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questões globais Revista eletrônica do Departamento de Estado dos EUA Fevereiro de 2003, Volume 8, Número 1 Em busca de uma mídia livre e responsável

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q u e s t õ e s g l o b a i s

Revista eletrônica do Departamento de Estado dos EUA • Fevereiro de 2003, Volume 8, Número 1

Em busca de uma mídia livre e responsável

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“O Congresso não deverá criar nenhuma lei...limitando a liberdade de expressão

ou da imprensa.”Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos

Um axioma fundamental da democracia é o de que os cidadãos devem teracesso à informação e ao conhecimento. As pessoas devem ser infor-

madas se desempenham um papel ativo na vida de seu país. Uma mídia livre eresponsável é uma fonte fundamental de informação para os cidadãos quequerem escolher os melhores líderes para seu país e tomarem decisões ade-quadas sobre os problemas de sua nação e de suas comunidades.

As informações fornecidas pela mídia são importantes tanto para a tomada dedecisões inteligentes no setor econômico e pessoal quanto para fazer boasescolhas políticas. Existe um forte relacionamento entre a mídia aberta e aseconomias livres e eficientes. Na verdade, estudos recentes realizados peloWorld Bank mostraram que a mídia livre é essencial para o progresso econômi-co bem sucedido dos países em desenvolvimento.

O governo dos EUA sempre apoiou o desenvolvimento de mídias livres eresponsáveis no exterior e ajuda na construção da infra-estrutura necessáriapara que a imprensa livre trabalhe infra-estrutura legislativa, independênciafinanceira, transparência no governo e jornalistas treinados para a realização dereportagens objetivas e justas. Conseguir uma mídia livre e responsável é umaatividade constante, desafiadora, vital e contínua. Devemos continuar trabalhan-do para isso, adaptando-nos às novas condições e aos desafios. Devemos terem mente o objetivo fundamental - cidadãos capazes de tomar decisões sólidasque moldem suas vidas.

Os editores

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Bases jurídicas da liberdade de imprensa nos Estados Unidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12Uma nação deve oferecer uma base jurídica sólida para que a mídia opere independentemente esem sofrer perseguições. Jane E. Kirtley, Professora de Ética e Legislação da Mídia da Faculdade de Jornalismo e Comunicação deMassa, University of Minnesota

Passos para uma mídia livre e financeiramente viável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .18Cada vez mais se reconhece o papel da mídia nos países em transição como sendo contribuintespara uma melhor responsabilização do governo, mercados mais eficientes e sociedades mais ricasem informação. Tim Carrington e Mark Nelson, World Bank Institute

A anarquia não é um plano de negócios: Indicadores práticos no ramo da mídia . . . . . . . . . . . . . . . . . .22Três conselheiros de mídia empresarial no exterior com grande experiência em nações em fase detransição discutem como pontos de venda de mídia lutam para estabelecer sua independênciafinanceira, atender a seu público e informar com responsabilidade.

questões globaisRevista eletrônica do Departamento de Estado dos EUA

Fevereiro de 2003, Volume 8, Número 1

índice

Em busca de uma mídia livre e responsável

❏ FOCO

❏ COMENTÁRIO

Promovendo uma mídia livre e responsável: Uma parte integral da política exterior dos EUA . . . . . . . . . .5O governo dos EUA promove e ajuda o desenvolvimento de uma mídia responsável no exterior.Lorne W. Craner, Secretário Adjunto de Estado para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho

O papel da mídia independente na construção da democracia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8O governo dos EUA patrocina uma variedade de programas para nutrir o desenvolvimento de organi-zações de mídia que irão servir aos seus públicos. Frederick W. Schieck, Administrador Adjunto, U.S. Agency for International Development

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O Escritório de Programas Internacionais de Informação do Departamento deEstado dos EUA fornece produtos e serviços que explicam as políticas, asociedade e os valores americanos para o público estrangeiro. O Escritório publicacinco revistas eletrônicas que tratam das principais questões enfrentadas pelosEstados Unidos e pela comunidade internacional. As revistas -- PerspectivasEconômicas, Questões Globais, Temas de Democracia, Agenda da Política Externados EUA e Sociedade e Valores dos EUA -- apresentam declarações sobre políti-cas norte-americanas, bem como análises, comentários e informações de carátergeral sobre suas áreas temáticas.

Todas as edições das revistas aparecem em inglês, francês, português e espanhol,e algumas edições selecionadas também são publicadas em árabe e russo. Umanova edição em inglês é publicada aproximadamente a cada mês. As versõestraduzidas geralmente são publicadas duas a quatro semanas após a publicaçãodo original em inglês.

As opiniões expressas nas revistas não refletem, necessariamente, a posição nemas políticas do governo dos Estados Unidos. O Departamento de Estado nãoassume nenhuma responsabilidade pelo conteúdo nem pela continuidade do aces-so aos sites da Internet para os quais há links nesta publicação; tal responsabili-dade é única e exclusivamente das entidades que publicam esses sites. Os artigospodem ser reproduzidos e traduzidos fora dos Estados Unidos, a menos que con-tenham restrições de direitos autorais explícitas para tal uso. Os usuários poten-ciais das fotos com créditos precisam obter autorização prévia de uso com a fontecitada.

Números atuais ou atrasados das revistas, assim como a relação das próximasedições, podem ser encontrados na home page do Escritório de ProgramasInternacionais de Informação, na World Wide Web, no seguinte endereçohttp://usinfo.state.gov/journals/journals.htm. As publicações estão disponíveis emvários formatos eletrônicos para facilitar a visualização on-line, transferência, down-load e impressão. Comentários são bem-vindos na embaixada dos Estados Unidosno seu país ou nos escritórios editoriais:

Este painel de debates inclui William Siemering, instrutor de transmissão por rádio e TV na África,Europa Oriental e Ásia; David Simonson, consultor de negócios jornalísticos para publicações naEuropa Oriental e Rachel Thompson, treinadora de gerenciamento de mídia na Europa Oriental.

Jornalismo a serviço da confiança do público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28As escolas de jornalismo precisam ser lugares onde os estudantes aprendem a servir à confiança públi-ca através da apresentação independente de notícias. William F. Woo, Lorry I. Lokey Professor Visitante de Jornalismo Profissional, Universidade de Stanford

Jornalistas de radiodifusão precisam de treino para atender à intensa demanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33Jornalistas de rádio e TV desejam mais refinamento de suas habilidades, mas encontrar o treinamentopode ser uma experiência desafiadora.Deborah Potter, Diretora da NewsLab, um centro de pesquisa e treinamento para jornalistas de televisão

❏ RECURSOS ADICIONAIS

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37Livros, documentos e artigos sobre questões relacionadas à mídia.

Sites na Internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .40Uma lista de sites que oferecem informações adicionais sobre mídia global.

Editor, Global Issues & CommunicationsOffice of International Information PorgramsIIP/T/GICU.S. Department of State301 4th Street, SWWashington, D.C. 20547United States of America.E-mail: [email protected]

Editora-chefe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Judith S. SiegelEditor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . William PetersEditor Gerente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ellen F. ToomeyAssistente do Editor Gerente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Jim FullerEditor de textos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Charlene PorterEditor da Internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tim BrownEditores associados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Jenifer Bochner. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Thomas Fladland. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Wayne Hall. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Rosalie Targonski

Referência e pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lynne Scheib. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Joan Taylor

Editora de arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Chloe EllisAssistente gráfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sylvia ScottConselhoe Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . James L. Bullock. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . George Clack

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Judith S. Siegel

Arte original da capa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Geoffrey MossRevisão de português . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Marília Araújo

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[email protected]

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FOCO

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Neste ano, jornais independentes no Quirguistãoesperam ansiosamente pela chegada de uma novaimpressora em cores. Em um programa projetadopara promover a mídia livre e dinâmica no país, oDepartamento de Estado dos EUA conseguiu verbapara a impressora e para cursos de treinamentopara os jornalistas daquele país. O projeto é umademonstração concreta de como a promoção daimprensa livre é um componente importante dapolítica de relações exteriores dos EUA.

O direito que a imprensa tem de publicar,editorializar, criticar e informar livremente é umprincípio fundamental da democracia americana.Na verdade, o tipo de governo que os americanospossuem hoje não teria sido possível sem umgrande compromisso conhecido como "Bill ofRights" (Carta de Direitos), que são as primeirasdez emendas da Constituição dos EUA. A primeiraemenda estabelece que "O Congresso não deverácriar nenhuma lei...que cerceie a liberdade deexpressão, ou da imprensa". A liberdade deimprensa não existe simplesmente por estarcodificada pela lei. Ela existe e floresce hoje porqueo povo americano a cultiva. E isso ocorre porque aimprensa livre possui um papel importante nacriação de nossa grande nação e na sua elevação

Promovendo uma mídia livre e responsável: Uma

parte integral da política externa dos EUALorne W. Craner

Secretário Adjunto de Estado para Democracia, Direitos Humanos e Trabalho

A liberdade de imprensa não é um

fim em si mesma,

mas um meio para a obtenção de

uma sociedade livre.

Ex-juiz do Supremo Tribunal dos EUAFelix Frankfuter

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à posição de líder mundial emdemocracia e direitos humanos.

Embora a liberdade de imprensaprospere nos EUA de hoje, elaestá longe de ser uma instituiçãoexclusivamente americana. Umamídia livre e responsável podeter uma influência positiva emqualquer país, incluindo os quesão democracias emergentes.Uma imprensa livre é essencialna obtenção de um governoestável e democrático como oque possuem os americanos.

A promoção da liberdade deimprensa é a promoção daliberdade humana. Para aspessoas desempenharem um papel ativo na vidapolítica de seu país, elas devem ser informadas.Sem informações, mesmo algo simples como votarpode ser uma tarefa difícil. Uma imprensa livretransmite informações às pessoas sobre seuslíderes, as políticas de outras nações e até mesmoas práticas comerciais domésticas. O apoio dosamericanos à imprensa livre baseia-se na crençade que com o conhecimento completo do rumo dosnegócios em seu país e no mundo as pessoaspoderão escolher por si próprias as instituições,políticas e práticas que melhor preservam eprotegem os direitos civis e humanosfundamentais.

Os Estados Unidos apóiam a mídia livre eresponsável, incentivando outros governos aadotarem práticas que protejam a liberdade deimprensa e oferecendo apoio financeiro paraprogramas de treinamento e apoio à mídia queensinam jornalistas estrangeiros nos EstadosUnidos e no exterior. A maioria dos programasenvolve os países que podem se beneficiar maiscom a imprensa livre, tais como democraciasemergentes. Embora a liberdade de imprensatraga uma série de benefícios a qualquer país, oapoio americano para uma mídia livre eresponsável pode ser explicado de quatromaneiras.

Primeiro: os Estados Unidos apóiam odesenvolvimento de uma mídia livre e responsável

porque o direito a uma imprensalivre e as liberdades depensamento e expressão queela proporciona são direitosfundamentais e universais quetodos deveriam gozar,considerando que são parte dahumanidade. Esta crença estácontida na Constituição dosEUA, na Declaração Universaldos Direitos Humanos e nahistória dos Estados Unidos nocombate à censura e ao controleda mídia em seu território ou noexterior.

Segundo: a presença daimprensa livre é essencial paraque surja uma democracia

verdadeira e completa. Somente uma imprensalivre pode oferecer aos eleitores as informações deque necessitam para escolher os melhores líderes.Com freqüência, os governos usam a mídiacontrolada pelo Estado para apresentar uma sériede fatos distorcidos. Do mesmo modo, semproteções, os governos podem coagir a mídiaprivada a publicar ou não informações vitais. Emresumo, a mídia livre garante que os governosrepresentarão os interesses dos seus cidadãos eque os cidadãos atribuam responsabilidades a seusgovernos. No discurso público, uma imprensa livrepermite a expressão de diversas opiniões editoriaise propagandas comerciais. Este ambiente é um"mercado de idéias" onde cidadãos e consumidoresescolhem e apóiam aquelas idéias que sãomelhores do que as outras. Tal sistema garante omelhor resultado sem silenciar nenhum ponto devista.

Terceiro: existe um relacionamento forte e positivoentre as reportagens e as economias livres, abertase eficientes. O crescimento econômico resulta emmelhorias nos padrões de vida, educação e saúde- em resumo, uma vida melhor e mais livre em umpaís geralmente mais estável e pacífico. Umapublicação recente do Banco Mundial, intituladaThe Right to Tell, documenta o papel que a mídialivre desempenha no apoio ao crescimentoeconômico. O presidente do World Bank Group,James D. Wolfensohn, escreveu na introdução dolivro que "para reduzir a pobreza, devemos liberar o

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Promover a

liberdade de

imprensa é

promover a

liberdade

humana.

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acesso às informações e melhorar sua qualidade.As pessoas com mais informações têm condiçõesde fazer melhores escolhas." A mídia livre promovea troca de práticas empresariais bem sucedidas,cria parcerias comerciais e pode tornar aseconomias mais eficientes pela disseminação detecnologia útil. A reportagem livre tambémpreserva o apoio e a confiança dos investidoresnacionais e internacionais.

Finalmente, os Estados Unidos promovem a mídialivre e responsável porque é essencial que asações e intenções americanas sejam reportadas demaneira precisa. Os Estados Unidos lutam parapromover a democracia e os direitos humanos,eliminar a fome e as doenças e manter a segurançamundial. Infelizmente, as ações ou políticas dosEUA em apoio a essas metas são às vezes maldivulgadas na mídia sob o controle do Estado ougrupos privados. Para combater oantiamericanismo, desenvolver confiança e educarmelhor as pessoas no mundo todo sobre osEstados Unidos, é fundamental que uma mídia livree responsável divulgue de modo correto as açõesdos Estados Unidos.

Além dos investimentos físicos como a impressorado Quirguistão, o Departamento de Estado e aUSAID apóiam a liberdade de imprensa através dodesenvolvimento de programas de treinamento eadministração de mídia. Por exemplo, em 2003,esse apoio financeiro dará suporte a programas doCentro Internacional de Jornalistas (InternationalCenter for Journalists-ICFJ) para o treinamento deprofissionais de mídia no Azerbaijão e noCazaquistão. Os participantes dos programasaprenderão ética profissional, técnicasinvestigativas e como manter a independência dospatrocinadores do Estado e grupos de interesseque podem impedir a liberdade editorial. Outroprograma do ICFJ com o apoio do Departamentode Estado apresentará uma série de workshopscom um ano de duração no sudeste europeu paramelhorar as habilidades dos jornalistas emescrever sobre a venda de mulheres e meninas.Um programa patrocinado pela USAID eadministrado pela Internews, uma organização semfins lucrativos que promove a mídia independenteem democracias emergentes, treinará jornalistas

do Camboja e da Indonésia na criação de pontosde venda de mídia sustentável e não tendenciosa.

