em defesa de uma opinião pública democrática: conceitos ... · questões políticas de interesse...

14
EM DEFESA DE UMA OPINIãO PúBLICA DEMOCRáTICA: CONCEITOS, ENTRAVES E DESAFIOS

Upload: dodat

Post on 08-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

em defesa de uma opinião pública democrática:conceitos, entraves e desafios

@ Temas de Comunicação

• Para entender a comunicação, ciro marcondes filho• SuperCiber: a civilização místico-tecnológica do século 21: sobrevivência e ações estratégicas,

ciro marcondes filho• Introdução à percepção: entre os sentidos e o conhecimento, ana maria Guimarães Jorge• Ser jornalista no Brasil: identidade profissional e formação acadêmica, fernanda lima

lopes• Liberdade de expressão: as várias faces de um desafio, venício a. de lima e Juarez Gui-

marães (orgs.)•Uma foto vale mais que mil palavras, alexandre Huady torres Guimarães, fred izumi

utsunomiya e ronaldo de oliveira batista (orgs.)• Corpo Informa, isabel orestes silveira e alexandre Huady torres Guimarães

(orgs.)• Em defesa de uma opinião pública democrática: conceitos, entraves e desafios, ana paola

amorim, Juarez Guimarães e venício a. de lima (orgs.)

Em defesa de uma opinião pública

democrática

ana paola amorimJuarez Guimarãesvenício a. de lima

(orGs.)

conceitos, entraves e desafios

direção editorial: Claudiano Avelino dos Santosassistente editorial: Jacqueline Mendes Fontesrevisão: Iranildo Bezerra Lopes Caio Pereiradiagramação: Ana Lúcia Perfonciocapa: Marcelo Campanhãimpressão e acabamento: paulus

© paulus – 2014 RuaFranciscoCruz,229•04117-091SãoPaulo(Brasil) Tel.(11)5087-3700•Fax(11)5579-3627 [email protected]•www.paulus.com.br

ISBN978-85-349-4010-8

1ª edição, 2014

dados internacionais de catalogação na publicação (cip)(câmara brasileira do livro, sp, brasil)

em defesa de uma opinião pública: conceitos, entraves e desafios / venício a. de lima, Juarez Guimarães, ana paola amorim (orgs.). – são paulo: paulus, 2014. – (coleção temas de comunicação)vários autores.ISBN978-85-349-4010-81.Cidadania2.Democracia3.Opiniãopública4.ParticipaçãopolíticaI.Lima,venício a. de. ii. Guimarães, Juarez. iii. amorim, ana paola. iv. série.

14-08218 CDD-303.38

índices para catálogo sistemático:1. Questões políticas de interesse coletivo: estudos de comunicação de massa e opiniãopública:Ciênciassociais303.38

5

Em

def

esa

de u

ma

opin

ião

públ

ica

dem

ocrá

tica

@

Sumário

agradecimentos ........................................................................ 7

introdução ................................................................................... 9

Parte I .................................................................................................. 15conceitos fundamentais

1. uma filosofia política para uma opinião pública democrática .................................................................................... 17

entrevista com Newton Bignotto e Helton adverse

2. democracia participativa, esfera pública e opinião pública democrática .................................................. 59

entrevista com Leonardo avritzer

Parte II ................................................................................................. 87entraves à formação de uma opinião pública democrática

3. imprensa e opinião pública no brasil: uma retrospectiva histórica ........................................................ 89

aloysio Castelo de Carvalho

4. os enigmas da herança do primeiro período vargas na radiodifusão brasileira: a ausência do público ...................................................................133

ana Paola amorim

5. normas legais da comunicação social: interesse privado vs. interesse público .....................................169

Venício a. de Lima

6

@

6. a comunicação como um direito e o espaço público midiático ..............................................................197

Bia Barbosa

Parte III ...............................................................................................217desafios para uma regulação republicana da comunicação

7. batalhas pela diversidade: o que aprender com as experiências latino-americanas ......219

Dênis de Moraes

8. regulamentação e liberdade na rede: o marco civil da internet ............................................................239 Sérgio amadeu da Silveira

sobre os autores ..................................................................................257

7

Em

def

esa

de u

ma

opin

ião

públ

ica

dem

ocrá

tica

@

Agradecimentos

os organizadores agradecem à fundação ford, na pessoa do professor mauro porto, que viabilizou financeiramente a publicação deste livro; à fundep-ufmg, que operacionali-zou a transferência dos recursos; e a Jakson alencar, da paulus, que prontamente acolheu nossa proposta.

belo Horizonte/brasília, inverno de 2014.

