em sua volta à espanha, depois de uma ausência de 27 anos ... · vinho. escuro, tem nuances...

6
26 Havia no ar um misto de curiosidade, ex- citação e até um pouco de suspense. Afinal, em alguns minutos, iria começar a mais es- perada atração do Winefuture . Rioja09, evento que reuniu, nos dias 12 e 13 de no- vembro, em Logroño, capital da Rioja, es- pecialistas de todo o mundo, para debater o futuro da indústria do vinho (ver texto sobre o evento). À espera dos privilegiados participantes, 536 lugares cuidadosamente arrumados, com 20 taças vazias à frente de cada um. Poucos, dos 180 jornalistas cre- denciados, tiveram acesso à degustação, no Rioja Forum, e os ingressos para participar da mesma estavam esgotados desde agosto. Wine Style, que apoiou o Wine Futu- re, no Brasil, desde o primeiro momento, esteve presente, com exclusividade, com dois de seus editores, o autor desse artigo e Mario Telles Jr. Tivemos o privilégio de entrar na sala momentos antes do início da degustação e, para nossa surpresa, encon- tramos um solitário Parker, sentado à mesa principal, aguardando a entrada dos con- vidados, numa postura que desmente sua fama de super-estrela do mundo do vinho. Tranquilo e acessível, Parker conversou alguns minutos conosco e surpreendeu-se ao receber o exemplar da Wine Style com sua entrevista (WS nº 25). Parker comen- tou que nunca havia degustado um vinho brasileiro e que esperava um dia visitar o por ARTHuR Azevedo colaboração MARio TeLLeS JR. fotos Wine STyLe/divuLgAção EVENTO 27 EM SUA VOLTA à ESPANHA, DEPOIS DE UMA AUSêNCIA DE 27 ANOS, ROBERT PARKER CONDUZIU HISTóRICA DEGUSTAçãO DE 20 VINHOS, QUASE TODOS à BASE DE GARNACHA (GRENACHE PARA OS FRANCESES), PARA MOSTRAR A VERDADEIRA EXPRESSãO DESSA SUBESTIMADA UVA ESPANHOLA

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26

Havianoarummistodecuriosidade,ex-

citaçãoeatéumpoucodesuspense.Afinal,

emalgunsminutos,iriacomeçaramaises-

perada atração doWinefuture.Rioja09,

eventoquereuniu,nosdias12e13deno-

vembro,emLogroño,capitaldaRioja,es-

pecialistasde todoomundo,paradebater

o futuro da indústria do vinho (ver texto

sobreoevento).Àesperadosprivilegiados

participantes,536lugarescuidadosamente

arrumados,com20taçasvaziasàfrentede

cada um. Poucos, dos 180 jornalistas cre-

denciados,tiveramacessoàdegustação,no

RiojaForum,eosingressosparaparticipar

damesmaestavamesgotadosdesdeagosto.

Wine Style, que apoiou o Wine Futu-

re, no Brasil, desde o primeiro momento,

esteve presente, com exclusividade, com

dois de seus editores, o autor desse artigo

eMario Telles Jr. Tivemos o privilégio de

entrarnasalamomentosantesdoinícioda

degustação e, para nossa surpresa, encon-

tramosumsolitárioParker,sentadoàmesa

principal, aguardando a entrada dos con-

vidados, numa postura que desmente sua

famade super-estrela domundodo vinho.

Tranquilo e acessível, Parker conversou

alguns minutos conosco e surpreendeu-se

ao receber o exemplar daWine Style com

sua entrevista (WS nº 25). Parker comen-

tou que nunca havia degustado um vinho

brasileiro e que esperava um dia visitar o

por ARTHuRAzevedo co laboração MARioTeLLeSJR.

fo t o s WineSTyLe/divuLgAção

evento

27

E m s u a v o lta à E s pa n h a , d E p o i s d E u m a a u s ê n c i ad E 2 7 a n o s , R o b E R t pa R k E R c o n d u z i u h i s t ó R i c a d E g u s ta ç ã o

d E 2 0 v i n h o s , q u a s E t o d o s à b a s E d E g a R n a c h a( g R E n a c h E pa R a o s f R a n c E s E s ) , pa R a m o s t R a R a v E R d a d E i R a

E x p R E s s ã o d E s s a s u b E s t i m a d a u va E s pa n h o l a

28

Brasil. Político?Pode ser,mas sentimos sinceridade

emsuaafirmação.Poucodepois,ele receberiadadi-

retorado ibravin (institutoBrasileirodovinho),An-

dreaMillan,umagarrafadeSalton Talento 2005,e

comentou que o degustaria com grande curiosidade.

Pelomenosalacunafoisanadaeocríticoteráachan-

ce de conhecer um dos melhores vinhos brasileiros.

Escolha da gaRnacha lEvou Em conta sua difusão gEogRáfica A degustação conduzida por Parker foi coorde-

nada por PanchoCampo, únicoMaster of Wine da

espanha,idealizadordoWineFuture2009.econtou

com a colaboração do norte-americanoKevinzraly.

especialistaemeducaçãoemvinhoefundadordafa-

mosa escola que funcionou, durantemuitos anos, no

restauranteWindows on the World,numadastorresgê-

meas doWorld Trade Center, emnova york, zraly

é autor de umdos livros de vinhomais vendidos do

mundo, o Windows on the World Complete Wine Cour-

se. e foi acompanhada por uma plateia que incluía

personalidades como José Peñin, autor do mais re-

putado guia de vinhos espanhóis, e JancisRobinson.

