efeitos de período, idade e coorte nas séries históricas ... · instituto de estudos em saúde...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
Luciana Freire de Carvalho
Efeitos de Período, Idade e Coorte nas Séries
Históricas de Mortalidade por Diabetes Mellitus no
Município do Rio de Janeiro, entre 1950 e 2010.
Rio de Janeiro
2014
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Luciana Freire de Carvalho
Efeitos de Período, Idade e Coorte nas Séries
Históricas de Mortalidade por Diabetes Mellitus no
Município do Rio de Janeiro, entre 1950 e 2010.
Dissertação de Mestrado apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde
Coletiva da Universidade Federal do Rio de
Janeiro como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Saúde Coletiva (linha de
pesquisa: Epidemiologia e Políticas de Saúde).
Orientador: Antonio José Leal Costa
Rio de Janeiro
2014
3
4
5
Agradecimentos:
Mãe, pai e irmã. Sem eles nada seria possível. Pelo apoio incondicional e por
acreditarem que mais essa etapa da minha vida seria possível
Ao meu orientador, Antonio José Leal Costa, por me mostrar que orientadores podem
ser parceiros. Por acreditar em mim, aprender comigo e não deixar esmorecer.
À Tânia, por todas as contribuições estatísticas e ajudas com o STATA. Sua ajuda foi
fundamental para o sucesso deste trabalho.
Ao Ruy Laurenti, Pauline e Iuri, por aceitarem, com tanto carinho, pertencer à minha
banca.
Ao Wernner, que “apareceu mudando tudo, lançando por terra o escudo do meu coração
em repouso”.
À toda a equipe da CVE, por segurar as barras neste período árduo. Em especial, à Ju,
por trabalhar por mim e por ela quando eu estava afundada no mestrado. À Carol e
Carlinha por se mostrarem mais que colegas de trabalho, amigas de vida, com quem
dividi angústias e alegrias durante este período.
À Wálria, por ser minha segunda mãe e tudo o mais.
À Lívia, por me fazer ter a certeza de que ela estava por perto, mesmo quando a escrita
me consumia por inteiro. Por desanuviar, nos momentos mais importantes. Por
desempenhar, com maestria, o papel de amiga.
Ao Ricardo, pelas noites viradas, pelas palavras de apoio, pelas inúmeras risadas, enfim,
por aprender todo o processo junto comigo, desde o primeiro dia do mestrado. Sem ele
não teria sido tão divertido...
Aos professores e funcionários do IESC, por todo carinho e paciência.
6
Resumo
CARVALHO, Luciana Freire de. Efeitos de Período, Idade e Coorte nas Séries Históricas de Mortalidade por Diabetes Mellitus no Município do Rio de Janeiro, entre 1950 e 2010. Rio de Janeiro, 2014. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. O diabetes mellitus (DM), é reconhecido como uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta da insulina e/ou de sua incapacidade em exercer adequadamente seus efeitos. O DM apresenta alta morbi-mortalidade, com perda importante na qualidade de vida. As associações com as doenças crônicas, aumentam sua gravidade e fazem com represente uma enorme sobrecarga para a Saúde Pública. As estatísticas de mortalidade se constituem como tradicional e eficiente método para avaliação do estado de saúde das populações e planejamento de intervenções adequadas. As análises das variações temporais possibilitam avaliações dos diversos fatores que influenciam na morbimortalidade, permitindo inferir determinadas associações e auxiliando na compreensão da etiologia das doenças e na avaliação de políticas de saúde pública. Modelos de análise dos efeitos de idade, período e coorte têm sido utilizados para descrever as variações da ocorrência das doenças na perspectiva longitudinal. O efeito da idade reflete as diferenças na susceptibilidade da doença entre os diferentes grupos etários. O de período reflete os fatores que afetam todos os grupos etários simultaneamente, num determinado momento do tempo. E o efeito da coorte reflete os fatores que podem impactar nas diferentes gerações e pode necessitar de um período prolongado para se manifestar. Este trabalho teve como objetivo analisar os efeitos de idade, período e coorte nas séries históricas de mortalidade por DM no município do Rio de Janeiro. Trata-se de um estudo ecológico de séries temporais onde foram analisadas as variações das taxas de mortalidade por DM da população residente no município do Rio de Janeiro, de 1950 a 2010, segundo sexo, faixas etárias, ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento. Análises semelhantes foram realizadas para as causas mal definidas, interpretadas como indicadores de qualidade dos registros de mortalidade. Os dados de população foram obtidos a partir dos censos demográficos a cargo do IBGE. Os dados de mortalidade foram obtidos em Anuários Estatísticos do Brasil, revisão de estatísticas vitais publicadas pela Secretaria de Estado de Saúde do RJ e Sistema de Informações em Mortalidade (SIM-DATASUS). A ocorrência dos efeitos foi investigada através de procedimentos de análise descritiva dos dados e de procedimentos de modelagem. Foi utilizado o modelo proposto por Yang, que estima os efeitos a partir do uso do estimador intrínseco. A análise indicou a presença dos três efeitos. Sugere-se que o efeito de idade foi encontrado devido à própria fisiopatologia da doença, o efeito de coorte devido à mudança dos hábitos de vida da população e o efeito de período devido à modificação da insulina utilizada pelo sistema de saúde e normatização do diagnóstico e classificação do diabetes. Conhecer o padrão de adoecimento e morte de uma população é útil para a proposição de políticas públicas e para a avaliação, gestão e planejamento de ações de promoção e prevenção realizadas pelo Sistema de Saúde. Por fim, recomenda-se que pesquisadores de saúde possam fazer usos de dados oficiais já disponíveis a fim de obter avaliações e projeções sobre a saúde da população através desta metodologia de análise. Palavras chave: Diabetes Mellitus, Efeito de Coortes, Efeito Idade, Efeito período, Registros de Mortalidade
7
Abstract
Diabetes mellitus (DM) is recognized as a syndrome of multiple etiologies, resulting from lack of insulin or their inability to properly exert its effects. The DM has a high morbimortality, with a significant loss in quality of life and the associations with chronic diseases increase its severity and represents an enormous or overburden to the public health. Mortality statistics constitute a traditional and efficient method for populations’ health status evaluation and appropriate interventions planning. The analyses of the temporal variations allow evaluations of the various factors that influence morbimortality, allowing to infer certain associations and aiding the disease’s etiology understanding and public health policies evaluation. Models to analyze the effects of age, period and cohort have been used to describe the diseases occurrence variations in the longitudinal perspective. The effect of age reflects the differences in disease susceptibility among different age groups. The period reflects the factors that affect all age groups simultaneously in a given period of time. The effect of cohort reflects the factors that can impact on different generations and it may require a long time to manifest. This study aimed to analyze the effects of age, period and cohort in the time series of mortality by DM in the city of Rio de Janeiro. It is an ecological study of temporal series where variations in mortality rates by DM in the resident population of the city of Rio de Janeiro, from 1950 to 2010 population were analyzed according to gender, age, death occurrence’s year and birth cohort. Similar analyses were performed for ill-defined causes, interpreted as indicators of mortality quality records. Population data were obtained from population censuses from IBGE. Mortality data were obtained from the Statistical Yearbooks of Brazil, review of vital statistics published by the Health Secretariat of the State of Rio de Janeiro and Health’s Mortality Information System (SIM-DATASUS). The effects occurrence was investigated through the procedures of descriptive data analysis and modeling procedures. The model proposed by Yang, which estimates the effects from the use of the intrinsic estimator, was used. The analysis indicated the presence of the three effects. It is suggested that the effect of age was found due to the pathophysiology of disease, the cohort effect due to the population’s lifestyle change and period effect due to modification of the insulin used by the health system and diagnosis standardization and diabetes classification. Knowing the illness and death pattern of a population is useful for devising public policies and the assessment, management and planning of health promotion and prevention carried out by the Health System. Finally, it is recommended that health researchers can make use of the official data available to get ratings and projections about the health of the population through this analysis methodology.
Key words: Diabetes Mellitus, Cohort Effect, Age Effect, Period Effect, Mortality Registries.
8
Lista de ilustrações
Gráfico 1. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes), brutas e
padronizadas, sexo masculino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010, para a
população padrão de 2010 ........................................................................................ p. 34
Gráfico 2. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes), brutas e
padronizadas, sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010, para a população
padrão de 2010 .......................................................................................................... p. 34
Gráfico 3. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo
ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento, sexo masculino, Município do Rio
de Janeiro, RJ, 1950-2010 ......................................................................................... p. 36
Gráfico 4. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo
ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento, sexo feminino, Município do Rio de
Janeiro, RJ, 1950-2010. ............................................................................................. p. 36
Gráfico 5. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo
coorte de nascimento e faixa etária, sexo masculino, Município do Rio de Janeiro, RJ,
1950-2010. ................................................................................................................. p. 38
Gráfico 6. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo
coorte de nascimento e faixa etária, sexo feminino, Município do Rio de Janeiro, RJ,
1950-2010 .................................................................................................................. p. 38
Gráfico 7. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo
ano de ocorrência do óbito e faixa etária, sexo masculino, Município do Rio de Janeiro,
RJ, 1950-2010 ............................................................................................................ p. 40
Gráfico 8. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo
ano de ocorrência do óbito e faixa etária, sexo feminino, Município do Rio de Janeiro,
RJ, 1950-2010 ............................................................................................................ p. 40
Gráfico 9. Razões de taxas estimadas para o efeito da idade na mortalidade por DM a
partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de
Janeiro, 1950-2010 .................................................................................................... p. 44
9
Gráfico 10. Razões de taxas estimadas para o efeito de período na mortalidade por DM
a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de
Janeiro, 1950-2010 .................................................................................................... p. 44
Gráfico 11. Razões de taxas estimadas para o efeito de coorte na mortalidade por DM a
partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de
Janeiro, 1950-2010 .................................................................................................... p. 45
Gráfico 12. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes),
brutas e padronizadas, sexo masculino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010, para a
população padrão de 2010 ......................................................................................... p. 46
Gráfico 13. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes),
brutas e padronizadas, sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010, para a
população padrão de 2010 ......................................................................................... p. 46
Gráfico 14. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas
segundo ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento, sexo masculino, Município
do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.............................................................................. p. 47
Gráfico 15. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas
segundo ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento, sexo feminino, Município
do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.............................................................................. p. 48
Gráfico 16. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas
segundo coorte de nascimento e faixa etária, sexo masculino, Município do Rio de
Janeiro, RJ, 1950-2010 .............................................................................................. p. 49
Gráfico 17. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas
segundo coorte de nascimento e faixa etária, sexo feminino, Município do Rio de
Janeiro, RJ, 1950-2010 .............................................................................................. p. 49
Gráfico 18. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas
segundo ano de ocorrência do óbito e faixa etária, sexo masculino, Município do Rio de
Janeiro, RJ, 1950-2010 .............................................................................................. p. 50
10
Gráfico 19. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas
segundo ano de ocorrência do óbito e faixa etária, sexo feminino, Município do Rio de
Janeiro, RJ, 1950-2010 .............................................................................................. p. 51
Gráfico 20. Razões de taxas estimadas para o efeito da idade na mortalidade por CMD a
partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de
Janeiro, 1950-2010 .................................................................................................... p. 54
Gráfico 21. Razões de taxas estimadas para o efeito de período na mortalidade por
CMD a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do
Rio de Janeiro, 1950-2010 ......................................................................................... p. 54
Gráfico 22. Razões de taxas estimadas para o efeito de coorte na mortalidade por CMD
a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de
Janeiro, 1950-2010 .................................................................................................... p. 55
11
Lista de quadros e tabelas
Quadro 1. Localização do Diabetes Mellitus em listas tabulares das revisões da
Classificação Internacional de Doenças, 1950 a 2010 .............................................. p. 28
Quadro 2 - Localização das Causas Mal Definidas em listas tabulares das revisões da
Classificação Internacional de Doenças, 1950 a 2010 .............................................. p. 29
Quadro 3 – Distribuição dos dados utilizados segundo coortes, faixas etárias e períodos
correspondentes ......................................................................................................... p. 31
Tabela 1. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes) por coorte
de nascimento e período do óbito, segundo sexo ...................................................... p. 35
Tabela 2. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes) por faixa
etária e coorte de nascimento, segundo sexo ............................................................. p. 37
Tabela 3. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes) por
período do óbito e faixa etária, segundo sexo ........................................................... p. 39
Quadro 4. Resultados do modelo idade-período-coorte para a mortalidade por DM, sexo
masculino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010 ................................................ p. 42
Quadro 5. Resultados do modelo idade-período-coorte para a mortalidade por DM, sexo
feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010 .................................................. p. 43
Tabela 4. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes) por
coorte de nascimento e período do óbito, segundo sexo ........................................... p. 47
Tabela 5. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes) por
faixa etária e coorte de nascimento, segundo sexo .................................................... p. 48
Tabela 6. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes) por
período do óbito e faixa etária, segundo sexo ........................................................... p. 50
Quadro 6. Resultados do modelo idade-período-coorte para a mortalidade por CMD,
sexo masculino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010 ........................................ p. 52
Quadro 7. Resultados do modelo idade-período-coorte para a mortalidade por CMD,
sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010 .......................................... p. 53
12
SUMÁRIO
1. Apresentação ........................................................................................................................... 13
2. Introdução ............................................................................................................................... 14
2.1. Diabetes mellitus .............................................................................................................. 14
2.2. Estatísticas de mortalidade e a Classificação Internacional de Doenças ......................... 18
2.3. Diferentes abordagens na análise de séries históricas de mortalidade. .......................... 22
2.4. Contextualização tempo-espaço: a cidade do Rio de Janeiro no período do estudo. ..... 25
3. Justificativa: ............................................................................................................................. 28
4. Objetivos ................................................................................................................................. 29
4.1. Objetivo Geral: ................................................................................................................. 29
4.2. Objetivos Específicos: ....................................................................................................... 29
5. Materiais e métodos: .............................................................................................................. 30
5.1. Desenho de estudo: ......................................................................................................... 30
5.2. Fontes de dados: .............................................................................................................. 30
5.2.1. Dados de Mortalidade ............................................................................................... 30
5.2.2. Dados de População .................................................................................................. 32
5.3. Métodos ........................................................................................................................... 33
5.3.1. Coeficientes de Mortalidade ...................................................................................... 33
5.3.2. Análises dos efeitos ....................................................................................................... 34
5.4. Aspectos éticos ................................................................................................................ 36
6. Resultados ............................................................................................................................... 37
6.1. Diabetes Mellitus .............................................................................................................. 37
6.2. Causas Mal Definidas ....................................................................................................... 49
7. Discussão ................................................................................................................................. 59
7.1. Diabetes mellitus .............................................................................................................. 59
7.2. Causas Mal Definidas ....................................................................................................... 64
8. Limitações ................................................................................................................................ 65
9. Conclusão ................................................................................................................................ 66
10. Referências............................................................................................................................68
11. Anexo I...................................................................................................................................78
13
1. Apresentação
É sabido que o diabetes mellitus (DM) é uma das principais causas de
mortalidade no mundo e contribui com perda importante na qualidade de vida das
populações. As associações entre o DM e doenças renais, cardiovasculares e
cerebrovasculares aumentam a gravidade da doença e fazem com que ela represente
uma enorme sobrecarga para a Saúde Pública.
