prescriÇÃo da pretensÃo executÓria – uma discussão … · 2017-02-22 · são paulo, 2007...
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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Mestrado em Direito
Giovana Gleice Gomes dos Santos Gurpilhares
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EXECUTÓRIA – Uma discussão sobre o trânsito
em julgado da sentença condenatória para
acusação.
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de MESTRE
em Direito (Direito das Relações Sociais –
Direito Penal), sob a orientação do Prof.
Doutor Hermínio Alberto Marques Porto.
São Paulo, 2007
FOLHA DE APROVAÇÃO
Giovana Gleice Gomes dos Santos Gurpilhares
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA – Uma discussão sobre o
trânsito em julgado da sentença condenatória para acusação.
Banca Examinadora
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Hermínio Alberto Marques Porto (Orientador)
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Grasiele Augusta Ferreira Nascimento
______________________________________________________________
Prof. Dr. Marco Antonio Marques da Silva
São Paulo, __ de _____________________ de 2007.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Laert José de Almeida Santos e Rosa Maria Gomes Santos, pelo
estímulo e pela educação sempre voltada à luta pelos objetivos.
Ao meu marido, Paulo Cesar Sardinha Gurpilhares, por seu grande amor, apoio e
compreensão, sem o que nada seria possível.
Aos meus sogros, Antonio Carlos da Silva Gurpilhares e Marlene Silva Sardinha
Gurpilhares, sem os quais não teria chegado até esta etapa de minha vida e cujo
apoio tenho certeza que terei para vencer as próximas.
Ao professor Doutor Hermínio Alberto Marques Porto, proficiente do Direito Penal e
Processual Penal, pelo exemplo contínuo de seriedade.
Ao amigo e eterno professor, Dr. Luiz Antonio Cardoso, pela inestimável colaboração
no desenvolvimento desta obra.
À FATEA (Faculdades Integradas Tereza D’Ávila), pela bolsa concedida.
DEDICATÓRIA
Ao meu filho, Murilo Santos Gurpilhares, razão da minha vida, pelas horas ausentes.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo discutir o termo inicial da prescrição da
pretensão executória, previsto no art.112, inc. I, 1ª parte do Código Penal, que
estabelece o dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para
acusação. Este termo, muitas vezes, faz com que o Estado fique impedido de
executar, de forma plena, a pena imposta, em decorrência da extinção da
punibilidade pela prescrição. Isto ocorre, pois o prazo prescricional se inicia com o
trânsito em julgado para acusação, mas a mesma só pode executar a pena depois
do trânsito em julgado da sentença condenatória para ambas as partes. Visando
entender a razão, e mostrar as conseqüências desta norma, foram abordadas a
origem e evolução do direito de punir do Estado, as finalidades da pena, as causas
extintivas da punibilidade previstas no Código Penal, a origem e evolução da
prescrição no direito comparado e pátrio, o momento da inclusão deste dispositivo
no ordenamento pátrio, o direito comparado sobre o assunto e alguns princípios
constitucionais. Além disto foram analisados alguns processos criminais e alguns
projetos de lei, que de maneira direta ou indireta, versam sobre a problemática
levantada. Constatou-se que a situação gerada em decorrência deste termo inicial
representa uma desigualdade muito grande entre as partes, uma vez que no conflito
entre o jus puniendi pertencente ao Estado e o jus libertatis pertencente ao réu, há
uma grande desvantagem do primeiro em relação ao segundo. O principio
constitucional da igualdade, é flagrantemente violado, pois o art. 5º da Constituição
Federal de 1988 determina que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza" e isso se aplica também ao Estado, como titular do jus puniendi.
No caso em tela o tratamento é desigual, sem que haja qualquer justificativa para tal.
ABSTRACT
This work is focused on the initial term of the executory pretension prescription, due
to the article 112, inc. I, part I of the Penal Code, which establishes the day the
condemnatory sentence is passed on, for accusation. This term, several times
prevents the State from fully executing the penalty imposed, due to the extinction of
the punishability by prescription. This happens, for the prescriptional term starts with
the definite sentence for the accusation, but this can only execute the penalty after
the sentence becomes definite for both parties. Aiming to understand the rate and
show the consequences of this norm, the origin and evolution of the right of the State
to punish, the purposes of the penalty, the extinctive causes of the punishability
anticipated in the Penal Code, the origin and evolution of the prescription in the
compared law, the compared law on the subject and some constitutional principles
are approached. Besides that, some criminal processes and bills that direct or
indirectly deal with this issue were analyzed. It was verified that the situation arisen in
function of this initial term represents a very high disproportion between the parties,
since in the conflict between the jus puniendi pertaining the State and the jus
libertatis pertaining the defendant, a great disadvantage of the first one in relation to
the second occurs. The constitutional principle of equality is flagrantly violated, for
art. 5 of the Federal Constitution of 1988 declares that “all people are equal under the
law, with no distinction of any nature” and this is also applied to the State, as office
holder of the jus puniendi. In the case herein discussed the handling is unequal, with
no justification for that.
SUMÁRIO
Introdução...........................................................................................................9
Capítulo I – O direito de punir do Estado ..........................................................121.1 – Origem do direito de punir ....................................................................121.2 – A razão de ser da pena ........................................................................16
1.2.1 – Teoria Retributiva...........................................................................171.2.2 – Teoria Preventiva...........................................................................191.2.3 – Teorias Unificadoras......................................................................231.3 - Direito de punir e a política ................................................................241.3.1 – Nascimento do direito de punir: direito objetivo e subjetivo de punir
...........................................................................................................................251.3.2 – Causas extintivas da punibilidade..................................................26
Capítulo II – Prescrição penal...........................................................................352.1 – Histórico: Origem e desenvolvimento...................................................352.2 – Espécies de prescrição ........................................................................372.3 – Natureza Jurídica ................................................................................38
2.3.1 – Corrente Jurídico-material .............................................................38
2.3.2 – Corrente Jurídico-Processual ........................................................392.3.3 – Corrente Mista ou Eclética.............................................................40
2.4 – Teorias justificadoras da prescrição .....................................................422.4.1 – Teoria do esquecimento ................................................................422.4.2 – Teoria da expiação do criminoso ...................................................432.4.3 – Teoria da piedade..........................................................................442.4.4 – Teoria da dispersão das provas....................................................452.4.5 – Teoria da emenda..........................................................................452.4.6 – Teoria psicológica..........................................................................462.4.7 - Teoria da presunção de negligência...............................................462.4.8 – Teoria da exclusão do ilícito ..........................................................472.4.9 – Teoria da política criminal ..............................................................48
Capítulo III – Prescrição Penal no Brasil...........................................................493.1 – Evolução histórica ................................................................................49
3.1.1 – Período Colonial ............................................................................493.1.2 – Período Imperial ............................................................................503.1.3 – Período Republicano .....................................................................563.1.4 – O código penal de 1940 e a Súmula 146.......................................593.1.5 – O Código Penal de 1969................................................................633.1 6 – A Lei nº 6416 de 25.05.1977 .........................................................66
3.2 – A prescrição e o Código Penal vigente ................................................693.2.2 – Prazos............................................................................................753.2.3 – Causas suspensivas da prescrição ...............................................793.2.4 – Causas interruptivas ......................................................................803.2.5 – Efeitos............................................................................................81
Capítulo IV – Termo inicial da prescrição da pretensão executória ..................824.1 – Evolução histórica e o momento da inclusão deste dispositivo penal ..824.2 – A doutrina Nacional ..............................................................................884.3 – Direito Comparado ...............................................................................91
4.3.1 – Argentina .......................................................................................914.3.2 – Equador .........................................................................................924.3.3 – Bolívia ............................................................................................924.3.4 – Espanha.........................................................................................934.3.5 – França............................................................................................944.3.6 – Alemanha.......................................................................................954.3.7 – Itália ...............................................................................................984.3.8 – Portugal .........................................................................................99
4.4 – Análise de Processos.........................................................................1004.5 – Reflexão do Projeto de Lei nº 1383/2003 sobre o art. 112, I, 1ª parte do
Código Penal .......................................................................................................1034.6 – Reflexão do Projeto de Lei 5973 de 2005 sobre o art.112, inc. I do
Código Penal .......................................................................................................1064.7 – Princípios constitucionais ...................................................................107
4.7.1 – Princípio da presunção de inocência ...........................................1074.7.2 – Princípio da Igualdade .................................................................1114.7.3 – Princípio do favor rei ....................................................................113
5 – Conclusão.................................................................................................114
Referências.....................................................................................................119
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INTRODUÇÃO
O homem não pode exercer a justiça punitiva pelas próprias, mãos no seio das
sociedades organizadas, porque para estas, e mesmo para ele, o crime não tem
apenas significação individual, mas uma significação social. O Estado é quem detém
o poder de aplicar a justiça penal.
Diante deste poder conferido ao Estado verifica-se que toda a violação da paz
social, aparece como crime e a pena imposta, quer tenha um caráter de castigo,
quer tenha um caráter de expiação, quer tenha um caráter de vingança, quer tenha
um caráter de defesa social, é sempre uma medida que visa proteger a ordem social
e jurídica de um determinado momento, em um determinado lugar.
A prescrição penal, instituto de singular significado em razão dos fundamentos
que o justificam, bem como efeitos que dele decorrem, age sobre o direito de punir
do Estado, como uma das causas extintivas.
O presente trabalho consiste em uma reflexão a respeito do instituto da
prescrição penal, com especial ênfase ao termo inicial da prescrição da pretensão
executória prevista no artigo 112, inc I, 1ª parte do Código Penal que determina que
esta começa a correr do dia em que transita em julgado a sentença condenatória
para a acusação.
O exame da questão proposta é extremamente relevante para os objetivos
desta pesquisa, apesar de já ter sido objeto de estudos e de ser um dos temas mais
antigos da ciência penal, existente a mais de 2000 anos. Entre outras razões,
considera-se que na doutrina pátria pouco se encontra sobre o assunto,
principalmente, no que se refere à sua justificativa e conseqüências. Ocorre ainda
que, muitas vezes, o Estado fica impedido de executar a pena imposta, devido a
este termo inicial da prescrição da pretensão executória, em decorrência da extinção
da punibilidade pela prescrição, que acontece sem ao menos ter havido a
oportunidade de executá-la. Assim, para a acusação já ocorreu o trânsito em julgado
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e a prescrição da pretensão executória já se iniciou, mas a acusação, representada
pelo Ministério Público, encontra-se impedida de executar a pena, pois não possui
título executivo para tal, uma vez que este só é obtido com o trânsito em julgado
para ambas as partes.
Esta questão ganha relevância ainda maior quando analisada diante do
extenso rol de recursos previstos no nosso ordenamento jurídico e principalmente a
morosidade do julgamento dos mesmos nos tribunais.
Para uma melhor compreensão da temática, o presente trabalho foi distribuído
em 04 capítulos.
O capítulo I, intitulado de Direito de Punir do Estado, trata da sua origem,
teorias e principalmente demonstra que este direito é finito, ou seja, ele nasce, vive e
morre. É demonstrada a relação entre o direito de punir e a política, apontando como
nasce este direito e as causas de sua extinção.
O capítulo II, dentre as causas de extinção da punibilidade existentes, trata da
prescrição e traz uma abordagem histórica deste instituto, bem como as suas
espécies, natureza jurídica e as inúmeras teorias que justificam a sua existência.
O capítulo III versa sobre a prescrição no Brasil. É feita uma análise da
evolução dos códigos penais, bem como de vários projetos de Código Penal e como
este instituto foi tratado ao longo da nossa história. Demonstra e analisa as
espécies previstas no nosso Código atual, no que se refere aos prazos, termos
iniciais, causas suspensivas ou impeditivas e causas interruptivas, e espécies de
pena e crimes.
O capítulo IV é o de maior importância de todo trabalho. Analisa o termo inicial
da prescrição da pretensão executória, segundo o disposto no art. 112, inciso I, 1ª
parte do Código Penal. Inicialmente, busca na história do Direito penal pátrio,
mediante a análise dos códigos penais brasileiros e projetos de lei, o momento em
que tal regra foi inserida bem como a sua justificativa. Em um segundo momento
enfoca o pensamento dos doutrinadores pátrios a respeito da referida regra, os
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quais, data vênia, não se debruçam sobre o tema com a merecida importância, pois,
a grande maioria apenas aponta para a problemática sem dirimir a questão com a
devida atenção. Analisa o direito comparado a respeito do assunto Em seguida
relata, segundo pesquisa realizada, que a morosidade nos recursos é fato notório e
que diante disso os autores de crimes menos graves, em que a prescrição ocorre em
dois ou quatro anos, acabam tendo a extinção da punibilidade decretada devido à
prescrição da pretensão executória, sem ao menos o Estado ter tido a plena
oportunidade de executar a pena. Tal situação é ainda mais comum quando o
criminoso é menor de 21 anos ao tempo do crime ou maior de 70 na data da
sentença, situações em que, segundo o artigo 115 do Código Penal o prazo da
prescrição é reduzido de metade.
Por fim analisa alguns projetos de lei que versam sobre o assunto, no intuito de
solucionar esta questão ou pelo menos diminuir a problemática.
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CAPÍTULO I – O DIREITO DE PUNIR DO ESTADO
Buscar a noção, a origem e a razão de ser do Direito de Punir é extremamente
relevante para a compreensão do instituto da prescrição, vez que esta consiste na
perda deste direito em razão do decurso do tempo.
1.1 – ORIGEM DO DIREITO DE PUNIR
Ao longo da história da humanidade verifica-se que o crime sempre aparece
como uma desagregação da vida coletiva (MOTTA FILHO, 1928, p. 16) e a punição
deste desagregador como uma forma de restabelecer a paz social.
O direito de punir o autor deste crime nem sempre pertenceu ao Estado. Nas
sociedades primitivas, onde não havia uma organização política, o direito de punir
pertencia à vítima e a sua tribo ou clã. A violação a um membro atingia todos, isto
porque o homem primitivo encontrava-se muito ligado à sua comunidade, o que
Fromm (1975, p. 366) denomina de vínculo de sangue, que origina a vingança de
sangue. A vítima agia por suas próprias forças, juntamente com a comunidade.
Prevalecia a luta cruel pela sobrevivência, em que o mal sofrido era vingado pela
imposição de males físicos ao agressor ou até mesmo a morte, para assim evitar
outro atentado. A punição não atingia apenas o agressor, alcançava suas famílias,
pois a ofensa a um membro da tribo repercutia em todos, o que gerava lutas
sangrentas e indefinidas, de modo que grupos inteiros foram eliminados.
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Além disto, como noticia Marques (2000, p. 3) ao citar Giorgio Del Vecchio, “no
caso de a ofensa ser praticada por membro do mesmo grupo, o mesmo princípio
exige a expulsão do ofensor. Este, uma vez expulso do grupo, que é a única tutela
jurídica nesta fase, fica destituído de qualquer direito e equiparado a uma fera, ou
seja: exposto às ofensas de todos”. A violação de totens e tabus1 por um integrante
do grupo gerava a expulsão do mesmo, para que a tribo inteira não se contaminasse
com tal mácula. Assim o crime era simbolicamente destruído e reinava novamente a
paz social.
Com o surgimento das primeiras organizações sociais verificou-se que este
sistema de vingança desmedida não interessava porque tribos inteiras eram
dizimadas.
Diante da necessidade de limitar a reação à agressão surgiu, em substituição à
vingança privada, a justiça privada. Assim a vítima e seus parentes que pretendiam
punir o autor do crime, tinham que procurar um representante da comunidade ou
autoridade pública incumbida de verificar se eram obedecidas regras formais e
assim a vingança não ultrapassava as normas então vigentes. A Lei de Talião é um
exemplo desta limitação, uma vez que diante da formula “olho por olho dente por
dente” estabelece até onde a punição pode ser exercida. Assim, paulatinamente, o
particular foi impedido de exercer a vingança e passou a constituir crime fazer justiça
com as próprias mãos. O que antes era regra passou a caracterizar infração penal.
Com o passar do tempo, já na Antiguidade, a vingança foi substituída pelas
penas públicas. As antigas civilizações orientais eram regidas pelo chamado “estado
teológico”, em que a pena, via de regra, encontrava sua justificativa em fundamentos
religiosos e tinha por finalidade satisfazer a divindade ofendida pelo crime. Tamanha
era a crença nas divindades entre os antigos, que a autoridade simbolizava a
1 Cf. Dicionário Aurélio – Séc. XXI : Tabu, proibição ou restrição de natureza ritual e religiosa, quedetermina que certos objetos, indivíduos, lugares ou atos, por serem considerados sagrados ou esp.impuros e perigosos, sejam evitados, e que como instituição social ger. está associada a fortessanções e à crença de que sua violação traz castigo sobrenatural. Totem, animal, vegetal ouqualquer entidade ou objeto em relação ao qual um grupo ou subgrupo social (p. ex., uma tribo ou umclã) se coloca numa relação simbólica especial, que envolve crenças e práticas específicas, variáveisconforme a sociedade ou cultura considerada.
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vontade dos deuses, dos quais emanava o direito de punir. Os governantes eram
tidos como agentes divinos.
Este quadro se estendeu até a Idade Média, quando o absolutismo se
fortaleceu diante da forte ligação entre a Igreja Católica e o Estado. Era comum a
confusão entre crime e pecado. Tanto que os crimes mais graves eram os de lesa-
majestade, a heresia e blasfêmia2. A fé religiosa constituía interesse do próprio
estado, que fez da Inquisição uma manifestação também política, justamente o que
ocorreu com Joana D`Arc, em 14313. Assim relata Gonzaga (1993, p. 81-82):
2 Assim definido nas Ordenações Filipinas, o crime de lesa- majestade abrangia uma ampla gama desituações, classificadas em "capítulos da primeira e da segunda cabeça". Entre os da primeira cabeçacontavam-se a traição, a insurreição, a autoria ou cumplicidade em atentados contra o rei, contra suafamília ou contra qualquer pessoa que estivesse em sua companhia ou, mesmo, a destruição deimagens do soberano, armas ou símbolos representativos do reino ou da casa real. Qualquer dessescrimes deveria ser punido com a pena de "morte natural cruelmente", ou seja, execução pública pormeio de torturas. Todos os bens dos justiçados passariam para a Coroa e duas gerações dedescendentes ficariam "infamados para sempre, de maneira que nunca possam haver honra decavalaria, nem de outra dignidade, nem Officio; nem possam herdar a parente, nem a estranhoabintestado, nem per testamento, em que fiquem herdeiros, nem poderão haver cousa alguma, quelhes seja dada, ou deixada, assi entre vivos, como em ultima vontade, salvo sendo primeirorestituidos á sua primeira fama e stado". Outra característica específica dos crimes de lesa-majestadeera ocasionar a perda das garantias que limitavam a ação da Justiça. As Ordenações indicavam que"não gozará o accusado de privilegio algum para não dever ser mettido a tormento, nem haver penavil, porque de todo he privado. E para ser mettido a tormento, bastarão menores indícios, que ondetaes qualidades não concorrerem. E as pessoas, que em outros casos não poderião ser testemunhas,nestes o poderão ser e valerão seus ditos". Mesmo assim, a disposição alertava que "se atestemunha for inimigo capital do accusado, ou amigo special do accusador, seu testemunho nãoserá muito crido, mas sua fé deve ser mingoada, segundo a qualidade do odio, ou amizade". No atualCódigo Canônico, de 1983 “Cân.751 – Chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção dobatismo, de qualquer verdade que se deva crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz arespeito dela . Blasfêmia é qualquer palavra (falada ou escrita), gesto ou ato que expresse desprezoou injúria de deus, quer imediatamente, que mediatamente, na pessoa da Santíssima Virgem ou dosSantos.
3 Joana D'arc (1412 - 1431) Heroína da França e santa canonizada pelo papa Bento V em 1920.Nasceu em 6 de janeiro de 1414 em Domrémy.Camponesa analfabeta, aos quatorze anos começou ater visões com o arcanjo São Miguel, além de Santa Catarina e Santa Margarida. As visões diziamque ela tinha uma missão, a de expulsar as tropas inglesas que haviam conquistado boa parte daFrança.Saiu de sua aldeia e foi ao encontro do rei Carlos VII (março de 1428), onde revelou a missãoque diz, fora dada por Deus. O rei lhe confiou a chefia de um pequeno exército e a incumbiu delibertar Orléans sitiada pelos ingleses, obtendo a vitória com grande êxito, o que a tornouextremamente conhecida, sendo chamada a "Virgem de Orléans". Provocando entusiasmo,reascendeu as esperanças no restante das tropas francesas.Outras vitórias levaram finalmente àconquista de Reims, onde Carlos VII foi sagrado rei em 8 de maio de 1429. Na conquista de Paris foiferida e no ataque a Compiègne em maio de 1430, tornou-se prisioneira dos borguinhões e vendidaaos ingleses. Foi acusada de heresia e bruxaria, sendo condenada por um tribunal da Igreja equeimada viva em Rouen a 30 de maio de 1431.
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Passando ao princípio político que leva a unir o Direito penal à religião,
verificamos haver também aqui mais de uma colocação. Na primeira delas,
de índole nacionalista, a crença oficial é imposta à comunidade, inclusive com
a arma do Direito Penal, a fim de cimentar a nação num todo coeso e
uniforme, tornando-a mais potente e distinguindo-a de outros paises. Busca-
se, através de uma fé comum, unificar o povo e fortalecer-lhe o patriotismo.
Desse modo, a religião se converte em instrumento político a serviço da
identidade nacional. Por fim, outro motivo de política criminal que induziu o
antigo Direito a sancionar desvios em matéria de fé achava-se na idéia de
que a religião é educativa, constitui poderoso instrumento de paz social e
freio às más paixões, compelindo os homens à moralidade e a boa conduta.
Sendo assim, Justifica-se que o Poder Público a proteja e incentive os
sentimentos piedosos dos seus súditos.
Nesta fase as penas eram cruéis e consistiam em um verdadeiro espetáculo
público, pois objetivam servir de exemplo para os demais membros da sociedade e
também expiar o pecado cometido pelo criminoso.
Foucault (2002, p. 9) demonstra muito bem esta fase, ao relatar a história de
Damiens:
Damiens que fora condenado em 02 de março de 1757, a pedir perdão
publicamente diante da porta principal da Igreja de Paris (aonde devia ser)
levado e acompanhado numa carroça, nu, de camisola, carregando uma
tocha de cera acesa de duas libras; (em seguida), na dita carroça, na praça
de Greve, e sobre um patíbulo que ai era erguido, atenazado nos mamilos,
braços, coxas e barrigas das pernas, sua mão direita segurando a faca com
que cometeu o dito parricídio, queimada com fogo de enxofre, e às partes em
que será atenazado se aplicarão chumbo derretido, óleo fervente, piche de
fogo, cera e enxofre derretidos conjuntamente, e a seguir seu corpo será
puxado e desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo
consumidos ao fogo, reduzidos a cinzas, e suas cinzas lançadas ao vento.
Este pensamento era apoiado por Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho,
que afirmavam ser a autoridade civil mera representação da vontade divina e a pena
imposta não visava a retribuição do mal causado, mas um meio de expiação dos
pecados.
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Nesta fase não havia preocupação com a violação dos direitos individuais, pois
os mesmos não existiam. Só com o passar do tempo é que o homem tomou
consciência de seu valor, processo este que se fortaleceu durante o movimento
iluminista.
Com a Revolução Francesa e a declaração dos direitos do homem e do
cidadão em 1789, nasce uma nova fase em relação ao direito de punir. A partir de
então os suplícios foram se extinguindo, ocorreu uma mitigação das penas e esta
passou a buscar uma proporção entre a transgressão e o castigo. A pena perdeu o
ser caráter religioso. Neste período humanitário, foi grande a participação do
Marquês de Beccaria (1738-1794) com a sua obra Dos delitos e das penas (Dei
delitti e delle pene -1764) que evidenciou a natureza social (não divina) do direito
penal. Defendeu a idéia de que a pena é um instrumento utilizado para cumprir a
função social, ou seja, “tem por fim único impedir o culpado de ser nocivo
futuramente à sociedade e desviar seus concidadãos da senda do crime”
(BECCARIA, 2003, p. 48). Não vislumbrava razão em impor ao condenado um
sofrimento desproporcional e cruel, que fosse além do escopo da prevenção geral.
Também foram de grande relevância as idéias de Jeremias Bentham (1748-1832) ao
defender o princípio utilitário das penas “as penas legais são males, que devem
recair acompanhados de formalidades jurídicas sobre indivíduos convencidos de
terem feito algum ato prejudicial, proibido pela lei, e com o fim de se prevenirem
semelhantes ações para o futuro [...]. “O que justifica o castigo é a sua utilidade, ou,
para melhor dizer, a sua necessidade” (BENTHAN, 2002, p. 20).
Apresentados estes dados verifica-se que a história do direito de punir é a
história da evolução do seu controle e de sua legitimidade.
1.2 – A RAZÃO DE SER DA PENA
Abordar as finalidades da pena e extremamente relevante, pois esta é a
resposta final do Estado, titular do direito de punir, a violação da paz social. A
respeito enfrentam-se três teorias: Retribuição, Prevenção e Mista.
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1.2.1 – Teoria Retributiva
A Teoria Retributiva, também conhecida como absoluta, defendida por Kant
(1724-1804) e Hegel (1770-1831) concebe a pena como um mal justo imposto para
compensar o mal injusto do crime.
Kant impõe a pena como um imperativo categórico, mesmo que esta não traga
nenhum proveito para o condenado ou para sociedade. O direito de punir consiste
em aplicar a pena em retribuição a um mal injusto (crime), despida de qualquer outro
fim.
Hegel, diante da sua fórmula dialética, vê a essência da pena como uma
negação do direito, o crime é aniquilado pela compensação da pena. Além desta,
como menciona Junqueira (2004, p. 48), Hegel vê outra finalidade e justificativa para
pena; assim diante do próprio delinqüente, a justificativa seria conhecer o criminoso
como um ser racional, que, ao praticar a conduta e afirmar que é permitido que lhe
imponha uma lesão, traça também desde logo os limites dessa ofensa, que deve ser
proporcional.
As idéias da Escola Clássica, que teve Carrara (1805-1888) como seu maior
precursor, compatibilizam-se com a teoria retributiva, vez que defende a idéia de que
a responsabilidade penal se funda na responsabilidade moral e esta se funda no
livre arbítrio e diante disto o homem pode optar por cometer ou não o crime. Assim,
ao cometer o crime merece a punição como retribuição. A pena tem natureza de
castigo. É um mal imposto àquele que cometeu voluntariamente e conscientemente
uma falta considerada crime. Neste sentido Aragão (1928, p. 43): “Por ahi se vê
facilmente que a pena provém do mal praticado pelo delinqüente e não do mal que
se quer prevenir; e a sua verdadeira e justa medida não esta no mal que se deseja
evitar, mas na própria natureza e gravidade do delito commetido”.
