efeitos do flÚor no organismo humano_dissertação

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UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS João Francisco Fernandes Domingos EFEITOS DO FLÚOR NO ORGANISMO HUMANO: UMA AVALIAÇÃO, BASEADA EM INDICADORES, NOS USUÁRIOS DE 6 A 14 ANOS DO HOSPITAL DE AERONÁUTICA DE CANOAS Profª. Drª. Tânia Maria Drehmer Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS

João Francisco Fernandes Domingos

EFEITOS DO FLÚOR NO ORGANISMO HUMANO: UMA AVALIAÇÃO, BASEADA EM INDICADORES, NOS USUÁRIOS DE 6 A 14 ANOS DO HOSPITAL DE

AERONÁUTICA DE CANOAS

Profª. Drª. Tânia Maria Drehmer

Rio de Janeiro 2009

João Francisco Fernandes Domingos

EFEITOS DO FLÚOR NO ORGANISMO HUMANO: UMA AVALIAÇÃO, BASEADA

EM INDICADORES, NOS USUÁRIOS DE 6 A 14 ANOS DO HOSPITAL DE

AERONÁUTICA DE CANOAS

Dissertação apresentada à Universidade

da Força Aérea como requisito para a

obtenção do título de Mestre em Ciências

Aeroespaciais.

ORIENTADORA: Profª. Drª. Tânia Maria Drehmer

RIO DE JANEIRO

Novembro de 2009

UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS

JOÃO FRANCISCO FERNANDES DOMINGOS

EFEITOS DO FLÚOR NO ORGANISMO HUMANO: UMA AVALIAÇÃO,

BASEADA EM INDICADORES, NOS USUÁRIOS DE 6 A 14 ANOS DO HOSPITAL

DE AERONÁUTICA DE CANOAS

Dissertação aprovada pelos membros da Banca Examinadora, no dia............de

novembro de 2009, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Medicina

Aeroespacial pela Universidade da Força Aérea.

Rio de Janeiro, ...................de dezembro de 2009.

BANCA EXAMINADORA

.......................................................................................... Profª. Drª. Tânia Maria Drehmer Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

.......................................................................................... Prof. Dr. Universidade

.......................................................................................... Prof. Dr. Universidade

DEDICATÓRIA

Aos meus colegas dentistas do Hospital de Aeronáutica de Canoas que acreditam na pesquisa como forma de aperfeiçoamento do ambiente operacional da Odontologia militar.

Deferência especial à equipe de oficiais que me auxiliou na coleta de dados, acreditando no propósito deste trabalho como forma de estreitar a conexão da Odontologia do HACO com a Ciência, com a Ética e com o Respeito ao Paciente, razão maior de nossa profissão:

Joseane Murliki – Especialista em Ortodontia; Karina Becker Trápaga - Mestre em Ortodontia Fernanda Teixeira Silveira – Especialista em Odontopediatria; e Mariana Boessio Vizzotto – Especialista em Odontopediatria e Mestre em CO-Radiologia.

AGRADECIMENTO

Ao Cel Márcio Rocha, pela pronto-receptividade de minha

pessoa, pela compreensão dos meus ideais e pelo estímulo à

superação do tempo para a conquista desta vitória. Certamente,

qualidades de um líder.

À Profª. Maria José da ECEMAR, por ter acreditado, e ter me

feito acreditar na potencialidade deste trabalho. Intervenção oportuna

de quem faz do ensino uma missão.

À Profª. Drª. Tânia Maria Drehmer, que muito mais que me

orientar, no contexto amplo deste estudo, não mensurou esforços para

me fazer ver até mesmo a cientificidade de cada palavra,

transformando os intensos momentos de trabalho que vivenciamos em

pura arte de ensino. Atributos de um mestre autêntico que me fizeram

um privilegiado.

RESUMO

O processo de fluoração das águas, designado fluoretação, baseia-se na premissa de que a ingestão de Flúor é necessária à saúde bucal. O advento tecnológico permitiu a veiculação de variadas formas de fluoreto em muitas fontes de entrada no organismo, a ponto de gerar dúvida sobre uma real margem de segurança à substância. A fluorose é o primeiro efeito adverso observado. Quando medida, os indicadores epidemiológicos de prevalência (IPF) e comunitário (ICF), podem indicar a gravidade patológica associada a outros efeitos sistêmicos. Esse é um problema amplamente abordado na literatura, mas de realidade desconsiderada nas Organizações de Saúde da Aeronáutica. O objetivo geral deste estudo foi avaliar a influência da ingestão de Flúor nos usuários do Hospital de Aeronáutica de Canoas. A metodologia foi estabelecida no sentido de assoaciar, aos indicadores já conhecidos na literatura, um indicador direcionado aos distúrbios promovidos pela intoxicação fluórica. Para essa finalidade, foi construído o IESF (Indicador de Efeitos Sistêmicos do Flúor). Na população de estudo, foi encontrado indícios de fluorose em 78,57% dos participantes, e em 40,99%, do total de dentes presentes. Por uma abordagem modificada do ICF, foi evidenciado o valotr de 0,88 ao impacto da fluorose na comunidade, configurando o problema como de Saúde Pública. O IESF mostrou proporcionalidade com a fluorose. No universo de estudo, a fluorose se configurou como uma adversidade preocupante à ingestão fluórica, e indicou tendência a distúrbios de saúde em diversos sistemas orgânicos. Contudo, para um melhor dimensionamento da real potencialidade de intoxicação da ingestão continuada de Flúor, novos estudos precisam ser realizados, para sedimentarem os resultados aqui encontrados. Palavras-chave: Flúor. Fluorose. Ingestão fluórica. Efeitos adversos do Flúor. Indicador de Efeito Sistêmico.

ABSTRACT

Domingos, João Francisco Fernandes. Effects of fluoride in the human body: an assessment based on indicators in the users from 6 to 14 years old of the Aeronautics Hospital of Canoas - Brazilian Air Force. Rio de Janeiro, 2009.134 p. MSc. Universidade da Força Aérea.

The fluoridation process in drinking water inserts the fluoride intake as being necessary for oral health. The advent of technology has allowed capacity to carry forward fluoride into human body by many sources, creating doubt about the real safety for fluoride in public health. Fluorosis is the first adverse effect observed. When it is measured by epidemiological fluorosis prevalence index (FPI) and fluorosis community index (FCI), may indicate serious morbid symptoms associated with other disturbances health effects. This is a problem widely discussed in the scientific literature, but in fact not important in military Health Care of Brazil yet. The aim of this study was to evaluate the influence of fluoride intake in users of the Aeronautics Hospital of Canoas, one of the many hospitals of the Brazilian Air Force. One method was established to connect indicators known in the scientific literature with an indicator directed to measure the disturbances promoted by fluoride poisoning. To find this goal, was built the SEFI (Systemic Effects of Fluoride Indicator). In the study was found fluorosis index of the 78.57% to overall population, and fluorosis index of the 40.99% to overall teeth presents. Through out of the modified approach to FCI was shown 0.88 of ratio to the fluorosis impact about the community. This result sets a public health problem, second Dean (1942), the fluoridation father. The SEFI show proportionality with the fluorosis. In the study universe, the fluorosis was configured as a concern adversity from fluoride intake, and it was show relation with many other health disorders in different organ systems. However, to better the measure of the real potential of fluoride poisoning by continued intake, further studies must be performed to solidify our findings.

Keywords: Fluoride. Fluorosis. Fluoride intake. Fluoride adverse effects. Systemic Effects Indicator.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CDC - Centers for Disease Control and Prevention – EUA.

COMAER - Comando da Aeronáutica.

COT - Committee on Toxicity – EUA.

DIRSA - Diretoria de Saúde da Aeronáutica.

FAB - Força Aérea Brasileira.

HACO - Hospital de Aeronáutica de Canoas.

ICF

DI

- Índice Comunitário de Fluorose.

- Índice de Dean

IESF - Índice de Efeito Sistêmico do Flúor.

IOM - Institute of Medicine – EUA.

IPF

ITF

- Índice de Prevalência de Fluorose.

- Índice Tylstrup-Fejerskov.

NRC - National Research Council – EUA.

mg/kg/d

n/F

s/F

- Miligrama por quilo por dia.

- Número de dentes com fluorose.

- Número de dentes sem fluorose.

OMS - Organização Mundial da Saúde.

OSA - Organização de Saúde da Aeronáutica.

ppb - Partes por bilhão.

pH - Potencial hidrogeniônico.

ppm - Partes por milhão.

SISAU - Sistema de Saúde da Aeronáutica.

WHO - World Health Organization.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Dom de identificação do HACO no SISAU. 24

Figura 2 Distribuição do ICF por gênero e grupos dentários. 84

Figura 3 Médias relativas parciais (mr) dos sistemas sintomáticos A, B, C,

D, E, F, distribuídas por grupo com fluorose e sem fluorose, e por

gênero.

86

Figura 4 Índices de Efeitos Sistêmicos do Flúor (IESF) e suas respectivas razões entre GF e GNF.

87

Figura 5 Distribuição dos valores do IESF, Amamentação e Fontes de

Flúor.

91

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 População de usuários do HACO de 06 a 14 anos em junho de

2009.

25

Tabela 2 Distribuição sintomática por sistemas e valores relativos (vr). 73

Tabela 3 Distribuição dos valores relativos (vr) e valores médios (vm) dos

sintomas positivados no GF para os grupos masculino, feminino

e total.

73

Tabela 4 Distribuição dos valores relativos (vr) e valores médios (vm) dos

sintomas positivados no GNF para os grupos masculino, feminino

e total.

74

Tabela 5 Médias relativas parciais (mr) dos sistemas sintomáticos por

subgrupo.

74

Tabela 6 Amostra estudada de janeiro a junho, em números absolutos.

segundo idade, gênero e presença de fluorose.

77

Tabela 7 População dentária presente e com fluorose, segundo a dentição

e o gênero. Média de dentes presentes e com fluorose por

pessoa.

79

Tabela 8 Distribuição em números absolutos (n) dos dentes presentes e

dos graus parciais de fluorose pelo ITF, segundo a dentição e o

gênero.

80

Tabela 9 Distribuição em números absolutos (n) dos dentes presentes e

dos graus parciais de fluorose pelo ITF, segundo a dentição e o

gênero.

81

Tabela 10 Índice Comunitário de Fluorose Modificado do Grupo Total. 82

Tabela 11 Índice Comunitário de Fluorose Modificado no Grupo Masculino. 82

Tabela 12 Índice Comunitário de Fluorose Modificado no Grupo Feminino. 83

Tabela 13 Relação entre IPF e ICF. 84

Tabela 14 Distribuição das médias e desvios-padrão do tempo de

amamentação, e dos valores médios, e média ponderada, das

frequências de consumo das fontes de Flúor.

89

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11

2 O SISTEMA DE SAÚDE DA AERONÁUTICA.......................................................20

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................26

3.1 O CONTEXTO DO FLÚOR NA SAÚDE BUCAL .................................................27

3.2 FLUOROSE: O MARCO SINALIZADOR DA TOXICIDADE FLUÓRICA.............36

3.3 DA FLUOROSE À FLUORETAÇÃO ...................................................................48

3.4 AS RELAÇÕES SISTÊMICAS DO FLÚOR.........................................................54

4 METODOLOGIA ....................................................................................................66

4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO..........................................................................66

4.2 OBJETO DO ESTUDO........................................................................................66

4.3 AMOSTRAGEM ..................................................................................................67

4.4 COLETA DE DADOS ..........................................................................................67

4.5 MATERIAL ..........................................................................................................68

4.6MÉTODO..............................................................................................................69

5 RESULTADOS.......................................................................................................77

6 DISCUSSÃO ..........................................................................................................92

7 CONCLUSÃO ......................................................................................................101

6REFERÊNCIAS.....................................................................................................107

GLOSSÁRIO.........................................................................................................119

APÊNDICE A – Consentimento Livre Esclarecido ................................................121

APÊNDICE B – Formulário para inquérito de saúde relacionada ao consumo de

Flúor, com odontograma para demarcação da fluorose dentária 122

APÊNDICE C – Sistema de instrução escrita e visual de suporte ao avaliador ....125

APÊNDICE D – Distribuição dos sintomas nos Sistemas orgânicos avaliados.....128

APÊNDICE E – Número de entradas positivadas no inquérito de saúde para

sintomas e fontes fluóricas ..........................................................130

APÊNDICE F – Fontes de Flúor............................................................................131

ANEXO A – Evolução histórica entre Flúor e cárie ...............................................132

ANEXO B – Parecer da Comissão de Ética da Divisão Odontológica ..................134

6

11

1 INTRODUÇÂO

A medida pública de fluoretação em território americano, em 1945, faz o Flúor

surgir como fator de dieta (necessário a dentes saudáveis) no combate contra a

cárie. Num curto período de tempo, o procedimento adquire uma espécie de

simpatia generalizada das autoridades sanitaristas mundo afora. A adição de sais de

fluoretos na água de abastecimento passou a constituir uma das prioridades nas

medidas preventivas das ações governamentais à saúde bucal (FAWELL et al.,

2006).

Fluoretação é o processo de tratamento da água, através da adição artificial

de sais ou ácidos de Flúor, o mais leve dos halogênios, hoje, normalmente extraído

sob a forma de complexos no manufaturamento industrial de fertilizantes. A iniciativa

americana foi uma medida profilática contra a ação cariogênica em crianças, embora

uma de suas consequências, a fluorose, já fosse de pleno conhecimento das

autoridades públicas da época (BRYSON, 2004).

Fluorose é uma patologia provocada pela retenção do Flúor no organismo,

envolvendo os tecidos mineralizados (FAWELL et al., 2006). A forma dentária é

caracterizada por um defeito cosmético que varia desde uma alteração de cor,

escassamente perceptível, à marcada alteração de coloração e destruição da

superfície dentária. É um distúrbio crescente, diretamente relacionado à

concentração do Flúor no local ou na adjacência do processo de desenvolvimento

do esmalte dentário (WHITFORD, 1997). Por ser característica do processo de

calcificação dentária, a fluorose pode se desenvolver em crianças e em

adolescentes, não em adultos (HONG et al., 2006).

No território brasileiro, a fluoretação é regulamentada por lei, inserida no

contexto constitucional. A partir da Constituição de 1988, passou a fazer parte das

ações preventivas previstas nos artigos 198 e 200 da Carta Magna. Embora o Flúor

já estivesse presente na vida de alguns brasileiros desde o início dos anos

cinquenta, somente adquire o status legal no meio da década de setenta (BRASIL,

2004).

No Comando da Aeronáutica (COMAER), os preceitos constitucionais de

medicina preventiva vêm amparados pela Doutrina de Logística da Aeronáutica em

sua Função Saúde. Ainda que essa Função Logística esteja voltada mais

apropriadamente à medicina operacional, a diretriz é para investimento em medidas

12

profiláticas e de educação sanitária, com fins de atender ao escopo preventivo da

Medicina Aeroespacial (BRASIL, 2003).

A Diretoria de Saúde da Aeronáutica (DIRSA), como responsável legítima da

promoção à saúde nos usuários da Força Aérea Brasileira (FAB), realiza

planejamentos estratégicos bianuais, nos quais sempre contempla medidas de

pesquisa e desenvolvimento às Organizações de Saúde da Aeronáutica (OSA), em

todos os segmentos operacionais. Particularmente, para a Odontologia, no que

concerne à saúde bucal.

Então, o tema deste estudo, abordando o impacto da ingestão continuada de

Flúor nos usuários do Sistema de Saúde da Aeronáutica (SISAU), visa atender,

justamente, o cumprimento da missão que a DIRSA direciona ao quadro

odontológico das suas respectivas OSA. O próprio exercício da atividade clínica

odontológica exercida pelo autor sobre o público alvo da fluorose nas duas últimas

décadas, denunciou a necessidade de aquilatar a importância da patologia, em

virtude do alto índice de ocorrência em usuários afetados no SISAU.

A preocupação sobre a abordagem dessa patologia nas Organizações de

Saúde, no meio militar, já foi manifestada em estudo anterior, onde Cordeiro (2007),

através de estudo documental, buscou evidenciar a ocorrência da fluorose nos

usuários do Setor odontológico de até doze anos do Hospital de Aeronáutica do

Galeão. Embora o autor não tenha encontrado discrepância significativa, em relação

aos valores da literatura, o estudo serviu de alerta à aplicação de uma metodologia

diferenciada daquela que simplesmente propõe o levantamento da prevalência do

distúrbio dentário.

O interesse pelo tema foi, então, despertado pela percepção de que o valor

que se deposita na estratégia de combate à cárie dental através do Flúor não é o

mesmo que se dá ao controle da fluorose, um importante efeito adverso. Contudo,

no meio odontológico, é de conhecimento pleno dos profissionais que essa

consequência do efeito fluórico tem a mesma propriedade de destruição dentária da

cárie, e, em saúde coletiva, sabe-se que o Flúor pode, ainda, em razão da produção

de diversos outros efeitos comprometedores à saúde, não justificar o benefício a que

foi proposto (COLQUHOUN, 1993; 1997).

No entanto, as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do

Ministério da Saúde do Brasil (MS) são para que indistintamente todas as pessoas

possam ter fontes de nutrientes que não ofereçam risco à saúde (FAWELL et al.,

13

2006; BRASIL, 2006). Ao menos na saúde bucal, quanto aos riscos do Flúor, a

fluorose é sem dúvida um indicador singular que o dentista dispõe para o controle

dos possíveis malefícios do agente. Porém, um discernimento dessa patologia sobre

o organismo como um todo poderia nortear a um amplo sistema de medidas

sanitárias junto ao paciente, sejam elas de caráter educacional, ou de intervenção,

mas sempre dentro do escopo da intervenção profilática. O dentista é o profissional

cujo meio operacional permite constatar os efeitos nocivos do Flúor, por meio da

observação dos dentes afetados, certamente uma constatação inequívoca da

toxicidade fluórica (FEJERSKOV et al., 1994; CANGUSSÚ et al., 2002; CASOTTI et

al., 2007).

Assim, a abordagem epidemiológica da fluorose em uma das OSA tem força

para conferir à DIRSA um enfoque diferenciado em saúde bucal, já que o oficial

dentista passará a contar com instrumentos estatísticos capazes de motivar o

usuário a uma dinâmica comportamental profilaticamente compatível com o controle

da ingesta fluórica, até no próprio uso da água de consumo.

Não obstante, o conceito cultural criado em torno da fluoração artificial das

águas tem sido tão somente o de apontar o Flúor apenas como um agente benfeitor.

Os efeitos adversos a ele agregados, mesmo a fluorose, indiscutivelmente um sinal

de intoxicação, costumam ser convenientemente subestimados (CONNETT, 2004;

2007; SPITTLLE, 2008).

Dessa forma, acabou se concebendo uma importância insignificante à

toxicidade do Flúor no comprometimento da saúde humana (WALDBOTT, 1956). E

toda a base educacional transmitida nesse sentido induziu a um fomento no

consumo da substância pelas mais variadas fontes, sem o mínimo de preocupação

sobre o controle toxicológico. Atualmente, uma gama imensa de produtos, bebidas,

alimentos e utensílios constituem meios adicionais de entrada do fluoreto no

organismo (FAGIN, 2008). Contudo a água ainda assume a maior significância entre

eles, uma vez que, nela, o Flúor passa a estar sempre disponível (SPITTLLE, 2008).

O efeito benéfico do Flúor, vinculado meramente a uma ação anti-cariogênica,

foi o marco teórico para o sistema de fluoretação (DEAN, 1945). Entretanto, ainda

nenhum estudo foi capaz de registrar incidência de fluorose abaixo de dois dígitos,

algo, por certo, no mínimo, questionável, em se tratando de Saúde Pública

(SPITTLLE, 2008). Contrariamente, a prevalência dessa patologia vem se tornando

sempre mais crescente, a ponto de influenciar nos processos de condução da saúde

14

bucal. A própria Associação Dentária Americana (ADA) já orienta os pais para o não

uso de água fluorada na primeira infância, uma vez que já foi evidenciado impacto

de fluorose superior a 40% nas crianças americanas (CONNETT, 2007).

A medida de fluoretação acabou por dividir a comunidade científica entre

aqueles que apóiam e os que rejeitam o Flúor como agente terapêutico seguro.

Como resultado da polarização, tornou-se comum a discussão sobre a questão de

que um ganho na saúde bucal não poderá justificar um dano na saúde geral.

Nas OSA, os especialistas em Odontopediatria e Ortodontia são os

profissionais dentistas mais intimamente relacionados à problemática do Flúor. O

alto índice de fluorose nessas clínicas é condição de contínua preocupação sobre o

efeito benéfico da ingestão fluórica. Resta sempre o dilema, se todo o esforço para

resolver um problema de Saúde Pública não esteja produzindo um outro, de

dimensões ainda imprevisíveis.

Contudo, o uso tópico do Flúor é favorável a um consenso. A razão se deve

ao fato de se tratar de um procedimento profissional, através de intervenção

criteriosa, com propósito pré-determinado, limitado no tempo, e conduzido por um

objetivo específico a ser alcançado (CANGUSSÚ et al., 2002). Contrariamente, em

relação ao uso sistêmico do Flúor, em que a substância precisa ser deglutida, nada

se tem de preciso sobre o processo, em relação ao organismo como um todo,

consequentemente nenhum controle pode ser estabelecido a contento

(COLQUHOUN, 1997).

A despeito dos que defendem a conduta sistêmica sob qualquer pretexto, de

fato, constata-se não haver qualquer evidência que ateste uma segurança efetiva do

consumo do Flúor. Dessa forma, como todo gerenciamento em Saúde Pública deve

ser pautado em fundamentação consensual e conduzido por princípios éticos e

humanitários, a fluoretação permanece carente de crédito (SPITTLLE, 2008).

Passados 64 anos de cenário americano, e 56, de brasileiro, a medida permanece

controversa como sistema de ingestão deliberada de Flúor.

Nesse sentido, a ausência de indicadores que balizem as consequências da

ingestão fluórica dificulta a tomada de decisão, para o oficial dentista, a uma conduta

operacional diferenciada aos usuários das OSA, ainda que a Diretoria de Saúde

oriente suas Unidades à priorização das ações preventivas. O fato é que as ações

assistenciais já se encontram plenamente consolidadas sobre uma rica base de

dados em literatura, mas os meios preventivos ainda carecem muito desse suporte.

15

A fluorose, por exemplo, recebe ação de tratamento meramente clínico, e somente

quando advém o comprometimento da estética ou da estrutura dentária.

Além disso, o questionamento se o uso sistêmico do Flúor não seria capaz de

afetar outros órgãos e sistemas, além dos dentes, é um fator comumente

perturbador para quem avalia a evolução da fluorose. Uma associação positiva,

nesse sentido, indicaria, pelo menos, duas vertentes de comprometimento: uma

atrelada ao viés de gestão pública, pelo fato de o medicamento poder se mostrar

pior do que a doença a que ele se propôs tratar; e outra vinculada à ética

profissional, pela probabilidade de litígio, devido à razão de ter se deixado guiar por

bases científicas enviesadas, uma vez que o embasamento científico de advertência

sempre esteve presente no universo literário.

Assim, controlar os efeitos de uma substância, compulsoriamente

estabelecida, como se toda população devesse reagir do mesmo jeito, condiz com a

ética profissional e institucional de se estar sempre à frente, ofertando saúde

individualizante e humanitária.

Caso essa observância não seja contemplada, profissionais e Instituição

continuarão a enxergar o efeito do Flúor apenas sob o aspecto monocromático da

lente que aponta o seu benefício contra a cárie. Contudo, a própria ocorrência de

fluorose já demonstra um estado de toxicidade, no mínimo ignorado, para o agente.

Se a sua ação na saúde bucal for ampliada à saúde sistêmica, fica evidente que

outros órgãos responderão ao Flúor, a exemplo dos dentes. Saber identificar esses

efeitos e intervir oportunamente, além de responder aos requisitos da verdadeira

promoção à saúde, certamente vai conferir ao sistema um aperfeiçoamento na

capacidade de gerenciamento dos riscos relativos ao Flúor.

Assim, a relevância deste estudo para o SISAU, fixa-se no fato de que o

levantamento de indicadores epidemiológicos referentes à ingestão de Flúor servirá

tanto ao aprimoramento gerencial da DIRSA, como ao aperfeiçoamento operacional

dos profissionais, envolvidos na saúde bucal.

O diagnóstico epidemiológico permitirá ao Sistema um melhor planejamento

das ações preventivas, favorecendo a implementação de programas de promoção à

saúde oral. O resultado refletirá em menos ações assistenciais, que são de maior

complexidade, e de alto custo à Organização, além de impingir maior sofrimento ao

paciente odontológico. Isso faz com que a Unidade gestora fique muito mais próxima

16

dos preceitos constitucionais relativos à saúde, aos quais defende como ação

prioritária.

Os profissionais, controlando melhor os processos de intervenção, podem

avaliar os resultados obtidos com maior acurácia, tornando-se, dessa forma, mais

capacitados aos propósitos de melhoria nas condutas profiláticas públicas, sob o

aval da Odontologia baseada nas evidências clínicas. O resultado refletirá numa

maior flexibilidade de conduta operacional, pela atenção ao desdobramento da

saúde, um preceito ético básico da profissão odontológica.

Nessa contextualização, e no sentido de proceder avaliações sistemáticas

dos efeitos do Flúor nas OSA, que permitam à DIRSA uma base de dados

norteadores para medidas preventivas mais efetivas à saúde bucal, e também no

que tal abordagem pode trazer de significativo aos usuários do SISAU, propõe-se a

seguinte situação problema: quando avaliada por indicadores epidemiológicos,

qual seria a influência da ingestão continuada de Flúor, como medida

preventiva de saúda bucal, sobre a saúde geral dos usuários do Hospital de

Aeronáutica de Canoas?

Indicadores epidemiológicos são ferramentas classicamente aceitas, em

saúde coletiva, para análise do comportamento específico da saúde numa

determinada população. Foram os índices de fluorose, em contrapartida aos de

manifestação cariogênica, que permitiram a Dean (1945) chegar ao contexto de

fluoretação das águas.

Além dos indicadores contribuírem para a evolução científica numa determina

área, pela possibilidade do confronto entre os diversos tipos de estudos de mesma

natureza, também são utilizados como base para solidificar estudos em outros

campos da investigação. Sobre eles, o conhecimento pode ser aferido, ratificado ou

moldado a uma nova realidade científica, porque o universo subjetivo, dentro de um

contexto, passa a ser representado objetivamente, através de uma formulação

matemática. Quando utilizados no universo da representatividade, contribuem para a

plataforma científica de bases asseguradas por evidências (MEDRONHO et al.,

2004).

Os indicadores podem ser simples, compostos ou ainda inter-relacionados, de

acordo com o propósito a ser perseguido. O índice de prevalência descreve a força

com que as doenças subsistem na coletividade. Ele simplesmente indica que a

morbidade representa um subconjunto da população em foco. Já o índice

17

comunitário indica a severidade com que a doença atinge a população (DEAN,

1942). Assim, à semelhança deste, pode ser construído um índice capaz de revelar

o impacto dos efeitos da ingestão continuada de Flúor numa população passível de

controle.

Como o universo de usuários da OSA focalizada neste estudo é constituído

por uma população específica, com procedimentos de saúde controlados sob

gerenciamento único da DIRSA, o ambiente odontológico prontamente se qualifica a

essa abordagem. A abrangência nacional das Unidades odontológicas do SISAU é

capaz, inclusive, de oferecer condições ideais para que a mensuração dos efeitos

sistêmicos do Flúor possa servir de referência à orientação de medidas públicas

mais conscientes ao uso da água.

Conquanto, a visão desta investigação se traduz no propósito de sedimentar

junto à DIRSA a necessidade de uma base de evidências que possam servir de

apoio a programas básicos em saúde bucal e a controles sanitários mais proficientes

na operacionalidade da clínica odontológica militar. Certamente, um estímulo para

configurar a OSA como uma verdadeira fonte geradora de pesquisas em saúde,

baseada em evidências.

Nesse sentido, o objetivo geral deste estudo é o de avaliar a influência da

ingestão fluórica na saúde geral dos usuários de um hospital pertencente ao SISAU,

por levantamento dos índices epidemiológicos pertinentes.

Para atender a esse propósito, foi idealizado um desenho de estudo piloto,

contemplando usuários da faixa etária de 6 a 14 anos da Divisão Odontológica do

Hospital de Aeronáutica de Canoas (HACO) no período de janeiro a junho de 2009.

A fim de se alcançar este objetivo, ou a instrumentação de indicadores

epidemiológicos pertinentes à situação problema, a pesquisa passou a ser norteada

pelos seguintes objetivos específicos:

1 - Levantar o Índice de Prevalência de Fluorose (IPF) nos usuários do

HACO, e confrontá-lo com os parâmetros conhecidos da literatura;

2 - Analisar, pelo Índice Comunitário de Fluorose (ICF), se a população do

HACO atinge a situação de problema de Saúde Pública;

3 - Elaborar um índice capaz de quantificar os efeitos do Flúor na saúde geral

dos usuários; e

4 - Identificar as possíveis associações entre os efeitos do Flúor sobre os

dentes (fluorose) e os efeitos sistêmicos.

18

Nessa concepção, o presente estudo se restringe aos resultados sobre a

população de usuários selecionados nas clínicas de Odontopediatria e Ortodontia da

Divisão Odontológica do Hospital de Aeronáutica de Canoas, Rio Grande do Sul,

para a faixa etária de 6 a 14 anos, no intervalo de tempo entre janeiro e julho de

2009. Não envolve, portanto, usuários de outros seguimentos do hospital, nem de

outras Unidades de saúde do SISAU.

Para melhor compreensão da questão estudada, será primeiramente

apresentado o Sistema de Saúde da Aeronáutica. Após esse esclarecimento, o

estudo será estruturado em três grandes blocos. O primeiro reporta a

fundamentação teórica pertinente à abrangência do Flúor no contexto de saúde

bucal e geral, servindo de base à metodologia objetivada. No segundo, a

metodologia é detalhada em sua estrutura, material e método. O terceiro apresenta a

análise dos resultados obtidos e o confronto desses dados com os parâmetros da

literatura. Para o fechamento do trabalho, uma conclusão colige a síntese de toda a

pesquisa, com ênfase na resposta à questão problema.