Logo ao início, para mostrar a mudança de

percepção dos americanos em relação ao vinho

espanhol, Parker lembrou que, em 1978, quando

realmente começou a se interessar por vinhos, o

Vega-Sicilia não era importado para os estados

unidos.Ressaltouqueaespanhapassouporuma

incrível revolução na qualidade dos vinhos e que,

ao seolharparaopassado,pode-se teruma ideia

dasmudançasocorridasnosúltimos30anos.

em seguida, Parker explicou as razões de ter es-

colhidovinhosproduzidoscomauvaGarnacha enão

osdeTempranillo–consideradaauvaemblemáticada

espanha–,fatoquecausouestranhezaequefoialvo

decríticasdosativistasanti-Parkerdeplantão.Muito

tranquilo, disse que a escolha se deveu ao fato de a

Garnacha ser uma uva plantada em diversos países; e

que um de seus objetivos seriamostrar suas diferen-

tesexpressõespelomundo.Comentouque,geralmen-

te, aGarnacha é usada como coadjuvante, em cortes

com outras variedades, mas que, em situações bem

definidas,podeserumagrandesolista.omesmonão

poderia ser feito com a Tempranillo, uva muito mais

restritaemtermosdedifusãogeográfica.Politicamen-

te – e para que a chiadeira não fosse total – Parker

deixouparaofinaldoisvinhosdaRioja:um,emes-

tilomais do que tradicional; o outro,moderníssimo.

a impoRtância do aRomaE do REtRo-olfato paRa paRkER Atendendoaosapelosdaplateia,emqueestavam

dezenas deMasters of Wine, e respondendo a uma

provocaçãodeKevin,Parkercontoucomoéseupro-

cesso de avaliação de vinhos.Começou dizendo que

não dámuita importância à cor dos vinhos que, se-

gundoele,nãoajudamuitoadiferenciá-los.Sópres-

ta umpouco de atenção a esse aspecto quando algo

estámuitoforadopadrão.Consideradoumdos“na-

rizes”maisfamososdomundo,Parkerapontouoaro-

macomofatorcríticodaavaliação,tentaçãoabsoluta

de umvinho, devendo ser puro e atraente.naparte

gustativa, revelou que dá especial valor à textura do

vinho–que,paraele,devesermaciaesemaspereza

alguma–aoequilíbrioeàprofundidade.Parasurpre-

sa geral disse não gostar de vinhos “pesados” e sem

vida, o que contraria a percepção que amaioria de

seuscríticostemdesuasavaliações.Porfim,disseva-

lorizarmuitooretro-olfato,queésempreumgrande

diferencialentreosvinhos.“grandesvinhostemfinal

focadoepuro,comgrandepersistência”.efinalizou,

arrancandorisosdaplateia,comamaisqueóbviaob-

servaçãoque“seumvinhotembomsabor,ébom...”

Parker observou ainda que, em 1978, quando co-

meçou a se interessar por vinhos, lhe ensinaram que

osvinhosdevemserdesagradáveisquandojovenspara

serembonsquandoenvelhecerem.eafirmoudiscordar

categoricamente dessa afirmação, pois “os vinhos de-

vemserdeliciososdesdejovens”,acrescentando:“vinhos

quesãodesagradáveisjovens,continuamdesagradáveis

portodasuavida”.Perguntadosobrequaisseriamsuas

previsõesparao futuro,dizqueapostaemuvascomo

Garnacha,Tempranillo, Pinot Noir,Malbec eMerlot. e re-

clamoudofatodeseracusadodefazerovinhocustar

maiscaro,oqueconsiderainjusto,pornãotercontrole

dousoqueimportadoreselojistasdetodoomundofa-

zem,principalmente,dasnotasqueatribuiaosvinhos.

REpREsEntação fRancEsa foi 100% châtEaunEuf-du-papE Foram vinte vinhos espetaculares, cada um com

suas peculiaridades, mas tendo como denominador

comumaaltaqualidadeeamãodeseucriador.Qua-

se todos amais legítima expressão daGarnacha que,

emdezoitodeles,eraauvadominanteouexclusiva.

Somente os dois últimos fugiram à proposta inicial.

Parkerdividiuosvinhosporpaíses,começandocoma

França,emparticularChâteauneuf-du-Pape,umapai-

xãoassumida,continuandocomCalifórnia,Austrália,

espanha,parafecharcomosvinhosdaanfitriãRioja.

na ala francesa, todos os vinhos eram da deno-

minação de origem Châteauneuf-du-Pape, de pro-

dutores com diferentes propostas. inicialmente, foi

mostrado o Domaine Charvin 2007, proveniente

de casa fundada em 1851 e atualmente gerida pela

sextageraçãodasfamíliasChavineLaurent.Aárea

deplantiododomaineédeapenas8hectareseovi-

nhoéumamescladeGrenache(85%),completadacom

partes iguais deMourvèdre,Vaccarèse e Syrah. Aromas

deliciosos de frutas escurasmaduras, comnotas flo-

rais (lavanda) e alcaçuz, definemumperfil aromáti-

co intenso e elegante.naboca, émacio, delicado e

equilibrado,combomcorpoelongapersistência.um

“clássico”,segundoParker.

oDomaine Pierre Usseglio Mon Aïeul 2007,

degustadoaseguir,vemdeumacasafundadaem1948

peloitalianoFrancisusseglio,queopassouparaseu

filhoPierre.Hoje,avinícola temosfilhosdePierre,

JeanPierreeThierry,nadireção.São22hectares,di-

vididosem15parcelasdiferentesdevideirasbastante

antigas,metadedelas com60anoseo restantebei-

randoos30anos.ovinhoapresentadoéumaCuvée

especial,produzidasomentecomGrenache,detrêsdi-

ferentesterroirs,comsolosdeareia,argilaecalcário.