Aos olhos dos americanos, todo ser humano tem odireito de receber informações precisas sobre o seugoverno, outros governos e a situação mundial. E,igualmente importante, a mídia livre serve comocontrole de um governo poderoso, enquantopreserva a integridade da economia da nação einforma com precisão sobre as ações dos EUA noexterior. Embora uma máquina impressora pareçaser somente uma máquina para muitas pessoas, aentrega de uma delas ao Quirguistão permitirá queo povo daquela nação usufrua desses direitos eoportunidades como nunca anteriormente,permitindo a construção de um país melhor e maislivre.

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Resumo

A mídia independente em todo o mundo surgiucomo sendo uma das forças mais poderosas naluta para a mudança de regimes repressivos efechados em sociedades abertas e produtivas. Amovimentação rumo a uma democracia emercados livres está sendo realizada em todo omundo, especialmente desde o final da GuerraFria, mas o resultado é imprevisível já que forçasnegativas surgem depois de terem sobrevivido pordécadas sob a máscara da repressão.

Racistas, terroristas, tribalistas étnicos, sindicatosdo crime, gangues de traficantes e ditadorespolíticos surgiram ou ressurgiram em vários países.Eles testam os novos países independentes da ex-União Soviética e as nações em desenvolvimentona Ásia, África e América Latina para ver se elesirão adotar formas democráticas e representativasde governo que forneçam educação, saúde,segurança, oportunidade e uma economia sólidapromovendo investimentos e comércio.

No meio dessa luta, os Estados Unidos tentammanter esses países movendo-se em direção àdemocracia, ajudando-os na formação, treinamentoe proteção de jornais livres e independentes, derádio e de televisão. Acreditamos que a mídiaindependente pode ser ajudada para desempenhardois papéis importantes: ser o "cão de guarda" dogoverno e educar o povo sobre os problemas queafetam suas vidas.

Há duzentos anos, o presidente Thomas Jeffersonresumiu bem: "A única segurança que existe estáem uma imprensa livre." Em 1823 Jeffersondeclarou: "A força da opinião pública não pode serresistida quando se permite que ela se manifestelivremente. A agitação que ela produz deve seratendida. É necessário manter o ambiente puro."

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A mídia independente

pode contribuir para o

aprimoramento de nações

e sociedades. Contudo,

para se conseguir isso, ela

precisa passar por um

processo de

auto-aprimoramento.

O papel da mídia independente na construçãoda democracia

Frederick W. SchieckAdministrador Adjunto, Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID)

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De 1990 a 2001, a USAID gastou US$ 270 milhõespara apoiar a imprensa livre no ex-bloco soviético eem países em desenvolvimento. Cerca de US$182milhões deste total foram gastos no Leste Europeue nos antigos satélites soviéticos, incluindo grandesinvestimentos em campanha de mídiaindependente na Sérvia e na Bósnia, antes dopresidente Slobodan Milosevic ser derrotado peloseleitores em 2000 depois de ter presidido guerrassangrentas na Croácia, Bósnia e Kosovo.

Jornalistas e acadêmicos americanos foramenviados pela USIA (U.S. Information Agency), quehoje foi incorporada ao Departamento de Estado,para treinar repórteres, editores e jornalistas derádio e TV na Nigéria, Guiné, Costa do Marfim edezenas de outros países que surgiram depois dedécadas de ditadura.

Programa de Mídia Independente doGoverno dos EUA

Os programas de apoio à mídia fundados peloDepartamento de Estado e pela USAID reúnemquatro aspectos importantes.

Primeiro: educação jornalística. Jornalistas eprofessores americanos são enviados ao exteriorpara palestras (junto com peritos locais) a fim deque os jornalistas analisem estilos de reportagens,precisão, equilíbrio, justiça, coleta de informações,escrita clara, separem comentário de reportagem eproteção às fontes. Eles também recebemorientação sobre como lidar com temas delicadoscomo conflitos étnicos, direitos das mulheres eHIV/Aids. Além disso, jornalistas são trazidos aosEstados Unidos para visitas a jornais e estações derádio e TV americanas para observarem como aimprensa livre funciona no contexto americano. Osjornalistas visitantes também podem participar deseminários especiais e cursos na Voz da Américaou em instituições de ensino superior.

Jornalistas e editores americanos são enviados aoexterior para ensinar os princípios básicos daimprensa livre, tais como, objetividade, precisão,justiça - não para defender a política exterior dosEUA. Na verdade, uma das maiores lições queensinam é a de que o papel do jornalista em umasociedade livre é o de criticar a política do governo

e que até mesmo o presidente dos Estados Unidosnão está imune às farpas da imprensa livre.

O segundo aspecto do apoio à imprensa livre estárelacionado ao desenvolvimento da indústria damídia. Para manterem-se livres do controlegovernamental, os pontos de venda de mídiaprecisam ser capazes de ganhar dinheiro, pagarsalários decentes e cobrir os custos de produção,da impressão à transmissão. Em alguns paísespobres, os repórteres ganham tão pouco quealguns aceitam propinas em dinheiro de suasfontes ou quando participam de conferências deimprensa. Os programas dos EUA ensinam aosproprietários e gerentes de empresas de mídiasobre propaganda, marketing e gerenciamentofinanceiro, para que possam subsistir. Osprogramas também ajudam com estudos depraticabilidade, planos empresariais e a criação deauditorias para certificar a circulação e determinartaxas de propaganda.

O terceiro aspecto do apoio à mídia é a ajuda agrupos locais de jornalistas, editores, advogados dedireitos humanos ou legisladores a esboçarem leisque protejam a possibilidade da imprensa cobrir ogoverno e outros temas sem medo deperseguições. Os fundos americanos também vãopara a educação de advogados de mídia e para aajuda à defesa jurídica de pontos de venda demídia.

O quarto aspecto é a ajuda na formação deassociações profissionais de jornalistas, editores eproprietários de empresas de mídia. Estasentidades são uma força para a proteção demembros individuais enquanto realizam funçõestípicas de associações como a definição depadrões, o encorajamento aos membros namelhoria de qualidade e confiabilidade e incitandopara a obtenção de maior acesso aos documentospúblicos, encontros e entrevistas comrepresentantes públicos.

Outras formas de assistênciaindependente à mídia

A assistência dos EUA em alguns casos incluisuporte financeiro para investimentos de capitalcomo: compra de impressoras, transmissores,

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equipamento de transmissão e computadores paraa redação.

Embora o objetivo básico dos EUA seja o deassessorar a mídia privada e independente, emalguns casos a ajuda também é dada aotreinamento de pessoal e gerentes na mídiapública. Todavia, o objetivo a longo prazo destaassistência é o de certificar-se de que a mídiapública é mais independente, mais profissional e,se possível, "privatizável". Quando a mídia públicasegue padrões profissionais, são mais capazes deatender aos interesses do público do que ao dogoverno em vigor.

O apoio dos EUA à mídia independente enfrentaalguma controvérsia. Às vezes, a mídia livre em suaprimeira aparição é inexperiente e divulga notíciasque não foram verificadas, são falsas, corrompidas,exageradas ou caluniosas. Em alguns países, oapoio dos EUA em prol da imprensa livre éconsiderado intervenção estrangeira. Em outrospaíses, a imprensa livre, às vezes, expressa pontosde vista que são antiamericanos ou que entram emconflito com a política dos Estados Unidos e deseus aliados.

Apesar destas controvérsias e das críticas depontos de mídia inexperientes, a USAID mantémseu compromisso com essa atividade. Construiruma mídia independente e responsável é umprocesso evolucionário que levará décadas empaíses sem tradição de tolerância para com umamplo espectro de visões competitivas. A ajuda àmídia da América Latina terminou nos últimos anosuma vez que todos os países, menos Cuba,moveram-se em direção à democracia. Mas ainda édada alguma assistência à reportageminvestigativa, necessária para lidar com acorrupção e com as drogas.

Escritório de Iniciativas de T ransição (OTI)da USAID

Em 13 países que se movem rumo à democraciacomo o Afeganistão, a ajuda à mídia pela USAID éfeita através do OTI, que atua em regiões deconflito recente ou em andamento.

O apoio do OTI à mídia independente - emacréscimo ao fornecimento, treinamento e

desenvolvimento de infra-estrutura - inclui aprogramação de mensagens de paz, tolerância eparticipação democrática. Esta tentativa dedisseminar notícias positivas e informações deapoio aos valores e processos democráticos é bemdiferente do apoio direto à mídia independente, quebusca somente apoiar o jornalismo responsável enão a promoção de mensagens específicas.

Outros apoios da USAID

Outros programas da USAID que apóiamnecessidades fundamentais do desenvolvimentocomo educação e saúde podem incluir elementosde apoio à mídia. Esses programas podem utilizarrádio, televisão e jornais para divulgar programassociais. Em Ruanda, a ajuda dos EUA natransmissão de reportagens dos julgamentos porgenocídio e outros temas foi considerado deimportância crítica na superação do legado da"rádio de ódio" usada para encorajar o ódio étnico eo genocídio em 1994.

Novas abordagens inovadoras

Uma das lições aprendidas pela USAID depois deimplementar por mais de uma década programasde mídia é que, em vez de tentar criar pontos demídia inteiramente diferentes, é melhor ajudar os jáexistentes, mesmo que isso represente comprartransmissores e impressoras por meio de doações.

Outra lição aprendida é tentar - quando osgovernos proíbem críticas diretas às autoridadesgovernantes - apoiar a reportagem crítica em áreasmenos ameaçadoras como reportagens locaissobre estradas, saúde e o meio ambiente. Osjornalistas usam estas reportagens como ponto departida para iniciar reportagens críticas sobreproblemas governamentais, muito antes de seremcapazes de lidar com problemas mais sérios comoa necessidade de eleições livres e um judiciárioindependente. A assistência dos EUA tambémtreina jornalistas para tentarem criar relaçõespositivas com representantes do governo,realizarem reportagens investigativas e cobrir oterrorismo. Um esforço recente que contou com oapoio dos EUA ajudou jornalistas búlgaros a seguiro fluxo de drogas e dinheiro, ligando Osama binLaden à Europa através da Bulgária.

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O poder e a influência da mídia nunca foram tãoimportantes quanto atualmente. Comunicações viasatélite e via Internet tornam possível quepequenos grupos de extremistas divulguemmensagens de ódio e intolerância para milhõescom um só clique de um botão. A ajuda dos EUA nacriação de uma mídia equilibrada e justa continuasendo uma prioridade importante, especialmentedepois dos ataques de 11 de setembro, enquantobuscamos criar um mundo mais informado etolerante.

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COMENTÁRIO

Pergunte a qualquer americano sobre a liberdadede imprensa nos Estados Unidos e prepare-se!Provavelmente você vai ouvir muito sobre como "amídia" é irresponsável. Afinal de contas, ela invadea privacidade dos indivíduos, informa várias coisassobre os segredos do governo e faz isso paravender mais jornais ou para obter índices deaudiência mais elevados.

É o que acha a sabedoria convencional. Umapesquisa conduzida pelo Freedom Forum's FirstAmendment Center em 2002 informou que 42%dos entrevistados acham que a imprensa temliberdade "demais". Se isso é exato ou não é umaquestão de ponto de vista, mas é indispensável quea lei dos EUA atue na proteção dos direitos damídia jornalística, fazendo com que a suaimprensa, pelo menos a impressa, esteja entre umadas mais livres do mundo.

Mas de onde vêm esses direitos? Como sedesenvolveram e expandiram-se com o passar dosanos? Qual o futuro da liberdade de imprensa nosEstados Unidos?

Raízes históricas

A lei dos Estados Unidos deriva-se da lei inglesa.Isto significa que a Constituição e seus estatutos

Praticamente toda a jurisdição

que define a liberdade de

imprensa nos Estados Unidos é

proveniente da Primeira Emenda

da Constituição dos EUA. E essa

liberdade é tão "absoluta" quanto

as palavras sugerem? A

Suprema Corte dos EUA tenta

responder a essa pergunta há

mais de 200 anos.

Bases jurídicas da liberdade de imprensa nosEstados Unidos

Jane E. KirtleyProfessora de Ética e Legislação da Mídia da Faculdade de Jornalismo e Comunicação de Massa,

Universidade de Minnesota

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devem ser interpretados por juízes, geralmenteatravés de opiniões apresentadas em casoslevados ao tribunal por litigantes individuais ou peloEstado. A Suprema Corte dos Estados Unidos é oárbitro final do que a Constituição significa e se osestatutos ou as decisões de tribunais de alçadainferior estão consistentes com seus termos.

Antes da Revolução Americana, as colôniasbritânicas na América do Norte estavam sujeitas avárias das leis aprovadas pelo Parlamento paracontrolar a liberdade de expressão. Elas incluíamestatutos exigindo que os editores fossemlicenciados pelo governo, o que significava,efetivamente, que o material seria revisado por umfuncionário do governo, antes de ser publicado,para averiguação de sua conformidade com as leisque proibiam blasfêmia, obscenidade ou que sedissesse algo que criticasse a Coroa, sendo estaúltima conhecida como libelo sedicioso.

Em 1720, os colonos americanos começaram airritar-se com essas restrições. O PennsylvaniaGazette de Benjamin Franklin publicou os ensaiosde "Cato", pseudônimo de dois jornalistasbritânicos, que argumentavam: a "Liberdade deImprensa é tanto o Sintoma como o Efeito de umbom Governo".

Em 1734, John Peter Zenger, um impressor deNova York, foi acusado de calúnia sediciosa por terimprimido uma crítica anônima ao governadorcolonial geral em seu jornal, o Weekly Journal.Depois de ficar preso por quase um ano esperandojulgamento, foi absolvido por um júri que se recusoua seguir as instruções do juiz e condená-lo. Oadvogado de Zenger, um advogado aposentado daFiladélfia chamado Andrew Hamilton, convenceu ojúri de que nenhum homem deveria estar sujeito apenalidades criminais simplesmente por criticar ogoverno, especialmente quando os fatos relatadoseram verdadeiros - resultando em um dosexemplos mais antigos de "anulação de júri" nopaís que se tornaria os EUA.