Esta teoria busca a retribuição justa. Busca sempre a proporcionalidade; a
retribuição (pena) existe sempre na medida do mal causado. Este é um dos pontos
positivos desta corrente apontado pela doutrina (TRIPPO, 2004, p. 11). Aponta-se
também como dado positivo a satisfação do ser humano ao ver o mal injusto (crime)
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ser retribuído pelo mal justo (pena). Atende aos clamores da sociedade, que sob o
prisma psicossocial, o sofrimento imposto ao condenado é remédio importante para
restabelecer o equilíbrio emocional da comunidade, abalado que foi pelo delito.
Como diz Bettiol (1976, p. 87-88): a pena corresponde à “exigência natural, viva no
coração de todo homem, atuante em todos os setores da vida moral, em razão da
qual ao bem deve seguir o bem e ao mal deve seguir o mal”. No mesmo sentido
Hungria (1945, p. 131) “a sanção criminal ata como contragolpe ao delito e, assim,
traduz princípio humano por excelência, qual seja “a justa recompensa: cada um
deve ter o que merece”.
Quanto às críticas em relação a esta teoria mencionaremos as apontadas por
Roxin (1993, p. 23):
a) A pena pressupõe ser essência da culpa humana, mas não se pode
pretender que o Estado retribua com pena, toda e qualquer culpa, pois
pode o indivíduo se sentir culpado perante o próximo de várias
maneiras, nem por isto ser punível. A teoria fracassa ante a tarefa de
estabelecer limite quanto ao poder punitivo do estado, é um cheque em
branco na mão do legislador, pois poderá incluir no Código Penal
qualquer conduta, com o critério de imputação, e atribuir efetiva punição,
portanto tal teoria poderá representar perigo prático;
b) b) A liberdade humana pressupõe a liberdade de vontade; percrustar as
atividades microfísicas do cérebro humano, para descobrir sem
hesitações, que determinado homem concreto em determinada situação
concreta poderia ter atuado de maneira diversa, torna-se tarefa sobre-
humana e impossível de pautá-la em meios científicos, portanto tal
suposição não pode explicar o direito às intervenções tão graves e a
penalização, mesmo não refutadas, tão pouco comprováveis;
c) Mesmo quando a culpa humana é fundamentada na Teoria da Expiação,
Roxin (1993) coloca a idéia da retribuição, somente viável por atributos
que venham da fé, e esta pode ser explicada como “acreditar em coisas
que não se vêem, mas sabe-se que são verdadeiras”, no entanto,
19
racionalmente, não se pode entender que se paga um mal com um
segundo mal (pena). O Estado avoca para si a vingança humana, pois
pela pena atribui ao delinqüente a expiação de sua culpa. Esta
fundamentação se valida pela fé, mas para o autor não se presta como
fundamento de pena estatal, e ademais como ato vinculante a todos.
1.2.2 – Teoria Preventiva
A Teoria Preventiva, também denominada Relativa, defende que o direito de
punir, através da pena encontra a sua razão de ser na necessidade social. Tem
como principal meta prevenir delitos.
Dependendo do enfoque dado à prevenção, esta teoria se divide em geral e
especial.
A Teoria da Prevenção Geral utiliza a pena como um meio de atingir toda a
sociedade. Defensor desta corrente, Anselmo Von Feurbach (1775-1833) (apud
TRIPPO, 2004, p. 13) criou a teoria da Coação Psicológica, em que a ameaça
causada pela pena, ingressa na psique, e tem o poder de afastar do infrator
potencial o comportamento criminoso. O Estado deve, através da pena, incutir na
mente do cidadão que o crime não compensa, que o prazer obtido com o crime é
muito pequeno em face do suplício advindo deste.
Benthan (2002) (1748-1832) também defendeu esta corrente, acreditava que a
pena faz os criminosos passarem por um padecimento incorrido por sua vontade,
mas, também amedronta os homens perigosos, é o alento das almas inocentes, e
vem a ser o único abrigo que pode manter e conservar qualquer sociedade.
Dentre a criticas sofridas por esta vertente da teoria da prevenção, passo a
relatar as elaboradas por Roxin (1993):
a) A delimitação que necessita esta teoria se depreende de seu ponto de
partida teórico, pois não estabelece para quais comportamentos possui
o Estado a faculdade de intimidar; esta doutrina, bem como a da
20
retribuição, possui esta debilidade, ou seja, o que efetivamente
permanece no espectro do punível criminalmente. Pelo fato desta
doutrina pretender intimidar ante uma pena, este efeito é reforçado com
as penas graves.
b) O homem médio pode até ser influenciado pela ameaça de pena,
diferentemente dos delinqüentes profissionais, ou dos delinqüentes
impulsivos ocasionais. A história mostra que a pena de morte,
esquartejamento dos séculos passados não conseguiram diminuir a
criminalidade ao longo dos tempos, logo o êxito desta teoria se perfaz
duvidoso. Cada novo crime faz prova contrária à eficácia da prevenção
geral.
c) Não é justificável que se castigue alguém não em consideração a ela
própria, mas ante os outros. Não é admissível impor um mal a alguém
para que outros se omitam em cometer um mal. O Homem não é um
meio do Estado, ele é o próprio Estado.
Dentro das idéias defendidas pela Teoria da Prevenção Geral, merece atenção
a idéia de Gunther Jakobs, denominada de Prevenção Geral Positiva
Fundamentadora, que baseada na teoria autopoiética de Luhmann (1927-1998)4,
defende a pena como forma de demonstrar que a norma remanesce incólume e
obrigatória a todos os membros da comunidade. Acredita que as normas se
4 Luhmann, criador da teoria dos sistemas, parte da constatação de que a sociedade contemporâneaé profundamente complexa, entendendo por complexidade a totalidade das possibilidades do mundo,sendo o objetivo da criação dos sistemas a redução desta complexidade. A complexidade significaque sempre existem mais possibilidades do que se pode realizar. Outro ponto sobre o qual se apóia éo conceito de diferenciação funcional que entende como outra característica da sociedadecontemporânea, ou seja, considerando a sociedade como sistema, dentro dele diferenciam-se cadavez mais os subsistemas, como o econômico, o político, científico, e o próprio direito que, por suavez, diferenciam-se internamente, como é o caso do direito penal, civil, comercial, etc. Assim, em umprimeiro momento, complexidade e diferenciação funcional são dois conceitos que embasam a teoriasistêmica. Nesta perspectiva, o direito surgiria como sistema dinâmico, funcionalmente diferenciado,em evolução permanente no seio da sociedade, e que age como redutor dessa complexidade. Em umsegundo momento, verifica que a ordem de cada um dos sistemas, fundamental para a suapreservação, exige uma clausura operativa (auto-reprodução) e abertura cognitiva (provocaçõesexternas interferem no sistema, que reage, internamente, segundo seu código próprio defuncionamento).
21
destinam a orientar a conduta dos cidadãos e assim reduz a complexidade do
sistema global.
Esta idéia, defendida por Jakobs, não dá um enfoque valorativo à pena, apenas
a utiliza para preservar o sistema global.
A Teoria da Prevenção Especial visa à correção do autor do delito, para que
ele não cometa mais crimes. Acredita que se deve investir na correção do individuo
recuperável; caso não seja recuperável, então se deve impor a segregação.
A Escola Positiva, que teve como seu grande representante o italiano Cesare
Lombroso (1836-1906), que defendeu a idéia de que a pena tem finalidade de
defesa social, possibilita corrigir o que pode ser corrigido, já que o delinqüente é
visto como um ser doente, devido a fatores biológico, físicos e sociais.
Seguindo esta premissa de correção do autor do delito surgiram alguns
movimentos que merecem destaque: Correcionalismo, Escola Moderna Alemã e a
Defesa Social.
O Correcionalismo surge na terceira década do século XIX, fundado pelo
alemão Carlos Davi Augusto Roeder (1839), professor de Heidelberg, Alemanha,
que deu mais ênfase ao estudo do delinqüente, relegando ao segundo plano o
estudo do ato por ele praticado. Defende que o direito e norma de conduta,
indispensável á vida humana, tanto externa quanto interna, e daí incumbe o Estado
não só da adaptação do criminoso à vida social, como também sua emenda íntima.
Assim, a pena era vista como uma espécie de medida profilática, que ao mesmo
tempo em que protegia a sociedade, oferecia tratamento e recuperação ao
delinqüente. Roeder revolucionou o pensamento reinante na década do século XIX.
Suas concepções tiveram grande influência na Alemanha e principalmente na
Espanha, onde encontrou entusiasta acolhida. Dorado Montero e Concepcion Arenal
foram os principais divulgadores do Correcionalismo.
22
As palavras de Arenal (1985, p. 11) traduzem a esperança da Escola
Correcionalista na correção dos delinqüentes: “Não há criminosos incorrigíveis e sim
incorrigidos”.
A Escola Moderna Alemã surgiu por volta do último quartel do séc. XIX,
defendendo uma corrente eclética, pois considerava o crime um fato jurídico, com
implicações humanas e sociais. Combate a idéia de Lombroso acerca do criminoso
nato, contudo aceita que são motivos para a formação do delinqüente os fatores
individuais e externos (físicos e sociais) com especial relevo os econômicos.
Von Liszt (1851-1919) é o principal representante desta escola. É dele a teoria
de que a pena tem tanto função preventiva geral (em relação a todos os indivíduos)
quanto especial (recaindo particularmente sobre o delinqüente). E também a idéia da
pena finalista, que varia conforme a classe do criminoso: se adolescente, a pena é
substituída, quando possível, por medidas de educação; b) se ocasional, a pena visa
gravar profundamente, na sua consciência, os preceitos proibitivos através da
intimidação; c) se corrigível, a pena serve para emendá-lo, pelo dever de ser
duradoura e enérgica; d) se habitual e incorrigível, a pena implica a redução a
estado de inocuidade, pelo qual o criminoso é segregado da sociedade, para
garantir a segurança da comunidade (VON LISZT, 1899, p. 100).
Adolphe Prins em 1910, foi o pioneiro a formular a doutrina autônoma de
defesa social, fundamentando a falibilidade da teoria Clássica no que tange à
responsabilidade moral e ao regime penitenciário, demonstrando o aumento da
reincidência no final do séc. XIX. Em meados do séc. XX Filippo Gramática difunde a
doutrina moderna de defesa social, que em breve síntese propõe a supressão do
direito penal, da responsabilidade penal, da pena e do sistema tradicional de
processo penal, vez que o direito de defesa social atribui como finalidade a
adaptação do indivíduo à ordem social e não a sanção de seus atos. As medidas de
defesa social substituem as penas e a justiça tem apenas o aspecto de ressocializar
o delinqüente (ANCEL, 1079, p. 125). Em face desta doutrina extremista de
Gramática, surge uma outra, encabeçada por Marc Ancel intitulada Nova Defesa
Social. Diante de um “programa mínimo” fixa os seguintes princípios: a) A sociedade
deve assumir a tarefa de lutar contra a criminalidade; b) O empenho da sociedade
23
deve ser pré-delitual e pós-delitual; c) Ver o Direito Penal como um dos meios de
reduzir a criminalidade; d) Toda a ação da sociedade deve ter em vista: a proteção
contra o delinqüente e, meios para que os seus membros não ingressem na
criminalidade.
Estas teorias também receberam muitas críticas, e mais uma vez apontamos
as de Roxin (1993, p. 38-43)
A teoria não delimita o poder punitivo do Estado: não somos todos culpáveis,
mas necessitamos todos nos corrigir, assim, diante desta teoria o Estado poderia
submeter às penas os inimigos políticos, os grupos associáveis (mendigos e
prostitutas). A teoria também não delimita o caráter temporal da intervenção estatal,
pois para ser conseqüente deveria prosseguir um tratamento até o alcance da
correção, o que deixaria o indivíduo à mercê da intervenção estatal.
A teoria não oferece fundamentação para os crimes que não têm perigo de
repetição, por exemplo, os assassinos de guerra que não precisam de
ressocialização, pois não existe perigo de reincidência. C) Entende não ser possível
um Estado de Direito tornar legítimo que uma maioria da população obrigue uma
minoria a adaptar-se aos modos de vida que são convenientes a essa teoria.
1.2.3 – Teorias Unificadoras
Todas as teorias apresentadas não podem ser aceitas em sua totalidade,
diante das suas debilidades. Então surgem as chamadas teorias unificadoras,
também conhecidas como mistas ou ecléticas, que combinam as três versões
(retributiva, prevenção geral e prevenção especial). De acordo com a exposição de
Junqueira (2004, p. 99), verifica-se que esta unificação pode ser aditiva ou dialética.
É aditiva quando as diversas finalidades da pena são apenas somadas e
reconhecidas como presentes dentro de um sistema, sem a adoção de um critério
firme para aplicar a pena. É dialética quando apesar de reconhecer mais de uma
finalidade para a pena, e mesmo quando seja utilizado mais de um critério para a
sua concretização, há uma ordem a ser seguida. Esta é a classificação proposta por
24
Roxin (1993, p. 45), que propõe: A teoria da Prevenção Geral para as cominações
legais, a Teoria da Retribuição para a sentença e a Teoria da Prevenção Especial
para a execução.
No Brasil, como conceitua Junqueira (2004, p. 116), “é adotada a idéia mista
aditiva, ou seja, entende-se que a pena serve para retribuir o mal causado,
realizando justiça, e ainda para prevenir novos crimes pela ameaça, bem como
intimidar o criminoso a não rescindir e ainda ressocializá-lo”.
A teoria mista aditiva gera insegurança jurídica, pois nunca se sabe qual será o
vetor seguido pelo magistrado, violando inclusive o princípio da legalidade penal.
Assim se expressa o autor acima mencionado “A carga de discricionariedade –
percebida e criticada por alguns autores - é admitida como opção do legislador,
como se fosse possível ao representante do povo (legislador) delegar ao julgador a
escolha do vetor de compreensão da mais violenta atuação estatal. A própria idéia
de legalidade penal não admite, com o seu conteúdo histórico de garantia e de freio
liberal ao estado, tamanha indeterminação”.
A ausência de finalidade preponderante para pena, diante da falta de fixação
de premissas valorativas na Constituição Federal é visível também com relação à
política criminal, vez que as leis a cada momento possuem uma finalidade diferente.
Esta situação fica clara, quando se observa, por exemplo, as Leis 9.099/1995 e
10.259/2002 (Juizados Especiais Criminais) em face das Leis 8.072/1990 (crimes
hediondos) e 9695/1998 (acrescenta a lista dos crimes hediondos: a falsificação,
corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais). As duas primeiras têm como finalidade a prevenção especial e a
prevenção geral positiva, já as duas últimas têm como finalidade a prevenção geral
pela intimidação, através da fixação de penas severas (terrorismo estatal).
1.3 - Direito de punir e a política
Segundo Zaffaroni e Pierangeli (2001, p. 132), “a política criminal é a ciência ou
a arte de selecionar os bens (ou direitos), que devem ser tutelados jurídica e
25
penalmente, e escolher os caminhos para efetivar tal tutela, o que iniludivelmente
implica a crítica dos valores e caminhos já eleitos”.
Desta forma toda norma jurídica expressa uma decisão política.
O Estado, titular do direito de punir, através de uma decisão política, elenca
através de normas jurídicas os bens tutelados, que uma vez violados, ensejam um
processo criminal que levará o Estado a executar a punição do responsável.
1.3.1 – Nascimento do direito de punir: direito obj etivo e
subjetivo de punir
Quando o Estado através de um conjunto de normas fixa, prévia e
taxativamente, a esfera do proibido estamos diante do direito objetivo de punir.
Diante desta norma, nasce para cada um dos indivíduos o dever jurídico de
abster-se da violação do imperativo legal. Quando o indivíduo viola a norma e
comete a infração, o direito abstrato de punir (direito objetivo) converte-se em direito
subjetivo de punir, que é o direito de punir em concreto. Assim dispõe Porto (1984, p.
1): “Violado o preceito, passa a ter o Estado, em relação ao autor do fato violador, o
direito de punir (jus puniendi), direito subjetivo e público e de exercício autolimitado
pelo próprio Estado”.
É mister ressaltar que esta ligação existente entre a decisão política e o direito
de punir em concreto é regida pelo princípio da legalidade, que determina o alcance
do proibido e do permitido.
A este respeito assim preconizam Zaffaroni e Pierangeli (2001, p. 133): “a
norma é filha da decisão política, leva a sua bagagem genética, mas o cordão
umbilical entre a decisão político-penal e a norma, é cortado pelo princípio da
legalidade, ao menos no que concerne à extensão punitiva.”
26
Na mesma esteira, Trippo (2004, p. 5) afirma: “Inserir o direito de punir na
esfera dos direitos subjetivos permite limitá-lo, posto que não poderá extrapolar ou
desviar-se do conexo direito objetivo, no bojo do qual devem ser prévia e
taxativamente previstos os crimes e as penas e instituído o devido processo legal”.
Esse limite, ao transformar o poder fático de punir, em direito estatal de punir,
tutela o direito individual de liberdade.
1.3.2 – Causas extintivas da punibilidade
Da mesma forma que o Estado, diante de uma decisão política, seleciona os
bens que devem ser preservados, e que uma vez violados faz nascer o direito de
punir; ele também seleciona uma série de fatos que, se ocorrerem, encerram o seu
direito de punir. Estes fatos, no atual Código Penal brasileiro, são denominados de
“causas extintivas da punibilidade”. Assim dispôs o Ministro Francisco Campos: as
causas extintivas cessam a punibilidade “em razão de certas contingências ou por
motivos vários de conveniência e oportunidade política”5.
A denominação nem sempre foi esta. Antes de 1940 o legislador utilizava a
terminologia “extinção do crime e da pena”. Acertadamente, o legislador de 1940 fez
a modificação, pois punibilidade consiste na possibilidade de ser aplicada a sanção
penal pelo Estado; não é um elemento do delito e sim uma conseqüência. Este é o
ensinamento de Magalhães Noronha (1971, p. 403), “A pena não é elemento do
crime, e sim seu efeito ou conseqüência, donde, assisadamente, o Código previu
causas que extinguem a punibilidade ou o jus puniendi do Estado. Não seguiu o
exemplo de outras legislações, que se referem à extinção do crime, como faz o
Código Penal Italiano, colocando-a ao lado da extinção da pena. O que existe, no
caso, é renúncia do direito de punir, de que é titular o Estado”.
5 Exposição de Motivos do Código de 1940, item 35.
27
Deste modo, uma vez extinta a punibilidade, o Estado perde o direito de punir
(perseguir e executar), mas o crime está perfeito, ou seja, estão presentes todos os
seus elementos (fato típico, ilícito e culpável)6. A abolitio criminis é uma exceção a
esta regra, vez que a nova lei não considera mais crime fato anteriormente típico, e
devido à retroatividade da lei mais benéfica o fato praticado pelo agente, ainda que
anterior a abolitio criminis, não é mais tido como crime, pois falta um dos seus
elementos (fato típico).
O Brasil sempre previu causas extintivas da punibilidade, nem sempre com
esta denominação e algumas vezes de forma generalizada, como era o caso do
primeiro Código Penal brasileiro, o Código Criminal do Império que apenas
mencionava nas disposições gerais, a imprescritibilidade das penas (art. 65), o
perdão das penas pelo Poder Moderador (art. 66) e o perdão do ofendido (art. 67).
Em 1832, o Código de Processo do Império tratou o tema de forma mais
específica, abordando a prescrição dos delitos e das contravenções (arts. 54 a 57).
O Código Penal da República, de 1890, já dispunha das causas que extinguiam
a ação (morte do criminoso, anistia, perdão do ofendido, e prescrição) e das que
extinguiam a pena (as mesmas que extinguiam a ação, acrescidas do cumprimento
da pena, do indulto e da “rehabilitação”).
O Código de 1940, como já fora mencionado, passou a denominar causas
extintivas da punibilidade e manteve as causas previstas na legislação anterior e
acrescentou a abolitio criminis, a perempção, renúncia ao direito de queixa,
retratação do agente nos casos em que a lei admitia o casamento do agente com a
6 Elementos segundo a teoria clássica tripartida do crime. Vale ressaltar que o conceito analítico docrime vem sofrendo profundo reexame do mundo jurídico-criminal. A mais ou menos pacífica etradicional composição tripartida (tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade) tem trazido inquietações,seja pela estrutura interna desses elementos, com a transposição de fatores de um para outro, sejapela atual tentativa de retorno a uma concepção bipartida. O maior expoente da teoria finalista daação em nosso meio, Professor Damásio Evangelista de Jesus, sustenta que a culpabilidade não éelemento ou requisito do crime. Ela somente funciona como pressuposto da pena; e que o juízo dereprovabilidade não incidiria sobre o fato, mas sim sobre o sujeito. Não se tratando de fato culpável,mas de sujeito culpável. Culpabilidade seria um juízo de reprovação que recairia sobre o sujeito quepraticou o delito, desta forma, a culpabilidade seria uma condição de imposição de pena. (JESUS,1992, p. 589)
28
ofendida nos crimes contra os costumes definidos nos Capítulos I, II, III do Título IV
do Código Penal e o ressarcimento do dano no caso do peculato culposo.
Vale ressaltar que a “rehabilitação” prevista neste código é instituto distinto do
disciplinado no Código de 1890, muito embora a denominação fosse a mesma. No
código republicano (art.119), a “rehabiltação” era o efeito da rescisão do julgamento
penal condenatório, no caso de erro ou injustiça da sentença. Na conceituação de
Hungria (1941, p. 591) “é o consectário da declaração de inocência do condenado,
mediante a revisão do processo”. Já com Código de 1940 ela é pura medida de
política penal, uma recompensa concedida ao indivíduo que, embora justamente
condenado no juízo criminal, revela após o cumprimento da pena principal,
constância de boa conduta, e repara, quando possa, o dano resultante do crime.
Consiste a “rehabilitação” em reintegrar o condenado nos direitos que lhe tenham
sido tirados pela condenação. Foi adotada a “rehabilitação” judicial, que tem apenas
o condão de eliminar ex nunc a pena acessória.
Em 24 de maio de 1977 a lei 6416 acrescentou ao artigo 108 mais uma causa:
o casamento da ofendida com terceiro, nos crimes referidos no inciso anterior (nos
crimes contra os costumes definidos nos Capítulos I, II, III do Título IV do Código
Penal), salvo os praticados com violência e grave ameaça e se ela não requerer o
prosseguimento da ação penal no prazo de sessenta dias a contar da celebração.
A reforma da Parte Geral do Código Penal (Lei 7209 de 11 de julho de 1984),
excluiu a “rehabilitação”, o ressarcimento do dano no peculato culposo, a retratação
do agente, alterou a redação da hipótese de casamento da vítima com terceiros e
incluiu o perdão judicial. Assim justifica Ibrahim Abi Ackel na exposição de motivos
da nova parte geral do Código Penal nos itens 96, 97 e 98.
96 – Excluíram-se do rol das causas extintivas da punibilidade a reabilitação e
o ressarcimento do dano no peculato culposo. A primeira porque,
dependendo de anterior extinção da pena, não tem a natureza de causa
extintiva da punibilidade. Diz mais com certos efeitos secundários da
condenação já consumada. A segunda porque, tratando-se de norma
específica e restrita, já contemplada expressamente na Parte Especial,
29
art.312 § 3º, nada justifica sua inócua repetição entre normas de caráter
geral.
97 – Deu-se melhor redação à hipótese de casamento da vítima com terceiro,
ficando claro que esta norma excepcional de extinção depende da ocorrência
concomitante de três condições: o casamento, a inexistência de violência real
e a inércia da vítima por mais de 60 (sessenta) dias após o casamento.
98 – Inclui-se o perdão judicial entre as causas em exame (art.107, IX) e
explicitou-se que a sentença que o concede não será considerada para a
configuração futura de reincidência (art.120). Afastam-se, com isso as
dúvidas que ora têm suscitado decisões contraditórias em nossos tribunais. A
opção se justifica a fim de que o perdão, cabível quando expressamente
previsto na Parte Especial ou em lei, não continue, como por vezes se tem
entendido, a produzir os efeitos da sentença condenatória.”
A exposição de motivos não menciona a exclusão da retratação do agente nos
casos previstos em lei, mas acreditamos que pelo mesmo motivo do ressarcimento
do dano no peculato culposo esta causa foi excluída, pois trata-se de causa
especial, prevista expressamente nos artigos 143 e 242 §3º do Código Penal.
Em 28 de março de 2005, a Lei 11.106 revogou os incisos VII e VIII do artigo
107 do Código Penal; assim a partir desta data, o casamento da vítima, nos crimes
contra os costumes, definidos nos capítulos I, II, III, e IV da Parte Especial do Código
Penal, e o casamento da vítima com terceiro, nos mesmos crimes, desde que
cometidos sem violência real ou grave ameaça e desde que a ofendida não
requeresse o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal no prazo de
sessenta dias a contar da celebração, não extinguem mais a punibilidade.
Atualmente o Código Penal, no artigo 107, elenca 11 hipóteses de extinção da
punibilidade, que são estas: a) morte do agente; b) anistia; c) graça; d) indulto; e)
retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso; f) prescrição; g)
decadência; h) perempção; i) renúncia do direito de queixa; j) perdão do ofendido,
nos crimes de ação penal privada; e l) perdão judicial, nos casos previstos em lei.
O rol do art. 107 não é taxativo, existem outras hipóteses previstas no próprio
Código Penal, como a hipótese do art. 7º, § 2º, d, em que o agente que cumpriu
30
pena no estrangeiro pelo crime lá cometido, tem extinta a sua punibilidade em
relação à pretensão punitiva do Estado brasileiro.
As causas extintivas da punibilidade não se confundem com as escusas
absolutórias, muito embora estas também isentem de pena, só que em decorrência
de uma característica especialíssima do agente. O Nosso Código Penal prevê as
escusas absolutórias nos artigos 181, incisos I e II (imunidade penal absoluta nos
delitos contra o patrimônio) e 348, § 2º (favorecimento pessoal).
As causa de extinção da punibilidade estão assim enumeradas:
1.3.2.1 – Morte do agente
A responsabilidade penal é personalíssima, a morte do agente faz com que o
Estado perca o jus puniendi, não se transmitindo a seus herdeiros qualquer
obrigação de natureza penal. O Estado consagra o princípio de que mors omnia
solvit.
