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Em Frente - efeitos sociais da religiosidade na TV

Em Frente - efeitos sociais da religiosidade na TV

DEDICATÓRIA

Dedico este livro aos meus filhos Tatiana, Elisa e Fernando; à Felicidade, minha avó materna (in memorian), Elenice, minha mãe e aos irmãos Darsone, Danilo, David e Vera Lúcia.

Aos meus filhos com a certeza que todos somos capazes de vencer as dificuldades da vida com trabalho e amor. Não deixem de buscar o conhecimento e a sabedoria, que é o único bem que ninguém poderá lhes tirar.

À Felicidade, minha querida avó, pela dedicação em cuidar de minha saúde e educação e a dos meus irmãos, nos momentos mais difíceis.

À Elenice, minha mãe, pelo apoio e força nos momentos em que quase desistí de tudo, e pelo seu amor de incondicional carinho ao meu querido irmão especial, Davi.

Aos irmãos Darsone, Danilo e Davi, dizendo que os amo com todo meu coração e desejo sinceramente que um dia possamos comemorar as felicidades e esquecer as tristezas.

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À Vera Lúcia, irmã que conhecí depois de 40 anos, pela amizade e companhia nos momentos de solidão e alegria.

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SUMÁRIO

Agradecimentos 07

Apresentação 09

Capítulo I - A Era da Interatividade 17

Capítulo II - O Programa Em Frente 23

Capítulo III – Perfil dos Apresentadores 29

Capítulo IV – Compartilhando Histórias 49

Capítulo V – Depoimentos 65

Conclusão 79

Referências 82

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AGRADECIMENTOS

À minha família, principalmente aos tios e primos que sempre acreditaram no meu esforço em realizar o melhor.

À Rute, ex-mulher mas sempre amiga em todos os momentos;

À Tia Didi, pelo apoio e incentivo para a conclusão do curso de jornalismo;

Aos meus Professores e Orientadores, por me proporcionarem todas as condições para acreditar que este seria um sonho possível;

Aos amigos Carla, Vladimir, Eduardo Romero, José Guido, Paulo Edson, por sua presença sempre marcante em minha vida.

Enfim, a todos que de alguma maneira colaboraram para esse momento especial de vitória.

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APRESENTAÇÃO

A televisão é hoje um dos meios de comunicação mais utilizados, junto com a internet, e consagra-se em nosso país como um entretenimento único para famílias inteiras, que não teriam como receber informação e conhecimento se não pudessem acompanhar diariamente a noticiários, jogos, programas de auditório e novelas, etc.

Com o avanço das tecnologias, a TV hoje também é utilizada como fonte de conhecimento. São muitos os programas de educação à distância que se utilizam deste veículo de massa para atingir uma população que não tem tempo ou mesmo dinheiro para frequentar os bancos escolares diariamente.

A escolha de um veículo de comunicação de massa como a televisão, se dá por sua incontestável presença na vida dos brasileiros. A TV está presente na quase totalidade dos lares do país e representa hoje uma audiência de pelo menos 4 horas diárias de cada cidadão economicamente ativo no país.

Como exemplo, o déficit de moradia não impede que, mesmo em barracos improvisados de madeira,

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haja telespectadores assíduos, diariamente ligados na programação. Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE (www.ibge.gov.br) apontam que entre os mais pobres existem famílias que optam pela TV em detrimento à geladeira ou a outros aparelhos que tornam a vida mais prática. Dados sobre a década de 1990, mostram que o índice de domicílios com televisor no Brasil subiu de 24% para 97,5%, enquanto apenas 82,5% do total de residências contavam com outros eletrodomésticos.

A TV “por meio dos programas que vêm mixando informação, serviços ao público e entretenimento, transforma-se num verdadeiro e original espaço público” ocupando o lugar deixado pelo vácuo das ações propriamente políticas. Borelli e Priolli (200:78). “Em muitos casos, a televisão passa, inclusive, a pautar o tempo, principalmente o tempo doméstico das donas de casa: à hora do almoço correspondia o programa X; à hora do jantar o programa Y; e assim, sucessivamente” Borelli e Priolli (200:81).

Dentro do espectro da TV aberta, considerando que são poucas as pessoas que podem pagar para usufruir de uma programação de TV a cabo, são reduzidas as opções de programas além de novelas,

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programas de auditório, programas religiosos, noticiários e esportivos.

Destacamos para estudo, o Programa Em Frente, exibido no ano de 2011, às quintas-feiras no horário das 21h20 às 22h50h, no Canal 41 UHF da TV Aparecida, que utiliza como slogan (conforme apresentado no site www.tvaparecida.com.br): auxiliar e orientar as pessoas a buscarem solução para seus problemas e ter qualidade de vida, através de reflexões e conselhos. Os participantes interagem com as pessoas por meio de carta, e-mail ou telefone, fazendo com que aquela ajuda seja um espelho para muitos outros brasileiros na mesma situação.

A justificativa para escrever um livro-reportagem sobre o programa é conhecer, a partir dos depoimentos de telespectadores atendidos, como, de que forma e por quê as reflexões e conselhos apresentados durante o programa, influenciam a vida de seus telespectadores e qual é o grau de interferência para a solução dos problemas apresentados.

Vamos conhecer quem é seu público assistente e quais motivos o atraem para fixar sua atenção todas as semanas e sustentar a credibilidade de sua audiência. De outra forma, quais são as principais qualidades

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do Programa Em Frente para atrair a fidelidade de telespectadores em todo o país.

Vamos conhecer as histórias humanas que deram base para o debate de alguns temas do programa e saber como foram encaminhadas soluções e aconselhamentos para as questões apresentadas. Será possível reconhecer as causas da influência desse programa na vida das pessoas que protagonizam suas histórias, percebendo as características que afetam de forma positiva a vida dessas pessoas que acabaram tornando-se espectadores assíduos.

O programa que conseguiu conquistar uma audiência que lhe confere credibilidade e responsabilidade na orientação de questões que envolvem temas diversos e polêmicos, como: aborto, divórcio, homossexualismo, racismo, etc.

As experiências apresentadas a cada programa podem ou não influenciar também a vida de terceiros, portanto, vamos tentar compreender se o exemplo de outras pessoas pode também transformar a vida dos telespectadores.

Apesar de contar com uma audiência cativa, já que, originalmente, é apresentado em uma emissora católica: TV Aparecida, vamos perceber se a empatia

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conquistada junto a seu público se deve pelo respeito e credibilidade às respostas de suas indagações, ou apenas pela coincidência das convicções religiosas.

O panorama de histórias apresentadas nos ajudará a compreender se o hábito de assistir ao programa e ouvir as orientações como proposta de solução para os vários problemas apresentados têm, de alguma forma, conseguido gerar novas atitudes dentro da família e por consequência, colaborado para melhorar o nível de qualidade de vida de seus telespectadores.

Este livro poderá, ou não, indicar que o formato de programa em estudo é viável como parte de uma comunicação interativa entre a televisão brasileira e seu público, ávido por um espaço onde a sua voz seja ouvida e repercutida nas mais variadas esferas da sociedade, por meio de seu principal veículo de comunicação de massa.

O projeto deste livro aconteceu em meios à muitas situações que foram se transformando em obstáculos para sua conclusão. Inicialmente a proposta era a realização de um documentário, mas devido a motivos que agora não se mostram relevantes, foi transformado em livro.

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O Capítulo I trata da Interatividade em foco na atual programação de TV, procurando demonstrar a correlação desse formato de programa com nosso estudo, trata também de embasar as teorias que apresentam o papel do comunicador neste universo de busca por influenciar e persuadir cada vez mais a audiência televisiva.

No Capítulo II descrevemos um pouco da história do Em Frente, como se deu sua criação e escolha dos apresentadores. Com a evolução da audiência, tornou-se necessária também a criação de outros espaços de interação com seu público, a saber o site www.cabedalis.com.br, com utilização de plataforma de Chat para participação dos telespectadores, além da apresentação do programa também pela internet, no Canal da TV Aparecida (www.a12.com).

O Capítulo III apresenta o Perfil dos Apresentadores, contando um pouco sobre a história de vida de cada um, e mostrando o que eles pensam sobre o sucesso do programa, a programação da TV brasileira, a reação do público assistente e seu pensamento sobre o desenvolvimento das entrevistas.

No Capítulo IV, compilamos uma série de histórias compartilhadas em programas que foram

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ao ar entre os anos de 2007 e 2011, descrevendo alguns dos casos atendidos em temas como violência doméstica, separação, dependência de drogas, homossexualidade, abandono de incapaz, etc.

O último Capítulo, V, traz os depoimentos recebidos na fase de pesquisa, um registro importante dos efeitos de influência na vida desses telespectadores com o programa. São histórias de pessoas que sintonizaram a programação da TV Aparecida as vezes até de forma aleatória e passaram a ser telespectadores assíduos.

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A ERA DA INTERATIVIDADE

Para avançarmos no conhecimento sobre as influências de um programa de TV na vida de seus telespectadores, temos que atentar para a história da televisão no Brasil, principalmente a mais contemporânea que inovou para o formato de programa chamado prestação de serviços, tipo de programação que traz à pauta de uma bancada, temas de interesse geral, quase sempre convidando especialistas para debater o assunto e auxiliar na orientação e diálogo com seu público telespectador.