Após a Guerra Revolucionária, os recém-independentes EUA criaram um governo nacionaltripartidário de acordo com uma Constituição que,inicialmente, não tinha Carta de Direitos. Em 1791,os estados ratificaram as 10 primeiras emendas àConstituição, que incluíam as 45 palavras da

Primeira Emenda: "O Congresso não fará nenhumalei relacionada ao estabelecimento de religião ouproibindo o livre exercício dela; não restringirá aliberdade de expressão ou da imprensa, nem odireito das pessoas se reunirem pacificamente e desolicitarem ao governo uma emenda de apelações."

Virtualmente, todas as leis que definiram aliberdade de imprensa nos EUA têm origemnaquela frase curta e absoluta. É uma proibição aogoverno federal (e ao governo estadual através daDécima-Quarta Emenda) de agir, censurar econtrolar a mídia. Não tenta definir "a imprensa",nem afirma o exercício dos direitos no cumprimentode deveres ou responsabilidades.

Mas a Primeira Emenda é tão "absoluta" quanto aspróprias palavras sugerem? A resposta é algo quea Suprema Corte dos EUA tem tentado responderhá mais de 200 anos.

Restrições anteriores

A forte antipatia contra a atitude do governo emsuprimir publicações controversas cristalizou-se emuma das primeiras decisões da Suprema Cortedefinindo liberdade de imprensa, no caso Nearversus Minnesota, 283 EUA 697 (1931). O tribunalinvalidou uma lei estadual que permitia quefuncionários proibissem a publicação de jornais"maliciosos, escandalosos e difamatórios." A leiainda exigia que os editores obtivessem aprovaçãodo tribunal antes que retomassem as publicações.A Suprema Corte entendeu que as "restriçõesanteriores" violavam a Primeira Emenda. Porém, opresidente da Suprema Corte, Charles EvansHughes, notou que a proteção constitucional "não éabsolutamente ilimitada," sugerindo, por exemplo,que a publicação de detalhes dos movimentos dastropas em tempo de guerra, obscenidade ouestímulo para atos de violência poderiam estarsujeitos a restrições.

Não obstante, nos anos seguintes à decisão docaso Near, a Suprema Corte continuou a derrubaras tentativas para restringir a imprensa, incluindoexemplos como as reivindicações do governo deque uma publicação poderia violar a segurançanacional. Um dos exemplos mais importantes foi ocaso "Pentagon Papers", o New York Times Co.versus Estados Unidos, 403 EUA 713 (1971).

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Nesse caso, o governo Nixonbuscou determinações da cortepara impedir que os jornaisNew York Times e WashingtonPost publicassem documentosconfidenciais relacionados àGuerra do Vietnã. Em umaresposta rápida e não assinada,o tribunal decidiu que o governofalhou em atender o pesadofardo imposto pela Constituição,porque não provou que apublicação dos mencionadosdocumentos resultaria em umprejuízo direto, imediato eirreparável para o interessenacional.

A decisão sobre o caso"Pentagon Papers", como adecisão do caso Near, nãodeclara que todas as restriçõesanteriores invariavelmenteviolam a Primeira Emenda.Porém, deixa claro que cabe ao governo justificarqualquer tentativa para impedir a imprensa depublicar algo. Não cabe à imprensa explicar por quealgo deve ter permissão para ser publicado.

Essa forte interferência se estendeu até mesmo emtipos de pronunciamentos que o tribunal, no casoNear, sugeriu que poderiam ser restringidos. Nocaso Miller versus Califórnia, 413 EUA 15 (1973), otribunal reiterou que pronunciamento obsceno nãodesfruta de nenhuma proteção constitucional, masmarcou uma restrita definição de "obscenidade"para garantir que o material com real valor literário,artístico, político ou científico ainda pudesse serdistribuído. Da mesma forma, até mesmopronunciamentos que defendam uma abstrata eviolenta subversão ao governo são protegidos atéque alguma ação legal aconteça. (casosBrandemburg versus Ohio, 395 EUA 444 (1969),Hess versus Indiana, 414 EUA 105 (1973)).

O tribunal foi ainda mais longe quando derrubouuma lei estadual da Flórida que exigia que osjornais que editorialmente atacassem um candidatoao governo, publicassem uma resposta docandidato. No caso Miami Herald versus Tornillo,418 EUA 241 (1974), a Suprema Core afirmou que

a publicação compulsória eraquase uma "restrição anterior"como seria a proibição de umapublicação. Embora os órgãosde justiça reconhecessem que oobjetivo dos legisladores deencorajar a imprensa a fornecerum foro para pontos de vistadiferentes fosse louvável,entenderam que a lei usurpou,sem permissão, os direitos doseditores expressarem suasopiniões e poderiam até ter oefeito perverso de reduzir acobertura política. O presidentedo Supremo Tribunal, WarrenBurger escreveu: "Umaimprensa responsável é, semdúvida, um objetivo desejável,mas a responsabilidade daimprensa não é determinadapela Constituição e, comomuitas outras virtudes, não podeser legislada."

Calúnia

Até 1964, de acordo com a lei comum dos EUA,calúnia - a publicação de declarações falsas oudifamatórias sobre um indivíduo - não estavaprotegida pela Constituição. Mas, no caso NewYork Times versus Sullivan, 376 U.S. 254 (1964),um caso julgado durante o momento maisimportante do movimento pelos direitos civis, aSuprema Corte reconheceu que, para não esfriar agrande discussão e comentários sobre as açõesdos funcionários do governo, as organizaçõesjornalísticas deveriam ter espaço para cometeralguns erros, de boa fé, sem enfrentaremresponsabilidades. O tribunal decidiu que osfuncionários públicos que quisessem entrar comum processo contra calúnia deveriam não apenasprovar que as declarações eram falsas, mastambém que o editor não sabia que eram falsas ouque as publicou com "falta de atenção" quanto àsua veracidade ou falsidade.

Esse padrão legal de erro, conhecido como "malíciaexpressa," foi subseqüentemente estendido paraprocessos de calúnia feitos por personalidades etambém por funcionários do governo. Os 50

“Pois é uma

premissa básica

da Primeira

Emenda que o

governo deve

permanecer

neutro no

mercado de

idéias.”presidente da

Suprema CorteWilliam Rehnquist

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estados têm permissão para determinar o nível de"erro" - malícia expressa, negligência ou algo entreestas duas definições - em processos de calúniafeitos por indivíduos, mas o tribunal deixou claroque algum grau de erro deve ser demonstrado paraque qualquer indenização monetária possa serfeita.

Crime de imprensa e "Leis de Insulto"

Apesar de uma longa tradição de discursospolíticos vívidos, o Congresso, controlado pelafederação, emitiu uma Lei de Sedição, em 1798,como uma resposta ostensiva aos atos hostis dogoverno revolucionário francês. A lei proscreviacríticas faladas ou escritas do governo e foiutilizada para condenar e prender vários jornalistasque apoiaram o partido de oposição de ThomasJefferson. Essa lei expirou no início do século 19.

Hoje, de forma prática, as expressões de opinião,mesmo que cáusticas e danosas, estão totalmenteprotegidas pela lei dos EUA. Embora diversosestados tenham criado leis de crime de imprensadurante o século 19, a Suprema Corte, no casoGarrison versus Luisiana, 379 U.S. 64 (1964),derrubou a lei da Luisiana, porque não permitia adefesa da verdade. No caso Gertz versus RobertWelch, Inc., 418 U.S. 323 (1974), a Suprema Cortedeclarou que a opinião pura - declarações que nãopodem ser provadas como falsas ou verdadeiras -nunca poderia ser a base para um processo decalúnia. No caso Hustler Magazine versus Falwell,485 U.S. 46 (1988), a Suprema Corte decidiu queaté mesmo ataques "ultrajantes" e deliberadoscontra personalidades não poderiam ser a basepara uma ação legal, reivindicando desgasteemocional - que seria o equivalente em muitospaíses a um ataque contra a honra ou a dignidadede alguém - a menos que o reclamante possamostrar que a publicação contém, de fato,declarações falsas e que foram publicadas com"malícia expressa."

William Rehnquist, presidente da Suprema Corte,escreveu: "caso decidíssemos de forma contrária,sem dúvida, os cartunistas e chargistas políticosteriam direito a indenizações por perdas e danos,mesmo sem qualquer prova de que seus trabalhosteriam, falsamente, difamado o assunto." Citandouma antiga decisão da Suprema Corte, seu

presidente concluiu: "Se for a opinião do orador queofende, esta conseqüência é uma razão paraajustá-la à proteção constitucional, pois trata-se deuma premissa básica da Primeira Emenda que ogoverno deve permanecer neutro no mercado deidéias."

Privacidade

A Constituição dos EUA não articula,explicitamente, um direito à privacidade. Embora aSuprema Corte tenha interpretado a QuartaEmenda para proteger os indivíduos de buscas eapreensões irracionais por parte do governo, oconceito de um direito ser abandonado pelosconcidadãos não se transformou em jurisprudêncianos EUA até 1890, em um artigo escrito por LouisD. Brandeis e seu sócio na revista Harvard LawReview ("O direito a privacidade" 4 Harvard LawReview 193). Desde então, a maioria dos estadosreconheceu um ou mais dos quatro tipos distintosde invasão de privacidade, que podem ser a basepara uma ação de danos civis: intrusão emisolamento; publicação de fatos privados; retrataralguém de forma falsa (mas não necessariamentedifamatória); e mau uso do nome ou da imagem deum indivíduo para propósitos comerciais semconsentimento.

Processos de intrusão e publicação de fatosprivados apresentam os mais significativosdesafios legais para os jornalistas. Representam agenuína colisão entre os interesses de umasociedade competitiva. Embora a Suprema Cortetenha reconhecido que "sem alguma proteção pelabusca de notícias, a liberdade da imprensa poderiaser estripada" (caso Branzburg versus Hayes, 408U.S. 655 (1972)), o tribunal também deixou claroque a mídia de notícias não está isenta das leis, taiscomo as de transgressão criminosa, que se aplicamao público em geral, a menos que a aplicaçãorestrinja indevidamente o exercício dos direitos daimprensa livre. Da mesma forma, o direito doindivíduo a uma vida privada foi tacitamentereconhecido pelos tribunais. Porém, devido à amplaproteção que a Constituição concede apronunciamentos verdadeiros, uma organizaçãojornalística pode publicar até mesmo "fatosprivados altamente ofensivos" com impunidade, sepuder demonstrar que a informação é um assuntode legítimo interesse e preocupação públicos.

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Acesso a informações e procedimentos dogoverno

Consistente com a tradição da justiça comuminglesa, os autos dos processos sempre estiveramabertos ao público. Mas, somente depois do casoRichmond Newspapers, Inc. versus Virgínia, 448EUA 555 (1980,) no qual a Suprema Cortereconheceu que a Primeira Emenda confere umdireito constitucional de acesso a processoscriminais, tanto para a imprensa como para opúblico. Como escreveu o presidente do SupremoTribunal, Warren Burger: "O povo em umasociedade aberta não exige infalibilidade de suasinstituições, mas é difícil aceitar aquilo que nãopode ser acompanhado."

Os órgãos legislativos, tanto do governo federalcomo do estadual, têm geralmente realizado amaior parte de seus assuntos em público. Porém, oacesso ao poder executivo tem sido sempre maisevasivo e problemático. Como o juiz Potter Stewartdeclarou em seu discurso na faculdade de Direitode Yale em 1974, a Primeira Emenda "não é umalei de liberdade de informação." ("Or the Press," 26Hastings Law Journal 631, 636 (1975)). Em 1967, oCongresso tentou consertar esta deficiênciacriando a Lei de Liberdade de Informação, quepossibilitou a abertura dos registros criados emantidos pelas agências do Poder Executivo dogoverno federal sujeitos a nove categorias deisenções limitadas. A responsabilidade de justificara negação de acesso a documentos fica com ogoverno. Todos os 50 estados também adotaramleis semelhantes que regulam a abertura dosregistros gerados pelas agências dos governosmunicipais e estaduais.

Quem é "A imprensa?"

A Primeira Emenda proíbe explicitamente oCongresso de separar as mídias de notícias pararegulamento ou as penas que não seriam impostasa outros, mas, às vezes, o governo pode escolherreconhecer privilégios especiais para jornalistas.

Como um assunto prático, isto pode ser tão simplesquanto conceder aos repórteres o direito paracruzar as barreiras policiais em cenas de desastres,apresentando um "passe de imprensa" ou um

comprovante do seu emprego. Esta questão podeassumir dimensões constitucionais, porém, nocontexto de privilégios testemunhais, semelhanteaos que protegem os membros de certasprofissões, como os médicos e o clero, que sãoobrigados a revelar informações confidenciaisrecebidas durante a realização de seu trabalho.

Embora a Suprema Corte se recusasse areconhecer o privilégio abrangente dos jornalistasde acordo com a Primeira Emenda (caso Branzburgversus Hayes, 408 EUA 655 (1972)), 31 estados eo distrito de Columbia aprovaram leis que fornecemproteção aos repórteres que desejam protegerfontes confidenciais e informações inéditas, e amaioria dos tribunais estaduais também concedeuprivilégios de justiça comum a jornalistas.

Mas quem é um "jornalista?" Essa é uma perguntaque os tribunais dos EUA relutam em responder.Afinal de contas, se o governo pode definir quempode agir como jornalista, pode controlar quemreúne e dissemina notícias. Além disso, com oadvento da Internet, que permite que qualquer umque tenha acesso a um computador e um modempossa publicar suas opiniões para o mundo, comoa lei determinará quem pode reivindicar essesdireitos? A Internet é uma mídia que cruzafronteiras instantaneamente, dando condições paraque informações e idéias sejam disseminadas emum piscar de olhos. Determinar quais os padrões eleis que serão aplicados à fala e aos oradores quea usam para se comunicar será um dos principaisdesafios jurisprudências do século 21.

Conclusão

Não é fácil viver com uma imprensa livre. Significaser desafiado, desanimado, despedaçado,transtornado e enfurecido - todos os dias. E háocasiões em que os cidadãos dos EUA não têmcerteza que os fundadores da nação tomaram adecisão certa 200 anos atrás quando apoiaramuma imprensa livre.

