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EVOLUÇÃO RECENTE E SITUAÇÃO ATUAL DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE: 1985 - 2006 * Eliano Sergio Azevedo Lopes 1 Josemar Hipólito da Silva 2 Diana Mendonça de Carvalho 3 INTRODUÇÃO O objetivo da presente pesquisa foi analisar a evolução recente da distribuição da posse da terra no estado de Sergipe no período 1985 a 2006, com base nos dados dos censos agropecuários do IBGE, obtidos através de consulta e manuseio das informações disponíveis no Sistema IBGE de Recuperação Automática SIDRA. Apesar de questionado por vários estudiosos da agricultura brasileira, acreditamos que o conhecimento da estrutura fundiária de um determinado país, região, estado ou município é de fundamental importância para a compreensão de aspectos do desenvolvimento rural e para a formulação de políticas públicas para o campo. A forma como estão distribuídas as terras no espaço rural segundo grupos de área, sua utilização e condição de apropriação, entre outros fatores, condicionam o desenvolvimento rural e as atividades produtivas que nelas são exploradas. Assim, identificar os principais elementos que explicam as diferentes situações observadas nos diversos espaços regionais quanto à posse, propriedade e uso da terra, resultando em maior ou menor desigualdade na sua distribuição, procurando sistematizá-los e interpretá-los cientificamente é tarefa essencial a todos os que se dedicam a investigar os fenômenos que ocorrem no meio rural, em suas múltiplas dimensões econômicas, políticas, culturais, sociais e ambientais. Com a atual divisão regional de Sergipe em oito Territórios de Planejamento, a saber: Alto Sertão, Médio Sertão, Sul, Centro Sul, Leste Sergipano, Agreste Central, Baixo São Francisco e Grande Aracaju 4 , pretende-se elaborar quadros gerais da estrutura fundiária de cada um deles, ressaltando os determinantes que ajudam a explicar a sua atual configuração e eventuais diferenças em relação aos demais. * Pesquisa financiada pela FAPITEC/SE e NAPP, Edital 13/2011. 1 Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ, Professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe UFS e Pesquisador do GEPRU/NPGEO/UFS. 2 Geógrafo e Pesquisador do GEPRU/NPGEO/UFS. 3 Geógrafa, doutoranda em Geografia no NPGEO/UFS e Pesquisadora do GEPRU/NEPGEO/UFS. 4 Sobre o processo de construção dos Territórios de Planejamento do estado de Sergipe ver “Construindo um novo planejamento regional sergipano: os territórios de identidade”, de autoria dos professores da Universidade Federal de Sergipe UFS, Olívio Alberto Teixeira, Ricardo Lacerda de Melo e Vera Lúcia Alves França. mimeo. s.d.

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Page 1: Eliano Sergio Azevedo Lopes Josemar Hipólito da Silva ... · saber: Alto Sertão, Médio Sertão, Sul, Centro Sul, Leste Sergipano, Agreste Central, Baixo São Francisco e Grande

EVOLUÇÃO RECENTE E SITUAÇÃO ATUAL DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA

DO ESTADO DE SERGIPE: 1985 - 2006*

Eliano Sergio Azevedo Lopes1

Josemar Hipólito da Silva2

Diana Mendonça de Carvalho3

INTRODUÇÃO

O objetivo da presente pesquisa foi analisar a evolução recente da distribuição

da posse da terra no estado de Sergipe no período 1985 a 2006, com base nos dados dos

censos agropecuários do IBGE, obtidos através de consulta e manuseio das informações

disponíveis no Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.

Apesar de questionado por vários estudiosos da agricultura brasileira,

acreditamos que o conhecimento da estrutura fundiária de um determinado país, região,

estado ou município é de fundamental importância para a compreensão de aspectos do

desenvolvimento rural e para a formulação de políticas públicas para o campo.

A forma como estão distribuídas as terras no espaço rural segundo grupos de

área, sua utilização e condição de apropriação, entre outros fatores, condicionam o

desenvolvimento rural e as atividades produtivas que nelas são exploradas.

Assim, identificar os principais elementos que explicam as diferentes situações

observadas nos diversos espaços regionais quanto à posse, propriedade e uso da terra,

resultando em maior ou menor desigualdade na sua distribuição, procurando

sistematizá-los e interpretá-los cientificamente é tarefa essencial a todos os que se

dedicam a investigar os fenômenos que ocorrem no meio rural, em suas múltiplas

dimensões – econômicas, políticas, culturais, sociais e ambientais.

Com a atual divisão regional de Sergipe em oito Territórios de Planejamento, a

saber: Alto Sertão, Médio Sertão, Sul, Centro Sul, Leste Sergipano, Agreste Central,

Baixo São Francisco e Grande Aracaju4, pretende-se elaborar quadros gerais da

estrutura fundiária de cada um deles, ressaltando os determinantes que ajudam a

explicar a sua atual configuração e eventuais diferenças em relação aos demais.

* Pesquisa financiada pela FAPITEC/SE e NAPP, Edital 13/2011.

1 Doutor em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA/UFRRJ, Professor aposentado da

Universidade Federal de Sergipe – UFS e Pesquisador do GEPRU/NPGEO/UFS. 2 Geógrafo e Pesquisador do GEPRU/NPGEO/UFS.

3 Geógrafa, doutoranda em Geografia no NPGEO/UFS e Pesquisadora do GEPRU/NEPGEO/UFS.

4 Sobre o processo de construção dos Territórios de Planejamento do estado de Sergipe ver “Construindo

um novo planejamento regional sergipano: os territórios de identidade”, de autoria dos professores da

Universidade Federal de Sergipe – UFS, Olívio Alberto Teixeira, Ricardo Lacerda de Melo e Vera Lúcia

Alves França. mimeo. s.d.

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Para tanto, optamos por tomar como recorte temporal o período 1985 a 2010,

pelo fato de que, nestes últimos 25 anos, o estado de Sergipe tem sido alvo de um

conjunto de políticas agrárias supostamente voltadas para melhorar a distribuição das

terras e proporcionar a um maior número de famílias de pequenos produtores, ocupantes

e trabalhadores rurais, as mínimas condições para que possam progredir econômica e

socialmente.

Seja através da regularização fundiária seja por meio de políticas de

assentamentos rurais (erroneamente chamadas de “reforma agrária”), o certo é que

centenas de colônias agrícolas, perímetros irrigados e projetos de assentamentos foram

criados pelo governo de Sergipe e pelo governo federal (via INCRA), ao longo desse

período, juntamente com a regularização de milhares de posses, cuja característica

marcante era a instabilidade na permanência dos seus ocupantes, haja vista as ocuparem

em situações supostamente ilegais, do ponto de vista da documentação da terra.

Assim, a importância e relevância da pesquisa estão, portanto, no esforço de

atualizar as informações sobre essa temática, com foco nas modificações ocorridas com

a estrutura fundiária no período recente e nos elementos responsáveis por tais

dinâmicas. Particularmente, na observação do papel desempenhado pelos assentamentos

rurais criados em diversos municípios sergipanos, em eventuais mudanças na

concentração da terra dos estabelecimentos agropecuários ali implantados.

A discussão sobre se o tamanho da área das propriedades rurais influencia o

desenvolvimento agrícola é recorrente. Até a década de 90, o binômio latifúndio versus

minifúndio, servia de norte à análise da sua importância e dos diferentes significados

socioeconômicos e políticos que lhes eram atribuídos, seja pelos que defendiam a

necessidade da implantação da reforma agrária no Brasil, seja pelos contrários a ela,

para quem a modernização tecnológica secundarizava o tamanho da terra como

parâmetro relevante na dinâmica das atividades agrícolas.

No período mais recente, a oposição latifúndio x minifúndio cedeu lugar à

polêmica sobre agricultura familiar e agricultura patronal ou do agronegócio, porém

continua a discussão sobre até onde o tamanho da terra condiciona o desenvolvimento

agrícola, ou mais precisamente, até onde o nível de concentração das terras no Brasil

tem sido obstáculo a um melhor desempenho da agricultura brasileira, principalmente

no que diz respeito a um melhor distribuição dos resultados da produção e da

democratização da terra. Com o Censo Agropecuário do IBGE de 2006, onde, além dos

aspectos tradicionais, foi feito o censo da agricultura familiar, a polêmica se acirrou,

com estudiosos da questão se manifestando sobre o assunto.

Entre os que acham irrelevante e atrasado tomar o tamanho da terra como

parâmetro de classificação dos produtores na atualidade estão, por exemplo, o

economista Eliseu Alves, ex-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária Embrapa, e atual assessor da diretoria na estatal e o ex-ministro da

Agricultura no governo Geisel, Alysson Paulinelli.

O primeiro afirma que “a terra tinha sentido como parâmetro de classificação

dos produtores quando a tecnologia era à base de mão de obra e não havia insumos

modernos como tratores, agrotóxicos e fertilizantes. Atualmente o cenário mudou e a

classificação precisa se adaptar a isso”. Para o segundo, o critério de classificação dos

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produtores baseado no tamanho da propriedade é um sistema atrasado. “A melhor

maneira de avaliar um produtor é pelo nível de tecnologia que ele possui. Não é

tamanho, mas sim conhecimento. Mesmo com apoio do governo, se o produtor não for

eficiente, o próprio mercado trata de eliminar”.

Visão oposta tem os defensores da agricultura familiar, principalmente os

ligados ao Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA e alguns pesquisadores de

esquerda, para os quais esse tipo de exploração é mais racional sob o ponto de vista

econômico, social, ambiental e de sustentabilidade, do que os grandes empreendimentos

rurais do agronegócio, ocupantes de grandes extensões de terra.

Como ambas as visões, no meu entendimento, estão eivadas de uma carga

ideológica muito pesada, penso que é equivocado tomar o tamanho da terra como

indicador absoluto, porém, não se pode deixar de contemplar a sua configuração no

quadro dos estabelecimentos agropecuários como um dos elementos a serem levados em

consideração na formulação e estabelecimento de políticas públicas agrárias.

No caso específico de Sergipe, visto de forma retrospectiva, em maio de 1995,

publiquei um “paper” no Caderno de Extensão da UFS, Série Estudos Rurais No. 1,

intitulado “Estrutura Agrária e Produção de Alimentos em Sergipe”, cujos resultados

apontavam a existência de elevada desigualdade na distribuição da terra em Sergipe. O

índice de Gini estava na casa de 0,86, o que caracteriza uma forte concentração, já que o

grau máximo de desigualdade na distribuição é alcançado quando o índice assume um

valor igual a um. Em outros termos, quanto mais próximo de zero é o índice de Gini

menos desconcentrado.

Tanto os dados das Estatísticas Cadastrais do INCRA (1991) como os dos

Censos Agropecuários do IBGE (1970, 1980 e 1985) apontavam para a mesma situação:

uma estrutura fundiária profundamente injusta, numa espécie de “terra cativa”,

controlada por um reduzido número de latifundiários vis-à-vis alguns milhares de

pequenos agricultores – agricultores familiares, parceiros, ocupantes e assentados etc. –

que dispunham de terras diminutas e/ou trabalhavam como assalariados temporários

durante o ano, em fazendas, na construção civil ou no corte da cana em outros estados

do país.

Segundo os dados do INCRA, em 1991, dos 86.534 imóveis rurais de Sergipe,

81,4% tinham menos de 25 hectares (66,4% deles possuíam área inferior a 10 hectares)

e se apropriavam de 17,9% da área total dos imóveis recadastrados. Em contrapartida,

os imóveis com mais de 500 hectares, embora fossem menos de um por cento do total,

ficavam com 23,4% da área total dos imóveis.

DINIZ (1993:55), trabalhando com os dados do Censo Agropecuário de 1985,

mostrava que os estabelecimentos com até 20 hectares de área total correspondiam a

87,2% do total das propriedades recenseadas, porém só se apropriavam de 16,5% da

área total das mesmas.

Evidentemente, quando visto regionalmente, o quadro fundiário do estado

apresentava diferenças: no grau de concentração da posse da terra entre os seus 75

municípios. Entre outras razões, devido à forma de acesso a terra, os tipos de atividades

agropecuárias ali desenvolvidas, a exemplo da pecuária bovina criada de forma

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extensiva em grandes propriedades do sertão, a lavoura canavieira na região da

Cotinguiba e no Baixo São Francisco e a produção de alimentos em pequenas

propriedades rurais, com ênfase nas culturas de subsistência, frutas, hortaliças e legumes

no agreste e nas regiões sul e centro-sul do estado.

Atualmente, com a implantação de cerca de 205 assentamentos rurais, em 43 dos

75 municípios sergipanos objeto da reforma agrária, onde 9.907 famílias estão

assentadas em 174.148 hectares, é de se supor que modificações importantes

aconteceram no quadro fundiário do estado. Ainda mais se somarmos a estes os 78

assentamentos de trabalhadores rurais sem terra, sendo 53 projetos coletivos (cujos

contratos de financiamento foram celebrados com associações) e 25 projetos individuais

(os contratos de financiamentos foram diretamente com os agricultores) em imóveis

rurais adquiridos com recursos do Crédito Fundiário (CPR e CAF). A maioria deles sob

a influência da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Sergipe

(FETASE), e cerca de uma dezena sob os auspícios do Movimento dos Trabalhadores

Sem Terra (MST). Com área total de 14.475 hectares, nesses projetos vivem e

trabalham 1.330 famílias.

Expostos esses números, algumas questões importantes a serem respondidas pela

presente pesquisa se impõem, como por exemplo:

a) As políticas de regularização fundiária implementadas no âmbito do

POLONORDESTE e, posteriormente, pelo PRONESE, estabelecidas no Programa de

Apoio ao Pequeno Produtor – PAPP, bem como as desapropriações de terras para fins

de reforma agrária e o assentamento de quase 10 mil famílias de sem terra provocaram

modificações na estrutura fundiária de Sergipe?

b) Qual foi a magnitude e extensão das modificações ocorridas na estrutura de

propriedade, posse e uso da terra no espaço rural sergipano?

c) As eventuais modificações na configuração do quadro agrário do estado foram

pontuais ou disseminadas pelos municípios que integram os oito Territórios de

Planejamento?

d) Municípios e/ou regiões tradicionalmente conhecidos pela desigualdade

elevada na distribuição das terras foram atingidos em profundidade pelas políticas

públicas voltadas para a “reforma agrária” e/ou regularização fundiária executadas em

Sergipe nos últimos 25 anos?

e) A evolução recente da estrutura fundiária do estado implicou em modificações

importantes não apenas na escolha do que produzir, onde e em que escala, mas também

na forma de como produzir e na apropriação dos resultados econômicos das atividades

pelos produtores, principalmente, os denominados agricultores familiares e assentados?

Estas, entre outras perguntas, é o que o presente trabalho procura responder, de

forma a contribuir para o conhecimento de um dos aspectos da realidade do campo

sergipano, isto é, da configuração do quadro atual da distribuição das propriedades e/ou

estabelecimentos agropecuários que fazem parte da paisagem rural do estado.

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1. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

A pesquisa procurou seguir a trilha aberta pelo trabalho de Hoffmann (2010)

para o Brasil, guardadas, dentre outras, as diferenças entre o recorte temporal e as fontes

de informações utilizadas por ele: dados dos Censos Agropecuários de 1975, 1980,

1985, 1995/96 e 2006 e informações da Pesquisa Nacional por Amostragem de

Domicílios – PNAD, referente ao período de 1992 a 2008. Também no que tange à

escolha das medidas de desigualdades utilizadas: enquanto nos restringimos ao índice

de Gini para observarmos a concentração fundiária nos estabelecimentos agropecuários

de Sergipe, Hoffmann serviu-se deste e do índice de Atkinson (transformação do L de

Theil), no cálculo da distribuição da posse da terra, no caso do Brasil.

