efeitos das metáforas no ensino do canto - cristina canhetti alves
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Com o objetivo de investigar, em amostra de voz cantada, os efeitos do uso das metáforas, a partir de descrições acústicas e articulatórias, esta pesquisa foi desenvolvida.TRANSCRIPT
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Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC-SP
Cristina Canhetti Alves
Efeitos das metforas no ensino do canto: dados acsticos e de imagem do trato vocal
Mestrado em Lingustica Aplicada e Estudos da Linguagem
So Paulo 2013
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Cristina Canhetti Alves
Efeitos das metforas no ensino do canto: dados acsticos e de imagem do trato vocal
MESTRADO EM LINGUSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM
Dissertao apresentada Banca Examinadora da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, como exigncia parcial para obteno do ttulo de MESTRE em Lingustica Aplicada e Estudos da Linguagem sob a orientao da Profa. Doutora Zuleica Camargo.
So Paulo 2013
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Alves Cristina Canhetti Efeitos das metforas no ensino do canto: dados acsticos e de imagem do trato vocal/ Alves, Cristina Canhetti - So Paulo, 2013, p.165. Dissertao (mestrado) Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Programa de Estudos Ps-Graduados em Lingstica Aplicada e Estudos da Linguagem. Ttulo em ingls: Effects of metaphors in the teaching of singing: acoustic and vocal tract image data 1. Acstica 2.Canto 3.Fisiologia 4.Metfora 5.Fontica
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Banca Examinadora
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Data: _____/_____/_____
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AUTORIZAO
Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total
ou parcial desta dissertao por processos de fotocopiadoras ou eletrnicos. Cristina Canhetti Alves _________________________________ So Paulo, de de 2013.
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Dedico este trabalho Aos meus pais, Ftima e Jos Carlos e minha av materna Maria por sempre acreditarem em mim. Ao meu amor, Pedro Henrique, por todo o incentivo e por sonhar comigo que tudo isso seria possvel.
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Agradecimentos
minha orientadora Profa Dra Zuleica Camargo, que esteve sempre presente me
incentivando em todas as etapas, que me inspira pela sua dedicao e pela
profissional competente em nossa profisso.
Profa Dra Sandra Madureira, por todos os ensinamentos, pela pacincia, pela
serenidade e que agregou muito durante toda essa jornada.
minha me, Ftima por me incentivar, acreditar tanto em mim e mesmo diante de
todas as dificuldades tornar possvel o impossvel. Ao meu pai, Jos Carlos, por
depositar confiana em minhas escolhas. Amo muito!
Ao meu amor, Pedro Henrique, pela pacincia por minhas ausncias, pelo carinho,
companheirismo, pela ajuda e por se orgulhar tanto de quem eu sou. Amo-te!
A minha vzinha materna, Maria, que com seus 88 anos se interessa pela
fonoaudiologia e est sempre presente e rezando para que tudo corra bem.
minha famlia, por estarem ao meu lado em todos os momentos.
s amigas Andrea e Maria Augusta, duas pessoas mais que queridas, companheiras
e que fizeram meus dias mais divertidos.
Aline Pessoa, por todas as ajudas, em qualquer hora e por qualquer motivo. Voc
uma pessoa fantstica e teve papel fundamental em todo meu percurso.
Luciana Oliveira, pela disponibilidade, pelos ensinamentos e por ser essa pessoa
to serena que em momentos turbulentos consegue ver a luz no fim do tnel.
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Fabiana Gregio, por estar presente e me auxiliando desde minha iniciao
cientfica. Agradeo muito.
Roberta Isolan Cury pela ajuda, parceria e por me incentivar a no desistir de
nenhum desafio.
Ao Marcelo Barbosa pelas revises do ingls e por ser to divertido e autntico.
Mria de Ftima Albuquerque do LIAAC e Maria Lucia do LAEL, pela simpatia e
pela colaborao em todas as etapas.
Ao Prof Luiz Carlos Rusilo, pelas anlises estatsticas. Ao Ronaldo Barbosa e Janaina Paiva pelos importantes momentos no Laboratrio
de Rdio. Obrigada pela ajuda e acima de tudo pelas risadas.
Aos meus colegas do grupo do LIAAC, agradeo o apoio e incentivo.
Ao Prof. Dr. Johan Sundberg e Dra. Glaucia Salomo por permitirem minha visita
KTH, pela brilhante discusso dos dados de minha pesquisa e pela experincia
valiosa.
Ao grupo de estudo que tive o prazer em conhecer em Budapeste, agradeo por
todas as descobertas. Especialmente, Lila Pintr, Maria Patona e Dina Varga pelo
carinho e auxlio constante.
Ao tcnico da radiologia Vitor pela disponibilidade, auxlio e simpatia.
Deborah Manguino, pela valorizao constante, por acreditar em minha
capacidade e se orgulhar dos resultados. Obrigada por todos os desafios!
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minha querida, Deborah Donda e ao grupo Support, por compreenderem essa
etapa e torcerem tanto por mim. Obrigada pela pacincia!
Aos Amigos, pela torcida, por compreender minhas ausncias e rirem dos meus
momentos em stand by.
A todos os sujeitos que participaram da minha pesquisa.
FAPESP, pelo apoio financeiro para execuo dessa pesquisa.
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Lista de Quadros
Quadro 1. Descrio dos sujeitos participantes da pesquisa.............................. 30
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Lista de Figuras
Figura 1. Medida de abertura de lbios absoluta (mm) gerada pelo software Osiris 25
Figura 2. Medida de abertura de mandbula (mm) gerada pelo software Osiris...... 26
Figura 3. Medida de abertura de lbios normalizada (mm) gerada pelo software
Osiris........................................................................................................................
26
Figura 4. Medida da distncia de lngua-faringe (mm) gerada pelo software Osiris 27
Figura 5. Medida da distncia de lngua-palato de uma vogal anterior [] (mm)
gerada pelo software Osiris....................................................................................
27
Figura 6. Medida da distncia de lngua-palato de uma vogal [a] posterior (mm)
gerada pelo software Osiris....................................................................................
27
Figura 7. Grfico boxplot da distribuio das medidas de frequncias formnticas
(F3) para trs emisses da vogal [a] a1, a2 e a3.................................................
38
Figura 8. Grfico boxplot da distribuio das medidas de frequncias formnticas(
F1) para trs emisses da vogal [a] a1, a2 e a3..................................................
38
Figura 9. Grfico boxplot da distribuio das medidas de frequncias formnticas
(F2) para trs emisses da vogal [a] a1, a2 e a3..................................................
38
Figura 10. Dados de imagem de trato vocal ilustrativo das medidas (em mm)
extradas na situao de repouso.............................................................................
40
Figura 11. Dados de imagens de trato vocal ilustrativos das medidas (em mm)
extradas das emisses em voz cantada produzidas sem intrues baseadas em
metforas................................................................................................................
41
Figura 12. Dados de imagens de trato vocal ilustrativos das medidas (em mm) de
imagens extradas das emisses em voz cantada produzidas por meio de
instrues baseadas na metfora prisma...............................................................
42
Figura 13. Dados de imagens de trato vocal ilustrativos das medidas (em mm) de
imagens extradas das emisses em voz cantada produzidas por meio de
instrues baseadas na metfora catedral.............................................................
43
Figura 14. Dados de imagens de trato vocal ilustrativos das medidas (em mm) de
imagens extradas das emisses em voz cantada produzidas por meio de
instrues baseadas na metfora disco voador......................................................
45
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xi
Figura 15. Grficos da anlise de correlaes para medidas de frequncias
formnticas e medidas de imagem do trato vocal...................................................
50
Figura 16. Diagrama da anlise fatorial de medidas de imagens do trato vocal e
de medidas acsticas de frequncias formnticas (F1, F2 e F3)............................
51
Figura 17. Grficos de anlise de regresso linear de medidas de imagens do
trato vocal e de medidas acsticas de frequncias formnticas (F1, F2 e F3).......
52
Figura 18. Grficos de anlise Ancova para relao de medidas acsticas das
frequncias formnticas (F1, F2 e F3) em relao s metaforas (coluna
esquerda) e s vogais analisadas (coluna direita)...............................................
54
Figura 19. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao das
vogais a partir das medidas de frequncias formnticas (F1, F2 e F3)...................
56
Figura 20. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao das
metforas a partir das medidas de imagem do trato vocal......................................
57
Figura 21. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao das
vogais a partir das medidas de imagem do trato vocal............................................
58
Figura 22. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao das
metforas a partir das medidas de frequncias formnticas e de medidas de
imagem do trato vocal.............................................................................................
59
Figura 23. Grfico radar da distribuio das frequncias formnticas nas diversas
emisses estudadas................................................................................................
60
Figura 24. Grfico radar da distribuio das medidas de imagens do trato vocal
nas diversas emisses estudadas...........................................................................
60
Figura 25. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao das
metforas a partir das medidas acsticas (script Expression Evaluator e
frequncias formnticas) .........................................................................................
66
Figura 26. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao das
metforas a partir das medidas acsticas (script Expression Evaluator).................
67
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xii
Figura 27. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao das
metforas a partir das medidas (frequncias formnticas)......................................
68
Figura 28. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao dos
grupos de cantoras e de no cantoras a partir das medidas acsticas (script
ExpressionEvaluator) .............................................................................................
71
Figura 29. Grfico de centrides da anlise discriminante para estimao dos
grupos de cantoras e de no cantoras a partir das medidas acsticas (frequncias
formnticas-F1, F2 e F3) .......................................................................................
72
Figura 30. Grfico de anlise de regresso linear de medidas acsticas do script
ExpressionEvaluator e prontido.............................................................................
73
Figura 31. Grfico de anlise de regresso linear de medidas acsticas de
frequncias formnticas-F1, F2 e F3 para as vrias emisses da vogal [a] (a1, a2,
a3) e prontido.........................................................................................................
74
Figura 32. Grfico de anlise de regresso linear de medidas acsticas do script
ExpressionEvaluator conjugadas s de frequncias formnticas (para as vrias
emisses da vogal [a] -a1, a2, a3) e prontido.......................................................