São exemplos dessa tendência os programas: Consultório de Família, apresentado às segundas-feiras, 21 horas, na TV Novo Tempo, Canal 56, São Paulo; conta com uma bancada de especialistas e convidados que vão respondendo à perguntas enviadas por email e cartas; outro exemplo é o Programa Vejam Só, apresentado de segunda a sexta-feira, 22h10, na RIT – Rede Internacional de Televisão, Canal 40, São Paulo, apresenta temas pré-determinados pela produção, sempre com a presença de dois convidados de opiniões diferentes que comentam os emails e participações do público assistente via TV e internet.

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E finalmente, para ficar em apenas três exemplos, o terceiro é o Programa Café Filosófico, apresentado aos domingos, 22h, na TV Cultura, Canal 2, São Paulo, que funciona como um Ponto de Encontro dos mais renomados intelectuais com os diversos públicos, trazendo temas e conceitos filosóficos para um debate aberto a participação do público presente, e ainda por e-mails enviados ao site.

Segundo Laswell, “na dinâmica de formação de opiniões há três efeitos: o de ativação (transformação de tendências latentes em opiniões efetivas), o de reforço (preservação das decisões tomadas) e a conversão da opinião. Este último é o mais limitado (e também o que mais se tenta causar), pois os indivíduos ‘bem informados’ são menos flexíveis a mudanças de opinião e ‘indecisos’ não são informados pelos meios de comunicação de massa a ponto de ter uma ‘boa’ opinião.”

“(...) A comunicação social é um subsistema que tem por função destacar e reforçar os modelos de comportamento, conduta e pensamento. Essa abordagem cria a noção de via de mão dupla, pois tanto os meios de comunicação influenciam o público quanto o público influencia os meios de comunicação. Ou seja, tanto o emissor quanto o receptor são sujeitos (“parceiros ativos”).”

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“A TV foi a mais importante revolução virtual, pois tem as imagens que o rádio não possui e é capaz de fixar hábitos na rotina das pessoas...” é o que apresenta o trabalho organizado por Luiz Costa Pereira Junior, Editora Senac (2002), em A TV com a TV – O poder da televisão no cotidiano. Reúne três anos do jornalismo praticado pelo jornal O Estado de S. Paulo, e aponta para a renovação da cobertura televisiva.

No âmbito da interatividade que acontece nos programas de TV apresentados ao vivo, onde uma voz se apresenta como uma identidade virtual e promove com sua participação a realização de um debate sobre qualquer tema, Goffman, no livro Estigma observa “que há discrepância entre a identidade social real de um indivíduo e sua identidade virtual. É preciso saber se aquele discurso apresentado tem fundamento em experiências realmente vividas ou se há uma manipulação desta identidade, apropriada para se basear questionamentos ou aprofundar orientações dentro de um programa de TV.”

Goffman defende que “a informação social transmitida pela própria pessoa a quem se refere, é como um signo, reflexiva e corporificada... chamada

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de ‘social’ porque possui essas características e pode sim ser manipulada.”

A respeito dos argumentos utilizados para orientar ou sugerir soluções ao público telespectador, são úteis as observações que fazem distinção entre persuadir e convencer, apresentadas por Perelman e Olbrechts-Tyteca apresentam no livro “Tratado da Argumentação – A Nova Retórica”, onde “propõem chamar persuasiva a uma argumentação que pretende valer só para um auditório particular e chamar convincente àquela que deveria obter a adesão de todo ser racional. O matiz é bastante delicado e depende, essencialmente, da ideia que o orador faz da encarnação da razão. Cada homem crê num conjunto de fatos, de verdade, que todo homem ‘normal’ deve, segundo ele, aceitar, porque são válidos para todo ser racional. Mas será realmente assim? Essa pretensão a uma validade absoluta para qualquer auditório composto de seres racionais não será exorbitante?”

O fundamento básico para compreensão desse universo da comunicação de massa está colocado com o propósito de guiar nosso pensamento à

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compreensão desses fenômenos que a realidade não pode prescrutar sem ater-se ao intangível momento em que a assistência de um programa de TV recebe estímulos e informações que a fazem tomar ou não decisões importantes para a vida em sociedade.

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O PROGRAMA EM FRENTE

A história do Programa Em Frente começa em 2007, nos corredores da TV Aparecida (SP), quando o Padre Pedro Cunha, que à época prestava assessoria para a TV, recebeu do Pe. Josafá a sugestão para a criação de um programa que pudesse atender as pessoas e trazer orientações diversas sobre os mais variados temas.

Dra. Denise, Padre Pedro e Rodolfo, na bancada do programa

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Com aquela ideia na cabeça, Padre Pedro tratou de montar sua equipe de trabalho, e para isso sua primeira escolha foi convidar o jovem Rodolfo Ferraz, que prontamente aceitou o convite, e acabou trazendo uma colega, Dra. Denise, para compor a bancada do programa.

O dia escolhido para apresentação do programa foi quinta-feira, dentro do horário das 21h00 até 22h50. Horário nobre da televisão brasileira, que seria ocupado para tentar trazer ainda mais a participação das pessoas que não apreciam a programação recheada de novelas, minisseries, debates de futebol e outras atrações.

A programação da TV Aparecida, à época, poderia ser sintonizada no Canal 36 (São Paulo). O mote ou slogan escolhido para o Programa foi “Você escolhe o Tema”. Exatamente por se tratar de um debate aberto às sugestões dos telespectadores, que poderiam participar por carta, emails e principalmente, por telefone, com o atendimento realizado pelas irmãs que se encarregam de identificar a pessoa que liga, que pode se identificar ou apresentar-se apenas como anônima.

Este primeiro atendimento realizado pelas irmãs procura obter informações da pessoa que liga

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para elaborar um resumo do assunto a ser respondido ou comentado pelos apresentadores. Alguns assuntos são dirigidos diretamente a um dos apresentadores, outros mais generalizados, podem ser colocados em debate para que qualquer um responda. Até para saberem se, de alguma forma, podem ou não ajudar, as irmãs atendentes passam, via chat, uma pergunta que pode ser feita ao Padre Pedro, à Denise ou ao Rodolfo.

Com o desenvolvimento do programa e a necessidade de atender cada vez mais pessoas, foi criado o Chat dentro da comunidade Cabedalis (www.cabedalis.com.br), onde os membros podem participar de um Fórum, interagindo com outras pessoas que também gostam do programa, e ainda, entrando no Chat para postar questões ao vivo, que nem sempre são respondidas devido ao acúmulo de participações.

Telespectadores mais entusiasmados defendem a opinião de que o programa deveria acontecer em mais dias da semana, reservando maior espaço para a participação. Essa hipótese confirma-se quase remota devido ao acúmulo de compromissos que os apresentadores já tem em suas agendas, atuando

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como professores, religiosos ou profissionais.Algumas das pessoas que ligam são conhecidas

das irmãs que fazem o atendimento, e às vezes telefonam apenas para fazer um desabafo ou bater um papo, não encaminhando qualquer pergunta ao programa. Esses telespectadores mantêm bom relacionamento com o programa, como forma de encontrar uma palavra amiga ou aconselhamento para sua vida.

Traçando um perfil dos telespectadores é possível dizer que a audiência é bem heterogênea e vai de jovens a idosos, religiosos ou não, que assistem ao programa e interagem contando sobre suas vidas e deixando questões para resposta. Irmã Marlene conta que costumam receber ligações de pessoas de outras religiões, quase sempre elogiando o programa e dizendo que, embora não sejam católicas, têm sido ajudadas com as orientações.

A proposta dos apresentadores é emitir uma opinião sobre o assunto colocado como problema ou questionamento, de maneira natural, dando especial atenção à necessidade que a pessoa tem de encontrar uma solução que lhe ajude a superar aquele problema. Quem liga sabe que pode contar com a experiência de

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vida de Padre Pedro, que sempre coloca suas respostas de maneira clara e sincera, com o profissionalismo e experiência da Dra. Denise e a sabedoria, filosofia e simpatia do Rodolfo.

De acordo com irmã Marlene, por tratar-se de um programa ao vivo com o tema escolhido por quem liga, os temais que mais se apresentam estão quase sempre ligados à questões como família, alcoolismo, drogas, separação de casais, homossexualidade (vista como pecado para os católicos, considerando que está sendo debatido em um programa dessa religião), filhos afastados dos pais, crianças que sofrem, doenças terminais, idosos esquecidos pelos filhos, etc.

Há depoimentos de pessoas que retornaram a ligação dizendo que depois que passaram a assistir o programa, a vida mudou e para algumas até tomou outro rumo. Os mais aficcionados contam que deixam de assistir a novela e não veem a hora de chegar a quinta-feira para assistir o Em Frente. Pela experiência da equipe de atendimento, em quase cinco anos, o programa tem ajudado inúmeras pessoas.

Será uma excelente oportunidade conhecer

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um pouquinho mais dos principais causadores dessa história. É o que vamos fazer a partir do próximo capítulo, passando pelo perfil de cada um dos apresentadores.

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PERFIL DOS APRESENTADORES

O principal apresentador e poderíamos dizer que atua como âncora, Padre Pedro Cunha, foi ordenado em 26 de novembro de 1989, e conta que seu dia a dia é repleto de atividades, que incluem a responsabilidade pela Paróquia Cristo Rei, em Lorena-SP. Pe. Pedro também ocupa o cargo de coordenador do Núcleo de Educação à Distância da FATEA (Faculdades Integradas Teresa D’Ávila), e nesta mesma faculdade dá aula no Curso de Administração de Modelos e Técnicas de Negociação, Organizações Complexas e ainda, aulas de Antropologia em todos os demais cursos. Além dessas atividades, o Padre concilia o trabalho que realiza na TV Aparecida, apresentando o programa Em Frente.