Para facilitar a compreensão da análise e dirimir eventuais dúvidas sobre a

interpretação dos dados achamos conveniente e muito importante listar algumas

observações feitas por Hoffman (2010) sobre o conceito de estabelecimento

agropecuário, as implicações da mudança no período de coleta do Censo Agropecuário

de 1995/96, em relação aos demais, a seguir apresentadas:

1 – “Os dados do Censo Agropecuário são a principal fonte de informações para

analisar a distribuição da posse da terra no país. O problema é que, para analisar as

mudanças recentes na estrutura fundiária brasileira, há problemas de comparabilidade

dos dados do censo de 2006 com o de 1995/96. A pesquisa mais recente tem o ano civil

como período de referência, ou seja, os dias de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2006,

ao contrário da realizada em 1995/96, que considerou o ano agrícola de 1º. de agosto de

1995 a 31 de julho de 1996. Enquanto no primeiro caso a coleta dos dados se iniciou em

abril de 2007, no segundo ela começou em agosto de 1966. O próprio IBGE (2009)

afirma que é necessário considerar a influência da mudança do período de coleta dos

dados nas estimativas da distribuição da posse da terra. Ao comparar os dois últimos

censos, é preciso sempre considerar a possibilidade de as variações nos resultados serem

explicadas, em alguma medida, pela alteração no período de referência das pesquisas do

ano agrícola para o civil e não apenas por uma mudança real na estrutura fundiária. O

motivo é a existência de estabelecimentos agrícolas precários e temporários no país que

são mais fáceis de serem identificados durante o período que vai do plantio à colheita da

safra. Como são menores os indícios de atividades agrícolas após a colheita e a

possibilidade de encontrar produtores na condição de parceiros e arrendatários, que após

o fim da safra devolvem a terra ao seu dono e deixam o estabelecimento, a coleta de

dados a partir de agosto de 1966, quando parte da agricultura temporária da safra

1995/96 deixou de existir, deve omitir um número maior de estabelecimentos precários

do que se ela fosse realizada em janeiro” (Hoffmann e Graziano da Silva, 1999, e

Hoffmann, 2007);

2 – No Censo agropecuário do IBGE (2009, p.40), é considerado como

estabelecimento agropecuário “toda unidade de produção dedicada, total ou

parcialmente, a atividades agropecuárias, florestais e aquícolas, subordinada a uma

única administração: a do produtor ou a do administrador”. Além das unidades voltadas

à produção comercial e de subsistência, são considerados como recenseáveis os hortos,

reformatórios, asilos, escolas profissionais, hotéis, fazendas e locais para lazer, desde

que tenham algum tipo de exploração agropecuária, florestal ou aquícola, com exceção

dos quintais de residência com pequenos animais e hortas domésticas”;

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3 – Entre as principais características das informações sobre área dos

estabelecimentos agropecuários no Censo Agropecuário (Hoffmann, 2010, p.11),

destacam-se as seguintes:

- por ser realizado nos estabelecimentos agrícolas, ele capta tão bem áreas

ocupadas por pessoas físicas quanto jurídicas:

- as informações sobre área se referem a uma unidade de posse e não

necessariamente de propriedade. A terra também pode ser explorada por regime de

arrendamento, parceria, cessão ou posse.

- a agricultura não é necessariamente uma importante fonte de renda para o

responsável pelo estabelecimento. É unidade recenseável todo tipo de exploração

agropecuária, comercial ou de subsistência, de chácaras e sítios de lazer, exceto os

quintais de residências com pequenos animais e hortas domésticas;

4 - A periodicidade da pesquisa é decenal e, no ano de 1995/96, houve mudança

no período de referência do ano civil para o ano agrícola. Ao comparar os dados dos

censos, é preciso sempre considerar a possibilidade de as variações nos resultado serem

explicadas, em alguma medida, por essa alteração. O censo de 1995/96 deve omitir um

número maior de estabelecimentos precários que os demais;

5 – Como não há a publicação de microdados, “as estimativas das medidas de

desigualdade na distribuição da terra são realizadas com base nos estratos de área

definidos pelo IBGE.” Isto é feito para garantir a confidencialidade das informações

censitárias (Hoffmann, 2010, p.14);

6 – “Todas as áreas não contínuas exploradas por um mesmo produtor são

consideradas um único estabelecimento no Censo Agropecuário, desde que estejam em

um único setor censitário, subordinadas a uma mesma administração, e utilizem os

mesmos meios de produção” (Hoffmann, 2010, p.12);

7 – No último censo houve o acréscimo de duas novas categorias na variável

condição de produtor em relação às terras: produtor sem área e assentado sem titulação

definitiva. ”No censo de 1995/96, quando o IBGE coletava informações sobre a

produção agropecuária de empregados residentes nos estabelecimentos, ele aplicava um

questionário para o estabelecimento e um outro menor apena para registrar o volume de

produção dos empregados, o qual não representava um novo estabelecimento. Mas

houve mudança no censo de 2006. Quando era identificada a existência de atividade

agropecuária desvinculada do responsável pela administração do estabelecimento

(produtor), o instituto passou a classificar a produção do empregado como outro

estabelecimento, agora considerado “Produtor sem área” (IBGE, 2009).

8 – No censo de 1995/96, o IBGE orientou os recenseadores a considerarem os

assentados sem titulação definitiva como ocupantes. Embora o instituto reconheça que

alguns entrevistados, por já ocuparem a terra por muito tempo, possam ter se declarado

proprietários, ele recomenda que no acompanhamento da série histórica, a categoria

Ocupante em 1995-1996 pode ser confrontada com os dados de 2006 dos totais entre as

categorias Assentado sem Titulação e Ocupante. Assim, os dados sobre número de

estabelecimento e área total da categoria Assentados sem titulação definitiva foram

somados às de Ocupante”;

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Outras explicações concernentes à pesquisa ora apresentada merecem ser dadas,

como:

a) A diferença entre os valores totais do número e área dos estabelecimentos

agropecuários constantes da versão impressa dos dados dos Censos Agropecuários e dos

que constam nesse trabalho são decorrentes de dados numéricos que não foram

computados na tabulação do SIDRA, com vistas a evitar a individualização da

informação. (Vide convenções constantes das publicações do Censo Agropecuário do

IBGE);

b) Foram computados apenas os estabelecimentos agropecuários com declaração

de área;

as medidas de desigualdades na distribuição da terra, mais especificamente do

índice de Gini, foram obtidas utilizando os dados por estrato de área total retirados do

SIDRA do IBGE, excluindo-se do cálculo a categoria de “produtor sem área” criada no

Censo de 2006;

d) A ausência do índice de Gini por categoria de produtor para o ano de 1985 se

deve ao fato de não conseguirmos ter acesso aos dados, apesar dos esforços feitos junto

à Chefia do IBGE em Aracaju/Se, uma vez que não constavam no SIDRA.

As tabelas com os dados brutos apresentados estão distribuídas da seguinte

forma: estado de Sergipe, territórios de planejamento e seus respectivos municípios, e

agrupadas por faixas de área total e segundo a condição de produtor.

A escolha do recorte temporal e do número e intervalos de classe dos estratos de

área obedeceram a opção metodológica de facilitar o cálculo da área média, mediana e,

principalmente, do índice de Gini. Os estratos de área total foram condensados de forma

a permitir o conhecimento mais próximo possível da diversidade do campo sergipano,

seja em relação ao tamanho das propriedades rurais, seja em relação às categorias de

produtores. Assim, os três estratos utilizados na pesquisa constituem uma tipologia de

produtores que deve ser lida da seguinte forma: os estabelecimentos com área inferior a

10 hectares são considerados como pequenas propriedades; os com área entre 10 e

menos de 100 hectares representam as médias propriedades e aqueles com 100 hectares

e mais de área total constituem as grandes propriedades.

Finalmente, é importante ressaltar que a apresentação dos mapas e a análise dos

resultados da distribuição da posse da terra com base nos índices de Gini foram feitas

tendo como referência a escala proposta por Câmara, L (1949), que distribui os valores

do índice em seis faixas, atribuindo a cada uma delas um determinado significado, a

saber:

a) 0 a 0,100 = Concentração nula

b) 0,101 a 0,250 = Concentração fraca

c) 0,251 a 0,500 = Concentração média

d) 0,501 a 0,700 = Concentração forte

e) 0,701 a 0,900 = Concentração muito forte

f) acima de 0,900 = Concentração muito forte tendendo à absoluta.

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2. A ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO ESTADO DE SERGIPE: UMA VISÃO

PANORÂMICA

A evolução histórica da estrutura fundiária de Sergipe mostra que o estado

apresentou, no período 1985/2006, uma diminuição progressiva tanto no número de

estabelecimentos agropecuários como na área total recenseada, passando,

respectivamente, de 115 mil estabelecimentos com 1,9 milhões de hectares em 1985,

para 99.074 e 1,7 milhões de hectares em 1995/96, e chegando a 97.485 e 1.3 milhões

de hectares em 2006. Entre 1995/96 e 2006, a queda foi de menos de 2% no número de

estabelecimentos e de mais de 20% na área total recenseada.

Essa situação somente não ocorreu com os Territórios de Planejamento do Alto

Sertão Sergipano, Grande Aracaju, Centro-Sul e Médio Sertão que apresentaram um

crescimento no número de estabelecimentos, porém com redução na área total ocupada

por eles (Tabela 1).

Tabela 1 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários dos Territórios

de Planejamento de Sergipe – 1985/2006. Discriminação

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Alto Sertão Sergipano 12.609 11.976 13.824 429.467 395.532 333.332

Médio Sertão Sergipano 9.800 5.732 5.838 161.582 139.705 120.448

Baixo São Francisco

Sergipano

12.605

8.806

7.804

148.369

135.874

102.429

Leste Sergipano 5.285 4.679 3.615 134.418 135817 67.757

Agreste Central Sergipano 28.868 22.578 20.933 283.947 283.949 216.134

Grande Aracaju 7.758 4.080 4.110 140.288 102.054 57.395

Centro-Sul Sergipano 19.849 20.062 20.407 291.462 285053 239.588

Sul Sergipano 18.393 21.161 20.955 280.039 240.444 193.458

Estado de Sergipe 115.167 99.074 97.485 1.867.168 1718428 1330541

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Os dados do censo de 2006 deixam evidente a ainda alta desigualdade na

distribuição da posse da terra em Sergipe. A área ocupada pelos estabelecimentos com mais

de 100 hectares corresponde a 44,5% da área total recenseada, embora seja apropriada por

apenas 2,5% dos estabelecimentos, em contrapartida, os pequenos estabelecimentos, com

área inferior a 10 hectares, cuja porcentagem é de 64,6% do total de unidades agrícolas,

dispõem de apenas 7,1% da área total dos estabelecimentos recenseados. Tal como

observou Hoffmann (2010, p.7) ao estudar o caso brasileiro, também em Sergipe “os dados

não deixam dúvida de que a enorme desigualdade fundiária, uma das marcas da evolução

histórica da economia colonial, cuja base era o latifúndio monocultor e o trabalho escravo,

permanece até hoje” (Tabela 2).

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Tabela 2– Número e área total dos estabelecimentos agropecuários de Sergipe, por

estrato de área

Discriminação Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Alto Sertão Sergipano 12.609 11.976 13.824 429.467 395.532 333.332 Médio Sertão Sergipano 9.800 5.732 5.838 161.582 139.705 120.448 Baixo São Francisco

Sergipano

12.605

8.806

7.804

148.369

135.874

102.429 Leste Sergipano 5.285 4.679 3.615 134.418 135.817 67.757 Agreste Central

Sergipano 28.868 22.578 20.933 283.947 283.949 216.134

Grande Aracaju 7.758 4.080 4.110 140.288 102.054 57.395 Centro-Sul Sergipano 19.849 20.062 20.407 291.462 285.053 239.588 Sul Sergipano 18.393 21.161 20.955 280.039 240.444 193.458 Estado de Sergipe 115.167 99.074 97.485 1.867.168 1.718.428 1.330.541

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Em Sergipe, tal como ocorre no Brasil (IPEA, 2013, p.11), há uma clara

tendência de redução da participação dos estabelecimentos agropecuários com menos de

10 hectares no total de estabelecimentos recenseados no estado, no período 1985 a

2006: de 80,1% em 1985 ela cai para 78,4% em 1995/96 e chega a 76,9% em 2006, o

mesmo acontecendo com a proporção dos estabelecimentos com mais de 100 hectares,

que diminui de três para 2,5% em relação ao número total de estabelecimentos,no

período considerado (Figura1).

Contrastando com essa situação, as propriedades com área entre 10 e 100

hectares têm sua participação aumentada, passando de 16,9% em 1985 para 18,4% em

1995/96, e chegando a 20,6% em 2006. Note-se que nesse estrato encontram-se os lotes

distribuídos a agricultores em terra pela reforma agrária ou política de assentamentos

rurais, o que me parece mais correto.

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10

Figura 1 - Sergipe: Proporção dos estabelecimentos de três estratos de área

total em relação ao total de estabelecimentos

No que diz respeito à área apropriada, a participação dos estabelecimentos

segundo as três faixas de área consideradas, em 2006, é de 13,2% para os

estabelecimentos com área inferior a 10 hectares, 4,1% para os que têm entre 10 e 100

hectares e 45,6% para os maiores de 100 hectares (Figura 2).

Em resumo, apesar de representarem mais de dois terços do total de

estabelecimentos recenseados em Sergipe em 2006, os estabelecimentos com área

menor que 10 hectares ficam com apenas 13,2% do total, em contrapartida, as grandes

propriedades, com mais de 100 hectares, embora sejam apenas 2,5% do total de

estabelecimentos, detêm quase metade de todas as terras do estado. Daí a razão da ainda

alta concentração existente na distribuição da posse da terra em Sergipe.

80,1%

78,4%76,9%

16,9%

18,4% 20,6%

3,0%3,2%

2,6%0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1985 1996 2006

Ano

mero

de e

sta

bele

cim

en

tos (

%)

Menos de 10 hectares 10 a - de 100 hectares 100 hectares e mais

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11

Figura 2 - Sergipe: Proporção da área dos estabelecimentos de três estratos de área

total em relação à área total

Comparando-se o censo de 2006 com o de 1995/96, observa-se que apenas os

territórios do Médio Sertão Sergipano e Centro-Sul Sergipano tiveram um aumento do

número de estabelecimentos com área inferior a 10 hectares e entre os com 10 e 100

hectares, sendo que aquele também teve a área total desses estabelecimentos aumentada.

O Alto Sertão Sergipano apresentou um crescimento tanto no número de

estabelecimentos com área entre 10 e 100 hectares como em relação à área total, o

mesmo acontecendo com o Agreste Central Sergipano, só que restrito ao total de

estabelecimentos nesse estrato. Todos os oito territórios de planejamento apresentaram

redução de área entre os estabelecimentos agropecuários com 100 hectares e mais

(Tabela 3).

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12

Tabela 3 – Número e área total dos estabelecimentos agropecuários dos Territórios

de Planejamento e do Estado de Sergipe, conforme três estratos de área –

1985/2006 Territórios Ano

Número de estabelecimentos Área total

(ha)

Menos de

10 ha

10 a

menos de

100 ha

De 100 ha

e mais

Menos de

10 ha

10 a

menos de

100 ha

100 ha e

mais

Alto Sertão Sergipano

1985 7.401 4.376 832 22.708 147.328 259.431

1995 6.814 4.466 696 20.201 144.551 230.782

2006 6.690 6.593 541 26.223 177.367 129.472

Médio Sertão Sergipano

1985 7.675 1.804 321 13.089 59.398 89.095

1995 3.874 1.545 313 8.807 51.115 79.783

2006 3.898 1.725 215 10.090 67.793 55.645

Baixo São Francisco Sergipano

1985 10.835 1.495 275 20.868 63.752 84.064

1995 6.700 1.843 263 19.640 47.343 68.882

2006 5.966 1.621 216 19.668 42.292 40.469

Leste Sergipano

1985 4.156 870 259 7.947 27.922 98.549

1995 3.607 815 257 7.086 25.954 102.777

2006 2.727 702 186 6.879 21.745 39.133

Agreste Central Sergipano

1985 25.439 2.933 496 43.233 88.392 149.918

1995 19.237 2.825 516 35.938 87.953 160.056

2006 17.667 2.843 423 35.145 79.229 101.760

Grande Aracaju

1985 6.700 833 225 13.344 25.444 101.500

1995 3.360 535 185 6.946 17.175 77.933

2006 3.506 484 120 6.438 15470 35.487

Centro-Sul Sergipano

1985 15.529 3.811 509 37.948 111.148 142.366

1995 16.284 3.273 505 40.404 97.198 147.451

2006 16.474 3.498 435 35.762 94.140 109.677

Sul Sergipano

1985 14.524 3.376 493 36.484 98.120 145.435

1995 17.765 2.978 418 40.223 86.654 113.567

2006 18.017 2.589 349 39.321 73.942 80.195

Estado de Sergipe

1985 92.259 19.498 3.410 195.621 601.189 1.070.358

1995 77.646 18254 3.162 175379 546023 980665

2006 74.972 20.055 2.487 179813 557552 618977

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

É importante destacar que os dados dos dois últimos censos mostram um

crescimento de cerca de 10% no número de proprietários de terra segundo a condição de

produtor (de 79,6 mil para 87,2 mil), porém com uma redução da área total de 22%. Em

contrapartida, existe uma clara demonstração da queda no número de estabelecimentos

agropecuários de não proprietários: arrendatários, parceiros e ocupantes (Tabela 4).

Como chama atenção Hoffmann, ao analisar os dados para o Brasil (Hoffmann,

2010, p.15) , “a queda no número de estabelecimentos entre os censos 1985 e 1995/96,

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13

que poderia ser parcialmente explicada pela exclusão dos estabelecimentos temporários

provocado pelo uso do ano agrícola em 1995/96, é confirmado em 2006. Se não fosse a

exclusão, a variação estimada seria provavelmente menor de 1985 a 1995/96 e maior

entre os dois últimos censos”.

Esse autor faz, ainda, algumas observações importantes, como o fato de que no

caso do Censo Agropecuário “um crescimento no número de chácaras e sítios para

lazer, por exemplo, em que a produção primária contribuiria muito pouco para o nível

de renda familiar do proprietário, pode também levar a um crescimento do número de

pequenos estabelecimentos agrícolas, alterando as estimativas das medidas de

desigualdade na distribuição da terra no país” (Hoffmann, 2010, p.10).

