em rede - oficina

36
Em Rede MOEDAS SOCIAIS QUANDO O DINHEIRO SE TRANSFORMA NUM PROJETO DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA Rede de Autarquias Participativas | Nº 6 Abril de 2021

Upload: others

Post on 05-Oct-2021

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Em RedeMOEDAS SOCIAISQUANDO O DINHEIRO SE TRANSFORMANUM PROJETO DE PARTICIPAÇÃOCOMUNITÁRIA

Rede de Autarquias Participativas | Nº 6 Abril de 2021

FICHA TÉCNICA

TÍTULO

NÚMERO

DATA

EDIÇÃO

PRODUÇÃO

Boletim Em Rede

6

Abril de 2021

Rede de Autarquias Participativas

Oficina

OFICINA

Universidade do Algarve, Campus de Gambelas

8005-139 Faro, Portugal

[email protected]

www.portugalparticipa.ptwww.oficina.org.pt/rap.html

CONTACTOS

EDIÇÃO DE USO DIGITAL DISPONÍVEL EM

COLABORARAM

António Nabo, Jaume Catarineu, José M. Ruibérriz, Miguel Hirota, Nelson

Dias, Pascale Millecamps, Rogério Godinho e Susana Martín Belmonte

4 Mensagem da Presidência

CONTEÚDOS

5 Moedas sociais, uminstrumento departicipação económica

8 Moeda MOR

1 4 Moeda OSSETANA

2 2 Moeda REC

2 8 Moeda VILAWATT

Vivemos os tempos mais difíceis das nossas vidas!Ninguém, em momento algum, pensou que viveria estetempo, muito menos quem está no poder, quem tomadecisões, quem precisa intervir no presente sem deixar deolhar para o futuro.

A participação dos cidadãos, a construção duma políticapública mais transparente e mais centrada nos cidadãostem sido uma das opções políticas de muitos órgãosautárquicos, assentes neste vetor da participação comoelemento essencial na construção da democracia. Mascomo conjugar estes tempos de pandemia, de decisõesurgentes, de emergência social e de saúde com osprocessos de participação e envolvimento dos cidadãos?Como continuar a formar cidadãos críticos e participativos?Como adequar o tempo, esse bem tão difícil de gerir a doisprocessos tão opostos?

Quando os processos participativos estão devidamenteimplementados eles são facilitadores destes tempos deurgente tomada de decisão, há um assumir deresponsabilidades por parte de particulares e entidades, hácaminhos que se constroem com facilidade porque háhabituação na sua construção. Trata-se, por exemplo, daRede Social de Guimarães, uma estrutura muito sustentada,com processos de participação muito autonomizados e quenestes tempos de pandemia conseguiram agilizar apoios eprocedimentos de apoio às suas populações.Contrariamente, os processos participativos mais frágeis, ainiciar-se, podem correr sérios riscos de pararemcompletamente, podendo ser vistos como entraves noprocesso de tomada de decisão.

Resta-nos concluir que a participação, o envolvimento doscidadãos e das entidades deve continuar a ser um trabalhosustentado, de aperfeiçoamento contínuo, um trabalho queserá da maior importância em tempos mais tranquilos, masque se revertera numa ajuda imprescindível em tempos de“guerra”. E não esqueçamos que estes são tempos degrande aprendizagem, de oportunidades que não podemser desperdiçadas!

P A R T I C I P A Ç Ã O E M T E M P O SD E P A N D E M I A

Adelina Paula Pinto Vice-presidente da Câmara Municipal de Guimarães

4

As moedas sociais não são um fenómeno recente, emborase tenham intensificado com a crise económica provocadapela Covid-19. Algumas localidades, em diferentes países,optaram por criar o seu próprio dinheiro como forma deapoiar as famílias e o comércio local.

As moedas sociais, por vezes designadas de locais,comunitárias ou complementares, constituem-se como umrecurso que apenas tem valor dentro de uma determinadarede, município ou região.

A abordagem dominante é a que defende a criação destasmoedas enquanto instrumentos de promoção do consumode proximidade. Trata-se de dinheiro que circula no interiorde uma comunidade, entre vizinhos e empresas locais,fidelizando a riqueza a um território e favorecendo relaçõeseconómicas mais sustentáveis.

A sua finalidade diferencia-se das moedas tradicionais,entre outros aspetos, por visar a circulação e a troca, em vezda acumulação – tendência genética do capitalismo. Emalguns casos, essas são concebidas para desvalorizarquando ficam muito tempo na posse da mesma pessoa,evitando, assim, a sua paragem e a criação de desequilíbriosna distribuição e no acesso.

As moedas sociais ganharam um novo vigor e importânciano atual contexto de pandemia. Foi assim também duranteoutras crises internacionais, nacionais ou mesmo locais,levando as comunidades a auto-organizarem-se paraenfrentar a escassez de recursos e as dificuldades de acessoa bens e serviços essenciais.

Moedas sociais, uminstrumento departicipação económica

5

Em muitos locais, a pandemia da Covid-19 uniuconsumidores e autoridades locais em prol da subsistênciadas pequenas empresas, entre lojas e restaurantes, quetiveram de fechar ou restringir o seu funcionamento, emconsequência das medidas de contenção do vírus.

Em Portugal, muitas autarquias lançaram iniciativas parapromover a economia local, criando plataformas deconsumo, distribuindo vales e vouchers, lançandodescontos e gerando sorteios de prémios para seremutilizados nos estabelecimentos aderentes. Muitas destasiniciativas, não designadas como moedas locais, poderiamser enquadradas neste conceito.