“As vezes as pessoas perguntam: Padre, o sr. se prepara pra fazer o programa? Eu digo: eu não! Olha, eu me sinto natural. As vezes saio de casa correndo, não dá tempo nem de me arrumar direito. Eu chego aqui, sento na bancada, e o que vier, venha... porque, na verdade, a preparação para o programa foi a vida

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que eu viví até hoje. Não adianta me preparar para aquele programa, não sei o que é que vem, não sei o que vai acontecer, não sei nada. Então me sinto totalmente natural, sinto-me em casa. Tanto é que as vezes, por se tratar de um programa de televisão, a Diretora precisa alertar a gente, porque brincamos

demais, de forma muito natural”, argumenta. O Padre conta que, em muitas das vezes, durante o intervalo do programa, momento em que podem se levantar para tomar uma água ou um café, a conversa que começou lá no intervalo, continua e confessa que isso é uma coisa muito normal.Padre Pedro em visita a Goiânia

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Uma das grandes curiosidades é falar sobre como acontece o trabalho de bastidores; o Padre revela que realmente não há a mínima preparação para responder às perguntas. O que acontece é que, a partir de 2011, na concepção do programa, pela primeira vez ficou decidida a oportunidade para que qualquer um dos três apresentadores possa dar início à apresentação do programa com um tema. Normalmente o que acontece também é que a Dra. Denise puxa um assunto, isso porque, as vezes, haviam questões importantes para tratar e como não saíram perguntas sobre aquele determinado tema, isso acabava passando despercebido.

Mas quando o assunto refere-se a emails, cartas, telefonemas ou qualquer outra coisa que aparece no programa, os apresentadores são unânimes em afirmar que não têm qualquer informação ou contato antecipado.

“E a gente não tem por quê..., realmente decidimos não querer isso”, confirma Padre Pedro, e continua dizendo que seria uma coisa quase impossível de se dar conta, argumentando que o melhor mesmo é não saber o que vem pela frente, porque realmente o que vier será respondido de forma natural. Observa o

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Padre que os apresentadores não têm medo de errar, pois afinal, não se pretendem “donos da verdade” e, portanto, não tem medo de errar ou apresentar qual seja sua opinião em função disso.

A preparação de Padre Pedro para as apresentações do programa começam geralmente em torno das 20h40, quando segue para o camarim onde passa pelo setor de maquiagem e troca de roupa. Preparado para mais uma noite de perguntas e conversas, vai para a bancada onde são conectados o computador e os dois chats de atendimento. Toda a produção então fica a postos para preparar o cenário. A partir daí os apresentadores recebem seus microfones e logo em dois ou três minutos acontece mais uma entrada no ar.

Sobre a participação dos telespectadores no programa, Padre Pedro conta que são poucas as cartas que chegam, e todas são lidas. Os emails endereçados ao programa Em Frente somam 900 por semana, número considerado expressivo na grade de programação da TV Aparecida. O pessoal da produção é que se encarrega de imprimir, recortar no papel e colocar dentro de uma caixa de acrílico. As participações por telefone são atendidas pelas irmãs

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que, de acordo com o tema ou assunto, encaminham perguntas para um dos apresentadores e perguntam para a pessoa se ela quer ou não entrar no ar, ao vivo.

Os participantes que desejam entrar “ao vivo” no programa são encaminhados para a central de direção, e ficam aguardando o momento certo de entrada para fazer sua pergunta. As demais questões de pessoas que não querem entrar no ar são enviadas para o Padre Pedro via fórum do chat. Durante o programa, ele mesmo faz a pergunta e encaminha para Denise ou Rodolfo.

Sobre a presença do Programa nas redes sociais, como twiiter e facebook, o Padre confessa que, realmente os apresentadores não têm como acompanhar e ler todas as perguntas. Então, normalmente são lidas as mensagens ou postagens

“Eu não tenho nenhuma conquista que queira pra frente, a não ser ajudar a quem deseja conquistar alguma coisa. Acho que cheguei em um momento da minha vida em que tudo que faço hoje é muito

suficiente para chegar até o fim da vida.”Padre Pedro Cunha

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que se encontram no topo, quase sempre as mais recentes. Padre Pedro diz que não há tempo hábil para a escolha da melhor postagem ou assunto interessante. “O que seria muito natural”, diz. “Mas realmente não dá. Então o que está na tela eu leio, seja o que for”.

Um aspecto interessante é o fato dos telespectadores buscarem solução para seus problemas em um programa de TV, como se vissem num aparelho doméstico uma pessoa amiga realmente disposta a ajudar. Padre Pedro acha que “a gente sempre acaba buscando uma solução para os nossos problemas”. O programa acabou por se tornar um espaço onde essas pessoas se encontram, onde sentem que há credibilidade para suas queixas, e, principalmente, onde não se sentem discriminadas. As pessoas que ligam para o Em Frente percebem que podem ser elas mesmas, que os apresentadores estão alí para ouví-las, acolhê-las e, na medida do possível, dar uma palavra de orientação.

Padre Pedro diz: “Há alguns telefonemas, alguns emails em que a gente não tem nem o que dizer, dada a complexidade do problema”. O melhor a fazer nesses casos é ser honesto dizendo: não sei nem o que lhe dizer. “Porque na vida a gente sempre vai

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encontrar coisas que a gente não sabe o que fazer, não sabe o que dizer”. Basicamente é isso o que acontece: as pessoas buscam ajuda realmente porque precisam, e no programa encontram um espaço de confiança para isso.

Sobre os bastidores do programa e amizade entre os apresentadores, Padre Pedro diz que já conhecia o Rodolfo, que foi seu coroinha, mas não conhecia Denise, e que hoje infelizmente acabam se encontrando apenas durante o programa, em um supermercado ou no camarim, alguns momentos antes da preparação para entrar no ar.

A vida da Dra. Denise e Rodolfo é bastante agitada principalmente porque se dedicam ao atendimento em consultórios. O Padre, além de dar aulas durante a semana e apresentar o programa todas as quintas-feiras, ainda tem que dedicar os finais de semana para as missas nas Paróquias em que atua. Então, o relacionamento de amizade fica restrito aos momentos que os apresentadores têm livre para um café ou uma conversa nos intervalos da programação.

Quanto aos assuntos que vão aparecendo durante o programa, Padre Pedro conta que, algumas vezes, durante os intervalos, os apresentadores

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acabam comentando alguma coisa, principalmente quando não houve a chance de esclarecimento de algum aspecto de determinado assunto, em função do tempo de cada bloco. E aí sempre há a possibilidade de retomarem a questão no próximo bloco, até para que haja oportunidade de aprofundamento do debate ou esclarecimento sobre um ponto de vista mais polêmico.

O sucesso do programa Em Frente junto aos seus telespectadores acontece pela naturalidade com que é apresentado. Os apresentadores também não acreditavam que fosse fazer sucesso, exatamente por acharem que é uma coisa tão simples. Na verdade o programa não tem produção nenhuma e apenas acontece naquela hora, ali, daquele jeito. Então exatamente por não haver essa preocupação com a audiência, a produção não sabia o que ia dar, e de fato o programa se tornou um dos programas de maior audiência da TV Aparecida.

Padre Pedro considera que o programa acontece de forma natural e as pessoas se identificam por isso. Em suas visitas a Maceió, Goiânia, João Pessoa, conta que quando chegava à casa de uma pessoa, a primeira coisa que vinham lhe mostrar era uma poltrona na

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sala e diziam: “é aqui onde o senhor chega e fica todas as quintas-feiras, o senhor faz parte da nossa família, a gente se sente assim, a gente sabe que o senhor está aqui como se fosse parte da nossa família”. Explica em parte a naturalidade que gerou todo o sucesso do Em Frente.

Sobre o feedback recebido das pessoas que assistem sobre as opiniões apresentadas, Padre Pedro diz que são variadas as reações dos telespectadores mas que os apresentadores não escondem o que pensam. Enquanto há pessoas que adoram algumas das respostas, há sim, um número muito pequeno daquelas que não suportam. Um exemplo acontece quando têm que ser incisivos em condenar determinadas práticas que algumas pessoas aceitam como naturais; as pessoas que condenam mandam emails falando “coisas que a gente fica até de cabelo arrepiado”. “Você não pode ser assim, porque é padre, tem que falar que isso é pecado. Então isso acontece”.

Para que se ter uma ideia são recebidos em torno de 800, 900 emails por semana sobre o programa. Desses todos, segundo informações do padre, apenas três emails com conteúdo criticando o programa. Portanto, a crítica representa um número

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quase insignificante. Sobre qualquer tipo de censura, Padre Pedro diz nunca ter recebido qualquer alerta de autoridades da Igreja, o que o faz sentir-se bastante animado e confortável com isso.

Falando de sua vida pessoal e missão pastoral, Padre Pedro diz que já não tem mais sonhos, e que seu maior sonho agora é ajudar as pessoas a realizarem os seus sonhos. Considera ser esse o momento que está vivendo em sua vida. Não há qualquer desafio ou conquista que tenha desejado para o futuro, a não ser ajudar a quem quiser conquistar alguma coisa. Padre Pedro diz que chegou em um momento em que tudo que faz atualmente é muito suficiente para chegar até o final de sua vida.