Ou ainda, que ‘ao cultivar terra além de seus quintais ou ter uma pequena

criação de gado para o autoconsumo, em que parte da produção pode até mesmo ser

eventualmente ser comercializada, a pequena propriedade é considerada como uma

unidade recenseável no Censo Agropecuário. “Caso ela esteja situada na cauda inferior

da distribuição da terra, pode ocorrer um aumento da disparidade da distribuição com

uma queda na área média dos estabelecimentos” (Hoffmann, 2010, p.10).

Tabela 4 – Número e área total dos estabelecimentos agropecuários do Estado de

Sergipe, segundo a condição de produtor – 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Número de estabelecimentos Área total (ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 88440 79559 87235 1858878 1649558 1283730

Arrendatário 9227 4854 1101 19181 10002 2328

Parceiro 2045 996 454 2910 2089 349

Ocupante 15559 14128 8960 37423 53649 42242

Total 115271 99537 97750 1918392 1715298 1328649

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

A redução da área média dos estabelecimentos agropecuários de Sergipe nos

censos de 1985, 1995 e 2006 indica uma redução da concentração da posse da terra

pelos latifúndios (Tabela 5). Como o índice de Gini também apresentou uma

diminuição, isto deve ser interpretado como a ocorrência de uma redução simultânea da

“concentração” e da desigualdade fundiárias. Pois, como afirma Hoffmann (2010, p.21)

ao analisar o caso brasileiro, “se tivesse acontecido apenas o crescimento dos

latifúndios, a área média dos estabelecimentos deveria aumentar”.

Os territórios de planejamento do Médio Sertão Sergipano e Leste Sergipano

estão entre os que apresentaram maior desigualdade na distribuição da posse da terra em

Sergipe: 20,6 ha e 18,7 há, respectivamente. Já outros, como os territórios do Centro-

Sul Sergipano, Agreste Central e Sul Sergipano, embora tenham área média menores,

apresentam ainda índice de Gini com forte concentração fundiária. Nesses casos, apesar

da alta desigualdade na posse da terra, têm sua agricultura caracterizada por uma grande

participação de pequenas unidades de produção familiares.

Todos os territórios de planejamento de Sergipe, indistintamente, mostraram

redução tanto na área média como no índice de Gini, quando comparados os dados dos

dois últimos censos agropecuários. O território do Alto Sertão Sergipano registrou a

maior queda tanto no índice de Gini (-21,4%) quanto na área média dos

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14

estabelecimentos (-26,9%), o que pode ser explicado pelo crescimento do número de

estabelecimentos relativamente pequenos que atualmente existem no território, fruto em

grande parte dos assentamentos rurais implantados pelo INCRA, a partir de 1985.

Os territórios Sul Sergipano, Agreste Central e Centro-Sul são os que possuem a

menor área média dos estabelecimentos agropecuários, em relação aos demais, devido

ao fato de historicamente constituírem espaços econômicos de desenvolvimento

agrícola marcados pela presença de um grande número de pequenos estabelecimentos,

tendo, inclusive, alguns dos municípios que os integram baixo índice de concentração

da terra.

Tabela 5 – Área média dos estabelecimentos agropecuários e índice de Gini dos

Territórios de Planejamento e do Estado de Sergipe – 1985/2006 Territórios Ano

Área média (ha) Índice de Gini

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Alto Sertão Sergipano 34,1 33,0 24,1 0,749 0,727 0,589

Médio Sertão Sergipano 16,5 24,4 20,6 0,820 0,771 0,725

Baixo São Francisco

Sergipano

11,8

15,4

13,1

0,823

0,747

0,682

Leste Sergipano 25,4 29,0 18,7 0,863 0,867 0,774

Agreste Central

Sergipano

9,8

12,6

10,3

0,826

0,831

0,733

Grande Aracaju 18,1 25,0 14,0 0,877 0,874 0,846

Centro-Sul Sergipano 14,7 14,2 11,7 0,733 0,814 0,776

Sul Sergipano 15,2 11,4 9,2 0,785 0,781 0,768

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Focalizando a análise na área média dos estabelecimentos agropecuários

segundo a condição de produtor, observa-se que ela caiu de 17,3 ha para 13,6 ha, nos

dois últimos censos. A redução foi ainda mais intensa ente os proprietários: de 20,7 há

em 1995 para 14,7 há em 2006, praticamente o mesmo percentual de queda apresentado

pela área mediana, que diminuiu de 3,32 ha para 2,33 há, respectivamente. Já o índice

de Gini apresentou uma pequena redução entre os proprietários de terra, caindo de 0,785

em 1995 para 0,755 em 2006 (Tabela 6).

Tabela 6 - Áreas média e mediana e índice de Gini dos estabelecimentos

agropecuários do estado de Sergipe, segundo a condição de produtor – 1985/2006 Condição de

produtor

Área média (ha) Área mediana

(ha)

Índice de Gini

1985 1995 2006 1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 21,0 20,7 14,7 ... 3,32 2,33 ... 0,785 0,785

Arrendatário 2,1 2,1 2,1 ... 0,63 0,91 ... 0,626 0,626

Parceiro 1,4 2,1 0,8 ... 0,75 0,78 ... 0,572 0,572

Ocupante 2,4 3,8 4,7 ... 0,77 1,14 ... 0,745 0,745

Total 16,2 17,3 13,6 1,81 2,06 2,59 0,819 0,829 0,754

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Na tabela 7, que mostra o número de estabelecimentos agropecuários de Sergipe

segundo três estratos de área total e condição de produtor, observa-se que entre

1995/96 e 2006 houve um aumento de 7,4 mil estabelecimentos de proprietários com

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área inferior a 10 hectares, o que corresponde a 12,6%, e uma redução de 675

estabelecimentos com área de 100 e mais hectares, ou 21,8%, cujo resultado é uma

mudança significativa na proporção de pequenas e grandes propriedades agrícolas em

Sergipe. Os estabelecimentos que tinham área inferior a 10 hectares apresentavam os

seguintes percentuais: 73,8% em 1995/96 e 76,% em 2006, enquanto os com 100 e mais

hectares representavam 3,9% em 1995/96 e 2,8% em 2006, respectivamente.

Tabela 7 – Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Estado de

Sergipe, conforme três estratos de área e condição de produtor – 1985/2006

Condição de

produtor

Menos de 10 ha 10 a menos de 100

ha

100 ha e mais Total

No. ha No. ha No. Há No. ha

Proprietário

1985

1995 58750 152979 17719 545470 3100 951109 79569 1649558

2006 66125 164630 18450 530104 2425 588856 87000 1283590

Arrendatário

1985

1995 4306 4194 53 1644 10 3703 4369 9540

2006 979 1203 104 1125 18 0 1101 2328

Parceiro

1985

1995 982 1111 9 173 5 804 996 2088

2006 430 261 18 89 6 0 454 350

Ocupante

1985

1995 13608 17095 473 10931 47 25623 14128 53649

2006 7438 13629 1483 26834 38 1700 8959

Total

1985 92259 195621 19498 601189 3410 1070358 115167 1867168

1995 77646 175379 18254 558218 3162 981239 99062 1714835

2006 74972 179723 20055 558152 2487 590556 97514 1328431

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de 1985, 1995/96 e 2006

No que se refere à concentração da terra, ao contrário da situação observada no

Brasil, em que o índice de Gini calculado com base nos dados dos dois últimos censos

agropecuários mostra uma estabilidade da desigualdade fundiária (Hoffmann, 2010,

p.7), em Sergipe houve uma leve diminuição no período, com o referido índice caindo

de 0,829 em 1995/96 para 0,754 em 2006. Sergipe é, ainda, entre os nove estados

nordestinos o que apresenta a melhor distribuição da posse da terra (IPEA, 2013, p.11).

Essa queda se deve, em grande medida, ao processo de democratização de

acesso à terra ocorrido no Território do Alto Sertão Sergipano, cujo índice de Gini caiu

de 0,727 em 1995/96 para 0,589 em 2006, devido ao grande número de assentamentos

criados a partir da desapropriação de latifúndios improdutivos. Dos 205 assentamentos

rurais implantados pelo INCRA, cerca de 46% estão localizados naquele território,

berço da primeira ocupação de terras após a redemocratização do país, o assentamento

Barra da Onça, no município de Poço Redondo, em 1985. Essa região, considerada

como o quartel-general do MST, tem sido palco das mais importantes lutas pela terra

em Sergipe, empreendidas pela Diocese de Propriá e os STR’s de Poço Redondo e Porto

da Folha, num primeiro momento, e, desde 1990, pelo MST.

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Mesmo assim, embora significativa, a mudança na estrutura fundiária de Sergipe

ainda está aquém do esperado, a se levar em conta a escala criada por Câmara (1949) e

adotada neste trabalho, que situa o índice de Gini encontrado para Sergipe como

indicador de uma concentração ainda muito forte.

Observando-se os índices por territórios de planejamento em 2006, tem-se que

metade deles apresentam valor inferior ao encontrado para o estado, a saber: Médio e

Alto Sertão Sergipanos, Baixo São Francisco e Agreste Central, com variações de 0,589

a 0,733. Esses resultados contradizem o que geralmente parecia ser senso comum, isto

é, que os territórios do Centro-Sul e Sul Sergipanos eram os que tinham uma melhor

distribuição das terras no meio rural do estado.

Ressalte-se, ainda, que dos oito territórios de planejamento cinco apresentam

uma clara tendência declinante do índice de Gini no período 1985 a 2006, embora todos

mostrem uma redução quando comparados apenas os dados dos dois últimos censos

agropecuários (Tabela 8).

Tabela 8 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos Territórios de

Planejamento de Sergipe – 1985/2006. Territórios

Índice de Gini

1985

1995 2006

Alto Sertão Sergipano 0,745 0,727 0,589

Médio Sertão Sergipano 0,820 0,771 0,725

Baixo São Francisco

Sergipano

0,823 0,747 0,682

Leste Sergipano 0,863 0,867 0,774

Agreste Central Sergipano 0,826 0,831 0,733

Grande Aracaju 0,877 0,874 0,846

Centro-Sul Sergipano 0,773 0,814 0,776

Sul Sergipano 0,785 0,781 0,768

Estado de Sergipe 0,819 0,829 0,754 Fonte: IBGE – Censos Agropecuários 1985, 1995/96 e 2006.

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17

Figura 3. Índice de Gini do estado de Sergipe, 1985.

Figura 4. Índice de Gini do estado de Sergipe, 1995

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Figura 5. Índice de Gini do estado de Sergipe, 2006.

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19

3 OS TERRITÓRIOS DE PLANEJAMENTO DE SERGIPE E A

DESIGUALDADE NA DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS

3.1 - Território do Centro- Sul Sergipano

3.1.1 Características do território

Localizado no centro-sul do estado de Sergipe, o território abrange uma área de

3.521 km2 (16% da superfície estadual) e uma população de 222.977 habitantes (10,8%

da população total de Sergipe), dos quais 46,7% vivem na zona rural (IBGE, 2010). Sua

densidade demográfica é de 63,3 hab./km2

.

É constituído por cinco municípios, a saber: Lagarto, Poço Verde, Riachão do

Dantas, Simão Dias e Tobias Barreto, possui IDH municipal que varia de 0,556 a 0,614

(PNUD, 2000) e Produto Interno Bruto de R$ 1,23 bilhões, em 2008, correspondente a

6,3% do PIB estadual. Em 2005, o setor serviços era responsável por 71,1% do PIB

territorial, e o município de Lagarto concentrava quase a metade de tudo que era

produzido durante o ano no território (LIMA, 2008, p.107).

Tem como principais atividades econômicas a agricultura, com destaque para a

produção de milho e feijão e a bovinocultura de leite, e o comércio, principalmente de

produtos originários da indústria têxtil (confecções), além do artesanato.

Nos últimos anos, assistiu-se uma expansão célere da produção de milho nos

municípios do território, particularmente em Poço Verde, Simão Dias e Tobias Barreto.

Entretanto, não mais em pequenas unidades de produção familiares com vistas à

subsistência, senão em grandes explorações totalmente voltadas para o mercado, muitas

vezes através da substituição de culturas tradicionais de subsistência. O município de

Poço Verde, que se caracterizava como uma região preponderantemente produtora de

feijão, tem sentido fortemente esse movimento de substituição de culturas, haja vista

grande parte de suas terras estarem atualmente sendo ocupadas com o milho.

O processo rápido de expansão do milho, ao mesmo tempo em que faz de

Sergipe o terceiro produtor desse grão no Nordeste, tem apontado na direção de uma

possível tendência à monocultura, uma já visível e significativa compactação dos solos,

além da utilização em larga escala de sementes transgênicas.

Em 2006, 65,2% da área recenseada pelo IBGE era ocupada com pastagens,

seguida das lavouras temporárias, com 24,6%. Entre 1996 e 2006, estas cresceram,

enquanto a área destinada à pastagem sofreu forte redução, caindo de 215.607 hectares

para 193.718 hectares.

As lavouras temporárias, que ocupam 84,2% da área plantada total de lavouras

do território e respondem por 51,7% do PIB territorial, têm como principais produtos a

mandioca, o milho e o feijão. Já entre as culturas permanentes, a mais importante é a

laranja, com 11,2% da área plantada, vindo a seguir o maracujá, com 3,6% da área.

Em 2006, a laranja foi responsável por mais de 30% do Valor Bruto da Produção

gerada no território (IBGE, 2010).

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20

3.1.2 - Distribuição da posse da terra e índice de Gini

Nos últimos 20 anos, o território do Centro-Sul Sergipano apresentou um quadro

fundiário com aumento do número de estabelecimentos agropecuários, porém com

redução na área total recenseada, como mostra a Tabela 9. Apenas os municípios de

Lagarto, Riachão do Dantas e Tobias Barreto tiveram um aumento do número de

estabelecimentos agropecuários, porém com redução na área total ocupada.

Tabela 9 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários do Território

do Centro-Sul Sergipano – 1985/2006. Municípios e Território

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Lagarto 6.971 6.722 7.668 89.769 82.692 65.337

Poço Verde 2.493 2.649 1.992 35.530 34.629 28.979

Riachão do Dantas 3.394 3.261 3.681 49.663 42.521 39.889

Simão Dias 5.053 4.405 3.946 50.172 42.102 36.284

Tobias Barreto 1.938 3.025 3.120 75.328 76.510 69.099

Território Centro-Sul

Sergipano

19.849

20.062

20.407

291.462

278.454

239.588

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Entre 1995 e 2006, a participação das propriedades com menos de dez hectares

permaneceu praticamente inalterada: de 77,9% em 1985, passou a 81,2% em 1995 e

voltou a apresentar uma leve queda em 2006, o mesmo acontecendo com a área

apropriada por esses estabelecimentos em relação à área total recenseada. As grandes

propriedades, com 100 hectares e mais, também tiveram reduzida a sua proporção tanto

em relação ao número total de estabelecimentos como em termos de área total, embora

ainda continuem a deter quase 50% da área total dos estabelecimentos, ainda que

representando apenas dois por cento dos estabelecimentos do território (Tabela 10).

Importante observar que o estrato de área onde se encontram as propriedades

entre 10 e 100 hectares foi o que apresentou um aumento significativo no que tange à

participação na área total: de 34,1% em 1995, passou a representar quase 40% da área

total dos estabelecimentos agropecuários em 2006.

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Tabela 10 – Número e área total dos estabelecimentos agropecuários do Território

do Centro Sul Sergipano, por grupos de área total – 1985/2006 Estratos de área (ha)

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

0 ___ 1 5775 6552 7811 3165 6600 3865

1 ___ 2 3345 3495 3045 4899 5087 4439

2 ___ 5 4090 4023 3396 13262 12905 11559

5 ___10 2319 2214 2222 16622 15812 15899

10 ___20 1750 1469 1867 25162 21155 26991

20 ___50 1503 1290 1189 47141 40192 36369

50___100 558 514 442 38845 35851 30780

100__200 289 283 247 39935 40294 34815

200__500 150 156 145 44437 47282 42838

500_1000 55 54 33 37071 35796 22399

1000 e mais 15 12 10 20923 24079 9634

Total 19849 20062 20407 291462 278454 239588

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

São de proprietários cerca de 90% dos estabelecimentos agropecuários e 96,7%

das terras do território do Centro-Sul Sergipano, como mostra a Tabela 11. A presença

de parceiros e arrendatários é insignificante, apenas a categoria de ocupantes apresentou

um pequeno crescimento nos últimos três censos agropecuários realizados, passando de

6,3% em 1985 para 8,1% em 2006.

Tabela 11 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Centro-Sul Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Estabeleci

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Proprietário 93,0 97,9 88,5 97,6 89,7 96,7

Arrendatário 0,4 0,5 3,9 0,4 1,7 0,2

Parceiro 0,2 0,1 1,7 0,2 0,5 0,1

Ocupante 6,3 1,5 5,9 1,8 8,1 3,0

Total (Nº) 19.852 299038 20.557 282.261 20.643 239.588

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

No período considerado, a área média das propriedades rurais do território caiu

de 15,1 hectares em 1985 para 11,6 hectares em 2006, o mesmo ocorreu com a área

mediana que diminuiu de 2,6 hectares em 1985 para menos de um hectare dez anos

depois. Apenas a categoria de ocupantes teve um aumento, tanto da área média das

propriedades como da área mediana: de 3,6 hectares para 4,5 hectares e de 0,82 hectares

para quase dois hectares, respectivamente (Tabela 12).