Na vizinha Espanha, a crise económica resultante dapandemia deu um impulso significativo à disseminação dediferentes formas de dinheiro local. Segundo as estimativas,existem atualmente cerca de 100 iniciativas do género emfuncionamento. Entre essas, consta a Irati, uma moedacriada pela Comunidade de Resíduos Sólidos Urbanos deIrati, em Navarra, uma zona rural de apenas 5.500habitantes. Essa foi concebida para incentivar a reciclagemdos resíduos, principalmente de matéria orgânica e deplásticos não embalados. O seu respaldo é assegurado emEuros, de modo que um Irati é equivalente a um Euro e vice-versa.

A iniciativa atribui Iratis aos habitantes que fazem aseparação dos plásticos não embalados – que normalmentesão depositados no contentor de resíduos –, e os entregamnum “Ponto Limpo”. Neste, a entidade compra-os a umataxa de 0,50 Iratis por quilo de plástico bem separado.

O objetivo deste “bónus” é garantir uma boa separaçãodoméstica, reduzindo custos de processamento e obtendomaterial da melhor qualidade possível para posteriorreciclagem.

Desde o lançamento desta iniciativa, a Comunidade deResíduos Sólidos Urbanos colocou em circulação algunsmilhares de Iratis, correspondentes a várias toneladas deplástico separadas e entregues pelos munícipes. 6

Esta iniciativa beneficia também a economia do território,na medida em que cerca de 90% dos estabelecimentos decomércio local aceitam o Irati para pagar as compras, demodo que a moeda circula de uma forma ampla,impedindo, assim, que os Euros que a respaldam fujamdo território para os grandes supermercados e cadeias dacidade.

Este e outros exemplos evidenciam que o dinheiro sepode constituir como um projeto comunitário, capaz demobilizar as entidades do universo autárquico, asempresas locais e a população de um dado território.

Com o objetivo de lançar o tema no interior da Rede deAutarquias Participativas, damos destaque, neste númerodo Boletim, a quatro exemplos de moedas locais, umadesenvolvida em Portugal e três em Espanha. A suadiversidade e alcance servirão seguramente de reflexão efonte de inspiração para projetos similares em outrosterritórios.

Nelson Dias

7

MOEDA MORMONTEMOR-O-NOVO

MOEDAMOR.PT

Os sistemas monetários consistem

num conjunto de regras e instituições

que surgiram e progrediram com o

tempo. Na sua essência, o dinheiro é

apenas um acordo dentro de uma

sociedade para se usar algo como

meio de troca, aceitando

simultaneamente as regras

estabelecidas pelos interesses

dominantes. Se criarmos um sistema

monetário com outras regras,

poderemos promover outras

finalidades, tais como uma moeda

local que não pode ser usada fora da

comunidade, e que permite defender

os objetivos socioeconómicos

específicos dessa coletividade.

M O N T E M O R - O - N O V OT E M A S U A P R Ó P R I AM O E D A

Uma moeda local equiparada à moeda oficial e com a contabilidade

assente em moeda oficial é perfeitamente legal e equivalente a

outros meios de pagamento que utilizam como base a moeda oficial,

tal como os cheques, cartões e vales. A particularidade da moeda

local é, por um lado, ser válida apenas numa comunidade fechada e,

deste modo, favorecer a manutenção da riqueza dentro da

comunidade. Por outro lado, como o espaço económico de validade

é mais pequeno, tem a potencialidade teórica de circular mais

rapidamente, estimulando mais a economia por cada unidade de

moeda.

As moedas locais poderão constituir uma boa ferramenta de política

pública, relativamente fáceis de implementar e perfeitas para rastrear

resultados, com o objetivo de criar territórios mais resilientes com

diversos benefícios para a comunidade.

9

I M P L E M E N T A Ç Ã O D EU M A M O E D A L O C A L E MM O N T E M O R - O - N O V O

O MOR é a moeda local do concelho de

Montemor-o-Novo, localizado no Alentejo

Central. É uma moeda complementar e

equivalente ao Euro, ou seja 1 MOR vale 1

Euro. É uma moeda digital (não existe em

papel) suportada por uma plataforma

acessível por internet através do

computador ou do telemóvel.

O S O B J E T I V O S D AI M P L E M E N T A Ç Ã O D AM O E D A L O C A L

Dinamizar a economia local e contribuir

para a criação e retenção de riqueza e

fixação de população no concelho de

Montemor-o-Novo, numa dinâmica de

economia circular privilegiando circuitos

curtos;

Promover o desenvolvimento integrado

do concelho de Montemor-o-Novo,

numa perspetiva social, económica,

ambiental e cultural;

Sensibilizar e formar a opinião pública

para a necessidade de priorizar o

comércio de cariz local enquanto

instrumento de fortalecimento da

autonomia local face às dinâmicas da

economia global.

O F U N C I O N A M E N T O D AM O E D A M O R B A S E I A - S EE E S T Á O R I E N T A D OP A R A O C U M P R I M E N T OD E P R I N C Í P I O S EG A R A N T I A S

Os princípios da economia solidária com

especial foco no âmbito local, pondo a

economia ao serviço das pessoas e do

interesse geral;

O princípio de transparência e melhoria

contínua do sistema;

O princípio de atenção para com os

utilizadores, de forma a satisfazer

adequadamente as suas necessidades,

com especial destaque para a

segurança do sistema;

A garantia de privacidade e

confidencialidade dos dados de

carácter pessoal que sejam integrados

no sistema, de acordo com a legislação

aplicável a essa matéria;

A garantia de fidelidade dos dados

incorporados no sistema pelos

utilizadores, com especial incidência no

controlo de publicidade fraudulenta e

de prevenção de branqueamento de

capitais;

A responsabilização dos utilizadores e

profissionais quanto à legalidade das

suas ações;

A garantia da identificação do sistema

com os valores expressos no presente

documento.