De onde vem uma imprensa livre? Alguns diriamque é um direito humano fundamental e, ainda, quea história demonstrou que, com exceção de um umperíodo muito curto de tempo, tem sido um direitohonrado mais na violação do que na observância.

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James Madison foi merecidamente chamado de"pai da Constituição" e da Primeira Emenda emparticular, mas a Constituição e a Carta de Direitosnunca foram documentos auto- executáveis.Dependem de poder judiciário independente parainterpretá-los e trazê-los à vida.

Como o juiz Potter Stewart disse uma vez, duranteuma reunião de advogados, juizes e jornalistas: "Deonde vocês pensam que estes direitos vieram? Acegonha não os trouxe! Foram trazidos pelosjuizes."(Lewis, "Why the Courts", 22 Cardozo Law Review133, 145 (2000))www.cardoza.yu.edu/cardlrev/v22nl/lewis.pdf

As opiniões expressas neste artigo não refletemnecessariamente as opiniões ou políticas do go-verno dos EUA.

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A existência de uma mídia livre

e funcionando que está há

muito tempo associada com

qualquer democracia próspera,

produz ligações igualmente

fortes com economias

de mercado capazes

de crescimento, geração de

empregos e diminuição da

pobreza.

A ligação de uma mídia atuante ao progressoeconômico levantou perguntas sobre a liberdade eviabilidade da mídia fora de uma esfera dediscussão puramente política. Se uma imprensa emcrescimento parece andar de mãos dadas commelhores resultados econômicos - inclusiveparâmetros como baixa mortalidade infantil - entãoinstituições como o Banco Mundial e o Programade Desenvolvimento da ONU têm que começar aapoiar o desenvolvimento da mídia como um doselementos que contribuem para um maiordesenvolvimento econômico e social.

Porém, a interação entre a mídia e a economia nãoé simples. A mídia contribui para a atividadeeconômica, mas a própria situação da economiacausa impacto na saúde da mídia, afetando maisdiretamente o público e os anunciantes do que asorganizações jornalísticas que buscam suaindependência financeira. Experiências em váriospaíses ilustram as formas como a imprensa estáembutida na economia - tanto contribuindo comotirando - pelo menos quando as leis, as políticas, eo tino comercial dos gerentes de mídia permitem.

Na Polônia, o principal jornal diário, GazetaWyborcza, suportou os anos severos de lei marcialcomunista, distribuindo o jornal pessoalmente elutando para apoiar os membros de sua equipe queestavam presos. A democracia, um fim para ocontrole de "mão de ferro" do governo, e umareordenação econômica geral mudaramradicalmente o ambiente para as atividades demídia. Em meados dos anos 90, a GazetaWyborcza foi privatizada, adquiriu rádio e televisãoe foi um marco no crescimento do setor privado depropaganda na Polônia. Zofia Bydlinska, editora doex-perseguido jornal diário, a certa altura fez algunscálculos e descobriu que suas ações na companhiade mídia, adquiridas no início da transição a preços

Passos para uma mídia livre e financeiramente viável

Tim Carrington e Mark Nelson Instituto do Banco Mundial

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preferenciais, tinham alcançado um valor deUS$2,3 milhões.

Porém, nem todas as companhias de mídiaseguem esta trajetória. Em janeiro de 1999,Anderson Fumulani, um repórter e editorempreendedor em Malaui, lançou a BusinessWatch, uma revista trimestral e independente quetratava de negócios e desenvolvimentoseconômicos no recém-democratizado país do sulda África. Economizou contratando estagiários dejornalismo, que esperavam pouco ou nenhumpagamento, e trabalhou incansavelmente paraatrair anunciantes do setor privado de Malaui. Masdepois de quatro edições - nenhuma delasconseguiu vender mais de 500 exemplares - arevista Business Watch fechou. Em lugar decalcular o aumento do valor de suas ações, o Sr.Fumulani ainda estava pagando contas atrasadasdois anos depois do fechamento da publicação.Declarou: "Ainda não terminei de pagar as contasde telefone."

Malaui, um dos países mais pobres do mundo, temrestrições devido a uma alta taxa de analfabetismo,fraca distribuição de redes e um setor empresarialque permanece sujeito à influência política.Enquanto investidores estrangeiros colocarammilhões de dólares no promissor negócio de mídiada Polônia, muitos investidores vêem a imprensaindependente e combativa da África como perda dedinheiro, onde falta público e base para que osanunciantes tenham lucro, mesmo que as leis e aspolíticas comecem bem, como em alguns países. Amaioria dos anúncios é freqüentemente do Estado.Até mesmo as companhias independentes devemestar suficientemente preocupadas comrepresálias, porque relutam em anunciar empublicações que fazem críticas ao governo.

Por trás dos debates, freqüentemente exaltados,sobre os direitos e responsabilidades está um fatosimples que é negligenciado pelas organizaçõesinternacionais que moldam o apoio para os projetosde mídia: A mídia é um negócio. E, como ilustramos casos da Polônia e de Malaui, o negócio denotícias é capaz de criar tanto sucessos quantofracassos financeiros. Como qualquer negócio, éprofundamente afetado pelas realidadeseconômicas que o cercam. Mas deve fazer mais doque passar pelas ondas de crescimento do PIB e

pelas oscilações para cima e para baixo. Maisainda, os sucessos da mídia surgem de estratégiaspara a construção de assinantes e lucros emdiferentes condições econômicas.

Quanto mais os analistas reconhecem que umamídia que funciona é um "fator dedesenvolvimento" capaz de contribuir paramelhorar a responsabilidade, criar mercadoseficientes e sociedades ricas de informação, maiora importância de reconhecer que todos essesbenefícios são conseqüências da independênciafinanceira da mídia. E, em troca, essaindependência é uma função tanto da economiacomo da habilidade de uma empresa de mídia fazercom que um determinado ambiente econômico lheseja vantajoso

A Busca da Independência Financeira

A busca da independência financeira raramente éfácil. As pressões financeiras podem empurrar paraas organizações jornalísticas "salvadores" quegarantem sua solvência, mas que exigem um preçomuito alto para sua independência. Mídiasfinanceiramente fracas em democracias frágeisestão sujeitas a serem absorvidas por interessespolíticos ou econômicos mais interessados emoperar organizações jornalísticas, menos como umnegócio e mais como unidades de propaganda.

Tatiana Repkova, que criou uma publicaçãosemanal sobre negócios, nos primeiros anos detransição na Eslováquia e depois se tornou editorado jornal Pravda, um dos principais jornaiseslovacos, escreve: "A censura da mídia que nosantigos países comunistas era o maior obstáculopara a liberdade de expressão, foi substituída emgrande parte pela pressão econômica...Isto é bompara a independência, embora nem sempre sejaentendido desta forma."

Este sentimento foi confirmado em um boletiminformativo online do Centro Internacional deJornalistas (http://www.ijnet.org), divulgado emoutubro de 2001. De acordo com esse boletim, "Amídia impressa na Sérvia enfrenta grandesproblemas econômicos, e freqüentemente buscaapoio financeiro." Dragan Janjic, editor-chefe daagência de notícias Beta, disse durante uma mesa-redonda, organizada pelo Instituto de Filosofia e

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Teoria Social em meados de outubro:" Comoresultado, torna-se uma presa fácil para ospolíticos."

De acordo com o boletim, Janjic acrescentou queas principais mudanças na mídia se tornarãovisíveis somente quando acontecerem as principaismudanças na economia. Afirmou: "Antes disso, nãopodemos esperar nada."

Como confirma o testemunho do editor sérvio, apiora das condições econômicas faz com que asorganizações jornalísticas busquem um portoseguro, recorrendo ao apoio de políticos ou ainteresses especiais. Porém, fazendo isto podemdanificar sua independência editorial. O jornal ou aempresa de radiodifusão pode tratar de perdasempresariais, mas se estiver ajudando a influenciaruma eleição, ou obtendo uma vantagem legislativaou reguladora desejada, é porque o proprietárioprovavelmente concluiu que a unidade de mídiaganhou seu sustento

Rússia: Um florescimento e uma queda

Em nenhum lugar do mundo, esta ligação com suascondições econômicas- o sobe e desce de uminstável processo de transição econômica - foi maisbem ilustrado do que na Rússia. O paísexperimentou um florescimento de liberdade demídia nos primeiros dois anos depois da queda daUnião Soviética, mas esta nova cultura de mídia foiatingida pela dura realidade econômica que seseguiu. Como a renda per capita caiu mais de 50por cento durante a década e a propagandaestagnou, grande parte da mídia caiu nas mãos depatrocinadores novos e altamente politizados, tantopúblicos como privados, que a usaram para atenderseus próprios interesses.

Depois do fim da União Soviética, a maioria damídia russa buscou independência editorial esustentação financeira tanto de autoridadespúblicas como de patrocinadores empresariais. Erauma fórmula para o fracasso. Não só ospagamentos das autoridades governamentaisforam muito pequenos para garantir a criação demodernas companhias de mídia, mas a contínuadependência de patrocinadores partidários fezpouco para criar um jornalismo de qualidade ou

convencer os assinantes do valor dessa mídia nonovo ambiente pós-soviético.

Analista dos padrões russos da mídia, EllenMickiewicz, do Instituto Terry Sanford de PolíticaPública da Universidade Duke, acredita que ostípicos consumidores de mídia se ajustarampermanentemente a estas distorções. Segundo ela,os assinantes e espectadores russos têm poucaexpectativa quanto à precisão e confiabilidade, eacreditam que "informação não é em si mesma algoconfiável." Os russos olham para a produção damídia como uma multiplicidade de relatóriostendenciosos, que oferecem juntos um mosaico deinformações do qual os consumidores têm que tirarsuas próprias conclusões do que é verdade eacurado.

Ainda hoje, governos regionais alocam uma partesignificativa de seus recursos para meios decomunicação de massa e, embora estes subsídiosnão sejam enormes em termos monetários, elessão grandes o bastante para causar dor de cabeçapara os concorrentes independentes, que têm quesobreviver sem a colaboração financeira ou políticado governo local. Pode ser problemático competirpor anunciantes contra rivais subsidiados quepodem cobrir parte de seus custos com dinheiro dogoverno e oferecer, assim, tabelas mais baixas.

Empresas de mídia que não ficaram dependentesde autoridades políticas acabaram nas mãos dosimpérios financeiros e empresariais que emergiramna Rússia nos anos 90. A notória "oligarquia" tendianão administrar as unidades de mídia buscandoqualidade da informação ou preocupada com asnotícias, mas como veículos de propaganda paraoutros interesses. As unidades de mídia ficarampresas na batalha entre a oligarquia e o governo, ea sua "independência" ficou tão restrita quanto osque dependem da boa vontade política.

Muitos executivos de mídia russos ainda dizem queo país está emergindo lentamente da fase maisdifícil de sua transição e logo ficará mais parecidocom a Polônia ou com antiga Alemanha Oriental.Será crucial estabelecer uma economia maisestável, junto com uma nova capacidade paraconstruir uma base financeira para propagandaprivada, no lugar de presentes do governo ousubsídios da oligarquia.

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Divisão Digital, Fronteiras Digitais

Conforme se intensifica a preocupação sobre adivisão do mundo digital é importante notar que aconectividade de alta tecnologia geralmente seguea saturação de baixa tecnologia da mídia. Em"Divisão Digital: Compromisso Cívico, Pobreza deInformação e a Internet Mundial," Pippa Norrisescreve: "Países ricos em informática como aSuécia, Estados Unidos e Austrália não só estão àfrente em termos da Internet, mas também nadistribuição de outras mídias como assinantes dejornal, aparelhos de rádio e televisão,computadores pessoais e telefones de troncos ecelulares. Havia pequena distinção entre o uso davelha e da nova mídia; a proporção das mídiasonline em cada país estava fortemente relacionadacom a distribuição de hosts, telefones ecomputadores pessoais, mas também estavasignificativa e fortemente relacionada com adistribuição de aparelhos de rádio, televisão eassinantes de jornais em cada país. Isto significaque as pessoas que vivem em sociedades maispobres, como Burkina Fasso, Iêmen e Vietnã foramexcluídas do fluxo mundial de comunicações eisoladas de todas as formas de informaçãotecnológica, incluindo meios de comunicação demassa tradicionais como rádios e jornais e tambémdos modernos como telefones celulares ecomputadores pessoais."

Apesar disso, oportunidades on-line estãoajudando alguns jornalistas a evitar controlesestatais impostos em mídia tradicionais. Uma dasmais interessantes evoluções do mundo em mídiaaconteceu na Malásia, uma das economiaschamadas de tigres asiáticos, onde o governo deMahathir aplica uma lei que barra "notíciasmaliciosas" e permite que o governo feche"publicações subversivas". Todas as publicaçõesdevem ser autorizadas anualmente. Uma Lei deSedição e uma Lei de Segurança Internarestringem as críticas às políticas do governo.Porém, as novas plataformas de serviços de mídiaon-line e a Internet desfrutam uma situaçãoaltamente protegida na Malásia, que se vêemergindo como uma potência de alta tecnologia equer evitar colocar o emergente setor deinformática nos mesmos constrangimentos quecercam as mídias de notícias mais populares

Steven Gan, um jornalista que freqüentemente tevemuitos desacordos com o governo, lançou no finalde 1999 o Malaysiakini, um jornal de Internet e temconseguido mantê-lo no ar desde então, com umamédia de 120 a 150 mil assinantes. Com dinheiroda Aliança de Imprensa do Sudeste Asiático, Gandescobriu que Malaysiakini tinha atraído 100 milassinantes depois de 18 meses de operação, cincovezes mais do que os 20 mil que espera conseguir.Enquanto isso, o jornal conseguiu anúnciosprivados que cobrem 50 por cento de seus custosoperacionais.

A estratégia empresarial é definida de acordo comas realidades econômicas e políticas na Malásia,onde existe uma base de propaganda atuante, eonde o público tem curiosidade em ler on-line o quenão tem nas mídias populares. Mais importante foia abertura criada pelas políticas divergentes dogoverno para mídias velhas e novas. Gan declarouque, "O governo prometeu não censurar a Internet,mas manteria rígidos controles sobre as mídiastradicionais. Estamos explorando esta brecha.

