lei Maior), e o fisco não sofrerá qualquer tipo de prejuízo, pois o

executivo fiscal terá prosseguimento normalmente, inclusive com

a possibilidade de alienação de bens constritos (art. 694, § 2º, do

CPC), sendo certo que eventual efeito suspensivo aos embargos

somente pode ser conferido com a garantia do Juízo (art. 739-A, §

1º, do CPC).269

Assim, analisando as vantagens para ser aplicado tal

entendimento, verifica-se que ocorre, em certos casos, celeridade do processo,

268 “Art. 16 . O executado oferecerá embargos, no prazo de 30 (trinta) dias, contados: § 1º - Não são admissíveis embargos do executado antes de garantida a execução.” 269 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Agravo de Instrumento nº 2007.04.00.007703-9, da 2ª Turma, Rel. Otávio Roberto Pamplona, julgado em 27/04/2007. Lex: Jurisprudência do TRF4. Disponível em: http://www.trf4.jus.br/trf4/jurisjud/resultado_pesquisa.php. Acesso em 15/10/2009.

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pois serão analisados, de uma vez só, todos os argumentos apresentados, não

deixando brecha para que precisem ser analisadas posteriormente novas

alegações, ou matérias que não são cabíveis de argüição na exceção.

Vale ressaltar que para o recebimento da exceção como

embargos, é necessário abrir prazo para o executado, querendo, complementar a

inicial, visto que poderão ser argüidas mais matérias nos embargos do que as

permitidas na peça de exceção de pré-executividade, não ocasionando assim,

cerceamento de defesa.

No entanto, deve-se levar em conta um dos aspectos

frisantes do princípio da economia processual que consiste em obter o máximo de

resultados com o mínimo de esforços, assim havendo o recebimento da exceção

como embargos poderá ocorrer uma prolongada discussão dispendiosa do

processo.

Desta forma, sendo os Embargos uma peça autônoma,

devendo seguir todo o trâmite do rito ordinário, irá postergar a ciência de questões

que já poderiam ter sido tratadas de ofício, prejudicando o executado, que poderá

ter a expropriação de bens durante o trâmite do processo, rebatendo também o

entendimento que causaria, em certos casos, celeridade às ações de execução.

Convém insistir que a exceção de pré-executividade não

pode ser encarada como expediente pernicioso ou maligno, ao contrário, presta-

se para impedir o prosseguimento de execuções inúteis, beneficiando o conjunto

da atividade jurisdicional, ou evitar dano injusto ao executado.270

Os tribunais, com vista ao sentido teleológico da norma

jurídica, e diante de situações limitadas e peculiares, continuam dando passos no

sentido de abrandar a regra contida no art. 16, §1º da LEF, ao admitir a

possibilidade de interposição de embargos à execução, independentemente de

prévia segurança do juízo271, veja-se:

270 ASSIS, Araken de. Manual da execução . p.1070. 271 FILHO ROCHA, J. Virgílio Castelo Branco. Execução fiscal: doutrina e jurisprudência. p. 232.

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TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL - EXCEÇÃO DE PRÉ-

EXECUTIVIDADE - EXECUÇÃO FISCAL - POSSIBILIDADE.

É admissível a exceção de pré-executividade, inclusive em sede

de execução fiscal, quando a matéria deduzida deva ser

apreciada de ofício pelo juiz ou que, sem a necessidade de

produção de provas, tenha a eficácia de fulminar a ação executiva

de plano, independentemente do momento processual em que é

apresentada.272

Neste sentido, o Superior Tribunal de Justiça editou a

Súmula 393273 que prevê:

A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal

relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não

demandem dilação probatória.

Não resta dúvida quanto à admissibilidade da exceção de

pré-executividade na Ação de Execução Fiscal, visto que convém para alegar

situações específicas, ou seja, matérias que possam ser conhecidas de ofício

pelo juiz e que não há necessidade de dilação probatória, onde o tramite ocorrerá

com mais celeridade, podendo ocasionar a extinção do processo.

Portanto, considerando a pesquisa apresentada, apesar das

reformas processuais, a exceção de pré-executividade continua tendo efetiva

aplicação no âmbito de defesa do devedor da Ação de Execução Fiscal, sem que

haja a necessidade desta ser recebida como Embargos.