74
Figura 33. Grfico de anlise ANOVA de variveis qualitativas: grupo (cantoras e
no cantoras), sujeitos, tipo de (emisso-metforas) em relao prontido........
75
Figura 34. Grfico de anlise ANOVA de variveis qualitativas (sujeitos) e
prontido.................................................................................................................
76
Figura 35. Localizao visual dos itens Meu Computador, Organizar e Opes de
pastas como procedimento para mudana de extenso de arquivo.......................
106
Figura 36. Localizao visual dos itens Opes de Pasta, Modo de Exibio e
item que no deve ser selecionado como procedimento para mudana de
extenso de arquivo................................................................................................
106
Figura 37. Mensagem de confirmao para modificao da extenso do arquivo
selecionado.............................................................................................................
107
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Figura 38. Arquivo cpia renomeado com a extenso pap..................................... 107
Figura 39. Localizao do arquivo no software Osiris............................................. 108
Figura 40. Instruo de como salvar o arquivo em papyrus................................... 108
Figura 41. Renomear o arquivo que ser salvo como papyrus............................... 108
Figura 42. Gerar o arquivo papyrus e iniciar a anlise dos dados pelo software
Osiris.......................................................................................................................
108
Figura 43: Medida da distncia entre o dente segundo pr-molar superior e o
mento (queixo) na situao de repouso..................................................................
131
Figura 44. Dados de imagens de trato vocal ilustrativos das medidas (em mm) da
distncia entre o dente segundo pr-molar superior e o mento extradas das
emisses em voz cantada produzidas sem intrues baseadas em metforas.....
131
Figura 45. Dados de imagens de trato vocal ilustrativos das medidas (em mm) da
distncia entre o dente segundo pr-molar superior e o mento extradas das
emisses em voz cantada produzidas por meio de instrues baseadas na
metfora prisma. ......................................................................................................
132
Figura 46. Dados de imagens de trato vocal ilustrativos das medidas (em mm) da
distncia entre o dente segundo pr-molar superior e o mento extradas das
emisses em voz cantada produzidas por meio de instrues baseadas na
metfora catedral. .................................................................................................
134
Figura 47. Dados de imagens de trato vocal ilustrativos das medidas (em mm) da
distncia entre o dente segundo pr-molar superior e o mento extradas das
emisses em voz cantada produzidas por meio de instrues baseadas na
metfora disco voador. ...........................................................................................
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Lista de Tabelas
Tabela 1. Medidas de frequncias formnticas (Hz) para as emisses em voz
cantada produzidas por meio de instrues baseadas em metforas e sem
instrues baseadas em metforas para as emisses de [a] sapo, [] que, [i] rio
e frio e [u] jururu......................................................................................................
46
Tabela 2. Medidas de imagem do trato vocal (mm) para as emisses em voz
cantada produzidas por meio de instrues baseadas em metforas e sem
instrues baseadas em metforas para as emisses [a] sapo, [] que, [i] rio e
frio e [u] jururu. ......................................................................................................
47
Tabela 3. Resultados de teste de correlao para medidas de frequncias
formnticas e medidas de imagem do trato vocal (p
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xv
Tabela 10. Valores de mdia e desvio padro de medidas acsticas
frequncias formnticas- para as emisses produzidas por meio de instrues
baseadas em metforas (catedral, prisma e disco voador) e sem instrues
baseadas em metforas. .......................................................................................
64
Tabela 11. Resultados do teste de distncias de Fisher (p-valores) para as
mdias de medidas acsticas frequncias formnticas- para as emisses em
voz cantada produzidas por meio de instrues baseadas em metforas
(catedral, prisma e disco voador) e sem instrues baseadas em metforas........
65
Tabela 12. Matriz de confuso para resultados de validao cruzada da anlise
discriminante para metforas a partir das medidas acsticas (script Expression
Evaluator e frequncias formnticas)......................................................................
66
Tabela 13. Matriz de confuso para resultados de validao cruzada da anlise
discriminante para metforas a partir das medidas acsticas (script
ExpressionEvaluator) ..............................................................................................
67
Tabela 14. Matriz de confuso para resultados de validao cruzada da anlise
discriminante para metforas a partir das medidas acsticas (frequncias
formnticas) ..........................................................................................................
68
Tabela 15. Valores de mdias e desvio padro de medidas acsticas do script
ExpressionEvaluator para as emisses de cantoras e no cantoras....................
69
Tabela 16. Resultados do teste de distncias de Fisher (p-valores) para as
mdias de medidas acsticas do script ExpressionEvaluator para as emisses de
cantoras e no cantoras..........................................................................................
70
Tabela 17. Valores de mdia e desvio padro de frequncias formnticas para as
emisses 1, 2 e 3 da vogal [a] em sapo para as emisses de cantoras e no
cantoras.................................................................................................................
70
Tabela 18. Resultados do teste de distncias de Fisher (p-valores) para as
mdias de medidas acsticas frequncias formnticas (F1, F2 e F3)- para as
emisses 1, 2 e 3 da vogal [a] em sapo para as emisses de cantoras e no
cantoras.................................................................................................................
70
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Tabela 19. Matriz de confuso para resultados de validao cruzada da anlise
discriminante para grupo de cantoras e no cantoras a partir das medidas
acsticas (script ExpressionEvaluator)..................................................................
71
Tabela 20. Matriz de confuso para resultados de validao cruzada da anlise
discriminante para grupo de cantoras e no cantoras a partir das medidas
acsticas (frequncias formnticas-F, F2 e F3).....................................................
72
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xvii
RESUMO
Com o objetivo de investigar, em amostras de voz cantada, os efeitos do uso das metforas, a partir de descries acsticas e articulatrias (imagens do trato vocal) de ajustes de qualidade vocal em mulheres cantoras e no cantoras, esta pesquisa foi desenvolvida com base em dois experimentos. Experimento 1 referiu-se a estudo de caso (mulher, no cantora, sem alteraes vocais), pautado nas anlises acstica e de imagem (videofluoroscopia) do trato vocal. Experimento 2 pautou-se em anlise acstica das emisses de 10 sujeitos (5 cantoras e 5 no cantoras). Para ambos os experimentos, foram analisadas as gravaes da cano infantil Sapo Jururu em quatro tarefas: sem instruo e com instrues baseadas nas metforas prisma, catedral, disco voador. Para a anlise das imagens do trato vocal, foram extradas medidas de abertura de lbios (absoluta e normalizada), abertura de mandbula, distncia dorso de lngua-faringe e dorso de lngua-palato por meio do software Osiris. Para a anlise acstica dos dados, foram extradas as medidas de frequncias formnticas (F1, F2, F3) das vogais ([a], [i], [] e [u]) - software Praat no experimento 1. O experimento 2 constou da extrao das medidas de F1, F2, F3 da vogal [a] (nas vrias repeties de sapo) e da anlise das trs repeties da cano por meio da aplicao do script ExpressionEvaluator ao software Praat para extrao de medidas de prontido, f0 (mediana, semiamplitude entre quartis, quantil 99,5% e assimetria), primeira derivada de f0 (mdia, desvio padro e assimetria), intensidade (assimetria), declnio espectral (mdia, desvio padro e assimetria) e LTAS (desvio padro). Os achados dos dois experimentos foram submetidos a tratamento estatstico de natureza multivariada (anlises fatorial, aglomerativa hierrquica de cluster, de correlao cannica, discriminante e regresso linear). Em termos de anlise de imagens, foi possvel observar na metfora catedral maior abertura de lbios e mandbula, lngua centralizada e expanso farngea. Para a metfora prisma maior abertura de lbios e constrio farngea. Para o disco voador, encontrou-se menor abertura de lbios e mandbula, lngua elevada e expanso farngea. A anlise acstica revelou diferenciaes do padro formntico especialmente para as metforas catedral e disco voador, complementadas por achados do experimento 2. A anlise estatstica revelou que mobilizaes promovidas pelas metforas foram melhor definidas pela anlise de imagens no experimento 1 e pelas medidas geradas pelo script ExpressionEvaluator no experimento 2, com destaque para f0 (mediana e quantil 99,5%), intensidade (assimetria) e declnio espectral (mdia e desvio padro). As diferenciaes por grupos no experimento 2 foram reforadas por medidas do script ExpressionEvaluator e F1, F2 e F3. A prontido foi ndice que revelou diferenas das produes inter-sujeitos. A anlise fontica dos dados revelou que as metforas geraram mobilizaes diferenciadas no trato vocal, especialmente para catedral e disco voador, reveladas por descries articulatrios (medidas de imagens videofluoroscpicas) e acsticas (f0, intensidade e declnio espectral). Tais mobilizaes apresentaram diferenas quando comparados aos grupos estudados. As correspondncias entre achados acsticos e de imagem do trato vocal foram relevantes ao enfoque da voz cantada e reforaram as relaes entre som e sentido. Descritores: Acstica; Canto; Fisiologia; Metfora; Fontica
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ABSTRACT
Aiming at investigating the effects of the usage of metaphors in singing voice production from acoustic and articulatory (vocal tract imaging) descriptions among women, singers and non-singers, this research was developed based on two experiments. Experiment 1 referred to a case study (woman, non-singer, without voice disorder) based on acoustic and vocal tract image analysis (videofluoroscopy). Experiment 2 was based on acoustic analysis of utterances from 10 subjects (5 singers and 5 non-singers). For both experiments, the recordings of the folklore song Sapo Jururu in four different tasks: without and with instructions, the latter based on metaphors (prism, cathedral and flying saucer) were analyzed. For vocal tract image data analysis, measures of labial opening (absolute and normalized), jaw opening, distance from the back of tongue-pharynx and back of tongue-palate were extracted by means of Osiris software. For the acoustic analysis of the data, measures of the formant frequencies (F1, F2, F3) of the vowels ([a], [i], [] e [u]) were extracted by means of Praat software in experiment 1. Experiment 2 consisted on the extraction of F1, F2, F3 measures of the vowel [a] (in the repetitions of sapo) and on the analysis of the three repetitions of the folklore song by ExpressionEvaluator script running into Praat software to extract arousal, f0 (median, interquartile semi-amplitude, quantile 99.5% and skewness), first f0 derivate (mean, standard deviation and skewness), intensity (skewness), spectral slope (mean, standard deviation and skewness) and LTAS (standard deviation) measures. The findings of both experiments were submitted to multivariate statistical treatment (factorial analysis, agglomerative hierarchical clustering, canonical correlation, discriminant analysis and linear regression). The vocal tract image data revealed increased labial and jaw opening, centralized tongue body and pharyngeal expansion in the cathedral metaphor. For the prism metaphor, increased labial opening and pharyngeal constriction were found. For the flying saucer metaphor, decreased labial and jaw opening, raised tongue body, and pharyngeal expansion were found. The acoustic analysis showed differences in the formant pattern, mainly to the cathedral and flying saucer ones, supported by findings of experiment 2. The statistical analysis showed that mobilizations elicited by metaphors were better defined through image analysis in experiment 1 and by the acoustic measures generated by ExpressionEvaluator script in experiment 2, especially for f0 (median and quantile 99.5%), intensity (skewness) and spectral slope (mean and standard deviation). The differentiations among groups in experiment 2 were reinforced by ExpressionEvaluator and F1, F2, and F3 acoustic measures. The arousal was the factor which showed inter-subject differences. The phonetic approach of the data showed that metaphors lead to differentiated vocal tract adjustments, mainly for cathedral and flying saucer methaphors, revealed by articulatory (measures of videofluoroscopic images) and acoustic descriptions (f0, intensity and spectral slope measures). Those adjustments differed when singer and non-singer samples were compared. The acoustic and vocal tract images correspondences were relevant to the study of the singing voice, and reinforced the relation between sound and meaning. Keywords: Acoustics; Singing; Physiology; Metaphor; Phonetics
-
xix
Sumrio
1. INTRODUO.................................................................................................. 01
2. OBJETIVO.......................................................................................................... 08
3. REVISO DE LITERATURA............................................................................ 09
3.1. A voz cantada e as instrues no canto baseadas em metforas............ 09
3.2. Anlise acstica e articulatria da voz cantada........................................ 14
3.3. Anlise de imagens do trato vocal............................................................ 16
4. METODOLOGIA............................................................................................... 21
4.1. Experimento 1- Anlise integrada de dados acsticos e de imagem do
trato vocal: um estudo de caso.......................................................................
