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Professores

Felipe CadeteJuiz Federal. Pós-graduado em direito tributário pelo Instituto Brasileiro deEstudos Tributários IBET. Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Ex-Procurador do Município do Jaboatão dos Guararapes/PE. Ex-Advogado. Aprovado nos concursos de Juiz Federal da 1ª Região, JuizFederal da 5ª Região, Procurador da Fazenda Nacional, ProcuradorFederal, Procurador do Estado de Alagoas, Procurador do Município doRecife/PE, Procurador do Município do Jaboatão dos Guararapes/PE,Advogado da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA,Advogado da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco CHESF, Oficialde Justiça do Tribunal de Justiça de Pernambuco e Técnico Judiciário doTribunal Regional do Trabalho da 6ª Região.

Gabriel Brum TeixeiraJuiz Federal. Ex-Procurador da Fazenda Nacional. Ex-Analista Judiciário.Ex-Técnico Judiciário. Aprovado nos concursos de Juiz Federal da 1ªRegião (8º lugar), Procurador da Fazenda Nacional, Analista Judiciário doTribunal Regional Federal da 4ª Região, Técnico Judiciário do TribunalRegional Federal da 4ª Região e Analista Processual do Ministério Públicoda União.

Bernardo Lima VasconcelosJuiz Federal. Mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federaldo Ceará. Pós-graduado em Direito Tributário. Ex-Procurador da FazendaNacional. Ex-Advogado da União. Ex-Analista Judiciário. Ex-TécnicoJudiciário. Aprovado nos concursos de Juiz Federal da 1ª Região, Juiz deDireito do Estado da Bahia, Procurador da Fazenda Nacional, Advogadoda União (2º lugar), Analista Judiciário do Tribunal Regional Federal da 5ªRegião, Analista Judiciário do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará,Analista do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, TécnicoJudiciário do Tribunal Regional Federal da 5ª Região e Técnico Judiciáriodo Tribunal de Justiça do Ceará.

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Índice

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Rodada 1Prof. Felipe Cadete

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS.

IMPOSSIBILIDADE. RECURSO REPETITIVO. TEMA 908.

Prof. Gabriel Brum Teixeira

ESTUPRO CIRCUNSTANCIADO (ART. 213, § 1º, DO CP). VÍTIMA MAIOR DE 14 ANOS E

MENOR DE 18 ANOS. ATO LIBIDINOSO DIVERSO DA CONJUNÇÃO CARNAL.

CONFIGURAÇÃO DO CRIME NA MODALIDADE CONSUMADA. ATIPICIDADE AFASTADA. 

Prof. Bernardo Lima Vasconcelos

REPETIÇÃO DE INDÉBITO DE CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. PRAZO

PRESCRICIONAL. DEFINIÇÃO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 919.

Prof. Bernardo Lima Vasconcelos

REPETIÇÃO DE INDÉBITO DE CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. TERMO

INICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL. DEFINIÇÃO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 919.

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Rodada 1Prof. Felipe Cadete

Segunda Seção

AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. REVISÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS.IMPOSSIBILIDADE. RECURSO REPETITIVO. TEMA 908.

Impossibilidade de revisão de cláusulas contratuais em ação de prestação de contas.

Na origem, tratou-se de ação de prestação decontas ajuizada em face de banco em que seexigiu a demonstração, de forma mercantil, damovimentação financeira do contrato deabertura de crédito em conta correntecelebrado entre as partes, desde o início dorelacionamento, nos termos do art. 917 doCódigo de Processo Civil. Tendo em vista aespecialidade do rito, não se comporta noâmbito da prestação de contas a pretensão dealterar ou revisar cláusula contratual. Ascontas devem ser prestadas, com aexposição, de forma mercantil, das receitas edespesas, e o respectivo saldo (CPC/1973,art. 917). A apresentação das contas e orespectivo julgamento devem ter por base ospressupostos assentados ao longo da relaçãocontratual existente entre as partes. Nessecontexto, não será possível a alteração dasbases do contrato mantido entre as partes,pois o rito especial da prestação de contas éincompatível com a pretensão de revisarcontrato, em razão das l imitações aocontradi tór io e à ampla defesa. Essaimpossibilidade de se proceder à revisão decláusulas contratuais diz respeito a todo oprocedimento da prestação de contas, ou seja,não pode o autor da ação deduzir pretensõesrevisionais na petição inicial (primeira fase),conforme a reiterada jurisprudência do STJ,tampouco é admissível tal formulação emimpugnação às contas prestadas pelo réu(segunda fase). Isso ocorre porque, repita-se,o procedimento especial da prestação decontas não abrange a análise de situaçõescomplexas, mas tão somente o mero