Os países que progrediram mais rapidamente -como os países na Europa Central e Oriental -fizeram da criação de mídias de notícias efetivasuma parte integrante do setor público e da agendada reforma econômica. Esses países não insistiramapenas que as mídias fossem privatizadas eretiradas dos orçamentos dos governos federais eregionais, mas também procuraram políticaseconômicas e reguladoras para criar um ambienteno qual o negócio de mídia - e um sistemaeconômico baseado em informação - pudesseacontecer. Também aprenderam a viver com ascríticas que as mídias de notícia, inevitavelmente,recebem contra as autoridades públicas,reconhecendo que tais críticas são em si mesmasuma das formas para que os governos ajustemsuas políticas e corrijam seus erros.Tim Carrington é funcionário sênior de informaçãopública no Instituto do Banco Mundial. Mark Nelsoné gerente de programa para as operações doInstituto do Banco Mundial em Paris. Ambos sãoex-redatores do Wall Street Journal.

As opiniões expressas neste artigo não refletemnecessariamente as opiniões ou políticas dogoverno dos EUA.

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O governo dos EUA e uma variedade de fundaçõesparticulares e grupos sem fins lucrativos estãotrabalhando para apoiar uma maior independência damíd ia mundial. Estão enviando profissionais de mídiados EUA para lugares em todo o mundo a fim de ajudarjornais, revistas, redes de difusão e sites da Web adesenvolverem padrões mais altos para suasinformações e operações empresariais. A estabilidadefinanceira e a sustentabilidade são tão importantesquanto os padrões profissionais e a independência paraque a mídia continue a informar.

A editora-chefe Ellen F. Toomey reuniu em umaimportante mesa-redonda um grupo desses profissionaispara discutir algumas de suas experiências comoconsultores de operações de mídia em nações emtransição.

William H. Siemering trabalhou com treinamento emredes de difusão na África, Europa Ocidental e Ásia.Antes de se envolver nesse trabalho internacional, foigerente de uma estação pública de rádio e criador deprogramas. Foi o primeiro diretor de programação naRádio Pública Nacional, uma rede dos EUA.

David Simonson trabalhou como consultor empresarialpara diversas publicações na Europa Central e Oriental.No início de sua carreira nos EUA, foi presidente dasubsidiária do jornal Times Inc., e chefe operacional daAssociação Nacional de Jornais.

Rachel Thompson trabalhou com treinamento paraadministração de mídia na Europa Oriental. Tambémdesenvolveu uma carreira como executiva da AméricaOnline, uma das maiores companhias de Internet nosEUA, e como repórter e editora para publicações demídia e telecomunicações.

A editora e redatora de assuntos globais, CharlenePorter serviu como moderadora da mesa-redonda.

A anarquia não é um plano de negócios:Indicadores práticos no ramo da mídia

Uma mesa-redonda

De acordo com um grupo de

peritos, a mídia em países em

transição e em desenvolvimento

deve encontrar fontes de renda e

definir suas missões ao mesmo

tempo em que trabalham para

estabelecer sua independência e

viabilidade econômica.

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Pergunta : Quais são as necessidades mais críticaspara que a mídia estabeleça sua independênciafinanceira, especialmente em situações onde nãotem nenhuma experiência para geração ou para oaumento de capital?

Simonson : Meu primeiro pensamento é queprecisam superar a síndrome do "Nunca fazemosdeste modo". Por exemplo, na Croácia, enquantoprocuravam por oportunidades de propaganda namídia local, todos - da nossa embaixada até osveículos de comunicação - diziam: "Não existedinheiro aqui, nada pode ser feito." As ruasestavam cheias de Mercedes, BMWs e Volvos,portanto existia dinheiro, só não estava disponível.Isto significava que existia um público queresponderia a essas propagandas.

P: Então, o senhor atribui essa atitude negativa àinexperiência com propaganda e venda de espaçospublicitários?

Simonson : Exatamente, e porque não tinhamqualquer cultura, por exemplo, de comoestabelecer preços para propagandas, comoencorajar mais de uma propaganda, como atingiros anunciantes em potencial. A mentalidadegeralmente era: "Se isto acontecer naturalmente,aceitaremos." Diziam: "Não é assim que fazemos.Marketing não faz parte da nossa cultura." Mas,para competir em um mundo de marketing,marketing deve fazer parte da cultura.

Thompson : De acordo com minha experiência, aspublicações freqüentemente foram iniciadas poreditores muito comprometidos, e financiá-las eraum desafio real. Tive um editor que me disse: "Nãoqueremos sair e pedir apoio." Considerava istoinaceitável. Acreditava que se gostassem doproduto, o apoio viria.

P: A mídia ocidental é conhecida por uma forma devenda muito agressiva. O senhor deu por faltadesta prática em sua experiência com mídias empaíses em transição?

Simonson : Era inexistente. Em Bratislava, haviauma publicação empresarial muito próspera. Tinhaêxito porque as duas pessoas que a administravamtinham vindo para os EUA, estudaram metodologiaaqui, voltaram e a aplicaram. Foi a única publicação

que entendeu que deveria vender assinaturas, quenão esperou que as pessoas pensassem emcomprar a publicação. Foram as únicas pessoasque perceberam que aquele nicho de publicaçãopoderia ter êxito, poderia ser uma forma de ganhardinheiro. Mas não eram a regra.

A mídia era inexperiente porque tinha um históricode apoio político e governamental que desapareceunos antigos países comunistas. Encontrei umsujeito em um programa de treinamento na BieloRússia, que me disse: "Não me ensine, apenasmande o dinheiro."

P: Bill Siemering, por favor, descreva suasexperiências com estações de rádio que seesforçam para ter independência financeira.

Siemering : Antes de tudo, deve haver vontadepolítica no país para apoiar a mídia independenteatravés de legislação de mídia que forneça acessoà informação, defina calúnia e assegure liberdadede mídia. Estas ações devem vir dos líderes. Naverdade, é bastante fácil convencer as autoridadesque ter mídias independentes atenderão seusinteresses melhor, porque serão atendidos por elas.

Quando falamos sobre mídias independentes,quero acrescentar mídia "profissional" ou mídia"responsável". Mídias independentes por simesmas não garantem democracia ou sociedadecivil. Em muitos países, as estações de rádio foramprivatizadas e tudo que fazem é tocar rock. Istoaconteceu em Budapeste, Kiev, Ulaanbaatar. Naverdade, não estão fazendo nenhumaprogramação informativa.

Na Mongólia, por exemplo, os jornais ganharamliberdade do Estado e afirmaram: "Somos livres!Somos livres! Podemos fazer o que quisermos."Mas foram irresponsáveis, divulgando rumores efofocas. Desta forma, o governo pode facilmentedesacreditar o jornal e dizer: "Veja, não se podeacreditar no que está escrito." Portanto, este tipo deresposta destrói a credibilidade e o papel da mídiacomo uma fonte precisa de informação imparcialque é essencial para a democracia e para asociedade civil.

Quando o atual primeiro-ministro da Mongóliaassumiu, declarou que não queria ver jornais

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sensacionalistas que mostrassem corpos mutiladosou histórias de sexo na primeira página.

Em termos de independência econômica da mídia,existe a necessidade de modelos e exemplos paraque os jornalistas entendam que é possível ter umnegócio lucrativo, independente e responsável,sem ser sensacionalista.

Simonson : Ou noticiar fofocas.

P: E sobre a situação de um indivíduo ou um gruporico que toma posse de um órgão, queanteriormente era financiado pelo governo, a fim deusá-lo para seus próprios propósitos?

Simonson : Isto não deveria nos surpreender. Nahistória da mídia dos EUA, desde 1890 até o iníciode 1900, era o que faziam as pessoas ricas. Apressão pública e a maturação de sociedademudaram isso. No final das contas, um mercadolivre determina se um jornal será usado como suaprópria ferramenta. Se ninguém compra seu jornalporque não está atendendo a suas necessidades,não haverá leitores e não haverá uma voz.

Gostaria de acrescentar algo ao que Bill disse:Tendemos a definir imprensa livre como o direito dedizer o que se quer. Isto até pode acontecer empaíses onde os jornalistas são autorizados, masisto não é liberdade. Uma imprensa livre deve ter aliberdade de coletar informações sem qualquerintervenção e ter a liberdade para disseminar estainformação. As opiniões editoriais de umapublicação não são tão importantes como permitirque o público tenha acesso aos fatos e crie suaprópria opinião.

P: O mercado trabalha para exigir responsabilidadedas mídias?

Simonson : O mercado exige, mas para atingir umpúblico os editores tentarão algo. Os jornaisiugoslavos publicaram nus na primeira página,atitude essa que tem pouco a ver com as notícias ecom a responsabilidade de um jornal legítimo. Oeditor me disse: "É por isso que compram o jornal,é a forma de atingi-los." Era muito difícil dizer a eleque isto não funcionava e que estava denegrindoas mulheres.

Este editor veio à ONU acompanhando seuprimeiro-ministro e trouxe cópias do seu jornal. Odepartamento de imprensa da ONU olhou os nusna primeira página e disse-lhe que não possuíauma publicação responsável. Esta foi a primeiravez que se deu conta do problema. Quando faleicom ele a respeito, tudo que consegui foi parecerpuritano.

Acredito que algo não é bem entendido nos paísesem desenvolvimento: as pessoas que têm uma vozou querem dizer algo, devem dizer, mas o que nãopercebem é que ninguém lerá até que a publicaçãoentenda e satisfaça as necessidades do público. Épor isso que os editores são importantes. O melhoreditor - de rádio, televisão, Internet ou jornais - éaquele que pode desenvolver um público, nãoapenas criar situações para alimentar seu próprioego.

Siemering : A primeira vez que fui à África do Sul foiem 1993, antes das eleições. As rádioscomunitárias faziam parte da luta de liberação, coma idéia de dar uma voz para os que não tinham.Porque o governo acreditou que os interesses dedemocracia poderiam ser mais bem atendidosatravés das rádios comunitárias, só deram licençaspara essas rádios no primeiro ano de concessão:de 1994 a 1995.

Fui aos primeiros seminários quando as pessoasfalavam sobre rádio comunitárias antes que fossempara o ar. As pessoas diziam: "Agora todos têm odireito de estar no rádio." Uma estação foi maislonge e colocou um microfone nas ruas e permitiuque todos dissessem o que quisessem.

Quando as estações foram para o ar, os ouvintesdiziam: "O apresentador era muito bom," ou"Queremos mais programas em nosso idioma," ouvárias outras sugestões. Eram muito claros ao dizerpara as estações de rádio o que queriam ouvir,como um exemplo de como o mercado podedirecionar a programação.

As estações ficaram rapidamente atentas a estesassuntos e tentaram melhorar a qualidade ao invésde fazer com que as pessoas continuassemfalando.

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P: David Simonson tambémtestemunhou algumas transiçõesbastante turbulentas para aprivatização durante suaconsultoria em antigos paísescomunistas na Europa?

Simonson : Sim. Na Eslovênia,uma publicação para a qualestava prestando consultoria foiprivatizada, e todos osrepórteres tinham ações dacompanhia. Reuniam-se eescolhiam um novo editor todasas semanas porque eram osproprietários. Assim, ao invés delhes ensinar marketing, passeitrês semanas estruturando umconselho de administração ealgumas políticas operacionais.A privatização era aparentadacom a anarquia nessa situação,e não se pode ter um plano denegócio ou qualquer plano com anarquia.

P: Voltemos ao ponto para estabelecer viabilidadefinanceira. Bill Siemering ia nos dar exemplos dealguns dos métodos que encontrou enquantotrabalhava como consultor em estações de rádioem várias partes do mundo.

Siemering : David mencionou que ver umMercedes na Croácia foi uma pista de que poderiahaver dinheiro naquela comunidade para apoiarpropagandas na mídia. Bem, não há qualquerMercedes no Deserto de Gobi; há somentepastores, animais e alguns jipes. Há pequenasempresas nos centros provincianos. Há dois anos,quando fui pela primeira vez para ver uma estaçãode rádio, pensei que não havia condições deconseguir dinheiro para propaganda. Voltei lá emsetembro último e há propagandas no rádio comalguém dizendo: "Fermentei o leite das éguas por15 centavos um litro. Este é o endereço onde possoser encontrado," ou "quero ir passear em UlanBator," ou, "perdi alguns cavalos."

Simonson : Como um anúncio no rádio.

Siemering : Exatamente. Um terço da renda vemdestes anúncios. Há um vendedor no mercado que

recolhe estes anúncios doscomerciantes ou de qualquer umque está de passagem. Emboraseja muito pequeno, as coisasfuncionam.

P: O senhor está dizendo quemuito de sua propaganda nãovem de empreendimentoscomerciais e negócios comopensamos no ocidente, mas deindivíduos que vendem leite daséguas ou que querem passear?

Siemering : Correto, mas há osanunciantes empresariais comoos conhecemos. Uma das maisbem sucedidas empresascomerciais é uma companhia desorvete - Companhia deSorvetes Simba. Colocaramuma moeda em alguns cones desorvete. Assim, se a moeda

aparecesse em seu cone de sorvete, deveria levá-lo à estação de rádio para ganhar um prêmio.Poderia ser uma roupa esportiva, uma bola debasquete ou cosméticos para mulheres. Emseguida, reciclavam a moeda. Essa campanha tevetanto êxito que uma companhia concorrente foi àestação de rádio e reclamou, "Ninguém mais estácomprando nosso sorvete." A propaganda deuresultado.

Uma outra estação ao norte de Darkhan, Mongóliaque fatura US$1 mil por ano, faz muitas permutas.Está instalada em um velho prédio deapartamentos da era soviética. Fizeram permutascom as companhias elétrica e telefônica. Tem aindaum acordo com um hospital para fornecerassistência médica para seus empregados. Faleisobre uma incorporação como a que temos nasrádios públicas nos EUA e responderam: "Temosisto com a associação dos inquilinos do prédio deapartamentos." Perguntei então, "O que aassociação ganha?" Responderam: "Divulgamosos nomes dos inquilinos que não pagaram oaluguel."

Thompson : Trabalhava com uma agência denotícias regional na Moldávia, ao norte de Chisinau,perto da cidade de Balti. Em geral, divulgava

Vocêsprecisam deuma missãoclara e de umprofundosenso daimportância dainformação emuma sociedadelivre.

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notícias econômicas - notícias sobre negócios - queé um produto com muito valor, e esta agênciapercebeu isso. Mas estando fora da capital, nãoestavam bem localizados geograficamente paraconseguir as notícias do que estava acontecendono governo, nos principais bancos e assimsucessivamente.

