elaboração do mapa de risco na construção civil: um estudo de

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ELABORAÇÃO DO MAPA DE RISCO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: UM ESTUDO DE CASO NO CANTEIRO DE OBRAS LOCALIZADO NA CIDADE DE QUIXADÁ Isabel Ferreira de Barros (FCRS ) [email protected] Luciana Ribeiro da Silva (FCRS ) [email protected] JACKSON LIMA DE OLIVEIRA (FCRS ) [email protected] O setor de construção civil tem tido uma grande expansão em todo o país e dessa forma verifica-se a necessidade de oferecer melhores condições de trabalho para seus colaboradores, no intuito de proporcionar melhores condições de saúde e seggurança ao trabalhador. O presente estudo teve como objetivo elaborar o mapa de risco num canteiro de obras localizado no município de Quixadá. Para a elaboração do referido mapa foram utilizadas as normas regulamentadoras (NR), de forma auxiliar na identificação das principais medidas de prevenção de acidentes e o fornecimento de equipamento de proteção individual (EPIs), etc. A identificação dos principais riscos no local onde foi realizado o estudo, se deu por meio da coleta de informações provenientes de entrevistas com os colaboradores e pela observação do local. Verificou-se que a elaboração do mapa proporcionou um melhor gerenciamento dos riscos ambientais, antecipando-os antes que se efetivassem. Além disso, observou-se um maior envolvimento entre operários e empresários no que diz respeito à saúde e segurança do trabalhador, tendo em vista principalmente o cumprimento da legislação. Palavras-chave: Canteiro de obras, Normas Regulamentadoras, Mapa de Risco, Legislação. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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ELABORAÇÃO DO MAPA DE RISCO NA

CONSTRUÇÃO CIVIL: UM ESTUDO DE

CASO NO CANTEIRO DE OBRAS

LOCALIZADO NA CIDADE DE

QUIXADÁ

Isabel Ferreira de Barros (FCRS )

[email protected]

Luciana Ribeiro da Silva (FCRS )

[email protected]

JACKSON LIMA DE OLIVEIRA (FCRS )

[email protected]

O setor de construção civil tem tido uma grande expansão em todo o

país e dessa forma verifica-se a necessidade de oferecer melhores

condições de trabalho para seus colaboradores, no intuito de

proporcionar melhores condições de saúde e seggurança ao

trabalhador. O presente estudo teve como objetivo elaborar o mapa de

risco num canteiro de obras localizado no município de Quixadá. Para

a elaboração do referido mapa foram utilizadas as normas

regulamentadoras (NR), de forma auxiliar na identificação das

principais medidas de prevenção de acidentes e o fornecimento de

equipamento de proteção individual (EPIs), etc. A identificação dos

principais riscos no local onde foi realizado o estudo, se deu por meio

da coleta de informações provenientes de entrevistas com os

colaboradores e pela observação do local. Verificou-se que a

elaboração do mapa proporcionou um melhor gerenciamento dos

riscos ambientais, antecipando-os antes que se efetivassem. Além

disso, observou-se um maior envolvimento entre operários e

empresários no que diz respeito à saúde e segurança do trabalhador,

tendo em vista principalmente o cumprimento da legislação.

Palavras-chave: Canteiro de obras, Normas Regulamentadoras, Mapa

de Risco, Legislação.

XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil

João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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1 Introdução

De acordo com o que sugere a literatura, a Indústria da Construção pode ser considerada

como um dos ramos de atividade mais antigos do mundo, podendo ter iniciado no período

pré-histórico e estendendo-se até os dias de hoje. Nesse contexto, verifica-se que esse setor

passou por um grande processo de transformação e evolução como, por exemplo, na área de

projetos, materiais, equipamentos e de pessoal (SAMPAIO, 1998).

Com a grande expansão da área da construção civil, obras de grande porte têm se tornado

cada vez mais frequente, fazendo do canteiro de obras um sistema amplo e complexo. Desse

modo, pode-se observar que o canteiro de obras vai se modificando de acordo com a execução

da obra e com os serviços a serem realizados. Com isso, faz-se necessário que, além do

planejamento efetivo das atividades que serão desenvolvidas, haja o controle de acordo com a

legislação no que diz respeito à Saúde e Segurança do Trabalho (SST).