levantamento de débitos e créditos geradosdurante a gestão de bens e negócios docliente bancário. A ação de prestação decontas não é, portanto, o meio hábil a dirimirconflitos no tocante a cláusulas de contrato,nem em caráter secundário, uma vez que talação objetiva, tão somente, a exposição doscomponentes de crédito e débito resultantesde determinada relação jurídica, concluindopela apuração de saldo credor ou devedor.REsp 1.497.831-PR, Rel. Min. Paulo de TarsoSanseverino, Rel. para acórdão Min. MariaIsabel Gallotti, Segunda Seção, por maioria,julgado em 14/9/2016, DJe 7/11/2016.

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Comentários

Para o STJ a especialidade do rito da ação de prestação de contas sob oCPC/73 impede que haja a discussão acerca da validade ou revisão decláusulas contratuais. Isto porque a ação de prestação de contas presta-seapenas a dirimir incertezas surgidas a partir da administração de bens,negócios e interesses de terceiros, num encontro de créditos (entradas) edébitos (saídas) em busca de um saldo (resultado), numa linguagem contábil.

 

Édizer, apenas quem administra bens alheios é quem tem o dever de prestarcontas, enquanto apenas o terceiro proprietário ou possuidor dos bens équem tem o direito de exigi-las.

 

A posição do STJ deste recurso repetitivo deve ser transportada para oCPC/15 cum grano salis ou com ressalvas e adaptações. Porque atualmenteo Novo CPC apenas prevê como sendo de rito especial a pretensão de exigiras contas, isto é, do administrado proprietário/possuidor contra oadministrador dos bens alheios. A pretensão de prestar contas, é dizer, destecontra aquele seguirá o rito ordinário. É o que dispõe o art. 550 do CPC:

 

“Art. 550.  Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requereráa citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15(quinze) dias.

§1º Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelasquais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessanecessidade, se existirem.

§2º Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar,prosseguindo-se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro.

§3º A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá serfundamentada e específica, com referência expressa ao lançamentoquestionado.

§4º Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355.

§5º A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar ascontas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnaras que o autor apresentar.

§6º Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5º, seguir-se-á oprocedimento do § 2o, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15(quinze) dias, podendo o juiz determinar a realização de exame pericial, senecessário.”

 

Assim a conclusão do STJ se mantém aplicável à atual ação de exigir contas,cuja especialidade impede que sejam conhecidas outras matérias além dasobtenção das próprias contas sob a forma contábil, impedindo a discussão decláusulas contratuais.

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Ainda sobre o tema, é importante lembrar o que dispõe a Súmula 259 do STJ(“A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular de conta-corrente bancária.”) bem como outra tese de recurso repetitivo de que “noscontratos de mútuo e financiamento, o devedor não possui interesse de agirpara a ação de prestação de contas (REsp 1.293.558-PR, Rel. Min. LuisFelipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 11/3/2015)”, já que a açãocabível seria a de exibição de documentos, porque no mútuo e nofinanciamento não haveria bens alheios, pelo fato de a tradição de bemmóvel fungível (dinheiro) transferir a propriedade nestes contratos reais.

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Prof. Gabriel Brum Teixeira

Sexta Turma

ESTUPRO CIRCUNSTANCIADO (ART. 213, § 1º, DO CP). VÍTIMA MAIOR DE 14 ANOS EMENOR DE 18 ANOS. ATO LIBIDINOSO DIVERSO DA CONJUNÇÃO CARNAL.CONFIGURAÇÃO DO CRIME NA MODALIDADE CONSUMADA. ATIPICIDADEAFASTADA. 

Subsume-se ao crime previsto no art. 213, § 1º, do CP - a conduta de agente queabordou de forma violenta e sorrateira a vítima com a intenção de satisfazer sualascívia, o que ficou demonstrado por sua declarada intenção de "ficar" com a jovem -adolescente de 15 anos - e pela ação de impingir-lhe, à força, um beijo, após serderrubada ao solo e mantida subjugada pelo agressor, que a imobilizou pressionando ojoelho sobre seu abdômen. 