Balti teve um aumento crescente da atividadeeconômica, mas era difícil para os repórterescolherem informações e colocá-las em um contextosignificativo para os empresários da região.Descobriram que o governo e os funcionários dasempresas também eram muito mal informados.Não havia uma tradição do governo emcompartilhar informações sobre atividadeseconômicas, e pequenos negócios ainda nãoentendem como podem usar as notícias sobreatividades econômicas a seu favor.

A agência era muito empreendedora e começou atrabalhar com a associação de comércio local paratentar treinar os jovens empresários a trabalharcom um grupo de relações públicas, para ensiná-los a conduzir uma entrevista coletiva e atividadesafins. Iam além de informar negócios para educar opúblico e criar um mercado para seus produtos.

Pensei que seria inacreditavelmenteempreendedor, mas também aumentou algumaspreocupações. Em um ambiente ideal deinformações, deve-se ir além da entrevista coletiva.Ao fazer isto, encontram-se outras informações.Entrar na área de Relações Públicas teve opotencial de desviá-los do negócio principal,afastando-os do seu foco de informar as notícias.

Simonson : Se tiver êxito econômico, deve-seatender às necessidades das pessoas, do público.Isso é verdade, não importando qual a mídia. O queaconteceu com muita freqüência nas antigasnações comunistas da Europa foi que as operaçõesde mídia começaram a ser vozes contra o governo.E poderiam ser vigorosamente negativas.Trabalhando com jornais na Croácia em 1999, eulhes perguntei, "O que acontece depois que o(recentemente falecido) presidente Franjo Tudjmanmorrer?" Na época, era de conhecimento públicoque estava com câncer. Responderam, "O que querdizer com isto?" Ninguém tinha pensado se o jornal

seria a favor ou contra o presidente quandomorresse.

Na Eslovênia, mencionei que onde havia anarquia,a circulação caiu de 100 para 27 mil exemplares emdois anos porque ainda estavam defendendo aindependência que aconteceu dois anos antes.Recusaram a se centralizar nas necessidades dopaís de dois anos antes e essas necessidadestinham mudado. Não eram tão relevantes comotinham sido antes.

Muito freqüentemente, as pessoas que são líderesnas mídias não usam o que é realmente útil para oseu público. Esta é a diferença entre sucesso nomercado e escrever para sua própria satisfação.

Siemering : Também se precisa pensar como seuproduto pode ajudar a comunidade e a economia.Em Soweto, uma cidade negra a oeste deJohannesburgo, África do Sul, a Rádio Comunitáriade Soweto tinha uma pizzaria como patrocinadora.Ela teve tanto êxito no resultado da propagandaque puderam abrir outra pizzaria.

Gostaria de mencionar outra forma de levantardinheiro: o Programa de Mídia de Rede do Institutode Sociedade Aberta (OSI) apoiou a associação dejornais regionais na Moldávia de forma quepuderam oferecer ao grupo cotas de propaganda.Isso lhes permitiu aumentar muito o dinheiro queconseguiram com propaganda, ao se oporem àsvendas de rua. Então, o Instituto de SociedadeAberta (OSI) os ajudou a pagar por suplementos deinformação investigativos que seriam colocadosuma vez por mês em todos os jornais.

Pelo desenvolvimento da associação, ajudandoresponsavelmente econômica e jornalisticamente,todos os jornais se beneficiaram. Muitofreqüentemente, algumas destas velhasassociações são bastante ineficazes. Precisam denovas lideranças e opiniões.

Thompson : Trabalhando em Kiev, videsenvolvimento regional de comunicação,pessoas de jornais e sites da Web trabalhandojuntos para educar os anunciantes, compartilhandoexperiências para fixar taxas, em boas práticas.Como muito disso pode acontecer é um bem,

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porque eventualmente ajudará a construir umaeconomia regional. É extremamente valioso.

P: O que me impressiona ao ouvir esses casos detantos países diferentes onde trabalharam é acriatividade. Acharam soluções bastante criativasque não foram encontradas em nenhum modelo doOcidente. As mídias nesses países estãoencontrando novas formas de fazer as coisas?

Simonson : Sim, mas precisa ser dito que todasestas maravilhas sobre as quais estamos falandonão vão funcionar se houver intervenção dogoverno. Esta é uma parte muito importante damensagem.

A necessidade para uma mídia grátis semintervenção de governo é crucial. A qualquer hora ogoverno quer regulamentos em qualquer coisa, éperigoso.

Na Eslováquia, quando Vladimir Meciar era oprimeiro-ministro, o governo podia indicar onde umjornal seria impresso. Se o jornal se opusesse aMeciar, o governo levaria o jornal de umaimpressora moderna para uma impressora de1909. De repente, perderiam a propaganda dascompanhias de automóveis e de todas ascompanhias que exigiram uma boa reprodução deseus anúncios. E o governo poderia negar qualquerresponsabilidade pela queda da renda deste jornalde oposição.

Neste clima, a mídia livre corre perigo.

Siemering : Mas para reforçar seu ponto sobrecriatividade, há criatividade lá, e aqueles de nósque chegam como consultores para jornais empaíses em transição precisam reconhecer estacriatividade e não tentar impor um modeloocidental. Não funciona. Se lhes dermos osprincípios de uma cobertura justa, precisa,equilibrada e sólidas práticas de negociação,criarão os princípios operacionais que sãomelhores para eles.

Damos as ferramentas para construir umaestrutura, mostramos os materiais que funcionarãoe os que não funcionarão. Sempre começo com

uma declaração de missão porque deve existiralguma visão de como o veículo está sendo usado.Pode ser lucrativo, mas precisa atender aosinteresses de seu país e de sua comunidade.

Simonson : Acredito que a missão é um dos pontosmenos compreendidos em um mercado emergente.Lembro de ver o balanço de lucros e perdas de umaorganização muito lucrativa e de perguntar sobre amissão. Responderam, "Ter lucros." Disse então:"Teriam mais lucro se fechassem esta divisão darevista. O jornal é que os está sustentando."Disseram que não podiam fazer isto, e tive de dizer:"Então, ter lucro não é a sua missão."

Siemering : Diria apenas que precisam de umamissão clara e de um profundo senso daimportância da informação em uma sociedade livre.Dedicação para precisão e verdade devem seriguais à confiança sagrada que se tem com ummédico. É uma obrigação profissional fornecer aopúblico informações que podem confiar.

Manter-se mais perto do seu público também éessencial, porque se está cada vez mais adquirindoconhecimento e mais proximidade. Estão dandosua mensagem.

O desafio é apresentar a informação de um modoatrativo para que as pessoas queiram ouvir ou ler oque precisam saber.

Siemering, Simonson e Thompson participaramdesta mesa-redonda no Escritório de ProgramasInternacionais de Informação em Washington.

As opiniões expressas neste artigo são relativasaos assuntos abordados na entrevista e nãorefletem necessariamente as opiniões ou políticasdo governo dos EUA.

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A forma como a imprensa

atende a confiança do público é

pela obtenção incessante e a

apresentação independente de

notícias. Programas,

departamentos e escolas

de jornalismo precisam se tornar

os locais onde tais conceitos

são nutridos, protegidos e

continuamente defendidos.

Jornalismo a serviço da confiança do públicoWilliam F. Woo

Professor visitante de jornalismo profissional, cátedra Lorry I. LokeyUniversidade de Stanford

Em 1892, o visionário Joseph Pulitzer, proprietáriodo jornal New York World, ofereceu dinheiro para aUniversidade de Columbia criar a primeira escolade jornalismo do mundo. Naquele tempo, aformação de jornalistas existente nos EUA e emoutros países consistia de editores experientes erepórteres que seguiam regras ou ferramentas daprofissão. A idéia de Pulitzer parecia exagerada.

As pessoas se perguntavam por que algumauniversidade quereria treinar jornalistas? Eramapenas trabalhadores manchados de tinta quepraticavam o que poderia ser considerado, namelhor das hipóteses, um ofício aprendido naprática. A idéia que jornalistas pertenciam a umacomunidade de humanistas e cientistas era risível.Os curadores de Columbia rejeitaram a oferta.

Pulitzer, cujo nome hoje está associado ao maisimportante prêmio jornalístico nos EUA, o prêmioPulitzer, não desistiu. Em 1904, publicou um artigointitulado "A Faculdade de Jornalismo" no TheNorth American Review. Nesse artigo, explicousuas razões para a existência de uma escola parajornalistas.

Pulitzer escreveu: "Nossa república e sua imprensacrescerão ou fracassarão juntas. Uma imprensacapaz, desinteressada, imbuída de espírito público,com inteligência para saber o que é direito e com acoragem para fazê-lo, pode preservar esta virtudepública sem a qual um governo popular será umaimpostura e uma farsa. Uma imprensa cínica,mercenária e demagógica produzirá, no devidotempo, um povo igual. O poder de moldar o futuroda república estará nas mãos dos jornalistas dasfuturas gerações."

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Columbia aceitou o dinheiro de Pulitzer, mas atéque a escola de jornalismo fosse aberta em 1912 erecebesse seu nome, Pulitzer tinha falecido e aUniversidade de Missouri já tinha aberto a primeiraescola de jornalismo. Hoje, a formação dejornalistas é levada a sério. Só nos EUA existemmais de 450 programas, departamentos e escolasde jornalismo e comunicação de massa. Em geral,formam-se cerca de 40 mil bacharéis e títulos demestrado por ano.

Neste artigo tratarei de três temas. O primeiro ésobre o desenvolvimento e da situação daformação em jornalismo. O segundo examinaalgumas profundas mudanças no jornalismo quelevantam questões importantes sobre o seu futuro.O terceiro analisa novamente a visão de JosephPulitzer e discute o que é de fundamental hoje,tanto para jornalistas quanto para a formação emjornalismo.

Quando a Universidade de Missouri abriu suaescola de jornalismo em 1908, descobriu quedeveria inventar uma faculdade. Desde o início, auniversidade enfatizou a experiência prática.Mantém seu foco, embora muitas das modernasescolas de jornalismo hoje também ensinemhistória, teoria, pesquisa e muitos outros assuntos,a ênfase original em experiência prática setransformou em modelo para outras universidades.

No devido tempo, as escolas entenderam que nãobastava ensinar reportagem e redação. Precisavamde educadores com técnicas avançadas, quepoderiam realizar pesquisas e desenvolver teoriasde jornalismo. Precisavam de uma faculdade comênfase em pedagogia. Cada vez mais, o jornalismopassou a ser considerado como um subconjunto dacomunicação.

Profissionais e acadêmicos freqüentemente seencontram em lados opostos de uma disputacrescente e contenciosa. Alguns profissionaisolhavam com desdém para seus colegasacadêmicos, com seus títulos de doutorado emétodos de ciência social e jargões maisadequados para torres de marfim do que para o"mundo real" do jornalismo. Alguns acadêmicosolhavam para os profissionais como simplescomerciantes e para o "mundo real" do jornalismocomo meros ancoradouros industriais, dos quais asinstituições acadêmicas devem se livrar.

O ponto central desta disputa era a velha perguntade como deveria ser um curso de jornalismo.Deveria ser principalmente prático? Teórico? Acombinação dos dois? A sua missão era formarPhDs ou, como Pulitzer imaginou, formar as futurasgerações de repórteres e editores?

Ao longo dos anos, a escola de jornalismo quePulitzer criou na Universidade de Columbia setransformou numa das melhores escolas nos EUApara a formação de repórteres e editores. Seusformandos trabalhavam nas mais importantesempresas jornalísticas. A base de seu currículo eraum curso rigoroso de formação.

Em meados de 2002, enquanto a escola procuravaum novo diretor, o reitor da Universidade deColumbia, Lee Bollinger, abruptamente cancelou aprocura. Era preciso mais reflexão. Declarou:"Ensinar a profissão de jornalismo é um objetivovalioso, mas claramente insuficiente neste novomundo e dentro do conceito de se criar uma novauniversidade."

Isto foi surpreendente. Aqui na Universidade deColumbia, a formação de jornalismo foi direcionadapara a competência profissional. O reitor dauniversidade declarou que só ensinar a profissãode jornalismo era insuficiente.

Mais de 100 anos depois que Joseph Pulitzerdefendeu a criação de escolas de jornalismo, aindanão existe acordo sobre como deve ser a formaçãoem jornalismo. A dúvida se as universidadesdeveriam ensinar foi respondida a contento. Porém,o que não se resolveu foram as dúvidas de por queo jornalismo deveria ser ensinado e como esteensino deveria ser.

Na maior parte do século 20, os jornais desfrutaramde uma situação confortável. Sem contar outraspublicações, estes jornais não tinham concorrentesexpressivos. Os jornais eram a fonte principal ediária de noticias e anúncios. As pessoas diziam:"Só sei o que leio nos jornais."

Nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial,ocorreram três fatos que tiveram enormes impactosno jornalismo. Estes fatos, inevitavelmente,afetaram a formação dos profissionais na área dejornalismo.

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O primeiro foi o aparecimento deuma séria competição pelaatenção das pessoas e odinheiro dos anunciantes. Atelevisão, e muito mais tarde, aInternet e a explosão depublicações específicasatingiram profundamente opúblico tradicional dos jornais esuas fontes de renda. Essesconcorrentes não ofereciamapenas novas formas de seobter informação, mas tambémdavam ao público diferentespontos de vista. Poucaspessoas podem dizer: "Seiapenas o que leio nos jornais." Aconfiança do público nojornalismo diminuiu.

O segundo impacto nojornalismo foi demográfico.Depois da guerra, com a volta de muitos soldadosque entraram nas universidades, os EUA ficarammais bem educados e exigiram um tipo diferente dejornalismo - um jornalismo mais informado e commaiores interesses. Os subúrbios cresceram àscustas das grandes cidades. Os shoppings centerssubstituíram as lojas de departamentos, cujosdólares pagos pelos anúncios construíram aindústria jornalística. Os jornais vespertinos queeram entregues por caminhões que enfrentavam otrânsito na hora do rush, começaram adesaparecer. Mais sorrateiramente, o ritmo da vidamoderna deixou as pessoas com menos tempopara ler jornais. Voltaram-se para a televisão embusca de notícias e, principalmente, em busca deentretenimento.

Finalmente, no início dos anos 60, algumasempresas jornalísticas descobriram que Wall Streetera uma fonte de capital. Considerando que antesda Segunda Guerra Mundial, a grande maioria dosjornais dos EUA era de propriedade particular eindependente, nos anos 60 a propriedade porações tornou-se o padrão.