SegundoParker,éumdeseusvinhosfavoritos,mui-

topróximodaperfeição.nadegustação,mostrou-se

com excelente concentração de aromas e sabores,

que lembramlavanda, frutasescurasealcaçuz.não

éumvinhosuperconcentradonemalcoólicoebrilhou

pelalongapersistênciaepelapurezadoretro-olfato.

29

outraboasurpresafoioDomaine de la Vieil-

le Julienne 2007, propriedade que está nas mãos

da famíliadaumen desde 1905 e que, desde então,

vempassandodepaiparafilho.em1990,JeanPaul

daumendecidiumudarparaocultivobiodinâmicoe

apartirdaíasuvas,dasvarietaisGrenache,Mourvèdre,

Syrah,CournoiseeCinsault,alémdasrarasMuscardine

Vaccarése, provenientes dos 30 hectares de vinhedos,

passaramaser tratadassegundoessafilosofia.Aco-

lheitadasuvasémanualecomduplaseleçãodeca-

chos,nosvinhedosenavinícola.Avinificaçãosedá

com leveduras naturais e controle de temperatura e

ovinhoresultantepermaneceemtonéisdecarvalho

por1ano.oresultadoéumvinhodecorviolácea,

comaromasmuitoagradáveisdefrutasescuras,mes-

cladasaespeciarias,alcaçuze levetostado.naboca

éricoemsabores,comataquemacio,bomequilíbrio,

taninos finos e longapersistência. Paranosso editor

MarioTellesJr.foiomaisfrescoeelegantedetodos

osCh-du-Papeapresentados.

umvinhocurioso,eagraciadocomaltapontua-

çãoporParker, é oChapoutier Barbe Rac 2007,

100%Grenache, proveniente de uvas plantadas num

terraçoquaternário,depedrasroladas,quevieramdo

antigo leitodoRhône.Avinificação sedeuemtan-

quesdeconcretorevestidosdeepóxi,easuvasforam

completamente desengaçadas.o vinhopermaneceu

por 12meses em tanques de aço inoxidável e igual

tempo emgarrafa, portanto, semnunca ter contato

commadeira.Mostrou-sedecorrubi/púrpura,escu-

roecomaromasdefrutasescuras,comnotasdeervas

frescas e secas, e toquesflorais.Muscular epotente,

exibemuita fruta, taninosaindamuitopresentes,de

boaqualidade,eboapersistência.Precisadetempo...

Agrandeestreladasériefrancesafoioextraordinário

Domaine de Barroche Pure 2007,produzidoem

12,5 hectares de vinhas, também divididos em par-

celas.Grenache empureza, éumvinhohedonístico e

sedutor,comaromasintensosdefrutasescurasperfei-

tamentemaduras,mescladasachocolateelicordeca-

cau,comnotasdetostadoealcaçuz.Compassagem

de 15 meses em carvalho francês, tem a madeira

perfeitamenteintegrada,taninosmuitofinos,excelen-

teconcentraçãoelongapersistência.umfenômeno!!!

osoutrosfrancesesdegustados,tambémdeboaex-

pressãoforam:Domaine de Marcoux Vielles Vig-

nes 2007eMont Olivet La Cuvée du Papet 2007.

Eua bRilhaRam com dois vinhosdE altíssimo nívEl Como bom norte-americano, Parker mostrou

dois finíssimosvinhoscalifornianos,evidentemente

escolhidosadedoecomamissãodebemrepresen-

tar seu país de origem. o primeiro deles, o Sine

Qua Non Atlantis Granache 2005,foiproduzido

porManfredKrankl,usandouvascolhidasemWest

venturaCounty.excêntrico,Manfredproduzvinhos

diferentesemcadasafra,poisdiz“nãogostardefa-

zeramesmacoisaduasvezes”.ovinhodegustado,

dasafra2005,éumblenddeGrenache(93%)eSyrah

(7%).Cercade50%dovinhofoiproduzidoapar-

tirdecachos inteiros epraticamente todasasuvas

vieramdeumúnicovinhedo,chamadoelevenCon-

fessionsvineyard.Amaturaçãosedeuembarricas

novasdecarvalho(nãoespecificado),por24meses.

