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101 ARTIGO DE REVISÃO Resumo: O diagnóstico radiográfico implica a utilização de radiação electromagnética ionizante (radiação X). Da interac- ção do feixe primário de raio X com o animal surge a radiação secundária com energia suficiente para sair do animal e ser dispersa na sala de raios X. A radiação ionizante tem efeitos bio- lógicos adversos, sendo considerada um perigo ambiental e ocu- pacional. Como tal existe, em Portugal, legislação específica de segurança para as instalações e actividade de radiodiagnóstico. O risco do pessoal envolvido no diagnóstico radiográfico vete- rinário é pequeno, mas não deve ser subestimado. Os níveis de radiação a que os trabalhadores são profissionalmente expostos devem ser tão baixos quanto possível, para obter o diagnóstico radiográfico pretendido. Summary: Radiological diagnosis involves the use of electro- magnetic ionizing radiation. In the interaction of the primary X-ray beam with the patient’s body, scatter radiation results, which may have enough energy to exit from the patient and be dispersed in the X-ray room. Ionizing radiations have adverse biologic effects and are considered an environmental or occu- pational hazard. In Portugal, there are specific regulations for X-ray workers and rooms. The risks to the personnel involved in veterinary radiographic procedures, although modest, should not be underestimated. Levels of radiation to workers should be kept to as low a level as practicable, but still allowing the achie- vement of the diagnostic radiographs required. Introdução A população humana está continuamente exposta a radiação ionizante e não ionizante, de origem natural (rochas, solos, cósmica, etc.) e artificial (procedimen- tos médicos, centrais nucleares, etc.). A radiação ioni- zante é desde há muito tempo considerada um perigo ambiental e ocupacional. Os seus efeitos biológicos adversos são perfeitamente conhecidos. Paradoxal- mente, ao avanço do conhecimento humano acerca dos efeitos indesejáveis da radiação, tem-se verificado um aumento do nível de exposição à radiação artificial, especialmente para fins médicos. A utilização de radia- ção ionizante na medicina (radiografia, fluoroscopia, tomografia computorizada, cintigrafia, radioterapia, etc.) é perfeitamente justificada, porque os benefícios clínicos que proporciona compensam largamente os riscos, desde que seja usada de forma criteriosa. O radiodiagnóstico veterinário é um procedimento médico que utiliza para a obtenção da imagem radio- gráfica radiação electromagnética ionizante, deno- minada raios X. Os raios X foram descobertos por Wilhelm Konrad von Röntgen, em 1895, e há relatos da sua utilização em medicina veterinária desde 1896 (Carter, 1995; Lavin, 1994). O diagnóstico radiográ- fico resulta da sensibilização diferencial das diferen- tes áreas da película radiográfica, após a passagem dos fotões do feixe primário de raios X pelo animal. No percurso dos fotões, através dos tecidos orgâni- cos verificam-se interacções e absorções diferenciais selectivas, fundamentais para a formação da imagem radiográfica. Os fotões da radiação X podem ultrapassar toda a espessura dos tecidos sem qualquer tipo de altera- ção na sua energia ou percurso, ou podem surgir três formas de interacção: a) os fotões interagem com os átomos e mudam de direcção, sem perda de energia (radiação secundária clássica); b) os fotões atingem os átomos, ionizam-nos e perdem toda a sua energia (absorção foto-eléctrica), sendo o espaço vazio na órbita ocupado por outro electrão de uma órbita mais externa e é produzido um novo fotão, com direcção aleatória, e energia equivalente à diferença de ener- gia entre as duas órbitas; c) os fotões podem perder parte da sua energia na interacção e continuarem com energia suficiente para prosseguir o seu percurso numa nova direcção (fenómeno de Compton). A constituição molecular e densidade dos tecidos são factores deter- minantes na permeabilidade orgânica à radiação X, bem como do tipo de interacções preferenciais que se verificam. Dependendo da energia dos fotões da radiação secundária, estes podem ser posteriormente absorvi- dos pelos tecidos do animal ou sair para o exterior. Na segunda situação, podem sensibilizar a película, prejudicando a qualidade radiográfica, ou serem dis- persos na sala de raios X, possuindo as mesmas pro- priedades biológicas indesejáveis dos fotões do feixe primário de raio X, embora sejam menos energéticos e por isso com menor poder de penetração. É este tipo de radiação (secundária), a que o médico veterinário deverá dedicar maior atenção, utilizando uma série de técnicas para limitar ao máximo a sua ocorrência e para se proteger a si e aos seus ajudantes no decurso Efeitos biológicos da radiação X e radioprotecção em medicina veterinária Biologic effects of X-radiation and radiation safety in veterinary medicine M.M.D. Ginja 1 e A.J.A. Ferreira 2 1 Departamento de Patologia e Clínicas Veterinárias, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, 5000 –911, Vila Real, Portugal. E-mail: [email protected] 2 Secção de Cirurgia, Departamento de Morfologia e Clínica-CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária, Polo Universitário da Ajuda, 1300-477, Lisboa, Portugal. REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

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ARTIGO DE REVISO

Resumo: O diagnstico radiogrfico implica a utilizao de radiao electromagntica ionizante (radiao X). Da interac-o do feixe primrio de raio X com o animal surge a radiao secundria com energia suficiente para sair do animal e ser dispersa na sala de raios X. A radiao ionizante tem efeitos bio-lgicos adversos, sendo considerada um perigo ambiental e ocu-pacional. Como tal existe, em Portugal, legislao especfica de segurana para as instalaes e actividade de radiodiagnstico. O risco do pessoal envolvido no diagnstico radiogrfico vete-rinrio pequeno, mas no deve ser subestimado. Os nveis de radiao a que os trabalhadores so profissionalmente expostos devem ser to baixos quanto possvel, para obter o diagnstico radiogrfico pretendido.

Summary: Radiological diagnosis involves the use of electro-magnetic ionizing radiation. In the interaction of the primary X-ray beam with the patients body, scatter radiation results, which may have enough energy to exit from the patient and be dispersed in the X-ray room. Ionizing radiations have adverse biologic effects and are considered an environmental or occu-pational hazard. In Portugal, there are specific regulations for X-ray workers and rooms. The risks to the personnel involved in veterinary radiographic procedures, although modest, should not be underestimated. Levels of radiation to workers should be kept to as low a level as practicable, but still allowing the achie-vement of the diagnostic radiographs required.

Introduo

A populao humana est continuamente exposta a radiao ionizante e no ionizante, de origem natural (rochas, solos, csmica, etc.) e artificial (procedimen-tos mdicos, centrais nucleares, etc.). A radiao ioni-zante desde h muito tempo considerada um perigo ambiental e ocupacional. Os seus efeitos biolgicos adversos so perfeitamente conhecidos. Paradoxal-mente, ao avano do conhecimento humano acerca dos efeitos indesejveis da radiao, tem-se verificado um aumento do nvel de exposio radiao artificial, especialmente para fins mdicos. A utilizao de radia-o ionizante na medicina (radiografia, fluoroscopia, tomografia computorizada, cintigrafia, radioterapia, etc.) perfeitamente justificada, porque os benefcios clnicos que proporciona compensam largamente os riscos, desde que seja usada de forma criteriosa.

O radiodiagnstico veterinrio um procedimento

mdico que utiliza para a obteno da imagem radio-grfica radiao electromagntica ionizante, deno-minada raios X. Os raios X foram descobertos por Wilhelm Konrad von Rntgen, em 1895, e h relatos da sua utilizao em medicina veterinria desde 1896 (Carter, 1995; Lavin, 1994). O diagnstico radiogr-fico resulta da sensibilizao diferencial das diferen-tes reas da pelcula radiogrfica, aps a passagem dos fotes do feixe primrio de raios X pelo animal. No percurso dos fotes, atravs dos tecidos orgni-cos verificam-se interaces e absores diferenciais selectivas, fundamentais para a formao da imagem radiogrfica.

Os fotes da radiao X podem ultrapassar toda a espessura dos tecidos sem qualquer tipo de altera-o na sua energia ou percurso, ou podem surgir trs formas de interaco: a) os fotes interagem com os tomos e mudam de direco, sem perda de energia (radiao secundria clssica); b) os fotes atingem os tomos, ionizam-nos e perdem toda a sua energia (absoro foto-elctrica), sendo o espao vazio na rbita ocupado por outro electro de uma rbita mais externa e produzido um novo foto, com direco aleatria, e energia equivalente diferena de ener-gia entre as duas rbitas; c) os fotes podem perder parte da sua energia na interaco e continuarem com energia suficiente para prosseguir o seu percurso numa nova direco (fenmeno de Compton). A constituio molecular e densidade dos tecidos so factores deter-minantes na permeabilidade orgnica radiao X, bem como do tipo de interaces preferenciais que se verificam.

Dependendo da energia dos fotes da radiao secundria, estes podem ser posteriormente absorvi-dos pelos tecidos do animal ou sair para o exterior. Na segunda situao, podem sensibilizar a pelcula, prejudicando a qualidade radiogrfica, ou serem dis-persos na sala de raios X, possuindo as mesmas pro-priedades biolgicas indesejveis dos fotes do feixe primrio de raio X, embora sejam menos energticos e por isso com menor poder de penetrao. este tipo de radiao (secundria), a que o mdico veterinrio dever dedicar maior ateno, utilizando uma srie de tcnicas para limitar ao mximo a sua ocorrncia e para se proteger a si e aos seus ajudantes no decurso

Efeitos biolgicos da radiao X e radioproteco em medicina veterinria

Biologic effects of X-radiation and radiation safety in veterinary medicine

M.M.D. Ginja 1 e A.J.A. Ferreira 2

1 Departamento de Patologia e Clnicas Veterinrias, Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro, 5000 911, Vila Real, Portugal. E-mail: [email protected]

2 Seco de Cirurgia, Departamento de Morfologia e Clnica-CIISA, Faculdade de Medicina Veterinria, Polo Universitrio da Ajuda, 1300-477, Lisboa, Portugal.

R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CINCIAS VETERINRIAS

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RPCV (2002) 97 (543) 101-109Ginja, M.M.D. e Ferreira, A.J.A.

dos exames radiogrficos (Figura 1).Este trabalho de reviso tem como principais objec-

tivos: a) alertar para os efeitos biolgicos da radiao ionizante; b) chamar ateno para tcnicas que dimi-nuem a radiao secundria; c) alertar para formas de reduzir o nvel de exposio no procedimento radiogr-fico e assim reduzir os riscos; d) divulgar a legislao nacional relativa tcnica de radiodiagnstico.

Efeitos biolgicos da radiao X e resduos do processamento radiogrfico

Na exposio dos tecidos vivos radiao ionizante h absoro da energia dos fotes pelas clulas. A transferncia de energia resulta na ionizao e excita-o de tomos e molculas celulares. Nas interaces fotes/clulas so produzidas molculas estveis ou instveis e radicais livres, os quais podem reagir com molculas adjacentes e directa ou indirectamente, exercer uma grande variedade de efeitos indesejveis nas clulas irradiadas (Webbon, 1995). Os efeitos bio-lgicos secundrios advm da perda de funo celular, mutaes genticas ou morte celular (Dobson, 1995; Webbon, 1995). Os efeitos biolgicos indesejveis dos raios X sobre os seres vivos so conhecidos desde o incio do sculo passado. Logo aps a descoberta dos raios X comearam a surgir suspeitas, rapidamente confirmadas, dos efeitos secundrios da radiao nos trabalhadores profissionalmente expostos radiao X, eritemas, perda da sensao, infeces, descamao, dor e morte prematura (Davies, 1995; Rojas, 1988; Webbon, 1995).

Os efeitos biolgicos da radiao ionizante sobre os seres vivos, so classicamente conhecidos como efeitos estocsticos ou no estocsticos (Dowsett et al., 1998; Orden e Gonzalo-Orden, 1994).