Estudar as tendências de mortalidade pelo DM é fundamental para compreender
o processo de adoecimento da população, no âmbito das transições epidemiológica,
demográfica e nutricional. E, assim, ser capaz de propor estratégias de enfrentamento
para uma das doenças crônicas de maior prevalência na atualidade.
Visto a disponibilidade de dados de séries históricas de diversas doenças e
agravos, a vasta literatura internacional sobre o tema e os escassos estudos sobre
análises de efeitos, principalmente no que diz respeito ao DM, no Brasil, este trabalho
pode contribuir para um melhor entendimento a respeito dos padrões de mortalidade por
diabetes.
Além disso, pretende-se fazer desta dissertação um estímulo para que que
pesquisadores abordem a análise dos efeitos de período, idade e coorte em trabalhos
futuros.
14
2. Introdução
2.1. Diabetes mellitus
O diabetes pode ser classificado, de acordo com sua patogênese, em diabetes
mellitus tipo 1 ou insulinodependente, diabetes mellitus tipo 2 ou insulinoindependente,
diabetes mellitus gestacional e diabetes insipidus1.
O diabetes mellitus (DM), é reconhecido como uma síndrome de etiologia
múltipla, decorrente da falta da insulina (hormônio que controla o metabolismo da
glicose) e/ou de sua incapacidade em exercer adequadamente seus efeitos2,3.
Caracteriza-se por hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos
carboidratos, lipídios e proteínas e pode ser acompanhado por sintomas como sede
intensa, urina profusa e perda de peso, culminando em coma e morte na ausência de
tratamento eficaz. No entanto, frequentemente, os sintomas apresentados no início do
curso da doença são menos graves ou totalmente ausentes2, 3 .
Neste momento, cabe um adendo: o trabalho em questão trata especificamente
do DM tipo 1 e tipo 2. Sendo assim, quando o termo DM for utilizado de maneira
genérica nesta dissertação, refere-se apenas a essas duas classificações.
O DM tipo 1 é uma doença metabólica, causada pela destruição autoimune das
células β das ilhotas pancreáticas, o que leva à deficiência ou ação inadequada de
insulina4, 5. A incidência aproxima-se de 0,5 casos novos para cada 100.000 habitantes
ao ano e acomete principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens, sendo a maior
idade de ocorrência por volta da adolescência6.
O DM tipo 2 é um distúrbio comum que leva tanto à secreção diminuída quanto
à resistência à ação da insulina, fazendo com que os níveis de glicose permaneçam altos
no sangue. Nesse caso, o fator hereditário e a obesidade apresentam importância maior
que no DM tipo 14,5. A idade de início do diabetes tipo 2 é variável, embora seja mais
frequente após os 40 anos, com pico de incidência ao redor dos 60 anos.7 Estima-se que
cerca de 90% dos casos de DM corresponda ao tipo 27 . É uma das principais doenças
crônicas que afetam as populações humanas, acometendo todas as classes econômicas e
países em todos os estágios de desenvolvimento8.
15
A história natural do DM tipo 2 tem um início silencioso e segue um curso
insidioso e desordenado do metabolismo da glicose, inicialmente em um estado de
resistência à insulina, muitas vezes acompanhado de obesidade e da síndrome
metabólica9. A Síndrome Metabólica (SM) é um transtorno complexo representado por
um conjunto de fatores de risco cardiovascular, usualmente relacionados à deposição
central de gordura e à resistência à insulina10.
Devido às amplas mudanças no estilo de vida das populações ocorridas com a
modernidade, frutos dos processos crescentes de industrialização e urbanização,
verificam-se frequências cada vez mais altas de práticas pouco saudáveis como
sedentarismo e dieta inadequada, favorecendo o aumento de peso e, portanto, a
obesidade. Estas práticas pouco saudáveis constituem importantes fatores de risco para
inúmeras doenças e contribuem para o aumento da incidência e prevalência do diabetes
mellitus tipo 2 em todo o mundo, bem como da mortalidade pela doença11.
Embora a idade, o histórico familiar, o sexo e outros fatores imodificáveis
possam influenciar a ocorrência de casos da doença, os fatores modificáveis –
comportamentais e ligados ao estilo de vida - têm sido alvo de intervenção, uma vez que
existem evidências sobre a eficácia da promoção de estilos de vida saudáveis na redução
do risco e na melhora do prognóstico para o DM12, 13.
Molena-Fernandes e colaboradores14 encontraram achados de diversos estudos
demonstrando a importância de hábitos saudáveis no prognóstico do DM,
principalmente em relação à dieta adequada e prática de atividade física.
Observa-se que a prática do exercício físico tem contribuído para melhoria de
vários aspectos relacionados à qualidade de vida do diabético, colaborando na melhora
do controle glicêmico, da ação da insulina, na redução da pressão arterial e na melhora
do perfil lipídico, entre outros. Além de retardar a progressão das complicações do DM,
em longo prazo, como a aterosclerose e as microangiopatias14.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes3, recomenda-se, aos pacientes
diabéticos tipo 2, atenção quanto ao controle de peso, considerando que o tratamento
dietético dirigido à redução do peso corporal e à melhora dos níveis glicêmicos e
lipídicos tem significativo efeito sobre a morbidade e mortalidade nesse grupo.
16
As transições representadas pelas mudanças no conjunto de fatores
demográficos, econômicos, sociais e nutricionais, que interferem no aumento da
expectativa de vida populacional, aumentam a probabilidade de expressão das
enfermidades crônicas que, geralmente, se manifestam em idades mais avançadas, tais
como o diabetes tipo 2. Sendo assim, o diabetes mellitus, se destaca como importante
causa de morbidade e mortalidade, especialmente entre os idosos15, 12,13.
É importante destacar a importância dos determinantes ecológicos, de ordem
populacional, associados ao desenvolvimento de ambientes obesogênicos e de risco para
doenças como o DM. A influência que oportunidades e condições ambientais têm nas
escolhas, por parte dos indivíduos, de hábitos de vida que promovam o desenvolvimento
da obesidade, configura um ambiente obesogênico16. A obesidade está intimamente
relacionada ao diabetes tipo 2, visto que mais de 80% dos casos apresentam sobrepeso
ou obesidade, e o risco de desenvolvimento de diabetes está positivamente associado ao
incremento do índice de massa corpórea17.
O diabetes mellitus apresenta alta morbi-mortalidade, com perda importante na
qualidade de vida, especialmente quando diagnosticado e tratado tardiamente. É uma
das principais causas de mortalidade, insuficiência renal, amputação de membros
inferiores, cegueira e doença cardiovascular11. As associações entre o diabetes mellitus e
doenças crônicas, como cardiovasculares e cerebrovasculares, aumentam a gravidade da
doença e fazem com que ela represente uma enorme sobrecarga para a saúde pública12.
Juntamente com as doenças cardiovasculares, neoplasias malignas e causas
externas, o diabetes está entre os quatro mais importantes problemas de saúde pública
mundial, em termos de número de pessoas afetadas, pela considerável morbidade
associada à sua presença, pelos custos envolvidos em seu controle e no tratamento de
suas complicações, pelas incapacitações que produz e pelo número de anos potenciais
de vida perdidos, em decorrência da mortalidade prematura8.
Segundo a International Diabetes Federation, o diabetes mellitus e suas
complicações são as principais causas de morte precoce na maioria dos países, tendo
como principal complicação as doenças cardiovasculares, que são responsáveis por 50%
ou mais da mortalidade de diabéticos em algumas populações18.
17
Previsões indicam que 250 milhões de pessoas no mundo deverão apresentar a
doença até 202019.
O estudo multicêntrico20 sobre prevalência de diabetes mellitus no Brasil,
realizado em 1992, apontou um índice de 7,6% na população brasileira entre 30-69
anos. Cerca de 50% dos casos desconheciam a sua condição de doente, e 25% dos
diabéticos não faziam nenhum tratamento21.
De acordo com um estudo desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), referente às estimativas de prevalência do diabetes mellitus entre 2000 e 2030, o
Brasil, que em 2000 ocupava o oitavo lugar entre os dez países com maior número de
casos de diabetes, ocupará a sexta posição em 2030, quando contará com 8,9 milhões de
portadores da doença22,23.
Estima-se que, em 2011, cerca de 4,6 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos
morreram por diabetes no mundo, o que corresponde a 8,2% da mortalidade por todas as
causas nessa faixa etária18.
No entanto, além das estatísticas de saúde existentes subestimarem o número de
óbitos por diabetes mellitus, mais de um terço dos países não dispõe de quaisquer dados
sobre mortalidade associada a esse agravo. Por isso, a estimativa precisa do número de
óbitos por diabetes é um desafio18.
18
2.2. Estatísticas de mortalidade e a Classificação Internacional de Doenças
As estatísticas de mortalidade representam uma das mais valiosas fontes de
informação em saúde, além de se constituir no mais tradicional e num dos mais
eficientes métodos para avaliação do estado de saúde das populações24.
As análises da mortalidade segundo causas de mortes são fundamentais para o
planejamento de intervenções adequadas. No entanto, uma das maiores limitações
dessas análises, na maioria dos países em desenvolvimento, é a qualidade das
estatísticas vitais, especialmente as de mortalidade25.