Hungria (1941, p. 582) relata que nem sempre foi assim : “não obstante adotar
a regra de que a morte do agente extingue o crime (is, qui in reatu decedit integri
estatus decedit: extinguitur enim crimen mortalitate – D., 48, 4, ad L. Jul. magestat.,
fr. II), o direito romano, em certos casos, prescrevia a transmissão mortis causa da
obrigação penal (hoereditas fisco vindicetur nisi a successoribus purgentur). Na
Idade Média, admitia-se contra os mortos a dammnatio memorioe, a condenação em
efígie e a execução sobre o cadáver”.
A Constituição Federal garante em seu art.5º, XLV, 1ª parte “nenhuma pena
passará da pessoa do condenado”. Deste modo se o agente é condenado à pena de
multa e morre antes de efetuar o pagamento esta obrigação não se transmite aos
herdeiros.
É com base neste argumento que alguns defendem que, muito embora a multa
seja transformada em dívida de valor (conforme art. 51 do CP), ela é pena e não
crédito tributário, pois este pode ser cobrado dos herdeiros.
31
A prova se faz com a certidão de óbito. É uma causa incomunicável, mesmo
nas hipóteses de co-autoria em crime próprio, em que o co-autor que morre é o que
possui a qualidade especial.
1.3.2.2 – Anistia, graça e indulto
São hipóteses de clemência soberana, em que o Estado diante de certas
ocasiões acredita ser preferível o esquecimento à punição, no próprio interesse
público, apaziguando ódios e ressentimentos, buscando criar um clima de harmonia
que jamais seria conseguido com a punição.
A anistia é o esquecimento jurídico de uma ou mais infrações penais. É
concedida pelo Congresso Nacional (art. 48, VIII da CF), logo é lei penal que tem o
condão de apagar um fato, ao contrário da abolitio criminis que elimina a lei penal
incriminadora, atingindo os fatos. Tem capacidade de rescindir sentença
condenatória irrecorrível.
Habitualmente, embora não necessariamente, a anistia é concedida em relação
a crimes políticos.
A graça , assim como o indulto , consiste numa espécie de indulgência. Só que
a primeira é individual e deve ser requerida e o segundo é geral e espontâneo.
Ambos são de competência do Presidente da República (art.87, XII da CF). Não tem
capacidade de rescindir a sentença condenatória, apenas extingue a punibilidade,
quando total. Na conceituação de Marques (1997, p. 425)
o indulto e a graça no sentido estrito são providências de ordem
administrativa, deixadas a relativo poder discricionário do Presidente da
República, para extinguir ou comutar penas. O indulto é medida de ordem
geral e a graça de ordem individual, embora na prática, os dois vocábulos se
empreguem indistintamente para indicar ambas as formas de indulgência
soberana.
De acordo com a Constituição Federal (art. 5º, XLIII) são insuscetíveis de
graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
32
o terrorismo e os definidos como crimes hediondos. Embora existam posições em
contrário, o termo graça foi utilizado em sentido amplo, abrangendo assim a graça e
o indulto.
1.3.2.3 – Retroatividade de lei que não mais consid era o fato como
criminoso
Trata-se da abolitio criminis, que deixando de considerar como ilícito penal fato
praticado pelo agente, extingue o próprio crime e nenhum efeito penal subsiste. A
causa se justifica, pois não há mais sentido na subsistência de efeitos penais
decorrentes de um fato que uma norma posterior deixou de incriminar.
A revogação pode ser expressa ou tácita. Esta ultima ocorre: a) quando a nova
lei seria incompatível com a lei anterior; b) quando a nova lei, regulando inteiramente
a matéria disciplinada pela lei anterior, omite o preceito incriminador.
Mister se faz alertar que por vezes, a nova lei deixa de reproduzir uma norma
que incrimina especialmente um fato, mas porque este fica incluído em outra norma.
Foi o que ocorreu com o artigo 219 do Código Penal (rapto) diante da disposição da
Lei 11.106 de 28 de março de 2005. Esta lei revogou o artigo 219, mas manteve a
conduta incriminadora contida no artigo 148, inc. V do CP, apenas com outra
denominação.
1.3.2.4 – Prescrição, decadência e perempção
Alguns doutrinadores (NORONHA, 1971, p. 417) classificam estes institutos
como causas extintivas da punibilidade em razão do decurso do tempo, muito
embora a perempção possa ocorrer em razão do tempo; nem sempre é assim, pois
existem outras causas.
A decadência é a perda do direito de promover a ação penal exclusivamente
privada e do direito de manifestação da vontade de que o ofensor seja processado,
33
por meio da ação penal pública condicionada à representação, em face da inércia do
ofendido ou seu representante legal, durante determinado tempo fixado por lei.
Muito embora este instituto esteja elencado como causa de extinção da
punibilidade, esta só ocorre por via de conseqüência, pois o que ela realmente
extingue é o direito de dar início à persecução penal em juízo. Quando o indivíduo
perde o direito de promover a ação e provocar a prestação jurisdicional, o Estado
não tem como satisfazer seu direito de punir.
O prazo decadencial via de regra é de 06 meses contados do dia em que o
ofendido ou seu representante legal fica sabendo quem é o autor, ou nos casos de
ação privada subsidiária da pública a partir do dia em que se esgota o prazo para o
oferecimento da denúncia, como prevê o art. 103 do CP.
A perempção consiste em uma sanção processual ao querelante desidioso,
que deixa de dar andamento normal à ação penal exclusivamente privada.
Conceitua Carvalho Filho (1958, p. 222): “É uma pena ao ofendido pelo mau uso da
faculdade, que o poder público lhe outorgou, de agir preferentemente na punição de
certos crimes”.
Este instituto só é cabível na ação penal exclusivamente privada, sendo
inadmissível na ação penal privada subsidiária da pública.
O Código de Processo Penal em seu art. 60 elenca de forma exemplificativa
algumas hipóteses de perempção Além das hipóteses previstas neste mencionado
artigo, ocorre a perempção na hipótese da morte do querelante em ação penal
privada personalíssima. Atualmente só existe uma hipótese de ação penal
personalíssima, que está prevista no Código Penal, art. 236, parágrafo único
(induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento), no capítulo “Dos crimes
contra o casamento”, em que somente o contraente enganado pode apresentar
queixa. O extinto crime de adultério (revogado pela lei 11.106 de 28 de março de
2005) também previa hipótese de ação personalíssima.
A prescrição , tema deste trabalho, será abordada no próximo capítulo.
34
1.3.2.5 – Renúncia do direito de queixa e perdão do ofendido, nos
crimes de ação penal privada
A renúncia do direito de queixa consiste na abdicação do direito de promover a
ação penal privada, pelo ofendido ou seu representante legal.
Só é admitida na ação penal exclusivamente privada, sendo inaceitável nas
ações privadas subsidiárias da pública, pois esta tem natureza pública. Deve ser
feita por quem tem legitimidade para apresentar a queixa (ofendido ou seu
representante legal) e pode ser expressa ou tácita.
O perdão do ofendido segundo Jesus (1992, p. 611) “é o ato pelo qual,
iniciada a ação penal privada, o ofendido ou seu representante legal desiste de seu
prosseguimento”.
O perdão do ofendido só é possível na ação penal exclusivamente privada,
inadmissível nas ações penais privadas subsidiárias da pública. Pode ser expresso
ou tácito e necessita da aceitação do querelado (art. 106, III do CP). Quando há dois
ou mais querelados, o perdão concedido a um deles se estende a todos, sem que
produza, entretanto, efeito em relação ao que o recusa.
1.3.2.6 – Perdão Judicial
O perdão Judicial é a faculdade do juiz de, nos casos previstos em lei, deixar
de aplicar a pena, em face de justificadas circunstâncias excepcionais.
Distingue-se do perdão do ofendido, uma vez que, neste, é o ofendido quem
perdoa o ofensor nas ações exclusivamente privadas. No perdão judicial é o juiz
quem deixa de aplicar a pena, independente da natureza da ação, nos casos
permitidos em lei, tais como artigos 121, § 5º e 129, § 8º , ambos do Código Penal,
o art.13 da Lei nº 9807, de 13.07.99, que institui o Programa Federal de Assistência
a Vítima e as testemunhas.
35
CAPÍTULO II – PRESCRIÇÃO PENAL
2.1 – HISTÓRICO: ORIGEM E DESENVOLVIMENTO
O instituto da prescrição requer uma abordagem histórica, ainda que breve,
para uma melhor compreensão do seu sentido e alcance, bem como das mudanças
e evolução ao longo dos anos.
A doutrina aponta que a prescrição era conhecida entre os gregos, mas foram
os romanos os primeiros a textualizar legalmente o instituto.
A “lex Julia de Adulteriis” é tida como a mais antiga previsão legal sobre a
prescrição, muito embora haja uma divergência a respeito da época. Antonio
Rodrigues Porto afirma que surgiu nos anos 17 ou 18 a.C, já Christiano José de
Andrade enfatiza que foi em 736 ou 737 a.C e Eduardo Reali Ferrari alude que foi
em 1736 ou 1737 a.C. Todos, no entanto, afirmam que a mesma fixava o prazo de
cinco anos para a prescrição dos crimes de estupro, lenocínio e adultério nela
previstos.
Este prazo qüinqüenal, segundo Carvalho Filho (1958), decorre das festas
lustrais comemoradas a cada cinco anos. Os banhos lustrais simbolicamente
36
lavavam as culpas religiosas dos indivíduos e das cidades, que devido o decurso do
tempo foram purgadas. Fica evidenciada a idéia de perdão e purificação do homem
através do tempo, e de que a prescrição neste caso está ligada à idéia de perdão.
Com o passar do tempo os prazos prescricionais variaram bastante, sendo que
na última época romana os delitos mais graves, como o parricídio, parto suposto e
apostasia, foram considerados imprescritíveis. A idéia de que os crimes graves não
devem ser beneficiados com a prescrição remonta a esta época.
Na Idade Média os prazos prescricionais foram reduzidos, fato que gerou
inúmeras criticas. No intuito de contornar a situação, os prazos foram ampliados,
mas o fizeram de maneira indiscriminada, de maneira fixa, sem qualquer conexão
com a gravidade. A legislação na Toscana nos idos de 1562-1563 é a maior prova
da desproporcionalidade entre os prazos prescricionais e as condutas delituosas,
estabelecendo a prescrição de 10 anos, para os crimes mais diversos, tais como
homicídio, roubo, furto, falsidade, rebelião, traição, rapto e violência por desejo
carnal, ficando os demais delitos com o prazo prescricional de cinco anos
(FERRARI, 1998, p. 4).
O decurso do tempo deu novas acepções à prescrição. Assim, segundo os
práticos italianos, o decurso da maior parte do prazo prescricional deveria trazer
como conseqüência uma minoração da pena, bastando para tanto que o delinqüente
tivesse bom procedimento e não praticasse outro crime. A inserção do elemento
emenda passou a justificar o instituto da prescrição criminal (FERRARI, 1998, p. 5).
Muito embora a Itália discutisse com intensidade o tema da prescrição, a
Alemanha, segundo Von Liszt, sequer conhecia o instituto, o seu ingresso ocorreu
apenas no séc. XVI (VON LISZT, 1989 apud FERRARI, 1998, P. 5)
O desenvolvimento intenso na Itália não significava aceitação unânime do
instituto. No séc. XVII os Juristas Beccaria (2003) e Benthan (2002), dentre outros,
combatiam o instituto. Beccaria entendia que a prescrição não devia existir em
relação aos crimes atrozes, pois representava negação de que a todo delito
37
correspondia uma pena como conseqüência necessária e inevitável. A prescrição
consistia um prêmio à impunidade e incentivo aos criminosos.
Segundo Florian (1934), os romanos não conheceram a prescrição da
pretensão executória (prescrição da pena). Esta só foi introduzida na França na
época da Revolução (séc. XVIII). Carrara tem entendimento divergente e alega que
a prescrição da pena consistia na prescrição da ação para obter a execução da
condenação, assim outra coisa não é senão a prescrição da “actio judicati”.
Modernamente, a prescrição figura em quase todos os códigos, mas suas
normas variam quanto aos requisitos, extensão e efeitos (PORTO, 1972, P. 26).
2.2 – ESPÉCIES DE PRESCRIÇÃO
A norma penal, desde o início de sua vigência, impõe a todos a obrigação de
não cometerem os fatos nela descritos, crime ou contravenção, e cria ao Estado o
direito a esta observância, sob ameaça de imposição da pena ao infrator. Assim, o
Estado adquire com o nascimento da norma, o direito de punir em abstrato.
O Estado é, então, titular da pretensão punitiva, adquirindo o direito de invocar
o Poder Judiciário no sentido de aplicar o Direito Penal objetivo ao fato cometido
pelo delinqüente. E faz isto por meio da ação penal, em que a acusação é a
dedução em juízo da pretensão punitiva (JESUS, 1992, p. 630)
A pretensão punitiva deve ser deduzida em juízo pelo Estado – Administração
ou pelo particular. É a busca da aplicação do direito penal objetivo a um fato
considerado como infração penal com vistas à punição do agente com a sanção
correspondente. Com o trânsito em julgado da condenação, o direito do Estado
passa a ser exercido com o objetivo de executar a sanção imposta.
A punibilidade é essa possibilidade jurídica da imposição da pena ao autor da
infração penal. Ela é conseqüência da prática do ilícito penal e não elemento
integrante dele.
38
Em algumas circunstâncias a punibilidade pode ser extinta e o fato criminoso
quedar-se diante de fatos ou atos jurídicos previamente previstos na lei penal, dentre
eles a prescrição, uma das causas de extinção da punibilidade.
As causas de extinção da punibilidade atingem ou a pretensão punitiva ou a
pretensão executória, uma vez que ocorram antes do trânsito em julgado da
sentença penal condenatória, no primeiro caso, ou depois dele, no segundo.
Assim a prescrição ocorrida neste primeiro momento é chamada de prescrição
da pretensão punitiva e a do segundo é a prescrição da pretensão executória.
2.3 – NATUREZA JURÍDICA
A natureza jurídica da prescrição é assunto polêmico; os doutrinadores,
nacionais e estrangeiros, até os dias de hoje não conseguem chegar a um
consenso. Deste modo, existem 03 correntes de posicionamento a respeito: corrente
jurídico-material, corrente jurídico-processual e corrente mista ou eclética.
A análise desta questão é de suma importância, não apenas para um melhor
conhecimento científico da matéria, mas principalmente diante dos seus efeitos
práticos, no que diz respeito a admissão ou não da retroatividade de uma lei que
possa alargar ou até suprimir o prazo prescricional.
2.3.1 – Corrente Jurídico-material
A corrente jurídico-material acredita que a prescrição é um instituto de cunho
meramente substantivo, sem qualquer ligação com o direito formal, levando em
consideração que a mesma é fruto de uma renúncia do Estado ao direito de punir .
Assim, tanto na pretensão punitiva como na pretensão executória a prescrição
figura como uma causa de exclusão da pena.
Como defensores desta corrente podemos citar Von Liszt (1899) e Manzini
(1848).
39
O primeiro era taxativo ao afirmar que a prescrição é circunstância extintiva da
pena. Não só extingue o processo como também extingue o direito de punir. É
prescrição do direito e não prescrição da ação. Já Manzini sustentava
expressamente que a prescrição implica uma renúncia do Estado da potestade de
punir, mas as formalidade pelas quais tal renúncia vem efetuada, fazem parte do
Direito Processual Penal.
Esta é a posição de Marco Antonio Marques da Silva (1993, p. 103), que assim
dispõe: “Embora exista posicionamento da doutrina que entende que prescrição é
instituto de direito processual penal, entendemos que constitui matéria de direito
penal. Nosso sistema inclui-se entre as causas extintivas da punibilidade,
disciplinando a em várias disposições do Código Penal – artigos 107, inc.IV, 1ª
figura, e 109 a 117”.
Também defendem esta teoria Mirabete (1992), Noronha (1971) e Garcia
(1980), pois sustentam que o instituto atinge diretamente o direito de punir. Damásio
Evangelista de Jesus, no mesmo sentido, assevera que a nossa legislação inclui a
prescrição como causa extintiva da punibilidade, estando disciplinada no Código
Penal (JESUS, 1992, p. 630).
2.3.2 – Corrente Jurídico-Processual
A corrente Jurídico-processual defende que a prescrição possui caráter
processual, conduzindo à extinção do processo, sendo então um obstáculo para
este.
Fundamentam-se na dificuldade e dubiedade do resultado da investigação do
fato e do agente, obtido com o passar do tempo. O tempo, conforme esta corrente,
enfraquece a veracidade da prova, resultando em insuportáveis perigos judiciários,
que justificam a renúncia do Estado a uma punição incerta e duvidosa.
Como defensores desta corrente, estão Bettiol (1945) e Calón (1951). O
segundo afirma que a prescrição dos delitos se justifica pelo argumento de caráter
processual, de que com o decurso do tempo, se extinguem ou se debilitam as
40
provas do fato punível. A boa administração da justiça exige que as provas nos
juízos criminais sejam frescas e eficientes, porquanto as que, por haver decorrido
muito tempo desde o cometimento do delito, perderam o seu vigor probatório
podendo causar graves erros judiciários.
2.3.3 – Corrente Mista ou Eclética
A corrente Mista ou eclética acredita que a prescrição possui tanto natureza
material como natureza processual. As justificativas, como bem elaborou Machado
(1998), podem ser fracionadas em dois grupos.
O primeiro grupo se justifica na natureza eclética da prescrição em face dos
efeitos que ela opera, atinge imediatamente ambas as naturezas. Este é o
entendimento de Welzel (1976, p. 359), ao sustentar que “ os efeitos da prescrição
não se explicam unicamente pela desaparição progressiva das provas, senão pela
paulatina extinção da necessidade punitiva em virtude do transcurso do tempo. Por
isto, a prescrição tem, pelo menos um caráter duplo: é tanto causa de extinção
jurídico-material da pena, como obstáculo processual para a persecução”.
O segundo grupo entende que a prescrição tanto poderá ser de direito material
como de direito processual, segundo a espécie que se analisa, ou seja, se se referir
ao procedimento ou à perseguibilidade da pena.
Assim, segundo Von Beling (1943) e Dias (1993) a prescrição da pretensão
punitiva é de natureza material e a prescrição da pretensão executória é processual.
Já Mezger (apud MACHADO, 1998, p. 136) entende que a prescrição punitiva
é de caráter híbrido e a prescrição executória é de caráter processual.
Por fim, entende Jescheck (1993, p. 822) que a prescrição punitiva é de caráter
misto e a prescrição executória e de natureza material.
No Brasil, como seguidor da corrente eclética , temos Fragoso (1995), que
argumenta que o fato de estar o instituto da prescrição no Código Penal e não no
41
Código de Processo Penal, é irrelevante . Acredita que a prescrição representa, de
um lado, a perda do interesse na perseguição e no castigo, porque, com o decurso
do tempo, desaparecem as provas que justificam a pena. Por outro lado, a
prescrição constitui impedimento processual.
Afirma ainda que o aspecto processual é mais nítido, sobretudo quando se
trata da prescrição da pretensão punitiva. Nas suas palavras,
parece claro que neste último caso desaparece o direito do Estado à
persecução: a prescrição constitui um pressuposto negativo, implicando a
suspensão do processo sem decisão de mérito. Ocorrendo a prescrição antes
da sentença, não se julga a ação improcedente. O juiz declara extinta a
punibilidade e põe fim ao processo (FRAGOSO, 1995, P. 404)
Também defende esta posição Ferrari (1998) e Mesquita Júnior (1997). O
primeiro abraça esta corrente, mas alerta que
a prescrição da ação está a cada dia, mais voltada para os fins das sanções.
Estes, passados muitos anos, irão revelar a impossibilidade de ser atingidos,
a justificar a não carência de punição. Há uma reaproximação à natureza
material da prescrição a buscar uma integração maior entre a dogmática e as
decisões político-criminais das finalidades das sanções, sendo desnecessária
sua imposição. A força do fenômeno do tempo rejeita, portanto, a
necessidade da punição, possuindo influência marcante sobre as sanções,
não se punindo o indivíduo mesmo que sua conduta seja reprovável, perigosa
e anti-social (FERRARI, 1998, p. 19).
Sobre as espécies de prescrição, é indispensável observar a conclusão de
Machado (1998, p. 127)
[...] de qualquer forma, em absoluto respeito aos posicionamentos
doutrinários e jurisprudenciais existentes, esta discussão perdeu importância
a partir do modelo moderno e garantístico de que seja a lei de natureza
material ou seja a lei de natureza processual, deve a mesma sempre retroagir
se for mais benéfica ao agente. Portanto, se se entender a prescrição como
instituto de direito material, ou de direito processual ou de direito material
processual, em qualquer deles, a lei que traça a prescrição deve sempre
retroagir e de forma absoluta, afastando-se a incidência do princípio do
42
tempus regit actum. Assim, a discussão em torno da natureza da prescrição
ganha foro de importância secundária.
2.4 – TEORIAS JUSTIFICADORAS DA PRESCRIÇÃO
É indispensável para o presente trabalho a análise da ratio da prescrição
dentro do sistema penal, indicando os motivos pelos quais o Estado perde, em face
do tempo, o direito de punir.
Ao longo da história do Direito Penal muitas foram as teorias a este respeito,
distinguindo-se cada qual por sua fundamentação, umas de índole processual outras
de índole substancial.
2.4.1 – Teoria do esquecimento
A teoria do esquecimento preceitua que o tempo faz com que a sociedade
esqueça o crime e não se lembre mais do delito, inexistindo, assim, interesse a ser
protegido.
O tempo faz a sociedade esquecer o alarme social e duvidar da necessidade e
do interesse de punir do Estado.
Para os defensores da Teoria da Prevenção Geral, no que diz respeito à
execução da pena, com o decurso do tempo esta deixará de ser exemplar, seria,
antes de tudo, contrária ao interesse social manter indefinidamente um cidadão sob
o peso de uma imputação delituosa. A execução tardia faz desaparecer as
necessidades sociais.
Florian (apud MACHADO, 1998, p. 74) entende que transcorrido um certo
tempo e variando segundo a gravidade dos delitos, há menos interesse a punir, já
que desaparecido o dano imediato e perdida a razão política da pena, há o
esquecimento do crime, do qual não permanece mais nenhuma memória na
consciência pública.
43
Essa teoria nos leva a concluir que suprimida a necessidade da propositura da
ação e ou da imposição de pena, conclui-se que, por conseqüência lógica, a
legitimidade da repressão está comprometida.
Outro fundamento para esta mesma teoria é o de que a tardia propositura da
ação ou da imposição de pena traria intranqüilidade à comunidade, por já estar a
mesma apaziguada pelo decurso do tempo.
Assim, sucintamente conclui Ferrari (1998, p. 26):
A teoria do esquecimento, portanto, após a certeza da prova condenatória,
deve analisar a eficácia da punição a ser imposta, a constatar a sua real
carência. Uma vez observado que o tempo não está mais a exigir qualquer
espécie de punição, seja por razões de tranqüilidade social, seja por razões
de ressocialização e correção do criminoso, razoável será a extinção da
punibilidade por meio da prescrição da ação.
Muitos juristas brasileiros, como Faria (1959, p. 196), Noronha (1959, p. 506),
Mirabete (1990, p. 398) e Jesus (1995, 22), adotam, dentre outras teorias, a do
esquecimento para justificar a prescrição.
2.4.2 – Teoria da expiação do criminoso
A teoria da expiação justifica a prescrição com fulcro no sofrimento imposto ao
indivíduo, durante os anos de tramitação do processo. Acredita-se que o indivíduo,
após muitos anos, já sofreu suficientemente a expiação da culpa, proveniente de
angústias e ansiedades, sentidas durante o processo; assim a punição sofrida já
seria suficiente, não necessitando outro tipo de sanção.
Esta teoria é alvo de muitas críticas, sendo considerada arbitrária, pois a pena
estaria compensada pelo sofrimento moral, além de que o objetivo da pena, para
qualquer escola penal não é a aflição imposta ao imputado durante a marcha do
processo. Além disto, esta teoria é apoiada em uma abstração filosófica, o que não
pode justificar a prescrição.
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Outra crítica sobre esta teoria é a de que a expiação é duvidosa, falível e
reversível. Esta teoria acredita que o preso durante o transcorrer do processo medita
sobre o mal praticado. Se fosse assim, não teríamos nos dias de hoje o grande
número de reincidência existente.
Bruno (1984, p. 210-211) justifica a prescrição, utilizando-se além da teoria do
transcurso do tempo da teoria da expiação e da emenda.
A indignação pública e o sentimento de insegurança que o crime gerou
amortecem com o decorrer dos anos, do mesmo modo que se atenua a
revolta e exigência de justiça dos ofendidos. Assim também, com o tempo,
vai-se mudando o réu em outro homem, esquece ou deforma a imagem do
seu crime, e a pena, quer como instrumento de expiação, quer como
instrumento de emenda, já não encontrará o mesmo sujeito, como saiu, com
a culpa, da prática do delito, para nele aplicar-se com eficácia e justiça.
2.4.3 – Teoria da piedade
A teoria da piedade tem como fundamento a idéia de que o transcorrer do
tempo faz com que a sociedade tenha compaixão para com o delinqüente e não
exija mais a reafirmação da norma violada. Esta idéia tem berço na teoria do
esquecimento.
Acredita que devido ao decurso do tempo sem a punição do argüido, o estado
o perdoa, acreditando na sua recuperação.
Criticas também existem com relação a esta teoria, pois o Estado não pode
perder o seu poder-dever de punir em face do decurso do tempo, apenas com base
no sentimento de dó.
Além disso, se a sociedade concedesse o perdão ao delinqüente, a não
punibilidade do agente resultaria na concessão de uma anistia ou graça, atrelada à
idéia de clemência, sem qualquer relação com a perda do poder dever do Estado em
punir em face do decurso do tempo.
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Ferrari (1998, p. 29) chama atenção para o fato de que as sanções possuem
finalidades de ressocialização do agente, bem como de tranqüilização da sociedade.
Este fins não seriam alcançados com a mera piedade do delinqüente, por não
possuir o perdão reflexos de redenção do criminoso e muito menos de apaziguação
contínua para a sociedade.
2.4.4 – Teoria da dispersão das provas
Segundo esta teoria o tempo impede a lembrança dos fatos, dificultando a
persecução processual, inviabilizando a certeza da convicção da punição.
Com o passar do tempo, os meios de prova vão tornando-se mais difíceis e até
mesmo impossíveis, dificultando a apuração dos fatos delituosos e a defesa do
acusado (PORTO, 1972).
Algumas críticas também recaem sobre esta teoria, pois se a produção das
provas fosse a única razão para a prescrição penal, não haveria a necessidade da
fixação de vários prazos prescricionais, porque, com ou sem o desaparecimento da
prova, pouco importaria o lapso prescricional enunciado. Além disto, as prescrições
de curto prazo não se justificariam, posto que não ocorreria tempo suficiente para
danificar as provas da infração.