O Padre considera que, nada do que faz hoje é estático, tudo é muito dinâmico e não o deixa ficar acomodado, não o deixa ficar quieto, e o coloca sempre em constante movimento, então por conta disso, sente-se muito tranquilo.

Perguntado sobre sua opinião quanto a situação atual da TV brasileira, o apresentador do Em Frente disse que, “do ponto de vista artístico e técnico, é uma das melhores do mundo, e, apesar de não conhecer todas as TVs do mundo, conhece a de vários

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países e não sabe da existência de uma TV tão boa quanto a brasileira. Tecnicamente, artisticamente, plasticamente, é uma TV muito boa. Do ponto de vista de conteúdo é uma TV como outras TVs do mundo que passa por um problema. Primeiro problema: o noticiário é extremamente agressivo no sentido de que só apresenta tragédia e morte, desgraça, problemas e corrupção. Então as pessoas que assistem aos telejornais das tevês brasileiras terminam sempre muito angustiadas. Fala-se muito pouco de arte, de cultura, de inovação, de tecnologia, de coisas que pudessem levar a pessoa adiante. Segundo: temos alguns problemas com as novelas sim. Em nenhum lugar do mundo as novelas são tão bem aceitas quanto no Brasil. Elas ditam regras de vida sim, elas ditam e impõe valores sim. E nesse sentido, algumas coisas são muito arriscadas.” Mesmo que os autores digam assim: ‘nós apenas estamos reproduzindo a realidade’. Mas quando o fazem, acabam ampliando essa realidade para milhares e milhares de pessoas que passam a vivenciá-las. Há falta de programas educativos, que hoje são poucos. Alguns programas como os produzidos pela TV Cultura, considero muito bons. Outros também produzidos pela TV

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Futura, mas este é canal fechado. Espero que a TV digital chegando forte obrigue as emissoras a ter esse tipo de programa.”

Dra. Denise Procópio

Apresentadora do Em Frente, a Dra. Denise Procópio é psicóloga clínica, mestre em psicologia da Saúde e Doutora pela Pontifícia Universidade de São Paulo – PUC, conta que não existe qualquer preparação para responder às perguntas, que acabam sendo totalmente surpresa os apresentadores, que só passam a conhecer os assuntos sabendo na hora em que é realizado um sorteio da caixinha de acrílico, onde ficam as cartas e emails recebidos.

As cartas e emails selecionados são sorteados aleatoriamente durante o programa, e os telefonemas passam pela triagem das irmãs e quando são muito repetitivos, exemplo: aqueles de elogios ao programa,

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muitas vezes, ficam agrupados para não tomar muito tempo.

Sobre os temas mais abordados durante o programa, doutora Denise aponta os problemas religiosos principalmente no que concerne a algum restrição que a pessoa possa sentir, e também aqueles que envolvem a família, em casos de homosexualidade, casais de segunda união, problemas com relação aos filhos e doenças psicopatológicas.

Dra. Denise afirma que há uma preocupação sempre presente em frisar que o programa não tem como objetivo trazer uma solução aos problemas apresentados, mas sim levantar questões, ajudar as pessoas a pensar mais sobre o assunto e proporcionar um debate mais aprofundado do tema. É mais uma provocação e um programa de incentivo ao diálogo.

Com a citação de Donald Woods Winnicott na análise dos problemas apresentados durante o programa, Denise reafirma sua importância principalmente por que procura focar a questão da prevenção, alertando sobre os pontos mais importantes no que concerne a educação de crianças, à primeira infância, aos cuidados ambientes que se tem que ter com crianças para que se transformem em um adulto saudável.

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A popularização do programa junto aos seus telespectadores é atribuída à maneira simples de condução dos apresentadores. A fórmula acabou agradando pela simplicidade, e apesar de tratar de temas as vezes complexos e de haver uma preparação não para as perguntas, mas sim, pelo fato de todos haverem estudado bastante. Dra. Denise diz que estudou e ainda estuda em toda a sua vida, assim como Rodolfo e o Padre também. Apesar disso, todos procuram utilizar uma linguagem simples, de fácil compreensão e sem perder o humor. “Rola uma camaradagem entre nós”, diz; “e assim o ambiente do programa fica mais descontraído”.

O feedback recebido sobre as opiniões são na maioria positivos e vêm principalmente das mulheres quando o assunto é menopausa, educação de filhos, relacionamento de homem/mulher. A maioria responde muito bem, e até dizem gostar das respostas. A doutora enfatiza que todos sempre temos desafios e o seu, particularmente, é manter foco e falar cada vez mais sobre prevenção, seja de relacionamentos ou saúde física e mental. Diz que até sente-se chata quando vem uma pergunta sobre adolescente, de jovem, responde sempre com um olhar para a criança.

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Porque acha que a criança não é enxergada pelo adulto, e tampouco recebe sua atenção; muitas vezes a criança é tratada como um mini-adulto, ou como um objeto, como alguém que não tem sentimentos, como alguém que vai esquecer tudo o que acontece com elas.

Sobre a qualidade da programação na TV brasileira, Denise acha que existem bons programas mas cabe ao telespectador analisar e selecionar aqueles que irão merecer sua atenção, deixando de lado aqueles que são ruins ou de má qualidade. Muita gente diz que tal programa é ruim mas assiste. “A solução para resolver isso é baixar a audiência. Tem programas como Casa dos Artistas, A Fazenda, Big Brother, etc... que apresentam muita ‘baixaria’ e passam a ideia de ganhar dinheiro fácil para as pessoas”, finaliza.

O apresentador e teólogo Rodolfo Ferraz

O terceiro apresentador é Rodolfo Ferraz, formado em 3 áreas do conhecimento e crê que uma completa a outra: Filosofia, Teologia e Psicologia. Rodolfo diz que acaba utilizando todas em sua prática

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clínica, onde, de fato, se dedica profissionalmente, embora ainda dê aulas e tenha que apresentar o programa, é na clínica onde passa a maior parte do seu tempo, com seus pacientes, onde vive o seu dia a dia.

Sobre suas atividades, Rodolfo conta que vai para a TV Aparecida uma vez por semana para fazer o programa; coordena e leciona, junto com a Dra. Denise, um curso de pós-graduação lato-sensu

sobre Psicanálise, e ainda fazem atendimento em uma clínica, ontem mantêm um grupo vinculado à Sociedade Brasileira de Psicanálise Winicottiana, curso regular indicado para profissionais já formados, psicólogos de formação em Psicanálise.

Em suas respostas, algumas vezes Rodolfo cita trechos da Bíblia como orientação ou entendimento do contexto das perguntas, pergunto se, afinal, é mais psicólogo ou mais teólogo nas respostas e

“A religião pode tanto oprimir as pessoas, como ela pode ser um grande instrumento de libertação.”

Rodolfo Ferraz, psicólogo e teólogo

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observa que tudo isso está muito misturado em sua formação. A teologia representa muito e faz parte de sua vida porque pensa que as pessoas têm uma dimensão muito grande, que é a dimensão religiosa, a dimensão do sagrado, por isso é se dedicou a estudar Teologia, e estuda até hoje.

Rodolfo procura estar sempre atualizado por meio de livros, grupos de estudos, seminários e, até para lecionar nos cursos de Teologia porque vê que isso pode ser uma forma de libertação. “A religião pode oprimir as pessoas, mas também pode ser um grande instrumento de libertação”, pondera. É por esse motivo que gosta de ligar a Teologia à Bíblia,

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porque compreende que isso ilumina e liberta a vida do homem. Às vezes as religiões que as pessoas têm na cabeça fazem mais mal do que bem, mas a religião bem vivida liberta a vida. Rodolfo diz que é, no fundo, psicólogo de profissão, onde atua e através disso que consegue enxergar um pouco o mundo, e aí acaba sempre misturando um pouquinho isso.

O fato de algumas telespectadoras elogiarem sempre sua beleza e sabedoria, não o incomoda; diz que, na verdade, as pessoas não acreditam mas é bastante tímido, muito recolhido e bastante discreto. Ouvir elogios seja pela beleza ou pela sabedoria, lhe causam um pouco de vergonha, muito mais que um incômodo. Diz que não liga e até acha “bacana”; é um jeito das pessoas reconhecerem o trabalho e dizerem que estão atentas e que estão gostando.

Sobre suas opiniões durante o programa, Rodolfo acha que, em geral as pessoas gostam, e até por isso está no programa há 4 anos. Conta que as pessoas mais próximas, de alguma maneira, o julgam um tanto controverso. Isto porque, ao mesmo tempo em que algumas pessoas gostam, outras acabam se irritando um pouquinho, pois quando tem o que falar acaba fazendo de forma direta, sem subterfúgios

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ou rodeios. Pela sua participação nesses 4 anos de programa, observa que, de alguma maneira, as pessoas se beneficiam um pouco de suas respostas.

Denise e Rodolfo quase sempre citam Donald Woods Winnicot na análise de alguns problemas. Mas Rodolfo ressalta que o espectro da psicanálise é muito amplo. Nasceu com Freud, mas conta com autores importantes como Melanie Klein, Bion, André Green, entre outros. Winnicot é um psicanalista inglês já falecido que deixou uma obra muito importante para ser estudada, principalmente porque olha para um tema que a psicanálise não tinha olhado que é a relação da mãe com seu bebê e do bebê com sua mãe. Donald Winnicot também era pediatra antes de ser psicanalista, por isso faz parte do trabalho do pensamento e da formação do psicólogo Rodolfo.

