elaboração mapa potenciometrico

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Revista Brasileira de Geociências 42(Suppl 1): 142-153, dezembro de 2012 142 Arquivo digital disponível on-line no site www.sbgeo.org.br Resumo As águas subterrâneas desempenham um papel fundamental no ciclo da água na região Amazônica e constituem uma reserva expressiva de boa qualidade, podendo ser utilizadas para diversos fins. As informações hidrogeológicas em tal região são ainda muito escassas, restringindo-se apenas aos aquíferos dos depósitos do Cenozoico (formações Solimões e Alter do Chão), com estudos concentrados particularmente nas regiões de Manaus, no Amazonas, e de Belém, no Pará. Dessa forma, são necessários estudos hidrogeológicos sistemáticos que permitam caracterizar os aquíferos quanto à geometria, à produtividade, às condições de recarga, entre outros, possibilitando aperfeiçoar a explotação e o uso da água subterrânea, de modo a garantir sua sustentabilidade. O presente trabalho, desenvolvido na Província Petrolífera de Urucu, município de Coari, estado do Amazonas, teve como objetivo a caracterização hidrogeológica do Sistema Aquífero Içá-Solimões. O estudo revelou que este sistema possui espessura média de 50 m, com superfície convexa, revelada por meio do mapa de isóbatas. O fluxo da água subterrânea é em direção ao Rio Urucu (SSE/NNW), concordante com a superfície topográfica. Os valores médios de transmissividade, coeficiente de armazenamento e condutividade hidráulica foram de 3 x 10 -3 m 2 /s, 5 x 10 -4 e 1 x 10 -4 m/s, respectivamente. Concluiu-se que se trata de um aquífero do tipo livre-confinado, apresentando um bom potencial de explotação, sendo utilizado para abastecimento da província. Palavras-chave: caracterização hidrogeológica; Sistema Aquífero Içá-Solimões; água subterrânea. Abstract Hydrogeological and geometric characterization of the Iça and Solimões Formations in Urucu area, Amazonas state. Groundwater has a fundamental role in the water cycle in the Amazon region and constitutes a significant good-quality reserve of water, which can be used for various purposes. The hydrogeological information of this region are still very scarce, being restricted only to the aquifers of the Cenozoic deposits (Solimões and Alter do Chão Formations), with studies particularly concentrated in the region of Manaus, Amazonas State, and Belém, in Pará State. Thus, systematic studies are needed for analysis of the hydrogeological conditions, in order to optimize the exploitation and use of groundwater to ensure sustainability, as well as to characterize the aquifer geometry, productivity, recharge conditions, among others. This research was performed in Urucu Oil Province, Coari county, State of Amazonas, Brazil. The main objective was the hydrogeological characterization of the Içá-Solimões Aquifer System. The study showed that this system has a 50-meter average thickness, with a convex shaped geometry as revealed by isobaths mapping. The potentiometry showed that the behavior of the groundwater flow is consistent with the topographic surface, coming toward the river Urucu. The following average values of hydrogeological parameters were observed: transmissivity = 3 x 10 -3 m 2 /s, storage coefficient = 5 x 10 -4 , and hydraulic conductivity = 1 x 10 -4 m/s. It was concluded that this is an aquifer of the unconfined-confined type, which presents a good potential for exploitation, being already used by the province. Keywords: hydrogeologic characterization; Içá-Solimões Aquifer System; groundwater. 1 Universidade de São Paulo - USP, São Paulo (SP), Brasil. E-mail: [email protected] 2 Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Recife (PE), Brasil. E-mail: [email protected] 3 Universidade Federal do Pará - UFPA, Belém (PA), Brasil. E-mails: [email protected], [email protected] 4 Centro de Pesquisas e Desenvolvimento/Petrobrás - CENPES, Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: [email protected] *Autor correspondente INTRODUÇÃO O trabalho foi desenvolvi- do na Base Operacional Geólogo Pedro de Moura (BOGPM), na Província Petrolífera de Urucu, mu- nicípio de Coari, situado a 650 km a Sudoeste de Manaus (Fig. 1), capital de Amazonas, no Brasil. A área de estudo está inserida na bacia sedimen- tar paleozoica do Solimões, que ocupa uma área de 948.600 km 2 (Barata & Caputo 2006). As unidades estratigráficas enfocadas foram as formações cretá- ceas Içá e Solimões. Este trabalho fez parte do proje- to “Caracterização Hidrogeológica para o Uso Sustentável da Água Subterrânea na BOGPM”, fru- to de uma parceria entre a Petrobras, a Universidade Hidrogeologia e geometria dos aquíferos das formações cretáceas Içá e Solimões, Bacia Paleozoica do Solimões, na região de Urucu, Amazonas Paulo Henrique Ferreira Galvão 1 *, José Geilson Alves Demétrio 2 , Eliene Lopes de Souza 3 , Cleane do Socorro da Silva Pinheiro 3 , Marcus Paulus Martins Baessa 4

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  • Revista Brasileira de Geocincias 42(Suppl 1): 142-153, dezembro de 2012