No primeiro grupo enquadram-se a carcinognese e os defeitos genticos transmitidos descendncia, secundrios a danos no DNA. A probabilidade destes efeitos ocorrerem aumenta com a dose de radiao recebida, no existindo para os efeitos estocsticos uma dose mnima de segurana (Webbon, 1995). Na dcada de 40 foi observada nos radiologistas uma elevada incidncia de leucemia (Strickland e Kensler, 1995). Trabalhos experimentais em animais e dados epidemiolgicos humanos demonstraram a relao entre o aumento da exposio radiao e o aumento da incidncia de neoplasias (Rauth, 1991). O aumento da incidncia de neoplasias s evidente a partir de

nveis de radiao relativamente elevados e s pode ser detectado atravs de estudos em populaes numerosas (Dowsett et al., 1998). H incerteza sobre o potencial risco carcinognico da exposio a baixas doses de radiao (Kane e Kumar, 1999). Os valores dos riscos da exposio a baixas doses de radiao so extrapola-dos, a partir dos dados recolhidos nos estudos dos efei-tos de elevadas doses de radiao, utilizando-se vrios modelos matemticos de anlise, por vezes controver-sos (Quadro 1) (Cho e Glatstein, 1998; Dowsett et al., 1998). Normalmente decorre um perodo de latncia de 10 a 20 anos at surgir a evidncia clnica das neo-plasias (Kane e Kumar, 1999).

So exemplos de efeitos no estocsticos as catara-tas e as lceras cutneas (Webbon, 1995). A gravidade deste tipo de efeitos biolgicos da radiao depende da dose absorvida pelos tecidos, sendo s evidentes quando ultrapassado o limiar de segurana. Para os efeitos no estocsticos o limiar de segurana de cada rgo conhecido, estando perfeitamente estabelecido (Quadro 2) (Dowsett et al., 1998; Webbon, 1995). Os tecidos com uma elevada taxa de renovao celular (medula ssea, gnadas, intestinos, etc.) so mais radiosensveis (Morgan, 1993; Rauth, 1991), devido aco da radiao no DNA (Dobson, 1995; Kane e Kumar, 1999). Este tipo de efeitos da radiao ioni-zante sobre os tecidos vivos no so aparentes ime-diatamente, podendo surgir semanas, meses ou anos depois (Dernall e Wheaton, 1995) e foram os primeiros a ser conhecidos e descritos (Davies, 1995). A extenso dos danos depende da dose de radiao, fonte de radia-o, intensidade e durao da exposio (Dernell e Wheaton, 1995). Actualmente, este tipo de efeitos no estocsticos, resultantes dos danos de tecidos normais em procedimentos mdicos s so evidentes nos trata-mentos de radioterapia (Dernell e Wheaton, 1995). Os equipamentos de radiodiagnstico comercializados e homologados so seguros e desde que sejam cumpridas as normas de radioproteco no procedimento radio-grfico, a exposio radiao ionizante do radiolo-gista e pessoal auxiliar mnima (Dowsett et al., 1998).

Quadro 1 Comparao de riscos fatais. Adaptado de Dowsett et al. (1998).Evento Risco Razo do riscoCondutor de automvel(16 000 Quilmetros) 200 x 10-6 1 : 5000Idade de 55 anos 10 000 x 10-6 1 : 1001 mSv exposio 10 x 10-6 1 : 100 00050 mSv exposio 1,5 x 10-3 1 : 700

Quadro 2 Limiares estimados de efeitos no estocsticos em Sv para a exposio aguda e crnica de todo o corpo segundo ICPR60. Adaptado de Dowsett et al. (1998).Tecido/efeito Dose de Dose anual de exposio aguda exposio crnicaGnadas masculinas: Esterilidade temporria 0,15 0,4 Esterilidade permanente 3,5 6,0 2.0Gnadas femininas: Esterilidade >2,5 >0,2Cristalino: Opacidades 2 10 >0,1 Cataratas >2.0 >0,15Medula ssea Anemia >0,5 >0,4

Figura 1 Radiao dispersa na sala de raio X. 1) ampola de raios x; 2) colimador; 3) feixe de raios X primrio; 4) animal; 5) radiao secundria dispersa.

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Em radiologia veterinria so especialmente preocu-pantes os efeitos estocsticos, uma vez que uma dimi-nuio da exposio radiao ionizante simplesmente reduz a probabilidade de ocorrerem, mas nunca a sua importncia. Os efeitos no estocsticos em Medicina Veterinria no assumem tanta importncia, desde que sejam cumpridas as normas bsicas de segurana. No decurso do radiodiagnstico, a dose de segurana destes efeitos, para qualquer rgo, dificilmente ser atingida (Quadro 3).

Quadro 3 Segundo Webbon 1981 ou Wrigley e BoraK 1983, citados por Webbon (1995) a exposio radiogrfica registada numa radiografia de rotina para avaliao de displasia da anca num co de 17 kg, com exposio de 60 kVp e 32 mAsDose registada entrada da pele 1,5 mSvDose junto do feixe de raios X primrio 0,04 mSvDose a 25 cm de distncia do feixe de raios X primrio 0,008 mSvDose a 35 cm de distncia do feixe de raios X primrio debaixo do avental de 0,25 mm de chumbo 0,00004 mSv

O Decreto-Lei n348/89 de 12 de Outubro e o Decreto Regulamentar n9/90 de 19 de Abril, estabele-cem os princpios e as normas de segurana destinados proteco sanitria da populao e dos trabalhadores contra os perigos resultantes das radiaes ionizantes. No Decreto Regulamentar n9/90 de 19 de Abril so referidos os limites de dose para pessoas profissional-mente expostas, limites especiais e limites de dose para membros do pblico (Quadro 4).

Quadro 4 Limites de dose. Adaptado do Anexo IV do Decreto Regulamentar n 9/90 de 19 de AbrilPessoas/Tecidos DosePessoas Profissionalmente expostas (PPE): Todo o corpo 50 mSv/anoCristalino 150 mSv/anoPele, mos, antebraos, ps e tornozelos 500 mSv/anoOutros rgos ou tecidos 500 mSv/anoLimites especiais: Idades entre os 16 e 18 anos 1/10 das PPEMulheres em idade de gestao no abdmen 13 mSv/trimestreDose no feto na gravidez < 10 mSvLimites de dose para membros do pblico 1/10 das PPE

O processamento das pelculas na cmara escura, atravs da utilizao de solues de revelao e fixao, produz resduos perigosos para o ambiente, quando so libertados na natureza sem tratamento prvio. O produtor responsvel pelo destino final dos resduos e as normas nacionais para a sua gesto adequada encontram-se no Decreto-Lei n239/97 de 9 de Setembro. Em Portugal, segundo a Listagem de empresas de tratamento de resduos legalizadas (http://www.inresiduos.pt), a TRIALAG (Agncia de Intercmbio Comercial, Parque Industrial da Quimigal, Rua 46 A, n 8, 2831-904 Barreiro, tel. 212074958 / fax: 212074989) a nica empresa legalizada, espe-cializada na reciclagem da prata a partir dos banhos da fixao, pelculas radiogrficas e na eliminao dos banhos de revelao. Uma gesto adequada dos res-duos implica a sua armazenagem em contentores ade-quados, fornecidos pela empresa e a recolha peridica.

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Os encargos econmicos que advm do tratamento so reduzidos, pois a prata reciclada valorizada.

Tcnicas de limitao da radiao secundria

H diversos factores que influenciam de forma directa, o tipo/quantidade de radiao X utilizada no procedimento radiogrfico normal e indirectamente a quantidade de radiao secundria dispersa na sala de raios X: delimitao do feixe primrio de raios X; tipo de feixe primrio de raios X; filtros; ecrs intensifica-dores; pelculas radiogrficas; grelhas; compresso dos tecidos; distncia da fonte de radiao; proteco das cassetes por chumbo na face inferior/posterior; repeti-o de radiografias; radiografias desnecessrias.

O feixe de raios X primrio deve ser delimitado regio a examinar, sendo apenas irradiada a regio anatmica que se pretende radiografar. Este procedi-mento reduz a exposio radiao do animal e evita a exposio, radiao do feixe de raios X primrio, de quem est a fazer a conteno. Por outro lado, ao reduzir-se a rea irradiada diminui-se a quantidade de radiao secundria dispersa na sala e a que vai atingir a pelcula (melhorando a qualidade radiogrfica). A quantidade de radiao secundria produzida, quando o tipo de feixe primrio se mantm, est directamente dependente da rea irradiada (Douglas et al., 1987; Lavin, 1994; Morgan, 1993). Ao longo dos anos tm sido utilizados diversos dispositivos no equipamento radiogrfico com esta finalidade: aberturas diafragm-ticas por lminas de chumbo ajustveis, cones e cilin-dros de chumbo. Os primeiros dispositivos so con-siderados mais eficazes, prticos e funcionais, sendo normalmente conhecidos por colimadores. Este tipo de delimitadores do feixe tm incorporada uma luz indi-cadora que permite a visualizao da rea irradiada. A manipulao das lminas internas de chumbo (aproxi-mao ou afastamento), atravs de manpulos externos, possibilita o ajustamento das dimenses da rea irra-diada, regio anatmica que se pretende radiografar (Figura 2) (Morgan, 1993).

Figura 2 Esquema do interior de um colimador. a) lminas de chumbo; b) espelho; c) fonte de luz; d) manpulos externos de controlo dos movi-mentos das lminas; e) fonte de raios X.

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Para a formao da imagem radiogrfica impres-cindvel utilizar um feixe primrio de radiao X, com fotes suficientemente energticos, para uma adequada quantidade de radiao ultrapassar os tecidos e estar disponvel para sensibilizar a pelcula e contribuir para a formao da imagem radiogrfica. Na prtica clnica, uma radiografia com a adequada densidade para o diagnstico pode conseguir-se utilizando elevadas ou baixas kVp (Kilovolt peak: diferena de potencial mxima utilizada na realizao dos exames radiogr-ficos, vulgarmente designada de quilovoltagem), desde que se faam as devidas compensaes dos mAs. Uma radiografia torcica de um candeo com densidade equivalente pode obter-se utilizando 40 kVp e 40 mAs ou 100 kVp e 1,5 mAs. Na segunda situao, a utiliza-o de elevados kVp, permite uma reduo drstica da intensidade do feixe de raios X primrio, diminuindo consequentemente o nvel de exposio radiao a que sujeito o animal, sendo neste aspecto prefervel relativamente utilizao de feixes com kVp reduzi-das (Morgan, 1993).

Os filtros so placas de alumnio ou cobre com diferentes espessuras que so ajustados sada da ampola, no trajecto do feixe de raios X primrio. Estes dispositivos eliminam do feixe os fotes menos energticos, que no contribuem para a formao da imagem radiogrfica, e uma pequena quantidade dos mais energticos. Os filtros permitem um endureci-mento do feixe, ou seja a seleco dos fotes mais energticos (fundamentais para a formao da imagem radiogrfica) e reduzem drasticamente o nvel de expo-sio radiao dos animais. Por outro lado, os filtros tambm tm influncia na quantidade de radiao secundria produzida e no contraste e densidade final da radiografia. As alteraes da densidade radiogrfica verificadas com a sua utilizao implicam ajustamen-tos de compensao no feixe primrio de raios X, em mAs. A quantidade final de filtrao mais adequada determinada essencialmente pelas kVp que se utilizam no disparo (Morgan, 1993).