2.4.5 – Teoria da emenda
A teoria da emenda baseia-se em uma presunção de recuperação e emenda
do delinqüente sem a participação do Estado, devido ao transcorrer do prazo
prescricional sem que o mesmo tenha infringido a norma penal. Uma vez
recuperado, não há razão para a intervenção da coerção penal.
A ausência de outras condutas criminosas, durante o processo, para essa
teoria, seria a demonstração de que o indivíduo se regenerou, ou está ressocializado
à comunidade, a não fazer mais sentido a injunção da sanção.
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Críticas fundamentadas são feitas a esta teoria, pois o tempo por si só, não
garante a emenda do agente. Compreendida como uma presunção absoluta, a
emenda é um fato que pode não ocorrer, arriscando então qualquer conhecimento
antecipado.
A ocorrência constante de reincidência demonstra a falibilidade da emenda.
2.4.6 – Teoria psicológica
A teoria psicológica muito se aproxima da teoria da emenda, porque também
se fundamenta em razões subjetivas. Afirma a idéia da alteração da constituição
psíquica do culpado em razão do decurso de tempo, porque se eliminou o nexo
psicológico entre o fato e o agente, pelo decurso do tempo. Deste modo, o infrator
será um outro indivíduo, diferente daquele reconhecido como culpado, não
justificando a imposição da pena pela perda da finalidade.
A crítica a esta teoria recai sobre o sentimento de impunidade que ela gera na
sociedade pela sua não punição, pois bastaria a alegação da alteração psíquica
para que a punição se tornasse impossível.
2.4.7 - Teoria da presunção de negligência
Esta teoria defende que as autoridades constituídas pelo Estado, agindo com
má fé ou negligência, permitem que o infrator não seja punido após o decurso de
certo período de tempo. A presunção de negligência nasce do transcurso temporal.
O fundamento desta teoria advém do direito civil e de seus institutos,
principalmente a prescrição aquisitiva da propriedade.
Antes de apontar as criticas existentes, vale ressaltar algumas diferenças entre
a prescrição civil e a penal. A prescrição civil tem caráter não oficioso, devendo ser
provocada pela parte, tem prazos prescricionais relacionados com a parte e sua
atuação e não com o fato, e tem como início do prazo prescricional a data do
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conhecimento da parte. Já a prescrição penal, tem o caráter oficioso, dispensando a
provocação da parte, os prazos prescricionais são relacionados com a gravidade do
fato delituoso e via de regra, o prazo prescricional começa a correr a partir da data
da consumação doa delito.
Feita esta observação resta analisar as criticas existentes a esta teoria.
A primeira crítica que se pode fazer refere-se à falsa presunção de que o
decurso do tempo, sem propositura da ação ou execução da pena, se dá por
negligência dos operadores da máquina estatal. Não se deve atribuir culpa ao
Estado quando é sabido que inúmeros crimes sequer chegam ao conhecimento dos
órgãos estatais, não se podendo por isto atribuir negligência a seus agentes
(FERRARI, 1998, p. 34).
A segunda crítica apóia-se nas dificuldades que a própria lei impõe para a
punição, criando obstáculos para a análise da persecução. Algumas vezes, por
conta destes obstáculos, a busca de uma prova se torna impossível, ou a própria
execução, devido ao exíguo tempo fixado para punição. Assim, seria um disparate
atribuir culpa aos agentes do Estado.
Ferrari (1998, p. 34) assim conclui: “É preciso, em vez de presumir-se a inércia
e culpa por parte dos agentes do Estado, fazer-se uma análise da dificuldade da
prova, fixando prazos razoáveis de prescrição da ação proporcionais à gravidade do
delito”.
2.4.8 – Teoria da exclusão do ilícito
Para esta teoria a ausência de proteção penal por muitos anos gera a
desnecessidade da aplicação da sanção porque o bem deixa de ter relevância social
e perde-se a lembrança do delito, justificando assim a prescrição.
Segundo esta teoria, como bem observa Ferrari (1998), algumas condutas
tornam-se sem relevância jurídica, e via de conseqüência, restam não colidentes
com o ordenamento jurídico. No Brasil, é o caso da contravenção penal denominada
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de “Jogo do bicho”, que é muito pouco imputada aos infratores, pois é aceitável
socialmente.
Ocorre que a não punição, na hipótese do Jogo do bicho, decorre da ausência
de reprovabilidade social ou mesmo de carência de afetação do bem jurídico, não
tendo nenhuma ligação com o instituto da prescrição penal.
A principal crítica a esta teoria alega que a exclusão do ilícito não tem ligação
alguma com o fator tempo ligado aos fins das sanções, sendo injustificável a não
punição pela ocorrência da prescrição procedimental.
2.4.9 – Teoria da política criminal
Esta teoria se refere a critérios de oportunidade política para fundamentar a
não-punição do agente após certo lapso temporal.
A política criminal, entendida como ciência que tem por finalidade a prevenção
e o combate à criminalidade, desde a configuração do direito até a efetividade da
sanção, defende que a não punição de condutas tardias é um meio de diminuir a
criminalidade, porque o Estado estaria participando apenas dos casos estritamente
necessários. Assim nos casos em que os crimes haviam sido praticados há muito
tempo, desnecessária seria a punição do agente, decorrente da prescindibilidade da
sanção.
Esta teoria é adotada por Macedo (1946, p. 412), quando assevera que tanto a
prescrição, como as demais causas extintivas da punibilidade, são baseadas em
razões de política criminal.
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CAPÍTULO III – PRESCRIÇÃO PENAL NO BRASIL
3.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA
3.1.1 – Período Colonial
Durante o Período Colonial no Brasil, vigorou por mais de duzentos anos (1603
a 1830) as Ordenações Filipinas - Livro V, das Ordenações do Reino (Código
Filipino).
A referida legislação, como bem relata Barbosa (1975, p. 105), retrata as idéias
e sentimentos da época em que foi promulgada, pois a além de confundir direito com
moral e a religião, erigindo em crime o pecado e o vício, de sancionar a
desigualdade perante a lei, de não resguardar a liberdade individual dos abusos,
consagrava um sistema de penalidades que, inspirado nas idéias de expiação e de
intimidação, se distinguia pela crueldade, prodigalizando-se as penas infamantes e
de morte, requintada a crueza na sua execução e no emprego da tortura para
obtenção de confissões.
Como diz Bruno (1959, p. 161)
O absolutismo dos reis, a pressão de ordem religiosa a mescla íntima entre
essas duas forças sociais, confundindo o príncipe os seus próprios interesses
com os da divindade, porque divina era também a origem de seus privilégios,
50
a necessidade de manter submissos e dentro da ordem os homens, não por
convicção ou claro entendimento das coisas, mas pela força do temor dos
castigos; as ambições e egoísmo de uns e o sentimento de insegurança e
insatisfação de quase todos, tudo isso se refletia naqueles tempos sombrios,
nas leis penais confusas, despóticas e cruéis.
Neste contexto em que o objetivo principal da legislação penal era servir de
instrumento de terror na luta contra o crime, a previsão do instituto da prescrição era
inconcebível.
3.1.2 – Período Imperial
3.1.2.1 – Lei de 20 de setembro de 1830
Diante da declaração de Independência em 1822, no ano seguinte foi editada
a Lei de 10 de outubro, em que foi determinado que continuasse sendo aplicado o
Código Filipino, que permaneceu em vigor mesmo após a Constituição Política do
Império do Brasil, de 1824.
O instituto da prescrição somente foi conhecido pela nossa legislação, através
da Lei de 30 de setembro de 1830, que tratando do abuso da liberdade de imprensa,
estabeleceu no Título VI, das Disposições Gerais, mais especificamente nos artigos.
66 e 67, a possibilidade de reconhecimento da prescrição das ações pública e
particular, pelos crimes nela tratados.
A ação pública, passou a prescrever em um ano, tendo como termo inicial a
publicidade do abuso; a ação particular, passou a prescrever em três anos, “ainda
quando tenha havido qualquer acto, que pareça interromper a prescrição” (art. 67).
A prescrição a ser reconhecida era apenas da ação pública ou particular, e
restrita aos crimes de abuso na liberdade de imprensa, mas foi o primeiro passo.
51
3.1.2.2 – Código Criminal do Império
A constituição Política de 1824, que estabelecera certos cânones fundamentais
a serem respeitados pelo Direito Penal, tais como a garantia à inviolabilidade dos
direitos civil e políticos dos cidadãos, com base na liberdade e segurança da pessoa
e da propriedade, reconhecendo inclusive, que nenhuma pena passaria da pessoa
do delinqüente, proibindo o confisco de bens, a transmissão da infâmia do réu aos
parentes, os açoites, tortura, marca a ferro quente e penas cruéis, com concepção
liberal, determinou também que fosse organizado o quanto antes um código criminal,
iniciado em sua execução em 1827, e concluído em 1830, sancionado aos 16 de
dezembro e mandado executar pela Carta de 08 de janeiro de 1831.
Como ressaltado por Barbosa (1975, p. 107) “documento de alto valor jurídico
inspirado nos princípios liberais da época [...] Carta Política de 25 de março de
1824...nítido monumento legislativo liberal, foi considerado por juristas de reputação
internacional como avançado para época em muitos pontos [...]”. Pode-se considera-
lo, entre as nações civilizadas, o melhor de seu tempo, ainda mesmo tomando-se
como elemento comparativo aos que de algum modo o inspiraram (PELLEGRINO,
1995).
Teve vigência por sessenta anos, até que entrou em vigor o Código Penal dos
Estados Unidos do Brasil, Decreto n 847, de 11 de outubro de 1890.
Quando da entrada em vigor do Código Criminal do Império, o instituto da
prescrição ainda estava regulado pela Lei de 20 de setembro de 1830, que não foi
por ele alterado, tanto que apenas estabeleceu, nas “Disposições Gerais”, mais
especificamente no art. 65, que “As penas impostas aos réos não prescreverão em
tempo algum”.
Ao impor expressamente a proibição apenas à prescrição da pena, não o
fazendo em relação à prescrição da ação, que já existia quanto aos crimes de abuso
de liberdade de imprensa, era evidente a intenção de que persistisse o instituto,
ainda que restrito.
52
Já era reconhecido pela legislação penal da época, tanto que admitida desde o
Código Penal francês de 1791 (CARVALHO FILHO, 1958, p. 227; SIQUEIRA, 1947,
p. 827) e pelo “Código Penal Portuguez”, que nos seus artigos. 123 e 124,
estabelecia que “A prescrição nos crimes e nas penas...” e “...As penas maiores
temporárias prescrevem-se passados vinte anos depois do dia, em que a sentença
passou em julgado...” (FERRÃO, 1836, p. 259-267). O instituto da prescrição,
especificamente quanto à pena, condenação ou pretensão executória, não era
reconhecido até então por nossa legislação, não foi acolhido pelo Código Criminal
do Império, pelo contrário, foi expressamente afastado, o que inclusive não se
harmonizava com as disposições adiantadas para a época, por ele consagradas,
ficando na verdade ao lado de outros preceitos tidos como rigorosos como as penas
de morte dadas pela forca, galés, banimento e desterro.
Ao comentar o referido art. 65, LUIZ (1885, p. 133), Juiz de Direito da Comarca
das Alagoas, afirmou que “por ele ficou revogada a legislação antiga, que admitia a
prescrição, passados trinta anos depois do julgamento”, e indo além, ressaltou convir
“não confundir a prescrição das penas com as dos delictos em geral”.
No entanto, o instituto da prescrição, especificamente em relação à pena, ainda
não havia sido sequer reconhecido pela nossa legislação, como lembrado por
Carvalho Filho (1958, p. 228) ao comentar legislação posterior, quando afirmou “A
prescrição das penas, desconhecida, até então, no nosso direito, é uma das mostras
do seu sentido liberal”.
Discordando do reconhecimento da prescrição, mas sugerindo comutação para
trinta anos de prisão, quando decorrido certo tempo da não execução da pena de
morte, assim como entendendo que não se deveria afastar a possibilidade do
reconhecimento da prescrição da pena imposta por sentença em que o processo
tivesse corrido à revelia, Alves Júnior (1886, p. 881-882), referindo-se
especificamente ao foragido, posicionou-se favorável ao expresso afastamento da
prescrição da pena, ao ressaltar que “Si se trata de um condenado em cumprimento
de pena, que se evade da prisão pareceu-nos que o princípio do Código não deve
ser modificado - e assim teremos que a pena não deve prescrever em tempo algum”.
53
3.1.2.3 – Código de Processo Criminal de Primeira I nstância
Decorridos dois anos da vigência do Código Criminal do Império, foi
promulgado, pela Lei de 29 de novembro de 1832, o Código de Processo Criminal
de primeira instância, que em sua parte segunda, ao tratar no Título II – Do Processo
em Geral, reservou para o Capítulo da prescrição, especificamente do artigo 54 ao
artigo 57, e a par de declarar imprescritível a indenização, a ser demandada a
qualquer tempo, acabou estendendo a aplicação do instituto, até então reservado
aos crimes de abuso da liberdade de imprensa aos “Delictos e contravenções, que
os Juizes de Paz decidem definitivamente”, que não comportavam recurso suas
decisões ao punir “seus Officiais omissos com prisão, que não passe de cinco dias”,
e “testemunhas que não obedecerem às suas notificações” (art. 212, parágrafos 1 e
2)
O prazo prescricional era de um ano, estando o delinqüente presente sem
interrupção no Distrito, e de três anos, se ausente em lugar sabido.
Para os “delictos” afiançáveis, a prescrição se operaria em seis anos, estando
o deliquente presente sem interrupção no termo, e em dez anos se ausente em lugar
sabido, dentro do império.
Para os “delictos” inafiançáveis, foi estabelecido prazo prescricional de dez
anos, se o delinqüente estivesse presente sem interrupção no termo.
A competência do Juiz de Paz foi delimitada pelo parágrafo 7º, do art. 12, “as
contravenções às Posturas das Câmaras Municipais”, e “crimes, a que não esteja
imposta pena maior, que a multa até cem mil réis, prisão, degredo, ou desterro até
seis meses, com multa correspondente a metade d’este tempo, ou sem ella, e trez
meses de Casa de Correção, ou oficinas Publicas onde as houver”.
Inafiançáveis, por força do art. 101, eram os crimes a que cominadas a pena
máxima de morte natural, galés, seis anos de prisão com trabalho, oito anos de
prisão simples, ou vinte anos de degredo.
54
A prescrição impedia a formação da culpa, por força do artigo 147.
Nesse momento já se percebia um grande avanço, pois embora ainda restrito o
reconhecimento do instituto aos “delictos” e “contravenções”, e não às suas penas,
tornou-se muito mais amplo que a previsão até então existente, ainda mais restrita, e
que dizia respeito apenas aos crimes de abuso da liberdade de imprensa.
A precedente norma estabelecedora da prescrição acabou nesse momento
revogada, tomando lugar o novo diploma processual penal, isso porque “Não tendo,
porém, o Código de Processo reproduzido taes disposições devemos considerá-las
revogadas e o delicto de imprensa sujeito as regras da prescrição ordinária,
estabelecidas no mencionado Código para os delictos communs...”. (LUIZ, 1885, p.
545).
Estabeleceram-se novos prazos, assim como uma distinção para os
delinqüentes presentes sem interrupção nos limites da área jurisdicional, ou distrito
da culpa, daqueles dela ausentes, mas dentro do Império.
Sobre a ausência, Filgueiras Júnior (1873, p. 220), ao comentar o Regulamento
n. 120, e lembrando Aviso de 27 de junho de 1855, enfatizou que “A presença do réu
se ausentar antes de preencher o termo da prescrição, o tempo da presença se
presume como ausência, e deve ser computada como tal, e conforme a ausência for
em lugar incerto ou sabido”.
Imprescritíveis ainda permaneciam os delitos afiançáveis, estando o
delinqüente ausente fora do Império, ou mesmo dentro, em lugar não sabido; assim
como os inafiançáveis, estando ausente, não importando se em lugar sabido ou não
sabido, dentro do Império, ou fora dele.
3.1.2.4 – Lei n. 261 de 03.12.1841
Aos 03 de dezembro de 1841, a Lei n 261, ao reformar o Código de Processo
Criminal, estabeleceu novas regras para o instituto da prescrição, tanto que no seu
55
Titulo I, das Disposições Criminais, reservou o Capítulo VI, para tratar da Prescrição
nos seus artigos 32 a 36.
Ampliou-se ainda mais a abrangência do instituto, tanto que para os “delictos”
afiançáveis em que os “reos” estivessem ausentes fora do Império, ou mesmo
dentro, mas em lugar não sabido (art. 32), e para os inafiançáveis estando eles no
Império, em lugar sabido, a eles foi estendido o instituto da prescrição da ação, uma
vez decorridos vinte anos (art. 33), tendo como termo inicial a data do fato,
interrompendo-se a prescrição como pronuncia, devendo ser reiniciada a sua
contagem (art. 34), direito a ser alegada em qualquer tempo, no ato do processo da
formação da culpa, ou acusação, ficando ainda determinada a competência para o
reconhecimento ao Juiz Municipal, ou de Direito, com a interrupção da causa
principal (art. 35).
Foi mantida expressamente a imprescritibilidade da ação nos delitos
inafiançáveis, estando o réu ausente em lugar não sabido, ou fora do Império (art 33,
parte final).
A imprescritibilidade da obrigação de indenizar, foi afastada para dar lugar ao
prazo de trinta anos (art 36).
3.1.2.5 – Regulamento nº 120 de 31.01.1842
Aos 31 de janeiro de 1842, ao regulamentar a parte policial e criminal da lei nº
261, o Regulamento nº 120, ao tratar das Disposições Criminais, no seu Capítulo
VIII, dentre os artigos 271 a 284, acabou mantendo as situações antes já
estabelecidas, inclusive quanto aos prazos, apenas acrescentando regras sobre a
competência, assim como de formalidade do pedido, nada influindo na essência do
instituto.
56
3.1.2.6 – Decreto nº 774 de 20.09.1890
Às vésperas da promulgação do Código Penal dos Estados Unidos do Brasil,
Decreto nº 847, de 11 de outubro de 1890, a ser executado seis meses após
publicado, um notável diploma também liberal, o decreto n 774, de 20 de setembro
de 1890, foi baixado pelo Governo Provisório, abolindo as penas de galés, reduzindo
ao máximo de 30 anos as penas perpétuas, mandando computar, quando da
execução, o tempo de prisão preventiva.
Ampliou o instituto da prescrição, agora incluindo a referente às penas, que não
tenham entrado em execução, impondo seu prazo ao “reo” ausente no território
estrangeiro, pelo prazo de trinta anos, quando a condenação fosse a pena igual ou
superior a vinte anos; em vinte anos, quando igual ou superior a seis anos, e inferior
a vinte, e em dez anos, as penas inferiores a seis anos (art. 4º, I). Se, no entanto, o
“reo” estivesse no território brasileiro, o prazo prescricional seria de vinte anos;
quanto à condenação a pena seria igual ou superior a seis anos, em dez se igual ou
superior a dois anos e inferior a seis anos; e, em cinco anos, se inferior a dois anos
(art. 4º, II).
Estabeleceu ainda como termo inicial da prescrição o trânsito em julgado da
sentença, ou data em que interrompida, por qualquer modo a execução, prazo
prescricional que se interrompe com a prisão do condenado(art. 5º).
Termo inicial foi estabelecido também pela evasão (Parágrafo único, do art 5º).
3.1.3 – Período Republicano
Por outro tanto, a prescrição da pretensão executória, imperfeitamente
chamada de prescrição da pena ou da condenação, que surgiu na França, através
do Código Penal de 1791, foi sumariamente repelida pelo nosso Código Criminal de
1830, cujo art. 65 era peremptório: “As penas impostas aos réus não prescreverão
em tempo algum”.
57
Com o advento do Código Republicano de 1890, a prescrição é mantida no
direito material com suas duas formas: no artigo 79, como prescrição da ação e no
artigo. 80, como prescrição da condenação.
Para o legislador de 1890, “a prescrição da ação resulta exclusivamente do
lapso do tempo decorrido do dia em que o crime foi cometido” e interrompia-se pela
pronúncia (art. 79) ao passo que “a prescrição da condenação começa a ocorrer do
dia em que passar em julgado a sentença ou daquele em que for interrompido, por
qualquer modo, a execução já começa” e interrompia-se pela prisão do condenado
(art. 80). Em ambos os casos, a reincidência era causa interruptiva da prescrição
(art. 81). Por outro lado, a prescrição (da ação ou da condenação), embora não
alegada, deveria ser pronunciada ex offício (art 82).
Todavia, informa Carvalho Filho (1944, p. 299)
a redação pouco explicita do Código de 1890 formava duas correntes de
opinião no país, uma, para base da prescrição da ação penal, a pena, em
abstrato e outra, a pena em concreto, por forma a que a pena imposta na
sentença regulava a prescrição da condenação e, por sua vez, tinha efeito
retroativo, para regular o prazo da prescrição da ação, se fosse o caso.
Segundo o mesmo autor (CARVALHO FILHO, p. 299), o
Decreto nº 4780, de 27 de dezembro de 1923, deu fim à controvérsia,
mandando regular a prescrição da ação penal pela pena abstratamente
cominada na lei. Consentiu, outrossim, que em lugar da pena em abstrato,
fosse a pena em concreto, pedida no libelo, ou a imposta na sentença de que
somente o réu houvesse recorrido.
Ao que parece as dúvidas remanesceram e as dissensões persistiram.
Conforme NAVES (1975, p. 284) “ainda na aplicação do Decreto n. 4780 de
27.12.1923, dividiam-se as opiniões (no Supremo Tribunal Federal) no tocante à
retroação da pena concreta para efeito de prescrição”.
58
Nenhuma solução foi dada pela Consolidação das Leis Penais de 1932, posto
que o seu texto limitou-se a acolher integralmente as normas relativas à prescrição
constante do citado Decreto 4780 ( arts. 79 e 85, § 6º especialmente).
Depois de acordado movimento de reforma, que se tornara necessário em
conseqüência dos graves defeitos que apresentava o Código de 1890, chegou-se ao
Código Penal de 1940, cujo embrião foi projeto Alcântara Machado.
Pelo Projeto, a prescrição era denominada, conforme as suas fases, de
prescrição da ação (art. 120), cujo prazo contava-se do dia em que o crime fora
cometido (art. 121) mas que seria interrompido pela apresentação da denúncia ou
da queixa, pela pronúncia, pela decisão confirmatória da pronúncia, pela sentença
condenatória de que coubesse recurso ordinário e pela reincidência genérica ou
específica (art. 123): e de prescrição da pena (art. 127, parágrafo 1, IV) que estava
assim regulada:
a) no art.128, por prazos específicos:
- de 30 anos, a pena de morte e de reclusão por 20 anos ou mais:
- em prazo correspondente ao dobro do tempo, pelo qual for imposta, a pena
privativa da liberdade inferior a 20 anos:
Em 3 anos quando não exceder de 1:000 $, em 6 anos quando não exceder de
5.000 $ e, em 10 anos, a pena de multa;
b) no art. 129, pela contagem do prazo:
- do dia em que passarem em julgado a sentença condenatória ou a revogação
da suspensão condicional da execução da pena;
- do dia em que deveria começar a cumpri-la o condenado, em seguida a
cumprimento de outra anterior;
c) no art. 131, pela interrupção do prazo, que se verificaria:
59
- pelo início da execução;
- pela captura do condenado para cumpri-la;
- pela reincidência.
Tanto no caso de prescrição da ação (art. 124), como no de prescrição da pena
(art. 131, parágrafo 2), determinava-se que ambas ocorreriam quando excedidos de
mais da metade os respectivos prazos.
Entretanto, o projeto era omisso relativamente à retroatividade da pena
concreta para efeito da prescrição.
A esse tempo, Hungria (1940, p. 66) já firmara posição no sentido, de que a
razão estava com aqueles que defendiam a tese segundo a qual,
antes do libelo ou da sentença condenatória, a prescrição nada tem a ver
com a pena concretizada por um ou por outra. Até então, o que está em curso
de prescrição não é a ação penal relacionada à pena que venha a ser pedida
no libelo ou imposta na sentença, mas a ação penal exercida in extensum,
isto é, referida à pena abstratamente cominada pela lei. Com a pronúncia,
todo o tempo pretérito é juridicamente cancelado, e a prescrição (ainda
concernente à pena in abstracto) começa a correr ex novo et ex integro, de
modo que, fixada posteriormente a pena in concreto, a prescrição a esta
acha-se necessariamente adstrita a um terminus a quo: a data da pronuncia.
3.1.4 – O código penal de 1940 e a Súmula 146
De parte da Comissão revisora do projeto da qual faziam parte Vieira Braga,
Nelson Hungria, Narcélio de Queiroz e Roberto Lyra, a prescrição mereceu
tratamento diverso daquele que lhe fora dispensado por Alcântara Machado.
Conforme o texto primitivo do Código Penal de 1940, fruto de trabalho daquela
Comissão, a prescrição foi localizada topograficamente no Título VIII – Da extinção
da Punibilidade, onde está regulamentada.
60
A prescrição da pretensão punitiva estava definida no art. 109 da seguinte
forma: “A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto
no parágrafo único do art. 110, regula-se pelo máximo de pena privativa de liberdade
cominada ao crime...”
Deste modo, deixada de lado, momentaneamente, a ressalva contida na
norma, a prescrição da pretensão punitiva estava referida ao lapso de tempo em que
se desenvolvia a partir de determinado momento que antecedia a sentença
definitiva. No art. 111, estabeleceu-se que a prescrição da pretensão punitiva teria
como termo inicial: o dia em que o crime se consumou; no caso, a tentativa do dia
em que cessou a atividade criminosa; nos crimes permanentes ou continuados, do
dia em que cessou a permanência ou a continuação; nos de bigamia e nos de
falsificação ou alteração de assentamento do registro civil da data em que o fato se
tornou conhecido. O curso do prazo prescricional seria suspenso em duas hipóteses:
enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o
reconhecimento da existência do crime, ou enquanto o agente cumpre pena no
estrangeiro (art. 116, I e II), e ocorreria a interrupção pelo recebimento da denúncia
ou da queixa; pela pronúncia; pela decisão confirmatória da pronúncia; e, pela
sentença condenatória recorrível (art. 117, I, II, III e IV).
A prescrição da pretensão executória vinha assim conceituada no artigo 110: “a
prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória, regula-se pela
pena imposta e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior (art. 109), os quais
se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente”.