    142 Arquivo digital disponvel on-line no site www.sbgeo.org.br

    Resumo As guas subterrneas desempenham um papel fundamental no ciclo da gua na regio Amaznica e constituem uma reserva expressiva de boa qualidade, podendo ser utilizadas para diversos fins. As informaes hidrogeolgicas em tal regio so ainda muito escassas, restringindo-se apenas aos aquferos dos depsitos do Cenozoico (formaes Solimes e Alter do Cho), com estudos concentrados particularmente nas regies de Manaus, no Amazonas, e de Belm, no Par. Dessa forma, so necessrios estudos hidrogeolgicos sistemticos que permitam caracterizar os aquferos quanto geometria, produtividade, s condies de recarga, entre outros, possibilitando aperfeioar a explotao e o uso da gua subterrnea, de modo a garantir sua sustentabilidade. O presente trabalho, desenvolvido na Provncia Petrolfera de Urucu, municpio de Coari, estado do Amazonas, teve como objetivo a caracterizao hidrogeolgica do Sistema Aqufero I-Solimes. O estudo revelou que este sistema possui espessura mdia de 50 m, com superfcie convexa, revelada por meio do mapa de isbatas. O fluxo da gua subterrnea em direo ao Rio Urucu (SSE/NNW), concordante com a superfcie topogrfica. Os valores mdios de transmissividade, coeficiente de armazenamento e condutividade hidrulica foram de 3 x 10-3 m2/s, 5 x 10-4 e 1 x 10-4 m/s, respectivamente. Concluiu-se que se trata de um aqufero do tipo livre-confinado, apresentando um bom potencial de explotao, sendo utilizado para abastecimento da provncia.

    Palavras-chave: caracterizao hidrogeolgica; Sistema Aqufero I-Solimes; gua subterrnea.

    Abstract Hydrogeological and geometric characterization of the Ia and Solimes Formations in Urucu area, Amazonas state. Groundwater has a fundamental role in the water cycle in the Amazon region and constitutes a significant good-quality reserve of water, which can be used for various purposes. The hydrogeological information of this region are still very scarce, being restricted only to the aquifers of the Cenozoic deposits (Solimes and Alter do Cho Formations), with studies particularly concentrated in the region of Manaus, Amazonas State, and Belm, in Par State. Thus, systematic studies are needed for analysis of the hydrogeological conditions, in order to optimize the exploitation and use of groundwater to ensure sustainability, as well as to characterize the aquifer geometry, productivity, recharge conditions, among others. This research was performed in Urucu Oil Province, Coari county, State of Amazonas, Brazil. The main objective was the hydrogeological characterization of the I-Solimes Aquifer System. The study showed that this system has a 50-meter average thickness, with a convex shaped geometry as revealed by isobaths mapping. The potentiometry showed that the behavior of the groundwater flow is consistent with the topographic surface, coming toward the river Urucu. The following average values of hydrogeological parameters were observed: transmissivity = 3 x 10-3 m2/s, storage coefficient = 5 x 10-4, and hydraulic conductivity = 1 x 10-4 m/s. It was concluded that this is an aquifer of the unconfined-confined type, which presents a good potential for exploitation, being already used by the province.

    Keywords: hydrogeologic characterization; I-Solimes Aquifer System; groundwater.

    1Universidade de So Paulo - USP, So Paulo (SP), Brasil. E-mail: [email protected] Federal de Pernambuco - UFPE, Recife (PE), Brasil. E-mail: [email protected] Federal do Par - UFPA, Belm (PA), Brasil. E-mails: [email protected], [email protected] de Pesquisas e Desenvolvimento/Petrobrs - CENPES, Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: [email protected]*Autor correspondente

    INTRODUO O trabalho foi desenvolvi-do na Base Operacional Gelogo Pedro de Moura (BOGPM), na Provncia Petrolfera de Urucu, mu-nicpio de Coari, situado a 650 km a Sudoeste de Manaus (Fig. 1), capital de Amazonas, no Brasil. A rea de estudo est inserida na bacia sedimen-tar paleozoica do Solimes, que ocupa uma rea de

    948.600 km2 (Barata & Caputo 2006). As unidades estratigrficas enfocadas foram as formaes cret-ceas I e Solimes.

    Este trabalho fez parte do proje-to Caracterizao Hidrogeolgica para o Uso Sustentvel da gua Subterrnea na BOGPM, fru-to de uma parceria entre a Petrobras, a Universidade

    Hidrogeologia e geometria dos aquferos das formaes cretceas I e Solimes, Bacia Paleozoica do Solimes, na regio de Urucu, Amazonas

    Paulo Henrique Ferreira Galvo1*, Jos Geilson Alves Demtrio2, Eliene Lopes de Souza3, Cleane do Socorro da Silva Pinheiro3, Marcus Paulus Martins Baessa4

  • Paulo Henrique Ferreira Galvo et al.

    Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012 143

    Formao I como a Solimes. Assim, devido difi-culdade de separar litologicamente essas duas forma-es, tendo em vista as semelhanas observadas entre ambas, os autores assumiram que o intervalo de ocor-rncia do primeiro aqufero insere-se, pelo menos em parte, no domnio da Formao I.

    A caracterizao dos aquferos do Sistema I-Solimes, na BOGPM, representa uma contribuio para o conhecimento hidrogeolgico na regio Norte do Brasil, particularmente na Regio Hidrogrfica Amaznica (MMA 2006), onde as pesquisas sobre guas subterrneas so ainda incipientes e concentra-das nos aquferos da Formao Alter do Cho (Aguiar et al. 2002, Souza & Verma 2006, Tancredi 1996).

    Federal do Par (UFPA) e a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Para os aquferos estuda-dos, adotou-se a denominao Sistema Aqufero I-Solimes, do tipo livre-confinado, utilizada por Souza et al. (2011). Foi tida como base a interpre-tao de dados geolgicos disponibilizados pela Petrobras, associados a levantamentos hidrogeolgi-cos de campo desenvolvidos no mbito desse mes-mo projeto. Segundo os mesmos autores, a opo de acrescentar o termo I, ao denominado Sistema Aqufero Solimes (ANA 2007), deveu-se, primei-ramente, ao fato de na regio de Urucu o topo do primeiro aqufero ocorrer em profundidades varian-do entre 20 a 30 m, zona onde pode ocorrer tanto a

    24000 mE

    9465

    000

    mS

    9462

    500

    mS

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    256000 mE 264000 mE 272000 mE

    PT-21

    N

    N

    PT-20 PT-30PT-29PT-19

    PT-18PT-17PT-16

    PT-15PT-25

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    PT-31

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    PT-34

    PT-24

    BOGPM

    Braslia

    Manaus

    Provncia Petrolferade Urucu

    BOGPM

    PooEstradareasOcupadas

    PooEstradareasOcupadas

    PT-08

    PT-06PT-33

    PT-41PT-40PT-07

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    PT-05PT-02 PT-27

    PT-01

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    N

    PT-13

    24400 mE

    LEGENDA

    LEGENDA

    24800 mE

    N

    Figura 1 Localizao da provncia petrolfera de Urucu. As reas ocupadas so constitudas por alojamentos, depsito e polo industrial Arara.