No Brasil, as normas referentes à segurança e medicina do trabalho são regidas de acordo com

os artigos 154 a 201 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), da lei n° 6.514 de 22 de

dezembro de 1977 (BRASIL, 2016). Nesse sentido, cabe ao Ministério do Trabalho

estabelecer as disposições complementares a respeito das normas de segurança e medicina do

trabalho e para tal, foram elaboradas as Normas Regulamentadoras (NRs).

Nesse contexto, de acordo com as NRs, as construtoras são obrigadas a fornecer

equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados para as atividades exercidas na obra

(NR-6/2010). É válido ressaltar que os EPIs têm como princípio geral promover a proteção

dos funcionários aos diversos riscos que estão sujeitos, sejam eles físicos, químicos,

biológicos entre outros.

Além da utilização correta dos EPIs, verifica-se ainda a importância da formação da

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), pois de acordo com a NR5 essa tem

como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho. A CIPA ainda tem

como atribuição a elaboração do mapa de risco, no qual devem estar descritos os riscos

encontrados no ambiente de trabalho de forma detalhada e de fácil compreensão. Além de

citar os riscos, o mesmo ainda oferece medidas de prevenção de acidentes, podendo ser

considerado um intermediário entre o colaborador e a empresa (NR-5/2011).

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Portando, o presente trabalho tem como principal objetivo propor a elaboração de um mapa de

risco através da observação de um canteiro de obras localizado na cidade de Quixadá, bem

como o levantamento dos EPIs disponibilizados confrontando a adequação dos mesmos à

atividade em questão, como forma retificar as principais divergências entre o que é regido

pela legislação e o que de fato é praticado, dando suporte à gestão do sistema de saúde e

segurança através da análise do risco de acidente em um canteiro de obras.

2 Referencial teórico

2.1 Normatização e segurança do trabalho no brasil

De acordo com Cruz (1996), a segurança do trabalho pode ser considerada uma conquista

relativamente recente da sociedade, uma vez que o seu desenvolvimento e evolução datam do

período entre as duas guerras mundiais.

No Brasil, as leis começaram a abordar a questão da segurança no trabalho somente em

meados dos anos 40. Segundo Lima Jr. (1995), as leis trabalhistas foram de fato discutidas

somente em 1943, a partir da publicação do capítulo V do Título da Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT). No entanto, a primeira grande reformulação desse assunto no país só ocorreu

em 1967, quando se destacou a necessidade de organização das empresas com a criação do

Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT)

(LIMA JR., 1995).

Com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo decreto Lei nº 5.452, de 1 de

maio de 1943, foi possível estabelecer as normas que regulam as relações individuais e

coletivas de trabalho no Brasil, a qual atinge todos os tipos de trabalhadores (BRASIL, 2006).

No entanto, com a crescente necessidade de reduzir o número de acidentes de trabalho, foi

publicada a Lei n° 6.514 de 22 de dezembro de 1977, a qual estabelece princípios mínimos

relativos à Segurança e Medicina do Trabalho (BRASIL, 2006).

Nesse contexto, com a finalidade de atender a Lei n° 6.541, o Ministério do Trabalho e

Emprego publicou a portaria n° 3.214 de 8 de junho de 1974, a qual aprova as Normas

Regulamentadoras (NRs) relativas à Segurança e Medicina do Trabalho (BRASIL, 2016). As

Normas Regulamentadoras de Segurança e Medicina do Trabalho (NRs), por sua vez,

estabelecem condições mínimas de Saúde e Segurança no Trabalho (SST), devendo ser

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aplicadas e implementadas nos ambientes de trabalho no Brasil, com a finalidade de proteger

a vida e a saúde dos trabalhadores (ZARPELON et al, 2008).

Desse modo, verifica-se que assim como nos demais ramos da indústria, as ações de

Segurança e Saúde do Trabalho na construção civil devem seguir as diretrizes estabelecidas

pela NR-18, que traz em sua revisão ocorrida no ano de 1995, avanços significativos para

melhoria dos ambientes de trabalho (BRASIL, 2007).

2.2 Canteiro de obras

De acordo com a NR-18/2013, o canteiro de obras pode ser definido como a área de trabalho

fixa e/ou temporária, onde se desenvolvem operações de apoio e execução de uma obra.