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Tabela 12 - Áreas média e mediana dos estabelecimentos agropecuários do

Território do Centro-Sul Sergipano, segundo a condição de produtor – 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Área média (ha) Área mediana

(ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 15,9 15,1 12,5 ... 2,40 1,92

Arrendatário 2,1 2,5 1,1 ... 0,85 1,98

Parceiro 3,3 1,7 1,0 ... 0,91 0,80

Ocupante 3,6 4,2 4,5 ... 0,82 1,77

Total 15,1 13,7 11,6 2,6 2,0 0,9

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Como mostra a Tabela 13, no período entre 1985 e 2006 o território do Centro-

Sul Sergipano apresentou uma oscilação nos valores encontrados para o índice de Gini

da distribuição da posse da terra: aumento de 0,773 em 1985 para 0,814 em 1995 e

redução para 0,776 em 2006.

Apesar da redução observada na concentração da terra nos dois últimos censos

agropecuários, o território ainda continua num patamar alto – apenas um degrau abaixo

da escala cuja faixa de valores aponta para uma tendência de concentração absoluta, o

que o coloca como uma região de concentração da posse da terra muito forte (Figuras 8,

8a e 8b).

Dos cinco municípios que compõem o território, apenas Riachão do Dantas e

Tobias Barreto apresentaram um recrudescimento do índice de Gini, com crescimento

contínuo durante os três anos considerados. Mesmo assim, este último, juntamente com

o município de Poço Verde, quando comparados com os demais, são aqueles em que a

posse da terra está mais bem distribuída.

Riachão do Dantas, ao contrário, é o município onde a concentração da terra é

mais elevada, com índice de Gini igual a 0,819 em 2006, enquanto entre os demais

municípios do território ele não ultrapassa a 0,799. Já Tobias Barreto, tem o menor

índice de Gini: 0,646.

Ressalte-se, ainda, que o município de Lagarto, apesar de ser o berço da

citricultura estadual, com base em pequenas propriedades de base familiar, criadas pelos

programas de colonização implementados pelo governo de Sergipe ao longo dos anos

1970 e 1980, está entre os municípios do território do Centro-Sul Sergipano, cuja

concentração da terra é das mais altas, só perdendo para Riachão do Dantas, além de ser

maior do que o encontrado para o território como um todo, como mostram os resultados

desse índice para 2006. Nesse sentido, os dados da realidade desmentem o senso

comum, quanto a propalada democratização das terras ocorrida no município, resultante

das colônias agrícolas ali existentes. Sem negar que um expressivo número de pequenas

unidades de produção foram efetivamente criadas pelo processo de colonização dirigida,

ele não foi, porém, suficiente para transformar a estrutura fundiária municipal.

Como se pode observar na tabela 13, persiste em Lagarto uma elevada

concentração da terra nos últimos 20 anos, haja vista os valores do índice de Gini

encontrados para os anos de 1985, 1995 e 2006 : 0,813, 0,842 e 0,797, respectivamente.

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O agravamento da crise da citricultura, nos últimos anos, tem provocado,

segundo técnicos e lideranças rurais entrevistados, um movimento de compra de terras

até então ocupadas com a citricultura, por agroindústrias processadoras de suco de

laranja do estado. Pequenos agricultores endividados têm vendido suas propriedades ou

procurado ocupações fora da agricultura, como forma de conseguir recursos financeiros

para pagar ao banco.

Segundo o presidente da Associação Sergipana dos Produtores Rurais –

ASSEPROR, Sergipe já teve quase 10 mil produtores de laranja e hoje esse número não

chega a quatro mil, e dos mais de 100 mil empregos diretos que a atividade já teve,

atualmente não chegam a 30 mil (Jornal CINFORM, edição de 24 a 30 de junho de

2013).

Esse processo de reconcentração da terra tem ensejado um maior controle da

produção e, principalmente, da comercialização da laranja pelas indústrias

processadoras de suco concentrado de laranja para exportação, seja pela menor

vulnerabilidade na garantia de um mínimo de produtos para garantir o funcionamento

regular das máquinas, seja pela possibilidade de impor um preço aos citricultores abaixo

dos seus custos de produção.

Em entrevista ao Jornal CINFORM (edição de 24 a 30 de junho de 2013), o

Secretário de Agricultura de Sergipe afirma que “as grandes indústrias consomem

praticamente 90% da produção da laranja produzida e, muitas vezes, eles dizem o

quanto querem pagar. (...) Outro fator que inviabiliza o setor, é que a produção de uma

tonelada de laranja, em Sergipe, custa R$ 200, enquanto as indústrias querem pagar R$

80 por tonelada”.

Tabela 13 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos municípios do

Território do Centro-Sul Sergipano – 1985/2006

Municípios e Território

Índice de Gini

1985

1995 2006

Lagarto 0,813 0,842 0,799

Poço Verde 0,610 0,688 0,672

Riachão do Dantas 0,775 0,790 0,813

Simão Dias 0,812 0,827 0,786

Tobias Barreto 0,540 0,599 0,646

Território Centro-Sul Sergipano 0,773 0,814 0,776

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários 1985, 1995/96 e 2006.

Os resultados do índice de Gini da distribuição da posse da terra segundo a

condição de produtor, entre 1996 e 2006, apontam uma redução desse índice em todas

as categorias consideradas: proprietários, arrendatários, parceiros e ocupantes, sendo

maior entre os arrendatários e menor entre os proprietários de terra. Considerado apenas

2006, a terra apresenta-se mais bem distribuída entre os parceiros e arrendatários, e

mais concentrada entre os ocupantes e os proprietários, estes com índice de Gini igual

ao do território: 0,776 (Tabela 14).

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Tabela 14 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra do Território do

Centro-Sul Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Proprietário ... 0,790 0,766

Arrendatário ... 0,593 0,369

Parceiro ... 0,368 0,333

Ocupante ... 0,755 0,622

Geral 0,773 0,814 0,776

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

3.2 - Território do Agreste Central Sergipano

3.2.1 Características do território

O território é formado por 14 municípios: Areia Branca, Campo do Brito, Carira,

Frei Paulo, Itabaiana, Macambira, Malhador, Moita Bonita, Nossa Senhora Aparecida,

Pedra Mole, Pinhão, Ribeirópolis, São Domingos e São Miguel do Aleixo e está

localizado no centro-noroeste de Sergipe.

Com uma área de 3.123 km² e população de 232.547 habitantes (IBGE, Censo

2010), representa 11,2% da superfície total do estado e pouco mais de 10% da

população de Sergipe. Ressalte-se que 38,2% da população total do território ainda

reside na zona rural.

Segundo a SUPES (2010) “o território possui uma alta densidade demográfica

(74,46 hab./km²) e um IDH Municipal que varia de 0,567 a 0,678 (PNUD, 2000). Em

2008 o Produto Interno Bruto do Território foi de R$ 1,5 bilhões, representando 7,6%

do PIB estadual”.

Trata-se de um território com forte presença na produção e comercialização de

hortaliças e legumes, majoritariamente explorados por unidades de produção familiares,

que se espraiam por toda a região, seja em áreas de sequeiro seja em áreas irrigadas

situadas no pé da serra de Itabaiana ou em perímetros irrigados implantados pelo

governo estadual, a exemplo da Poção da Ribeira e Jabiberi.

Segundo o censo agropecuário de 2006, 60% da área plantada no território está

ocupada com pastagens e 28,6% com lavouras temporárias. Comparando-se os dados

dos censos de 1995 e 2006, observa-se o aumento tanto da área plantada com esse tipo

de cultura (de 16,4% para 28,6%) como com lavouras permanentes (menos de 1% para

5,4%), esta ainda pouco significativa.

Os principais cultivos encontrados no território, além do coentro, batata-doce,

pimentão, tomate, alface, couve, dentre outros produtos da horticultura, estão o milho, o

feijão e a mandioca. A criação de animais tem na bovinocultura o seu principal produto,

vindo a seguir os suínos e a criação de aves, com destaque para a produção de ovos de

galinha.

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3.2.2 Distribuição da posse da terra e índice de Gini

Os três últimos censos realizados em Sergipe apontam para uma diminuição

tanto do número como da área total dos estabelecimentos agropecuários existentes no

território do Agreste Central, como pode ser visto na Tabela 15. No período

compreendido entre 1985 a 2006, apenas os municípios de Areia Branca, Nossa

Senhora Aparecida e São Miguel do Aleixo tiveram um aumento do número de

propriedades, os dois primeiros, porém, com redução também da área total.

Tabela 15 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários do Território

Agreste Central Sergipano – 1985/2006. Municípios e Território

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Areia Branca 941 913 1.366 6.084 6.825 4.430

Campo do Brito 2.005 2.151 1.541 14.970 14.812 11.607

Carira 1.895 1.648 1.562 63.273 66.630 51.908

Frei Paulo 1.419 1.085 805 32.999 31.398 26.879

Itabaiana 5.993 4.718 3.540 29.226 28.111 19.627

Macambira 1.179 720 680 14.521 15.769 5.473

Malhador 2.504 1.441 1.295 8.954 9.490 8.076

Moita Bonita 3.782 2.612 2.612 8.339 8.220 6.986

Nossa Senhora Aparecida 2.553 2.107 2.860 39.036 36.441 30.103

Pedra Mole 379 637 449 6.655 8.306 6.560

Pinhão 894 627 298 14.469 15.553 8.386

Ribeirópolis 2.711 1.830 1.676 22.978 20.140 19.421

São Domingos 2.063 1.592 1.530 7.799 10.055 4.054

São Miguel do Aleixo 550 497 719 12.240 12.199 12.554

Território do Agreste

Central Sergipano

28.868

22.578

20.933

281.543

283.949

216.134

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Considerando-se os três estratos de área dos estabelecimentos que configuram

um quadro bastante realista da diversidade da situação fundiária do território, em termos

de uma eventual construção de tipologia das propriedades rurais de Sergipe, observa-se

que os estabelecimentos com área entre 10 e 100 hectares tiveram um pequeno aumento

de sua participação no número total de estabelecimentos, porém com um aumento

considerável na apropriação da área total recenseada. Já os pequenos e os grandes

estabelecimentos perderam posição, embora pouco significativa, em relação ao número,

mas razoável em termos de participação na área total (Tabela 16).

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Tabela 16 –Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Agreste Central Sergipano, por grupos de área total – 1985/2006 Estratos de área

(ha)

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

0 ___ 1 14303 9913 8322 7137 4799 4023

1 ___ 2 4489 3633 3431 6451 5213 4942

2 ___ 5 4460 3714 3944 14154 11755 12248

5 ___10 2187 1977 1970 15491 14171 13932

10 ___20 1330 1218 1411 19032 17334 20371

20 ___50 1115 1104 1011 34806 34826 30123

50___100 488 503 421 34554 35793 28735

100__200 264 260 220 37595 36785 30716

200__500 160 187 152 48690 61872 46148

500_1000 53 49 39 35742 33139 19769

1000 e mais 19 20 12 27891 28260 5127

Total 28868 22578 20933 281543 283949 216134

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

A distribuição dos estabelecimentos por estrato de área total e segundo a

condição de produtor mostra nos últimos 20 anos um predomínio dos estabelecimentos

pertencentes a proprietários, com uma porcentagem de quase 90% em 2006, vindo a

seguir os ocupantes, com cerca de 10%, embora em 1995 detivessem mais de um quinto

do total de estabelecimentos do território. Arrendatários e parceiros, não chegam a

representar um por cento do total de estabelecimentos do território (Tabela 17).

Tabela 17 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Agreste Central Sergipano, segundo a condição de produtor – 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Proprietário 63,1 96,5 69,7 95,7 87,2 96,8

Arrendatário 9,7 0,9 8,3 0,7 2,3 0,4

Parceiro 0,6 0,0 1,2 0,1 0,6 0,1

Ocupante 26,5 2,6 20,8 3,5 9,9 2,7

Total (Nº) 28.878 281.597 22.570 283.949 20.932 216.133

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

O aumento observado nas áreas média e mediana do território do Agreste

Central entre 1985 e 2006 foi acompanhado pelas categorias de ocupantes e

arrendatários. Aqueles tiveram a área média de suas propriedades aumentada de menos

de um hectare em 1985 para 2,8 hectares em 2006, e a área mediana, de 0,63 hectares

para 0,80 hectares, respectivamente. Os parceiros mantiveram inalterada a área média

dos seus estabelecimentos, porém mais que duplicaram a área mediana (Tabela 18).

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27

Tabela 18 - Áreas média e mediana dos estabelecimentos agropecuários do

Território do Agreste Central Sergipano, segundo a condição de produtor–

1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Área média (ha) Área mediana

(ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 14,9 17,3 11,5 ... 2,58 1,79

Arrendatário 0,9 1,1 1,8 ... 0,63 1,18

Parceiro 0,6 0,7 0,7 ... 0,59 1,73

Ocupante 0,9 2,1 2,8 ... 0,63 0,80

Total 9,8 12,6 10,3 1,03 1,38 1,62

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Nos anos 1985, 1995 e 2006 o índice de Gini do território do Agreste Central

apresentou os seguintes valores: 0,826, 0,831 e 0,733, o que mostra uma pequena

variação para baixo do índice no período, a indicar, porém, a permanência de uma

concentração da posse da terra ainda muito forte.

Dos 14 municípios que integram o território, seis deles tiveram uma redução

progressiva do índice, entre 1985 e 2006, a saber: Carira, Frei Paulo Nossa Senhora

Aparecida, Pinhão, Ribeirópolis e São Miguel do Aleixo. Outros, como Areia Branca,

Itabaiana, Macambira, Malhador, Moita Bonita, Pedra Mole e São Domingos

apresentaram um aumento do índice de Gini entre 1985 e 1995, vindo este a diminuir

em 2006, ao contrário de Campo do Brito, cujo índice diminuiu entre 1985 e 1995,

voltando a subir em 2006.

Considerando-se apenas o ano de 2006, os municípios que possuem uma

distribuição da posse da terra menos concentrada são os seguintes: Moita Bonita, São

Miguel do Aleixo, Malhador, São Domingos e Ribeirópolis. Com índice de Gini que

varia entre 0,575 e 0,694, ocupam posição na escala que configura uma forte

concentração da propriedade, o que os diferencia da maioria dos municípios sergipanos,

que se encontram no estrato que indica a existência de uma concentração da posse da

terra muito forte (Tabela 19).

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Tabela 19 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos municípios do

Território do Agreste Central Sergipano – 1985/2006 Municípios e Território

Índice de Gini

1985

1995 2006

Areia Branca 0,793 0,833 0,706

Campo do Brito 0,794 0,790 0,816

Carira 0,804 0,779 0,762

Frei Paulo 0,860 0,818 0,726

Itabaiana 0,656 0,729 0,704

Macambira 0,893 0,900 0,744

Malhador 0,733 0,772 0,687

Moita Bonita 0,596 0,638 0,575

Nossa Senhora Aparecida 0,770 0,767 0,725

Pedra Mole 0,880 0,886 0,816

Pinhão 0,895 0,881 0,785

Ribeirópolis 0,749 0,720 0,694

São Domingos 0,776 0,843 0,689

São Miguel do Aleixo 0,808 0,741 0,647

Território do Agreste

Central Sergipano

0,826

0,831

0,733

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários 1985, 1995/96 e 2006.

Como pode ser visto na Tabela 20, com exceção da categoria que envolve os

parceiros, todas as demais tiveram uma redução do índice de Gini entre os dois últimos

censos agropecuários.

Ressalte-se que, enquanto para o território o índice de Gini mostra uma

concentração muito forte, para os proprietários, arrendatários, parceiros e ocupantes a

redução da desigualdade na distribuição das terras é bastante significativa, pois a escala

varia de uma concentração fraca, no caso dos parceiros e arrendatários, a forte nas

demais categorias.

Tabela 20 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra no Território do

Agreste Central Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Proprietário ... 0,800 0,647

Arrendatário ... 0,360 0,438

Parceiro ... 0,217 0,296

Ocupante ... 0,679 0,643

Geral 0,826 0,831 0,733

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

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29

3.3 - Território da Grande Aracaju

3.3.1 Características do território

O território está situado na região centro-leste do estado e é constituído de nove

municípios: Aracaju, Barra dos Coqueiros, Itaporanga d'Ajuda, Laranjeiras, Maruim,

Nossa Senhora do Socorro, Riachuelo, Santo Amaro das Brotas e São Cristóvão.

Sua área é de 2.187 km² (cerca de 10% da superfície estadual) e as pessoas que

nele residem, segundo o censo demográfico de 2010, somam 930.063 habitantes (45%

da população total de Sergipe), com os moradores na zona rural representando apenas

6% da população total. Isso mostra um altíssimo grau de urbanização do território, que

pode ser explicado pela presença da capital, Aracaju, entre os municípios que o

integram.