Menos de 1% dos fotes que atingem a pelcula interagem com ela e assim contribuem para a forma-o da imagem latente. Devido a esta ineficincia no aproveitamento da radiao, podem ser usados na tc-nica radiogrfica, desde 1897, os ecrs intensificadores (Morgan, 1993). Estes acessrios radiogrficos so incorporados nas cassetes e tm substncias fluores-centes. A camada fluorescente tem uma maior eficcia de interaco com os fotes X e grande capacidade de absorver a energia dos fotes X e convert-la em fotes de luz visvel (menos energticos e em maior quantidade) que vo sensibilizar a pelcula. A inten-sidade do feixe primrio de raios X requerida, pode ser consideravelmente mais reduzida. Esta reduo tem influncia directa na quantidade de radiao a que o animal est sujeito e na radiao secundria que dispersa na sala de radiodiagnstico (Douglas et al., 1987; Lavin, 1994; Morgan, 1993;). Existem no mercado vrios tipos de ecrs intensificadores incorporados nas cassetes com diferentes capacida-des de interaco e converso da energia da radia-o primria. Estas caractersticas so normalmente conhecidas como factor de intensificao. O factor de

intensificao do ecr intensificador (exposio sem ecr/exposio com ecr) determinado pela quali-dade da substncia fluorescente (tungstato de clcio, terras raras, etc.), espessura, dimenses e concentrao dos cristais, temperatura da sala e kVp utilizada (Tor-torici, 1992). Os ecrs intensificadores de terras raras so considerados mais rpidos, uma vez que estas substncias tm uma grande capacidade de interaco e de converso da energia dos fotes X, conseguindo-se elevados factores de intensificao.

As pelculas radiogrficas comercializadas tm diferentes velocidades. A velocidade da pelcula determinada pela exposio requerida para a formao da imagem radiogrfica com a densidade adequada. A utilizao de pelculas rpidas permite obter radiogra-fias com o uso de feixes de raios X primrio de menor intensidade. Para uma maior eficincia das pelculas no aproveitamento da radiao utilizada para a forma-o da imagem radiogrfica, a sua sensibilidade deve estar de acordo com o tipo de luz visvel emitida pelos ecrs intensificadores (Lavin, 1994; Morgan, 1993).

As grelhas so utilizadas na tcnica radiogrfica para eliminar a radiao secundria que vai atingir a pelcula, responsvel por prejudicar a qualidade da imagem radiogrfica. O uso de grelhas permite obter radiografias com melhor contraste, estando a sua uti-lizao recomendada quando a espessura dos tecidos a radiografar ultrapassa os 10/12 cm. As grelhas, colo-cam-se entre o animal e a pelcula, e eliminam uma grande percentagem dos fotes de radiao secund-ria que iriam sensibilizar a pelcula e alguns fotes do feixe de raios X primrio. A quantidade de fotes disponveis para sensibilizar a pelcula drasticamente reduzida, pelo que para manter a densidade radiogr-fica de diagnstico fundamental compensar adequa-damente a intensidade do feixe de raios X utilizado. A compensao implica um aumento da radiao sobre o animal e consequentemente tambm vai ser respons-vel pelo aumento da radiao secundria dispersa na sala de raios X (Morgan, 1993; Douglas et al., 1987). A alterao na tcnica radiogrfica, para compen-sar a reduo da exposio da pelcula pelo uso das grelhas, tambm conhecida como Factor de Bucky. Este factor de compensao est dependente de carac-tersticas da grelha e da energia dos fotes (Quadro5) (Morgan, 1993).

Quadro 5 Factor de Bucky para compensar a reduo de exposio devido ao uso de grelhas. Adaptado de Morgan (1993). Razo da < 70 kVp < 95 kVp < 120 kVp grelha*/energia dos fotes Sem grelha 1 1 1 5:1 3 3 3 8:1 3,5 3,75 4 12:1 4 4,25 5 16:1 4,5 5 6*Razo da grelha: relao entre a altura das lminas de chumbo e a dis-tncia entre as lminas.

Devido caracterstica disperso rectilnea da radia-o X, normalmente utiliza-se na quantificao da exposio a lei inversa do quadrado. Isto significa que,

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ao duplicar-se a distncia da fonte de radiao prim-ria, o nvel de radiao recebido reduzido a 1/4, uma vez que a mesma quantidade de fotes vai irradiar o quadruplo da rea (Figura 3) (Morgan, 1993; Tortorici, 1992).

nados na mesa correctamente, de preferncia sedados ou anestesiados (obtm-se melhor qualidade e evita-se a conteno) e as solues de processamento das pel-culas no devem encontrar-se deterioradas (Morgan, 1993).

O exame radiogrfico deve ser sempre precedido de um exame clnico completo e rigoroso. Os animais e as regies anatmicas a radiografar devem ser criterio-samente seleccionados, pois s as vantagens clnicas justificam os riscos (Morgan, 1993).

Controlo da exposio radiao X

Unidades de dose de radiao

Os efeitos biolgicos das radiaes ionizantes esto em certa medida dependentes da quantidade recebida. Para podermos quantificar a radiao utilizam-se trs tipos de medida: exposio, a dose absorvida, a dose equivalente.

A exposio representa o poder de ionizao da radiao no ar e pode ser medida graas a uma cmara de ionizao. A exposio utilizada para descrever, por exemplo: a radiao de uma ampola radiogrfica a uma determinada distncia. A unidade de exposio no sistema Internacional (S.I.) o Coulomb por quilo-grama (C/kg). O Roentgen (R) uma unidade utilizada anteriormente mas que ainda aparece com frequncia referenciada em muitos documentos. 1 R= 2,58 x 10-4 C/kg.

A dose absorvida utilizada para descrever a quan-tidade de radiao absorvida por um objecto ou um organismo vivo no decurso de um disparo radiogrfico. a medida utilizada, por exemplo, para descrever a dose recebida ou prescrita em radioterapia. Pode ser definida pela energia, medida em Joules (J) , deposta por unidade de massa (kg) no decurso da exposio. A unidade do S.I. o Gray (Gy) (1 Gy= 1J/kg). Ante-riormente a unidade utilizada era o rad. 1 Gy=100 rad.

A dose equivalente uma medida que foi introdu-zida para reflectir os efeitos biolgicos diferentes de uma mesma dose em funo da natureza da radiao. Aos diferentes tipos de radiao foi atribudo um factor de qualidade (Q) reflectindo o seu poder patognico. Este factor de qualidade de 1 para a radiao X, e , de 10 nos neutres e 20 para as partculas alfa. Esta medida utilizada em radioproteco e as doses mxi-mas autorizadas so expressas na legislao na unidade denominada Sievert (Sv) (Dowsett et al., 1998). O Sv = 1Gy x Q. Anteriormente a unidade utilizada era o rem (1 Sv= 100 rem) (Lavin, 1994). No sistema de limitao de doses definidos na legislao e na dosi-metria realizada nas instalaes de radiodiagnstico, so as unidades de dose equivalente que so utilizadas. O Sv uma unidade que corresponde a uma elevado nvel de exposio no radiodiagnstico veterinrio. Normalmente as quantidades de radiao em radiolo-gia veterinria so muito inferiores ao Sv, pelo que comum a utilizao do milisievert (mSv) ou mesmo do microsievert (Sv).

Uma vez que a susceptibilidade dos tecidos radia-o no igual a Comisso Internacional de Proteco Radiolgica introduziu uma nova categoria de medida

Figura 3 Esquema da lei inversa do quadrado. Ao duplicar-se a distncia (d) do local de origem da radiao, a rea irradiada quadriplica, a intensidade de radiao reduzida a um quarto, sendo conse-quentemente o nvel de exposio tambm redu-zido a um quarto.

A Compresso dos tecidos com a utilizao de objectos radiotransparentes (colheres de pau, bandas de pano, etc.), pode estar recomendada, por exemplo, na projeco lateral do abdmen caudal para a melhor visualizao radiogrfica do tero canino, uma vez que so reduzidas as sobreposies de outros rgos com densidades equivalentes (Feeney e Johnston, 1986). Por outro lado, a compresso ao diminuir a espessura dos tecidos, permite a reduo dos factores de exposi-o e a consequente diminuio da radiao secundria dispersa (Morgan, 1993). Esta tcnica tem como des-vantagens a alterao da anatomia radiogrfica normal das vsceras e por vezes podem surgir artefactos.

H todo o interesse na utilizao de cassetes com proteco por chumbo da face inferior/posterior, uma vez que mesmo com a utilizao de ecrs intensifi-cadores, h uma grande quantidade de fotes X que ultrapassam estas estruturas. Quando existe o chumbo na face posterior/inferior das cassetes, estes fotes des-perdiados so absorvidos, caso contrrio podem irra-diar directamente partes do organismo de quem est a fazer a conteno que se encontrem por baixo da mesa (p.e. ps) ou contribuir para o aumento da radiao secundria dispersa na sala (Morgan, 1993; Douglas et al., 1987).

A repetio de radiografias sempre indesejada e deve ser evitada, uma vez que vai exigir a utilizao de nova radiao. H todo o interesse em ter nas instala-es de radiodiagnstico tabelas prprias de exposio radiogrfica, para utilizao nas diferentes projeces, espcies, raas, tamanhos, etc. Actualmente, tambm comercializado equipamento radiogrfico com pro-gramao anatmica e exposimetria automtica, que neste aspecto pode ser vantajoso. O exame radiogr-fico tambm deve ser preparado, os animais posicio-

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da radiao, a dose efectiva. Com a utilizao desta grandeza possvel comparar o risco que advm da radiao no uniforme e uniforme do corpo. A dose efectiva a soma ponderada das dose equivalentes em diversos rgos (Orden e Gonzalo-Orden, 1994). Os valores de ponderao para cada rgo esto definidos (DR n 9/90) tendo em conta o risco da radiao no rgo em causa. A unidade de dose efectiva tambm o Sv.

Dosmetros de radiao pessoais

Detectores de baixos nveis de radiao so utiliza-dos nas clnicas veterinrias, para monitorizar a quanti-dade de exposio individual, acumulada num determi-nado perodo de tempo (Morgan, 1993). No mercado existem diferentes tipos de detectores de radiao acei-tveis para monitorizao individual e ambiental.

Os detectores de radiao fotogrficos consistem numa pelcula de filme inserida num suporte de pls-tico o qual pode ser preso no vesturio (Morgan, 1993). O mtodo fotogrfico foi o primeiro a ser utilizado na deteco da radiao (Dowsett et al., 1998; Orden e Gonzalo-Orden, 1994). A exposio do dosmetro radiao ionizante sensibiliza o filme, escurecendo-se quando revelado. A quantidade de escurecimento do filme avaliada com um densitometro e proporcional dose de radiao recebida (Morgan, 1993). O suporte de plstico contm diferentes filtros que permitem esti-mar a energia da radiao recebida (Figura 4) (Mar-tnez Hernndez e San Andrs Larrea, 1992a; Rojas, 1992). A leitura feita por entidades oficiais e cuida-

e o Servio de Radiodiagnstico (SR): 1 - envio de pelculas novas pelo DPRSN; 2 - envio das pelculas usadas pelo SR; 3- envio das leituras de cada dosme-tro em Sv (dose no perodo e acumulada). Os impres-sos do DPRSN com as leituras de cada trabalhador profissionalmente exposto devem ser cuidadosamente arquivados no SR. Os custos da dosimetria encontram-se definidos no Despacho n 17018/2000 (Quadro 6).

Outro tipo de detectores de radiao so os dosme-tros termoluminescentes, baseiam-se nas alteraes produzidas pela radiao em certos cristais de sulfato de clcio e fluoreto de ltio. Quando estas molculas so expostas radiao ionizante, absorvem a sua energia (Martnez Hernndez e San Andrs Larrea, 1992a; Morgan, 1993). Actualmente esto a comear a substituir os dosmetros fotogrficos (Orden e Gon-zalo-Orden, 1994). As molculas mantm o estado excitado at serem aquecidas a altas temperaturas. Para a leitura so aquecidas, voltando ao seu estado normal e emitindo luz. A luz emitida proporcional quantidade de energia ionizante recebida, sendo a quantidade de luz emitida usada para extrapolao da dose de radiao de exposio (Morgan, 1993; Orden e Gonzalo-Orden, 1994).