9

Em

def

esa

de u

ma

opin

ião

públ

ica

dem

ocrá

tica

@

Introdução

Por uma opinião pública democrática no Brasil

nos últimos anos, a maioria dos brasileiros, sem desertar de suas convicções democráticas, mas, mesmo em razão de-las, já construiu amplamente um diagnóstico crítico do modo de funcionamento do atual sistema político no brasil e anseia por reformas políticas. Há muitas evidências de que já está se firmando em um número cada vez maior de brasileiros a cons-ciência de que também o sistema de comunicações de massas, privatizado, altamente concentrado e oligopolizado, não serve à democracia do país e precisa ser regulado a partir de princí-pios republicanos e pluralistas.

este livro, para o qual convergem os saberes, as reflexões e as pesquisas de filósofos, cientistas políticos e um conjun-to de intelectuais com larga interlocução acadêmica e pública na área de comunicação, pretende contribuir para a formação dessa nova consciência e dessa nova linguagem em favor de uma opinião pública democrática no país. como tal, se insere em um conjunto de obras recentes que, sob o prisma de uma convergência entre várias áreas de conhecimento, têm elabora-do sobre o desafio da liberdade de expressão nas democracias contemporâneas.

a primeira entrevista, conduzida sob a forma de um diálo-go com dois filósofos que frequentam a vanguarda das tradi-ções nacionais e internacionais da cultura do republicanismo democrático, newton bignotto e Helton adverse, pretende en-frentar os desafios intelectuais do uso contemporâneo dessa

10

@

linguagem para se travar a luta pública pela democratização das comunicações no país.

a construção de uma matriz brasileira do republicanismo democrático, como linguagem pública, ao mesmo tempo eru-dita e popular, é decisiva para quem luta pela liberdade de ex-pressão por três razões.

em primeiro lugar, porque essa tradição traz, em sua identi-dade, de formação e desenvolvimento, um conceito forte e po-larizador de liberdade, fundando a autonomia do indivíduo na própria ideia da democracia e da soberania popular. uma cam-panha pela liberdade de expressão fracassará se não tiver em seu centro um princípio soberano de liberdade, a partir do qual não apenas possa refutar a censura do estado, mas argumentar em favor das leis democráticas que a possam garantir, que possam defender o pluralismo das vozes sociais e, ao mesmo tempo, denunciar a censura que também se faz nas grandes empresas privadas de comunicação que hoje são dominantes no brasil.

em segundo lugar, precisamos de uma teoria, de uma lin-guagem e de conceitos que não separem comunicação de po-lítica ou que simplesmente as relacionem a partir de um prin-cípio de interdisciplinaridade. sem direito à voz pública – o direito de falar e ser ouvido –, não se forma o cidadão livre. sem opinião pública democrática, o princípio da soberania popular não pode se estabelecer. a política depende sempre da formação do juízo e da opinião pública, mesmo quando mobiliza interesses ou até quando usa da coerção, legítima ou não. É preciso superar de vez aquelas pragmáticas políticas que desvalorizam ou marginalizam o valor central de uma opi-nião pública democrática, onde se formam e se transformam os valores e a cultura de uma sociedade.

uma terceira razão é que precisamos inteiramente de uma linguagem política crítica e alternativa à linguagem política opressora do neoliberalismo, que identifica liberdade de ex-pressão à lógica do “mercado de ideias”, que sacraliza a forma mercantil e demoniza mesmo as leis democráticas e pluralis-tas, para vincular a liberdade de expressão aos poderes incon-dicionados das grandes empresas de mídia.

11

Em

def

esa

de u

ma

opin

ião

públ

ica

dem

ocrá

tica

@

a formação de uma matriz republicana permite, além de fazer essa disputa democrática com o neoliberalismo, dialogar com as tradições do socialismo democrático. isto é, firmar um valor de esquerda, com toda a sua expressão nas classes traba-lhadoras e populares, sem se confundir com as culturas auto-cráticas do socialismo, ontem dominantes e que eram, como se sabe, inimigas da liberdade de expressão. possibilita, além disso, estabelecer um diálogo fértil, sem absorver os limites intrínsecos das contribuições liberais democráticas ou cívicas que se opõem aos argumentos neoliberais a partir de dentro do pluralismo da tradição liberal em suas dimensões mais pro-gressistas, mas hoje fortemente minoritárias.

a segunda entrevista é um diálogo reflexivo já na área da ciência política, com leonardo avritzer, um intelectual bra-sileiro que exerce uma importante liderança acadêmica inter-nacional na área dos estudos sobre democracia participativa, tendo sido, nas últimas décadas, uma das principais referên-cias na crítica brasileira às chamadas culturas do “elitismo de-mocrático”. isto é, aquelas correntes típicas da ortodoxia da ciência política que concebem como inescapável, nas socieda-des modernas, o governo das elites e a impossibilidade de uma participação cidadã informada e democrática.

a entrevista é importante também por três razões. em pri-meiro lugar, porque há um diagnóstico hoje de uma nítida desvinculação entre as formas de participação democrática dos brasileiros que vieram consolidando-se nas últimas déca-das e o grau de democratização da comunicação de massas do país. além disso, é certo que a luta dos brasileiros pela liberda-de de expressão deve convergir e interagir com os seus exercí-cios de cidadania ativa e pela reforma política se quiser fugir de uma dinâmica isolada e corporativa.