Uma classificação de doenças é um instrumento que agrupa os diferentes
eventos mórbidos segundo características comuns e serve, basicamente, para finalidades
estatísticas de descrição e análise quanto à distribuição das doenças em uma população
definida. É uma sistematização das doenças, lesões, sintomas, sinais e motivos de
consultas.26
A Classificação Internacional de Doenças (CID) é, há mais de um século, o
instrumento estatístico utilizado na apresentação das tabelas de mortalidade por
causas27.
A Classificação de Bertillon foi considerada a primeira classificação
internacional de causas de morte, adotada em 1893 por vários países. Tratava-se de uma
lista de doenças que apresentava 14 grupos ou capítulos que, em conjunto, tinham 161
causas de morte24.
As revisões da Lista Internacional de Causas de Morte, da primeira à quinta,
foram convocadas pelo governo francês e eram aprovadas nas chamadas "Conferências
Internacionais de Revisão da Classificação de Bertillon ou Classificação Internacional
de Causas de Morte"24.
Na segunda metade da década de 1940, a partir da 6a revisão da CID, a OMS
assumiu a responsabilidade das revisões decenais da Classificação de Causas de Morte28
incluindo normas e propostas referentes à compilação, tabulação e publicação das
estatísticas de mortalidade e morbidade.
19
Além disso, ficou responsável pela aprovação do “Modelo Internacional de
Atestado Médico de Causas de Óbito”, da definição da causa básica da morte e das
regras para sua seleção ou classificação.29
Segundo a OMS, é chamada causa básica do óbito “a doença ou lesão que
iniciou a cadeia de acontecimentos patológicos que conduziram diretamente à morte ou
as circunstâncias do acidente ou violência que produziram a lesão fatal".30
A causa básica dá origem a uma sucessão de afecções que são chamadas
consequenciais, a última das quais é denominada causa terminal ou direta, todas
registradas na parte I do atestado de óbito. Outras causas que não entram na cadeia
iniciada pela causa básica, e que no atestado devem ser declaradas na parte II são as
chamadas causas contribuintes. As causas consequenciais e as contribuintes constituem
o que se chama de causas associadas.31
Desde a publicação da CID-6, em intervalos aproximados de dez anos, é
apresentada e aprovada, pela OMS, uma nova revisão. Atualmente está em vigência a
10ª Revisão, conhecida como CID-10 – no Brasil desde 1996.27
A CID, em suas primeiras revisões, ainda enquanto listas, começou como um
instrumento estatístico para enumerar e analisar as causas de morte sem incluir,
portanto, as doenças não mortais. Porém, quando a OMS assumiu a responsabilidade
pelas revisões, a CID foi bastante expandida visando classificar também as causas de
morbidade, além da mortalidade.24
No Brasil, o Serviço Federal de Bioestatística do Departamento Nacional de
Saúde publicou em 1944 o Anuário de Bioestatística, com dados de mortalidade por
causas referentes às capitais dos estados da federação.32
Na década de 1970, duas iniciativas importantes foram introduzidas para
melhorar a situação no que diz respeito às estatísticas vitais em nosso país. Em 1973, ao
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi confiada a atribuição de
coletar, compilar e analisar os dados da Conservatória do Registo Civil em cada
município. O atual sistema do registro civil resultou do Decreto n° 70210, de 28 de
fevereiro de 1972 e das atribuições delegadas pela Lei n° 6015, de 31 de dezembro de
1973, com as modificações introduzidas pelas leis n° 6140, de 28 de novembro de 1974
20
e n° 6216 de 30 de junho de 1975, transferindo a responsabilidade pelo processamento
das estatísticas vitais do âmbito do Ministério da Justiça para o Ministério do
Planejamento, através do IBGE.
Em 1975, o Ministério da Saúde criou o Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM), para complementar as atribuições do IBGE quanto às estatísticas
vitais, com a responsabilidade de compilar dados de causa de morte.25 Desde 1976,
implantou-se um modelo único de Declaração de Óbito (DO) para ser utilizado em todo
o território nacional, como documento base, onde a declaração das causas que
conduziram o individuo à morte é feita segundo o modelo proposto pela OMS.33
No entanto, desde a “Sexta Conferência Internacional para a Revisão Decenal da
Classificação”, em 1948, quando a OMS adotou um modelo de atestado de óbito, o
Brasil segue as normas internacionais de apuração e tabulação sobre causas de morte.25
Com a utilização de um formulário padronizado e individualizado para o registro
dos dados, houve a possibilidade de se obter, para todo o território nacional, estatísticas
de melhor qualidade e com a grande vantagem de serem comparáveis entre as regiões e
com outros países.34, 35
O registro sobre mortalidade é uma prática de rotina, tornando as estatísticas de
mortalidade, entre as estatísticas de saúde, as menos dispendiosas e de mais fácil
obtenção em qualquer país. Sendo assim, os coeficientes de mortalidade são,
geralmente, os primeiros indicadores selecionados em todos os países para o
acompanhamento de tendências temporais de causas de morte.36
Ainda neste contexto, cabe ressaltar que, segundo Laurenti e colaboradores37 os
dados brasileiros de mortalidade, do ponto de vista qualitativo, são tão exatos ou
fidedignos quanto aqueles oriundos de qualquer outro país de longa tradição na
elaboração dessas estatísticas, como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Suécia e outros
países europeus.
Nas estatísticas de mortalidade, apenas a causa básica de morte é tabulada,
porém a divulgação desta isoladamente não permite mostrar a real importância de
algumas causas38. Esta restrição é uma das grandes limitações das estatísticas oficiais de
21
mortalidade, pois implica em perda de informações, principalmente quando outros
diagnósticos são mencionados no atestado de óbito.39
O diabetes mellitus é uma importante causa de mortalidade e morbidade nas
populações em processo de envelhecimento. No entanto, é um problema de saúde
pública subestimado, especialmente a partir das estatísticas de mortalidade, visto que,
frequentemente, não é declarado como causa básica da morte e, em uma substancial
proporção de declarações de óbito, nem mesmo como causa associada.40
Estima-se que o diabetes seja subestimado em pelo menos quatro ou cinco vezes
nas estatísticas de mortalidade quando baseadas somente na causa básica da morte, o
que enfatiza a necessidade do monitoramento contínuo de todas as condições
mencionadas na declaração de óbito e, em especial, nas de indivíduos diabéticos.41
Podem existir erros nas estatísticas de mortalidade que levam em conta somente
uma causa além do fato de que, à luz das transições em andamento, questiona-se que
nem sempre uma morte depende de apenas uma causa. Sendo assim, justifica-se a
necessidade de se obter estatísticas de mortalidade por causas múltiplas.
As estatísticas de mortalidade por causas múltiplas são aquelas obtidas pela
classificação de todas as causas — básica e associadas — existentes nos atestados.42
Tendo em vista as múltiplas inter-relações do diabetes com outras doenças, a
simples medida da mortalidade por uma única causa (causa básica), pode não refletir a
magnitude real da mortalidade com DM.43
Sendo assim, os estudos de mortalidade por causas múltiplas podem ser uma
maneira de controlar os erros de acurácia na certificação e codificação da causa básica,
além de uma alternativa para o ajuste da subestimação do DM como causa de morte.
22
2.3. Diferentes abordagens na análise de séries históricas de mortalidade.
A ênfase da maior parte dos estudos epidemiológicos interessados em examinar
variações temporais da ocorrência de doenças, em particular aqueles baseados em dados
de mortalidade, está na observação da evolução das taxas de acordo com o período ou
tempo calendário. Entretanto, a dimensão temporal pode ser ampliada através de
incorporação de outras variáveis destacando-se a idade e a data de nascimento.44
As análises das variações temporais dos registros de adoecimento e morte em
epidemiologia possibilitam avaliações longitudinais dos diversos fatores que as
influenciam, permitindo inferir determinadas associações e auxiliando na compreensão
da etiologia das doenças e na avaliação de políticas de saúde pública.45,46
A frequência de uma doença costuma variar com o tempo. Por sua vez, a época
de nascimento de um indivíduo poderá determinar sua chance de vir a apresentar, ao
longo da vida, um processo patológico, chance esta que poderá ser diferente para as
gerações antecedentes e subsequentes.46
A idade é um forte fator de risco para muitos desfechos de saúde e também é
frequentemente associada com muitas exposições. Assim, mesmo que o efeito da idade
não esteja entre os principais objetivos de um estudo epidemiológico, muitas vezes é
importante avaliar a sua relação com as exposições e desfechos de interesse, levando em
conta os seus potenciais efeitos de confundimento.47
Nas análises de séries históricas o efeito da idade está presente quando a taxa de
adoecimento varia por idade, independentemente da coorte de nascimento e do período.
Na verdade, a maioria das doenças apresenta essa característica, presumivelmente
porque os primeiro anos de vida e o envelhecimento humano refletem em uma
combinação de mudanças biológicas, sociais e psicológicas que influenciam a
suscetibilidade geral ao adoecimento.48 Além disso, determinantes de natureza
ocupacional podem influenciar na ocorrência de efeitos da idade na população adulta.
Os padrões de adoecimento e morte podem ainda ser modificados pelo efeito de
período, que é o conjunto de fenômenos que ocorrem em determinada época e que afeta
a população inteira ou um segmento significativo da mesma.49 No efeito de período, a
mudança na taxa de adoecimento afeta uniformemente todos os grupos etários e coortes
23
de nascimento.46 Qualquer fenômeno que ocorra em um ponto específico no tempo e
que afete toda uma população (ou um segmento significante), como uma guerra, uma
epidemia, um novo tratamento ou uma migração maciça, pode produzir este efeito,
independentemente da idade e coorte de nascimento.48
Por fim, o efeito de coorte se refere a mudanças na mortalidade ou incidência de
uma doença que são compartilhadas pelos membros de uma geração. Coortes de
nascimento diferentes podem apresentar distintos níveis de exposição a um determinado
fator de risco ao longo de suas existências, produzindo assim alterações na incidência da
doença para os indivíduos pertencentes a diferentes gerações.46,49 O efeito de coorte
pode resultar da experiência ou estilo de vida dos indivíduos nascidos em um
determinado ponto do tempo que influencie no aparecimento da doença ou evento de
interesse.48
Cabe enfatizar que a definição de cada efeito pressupõe, sempre, a
independência em relação aos outros dois.
A análise de efeitos tem sido uma ferramenta epidemiológica popular desde
Frost, em seu clássico “estudo de coorte” na mortalidade por tuberculose.50 Com essa
análise, passou a distinguir-se a experiência de morbidade ou mortalidade entre
gerações de nascimento diferentes, permitindo uma mais rigorosa e útil compreensão da
interferência de fenômenos de geração no perfil etário dos indicadores
epidemiológicos.51 Modelos de análise dos efeitos de idade, período e coorte têm sido
extensivamente utilizados na literatura para descrever as variações da ocorrência das
doenças em populações na perspectiva longitudinal, ainda que com algumas limitações.
Como são matematicamente interdependentes (isto é: a idade atual de um
indivíduo = ano calendário atual (período) - ano de nascimento (coorte)), os três efeitos
não podem ser identificados num modelo linear. Devido a esta interdependência, os
valores encontrados não podem, portanto, ser atribuídos a um determinado componente
isolado do modelo de idade, período e coorte.52 No entanto, a utilização de modelos
multivariados é a alternativa disponível para perceber, com clareza, a influência de cada
efeito numa análise longitudinal.
24
Cabe salientar a importância das abordagens descritivas dos dados, por meio de
gráficos e tabelas, visto que podem expor, de início, relações entre os diferentes efeitos
não tão evidentes a partir do uso de modelos de regressão.50.
Em relação a analise de efeitos temporais para o diabetes mellitus, Lin and Lee53
publicaram um estudo sobre as tendências de mortalidade pela doença em Taiwan entre
1960 e 1988. Feltbower et al54 investigaram tendências temporais na incidência de
diabetes tipo I em crianças na Inglaterra e Gilliand et al55, as tendências temporais na
mortalidade por diabetes entre índios americanos e hispânicos no Novo México. No
Brasil, não foram identificados trabalhos publicados a respeito dos efeitos de período,
idade e coorte na mortalidade por DM em uma revisão bibliográfica sobre o tema.
25
2.4. Contextualização tempo-espaço: a cidade do Rio de Janeiro no período
do estudo.