  • Hidrogeologia dos aquferos I e Solimes

    144 Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012

    ESTUDOS ANTERIORES No estado do Ama-zonas, estudos sobre guas subterrneas so mui-to escassos. De acordo com Aguiar et al. (2002), em Manaus, o aqufero livre Alter do Cho tem es-pessura aproximada de 200 m, dos quais 175 m es-to saturados. Para porosidade efetiva de 15% e rea de ocorrncia de 400 km2, a reserva perma-nente para esse aqufero foi estimada em 10 km3. Ainda em Manaus, Souza & Verma (2006) mape-aram os aquferos da Formao Alter do Cho in-tegrando dados da perfilagem geofsica de poos, sondagem eltrica vertical e informaes litolgi-cas de amostragem de calha. O estudo mostrou f-cies sedimentares arenosa, argilosa, arenoargilosa e o Arenito Manaus depositados em ambiente flu-vial e fluviodeltaico. Foram identificadas duas zo-nas aquferas: a primeira situa-se nos 50 m iniciais do perfil e a segunda entre 50 e 290 m de profun-didade; nesta, os corpos arenosos so mais espes-sos e possuem maior continuidade lateral, apresen-tando elevado potencial aqufero, sendo captada por poos cuja vazo pode ser prxima dos 300 m3/h. A pesquisa estimou que 32.500 km3 de gua pode-riam ser explotados por meio desses poos.

    No municpio de Santarm, no estado do Par, destaca-se o estudo realizado por Tancredi (1996), que avaliou, entre outros aspectos, as reser-vas de gua subterrnea no sistema hidrogeolgico da Formao Alter do Cho. Nesse sistema ocorrem aquferos confinados de espessuras que perfazem 430 m, intercalados a aquicludes e/ou aquitardes. Essa pesquisa mostrou que as reservas de gua subter-rnea so expressivas, com volumes de 226 x 106 m3

    para a reguladora e de 86.550 x 106 m3 para a perma-nente. Estudos comparativos mostraram que os cus-tos de explorao unitria da gua subterrnea de Santarm esto compreendidos entre 38,4 a 42,5% daquele de explotao unitrio da gua superficial de Manaus, e entre 64,5 a 71,3% do custo unit-rio de explotao da gua superficial de Oriximin, no estado do Par. No que se refere ao coeficien-te de armazenamento (S), o valor mximo obtido por Tancredi (1996) foi de 4,1 x 10-4 e o mnimo de 3,3 x 10-4; para a condutividade hidrulica (K), o mximo e o mnimo foram de 18,8 e 4,6 m/dia, respectivamente.

    OBJETIVOS O trabalho teve como objetivo princi-pal a caracterizao dos aquferos das formaes I e Solimes, na Provncia Petrolfera de Urucu. Por

    sua vez, os objetivos especficos visaram determinar as condies de presso, a espessura, a extenso, os parmetros hidrodinmicos e a potenciometria de tais aquferos na BOGPM, contribuindo para o uso ecoe-ficiente e integrado das guas subterrneas nessa rea.

    MATERIAIS E MTODOS Inicialmente, junto Petrobras, fez-se um levantamento dos dados exis-tentes, como base cartogrfica, mapas de localizao, sondagens percusso, perfis construtivos, litolgi-cos e geofsicos (resistncia eltrica, potencial espon-tneo e raios gama) dos poos de captao de gua, localizados na BOGPM. Esta empresa tambm dis-ponibilizou perfis dos poos de captao de leo, dos quais foram obtidas informaes sobre litologia e ge-ofsica (resistncia eltrica, potencial espontneo e raios gama) at a profundidade de 465 m.

    Alm dos levantamentos das informaes pre-existentes, foram executados, no mbito do projeto, trs sondagens estratigrficas, STG-01, STG-02 e STG-03, com 300, 330 e 150 m de profundidade, res-pectivamente. Durante a perfurao, foram coletadas e descritas amostras de calha, a cada metro perfura-do; ao trmino de cada sondagem, foram realizadas perfilagens geofsicas raios gama, resistncia eltri-ca e potencial espontneo.

    A integrao dos dados obtidos permitiu con-feccionar sees hidrogeolgicas esquemticas da Provncia de Urucu, assim como mapas de isbatas e ispacas. Na elaborao dessas sees e mapas, fo-ram utilizados poos com perfis litolgicos e geof-sicos com mais de 100 m de extenso, permitindo informaes mais abrangentes da melhor sucesso li-tolgica. Portanto, foi possvel determinar as profun-didades das primeiras ocorrncias do aqufero (para o mapa de isbatas) e as espessuras totais das camadas arenosas (para o mapa de ispacas). Na determina-o das cotas topogrficas dos locais dos poos, utili-zou-se o programa Global Mapper 8 (Global Mapper Software, LLC, USA), que, por meio de uma imagem SRTM (Shuttle Radar Topographic Mission), possi-bilitou gerar as informaes de declividade e as cotas dos terrenos, em metros.