10

A A.MOR - Associação para a Moeda Local de

Montemor-o-Novo - é uma associação que foi

constituída em 31 de agosto de 2018. Os seus

membros fundadores, representando diversos setores

da sociedade, estão preocupados com o futuro de

Montemor-o-Novo, pelo que estão decididos em agir

localmente. Até à data, todo o trabalho e participação

são voluntários e não remunerados.

Foi uma preocupação da A.MOR, desde o início do

projeto, reunir competências e representatividade

social abrangente que possibilitasse uma pesquisa e

reflexão profunda, cautelosa e coerente sobre as

variáveis e dificuldades a ter em consideração no

desenvolvimento e implementação do MOR.

Definir o tipo de moeda, chegando-se à conclusão que seria financeiramente impossívelimplementar uma moeda em papel, pela operosidade da sua produção com critérios desegurança adequados;Promover a ideia junto do poder local para participar como parceiro e suporte orçamental,no qual tivemos pouco sucesso, obrigando-nos a explorar fontes alternativas de apoiofinanceiro com diversas candidaturas a apoios sociais, também com pouco sucesso até aomomento, conseguindo-se avançar graças a uma ação de mecenato dentro do grupo; Procurar as alternativas tecnológicas existentes no mercado para suporte de uma moedadigital, definir o caderno de encargos com os critérios mínimos exigidos e negociar arespetiva contratualização de serviços;Criar o modelo de funcionamento, as normas de conduta e os documentos necessáriospara a sua efetivação; Verificar e garantir a legalidade e a segurança do sistema; Divulgar a ideia junto da população; E, finalmente, em setembro de 2020, dois anos depois da constituição da associação,avançar para uma experiência piloto para testar todo o sistema. Após o teste inicial,progressivamente alargado a mais interessados, foi confirmado o funcionamento emsegurança do sistema, pelo que se entrou na fase de alargamento à população.

Desde a sua constituição, a A.MOR teve de:

A M O E D A É U M A I N I C I A T I V A C I D A D Ã , P R O M O V I D A EA D M I N I S T R A D A P E L A A . M O R

11

Para utilizar o MOR, é apenas necessárioassinar uma proposta de adesão, onde outilizador se compromete com as normas ea filosofia da moeda local e aceitaexplicitamente as suas condições deutilização.

Com a ficha de adesão é feito o registo doutilizador - como utilizador particular e/ouprofissional - na plataforma do sistema. Outilizador “compra” MOR fazendo umatransferência para a conta de respaldo daA.MOR, que foi especialmente criada parao efeito.

Os MOR são emitidos em função dos eurosdepositados pelos utilizadores e o sistematecnológico de gestão da moeda garanteque sempre que os MOR entram numaconta, saem de outra, pelo que, emqualquer altura, existe na conta derespaldo um valor em euroscorrespondente aos MOR em circulação,garantindo a segurança do sistema.

As transações financeiras são efetuadas através deum aplicativo de telemóvel ou por computador nosítio de internet da moeda, www.moedamor.pt.

Os utilizadores profissionais podem trocar os seusMOR por euros, o que não é permitido aosutilizadores particulares que, contudo, podem passaros MOR em saldo na sua conta para outro utilizadorparticular.

F U N C I O N A M E N T O D O M O R

12

Numa perspetiva económica, tem a

potencialidade de reter mais riqueza dentro

da região e estimular a economia da

comunidade;

Numa perspetiva social, o aumento da

procura de produtos e serviços locais dentro

de uma comunidade incentiva a produção

local, fortalece o sentido de comunidade e

identidade e favorece a integração na

economia ativa de pessoas mais

desfavorecidas, habitualmente à margem dos

tecidos produtivos;

Numa perspetiva ambiental, as trocas

económicas em moeda local privilegiam,

obrigatoriamente, os circuitos curtos de

comercialização, contribuindo para uma

economia de carbono neutro e, por outro

lado, estimulam as relações de proximidade e

favorecem a autonomia e responsabilidade

empresarial:

Numa perspetiva de resiliência local, uma

comunidade com uma economia local

razoavelmente autossuficiente estará mais

capacitada para resistir a crises económicas e

sociais, mais protegida da especulação

monetária global e menos refém dos sistemas

de distribuição centralizadores e

monopolistas.

B E N E F Í C I O S D A M O E D AL O C A L P A R A A N O S S AC O M U N I D A D E

A S M O E D A S L O C A I SE S T I M U L A M AE C O N O M I A L O C A L EA P R E S E R V A Ç Ã O D ER I Q U E Z A D E N T R OD A C O M U N I D A D E

O cidadão A faz a sua adesão aosistema e compra 100 MOR fazendoum depósito de 100 Euros na conta derespaldo da A.MOR (associação),sendo creditados 100 MOR na suaconta. Vai com a família aorestaurante aderente onde jantam por100 MOR.O dono do restaurante utiliza os 100MOR para comprar produtos frescosno seu produtor local aderente. Oprodutor, com os 100 MOR, vai repararo seu trator ao mecânico aderente.O Mecânico, por sua vez, aproveita osMOR para oferecer um ramo de floresque comprou na florista aderente por25 MOR, paga as suas quotas naassociação cultural aderente com 25MOR e solicita à associação A.MOR atroca em euros dos 50 MOR restantes,necessários para a compra de peçasque não existem em Montemor. A moeda local facilita, assim, acirculação do dinheiro localmente e,no final, os 100 MOR iniciais docidadão A estimularam a economialocal em 350 MOR, com saída dacomunidade de apenas 50 MOR.