O fundamento teórico contempla as ações do Flúor no contexto da saúde,

desde a sua inserção no âmbito bucal (1945), e das perturbações sistêmicas a ele

atreladas (1956), até os dias atuais. São contextualizadas as fontes de ingestão, e,

dentro de um enfoque fisiopatológico, as alterações do padrão fisiológico normal,

produzidas pelo elemento. A fluorose é abordada como um marco sinalizador da

toxicidade fluórica, na sua expressão dentária, esquelética e quanto à facilidade de

ser percebida.

Como o processo de fluoração das águas surge a partir dos estudos

preliminares sobre a fluorose, os cenários social e atual da fluoretação estão

representados. Os efeitos adversos do Flúor na saúde sistêmica culminam na base

teórica necessária ao embasamento da metodologia do estudo. Assim, foram

abordados grandes blocos sistêmicos, onde o Flúor é indicado como causa de

efeitos adversos. As perturbações foram, então, abordadas dentro dos sistemas,

funcional regular, estomatognático, locomotor, neuro-endôcrino-imunitário, gênito-

reprodutor e finalmente no neuro-psico-comportamental.

A metodologia está calcada na construção do indicador de associação entre

observações e informações de saúde dos pacientes avaliados na rotina do

atendimento odontológico e a presença de fluorose no âmbito total da população de

estudo.

19

Para que se tenha uma exata noção do universo deste estudo, o próximo

capítulo focaliza o SISAU, sistema este que conta com uma Diretoria única, mas que

abrange múltiplas Organizações de atendimento para seus usuários. Dentre elas,

uma interessa mais diretamente a este trabalho, por constituir o foco principal da

pesquisa: o Hospital de Aeronáutica de Canoas (HACO), que também é apresentado

no próximo capítulo.

20

2 O SISTEMA DE SAÚDE DA AERONÁUTICA - SISAU

O SISAU é um dos grandes sistemas de apoio logístico do Comando da

Aeronáutica. Constituído por Organizações, Órgãos e Elementos, presta serviço de

saúde a todo o contingente da Força Aérea Brasileira (FAB), aos militares da ativa e

da reserva, aos dependentes e agregados, conforme definido em lei. Atua, através

da sua Diretoria de Saúde (DIRSA), nas áreas da Medicina Aeroespacial,

Preventiva, Assistencial, Pericial, Operacional, Odontológica, Farmácia e Atividades

Complementares, e obedece a um modelo de autogestão (BITTENCOURT, 2006).

O Sistema possui uma rede própria, composta de Hospitais de Força Aérea,

Hospitais de Área, Hospitais de Base, Esquadrões de Saúde, Esquadrilhas de

Saúde, Odontoclínicas, Casa Gerantológica e Laboratório Químico e Farmacêutico.

A DIRSA é o órgão central da rede hospitalar. Apoiada em Divisões

administrativas, gerencia o estado de saúde de mais de 290.000 usuários em todo o

território nacional. Suas Organizações compreendem desde unidades de assistência

elementar ao aeronavegante militar, e pequenas Unidades espalhadas pelo interior

do Brasil, até grandes complexos hospitalares nos grandes centros urbanos e

cidades do país.

Onde a estrutura não propicia resposta efetiva às necessidades dos usuários,

seja pela localização geográfica ou pela indisponibilidade de procedimentos e

especialidades, o SISAU disponibiliza uma rede complementar contratada, com

hospitais, clínicas, laboratórios, médicos e outras entidades de saúde. Além disso,

também efetua ressarcimento de despesas médicas e odontológicas ao próprio

usuário, como forma de garantir o cumprimento do instituto legal.

Contudo, o grande diferencial do Sistema, é que ele sempre procura apoiar

diretamente cada Unidade Aérea, em cada ponto do país, onde quer que esteja

instalada. Assim, as Organizações de Saúde da Aeronáutica (OSA) apresentam a

peculiaridade de se encontrarem o mais adaptada possível ao contingente

aeronáutico da área em que estão instaladas. Desta forma as OSA são classificadas

de primeiro a quarto escalão, em ordem crescente, conforme abrangência de seus

procedimentos operacionais e do número de atendimentos prestados.

Os recursos para o financiamento do Sistema são provenientes de duas

fontes: orçamento da União e contribuição complementar pelos militares e

pensionistas. Essa última parte constitui o Fundo de Saúde da Aeronáutica

21

(FUNSA), que obedece ao sistema mutualista. Ou seja, todo o grupo participa da

sobrevivência do sistema por meio da contribuição direta, descontada em

contracheque, e os benefícios só se dão diante de necessidades específicas, sendo

dirigidos única e exclusivamente aos mesmos que contribuem.

O FUNSA é administrado pela DIRSA, por intermédio da SARAM

(Subdiretoria de Aplicação de Recursos para Assistência Médico-hospitalar), que

determina as características dos atendimentos que podem ser cobertos com os

recursos financeiros disponíveis, sempre observando os ditames da lei. Nesse

sentido, cabe à SARAM estabelecer normas para delimitar uma rede complementar

necessária para atender a todos os seus beneficiários.

O SISAU difere substancialmente de um plano de assistência privado por não

ser comercializável e ter administração pública, além de não considerar faixas

etárias no estabelecimento de seus preços. O valor da contribuição é vinculado ao

soldo do contribuinte responsável.

Na parcela de contribuição complementar também está inserida a co-

participação. O usuário efetua o pagamento de 20% do valor de custo do

atendimento, enquanto o resto de 80% é financiado pelo FUNSA, com base em

tabelas pré-estabelecidas. Pequena parcela de usuários, definido em lei, está isenta

da co-participação.

A assistência à saúde é realizada nas modalidades ambulatorial e hospitalar,

e, em caráter específico, no domicílio. Não há qualquer tipo de carência ou de

restrição ao atendimento, quer em virtude do tipo de problema médico ou de

doenças pré-existentes.

Portanto, os critérios de equidade, universalidade e integralidade em saúde

são os critérios norteadores de atendimento do SISAU aos seus usuários. A tarefa

que possui a DIRSA em gerenciá-lo é bastante árdua, requerendo muito esforço e

comprometimento na administração das fontes dos recursos para manter o custeio e

os investimentos necessários ao emprego da saúde.

O Sistema garante ainda, a cada participante, direitos iguais em cada uma

das suas múltiplas Unidades prestadoras de serviço. Entretanto, o número absoluto

de usuários que cada uma das OSA administra não sofre muita alteração pela

característica de deslocamento entre sedes.

Embora haja uma pequena variação na qualificação dos usuários, em virtude

dos processos de transferência entre as Unidades militares, pode-se afirmar que

22

usuário do SISAU tem um padrão de atendimento praticamente uniforme, em cada

ponto do país.

Esse é o contexto em que se insere o universo da pesquisa. Assim, todo o

estudo desenvolvido numa determinada Unidade de Saúde Aeronáutica acaba

incontestavelmente repercutindo nas demais, como efeito em cadeia. As Unidades

hospitalares, dentro de seus respectivos escalões, são muito semelhantes entre si

quanto ao processo de estruturação e atendimento, ficando as diferenças por conta

de suas característica históricas e regionais próprias (BITTENCOURT, 2006).

Dentro desses aspectos será apresentado um breve histórico do Hospital de

aeronáutica de Canoas, OSA sede do estudo, conforme publicação institucional da

entidade, sediada na página eletrônica <http://www.haco.aer.mil.br> (HACO, 2009).

O HACO está situado a 10 km de Porto Alegre, localizado entre a Serra e a

Capital Gaúcha. Assiste a família militar do extremo sul do País com a consciência

de bem cumprir sua missão.

Criado em 30 de outubro de 1950, pelo decreto nº 28.805, oriundo do Serviço

de Pronto Socorro de Canoas, Unidade que durante muitos anos foi conhecida como

o “Pronto Socorro da Base”, em virtude da proximidade com a Base Aérea. Era a

única Unidade de Saúde do município, e atendia a militares e a população da cidade

igualmente.

Em 1949 a Base Aérea se muda para junto do aeródromo de Gravataí, às

margens do rio do mesmo nome, surgindo o HACO no ano seguinte.

Extinto o Serviço de Pronto Socorro de Canoas, suas instalações e

aparelhagens são integralmente ocupadas pela nova Unidade que, continua a ser

dirigida pelo Tenente Coronel Médico Dr. Carlos Santos Rocha, agora como seu

primeiro diretor, exercendo essa função até 12 de abril de 1952.

Mesmo transformado em hospital de Zona Aérea, a nova Organização de

Saúde, não deixa de atender a população civil do município, inclusive em

atendimento domiciliar de urgência.

Em 11 de fevereiro de 1960, pelo decreto nº 47.792, o HACO passa a

denominar-se Hospital de Zona Aérea de Canoas.

Por portaria de 14 de agosto de 1969, o Hospital de Aeronáutica de Canoas

passa à subordinação para todos os fins ao Comando da Quinta Zona Aérea.

23

A Portaria do Ministério da Aeronáutica de 23 de maio de 1972 volta a

subordinar o HACO técnica e administrativamente à Diretoria de Saúde da

Aeronáutica, e disciplinarmente ao Comandante da 5ª Zona Aérea.

Em 1992, é inaugurada a Unidade Móvel de saúde, iniciativa pioneira entre

hospitais militares, equipada em módulos de atendimento que vão desde o uso

odontológico até, em alguns casos, intervenções cirúrgicas de urgência.

No ano 2000, teve reinaugurada a sua UTI (Unidade de Tratamento

Intensivo), contando atualmente com cinco leitos e equipamentos de alta tecnologia.

O Corpo Clínico compõem-se de médicos, cirurgiões-dentistas,

farmacêuticos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos, assistente social,

enfermeiros e nutricionistas.

O emblema do Hospital de Aeronáutica de Canoas, projeta o desenho da

escultura pública “O Futuro”, criada por artista local, referindo-se a trilogia humana

do trabalho que leva ao progresso. A escultura é constituída por uma canoa

representando a cidade e, sobre a mesma, três figuras humanas: a primeira, de

porte musculoso e portadora de um remo, representa o trabalho braçal; a Segunda

está com a mão sob o queixo, num gesto pensativo, conduzindo no outro braço um

rolo que ilustra o elemento intelectual; e a terceira, sem a qual as duas primeiras

ficariam anuladas, simboliza o empresário, pois a figura está construída como parte

efetiva da canoa e com o braço estendido aponta o horizonte, indicando o futuro. O

remo, seguro pela primeira figura humana, impulsiona-se no livro, que é a base do

monumento, significando que o homem é movido pela cultura.

O monumento sobrepõe-se ainda ao contorno dos mapas dos três estados

da região sul, área de cobertura do Hospital. Os mapas destacam-se em jalne

(amarelo), lembrando as riquezas, a potência, a sabedoria e a força da região.

Desta forma, os profissionais do HACO transportam no peito um dom que

caracteriza a perfeita integração do hospital ao ambiente sócio-cultural do local que

se encontra inserido. O entrosamento com entidades públicas para prover saúde é

uma forte característica gerencial no HACO.

Assim, o HACO, aos 59 anos de existência, estimulando o comprometimento

profissional e moral do seu efetivo e dispondo de equipamento multidisciplinar

atualizado nas mais modernas técnicas, continua primando pela satisfação do

usuário e melhoria das performances e dos resultados.

24

Este é o Hospital de Aeronáutica de Canoas, onde homens e mulheres,

empenhados na preservação da saúde e da vida, conscientes de sua missão,

integram no sul do País, um referencial de saúde na Aeronáutica.

A missão do HACO é Prover Saúde nas áreas preventiva, assistencial e de

campanha no nível de Terceiro Escalão aos militares e seus dependentes na área

do Quinto Comando Aéreo Regional em tempo de paz ou conflito. Na Direção atual,

as letras componentes do nome da entidade (H, A, C e O) traduzem a diretriz de

comando para o compromisso de todos os integrantes para com a humanização,

aprimoramento, comprometimento e operacionalidade.

O HACO tem por visão ser reconhecido pela excelência em ações de

promoção à saúde em todas as esferas da sua missão, tanto do âmbito do SISAU,

quanto no meio externo. O intuito de consonância com essa plataforma foi quem

conduziu à base deste estudo.

A figura 1 representa o Dom (símbolo) do HACO. Serve para identificar os

profissionais sediados nessa Unidade militar, diferenciando-os dos das demais

Unidades de Saúde do Sistema da Aeronáutica.

Figura 1: Dom de identificação do HACO no SISAU. Fonte: HACO (2009).

25

O Hospital de Aeronáutica de Canoas (HACO), é a Unidade do SISAU

responsável pelo atendimento de toda a população aeronáutica da área Canoas,

Porto Alegre e Grande Porto Alegre. Sua carteira atual, composta por mais de

27.000 usuários, é atendida em 21 especialidades médicas e 9 odontológicas, além

de suporte das áreas de Nutrição, Psicologia, Fisioterapia e muitos outros grupos de

apoio em Assistência Social.

A Tabela 1 representa a população alvo da pesquisa discriminada da

população total de usuários do HACO.

Tabela 1: População de usuários do HACO (Canoas, RS) de 06 a 14 anos em junho de 2009.

Gênero

Idade

Masculino

Feminino

Total

6 48 44 92

7 56 62 118

8 81 94 175

9 86 80 166

10 86 101 187

11 95 96 191

12 100 110 210

13 101 98 199

14 101 77 178

Total

754 (49,74%)

762 (50,26%)

1516 (100%)

Para dar embasamento a esta pesquisa, há necessidade de fundamentá-la

em teóricos que se debruçaram sobre a questão da saúde bucal, especialmente

aqueles que se detiveram no uso do Flúor como fator preventivo de cáries, bem

como nos efeitos que tal medida pode provocar no organismo humano. É importante,

portanto, que se faça uma revisão de literatura atual sobre essas questões.

26

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O presente embasamento teórico contempla uma análise sobre os efeitos da

ingestão do Flúor, orientada pela contextualização desse elemento na saúde bucal;

da fluorose, como principal consequência; do cenário histórico envolvido na

fluoretação; e dos riscos à saúde, atrelados a essa questão.

Um autêntico marco teórico para as consequências da ingestão de Flúor

residiria no fundamento de que ele sempre é capaz de produzir algum tipo de

manifestação sobre a saúde humana. A própria política da fluoretação nasceu dentro

de um escopo prévio de morbidade endêmica provocada pelo Flúor (BLACK;

McKAY, 1916). Entretanto, foi somente após o processo de fluoração das águas que

começa a formação de um corpo de evidências dos efeitos do agente no organismo,

enquanto uma ala da ciência se detém na expressão local do agente, para com os

dentes, outra, direciona o mesmo esforço às consequências sobre a saúde

sistêmica.

Dessa forma, as evidências desse campo de estudo acabaram se agrupando

em dois pólos distintos de pesquisa. Um primeiro, quase incondicionalmente

atrelados aos preceitos de Henry Tendley Dean (1945), defensor do tratamento da

água de abastecimento público pelo Flúor. Um segundo, atrelado aos preceitos de

George L. Waldbott (1978), que revela uma toxicidade fluórica, desnecessária à

Saúde Publica. Justamente, sobre as bases de Dean, na defesa de uma

concentração adequada de Flúor à saúde bucal pelo processo de fluoretação, e

sobre as bases de Walbott, referindo-se a essa conduta como um grande dilema em

Saúde Pública, é que as bases deste estudo foram alicerçadas.

Numa analogia criativa, pode-se afirmar que a fluoretação foi fecundada na

década de 30 do século passado, com a associação entre fluorose e cárie,

estabelecida pelo dentista americano Frederick Sumner Mckay (McKAY, 1933).

Esse fato levou a Dean, funcionário do Serviço de Saúde do governo

americano, a possibilidade de utilizar o Flúor no combate à cárie dental (DEAN,

1936; 1938). Após vários estudos, na tentativa do controle da fluorose (DEAN,

1942; 1943), Dean (1945) estabeleceu a concentração de um ppm como sendo

ótima à medida de fluoretação. Conquanto, mesmo sob tão baixa concentração, não

consegue evitar um índice residual para aquém dos 10%; a que certificou como

inexpressiva à saúde humana (DEAN, 1946).

27

Já em 1956, Waldbott, médico alemão alergista, erradicado nos Estados

Unidos (EUA), consegue evidenciar importantes manifestações vinculadas ao Flúor;

inclusive além do campo bucal (WALDBOTT, 1956). Waldbott rompeu a crença de

perturbação local insignificante, defendida por Dean e por seus muitos adeptos, e

também acabou agregando, em torno de si, uma forte corrente de estudiosos

opositores. Os seus muitos estudos sobre o tema culminaram na sua grande obra,

“Fluoretação: o grande dilema” (1978), um verdadeiro marco científico na história da

fluoretação.

Assim, quanto à intervenção do Flúor na Saúde Pública, o meio científico

acabou se sedimentando sobre essas duas vertentes de estudos. As evidências se

somam nos dois enfoques distintos, a fim de atender aos seus respectivos

propósitos.

A realidade da influência fluórica no organismo, superando a essa dicotomia

científica, é evidente, já que esse cenário somente surge após a fluorose já ter sido

revelada por McKay (1933). Contudo, pode-se afirmar que, significativamente, as

bases científicas da influência fluórica sobre a saúde somente começaram a ser

construídas, após a implementação da fluoretação, razão pela qual ancoram o

marco teórico deste estudo.

A revisão analítica da literatura fornecerá argumentação compatível a esse

contexto, contemplando a dinâmica fluórica, da saúde bucal à saúde sistêmica,

permeando a realidade da fluoretação.

3.1 O CONTEXTO DO FLÚOR NA SAÚDE BUCAL

O Flúor é o elemento químico mais eletronegativo, mais leve e mais reativo da

tabela periódica (SPITTLLE, 2008). Isso significa ter forte tendência para adquirir

forma negativa em solução, transformar-se em ânion, e formar molécula com

elementos de carga oposta, gerando complexos químicos (BRYSON, 2004). A partir

da forma ionizada (F-), apresenta a mesma carga, e aproximadamente o mesmo raio

do ânion hidroxila (OH-). Os dois ânions podem se intercambiar em estruturas

minerais, como dentes e ossos (FAWELL et al., 2006).

Na natureza, o elemento nunca é encontrado isolado, e forma associação

com praticamente todos os outros elementos químicos (FAWELL et al., 2006), mas

28

preferencialmente com hidrogênio, cálcio, sódio, alumínio, enxofre e silício

(BRYSON, 2004). É um agente biologicamente muito ativo, mesmo em baixas

concentrações. Ao interferir nas ligações de hidrogênio, torna-se capaz de

desestabilizar macromoléculas, inibindo uma série de enzimas, e trazendo, como

consequência, a alteração estrutural dos tecidos mineralizados (LI, 2003;

STRUNECKÁ; PATOCKA; CONNETT, 2004).

A afinidade de reação comanda as ligações fluóricas. Numa solução iônica, o

alumínio é rapidamente mobilizado, para formar um composto (Al-F) extremamente

estável. O complexo Al-F têm a propriedade de mimetizar o radical fosfato nas

reações biológicas, e contribuir para formação de processos degenerativos

(STRUNECKÁ; PATOCKA, 1999; STRUNECKÁ; STRUNECKÝ; PATOCKA, 2002). À

medida que a oferta de Flúor é assegurada, até as substâncias mais pesadas, ou

mais estáveis, vão sendo requisitadas, por ordem de afinidade. Não há fronteiras às

ligações fluóricas, o Flúor chega a mobilizar, inclusive, os gases nobres (FAWELL et

al., 2006).

A concentração de Flúor é mensurada em partes por milhão (ppm),

equiparando-se à razão de mililitro/litro (ml/l) aos líquidos, e de miligrama/kilo

(mg/kg) aos sólidos. Para estudos envolvendo marcadores biológicos, a OMS admite

a correlação entre os parâmetros de um ppm da água e um ppb (partes por bilhão),

no soro sanguíneo (FAWELL et al., 2006).

Classicamente, a ação do Flúor é conhecimento da saúde bucal, mas os

primeiros registros de interferência do agente na saúde humana vêm do século XIX,

pela medicina homeopática. A Homeopatia foi sistematizada pelo médico alemão

Samuel Hahnemann (1756-1843), através do método de experimentação em

homens sãos, denominado “proving”. O também médico alemão, Constantin Hering

(1800-1880), erradicado nos EUA, estabeleceu a experimentação hahnemanniana

do ácido fluórico, em 1845, e registrou a influência sobre vários órgãos do corpo,

além de dentes e ossos (VERMEULEN, 2004).

Hering (1800-1880), acompanhando a evolução clínica de muitos casos

tratados homeopaticamente (5.350) constatou que na condição de três ou mais

episódios de cura para um mesmo medicamento, o remédio correspondente ao

ácido fluorídrico (Fluoric acidum) apontava uma preferência de 87,5% ao gênero

masculino. Assim, a medicina homeopática, pioneiramente, prova a influência do

29

Flúor na saúde humana, porém sob o enfoque metódico ou experimental, e não

acidentalmente, como foi na saúde bucal (VERMEULEN, 2000).

Em termos de saúde bucal, a influência do Flúor se deu acidentalmente,

quando em 1933 Mckay consegue estabelecer a associação da ingestão da

substância com a patologia de esmalte dentário “Manchas Marrons de Colorado

Springs”, já estudada por ele, desde a primeira década do Século XX (BLACK;

McKAY, 1916).

Foram manifestações dentárias semelhantes a esse distúrbio em usuários de

água com alto teor de fluoreto, em região de mineração de alumínio no território

americano, que permitiram a correlação entre Flúor e esmalte mosqueado. Diante do

achado, Mckay reclassifica a patologia, de “manchas morrons”, para fluorose, tendo

a destreza de registrar uma observação curiosa, a de que era comum um baixo

índice de cárie dental aos afetados (McKAY, 1933).

Essa observação de McKay acaba por abrir um amplo leque de pesquisas

sobre o Flúor no contexto da saúde bucal (FAWELL et al., 2006). Então, sob o

enfoque epidemiológico, Dean (1933) inicia o processo de investigação da fluorose

em diversos estados americanos, até culminar com a histórica associação entre

concentração otimizada e grande benefício contra a cárie dental (DEAN, 1938).

Segundo Dean, a concentração próxima de 1 ppm (0,7 a 1,2 ppm), era de

vital importância para um resultado efetivo aos dentes. Em 1945, com a

implementação da medida de fluoração artificial das águas, H. T. Dean entra para a

história como o pai da fluoretação, e o Flúor como um achado nutricional.

O Flúor foi considerado pelo Comitê de especialistas da OMS como

necessário à vida (FAWELL et al., 2006). Contudo, embora taxas de Flúor inferiores

aos parâmetros de Dean estejam associadas com a incidência de cárie dental, um

real estado de deficiência fluórica, ainda não foi documentado (COT, 2003).

Para Waldbott, o mais renomado estudioso sobre toxicidade fluórica

(SPITTLLE, 2008), nem estudos laboratoriais, nem em animais, nem dados sobre

dentes e ossos humanos demonstraram evidências conclusivas de que o Flúor seja

essencial à vida (WALDBOTT, 1978). Diversas outras correntes de estudo

evidenciaram inexistência de qualquer doença relacionada à deficiência do Flúor,

além de atestarem à possibilidade para dentes perfeitamente saudáveis na ausência

do elemento (NRC, 1993; IOM, 1997, CONNETT, 2004).

30

O Flúor na forma elementar é um gás altamente reativo, e na forma ionizada é

encontrado num grande número produtos.

3.1.1 FONTES DO FLÚOR

O Flúor está presente em bebidas, alimentos, água, fármacos, produtos

odontológicos e de higiene bucal e em muito outros segmentos industrializados,

além de participar do próprio ar que se respira (FAWELL et al., 2006; ALVES SILVA

et al., 2007; SPITTLLE, 2008).

Constitui preocupação atual, o cuidado para que o somatório das diversas

origens não exceda o limiar da dose tóxica provável (PTD) à intoxicação aguda. O

parâmetro estimado de 5 mg/kg (WHITFORD, 1992, 1994) já foi revisto pela OMS,

em 1996, para 1 mg/kg. Assim, apenas duas dosagens diárias de 30 ppm já é o

suficiente para atingir a PTD num adulto de 60 kg. Como as formas líquidas, a

exemplo de água, leite, sucos e colutórios são de muito fácil acesso, o potencial de

toxicidade se torna realmente muito provável (FAWELL et al., 2006).

Embora a intoxicação aguda seja grave, ela é de rápida identificação. Ao

contrário, uma possível intoxicação crônica exige atenção e destreza nos critérios de

avaliação dos conteúdos fluóricos, sejam eles líquidos, sólidos ou gasosos (FAWELL

et al., 2006).

Estima-se que aproximadamente 80% do Flúor da dieta venha da água e

bebidas (DABEKA; McKENZIE, 1995). Somente nos refrigerantes, as concentrações

excedem o limiar otimizado inferior para a fluoretação em 71% dos produtos

(MOYSÉS et al., 2002). O limite otimizado de ingesta diária, para atender aos

requisitos do controle da cárie com um mínimo de efeito adverso, é preconizado

entre 0,05 e 0,07 mg/kg (CASOTTI et al., 2007; FAGIN, 2008), o que corresponderia

a uma média diária máxima de 3,6 mg de Flúor para um adulto de 60 kg. Mesmo em

área não fluoretada, a estimativa de ingesta total para um adulto gira em torno de

0,88 a 2,20 mg/d. Atribui-se o aporte fluórico a zonas não fluoretadas, em grande

parte, ao efeito halo (CANGUSSÚ et al., 2002; BARROS; MATOS, 2005), onde

produtos processados em locais fluoretados, consumidos em locais não fluoretados,

conduzem a transferência dos efeitos do fluoreto.

31

Contudo, a média diária de ingesta, somente por bebidas e alimentos, em

região de água tratada já é avaliada entre 3,5 a 5,5 mg por pessoa (PÁLMA et al.,

1989; WIECZOREK et al., 1992), indistintamente ao peso e idade da mesma.

Segundo Whitford (1997), não é o teor fluórico de cada elo nutricional, e sim a

composição da dieta, quem influencia o total da absorção pelo organismo. Portanto,

dieta elaborada com água fluorada apresenta teor fluórico total muito superior à

soma dos teores dos seus constituintes (FAGIN, 2008).

Conforme se evidencia no (APÊNDICE F), diferentemente de quando a

fluoretação foi implementada, hoje, as pessoas estão sujeitas a muitas outras fontes

de Flúor, consideradas fatores de risco (MOYSÉS et al., 2002, PROVENZANO et al.,

2008). Tornou-se habitual uma concomitância levar ao excesso das recomendações

diárias, consideradas seguras (NRC, 2006). Vários estudos alertam para o fato de

que as crianças podem ingerir toda a taxa de Flúor da recomendação diária apenas

dos dentifrícios (LEVY; GUHA-CHOWDHURY, 1999; ALVES SILVA et al., 2007).

Moysés et al. (2002) expõem trabalhos que evidenciaram uma média de 0,42 mg

para ingestão por meio dos dentifrícios mais comumente utilizados.

Apesar de estudos americanos e canadenses terem evidenciados médias de

ingestão de 1,4 a 3,4 mg/dia em áreas a 1ppm; e de 0,3 a 1.0 mg/dia em de 0,3

ppm, apenas pela dieta, as múltiplas origens fluóricas ainda têm encontrado defesa

em estimativas de consumo total de até 10 mg/dia, já a partir de 8 anos de idade

(POLLICK, 2004). Por certo, um forte estímulo à ingestão do fluoreto, uma vez que o

fomento à ingesta de Flúor por diversas fontes tende a aumentar os resultados da

absorção indistintamente às populações com ou sem fluoretação (WHITFORD,

1997; MENEZES et al., 2002; OLIVEIRA JÚNIOR et al., 2006).

Ademais, tem sido evidenciado que diversos fatores ambientais, como

altitude, clima quente e seco, alta umidade e poluição aérea contribuem para um

maior aporte fluórico no organismo (ZENKNER et al., 2005; FAWELL et al., 2006),

embora a água tratada ainda seja considerada a fonte de maior expressão

(WHITFORD, 1997). Para as regiões temperadas, a OMS, em 1984, já estimava um

consumo diário de até 2 mg por adulto em zona de água tratada; e de 0,6 mg em

zona não tratada (FAWELL et al., 2006). Como a fluorose dentária moderada já

esteve associada à ingesta de 0,05 mg/kg/dia, nada superior a 0,1 mg/kg/dia parece

constituir limiar seguro ao problema (COT, 2003). Assim, como a referencia de

ingestão fluórica está intrinsecamente relacionada a diversas variáveis facilitadoras à

32

absorção, um indicador de consumo seguro somente seria possível quando

estritamente focado em cada local. Por certo, um desafio ainda a ser vencido pela

ciência.

Pela defesa do benefício contra a cárie, calcada na necessidade constante de

Flúor no meio bucal, necessária à ação anti-cariogênica, acaba-se estimulando ao

super consumo da substância (ALVES SILVA et al., 2007). Contudo, a despeito da

estimada proteção, o processo biológico, a que o organismo está submetido a partir

da ingestão, precisa ser bem avaliado, em função da fisiopatologia desencadeada.

3.1.2 FISIOPATOLOGIA DO FLÚOR

Um perfeito entrosamento entre as funções fisiológicas de absorção,

distribuição e excreção é fator preponderante para o mecanismo de ação do Flúor

na saúde orgânica, pois, resultados patológicos costumam advir do desequilíbrio

dessas atividades (CANGUSSÚ et al., 2002; ZENKNER et al., 2005; PROVENZANO

et al., 2008).

A absorção do Flúor é qualificada pelo ambiente ácido. Cerca de 75 a 90% do

Flúor ingerido é absorvido no estômago, onde pela reação com o hidrogênio é

convertido em ácido fluorídrico (HF). Mais de 40% da absorção ocorre nessa forma

ácida. À medida que o pH gástrico aumenta, a absorção do Flúor diminui, devido à

crescente dificuldade de formação do HF (FAWELL et al., 2006).

O Flúor não absorvido pelo estômago passa a ser absorvido pelo intestino,

sem correlação com o pH (WHITFORD, 1997; WHO, 2002). Contudo, para uma

relativa concentração de Flúor ingerida, ocorre formação de complexos insolúveis,

como os de cálcio (CaF2), magnésio (MgF2) e alumínio (Al3F6), que diminuem

sensivelmente a absorção gastrintestinal (WHITFORD, 1997; WHO, 2002). Já, os

compostos nitrogenados, a exemplo de aminoácidos e bases nitrogenadas, são

componentes pró-ativos do Flúor, pela capacidade que possuem para acidificar o

meio (FAWELL et al., 2006).