Nesse contexto, a literatura indica que seja dispensada atenção especial no que diz respeito à

elaboração desse local de forma a possibilitar alcançar os resultados desejados de

funcionamento (FRANCO, 1992).

Logo, o planejamento e a organização de um canteiro são de essencial importância, uma vez

que as atividades realizadas neste irão interferir na obra como um todo (FRANCO, 1991). No

entanto, na prática observa-se que tal fato vem sendo negligenciado, fazendo que as ações

sejam meramente corretivas à medida que os problemas ocorrem (VARALLA, 2003). Como

consequência, alguns canteiros de obra, além de não trabalharem embasados no planejamento

e controle do que será produzido, ainda deixam a desejar no fator de segurança e organização.

Saurin (1997), apresenta em sua obra um método para diagnóstico e diretrizes para

planejamento de canteiros de obra de edificações, a partir do diagnóstico e avaliação das

alternativas de planejamento do layout e arranjo físico. Com isso, verifica-se que a análise do

layout é essencial para uma boa organização, uma vez que auxilia na identificação dos

problemas em relação ao arranjo físico, como também na locação exata das instalações,

levando em consideração o fluxo de materiais e pessoas e para as condições

de higiene e segurança.

2.3 Acidentes de trabalho na construção civil

Pandaggis (2003), relata que o acidente de trabalho pode ser entendido como uma ocorrência

multicausal, uma vez que depende de vários fatores para este se materialize. Nesse sentido, o

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acidente pode ser caracterizado como uma anomalia manifestada no sistema, revelando um

não funcionamento ou um funcionamento defeituoso do seu processo de produção

(PANDAGGIS, 2003).

Para Iida (2005), o acidente pode ser causado por um comportamento de riscos do operador

de um sistema e/ou pode ser explicado também pelas inequações do posto de trabalho,

produtos mal projetados ou falhas da máquina. Nesse contexto, verifica-se que a Indústria da

Construção Civil é um dos setores de atividade econômica que mais registra acidentes de

trabalho e onde o risco de acidentes é maior. De acordo com as estimativas da Organização

Internacional do Trabalho (OIT), dos aproximadamente 355 mil acidentes mortais que

acontecem anualmente no mundo, pelo menos 60 mil ocorrem em obras de construção (LIMA

JR., 2005).

Além dos fatores observados, constata-se que muitas construtoras negligenciam a saúde e

segurança do trabalhador com o objetivo de reduzir os custos da construção. E muito embora

os custos econômicos e sociais associados aos acidentes de trabalho sejam considerados altos,

geralmente as empresas não procuram evita-los através de abordagens sistemáticas, limitando-

se ao cumprimento da legislação (HINZEM,1991).

Adicionalmente, a literatura aponta que o excesso de carga horária e incentivos financeiros

também são considerados como fatores que contribuem para ocorrência dos acidentes de

trabalho (ZARPELON, 2008).

2.4 Principais riscos de trabalho na indústria da construção

Os riscos do trabalho, também chamados riscos profissionais, podem ser definidos como

sendo os agentes presentes nos locais de trabalho, decorrentes de precárias condições que

afetam a saúde, a segurança e o bem-estar do trabalhador, podendo ser relacionados ao

processo operacional (riscos operacionais) ou ao local de trabalho (riscos ambientais)

(MESQUITA, 1999).

Nesse contexto, ressalta-se a necessidade de utilizar os equipamentos de proteção individual

de forma a minimizar e/ou evitar os riscos de acidente. De acordo com a legislação vigente a

respeito de segurança e medicina no trabalho, os EPIs (são obrigatórios) e dividem-se em

quatro grupos: proteção para a cabeça, proteção para o tronco, proteção para os braços e

mãos, proteção para as pernas e pés, além do cinto de segurança (NR 6).

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A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), na sua norma 18-R estabelece que o

custo direto do acidente é o total das despesas decorrentes das obrigações para com os

empregados expostos aos riscos inerentes ao exercício do trabalho, com as despesas com

assistência médica e hospitalar aos acidentados e respectivas indenizações, sejam estas diárias

ou por incapacidade permanente.