Grandes áreas tradicionais de plantio de coco estão dando lugar à construção de

condomínios residenciais de alto padrão, como Alphaville I e II, Damas e Maykai, no

município de Barra dos Coqueiros.

Com densidade demográfica de 425,2 hab./km² e IDH Municipal que vai de

0,638 a 0,794 (PNUD, 2000), o território apresentou, em 2008, um Produto Interno

Bruto de R$ 10,4 bilhões ou 52,9% do PIB estadual (SUPES, 2010).

3.3.2 - Distribuição da posse da terra e índice de Gini

Os três últimos censos realizados em Sergipe apontam para uma diminuição

tanto do número como da área total dos estabelecimentos agropecuários existentes no

território do Agreste Central, como pode ser visto na Tabela 15. No período

compreendido entre 1985 a 2006, apenas os municípios de Areia Branca, Nossa

Senhora Aparecida e São Miguel do Aleixo tiveram um aumento do número de

propriedades, os dois primeiros, porém, com redução também da área total.

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Tabela 15 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários do Território

Agreste Central Sergipano – 1985/2006. Municípios e

Território

Número de estabelecimentos

Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Areia Branca 941 913 1.366 6.084 6.825 4.430

Campo do

Brito

2.005

2.151

1.541

14.970

14.812

11.607

Carira 1.895 1.648 1.562 63.273 66.630 51.908

Frei Paulo 1.419 1.085 805 32.999 31.398 26.879

Itabaiana 5.993 4.718 3.540 29.226 28.111 19.627

Macambira 1.179 720 680 14.521 15.769 5.473

Malhador 2.504 1.441 1.295 8.954 9.490 8.076

Moita Bonita 3.782 2.612 2.612 8.339 8.220 6.986

Nossa Senhora

Aparecida

2.553

2.107

2.860

39.036

36.441

30.103

Pedra Mole 379 637 449 6.655 8.306 6.560

Pinhão 894 627 298 14.469 15.553 8.386

Ribeirópolis 2.711 1.830 1.676 22.978 20.140 19.421

São Domingos 2.063 1.592 1.530 7.799 10.055 4.054

São Miguel do

Aleixo

550

497

719

12.240

12.199

12.554

Território do

Agreste

Central

Sergipano

28.868

22.578

20.933

281.543

283.949

216.134

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Considerando-se os três estratos de área dos estabelecimentos que configuram

um quadro bastante realista da diversidade da situação fundiária do território, em termos

de uma eventual construção de tipologia das propriedades rurais de Sergipe, observa-se

que os estabelecimentos com área entre 10 e 100 hectares tiveram um pequeno aumento

de sua participação no número total de estabelecimentos, porém com um aumento

considerável na apropriação da área total recenseada. Já os pequenos e os grandes

estabelecimentos perderam posição, embora pouco significativa, em relação ao número,

mas razoável em termos de participação na área total (Tabela 16).

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Tabela 16 –Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Agreste Central Sergipano, por grupos de área total – 1985/2006 Estratos de área (ha)

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

0 ___ 1 14303 9913 8322 7137 4799 4023

1 ___ 2 4489 3633 3431 6451 5213 4942

2 ___ 5 4460 3714 3944 14154 11755 12248

5 ___10 2187 1977 1970 15491 14171 13932

10 ___20 1330 1218 1411 19032 17334 20371

20 ___50 1115 1104 1011 34806 34826 30123

50___100 488 503 421 34554 35793 28735

100__200 264 260 220 37595 36785 30716

200__500 160 187 152 48690 61872 46148

500_1000 53 49 39 35742 33139 19769

1000 e mais 19 20 12 27891 28260 5127

Total 28868 22578 20933 281543 283949 216134

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

A distribuição dos estabelecimentos por estrato de área total e segundo a

condição de produtor mostra nos últimos 20 anos um predomínio dos estabelecimentos

pertencentes a proprietários, com uma porcentagem de quase 90% em 2006, vindo a

seguir os ocupantes, com cerca de 10%, embora em 1995 detivessem mais de um quinto

do total de estabelecimentos do território. Arrendatários e parceiros, não chegam a

representar um por cento do total de estabelecimentos do território (Tabela 17).

Tabela 17 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Grande Aracaju, segundo a condição de produtor – 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Proprietário 63,1 96,5 69,7 95,7 87,2 96,8

Arrendatário 9,7 0,9 8,3 0,7 2,3 0,4

Parceiro 0,6 0,0 1,2 0,1 0,6 0,1

Ocupante 26,5 2,6 20,8 3,5 9,9 2,7

Total (Nº) 28.878 281.597 22.570 283.949 20.932 216.133

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

O aumento observado nas áreas média e mediana do território do Agreste

Central entre 1985 e 2006 foi acompanhado pelas categorias de ocupantes e

arrendatários. Aqueles tiveram a área média de suas propriedades aumentada de menos

de um hectare em 1985 para 2,8 hectares em 2006, e a área mediana, de 0,63 hectares

para 0,80 hectares, respectivamente. Os parceiros mantiveram inalterada a área média

dos seus estabelecimentos, porém mais que duplicaram a área mediana (Tabela 18).

Page 32: Eliano Sergio Azevedo Lopes Josemar Hipólito da Silva ... · saber: Alto Sertão, Médio Sertão, Sul, Centro Sul, Leste Sergipano, Agreste Central, Baixo São Francisco e Grande

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Tabela 18 - Áreas média e mediana dos estabelecimentos agropecuários do

Território do Agreste Central Sergipano, segundo a condição de produtor–

1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Área média (ha) Área mediana

(ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 14,9 17,3 11,5 ... 2,58 1,79

Arrendatário 0,9 1,1 1,8 ... 0,63 1,18

Parceiro 0,6 0,7 0,7 ... 0,59 1,73

Ocupante 0,9 2,1 2,8 ... 0,63 0,80

Total 9,8 12,6 10,3 1,03 1,38 1,62

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Nos anos 1985, 1995 e 2006 o índice de Gini do território do Agreste Central

apresentou os seguintes valores: 0,826, 0,831 e 0,733, o que mostra uma pequena

variação para baixo do índice no período, a indicar, porém, a permanência de uma

concentração da posse da terra ainda muito forte.

Dos 14 municípios que integram o território, seis deles tiveram uma redução

progressiva do índice, entre 1985 e 2006, a saber: Carira, Frei Paulo Nossa Senhora

Aparecida, Pinhão, Ribeirópolis e São Miguel do Aleixo. Outros, como Areia Branca,

Itabaiana, Macambira, Malhador, Moita Bonita, Pedra Mole e São Domingos

apresentaram um aumento do índice de Gini entre 1985 e 1995, vindo este a diminuir

em 2006, ao contrário de Campo do Brito, cujo índice diminuiu entre 1985 e 1995,

voltando a subir em 2006.

Considerando-se apenas o ano de 2006, os municípios que possuem uma

distribuição da posse da terra menos concentrada são os seguintes: Moita Bonita, São

Miguel do Aleixo, Malhador, São Domingos e Ribeirópolis. Com índice de Gini que

varia entre 0,575 e 0,694, ocupam posição na escala que configura uma forte

concentração da propriedade, o que os diferencia da maioria dos municípios sergipanos,

que se encontram no estrato que indica a existência de uma concentração da posse da

terra muito forte (Tabela 19).

Page 33: Eliano Sergio Azevedo Lopes Josemar Hipólito da Silva ... · saber: Alto Sertão, Médio Sertão, Sul, Centro Sul, Leste Sergipano, Agreste Central, Baixo São Francisco e Grande

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Tabela 19 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos municípios do

Território do Agreste Central Sergipano – 1985/2006 Municípios e Território

Índice de Gini

1985

1995 2006

Areia Branca 0,793 0,833 0,706

Campo do Brito 0,794 0,790 0,816

Carira 0,804 0,779 0,762

Frei Paulo 0,860 0,818 0,726

Itabaiana 0,656 0,729 0,704

Macambira 0,893 0,900 0,744

Malhador 0,733 0,772 0,687

Moita Bonita 0,596 0,638 0,575

Nossa Senhora Aparecida 0,770 0,767 0,725

Pedra Mole 0,880 0,886 0,816

Pinhão 0,895 0,881 0,785

Ribeirópolis 0,749 0,720 0,694

São Domingos 0,776 0,843 0,689

São Miguel do Aleixo 0,808 0,741 0,647

Território do Agreste

Central Sergipano

0,826

0,831

0,733

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários 1985, 1995/96 e 2006.

Como pode ser observado na Tabela 20, com exceção da categoria que envolve

os parceiros, todas as demais tiveram uma redução do índice de Gini entre os dois

últimos censos agropecuários.

Ressalte-se que, enquanto para o território o índice de Gini mostra uma

concentração muito forte, para os proprietários, arrendatários, parceiros e ocupantes a

redução da desigualdade na distribuição das terras é bastante significativa, pois a escala

varia de uma concentração fraca, no caso dos parceiros e arrendatários, a forte nas

demais categorias.

Tabela 20 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra no Território do

Agreste Central Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Proprietário ... 0,800 0,647

Arrendatário ... 0,360 0,438

Parceiro ... 0,217 0,296

Ocupante ... 0,679 0,643

Geral 0,826 0,831 0,733

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

3.4 - Território do Leste Sergipano

3.4.1 Características do território

O território está situado no leste do estado e é formado por nove municípios, a

saber: Capela, Carmópolis, Divina Pastora, General Maynard, Japaratuba, Pirambu,

Rosário do Catete, Santa Rosa de Lima e Siriri.

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34

Sua área de abrangência cobre 1,5 mil km², correspondente a 7% da superfície

estadual, onde vivem, de acordo com o censo demográfico do IBGE de 2010, cerca de

97.732 habitantes (menos de 5% da população de Sergipe), dos quais 39,6% vivem no

campo.

Com densidade demográfica de 64,4 hab./km² e IDH Municipal que varia de

0,615 a 0,676 (PNUD, 2000), segundo a SUPES(2010), em 2008 teve o seu Produto

Interno Bruto estimado em R$ 1,9 bilhões, representando 9,8% do PIB estadual.

Segundo os dados do censo agropecuário de 2006, o território tem mais de 60%

de suas terras ocupadas com pastagens que proveem a alimentação de um significativo

rebanho de bovinos para corte. Vêm a seguir, as lavouras permanentes, com destaque

para a cana-de-açúcar (com 63% da área plantada no território), mandioca (15%), milho

(6,2%) e feijão (4,3%), que entre 1996 e 2006 mais que dobraram a área plantada,

passando de 7,8% para 15,6%.

Outras culturas, como o coco-da-baía, e a criação de equinos e aves, também

são importantes no conjunto das atividades agropecuárias desenvolvidas no território.

2.4.2 - Distribuição da posse da terra e índice de Gini

Os dados dos três últimos censos agropecuários mostram que o território do

Leste Sergipano teve uma redução no número de estabelecimentos e na área total

(Tabela 27).

Tabela 27 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Leste Sergipano, por grupos de área total – 1985/2006 Estratos de área

(ha)

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

0 ___ 1 2288 1815 1110 1235 976 607

1 ___ 2 721 697 550 1036 994 758

2 ___ 5 694 771 554 2242 2538 1779

5 ___10 453 591 513 3434 4299 3735

10 ___20 377 593 291 5564 8691 4098

20 ___50 330 631 278 10500 20142 8480

50___100 163 321 133 11858 22282 9167

100__200 106 197 95 15519 27547 13536

200__500 104 93 69 32094 27591 20299

500_1000 32 18 14 21793 12515 5298

1000 e mais 17 5 8 29143 12130 0

Total 5285 5732 3615 134418 139705 67757

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Comparando-se as estatísticas da evolução da distribuição das terra em 1995 e

2006, observa-se que os municípios de Divina Pastora, Japaratuba, Rosário do Catete e

Santa Rosa de Lima apresentaram um aumento do número de estabelecimentos, a

despeito da redução da área total recenseada. (Apenas General Maynard apresentou um

crescimento tanto dos número de seus estabelecimentos agropecuários como da área

total que ocupam, enquanto os municípios de Siriri e Pirambu tiveram diminuição em

ambas variáveis (Tabela 28).

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Tabela 28 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários dos

municípios Território do Leste Sergipano – 1985/2006. Municípios e

Território

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Capela 1.689 2.445 1.170 43.811 54.911 22.022

Carmópolis 431 175 123 3.723 5.277 2.166

Divina Pastora 115 74 171 9.592 8.490 4.732

General Maynard 99 39 70 1949 1.109 1.469

Japaratuba 1.161 531 626 35.162 23.614 14.596

Pirambu 432 617 542 9.628 10.346 9.213

Rosário do Catete 258 134 168 7.807 8.843 3.170

Santa Rosa de Lima 477 105 282 7.607 6.395 3.621

Siriri 623 559 425 15.139 15.891 8.640

Território do Leste

Sergipano

5.285

4.679

3.615

134.418

134.874

69.629

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

A distribuição dos estabelecimentos do território por três estratos de área total

aponta para uma redução na participação das propriedades com menos de 10 hectares,

porém com um aumento da área total: de 77,1% em 1995 para 75,4% em 2006, ao

contrário do observado para as propriedades com área igual a 100 e mais hectares, que

tiveram redução tanto no número de estabelecimentos quanto na área total. Apenas as

propriedades na faixa dos 10 a menos de 100 hectares apresentaram crescimento em

ambas variáveis: 17,4% em 1995 para 19,4% em 2006 e de 19,1% para 32,1%,

respectivamente.

Nesse território, quase 90% dos estabelecimentos agropecuários são de

proprietários, vindo a seguir os ocupantes, com cerca de 10% das terras. Parceiros e

arrendatários não chegam a representar um por cento do total das propriedades (Tabela

29).

Tabela 29 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Leste Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Proprietário 75,7 98,1 68,5 87,7 88,8 98,3

Arrendatário 12,7 1,4 7,7 0,7 0,8 0,4

Parceiro 0,0 0,0 0,1 0,0 0,5 0,0

Ocupante 11,5 0,5 23,7 11,6 9,9 1,3

Total (Nº) 5.471 134.577 4.679 135.767 3.576 67.757

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Na Tabela 30, vê-se que apenas os arrendatários tiveram um aumento das áreas

média e mediana de suas propriedades, enquanto para os parceiros e ocupantes esse

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36

aumento ocorreu somente nessa última, o mesmo observado para o território como um

todo.

Tabela 30 - Áreas média e mediana dos estabelecimentos agropecuários do

Território do Leste Sergipano, segundo a condição de produtor – 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Área média (ha) Área mediana

(ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 31,9 37,1 21,0 ... 4,04 3,24

Arrendatário 2,6 2,6 8,7 ... 0,55 9,17

Parceiro 0,5 1,2 0,4 ... 0,67 1,61

Ocupante 1,1 14,2 2,6 ... 0,70 1,14

Total 24,6 29,1 18,9 1,49 1,65 1,80

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

No período 1985/2006, o território do Leste Sergipano teve uma pequena

diminuição nos valores do índice de Gini: de 0,863 em 1985 para 0,774 em 2006º que

denota uma melhoria na distribuição da posse da terra no território.

Comparando-se os valores do índice para 1995 e 2006, com exceção dos

municípios de Japaratuba e Rosário de Catete, os demais apresentaram uma pequena

redução do índice de Gini, cujos valores variaram, no período considerado, de 0,660 a

0,794 (Tabela 31).

Tabela 31 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos municípios do

Território do Leste Sergipano – 1985/2006.

Municípios e Território

Índice de Gini

1985

1995 2006

Capela 0,852 0,887 0,794

Carmópolis 0,876 0,914 0,482

Divina Pastora 0,785 0,749 0,698

General Maynard 0,744 0,765 0,660

Japaratuba 0,850 0,615 0,765

Pirambu 0,827 0,775 0,688

Rosário do Catete 0,864 0,841 0,817

Santa Rosa de Lima 0,856 0,819 0,803

Siriri 0,864 0,818 0,750

Território do Leste Sergipano 0,863 0,867 0,774

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários 1985, 1995/96 e 2006.

Na Tabela 32, observa-se que o índice de Gini calculado para cada uma das

categorias de produtores, aponta na direção de uma diminuição ente 1995 e 2006, sendo

maior entre os ocupantes, vindo a seguir os proprietários.

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37

Tabela 32 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra no Território do Leste

Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Proprietário ... 0,820 0,767

Arrendatário ... 0,698 0,625

Parceiro ... 0,407 0,000

Ocupante ... 0,967 0,381

Geral 0,863 0,867 0,774 Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

3.5 - Território do Sul Sergipano

3.5.1 - Características do território

Localizado no sul do estado de Sergipe, o território possui uma área de 3.131

km² (14,3% da superfície estadual) e população de 248.587 pessoas (pouco mais de 12

da população de Sergipe), das quais 42,3% residem no meio rural. Sua densidade

demográfica é de 79,4 hab./km².

É constituído por 11 municípios: Arauá, Boquim, Cristinápolis, Estância,

Indiaroba, Itabaianinha, Pedrinhas, Salgado, Santa Luzia do Itanhy, Tomar do Geru e

Umbaúba.