Na distribuição fluórica, os tecidos calcificados assumem real importância,

uma vez que, a partir da corrente sanguínea, 99% do Flúor passa a ser incorporado

em áreas ricas de cálcio, como ossos e dentes. Em crianças, cerca de 80 a 90% do

Flúor é retido, mas a taxa cai para cerca de 60% em adulto. O Flúor, apesar da

dificuldade (BARROS; MATOS, 2005), atravessa a placenta, e é encontrado em

33

baixas concentrações no leite materno, em valores muito próximos aos dos

parâmetros sanguíneos, cerca de 0,02 ppm (WHO, 2002). Porém, se mostra muito

seletivo à idade avançada, para certas partes ósseas (antebraço), e também para o

gênero masculino. Especificamente, a concentração fluórica nos ossos reflete

diretamente o tempo de exposição à substância (FAWELL et al., 2006).

A excreção primária se dá por via urinária. Nesse modo, a eliminação

aumenta com a elevação do pH da urina, que ocorre conjuntamente com a queda da

concentração de HF. Portanto, dietas e drogas capazes de aumentar a acidez

urinária (queda do pH) incrementam a retenção do Flúor no organismo.

Crianças excretam Flúor menos eficientemente do que adultos, retendo-o

mais em seus ossos (WHO, 2002). Dieta pobre em proteína, cálcio e fósforo é

responsável por retenção fluórica em cerca de 65% aos pacientes renais crônicos,

contra 20% nos sujeitos normais. Pessoas acima de 50 anos, frequentemente,

apresentam distúrbio renal de influência fluórica. Assim, doentes renais e idosos são

os mais vulneráveis à toxicidade fluórica por deficiência do processo de eliminação

renal (SPITTLLE, 2008).

Normalmente, a parte do Flúor não excretada via urina é depositada nos

ossos, perturbando o processo fisiológico de remodelação desse tecido.

(SUSHEELA, 2003). Pelo processo de remodelação, o tecido ósseo é

constantemente formado e reabsorvido, durante toda a vida.

Num primeiro momento, o Flúor estimula um aumento da produção óssea,

porque provoca a inibição das células responsáveis pela reabsorção do tecido, os

osteoclastos. O resultado, em geral, é um aumento da dureza superficial do osso,

ou, até, um sítio de crescimento anormal. O osso, ficando com densidade acima do

normal, se torna mais friável, e consequentemente mais suscetível a fraturas

(ALARCÓN-HERRERA et al., 2001).

Num segundo momento, o Flúor inibe as próprias células formadoras do osso,

os osteoblastos. Como resultado surge a redução da densidade óssea para aquém

do normal, uma osteopenia, também relacionada com a perda da qualidade da

resistência óssea (CONNETT, 2004; FAWELL et al., 2006; SPITTLLE, 2008).

Porém, o efeito biológico do Flúor ocorre bem antes da consolidação dos

órgãos calcificados. A atuação primária é sobretudo um distúrbio metabólico através

da inibição enzimática, durante a origem do processo de calcificação dos tecidos

duros. A interferência se dá no âmbito dos receptores da membrana plasmática das

34

células teciduais (MATSUO et al., 1998; STRUNECKÁ; STRUNECKÝ; PATOCKA,

2002). Essa habilidade do Flúor confere também competência à modulação de

hormônios, citocinas e até neurotrasmissores (BIGAY, et al., 1987; STRUNECKÁ;

STRUNECKÝ; PATOCKA, 2002). Todos mediadores de intensa atividade

fisiopatológica.

Conforme evidenciado nos eventos fisiológicos de mineralização, as ligações

fluóricas são facilitadas pela acidificação do meio. A melhor performance bioquímica

averiguada para o Flúor ocorreu na média otimizada de pH 5, ou de 4,5 a 5,6

(FAWELL et al., 2006). No meio bucal, isso é evidente no mecanismo da ação

tópica.

O esmalte dentário, à semelhança do processo de remodelação óssea,

também sofre um constante processo de remodelação mineral, através de um

período de desmineralização (DES), seguido por um período de remineralização

(RE). O biofilme ou placa bacteriana e o Flúor atuam distintamente nessa dinâmica.

A placa bacteriana acidifica o meio, exacerba o processo de desmineralização e

promove a formação da cárie dentária. O Flúor sob pH otimizado exacerba o

processo de remineralização, contrapondo o processo cariogênico (MENEZES et al.,

2002).

A princípio, o Flúor do meio bucal pode agir topicamente enquanto houver

dentes, porém, deglutido, pode agir apenas no período de calcificação dentária, ou

seja, no período crítico da primeira e segunda infância (FEJERSKOV et al., 1994;

CANGUSSÚ et al., 2002). O mecanismo sistêmico se dá pela alteração arquitetônica

da estrutura cristalina do esmalte (FAWELL et al., 2006), que se estabiliza por volta

dos primeiros oito anos de vida (HONG et al., 2006). Contudo, a ingestão de Flúor

após a erupção dentária ainda é preconizada, para que se possa tê-lo em boca, com

o propósito de atuação tópica (POLLICK , 2004).

O mecanismo de ação da via sistêmica está vinculado à hidroxiapatita,

substância básica do esmalte, a qual contém na estrutura cristalina duas moléculas

de hidroxila (OH). A interferência do Flúor se dá pela ocupação do sítio de uma ou

de ambas as moléculas de hidroxila. Quando a ocupação é parcial, a substância

básica do esmalte se transforma em fluorhidroxiapatita, e quando total, em

fluorapatita. Entretanto, essa reestruturação cristalina não protege o dente da ação

cariogênica, e o esmalte continuará suscetível à cárie, se o ambiente bucal estiver

desprovido do íon fluoreto (SPITTLLE, 2008). Portanto, é a ação tópica da fluorita de

35

cálcio (CaF2), precipitada sobre a superfície dentária desmineralizada, o verdadeiro

fator de proteção contra a cárie, e não a alteração da estrutura prismática.

De fato, a constante ingestão de Flúor permite a presença do íon no meio

salivar, promovendo a sua ação protetora. Contudo, a hidroxiapatita do esmalte

dentário é a mesma da matriz óssea inorgânica. A interferência na rede cristalina do

esmalte se extingue a partir da erupção dentária, o que não acontece com o osso,

que sofre remodelação por toda vida. Calcula-se que num momento de saturação,

conversão total da hidroxiapatita em fluorapatita, só a parte inorgânica do osso, a

qual responde por 65% do volume do osso viável, contenha cerca de 24,7 ppm de

Flúor (DOULL et al., 2006), situação típica de quadro endêmico. Como o tecido

ósseo apresenta ainda capacidade de retenção fluórica por outros mecanismos, os

riscos de intoxicação crônica, ao menos quanto aos ossos, são realmente plausíveis

(SPITTLLE, 2008).

Contudo, no ambiente bioquímico, o Flúor é um formador de complexos. Um

grande número de íons e metais está envolvido nessa dinâmica. Dela participam

tanto os benéficos à saúde, a exemplo de minerais e vitaminas, como os

extremamente tóxicos, a exemplo do alumínio, chumbo, ferro, arsênio, mercúrio,

sílica, entre muitos outros. Essa capacidade habilita ao Flúor agir nas bases

estruturais de qualquer conformação tecidual (STRUNECKÁ; PATOCKA, 1999;

STRUNECKÁ; STRUNECKÝ; PATOCKA, 2002; STRUNECKÁ; PATOCKA;

CONNETT, 2004).

Nas estruturas mineralizadas com hidroxila (OH), o Flúor pode liberar o ânion

superóxido (OH-) no meio orgânico. Esse radical livre neutraliza o cálcio e a vitamina

C, entre os antioxidantes mais efetivos à ação oxidativa do íon. Desta forma, o Flúor

favorece o estresse oxidativo (FAWELL et al., 2006). Aliás, pode-se afirmar que, no

campo do estresse oxidativo, o fluoreto prejudica o equilíbrio entre antioxidante e

radical livre, facilitando o envelhecimento tecidual (SHIVARAJASHANKARA et al.,

2001).

Por interferência direta na dinâmica intracelular, o Flúor ainda reflete efeito

tóxico em diversos processos metabólicos. No confronto com o cálcio livre, pelo

controle de receptores pró-inflamatórios, é capaz de influenciar a liberação de

mediadores de leucócitos e mastócitos, a exemplo da histamina, promovendo

importantes causas alérgicas. No metabolismo do açúcar, pela inibição das enzimas

36

glicolíticas e das colinesterases, pode fomentar quadros de hiperglicemia sem causa

aparente (CONNETT, 2004; SPITTLLE, 2008). No metabolismo lipídico, tem

propriedade de interferir em lípase e fosfolipase, responsáveis pela hidrólise dos

ácidos graxos dos fosfolipídios. Na conformação protéica, provavelmente sob a

forma do HF, pode formar ligações fortes com os grupos AMIDOS, e, portanto,

alterar a forma de proteínas, e consequentemente das enzimas (ZENKNER et al.,

2005; SPITTLE, 2008).

Assim, tanto as estruturas teciduais, como suas bases bioquímicas, podem

ser condicionadas pela ação do Flúor (ZENKNER et al., 2005). Por isso, não é

possível nenhum parâmetro otimizado de ingesta fluórica, porque não há como

conjugar a maximização da ação de proteção contra cárie com a minimização dos

riscos a outras doenças (LEVY; GUHA-CHOWDHURY, 1999, LEVY et al., 2001,

LEVY; WARREN; BORFFITTI, 2003). No entanto, são os fatores genéticos,

ambientais e culturais que vão propiciar para que algumas pessoas se tornem mais

suscetíveis do que outras, aos efeitos benéficos ou maléficos do Flúor (FAGIN,

2008).

Dessa forma, pode-se afirmar que a fluorose é apenas uma sinalização da

toxicidade do Flúor. Deflagrada no curto período da infância, ela apenas denuncia a

capacidade do íon para lesionar células (HONG et al., 2006), mas essa patologia

não encerra em si a dinâmica fluórica no organismo.

3.2 FLUOROSE: O MARCO SINALIZADOR DA TOXICIDADE FLUÓRICA

Segundo a OMS, em Fawell (2006), os melhores parâmetros de

monitoramento para a super exposição do Flúor são ainda as ocorrências de

fluorose. Alguns Indicadores já foram construídos para avaliação desse efeito. O

índice de prevalência (IPF) é o mais apropriado para se mensurar a extensão do

distúrbio na saúde bucal. O índice comunitário (ICF) avalia o comprometimento da

população afetada, mas não há indicadores para atender especificamente estudos

que buscam a associação da patologia com outros efeitos adversos à saúde.

A fluorose é uma patologia bucal estudada como problema de Saúde Pública

desde 1956 (KOZLOWSKI; KOZLOWSKI JÚNIOR, 2000), e ainda não se registrou

parâmetros de concentração fluórica seguros a ela, uma vez que dentre os fatores

37

imbricados na toxicidade do Flúor está o fenômeno da suscetibilidade individual

(WALDBOTT, 1956; SPITTLLE, 2008; FAGIN, 2008).

O reconhecimento inicial do distúrbio dentário se deu sob o caráter endêmico

nas águas investigadas por McKay (1933), por meio da associação com a alta

concentração de Flúor. Porém, como assevera a OMS (FAWELL et al., 2006),

diversos outros fatores como, ambiente, cultura e geoquímica natural da Terra,

participam da gênese do distúrbio. Assim, a patologia assume âmbito global, porque

abrange todos os continentes, afetando milhares de pessoas. (FAWELL et al., 2006).

Nos estudos que embasam as diretrizes da OMS para o uso do Flúor na água

de consumo para o mundo, diversos países africanos, asiáticos e outros, como Índia,

China, Arábia Saudita e Cingapura (FAWELL et al., 2006), inseridos nos cinturões de

Flúor da crosta terrestre, registram os mais elevados índices de fluorose endêmica.

Da estimativa de 85 milhões de toneladas de Flúor do planeta, aproximadamente 12

milhões delas se encontram somente na Índia (BASKARADOSS; ROGER;

NARAYANAN, 2008). Nas Américas, EUA, Canadá, México, Colômbia e Brasil

também existe o potencial endêmico em muitas de suas localidades (CANGUSSÚ et

al., 2002; ALARCÓN-HERRERA et al., 2001).

No território nacional, algumas regiões de São Paulo, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul registram a forma endêmica da patologia num grau significativo de

problema de Saúde Pública (TOASSI; ABEGG, 2005; ZENKNER et al., 2005). O

Sistema de Vigilância dos Teores de Flúor na Águas de Abastecimento Público das

Secretarias Estaduais de Saúde é o responsável legal para coibir qualquer tipo de

fonte com concentração fluórica superior a 1,5 ppm, justamente por ser esse o limiar

assegurado pela OMS como salvaguarda às formas endêmicas da fluorose

(ZENKNER et al., 2005; TOASSI; ABEGG, 2005; FAWELL et al., 2006).

Não obstante à potencialidade endêmica, o que de fato a OMS discute é que

os indicadores da fluorose dentária têm mesmo propriedade muito mais efetiva para

o diagnóstico das situações prévias às condições patológicas críticas do organismo

como um todo. Dessa forma, a avaliação da patologia por indicadores de fluorose

acaba por se constituir o critério de referência fundamental à investigação do Flúor

em Saúde Pública.

38

3.2.1 FLUOROSE DENTÁRIA

Uma possível deficiência à compreensão dos riscos indicados pela fluorose

dental reside na metodologia usada na mensuração do fenômeno. Critérios

fidedignos de pesquisa ainda não foram estabelecidos na formação de um método

que assegure uma real efetividade da patologia (MOYSÉS et al., 2002).

Não é comum, os estudos abordarem uma mensuração global da fluorose. A

maioria deles configura uma abordagem de índice resumido (MOYSÉS et al., 2002;

BRASIL, 2004; TOASSI; ABEGG, 2005; ALVES SILVA et al., 2007; CASOTTI et al.,

2007, PROVENZANO et al., 2008), ou mesmo contabilizam tão somente as

demarcações mais evidentes (OLIVEIRA; MILBOURNE, 2001; PROVENZANO et al.,

2008). Com isso, os índices costumam ficar subestimados, quanto à realidade clínica

da patologia (CANGUSSÚ et al., 2002; MEDINA-SOLIS et al., 2008). Medina-Solis et

al. (2008) apontaram, entre os métodos de avaliação de arcadas dentárias de 28 e

12 dentes, uma discrepância média de 23% na prevalência do problema.

Na literatura, a grande maioria dos estudos sobre fluorose vem suportada por

três principais indicadores, ou Índices de Prevalência da Fluorose (IPF).

O DI - índice de Dean, abrangendo uma grande soma de pesquisas, e ainda

muito utilizado, foi o primeiro a ser estabelecido. No DI, a fluorose é compreendida

em cinco padrões, e distribuída nos graus questionável, muito branda, branda,

moderada e severa. Cada um dos padrões apresenta o peso respectivo de 0,5; 1; 2;

3; e 4 para o cômputo geral da significância mórbida (DEAN; DIXON; COHEN, 1935;

DEAN, 1942).

A categoria questionável, por ser muito vaga, acaba sendo usada na maioria

dos estudos (CASOTTI et al., 2007). O DI ainda é incapaz de descrever com clareza

gradações importantes das formas mais severa da doença, já que ficam agrupadas

em uma única categoria (FEJERSKOV et al., 1994; CANGUSSÚ et al., 2002;

ZENKNER et al., 2005). Assim, os muitos estudos que abandonam o primeiro grau

do DI no cômputo global do problema (MOYSÉS et al., 2002; BRASIL, 2004;

TOASSI; ABEGG, 2005; CASOTTI et al., 2007; ALVES SILVA et al., 2007;

PROVENZANO et al., 2008) acabam por promover a ação do Flúor indiretamente na

avaliação da população afetada.

Thylstrup e Fejerskov (1978) idealizaram um novo índice, visando uma melhor

dinâmica à progressão da fluorose dentária. O novo índice (ITF) procura avaliar o

39

processo mórbido passo a passo, da mínima alteração de cor de esmalte, à

destruição da estrutura dentária. Ao ITF foram estabelecidas nove graduações. Do

primeiro (TF1) ao nono (TF9) grau, a fluorose é compilada em toda a sua extensão.

Horowitz et al. (1984), citado por Fawell et al. (2006), elaboraram o TSIF

(Tooth Surface Index of Fluorosis), um índice para evidenciar a fluorose na superfície

dental em sete estágios, evoluindo das pontas dos dentes (terço oclusal) ao colo

gengival (terço cervical), e de manchas brancas a marrons até a perda da estrutura

dentária. Os graus de 1 a 3 indicam os graus de opacidade crescentes, enquanto os

de 4 a 7 os de manchamento ou cavitação da estrutura dental.

Pereira e Moreira (1999), em estudo para comparar a proficiência dos três

índices na representatividade da fluorose, não encontraram discrepância significativa

entre os mesmos, assegurando a todos como ferramentas eficazes na determinação

da prevalência patológica.

Para Cangussú et al. (2002), todos os índices descrevem os casos

moderados e severos da doença, considerados de importância para a Saúde

Pública, pois provocam alterações estéticas e funcionais significativas, e percebidas

como de relevância social para a comunidade.

Os estudos atuais procuram priorizar o índice TF, por ele oferecer uma maior

abrangência na avaliação do problema. Embora seja possível estabelecer relação

entre os índices nos estudos já realizados (KOZLOWSKI; KOZLOWSKI JÚNIOR,

2000), o resultado desse procedimento ainda costuma demandar dúvida (GÓMEZ-

SANTOS; GONZÁLES-SIERRA; VÁZQUEZ-GARCÍA-MACHINENA, 2008). Nos

cálculos elaborados em DI, onde a primeira faixa de fluorose tenha sido desprezada,

em virtude do status questionável, ou diante de uma abordagem reduzida

(OLIVEIRA; MILBOURNE, 2001; PROVENZANO et al., 2008) a interpretação da

verdadeira prevalência pode ficar equivocada (ALVES SILVA et al., 2007), uma vez

que o valor tende a ficar aquém daquele que, se sobre a mesma base de dados,

fosse aplicado o Índice TF, ou considerado o contingente total dos dentes (MEDINA-

SOLIS et al., 2008).

Entretanto, os índices considerados apresentam semelhança em evidenciar a

destruição ascendente da coroa dentária, à medida que a fluorose evolui em suas

respectivas escalas. Na proporção que a fluorose evolui em severidade, os índices

vão se tornando semelhantes em denotar a potencialidade do agravo (PEREIRA;

MOREIRA, 1999; CANGUSSÚ et al., 2002).

40

Dean, ainda idealizou outro indicador, para avaliar o impacto da fluorose

dentária na saúde coletiva (DEAN; DIXON; COHEN, 1935; DEAN, 1942). Designado

de Índice Comunitário de Fluorose (ICF), serve para mensurar as várias frequências

de fluorose que ocorreram numa determinada comunidade. Assim, o ICF acaba

refletindo diretamente a potencialidade do IPF. Segundo o autor, quando o valor

absoluto de 0,4 for superado, é motivo de preocupação para as autoridades

sanitárias, pois a fluorose dentária passa a adquirir o status de problema de Saúde

Pública (ALCÂNTARA, 1996; BARROS; MATOS, 2005).

O ICF vem vinculado ao IPF, porque é calculado sobre as frequências

parciais da patologia. Os estudos demonstram que o patamar limítrofe de segurança

do agravo na comunidade (0,4) normalmente se situa num IPF em torno dos 30%.

Índices de fluorose superiores a esse percentual comumente já apresentam um ICF

significativo para o problema de Saúde Pública (OLIVEIRA JÚNIOR et al., 2006).

A evolução dos conceitos concedeu à questão problema de Saúde Pública

três condições essenciais: a existência comum de fator causal para morbidade e

mortalidade, a possibilidade de aplicação de método eficaz de prevenção e controle

e quando tais métodos não são utilizados adequadamente pela comunidade

envolvida (KOZLOWSKI; KOZLOWSKI JÚNIOR, 2000).

Cangussú et al. (2002) defende os preceitos de Pinto (1994) quanto aos

critérios de seleção na Odontologia para essa questão, considerando-se magnitude,

severidade, vulnerabilidade à saúde, impacto potencial das medidas de controle,

transcendência social do problema e grau de interferência na qualidade de vida das

pessoas. Nesse contexto, para a autora, a fluorose dental se torna um problema

relevante em Saúde Pública, porque em suas formas moderada e severa provoca

alterações funcionais e estéticas que interferem na formação da personalidade, na

inserção de mercado de trabalho, exige tratamento odontológico de alta

complexidade em casos mais graves, tem etiologia conhecida e é factível de ser

prevenida.

Chaves (1986), em Kozlowski e Kozlowski Júnior (2000), ainda estabelece

cinco critérios para uma abordagem ampla do status de problema de Saúde Pública.

A análise deveria contemplar, além do número de afetados, a severidade do agravo,

a possibilidade de atuação eficiente, o custo per capta e o grau de percepção do

problema pela comunidade.

41

Nesse contexto, os índices foram elaborados para revelar a importância do

avanço da fluorose na saúde bucal, com possível repercussão também no estado

mental, psicológico e estético do ser humano, além dos tão somente prejuízos locais

(CANGUSSÚ et al., 2002). Contudo, são medidas que dependem de uma

interpretação justa e adequada dos instrumentadores em questão. Por isso, a

fluorose precisa ser analisada no campo clínico, para que a simples representação

numérica não venha comprometer a sua compreensão de verdadeira patologia.

O agravo clínico se torna evidente à medida que o esmalte vai sendo

destruído. O tecido coronário subjacente (dentina), um tecido ricamente inervado,

ficando exposto ao meio bucal, é capaz de desencadear o processo de dor, ou

facilitar o aparecimento de cárie precoce. A lesão em suas formas branda (manchas

brancas) e moderada (manchas marrons), guarda muita semelhança com outras

formas de alterações de esmalte (FDI, 1992).

O que a diferencia dessas outras formas de hipoplasias coronárias

(opacificações de esmalte dentário) é a sua relação de causa e efeito com o Flúor

(McDONAGH et al., 2000). Na forma severa (debridamento de esmalte e presença

de cavitação), a fluorose é muito semelhante à cárie dental, e, por vezes, é

confundida como se cárie fosse (ALVES SILVA et al., 2007). Curiosamente, a

fluorose atinge em maior prevalência, praticamente os mesmos elementos dentários

mais atingidos pela cárie também (BARROS; MATOS, 2005; PROVENZANO et al.,

2008). A semelhança entre as duas patologias é realmente notória.

O período de comprometimento fluórico dos dentes pode ser rastreado, pelo

confronto com as diversas fases de calcificação coronariana daqueles que foram

afetados. No período de 0 a 3 anos, a criança costuma ser melhor assistida em sua

alimentação e higiene bucal. Em boa parte desse tempo, a dieta da criança é

predominantemente a amamentação materna. Nesse período, é comum, índices de

fluorose menores do que no período de 3 a 8 anos (COT, 2003), onde a criança,

além de absorver uma maior quantidade de líquido fluorado, costuma ingerir grande

quantidade de Flúor, através dos cremes dentais (MURRAY, 1986; WHITFORD,

1997, MOYSÉS et al., 2002).

A doença é mais frequente em dentes de mineralização tardia. Dessa forma,

a dentição permanente como um todo passa a ser mais afetada do que a dentição

decídua (FEJERSKOV et al., 1994; CANGUSSÚ et al., 2002, BARROS; MATOS,

2005; PROVENZANO et al., 2008). Entre os fatores de riscos, a relação mais

42

diretamente avaliada é a concentração de Flúor na água (FAWELL et al., 2006), cuja

prevalência se mostra sensivelmente aumentada em patamares superiores a 1,5 ou

1,7 ppm (BASKARADOSS; ROGER; NARAYANAN, 2008). Para Moysés et al.

(2002) não há período crítico de formação de esmalte para ocorrência de fluorose

(PROVENZANO et al., 2008), denotando, sim, a franca relação entre a oferta de

Flúor e a dinâmica mineral no processo de maturação do esmalte (ZENKNER,

2005).

Realmente, tem-se verificado que a ingestão de Flúor pela combinação de

variadas fontes tem sido a responsável pelo grande aumento da taxa de fluorose nos

últimos anos . Na sociedade americana, enquanto a fluorose causava um impacto

em menos de 10% das crianças na década de 40, onde a oferta residia basicamente

na água; na década de 90, já superava aos 30% (NRC, 1993, CDC, 2005); e, para a

década de 2000, as expectativas são bastante pessimistas, devido à oferta ser

sempre crescente.

No Brasil, Pereira; Cunha e Meneghim (1998), em Oliveira Júnior et al. (2006),

encontraram, na região paulista, um incremento de 52% de fluorose em área

fluoretada, contra 41% em área não fluoretada. Barros e Matos (2005), mesmo

abdicando da faixa questionável, encontraram uma prevalência de fluorose para

Ouro Preto, cidade sem fluoretação, de 11,4%. Índice compatível de cidade com

fluoretação.

O alto índice de fluorose em região de água não tratada pelo Flúor sedimenta

bem a ingestão da substância pela mais variadas fontes (MENEZES et al., 2002;

OLIVEIRA JÚNIOR et al., 2006). Uma vez que a fluorose é uma consequência direta

da ingestão do íon (FAWELL et al., 2006). Somente a suplementação pediátrica de

fluoreto, para suprir a carência da fluoretação em certos municípios, é responsável

por um risco de desenvolvimento de fluorose na população assistida de cinco a

quinze vezes mais do que na não assistida por esse procedimento nutricional

(CANGUSSÚ et al., 2002).

Contudo, a OMS reforça que a concentração de Flúor da água é a fonte mais

significativa na composição dos altos índices da patologia, uma vez que fluoração

acima dos 4 ppm induz a altas taxas de fluorose dental; e quando reduzida para

aquém de 1 ppm expressa queda considerável no índice de prevalência (FAWELL et

al., 2006). Assim, a condução do Flúor via água fica bastante evidente para o

problema dentário, nas diretrizes que a entidade emite aos seus signatários.

43

Ademais, o incremento de prevalência da fluorose, devido ao aumento da

concentração de Flúor, tornou-se praticamente um consenso na literatura. Tsutsui;

Yagi e Horowitz (2000) relataram taxa de 1,7% sob concentração de 0,2 a 0,4 ppm,

elevando-se para 15,4%, quando a concentração subiu para a faixa de 1,1 a 1,4

ppm. Porém, alguns estudos têm evidenciado altíssimas taxas de fluorose, mesmo

sob concentração muito baixa. Taxas iguais ou inferiores a de 0,2 ppm já registraram

47% da doença, assim como a de 0,48 ppm, 50%, e a de 3 ppm, 95% (AWADIA et

al., 2000; GROBLER; LOUW; VAN KOTZE, 2001). Uma revisão para avaliar a faixa

de concentração fluórica de 0,7 ppm a 1,0 ppm, mundialmente considerada segura,

encontrou, nessa proximidade, fluorose dentária no penúltimo grau da escala, ou

seja, a fase moderada (CARTON, 2006).

Dessa forma, embora a OMS ainda mantenha o patamar de até 1,5 ppm

como parâmetro seguro ao Flúor na água de consumo, de fato, não há limiar de

concentração que garanta ausência de fluorose (LEVY; WARREN; BROFFITTI,

2003; FAGIN, 2008). Mesmo nos estudos pelo índice DI, com supressão da faixa

questionável, a prevalência raramente se mostra no universo dos 10 a 15% pré-

desenhado por Dean (OLIVEIRA JÚNIOR et al, 2006). A fluorose dentária se

manifesta inclusive sob ingesta inferior a 0,1 mg/kg/dia. Qualquer elevação dessa

dosagem mínima possível é capaz de provocar significativa prevalência, e franca

manifestação das formas moderada e severa (COT, 2003). A fluorose ainda tende a

apresentar uma especificidade para o local da pesquisa, dificultando o pareamento e

a interpretação com resultados de outros estudos (MOYSÉS et al., 2002).

O objetivo principal dos pioneiros da fluoretação foi o de limitar a fluorose

dentária na forma branda, e num índice não superior a 10%, às crianças assistidas

pelo Flúor (NRC, 1993). O máximo de benefício proporcionado pela fluoração da

água é alcançado com a presença de sinais de fluorose muito leve em uma parcela

da população, sendo considerado como aceitável um índice de até 15% (CASOTTI

et al., 2007). Contudo, estudos internacionais dos anos 90 chegaram a relatar um

impacto de até 80% sobre a população assistida (WILLIAMS et al., 1990;

LALUMANDIER et al., 1995; MORGAN et al., 1998).

Em áreas endêmicas, patamares até superiores a esse são contumazes

(CANGUSSÚ et al., 2002), porém, mesmo em área de fluoretação otimizada, já foi

evidenciada taxa superior a 30% (HELLER et al., 1997). Ultimamente, estima-se

uma realidade de 48% para as mais variadas formas de fluorose, sendo cerca de

44

12,5% para aqueles padrões já considerados antiestéticos (McDONACH et al.,

2000).

A própria Associação Dentária Americana (ADA) vem orientando aos seus

associados para uma redução da fluorose, porque avalia que o impacto dela já

abrange mais de 32% das crianças americanas, com índice superior a 40%, para

aquelas que habitam em zonas de água fluorada (SPITTLLE, 2008).

No Brasil, o panorama da fluorose não difere daquele do cenário mundial.

Alguns estudos dos anos setenta e oitenta apontaram índices até nas casas dos

70%, 80% e 90%, mas comumente associados a locais com alta concentração de

Flúor na água. Entretanto, muitos estudos dos anos noventa e dois mil já

evidenciaram percentuais semelhantes a esses em concentrações de Flúor entre 0,7

e 1,0 ppm, condição otimizada da fluoretação no território nacional (CANGUSSÚ et

al., 2002).

Portanto, os estudos que abordam globalmente a fluorose podem revelar

prevalências capazes de derrubar o conformismo de alguns profissionais da área,

conforme sugerem Menezes et al. (2002). Contudo, ainda não se verifica um

mapeamento nacional efetivo para os índices de fluorose. O próprio levantamento do

Ministério da Saúde para a saúde bucal (BRASIL, 2004) estabelece índices

regionais, sobre base de cálculo, onde se abdica da primeira faixa de fluorose leve,

tida como questionável. A escolha de um indicador mais preciso e o estudo de

núcleos populacionais mais representativos contribuiriam para um verdadeiro retrato

da fluorose no Brasil.