Assim, em alguns casos, a medida do sucesso deuma organização jornalística era determinada pelomercado de ações que estava preocupado com oslucros trimestrais e não com a qualidade do

jornalismo. As pressões domercado levaram a menosinvestimentos nas operaçõesjornalísticas. O jornalismo deixoude ser a principal prioridade paraser obscurecido por outrasprioridades. Quando osexecutivos da Gannett, uma dasmaiores cadeias jornalísticas dosEUA, discursaram para osanalistas de mercado em Bostonalguns anos atrás, eles nuncausaram a palavra jornalismo emsuas apresentações.

Grandes conglomerados setransformaram em organizaçõesmenores. Ben Bagdikiam informana última edição de seu livro, "OMonopólio da Mídia", que no finaldo século 20, a maior parte doque os cidadãos dos EUA leram

nos jornais e viram na televisão era o produto depoucas e poderosas organizações gigantescas.

O que tudo isto significa para as organizaçõesjornalísticas e universidades? Um ponto de partidaé lembrar as palavras de Joseph Pulitzer no TheNorth American Review: "Nossa república e suaimprensa crescerão ou fracassarão juntas... Umaimprensa cínica, mercenária e demagógicaproduzirá, no devido tempo, um povo igual."

O que Pulitzer estava dizendo é que o jornalismo émais do que uma forma de ganhar dinheiro oufornecer entretenimento. Deve atender à confiançado público. Escreveu que um jornalismo populareficaz dependia de "uma imprensa capaz,desinteressada, imbuída de espírito público, cominteligência treinada para saber o que é direito ecom a coragem para fazê-lo."

Antes da televisão e da Internet, nem todo ojornalismo estava imbuído de espírito público, e oscínicos e mercenários eram fáceis de achar. Mas,nas muitas décadas nas quais a imprensa foi depropriedade privada, desenvolveu-se uma ética: ojornalismo existe para atender as pessoas.Freqüentemente isto foi desconsiderado, mas nãoimpediu que os jornalistas se considerassem oquarto poder, independente dos centros de poder

O jornalismonão é um fimem si mesmo,mas somentea formaprofissionalcom que osrepórteres eeditoresatendem àconfiança dopúblico.

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público ou privado. Sua missão era revelar; seuprincípio era a objetividade; sua disciplina era averificação; e sua crença era o direito das pessoassaberem.

Todos esses itens estão abertos para uma análisecrítica, e por muito tempo os jornalistasconcordaram. As escolas de jornalismo osapregoaram. Mais do que tudo, estes ideais seapoiavam em uma indústria estável que seentendia.

Mas, pergunte hoje em uma sala de aula ou umaredação de jornal: O que é jornalismo? Em quaiscampos os jornalistas estão envolvidos ou estãosendo treinados? Não há consenso algum. Algunsdirão que é o campo da informação; outros, onegócio de entretenimento, o negócio de notícias, onegócio de lucro.

Como escrevi recentemente no The NiemanReports, uma publicação trimestral na Universidadede Harvard, uma resposta melhor exige quevoltemos aos princípios iniciais e perguntemos:Qual é o objetivo do jornalismo e da formação emjornalismo?

Sugeri nesse artigo, do qual tratarei em minhasconclusões, que o objetivo do jornalismo não éapenas fazer jornalismo assim como o objetivo deuma cirurgia não é apenas a cirurgia, ou seja, cortaras pessoas e costurá-las novamente. O objetivo dacirurgia é curar.

Da mesma forma, o propósito do jornalismo é maisdo que informar e escrever histórias, embora comoa cirurgia, habilidade e competência sãoessenciais. Seu propósito é com algo maisfundamental, que acredito seja atender à confiançado público.

A forma como a imprensa atende a confiança dopúblico é pela obtenção incessante e aapresentação independente de notícias, umconceito que transcende sistemas políticos. Afinalde contas, esses sistemas políticos são apenascaminhos para se atingir um fim. Para os cidadãosdos EUA, a democracia é o caminho político para aliberdade.

Da mesma forma, o jornalismo não é um fim em simesmo, mas somente a forma profissional com queos repórteres e editores atendem à confiança dopúblico. Atendem essa confiança fornecendo asnotícias e informações que pessoas livres precisampara tomar suas decisões políticas, econômicas,sociais e pessoais.

Quando o reitor da Universidade de Columbia,Bollinger, declarou que ensinar "a profissão dojornalismo era um objetivo valioso, mas claramenteinsuficiente" fez uma observação importante.Jovens jornalistas que ignoram o contexto teórico,social e histórico de sua profissão estãocondenados a viver de forma superficial. Osjornalistas que entendem apenas teoria, história,ética e a lei da imprensa são igualmente inúteis.Nenhum deles servirá à confiança do público.

A pergunta se a profissão ou a amplitudeacadêmica é um objetivo valioso ou suficiente para"uma grande universidade" me parece tãoirrelevante quanto perguntar se é melhor os jovensse alistarem no exército ou a marinha, em ummomento em que o exército já está à mercê de umameia dúzia de senhores da guerra.

Uso a expressão "uma meia dúzia" corretamente.Este é o número de corporações que BenBagdikian afirma que "domina toda a mídia demassa nos EUA" e que fornecem ao país "a maiorquantidade de notícias, comentários eentretenimento."

Quais são as implicações disso para a formaçãoem jornalismo? Algumas instituições podem formarexcelentes profissionais. Outras podem produzirbacharéis ricos em entendimento histórico, social eteórico. Mas, o que isso importa se os donos damídia nos EUA são indiferentes a estasqualidades?

A grande tarefa dos educadores de jornalismo,além de fornecer treinamento prático e amplitudeacadêmica é dar aos seus alunos um firme sentidode confiança do público: como se desenvolveu, oque significa para os EUA, como se manifesta ou étraído no trabalho dos jornalistas e dasorganizações jornalísticas.

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Os programas, departamentos e escolas dejornalismo precisam se transformar nos locais ondeesses conceitos são nutridos, protegidos econtinuamente defendidos.

Como escrevi no The Niemam Reports: "Umaimprensa que é refém de seus investidores é tãoprisioneira quanto uma imprensa que é refém deum governo. Certamente, tanto as grandesuniversidades quanto as pequenas podementender isto." Joseph Pulitzer teria entendido.

Wlliam F. Woo ocupa a cátedra Lorry I. Lokey naUniversidade de Stanford como professor visitantede jornalismo profissional, onde leciona desde1996. Antes disso, foi repórter e editor durante 39anos, sendo que nos últimos 10 anos foi o editor-chefe do St. Louis Post-Dispatch.

As opiniões expressas neste artigo não refletemnecessariamente as opiniões ou políticas dogoverno dos EUA.

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O jornalismo nos Estados Unidos é normalmentevisto como disciplina profissional, apesar de terpouco em comum com outras profissões, comodireito ou medicina. No jornalismo, não existeensino especializado, concurso para admissão ouexpectativa de educação continuada. A maioria doscidadãos dos EUA que ingressa na área dojornalismo de radiodifusão hoje estudou jornalismoem nível universitário. Depois de entrarem para omercado de trabalho, no entanto, existe poucaprobabilidade dessas pessoas receberem algumtipo de treinamento formal em jornalismo a não serque o busquem individualmente.

Muitos jornalistas que já atuam no mercado narealidade incentivam estudantes a não buscarem odiploma de jornalismo ou área relacionada àcomunicação, e sim a buscarem uma educaçãomais ampla nas artes liberais. "É um dos títulosmais inúteis que se pode ter", afirma o diretor denotícias Dave Busiek, da rede KCCI-TV em DesMoines, Iowa. "Preferiria muito mais ter alguém comum bacharelado, que passou um ou dois anos narua cobrindo notícias e aprendendo a escrever." (1)

Ainda assim, a área de notícias em radiodifusão émuito competitiva e os estudantes sentem que odiploma de jornalismo lhes dá alguma vantagem, aomenos quando procuram os primeiros empregos.Uma pesquisa mostrou que 90 por cento daspessoas com graduação admitidas em seusprimeiros empregos na televisão tinham feito cursosde jornalismo e comunicação de massa. Osempregadores querem que os novos contratados"já caiam de pé" nas redações com equipespequenas na televisão e no rádio de hoje em dia. Jáos executivos de notícias sabem que pessoas comdiplomas de jornalismo de radiodifusão conhecem obásico: como filmar e editar áudio e vídeo e comoescrever em estilo jornalístico.

Jornalistas de radiodifusão precisam de treinopara atender à intensa demanda

Deborah Potter Diretora da NewsLab

Um centro de pesquisa e treinamento para jornalistas de televisão

A maior parte dos jornalistas de

radiodifusão nos Estados Unidos

tem algum tipo de educação

universitária. Cada vez mais os

jornalistas da ativa afirmam que

o incremento adicional de suas

habilidades no decorrer de suas

carreiras poderia ser de valia

tanto para a profissão

quanto para o público.

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Em escolas como a Universidade de Missouri e aBrigham Young University, os estudantesacumulam experiência produzindo e transmitindoinformações para uma transmissão diária detelevisão. A maior parte dos programas degraduação em jornalismo de radiodifusão tambémexige que os estudantes passem por, pelo menos,um estágio em uma sala de redação de noticiário,que os ajuda a fazer contatos na área e a comporuma fita com aparência profissional para seuscurrículos. Na faculdade de jornalismo daUniversidade de Columbia, os estudantes pagammais de US$30 mil por um programa prático de dezmeses e a maioria considera que o preço vale apena. "Vim para Columbia para aprender asmanhas e os macetes e para fazer os contatos quepreciso para vencer no jornalismo", escreveu umestudante em uma pesquisa recente. "Acho que aescola faz esse trabalho de forma excelente."

Futuros jornalistas de radiodifusão não precisamapenas aprender as habilidades básicas da área,eles também precisam de treinamento para lidarcom as pressões que enfrentarão no trabalho,especialmente a pressão de tempo. No decorrer dadécada passada, estações locais de televisão nosEstados Unidos aumentaram o número de horas denoticiário produzido diariamente, mas a maioria nãotem uma equipe proporcionalmente maior. Osrepórteres rotineiramente têm que produzir mais deuma matéria a cada dia. Isso significa que elesprecisam de treinamento para trabalhar com maiorrapidez e eficiência.

Alguns educadores que passaram parte do verãode 2002 trabalhando em salas de redação em todoo país entenderam esse recado. No projeto deExcelência em Educação da Fundação deDiretores de Notícias Rádio-televisivas, cadaprofessor foi lotado em uma estação diferente paracumprir estágio de quatro semanas. Esseseducadores experientes ficaram impressionadoscom as mudanças que observaram na profissãodesde que deixaram a redação, sendo que algunsdeles estavam fora do mercado havia menos deuma década. Para muitos deles, a principal liçãoaprendida foi que eles precisam pressionar aindamais seus alunos para prepará-los para os prazoscada vez menores e as intensas exigências dasatuais redações de televisão.

Camilla Grant, da Universidade Estadual de WestGeorgia, afirma que de agora em diante exigirá queseus alunos produzam matérias para mais de umveículo, após ter observado que a estação que arecebeu, a KMOL-TV em San Antonio, Texas,insiste para seus repórteres escreveremhabitualmente para o site da Web da estação.Dutch Hoggatt, da Universidade de Harding,também voltou de seu estágio com planos de sermais exigente. "O ponto principal que queroenfatizar com meus alunos é a velocidade em queas matérias devem ser escritas e noticiadas."

Ensinar jovens jornalistas a trabalhar mais rápidoapenas melhorará a quantidade do que elesproduzem, não a qualidade. Eles também precisamde treinamento em ética e legislação no jornalismo.Eles precisam praticar o exercício de julgar bemuma notícia e lidar com decisões difíceis e prazosapertados. Será que devem transmitir vídeosgráficos da cena de um crime? O noticiário devecomeçar por uma matéria sobre um fato queacabou de ocorrer e é altamente visual, mas compouca ou nenhuma importância? Eles precisam sercapazes de apontar as brechas em uma matéria esaber onde procurar e que perguntas fazer parapreenchê-las. Eles precisam conhecer geografia ehistória, porque os diretores de noticiários buscambons pensadores, não apertadores de botão. DanWeiser, da KCRA-TV em Sacramento, Califórnia,pede a seus candidatos que expliquem o índiceDow Jones industrial e muitos deles não chegamnem perto de conseguir. Sean Kennedy, diretor dejornalismo da KTAL-TV em Shreveport, Louisiana,diz que uma de suas perguntas favoritas parafuncionários em potencial é: Quem são JamesDean, Jimmy Dean e John Dean? (Resposta: umator, um cantor de música country e um envolvidocom o Watergate).

Futuros jornalistas precisam aprender essas coisasna escola porque muitas vezes esse será o únicotreinamento formal que receberão. Jornalistas dosEUA não precisam fazer cursos de educaçãocontinuada para continuarem ativos em suaprofissão e poucas organizações oferecemoportunidades de treinamento em meio de carreirapara seus funcionários. Metade dos jornalistasentrevistados em uma pesquisa recente realizadapelo Conselho de Presidentes de Organizações

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Nacionais de Jornalismo afirmam que não recebemtreinamento algum.

A falta de treinamento permanente ficou maisevidente com jornalistas de estações locais detelevisão. A pesquisa apurou que 81 por cento dosjornalistas afirmaram que o treinamento em ética evalores do jornalismo é importante, mas apenas 33por cento declararam recebê-lo. Mais da metade(54 por cento) dos jornalistas de televisão afirmounecessitar de treinamento de conteúdo ou paracobertura de áreas específicas, mas apenas 13 porcento declararam receber esse treinamento. (2)

Executivos de noticiários entrevistados na mesmapesquisa reconheceram que deveriam oferecermais treinamento a seus funcionários, masdeclararam não ter tempo ou dinheiro para isso."Apesar das organizações de notícias fazeremparte do negócio do conhecimento, a indústria denotícias fica atrás de outras na oferta de novosconhecimentos e habilidades a seus funcionáriosatravés do treinamento profissional", declarou oredator da pesquisa Beverly Kees. (3)

Poucas vezes vemos executivos como ShawnOswald, da KNSW-TV em Wichita, Kansas, quevalorizam o treinamento a ponto de torná-lo umaprioridade na estação. "É triste ouvir em nossoramo - não treinamos funcionários", disse Oswaldao Wichita Business Journal. "A indústria perdeumuitos funcionários excelentes da área de vendas,repórteres e fotógrafos por não treiná-los." (4)Comparativamente, em alguns países europeus,jornalistas de televisão sindicalizados têm tempolivre remunerado de tempos em tempos parabuscar oportunidades de desenvolvimentoprofissional.