Tratou-se de recurso especial em que seapontou, entre outras questões, a negativa devigência ao art. 213, § 1º, do CP, aofundamento de que a Corte a quo negou aspremissas fáticas delineadas nos autos, paraen tender que não houve o es tup rocircunstanciado. Nesse sentido, o recorrenteinsist iu que a conclusão adotada eraincompatível com a narrativa, pois teriadescrito todos os elementos do delito emcomento, mas se negado a apl icar arespectiva pena. Isso porque se teriacomprovada, de forma inequívoca, a violênciareveladora da ofensa à dignidade sexual davítima, não havendo que se falar apenas em"beijo roubado". O aresto impugnado informouque o réu abordou de forma violenta esorrateira a vítima - adolescente de 15 anos -com a intenção de satisfazer sua lascívia, oque ficou demonstrado por sua declaradaintenção de "ficar" com a jovem e pela ação delhe impingir, à força, um beijo libidinoso, apósser derrubada ao solo e mantida subjugadapelo agressor, que a imobilizou pressionandoo joelho sobre seu abdômen. A agressãosexual somente não prosseguiu porque orecorr ido percebeu a aproximação deindivíduos em uma motocic leta. Semembargo, o Tribunal estadual empregaargumentação que reproduz o que seidentifica como a cultura do estupro, ou seja, aaceitação como natural da violência sexual

contra as mulheres, em odioso processo deobjetificação do corpo feminino. Reproduzindopensamento patriarcal e sexista, ainda muitopresente em nossa sociedade, a Corte deorigem entendeu que o ato não passou de um"beijo roubado". A propósito, deve-se ter emmente que estupro é um ato de violência (enão de sexo). Busca-se, sim, a satisfação dalascívia por meio de conjunção carnal ou atosdiversos, como na espécie, mas com intuito desubjugar, humilhar, submeter a vítima à forçado agente, consciente de sua superioridadefísica. Consoante já consolidado pelo STJ, oato libidinoso diverso da conjunção carnal, quecaracteriza o crime de estupro, ao lado daconjunção carnal, inclui "toda ação atentatóriacontra o pudor praticada com o propósitolascivo, seja sucedâneo da conjunção carnalou não, evidenciando-se com o contato físicoentre o agente e a vítima durante o apontadoato voluptuoso" (AgRg REsp n. 1.154.806-RS,Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, 6ª T., DJe21/3/2012). Acrescento que toda a violêncianarrada foi desconsiderada para dar lugar àrevitimização da adolescente abusada, bemcomo ao apoio à cultura permissiva dainvasão à liberdade sexual, em regra, contraas mulheres. Em verdade, o ato narrado nosautos não foi punido por não ser consideradograve, o que, a meu ver, atenta contra a razãoe o bom senso. Fez-se uma avaliação darealidade na visão do agente e não na da

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vítima. Se tomada a ofendida como referência,diversa seria a conclusão acerca da efetivasatisfação da lascívia, assim como daefemeridade da violência. Para quem sofreabusos de natureza sexual, as marcas podemter duração eterna. A retórica perpetrada pelaCorte local desconsidera, totalmente, avontade da vítima e a submete, em completapassividade, às investidas sexuais dosagentes dos crimes dessa natureza. Ou seja,

para o tribunal de origem pouco importaram aausência do consentimento e a súplica davít ima para o réu cessar as violentasinvestidas tendentes, sim, à satisfação dalascívia do agressor. A prevalência dessepensamento ruboriza o Judiciário e não podeser tolerada. REsp 1.611.910-MT, Rel. Min.Rogerio Schietti Cruz, por unanimidade,julgado em 11/10/2016, DJe 27/10/2016. 

Comentários

O caso: réu acusado por ter derrubado no chão adolescente de 15 anos eimobilizado-a pressionando-lhe seu abdômen com o joelho, na supostaintenção de "ficar" com ela, ou seja, dar-lhe um beijo.

 

Sabe-se que o crime de estupro, na sua modalidade simples (CP, art. 213:"Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunçãocarnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso"),tem pena elevada, proporcional à sua gravidade: reclusão, de 6 (seis) a 10(dez) anos. Se é praticado contra vítima maior de 14 anos e menor de 18, apena é ainda maior: 8 (oito) a 12 (doze) anos de reclusão. Estaria, nocontexto revelado, caracterizado o delito de estupro?

 

Ninguém nega a alta reprovabilidade da conduta em foco, a merecer, pois,adequada sanção. Em casos como o narrado, estar-se-ia diante do crime deestupro ou seria hipótese de desclassificar a conduta para a contravençãopenal da importunação ao pudor (Decreto-Lei 3.688/41), sujeita a pena demulta?