Segundo a SUPES (2010), o IDH Municipal do território variava de 0,545 a

0,672, considerados os municípios que o integram (PNUD, 2000) e o seu Produto

Interno Bruto em 2008 atingiu a cifra de R$ 1,7 bilhões, correspondente a 8,6% do PIB

estadual.

O território Sul Sergipano, tal como o do Centro-Sul, é marcado pela forte

presença de lavouras permanentes, principalmente da citricultura, e suas pastagens

destinam-se à alimentação do rebanho bovino de corte.

Em 2006, segundo o censo agropecuário do IBGE, 42,5% da área explorada do

território era ocupada com pastagens, 41,1% com lavouras permanentes e 5,3% com

lavouras temporárias.

Apesar da prolongada e profunda crise porque vem passando a citricultura

sergipana, a laranja ainda é o produto mais importante da cesta de produtos oriundos da

agricultura do território. Em 2006, ela respondia por quase 60% da área total plantada

com lavouras e por 76,7% do valor da produção agrícola do território. Em todos os

municípios que formam o território, a laranja constitui a componente de maior peso na

formação desse valor. (LIMA, 2008).

O coco e a mandioca, e a criação de muares, bovinos e aves – com destaque para

a produção de ovos de galinha e de codorna -, também integram a cesta de produtos

oriundos das atividades agropecuárias desenvolvidas no território.

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38

3.5.2 - Distribuição da posse da terra e índice de Gini

Entre 1985 e 2006, o número de estabelecimentos agropecuários do território do

Sul Sergipano aumentou 13,9%, enquanto a área total teve uma queda de cerca de 31% .

Os municípios de Boquim e Estância vêm apresentando uma diminuição contínua no

número e área total dos estabelecimentos agropecuários, diferentemente dos demais.

Tomando-se os dados dos censos de1995 e 2006, observa-se que apenas o município de

Salgado teve um crescimento do número e área total dos estabelecimentos; Pedrinhas

ganhou área mas perdeu estabelecimentos e nos demais municípios houve uma redução

do número de propriedades e da área total que ocupam (Tabelas 33 e 34).

Tabela 33 – Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território

do Sul Sergipano, por grupos de área total – 1985/2006 Estratos de área

(ha)

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

0 ___ 1 5660 7895 8284 2773 4567 3880

1 ___ 2 2773 3390 3334 4023 4967 4847

2 ___ 5 3622 3903 3813 11954 12774 12437

5 ___10 2469 2577 2586 17734 17915 18157

10 ___20 1609 1429 1318 22629 20080 18889

20 ___50 1251 1092 868 39031 33957 26863

50___100 516 457 403 36460 32617 28190

100__200 257 225 203 36113 31234 28129

200__500 172 149 118 52847 45729 36197

500_1000 48 36 17 31902 23511 4023

1000 e mais 16 8 11 24573 13093 11846

Total 18393 21161 20955 280039 240444 193458

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Tabela 34 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários dos

municípios do Território do Sul Sergipano – 1985/2006. Municípios e Território

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Arauá 1.261 1.368 1.619 22.092 17.524 15.349

Boquim 2.145 1.924 2.078 15.443 15.518 12.974

Cristinápolis 889 1.314 1.639 22.988 20.047 13.378

Estância 2.082 2.712 1.710 47.561 37.050 29.502

Indiaroba 1.641 1.759 1.865 26.441 22.205 20.939

Itabaianinha 3.594 3.700 4.145 47.604 41.708 37.558

Pedrinhas 448 735 582 3.337 3.996 4.034

Salgado 2.089 1.982 2.132 25.924 18.379 20.099

Santa Luzia do Itanhy 1.141 1.791 1.402 27.610 23.602 11.151

Tomar do Geru 2.036 2.271 2.406 27.607 28.235 19.025

Umbaúba 1.087 1.605 1.450 13.437 12.464 9.449

Território Sul Sergipano 18.393 21.161 20.955 280.039 240.445 193.458

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

As pequenas propriedades, com área inferior a 10 hectares, tiveram um aumento

tanto do número de estabelecimentos como da área: de 79,0% e 13,0% em 1985 para

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39

86,0% e 20,3% em 2006, respectivamente, ao contrário do que ocorreu com as grandes

propriedades (de 100 hectares e mais).

É importante salientar que as médias propriedades, com área entre 10 e menos

de 100 hectares, perderam participação no caso do número de estabelecimentos, caindo

de 18,3% em 1985 para 12,3% em 2006, e um crescimento em termos de apropriação de

terras, de 35,1% para 38,2%, no período considerado. Esse resultado parece ser

indicativo de um processo de reconcentração de terras que vem acontecendo em alguns

municípios do polo citricultor de Sergipe, e do qual fazem parte os municípios que

integram o território do Sul Sergipano.

A condição de proprietários de terras impera entre as demais categorias de

produtores rurais que desenvolvem atividades agrícolas no território, considerados os

últimos 20 anos: representam mais de 90% de todos os produtores. Apenas os ocupantes

aparecem com uma pequena porcentagem, que vem caindo progressivamente;

arrendatários e parceiros têm presença inexpressiva no quadro fundiário de distribuição

dos estabelecimentos agropecuários (Tabela 35)

Tabela 35 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Sul Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Proprietário 93,0 98,6 91,6 98,2 93,2 98,9

Arrendatário 1,0 0,1 0,2 0,2 0,2 0,0

Parceiro 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,0

Ocupante 5,9 1,2 8,1 1,4 6,4 1,1

Total (Nº) 18.430 283.110 21.161 240.156 20.953 191.567

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

A constatação da redução na área média dos estabelecimentos agropecuários do

território do Sul Sergipano, entre 1985 e 2006, conforme pode ser visto na Tabela 36, é

indicativa de um processo de melhoria na concentração da terra. Por outro lado,

independentemente da condição de produtor – se proprietário, arrendatário, parceiro ou

ocupante -, a redução da área média das propriedades ocorreu em todas essas categorias,

principalmente, no caso dos proprietários, cujas terras tinham 16,3 hectares, em média,

e caíram para 9,7% hectares. No caso das área medianas, apenas os estabelecimentos de

ocupantes tiveram um leve crescimento.

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40

Tabela 36 - Áreas média e mediana dos estabelecimentos agropecuários do

Território do Sul Sergipano, segundo a condição de produtor – 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Área média (ha) Área mediana

(ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 16,3 12,2 9,7 ... 1,98 1,76

Arrendatário 1,3 12,2 0,1 ... 1,29 1,00

Parceiro 15,9 15,3 0,3 ... 1,68 0,66

Ocupante 3,3 0,3 1,6 ... 0,63 0,72

Total 15,4 11,4 9,2 2,63 1,79 1,67

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Com índice de Gini decrescente nos últimos 20 anos, o território do Sul

Sergipano acompanhou os demais territórios do estado, ficando num nível intermediário

quando comparados com os demais municípios que compõem esse território: 0,785 em

1985, 0,781 em 1995 e 0,768 em 2006, ainda numa posição indicativa de uma

concentração fundiária muito forte.

Entre os 11 municípios do território, Arauá é o que possui a maior concentração

da posse da terra, com índice de Gini igual a 0,841, enquanto Tomar de Geru é o que

tem uma melhor distribuição de suas propriedades agrícolas, com índice de Gini de

0,618, embora ainda indicativo de forte concentração.

Tomando-se para análise os índices de Gini dos municípios do território, em

1995 e 2006, observa-se que Arauá, Estância, Itabaianinha, Pedrinhas, Salgado e

Umbaúba apresentaram uma piora no que concerne à sua estrutura fundiária. Em

contrapartida, os municípios de Boquim, Cristinápolis, Indiaroba, Santa Luzia do

Ittanhy e Tomar do Geru melhoraram a distribuição de suas terras, tornando-as menos

concentrada (Tabela 37).

Tabela 37 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos municípios do

Território do Sul Sergipano – 1985/2006. Municípios e Território

Índice de Gini

1985

1995 2006

Arauá 0,826 0,824 0,841

Boquim 0,807 0,798 0,774

Cristinápolis 0,821 0,835 0,801

Estância 0,772 0,775 0,789

Indiaroba 0,833 0,842 0,781

Itabaianinha 0,729 0,717 0,744

Pedrinhas 0,796 0,782 0,804

Salgado 0,735 0,714 0,756

Santa Luzia do Itanhy 0,869 0,846 0,727

Tomar do Geru 0,582 0,693 0,618

Umbaúba 0,775 0,704 0,710

Território do Sul

Sergipano

0,785 0,781 0,768

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários 1985, 1995/96 e 2006.

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41

Como pode ser visto na Tabela 38, a queda nos valores do índice de Gini entre

1995 e 1996 foi uma constante para todas as categorias de produtores, com exceção dos

arrendatários, cujos dados de 2006 não permitiram que fosse feito o cálculo por serem

desconhecidos o tamanho das áreas dos estabelecimentos, segundo estratos de área total.

Tabela 38 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra do Território

do Sul Sergipano, segundo a condição de produtor- 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Proprietário ... 0,779 0,764

Arrendatário ... 0,715 ...

Parceiro ... 0,718 0,077

Ocupante ... 0,613 0,533

Geral 0,785 0,781 0,768

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

3.6 - Território do Alto Sertão Sergipano

3.6.1 Características do território

O Território de Planejamento do Alto Sertão Sergipano está localizado no

noroeste do estado de Sergipe, possui quase cinco mil km2 (22,3% da superfície

territorial do Estado) e é constituído por sete municípios: Canindé do São Francisco,

Poço Redondo, Gararu, Monte Alegre de Sergipe, Nossa Senhora da Glória, Porto da

Folha e Nossa Senhora de Lourdes.

Com uma população total de 146.479 habitantes (menos de 10% do total do

estado), e densidade demográfica de 29,8 hab./km2 (IBGE, 2010), tem cerca de 78.140

pessoas residentes na zona rural, o que corresponde a 53,3% da população recenseada.

O território está entre os que apresentam os piores índices de desenvolvimento humano

(0,58) e de exclusão social de Sergipe (htpp://sit.mda. gov.br).

Segundo a SUPES (2010,), em 2008 o Produto Interno Bruto – PIB do território

foi de R$ 1,77 bilhões, o que corresponde a 9% do PIB estadual.

Nos últimos trinta anos, o Alto Sertão Sergipano teve sua população total

duplicada e a domiciliada no meio rural cresceu quase uma vez e meia, tendo

simultaneamente aumentado o número de estabelecimentos, porém sem a contrapartida

na ampliação da área por eles apropriada.

Trata-se de uma região ocupada por tradicionais latifúndios de pecuária

extensiva e/ou improdutivos, com forte presença de posseiros e pequenos proprietários

minifundistas, além da comunidade quilombola de Mocambo e a nação indígena Xocó,

ambas no município de Porto da Folha. Também tem sido palco de dezenas de conflitos

agrários, envolvendo trabalhadores rurais sem terra e fazendeiros em violentas lutas pela

posse da terra e por água, e de ações governamentais voltadas para o agronegócio, via

concepção de projetos de irrigação de cunho empresarial.

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42

Fomentados pelo governo estadual, os projetos hidroagrícolas constantemente se

chocam com os projetos de reforma agrária e fortalecimento da agricultura familiar,

estimulados pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA, através do Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA.

A agropecuária contribui com 32% do PIB do território e 65,5% da renda gerada

são apropriados pelos 20% mais ricos, cabendo aos 20% mais pobres apenas 0,6% da

mesma (SDT - Atlas dos Territórios – 2004).

Os estabelecimentos agropecuários da chamada agricultura familiar representam

90% do total recenseado no território e ocupam 61,7% das terras.

No que se refere às atividades econômicas das unidades de produção familiar,

seja nos assentamentos de reforma agrária seja em unidades de produção dispersas pela

região, visam não apenas atender às necessidades do autoconsumo, como a busca de

diferentes oportunidades de comercialização.

A lavoura desenvolvida nessas unidades é basicamente feita num sistema

consorciado que varia espacialmente em termos dos produtos cultivados juntos na

mesma terra. Produtos como o milho, o feijão, a mandioca e o leite; frutas como a

banana, a manga e a goiaba, além de hortaliças e legumes, principalmente o quiabo,

também são encontrados na região, notadamente nos projetos de irrigação Califórnia e

em lotes do PA Jacaré-Curituba.

A pecuária bovina leiteira predomina entre os demais tipos, embora seja comum

a existência de animais de pequeno porte e aves nas propriedades e lotes de agricultores

familiares e assentados do Alto Sertão Sergipano. No caso do gado bovino, a

preferência dos agricultores tem sido por vacas, cujo leite não apenas é destinado às

crianças como também vendido à atravessadores e grandes laticínios localizados,

principalmente, no município de Nossa Senhora da Glória. Desde 2006, mercados

institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA-Leite, também

absorviam parte da produção leiteira do território, até sua paralisação em 2011.

Até maio de 2011, 43 dos 75 municípios sergipanos haviam sido contemplados

com a implantação de projetos de reforma agrária pelo INCRA, totalizando 205

assentamentos e 9.907 famílias, assentadas em 174.148 hectares. Desse total, cerca de

45,5% dos assentamentos e 46,7% das famílias assentadas estão localizados no território

do Alto Sertão Sergipano.

2.6.2 - Distribuição da posse da terra e índice de Gini

Entre 1985 e 2006, o território do Alto Sertão Sergipano o número de

estabelecimentos agropecuários aumentou em torno de 11%, enquanto a área total

apresentou uma redução de 22,4%. Comparando-se os dados de 1995 e 2006, o

crescimento foi de 15,5% e a redução de 15,7% (Tabela 39).

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43

Tabela 39 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários dos

municípios do Território do Alto Sertão Sergipano – 1985/2006. Municípios e Território

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Canindé do São Francisco 542 1.347 876 81.396 70.074 48.395

Gararu 2.552 2.162 2.161 64.447 52.767 52.465

Monte Alegre 791 1.041 1.271 34.056 33.840 31.173

Nossa Senhora da Glória 2.749 2.685 2.753 78.325 69.263 49.297

Nossa Senhora de

Lourdes

502

366

405

7.786

7.905

5.417

Poço Redondo 2.117 1.911 3.847 73454 87.502 88.488

Porto da Folha 3.356 2.461 2.511 90.003 74.181 58.097

Território do Alto Sertão

Sergipano

12.609

11.976

13.823

429.467

395.532

333.332

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Historicamente um território predominantemente de latifúndios, com grandes

fazendas de gado bovino dominando a paisagem local, e ao mesmo tempo com milhares

de pequenas propriedades com área diminuta, o Alto Sertão tem tido modificada a sua

estrutura fundiária nos últimos 20 anos, como indicam os dados censitários do IBGE.

Em 1985, as propriedades com área inferior a 10 hectares correspondiam a 85,4% do

total de estabelecimentos, vindo a cair para 48,4% em 2006, com um pequeno aumento

da área total, passando de 5,3% para 7,9% no período.O mesmo aconteceu com as

grandes propriedades, com 100 hectares e mais, que embora fossem menos de 10% dos

estabelecimentos em 1985 se apropriavam de 60,4% da área total dos estabelecimentos

agropecuários existentes no território, situação que se modificou substancialmente em

2006 quando caíram para 3,9% e 38,9%, respectivamente.

Já as médias propriedades, com grande presença da chamada agricultura

familiar, constituíam a metade dos estabelecimentos agropecuários do território do Alto

Sertão Sergipano em 1985 e detinham pouco mais de um terço das área total e passaram

a se apropriar de 53,2%, mesmo com uma pequena queda em relação ao total de

estabelecimentos (Tabela 40).

Tabela 40 – Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Alto Sertão Sergipano, por grupos de área total – 1985/2006 Estratos de área

(ha)

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

0 ___ 1 2005 2192 1333 1231 1306 768

1 ___ 2 1605 1399 919 2357 2033 1337

2 ___ 5 2120 1765 2222 6992 6062 7951

5 ___10 1671 1458 2216 12128 10800 16167

10 ___20 1547 1617 2716 21551 23353 40317

20 ___50 1951 2060 3199 63094 64819 90168

50___100 878 789 678 62683 56379 47152

100__200 480 364 320 67246 50786 44079

200__500 249 231 165 76760 70646 47219

500_1000 69 73 37 48914 51573 22954

1000 e mais 34 28 19 66511 57777 15220

Total 12609 11976 13824 429467 395534 333332

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44

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Nos últimos 20 anos, praticamente não se alterou o quadro de distribuição dos

estabelecimentos e área total segundo a categoria de produtor. Os proprietários

continuam a ser em maior número que os demais e a ter a quase totalidade das terras.

Em 2006, eram 84,7% dos detentores de estabelecimentos agropecuários, cuja área total

representava 93,5% das terras recenseadas, seguido dos ocupantes, com 14,6% e 6,4%,

respectivamente. Arrendatários e parceiros eram inexpressivos, do ponto de vista

estatístico (Tabela 41)

Tabela 41 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Alto Sertão Sergipano , segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Proprietário 73,2 97,2 77,9 97,9 84,7 93,5

Arrendatário 9,7 0,6 0,2 0,2 0,2 0,1

Parceiro 5,3 0,2 0,1 0,1 0,5 0,0

Ocupante 11,8 2,0 1,8 1,8 14,6 6,4

Total (Nº) 12.661 448.080 11.950 395.531 13.894 333.332

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Com relação às áreas média e mediana, o território do Alto Sertão Sergipano

apresentou no período 1985/2006 um decréscimo daquela e um crescimento desta

última: de 35,4 hectares em 1985 para 24,0 hectares em 2006 e de 6,72 hectares para

10,82 hectares, respectivamente.