Deste modo a prescrição da pretensão executória estava relacionada
cronologicamente ao julgamento definitivo da lide. No artigo 112, fixou-se o termo
inicial da prescrição da pretensão executória em 04 (quatro) momentos: do dia em
que passa em julgado a sentença condenatória ou a que revoga a suspensão
condicional da pena ou o livramento condicional; ou do dia em que se interrompe a
execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na pena. O curso
do prazo prescricional era interrompido pelo início ou continuação do cumprimento
da pena e pela reincidência (art.117, V e VI).
61
Renova-se, neste momento, a previsão inserida pelo Código Republicano de
1890, no sentido de que o termo inicial da prescrição da pretensão executória é o
trânsito em julgado da sentença condenatória, naturalmente para ambas as partes.
A suspensão do prazo atinente à prescrição da pretensão executória estava
prevista numa única hipótese: quando o condenado estivesse preso por outro
motivo.
Com os olhos voltados para a deficiência do Código de 1890, a Comissão
tentou resolver o problema da retroatividade da pena concreta, que tanta celeuma
causou, através da regra inserta no parágrafo único do art.110, pela qual “a
prescrição depois da sentença condenatória de que somente o réu tenha recorrido,
regula-se também pela pena imposta e verifica-se nos mesmos prazos”.
Para Bruno (1956, p. 211), a pena imposta na sentença seria a base da
prescrição, que vigoraria, determinando o prazo, desde a data da decisão.
Por sua vez, Noronha (1963, p. 504) apoiando-se no art. 117, IV, e seu § 2º,
assevera que, prolatada a sentença, põe-se um termo ao prazo que vinha correndo,
e outro se inicia depois dela. Logo, não há como falar em retroatividade da pena
aplicada para regular lapso prescricional que foi interrompido, que se extinguiu com
a sentença.
Por conta dessas opiniões, a inovação introduzida pelo Código de 1940 na
sistemática da prescrição da pena concreta não autorizaria o aproveitamento do
tempo anterior à sentença. Ao contrário, dessa forma anômala de prescrição,
concebida pelo parágrafo único do art.110, somente teria curso, para efeito de
contagem de prazo, a partir da sentença condenatória de que apenas o réu tivesse
recorrido.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal, em 1946, acolheu a prescrição da
pena imposta, retroagindo para esse fim, nos termos do voto proferido pelo Ministro
Castro Nunes, que salientou:
62
[...] o parágrafo único adjeto a este artigo (110) levaria talvez a supor, pela
regra de que as disposições acessórias são integrantes da disposição
principal, que regra do parágrafo é peculiar à prescrição da execução. Mas se
o art. 109, depois de assentar o princípio de que a prescrição da ação é o que
ocorre antes do trânsito em julgado da sentença final, admite uma exceção, a
do parágrafo único do art. 110, parece claro que a exceção se refere à
prescrição do procedimento penal. A razão do dispositivo legal é óbvia: se
pelo recurso do réu não seria possível uma reformatio in pejus, a fixação da
pena se torna definitiva, retroagindo para beneficia-lo, como se for pena
cominada (NAVES, 1975, p. 123)
Esta orientação do Supremo Tribunal Federal, porém, veio a ser modificada em
fins de 1947: a contagem do prazo prescricional, tomada por base a pena imposta,
começaria a fluir somente a partir da sentença condenatória (NAVES, 1975).
Os anos se passaram e, inobstante a exegese prevalecesse no sentido de que
a pena imposta tinha eficácia ex nunc e não ex tunc, os debates não cessaram no
Supremo Tribunal Federal, com a formação de correntes que chegaram, inclusive, a
ter igualdade de votos
Finalmente em 1963, o Supremo Tribunal Federal, na Súmula 146, passou a
entender que “a prescrição da ação penal regula-se pela pena concretizada na
sentença, quando não há recurso da acusação”.
À vista do teor da Súmula, notadamente na parte que se refere à prescrição da
ação penal (pretensão punitiva), quando inexiste recurso da acusação, a pena
concretizada na sentença passava a operar ad praeteritum, isto é, o prazo
prescricional abrangia o período de tempo anterior à decisão condenatória.
Entretanto, três problemas despontaram na aplicação da súmula 146:
1. se havia sempre necessidade de recurso do réu para a sua
aplicabilidade;
2. se, havendo o recurso da acusação, já não seria aplicável a Súmula;
63
3. se a retroatividade da pena concretizada na sentença se estende à
fase anterior à denúncia.
Após várias hesitações, o STF firmou jurisprudência no sentido de que a
Súmula só teria aplicação se houvesse recurso do réu, e que a existência de
recursos de acusação só impediria tal aplicação se pleiteasse agravação da pena;
outrossim, a retroatividade só alcançava a fase que vai da denúncia à sentença, sem
aplicação ao período que antecede a denuncia. Por outro lado, inaplicável era a
Súmula 146 nos casos de condenação imposta em 2ª instância, ao prover recurso
da acusação contra sentença absolutória (PORTO, 1972, p. 51-52).
3.1.5 – O Código Penal de 1969
Entrementes, a Junta Militar, que governava o país em 1969, através do
Decreto-Lei nº 1004, promulgou um novo Código Penal, o qual hibernou um longo
período em vacatio legis e restou revogado em 1978.
O chamado Código Penal de 1969 tinha suas origens no Anteprojeto elaborado
por Nelson Hungria, dado a conhecer em 1963.
No seu anteprojeto, Hungria (1963) estabelecia, no artigo 109 que “a prescrição
refere-se à ação penal ou à execução da pena”, inspirando-se nesse ponto, na
classificação adotada pelo Código Penal da Iugoslávia da época e pelo Anteprojeto
do Código Penal Alemão. A prescrição da ação penal era definida no artigo 110,
inclusive com a ressalva, tal qual dispunha o art. 109, do Código Penal de 1940.
A prescrição da execução era regulada, com algumas alterações relativamente
ao art. 110 do então Código vigente, de seguinte forma:
A prescrição da execução da pena privativa de liberdade ou da medida de
segurança que a substitui (art. 89) regulava-se pelo tempo fixado na sentença
e verifica-se nos mesmos prazos estabelecidos no artigo 109, os quais se
aumentam de um terço, se o condenado é reincidente específico, ou
criminoso habitual ou por tendência. Nos crimes de imprensa ou
64
telecomunicações, o prazo é correspondente ao dobro da pena fixada (art.
111).
Atento à questão da retroatividade da pena concreta, concebeu a seguinte
regra: “Sobrevindo sentença condenatória, de que somente o réu tenha recorrido, a
prescrição passa a regular-se pela pena imposta, e deve ser logo declarada e sem
prejuízo do andamento do recurso, se, entre a última causa interruptiva do curso da
prescrição (§ 5º) e a sentença, já decorreu tempo suficiente”(§ 1º do art. 110).
E a última causa interruptiva da prescrição poderia ser: o recebimento da
denúncia ou da queixa crime; a pronúncia; a decisão confirmatória da pronúncia; ou,
a sentença condenatória recorrível (art.110, parágrafo 5º).
É de notar que essa regra sobre a retroatividade da pena concreta estava
vinculada, do ponto de vista topográfico, à prescrição da ação regulada pelo
supracitado artigo 110. Com isso Nelson Hungria deixava patente que a hipótese era
de prescrição da pretensão punitiva pela pena em concreto e não de prescrição da
pretensão executória.
Todavia, a solução preconizada por Nelson Hungria, veio a ser rejeitada, até
com certa aspereza, pelo híbrido legislador de 1969.
Com efeito, na Exposição de Motivos do Código de 1969 (PIERANGELLI,
1980, p. 590-591), enfatizou-se que
em matéria de prescrição, o projeto expressamente elimina a prescrição pela
pena em concreto, estabelecendo que, depois da sentença condenatória de
que somente o réu tenha recorrido, ela se regula também daí por diante, pela
pena imposta. Termina-se, assim, com a teoria brasileira da prescrição pela
pena em concreto, que é tecnicamente insustentável e que compromete
gravemente a eficiência e a seriedade da repressão (art. 37).
Em decorrência, foram mantidos na integra apenas os dispositivos do
Anteprojeto Hungria que tratava da classificação da prescrição da Ação e da
prescrição da pretensão executória, esta com alteração na parte final (Arts. 110, 111,
112).
65
No que concerne à prescrição da pena em concreto que continuava anexa à
prescrição da ação, o texto original do Código Penal de 1969 determinava: “A
prescrição, depois da sentença condenatória de que somente o réu tenha recorrido,
regula-se também, daí por diante, pela pena imposta e verifica-se nos mesmos
prazos” (art. 111, §1º).
A despeito da vigência do Código Penal de 1969 ter sido adiada
sucessivamente em 1973, através do Projeto de Lei nº 1457, de autoria do Poder
Executivo, voltou-se atrás quanto à prescrição da pena em concreto.
Na Exposição de Motivos que acompanhava o referido Projeto de Lei, o então
Ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, acentuava:
Julgo desaconselhável a solução preconizada pelo Código, pois a tutela da
Liberdade impõe a celeridade dos julgamentos, de que a brevidade dos
prazos prescricionais é uma eficaz garantia. Ante o exposto, o projeto dá
nova redação ao parágrafo 1º do artigo 111, excluindo a expressão daí por
diante e substituindo a exigência de que somente o réu tenha recorrido pela
de trânsito em julgado para acusação.
A nova redação dissipa definitivamente dúvida a respeito da necessidade de
recurso do réu para obtenção do beneficio que não pode ter relevância em matéria
de prescrição. O que importa, em verdade, é que a parte acusatória não tenha
recorrido (BRASIL, 1974, p. 14-15).
Pela proposta, o texto do parágrafo 1º do art. 111, passaria a ter a seguinte
redação: “A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado
para a acusação, regula-se também pela pena imposta e verifica-se nos mesmos
prazos” (BRASIL, 1974, p. 25).
Aprovado o projeto e com ele o texto preconizado pela mensagem
presidencial, transformou-se pela sanção, na Lei nº 6016 de 31 de dezembro de
1973.
A prescrição retroativa volvia, deste modo, àquele que deveria ser o Código
Penal do futuro. A despeito da redação melhorada, preferível teria sido o
66
aproveitamento do texto constante do Anteprojeto Hungria, que não dava margem a
nenhuma dúvida.
3.1 6 – A Lei nº 6416 de 25.05.1977
Como o Código de 1969 não estava em vigor, a questão da prescrição
retroativa pela pena em concreto continuou a ser resolvida com fundamento na
Súmula 146 do STF.
E, segundo Porto (1972, p. 58) “tamanho prestígio adquiriu a referida Súmula
146, que os juizes passaram a interpretá-la, e não à lei. Assim, a Súmula substituiu a
lei”.
Mas, a interpretação demasiadamente liberal que vinha sendo dada à Sumula
146, que consagrava a prescrição retroativa, acabou sendo fulminada pela Lei nº
6416/77.
É que o Presidente da República, através da mensagem nº 37/77, remeteu ao
Congresso Nacional Projeto de Lei, que tomou o nº 2/77, alterando dispositivos do
Código Penal de 1940. Entre as modificações propostas, esclarecia a Exposição de
Motivos, “disciplinou-se o prazo da prescrição posterior à sentença condenatória,
eliminando uma elástica interpretação que vinha sendo causa de impunidade, não
só quanto à pena principal, como também à acessória, com indesejáveis efeitos
jurídico-sociais”.
Pela Lei 6416/77, o primitivo parágrafo único do artigo 110 do Código Penal de
1940, desapareceu e, em seu lugar, surgiram dois novos parágrafos.
No primeiro parágrafo, estabeleceu-se que “a prescrição, depois da sentença
condenatória com trânsito em julgado para a acusação regula-se , também, pela
pena aplicada e verifica-se nos mesmos prazos.”
No segundo parágrafo, consignou-se que “a prescrição de que trata o
parágrafo anterior, imposta, tão somente, em renúncia do Estado a pretensão
67
executória da pena principal, não podendo, em qualquer hipótese, ter por termo
inicial data anterior à do recebimento da denuncia”.
A rigor, o parágrafo 1º praticamente copiou a parágrafo 1º do art. 110, do CP
de 1969, com a redação dada pela citada Lei n º 6016/73.
Assim, para o cálculo da prescrição da pena em concreto bastaria que a
sentença condenatória transitasse em julgado para a acusação.
De seu turno, o parágrafo 2º constituiu uma inovação que tinha por escopo
coibir a extensão que estava sendo dada à Súmula 146, para abranger período
anterior a denúncia.
Pelo novo dispositivo, a prescrição retroativa importaria somente na renúncia
do Estado à execução da pena principal, e o seu termo inicial coincide com o
recebimento da denúncia.
Fragoso (1983, p. 427) entende, com razão, que houve manifesto equivoco do
legislador na redação desse parágrafo 2º do art. 110 do CP de 1940.
Segundo ele, ao dispor que a prescrição retroativa era prescrição da pretensão
executória cometeu o legislador evidente impropriedade – “Como é possível que a
prescrição da pretensão executória se verifique no lapso de tempo relativo à ação
penal? A diferença entre uma e outra espécie de prescrição é da maior importância.
Na prescrição da pretensão punitiva não há condenação, e o réu, portanto, não é
reincidente. Já o mesmo não ocorre, se trata de prescrição da pretensão executória,
pois neste caso subsistem os efeitos secundários da condenação. A prescrição pela
pena em concreto, seja ou não retroativa, só pode ser prescrição da pretensão
punitiva”
Em função das novas disposições introduzidas pela mencionada Lei 6416/77,
o Código Penal passou a ter quatro espécies de prescrição:
Prescrição da pretensão punitiva, prevista no art. 109, que se verifica antes de
transitar em julgado a sentença final e tem por base a pena em abstrato;
68
Prescrição da pretensão executória, de que trata o art. 110, “caput”, que ocorre
depois de transitar em julgado a sentença condenatória e, regulando-se pela pena
imposta, tem seus prazos vinculados aos fixados pelo artigo 109, os quais se
aumentam de 1/3(um terço) se o condenado é reincidente;
Prescrição da pena em concreto, localizada no parágrafo 1º do art. 110, que se
verifica quando a sentença condenatória transita em julgado para a acusação e,
regulando-se pela pena aplicada, está sujeito aos mesmos prazos (art. 110 c/c art.
109). A prescrição pela pena concretizada na sentença opera ex nunc, isto é, a partir
da sentença e se verifica quando não ocorre a prescrição retroativa. Trata-se de
hipótese de prescrição da pretensão executória (v. parágrafo 2º do art. 110).
Prescrição retroativa, que resulta de uma combinação dos parágrafos 1º e 2º
do art. 110, a qual também se regula pela pena imposta, se não há recurso da
acusação, e que retroage, verificando-se no lapso de tempo decorrido entre a
denúncia e a própria sentença.
Malgrado a posição de Fragoso (1983, p. 427) no sentido de que “se ocorre
este tipo de prescrição não subsistem os efeitos secundários da condenação, dos
quais o mais importante é a reincidência”, o entendimento que mais se coadunava
com a letra da lei era o de que “no caso de prescrição retroativa, por seu caráter
excepcional, é que o legislador entendeu de limitar-se os seus efeitos”
Segundo a jurisprudência, os princípios que regiam a prescrição retroativa
eram os seguintes:
1. não pode ela ser declarada quando há recurso da acusação, visando à
agravação da pena, que implique em alteração do prazo da prescrição;
2. para que se declare a prescrição retroativa, não é necessário que haja recurso da
defesa, bastando o trânsito em julgado, para a acusação da sentença
condenatória;
3. pode ser declarada a prescrição retroativa se a sentença é, absolutória e a
condenação é proferida pelo Tribunal, não havendo mais recurso da acusação;
69
4. pode ser declarada a prescrição retroativa se houve sentença condenatória e a
instância reduziu a pena. Neste caso, pode ser considerado o lapso de tempo
entre a denúncia e a sentença.
3.2 – A PRESCRIÇÃO E O CÓDIGO PENAL VIGENTE
Concluída essa retrospectiva, chega-se, agora, à sistemática da prescrição no
texto oriundo da Lei 7.209, de 11 de julho de 1984, que deu nova redação à Parte
Geral do Código Penal de 1940.
Esta lei tem suas preliminares no Anteprojeto elaborado por uma comissão de
Juristas, constituída no ano de 1980, pelo Ministro da Justiça, cujos trabalhos foram
concluídos em 1981.
No que se refere à prescrição, o Anteprojeto recepcionou por inteiro,
praticamente, o tratamento dispensado à matéria pelo Código Penal de 1940, com
as inovações introduzidas pela Lei 6416/77.
Apenas duas alterações de vulto foram propostas:
a) em relação à prescrição da pena em concreto, cuja definição passou a
ser a seguinte: “A prescrição, depois de sentença condenatória com
trânsito em julgado para acusação, ou depois de improvido seu recurso,
regula-se pela pena aplicada” (art.110, §1º)
Essa alteração mereceu a seguinte explicação, na Exposição de Motivos do
Projeto de Lei nº 1656/83 que foi encaminhado em 1983, ao Congresso Nacional:
99. [...] o §1º (do art.110) dispõe que a prescrição se regula pela pena
aplicada, se transitada em julgado a sentença para a acusação ou improvido
o recurso desta. Ainda que a norma pareça desnecessária, preferiu-se
explicitá-la no texto, para dirimir de vez dúvida alusiva à prescrição pela pena
aplicada, não obstante o recurso da acusação, se este não foi provido. A
ausência de tal norma tem estimulado a interposição de recursos destinados
a evitar tão somente a prescrição. Manteve-se, por outro lado, a regra
70
segundo a qual transitada em julgado a sentença para a acusação, haja ou
não recurso da defesa, a prescrição se regula pela pena concretizada na
sentença;
b) em relação à prescrição retroativa, cujo texto passou a ter a seguinte
redação: “A prescrição, de que trata o parágrafo anterior não pode, em
qualquer hipótese, ter por termo inicial data anterior à do recebimento da
denúncia”.
Como se percebe, a prescrição retroativa não mais estava limitada à renúncia
da pretensão executória da pena principal. Logo, passava a ser prescrição da
pretensão punitiva, com todas as suas conseqüências e, assim, ficava corrigida a
impropriedade existente no Código Penal de 1940.
No que tange ao termo inicial da prescrição retroativa, a mesma exposição de
motivos sublinha que:
100. Norma apropriada impede que a prescrição pela pena aplicada tenha por
termo anterior à do recebimento da denúncia (§ 2º do art. 100). A inovação
introduzida no Código Penal pela Lei nº 6416, de 24 de maio de 1977, vem
suscitando controvérsias doutrinárias. Pesou, todavia, em prol da sua
manutenção, o fato de que, sendo o recebimento da denúncia causa
interruptiva da prescrição (art.117, I), uma vez interrompida esta, o prazo
recomeça a correr por inteiro.
101. Trata-se além disso, de prescrição pela pena aplicada, o que pressupõe,
obviamente, a existência de processo e de seu termo: a sentença
condenatória. Admitir, em tal caso, a prescrição da ação penal em período
anterior ao recebimento da denúncia importaria em declarar a inexistência
tanto do processo quanto da sentença. Mantém-se, pois, o despacho de
recebimento da denúncia como causa interruptiva, extraindo-se do princípio
as conseqüências inelutáveis.
O projeto de lei 1656/83, que encampava o Anteprojeto de 1981, foi aprovado
na Câmara dos Deputados com algumas modificações, que foram acatadas pelo
Senado Federal.
71
Com referência ao instituto da prescrição, a única modificação – que incidiu na
prescrição retroativa – estabeleceu uma antinomia com o propósito contido na
Exposição de Motivos.
É que, pela modificação, se autorizava que a prescrição retroativa poderia ter
por termo inicial a data anterior à do recebimento da denúncia ou queixa (§ 2º do
art.110).
Assim, à vista do direito vigente, a estrutura do sistema prescricional penal está
assim regulamentada:
Prevê o artigo 107, IV do Código Penal, duas espécies básicas de prescrição: a
prescrição da pretensão punitiva (art. 109, CP) e a prescrição da pretensão
executória (art. 110, caput, CP). Entretanto, a primeira pode ocorrer de 03 formas
diferentes, são elas: a prescrição da pretensão punitiva propriamente dita (art. 109,
CP); a prescrição subseqüente/superveniente/intertemporal/intercorrente à sentença
condenatória (art. 110, §1º c/c art. 109, CP) antes do trânsito em julgado da
sentença final; a prescrição retroativa (art. 110, §§1º e 2º c/c art. 109, CP).
3.2.1.1 – Prescrição da pretensão punitiva
É a perda do poder de punir do Estado, que extingue a punibilidade do autor da
infração penal, em razão do decurso do lapso de tempo previsto na lei, ocorrida
antes da obtenção da sentença condenatória definitiva.
a) Prescrição em abstrato ou prescrição da pretensã o punitiva propriamente
dita
Constitui o lapso temporal da consumação do delito até a sentença final sem
efetivo exercício do poder-dever de punir do Estado. Regula-se pelo máximo da
pena privativa de liberdade cominada à infração penal, de acordo com os prazos
previstos no art. 109 do Código Penal
72
b) Prescrição subseqüente/superveniente/intertempor al/intercorrente
Constitui forma de prescrição da pretensão punitiva e vem prevista no art. 110,
§1º do CP, ocorrendo após a sentença condenatória e antes do trânsito em julgado
para ambas as partes.
No que tange ao quantum prescricional, este é regulado pela pena em
concreto, atribuído na sentença e não mais pela pena abstrata prevista em lei, se
inexistente recurso da acusação visando ao aumento da pena que reflita no prazo
prescricional.
c) Prescrição retroativa
A prescrição retroativa é uma das espécies de prescrição punitiva, mas se
diferencia das demais porque é contada para trás. É muito parecida coma prescrição
intercorrente, por que ambas têm por base a pena concreta fixada na sentença
condenatória ou acórdão. Ocorre que a retroativa é sempre contada para trás da
primeira decisão condenatória, respeitando os marcos interruptivos.
d) Prescrição antecipada
Trata-se de um novo instituto denominado prescrição virtual ou antecipada da
pena em perspectiva ou projetada que tem sido alvo de várias discussões e
discórdias doutrinárias e jurisprudenciais.
Esta modalidade de prescrição não está prevista expressamente no
ordenamento em vigor, mas para aqueles que a admitem, ela é uma modalidade de
prescrição da pretensão punitiva, por isto tratamos desde assunto neste tópico.
Esta espécie de prescrição tem por base o fato de que o sistema penal
brasileiro de aplicação de pena não tem caráter totalmente subjetivo e de livre
apreciação do juiz, vale dizer, a pena é cominada sempre tendo em vista questões e
dados objetivos acerca do crime, do autor e da vítima. As regras de atribuição da
73
reprimenda são pautadas em critérios ditados pelo próprio Código Penal, em seus
dispositivos legais. Deste modo, não pode o juiz, ao proferir uma sentença
condenatória, aplicar qualquer pena de forma indistinta, sob pena de cometer abuso
e ilegal discricionariedade. Soma-se a isso ainda a dificuldade da pena de qualquer
infração ultrapassar o mínimo legal. Para tanto, são necessárias umas séries de
fatores seguros e comprovados que possam realmente majorar a pena aquém do
mínimo legal. A fixação da pena no mínimo legal é verdadeiramente um direito de
qualquer condenado, ou seja, apesar de não previsto em lei, a aplicação de pena
privativa de liberdade no grau máximo estabelecido exige compulsória e completa
conjugação de situações desfavoráveis a ele.
Assim, com dados tão sólidos, seguros e concretos pode-se calcular e balizar
qual a pena, dependendo da existência daqueles dados majorantes, é esperada
quando do proferimento da sentença, ou pelo menos o seu quantum, apto a ser
geralmente o da pena máxima.
Deste modo, por vezes, é perfeitamente previsível que em um caso concreto a
pena aplicada, em caso de condenação, a um determinado fato delituoso seja
àquela do mínimo legal e que ao proferir a sentença penal condenatória, o juiz
declarará extinta a punibilidade do agente por ter ocorrido a prescrição retroativa.
Vislumbra-se assim, de forma inevitável e antecipada que no caso de sentença
condenatória, ocorrerá a prescrição retroativa prevista no artigo 110, § 2º do Código
Penal.
Com esta suposição, e sob fundamento de economia processual e a ausência
de utilidade da ação penal, tem sido admitida a prescrição antecipada para o
arquivamento de inquérito, rejeição de denúncia ou anulação de ação penal em
andamento, por falta de justa causa.
Os defensores da medida se apegam às disposições do artigo 3º do código de
processo Penal e no artigo 267,VI do Código de Processo Civil (aplicação analógica
do princípio que determina a extinção do processo civil por falta de interesse
processual). Numa abordagem sob enfoque funcionalista, a prescrição antecipada
estaria justificada pelo princípio da intervenção mínima do Direito penal.
74
Corroborando, descreve Machado: “ Noutro sentido reside a tese dos
defensores do reconhecimento antecipado da prescrição, qual seja a da efetividade
de justiça penal, a se verificar apenas quando presente a condição da ação
interesse de agir, a se ver como provimento útil, à luz de que um provimento
condenatório que indique a ocorrência liminar da prescrição não será útil, portanto
desfalecendo a condição da ação interesse de agir, possibilitando o reconhecimento
da ausência desta desde o inicio do processo penal".(Machado,F. G. de. Prescrição
Penal: Prescrição Funcionalista, São Paulo: ed. Revista dos Tribunais LTDA, 2000,
p.196).
Os que são contrários a esta modalidade de prescrição, alegam que não há
suporte legal para a medida, porquanto o referido art. 110 exige a existência de uma
sentença condenatória. E também afronta o artigo 109 do mesmo código que prevê
prazos de prescrição antes do trânsito em julgado da sentença final condenatória,
estabelecidos em vista das penas máximas cominadas à infrações. A pena que se
projeta para o reconhecimento da prescrição é mera perspectiva, já que vários
fatores apuráveis durante o desenrolar do processo, poderão modificá-la como, por
exemplo, a verificação de antecedentes ou o aditamento da acusação.
Em geral a prescrição antecipada não tem sido reconhecida pelos tribunais.
Neste sentido:
PENAL. PROCESSUAL. DENÚNCIA. INÉPCIA. DOLO ESPECÍFICO.
DILAÇÃO PROBATÓRIA. PRESCRIÇÃO ANTECIPADA. "HABEAS
CORPUS". RECURSO.
Não há que se falar em inépcia da denúncia quando esta preenche os
requisitos do Código de Processo Penal, Art. 41, garantindo, ao acusado, o
direito à ampla defesa. O "Habeas Corpus" não se presta ao exame de
provas, matéria afeta ao contraditório próprio da instrução criminal. Nosso
ordenamento jurídico-processual não contempla a prescrição por
antecipação. Pretensão recursal que carece de amparo legal. Recurso a que
se nega provimento (STJ - RHC 8274/ES 1999/0004613-7 - j. 13.9.1999 -
Min. Edson Vidigal).