A história recente da cidade do Rio de Janeiro pode ser dividida em três
momentos de diferentes inserções no quadro federativo nacional: Distrito Federal
Republicano (1889-1960), estado da Guanabara (1960-1975) e município do Rio de
Janeiro (de 1975 em diante).56
Em um primeiro momento, o Rio de Janeiro era visto como o elo entre o Brasil e
a civilização européia, tornando-se a vitrine dessa cultura para o resto do país.57
Num segundo momento, após a aprovação pelo Congresso Nacional da
transferência da capital federal para Brasília, o espaço do Rio de Janeiro no país mudou
profundamente. As três propostas que surgiram na época sobre o destino da cidade
apoiavam a criação do (i) território da Guanabara; (ii) estado da Guanabara; ou (iii)
município do Rio de Janeiro, incorporado ao estado do Rio de Janeiro.58
Deixar de ser capital foi o grande desafio que o Rio de Janeiro, considerado
"vitrine” do Brasil, teve que enfrentar. Prevista desde a Constituição de 1891, e
finalmente implantada em 1960, a transferência da capital para Brasília mudava o
vinculo federativo da cidade. Com a mudança da capital federal, tornou-se um estado da
federação58 e, assim, obrigava a cidade a encontrar, ao mesmo tempo, um novo lugar na
federação e uma nova identidade política.59
Em abril de 1960, dois dias antes do encerramento das sessões legislativas na
antiga capital, foi aprovado o substitutivo San Tiago Dantas, prevendo a criação do
novo estado da Guanabara, a indicação de um governador provisório e a realização de
eleições para o governo e a assembleia constituinte estaduais no mês de outubro.60
Esta nova etapa coincidiu com o agravamento do quadro social e sanitário da
cidade. Este quadro trouxe uma nova conformação técnica e política que permitiu a
reformulação do sistema de saúde, que agora buscava integrar as ações de assistência
médica e as de saúde pública.59
Desenvolvido pelo governo Faria Lima, o projeto de fusão do estado da
Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, ocorreria a partir de março de 1975.
Haveria um processo de esvaziamento das funções de capital federal ainda então
26
vigentes na Guanabara, através da transferência dos principais órgãos decisórios para o
novo Distrito Federal, e um investimento na sua estadualização.58
Em 1975, o estado do Rio de Janeiro assumiu as suas feições atuais, quando se
deu a fusão do estado da Guanabara e do antigo estado do Rio de Janeiro. A ex-capital
federal passou a ser a sede administrativa e política do estado fluminense, em
substituição à cidade de Niterói.61
À época, foi criada a Secretaria Municipal da Saúde, assim como a nova
legislação sanitária municipal.59
O fato de o Rio de Janeiro ter sido por muito tempo a capital do país garante até
hoje ao município um peso político expressivo no cenário nacional. O município do Rio
de Janeiro é, tradicionalmente, centro de repercussão política e cenário privilegiado de
campanhas políticas em nível nacional. Essa situação também permitiu a construção de
uma infraestrutura de serviços públicos, somando investimentos na montagem de uma
metrópole de cunho nacional.62
Neste contexto histórico, a partir dos anos 1950, em meio à intensificação do
processo de industrialização e urbanização, passou-se a observar, progressivamente, a
supremacia das doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão arterial, diabetes
mellitus, doenças cardiovasculares e neoplasias, no quadro sanitário do país, com o
município do Rio de Janeiro, em linhas gerais, seguindo a mesma tendência.13
O conceito de “transição epidemiológica” refere-se às modificações, a longo
prazo, dos padrões de morbidade, invalidez e morte que caracterizam uma população
específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações
demográficas, sociais e econômicas63. Caracteriza-se pela evolução progressiva de um
perfil de alta mortalidade por doenças infecciosas para outro, onde predominam os
óbitos por doenças cardiovasculares, neoplasias, causas externas e outras doenças
consideradas crônico-degenerativas64.
No Brasil, em 1930, as doenças infecciosas e parasitárias foram responsáveis por
46% do total de óbitos, enquanto em 1985 elas representavam apenas 7%. Por outro
lado, as doenças do aparelho circulatório representavam 12% em 1930 e chegaram a
33% em 1985. Aumentos ainda mais pronunciados ocorreram com as neoplasias e com
27
as mortes consequentes às causas externas: ambas tiveram um aumento proporcional de
3% para 12% 65.
Em relação às doenças crônicas não transmissíveis, Malta e colaboradores
(2006)66 observaram declínio lento e gradual das taxas de mortalidade por acidente
vascular cerebral (AVC) no Brasil e Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, no período de
1996 a 2003. Já na região Nordeste, observou-se tendência discreta de aumento dessas
taxas. Sobre o infarto agudo do miocárdio, a taxa geral para o país manteve-se estável,
com diminuição nas Regiões Sul e Sudeste e aumento nas Regiões Centro-Oeste e
Nordeste. Para o DM, tema deste trabalho, as taxas de mortalidade encontram-se em
movimento ascendente, em todas as macrorregiões e, por conseguinte, no Brasil.
28
3. Justificativa:
As análises de efeitos de idade, período e coorte têm recebido atenção
considerável na literatura internacional, porém no Brasil, poucos estudos foram feitos
até o momento com essa abordagem, a despeito da existência de dados oficiais de séries
históricas que permitam esse tipo de análise. Em especial, destaca-se o interesse voltado
para a compatibilização das diferentes versões da CID, para que as análises
longitudinais de séries temporais longas sejam possíveis.
O DM tem papel fundamental no processo saúde/doença/óbito da população
brasileira e destaca-se como importante problema de saúde pública. É uma das
enfermidades crônico-degenerativas mais prevalentes, e tem sido apontada como uma
das principais causas de morte no Brasil.39
Verifica- se, porém, a existência de poucos e localizados estudos de tendência
histórica de mortalidade por diabetes mellitus no Brasil, em especial com dados
referentes a períodos anteriores aos disponibilizados pelo Ministério da Saúde, a partir
1979.12, 43 Destaca-se o caso da cidade do Rio de Janeiro, para a qual os dados oficiais
sobre mortalidade disponíveis remontam à segunda metade do século passado.
Resultados de estudos de séries temporais feitos por análises transversais, por
muitas vezes, são confundidos pelos efeitos de coorte, idade e período. Investigar os
efeitos destes três componentes temporais em relação às taxas de mortalidade pode
ampliar as possibilidades de se obter hipóteses que expliquem as tendências
encontradas.
De acordo com a disponibilidade de dados e a relevância para a saúde pública,
os registros sobre mortalidade por diabetes mellitus serão analisados neste trabalho, no
sentido de compreender melhor as tendências da mortalidade pela doença no âmbito das
transições epidemiológica, demográfica e nutricional na cidade do Rio de Janeiro.
Tendo em vista que as variações da qualidade das informações sobre causas de
morte podem interferir nos resultados de estudos sobre mortalidade por causas
específicas, serão também analisadas as variações da mortalidade por causas mal
definidas e sua possível relação com os padrões de mortalidade por DM no MRJ.
29
4. Objetivos
4.1. Objetivo Geral:
Analisar os efeitos de período, idade e coorte nas séries históricas de mortalidade
por diabetes mellitus no município do Rio de Janeiro, segundo sexo, entre 1950 e 2010.
4.2. Objetivos Específicos:
• Descrever as variações das taxas de mortalidade por diabetes mellitus no município
do Rio de Janeiro, segundo sexo e faixa etária, entre 1950 e 2010.
• Analisar os efeitos de período, idade e coorte nas séries históricas de mortalidade
por causas mal definidas, no município do Rio de Janeiro, segundo sexo, entre 1950
e 2010.
30
5. Materiais e métodos: 5.1. Desenho de estudo:
Estudo ecológico de séries temporais onde foram analisadas as variações das
taxas de mortalidade por diabetes mellitus da população residente no município do Rio
de Janeiro, de 1950 a 2010, segundo sexo, faixas etárias, ano de ocorrência do óbito e
coorte de nascimento, para investigar a ocorrência dos efeitos de idade, período e
coorte.
Análises semelhantes foram realizadas a partir das taxas de mortalidade por
causas mal definidas, interpretadas como indicadores da qualidade dos registros de
mortalidade por causas específicas.
5.2. Fontes de dados:
5.2.1. Dados de Mortalidade Para o ano de 1950 foram utilizadas as taxas de mortalidade (por 100.000
habitantes) específicas por idade, sexo e por causa para o triênio 1949, 1950, 1951,
publicadas no Anuário Estatístico do Brasil de 195667 . A partir das taxas de mortalidade
calculou-se a média anual de óbitos em cada faixa, segundo sexo, para o triênio, de
acordo com a expressão: (Coeficiente de mortalidade por diabetes no triênio
1949/1950/1951, segundo faixa etária e sexo) X (População em 1950 segundo faixa
etária e sexo/ 100.000 habitantes).
Para os anos de 1960 e 1970, os dados foram obtidos a partir da revisão de
estatísticas vitais publicadas pela Secretaria de Estado de Saúde do RJ, referentes ao
Estado da Guanabara, agregadas nas listas tabulares B de cada revisão da CID então
vigente, respectivamente, a 7a e a 8a revisões.
Para 1980, 1990, 2000 e 2010, os dados foram obtidos junto ao SIM, disponíveis
na página do DATASUS na internet através do endereço eletrônico
www.datasus.gov.br/tabnet.
31
Foram utilizados os registros de óbitos dos triênios cujos anos centrais
correspondem aos anos censitários (exceto 1991) e a 1990, obtendo-se assim o número
médio de óbitos para cada um dos anos citados.
Nos períodos de 1950 a 1957, 1958 a 1967, 1968 a 1978, 1979 a 1995 e de 1996
a 2010, os óbitos de residentes no MRJ foram classificados com relação à causa básica
da morte de acordo com a 6ª, 7ª, 8ª, 9ª e 10ª revisões da CID, respectivamente.
A análise foi baseada nos códigos das listas tabulares referentes à diabetes
mellitus e às causas mal definidas, de acordo com as revisões da CID utilizadas em cada
ano selecionado, conforme os quadros 1 e 2.
Quadro 1. Localização do Diabetes Mellitus em listas tabulares das revisões da Classificação Internacional de Doenças, 1950 a 2010
Ano de referência
Período CID Agravo Lista tabular Agrupamento Categorias
1950 1950 a 1957 6 Diabetes mellitus B B20 260
1960 1958 a 1967 7 Diabetes mellitus B B20 260
1970 1968 a 1978 8 Diabetes mellitus B B21 250
1980 1979 a 1995
9 Diabetes mellitus Lista tabular básica 181 250
1990 9 Diabetes mellitus Lista tabular básica 181 250
2000 1996 a 2010
10 Diabetes mellitus Lista de tabulação
de mortalidade no 2 2-046 E10-E14
2010 10 Diabetes mellitus Lista de tabulação
de mortalidade no 2 2-046 E10-E14
32
Quadro 2 - Localização das Causas Mal Definidas em listas tabulares das revisões da Classificação Internacional de Doenças, 1950 a 2010
Ano de referência
Período CID Agravo Lista tabular Agrupamento Categorias
1950 1950 a 1957
6 Senilidade sem menção de
psicose, causas mal definidas e desconhecidas
B B45 780-795
1960 1958 a 1967
7 Senilidade sem menção de
psicose, causas mal definidas e desconhecidas
B B45 780-795
1970 1968 a 1978
8 Sintomas e estados mórbidos mal
definidos B B45 780-796
1980 1979 a 1995
9 Sintomas, sinais e afecções mal
definidas Lista tabular básica 46 780-799
1990 9 Sintomas, sinais e afecções mal
definidas Lista tabular básica 46 780-799
2000
1996 a 2010
10
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em
outra parte
Lista de tabulação de mortalidade no 2
2-071 R00-R99
2010 10
Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em
outra parte
Lista de tabulação de mortalidade no 2
2-071 R00-R99
5.2.2. Dados de População
Os dados da população residente do MRJ, segundo sexo e faixa etária, são os
referentes aos anos centrais de cada triênio definido para a estimativa dos óbitos por
DM e CMD.
Estes dados foram obtidos a partir dos censos demográficos a cargo da Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística68, 69, 70, 71, 72, 73, com exceção de 199074,
para o qual foram utilizadas estimativas populacionais intercensitárias oficiais.