uma terceira razão consulta o diálogo necessário e enri-quecedor entre as tradições e matrizes do republicanismo de-mocrático e as chamadas culturas da democracia deliberativa, que se centralizam no conceito de “esfera pública”, desenvol-vido na modernidade por Hannah arendt e atualizado em certa direção por Jurgen Habermas. neste diálogo, pode resi-

12

@

dir um ganho inestimável para as duas tradições que enfren-tam, de um ponto de vista crítico, as razões fortes e midiáticas do neoliberalismo.

concebido como uma cultura, uma política e uma lingua-gem em formação nos tempos longos da história brasileira, o republicanismo serve também para pesquisar, refletir e atua-lizar uma história dos impasses na formação de uma opinião pública democrática no país. se, na maior parte do tempo, ti-vemos uma república sem o princípio da soberania popular, isto é, sem democracia, hoje temos no brasil um princípio de-mocrático que está travado, em inúmeras dimensões estrutu-rantes, pela formação antirrepublicana do estado brasileiro. isto é, questões-chaves como a injusta e centenária concentra-ção da propriedade agrária, a corrupção sistêmica, a estrutura tributária regressiva, um aparato de segurança anticidadã e antidireitos humanos frequentam hoje ostensivamente a de-mocracia brasileira. não há como enfrentá-las sem entendê--las como impasses estruturais e históricos do longo processo de republicanização do país, isto é, da constituição de uma sociedade democrática onde os cidadãos e cidadãs tenham, de fato, direitos e deveres simétricos.

a não constituição de uma opinião pública democrática é hoje um desses impasses, central porque afeta estruturalmen-te a formação da legitimidade democrática em todas as áreas onde se requer transformações históricas decisivas.

a segunda parte do livro procura cobrir as origens deste impasse histórico desde a chamada revolução de 30 até os dias de hoje. a contextualização de uma matriz republicana exige o trabalho da história em um sentido forte, isto é, exige pensar aquelas conjunturas decisivas em que os fundamen-tos de legitimação do estado passaram por transformações decisivas.

o que esta pesquisa histórica já revela, através dos ensaios que compõem essa segunda parte, é que há uma continuidade de leis e de iniciativas do estado em favor de um desenvolvi-mento incondicionado de um sistema privatista, concentrado e fortemente ancorado na reprodução de padrões conservado-

13

Em

def

esa

de u

ma

opin

ião

públ

ica

dem

ocrá

tica

@

res e antipopulares da política brasileira, que relega ao segundo plano a consolidação de um sistema público democrático de comunicação.

a reprodução desses padrões conservadores e antipopula-res se expressa inequivocamente na posição editorial e de co-lunistas dos principais jornais brasileiros, desde a república velha até os nossos dias.

essas revelações são importantes, em primeiro lugar, para fugir de uma naturalização dessa história, isto é, escolhas de-cisivas em momentos históricos decisivos se impuseram, mol-dando um perfil singular para a estrutura dos meios de comu-nicação de massa no brasil. além disso, demonstra o quanto é falseada aquela narrativa que erige os poderes econômicos privados em favor da liberdade de expressão contra as pulsões repressoras e censórias do estado. na verdade, foi nos mo-mentos mais autocráticos do estado brasileiro que mais cres-ceram e se criaram estímulos para o crescimento dos poderes midiáticos mercantis.

além disso, essa afirmação de uma continuidade antirrepu-blicana e antidemocrática no campo da estrutura de comuni-cação de massas exige pensar, nos moldes de certa tradição de pesquisa histórica das políticas públicas, o efeito cumulativo das trajetórias, isto é, como certas decisões tomadas em certos períodos acabam por estruturar desenvolvimentos futuros, condicionando também a prática dos atores envolvidos. no caso das comunicações, há, ainda, o chamado efeito do “encar-ceramento da trajetória”: isto é, a partir do poder acumulado, os grandes empresários midiáticos passam a pressionar e deter um importante poder de chantagem sobre os atores políticos, condicionando-os e até constrangendo-os a votar em leis e a praticar iniciativas que beneficiam ainda mais os interesses empresariais midiáticos.

praticando um princípio da esperança, de que toda crítica precisa de uma nova síntese, de abertura de sentidos e de pos-sibilidade de transformação, a terceira parte do livro procura pensar experiências recentes na américa latina bem como o novo marco civil da internet, recém-aprovado no congresso

14

@

nacional e que passa a compor uma inovação saudada inter-nacionalmente como precursora e paradigmática.

em suas razões, argumentos, pesquisas e polêmicas, este livro se propõe a enriquecer o entendimento de que lutar pela liberdade de expressão já é, em si mesmo, uma expressão da liberdade.

Os organizadoresbelo Horizonte/brasília, inverno de 2014