    Na elaborao do mapa potenciomtrico foram utilizadas medidas de nvel esttico (NE), por meio de um medidor eltrico de nvel dgua, em duas eta-pas: a primeira foi realizada de seis a sete de julho de 2008, em poca de seca, coletando-se dados dos n-veis de 18 poos tubulares; a segunda ocorreu em 22 de maio de 2009, em poca de chuvas, medidas em

  • Paulo Henrique Ferreira Galvo et al.

    Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012 145

    24 poos. Os dados de nivelamento e Datum SAD 69 de cada poo foram cedidos pela Petrobras. As coor-denadas X e Y, elevao do terreno, cota da boca do poo e medidas de NE foram organizadas em uma planilha Microsoft Office Excel 2007 e, posterior-mente, transferidas para o programa Surfer 8 (Golden Software, USA), visando elaborao dos mapas de contorno potenciomtrico, cujo refinamento grfico foi realizado com o programa CorelDraw X3. Foram elaborados mapas que abrangem toda a BOGPM e incluindo apenas as reas do Polo Arara, dos aloja-mentos e do aeroporto, nos perodos de julho de 2008 e maio de 2009. Construiu-se, ainda, um mapa de va-riao da carga hidrulica, nos mesmos meses.

    Para determinar os parmetros hidrodinmicos (coeficiente de armazenamento S, condutividade hidrulica K e transmissividade T) dos aquferos identificados na BOGPM, foram realizados dois tes-tes de aqufero, os quais consistiam em bombear um poo com vazo constante Q e acompanhar a evolu-o dos rebaixamentos produzidos em um (ou mais de um) poo de observao, situado a uma distncia r qualquer daquele que estava sendo bombeado.

    Os poos bombeados para os dois testes foram o PT-40 e o PT-16 (Fig. 1). O teste no PT-40 teve du-rao de 24 horas (1.440 minutos), com as distn-cias dos poos de observao PTs 01, 02, 33 e 41 de 82,5; 75,7; 100,5 e 40 m, respectivamente. A vazo utilizada para o teste foi de 60 m3/h. O valor da es-pessura mdia do aqufero considerado foi de 50 m. Para o teste de aqufero no poo PT-16, foram obser-vados os nveis nos PT-17 e 18, situados a 32 e 67 m de distncia, respectivamente. Entretanto, tendo em vista que os poos de observao so utilizados para abastecer um alojamento, eles necessitam ser ligados com frequncia. Desse modo, tal teste teve durao de apenas quatro horas, e seu resultado foi utilizado, sobretudo, para fins de comparao com aquele obti-do no teste do PT-40. A vazo do teste foi de 12 m3/h e a espessura mdia adotada para o aqufero na rea foi tambm de 50 m, obtida pela interpretao da se-o geolgica.

    Para a medio do NE e acompanhamento da evoluo dos nveis dinmicos (ND), foram utiliza-dos medidores eltricos com graduao milimtri-ca, enquanto que para a medio e o controle de va-zo foi utilizado um medidor ultrassnico (Portaflow 300, da Micronics, USA). A partir de ambos os tes-tes foi possvel determinar os parmetros hidrogeo-lgicos do Sistema Aqufero I-Solimes na rea

    estudada. Embora este sistema seja do tipo livre-con-finado (Souza et al. 2011), nos dois testes realizados, as curvas rebaixamento versus tempo no evidencia-ram feies de recarga, compatveis com as zonas confinadas do Sistema. Logo, os resultados foram in-terpretados pelos mtodos de Theis (1935) e Cooper-Jacob (1946) para aquferos confinados no drenan-tes, em regime transiente.

    CONTEXTO GEOLGICO DA REA A BOGPM est inserida na bacia sedimentar do Solimes, cujo limite com a do Amazonas realiza-do por meio do Arco de Purus, como observado na Fig. 2 (Eiras et al. 1994).

    A Bacia do Solimes foi implantada em ro-chas cristalinas e sedimentares proterozoicas da Provncia Amaznia Central, sendo subdividida em sub-bacia de Jandiatuba, a Oeste, e do Juru, a Leste, separadas pelo Alto de Carauari. A sequncia sedi-mentar compreende Tercirio, Cretceo, Permiano, Carbonfero, Devoniano, Siluriano e Ordoviciano (Vieira et al. 2005). Evidencia mltiplos eventos de regresso e transgresso marinhas, ligados a proces-sos de subsidncia e soerguimento, sendo marcada pela zona de megacisalhamento do Solimes, com um sistema de falhas e dobras com direo N70-80E, em uma distncia de quase 1.000 km (Caputo & Silva 1991). As principais caractersticas das formaes de depsitos do Cenozoico (formaes Solimes e I), que so objetos deste estudo, esto descritas a seguir e na Fig. 3. Embora a hidrogeolo-gia da Formao Alter do Cho no seja enfocada neste trabalho, suas caractersticas gerais tambm so descritas, tendo em vista o seu interesse para o conhecimento das guas subterrneas da regio.

    700000 mE 400000 mE

    6500

    00 m

    N87

    0000

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    ESCUDOS DAS GUIANAS

    ESCUDOS BRASILEIRO

    Bacia do AmazonasManausCoariProvncia Petrolfera

    de Urucu

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    Bacia dosSolimesBacia

    do Acre

    Figura 2 Localizao da Bacia do Solimes (modificado de Oliveira 2010).

  • Hidrogeologia dos aquferos I e Solimes

    146 Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012

    Formao I Consiste de arenitos finos a mdios e siltitos, localmente com conglomerados argilosos e co-loraes amarelo-avermelhadas (Nogueira et al. 2003). Sobrepe-se discordantemente Formao Solimes.