“extraordinário”éapalavraquemelhordefineesse

vinho.escuro,temnuancesrubi/púrpuraeumper-

filaromáticodetirarofôlego,comfrutaescuraem

profusão(ameixa,cassis),toquesbalsâmicosenotas

florais,mescladasachocolateetostado.Sedutorao

extremo.Macionaboca,temacidezeálcoolequi-

librados, muita concentração, sabores deliciosos,

corpoplenoemuitolongapersistência.Arrasador...

o segundo vinho norte-americano veio de um

produtorquesededicaexclusivamenteàprodução

devinhoscomvarietaisdoRhône,sendooprimeiro

a fazer isso no país.Trata-se doAlbanvineyards,

localizadonoednavalley,pertodeArroyogrande,

naporçãosuldocondadodeSanLuisobispo.Seu

proprietário, John Alban, começou a produzir vi-

nhosem1985eéconsideradoumdospioneirosdo

movimentoRhoneRangers, que reúne produtores

dedicados ao plantio de varietais do Rhône como

Syrah,Viognier,RoussaneeGrenache.ovinhoapresen-

tadofoioAlban Vineyards Pandora 2006,tam-

bémumamescladeGrenache(92%)eSyrah(8%).ou-

trabombadefrutas,queremeteafrutasescurasma-

duras (cerejaseamoras)mescladasanotas lácteas,

toquesflorais(lavanda),chocolateecocoqueimado.

Hedonístico, émuitomacioe comsaboresabsolu-

tamente deliciosos e irresistíveis. impressionante...

austRalianos suRpREEndERampEla finEza E ElEgância naaladoscangurus(ou“aussies”,comoosame-

ricanossereferemaosaustralianos),quatroexcelen-

tesvinhossurpreenderampelafinezaeelegância,em

detrimentodasuperextração,comomuitosimagina-

vam. Abrindo a

sessão, o ótimo

Greenock Cre-

ek Cornestone

2006, fruto de

uma minúscu-

la vinícola do

Barossa valley.

Com produção

de apenas 2.500

caixasporano,é

propriedade do

casal Michael e

Annabel Wau-

gh.Asuvasprovêmdeumvinhedode63anoseo

vinho,puroGrenache,mostrou-seumgigantegentil,

queescondeuseusinacreditáveis18,5%deálcoolna

intensaconcentraçãodefrutas,naótimaacidezena

massadetaninosfinosemaduros.odeliciosoretro-

olfatorepercutiuosaromasdiretos,defrutasescuras

maduras,comtoquesmineraisedechocolate,além

denotasfloraisebalsâmicas.

nasequência,outrapreciosidade:oClaredon

Hills Old Vines Romas 2006, um dos seis vi-

nhosdepuraGrenacheproduzidosporessaconcei-

tuadavinícolaaustraliana.ofatocuriosoéqueas

vinhas,de1925, sãoplantadas semenxertia, “em

vaso”(semcondução),emencostascominclinação

orientadaalesteeemsolosricosemóxidodefer-

ro,pedrasequartzo.Amaturaçãosedeuemcar-

valho francês, de segundo e terceiro usos, por 18

meses.Rubi,deboaintensidade,ovinhomostrou

aromas complexos e elegantes, de frutas escuras

em geleia, comnotas florais e toques defumados.

Concentrado, encorpado, equilibrado e acima de

tudo, delicioso, é um vinho que junta potência e

elegância.imperdível!

Torbreck,produtorbemconhecidodosbrasilei-

ros, marcou presença com um vinho de produção

limitadíssima, oTorbreck Les Amis 2005.É um

puroGrenachecriadopeloenólogoeproprietárioda

vinícola,davePowell,apartirdeuvasdeumami-

núscula parcela

do vinhedo Se-

ppeltsield, plan-

tada em 1901.

A maturação

do vinho se deu

em barricas no-

vas de carvalho

francês, por 18

meses.umvinho

para se guardar

na memória, o

Les Amis exibe

invejável paleta

dearomas instigantes,comfrutas (amoras, frambo-

esas e cerejas) mescladas a especiarias, chocolate,

notasfloraisefinotostado.expansivo,equilibrado,

deliciosoemuito longo,éumvinhoquedá(muito)

prazer hoje e certamente ficará aindamelhor com

maisalgunsanosdeguarda.

Fechando o time, veio o (comparativamen-

te) sutil e delicado Kilikanoon Duke 2006, do

Clare valley, assinado pelo enólogo e proprietá-

rio dessa vinícola-butique, Kevin Mitchell. Típi-

co, exibe aromas frutados (cerejas e morangos),

mesclados a especiarias, toques florais e notasmi-

nerais e de chocolate. equilibrado e com refres-

cante acidez, tem boa fruta e longa persistência.

30 31

Robert Parker e Kevin Zraly

da Espanha, pEsos-pEsadosdE difEREntEs REgiõEs osespanhóis,donosdacasa,vieramcomumtime

deestrelasdeprimeiragrandeza,divididosemduas

vertentes.CincobelíssimosexemplaresdeGarnachae

duasversõesdeRioja,tradicionalemoderna,numa

singelahomenagemaosanfitriões.

Parkerescolheuvinhosdenovasregiõesdaespa-

nha,paramostraradiversidadeeariquezadopaís.o

primeiroespanholveiodeMontsant,umadenomina-

ção de origem

da Tarragona,

na Catalunha.

oEspectacle

2006 é fruto

de um novo

projeto, que

tem entre seus

sócios o reno-

mado Rene

Barbier.Apro-

dução,deape-

nas 400 caixas

por ano, é li-

mi tad í s s ima ,

e a vinificação é realizada num barril especial de

4.000 litros. delicioso e acessível, o vinho mostra

aromas de frutas escuras maduras (cerejas e amo-

ras), emolduradas por coco, baunilha e chocolate,

comfinotostadodefundo.Macio,equilibrado,com

boa frutae longapersistência, estáprontoparabe-

ber, mas pode ser guardado por mais alguns anos.