CONCLUSÃO

É com satisfação que os associados da A.MOR olham hoje para o autocolanteque já se encontra em várias lojas e espaços do concelho de Montemor-o-Novo que aceitam o MOR como meio de pagamento.

António Nabo, Pascale Millecamps, Rogério Godinho

13

OSSETANASAN JUAN DE AZNALFARACHE

OSSETANA.COM

O Inquérito Social Europeu e o cooperativismo,juntamente com o municipalismo maiscomprometido com a participação, são overdadeiro motor para uma transformaçãosocial capaz de dar resposta aos objetivos quea Europa estabeleceu para este plano, pelomenos no papel. Esse presta especial atençãoàs cidades como lugares de ação devido à suacrescente capacidade de mobilização quandoos esforços do Estado se mostram ineficazes ouinsuficientes.

MOEDAS LOCAISPARA A

RECUPERAÇÃOECONÓMICA E A

TRANSIÇÃOJUSTA

O impacto da crise provocada pela Covid-19será tão profundo que é crucial que osinvestimentos públicos relacionados com osplanos europeus de recuperação social eeconómica da Next Generation EU tenham omaior alcance possível, e que esse chegue aquem mais necessita, em vez de permanecerem grandes empresas e atores financeiros,como aconteceu com a combinação depolíticas de austeridade e flexibilidadequantitativa utilizadas em crises anteriores. Sehá algo que a crise de 2008 nos ensinou é queestas crises podem deteriorar rapidamente osvalores e fundamentos do Estado Providência eafastar-nos, enquanto sociedade, dos princípiosdemocráticos e da justiça social.

15

A emergência de uma nova liderança das cidades emquestões climáticas e a proliferação de redes municipais,como a Rede de Autarquias Participativas, o Grupo C40 eas 100 Cidades Resilientes, não são uma coincidência. Istofaz das áreas urbanas um cenário privilegiado para marcaro início de uma economia renovada e transformada e umasociedade na qual as medidas de recuperação possamreconstruir um ecossistema mais redistributivo,sustentável e mais justo em termos de riqueza e emprego,e também ajudar a construir territórios mais democráticose livres.Muitos municípios já se comprometeram a empreendertransformações na forma como as suas economiasfuncionam. Por exemplo, Amesterdão irá implementar ummodelo de "Economia do Donut" como base para aformulação das suas políticas, de modo que, em vez dedar prioridade às métricas tradicionais de bem-estar dacidade, tais como o crescimento económico, as suasdecisões passem a ser orientadas por objetivos, como apromoção do bem-estar humano e ambiental dentro doslimites ecológicos da localidade.

As moedas locais têm um papel a desempenhar em taistransformações. Como sistemas democratizados depagamento, as moedas alternativas apoiam as empresaslocais e reforçam as comunidades contra tendênciasglobalizantes que limitam a circulação de dinheiro a nívelregional. O apoio municipal a estas moedas permite que aseconomias locais se transformem e fomentem uma novaeconomia durante e após a actual crise.

16

Desde 2013, a Assembleia deCooperação para a Paz (ACPP) temvindo a experimentar a utilização demoedas complementares paramelhorar as políticas sociais, com aconvicção de que estas sãoferramentas excecionais paracombater a pobreza, a desigualdade,a exclusão social e ainsustentabilidade ambiental.

Nesta perspetiva, a ACPPimpulsionou projetos-piloto quederam forma às moedas municipaisem papel e em formato eletrónico,os quais têm servido parademonstrar a utilidade destesinstrumentos na construção daresiliência local e na promoção datransição para sociedades maisjustas e sustentáveis.

Numa primeira etapa, aexperimentação limitou-se a doismunicípios: San Juan deAznalfarache e a sua moedaOssetana, na Andaluzia, e SantaColoma de Gramenet e o seu Grama,na Catalunha. Mais recentemente,Sevilha juntou-se a esta lista,também em colaboração com aACPP.

Poucos municípios em Espanha, paraalém dos mencionados, têm seguidoeste caminho de experimentação. Omais significativo até à data é o deBarcelona (1.664.182 habitantes) quepromoveu a moeda REC.

17

No caso de San Juan de Aznalfarache (21.774 habitantes), a ACPP é quem promove o projeto,que recebeu o apoio de múltiplas instituições públicas e privadas, incluindo as do própriomunicípio. Com este suporte, a ACPP tem conseguido prestar assistência às famíliasvulneráveis e contribuir para a recuperação dos pequenos negócios, mesmo durante osperíodos de confinamento, garantindo uma injeção média anual de aproximadamente 100 mileuros na economia local, durante os últimos 3 anos, através da moeda Ossetana.

Em Sevilha (691.395 habitantes), o município e a ACPP, a partir de uma lógica de colaboraçãopúblico-privada e de coprodução com os cidadãos, estão a promover uma nova moeda queirá reunir as melhores características das anteriores, no âmbito do projeto MedTOWN Co-producing social policies with SSE actors to fight poverty, inequality and social exclusión, quetambém é implementado na Junta de Freguesia de Campolide, em Lisboa.

Nas comunidades onde já existemmoedas locais, os municípios podemapoiar o seu desenvolvimentoincorporando funções públicas namoeda. Nas cidades onde estasiniciativas são embrionárias ou nãoexistem, os governos locais podemassegurar o financiamento inicial para asapoiar ou promove-las como umprograma municipal.

Um exemplo de programa de incentivomunicipal pode ser visto em SantaColoma de Gramenet (120.443habitantes), onde a ACPP prestaassistência técnica ao município emparceria com Learning by Doing e Clickoin. Aqui, a moeda local permiteque 95% do dinheiro dos subsídiosconcebidos pela autarquia permaneçana cidade, ativando assim o comérciolocal.

QUAL PODE SER O PAPEL DE UM GOVERNO LOCAL/MUNICIPAL?