As cmaras de ionizao so outro tipo de detectores de radiao, que permitem a deteco electrnica e lei-tura directa da dose de radiao recebida (Dowsett et al., 1998; Orden e Gonzalo-Orden, 1994). A exposio da cmara radiao ionizante resulta numa perda de carga proporcional quantidade de exposio. Este tipo de detectores tm grande sensibilidade, a leitura pode ser em microsieverts, num visor. Como desvan-tagens, salienta-se o elevado preo, preciso no total-mente fivel e este tipo de detectores no possibilita um registo permanente da radiao recebida (Morgan, 1993).

Quadro 6 Custos da prestao de servios do controlo por dosimetria fotogrfica Servio Custos Iniciao do controlo por trabalhador 120 Controlo peridico por perodo de controlo e por trabalhador 5,40 Extravio ou danificao de um dosmetro 60

Instalaes de Radiodiagnstico

A radiao ionizante considerada um perigo ambiental e ocupacional (Morgan, 1993). As instala-es de radiodiagnstico veterinrio so abrangidas pela legislao nacional existente para actividades mdicas que envolvem a produo de radiao ioni-zante. O Despacho n 7191/97 de 5 de Setembro, nos seus anexos estabelece os critrios para aceita-bilidade das instalaes de radiodiagnstico, entre os quais destacamos: os requisitos tcnicos a que devem obedecer as instalaes e a necessidade do pedido de licenciamento e de um regulamento de funciona-mento aprovado pela Direco Geral da Sade (DGS, Alameda D. Afonso Henriques, 45, 1049-005 Lisboa, tel.: 218430500, fax: 218430530). O pedido de licen-ciamento deve ser feito pelo responsvel da instalao DGS, utilizando impressos prprios.

No decurso do processo de licenciamento das ins-talaes de radiodiagnstico efectuado o estudo de

dosamente registada e arquivada (Morgan, 1993).Em Portugal, o controlo dosimtrico nas instalaes

de radiodiagnstico feito atravs de dosmetros foto-grficos, pelo Departamento de Proteco Radiolgica e Segurana Nuclear (DPRSN, estrada nacional n 10, apartado 21, 2686-953 Sacavm, tel.: 219946000, fax: 219941995). A utilizao de dosimetria nas instalaes de radiodiagnstico deve ser solicitada ao DPRSN, em impressos prprios. Com base na quantidade de servio radiogrfico realizado nas instalaes calen-darizada a periodicidade de envio de pelculas e de leitura da exposio. Em cada perodo de controlo h troca de correspondncia, via correio, entre o DPRSN

Figura 4 Interior do dosmetro fotogrfico. reas sem filtro (seta cinzenta) e com filtro de alumnio e de cobre (seta preta). No centro est a pelcula individual, utilizada para leitura (seta branca).

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segurana radiolgica, pelo DPRSN, a pedido da DGS. Para o licenciamento exigido equipamento com certi-ficados de homologao, adequada radioproteco das portas e paredes, bem como uma eficaz sinalizao da sala de exames, com uma luz vermelha e avisos indica-dores de perigo de radiao ionizante de acordo com a Norma Portuguesa N 442 de 1966 (Figura 5).

ausncia de repeties e de radiografias desnecessrias; d) no aumento da distncia da fonte de radiao secun-dria; e) proteco adequada do organismo utilizando material radioprotector (luvas, aventais e protectores da tiride de chumbo, culos com lentes radiopacas, etc.) (Morgan, 1993; Perry, 1993).

O conceito ALARA pressupe o cumprimento estrito de todas as medidas de radioproteco no decurso dos exames (Quadro 7). Desta forma, previnem-se os efei-tos no estocsticos e reduz-se, para nveis aceitveis, a probabilidade dos efeitos estocsticos ocorrerem (Dowsett et al., 1998). Quando a exposio mnima os potenciais perigos da radiao so considerados negligenciveis relativamente aos benefcios clnicos (Webbon, 1995).

A dosimetria individual fotogrfica, utilizada em Portugal, no pode ser considerada ideal, tem algumas limitaes, entre as quais destacamos a reduzida sen-sibilidade dos dosmetros (0,2 mSv). Normalmente, na radiologia veterinria, este tipo de dosimetria individual resulta em leituras de valor zero. No pre-tendemos no entanto desencorajar a utilizao desta dosimetria individual, perfeitamente justificada por funcionar como alerta em eventuais anomalias de funcionamento do equipamento e indispensvel para cumprimento da legislao em vigor.

O mdico veterinrio no deve satisfazer-se por, no controlo dosimtrico individual, no ultrapassar os limites de dose fixados por lei. Teoricamente, os limites de dose referidos na legislao, no permitem reduzir a zero os riscos da exposio humana radia-o ionizante e em Medicina Veterinria estes limites dificilmente sero atingidos. O trabalho mais seguro, com menores riscos, ser sempre aquele que respeita o conceito ALARA, uma vez que permite obter a qua-lidade diagnstica desejvel, com nveis reduzidos de exposio humana radiao ionizante.

Quadro 7 Regras bsicas de segurana para o diagnstico radiogrfico. Adaptado de Morgan (1993), Perry (1993) e Webbon (1997). O exame radiogrfico deve ser justificado pelas vantagens clnicas que proporciona. No permitir a permanncia de menores nem de mulheres grvidas na sala de exames Rodar o pessoal que permanece na sala para a conteno dos animais. Utilizar a tranquilizao dos animais sempre que possvel. No expor nenhuma parte do corpo ao feixe primrio de raios X. Utilizar sempre vesturio radioprotector adequado (aventais, luvas, protectores da tiride, etc.). Fazer uma adequada limitao do feixe primrio de raios X e afastar-se o mximo possvel da fonte de radiao secundria, durante a conteno dos animais. Usar combinaes, de ecrs intensificadores e pelculas, rpidas de forma a reduzir ao mximo os factores de exposio. Realizar o processamento das pelculas de forma correcta (temperaturas e qualidade das solues adequadas). Utilizar dosmetros de radiao. Planear o exame radiogrfico para evitar repeties desnecessrias. Utilizar tabelas de exposio radiogrfica para assegurar a qualidade diagnstico e evitar repeties.

Figura 5 Smbolo de perigo de radiao ionizante NP-442. Triflio preto sob fundo amarelo com indica-es adicionais a preto.

Na radioproteco das instalaes as portas so nor-malmente revestidas com folhas de chumbo (2 mm), nas paredes utilizada argamassa com barita (3/5 de barita, 1/5 de areia e 1/5 de cimento) com espessura de 3 cm, em 3 camadas de 1 cm, e nos visores vidro de compsito chumbneo, materiais que oferecem uma radioproteco equivalente a 2 mm de chumbo (Philips Portuguesa, 1999). As instalaes de radiodiagnstico, excepo das de medicina dentria, quando esto integradas em reas de habitao ou servios devem situar-se a nvel do solo ou subsolo. Os requisitos de radioproteco das salas so definidos no Despacho n 7191/97 e esto dependentes de vrios parmetros, nomeadamente: energia da radiao; carga semanal de funcionamento; direco do feixe til de radiao; tipo de ocupao das reas a proteger.

Radioproteco

Como a dose segura de radiao ainda desconhe-cida, considera-se prudente evitar ao mximo a expo-sio rotineira radiao ionizante (Cho e Glatstein, 1998). O risco do pessoal envolvido no procedimento radiogrfico veterinrio, embora pequeno, no deve ser subestimado (Webbon, 1995). Qualquer actividade que implique a exposio a radiao ionizante deve ser pre-viamente justificada pelas vantagens que proporciona. Deve evitar-se sempre a exposio desnecessria, e o nvel de exposio ser mantido o mais baixo possvel e nunca ultrapassar os limites fixados por lei (DR N 9/90).

No diagnstico radiogrfico, em Medicina Veterin-ria, recomenda-se para controlo do nvel de exposio humana radiao, o conceito ALARA as low as reasonable achievable, ou seja, a exposio radiao deve ser sempre s a indispensvel (Morgan, 1993; Lavin, 1994).

A eficcia da radioproteco em Medicina Veterin-ria assenta essencialmente na: a) limitao do tempo de exposio; b) sedao ou anestesia dos animais para facilitar o posicionamento e evitar a conteno; c)

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Radiao ionizante natural e artificial

A radiao um componente inevitvel do nosso meio ambiente (Darby, 1999). Os seres vivos, que habitam a superfcie terrestre esto sujeitos a radiao ionizante natural e frequentemente a radiao para fins mdicos (Quadro 8 e 9).

A radiao natural qual estamos expostos depende de diversos factores (altura, geologia, etc.). A inten-sidade de radiao a 4000 metros de altura 4 vezes superior do que ao nvel do mar (Martnez Hernndez e San Andrs Larrea, 1992b) e uma viagem de avio a 9 000 metros de altura expe o indivduo a 5 Sv/hora (Cho e Glatstein, 1998). Em algumas reas do globo terrestre, os nveis de radiao natural so especial-mente elevados, 100 mSv por ano no Kerala, ndia e certas regies do Brasil. Estes locais so utilizados como modelos em estudos dos efeitos biolgicos da exposio a baixas doses de radiao ionizante (Dow-sett et al., 1998).

Quadro 8 Propores tpicas de radiao ionizante natural e artificial na Europa (dose para todo o corpo). Adaptado de Dowsett et al. (1998).Fonte Dose (Sv) %Radiao natural Radiao csmica(actividade solar) 310 13Radiao gama terrestre(solos, rochas e gua) 380 16Decrscimo radioactivo do gs rdon(casas e rea de trabalho) 800 33Radiao interna(40K, 14C, etc.) 370 15Total 1860 78% Radiao artificial Procedimentos mdicos 500 21Disparo de armas de fogo 10 0,4Descargas nucleares 3 0,15Ocupacional 9 0,36Viagens de avio 8 0,34Total 530 22% Total da radiao mdia de exposio do corpo humano 2390 100%

Quadro 9 Dose equivalente em exames de Medicina Humana. Adaptado de Rehani e Berri (2000).Tipo de exame Dose equivalenteExame tomogrfico tpico do trax 8 mSvExame radiogrfico do trax 0,02 mSv

A maior parte da exposio da populao em geral radiao ionizante de origem natural. O gs rdon radioactivo que se acumula dentro das habitaes tem grande importncia (Darby, 1999; Strickland e Kens-ler, 1995). O gs rdon um produto que resulta do decrscimo radioactivo do urnio, um componente natural de muitos solos e rochas duras como o caso do granito (Dowsett et al., 1998).

De acordo com um estudo realizado em habitaes no norte de Portugal pelo Instituto Tecnolgico e Nuclear (Teste Sade n 34, de Novembro/Dezembro de 2001), existem em alguns destes locais, nveis de radioactividade quatro vezes acima do recomendado

pela Comisso Europeia. Em cada 100 pessoas expos-tas diariamente ao nvel mximo de radioactividade recomendado pela Comisso Europeia, seis morrem vtimas de cancro do pulmo (o Instituto Tecnolgico e Nuclear, http//:www.itn.pt, tel.: 219946000, efectua medies das concentraes de gs rdon por cerca de 50 Euros).

O mdico veterinrio radiologista deve conhecer a realidade da sua exposio contnua a este campo de radiao natural e artificial e ter presente o conceito de que a radiao ionizante, a que o seu organismo est sujeito no servio normal de radiodiagnstico dos animais, uma radiao adicional. Esta constitui uma parcela da radiao a que est exposto que pode volun-tria e facilmente reduzir.

Agradecimentos

Dra. Dlia Gazzo da Direco Geral da Sade pela reviso do texto e por todas as preciosas ajudas e disponibilidade que tem demonstrado sempre que solicitada.