A fluorose dentária é, por conseguinte, apenas o primeiro indicador visual da

supra-exposição ao Flúor, revelada num curto período da infância. Ela indica a

certeza da toxicidade do fluoreto no organismo humano (FEJERSKOV et al., 1994).

Um outro indicador que pode ser visualizado, não diretamente como na forma

dentária, mas através de exames complementares, é a variante mais agressiva da

fluorose, a sua forma esquelética (FAWELL et al., 2006).

3.2.2 FLUOROSE ESQUELÉTICA

Diferentemente da forma dentária, a fluorose esquelética pode ocorrer em

qualquer momento da vida, mas se manifesta mais apropriadamente a partir da

45

maturação óssea, onde passa a vigorar o contínuo processo de remodelação do

esqueleto. A fluorose esquelética pode evoluir em três principais estágios.

O estágio I inicia a fase clínica da doença, evidenciada por artrite, dor e

depósito articular. Caracteriza um efeito adverso, que pode ocorrer inclusive sob a

ingesta de 1,42 mg/dia (menos de 1,5 litros de água fluorada a 1 ppm). Esse valor

excede a quantidade média do teor fluórico da dieta de uma pessoa residente em

área de água não fluorada (CARTON, 2006). Logo, a ocorrência dessa modalidade é

provável, mesmo sob concentração fluórica otimizada.

No estágio II, aparecem as dores articulares crônicas, sintomas artríticos,

calcificação de ligamentos e osteoesclerose (aumento da densidade do osso

trabecular ou ossificações atípicas). Costumeiramente, esse é o momento mais

evidenciado nos estudos, quase sempre vinculado a uma concentração igual ou

superior a 4 ppm (COT, 2003).

Ao chegar no estágio III, a fluorose é designada de esquelética deformante ou

claudicante, em virtude do grande comprometimento do sistema locomotor. A

debilidade surge como resultado da excessiva calcificação das articulações,

ligamentos e corpos vertebrais. Prejuízo muscular, déficit neurológico e compressão

do nervo medular podem estar associados (SPITTLE, 2008).

Tanto o estágio II, como o estágio III, podem se manifestados a menos de 2

ppm (CARTON, 2006; SPITTLE, 2008), embora o estágio III seja reconhecidamente

característico das regiões endêmicas, onde as concentrações facilmente superam

aos 10 ppm (FAWELL et al., 2006).

A OMS aponta estudo que demonstra a possibilidade de ausência da fluorose

esquelética clínica, apenas até a concentração de 0,41 ppm. A partir daí, evidencia

uma vertiginosa escalada a contar de 0,82 ppm (1,41%), chegando a uma

significativa prevalência de 43,67% em 6,4 ppm (FAWELL et al., 2006). A entidade

ainda expõe dados que sugerem picos de fluorose esquelética em torno de 1 ppm

(1,2 ppm = 12,4%), 3 ppm (3,28 ppm = 24,84%) e 6 ppm (6,4 ppm = 43,67%), e uma

certa atenuação em torno de 1,5 ppm (1,48 ppm = 10,16%; 1,68 = 7,96%; 2,60 ppm

= 17,31%).

Esse contexto realça a íntima relação do Flúor com o osso, pela provável

predominância da adsorção fluórica nos momentos de nova síntese óssea; e

redução dela, quando da saturação da matriz inorgânica pelo fluoreto (WANG; BU;

GU, 1997; FAWELL et al., 2006; SPITTLLE, 2008).

46

No campo da fluorose, os indicadores de prevalência, no mínimo, revelam

uma lacuna na compreensão sobre problema de Saúde Pública. Pois, no tratamento

da cárie, os movimentos desses indicadores apontam para uma importância que não

é verificada em igual proporcionalidade no julgamento da patologia fluórica.

Enquanto prevalência de cárie é algo sempre significativo, de praxe, prevalência de

fluorose é algo por certo subestimado (MEDINA-SOLIS et al., 2008).

Nesse enfoque, no contexto da saúde bucal, fica evidente a ocorrência de um

desvio na percepção dos padrões de fluorose.

3.2.3 PERCEPÇÃO DA FLUOROSE

A cultura desenvolvida em torno da fluorose não correspondeu àquela em

torno da cárie dental. A cárie recebeu a categorização de problema de Saúde

Pública, porque reconhecidamente causa sofrimento e mutilação à população, além

de gastos aos governantes (McDONAGH et al., 2000). Entretanto, a fluorose,

também reconhecida como problema de Saúde Pública pela OMS, em virtude da

potencialidade endêmica flagrada pelos altos índices de prevalência (FAWELL et al.,

2006), não recebe, do poder público, o tratamento dispensado à cárie, sendo julgada

simplesmente como efeito cosmético (MENEZES et al., 2002).

Os poucos estudos que abordam o impacto do agravo na comunidade

afetada costumam atrelar suas conclusões de fluorose em problema de Saúde

Pública tão somente à condição de auto-percepção do problema (KOZLOWSKI;

KOZLOWSKI JÚNIOR, 2000; MOYSÉS et al., 2002; ALVES SILVA et al., 2007),

embora Martins, Pinheiro e Paiva (2003), em Alves Silva et al. (2007), diante de um

IPF de 31,2%, tenham caracterizado a fluorose como prejudicial e de fácil percepção

pela população afetada desde as formas mais brandas.

Para Cangussú et al. (2002), a fluorose dental se constitui numa doença

importante para a adoção de ações de vigilância à saúde e um dos principais fatores

de risco à origem da mesma, uma vez que no Brasil, já podem ser observadas, em

municípios com e sem fluoretação, prevalências maiores do que as esperadas. Não

obstante, apesar da aparente insignificância dada a essa patologia, ela pode ainda

levar aos mesmos cuidados da cárie, com possibilidade inclusive de superá-los. A

cárie se restringe à saúde bucal, enquanto a fluorose representa na verdade um

indicador de intoxicação fluórica sistêmica (WALDBOTT, 1956).

47

Pode-se, portanto, afirmar que a cultura de desprezo pela evidência da

fluorose nasce com o pai da fluoretação, pois Dean (1942), após vários estudos

epidemiológicos, visando à redução da taxa de fluorose, admite que mesmo na

concentração otimizada em torno de 1 ppm, podia-se chegar a uma prevalência na

casa dos 20%. Todavia, embora superando as suas previsões iniciais, tratava-se

ainda de um efeito tão brando, capaz de não ser percebido, nem pela criança, nem

pelos pais delas. Sobre esse embasamento, Dean indica o processo de fluoretação

como um modelo a ser seguido mundialmente (DEAN, 1945). Dessa concepção,

surge, em Saúde Pública, a impressão de que, no combate à cárie, o efeito adverso

da fluorose pode ser perfeitamente desprezível. Aliás, esta frase de efeito é a mais

contemplada nos estudos que procuram avaliar a ação benéfica do Flúor.

No contexto de doença, a deficiência na percepção da fluorose é algo

corriqueiro à população envolvida (BALDANI et al., 2008); e, até mesmo, bem maior

aos profissionais dentistas, em relação aos pais e as crianças (SHULMAN et al.,

2004). O problema só justifica atenção nos casos de fase avançada, geralmente com

a população leiga demonstrando completo desconhecimento entre causa e efeito.

Nos atendimentos odontológicos, percebe-se que o equívoco com a cárie é algo

comum (ALVES SILVA et al., 2007). Assim, a não contemplação da fluorose em toda

amplitude evidencia que ela pode não estar sendo percebida adequadamente pela

população atingida (KOZLOWSKI; KOZLOWSKI JÚNIOR, 2000; MENEZES et al.,

2002, MOYSÉS et al., 2002; ALVES SILVA et al., 2007), em virtude de uma falha

cultural à observância da patologia.

Esse conceito pode ser perfeitamente compreendido entre outros estudos

pelos de Kozlowski e Kozlowski Júnior (2000) e Moysés et al. (2002), que embora

reconheçam a franca evolução dos índices de prevalência de fluorose, justificam a

não inclusão da patologia em problema de Saúde Pública, em virtude do baixo

interesse pela comunidade afetada. Contudo, os próprios autores reconheceram que

essa relação se inverte, à medida que a doença progride em grau de severidade.

Para a OMS, a fluoretação simplesmente oferece o meio de avaliação mais

controlável ao Flúor, em razão de se poder estabelecer uma unidade de

concentração possível de ser pareada, inclusive por parâmetros sanguíneos e

plasmáticos. Os melhores parâmetros de monitoramento da supra-exposição ao

Flúor são as formas de fluorose dentária e esquelética, decorridas do processo de

fluoretação (FAWELL et al., 2006).

48

3.3 DA FLUOROSE À FLUORETAÇÃO

Os primeiros registros da fluorose dentária precedem a 1888, no México, com

a descrição de dentes negros numa família da localidade de Durango.

Subsequentemente, em 1891, surge a descrição da erosão de esmalte em

imigrantes italianos dos EUA, vindos da região de Nápoles. A partir dos primeiros

anos do século XX, a fluorose passa a ser evidenciada em diversas regiões

americanas (BLACK; McKAY, 1916), e em várias outras regiões do Planeta

(FAWELL et al., 2006).

Inicialmente, a disseminação da fluorose foi reconhecida na América pelo

termo esmalte mosqueado. A alta incidência casual nos habitantes da região de

Colorado serviu de âncora ao nome da patologia por “manchas marrons de Colorado

Springs”, uma vez que ainda não se conhecia a causalidade. Porém, nos anos 30,

McKay (1933) estabeleceu a relação entre distúrbios dentários e presença de Flúor

nas águas. Assim, concebeu o nome de fluorose à patologia.

Depois de o termo fluorose ter sido cunhado (CDC, 1999), o primeiro sistema

de estudos para avaliar o grau de severidade do Flúor na água foi estabelecido em

1935, e aperfeiçoado em 1939 (DEAN; DIXON; COHEN, 1935; DEAN; ELVORE,

1939), por vários estudos de Dean e colaboradores, com objetivo de detectar o grau

de fluorose nos Estados americanos (DEAN, 1933). Muitos desses estudos

registraram fluorose endêmica. Mais tarde, Dean (DEAN, 1938, 1945) evidenciou a

relação entre concentração reduzida de Flúor e alta taxa de cárie dental, culminando

com a histórica recomendação do Flúor na Saúde Pública.

Segundo Dean, as taxas de Flúor, quando ajustadas entre 0,7 e 1,2ppm,

poderiam servir de padrão à fluoração das águas de consumo, com o objetivo do

combate à cárie dental. Em 1945, os pressupostos de Dean garantem a efetiva

implementação da fluoretação, medida iniciada em território americano, mas

ganhando amplitude mundial em muito pouco tempo (FAWELL et al., 2006).

Bem antes da fluoretação, os efeitos do Flúor despertavam reações nas

sociedades de saúde americanas. Tanto a Associação Dentária Americana (ADA),

como a Associação Médica Americana (AMA) impunham ressalvas quanto às

possibilidades tóxicas do fluoreto. Contudo, após a implementação da medida

pública, essas entidades oficializadas alternam os seus focos de atenção, dos

49

efeitos do Flúor na saúde, para os benefícios dele contra a cárie; entrando, assim,

em conformidade com as diretrizes de Dean (GRIFFITHS; BRYSON, 1997).

Em 1958, surge a primeira publicação da OMS sobre qualidade da água para

consumo humano. Desde então, periodicamente, a entidade passou a emitir os

padrões norteadores de tratamento da água, salientando que a falta de controle

sobre o Flúor seria capaz de causar forte impacto na saúde coletiva, e no bem-estar

da população. Nessa base, a OMS reconheceu a fluorose como problema de Saúde

Pública em muitos países, já que na primeira abordagem para classificação de

doenças bucais, nessa categoria, em 1954, a entidade não havia considerado a

patologia do Flúor (KOZLOWSKI; KOZLOWSKI JÚNIOR, 2000).

A partir de 1984, a OMS muda o foco doutrinário, ao invés de emitir padrões,

começa emitir diretrizes, ou recomendações de referências seguras à qualidade da

água de consumo. A concentração de 1,5 ppm foi estipulada como valor de

referência à fluoretação, pela alegação de que nesse patamar a ocorrência de

fluorose seria mínima.

Nas revisões das diretrizes de 1996 e 2004, o parâmetro otimizado foi

ratificado. Entretanto, na sua mais recente edição, a de 2006, embora mantenha o

parâmetro de concentração de 1,5 ppm como seguro, agora, a OMS também alerta

para a necessidade de adaptação às condições locais. O teor de Flúor não deve ser

avaliado tão somente pelo consumo de água, mas, também, associando-se ao da

dieta, dentifrícios e demais produtos fluorados, bem como a toda e qualquer forma

de situação de incremento desse elemento no organismo humano (FAWELL et al.,

2006).

No Brasil, a experiência da fluoretação se inicia em 1953, na cidade de Baixo

Gandú – ES, com recursos do Ministério da Saúde. A partir da Lei Federal nº 6.050

de 24.05.74, a fluoretação tornou-se obrigatória para todos os municípios brasileiros

com mais de 50 mil habitantes. No ano seguinte, o Decreto Lei nº 76.872 de

22.12.75 regulamentou a obrigatoriedade para as estações de tratamento, e a

Portaria nº 635/BSB/75 aprovou as normas e padrões à implementação. O teor de

concentração de Flúor seguiu aos padrões, hoje, diretrizes, da OMS. Considerando

as condições brasileiras, o patamar otimizado estabelecido foi o de 1 ppm, com

variações entre 0,7 e 1,2 ppm, dependendo das características climáticas e

geográficas de cada região (BARROS et al., 1990; FAWELL et al., 2006).

50

A fluoretação, tão logo implementada, não tardou a despertar incômodo na

comunidade científica. De um lado, os proponentes expuseram resultados eufóricos

quanto ao efeito do Flúor. Por meio de dados estatísticos arrebatadores, justificavam

o inegável benefício da medida contra a cárie. De outro, surgem os oponentes,

confrontando tais dados, com outros que demonstravam os arriscados efeitos da

conduta pública.

O saldo do embate quase sempre se mostrou por exageros a ambos os lados.

Em busca de uma acurácia mais pertinente ao problema, verifica-se que em Saúde

Pública ainda não existe um estudo esclarecedor às controvérsias, que o uso do

Flúor já provocou, e continua a provocar (VERMULEN, 2004).

O cenário social da fluoretação pode auxiliar a compreensão da questão.

3.3.1 O CENÁRIO SOCIAL DA IMPLEMENTAÇÃO DO FLÚOR EM SAÚDE PÚBLICA

A fluoração das águas de consumo foi o veículo escolhido para a

implementação do fluoreto como coadjuvante em Saúde Pública. A iniciativa de

Dean (1945) foi calcada no pioneirismo de McKay (BLACK; McKAY, 1916; McKAY,

1933), que estabeleceu a conexão entre água fluorada, fluorose e cárie. Dessa

plataforma sanitária se seguiu suplementação fluórica ao organismo humano, sob os

mais variados meios de veiculação (FAWELL et al., 2006).

Para o propósito sistêmico, água, leite, açúcar, e sal foram as bases mais

bem estudadas. No âmbito odontológico, atendendo ao propósito local ou tópico,

uma infinidade de produtos passou a assumir o Flúor como agente terapêutico.

Os dentifrícios que vinham sendo desenvolvidos dentro de um forte

seguimento de formulações anti-cariogênicas, rapidamente, concentraram-se no

Flúor, como um agente verdadeiramente miraculoso. Num curto período de tempo,

quase todas as marcas se tornaram absolutamente fluoradas (COLQUHOUM, 1997).

Paralelamente a diversas outras apresentações odontológicas, para fins

locais ou sistêmicos, o Flúor também avança no campo dos suplementos infantis. O

suporte fluórico, dito necessário a dentes saudáveis, conquista o campo dos

alimentos e medicamentos da infância. Assim, a cultura do Flúor se espalha

vertiginosamente, promovendo-se à custa de uma necessidade junto aos dentes, tal

qual a do oxigênio ao ar que se respira (COLQUHOUN, 1993). Um verdadeiro fator

social agregado foi o de que o insignificante aporte do período pré-fluoretação, com

51

a conexão cárie da releitura de Dean (1938), o consumo foi convertido a milhões de

tonelada num curtíssimo período da história da humanidade (BRYSON, 2004;

CONNETT, 2004; SPITTLLE, 2008).

Vários autores vinculam a fluoretação muito mais a uma manobra dissuasiva

governamental, para atender pendências políticas, econômicas e psicossociais da

época, do que propriamente a um autêntico interesse pela Saúde Pública

(GRIFFITHS; BRYSON, 1997; BRYSON, 2004), pois foi implementada em 1945,

ainda com resultados inconclusivos, e endossada em 1950, antes que o primeiro

estudo simples tivesse sido concluído por inteiro (McCLURE, 1970). Após os

estudos criteriosos de Waldbott (1956) sobre a intoxicação fluórica, foi mesmo

considerada uma verdadeira fraude em Saúde Pública (GRIFFTHS, 1997;

CONNETT, 2004; SPITTLLE, 2008).

Contudo, os estudos epidemiológicos subsequentes sempre apontavam para

uma verdadeira queda dos índices de cárie, o que acabava relegando os opositores

a um contexto científico, no mínimo, melindroso. Contudo, Colquhoun (1993), um ex-

promotor da fluoretação, evidencia um grande viés na metodologia desses estudos.

Ao analisar o universo retrospectivo de 50 anos, a partir de 1930, o autor pode

demonstrar que a taxa de cárie dentária já havia iniciado um declínio constante, bem

antes da fluoretação, estando os resultados muito mais associados à melhoria do

padrão de vida da população do que propriamente ao uso do Flúor (COLQUHOUM,

1997, 1998).

Essa verdadeira variável de confundimento é capaz de invalidar muitos

resultados até então tidos como norteadores. Atualmente, estudos criteriosamente

controlados, começam de fato a contestar a relação cárie-Flúor (McDONAGH et al.,

2000).

Assim, a análise do panorama atual subsidiará recursos para uma melhor

compreensão dos fatores inter-relacionados ao ganho histórico da fluoretação.

3.3.2 O CENÁRIO ATUAL DA FLUORETAÇÃO

No território americano, a cobertura da fluoretação ainda é crescente. Os

patamares registrados de 62,1% (1992), 65% (2000), e de 69,2% (2006), com

estimativa para 75% (2010), indicam claramente essa tendência. Panoramicamente,

52

a abrangência varia do centro a leste, de 50% a mais de 75%, e do oeste ao centro

de menos de 25% até 49% (CDC, 2008).

No Brasil, com dados por macro-regiões, a abrangência foi de 70,05%, para a

região Sudeste; 69,96%, para a, Sul; 41,46, para a, Centro-Oeste; 16,55%, para a,

Nordeste e 7,82%, para a, Norte (FAGIN, 2008).

De modo geral, os dados do Ministério da Saúde (MS) indicam uma tendência

de proporcionalidade da fluoretação com o tamanho populacional dos municípios

brasileiros. Para todas as regiões, tanto mais populoso o município, mais fluoradas

estão suas águas. A região Sul foi a que apresentou a maior proporção de período

mais longo de fluoretação (MS, 2004).

Conquanto, no território nacional, já começa acontecer debate sobre a

continuidade da medida (CFO; CRO-RS, 2008), fato corriqueiro no cenário

internacional, há mais de uma década (CONNETT, 2004; 2007).

As posições antagônicas ainda permeiam o campo das discussões, muito

mais em condições de auto defesa do que resolutivamente, porém necessárias ao

completo amadurecimento de um contexto científico embasador a essa conduta

pública.

O Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC)

apontou a fluoretação como uma das dez maiores realizações de Saúde Pública do

século XX. Para o CDC, a justificativa recaiu sobre o declínio da incidência de cárie

em crianças nas últimas quatro décadas dentro de uma efetividade de 40% a 70%, e

uma proteção a perdas dentárias em adultos de 40% a 60% (CDC, 1999).

No entanto, conforme se pode averiguar no Anexo A, as taxas de dentes

cariados também caíram abruptamente em muitos países com sistemas públicos de

água não fluorados (COLQUHOUN, 1993; 1997; CHENG; CHALMERS; SHELDON,

2007; FAGIN, 2008), o que faz o papel da fluoretação, no declínio da cárie dentária,

tornar-se seriamente duvidoso (CONNETT, 2004; 2007).

A assertiva de que os benefícios da medida ainda suplantam os riscos da

cárie (MENEZES et al., 2002; POLLICK, 2004, FAWELL et al., 2006) já não ecoa tão

fortemente, pois muitos autores já apontam que a fluoretação não tem qualquer

significância clínica (HILEMAN, 1989; YIAMOUYIANNIS, 1990; JONES; STEELINK;

SIERKA, 1994; LOCKER, 1999; ARMFIELD; SPENCER, 2004; GRANDEJEAN;

LANDRIGAN, 2006). A cárie encontra mesmo muito mais consonância com os

fatores nutricionais básicos e sociais, do que com o Flúor (TEOTIA S; TEOTIA M.,

53

1994; EDMUNDS; SMEDLEY, 1996; COLQUHOUN, 1998; LIMEBACK, 2001;

ARMFIELD; SPENCER, 2004; SPENCER, 2006; DIESENDORF, 2006;

OSMUNSON, 2007; PRICE, 2008). Para Colquhoun (1997), a saúde dental é até

ligeiramente melhor em áreas de águas não fluoradas.

Segundo Armfield e Spencer (2004) e Spittlle (2008), a fluoretação na

dentição permanente é decididamente não efetiva. Para Brunelle e Carlo (1990),

ocorre pequena melhoria na dentição decídua, menos de uma cavitação por criança,

o que Schuld (2005) relata se tratar apenas de um resultado aparente, já que está

relacionado ao atraso de erupção dentária, provocada pelo Flúor, pois os dentes,

ficando menos tempo expostos ao meio bucal, acabam menos propício à cárie,

configurando um falso positivo. Susheela (2007) vai mais longe quando diz que a

cárie não é uma desordem por deficiência de Flúor, e que, portanto, ele não tem

competência alguma para remineralizar ou retificar qualquer dano dentário produzido

pela cárie.

Segundo a OMS, o indicador de dentes cariados, perdidos, obturados e

hígidos (CPO-D) cai de 7, em água a 0,1 ppm, para 3,5 em água a 1,0 ppm,

representando uma melhoria de 50% na saúde bucal. Porém, se a concentração

continuar crescendo acima do patamar de 2,6ppm, o declínio do CPO-D não se

mantém, e, inversamente, começa a aumentar. Por outro lado, o índice de fluorose é

sempre crescente, à medida que a concentração aumenta, uma razão de

proporcionalidade direta (FAWELL et al., 2006).

Também, Já foi evidenciada uma diferença de CPO-D de apenas 0,6 entre

crianças de 5 a 17 anos entre áreas com e sem fluoretação. Essa diferença é inferior

a uma superfície dentária, num universo possível de 128 superfícies, em se tratando

de uma criança acima dos 12 anos (BRUNELLE; CARLO, 1990; CONNETT, 2004).

Passados mais de 60 anos, os proponentes da fluoretação ainda não

conseguiram provar se a hipótese da prevenção fluórica é perfeitamente segura e

verdadeira (BRYSON, 2004). Em medicina baseada em evidência, revisões

sistematizadas e metanálises são consideradas o que há de melhor em evidência

científica. Na metanálise de Mcdonagh et al. (2000), a fluoretação não mostrou ser

segura. A equipe ficou surpresa com o fato de que, a despeito do grande número de

estudos já conduzidos, ainda haja uma escassez de evidências confiáveis nessa

política pública. O Flúor ainda não passou pelo crivo do escrutínio baseado em

evidência.

54

Assim, apesar da ampla abrangência atual da fluoretação nos locais adeptos

ao procedimento, os benefícios preconizados continuam a ser contestados

veementemente; e o movimento para a cessação do processo ganha sempre mais

volume (CONNETT, 2004, 2007). Conquanto, a bandeira da ciência contra a

fluoretação segue para além do campo da saúde bucal, explorando os imbricados

efeitos do Flúor por entre os diferentes sistemas e órgãos, adentrando, pois, no

delicado terreno dos efeitos adversos à saúde como um todo.

3.4 AS RELAÇÕES SISTÊMICAS DO FLÚOR

Uma vasta literatura tem demonstrado relação estatisticamente significativa

da associação do Flúor com uma ampla variedade de efeitos adversos, além da

fluorose. Eles incluem desde distúrbios funcionais, até perturbações em vários

sistemas, como no estomatognático, locomotor, reprodutivo, nervoso, endócrino,

imunitário, psíquico e comportamental. Contudo, a sintomatologia fluórica permite

agregar vários sistemas, pela interligação entre eles (CONNETT, 2004; SPITTLLE,

2008).

A fluorose pode ser um bom indicador de investigação para as demais

perturbações sistêmicas do Flúor, porque a acumulação fluórica dá-se

preferencialmente nos tecidos calcificados. Isso permite a identificação dos mais

suscetíveis (FAWELL et al., 2006). A fluoretação não provê nenhuma margem de

segurança a esses efeitos adversos, especialmente àqueles relacionados com a

disfunção glandular no processo de erupção dentária (SCHULD, 2005).

Embora o poder público dos países que adotaram a medida sanitária ainda

ignore o grande corpo de evidências contraditórias ao benefício do Flúor, pelo

menos um gatilho já foi acionado: a Associação Dentária Americana (ADA) já incluiu

em protocolo a orientação aos pais, para o não uso de água fluorada na alimentação

infantil (CONNETT, 2004; SPITTLLE, 2008). Ainda que o foco da Entidade esteja

centrado na redução da fluorose, o fato que mais convence os profissionais é o

conhecimento de que numa água a 1 ppm há cerca de duzentas e cinquenta vezes

mais Flúor do que no leite materno (CONNETT, 2007). Esse entendimento tem

conduzido à percepção do grande aporte fluórico que uma criança pode estar

submetida, nos seus primeiros meses de vida, quando habitando em zonas com

fluoretação (WHITFORD, 1994, 1996).

55

Segundo Waldbott (1956), o conceito de que grandes quantidades de Flúor

podem ser depositadas, e excretadas, sem produzir maus efeitos está equivocado,

pois, até sete ou dez anos de parada da ingesta fluórica, a substância anteriormente

depositada ainda pode ser excretada em quantidade excessiva. Há evidência de que

mesmo pequena dose pode causar sintomatologia para grandes danos orgânicos,

tanto em animais quanto em pessoas, quando suscetíveis à doença.

Conforme os conceitos fisiopatológicos já abordados, a absorção, do trato

intestinal à corrente sanguínea varia com a presença de outros minerais na água,

com o composto fluórico e com a acidez estomacal. A excreção do Flúor por via

urinária depende principalmente da quantidade mobilizada nos ossos, e da ingerida

nos alimentos. Assim, é possível compreender que a retenção ou a eliminação

fluórica resulta de uma equação dependente do suporte de Flúor e dos pH, gástrico

e urinário, um mecanismo fisiológico peculiar a cada pessoa (WALDBOTT, 1956). A

não observância desse mecanismo fisiopatológico é responsável pelo surgimento de

uma série de complicações orgânicas, inicialmente funcionais, mas se não

consideradas conduzem a processos crônicos.

3.4.1 PERTURBAÇÃO FLUÓRICA NO SISTEMA FUNCIONAL REGULAR

Os primeiros distúrbios agudos ou crônicos causados pelo poder de

intoxicação do Flúor ocorrem dentro da funcionalidade regular. Segundo a OMS, a

intoxicação fluórica aguda não tem carência de reconhecimento, pois se dá de forma

urgente, e permite a rápida associação entre causa e efeito, seguindo a um

comprometimento fisiológico típico dos casos de envenenamento. Porém, a

intoxicação crônica se dá de forma leve, por sintomas tomados como menores, mas

que se potencializam, à medida que se mantém a ingesta de baixas doses de Flúor

(FAWELL et al., 2006). Assim, os efeitos a longo termo são de difícil atenção, e

normalmente, quando considerados, já caracterizam uma entidade clínica crônica.

Apesar de Roholm (1937) já ter evidenciado manifestações orgânicas pela

ingesta de Flúor, somente após as observações de Waldbott (1956), elas passam a

ter real interesse em saúde. Os sintomas menores da intoxicação fluórica não eram

considerados, porque se acreditava que na concentração da água a 1ppm nada de

mais prejudicial poderia acontecer, além dos baixos índices de fluorose. Inclusive, tal

56

fato serviu de parâmetro para a OMS adotar, como referencial seguro à saúde

humana, a concentração de 1,5 ppm, no processo de fluoretação.

Contudo, Waldbott (1956) observou que os efeitos do Flúor acontecem muito

antes da configuração dos sinais de fluorose. As manifestações, inicialmente sutis,

acabam mobilizando praticamente toda funcionalidade orgânica, até obter um

caráter sindrômico.

Ele denominou de “Síndrome de Intoxicação Fluórica Crônica Incipiente” a

situação cujo quadro sintomatológico evolui progressivamente, conforme os

sistemas vão sendo requisitados, no processo de metabolização do Flúor. As

primeiras manifestações ocorrem geralmente na esfera gastrintestinal, avançando

para esfera articular, dentária e óssea, até comprometer órgãos mais nobres,

principalmente os rins. Clinicamente a síndrome é de difícil diagnóstico no seu

estágio inicial, devido à escassez de sinais típicos, só caracterizados a partir da

fluorose. Porém, o exame cuidadoso permite a identificação de uma miríade de

distúrbios funcionais comumente associados à condição de extremo mal-estar e

atordoamento mental.

Na confirmação sindrômica, dois fenômenos não usuais podem ser

considerados patognomônicos, porque provavelmente não ocorrem em nenhuma

outra doença. O primeiro se refere ao fato da queixa do paciente da secura na boca

e garganta quanto mais água bebe. O que vem a ser um diagnóstico diferencial para

o envenenamento agudo, que mostra uma excessiva salivação como maior sintoma.

O segundo se refere a um estado de exaustão pronunciada sem motivação

justificada. É o caso da queixa de cansaço pela manha após um descanso noturno

suficiente. Mas, o fato que realmente ratificou a condição de síndrome foi a

certificação da completa reversibilidade funcional, ao subtrair totalmente o paciente

da influência fluórica (WALDBOTT, 1956; WALDBOTT et al.,1978; WALDBOTT,

1980).