    Formao Solimes Litologicamente, a Formao Solimes foi definida como uma sucesso de pelitos de cor cinza claro e cinza esverdeado, macios e lamina-dos, com linhitos intercalados em camadas de 2 a 10 m de espessura, e arenitos finos a grossos, subangulares a subarredondados (Caputo 1984). As associaes espo-ropolnicas permitem o estabelecimento de trs zonas palinolgicas, correspondendo ao Mioceno, Mioceno/Plioceno e Plioceno, sendo sugeridos um ambiente de-posicional fluvial meandrante fino e alguns lagos for-mados por canais abandonados (Cruz 1987).

    Formao Alter do Cho Termo aplicado aos areni-tos grossos, friveis e de cores variadas, que recobrem

    os estratos paleozoicos da Bacia do Amazonas (Caputo et al. 1971, 1972). Na Bacia do Solimes, a Formao Alter do Cho interpe-se em discordncia angular entre o Grupo Tef e a Formao Solimes. Na ausncia de dataes nesta bacia, a idade da par-te superior da Formao Alter do Cho estimada como sendo neocretcea, por correlao com a Bacia do Amazonas (Caputo 1984). O ambiente de deposi-o continental, com fcies de plancie e leques alu-viais. Algumas bandas ferrosas podem indicar pero-dos de formao de lateritas, sob condies sazonais mais midas.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Caracterizao da geometria do Sistema Aqufero I-Solimes A partir da correlao e interpretao dos dados obtidos, foram identificados e associados os elementos geolgicos e topogrficos, e confeccio-nadas as sees hidrogeolgicas esquemticas A-A, B-B, C-C e D-D, cujas localizaes so mostradas na Fig. 4. De acordo com essas sees (Figs. 5 a 8), o pacote constitudo pelas formaes I e Solimes possui espessura mdia de 300 m, estando sobreposto Formao Alter do Cho.

    De uma forma geral, h na regio, primeira-mente, a ocorrncia de argilitos arenosos ou arenitos argilosos, com espessura mdia de 25 m, alcanando localizadamente 50 m. Essa camada argilosa recobre arenitos finos a mdios, de colorao cinza esverdea-do a castanho avermelhados, apresentando, em alguns locais, intercalaes de lentes de argila, com espessu-ras e extenses variadas. Tais arenitos podem alcanar profundidades de at 100 a 120 m (espessura mdia de 50 m), mostrando boas porosidade e permeabilidade. nessa camada que est localizada grande parte das

    24000 mE

    Rio Urucu

    A

    D

    C

    C

    B

    B

    A

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    500

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    LEGENDAPooSeesreasOcupadas

    0 2km

    Figura 4 Disposies das sees hidrogeolgica esquemticas (A A, B B, C C e D D).

    MES

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    1800SOLIMES

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    CENOMANIANO

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    HAUTERIVIANOVALANCINIANOBARRIASIANO

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    GEOCRONOLOGIA AMBIENTEDEPOSICIONAL

    BACIA DOS SOLIMES

    DISCORDNCIASLITOESTRATIGRAFIA

    NEOCRETCEAFLUVIAL

    LACUSTRE

    0C65

    100

    Figura 3 Carta estratigrfica da Bacia do Solimes (modificado de Eiras et al. 1994).

  • Paulo Henrique Ferreira Galvo et al.

    Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012 147

    sees de filtros da maioria dos poos tubulares utili-zados para o abastecimento de gua na regio.

    A existncia das lentes de argilas inter-calando-se aos arenitos permite individualizar dois aquferos, que constituem o Sistema I-Solimes: o mais superficial est compreendido entre as profundidades de 20 e 70 m, embora haja uma considervel variao ao longo das sees, enquanto que o mais profundo se encontra no in-tervalo variando de 80 a 130 m de profundidade, sendo tambm marcantes as variaes nas sees

    estudadas. Logo abaixo, ocorre uma espessa ca-mada de argilito (Aquiclude Solimes), com es-pessura variando entre 150 a 180 m, de colorao cinza claro a cinza esverdeado, a qual, em certos locais, intercala-se com linhitos, arenitos, calcare-nitos, coquinas e calcilutitos. Esses ltimos cons-tituem lentes de 2 a 10 m de espessura. A cama-da de argila faz contato com a Formao Alter do Cho, representada nas sees por arenitos gros-sos, brancos e algumas lentes de argila, mostran-do boas porosidade e permeabilidade (Aqufero

    LEGENDAArgilito

    NW

    ARio Urucu

    PT 21

    Aqu

    fero

    Ia-

    Solim

    es

    Aqu

    iclu

    deSo

    lime

    sA

    q. A

    lter

    do C

    ho

    PT 30 PT 19 PT 12PT 11

    Seo A-A

    PT28 PT09 RUC-01 RUC-050

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    SE

    A

    PT 16 STG 02STG 01

    Carvo

    Aqufero Alter do Cho

    Aqufero SolimesCalcaretino 0

    2km

    Contato Formao Solimes/Alter do Cho

    Nvel Esttico (NE)

    Siltito

    Figura 5 Seo hidrogeolgica esquemtica (A A) da provncia petrolfera de Urucu.

    LEGENDAArgilito

    SW

    BRio Urucu

    Aqu

    fero

    Ia-

    Solim

    es

    Aqu

    iclu

    deSo

    lime

    sA

    q. A

    lter

    do C

    ho

    Seo B-B

    RUC-12RUC-08RUC-06RUC-02RUC-21RUC-04RUC-30RUC-03RUC-07RUC-14

    RUC-150

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    NE

    B

    STG 03

    Carvo

    Aqufero Alter do Cho

    Aqufero Solimes

    Calcaretino0 5

    km

    Contato Formao Solimes/Alter do ChoNvel Esttico (NE)

    Dados indisponveisSiltito

    Figura 6 Seo hidrogeolgica esquemtica (B B) da provncia petrolfera de Urucu.