 

Conquanto o Tribunal de Justiça do Mato Grosso tivesse negado a enquadrara conduta como estupro, o Superior Tribunal de Justiça, no julgamento derecurso especial interposto pelo Ministério Público matogrossense, deu-lheprovimento para empresar nova qualificação jurídica aos fatos, entendendoque o caso atrai, sim, a incidência do art. 213 do CP, cuja vigência, destarte,estaria a ser negada pela Corte local.

 

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Lembrou o Tribunal da Cidadania que o ato libidinoso diverso daconjunção carnal, que caracteriza o crime de estupro, ao lado daconjunção carnal, inclui "toda ação atentatória contra o pudor praticadacom o propósito lascivo, seja sucedâneo da conjunção carnal ou não,evidenciando-se com o contato físico entre o agente e a vítima duranteo apontado ato voluptuoso". Criticando duramente a chamada "cultura dosexismo" e reprovando análise a redundar no mero reconhecimento de um"beijo roubado", entendeu, nessa linha, que o contexto fático trazido ajulgamento estaria a despontar ato libidinoso, voltado à satisfação dalascívia do agente e atentatório à dignidade sexual da vítima, apto acausar-lhe grave sofrimento psicológico, até mesmo pela sua tenraidade. Por isso, tendo sido provido o recurso especial, restou o réucondenado pela prática do crime de estupro circunstanciado (CP, art. 213, §1º).

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Prof. Bernardo Lima Vasconcelos

Segunda Seção

REPETIÇÃO DE INDÉBITO DE CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. PRAZOPRESCRICIONAL. DEFINIÇÃO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 919.

A pretensão de repetição de indébito de contrato de cédula de crédito rural prescreve noprazo de vinte anos, sob a égide do art. 177 do Código Civil de 1916, e de três anos, sobo amparo do art. 206, § 3º, IV, do Código Civil de 2002, observada a norma de transiçãodo art. 2.028 desse último Diploma Legal.

Cingiu-se a discussão, entre outras questões,a definir o prazo prescricional para oajuizamento de repetição de indébito emcontrato de cédula de crédito rural. De fato,como a ação de repetição de indébito cuida dedireito subjetivo sem nota distintiva, apenasbuscando a condenação do réu a umaprestação, deve submeter-se ao fenômeno daprescrição, e não da decadência. Nessemesmo sentido, a Segunda Seção do STJ,nos julgamentos de recursos especiaisrepresentativos da controvérsia, REsp1.360.969-RS (DJe 19/9/2016) e REsp1.361.182-RS (DJe 19/9/2016), por maioria,consol idou o entendimento de que apretensão condenatória decorrente dadeclaração de nulidade de cláusula dereajuste prevista na vigência de contratos deplanos de saúde ou de seguro-saúde,observada a regra de transição do art. 2.028do Código Civil de 2002, prescreve em vinteanos (art. 177 do Código Civil de 1916) ou noprazo de três anos previsto para a pretensãode ressarcimento de enriquecimento semcausa (art. 206, § 3º, IV, do atual Código Civil).Em consonância com os votos referidos,consolida-se o entendimento de que oexercício da pretensão de ressarcimentodaquilo que foi pago a maior pelo consumidordeve se sujeitar ao prazo prescricional trienalreferente à ação de ressarcimento deenriquecimento sem causa, previsto no art.206, § 3º, IV, do CC/2002. Nessa esteira, noque tange ao enriquecimento "sem causa",convém destacar que a ausência de causanão diz respeito somente à inexistência de

relação jurídica base entre os contratantes,mas também à falta de motivo para oenriquecimento de somente um deles sem queo outro tenha tirado proveito de qualquerespécie. Deveras, ainda que as partespossam estar unidas por relação jurídicamediata, se ausente a causa jurídica imediatae específica para o aumento patrimonialexclusivo de uma das partes, estarácaracterizado o enriquecimento sem causa.Logo, o aumento patrimonial indevido podeser discutido em ação de enriquecimento semcausa, cujo exercício está sujeito ao prazo detrês anos. Por fim, saliente-se que, nasdemandas em que seja aplicável a regra detransição do art. 2.028 do Código Civil de2002, observar-se-á o prazo vintenário dasações pessoais, previsto no art. 177 doCódigo Civil de 1916, ante a ausência deregra especí f ica para a h ipótese deenriquecimento sem causa. REsp 1.361.730-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Segunda Seção,por maioria, julgado em 10/8/2016, DJe28/10/2016

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Comentários

Os Comentários relativos a essa notícia serão feitos conjuntamente com osda notícia seguinte.