Susheela (2001) caracterizou a síndrome fluórica crônica de Waldbott nos

quatros estágios da vida. Segundo a autora, nos bebês, os sintomas se concentram

mais na área respiratória; enquanto, nos jovens, respondem mais por processos

veementes e agudizáveis; nos adultos, por fadiga ou lentidão, e, nos idosos, por

perda de sensibilidade generalizada.

Spittlle (2008) justifica a competência sindrômica do Flúor pelo fato dele

cumprir todos os quesitos embasadores de uma síndrome, alegando que a condição

57

de reversibilidade é característica apenas da fase inicial. Quando deixada a próprio

curso ou conduzida por interferências paliativas, um segundo momento de progresso

se faz presente pela diluição dos sintomas entre as mais diversas doenças crônicas,

de forma a se perder a referência fluórica no abrigo da dinâmica de outras entidades

mórbidas. Ainda, é possível uma terceira fase, onde o processo sindrômico é capaz

de levar a comprometimentos mais sérios. Então, tecidos e órgãos atingidos

começam a expressar objetivamente o dano, só, então, reconhecidos na literatura

como efeitos adversos à saúde. Um exemplo típico é a calcificação da membrana

interóssea do antebraço (SUSHEELA, 2003).

Segundo Stilwell; Edson e Stainton (1957), citados por Spittlle (2008), para os

indivíduos mais suscetíveis, a mínima concentração de Flúor já é fator causador da

síndrome de intoxicação.

Assim, o processamento da toxicidade fluórica altera constantemente a

funcionalidade regular, condicionando o organismo a sintomas e sinais mais

comprometedores aos sistemas envolvidos. O sistema estomatognático, principal

porta de entrada do Flúor no organismo, é um dos balizadores.

3.4.2 PERTURBAÇÃO FLUÓRICA NO SISTEMA ESTÔMATOGNÁTICO

O ressecamento das mucosas, permitindo traumas constantes na dinâmica

mastigatória, e dificuldade de respiração nasal, compatíveis com a síndrome do

respirador bucal, têm sido as perturbações mais evidentes relacionadas ao Flúor no

sistema estomatognático (VERMEULEN, 2004).

Porém, segundo Yiamouyiannis (1993), o Flúor também tem grande

competência cancerígena, principalmente aos tecidos oro-nasais.

O autor evidencia por estudos em animais, que o aumento do tempo de

exposição bucal ao Flúor provoca aumento de incidência dos crescimentos pré-

cancerosos nos tecidos orais, numa relação direta com tumores ósseos de mesma

procedência. Em humanos, o Flúor aumentou a incidência de lesões pré-

cancerosas, como a displasia escamosa de mucosa oral e nasal, e do câncer bucal.

O autor afirma ainda um aumento de 30 a 50% de câncer bucal e faríngeo em áreas

de águas fluoradas, e revela que de 6000 a 9000 casos anuais de câncer bucal e

faríngeo, no território americano, são devidos ao Flúor.

58

Nesse contexto, os cânceres orais teriam maior conectividade com o Flúor do

que os cânceres ósseos (YIAMOUYIANNIS, 1993).

As perturbações de tecido ósseo foram as primeiras a serem evidenciadas

junto à influência fluórica, além das do campo dentário. Já foi registrada evidência de

correlação linear entre severidade de fluorose dentária e fraturas ósseas em

crianças (ALARCON-HERRERA et al., 2001). Assim, os estudos não se limitaram ao

domínio da fluorose esquelética, mas adentram efetivamente na investigação das

fraturas ósseas e demais perturbações relacionadas ao sistema locomotor.

3.4.3 PERTURBAÇÃO FLUÓRICA NO SISTEMA LOCOMOTOR

Na intoxicação fluórica, o tecido ósseo tem sido o mais explorado, após as

alterações dentárias. Considera-se que num longo período de exposição (10 anos

ou mais), mesmo as concentrações muito baixas são capazes de produzir grande

acúmulo de fluoreto nos ossos, em virtude da potencialidade de acumulação nos

sítios de remodelação desse tecido (COLQUHOUN, 1985; 1997).

Conforme Waldbott (1956), as manifestações artríticas são as primeiras a se

manifestarem num quadro de intoxicação fluórica. Assim, as fraturas ósseas

periarticulares dominam esse campo de estudo. Muitas evidências indicam

significativos riscos de fraturas, enquanto outras alegam até algum tipo de benefício.

Se bem que a falta de um padrão às fraturas tem dificultado uma associação mais

efetiva nessa área de pesquisa (McDONAGH et al., 2000).

Num passado recente da medicina, a compreensão insuficiente da dinâmica

do Flúor no tecido ósseo foi responsável pela administração dele no tratamento da

osteoporose. Hoje, é de conhecimento que a parte do Flúor não excretada na urina

se deposita nos ossos, onde ele passa a interferir no ciclo normal de remodelação

óssea (SPITTLLE, 2008). Nos ensaios de tratamento da osteoporose, por altas

doses de Flúor (média de 26 mg/dia), no esforço de fortalecimento dos ossos e

redução das taxas de fraturas, na realidade obteve-se alto número de fraturas,

particularmente em quadril, mas também em outras áreas como coluna vertebral,

pescoço de fêmur e antebraço (COLQUHOUN, 1997).

Dosagens excessivas similares a desses estudos vêm sendo experienciadas

por muitas pessoas em comunidades com água fluorada (CONNETT, 2004).

Conquanto, o problema de fraturas ósseas já foi averiguado sob concentrações bem

59

mais inferiores de fluoreto, como as compreendidas entre 1 e 8 ppm (LI et al., 2001).

Assim, ainda não é possível evidenciar uma autêntica concentração de Flúor que

seja segura para esse problema. Estima-se, mesmo, que o risco já seja

incrementado numa concentração tão baixa quanto a de 1,5 ppm, bem próxima a de

0,7 a 1,2 ppm, otimizada a fluoretação (NRC, 2006).

Sem dúvida, as fraturas dominam o campo de estudo das perturbações

fluórica no tecido ósseo. Conquanto um outro grande grupo de evidências também

se aglomera na denuncia da relação do Flúor com um tipo de câncer específico, o

osteossarcoma, de ocorrência preferencial no gênero masculino (HOOVER et al.,

1991; CAULEY et al., 1991; COHN, 1992; YIAMOUYIANNIS, 1993; COLQUHOUN,

1997; BASSIN et al., 2006).

A propriedade cancerígena do Flúor deve-se à capacidade dele provocar

neoformação óssea, o princípio da neoplasia (câncer). O Flúor tem habilidade para

induzir a formação de osso, mesmo em área onde normalmente ele não ocorre,

como na membrana interóssea do antebraço (SUSHEELA, 2003). Para Farley et al.

(1988), até mesmo baixas concentrações plasmáticas de Flúor, como a de 1 µmol/l,

já é capaz de incrementar a proliferação de células ósseas. Membranas, tendões e

músculos são locais apropriados à neoformação óssea fluórica, gerando fibrosites e

miosites ossificantes (SUSHEELA, 2003).

A musculatura esquelética de braços e pernas também participa do processo

de intoxicação. O Flúor provoca a substituição do arranjo normal dos filamentos

musculares (actina e miosina) de seus aspectos característicos (faixas ou estrias)

por áreas degenerativas. A consequência se traduz por perda de tonicidade,

claramente perceptível nos estados de fraqueza ou de fadiga crônica (SUSHEELA,

2003).

Paralelamente aos sistemas mais externos, a intoxicação fluórica também

acomete centros internos mais especializados, principalmente o sistema glandular e

suas respectivas imbricações com os sistemas nervoso e imunológico.

60

3.4.4 PERTURBAÇÃO FLUÓRICA NO SISTEMA NEURO-ENDÓCRINO-

IMUNITÁRIO

Comumente, as atividades do sistema endócrino estão intimamente ligadas

as dos sistemas nervoso e imunológico. A influência endócrina do Flúor reflete bem

esse contexto.

A exposição continuada ao Flúor, mesmo em baixa concentração, pode se

mostrar prejudicial à saúde geral da população exposta. No campo da imunologia,

tem sido averiguado um substancial e inexplicado número no crescimento das

condições alérgicas, auto-imunes e síndromes da fadiga pós-viral. O fator comum a

todas essas condições é sempre uma alteração na eficiência do sistema imune.

Estudos laboratoriais já indicaram um efeito significativo na inibição da migração dos

leucócitos em concentrações a 0,5ppm; 1,0ppm; 2,0ppm e 20ppm de Flúor

(GIBSON,1992).

No campo endócrino, a tireóide constitui o principal alvo dos estudos da

influência fluórica. O efeito inibidor desse elemento sobre a função tireoideana já é

bem conhecido na medicina. Na primeira metade do Século XX, o Flúor foi prescrito

por médicos europeus ao propósito de reduzir a atividade glandular no quadro de

hipertireoidismo (STECHER, 1960; WALDBOOT et al., 1978; SPITTLE, 2008).

Um dos fortes pontos polêmicos sobre a fluoretação recai justamente sobre o

fato de que nela as pessoas estão sujeitas, forçosamente, a um medicamento

depressor tireiodeano. Segundo Spittlle (2008), essa situação é responsável por

altos índices de hipotireiodismo, uma morbidade que trás como sintomatologia,

depressão, fadiga, ganho de peso, dores articulares e musculares, aumento dos

índices de colesterol e problemas cardíacos. O entendimento do Flúor, como inibidor

dos hormônios tireoideanos, deve-se ao fato de existir uma íntima similaridade entre

numerosos sinais e sintomas do hipotireoidismo com àqueles vistos pela toxicidade

fluórica, incluindo a fluorose dentária.

Biologicamente, o Flúor compete diretamente pelo mesmo sítio de

sinalização celular do hormônio hipofisário estimulante da tireóide (TSH). Assim, o

TSH fica impedido de estimular a síntese dos hormônios T3 (triiodotiramina) e T4

(tiroxina), envolvidos no hipotireoidismo (STRUNECKÁ; STRUNECKÝ; PATOCKA,

2002). Como o iodo participa diretamente na síntese desses hormônios, a presença

de Flúor tende a fomentar um quadro de deficiência para essa substância. No

61

desenvolvimento dentário, a consequência da inibição tireoideana é sempre um

atraso da erupção dentária, da remoção da matriz protéica do esmalte e da

maturação do esmalte, compatível com as manifestações de fluorose (STRUNECKÁ;

PATOCKA; CONNETT, 2004; SCHULD, 2005; ZENKNER, 2005).

Há dificuldade de se estabelecer um limiar fluórico que garanta a plena

funcionalidade da tireóide. A estimativa de ingestão fluórica de 1.6 a 6.6 mg/dia, para

as comunidades com água fluorada, já supera significativamente a faixa de 2,3 a 4,5

mg/dia, evidenciada como capaz de diminuir o funcionamento dessa glândula nos

seres humanos (WALDBOTT et al., 1978; SPITTLE, 2008).

Alguns estudos enfatizam que a fluoretação nos EUA, otimizada entre 2 e 4

ppm, justifica o alto índice de consumo do hormônio sintético para hipofunção

tireoideana, a tiroxina sódica (T4). Enquanto, na Rússia, obtiveram-se altos índices

de hipotireoidismo em pessoas submetidas à fluoretação de 2,3 ppm (GALLETTI;

JOYET, 1958; SPITTLE, 2008).

Perante a dieta pobre em iodo, o prejuízo tireoideano frente ao Flúor fica

bastante evidente. Indivíduos adultos já são afetados pela ingesta diária de apenas

0,7 mg/dia, o que significa menos de 1 litro diário de água a 1 ppm (CARTON, 2006).

De fato, um efeito neurológico exacerbado, pela deficiência de iodo, já pode ser

observado mesmo a 0,9 ppm (LI; ZHI; GAO, 1995).

Além da tireóide, a glândula pineal é outro órgão focado nos estudos dos

efeitos adversos do Flúor. Avalia-se que nos idosos, entre 72 e 100 anos de idade,

seja encontrada uma concentração fluórica de 14 a 875 ppm na massa glandular

(SPITTLE, 2008). A principal consequência dessa interação foi verificada em

animais, pela diminuição da produção noturna de melatonina, ou uma alteração do

ritmo circadiano (diário) da produção desse hormônio. Em seres humanos, ainda não

se tem grande conhecimento, a não ser da propriedade que tem o Flúor para

diminuir a produção do hormônio da pineal, e produzir outros efeitos sobre a função

glandular, contribuindo para uma variedade de efeitos nas pessoas, como na

regulação do sono, no humor, na puberdade e nos ciclos ovarianos (DOULL et al.,

2006).

Assim, a perturbação da atividade hormonal da pineal já relaciona o Flúor

com as complicações das funções sexuais e reprodutivas.

62

3.4.5 PERTURBAÇÃO FLUÓRICA NO SISTEMA GÊNITO-REPRODUTOR

A melatonina é o hormônio que normalmente controla o início da maturidade

sexual. A concentração de Flúor nessa área acaba por inibir a produção da Pineal. O

efeito mais imediato averiguado é a antecipação da menarca numa média de seis

meses. Certamente, um início precoce da maturidade sexual para as meninas.

Estudos em fêmeas de ratos têm demonstrado o mesmo efeito (LUKE, 1997; 1998).

O fluoreto de sódio é um sal de fluoretação e de muitos produtos dentários. A

avaliação do efeito tóxico do produto em ratos machos, na dosagem de 9 mg/kg/dia,

evidenciou afecção de peso nos testículos, próstata e vesícula seminal; redução dos

parâmetros séricos de testosteronas, do volume espermático epididimal e das

atividades dos fatores enzimáticos testiculares. Achados histológicos envolveram

dilatação dos túbulos seminíferos, e redução do número de espermatozóides

maduros. O mecanismo de interferência fluórica no sistema reprodutivo esteve

associado à redução dos parâmetros circulatórios da testosterona, hormônio sexual

masculino que entre outras funções é responsável pela libido (SUSHEELA;

JETHANANDANI, 1996).

Em humanos, alta ingesta de Flúor e sintomas de fluorose esquelética têm

sido associados à diminuição dos parâmetros séricos de testosterona (SUSHEELA;

JETHANANDANI, 1996). Problemas de infertilidade masculina relacionada à

anormalidade da forma espermática e à deficiente produção de testosterona têm

sido comuns em indivíduos suscetíveis sob intoxicação fluórica na Índia. Os sinais

mais comuns são deficiência numérica de espermatozóides no sêmen

(oligospermia), ou mesmo ausência (azoospermia) e baixos índices de testosterona

(SUSHEELA, 2003).

Muitos estudos em animais apontam um franco direcionamento da influência

do Flúor entre os gêneros. Enquanto, os machos respondem mais prontamente no

campo reprodutivo, as fêmeas demonstram mais influência no campo

comportamental. Apenas em fêmeas foi registrada uma redução em número e

tamanho neuronal de hipocampo e giro dentado cerebral, áreas relacionadas ao

equilíbrio. Efeitos adversos de coordenação motora, resistência ao nado e habilidade

ao labirinto estiveram associados nas dosagens altas de Flúor (BHATNAGAR; RAO;

JAIN, 2002).

63

Assim as implicações no campo nervoso, psíquico e no comportamento,

evoluem para mais uma área de investigação da ação fluórica na ciência da saúde.

3.4.6 PERTURBAÇÃO FLUÓRICA NO SISTEMA NEURO-PSICO-

COMPORTAMENTAL

Estudos em neurotoxicologia têm demonstrado que a associação Flúor-

alumínio (Al-F) é a mais evidente para afetar o tecido nervoso, principalmente o

hipocampo (BHATNAGAR; RAO; JAIN, 2002; STRUNECKÁ; STRUNECKÝ;

PATOCKA, 2002; STRUNECKÁ; PATOCKA; CONNETT, 2004). Nessa região

encefálica ocorre o processamento de conexões ambientais, memória e estímulo

motivacional, influenciando as decisões comportamentais e capacidade de

armazenamento intelectual. Clinicamente, a principal consequência é manifestada

por processos de hiperatividade e deficiência cognitiva (BAHTNAGAR; RAO; JAIN,

2002).

Em animais, parâmetros muito baixos do complexo Al-F foram capazes de

causar perda de memória irrecuperável, semelhante ao mal de Alzheimer, doença

também relacionada com a região hipocampal. Concentração de fluoreto de sódio a

1 ppm já permitiu depósito de alumínio na área cerebral com capacidade de

formação de corpos amilóides, complexos orgânicos envolvidos na gênese de

doenças degenerativas (CONNETT, 2004; NRC, 2006). A interação Flúor-alumínio a

0,3 ppm (CARTON, 2006), ou em fluoretação tão baixa quanto a 0,026 ppm já se

mostrou competente ao dano neural em ratos (CONNETT, 2004; NRC, 2006).

O papel do Flúor como neurotoxina no desenvolvimento do sistema nervoso

tem sido motivo crescente de pesquisas. Já que o cérebro humano não se completa

antes da vida adulta precoce, há uma consciência de que a exposição a toxinas

nesse período é capaz de interferir no potencial da personalidade (GE et al., 2006;

GRANDJEAN; LANDRIGAN, 2006). Como a faixa etária de expressão da fluorose

indica claramente uma exposição precoce da criança ao Flúor, o crescimento

cerebral não fica isento a riscos. Mais comumente, são registrados por estudos,

perda da acuidade mental ou quociente de inteligência (QI); distúrbio do déficit de

atenção (DDA); e desordens da hiperatividade e déficit de Atenção (DHDA), entre

outros problemas de concentração ou de comportamento (LI; ZHI; GAO, 1995;

64

ZHAO et al., 1996; MULLENIX et al., 1995; COLQUHOUN, 1997; VERMEULEN,

2004; GRANDJEAN; LANDRIGAN, 2006).

Estudos em humanos têm evidenciado comprometimento de QI sob baixas

taxas de Flúor, como a de 0,9 ppm, em crianças sob deficiência nutricional, e a de

1,8 ppm, àquelas sob adequada nutrição (XIANG et al., 2003a). Estudos chineses

também demonstraram, além da interferência no QI de crianças, a morte neuronal

precoce em animais (LI; ZHI; GAO, 1995; ZHAO et al., 1996; XIANG et al., 2003a).

Uma metanálise sobre 20 anos de investigação evidenciou cinco vezes mais

possibilidade de desenvolver baixo QI em áreas endêmicas de fluorose, em relação

às de não fluorose ou de fluorose leve (TANG et al., 2008). Diversos outros estudos

conseguiram relacionar alta concentração de Flúor, baixa concentração de iodo e

queda do QI (LI; ZHI; GAO, 1995; ZHAO et al., 1996; XIANG et al., 2003a; TRIVEDI

et al., 2007; SPITTLLE, 2008).

O chumbo é descrito como um conhecido agente neurotóxico provocador de

deficiência de aprendizagem e problemas comportamentais em crianças (MASTER;

COPLAN, 1999; MACEK et al., 2006). O Flúor tem competência para mobilizar o

chumbo direta ou indiretamente, a semelhança do alumínio (ISAACSON, VARNER;

JENSEN, 1995). Também, provoca aumento da absorção de metais pesados, em

virtude da capacidade de inibição da enzima acetilcolinesterase, responsável pela

neutralização desses agentes tóxicos. A água fluorada expõe as pessoas no

mínimo a 20% mais de chumbo (SEAVEY, 2005).

Diversas outras manifestações neuro-psico-comportamentais tipo Down

(BURGSTAHLER, 1997; 2007; TAKAHASHI, 1998), Alzheimer (McDONAGH et al.,

2000) e crises de violência patológica (SEAVEY, 2005) têm referência em relação à

fluoretação, embora ainda careçam de melhor embasamento.

Portanto, diante de todas as evidências de reações adversas à saúde

apontadas, devido à ingestão de Flúor, a fluoretação, como principal via de acesso

do agente químico ao organismo, não fica isenta dos possíveis comprometimentos

éticos, julgados pertinentes a qualquer conduta médica de promoção à saúde.

Contudo, a discussão temática se torna mais objetiva diante de dados operacionais

colhidos no campo odontológico, onde reside a razão formal para o uso da

substância.

Dessa forma, uma metodologia de estudo de campo foi elaborada, com o

propósito de buscar possíveis relações, por meio de indicadores consubstanciados

65

na ingestão fluórica, entre as sintomatologias que comprometem o bom estado de

saúde e o Flúor.

66

4 METODOLOGIA

O presente trabalho foi pautado em técnica padronizada de coleta de dados,

por meio de formulário estruturado e observação sistematizada. Portanto, sendo

moldada em processos quantitativos, é adequadamente classificada, quanto à

técnica, em pesquisa descritiva (GIL, 2009).

Quanto aos procedimentos técnicos, a classificação melhor ajustada foi para

pesquisa de campo, e, quanto à tipologia de finalidade prática, em aplicada, já que

teve o propósito de desenvolver um novo processo de avaliação das consequências

da ingestão de Flúor nos usuários do HACO (BOOTH; COLOMB; WILLIAMS, 2008).

Ademais, usou técnica, calcada em documentação direta e observação direta

intensiva (MARCONI; LAKATOS, 2009).

A abordagem do problema de pesquisa, investida numa solução guiada por

objetivos específicos, contemplou o embasamento do método dedutivo, expresso

pelo procedimento de confrontar os resultados da análise dos dados obtidos, com

aqueles presentes na literatura de referência.

4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Desenho de estudo observacional, de corte transversal, em população de

usuários do HACO da faixa etária de 6 a 14 anos, com história de ingestão de Flúor

pela água, meios de higiene e alimentação, para obtenção dos índices de

prevalência de fluorose (IPF), índice comunitário de fluorose (ICF) e índice de efeitos

a outros efeitos adversos à saúde (IESF), pela ingestão do Flúor.

4.2 OBJETO DO ESTUDO

A fluorose e as sintomatologias sistêmicas com possibilidade de serem

provocadas pelo poder de intoxicação do Flúor na população em foco, pelas fontes

de Flúor água, produtos de higiene bucal e alimentos, assim como a história da

amamentação, conforme averiguado na literatura.

67

4.3 AMOSTRAGEM

Eleita a do tipo acidental, por ser a mais operacionalizável no período de

tempo disponível à coleta de dados no período de janeiro a junho de 2009. O estudo

foi realizado dentro da rotina operacional do oficial-dentista do hospital, no acesso às

clínicas odontológicas de Odontopediatria e Ortodontia pelos pacientes, durante o

intervalo de tempo previamente estipulado.

No HACO, todo sistema de consultas é informatizado, e de acesso exclusivo

à livre iniciativa do cliente. Cada usuário precisa se dispor ao atendimento, sem

sofrer interferência de qualquer natureza, por parte profissional, sobre o seu

processo decisório. O profissional dentista toma conhecimento da sua planilha de

atendimento apenas poucos minutos antes de iniciar o seu respectivo turno de

trabalho. As especialidades elencadas na captura dos elementos de estudo ainda

são contempladas, na Odontologia, por três turnos de atendimento, manhã, tarde e

noite. Tudo contribuiu para conferir ao processo de seleção um caráter estocástico.

No tempo ocorrido, o tamanho da amostra ficou limitado a 75 (setenta e cinco)

registros, abrangendo todo o período pré-estabelecido à coleta de dados.

4.4 COLETA DE DADOS

Inicialmente, foi explicado aos pais ou responsável a natureza da pesquisa e

o propósito dela junto aos usuários do Sistema de Saúde da Aeronáutica. O

reconhecimento da ciência deles foi firmado em documento de Consentimento Livre

e Esclarecido, segundo Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS),

conforme Apêndice A.

A coleta de dados sobre fluorose foi obtida por observação direta dos

profissionais dentistas, após técnica de limpeza, secagem e incidência de luz direta

sobre as superfícies dentárias. Os registros foram realizados num arcabouço de

odontograma (sistema gráfico da arcada dentária) das dentições decídua e

permanente (APÊNDICE B), com orientação por instrução escrita e visual

(APÊNDICE C). Uma configuração que corresponde, portanto, à modalidade de

observação estruturada, não participante do universo do paciente, realizada em

equipe, e efetuada em ambiente real (MARCONI; LAKATOS, 2009).

68

As demais sintomatologias concernentes à ingestão de Flúor e amamentação,

também, foram obtidas sobre uma base protocolar pré-estabelecida, limitadas à

literatura apresentada. A técnica de sequenciamento de frequência corresponde à

de entrevista padronizada ou estruturada, orientada intencionalmente por formulário

de campos descontinuados (APÊNDICE B). O propósito dessa conduta foi de se

evitar respostas interpretativas do entrevistado sobre o objeto de investigação.

4.5 MATERIAL

Dois instrumentos foram utilizados à operacionalização do estudo. Um

contendo o odontograma e o formulário estruturado do inquérito de saúde

(APÊNDICE B), para a coleta de dados. Um outro, contendo a instrução escrita de

todos os graus de fluorose do ITF, segundo a classificação de Thylstrup e Fejerskov

(1978), autores do índice; o álbum fotográfico de todos os graus de fluorose

descritos, para servir como escala analógica visual da patologia; e os critérios de

frequência, de zero a cinco, para o sequenciamento das observações e informações

do paciente (APÊNDICE C).

O Índice TF foi eleito em função de ser atualmente o mais recomendado pela

OMS aos estudos da fluorose (FAWELL et al., 2006).

4.5.1 FORMULÁRIO DE ENTREVISTA (APÊNDICE B)

Composto sob a forma de inquérito de saúde, firmado pelo oficial coletor,

contemplando os seguintes campos de registros:

a) Identificação completa do usuário;

b) Diagrama para demarcação dos sítios dentários de fluorose (odontograma)

da dentição decídua completa (vinte espaços), e da permanente até Segundos

Molares (vinte e oito espaços); e

d) Campos de observação e informação do avaliado, contemplando a

observação e informação do complexo dentofacial (Campo 1); informações

comportamentais (Campo 2); e informações de saúde sistêmica (Campo 3).

Observação diz respeito à informação colhida diretamente pelo avaliador, enquanto

informação, à observação relatada pelo próprio paciente ou por seus responsáveis.

No Campo 1 foram distribuídas cinco perguntas (de a até e), no Campo 2, dez

69

perguntas (de a até j) e no Campo 3, vinte e cinco perguntas (de a até z).

4.5.2 SISTEMA DE INSTRUÇÃO E SUPORTE AO AVALIADOR (APÊNDICE C)

O sistema de instrução ao avaliador foi constituído por três mecanismos de

suporte, servindo à tomada dos graus de fluorose e às marcações das observações

e informações do avaliado.

Para a tomada da fluorose, segundo o ITF, foi elaborada uma tabela de

instrução escrita de todos os graus da patologia (TF1 a TF9) em confronto com o

estado de normalidade (TF0). O instrumento serviu para manter os conceitos da

dinâmica patológica sempre em pronta resposta às possíveis dúvidas do avaliador.

Visando a máxima compreensão de todos os graus de deterioração da

normalidade dentária pela fluorose, foi elaborado um álbum fotográfico colorido,

contendo a situação ideal de coloração dentária dentro das 9 (nove) possibilidades

representativas da doença pelo ITF, com auxílio suplementar de legenda descritiva a

cada um deles. O instrumento concebido serviu ao avaliador como uma escala

analógica visual, para o rápido discernimento conceitual entre os diferentes graus do

ITF.

No intuito de aperfeiçoar a qualificação das respostas das observações e

informações, foi elaborado um quadro contendo os critérios de frequência das

mesmas, num escalonamento progressivo em seis categorias, de zero, para

ausência completa (nunca), até cinco, para presença constante (sempre).

4.6 MÉTODO

O método do estudo contemplou a abordagem de uniformização dos

coletores; a seleção do indicador de fluorose ITF; a classificação dos selecionados

pela fluorose; a construção de indicador para os efeitos sistêmicos do Flúor (IESF),

além dos critérios de inclusão, exclusão e para a análise dos dados.

4.6.1 TÉCNICA PARA EQUIPARAÇÃO ENTRE OS COLETORES

As clínicas odontológicas de Odontopediatria e Ortodontia foram o ambiente

escolhido para coleta de dados, por serem as mais representativas do público alvo

70

dos 06 aos 14 anos. Assim, todo paciente enquadrado na faixa de estudo, ao chegar

nas clínicas eleitas, foi convidado à avaliação. A coleta foi procedida por quatro

oficiais-dentistas, duas de cada especialidade, nos três turnos de expediente

disponibilizados pela Organização.

No início do trabalho, foi realizada uma reunião para esclarecimento

conceitual, e para o nivelamento da interpretação dos índices de fluorose da tabela

analógica visual. Cada profissional realizou um primeiro levantamento, como

treinamento de tempo e agilidade ao processo de preenchimento.

Uma segunda reunião foi realizada para os devidos ajustes e equalização da

equipe, com base na experiência anteriormente verificada.

No intuito da máxima isenção de interferência psicológica do entrevistado,

como primeira intervenção ficou ajustada a obtenção da concordância, por meio do

Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A).

A pesquisa foi liberada pelo Comitê de Ética da Divisão Odontológica do

Hospital de Aeronáutica de Canoas (ANEXO B).

4.6.2 SELEÇÃO DO INDICADOR CONCERNENTE À FLUOROSE

Dos indicadores de prevalência de fluorose dentária presentes na literatura,

dois deles são os mais comumente utilizados na Odontologia, o Dean (ID) e o

Thylstrup-Fejerskov (ITF). Neste estudo optou-se pelo ITF, em virtude de ser o

atualmente mais explorado no meio científico, e ter aval da OMS para a mensuração

desse problema. Também, porque o ID, primeiro a ser estabelecido, apresenta

algumas limitações, uma vez que qualifica a fluorose em apenas cinco campos

estáticos: questionável, muito branda, branda, moderada e severa (DEAN; DIXON;

COHEN, 1935), enquanto o ITF qualifica a fluorose em nove processos graduais,

representando mais acuradamente o dinamismo da patologia na destruição do

tecido dentário (THYLSTRUP; FEJERSKOV, 1978).

O Índice de Prevalência de Fluorose (IPF) é alcançado pela relação entre

número de afetados e número total da população envolvida no estudo. A

proporcionalidade é expressa em valores percentuais, representando o agravo

especificamente naquela população, conforme a seguinte formulação:

71

nº de dentes com fluorose IPF =

Tamanho da amostra

Para averiguação do impacto do agravo na população, Dean (1942) idealizou

o Índice Comunitário de Fluorose (ICF). Nesse intuito, o autor valorou os seus

respectivos graus de fluorose em 0,5 para o grau questionável; 1 para o grau muito

brando; 2 para o grau brando; 3 para o grau moderado e finalmente 5 para o grau

severo. Segundo o autor, valor médio superior a 0,4 indica problema de Saúde

Pública.