A seguir,Parkermostrouumvinhomuito interes-

sante, oBodegas Mancuso 2005, um“vinodeLa

Tierradevaldejalón”,provenientedeAragon,numa

área pertencente à região autônoma de zaragoza.

É um projeto bastante recente, assinado por Carlos

San Pedro e Jorge navascues, que adquiriram cinco

vinhedos (8hectares),numaaltitudeentre760e900

metros,ondeestavamplantadasvelhas cepasdeGar-

nacha, com idade estimada entre80 e100anos.Pro-

duzido com técnicasmodernas, o vinho fezmacera-

çãopréepós-fermentativa,fermentaçãomaloláctica

eestagiouembarricasnovasdecarvalho francêsde

Allier por 14 meses. intenso e potente, oMancuso

mostra aromas de frutas escuras, com toques bal-

sâmicos e de caixa de charuto, e notas de café tor-

rado. intenso, tem tudo acima: acidez, álcool, ex-

trato e taninos, sinalizando para um vinho de lon-

ga guarda. Parker estima que só esteja pronto para

beber em2016.os pacientes serão recompensados.

duas outras regiões de Aragon estiveram repre-

sentadas na

d e g u s t a ç ã o ,

demonstrando

o apreço que

Parker tem

poressasnovas

áreas de cul-

tivo da espa-

nha. Primeiro,

a subestimada

e pouco co-

nhecida “do

Campo de

Borja” mos-

trou sua força,

pormeiodovinhoAlto Moncayo Aquilon 2006,um

novíssimoprojeto,de2002,quetementreseussócioso

mega-importadorJorgeordoñezeinvestidoresaustra-

lianos.osvinhedos,exclusivamentedeGarnacha, têm

entre 30 e 92 anos.Quase doce na boca, esse vinho

sedutortemaromasdeliciososdefrutasescurasenvol-

vidas emfino carvalho tostado, com toques balsâmi-

cosedechocolate.Concentradoemuitoequilibrado,

apresentataninosfiníssimosemuitolongapersistência.

um vinhomoderno, que confirma o potencial dessa

donoquesitoGarnacha.

da vizinha, e, também, pouco conhecida Cala-

tayud, veiooAtteca Armas 2007, outroprojetode

Jorgeordoñez,denovocomaajudadosaustralianos–

nocaso,umaaustraliana,aenólogaSarahMorris.os

vinhedosdeGarnacha,antigoseplantadosaquase1.000

metrosdealtitude,temumrendimentoincrivelmente

baixo,de7hectolitrosporhectare.nadegustação

oAttecabrilhouintensamente,mostrando-semuito

sofisticadoe elegante, comnarizde frutasescuras,

comfortetoquemineral,ebemmarcadopelocarva-

lhotostado.Saboroso,exibemédiaacidez,boacon-

centração,corpoplenoelongapersistência.umpou-

comaisdeadega(Parkerestimaseumelhormomento

deconsumopara2017)certamentelhefarábem.

antEs dos Rioja, um “pRioRato”paRa EntRaR no cuRRículo Antes dosRioja veio talvez o grande vinho da

noite, por acaso um velho conhecido dos brasilei-

ros,oClos Erasmus 2007.umPrioratodeelite,

propriedade de daphne glorian, uma suíça nas-

cida em Paris e esposa de eric Salomon, um dos

principaisimportadoresnorte-americanos.Sempre

envolvidaemassuntosdovinhonoseuA,daphne

semudouparaoPrioratoparaproduzirvinhosde-

poisdeumaconversacomdoispioneirosdaregião,

Alvaro Palacios e Rene Barbier. Logo de início,

comprou um vinhedo, Las escalas, que rebatizou

deCloserasmus.depoisdecompletaremodelação

das vinhas, com novas videiras plantadas ao lado

das antigas, deGarnacha, nasceu, em 1990, o pri-

meiro Clos Erasmus. A produção é minúscula:

apenas140caixasporano.naverdade,ovinhoé

umcortemajoritáriodeGarnacha,completadopor

Cabernet Sauvignon e Syrah (estas com 12 a 15 anos

de idade), com rendimentos entre 18 a 20 hecto-

litros por hectare. A área plantada é de apenas 3

hectares. oClos Erasmus 2007 é um vinho de

rara elegância e sofisticação, exibindo delicados

aromas de frutas escuras perfeitamente maduras,

mescladosanotasflorais(violeta),ervasprovençais

echocolate,comfinostoquesdecarvalhotostado.

delicado e aomesmo tempopotente, impressiona

pelaqualidadeda fruta epelo equilíbrionaboca,

mostrando-seexpansivoecominterminávelpersis-

tência.umvinhoparasecolocarnocurrículo...