75
E ainda:
Recurso de habeas-corpus - pretensão de que seja extinta a Punibilidade do
paciente, pela chamada "prescrição antecipada", levando-se em conta a
possível pena a ser aplicada - tese repelida nesta corte. Não tem qualquer
amparo legal, extinguir-se a punibilidade de alguém, com prognóstico da pena
a ser eventualmente aplicada. No caso, há de se levar em conta o máximo da
pena abstratamente cominada, situação que não ampara o paciente. Recurso
improvido. (STJ - RHC 6567/SC - 1997/0044584-4 - j. 22.9.1997, Min.
Anselmo Santiago).
3.2.1.2 – Prescrição Executória
Com o trânsito em julgado da sentença condenatória o direito de punir do
estado se transforma em jus executionis. Todavia se o Estado não o exercita dentro
do lapso de tempo previsto na lei em face da pena aplicada, perde o direito a essa
pretensão executória. Deste modo ocorre a prescrição da pretensão executória, ou
do direito de aplicar a sanção constante do título executório.
O dever de executar a sanção no prazo estabelecido é irrenunciável.
3.2.2 – Prazos
Os prazos prescricionais estão regulamentados no art. 109 do Código Penal. A
tabela aplica-se tanto em relação à pena em abstrato, na hipótese da prescrição da
pretensão punitiva propriamente dita, como em relação à pena em concreto, nas
hipóteses de prescrição da pretensão executória e prescrição da pretensão punitiva
retroativa e intercorrente.
O prazo é computado incluindo-se o dia do começo, mesmo que fração do dia,
durante o lapso previsto em lei de acordo com a pena abstrata até as 24 horas do
dia anterior do cometimento do delito, do ano fixado em lei. Este é fatal e
improrrogável, pouco importando que termine em sábado, domingo, feriado ou
período de férias.
76
A pena de multa prescreve (pretensão punitiva) em 02 anos, quando for a única
cominada. Despreza-se a mesma quando ela for cumulativa ou alternativa, porque
nestes casos prescreverá no mesmo prazo da pena privativa de liberdade. (art.114
do CP). Concernente à prescrição da pretensão executória da pena de multa, o art.
51 do CP, foi alterado pela Lei n.º 9.268/96, que determina que o valor da pena de
multa deve ser inscrito como dívida ativa em favor da Fazenda Pública e determina,
inclusive, a aplicação das causas interruptivas e suspensivas da prescrição nos
termos da dívida ativa da Fazenda Pública.
Nos casos de concurso de crimes (arts. 69,70 e 71 do CP), o prazo é contado
isoladamente sobre cada resultado.
Quanto aos termos iniciais para a prescrição da pretensão punitiva o artigo 111
do Código Penal estabelece que como regra a consumação do crime, ou seja, nos
crimes materiais, na data em que ocorre os resultado naturalístico; nos crimes
formais e de mera conduta, na data da própria atividade e nos crimes preterdolosos,
no dia da ocorrência do resultado mais grave, a título de culpa. No caso de tentativa,
conta-se o prazo a partir do último ato de execução, ou seja, do momento em que
cessou a atividade criminosa.
Nos crimes permanentes, o prazo se inicia a partir da cessação da
permanência . A questão surge quando a permanência não cessa. Lozano Júnior
(2002, p.78) elenca 03 posições que buscam solucionar esta questão: 1) instauração
do inquérito é suficiente para desencadear a contagem do prazo; 2) o oferecimento
da denúncia põe fim à permanência; 3) com a cessação do comportamento
delituoso, mesmo se existir instauração de inquérito ou oferecimento da denúncia. O
referido autor sustenta a terceira posição.
A exceção do código refere-se aos crimes de bigamia e de falsificação ou
alteração de assentamento do registro civil. Nestes, muito embora sejam crimes
instantâneos de efeitos permanentes, a prescrição começa a correr a partir do dia
77
em que o fato se tornou conhecido pela autoridade pública, que possa iniciar as
providências repressivas.
Os termos iniciais da prescrição da pretensão executória estão previstos no
artigo 112 do Código Penal. O primeiro deles, que é o tema principal deste trabalho,
é a data do trânsito em julgado da sentença condenatória para acusação. Este
marco, sem qualquer razão, estabelece uma enorme desigualdade entre as partes,
pois o termo inicial é anterior à data do título executivo (sentença transitada em
julgado para ambas as partes). Nesta hipótese não há inércia do Estado, mas
impossibilidade de executar a pena.
O segundo termo inicial do prazo da prescrição da pretensão executória é o dia
em que passa em julgado a decisão que revoga a suspensão condicional da pena
ou livramento condicional.
O terceiro termo inicial estabelecido no artigo 112, inc. I do Código Penal, é a
revogação do livramento condicional. Neste caso, diferentemente dos demais, o
prazo não é regulado pela pena em concreto, mas sim pelo que resta cumprir da
pena. Mas vale a ressalva de que se a revogação do livramento tiver por causa o
cometimento de infração anterior ao período de prova (art.88 CP), esse período se
desconta na pena e o restante é o que falta cumprir da revogação para frente.
Todavia se a revogação decorre de crime cometido durante o período de prova ou
em razão do descumprimento das condições impostas, o lapso de tempo em que o
réu esteve sob o benefício não se desconta na pena. O restante da pena, para
verificação do prazo prescricional é o que faltava cumprir desde o dia da audiência
de advertência do livramento.
Também é termo inicial da prescrição da pretensão executória a fuga do
condenado e aqui também é contado o prazo pelo restante da pena.
Situação interessante é saber se o tempo de prisão provisória pode ser
descontado na pena para verificação do prazo da prescrição da pretensão
executória, já que no caso de fuga do condenado, a prescrição regula-se pelo
restante da pena. Para Fragoso (1990, p. 407) a resposta pareceu inquestionável,
78
vendo-se com espanto decisões em contrário nos tribunais. Mirabete (1986, p. 391)
sustenta que a solução se impõe, inclusive por razões de equidade, pois se o réu se
evade logo após o trânsito em julgado da sentença e tem direito ao cômputo do
prazo anterior, pela mesma razão deve o dispositivo alcançar aquele que não
compreende fuga. Já Porto (1998, p. 84) é contra, sob o fundamento de que é a
pena imposta que rege a prescrição e o artigo 113 do Código Penal prevê casos
específicos, que não comportam extensão por analogia.
O artigo 110 “caput” do Código Penal preconiza que o prazo da prescrição da
pretensão executória pode ser aumentado de 1/3 (um terço) quando se verifica a
reincidência. É necessário que a reincidência seja anterior e devidamente
reconhecida na sentença ou acórdão condenatório.
Já o artigo 115 do Código Penal preconiza que o prazo da prescrição
(pretensão punitiva e executória)é diminuído da metade quando o réu era menor de
21 anos na data do fato ou maior de 70 na data da sentença.
Os prazos estabelecidos no Código Penal, via de regra, aplicam-se não só aos
crimes definidos no próprio código, mas também às demais infrações penais
previstas na legislação especial, salvo quando a lei traga regra própria a respeito,
como é o caso da lei de imprensa (Lei 5250/67).
A Lei de Imprensa prevê no artigo 41, que a prescrição da ação penal dos
crimes nela previstos ocorrerá em dois anos após a data da publicação ou da
transmissão incriminada, e a da condenação, no dobro do prazo em que for fixada.
A antiga Lei de Falências (Dec.7661/45) também estabelecia prazo
diferenciado com relação aos crimes por ela definidos. O prazo era sempre de 02
anos, independente da pena abstratamente cominada ou fixada na sentença
condenatória. Hoje, com a Lei 11.101/2005 (art.182) o prazo é contado nos termos
do Código penal.
Em regra, a prescrição, seja da pretensão punitiva ou executória, alcança todas
as infrações penais. Nos termos da Constituição federal de 1988, porém não se
79
aplica aos crimes de racismo (art.5º, XLII – Lei 7716/89) e aos referentes à ação de
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático(art. 5º, XLIV). Assim, não há que se falar em prazo, pois o decurso do
tempo não extingue a prescrição em qualquer de suas formas.
3.2.3 – Causas suspensivas da prescrição
Concernente às causas suspensivas, o prazo prescricional não tem curso
durante certo período até que cesse a causa que deu origem à suspensão da
contagem, recomeçando a correr quando do seu término, isto é, aproveitando-se o
prazo já decorrido anteriormente Segundo Bruno (1967, p. 216) “[...] a suspensão da
prescrição abre apenas um parêntese, fechado o qual prossegue a contagem do
prazo antigo”.
As causas da suspensão estão previstas no art. 116 do Código Penal. Nas
questões prejudiciais ( art. 116, I, CP) obrigatórias ou facultativas, se a decisão
sobre a existência da infração depender de solução de controvérsia, que o Juiz
repute séria e fundada, ocorre a suspensão. O cumprimento da pena pelo agente no
estrangeiro (art. 116, II, CP) suspende o prazo prescricional por não caber
extradição. As duas hipóteses mencionadas versam sobre a prescrição antes de
passar em julgado a sentença final, depois de passada em julgado a sentença
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está
preso por outro motivo.
O art. 116 do Código Penal não é taxativo; a Constituição Federal de 1988
prevê a suspensão do prazo prescricional no art. 53, §5º; a Lei n.º 9.099/95 a institui
nos caos em que ocorra a suspensão condicional do processo (art. 89, § 6º). A Lei
n.º 9.271/96 alterou a redação do art. 366 do CPP estabelecendo a suspensão do
prazo prescricional e do processo quando o réu for citado por edital e não
comparecer e nem constituir advogado; nesta hipótese o tempo máximo de
suspensão é o regulado pela pena prevista em abstrato; portanto, implementado
este prazo, a suspensão cessa e o prazo prescricional é retomado, considerando-se
o lapso anteriormente decorrido.
80
3.2.4 – Causas interruptivas
Em relação às causas interruptivas, o prazo para o seu curso e volta a correr
do início, ou seja, sem aproveitamento do prazo decorrido anteriormente.
Carvalho Filho (1958, p. 425) entende que a justificativa para a interrupção está
no próprio fundamento da prescrição. Se a pretensão punitiva ou executória
prescreve por se tornar desnecessária a repressão, em face do esquecimento com
que se revestiu o crime ante a passagem do tempo sem punição, os atos que a lei
elege como indicativos relevantes da atuação do estado na busca da punição do
infrator, interrompem a prescrição penal.
As causas estão elencadas no artigo 117 do Código Penal e são elas: o
recebimento da denúncia ou queixa (inc.I,); a sentença de pronúncia e a decisão
confirmatória da pronúncia (inc.II e III), a sentença condenatória recorrível (inc., IV),
ainda que parcialmente reformada pelo tribunal, mas se anulada não produz efeito
interruptivo; o início ou continuação do cumprimento da pena (inc.V); a reincidência
(inc.VI).
O dia a ser considerado como marco interruptivo da prescrição nos casos de
recebimento da denúncia ou queixa, pronúncia e sentença condenatória recorrível, é
o dia do recebimento dos autos em cartório, com a decisão respectiva. Quando,
entretanto, a denúncia ou queixa foi inicialmente rejeitada e depois recebida por
força de recurso interposto contra decisão, a data a ser considerada é o dia do
julgamento do recurso.
Nos casos de início e cumprimento da pena (art.117,V do CP) a prescrição não
volta a correr com a interrupção; permanece suspensa até que se extinga a
punibilidade, ou ocorra novo início da prescrição da pretensão executória, mas agora
do restante da pena, nos casos de interrupção da execução ou de revogação do
livramento condicional.(art.112, I e II do CP).
Vale ressaltar que as hipóteses previstas nos incisos V e VI só se aplicam à
prescrição da pretensão executória.
81
3.2.5 – Efeitos
Na prescrição da pretensão punitiva propriamente dita, declarada a extinção da
punibilidade, o Juiz deverá ordenar o encerramento do processo, e se houver
sentença condenatória, ela deixa de existir. Da mesma forma não há como falar-se
em registro na folha de antecedentes criminais do réu e nem na certidão extraída
dos Livros do juízo, salvo quando requisitados por juízo criminal.
A prescrição subseqüente gera os seguintes efeitos: irresponsabilidade do
acusado pelo crime, a não inscrição do seu nome no rol dos culpados e nem a
geração de futura reincidência. Não responde pelas custas processuais e o dano
resultante do crime só lhe poderá ser cobrado pela via ordinária do Código de
Processo Penal (art. 67, II).
Na prescrição retroativa extingue-se a própria pretensão de obter uma decisão
à respeito do crime, implica irresponsabilidade do acusado, não marca seus
antecedentes e nem gera futura reincidência. O réu não responde pelas custas do
processo e os danos poderão ser cobrados no cível por via ordinária.
No tocante à prescrição da pretensão executória impede-se a execução das
penas e da medida de segurança (art. 96, parágrafo único, CP), subsistindo as
conseqüências de ordem secundárias da sentença condenatória, como lançamento
do nome do réu no rol dos culpados, pagamentos das custas e reincidência. A
sentença condenatória pode ser executada no cível para reparação do dano (art. 63,
CPP). Se houver pagamento de fiança, seu valor fica sujeito ao pagamento das
custas e reparação do dano (art. 336, parágrafo único, CPP). Tratando-se de
extradição, esta é inexeqüível.
Por fim, é mister mencionar que para o reconhecimento da prescrição há de
ter-se em vista o disposto no artigo 61 do Código de Processo penal que impõe ao
juiz declarar de ofício a extinção da punibilidade, se a reconhecer, em qualquer fase
do processo.
82
CAPÍTULO IV – TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO EXECUTÓRIA
Art. 112, inc. I 1ª parte o Código Penal.
ART. 112- No caso do art. 110 deste código (prescrição depois de transitar em
julgado a sentença condenatória), a prescrição começa a correr:
I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a
acusação,...
4.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA E O MOMENTO DA INCLUSÃO
DESTE DISPOSITIVO PENAL
O instituto da prescrição da pretensão executória foi previsto, pela primeira vez,
no nosso ordenamento no decreto 774, datado de 20 de setembro de 1890.
Estabeleceu como termo inicial o trânsito em julgado da sentença ou data em que foi
interrompida por qualquer modo a execução.
Desde então a prescrição da pretensão executória encontra-se prevista no
ordenamento pátrio e em vários projetos de lei. Assim vejamos:
Código Penal dos Estados Unidos do Brasil. (11/10/1 890)
Art. 79 “a prescrição da condenação começa a correr do dia em que passar em
julgado a sentença, ou daquele em que for interrompido, por qualquer modo, a
execução já começada” (grifo nosso)
Projeto Sá Pereira (1927,1928, 1935)
83
Encarregado pelo governo Artur Bernardes, o Desembargador Virgílio de Sá
Pereira elaborou um projeto de Código penal, cuja parte geral foi publicada em 1927,
e, em 1928, o texto completo. O referido projeto passou por uma comissão de
juristas e resultou no projeto de 1935, que chegou a ser aprovado pela Câmara dos
deputados, mas teve seu trâmite interrompido pelo golpe de Estado de 10.11.1937.
Art. 142. “ A prescrição da pena começará a correr do dia em que a sentença
passar em julgado, ou do em que se revogar a suspensão da execução da pena ou
do livramento condicional, ou do, em que por qualquer outro modo, se interromper a
execução, salvo quando o tempo da interrupção se computar na pena. Se o
condenado já cumpria pena, a prescrição começará do dia em que a segunda pena
deva ser cumprida.” (grifo nosso)
Consolidação das leis penais (1932)
Manteve a previsão anterior, posto que seu texto limitou-se a colher
integralmente as normas contidas no Decreto 4780.
Art. 80 “a prescrição da condenação começa a correr do dia em que passar em
julgado a sentença ou daquelle em que for interrompida de qualquer modo a
execução.” (grifo nosso)
Projeto Alcântara Machado (1938, 1940)
Com o Estado Novo muitas críticas surgiram a respeito do projeto Sá Pereira,
acabando ele por ser descartado pelo governo. Diante disto o Ministro Francisco
Campos, encarregou o professor paulista Alcântara Machado de elaborar um novo
projeto. Este entregou a parte geral em 1938 . O projeto final, com alterações
sugeridas pela comissão composta por, entre outros, Enrigo Altavila, C.H.Del
Pozzo, Costa e Silva, Demóstenes Madureira de Pinho, Carlos Xavier, foi entregue
em 04.11.1940.
Projeto entregue em 1938.
Art. 129 “ O prazo da prescrição da pena contar-se-á:
84
I- do dia em que passarem em julgado
a) a sentença condenatória; (grifo nosso)
b) a revogação da suspensão condicional da execução da pena;
II- do dia em que deveria começar a cumpri-la o condenado, em seguida de
outra anterior”.
Projeto entregue em 1940 –
Art. 127 “ O prazo da prescrição da pena contar-se-á:
I- do dia em que passarem em julgado
a) a sentença condenatória; (grifo nosso)
b) a sentença revogatória da suspensão condicional da execução da pena;
II- do dia em que deveria começar a cumpri-la o condenado, em seguida de
outra anterior.”
Código Penal de 1940
O projeto Alcântara Machado foi aprovado em 07.12.1940, com algumas
alterações.
Art. 110 “A prescrição, depois de transitar em julgado a sentença condenatória,
regula-se pela pena imposta e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os
quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente.” (Grifo nosso)
Código Penal de 1969 ( Decreto-Lei nº 1004, de 21 d e outubro de 1969)
Art. 112. “A prescrição da execução da pena privativa de liberdade ou da
medida de segurança que a substitui (art.94) regula-se pelo tempo fixado na
85
sentença e verifica-se nos mesmos prazos estabelecidos no art.111, os quais se
aumentam de um terço, se o condenado é criminoso habitual ou por tendência.
§ 1º Começa a correr a prescrição:
a) no dia em que passa em julgado a sentença condenatória ou a que
revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;
(grifo nosso)
b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da
interrupção deva computar-se na pena.
§ 2º No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento ou
desinternação condicionais, a prescrição se regula pelo restante da execução.
§3º O curso da prescrição da execução da pena suspende-se enquanto o
condenado está preso por outro motivo, e interrompe-se pelo início ou continuação
do cumprimento da pena, ou pela reincidência.”
Lei nº 6016, de 31 de dezembro de 1973
Apenas renumerou os artigos relativos a prescrição de pretensão executória.
Assim o art.112, passou a ser art.111.
Art. 111. “A prescrição da execução da pena privativa de liberdade ou da
medida de segurança que a substitui (art.94) regula-se pelo tempo fixado na
sentença e verifica-se nos mesmos prazos estabelecidos no art.111, os quais se
aumentam de um terço, se o condenado é criminoso habitual ou por tendência.
§ 1º Começa a correr a prescrição:
a) no dia em que passa em julgado a sentença condenatória ou a que
revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;
(grifo nosso)
86
b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da
interrupção deva computar-se na pena.
§2º No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento ou
desinternação condicionais, a prescrição se regula pelo restante da execução.
§3º O curso da prescrição da execução da pena suspende-se enquanto o
condenado está preso por outro motivo, e interrompe-se pelo início ou continuação
do cumprimento da pena, ou pela reincidência.”
Projeto de Lei 1656/1983
Encaminhado pelo Poder Executivo (Mensagem241/83), resultado dos
trabalhos realizados pela comissão designada em 1980 pelo ministro da Justiça.
Ibrahim Abi-Ackel, composta pelos juristas Francisco de Assis Toledo, Serrano
Neves, Ricardo Antunes Andreucci, Miguel Reale Júnior, Hélio Fonseca, Rogério
Lauria Tucci e René Ariel Dotti., que deu origem a Lei 7209, de 11 de julho de 1984,
que alterou a Parte Geral do Código Penal.
Art. 112. No caso do artigo 110 (Prescrição depois de transitar em julgado a
sentença condenatória), a prescrição começa a correr:
I – do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a
acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento
condicional; (grifo nosso)
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da
interrupção deva computar-se na pena.
Lei 7209, de 11 de julho de 1984
Alterou a Parte Geral do Código Penal.
Art. 112. No caso do artigo 110, a prescrição começa a correr:
87
I – do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a
acusação, ou a que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento
condicional; (grifo nosso)
II – do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da
interrupção deva computar-se na pena.
Diante da análise da evolução da legislação penal brasileira, verificamos que
desde o surgimento da prescrição da pretensão executória até 1984, ano em que foi
aprovada a Lei 7209, que alterou a Parte Geral do Código Penal, o seu termo inicial
sempre foi o dia do trânsito em julgado da condenação, ou seja, aquela em que,
intimadas as partes, não houve recurso, ou que havendo, não foi provido. Só depois
de transitada em julgado a sentença para ambas as partes, nasce o título executório
e também a pretensão executória.
O Projeto de Lei 1656/1983, encaminhado pelo Poder Executivo
(Mensagem241/83), trouxe esta inovação no nosso ordenamento. A Exposição de
Motivos não elenca este fato inédito, como também não foi objeto de discussão nem
de emendas. A Exposição de Motivos nos itens 99 a 103 trata da prescrição, mas
cuida basicamente: a) da prescrição pela pena aplicada, se transitada em julgada a
sentença para acusação ou improvido o recurso desta; b) da proibição do termo
inicial da prescrição pela pena aplicada ser anterior ao recebimento da denúncia; c)
do prazo da prescrição no crime continuado.
Foram sugeridas 30 emendas ao projeto, sendo 02 referentes à prescrição
(emendas 26 e 27). A emenda 26 versava sobre a possibilidade do termo inicial da
prescrição pela pena aplicada ser anterior a denúncia e foi aprovada, já a emenda
27 trazia apenas uma nova redação do artigo 115, pois entendia não ter sido
redigida em boa técnica e foi rejeitada. Nenhuma das duas estava relacionada com
o termo inicial da prescrição da pretensão executória.
88
4.2 – A DOUTRINA NACIONAL
A doutrina pátria desde a inclusão do instituto da prescrição no ordenamento
nacional muito tem se dedicado ao assunto, mas data máxima vênia, poucos são os
que se debruçaram sobre o termo inicial da prescrição da pretensão executória
depois da reforma da Parte Geral do Código Penal trazida pela lei 7209/84,
principalmente no que diz respeito à primeira parte do inciso I do art. 112 do Código
Penal.
Muitos comentam o que está expresso no art. 112, inc. I, 1ª parte, apenas de
forma literal, repetindo as letras da lei e ressaltam que não se deve confundir o
momento da análise com o termo inicial, mas não tecem críticas, bem como não
trazem qualquer justificativa para a alteração realizada na reforma de 1984 . Assim é
a postura de Jesus (1992, p. 645-646), Barros (2004, p. 622), Mesquita Júnior (1997,
p. 52), Dotti (2005, p. 681), Bitencourt (2006, p. 883), Delmanto (1986, p. 184), Jorge
(1986, p. 607), Rosa (1985, p. 384), Salles Júnior (1987, p. 121). Assim vejamos:
A prescrição executória só pode ser analisada após o trânsito em julgado da
sentença acusatória para ambas as partes (MP, assistente, réu, querelante e
querelado). Dá-se o trânsito em julgado quando a sentença se torna
irrecorrível. Se ainda não transitou em julgado para uma das partes, não é
possível analisar a ocorrência da prescrição executória. Malgrado a exigência
do trânsito em julgado para ambas as partes, a prescrição executória começa
a correr do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a
acusação (art.112, I, do CP. Assim, com o trânsito em julgado para a
acusação (MP, querelado e querelante), a prescrição executória já começa a
fluir, mas só poderá ser analisada a partir do trânsito em julgado para ambas
as partes (BARROS, 2004, p. 622).
Transitando em julgado a sentença condenatória para o órgão da acusação
começa a correr a prescrição, não se exigindo que o réu seja intimado.
Cumpre observar: a prescrição da pretensão executória depende de uma
condição, a de haver transitado em julgado a sentença condenatória para a
acusação e defesa. Satisfeita a condição, entretanto, na contagem do prazo
leva-se em conta a data em que transitou em julgado para a acusação
(JESUS, 1992, p. 645-646).
89
O prazo começa a correr do dia em que transitar em julgado a sentença
condenatória para a acusação, mas o pressuposto básico para esta espécie
de prescrição é o trânsito em julgado para acusação e defesa, pois enquanto
não transitar em julgado para defesa, a prescrição poderá ser a intercorrente
(BITENCOURT, 2006, p. 883).
A primeira edição da obra de Fragoso (1990, p. 407), depois do seu
falecimento em 1985, atualizada por seu filho Fernando Fragoso, nem sequer traz a
alteração do art. 112, inc. I, 1ª parte, e todos os comentários sobre o termo inicial da
prescrição da pretensão executória são feitas de acordo com o diploma antigo, em
que era necessário o trânsito em julgado para ambas as partes.
Alguns juristas criticam este marco inicial, mas não apontam justificativas para
tal e nem tecem comentários sobre os prejuízos resultantes da norma legal. Esta é a
postura de Capez (2002) e de Bonfim (2003, p. 31).
Termo inicial: A prescrição da pretensão executória começa a correr a partir:
a) da data do trânsito em julgado da sentença condenatória para acusação (é
incrível ! a condenação só pode ser executada após o trânsito em julgado
para ambas as partes, mas a prescrição já começa a correr a partir do
trânsito em julgado para acusação) [...] (CAPEZ, 2002, p. 526).
Os termos iniciais da prescrição da pretensão executória estão previstos no
artigo 112 do código Penal. O primeiro deles é a data do transito em julgado
da sentença condenatória para a acusação. Nesse ponto o Código
estabelece uma desigualdade injustificável, pois, não obstante seja
necessário o trânsito em julgado geral para a formação do título executório, o
prazo da prescrição da pretensão executória inicia-se com o trânsito em
julgado para acusação somente. A solução da lei não é justa, porque nos
casos de condenação de primeiro grau da qual somente o réu tenha recorrido
e que venha a ser confirmada em grau de recurso, o termo inicial da
prescrição da pretensão executória terá sido muito antes de ser tornada
definitiva a condenação. Não é razoável que no período de tramitação do
recurso da defesa até ser tornada definitiva a condenação corra o prazo
prescricional sem que tenha havido inércia do estado, senão impossibilidade
legal de executar a pena (BONFIM, p. 31).
90
Costa Júnior (1987) comenta a questão do trânsito em julgado apenas para
acusação e acredita que isto ocorreu em razão do direito penal liberal e do princípio
do favor rei, acolhido em nosso ordenamento. Não menciona que o Estado é
impedido de executar a pena, enquanto a sentença condenatória não transita em
julgado para ambas as partes.