33
5.3. Métodos
5.3.1. Coeficientes de Mortalidade A princípio foi desenvolvida uma análise exploratória, na qual foram
analisados os coeficientes de mortalidade por DM e CMD, brutos e padronizados,
segundo sexo.75
Os coeficientes padronizados foram calculados através do método direto,
utilizando-se como população padrão a população residente do município do Rio de
Janeiro no ano de 2010. A padronização dos coeficientes, nesse caso, permite fazer
comparações entre momentos da série histórica com estruturas etárias diferentes.
Os coeficientes de mortalidade por faixa etária (30 a 39 anos, 40 a 49 anos, 50 a
59 anos, 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e 80 e mais anos) e sexo (masculino e feminino)
foram expressos por 100.000 habitantes e calculados para cada ano censitário e 1990.
Para todos os coeficientes citados, no numerador foi computada a média anual
do número de óbitos de residentes do município do Rio de Janeiro referentes a cada
triênio e o denominador foi composto pela população anual correspondente aos anos
centrais de cada triênio (anos censitários e 1990).76
Para o ano de 1970, o número de óbitos por faixas etárias foi ajustado, visto que
os dados oficiais estão agregados de maneira distinta aos dos outros anos, ou seja, com
limites inferiores começando em idades terminadas em cinco (15 a 24 anos, 25 a 34
anos etc.). Assumindo que a distribuição dos óbitos é homogênea dentro de cada grupo
etário, o número de óbitos de cada faixa etária original foi dividido por dois e
redistribuído pelas faixas etárias para as quais os dados dos outros períodos estudados
estão disponíveis.
As variáveis estudadas foram: Idade (em grupos de 10 anos a partir de 30 anos e
até maiores de 80 anos), período (por década, a partir de 1950 até 2010), e coorte
(coortes de nascimento na década de 1860 até a década de 1970), conforme disposto no
quadro 3
34
Quadro 3 – Distribuição dos dados utilizados segundo coortes, faixas etárias e períodos correspondentes.
Período *** Coorte 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 1860-1869
80 e mais*
1870-1879 70-79** 80 e mais 1880-1889 60-69 70-79 80 e mais 1890-1899 50-59 60-69 70-79 80 e mais 1900-1909 40-49 50-59 60-69 70-79 80 e mais 1910-1919 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80 e mais 1920-1929 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80 e mais
1930-1939 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79
1940-1949 30-39 40-49 50-59 60-69
1950-1959 30-39 40-49 50-59
1960-1969 30-39 40-49
1970-1979 30-39
* Para fins de análise e tendo em vista a distribuição dos óbitos por faixas etárias, considerou-se como pertencentes
à coorte de nascidos entre 1860 e 1869 todos os óbitos com 80 anos e mais ocorridos em 1950, à coorte de nascidos
entre 1870 e 1879 todos os óbitos com 80 anos e mais ocorridos em 1960 e assim sucessivamente.
**Os valores dispostos no interior do quadro expressam faixas etárias em unidades de anos.
*** Anos centrais dos períodos.
5.3.2. Análises dos efeitos
A ocorrência dos efeitos de período, coorte e idade foi investigada em duas
etapas. Inicialmente, através de procedimentos de análise exploratória dos dados, por
35
meio da inspeção das taxas de mortalidade por DM e causas mal definidas dispostas em
tabelas e gráficos.
O segundo passo foi estimar os efeitos através de procedimentos de modelagem.
Foi utilizado o modelo proposto por Yang et al em 200477 que estima os efeitos da
idade, do período e de coorte, de maneira independente a partir do uso do estimador
intrínseco.
Na modelagem, tem-se como variável dependente a média do número de óbitos
por DM e CMD. As variáveis independentes são: os grupos de idade, período e coorte
de nascimento, que foram incluídos nos modelos como variáveis dummy.
É pressuposto do modelo que se utilize as últimas categorias das variáveis
dummy como referência, neste caso, a faixa etária de 80 ou mais anos para idade, o ano
de 2010 para período e a coorte de 1970 a 1979. O logaritmo da população foi utilizado
como offset na modelagem.
As análises foram realizadas utilizando o comando ie_rate do software Stata
(versão 12), que tem a função de conduzir a análise dos modelos de idade, período e
coorte para os dados de taxas utilizando o estimador intrínseco.
O comando ie_rate calcula os coeficientes de uma análise de idade-período-
coorte caracterizada por uma matriz que não é completa, devido à dependência linear
perfeita entre as três dimensões.
O estimador intrínseco é um método para estimar o modelo de idade período e
coorte, imponto pressupostos mínimos e sem exigir a estrita dependência linear. Yang et
al mostraram ainda que o IE possui propriedades estatísticas desejáveis. 79
Para facilitar a análise e a comparação por sexo e causa dos efeitos presentes,
optou-se por apresentar graficamente os resultados dos modelos, transformando os
coeficientes em razão de taxas (RT), utilizando o antilog do coeficiente.
Os gráficos são apresentados representando as razões de taxas e os limites
superior e inferior dos respectivos intervalos de 95% de confiança. Para apresentação
dos resultados, foram utilizados pontos médios para representar os intervalos das
coortes e das faixas de idades. Os anos censitários e o ano de 1990 foram utilizados para
representar os intervalos dos períodos.
36
Foram considerados estatisticamente significativos os resultados com nível
descritivo (valor de p) inferior a 0,05.
Utilizou-se o pacote estatístico Stata versão12® no processamento e análise
dos dados.
5.4. Aspectos éticos
Os dados utilizados neste estudo são provenientes de base de dados
secundários, não havendo, portanto, a possibilidade de identificação dos
indivíduos. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob
número do parecer 464.991 (Anexo I).
37
6. Resultados
6.1. Diabetes Mellitus
As taxas padronizadas de mortalidade por DM sofreram um aumento de 11,4
óbitos por 100 mil habitantes em 1950 para 41,6 óbitos por 100 mil habitantes em 2010
em homens e de 22,2 por 100 mil habitantes para 46,2 por 100 mil habitantes em
mulheres, o que configura um incremento de 3,6 e 2,1 vezes na mortalidade por DM
para o sexo masculino e feminino, respectivamente, no período estudado.
Entretanto, como este aumento não foi uniforme, observa-se um ápice destas
taxas entre os anos de 1960 e 1980. A partir de 1980, para os homens, as taxas
continuam a aumentar, mesmo que numa menor intensidade e para as mulheres estas
diminuem. Tais flutuações não são observadas na distribuição das taxas brutas (Gráficos
1 e 2).
Gráfico 1. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes), brutas e padronizadas, sexo masculino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010, para a população padrão de 2010.
Gráfico 2. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes), brutas e padronizadas, sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010, para a população padrão de 2010.
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
0
10
20
30
40
50
60
Bruta Padronizada
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
0
10
20
30
40
50
60
Bruta Padronizada
38
Em todas as coortes de nascimento, exceto as extremas e a de 1875, a magnitude
da mortalidade por diabetes mellitus aumenta com o avanço da idade, em ambos os
sexos de forma semelhante. (Tabela 1)
A análise exploratória de dados para observação do efeito da idade na
mortalidade por DM mostra tendência crescente das taxas com o aumento da idade para
todas as coortes analisadas. Os gráfico 3 e 4 apresentam as taxas de mortalidade para
DM das coortes de nascimento representadas pelas curvas, que têm, em cada ponto, sua
faixa etária correspondente no ano do óbito. Nesse sentido, percebe-se maiores taxas nas
idades mais avançadas para todas as coortes. Esta tendência é observada de forma
homogênea para ambos os sexos.
Tabela 1. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes) por coorte de nascimento e período do óbito, segundo sexo, município do Rio de Janeiro, 1950 a 2010.
**Período/sexo
Coorte de nascimento*
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
M F M F M F M F M F M F M F 1865 169,3 156,5
1875 92,4 121,5 77,8 107,8
1885 49,7 69,8 83,4 94,4 212,6 187,1
1895 15,7 25,3 45,9 49,2 178,1 183,3 496,4 516,2
1905 3,1 11,1 17,7 22,7 82,9 91,6 286,3 344,6 443,7 520,1
1915 1,6 2,8 8,2 6,8 33,7 37,8 148,8 154,1 300,3 286,0 478,3 510,3
1925 2,4 1,8 11,8 12,8 54,8 49,7 157,8 126,3 310,3 262,4 550,0 497,5
1935 5,0 5,0 15,8 12,9 55,8 47,9 169,7 125,3 320,4 253,1
1945 4,7 4,0 18,7 13,4 63,4 48,2 156,1 103,2
1955 6,9 3,9 20,0 12,5 57,9 39,4
1965 5,9 3,6 15,6 13,8
1975 4,6 3,3
* Anos centrais das coortes
** Anos centrais dos períodos
39
Gráfico 3. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento, sexo masculino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
Gráfico 4. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento, sexo feminino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
0
100
200
300
400
500
600
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
TM
Ano do óbito
1865
1875
1885
1895
1905
1915
1925
1935
1945
1955
1965
1975
0
100
200
300
400
500
600
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
TM
Ano do óbito
1865
1875
1885
1895
1905
1915
1925
1935
1945
1955
1965
1975
40
O efeito de período pode ser observado em dois momentos. O primeiro, na
mudança da tendência de queda para a tendência de aumento no período entre 1960 e
1970 e o segundo, na desaceleração do aumento das taxas de mortalidade por DM a
partir de 1980, com tendência a estabilidade a partir de então (gráficos 5 e 6).
Tabela 2. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes) por faixa etária e coorte de nascimento, segundo sexo, município do Rio de Janeiro, 1950 a 2010.
**Faixa Etária/Sexo
Coorte de Nascimento*
35 45 55 65 75 85 M F M F M F M F M F M F
1865 164,0 146,7
1875 92,4 121,5 77,8 107,8
1885 49,7 69,8 83,4 94,4 212,6 187,1
1895 15,7 25,3 45,9 49,2 178,1 183,3 496,4 516,2
1905 3,1 11,1 17,7 22,7 82,9 91,6 286,3 344,6 443,7 520,1
1915 1,6 2,8 8,2 6,8 33,7 37,8 148,8 154,1 300,3 286,0 478,3 510,3
1925 2,4 1,8 11,8 12,8 54,8 49,7 157,8 126,3 310,3 262,4 550,0 497,5
1935 5,0 5,0 15,8 12,9 55,8 47,9 169,7 125,3 320,4 253,1
1945 4,7 4,0 18,7 13,4 63,4 48,2 156,1 103,2
1955 6,9 3,9 20,0 12,5 57,9 39,4
1965 5,9 3,6 15,6 13,8
1975 4,6 3,3 * Anos centrais das coortes
** Anos centrais das faixas etárias
41
Gráfico 5. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo coorte de nascimento e faixa etária, sexo masculino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
Gráfico 6. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo coorte de nascimento e faixa etária, sexo feminino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
0
100
200
300
400
500
600
1865 1875 1885 1895 1905 1915 1925 1935 1945 1955 1965 1975
TM
Coorte de Nascimento
35
45
55
65
75
85
0
100
200
300
400
500
600
1865 1875 1885 1895 1905 1915 1925 1935 1945 1955 1965 1975
TM
Coorte de Nascimento
35
45
55
65
75
85
42
Sobre o efeito de coorte, cada curva dos gráficos representa uma das faixas
etárias estudadas e cada ponto dela mostra o período do óbito de referência.
Os resultados da análise exploratória para analisar o efeito de coorte na
mortalidade por DM através de gráficos são apresentados em escala logarítmica, visto
que as taxas para as faixas etárias mais novas são muito baixas em comparação as faixas
etárias mais velhas.
Observa-se que as curvas das faixas etárias têm comportamentos bem
semelhantes e parecem não formar uma tendência, o que faz pensar na possiblidade de
um efeito de coorte mais discreto para a mortalidade por DM para ambos os sexos.
(gráficos 7 e 8)
A análise das taxas de mortalidade mostra que elas não sofrem variações
expressivas ao longo do tempo, salvo para as faixas etárias mais avançadas (70-79 anos
e 80 anos ou mais) das coortes mais recentes do sexo feminino, que aumentaram,
respectivamente, 1,9 e 2,8 vezes em relação . (tabela 3)
Tabela 3. Taxas de mortalidade por diabetes mellitus (por 100.000 habitantes) por período do óbito e faixa etária, segundo sexo, município do Rio de Janeiro, 1950 a 2010.