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COMPARTILHANDO HISTÓRIAS

A seguir vamos conhecer algumas histórias apresentadas durante algumas edições do Programa Em Frente entre os anos de 2007 e 2009, que mostram um pouco sobre como o programa acontece, de que maneira os telespectadores são atendidos, como se dá o debate dos apresentadores na tentativa de elaborar uma resposta que se mostre adequada como sugestão ou orientação para os problemas apresentados.

Problemas com os filhosMulher que preferiu não ser identificada, conta

que tem um problema com uma filha de 14 anos que não obedece e filho de 39 anos que é alcoólatra. Padre indica a psicóloga para falar sobre caso da filha de 14 anos, como especialista e diz que se o filho de 39 anos não aceita ajuda, a mãe deve procurar ajuda no grupo AL-ANON (Alcoólicos Anônimos), grupo que auxilia parentes de alcoólatras. Denise comenta que nos relacionamentos a base é a família, e o início da vida é importante para o desenvolvimento do ser humano. Rodolfo destaca que a filha é adotiva

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e tem que refazer na adolescência a sua experiência traumática de nascimento. Tudo tem influência na história pessoal dessa criança que hoje é adolescente. Às vezes quem adota, adota porque ama mas, por não ser um filho biológico, espera que o filho adotivo seja grato, bom, não problemático. Denise e Rodolfo defendem ideia de que não se jogue na cara a condição de que os pais fizeram tudo pelo filho adotivo (nem pelo biológico). Denise defende que a verdade sobre a adoção seja contada pelos pais adotivos o quanto antes, para que a criança vá aceitando essa ideia bem cedo. Padre Pedro iniciou atendimento como sempre, e depois os dois apresentadores deram continuidade ao assunto.

Ciúmes no casamentoHomem anônimo, que o Padre chamou de

José, com idade de 37 anos, esposa de 35 anos, enviou e-mail selecionado pela direção dizendo que sempre assiste ao programa e o assunto é sobre relacionamentos. José conta que no namoro, antes de seu casamento, descobriu que a namorada (atual esposa) havia saído com um primo do noivo. Ela negou qualquer intimidade com o rapaz. Esse caso

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sempre o incomodou e cobrava sempre a esposa. Descobriu onde estava o rapaz e fez contato pelo orkut se passando por uma menina, e conseguiu uma declaração de que os dois dormiram juntos. Diz que se descobrisse que ela havia dormido com o rapaz, jamais teria casado com ela. Não consegue perdoá-la porque não sabe até que ponto existem mais coisas ocultas. Denise orienta-o a não julgar os sentimentos da pessoa e chama a atenção para o tempo de sofrimento, entre namoro e casamento. Justifica que talvez a namorada tenha se sentido perdida quando ele a abandonou, aceitando sair com outra pessoa. Indica um tratamento terapêutico para essa obsessão pelo passado. Padre diz que deve tomar cuidado e pensar que se não se cuidar, pela segunda vez, irá abandonar a esposa. Criticou o fato de o ouvinte ter entrado no orkut e se passado por outra pessoa dizendo que é com ele que ela teve um filho e agora mantém relações sexuais. “Deixe de ser besta”, disse o padre. Denise lembra a música “Detalhes”, de Roberto Carlos, dizendo que ela não o esqueceu em nenhum momento. Orienta para que não se pense que as outras pessoas são propriedade nossa, mas não poderia ficar “de mão postas” esperando pela

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volta do fulano. Padre diz que ele precisa entender essa situação e procurar tratamento. Isso pode estar acontecendo com outros homens que, por qualquer motivo, quando a mulher procura se arrumar mais um pouco, logo destróem o relacionamento com desconfianças e brigas. Orienta: chama pra perto, sai mais com ela, toma conta do que é seu, não deixa as águas levarem...

Decepção no casamento e suicídioMulher, anônima, por telefone contou que teve

um relacionamento de 3 anos com um homem que era divorciado há mais de 20 anos, agora ele diz que vai voltar para a família. Ela acha que é uma desculpa e desconfia que exista outra pessoa na história. Não aceita o rompimento e diz que vai se matar. Padre exclama: se matar? Ah, faz favor, que se matar que nada! Ele que vá se embora! Você que cuide da sua vida. Ele é que está perdendo. O homem da minha vida foi se embora e eu vou me matar? Não! Ele que vá se embora, vá com Deus, Deus o abençoe, mas eu vou cuidar da minha vida. Será que não tem família, sua profissão, não, etc... Conselho: quer um conselho de padre que não é casado mas entende dessas coisas?

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Vá comprar uma roupa bem bonita, se “empetecar” toda, num cabeleireiro, fique bem bonita porque quem sabe assim ele vê o que está perdendo! Denise: acha interessante rever por que está pensando em acabar com sua vida por causa de outra pessoa. Isso basta para que você se preocupe e procure se cuidar. Não é problema “desse” homem, mas um problema de você com você mesma.

Abandono de incapazMulher de nome Lorena, da cidade de

Araraquara-SP, conta que tem um irmão casado e que a mulher abandonou a casa por causa de outro homem, e deixou seu irmão com as duas filhas pequenas. Padre inicia atendimento e passa para Denise, que observa: “o importante é cuidar dessas meninas, mesmo que seja alguém da família que possa até ir dormir na casa com elas, até para dar um tempo ao homem para pensar e organizar a própria vida. Seria um apoio tanto para o pai como para as filhas”. Denise orienta para que procurem uma clínica-escola ou faculdades que fazem atendimento psicológico gratuito. Padre fala para a mãe que deixou os filhos: “você não pensa? Como faz essa burrada? Certamente você ama essas

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filhas, e ainda se junta com um ‘sem-vergonha’ desses, que está traindo sua mulher? Você não pensou que essa situação poderia causar consequências para essas crianças? Se alguém souber ou conhecer essa mulher, peça a ela que assista esse programa na segunda-feira, na reprise”. Padre dá uma verdadeira “bronca” na mulher que abandonou as crianças e deixa uma observação sobre que “a paixão passa, e pode ser ardente como fogo ou pimenta, mas quando passar deixará um sabor amargo, muito difícil de aguentar”.

Nulidade de CasamentoDalva, de Recife/PE, por e-mail conta que se

casou há muito tempo e com um homem importante, de uma empresa de navegação. É católica e foi criada na igreja. Alguns dias depois de casada viu o marido tendo uns “tremiliques”, e até achou que era um derrame mas descobriu que o homem era “pai de santo”. A mulher diz que se retirou e ficou assustada, e em pouco tempo achou que ele não poderia ser seu marido. Procurou o divórcio e também porque soube de infidelidades do marido. Quando saiu de lá, falou com o padre da paróquia que disse que ela fez muito bem em ter se separado, pois a igreja católica não faz

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casamento de católico com espírita. Padre atende e orienta dizendo que, com licença do bispo, o casamento pode ser feito entre um católico e um espírita. Observa que se ela não sabia quem era o homem, e que era pai de santo, a anulação é concedida. Esse é denominado o caso de “erro de pessoa”. Diz que Dalva deve entrar com pedido de anulação do casamento. Rodolfo entra com sua opinião dizendo que não é pelo fato apenas de ser de outro credo: umbanda, espírita, evangélico, que seja, mas uma questão de haver acordo entre as pessoas para celebração do casamento.

Relacionamento amorosoMaria e João (codinomes). Maria conta que tem

um relacionamento perfeito com essa pessoa, que se sente bem, mas ele é casado, e gostaria de ter uma palavrinha de opinião. Padre responde: “a palavrinha é que não se pode ter duas contrárias ao mesmo tempo. Na vida a gente sempre tem perdas, não tem como viver tudo. Neste caso, é um homem casado, já tem sua família. Não sei como é possível viver assim. Se você é desimpedida, deveria procurar uma pessoa livre, que possa lhe completar, alguém que possa sair à rua....” (interrompe) Denise toma a palavra e diz

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que ela disse que sai, mas não esclarece se é da mesma cidade, etc. Na verdade, as coisas boas que os dois fazem junto e tudo que aprendeu com essa pessoa, podem aprender a amar outra pessoa, e cita Drumond: “um amor vai, outro amor vai, mas o coração, esse sempre fica”. Emenda em outro atendimento, mas antes comenta a entrada do Pastor Júlio no chat do programa.