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Prof. Bernardo Lima Vasconcelos

Segunda Seção

REPETIÇÃO DE INDÉBITO DE CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO RURAL. TERMOINICIAL DO PRAZO PRESCRICIONAL. DEFINIÇÃO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 919.

O termo inicial da prescrição da pretensão de repetição de indébito de contrato decédula de crédito rural é a data da efetiva lesão, ou seja, do pagamento.

Entre outras questões abordadas no recursorepresentativo da controvérsia, discutiu-se otermo inicial do prazo prescricional para oajuizamento de repetição de indébito emcont ra to de cédu la de créd i to rura l .Realmente, na ação de repetição de indébito,o termo inicial deve ser a data do pagamento,fei to antecipadamente ou na data dovencimento do título, porquanto não se poderepetir aquilo que ainda não foi pago. Nessecontexto , ressa l te-se que a data dovencimento, desacompanhada do pagamento,não guarda relação com o termo inicial dapretensão reparatória, cursando, maisadequadamente, com o eventual nascedouroda pretensão de revisão do contrato. REsp1.361.730-RS, Rel. Min. Raul Araújo, SegundaSeção, por maioria, julgado em 10/8/2016,DJe 28/10/2016.

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Comentários

A decisão do Recurso Especial em tela foi dividida em duas partes pelopresente Informativo.

 

Na primeira, a questão discutida consistia em saber qual é o prazoprescricional para o ajuizamento de ação de repetição de indébito em relaçãoa valores pagos a maior em decorrência de cédula de crédito rural.

 

Ébom lembrar, de início, que, nos termos do art. 1º do Decreto-Lei nº 167/67,as cédulas de crédito rural (Cédula Pignoratícia, Cédula Hipotecária,Cédula Pignoratícia e Hipotecária e Nota de Crédito Rural) constitueminstrumentos que corporificam operações de financiamento rural concedidaspor órgãos e entidades integrantes do chamado Sistema Nacional de CréditoRural. Ocorre que o referido decreto-lei não traz qualquer disposição quetrate dos prazos prescricionais aplicáveis seja às ações revisionais dascláusulas contratuais dos tais financiamentos, seja às ações de repetição doindébito do que eventualmente houver sido pago a maior pelo mutuário. Daíporque a discussão travada nos autos.

 

Pois bem, enfrentando a questão, afirmou o STJ, na linha de suajurisprudência consolidada, que, na ausência de norma específica que trateda matéria na legislação especial, há de se aplicar o prazo de prescriçãodefinido no Direito Comum, isto é, no Código Civil. Assim, sendo a ação derepetição de indébito ação pessoal fundada em direito subjetivo, na medidaem que visa obter a condenação do réu a uma prestação, deve sujeitar-se aoprazo prescricional trienal referente à ação de ressarcimento porenriquecimento sem causa, previsto no art. 206, § 3º, IV, do Código Civil de2002, ou a depender da data do pagamento a maior, do prazo vintenário doart.177 do Código Civil de 1916, observada, se for o caso, a norma detransição do art. 2.028 do Código vigente ("Serão os da lei anterior os prazos,quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, jáhouver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na leirevogada.").

 

A fim de justificar a aplicação do prazo trienal do art. 206, § 3º, IV, do atualCódigo Civil, lembrou a Corte que a "ausência de causa" para oenriquecimento pode tanto dizer respeito à inexistência de relação jurídicaentre os contratantes que justifique o pagamento de um ao outro, comotambém à falta de motivo para o enriquecimento de somente um deles semque a contraparte aufira de igual modo algum proveito, pressupondo-se acomutatividade do negócio celebrado.

 

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Na segunda parte da notícia, foi trazida a discussão sobre qual é o termoinicial do prazo de prescrição na espécie. Aqui, lembrou-se que, nos termosdo art. 189, do Código Civil, o início do lapso prescricional coincide comosurgimento da pretensão, a qual, por sua vez, surge com a violação do direitomaterial da parte (princípio da actio nata). Assim, no caso em tela, o prazoprescricional para se pleitear a devolução do que foi pago a maior em razãode contrato de cédula de crédito rural deve ser a data em que concretizado oprejuízo ao mutuário, isto é, na data do pagamento indevido, e não na datado vencimento do título,  como invocava a instituição financeira litigante.

 

Éde se notar q           ue, nesta parte, está equivocada a notícia doinformativo ao asseverar que "o termo inicial deve ser a data do pagamento,feito antecipadamente ou na data do vencimento do título". Haveria de setrocar o "ou" por "e não".

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