21
4.1.1. Procedimentos de coleta de amostras de imagem do trato vocal e de
udio durante a emisso em voz cantada produzida por meio de instrues
baseadas em metforas.................................................................................
22
4.1.2. Procedimentos de edio e anlise dos dados de imagem do trato
vocal................................................................................................................
24
4.1.2.1. Medidas de imagens de trato vocal (mm)........................................... 25
4.1.3. Procedimentos de edio e anlise dos dados acsticos..................... 28
4.1.4. Anlise estatstica (software XLStat- Addinsoft)................................... 28
4.2. Experimento 2- Anlise acstica de emisses em voz cantada
(produzidas por meio de instrues baseadas em metforas) por cantoras e
no cantoras....................................................................................................
30
4.2.1. Procedimentos de coleta de amostras de udio durante a emisso de
voz cantada produzida por meio de instrues baseadas em metforas por
cantoras e no cantoras...................................................................................
31
4.2.2. Procedimentos de edio e anlise dos dados acsticos..................... 34
4.2.3. Anlise estatstica.................................................................................. 35
5. RESULTADOS................................................................................................... 40
5.1. Experimento 1- Anlise integrada de dados acsticos e de imagem do
trato vocal: um estudo de caso........................................................................
40
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xx
5.2. Experimento 2- Anlise acstica de emisses em voz cantada
(produzidas por meio de instrues baseadas em metforas) por cantoras e
no cantoras....................................................................................................
61
5.2.1. Medidas acsticas extradas pelo script ExpressionEvaluator e de
frequncias formnticas (F1, F2 e F3)............................................................
61
5.2.2. Dados de prontido extrados pelo script ExpressionEvaluator............ 73
6. DISCUSSO...................................................................................................... 77
6.1. Experimento 1- Anlise integrada de dados acsticos e de imagem do
trato vocal: um estudo de caso ......................................................................
77
6.2. Experimento 2- Anlise acstica de emisses em voz cantada
(produzidas por meio de instrues baseadas em metforas) por cantoras e
no cantoras ..................................................................................................
88
6.3. Abordagem integrada- experimentos 1 e 2.............................................. 95
7. CONCLUSO...................................................................................................... 101
8. Anexos............................................................................................................... 102
9. Referncias Bibliogrficas.................................................................................. 137
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1
1. INTRODUO
Os aspectos da voz cantada fascinam os mais diversos grupos de
pesquisadores, justamente pelo uso altamente diferenciado e refinado de estruturas
dos aparelhos respiratrio e digestivo que no dia-a-dia tambm desempenham as
funes de fala.
Diante deste fascnio, o projeto complementa-se a atividades desenvolvidas
anteriormente em plano de pesquisa de iniciao cientifica, em que abordou questes
da correspondncia entre os planos da percepo e da acstica da voz falada (ALVES,
CAMARGO, 2006).
Neste contexto da voz cantada, a qualidade vocal ganha destaque, no momento
em que o cantor ajusta seu aparelho fonador na busca por atingir diferentes qualidades
sonoras. As variadas escolas de canto trabalham com tcnicas igualmente distintas, a
fim de propiciar ao cantor a vivncia do controle do aparelho fonador em seus nveis
respiratrio, fonatrio, articulatrio e ressonantal. Tal nvel de controle permite ao
cantor, inclusive queles que iniciam as aulas de canto, alcanar e experienciar as
qualidades sonoras compatveis com o repertrio desejado.
Da mesma forma que se admite que toda manifestao de fala expressiva
(MADUREIRA, 2005), o mesmo valeria para as manifestaes da voz cantada. A
construo da expressividade pauta-se na combinao de elementos prosdicos (ritmo,
entoao, qualidade vocal, entre outros) a elementos segmentais (vogais e
consoantes), mediadas pelas relaes entre o som e o sentido (MADUREIRA, 2005).
No que se refere ao enfoque das relaes entre som e sentido, podemos
apontar as metforas como representaes simblicas (HINTON et al, 1994), dotadas
de sensaes proprioceptivas, motoras e tteis (FONAGY, 2000). Tais estudos so
-
2
baseados em modelos de descrio fontica, com base em descries perceptivas,
acsticas e fisiolgicas, no campo das Cincias Fonticas.
Os estudos de voz cantada apontam que as metforas, incorporadas
inicialmente pelos professores de canto com sua base na prtica de ensino, revelaram-
se, gradativamente, como recursos tanto para facilitar a memorizao de sensaes
fsicas (ROSSBACH, 2011), quanto para auxiliar a criao de correlaes entre o
simblico e o fisiolgico (SOUSA et al, 2010).
Dessa forma, no universo do ensino do canto, as metforas foram incorporadas
enquanto estratgia para levar o aluno/cantor a vivenciar ajustes no trato vocal e
sensaes promovidas, uma vez que, para vrios destes alunos/cantores as instrues
baseadas somente na ao de grupos musculares, portanto na fisiologia da voz
cantada, seriam de difcil compreenso, bem como de execuo (SOUSA et al, 2010).
No caso do canto lrico, cantores experientes e reconhecidos produzem
qualidades sonoras de forma a que possam ser ouvidos em salas de concerto de
dimenses considerveis, simultaneamente ao som da orquestra, sem o uso de
qualquer sistema de amplificao (SUNDBERG, 1997). Diante desta situao, a
indagao frequente dos pesquisadores reside na origem de tal habilidade: seria
apenas questo de prtica da tcnica de canto? Ou existiria algo de especial no rgo
voca1 de tais cantores?
O professor de canto, por sua vez, busca por estratgias que possam
desencadear os ajustes de trato vocal (entendidos do ponto de vista fontico como
tendncias musculares recorrentes na produo vocal), os quais envolvem aes da
musculatura respiratria, daquela da regio larngea (ajustes fonatrios) e da regio
1 A partir deste ponto do texto, o termo rgo vocal referido em textos da voz cantada ser referido
como trato vocal. Nas descries acsticas, o trato vocal engloba a regio compreendida no circuito acstico desde pregas vocais at lbios (FANT, 1960), destacando o segmento do rgo vocal em que ocorre o processo de produo e modificao/modelagem do som vocal.
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supragltica (ajustes articulatrios), alm dos nveis gerais de tenso muscular (ajustes
de tenso muscular) na concepo do modelo fontico de descrio da qualidade vocal
(LAVER, 1980).
No que se refere abordagem do plano dos ajustes articulatrios, comum a
prtica de instruo vocal por meio de metforas, as quais buscam estimular o aluno a
vivenciar diferenciados mecanismos que resultem em qualidades vocais especficas
(CLEMENTS, 2008; SOUSA et al, 2010).
As Cincias Fonticas e, particularmente, a Fontica Acstica, tm se dedicado
ao estudo dos variados efeitos sonoros que o aparelho fonador humano pode produzir
ao modular a corrente de ar expiratria, tanto para finalidades de produo da emisso
da voz falada, quanto cantada (KENT, 1993; SUNDBERG, 1997).
Os estudos no campo da voz cantada, de modo geral, descrevem os aspectos
de dinmicas da voz, todavia, de acordo com a literatura das cincias vocais, a
investigao pormenorizada de correlatos acsticos e fisiolgicos da qualidade vocal
no canto ainda escassa. A produo cientfica concentra-se em detalhamento de
correspondncias entre as esferas perceptiva e acstica (FUKS, 1999; MEDEIROS,
2002; VIEIRA, 2004; BEZERRA et al, 2008; PEREIRA, 2008; REHDER, BEHLAU,
2008; ULLOA, 2009; MOTA et al, 2010), perceptiva e fisiolgica (DUPRAT et al 2000)
e finalmente, perceptiva, acstica e fisiolgica (MILLER, SCHUTTE, 1990; ZAMPIERI
et al, 2002; HANAYAMA, 2003; SALOMO, 2008; HANAYAMA et al, 2009; GUSMO
et al, 2010).