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ARTIGO DE OPINIO

Resumo: O conhecimento morfolgico assenta na apreenso de parmetros do domnio espacial (estruturas anatmicas reais) e simblico (vocabulrio).Tal conhecimento dever considerar sempre a perspectiva funcional das estruturas anatmicas e estar ento em condies de servir as reas com base na medicina quer tenham uma valncia acentuada para o exerccio da clnica quer sejam reas paraclnicas como por exemplo a inspeco sanitria. Se considerarmos domnios como a polcia sanitria, a inspeco sanitria, ou emisso de juzos periciais em cadveres, exigido ao mdico veterinrio conhecimentos que isoladamente ou integrados podem ser a chave para responder a questes que se prendem, por exemplo, com a diagnose da idade e sexo de bovinos. sobre estas matrias que este trabalho se debrua.

Summary: The morphological knowledge has its bases on the perfect understanding of some parameters such as spatial proper-ties (real anatomical structures) and symbolic properties (vocab-ulary) of structures. This knowledge has always to take into account the functional perspective of the anatomical structures and only then it will be on conditions to assist medical areas either with an important aspect for the clinics or for the paraclin-ics areas such as sanitary inspection. If we consider areas such as sanitary police, sanitary inspection, or pericial judgements over cadavers, the veterinary has to show knowledges that isolated or integrated can be the key for solving questions concerning the age or the sex of bovines, for example. This work is a refl ection over the integration of those knowledges.

Introduo

O conhecimento do corpo, no apenas na perspectiva sumria do estatismo do cadver mas sempre na pers-pectiva funcional das diferentes estruturas anatmicas que o compem, est na base da formao do "pensa-mento anatmico". A deteno deste conhecimento condio essencial ao acto clnico e tambm a nica arma quando, no exerccio de actividades em reas ditas paraclnicas ou higiosanitrias, o mdico veteri-nrio se v na contingncia de aferir os seus conheci-mentos ao realizar juzos periciais. Conhecimentos em reas especfi cas, como por exemplo, a odontologia, assumem uma valncia de banda larga quando integra-

dos com conhecimentos na rea da osteologia, miolo-gia e artrologia, para efeitos, por exemplo, de diagnose da idade em carcaas de bovinos.

Os autores realizaram durante um binio observa-es a nvel das arcadas dentrias de carcaas de bovi-nos, assim como avaliaes do estado de ossifi cao do esqueleto e partilham neste trabalho a sua viso de como estes conhecimentos integrados se mostram teis para efeitos de sexagem e peritagem da idade de carcaas bovinas.

A datagem das idades em que ocorre a ossifi cao das linhas epifi sais para cada osso, quando particulari-zado, mostra elevada constncia. Trata-se de um dado que datado com acontecimentos semelhantes ocorridos em ossos que ossifi cam em data anterior ou posterior a esse evento, permitem saber com exactido a idade do animal.

A posio relativa entre diferentes conjuntos de ossos (a linha vertical que traada do pbis atinge a coluna vertebral, pode incidir sobre vrtebras colo-cadas em diferentes pontos desta) e constitui um ele-mento de elevada relevncia para a diagnose da sexa-gem de carcaas. Igual importncia assume, por exem-plo, o conhecimento da morfologia que os msculos assumem quando seccionados. Chamamos a ateno para o facto de estes elementos anatmicos estudados isoladamente, tais como os dentes, a linha epifi sal e a morfologia dos msculos, serem de primordial importncia na peritagem da idade das carcaas e na diferenciao de carcaas de machos e de fmeas e de uso imperioso no quotidiano de quem trabalha nas reas paraclnicas, como a inspeco sanitria, ou quando actos de peritagem sobres estas matrias so requeridas.

Avaliao da idade do animal, parmetros a considerar

Anatomia do dente

O dente constitudo por uma coroa, revestida por esmalte, e uma raiz, coberta por cemento, constituindo o colo a rea de transio entre eles. O colo e a coroa

Elementos para a diagnose do sexo e idade em carcaas de bovinos

Elements for the diagnosis of sex and age of bovine carcasses

Jlio Cavaco Fasca, Graa Alexandre-Pires, Lusa Mendes-Jorge

Faculdade de Medicina Veterinria, ncleo de Anatomia DEMOC - CIISA Rua Prof. Cid dos Santos, Polo Universitrio do Alto da Ajuda 1300 477 Lisboa, Portugal.

R E V I S T A P O R T U G U E S ADE

CINCIAS VETERINRIAS

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RPCV (2002) 97 (543) 111-118Fasca, J. C. et al.

constituem a parte exposta do dente, estando a raiz contida no alvolo. O esmalte uma substncia branca, calcifi cada, muito resistente, de origem ectodrmica. O cemento , por seu turno, um tecido amarelado, menos brilhante, mais macio, constituindo o menos rgido dos tecidos calcifi cados do dente.

O dente , do ponto de vista estrutural, acelular, e portanto incapaz de reagir a traumatismos (no pas-svel de se regenerar para colmatar uma soluo de continuidade ou reparar uma fractura).

A arquitectura quer da raiz quer da coroa formada por dentina, sendo que, as clulas produtoras de den-tina, os odontoblastos, desaparecem da dentina recm formada e permanecem, como uma camada contnua, sobre a superfcie que reveste a polpa do dente (polpa: tecido conjuntivo, no seio do qual existe uma cavidade cavidade pulpar onde esto includos os vasos e nervos que atingem o dente atravs do formen locali-zado na raiz).

O esmalte constitui a substncia mais dura do corpo, revestindo, como foi dito, sob a forma de uma fi na camada, a superfcie da coroa. medida que o dente se desgasta a dentina exposta na face mesial do dente, pelo que, se no houvesse uma proliferao de dentina secundria, a cavidade do dente, ou cavidade pulpar estaria exposta nesta superfcie. Esta dentina secundria recebe a designao de estrela dentria e de fcil observao na face mesial, uma vez que surge com uma colorao mais escura. Este marfi m de nova formao, ou estrela dentria, cuja proliferao oblitera a cavidade pulpar, apresenta-se, nos dentes incisivos, inicialmente sob a forma linear, depois retangular e, por fi m, quadrada, circunstncia que est relacionada com a morfologia prpria da coroa destes dentes, como mais adiante se explica em detalhe. Em virtude da sua dureza, o esmalte desgasta-se mais lentamente do que a dentina, o que contribui para tornar irregular e, por consequncia, mais spera a face mesial, facto que providencia uma mais efi ciente triturao.

O dente apresenta-se fortemente fi xado ao alvolo por intermdio do ligamento fi broso periodontal, cujas fi bras de colagnio se unem quer ao cemento quer ao osso alveolar.

Erupo/evoluo do dente

Os mamferos normalmente nascem sem dentes ou apenas com alguns que acabaram de irromper. So necessrios alguns anos para que, nos bovinos, irrom-pam todos os dentes permanentes.

medida que o dente irrompe na mandbula/maxila, avana no sentido da cavidade oral. A altura da coroa vai sendo reduzida por atrito, provocando uma reduo no comprimento total do dente, medida que o animal fi ca mais velho, com o concomitante preenchimento do alvolo por tecido sseo.

Os dentes dos bovinos no so de crescimento con-tnuo, mas quando a coroa irrompe, a raiz ainda no

est completamente formada, pelo que continua a ser depositada substncia, at que a raiz atinja o seu total desenvolvimento. No entanto, no momento em que a raiz do dente sofre ocluso, pouca ou nenhuma subs-tncia adicionada. Deste facto resulta que, a forma do dente, num corte transversal, sofra alteraes ao longo do seu eixo maior, medida que, devido ao atrito decorrente da mastigao, vai sofrendo gasta-mento. Por consequncia, a observao da morfologia do dente permite a diagnose da idade do animal, uma vez que as diferentes fases de evoluo do dente (erup-o, gastamento, nivelamento, substituio, etc.) e o aparecimento de um determinado perfi l da face oclusal dos incisivos ocorrem em datas relativamente constan-tes. A substituio dos incisivos decduos por dentes permanentes ocorre, de igual modo, em idades tambm constantes. Todos estes factores, em conjunto, so pre-ciosos elementos indiciadores da idade do bovino.

Frmula dentria dos bovinos

til a este propsito relembrar que os bovinos so animais de dentio difi odonte. Possuem, portanto, um conjunto de dentes (dentes decduos ou de leite) que irrompem no incio da vida e que so, a seu tempo, substitudos por dentes permanentes com a mesma designao.

O conjunto temporrio de dentes consiste em incisi-vos e pr-molares. Os molares no so precedidos por dentes temporrios, fazendo, assim, parte do conjunto de dentes permanentes.

A frmula dentria traduz o nmero e a especifi ci-dade dos dentes, quer na maxila quer na mandbula, uma vez que os bovinos so tambm animais de dentio heterodntica, isto , apresentam dentes de caractersticas morfolgicas e funcionais diferenciadas (Figura 1). Assim, a frmula dentria dos dentes dec-duos nesta espcie :

Figura 1 Dentio heterodn-tica: dentes incisivos (seta 1), dentes pr-molares (seta 2) e dentes molares (seta 3).

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2 i 0 c 0 pm 3 m 0 = 20 4 0 3 0

A substituio desta dentio de leite pela perma-nente traduzida pela frmula seguinte:

2 i 0 c 0 pm 3 m 3 =32 4 0 3 3

Caracterizao dos incisivos de leite e de adulto

Nos bovinos, os dentes incisivos no existem na maxila. Como se pode induzir da frmula dentria, esta espcie possui quatro incisivos em cada hemi-mandbula, a saber: pinas, 1OS mdios, 2OS mdios e cantos, respectivamente do plano mesioplagiomrico para a periferia, onde formam uma linha curva, dis-pondo-se em leque.

Cada incisivo possui, para efeitos de descrio, uma superfcie livre (face oclusal ou face mesial) e duas faces (a face vestibular ou labial bucal para os pr-

permanentes que os substituem excepto em relao aos seguintes aspectos (Figura 2 e 3): so mais pequenos; so mais pediculados, ou seja, o colo do dente mais acentuado; so mais lisos (ausncia de sulcos na face labial); so mais esbranquiados (cor de giz).

Caracterizao dos pr-molares de leite e de adulto

Os 1os pr-molares (superiores e inferiores) no esto presentes. Os trs pr-molares restantes so menores do que os trs molares e ocupam cerca de metade do espao exigido pelos molares. Os dentes pr-molares e molares progridem de tamanho do mais cranial para o mais caudal.

Os pr-molares inferiores decduos so bastante irregulares em seu formato; possuem uma coroa com vrias unidades de cspides, e apresentam vrias razes. P2 o menor dos dentes pr-molares; P3 e P4

molares e molares no vestbulo oral e a face interna que a face lingual), trs bordos e respectivos ngulos (Figura 2).

Acidentes da face labial: sulcos (apenas nos dentes permanentes).

Acidentes da face lingual: eminncia aval (acidente em relevo, de forma cnica, de vrtice superior e diri-gido para o ngulo mais externo do dente).

A coroa de um dente incisivo , nesta espcie, em forma de p. Nestes dentes observa-se um achatamento lbio-lingual de tal forma que o bordo dorsal cor-tante. Em corte sagital observa-se que a coroa mais grossa prximo raiz, adelgaando-se em direco ao bordo dorsal, e que a face labial convexa enquanto que a face lingual plana ou ligeiramente cncava.

Os dentes incisivos decduos so semelhantes aos

Figura 2 Dentes incisivos decduos: A - face lingual, 1 - pinas, 2 - primeiros mdios, 3 - segundos mdios, 4 - cantos; B - face ves-tibular ou labial.

Figura 3 Dentes incisivos: observar que os pinas decduos j foram substitudos pelos pinas permanentes.

so semelhantes, excepto pelo facto de P4 ser maior e possuir trs razes, ao invs de duas como apresentam P2 e P3 (Figura 4).