  • Hidrogeologia dos aquferos I e Solimes

    148 Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012

    LEGENDA

    Argilito

    WNW

    CA

    qufe

    roI

    a-So

    lime

    sA

    quic

    lude

    Sol

    ime

    sA

    q. A

    lter

    do C

    ho

    Seo C-C

    STG 01PT 35 PT 12 PT 11 RUC-300

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    ESE

    C

    Carvo0 0,5

    km

    Aqufero Alter do Cho

    Aqufero Solimes

    Contato Formao Solimes/Alter do Cho

    Nvel Esttico (NE)

    Figura 7 Seo hidrogeolgica esquemtica (C C) da provncia petrolfera de Urucu.

    LEGENDAArgilito Calcaretino

    0 1km

    Siltito

    SW

    D

    Aqu

    fero

    Ia-

    Solim

    es

    Aqu

    iclu

    de S

    olim

    es

    Aq.

    Alte

    rdo

    Ch

    o

    Seo D-D

    RUC-30RUC-25 RUC-45PT 33 PT 07 PT 260

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    NE

    D

    CarvoAqufero Alter do Cho

    Aqufero Solimes

    Contato Formao Solimes/Alter do Cho

    Nvel Esttico (NE)

    Figura 8 Seo hidrogeolgica esquemtica (D D) da provncia petrolfera de Urucu.

    Alter do Cho) e podendo apresentar grande po-tencial para explotao. Entretanto, devido pro-fundidade de ocorrncia a partir de 300 m e fal-ta de poos captando as guas desse aqufero, so necessrias informaes mais detalhadas sobre a qumica dessas guas para confirmar um possvel aumento em sua salinidade, bem como testes de bombeamento para determinar parmetros hidro-dinmicos mais locais.

    Por meio do mapa de isbatas (Fig. 9), no qual so visualizadas as profundidades das primei-ras ocorrncias do Sistema I-Solimes, a superf-cie do aqufero superior possui uma forma convexa, com profundidades mdias em torno de 50 m. Essa feio evidenciada por meio de uma parte mais alta, localizada na rea central, e de depresses nas par-tes mais perifricas do mapa. Localizadamente, di-ferenciam-se trs zonas em que as profundidades das

  • Paulo Henrique Ferreira Galvo et al.

    Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012 149

    Tabela 1 Elevao, nvel esttico e carga hidrulica (h) dos poos analisados

    POOBoca do Poo

    (m)Elevao

    (m)

    1 Campanha(julho 2008)

    2 Campanha(maio 2009)

    Diferena entre Cargas Hidrulicas

    NE(m) h(m) NE(m) h(m) (m)PT-02 1,03 68,80 24,36 45,47 25,70 44,13 -1,34PT-04 1,15 67,91 - - 23,66 45,40 -PT-06 0,35 68,70 - - 23,86 45,19 -PT-07 0,68 67,39 23,91 44,16 22,55 45,52 1,36PT-09 0,60 66,95 - - 19,24 48,31 -PT-11 0,64 66,64 19,40 47,88 18,56 48,72 0,84PT-15 0,73 53,48 6,93 47,28 5,91 48,30 1,02PT-16 0,30 60,12 13,39 47,03 12,30 48,12 1,09PT-17 0,78 60,03 13,43 47,38 12,47 48,34 0,96PT-19 0,23 56,48 10,44 46,27 9,25 47,46 1,19PT-20 0,45 52,46 8,14 44,77 6,72 46,19 1,42PT-21 1,90 53,41 10,71 44,60 11,10 44,21 -0,39PT-24 0,57 53,59 15,16 39,00 13,50 40,66 1,66PT-25 0,58 66,00 19,84 46,74 18,90 47,68 0,94PT-27 0,70 67,11 25,89 41,92 23,63 44,18 2,26PT-33 0,75 69,17 26,50 43,42 24,95 44,97 1,55PT-34 0,70 61,06 - - 12,49 49,27 -PT-35 0,50 62,00 - - 13,88 48,62 -PT-41 0,55 70,06 23,60 47,01 25,54 45,07 -1,94

    -: dados no coletados.

    24000 mE0 2

    km PooreasOcupadas

    Estrada

    Rio25000 mE

    metros

    9468

    000

    mS

    9458

    000

    mS

    LEGENDA

    31343740434649525558616467707376

    Isbatas Aqufero Solimes (m)

    Figura 9 Mapa de isbatas do Sistema Aqufero I-Solimes, na Base Operacional Gelogo Pedro de Moura, em que so visualizadas as profundidades das primeiras ocorrncias deste sistema. Nota-se que a superfcie do aqufero superior possui forma convexa, com profundidades mdias em torno de 50 m.

    242000 mE0 2

    km

    252000 mE

    metros

    9468

    000

    mS

    9458

    000

    mS

    LEGENDA

    110105100959085807570656055504540

    PooreasOcupadas

    Estrada

    RioIsbatas Aqufero Solimes (m)

    Figura 10 Ispacas do Aqufero I-Solimes, na Base Operacional Gelogo Pedro de Moura, em que so visualizadas as linhas de igual espessura do sistema aqufero, revelando valores variveis, prximos de 50 at 100 m.

    primeiras camadas arenosas so menores: uma pr-xima ao poo RUC-21 e outras duas nas imediaes das reas ocupadas, estas ltimas com os menores va-lores de isbatas, prximos a 30 m de profundidade.

    Distanciando-se de tais reas, o topo do aqufero ten-de a ter uma maior profundeza de ocorrncia, por vol-ta de 75 m, como pode ser visto na parte situada mais Nordeste do mapa, onde se localiza o poo RUC-15.