Gómez-Santos; Gonzáles-Sierra e Vázquez-García-Machinena (2008)

preconizam uma equiparação entre os índices TF e DI pela atribuição de TF1 + TF2,

grau brando = 2 (dois); TF3 + TF4, grau moderado = 3 (três); e somatório de TF5 a

TF9, grau severo = 4 (quatro). Assim, nessa nova distribuição, apenas 3 valores de

Dean são utilizados no cálculo do ICF modificado, são os graus 2, 3 e 4

respectivamente. Como o indicador abordado pelo estudo é o ITF, o cálculo do ICF

só é possível sob essa forma modificada.

O ICF é alcançado pela relação entre o somatório de todas as frequências

parciais de fluorose, inclusive a nula, e o número total da população envolvida no

estudo. Neste estudo, seguiu-se a fórmula:

Σ [f(TF0) + f(TF1+TF2) x 2 + f(TF3+TF4) x 3 + f(TF5+TF6+TF7+TF8+TF9) x 4] ICF = n

4.6.3 CLASSIFICAÇÃO DA POPULAÇÃO PELA FLUOROSE

Para se buscar a associação entre os sintomas levantados no inquérito de

saúde e o Flúor, a população foi classificada em dois grupos, por meio da fluorose,

uma vez que essa doença está relacionada diretamente à ingestão da substância.

No Grupo Fluorose (GF), foram alocados todos os que apresentaram a patologia em

qualquer um dos seus graus, indistintamente da abrangência e severidade (TF1 a

72

TF9). No Grupo Não Fluorose (GNF), foram alocados os que se mostraram

completamente livres da doença (TF0).

4.6.4 CONSTRUÇÃO DO INDICADOR DE EFEITOS SISTÊMICOS DO FLÚOR

(IESF)

Visando atender a análise de associação entre sintomatologia sistêmica e

fluorose dentária, foi idealizado um indicador para mensurar a relação de presença

ou de ausência da patologia com os sintomas que receberam confirmação numa das

cinco possibilidades aferidas no inquérito de saúde, pelos critérios de frequência da

sintomatologia observada ou informada (APÊNDICE C). No entanto, em virtude do

reduzido tamanho da amostra, na análise final foi utilizada para o cálculo, apenas a

presença (1) e ausência (0) do sintoma.

Moldando-se no ICF, o Índice de Efeitos Sistêmicos do Flúor (IESF) foi

estruturado, procedendo-se as devidas alterações necessárias.

As entradas das observações e informações dos campos, dentofacial,

comportamental e sistêmico foram devidamente alocadas dentro dos seis sistemas

investigados na literatura para os efeitos adversos do Flúor, correspondentemente

em sistemas A, B, C, D, E e F.

Os sintomas embaralhados no inquérito de saúde foram, então, classificados

aos seus respectivos sistemas, para o cálculo relativo a cada um deles no IESF

(APÊNDICE D).

A obtenção do cálculo do valor relativo (vr) de cada sintoma no sistema foi

estabelecida pela divisão correspondente a 1 (um) sintoma pelo número total de

sintomas alocados a cada um dos respectivos sistemas. O resultado foi multiplicado

por 100 (cem), para facilitar as operações estatísticas. Dessa forma, o sistema que

recebeu mais perguntas em seu núcleo, obteve um valor relativo menor. Essa

configuração foi necessária, em virtude de se poder diminuir o impacto de possível

erro de eleição de um sintoma pela avaliação clínica. Um erro de eleição sintomática

num sistema de muitos sintomas não seria tão impactante na estatística, quanto um

erro num sistema de poucos sintomas.

A Tabela 2 mostra a distribuição dos sintomas relacionados no inquérito de

saúde, e os valores relativos obtidos a cada um dos sistemas abordados.

73

Tabela 2: Distribuição sintomática por Sistemas e valores relativos (vr).

SISTEMAS

Nº DE SINTOMAS

RELACIONADOS

POR SISTEMA (n)

VALOR

RELATIVO DO

SISTEMA (vr)

A – Funcional Regular 9 11,1

B – Estomatognático 5 20

C – Locomotor 5 20

D – Neuro-endócrino-imunitário 6 16,6

E – Gênito-reprodutor 3 33,3

F – Neuro-psico-comportamental 6 16,6

Nota: vr = 1/n x 100

A construção do IESF de um determinado agrupamento necessita da

obtenção das médias relativas parciais de cada um dos sistemas sintomáticos

abordados. Para a obtenção das médias relativas parciais, além do valor relativo do

sistema já estipulado, se fez necessário, o cálculo do valor médio dos sintomas

positivados, em cada um dos subgrupos de GF e GNF (APÊNDICE E).

Conforme os dados do Apêndice E, o valor médio foi obtido pelo somatório

das entradas positivadas do inquérito de saúde, a cada um dos sistemas [n(St)],

dividindo-se o valor obtido pelo número de pessoas presentes no subgrupo [n(G)].

De posse do valor médio dos sintomas e do valor relativo do sistema, as

médias relativas foram calculadas, pela multiplicação entre eles.

As Tabelas 3 e 4 mostram os valores médios dos sintomas positivados no

inquérito de saúde, respectivamente aos grupos GF e GNF, distribuídos nos gênero

masculino, feminino e agrupados. Na Tabela 5, pode-se observar a distribuição das

frequências parciais de cada sistema, em cada subgrupo.

Tabela 3: Distribuição dos valores relativos (vr) e valores médios (vm) dos sintomas positivados no GF para os grupos masculino, feminino e total. Canoas, RS, 2009.

VALOR MÉDIO EM GF (vm)

SISTEMA A B C D E F VALOR RELATIVO (vr) 11,1 20 20 16,6 33,3 16,6 Masculino (n = 28) (vm) 3,18 2,21 1,14 1,29 0,21 2,43 Feminino (n = 27) (vm) 3,78 2,41 1,33 1,89 0,63 2,63 Total (n = 55) (vm) 3,47 2,31 1,24 1,58 0,42 2,53 Nota: vm = n(St) / n(G) → n(St) = número total de sintomas em cada Sistema; n(G) = número total de pessoas em cada subgrupo: masculino (28), feminino (27) e total (55). Apêndice E.

74

Tabela 4: Distribuição dos valores relativos (vr) e valores médios (vm) dos sintomas positivados no GNF para os grupos masculino, feminino e total. Canoas, RS, 2009.

VALOR MÉDIO EM GNF (vm)

SISTEMA A B C D E F VALOR RELATIVO (vr) 11,1 20 20 16,6 33,3 16,6 Masculino (n = 8) (vm) 3,25 1,75 1,25 1,75 0,00 2,88 Feminino (n = 7) (vm) 2,71 2,14 0,86 1,00 0,14 1,57 Total (n = 15) (vm) 3,00 1,90 1,10 1,40 0,07 2,27 Nota: vm = n(St) / n(G) → n(St) = número total de sintomas em cada Sistema; n(G) = número total de pessoas em cada subgrupo: masculino (8), feminino (7) e total (15). Apêndice E.

Tabela 5: Médias relativas parciais (mr) dos sistemas sintomáticos por subgrupo. Canoas, RS, 2009.

MÉDIAS RELATIVAS PARCIAIS DOS SISTEMAS SINTOMÁTICOS (mr)

GRUPO GF – Fluorose GRUPO GNF – Não Fluorose

SISTEMA Masculino Feminino Grupo Masculino Feminino Grupo

A 35,3 41,96 38,52 36,08 30,08 33,3 B 44,2 48,2 46,2 35 42,8 38 C 22,8 26,6 24,8 25 17,2 22 D 21,41 31,37 26,23 29,05 16,6 23,24 E 6,99 20,98 13,99 0 4,66 2,33 F 40,34 43,66 42 47,81 26,06 37,68

Nota: mr = vm x vr

A partir das médias relativas (mr), o IESF (Índice de Efeito Sistêmico do Flúor)

foi calculado a cada um dos subgrupos de GF e GNF, conforme a formulação

matemática seguinte:

Σ [mr(A) + mr(B) + mr(C) + mr(D) + mr(E) + mr(F)]

IESF = n(S)

Onde:

mr = média relativa do sistema.

A, B, C, D, E, F = sistemas abordados.

n(S) = número de sistemas abordados. Neste estudo, seis (6).

75

Por fim, como requisito de qualificação da ferramenta, foi adotado, na

condição de GF/GNF, o seguinte critério:

0 < IESF <1 = associação negativa (-)

IESF > 1 = associação positiva (+)

IESF = 1 → valor nulo (o)

O indicador pode, então, ser aplicado aos dois grupos de estudos, GF e GNF,

para as devidas avaliações sobre os efeitos do Flúor, entre um e outro grupo.

4.6.5 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO, EXCLUSÃO E DE ANÁLISE DE DADOS

Para inclusão no estudo foram considerados todos os pacientes da faixa

etária preconizada, quando os responsáveis se mostraram solícitos à abordagem do

inquérito, e assinaram o consentimento informado.

Formulários com campos de observação ou informação incompletos, que não

puderam ser revistos no prazo da coleta, foram refutados. Dos setenta e cinco

formulários, cinco foram excluídos por esse motivo. Também, foram excluídos do

cômputo da fluorose os defeitos procedentes do desenvolvimento do esmalte

dentário, previstos pela Federação Dentária Internacional (FDI, 1992) como

opacidades difusas e hipoplasias de natureza não fluórica (McDONAGH et al.,

2000).

Para análise de dados, foram plotados, em planilha Excel (™Microsoft Co.),

os dados das variáveis, numeração do formulário, idade, gênero, tempo de

amamentação em meses, ITF para os vinte dentes decíduos, ITF para vinte e oito

dentes permanentes, sistemas A, B, C, D, E, F (APÊNDICE D), e frequências das

fontes de Flúor, água (2), higiene bucal (3) e alimentos (10).

Para análise do IPF e do ICF, a população foi abordada por grupo dentário

(decíduo, permanente e agrupados), e por gênero (masculino, feminino e

agrupados), num total de nove subgrupos. A classificação em dois grupos (GF e

GNF) serviu de base para análise das médias relativas e do IESF em relação aos

grupos, à amamentação e às fontes de Flúor. Nessa nova ordem, o contingente de

subgrupos foi reduzido somente para a abordagem por gênero (masculino, feminino

e agrupados).

Assim, seguindo-se os critérios apresentados, o universo de pesquisa esteve

76

representado por 70 (setenta) formulários, operacionalizados na população alvo

desde o mês de janeiro, e agrupados para análise no último dia útil de junho do

corrente ano. A Tabela 6 adiante demonstra como a população ficou representada

na amostra obtida no tempo de estudo.

Como a Divisão Odontológica está inserida no contexto do HACO, a faixa de

pacientes concorrente ao hospital corresponde a mesma, para cada um dos setores

operacionais desse sistema hospitalar, inclusive para a Odontologia.

A metodologia, agora consolidada, dará suporte à análise dos resultados

pertinentes aos objetivos específicos da situação problema.

77

5 RESULTADOS

No universo de pesquisa abordado, a amostra de setenta inquéritos,

correspondeu a 4,62% do total de usuários do HACO, para a faixa etária de estudo;

sendo 2,38% (36 inquéritos) pertencentes ao gênero masculino, e 2,24% (34), ao

gênero feminino (Tabelas 1). Na Tabela 6, pode-se ainda observar a distribuição da

amostra pelas idades componentes da faixa etária.

Tabela 6: Amostra estudada de janeiro a junho, em números absolutos. segundo idade, gênero e presença de fluorose. Canoas, RS, 2009.

Masculino

Feminino Gênero

Idade

s/F

c/F

Total

s/F

c/F

Total

Total

Geral

6

2

1

3

2

1

3

6

7

1

1

2

0

0

0

2

8

0

2

2

2

3

5

7

9

0

8

8

1

6

7

15

10

3

7

10

1

6

7

17

11

2

3

5

1

2

3

8

12

0

3

3

0

6

6

9

13

0

1

1

0

2

2

3

14

0

2

2

0

1

1

3

Total

8

28

36 (2,38%)

7

27

34 (2,24%)

70(4,62%)

s/F

8

-

-

7

-

-

15(21,43%)

c/F (*IPF)

-

28

-

-

27

-

55(*78,57%)

Nota: s/F, sem fluorose; c/F, com fluorose (* IPF – Índice de Prevalência de Fluorose = 78,57%). Na população de elementos dentários, foram contabilizados presentes,

quatrocentos e sessenta e sete decíduos, e mil cento e setenta e cinco

78

permanentes. Quanto ao gênero, a distribuição foi de 251 decíduos e 595

permanentes, para o gênero masculino, e para o gênero feminino, 216 decíduos e

580 permanentes (Tabela 7).

Assim, na população de usuários do HACO, dentro da faixa etária dos 06 aos

14 anos, observou-se equilíbrio entre os gêneros, masculino (49,77%) e feminino

(50,26%), com ligeira vantagem ao último (Tabela 1). A mesma observação pode ser

constatada na população amostral (2,38% e 2,24%), porém a vantagem foi para o

gênero masculino (Tabela 6).

Essa distribuição equitativa, obtida entre os usuários, já permite afirmar que o

tipo de amostragem aplicado foi eficaz em relatar a realidade global de distribuição

quanto ao gênero para o universo de estudo (Tabelas 1 e 6).

Especificamente, na população dental, o contingente de permanentes

(71,56%) superou o de decíduos (28,44%). Nela, a do gênero masculino (29,67%)

foi superior a do gênero feminino (27,14%) no contingente de decíduos. Porém, no

contingente de permanentes, a do gênero feminino (72,86%) superou a do

masculino (70,33%). Assim, quanto ao número de dentes presentes, o gênero

masculino foi maior em decíduos, e menor em permanentes; enquanto o feminino foi

menor em decíduos, e maior em permanentes. Isto significa que no gênero feminino

houve maior substituição de dente decíduo por permanente (Tabela 7).

No entanto, comparando-se as médias de dentes presentes, observa-se que

não há diferença entre os gêneros. Já na comparação das médias por pessoa de

dentes com fluorose, observa-se grande diferença entre os gêneros (Tabela, 7).

Na avaliação do Índice de Prevalência de Fluorose (IPF) para a população do

HACO, observou-se que este foi de 78,57% (Tabela 6), e para o contingente de

dentes presentes de 40,99%, sendo 15,20% para a dentição decídua, e 51,23% para

a dentição permanente (Tabela 7). Apenas 15 usuários (21,43%), dos 70 analisados,

não apresentaram fluorose (Tabela 6). Na população masculina, as taxas de

prevalência atingiram 7,57% em decíduos e 40,67% em permanentes. Enquanto, na

feminina, as taxas foram de 24,07% e 62,07 respectivamente (Tabela 7).

Comparando-se as médias de dentes presentes entre os grupos masculino e

feminino não se observou diferenças significativas (p = 0,86)

Pela distribuição em subgrupos (Tabela 7), foi constatado que o percentual de

dentes com fluorose no gênero feminino (51,76%) superou o do masculino (30,85%)

79

em 20,91%. Comparando-se as médias (15,26 ± 6,81 e 9,32 ± 6,67) pelo teste t de

student nestes dois grupos, observou-se diferenças significativas (p = 0,00192).

A Tabela 7 mostrou que a fluorose da dentição permanente superou a da

decídua em todos os grupamentos. No cômputo geral em 36,03% (51,23% para

15,20%); no gênero masculino em 33,10% (40,67% para 7,57%); e no gênero

feminino em 38,00% (62,07% para 24,07%). A Tabela 7 ainda demonstra que a

fluorose no gênero feminino superou a do masculino tanto nos decíduos, em 16,50%

(24,07% para 7,57%), como nos permanentes, em 21,40% (62,07% para 40,67%).

Portanto, gênero feminino e dentes permanentes foram as variáveis com maior

prevalência de fluorose no HACO

Tabela 7: Número de dentes presentes e com fluorose, segundo a dentição e o gênero. Média e desvio-padrão de dentes presentes e com fluorose por pessoa.

Canoas, RS, 2009.

Dentes Presentes

Dentes com Fluorose Dentição

n(D) % n (F) % n(D) Decídua 467 28,44 71 15,20 Permanente 1175 71,56 602 51,23 Total 1642 100,00 673 40,99 Média - DP 23,46 ± 2,12 -

12,24 ± 7,32 -

Masculino

Decídua 251 29,67 19 7,57 Permanente 595 70,33 242 40,67 Total 846 100,00 261 30,85 Média - DP 23,50 ± 1,98* -

9,32 ± 6,67** -

Feminino

Decídua 216 27,14 52 24,07 Permanente 580 72,86 360 62,07 Total 796 100,00 412 51,76 Média - DP 23,41 ± 2,28* -

15,26 ± 6,81** - Nota: ** Teste F: p = 0,91; Teste t: p = 0,00192. * Teste F: p = 0,40; Teste t: p = 0,86.

As Tabelas 8 e 9 evidenciam, em números absolutos, e em percentuais, a

distribuição dos dentes decíduos e permanentes nos diversos graus de fluorose do

Índice TF.

Observa-se, na Tabela 9, que o grau 1 do ITF engloba o maior percentual de

dentes com fluorose (64,64% no total, 84,67% no gênero masculino e 51,94%, no

feminino). Até o grau TF2, concentram-se de 67, 31% a 98,34% de todos os dentes

80

com fluorose em todos os subgrupos. Enquanto, nos decíduos o subtotal dos dentes

com TF3 ou mais é de mais de 30%, nos permanentes é de 1,66% no gênero

masculino e de 14,45%, no feminino.

Esses dados indicam maior severidade de fluorose nos decíduos do que nos

permanentes, e maior no gênero feminino, do que no masculino.

Tabela 8: Distribuição em números absolutos (n) dos dentes presentes e dos graus parciais de fluorose pelo ITF, segundo a dentição e o gênero. Canoas, RS, 2009.

Graus Parciais de Fluorose do ITF (n)

Total

Masculino

Feminino

Dentição

Dentição

Dentição

Graus

do

ITF

Dec Perm Total Dec Perm Total Dec Perm Total

TFO 396 573 969 232 353 585 164 220 384

TF1 42 393 435 12 209 221 30 184 214

TF2 6 153 159 1 29 30 5 124 129

TF3 14 38 52 4 0 4 10 38 48

TF4 2 9 11 2 3 5 0 6 6

TF5 2 0 2 0 0 0 2 0 2

TF6 5 1 6 0 1 1 5 0 5

TF7 0 0 0 0 0 0 0 0 0

TF8 0 1 1 0 0 0 0 1 1

TF9 0 7 7 0 0 0 0 7 7

Total 467 1175 1642 251 595 846 216 580 796

81

Tabela 9: Número de dentes com fluorose (n de F) e distribuição em percentuais (%) dos dentes com fluorose, segundo os graus parciais pelo ITF, dentição e gênero.

Canoas, RS, 2009.

Graus Parciais de Fluorose do ITF (n)

Total

Masculino

Feminino

Dentição

Dentição

Dentição

Graus

do

ITF

Dec

Perm

Total

Dec

Perm

Total

Dec

Perm

Total

n de F

71

602

673

19

249

261

52

360

412

Total % F

100,00

100,00

100,00

100,00

100,00

100,00

100,00

100,00

100,00

TF1

59,15

65,28

64,64

63,16

86,36

84,67

57,69

51,11

51,94

TF2

8,45

25,42

23,62

5,26

11,98

11,49

9,62

34,44

31,31

Subtotal 67,6 90,7 88,26 68,42 98,34 96,16 67,31 85,55 83,25

TF3

19,72

6,31

7,73

21,05

0,00

1,53

19,23

10,56

11,65

TF4

2,82

1,49

1,63

10,53

1,24

1,92

0,00

1,67

1,46

TF5

2,82

0,00

0,30

0,00

0,00

0,00

3,84

0,00

0,49

TF6

7,04

0,17

0,89

0,00

0,42

039

9,62

0,00

1,21

TF7

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

0,00

TF8

0,00

0,17

0,15

0,00

0,00

0,00

0,00

0,28

0,24

TF9

0,00

1,16

1,04

0,00

0,00

0,00

0,00

1,94

1,70

Subtotal 32,4 9,3 11,74 31,58 1,66 3,84 32,69 14,45 16,75

Para a avaliação do Índice comunitário de fluorose (ICF) na população de

estudo, houve a necessidade de se calcular as taxas parciais nos graus, brando

(TF1 + TF2), de valor 2 (dois); moderado (TF3 + TF4), de valor 3 (três); e severo

(TF5 + TF6 +TF7 +TF8 +TF9), de valor 4 (quatro).

Através dos índices parciais de fluorose obtidos, foram encontrados os

Índices Comunitários de Fluorose (ICF) para a população de estudo, nos valores de

0,37; 1,08; e 0,88 na distribuição entre decíduos, permanentes e agrupados

respectivamente (Tabela 10). Para o gênero masculino, os valores correspondentes

82

foram de 0,18; 0,82; e 0,63; e, para o feminino, 0,59; 1,34; e 1,14 (Tabela 12); sob a

mesma distribuição.

Tabela 10: Índice Comunitário de Fluorose Modificado do Grupo Total. Canoas, RS, 2009.

Frequência do Grau (n) e do ICF parcial (f)

DECÍDUOS

PERMANENTES

Total

Grau do ITF

Grau do ICF

modificado nd (fd) np (fp) n (f)

TF0 0 396 0 573 0 969 0 TF1 2 42 84 393 786 435 870 TF2 2 6 12 153 306 159 318 TF3 3 14 42 38 114 52 156 TF4 3 2 6 9 27 11 33 TF5 4 2 8 0 0 2 8 TF6 4 5 20 1 4 6 24 TF7 4 0 0 0 0 0 0 TF8 4 0 0 1 4 1 4 TF9 4 0 0 7 28 7 28

TOTAL 467 172 1175 1269 1642 1441

ICF Médio

0,37

1,08

0,88

Tabela 11: Índice Comunitário de Fluorose Modificado no Grupo Masculino. Canoas, RS, 2009.

Frequência do Grau (n) e do ICF parcial (f)

DECÍDUOS

PERMANENTES

Total

Grau do ITF

Grau do ICF

modificado nd (fd) np (fp) n (f)

TF0 0 232 0 353 0 585 0 TF1 2 12 24 209 418 221 442 TF2 2 1 2 29 58 30 60 TF3 3 4 12 0 0 4 12 TF4 3 2 6 3 9 5 15 TF5 4 0 0 0 0 0 0 TF6 4 0 0 1 4 1 4 TF7 4 0 0 0 0 0 0 TF8 4 0 0 0 0 0 0 TF9 4 0 0 0 0 0 0

TOTAL 251 44 595 489 486 533

ICF Médio

0,18

0,82

0,63

83

Tabela 12: Índice Comunitário de Fluorose Modificado no Grupo Feminino. Canoas, RS, 2009.

Frequência do Grau (n) e do ICF parcial (f)

DECÍDUOS

PERMANENTES

Total

Grau do ITF

Grau do ICF

modificado

nd (fd) np (fp) n (f) TF0 0 164 0 220 0 384 0 TF1 2 30 60 184 368 214 428 TF2 2 5 10 124 248 129 258 TF3 3 10 30 38 114 48 144 TF4 3 0 0 6 18 6 18 TF5 4 2 8 0 0 2 8 TF6 4 5 20 0 0 5 20 TF7 4 0 0 0 0 0 0 TF8 4 0 0 1 4 1 4 TF9 4 0 0 7 28 7 28

TOTAL 216 128 580 780 796 908

ICF Médio

0,59

1,34

1,14

Em relação ao ICF modificado, adotado neste estudo, pode-se afirmar que no

contingente de dentes permanentes todos os valores encontrados superaram o

limiar de segurança da fluorose para a comunidade em questão (Tabelas 10, 11 e

12).

O gênero feminino evidenciou ICF expressivo em todos os subgrupos,

decíduos (0,59), permanentes (1,34) e agrupados (1,14) (Tabela 12). Já, no gênero

masculino, o ICF foi maior para os permanentes (0,82) e agrupados (0,63), mas não

para os decíduos (Tabela 11). Já no agrupamento dos gêneros, o ICF se mostrou

maior nos permanentes (1,08) e agrupados (0,88); e muito próximo do limiar (0,4)

para os decíduos (0,37%), conforme Tabela 10.

Dessa forma, diante da metodologia empregada, a fluorose no HACO se

constitui num problema de Saúde Pública, afetando tanto o gênero masculino como

o feminino na dentição mais significativa, a permanente.

O contexto fica mais evidente na Figura 2, que relaciona os diferentes valores

de ICF, distribuídos por gênero e por grupos dentários, e mostra que no geral os

valores superam em muito o valor de referência (0,4).

84

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

GRUPO 0,37 1,08 0,88

MASCULINO 0,18 0,82 0,63

FEMININO 0,59 1,34 1,14

Decíduos Permanentes Agrupados

ICF

Figura 2: Distribuição do ICF por gênero e grupos dentários. Canoas, RS, 2009. Nota: O símbolo aponta ICF acima do limiar de segurança para problema de Saúde Pública.

Visando avaliar a associação entre IPF e ICF, observa-se na Tabela 13 que,

no HACO, todos os valores de IPF acima dos 20% demonstraram ICF significativo

para problema de Saúde Pública (*). Isso ocorreu devido ao fato do gênero feminino

ter apresentado uma maior distribuição de fluorose nos graus moderado e severo,

acima do TF3 (Tabela 9) detentores de maior peso no cálculo do ICF (Tabela 12).

Para os outros IPF abaixo dos 20% o ICF se manteve aquém do limiar de segurança

(#).

Tabela 13: Relação entre IPF e ICF. Canoas, RS, 2009.

GRUPO

MASCULINO

FEMININO

Índice

Total

Perm

Dec

Total

Perm

Dec

Total

Perm

Dec

IPF

40,99

51,23

15,20

30,85

40,67

7,57

51,76

62,07

24,07

ICF

0,88*

1,08*

0,37#

0,63*

0,82*

0,18#

1,14*

1,34*

0,59*

Nota: (*) ICF acima do limiar de segurança para problema de Saúde Pública. (#) ICF abaixo do limiar de segurança para problema de Saúde Pública.

85

Para avaliar se existe influência do Flúor em outros sistemas orgânicos, além

da fluorose dentária, esta variável foi usada para dividir a amostra em dois grupos,

um com fluorose dentária – GF, e outro sem sinal de fluorose – GNF, conforme

Tabela 6.

Em cada grupo, ainda divididos por gênero foram calculados os valores

médios (vm) dos sintomas positivados de perguntas sobre seis sistemas orgânicos

(Tabelas 3 e 4). O produto do valor médio dos sintomas com o valor relativo (vr) do

respectivo sistema resultou na média relativa (mr) de cada sistemas nos diversos

subgrupos (Tabela 5 e Figura 3).

Entre os grupos GF e GNF a distribuição das médias relativas dos sistemas

dos subgrupos masculino, feminino e agrupados, em cada um dos seis sistemas

abordados, mostrou-se maior no grupo com fluorose em quatorze dos dezoito

subgrupos analisados. Apenas no subgrupo masculino de alguns sistemas (A, C, D e

F), as médias foram menores que o grupo sem fluorose. Nos sistemas B e E estas

médias relativas foram maiores em todos os subgrupos.

O grupo fluorose (GF), portanto, obteve médias relativas parciais na sua

maioria superiores ao grupo de não fluorose (GNF), o que pode indicar a

possibilidade da fluorose estar acompanhada de diversos outros distúrbios da

saúde, em diferentes órgãos e sistemas.

86

0

10

20

30

40

50

60

A 35,3 41,96 38,52 36,08 30,08 33,3

B 44,2 48,2 46,2 35 42,8 38

C 22,8 26,6 24,8 25 17,2 22

D 21,41 31,37 26,23 29,05 16,6 23,24

E 6,99 20,98 13,99 0 4,66 2,33

F 40,34 43,66 42 47,81 26,06 37,68

Masculino Feminino Grupo Masculino Feminino Grupo

GRUPO NÃO FLUOROSEGRUPO FLUOROSE

Figura 3: Médias relativas parciais (mr) dos sistemas sintomáticos A, B, C, D, E, F, distribuídas por grupo com fluorose e sem fluorose, e por gênero. Canoas, RS, 2009. Nota: O símbolo identifica os Sistemas que obtiveram maior média relativa no grupo de fluorose.

A partir das médias relativas parciais dos sistemas sintomáticos, foram

encontrados os Índices de Efeitos Sistêmicos do Flúor (IESF), nos grupos GF e

GNF, em seus respectivos subgrupos (Figura 4).

Como na razão GF/GNF para valores maiores que 1 (quando GF é maior),

considera-se uma relação positiva, o grupo GF apresentou mais sintomas adversos

em outros órgãos, além da fluorose dentária, que podem ser devidas à ingestão do

Flúor.

A Figura 4 mostra essa propriedade do IESF para indicar manifestações

fluóricas adversas principalmente no gênero feminino.

87

Figura 4: Índices de Efeitos Sistêmicos do Flúor (IESF) e suas respectivas razões entre GF e GNF. Razão GF/GNF > 1 = associação positiva (+). Canoas, RS, 2009. Nota: O símbolo indica associação positiva (+) do IESF.

A Tabela 14 demonstra os valores médios de frequência encontrados para as

fontes de Flúor abordadas, duas de água, três de higiene bucal e dez de alimentos,

além do valor médio, em meses, do período de amamentação dos participantes,

todos distribuídos por grupo de estudo.

No confronto entre os grupos GF e GNF, a média de tempo da amamentação

foi maior no Grupo Não Fluorose (8,53 ± 9,64 para 12,87 ± 10,11). Apenas para o

subgrupo masculino, a média foi maior no Grupo Fluorose (10,2 ±11,27 comparado

com 8,75 ± 5,04). O subgrupo feminino de fluorose apresentou menor média de

tempo de amamentação (6,8 ± 7,41 meses), diminuindo a média no grupo como um

todo.

Esse resultado parece indicar no subgrupo feminino a amamentação como

fator de proteção; ou seja, as meninas que não apresentaram fluorose mamaram

mais tempo (17,57 ± 12,66 meses) em relação as que apresentaram fluorose, e que

mamaram menos (6,8 ± 7,41 meses).