Transtorno de personalidadeMulher, anônima, fala do filho com 27 anos

que há 4 anos não trabalha. Tem um comportamento diferente do outro mais velho: sempre com a fisionomia fechada, aborrecida, a mãe não conhece seu sorriso. Diz que nunca sabe quando o filho está em casa ou fora de casa. É difícil o relacionamento dele em casa, porque não se dá nem com o pai, nem com o irmão. Denise pergunta se o filho se queixa e mulher diz que não. Pergunta se sempre foi assim e mãe diz que mudou dos 24 anos para cá. Na família tem uma tia que é assim, sempre de cara amarrada, fechada. Agora com os amigos, adora joguinhos de joystic. Não sabe como lidar com essa distimia, ou bipolaridade. Denise se despede e diz que vão conversar sobre o

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assunto, esperando ajudar a encontrar uma solução. Padre observa que é uma situação difícil, não sabe se aconteceu alguma coisa na infância, ou o que foi que causou essa forma de comportamento. Denise diz que os pais devem procurar ajuda para o filho. Diz que a questão não é material, mas falta de limites bem precisos, de uma abertura afetiva por que as pessoas confundem muito essas duas coisas. O limite é “você não pode exceder aquilo que nós podemos dar a você e aquilo que tem cabimento para a sua idade nessas circunstâncias, em que você já é um homem, não trabalha... por que nós temos isso para oferecer: casa, comida... agora, lazer, acesso à internet e exigências que ele faz, é preciso limitar. Mas não limitar o amor. Mas para isso é que façam um tratamento para vocês (a família)”. Padre ressalta que deve se chamar atenção com firmeza mantendo o amor. É o amor exigente. Denise orienta que a família procure uma ajuda profissional. Padre procura falar ao jovem de 27 anos: não tenha medo de procurar ajuda, isso tem remédio, tem cura. Tem solução. Procure amanhã mesmo, dê uma saída, procure uma psicóloga, por que acha que é para tratamento de louco. Nesse caso, procure um bom profissional. No dia em que

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procurar sua mãe para pedir alguns para fazer uma consulta, sua mãe ficará muito feliz em ajudar. Denise destaca que o fato de ficar à vontade e alegre com os amigos não é necessariamente fingimento, por que, na realidade, é com os mais próximos, da família, que descarregamos nossos bichos e nos sentimos mais à vontade para isso.

Possível SeparaçãoMulher, anônima, conta que está casada há

9 anos, e há pouco mais de 4 meses o marido está querendo a separação. O marido decidiu disso de uma hora para outra. Ela conta que busca os motivos dessa decisão, e já perguntou se existe outra pessoa, homem ou mulher. Argumenta que o marido já não a procura sexualmente, e não diz o que está acontecendo. Conta que há um mês antes tudo parecia normal, ele dizia que tudo estava bem, que a amava. Pergunta se o marido pode estar em um processo depressivo. Padre encaminha a resposta para Denise: “Eu acho 4 meses muito pouco”. É triste falar dessa forma por que é você que está vivendo essa situação. Seria muito interessante que você, primeiramente, procurasse cuidar de si mesma. Se ele não quer procurar ajuda,

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procure você. Para se manter inteira para lidar com essa situação. O ideal seria dizer a ele que, se de fato chegou a essa decisão, você não irá amarrá-lo para continuar casado. Aconselha que o casal tente elaborar um diálogo sobre o assunto para saber melhor que decisão realmente tomar. Acha que é muito cedo para se separar. Rodolfo entra com a observação de que ela acha que ele está em um processo depressivo. Orienta que a pessoa procure uma ajuda porque, senão, a cada dia poderá pensar que há uma possibilidade: um dia por que está precisando de ajuda, outro por que tem outra pessoa, no outro por que não quer contar... um dia por que não gosta mais de você... Diz que parece que o homem não dialoga, então será terrível conviver com essa angústia e com os fantasmas que irão surgindo, visto que o casal não conversa, pois ele parece não querer isso. O mínimo que ela poder fazer é cuidar do seu lado, ter alguém que a proteja, ajudando a encaminhar, para tentar entender ou chegar a um diálogo. Se isto não for possível pelo menos estará cuidada por alguém para passar por esse período que a gente sabe que não é fácil. “Não fique sozinha procure ajuda.” (A linguagem é direta)

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Problemas com a bebidaAntonio, de Caraguatatuba-SP, diz que gostaria

de uma opinião do Rodolfo, pois desde que aposentou, em 2002, começou a ficar pelos bares “tomando umas”, sem fazer nada, sabe que a cidade é cheia de boteco. Mas andaram acontecendo umas coisas: ele caiu, quebrou um dente e desde a passagem do ano de 2009 não bebe mais nada. Já estava há pelos menos 9 meses sem ingerir bebida alcoólica mas conta que continua tomando os remédios psiquiátricos, já esteve internado no Francisca Júlia, em São José. Diz que é uma pessoa muito sentimental e qualquer coisa o choca muito. Agora no dia dos pais, o pai morreu no dia em que a mãe completava aniversário, e foi enterrado no Dia dos Pais. Diz que tem uma mulher que é amor, Luzia. Conta que por causa dos remédios está meio esquecido, ainda fuma mas pouco. Diz que não fuma dentro de casa, e pega a caneta para acender o cigarro lá fora. Rodolfo diz que vai dizer alguma coisa que possa ajudá-lo como psicólogo. Duas coisas: primeiro sobre o tratamento, espera que tenha um acompanhamento médico. Se já esteve internado, tem um médico psiquiatra, que possa vê-lo regularmente para saber como está a condição de saúde. Esse caso

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de esquecimento pode ser por causa da medicação, mas isso deve ser relatado ao psiquiatra para que ele faça um diagnóstico. É importante saber o por quê desses esquecimentos, e além do tratamento que seja acompanhado também por um psicólogo ou uma psicóloga. É importante que no caso de psicólogo haja uma consulta pelo menos uma vez por semana, para que possa ser feita uma terapia. Até para saber quais são esses momentos em que está em “baixa”, então isso seria importante para tentar ajudá-lo nesse momento.

Falar com o bebê durante a gravidezMulher conta via e-mail que tem um filho de 1

ano e 7 meses e ele tem muito receio, medo, não sabe o que é, mas a criança só olha para o pai com rabo de olho. O pai tenta agradá-lo e ela sempre com aquele receio. Acha que é sua culpa pois quando estava grávida o pai da criança foi morar com outra mulher. Durante a gravidez ficou com muita raiva do marido, o odiava e desejava a morte dele. Dizia ao filho, conversava com ele no ventre dizendo que o pai dele não prestava, que tinha trocado ele por outra mulher, e se sente muito culpada por essa rejeição que ele sente

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pelo pai. Agora o marido, que está tentando exercer seu papel de pai, e tentando conquistá-lo enfrenta forte resistência do filho. Um dia o pai perguntou se o filho nunca iria gostar dele. Diz que fica imaginando o mal que fez à cabecinha do filho em relação ao pai. Outra coisa é a relação que tem com o pai da criança. Estão juntos, ele largou a outra mulher não tem filhos com ela mas não consegue relaxar e acreditar. Pede ajuda. Denise diz que o filho não absorveu no ventre o conteúdo das suas palavras mas pode ser que tenha sentido uma ambiente tenso, no seu organismo. É justamente esse emocional que altera o corpo. Além disso, acha que pode-se ligar essa coisa que você mesma diz que não relaxa, não confia, parece que está com o pé atrás. Então isso seu filho pode estar sentindo isso no ambiente. A criança não escuta nossas palavras: ela sente o que nós manifestamos emocionalmente a ela. Então é muito importante que você avalie o que está sentindo e já que está junto com esse homem, estão apostando e fazendo de tudo para estar junto. Que você realmente aposte e através de um relaxamento seu, uma postura mais descontraída, mais positiva, talvez o seu filho relaxe. E outra coisa, vocês não insistam com ele, porque se você insiste

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muito para uma criança gostar de alguém, ela fica cismada mesmo. Qual é a necessidade de agradar tanto, de fazer com que ela se aproxime. Então seja natural, o pai pode sentar, pegar um brinquedo, ficar brincando sozinho e despertando a atenção para que o filho chegue e fique brincando também. E aí quem sabe trocar uma conversa com muita tranquilidade nesse ambiente. Rodolfo diz que a última parte do email ilumina a primeira: ela ainda está tensa com esse marido, o pai do seu filho, eles estão vivendo juntos, e o seu filho participa dessa tensão, dessa preocupação, desse seu “pé atrás”. Então isso ajuda muito outras pessoas. Não é tão simples assim. Uma criança está ainda na barriga da mãe, ela fala e ele escuta. Ele não tem ainda capacidade nem cognitiva de assimilar, interpretar, não é de fato simples assim. A questão é que essa dificuldade sua com o pai dele permanece até hoje. Modificou-se obviamente, tanto que estão juntos, mas você mesma reconhece a sua tensão. Então se você depois que ele nascesse tivesse completamente mudado, o que eu acho que seria impossível. Talvez ele não apresentasse isso com o pai diretamente, por que aí ele não estaria vivendo isso. Isso porque geralmente o que a mãe sente na

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gravidez, ela continua sentindo quando o filho nasce. É muito difícil que sinta uma coisa durante 9 meses e com o filho nascido, agora sinta coisas exatamente ao contrário. O fato de começar a sentir isso na gestação e continuar, agora que ele pode ver o seu olhar para o pai dele, a sua preocupação, então confirmo o que a Denise falou: cuide de você. Padre Pedro entra com observação, dizendo que gostaria de reforçar o que a Denise disse: a criança sente, não ouve. Quando a gente fala, a gente não só diz, a gente expressa. É bem verdade que a criança não ouve, mas ela sente o que as palavras significam, e curiosamente quando a gente vai dizer a uma pessoa: eu te amo. Diz assim, eu te amo... quando a gente vai dizer a uma pessoa: você não presta!!!! A gente passa essa sensação ruim com uma força enorme. Eu acho que é importante, não é caso. Agora ela está tentando dar um jeito aí. Tudo o que foi dito aqui é suficiente para ela.

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DEPOIMENTOS

Os relatos a seguir foram conseguidos através de contato realizado por e-mail com telespectadores que gentilmente se dispuseram a contar um pouco sobre como conheceram o Em Frente, como se deu sua participação, se apresentaram questionamentos para resposta e, em alguns casos, de que maneira as orientações se revelaram importantes para suas vidas.