  • Hidrogeologia dos aquferos I e Solimes

    150 Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012

    O mapa de ispacas (Fig. 10), no qual so vi-sualizadas as linhas de igual espessura do sistema aqufero (espessuras totais considerando a primei-ra ocorrncia do aqufero raso at o contato com o Aquiclude Solimes), revela valores variveis, prximos de 50 at 100 m. As ispacas de meno-res valores so vistas nas pores norte-nordeste, prximas ao poo RUC-15, na poro central, no RUC-02, e mais a sudoeste, prximo ao RUC-01. J os maiores valores das ispacas, na ordem de 90 a 100 m de espessura, so encontrados na parte mais central do mapa e na poro extremo sudoes-te, nas imediaes do RUC-25, onde foi observada a maior espessura do aqufero. Admitindo-se que essas camadas arenosas possuam permeabilida-des razoavelmente constantes, essas regies, com maiores espessuras, significam maiores transmis-sividades e, consequentemente, maior capacidade de produo de gua.

    Potenciometria Na potenciometria geral do Sistema Aqufero I-Solimes, na rea da BOGPM (Figs. 11 e 12), notou-se que a direo e o sentido geral do

    fluxo so SSE-NNW, com as linhas equipotenciais registrando convergncia de fluxo em direo ao Rio Urucu e a seus tributrios, tratando-se de rios efluen-tes. Com relao aos gradientes hidrulicos, nota-do que nas pores central e leste do mapa os valores encontrados esto entre 1 x 10-3 e 1,4 x 10-3, enquanto que, na poro sudoeste, o gradiente hidrulico mdio

    Tabela 2 Valores de T, S e K encontrados por meio dos mtodos de Theis e CooperJacob

    PT-16 T (m2/s) S K (m/s)

    PT-17Theis

    1,77 x 10-3 9,32 x 10-4 3,54 x 10-5

    PT-18 3,54 x 10-4 1,36 x 10-4 7,08 x 10-6

    PT-17Jacob

    2,21 x 10-3 6,12 x 10-4 4,42 x 10-5

    PT-18 3,42 x 10-3 8,49 x 10-4 6,84 x 10-5

    PT-40 T (m2/s) S K (m/s)

    PT-02

    Theis

    6,98 x 10-3 3,21 x 10-4 1,39 x 10-4

    PT-41 6,03 x 10-3 6,42 x 10-4 1,21 x 10-4

    PT-33 1,15 x 10-2 5,76 x 10-3 2,30 x 10-4

    PT-01 9,48 x 10-3 7,69 x 10-4 1,89 x 10-4

    PT-02

    Jacob

    7,52 x 10-3 2,30 x 10-4 1,50 x 10-4

    PT-41 7,96 x 10-3 3,36 x 10-4 1,59 x 10-4

    PT-33 1,02 x 10-2 5,45 x 10-3 2,04 x 10-4

    PT-01 1,01 x 10-2 8,06 x 10-3 2,02 x 10-4

    240000 mE 248000 mE 256000 mE 264000 mE 272000 mE

    Julho/20089475

    000

    mS

    9470

    000

    mS

    9465

    000

    mS

    9460

    000

    mS

    9455

    000

    mS

    reas OcupadasCurva Potenciomtrica (m)

    Poo Rio

    Direo e Sentido do Fluxo

    Curva Potenciomtrica Estimada (m)

    LEGENDA0 5 10km

    Figura 11 Potenciometria geral da Base Operacional Gelogo Pedro de Moura, em julho de 2008, com a direo e o sentido geral do fluxo SSE-NNW e as linhas equipotenciais registrando convergncia de fluxo em direo ao rio Urucu e seus tributrios, tratando-se de rios efluentes.

  • Paulo Henrique Ferreira Galvo et al.

    Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012 151

    encontrado foi de 1,3 x 10-3. As informaes sobre ni-velamento e coordenadas Datum SAD 69, de cada poo medido, podem ser observadas na Tab. 1, porm as coordenadas dos poos no constam na mesma por se tratarem de dados internos da Petrobras.

    Com relao potenciometria detalhada, verifi-cam-se, como mostra a Fig. 12, um sentido geral SW-NE e uma convergncia de fluxo subterrneo em dire-o aos canais de drenagem superficial e ao Rio Urucu. Fazendo-se uma comparao entre as cargas hidruli-cas obtidas nos poos, em julho de 2008 e em maio de 2009, percebe-se que em dez meses no houve uma grande variao no padro de fluxo da gua subterr-nea. Nos dois mapas percebeu-se uma convergncia de fluxo subterrneo em direo s reas ocupadas, se-guindo posteriormente em direo ao Rio Urucu. Tal comportamento pode ser explicado por possveis in-fluncias de bombeamentos nessas reas.

    Na Fig. 13 mostrada a diferena entre as car-gas hidrulicas de julho de 2008 a maio de 2009. No mapa potenciomtrico, os valores negativos signifi-cam que houve um rebaixamento da superfcie po-tenciomtrica de 2008 para 2009 e os positivos, que houve recuperao. As variaes ficaram entre 2,26 e -1,94 m, sendo que os valores negativos s foram observados nas reas ocupadas, locais onde h uma maior quantidade de poos de bombeamento. Vale

    Figura 12 Potenciometrias detalhadas da Base Operacional Gelogo Pedro de Moura, mostrando convergncia de fluxo subterrneo em direo s reas ocupadas, seguindo posteriormente em direo ao rio Urucu; esse comportamento pode ser explicado por possveis influncias de bombeamentos nessas reas.

    239000 mE 246000 mE

    0 3km

    239000 mE 246000 mE

    Julho/2008 Maio/2009

    9464

    000

    mS

    9459

    000

    mS

    9464

    000

    mS

    9459

    000

    mS

    LEGENDA

    reas OcupadasCurva Potenciomtrica (m)

    Poo Rio

    Direo e Sentido do Fluxo

    ressaltar que, nas pores central e leste do mapa, os valores devem ser vistos com reserva, pois nessas reas o nmero de poos reduzido.