18

As moedas locais fomentam a recirculação de dinheiro. Quando um euro de despesa públicachega à economia produz uma série de transações no território: o multiplicador económicoindica quantas. Por exemplo, um multiplicador económico de 1,9 implica que, para além datransação da entidade pública que realizou este pagamento, produziu-se uma despesaadicional de 0,9 euros, em média, nesse território. As transações efetuadas posteriormentepor esta unidade monetária são registadas noutros territórios e não contribuem para aprosperidade local.

Diversos estudos concluíram que a solução para a pobreza está muito mais relacionada coma saída sistemática de dinheiro da comunidade do que com a falta deste. Um multiplicadoreconómico baixo é o indicador que pode contribuir para detetar este padrão defuncionamento do sistema económico e uma moeda local pode ajudar a corrigir. Omultiplicador de circulação da moeda Grama, em 2019, (último dado publicado) foi de 11,16.Graças a este sistema, e utilizando o seu dispositivo móvel, foi possível continuar a apoiar ocomércio local mesmo em tempos de pandemia.

As moedas locais compensam o comportamento sustentável dos cidadãos, contribuindoefetivamente para encurtar as cadeias de abastecimento, promovendo a economiacooperativa, social e solidária e a economia Quilómetro Zero.

QUAIS SÃO OS BENEFÍCIOS?

O pagamento de transferências diretas,total ou parcialmente, através deinstrumentos de pagamento locais,como os que temos promovido, podeconverter um programa de ajudasindividuais numa iniciativa de reativaçãoeconómica. As moedas locais ampliamo impacto económico de um subsídioconcedido aos cidadãos e às cidadãs,incentivando a sua utilização naeconomia local.

19

O município deve criar a sua própriaconta de pagamentos no sistemamonetário local;O município debita os fundos na suaconta do sistema;O município paga os subsídios àspessoas ou entidades beneficiárias querecebem a moeda local nas suascontas de pagamento;Os beneficiários podem efetuar os seuspagamentos com a mesma aplicação,na qual também têm informação dalocalização das empresas que aderiramao sistema e dos seus produtos;Os profissionais e as pessoasutilizadoras a título privado podemconverter euros em moeda local;Os profissionais e utilizadores a títuloprivado podem recircular a moeda, ouseja, gastá-la na rede local, o que gerao efeito multiplicador da despesapública;Os profissionais também podemlevantar os fundos para a sua contabancária, uma vez verificada adocumentação relevante da KYC (KnowYour Customer).

1.

2.

3.

4.

5.

6.

7.

Os fundos públicos das ajudas chegam àsCâmaras Municipais ou às entidadesgestoras da moeda. Assim, as pessoas ouinstituições beneficiárias recebem apoioque lhes permite aceder a bens e serviçosnos estabelecimentos de comércio localaderentes. Por sua vez, os comerciantespoderão recuperar os fundos nas suascontas bancárias, mas o impacto é maior seestes forem novamente gastos noecossistema local, razão pela qual sepromovem medidas que incentivam ogasto nesta moeda, de forma que sepotencie a sua recirculação entre ocomércio e os serviços locais.

Por outro lado, a entidade gestora podeincentivar os cidadãos a converterem eurosem moeda local e desenvolverem, destamaneira, estratégias (de incentivo e debonificação) para estimular a sua utilizaçãono mercado local, como ferramenta defidelização à disposição do tecidocomercial e produtivo.

EM QUE CONSISTE A MOEDA?

QUAL É O MODELO OUMETODOLOGIA DA OPERAÇÃO?

A entidade pública competente devedefinir através de critérios públicosquem recebe, total ou parcialmente,uma ajuda ou subvenção em moedalocal; As pessoas ou entidades utilizadorasque recebem esta ajuda necessitamabrir uma conta no sistema de moedalocal; Os indivíduos a título particular,freelancers e pequenas e médiasempresas que oferecem bens eserviços e desejam entrar no programapara fazer ou receber pagamentosatravés do sistema, devem tambémdescarregar a aplicação e registar-se.

1.

2.

3.

COMO CIRCULA NACOMUNIDADE E QUEM PODEMADERIR OU UTILIZÁ-LA?

20

A nova regulação financeira da zona euro criou, nos últimos anos, figuras legais como amoeda eletrónica ou os prestadores de serviços de pagamento que permitem, pela primeiravez, uma utilização inteligente e programável da moeda legal. A principal conclusão do nossotrabalho é que se percebeu que as moedas locais podem ser articuladas por diferentesmeios, apresentando cada uma delas uma série de vantagens e desvantagens, as quais terãode ser avaliadas em função das circunstâncias específicas da utilização pretendida da moedalocal.

QUAL É A LEGALIDADE DA MOEDA NO CONTEXTO DO EURO (MOEDAÚNICA)?

José M. Ruibérriz

Responsável da Economia Social e Solidária da Assembleia Cooperação para a Paz

"Este artigo foi realizado com o apoio financeiro da União Europeia, através do projeto MedTOWN "Coprodução de políticas sociais

com atores da Economia Social e Solidária (SSE) para combater a pobreza, a desigualdade e a exclusão social" pertencente ao

Programa da Bacia Mediterrânica 2014-2020 (ENI CBC Med), através da ONG Asamblea de Cooperación por la Paz".