Nesse ínterim, além do cumprimento do que preconiza a NR 18, é necessário que a

construtora faça uso de outras NRs para complementar e aperfeiçoar a política de segurança

do trabalho. São elas:

NR-4: define os serviços de engenharia de segurança e medicina do trabalho;

NR-5: refere-se sobre a criação da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de

Acidentes). Essa comissão deve ficar responsável por todo o planejamento envolvendo

técnicas para otimizar a proteção do trabalhador na obra;

NR-6: fala sobre o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e sua

importância no ambiente de trabalho;

NR-7: torna obrigatório o Programa de Controle Médico de Saúde

Ocupacional;

NR-8: Edificações;

NR-9: busca a preservação da saúde e integridade dos operários pelo Programa

de Prevenção de Riscos Ambientais.

NR-11: Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais;

NR-12: Segurança em máquinas e equipamentos;

NR-17: Ergonomia;

NR-24: Condições sanitárias e de conforto no local de trabalho;

NR-25: Resíduos industriais;

NR-26: Sinalização de segurança;

NR-35: Trabalho em altura.

2.4.1 Riscos físicos

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A NR-9 considera como riscos físicos as diversas formas de energia a que possam estar

expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas

extremas (calor e frio), radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infrassom

e ultrassom (BRASIL, 2007).

Para Zarpelon (2008), os principais riscos físicos presentes na construção civil são: ruído,

vibração, radiações ionizantes e radiações não ionizantes surgem nas operações em que são

utilizados máquinas e equipamentos para o desenvolvimento das tarefas.

2.4.2 Riscos químicos

De acordo com NR-9, são considerados riscos químicos as substâncias, compostos ou

produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras,

fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade possam ter

contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão (BRASIL, 2007).

Os principais riscos químicos encontrados na construção civil são provenientes de

manipulações das matérias primas utilizadas no setor produtivo, as quais são transformadas ou

passam por processos que modificam a sua natureza. O cimento é exemplo de produto que

pode afetar a saúde do trabalhador em seu estado natural (poeiras alcalinas) ou após sua

preparação e aplicação (ZARPELON, 2008).

2.4.3 Riscos biológicos

Segundo a NR-9, são considerados agentes biológicos os microrganismos, tais como,

bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros, sendo que a

caracterização de sua exposição é feita através de inspeção no local de trabalho (BRASIL,

2007).

O reconhecimento antecipado e o controle dos agentes biológicos em um canteiro de obras se

faz necessário, uma vez que uma simples poça d’água pode proliferar o mosquito transmissor

da dengue (e outras doenças) e acometer vários trabalhadores, com riscos que pode levá-los

até à morte na fase hemorrágica da doença (ZARPELON, 2008).

2.4.4 Agentes ergonômicos

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Os agentes ergonômicos são considerados como condições que interferem no conforto do

trabalhador, podendo causar doenças e/ou lesões. A NR 17 estabelece parâmetros para que se

possa proporcionar o máximo conforto do trabalhador nos ambientes de trabalho (BRASIL,

2007).

Os riscos ergonômicos podem ser classificados como esforço físico intenso, levantamento e

transporte manual de peso, exigência de postura inadequada, controle rígido de produtividade,

imposição de ritmos excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho

prolongadas, monotonia e repetitividade e outras situações causadoras de stress físico e/ou

psíquico (BRASIL, 2007).

2.4.5 Riscos de acidentes ou mecânicos

A literatura indica que os riscos de acidentes ou mecânicos ocorrem imediatamente após o

contato entre o agente e o trabalhador, ou seja, qualquer fator que coloque o trabalhador em

situação de risco e possa afetar sua integridade e seu bem-estar físico e mental. São exemplos

de risco de acidente: as máquinas e equipamentos sem proteção, possibilidade de incêndio e

explosão, falta de organização no ambiente, armazenamento inadequado (ZARPELON,

2008).

2.5 Mapa de risco

Desse modo, de acordo com a NR-9, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos,

químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho, que em função de sua natureza,

concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do

trabalhador (BRASIL, 2007). A norma não menciona os riscos ergonômicos e de acidentes,

porém a NR-5 ao tratar do Mapa de Riscos, estabelece através da Portaria n° 25 a inclusão dos

referidos agentes (BRASIL, 2007).

O mapa de risco pode ser definido como uma representação gráfica do reconhecimento dos

riscos existentes nos locais de trabalho, por meio de círculos de diferentes tamanhos e cores,

conforme ilustrado nas Figuras 1 e 2.