Apesar de seus empregadores não ofereceremtreinamento, os jornalistas dos EUA podem e, defato, buscam treinamento por conta própria em umasérie de instituições e organizações. A maioriadessas organizações são independentes oucusteadas por contribuições de associados. OInstituto Poynter, uma escola para jornalistas em St.Petersburg, Flórida, oferece cursos de meio decarreira nas áreas de reportagem, produção, ética eadministração de notícias para jornalistas de

radiodifusão. Grupos de associação profissionalcomo a Associação de Diretores de Noticiário deRádio e Televisão, a Associação Nacional deFotógrafos de Imprensa e Repórteres e EditoresInvestigativos oferecem cursos regionais enacionais contínuos para seus membros. Apesardo custo geralmente ser baixo, os jornalistas queparticipam de muitos desses programas eseminários habitualmente pagam com recursospróprios e algumas vezes precisam usar seuperíodo de férias para participar.

Algumas salas de redação oferecem treinamentoprático no trabalho, mas ele tende a ser limitadotanto em disponibilidade quanto em abrangência.Jovens repórteres podem e, de fato, aprendem osaspectos mais detalhados de seu trabalho comsupervisores que editam e aprovam suas matérias.Mas uma pesquisa recente com repórteres comdois anos ou menos de experiência mostrou quequase 40 por cento deles afirmaram que suasestações não dispõem de um processo formal paraaprovar matérias antes que as mesmas entrem noar. Isso sugere que muitos dos jornalistas menosexperientes com o noticiário de televisão recebempouca ou nenhuma orientação para melhorar seutrabalho. Muitas estações utilizam consultoresparticulares e de firmas terceirizadas como a FrankN. Magid Associates ou a Broadcast Image Grouppara aconselhar seus funcionários. (5) Algunsconsultores oferecem sessões de treinamento pararedação e produção. Mas o mais comum é queseus conselhos sejam dados para os âncoras denoticiários e concentrem-se em habilidades deapresentação e aparência, não em questões dejornalismo. A Magid, por exemplo, oferece ajudapara maquiagem, figurino e modulação vocal.

Para preencher essa brecha, grupos sem finslucrativos como o NewsLab e o Projeto deExcelência no Jornalismo surgiram para oferecertreinamento a baixo custo ou gratuito em salas deredação de televisão. Esses grupos são geralmentecusteados por fundações ligadas à área dejornalismo e oferecem treinamento para narraçãode história, tomada de decisões, organização desalas de redação e áreas de tópicos específicos,como cobertura de notícias de saúde ou educação.

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Alguns redes de televisão desenvolvem seu próprioprograma de treinamento para preparar candidatospara cargos específicos nas salas de redação quenão recebem tantos candidatos quanto cargos deapresentação de notícias. Susana Schuler,diretora-executiva de notícias do NexstarBroadcasting Group, Inc., criou o que chama deEscola de Produção para atrair candidatos àprodução para as emissoras de sua companhia. Asemissoras oferecem estágio remunerado paraformandos, que são treinados para produzirnoticiários. Em troca, os estagiários comprometem-se a assinar um contrato de dois anos casorecebam uma proposta de trabalho de produção emalguma estação da Nexstar.

O grupo Hearst Argyle uniu-se recentemente à BeloCorporation para oferecer uma "academia deprodução" para refinar as capacidades deprodutores de notícias que já trabalham em suasestações. O vice-presidente da Hearst, CandyAltman, diz que os participantes trabalham em tudo,desde habilidades para coletar notícias e ética atéredação de manchete e produção de noticiário.

É evidente que também há muitos jovensjornalistas que precisam e querem maistreinamento do que recebem. Em curto prazo, noentanto, essa situação parece que não deve mudar.A atual situação econômica nos Estados Unidos fezcom que várias fundações reduzissem seu apoiofinanceiro a programas de treinamento dejornalismo e às salas de redação, diante de cortesno orçamento, provavelmente não financiarãoprogramas de treinamento. Em longo prazo, podeser necessária a realização de pesquisas paraquantificar o retorno sobre o investimento que podeser esperado pelas empresas quando estasoferecem treinamento a seu pessoal nas salas deredação. Os indícios informais sugerem que otreinamento pode ajudar os jornalistas de diversasformas, desde melhorar seu trabalho até reacendersua paixão pelo jornalismo. Se os estudos puderemfundamentar que o treinamento também melhora oorçamento da empresa no final das contas, aschances para o treinamento em jornalismoaumentar serão grandes.(1) Citação de Busiek:

http://www.emonline.com/newspro/111802jschool.html

Estudo de contratação:

http://www.grady.uga.edu/annualsurveys/PauleyReport01.htm

(2) Pesquisa com jovens repórteres: http://www.newslab.org/tuohey.htm

(3) Citação de Kees: http://www.spj.org/news.asp?REF=230

Pesquisa com alunos da Columbia: http://spj.jrn.columbia.edu/2002-11-

19survey.pdf

(4) Citação de Oswald:

http://wichita.bizjournals.com/wichita/stories/2002/10/28/story7.html.pdf

(5) Serviços Magid: http://www.magid.com/resources/ctd.html

Potter é ex-correspondente das redes CBS e CNNde televisão. O NewsLab é um recurso sem finslucrativos para salas de redação de televisão, queenfoca pesquisas e treinamento e oferece serviçosa estações locais dos Estados Unidos.

As opiniões expressas neste artigo não refletemnecessariamente as opiniões ou políticas dogoverno dos EUA.

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LIVROS e DOCUMENTOS

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Bennett, W . Lance, Robert M. Entman, editoresMEDIATED POLITICS: COMMUNICATION IN THEFUTURE OF DEMOCRACY (POLÍTICA MEDIA-DA: COMUNICAÇÃO SOBRE O FUTURO DADEMOCRACIA)Cambridge University Press, 2000, 520 p.

Dautrich, Kenneth J., David A. Y alofTHE FIRST AMENDMENT AND THE MEDIA INTHE COURT OF PUBLIC OPINION (A PRIMEIRAEMENDA E A MÍDIA NO TRIBUNAL DA OPINIÃOPÚBLICA)Cambridge University Press, 2002, 168 p.

Gudykunst, W illiam B., Bella Mody , editoresHANDBOOK OF INTERNATIONAL AND INTER-CULTURAL COMMUNICATION (MANUAL DECOMUNICAÇÃO INTERNACIONAL E INTERCUL-TURAL)Sage Publications, 2nd edition, 2001, 500 p.

The Inter-American Dialogue (DiálogoInteramericano)ADVANCING DEMOCRACY THROUGH PRESSFREEDOM IN THE AMERICAS: FINAL REPORT

(AVANÇANDO A DEMOCRACIA ATRAVÉS DALIBERDADE DE IMPRENSA NAS AMÉRICAS:RELATÓRIO FINAL) The Dialogue, 2002, 35 p.Disponível em http://www.thedialogue.org/publications/programs/policy/politics_and_institutions/press_freedom/press_freedom.pdf

Kirtley , Jane E., Gregg Leslie, John Lincoski,editoresTHE FIRST AMENDMENT HANDBOOK (MANUALDA PRIMEIRA EMENDA)The Reporters Committee for Freedom of thePress, 5th edition, 1999Disponível em http://www.rcfp.org/handbook/view-page.cgi

Martin, Richard W .T.THE FREE AND OPEN PRESS: THE FOUNDINGOF AMERICAN DEMOCRATIC PRESS (AIMPRENSA LIVRE E ABERTA: A FUNDAÇÃO DAIMPRENSA DEMOCRÁTICA AMERICANA)New York University Press, 2001, 239 p.

Shister , Neil, rapporteur (relator)JOURNALISM AND COMMERCIAL SUCCESS:EXPANDING THE BUSINESS CASE FOR QUALI-TY NEWS AND INFORMATION (JORNALISMO ESUCESSO COMERCIAL: EXPANDINDO O CASODE NEGÓCIO PARA NOTÍCIAS EINFORMAÇÕES DE QUALIDADE)The Aspen Institute, Communications and SocietyProgram, 2002, 70 p.

RECURSOS ADICIONAIS

Bibliografia

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ARTIGOSAbrams, ElliottTHE MEDIA AND HUMAN RIGHTS (A MÍDIA EOS DIREITOS HUMANOS)The World and I, Vol. 16, No. 12, December 1,2001, pp. 290-299

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Campbell, MegTHE FUTURE IS NOW: AT NEWSPLEX, THENEW TECHIE TESTING GROUND IN SOUTHCAROLINA, THE MEDIA-CONVERGENCE PUSH(FINALLY) COMES TO SHOVE (O FUTURO ÉAGORA: EM NEWSPLEX, CAMPO DE TESTE DENOVAS TECNOLOGIAS NA CAROLINA DO SUL,A INICIATIVA DE CONVERGÊNCIA DE MÍDIA(FINALMENTE) TEM INÍCIO)Editor & Publisher Magazine, Vol. 135, No. 45,December 9, 2002, pp. 10-12

Clarke, V ictoriaPENTAGON AND PRESS: STRIKING A BAL-ANCE: GOVERNMENT’S NEEDS VERSUSTHOSE OF THE MEDIA (O PENTÁGONO E AIMPRENSA: CHEGANDO A UM EQUILÍBRIO: ASNECESSIDADES DO GOVERNO x AS NECESSI-DADES DA MÍDIA)Columbia Journalism Review, Vol. 41, No. 3,September/October 2002, pp. 72-73

Cohen, Elisia L.ONLINE JOURNALISM AS MARKET-DRIVEN JOURNALISM (JORNALISMO ON-LINE COMOUM JORNALISMO VOLTADO AO MERCADO)Journal of Broadcasting & Electronic Media, Vol.46, No. 4, December 2002, pp. 532-548

Compaine, BenjaminGLOBAL MEDIA (THINK AGAIN) (MÍDIA GLOBAL- PENSE NOVAMENTE)Foreign Policy, No. 133, October/November 2002, pp. 20-28

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Cunningham, BrentSEARCHING FOR THE PERFECT J-SCHOOL(EM BUSCA DA ESCOLA DE JORNALISMOPERFEITA)Columbia Journalism Review, Vol. 41, No. 4,November/December 2002, pp. 20-30

Klein, Karen E.THE LEGALITIES OF REPORTING THE NEWS(OS ASPECTOS LEGAIS DE RELATAR ASNOTÍCIAS)The Quill, Vol. 89, No. 7, September 1, 2001, pp.26-37

Potter , DeborahDUBIOUS ASSUMPTIONS (PRESSUPOSTOSDUVIDOSOS)American Journalism Review, Vol. 24, No. 10,December 2002, pg. 60

Smillie, DirkJOURNALISTS IN THE MAKING; THE INFLU-ENCE OF JOURNALISM SCHOOLS (AFORMAÇÃO DOS JORNALISTAS: AINFLUÊNCIA DAS ESCOLAS DE JORNALISMO)The World and I, Vol. 17, No. 5, May 2002, pp. 64-69

Woo, William F .REPORTING INTERNATIONAL NEWS IN A SERI-OUS WAY (RELATANDO AS NOTÍCIAS INTER-NACIONAIS DE MANEIRA SÉRIA)Nieman Reports, Vol. 55, No. 4, Winter 2001, pp.24-25

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Alfred Friendly Press Fellowshipshttp://www.pressfellowships.org/

Aspen Institutehttp://www.aspeninst.org/c&s/index_nx.html

Association for Education in Journalism andMass Communication (Associação para edu -cação em jornalismo e comunicação de massa)http://www.aejmc.org/

Committee to Protect Journalists (Comitê paraproteger jornalistas)http://www.cpj.org/

Freedom Forum (Fórum da liberdade)http://www.freedomforum.org/

Freedom HouseAnnual Survey of Press Freedom 2002 (Pesquisaanual sobre liberdade de imprensa 2002)http://www.freedomhouse.org/pfs2002/pfs2002.pdf

Freedominfo.orghttp://www.freedominfo.org/

Institute for the Advancement of Journalism(Instituto para o avanço do jornalismo)http://www.iaj.org.za/

International Center for Journalists (Centrointernacional para jornalistas)http://www.icfj.org/

International Freedom of Information Exchange(Intercâmbio internacional para liberdade deinformação)http://www.ifex.org/

International Journalists’ Network (Rede inter -nacional de jornalistas)http://www.ijnet.org/

International Press Institute (Instituto interna -cional de imprensa)http://www.freemedia.at/index1.html

International W omen’ s Media Foundation(Fundação Internacional de Mídia da Mulher)http://www.iwmf.org/

John S. and James L. Knight Foundationhttp://www.knightfdn.org/default.asp

JournalismNethttp://www.journalismnet.com/

Media for Development and Democracy (Mídiapara o desenvolvimento e a democracia)http://www.devmedia.org/index.cfm

MediaChannelhttp://www.mediachannel.org/

NewsLab: Latest News about TV News(NewsLab: notícias mais recentes sobre asnotícias da TV)http://www.newslab.org/

Open Society Institute and Soros FoundationsNetworkwww.soros.org/index.html

Network Media Program (Programa de mídiaem rede)

http://www.osi.hu/nmp/

Recursos selecionados da Internet

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Pew Research Center for the People and thePress (Centro de pesquisa Pew para o povo e aimprensa)http://people-press.org/

Poynteronlinehttp://www.poynter.org/

The Reporters Committee for Freedom of thePress (Comitê de repórteres para a liberdadede imprensa)http://www.rcfp.org/

Reporters W ithout Borders (Repórteres semfronteiras)http://www.rsf.fr/content.php3

Society of Professional Journalists (Sociedadede jornalistas profissionais)http://www.spj.org

United Nations Educational, Scientific, andCultural Organization (UNESCO) Communication Development (Desenvolvimentoda comunicação)http://www.unesco.org/webworld/com/

World Association of Newspapers (Associaçãomundial de jornais)http://www.wan-press.org/

World Bank Institute’ s Office of Economics andBusiness Journalismhttp://www.worldbank.org/wbi/ebj/journalism-resources.htm

The World Free Press Institutehttp://www.pressfreedom.org/

World Press Freedom Committeehttp://www.wpfc.org/

World Press Institutehttp://www.worldpressinstitute.org/

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