21

RECBARCELONA

REC.BARCELONA/ES

RECUma moeda fintech local

O Município de Barcelona lançou, em dezembro de 2020, umanova campanha de promoção do comércio local, utilizando oREC, a moeda de Barcelona. O projeto renovou, assim, a suavalidade, após o lançamento, em outubro de 2018, no âmbitode um projeto europeu liderado pela autarquia: o B-MINCOME,um piloto de rendimento básico. Graças a este, os beneficiáriosreceberam um apoio mínimo garantido, calculadomensalmente para completar os respetivos rendimentos. Deacordo com o estipulado, 25% dessa importância suplementarfoi gasta em RECS, no comércio local, por um subgrupo decerca de 400 pessoas. Posteriormente, os comerciantes quereceberam os pagamentos em RECS puderam gastá-los emcompras na economia local, ou efetuar o câmbio em euros. Tive a oportunidade de promover este projeto e depoistrabalhar nele, tratando de questões relacionadas com odesign monetário, tecnologia e aspetos jurídicos. Os resultadosforam muito interessantes, como expliquei há quase um ano nomeu artigo REC Barcelona, uma moeda para a transição,momento em que o relatório de execução da fase-piloto daintervenção tinha acabado de ser publicado. O REC faz parte do tipo de moedas locais que nasceramapoiadas ou geridas pelos municípios para canalizar a despesapública através delas. Dentro desta categoria, o REC é aprimeira a utilizar o quadro europeu para prestadores deserviços de pagamento (SPD2), para apoiar um instrumento depagamento do cidadão, bem como é uma das pioneiras a sergovernada por uma cooperativa formada pelos seusutilizadores e partes interessadas. As moedas deste tipo constituem um vetor para um modeloeconómico equilibrado, uma vez que asseguram que ospequenos e médios agentes económicos não continuam aperder peso para as grandes empresas.

23

Aumento do impacto local da despesa pública.Ao canalizar o investimento público para aeconomia do território, graças a uma moedacidadã, conseguiu-se provar que esta é capaz degerar um aumento das transações económicas noambiente local por unidade de despesa. Oresultado foi que o multiplicador económicoaumentou 54% nos primeiros 13 meses. Outrossistemas monetários que também canalizam osgastos públicos, como o Grama de Santa Colomade Gramenet, obtiveram resultados queconfirmam esta tendência;

Um meio de pagamento digital e comunitário. Odinheiro digital é sobretudo um recurso bancário,ou seja, entradas nos balanços, tambémdesignados de depósitos, acessíveis através demeios eletrónicos de pagamento, sendo, portanto,dinheiro privado. O numerário é o único gerado edetido pelo sector público. As moedas digitaislocais e complementares constituem-se como ummeio-termo, uma vez que são em suportetecnológico, mas ao mesmo tempo são deinteresse público e a maioria tem governaçãocomunitária. Assim, aproveitam os benefícios deambas as variantes e oferecem opções adicionaisao consumidor face ao desaparecimento gradualdo dinheiro;

Promover a economia de proximidade. Face a ummodelo económico em que a globalização está aprogredir rapidamente, a promoção da economiade proximidade torna-se uma política destinada aevitar a desertificação comercial e económica,gerando assim um grupo de atores empresariaiscom elevado impacto ao nível local, cujo interessepúblico é sustentado pela sua capacidade decontribuir para o emprego no território e para osrendimentos dos fornecedores locais e dasfinanças públicas, e entre os quais se aplicam osmesmos princípios de promoção da excelência,através da concorrência como em qualquer outromercado.

PRINCIPAIS VANTAGENS DE UM SISTEMA COM ESTAS CARACTERÍSTICAS

24

O REC foi a primeira experiência na Europa de emissão de uma moeda digital apoiada porfundos existentes em contas de pagamento de uma instituição regulamentada. Foi, assim,posto em prática o quadro jurídico previsto no SPD2*, da UE, para aprovar o funcionamentode uma moeda social. O objetivo desta diretiva é gerar concorrência no setor dospagamentos e permitir que as entidades não bancárias os possam gerir. A experiênciafuncionou bem e o fornecedor de tecnologia que suportou o REC integrou o sistema depagamento desta moeda com o fornecedor de serviços de pagamento correspondente. Estacaracterística levou o REC a fazer parte do GMerits, um consórcio de projetos baseado natecnologia da cadeia de blockchain e focado na criação de métodos alternativos deatribuição de bens não rivais, que ganhou o Prémio Blockchain for Social Good da UniãoEuropeia na categoria de inclusão financeira.

INOVAÇÃO FINANCEIRA E PRÉMIO BLOCKCHAIN FOR SOCIAL GOOD

*Diretiva (UE) 2015/2366 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 denovembro de 2015, sobre serviços de pagamento do mercado interno. 25

Facilitar o caminho legal de adoção por parte dos municípios. A lei permite a utilizaçãoe a emissão de instrumentos para gerar circuitos de pagamento local aos municípios, efá-lo através de várias modalidades, mas as moedas locais são instrumentos depagamento nada integrados na legislação das administrações públicas locais. No projetoda moeda de Sevilha, está a ser testado o quadro legal do dinheiro eletrónico, quepoderá proporcionar um enquadramento jurídico mais claro para que a moeda sejareutilizada em pagamentos sucessivos, antes de se converter em euros bancários. Comtodas estas experiências bem documentadas torna-se possível comparar os prós e oscontras de cada modelo legal e consolidar, assim, o planeamento da sua utilização nocaso das moedas digitais emitidas em colaboração com as autarquias locais, facilitandodesta forma a normalização das mesmas;

Modelo económico e de governação. É necessário que as entidades gestoras dasmoedas locais consolidem um modelo de governação e de negócio para a suasustentabilidade, para além dos projetos experimentais. Uma vez que estas iniciativasestão claramente centradas na promoção de um bem comum, um tipo de agente muitoadequado para isso podem ser as entidades da economia social e solidária. O modeloexige uma hibridização das receitas, que devem provir das administrações públicas, namedida em que realizam trabalho de interesse público, e dos clientes e utilizadores dosistema, na medida em que ajudam os agentes privados a atingirem os seus própriosobjetivos. As diferentes ações demonstrativas e projetos-piloto do projeto MedTOWNestão focados em explorar modelos de coprodução de políticas públicas com atores daeconomia social e solidária;