Francisca Jaclenes Queiroz Medeiros, 21

anos, solteira, Pós-graduanda em Psicopedagogia Institucional e Clínica, estudante, católica.

Filha de Maria de Lourdes Queiroz Medeiros e de Francisco Domingos Medeiros, tem dois irmãos (Antônio Flanky e Fábio Rangel), é a caçula, gosta muito de crianças, considera-se uma pessoa amiga que busca a cada dia tornar-se uma pessoa melhor seguindo os ensinamentos de Cristo. Conheceu o programa

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trocando de canal no ano de 2007 logo no início do mesmo (graças a Deus!), lhe chamou a atenção Rodolfo falando sobre Maria, a forma como falava tão sereno de nossa mãe e a partir deste momento assiste sempre o Em Frente. O que a levou a participar do Em Frente foi a forma como eles conduzem o programa com bastante sabedoria e respeito pelos participantes. Considera os apresentadores como três amigos especiais que recebe com imensa alegria todas as quintas-feiras. Por isso resolveu mandar uma mensagem, para obter esclarecimento sobre um tema. Participo do programa sempre participo pelo chat e por e-mail. As orientações recebidas no programa foram muito válidas no momento fiquei sem entender direito, pois falaram o que precisava ouvir e não o que queria ouvir. Ajudou-me bastante, tive um novo olhar referente à questão, que me influenciou no meu modo de viver. Sim, coloquei em prática as recomendações. Sobre a forma como os apresentadores atendem os telespectadores diz que é acolhedora. Atendem a todos com carinho, atenção e respeito independente do tema, da religião, da opção sexual, independente de qualquer coisa; são pessoas iluminadas por Deus, são anjos de luz anos iluminar neste caminhar para

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seguirmos sempre Em Frente. Padre Pedro, Denise e Rodolfo acolhe a todos, ouvem cariosamente cada participante, todos com uma história que se revela um ensinamento aos telespectadores, muitas histórias nos deixam com o coração apertado, outras nos emocionam, todas são excelente oportunidade de crescimento. Jaclenes deseja que o programa seja mais divulgado para que mais pessoas tenham acesso a essa preciosidade! E ao Padre Pedro, Denise e Rodolfo, deixa uma mensagem: obrigada por cada ensinamento, cada palavra de vida, solidária que nos leva a seguir Em Frente, mesmo diante as adversidades. Obrigada!

Marcos Costa, 35 anos, solteiro, Ensino Médio, Designer Gráfico, Católico Apostólico Romano.

Nascido em Ceres-GO, desde os 3 anos vive em Goiânia. De família simples de origem rural, seus avós são mineiros, mãe goiana e pai mineiro e como frutos de seu matrimônio vieram Andrea, Magno e Marcos. Cresceu vendo os pais atuantes na igreja, mas nem sempre ele e sua irmã podiam ir às reuniões

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que aconteciam muito tarde (20hs), já que na época os dois tinham 7 e 5 anos, respectivamente. Magno o irmão mais novo ainda não era nascido. Os pais ainda participam da igreja, mas já não como antes e também não na mesma paroquia pois mudaram de bairro. Marcos conta que “não era do tipo que gostava de ir a missa ou qualquer coisa que me lembrava religião, e lembra que “como via os pais sempre muito envolvidos demais, achava que a igreja os “roubava” de sua companhia. Com o passar do tempo foi vendo que não era bem assim, e hoje está feliz por seus pais nunca terem deixado de participar das atividades paroquiais. Sente-se hoje como um jovem preparado para a vida de fé e deseja, assim como seus pais, caminhar sempre com a igreja. O designer revela que, como todo ser humano, tem grandes sonhos, e acredita que é preciso sonhar sim. Entre seus sonhos o maior é montar uma sala-de-aula para dar cursos de informática às pessoas mais carentes. Sobre o Programa Em Frente, Marcos nos conta que conheceu meio sem querer. “Fui mudando de canal e eis que de repente vejo o Rodolfo falando sobre a palavra ‘criancisse’, é comum dizer isso quando alguém comete algum ato que desaprovamos

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e julgamos tolo... e ele dizia que devíamos respeitar mais as crianças que não merecem ser comparadas como algo tolo... pois uma criança sempre vai agir de acordo com aquilo que ela conhece e sendo assim, haverá sempre nela a total entrega e não como nós”. “Achei aquilo muito interessante e continuei a acompanhar o programa e assim conhecendo um pouco mais sobre Rodolfo, Padre Pedro e Denise.”

O principal é que foi aprendendo com o povo que participa através de cartas, e-mail ou telefonemas. O maior brilho do programa está nestas pessoas e os apresentadores são como bons costureiros que vão tecendo as histórias de um povo, com seus pedaços de vida. O Em Frente deixou de ser para muitos de nós apenas um programa como tantos outros, para se transformar, de fato, uma visita com data e hora certa

“O Em Frente não é para mim apenas mais um programa... mas sim

uma nova janela que nos ensina a ver a vida por uma nova ótica”

Marcos Costa, designer

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de chegar. Repleto de vida e não de fofocas, repleto de esperança e não desânimo... e sobretudo, “alguém” que nos ensina a partilhar essa incrível aventura de sermos humanos. Os apresentadores deixaram seus postos e passaram a ser amigos... Mas não como amigos que consideramos, como esses personagens de alguma novela ou de algum programa de TV. Amigos que nos impulsionam em querer tocar... ver... sentir e dizer: Obrigado viu? E foi exatamente esse o motivo que me levou a sair de Goiânia para ir a Lorena para conhecê-los. Para minha grande alegria, tive a certeza que além de serem pessoas reais... eles são exatamente aquilo que aprendi a admirar... Hoje tenho o Padre Pedro como um bom amigo e conselheiro... e para a minha grande felicidade ele já até esteve em minha casa por duas ocasiões. Participamos do programa sempre... mesmo sem ter que ligar ou mandar algum e-mail... acredito que todos que assistem esse programa em algum momento vai concordar ou discordar dos apresentadores a ponto de em alta voz dizer.. Muito bem! É isso aí! ou então Opa, péra aí, não é bem assim não! Já participei várias vezes do programa por e-mail, mas nunca liguei não... e também já estive por duas vezes nos bastidores do programa...

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o que me deixou imensamente feliz e realizado... Era como se eu pudesse dizer a todos... Gente, tudo isso é verdade mesmo! Não existe nada combinado... nem telefonemas, nem cartas, nem e-mails... o que existe de fato é o grande interesse de acolher essas pessoas com suas historias de vida. Se as orientações influenciaram a minha vida? Bom, na época que meus pais participavam na comunidade e minha irmã e eu ficávamos em casa. Um dia, dormimos na sala a espera deles e deixamos a porta aberta... Meus pais chegaram e com o susto de ver aquela situação, minha mãe logo nos acordou, brigando, chamando a nossa atenção para que aquilo não acontecesse mais. Mesmo morando no mesmo lote que meus avós. Lembro que tinha mais ou menos 7 anos e disse que quando crescesse não iria participar de nada na igreja, pois queria mesmo era cuidar de meus filhos. Imagina a situação! Bom, naquele dia, meus pais decidiram que iriam continuar, porém, sempre um iria e o outro ficava, já que eles participavam de várias atividades. Bom, cresci com essa mentalidade até conhecer o programa. Hoje já tenho esse mesmo desejo, de participar sim, de me doar por inteiro. O Em Frente não é para mim apenas mais um programa... mas sim

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uma nova janela que nos ensina a ver a vida por uma nova ótica. A atenção que eles dão aos telespectadores é algo fora do comum: o Padre Pedro, se acomoda em sua cadeira, fixa o olhar na lente da câmera como se ele estivesse olhando nos olhos de quem está ligando, afim de dizer: Pode dizer filho, estou aqui inteiramente lhe ouvindo. A Denise silenciosamente também acompanha cada ligação e sempre que tem algum nome de um medicamento ela acaba anotando para que no final eles possam desenvolver bem o comentário. O Rodolfo sempre com a caneta em punho, também vai lendo as entrelinhas do telefonema e sempre busca uma frase dita pela pessoa ou alguma frase dita por alguém que expressa aquele momento. Assim como algum escrito bíblico. Sendo assim, eles nunca atendem um telefonema... mas, sobretudo, se envolvem por inteiro... acolhendo quem quer que seja... independente do tema, religião. Não é uma questão de ser fã do programa... mas é uma questão de ser fã da forma como eles acolhem esse povo tão sedento de um olhar, um ouvir de qualidade... Já que para o mundo isso é tolice. Acredito que se cada um de nós trouxéssemos para a vida essa forma de ouvir e acolher... teríamos cada

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vez mais pessoas impulsionadas para a vida do que como hoje vemos tantas pessoas reclamando de serem tão sós... mesmo rodeado por tantas pessoas. Marcos deixa a seguinte mensagem: “Que aprendamos com o Em Frente a acolher sem julgar, dando às pessoas sempre uma direção e uma condição e razões para enfrentar a vida...”