A nova lei penal não cogitou do trânsito em julgado para a defesa, visto que
não se admite um reformatio in pejus. Em razão do direito penal liberal e do
princípio favor rei, acolhido por nosso ordenamento, é inadimissível a revisão
pro societate. Assim, não se faz mister o trânsito para ambas as partes
(COSTA JÚNIOR, 1987, p. 496)
Mirabete (1992) afirma que a reforma penal de 1984 alterou o marco inicial da
prescrição da pretensão executória, pois não é possível revisão pro societate, por
isto basta o trânsito em julgado para a acusação.
Deixou- se expresso com a reforma penal que o termo inicial da prescrição da
pretensão executória não é o trânsito em julgado para ambas as partes, mas
para a acusação. Passada em julgado para a acusação a sentença
condenatória, o tempo da pena não pode ser aumentado, diante da
impossibilidade da revisão pro societate. Assim, começa a ser contado, diante
da impossibilidade da revisão pro societate. Assim, começa a ser contado o
prazo da prescrição da pretensão executória com relação à pena imposta. Tal
prazo não se confunde com o da prescrição intercorrente, que começa a fluir
da data da sentença condenatória, da qual não recorre a acusação. Tratando-
se de prazo da prescrição da pretensão executória só pode ser ele
interrompido pelo início do cumprimento da pena (MIRABETE, 1992, p. 387).
No mesmo sentido se manifesta Queiroz (2005) e Franco (1987)
A prescrição da pretensão executória , pressupondo a irrecorribilidade da
condenação, tem logicamente, como termo inicial principal o dia em que
transita em julgado a sentença penal condenatória. Para tanto, não se exige,
porém o trânsito em julgado da sentença para ambas as partes (autor e réu),
bastando que tenha havido o trânsito em julgado para a acusação, uma vez
que, a partir de então, não mais há possibilidade de reforma da sentença para
aumentar a pena ou o prazo prescricional. Conseqüentemente, o dia do
91
trânsito em julgado para a defesa é irrelevante para efeito da prescrição
(QUEIROZ, 2005, p. 408).
Nota: a lei anterior, ao dispor sobre o termo inicial da prescrição após a
sentença condenatória, não se referiu, expressamente, à acusação, mas a
jurisprudência, em face do princípio da impossibilidade da majoração da pena
(reformatio in pejus), já considerava que se tratava do trânsito em julgado
para o Minstério público. A lei nova (n.7209/84), agasalhando essa
interpretação, foi expressa ao dispor que a prescrição começa a correr do dia
em que transita em julgado a sentença condenatória para a acusação”.
(FRANCO, 1987, p. 373).
4.3 – DIREITO COMPARADO
4.3.1 – Argentina
Segundo Zaffaroni (1996, p. 650) o fundamento da prescrição, tanto da ação
como da pena, é de certa forma comum, devendo-se reconhecer para a prescrição
da ação, não só como fundamento o transcurso do tempo que faz inútil a pena,
como também uma inatividade, um certo desinteresse do Estado na perseguibilidade
do delito, que não pode se atribuir ao autor7.
Os prazos da prescrição da pretensão punitiva (prescrição da ação) estão
elencados no artigo 62, já os da prescrição da pretensão executória (prescrição da
pena) estão previstos no artigo 65, ambos do Código Penal.
7 Código Penal da Argentina (1921). Disponível em<http://www.unifr.ch/derechopenal/legislacion/ar/cp_argentina.htm> Acesso: 09 mar. 2007.
Art. 66.- La prescripción de la pena empezará a correr desde la medianoche del día en que senotificare al reo la sentencia firme o desde el quebrantamiento de la condena, si ésta hubieseempezado a cumplirse.
92
O termo inicial da prescrição da pretensão executória está previsto no art. 66
do Código penal, e preconiza que começa a correr desde a meia noite do dia em
que o réu é notificado da sentença final.
4.3.2 – Equador
O Código Penal do Equador prevê no Capítulo III denominado :Del ejercicio de
las acciones y de la extinción y prescripción de las mismas y de las penas a
prescrição da ação (pretensão punitiva) e a prescrição da pena (pretensão
executória) .
No que tange à prescrição da pretensão executória, afirma no art. 107, que as
penas privativas de liberdade prescrevem em tempo igual ao da condenação, desde
que não seja inferior a 06 meses. Determina também que esta começa a correr da
meia noite do dia em que a sentença se tornou executável8.
4.3.3 – Bolívia
O Código penal da Bolívia no título VII, denominado Extinción de la acción y de
la pena, traz separadamente as causas de extinção da ação (art.100) e das penas
(art.104), e em ambas as situações elenca a prescrição.
8 Disponível em <http://www.unifr.ch/derechopenal/legislacion/ec/cpecu8.html> Acesso: 09 mar.2007.
Art. 107.- Las penas privativas de la libertad, por delito, prescriben en un tiempo igual al de lacondena, no pudiendo, en ningún caso, el tiempo de la prescripción ser menor de seis meses.
La prescripción de la pena comenzará a correr desde la media noche del día en que la sentenciaquedó ejecutoriada y se imputará al tiempo necesario para la prescripción el que el delincuentehubiere estado recluso, preso o detenido por motivo del mismo delito.
Se exceptúan los casos en que fueren violadas las garantías constitucionales por parte defuncionarios o empleados públicos, conforme a lo prescrito en la Constitución Política.
93
O art. 105 traz os prazos da prescrição da pena (prescrição da pretensão
executória), que variam entre 10 e 05 anos conforme a pena aplicada, e a
determinação de que estes começam a correr a partir do dia da intimação da
sentença condenatória9.
4.3.4 – Espanha
O Código Penal da Espanha, de 1996, prevê no art.130, nº 5 e 6 a prescrição
como causa de exclusão da responsabilidade criminal. No nº 5 prevê a prescrição da
ação e no nº 6 a prescrição da pena, diferenciando-se pelo fato de ter ou não havido
condenação.
No artigo 134 está determinado o momento em que o prazo da prescrição
executória (da pena) se inicia, estabelecendo a sentença final com um dos marcos.
Vale salientar que as penas aplicadas pelo pratica do crime de genocídio são
imprescritíveis (art.133, 2)10
9 Disponível em <http://www.unifr.ch/derechopenal/legislacion/bo/cp_bolivia2.pdf> Acesso: 09 mar.2007.
Art. 105°.- (TERMINOS DE LA PRESCRIPCIÓN DE LA PENA ). La potestad para ejecutar la pena,prescribe:
1) En diez años, si se trata de pena privativa de libertad mayor de seis años. Bolivia: Código penalsegún ley n° 1768 de modificaciones al código penal Libro primero : parte general
2) En siete años, tratándose de penas privativas de libertad menores de seis años y mayores de dos.
3) En cinco años, si se trata de las demás penas.
Estos plazos empezarán a correr desde el día de la notificación con la sentencia condenatoria odesde el quebrantamiento de la condena, si esta hubiere empezado a cumplirse.
10 Código Penal da Espanha.
Disponível em <http://www.unifr.ch/derechopenal/legislacion/es/es_cpnov06.pdf> Acesso em: 09mar. 2007.
Artículo 134.
94
4.3.5 – França
O código Penal Francês de 1994, adota como regra a prescritibilidade das
infrações penais, antes e após a condenação. O prazo é estipulado de acordo com a
infração, assim se é um crime, o prazo prescricional é de 20 anos, se uma infração,
o prazo é de 05 anos e se for uma contravenção o prazo é de 02 anos (arts. 133-2,
133-3, 133-4)
O prazo da prescrição da pena começa a correr a partir da data da sentença
definitiva, independente de ser crime, infração ou contravenção.
Os crimes contra a humanidade, bem como as suas penas, segundo o art 213-
5 são imprescritíveis11.
El tiempo de la prescripción de la pena se computará desde la fecha de la sentencia firme, o desde elquebrantamiento de la condena, si ésta hubiese comenzado a cumplirse.
11 Código Penal da França (atual é de 1994)
Disponível em <http://www.rabenou.org/code/penal/L1.htm#art133-2> Acesso em 09 mar. 2007.
Section 1 - De la prescription
Article 133-2:
Sous réserve des dispositions de l'article 213-5, les peines prononcées pour un crime se prescriventpar vingt années révolues à compter de la date à laquelle la décision de condamnation est devenuedéfinitive.
Article 133-3:
Les peines prononcées pour un délit se prescrivent par cinq années révolues à compter de la date àlaquelle la décision de condamnation est devenue définitive.
Article 133-4:
Les peines prononcées pour une contravention se prescrivent par deux années révolues à compter dela date à laquelle la décision de condamnation est devenue définitive.
Article 133-5:
Les condamnés par contumace ou par défaut dont la peine est prescrite ne sont pas admis à purger lacontumace ou à former opposition.
Article 133-6:
95
4.3.6 – Alemanha
Segundo Von Liszt (1899, p. 478) a Alemanha conheceu o instituto da
prescrição apenas no curso dos séculos 16 e 17, sendo inicialmente admitida pela
Bavária em 1616, Prússia em 1620, em 1656 pela Baixa Áustria, que aboliu em 1787
e a restabeleceu em 1803, sendo em seguida disseminado o instituto entre os
estados alemães. O código do império alemão (1872) consagrou as duas
modalidades do instituto e, finalmente, estendeu-as às penas de morte, prevendo
Les obligations de nature civile résultant d'une décision pénale devenue définitive se prescriventd'après les règles du code civil.
Traduzido para o espanhol. Disponível em<http://www.unifr.ch/derechopenal/legislacion/fr/CPfrancia_texto.pdf> Acesso em: 09 mar. 2007.
Código Penal Francês traduzido em Espanhol
http://www.legifrance.gouv.fr/html/codes_traduits/penal_textE.htm
Sección 1: De la prescripción
Artículo 133-2
A reserva de lo dispuesto en el artículo 213-5, las penas impuestas por crimen prescribirán a los
veinte años cumplidos a contar desde la fecha en que la sentencia condenatoria sea firme.
Artículo 133-3
Las penas impuestas por delito prescribirán a los cinco años cumplidos a contar desde la fecha en
que la sentencia condenatoria sea firme.
Artículo 133-4
Las penas impuestas por falta prescribirán a los dos años cumplidos a contar desde la fecha en que
la sentencia condenatoria sea firme.
Artículo 133-5
Los condenados en rebeldía o por incomparecencia cuya pena haya prescrito no cumplirán la pena ni
podrán recurrirla.
Artículo 133-6
Las obligaciones de naturaleza civil resultantes de una sentencia penal firme prescribirán según lasreglas del código civil
96
que a ação que a cominasse prescreveria em 20 anos e a sua execução em 30
anos.
Como bem ressalta Trippo (2004, p. 123) esses progressos foram rompidos na
primeira metade do séc. XX, por causa dos horrores do nazismo. O receio das
atrocidades assolou os alemães, o que fez aflorar, de modo intenso as necessidades
de coibir ideologias subversivas. Assim, o Estado se utilizou do Direito Penal e
alterou a sistema prescricional.
A alteração mais significativa recaiu sobre a natureza jurídica do instituto da
prescrição, pois antes das duas guerras mundiais, a doutrina e a jurisprudência viam
a prescrição como instituto de direito material; a partir de 1942, inverteu-se esta
orientação e prevaleceu a teoria que considera a prescrição um obstáculo
processual. Mais adiante, ganha espaço a teoria mista, que concebe a prescrição
como instituto material-processual.
O Código penal alemão (Strafgesetzbuch - StGB), nos seus §§ 78 e 79, elenca
respectivamente a prescrição da pretensão punitiva e executória.
O § 79 (6) do Código Penal estabelece como termo inicial da prescrição da
pretensão executória a decisão executável12.
12 § 79 Verjährungsfrist
(1) Eine rechtskräftig verhängte Strafe oder Maßnahme (§ 11 Abs. 1 Nr. 8) darf nach Ablauf derVerjährungsfrist nicht mehr vollstreckt werden.
(2) Die Vollstreckung von Strafen wegen Völkermords (§ 220a) und von lebenslangen Freiheitsstrafenverjährt nicht.
(3) Die Verjährungsfrist beträgt
1. fünfundzwanzig Jahre bei Freiheitsstrafe von mehr als zehn Jahren,
2. zwanzig Jahre bei Freiheitsstrafe von mehr als fünf Jahren bis zu zehn Jahren,
3. zehn Jahre bei Freiheitsstrafe von mehr als einem Jahr bis zu fünf Jahren,
4. fünf Jahre bei Freiheitsstrafe bis zu einem Jahr und bei Geldstrafe von mehr als dreißigTagessätzen,
97
5. drei Jahre bei Geldstrafe bis zu dreißig Tagessätzen.
(4) Die Vollstreckung der Sicherungsverwahrung verjährt nicht. Bei den übrigen Maßnahmen beträgtdie Verjährungsfrist zehn Jahre. Ist jedoch die Führungsaufsicht oder die erste Unterbringung in einerEntziehungsanstalt angeordnet, so beträgt die Frist fünf Jahre.
(5) Ist auf Freiheitsstrafe und Geldstrafe zugleich oder ist neben einer Strafe auf einefreiheitsentziehende Maßregel, auf Verfall, Einziehung oder Unbrauchbarmachung erkannt, so verjährtdie Vollstreckung der einen Strafe oder Maßnahme nicht früher als die der anderen. Jedoch hinderteine zugleich angeordnete Sicherungsverwahrung die Verjährung der Vollstreckung von Strafen oderanderen Maßnahmen nicht.
(6) Die Verjährung beginnt mit der Rechtskraft der Entscheidung.
(bundesrecht.juris.de/bundesrecht/stgb/gesamt.pdf, acesso 2m 09/03/07)
Prescripción de la ejecución - tradução em español do CP alemão - del 15 de mayo de 1871, con la
última reforma del 31 de enero de 1998).
Disponível em <http://www.unifr.ch/derechopenal/obras/stgb.pdf> Acesso 09 mar. 2007
§ 79. Término de prescripción
(1) Una pena o una medida impuesta y ejecutoriada (§ 11 inciso primero numeral octavo) no podrá
ejecutarse después del vencimiento del término de prescripción.
(2) La ejecución de penas por genocidio (§ 220a) y de penas privativas de la libertad de por vida no
prescriben.
(3) El termino de prescripción es de:
1. veinticinco años para penas privativas de la libertad de más de diez años,
2. veinte años para penas privativas de la libertad de mas de cinco años hasta diez años
3. diez años para penas privativas de libertad de más de un así o hasta cinco años
4. cinco años para penas privativas de la libertad hasta un año y multa de más de treinta importes
diarios
5. tres años para multas hasta de treinta importes diarios
(4) La ejecución de la custodia de seguridad no prescribe. Para las restantes medidas el término de
prescripción es de diez años. Sin embargo, si se ordena la sujeción a vigilancia de autoridad o elprimer
internamiento en un establecimiento de desintoxicación entonces el termino es de cinco años
(5) Si se impone simultáneamente una pena privativa de la libertad y una multa o junto a la pena una
98
4.3.7 – Itália
O código Penal Italiano – Código de Rocco, de 1930 prevê a prescrição em
qualquer crime, salvo naqueles que, em razão da excepcional gravidade, a triste
memória, e alarme público não se apagam com o tempo. Assim os crimes que
prevêem a pena de morte e a prisão perpétua (ergástulo) são imprescritíveis. Vale
salientar que a pena de morte foi abolida do direito italiano e substituída pela prisão
perpétua13.
O Código, no Título VI, Della estinzione del reato e della pena, regula a
prescrição. De acordo com a gravidade do delito são estipulados os prazos
prescricionais.
O art. 172 do Código dispõe sobre a prescrição da pena (após a condenação
definitiva) e a veda a certos reincidentes14, aos delinqüentes habituais, aos
profissionais ou por tendência e ao condenado que, durante o tempo necessário
para a extinção da pena, for punido com reclusão por outro delito da mesma índole.
Estabelece ainda, o art. 172, como termo inicial da prescrição da pena o dia
em a decisão se torna irrevogável15.
medida de privación de libertad, el comiso, la confiscación o la inutilización, entonces la ejecución de
una pena o de una medida no prescribe antes que las otras. Sin embargo, una custodia de seguridad
ordenada simultáneamente no impide la prescripción de la ejecución de la pena o de otra medida.
(6) La prescripción inicia con la ejecutoria de la decisión.
13 O decreto L.L n. 224, de 10.08.1944, determinava que a pena capital prevista em disposições doCódigo, ficava substituída pela prisão perpétua. A pena de morte foi totalmente excluída dos crimescomuns pela constituição. Finalmente, pela lei n. 589, de 13.10.1994, foi abolida a pena de mortepara os crimes militares, também substituída pela prisão perpétua.
14 São reincidentes referidos nos parágrafos do art.99, quais sejam aqueles que cometeram novodelito: a) da mesma índole, b) nos cinco anos seguintes à condenação anterior; c) durante ou após aexecução da peã, ou quando se subtraem a ela voluntariamente.
15 Código penal da Itália (1930). Disponível em<http://www.unifr.ch/derechopenal/legislacion/it/cp.htm> Acesso em 09 mar. 2007.
99
4.3.8 – Portugal
O Código Penal português de 1995, trata a prescrição da pretensão punitiva
como prescrição do procedimento criminal, cujos prazos variam entre 15 e dois anos
(art.118).
Também cuida da prescrição da pretensão executória, intitulada prescrição da
pena, no art.112, cujos prazos variam entre 20 e 04 anos e determina que o prazo
começa a correr no dia em que transitar em julgado a decisão que tiver aplicado a
pena.
Não há exceções, todos os crimes são prescritíveis16.
Art. 172 - Estinzione delle pene della reclusione e della multa per decorso del tempo
La pena della reclusione si estingue col decorso di un tempo pari al doppio della pena inflitta e, in ognicaso, non superiore a trenta e non inferiore a dieci anni.
La pena della multa si estingue nel termine di dieci anni.
Quando, congiuntamente alla pena della reclusione, è inflitta la pena della multa, per l'estinzionedell'una e dell'altra pena si ha riguardo soltanto al decorso del tempo stabilito per la reclusione.
Il termine decorre dal giorno in cui la condanna è divenuta irrevocabile, ovvero dal giorno in cui ilcondannato si è sottratto volontariamente alla esecuzione già iniziata della pena.
Se l'esecuzione della pena è subordinata alla scadenza di un termine o al verificarsi di unacondizione, il tempo necessario per la estinzione della pena decorre dal giorno in cui il termine èscaduto o la condizione si è verificata.
Nel caso di concorso di reati si ha riguardo, per l'estinzione della pena, a ciascuno di essi, anche se lepene sono state inflitte con la medesima sentenza.
L'estinzione delle pene non ha luogo, se si tratta di recidivi, nei casi preveduti dai capoversidell'articolo 99, o di delinquenti abituali, professionali o per tendenza; ovvero se il condannato, duranteil tempo necessario per l'estinzione della pena, riporta una condanna alla reclusione per un delittodella stessa indole.
16 Código Penal de Portugal N.º 400/82 de 23-09-1982 Ao Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lein.º 400/82, de 3 de Setembro, alterado pela Lei n.º 6/84 de 11 de Maio, pelos Decretos-Lei n.º 132/93,de 23 de Abril e n.º 48/95, de 15 de Março e pelas Leis n.º 65/98, de 2 de Setembro e n.º 7/2000, de27 de Maio.
Disponível em <http://www.unifr.ch/derechopenal/legislacion/pt/CPPortugal.pdf> Acesso em 09 mar.2007.
Art.122 - As penas prescrevem nos prazos seguintes:
100
4.4 – ANÁLISE DE PROCESSOS
Com o intuito de demonstrar a desigualdade gerada pelo termo inicial da
prescrição da pretensão executória, alguns processos foram analisados, assim
passo a expô-los:
Nos autos do processo crime nº 250/02, que tramitou na 3ª Vara da Comarca
de Guaratinguetá, L.G.B.A, foi condenado as penas de 06 meses pela infração ao
artigo 16 da Lei 6368/76 e a 01 ano pela infração ao artigo 10, “caput” da Lei
9437/97. A R. sentença condenatória foi publicada aos 28/11/03 e não tendo sido
interposto recurso pela acusação o trânsito em julgado para o Ministério Público
efetivou-se aos 09/12/03. O recurso (Apelação nº 820.459.3/4-00) não foi conhecido
pelo Egrégio Tribunal de Justiça. O trânsito em julgado se efetivou aos 09/03/07.
Quanto ao crime previsto no art. 16 da Lei 6368/76 efetivou a prescrição da
pretensão punitiva eis que já decorrido mais de 02 anos desde a data da sentença.
Quanto ao crime previsto no art. 10 “caput” da Lei 9437/97, considerando o previsto
no art.112, I do Código Penal, já decorreram 03 anos e 03 meses da pretensão
executória do estado, restando por conseguinte 09 m eses para que tenha
início a execução.
Nos autos do processo crime nº 150/01, que tramitou na 3ª Vara da Comarca
de Guaratinguetá, E.L.S., foi condenado a pena de 01 ano 06 meses e 20 dias pela
infração ao artigo 168, §1º, inc. III do Código Penal. A R. sentença condenatória foi
publicada aos 28/04/03 e não tendo sido interposto recurso pela acusação o trânsito
em julgado para o Ministério Público efetivou-se aos 09/05/03. O Egrégio Tribunal
a) 20 anos, se forem superiores a 10 anos de prisão;
b) 15 anos, se forem iguais ou superiores a 5 anos de prisão;
c) 10 anos, se forem iguais ou superiores a 2 anos de prisão;
d) 4 anos, nos casos restantes.
2 - O prazo de prescrição começa a correr no dia em que transitar em julgado a decisão que tiveraplicado a pena.
101
de Justiça negou provimento ao recurso (Apelação nº 144.456.1-0). O transito em
julgado se efetivou aos 18/04/06. Considerando o previsto no art.112, I do Código
Penal, já decorreram 2 anos e 11 meses da pretensão executória do Estado ,
restando por conseguinte 1 ano e 01 mês para que te nha início a execução.
Vale ressaltar que até o dia 19/03/07 ainda não tinha dado início à execução da
pena.
Nos autos do processo crime nº 509/99, que tramitou na 3ª Vara da Comarca
de Guaratinguetá, G.H.S e outro, foram condenados a pena de 07 anos pela
infração ao artigo 157, §3º do Código Penal. O Ministério Público não interpôs
recurso a R. sentença condenatória, efetivando-se o trânsito em julgado aos
22/04/03. O Egrégio Tribunal de Justiça deu parcial provimento ao recurso
(Apelação nº 00805.666.3/9-00) para estabelecer uma pena de 02 anos e 08 meses
pela prática de lesões corporais graves. O trânsito em julgado se efetivou aos
12/01/07. Considerando o previsto no art.112, I do Código Penal, já decorreram 02
anos, 08 meses e 20 dias da pretensão executória do Estado, restando por
conseguinte 05 anos, 03 meses e 20 dias para que te nha início a execução .
Vale ressaltar que até o dia 19/03/07 ainda não tinha dado início à execução da
pena.
Nos autos do processo crime nº 785/03, que tramitou na 3ª Vara da Comarca
de Guaratinguetá, F.M.C dentre outros, foi condenado a pena de 06 anos pela
infração aos artigos 12 e 14 da Lei 6368/76. O Ministério Público não interpôs
recurso a R. sentença condenatória, efetivando-se o trânsito em julgado aos
17/11/03. O Egrégio Tribunal de Justiça deu parcial provimento ao recurso
(Apelação nº 467.780-3/6-00) a fim de, com relação ao crime estatuído no art. 14, da
lei nº 6.368/76, afastar a pena de multa imposta e fixar o regime fechado para o
início do cumprimento das reprimendas privativas de liberdade em virtude dele
impostas, mantendo-se, no mais, a r. sentença . O trânsito em julgado se efetivou
aos 28/03/06. considerando o previsto no art.112, I do Código Penal, já decorreram
02 anos, 04 meses e 11 dias da pretensão executória do Estado, restando por
conseguinte 09 anos, 07 meses e 11 dias para que te nha início a execução .
102
Nos autos do processo crime nº 639/95, que tramitou na 1ª Vara da Comarca
de Bragança Paulista, M.V.C.L, entre outros, foi condenado a pena de 02 anos e 04
meses de reclusão em regime aberto pela infração ao artigo 188, par.único do
Código Penal.. Inconformados com a r. sentença condenatória as partes
interpuseram apelação ( nº 291.860-3/4). A 6ª Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça negou provimento os recursos da defesa e deu parcial provimento ao recurso
do Ministério Público para estabelecer o regime semi-aberto para o início do
cumprimento da pena. O trânsito em Julgado para o Ministério Público se deu aos
10/05/02. O réu, M.V.C.L, apresentou vários recursos: * opôs embargos de
declaração e foram rejeitados; * interpôs recurso especial ao Colendo Superior
Tribunal de Justiça . O recurso não foi admitido pelo presidente do Tribunal de
Justiça; * interpôs agravo de instrumento ao Superior Tribunal de Justiça. Ausente
retratação pelo presidente do Tribunal de Justiça, determinou a subida para o
Superior Tribunal de Justiça. O Ministro Arnaldo Esteves Lima não conheceu do
agravo nº 536.626-SP por ser intempestivo; * interpôs Agravo Regimental. A
Colenda 5ª Turma negou provimento ao agravo; * Opôs Embargos de Declaração,
que foram rejeitados; * Opôs Embargos de Divergência, que foi indeferido
liminarmente pelo Ministro Nilton Naves; * Opôs novos Embargos de Declaração. O
trânsito em julgado deu-se 13/11/06. Entre o trânsito em julgado para o Ministério
Público e o trânsito em julgado para a defesa decor reram 04 anos, 06 meses e
03 dias. Para dar início a execução restam 03 ano s, 05 meses e 27 dias.
Diante do exposto acima, verifica-se que em alguns processos, mais de 50%
do prazo da prescrição da pretensão executória transcorreu sem que o Estado
pudesse executar a pena.
Se os réus fossem menores de 21 anos na data do fato ou maior de 70 anos na
data da sentença, os prazos seriam reduzidos de metade, e então alguns estariam
prescritos, sem que o Estado tivesse tido a oportunidade de executar a pena.
No último processo mencionado, o Ministério Público recorreu, ou seja, o
trânsito em julgado para a acusação se deu em 2ª instância, mas mesmo assim,
diante dos 07 recursos interpostos pelo réu, transcorreram 04 anos, 06 meses e 03
dias.
103
4.5 – PROJETO DE LEI Nº 1383/2003 SOBRE O ART . 112, I,
1ª PARTE DO CÓDIGO PENAL
O projeto de autoria do Deputado Antonio Carlos Biscaia, apresentado no dia
02 de julho de 2003, tem como objetivo retirar do ordenamento pátrio a prescrição
retroativa , por isto propõe alterações nos artigos 109 e 110 do CP.