Os arrendatários tiveram a área média de suas propriedades expandida de 2,0

hectares em 1985 para 7,5 em 2006, e a média das terras dos ocupantes passou de 6,2

hectares para 10,6 hectares, com as duas outras categorias tendo apresentado redução na

área média de seus estabelecimentos. Com exceção dos proprietários, todas as outras

categorias de produtores tiveram aumento da área mediana de suas propriedades, no

período analisado (Tabela 42).

Tabela 42 - Áreas média e mediana dos estabelecimentos agropecuários do

Território do Alto Sertão Sergipano , segundo a condição de produtor – 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Área média (ha) Área mediana

(ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 47,0 43,5 26,5 ... 13,56 11,60

Arrendatário 2,0 1,2 7,5 ... 0,62 15,00

Parceiro 1,4 1,6 1,4 ... 0,71 1,26

Ocupante 6,2 3,4 10,6 ... 1,18 7,43

Total 35,4 33,1 24,0 6,72 7,17 10,82

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Entre os oito territórios de planejamento de Sergipe, o do Alto Sertão Sergipano

foi o que apresentou o melhor desempenho no que diz respeito à democratização da

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45

posse da terra no estado. A concentração da terra muito forte demonstrada pelo índice

de Gini em 1985, com valor de 0,745, foi reduzida substancialmente para 0,589, o que

significa a passagem para um nível de concentração forte. Embora na pareça, essa

diminuição é muito importante para a dinâmica do quadro agrário do território, a se

observar que historicamente o poder dos latifundiários e grandes proprietários de terra

era praticamente imutável.

Atualmente, com o processo de democratização do acesso à terra provocado pela

política de assentamento do governo federal em parceria com o governo de Sergipe, nos

últimos 20 anos, já se pode notar um empoderamento das categorias de agricultores

familiares que, anteriormente, apenas tangencialmente tinham acesso às políticas

públicas, principalmente as de crédito rural e orientação técnica.

A existência de uma usina de beneficiamento de leite e derivados no

assentamento Barra da Onça, de propriedade dos próprios assentados e dirigida por

membros de suas associações e o papel que vem desempenhando a Cooperativa de

Reforma Agrária do Alto Sertão – COOPRASE, com acesso a mercados institucionais,

a exemplo do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e do Programa Nacional de

Biodiesel da Petrobrás – Pbio, são exemplos de modificações relevantes que estão em

curso no território e que apontam para uma melhoria de renda e das condições de vida

dos pequenos e médios agricultores que ali se encontram.

Como mostra a Tabela 43, o índice de Gini da concentração da terra em 2006

aponta o município de Monte Alegre como o de menor desigualdade na distribuição da

posse da terra dos estabelecimentos rurais, com valor igual a 0,481, o que significa

ocupar uma posição de concentração da terra média, na escala utilizada nesse trabalho.

Vem a seguir, Poço Redondo, com índice de Gini de 0,524, e Porto da Folha, com

índice no valor de 0,559. Canindé do São Francisco, a despeito dos assentamentos e

projetos de colonização implantados, a exemplo do Jacaré-Curituba, com mais de 700

famílias assentadas pelo INCRA, e parte de suas terras já dotadas de irrigação, e do

projeto irrigado Califórnia, criado por iniciativa do governo estadual, ainda é o

município do território do Alto Sertão que tem o maior nível de concentração da posse

da terra, vis-à-vis os demais municípios que o integram.

Tabela 43 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos municípios do

Território do Alto Sertão Sergipano – 1985/2006.

Municípios e Território

Índice de Gini

1985

1995 2006

Canindé do São Francisco 0,750 0,872 0,651

Gararu 0,749 0,711 0,618

Monte Alegre 0,605 0,690 0,481

Nossa Senhora da Glória 0,712 0,752 0,625

Nossa Senhora de

Lourdes

0,699 0,587 0,610

Poço Redondo 0,729 0,695 0,524

Porto da Folha 0,723 0,652 0,559

Território do Alto Sertão

Sergipano

0,745

0,727

0,589

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de 1985, 1995/96 e 2006.

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46

O índice de Gini calculado para cada uma das categorias de produtores definidas

pelo IBGE mostra que em todas elas houve uma desconcentração fundiária, com maior

intensidade no caso dos arrendatários e parceiros, cujos valores do índice de Gini

indicam uma fraca concentração da posse da terra. O valor do índice de Gini, no caso

dos estabelecimentos dos ocupantes, era de 0,610 em 1995 e caiu para 0,377 em 2006, a

indicar um quadro fundiário com concentração da terra em grau médio (Tabela 44).

Tabela 44 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra do Território do Alto

Sertão Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Proprietário ... 0,652 0,600

Arrendatário ... 0,424 0,262

Parceiro ... 0,462 0,286

Ocupante ... 0,610 0,377

Geral 0,745 0,727 0,589

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

3.7 - Território do Médio Sertão Sergipano

3.7.1 Características do território

Localizado no centro-norte de Sergipe e constituído por seis municípios -

Aquidabã, Cumbe, Feira Nova, Gracho Cardoso, Itabi e Nossa Senhora das Dores -, o

território ocupa uma área de 1.582 km² (7,2% da superfície estadual) e é habitado por

64.403 pessoas (3,1% da população total de Sergipe), das quais 70,8% vivem na zona

rural.(IBGE, 2010). Isso faz desse território um dos mais rurais entre os oito territórios

em que está dividido o estado de Sergipe, haja vista o seu baixo grau de urbanização

(apenas 30% da população mora nas cidades).

O território possui uma densidade demográfica de 40,7 hab./km² e IDH

Municipal que varia de 0,594 a 0,638 (PNUD, 2000). Segundo a SUPES (2010), em

2008, o Produto Interno Bruto somou R$ 320,7 milhões, menos de dois por cento do

PIB estadual.

A utilização das terras do território, em 2006, tinha nas pastagens a maior

participação na área total plantada, com 83%, vindo a seguir as lavouras temporárias de

milho, mandioca e feijão, que ocupavam, juntas, cerca de 10,8% da área explorada.

Esses três produtos eram responsáveis por quase 90% da área total ocupada por

lavouras e por 57% do VBP agrícola do território.

Também deve ser destacado a cana-de-açúcar que, apesar de ser a quarta maior

cultura em termos de área plantada, é a segunda em termos de VBP agrícola do

território (LIMA, 2008).

Na criação de animais, destaque para a pecuária bovina e criação de aves, além

da produção de leite e do mel.

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47

3.7.2 Distribuição da posse da terra e índice de Gini

Os resultados dos censos agropecuários realizados pelo IBGE nos últimos 20

anos mostram uma redução tanto do número de estabelecimentos como da área total das

propriedades existentes no território do Médio Sertão Sergipano.

Quando comparados os dados de 1985 e 2006, essa queda é da ordem de 40,4%

e 25,4%, respectivamente, entretanto, é importante notar que entre 1995 e 2006, ocorre

uma leve retomada do crescimento do número de estabelecimentos, embora com uma

redução de pouco mais de 10% em termos de área total (Tabela 45).

Tabela 45 –Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Médio Sertão Sergipano, por grupos de área total – 1985/2006

Estratos de área

(ha)

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

0 ___ 1 4775 1815 1416 2301 876 880

1 ___ 2 1031 697 731 1482 994 1058

2 ___ 5 1068 771 975 3498 2538 3157

5 ___10 801 541 776 5808 4299 5595

10 ___20 680 593 717 9957 8691 10284

20 ___50 775 631 702 24834 20142 21903

50___100 349 321 306 24607 22282 21926

100__200 181 197 120 25305 27547 23964

200__500 100 93 79 31351 27591 23785

500_1000 33 18 16 21741 12515 7896

1000 e mais 7 5 0 10698 12130 0

Total 9800 5732 5838 161582 139705 120448

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Como mostra a Tabela 46, dos seis municípios do território do Médio Sertão

Sergipano, os que perderam maior número de estabelecimentos no período foram

Aquidabã, Gracho Cardoso e Nossa Senhora das Dores, ao contrário de Feira Nova,

Itabi e Cumbe que apresentaram crescimento contínuo entre 1985 e 2006, sendo que

este foi o único a ter um leve crescimento em área total entre 1995 e 2006. Feira Nova,

que mostrou um aumento na área total das propriedades entre 1985 e 1995, voltou a ter

uma redução em 2006.

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48

Tabela 46 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários dos

municípios do Território do Médio Sertão Sergipano – 1985/2006. Municípios e

Território

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Aquidabã 4.286 1.338 1.486 33.733 27.811 23.972

Cumbe 691 559 815 16.351 10.942 11.660

Feira Nova 443 656 761 17.195 23.031 14.347

Gracho Cardoso 1.541 646 779 22.915 20.262 19.908

Itabi 629 550 598 19.316 16.041 13.899

Nossa Senhora das

Dores

2.210

1.983

1.399

52.073

41.618

36.662

Território do Médio

Sertão Sergipano

9.800

5.732

5.838

161.583

139.705

120.448

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

No que se refere à participação dos estabelecimentos segundo três estratos de

área total, observa-se, no território, uma diminuição sucessiva em número e área das

propriedades com menos de 10 hectares, contra um crescimento das médias

propriedades (entre 10 e 100 hectares). È importante destacar que, nesse estrato, as

propriedades com área entre 10 e 20 hectares, cuja principal característica é a

agricultura familiar, são as mais expressivas.

As grandes propriedades, com área igual ou superior a 100 hectares, desde 1985

vêm perdendo representatividade, seja em relação ao número como, principalmente, em

relação a área total dos estabelecimentos: de mais da metade.da área total das

propriedades existentes no território em 1985, passaram a deter, em 2006, cerca de

41,7%.

Como se pode ver na Tabela 47, a maioria das terras do território pertence a

proprietários, que em 2006 eram 95,4% dos produtores e detinham quase cem por cento

da área total dos estabelecimentos. A existência de parceiros, arrendatários e ocupantes

era pouco notada no meio rural do Médio Sertão Sergipano (Tabela 48).

Tabela 47 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Médio Sertão Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Proprietário 65,7 98,2 78,9 97,4 95,4 99,3

Arrendatário 28,7 1,2 8,7 0,4 1,3 0,1

Parceiro - - 0,1 0,1 0,1 -

Ocupante 5,6 0,5 12,3 2,1 3,2 0,6

Total (Nº) 9.506 161.610 5.732 139.705 5.838 120.448

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

A área média do território teve um aumento entre 1985 e 2006, passando de 17,0

hectares para 20,6 hectares, respectivamente, embora tenha caído entre 1995 e 2006.

Apenas no caso dos arrendatários observou-se um aumento da área média, o que pouco

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49

significa para o quadro fundiário do Médio Sertão Sergipano, haja vista a sua pouco

expressividade no conjunto dos produtores rurais, como já mencionado anteriormente.

Já no caso da área mediana, o território também teve um acréscimo, de 1,2 hectares em

1985 para 4,38 hectares dez anos depois, o mesmo acontecendo com as categorias de

produtores formadas por arrendatários e ocupantes (Tabela 48).

Tabela 48 - Áreas média e mediana dos estabelecimentos agropecuários do

Território do Médio Sertão Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Área média (ha) Área mediana

(ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 25,4 30,1 21,5 ... 5,99 4,17

Arrendatário 0,7 1,1 1,8 ... 0,62 1,25

Parceiro - 40,4 - ... 1,5 -

Ocupante 1,7 4,2 3,6 ... 0,68 0,95

Total 17,0 24,2 20,6 1,12 3,38 4,38

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

O território do Médio Sertão Sergipano, nos últimos 20 anos, apresentou uma

diminuição do índice de Gini, que reflete um leve, porém contínuo, processo de

desconcentração da posse da terra: de 0,820 em 1985, caiu para 0,771 em 1995 e,

novamente, em 2006, quando atingiu o valor de 0,725, o que pode ser considerado,

numa escala de medição do índice, indicador de uma concentração da terra ainda muito

forte (Tabelas 49).

Comprando-se os valores do índice de Gini encontrados para 1995 e 2006,

nota-se que apenas o município de Cumbe apresentou aumento do índice., ao contrário

de Aquidabã, Feira Nova, Gracho Cardoso, Nossa Senhora das Dores e Itabi, cuja

redução do índice de Gini, indica uma leve desconcentração na distribuição dos

estabelecimentos agropecuários nesse municípios (Tabela 50).

Tabela 49 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos municípios do

Território do Médio Sertão Sergipano – 1985/2006. Municípios e Território

Índice de Gini

1985

1995 2006

Aquidabã 0,804 0,683 0,658

Cumbe 0,870 0,834 0,837

Feira Nova 0,715 0,841 0,687

Gracho Cardoso 0,773 0,654 0,641

Itabi 0,623 0,668 0,595

Nossa Senhora das Dores 0,841 0,823 0,801

Território do Médio

Sertão Sergipano

0,820

0,771

0,725

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

A maior queda do índice de Gini ou da concentração ocorreu nas terras

pertencentes aos ocupantes, enquanto que no caso dos arrendatários a constatação foi

de uma piora no índice. Para os proprietários de terra, não houve alteração no valor do

índice entre 1995 e 2006, permanecendo o mesmo em 0,733 (Tabela 50).

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50

Tabela 50 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra do Território do

Médio Sertão Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Proprietário ... 0,733 0,733

Arrendatário ... 0,326 0,329

Parceiro ... 0,589 ...

Ocupante ... 0,777 0,599

Geral 0,820 0,771 0,725

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

3.8 - Território do Baixo São Francisco Sergipano

3.8.1 Características do território

Com uma área de 1.946 km² (8,9% da superfície estadual) e população de

125.193 habitantes (6% da população de Sergipe), dos quais 42% vivem no campo

(IBGE, 2010), o território do Baixo São Francisco está localizado no nordeste do

estado.

É formado por quatorze municípios, a saber: Amparo do São Francisco, Brejo

Grande, Canhoba, Cedro de São João, Ilha das Flores, Japoatã, Malhada dos Bois,

Muribeca, Neópolis, Pacatuba, Propriá, Santana do São Francisco, São Francisco e

Telha.

Sua densidade demográfica é de 64,33 hab./km², possui IDH Municipal que vai

de 0,550 a 0,684 (PNUD, 2000) e em 2008, seu Produto Interno Bruto foi da ordem de

R$ 793,1 milhões, correspondente a 4,1% do PIB estadual (SUPES, 2010).

Como de resto acontece nos demais territórios sergipanos, as pastagens

ocupavam, em 2006, a maior parte das terras exploradas do território do Baixo São

Francisco (66,4%), seguidas das lavouras temporárias, com 13,8% da área.

Além do arroz, tradicionalmente cultivado no território, principalmente nos

perímetros irrigados do Betume, Propriá e Cotinguiba-Pindoba, implantados pela

CODEVASF, destacam-se a cana-de-açúcar e a mandioca, com 26,3%, 13,8% e 12,8%,

respectivamente, em termos de ocupação de área, em 2006.

Segundo LIMA (2008), a importância da participação do cultivo do arroz na área

plantada do território cresceu de 18,6% em 1995 para 26,3% em 2006. Já a cana-de-

açúcar perdeu participação no mesmo período, caindo de 23,7% para 16,6%. Em

contrapartida, a mandioca, que vinha apresentando queda na área plantada, quase

dobrou sua área plantada, passando de 3.855 ha em 1995 para 6.250 em 2006.

Ressalte-se que, de forma recorrente, a rizicultura produzida nos perímetros

irrigados da CODEVASF vem sendo alvo de críticas, seja pelo pouco cuidado com a

manutenção dos equipamentos e da infraestrutura de irrigação de que se valem os

colonos para produzirem, seja pela dificuldade de beneficiamento e comercialização dos

grãos a preços que remunerem os custos de produção da cultura. As ingerências

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51

políticas, principalmente nos últimos anos, vêm interferindo negativamente na resolução

dos problemas enfrentados pelos pequenos irrigantes daqueles perímetros.

A pecuária bovina e a avicultura de corte, também são atividades agropecuárias

bastante difundidas no território.

3.8.2 - Distribuição da posse da terra e índice de Gini

A evolução da distribuição da estrutura fundiária do território do Baixo São

Francisco Sergipano mostra que desde 1985 o número de estabelecimentos

agropecuários, assim como a área total dos mesmos vem diminuindo. De pouco mais de

12 mil propriedades em 1985, esse número caiu para cerca de 7, 8 mil, enquanto que a

área total sofreu uma redução de 148, 3mil hectares para 102 mil hectares (Tabela 51).