Gláucia conta que conheceu o programa há mais de dois anos e que ele a salvou, que ainda trava uma guerra contra os problemas e fraquezas mas está “viva” e considera que isso se deve ao Em Frente e ao Cabedalis. Também ao fato de ter dado os passos que precisava. Diz que sua vida não é muito fácil, ainda faz terapia e toma medicação com acompanhamento contínuo. Frequenta quase que diariamente um grupo de ajuda a usuários de drogas, que têm lhe ajudado a ficar limpa há quase 7 meses. Tem alcançado muitas vitórias, mas de vez em quando sente-se a pior das pessoas no mundo e sem forças pra nada. Sabe que isso vai passar. Sobre como conheceu o programa, Glaucia assistiu o programa pela primeira vez por acaso, “naquela hora que você fica mudando de canal por que tá tudo muito chato.” Havia acabado de

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sair de um relacionamento de cinco anos com uma companheira com 3 crianças e diz que era apaixonada por elas. Sentiu como se a vida tivesse ruído e procurou ajuda na Igreja. Mas sentia-se a maior das pecadoras por causa de sua orientação sexual. Foi quando ouviu Rodolfo respondendo a alguém sobre homossexualidade com tanta ternura e humanidade que “parou” no canal. Entrou no fórum do site Cabedalis, fez um curso com o Pe. Pedro pela internet. Rodolfo e Denise a ajudaram muito orientando para que procurasse ajuda psiquiátrica, por ser portadora de Transtorno de Ansiedade e Síndrome do Pânico. Glaucia mora sozinha, seus pais morreram há vários anos e diz que é dependente de cocaína há 24 anos; sempre parava um tempo mas acabava voltando. Sua vida não está um mar de rosas, mas diz que “não estaria mais aqui se não fosse eles”. No ano de 2010, Glaucia se presenteou com uma ida ao programa, passando 15 dias em Lorena, frequentou o Aldeias da Vida, que é um projeto fantástico organizado por Padre Pedro. “Foi maravilhoso estar com eles pessoalmente. Eu moro em Goiânia e não perco um programa.”

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Maria do Carmo, 46 anos, solteira, ensino médio completo, auxiliar de escritório, católica

Uma pessoa organizada, bem disposta, que gosta de fazer amizades, acolher as pessoas e ajudá-las, além de bater um bom papo. Maria tem bom humor e procura aprender com tudo que acontece no seu dia a dia e com as pessoas. Conta que conheceu o programa em 2009, através da TV Aparecida e tem participado por e-mail e cartas. Sobre como o programa influenciou em sua vida, diz que as orientações a ajudaram confirmar que estava no caminho certo, “foi um apoio muito grande proporcionando-me seguir em frente nas minhas lutas, conquistas e maneira de agir.” Sobre os apresentadores, considera que são carinhosos, atenciosos e provocam reflexão apontando soluções ou simplesmente dando dicas de como enfrentar a vida.

Marcela, 24 anos, solteira, graduada em história, trabalha como santeira e não tem vínculo com qualquer instituição religiosa.

Considera-se uma pessoa que se identifica pela felicidade, é uma pessoa feliz em busca de

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felicidade. “Ser feliz é buscar o bem nas minhas ações e a paz de espírito.” Marcela é uma pessoa materialmente independente, com uma relação com Deus cada dia mais sólida, que vive buscando a libertação de conflitos emocionais e paradigmas que a distanciam da sua paz interior e de Deus. É uma pessoa comprometida com alguns comportamentos que a definem: sensibilizar, refletir, flexibilizar, agir ou retroceder. Esses compromisso fazem sua vida ser uma surpresa diária, não por acaso, não tem rotina há um bom tempo. Compromisso sem rotina é seu estilo de vida. Marcela começou a assistir o programa há aproximadamente 1 ano, por pura curiosidade para ver como era a dinâmica do chat, muito mencionado pelo próprio padre durante o programa. Não entrou em contato direto com o programa, apenas o assiste e participou do chat uma única vez. Acha que as orientações dos apresentadores são úteis para quem as recebe. A experiência de acompanhar o programa é sempre boa, porque os testemunhos e soluções, ou apenas reflexões, são positivos para abrir a mente a outras realidades que não dialogam diretamente com a sua mas de certa forma, a humanizam mais. Certa vez o programa atingiu com muita objetividade um

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dado de sua vida, com uma resposta a respeito da polêmica da suposta relação entre a imagem do santo católico e a idolatria. A resposta do programa a ajudou a apresentar com mais qualidade sua proposta de trabalho, afinal, o santeiro sofre criticas de quem não compartilha da fé católica. Sobre os apresentadores acha que são bastante receptivos, com um tom alegre, e sempre tratam qualquer questão com delicadeza e respeito, mesmo quando não há espaço para o humor. O que a manteve assistindo ao programa foi a forma prática de encarar os problemas e a espiritualidade e religiosidade, e principalmente a maneira receptiva ao tratar os não-católicos que o assistem.

Carlos Roberto de Souza. 49 anos, casado, superior completo, consultor, católico, é uma pessoa temente a Deus e ama sua família.

“Zapeando” pelos canais da TV, conheceu o Em Frente e simpatizou-se com os apresentadores mas nunca ligou para o programa. Participa das discussões principalmente por chat, mas conta que ainda não recebeu orientações. Sobre a forma como

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os apresentadores atendem os telespectadores, acha que têm “muita capacidade, humildade e sabedoria”.

Cláudia Regina Gozzi, 39 anos, solteira, pós-graduada em Direito do Trabalho, advogada, tem um lado espiritual independente de religião.

Filha de Paulo e Isabel, de uma família com 5 filhas, é a do meio. Mora sozinha, gosta de estar envolvida em assuntos referentes à justiça social. Conheceu o programa por intermédio de sua mãe que assiste toda as quintas-feiras. Nunca ligou para o programa mas gosta de ouvir as respostas das perguntas que aparecem, principalmente as dadas pelo Rodolfo. Ainda não participou do programa, contudo, sempre participa do Fórum Cabedalis. Sobre como o programa influencia sua vida, Cláudia diz que, embora nunca tenha participado fazendo perguntas, as perguntas de outras pessoas muitas vezes tem a ver com situações que está vivendo ou já viveu. As orientações dos apresentadores sempre lhe são úteis. Sobre os apresentadores: “São uma graça, atendem muito bem os telespectadores.”

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CONCLUSÃO

A realização deste livro serviu para aprimorar o que considero como as principais características do profissional de jornalismo: capacidade de observação, intenso trabalho de apuração e respeito à ética da informação. É a observação do cotidiano que provoca questionamentos e sugere novas ideias que podem transformar-se em agentes de transformação para a vida em sociedade. O trabalho de apuração é primordial para que se conheça o foco e âmago da mensagem a ser transmitida. Fecham esses atributos, a responsabilidade ética em trazer sempre a informação mais completa e correspondente à verdade dos fatos retratados.

O caminho percorrido para chegar à conclusão deste trabalho foi por vezes penoso, desgastante e desanimador. Talvez este não seja o momento adequado para uma análise dos desafios apresentados, contudo, será importante para compreender quais são as razões que nos levam em direção a um determinado objetivo na vida.

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Assim como a maioria dos entrevistados, conheci o programa por acaso, em uma época que os “realitys shows” faziam muito sucesso, deixando reduzidas as opções de programas de qualidade.

Parei no canal da TV Aparecida principalmente pelo debate realizado no programa, e achei interessante o fato de estar em um horário nobre, com participações ao vivo.

As histórias humanas muito nos interessam pelo exemplo de fé e superação, pela confirmação de que o ser humano é único e surpreendente quando descobre que estão dentro de si as melhores soluções para sua vida.

Vivendo em um mundo altamente competitivo e individualista, o exemplo que fica é o da compaixão (sentimento de simpatia e identificação com quem sofre ou tem dificuldades, dic. Caldas Aulete); da solidariedade com os problemas do próximo.

A qualidade de um programa educativo também se verifica na sua função social, difundindo informações de utilidade pública, esclarecendo dúvidas e, principalmente, encaminhando os casos mais complexos aos profissionais competentes para atendê-los, como psiquiatras, médicos, advogados, etc.

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Quem dera essa iniciativa possa demonstrar que a televisão brasileira tem propostas em sua programação com o escopo de melhorar a qualidade da comunicação, abrindo espaço e dando voz ao cidadão, por meio de uma interatividade que assume a prestação de serviços como principal produto, ouvindo, debatendo e apresentando temas que contribuam para difundir o conhecimento e aumentar o nível de informação da sociedade.

Com o sentimento de dever cumprido, considero que muita coisa ainda precisa ser feita para que a boa informação não caia no vazio, consiga encontrar boa terra no coração dos cidadãos de bem e venha produzir excelentes frutos de cidadania.

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BIBLIOGRAFIA

Livros:

BORELLI, Silvia H. S. e Priolli, Gabriel (coords.). A Deusa Ferida: porque a Rede Globo não é mais a campeã absoluta de audiência. São Paulo: Summus, 2000.

COHN, Gabriel. Comunicação e Indústria Cultural: Leituras de análise dos meios de comunicação na sociedade contemporânea. Companhia Editora Nacional. São Paulo, 1971.

GOFFMAN, Erving. Estima: Notas sobre a manipulação da Identidade Deteriorada. 2a. Edição. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1978.

PEREIRA JR., Luiz Costa; Organizador. A Vida com a TV – O poder da televisão no cotidiano. Editora SENAC. São Paulo, 2002.

PERELMAN, Chaim; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da Argumentação – A Nova Retórica. Martins Fontes. São Paulo, 2002.

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Sites:

Wikipedia, a Enciclopédia livre. Conteúdo online em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Harold_Lasswell - acessado em 11/11/11.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas -

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1708 - Acesso realizado em 11/11/2011.