A face mesial da coroa apresenta vrias unidades de cspides (acidentes em relevo que formam um padro especfi co para cada espcie): P2 e P3 apresentam 2; enquanto P4 apresenta 3.

Os dentes pr-molares decduos so semelhantes ao permanentes que os substituem excepto em relao aos

Figura 4 Dentes pr-molares decduos: PM2, PM3 e PM4, sendo que PM4 possui 3 razes e 3 unidades de cspides (). Dentes molares: M1 e M2, observar o incio da erupo de M2 ().

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seguintes aspectos: so mais pequenos; so mais pedi-culados, ou seja, o colo do dente mais acentuado; so mais lisos (ausncia de sulcos na face labial); so mais esbranquiados (cor de giz). O 4 pr-molar decduo apresenta 3 unidades de cspides e trs razes (Figuras 4 e 6); o defi nitivo apresenta apenas duas unidades de cspides (Figura 5).

adultos; 4 fase - a) gastamento e b) nivelamento dos incisivos substituintes; 5 fase - afastamento dos inci-sivos.

Erupo dos dentes decduos

A partir do folculo dentrio o dente irrompe na mandbula e projecta-se na cavidade bucal, surgindo em primeiro lugar os dentes de leite ou decduos. Esta evoluo dos dentes apresenta-se nas datas que a seguir se mencionam.

Erupo dos dentes permanentes

Para efeitos de diagnose da idade h que ter em considerao que a erupo do primeiro molar (4 a 6 meses) ocorre num perodo anterior substituio completa dos incisivos. Como a erupo destes est directamente relacionada com o crescimento do man-dibular, verifi ca-se que em primeiro lugar irrompe uma crista, que a mais cranial do dente, sendo observveis posteriormente as outras cristas medida que o dente vai atingindo o nvel da mesa dentria. Esta fase conhecida pela fase de erupo total do dente.

muito importante que fi que registada a ideia de que a erupo dos dentes faz-se do plano mesioplagio-mrico ou sagital mediano para a periferia, querendo isto dizer que, primeiro surgem os incisivos (pinas, 1os mdios, 2os mdios e cantos), por esta ordem, contra-riamente ao que ocorre no caso dos sunos, ou mesmo dos ovinos, em que por vezes os 2os mdios irrompem primeiro que os 1os mdios. (Quadro 1).

Para alm disso h ainda a considerar o aspecto da precocidade da raa que altera de forma considervel a data de erupo dos dentes incisivos, mas que, no entanto, em nada interfere com a data em que se veri-fi ca a erupo dos dentes pr-molares e molares. Esta realidade determina que, para efeitos de diagnose da idade, deva sempre ser levada em considerao a fase de evoluo destes dentes cuja data de erupo no sofre nenhuma alterao decorrente da precocidade da raa (Figura 6). No demais sublinhar este facto.

Em termos mdios, so considerados 3 graus de precocidade, nos quais a evoluo se faz nos pinas com um diferencial de 6 meses entre o 1 e o 3 grau (Quadro 2).

Em relao evoluo dos dentes pr-molares dec-duos para dentes permanentes processa-se mais ou menos como mostra o quadro anexo, independente-mente da precocidade das raas, tendo em ateno que para efeitos prticos de determinao da idade no se deve esquecer que o 4 pr-molar decduo apresenta 3 unidades de cspides, e que depois quando substitu-do pelo dente adulto este apenas apresenta 2 unidades de cspides, coincidindo com o rompimento do 3 molar (24 a 30 meses), este sim com 3 unidades de cspides, contrastando com os restantes molares (estes com 2 unidades de cspides).

Figura 5 - Observar o 4 pr-molar permanente com 2 unidades de cspi-des (seta 1). A seta 2 indica o 3 molar, este com 3 unidades de cspides.

Figura 6 - Face bucal (A) e face oclusal (B) dos dentes pr-molares () e molares (). Observar o 4 pr-molar decduo, cuja substituio se ir efectuar entre os 30-34 meses, e o 2 molar, cuja erupo se efec-tuou entre os 15-18 meses. Salientamos a ausncia do 3 molar que ir irromper entre os 24-30 meses. Daqui se conclui que este animal ter menos que 24 meses de idade.

Diagnose da idade atravs da observao dos dentes

Pelas alteraes da morfologia do dente que se observam ao longo da sua evoluo, facilmente se compreende que os dentes so estruturas que nos for-necem ptimas indicaes para determinarmos a idade dos bovinos.

Chama-se a ateno para o facto de que as diferen-tes fases pelas quais passa a dentio, e que contribuem para a diagnose da idade so: 1 fase - erupo dos dentes (incisivos) de leite - a arcada s est feita aos 3 ou 4 meses; 2 fase - a) gastamento e b) nivelamento dos incisivos caducos; 3 fase - erupo dos incisivos

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Quadro 3 - Datas de soldadura das epfi sesVrtebras Epfi ses do corpo 4,5 a 5 anosEscpula Ncleo coracoidiano 7 a 10 mesesmero Extremidade proximal 42 a 48 meses Extremidade distal 15 a 20 mesesRdio Extremidade proximal 12 a 15 meses Extremidade distal 40 a 48 mesesUlna Extremidade proximal 42 meses Extremidade distal 36 mesesCoxal Centro cotiloidiano 7 a 10 meses Tuberosidade isquitica 4 a 5 anosFmur Extremidade proximal 36 meses Extremidade distal 42 meses

Determinao da idade atravs da observao da linha epifi sal

O crescimento longitudinal dos ossos compridos, no perodo ps-natal, resulta de um processo de ossifi ca-o endocondral, o que signifi ca que essa ossifi cao se processa tendo como base um molde de cartilagem, propagando-se a partir de centros de ossifi cao (loca-lizados um deles na difi se e os outros dois em cada uma das epfi ses).

Entre o tecido sseo formado a partir do centro de ossifi cao epifi srio e o tecido sseo formado a partir do centro de ossifi cao diafi srio mantem-se uma placa transversal de cartilagem que se denomina de placa ou disco epifi srio e que superfcie surge sob a forma de uma linha linha epifi sal. Aquela responsvel por produzir e manter o crescimento do tecido cartilagneo que serve de molde para a ossifi -cao, permitindo destarte o crescimento longitudinal dos ossos compridos. O disco epifi srio persiste at ao momento em que se completa o crescimento longitudi-nal do osso, sendo ento inteiramente substitudo por tecido sseo.

O desaparecimento dos discos epifi srios ocorre em idades diferenciadas, para diferentes ossos. Contudo, pode observar-se que em ossos que se articulam entre si, a data de desaparecimento do disco epifi srio das extremidades dos ossos que formam uma determinada articulao muito prxima ou mesmo simultnea. Esta ocorrncia pode ser utilizada para efeitos de diag-nose da carcaa. (Quadro 3).

As vrtebras, embora classifi cadas como ossos curtos, por no se verifi car a predominncia de nenhuma das dimenses base, podem tambm ser uti-lizadas para efeitos de diagnose da idade, porquanto a completa ossifi cao do seu corpo se verifi ca aos 4,5 a 5 anos, idade em que desaparecem as placas cartilag-neas por fuso dos ncleos de ossifi cao (Figura 7).

Quadro 1 - Evoluo dentria dos bovinos 1 dentio 2 dentio Pinas Antes do nascimento 20 meses 1 mdios Antes do nascimento 30 meses 2 mdios Antes do nascimento 38 meses Cantos 15 primeiros dias 48 meses 1 pr-molar ausente ausente 2 pr-molar Entre 15 e 28 dias 26 a 30 meses 3 pr-molar Antes do nascimento 26 a 30 meses 4 pr-molar Antes do nascimento 30 a 34 meses 1 molar 4 a 6 meses constante para todas as raas2 molar 15 a 18 meses constante para todas as raas3 molar 24 a 30 meses constante para todas as raas

Quadro 2 - Precocidade na erupo 1 grau 2 grau 3 grau raas exticas Cruzados raas autctonesPinas 14 a 15 meses 18 meses 19 a 20 meses1 mdios 18 meses 24 meses 28 a 30 meses2 mdios 24 meses 28 a 30 meses 35 a 37 mesesCantos 29 a 31 meses 37 a 39 meses 40 a 45 meses

Figura 7 - Observar a presena das linhas de cartilagem. O desapareci-mento destas coincide com a completa ossifi cao do corpo da vrtebra que, por essa razo, completou o seu crescimento, o que ocorre prximo dos 4,5 - 5 anos.

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Determinao da idade dos bovinos a partir do estado de maturidade ssea (desaparecimento de reas cartilagneas que se mantm durante um longo, mas varivel, perodo da vida do animal)

Quando a carcaa dividida em duas meias carca-as, possvel fazer a diagnose da idade levando em considerao alguns parmetros: perfi l do corte da sn-fi se squio-pbica (Figuras 8, 9 e 10 e ainda Quadro 4);

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estrnebras do esterno (cartilagens interesternebrais) (Quadro 5); processos espinhosos das vrtebras dorsais (torcicas) (Quadro 6).

Determinao do sexo

A determinao do sexo feita na meia carcaa tendo em ateno trs aspectos fundamentais:

-Desenvolvimento da tuberosidade pbica (mais desenvolvida no macho);

-Curvatura dos ossos squio e pbis (diferenciados na fmea e no macho). De facto a obliquidade da entrada da pelve, isto , a inclinao da pelve maior na fmea

do que no macho. Pode observar-se uma diferena con-sidervel em relao ao segmento do sacro que atin-gido pelo plano vertical da crista pectnea: este atinge o 4 segmento sacral na fmea e o 2 no macho;

-Superfcie de corte, na separao das meias car-caas, do msculo grcil (apresenta-se alongada uma vez que se estende a toda a superfcie da snfi se squio-pbica na fmea, enquanto que no macho apenas est relacionada com a poro anterior do pbis).

Apresentamos, assim, alguns parmetros que viabi-

Figura 9 - Observar a diminuiuo ou mesmo o desaparecimento das cartilagens interesternebrais, consequente soldadura das estrnebras (A), assim como a substituio da cartilagem dos processos espinhosos das vrtebras por tecido sseo (B).

Figura 8 - Os processos espinhosos das vrtebras torcicas e as estrne-bras do esterno podem ser consideradas como parmetros que indiciam a idade; nesta meia carcaa podemos observar que quer o esterno quer os processos espinhosos das vrtebras torcicas se apresentam no estado evolutivo 1.

Quadro 4 - Forma do perfi l da tuberosidade pbica (extremidade anterior da sfi se squio-pbica)Estado evolutivo 1 Tuberosidade pbica redonda e volumosa 18 meses Estado evolutivo 2 Tuberosidade pbica achatada, a tender para oval 2 anosEstado evolutivo 3 Tuberosidade pbica oval 4 anosEstado evolutivo 4 Tuberosidade pbica a tender para piriforme 5 anosEstado evolutivo 5 Tuberosidade pbica piriforme 6 anos

Quadro 5 - EsternoEstado evolutivo 1 As 7 estrnebras delimitadas por lminas cartilaginosas espessas. Todo o esterno envolvido por cartilagem hialina. 15 meses As lminas de cartilagem interesternebrais tornam-se mais fi nas, especialmente a que separa a 6 e a 7 estrnebras.Estado evolutivo 2 A cartilagem que envolve o esterno sobretudo ntida volta das duas primeiras estrnebras. 2 anosEstado evolutivo 3 As lminas de cartilagem interesternebrais desaparecem. A cartilagem hialina ntida volta da 1 estrnebra. 3 anosEstado evolutivo 4 A 6 e 7 estrnebras soldadas. Diminui a cartilagem hialina volta da 1 estrnebra. 4 a 5 anosEstado evolutivo 5 A 5 e 6 esternebras soldadas. Uma fi na camada de cartilagem hialina envolve a 1 estrnebra 5 a 6 anos

Quadro 6 - Processos espinhosos dorsaisEstado evolutivo1 A cartilagem hialina, branca, presente sobre todos os processos espinhosos. at aos 24 mesesEstado evolutivo 2 A cartilagem est ntida nos 11 primeiros processos espinhosos. Nos 2 ltimos est substituda por tecido sseo vermelho escuro. 3 anosEstado evolutivo 3 A cartilagem est ntida nos 10 primeiros processos espinhosos. Nos outros observa-se tecido sseo esponjoso. 4 anosEstado evolutivo 4 A cartilagem est ntida nos 9 primeiros processos espinhosos. 5 anosEstado evolutivo 5 A cartilagem est misturada com osso nos 8 primeiros processos espinhosos. O tecido sseo esponjoso ntido at ao 10 processo espinhoso. 6 anos

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Figura 11 - Observar a presena do canal inguinal numa meia carcaa macho.