Finalizandoaverdadeiramaratonadedegusta-

ção, os dois Riojas foram certamente penalizados

pelosextraordináriosvinhosqueosprecederam.e,

paradoxalmente,por razõesdiametralmenteopos-

tas. o sexagenárioMarquês de Riscal 1945, de

início, mostrou-se até bastante interessante, com

aromasdelicadosdefrutasmaduras,baunilha,bala

de cevada, toques animais (couro) e de mel, que,

infelizmente, desapareceram rapidamente com o

passar do tempo, numa reaçãomais que esperada.

na boca demonstrou sentir a passagem do tempo,

mostrando-se praticamente sem fruta e sem ânimo

para prosseguir sua jornada. Certamente já viveu

momentosmelhores,masvaleupelacoragemdese

exibirapósamontanhadefrutasqueoprecedeu.

ovinhoquefechouaprova,oContador 2007,

assinado porBenjamimRomeo, antigo enólogo da

Artadi, éa facemaismodernadaRioja,umquase

puroTempranillo(94%),procedentedeantigosvinhe-

dos situados perto de San vicente, com idade va-

riandoentre45e100anos.Éelaboradocomasuvas

procedentes das parreiras mais velhas e de menor

rendimento, de 11 parcelas diferentes. verdadeiro

blockbuster, é um vinho monolítico, concentrado,

encorpado,intensoemuitopotente–umaverdadei-

rabombadefrutas,comtudoacimaemaisumpou-

co:taninos,acidez,álcooleextrato.Aindafechadoe

reticente,vaiprecisardemuitosanosdeadegaeserá

muito interessante acompanhar sua evolução. em

conversacomWineStyle,quandoestevenoBrasil,

RomeodisseseresseoverdadeirovinhodeRioja.A

afirmaçãodespertacontrovérsiase,nessecaso,sóo

tempodiráquemestácomarazão.

Quemparticipoudessadegustaçãohistóricadela

não se esquecerá. Foram quase três horas de puro

prazeredescobertas,sobabatutadeumdosmaisin-

fluentescríticosdevinhodomundo,quedemonstrou

grandeconhecimentoepaixãopelosvinhos,transmi-

tindo imagemmuito diferente daquela que seus de-

tratores tentam lhe impingir.os leitores podem ter

certezaquefoiumprivilégioestarpresente...

32 33

a r t h u r @ w i n e s t y l e . c o m . b r

m a r i o @ w i n e s t y l e . c o m . b r

o impacto da crise financeiramundial noBrasil

foimuitomenordoquenas economiasmaisdesen-

volvidas.eissovaletantoparaaindústriaautomobi-

lística comoparao setor vitivinícola.Mesmoassim,

muitasdasideiasdiscutidasnoWinefuture.Rioja09

merecemreflexãoporpartedetodososenvolvidosno

negóciodovinhonoBrasil:deprodutores/importa-

doresadonosderestaurantes.organizadapelaThe

WineAcademyof Spain,comapoiodeinúmerasen-

tidadeseempresas(noBrasil,oeventoteveapoioda

WineStyle),aconferênciatevelugaremLogroño,ca-

pitaldaRioja,nosdias12e13denovembropassado.

edelaparticiparamgrandesnomesdomundodovi-

nho.entreeles,alémdeRobertParker,ainglesaJancis

Robinson,otambémjornalistaRobertJoseph,autor

deinúmeroslivrossobrevinhos,MiguelTorres,presi-

dentedasBodegasTorres,XavierPagés,diretor-geral

dogrupoCodorníuemaisduasdezenasdeespecialis-

tasemdiferentesáreas,dosquatrocantosdomundo,

inclusivedepaísescomoChinaeRússia.Paralelamen-

teàconferência,vinícolaserepresentaçõesdepaíses

produtoresmostraramseusprodutosaoscercade800

congressistasnomodernoRiojaForum.Cumpredes-

tacaraparticipaçãobrasileira,comestandestantodo

ibravincomodavinícolaSalton,ambosbastantepro-

curadospelosvisitantes,oquecomprovaqueeventos

comoessesãoimportantesferramentasparatornaro

vinhobrasileirocadavezmaisconhecidonomundo.

Já na primeira sessão do evento david Cunnin-

gham, da poderosa Constellation Brands, dona do

maior portfólio de vinícolas do mundo, lembrou a

necessidadede “entender as necessidades do consu-

midor para desenvolver a estratégia pós-recessão”.

e apoiou a afirmação com o exemplo da própria

o vinho e a crise

DeBAte

por guiLHeRMeveLLoSofo t o s WineSTyLe/divuLgAção

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c o m o a u m E n ta R o c o n s u m o d E v i n h o n u m m u n d o p ó s - R E c E s s ã o ?E s s E f o i o t E m a c E n t R a l d o W i n e f u t u r e.r i o j a 0 9 , c o n f E R ê n c i a

o R g a n i z a d a p E l a t h E W i n e a c a d e m y o f S pa i n , q u E R E u n i uE m l o g R o ñ o , c a p i ta l d a R i o j a , E s p E c i a l i s ta s d E t o d o o m u n d o

E d E t o d o s o s s E g m E n t o s R E p R E s E n tat i v o s d o n E g ó c i o d o v i n h o