272 BRASIL. Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Apelação Cível nº 2005.032610-5, da 3ª Câmara de Direito Público, Rel. Luiz Cézar Medeiros, julgado em 13/02/2007. Lex: Jurisprudência do Tribunal de Justiça. Disponível em: http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acpesquisa!pesquisar.action?qTodas=&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=2005.032610-5&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10. Acesso em 19/10/2009. 273 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula 393, da S1 - Primeira Seção, julgado em 23/09/2009. Lex: Súmula do Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=9. Acesso em:19/10/2009.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente estudo sobre a possibilidade da peça da

Exceção de Pré-Executividade ser recebida como Embargos na Ação de

Execução Fiscal, concluiu-se que:

As ações de execução, em geral, são regidas pelo que

dispõe o Livro II do CPC, que sofreram alterações importantes com a ultima

reforma, como o caso de que não existe mais o requisito de ter garantia nos autos

para o executado apresentar sua defesa através de Embargos à Execução,

conforme foi estabelecido no art. 736 do CPC.

Desta forma, não havendo mais a necessidade de haver

segurança do juízo para que o executado apresente Embargos, perde também o

cabimento a Exceção de Pré-executividade, pois a matéria desta pode ser

explanada também nos Embargos, devendo, no caso de ser aplicado tal

entendimento, o executado ser intimado para, querendo, emendar sua petição,

para não ocasionar cerceamento de defesa.

Contudo, sendo a Lei de Execuções Fiscais uma lei

específica, deve-se seguir o estabelecido nela, aplicando-se subsidiariamente o

disposto no CPC, quando aquela for omissa.

Assim, para o recebimento dos Embargos na Ação de

Execução Fiscal deve-se preencher o requisito da garantia do juízo, conforme

discorre o art. 16 da LEF.

Ainda, quando as matérias argüidas em defesa do

executado não tiverem necessidade de dilação probatória, devem ser

apresentadas em exceção de pré-executividade e desta forma o executado não

irá protelar sua obrigação, resolvendo-se a demanda, conforme a recente Súmula

393 do STJ.

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Não resta dúvida quanto à admissibilidade da exceção de

pré-executividade na Ação de Execução Fiscal, visto que convém para alegar

matérias que possam ser conhecidas de ofício pelo juiz sem necessidade de

dilação probatória, onde o trâmite ocorrerá com mais celeridade, sem a obrigação

de dar início à expropriação de bens do executado.

Portanto, apesar das reformas processuais, a exceção de

pré-executividade continua tendo efetiva aplicação no âmbito de defesa do

devedor da Ação de Execução Fiscal.

Assim, retornando-se as hipóteses cogitadas, tem-se que:

1. “Poderá ser aplicado o disposto do Livro II do Código

Processo Civil quando a lei específica das Execuções Fiscais for omissa.” Restou

confirmada, visto que a própria LEF prevê em seu art. 1º, que nos que a lei for

omissa deverá ser aplicado subsidiariamente o previsto no CPC.

2. “Será aceito o recebimento da Exceção de Pré-

executividade como Embargos à Execução no processo de Execução fiscal,

quando o juiz entender que não há necessidade de garantia do juízo para a opor

Embargos, e desta forma dar celeridade ao julgamento do processo, para que

seja argüida todas as matérias cabíveis em meio de defesa”. Restou confirmada,

pois a exceção de pré-executividade poderá ser recebida como embargos desde

que se demonstre a necessidade de dilação probatória para comprovar a matéria

argüida para defesa do executado.

3. ”Para o recebimento da exceção como embargos, é

necessário abrir prazo para o executado, querendo, complementar a inicial, do

contrário, ocasionará cerceamento de defesa.” Restou confirmada, haja vista que

o objetivo para este recebimento é dar celeridade ao processo, alegando de uma

só vez tudo que o executado entende ser cabível para sua defesa e nos

Embargos podem ser argüidas todos as matérias, já na Exceção de Pré-

executividade só podem ser argüidas matérias que o juiz pode conhecer de ofício.

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4. ”Não poderá ser aceita a troca das peças, pois deverá ser

aplicado o que dispõe na lei específica das Execuções Ficais, e não o que

estabelece o Código Civil, obedecendo à regra de que para opor Embargos há

necessidade de garantia nos autos da Execução Fiscal, e ainda que as matérias

sem necessidade de dilação probatória poderão ser argüidas através de Exceção

de Pré-executividade”. Restou parcialmente confirmada, em virtude da súmula

393 do STJ: “a exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal

relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação

probatória”, portanto, neste caso, esta deve ser recebida e julgada como exceção

de pré-executividade. Ocorre que quanto ao entendimento de que para opor

Embargos há a necessidade de garantia nos autos da Execução Fiscal, ficará a

critério do juízo competente, pois é de entendimento de alguns que é cabível o

recebimento dos Embargos sem a garantia do juízo quando for interposta

Exceção de pré-executividade sem os requisitos necessários, podendo dar

celeridade ao processo.

Resta assim, concluída a pesquisa, no afã de colaborar

academicamente para a discussão do assunto, evidenciando-se a relevância

prática que poderá ser aprofundada por trabalhos vindouros.

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