Figura 12 - Meia carcaa de fmea. Salienta-se o perfi l oval do msculo grcil (contrastante com o perfi l mais circular do mesmo msculo no caso dos machos) e uma tuberosidade pbica menos desenvolvida.

lizam uma diferenciao fcil entre meias carcaas de machos, machos castrados e fmeas. No caso particu-lar do macho salientamos os seguintes parmetros:

-Presena do ligamento suspensor do pnis, no macho (Figura 10 - B, seta branca);

-Presena, junto prega da babilha, do msculo cre-master, que concorre para a formao do canal ingui-nal, no macho (Figura 11);

-O maior desenvolvimento das massas musculares do trapzio e do rombide no macho;

-Os bordos das costelas so menos cortantes do que nas fmea;

-Observao de maior desenvolvimento das massas musculares ao nvel da face medial da coxa e da face lateral do quarto dianteiro no macho.

No caso do Novilho (Figura 10 e 11) salientamos:-Massas musculares da face medial da coxa arredon-

dadas;-Conformao da superfcie de corte do msculo

grcil (perfi l prximo do circular); (Figura 10 - A).-Vestgios do ligamento suspensor do pnis (Figura

10 - B);-Presena do canal inguinal;-Tuberosidade pbica bem desenvolvida;-Entrada da bacia estreita;-Msculos do cachao bem desenvolvidos (trapzio

e rombide cervicais);-Msculos da p bem desenvolvidos.No Macho castrado salientamos:-Conformao da superfcie de corte do msculo

grcil (a tender para o oval);-Tuberosidade pbica com desenvolvimento mdio;-Entrada da bacia estreita.

No caso da Vaca (Figura 12) salientamos:-Conformao da superfcie de corte do msculo

grcil (perfi l prximo do oval);-Vestgios do tecido mamrio;-Tuberosidade pbica pouco desenvolvida;-Entrada da bacia larga;-Maior inclinao da pelve.

Figura 10 - Observar a evoluo do perfi l da tuberosidade pbica de uma forma arre-dondada (A 8 meses) para uma forma achatada, a tender para o oval, (B 2 anos) at apresentar uma forma piriforme (C 6 anos). A estrela em A indica o perfi l do msculo grcil que num macho assume a forma arredondada. A seta branca em B indica a seco do ligamento suspensor do pnis.

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Concluso

Este trabalho visou avaliar factores variados que devero ser do conhecimento do mdico veterin-rio cuja actividade esteja relacionada com eventuais juzos periciais. Estabelece de forma inequvoca a importncia da integrao de variados conhecimentos anatmicos. A elaborao deste trabalho, resultante da observao de carcaas de bovinos de sexo e idades diferentes, contribuiu para esclarecer alguns pontos importantes nos actos de peritagem e apresenta dados da maior utilidade para resolver problemas concretos no que concerne idade e sexo de carcaas de bovinos. Os dados apresentados permitem, a quem deles fi zer uso, aferir da idade de uma carcaa de bovino, mesmo quando no est disponvel para avaliao a mesa den-tria. Assim, o mdico veterinrio, quando na ausncia deste elemento, de elevada relevncia para a diagnose da idade, pode, ainda assim, recorrendo a outros ele-mentos, efectuar a peritagem sobre a idade da carcaa. De entre esses elementos salientamos os que tm a ver com a ossifi cao de diferentes elementos do esque-leto.

Fique ainda estabelecido que, at aos cinco anos de idade, quando ainda no ocorreu a ossifi cao das vrtebras, a idade do animal pode datar-se pela obser-vao das reas do esqueleto axial que j ossifi caram, com uma margem de erro de 5-6 meses. Estas informa-es podem ser ainda complementadas com a observa-o do estado da linha epifi sal nos ossos compridos, acetbulo, etc.

Enfatizamos tambm o facto de que, a erupo dos pinas pode surgir antecipadamente, cerca de seis meses em algumas raas, quando comparadas com as autctones e que variaes semelhantes no acontecem

na erupo dos molares, que do ponto de vista da diag-nose de idade, fornecem pela razo apontada, juzos mais fi dedignos.

Uma abordagem sobre a ausncia ou presena do ligamento suspensor do pnis, a observao da inclina-o da plvis e a morfologia da superfcie de corte do msculo grcil so elementos valiosssimos na sexa-gem das carcaas de bovinos.

Agradecimentos

Senhor Mrio Raposo. Matadouro de Setbal, aos colegas e ao senhor Armando. Senhor Amrico Lopes e Dr. Jos Lus Lopes.

Bibliografi a recomendada

BARONE, R. (1980). Anatomie compare des mammifres domestiques - tome I - Osteologie - Editores: ditions Vigot, Leon

BARONE, R. (1980). Anatomie compare des mammifres domestiques - tome II - Arthrologie et myologie - Editores: ditions Vigot; Leon

DYCE, K. M. (1987). Tratado de Anatomia Veterinria. -Editores: Editora Guanabara Koogan S. A.; Rio de Janeiro

GETTY, R. (1986).Sisson/Grossman - Anatomia dos Animais Domsticos - Vol. 1 - 5 Ed. -Editores: Guanabara Koogan S. A.; Rio de Janeiro

ORDEM DOS MDICOS VETERINRIOS, (1997).Ensino Veterinrio - documento de refl exo Rev. Ord. Med. Vet., Maro 1997; 21:31

SCHWARTZE, E. (1970). Introduccion a la anatomia veterinaria. Aparato locomotor - tomo I - Editores: Editorial Acribia; Zaragoza

SCHWARTZE, E. (1970). Sistema visceral - tomo II - Editores: Editorial Acribia; Zaragoza

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RPCV (2002) 97 (543) 119-127

Resumo: Os tumores mamrios caninos so os segundos tumo-res mais frequentes em candeos considerando ambos os sexos (25% a 50%). Afectam quase exclusivamente fmeas, com um aumento da incidncia a partir dos 6-7 anos de idade.O presente estudo teve por objectivos avaliar o valor progns-tico de algumas caractersticas clnico-patolgicas (tamanho do tumor; presena de ulcerao cutnea; invaso dos gnglios lin-fticos regionais; metastizao distncia; estdio clnico) assim como do ndice de proliferao celular medido pelo PCNA (IP PCNA) e da densidade de microvascularizao tumoral (DMV) medida pelo CD31. Foram analisados 57 tumores (21 benignos e 36 malignos). A tcnica utilizada para a determinao do IP PCNA e da DMV foi a imunocitoqumica com os anticorpos Clone PC10 e JC70, respectivamente. O seguimento clnico foi possvel para a totalidade dos casos. Todas as caractersticas clnico-patolgicas estudadas estavam relacionadas com a sobre-vida total aos 18 meses (tamanho do tumor (p=0,03); ulcerao cutnea (p

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RPCV (2002) 97 (543) 119-127Queiroga, F. e Lopes, C.

A metastizao nos tumores mamrios caninos pode ocorrer por via linftica ou venosa. Nos carcinomas mamrios, a via linftica parece ser a mais importante. A drenagem linftica faz-se para os gnglios linfti-cos axilares e inguinais (Brarley, 1989; Engstrm et al.,1989).

A classificao histolgica dos TM usada em Medi-cina Veterinria no consensual. Tm sido utilizados diferentes sistemas para classificar histologicamente as leses mamrias caninas, de forma a prever o seu comportamento. De entre os mais usados (Hampe e Misdorp, 1974; Moulton, 1990) destacamos a classifi-cao de Moulton pela facilidade de aplicao.

Perante um animal com um tumor mamrio o tra-tamento de eleio ainda a cirurgia. O recurso a novos tratamentos (quimioterapia e radioterapia), limitado pelos custos elevados dos mesmos (Madewell e Theilen, 1987; Morris et al.,1998) tornando-se muito importante seleccionar de entre os animais com TM, aqueles que poderiam beneficiar com as novas tera-pias.

Na tentativa de estabelecer novos meios de diagns-tico e prognstico, tm sido desenvolvidos estudos na rea da biologia molecular, pesquisando a presena de mutaes gnicas (Muto et al, 2000), calculando o indice de proliferao tumoral (Sarli et al, 1995) e quantificando o grau de microvascularizao dos TMC (Restucci et al, 2000). Existe uma grande variedade de mtodos introduzidos nesta rea de pesquisa, mas apenas alguns deles podem ser aplicados a tecidos includos em parafina.

Neste trabalho utilizmos o anticorpo monoclo-nal clone PC10 (anti-PCNA) como marcador de proliferao celular e o anticorpo monoclonal JC70 (anti-CD31), como marcador das clulas endoteliais vasculares, ambos aplicveis a tecidos em parafina. Os anticorpos utilizados no so especficos para os candeos, apresentando, no entanto, reaco cruzada com esta espcie animal (Ferrer et al., 1995; Pea et al., 1998).

O anti-corpo anti-PCNA reconhece um antignio nuclear especifico de fase ou ciclina, que uma pro-tena nuclear no histona, de 36 kD e que funciona como um co-factor para a delta polimerase do ADN (Bravo 1987).

O anticorpo monoclonal JC70 dirigido contra o anti-gnio CD31 (molcula de adeso das clulas endote-liais s plaquetas-PECAM) um dos anticorpos mais utilizados para o estudo da neovascularizao tumoral em Medicina Humana (Fox et al., 1995; Giatromano-laki, 1997). Trata-se de uma glicoprotena de 100kD que participa na adeso entre as plaquetas e as clulas endoteliais. Este antignio pode tambm ser expresso por plaquetas e macrfagos (Parums et al., 1990).

A determinao da cintica celular um campo de interesse crescente na oncologia moderna (Bratulic et al., 1996; Lhr et al., 1997). O estudo de parmetros que expressem as fases do ciclo celular nas clulas neoplsicas, tem mostrado ser til para avaliao do

comportamento biolgico dos tumores tanto em vete-rinria (Preziosi, 1995) como em medicina humana (Niewiadomska, 1998). O mesmo se tem verificado com a densidade de microvascularizao que tem surgido como factor de prognstico independente em tumores mamrios humanos (Horak et al., 1992; Toi et al., 1995; Charpin et al., 1997; Weidner 1998).

Em Medicina Veterinria, tem-se assistido a um esforo crescente na tentativa de acrescentar aos fac-tores de prognstico clssicos (tamanho do tumor; presena de ulcerao cutnea; invaso ganglionar lin-ftica) novos parmetros, de natureza molecular, que auxiliem a deciso clnica, semelhana do verificado em Medicina Humana.

No seguimento dos esforos referidos, foi nosso pro-psito estudar uma srie de tumores mamrios com o objectivo de determinar a importncia prognstica de algumas caractersticas clnicas, assim como da activi-dade proliferativa e da densidade de microvasculariza-o tumoral. Este estudo, foi efectuado com o recurso ao uso da tcnica de imunohistoqumica.