Este tipo de sistemas tem um amplo caminho evolutivo pela frente, focado principalmente na normalização e fortalecimento, passando de projetos-piloto para a sua replicaçãogeneralizada. Para que isto seja possível, torna-se necessário assegurar algumas ações,nomeadamente:

PRÓXIMOS PASSOS

26

Entidade jurídica diferenciada. Caso as moedas locais tivessem uma entidade jurídicadiferenciada e reconhecida permitiria que fossem tidas em conta como instrumentos decanalização da despesa pública, na legislação que regula determinadas ajudas, devido àsua capacidade de reforçar as economias locais e o consumo de zero quilómetros.Alguns exemplos de legislação deste tipo incluem a ajuda focada na mitigação eadaptação às alterações climáticas ou na implementação de planos de recuperação pós-Covid-19, tais como os previstos na próxima geração de fundos da UE;

Incorporar modelos de financiamento. As entidades gestoras de moedas locais tambémpodem incorporar outros tipos de moedas complementares para melhorar aspossibilidades de financiamento de iniciativas alinhadas com um modelo económico maissustentável. Neste sentido, é prometedora a chamada MICA, uma nova proposta deregulamento da União Europeia que procura enquadrar diferentes tipos de cripto-ativos.Na comunidade de aprendizagem gerada no projeto MedTOWN está previsto levar acabo diálogos políticos para transmitir aos reguladores as exigências necessárias para odesenvolvimento destas possibilidades.

Susana Martín Belmonte,

coordenadora científica do projeto MedTOWN na Assembleia de Cooperação para a PazEconomista especialista em inovação monetária e

27

VILAWATTVILADECANS

VILAWATT.CAT/ES/MONEDA

EM QUE CONSISTE A MOEDA?

Em 2016, a cidade de Viladecans foiselecionada para desenvolver um projeto europeu de transição energética: Vilawatt.Este visava criar um modelo para promover atransição energética e a cogovernança, queenvolvesse toda a comunidade através dacriação de um organismo participativocomposto por cidadãos, comércio, empresase o próprio Município de Viladecans, oconsórcio de Vilawatt. No domínio datransição energética, os objetivos consistiamem promover o consumo e a auto-geraçãode energia renovável, a capitalização dapoupança de energia para reforçar aeconomia local, a promoção do ambiente e oempoderamento dos cidadãos.

O projeto Vilawatt centra-se num novomodelo de gestão energética eficiente, quepermite capitalizar a poupança de energiapara a geração de uma nova economia local,investindo essas poupanças em: reabilitaçãoenergética dos edifícios, aumento daatividade económica das empresas e lojaslocais, melhoria da formação da população egeração de emprego.

Por tudo isto, foi essencial criar uma novamoeda local - a Vilawatt, que permitecapitalizar as poupanças de energia ereinvesti-las na cidade para promover areabilitação energética dos edifícios e arevitalização do tecido empresarial e socialdo município.

29

A moeda de Vilawatt funcionacomo um circuito fechado depagamentos com curso legalprogramável. Qualquer pessoa,entidade, empresa ouadministração pública podeconverter Euros (euros) para Euros-Vilawatt (₩) e assim obtervantagens que não poderiam seralcançadas pagando com Euros. Arelação entre ambas as moedas ésempre fixa e paritária (1 para 1).Além disso, a convertibilidade(liquidez) é garantida por lei.

A moeda é propriedade da CâmaraMunicipal de Viladecans e éoperada pela UbiquatTechnologies, que criou a principaltecnologia subjacente e queoferece a plataforma a outrosmunicípios ou regiões interessadas.

QUAL É O MODELO OU METODOLOGIA DE FUNCIONAMENTO?

30

Qualquer pessoa maior de idade pode aderir à moeda de Vilawatt. Também empresas eentidades, mas neste caso recomenda-se que tenham uma morada registada na cidade deViladecans. Além disso, graças ao modelo legal criado para esta iniciativa, qualquer organismopúblico pode também aceitar a moeda para pagamentos e cobranças.

A Vilawatt é a primeira moeda em Espanha que é construída com base numa troca com cursolegal a 100%. Isto porque o modelo desenhado foi tecnicamente construído como um circuitomonetário eletrónico, que é totalmente regulado a nível legal por uma diretiva europeia e pelasdiferentes leis nacionais. Ter Euros-Vilawatt tem as mesmas garantias legais que ter uma contacorrente em Euros num banco.

Esta tem sido uma grande inovação, o resultado de anos de trabalho jurídico, que traz muitasvantagens operacionais. Por um lado, qualquer indivíduo ou entidade jurídica pode tornar-separte da moeda sem problemas e fazer pagamentos e cobranças sem limites operacionais emtermos de montantes. O próprio Município de Viladecans é um utilizador da moeda, pois estáperfeitamente autorizado a utilizar dinheiro eletrónico. Isto não acontece com outros modelos demoeda local que enfrentam problemas de aceitação por parte da administração pública, doscidadãos ou de ambos.

QUAL É A SUA LEGALIDADE NO CONTEXTO DO EURO (MOEDA ÚNICA)?

COMO CIRCULA NA COMUNIDADE E QUEM PODE ADERIR OU UTILIZÁ-LA?