**Faixa Etária/sexo
Período* 35 45 55 65 75 85
M F M F M F M F M F M F
1950 1,6 2,8 3,1 11,1 15,7 25,3 49,7 69,8 92,4 121,5 164,0 146,7
1960 2,4 1,8 8,2 6,8 17,7 22,7 45,9 49,2 83,4 94,4 77,8 107,8
1970 5,0 5,0 11,8 12,8 33,7 37,8 82,9 91,6 178,1 183,3 212,6 187,1
1980 4,7 4,0 15,8 12,9 54,8 49,7 148,8 154,1 286,3 344,6 496,4 516,2
1990 6,9 3,9 18,7 13,4 55,8 47,9 157,8 126,3 300,3 286,0 443,7 520,1
2000 5,9 3,6 20,0 12,5 63,4 48,2 169,7 125,3 310,3 262,4 478,3 510,3
2010 4,6 3,3 15,6 13,8 57,9 39,4 156,1 103,2 320,4 253,1 550,0 497,5 * Anos centrais dos períodos
** Anos centrais das faixas etárias
43
Gráfico 7. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo ano de ocorrência do óbito e faixa etária, sexo masculino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
Gráfico 8. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por diabetes mellitus segundo ano de ocorrência do óbito e faixa etária, sexo feminino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
Trabalhos recentes têm demonstrado a necessidade de se considerar as três
dimensões temporais nas análises que estimam as tendências de morbimortalidade de
uma dada população. Nesse sentido, é possível observar as variações da mortalidade por
diabetes de acordo com as coortes de nascimento, os anos de ocorrência dos óbitos e as
faixas etárias.
1
10
100
1000
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
TM
Ano do óbito
35
45
55
65
75
85
1
10
100
1000
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
TM
Ano do óbito
35
45
55
65
75
85
44
Os resultados da modelagem, em sua maioria, concordam com os padrões
observados na análise exploratória dos dados e, além disso, oferecem leituras adicionais
para se entender as mudanças dos padrões de mortalidade por diabetes mellitus.
(Quadros 4 e 5)
No que respeito à idade, este efeito é claramente observado, corroborando os
achados da analise exploratória. A razão de taxas aumenta progressivamente ao longo
das faixas etárias e a partir dos 60 anos aumenta cerca de 3 vezes, passando de 0,79 para
2 nos homens e de 0,8 para 1,9 nas mulheres. (Gráfico 9)
Sobre o efeito de período, para os homens, entre 1960 e 1979, as razões de taxas
aumentam subitamente, e essa velocidade diminui a partir de 1980, mesmo que a
tendência ainda seja de excesso de risco até o último período analisado. A partir do
período de 1970 a 1979, as razões de taxas atingem valores maiores que 1, expressando
o risco aumentado de óbito por DM. (Quadro 4)
A tendência do efeito de período para as mulheres também é de aumento, no
entanto, entre o primeiro e segundo decênio analisados, ocorre uma diminuição na RT,
que se reverte a partir de 1970. Uma estabilização acontece entre 1980 e 1989, que
implica numa desaceleração do aumento da RT a partir de então. A razão cruza o valor 1
no período de 1980 e 1989 e continua a aumentar desde então, implicando num maior
risco de morte por DM a partir desse período. Para todos os períodos, as RT apresentam
significância estatística. (Quadro 5)
O mesmo efeito pode ser observado no gráfico a partir do modelo. Na década de
1980 ocorre uma mudança repentina na tendência da curva, quando esta deixa de ser
ascendente e passa a se aproximar da estabilidade. Para as mulheres, ocorre uma
inflexão discreta seguida de aumento menos intenso, enquanto que para os homens,
acontece uma inflexão com redução da intensidade de aumento. (Gráfico 10)
Sobre o efeito de coorte na mortalidade por DM em homens, os resultados das
razões de taxas giram em torno de 1, indicando uma possível inexistência ou discreta
magnitude, indo ao encontro dos resultados da analise exploratória de dados. Junto a
isso, o conjunto dos dados se mostra sem significância estatística, com p valor> 0,05 e
com intervalo de confiança incluindo o valor 1. (Quadro 4)
45
Já para as mulheres, consegue-se observar um efeito de coorte com mais
facilidade através do modelo, com resultados estatisticamente significantes. (quadro 5)
Ocorre um aumento do risco de morte por DM até a coorte de 1895 a 1905. A
partir daí o risco diminui progressivamente, até chegar a valores inferiores a 1 nas
gerações nascidas entre 1930 e 1960. Observa-se um incremento da razão de taxas da
coorte nascida entre 1960 e 1970 para a coorte nascida entre 1970 e 1980, quando o
risco atinge a RT=1,42. (Gráfico 11), salientando um efeito de coorte “flutuante” entre
as gerações.
Quadro 4. Resultados do modelo idade-período-coorte para a mortalidade por DM, sexo masculino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010. Variável Razão de taxas P>|z| IC (95%)
Idade 35 0,095 0,000 0,078 0,116
Idade 45 0,263 0,000 0,230 0,301
Idade 55 0,792 0,000 0,726 0,864
Idade 65 2,088 0,000 1,940 2,248
Idade 75 3,921 0,000 3,557 4,323
Idade 85 6,144 0,000 5,342 7,066
Ano 1950 0,405 0,000 0,317 0,516
Ano 1960 0,448 0,000 0,364 0,552
Ano 1970 0,846 0,019 0,736 0,973
Ano 1980 1,443 0,000 1,308 1,592
Ano 1990 1,544 0,000 1,407 1,695
Ano 2000 1,685 0,000 1,506 1,885
Ano 2010 1,736 0,000 1,498 2,012
Coorte 1865 1,133 0,774 0,483 2,654
Coorte 1875 0,934 0,795 0,559 1,562
Coorte 1885 1,085 0,632 0,777 1,517
Coorte 1895 1,099 0,395 0,884 1,366
Coorte 1905 1,118 0,204 0,941 1,328
Coorte 1915 1,120 0,089 0,983 1,277
Coorte 1925 1,077 0,204 0,960 1,208
Coorte 1935 1,009 0,890 0,892 1,141
Coorte 1945 0,986 0,861 0,844 1,153
Coorte 1955 0,793 0,048 0,631 0,998
46
Coorte 1965 0,614 0,012 0,420 0,897
Coorte 1975 1,213 0,158 0,928 1,586
_cons 0,000 0,000 0,000 0,000
Quadro 5. Resultados do modelo idade-período-coorte para a mortalidade por DM, sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010. Variável Razão de taxas P>|z| IC (95%)
Idade 35 0,092 0,000 0,076 0,110
Idade 45 0,275 0,000 0,243 0,311
Idade 55 0,829 0,000 0,761 0,903
Idade 65 1,955 0,000 1,825 2,094
Idade 75 3,851 0,000 3,582 4,140
Idade 85 6,350 0,000 5,785 6,969
Ano 1950 0,657 0,000 0,555 0,778
Ano 1960 0,449 0,000 0,381 0,530
Ano 1970 0,793 0,000 0,710 0,886
Ano 1980 1,372 0,000 1,269 1,484
Ano 1990 1,339 0,000 1,242 1,443
Ano 2000 1,475 0,000 1,356 1,604
Ano 2010 1,575 0,000 1,420 1,747
Coorte 1865 0,812 0,391 0,505 1,306
Coorte 1875 1,085 0,590 0,805 1,463
Coorte 1885 1,137 0,248 0,915 1,412
Coorte 1895 1,536 0,000 1,338 1,764
Coorte 1905 1,368 0,000 1,217 1,538
Coorte 1915 1,180 0,001 1,067 1,305
Coorte 1925 1,041 0,467 0,934 1,161
Coorte 1935 0,867 0,033 0,761 0,989
Coorte 1945 0,747 0,001 0,633 0,881
Coorte 1955 0,753 0,014 0,600 0,944
Coorte 1965 0,558 0,004 0,375 0,828
Coorte 1975 1,423 0,000 1,200 1,686
_cons 0,000 0,000 0,000 0,000
47
Gráfico 9. Razões de taxas estimadas para o efeito da idade na mortalidade por DM a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
Gráfico 10. Razões de taxas estimadas para o efeito de período na mortalidade por DM a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
02
46
8
Razão d
e taxas
35 45 55 65 75 85
Faixa etária
Intervalo de confiança Razão de taxas
02
46
8
35 45 55 65 75 85
Faixa etária
Intervalo de Confiança Razão de taxas
.51
1.5
2
Razão d
e taxas
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano do óbito
Intervalo de confiança Razão de taxas
.51
1.5
2
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano do óbito
Intervalo de Confiança Razão de taxas
48
Gráfico 11. Razões de taxas estimadas para o efeito de coorte na mortalidade por DM a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
01
23
Razão d
e taxas
186518751885189519051915192519351945195519651975
Coorte de nascimento
Intervalo de confiança Razão de taxas
01
23
186518751885189519051915192519351945195519651975
Coorte de nascimento
Intervalo de confiança Razão de taxas
49
6.2. Causas Mal Definidas
Em relação às taxas de mortalidade por causas mal definidas, observa-se uma
tendência irregular, que acontece de forma semelhante nas taxas brutas e padronizadas.
Entre 1950 e 1960, as taxas diminuem e tendem a se estabilizar até 1980, quando ocorre
um aumento gradual. As taxas apresentam um pico entre 1990 e 2000, com declínio
abrupto a partir de então (Gráficos 12 e 13).
Gráfico 12. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes), brutas e padronizadas, sexo masculino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010, para a população padrão de 2010.
Gráfico 13. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes), brutas e padronizadas, sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010, para a população padrão de 2010.
Em consonância com o DM, as taxas de mortalidade por CMD aumentam com a
idade e diminuem com o avanço das coortes, o que pode significar uma melhora na
qualidade dos dados ao longo do tempo. (tabela 4)
Cabe salientar as taxas de mortalidade por CMD muito maiores que as taxas por
diabetes nas coortes mais antigas. Com esse movimento de aumento da mortalidade por
DM e diminuição da mortalidade por CMD, as taxas se assemelham nas coortes mais
recentes.
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
0
20
40
60
80
100
120
Bruta Padronizada
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
0
20
40
60
80
100
120
Bruta Padronizada
50
Observa-se a presença do efeito positivo da idade para ambos os sexos, visto que
as curvas são ascendentes para todos os anos, sendo mais evidente nas faixas etárias
mais avançadas e nos anos mais recentes (Gráficos 14 e 15).
Tabela 4. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes) por coorte de nascimento e período do óbito, segundo sexo, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
**Período/ Sexo
Coorte de Nascimento*
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
M F M F M F M F M F M F M F
1865 1007,0 980,5
1875 168,0 130,8 530,7 669,0
1885 67,3 24,3 130,3 88,6 256,4 301,2
1895 34,1 13,2 55,9 33,2 121,0 144,7 213,1 183,5
1905 28,3 7,9 31,4 20,0 39,9 23,7 75,9 48,7 466,9 530,6
1915 19,6 9,8 28,8 11,9 30,9 13,1 51,9 21,8 224,7 168,8 1172,3 1025,5
1925 15,9 7,7 28,8 12,7 36,2 11,5 131,5 74,0 586,1 385,8 554,9 572,1
1935 21,7 13,7 29,6 14,7 87,4 40,7 365,4 195,2 241,7 157,9
1945 19,5 12,0 47,6 21,6 190,1 98,6 131,3 68,1
1955 33,1 15,4 89,6 45,4 82,5 38,4
1965 40,5 21,2 43,9 15,4
1975 22,3 7,4
* Anos centrais das coortes
** Anos centrais dos períodos
51
Gráfico 14. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas segundo ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento, sexo masculino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
Gráfico 15. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas segundo ano de ocorrência do óbito e coorte de nascimento, sexo feminino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
Pode-se observar um efeito de período na série histórica da mortalidade por
CMD para ambos os sexos, na mudança da tendência entre 1990 e 2000, com um
aumento abrupto das taxas de mortalidade para todas as faixas etárias (Gráficos 16 e 17)
0
200
400
600
800
1000
1200
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
TM
Ano do óbito
186518751885189519051915192519351945195519651975
0
200
400
600
800
1000
1200
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
TM
Ano do óbito
1865
1875
1885
1895
1905
1915
1925
1935
1945
1955
1965
1975
52
Tabela 5. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes) por faixa etária e coorte de nascimento, segundo sexo, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
**Faixa etária/ Sexo Coorte de
Nascimento* 35 45 55 65 75 85
M F M F M F M F M F M F 1865 984,0 962,5
1875 168,0 130,8 530,7 669,0
1885 67,3 24,3 130,3 88,6 256,4 301,2
1895 34,1 13,2 55,9 33,2 121,0 144,7 213,1 183,5
1905 28,3 7,9 31,4 20,0 39,9 23,7 75,9 48,7 466,9 530,6
1915 19,6 9,8 28,8 11,9 30,9 13,1 51,9 21,8 224,7 168,8 1172,3 1025,5
1925 15,9 7,7 28,8 12,7 36,2 11,5 131,5 74,0 586,1 385,8 554,9 572,1
1935 21,7 13,7 29,6 14,7 87,4 40,7 365,4 195,2 241,7 157,9
1945 19,5 12,0 47,6 21,6 190,1 98,6 131,3 68,1
1955 33,1 15,4 89,6 45,4 82,5 38,4
1965 40,5 21,2 43,9 15,4
1975 22,3 7,4
* Anos centrais das coortes
** Anos centrais das faixas etárias
Gráfico 16. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas segundo coorte de nascimento e faixa etária, sexo masculino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
0
200
400
600
800
1000
1200
1865 1875 1885 1895 1905 1915 1925 1935 1945 1955 1965 1975
TM
Coorte de Nascimento
35
45
55
65
75
85
53
Gráfico 17. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas segundo coorte de nascimento e faixa etária, sexo feminino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
Na análise exploratória, o efeito de coorte na mortalidade por causas mal
definidas pode ser observado na tendência decrescente para as coortes mais recentes,
sugerindo uma melhora na qualidade dos dados de mortalidade (Gráficos 18 e 19).