Constellationque identificounoveoportunidadesde

aumentar o consumo de vinhos num valor que, se-

gundo estimativas da empresa, poderá representar

1 bilhão de dólares amais em vendas ao longo dos

próximosanos.Comoexemplo,elecitou“festivaisde

música”, que atraem o público jovem, e onde, pelo

menos noBrasil, cerveja e refrigerantes estãomuito

maispresentesdoqueo vinho.Cunninghamenfati-

zou também a necessidade de construirmarcas que

tenham “ligações emocionais” com o consumidor.

dE olho na chamada “gERaçãodo milênio” ACodorníu certamente é uma dessasmarcas. e

Pagésfezquestãodelembrarqueemseus450anosde

vida,aempresa,controladaporsuafamíliahávárias

gerações já enfrentou crisesmuitomais sérias como

as duas guerras mundiais e a própria guerra civil

espanhola. Pagés observou que emmercados emer-

gentescomoChinaeÍndiaoconsumodevinhoestá

crescendomaisqueodecerveja,equesómetadeda

chamada“geraçãodomilênio” (osnascidos apartir

de1990)jáatingiuaidadelegaldeconsumirbebidas

alcoólicas.econcluiudizendoque,paraele,ovinho

é“cool”,oquepodetornar-seumatrativoparaessa

novageraçãodepotenciaisconsumidores.

opapeldosrestaurantesparaoaumentodoconsu-

modevinhosfoiressaltadoporRichardHalstead,da

empresaWineintelligence,quetrabalhacommarke-

tingepesquisademercado.Halsteaddefendeuuma

oferta“maisamplaemaiscriativa”devinhosemtaça

eatémesmodoquechamoude“vinhosdeluxo”,mais

caros e exclusivos, desde que não sejam vendidos a

preços“loucos”.edeucomoexemploumnovorestau-

Da esquerda para a direita: Jancis Robinson; Gary Vaynerchuck (centro) com Andrea Millan, do Ibravin e Lucindo Copat, Daniel Saltone Wagner Ribeiro, da Salton; Miguel Torres. Abaixo: os principais palestrantes no final da última sessão do Winefuture.Rioja09

rantelondrinoqueestáusandocomsucessoessaestra-

tégiaparaatrairmaisclientes.“Éprecisoqueaoferta

devinhos (nosbareserestaurantes)atraiaeencante

osconsumidoresenãoesvazieseusbolsos”,afirmou,

numrecadoque,emboramotivadopelarealidadeeu-

ropeia,caicomoumaluvaemrelaçãoaoqueacon-

tece na grandemaioria dos restaurantes brasileiros.

umdossegmentosmaisinteressantes–equemais

polêmicas despertou no evento – foi o dedicado às

mudançasqueoadventodainternetvemprovocando

narelaçãoentreoconsumidoreovinho.Ryanopaz,

criador do site catavino.com, que promove vinhos es-

panhóiseportugueses,lembrouqueantigamente,no

casodovinho,erapreciso“entender,primeiro,para

beberdepois”.equeainternetinverteuessaequação,

tornando-seolugar“ondeseconversasobrevinho”.

o irrequietonorte-americanogaryvaynerchuk (ele

nasceunaBielo-Rússia,masseuspaisemigrarampara

osestadosunidosquandotinhatrêsanos),numadas

intervenções mais estimulantes do seminário, acres-

centouque, em termosdevinho, a internet só exis-

te há cerca de 15 anos; e que, portanto, ninguém

“controlaoacessosobreoqueoconsumidorouve”.

vaynerchukéquaseumacelebridadenosestados

unidoscomseuwebsiteeseuprograma(online,écla-

ro)Wine Library TV,pelomodototalmenteiconoclasta

decomentarvinhos.Respondendoàpreocupaçãode-

monstradaporJoséPeñin,editordomaisimportante

guiadevinhosespanhóis(oguiaPeñin),como“eno-

marquismo”ecomapossibilidadedeque“osblogs

(devinhos)setransformememtalibãs”,vaynerchuck

observouqueasnovasplataformas (de internet) têm

custozeroequeainternetéuma“mídiaabertaato-

dos”,portanto“maisjustaqueaanterior”.Lembrou,

também,queainternetsimplesmentecontribuiupara

“nivelaroconhecimento”.Masfezquestãoderessal-

tar que o fundamento continua o mesmo: atender

bem o consumidor, “como nos velhos tempos”. em

defesadosargumentosdevaynerchuck,ainglesaJan-

cisRobinson, umadasmais respeitadas e influentes

personalidadesdomundodovinho,queparticipava

domesmodebate,reconheceuqueograndesucesso

deseuwebsite,inclusivedapartefechada(epaga),foi

uma surpresa para ela própria. e considerou como

positivoo “aumentodopoderdo consumidor”pro-

porcionadopelainternet.

paRkER E Robinson condEnaRam EspEculação com vinho Robinson foi uma das estrelas da última sessão

doencontro(desafioseoportunidadesparaaindús-

tria do vinho), que contou também com a partici-

pação de Parker.Mas houvemais concordância do

que discordância entre os dois mais famosos críti-

cos de vinho domundo. Perguntados sobre a ques-

tão do grau alcoólico dos vinhos, Parker respondeu

que é contra limitações estabelecidas pelo governo.