Comparando as médias de tempo de amamentação entre os gêneros (10,2 ±

11,27 e 6,8 ± 7,41) no grupo de fluorose, observa-se que a média no gênero

02468

101214161820222426283032343638

IESF GF 28,51 35,46 31,96

IESF GNF 28,82 22,9 26,09

Razão GF/GNF 0,99 1,55 1,22

Masculino Feminino Grupo

88

masculino é maior que no feminino. No entanto, esta diferença não foi significativa (p

= 0,20), certamente em função dos elevados valores das variabilidades nos dois

grupos, e que são significativamente diferentes (Teste F: p = 0,04). Buscou-se,

então, observar a correlação entre estas duas variáveis, sendo encontrados os

seguintes valores de correlação (r) entre as variáveis, tempo de amamentação e

prevalência de fluorose: para todo o grupo, r = -0,21; para o grupo do gênero

masculino, r = - 0,26; e para o feminino r = 0,01. No grupo como um todo e no

gênero masculino, obteve-se coerência entre os testes, o que não foi observado no

gênero feminino.

As correlações observadas, r = -0,21 (grupo); r = -0,26 (gênero masculino)

são de fraca intensidade (CALLEGARI-JACQUES, 2004), mas como a variável

fluorose sofre múltiplas influências (fontes de ingestão, concentração fluórica, fatores

geográficos, fatores climáticos, pH, etc.) este valor, mesmo fraco, pode ser indicativo

de interferência no processo da patologia.

Como as correlações negativas indicam que enquanto uma variável aumenta

(tempo de amamentação), a outra diminui (prevalência de fluorose); neste caso se

pode concluir que a amamentação poderia ser um fator de proteção à fluorose.

Já para as fontes de Flúor, as médias de frequências de oito dos nove

subgrupos analisados foram maiores no grupo da fluorose. Apenas no subgrupo

masculino da fonte água a média foi menor (1,86/1,88). Parece indicar assim que o

uso de maior freqüência de fontes fluóricas favorece a fluorose.

89

Tabela 14: Distribuição das médias e desvios-padrão do tempo de amamentação, e dos valores médios, e média ponderada, das frequências de consumo das fontes de

Flúor. Canoas, RS, 2009.

Grupo Fluorose

Média de Amamentação

Valores médios das frequências de consumo das fontes de Flúor

Média ponderada

(meses) (DP) Água (2)

Higiene (3)

Alimentos (10)

Fontes-F (15)

Masculino

10,2 ± 11,27

1,86

2,00

5,71

4,45

Feminino

6,8 ± 7,41

1,89

2,07

5,81 4,54

Grupo

8,53 ± 9,64

1,88

2,04

5,77 4,51

Grupo Não Fluorose

Média de Amamentação

Valores médios das frequências de consumo das fontes de Flúor

Média ponderada

(meses) (DP) Água (2)

Higiene (3)

Alimentos (10)

Fontes-F (15)

Masculino

8,75 ± 5,04

1,88

1,88

5,25

4,13

Feminino

17,57 ± 12,66

1,57

2,00

4,71

3,75

Grupo

12,87 ± 10,11

1,73

1,93

5,00

3,95

Nota: Média ponderada = [2 x (Água) + 3 x (Higiene) + 10 x (Alimentos)] / 15 Comparação entre gêneros para amamentação em GF: Teste F: p = 0,04; Teste t: p = 0,20 Comparação entre gêneros para amamentação em GNF: Teste F: p = 0,03 ; Teste t: p = 0,12

Como análise final, buscou-se interrelacionar IESF, média de tempo de

amamentação e médias de frequências de fontes fluóricas para observar o

comportamento do IESF frente a medidas de estímulo à fluorose (fontes) e uma de

proteção à patologia (amamentação), conforme já apresentado.

Como já foi observado na Figura 4, o IESF se mostrou maior no grupo

fluorose, em relação ao de não fluorose, tanto para o grupo total de participantes

como para o subgrupo feminino.

Comparando-se o IESF com a média do tempo de amamentação (Figura 5),

verifica-se que no grupo fluorose esses mesmos grupos apresentaram também

menor período de amamentação, o que seria de se esperar se a amamentação for

um fator de proteção contra os demais efeitos adversos do Flúor.

90

Como já mostrado na Tabela 14, as médias de frequências de consumo das

fontes de Flúor, assim como suas médias ponderadas se mostraram maiores no

grupo de fluorose, exceto a fonte água para o gênero masculino, o que também

ocorreu com os IESF que foram maiores no grupo da fluorose, com exceção do

gênero masculino. Isso pode indicar que os efeitos sistêmicos adversos estejam

vinculados a maior frequência das fontes de ingestão de Flúor (Figura 5).

Com base nestes dados, pode-se concluir que o IESF representou

adequadamente os efeitos adversos da influência fluórica, como também refletiu a

influência protetora da amamentação, configurando-se, assim, numa ferramenta

capaz de mensurar a influência do Flúor na saúde bucal e sistêmica.

A Figura 5 ilustra este interrelacionamento entre IESF, fontes de Flúor e

tempo de amamentação, na análise da interação entre fluorose e efeitos sistêmicos.

91

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Masculino

Feminino

Grupo

Masculino

Feminio

GrupoG

FG

NF

MP Fontes (15) 4,45 4,54 4,51 4,13 3,75 3,95

vm Alimento (10) 5,71 5,81 5,77 5,25 4,71 5

vm Higiene (3) 2 2,07 2,04 1,88 2 1,93

vm Água (2) 1,86 1,89 1,88 1,88 1,57 1,73

Mm Amamentação 10,02 6,8 8,53 8,75 17,57 12,87

IESF 28,51 35,46 31,96 28,82 22,9 26,09

Masculino Feminino Grupo Masculino Feminio Grupo

GF GNF

Figura 5: Distribuição dos valores do IESF, Amamentação e Fontes de Flúor. Canoas, RS, 2009. Nota: Mm = média de tempo da amamentação em meses. MP = média ponderada da frequência de consumo das 15 fontes de Flúor, pelos valores médios (vm) das fontes fluóricas: Água (2 tipos), Higiene bucal (3 tipos) e Alimentos (10 tipos). Apêndice E.

Esses resultados da população alvo oferecem suporte para consolidar uma

discussão mais efetiva junto à literatura referenciada, quanto aos efeitos da ingestão

continuada de Flúor.

92

5 DISCUSSÃO

Diante dos resultados analisados, agora é possível estabelecer um confronto

com a literatura, no sentido de se extrair, novas direções para o conhecimento da

influência da ingestão de Flúor no organismo, ou ratificar os conceitos já

estabelecidos.

Para o universo de estudo abordado, o propósito foi de averiguar a influência

das medidas preventivas fluóricas nos pacientes de 06 a14 anos do HACO, com

base na prevalência da fluorose, medida pelo IPF, convencionalmente usado nos

estudos da patologia. Para aferir o impacto da fluorose na comunidade estudada, o

ICF foi modificado, seguindo-se os parâmetros de equiparação, entre os índices DI e

ITF, de Gonzáles-Sierra e Vázquez-García-Machinena (2008).

O índice construído para avaliar os efeitos sistêmicos do Flúor (IESF), que foi

estruturado nos moldes do ICF, apresentou sensibilidade para quantificar os

distúrbios sistêmicos vinculados com a fluorose. O efeito-medida do indicador é o de

ser diretamente proporcional aos fatores que incrementam a fluorose (médias de

freqüência de uso de fontes de Flúor), e inversamente proporcional àquele que

exerce fator de proteção à patologia (amamentação). Essa foi a forma usada para

quantificar sintomas adversos positivados do inquérito de saúde dos grupos de

afetados e não afetados pela fluorose, uma vez que ainda não foram encontrados

parâmetros na literatura para este tipo de abordagem.

Embora, os valores de prevalência de fluorose da literatura costumem vir

associados tão somente com a concentração do íon fluoreto na água de consumo, a

presença de fluorose, onde a fluoretação não é exercida, permite inferir a

participação de outras fontes no processo da formação patológica (WHITFORD,

1994; COLQUHOUN, 1997; OLIVEIRA JÚNIOR et al., 2006).

Este estudo teve como preocupação quantificar outros efeitos adversos da

ingestão do Flúor, bem como a existência de outras possíveis fontes de ingestão do

fluoreto, e avaliá-las. Para alcançar estes objetivos, estes dados serão discutidos,

considerando-se a literatura sobre o assunto.

Segundo Dean (1942), na concentração da água em torno de 1ppm, a

fluorose na população se estabeleceria na casa dos 20%, com efeito tão brando que

não seria percebida nem pela criança nem pelos pais. Essa situação, aparentemente

vem sendo ratificada por alguns estudos que se prontificaram a avaliar a auto-

93

percepção do problema (KOZLOWSKI; KOZLOWSKI JÚNIOR, 2000; MENEZES et

al., 2002; OLIVEIRA JÚNIOR et al., 2006; ALVES SILVA et al., 2007). Interessante

frisar que esses mesmos estudos fazem suas ressalvas contrárias a Dean, quanto à

fluorose em graus mais severos.

Na região de Canoas, onde o presente estudo foi realizado, a concentração

de fluoreto, monitorado pela companhia de saneamento local (CORSAN) na faixa de

0,6 ppm a 0,9 ppm, esteve condizente com o ambiente operacional de Dean (1945).

Contudo, os índices de prevalência levantados neste estudo foram de 78,57% para a

amostra (Tabela 6) e de 40,99% para o contingente de dentes presentes (Tabela 7),

muito além da observação de Dean, segundo Oliveira júnior et al., 2006.

Os valores globais do estudo de Medina-Solis et al. (2008) são de

consonância com os encontrados no HACO. Para a dentição permanente completa,

com exceção dos sisos, o autor levantou índice de 82,2% no gênero masculino, e de

81,1 no gênero feminino.

Embora a faixa etária estudada por Medina-Solis et al. tenha sido entre 12 e

15 anos, e no HACO, entre 06 e 14, a prevalência da fluorose global nos dois

gêneros também foram igualmente altos, ou seja, no HACO, a fluorose esteve

presente em 77,78% no gênero masculino, e 79,41% no gênero feminino (Tabela 6).

Altos valores de fluorose em comunidades brasileiras já foram observados por

diversos autores, conforme revisão apresentada por Cangussú et al. (2002). No

entanto, Oliveira Júnior et al. (2006) asseguram que o IPF não ultrapassa aos 20%,

na maioria dos estudos elaborados pelas Diretorias Regionais de Saúde brasileiras.

Os valores do HACO encontram correspondência com o estudo de Menezes

et al. (2002), onde os autores, avaliando uma população de 10 a 14 anos, em área

de fluoretação a 0,7 ppm, encontrou índice global de fluorose de 72%. Apesar do

alto índice, a conclusão do estudo apontou para uma carência de percepção do

problema por parte dos envolvidos, semelhantemente ao que preconizou Dean

(1942). Entretanto, sob índice bem mais baixo, como o de 31,2% de Martins,

Pinheiro e Paiva (2003), citado por Alves Silva (2007), para uma população de 6 a

12 anos, a fluorose foi percebida como prejudicial à saúde dos envolvidos em todos

os seus graus de expressão.

A grande disparidade entre os índices de fluorose encontrados, 20% e 80%,

levantam o questionamento sobre as concentrações de Flúor ingeridas pelas

pessoas. Como Pereira e Moreira (1999) não observaram muita diferença entre os

94

índices, e as concentrações de Flúor na água seguem critérios bem estabelecidos, o

problema para a obtenção de medidas tão diferentes, indica a possibilidade de

ingestão da substância por meio de outras fontes. Neste estudo, ficou evidenciada a

participação de outras fontes, além da água no processo da fluorose, o que pode ser

a causa do índice tão elevado nos usuários do HACO.

Dean (1942) também estipulou em 0,4 o valor como limiar de segurança para

o controle da fluorose numa determinada comunidade. Apesar dos estudos recentes

procurarem focar o impacto do agravo à condição da auto-percepção (KOZLOWSKI;

KOZLOWSKI JÚNIOR, 2000; MOYSÉS et al., 2002; ALVES SILVA et al., 2007), o

referencial de Dean é ainda o parâmetro substantivo, para indicar a evolução do

problema no contexto de Saúde Pública.

Neste estudo, o cálculo do ICF, dentro das considerações estipuladas na

metodologia, apontou o valor de 0,88 para a população abordada (Tabela 10). A

despeito do método empregado no HACO, o estudo da equipe de Oliveira Júnior et

al. (2006) deixou claro que o ICF acompanha em proporcionalidade o

comportamento do IPF. Os autores encontraram nas prevalências de 16,83%;

27,6%; 31,4%; e 32,64% os ICF respectivos de 0,24; 0,38; 0,42; e 0,44. Observa-se

que IPF maior que 30% se relaciona com ICF acima de 0,40, que é o limite de

segurança indicado por Dean (1942). A Tabela 13 e a Figura 3 demonstram que os

IPF e ICF do HACO também foram concordantes em proporcionalidade, mas

somente os valores de IPF abaixo de 20% tiveram ICF abaixo desse limite.

No cálculo do ICF, os graus moderado e severo assumem maior peso. Numa

comunidade, onde a fluorose sofre maior distribuição para além da faixa branda,

mesmo um IPF abaixo dos 30% já é possível indicar uma significância para o

agravo. Essa foi a condição constatada na população do HACO no subgrupo

feminino decíduo, onde o IPF de 24,07% já permitiu um ICF de 0,59 (Tabela 13).

Desta forma, fica evidente que a partir de uma IPF de 20%, o ICF já tende a

ser indicativo para problema de Saúde Pública. No estudo de Martins, Pinheiro e

Paiva (2003), em Alves Silva et al. (2007), num IPF de 31,2%, os autores

encontraram 56,7% de percepção positiva pelos pais dos meninos, e 45,1% pelos

pais das meninas, sendo que a maioria deles considerou o problema como

prejudicial à saúde bucal dos filhos. Neste estudo esta variável não foi averiguada.

Fazendo-se valer da metodologia de Dean, os ICF encontrados por Medina-

Solis et al. de 1,75 na avaliação da dentição completa, com IPF de 81,7%, e de 1,11

95

na avaliação da dentição reduzida, com IPF de 58,7%, servem para consolidar a

conclusão acima, e o emprego da metodologia adotada neste estudo para o cálculo

do ICF, quando utilizado o ITF, ao invés do DI, conforme preconizado por Gómez-

Santos; Gonzáles-Sierra; Vázquez-Garcia-Machinena (2008).

Assim, quanto ao impacto do problema na população em foco, pode-se afirma

que a fluorose no estudo do HACO adquiriu o status de problema de Saúde Pública,

dentro dos preceitos de Dean (1942).

Menezes et al. (2002), Shulman et al. (2004) e Baldani et al. (2008) ratificaram

a assertiva de Dean (1942) de que a fluorose não seria percebida pela população

envolvida, e portanto não se configuraria como problema de Saúde Pública. Embora

este estudo não tenha considerado essa questão, é válido ressaltar que o ICF

denuncia a necessidade de um estado de atenção básica a esse contexto ignorado.

Todavia, o problema costuma inferir medida assistencial, quando o

componente antiestético já se faz presente. No HACO, a prevalência do componente

antiestético da fluorose (TF3 ao TF9) foi de 11,74% (Tabela 9), semelhante ao

indicado por Mcdonagh et al. (2000) em estudo de metanálise, que foi de 12,5%.

O gênero feminino continuou apresentando maior severidade para o

problema, apresentando taxa de 16,75% (Tabela 9). Isso significa que este grupo

apresenta fluorose moderada e severa em mais de 15% dos dentes da população.

Portanto, a evolução da fluorose pode não ser percebida pela população em

foco, mas se mostra claramente através dos indicadores epidemiológicos,

contrariando as conclusões de Kozlowsky e kozlowski Júnior (2000) e Moysés et al.

(2002) que não justificam a fluorose como um problema de Saúde Pública, em

virtude de ser um problema rotineiramente de baixa percepção pelos envolvidos na

questão.

É ainda conveniente lembrar que dos cinco requisitos de Chaves (1986),

citado por Kozlowski e Kozlowski Júnior (2000), para o problema de Saúde Pública,

o grau de interesse da comunidade afetada é apenas um deles. Considerando-se a

cultura de benevolência ao Flúor adotada por Dean (1942) e a falta de observância

mais acurada aos preceitos de Waldbott (1956), que percebeu intoxicação crônica

de Flúor, mesmo sob baixas concentrações da substância na água, essa é uma

condição que pode se mostrar equivocada, pois é comum o despertar do afetado à

medida que a patologia evolui para graus mais acentuados em severidade

(KOZLOWSKI; KOZLOWSKI JÚNIOR, 2000; MOYSÉS et al., 2002).

96

A comunidade não tem porque demonstrar interesse sobre uma situação, a

qual desconhece os possíveis danos para além do campo estético. Assim as

conclusões de Menezes et al. (2002), Shulman et al. (2004) e Baldani et al. (2008),

considerando a falta de percepção da população para o problema, implicam tão

somente em intervenção mais intensiva de medidas profiláticas à base de Flúor,

podendo comprometer ainda mais a saúde bucal e geral dos usuários.

Somente dando ênfase ao número de afetados por fluorose e outros efeitos

adversos, e da seriedade do dano nos mais diversos graus de comprometimento, é

que se pode avaliar um agravo como um provável problema de Saúde Pública. Essa

é uma concepção dentro da dinâmica interativa dos requisitos de Chaves (1986),

citado por Kozlowski; Kozlowski júnior (2000). Neste enfoque, pode-se afirmar que a

população do HACO merece atenção voltada a problema de Saúde Pública.

Os estudos de Strunecká; Patocka e Connett (2004) e Schuld (2005)

preconizam a observação da fluorose como forma de identificar precocemente a

intoxicação do organismo pelo Flúor, conforme alerta de Waldbott (1956). Contudo, a

literatura ainda não oferece forma de mensurar essa possível relação entre fluorose

dentária e efeitos adversos.

Buscando-se uma forma de dimensionar esta questão, observou-se que as

médias dos sintomas, levantados no inquérito de saúde, para cada um dos seus

respectivos sistemas, abordados na literatura, no grupo fluorose (GF) superaram as

do grupo não fluorose (GNF), conforme Figura Tabelas 3 e 4.

A relação foi positiva em todos os sistemas. No Sistema A (Sistema Funcional

Regular) na razão de 3,47/3,00; no Sistema B (Sistema Estomatognático) 2,31/1,90;

no Sistema C (Sistema Locomotor) 1,24/1,10; no Sistema D (Sistema Neuro-

endôcrino-imunitário) 1,58/1,40; no Sistema E (Gênito-reprodutor) 0,42/0,07; e

finalmente no Sistema F (Neuro-psico-comportamental) 2,53/2,27.

Dessa forma, os resultados conferiram com as conclusões da equipe de

Strunecká, de Schuld e Waldbott, no que concerne à relação íntima entre fluorose e

efeitos adversos.

Quanto à relação concentração de Flúor e fluorose, há praticamente

consenso na literatura para um aumento da patologia, à medida que a oferta do

Flúor aumenta (CANGUSSÚ et al., 2002). O estudo de Wang, Bu; Gu (1997) deixou

isso bem claro, ao demonstrar que a fluorose pode saltar de um índice de

97

prevalência de 1,41% na concentração de 0,82 ppm, para até 43,67%, na de 6,40

ppm.

Assim, o Flúor ofertado por várias vias de acesso pode se somar e produzir

índices de fluorose distintamente aos esperados tão somente pela concentração do

íon na água de consumo.

Para avaliar a condição entre água fluorada e demais fontes fluóricas,

levantadas no inquérito de saúde, buscou-se associar a relação da fonte água com a

de higiene e de alimentação.

No estudo do HACO, foi observada relação positiva para os três grupos nas

razões de 1,88/1,73 para água; 2,04/1,93 para higiene bucal e de 5,77/5,00 para

alimentos (Tabela 14).

Dessa forma, os resultados responderam positivamente aos encontrados por

Wang; Bu; Gu (1997). Ou seja, o grupo fluorose (GF) evidenciou maior ingestão de

Flúor pela fonte água, higiene bucal e alimentação, do que o grupo não fluorose

(GNF), para as mesmas abordagens contidas no inquérito de saúde.

A placenta é tida como barreira natural para transferência de altas doses de

fluoreto ao bebê (BARROS; MATOS, 2005). Segundo Fawell et al. (2006), autor da

diretriz da OMS para a fluoretação, o Flúor tem competência para atravessar a

placenta, mas é encontrado em baixíssimas concentrações no leite materno, em

taxas praticamente iguais as encontradas sob parâmetros plasmáticos.

Para o Comitê sobre toxicidade de produtos químicos nos alimentos dos

Estados Unidos (COT, 2003), lactentes correm menos riscos de fluorose dentária do

que crianças de idade mais avançada, que passam a absorver mais Flúor em pleno

estágio de calcificação dos dentes permanentes. Pois, a calcificação dos decíduos

inicia-se antes do nascimento e avança alguns meses além dele. Porém, a

calcificação dos permanentes se inicia no nascimento e se propaga

aproximadamente até os oito anos de idade. Calcula-se que pelo leite materno a

ingestão de Flúor seja inferior a 0,01 mg/dia, uma condição de segurança bastante

aceitável para a primeira infância.

Buscando-se evidenciar a real participação da amamentação no processo de

fluorose e efeitos adversos do Flúor, foi aplicada no estudo a relação entre

amamentação e fontes fluóricas, uma vez que o poder de influência positiva à

formação de fluorose pela oferta de Flúor é praticamente consenso na literatura

(FAWELL et al., 2006).

98

No estudo do HACO, observa-se na Tabela 14, que o grupo fluorose (GF)

mostrou menor média de amamentação, enquanto que as médias de fontes fluóricas

foram maiores. Já, no grupo não fluorose (GNF), o resultado se inverteu, ou seja, as

médias de amamentação foram maiores e as das fontes foram menores, com

exceção para o subgrupo masculino. Esse resultado demonstra a influência positiva

para a fluorose da maior frequência das fontes de Flúor e a proteção pelo maior

tempo de amamentação.

Ainda que o resultado não tenha sido unânime a todos os subgrupos, ao

menos quanto ao gênero feminino e à população agrupada, pode-se afirmar que a

amamentação exerceu realmente um efeito protetor contra a fluorose, estando em

consonância, portanto, com Fawell et al. (2006), e com o Comitê acima citado (COT,

2003).

Diante desses resultados, foi construído, então, o Indicador IESF para

associar fluorose a efeitos sistêmicos, por meio das médias relativas dos sistemas

sintomáticos abordados (Figura 3).

Para testar a sensibilidade do IESF junto aos resultados até então

averiguados, o indicador foi relacionado com as fontes fluóricas, favorecedoras da

formação de fluorose, e amamentação, de efeito oposto, concomitantemente (Figura

5).

A avaliação revelou que o IESF mostrou associação inversamente

proporcional à amamentação e diretamente proporcional às fontes fluóricas. Esse

resultado permite afirmar que a ferramenta indicou o processo de fluorose associado

aos efeitos adversos do Flúor sobre o organismo, pois o IESF foi construído a partir

das médias relativas sintomáticas obtidas por meio do inquérito de saúde (Figura 5).

Assim, por todos os resultados aqui aferidos, a pesquisa atinge o seu objetivo

de responder a questão problema sobre a influência da ingestão continuada de Flúor

nos usuários do HACO, da faixa etária dos 06 aos 14 anos de idade.

Os índices de fluorose encontrados no HACO, tanto o indicador de

prevalência (IPF), como o de impacto do agravo sobre a população (ICF),

evidenciaram um problema, que embora não seja de fácil percepção pela população

pode, e deve, ser conduzido no sentido do menor prejuízo possível a dois lados de

interesse. Ao paciente, em termo de sofrimento futuro por técnica mais invasiva, e

consequentemente mais sofrimento; à Organização de Saúde, em termo de maior

custo e maior complexidade no gerenciamento posterior.

99

Quanto à associação da fluorose aos efeitos adversos do Flúor na saúde

geral, pode ser constatado que o IESF se mostrou efetivo na conexão da patologia

bucal com os Sistemas orgânicos abordados. Diversas entradas sintomáticas,

relacionadas à funcionalidade regular, estomatognática, locomotora, endócrina,

imunitária, reprodutora e psico-comportamental, puderam ser levantadas e avaliadas

de modo simples por uma ferramenta de fácil aplicabilidade.

Dessa forma, a ingestão continuada de Flúor, proveniente das medidas

preventivas da saúde bucal, pode ser avaliada por indicadores epidemiológicos,

como o IPF, ICF e o IESF, aqui abordados.

Novas pesquisas são necessárias para o aperfeiçoamento do indicador IESF.

Para tanto, algumas recomendações, sobre as dificuldades encontradas neste

trabalho, são agora abordadas:

a) No inquérito de saúde, quanto mais entradas sintomáticas forem

arrazoadas a um sistema, menor será o peso desse sistema na contabilização da

sua média geral. Isso permite a um resultado mais estável entre saída e entrada de

informação enganosa do entrevistado. No cálculo do IESF, cada entrada do menor

sistema (“E”) representou 33,3%, enquanto no maior sistema (“A”), 11,1%. No

cômputo geral, seriam precisos três enganos no sistema “A” para compensar um no

“E”. Na prática, o equívoco torna-se menos prejudicial em sistema com um maior

número de abordagens ao entrevistado (APÊNDICE D).

b) Apesar de o inquérito ter sido bastante abrangente, pelo menos duas

outras abordagens poderiam ter sido contempladas na entrevista, pois se tornaram

de livre acesso, e, como as demais, referidas na literatura. Segundo Susheela (2001)

são as atividades do choro e o início da menarca. Quanto ao choro, por ser maior

em crianças sob a ação do Flúor, e quanto à menarca, por ser mais precoce em

áreas com fluoretação.(APÊNDICE C).

c) O universo amostral deste estudo não permitiu a quantificação da

intensidade dos sintomas de cada abordagem, sendo analisado apenas como

positivo, quando havia registro de qualquer intensidade. Conquanto, em

amostragens maiores, a quantificação dos diferentes registros de uma mesma

abordagem pelos valores “raramente” (1) a “sempre” (5) melhora a eficiência da

abordagem no cômputo final do indicador (APÊNDICE C).

d) Ao cômputo da fluorose, o álbum analógico visual, associado à instrução

sobre os graus da patologia (APÊNDICE C), mostrou-se efetivo ao estudo. Para

100

estudos maiores, indica-se a associação dessa metodologia com a calibração

através do índice Kappa, a fim de possível validação do instrumento a pesquisas

futuras.

e) No desenho abordado, não se pode explorar as diversas possibilidades

estatística do IESF, em virtude da amostragem peculiar ao estudo piloto ter sido

reduzida. Ademais, o objetivo do estudo foi buscar associação simples entre

sintomatologia sistêmica e fluorose dentária, seguindo um critério mínimo de razão

percentual.

Assim, as considerações expostas associadas à metodologia abordada

contribuirão com pesquisas futuras mais abrangentes no contexto da influência do

Flúor na saúde como um todo.

101

6 CONCLUSÃO

A inquietação sobre o efeito do Flúor no organismo humano conduziu a esta

pesquisa, ainda que a fluoretação, há mais de meio século, tenha se servido de

base legal, e ancorado o uso do elemento nas medidas preventivas da saúde bucal.

Inserido no contexto da Saúde Coletiva, a rápida abrangência do Flúor nas

mais variadas forma de acesso ao organismo acabou por despertar o aparecimento

de estudos de interesse antagônico a tão somente ação benéfica advinda do uso por

baixas concentrações da substância.

Surgiu, na literatura, a reclamação de que a proteção contra a cárie dental,

motivo do emprego do Flúor na saúde, obteve a devida importância no contexto de

prevenção e promoção à saúde, mas que a fluorose, primariamente vinculada à alta

concentração do elemento na água de consumo, e posteriormente pelo excesso das

várias fontes de concentrações mínimas, continua não ser percebida como problema

de relevância.

Essa realidade também foi questionada dentro das Organizações de Saúde

da Aeronáutica. Então, julgou-se avaliar, por intermédio de indicadores

epidemiológicos, a possibilidade de efeitos adverso do Flúor na saúde dos usuários

de uma das Unidades do SISAU, o Hospital de Aeronáutica de Canoas.

A pesquisa, estruturada em objetivos intermediários inter-relacionados e de

ascensão progressiva, direcionou o seu propósito no levantamento dos índices de

fluorose, prevalência (IPF), comunitário (ICF) e de efeitos sistêmicos (IESF), em

busca do confronto dos mesmos com os valores de literatura.

O IESF foi construído como forma de confrontar a fluorose, um já conhecido

efeito adverso do Flúor sobre os dentes, com outros efeitos sistêmicos, a serem

investigados nos pacientes do HACO, sob método de entrevista.

Antes da apresentação do referencial teórico de suporte à capacitação

metodológica, foi realizado um esclarecimento sobre o Sistema de Saúde da

Aeronáutica, e principalmente da Organização que serviu de base ao estudo, o

HACO, para que o universo da pesquisa pudesse ser melhor esclarecido ao leitor.

Sedimentou-se o marco teórico da influência do Flúor no campo da saúde sob

enfoque de dois grandes estudiosos: H. T. Dean e G. L. Waldbott.

Os estudos de Dean, pela conexão entre fluorose e redução de cárie dentária

previamente estabelecida, de onde o autor aproveita para deflagrar uma série de

estudos epidemiológicos em diversos Estados americanos. E, ao conseguir associar

102

baixa concentração fluórica e alta performance no controle da cárie, propondo a

fluoração artificial da água como medida profilática em saúde bucal. Em 1945, a

fluoretação se estabelece como medida de Saúde Pública, e Dean entra para a

história como pai da fluoretação.

Walbott representou a contraparte aos preceitos de Dean. Logo após a

medida pública ter sido implementada, ele inicia estudos de avaliação da influência

do Flúor em outros órgãos e sistemas, além dos dentes. Em 1956, publica artigo

comprovando a capacidade desse elemento para produzir a síndrome de intoxicação

crônica, de evolução lenta e progressiva diante da oferta, e de cura, na condição de

remoção total do afetado da influência da substância.

Muitos estudos passaram a se agrupar a um e outro pensamento,

avolumando o número de trabalhos em torno do conteúdo.