    Parmetros hidrodinmicos do Sistema Aqufero I-Solimes A interpretao dos testes de aqufe-ro realizados nos poos PT-16 e PT-40 para a obten-o dos parmetros hidrogeolgicos (S, K e T) do Sistema Aqufero I-Solimes revelou valores m-dios de transmissividade (T) e coeficiente de arma-zenamento (S) de 3 x 10-3 m2/s e 5 x 10-4, respectiva-mente. Para uma espessura de 50 m, a condutividade hidrulica (K) mdia foi de 1 x 10-4 m/s. Os dados dos testes so mostrados na Tab. 2. Tais parmetros pos-suem ordem de grandeza semelhante aos mnimos obtidos para o Aqufero Alter do Cho, em Santarm, observado por Tancredi (1996).

    CONCLUSES Na rea da BOGPM, os areni-tos finos a mdios, que podem alcanar profundida-des de at 100 a 120 m (com espessuras mdias de 50 m), com intercalaes de lentes de argila de espes-suras e extenses variadas, constituem um bom re-servatrio de gua. As intercalaes com as lentes de argilas permitem que, em algumas reas, dois aqufe-ros sejam individualizados: o mais superficial com topo e base em profundidades prximas de 20 e 70 m,

  • Hidrogeologia dos aquferos I e Solimes

    152 Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012

    Figura 13 Mapa da variao de carga hidrulica entre maio de 2009 a julho de 2008. As variaes resultaram entre 2,26 e -1,94 m; sendo que os negativos (rebaixamento potenciomtrico) foram observados nas proximidades das reas ocupadas, em que h um maior nmero de poos de bombeamento.

    240000 mE 248000 mE 256000 mE 264000 mE 272000 mE94

    7500

    0 m

    S94

    7000

    0 m

    S94

    6500

    0 m

    S94

    6000

    0 m

    S

    LEGENDA0 5km

    Estrada

    Pooreas Ocupadas

    Diferena de Cargas (2009-2008)

    N

    respectivamente, e o mais profundo com intervalo de profundidades variando de 80 a 130 m. Ambos os aqu-feros so hidraulicamente conectados e constituem o Sistema Aqufero I-Solimes, do tipo livre-confinado.

    O Aquiclude Solimes, logo abaixo deste Sistema, constitudo por argilito com espessu-ra variando de 150 a 180 m, apresentando inter-calaes de linhitos, arenitos, calcarenitos, coqui-nas e calcilutitos. Esse aquiclude faz contato com a Formao Alter do Cho, representada por arenitos grossos e algumas lentes de argila (Aqufero Alter do Cho). Os arenitos, mostrando boas porosidade e permeabilidade, podem apresentar grande poten-cial para a explotao. Entretanto, devido pro-fundidade e falta de poos captando localmente as guas do Aqufero Alter do Cho, importan-te que sejam obtidas informaes mais detalha-das sobre a qumica dessas guas, para confirmar um possvel aumento na sua salinidade. tambm relevante que sejam realizados testes de bombea-mento, para a obteno dos parmetros hidrodin-micos mais localizados.

    Quanto geometria, o mapa de isbatas mostra que a superfcie do sistema aqufero estudado possui forma convexa, com profundidades mdias em torno

    de 50 m. Essa conveco foi evidenciada por uma par-te mais elevada ao centro da rea, com valores prxi-mos de 30 m de profundidade, enquanto que, na parte perifrica do mapa, o topo do aqufero ocorre aos 75 m. O mapa de ispacas revelou valores de espessura do sistema aqufero variando prximos de 50 a 100 m.

    Os parmetros hidrodinmicos mdios obtidos por meio dos testes de aqufero foram T = 3 x 10-3 m2/s, sendo que S = 5 x 10-4 e K = 1 x 10-4 m/s so similares em ordem de grandeza aos valores mnimos obtidos para os aquferos Alter do Cho, em Santarm.

    A potenciometria geral do Sistema Aqufero I-Solimes, na rea da BOGPM, apresentou-se con-cordante com a superfcie topogrfica, com direo e sentido gerais do fluxo SSE-NNW, convergindo para o Rio Urucu. Os gradientes hidrulicos, nas pores central e leste da rea, situam-se entre 1 x 10-3 e 1,4 x 10-3, enquanto que na poro sudoeste o valor mdio encontrado foi de 1,3 x 10-3. As feies de cone de re-baixamento observadas so resultados da alterao das condies naturais do fluxo subterrneo, induzido pelo nmero de poos de bombeamento na BOGPM.

    As diferenas entre as cargas hidrulicas de julho de 2008 a maio de 2009 evidenciaram varia-es entre 2,26 e -1,94 m, com os valores negativos

  • Paulo Henrique Ferreira Galvo et al.

    Revista Brasileira de Geocincias, volume 42(Suppl 1), 2012 153

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    Manuscrito ID 24771Recebido em: 23/10/2011

    Aprovado em: 11/10/2012

    Referncias

    significando rebaixamento da superfcie potenciom-trica e os positivos, a recuperao. Os resultados ne-gativos foram observados em locais onde h maior quantidade de poos de bombeamento, enquanto que os de recuperao foram vistos nas pores central e leste da rea estudada.

    O conjunto dos dados geolgicos, dos parme-tros hidrodinmicos e da potenciometria indica que o

    Sistema Aqufero I-Solimes do tipo livre-confi-nado, apresentando um bom potencial de explotao e sendo utilizado para abastecimento da BOGPM.

    AGRADECIMENTOS Petrobras, pelo apoio presente pesquisa, assim como equipe do pro-jeto Caracterizao Hidrogeolgica para o Uso Sustentvel da gua Subterrnea na BOGPM.