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Figura1 - Classificação dos tipos de riscos

Fonte: Adaptado de Santos, 2008

Figura 2 - Representação gráfica do grau dos riscos

Fonte: Santos, 2008

A sua elaboração deve ser feita pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA),

quando houver, ou por um funcionário devidamente registrado pela empresa, sob a orientação

do Serviço Especializado em Engenharia e Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT)

(SANTOS, 2008). Tem ainda como objetivo informar e conscientizar os trabalhadores sobre

os riscos a que estão sujeitos durante a execução de suas atividades de rotina, utilizando a

forma visual para a sua identificação. Pode ser considerado também como um instrumento

que pode ajudar a diminuir a ocorrência de acidentes do trabalho, sendo este um fator de

interesse para os empresários e os trabalhadores (SANTOS, 2008).

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3 Metodologia

A presente pesquisa trata-se de um estudo de caso, uma vez que se propõe a elaboração de um

mapa de risco para um canteiro de obras localizado na cidade de Quixadá.

De acordo com Gil (1987) o estudo de caso caracteriza-se por um estudo profundo e exaustivo

de um ou de poucos objetos de forma a permitir conhecimento amplo e detalhado a respeito

do mesmo, sendo também definida como uma pesquisa descritiva.

Para a coleta de dados, foi realizada uma verificação prévia no canteiro de obras de forma a

possibilitar conhecer o ambiente, identificar os riscos e observar a não utilização dos EPIs.

Bem como entrevistamos os colaboradores da obra, para então elaborar o mapa de risco para

o referido local.

Na entrevista verificou-se sobre a disponibilidade dos EPIs, qual as atividades são executadas,

as orientações recebidas sobre o grau dos riscos existentes em cada serviço e quais as

atividades que geravam desconforto durante a execução.

4 Resultados e discussão

Após a verificação inicial do local estudado para identificação dos principais riscos, pôde-se

observar que as atividades exercidas no canteiro de obras eram embasadas pela negligência,

tanto no que diz respeito ao planejamento do layout, como também na insegurança que o

mesmo proporcionava aos seus colaboradores.

Constatou-se ainda que as instalações não possuíam qualquer delimitação das áreas, existindo

uma forte interação entre matéria prima e homens no mesmo espaço, ocasionando dificuldade

na mobilidade para a execução das atividades e consequentemente aumentando o tempo de

operação, bem como o risco de acidentes.

No canteiro de obras, verificou-se a presença de 14 funcionários. Conforme prevê a NR-5,

todas as empresas (públicas, privadas, sociedades de economia mista, ou quaisquer outras

instituições que admitam trabalhadores como empregados), com vinte ou mais funcionários,

são obrigadas a ter uma CIPA (BRASIL, 2007). Verificou-se ainda que, pelo fato de não ter a

obrigatoriedade de possuir a referida comissão, não houve qualquer atitude preventiva por

parte da empresa em utilizar instrumentos que possibilitassem o gerenciamento dos riscos

como, por exemplo, o mapa de risco.

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Além da ausência do mapa de risco, observou-se negligência por parte dos colaboradores e do

proprietário da construtora, uma vez que não são disponibilizados sequer os EPIs. Verificou-

se ainda que a falta de conhecimento por parte dos colaboradores sobre os riscos que estão

sujeitos, bem como a gravidade destes, acabava por agravar ainda mais a situação.

Com base no que preconiza a NR-9 foi possível identificar os principais riscos relacionados às

atividades que são exercidas no canteiro de obras. Dentre os riscos identificados, verificou-se

a predominância dos riscos ergonômicos, de acidente e químicos. O mapa de risco elaborado

a partir das informações coletadas e implantado como princípio para a gestão do risco no

canteiro de obra pode ser observado na Figura 1.

Figura 3 – Mapa de risco proposto para o canteiro de obras em estudo

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Fonte: Autor

Com relação aos riscos ergonômicos verificou-se a predominância das condições posturais

incorretas, que eram agravadas pelas prolongadas jornadas de trabalho e pela natureza da

própria atividade. Constatou-se ainda que a falta de capacitação dos funcionários gerava

maiores esforços na execução dos serviços e fazia, por exemplo, que as metas diárias de

produção na construção não fossem alcançadas. Como consequência, principalmente a longo

prazo, esses fatores acabam por culminar no atraso de entrega do empreendimento.