Outro aspecto importante neste campo de pesquisas pode ser registrado por
descries de eventos mais frequentes para a voz feminina: sintonia F1-F0 e
masculina: formante do cantor (SUNDBERG, 1974; SUNDBERG, 1979; VIEIRA, 2004;
GUSMO et al, 2010).
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O presente estudo apresenta como enfoque a tcnica das metforas utilizadas
como instrues para o canto, a fim de se investigar de que forma as instrues
direcionadas pelo professor de canto, enquanto metforas para se ajustar o rgo
vocal podem influenciar a qualidade sonora final produzida. Para tanto, o estudo
apresenta a proposta de investigao da atividade do trato vocal por meios acstico e
articulatrio (imagem do trato vocal, mais especificamente de imagens
videofluoroscpicas), os quais permitem especialmente detalhar os ajustes de
qualidade vocal, bem como alguns elementos de dinmica vocal.
Segundo Medeiros (2002), existem diferenas entre a fala e o canto,
principalmente no que diz respeito inteligibilidade durante a produo do texto
cantado e s modificaes formnticas. Tais achados reforam a demanda por enfoque
de estratgias que visem estimular ao aluno/cantor a implementar tais diferenciaes
em suas produes de voz cantada.
Do ponto de vista de estudos com imagem do trato vocal, registraram-se,
inicialmente, tcnicas aplicadas produo de fala, como as tcnicas radiogrficas
(LINDBLOM, SUNDBERG, 1971; MACHADO, 1993), xerorradiografia (PINHO et al,
1988; MASTER et al 1991), tomografia computadorizada (SUNDBERG et al, 1987;
THOM, 1999; PASSEROTTI et al, 2008), ressonncia magntica (GREGIO, 2006;
VENTURA et al, 2010), ultrassonagrafia (SVICERO, 2012) e videofluoroscopia
(MANGILLI et al, 2008). Tais tcnicas foram gradativamente incorporadas ao estudo do
canto, como radiografia (ROERS et al, 2009), ressonncia magntica (ECHTERNACH
et al, 2008; SUNDBERG, 2008) e videofluoroscopia (SOUZA, 2008; TAVANO, 2011;
DRAHAN et al, 2012).
A abordagem da qualidade vocal a partir da motivao fontica (LAVER, 1980)
inspirou a concepo de roteiro para avaliao da qualidade vocal falada- roteiro Vocal
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Profile Analysis Scheme - VPAS (LAVER et al, 1981; LAVER, 1982; LAVER, 2000;
MACKENZIE-BECK, 2005), entretanto os conceitos de mecanismos intrnsecos e
extrnsecos de qualidade vocal so vlidos para as situaes de fala e canto, no
sentido de que os efeitos sonoros podem emergir de condies antomo-fisiolgicas do
aparelho vocal (intrnsecas) ou por demandas por variaes de seu funcionamento em
termos do contexto e dos efeitos sonoros (extrnsecas ou fonticas). No canto, a
interao entre tais aspectos no pode ser considerada menos importante e a busca
por entender as mobilizaes de longo termo, que se refletem em qualidades sonoras
especficas, ainda um tpico a ser cuidadosamente estudado.
Diante do exposto, este estudo enfoca a possibilidade de correlao da
caracterizao fisiolgica (articulatria), propiciada pela anlise de imagens
videofluoroscpicas dos ajustes do trato vocal esfera acstica em emisses de voz
cantada, em atividades que envolvam as instrues baseadas em metforas fornecidas
com a finalidade de atingir qualidades sonoras decorrentes de mobilizaes dos
articuladores nas mulheres de dois grupos: cantoras e no cantoras.
Essa pesquisa foi desenvolvida com base em dois experimentos. O primeiro
refere-se a um estudo de caso, pautado na anlise vocal acstica e de imagem do trato
vocal por meio da videofluoroscopia e o segundo baseia-se em um estudo de anlise
vocal acstica com base nas emisses de um grupo de cantoras e um grupo de no
cantoras.
A anlise acstica foi incorporada como recurso instrumental, principalmente no
que diz respeito possibilidade de maior detalhamento da relao entre percepo e
da produo dos sons pelo trato vocal (CAMARGO, MADUREIRA, 2004; ALVES,
CAMARGO, 2006; PESSOA et al 2011).
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Para o canto, utilizam-se as mesmas estruturas do trato vocal durante a fala,
porm com diferentes mobilizaes de acordo com as necessidades da produo da
voz cantada (PEDROSO, 1997). A emisso da voz cantada requer adaptaes de
presso subgltica, de ajustes larngeos e do trato vocal, visando uma produo
esttica, agradvel e livre de mecanismos que possa gerar esforo vocal (SUNDBERG,
1990).
Os aspectos expressivos da voz cantada podem ser tambm detalhados por
meio da anlise acstica e de parmetros correlatos, tais como a prontido (PEREIRA,
2000; BARBOSA, 2009). As diferentes emoes e atitudes expressas na emisso
vocal refletem-se em mudanas na qualidade vocal, bem como modificaes nos
contornos de nfases e entonaes (SCHERER, BANZIGER, 2003). Dessa forma, a
inspeo acstica de elementos prosdicos viabiliza a identificao de atitudes e
emoes, tanto para a fala quanto para o canto (JOHNSTONE et al 1995; BARBOSA,
2009).
Neste contexto, os questionamentos que nortearam a proposio da presente
pesquisa referem-se a: o uso das metforas para o ensino do canto propicia
mobilizaes diferenciadas do trato vocal na produo vocal? Tais mobilizaes so
detectveis por meio de descries fisiolgicas e acsticas da qualidade vocal? Tais
mobilizaes seriam detectadas em cantores e no cantores? A anlise de imagem do
trato vocal permite a associao a medidas acsticas, tais como frequncias
formnticas?
Este projeto focaliza a avaliao fisiolgica (articulatria) e acstica no campo da
voz cantada, tendo como fundamentao a Fontica Acstica e Articulatria. Estudo
desta natureza permite o detalhamento do refinamento de aes sob as quais o trato
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vocal submetido nas situaes de canto e pode colaborar para a compreenso de
particularidades do processo de ensino e prtica do canto.
Dessa forma, tais achados tornam possvel inferir sobre os nveis de mobilizao
das estruturas do trato vocal diante do estmulo das metforas, o que futuramente
poderia auxiliar outras categorias de profissionais da voz que tambm demandam um
uso altamente refinado do trato vocal, bem como auxiliar a discusso em torno das
relaes entre som e sentido e, finalmente, do ensino de canto em nosso meio.
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2. OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo investigar, em amostras de voz cantada, os
efeitos do uso das metforas, a partir de descries acsticas e articulatrias (imagens
do trato vocal) de qualidade vocal em mulheres cantoras e no cantoras.
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3. REVISO DE LITERATURA
A reviso de literatura foi dividida nos seguintes tpicos: a voz cantada e as
instrues no canto baseadas em metforas; anlise acstica e articulatria da voz
cantada e anlise de imagens do trato vocal.
3.1 . A voz cantada e as instrues no canto baseadas em metforas
A origem do canto e da fala se confundem e ambas esto relacionadas
necessidade de externalizar afeto e, portanto, carregam marcas fortes de emoo
(SALOMO, 2008). Durante o canto, quando h harmonia entre os aspectos
explorados, possvel gerar diferentes sensaes positivas no ouvinte, bem como
inmeras emoes durante sua interpretao (ANDRADA E SILVA, DUPRAT, 2004).
Segundo Aguiar (2007), a pera surgiu no incio do sculo XVI pela idia de unir
poesia, drama e msica, ou seja, os poetas e msicos italianos buscavam reviver a
tragdia grega.
Em seguida, surgiu a escola de canto italiana conhecida como Bel Canto que,
em seu incio, era praticado somente por homens e era caracterizada pela sustentao
e equalizao do som na transio de uma frase musical para a frase musical seguinte,
sem qualquer interrupo perceptvel. Portanto, o Bel Canto tornou-se uma aliana
entre a tcnica vocal e a beleza da composio (AGUIAR, 2007, p.13), todavia, sofreu
mudanas ao longo dos anos.
No canto lrico, existe uma ampla terminologia para a descrio da qualidade
vocal. Muitos dos termos tcnicos so utilizados pelos especialistas em voz, enquanto
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outros so considerados metafricos ou estticos (HENRICH et al, 2007). Entretanto, a
terminologia e a forma de cantar no so unnimes (TRAVASSOS, 2008).
Segundo Clements (2008), existem trs tipos de mtodos utilizados pelos
professores de canto. O primeiro embasado exclusivamente na anatomia e nos
estudos cientficos. O segundo utiliza-se de analogias e de imagens para realizar o
aprendizado, tendo sido bastante utilizado em Portugal em meados do sculo XX,
como ensino tradicional para o aprendizado (AGUIAR, 2007). Por fim, o mtodo que
combina ambos os mtodos supracitados, isto , alia o ensino tradicional ao ensino
cientfico (AGUIAR, 2007).
Para Clements (2008), o terceiro mtodo seria o que resultaria em melhores
resultados de aprendizado, enquanto para Aguiar (2007) permitiria utilizar o aparelho
fonador de maneira harmnica e estimularia um aprendizado global e estruturado.
As metforas tambm conhecidas como imagens no meio musical so
utilizadas pelos professores de canto na abordagem de tcnicas vocais (SOUSA et al,
2010). O uso da metfora no ensino do canto recomendado enquanto recurso para
memorizao de sensaes fsicas, facilitador da compreenso do aluno em relao
tcnica empregada e aos conceitos tidos como abstratos (CLEMENTS, 2008;
ROSSBACH, 2011).
Pesquisa sobre o uso das metforas como estratgia pedaggica no ensino do
canto revelou que grande parte dos professores de canto utilizam tais imagens com o
objetivo de estimular a propriocepo dos alunos, bem como de tornar palpvel o
ensino das tcnicas, por considerarem que estratgias fundamentados na fisiologia
seriam de difcil compreenso (SOUSA et al, 2010).