No contexto da saúde humana, verificou-se que o Flúor esteve presente como

agente terapêutico, desde o Século XIX, no campo da Homeopatia, abrangendo

manifestações orgânicas gerais. Porém, no campo da saúde bucal, manteve-se

restrito a estudos no âmbito do desenvolvimento da fluorose sobre o esmalte

dentário.

Ficou, também, evidenciada a alta capacidade do Flúor para com as reações

biológicas nas estruturas teciduais. Nos dentes, a propriedade de conferir resistência

contra a carie, foi a responsável por colocá-lo no rol dos nutrientes necessários à

saúde, com defesa inclusive pela OMS. No entanto, tal situação passou a ser

contestada por muitos estudos, que direcionaram seus objetivos para além do

campo bucal.

Quanto às fontes de Flúor, a possibilidade de intoxicação é considerada

preocupante, devido à possibilidade de oferta por múltiplas origens, naturais e

artificiais. O parâmetro de dose tóxica provável pela ingestão de 5 mg/kg

(WHITFORD, 1994), já sofreu redimensionamento para 1 mg/kg na última diretriz da

OMS (FAWELL et al., 2006). Contudo, embora já se tenha consciência da

possibilidade de intoxicação crônica, despertada por muitos estudos, principalmente

para o público infantil, ainda se verifica trabalhos fixando os limiares de toxicidade

em patamares francamente discutidos como elevados.

No mecanismo da fisiologia do Flúor no organismo, pelos processos de

absorção, distribuição e excreção, foi caracterizada a capacidade da substância para

produzir patologias, devido à interferência com outros fatores, além de simplesmente

103

o da concentração. O pH é considerado o fator de maior influência na retenção e

eliminação do excesso do Flúor na função orgânica. Quando muito baixo, prejudica

a excreção do fluoreto, porque aumenta a sua absorção no estômago e diminui a

eliminação nos rins.

O Flúor, ainda, apresenta propriedade de atravessar a placenta, e é

praticamente inexistente no leite materno. Tem grande preferência em se depositar

nos tecidos duros, a exemplo de dentes e ossos, e quando em excesso contínuo

tende a produzir zonas calcificadas atipicamente. O excesso de ingestão fluórica

prejudica muito mais a fisiologia de crianças, velhos e pacientes renais crônicos do

que adultos em condições normais de saúde.

Verificou-se uma grande importância na capacidade do Flúor para alterar as

funções metabólicas do corpo humano. O elemento tem poder de interferir na

estruturação tecidual, alterando assim o aspecto final do órgão em questão. Nos

dentes e ossos, a fluorose é um dos efeitos dessa dinâmica, mas o elemento não se

restringe aos tecidos duros. O Flúor é, ainda, um grande formador de complexos, e

bioquimicamente muito ativo às reações biológicas.

A fluorose é evidenciada como uma condição real da toxicidade do Flúor,

sendo comum ser mensurada por indicadores epidemiológicos, simples ou inter-

relacionados entre si. São comumente avaliadas duas formas de fluorose: uma

dentária e outra óssea ou esquelética. A forma dentária evidenciada visualmente,

enquanto a forma esquelética, apenas por exames complementares.

A fluorose dentária somente pode ser detectada nos dentes presentes em

boca, e acontece quando os mesmos entram no processo de calcificação do esmalte

dentário, período que se estende do nascimento aos 8 anos de idade. Dessa forma,

a fluorose dentária não se manifesta primariamente em adultos, mas, nos ossos, ela

pode se manifestar enquanto houver processo de modificação óssea, ou seja, a vida

toda.

Já é bem entendido, pelos teóricos, que a ocorrência da fluorose está

diretamente relacionada com a oferta de Flúor, sendo que os índices de prevalência

já registrados, a partir da fluoretação, vêm mostrando crescimento contínuo.

Apesar da patologia já ter sido classificada como problema de Saúde Pública,

ela ainda não é percebida adequadamente pelos envolvidos na questão. Os próprios

profissionais de Odontologia têm assegurado a ela uma importância secundária, em

seus procedimentos.

104

Como o conhecimento da patologia tem precedência sobre o processo de

fluoretação, a fluoração artificial das águas de consumo continua a despertar

questionamentos quanto aos princípios éticos de gerenciamento em saúde na

dimensão pública. A fluoretação, por exemplo, faz parte da vida de brasileiros sob

forma obrigatória desde 1975, naqueles municípios com mais de cinquenta mil

habitantes.

Contudo, a despeito dos movimentos oposicionistas, a medida tem crescido

em abrangência em alguns países, mas já vem sendo cessada em outros. Brasil e

Estados Unidos correspondem aos primeiros, e têm apresentado médias

semelhantes de crescimento nas suas respectivas áreas territoriais.

A eficácia da fluoretação tem sido mensurada pela OMS por meio do

indicador de cárie, fato sem consenso no campo literário. A entidade explora a

evidência de uma melhora do indicador quando a taxa de concentração do Flúor na

água sobre 0,1 ppm para 1,0 ppm, mas que estaciona a partir de 2,6 ppm. Contudo,

muitos autores contestam resultado desse tipo, alegando não estar o mecanismo da

cárie relacionado ao Flúor, mas sim a outros fatores biológicos e sociais.

Nessa questão, Colquhoun (1993) expôs um possível viés na relação entre o

fluoreto e cárie (ANEXO A), alegando que o sal se relaciona apenas à fluorose. Mais

recentemente, Mcdonagh et al. (2000) em estudo de metanálise, praticamente,

ratificam os conceitos de Colquhoun.

Desta forma, a fluoretação ainda se constitui em muita polêmica. Muitos

estudos a condenam prontamente, e sugerem tratar cárie com as variáveis que lhe

dizem respeito, como dieta e condições sócio-econômicas, e não por intermédio do

Flúor.

Os efeitos adversos do Flúor neste estudo, no âmbito do organismo humano,

foram abordados em seis grandes sistemas relacionados entre si.

O sistema Funcional Regular compreendeu a Síndrome de Intoxicação

Crônica Incipiente de Waldbott (1956), que evidencia perturbações sucessivas, a

partir da área articular, até atingir centros nervosos importantes, conforme um sujeito

suscetível ao Flúor fique exposto continuamente à ação da substância. O quadro

sindrômico afeta a todas as fases da vida, bebês, jovens, adultos e idosos, e traz em

comum, aos afetados, uma perturbação do status normal do comportamento

funcional e regular.

105

No sistema Estomatognático, a sintomatologia se concentra em ressecamento

e trauma de mucosas, dificultando a respiração e mastigação. A constante irritação

dos tecidos oro-nasais predispõe alterações teciduais favoráveis às lesões

cancerígenas.

Os tecidos, ósseo e muscular, são os alvos do Flúor no Sistema Locomotor.

Fraturas, dores articulares, fraqueza generalizada e fadiga crônica são os sintomas

predominantes nessa esfera de ação fisiopatológica do Flúor.

Perturbações, na dinâmica funcional regular da Tireóide, induzem a uma série

de efeitos disfuncionais causadores de sofrimento nos intoxicados pelo Flúor. Efeitos

semelhantes ao hipotireoidismo são os mais freqüentes, e costumam estar

associados à fluorose dentária. O Flúor também perturba o metabolismo do iodo,

dificultando a regulação tireoideana. No sistema imune, a repercussão se assemelha

aos quadros de sintomatologias pós-virais.

A capacidade de influência na função hormonal da glândula Pineal permite ao

Flúor interferir na dinâmica do órgão reprodutor, principalmente pela aceleração da

menarca, em meninas. Estudos laboratoriais mais específicos, em animais, têm

comprovado, experimentalmente, perturbações reprodutoras, tanto em machos,

como em fêmeas.

No campo do Sistema Nervoso, e na área psíquica e comportamental, muitos

estudos têm comprovado a influência do Flúor no quociente de inteligência (QI), no

distúrbio do déficit de atenção (DDA) e na desordem da hiperatividade e déficit de

atenção (DHDA). Muitas outras perturbações estão associadas à capacidade do

Flúor interagir com mediadores químicos de alta performance na condução da

informação nervosa.

Dentro desse enfoque teórico, a metodologia foi calcada no desenho de

estudo transversal, contemplando a seleção, modificação e construção de

indicadores, capazes de trazer à tona a representatividade dos pacientes do Hospital

de Aeronáutica de Canoas a essa realidade exposta pelos teóricos.

Os sinais e sintomas do Flúor foram investigados por meio de inquérito de

saúde aplicado no público alvo, pelo recurso do registro visual da fluorose

suplementado pelo registro das informações subjetivas capazes de estarem

relacionadas a ela.

Os dados, submetidos aos indicadores, de prevalência (IPF), comunitário

(ICF) e de associação a efeitos sistêmicos (IESF), puderam ser analisados dentro do

106

contexto literário, servindo para encontrar a realidade epidemiológica dos usuários

do HACO.

Os resultados averiguados apontaram índices bastante expressivos. A

fluorose esteve presente em 78,55% dos usuários, e em 40,99% do total de todos os

dentes presentes, decíduos e permanentes. Embora índices dessa magnitude já

tenham sido contemplados na literatura, eles serviram para indicar o quanto o Flúor

está influenciando a saúde bucal e sistêmica da população em questão.

Pela avaliação do índice comunitário (ICF), pode-se aferir o impacto do

problema na coletividade. O resultado de 0,88 no ICF evidenciou uma forte

influência do Flúor nos usuários abordados pelo estudo. O indicador aponta o

contexto do HACO como sendo um problema de Saúde Pública.

O indicador especialmente construído para o propósito de confronto entre

fluorose e efeitos sistêmicos (IESF) permitiu observar concordância entre a patologia

bucal e as sintomatologias averiguadas nos usuários afetados, possibilitando, assim,

estabelecer a conexão Flúor, fluorose e efeitos adversos na saúde geral.

Dessa forma, seguido todos os passos que nortearam o objetivo geral de

avaliar a influência da ingestão fluórica nos usuários de um hospital pertencente ao

SISAU, a pesquisa, por fim, forneceu condições de resposta à situação problema,

como a que se apresenta:

Os índices epidemiológicos, levantados na população de estudo de 06 a 14

anos do Hospital de Aeronáutica de Canoas, indicaram que a influência da ingestão

continuada do Flúor, proveniente das medidas preventivas de saúde bucal, pode ser

considerada impactante no contexto de saúde como um todo. Houve ressonância

tanto de quantificação, pelos resultados dos índices IPF e ICF, como de qualificação,

por meio da associação entre fluorose e efeitos adversos à saúde, nos diversos

sistemas orgânicos abordados pelo IESF.

107

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ZHAO, L. B; et al. Effect of high-fluoride water supply on children’s intelligence. Fluoride, v. 29, p. 190-192, 1996.

119

GLOSSÁRIO

ACREDITAÇÃO – certificação de proficiência.

ADSORÇÃO - fixação de moléculas de uma substância (o adsorvato) na superfície

de outra substância (o adsorvente).

ÂNION - qualquer substância, geralmente instável, de vida curta, muito reativa, que

se caracteriza pela existência, em sua estrutura, de carga negativa e um elétron

desemparelhado.

BIPOLAR – referência a dois pólos antagônicos.

CARIOGENICIDADE – capacidade de gerar cárie.

CITOCINAS – pequenos protótipos de proteínas muito pró-ativas a mais variadas

funções biológicas.

COGNIÇÃO – conjunto dos processos mentais participantes na aquisição do

conhecimento: pensamento, percepção, classificação, valoração, etc.

EFEITO ADVERSO – efeito não previsível, desfavorável, impróprio, malpropício.

ENDEMIA - doença que existe constantemente em determinado lugar e ataca

número maior ou menor de indivíduos.

ENZIMA - proteína com propriedades catalíticas específicas.

FISIOPATOLOGIA – fisiologia condicionada ao desenvolvimento das patologias.

FLUORAÇÃO – processo de adição de Flúor artificial em diferentes produtos.

FLUORETAÇÃO - processo de adição de Flúor artificial nas águas de consumo.

GÊNESE – formação, constituição, origem.

HALOGÊNIOS – grupo 17 de elementos químicos da tabela periódica.

HIPERATIVIDADE – atividade exacerbada para alguma função ou comportamento.

HIPOPLASIA – subdesenvolvimento em massa de órgão ou de tecido.

HORMÔNIOS – pequenas substâncias muito ativas de origem protéica, secretadas

secretadas por glândulas endócrinas ou tecidos e órgãos especializados.

IDIOSSINCRASIA - disposição temperamental que faz o indivíduo reagir de maneira

muito pessoal à ação dos agentes externos. Maneira de ver, sentir, reagir, própria de

cada pessoa.

INCREMENTO – ato de crescer, de aumentar. Quantidade acrescida a uma variável.

INDICADOR – formulação matemática de revelar evidências.

INGESTA – porção habitual de nutriente que se faz visando preencher as

necessidades específicas de uma dieta balanceada.

120

LEUCÓCITOS – série branca das células sanguíneas.

LIBIDO – instinto ou desejo sexual.

MASTÓCITOS – célula tecidual produtora de anticorpos.

MENARCA – início do ciclo menstrual.

METANÁLISE – desenho de estudo científico que trabalha sobre uma população de

estudos pré-existentes.

MIMETIZAÇÃO – capacidade para imitar funções.

MORBIDADE - capacidade de produzir doença individual ou coletivamente.

MOSQUEADO - que tem malhas escuras; pintalgado, sarapintado.

NEUROTRANSMISSORES – substâncias químicas liberadas pelas células nervosas

no processo de comunicação nervosa do organismo.

ODONTOGRAMA - sistema gráfico das arcadas dentárias decíduas e permanentes.

ODONTOPEDIATRIA – especialidade que se ocupa das doenças odontológicas das

crianças em todos os seus aspectos.

ORTODONTIA – especialidade odontológica que se ocupa da prevenção e correção

dos defeitos de posição de dentes e problemas faciais associados.

PARÂMETROS SÉRICOS – relativo ao soro sanguíneo.

PATOGNOMÔNICO – sinal ou sintoma de vínculo estrito a um distúrbio ou doença.

PLAUSIBILIDADE – o caráter de ser razoável, aceitável, admissível.

PROFILAXIA – medida preventiva contra disfunção ou doença.

RECEPTOR – pequenas proteínas situadas na membrana celular, responsáveis pela

comunicação entre o meio externo e interno da célula.

REMODELAÇÃO ÓSSEA – atividade permanente das células do osso no processo

de remoção óssea seguido por adição de novo tecido ósseo.

SINAL – manifestação objetiva de um estado mórbido.

SÍNDROME – estado mórbido caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas

que se interagem para a evolução progressiva de uma determinada doença.

SINTOMA – qualquer fenômeno de caráter subjetivo provocado no organismo por

uma doença, e que, descrito pelo paciente, auxilia, em grau maior ou menor, a

estabelecer um diagnóstico.

SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO – campo operacional da Odontologia, envolvendo

estruturas da face, boca e pescoço.

TESTOSTERONAS – hormônio sexual masculino.

121

APÊNDICE A – Consentimento Livre e Esclarecido

(Resolução 196/96 do CNS)

Objeto de estudo: Efeitos adversos do uso do Flúor no propósito de saúde bucal. Projeto: Estudo-piloto sobre fluorose e demais consequências sistêmicas advindas da ingestão de Flúor nos usuários de 06 a 14 anos do Hospital de Aeronáutica de Canoas. Responsável: Maj Dent João Francisco Fernandes Domingos. Eu,....................................................................................................................., como responsável pelo paciente ora inquirido, declaro ter sido plenamente esclarecido(a) do propósito desta investigação, e concordo que os dados obtidos possam ser utilizados a bem da ciência, desde que de forma idônea e responsável, para o aperfeiçoamento técnico-científico do uso do Flúor na Odontologia. Também, fico ciente do direito que possuo para impedir qualquer divulgação e/ou publicação dos dados a mim concernentes, a qualquer momento, mesmo durante o transcorrer deste estudo.

_________________________________

HACO/Canoas__________/_____/______

_____________________________________

Carimbo e assinatura do profissional avaliador

122

APÊNDICE B – Formulário para o inquérito de saúde relacionada ao consumo de Flúor e odontograma para demarcação da fluorose dentária

1 IDENTIFICAÇÃO COMPLETA DO USUÁRIO Nome:............................................................................. Idade:................

Gênero:...........

Peso:...........Altura:......... Data Nascimento:......../........../.......Naturalidade:..................

Responsável:.........................................................................SARAM:...........................

Locais (Cidades) onde já morou, com os seus respectivos intervalos de tempo:

........................................................................................................................................

........................................................................................................................................

2 ODONTOGRAMA – Diagrama para demarcação dos sítios de fluorose dos

vinte dentes decíduos e vinte e oito dentes permanentes.

7 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7

7 6 5 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7

3 CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO

3.1 Campo 1- Observações e informações do complexo dentofacial.

)

a) Erupção dentária: Decídua: precoce□? tardia□?

Permanente: precoce□? tardia□?

b) Qualidade da dentição: Decídua: dentes hígidos□? manchados□? cariados□?

Permanente: dentes hígidos□? manchados□? cariados□?

c) Oclusão:Maloclusão classe I□ II□ III□? mordida cruzada lateral□? bruxismo□?

d) Face: Assimetria facial□? Respiração bucal□? Abertura bucal reduzida□?

e) Adversidades dentofaciais: Disfunção neurológica□? Trissomias□? CA□?

123

3.2 Campo 2 - Informações comportamentais.

a) Aleitamento materno? Sim□ Não□ Tempo:...........................................................

b) Uso da água: de torneira? beber□ alimentação□ mineral? beber□

alimentação□. Marcas de água mineral? □:................................................................

c) Meio ambiente de convívio? grandes centros□ cidades médias□ interior□

d) Alimentos? gelatina□ cereais□ pele de frango□ rins□ frutos do mar□ chá□

chimarrão□ verduras□ frutas□ suplementos vitamínicos□ suplemento de sais

minerais□ Quais?..........................................................................................................

e) Meios de higiene bucal? cremes dentais com Flúor□ colutórios com Flúor□

aplicações tópicas de Flúor□

f) Apetite? diminuído□ aumentado□ específico□..................................... anorexia□

g) Uso de medicamento para concentração? Prozac□ Ritalina□ Outros□...............

h) Tireóide? hipotireiodismo□ hipertireoidismo□ bócio□ deficiência de iodo□

nódulos□ tireoidite□

i) Metabolismo do cálcio? dores ósseas□ desmaios□ tonturas□

j) Ouvido? otite dolorosa□ otite supurativa□ ruídos□ cerume□ perda da audição□

3.3 Campo 3 - Informações de saúde sistêmica.

a) Dores de cabeça□?

b) Dores bucais tipo machucadura□ ou problemas com as erupções dos dentes□?

c) Secura da boca□ da garganta□ com excessivo consumo de água□?

d) Fadiga crônica não aliviada por sono ou descanso extra□?

e) Distúrbios do sono: insônia□ sonolência□?

f) Necessidade frequente de micção□ irritação de trato urinário□ cálculo renal□?

g) Articulações: dores artríticas□ rigidez em músculos e ossos□ hiperlassidão□?

h) Dores de crescimento□ e da coluna vertebral□? segmento:................................

i) Fraqueza muscular□ astenia□ fadiga□ parestesia□ paralisia□?

j) Contrações involuntárias□ câimbra□ convulsão□ epilepsia□?

k) Sensação de ardência□ das mãos (especificamente dos dedos)□ e pés□?

l) Distúrbios gastrintestinais: náusea□ vômito□ diarréia□ cólicas□ outros□?......

m) Manchas avermelhadas na pele que desaparecem entre 7 e 10 dias□?

124

n) Erupção ou prurido na pele□ especialmente após ducha ou banho□?

o) Perda da acuidade mental□ da concentração□ da memória□ do aprendizado□?

p) Situação de nervosismo excessivo□ ansiedade□ hiperatividade□?

q) Situação de depressão□ confusão mental□ letargia□?

r) Tendência a perder o equilíbrio□ tonturas□ vertigens□?

s) Distúrbios visuais: cegueira temporária□ manchas escuras□ diminuição do

foco□ irritação□ dor no perímetro ocular□ fotofobia□?

t) Relacionamento familiar: retraído□ atípico□ de indiferença□ de dominância□?

u) Relacionamento escolar: retraído□ atípico□ de indiferença□ de dominância□?

v) Relacionamento social: retraído□ atípico□ de indiferença□ de dominância□?

x) Maturação sexual precoce□ pêlos□ libido□ menstruação□ dismenorréia□?

y) Distúrbios cardio-respiratórios: calorões□ palpitações□ queda ou pique de

pressão□?

z) Distúrbios imunológicos: Congestão nasal□ alergias□ Resfriados frequentes□ infecções virais□?

125

APÊNDICE C – Sistema de instrução escrita e visual de suporte ao avaliador

1 Instrução dos graus do ITF para a tomada do grau de fluorose dentária.

TF grau 0 A translucidez normal do esmalte permanece após limpeza e secagem da superfície.

TF grau 1 Presença de finas linhas brancas opacas cruzando a superfície do dente. Em alguns casos, pode ser vista uma pequena “cobertura em neve” nas pontas das cúspides e nas incisais.

TF grau 2 As linhas brancas opacas são mais pronunciadas e frequentemente se fundem para formar pequenas áreas nebulosas espalhadas por toda superfície. A “cobertura de neve” nas bordas incisais e pontas de cúspides é comum.

TF grau 3 Ocorre a fusão das linhas brancas e as áreas nebulosas de opacidade se espalham por muitas partes da superfície. Entre as áreas nebulosas também podem ser vistas as linhas brancas.

TF grau 4 Toda a superfície exibe uma opacidade marcante, ou parece branca calcária. Partes da superfície exposta a atrito ou desgaste podem parecer menos afetadas.

TF grau 5 Toda a superfície é opaca e existem depressões redondas – perda focal do esmalte externo – com menos de 2mm de diâmetro.

TF grau 6 As pequenas depressões frequentemente podem ser vistas se fundindo no esmalte opaco para formar faixas com menos de 2mm de altura vertical. Neste grau estão incluídas também as superfícies onde a borda cuspídea do esmalte vestibular foi lascada e a dimensão vertical do dano resultante é menor do que 2mm.

TF grau 7 Há perda do esmalte externo em áreas irregulares e menos que a metade da superfície está bastante envolvida. O esmalte intacto restante é opaco.

TF grau 8 A perda do esmalte externo envolve mais da metade do esmalte. O esmalte intacto restante é opaco.

TF grau 9 A perda da principal parte do esmalte externo resulta em uma mudança na forma anatômica da superfície do dente. Um halo cervical de esmalte opaco é geralmente notado.

Fonte: Thystrup e Fejerskov, 1978; Fawell et al., 2006 (OMS).

126

2 Álbum fotográfico da fluorose – escala analógica visual dos graus do ITF.

Fonte das figuras: FLUORIDE ACTION NETWORK, 2009.

127

3 Critérios de frequência para as observações e informações do inquérito de

saúde.

0

1

2

3

4

5

OBSERVAÇÃO

Nunca Raramente Às vezes Periodicamente Quase Sempre

Sempre

INFORMAÇÃO

Nunca aconteceu

Já Aconteceu

Acontece Raramente

Acontece com certa frequência

É algo comum

É sempre assim

128

APÊNDICE D - Distribuição dos sintomas nos Sistemas orgânicos e seus

respectivos valores relativos (vr)

SISTEMA FUNCIONAL REGULAR – “A”

SINTOMAS FUNCIONAIS CAMPO PERGUNTA Distúrbios cefálicos Distúrbios otológicos Distúrbios do equilíbrio Distúrbios visuais Distúrbios do apetite Distúrbios gastrintestinais Distúrbios urinários Distúrbios ósseos Distúrbios cardio-respiratórios

3 2 3 3 2 3 3

2 / 3 3

a j r s f l f

i / h y

n = 9 (nove) vr (A) > 1/9 = 11,1

SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO – “B” SINTOMAS DENTOFACIAIS CAMPO PERGUNTA

Distúrbios do padrão eruptivo e da qualidade dental Distúrbios da oclusão e do padrão esquelético facial Distúrbios do padrão respiratório Distúrbios estomatológicos Distúrbios da sede

1 1 1 3 3

a / b c / d

e b c

n = 5 (cinco) vr (B) > 1/5 = 20

SISTEMA LOCOMOTOR – “C” SINTOMAS LOCOMOTORES CAMPO PERGUNTA

Distúrbios artríticos Distúrbios ósseos Distúrbios da capacidade física e mental (fadiga) Distúrbios do tônus muscular (fraqueza) Distúrbios da contração muscular (espasmofilia)

3 3 3 3 3

g h d i j

n = 5 (cinco) vr (C) > 1/5 = 20

SISTEMA NEURO-ENDÔCRINO-IMUNITÁRIO – “D” SINTOMAS ENDÔCRINOS E IMUNOLÓGICOS CAMPO PERGUNTA

Distúrbios tireoideanos Distúrbios do sono Distúrbios da sensibilidade tátil Distúrbios da irrigação sanguínea superficial Distúrbios alérgicos Distúrbios imunológicos ou pós-virais (VAS)

2 3 3 3 3 3

h e k m n z

n = 6 (seis) vr (D) > 1/6 = 16,6

129

SISTEMA GÊNITO-REPRODUTOR – “E” SINTOMAS ENDÔCRINOS E IMUNOLÓGICOS CAMPO PERGUNTA

Distúrbios da maturidade sexual Distúrbios genéticos Distúrbios da regularidade reprodutora

3 1 3

x e x

n = 3 (seis) vr (E) > 1/3 = 33,3

SISTEMA NEURO-PSICO-COMPORTAMENTAL – “F” SINTOMAS NERVOSOS E COMPORTAMENTAIS CAMPO PERGUNTA Distúrbios da memória ao aprendizado Distúrbios do equilíbrio comportamental Distúrbios do equilíbrio emocional Distúrbios do relacionamento familiar Distúrbios do relacionamento escolar Distúrbios do relacionamento social

3 / 2 3 3 3 3 3

o / g p q t u v

n = 6 (seis) vr (F) > 1/6 = 16,6

130

APÊNDICE E – Número de entradas positivadas no inquérito de saúde

para sintomas e fontes fluóricas

Tabela 1: Número de sintomas positivados por Sistema nos subgrupos de fluorose e não fluorose. Canoas, RS, 2009.

NÚMERO DE SINTOMAS DE CADA SISTEMA EM GF [n(St)]

SISTEMA

A

B

C

D

E

F

Masculino

n(G) = 28

89

62

32

36

6

68

Feminino

n(G) = 27

102

65

36

51

17

71

Total

n(G) = 55

191

127

68

87

23

139

NÚMERO DE SINTOMAS DE CADA SISTEMA EM GNF [n(St)]

SISTEMA

A

B

C

D

E

F

Masculino

n(G) = 8

26

14

10

14

0

23

Feminino

n(G) = 7

19

15

6

7

1

11

Total

n(G) = 15

45

29

16

21

1

34

Tabela 2: Número de entradas fluóricas positivadas por fonte de consumo nos subgrupos de fluorose e não fluorose. Canoas, RS, 2009.

NÚMERO DE ENTRADA DE CADA FONTE EM GF [n(Ft)]

SISTEMA

Água (2)

Higiene (3)

Alimento (10)

Total (15)

Masculino

n(G) = 28

52

56

160 268

Feminino

n(G) = 27

51

56

157 264

Total

n(G) = 55

103

112

317 532

NÚMERO DE ENTRADA DE CADA FONTE EM GNF [n(Ft)]

SISTEMA

Água (2)

Higiene (3)

Alimento (10)

Total (15)

Masculino

n(G) = 8

15

15

42 72

Feminino

n(G) = 7

11

14

33 58

Total

n(G) = 15

26

29

55 110

131

APÊNDICE F – Fontes de Flúor

Fontes fluóricas com suas respectivas concentrações médias em ppm

Fontes de Flúor Médias em ppm Água de torneira média prevista para o Brasil 0,85 (0,7 – 1,2) Água de torneira média em Canoas – RS 0,75 (0,6 – 0,9) Águas minerais relatadas no estudo 0,45 (0,12 – 1,19) Batata roxa assada 0,45 Cachorro-quente 0,48 Café coado 0,91 Caldo de galinha 0,61 Carne 0,6 Cerveja 0,45 Cevada e arroz 2,00 Chá de camomila 0,13 Chá preto 3,73 Chá verde chinês (desidratado) 400 Coca-cola diet – média americana 0,60 Colutórios diários a 0,05% 500 Colutórios semanais a 0,2% 2000 Creme de milho para crianças 0,32 Cremes dentais (infantil e adulto) 1300 Farinha para tortillas 0,33 Flúor gel (aplicação tópica) a 1,23% 12.300 Leite com 2% de gordura 0,03 Peixe e frutos do mar 3,50 Queijo tipo cheddar 0,35 Sorvete de chocolate 0,23 Suco de maçã aromatizado 1,09 Suco de toranja (grape fruit) 0,46 Uva passa 2,34 Vegetais e frutas frescas 0,25 Verniz dessensibilizante (aplicação tópica) 50.000 Vinho branco 2,02

Fonte: Adaptação de MURRAY, 1986; LEVY; WARREN; BROFFITTI, 2003; e FAGIN, 2008.

132

ANEXO A – Evolução histórica entre Flúor e cárie

1 Relação histórica entre ingesta de Flúor por fluoretação e creme dental, e evolução decrescente da cárie dentária.

Figura 1: Gráfico da evolução histórica entre Flúor e cárie. Fonte: COLQUHOUN, 1993.

2 Evolução da queda do CPOD-12 anos, preconizado pela OMS, entre países de água fluoretada e não fluoretada.

Figura 2: Gráfico da evolução da cárie em países com água fluorada: Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Israel, Irlanda, Hong Kong, EUA e Singapura. Fonte: COLQUHOUN, 1997; SPITTLLE, 2008.

133

Figura 3: Gráfico da evolução da cárie em países com água não fluorada: Áustria, França, Bélgica, Alemanha, Dinamarca, Grécia, Finlândia e Itália. Fonte: COLQUHOUN, 1997; SPITTLLE, 2008.

Figura 4: Gráfico da evolução da cárie em países com água não fluorada: Japão, Espanha, Holanda, Suécia, Noruega, Suíça, Portugal e Reino Unido. Fonte: COLQUHOUN, 1997.

134

ANEXO B – Parecer da Comissão de Ética da Divisão Odontológica