Segundo ele, “o vinho deve ser amelhor expressão

do terroir, do vinhedo e das uvas”; e que o produ-

tor sempre deve ter “liberdade para fazer omelhor

vinhopossível”.Semdiscordardaargumentaçãode

seu colega, Robinson acrescentou apenas ter “difi-

culdadeemgostardevinhosmuitoalcoólicos,talvez

porumaquestãofísica,porsermulher”.Masambos

se mostraram totalmente contrários à especulação

comopreçodosvinhos.depoisdeobservarquevi-

nho é para ser apreciado e consumido, Parker afir-

mou que, para ele, “especulação é um palavrão”.

e lamentou que suas notas fossem usadas “da pior

formapossível”,aindaquenãopudessefazernadaa

respeito. eRobinson classificou os fundos de inves-

timento em vinho como “patéticos e depressivos”.

Aofinal,aoresponderaumaperguntadaplateia

sobreoquepensariaseseufilho/aquisessetrabalhar

com vinho, Parker afirmou que o mais importante

é seguir suapaixãoeque, seesta forovinho,éum

mundomaravilhoso.earrancourisosdaplateia,ao

acrescentar que se a pessoa fosse obcecada por di-

nheirorecomendaria“tornar-seadvogado”,suapró-

priaprofissão,antesde tornar-seocríticodevinhos

maisinfluentedomundo.

A Calle del Laurel, uma das ruasmais antigas de Logroño (La Rioja, Es-panha), é muito famosa por ser o melhorlugar para se comer “tapas” na cida-de. Tapas são aquelas pequenas e de-liciosas porções servidas, no final datarde e início da noite, em incontáveisbares e restaurantes típicos por quasetoda a Espanha, como prelúdio do jantar. Típica ruaestreitadosantigosbairrosdascidadesespanholas,ondejánãopas-sam mais carros, a Calle del Laurel tempouco mais de 200 metros e, enfileirados,mais de 40 bares e restaurantes, todosoferecendo as tapas de sua especialida-de,acompanhadasdejerezoumanzanilla,vinho,tintooubranco,oucerveja. Essa via sacra de harmonização ao arlivreéumaoportunidadeúnicadeconhe-ceroshábitosdeconsumodopovoespa-nhol em seus reais pontos de venda, de-cifrando a maneira prazerosa de como osespanhóisdegustamseuesplêndidovinhoououtrasbebidas.OsbareserestaurantesdaCalledelLaureltêmocostumedeservirtanto dentro como fora de seus recintos,na própria rua, onde o espanhol se sentemaisàvontade.Éalique,apoiadoseman-tigasbarricasdevinho,elesdegustamas

especialidadesdecadacasa,comooses-petos de tortilha de batatas, de camarão,desardinhas,asdeliciosasbatatasbravasouoinigualáveljamonibéricoPataNegra,acompanhadosdesuabebidapredileta. Os espanhóis consomem, em média,percapita,38 litrosdevinhoaoano,nívelmuito superior aos 1,85 litros consumidospelos brasileiros. Claro que se deve levarem consideração a população espanhola,queéde46milhõesdehabitantes,contraosquase190milhõesdebrasileiros,oquefaz com que nosso país tenha um consu-mototalde351milhõesdelitros,contraos1,75 bilhões de litros/ano dos espanhóis.Pode parecer irrelevante, mas significaque o mercado de vinhos brasileiro já émaior do que o de países como África doSul, Suíça e Chile, e não está muito atrásdeCanadáeHolanda. SegundopesquisarecentedaWineIn-telligencedeLondres,em13dosprincipaismercados de vinho do mundo, a Françaapareceemprimeirolugarnalistadecon-sumidoresdevinho,com73,5%dosadultosfranceses descritos como consumidoresregulares de vinho. Um resultado até queprevisívelparaumpaísquesempresepo-sicionou no centro da cultura mundial do

vinho, quer como mercado produtor ouconsumidor.Surpreendentetalvezsejasa-ber que o país que ocupa a segunda posi-çãonessapesquisasejaaDinamarca,onde71,1%dosadultosbebemvinhopelomenosumavezpormês.Tambémcomumaltopor-centual de consumo de vinhos, aparecemdois outros países nórdicos (Suécia e No-ruega), à frente de Canadá, Reino Unido eatémesmodaEspanha. Notícias encorajadoras para uma in-dústria que, apesar das atuais dificul-dades decorrentes da crise financeirainternacional, vai firmando-se como umvastomercadoaindaemdesenvolvimento,a exemplo do que ocorre hoje no Brasil.Conhecer melhor hábitos de compra, ati-tudes e preferências, é fundamental paraconquistar novos consumidores, como sediscutiuemdiferentessessõesdoWinefu-ture.Rioja09.Ecomosepoderiaconstatar,semmuitoesforço,degustandotapasevi-nhosnaCalledelLaurel.

por TuLioRodRigueS

o outro lado do WinefutureO mOdernO e funciOnal riOja fórum fOi O palcO principal

dO Winefuture.rioja09, que discutiu O futurO da indústria dO vinhO.fOra dali, a algumas centenas de metrOs, a antiga Calle del laurel,

Oferecia, in lOcO e aO ar livre, sabOrOsas lições sObreO cOmpOrtamentO dO cOnsumidOr espanhOl

g u i l h e r m e @ w i n e s t y l e . c o m . b r

t u l i o r o d r i g u e s , e s p e c i a l i s ta

e m m a r k e t i n g d e c o n s u m o , é

s ó c i o e d i r e t o r d a w i n e s t y l e .

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