Na mesma pesquisa, algumas das metforas utilizadas pelos professores de
canto entrevistados foram: ressonncia como uma lmpada, cpula de uma igreja
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dentro da boca, ressonncia como uma bolha de sabo, bocejo, sentir o perfume
de uma flor, ressonncia como um capacete, cantar em uma caverna, voz como
gota de orvalho, voz como um sino, voz como uma equipe de corredores de
revezamento, extenso vocal como um armrio com muitas gavetas, cantar como se
fala, cantar como se diz um texto, vogais mais claras ou mais escuras, cantar
refazendo o caminho do ar, focar a voz, postura de admirao, risada de bruxa e
som frontal. A metfora cantar como se fala foi a mais citada entre os professores
do canto erudito, por diminuir a tenso durante a articulao do texto (SOUSA et al,
2010).
Grande parte dos professores de canto refere que as metforas geram efeitos
positivos na musicalidade do aluno e que podem auxiliar no desenvolvimento da
impostao vocal, variaes de timbre, extenso vocal, afinao, inteligibilidade e
homogeneidade da voz, fraseado, dinmica, flexibilidade da voz e inteno
interpretativa (SOUSA et al, 2010, p. 323). Alm disso, apontam que nem sempre uma
mesma metfora pode gerar bons resultados, em alguns casos, h necessidade de
modificar ou adaptar o tipo de metfora para cada aluno.
Rossbach (2011) utilizou as metforas como instrumento didtico tanto para
cantores, quanto para no profissionais, associadas a gestos corporais, em coros
comunitrios. Apontou que, muitas vezes, os professores de canto utilizam esse
recurso sem conhecimento aprofundado de seus mecanismos e de seus efeitos.
De acordo com o dicionrio Aulete (2007), o termo metfora refere-se a uma
figura de linguagem que consiste em estabelecer uma analogia de significados entre
duas palavras ou expresses, empregando uma pela outra. Pensar na metfora
somente como substituio torna seu significado muito restrito.
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Na representao simblica, um rgo do trato vocal pode representar um outro
rgo do corpo, um objeto ou uma condio de proximidade, distncia, entre outras,
dando origem s metforas sonoras (MADUREIRA, 2005), cujo conceito fundamental
ao enfoque do simbolismo sonoro (HINTON et al, 1994). As metforas carregam
sensaes proprioceptivas, motoras e tteis (FONAGY, 2000).
As relaes entre som e sentido pautam-se em cinco categorias de simbolismo;
(HINTON et al, 1994): corporal (sons que expressam estados fsicos e emocionais do
falante, incluindo sons involuntrios como tosse, soluo), imitativo (relacionado a
palavras e frases que representam sons ambientais); sinestsico, (vogais, consoantes,
elementos prosdicos e parmetros acsticos so usados para representar
propriedades visuais, tteis e proprioceptivas de objetos), metalingustico (abrange
escolhas de segmentos e padres entoacionais para sinalizar aspectos de estrutura e
funo lingustica) e convencional (associao entre certas vogais e consoantes a
certos significados).
No campo do simbolismo sonoro, para respaldar as relaes entre som e
sentido, tambm figuram conceitos importantes como o cdigo de frequncia (OHALA,
1997), relacionado frequncia fundamental (f0), cdigo de esforo, relacionado
articulao e o cdigo de produo, relacionado presso subgltica
(GUSSENHOVEN, 2004).
A rigidez ou flexibilidade da voz humana so atribudas, em grande parte, ao
mecanismo de funcionamento das pregas vocais, sendo referidos como mecanismos
larngeos intrnsecos: alongamento, encurtamento, aduo e abduo, aliados a
variados graus de tenso (entre os extremos hiper e hipofuncional) (HIRANO, 1988;
PINHO, 1998). Em alguns casos, cantores inexperientes buscam superar suas
dificuldades em termos de projeo, brilho na voz e suporte respiratrio, de maneira
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que podem acarretar tenses musculares, enquanto que cantores experientes so
capazes de projetar sua voz sem auxlio de microfone, sem realizar ajustes e abusos
vocais que possam prejudicar as estruturas de seu trato vocal, especialmente as
pregas vocais (SUNDBERG, 1970; SUNDBERG, ASKENFELT, 1983; SUNDBERG,
1987; CORDEIRO et al, 2007).
O canto lrico feminino requer sons mais agudos. Na fala feminina, o valor mdio
da frequncia fundamental (f0) situa-se em torno de 220 Hz. Em emisso cantada, uma
soprano pode atingir f0 de 1024 Hz (VIEIRA, 2004). Muitas vezes, mulheres utilizam
frequncias fundamentais mais elevadas durante o canto, quando comparadas ao valor
da frequncia do primeiro formante (F1). Tal efeito ocorre especialmente em mulheres
e conhecido como sintonia F1-F0 (SUNDBERG, 1979; CARLSSON, SUNDBERG,
1992; SUNDBERG, SKOOG, 1997; SUNDBERG, 2003; VIEIRA, 2004).
Diante de tais avanos, na descrio do refinamento dos ajustes de qualidade
vocal no canto, o professor de canto depara-se com a demanda de estimular o aluno a
buscar tanto pelas potencialidades intrnsecas ao trato vocal do aluno, quanto ao
aprimoramento da tcnica vocal (condies extrnsecas), uma vez que a prtica vocal
pode colaborar para estabilizar ajustes que so reconhecidos nos cantores tidos como
experientes. H inclusive a indagao quanto ao fato de alguns ajustes, ou
ornamentos vocais, serem apenas possveis com muitos anos de prtica vocal e
emergirem como efeitos de vozes experientes e altamente treinadas, tal como o vibrato
vocal (SUNDBERG, 1987; ZAMPIERI et al, 2002; VIEIRA, 2004; BEZERRA et al,
2008).
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3.2. Anlise acstica e articulatria da voz cantada
Esta dissertao pauta-se em estudos da fontica acstica (anlise da produo
vocal no canto) e da fontica articulatria (imagens do trato vocal).
Fant (1960) descreveu o modelo fonte-filtro para a produo das vogais, o qual
auxilia na compreenso dos ajustes utilizados em sua produo, com base em
descries acstico-articulatrias. Neste modelo, a fonte seria caracterizada pelas
consequncias acsticas da atividade vibratria das pregas vocais. O filtro estaria
relacionado s consequncias acsticas dos ajustes supraglticos, caracterizadas por
um conjunto de picos de frequncia, tambm conhecidos como formantes. Sendo
assim, as configuraes do trato vocal influenciariam as frequncias naturais de
ressonncia do trato vocal supragltico (FANT, 1960; SUNDBERG, 1979; KENT, 1993).
No caso das vogais, a extenso total e o dimetro das cavidades do trato vocal
influenciam, acusticamente, as frequncias naturais de ressonncia e, portanto, a
qualidade sonora final das vogais (FANT, 1960; SUNDBERG, 1970; LIEBERMAN,
BLUMSTEIN, 1988; KENT, 1993).
Portanto, as vogais podem ser diferenciadas acusticamente pela anlise da
frequncia dos trs primeiros formantes, referidos como F1, F2, F3 ... Fn. Quanto
identificao fontica das vogais, embora exista quantidade infinita de formantes, os
trs primeiros so os mais importantes para conferir a sua identidade fontica,
especialmente a combinao entre F1 e F2 (FANT, 1960; KENT, READ, 1992; KENT,
1993).
Neste contexto, F1 relaciona-se altura de lngua e abertura de mandbula,
enquanto F2 relaciona-se a variaes da postura de lngua no eixo ntero-posterior. F3,
por sua vez, relaciona-se passagem da constrio (FANT, 1960; KENT, 1993;
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MEDEIROS, 2002). Portanto, vogais altas apresentam baixos valores de F1 e vogais
baixas altos valores de F1. Para F2, vogais anteriores apresentam maiores valores de
F2 enquanto que vogais posteriores apresentam menores valores (FANT, 1960; KENT,
1993; MEDEIROS, 2002).
As caractersticas articulatrias da produo das vogais, por sua vez, referem-se
vibrao peridica de pregas vocais, passagem da corrente de ar livre pelo trato (sem
obstruo imposta pelos articuladores), posicionamento do dorso da lngua nos planos
vertical (alta, mdia-alta, mdia-baixa e baixa) e horizontal (anterior, central ou
posterior), arredondamento labial (arredondada ou no arredondada) e posio do
palato mole (oral ou nasal) (LAVER, 1994).
A frequncia fundamental (f0), por sua vez, determinada pelo nmero de ciclos
que as pregas vocais realizam num intervalo de tempo, por exemplo, por segundo. Os
fatores que determinam a frequncia habitual e sua variao (extenso vocal e gama
tonal) so representados por: comprimento natural das pregas vocais, alongamento,
massa em vibrao e tenso envolvida (HIRANO, 1988; PINHO, 1998; MCALLISTER
et al, 2000; ARAJO et al, 2002; FELIPPE et al, 2006; JOTZ et al, 2006).
De acordo com o estudo comparativo da voz falada e cantada, Medeiros (2002)
aponta que h prolongamento das vogais durante a emisso da voz cantada e que a
manuteno de sua frequncia fundamental est relacionada a manobras articulatrias
(abaixamento de mandbula e menor volume de lngua). A autora ainda relata a
aproximao dos valores de F1 com a frequncia fundamental; semelhana de dados
de Sundberg (1979), Carlsson e Sundberg (1992) e Sundberg e Skoog (1997).
O espectro de longo termo (LTAS) considerado eficiente para anlise vocal,
com ele possvel observar atividade larngea e caractersticas formnticas
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(NORDENBERG, SUNDBERG, 2004). Alm disso, possvel diferenciar gnero, idade
tanto em voz falada quanto na voz cantada (MASTER et al, 2006).
Zampieri et al (2002), na continuidade de estudos comparativos entre fala e
canto, pesquisaram, em cantores populares durante a produo/ imitao do canto
lrico, os ajustes larngeos por meio da tcnica de nasofibrolaringoscopia e realizaram
as anlises perceptivo-auditiva e acstica das emisses. Quanto anlise perceptivo-
auditiva, relataram que durante a imitao do canto lrico houve modificao de
qualidade vocal, aumento de loudness, maior projeo vocal e sobrearticulao das
palavras. Em relao anlise acstica, houve reduo dos valores de jitter e shimmer
nas vogais na produo cantada comparada emisso falada. O ajuste larngeo mais
evidente foi a constrio larngea, em padres ntero-posterior e mediano.