Tabela 6. Taxas de mortalidade por causas mal definidas (por 100.000 habitantes) por período do óbito e faixa etária, segundo sexo, município do Rio de Janeiro, 1950-2010. **Faixa etária/ Sexo
Período* 35 45 55 65 75 85
M F M F M F M F M F M F
1950 19,6 9,8 28,3 7,9 34,1 13,2 67,3 24,3 168,0 130,8 984,0 962,5
1960 15,9 7,7 28,8 11,9 31,4 20,0 55,9 33,2 130,3 88,6 530,7 669,0
1970 21,7 13,7 28,8 12,7 30,9 13,1 39,9 23,7 121,0 144,7 256,4 301,2
1980 19,5 12,0 29,6 14,7 36,2 11,5 51,9 21,8 75,9 48,7 213,1 183,5
1990 33,1 15,4 47,6 21,6 87,4 40,7 131,5 74,0 224,7 168,8 466,9 530,6
2000 40,5 21,2 89,6 45,4 190,1 98,6 365,4 195,2 586,1 385,8 1172,3 1025,5
2010 22,3 7,4 43,9 15,4 82,5 38,4 131,3 68,1 241,7 157,9 554,9 572,1 * Anos centrais dos períodos
** Anos centrais das faixas etárias
0
200
400
600
800
1000
1200
1865 1875 1885 1895 1905 1915 1925 1935 1945 1955 1965 1975
TM
Coorte de Nascimento
35
45
55
65
75
85
54
Gráfico 18. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas segundo ano de ocorrência do óbito e faixa etária, sexo masculino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
Gráfico 19. Taxas de mortalidade (por 100.000 habitantes) por causas mal definidas segundo ano de ocorrência do óbito e faixa etária, sexo feminino, Município do Rio de Janeiro, RJ, 1950-2010.
A partir da modelagem, o efeito de idade é claramente observado com tendência
positiva e um aumento progressivo, atingindo uma RT>1 a partir dos 60 anos para
ambos os sexos. (gráfico 20) Na faixa de 80 anos ou mais ocorre um aumento
1
10
100
1000
10000
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
TM
Ano do óbito
35
45
55
65
75
85
1
10
100
1000
10000
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
TM
Ano do óbito
35
45
55
65
75
85
55
vertiginoso da razão de taxas, de 2,5 vezes para homens e de 3,8 vezes para mulheres
(Quadro 6 e 7).
Sobre o efeito de período, assim como observado na análise exploratória, existe
um aumento importante das razões de taxas de óbitos por causas mal definidas em torno
dos anos 2000, quando a RT passa a ser maior que 1 (Gráfico 21).
A instabilidade observada na análise exploratória das taxas de mortalidade por
CMD através das gerações, é vista também no resultado do modelo para o efeito de
coorte, que mostra uma tendência oscilante durante o período estudado (Gráfico 22).
Para ambos os sexos, a tendência da razão de taxas é a mesma através das
coortes. A razão de taxas sofre uma queda importante até atingir valores inferiores a 1 a
partir da coorte de 1880. Entre 1900 e 1909, inicia-se um incremento na RT, que
ultrapassa o valor 1 entre 1920 e 1929, tendendo a diminuir na geração seguinte. Para as
coortes mais recentes, observa-se uma tendência de diminuição das razões de taxas nos
homens e mulheres nascidos após 1950.
Quadro 6. Resultados do modelo idade-período-coorte para a mortalidade por CMD, sexo masculino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
Variável Razão de taxas P>|z| IC (95%)
Idade 35 0,244 0,000 0,224 0,267
Idade 45 0,407 0,000 0,379 0,437
Idade 55 0,687 0,000 0,646 0,730
Idade 65 1,177 0,000 1,109 1,250
Idade 75 2,228 0,000 2,085 2,381
Idade 85 5,578 0,000 5,151 6,040
Ano 1950 0,893 0,089 0,784 1,017
Ano 1960 0,784 0,000 0,691 0,889
Ano 1970 0,686 0,000 0,614 0,768
Ano 1980 0,603 0,000 0,546 0,666
Ano 1990 1,208 0,000 1,128 1,294
Ano 2000 2,589 0,000 2,442 2,744
Ano 2010 1,104 0,009 1,025 1,189
Coorte 1865 2,104 0,000 1,521 2,911
Coorte 1875 1,105 0,453 0,852 1,433
Coorte 1885 0,742 0,006 0,600 0,918
56
Coorte 1895 0,693 0,000 0,601 0,798
Coorte 1905 0,894 0,029 0,808 0,988
Coorte 1915 1,062 0,144 0,980 1,151
Coorte 1925 1,248 0,000 1,156 1,347
Coorte 1935 1,165 0,000 1,076 1,261
Coorte 1945 1,078 0,087 0,989 1,174
Coorte 1955 0,861 0,007 0,772 0,960
Coorte 1965 0,915 0,310 0,770 1,086
Coorte 1975 0,714 0,000 0,594 0,858
_cons 0,001 0,000 0,001 0,001
Quadro 7. Resultados do modelo idade-período-coorte para a mortalidade por CMD, sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
Variável Razão de taxas P>|z| IC (95%)
Idade 35 0,205 0,000 0,184 0,228
Idade 45 0,286 0,000 0,261 0,314
Idade 55 0,532 0,000 0,492 0,575
Idade 65 1,073 0,051 1,000 1,151
Idade 75 2,824 0,000 2,642 3,019
Idade 85 10,579 0,000 9,857 11,355
Ano 1950 0,728 0,000 0,613 0,863
Ano 1960 0,892 0,112 0,775 1,027
Ano 1970 0,892 0,072 0,787 1,010
Ano 1980 0,535 0,000 0,473 0,605
Ano 1990 1,302 0,000 1,203 1,409
Ano 2000 2,553 0,000 2,402 2,713
Ano 2010 0,971 0,417 0,905 1,042
Coorte 1865 2,391 0,000 1,897 3,013
Coorte 1875 1,297 0,006 1,078 1,560
Coorte 1885 0,615 0,000 0,510 0,743
Coorte 1895 0,690 0,000 0,606 0,785
Coorte 1905 0,752 0,000 0,684 0,826
Coorte 1915 1,025 0,544 0,947 1,110
Coorte 1925 1,255 0,000 1,145 1,376
Coorte 1935 1,331 0,000 1,197 1,480
Coorte 1945 1,246 0,000 1,108 1,401
Coorte 1955 0,868 0,069 0,745 1,011
57
Coorte 1965 0,702 0,008 0,542 0,910
Coorte 1975 0,779 0,003 0,659 0,920
_cons 0,001 0,000 0,000 0,001
Gráfico 20. Razões de taxas estimadas para o efeito da idade na mortalidade por CMD a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
02
46
810
12
Razão d
e taxas
35 45 55 65 75 85
Faixa etária
Intervalo de confiança Razão de taxas
02
46
810
12
35 45 55 65 75 85
Faixa etária
Intervalo de confiança Razão de taxas
01
23
Razão d
e taxas
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano do óbito
Intervalo de confiança Razão de taxas
01
23
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano do óbito
Intervalo de confiança Razão de taxas
58
Gráfico 21. Razões de taxas estimadas para o efeito de período na mortalidade por CMD a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
Gráfico 22. Razões de taxas estimadas para o efeito de coorte na mortalidade por CMD a partir do estimador intrínseco, sexo masculino e sexo feminino, município do Rio de Janeiro, 1950-2010.
01
23
Razão d
e taxas
186518751885189519051915192519351945195519651975
Coorte de nascimento
Intervalo de confiança Razão de taxas
01
23
186518751885189519051915192519351945195519651975
Coorte de nascimento
Intervalo de confiança Razão de taxas
59
7. Discussão
7.1. Diabetes mellitus
A transição epidemiológica levou a uma mudança do padrão de mortalidade,
com grande declínio das doenças infecciosas e uma significativa diminuição da
mortalidade nos primeiros anos de vida. Passou a predominar a mortalidade de adultos e
de idosos, prevalecendo a mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis como:
doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, entre outras.78
A melhor nutrição, a redução da exposição a doenças infecciosas e melhorias no
acesso à saúde contribuíram para o aumento de capital de saúde em coortes mais
recentes o que fez aumentar a sobrevida destas.79
Nesse sentido, torna-se evidente que o aumento da mortalidade proporcional por
diabetes foi não somente devido ao aumento do risco de morrer por diabetes, mas,
também devido à diminuição da mortalidade por outras causas.43
No período entre 1900 a 1960, a mortalidade por diabetes mellitus aumentou 13
vezes, passando de 1,30 para 17,01 por 100.000 habitantes. Segundo Laurenti, o fato
mais importante foi o aumento da sobrevida dos diabéticos, principalmente após o
advento da insulina e dos hipoglicemiantes orais, fazendo com que aumentasse a
prevalência de DM, aumentando, assim, o risco de morrer por essa causa.82
Para compreender a variação nas tendências, é importante distinguir a ação
do tempo em três perspectivas: a idade, já que o diabetes é uma doença
degenerativa, de evolução insidiosa e efeitos cumulativos, e apresenta características
diferentes para os diferentes grupos etários; o período de ocorrência do óbito, que
reflete ações que podem influenciar todos os grupos etários simultaneamente, como
a introdução de novos métodos diagnósticos ou a evolução das tentativas de reduzir
ou retardar a mortalidade, como disponibilização de novos medicamentos
ou tratamentos; e as coortes de nascimento, que podem fornecer informações sobre
alterações no estilo de vida em determinada geração.
O efeito da idade, nas tendências de mortalidade por diabetes é positivo e se
acentua a partir dos 50 anos de idade. Esse resultado é esperado, dado que o risco de
morte aumenta com o processo biológico do envelhecimento, o qual, por sua vez, é
60
caracterizado por uma série de alterações progressivas no metabolismo dos
carboidratos, explicando o aumento da incidência de DM com a idade, principalmente
em indivíduos geneticamente suscetíveis.80
O efeito da idade faz ainda sentido, visto que, além dos mecanismos celulares, o
acúmulo de exposição à fatores de risco ambientais para o diabetes ao longo da vida,
fazem com que haja maior probabilidade de desenvolvimento da doença, implicando em
tendências crescentes de mortalidade mais evidentes em idades mais avançadas.81
Ainda sobre o efeito da idade, mesmo que o diabetes seja uma doença comum
entre os idosos, cerca de metade dos casos não tem diagnóstico estabelecido, o que os
deixam expostos, inicialmente, à hiperinsulinemia e posteriormente à hiperglicemia e,
em ambas as fases, às complicações crônicas delas decorrentes, consequentemente
aumentando o risco de óbito pela doença.82
Um estudo que analisou os efeitos de idade, período e coorte na prevalência de
obesidade na França concluiu que houve uma aceleração desta prevalência a partir das
coortes nascidas na década de 1960, especialmente para as mulheres, sugerindo uma
mudança na suceptibilidade da obesidade para gerações nascidas após 1960.83
Entende-se, hoje, a obesidade como um dos principais fatores de risco para DM
tipo II, e, sendo assim, os resultados deste estudo se assemelham aos achados do estudo
francês, uma vez que, principalmente para as mulheres, ocorre um aumento na
mortalidade por diabetes para a coorte nascida entre 1970-1979.