Estamos a trabalhar para tornar a moeda maisinclusiva no futuro. Assim, por exemplo, durante 2021pretendemos lançar um modelo de "equilíbriosupervisionado", que permitirá aos menoresparticiparem na moeda com dinheiro verificado pelosseus pais. Estamos também a explorar outrossistemas de pagamento, tais como o cartãocontactless, para ver se nos permite chegar a umgrupo populacional mais vasto.

Um facto interessante sobre a utilização da moedaeletrónica é que, ao tratar-se de uma figura legaleuropeia, essa possui o mesmo alcance. Isto abregrandes possibilidades de inter-relação ecolaboração entre moedas, mesmo a nívelinternacional. Por exemplo, uma moeda localportuguesa seguindo o modelo de Vilawatt poderiaser aceite sem problemas em cidades espanholaspróximas, e vice-versa. Afinal, é dinheiro eletrónicogarantido pelo sistema bancário europeu e válido emtoda a zona Euro.

31

Os principais benefícios para a economia localsão maior volume de negócios e vendas paraas empresas e mais fidelidade dos clientes. Aparticipação na moeda significa uma maiorvisibilidade comercial. Além disso, por ser umainiciativa com valores (transição energética,inicialmente), a ligação do comércio mostra oseu compromisso com o desenvolvimentosustentável da cidade.

Como tem sido visto noutras iniciativaseuropeias similares, a utilização de umamoeda deste tipo aumenta o multiplicadorlocal do dinheiro. Ou seja, o mesmo Euro queem circunstâncias normais circularia 1,7 vezesentre as empresas locais, graças à utilizaçãodesta moeda circula quase 3 vezes. Estaretenção de dinheiro tem efeitos muitopositivos na economia do território aoimpulsionar o comércio e a criação deemprego. Além disso, estimula valoresrelacionados, tais como o consumo deprodutos locais.

Os cidadãos recebem descontos nas lojas porpagarem em Euros-Vilawatt e estamos atrabalhar para estimular ainda mais a transiçãoenergética para a moeda. Por exemplo, arenovação de aparelhos domésticos, a comprade energia verde ou a instalação de painéisfotovoltaicos, se feita através do pagamentocom Euros-Vilawatt, trará vantagens futuras.

Como a moeda de Vilawatt circula igualmenteentre os não-membros do consórcioenergético, também é utilizada como canal decomunicação para os informar e encorajar ajuntarem-se ao operador local de energia.Naturalmente, o facto de a moeda poder serutilizada para pagar a conta de energiatambém contribui para aumentar a adesão àmesma.

QUAIS SÃO OS BENEFÍCIOS PARA A COMUNIDADE?

32

O governo municipal é fundamental paraajudar a dar confiança à moeda. Deve ser oprimeiro a utilizá-la e a aceitá-la como meio depagamento de cidadãos e de empresas locais.Sem aumentar o orçamento municipal, asimples canalização de parte da despesapública para a moeda serve como um grandeestímulo para todo o circuito.

Por exemplo, o Município de Viladecanscanaliza 30% de certos subsídios para a moedade Vilawatt. No início, isto não significaqualquer custo adicional, porque o montantesubsidiado permanece o mesmo. Mas o factode pagar uma parte através da moeda tem umgrande impacto, porque: 1) "convida" osbeneficiários do subsídio a tornarem-seutilizadores; 2) aumenta a massa monetária emcirculação, tornando a aceitação da moedauma opção mais atrativa para os comerciantes.

O Município deve também aceitar a moeda,permitindo a sua utilização para o pagamentode taxas e serviços municipais. Isto estáplaneado para ser feito em Viladecans durante2021.

Finalmente, não se deve esquecer que autilização de uma moeda local oferecebenefícios que atualmente não são possíveiscom dinheiro bancário. Por exemplo, opagamento de apoios sociais estánormalmente ligado a usos específicos:alimentação, vestuário ou material escolar. Ocontrolo destas despesas é complexo quandoo pagamento é feito em euros normais. Poroutro lado, quando esse se faz através deVilawatt permite limitar as lojas que podemaceitar essa ajuda específica e até exigir umafotografia do recibo, garantindo que este nãofoi utilizado para comprar artigos que não sãopermitidos (como o álcool).

QUAL PODE SER O PAPEL DE UM GOVERNO LOCAL/MUNICIPAL?

33

Durante 2021 iremos melhorar a moeda em diferentes aspetos, tais como a ligação aoblockchain, a criação de uma nova identidade digital avançada, bem como a visibilidade das lojasaderentes e das suas ofertas comerciais. Introduziremos também novos valores para além datransição energética, tais como a reciclagem e a coesão entre vizinhos.

Para destacar o Vilawatt criámos uma plataforma avançada de moeda local chamada Taranná.Para tal, utilizámos o Cyclos, o sistema de pagamento centralizado mais seguro que existe, eestendemo-lo a uma nova aplicação móvel, algoritmos inteligentes e novos protocolos decomunicação. O sistema está disponível para outras cidades que queiram uma moeda local paraimpulsionar a sua economia e promover valores entre os cidadãos.

Para mais informações sobre a moeda de Vilawatt, visite www.vilawatt.cat. Para maisinformações sobre os serviços oferecidos pela Ubiquat para a utilização de moedas locaisurbanas, visite www.ubiquat.com.

OUTROS ASPETOS RELEVANTES

CEO da Ubiquat TechnologiesJaume Catarineu

34

Em RedeEste Boletim é um instrumento de comunicação que será tanto maiseficaz quanto mais colaborativo for. Todos os membros da Rede deAutarquias Participativas podem, assim, fazer-nos chegar os seus

contributos para os próximos números. Basta enviar mensagem parao correio eletrónico [email protected]

35

Rede de Autarquias Participativas

www.portugalparticipa.ptfb.com/portalportugalparticipa

Secretaria TécnicaOficina

[email protected]/rap.html