Salomo (2008) apontou que os aspectos acsticos, fisiolgicos
(eletroglotografia) e aerodinmicos interferem na diferenciao perceptiva dos registros
vocais. Durante a produo dos registros modal e falsete, encontrou maiores valores
do quociente fechado e menores valores de quociente da amplitude normalizada e de
H1-H2, sugerindo que a interao entre eles propicia diferentes caractersticas dos
ajustes larngeos e, por sua vez, conferem as caractersticas perceptivas aos registros
produzidos.
3.3. Anlise de imagens do trato vocal
Os estudos de imagens do trato vocal durante a produo vocal so ainda
escassos, apesar de permitirem uma detalhada descrio complementar dos vrios
nveis de atividade do trato vocal durante a emisso vocal.
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Alguns estudos tm utilizado as imagens videofluoroscpicas para descrever
mudanas fisiolgicas durante as situaes de fala ou canto (GONALVES, 2002;
NUES, 2006; SOUZA, 2008; DRAHAN et al, 2012).
Enquanto tcnica de diagnstico por imagem, a videofluoroscopia um mtodo
que registra os eventos biolgicos dinmicos, gerados pela exposio de pacientes a
baixos ndices de radiao como fonte de imagens. Alm disso, tais registros podem
ser gravados e permitem traar estimativas em tempo, dimenso e velocidade reais
dos eventos observados, tais como a dinmica da deglutio, da fala e canto (FIRMAN
et al, 2000; COSTA et al, 2003).
Segundo Lopasso (2000), a videofluoroscopia agrega a medidas bidimensionais,
modelos em que a densidade serve de parmetro para a estimativa da avaliao por
imagem em terceira dimenso. Tal modelagem permite a obteno de valores
volumtricos em reas de interesse de estudo. A videofluoroscopia pode proporcionar
subsdios importantes para a avaliao detalhada dos articuladores (lbios, lngua,
palato duro, palato mole) e cavidades ressoadoras (labial, oral, farngea e nasal)
durante a emisso da voz cantada.
A radiao liberada pela videofluoroscopia pode ser 80% menor que o exame de
raio-X convencional, pois esta quantidade de exposio est vinculada ao tempo de
exposio do sujeito radiao, que determina a qualidade final da imagem resultante
(MOSCA, MOSCA, 1971).
A tcnica possibilita a anlise das estruturas do trato vocal por meio de gravao
de imagens dinmicas, de forma a permitir, rever e discutir seus dados e resultados
com outros profissionais/especialistas utilizando recursos tecnolgicos e sem a
necessidade de manter o sujeito ou paciente exposto radiao por mais tempo
(BILTON, LEDERMAN, 1998).
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De modo geral, a videofluoroscopia rotineiramente um exame utilizado nas
avaliaes dos distrbios da deglutio (disfagia), em que se busca correlacionar os
achados das avaliaes clnicas aos dados obtidos a partir do estudo dinmico da
deglutio, com detalhamento das aes em cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e
esfago superior (LEVY et al, 2004). Com exceo da ltima, as demais reas
descritas, e envolvidas no processo de deglutio, participam da ao do trato vocal
supragltico na definio dos ajustes articulatrios da qualidade vocal falada e cantada.
Gonalves (2002) pesquisou as slabas [pa] e [sa] por meio da videofluoroscopia
e realizou anlise perceptivo-auditiva nas emisses de sujeitos com e sem fissuras
labiopalatinas. Apontou que mesmo profissionais experientes podem apresentar
dificuldades para identificar quais so os distrbios articulatrios compensatrios
realizados pelos sujeitos e que no houve registro de deslocamento posterior da lngua
nas slabas estudadas (conforme apontaria a literatura), mesmo com a presena de
fstula no palato ou alteraes de ocluso dentria.
Drahan et al (2012) apresentou como objetivo estudar a posio da laringe
durante o repouso e no canto de cantoras profissionais e no profissionais com
utilizao da tcnica de videofluoroscopia. A medida utilizada refere-se distncia
longitudinal entre pregas vocais e palato duro e tais medidas foram extradas em
milmetros com o auxilio de um software de anlise de imagens. Concluiu que as
cantoras profissionais apresentam maior distncia entre pregas vocais e palato duro
durante o canto em comparao ao repouso, mostrando maior domnio dos ajustes da
musculatura extrnseca da laringe, quando comparadas aos dados das cantoras no
profissionais, para as quais no foram detectadas mobilizaes dessa natureza.
Em estudo da configurao do trato vocal por meio da videofluoroscopia de
emisses do canto popular, Nues (2006) destacou que os ajustes do canto
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diferenciaram-se daqueles da fala em termos da manuteno da estabilidade de laringe
e conformao da cavidade farngea (expanso), movimentao de vu palatino
(lentificada) e mandbula (maior movimento vertical).
Souza (2008) investigou ajustes do trato vocal e do msculo diafragma no canto
lrico por meio da anlise videofluoroscpica, laringolgica e perceptivo-auditiva.
Concluiu que no apoio abdominal expandido h predomnio de ajustes de laringe baixa,
expanso farngea (maior distncia entre raiz de lngua e parede posterior de faringe) e
maior movimentao vertical da mandbula. Para a emisso com apoio abdominal, a
laringe situou-se prxima posio de repouso, a cavidade farngea apresentou menor
rea e as pregas vocais econtraram-se em aduo completa. O estudo reforou a
validade de estudos de imagem para identificar e mensurar modificaes de respirao
e trato vocal durante o canto.
Softwares para medio de imagens foram aplicados a estudos de imagens de
radiografia e ressonncia magntica de canto (ERICSDOTTER et al, 1998;
ECHTERNACH et al, 2008; SUNDBERG, 2008). Atualmente, encontra-se disponvel
software de livre acesso para anlise de imagens do corpo humano (imagens mdicas)
(Osris- http://www.sim.hvuge.ch/osiris/01_Osiris_Presentation_EN.htm).
Em relao ao estudo de Sundberg (2008) com o uso da tcnica de ressonncia
magntica, e utilizao do software de anlise de imagem Osiris, foi possvel observar
modificaes no trato vocal em relao abertura de lbios e mandbula e diferentes
posturas de lngua.
Echternach et al (2008) tambm estudou o trato vocal de uma cantora por meio
da anlise de imagem pela tcnica de ressonncia magntica. Os achados indicam que
durante a produo de voz cantada h abertura de lbios e de mandbula, elevao do
dorso da lngua e expanso farngea.
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Ericsdotter et al (1998) realizou um estudo para testar a viabilidade da utilizao
de um software desenvolvido em sua prpria Universidade (KTH- Royal Institute of
Technology) em um cantor (sexo masculino) submetido a tcnica de imagens
radiogrficas. Foi possvel extrair as medidas do trato vocal (em emisses baseadas
em interpretaes articulatrias das variantes do Sueco), bem como possibilitou suas
correspondncias e extrair as medidas acsticas de frequncias formnticas.
Atualmente, vale ressaltar que a tcnica da ultrassonografia tambm tem sido
utilizada para estudos de imagem do trato vocal, principalmente em relao aos
contornos de dorso de lngua (SVICERO, 2012).
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4. METODOLOGIA
Este tpico est estruturado em dois experimentos, denominados experimentos
1 e 2, respectivamente relativos anlise integrada de imagem do trato vocal e de
dados acsticos (estudo de caso) e anlise acstica de emisses por cantoras e no
cantoras. Em ambos os experimentos, as emisses estudadas referiram-se voz
cantada produzida por meio de intrues baseadas em metforas.
Conforme preceitos ticos, os sujeitos participantes da pesquisa foram
informados sobre os procedimentos e objetivos da pesquisa, de modo a expressarem
consentimento no uso das informaes obtidas para fins cientficos e incluso dos
dados em banco de dados para pesquisa. O Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido- TCLE para cada um dos experimentos apresentado nos anexos 1 e 2.
Este estudo foi submetido ao Comit de tica e Pesquisa da PUCSP e aprovado sob o
nmero 459/2011 (Anexo 3).
4.1. Experimento 1- Anlise integrada de dados acsticos e de imagem do
trato vocal: um estudo de caso
Neste experimento, so relatados os procedimentos relativos coleta e anlise
de dados realizada com a participao de um sujeito do sexo femininio, de 26 anos de
idade, no cantora. Os critrios de incluso para seleo referiram-se ao sexo e faixa
etria, bem como manifestao de interesse em colaborar com a sesso de coleta de
imagens. Os critrios de excluso compreenderam a auto-referncia de queixas vocais
e de quadros inflamatrios/ infecciosos de vias areas no momento da coleta, bem
como de diagnstico otorrinolaringolgico e fonoaudiolgico de alterao vocal no
perodo. Alm disso, foram considerados critrios de excluso aqueles referentes s
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contraindicaes para a realizao de exames de imagem desta natureza: ter realizado
esse exame recentemente, mais especificamente, no perodo de seis meses; e, no
caso de mulheres, encontrar-se em perodo gestacional2.
4.1.1. Procedimentos de coleta de amostras de imagem do trato vocal e de
udio durante a emisso em voz cantada produzida por meio de instrues
baseadas em metforas
A coleta de dados foi realizada em uma sesso, no servio de Radiologia de um
hospital privado da cidade de So Paulo.
Durante a sesso de coleta, o sujeito permaneceu sentado em sala do Servio
de Radiologia em que se utilizou equipamento Philips, Tele Diagnost-Optimus; LG
monitor, LG DVD-HDD, monitor Philips com sistema de gravador/monitor para registro
em DVD. Antes de se iniciar o procedimento de registro de imagens, foi apresentado ao
sujeito o registro em udio de um trecho da cano infantil Sapo Jururu gravado por
uma professora de canto como referncia. Segue a cano abaixo:
Sapo Jururu, da beira do rio,
quando o sapo canta: , maninha
que est com frio.
A mulher do sapo deve estar l dentro,
fazendo rendinhas, maninha,
para o casamento.
2 Dado o fato de as coletas ocorrerem em ambiente externo ao Laboratrio Integrado de Anlise Acstica
e Cognio (LIAAC) e a grade horria ser restrita em funo da alta demanda do servio, no foi possvel compatibilizar a agenda da informante cantora com aquela disponibilizada para coletas da pesquisa.