Material e mtodos

Neste trabalho analisamos todos os TMC recebidos no Laboratrio de Histologia e Anatomia Patolgica da UTAD no ano de 1997, provenientes quer de clnicas privadas da zona norte de Portugal, como do servio de cirurgia das Clnicas Veterinrias da UTAD. De um total de 66 tumores recebidos, analismos 57 em vir-tude de, em alguns casos, o material no se encontrar devidamente conservado ou ser insuficiente.

Efectuaram-se cortes de 3 m de cada tumor que foram corados com a colorao de hematoxilina-eosina (H&E). Os tumores foram classificados com base nas suas caractersticas histolgicas predominantes, segundo a classificao de Moulton (Moulton, 1990). Nos casos em que o mesmo animal tinha mais de um tumor (exciso cirrgica de vrias glndulas mamrias ou glndula mamria com mais de um tumor), consi-derou-se para este trabalho o tumor que apresentasse caractersticas histolgicas de maior malignidade (ele-vado ndice mittico e alto grau nuclear).

As variveis clnico-patolgicas estudadas foram a raa, a idade no momento da exrese cirrgica, o tamanho do tumor, a presena de ulcerao cutnea, o tipo histolgico, o ndice mittico (nmero de mitoses presente em 10 campos com ampliao de 400x), o grau nuclear, a presena de metstases distncia e o estdio clnico. Testamos ainda o valor prognstico do ndice de proliferao celular (medido pelo PCNA) e da densidade de microvascularizao (medida pelo CD31).

Aps cuidada anlise histopatolgica, os tumores foram classificados em benignos e malignos.

Nos tumores malignos, estabeleceu-se o grau nuclear, o ndice mittico e procedeu-se ao estadia-mento clnico dos animais.

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Na apreciao do grau nuclear considerou-se grau nuclear I quando os ncleos observados apresentavam variaes mnimas no tamanho e forma em relao aos da glndula mamria normal, grau nuclear II quando essas alteraes eram moderadas e grau nuclear III, quando os ncleos eram irregulares e de grande tama-nho.

Para o clculo do ndice mittico considerou-se ndice mittico I, sempre que o nmero de mitoses foi inferior a 10, ndice mittico II quando o nmero de mitoses estava compreendido entre 10 a 20 e ndice mittico III, quando contamos mais de 20 mitoses nos 10 campos considerados.

O estdio clnico dos pacientes foi realizado de acordo com o sistema TNM estabelecido pela Orga-nizao Mundial de Sade (O.M.S) para os tumores mamrios caninos (Quadro 1), em que T o dimetro mximo do tumor primrio (T

1-menor que 3 cm; T

2-

3-5 cm; T3-maior que 5 cm), N o envolvimento dos

gnglios linfticos regionais (N0-no evidente; N

1-ipsi-

lateral; N2-bilateral) e M a presena de metstases

distncia: (M0-ausente; M

1-presente) (Owen, 1980). A

classificao original do sistema TNM exige a con-firmao histolgica dos gnglios linfticos regionais (axilares e/ou inguinais) para se poder estabelecer o critrio de estdio clnico mais adequado. Na prtica Mdico-Veterinria, no entanto, a exciso dos gnglios linfticos regionais s se efectua quando o seu envol-vimento clinicamente evidente (hipertrofia). Assim, sempre que no foram extirpados os gnglios linfticos regionais, consideramos para este estudo, que se trata-vam de gnglios N

0. Sempre que se observou invaso

destes gnglios, independentemente do lado afectado, consideramos para este estudo tratar-se de gnglios N

+.

Todos os animais includos neste estudo foram sujei-tos a cirurgia no sendo praticado qualquer tratamento quimioterpico adicional.

O seguimento clnico foi possvel para todos os ani-mais. Foram consultados os registos das clnicas onde os animais eram acompanhados e em caso de o animal no ser visto h mais de 3 meses, contactaram-se os donos e estes foram questionados quanto ao estado clnico do animal, desenvolvimento de novos tumores mamrios e/ou recidivas de tumor excisado e tempo de sobrevida caso o animal tenha entretanto falecido. Neste estudo todos os animais que morreram, sofreram de doena metasttica, com perca notria da sua quali-dade de vida. Em 7 dos casos realizou-se a eutansia a pedido dos donos. O tempo de sobrevida total foi con-siderado desde a data de cirurgia (a partir de Janeiro de 1997) at data da morte (natural ou eutansia) ou ultimo contacto, at 30 de abril de 1999.

Anlise imunohistoqumica

Efectuou-se a anlise imunohistoqumica das 57 amostras (21 tumores benignos e 36 tumores malignos) em cortes de 3 m de espessura, colados em lminas

revestidas de gelatina. A expresso das protenas em estudo foi avaliada pelo mtodo indirecto da streptavi-dina-biotina.

Aps a desparafinao e hidratao, submetemos as preparaes a tratamento trmico (microndas, com tampo citrato, pH-6) e, no caso do CD31, a tratamento proteoltico em meio cido com tripsina (Merck) (Quadro 2).

O bloqueio das peroxidases endgenas realizou-se com perxido de hidrognio a 3% em gua destilada, durante 30 minutos. Os cortes foram posteriormente lavados em tampo fosfato salino (PBS) durante 5 minutos e incubados durante 30 minutos com soro normal de coelho (Dako), numa diluio 1:5 em PBS, a fim de remover a imunorreactividade no espe-cfica. As preparaes foram ento incubados com soro primrio nas diluies correspondentes (Quadro 2) por um perodo de 24 horas a 5C.

Aps incubao, os cortes foram lavados com PBS durante 5 minutos e incubados com o anticorpo secundrio (soro biotinilado de coelho anti-murganho (Dako), diludo a 1:400 em PBS) durante 30 minutos temperatura ambiente. Seguiu-se nova lavagem com PBS, aps a qual as lminas foram incubadas com o complexo streptavidina-biotina (LSAB Kit; DAKO), durante 30 minutos. Para demonstrar a imunomarcao utilizou-se o tetrahidrocloridro de 3,3-diaminobenzina como cromogneo. O contraste nuclear foi conseguido por colorao com Hematoxilina de Gill. Todas as incubaes decorreram temperatura ambiente com excepo da incubao com o anticorpo primrio. O procedimento imunohistoqumico incluiu ainda a utili-zao de controlos positivos adequados, para cada uma das protenas em estudo. O controlo negativo conse-guiu-se substituindo o anticorpo primrio por tampo PBS.

Quadro 1- Obteno do estdio clnico segundo a O.M.S (Owen, 1980).ESTDIO T N MI T

1 N

0 M

0

II T0 T

1 T

2 N

1 N

1 M

0

III T3 T N N fixo M

0

IV T N M1

T tamanho; N - invaso de gnglios linfticos; M metstases distncia; - Qualquer

Quadro 2 - Anticorpos utilizados e respectiva diluio e tratamento antignico. Anticorpo Diluio Tratamento antignico Digesto Enzimtica Micro-ondas Tripsina (Merck) (750W)Clone PC10 (anti-PCNA) 3 ciclos de 5 (Dako) 1:50 No efectuada intervalados de 130 Clone JC/70 (CD31) 3 ciclos de 5 (Dako) 1:20 10 a 37C intervalados de 130 - minutos; - segundos

Avaliao da imunorreactividade

PCNA: Foi considerada imunorreactividade quando a marcao ocorria no ncleo celular, independente-mente do grau de intensidade. Em cada preparao foram contabilizados os ncleos positivos num total

RPCV (2002) 97 (543) 119-127Queiroga, F. e Lopes, C.

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de 500 clulas, seleccionando-se para contagem as duas reas com imunorreactividade mais intensa e homognea. As contagens foram efectuadas com uma ocular com quadrcula (Zeiss), sempre pelo mesmo observador e com a objectiva de 40x, estabelecendo-se em seguida a percentagem de ncleos positivos (ndice de proliferao (IP) do PCNA).

CD31: A densidade de microvasos ou microvascula-rizao tumoral, foi avaliada de acordo com mtodos descritos (Weidner et al, 1991).

Todas as preparaes foram examinadas com uma objectiva de baixa magnitude (4x), de modo a identifi-car as reas do tumor com maior nmero de neovasos. Estes foram contados nas trs reas mais vasculares e por dois observadores simultaneamente. As contagens s foram efectuadas aps concordncia dos dois obser-vadores em relao s reas a analisar e identificao dos neovasos.

Qualquer clula endotelial isolada e imunomarcada foi considerada como um neovaso individual. Todos os aglomerados de clulas endoteliais imunomarcadas, com ou sem lumen e separadas claramente de outros conjuntos celulares adjacentes, foram considerados como sendo vasos individuais e includos para conta-gem.

reas de necrose, fibrose ou inflamao, assim como vasos com parede muscular e/ou calibre superior ao dimetro de oito eritrcitos, foram excludos desta contagem. Calculou-se a mdia e o maior nmero de neovasos nos trs campos de 200x. Uma vez que no se observaram diferenas estatisticamente significa-tivas, considerou-se para este estudo os valores das mdias encontradas. A contagem foi expressa como o nmero total de neovasos por campo de 200x (rea de 1,32 mm2).

Anlise estatstica

Os resultados foram expressos em frequncias abso-lutas e relativas e para as variveis numricas foi cal-culada a mdia e o desvio padro.

As comparaes entre as variveis categricas foram realizadas atravs do mtodo do Qui-quadrado e do

teste exacto de Fisher quando apropriado. As variveis contnuas foram estudadas atravs dos

testes de t de Student ou ANOVA e U de Mann-Whi-tney ou Kruskal-Wallis (conforme apropriado an-lise). As variveis numricas: idade; PCNA e CD31, foram categorizadas para realizao de algumas asso-ciaes estatsticas no grupo dos tumores malignos, utilizando para isso a mdia dos valores obtidos para as variveis em questo. A sobrevida global foi calcu-lada pelo mtodo de Kaplan-Meyer. A associao da sobrevida com os diferentes parmetros clnico-pato-lgicos foi estudada atravs do teste de log-Rank. As associaes encontradas foram considerados significa-tivos para valores de p

Estudo de sobrevida total

O tempo mediano de seguimento clnico dos casos foi de 17 meses, com um mnimo de dois meses e um mximo de 26 meses.

Todos os animais que apresentaram tumores benig-nos (n=21) permaneceram vivos at ao final deste estudo. Dos 36 animais com tumores malignos, 13 (36,1%) vieram a morrer da doena neoplsica. Destes, 7 (53,8%) apresentavam carcinoma ductal, 2 (15,4%) carcinoma papilar e 4 (30,8%) tumor misto maligno.

O estudo estatstico de sobrevida total, foi limitado ao grupo dos tumores malignos. No quadro 4 apresen-tamos as caractersticas clinco-patolgicas analisadas, e a sua relao com a sobrevida total aos 18 meses.

Discusso

Os TMC so dos tumores mais frequentes nas cade-las (Gilbertson et al., 1983; Bostock, 1986; Dorn e Priester, 1987; Moulton, 1990). A maior dificuldade na sua classificao histolgica, reside no forte pleomor-fismo morfolgico, o que resultou em vrias classifica-es, nenhuma delas aceite unanimemente (Destexhe, 1995).

Quadro 3 - Apresentao dos diferentes tipos histolgicos benignos e malignos Tipo Histolgico N % Tipo Histolgico n % Adenoma lobular 4 19,1 Carcinoma ductal 11 30,5 Adenoma papilar 3 14,3 Carcinoma papilar 7 19,4 Mioepitelioma benigno 2 9,5 Mioepitelioma maligno 4 11,2 Tumor misto benigno 12 57,1 Tumor misto maligno 14 38,9 Total 21 100 Total 36 100B

ENIG

NO

S

MA

LIG

NO

S

Figura 3 - Imunorreactividade para o PCNA (St