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De acordo com Sousa (1997), os trabalhadores, pelo fato de estarem acostumados a conviver

com a precariedade das condições de trabalho, desenvolvem o senso comum de que estas

condições são normais e inerentes ao trabalho em obra.

Também foi observado a predominância de riscos químicos que, por sua vez, estão

relacionados com o excesso de poeira nos ambientes da obra e com o contato direto com

produtos químicos como tintas e solventes. Nesse contexto, foi verificado que na fase de

pintura os colaboradores trabalhavam sem os EPIs adequados para a função, etc. Além desses

fatores, é válido ressaltar que o risco de acidente também pode causar inúmeros malefícios à

saúde dos funcionários, principalmente em decorrência do tipo de atividade exercida e dos

instrumentos de trabalho utilizados durante a execução da obra como.

Verificou-se também que uns dos principais métodos que podem ser utilizados para

minimizar e /ou evitar os acidentes ou eventos indesejáveis, diz respeito à capacitação dos

colaboradores quanto as questões relacionadas à prevenção e preservação da saúde, a

distribuição gratuita e treinamento a respeito da correta utilização dos EPIs.

Por fim, análogo ao observado por Saurin et al (2005), as questões ergonômicas identificadas

no estudo fazem referência à movimentação de andaimes suspensos mecânicos. O referido

autor ainda relata que não há requisitos ergonômicos nas exigências da NR-18 (BRASIL,

1995) para a movimentação dos mesmos, o que acaba por dificultar o controle dessas

atividades. Saurin e colaboradores (2005) ainda complementam que pela própria natureza das

atividades da construção, elas são problemáticas em termos ergonômicos e utiliza como

exemplo as atividades de execução de pisos e forros, as quais requerem trabalhos abaixo da

altura dos joelhos e acima do nível dos ombros, sendo consideradas ergonomicamente

inadequadas.

Com a análise do mapa de risco e consequentemente do layout, verificou-se a necessidade de

fazer uma adequação neste último de forma a melhorar o fluxo de pessoas, matéria prima,

etc., A Figura 4 apresenta a proposta para o novo layout.

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Figura 4 – Modelo de layout proposto

Fonte: Autor

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5 Conclusão

Com a realização da pesquisa foi possível verificar a necessidade de utilizar algum método

eficiente que auxiliasse no processo de gerenciamento dos riscos, tendo em vista

principalmente o que preconiza a legislação. Foi proposto a elaboração de um mapa de risco

para auxiliar na gestão dos riscos e com a análise do ambiente estudado, verificou-se que o

layout do local, sua organização e distribuição dos materiais, equipamentos e pessoas

exerciam influência direta na execução das atividades e na saúde do trabalhador.

Observou-se ainda que os principais riscos que os trabalhadores estão sujeitos na obra são os

riscos ergonômicos, químicos e de acidente, que foram identificados por meio da observação

do local e das atividades que são executadas, bem como por meio de entrevistas com os

colaboradores.

Por fim, verificou-se que a elaboração do mapa de risco para o local estudado proporcionou a

identificação dos riscos presentes na obra, bem como proporcionou realizar a adequação em

relação ao treinamento e uso dos EPIs à luz da legislação. Adicionalmente, ressalta-se que

além de permitir a identificação dos riscos, o mapa de risco possibilitou que os colaboradores

compreendessem a magnitude das atividades que estão exercendo, bem como dos principais

riscos relacionados a elas.

6 Referências

BRASIL. Decreto Lei n° 5.452, de 1 de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho.

Comentários a Consolidação das Leis do Trabalho, São Paulo, Ed. Saraiva, 2006.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de

Acidentes - CIPA. Redação dada pela Portaria n° 8, 23 de fevereiro de 1999. Retificação, 12

de julho de 1999. Manuais de Legislação – Segurança e Medicina do Trabalho, Ed. Atlas,

São Paulo, 61ª Ed, 2007.

BRASIL. Palácio do Planalto da Presidência da República – Lei n° 6.154, de 22 de

dezembro de 1977. Alteração do capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do

Trabalho, 2016.

CRUZ, S. O ambiente do trabalho na construção civil. Monografia, UFSM, 1996.

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