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Para a composio do corpus foram concebidas quatro tarefas:
Tarefa 1: cantar o trecho da cano Sapo Jururu, da beira do rio. Quando
o sapo canta, maninha, que est com frio sem o uso de metfora;
Tarefa 2: cantar o trecho da cano Sapo Jururu, da beira do rio. Quando
o sapo canta, maninha, que est com frio com o uso de metfora
prisma;
Tarefa 3: cantar o trecho da cano Sapo Jururu, da beira do rio. Quando
o sapo canta, maninha, que est com frio com o uso de metfora
catedral;
Tarefa 4: cantar o trecho da cano Sapo Jururu, da beira do rio. Quando
o sapo canta, maninha, que est com frio com o uso de metfora
disco voador.
Para as tarefas 2, 3 e 4 foram utilizadas ilustraes para facilitar a compreenso
das metforas, de forma a auxiliar o sujeito para a emisso em voz cantada (Anexo 4).
Tais metforas so comumente utilizadas em pesquisas do grupo de estudos sobre a
fala- LIAAC (CANHETTI, MENEGON, 2012). Todavia, podem ser encontrados ou
podem apresentar as mesmas funes com nomes similares em outros trabalhos que
estudam a metfora e o canto (SOUSA et al, 2010).
Nos estudos de Sousa et al (2008) encontramos a metfora cpula de uma
igreja dentro da boca, utilizada nesse estudo como catedral; ressonncia como uma
lmpada, utilizada nesse estudo como o prisma uma vez que existe uma lmpada
que ao acender ilumina o ambiente ou em relao ao prisma espelha a voz como uma
luz refletida, por fim, ressonncia como uma bolha de sabo, utilizada nesse estudo
como o disco voador, j que ambas rementem a algo que flutua com leveza.
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O tempo total de exposio radiao foi de 1 minuto e 46 segundos. Vale
reforar que durante os intervalos, entre uma emisso e outra, e durante as instrues,
no houve exposio radiao. Para que o tempo de exposio fosse breve, no
houve solicitao de repetio de tarefas de emisso em voz cantada.
A partir do software de livre acesso Vdeo Converter (verso 2.3 02) os
estmulos em udio dos vdeos registrados na videofluoroscopia foram extrados em
formato .wav
4.1.2. Procedimentos de edio e anlise dos dados de imagem do trato vocal3
Do ponto de vista de imagens de trato vocal, os registros videofluoroscpicos
foram submetidos a processo de decupagem para anlise das mobilizaes com o
auxlio do software de livre acesso VirtualDub. Aps esse processo, foi possvel efetuar
a inspeo prvia do conjunto de movimentos de lbios, lngua, palato mole, paredes
de faringe e laringe. Para tanto, as imagens em formato pap foram analisadas por meio
do software Osiris e as medidas de deslocamento de articuladores (lbios, mandbula e
lngua) foram extradas em milmetros (mm).
O software Osiris aceita somente arquivos com extenso .pap para a utilizao
das ferramentas disponibilizadas. A converso para essa formato ser descrita no
anexo 5.
3 Os dados de investigao preliminar deste experimento resultaram em trabalho apresentado no Central European Conference in Linguistics for Graduate Students (CECILS) Acoustic Analysis and vocal tract images. A partir da apresentao dos dados no evento e em visita a Universidade KTH- Royal Institute of Technology- Departament of Speech, Music and Hearing, foram efetuadas adequaes ao projeto, especialmente quanto ao tratamento e extrao de medidas de imagens do trato vocal e de medidas acsticas.
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4.1.2.1.Medidas de imagens de trato vocal (mm)
O conjunto de medidas definido para esta etapa de coleta de dados constou de:
abertura de lbios absoluta; abertura de lbios normalizada; abertura de mandbula;
distncia dorso de lngua-faringe; distncia dorso de lngua-palato. Alm disso, foi
definido um elemento qualificador intitulado deslocamento ntero-posterior de lngua.
As medidas foram definidas a partir de estudos que utilizaram a tcnica de ressonncia
magntica para investigaes da voz cantada (SUNDBERG, 2008) pelo software Osiris
e outro pela tcnica de radiografia (ERICSDOTTER et al, 1998) com o uso do software
APEX-model e so apresentadas abaixo:
o Abertura de lbios absoluta (figura 1): o padro utilizado para a extrao referiu-se distncia demarcada entre dente incisivo central superior e o dente incisivo central inferior
Figura 1. Medida de abertura de lbios
absoluta (mm) gerada pelo software
Osiris
o Abertura de mandbula (figura 2): o padro utilizado para extrao referiu-se distncia entre o centro da Glabela do osso frontal (parte ssea acima da rbita ocular na testa) at o mento (queixo).
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Figura 2. Medida de abertura de
mandbula (mm) gerada pelo software
Osiris
o Abertura de lbios normalizada (figura 3): o padro utilizado para extrao referiu-se medida de abertura de mandbula (figura 2) subtrada do valor da distncia entre o dente segundo pr-molar superior e o queixo. Aps o resultado dessa subtrao, o valor gerado subtrado do valor de abertura de lbios absoluta (figura 1) (SUNDBERG, 2008).
Figura 3. Medida de abertura de lbios
normalizada (mm) gerada pelo software
Osiris
o Distncia dorso de lngua-faringe (figura 4): o padro utilizado para extrao referiu-se distncia entre o incio de base de lngua at a segunda vertebra cervical (ECHTERNACH et al, 2008; SUNDBERG, 2008).
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Figura 4. Medida da distncia de
lngua-faringe (mm) gerada pelo
software Osiris
o Distncia dorso de lngua-palato: o padro utilizado para extrao referiu-se localizao do ponto mais alto de corpo de lngua em relao ao palato duro. Em caso de vogais anteriores (figura 5), a medida era realizada no centro do palato duro. Para vogais posteriores (figura 6), a medida apontava o final do palato duro como referncia.
Figura 5. Medida da distncia de
lngua-palato de uma vogal anterior
[] (mm) gerada pelo software Osiris
Figura 6. Medida da distncia de
lngua-palato de uma vogal [a]
posterior (mm) gerada pelo software
Osiris
Elemento qualificador
o Deslocamento ntero-posterior de lngua: parmetro de classificao de julgamento
de deslocamento de dorso de lngua em relao a regio central do palato duro
(1=anterior) ou regio posterior do palato duro (2= posterior).
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4.1.3. Procedimentos de edio e anlise dos dados acsticos
Os estmulos em udio (extenso .wav) extrados dos vdeos registrados na
coleta por meio de videofluoroscopia foram submetidos anlise acstica por meio do
software de livre acesso PRAAT- verso 5.1.34.
Tal procedimento garantiu que as amostras em udio analisadas acusticamente
correspondessem s mesmas emisses das imagens analisadas. As amostras foram
devidamente etiquetadas, destacando-se as vogais /a/ (sApo), /u/ (jurUru), // ( que),
/i/ (rIo) e /i/ (frIo). Para as vogais selecionadas, foram extradas as medidas de
frequncias formnticas (F1, F2 e F3 em Hz),
Os procedimentos de extrao das medidas de frequncias formnticas
seguiram as indicaes do estudo de Svicero (2012).
O conjunto de dados de imagem do trato vocal e de medidas acsticas foram
inseridos em planilha de dados, especificando-se todas as medidas de imagem do trato
vocal, bem como as medidas acsticas de frequncias formnticas (F1, F2 e F3) das
vogais /a/ (sApo), /u/ (jurUru), // ( que), /i/ (rIo) e /i/ (frIo) inseridas em cada trecho de
emisso com metfora (prisma, catedral e disco voador) e sem metfora.
4.1.4. Anlise estatstica (software XLStat- Addinsoft)
Os achados da anlise de imagem do trato vocal e de anlise acstica
(frequncias formnticas) foram submetidos a tratamento estatstico por meio de
anlise multivariada, que permitiu estimar como os ajustes articulatrios do trato vocal,
produzidos por meio de instrues baseadas nas metforas, refletem-se na qualidade
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acstica correspondente a tal produo em voz cantada. Os testes realizados e o
conjunto de variveis analisadas referiram-se a:
o Medidas de imagens do trato vocal e Medidas acsticas (F1, F2 e F3)
Teste de Correlao de Pearson (= 0,005)
Anlise fatorial
Anlise aglomerativa hierrquica de cluster
Anlise de correlao cannica
Anlise de regresso linear
Ancova
Anlise discriminante
Medidas de frequncias formnticas- metforas
Medidas de frequncias formnticas- vogais
Medidas de imagem do trato vocal- metforas
Medidas de imagem do trato vocal- vogais
Medidas de frequncias formnticas e de imagem do trato
vocal metforas
O detalhadamento de cada um dos procedimentos de anlise estatstica
aplicados encontra-se no Anexo 6.
Os resultados foram analisados quanto correspondncia de dados de imagem
do trato vocal e acsticos para as emisses com e sem metforas e discutidos com
base na literatura das Cincias Vocais e das Cincias Fonticas.
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4.2. Experimento 2- Anlise acstica de emisses em voz cantada (produzidas
por meio de instrues baseadas em metforas) por cantoras e no cantoras
Neste experimento, so relatados os procedimentos relativos coleta e anlise
de dados realizada com a participao de dez (10) sujeitos do sexo femininio, de 19 a
44 anos de idade, divididas igualmente no grupo cantoras e no cantoras (Quadro 1).
Quadro 1. Descrio dos sujeitos participantes da pesquisa
Sujeito Idade Tipo Classificao Vocal
S1 25 Cantora Mezzo-soprano
S2 29 Cantora Soprano
S3 31 Cantora Soprano
S4 44 Cantora Soprano
S5 43 Cantora Mezzo-soprano
S6 28 No cantora ------
S7 33 No cantora ------
S8 35 No cantora ------
S9 19 No cantora ------
S10 22 No cantora ------
As particularidades das vozes cantadas masculinas e femininas levaram-nos a
optar pela explorao inicial de um grupo de cantores, uma vez que a incluso de
sujeitos de ambos os sexos levaria a uma proposta de estudo comparativo, dadas as
particularidades de cada grupo. Alm disso, estudos com dados perceptivos e
acsticos de qualidade vocal revelaram a influncia do sexo como varivel
discriminante para a qualidade vocal estudada pela metodologia acstica adotada no
presente estudo (CAMARGO et al, 2012). Finalmente, a opo pelo sexo feminino
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tambm residiu no fato de que o experimento 1 esteve baseado em coleta de amostras
de voz feminina.