Tabela 51 – Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Baixo São Francisco Sergipano, por grupos de área total – 1985/2006 Estratos de área

(ha)

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

0 ___ 1 5527 2318 1410 2813 1680 726

1 ___ 2 1823 1046 983 2611 1531 1418

2 ___ 5 2536 2182 2224 8715 7677 7644

5 ___10 949 1154 1349 6729 8752 9880

10 ___20 735 1080 891 10208 14332 12012

20 ___50 525 542 513 16718 17193 15623

50___100 235 221 217 16511 15818 14657

100__200 147 144 122 20315 20119 16286

200__500 103 97 73 30682 29709 18866

500_1000 14 19 16 8207 15459 5317

1000 e mais 11 3 5 24860 3604 0

Total 12605 8806 7803 148369 135874 102429

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

Tomando-se os dados dos censos de 1995 e 2006, observa-se que dos 14

municípios que formam o território apenas Propriá cresceu em termos de

estabelecimentos agropecuários e área total; Muribeca e Telha ganharam em termos de

aumento do número de propriedades e perderam em área, situação inversa ao do

município de Brejo Grande; e os demais municípios apresentaram diminuição tanto do

número de estabelecimentos agropecuários como da área total que ocupam (Tabela 52).

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52

Tabela 52 - Número e área total dos estabelecimentos agropecuários dos

municípios do Território do Baixo São Francisco Sergipano – 1985/2006. Municípios e

Territórios

Número de estabelecimentos Área dos estabelecimentos (ha)

1985

1995 2006 1985 1995

2006

Amparo de São

Francisco

357 159 90 4.284 4.023 2.373

Brejo Grande 1.660 735 411 10.124 9.359 9.412

Canhoba 1.136 581 537 19.602 17.536 12.929

Cedro de São João 625 337 290 8.050 6.072 5.429

Ilha das Flores 728 560 348 3.087 3.423 1.545

Japoatã 1.398 1.559 1.559 27.593 26.991 20.939

Malhada dos Bois 675 299 189 6.495 6.606 3.391

Muribeca 778 363 411 7.850 8.286 4.911

Neópolis 1.211 1.042 885 25.232 14.337 10.364

Pacatuba 2.085 2.009 1.937 19.504 19.770 15.134

Própria 1.451 690 715 5.386 4.982 5.537

Santana do São

Francisco

(*) 204 148 - 4.231 2.670

São Francisco 265 112 98 6.581 5.954 4.557

Telha 236 156 186 4.582 4.304 3.238

Baixo São Francisco

Sergipano

12.605

8.806

7.803

148.369

135.874

102.429

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

(*) O município só foi criado em 1989.

È importante observar que entre 1985 e 2006, foram os estabelecimentos

médios, com área entre 10 e 100 hectares, os que apresentaram melhor comportamento

no que diz respeito à evolução da distribuição da posse da terra: de uma participação de

11,9% no número total de estabelecimentos e de 37,8% na área total, passaram a

representar, 10 anos depois, um quinto das propriedades recenseadas no território e

41,3% da área total. As propriedades menores, com menos de 10 hectares, viram cair

sua participação no quadro geral fundiário do território do Baixo São Francisco

Sergipano: de 86,0% dos estabelecimentos e 12,4% da área total em 1985, para 76,4% e

19,2% em 2006, respectivamente. Já as grandes propriedades, com área igual ou

superior a 100 hectares, apesar de um pequeno aumento de participação em número

(2,2% para 2,8%), caíram de 49,8% para 39,5%, em termos de representatividade no

total da área).

Como acontece praticamente em todo o estado de Sergipe, os proprietários de

terra são maioria também no território do Baixo São Francisco Sergipano. Em 2006,

representavam 86,8% do total de produtores, seguido de longe por ocupantes,

arrendatários e parceiros, além de serem suas 96,6% do total das terras existentes no

meio rural, recenseadas pelo IBGE (Tabela 53).

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53

Tabela 53 - Número e área dos estabelecimentos agropecuários do Território do

Baixo São Francisco Sergipano, segundo a condição de produtor– 1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Estabeleci-

mentos

%

Área (ha)

%

Proprietário 62,1 94,4 70,9 92,5 86,8 96,6

Arrendatário 11,6 1,8 7,2 1,1 1,1 0,4

Parceiro 8,7 1,0 0,7 0,2 0,7 0,0

Ocupante 17,6 2,8 21,2 6,2 11,4 3,0

Total (Nº) 12.673 148.415 8.806 135.873 7.804 102.429

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

A área média dos estabelecimentos agropecuários do território, entre 1995 e

2006, como pode ser visto na Tabela 54, apresentou uma redução de 15,4hectares para

13,1 hectares, enquanto a área mediana aumentou de 3,43 hectares para 4,04 hectares,

dez anos depois. Entretanto, quando se observa o comportamento dessas medidas

estatísticas de tendência central por categoria de produtor, constata-se que no caso dos

arrendatários ocorreu um aumento contínuo da área média e da área mediana de suas

propriedades, ao contrário dos proprietários, parceiros e ocupantes (Tabela 54).

Tabela 54 - Áreas média e mediana dos estabelecimentos agropecuários do

Território do Baixo São Francisco Sergipano, segundo a condição de produtor –

1985/2006 Condição de

produtor

Ano

Área média (ha) Área mediana

(ha)

1985 1995 2006 1985 1995 2006

Proprietário 17,8 20,1 14,6 ... 4,49 4,26

Arrendatário 1,5 2,3 5,0 ... 0,64 3.83

Parceiro 1,3 4,0 0,4 ... 0,81 0,75

Ocupante 1,8 4,6 3,5 ... 2,50 2,28

Total 11,7 15,4 13,1 1,42 3,43 4,04

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

O Baixo São Francisco Sergipano, apesar de uma estrutura fundiária onde a

concentração da terra ainda se apresenta como muito forte, é um dos territórios com

menor desigualdade na distribuição da posse da terra dos estabelecimentos

agropecuários, ao contrário do que normalmente é dito. O cálculo do índice de Gini com

base nos dados dos três últimos censos, aponta para uma queda sucessiva da

concentração fundiária: de 0,823 em 1985 para 0,747 em 1995, e 0,682 em 2006. Entre

os oito territórios de planejamento do estado, só é superado pelo território do Alto

Sertão Sergipano, em termos de um quadro fundiário mais democrático no que tange à

apropriação das terras no meio rural sergipano (Tabela 55).

Todos os 14 municípios que formam o território tiveram reduzido o grau de

concentração fundiária nos últimos 20 anos, de forma ininterrupta. Ilha das Flores,

Cedro de São João e Própria são os municípios com menor índice de Gini em 2006,

enquanto Santana do São Francisco, Muribeca e Malhada dos Bois são aqueles onde se

constata a maior desigualdade na distribuição da posse das terras do território.

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Tabela 55 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra nos municípios do

Território do Território do Baixo São Francisco Sergipano – 1985/2006.

Municípios e Territórios

Índice de Gini

1985

1995 2006

Amparo de São Francisco 0,845 0,791 0,604

Brejo Grande 0,788 0,781 0,709

Canhoba 0,800 0,684 0,590

Cedro de São João 0,727 0,574 0,483

Ilha das Flores 0,413 0,374 0,216

Japoatã 0,800 0,757 0,714

Malhada dos Bois 0,825 0,740 0,724

Muribeca 0,843 0,768 0,748

Neópolis 0,881 0,650 0,541

Pacatuba 0,752 0,723 0,682

Própria 0,668 0,539 0,448

Santana do São Francisco - (*) 0,864 0,788

São Francisco 0,857 0,736 0,678

Telha 0,841 0,755 0,631

Território do Baixo São

Francisco Sergipano

0,823

0,747

0,682

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

(*) O município só foi criado em 1989.

No que diz respeito ao índice de Gini da posse da terra por categoria de

produtor, observa-se que entre 1995 e 2006 ele apresentou queda, tanto em relação aos

estabelecimentos agropecuários pertencentes aos proprietários como em relação aos

demais. Chama-se atenção para a redução de 0,807 do índice para 0,682 ocorrida na

categoria de proprietários, a demonstrar uma melhor distribuição de suas propriedades;

as ouras categorias, dada sua pouco expressividade no conjunto dos produtores, não é

relevante (Tabela 56).

Tabela 56 - Índice de Gini da distribuição da posse da terra dos municípios do

Território do Baixo São Francisco Sergipano, segundo a condição de produtor–

1985/2006 Condição de

produtor

Ano

1985 1995 2006

Proprietário ... 0,807 0,682

Arrendatário ... 0,571 0,510

Parceiro ... 0,694 0,041

Ocupante ... 0,481 0,440

Geral 0,823 0,747 0,682

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de Sergipe – 1985, 1995/96 e 2006.

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55

4 - CONCLUSÕES

A diminuição do número e da área dos estabelecimentos agropecuários de

Sergipe e de seus territórios de planejamento, nos últimos 20 anos, é reflexo do

processo de urbanização inerente ao modo de produção capitalista, ou melhor, próprio

do desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção, traduzido na

chamada modernização conservadora da agricultura brasileira, que vem acontecendo no

país desde meados dos anos 1960.

Impossibilitados de fazer frente aos desafios impostos pelas inovações

tecnológicas e mudanças nos padrões dos processos produtivos em curso – que exigem

não somente melhor qualificação/capacitação da força de trabalho, mas, um volume

cada vez maior de capital, muitos agricultores desistem de continuar na atividade, além

de verem seus filhos optarem por sair do campo em direção às cidades, onde procurarão

ocupação nos setores industriais, comerciais e de serviços.

No caso de Sergipe, especificamente, por ser um estado pequeno, com superfície

territorial diminuta, nem mesmo a tentativa de “industrialização do campo”, com a

implantação de indústrias de calçados, cerâmica e têxtil, para ficar somente nesses

exemplos, tem sido capaz de estancar o processo de migração campo-cidade, que

historicamente se faz presente na paisagem rural do estado.

A concentração da terra no meio rural sergipano ainda permanece muito forte,

porém com uma redução significativa entre 1985 e 2006.

Dos oito territórios de planejamento em que está dividido regionalmente o

estado, o Alto Sertão Sergipano e o Baixo São Francisco são aqueles onde a

concentração da terra é menos intensa, ou dito de outra maneira, onde a distribuição da

posse da terra é mais igualitária, ao contrário dos territórios da Grande Aracaju, Centro-

Sul e Leste Sergipano, cujo índice de Gini em 2006 apresenta os valores mais elevado:

0,846, 0,776 e 0,774, acima, inclusive, do encontrado para o estado (0,754).

Importante nesse processo foi a mudança na proporção dos pequenos

estabelecimentos agropecuários vis-à-vis os grandes, em parte decorrente da

implantação de assentamentos rurais do INCRA e de projetos de irrigação do governo

estadual no Território do Alto Sertão Sergipano.

Por outro lado, também a merece destaque a reconcentração de terras em alguns

municípios do território do Centro-Sul Sergipano, principalmente Lagarto, Poço Verde,

Simão Dias e Tobias Barreto, com a incorporação de áreas até então exploradas com

laranja e a substituição de culturas de subsistência como o feijão por grandes plantações

de milho, cuja produção tem como destino o abastecimento das granjas avícolas de

Pernambuco.

A reconcentração de terras no polo citricultor de Sergipe acontece devido à

grave crise na produção de citrus, principalmente da laranja, que se arrasta por mais de

uma década, o que tem levado muitos agricultores familiares da Colônia Treze, em

Lagarto, a se desfazerem de suas propriedades, vendendo-as a proprietários de terra com

maior capital ou às indústrias processadoras de suco concentrado da laranja, que têm

expandido suas áreas de plantio como forma de aumentar ainda mais o controle sobre o

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56

mercado de frutas e da determinação dos preços a serem pagos ao produtor, geralmente

muito aquém dos custos de produção.

No período 1985 a 2006, os territórios do Sul Sergipano, Centro-Sul, Agreste

Central e Alto Sertão são os que possuem o maior número de estabelecimentos e

ocupam a maior parte das terras do estado. Em 2006, respondiam, em conjunto, por

mais de dois terços do total de estabelecimentos agropecuários do estado e detinham

73,7% da área total recenseada.

Em Sergipe, conforme procuramos mostrar, no período 1985/2006, há uma clara

tendência de redução da participação dos estabelecimentos agropecuários com menos de

10 hectares no total de estabelecimentos recenseados no estado:: de 80,1% em 1985 ela

cai para 78,4% em 1995/96 e chega a 76,8% em 2006, o mesmo acontecendo com a

proporção dos estabelecimentos com mais de 100 hectares, que diminui de três para

2,5% em relação ao número total de estabelecimentos,no período considerado. É preciso

levar em conta, todavia, que as propriedades com área entre cinco e 10 hectares têm

crescido ao longo do período, quando se observa com maior acuidade a evolução dos

estabelecimentos agropecuários incluídos naquele intervalo de área total.

Contrastando com essa situação, as propriedades com área entre 10 e 100

hectares têm sua participação aumentada, passando de 16,9% em 1985 para 18,4% em

1995/96, e chegando a 20,6% em 2006, principalmente entre os estabelecimentos com

área entre 10 e 20 hectares.

Note-se que nessa faixa, juntamente com a dos estabelecimentos entre e cinco e

10 hectares, encontra-se a grande maioria dos agricultores familiares com potencial para

incorporarem inovações tecnológicas e se desenvolverem econômica e socialmente -

muitos deles em lotes distribuídos a agricultores em terra pela reforma agrária ou

política de assentamentos rurais, em perímetros irrigados e em unidades produtivas

disseminadas nas zonas rurais dos oito territórios de planejamento de Sergipe.

No que diz respeito à área apropriada, a participação dos estabelecimentos

segundo as três faixas de área consideradas, em 2006, é de 13,2% para os

estabelecimentos com área inferior a 10 hectares, 4,1% para os que têm entre 10 e 100

hectares e 45,6% para os maiores de 100 hectares.

Apesar de representarem mais de dois terços do total de estabelecimentos

recenseados em Sergipe em 2006, os estabelecimentos com área menor que 10 hectares

ficam com apenas 13,2% do total, em contrapartida, as grandes propriedades, com mais

de 100 hectares, embora sejam apenas 2,5% do total de estabelecimentos, detêm quase

metade de todas as terras do estado. Daí a razão da ainda alta concentração existente na

distribuição da posse da terra em Sergipe.

Outro aspecto observado quanto à questão da estrutura fundiária diz respeito a

um processo de reconversão produtiva que vem sendo observado no território do Baixo

São Francisco, com o: retorno do plantio de cana-de-açúcar em substituição à

fruticultura irrigada no Platô de Neópolis, formado por áreas dos municípios de Japoatã,

Própria e Neópolis. Por sua vez, a substituição da produção de alimentos pela cana no

Vale do Cotinguiba vem ocorrendo, inclusive, em assentamentos de reforma agrária, em

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57

que assentados estão se transformando em fornecedores de cana para as agroindústrias

sucroalcooleiras existentes na região.

Sobre eventuais interfaces entre o grau de concentração da terra e a produção de

alimentos, por um lado, e entre o grau de concentração da terra e a pobreza rural, por

outro, longe de permitirem afirmações ou análises conclusivas sobre possíveis relações

de causa e efeito, mostraram quão equivocada é associar de forma acrítica e automática

essa variáveis. Assim como nem sempre um elevado índice de Gini na distribuição da

posse da terra significa uma menor produção de alimentos, a constatação de uma

concentração de terra muito elevada não implica, necessariamente, na existência de um

nível de pobreza rural alto.

Territórios como os do Centro-Sul Sergipano, Agreste Central e Sul Sergipano,

apesar de forte presença de agricultores familiares dedicados à produção de alimentos,

demonstraram um padrão de concentração de terra muito forte. O fato de também

apresentaram um nível alto de pobreza rural, não nos permite afirmar, sem o

aprofundamento de pesquisas mais detalhadas, que o determinante dessa situação é a

existência da elevada desigualdade na distribuição da terra.

Por outro lado, os territórios do Alto Sertão Sergipano e do Baixo São Francisco,

considerados tratados pelo senso comum como de alta concentração fundiária e índice

de pobreza rural elevado, à luz das pesquisas realizadas5 se mostraram com melhor

escore tanto em relação à concentração fundiária como no grau de pobreza rural, quando

comparados aos demais territórios, principalmente àqueles onde a modernização das

atividades agrícolas é mais evidente, ou seja, nos territórios do Centro-Sul e Sul

Sergipanos.

Em síntese, o que se quer chamar atenção é para o cuidado em fazer

generalizações sobre relações entre variáveis, que somente o estudo profundo de cada

caso poderá indicar serem ou não verdadeiras.

Modificações estão ocorrendo na estrutura de posse da terra em Sergipe, seus

territórios de planejamento e municípios, de forma gradativa e com nuances, a indicar

uma melhoria na estrutura fundiária, haja vista a redução da concentração da terra no

meio rural sergipano.

O índice de Gini da posse da terra em Sergipe, e da quase totalidade dos seus

territórios de planejamento, ainda aponta na direção de uma concentração da terra muito

forte, porém com alguns territórios e municípios dando sinais de possível redução nos

próximos anos, a depender da intensidade e da magnitude das políticas públicas

orientadas para um maior alcance na democratização do acesso à terra.

5 Ver OLIVEIRA, Kleber Fernandes (2008) e SEPLAG/SEIDES/SETRAB (2011).

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