Justifica o projeto alegando que a mesma se tornou um instrumento de
impunidade principalmente para os crimes perpetrados por mentes preparadas, e
que, justamente por isto, provocam grandes prejuízos seja à economia do particular,
seja ao erário, ainda dificultando sobremaneira a respectiva apuração. Justifica
também que o instituto é uma causa geradora de corrupção, podendo incitar
autoridades a retardar as investigações, providências, ou decisões, a fim de
viabilizar a causa extintiva da punibilidade.
Alega ainda que além de proporcionar a impunidade, a prescrição retroativa
está cada vez mais fomentando homens mal intencionados a enveredarem pelo
ataque ao patrimônio público, cônscios de que eventualmente a trama descoberta, a
justiça tardará e, portanto, não terá qualquer efeito prático.
Assim dispõe o projeto:
PROJETO DE LEI Nº....., DE .....
(Do Sr. Antônio Carlos Biscaia)
Altera os artigos 109 e 110 do Decreto-Lei nº 2848, de 7 de dezembro de
1940 – Código Penal.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º - No Decreto-Lei nº 2848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal, ficam introduzidas as seguintes alterações:
104
I – O artigo 109 passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 109 – A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo
o disposto no parágrafo único do artigo 110 deste código, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:”
(NR)
II - O § 1º do art. 110 passa a vigorar com a redação seguinte:
“Art. 110 - ......................
§ 1º - A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado
para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena
aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data
anterior à da publicação da sentença ou do acórdão.”
III – Revoga-se o § 2º do art. 110 do Código Penal.
Art. 2º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala de sessões, 02 de julho de 2003.
Antônio Carlos Biscaia.
PT/RJ
A Comissão de Constituição e Justiça depois de analisar o projeto concluiu que
o mesmo é constitucional e jurídico e, na forma do substitutivo votou pela aprovação
do Projeto.
O projeto substitutivo altera o art.112, inc I, primeira parte do CP, alegando que
a contagem de prazo prescricional enquanto o Estado está impedido de agir,
contribui para a sensação de impunidade.
Assim dispõe o projeto substitutivo:
Comissão De Constituição e Justiça e de Cidadania
105
Substitutivo Ao Projeto De Lei Nº 1.383, De 2004.
Altera os arts. 109 e 110 do Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940-
Código Penal.
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1.º Esta lei altera os arts. 109 e 110 do Decreto-lei 2.848, de 7 de
dezembro de 1940, para excluir a prescrição retroativa.
Art. 2.º O caput do art. 109, o § 1º do art. 110, e o inciso I do art. 112 do
Decreto-lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, passam a
vigorar com a seguinte redação:
“Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o
disposto no parágrafo único do artigo 110 deste código, regula-se pelo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
(NR)”
“Art. 110 - ..............................................................
Parágrafo único. A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito
em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se
pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial
data anterior à da publicação da sentença ou do acórdão.” (NR)
“Art. 112. .............................................................
I - do dia em que passa em julgado a sentença condenatória ou a que revoga
a suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;”
Art. 3.º Revoga-se o § 2.º do art. 110 do Código Penal.
Art. 4.º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Sala da Comissão, em 31 de maio de 2005.
Deputado ROBERTO MAGALHÃES
106
Relator
Em plenário foram apresentadas 07 emendas ao projeto substitutivo, sendo
que a de número 5, apresentada pelo deputado Guilherme de Campos, solicitou a
supressão da alteração do art. 112, inc. I do CP, alegando corrigir conflito de
interpretação entre o que dispõe o parágrafo único proposto para o art. 110 do
Código Penal, constante do mencionado substitutivo, e o inciso I do art. 112.
A emenda foi aprovada no dia 06 de março de 2007 e o projeto encaminhado
para o Senado.
O projeto substitutivo proposto pela Comissão de Constituição e Justiça, com a
alteração do inc. I do art. 112 do CP, colocaria fim à desigualdade existente entre o
Estado, titular do jus puniendi, e o Réu, titular do jus libertatis, porque o termo inicial
da prescrição da pretensão executória voltaria a ser o trânsito em julgado da
sentença condenatória para as partes (acusação e defesa).
4.6 – REFLEXÃO DO PROJETO DE LEI 5973 DE 2005 SOBRE
O ART.112, INC. I DO CÓDIGO PENAL
O senador Renan Calheiros, em setembro de 2005, apresentou projeto de lei
que altera o inciso IV do art. 117 do CP, para definir como causa interruptiva da
prescrição a sentença ou acórdão condenatório recorrível.
O projeto assim dispõe:
O Congresso Nacional decreta:
Art. 1º O inciso IV do art.117 do Decreto-Lei nº 2848, de 07 de dezembro de
1940 – Código penal, passa a vigorar com as seguinte redação:
Art.117 [...]
IV – pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
107
Art. 2º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Senado Federal, em de setembro de 2005
Senador Renan Calheiros
Presidente do Senado Federal
Até o dia 05 de março de 2007 o projeto encontrava-se na Comissão de
Constituição e Justiça aguardando parecer. O prazo para emendas ao projeto já
estava encerado.
O referido projeto, se vier a ser aprovado, não vai solucionar a problema
gerado pelo início do prazo da prescrição da pretensão executória, mas vai amenizar
o problema.
4.7 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
4.7.1 – Princípio da presunção de inocência
O princípio da presunção de inocência ou do estado de inocência,
desdobramento do princípio do devido processo legal, está previsto no art. 5º, inciso
LVII, da Constituição Federal, que assim dispõe: "ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória". Consagrando-se um dos
princípios basilares do Estado de Direito como garantia processual penal, visando à
tutela da liberdade pessoal. O pensamento jurídico-liberal, que se espalhou pelo
mundo após a Revolução Francesa, trouxe no seu bojo, este postulado, que se
enraizou no contexto do Princípio do Devido Processo Legal, sendo-lhe decorrente
de forma direta e inconteste.
Sua origem, remonta à Declaração dos Direitos dos Homem e do Cidadão de
1791, a qual proclamava em seu artigo 9º que: “Todo homem é presumido inocente,
até que tenha sido declarado culpado e se for indispensável será preso, mas todo
108
rigor que não for necessário contra sua pessoa deve ser severamente reprimido pela
lei.”
Corroborada na Declaração dos Direitos Humanos, promulgada pela
Assembléia Geral da Nações Unidas de 1948 , em seu artigo 11 afirma: “Toda
pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que
a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público
no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa”.
Todavia, em que pese o Brasil ter concorrido com sua presença e voto na
Assembléia-Geral das Nações Unidas de 1948, que deu origem à Declaração dos
Direitos Humanos retro mencionada, o mesmo só veio a ser positivado em nosso
Ordenamento Jurídico, com o advento da Constituição Federal de 1988, portanto,
permanecendo um hiato de quarenta anos.
O princípio em estudo só foi introduzido de forma expressa em nosso
Ordenamento Jurídico, com o advento da Constituição Federal de 1988. Todavia,
inobstante o silêncio das nossas anteriores Cartas Políticas, o mesmo já vinha sendo
aplicado, ainda que de maneira acanhada, em decorrência dos princípios do
contraditório (onde as partes tem igualdade processual, inexistindo qualquer
vantagem para a acusação) e da ampla defesa (onde confere-se a faculdade de se
acompanhar os elementos de convicção apresentados pela acusação e de produzir
o que lhe pareça conveniente e útil para demonstrar a improcedência da imputação),
contemplados no Direito Processual Penal.
Contudo, cumpre registrar, que no início da vigência de nossa atual
Constituição Federal, em função de uma redação não muito afortunada, houve quem
sustentasse, com base na interpretação literal e sem buscar o espírito da norma, que
o legislador constituinte ao anunciar uma "não-culpabilidade", cuja dimensão seria
mais limitada, não adotou o princípio da presunção de inocência, ao menos em sua
concepção original.
Portanto, segundo esta corrente, que estancou sua linha de raciocínio na
interpretação literal, o legislador constituinte de 1988 não teria adotado o princípio da
109
presunção de inocência, originalmente concebido no art. 9º da Declaração Universal
dos Direitos do Homem e do Cidadão, mas sim, o distinto princípio da não-
culpabilidade, que teria menor abrangência.
Este raciocínio, no entanto, a par de seu excessivo apego ao texto, consoante
Gomes Filho (1994, p. 30), perdeu o sentido "desde que o Congresso Nacional,
através do Decreto Legislativo n.º 27, de 26 de maio de 1992, aprovou o texto da
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica)
e o Governo Brasileiro em 25 de setembro de 1992, depositou a Carta de Adesão a
esta Convenção, determinando-se seu integral cumprimento pelo Decreto n.º 678,
de 06 de novembro de 1992, publicado no D.O.U. de 09.11.92, pág. 15.562 e ss."
Com efeito, o Pacto de São José da Costa Rica, em seu art. 8º, I, estabelece o
princípio da presunção de inocência ou do estado de inocência, em sua dimensão
real, ao asseverar que: "Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se
presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa".
Ressalte-se que aludido preceito legal tem valor de norma constitucional em
nosso Ordenamento Jurídico, pois o § 2º do art. 5º, da Constituição Federal é
taxativo ao declarar que: "Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte".
Deste modo, o princípio da presunção de inocência passou a ser assegurado
em nosso Ordenamento Jurídico, por duas normas: o art. 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal, segundo o qual "ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória" e o art. 8, I, do Pacto de São
José da Costa Rica, retro citado, que tem valor de preceito constitucional.
Tendo a nossa Lei Fundamental disposto acerca do princípio em comento, o
ordenamento jurídico infraconstitucional, em especial o processual penal, está
obrigado a absorver regras que permitam encontrar um equilíbrio saudável entre o
interesse punitivo estatal e o direito de liberdade, dando-lhe efetividade.
110
Com efeito, o sistema normativo constitucional, através de seus preceitos,
exerce notória influência sobre os demais ramos do Direito. Esta influência destaca-
se no âmbito processual penal que trata do conflito existente entre o jus puniendi do
Estado, que é o seu titular absoluto, e o jus libertatis do cidadão, bem intangível, não
podendo ser considerado objeto da lide, reputado o maior de todos os bens jurídicos
afetos à pessoa humana.
Efetivamente, o plano social prevê punição para aqueles indivíduos que
desenvolve comportamento violador de normas de condutas socialmente
predispostas a manter o imprescindível equilíbrio entre os membros da comunidade.
Foi assim que o Estado criou mecanismos regulamentares da atuação estatal que
propiciam na esfera criminal, a detectação da existência do ilícito penal, com a
respectiva criação de limites à liberdade individual, com a aplicação de sanção que
implicará no cerceamento do direito de locomoção. Age, assim, como guardião do
interesse coletivo e do próprio indivíduo, já que o Direito existe, para dar ao homem
garantias, sendo este a fonte e objetivo daquele.
A materialização do direito-dever estatal de punir, todavia, deve ser
compatibilizado com os preceitos fundamentais que tutelam o direito de liberdade,
vez que de suma relevância para a coletividade, constituindo-se em garantia para
cada cidadão, o respeito aos preceitos oriundos do texto constitucional e que
mantém pertinência com o processo penal. Ou seja, este direito-dever não constitui
uma prerrogativa que propicie utilização desmesurada, haja vista que o parâmetro a
ser observado é a regra da legalidade: O Estado não pode atuar senão dentro dos
limites fixados pelas normas legislativas.
O respeito ao vetor da legalidade assume particular relevo no âmbito criminal,
posto que somente será possível testar a legalidade da pretensão estatal quando
ocorrer lesão a regra de direito material previamente disposta ao cometimento do
ilícito penal. A imposição de pena, por outro lado, exige que seja resguardado ao
suposto autor da infração penal garantias mínimas que lhe permitam
adequadamente resistir à pretensão estatal em comento, de modo a que a sua
liberdade não seja cerceada abrupta e despoticamente.
111
Verifica-se então, que a indispensável processualização do poder punitivo
estatal torna imperiosa a tutela da liberdade jurídica do autor da infração penal, e,
dentro dessa ótica, será a Constituição Federal o diploma básico a influenciar, de
forma decisiva, o curso do processo penal, notadamente através do princípio objeto
do presente estudo, segundo o qual, enquanto não condenado por uma sentença
transitada em julgado, o acusado ostentará o estado de inocência. Pois todos se
presumem inocentes, sendo dever do Estado comprovar a culpabilidade dos
acusados.
Deste modo, a execução provisória da pena é inaceitável, pois tem escopo
punitivo. Agindo assim o Estado pode estar restringindo direitos de pessoas
inocentes e dando tratamento reservado àqueles que têm contra si uma decisão
condenatória com trânsito em julgado. A prisão antes do trânsito em julgado é
meramente processual, cautelar ou provisória, apenas justificável quando presentes
os pressupostos da prisão preventiva nos termos do artigo 312 do Código de
Processo penal.
4.7.2 – Princípio da Igualdade
Emana do caput do artigo 5° da Constituição Federal de 1988 a dete rminação
de que "todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza".
Consagra-se, aí, o princípio da igualdade de direitos, sendo a todos assegurado um
tratamento igualitário em três planos distintos: a) frente ao legislador e ao executivo,
no exercício constitucional de edição de leis, atos normativos e medidas provisórias;
b) frente ao intérprete dos dispositivos normativos em vigência; c) frente ao próprio
particular.
Aos primeiros, incumbe a criação de normas isonômicas, vedados os
tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas que se encontram em situações
idênticas. Aos intérpretes, em especial as autoridades públicas, incumbe o dever de
aplicar a lei e atos normativos de maneira igualitária, sem qualquer distinção em
razão de classe social, raça, sexo, religião, convicções filosóficas ou políticas.
112
Quanto ao particular, não poderá pautar-se em condutas discriminatórias,
preconceituosas ou racistas, sob pena de responsabilidade civil e penal.
Veda a Lei Maior as diferenciações arbitrárias, as discriminações sem sentido,
os tratamentos desiguais sem qualquer finalidade lícita acolhida pelo direito. Leciona
Moraes (2003, p. 65)
A desigualdade na lei se produz quando a norma distingue de forma não
razoável ou arbitrária um tratamento específico a pessoas diversas. Para que
as diferenciações normativas possam ser consideradas não discriminatórias,
torna-se indispensável que exista uma justificativa objetiva e razoável, de
acordo com critérios e juízos valorativos genericamente aceitos, cuja
exigência deve aplicar-se em relação à finalidade e efeitos da medida
considerada, devendo estar presente por isso uma razoável relação de
proporcionalidade entre os meios empregados e a finalidade perseguida,
sempre em conformidade com os direitos e garantias constitucionalmente
protegidos. Assim, os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis
com a Constituição Federal quando verificada a existência de uma finalidade
razoavelmente proporcional ao fim visado.
A igualdade entre as partes no Processo Penal é um dos traços fundamentais
do sistema acusatório, e isso vale para todos os aspectos, e não simplesmente para
a produção de provas. O direito a igualdade das partes deve ser respeitado inclusive
quanto aos prazos prescricionais e suas causas de redução,suspensa e interrupção.
O referido artigo, 112, inc I, 1ª parte do Código penal, na forma em que foi
aprovado fere o princípio da igualdade, trazendo um desequilíbrio entre as partes, na
medida em que o prazo prescricional começa a correr com o transito em julgado
para a acusação. A igualdade estaria presente se o prazo iniciasse com o trânsito
em julgado da sentença condenatória, ou seja, com o trânsito em julgado para
ambas as partes.
Se a acusação pudesse executar provisoriamente a sentença condenatória,
não haveria prejuízo algum, mas diante do princípio da presunção de inocência isto
é impossível, assim, o Estado encontra- se impedido de executar, mas tem correndo
contra ele o prazo prescricional, evidente desequilíbrio .
113
4.7.3 – Princípio do favor rei
O princípio do “favor rei”, também conhecido por favor libertatis ou favor
innocentiae estabelece que nos casos de interpretações antagônicas de uma norma
legal, deve-se escolher a interpretação mais favorável ao réu ou em favor do réu .
Denominado por alguns como princípio in dúbio pro reo, estabelece, como
informa Silva (2001, p. 33) “A incerteza da prova e motivação inadequada das
sentenças criminais devem determinar a absolvição pura e simples do acusado, uma
vez que não há certeza da culpa”.
Reflexo deste princípio é a proibição da “Reformatio in pejus”. Prescreve o art.
617 do Código de Processo Penal que "o tribunal, câmara ou turma atenderá nas
suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não
podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da
sentença". Segundo esse dispositivo, em se tratando de recurso exclusivo da
defesa, o agravamento da situação do réu, em grau de apelação, é legalmente
vedado (proibição à reformatio in pejus), posto que dito recurso possui
devolutividade limitada à matéria impugnada. Aliás, como fundamento deste preceito
do tantum devolutum quantum appelatum costuma-se invocar o princípio da
personalidade dos recursos, consoante o qual a impugnação só poderá favorecer a
parte que o interpôs, de modo que aquele que não recorreu não poderá ter sua
condição agravada, se não houver irresignação da parte adversa.
114
5 – CONCLUSÃO
Nas sociedades organizadas o homem não pode exercer a justiça punitiva
pelas próprias mãos, uma vez que para elas o crime não tem apenas uma
significação individual, mas uma significação social. Em decorrência disso, e depois
de percorrer várias fases ao logo da história da humanidade, o direito de punir
passou a pertencer ao Estado.
O Estado, independente da teoria justificadora do direito de punir, através de
uma decisão política, seleciona os bens que devem ser preservados e que uma vez
violados faz nascer o direito de punir em concreto. Da mesma forma ele também
seleciona uma série de fatos, que se ocorrerem, põe fim ao seu direito de punir.
Dentre os fatos elencados pelo atual Código Penal como causa extintiva da
punibilidade encontra-se a prescrição, que consiste na perda da pretensão punitiva
ou da pretensão executória, pelo decurso do tempo, sem o seu devido exercício.
A prescrição da pretensão executória ocorre quando o Estado, diante de sua
inércia, perde o direito de executar a pena imposta em decorrência do decurso do
tempo. Isto posto, surge a questão polêmica deste trabalho. Segundo o art.112, inc I,
1ª parte do Código Penal, o termo inicial da prescrição da pretensão executória é o
dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a acusação. Com o
trânsito em julgado para as partes a prescrição passa a ser de pretensão executória,
no entanto o seu termo inicial deve retroagir ao dia em que se efetivou o trânsito em
115
julgado para a acusação, quando Estado, representado pelo Ministério Público,
ainda não pode executar a pena, pois não possuia o título executório, que só passou
a existir com o trânsito em julgado da sentença condenatória para ambas as partes.
Esta situação representa uma desigualdade muito grande entre as partes, uma
vez que no conflito entre o jus puniendi pertencente ao Estado e o jus libertatis
pertencente ao réu, há uma grande desvantagem do primeiro em relação ao
segundo. O principio constitucional da igualdade, é flagrantemente violado, pois o
art. 5º da Constituição Federal de 1988 determina que "todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza" e isso se aplica também ao estado, como
titular do jus puniendi .No caso em tela o tratamento é desigual, sem que haja
qualquer justificativa para tal.
A desigualdade ficou evidenciada na análise dos casos apresentados. Diante
do recurso exclusivo da defesa o período existente entre o trânsito em julgado da
acusação e o trânsito em julgado da defesa é extenso. Com apenas um recurso da
defesa, este período leva em média de 02 a 03 anos.
Nos casos em que o prazo prescricional é curto, 02 ou 04 anos, este período é
significativo e no momento em que o Estado adquire o direito de executar a pena lhe
resta muito pouco tempo. Esta situação, somada às notórias dificuldades
(precariedade da estrutura da polícia, astúcia do réu em se esconder) no
cumprimento do mandado de prisão, faz com que o réu tenha a sua punibilidade
extinta com base na prescrição da pretensão executória.
Quando o prazo prescricional é de 12 ou 08 anos, o decorrer de 02 ou 03 anos
pode parecer pouco, mas se o réu era ao tempo de crime menor de 21 anos ou na
data da sentença, maior de 70 anos o prazo prescricional é contado pela metade e
então este período já corresponde a aproximadamente 50% do período.
Na verdade, ainda que o período entre o trânsito em julgado para a acusação e
o trânsito em julgado para a defesa fosse de apenas 01 dia, este período não
deveria ser computado no prazo da prescrição da pretensão executória, pois não há
nada que justifique esta diferença.
116
Vislumbrando compreender a razão deste dispositivo motivador da
desigualdade, constatou-se que o mesmo foi inserido no Código Penal através da
Lei nº 7209/84, sem nenhuma justificativa ou discussão. A maioria dos doutrinadores
nacionais não questiona esta situação, nem tão pouco a justifica. Alguns criticam o
termo inicial e identificam a desigualdade, mas se limitam a isto. Os que, ao
comentar o art. 112, inc I, 1ª parte do Código Penal apresentam justificativas, data
máxima vênia, que não satisfazem.
Há quem entenda que a alteração foi feita devido à influência do Direito Penal
Liberal e do Princípio do “favor rei”. O Direito Penal liberal, que chamamos de
clássico, foi estudado como ciência no século XVIII, sob a inspiração do século das
“Luzes”(Iluminismo). O paradigma adotado era a tutela de direitos subjetivos,
sobretudo contra as arbitrariedades do Estado, isto é, limitações do ius puniendi,
características do regime anterior. Esse modelo perdurou até meados do século XX,
principalmente após a Segunda Grande Guerra quando começou a passar por
transformações, contribuindo para seu posterior colapso. A reforma da Parte Geral
do Código Penal foi realizada em 1984, época em que houve a ruptura do
paradigma de proteção de bens jurídicos individuais para a tutela difusa, onde bens
jurídicos são necessários para a vida em sociedade. Assim não há que se falar em
influência do Direito Penal Liberal. No que diz respeito ao princípio do favor rei, este
é utilizado no Direito Processual Penal em caso de dúvida, ou seja, não havendo
certeza prevalece o interesse do réu. É o que acontece com a previsão da
absolvição por insuficiência de prova. No tocante ao termo inicial da prescrição da
pretensão executória não paira dúvida alguma, assim o referido princípio não
justifica a norma estabelecedora do termo inicial.
Há também os que justificam a determinação deste marco (trânsito em julgado
para acusação) devido a impossibilidade da “reformatio in pejus”. No que tange à
prescrição da pretensão punitiva intercorrente esta justificativa é plenamente
aceitável, uma vez que a prescrição é contada com base na pena em concreto,
sendo necessário então a certeza de que esta não vai ser alterada quando da
decisão do recurso interposto apenas pela defesa. Com relação à prescrição da
pretensão executória, a impossibilidade da reformatio in pejus, não justifica, pois a
117
execução só poderá se iniciar com o trânsito em julgado para ambas as partes,
indiferente se ocorreu recurso apenas da defesa ou de ambos.
Analisando o dispositivo em questão à luz das teorias justificadoras também
não encontramos razão para referido marco. Todas as teorias partem do
pressuposto de que o Estado deixou transcorrer o tempo sem exercer o seu direito
de punir, gerando então o esquecimento do fato pela sociedade ou a emenda do
criminoso ou até mesmo a dispersão das provas. No caso em tela o Estado está
impedido de exercer o seu direito de punir, pois não pode executar a pena sem que
haja trânsito em julgado para ambas as partes, sob pena de violar o Princípio do
Estado de inocência..
O direito comparado nos mostra que o termo inicial da prescrição da pretensão
executória previsto no art. 112, inc. I, primeira parte do Código Penal, ao menos em
relação aos países analisados, é inovação brasileira, afinal determinam que o termo
inicial é o trânsito em julgado para ambas as partes, ou seja, com o nascimento do
título executório.
É sabido, que muitos dos recursos interpostos pelos réus, se não visam, ao
menos na prática alcançam a prescrição intercorrente ou quando não, permitem que
o recorrente se beneficie com considerável parcela de tempo de prescrição da
pretensão executória do Estado. Esta realidade gera um descontentamento enorme
na sociedade, aumentando a cada dia a sensação de impunidade, pois vislumbram
apenas que estão impedidos de agir, afinal o Estado tomou para si a poder de punir,
mas não consegue, em tempo hábil, exercer este direito. A sociedade não diferencia
entre a prescrição da pretensão punitiva e a prescrição da pretensão executória,
também não tem conhecimento de que o Estado só pode iniciar a execução da pena
com o trânsito em julgado da decisão condenatória, mas vislumbra que devido à
morosidade do processo, dada a vasta gama de recursos possíveis, o réu acaba
impune, pois foi beneficiado pelo instituto da prescrição.
O trânsito em julgado da acusação como marco inicial da prescrição da
pretensão executória, além de ferir o princípio constitucional da igualdade, aumenta
esta insatisfação social, pois o transcurso do tempo que vai deste marco até o
118
trânsito em julgado para o réu já é computado no prazo prescricional, sem que o
Estado possa executar a pena.
Os projetos de lei que foram analisados têm como justificativa diminuir a
impunidade, ou a sensação de impunidade, decorrente da prescrição. O projeto de
lei nº 1383/03 objetiva extinguir a prescrição retroativa, e a Comissão de
Constituição de Justiça e de Cidadania apresentou projeto substitutivo que altera o
inc. I do art. 112 do CP, retirando do mesmo as palavras “para a acusação”. Assim o
texto voltaria a ter a redação dada pelo Decreto – Lei 2848/40, em que o início do
prazo prescricional da prescrição da pretensão executória se dá no dia em que
transita em julgado a sentença condenatória, ou seja, com o trânsito em julgado para
ambas as partes.
Uma vez aprovado este projeto toda problemática estaria solucionada, pois a
igualdade entre as partes estaria restabelecida. Ocorre que, mais uma vez, a
dimensão do problema gerado por este termo inicial (transito em julgado para
acusação) não foi percebida. Em plenário o deputado Guilherme Campos
apresentou emenda ao projeto substitutivo, visando justamente à supressão da
alteração feita no art.112, inc.I, sob a alegação de que o mesmo está gerando
conflito de interpretação entre o que dispõe o parágrafo único proposto para o
art.110 do Código Penal no projeto substitutivo. Esta emenda foi aprovada e o
projeto foi encaminhado para o Senado Federal sem a alteração do art. 112, inc. I.
De fato não há conflito entre o que dispõe o projeto substitutivo apresentado
pela Comissão de Constituição, de Justiça e de Cidadania, pois o parágrafo único do
art. 110, versa sobre a prescrição da pretensão punitiva intercorrente e o art. 112,
inc. I, trata do termo inicial da prescrição da pretensão executória.
O Projeto de Lei 5973/05, não soluciona a problemática decorrente do marco
inicial proposto pelo art. 112, inc. I, 1ª parte do CP, mas ameniza os seus efeitos,
pois propõe a alteração do inc. IV do art. 117, incluindo como causa interruptiva da
prescrição o acórdão condenatório recorrível.
119
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