Estudo feito na Coreia sobre os efeitos de idade, período e coorte na prevalência
de diabetes e obesidade, apresentou a idade como um preditor importante para o
aumento destas prevalências. No entanto, também foi observada uma tendência
crescente na prevalência de diabetes e obesidade em coortes de nascimentos mais jovens
e nos períodos mais recentes. O aumento da prevalência de diabetes e de obesidade foi
atribuído a fatores ambientais, tais como mudanças na dieta e diminuição da atividade
física. O estudo sugere que o aumento da obesidade é a principal causa da epidemia de
diabetes, visto que pode ser importante no desencadeamento de elementos genéticos
associados à doença.84
61
No caso do Chile, o aumento da expectativa de vida, o sedentarismo e hábitos
alimentares inadequados, provavelmente, explicam o aumento da prevalência do
diabetes. Levando-se em conta que o diabetes está intimamente associado à obesidade e
à mudança de peso ao longo do tempo, a tendência crescente da obesidade desde a
infância e adolescência implica que o diabetes comece em idades progressivamente
mais baixas.85
Outro fator que contribui para o aumento da prevalência da diabetes é a
urbanização. Segundo Aschener, o diabetes tipo 2 é mais comum em áreas urbanas do
que em áreas rurais da América Latina. Essas maiores taxas nas áreas urbanas são,
provavelmente, devido às mudanças no estilo de vida que vem ocorrendo em um ritmo
acelerado entre as populações nativas americanas, como mudanças nos hábitos
alimentares, uso de álcool e pouca prática de exercícios86
Em consonância com o ocorrido na América Latina, a partir dos anos 1950, no
Brasil (em especial no Rio de Janeiro), em meio à intensificação do processo de
industrialização e urbanização, com mudanças no estilo de vida e tendência ao
envelhecimento populacional, passou-se a observar progressivamente, no quadro
sanitário do país, a supremacia das doenças crônicas não transmissíveis, como
hipertensão arterial, diabetes mellitus e doenças cardiovasculares.13,87
Na Irlanda, um estudo que analisou os efeitos de idade, período e coorte nas
tendências do Índice de Massa Corpórea revelou a tendência positiva no período para
homens e mulheres. Este panorama foi atribuído às mudanças no padrão alimentar
devido ao aumento no consumo de alimentos rápidos e delivery, provocando assim um
aumento no consumo total de energia. A redução da prática de atividades físicas também
foi apontada como causa contribuinte para a tendência observada.88
O risco de morte por DM diminuído para as gerações nascidas entre 1930 e 1960
pode ser explicado pela introdução da insulina, em 1922, quando, por isso, houve
notável regressão no número de óbitos de diabéticos, aumentando, expressivamente, a
sobrevida dos doentes. 89
O aumento das razões de taxas na mortalidade por diabetes, para as coortes mais
recentes do sexo feminino, pode significar uma tendência a ser observada no
62
acompanhamento destas e das próximas gerações ao longo dos anos que se seguem após
o período de análise deste estudo.
Como as mudanças no estilo de vida se dão a partir da urbanização e
industrialização e por ser o diabetes uma doença crônica, cabe a hipótese de que as
tendências de mortalidade começarão a ser afetadas quando as coortes nascidas a partir
da década de 1950 começarem a atingir idades mais avançadas.
Esses resultados podem corroborar os achados dos estudos que encontraram
efeito de coorte positivo para as gerações mais novas na prevalência de diabetes e de
seus fatores de risco.
As tendências de mortalidade também podem ter sido influenciadas por outras
variáveis importantes, porém de mais difícil mensuração, tais como hospitalizações,
mudanças no diagnóstico e nos tipos de tratamentos, que são suscetíveis a mudanças
seculares.90
Um elemento ainda não abordado que pode contribuir para o aumento da
mortalidade por diabetes é a formação e prática médica. Sugere-se que com a tendência
crescente da prevalência do diabetes nas coortes mais recentes (atribuída às mudanças
do estilo de vida) e consequente melhora no diagnóstico desses doentes, é possível que
haja uma valorização do diabetes como causa básica do óbito no momento do
preenchimento da DO.
Observa-se uma mudança na tendência da mortalidade por diabetes no
município do Rio de Janeiro, a partir da década de 1980, configurando um efeito de
período neste momento. A diminuição da taxa de aceleração que ocorre a partir daí pode
ser explicada pelos avanços no tratamento ocorridos nessa época.
A década foi cenário da importante substituição das insulinas de concentração U-
40 e U-80 pela insulina de concentração única, a U-100. Esta mudança trouxe fim aos
erros de dose causados pela existência de diferentes concentrações de insulina no
mercado. Além disso, surgiram as insulinas de origem humana, semelhante à insulina
fabricada pelo pâncreas, que deu fim às reações alérgicas e às deformações nos locais de
aplicação causadas pelas insulinas de origem animal. No ano de 1985, chegava ao Brasil
o adoçante a base de aspartame, que não alterava o sabor do alimento e não deixava
63
gosto residual. Ainda nos anos 1980, os refrigerantes dietéticos começaram a ser
comercializados.91
Também na década de 1980, diversas publicações de caráter normativo foram
publicadas pela Associação Americana de Diabetes (A.D.A.) e Organização Mundial da
Saúde (O.M.S.) a fim de encontrar critérios uniformes para o diagnóstico e classificação
da Diabetes Mellitus.
Os avanços no conhecimento etiológico da doença tornaram urgente a
modificação da classificação com base nos novos conhecimentos. Este fato pode ter
colaborado para um melhor diagnóstico da doença e, por conseguinte, em um melhor
tratamento, diminuindo assim a mortalidade por diabetes no período.92, 93, 94
64
7.2. Causas Mal Definidas
A análise das taxas de mortalidade por causas mal definidas foi utilizada como
indicador da qualidade dos registros de mortalidade por causas específicas.
A partir de 1990, observa-se um crescimento vertiginoso e repentino na
mortalidade por causas mal definidas. A publicação da Portaria nº 550 da Secretaria
Estadual de Saúde do RJ, em 1990, pode ter contribuído de forma relevante para este
efeito de período. Esta Portaria, em seu artigo 2º, diz que: “esgotadas todas as
tentativas de se determinar a causa básica da morte e não havendo suspeita de óbito
por causa violenta, deverá ser declarado na parte I do atestado médico Causa
Indeterminada”.95
O sub-registro de causas específicas de óbitos, pela existência dos óbitos sem
causa definida, traz em seu bojo a subtração da declaração das verdadeiras causas.45
O progresso do conhecimento médico, a emergência de novas doenças e a
diminuição da importância de certos problemas sanitários são alguns dos fatores que
justificam a necessidade de revisões periódicas da Classificação Internacional de
Doenças e de suas disposições para o levantamento de dados sobre mortalidade e
morbidade. As atividades relacionadas à introdução de uma nova revisão incluem a
avaliação dos efeitos das modificações ocorridas para o seu uso correto, tais como as
disposições para a identificação de causas de morte, isto é, as assim chamadas regras de
mortalidade.
Eventuais mudanças de tendências da mortalidade por determinadas causas
devem ser cuidadosamente analisadas a fim de distinguir as variações reais daquelas
mudanças ocorridas artificialmente pela introdução de nova revisão,96 visto que as
equivalências entre as diferentes revisões nunca são perfeitas, havendo sempre certo
grau de perda de comparabilidade.97
A elevada proporção de causas mal definidas pode decorrer da maior dificuldade
em selecionar a verdadeira causa básica da morte, em especial entre os idosos. Ao
envelhecerem, eles passam a apresentar, concomitantemente, várias morbidades
crônico-degenerativas, como neoplasias, hipertensão, diabetes e outras doenças do
aparelho circulatório, daí a decisão sobre a real causa básica tornar-se mais complexa.98
65
8. Limitações
Um dos principais desafios para a realização desses estudos no Brasil é a
insuficiência de dados contínuos e sistematizados ao longo de décadas, principalmente
no que se refere à morbidade por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), na
medida em que inexiste um monitoramento sistemático para esses agravos no plano
nacional.
Como consequência das limitações apontadas, verifica- se a existência de poucos
e localizados estudos de tendência histórica de mortalidade por diabetes mellitus, com
resgate de dados para além da série já disponibilizada pelo Ministério da Saúde, a partir
1979.
Outra limitação do estudo versa sobre a análise do DM como causa básica de
óbito. É importante considerar que a sua magnitude é subestimada. Uma solução para
minimizar este problema seria considerar todas as causas citadas na declaração de óbito,
através de estudos de causas múltiplas.
Estudos que analisam tendências de longos períodos, como é o caso deste,
devem levar em consideração as descontinuidades provocadas pelas mudanças das CIDs
ao longo do tempo.
A despeito desses problemas, é importante que os dados de mortalidade por DM
sejam analisados, pois podem esclarecer e levantar hipóteses sobre o comportamento e
as tendências da morbimortalidade da doença.
66
9. Conclusão
A análise de tendências temporais da série histórica de mortalidade por diabetes
entre 1950 e 2010 no município do Rio de Janeiro, a partir da análise de idade período e
coorte indicou a presença dos três efeitos.
O efeito de idade crescente esperado, visto que de acordo com a fisiopatologia
da doença, a prevalência e mortalidade por diabetes é maior em faixas etárias mais
avançadas.
O efeito coorte, observado no sexo feminino, mostra uma diminuição da
mortalidade a partir da coorte de 1900-1909, provavelmente devido às melhores formas
de diagnóstico, tratamento e inserção da insulina no sistema de saúde. Além disso,
percebe-se o efeito coorte no sentido inverso, nas gerações mais recentes, sugerido pelas
mudanças atuais do estilo de vida da população, como diminuição da prática de
atividade física e maior consumo energético, com consequente aumento da obesidade.
O efeito de período é observado com a mudança na tendência da mortalidade a
partir de 1980 no sentido de diminuição da aceleração das taxas, que pode ser explicado
tanto pela modificação da insulina utilizada pelo sistema de saúde por uma mais
moderna e menos passível a erros de dosagem, quanto pela normatização do diagnóstico
e classificação do diabetes.
Conhecer o padrão de adoecimento e morte de uma população é útil para a
proposição de políticas públicas e para a avaliação, gestão e planejamento de ações de
promoção e prevenção realizadas pelo Sistema de Saúde, sendo assim, faz-se necessário
o desenvolvimento de estudos que enfoquem a tendência histórica de morbimortalidade.
Os poucos e localizados estudos de tendência histórica de mortalidade por
DCNT, com resgate de dados anteriores à série disponibilizada pelo Ministério da
Saúde, a partir 1980 através do DATASUS, justificam a realização de estudos que
remontem séries históricas anteriores a este período.12
A importância do DM, como causa básica de morte, aumenta com a idade, sendo
sempre mais expressiva a partir dos 50 anos. Assim, os programas de atenção ao
diabético devem ser enfatizados para toda a população a partir 30 anos, investindo na
informação com vistas ao estímulo às atividades físicas, educação alimentar, manejo e
67
tratamento adequado da doença, de modo a evitar as complicações crônicas, detectando
e controlando precocemente a doença e, consequentemente, permitindo uma melhor
qualidade de vida e maior sobrevida para os diabéticos.95
Em resumo, as informações obtidas a partir deste estudo fornecem um melhor
entendimento do efeito da idade, do período e de coorte sobre a mortalidade por
diabetes. Assim, este estudo revelou que a análise destes efeitos pode ser uma
importante ferramenta para explicar de forma longitudinal o processo de
morbimortalidade do DM.
Por fim, recomenda-se que pesquisadores de saúde possam fazer usos de dados
oficiais já disponíveis a fim de obter avaliações e projeções sobre a saúde da população
através desta metodologia de análise.
68
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