De forma geral, os critrios de incluso referiram-se ao sexo (feminino) e faixa
etria (entre 19 e 45 anos) bem como manifestao de interesse em colaborar com a
sesso de coleta de audiogravaes. Segundo a Organizao das Naes Unidas
(ONU) consideram-se adultos jovens sujeitos com at 24 anos e segundo o autor
Eisenstein (2005) considera-se adulto sujeitos com a faixa etria entre 25 a 64 anos.
Os critrios de excluso centraram-se na auto-referncia de queixas vocais e de
quadros inflamatrios/ infecciosos de vias areas no momento da coleta, bem como de
diagnstico otorrinolaringolgico e fonoaudiolgico de alterao vocal no perodo.
4.2.1. Procedimentos de coleta de amostras de udio durante a emisso de
voz cantada produzida por meio de instrues baseadas em metforas por
cantoras e no cantoras
A coleta de dados foi realizada no Laboratrio de Rdio da Faculdade de
Filosofia, Comunicao, Letras e Artes (Faficla) da Pontifcia Universidade Catlica de
So Paulo. As instalaes do referido laboratrio constam com salas com isolamento
acstico, instrumental e suporte tcnico para coleta de dados de udio.
Durante a sesso de coleta, cada sujeito participante permaneceu em p, com o
uso de microfone de modelo de acoplagem em cabea Shure WH20, unidirecional.
Antes de se iniciar o procedimento de registro de udio foi realizado o
procedimento de calibragem da gravao e a instruo sobre a sesso de coleta de
dados.
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Para o procedimento de calibrao foi utilizada uma distncia de 15 cm da boca
do sujeito avaliado. O sinal acstico foi identificado pela opo VU meter do software
Soundforge, o ganho da mesa de som foi ajustado para um limite de variao do sinal
acstico de -3 dB a -9 dB. Para registro de amostras foi utilizada a placa de som
Mackie Microseries 1202 VLZ (12 canais), na frequncia de amostragem de 22050 Hz,
16 bits de quantizao e em formato .wav.
Aps esse procedimento, foi posicionado o microfone e o medidor de presso
sonora (Radio Shack Sound Level Meter catlogo nmero 33-2055; Radio Shack
Corporation, Forth Worth, TX) a uma distncia de 15 cm de um sinal de 1kHz, gerado
pelo software Praat (verso 5.1.34. www.praat.org). O volume desse tom foi
manipulado pela pesquisadora at atingir o nvel de 100 dB NPS (ou valor prximo a
esse).
O microfone headset acima referido foi acoplado tanto ao equipamento utilizado
para calibrao (decibelmetro) quanto mesa de som referida.
Para a primeira etapa, foi apresentado ao sujeito participante o registro em udio
de um trecho da cano infantil Sapo Jururu (Sapo Jururu, da beira do rio, quando o
sapo canta, maninha, que est com frio. A mulher do sapo, que est l dentro,
fazendo rendinhas, maninha, para o casamento) gravado por uma professora de canto
como referncia e reproduzido trs vezes no sistema de autofalantes da sala de
gravao. Alm disso, cada participante recebeu uma verso impressa da letra da
cano.
A gravao teve incio com emisso de fala semi-espontnea (nome, data e
breve relato sobre a cidade em que nasceu), permitindo o monitoramento dos nveis de
gravao e a adequao do instrumental. Em seguida, solicitou-se a gravao da vogal
[a] sustentada em nveis de intensidade habitual, forte e fraco.
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Aps estas etapas prvias, deu-se incio coleta de dados de emisses em voz
cantada, de forma a se proceder ao registro das trs repeties das tarefas abaixo.
No foi priorizada a gravao em ordem aleatorizada para que no ocorresse confuso
das instrues baseadas em metforas por parte do sujeito participante. Dessa forma,
as repeties de cada instruo foram realizadas na sequncia:
Tarefa 1: cantar o trecho da cano Sapo Jururu, da beira do rio, quando
o sapo canta, maninha, que est com frio. A mulher do sapo, que
est l dentro, fazendo rendinhas, maninha, para o casamento sem o uso
de metfora; Foi solicitado ao sujeito participante que cantasse a cano
da forma mais confortvel.
Tarefa 2: cantar o trecho da cano Sapo Jururu, da beira do rio, quando
o sapo canta, maninha, que est com frio. A mulher do sapo, que
est l dentro, fazendo rendinhas, maninha, para o casamento com o
uso de metfora prisma. O participante foi instrudo a cantar pensando
em um ponto, um pequeno feixe de luz que se abre e ganha espao, ou
seja, espalhar a voz como a luz refletida em um prisma.
Tarefa 3: cantar o trecho da cano Sapo Jururu, da beira do rio, quando
o sapo canta, maninha, que est com frio. A mulher do sapo, que
est l dentro, fazendo rendinhas, maninha, para o casamento com o
uso de metfora catedral; O participante foi instrudo a cantar pensando
em projetar sua voz como em uma cpula de catedral e que deveria
preencher todo esse espao.
Tarefa 4: cantar o trecho da cano Sapo Jururu, da beira do rio, quando
o sapo canta, maninha, que est com frio. A mulher do sapo, que
est l dentro, fazendo rendinhas, maninha, para o casamento com o
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uso de metfora disco voador. O participante foi instrudo a cantar
pensando em deixar sua voz flutuar.
Para as tarefas 2, 3 e 4 foram utilizadas ilustraes para auxiliar a compreenso
das metforas, de forma a oferecer uma referncia ao sujeito para a emisso em voz
cantada (Anexo 4).
O sujeito participante foi instrudo quanto ao fato de que poderia interromper e
retomar as emisses, de forma a contemplar a qualidade sonora desejada.
4.2.2. Procedimentos de edio e anlise dos dados acsticos
As amostras de udio registradas em formato estreo, extenso .wav, 22050 Hz
de frequncia de amostragem, foram editadas em estmulo mono e inspecionadas para
checagem do nvel de intensidade das emisses. Em seguida, foram etiquetadas em
duas camadas, segundo dois sistemas:
Metforas- trechos: demarcao de trechos referentes s emisses com
metforas (prisma, catedral e disco voador) e sem metforas;
Metforas- vogais: demarcao da vogal [a] na slaba tnica da emisso
de sapo (com trs ocorrncias para cada trecho-metfora emitido).
Para as edies Metforas-trechos, os estmulos foram submetidos ao script
ExpressionEvaluator (BARBOSA, 2009), para extrao automtica de medidas de
prontido, f0 (mediana, semiamplitude entre quartis, quantil 99,5% e assimetria), de
primeira derivada de f0 (mdia, desvio padro e assimetria), intensidade (assimetria),
declnio espectral (mdia, desvio padro e assimetria) e LTAS (desvio padro). Nesta
etapa, todo o enunciado demarcado foi selecionado para extrao das medidas
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acsticas, tomando-se como referncia os parmetros de voz feminina. A descrio de
cada medida encontra-se no anexo 7.
O termo de consentimento para uso do script ExpressionEvaluator encontra-se
no Anexo 8.
Das edies Metforas-vogais, foram extradas as medidas de frequncias
formnticas (F1, F2 e F3- Hz) das vogais [a] etiquetadas, seguindo-se os
procedimentos relatados no estudo de Svicero (2012). Para cada emisso de metfora
trecho, foram extradas medidas de 3 vogais, nomeadas a1 ([a] da palavra sApo da
emisso sApo jururu), a2 ([a] da palavra sApo da emisso quando o sApo canta), e
a3 ([a] da palavra sApo da emisso mulher do sApo), enquanto trs vogais distintas
no mesmo trecho de extrao de medidas do script ExpressionEvaluator. Para cada
emisso voclica (a1, a2 e a3) de cada falante, foram registradas 3 repeties
O conjunto de dados acsticos foi inserido em planilha de dados, especificando-
se todas as medidas acsticas extradas a partir do script ExpressionEvaluator, bem
como as medidas acsticas de frequncias formnticas (F1, F2 e F3) das trs vogais
de cada trecho a1, a2 e a3. Diante das modalidades de anlises acsticas empregadas
(anlise de longo termo para as edies metforas-trecho e de curto termo para as
edies metfora- vogal), foi realizado teste estatstico para se definir a forma de
apresentao dos dados referentes vogal [a], cujos resultados sero apresentados ao
final do item 4.2.3. da metodologia.
4.2.3. Anlise estatstica
Os achados da anlise de prontido e de medidas acsticas (extradas por meio
do Script ExpressionEvaluator) e de frequncias formnticas foram submetidos a
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tratamento estatstico por meio de anlise multivariada, que permitiu estimar como as
emisses em voz cantada produzidas a partir de instrues baseadas em metforas
refletem-se na qualidade acstica correspondente emisso de mulheres com e sem
experincia em canto. Os testes realizados e o conjunto de variveis analisadas
referiram-se a:
o Medidas acsticas (extradas por meio do script ExpressionEvaluator e
medidas de frequncias formnticas: F1, F2 e F3)
Anlise aglomerativa hierrquica de cluster
o Medidas acsticas (medidas de frequncias formnticas: F1, F2 e F3)
Teste ANOVA (comparao dos valores de F1, F2 e F3) para as 3
emisses voclicas representativas de uma mesma metfora- a1,
a2 e a3
o Elemento prontido - extrado por meio do script ExpressionEvaluator
Regresso linear
Medidas acsticas (extradas por meio do script
ExpressionEvaluator e frequncias formnticas: F1, F2 e F3)
Medidas acsticas (extradas por meio do script Expression
Evaluator)
Medidas acsticas (frequncias formnticas: F1, F2 e F3)
Variveis qualitativas (tipo de emisso (metforas), grupo
(cantoras e no cantoras) e sujeitos)
Ano